Clique aqui para fazer em PDF
Transcrição
Clique aqui para fazer em PDF
i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS CARACTERIZAÇÃO E MODELAGEM DO COMPORTAMENTO PLÁSTICO DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO ISO 5832-9, UTILIZADO EM IMPLANTES ORTOPÉDICOS Eden Santos Silva São Carlos - SP 2011 ii iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS CARACTERIZAÇÃO E MODELAGEM DO COMPORTAMENTO PLÁSTICO DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO ISO 5832-9, UTILIZADO EM IMPLANTES ORTOPÉDICOS Eden Santos Silva Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais como requisito parcial à obtenção do título de DOUTOR EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS. Orientador: Prof. Dr. Oscar Balancin Agência Financiadora: CAPES São Carlos 2011 iv Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária/UFSCar Silva, Eden Santos Caracterização e modelagem do comportamento plástico do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9, utilizado em implantes ortopédicos/ Eden Santos Silva. São Carlos: UFSCar, 2011. 211 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, 2011. 1. Metalurgia física. 2. Processamento termomecânico. 3. Recristalização dinâmica. 4. Precipitação. v DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha Mãe Lindalva Santos Silva, aos meus irmãos, Rafael Santos Silva e Elda Rachel Santos Silva, à minha Vó Matilde Santos Silva e minha namorada Viliane Colins, pessoas que tenho sentimentos notáveis que me apoiam e ajudam sempre. Com carinho. VITAE DO CANDIDATO Mestre em Física pela Universidade Federal do Maranhão/UFMA (2007), Licenciatura em Física pela Universidade Federal do Maranhão/UFMA (2005). vi vii MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO DE EDEN SANTOS SILVA APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, EM 16 DE DEZEMBRO DE 2011. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. OSCAR BALANCIN ORIENTADOR PPG-CEM/ UFSCAR Prof. Dr. SEBASTIÃO ELIAS KURI PPG-CEM/ UFSCAR Prof. Dr. ENRICO JOSÉ GIORDANI CCDM/ UFSCAR Prof. Dr. LUIZ CARLOS CASTELETTI EESC/ USP Prof.(a). Dra. REGINA CÉLIA DE SOUSA DEFIS/ UFMA viii ix AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me agraciado com as oportunidades e condições de seguir com meus estudos. Aos Prof. Dr. Oscar Balancin pela orientação, ensinamentos e ajuda na realização deste trabalho. Ao Prof. Dr. Alberto Moreira Jorge Jr. pela ajuda constante no desenvolvimento deste trabalho. À Profa. Dra. Regina Célia de Sousa (UFMA/ MA) pela ajuda no desenvolvimento deste trabalho e por fazer parte dessa história acadêmica. Aos meus co-orientadores no exterior, Prof. Dr. José Maria Cabrera, Profa. Dra. Jessica Calvo, Dr. Ahmed Boulajaj, Prof. Dr. Pablo Rodriguez. Aos técnicos Iban Gonzalez, Montse Marsal e Ana Hernandez da Universidade Politécnica de Catalunya (UPC) e Centro Tecnológico de Manresa (CTMEspanha), onde realizei estágio Doutorado - Sanduíche. Ao PPG-CEM, ao DEMa e à UFSCar pela formação, apoio e suporte técnico para realização do trabalho. Aos técnicos Rover, Beto, Helena pelo apoio técnico. Aos professores, funcionários e colegas do Departamento de Física da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) pela minha formação, apoio e incentivo para elaboração deste trabalho. Aos Amigos Rialberth Cutrim, Fabio Gerônimo, Mariana Beatriz, Pedro Nonato e Eliel de Oliveira do grupo de simulação física de torção a quente pela amizade, ajuda e discussão do trabalho. Aos meus familiares, pelo apoio, incentivo e compreensão: A minha Mãe (Lindalva Santos), à minha Avó (Matilde Santos), à minha namorada Viliane Colins e também aos irmãos Rudi’s pelo apoio. À empresa VILLARES METALS pela doação do material utilizado neste trabalho. A CAPES pela concessão da bolsa de estudo. x xi RESUMO O aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 usado em implantes ortopédicos foi deformado sob torção a quente em condições similares às industriais, no intervalo de temperaturas entre 900 e 1200 oC e taxas de deformação variando entre 0,01 e 10 s-1. O comportamento plástico do aço foi estudado analisando a forma das curvas de escoamento, a equação constitutiva, mapas de processamento, modelagem das curvas e a evolução da microestrutura segundo as condições de deformação. As curvas de escoamento plástico obtidas apresentam inicialmente um regime de endurecimento, seguido de amaciamento diferenciado de outros aços inoxidáveis que recristalizam dinamicamente. Três comportamentos distintos foram observados durante a deformação: (i) curvas com amaciamento contínuo indicando fluxo localizado (em baixa T e alta ε& ) formando os domínios de instabilidade no espaço temperatura-taxa de deformação; (ii) curvas tipo plano, onde a tensão praticamente não varia com a deformação, como é observado em materiais que recuperam dinamicamente (em baixa T e ε& intermediária) com microestrutura recristalizada parcial e heterogeneamente e, (iii) curvas com amaciamento após a tensão crítica levando o estado estacionário para grandes deformações (em alta T e baixa ε& ) com domínios de boa trabalhabilidade a quente. Esses comportamentos indicam a influência da energia de falha de empilhamento (EFE), átomos de soluto em solução sólida (Nb, N, Mo) e partículas de precipitados da fase Z (NbCrN) na cinética de amaciamento deste aço. Ensaios de relaxação de tensão, duplo passe isotérmico e múltiplas deformações em resfriamento contínuo evidenciam a presença destes fenômenos durante e entre deformações com a formação de patamares e aumento na temperatura de recristalização retardando o amaciamento. xii xiii ABSTRACT A Nb- and N- bearing (ISO 5832-9) austenitic stainless steel used in orthopedic implants was deformed in torsion over temperature range of 900 - 1200 °C and strain rates of 0.01 to 10 s-1. The material hot deformation behavior was studied conducting the analysis of the shape of the flow stress curves, constitutive equation, processing maps, modeling and microstructure evolution under deformation conditions. Flow stress rises in the initial work-hardening regime and, in contrast with other stainless steels, this material displays three different behaviors during flow softening regime: (i) continuous flow softening curves, as in flow localization (at lower T and high ε& ) forming the domains of instability in space temperature-strain rate; (ii) flat type where the stress does not vary with strain, as observed in materials that recover dynamically through the softening process (at lower T and intermediate ε& ) with partial recrystallized microstructure, and (iii) flow softening after a critical strain, leading to a steady state at higher strains (at higher T and low ε& ) with good hot workability. This indicates that there is strong influence of the moderate value of stacking fault energy (SFE), atoms in solid solution (Nb, N, Mo) and particles of Z-phase precipitates (NbCrN) on the softening kinetics of this steel. Stress relaxation tests, double and multiple pass deformation in isothermal continuous cooling suggested that these phenomena took place during and between deformation with the formation of the plateaus, increasing recrystallization temperature and slowing the softening. xiv xv PUBLICAÇÕES - E. S. Silva, R. C. Sousa, A. M. Jorge Jr. and O. Balancin. Hot deformation behavior of a Nb - and N-bearing austenitic stainless steel biomaterial. (Artigo submetido à revista Materials Science & Engineering A, Ref. No. MSEA-D11-0, 3251). - E. S. Silva, R. C. Sousa, A. M. Jorge Jr. and O. Balancin. Modeling of plastic flow curves the of a Nb- and N-bearing austenitic stainless steel. (Artigo submetido à revista Materials Research. ID: 1102-11. - SILVA, E.S.; BALANCIN, O.; SOUSA, R.C.; CABRERA, J.M. Modeling Plastic Flow Curves of Austenitic Stainless Steel ISO 5832-9 Used in Orthopedic Applications. X Brazilian MRS Meeting, SBPmat 2011. Gramado, RS, Brasil, 2011. - SILVA, E.S.; BALANCIN, O.; SOUSA, R.C.; CABRERA, J.M. Characterization of Plastic Flow Curves of Austenitic Stainless Steel ISO 5832-9 Used in Orthopedic Applications. 10th Brazilian Stainless Steel Conference, Rio de Janeiro, Brazil, 2010. - SILVA, E.S.; BALANCIN, O.; SOUSA, R.C.; CABRERA, J.M. Caracterização das Curvas de Escoamento Plástico do Aço Inoxidável Austenítico ISO 5832-9 Utilizado em Aplicações Ortopédicas. CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DE MATERIAIS (CBECiMat). Campos do Jordão, SP, Brasil, 2010. - SILVA, E.S.; NASCIMENTO, L.A.; SOUSA, R.C.; CABRERA, J.M; BALANCIN, O. Recristalização dinâmica em um aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 durante a deformação a quente. CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DE MATERIAIS (CBECiMat). Campos do Jordão, SP, Brasil, 2010. xvi - GERONIMO, F.H.C.; SILVA, E.S.; BALANCIN, O. Caracterização das curvas de escoamento plástico do aço inoxidável austenítico ASTEM F 138 utilizado em aplicações ortopédicas. CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DE MATERIAIS (CBECiMat). Campos do Jordão, SP, Brasil, 2010. - CUTRIM, R.M.; GERONIMO, F.H.; SILVA, E.S.; BALANCIN, O. Dynamic Recrystallization Behavior of the Medium Carbon 38MnSiVS5 steel VMicroalloyed Used in the Manufacture of Automotive Components. In: 11th INTERNATIONAL CONFERENCE ON ADVANCED MATERIAL (ICAM 2009). Rio de Janeiro - RJ. Agosto, 2009. - GERONIMO, F.H.C.; CUTRIM, R.M; SILVA, E.S.; BALANCIN, O. Influence of deformation conditions on dynamically recrystallized grain size of ASTM F 138 austenitic stainless steel biomaterial. In: 11th INTERNATIONAL CONFERENCE ON ADVANCED MATERIAL (ICAM 2009). Rio de Janeiro - RJ. Agosto, 2009. xvii SUMÁRIO Pág. BANCA EXAMINADORA VII AGRADECIMENTOS IX RESUMO XI ABSTRACT XIII PUBLICAÇÕES XV SUMÁRIO XXII ÍNDICE DE TABELAS XXII ÍNDICE DE FIGURAS XXIII SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES XXXI 1 INTRODUÇÃO 01 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 03 2.1 Aspectos gerais sobre biomateriais ortopédicos 03 2.1.1 Aços inoxidáveis austeníticos utilizados em implantes 05 2.1.2 O aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 07 2.2 Trabalhabilidade a quente 2.2.1 Mapas de processamento 09 11 2.3 Mecanismos de endurecimento e de amaciamento atuantes 16 durante o processamento metalúrgico 2.3.1 Mecanismo de endurecimento 16 2.3.1.1 Encruamento 16 2.3.2 Mecanismo de amaciamento 17 2.3.2.1 Recuperação estática (SRV) 18 2.3.2.2 Recristalização estática (SRX) 19 2.3.2.3 Recuperação dinâmica (DRV) 20 2.3.2.4 Recristalização dinâmica (DRX) 21 2.3.2.5 Recristalização metadinâmica (MDRX) 24 2.4 Precipitação 2.4.1 Precipitação induzida por deformação 2.5 Modelagem das curvas de escoamento plástico 26 28 30 xviii 2.5.1 Recuperação dinâmica 30 2.5.2 Início da Recristalização dinâmica 32 2.5.3 Recristalização dinâmica 33 3 MATERIAL E MÉTODOS 35 3.1 Material 35 3.2 Procedimentos experimentais 35 3.2.1 O dilatômetro utilizado 36 3.2.2 Máquina de ensaios de torção a quente 37 3.3 Ensaios realizados 39 3.3.1 Ensaio de torção a quente isotérmico contínuo 39 3.3.1.1 Determinação da deformação crítica 40 3.3.1.2 Tensão de saturação 42 3.3.2 Determinação dos mapas de processamento 43 3.3.3 Ensaio de relaxação de tensão 44 3.3.4 Ensaio com dupla deformação 45 3.3.4.1 Determinação da fração amaciada (Xs) com duplo passe 46 3.3.5 Ensaios com múltiplas deformações 47 3.4 Observações microestruturais 50 4 RESULTADOS EXPERIMENTAIS 53 4.1 Microestrutura inicial 53 4.2 Descrição da curva de relaxação de tensão do aço ISO 5832-9 55 4.3 Curvas de escoamento plástico 57 4.4 Equação constitutiva do aço 61 4.5 Mapas de processamento 65 4.6 Pontos característicos das curvas de escoamento plástico 73 4.6.1 Início da recristalização dinâmica 73 4.6.2 Tensão de saturação 73 4.6.3 Tensões e deformações inicial, de pico e de estado 73 estacionário 4.6.4 Relações entre tensões e deformações inicial, crítica, de 76 pico e de estado estacionário 4.7 Dependência dos parâmetros das curvas de escoamento plástico 78 xix com as condições de deformação 4.7.1 Tensões 78 4.7.2 Deformações 80 4.8 Parametrização da curva de escoamento plástico 83 4.8.1 Equações empíricas 83 4.8.2 Tensões 83 4.8.3 Deformações 86 4.9 Modelagem das curvas de escoamento plástico 4.9.1 Reconstruindo a curva de 88 escoamento plástico 88 considerando que o material só amacia por recuperação dinâmica 4.9.2 Reconstruindo a curva de escoamento plástico na região 97 de amaciamento promovido por recristalização dinâmica 4.10 4.9.2.1 Cálculo da fração amaciada 97 4.9.2.2 Predição do tempo para 50% (t0,5) de amaciamento 100 4.9.2.3 Cálculo do expoente (n) de Avrami 103 Comparação das curvas modeladas com as curvas 109 experimentais 4.11 Observações microestruturais 4.11.1 Evolução microestrutural durante a deformação 112 112 4.12 Microestrutura após a deformação a quente 123 4.13 Análise via difração por elétrons retroespalhados (EBSD) 130 4.14 Amaciamento após a deformação a quente 135 4.15 Precipitação induzida por deformação em resfriamento contínuo 151 5 DISCUSSÃO 161 5.1 Comportamento mecânico 161 5.1.1 Amaciamento dinâmico 162 5.1.2 Amaciamento estático 169 6 CONCLUSÕES 173 7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 176 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 177 xx xxi ÍNDICE DE TABELAS Pág. Tabela 2.1 Composição química dos quatro principais aços 06 inoxidáveis empregados em implantes ortopédicos (% massa) Tabela 2.2 Efeito dos elementos de liga que compõem o aço ISO 06 5832-9 Tabela 3.1 Composição química do aço ISO 5832-9, (%massa) 35 Tabela 4.1 Alguns valores de energia de ativação aparente 65 apresentados na literatura para ligas metálicas Tabela 4.2 Valores da tensão de escoamento plástico (em MPa) do 67 aço ISO 5832-9 para diferentes taxa de deformação e temperaturas Tabela 4.3 Evolução do parâmetro m com a temperatura e deformação 69 Tabela 4.4 Dependência da taxa de encruamento (θ) com a tensão 74 aplicada (σ) (Eq. 3.3) e valores de σc e εc, para as condições experimentais Tabela 4.5 Parâmetros das curvas de escoamento plástico do aço ISO 75 5832-9 Tabela 4.6 Parâmetros de recuperação dinâmica (r) obtidos 89 analiticamente das curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9 