Diagnóstico Fauna - Projeto BIODIVERSIDADE RS

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Diagnóstico Fauna - Projeto BIODIVERSIDADE RS
DIAGNÓSTICO DE FAUNA DO LITORAL MÉDIO DO
RIO GRANDE DO SUL E ZONEAMENTO TEMÁTICO
DO MEIO BIÓTICO
CONSULTORA RESPONSÁVEL: BIÓLOGA CAROLINE ZANK
CRBIO 34553-03D
PORTO ALEGRE, 10 DE DEZEMBRO DE 2013.
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 1
2. CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................................ 1
3. DIAGNÓSTICO DE FAUNA DO LITORAL MÉDIO DO RS ................................................... 3
3.1.Metodologia empregada............................................................................................ 3
3.2.Caracterização da fauna de vertebrados .................................................................. 4
3.2.1. Peixes................................................................................................................... 7
3.2.2. Anfíbios.............................................................................................................. 16
3.2.3. Répteis ............................................................................................................... 21
3.2.4. Aves ................................................................................................................... 25
3.2.5. Mamíferos .......................................................................................................... 31
4. PRINCIPAIS AMEAÇAS A FAUNA .................................................................................... 39
5. METODOLOGIA EMPREGADA NA DEFINIÇÃO DAS ZONAS........................................ 41
5.1.Definições gerais ..................................................................................................... 41
5.2.Metodologia utilizada para definição das zonas .................................................... 42
6. DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ZONAS DEFINIDAS PARA O MEIO BIÓTICO. 43
6.1. Zona I - Butiazal e comunidades associadas........ ............................................. 45
6.2. Zona II - Áreas úmidas e Matas de Restinga ......................................................... 49
6.3. Zona III - Dunas marítimas, lacustres e areais ...................................................... 57
6.4. Zona IV - Floresta Estacional ................................................................................. 64
6.5. Zona V - Campos arenosos .................................................................................... 70
7.
RESUMO DAS RESTRIÇÕES E POTENCIALIDADES POR ZONA DEFINIDA .............. 74
8.
ÁREAS IMPORTANTES PARA CONSERVAÇÃO .......................................................... 77
8.1. Unidades de Conservação ..................................................................................... 77
8.2. Indicação de remanescentes de áreas naturais prioritárias para conservação .. 78
9.
RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO BIÓTICO .............. 88
10. ANEXOS ......................................................................................................................... 89
11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................... 112
1. APRESENTAÇÃO
O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) é uma importante ferramenta na
gestão da biodiversidade, e tem como objetivo definir unidades homogêneas
considerando as potencialidades e vulnerabilidade da sua fauna associada. A
elaboração do mapeamento da fauna característica da região e seu respectivo
zoneamento temático, são parte integrante do conjunto de dados a serem cruzados
para a construção de um ZEE.
Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo diagnosticar e zonear a
fauna da área 4 – Litoral Médio do Projeto RS Biodiversidade, indicando as
restrições e potencialidades de uso do recurso por zona definida, a fim de subsidiar
o posterior ZEE desta região.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
A Área 4- Litoral Médio do Projeto RS Biodiversidade corresponde a área de
abrangência dos municípios de Barra do Ribeiro, Capivari do Sul, Mostardas,
Palmares do Sul, São José do Norte, Tapes, Tavares e Viamão no Estado do Rio
Grande do Sul, Brasil.
A Planície Costeira do RS, na qual está inserido o Litoral Médio do Rio
Grande do Sul, cobre uma área aproximada de 33 mil km2 representada um longa
faixa de dunas e lagoas. Nossa Planície Costeira do lado Atlântico, possui uma
largura variável de 10 km, no norte do Estado, até quase 100 km, nas proximidades
da cabeceira da Lagoa dos Patos, e está caracterizada por uma sequencia de
ambientes no sentido da costa para o interior, que inclui deste um complexo mosaico
de dunas, banhados, campos e matas, até um rico sistema de lagoas costeiras,
incluindo inúmeros corpos d´água de diferentes tamanhos, deste pequenas lagoas,
até alguns de grandes dimensões, tais como o Laguna dos Patos, com uma área de
10.000 km2.
O Litoral Médio do Rio Grande do Sul pertence a duas unidades biogeográfica
distintas, a Atlântica, a qual possui uma vegetação florestal com características
predominantemente tropicais e a Pampeana caracterizada por um vegetação
campestre subtropical, e atualmente determinadas como Florestas úmidas tropicais
e subtropicaia e Campos e Savanas tropicais e subtropicais, respectivamente
(Dinerstein et al., 1995; Olson et al., 2001)
1
Na região da Planície Costeira destacamos a dominância dos ecossistemas
de áreas úmidas, que em um conceito mais amplo englobam grande parte dos
ecossistemas naturais presentes na região, como estuários, praias, rios, lagoas e
lagunas de água-doce ou salobra, banhados e florestas de inundação (Burger &
Ramos, 2007). De especial importância, são indicados os banhados, que nesta
região estão principalmente associados as lagoas costeiras e apresentam uma
grande variedade de comunidades vegetais e animais estritamente relacionadas a
esses ambientes.
Nos limites do Litoral Médio do RS existem quatro áreas protegidas como
Unidades de Conservação (UCs) federais e estaduais, das quais três estão na
categoria de proteção integral, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, o Parque
Estadual de Itapuã e o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, e uma na
de uso sustentável, a Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe (PARNA Lagoa do Peixe), localizada
nos municípios de Mostardas, Tavares e São José do Norte é uma das áreas
úmidas de importância internacional, reconhecida pela Convenção RAMSAR. Foi
criada com o objetivo principal de proteger espécies de aves, em especial as
migratórias, desta forma preserva ambientes de lagunas, banhados, dunas,
marismas e mata de restinga. No entanto, ainda apresenta problemas com a invasão
de Pinus sp. e falta de regularização fundiária. O Parque Estadual de Itapuã está
localizado no município de Viamão onde estão representados alguns dos
ecossistemas naturais da região metropolitana de Porto Alegre, como morros
graníticos com campos rupestres, praias lagunares, dunas, lagoas e banhados.
Já na O Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, situado no
município de Viamão sofre forte pressão devido a sua proximidade com o município
de Porto Alegre. Esta área preserva uma grande variedade de ambientes, como
mata paludosa e ripária e campos úmidos, e portanto também abriga um grande
diversidade de espécies animais. Nesta área foram registradas muitas espécies de
mamíferos e aves ameaçadas de extinção, como o cervo-do-Pantanal uma espécie
criticamente ameaçada no Estado e que só possui ocorrência conhecida para os
limites do Refúgio. Na área de entorno do RVS Banhado dos Pachecos, está situada
a Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande (APA do Banhado Grande),
abrangendo os municípios de Glorinha, Santo Antônio da Patrulha, Viamão e
Gravataí. Esta área de uso sustentável foi criada para preservar o Banhado Grande
2
do rio Gravataí, constituindo uma importante área para conservação de aves
migratórias.
Como ameaças aos ambientes naturais do Litoral Médio do RS, destacamos
para as áreas de dunas e campos nativos a conversão desses ambientes para a
silvicultura com espécies exóticas, como o Pinus e Eucalyptus. Tais culturas
florestais ocupam uma grande extensão de ambientes nativos na região (Gautreau &
Vélez, 2011). Já as áreas úmidas costeiras e as lagoas sofrem com a pressão da
expansão agrícola, principalmente para o cultivo de arroz irrigado que é a principal
cultura agrícola na região (Chomenco, 2007). Devido a aceleração no processo de
alteração e fragmentação dos habitats naturais, observado na região nos últimos
anos, há também uma maior preocupação com a manutenção e conservação das
populações da fauna associada.
Neste contexto, é fundamental o planejamento do uso dos recursos naturais
da região do Litoral Médio através de um Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) e
suas partes integrantes,
a fim de proporcionar a conservação efetiva da
biodiversidade local.
3. DIAGNÓSTICO DA FAUNA DO LITORAL MÉDIO
3.1. Metodologia empregada
Para o levantamento de dados sobre a fauna ocorrente no Litoral Médio do
RS, utilizamos três diferentes fontes de informação: bibliografia especializada,
coleção científica e trabalhos técnicos. Primeiramente, nosso levantamento de
dados foi baseado na consulta a bibliografia especializada, tomando como base o
levantamento de todo material bibliográfico produzido para a área de abrangência do
Litoral Médio do Rio Grande do Sul, e especificamente os que continham
informações sobre as espécies de fauna presente na região, como listas de espécies
e diagnósticos de fauna. Simultaneamente, consultamos os registros de material
testemunho depositados, para cada um dos municípios de interesse (Barra do
Ribeiro, Capivari do Sul, Mostardas, Palmares do Sul, São José do Norte, Tapes,
Tavares e Viamão), nas três principais coleções científicas do Rio Grande do Sul,
que correspondem às coleções científicas do Departamento de Zoologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Museu de Ciências e
Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (MCT), e do
3
Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul
(MCN). Por fim, foram consultados alguns trabalhos técnicos, como diagnósticos e
monitoramentos de fauna desenvolvidos na região do Litoral Médio para fins de
licenciamento ambiental de empreendimentos, como, parques eólicos, rodovias e
estaleiros.
Durante o levantamento de dados, encontramos um número ainda muito
reduzido de trabalhos científicos publicados com a fauna local, principalmente no
que diz respeito a fauna de invertebrados. Portanto, devido a essa lacuna de
informação observada para invertebrados, optamos por utilizar no presente
Zoneamento somente a fauna de vertebrados.
Baseando-se na consulta realizada a bibliografia especializada, coleções
científicas e trabalhos técnicos, elaboramos uma base de dados com todas as
espécies de peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos com ocorrência confirmada
ou potencial ocorrência para a área do Litoral Médio do RS. A seguir foram
selecionadas algumas espécies de interesse especial para representar cada um dos
grupos de vertebrados a serem utilizados no Zoneamento de Fauna. Para a seleção
das espécies utilizamos dois critérios principais: sua presença em alguma das listas
de espécies ameaçadas em âmbito regional, nacional e/ou global (Fontana et al.,
2003; Machado et al., 2008; IUCN 2013), e/ou grande especificidade ambiental. Por
fim, para cada uma dessas espécies selecionadas foi gerado um bando de dados
com todos os registros de ocorrência conhecidos para dentro dos limites da área do
Litoral Médio do RS.
A partir dessa seleção de espécies foi gerado o mapa georeferenciado com a
distribuição das espéceis de fauna do Litoral Médio do RS. O mapa de fauna será
entregue em conjunto com o presente relatório, mas somente em meio digital.
Conforme solicitado, em arquivo vetorial digital ARC-GIS, na escala 1:100.000, e
com o
Sistema de Referência utilizado para o georreferenciamento sendo o
SIRGAS 2000.
3.2. Caracterização da fauna de vertebrados
A partir do levantamento de dados, encontramos um número ainda reduzido
de trabalhos científicos publicados com a fauna de vertebrados. Apesar de ainda
existirem grandes lacunas de informação para muitas regiões do Litoral Médio,
4
algumas poucas áreas importantes são bem conhecidas e possuem dados bastante
qualificados sobre a fauna de vertebrados.
Verificamos que existem pelo menos três regiões bem inventariadas e
estudadas dentro dos limites do Litoral Médio do RS. Uma dessas áreas
corresponde ao PARNA Lagoa do Peixe que foi criado com o objetivo de proteger
uma amostra dos ecossistemas litorâneos da região da Laguna do Peixe, e em
particular, as espécies de aves migratórias que dela dependem. É uma das áreas de
grande importância para conservação da fauna no Litoral Médio, em especial a
avifauna (ver detalhes item 3.2.4 Aves). O PARNA Lagoa do Peixe possui bons
inventários disponíveis para espécies de anfíbios, peixes e aves (e.g. Plano de
Manejo PARNA Lagoa do Peixe, 1999; Loebmann & Vieira, 2005a; Loebmann &
Vieira, 2005b; Nascimento, 1995; Correa et al., 2010).
Além disso, Becker et al., (2007a) desenvolveram um intenso trabalho e uma
excelente síntese do conhecimento existente em duas áreas denominadas como
região dos Butiazais de Tapes e região da Lagoa do Casamento ambas localizadas
na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Este estudo foi desenvolvido através do
Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira
(PROBIO) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que tem como finalidade suprir
lacunas de conhecimento, e desta forma auxiliar no planejamento e conservação da
diversidade biológica de áreas previamente determinadas como prioritárias no Brasil.
Como resultado, forneceram um estudo bastante completo sobre a biodiversidade
local, e indicando áreas prioritárias para a conservação da fauna e flora (Becker et
al., 2007a). Estas regiões apresentaram uma fauna de vertebrados, em especial de
aves aquáticas, abundante e com uma alta riqueza de espécies (Burger & Ramos,
2007).
Fora estes dois estudos abrangendo três regiões importantes dentro dos
limites do Litoral Médio do RS, destacamos alguns estudos pontuais desenvolvidos
no Parque Estadual de Itapuã, que possui uma lista completa com as espécies de
répteis, alguns estudos desenvolvidos com aves, caracterização das espécies de
peixes em dois ambientes aquáticos e uma lista não publicada de anfíbios (Silva &
Fallavela, 1981; Scherer et al., 2000; Scherer et al., 2007; Dufech & Fialho, 2009;
Souza-Filho & Verrastro, 2012; Vinciprova & Colombo, com. pess.).
A partir da compilação de dados disponíveis sobre a fauna de vertebrados
ocorrente no Litoral Médio do RS, chegamos a um riqueza de 145 espécies de
5
peixes, 44 de anfíbios, 62 de répteis, 362 de aves e 77 de mamíferos, totalizando
uma riqueza de 690 espécies de vertebrados para a região. Destacamos que o
grupo das aves foi o mais representativo, abrangendo mais de 52% das espécies
registradas. Um grande parcela dessas espécies são comuns e apresentam ampla
distribuição no Estado, no entanto algumas merecem especial atenção por estarem
classificadas em alguma categoria de ameaça em âmbito regional, nacional e/ou
mundial, e/ou por apresentarem baixa plasticidade ambiental. Desta forma, a partir
deste total de vertebrados registrados, foram selecionadas algumas espécies-chave
para representar cada um dos grupos de vertebrados na elaboração do Zoneamento
de fauna, dos quais indicamos 22 espécies de peixes, três de anfíbios, quatro de
répteis, 29 de aves e 17 de mamíferos (Figura 1).
Figura 1. Mapa georeferenciado com a distribuição da fauna de vertebrados
selecionada do Litoral Médio do RS (arquivo entregue somente em meio digital).
A partir do laventamento dos pontos de ocorrência conhecidos para cada um
dessas espécies ao logo dos limites do Litoral Médio, fica evidente as lacunas de
informação existentes sobre a distribuição da fauna na região. Observamos que para
a maior parte das espécies os pontos de ocorrência conhecidos estão concentrados
nas unidades de conservação ou áreas próximas, ou em duas áreas bem
inventariadas que são a região dos Butiazais de Tapes e da Lagoa do Casamento
(Figura 1).
Algumas exceções são observadas para espécies que possuem grupos de
pesquisa com projetos específicos, como o caso das espécies de roedores do
gênero Ctenomys (tuco-tuco) e as lagartixas do gênero Liolaemus. Ambas possuem
linhas de pesquisa lideradas por professores da UFRGS, Thales de Freitas e Laura
Verrastro,
respectivemente
(http://www.ufrgs.br/projetotucotuco;
http://www.ufrgs.br/herpetologia). Além desses projetos destacamos o programa
Macacos Urbanos onde são levantados os dados para o bugio-ruivo (Alouatta
guariba clamitans) (http://www.ufrgs.br/macacosurbanos).
De maneira geral a fauna que compõem a nossa Planície Costeira apresenta
um baixo nível de endemismo, se comparada a outras regiões como a Mata
Atlântica, por exemplo. Esse baixo número de endemismos ocorre principalmente
6
devido a historia geológica bastante recente dos habitat presentes na região (Rocha
et al., 2000).
No presente estudo, não registramos endemismos para a região do Litoral
Médio, no entanto, pelo menos duas espécies que são endêmicas do Rio Grande do
Sul, possuem distribuição geográfica muito restrita e concentram a maior parte desta
nos limites do Litoral Médio, são elas: a lagartixa-da-areia (Liolaemus arambarensis)
e o tuco-tuco (Ctenomys lami). Ambos ocorrem em substratos arenosos das dunas
costeiras, no entanto a lagartixa-da-areia (Liolaemus arambarensis) ocorre na
restinga sobre depósitos arenosos holocênicos a noroeste da Laguna dos Patos,
desde Itapuã no município de Viamão até São Lourenço do Sul (Verrastro, 2001;
Verrastro et al., 2003). O tuco-tuco (Ctenomys lami), por sua vez, habita somente
uma linha estreita de dunas antigas que se estende desde o norte do Lago Guaíba
até as restingas a noroeste da Lagoa dos Barros chamada de Coxilha das Lombas
(municípios de Viamão e Santo Antônio da Patrulha) (Freitas, 2001; Fernandes et
al., 2007) (detalhes nos itens 3.2.3 répteis e 3.2.5 mamíferos).
Por outro lado, a fauna de vertebrados encontrada na região, em especial das
aves aquáticas, é considerada rica e abundante. Além dessa elevada diversidade de
aves observada, o Estado tem importância significativa para a conservação de aves
migratórias, tanto como área de descanso ou como área propícia para o
forrageamento e nidificação (detalhes no item 3.2.4 aves).
A
seguir
apresentamos
em
maior
detalhe
os
resultados
obtidos
separadamente para cada grupo de vertebrados avaliado, bem como uma descrição
sobre as espécies, seus habitats e as principais ameaças para cada grupo.
3.2.1. Peixes
O sistema da Laguna dos Patos (SLP), onde está inserida a maior
parcela da nossa área de estudo, possui um conhecimento taxonômico satisfatório
sobre a ictiofauna, sendo conhecidas 121 espécies de peixes de água doce somente
para este sistema (Reis et al., 2003; Becker et al., 2007b). No sistema rio Tramandaí
(Bacia do rio Tramandaí), no estremo norte do Litoral Médio, está confirmada a
ocorrência de cerca de 100 espécie de peixes, uma riqueza considerada elevada
para uma região geográfica tão restrita (Artioli, 2012; Malabarba et al., 2013). Cabe
ressaltar que a composição da ictiofauna observada nos corpos d´água da planície
7
costeira são comuns aos registradas na bacia da Laguna dos Patos, evidenciando
uma origem comum e recente desses sistemas (Malabarba et al., 2013).
Outro ambiente importante para ictiofauna da região são os estuários, que
suportam grandes estoques de peixes, principalmente juvenis, e para as regiões
temperadas são as principais áreas de criação para a maioria dos estoques de
espécies de importância comercial (Kennish, 1990). No Litoral Médio do Rio Grande
do Sul ocorrem dois importantes sistemas estuários, que são o da Lagoa do Peixe e
da Laguna dos Patos, onde estão registradas pelo menos 30 espécies de peixes
estuarinos residentes, dependentes ou visitantes marinhos ou de água doce (Ramos
& Vieira, 2001; Oliveira & Bemvenuti, 2006).
Com base principalmente nos trabalhos científicos produzidos com a
ictiofauna do Litoral Médio do RS, compilamos a ocorrência de 145 espécies de
peixes para a região (Ramos & Vieira, 2001; Loebmann & Vieira, 2005a; Becker et
al., 2007b; Malabarba, 2008; Corrêa et al., 2010, Artioli, 2012; Malabarba et al.
2013). Esta lista foi composta principalmente pelas espécies de peixes de água doce
que ocorrem nos riachos, lagoas e banhados ao longo da planície costeira, e foi
complementada com algumas espécies estuarinas mais comuns ou de importância
comercial (Anexo 1).
As 145 espécies de peixes registradas para o Litoral Médio estão distribuídas
em 11 ordens e 43 famílias, das quais a mais representativa foi Characidae onde
estão incluídos os peixes popularmente conhecidos como lambaris.
A ictiofauna da região está constituída por dois conjuntos principais de
espécies, o primeiro deles e mais numeroso está composto pelos peixes de água
doce. Nesse grupo estão incluídas algumas espécies com grande especificidade
ambiental, que é o caso dos peixes anuais (família Rivulidae), que tem seu ciclo de
vida estritamente relacionado a ambientes banhados e alagados temporários. O
segundo grupo é constituído por um número menor de espécies, cujo ciclo de vida
realiza-se parcialmente no oceano ou nas regiões estuarinas da Lagoa do Peixe e
Laguna dos Patos. Entre esses, estão algumas das espécies mais exploradas pela
pesca artesanal, como o bagre (Genidens barbus), a corvina (Micropogonias furnieri)
e a tainha (Mugil platanus) (Milani, 2005).
Assim como observado para a maior parte das espécies ameaçadas de
extinção de diferentes grupos de organismos, para os peixes de água doce a
principal ameaça provem das alterações ambientais provocadas pelo homem (Reis
8
et al., 2003). Para os ambientes de água doce da planície costeira, algumas
atividades antrópicas são potencialmente mais impactantes, incluindo desde
algumas das atividades mais tradicionais na região, como a orizicultura, pecuária e
silvicultura, a ocupação humana desordenada, e mais recentemente, a implantação
de centrais de geração de energia eólica (Malabarba et al., 2013). Já para as
espécies de peixe estuarinas e marinhas, a principal ameaça é a sobrepesca de
espécies com importância comercial, onde os estoques de algumas espécies mais
importantes como bagre, corvina, tainha já sofrem risco de sobreexplotação
(Instrução Normativa 05/2004 do Ministério do Meio Ambiente; Rosa & Lima, 2008).
Das espécies de peixes registradas para o litoral médio, 14 estão ameaçadas
de extinção ou sobreexplotadas (Marques, 2002; Rosa & Lima, 2008). Neste sentido,
tais espécies foram selecionadas como espécies de interesse especial, buscando
representatividade de ambientes importantes para a manutenção da ictiofauna como
um todo. Além dessas, outras espécies foram acrescentadas, por apresentarem
áreas de distribuição muito restritas dentro dos limites do litoral médio (Tabela 1).
Das espécies ameaçadas de peixes para o Rio Grande do Sul, cerca de 40%
pertencem a família Rivulidae (ou peixes anuais), devido a uma combinação de
fatores, inúmeras espécies da família se encontram ameaçadas de extinção (Reis et
al., 2003; Rosa & Lima, 2008). Entre esses fatores, os principais parecem ser o ciclo
de vida intimamente relacionado à dinâmica temporal das áreas úmidas temporárias,
áreas de distribuição restrita, limitada capacidade de dispersão e a acentuada
destruição das áreas úmidas (Reis et al., 2003; Costa, 2002a; Rosa & Lima, 2008;
Lanés & Maltchik, 2010). Outro fator importante parece ser o tamanho corporal
reduzido, já que as espécies de peixes que apresentam pequeno porte, como é o
caso dos peixes anuais, são especialmente suscetíveis a extinção (Olden et al.,
2007).
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Tabela 1. Espécies de peixes selecionadas como espécies-chave para a elaboração do Zoneamento de fauna da Área 4 do Projeto RS
Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum Status de ameaça Pesca SobreHabitat e distribuição
Brasil
RS
explotação
ATHERINIFORMES
Atherinopsidae
Odontesthes sp.1
peixe-rei
NA
NA
X
provavelmente endêmica da região da Lagoa do Casamento.
Odontesthes sp.2
peixe-rei
NA
NA
X
provavelmente endêmica da região da Lagoa do Casamento.
Odontesthes ledae
peixe-rei
LC
LC
X
endêmico do sistema do rio Tramandaí, ocorre nas lagoas mais ao sul do
sistema
CHARACIFORMES
Anostomidae
Schizodon jacuiensis
voga
LC
LC
X
peixe de piracema, presentes apenas em algumas estações do ano, com
distribuição restrita ao SLP.
Characidae
Oligosarcus jenynsii
branca
LC
LC
X
peixe exclusivo de água doce. Não tolera salinidade.
Erythrinidae
Hoplias aff. malabaricus
traíra
LC
LC
X
espécie comum e abundante em águas interiores como riachos, lagos e
canais de água doce.
peixe-anual
peixe-anual
peixe-anual
CR
EN
CR
CR
EN
CR
CYPRINODONTIFORMES
Rivulidae
Austrolebias adloffi
Austrolebias minuano
Austrolebias wolterstorffi
banhados e alagadiços temporários
banhados e alagadiços temporários
banhados e alagadiços temporários
10
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum Status de ameaça Pesca SobreHabitat e distribuição
Brasil
RS
explotação
Atlantirivulus riograndensis
killifish-sulino
NA
NA
riachos e poças rasas e pequenas dentro ou em áreas adjacentes a
floresta.
Cynopoecilus fulgens
Cynopoecilus melanotaenia
peixe-anual
peixe-anual
VU
NA
LC
banhados e alagadiços temporários
banhados e alagadiços temporários
Cynopoecilus multipapillatus peixe-anual
LC
banhados e alagadiços temporários
Cynopoecilus nigrovittatus
SILURIFORMES
peixe-anual
LC
banhados e alagadiços temporários
Ariidae
Genidens barbus
bagre
LC
Callichthyidae
Lepthoplosternum tordilho
tamboatá
Heptapteridae
Rhamdia aff. quelen
jundiá
LC
X
trata-se de um complexo de espécies e ocupam os mais diversos
ambientes lênticos e lóticos.
Loricariidae
Loricariichthys anus
cascudo-viola
LC
X
ocorre em rios, lagos e lagoas com águas calmas, vivendo junto ao fundo
lodoso e arenoso.
EN
X
X
passa a maior parte de sua vida no mar, mas migram para águas salobras
e doces em determinadas épocas do ano a fim de se reproduzir.
EN
pequenos riachos ou pequenas áreas alagadas, com densa vegetação de
macrófitas aquáticas
PERCIFORMES
Pomatomidae
11
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum Status de ameaça Pesca SobreHabitat e distribuição
Brasil
RS
explotação
Pomatomus saltarix
anchova
LC
X
X
é uma espécie pelágica, que no inverno se aproxima da costa para
formação de cardumes. Eventualmente entram em águas estuarinas para
se alimentar.
Sciaenidae
Micropogonias furnieri
corvina
LC
X
X
desova no oceano, porém passa parte da fase de crescimento no interior
de estuários e lagoas
Serranidae
Epinephelus marginatus
garoupa
LC
X
X
espécie marinha associada a fundos rochosos sendo comum em águas
costeiras, os juvenis visitam áreas de estuário.
Mugilidae
Mugil platanus
tainha
LC
X
X
encontrada em grande abundância nas lagoas estuarinas, locais que
dependem diretamente para completarem seu ciclo de vida.
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Froese & Pauly, 2013. Legenda: O Status de conservação seguiu classificação de Rosa & Lima, 2008
(Nacional) e Fontana et al., 2003 (Regional), onde LC são espécies menos preocupantes, NT são as quase ameaçadas, VU são as vulneráveis a extinção, EN são
as em perigo de extinção, CR são as criticamente em perigo de extinção, DD são as deficientes de dados e NA são as espécies não avaliadas na ocasião. Nos
campos Pesca e Sobreexplotação estão marcadas as espécies utilizadas como recurso pesqueiro e as que correm risco de sobreexplotação segundo a Instrução
Normativa 05/2004 do Ministério do Meio Ambiente.
12
No Rio Grande do Sul, a maioria das espécies de peixes anuais são
encontradas geralmente em áreas baixas e planas, próximas a rios ou lagoas, e
localizadas principalmente na Planície Costeira e na Depressão Central do Estado
(Lanés, 2011). Somente para o nosso Estado, são conhecidas 26 espécies de
peixes anuais, das quais 20 pertencem ao gênero Austrolebias, cinco a
Cynopoecilus e somente um ao gênero Atlantirivulus (Costa, 2002b; Costa & Lanes,
2009; Cheffe et al., 2010; Volcan et al., 2010; Costa, 2011; Volcan et al., 2011). No
entanto, a riqueza de espécies desse grupo para região está subestimada, visto que
estudos recentes apontam a ocorrência de espécies desse grupo ainda não
descritas nas regiões da Lagoa do Casamento e Butiazais de Tapes, e na metade
sul do Estado (Becker et al., 2007b; Lanés, 2011). Além disso, a alta
representatividade de espécies deste grupo observada em nosso Estado, e
especialmente na planície costeira, demonstra a importância da região para a
manutenção e conservação dos peixes anuais.
Na ocasião do Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio
Grande do Sul, foram indicadas 11 espécies do gênero Rivulidae como ameaçadas
de extinção para o Estado, destas, três tem ocorrência confirmada para o Litoral
Médio, são elas Austrolebias adloffi, Austrolebias minuano (Figura 2) e Austrolebias
wolterstorffi (Tabela 1), e pelo menos outras duas tem ocorrência potencial para a
