AGRITEC ID – EMRC International Business Forum
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AGRITEC ID – EMRC International Business Forum
Relatório do Fórum 2011 AGRITEC ID – EMRC International Business Forum 20-21 Janeiro 2011 Agradecimentos O presente documento é o resumo oficial da primeira edição do Fórum de Negócios Internacional AGRITEC ID – EMRC, promovido em Lisboa, Portugal de 20 a 21 de Janeiro de 2011. O Fórum foi organizado em colaboração com a Associação Industrial Portuguesa (AIP) e teve lugar na FIL – Feira Internacional de Lisboa. A EMRC gostaria de agradecer à Associação Industrial Portuguesa pela sua parceria e apoio, assim como às organizações de suporte que se associaram ao Evento: Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Fórum de Pesquisa Agrícola em África (FARA), KPMG, a Associação Industrial de Angola (AIA), o International Trade Centre (ITC), o INSEAD Business School, Amiran Kenya, a Alliance for Commodity Trade in Eastern and Southern Africa (ACTESA) e o Common Market for Eastern and Southern Africa (COMESA) pelo seu apoio e colaboração. Prefácio A edição inaugural do “AGRITEC ID – EMRC International Business Forum” acolheu mais de 200 delegados vindos do mundo inteiro. O Fórum de negócios serviu como plataforma para o debate das mais recentes tendências agrícolas, tendo juntado representantes dos sectores público e privado da Europa, África, Médio Oriente, América Latina e EUA. Durante dois dias, representantes de PMEs, investidores, representantes governamentais, ONGs, Universidades, Institutos de pesquisa, Organizações internacionais e Multinacionais tiveram a oportunidade de discutir a questão urgente da Promoção da Inovação Agrícola em África. 2 Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011 Abertura oficial do Fórum Internacional de Negócios Agritec ID – EMRC Comendador Jorge Rocha de Matos, Presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), abriu o Fórum com o tema cada vez mais importante do papel do continente Europeu relativamente ao desenvolvimento sustentável da Agricultura em África e ao estabelecimento de parcerias estratégicas. O Presidente da AIP sublinhou que a inovação agrícola é um ponto essencial a par da competitividade e do empreendedorismo, os quais constituem factores indispensáveis para o desenvolvimento da economia Africana. No fim da sua palestra, o Comendador Rocha de Matos definiu que o maior desafio que os povos africanos enfrentam neste momento é o acesso à tecnologia e informação, factor determinante no desenvolvimento agrícola e no acesso aos mercados regionais e internacionais. Idit Miller, Directora Executiva da EMRC, alertou a audiência para a subida de preços nos bens alimentares, com base nas previsões da FAO relativamente à evolução de preços desde 2008. Ficou patente que as populações mais pobres são infelizmente as mais afectadas por este fenómeno, chamando de seguida a atenção para a mobilização imediata da sociedade para a erradicação da fome e das consequências desastrosas que a subida de preços pode trazer. Neste contexto, foi sublinhada a importância da inovação agrícola enquanto meio de controlo da subida de preços dos bens de consumo, alertando para a importância da criação de parcerias estáveis sobretudo no sector privado. 3 António Serrano, Ministro da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas Português, agradeceu o convite para estar presente nesta iniciativa internacional. Referiu que o aumento da população até 9 biliões de pessoas previsto para 2050, representará um grande desafio para o qual a única solução será o aumento da produção agrícola. Foi mencionada a importância do Fórum no que diz respeito à troca de experiências e de conhecimentos entre os participantes. Foi ainda reconhecido que nem todos os países do mundo têm as mesmas possibilidades de produção devido às condições climáticas e à diferenciação dos tipos de solo. De acordo com o Ministro a segurança alimentar é seguramente uma das prioridades das agendas governamentais do século XXI. No final desta apresentação foi ainda abordado o problema da subida dos preços dos bens essenciais, flagelo que tem tocado principalmente os países em vias de desenvolvimento, chamando a atenção para a necessidade de modernização tecnológica do sector privado africano. 