Tabela 4.7 Valores do expoente de Avrami (n) para as diversas 105 condições de deformação Tabela 4.8 Evolução do tamanho de grão recristalizado 127 dinamicamente (dDRX) em função das condições de deformação Tabela 4.9 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a 144 quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,30, método offset Tabela 4.10 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a 145 quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,15, método offset Tabela 4.11 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a 146 quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,30, método da tensão média equivalente Tabela 4.12 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a 147 xxii quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,15, método da tensão média equivalente Tabela 4.13 Relação entre a TME e 1/T quando o amaciamento entre 158 passes é promovido pela recristalização estática completa entre passes xxiii ÍNDICE DE FIGURAS Pág. Figura 2.1 Classificação dos biomateriais. Primeira geração: aços 04 inoxidáveis tipo AISI 304 e 316, ligas Cr-Co, ligas de titânio, alumina, zircônia, resina acrílica e silicone; Segunda geração: cerâmicas bioativas (hidroxiapatita), polímeros biodegradáveis; Terceira geração: colágeno e elastina Figura 2.2 Estrutura cristalina da fase Ζ (NbCrN) e dos precipitados 08 tipo MN (M = Nb, Cr) Figura 2.3 Recuperação: (a) discordâncias emaranhadas; (b) 18 formação de novas células; (c) células emaranhadas mais regulares; (d) formação de contorno de subgrão; (e) crescimento de subgrão; (f) todos os estágios Figura 2.4 Forma típica da curva de escoamento plástico de materiais 20 que se recuperam dinamicamente, sem picos de tensão Figura 2.5 Evolução microestrutural durante a DRX: (a) para ε < εc sem 22 grãos DRX; (b) formação do primeiro colar; (c) formação do segundo colar e expansão para o interior dos grãos e maclas; (d-e) expansão do volume DRX consumindo o interior do grão. (f) curva de escoamento correspondente Figura 2.6 Representação esquemática da curva de escoamento 23 plástico de materiais que se recristalizam dinamicamente. Figura 2.7 Representação esquemática da nucleação de novos grãos 24 DRX: (a) Distorção e flutuações do contorno; (b) Contorno de grão parcialmente cisalhado; (c) Protuberância do contorno de grão induzindo deformação Figura 2.8 Diagrama recristalização - precipitação - tempo - 29 temperatura (RPTT) Figura 3.1 Dilatômetro modelo DIL 850A/D utilizado neste trabalho. 36 Figura 3.2 Câmara de vácuo do dilatômetro modelo DIL 850A/D. 37 Figura 3.3 Máquina de ensaios de torção a quente utilizado 37 xxiv Figura 3.4 Desenho do corpo de prova utilizado nos ensaios de torção 38 a quente Figura 3.5 Ciclo térmico imposto nos ensaios contínuo de torção a 40 quente. Figura 3.6 Diagrama indicando a metodologia utilizada para 41 determinar a tensão crítica (σc) para o início da recristalização dinâmica no experimento realizado a 1000 o C com taxa de deformação de 1,0 s-1. Figura 3.7 Aplicação da Eq. 3.5 nos dados obtidos a 1000 oC com taxa 42 de deformação de 1,0 s-1, onde se observa o ponto mínimo correspondente à tensão crítica (σc) para início da recristalização dinâmica Figura 3.8 Diagrama indicando a metodologia utilizada para a 43 determinação da tensão de saturação (σsat). Ampliação da região em torno do ponto de inflexão da Figura 3.6 Figura 3.9 Ilustração do ciclo experimental utilizado nos testes de 44 relaxação de tensão Figura 3.10 Ilustração esquemática do ciclo termomecânico 45 empregado nos ensaios isotérmicos com dupla deformação Figura 3.11 Esquema indicando os valores de tensões utilizados para 47 o cálculo da fração amaciada Figura 3.12 Representação esquemática do ciclo termomecânico 48 imposto em ensaios realizados com múltiplas deformações em resfriamento contínuo. Figura 3.13 Curvas obtidas em ensaios realizados com múltiplas 49 deformações em resfriamento contínuo. (b) Evolução da tensão média equivalente (TME) com o inverso da temperatura. Figura 4.1 Microestrutura inicial de uma amostra do aço ISO 5832-9 54 reaquecida a 1250 oC e mantida durante 300 s antes de ser resfriada em água Figura 4.2 Precipitados encontrados no aço ISO 5832-9 identificados 54 por micrografia eletrônica de varredura (MEV) e mapas lineares por xxv EDS, mostrando a distribuição dos elementos formadores da fase Ζ Figura 4.3 Espectro de difração de raios-X da fase Ζ 55 Figura 4.4 Curvas de relaxação de tensão do aço ISO 5832-9 após 56 deformação de 0,5% em diferentes temperaturas Figura 4.5 Diagrama PTT baseado nas curvas de relaxação de tensão 57 do aço ISO 5832-9 Figura 4.6 Curvas de escoamento plástico obtidas nos ensaios de 59 torção isotérmicos contínuos: (a) 10 s-1, (b) 1,0 s-1, (c) 0,5 s-1 e (d) 0,01 s-1. As setas indicam os picos de tensão Figura 4.7 Procedimento utilizado para determinar o valor de n da Eq. 63 4.1. Figura 4.8 Diagrama indicando a dependência da tensão de pico (σp) 63 com a temperatura utlizado para determinar a energia de ativação aparente (Qdef). Figura 4.9 Correlação entre a tensão de pico (σp) e o parâmetro de 64 Zener-Hollomon (Z) indicando a adequação da Eq. 4.1 ao comportamento a quente do material. Figura 4.10 Curvas de escoamento plástico mostradas na Figura 4.6 e 66 reagrupadas em função das temperaturas de ensaios Figura 4.11 Evolução da tensão de escoamento plástico em função da 69 taxa de deformação para as deformações: (a) ε = 0,30, (b) ε = 0,50, (c) ε = 0,75, (d) ε = 1,3 (e) ε = 2,0 Figura 4.12 Mapas de processamento obtido para o aço ISO 5832-9 71 com deformação: a) ε = 0,30; b) ε = 0,50; c) ε = 0,75; d)ε = 1,3; e)ε=2,0 Figura 4.13 Razões entre: (a) σss, σo e σp e (b) σsat, σc e σp 76 Figura 4.14 Razões entre as deformações crítica (εc), de estado 78 estacionário (εss) e a deformação de pico (εp) Figura 4.15 Dependência das tensões inicial (σo), crítica (σc), pico, (σp), 80 estado estacionário (σss) e de saturação (σsat) com a temperatura de ensaio imposta Figura 4.16 Dependência da deformação crítica (εc), pico (εp) e de 82 estado estacionário (εss) com a temperatura e a taxa de deformação xxvi imposta Figura 4.17 Dependência da: (a) tensão inicial (σo); (b) tensão crítica 85 (σc); (c) tensão de pico (σp); (d) tensão de estado estacionário (σss) e da (e) tensão de saturação (σsat) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z) Figura 4.18 Dependência das deformações crítica (εc), pico (εp) e 87 estado estacionário (εss) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z) Figura 4.19 Determinação do parâmetro de recuperação dinâmica (r) 88 para a temperatura de 1000 oC e taxa de deformação de 1,0 s-1. Figura 4.20 Dependência do parâmetro de DRV (r) com a tensão de 90 pico (σp) Figura 4.21 Dependência do parâmetro de recuperação dinâmica (r) 91 com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). Figura 4.22 Curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9 93 modeladas nas condições: (a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1 Figura 4.23 Curvas de escoamento plástico experimental e modeladas 96 nas condições: (a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1. Figura 4.24 Curvas de escoamento plástico experimental e a 98 determinada pela recuperação dinâmica na condição de 1050 oC com taxa de 1,0s-1. Figura 4.25 Evolução da fração amaciada (Xs) em função do tempo 100 para o aço ISO 5832-9 em diferentes condições de deformação: (a) 10s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1 Figura 4.26 Tempo para 50% de amaciamento (t0,5) em função do 101 parâmetro de Zener-Hollomon (Z) para o aço ISO 5832-9 em diferentes temperaturas Figura 4.27 Tempo para 50% de amaciamento (t0,5) vs. inverso da 102 temperatura para o aço ISO 5832-9 em diferentes taxas de deformação. Figura 4.28 Curvas log [ln(1/(1-Xs))] vs. log t utilizadas para determinar 104 o expoente (n) de Avrami: (a) 10,0 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1;(d) 0,01 s-1 Figura 4.29 Dependência do expoente de Avrami (n) com o inverso da 106 temperatura de deformação (1/T) xxvii Figura 4.30 Dependência do expoente de Avrami (n) com a taxa de 106 deformação Figura 4.31 Dependência do expoente de Avrami (n) com as 107 condições de deformação, mantendo a taxa de deformação constante Figura 4.32 Dependência do expoente de Avrami (n) com as 107 condições de deformação, mantendo a temperatura constante Figura 4.33 Dependência do expoente de Avrami (n) com o parâmetro 108 de Zener-Hollomon (Z) Figura 4.34 Curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9 109 modeladas Figura 4.35 Comparação entre as curvas de escoamento plásticas 111 experimentais e modeladas:(a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1;(d) 0,01 s-1. Figura 4.36 Evolução microestrutural ao longo da curva tensão vs. 113 deformação durante a deformação a quente a 1000 ºC com taxa de deformação de 0,01 s-1 Figura 4.37 Evolução microestrutural ao longo da curva tensão vs. 114 deformação durante a deformação a quente a 1000 ºC com taxa de deformação de 1,0 s-1 Figura 4.38 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 116 1100 ºC com taxa de deformação de 0,01 s-1 Figura 4.39 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 117 1100 ºC com taxa de deformação de 0,5 s-1 Figura 4.40 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 119 1100 ºC com taxa de deformação de 1,0 s-1 Figura 4.41 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 121 1200ºC com taxa de deformação de 0,5 s-1 Figura 4.42 Variação do tamanho médio dos grãos durante a 122 recristalização dinâmica com formação de colar e nucleação convencional (N.C) Figura 4.43 Variação da dureza das amostras submetidas a ensaios 122 interrompidos Figura 4.44 Microestruturas óticas observadas após a deformação a 126 xxviii quente em diferentes condições de temperatura, deformação e taxa de deforamação Figura 4.45 Dependência do tamanho de grão recristalizado 128 dinamicamente (dDRX) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z) Figura 4.46 Evolução do tamanho médio dos grãos recristalizados 129 dinamicamente com a temperatura de deformação para as diferentes taxas de deformação impostas Figura 4.47 Evolução do tamanho médio dos grãos recristalizados 129 dinamicamente com a taxa de deformação para as diferentes temperaturas de deformação Figura 4.48 Dados obtidos com a técnica EBDS na amostra do aço 131 ISO 5832-9 a 1000 o C com taxa de deformação de 0,01 s-1 e deformação de 1,5 mostrando contornos de grãos de alto ângulo, θ > 15o, contornos de subgrãos, 2 < θ < 15o e as distribuições de tamanho de grão e de orientações Figura 4.49 Dados obtidos com a técnica EBDS na amostra do aço 132 ISO 5832-9 a 1000 o C com taxa de deformação de 0,5 s-1 e deformação de 1,5 mostrando os contornos de grãos de alto ângulo, θ > 15o, contornos de subgrãos, 2 < θ < 15o e as distribuições de tamanho de grão e de orientações Figura 4.50 Dados obtidos com a técnica EBDS na amostra do aço 133 ISO 5832-9 a 1100 o C com taxa de deformação de 1,0 s-1 e deformação de 2,0 mostrando os contornos de grãos de alto ângulo, θ > 15o, contornos de subgrãos, 2 < θ < 15o e as distribuições de tamanho de grão e de orientações Figura 4.51 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 136 0,3 a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. Figura 4.52 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 137 0,3 a 1050 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s Figura 4.53 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 138 xxix 0,3 a 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s Figura 4.54 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 139 0,3 a 1200 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. Figura 4.55 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 141 0,15 a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. Figura 4.56 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 141 0,15 a 1050 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s Figura 4.57 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 142 0,15 a 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s Figura 4.58 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 143 0,15 a 1200 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s Figura 4.59 Fração amaciada (Xs) em função do intervalo entre passe 150 (tpasse) dos ensaios interrompidos de compressão a quente para o aço ISO 5832-9 nas deformações de 0,15 e 0,30: (a,b) Método offset; (c,d) Método da tensão média Figura 4.60 Curvas de escoamento plástico em resfriamento contínuo 153 com deformações múltiplas de 0,2 (a). Evolução da tensão média equivalente (TME) com o inverso da temperatura absoluta (1/T)(b) Figura 4.61 Curvas de escoamento plástico em resfriamento contínuo 155 com deformações múltiplas de 0,3 (a). Evolução da tensão média equivalente (TME) com o inverso da temperatura absoluta (1/T) (b). Figura 4.62 Microestruturas obtidas em resfriamento contínuo com ε = 156 0,3 e (tpasse) = 5 s com interrupções dos ensaios nas regiões I e II Figura 4.63 Dependência da temperatura de não recristalização (Tnr) 157 com o tempo entre passe (tpasse) e a quantidade de deformação xxx Figura 4.64 Curvas de escoamento plástico corrigindo o efeito da 159 queda de temperatura, simulando ensaios com temperatura constante (1200 oC). Ensaios realizados em resfriamento contínuo com: (a) ε = 0,2 e tpasse = 10 s; (b) ε = 0,2 e tpasse = 50 s; (c) ε = 0,3 e tpasse = 10 s e (d) ε = 0,3 e tpasse = 50 s. Figura 5.1 Curva de escoamento plástico a 1050 °C e taxa de 164 deformação de 0,01 s-1. Figura 5.2 Ampliação da parte inicial das curvas de escoamento 168 plástico experimental e modeladas para baixos valores do parâmetro de DRV (r). xxxi SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES AISI American Iron and Steel Institute ASTM American Society for Testing and Materials A, α, n Constantes do material CFC Cúbica de Face Centrada CTM Centro Tecnológico de Manresa DRV Dynamic Recovery (Recuperação dinâmica) DRX Dynamic Recrystallization (Recristalização dinâmica) do Tamanho de grão inicial dDRX Tamanho de grão recristalizado dinamicamente EFE Energia de Falha de Empilhamento EDS Energy Dispersive Spectrometer (Espectro de dispersão de energia) EBSD Electron Backscatter Diffraction (Difração de elétrons retroespalhados) h ISO Parâmetro de encruamento International Organization for Standardization MDRX Metadynamic Recrystallization (Recristalização metadinâmica) MDM Modelo Dinâmico de Materiais n Expoente de Zener-Hollomon ni Expoente de Z na função de potência n Expoente de Avrami m Sensibilidade à taxa de deformação m´ Inclinação de curva θ.