região, como Austrolebias charrua que é conhecida para a várzea do Arroio Chuí e
Austrolebias nigrofasciatus que ocorre na margem esquerda do canal de São
Gonçalo (Reis et al., 2003; Costa, 2006). Para as quatro espécies do genero
Cynopoecilus (Figura 3) e uma Atlantirivulus que também possuem registro
confirmado para o Litoral Médio, é provável a inclusão das mesmas em futuras
listagens de espécies ameaçadas, principalmente em função do elevado grau de
endemismo e da situação de degradação das áreas úmidas da região (Costa,
2002a; Costa & Lanés, 2009; Volcan et al., 2011).
13
Figura 2. Fêmea (esquerda) e macho (direita) do peixe-anual (Austrolebias
minuano) (Foto de Daniel Loebmann).
A principal causa apontada para o grande número peixes anuais sob algum
grau de ameaça na região, está relacionada principalmente da perda e
fragmentação do seu habitat, como resultado da drenagem das áreas úmidas para a
agricultura, em especial aos cultivos de arroz, e ao avanço desordenado das áreas
urbanas (Reis et al., 2003; Volcan et al., 2010; Lanés & Maltchik, 2010). Além da
agricultura e urbanização, a crescente instalação de novos empreendimentos na
região, como silvicultura, instalação de parques eólicos e a construção ou duplicação
de estradas, indicam a necessidade de acompanhamento técnico e científico nessas
atividades a fim de garantir a conservação das populações de peixes anuais
remanescentes (Lanés & Maltchik, 2010; Volcan et al., 2011; Lanés, 2011).
Devido ao número elevado de espécies endêmicas e ameaçadas, os peixes
anuais representam um dos grupos animais que necessitam de estratégias
conservacionistas imediatas (Volcan et al., 2011). Como principais recomendações
para a conservação dos peixes anuais está a identificação e proteção dos habitats
remanescentes, realização de inventários específicos para confirmar a presença e
avaliar as populações do grupo em Unidades de Conservação, a criação de novas
unidades de conservação, entre outras (Rosa & Lima, 2008; Lanés & Maltchik, 2010;
Volcan et al., 2011; Lanés, 2011; Portaria Nº 198, de 19 de junho de 2013).
14
Figura 3. Macho de Cynopoecilus fulgens, holótipo coletado no município de São
José do Norte (Foto retirada de Costa, 2002b).
Além dos peixes anuais, outra espécie de peixe ameaçada de extinção em
ambito nacional e regional registrada para a área do Litoral Médio, é o tamboatá
(Lepthoplosternum tordilho). Esta espécie é endêmica do Rio Grande do Sul e
conhecida apenas para algumas poucas localidades nos municípios de Eldorado do
Sul, Porto Alegre e Barra de Ribeiro (Reis et al., 2003; Becker et al., 2007b). É
encontrada apenas em pequenos riachos ou pequenas áreas alagadas, com densa
vegetação de macrófitas aquáticas, e é naturalmente pouco abundante nos locais
onde ocorre (Reis, 1997). A descaracterização das áreas alagadas e pequenos
riachos para utilização agrícula e a poluição desses córpos d´água com pesticidas
agrícolas e esgoto doméstico, são algumas das principais ameaças a espécie (Reis
et al., 2003; Rosa & Lima, 2008).
Um segundo grupo de espécies de peixes que merece atenção especial são
as espécies de importância para a pesca, das quais algumas delas já encontra-se
em risco de sobreexplotação (Instrução Normativa 05/2004 do Ministério do Meio
Ambiente). Um grande número dessas espécies ocorre na área do Litoral Médio, e
passam parte do seu ciclo de vida áreas estuarinas ou marinhas, utilizando essas
áreas com parte da etapa de reprodução e crescimento (Oliveira & Bemvenuti, 2006;
Becker et al., 2007b). As espécies desse grupo sobre risco de sobreexplotação
registradas na área do Litoral Médio foram o bagre (Genidens barbus), a anchova
(Pomatomus saltarix), a corvina (Micropogonias furnieri), a garoupa (Epinephelus
marginatus) e a tainha (Mugil platanus) (Tabela 1). A corvina (Micropogonias furnieri)
representa um dos mais importantes recursos pesqueiros do sul do Brasil, a espécie
desova no oceano, no entanto passa parte da sua fase de crescimento no interior de
15
estuários e lagoas, como no SLP (Paiva,1997; Robert & Chaves, 2001). A introdução
de uma espécie exótica e invasora corvina-de-rio (Pachyurus bonariensis) no SLP,
pode representar um outro impacto importante a espécie, já que pode estar
exercendo impacto sobre as populações da corvina nativa (Micropogonias furnieri), e
reduzindo ainda mais a disponibilidade deste recurso pesqueiro (Becker et al.,
2007b).
Outras três espécies de água-doce, bastante representativas na pesca da
região, cascudo-viola (Loricariichthys anus), traíra (Hoplias aff. malabaricus) e jundiá
(Rhamdia aff. quelen) merecem atenção, já que a conservação destas espécies
como recurso pesqueiro não depende somente do manejo e gestão da pesca, mas
principalmente da conservação de tipos diferentes de habitat lênticos e lóticos
(Milani, 2005; Becker et al., 2007b). Desta forma, é importante a identificação de
áreas chaves para a reprodução e crescimento dessas espécies (Braun, 2005).
Por fim destacamos que para a conservação dos peixes no Litoral Médio do
RS, devemos considerar como importantes diversos tipos de habitat que são
essenciais para a manutenção deste grupo animal. As lagoas litorâneas são
importantes por abrigarem um maior riqueza de espécies, por outro lado, os
banhados temporários, e outros ambientes semelhantes, apesar de apresentarem
um baixa riqueza, abrigam espécies únicas e são de igual relevância para a
conservação (Becker et al., 2007b). Desta forma, para uma efetiva conservação dos
peixes dessa região é necessária, além da conservação de diferentes tipos de
ambientes de água-doce e estuarinos, a conexão entre os diferentes tipos de
ambientes, que permitirá a manutenção da ictiofauna como um todo.
3.2.2. Anfíbios
Os anfíbios representam um dos grupos de vertebrados mais conspícuos e
diversos, incluindo mais de 6.000 espécies reconhecidas e ocupando uma grande
variedade de ambientes terrestres e aquáticos (Duellman & Trueb, 1994; Frost et al.,
2006). Por apresentarem uma pele bastante fina e permeável, são bastante
sensíveis a alterações ambientais, e desta forma são considerados excelentes
indicadores de qualidade ambiental.
O Brasil é atualmente o país com a maior riqueza de anfíbios no mundo, com
946 espécies registradas (Segalla et al., 2012), já para o Rio Grande do Sul estão
confirmadas mais de 100 dessas espécies de anfíbios (e.g. Braun & Braun 1980;
16
Garcia & Vinciprova 1998; Machado & Maltchik, 2007; Rosset 2008; Colombo et al.,
2007; Zank et al., 2008; Zank, 2012).
Para a área do Litoral Médio do RS compilamos um total de 44 espécies de
anfíbios, das quais 40 tiveram sua ocorrência confirmada por meio de testemunho
depositado em coleção científica (Anexo 2). Além disso, indicamos a ocorrência
potencial de pelo menos mais quatro espécies para a região, (Anexo 2), que são o
sapo-de-barriga-vermelha
(Melanophryniscus
montevidensis),
o
sapo-boi
(Ceratophrys ornata), a rã-criola (Leptodactylus chaquensis) e a cobra-de-duascabeças (Chthonerpeton indistinctum).
Do total de 44 espécies de anfíbios indicadas para a região, a grande maioria
pertence a Ordem Anura (onde estão incluídos os sapos, rãs e pererecas), com 43
representantes distribuídos em nove famílias, das quais Hylidae foi a mais
representativa com 15 espécies, seguida de Leptodactylidae com 13 espécies
(Anexo 2).
Com relação as espécies com ocorrência potencial duas merecem atenção
especial, o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus montevidensis) e o sapoboi (Ceratophrys ornata). A primeira delas, M. montevidensis, possui distribuição
restrita no Uruguai e é conhecida de somente duas localidades do extremo sul do
Rio Grande do Sul (municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí) (Zank, 2012), no
entanto ocorre em um habitat bastante comum na área do Litoral Médio e, portanto
pode vir a ser registrado dentro dos limites do mesmo. Esta espécie ocorre em
banhados temporários ou semi-temporários localizados atrás das dunas primárias, e
entre os impactos e ameaças conhecidas para a espécie no estado, destacamos as
atividades agrícolas da cultura do arroz e atividades relacionadas (Marcelo D. Freire
com. press). As ameaças eminentes, bem como o grau de fragmentação de suas
localidades conhecidas sugerem a classificação desta espécie em algum grau de
ameaça após a revisão da Lista de Espécies da Fauna Ameaçada do RS. A
segunda delas, é o sapo-boi (Ceratophrys ornata) que tem seu registro confirmado
exclusivamente nas áreas de dunas costeiras em duas localidades a extremo sul do
Estado (municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar). Está classificada
como vulnerável na lista de espécies ameaçadas do RS (Garcia e Vinciprova, 2003),
e não é registrada desde o início da década de 80 no Estado, além disso seu habitat
encontra-se bastante impactado pela cultura de arroz e monoculturas de Pinus sp.
17
Já as espécies de anfíbios com ocorrência confirmada para o Litoral Médio do
RS, são em sua maioria comuns e possuem ampla distribuição no Estado (Zank,
2012). Apesar disso, três delas merecem destaque,
são elas a rã-das-matas
(Ischnocnema henselii), o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus dorsalis) e o
sapo-de-barriga-vermelha-marmoreado (Melanophryniscus pachyrhynus) (Tabela 2).
Tais espécies são de interesse especial para a região por estarem classificadas em
alguma categoria de ameaça em âmbito global, nacional e/ou regional, ou
apresentarem grande especificidade ambiental, desta forma foram selecionadas
como espécies chave para direcionar o Zoneamento de Fauna com relação aos
anfíbios.
A primeira delas, o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus dorsalis)
(Figura 4a) está ameaçada em âmbito global, nacional e regional, sendo que no Rio
Grande do Sul está classificada como vulnerável entre as categorias de ameaça
(Garcia & Vinciprova 2003; Subirá et al., 2012; IUCN, 2013). Sua distribuição
geográfica está limitada a região costeira do extremo sul do Brasil, e se estende de
Imbituba, Santa Catarina a Rio Grande (Ilha dos Marinheiros), Rio Grande do Sul
(Garcia & Vinciprova 2003; Quintela et al. 2007). Esta espécie se reproduz em
banhados temporários, comumente encontrados nas áreas de baixada após dunas
primárias (Colombo et al., 2008). Entre as principais ameaças a espécies na região
do Litoral Médio do RS estão a urbanização desordenada das zonas litorâneas e o
cultivo de espécies exóticas e de arroz (Garcia & Vinciprova, 2003).
18
Tabela 2. Espécies de anfíbios selecionadas como espécies-chave para a elaboração do Zoneamento de fauna da Área 4 do
Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
Nome comum
Status de ameaça Habitat e distribuição
ORDEM/ Família/ Espécie
Brasil
RS
ANURA
Bufonidae
Melanophryniscus dorsalis
sapinho-de-barriga-vermelha
VU
VU
distribuíção limitada a região costeira do extremo sul do
Brasil, ocorre em banhados temporários, nas áreas de
baixada após dunas primárias
Melanophryniscus pachyrhynus sapinho-de-barriga-vermelha-marmoreado LC
LC
distribuição associada a morros com afloramentos
rochosos da Serra do Sudeste, sua reprodução ocorre em
pequenos riachos temporários
Brachycephalidae
Ischnocnema henselii
LC
ocorre em florestas úmidas maduras ou secundárias
avançadas e restritas as formações de Floresta Ombrófila
Mista
rã-das-matas
LC
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Segalla et al., 2012. Legenda: *Espécies com ocorrência potencial para os limites do Litoral Médio do
RS. ex Espécie exótica e invasora. O Status de conservação seguiu classificação de Subirá et al., 2012 (Nacional) e Fontana et al., 2003 (Regional), onde LC
são espécies menos preocupantes, NT são as quase ameaçadas, VU são as vulneráveis a extinção, EN são as em perigo de extinção, CR são as
criticamente em perigo de extinção, DD são as deficientes de dados e NA são as espécies não avaliadas na ocasião.
19
Sua
congênere
o
sapo-de-barriga-vermelha-marmoreado
(Melanophryniscus pachyrhynus) (Figura 4b) apesar de não estar classificada
em alguma categoria de ameaça, e de ter sua presença conhecida em diversas
localidades ao longo da Serra do Sudeste, é uma espécie que possui grande
especificidade ambiental (Zank, 2012). Esta espécie tem sua distribuição
associada a terrenos íngremes com formações rochosas graníticas e
vegetação composta por um mosaico de áreas abertas e florestais,
características da Serra do Sudeste (Vaz-Silva et al., 2008; Zank, 2012).
Aspectos sobre sua reprodução e história natural ainda são pouco conhecidos,
no entanto, sabe-se que sua reprodução ocorre em pequenos riachos
temporários formados após períodos de chuva intensa (Santos et al., 2011).
Nos limites do Litoral Médio do RS possui registro histórico para o Morro
Santana e Parque Saint Hilaire ambos no município de Viamão, mas pode
ocorrer em outras localidades de morros graníticos.
Figura 4. Exemplares dos sapinhos-de-barriga-vermelha (a) Melanophryniscus
dorsalis e (b) Melanophryniscus pachyrhynus (Fotos (a) de Márcio Borges
Martins e (b) Caroline Zank).
A rã-das-matas (Ischnocnema henselii) possui apenas um registro
histórico para o município de Viamão nos limites do Litoral Médio do RS, que
representa atualmente seu limite sul de distribuição (Caroline Zank, com.
pess.). Sua área de ocorrência está restrita as formações de Floresta Ombrófila
Mista, mais precisamente dentro de florestas maduras ou secundárias
avançadas (Kwet & Solé, 2005). É uma espécie terrícola e sua desova ocorre
no chão da floresta, debaixo de folhas ou troncos caídos (Kwet et al., 2010). Os
ambientes utilizados pela espécie já encontram-se bastante alterados e
fragmentados na região. Sendo que, a redução desses ambientes florestais
úmidos utilizados pela espécie, é ocasionada principalmente devido ao
20
crescimento das áreas urbanas, mas também em decorrência da expansão das
atividades agrícolas e silvicultura (Garcia & Vinciprova, 2003; Subirá et al.,
2012).
3.2.3. Répteis
Com relação ao número de espécies de répteis, o Brasil está na
segunda colocação dos países com maior riqueza, até o momento 744
espécies registradas (Bérnils & Costa, 2012). Apesar do grande número de
espécies, os répteis despertam pouco interesse popular, devido principalmente
à falta de informação, medo, ou antipatia por parte da maioria das pessoas (DiBernardo et al., 2003). Devido a isso, ainda são propositalmente exterminados,
e apesar desse extermínio de indivíduos contribuir para o declínio populacional
de algumas espécies, de maneira geral, são a descaracterização e destruição
dos habitat que constituem a ameaça mais severa ao grupo (Di-Bernardo et al.,
2003).
Na área do Litoral Médio do RS registramos a ocorrência de 62 espécies
de répteis, das quais a grande maioria pertence a Ordem Squamata
(representada pelas cobras e lagartos) (Anexo 3). Destas espécies, a família de
serpentes Dipsadidae foi a mais representativa abrangendo mais da metade
das espécies confirmadas para a região, com 32 ao total (Anexo 3).
Com relação as espécies de répteis registradas, a grande maioria delas
são espécie não ameaçadas, comuns e bem distribuídas no Estado, no
entanto, três espécies lagartos e uma serpente foram selecionadas como
espécies-chave de répteis para o Zoneamento na área do Litoral Médio do RS
(Tabela 3). Tais espécies correm risco de extinção e/ou apresentam restrição
quanto ao tipo de habitat e/ou representam um táxon novo, e desta forma são
espécies importantes direcionar o Zoneamento de fauna.
A lagartixa-listrada
(Contomastix aff.
lacertoides)
e
a
serpente
mussurana (Phimophis aff. guerini) foram destacadas por se tratarem de táxon
novos
(Márcio
Borges-Martins com.
pess.),
e
portanto
ainda
serem
insuficientemente conhecidos, mas que parecem estar associados as
formações campestres e arenosas, as quais são bastante abundantes no
Litoral Médio.
21
A lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis) é um pequeno lagarto que
ocorre nos ambientes de dunas costeiras do extremo sul do Brasil, nos Estados
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e na costa do Uruguai (Verrastro, 1991;
Verrastro et al., 2006). Vive associado às moitas de vegetação herbácea
presentes nas dunas de areia móvel, sendo que essa vegetação presente nas
dunas é essencial para a alimentação, o refúgio de predadores e a
termorregulação desta espécie (Verrastro & Bujes, 1998; Bujes & Verrastro,
2008). Este lagarto está ameaçado de extinção no Brasil e em nosso Estado,
devido principalmente a redução severa de suas áreas de distribuição
causadas pela fragmentação e, em casos mais extremos, à perda total de seus
habitats devido ao crescimento da atividade humana nas últimas décadas
(Fontana et al., 2003).
Figura 5. Exemplar da lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis) em seu habitat
natural (município de Mostardas, RS) (Foto de Laura Verrastro).
A presença da lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis) (Figura 5) está
associada principalmente a comunidades vegetais que ocorrem em ambientes
não antropizados, sendo que a presença da espécie em áreas semiurbanizadas e urbanizadas é muito baixa, e quando ocorre, está associada a
plantas que caracterizam o ambiente natural, como o capim-das-dunas
(Panicum racemosum) e a erva-capitão (Hydrocotyle bonariensis) (Melamed &
Verrastro, 1997). O Litoral Médio do RS representa uma região extremamente
importante para a conservação de L. occipitalis, visto que ainda abriga grandes
populações da espécie por ter sofrido menos impacto antrópico, ao contrário do
22
observado no litoral norte do RS, onde grande parte das populações desta
espécies foi reduzida e algumas foram até mesmo extintas ( Silva, 2013).
A lagartixa-da-areia (Liolaemus arambarensis) (Figura 6) é uma espécie
endêmica do Rio Grande do Sul, e com distribuição geográfica muito restrita,
ocorrendo desde Itapuã no município de Viamão até São Lourenço do Sul
(Verrastro et al., 2003). Ocorre em substrato arenoso, associada à vegetação
herbácea e arbustivo/arbórea, típicas das regiões de restinga sobre depósitos
arenosos holocênicos a noroeste da Laguna dos Patos (Verrastro, 2001).
Devido a sua descrição recente, apenas em 2003, não foi avaliada na ocasião
da elaboração das listas de espécies ameaçadas do Rio Grande do Sul e
Nacional (Fontana et al., 2003; Verrastro et al., 2003; Martins & Molina, 2008).
É uma espécie que sofre as mesmas pressões antrópicas de sua
congênere L. occipitalis, e portanto espera-se que seja classificada em alguma
categoria de ameaça após revisão das listas regionais e nacional. Isso ocorre
pelo fato de seu habitat estar restrito às restingas arenosas da região da Lagoa
dos Patos, e tais ambientes vem sofrendo um grande decréscimo, já que
representam áreas de grande interesse econômico, seja para especulação
imobiliária, empreendimentos de lazer, ou mesmo construção de rodovias
(Verrastro, 2001; Verrastro et al., 2003).
Figura 6. Exemplar da lagartixa-da-areia (Liolaemus arambarensis) em seu
habitat natural (município de Barra do Ribeiro, RS) (Foto de Márcio Borges
Martins).
23
Tabela 3. Espécies de répteis selecionadas como espécies-chave para a elaboração do Zoneamento de fauna da Área 4 do
Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
ORDEM/ Família/ Espécie
Brasil RS
SQUAMATA
Dipsadidae
Phimophis aff. guerini
mussurana
Liolaemidae
Liolaemus arambarensis
lagartixa-da-areia NA
NA endêmica do RS, apresenta distribuição geográfica muito restrita as regiões de restinga a
noroeste da Laguna dos Patos.
Liolaemus occipitalis
lagartixa-da-praia VU
VU ocorre no extremo sul do Brasil (RS e SC) e na costa do Uruguai e vive associado às moitas de
vegetação herbácea presentes nos ambientes de dunas costeiras.
Teiidae
Contomastix aff. lacertoides lagartixa-listrada
NA
NA
NA taxon novo, sua distrubuição parece estar associada a áreas de Savana, campo aberto.
NA taxon novo, sua área de distribuição parece estar associada a formações campestres e
arenosas.
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Bérnils & Costa, 2012. Legenda: O Status de conservação seguiu classificação de Martins & Molina,
2008 (Nacional) e Fontana et al., 2003 (Regional), onde LC são espécies menos preocupantes, NT são as quase ameaçadas, VU são as vulneráveis a
extinção, EN são as em perigo de extinção, CR são as criticamente em perigo de extinção, DD são as deficientes de dados e NA são as espécies não
avaliadas na ocasião.
24
Os ecossistemas de dunas e restingas litorâneas utilizados por essas
espécies de lagartos (L. arambarensis e L. occipitalis) tem sido fortemente
descaracterizados, sendo que entre os grandes impactos sobre estas
formações destacam-se o aumento indiscriminado dos loteamentos em
balneários, a expansão da silvicultura em áreas de duna, a retirada de areia e a
contaminação do solo e de corpos d'água (Melamed & Verrastro, 1997; Silva,
2013). Já como medidas sugeridas para a conservação dessas espécies, a
principal seria a conservação das dunas costeiras, no entanto a criação e
manutenção
de unidades de conservação, a fim de evitar que as áreas
urbanas se interliguem e ocupem a costa de maneira contínua, também é uma
medida importante (Verrastro, 2001; Martins & Molina, 2008).
3.2.4. Aves
O Rio Grande do Sul, por sua localização e constituição geomorfológica,
ocupa uma posição de transição entre várias formações florestais e
campestres, sendo limite de distribuição para várias espécies de aves. Como
marco topográfico importante, a ruptura perto da escarpa da serra delimita as
florestas do norte do Estado e os terrenos mais abertos ao sul, contribuindo
para uma transição na avifauna (Belton, 1994).
Além da elevada diversidade avifaunística existente, o Estado tem
significativa importância para a conservação de aves migratórias, seja como
área de descanso para espécies que buscam as latitudes extremas do
continente ou como área propícia ao forrageamento e nidificação de outras
espécies. Das 624 espécies listadas em Bencke (2001), 31 (incluindo 2
espécies pelágicas) são consideradas como visitantes migratórios provenientes
do Hemisfério Norte, 31 (incluindo 14 espécies pelágicas) são consideradas
como visitantes migratórios do Cone Sul do continente e 68 (incluindo espécies
com status assumido, mas não confirmado, e não considerando espécies
vagantes) permanecem no Estado durante a primavera/verão, aqui nidificando.
Dentre os ecossistemas existentes no Estado, a Planície Costeira
merece destaque por sua extensa área de praia e planícies entremeadas por
florestas aluviais, campos, banhados, muitas vezes conectados por estreitos
canais, lagoas e lagunas, que reúnem uma expressiva riqueza ornitológica.
25
Na planície costeira riograndense, a Lagoa do Peixe, ao sul de
Mostardas, oferece refúgio para flamingos (Phoenicopterus chilensis e, em
menor número, Phoenicoparrus andinus) (Figura 7) e uma variedade de
espécies de praia. As praias de mar e águas costeiras perto da Barra de Rio
Grande (desembocadura da Laguna dos Patos) são locais propícios para aves
pelágicas. Muitas áreas no sul do Estado são ricas em anatídeos (marrecas,
cisnes e capororocas), entre outras espécies (Belton, 1994).
Figura 7. Indivíduos de flamingo-andino (Phoenicoparrus andinus) em seu
habitat natural (foto de Jan Karel Felix Mähler Junior).
Das 661 espécies de aves listadas para o Rio Grande do Sul (Bencke et
al., 2010), 362 (54,8% do total) apresentam registros para a área de interesse
no presente estudo (Anexo 4). Deste total, 29 espécies, incluindo três apenas
com registros históricos obtidos há mais de 80 anos, apresentam algum grau
de ameaça de extinção ou estão próximas a essa condição – Near Threatened
(Marques et al., 2002; Monteiro et al., 2008; IUCN, 2013) (Tabela 4). Na
seleção das espécies ameaçadas não foram consideradas as espécies
marinhas.
A maior ameaça as aves em perigo de extinção no Estado é sem dúvida
a destruição do habita, sejam eles florestas, campos ou banhados, já a
degradação do habitat representa outro grande problema, pois ocasiona perda
na qualidade do ambiente utilizado (Bencke et al., 2003).
26
Tabela 4. Espécies de aves selecionadas como espécies-chave para a elaboração do Zoneamento de fauna da Área 4 do Projeto
RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum
Status de ameaça Habitat e distribuição
Brasil RS Mundial
ACCIPITRIFORMES
Accipitridae
Busarellus nigricollis
gavião-velho
LC
VU
Circus cinereus
Geranoaetus melanoleucus*
Pseudastur polionotus
gavião-cinza
águia-chilena
gavião-pombo-branco
VU
VU
VU
EN NT
Urubitinga coronata*
águia-cinzenta
VU
CR EN
ambientes abertos com árvores e arbustos, ocupando também áreas de
floresta em regiões montanhosas
áreas relativamente abertas junto a ambientes aquáticos, como extensos
pântanos, banhados, manguezais, campos inundados, lagoas, margens de
rios e matas alagadas
banhados temporários, áreas de baixada após dunas primárias
campos com coxilhas e morros e áreas abertas com árvores esparsas
florestas
ANSERIFORMES
Anatidae
Cairina moschata
Sarkidiornis sylvicola
pato-do-mato
pato-de-crista
EN
VU
lagos, rios e banhados cercados de florestas
banhados, rios com florestas marginais, lagoas, açudes, depressões
alagadas em meio a lavouras, arrozais, margens de canais e reservatórios.
CAPRIMULGIFORMES
Caprimulgidae
Hydropsalis anomala
curiango-do-banhado
EN NT
campos úmidos ou secos, banhados e suas margens, beiras de matas
ciliares, áreas arbustivas, restingas e savanas
VU VU
costas oceânicas, sendo encontrada em praias, costões rochosos, baías,
lagoas salobras e, especialmente, estuários
CHARADRIIFORMES
Laridae
Larus atlanticus
gaivota-de-rabo-preto
VU
27
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum
Status de ameaça Habitat e distribuição
Brasil RS Mundial
Scolopacidae
Gallinago undulata
narcejão
VU
Tryngites subruficollis
maçarico-acanelado
VU NT
Sternidae
Thalasseus maximus
GRUIFORMES
Rallidae
Porzana spiloptera
PASSERIFORMES
Cotingidae
Carpornis cucullata
Emberizidae
Sporophila angolensis
Sporophila collaris
trinta-réis-real
VU
sanã-cinza
VU
varjões, tremedais, pequenos brejos, banhados, lagoas e lagunas
litorâneas, áreas pantanosas e pastagens
campos de vegetação rasteira com altura ao redor de 2-5 cm e, em menor
escala, áreas de orizicultura
ambientes costeiros
EN VU
corocoxó
marismas, banhados e capinzais inundáveis
NT
áreas florestais
curió
EN
beiras de floresta, áreas de vegetação arbustiva, capoeiras e terrenos
pantanosos
banhados e suas imediações, especialmente com vegetação aquática alta,
densa e variada onde haja também arbustos e arvoretas
coleiro-do-brejo
VU
gaturamo-verdadeiro
VU
florestas ombrófilas e estacionais
Fringillidae
Euphonia violacea
Furnariidae
Limnoctites rectirostris
Spartonoica maluroides
Icteridae
Xanthopsar flavus
arredio-do-gravatá
boininha
VU
VU NT
VU NT
gravatazais
áreas parcialmente alagadas ou inundáveis, tais como marismas,
depressões e margens de banhados, lagoas ou cursos d´água
veste-amarela
VU
VU VU
áreas de campos entremeados por banhados de turfa, campos pedregosos,
campos úmidos e pastagens
28
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Motacillidae
Anthus nattereri
Tyrannidae
Alectrurus risora*
Cnemotriccus fuscatus fuscatus
Xolmis dominicanus
PHOENICOPTERIFORMES
Phoenicopteridae
Phoenicoparrus andinus
Phoenicopterus chilensis
PICIFORMES
Picidae
Piculus aurulentus
Ramphastidae
Ramphastos toco
STRUTHIONIFORMES
Rheidae
Rhea americana
Nome comum
Status de ameaça Habitat e distribuição
Brasil RS Mundial
caminheiro-grande
VU
tesoura-do-campo
guaracavuçu
noivinha-de-rabo-preto
VU VU
campos nativos (não ralos), campos com afloramentos rochosos
VU
áreas abertas
florestas costeiras e restingas arbóreas
campos sujos próximos a banhados, campos pedregosos e banhados
VU
VU VU
flamingo-andino
VU
Lagoa do Peixe
flamingo
NT
lagoas costeiras rasas
pica-pau-dourado
NT
diferentes tipos de floresta
tucanuçu
ema
VU
bordas e estrato emergente de florestas, capões e matas ripárias, savanas
NT
áreas campestres
A classificação e nomenclatura seguem compilação de CBRO, 2011, e os nomes populares seguem Bencke et al.,2010. Legenda: * Espécies com apenas
registro histórico para a região (Gliesch, 1930). O Status de conservação seguiu classificação de Silveira & Straube, 2008 (Nacional) e Fontana et al., 2003
(Regional), onde LC são espécies menos preocupantes, NT são as quase ameaçadas, VU são as vulneráveis a extinção, EN são as em perigo de extinção,
CR são as criticamente em perigo de extinção, DD são as deficientes de dados e NA são as espécies não avaliadas na ocasião.
29
Uma das principais atividades econômicas do Litoral Médio, a rizicultura,
em especial do arroz irrigado, representam um impacto importante para as
aves aquáticas, pois provoca múltiplas alterações no ambiente, simplificando a
paisagem e mudando a oferta de abrigo, de áreas para nidificação e de
alimentação (Menegheti, 2009). Esta perda e fragmentação de habitat gera
mudanças importantes, tanto na composição e quanto na abundância das
populações de aves.
Neste sentido, Bencke et al. (2006) descrevem três áreas importantes
para a conservação das aves no Rio Grande do Sul:
O Banhado dos Pachecos, onde foi criado o Refúgio de Vida Silvestre
Banhado dos Pachecos, está incluído no Sistema Banhado Grande, complexo
de áreas alagadas que dá origem ao rio Gravataí. Grande parte do Banhado
dos Pachecos já foi convertida em lavouras ou açudes, restando atualmente