4 Sessão Plenária I Impulsionar o desenvolvimento do sector privado nos agronegócios africanos Carlos da Silva, Economista especializado do sector agríco na FAO, abordou o tema do acesso aos mercados e desenvolvimento do sector privado, definindo-o como um desafio fundamental para o crescimento sustentado da economia Africana. De acordo com o seu ponto de vista, são os pequenos produtores que enfrentam, uma vez mais, as maiores dificuldades. Carlos da Silva convidou os participantes presentes no Fórum a estabelecerem uma melhor colaboração e coordenação entre eles para que seja possível ultrapassar este desafio. O representante da FAO salientou que, no entanto, o cenário não é totalmente negativo, registando-se casos de sucesso no papel do sector privado na produção de algodão, especiarias e tabaco, nomeadamente no Brasil, mas também em vários países africanos. O Estado assume, a este nível, um papel extremamente importante enquanto elemento facilitador, nomeadamente ao nível da criação de infra-estruturas e na criação de condições adequadas para a realização de negócios. Na opinião do orador, a FAO aceita o desafio de impulsionamento do sector privado e está decidida a encetar todos os esforços para um maior desenvolvimento da inovação agrícola em África. 5 Benjamin Warr, Investigador no Centro de Inovação Social da Escola de Gestão INSEAD, definiu a inovação social como a introdução de novos modelos de negócio e de mercado que possibilitam uma prosperidade económica e social a longo prazo. Segundo este orador, é necessário cultivar nos pequenos produtores um maior sentido de competitividade e empreendedorismo. Muitas vezes são concedidos às pequenas empresas agrícolas os terrenos menos férteis e o acesso aos mercados é difícil. O Professor Warr concluiu com um mote positivo, sublinhando que os constrangimentos actuais podem transformar-se em factores competitivos no futuro. Julio Garrido, Sócio Gerente da KPMG Quénia, iniciou a sua intervenção com a afirmação acerca dos objectivos do milénio, que segundo o orador não serão alcançados no periodo esperado, nomeadamente devido à falta de investimento no sector agrícola. Neste sentido afirmou que é por esta razão urgente apoiar o sector privado através do financiamento. Chamou ainda a atenção que até pouco tempo os financiamentos eram geridos pelos Governos e por ONGs, os quais demonstraram não conseguir ultrapassar o desafio de criar um desenvolvimento sustentável para África no sector agrícola. Neste sentido é necessário redireccionar estes recursos financeiros para os pequenos produtores, financiando directamente aqueles que mais precisam. A KPMG, acredita que estes financiamentos devem ser considerados como extremamente viáveis doo ponto de vista comercial. 6 Sessão Plenária II O Comércio Agrícola e o Acesso aos Mercados Julius Mathende, Administrador da ACTESA, começou por abordar a necessidade de criação de laços entre os pequenos produtores e os mercados, bem como a necessidade dos pequenos produtores serem mais competitivos, recorrendo nomeadamente a fertilizantes mais eficientes. Um dos principais obstáculos encontrados no continente africano é a falta de transparência política ou até mesmo a corrupção. Sublinhou também o facto dos pequenos produtores representarem um risco bastante elevado principalmente no que diz respeito ao retorno de investimento, reforçando a necessidade da melhoria dos acessos ao financiamento. O desenvolvimento de seguros foi também mencionado como uma grande preocupação dos agricultores, os quais podem agora beneficiar em alguns países de um seguro em caso de elevadas precipitações ou mesmo falta da mesma, de forma a se proteger de riscos imprevisíveis. Ficou patente através da apresenção de Julius Mathende a necessidade de políticos que sejam capazes de pôr em prática a coordenação de todos os programas de ajuda aos agricultores. Silencer Mapurunga, responsável pelo Departamento de Promoção de Comércio do ITC – International Trade Centre, abordou o tema da capacitação de Recursos Humanos no comércio e agricultura, bem como o da capacidade de projectar a criação de estratégias locais e regionais ao nível das parcerias de negócios locais e internacionais. O orador fez ainda questão de mencionar a importância do acompanhamento