σ vs. σ2 MEV Microscópio Eletrônico de Varredura MO Microscopia ótica P Potência total dissipada Pi Início de precipitação Pf Fim de precipitação Qdef Energia de ativação aparente para deformação a quente QDRX Energia de recristalização dinâmica xxxii q Constante do material R Constante dos gases ideais r Parâmetro de recuperação dinâmica SUS Sistema Único de Saúde SRX Static Recrystallyzation (Recristalização estática) SRV Static Recovery (Recuperação estática) Tnr Temperatura de não recristalização TME Tensão Média Equivalente tpasse Tempo entre passe de deformação t0,5 Tempo para 50% de amaciamento dinâmico Xs Fração amaciada Z Parâmetro de Zener-Hollomon εc Deformação crítica εp Deformação de pico εss Deformação de estado estacionário εsat Deformação de saturação σo Tensão de início de escoamento plástico σc Tensão crítica σp Tensão de pico σss Tensão de estado estacionário σsat Tensão de saturação ξ Parâmetro de instabilidade σy Tensão do segundo passe σm Tensão de escoamento máximo θ Taxa de encruamento ρ Densidade de discordância η Eficiência de dissipação de energia 1 1 INTRODUÇÃO Anualmente, milhões de pessoas no mundo são afetadas por problemas ósseos causados por fraturas ou doenças degenerativas e inflamatórias nas junções, gerando uma demanda crescente para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de materiais usados em implantes ortopédicos. Dentre os materiais adequados à aplicação de implantes ortopédicos, os aços inoxidáveis apresentam a melhor relação entre propriedades mecânicas, biocompatibilidade e custo, sendo um dos preferidos para aplicações que envolvem solicitações mecânicas. O uso de aço inoxidável na confecção de implantes teve início por volta de 1926, quando esse material tornou disponível para aplicações em escala e, assim, começou a substituir as ligas Co-Cr-Mo. Esses aços são razoavelmente inertes, reduzindo o efeito da corrosão, liberação de íons e partículas após o implante. Mas, com o passar do tempo, pesquisadores das áreas médica e de engenharia constataram que apesar do predicado que carregam os primeiros aços utilizados em implantes, como por exemplo, os aços AISI 304 e AISI 316, apresentavam baixa resistência mecânica e suscetibilidade à corrosão localizada podendo provocar rejeição do implante. As complicações e as dificuldades associadas às falhas de implantes, temporários ou permanentes, puderam ser sanadas ou atenuadas com o desenvolvimento de novas ligas de aços inoxidáveis austeníticos. Um dos materiais bastante utilizado, atualmente, como implantes ortopédicos é o aço ASTM F-138 (ISO 5832-1) que apresenta em algumas aplicações comprometimento nas propriedades mecânicas e de corrosão. Para amenizar esse problema, aços com alta concentração de Mn, N e Nb, como o aço inoxidável austenítico ISO 5832-9, vem sendo desenvolvidos e aplicados como biomateriais na fabricação de implantes ortopédicos. No Brasil, este material é produzido pela Villares Metals S/A e a manufatura de próteses são feitas pela Baumer S/A, segundo os registros e exigências expressa na 2 legislação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Normas NBR ISO 5832-1 e 5832-9. Durante a manufatura de implantes metálicos, os materiais passam por um processo de forjamento a quente. Em geral, três fenômenos controlam o comportamento mecânico durante a deformação em altas temperaturas: encruamento, recuperação e a recristalização. As caracterizações mecânica e microestrutural desses processos são de grande importância por diversas razões, entre as quais estão: (i) a caracterização das curvas de escoamento plástico permite aprofundar e desenvolver novos experimentos que esclareçam os mecanismos responsáveis e as propriedades dos materiais que intervém nos processos de conformação a quente; (ii) o entendimento e parametrização dos fenômenos atuantes durante o processamento permitem o desenvolvimento e otimização de novas rotas de processamento; e (iii) testes em escala industrial têm custos elevados, tornando oportunas a modelagem dos processos industriais e a simulação física em escala de laboratório. Neste trabalho, investigam-se o comportamento mecânico e a evolução microestrutural do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 através de ensaios de torção e compressão a quente, combinando testes isotérmicos contínuos, isotérmicos interrompidos com duplos passes de deformação e em resfriamento contínuo com múltiplas deformações. São analisadas a atuação dos mecanismos de amaciamento, a ocorrência da precipitação e seu papel na forma das curvas de escoamento plástico. Faz-se, também, a simulação física e a modelagem do processamento termomecânico utilizando relações constitutivas, procurando esclarecer os principais mecanismos de amaciamento atuantes durante e após a deformação a quente em condições similares às industriais. 3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Aspectos gerais sobre biomateriais ortopédicos Os implantes ortopédicos são dispositivos que substituem, parcial ou totalmente, funções de parte do corpo humano. Alguns implantes, chamados temporários (por exemplo: as placas e parafusos estabilizadores de fraturas), desempenham suas funções por um período pré-estabelecido, até que ocorra a recuperação do osso danificado e o implante possa ser removido [1,2]. Outra classe são os permanentes, usados como implantes para substituir articulações do corpo humano (por exemplo: a prótese total de quadril), precisam desempenhar suas funções pelo resto da vida do paciente. Uma vez implantados, os biomateriais, necessariamente, entram em contato com os fluidos corpóreos. Esses fluidos, apesar de parecerem inofensivos, conseguem, ao longo do tempo, degradar significativamente, a maioria dos materiais [3-5]. Adicionalmente, grande parte dos implantes ortopédicos são submetidos a esforços mecânicos estáticos e/ou dinâmicos, muitas vezes de magnitudes relevantes. A combinação de elevada resistência mecânica e baixa degradação pela ação do meio fisiológico fazem de alguns materiais metálicos os preferidos para a fabricação de implantes ortopédicos. Ao tentar compreender a evolução conceitual dos biomateriais ortopédicos e sua disponibilidade durante os últimos 60 anos, três grandes gerações parecem ser marcantes, Figura 2.1 [3,6]. A primeira refere-se aos materiais bioinertes; a segunda trata-se dos materiais bioativos e biodegradáveis e uma terceira geração consiste de materiais projetados em escala molecular estimulando respostas específicas. Durante a maior parte do séc. XX, os materiais usados em implantes ortopédicos eram provenientes da indústria química, mecânica e espacial. Visto que o corpo humano consiste em um ambiente corrosivo, há uma enorme restrição quanto ao material apropriado ao uso. Consequentemente a primeira geração de biomateriais consiste de materiais disponíveis em uso industrial e foi exigido que fosse tão inerte quanto 4 possível a fim de reduzir o processo corrosivo e a liberação de íons após o implante. Figura 2.1 Classificação dos biomateriais ortopédicos. 1a geração: aços inoxidáveis tipo AISI 304 e 316, ligas Cr-Co, ligas de Ti, alumina, zircônia, resina acrílica e silicone; 2a geração: cerâmicas bioativas (hidroxiapatita), polímeros biodegradáveis; 3a geração: colágeno e elastina. Os primeiros materiais metálicos usados como aplicação ortopédica, no início séc. XX foram às ligas de Co-Cr, seguido dos aços inoxidáveis de classe AISI 316 (1926) [3,4]. O titânio (Ti) e as ligas de titânio só foram introduzidos nos anos 40. Os aços inoxidáveis são resistentes a uma larga variedade de agentes corrosivos devido ao seu elevado teor de cromo (maior que 12%), permitindo a formação de óxido que adere fortemente, aumentando a resistência à corrosão [7,8]. Mas seu uso como prótese ortopédica é restrito porque outras ligas a base de titânio, cobalto e cromo apresentam propriedades mecânicas e de corrosão superiores. Atualmente, os novos aços inoxidáveis com alto teor de cromo (maior que 20%), onde o níquel (Ni) é substituído pelo manganês (Mn) e alto teor de nitrogênio (entre 0,3 e 0,4 %) estão sendo usados em implantes cirúrgicos como placas de fixação, parafusos, pinos, hastes e prótese de junta. 5 A segunda geração de biomateriais deu-se (1980 - 2000) com o desenvolvimento de materiais bioativos com habilidade de interagir com o meio biológico formando a ligação tecido/superfície, assim como a capacidade de bioabsorção [3-5]. Estes materiais bioativos alcançaram uma variedade de aplicações ortopédicas. Mas nenhum material metálico usado em implantes é bioativo por si só. Entretanto, duas metodologias podem ser usadas para tornálo. A primeira que tem sido bastante empregada consiste em revestir a superfície do implante com uma cerâmica bioativa (hidroxiapatita), ou com materiais poliméricos ou compósitos. A segunda é a modificação química da superfície do material com a deposição de uma cerâmica bioativa in vivo ou induzir proteínas com adesão celular [3]. Os biomateriais da terceira geração são os novos materiais que podem estimular respostas celulares específicas [3,4]. Para estes biomateriais, os conceitos de bioatividade e de biodegradabilidade estão correlacionados e, os materiais bioabsorvíveis tornam-se bioativo e vice-versa. Estas propriedades dos materiais devem juntar-se com a habilidade de sinalizar e estimular a atividade do comportamento celular. 2.1.1 Aços inoxidáveis austeníticos utilizados em implantes Os aços austeníticos retêm mesmo em baixas temperaturas, comparáveis às do corpo humano, a estrutura CFC do ferro, que lhes garante propriedades peculiares, mecânicas e de resistência à corrosão. Em grandes quantidades, todos os elementos constituintes do aço são nocivos ao ser humano. No entanto, o conhecimento da resistência desse material em fluidos biológicos pode levar ao controle da dissolução metálica em níveis permissíveis, isto é, não prejudiciais à saúde. A Tabela 2.1 apresenta a composição química dos quatro principais aços inoxidáveis empregados em implantes ortopédicos. A Tabela 2.2 indica os papeis dos elementos químicos no comportamento desses aços inoxidáveis. 6 Tabela 2.1 Composição química dos quatro principais aços inoxidáveis empregados em implantes ortopédicos (% massa) [9-10]. Metal ASTM 316L Cromo (Cr) Níquel (Ni) Molibdênio (Mo) Nitrogênio (N) Nióbio (Nb) Manganês (Mn) Fósforo (P) Carbono (C) Ferro (Fe) 16,6 12 2,11 0,078 1,4 0,039 0,025 bal. ASTM F138 (ISO 5832-1) 17,4 14,1 2,08 1,74 0,01 bal. ASTM F1586 (ISO 5832-9) 20,3 10,6 2,47 0,36 0,29 4,04 0,022 0,035 bal. ASTM F2229 (Livre de Ni) 23,0 <0,05 1,5 1,1 24 <0,08 bal. Tabela 2.2 Efeito dos elementos de liga que compõem o aço ISO 5832-9 [9-12]. Metal Cromo (Cr) Níquel (Ni) Molibdênio (Mo) Manganês (Mn) Nitrogênio (N) Nióbio (Nb) /Titânio (Ti) Efeito dos elementos Confere a passividade (acima de 12%); Aumenta a resistência à corrosão; Forma uma película de óxido (Cr2O3) fina e aderente que retarda ou impede a ação corrosiva; Eleva ligeiramente a resistência mecânica. Confere estabilidade a austenita; Eleva a resistência ao choque; Eleva a resistência à corrosão. Eleva a resistência à corrosão por pites dos aços austeníticos; Aumenta a resistência mecânica; Substituem parcialmente o níquel como estabilizador de austenita aumentando a solubilidade do nitrogênio. Atuam como estabilizadores, combinando-se preferencialmente com ele e evitando a formação de carboneto de cromo e a corrosão intergranular. Silício (Si) Acima dos teores usuais, eleva a resistência à oxidação a altas temperaturas. Enxofre (S) /Selênio (Se) Facilitam a usinabilidade. 7 Dois tipos de aços inoxidáveis têm sido usados em implantes cirúrgicos no Brasil: ASTM F 138 (ISO 5832-1) desde 1982 e o ASTM F 1586 (ISO 5832-9), mais recentemente, segundo os registros da ANVISA, Normas NBR ISO 5832-1: 1997 e NBR ISO 5832-9: 1997 [9,10]. Este último é utilizado em implantes cirúrgicos sujeito a grandes solicitações mecânicas e maiores períodos de permanência no interior do corpo humano, como as hastes femorais e de quadril. 