cerca de 1.685 ha de banhados naturais. A área apresenta grande importância
como hábitat de aves que dependem de banhados densos e capinzais úmidos.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe abriga uma laguna rasa e salina,
de características únicas no contexto da costa brasileira. Variações no nível de
água da laguna ou na direção e intensidade dos ventos expõem extensos
bancos de lodo, utilizados por aves costeiras como áreas de alimentação. Além
do ambiente lagunar, o parque inclui banhados de água doce, marismas
(banhados salobres), campos úmidos, alagados temporários, matas de restinga
e paludosas, dunas móveis e fixas e um extenso segmento de praia oceânica.
A Lagoa do Peixe representa uma área de grande importância para aves
migratórias em toda a costa leste da América do Sul. Várias espécies limícolas
oriundas do sul do continente ou da região neártica congregam-se em números
significativos nessa área, ali invernando ou realizando escala durante suas
migrações até regiões mais austrais. No entorno da unidade de conservação
são desenvolvidas principalmente a silvicultura e a pecuária extensiva.
Por fim, o estuário da Laguna dos Patos corresponde à orla da
extremidade meridional da laguna dos Patos, aproximadamente entre a barra
do canal São Gonçalo e a foz da laguna no oceano Atlântico. Destacam-se na
região as marismas, pântanos salobres caracterizados por vegetação halófila e
profundidade influenciada pelas oscilações da maré. A área é importante tanto
30
visitantes austrais (p. ex., Phoenicopterus chilensis, Charadrius modestus,
Larus atlanticus) quanto setentrionais (p. ex., Pluvialis spp., Calidris spp.,
Tryngites subruficollis, Sterna hirundo), muitas delas congregando-se em
números expressivos. L. atlanticus parece ter no estuário da laguna dos Patos
sua única área de invernagem regular em território brasileiro. Em anos de
estiagem, Cygnus melancoryphus refugia-se em grande número nas enseadas
do estuário.
3.2.5. Mamíferos
Apesar dos mamíferos representarem o grupo de organismos mais bem
conhecidos,
lacunas
de
conhecimento
ainda
dificultam iniciativas
de
conservação e manejo, principalmente em análises regionais (Brito, 2004). A
perda e a fragmentação de habitat, resultantes de atividades humanas,
constituem as maiores ameaças aos mamíferos terrestres no Brasil, além disso
para mamíferos terrestres de grande e médio porte ainda há a pressão de caça
(Costa et al., 2005).
A região de abrangência do Litoral Médio do RS apresenta uma riqueza
confirmada de 66 espécies nativas de mamíferos terrestres e semi-aquáticos
(Anexo 5). Essa riqueza é representada por 26 espécies de roedores (Ordem
Rodentia), 14 carnívoros (Carnivora), 13 morcegos (Chiroptera), 5 tatus
(Cingulata), 4 marsupiais (Didelphimorphia), 2 cervídeos (Artiodactyla), um
primata (Primates) e um tamanduá (Pilosa).
Outras seis espécies exóticas tem presença confirmada para a região, e
grande parte delas apresentando impactos negativos sobre a fauna local, com
a predação e/ou competição com animais nativos (ex. cachorro-doméstico,
gato-doméstico e lebre-européia), degradação e alteração dos ambientes
nativos, como o javali-europeu e problemas para a saúde pública (camundongo
e rato-domético) (Anexo 5).
31
Tabela 5. Espécies de mamíferos selecionadas como espécies-chave para a elaboração do Zoneamento de fauna da Área 4 do
Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Nome comum
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Status de ameaça Habitat e distribuição
Brasil
RS
ARTIODACTYLA
Cervidae
Blastocerus dichotomus
Mazama gouazoubira
cervo-do-Pantanal
veado-catingueiro
VU
LC
CR
VU
áreas úmidas (banhados, campos alagáveis, várzeas)
florestas e savanas
gato-palheiro
gato-do-matogrande
jaguatirica
VU
LC
EN
VU
savanas e campos
florestas e savanas
VU
VU
florestas e savanas, tende a evitar áreas mais abertas
gato-do-matopequeno
gato-maracajá
onça-parda
gato-mourisco
VU
VU
florestas e savanas
VU
VU
LC
VU
EN
VU
florestas
florestas, campos, savanas
florestas, campos, savanas
LC
VU
florestas
LC
VU
florestas e savanas
LC
VU
florestas
CARNIVORA
Felidae
Leopardus braccatus
Leopardus geoffroyi
Leopardus pardalis
Leopardus tigrinus
Leopardus wiedii
Puma concolor
Puma yagouaroundi
Mustelidae
Eira barbara
irara
PILOSA
Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla
tamanduá-mirim
PRIMATES
Atelidae
Alouatta guariba clamitans bugio-ruivo
32
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
RODENTIA
Cuniculidae
Cuniculus paca
Dasyproctidae
Dasyprocta azarae
Ctenomyidae
Ctenomys flamarioni
Ctenomys lami
Ctenomys minutus
Nome comum
Status de ameaça Habitat e distribuição
Brasil
RS
paca
LC
EN
florestas
cutia
LC
VU
florestas
tuco-tuco-branco
tuco-tuco
tuco-tuco
VU
LC
LC
VU
LC
LC
primeira linha de dunas das praias litorâneas e campos arenosos
campos arenosos da Coxilha das Lombas
habita as dunas primárias e especialmente os campos arenosos da Planície Costeira
do sul do Brasil
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Wilson & Reeders, 2011 e Voss et al., 2013. Legenda: *Espécies com ocorrência potencial para os
limites do Litoral Médio do RS. ex Espécie exótica. O Status de conservação seguiu classificação de Chiarello et al., 2008 (Nacional) e Fontana et al., 2003
(Regional), onde LC são espécies menos preocupantes, NT são as quase ameaçadas, VU são as vulneráveis a extinção, EN são as em perigo de extinção,
CR são as criticamente em perigo de extinção, DD são as deficientes de dados e NA são as espécies não avaliadas na ocasião.
33
Além dessas, pelo menos mais cinco espécies de mamíferos tem
ocorrência potencial para a região, são eles: cuíca-lanosa (Caluromys lanatus),
cuíca-d'água (Chironectes minimus), veado-mateiro (Mazama americana), quati
(Nasua nasua) e morcelo (Myotis ruber) (Anexo 5). Todas essas espécies
apesar de não possuírem registros confirmados para a região abrangência do
Litoral Médio do RS, possuem ocorrência conhecida para municípios próximos
a região e desta forma podem ocorrer nos limites do Litoral Médio. Desta
forma, chegamos a um total de 77 espécies de mamíferos terrestres e semiaquáticos com ocorrência indicada para região (Anexo 5).
Dezessete espécies (26 %) encontradas na região estão classificadas
como ameaçadas de extinção em nível regional, nacional e/ou mundial
(Fontana et al., 2003; Chiarello et al., 2008; IUCN, 2013). O tuco-tuco
(Ctenomys lami), embora não esteja classificada como ameaçada pelo Livro
Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção do RS de 2003 (Fontana et al.,
2003), é considerado Vulnerável mundialmente (Bidau et al., 2008).
Para o
Estado do Rio Grande do Sul, 13 destas espécies são classificadas como
Vulneráveis, duas como Em Perigo e uma como Criticamente em Perigo, o
cervo-do-Pantanal (Blastocerus dichotomus) (Tabela 5). A maior parte dessas
espécies foram selecionadas como espécies importantes para representar os
mamíferos no Zoneamento de fauna do Litoral Médio do RS (Tabela 5).
Embora os limites políticos municipais da região de abrangência do
Litoral Médio não apresentem nenhum endemismo em nível de espécie de
mamíferos reconhecido, a região abriga importantes populações de algumas
espécies. O cervo-do-Pantanal (Blastocerus dichotomus) (Figura 8) é uma
espécie considerada Vulnerável nacional e mundialmente, e a única população
atual conhecida para o Estado do RS se constitui de poucos indivíduos (< 10)
que habitam a área do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos,
município de Viamão.
34
Figura 8. Indivíduo do cervo-do-Pantanal (Blastocerus dichotomus) em seu
ambiente natural (Foto de Igor Pfeifer Coelho).
Outro grupo de espécies ameaçadas importantes são os carnívoros, que
por serem em sua grande maioria predadores, são considerados espécieschave para a conservação da biodiversidade em geral, visto que regulam as
populações de suas presas e desta forma ajudam a estruturar as comunidades
naturais (Indrusiak & Eizirik, 2003). Por necessitarem de grandes áreas para
manter suas populações viáveis, esforços para conservar áreas suficientes à
conservação de carnívoros acabam por preservar também as outras espécies
da comunidade (Chiarello et al., 2008). A destruição, fragmentação e alteração
de habitats representam a principal causa de ameaça para todas as espécies
deste grupo, sendo que a segunda principal causa de ameaça para as
espécies de carnívoros são a mortalidade pela caça, atropelamento e doenças
(Indrusiak & Eizirik, 2003; Chiarello et al., 2008). Na área do Litoral Médio do
RS ocorrem sete espécies de carnívoros ameaçadas de extinção, todas da
família dos felinos, e todas elas foram incluídas como espécies-chave para o
presente Zoneamento de fauna (Tabela 5).
35
Figura 9. Indivíduo de onça-parda (Puma concolor) fotografado em seu
ambiente natural (Foto de Oliveira LFB, Hofmann GS & Coelho IP).
Os roedores também representam um grupo importante, se levarmos em
consideração o número total de espécies ameaçadas de mamíferos no Brasil,
os roedores em risco apesar de representarem apenas 7% desse total,
somente um não é endêmico ao Brasil (Costa et al., 2005). Para os limites do
Litoral Médio do RS temos a presença confirmada de representantes
importantes deste grupo, como as espécies do gênero Ctenomys (tuco-tucos)
que são roedores subterrâneos.
No sul do Brasil nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina são
conhecidas atualmente cinco espécies de tuco-tuco: Ctenomys flamarioni,
Ctenomys lami, Ctenomys minutus, Ctenomys torquatus e Ctenomys
ibicuiensis (Fernandes et al., 2007; Freitas et al., 2012). Destas espécies
somente as três primeiras tem registro confirmado para a região do Litoral
Médio do Rio Grande do Sul (Figura 10).
36
Figura 10. Distribuição geográfica das espécie do gênero Ctenomys no sul do
Brasil (Fonte : Kubiak, 2013).
Ctenomys lami é uma espécie endêmica do Rio Grande do Sul, e habita
a região arenosa chamada Coxilha das Lombas (municípios de Viamão e Santo
Antônio da Patrulha), que representa uma linha estreita de dunas antigas que
se estende desde o norte do Lago Guaíba até as restingas a noroeste da
Lagoa dos Barros (Freitas, 2001; Freitas, 2007; Fernandes et al., 2007). O
tuco-tuco-branco (Ctenomys flamarioni), está ameaçado de extinção, e é
endêmico da primeira linha de dunas do litoral do RS, sendo o Litoral Médio a
área central de sua distribuição é que está limitada ao norte pelo município de
Arroio Teixeira e ao sul pelo arroio Chuí (Freitas, 1995; Fernández-Stolz et al.,
2007). Recentemente foi localizada a primeira população de C. flamarioni que
habita campos arenosos, na beira da Laguna dos Patos em São José do Norte,
representando também a única área de simpatria conhecida para esta espécie
e C. minutus nos limites do Litoral Médio do RS (Kubiak, 2013).
37
Figura 11. Indivíduo do tuco-tuco-branco (Ctenomys flamarioni) em seu
ambiente natural (foto de Tatiane Noviski Fornel).
Esta outra espécie de tuco-tuco (Ctenomys minutus) é um espécie
bastante similar a C. lami, mas ao contário desta sua distribuição geográfica
começa em Laguna, SC e vai até São José do Norte no RS (Freitas, 1995). E
assim como, C. flamarioni, também habita as dunas primárias, mas
especialmente os campos arenosos da Planície Costeira do sul do Brasil,
sendo os campos costeiros do Litoral Médio do RS uma área central e o limite
austral de sua distribuição (Freitas, 1995; Freygang et al., 2004).
As alterações ambientais causadas pelo homem como urbanização em
áreas de dunas, a presença de animais domésticos e a introdução de
vegetação exótica vem modificando o habitat das espécies de tuco-tuco por
anos, e como consequencia tornando os habitats nativos cada vez mais
fragmentados ou destruídos (Fernández-Stolz, 2007; Fernandes et al., 2007).
Com já observado no Litoral Norte do RS, o avanço de condomínios sobre as
áreas de dunas, faz com que o contínuo de dunas se torne fragmentado e,
consequentemente, causa o isolamento das populações de tuco-tuco
(Fernández, 2002). Como estratégias para a conservação dessas espécies,
são indicadas a conservação das áreas de dunas, com construção de
passarelas que facilitem o trânsito das pessoas, sem alterar as dunas, a
fiscalização afim de controlar a retirada de areia, estudos de impacto ambiental
com as populações para que a exploração imobiliária poupe as áreas de dunas
38
que se sobrepõem à distribuição geográfica dessas espécies, além do
desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental e monitoramento de
populações através de trabalhos de estimativa populacional em regiões mais
impactadas (Chiarello et al., 2008).
Figura 12. Indivíduo do tuco-tuco (Ctenomys minutus) em seu ambiente natural
(foto de Tatiane Noviski Fornel).
4. PRINCIPAIS AMEAÇAS A FAUNA
A fragmentação e alteração do habitat são sem dúvida as principais
ameaças a fauna do Litoral Médio do RS, e elas decorrem principalmente das
rizicultura e silvicultura que representam as duas principais atividades
econômicas da região.
A cultura de arroz representa um ameaça importante para a maior parte
das espécies aquáticas, causando perda total ou o empobrecimento na
qualidade do ambiente utilizado. Grandes extensões de áreas de várzea são
comumente aproveitadas para o cultivo de arroz ao longo de todo Litoral Médio
do RS, tornando as áreas úmidas remanescentes fragmentadas e com porte
reduzido, e desta forma abrigando uma riqueza menor de espécies se
comparadas as áreas úmidas maiores (Maltchik et al., 2010).
A conversão de
ambientes naturais para
a
silvicultura
atinge
principalmente as áreas consideradas improdutivas para a agricultura, como é
o caso das áreas de dunas. Por serem áreas pouco produtivas para agricultura
39
e pecuária são frequentemente convertidas em extensas monoculturas
florestais. No entanto, este ecossistema aparentemente pobre, abriga um
grande número de espécies importantes, como os roedores subterrâneos do
gênero Ctenomys, os lagartos do gênero Liolaemus, além de algumas espécies
de sapos, peixes e aves que ocupam os numerosos banhados distribuídos ao
longo das dunas.
A ocupação urbana desordenada das áreas litorâneas também
representa uma ameaça importante, apesar de até o momento ser bem menos
intensa do que a observada no Litoral Norte do RS. Além disso, a pecuária,
também ocasiona a degradação dos ambientes aquáticos e campestres, desta
forma e empobrece a qualidade desses habitas na região.
Mais recentemente outra preocupação crescente decorre a implantação
de Parques eólicos ao longo de toda a Planície Costeira, sendo que muitos
desses empreendimentos serão localizados no Litoral Médio do RS. Neste
sentido, é fundamental a elaboração e aplicação de ferramentas de gestão,
como os Zoneamento dos eólicos que está em andamento, para controlar e
direcionar o avanço desses empreendimentos na região.
Em nosso o Litoral Norte, uma parte expressiva dos ecossistemas
naturais encontram-se alterados e fragmentados, pelo avanço das áreas
urbanas, condomínios, estradas, além das culturas agropastoris, que decorrem
principamente pela gestão inadequada dos recursos naturais. Devido a essa
falta de planejamento na utilização dos recursos naturais, muitas populações
da fauna, como os roedores subterrâneos do gênero Ctenomys, os lagartos do
gênero Liolaemus, o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus dorsalis), e
grande parte da fauna ameaçada de extinção, sofrem com as ameaças
associadas a isso. Desta forma torna-se evidente a importância ferramentas
de gestão, como o Zoneamento Ecológico-Econômico, a fim de proporcionar o
uso sustentável dos recursos naturais e assim evitar o empobrecimento da
nossa biodiversidade. Direcionando assim o uso e a conservação dos nossos
recursos naturais de uma forma sustentável.
40
5. METODOLOGIA EMPREGADA NA DEFINIÇÃO DAS ZONAS
5.1.Definições gerais
A execução do zoneamento temático do meio biótico do Litoral Médio
baseou-se no diagnóstico de fauna (presente relatório) e de flora (produzido
pelo consultor Julian Mauhs) elaborados e apresentados na primeira fase desta
consultoria.
Para compor o presente zoneamento temático, procurou-se atender o
que preconiza o decreto federal 4.297/2002, que estabelece os critérios para o
zoneamento ecológico-econômico do Brasil. Foi considerado em especial o Art.
14º, que dita as diretrizes gerais e específicas para o zoneamento, levando em
conta os seguintes aspectos:
I – atividades adequadas a cada zona, de acordo com a fragilidade ecológica,
capacidade de suporte ambiental e potencialidades;
II – necessidades de proteção ambiental e conservação das águas, do solo, do
subsolo, da fauna e da flora e demais recursos naturais renováveis e nãorenováveis;
III – definição de áreas para unidades de conservação, de proteção integral e
de uso sustentável;
IV – critérios para orientar atividades madeireira e não-madeireira, agrícola,
pecuária, pesqueira e de piscicultura, urbanização, industrialização, mineração
e de outras opções de uso dos recursos ambientais;
V – medidas destinadas a promover, de forma ordenada e integrada, o
desenvolvimento ecológico e economicamente sustentável do setor rural, com
o objetivo de melhorar a convivência entre a população e os recursos
ambientais, inclusive com a previsão de diretrizes para implantação de infaestrutura de fomento às atividades econômicas;
VI – medidas de controle e de ajustamento de planos de zoneamento de
atividades econômicas e sociais resultantes da iniciativa dos municípios,
visando a compatibilizar, no interesse da proteção ambiental, usos conflitantes
em espaços municipais contíguos e a integrar iniciativas regionais amplas e
não restritas às cidades;
41
VII – planos, programas e projetos dos governos federal, estadual e municipal,
bem como suas respectivas fontes de recursos com vistas a viabilizar as
atividades apontadas como adequadas a cada zona.
5.2.Metodologia utilizada para definição das zonas
Devido a peculiaridades inerentes a cada zona, em função do(s)
habitat(s) abrangido(s), foram empregadas metodologias diferentes em suas
delimitações. Sendo assim, apresentam-se abaixo as metodologias utilizadas
em cada zona:
Zona I – Butiazal e comunidades associadas
A zona circunscreve as comunidades com presença de butiá (Butia
odorata), em sua ocorrência pura na forma de parque, ou associada a
comunidades florestais. A delimitação da zona se deu por interpretação da
imagem. A formação vegetal típica é o parque de butiá, onde a palmeira ocorre
como espécie dominante no estrato arbóreo, sobre uma matriz campestre. As
comunidades associadas, consideradas integrantes da zona II, correspondem a
florestas e turfeiras. A floresta ocorre parcialmente sobreposta ao ambiente
relictual do parque de butiás. A presença do butiá é visível em meio à floresta,
mesmo nas imagens aéreas, o que colaborou na sua delimitação. As turfeiras
ocorrem completamente inseridas no butiazal.
Zona II – Áreas úmidas e Matas de Restinga
Foi delimitada pela união de três classes mapeadas no diagnóstico:
matas de restinga (arenosas e paludosas), áreas úmidas e lagoas. Aplicou-se
um buffer de 250 metros no entorno dos polígonos, com o objetivo de formar
uma faixa de amortecimento, dando espaço para a expansão sazonal dos
sistemas úmidos. No caso das matas de restinga, a faixa de amortecimento se
justifica para evitar interferências das atividades econômicas do entorno,
especialmente da silvicultura.
Zona III – Dunas marítimas, lacustres e areais
Corresponde exatamente à classe com a mesma descrição, delimitada
no diagnóstico (flora e fauna). Quando os areais ocorrem formando um
mosaico com outros tipos de vegetação, mais frequentemente com áreas
úmidas, atribui-se maior peso ao areal, englobando o mosaico na zona III.
42
Zona IV – Floresta Estacional
A zona IV foi delimitada com base na topografia da região, adotando a
cota de 20 metros de altitude, em relação ao nível do mar, como ponto de
corte. A área com elevação superior a 20 metros, exceto quando abrangido
pela zona I (butiazal), foi inserida na zona IV.
A cota de 20 metros separa naturalmente os terrenos da Planície
Costeira e das coxilhas graníticas, sendo bastante visíveis as diferenças na
cobertura vegetal. Acima desta cota altimétrica, passa a predominar cobertura
do tipo florestal (Floresta Estacional Semidecidual), em composição e estrutura
diferentes das matas de restinga, que ocorrem na Planície Costeira.
Eventualmente ocorrem elevações superiores a 20 metros na Planície
Costeira, associadas à paleodunas, dispostas em faixas longas e estreitas nas
bordas das lagoas isoladas ou da Laguna dos Patos. Estas paleodunas são
cobertas por matas arenosas e foram considerados como pertencentes à zona
II (áreas úmidas e matas de restinga).
Zona V – Campos arenosos
A delimitação da Zona 5 se deu por exclusão das demais zonas. Inclui
as áreas que eram originalmente cobertas por campos litorâneos (na Planície
Costeira), campos das planícies aluviais e campos das coxilhas graníticas (nos
municípios de Barra do Ribeiro e Tapes).
A característica principal da zona V é o alto grau de alteração da
cobertura vegetal, e conseqüentemente da fauna associada, por atividades
antrópicas, especialmente a orizicultura.
6. DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ZONAS DEFINIDAS PARA O
MEIO BIÓTICO
A partir da aplicação das metodologias descritas no item anterior,
delimitamos as cinco zonas do meio biótico para os limites do Litoral Médio do
RS. Na tabela 6 apresentamos a denominação indicada, descrevemos o tipo de
habitat compreendido, bom como a área total englobada por cada uma das
cinco zonas.
43
Tabela 6. Zonas definidas a partir do Zoneamento Temático do Meio Biótico para a Área 4 do Projeto RS Biodiversidade, Litoral
Médio do Rio Grande do Sul.
ZONA
DENOMINAÇÃO
HABITAT
ÁREA TOTAL
hectares
%
6,605
0.81
I
Butiazal e comunidades associadas Formação vegetal do tipo parque, em que o butiazeiro (Butia odorata) é a
espécie dominante, e comunidades vegetais que ocorrem associadas, tais
como turfeiras e formações florestais
II
Áreas úmidas e Matas de Restinga
Lagoas, banhados, áreas inundáveis, estuários, marismas, cursos d'água, e
formações florestais que ocorrem associadas (matas de restinga arenícola e
paludosa, e matas de galeria)
231,150
28.35
III
Dunas marítimas, lacustres e areais Dunas primárias, secundárias e areais, em áreas de influência marítima e
lacustre
95,184
11.68
IV
Floresta Estacional
Floresta estacional semidecidual e comunidades campestres e savanóides,
naturais ou antrópicas, das coxilhas graníticas; na área mapeada situadas
acima de 20 metros de altitude e localizadas nos municípios de Viamão, Barra
do Ribeiro e Tapes
151,220
18.55
V
Campos arenosos
Campos nativos e alterados, e áreas utilizadas para atividades agrícolas,
eventualmente colocadas em pousio; na área mapeada inclui áreas ocupadas
por silvicultura
331,116
40.61
44
A seguir descrevemos cada um das zonas definidas para o meio biótico
e, indicamos com base nas tendências de ocupação observadas na região,
algumas das fragilidades ambientais, potencialidades e restrições quanto ao
uso dos seus recursos naturais. A partir de tais definições, buscamos direcionar
o uso dos recursos naturais de maneira sustentável e assim evitar o
empobrecimento ou a perda da biodiversidade local.
6.1. ZONA 1 – Butiazal e comunidades associadas (Figura 13)
Caracterização
Os Butiazais apresentam formação vegetal do tipo savanóide, em que o
butiazeiro (Butia odorata) é a espécie dominante ou mesmo exclusiva no
componente arbóreo. A fisionomia típica é de parque, em que os butiazeiros
estão dispersos sobre a vegetação graminácea. Oliveira et al. (2006)
estimaram em 77 ind./ha a densidade média de butiazeiros no palmar de
Tapes, mas há trechos em que a palmeira ocorre com abundância maior. O
estrato herbáceo é dominado por gramíneas, compostas, leguminosas e várias
outras espécies de famílias diversas.
Onde a ação do gado é menos intensa, estabelece-se uma comunidade
florestal. Suspeita-se que a floresta estacional semidecidual existente na região
tenda a suplantar o butiazal, na medida em que preenche o espaço aberto,
elimina o caráter de parque, e impede a regeneração da palmeira.
Com relação a fauna, apesar da Zona 1 não apresentar espécies
exclusivas, compartilha com as Zonas 2, 4 e 5 um grande número de espécies
ameaçadas e com restrições ambientais, e desta forma é uma área
complementar importante para a conservação destas espécies no Litoral Médio
(ver mais detalhes sobre as espécies da fauna nos textos de caracterização
das Zonas 2, 4 e 5). Entre essas espécies, duas aves, merecem destaque o
corocoxó (Carpornis cucullata) que é uma espécie de pássaro frugívoro que
habita somente matas bem conservadas, e o tucanuçu (Ramphastos toco) que
ocorre em bordas e estrato emergente de florestas, capões e matas ripárias, e
parece estar próximo da extinção em toda a região (Bencke et al. 2003).
45
Figura 13. Distribuição do butiazal e das comunidades consideradas como
integrantes da Zona 1 na área do Litoral Médio.
46
Fragilidade ambiental
O butiazal de Barra do Ribeiro e Tapes ocupa uma área reduzida (ca.
2.700 ha), correspondente a 0,25% da região litoral médio. Nestes números
estão incluídas as florestas que se sobrepõem e limitam com o butiazal, cujas
características são diferenciadas do restante das florestas do RS, já que se
situam na transição da mata de restinga para a floresta estacional semidecidual
do interior.
O butiazal é uma formação relictual, cujas condições ideais ocorreram
num período climático frio e seco. Atualmente, o clima quente e úmido favorece
o avanço das formações florestais, que tendem a se sobrepor ao butiazal,
limitando ou mesmo inviabilizando a regeneração da palmeira.
O ecossistema está localizado, e de certa forma limitado, pela unidade
de paisagem da Coxilha das Lombas. Uma lacuna na mancha de distribuição
do butiazal ocorre nas proximidades de Tapes, insinua que o butiazal foi
suprimido naquele trecho, para dar lugar à atividade de silvicultura. A mancha
remanescente e disjunta, mais ao sul, segue a mesma tendência e visivelmente
não apresenta mais a vitalidade do remanescente situado mais ao norte.
Há descrições históricas sobre butiazais em Palmares do Sul, mas
atualmente a localização desta formação naquele município pode ser apenas
inferida, com base em poucos butiazeiros remanescentes. A formação já não
apresenta as qualidades florísticas e paisagísticas que justificariam sua
inclusão na mesma zona.
Considerando a beleza, a raridade e o estrito espaço ocupado pelo
butiazal de Barra do Ribeiro e Tapes, pode-se atribuir elevado grau de
fragilidade à formação.
A diversidade do butiazal pode ser considera relevante e de especial
interesse à conservação, em especial por congregar espécies de fauna e flora
dos biomas Mata Atlântica e Pampa. As espécies componentes do ambiente
savânico são predominantemente do bioma Pampa, como é o caso do próprio
butiazeiro. Estas espécies habitam o estrato herbáceo entre as palmeiras,
associação que confere o aspecto de parque ao butiazal. Já as espécies
atlânticas ocorrem na comunidade florestal que contorna e eventualmente se
sobrepõe ao butiazal. Algumas delas, como as epífitas, habitam o estipe do
47
butiazeiro, como é o caso de algumas orquídeas (Cattleya intermedia e
Catasetum atratum).
Foram registradas espécies raras e ameaçadas nas comunidades
vegetais que formam a Zona 1, assim como na fauna ocorrente. E embora
nenhuma delas seja exclusiva da formação do butiazal, agregam valor para a
conservação dos mesmos. Exemplo disto, é que 7% das espécies de aves
registradas na região dos Butiazais de Tapes por Bencke et al. (2007) são
endêmicas da Mata Atlântica.
Potencialidades e restrições de uso da terra
Destaca-se o potencial uso econômico do butiá e da fibra das folhas. A
Embrapa vem pesquisando as variedades de Butia odorata, evidenciadas por
diferenças de tamanho, coloração e sabor dos frutos, bem como em
alternativas de processamento do fruto.
Em alguns poucos trechos a maior parte do butiazal foi conservada, e
vem sendo mantida, aparentemente, por consideração dos proprietários das
terras em que ocorre a formação. O mesmo não vem ocorrendo no extremo sul
da formação, onde a sobreposição da atividade de silvicultura, agricultura
familiar e a expansão urbana de Tapes vêm reduzindo o espaço e a qualidade
do butiazal.
Devido a sua raridade, beleza cênica e reduzido espaço geográfico
ocupado, o butiazal requer toda proteção possível para sua manutenção.
Portanto, a implantação de uma unidade de conservação é plenamente
justificável, pela raridade da formação vegetal. Isto se faz mais urgente na
porção mais próxima de Tapes, onde se fará necessário implementar ações de
remoção de espécies exóticas, que descaracterizam o butiazal.
No restante da área, correspondente às fazendas em que o butiazal está
preservado, recomenda-se avaliar o tipo de UC que melhor se aplicaria. Dado o
zelo que tem sido mostrado até então, a instalação de RPPNs ou de uma APA
poderia ser uma opção viável e interessante para o Estado e proprietários. Isto
vem sendo considerado pela Fundação Zoobotânica do RS.
Recomenda-se que toda atividade dentro do perímetro da zona seja
licenciada pelo órgão ambiental estadual. É recomendável estabelecer
48
restrições com relação ao parcelamento de solo e prever averbação das
restrições de uso nas escrituras e no registro de imóveis.
Resumo das atividades possíveis:

Pecuária, em lotação adequada e sob sistema de rotação, que permitam a
regeneração natural do butiá;

Exploração de produtos não-madeireiros, desde que não comprometendo a
diversidade biológica (flora, fauna e processos ecológicos);

Atividades de turismo, sendo recomendável localizar a instalação de infraestruturas fora do butiazal.
6.2. ZONA 2 – Áreas úmidas e Mata de Restinga (Figura 14)
Caracterização
A Zona 2 constitui a união de três ambientes distintos: as matas de
restinga, os ambientes aquáticos de água-doce (lagoas, banhados, riachos e
áreas inundáveis), e os ambientes aquáticos com influência marinha (estuários
e marismas).
Os ecossistemas de áreas úmidas, em um conceito mais amplo
englobam grande parte dos ecossistemas naturais presentes na Zona 2 como
estuários, rios, lagoas e lagunas de água-doce ou salobra, banhados e
marismas (Burger & Ramos, 2007).
As lagoas do Litoral Médio se situam predominantemente próximo da
linha da costa, separadas do oceano por barreiras arenosas, formadas pelos
processos de transgressão e regressão marinha. Algumas delas, nos meses
mais chuvosos (julho/agosto), drenam diretamente para o oceano. Já a Lagoa
do Peixe e algumas lagoas próximas, que na época chuvosa se comunicam por
banhados, drenam para o mar através de uma barra, permitindo a entrada de
água salgada para o interior (Schäfer et al., 2009).
Nas margens rasas das lagoas desenvolvem-se comunidades vegetais,
geralmente dominadas por Schoenoplectus californicus. A partir da margem,
em sentido oposto à lagoa, o terreno pode variar de permanente a
sazonalmente
inundado, onde se
desenvolvem comunidades vegetais
aquáticas e anfíbias. Estas comunidades são frequentemente dominadas por
uma ou poucas espécies, podendo se alternar e/ou justapor em espaços
49
relativamente pequenos. A ligação entre as comunidades anfíbias/aquáticas
com as comunidades perilacunares e as lagoas forma um contínuo, sendo
facilmente perceptível a interdependência dos elementos bióticos e abióticos.
No litoral médio em especial, os banhados são de grande importância, já
que estão associados as lagoas costeiras e apresentam uma grande variedade
de comunidades vegetais e animais estritamente relacionadas a esses
ambientes, nos quais aves aquáticas e os peixes são sem dúvida os grupos da
fauna mais diversos.
As aves aquáticas, e em especial as migratórias, utilizam as áreas
úmidas presentes na Zona 2 como área de descanso ou como área propícia
para o forrageamento e nidificação, representando assim ambientes de
importância significativa para a conservação deste grupo. Destas áreas,
Bencke et al. (2006) destacam três áreas importantes para a conservação das
aves no Rio Grande do Sul. A primeira delas, o Banhado dos Pachecos, onde
foi criada a UC Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. Esta área
apresenta grande importância como hábitat de aves que dependem de
banhados densos e capinzais úmidos, e além disso abriga a única população
atual conhecida para o Estado do RS do cervo-do-Pantanal (Blastocerus
dichotomus), que ocupa ambientes como banhados, campos alagáveis e
várzeas.
A segunda área, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe abriga uma
laguna rasa e salina, de características únicas no contexto da costa brasileira,
que sofre variações no nível de água ou na direção e intensidade dos ventos e
expõem extensos bancos de lodo, utilizados por aves costeiras como áreas de
alimentação. Além do ambiente lagunar, o parque inclui banhados de água
doce, marismas (banhados salobres), campos úmidos, alagados temporários e
matas de restinga, entre outros. A Lagoa do Peixe representa uma área de
grande importância para aves migratórias em toda a costa leste da América do
Sul. Várias espécies limícolas oriundas do sul do continente ou da região
neártica congregam-se em números significativos nessa área, ali invernando ou
realizando escala durante suas migrações até regiões mais austrais. A última
área corresponde ao estuário da Laguna dos Patos, onde destacam-se as
marismas e os pântanos salobres, caracterizados por vegetação halófila e
50
profundidade influenciada pelas oscilações da maré. Representa uma área
importante
tanto
visitantes austrais (p. ex.,
Phoenicopterus chilensis,
Charadrius modestus, Larus atlanticus) quanto setentrionais (p. ex., Pluvialis
spp., Calidris spp., Tryngites subruficollis, Sterna hirundo), e muitas delas
congregando-se em números expressivos. A gaivota-de-rabo-preto (Larus
atlanticus) parece ter no estuário da laguna dos Patos sua única área de
invernagem regular em território brasileiro, e em anos de estiagem, o cisne-dopescoço-preto (Cygnus melancoryphus) refugia-se em grande número nas
enseadas do estuário.
Com relação aos peixes, podemos dividi-los em dois grupos principais,
as espécies ameaçadas, nas quais estão inseridos os peixes anuais, e as de
interesse comercial (em especial aquelas com risco de sobreexplotação). Os
peixes anuais, que abrigam o maior número de espécies ameaçadas, tem seu
ciclo de vida intimamente relacionado à dinâmica temporal das áreas úmidas
temporárias, que são encontradas geralmente em áreas baixas e planas,
próximas a rios ou lagoas. Outra espécie importante e ameaçada que também
ocupa
ambientes
temporários,
é
o
sapinho-de-barriga-vermelha
(Melanophryniscus dorsalis), uma espécie com distribuição limitada a região
costeira do extremo sul do Brasil, e que se reproduz em banhados temporários,
comumente encontrados nas áreas de baixada após dunas primárias (Colombo
et al., 2008).
Além dos peixes anuais, outra espécie de peixe ameaçada de extinção,
que é encontrada apenas em pequenos riachos ou pequenas áreas alagadas,
com
densa
vegetação
de
macrófitas
aquáticas,
é
o
tamboatá
(Lepthoplosternum tordilho). Esta espécie é endêmica do Rio Grande do Sul e
conhecida apenas para algumas poucas localidades nos municípios de
Eldorado do Sul, Porto Alegre e Barra de Ribeiro (Reis et al., 2003; Becker et
al., 2007b). O segundo grupo de espécies de peixes que merece atenção
especial são as espécies de importância para a pesca, das quais três espécies
de água doce bastante representativas na pesca da região, cascudo-viola
(Loricariichthys anus), traíra (Hoplias aff. malabaricus) e jundiá (Rhamdia aff.
quelen).
51
No Litoral Médio do Rio Grande do Sul ocorrem dois importantes
sistemas estuários e marismas associados (o da Lagoa do Peixe e da Laguna
dos Patos), que são regiões de extrema importância pois, além de servirem
como escala para repouso e alimento de diversas espécies de aves
aquáticas migratórias, suportam grandes estoques de peixes de interesse
comercial como o bagre (Genidens barbus), a anchova (Pomatomus saltarix),
a garoupa (Epinephelus marginatus), a tainha (Mugil platanus) e a corvina
(Micropogonias furnieri), esta última representando um dos mais importantes
recursos pesqueiros do sul do Brasil. Entre as espécies de aves ameaçadas e
estritamente relacionadas as áreas de marismas e estuários destacamos a
presença do sanã-cinza (Porzana spiloptera) e da gaivota-de-rabo-preto (Larus
atlanticus).
Por outro lado, as matas de restinga constituem o “elemento estranho”
nesta zona, mas justifica-se a sua inclusão pela proximidade com que ocorrem
no espaço da restinga. As matas de restinga se distribuem invariavelmente em
faixas mais ou menos paralelas, contíguas aos sistemas de lagoas e áreas
úmidas. Algumas vezes as áreas úmidas e as matas se sobrepõem, dando
origem à versão paludosa da mata de restinga. As matas arenícolas
(psamófilas) ocupam terrenos mais elevados e francamente arenosos,
geralmente sobre paleodunas. A composição de ambas as versões da mata de
restinga é semelhante, diferindo principalmente no estrato herbáceo. A riqueza
de espécies da flora é baixa, quando comparado a qualquer outra formação
florestal do interior do Estado, mas constituem verdadeiros refúgios da vida
silvestre, em meio à matriz campestre do litoral médio.
Com relação a fauna das Matas de Restinga do Litoral Médio, não
existem espécies exclusivas desta formação, a maior parte das espécies ocorre
associada a outras formações limítrofes, como áreas úmidas e/ou dunas. Entre
estas espécies, algumas espécies de aves florestais ameaçadas também
ocupam estes ambientes, como o guaracavuçu (Cnemotriccus fuscatus
fuscatus), o tucanuçu (Ramphastos toco) e o corocoxó (Carpornis cucullata),
além das da lagartixa-da-areia (Liolaemus arambarensis) e lagartixa-da-praia
(Liolaemus occipitalis) que ocorrem em áreas de dunas associadas a Matas de
Restinga.
52
Figura 14. Distribuição das lagoas, áreas úmidas e matas de restinga que
compõem a Zona 2 no Litoral Médio.
53
Fragilidade ambiental
As fragilidades da Zona 2 estão relacionadas, principalmente, às
limitações de disponibilidade hídrica da região e à escassez de áreas cobertas
por mata de restinga.
As áreas úmidas são regiões naturalmente frágeis, e na região do Litoral
Médio sofrem com o impacto da atividade econômica predominante na região,
a orizicultura, que já reduziu consideravelmente o espaço das áreas úmidas.
Além disto, a demanda de água para irrigação das plantações é significativa, e
ocorre numa época de baixa pluviosidade. A tendência natural à eutrofização
das lagoas costeiras pode sofrer um incremento em função da retirada da água
e do retorno de nutrientes.
O comprometimento da função ecológica das lagoas e dos banhados
recebe um peso adicional porque a região é um corredor de aves migratórias,
cuja importância tem reconhecimento internacional. Uma das principais
atividades econômicas do Litoral Médio, a rizicultura, em especial do arroz
irrigado, representam um impacto importante para as aves aquáticas e
migratórias, pois provoca múltiplas alterações no ambiente, simplificando a
paisagem e mudando a oferta de abrigo, de áreas para nidificação e de
alimentação (Menegheti, 2009). Esta perda e fragmentação de habitat gera
mudanças importantes, tanto na composição quanto na abundância das
populações de aves.
Para os ambientes de água doce da planície costeira, algumas
atividades antrópicas são potencialmente mais impactantes a fauna, incluindo
desde algumas das atividades mais tradicionais na região, como a orizicultura,
pecuária
e
silvicultura,
a
ocupação
humana
desordenada,
e
mais
recentemente, a implantação de centrais de geração de energia eólica
(Malabarba et al., 2013). Entre os ambientes de água doce os mais sensíveis
as alterações ambientais estão as áreas úmidas temporárias que além de
abrigarem uma parcela importante de aves aquáticas, guardam o grupo de
peixes mais ameaçados no Estado, que são os peixes-anuais.
Das espécies ameaçadas de peixes no Rio Grande do Sul, quase
metade pertencem a família Rivulidae (ou peixes anuais), que possui um alto
percentual de espécies ameaçadas devido a uma combinação de fatores, entre
54
os quais, os principais parecem ser o ciclo de vida intimamente relacionado à
dinâmica temporal das áreas úmidas temporárias, áreas de distribuição restrita,
limitada capacidade de dispersão e a acentuada destruição das áreas úmidas
(Reis et al., 2003; Costa, 2002a; Rosa & Lima, 2008; Lanés & Maltchik, 2010).
Outro fator importante parece ser o tamanho corporal reduzido,
já que as
espécies de peixes que apresentam pequeno porte, como é o caso dos peixes
anuais, são especialmente suscetíveis a extinção (Olden et al., 2007).
Na região do Litoral Médio, a principal causa apontada para o grande
número peixes anuais sob algum grau de ameaça, está relacionada
principalmente da perda e fragmentação do seu habitat, como resultado da
drenagem das áreas úmidas para a agricultura, em especial aos cultivos de
arroz, e ao avanço desordenado das áreas urbanas (Reis et al., 2003; Volcan
et al., 2010; Lanés & Maltchik, 2010). Tais ameaças também afetam
diretamente o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus dorsalis), uma
espécie de anfíbio ameaçada de extinção em âmbito global, nacional e
regional, e o cervo-do-Pantanal (Blastocerus dichotomus), espécie de mamífero
classificada como criticamente em perigo de extinção em nosso Estado.
Já para as espécies de peixe estuarinas e marinhas, a principal ameaça
é a sobrepesca de espécies com importância comercial, onde os estoques de
algumas espécies mais importantes como bagre, corvina, tainha já sofrem risco
de sobreexplotação (Instrução Normativa 05/2004 do Ministério do Meio
Ambiente; Rosa & Lima, 2008). Outras três espécies de água-doce, bastante
representativas na pesca da região, cascudo-viola (Loricariichthys anus), traíra
(Hoplias aff. malabaricus) e jundiá (Rhamdia aff. quelen) merecem atenção, já
que a conservação destas espécies como recurso pesqueiro não depende
somente do manejo e gestão da pesca, mas principalmente da conservação de
tipos diferentes de habitat lênticos e lóticos (Milani, 2005; Becker et al., 2007b).
Além disso, as espécies relacionadas as áreas de marismas e estuários sofrem
com as ameaças oriundas da degradação e destruição desses ambientes
causadas principalmente pelo avanço da ocupação humana.
No que se refere à flora, as espécies que compõem as comunidades
vegetais, sejam anfíbias/aquáticas ou arbóreas, são na maioria de ampla
55
distribuição geográfica e comuns em formações semelhantes em todo o
Estado.
As matas de restinga ocupam cerca de 1% do território do litoral médio,
constituindo naturalmente uma formação rara na paisagem.
Potencialidades e restrições de uso da terra
Para a Zona 2 destacamos seu potencial turístico, seja para atividade de
lazer recreativo (balneários, práticas esportivas), seja para atividades de
turismo ecológico (observação de aves e outros grupos da fauna nativa), assim
como para a pesca esportiva.
As atividades de turismo ecológico devem ser incentivadas, dado o
potencial da região na realização dessas atividades, em especial os grupos de
observadores de aves, como o Clube de Observação de aves de Porto Alegre
(COA-POA). Neste sentido, as unidades de conservação presentes na região
(o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos e o Parque Nacional da
Lagoa do Peixe) também desempenham um importante papel, buscando
incentivar a prática dessas atividades em áreas dentro e fora de suas áreas de
proteção, já que tais atividades ajudam a divulgar a importância dessas UCs
para a conservação das aves migratórias e residentes.
A alta produtividade primária dos banhados (áreas úmidas) poderia ser
explorada, embora os produtos potencialmente exploráveis (fibras provenientes
de ciperáceas) tenham baixo apelo comercial. Neste sentido, a prática de
pesca esportiva nos ambientes aquáticos de água doce e marinhos deve ser
encarada como uma atividade a ser incentivada, mas sempre de maneira
sustentável. Portanto, deve-se apoiar a utilização de espécies nativas de forma
sustentável, em detrimento das espécies exóticas que devem ser proibidas e
controladas para fins de pesca esportiva.
Resumo das atividades possíveis:

Exploração de produtos não-madeireiros, desde que não comprometendo a
diversidade biológica (flora, fauna e processos ecológicos);

Atividades de turismo recreativo, esportivo (exceto motorizados, como lanchas
e jet-skis), contemplativo e científico.
56