dos pequenos produtores na cadeia de valor, desde a produção à comercialização nos mais diversos sectores. Segundo ele, 7 um indivíduo por si só não pode gerir toda uma cadeia de produção, sendo que para os pequenos produtores torna-se impossível levar a cabo estudos de mercado sem saber qual é a procura pelo seu produto. É por isso necessário optimizar e analisar todos os elementos da cadeia de valor, para que se consiga atingir um resultado final mais benéfico e especializado. Os pequenos produtores não possuem os conhecimentos suficientes para poder vender os seus produtos nas grandes superfícies, de forma a gerar lucro, necessário ao seu crescimento. Neste contexto, o ITC procura disponibilizar informação para que se consiga ter uma melhor informação sobre o funcionamento dos mercados. Chama ainda a atenção para a necessidade de conhecer o mercado antes de iniciar a produção. A partilha de informações importantes é deste modo o objecto de trabalho que leva o ITC a entrar em contacto com os pequenos produtores agrícolas. Desta forma, os produtores podem tomar consciência do seu potencial e desenvolverem-se em função das informações que lhes são transmitidas. Em tom de finalização, o representante do ITC afirmou que a Agricultura é a chave para o desenvolvimento de África. Sessão Plenária III Investir e Financiar – potenciar o crescimento Agrícola através de Financiamento Parte I: Fontes disponíveis de financiamento Ben Zwinkels, Responsável pelo Financiamento no FMO, Banco para o Desenvolvimento dos Países Baixos, começou a sua apresentação por se mostrar surpreendido com a falta de alimentos em África, dadas as condições do continente, definindo consequentemente como objectivo o investimento em mercados rentáveis. O agronegócio africano proporciona na sua opinião grandes possibilidades, beneficiando neste momento de um crescimento elevado que o eleva ao estatuto de “oportunidade a não perder”. 8 África representa assim um mercado fulcral para áreas como a floricultura ou produção de frutas e legumes. O FMO tem neste momento 6 delegações permanentes em África e acredita que no futuro a prioridade será aumentar a sua presença neste continente. Paula Alayo, Responsável pelo Departamento de Investimentos na International Finance Corporation – Banco Mundial, começou por agradecer o convite à EMRC e passou de seguida a apresentar a sua organização, caracterizando-a como um Banco de Desenvolvimento que tem por missão o financiamento do sector privado emergente a nível global. África, representa 10% do investimento do IFC, o qual tem como objectivo investir em toda a cadeia de valor agroalimentar. Esta organização dedica-se ao apoio às PMEs, as quais têm vindo a revelar-se cada vez mais eficazes a trabalhar na cadeia de produção, especialmente na área de logística. Outro objectivo do IFC é trabalhar com clientes mais pequenos, para que se possa dar apoio técnico e possibilitar a cooperação com instituições financeiras. Neste contexto, o IFC promove o desenvolvimento sustentável e leva a cabo um trabalho muito importante principalmente ao nível das infra-estruturas necessárias à exportação. Esta organização trabalha deste modo em colaboração com várias instituições financeiras relacionadas directamente com a agricultura. Este trabalho com as PMEs é importante para que se possa ter acesso a dados macroeconómicos que nos permitam atrair o investimento privado. Parte II: Como atrair fundos para o sector agrícola e agroindustrial em projectos em África Tony Kalm, Director de Departamento de Desenvolvimento na ONE ACRE FUND – Quénia, começou por afirmar que a sua organização investe sobretudo em famílias de agricultores, para que estas 9 possam ter acesso a uma renda. Deste modo, todos os seus clientes devem duplicar a sua produção para que possam continuar a trabalhar em parceria. A sua organização trabalha principalmente com pessoas que não tenham lucros superiores a 1 USD por dia, obtendo uma taxa de reembolso de 100%, o que demonstra o sucesso do projecto. O objectivo é incrementar um sentido de autonomia nos agricultores durante um período de 4 anos. São contudo pedidos alguns pré-requisitos, tais como trabalhar com sementes melhoradas e em terrenos de dimensão pequena, usufruindo de uma boa organização e de um mercado