2.1.2 O aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 Neste trabalho será dada ênfase a caracterização do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 por ter aplicações em implantes ortopédicos. Este material consiste de uma matriz austenítica com nióbio e nitrogênio entre outros elementos. Os aços inoxidáveis austeníticos são normalmente considerados como materiais com baixa e moderada energia de falha de empilhamento (EFE). Por exemplo, a EFE do AISI 304L é próximo de 18 mJ/m2, enquanto o AISI 305 é cerca de 34 mJ/m2, AISI 310S cerca de 94 mJ/m2 e AISI 316 cerca de 78 mJ/m2 [13,14]. A contribuição de Ni, Cr, Mn e Mo para a EFE da matriz de um aço inoxidável austenítico foi estimado e a EFE para o aço ISO 5832-9 foi calculado 68,7 mJ/m2 [14]. Foi observado que o nível moderado na EFE torna o material propício os deslizamento cruzado e escalagem de discordâncias, promovendo elevados níveis de recuperação. Altos níveis de amaciamento de até 60% podem ser promovidos por recuperação após deformação a quente antes e após o início da recristalização. Também foi observada que, como a fração recristalizada aumenta, a restauração promovida pela recuperação diminui ao longo do tempo, mas não desaparece. Alguns trabalhos têm mostrado a presença de partículas de segunda fase, fase Z, constituída de Nb, Cr e N no aço ISO 5832-9 e em materiais de composição similar. Geralmente, a fase Z forma-se nos contornos de grãos, de maclas e dentro da matriz [15-17]. Esta fase é um nitreto complexo pouco 8 conhecido que se forma em aços estabilizados com Nb, contento nitrogênio. JACK (1973) [18,19] foi o primeiro a determinar a estrutura cristalina da fase Z, tipo tetragonal, Figura 2.2, com estequiometria NbCrN e parâmetros de rede a = 3,037 Å e c = 7,391 Å. Entretanto só na década de 90 foram descobertos detalhes a respeito da fase Z, cuja composição era dada por Cr(Nb,V)N, com o nióbio marcante sobre as características do material [20-22]. O papel da fase Z durante o processamento termomecânico e consequentemente nas suas propriedades mecânicas ainda não é bem estabelecido. Mas há alguns pontos de concordância, tais como a estabilidade desta fase em altas temperaturas e sua presença durante o processamento a quente interferindo nas propriedades finais do material. Figura 2.2 Estrutura cristalina da fase Ζ (NbCrN) e dos precipitados tipo MN (M = Nb, Cr) [20]. Estudos recentes avaliando a resistência mecânica determinaram o limite de escoamento plástico dos aços ISO 5832-9 (σe ~ 496 MPa) e ASTM F 138 (σe ~ 246 MPa). A presença de uma grande quantidade de partículas de precipitados, caracterizados como fase Z, na microestrutura do aço ISO 5832-9 é responsável pelo refino de grão desse material [23,24]. A combinação dos 9 mecanismos de endurecimento pelo nitrogênio em solução, endurecimento por precipitação e endurecimento por refino de grão é responsável pela maior resistência mecânica do aço ISO 5832-9 quando comparado com o aço F 138. Pesquisas comparativas de resistência à corrosão mostraram que o aço ISO 5832-9 apresenta maior resistência à corrosão localizada do que o ASTM F 138, atribuída ao aumento da estabilidade do filme passivo, favorecido pela presença de nitrogênio em solução sólida intersticial na matriz [25]. Sendo esta elevada resistência à corrosão desejável em materiais para aplicações ortopédicas, tendo em vista que a menor liberação de íons metálicos, pelos processos de corrosão, reduz o risco de rejeição por reações alérgicas ou mesmo pela falha estrutural do implante. 2.2 Trabalhabilidade a quente A manufatura de algumas próteses ortopédicas, em especial a prótese femoral, envolve uma etapa de processamento termomecânico. Esta etapa é essencial para a obtenção da forma da peça e não depende apenas da precisão dimensional desejada, mas também da microestrutura e propriedades mecânicas especificadas. Normalmente essas operações são realizadas em altas temperaturas e os materiais são submetidos a várias deformações consecutivas, sendo que algumas regiões da prótese são submetidas a quantidades significativas de deformações. A capacidade da máquina deve ser compatível com a resistência do material durante a operação e o material deve ser processado sem sofrer danos microestruturais. A trabalhabilidade é determinada não somente pela microestrutura do material, temperatura, deformação e taxa de deformação, mas também pelo estado de tensão imposto pela ferramenta na zona de deformação. Assim, é conveniente considerar a trabalhabilidade composta de duas parcelas: uma relacionada com o estado de tensão do processo e outra intrínseca ao material. 10 A trabalhabilidade devido ao estado de tensão depende da geometria da zona de deformação, do processo e da natureza do estado de tensão aplicado. Por exemplo, em processos como a extrusão, em que o estado de tensão hidrostático é compressivo, podem-se impor maiores deformações, sem que haja a falha do material, do que em processos em que atuam tensões hidrostáticas trativas. Com componentes hidrostáticos trativos, qualquer interface mais fraca no material irá abrir causando fratura interna. Assim, a parcela da trabalhabilidade devido ao estado de tensão é específica de cada processo de conformação e é independente do comportamento do material. A trabalhabilidade intrínseca do material depende da microestrutura inicial do material e de sua resposta às condições de deformação impostas. Nesta resposta está embutida implicitamente a variação da tensão com a deformação, temperatura e taxa de deformação e é representada matematicamente por uma equação constitutiva. Todavia, como parte explicita da resposta do material aos parâmetros do processo, pode haver mudanças microestruturais. Por exemplo, sob certas condições, o material pode responder com danos microestruturais devido a fluxo instável ou localizado. Alternativamente, a microestrutura pode ser reconstruída devido a processos de restauração como a recristalização. Uma forma de estimar os mecanismos atuantes durante a deformação a quente é através de uma equação cinética da taxa de deformação do tipo [26]: ⎛ Qdef ⎝ RT ε& = A.σ n exp ⎜⎜ − ⎞ ⎟⎟ ⎠ (2.1) Onde ε& é a taxa de deformação, σ é a tensão (MPa), Qdef é a energia de ativação aparente para a deformação a quente (kJ/mol), R é a constante universal dos gases (8,31 J/mol.K), T a temperatura absoluta (K). 11 O valor de n da equação da cinética da taxa de deformação (Eq. 2.1) usualmente não é constante em toda janela de operação, mas assume valores diferentes em diferentes faixas de temperatura e de taxa de deformação. Assim, é usual substituir a Eq. 2.1 por uma mais abrangente, como proposto por Sellars e Tegart: ε& = A[senh(ασ p )]n exp(Qdef RT ) (2.2) Onde A, α e n são dependentes do material. Com o valor da energia de ativação aparente para a deformação a quente (Qdef) pode-se estimar o mecanismo de deformação atuante e obter correlações microestruturais utilizando o parâmetro de Zener-Hollomon (Z) com a taxa de deformação compensada pela temperatura: ⎛ Q def Z = ε&. exp⎜⎜ ⎝ RT ⎞ ⎟⎟ ⎠ (2.3) A análise da cinética é aplicável a metais puros e ligas diluídas. Todavia, quando estendida a ligas comerciais com microestruturas complexas é difícil interpretar o valor da energia de ativação aparente em termos de um único mecanismo. 2.2.1 Mapas de processamento Uma forma alternativa para a análise do comportamento mecânico dos materiais durante o processamento a quente são os mapas de processamento. Esses mapas são representações explícitas das respostas do material quanto à dissipação da potência transferida pelas ferramentas durante a deformação e quanto às regiões de instabilidade microestruturais. Esses mapas são construídos no domínio determinado pelas condições de deformação usuais ao processamento metalúrgico; janelas de temperaturas e de taxas de deformação aplicadas no processamento industrial. Os mapas de 12 processamento são desenvolvidos utilizando conceitos de (i) sistemas de engenharia, (ii) mecânica dos meios contínuos, (iii) princípios da termodinâmica de processos irreversíveis e (iv) critérios de instabilidade plástica. Esses conceitos formam a base do Modelo Dinâmico de Materiais (MDM) [27-30]. O forjamento de uma prótese ortopédica pode ser entendido como um sistema de engenharia composto de uma fonte de potência, ferramentas e a peça a ser forjada. O sistema hidráulico ou motor da prensa gera certa quantidade de energia por segundo (potência). As ferramentas atuam como armazenadoras e distribuidoras da potência gerada. A peça dissipa potência enquanto é deformada para adquirir a forma imposta pela geometria da zona de deformação. Neste sistema deve-se observar que é fornecida potência ou energia em um dado tempo, e assim, o tempo é uma variável independente, tornando o sistema dinâmico. As características do elemento dissipador devem ser consideradas no projeto de controle do sistema. A equação constitutiva do material da peça processada descreve a maneira na qual a potência é convertida, em qualquer momento, em energia térmica e variações microestruturais, que não mais serão recuperadas pelo sistema. A resposta instantânea do material da peça à taxa de deformação imposta para se alcançar uma dada deformação a temperatura e história do material constantes pode ser obtida reescrevendo a Eq. 2.1 [28]: σ = k .ε& m T ,M (2.4) Onde m é a sensibilidade da tensão a taxa de deformação e k uma constante. A equação constitutiva descreve a trajetória escolhida pelo sistema para impor a taxa de deformação. Trajetórias diferentes podem ser escolhidas pelo material para diferentes taxas de deformação e k e m assumirão outros valores. A potência total (P) dissipada na peça sendo forjada consiste de duas funções complementares: conteúdo G e co-conteúdo J: 13 P=G+J (2.5) A interpretação física de G e J é baseada em princípios termodinâmicos [28]. A potência total dissipada na peça que está sendo deformada está relacionada com a taxa de produção de entropia: P = σ .ε = d iS T ≥0 dt (2.6) onde diS/dt é a taxa de produção de entropia e o sinal de desigualdade está relacionado com o caráter irreversível da deformação. A taxa total de produção de entropia consiste em duas etapas: a taxa de entropia interna, devido às mudanças metalúrgicas, e a taxa de entropia térmica que leva ao aumento de temperatura da peça. A partição de potência entre G e J é controlada pelo comportamento do material e determinada pela sensibilidade da tensão a taxa de deformação: ε&d σ ⎛ d ln σ ⎞ ⎛ dJ ⎞ = =⎜ =m ⎜ ⎟ ⎟ σ d ε& ⎝ d ln ε& ⎠ T ,ε ⎝ dG ⎠ T ,ε (2.7) Para a determinação de um valor instantâneo de J, em cada temperatura e taxa de deformação, com um valor de m constante, faz-se a integração: σ σ ⎛ m ⎞ & J = ∫ ε&dσ = ∫ K ´σ 1 / m dσ = ⎜ ⎟σε ⎝ m + 1⎠ 0 0 (2.8) Tomando como referência um dissipador linear, m = 1, no qual a dissipação de potência por J é máxima, J = Jmax/ 2 = σ. ε& /2. A eficiência de dissipação de energia por segundo pode ser expressa por um parâmetro adimensional, chamado eficiência de dissipação de potência (η): η= J J max = 2m m +1 (2.9) 14 A eficiência representa a taxa relativa de produção de entropia interna durante a deformação a quente e caracteriza a microestrutura gerada em diferentes condições de deformação. A variação de η com a temperatura e taxa de deformação constitui os mapas de dissipação de potência (ou mapas de processamento). Tendo em mente que a tensão efetiva varia de forma não linear com a temperatura e taxa de deformação, o mapa deve ter regiões em relevo e vales, quando representado em três dimensões. Os vários domínios que surgem podem ser correlacionados com as mudanças microestruturais do material por diferentes mecanismos, tais como recuperação dinâmica, recristalização dinâmica ou superplasticidade. A condição de estabilidade utilizada no Modelo Dinâmico dos Materiais (MDM) é aquela estabelecida por Ziegler [27,28]. Fluxo estável irá ocorrer se o quociente diferencial satisfizer a desigualdade: dD D > dR& R& (2.10) Onde R& = ε&.ε& e D é a função dissipativa que representa o comportamento constitutivo do material. O princípio descrito acima tem sido usado para desenvolver um critério para prever as instabilidades metalúrgicas no processamento de metais. Uma vez que J determina a dissipação através dos processos metalúrgicos, a função de dissipação relacionada à instabilidade metalúrgica pode ser representada por J [27-30]. Fazendo D = J na Eq. 2.10, tem-se para as condições de temperatura e taxa de deformação constante: dJ J > dε& ε& Uma vez que: (2.11) 15 dJ Jε&dJ Jd(∫ (1/ J )dJ Jd ln J = = = dε& ε&Jdε& ε&d ( (1/ε&)dε& ε&d lnε& ∫ (2.12) a Eq. 2.12 pode ser representada por: Jd ln J J > ε&d ln ε& ε& (2.13) Considerando a Eq. 2.8 obtém-se: d ln J d ln(m /(m +1)) d lnσ d lnε& = + + >1 d lnε& d lnε& d lnε& d lnε& Introduzindo o parâmetro ξ , (2.14) o critério de estabilidade é representado por: ξ (ε&) = ∂ ln(m /(m +1)) +m>0 ∂ lnε& (2.15) O parâmetro ξ (ε& ) pode ser determinado em função da temperatura e taxa de deformação e, assim, construídos mapas de instabilidades de processamento. As instabilidades ocorrem em regimes onde ξ (ε& ) é negativo. O critério de instabilidade usado aqui pode ser interpretado de um modo simples. Se o sistema material não produz entropia constitutivamente a uma taxa tal que esta se iguale a taxa de entrada de entropia imposta pelos parâmetros do processo, o fluxo se torna localizado e causa instabilidade plástica. Instabilidades plásticas típicas são as formadas por bandas de cisalhamento adiabáticas ou por localização de fluxo. 16 2.3 Mecanismos de endurecimento e de amaciamento atuantes durante o processamento metalúrgico A microestrutura presente durante e após a deformação a quente de materiais metálicos determina o comportamento plástico durante o processamento e as propriedades mecânicas finais dos produtos conformados. É bem conhecido que mecanismos de endurecimento e de amaciamento podem atuar durante e após a deformação a quente, determinando a evolução microestrutural. Dentre os mecanismos de endurecimento pode-se destacar o encruamento e a precipitação de segunda fase. O amaciamento é usualmente promovido pelos mecanismos de restauração como a recuperação e a recristalização. 2.3.1 Mecanismos de endurecimento A seguir será revisto brevemente o processo de encruamento. Uma vez que no aço em estudo há evidências de interação entre precipitação e recristalização, ou seja, neste material ocorre a precipitação da fase Z induzida por deformação, este tópico será revisto após a recristalização. 2.3.1.1 Encruamento O encruamento é um dos mecanismos que contribui para o aumento da resistência mecânica dos materiais durante a deformação plástica, modificando sua microestrutura, com aumento na densidade de discordâncias e pelo tipo de arranjo no qual tais defeitos se apresentam. Durante a deformação plástica, podem estar presentes na rede cristalina, basicamente, dois tipos de discordâncias [31,32]: as móveis, através das quais se têm mudanças de forma ou acomodações, nas quais ocorre deformação heterogênea (localizada), como as que ocorrem na proximidade de contornos de grão e interfaces entre partículas de segunda fase e a matriz. O número deste tipo de discordâncias aumenta com o acréscimo de partículas de segunda fase, assim como os campos de tensão interna por elas gerados com 17 encruamento maior quanto maior for a dificuldade das discordâncias móveis caminharem e vencerem os campos de tensão gerados na rede cristalina pelos outros defeitos anteriormente armazenados. O segundo tipo, imóveis, acumulam-se interagindo entre elas de forma aleatória, aprisionando-se e formando subestruturas de emaranhados, células ou subgrãos. O encruamento é tanto maior quanto maior for a dificuldade das discordâncias móveis caminharem e vencerem os campos de tensão gerados na rede cristalina pelos outros defeitos anteriormente armazenados. Quando os materiais são deformados, discordâncias são geradas. Com a continuidade da deformação, as discordâncias movem-se em seus sistemas de escorregamento. As interações entre estes sistemas e contornos de grão ou qualquer obstáculo substancial, bloqueiam o escorregamento e criam empilhamentos. Este bloqueio e a geração de discordâncias continuam até o estágio onde algumas discordâncias bloqueadas são capazes de evitar os obstáculos através de deslizamento cruzado nos planos [31-34]. 