Pesca esportiva (de maneira sustentável e evitando a introdução de espécies
exóticas).
Boa parte das áreas úmidas foi transformada em áreas agriculturáveis,
de maneira que a expansão da orizicultura nestas áreas deve ser interrompida.
Considerando que a orizicultura é uma das principais atividades econômicas da
região, devem ser incentivadas as práticas de aumento da produtividade nas
áreas cultivadas, e direcionar a expansão para zonas com menor importância
ecológica, como as áreas de campo já impactadas por outros usos.
As áreas de marismas, e suas espécies associadas por consequência,
vem sofrendo com as reduções constantes nas suas áreas de extensão, em
especial
as
localizadas
no
estuário
da
Laguna
dos
Patos,
devido
principalmente aos aterros de áreas rasas intermareais e submareais para fins
do desenvolvimento portuário, residencial e industrial crescente na região. Em
adição, as áreas de marismas deste estuário destinadas a criação de gado é
bastante extensa, nas quais já são observadas diferença importantes na
diversidade de plantas entre as áreas pastadas e não-pastadas (Machado et
al., 2005). Um fator agravante, é que as áreas de marismas localizadas na
PARNA Lagoa do Peixe, devido a falta da regularização fundiária, ainda sofrem
constantemente com a pressão do uso humano através do trânsito de veículos,
pisoteio e uso por gado, e outros animais domésticos.
Neste sentido, reforçamos a necessidade de cumprimento da legislação
ambiental, visando a preservação das APPs e Reservas Legais, e intensificar
ações de fiscalização a fim de inibir a alteração e supressão, com especial
atenção aos ambientes temporários que só tornam-se evidentes em algumas
ocasiões.
6.3. ZONA 3 - Dunas marítimas, lacustres e areais (Figura 15)
Caracterização
Na área mapeada, as dunas e os areais cobrem cerca de 95 mil
hectares, representando pouco mais de 10% do Litoral Médio. Ocorrem
predominantemente ao longo da costa oceânica, numa faixa paralela à linha da
praia, com largura média de dois quilômetros, mas podendo chegar a mais de
57
cinco em alguns trechos. No município de São José do Norte, uma faixa larga
de dunas “descola” da margem oceânica, e avança para o interior. Este desvio
forma um corredor de areais e baixadas úmidas, desde a ponta sul do banhado
do Estreito até a cidade de São José do Norte.
Dunas lacustres ocorrem também em faixas alongadas, paralelas à
Laguna dos Patos, mas cobrem uma área muito menor do que as dunas
marítimas. Neste sentido, considerando a pequena área coberta por elas,
ganham importância enquanto ambiente a ser conservado. Os trechos mais
extensos de dunas lacustres ocupam o Pontal de Tapes e toda orla da laguna
até a Ponta da Formiga, em Barra do Ribeiro; e no Pontal das Desertas, no
Parque Estadual de Itapuã.
Quanto
à
flora,
estes
ambientes
apresentam
limitações
ao
estabelecimento de vegetação, ficando as comunidades restritas a poucas
espécies, tolerantes às condições de mobilidade e baixa fertilidade do
substrato, e da forte ação do vento. As dunas primárias, expostas ao borrifo da
água salgada, formam a faixa que apresenta menor cobertura vegetal. O capim
Paspalum vaginatum é uma das mais importantes espécies deste ambiente,
capaz de promover a fixação das dunas primárias e secundárias. Nas baixadas
úmidas, a espécie mais abundante passa a ser o junco-da-praia (Androtrichum
trigynum), junto com qual medram outras espécies rasteiras, menos
abundantes (Pfadenhauer, 1978).
As áreas de dunas litorâneas e lacustres abrigam alguns dos
representantes da nossa fauna mais característicos da Planície Costeira do Rio
Grande do Sul. São espécies exclusivas ou fortemente associadas a tais
formações, entre os quais: o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus
dorsalis), a lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis), a lagartixa-da-areia
(Liolaemus arambarensis), o tuco-tuco-branco (Ctenomys flamarioni) e o tucotuco (Ctenomys minutus).
A lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis) é um pequeno lagarto que
ocorre nos ambientes de dunas costeiras do extremo sul do Brasil e vive
associado às moitas de vegetação herbácea presentes nas dunas de areia
móvel, sendo que tal vegetação é essencial para a alimentação, o refúgio de
predadores e a termorregulação desta espécie (Verrastro & Bujes, 1998; Bujes
58
& Verrastro, 2008).
O Litoral Médio do RS representa uma região
extremamente importante para a conservação de L. occipitalis, visto que ainda
abriga grandes populações da espécie, ao contrário do observado no litoral
norte do RS, onde grande parte das populações desta espécies foram
reduzidas e algumas foram até mesmo extintas (Silva, 2013). Já a lagartixa-daareia (Liolaemus arambarensis) é uma espécie endêmica do Rio Grande do
Sul, e com distribuição geográfica muito restrita, ocorrendo de Itapuã no
município de Viamão até São Lourenço do Sul (Verrastro et al., 2003). Ocorre
em substrato arenoso, associada à vegetação herbácea e arbustivo/arbórea,
típicas das regiões de restinga sobre depósitos arenosos holocênicos a
noroeste da Laguna dos Patos (Verrastro, 2001).
O tuco-tuco-branco (Ctenomys flamarioni), por sua vez, é endêmico da
primeira linha de dunas do litoral do RS, sendo o Litoral Médio a área central de
sua distribuição é que está limitada ao norte pelo município de Arroio Teixeira e
ao sul pelo arroio Chuí (Freitas, 1995; Fernández-Stolz et al., 2007). A outra
espécie de tuco-tuco (Ctenomys minutus) , assim como, C. flamarioni, também
habita as dunas primárias, mas especialmente os campos arenosos da Planície
Costeira do sul do Brasil, sendo os campos costeiros do Litoral Médio do RS
uma área central e o limite austral de sua distribuição (Freitas, 1995; Freygang
et al., 2004).
Além das espécies de lagarto e roedores subterrâneos intimamente
conectados as áreas de dunas, outras espécies dependem dos ambientes
relacionados as formações de dunas, como é o caso do sapinho-de-barrigavermelha (Melanophryniscus dorsalis) e o gavião-cinza (Circus cinereus) que
ocupam os banhados temporários presentes nas áreas de baixada após dunas
primárias. Além destas espécies, destacamos também as aves migratórias e
residentes que utilizam as praias como áreas de descanso, nidificação ou
alimentação, como as residentes gaivota-de-rabo-preto (Larus atlanticus) e
trinta-réis-real (Thalasseus maximus).
59
Figura 15. Distribuição das dunas marítimas e lacustres, e dos areais que
compõem a Zona 3 no Litoral Médio.
60
Fragilidade ambiental
A conversão de
ambientes naturais para
a
silvicultura
atinge
principalmente as áreas consideradas improdutivas para a agricultura, como é
o caso das áreas de dunas. Por serem áreas pouco produtivas para agricultura
e pecuária são frequentemente convertidas em extensas monoculturas
florestais. No entanto, este ecossistema aparentemente pobre, abriga um
grande número de espécies importantes, como os roedores subterrâneos do
gênero Ctenomys, os lagartos do gênero Liolaemus, além de algumas espécies
de sapos, peixes e aves que ocupam os numerosos banhados associados as
áreas de dunas.
Historicamente as áreas de dunas são tratadas como ambientes "sem
vida", ou como ambientes pobres em biodiversidade, e talvez por isso apenas
recentemente passaram a receber a atenção e esforços buscando a proteção e
conservação de sua rica fauna e flora exclusiva de tais ambientes. Reflexo
disso é que os ecossistemas de dunas litorâneas e lacustres tem sido
fortemente descaracterizados, tornando os habitats nativos cada vez mais
fragmentados ou destruídos (Fernández-Stolz, 2007; Fernandes et al., 2007).
Entre os grandes impactos sobre estas formações destacam-se o aumento
indiscriminado dos loteamentos em balneários, a expansão da silvicultura em
áreas de duna, a retirada de areia e a contaminação do solo e de corpos
d'água (Melamed & Verrastro, 1997; Verrastro et al., 2003; Silva, 2013). Como
já observado no Litoral Norte do RS, o avanço de condomínios sobre as áreas
de dunas, faz com que o contínuo de dunas se torne fragmentado e,
consequentemente, cause o isolamento das populações de tuco-tuco (C.
flamarioni e C. minutus), por exemplo (Fernández, 2002). A presença da
lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis), por sua vez, está associada
principalmente a comunidades vegetais que ocorrem em ambientes não
antropizados, sendo que a presença da espécie em áreas semi-urbanizadas e
urbanizadas é muito baixa, e quando ocorre, está associada a plantas que
caracterizam o ambiente natural, como o capim-das-dunas (Panicum
racemosum) e a erva-capitão (Hydrocotyle bonariensis) (Melamed & Verrastro,
1997).
61
Potencialidades e restrições de uso da terra
Devido a baixa disposição dos ambientes de dunas da Zona 3 para a
agricultura e pecuária, destacamos para a região seu grande potencial turístico,
buscando incentivar principalmente as atividades de turismo ecológico, com
programas voltados a divulgação da fauna associada a essas formações, além
dos grupos de observação de aves já bem difundidos. Por outro lado, as
atividade de lazer recreativo (trilhas, práticas esportivas, como "sandboard")
devem ser incentivadas de maneira sustentável. Neste sentido, a fiscalização
deve ser intensificada durante o período de veraneio, quando essas atividades
são mais comuns, e buscando também coibir a entrada e circulação de
veículos motores na áreas de dunas e nas áreas de praia.
Atualmente,
uma preocupação crescente decorre da expansão no
número de usinas eólicas em todo o Litoral gaúcho, e em especial no Litoral
Médio, onde existem diversos projetos de implantação e alguns já
implementados. A região possui um alto potencial para a geração de energia
eólica, no entanto a expansão desses empreendimentos deve ocorrer de
maneira sustentável. Neste sentido, fica evidente a importância da conclusão e
aplicação imediata do Zoneamento Ambiental para Implantação de Parques
Eólicos, que tem como objetivo definir as áreas passíveis de licenciamento, ou
com ou sem restrições para implantação de tais empreendimentos.
Resumo das atividades possíveis:

Atividades de turismo recreativo, esportivo, contemplativo e científico
sustentáveis.