potencial. Existem também novos projectos a ser desenvolvidos com os agricultores que obtiveram sucesso no programa inicial. Em suma, através da apresentação de Tony Kalm fica patente a ideia de que é contraproducente disponibilizar fundos aos agricultores sem uma formação de acompanhamento. Mark Terken, Director Geral do Projecto de Desenvolvimento M.T. na Zâmbia, inicia a sua apresentação abordando o carácter empresarial da agricultura e afirmando que é necessária determinação para ter sucesso neste negócio. A Agricultura é o coração de toda uma cadeia de valor complexa, e por isso são necessários diferentes recursos para poder colocá-la em prática, nomeadamente adequadas estruturas políticas, económicas e humanitárias. É necessária a utilização de novas tecnologias bem como a capacidade de as saber aplicar na área do agro-negócio. Alguns investimentos podem estar garantidos através da utilização de financiamento via o micro crédito, como é o caso da Zâmbia. Finalizou a sua exposição ao afirmar que este não é contudo um exemplo a generalizar, apesar do seu sucesso, pois existem outros países onde não existem sistemas financeiros desenvolvidos e há todo um conjunto de infra-estruturas que têm que ser criadas para que o mercado de exportações possa finalmente se desenvolver. 10 Sexta-Feira 21 de Janeiro de 2011 Sessão Paralela IV Capacitação de Recursos Humanos: Empreendedorismo & Inovação Luís Mira da Silva, Presidente da INOVISA, começou a sua apresentação por sublinhar a importância das Universidades como Incubadoras de Empresas, lembrando-nos que apesar do papel tradicional da Academia ser a divulgação de conhecimento, com o desenvolvimento das tecnologias a Universidade tem o dever de entrar no mundo dos negócios enquanto factor essencial ao desenvolvimento económico-social. Neste contexto, sectores como a consultadoria, projectos de colaboração e registo de patentes ganham cada vez mais importância no contexto das instituições de ensino superior, pois representam uma oportunidade de criação de empreendedorismo. Foram apresentadas de seguida taxas de sucesso empresarial entre as empresas “start up” criadas com o apoio de incubadoras de empresas (80%), citando-se como exemplo o INOVISA, incubadora de empresas do ISA (Instituto Superior de Agronomia - Portugal) que tem como função ajudar os estudantes a fundar as suas primeiras empresas no sector agro-alimentar, estabelecendo ao mesmo tempo parcerias com universidades e empresas francesas, espanholas, norte-americanas e angolanas. 11 Benjamin Warr, Investigador no INSEAD, abordou os desafios que as Universidades enfrentam hoje em dia, afirmando que a maioria das pessoas não se apercebe do potencial que existe numa pessoa empreendedora. Deste modo, a incrementação desta qualidade é necessária num grande número de regiões, entre as quais África, a mais importante e infelizmente a mais pobre. Esta é a razão pela qual o INSEAD definiu como objectivo “saber como se fazem negócios”, tendo chegado à conclusão de que para isto acontecer é necessário serem tomadas 3 medidas importantes: mais Investigação; aumentar número de estudantes africanos no INSEAD e construir uma rede de contactos. Em suma, o Professor Benjamin Warr acredita que a preparação dos Líderes Africanos é a solução proposta pelo INSEAD para desenvolver de forma sustentada o Continente, abertamente reconhecido como terra de grande potencial. Orlando da Mata, Reitor da Universidade Agostinho Neto (UAN – Angola), começou por responder a cinco questões sobre a UAN: “Quem somos, Onde estamos, O que podemos oferecer, Quantos somos, e Com quem queremos estabelecer parcerias”. No que diz respeito à história da UAN, o Exmo. Reitor definiu que a Universidade foi criada em 1962 sob o nome de Instituto de Estudos Gerais Universitários, e desde o fim do Conflito Civil de Angola tem feito um percurso de modernização constante. O objectivo de desenvolver o país, levou o Estado Angolano a investir na construção de dois novos Campus Universitários no Bengo e no Huambo. A UAN tem vindo assim a tornar-se numa grande universidade, contando entre os seus quadros 700 professores, 850 funcionários e 26000 alunos. O Reitor da Universidade Agostinho Neto terminou a sua apresentação afirmando que o papel mais importante da 12 Universidade é