2.3.2 Mecanismo de amaciamento Quando o amaciamento do material ocorre após a deformação ou nos intervalos entre as deformações, os processos de restauração são caracterizados como estáticos [33]. Porém, o amaciamento pode ocorrer durante a deformação e neste caso os processos de restauração são ditos dinâmicos. Durante as operações de trabalho a quente, os processos de amaciamento atuam concorrentemente com o encruamento durante a deformação. Podem-se identificar cinco mecanismos distintos de restauração que operam durante a deformação e entre os intervalos entre passe: a recuperação estática (Static Recovery, SRV), a recuperação dinâmica (Dynamic Recovery, DRV), a recristalização estática (Static Recrystallization, SRX), a recristalização dinâmica (Dinamic Recrystallization, DRX) e a recristalização metadinâmica (Metadynamic recrystallization, MDRX) [34-39]. 18 2.3.2.1 Recuperação estática (SRV) O processo de recuperação estática refere-se às mudanças microestruturais que ocorrem em um material deformado antes da recristalização, imediatamente após a interrupção da deformação sem a necessidade de um tempo de incubação, uma vez que a aniquilação de defeitos dá-se individualmente. Em baixas temperaturas (0,2Tf, onde Tf é a temperatura de fusão) ocorrem reações entre os defeitos pontuais, como aniquilação de lacunas e migração de defeitos pontuais para contornos de grãos ou discordâncias [33]. Nas temperaturas intermediárias (0,2Tf - 0,3Tf) ocorre aniquilação de discordâncias de sinais opostos e rearranjo nos contornos delineando-os. Em temperaturas mais altas (acima de 0,5Tf) as discordâncias podem escorregar transversalmente e escalar, o que propicia a ocorrência de poligonização e formação de subgrãos como mostrado na Figura 2.3. Figura 2.3 Recuperação: (a) discordâncias emaranhadas; (b) formação de novas células; (c) células emaranhadas mais regulares; (d) formação de contorno de subgrão; (e) crescimento de subgrão; (f) todos os estágios [33]. 19 Durante a recuperação estática a energia armazenada no material, ou seja, a força motriz para a restauração é reduzida pelo movimento das discordâncias por dois processos, aniquilação e rearranjo de discordâncias de sinais opostos. Ambos os processos ocorrem por escorregamento, escalagem e deslizamento cruzado de discordâncias que por sua vez podem influenciar a natureza e a cinética de recristalização [34-36]. A divisão entre recuperação e recristalização é por vezes difícil de definir, porque os mecanismos de recuperação desempenham um papel importante na nucleação da recristalização. 2.3.2.2 Recristalização estática (SRX) A recuperação estática restaura um material deformado até certa proporção, sendo que o seu amaciamento total só ocorre através da recristalização estática. Esse mecanismo ocorre pela substituição gradual de grãos encruados por novos grãos eliminando as discordâncias, com a nucleação e crescimento de novos grãos isentos de deformação, onde a prédeformação, o tempo entre passe, o tamanho de grão inicial, a taxa de deformação e a temperatura são parâmetros usados para descrevê-la [40-42]. Tendo em vista que a recristalização inicia pela nucleação de novos grãos é necessário um tempo de incubação e uma quantidade de energia armazenada maior que um valor crítico característico de cada material. A nucleação de novos grãos acontece preferencialmente em sítios de deformação energeticamente favoráveis, tais como, contornos de grão, de maclas, bandas de deformação e imediações de precipitados. Há três diferentes mecanismos de nucleação para a recristalização estática: (i) encurvamento de contornos de grãos, (ii) coalescimento de subgrãos e (iii) crescimento de células/subgrãos em materiais de baixa energia de falha de empilhamento. 20 2.3.2.3 Recuperação dinâmica (DRV) Durante os estágios iniciais de deformação de um material com alta energia de falha de empilhamento (EFE) em alta temperatura, há um aumento da tensão de escoamento plástico porque as discordâncias interagem e multiplicam-se com acréscimo na força motriz e na taxa de recuperação, facilitando o desenvolvimento de uma microestrutura com contornos de subgrãos iniciado por aniquilação de pares de discordâncias ou rearranjo de discordâncias que podem escalar ou escorregar transversalmente diminuindo a taxa de encruamento. Quando a taxa de aniquilação se iguala a taxa de geração de discordâncias atinge-se um regime de estado estacionário, Figura 2.4, no qual a tensão torna-se constante, ou seja, não mais varia com a deformação. Neste estágio os grãos estão deformados, mas os subgrãos se tornam constantes em forma e tamanho com baixa energia caracterizando a recuperação dinâmica [33-36]. Figura 2.4 Forma típica da curva de escoamento plástico de materiais que se recuperam dinamicamente, sem picos de tensão. 21 Em materiais com baixa energia de falha de empilhamento as discordâncias parciais caminham longe uma das outras e não podem se juntar facilmente para se aniquilarem. Por isso, os subgrãos possuem contornos mal delineados e são de pequeno tamanho [33,34]. A taxa de aniquilação é menor que a taxa de geração de discordâncias, de forma que um acúmulo de deformação vai sendo incorporado ao material durante a conformação. A densidade de discordâncias aumenta rapidamente com a deformação. Quando um valor crítico é atingido, a recristalização dinâmica começa a operar. 2.3.2.4 Recristalização dinâmica (DRX) A recristalização dinâmica é um processo de amaciamento que ocorre com a nucleação e crescimento de novos grãos, onde grãos deformados são substituídos por novos grãos livres de deformação, eliminando uma parte das discordâncias geradas durante a etapa de encruamento [34,43]. Os sítios preferenciais de nucleação de novos grãos são os contornos dos grãos com alta densidade de discordâncias e o mecanismo de nucleação atuante é conhecido como colar (necklace) [44-47]. Este mecanismo está representado na Figura 2.5. As bandas de deformação no interior de grãos e subgrãos também atuam como sítios preferenciais de nucleação dos novos grãos. Após a nucleação, os contornos formados vão caminhando para o interior do grão. A diminuição de energia livre causada pela eliminação de defeitos compensa o aumento de energia livre gerado pela criação de área de contornos de grãos [48-51]. Conforme a deformação continua, esses grãos recém-formados são alongados à medida que crescem até atingir um valor crítico de deformação suficiente para que sejam substituídos por novos grãos através de nova nucleação e crescimento. 22 Figura 2.5 Evolução microestrutural durante a DRX: (a) para ε < εc sem grãos DRX; (b) formação do primeiro colar; (c) formação do segundo colar e expansão para o interior dos grãos e maclas; (d-e) expansão do volume DRX consumindo o interior do grão [47]. Uma curva com comportamento típico de matérias que recristalizam dinamicamente é mostrada na Figura 2.6, de onde é possível observar que a tensão aumenta com a deformação até alcançar um pico de tensões e decresce em seguida até um estado estacionário. Durante a etapa de encruamento a densidade de discordâncias aumenta com a deformação até que a energia crítica necessária para o início da recristalização dinâmica seja alcançada (σc e εc), iniciando-se o processo de nucleação de novos grãos [47,52]. A eliminação rápida de discordâncias com a formação e crescimento de novos grãos ao redor dos contornos dos grãos originais leva a um pico na curva de escoamento plástico (σp e εp), seguido de um amaciamento rápido até o estado estacionário (σss e εss), quando a tensão não mais varia com a deformação. Deste ponto em diante, o material não mais necessitará de 23 tensões tão elevadas quanto às anteriores para o progresso da deformação plástica, uma vez que foi, e permanece sendo, amaciado dinamicamente pela recuperação e recristalização dinâmica. Figura 2.6 Representação esquemática da curva de escoamento plástico de materiais que se recristalizam dinamicamente. A recristalização dinâmica de uma estrutura inicial com grãos finos deformados em alta temperatura e/ou a baixa taxa de deformação é precedida por flutuações na forma do contorno de grão. Nestas condições, mesmo sob baixa energia armazenada entre os grãos vizinhos, os grãos recristalizados dinamicamente podem ser nucleados em encurvamento de alguns contornos serrilhados acompanhado com a formação de contornos geometricamente necessários. Serrilhamento e encurvamento são desenvolvidos, e eventualmente novos grãos são gerados ao longo dos contornos por deformação induzindo o mecanismo de formação de subgrãos. Esta explanação foi usada por Miura e Sakai [46,49] para descrever a nucleação de novos grãos recristalizados dinamicamente e pode ser representada graficamente de acordo com a Figura 2.7. Estes autores indicaram que o contorno de grão cisalhado ocorre frequentemente durante o início da deformação a quente, conduzindo à evolução dos contornos de grãos serrilhados com deformação local heterogênea ao longo dos contornos. 24 Figura 2.7 Representação esquemática da nucleação de novos grãos DRX: (a) Distorção e flutuações do contorno; (b) Contorno parcialmente cisalhado; (c) Encurvamento do contorno de grão induzido por deformação [48]. Outro aspecto que caracteriza a ocorrência da recristalização dinâmica nos contornos de grão é o alto valor do ângulo de desorientação (energia do contorno). Esta dependência está atribuída à diferença na ocorrência do deslizamento das discordâncias dos contornos serrilhados e empilhados seguido pelo desenvolvimento de contornos próximo da subestrutura heterogênea das discordâncias. Assim, os novos grãos DRX são nucleados por encurvamento dos contornos [48,53]. 2.3.2.5 Recristalização metadinâmica (MDRX) Após o início da recristalização dinâmica os núcleos recristalizados continuam a crescer depois que a deformação é interrompida acima da deformação crítica (εc). Este mecanismo caracteriza a recristalização metadinâmica [54,55]. Após a recristalização dinâmica ter iniciada, passa a agir 25 três processos distintos que são descritos como recuperação estática, recristalização metadinâmica e recristalização estática. Enquanto os núcleos de recristalização dinâmica estão crescendo por recristalização metadinâmica, o restante do material sofre recristalização e recuperação estática. Ao contrário da recristalização estática, a recristalização metadinâmica não necessita de tempo de incubação, isto se deve ao fato de que ela faz uso dos núcleos formados pela recristalização dinâmica [33,55]. Consequentemente, a microestrutura de grãos recristalizados dinamicamente está sujeita a uma rápida mudança depois do descarregamento e isto pode resultar num aumento do tamanho de grão afetando alguma propriedade mesmo quando a deformação for pequena e o tempo entre passe for curto. A força motriz para a recristalização metadinâmica é a mesma que para a recristalização estática que é gerada pela redução da energia de deformação, basicamente aniquilação de discordâncias introduzida durante a deformação [55]. A força motriz elevada pode resultar no refinamento de grão nas condições de alta taxa de deformação e temperaturas elevadas. 26 2.4 Precipitação A temperatura de reaquecimento durante o forjamento do aço ISO 5832-9 determina o tamanho de grão inicial dos grãos e os teores dos elementos formadores da fase Ζ em solução sólida, particularmente o nióbio e o nitrogênio. A precipitação da fase Ζ ocorre com a nucleação e crescimento de partículas dentro da matriz austenítica. Quando uma nova fase forma-se dentro de uma fase-mãe, interfaces são formadas entre as duas fases. A criação de interfaces aumenta a energia livre do sistema. Além disso, a nova fase pode ter um volume molar diferente da matriz, gerando distorções elásticas e aumentando a energia interna por unidade de volume. Tanto o aumento da energia interfásica quanto o aumento da energia de deformação competem com o aumento da energia livre de volume devido à transformação de uma nova fase menos estável em uma mais estável, à medida que a temperatura é decrescida abaixo da temperatura de solubilização. A determinação do potencial de precipitação dá-se pelo produto de solubilidade através do cálculo de supersaturação dos elementos microligantes em determinada temperatura comparando a quantidade de elemento microligante dissolvido durante o reaquecimento com a quantidade em solução [56]. Com a reação básica para a formação da fase Ζ descrita por: Nb + Cr + N ↔ NbCrN (2.16) A constante de equilíbrio (K) para a precipitação segundo a reação acima é dada por: K= [ a NbCrN ] hNb hCr hN (2.17) Onde a atividade aNbCrN é igual a unidade para o composto puro e as atividades [hNb], [hCr] e [hN] são consideradas proporcionais as concentrações dos elementos em solução diluídas. O produto de solubilidade da fase Ζ pode ser gerado levando-se em conta a constante de equilíbrio da reação (K) 27 relacionando-a com a energia livre (ΔGo), a entalpia (ΔHo) e a entropia (ΔSo) do sistema, obtendo-se a equação do produto de solubilidade dado por [57,58]: ΔGo = ΔHo −TΔSo = −RTlnK (2.18) Assim, para a precipitação da fase Ζ: ΔS o ΔH o ln{[hNb ][hCr ][hN ]} = − T RT (2.19) Reescrevendo a equação acima em termos de massa em porcentagem de Cr, Nb e N em solução obtém-se a equação do produto de solubilidade, a qual de acordo com Giordani [59] é expressa por: log{[ Nb][Cr][N ]} = 7,557 − 12277 T (2.20) Conhecido o produto de solubilidade dos elementos formadores da fase Ζ, pode-se determinar o potencial de precipitação através do cálculo de supersaturação em uma determinada temperatura de processamento. A supersaturação Ks em uma dada temperatura abaixo da temperatura de equilíbrio é definida como a razão entre a quantidade de [Nb][Cr][N] na temperatura e a quantidade na temperatura de equilíbrio: Ks = {[ Nb][Cr][N ]}sol (2.21) 107,557−12277/ T A razão de supersaturação determina a força motriz para a precipitação. A precipitação ocorre quando a supersaturação alcança um valor crítico necessário para compensar a formação de interfaces e as distorções elásticas. À medida que a temperatura diminui aumenta-se a supersaturação e, consequentemente, o potencial de precipitação. O nível crítico de supersaturação para a nucleação no caso da austenita não deformada é esperado ser alto. Todavia, a deformação da matriz gera sítios de nucleação e então a precipitação é observada com menores supersaturações. Uma vez que 28 para formar uma nova fase dentro da matriz é necessário criar interfaces, a precipitação ocorre com facilidade em sítios de alta energia livre, tais como bandas de deformação e contornos de grãos e subgrãos. Desta forma, a precipitação pode ser induzida por deformação. 