Implantação de Parque Eólicos, respeitando as restrições impostas pelo
Zoneamento Ambiental para Implantação de Parques Eólicos do RS.
A Zona 3 abrange áreas que sofrem com alteração e destruição dos
seus ambientes, devido principalmente, a ocupação humana desregrada
frequentemente observada ao longo de todo o litoral riograndense. Essas
ocupações são muitas vezes irregulares, e atingem APPs que são protegidas
por lei, desta forma as ações de fiscalização são fundamentais para controlar
essas práticas.
62
Outra
medida
importante,
seria
a
restrição
ou
proibição
da
implementação de novas áreas para a Silvicultura, além da fiscalização das
áreas licenciadas a fim de exigir que medidas de controle sobre a expansão
dessas culturas em áreas naturais sejam tomadas. Além disso, neste
momento, a retomada de projetos de implantação de áreas de mineração no
litoral do RS, causam grande apreensão. Áreas destinadas a mineração, além
de apresentarem alto potencial poluidor, causam intensa alteração e
fragmentação
nas
características
originais
do
ambiente,
tornando-os
inapropriados para a permanência de espécies mais exigentes, as quais em
sua maioria já encontram-se em algum grau de ameaça de extinção. Desta
forma, tendo como exemplo as experiências vivenciadas com outros
empreendimentos, como a silvicultura e atualmente os parques eólicos,
destacamos a importância de elaboração de um Zoneamento Ambiental
também para a Implantação de Áreas de Mineração em nosso Estado.
Já como medidas sugeridas para a conservação das espécies de fauna
e flora, a principal seria a conservação das dunas costeiras e lacustres, no
entanto a criação e manutenção de unidades de conservação, a fim de evitar
que as áreas urbanas se interliguem e ocupem a costa de maneira contínua,
também é uma medida importante (Verrastro, 2001; Martins & Molina, 2008).
Portanto, encorajamos a criação de uma UC (estadual, federal ou outras
particulares como a RPPN Barba Negra) afim de proteger algumas áreas de
dunas lacustres, e em especial nas áreas de ocorrência da lagartixa-da-areia
(Liolaemus arambarensis).
Adicionalmente, como estratégias para garantir a conservação dessas
espécies de dunas, são sugeridas algumas medidas como a construção de
passarelas que facilitem o trânsito das pessoas sem alterar as dunas, a
fiscalização afim de controlar a retirada de areia, estudos de impacto ambiental
com as populações para que a exploração imobiliária poupe as áreas de dunas
que se sobrepõem à distribuição geográfica dessas espécies, além do
desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental e monitoramento de
populações através de trabalhos de estimativa populacional em regiões mais
impactadas (Chiarello et al., 2008).
63
Uma região de dunas e campos arenosos que merece atenção especial,
está localizada na beira da Laguna dos Patos em São José do Norte. Um
estudo realizado recentemente localizou a primeira população de C. flamarioni
que habita campos arenosos, neste local, representando assim a única área
de simpatria conhecida para esta espécie e C. minutus nos limites do Litoral
Médio do RS, e devido a essa característica particular é uma área de extrema
importância para a conservação destas espécies (Kubiak, 2013).
6.4. ZONA 4- Floresta Estacional (Figura 16)
Caracterização
A Zona 4 abrange a região onde as condições ecológicas são propícias
ao desenvolvimento de cobertura florestal. Na região, o tipo de floresta que se
estabelece naturalmente é a Floresta Estacional Semidecidual, caracterizada
pela decidualidade em cerca de ¼ dos espécimes que compõem o estrato
emergente.
A área delimitada pela zona 4 distribui-se em dois setores: 1) ao norte do
Lago Guaíba e noroeste da Lagoa do Casamento, sobre a Coxilha das
Lombas, coincidindo com o município de Viamão; e 2) na faixa mais a oeste da
área de mapeamento, sobre coxilhas graníticas do Escudo Riograndense e em
parte da Coxilha das Lombas, coincidindo com os municípios de Barra do
Ribeiro e Tapes. Esta separação física dos setores não interfere grandemente
na composição da floresta. O tipo de uso da terra, no entanto, é bastante
diferente nos dois setores, o que acaba por se refletir na qualidade dos
remanescentes florestais em cada lado do Guaíba.
No setor de Viamão, a cobertura florestal faz parte da Área de Tensão
Ecológica (Teixeira et al., 1986; IBGE, 1992), em contato com formações
arbustivas e campestres (savana-estepe gramíneo-lenhosa). No setor de Barra
do Ribeiro/Tapes, as comunidades florestais compõem a própria região da
Floresta Estacional Semidecidual, embora ocorram amplas áreas cobertas por
campo nativo.
A floresta típica da zona 4 é uma versão diferenciada da Floresta
Estacional Semidecidual, comparativamente às florestas do mesmo tipo no
interior do Estado. Na região em foco, existe maior participação de espécies da
64
Floresta Ombrófila Densa, e falta completamente a espécie emblemática das
floresta estacionais no RS, a grápia (Leite, 2002).
Em ambos os setores a fragmentação da floresta é intensa, cedendo
espaço para comunidades herbáceas diversas, muitas vezes dominadas por
espécies exóticas, e outros tipos de uso da terra. A despeito do nome atribuído
para a zona, seguramente a área coberta por floresta é menor do que a área
coberta por usos diversos, onde lavouras, pomares, pastagens, silvicultura e
ocupação humana formam um intrincado mosaico. A tendência espontânea
em restabelecer comunidades florestais, quando uma determinada atividade
agrícola é abandonada, e da floresta expandir seus limites sobre as áreas
abertas, caracteriza uma unidade ecológica, cuja vocação natural é a floresta.
Com relação a fauna, a formação florestal característica da Zona 4
abriga um número importante de representantes da fauna de mamíferos e de
aves, principalmente, mas também de alguns anfíbios de interesse especial.
Entre as espécies de aves ameaçadas de extinção que ocorrem na região,
estão o gavião-pombo-branco (Pseudastur polionotus), o pato-do-mato (Cairina
moschata), o corocoxó (Carpornis cucullata), o gaturamo-verdadeiro (Euphonia
violacea), o pica-pau-dourado (Piculus aurulentus) e o tucanuçu (Ramphastos
toco).
Além destas, duas espécies de anfíbios também possuem suas
distribuições relacionadas à formações florestais como o sapo-de-barrigavermelha-marmoreado (Melanophryniscus pachyrhynus) e a rã-das-matas
(Ischnocnema
(Melanophryniscus
henselii).
O
pachyrhynus)
sapo-de-barriga-vermelha-marmoreado
é
uma
espécie
que
possui
grande
especificidade ambiental, tendo sua distribuição associada a terrenos íngremes
com formações rochosas graníticas e vegetação composta por um mosaico de
áreas abertas e florestais, que são características da Serra do Sudeste (VazSilva et al., 2008; Zank, 2012). A rã-das-matas (Ischnocnema henselii), por sua
vez, possui sua ocorrência restrita ao interior de florestas maduras ou
secundárias avançadas, pois é uma espécie terrícola e sua desova ocorre no
chão da floresta, debaixo de folhas ou troncos caídos (Kwet & Solé, 2005; Kwet
et al., 2010).
65
Figura 16. Área de ocorrência natural da floresta estacional, atualmente
coberta por remanescentes fragmentados, muito diferenciados quanto ao
estado de conservação.
66
Entre os mamíferos ocorrem muitas espécies ameaçadas de extinção
estritamente relacionadas a áreas florestais como, o bugio-ruivo (Alouatta
guariba clamitans), a cutia (Dasyprocta azarae), a paca (Cuniculus paca), a
irara (Eira Barbara) e o gato-maracajá (Leopardus wiedii), e algumas menos
restritivas quanto ao habitat ocorrendo em áreas florestais, campos e/ou
savanas como o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), o gato-mourisco
(Puma yagouaroundi), a onça-parda (Puma concolor), o gato-do-mato-pequeno
(Leopardus tigrinus),a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-do-mato-grande
(Leopardus geoffroyi), o gato-palheiro (Leopardus braccatus) e o veadocatingueiro (Mazama gouazoubira).
Fragilidade ambiental
No setor de Viamão, dada sua inserção na região metropolitana de Porto
Alegre, existe forte pressão imobiliária, desde empreendimentos voltados para
o público de alto poder aquisitivo, até assentamentos populares. De acréscimo,
a proximidade com o mercado consumidor impulsiona a atividade agrícola,
focada na produção de hortifrutigrangeiros.
A ocupação do espaço para sítios de lazer também é bastante difundida,
o que pode tanto promover a restauração natural dos fragmentos florestais, por
abandono de lavouras, como também servir de focos de dispersão de espécies
exóticas, frequentemente introduzidas pelos proprietários. Desta forma, a
vocação agrícola, somada à pressão imobiliária, resultou numa intensa
fragmentação e descaracterização da floresta, com grande participação de
espécies exóticas, neste setor da zona 4.
Já no setor de Barra do Ribeiro/Tapes, os remanescentes florestais
estão um tanto melhor conservados, uma vez que a produção na região está
focada na pecuária1 e a ocupação humana é mais rarefeita. Neste setor da
zona 4 os remanescentes florestais apresentam composição e estrutura bem
conservadas, sentindo-se algum impacto pelo gado nos estratos herbáceo e
arbustivo da floresta. A presença de espécies exóticas neste setor ocorre nos
plantios comerciais de acácia-negra e eucalipto, que raramente se infiltram na
1
Nos municípios de Barra do Ribeiro e Tapes a orizicultura é talvez a atividade produtiva mais importante,
mas é praticada nas baixadas mais úmidas, terrenos estes que não estão incluídos na zona 4.
67
floresta, mas acabam tomando o espaço das comunidades campestres e
savânica.
A presença de butiazeiro (Butia odorata) na zona 4 pode ser interpretada
como um testemunho das formações savânicas, que ocorreriam originalmente
na região. É interessante observar como esta palmeira se regenera bem nos
corredores laterais às estradas. Isto revela sua aptidão para regenerar em
ambientes abertos e livres da ação do gado.
Já com relação a fauna, as ameaças decorrem das fragilidades
ambientais ocasionadas principalmente pelo avanço desordenado das áreas
urbanas, que tornam os ambientes utilizados pela fauna bastante alterados e
fragmentados na região. Apesar da redução desses ambientes florestais ser
ocasionado principalmente pelo crescimento das áreas urbanas, outras
alterações ambientais importantes na região decorrem da expansão das
atividades agrícolas e da silvicultura (Fontana et al. 2003).
Um grupo de espécies bem representativa nesta Zona, são os
carnívoros, que são considerados espécies-chave para a conservação da
biodiversidade em geral, visto que por necessitarem de grandes áreas para
manter suas populações viáveis, esforços para conservar áreas suficientes à
conservação de carnívoros acabam por preservar também as outras espécies
da comunidade (Indrusiak & Eizirik, 2003; Chiarello et al., 2008). A destruição,
fragmentação e alteração de habitats representam a principal causa de ameaça
para todas as espécies deste grupo, sendo que a segunda principal causa de
ameaça para as espécies de carnívoros são a mortalidade pela caça,
atropelamento e doenças (Indrusiak & Eizirik, 2003; Chiarello et al., 2008),
fatores que se agravam devido a proximidade com os centros urbanos.
Potencialidades e restrições de uso da terra
As potencialidades e restrições de uso para a zona 4 devem considerar
as características de ocupação já instaladas na região, no período histórico,
sob pena de se estabelecerem metas e expectativas de disciplinamento
inalcançáveis, ainda que fosse desejável promover uma ampla recuperação da
cobertura vegetal natural.
68
Destaca-se a importância de manter e recuperar os remanescentes
florestais nativos, ou predominantemente nativos, compatibilizada com a
atividade agrícola. Neste sentido, o atendimento do quê preconiza a legislação
ambiental, quanto às áreas de preservação permanente e reserva legal,
representaria um enorme avanço.
A adequação das propriedades produtivas ao código florestal deveria ser
conduzida em programas de extensão rural, congregando minimamente
instituições como a EMATER e o(s) Comitê(s) de Bacia Hidrográfica. Seria
ainda recomendável inserir as instituições de ensino e pesquisa (universidades
da região)2. O controle e substituição das espécies exóticas, especialmente das
invasoras, representam desafio adicional no manejo das propriedades rurais,
tanto das produtivas como dos sítios de lazer/moradia.
As reservas legais deveriam, dentro do possível, ser organizadas não de forma
independente para cada propriedade rural, mas combinadas em vizinhança,
procurando restabelecer pequenos corredores e/ou aumentando o tamanho
dos fragmentos florestais.
Resumo das atividades possíveis:
 Prática da agricultura/pecuária em propriedades rurais, adequadas ao
que preconiza o código florestal quanto às áreas de preservação
permanente;
 Práticas silviculturais, controladas, eliminando propágulos “fugidos” do
cultivo e respeitando recuos em relação aos remanescentes florestais
nativos e outras comunidades vegetais (afloramentos rochosos, por
exemplo);
 Práticas agroflorestais, desde que não em APP e sem introdução de
espécies exóticas invasoras;
 Exploração
de
produtos
não-madeireiros,
desde
que
não
comprometendo a diversidade biológica (flora, fauna e processos
ecológicos);
 Atividades de lazer, turismo rural e ecoturismo.
2
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS tem experiência acumulada nesta prática, no
curso de Agronomia, aplicado em diferentes regiões do Estado.
69
6.5. ZONA 5- Campos arenosos (Figura 17)
Caracterização
A Zona 5 corresponde à área de distribuição original dos campos nativos
e comunidades savânicas, atualmente alterados em alto grau pela prática
agrícola, incluindo lavouras, pecuária e silvicultura.
Os campos nativos na área de mapeamento são do tipo campo arenoso,
em cuja composição entram predominantemente gramíneas (Poaceae), nos
trechos mais secos, e ciperáceas (Cyperaceae), nas baixadas mais úmidas.
Outras famílias botânicas importantes são Asteraceae, Fabaceae e Apiaceae.
A zona 5 se caracteriza atualmente por áreas ocupadas pela agricultura
(especialmente a cultura do arroz), pecuária e silvicultura. Segundo Garcia &
Boldrini (2007), praticamente não existem mais trechos de campos não
alterados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Nas excursões a campo
realizadas na região isto se
confirma.
Áreas cobertas com campo
predominantemente nativo são pequenas, e geralmente mostram sinais de já
terem sido cultivadas ou sobrepastejadas.
Com relação a fauna associada a essas formações, destacamos uma
espécie de roedor subterrâneo endêmica do Rio Grande do Sul o tuco-tuco
(Ctenomys lami). Esta espécie habita exclusivamente a região arenosa
chamada Coxilha das Lombas (municípios de Viamão e Santo Antônio da
Patrulha), que representa uma linha estreita de dunas antigas que se estende
desde o norte do Lago Guaíba até as restingas a noroeste da Lagoa dos
Barros (Freitas, 2001; Freitas, 2007; Fernandes et al., 2007). Além desta,
outras espécies de mamíferos menos restritivas quanto ao habitat, visto que
habitam áreas florestais, campos e/ou savanas, também ocorrem na Zona 4: o
tamanduá-mirim
(Tamandua
tetradactyla),
o
gato-mourisco
(Puma
yagouaroundi), a onça-parda (Puma concolor), o gato-do-mato-pequeno
(Leopardus tigrinus),a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-do-mato-grande
(Leopardus geoffroyi), o gato-palheiro (Leopardus braccatus) e o veadocatingueiro (Mazama gouazoubira).
Algumas
espécies
de
aves
intimamente
relacionadas
a
áreas
campestres como a ema (Rhea americana) e a tesoura-do-campo (Alectrurus
risora) que habitam áreas campestres e caminheiro-grande (Anthus nattereri)
70
que ocorre em campos nativos (não ralos) ou campos com afloramentos
rochosos são representantes notáveis dessas formações. .Além disso, duas
espécies de répteis provavelmente novas a lagartixa-listrada (Contomastix aff.
lacertoides) e a serpente mussurana (Phimophis aff. guerini) foram destacadas
por se tratarem de táxons novos (Márcio Borges-Martins com. pess.), e
portanto ainda serem insuficientemente conhecidos, e que parecem estar
associados as formações campestres e arenosas presentes na Zona 5.
Fragilidade ambiental
Os ambientes abertos no Rio Grande do Sul, tais como o campo e as
comunidades arbustivas, congregam cerca de 2.200 espécies vegetais, o que
pode ser considerado uma elevada diversidade em termos globais (Boldrini,
2009).
Historicamente, a valoração das espécies herbáceas tem sido preterida
em relação a espécies arbóreas e, considerando que algumas delas ocorrem
naturalmente com baixa densidade, o comprometimento destas espécies em
habitats campestres alterados pode ter atingido níveis preocupantes.
Na região do litoral médio, as áreas cobertas por campo, nas diferentes
situações em que ocorria originalmente, foram profundamente alteradas. No
entanto, mesmo sob intenso uso agrícola, algumas avaliações da diversidade
têm mostrado que o campo litorâneo apresenta boa capacidade de resiliência
(Garcia & Boldrini, 2007). A alternância de espaços em cultivo e em pousio,
mesmo quando o pousio é consorciado com a pecuária, cria um mosaico em
que alguns trechos mantêm cobertura vegetal predominantemente nativa,
enquanto outros estão em uso, e isto pode ter evitado uma perda excessiva da
diversidade vegetal na região.
Por outro lado, a atividade de silvicultura com Pinus tem demonstrado,
em observações empíricas realizadas a campo, uma tendência contrária. Nos
trechos onde o plantio de Pinus é interrompido, após o corte, deflagra-se um
processo de regeneração natural que estabelece vegetação arbustiva,
dominada por Asteráceas, e não mais o campo litorâneo.
Além da agropecuária e da silvicultura, a urbanização de balneários,
especialmente na orla marítima, e a expansão urbana das sedes dos
71
municípios abrangidos pela área de estudo, podem ser apontadas como
atividades antrópicas relevantes. Neste caso, o impacto fica restrito a espaços
menores, mas a alteração do ambiente é irreversível.
No caso do tuco-tuco (Ctenomys lami), a progressiva ocupação humana
da região da Coxilha das Lombas pela urbanização, pecuária e agricultura,
principalmente do cultivo arroz e soja, reduzem a distribuição geográfica já
limitada da espécie (Fernandes et al. 2007). Tais impactos em conjunto com
características demográficas e genéticas de C. lami, podem colocar em risco o
processo de diferenciação e evolução em que essa espécie está envolvida,
requerendo, desta forma, atenção conservacionista especial (Lopes & Freitas,
2012).
Mais recentemente na história da ocupação do litoral médio, os parques
de geração de energia eólica têm se destacado como uma atividade de grande
porte. Do ponto de vista da cobertura vegetal, os parques eólicos têm um
impacto pequeno, exceto pela modificação da paisagem.
Pode-se dizer que a fragilidade ambiental da zona 5 é dependente do
tipo de atividade praticada sobre o habitat campestre, bem como pela extensão
que a atividade ocupa, sendo que as práticas agrícola e pecuária parecem ter
efeito menos danoso do que a silvicultura.
Potencialidades e restrições de uso da terra
As potencialidades e restrições de uso para a zona 5 devem considerar
as características de ocupação já instaladas, ao longo do período histórico, e
que constituem a base da economia regional. Igualmente ao que foi
mencionado para a zona 4, o atendimento do quê preconiza a legislação
ambiental, quanto às áreas de preservação permanente e reserva legal,
representaria um enorme avanço para a recuperação ambiental na zona 5.
As reservas legais deveriam, dentro do possível, ser organizadas não de
forma independente para cada propriedade rural, mas combinadas em
vizinhança, procurando restabelecer pequenos corredores ou áreas maiores,
que possibilitassem habitat para a flora e fauna nativas e/ou para as espécies
migratórias (no caso das aves).
72
Figura 17. Área ocupada por campos arenosos na região do Litoral Médio,
atualmente alterados por atividades antrópicas, principalmente por agricultura e
silvicultura.
73
Resumo das atividades possíveis:
 Prática da agricultura em propriedades rurais, adequadas ao que
preconiza o código florestal quanto às áreas de preservação
permanente;
 Incentivar a pecuária extensiva buscando a adequada manutenção dos
campos nativos em detrimento da utilização de espécies exóticas para
pastagem;
 Práticas silviculturais, controladas, eliminando propágulos “fugidos” do
cultivo e respeitando recuos em relação aos remanescentes florestais
nativos;
 Empreendimentos de geração de energia eólica, observadas as áreas
de passagem, refúgio e forrageio de aves migratórias, e/ou habitats de
espécies ameaçadas;
 Urbanização de balneários, ao longo das costas marítima e lacustres,
bem como a expansão urbana das sedes municipais e distritos, desde
que planejadas e atendendo aos preceitos ambientais, minimamente os
cuidados com saneamento básico;
 Expansão e instalação de infra-estruturas, como estradas, portos,
aeroportos, terminais de carga, silos, e outras, e buscando sempre
indicar medidas compensatórias e não apenas mitigatórias como
compensação ambiental.
7. RESUMO DAS RESTRIÇÕES E POTENCIALIDADES POR ZONA
DEFINIDA
A tabela 7 apresenta um quadro comparativo com um resumo das
funções, restrições e potencialidades quanto ao uso dos recursos naturais
definidos para cada uma das cinco zonas do meio biótico. Para uma descrição
mais detalhada de cada um dos itens, indicamos a leitura do item 6.
74
Tabela 7. Resumo das funções, restrições e potencialidades definidas por zona do Meio Biótico para os limites da Área 4 do
Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
ZONA
I
Butiazal
e
comunidades
associadas
FUNÇÕES
RESTRIÇÕES
Conservação do butiazal de Tapes/Barra do Ribeiro e das Silvicultura
comunidades associadas (formações florestais e
turfeiras); os butiazais ou palmares são formações do tipo
parque, e têm ocorrência relictual no Rio Grande do Sul; a
unidade existente na área mapeada é a mais extensa e
melhor conservada no Estado; embora não exclusivas do
butiazal, ocorrem espécies da flora e fauna ameaçadas e
raras.
POTENCIALIDADES
Exploração
sustentável
do
butiá,
pecuária extensiva, turismo, criação de
UC
II
Áreas
Conservação de ambientes sensíveis e que congregam a Orizicultura, pesca comercial, Pesca esportiva, turismo, exploração de
úmidas
e maior diversidade biológica na área mapeada; as áreas urbanização
recursos naturais sob forma sustentável,
Matas
de úmidas e as lagoas, que correspondem à maior parte da
criação de UC´s
Restinga
zona II, figuram como áreas de alta produtividade, dando
suporte à fauna associada; as matas de restinga
constituem habitat naturalmente raro no litoral médio,
sendo por isso importantes enquanto refúgios para a
fauna; importante para a conservação de espécies da
flora ameaçadas e raras; para a conservação da fauna
destacam-se os banhados temporários, marismas e
estuários que abrigam um número expressivo de espécies
ameaças, ou em risco de sobreexplotação.
III
Dunas
Conservação de ambientes frágeis, susceptíveis à Mineração,
marítimas,
invasão e descaracterização por espécies exóticas (pinus silvicultura
lacustres e e acácia-trinervis) e por ocupações humanas
areais
(urbanização); importante para a manutenção do habitat
exclusivo de algumas espécies da fauna ameaçada de
extinção, em especial os tuco-tucos (Ctenomys flamarioni
e Ctenomys minutus) e as lagartixas (Liolaemus
occipitalis e Liolaemus arambarensis).
75
urbanização, Turismo
ZONA
IV
Floresta
Estacional
FUNÇÕES
RESTRIÇÕES
Abrigo para uma biota diferente daquela que ocupa o Urbanização
restante da área mapeada, o que confere uma
diversidade biológica maior para a região do litoral médio;
importante para preservação de nascentes e áreas de
recarga de aqüíferos; e na conservação de espécies
estritamente florestais.
POTENCIALIDADES
Agricultura, pecuária, silvicultura, centros
de lazer e recreação, turismo, expansão
urbana, desde que observadas as
restrições preconizadas em lei, em
especial o código florestal
V
Continuidade e expansão das atividades econômicas Mineração e silvicultura
regionais, desde que reestruturadas para atender à
legislação ambiental; constitui a unidade com maior
superfície na área mapeada, e também a mais
descaracterizada por atividades agrícolas e silviculturais;
originalmente reunia grande riqueza de espécies, tanto da
flora como da fauna, de modo que seria desejável
selecionar áreas para recuperação e conservação de
remanescentes.
Destaca-se como atividade econômica
sustentável a pecuária em campo nativo;
considerando a grande extensão de
áreas já descaracterizadas, a zona V
admite agricultura, pecuária, silvicultura,
geração de energia eólica, expansão
urbana, instalação de obras de infraestrutura
e
outras,
desde
que
observadas as restrições legais
Campos
arenosos
76
8. ÁREAS IMPORTANTES PARA CONSERVAÇÃO NO LITORAL MÉDIO DO
RIO GRANDE DO SUL
8.1. Unidades de Conservação
Nos limites do Litoral Médio do RS existem apenas quatro áreas
protegidas como Unidades de Conservação (UCs) federais ou estaduais, das
quais três estão na categoria de proteção integral, o Parque Nacional da Lagoa
do Peixe, o Parque Estadual de Itapuã e o Refúgio de Vida Silvestre Banhado
dos Pachecos, e uma na de uso sustentável, a Área de Proteção Ambiental do
Banhado Grande. Todas essas áreas são de extrema importância para a
conservação de muitas das espécies da fauna ameaçadas de extinção no
Litoral Médio.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe (PARNA Lagoa do Peixe) além
de ser uma das áreas úmidas de importância internacional, reconhecida pela
Convenção RAMSAR, é um área de extrema importância para a conservação
de aves aquáticas e migratórias. Foi criada com o objetivo principal de proteger
espécies de aves, em especial as migratórias. Desta forma preserva ambientes
de lagunas, banhados, dunas, marismas e mata de restinga. Abriga também
um número expressivo de espécies de peixes-anuais: Austrolebias wolterstorffi,
Austrolebias minuano, Atlantirivulus riograndensis e Cynopoecilus fulgens,
além de outras espécies de peixe estuarinas, com importância para pesca e em
perigo de sobreexplotação, como a tainha (Mugil platanus), a corvina
(Micropogonias furnieri). Na faixa de dunas e campos arenosos abriga também
lagartixa-da-praia (Liolaemus occipitalis), espécie ameaçada. No entanto, é
uma UC que ainda apresenta vários problemas que comprometem os
ambientes e comunidades vivas silvestres, como a invasão de Pinus sp. e falta
de regularização fundiária.
O Parque Estadual de Itapuã protege alguns dos ecossistemas naturais
da região metropolitana de Porto Alegre, como morros graníticos com campos
rupestres, praias lacustres, dunas, lagoas e banhados. Abriga espécies
importantes da fauna do Litoral Médio do RS, como a lagartixa-da-areia
(Liolaemus arambarensis), uma espécie nova de lagartixa-listrada (Contomastix
aff. lacertoides), o peixe-anual (Cynopoecilus nigrovittatus), os peixes
importantes para pesca como a branca (Oligosarcus jenynsii) e o jundiá
77
(Rhamdia aff. quelen). Abriga também muitas espécies ameaçadas ou
importantes de mamíferos, como o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans),
tuco-tuco (Ctenomys lami), cutia (Dasyprocta azarae), gato-morisco (Puma
yagouaroundi), onça-parda (Puma concolor), além de ser área potencial para a
ocorrência de outras espécies como o tamanduá-mirin (Tamandua tetradactyla)
e o sapo-de-barriga-vermelha-marmoreada (Melanophryniscus pachyrhynus).
Entre as espécies da flora, ocorrem espécies raras e ameaçadas, como
Chiropetalum
foliosum
(EUPHORBIACEAE),
Sellocharis
paradoxa
(FABACEAE), e ameaçadas, como algumas bromeliáceas e cactáceas, e uma
Apocinácea criticamente ameaçada (Aspidosperma riedelii).
Já na O Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos é uma UC
que sofre forte pressão devido a sua proximidade com o município de Porto
Alegre. Esta área preserva uma grande variedade de ambientes, como mata
paludosa e ripária e campos úmidos, e portanto também abriga um grande
diversidade de espécies animais. Nesta área foram registradas muitas espécies
de mamíferos e aves ameaçadas de extinção, como o cervo-do-Pantanal
(Blastocerus dichotomus) uma espécie criticamente ameaçada no Estado, que
no momento só possui ocorrência conhecida para os limites do Refúgio.
Na área de entorno do RVS Banhado dos Pachecos, está situada a Área
de Proteção Ambiental do Banhado Grande (APA do Banhado Grande), uma
área de uso sustentável que foi criada com o objetivo de preservar o Banhado
Grande do rio Gravataí, constituindo uma importante área para conservação de
aves migratórias. Por abrigar em seus limites remanescentes de floresta,
também é de suma importância para a conservação de espécies florestais,
como a rã-das-matas (Ischnocnema henselii) e todas as espécies já indicadas
para o RVS Banhado dos Pachecos.
8.2. Indicação de remanescentes de áreas naturais prioritárias para a
conservação
Tendo em vista, o alto grau de ameaça em que se encontram nossos sistemas
naturais, e por conseqüência a sua fauna associada, é aparente a necessidade
de se indicar áreas prioritárias para a conservação dos mesmos. Além das UCs
existentes na região de interesse, durante as amostragens em campo
78
localizamos algumas áreas que foram definidas como prioritárias para a
conservação dentro dos limites do Litoral Médio do RS, por se tratarem de
remanescentes de ambientes naturais em bom estado de conservação. Desta
forma, devem receber medidas especiais para sua proteção e/ou restauração.
Além de avaliar o estado de conservação destes remanescentes, definimos as
áreas buscando contemplar o maior número de habitat representativos da
região em estudo. A partir disso, definimos as seguintes áreas: Marismas,
Lagoa Moinho, Banhado das Capivaras, e o Sistema Bojuru (no município de
São José do Norte); a Lagoa da Reserva (no município de Mostardas), o Pontal
do Anastácio e a Lagoa do Casamento (nos municípios de Viamão e Palmares
do Sul), os Butiazais de Tapes (nos municípios de Tapes e Barra do Ribeiro),
os remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual (município de Barra do
Ribeiro), e por fim o Pontal localizado entre os municípios de Tapes e
Arambaré. Destacamos que grande parte dessas áreas já foram indicadas
previamente por autores como áreas prioritárias para a conservação (Burger &
Ramos, 2007; MMA, 2007), o que reforça ainda mais a importância de tais
ambientes naturais.
A seguir descrevemos brevemente cada um dos remanescentes das
áreas naturais prioritárias para a conservação para o Litoral Médio do RS,
selecionadas em nossa avaliação (Figura 18). Junto com identificação de cada
área, é apresentada uma figura, procurando situar as formações naturais que
orientaram a seleção. Estas figuras têm caráter meramente ilustrativo, de
maneira que um detalhamento futuro das condições de conservação do(s)
habitat(s), das interações com o entorno, da situação fundiária e tantos outros
aspectos envolvidos, deverão necessariamente fazer parte de estudos
objetivos, visando avaliar a proposição de alguma modalidade de UC.
 Marismas (Figura 19)
Áreas alagadiças, sob influência das marés, banhadas por águas salinizadas.
No Litoral Médio cobrem superfícies pequenas, no estuário da Laguna dos
Patos e na barra da Lagoa do Peixe, não mapeáveis na escala do zoneamento.
Uma vez que as marismas situadas na Lagoa do Peixe já estão inseridas em
Parque Nacional, destaca-se a prioridade de conservação das marismas
localizadas próximo da sede de São José do Norte.
79
Figura 18. Localização das áreas indicadas como prioritárias para a conservação da fauna e flora da Área 4 do Projeto RS
Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
80
Isto se justifica tanto mais pela iminente pressão que se fará sobre os
ambientes, a partir da expansão do pólo naval, quanto principalmente pela
riqueza e peculiaridade da fauna local, em especial a de aves. Na figura abaixo
são indicadas as posições das marismas no contexto mencionado.
31o 54’ 07” S
51º 59’ 57” O
São José do Norte
(zona urbana)
Figura 19.
Marismas
localizadas
na orla do
estuário da
Laguna
dos Patos.
o
32 09’ 40” S
52º 05’ 49” O
81
 Lagoa Moinho e Banhado das Capivaras (Figura 20)
Complexo de ambientes, formado pela Lagoa do Moinho, Banhado das
Capivaras, marismas da Ponta Rasa, areais e matas de restinga (arenosas e
paludosas). Inclui dentro de seus limites uma colônia de pescadores.
De maneira geral os ambientes encontram-se preservados, mas sofrem
progressiva pressão pelas atividades de orizicultura e silvicultura (Pinus),
especialmente no entorno do Banhado das Capivaras. A figura 15 apresenta,
sob forma muito simplificada e meramente ilustrativa, a distribuição dos
ambientes em bom estado de conservação. Destaca-se a importância desta
região como área de simpatria de duas espécies de tuco-tuco (Ctenomys
flamarioni e Ctenomys minutus) (Kubiak, 2013).
31o 48’ 49” S
52º 05’ 54” O
Ma
Ae
Bc
Lm
Ae
31o 54’ 06” S
51º 58’ 45” O
Figura 20. Distribuição dos ambientes considerados prioritários para
conservação na região da Lagoa do Moinho e Banhado das Capivaras; Lm –
Lagoa do Moinho, Bc – Banhado das Capivaras, Ae – areais, Ma – marisma
da Ponta Rasa.
 Sistema Bojuru (Figura 21)
A costa do Bojuru em contato com a Laguna dos Patos, ao norte da Barra
Falsa, constitui um dos trechos mais conservados do Litoral Médio, onde
ocorrem banhados, matas de restinga paludosa e arenosa, dunas lacustres e
82
campo nativo. Em visita realizada ao local, foi constatada a presença de
espécies da flora ameaçada, tais como Ephedra tweediana, Cattleya
intermedia, Sideroxylon obtusifolium. Além disso, uma grande diversidade de
espécies da fauna ocupam os ambientes presentes na região, em especial
destacamos o grande número de aves aquáticas observadas em campo.
Destaca-se o zelo dedicado à conservação, por parte do(s) proprietário(s), o
que deveria ser levado em conta quando da proposição das futuras medidas
que venham a ser propostas para a região. Por outro lado, há uma iminente
ameaça de invasão por pinus, já notada nas bordas das dunas lacustres.
31o 29’ 01” S
51º 28” 00” O
Bf
31o 35’ 20” S
51º 22” 00” O
Figura 21. Complexo do Bojuru, junto da Laguna dos Patos, reunindo
diferentes ambientes de restinga em bom estado de conservação. Bf – Barra
falsa; as setas indicam silvicultura com Pinus, por onde a invasão por
dispersão tem grande probabilidade de avançar.
 Lagoa da Reserva (Figura 22)
Esta área está basicamente focada na Lagoa que empresta o nome, e
ambientes associados ou que ocorrem nas adjacências, como banhados e
dunas lacustres. Destaca-se a elevada diversidade de fauna silvestre, fácil e
abundantemente vistas na rápida visita realizada ao local. A Lagoa da Reserva
é uma das lagoas mais rasas do litoral, com menos de um metro de
83
profundidade média (Schäfer et al., 2009). Isto talvez explique a grande
importância para conservação de aves, enquanto sistema que tende a alta
produtividade primária, mas também a torna extremamente vulnerável aos
efeitos do cultivo de arroz irrigado, praticado intensivamente no seu entorno
imediato.
30o 49’ 45” S
50º 45” 25” O
30o 54’ 20” S
50º 49” 09” O
Figura 22. Lagoa da Reserva localizado junto a Laguna dos Patos, abriga um
ambiente composto por uma grande diversidade de áreas úmidas que sofrem
forte pressão das culturas de arroz.
 Pontal do Anastácio e Lagoa do Casamento (Figura 23)
Reúne ambientes de campos nativos, lagoas, banhados e comunidades
perilacunares, com destacada importância para a fauna nativa. A principal
ameaça à conservação está relacionada às lavouras de arroz irrigado. Na Ilha
Grande (Lagoa do Casamento), a presença de animais exóticos (javali e
cavalos) também constitui uma pressão contrária à conservação ambiental.
84
30o 10’ 32” S
50º 47’ 40” O
Lagoa do
Casamento
An
Ig
Ga
30o 33’ 51” S
50º 32’ 12” O
Figura 23. Região da Lagoa do Gateado (Ga), Pontal do Anastácio (An), Ilha
Grande (Ig) e Lagoa do Casamento.
 Butiazais de Tapes (Figura 24)
Apresenta elevada importância fitogeográfica, enquanto formação
relictual, que tende a desaparecer. Embora não exclusiva da formação do
parque de butiás, ocorrem espécies da flora e da fauna ameaçadas e/ou raras.
Destaca-se a importância de preservar ambientes próximos, como as lagoas do
Cerro e Formosa, e os banhados associados a estes corpos d’água, dentre os
quais o banhado das capivaras (nome aplicado a diversas localidades no litoral
médio). Também de elevada importância ecológica (habitat de Liolaemus
85
arambarensis) e cênica são as dunas lacustres, que se estendem desde o
Pontal de Tapes até a latitude da Ilha da Barbanegra. As principais ameaças:
sobre o butiazal – silvicultura; sobre as lagoas e banhados – orizicultura; sobre
as dunas – silvicultura e invasão por pinus.
30o 26’ 17” S
51º 14’ 54” O
Du
Bt
Ce
Fo
Bt
Tapes
Du
o
30 48’ 59” S
51º 26’ 51” O
Figura 24. Delimitação dos butiazais (Bt), e outras áreas importantes para a
conservação, no entorno; Ce – Lagoa do Cerro e áreas úmidas, Fo – Lagoa
Formosa e áreas úmidas, Du – dunas lacustres e Pontal de Tapes.
86
 Remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual
(Figura 25)
Na área delimitada ocorre uma extensa e bem preservada mancha de
floresta estacional. Considerando a descaracterização sofrida por este tipo de
floresta no RS, o remanescente ganha importância, podendo servir como área
para pesquisas, relacionadas a fitossociologia, processos sucessionais,
interações com a fauna, banco genético e outras.
30o 24’ 26” S
51o 26’ 36” O
Arroio
Araçá
30oo 28’ 10” S
51 22’ 24” O
Figura 25. Remanescente de Floresta Estacional Semidecidual sobre coxilhas
graníticas, no município de Barra do Ribeiro.
 Pontal de Tapes e Arambaré (Figura 26)
Na divisa sul do município de Tapes, no limite com Arambaré, estende-se um
pontal que reúne ambientes diversificados. Predominam áreas úmidas, em que
as espécies vegetais dominantes se alternam constantemente. Destaca-se a
presença de extensos sarandizais (dominados por Cephalanthus glabratus),
importantes formadores de ninhais. Abriga fauna e flora variada, inclusive
espécies ameaçadas de extinção e/ou raras, como a lagartixa-da-areia
(Liolaemus arambarensis). Entre a flora, destaca-se a presença de Monnina
itapoanensis (Polygalaceae), uma espécie descrita recentemente, com
87
distribuição restrita a Viamão e Tapes, além de outras espécies ameaçadas,
comuns a matas de restinga, banhados e campos arenosos (p. ex.: Zizaniopsis
bonariensis, Tibouchina asperior, Sideroxylon obtusifolium).
30o 48’ 22” S
51o 22’ 00” O
30o 53’ 00” S
51o 29’ 00” O
Figura 26. Pontal entre Tapes e Arambaré, com extensas áreas de banhado,
matas de restinga, campo, lagoas e dunas lacustres.
9. RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO
BIÓTICO
Para a conservação do meio biótico indicamos algumas recomendações
gerais:

Fortalecer medidas que visem o cumprimento da legislação ambiental, em
especial as relacionadas a conservação adequada das APPs e Reservas
Legais, e a intensificação das ações de fiscalização;

Fomentar a orientação e apoio para a adequação das propriedades ao
cadastro ambiental rural, visando maximizar o efeito ecológico das reservas
legais no contexto regional;

Incentivar e fomentar estudos e pesquisas sobre a biologia e conservação das
espécies de flora e fauna, em especial daquelas em risco de extinção;
88

Divulgar nas comunidades locais o conhecimento gerado pela comunidade
científica, buscando informar sobre a importância da conservação da fauna e
flora locais;

Indicar medidas de compensação ambiental para empreendimentos passíveis
de licenciamento na região (aquisição de áreas para a conservação, como
medida efetiva de compensação por instalação de grandes empreendimentos);

Implementar e ou efetivar o sistema de unidades de conservação existente,
tendo em vista os problemas recorrentes de invasão, caça, pesca predatória e
a coleta de plantas e animais nativos para a comercialização nas UCs;