a formação dos cidadãos angolanos, razão pela qual foi criado um curso de negociação económica para os pequenos agricultores. Esta medida contribuirá decididamente para aumentar a competitividade, a qualidade e a integração de Angola no Mercado Mundial, constituindo assim um benefício para a diversificação da economia nacional, ainda bastante dependente das exportações de petróleo. Sessão Paralela V Origem da Cadeia de Valor - Inputs, Produção & Protecção João Emanuel Pereira, Director do Departamento de Desenvolvimento EDIA, deu-nos a conhecer os projectos levados a cabo pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA) nas áreas de irrigação, barragens, criação de energias renováveis e gestão de recursos hídricos. A água é hoje em dia o motor do desenvolvimento sustentável. Neste sentido a EDIA fornece sistemas de informação e consultadoria técnica para projectos agrícolas. Este orador afirmou ainda que a formação, a inovação, a tecnologia e o ensino são áreas fulcrais para os agricultores, os quais são ajudados pela a EDIA a escolher as melhores culturas em função da intensidade solar. Yariv Kedar, Chefe do Departamento Agrícola da AMIRAN – Quénia, apresentou o “KIT AmiranFarmer”. Estando presentes no Quénia desde 1963, foram responsáveis pela construção de quase 80% dos sistemas de irrigação deste país. O seu grupo trabalha ainda no ramo da irrigação, fertilizantes e sementes para os pequenos produtores agrícolas, possuindo um sistema de irrigação gota-a-gota que permite uma melhor e eficiente nutrição da raiz das plantas bem como a redução da evaporação da água e consequentemente o desperdício desta. A AMIRAN disponibiliza ainda sementes híbridas que podem ser utilizadas tanto no exterior como no interior. O orador afirmou que acredita que a instrução, a formação e o 13 marketing são pontos essenciais para a promoção de qualquer iniciativa. Através de parcerias com o FAO, a Cruz Vermelha e a União Europeia, a Amiran obteve grande sucesso sobretudo na venda de melão para os turistas que visitam as reservas naturais do Quénia. Com estes avanços tecnológicos os rendimentos tornaram-se mais elevados, gerando ao mesmo tempo maiores expectativas. O seu desejo é agora desencadear uma revolução no agro-negócio africano. Luís da Graça Pereira, Director do Programa Agrícola da TECHNOSERVE (Moçambique), sublinhou que Angola e Moçambique partilham um problema de falta de floresta, sofrendo as consequências da desertificação dos solos. Segundo o orador é necessário conhecer as pessoas e encontrar um equilíbrio entre a produção intensiva e sustentável. Sublinhou ainda a importância da transferência de tecnologias para os pequenos agricultores, sendo que estes podem representar uma solução para o aumento das exportações, dado que quanto maiores são as explorações, maiores são também os problemas associados. A sua organização propõe por isso um programa de crédito (negociado com um banco) para compra de grãos e sementes garantindo assim uma produção mais equilibrada. A TECHNOSERVE tenta desta forma fomentar o empreendedorismo agrícola incentivando ao mesmo tempo as empresas a adaptarem-se ao seu programa. 14 Sessões Plenárias – Apresentação Especial Melhorar a produtividade de pequenos lavradores: Agronegócios na base da pirâmide Monty Jones, Director Executivo do FARA (Forum for Agricultural Research in Africa - Ghana) mostrou-nos um quadro de oportunidades de investimento no sector agícola africano. Começou por salientar que a economia africana esteve em baixa entre 1960 e 2000, mas que a partir desse ano não tem parado de crescer a uma média de 5,4% por ano, qualificando por isso o continente de “leão em movimento” no que diz respeito ao volume de investimentos que têm sido feitos. Neste contexto, afirma que entre as 10 economias que mais crescem no mundo, 6 são africanas. Ao mesmo tempo, África é infelizmente o continente que tem o maior número de pessoas a viver com menos de 2 USD por dia. Neste contexto, o investimento na agricultura é indispensável melhorar a qualidade de vida da grande maioria da população, efatizando que esta é a melhor forma de luta contra a pobreza. Na sua opinião «um mundo esfomeado é um mundo perigoso que ameaça consideravelmente toda a estabilidade política, social e económica». O Professor Jones