2.4.1 Precipitação induzida por deformação Tendo em mente que a precipitação ocorre com a difusão atômica, esta ocorre com maior facilidade em altas temperaturas. Por sua vez, em baixas temperaturas o potencial termodinâmico é maior que em altas temperaturas. Assim, há uma temperatura adequada onde a cinética de precipitação é máxima, decrescendo conforme a temperatura de precipitação é aumentada ou diminuída. É bem conhecido que quando uma liga metálica com uma segunda fase que forma partículas finamente dispersas é deformada e recozida, a recristalização é retardada por partículas de diâmetros pequenos com pequeno espaçamento entre elas. Este comportamento torna-se mais marcante quando o material é deformado a quente e a matriz está supersaturada. A precipitação de partículas induzidas por deformação, nos intervalos entre passe durante o processamento termomecânico, inibe ou mesmo suprime a recristalização estática da austenita [60,61]. Este retardamento da recristalização ocorre quando a força de ancoramento desenvolvida nos contornos de grãos pelos precipitados é maior que a força motriz para recristalização estática. No caso do aço ISO 5832-9 há evidências que a fase Ζ precipita dentro da janela do processamento industrial [12,17]. Todavia, a interação entre a precipitação da fase Ζ e a recristalização deste aço ainda não é bem conhecida. Esta interação é importante, pois determina os mecanismos de amaciamento que atuam durante o processamento a quente e consequentemente a evolução industrial que ocorre. Tomando como referência os aços microligados ao nióbio, onde esta interação foi largamente estudada, 29 pode-se analisar esta interação através de diagramas recristalizaçãoprecipitação-tempo (RPTT), como apresentado na Figura 2.8. Neste diagrama, Ps representam o início da precipitação estática, ou seja sem deformação e Rs e Rf representam o início e o fim da recristalização. To e Tnr correspondem às temperaturas de solubilização e de não recristalização. Neste caso, pode-se observar que existe, a partir de uma determinada temperatura e de um determinado tempo, uma interação entre precipitação e recristalização: Estágio I, a recristalização tem início e fim sem que ocorra interação. Isto se deve ao fato dos elementos estarem dissolvidos em alta temperatura, não impedindo a recristalização, sendo o comportamento semelhante ao aço carbono. No segundo estágio, a recristalização sofre influência da precipitação. Assim, o início da recristalização é retardado. Deformações aplicadas neste estágio levarão a uma estrutura mista. No terceiro estágio, a precipitação ocorre anteriormente à recristalização. Os precipitados têm a força suficiente para impedir completamente a recristalização. Figura 2.8 Diagrama recristalização - precipitação - tempo - temperatura (RPTT) [60]. 30 2.5 Modelagem das curvas de escoamento plástico O esforço mecânico aplicado pela máquina durante o processamento termomecânico evolui com a quantidade de deformação imposta, indicado nas curvas. Os níveis de tensão dependem dos mecanismos de endurecimento e/ou de amaciamento atuantes em cada momento. Será apresentado a seguir os fundamentos da modelagem matemática da curva de escoamento plástico de um material que recristaliza dinamicamente. Esta modelagem é do tipo modelo de um único parâmetro: discordâncias e não será considerada a formação de precipitados durante a deformação a quente. 2.5.1 Recuperação dinâmica Durante a deformação plástica tem-se inicialmente o encruamento do material, aumentando a sua resistência, devido ao aumento na densidade de discordâncias. A evolução da densidade de discordâncias (ρ) durante a deformação (ε) na etapa de encruamento é controlada pela competição entre o armazenamento e a aniquilação (rearranjo) de discordâncias e pode ser dado por dois termos independentes: dρ dε + − ⎛ dρ ⎞ ⎛ dρ ⎞ = ⎜ ⎟ −⎜ ⎟ ⎝ dε ⎠ ⎝ dε ⎠ (2.22) onde o primeiro termo do lado direito representa a contribuição do encruamento e o segundo representa a contribuição da recuperação dinâmica. Considerando que a geração de discordância pode ser considerada independente da deformação [62-66], e que a recuperação dinâmica segue uma cinética de primeira ordem [67,68], a Eq. 2.22 torna-se: dρ = h − rρ dε (2.23) Onde h está associado ao encruamento e r a taxa de recuperação dinâmica, para uma dada temperatura e taxa de deformação, dando um peso à 31 densidade de discordância com reflexo na curvatura, mas independentes da deformação. A integração da Eq. 2.23 dá: ⎛ h⎞ ⎝r⎠ ρ = ρo exp(−rε ) + ⎜ ⎟(1 − exp(−rε )) (2.24) Onde (ρo) é a densidade inicial das discordâncias (106 a 108 cm-2). Uma vez que a tensão efetiva é negligenciável quando comparada com a tensão interna em temperaturas elevadas, a resistência mecânica dos obstáculos ao movimento das discordâncias, a qual está relacionada com a densidade de discordâncias, pode ser selecionada como parâmetro estrutural [66]: σ = α ´MGb ρ (2.25) Onde α´ é uma constante, M é o fator de Taylor, G é o módulo de cisalhamento, e b é a magnitude do vetor de Burger. Combinando as Eqs. 2.24 e 2.25 obtémse uma expressão que descreve a evolução da tensão: ⎛h⎞ ⎝r⎠ σ = σ o 2 exp(−rε ) + (α´MGb)2 ⎜ ⎟(1 − exp(−rε ))1/ 2 (2.26) Onde (σo) é a tensão inicial. Quando ε tende para infinito, a Eq. 2.26 pode ser reescrita como segue: σ ≈ α ´ MGb (2.27) h/r Definindo α´MGb(h/r)1/2 como a tensão de saturação da recuperação (σsat), a Eq. 2.26 pode ser escrita na forma: [ ( ) σ = σ sat 2 − σ sat 2 − σ o 2 exp(−rε ) ] 1/ 2 (2.28) Esta equação descreve a relação tensão vs. deformação para materiais que amaciam intensamente por recuperação dinâmica, quando deformados isotermicamente [62,68]. Após um estágio de aumento da tensão com a deformação, a tensão tende para um valor hipotético de saturação (σsat), 32 o qual pode ser atribuído ao equilíbrio entre as taxas de armazenamento (e aniquilação) de discordâncias, com dρ/dε=0. Diferenciando a Eq. 2.28, pode ser visto que: [ ( ) dσ / dε = 0,5r σ sat − σ sat − σ o exp(−rε ) 2 2 2 ] 1/ 2 (2.29) Multiplicando dρ/dε por σ leva a: [( ] ) σ (dσ / dε ) = 0,5r σsat2 −σo2 exp(−rε ) (2.30) A Eq. 2.28 pode ser rescrita como: [(σ 2 sat ) ] − σ o exp(−rε ) = σ sat − σ 2 2 2 (2.31) Assim, a Eq. 2.30 pode ser escrita na forma: 2 σ (dσ / dε ) = 0,5rσ sat − 0,5rσ 2 (2.32) Que representa a equação da curva tangente do gráfico θ.σ vs. σ2. 2.5.2 Início da recristalização dinâmica A estrutura austenítica presente durante o processamento a quente da maioria dos aços tem EFE relativamente baixa e tende a amaciar por recristalização dinâmica após certa quantidade de deformação. Este limiar de deformação é conhecido como a deformação crítica (εc) e corresponde ao trabalho mínimo necessário para o início da recristalização dinâmica [39]. Este valor reflete o limite superior da quantidade de energia que pode ser armazenada localmente em um material deformado a quente. Embora a quantidade crítica de energia armazenada seja uma condição necessária para o início da recristalização dinâmica, somente ela não é suficiente. O início da recristalização dinâmica requer que a taxa de dissipação de energia também alcance um valor crítico. Aplicando o princípio de irreversibilidade da termodinâmica, Poliak e Jonas [69] mostraram que o estado crítico para o início da recristalização dinâmica ocorre quando: 33 ∂ ⎛ ∂θ ⎞ ⎜− ⎟ = 0 ∂σ ⎝ ∂σ ⎠ (2.33) Onde θ representa a taxa de encruamento. Os valores de θ podem ser obtidos calculando-se a derivada das curvas tensão vs. deformação equivalentes medidas experimentalmente, como indicado pela equação: θ = dσ dε (2.34) 2.5.3 Recristalização dinâmica Assim que a deformação crítica é alcançada, inicia-se o processo de recristalização dinâmica com a formação de novos núcleos e crescimento de grãos isentos de deformação [46,47]. Prosseguindo a deformação, os grãos recristalizados amaciam o material. Conforme a recristalização dinâmica continua, a fração volumétrica recristalizada aumenta reduzindo a resistência mecânica do material; tanto o amaciamento de tensão quanto a fração volumétrica recristalizada podem representar a evolução do processo de recristalização. Considerando o amaciamento de tensão promovido pela deformação no estágio de recristalização dinâmica, a evolução da tensão com o prosseguimento da recristalização dinâmica pode ser descrita pela equação: σ = σ sat − [σ sat − σ ss ]. X s (2.35) Onde Xs representa a fração de amaciamento, σsat representa a tensão de saturação quando ocorre apenas recuperação dinâmica e σss representa a tensão de estado estacionário com recristalização dinâmica completa. Assumindo que a fração amaciada é igual a fração recristalizada e que esta é descrita pela equação de Avrami, pode-se escrever [68]: 34 n ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ σ sat − σ t ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ = 1 − exp − 0,693 Xs = ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ σ sat − σ ss ⎝ t0,5 ⎠ ⎝ (2.36) ⎠ Onde n é o expoente de Avrami associado com a nucleação e expresso em lei de potência com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z) e t0,5 representa o tempo necessário para obter uma fração recristalizada de 50%. Rearranjando, a Eq. 2.35 toma a forma: σ = σ sat − [σ sat n ⎛ ⎛ ⎞⎞ ⎛ ⎞ t ⎜ ⎜ ⎟⎟ ⎜ ⎟ − σ ss ]⎜1 − exp − 0,693 ⎜ t ⎟ ⎟ ⎟⎟ ⎜ ⎜ ⎝ 0,5 ⎠ ⎠ ⎠ ⎝ ⎝ (2.37) A cinética de recristalização depende das condições de deformação. O comportamento do material durante a recristalização pode ser representado pela dependência de t0,5 com a taxa de deformação, temperatura de deformação e de recristalização: ⎞ ⎛Q t 0,5 = A.Z − q exp⎜ DRX ⎟ ⎝ RT ⎠ (2.38) onde q é uma constante característica de cada material associada às condições de deformação e QDRX é a energia de ativação para a recristalização dinâmica. 35 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Material O aço inoxidável austenítico estudado neste trabalho foi o aço ISO 5832-9, utilizado na fabricação de implantes ortopédicos. Esse aço foi produzido e fornecido pela Villares Metals S/A na forma de barras laminadas com diâmetros de 20 mm, na condição recozido a 1030 ºC por 60 min e resfriado em água. Este material tem composição à base de Cr-Ni-Mn-Mo-Nb com adição de N como indicado na Tabela 3.1. Sua fabricação inclui o processo de fusão a vácuo (VIM - Vacuum Induction Melting) e a refusão por escória eletrocondutora (ESR - Electro Slag Remelting) que garantem ao produto além de um bom controle da composição química, uma elevada homogeneidade da estrutura e alto grau de limpeza. Tabela 3.1 Composição química do aço ISO 5832-9, (%massa). C Si Mn Ni Cr Mo S P N Cu Nb Fe 0,035 0,37 4,04 10,6 20,3 2,47 0,001 0,022 0,36 0,06 0,29 bal. 3.2 Procedimentos experimentais A execução deste trabalho envolveu a realização de ensaios de torção e de compressão a quente e observações microestruturais. Paralelamente aos procedimentos experimentais foram realizados cálculos para determinar alguns parâmetros necessários à interpretação dos dados obtidos. 36 3.2.1 O dilatômetro utilizado Os ensaios de compressão a quente foram realizados num Dilatômentro Bähr Thermoanalyse GmbH DIL 850 A/D, no Centro Tecnológico de Manresa (CTM), Espanha, Figura 3.1. Os esforços mecânicos sobre os corpos de prova em forma cilíndrica (Φ 5 x 10mm) são aplicados por um sistema hidráulico constituído por um cilindro que fornece a força que é transmitida para o corpo de prova. O movimento do cilindro hidráulico é medido por um potenciômetro linear e as mudanças de comprimento do corpo de prova deformado são medidas com duas varetas de alumina localizadas na parte fixa da célula que transmite informações para o sensor transdutor de deslocamento (LVDT) e o software com estas informações apresenta os valores na forma de curvas tensão vs. deformação. O aquecimento do corpo de prova é feito por uma bobina de cobre por indução ativamente resfriada com água com a amostra resfriada com argônio controlado dentro da câmara de vácuo com pressão de entrada variando entre 5 – 7 bars, Figura 3.2. A medição da temperatura no corpo de prova é feito por um termopar padrão tipo S (soldado) por pontos na superfície do corpo de prova. A unidade de controle do dilatômetro é feito por um software versão WinTA V100 em ambiente Windows. Figura 3.1 Dilatômetro modelo DIL 850A/D utilizado neste trabalho. 37 Figura 3.2 Câmara de vácuo do dilatômetro modelo DIL 850A/D. 3.2.2 Máquina de ensaios de torção a quente As simulações físicas foram conduzidas em uma máquina horizontal de ensaios de torção a quente computadorizada, Figura 3.3. Esse equipamento foi desenvolvido no Laboratório de Processamento Termomecânico/ UFSCar. Os esforços mecânicos sobre os corpos de prova são aplicados por um servomotor elétrico. O eixo da máquina de torção é dividido em duas partes: o eixo torçor, o qual contém um motor, uma embreagem, um freio eletromagnético e um dispositivo com o qual se mede o ângulo de rotação e, consequentemente, a velocidade imposta pela máquina e um segundo eixo com movimento de translação que permite a colocação e a retirada de corpos de prova. A essa extremidade está acoplada a célula de carga. O aquecimento e resfriamento do material com taxas controladas foram feitos utilizando-se um forno de indução. A medida e controle da temperatura foram feitos utilizando-se um pirômetro ótico posicionado em frente ao corpo de prova. Figura 3.3 Máquina de ensaios de torção a quente utilizado neste trabalho. 