Criar e implementar novas UCs nos limites do Litoral Médio com base nas
indicações de áreas prioritárias existentes, como as identificadas no item
anterior, bem como por Burger e Ramos (2007) e MMA (2007).
10. ANEXOS
Anexo 1: Tabela geral com todas as espécies de peixe compiladas para Área
4 do Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Odontesthes argentinensis
Odontesthes bonariensis
(Quoy & Gaimard, 1825)
(Valenciennes, 1835)
(Valenciennes, 1835)
peixe-rei
peixe-rei
Odontesthes humensis
Odontesthes ledae
Buen, 1953
Malabarba & Dyer, 2002
peixe-rei
peixe-rei
Odontesthes mirinensis
Odontesthes perugiae
Odontesthes sp.1
Odontesthes sp.2
CHARACIFORMES
Acestrorhynchidae
Bemvenuti, 1996
Evermann & Kendall, 1906
peixe-rei
peixe-rei
peixe-rei
peixe-rei
Acestrorhynchus pantaneiroex
Anostomidae
Leporinus obtusidens
Schizodon jacuiensis
Characidae
Aphyocharax anisitsi
Astyanax aff. fasciatus
Menezes, 1992
peixe-cachorro
(Valenciennes, 1836)
Bergman, 1988
piava
Voga
Eigenmann & Kennedy, 1903
(Cuvier, 1819)
lambari-sangue
lambari-do-rabo-
ATHERINIFORMES
Atherinopsidae
Atherinella brasiliensis
89
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Astyanax bimaculatus
Astyanax eigenmanniorum
(Linnaeus, 1758)
(Cope, 1894)
vermelho
lambari
lambari-de-olhovermelho
Astyanax henseli
Astyanax jacuhiensis
Melo & Buckup, 2006
(Cope, 1894)
Astyanax laticeps
Bryconamericus iheringii
Charax stenopterus
Cheirodon ibicuhiensis
Cheirodon interruptus
Cyanocharax alburnus
Diapoma speculiferum
Hyphessobrycon bifasciatus
Hyphessobrycon boulengeri
Hyphessobrycon igneus
(Cope, 1894)
(Boulenger, 1887)
(Cope, 1894)
Eigenmann, 1915
(Jenyns, 1842)
(Hensel, 1870)
Cope, 1894
Ellis, 1911
(Eigenmann, 1907)
Miquelarena, Menni, López &
Casciotta, 1980
Hyphessobrycon togoi
Miquelarena & López, 2006
Hyphessobrycon luetkenii
(Boulenger, 1887)
Hyphessobrycon meridionalis Ringuelet, Miquelarena & Menni,
1978
Macropsobrycon uruguayanae Eigenmann, 1915
Mimagoniates inequalis
(Eigenmann, 1911)
Mimagoniates microlepis
(Steindachner, 1877)
Oligosarcus jenynsii
(Günther, 1864)
Oligosarcus robustus
Menezes, 1969
Pseudocorynopoma doriae
Perugia, 1891
Serrapinnus calliurus
(Cuvier, 1816)
Crenuchidae
Characidium occidentale
Buckup & Reis, 1997
Characidium rachovii
Regan, 1913
Characidium tenue
(Cope, 1894)
lambari-do-raboamarelo
lambari cabeçudo
lambari
lambari-corcunda
lambarizinho
lambari-serrilha
lambari-branco
lambari
lambari
lambari-prata
lambari-limão
lambari
lambari
lambari
lambari-coaxador
lambari-azul
branca
branca
lambari-bandeira
lambari
canivete
canivete
canivete
Characidium aff. zebra
Curimatidae
Eigenmann, 1909
canivete-zebra
Cyphocharax saladensis
Cyphocharax spilotus
(Meinken, 1933)
(Vari, 1987)
biruzinho-do-banhado
biru
Cyphocharax voga
Steindachnerina biornata
Erythrinidae
Hoplias aff. malabaricus
Lebiasinidae
Pyrrhulina australis
(Hensel, 1870)
(Braga & Azpelicueta, 1987)
biru
biruzinho-tracejado
(Bloch, 1794)
Traíra
Eigenmann & Kennedy, 1903
pirrulina
(Valenciennes, 1836)
grumatã
Prochilodontidae
Prochilodus lineatus
90
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
(Jenyns, 1842)
(Cuvier, 1829)
(Regan, 1917)
(Jenyns, 1842)
savelha
sardinha-cascuda
sardinha-de-água-doce
Lycengraulis grossidens
CYPRINIFORMES
Cyprinidae
Cyprinus carpioex
CYPRINODONTIFORMES
Anablepidae
Agassiz, 1829
manjubão
Linnaeus, 1758
carpa
Jenynsia lineata
Jenynsia multidentata
(Jenyns, 1842)
(Jenyns, 1842)
barrigudinho
barrigudinho-listrado
CLUPEIFORMES
Clupeidae
Brevoortia pectinata
Harengula clupeola
Platanichthys platana
Ramnogaster arcuata
Engraulidae
Poeciliidae
Cnesterodon decemmaculatus (Jenyns, 1842)
Phalloceros caudimaculatus
(Hensel, 1868)
Phalloptychus iheringii
(Boulenger, 1889)
Rivulidae
Austrolebias adloffi
(Ahl, 1922)
Austrolebias minuano
Costa & Cheffe, 2001
Austrolebias wolterstorffi
(Ahl, 1924)
Atlantirivulus riograndensis
(Lanés & Costa, 2009)
Cynopoecilus fulgens
Costa, 2002
Cynopoecilus melanotaenia
Cynopoecilus multipapillatus
Cynopoecilus nigrovittatus
GYMNOTIFORMES
Hypopomidae
Brachyhypopomus draco
Brachyhypopomus gauderio
Brachyhypopomus
pinnicaudatus
Gymnotidae
Gymnotus aff. carapo
Sternopygidae
Eigenmannia trilineata
Eigenmannia virescens
PERCIFORMES
Carangidae
Caranx latus
Trachinotus falcatus
Trachinotus marginatus
barrigudinho
barrigudinho
barrigudinho-riscado
(Regan, 1912)
Costa, 2002
Costa, 2002
peixe-anual
peixe-anual
peixe-anual
killifish-sulino
peixe-anual
peixe-anual
peixe-anual
peixe-anual
Giora, Malabarba & Crampton, 2008
Giora & Malabarba, 2009
(Hopkins, 1991)
tuvira-dragão
tuvira-de-sela
tuvira
Linnaeus, 1758
tuvira-tigre
López & Castello, 1966
(Valenciennes, 1836)
peixe-faca
Agassiz, 1831
(Linnaeus, 1758)
Cuvier, 1832
91
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Cichlidae
Australoheros facetus
Cichlasoma portalegrense
Crenicichla lepidota
Crenicichla maculata
Crenicichla punctata
Geophagus brasiliensis
Gymnogeophagus
gymnogenys
Gymnogeophagus labiatus
Gymnogeophagus lacustris
Gymnogeophagus rhabdotus
Centropomidae
ex
Centropomus parallelus
Gerreidae
Eucinostomus gula
Eucinostomus melanopterus
Ulaema lefroyi
Gobiidae
Autor e ano
Nome comum
(Jenyns, 1842)
(Hensel, 1870)
Heckel, 1840
Kullander & Lucena, 2006
Hensel, 1870
(Quoy & Gaimard 1824)
cará-amarelo
cará
joaninha
joaninha-pintada
joana-mixola
cará-cartola
(Hensel 1870)
cará-de-lábio-azul
(Hensel 1870)
Reis & Malabarba 1988
(Hensel 1870)
cará-beiçudo
cará-de-lagoa
cará-azul
Poey, 1860
robalo
(Quoy & Gaimard, 1824)
(Bleeker, 1863)
(Goode, 1874)
mojarra
Gobionellus oceanicus
Haemulidae
Pomadasys corvinaeformis
Pomatomidae
Pomatomus saltarix*
Sciaenidae
(Pallas, 1770)
(Linnaeus, 1766)
anchova
Micropogonias furnieri*
Menticirrhus americanus
corvina
Menticirrhus littoralis
Pachyurus bonariensisex
(Desmarest, 1823)
(Linnaeus, 1758)
(Holbrook, 1847)
Steindachner, 1879
Serranidae
Epinephelus marginatus*
(Lowe, 1834)
garoupa
Trichiuridae
Trichiurus lepturus
Gobiidae
Ctenogobius shufeldti
PLEURONECTIFORMES
Achiridae
(Steindachner, 1868)
corvina-de-rio
Linnaeus, 1758
(Jordan & Eigenmann, 1887)
emborê
Catathyridium garmani
Paralichthyidae
(Jordan, 1889)
Linguado
Citharichthys spilopterus
Paralichthys orbignyanus
Günther, 1862
(Valenciennes, 1839)
Linguado
Pleuronectidae
Oncopterus darwinii
Steindachner, 1874
92
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
MUGILIFORMES
Mugilidae
Mugil platanus*
Mugil curema
Mugil gaimardianus
SILURIFORMES
Ariidae
Genidens barbus*
Genidens genidens
Aspredinidae
Bunocephalus iheringii
Auchenipteridae
Trachelyopterus lucenai
Autor e ano
Nome comum
Günther, 1880
Valenciennes, 1836
Desmarest, 1831
tainha
tainha
tainha
(La Cépède, 1803)
(Cuvier 1829)
bagre
bagre
Boulenger, 1891
Bertoletti, Pezzi da Silva & Pereira,
1995
porrudo
(Linnaeus, 1758)
(Jenyns, 1842)
Regan, 1912
(Hancock, 1828)
tamboatá
limpa-fundo
tamboatazinho
tamboatá
Lepthoplosternum tordilho
Clariidae
Clarias gariepinusex
Heptapteridae
Heptapterus mustelinus
Heptapterus sympterygium
Reis, 1997
tamboatá
(Burchell, 1822)
bagre africano
(Valenciennes, 1840)
Buckup, 1988
bagre-de-pedra
bagrinho-de-aguapé
Pimelodella australis
Rhamdella eriarcha
Eigenmann, 1917
(Eigenmann & Eigenmann, 1888)
(Quoy & Gaimard, 1824)
mandinho-listrado
mandi
jundiá
Ancistrus brevipinnis
Hemiancistrus punctulatus
(Regan, 1904)
Cardoso & Malabarba 1999
cascudo-de-espinhos
cascudo-pintado
Hisonotus laevior
Hisonotus leucofrenatus
Hisonotus nigricauda
Hisonotus taimensis
Hypostomus aspilogaster
Hypostomus commersoni
Cope, 1894
(Miranda Ribeiro, 1908)
cascudinho-pintado
(Boulenger, 1891)
(Buckup, 1981)
cascudinho
cascudinho
(Cope, 1894b)
Valenciennes, 1836
cascudinho
cascudinho
Loricariichthys anus
Otothyris rostrata
(Valenciennes, 1836)
Garavello, Britski & Schaefer, 1998
cascudo-viola
cascudinho-de-crista
Rineloricaria cadeae
Rineloricaria longicauda
(Hensel, 1868)
Reis, 1983
cascudo-viola
Rineloricaria
microlepidogaster
(Regan, 1904)
Callichthyidae
Callichthys callichthys
Corydoras paleatus
Corydoras undulatus
Hoplosternum littorale
Rhamdia aff. quelen
Loricariidae
93
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Rineloricaria quadrensis
Rineloricaria strigilata
Pimelodidae
Parapimelodus nigribarbis
Pimelodus maculatus
Pseudopimelodidae
Microglanis cottoides
Reis, 1983
(Hensel, 1868)
violinha-de-lagoa
cascudo-viola
(Boulenger, 1889)
Lacepede, 1803
mandi
pintado
(Boulenger, 1891)
bagrinho
Microglanis cibelae
Trichomycteridae
Homodiaetus anisitsi
Scleronema minutum
SYMBRANCHIFORMES
Synbranchidae
Malabarba & Mahler, 1998
Eigenmann & Ward, 1907
(Boulenger, 1891)
chupa-chupa
Synbranchus marmoratus
Bloch, 1795
muçum
145
Total de espécies
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Froese & Pauly, 2013. Legenda:
*Espécies com risco de sobreexplotação segundo a Instrução Normativa 05/2004 do Ministério
do Meio Ambiente.ex Espécie exótica para na região.
Anexo 2: Tabela geral com todas as espécies de anfíbios compiladas para
Área 4 do Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
(Mertens, 1927)
rã-das-cachoeiras
(Peters, 1870)
rã-das-matas
(Mertens, 1933)
(Philippi, 1902)
sapinho-de-barriga-vermelha
sapinho-de-barriga-vermelha
(Miranda-Ribeiro, 1920)
sapinho-de-barriga-vermelhamarmoreado
sapo-da-areia
sapinho-de-jardim
ANURA
Batrachylidae
Hylodes meridionalis
Brachycephalidae
Ischnocnema henselii
Bufonidae
Melanophryniscus dorsalis
Melanophryniscus
montevidensis*
Melanophryniscus
pachyrhynus
Rhinella arenarum
Rhinella dorbignyi
Rhinella fernandezae
Rhinella henseli
Rhinella icterica
Ceratophyidae
Ceratophrys ornata*
Hylidae
Dendropsophus minutus
(Hensel, 1867)
(Duméril and
Bibron, 1841)
(Gallardo, 1957)
(Lutz, 1934)
(Spix, 1824)
sapinho-de-jardim
sapo-cruz
sapo-cururu
(Bell, 1843)
sapo-boi
(Peters, 1872)
perereca-rajada
94
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Dendropsophus nanus
Dendropsophus sanborni
Hypsiboas faber
Hypsiboas pulchellus
(Boulenger, 1889)
(Schmidt, 1944)
(Wied-Neuwied, 1821)
(Duméril and
Bibron, 1841)
Boulenger, 1885
Günther, 1858
(Barrio, 1962)
(Lutz, 1925)
(Peters, 1871)
(Cope, 1862)
(Lutz, 1925)
perereca
perereca
sapo-ferreiro
perereca-do-banhado
Phyllomedusa iheringii
Pseudis minuta
Scinax berthae
Scinax fuscovarius
Scinax granulatus
Scinax nasicus
Scinax squalirostris
Scinax tymbamirin
perereca-macaco
rã-boiadora
perereca
perereca-raspa-de-cuia
perereca-de-banheiro
perereca-de-peito-manchado
perereca-nariguda
perereca
Scinax uruguayus
(Schmidt, 1944)
Trachycephalus mesophaeus (Hensel, 1867)
Leptodactylidae
Physalaemus biligonigerus
(Cope, 1861)
Physalaemus cuvieri
Fitzinger, 1826
Physalaemus gracilis
(Boulenger, 1883)
Physalaemus lisei
Braun and Braun, 1977
Physalaemus henselii
(Peters, 1872)
Physalaemus riograndensis
Milstead, 1960
Pseudopaludicola falcipes
(Hensel, 1867)
Leptodactylus chaquensis*
Cei, 1950
Leptodactylus fuscus
(Schneider, 1799)
Leptodactylus gracilis
(Duméril and
Bibron, 1840)
Leptodactylus latinasus
Jiménez de la
Espada, 1875
Leptodactylus latrans
(Steffen, 1815)
Leptodactylus mystacinus
(Burmeister, 1861)
Microhylidae
perereca-uruguaia
perereca-leiteira
Elachistocleis bicolor
Odontophrynidae
Odontophrynus americanus
(Guérin-Méneville, 1838)
rã-de-barriga-amarela
(Duméril and
Bibron, 1841)
Rosset, 2008
sapo-da-enchente
(Shaw, 1802)
rã-touro
Odontophrynus maisuma
Ranidae
Lithobates catesbeianus
ex
rã-chorona
rã-cachorro
rã-chorona
rã-chorona
rã
rã-chorona
rãzinha
rã-criola
rã-assobiadora
rã-listrada
rã-assobiadora
rã-criola
rã-de-bigode
sapo-da-enchente
GYMNOPHIONA
Typhlonectidae
95
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Chthonerpeton indistinctum*
(Reinhardt and
Lütken, 1862)
cobra-de-duas-cabeças
Total de espécies
44
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Segalla et al., 2012. Legenda:
ex
*Espécies com ocorrência potencial para os limites do Litoral Médio do RS. Espécie exótica e
invasora.
Anexo 3: Tabela geral com todas as espécies de répteis compiladas para
Área 4 do Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
Autor e ano
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum
CROCODYLIA
Alligatoridae
Caiman latirostris
SQUAMATA
(Daudin, 1802)
jacaré-do-papo-amarelo
Duméril & Bibron, 1839
(Bell, 1833)
Klappenbach, 1966
cobra-cega
cobra-cega-de-crista
cobra-cega
(Cope, 1885)
Cope, 1885
cobra-cega
cobra-cega
(Wied, 1820)
caninana-verde
(Raddi, 1820)
(Linnaeus, 1758)
(Linnaeus, 1758)
jararaca-do-banhado
caninana
falsa-cabeça-preta
Ophiodes aff. striatus
Ophiodes fragilis
(Spix, 1825)
Peters,1877
cobra-de-vidro
cobra-de-vidro
Dipsadidae
Atractus reticulatus
Boiruna maculata
Paraphimophis rustica
Echinanthera cyanopleura
Elapomorphus sp.n.
(Boulenger, 1885)
(Boulenger, 1896)
(Cope, 1878)
(Cope, 1885)
cobra-de-terra
muçurana-preta
muçurana-parda
corredeira-do-mato
Helicops infrataeniatus
Erythrolamprus almadensis
Lygophis anomalus
Lygophis flavifrenatus
Erythrolamprus jaegeri
Erythrolamprus miliaris
(Jan, 1865)
(Wagler, 1824)
(Günther, 1858)
(Cope, 1862)
(Günther, 1858)
(Cope, 1868)
cobra-d'água-meridional
jararaquinha-do-campo
jararaquinha-d'água
corredeira-listrada
cobra-d'água-verde
cobra-lisa
Erythrolamprus
poecilogyrus
(Wied, 1825)
cobra-verde
Amphisbaenidae
Amphisbaena darwini
Amphisbaena kingii
Amphisbaena munoai
Amphisbaena prunicolor
Amphisbaena trachura
Colubridae
Chironius bicarinatus
Mastigodryas bifossatus
Spilotes pullatus
Tantilla aff. melanocephala
Diploglossidae
96
Taxa
Autor e ano
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum
Oxyrhopus rhombifer
Phalotris lemniscatus
Philodryas aestiva
Philodryas agassizii
Duméril, Bibron & Duméril, 1854
(Duméril, Bibron & Duméril, 1854)
(Duméril, Bibron & Duméril, 1854)
(Jan, 1863)
Philodryas olfersii
Philodryas patagoniensis
Phimophis aff. guerini
Psomophis obtusus
(Lichtenstein, 1823)
(Girard, 1858)
(Duméril, Bibron & Duméril, 1854)
(Cope, 1864)
Gomes, 1915
(Ihering, 1911)
(Boulenger, 1885)
falsa-coral
cobra-preta-da-areia
cobra-cipó-verde
parelheira-dosformigueiros
cobra-cipó-verde
papa-pinto
mussurana
corredeira
Ptychophis flavovirgatus
Sibynomorphus neuwiedi
Sibynomorphus
ventrimaculatus
Taeniophallus occipitalis
Taeniophallus
poecilopogon
Thamnodynastes
hypoconia
Thamnodynastes cf.
nattereri
Thamnodynastes strigatus
Tomodon dorsatus
Tomodon ocellatus
Tropidodryas striaticeps
Xenodon dorbignyi
Xenodon merremii
Elapidae
Micrurus altirostris
Gymnophthalmidae
Cercosaura ocellata
petersi
Cercosaura schreibersii
Leiosauridae
Urostrophus vautieri
Leptotyphlopidae
Epictia munoai
Liolaemidae
Liolaemus arambarensis
Liolaemus occipitalis
Mabuyidae
Aspronema dorsivittatum
Teiidae
Contomastix aff.
lacertoides
Teius oculatus
dormideira-cinzenta
dormideira
(Jan, 1863)
(Cope, 1863)
cobra-de-folhiço
corredeira-do-mato
(Cope, 1860)
corredeira-carenada
(Mikan, 1828)
corredeira
(Günther, 1858)
Duméril, Bibron & Duméril, 1854
corredeira-lisa
cobra-espada
Duméril, Bibron & Duméril, 1854
(Cope, 1869)
cobra-espada-pampeana
cobra-cipó
(Duméril, Bibron & Duméril, 1854)
(Wagler, 1824)
nariguda
boipeva
(Cope, 1859)
cobra-coral
Ruibal 1952
lagartixa-listrada
Wiegmann, 1834
lagartixa-marrom
Duméril & Bibron, 1837
papa-vento-de-barrigalisa
(Orejas-Miranda, 1961)
cobra-de-duas-cabeças
Verrastro, Veronese, Bujes & DiasFilho, 2003
Boulenger, 1885
lagartixa-da-areia
(Cope, 1862)
scinco-dourado
(Duméril & Bibron, 1839)
lagartixa-listrada
(D'Orbigny & Bibron, 1837)
lagartixa-verde
97
lagartixa-da-praia
Taxa
Autor e ano
ORDEM/ Família/ Espécie
Nome comum
Salvator merianae
Viperidae
Bothrops alternatus
Bothrops jararaca
Bothrops pubescens
TESTUDINES
Chelidae
Duméril & Bibron, 1839
teiú
Duméril, Bibron & Duméril, 1854
(Wied, 1824)
(Cope, 1870)
cruzeira
jararaca
jararaca-pintada
Acanthochelys spixii
Hydromedusa tectifera
(Duméril & Bibron, 1835)
Cope, 1869
Phrynops hilarii
(Duméril & Bibron, 1835)
cágado-negro
cágado-de-pescoçocomprido
cágado-de-barbelascinzentos
62
Total de espécies
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Bérnils & Costa, 2012.
Anexo 4: Tabela geral com todas as espécies de aves compiladas para Área 4
do Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Vieillot, 1808
(Latham, 1790)
gaviãozinho
gavião-velho
Vieillot, 1816
(Gmelin, 1788)
Vieillot, 1816
(Vieillot, 1818)
gavião-de-rabo-curto
gavião-do-banhado
gavião-cinza
gavião-peneira
Geranoaetus albicaudatus
Geranoaetus melanoleucus*
(Vieillot, 1816)
(Vieillot, 1819)
gavião-de-rabo-branco
águia-chilena
Heterospizias meridionalis
Pseudastur polionotus
Rostrhamus sociabilis
Rupornis magnirostris
Urubitinga coronata*
Urubitinga urubitinga
(Latham, 1790)
(Kaup, 1847)
(Vieillot, 1817)
(Gmelin, 1788)
(Vieillot, 1817)
(Gmelin, 1788)
gavião-caboclo
gavião-pombo-branco
gavião-caramujeiro
gavião-carijó
águia-cinzenta
gavião-preto
(Linnaeus, 1758)
águia-pescadora
(Gmelin, 1789)
Linnaeus, 1758
marreca-pé-vermelho
marreca-toicinho
Linnaeus, 1766
Vieillot, 1816
marreca-de-asa-azul
marreca-pardinha
ACCIPITRIFORMES
Accipitridae
Accipiter striatus
Busarellus nigricollis
Buteo brachyurus
Circus buffoni
Circus cinereus
Elanus leucurus
Pandionidae
Pandion haliaetus
ANSERIFORMES
Anatidae
Amazonetta brasiliensis
Anas bahamensis
Anas discors
Anas flavirostris
98
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Anas georgica
Anas platalea
Anas sibilatrix
Anas versicolor
Cairina moschata
Callonetta leucophrys
Coscoroba coscoroba
Gmelin, 1789
Vieillot, 1816
Poeppig, 1829
Vieillot, 1816
(Linnaeus, 1758)
(Vieillot, 1816)
(Molina, 1782)
marreca-parda
marreca-colhereira
marreca-oveira
marreca-cricri
pato-do-mato
marreca-de-coleira
capororoca
Cygnus melancoryphus
Dendrocygna bicolor
Dendrocygna viduata
Heteronetta atricapilla
Netta peposaca
Nomonyx dominica
(Molina, 1782)
(Vieillot, 1816)
cisne-de-pescoço-preto
marreca-caneleira
(Linnaeus, 1766)
(Merrem, 1841)
marreca-piadeira ou irerê
marreca-de-cabeça-preta
(Vieillot, 1816)
(Linnaeus, 1766)
marrecão
marreca-de-bico-roxo
Oxyura vittata
Sarkidiornis sylvicola
(Philippi, 1860)
Ihering & Ihering, 1907
marreca-pés-na-bunda
pato-de-crista
(Oken, 1816)
tachã
Sclater, 1862
Hellmayr, 1907
(Shaw, 1796)
andorinhão-de-sobre-cinzento
andorinhão-do-temporal
andorinhão-de-coleira
(Vieillot, 1817)
(Shaw, 1812)
(Vieillot, 1817)
(Shaw, 1812)
(Vieillot, 1818)
(Vieillot, 1818)
beija-flor-de-veste-preta
besourinho-de-bico-vermelho
beija-flor-preto-de-rabo-branco
beija-flor-dourado
beija-flor-de-papo-branco
beija-flor-de-topete
(Forster, 1771)
(Vieillot, 1817)
(Gmelin, 1789)
(Gould, 1838)
(Bonaparte, 1825)
(Gould, 1837)
(Gmelin, 1789)
(Gmelin, 1789)
bacurau-norte-americano
corucão
bacurau
curiango-do-banhado
bacurau-da-telha
bacurau-pequeno
bacurau-tesoura
tuju
(Gmelin, 1789)
urutau
Anhimidae
Chauna torquata
APODIFORMES
Apodidae
Chaetura cinereiventris
Chaetura meridionalis
Streptoprocne zonaris
Trochilidae
Anthracothorax nigricollis
Chlorostilbon lucidus
Florisuga fusca
Hylocharis chrysura
Leucochloris albicollis
Stephanoxis lalandi
CAPRIMULGIFORMES
Caprimulgidae
Chordeiles minor
Chordeiles nacunda
Hydropsalis albicollis
Hydropsalis anomala
Hydropsalis longirostris
Hydropsalis parvula
Hydropsalis torquata
Lurocalis semitorquatus
Nyctibiidae
Nyctibius griseus
CARIAMIFORMES
Cariamidae
99
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Cariama cristata
Cathartidae
Cathartes aura
Cathartes burrovianus
Coragyps atratus
Charadriidae
Charadrius collaris
(Linnaeus, 1766)
seriema
(Linnaeus, 1758)
Cassin, 1845
(Bechstein, 1793)
urubu-de-cabeça-vermelha
urubu-de-cabeça-amarela
urubu-de-cabeça-preta
Vieillot, 1818
batuíra-de-coleira
Charadrius falklandicus
Charadrius modestus
Charadrius semipalmatus
Oreopholus ruficollis
Pluvialis dominica
Pluvialis squatarola
Latham, 1790
Lichtenstein, 1823
batuíra-de-coleira-dupla
batuíra-de-peito-avermelhado
Bonaparte, 1825
(Wagler, 1829)
batuíra-norte-americana
batuíra-de-papo-ferrugíneo
(Statius Muller, 1776)
(Linnaeus, 1758)
batuiruçu
batuiruçu-de-axila-preta
Vanellus chilensis
Chionidae
(Molina, 1782)
quero-quero
Chionis alba
Haematopodidae
Haematopus palliatus
Jacanidae
(Gmelin, 1789)
pomba-antártica
Temminck, 1820
piru-piru
Jacana jacana
Laridae
Chroicocephalus
cirrocephalus
Chroicocephalus
maculipennis
Larus atlanticus
Larus dominicanus
Leucophaeus pipixcan
Recurvirostridae
(Linnaeus, 1766)
jaçanã
(Vieillot, 1818)
gaivota-de-cabeça-cinza
(Lichtenstein, 1823)
gaivota-maria-velha
Olrog, 1958
Lichtenstein, 1823
(Wagler, 1831)
gaivota-de-rabo-preto
gaivotão
gaivota-de-franklin
Himantopus melanurus
Rostratulidae
Vieillot, 1817
pernilongo
Nycticryphes semicollaris
Rynchopidae
Rynchops niger
Scolopacidae
Actitis macularius
Arenaria interpres
Bartramia longicauda
Calidris alba
Calidris bairdii
Calidris canutus
Calidris fuscicollis
Calidris himantopus
Calidris melanotos
(Vieillot, 1816)
narceja-de-bico-torto
Linnaeus, 1758
talha-mar
(Linnaeus, 1766)
(Linnaeus, 1758)
(Bechstein, 1812)
(Pallas, 1764)
(Coues, 1861)
(Linnaeus, 1758)
(Vieillot, 1819)
(Bonaparte, 1826)
(Vieillot, 1819)
maçarico-pintado
vira-pedra
maçarico-do-campo
maçarico-branco
maçarico-de-bico-fino
maçarico-de-papo-vermelho
maçarico-de-sobre-branco
maçarico-pernilongo