apresentou um gráfico que demonstra que à medida que aumenta a produção agrícola, a pobreza bem como a fome são reduzidas proporcionalmente. De seguida o orador abordou os desafios que nos são agora colocados: evoluir e/ou reformar as instituições agrícolas, aumentar o investimento no sector agrícola africano e por fim coordenar investimentos. A investigação e a formação são ainda dois sectores importantes que até agora têm sido subutilizados, segundo ele. Também a fragmentação das ONGs tem impossibilitado uma acção concertada e eficaz. Existe por estas razões uma necessidade real de coordenar todas estas ajudas sem as quais será difícil de poder cumprir os objectivos que são propostos. 15 O papel que os Governos têm em todo este processo é também muito importante, nomeadamente no que diz respeito à construção de infraestruturas, que se revelam indispensáveis ao desenvolvimento económico e agrícola em particular. Por outro lado, os benefícios são enormes: África dispõe de um quarto das terras aráveis do planeta para um sexto da população mundial. A população africana é uma das mais jovens do mundo, visto que 44% da população total tem menos de 15 anos, o que representa uma percentagem de população activa considerável. Por último, 90% da produção de minerais a nível global também se encontra em África. Neste contexto, deve ser incentivado um novo modo de pensar, incentivando a criação de investimentos duráveis e lucrativos. Segundo o Professor são sempre são os pequenos produtores que sofrem mais com a fome e com a miséria e são a estes que vêem, não raras vezes, serem-lhes atribuídas as terras mais ingratas e menos férteis. O Professor Monty Jones denunciou também a tentativa de monopolização das melhores terras pelos investidores internacionais, «é urgente encontrar alternativas de investimento a estas aquisições de terras». Devemos ainda procurar novas fontes de financiamento, tais como o microcrédito e investir fortemente na educação e na formação. Em suma, na opinião do Director Executivo do FARA, África é uma das maiores fontes de investimento a nível global, e se hoje em dia existem problemas de alimentação nos vários países que fazem parte deste Continente, isso não constitui um impedimento a que África possa vir a tornar-se um dos principais produtores agrícolas mundiais. Segundo o Professor “As oportunidades são muitas e devemos agarrá-las o mais rápido possível”. 16 Sessão paralela VI Pesquisa, Ciência competitividade & Tecnologia para o crescimento e Benjamin Warr, Investigador no INSEAD, começou a sua apresentação por explicar o funcionamento do SIS (Spatial Information System), um programa informático que fornece dados sobre o terreno agrícola através de imagens obtidas via satélite. Este sistema, que ainda está em fase de desenvolvimento, tem como objectivo a melhoria da produtividade, a descoberta de terrenos aráveis e a criação de novos produtos agrícolas. Na segunda parte desta apresentação o Professor Warr elucidou a plateia sobre o funcionamento do SISP, um outro programa que funciona através de um sistemas de extracção de características do solo e de organização de dados através da criação de um mapa que indica as especificidades do terreno. Terminou a sua intervenção ao afirmar que embora os custos de aplicação deste sistema sejam elevados, o aumento do lucro proveniente da sua utilização torna a sua utilização viável. José Luiz Bellini Leite, Economista especializado em Agricultura na EMBRAPA (Brasil), começou por falar sobre a sua empresa e da forma como esta se enquadra na Inovação e Investigação. De seguida, abordou o papel do Brasil enquanto líder mundial do agro-negócio, justificando-o com 4 razões: empreendedorismo, apoio governamental sob a forma de políticas públicas favoráveis, uma cadeia de produção organizada e dinâmica, e por fim um sistema de investigação bem organizado. A EMBRAPA detém neste momento 17 centros de pesquisa a nível estadual e 45 a nível 17 local (em parceria com o sector privado). Esta Organização utiliza 3 tipos de estruturas: os Centros de Produto, os Centros Temáticos e Centros ecoregionais. No que diz respeito a África, a EMBRAPA está já a desenvolver instituições em parceria com 35 países e 61 organizações, entre as quais a FARA (Ghana). António Costa Moreira, Sócio da