38 Os corpos de prova para ensaios de torção a quente foram usinados a partir de barras cilíndricas laminadas de 20 mm de diâmetro. Os corpos de prova têm diâmetro e comprimento úteis de 10 mm, Figura 3.4. O controle dos ensaios e aquisição dos dados é realizado por um microcomputador interfaceado à máquina e as respostas são apresentados na forma de gráfico tensão vs. deformação equivalentes. Figura 3.4 Desenho do corpo de prova utilizado nos ensaios de torção a quente. Os eventos que ocorrem durante a deformação a quente são investigados utilizando-se as curvas de escoamento plástico e fazendo o acompanhando da evolução microestrutural. As curvas de escoamento plástico obtidas dos corpos de prova cilíndricos torcionados são calculadas a partir do torque e do ângulo de rotação medidos, utilizando-se as relações [70]: σ eq = 3M (3 + m + n ) 2π R 3 (3.1) Rθ 3L (3.2) ε eq = Onde M é o torque aplicado, θ é o ângulo de rotação, R e L o raio e comprimento úteis dos corpos de prova, respectivamente. Os coeficientes n e m estão relacionados com as sensibilidades às taxas de encruamento e de deformação. 39 3.3 Ensaios realizados Neste trabalho foram realizados ensaios mecânicos utilizando a máquina de torção e o dilatômetro descritos. Foram realizados dois tipos de ensaios de torção a quente: isotérmico contínuo e em resfriamento contínuo com múltiplas deformações. Também, foram realizados dois tipos de ensaios com o dilatômetro: relaxação de tensão e isotérmico com duas deformações. 3.3.1 Ensaio de torção a quente isotérmico contínuo Nesses ensaios os corpos de prova eram aquecidos por indução a 1250 oC por 300 s e, em seguida, resfriados até a temperatura de ensaio, que variou de 900 a 1200 oC. Nessas temperaturas eles permaneciam por 30 s para em seguida serem deformados com taxas de deformação de 0,01, 0,5, 1,0 e 10,0 s-1. Parte desses ensaios foi realizado até a deformação de 4,0 ou até que o corpo de prova falhasse, caso isto ocorresse em deformações menores que ε=4,0. Alguns ensaios foram interrompidos em vários níveis de deformação para acompanhamento de evolução microestrutural. A Figura 3.5 mostra o ciclo térmico imposto durante os ensaios contínuos de deformação a quente. Para investigar a evolução microestrutural durante a deformação os ensaios foram interrompidos em três condições distintas: - No final do encharque, com o propósito de se observar a microestrutura inicial; - Em diferentes níveis de deformação, visando acompanhar a evolução microestrutural durante a deformação; e - No final da deformação, com o objetivo de se observar a microestrutura deformada. Em todos os experimentos, as amostras foram bruscamente em água imediatamente após a interrupção do ensaio. resfriadas 40 Figura 3.5 Ciclo térmico imposto nos ensaios contínuo de torção a quente. 3.3.1.1 Determinação da deformação crítica Os valores de alguns pontos característicos da curva de escoamento plástico são lidos diretamente nas curvas experimentais e outros como a deformação crítica (εc) e a tensão de saturação (σsat) precisam ser calculados por métodos analíticos. A Equação 2.33 indica que a recristalização dinâmica inicia no ponto de inflexão da curva da evolução da taxa de encruamento de deformação (θ) com a tensão aplicada. Tendo em mente que a taxa de encruamento é obtida através da diferenciação de dados experimentais, é esperado encontrar um nível de ruídos relativamente alto nessas curvas. Para minimizar esses ruídos, faz-se o ajuste de uma equação polinomial de 3a ordem à curva θ vs. σ, como indicado na equação [71]: θ = Aσ 3 + Bσ 2 + Cσ + D (3.3) Onde A, B, C e D são constantes. Diferenciando-se esta equação com relação à σ, obtém-se a Equação 3.4. O mínimo da derivada de segunda ordem da Equação 3.3 representa a tensão crítica para o início da recristalização dinâmica (σc), como determinado na Equação 3.5. 41 dθ = 3 Aσ 2 + 2 Bσ + C dσ d 2θ −B = 0 ⇒ 6 Aσ c + 2 B = 0 ⇒ σ c = 2 3A dσ (3.4) (3.5) A Figura 3.6 representa a aplicação do método descrito para o experimento realizado a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1. Vê-se nesta curva que a evolução da taxa de encruamento com a tensão aplicada tem dois comportamentos bem definidos. Inicialmente, a taxa de encruamento diminui com o acréscimo da tensão devido exclusivamente à recuperação dinâmica (I) e, após o ponto de inflexão, tem-se um aumento na taxa de amaciamento devido à contribuição simultânea da recristalização dinâmica (II). Figura 3.6 Diagrama indicando a metodologia utilizada para determinar a tensão crítica (σc) para o início da recristalização dinâmica no experimento realizado a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1. 42 Os coeficientes A = - 0,00270 e B = 1,841, obtidos da equação mostrada no gráfico da Figura 3.6, foram substituídos na Equação 3.5 resultando num valor de 227,4 MPa. A Figura 3.7 mostra o gráfico obtido com os valores resultantes da Equação 3.5, onde se observa o ponto mínimo correspondente à tensão crítica (σc) para início da recristalização dinâmica. Substituindo o valor da tensão crítica na curva tensão vs. deformação experimental obtém-se o valor da deformação crítica para o início da recristalização dinâmica. Figura 3.7 Aplicação da Equação 3.5 nos dados obtidos a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1, onde se observa o ponto mínimo correspondente à tensão crítica (σc) para início da recristalização dinâmica. 3.3.1.2 Tensão de saturação A tensão de saturação, ou seja: a tensão de estado estacionário quando o amaciamento seria produzido exclusivamente pela recuperação dinâmica em um material que recristaliza dinamicamente, pode ser determinada graficamente. Ao iniciar a recristalização dinâmica há um aumento na taxa de amaciamento. A inflexão na curva da taxa de encruamento vs. a 43 tensão aplicada (Figura 3.6) deve-se a recristalização dinâmica. Assim, a continuação da curva que representa a recuperação dinâmica a partir do ponto de inflexão (tangente no ponto de inflexão) conduz á tensão de saturação, que corresponde ao ponto em que a derivada (dσ/dε) é nula. Este procedimento está representado graficamente na Figura 3.8, que é uma ampliação da região em torno do ponto de inflexão da Figura 3.6. Figura 3.8 Diagrama indicando a metodologia utilizada para a determinação da tensão de saturação (σsat). Ampliação da região em torno do ponto de inflexão da Figura 3.6. 3.3.2 Determinação dos mapas de processamento A partir das curvas de escoamento plástico foram construídos os mapas de processamento deste aço, segundo o formalismo apresentado na seção 2.2.1. Inicialmente, as curvas experimentais foram agrupadas em um mesmo gráfico em cada uma das temperaturas utilizadas nos experimentos e em seguida determinados os valores das tensões para deformações constantes. Os valores da sensibilidade da tensão à taxa de deformação (m), Equação 2.4 foram determinados em diferentes temperaturas. De posse dos valores de m para cada condição de deformação, foram calculados os valores 44 da eficiência da dissipação de potência (η), utilizando a Equação 2.9, e o critério de instabilidade (ξ), utilizando a Equação 2.15. 3.3.3 Ensaio de relaxação de tensão A cinética de precipitação estática do aço ISO 5832-9 foi monitorada via relaxação de tensão através de ensaios de compressão a quente no dilatômetro modelo DIL 850A/D. Inicialmente os corpos de prova foram aquecidos indutivamente na câmara sob atmosfera protetora (vácuo) até a temperatura de 1250 oC, permanecendo nesta temperatura por 300 s e em seguida resfriados continuamente (αresfr. = 100 oC/s) até a temperatura de deformação que variou entre 900 a 1100 o C. Após estabilização da temperatura, os corpos de prova (Φ 5 X 10 mm), foram submetidos a uma deformação de 0,5% com taxa de deformação constante de 0,1 s-1. Após a prédeformação, a relaxação de tensão foi iniciada com a manutenção da carga na temperatura de ensaio por 40 minutos, Figura 3.9, seguido de resfriamento sob atmosfera de argônio. Figura 3.9 Ilustração do ciclo experimental utilizado nos testes de relaxação de tensão. 45 3.3.4 Ensaio com dupla deformação O estudo do amaciamento após a deformação a quente foi conduzido através de ensaios isotérmicos interrompidos com duplo passe de deformação sob compressão no dilatômetro. Nestes experimentos determinaram-se a fração amaciada (Xs) entre passe para diferentes temperaturas e tempos de espera (tpasse) entre deformações. Figura 3.10 Ilustração esquemática do ciclo termomecânico empregado nos ensaios isotérmicos com dupla deformação. Os corpos de prova em forma cilíndrica com dimensões iniciais de 5 mm de diâmetro com 10 mm de comprimento (soldados em suas extremidades com finos discos de molibdênio, 0,06 mm para redução de atrito) foram aquecidos por indução a uma taxa de aquecimento de 5,5 ºC/s até uma temperatura de 1250 ºC e mantido por 300 s para solubilização, Figura 3.10. Após esse tempo os corpos de prova foram resfriados até a temperatura de deformação a 100 ºC/s permanecendo por 30 s nesta temperatura para eliminação do gradiente térmico em seguida submetidos à primeira deformação, ε1 = 0,30 com taxa de deformação de 1,0 s-1, seguido de descarregamento. Após a primeira deformação, os corpos de prova eram mantidos na temperatura de ensaio, sem aplicação de carga, por um período 46 de tempo (tpasse) que variou de 1 a 1000 s. Ao final desse período o corpo de prova era submetido ao recarregamento, segundo passe de deformação, ε2 = ε1 = 0,30, com a mesma taxa de deformação. Foi realizado outro conjunto de ensaios em condições similares alterando apenas os valores da deformação (ε2 = ε1 = 0,15). Nos dois conjuntos de experimentos foram trabalhadas quatro diferentes temperaturas, 1000, 1050, 1100 e 1200 ºC para uma taxa de deformação de 1,0 s-1 com intervalos entre passes variando de 1 a 1000 s. 3.3.4.1 Determinação da fração amaciada (Xs) com duplo passe O amaciamento durante o tempo entre passe é usualmente quantificado em termos da fração amaciada. Neste trabalho, a fração amaciada foi determinada por dois métodos diferentes: método offset 0,2% e método da tensão média equivalente [72-74]. A representação esquemática dos dois métodos é mostrada na Figura 3.11. O método offset é baseado na seguinte relação: Xs = σ m −σ y σ m −σ o (3.6) Onde, σm é a tensão de escoamento máxima, σy é a tensão de escoamento no segundo passe; σo (0,2%) é a tensão de início de escoamento plástico. O método da tensão média equivalente é determinado a partir da área sobre a curva dado pelas seguintes relações: Xs = Onde: σm −σ y σm −σo (3.7) 47 σ y 1 = ε 2 − ε1 ε2 ∫ σdε (3.8) ε1 Aqui, σm é tensão de escoamento plástico de extrapolação da primeira curva. Figura 3.11 Esquema indicando os valores de tensões utilizados para o cálculo da fração amaciada. 3.3.5 Ensaios com múltiplas deformações Uma alternativa para estudar a interação entre os mecanismos de amaciamento e a precipitação induzida por deformação nos intervalos entre passes é a realização em escala de laboratório de sequências de deformações replicando o processo industrial. Esses ensaios com múltiplas deformações em resfriamento contínuo permitem investigar a interação entre a recristalização e a precipitação através da análise das curvas tensão vs. deformação e, também, avaliar o efeito dos parâmetros de processamento na temperatura de não recristalização (Tnr). Para a realização desses ensaios, os corpos de prova eram aquecidos até a temperatura de 1250 oC com taxa de 5,5 oC/s e mantidos nessa temperatura por 300 s. Em seguida, os corpos de prova eram submetidos a sucessivos passes de deformação de 0,2 ou de 0,3 com taxa de 48 deformação constante de 1,0 s-1, enquanto eram resfriados continuamente com taxa de resfriamento controlada. Foram impostas taxas de resfriamento tais que sempre a temperatura decrescia 20 oC em cada intervalo de deformações (αresf = 20 oC/tpasse). Foram aplicados 17 passes de deformação no intervalo de temperatura entre 1250 e 900 oC com tempo entre passes (tpasse) variando de 5 a 80 s. A Figura 3.12 mostra uma representação esquemática do ciclo termomecânico imposto. A Figura 3.13 ilustra uma curva típica obtida por teste de torção a quente com múltiplas deformações em resfriamento contínuo. Alguns ensaios foram interrompidos em diferentes níveis de deformação e resfriados bruscamente em água para a observação da microestrutura presente naquele estágio de deformação. Figura 3.12 Representação esquemática do ciclo termomecânico imposto em ensaios realizados com múltiplas deformações em resfriamento contínuo. 49 (a) (b) Figura 3.13 (a) Curvas obtidas em ensaios realizados com múltiplas deformações em resfriamento contínuo. (b) Evolução da tensão média equivalente (TME) com o inverso da temperatura. 50 A partir dos dados experimentais mostrados na Figura 3.13a, determinou-se a tensão média equivalente (TME) por integração numérica da área sobre a curva tensão vs. deformação em cada uma das deformações impostas utilizando-se a equação [75-77]: ε b 1 TME = σ dε ε b − ε a ε∫a eq eq (3.9) Onde TME é tensão média equivalente, σeq é a tensão equivalente, (εb – εa) é a deformação equivalente em cada passe de interesse. 3.4 Observações microestruturais Para investigar a evolução microestrutural durante a deformação a quente foram utilizados os ensaios de torção isotérmicos e interrompidos em diferentes níveis de deformação. Sempre, imediatamente após a interrupção da deformação as amostras eram resfriadas bruscamente em água. A ocorrência ou não da recristalização dinâmica foi investigada utilizando as sequências de micrografias escolhidas em seis diferentes condições de deformação (Tdef = 1000 oC com taxa de deformação de 0,01 e 1,0 s-1; Tdef = 1100 oC com taxa de deformação de 0,01, 0,5 e 1,0 s-1; Tdef = 1200 oC com taxa de deformação de 0,5 s-1). A preparação dos corpos de prova foi conduzida de forma usual. Inicialmente os corpos de prova foram cortados perpendicularmente ao comprimento na região central da parte útil. Foram embutidos, lixados e finalmente polidos com alumina de granulométrica de 0,3µm na superfície paralela ao eixo da amostra. O ataque eletroquímico foi efetuado por meio de uma solução de ácido nítrico (NHO3) de 65%, com densidade de corrente de 1A/cm2 e um tempo de ataque que variou entre 10 a 60s. As medições do tamanho médio de grão foram realizadas na superfície das amostras e só foram considerados os grãos recristalizados por 10 imagens por amostra. 