maçarico-de-colete
100
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Calidris minutilla
Calidris pusilla
Gallinago paraguaiae
Gallinago undulata
Limnodromus griseus
Limosa haemastica
Numenius phaeopus
(Vieillot, 1819)
(Linnaeus, 1766)
(Vieillot, 1816)
(Boddaert, 1783)
(Gmelin, 1789)
(Linnaeus, 1758)
(Linnaeus, 1758)
maçariquinho
maçarico-miúdo
narceja
narcejão
maçarico-de-costas-brancas
maçarico-de-bico-virado
maçarico-de-bico-torto
Phalaropus tricolor
Philomachus pugnax
Tringa flavipes
Tringa melanoleuca
Tringa semipalmata
Tringa solitaria
(Vieillot, 1819)
(Linnaeus, 1758)
pisa-n´água
combatente
(Gmelin, 1789)
(Gmelin, 1789)
maçarico-de-perna-amarela
maçarico-grande-de-perna-amarela
(Gmelin, 1789)
Wilson, 1813
maçarico-de-asa-branca
maçarico-solitário
Tryngites subruficollis
Stercorariidae
(Vieillot, 1819)
maçarico-acanelado
Stercorarius chilensis
Sternidae
Chlidonias niger
Gelochelidon nilotica
Bonaparte, 1857
gaivota-rapineira-chilena
(Linnaeus, 1758)
(Gmelin, 1789)
trinta-réis-negro
trinta-réis-de-bico-preto
Phaetusa simplex
Sterna hirundinacea
Sterna hirundo
Sterna paradisaea
Sterna trudeaui
Sternula superciliaris
Thalasseus acuflavidus
Thalasseus maximus
(Gmelin, 1789)
Lesson, 1831
Linnaeus, 1758
Pontoppidan, 1763
Audubon, 1838
(Vieillot, 1819)
(Cabot, 1847)
(Boddaert, 1783)
trinta-réis-grande
trinta-réis-de-bico-vermelho
trinta-réis-boreal
trinta-réis-ártico
trinta-réis-de-coroa-branca
trinta-réis-anão
trinta-réis-de-bico-amarelo
trinta-réis-real
CICONIIFORMES
Ciconiidae
Ciconia maguari
Mycteria americana
(Gmelin, 1789)
Linnaeus, 1758
joão-grande
cabeça-seca
Gmelin, 1789
(Temminck, 1813)
(Temminck, 1811)
(Linnaeus, 1758)
(Richard & Bernard,
1792)
Bonaparte, 1855
(Temminck, 1813)
pombo-doméstico
rolinha-picuí
rolinha-roxa
pariri
juriti-gemedeira
(Des Murs, 1847)
pomba-de-bando
COLUMBIFORMES
Columbidae
Columba liviaex
Columbina picui
Columbina talpacoti
Geotrygon montana
Leptotila rufaxilla
Leptotila verreauxi
Patagioenas picazuro
Zenaida auriculata
CORACIIFORMES
Alcedinidae
101
juriti-pupu
asa-branca ou pombão
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Chloroceryle amazona
Chloroceryle americana
Megaceryle torquata
CUCULIFORMES
Cuculidae
Coccyzus melacoryphus
Crotophaga ani
(Latham, 1790)
(Gmelin, 1788)
(Linnaeus, 1766)
martim-pescador-verde
martim-pescador-pequeno
martim-pescador-grande
Vieillot, 1817
Linnaeus, 1758
papa-lagarta-verdadeiro
anu-preto
Guira guira
Piaya cayana
Tapera naevia
FALCONIFORMES
Falconidae
Caracara plancus
(Gmelin, 1788)
(Linnaeus, 1766)
anu-branco
alma-de-gato
(Linnaeus, 1766)
saci
(Miller, 1777)
caracará
Falco femoralis
Falco peregrinus
Temminck, 1822
Tunstall, 1771
Linnaeus, 1758
(Vieillot, 1817)
(Vieillot, 1816)
(Vieillot, 1816)
falcão-de-coleira
falcão-peregrino
quiriquiri
gavião-caburé
carrapateiro
chimango
(Spix, 1825)
Temminck, 1815
aracuã
jacuaçu
Aramus guarauna
Rallidae
(Linnaeus, 1766)
carão
Aramides cajanea
Aramides saracura
Aramides ypecaha
Fulica armillata
(Statius Muller, 1776)
(Spix, 1825)
(Vieillot, 1819)
Vieillot, 1817
Vieillot, 1817
Philippi & Landbeck,
1861
(Lichtenstein, 1818)
três-potes
saracura-do-mato
saracuruçu
carqueja-de-bico-manchado
carqueja-de-bico-amarelo
carqueja-de-escudo-vermelho
(Vieillot, 1819)
(Vieillot, 1819)
frango-d´água-carijó
pinto-d´água-avermelhado
Laterallus melanophaius
Pardirallus nigricans
(Vieillot, 1819)
(Vieillot, 1819)
pinto-d´água-comum
saracurã-sanã
Pardirallus sanguinolentus
Porphyrio martinica
(Swainson, 1837)
(Linnaeus, 1766)
saracura-do-banhado
frango-d´água-azul
Porzana albicollis
Porzana spiloptera
PASSERIFORMES
(Vieillot, 1819)
Durnford, 1877
sanã-carijó
sanã-cinza
Falco sparverius
Micrastur ruficollis
Milvago chimachima
Milvago chimango
GALLIFORMES
Cracidae
Ortalis guttata
Penelope obscura
GRUIFORMES
Aramidae
Fulica leucoptera
Fulica rufifrons
Gallinula galeata
Gallinula melanops
Laterallus leucopyrrhus
102
galinhola ou frango-d´água
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
(Lichtenstein, 1823)
(d´Orbigny & Lafresnaye,
1837)
azulão
azulinho
(Linnaeus, 1758)
cambacica
(Wied, 1831)
chupa-dente
Cyanocorax chrysops
Cotingidae
(Vieillot, 1818)
gralha-picaça
Carpornis cucullata
Dendrocolaptidae
(Swainson, 1821)
corocoxó
Dendrocolaptes platyrostris
Lepidocolaptes falcinellus
Sittasomus griseicapillus
Emberizidae
Spix, 1825
(Cabanis & Heine, 1859)
(Vieillot, 1818)
arapaçu-grande
arapaçu-escamoso-do-sul
arapaçu-verde
Ammodramus humeralis
Donacospiza albifrons
(Bosc, 1792)
(Vieillot, 1817)
tico-tico-do-campo
tico-tico-do-banhado
Emberizoides herbicola
Emberizoides ypiranganus
Embernagra platensis
Haplospiza unicolor
Poospiza cabanisi
Poospiza nigrorufa
canário-do-campo
canário-do-brejo
sabiá-do-banhado
cigarra-bambu
quete
quem-te-vestiu
Sicalis flaveola
Sicalis luteola
Sporophila angolensis
(Vieillot, 1817)
Ihering & Ihering, 1907
(Gmelin, 1789)
Cabanis, 1851
Bonaparte, 1850
(d´Orbigny & Lafresnaye,
1837)
(Linnaeus, 1766)
(Sparrman, 1789)
(Linnaeus, 1766)
Sporophila caerulescens
Sporophila collaris
(Vieillot, 1823)
(Boddaert, 1783)
coleirinho
coleiro-do-brejo
Volatinia jacarina
Zonotrichia capensis
Formicariidae
Chamaeza campanisona
Fringillidae
Euphonia chlorotica
Euphonia cyanocephala
Euphonia pectoralis
Euphonia violacea
Sporagra magellanica
Furnariidae
Anumbius annumbi
Certhiaxis cinnamomeus
(Linnaeus, 1766)
(Statius Muller, 1776)
tiziu
tico-tico
(Lichtenstein, 1823)
tovaca-campainha
(Linnaeus, 1766)
(Vieillot, 1818)
(Latham, 1801)
(Linnaeus, 1758)
(Vieillot, 1805)
fim-fim
gaturamo-rei
gaturamo-serrador ou ferro-velho
gaturamo-verdadeiro
Pintassilgo
(Vieillot, 1817)
(Gmelin, 1788)
cochicho
curutié
Cardinalidae
Cyanoloxia brissonii
Cyanoloxia glaucocaerulea
Coerebidae
Coereba flaveola
Conopophagidae
Conopophaga lineata
Corvidae
103
canário-da-terra-verdadeiro
tipio
curió
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Cinclodes fuscus
Cranioleuca obsoleta
Cranioleuca sulphurifera
Furnarius rufus
Limnoctites rectirostris
Limnornis curvirostris
Lochmias nematura
(Vieillot, 1818)
(Reichenbach, 1853)
(Burmeister, 1869)
(Gmelin, 1788)
(Gould, 1839)
Gould, 1839
(Lichtenstein, 1823)
pedreiro-dos-andes
arredio-oliváceo
arredio-de-papo-manchado
joão-de-barro
arredio-do-gravatá
joão-da-palha
joão-porca
Phacellodomus
ferrugineigula
Phacellodomus striaticollis
(Pelzeln, 1858)
joão-botina
(d´Orbigny & Lafresnaye,
1838)
(Vieillot, 1817)
(Vieillot, 1817)
tio-tio
boininha
Synallaxis spixi
Syndactyla rufosuperciliata
(d´Orbigny & Lafresnaye,
1837)
Temminck, 1823
Vieillot, 1819
Sclater, 1856
(Lafresnaye, 1832)
Hirundinidae
Alopochelidon fucata
Hirundo rustica
Progne chalybea
Progne tapera
Pygochelidon cyanoleuca
(Temminck, 1822)
Linnaeus, 1758
(Gmelin, 1789)
(Vieillot, 1817)
(Vieillot, 1817)
andorinha-morena
andorinha-de-bando
andorinha-doméstica-grande)
andorinha-do-campo
andorinha-pequena-de-casa
Tachycineta leucopyga
Tachycineta leucorrhoa
(Linnaeus, 1758)
(Vieillot, 1817)
(Meyen, 1834)
(Vieillot, 1817)
andorinha-do-barranco
andorinha-serradora
andorinha-chilena
andorinha-de-testa-branca
Icteridae
Agelaioides badius
Phleocryptes melanops
Schoeniophylax
phryganophilus
Spartonoica maluroides
Synallaxis cinerascens
Synallaxis ruficapilla
Riparia riparia
Stelgidopteryx ruficollis
bate-bico
bichoita
pi-puí
pichororé
joão-teneném
trepador-quiete
(Vieillot, 1819)
asa-de-telha
Agelasticus thilius
Amblyramphus holosericeus
Cacicus chrysopterus
Chrysomus ruficapillus
Gnorimopsar chopi
Icterus pyrrhopterus
(Molina, 1782)
(Scopoli, 1786)
sargento
cardeal-do-banhado
(Vigors, 1825)
(Vieillot, 1819)
tecelão
garibaldi
(Vieillot, 1819)
(Vieillot, 1819)
chopim ou graúna
encontro
Molothrus bonariensis
Molothrus rufoaxillaris
(Gmelin, 1789)
Cassin, 1866
vira-bosta
vira-bosta-picumã
Pseudoleistes guirahuro
Pseudoleistes virescens
(Vieillot, 1819)
(Vieillot, 1819)
chopim-do-brejo
dragão
Sturnella superciliaris
Xanthopsar flavus
Incertae sedis
(Bonaparte, 1850)
(Gmelin, 1788)
polícia-inglesa
veste-amarela
104
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Platyrinchus mystaceus
Tachuris rubrigastra
Mimidae
Mimus saturninus
Mimus triurus
Motacillidae
Anthus correndera
Vieillot, 1818
(Vieillot, 1817)
patinho
papa-piri
(Lichtenstein, 1823)
(Vieillot, 1818)
sabiá-do-campo
calhandra-de-três-rabos
Vieillot, 1818
caminheiro-de-espora
Anthus furcatus
d´Orbigny & Lafresnaye,
1837
Hartert, 1909
Pucheran, 1855
Sclater, 1878
caminheiro-de-unha-curta
Basileuterus culicivorus
Basileuterus leucoblepharus
Geothlypis aequinoctialis
Parula pitiayumi
(Deppe, 1830)
(Vieillot, 1817)
(Gmelin, 1789)
(Vieillot, 1817)
pula-pula
pula-pula-assobiador
pia-cobra
mariquita
Passeridae
Passer domesticusex
(Linnaeus, 1758)
pardal
(Shaw & Nodder, 1793)
dançador
(Vieillot, 1817)
balança-rabo-de-máscara
(Temminck, 1824)
borboletinha-do-mato
(Lafresnaye, 1846)
(Spix, 1825)
tororó
bico-chato-de-orelha-preta
(Vieillot, 1816)
(Ménétriès, 1835)
curriqueiro
vira-folha
Mackenziaena leachii
Thamnophilus caerulescens
Thamnophilus ruficapillus
Thraupidae
Dacnis cayana
Hemithraupis guira
(Such, 1825)
Vieillot, 1816
brujarara-assobiador
choca-da-mata
Vieillot, 1816
choca-de-boné-vermelho
(Linnaeus, 1766)
(Linnaeus, 1766)
saí-azul
papo-preto
Lanio cucullatus
Lanio melanops
(Statius Muller, 1776)
(Vieillot, 1818)
tico-tico-rei
tiê-de-topete
Paroaria coronata
Pipraeidea bonariensis
(Miller, 1776)
(Gmelin, 1789)
cardeal
sanhaçu-papa-laranja
Pipraeidea melanonota
(Vieillot, 1819)
saíra-viúva
Saltator similis
d´Orbigny & Lafresnaye,
trinca-ferro-verdadeiro
Anthus hellmayri
Anthus lutescens
Anthus nattereri
Parulidae
Pipridae
Chiroxiphia caudata
Polioptilidae
Polioptila dumicola
Rhynchocyclidae
Phylloscartes ventralis
Poecilotriccus plumbeiceps
Tolmomyias sulphurescens
Scleruridae
Geositta cunicularia
Sclerurus scansor
Thamnophilidae
105
caminheiro-de-barriga-acanelada
caminheiro-zumbidor
caminheiro-grande
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
1837
(Temminck, 1823)
(Vieillot, 1822)
(Cabanis, 1850)
(Linnaeus, 1766)
(Illiger, 1811)
sanhaçu-frade
tiê-preto
saíra-preciosa
sanhaçu-cinzento
saí-andorinha
Pachyramphus
polychopterus
Pachyramphus viridis
Troglodytidae
(Vieillot, 1818)
caneleirinho-preto
(Vieillot, 1816)
caneleirinho-verde
Troglodytes musculus
Turdidae
Naumann, 1823
corruíra
Turdus albicollis
Turdus amaurochalinus
Turdus leucomelas
Turdus rufiventris
Vieillot, 1818
Cabanis, 1850
Vieillot, 1818
Vieillot, 1818
(Seebohm, 1887)
sabiá-coleira
sabiá-poca
sabiá-barranco
sabiá-laranjeira
sabiá-ferreiro
(Vieillot, 1824)
(Linnaeus, 1764)
(Temminck, 1824)
(Wied-Neuwied, 1831)
tesoura-do-campo
freirinha
risadinha
guaracavuçu
(Thunberg, 1822)
guaracava-de-barriga-amarela
Stephanophorus diadematus
Tachyphonus coronatus
Tangara preciosa
Tangara sayaca
Tersina viridis
Tityridae
Turdus subalaris
Tyrannidae
Alectrurus risora*
Arundinicola leucocephala
Camptostoma obsoletum
Cnemotriccus fuscatus
fuscatus
Elaenia flavogaster
Elaenia mesoleuca
Elaenia obscura
(Deppe, 1830)
(d´Orbigny & Lafresnaye,
1837)
Elaenia parvirostris
Pelzeln, 1868
Empidonomus varius
(Vieillot, 1818)
Euscarthmus meloryphus
Wied, 1831
Hymenops perspicillatus
(Gmelin, 1789)
Knipolegus cyanirostris
(Vieillot, 1818)
Lathrotriccus euleri
(Cabanis, 1868)
Lessonia rufa
(Gmelin, 1789)
Machetornis rixosa
(Vieillot, 1819)
Megarynchus pitangua
(Linnaeus, 1766)
Myiarchus swainsoni
Cabanis & Heine, 1859
Myiodynastes maculatus
(Statius Muller, 1776)
Myiopagis viridicata
(Vieillot, 1817)
Myiophobus fasciatus
(Statius Muller, 1776)
Phyllomyias fasciatus
(Thunberg, 1822)
Pitangus sulphuratus
(Linnaeus, 1766)
Pseudocolopteryx flaviventris (d´Orbigny & Lafresnaye,
1837)
106
tuque
tucão
guaracava-de-bico-curto
peitica
barulhento
viuvinha-de-óculos
maria-preta-de-bico-azulado
enferrujado
colegial
suiriri-cavaleiro
neinei
irré
bem-te-vi-rajado
guaracava-de-crista-alaranjada
filipe
piolhinho
bem-te-vi
amarelinho-do-junco
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Pseudocolopteryx sclateri
Pyrocephalus rubinus
Satrapa icterophrys
Serpophaga nigricans
Serpophaga subcristata
Tyrannus melancholicus
Tyrannus savana
(Oustalet, 1892)
(Boddaert, 1783)
(Vieillot, 1818)
(Vieillot, 1817)
(Vieillot, 1817)
Vieillot, 1819
Vieillot, 1808
tricolino
príncipe
suiriri-pequeno
joão-pobre
alegrinho
suiriri
tesourinha
Xolmis cinereus
Xolmis dominicanus
Xolmis irupero
Vireonidae
Cyclarhis gujanensis
Vireo olivaceus
(Vieillot, 1816)
(Vieillot, 1823)
primavera
noivinha-de-rabo-preto
(Vieillot, 1823)
noivinha
(Gmelin, 1789)
(Linnaeus, 1766)
gente-de-fora-vem ou pitiguari
juruviara
Ardea alba
Ardea cocoi
Botaurus pinnatus
Bubulcus ibis
Linnaeus, 1758
Linnaeus, 1766
(Wagler, 1829)
(Linnaeus, 1758)
garça-branca-grande
garça-moura ou socó-grande
socó-boi-baio
garça-vaqueira
Butorides striata
Egretta caerulea
Egretta thula
Ixobrychus involucris
Nycticorax nycticorax
Syrigma sibilatrix
(Linnaeus, 1758)
(Linnaeus, 1758)
(Molina, 1782)
(Vieillot, 1823)
(Linnaeus, 1758)
(Temminck, 1824)
(Boddaert, 1783)
socozinho
garça-azul
garça-branca-pequena
socoí-amarelo
savacu
maria-faceira
socó-boi-verdadeiro
Phimosus infuscatus
(Lichtenstein, 1823)
Platalea ajaja
Plegadis chihi
Linnaeus, 1758
(Vieillot, 1817)
maçarico-de-cara-pelada ou chapéuvelho
colhereiro
maçarico-preto
Theristicus caerulescens
Theristicus caudatus
PHOENICOPTERIFORMES
Phoenicopteridae
Phoenicoparrus andinus
Phoenicopterus chilensis
(Vieillot, 1817)
(Boddaert, 1783)
maçarico-real
curicaca
(Philippi, 1854)
Molina, 1782
flamingo-andino
Flamingo
(Vieillot, 1818)
(Gmelin, 1788)
(Otto, 1796)
(Temminck, 1821)
pica-pau-do-campo
pica-pau-verde-barrado
pica-pau-branco
pica-pau-dourado
PELECANIFORMES
Ardeidae
Tigrisoma lineatum
Threskiornithidae
PICIFORMES
Picidae
Colaptes campestris
Colaptes melanochloros
Melanerpes candidus
Piculus aurulentus
107
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Veniliornis spilogaster
Ramphastidae
Ramphastos toco
PODICIPEDIFORMES
Podicipedidae
Podicephorus major
Podilymbus podiceps
(Wagler, 1827)
picapauzinho-verde-carijó
Statius Muller, 1776
tucanuçu
(Boddaert, 1783)
(Linnaeus, 1758)
mergulhão-grande
mergulhão
Rollandia rolland
Tachybaptus dominicus
PROCELLARIIFORMES
Diomedeidae
Phoebetria fusca
Thalassarche chlororhynchos
(Quoy & Gaimard, 1824)
(Linnaeus, 1766)
mergulhão-de-orelha-branca
mergulhão-pequeno
(Hilsenberg, 1822)
(Gmelin, 1789)
piau-preto
albatroz-de-nariz-amarelo
Thalassarche melanophris
Procellariidae
(Temminck, 1828)
albatroz-de-sobrancelha
Calonectris borealis
Daption capense
Macronectes giganteus
Pachyptila belcheri
(Cory, 1881)
(Linnaeus, 1758)
(Gmelin, 1789)
(Mathews, 1912)
pardela-de-bico-amarelo
pomba-do-cabo
pardelão-gigante-de-bico-verde
faigão-de-bico-fino
Pachyptila desolata
Puffinus gravis
Puffinus griseus
Puffinus puffinus
PSITTACIFORMES
Psittacidae
(Gmelin, 1789)
(O´Reilly, 1818)
(Gmelin, 1789)
(Brünnich, 1764)
faigão-rola
pardela-grande-de-sobre-branco
pardela-escura
pardela-pequena
Myiopsitta monachus
Pyrrhura frontalis
(Boddaert, 1783)
(Vieillot, 1817)
caturrita
tiriba-de-testa-vermelha
SPHENISCIFORMES
Spheniscidae
Aptenodytes patagonicus
Spheniscus magellanicus
Miller, 1778
(Forster, 1781)
pinguim-rei
pinguim-de-magalhães
(Vieillot, 1808)
(Molina, 1782)
(Gmelin, 1788)
(Gmelin, 1788)
(Vieillot, 1817)
(Salvin, 1897)
coruja-orelhuda
coruja-do-campo
jacurutu
caburé
corujinha-do-mato
corujinha-do-sul
(Scopoli, 1769)
coruja-de-igreja
STRIGIFORMES
Strigidae
Asio clamator
Athene cunicularia
Bubo virginianus
Glaucidium brasilianum
Megascops choliba
Megascops sanctaecatarinae
Tytonidae
Tyto alba
STRUTHIONIFORMES
Rheidae
108
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Autor e ano
Nome comum
Rhea americana
SULIFORMES
Anhingidae
Anhinga anhinga
Fregatidae
Fregata magnificens
Phalacrocoracidae
(Linnaeus, 1758)
ema
(Linnaeus, 1766)
biguatinga
Mathews, 1914
tesourão
Phalacrocorax brasilianus
Sulidae
Sula leucogaster
TINAMIFORMES
Tinamidae
Crypturellus obsoletus
(Gmelin, 1789)
biguá
(Boddaert, 1783)
atobá-pardo
(Temminck, 1815)
inambuguaçu
Nothura maculosa
Rhynchotus rufescens
(Temminck, 1815)
(Temminck, 1815)
perdiz ou codorna
perdigão
TROGONIFORMES
Trogonidae
Trogon surrucura
Vieillot, 1817
surucuá-variado
Total de espécies
362
A classificação e nomenclatura seguem compilação de CBRO, 2011, e os nomes populares
seguem Bencke et al.,2010. Legenda: * Espécies com apenas registro histórico para a região
(Gliesch, 1930) e ex Espécie exótica.
Anexo 5: Tabela geral com todas as espécies de mamíferos compiladas para
Área 4 do Projeto RS Biodiversidade, Litoral Médio do Rio Grande do Sul.
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
ARTIODACTYLA
Cervidae
Blastocerus dichotomus
Autor e ano
Nome comum
(Illiger, 1815)
cervo-do-Pantanal
Mazama gouazoubira
Mazama americana*
Suidae
Sus scrofaex
CARNIVORA
Felidae
(G. Fischer, 1814)
(Erxleben, 1777)
veado-catingueiro
veado-mateiro
Linnaeus, 1758
javali-europeu
Felis catusex
Leopardus braccatus
Leopardus geoffroyi
Leopardus pardalis
Leopardus tigrinus
Leopardus wiedii
Puma yagouaroundi
Linnaeus, 1758
(Cope, 1889)
(d’Orbigny & Gervais, 1844)
(Linnaeus, 1758)
(Schreber, 1775)
(Schinz, 1821)
(É. Geoffory Saint-Hilaire, 1803)
gato-doméstico
gato-palheiro
gato-do-mato-grande
jaguatirica
gato-do-mato-pequeno
gato-maracajá
gato-mourisco
109
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Puma concolor
Canidae
Canis familiarisex
Cerdocyon thous
Lycalopex gymnocercus
Mustelidae
Eira barbara
Autor e ano
Nome comum
(Linnaeus, 1771)
onça-parda
Linnaeus, 1758
cachorro-doméstico
(Linnaeus, 1766)
(G. Fischer, 1814)
graxaim
raposa-do-campo
(Linnaeus, 1758)
irara
Galictis cuja
Lontra longicaudis
Mephitidae
Conepatus chinga
Procyonidae
Procyon cancrivorus
(Molina, 1782)
(Olfers, 1818)
furão
lontra
(Molina, 1782)
zorrilho
(G. Cuvier, 1798)
mão-pelada
Nasua nasua*
CHIROPTERA
Noctilionidae
Noctilio leporinus
Phyllostomidae
Desmodus rotundus
(Linnaeus, 1766)
quati
(Linnaeus, 1758)
morcego-pescador-grande
(É. Geoffroy, 1810)
morcego-vampiro
Glossophaga soricina
Artibeus lituratus
(Pallas, 1766)
(Olfers, 1818)
(Gray, 1838)
(É. Geoffroy, 1810)
morcego-beija-flor
morcego
morcego
morcego
(I. Geoffroy, 1824)
(Gervais, 1856)
(É. Geoffroy, 1806)
morcego-orelhudo
morcego
morcego-borboleta
morcego
morcego
(Pallas, 1766)
morcego-de-cauda-livre
(É. Geoffroy, 1805)
(I. Geoffroy, 1824)
morcego
morcego-do-telhado
(Desmarest, 1804)
(Desmarest, 1804)
tatu-de-rabo-mole-grande
tatu-mulita
(Linnaeus, 1758)
(Linnaeus, 1758)
tatu-galinha
tatuí
(Linnaeus, 1758)
tatu-peba
(Olfers, 1818)
cuíca-lanosa
Artibeus fimbriatus
Sturnira lilium
Vespertilionidae
Histiotus velatus
Lasiurus ega
Eptesicus brasiliensis
Myotis nigricans
Myotis ruber*
Molossidae
Molossus molossus
Molossus rufus
Tadarida brasiliensis
CINGULATA
Dasypodidae
Cabassous tatouay
Dasypus hybridus
Dasypus novemcinctus
Dasypus septemcinctus
Euphractus sexcinctus
DIDELPHIMORPHIA
Didelphidae
Caluromys lanatus*
(Desmarest, 1819)
(Schinz, 1821)
110
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Chironectes minimus*
Cryptonanus guahybae
Didelphis albiventris
Gracilinanus sp.
Lutreolina crassicaudata
LAGOMORPHA
Leporidae
Autor e ano
Nome comum
(Zimmermann, 1780)
(Tate, 1931)
(Lund, 1840)
cuíca-d'água
catita
gambá
(Desmarest, 1804)
cuíca
cuíca-de-cauda-grossa
ex
Lepus sp.
PILOSA
Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla
PRIMATES
Atelidae
lebre-européia
(Linnaeus, 1758)
tamanduá-mirim
Alouatta guariba clamitans
RODENTIA
Cricetidae
Akodon azarae
Akodon montensis
Calomys laucha
(Cabrera, 1940)
bugio-ruivo
(G. Fischer, 1829)
(Thomas, 1913)
(G. Fischer, 1814)
rato
rato
rato
Brucepattersonius iheringi
Delomys dorsalis
(Thomas, 1896)
(Hensel, 1873)
(Thomas, 1917)
(Desmarest, 1819)
(Waterhouse, 1837)
(Olfers, 1818)
(Waterhouse, 1837)
(Waterhouse, 1837)
(G. Fischer, 1814)
(Thomas, 1928)
rato
rato-do-mato
rato-do-mato
rato-d'água
rato-do-mato
rato-do-mato
rato-do-brejo
rato-d'água
rato-do-mato
rato-do-mato
(Erxleben, 1777)
preá
(Ximenez, 1980)
(Linnaeus, 1766)
preá
capivara
(Travi, 1981)
(Freitas, 2001)
(Nehring, 1887)
tuco-tuco-branco
tuco-tuco
tuco-tuco
(Linnaeus, 1766)
paca
(Lichtenstein, 1823)
cutia
(F. Cuvier, 1823)
ouriço-cacheiro
Deltamys kempi
Holochilus brasiliensis
Oligoryzomys flavescens
Oligoryzomys nigripes
Oxymycterus nasutus
Scapteromys tumidus
Sooretamys angouya
Wilfredomys oenax
Caviidae
Cavia aperea
Cavia magna
Hydrochoerus hydrochaeris
Ctenomyidae
Ctenomys flamarioni
Ctenomys lami
Ctenomys minutus
Cuniculidae
Cuniculus paca
Dasyproctidae
Dasyprocta azarae
Erethizontidae
Coendou spinosus
111
Taxa
ORDEM/ Família/ Espécie
Echimyidae
Kannabateomys amblyonyx
Phyllomys dasythrix
Euryzygomatomys spinosus
Myocastoridae
Myocastor coypus
Muridae
Mus musculus
Rattus rattusex
ex
Autor e ano
Nome comum
(Wagner, 1845)
(Hensel, 1872)
rato-da-taquara
rato-da-árvore
(G. Fischer, 1814)
guirá
(Molina, 1782)
ratão-do-banhado
Linnaeus, 1758
(Linnaeus, 1758)
camundongo
rato-doméstico
Total de espécies
77
A classificação e nomenclatura seguem compilação de Wilson & Reeders, 2011 e Voss et al.,
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