Pogis Software AG – Portugal, explicou-nos o funcionamento do seu software «WIN GIS» e «AX-Development Environment». Estes programas foram inventados com o intuito de poder registar o desenvolvimento das áreas agrícolas através da utilização de um sistema de imagem via satélite. Com este sistema (desenvolvido através de uma parceria com a Microsoft para a partilha de imagens e bases de dados geográficas) é possível prever a evolução dos terrenos agrícolas e florestais tendo por base a leitura dos registos feitos em anos anteriores. O orador concluiu a sua apresentação afirmando que todas as tecnologias desenvolvidas pela sua empresa estão já disponíveis no mercado, podendo mesmo fornecer equipamento especialmente concebido para a leitura desta informação e posterior coordenação com o desempenho das máquinas agrícolas no terreno, concebido através de uma parceria entre a Progis Software AG e a John Deer). Sessão Paralela VII Produção Animal e Nutrição Tambwe Mukaz, Director da GIASOP (Angola), abordou o problema das dificuldades encontradas em Angola quanto às diferentes raças bovinas que não conseguem atingir os parâmetros técnicos desejados. O seu objectivo é introduzir raças melhoradas, com base no exemplo do Brasil, país de grande potencial nesta área. Foram sobretudo mencionados os 18 cruzamentos já feitos para que se consiga originar novas raças, sendo que o objectivo final é a melhoria genética de grandes agrupamentos de animais. Para que se atinja uma melhor produtividade e melhores vendas é necessária uma melhor adaptabilidade dos animais aos pastos e às altas temperaturas. Monty Jones, Director Executivo do FARA no Ghana, abordou as melhorias feitas na produção do arroz, feitas com o objectivo de enriquecer a sua cadeia de valor. Neste contexto, NERICA (New Rice for Africa) é o novo arroz africano, criado através de um cruzamento entre o arroz asiático e o arroz africano, tendo assim maior potencial nutritivo e uma maior rentabilidade por hectare comparativamente às outras qualidades. Este é um grande desafio para a segurança alimentar, visto que ainda existem cerca de 20000 vítimas mortais diárias devido à má nutrição em África. O Professor terminou a sua intervenção ao afirmar que o objectivo é suprir estas necessidades. Tony Ngarbaroum, Director Geral da VETAGRI (Chade), mencionou que o seu país é o maior produtor de gado, com 19 milhões de cabeças. O mercado da produção animal é assim uma grande aposta neste país que exporta anualmente 1 milhão de cabeças para a Nigéria. Este orador agradeceu o contributo do estudo da EMRC nesta área e convidou o sector privado a investir no sector da produção animal, sublinhando o potencial do mercado Centro Africano com 270 milhões de habitantes. 19 Sessão Plenária Especial Country Focus – Angola Oportunidades de Investimento em Agricultura, Agroalimentar e Agro-indústria António Prata, representante da ANIP (Agência Nacional para o Investimento Privado) começou a sua intervenção ao referir que depois da longa guerra que afectou Angola o país está agora a seguir uma nova direcção, investindo no sector agro-industrial. Se por um lado é verdade que a economia angolana depende ainda em grande parte do petróleo, os governantes reconhecem esta situação e querem diversificar a produção nacional. A crise mundial de 2008 pouco afectou Angola comparativamente a outros países do mundo e o objectivo a que o país se propõe agora é equilibrar a balança comercial, aumentando as exportações. Segundo o orador, estão a ser feitos esforços principalmente na construção de infra-estruturas rurais, até aqui praticamente inexistentes ou bastante danificadas. O Dr. Prata chama também a atenção de que Angola sofre ainda de problemas burocráticos, que segundo o orador, foram reduzidos, contudo continuam a representar um entrave ao investimento e à entrada de empresas estrangeiras. As medidas prioritárias são acolher o investimento directo e gerar empregos. Angola procura hoje em dia dar garantias de estabilidade aos investidores. A construção de infra-estruturas tais como caminhos-de-ferro, portos, estradas e aeroportos é também uma das medidas mais importantes a ser tomadas pelo Governo. A estas construções foi destinado um fundo especial de 100 000 barris de petróleo. O orador termina ao afirmar que o papel da ANIP é o de garantir a ligação entre os investidores e o sector dos serviços. 20 Miguel Farrajota, Representante do BPI (Banco Portugês de Investimentos), destacou o crescimento económico de Angola entre os anos 2002/2009, o qual atingiu 12% e as prespectivas apontam para um crecimento de 15% em 2015. A agricultura representa o segundo sector de actividade neste país, tendo por isso um potencial gigantesco nomeadamente devido ao clima favorável e ao baixo preço de mão-deobra. Contudo, existe ainda muitos obstáculos ao investimento, como seja a falta de quadros superiores, de infra-estruturas, um custo elevado nas exportações e um alto nível de burocracia, sendo que o Estado ainda tem uma forte intervenção em muitas áreas. O BPI é um Banco comercial e está disponível para conceder meios financeiros para o investimento agrícola. Em tom de conclusão, o Dr. Miguel Farrajota afirmou que é necessário investir em Angola para que o país possa crescer e conquistar a estabilidade. Orlando Da Mata, Reitor da Universidade Agostinho Neto, começou a sua apresentação por afirmar que durante o ano de 2008 foram criadas 7 faculdades. Tendo também sido conseguidas colaborações com os Estados Unidos da América e com a União Europeia, nomeadamente no âmbito do Programa ERASMUS. O Reitor da UAN reconheceu a necessidade de melhorar as performances do sector dos serviços, melhorando a capacidade de negociação e de integração nos mercados. Em suma, chamou-se a atenção para a necessidade de um maior e constante investimento na formação técnica, profissional e superior, apesar de todos os esforços que têm sido feitos a esse nivel pela Agostinho Neto. 21 António João, Secretário-geral da COMUR (Comité Nacional para a Promoção da Mulher Rural), reiterou que estão a ser estão a ser feitos todos os esforços para a reconstrução de Angola. O apoio económico à mulher rural é importante pois esta representa a força de trabalho no sector agrícola. As dificuldades em aceder a zonas rurais em Angola são ainda muitas, sendo por isso urgente a construção de mais e melhores vias de comunicação para os aproximem as comunidades mais distantes dos centros urbanos. A capacidade de gestão de comunidades através do recurso ao micro crédito é ainda baixa. A taxa de mortalidade tem diminuido devido à introdução de cuidados de saúde nas zonas rurais, como seja a melhoria das condições de parto e introdução de medidas de combate ao vírus HIV. O trabalho desenvolvido na comercialização de produtos, a criação de pequenas escolas e postos médicos, os cursos de formação em costura, cozinha e pastelaria demonstram que o país quer acima de tudo iniciar uma era de prosperidade e melhores condições sociais. Em suma, a COMUR é responsável por várias iniciativas no campo da formação das pequenas comunidades que tem como objectivo o desenvolvimento económico local. 22 CONCLUSÃO A EMRC considera fundamental para atingir níveis de crescimento sustentáveis do sector agrícola em África a criação de parcerias empresariais e o desenvolvimento do sector privado. Nesse sentido, no último dia do AGRITEC ID – EMRC International Business Forum os Delegados através de Sessões bilaterais B2B promovidas pela EMRC em colaboração com Europa Institutet, tiveram a oportunidade de agendar reuniões empresariais com entidades seleccionadas, onde se proporcionou momentos propícios à criação de parcerias, investimento e troca de experiências e conhecimento essenciais. Para finalizar o AGRITEC ID – EMRC International Business Forum, os Delegados foram convidados a participar num Cocktail de Encerramento. Os representantes das entidades organizadoras, através da Directora Geral e Vice-Presidente da EMRC, Idit Miller e o Director de Feiras da AIP, Miguel Comporta, agradeceram a presença e participação de todos e lançaram o mote acreditarem na potencialidade do continente africano e na importância de parcerias para um eficiente e frutífero investimento no continente africano, referido como o continente do futuro. FUTURO - Eventos EMRC 2011: Missão Agrícola África- Israel: Israel, 27-30 Março 2011 Africa Finance & Investment Forum 2011: Junho 2011 Fórum AgriBusiness 2011: África do Sul, Outubro 2011 Missão África-India: India, Dezembro 2011 23
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