51 Assim, em amostras parcialmente recristalizadas foi feito as medições em áreas somente recristalizadas. A microestrutura foi analisada por microscopia óptica. O tamanho de grão recristalizado foi determinado por meio de um analisador de imagens pertencente ao TermoMec-UFScar. As imagens foram obtidas por um microscópio ótico Zeiss, modelo Axiotech, ao qual estão acoplados uma câmara de vídeo Color View 12, e um microcomputador em ambiente Windows XP com um software AnalySIS FIVE, da Soft Imaging System para aquisição de imagem a serem utilizadas. A constatação do fenômeno da recristalização dinâmica nos ensaios isotérmico de torção a quente foi realizado por análise via EBSD num microscópio eletrônico de varredura (MEV), modelo Phillips XL30 FEG nas seguintes condições: (i) 1000 oC com taxa de deformação de 0,01 e 0,5 s-1 e (ii) 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 com deformação de 2,0. Foram determinadas as frações dos grãos com baixo e alto ângulo de orientação para identificar a formação de grãos e subgrãos durante a deformação. 52 53 4 RESULTADOS EXPERIMENTAIS Os dados experimentais obtidos neste trabalho estão sendo apresentados seguindo a sequência de etapas realizadas antes, durante e após a deformação a quente, ou seja: - Descrição da microestrutura inicial observada após o reaquecimento e permanência na temperatura de encharque, - Relaxação de tensão observada na temperatura de ensaio antes de iniciar a deformação; - Deformação isotérmica contínua, e - Amaciamento após deformação isotérmica e em resfriamento contínuo. 4.1 Microestrutura inicial A microestrutura inicial, obtida ao fim do encharque, consiste em grãos equiaxiais, Figura 4.1, com diâmetro médio de grão (do) de aproximadamente 86 μm. Vê-se nesta micrografia que os grãos são equiaxiais, mas com diferentes tamanhos, indicando que houve o crescimento dos grãos durante o encharque. Pode-se observar também nesta microestrutura a presença de maclas e uma grande quantidade de precipitados de vários tamanhos, particularmente no interior dos grãos que não dissolveram totalmente durante o processo de reaquecimento. Esses precipitados têm diferentes formas e tamanhos: (i) partículas em forma de placas com tamanho de 15 µm, (ii) partículas redondas com tamanho de 1 a 2 µm e (iii) pequenas partículas com tamanho em torno de 0,3 µm. 54 Figura 4.1 Microestrutura inicial de uma amostra do aço ISO 5832-9 reaquecida a 1250 oC e mantida durante 300 s antes de ser resfriada em água. A presença desses precipitados foi analisada via MEV/EDS, Figuras 4.2 e 4.3. A composição química da fase Ζ indicou uma porcentagem atômica de: 50%Nb, 35%Cr, 6%N, bal. Fe. Estes valores são próximos aos encontrados para materiais de composições similares na literatura [16,17]. A técnica aplicada não foi eficiente em identificar os precipitados mais finos (< 0,3 µm). Figura 4.2 Precipitados encontrados no aço ISO 5832-9 identificados por micrografia eletrônica de varredura (MEV) e mapas lineares por EDS, mostrando a distribuição dos elementos formadores da fase Ζ (NbCrN). 55 Figura 4.3 Espectro de difração de raios-X da fase Ζ. 4.2 Descrição da curva de relaxação de tensão do aço ISO 5832-9 As curvas tensão (σ) vs. log t obtidas nos ensaios de relaxação de tensão isotérmicos estão representadas na Figura 4.4. Os resultados evidenciam três regiões com comportamentos distintos. Pouco tempo após a deformação de 0,5%, as curvas iniciam uma mudança na sua forma com a redução no nível de tensão. Observa-se que após um tempo de decaimento tensão há a formação de um patamar indicando o início de precipitação (Pi), que se estende por um certo tempo, retardando a relaxação de tensão (Região II). Em seguida as curvas mostram declínios mais acentuados no nível de tensão, caracterizando o fim da precipitação (Pf), Região III. 56 0 Figura 4.4 Curvas de relaxação de tensão do aço ISO 5832-9 após deformação de 0,5% em diferentes temperaturas. 57 Os tempos de início e fim de precipitação foram determinados a partir das curvas de relaxação de tensão e apresentados sobre a forma de diagrama Precipitação - Tempo - Temperatura (PTT) ilustrado na Figura 4.5. O diagrama PTT mostra que o nariz da curva se encontra em torno de 1025 oC com tempo de aproximadamente 112 s. Note que são necessários tempos maiores para iniciar a precipitação nas regiões abaixo e acima do nariz. Figura 4.5 Diagrama PTT baseado nas curvas de relaxação de tensão do aço ISO 5832-9. 4.3 Curvas de escoamento plástico Este conjunto de experimentos foi realizado para determinar o comportamento plástico do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 em condições similares às do processamento industrial. Os ensaios foram realizados com taxas de deformação de 0,01, 0,5, 1,0 e 10 s-1 na faixa de temperaturas de 900 a 1200 oC com reaquecimento a 1250 oC. Imediatamente após a deformação, as amostras foram resfriadas bruscamente em água, para observações microestruturais posteriores. A Figura 4.6 mostra as curvas de escoamento plástico obtidas. 58 (a) (b) 59 (c) (d) Figura 4.6 Curvas de escoamento plástico obtidas nos ensaios de torção isotérmicos contínuos: (a) 10 s-1, (b) 1,0 s-1, (c) 0,5 s-1 e (d) 0,01 s-1. As setas indicam os picos de tensão. 60 As curvas de escoamento plástico mostradas na Figura 4.6 têm a forma típica apresentada pelos materiais metálicos quando deformados a quente. Inicialmente há uma região de encruamento, na qual a tensão de escoamento plástico aumenta continuamente, apresentando uma alteração na curvatura conforme o material é deformado. Com o prosseguimento da deformação alcança-se um máximo correspondente ao pico de tensões. Por fim, há uma etapa de amaciamento por deformação com redução no nível de tensão para um valor intermediário, podendo ou não alcançar a tensão de estado estacionário. Vê-se nas curvas da Figura 4.6 que o nível de tensão aumenta com o acréscimo da taxa de deformação e queda da temperatura. Este comportamento é típico de materiais metálicos deformados em altas temperaturas. Todavia, a evolução da quantidade de deformação com as condições de deformação apresenta comportamentos distintos. Pode-se ver que as curvas em menores temperaturas têm a região de encruamento deslocadas para a esquerda e, em altas temperaturas, o pico de tensões tende a ocorrer em deformações maiores. Para deformações maiores que as do pico, o amaciamento só se completa após grandes deformações quando o material é deformado em baixas temperaturas. Assim, a forma das curvas muda segundo as condições de deformação, sendo esta variação mais visível na região de amaciamento dinâmico após o pico de tensão com três diferentes tipos de curvas observadas: (i) Curvas com amaciamento contínuo com fluxo localizado (em baixa temperatura e alta taxa de deformação); (ii) Curvas tipo plano, onde a tensão praticamente não varia com a deformação, como é observado em materiais que recuperam dinamicamente (em baixa temperatura e taxa de deformações intermediárias) e, (iii) Curvas com amaciamento após a tensão crítica levando o estado estacionário para grandes deformações (em alta temperatura e baixa taxa de deformação). As amostras deformadas em baixas temperaturas falharam com pequenas deformações (ε~2,0) não alcançando a deformação máxima aplicada (ε=4,0). Também vale observar que em baixas temperaturas há uma queda 61 relativamente alta no nível de tensão na região de amaciamento. Em altas taxas de deformação a queda de tensão na região de amaciamento dinâmico é relativamente grande, sendo o valor da tensão de estado estacionário, quando é alcançado, muito próximo ao valor da tensão de início de escoamento plástico. O estado estacionário de tensão foi atingido em todos os experimentos conduzidos em altas temperaturas. Apesar de algumas pequenas diferenças serem observadas na forma das curvas de escoamento plástico, o comportamento é característico do amaciamento de tensão promovido pela recristalização dinâmica. Em altas temperaturas, a queda de tensão entre a tensão de pico e de estado estacionário é relativamente pequeno, enquanto a queda após o pico é lenta e relativamente maior em temperaturas intermediárias. Pode-se ver que, em altas temperaturas e baixa taxa de deformação, em especial a 0,01 s-1, a parte inicial das curvas de escoamento plástico tem a forma diferenciada das demais. O escoamento plástico inicia em níveis de tensões muito próximos dos valores das tensões de pico, gerando uma região de deformação plástica com taxa de encruamento relativamente baixa. Este comportamento é observado com clareza a 1200, 1150 e 1100 oC com taxa de 0,01 s-1 e a temperatura de 1200 oC com taxa de 0,5 s-1. 4.4 Equação constitutiva do aço Na Figura 4.6 vê-se claramente que o nível de tensão, para qualquer deformação, depende das condições de deformação, ou seja, da temperatura e da taxa de deformação. Tomando o pico de tensão como um ponto representativo do comportamento do material, pode-se ver que a tensão de pico (σp) aumenta com a taxa de deformação imposta e diminui com a temperatura de deformação. A equação do trabalho a quente generalizado, proposta por Sellars e Tegart [78,79], representa bem a relação entre as 62 condições de deformação e a tensão necessária para deformar o material, ou seja: [ Z = ε& exp (Q def RT ) = A senh (ασ )] n p (4.1) onde ε& é a taxa de deformação, σp é a tensão de pico (MPa), Qdef é a energia de ativação aparente para a deformação a quente (kJ/mol), R é a constante universal dos gases (8,31 J/mol.K), T a temperatura absoluta (K) e Z o parâmetro de Zener-Hollomon. A, α e n são constantes do material. Utilizou-se um método computacional derivado da metodologia proposta por Uvira e Jonas [80] para calcular o valor da energia de ativação aparente para a deformação a quente do aço em estudo. Com este método determina-se um valor para α que melhor se ajusta a Equação 4.1. Após substituir os valores de σp e ε& para todas as condições de taxa de deformação e temperatura na Equação 4.1, utilizam-se regressões lineares para determinar o valor de n para uma extensa variação de valores de α (0,002< α <0,052). O valor de α a ser utilizado é o valor que gera o menor desvio padrão para os valores de n em todas as temperaturas ensaiadas. Para o aço 5832-9, o valor de α encontrado foi 0,011 MPa-1. O gráfico ln ( ε& ) vs. ln[senh(ασp)], Figura 4.7, mostra que a taxa de deformação tem o mesmo efeito sobre a tensão de pico em cada temperatura, uma vez que as linhas são praticamente paralelas, definindo o valor médio de n como sendo 4,51. O valor de n está associado ao mecanismo de deformação atuante, sendo que a literatura reporta que com a escalagem de discordâncias o n assume valores entre 3 < n < 6 [81,82]. De posse dos valores das constantes α e n do aço, pode-se determinar a energia de ativação aparente para a deformação a quente (Qdef) construindo o gráfico ln[senh(ασp)] vs. 1/T, como mostrado na Figura 4.8. Para o aço em estudo foi encontrado como sendo 587 kJ/mol. Através do gráfico de log Z vs. log[senh(ασp)], Figura 4.9, tomando senh(ασp) = 1 e fazendo a análise de regressão linear múltiplas, foi encontrado o valor A igual a 1,492x1019 s-1. Assim, a equação constitutiva do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 tem a forma: 63 ε& = 1,492 x1019 [senh (0,011σ p )]4 ,51 exp( −587000 / RT ) (4.2) Figura 4.7 Procedimento utilizado para determinar o valor de n da Eq. 4.1. Figura 4.8 Diagrama indicando a dependência da tensão de pico (σp) com a temperatura utilizada para determinar a energia de ativação aparente (Qdef). 64 Na Figura 4.9 pode-se ver que os dados experimentais se ajustam bem à equação do trabalho a quente generalizado. A partir da Equação 4.1, pode-se explicitar a relação entre a tensão de pico e as condições de deformação, como indicado na equação: σ p = 90 , 91 senh −1 (6 , 702 x10 − 20 Z ) 0 , 22 (4.3) Figura 4.9 Correlação entre a tensão de pico (σp) e o parâmetro de ZenerHollomon (Z) indicando a adequação da Eq. 4.1 ao comportamento a quente do material. A energia de ativação dá uma indicação sobre quão rapidamente a tensão de escoamento plástico aumenta ou diminui ao longo da janela de trabalho a quente. O valor de energia de ativação aparente para a deformação a quente calculado é relativamente alto quando comparado com um aço inoxidável austenítico com quantidade similar de elementos de liga em solução sólida (~38%), cujo valor é 500 kJ/mol [82]. A Tabela 4.1 mostra valores da energia de ativação para algumas ligas. A alta resistência imposta e o alto valor de energia calculada para o aço ISO 5832-9 podem ser atribuídos a algum mecanismo que eleva o nível de tensão de escoamento plástico, possivelmente associado ao elevado teor de N e da presença da fase Z. 65 Note nas Figuras 4.7 a 4.9 que os pontos correspondentes à condição de 900 oC não se ajustam bem ao modelo aplicado, provavelmente esta condição corresponde a uma mudança de mecanismo de deformação. Recalculando a energia de ativação com a exclusão dos valores das tensões de pico correspondente a 900 oC obtém-se o valor de 561kJ/mol. Tabela 4.1 Alguns valores de energia de ativação aparente apresentados na literatura para ligas metálicas [82]. Tipo de aços α (MPa-1) A (s-1) n Aço C-Mn 0,014 13,5x1012 4,6 Qdef (kJ/mol) 303 Aço Nb 0,012 3,71x1011 4,5 325 AISI 316 0,012 1,24x1017 4,5 398 AISI 301 0,012 6,31x1014 4,4 399 AISI 304 0,012 3,98x1014 4,4 402 Liga 10Cr-10Ni-5Mo 0,010 2,87x1021 5,5 432 AISI 316L 0,012 2,51x1016 4,3 460 ASTM F-138 0,011 2,17x1016 5,0 475 AISI 317 0,012 7,94x1017 4,7 502 Liga 20Cr-18Ni-6Mo 0,011 - - 586 Inóx. Aust. alto N 0,013 1,12x1023 5,1 685 4.5 Mapas de processamento As curvas de escoamento plástico mostradas na Figura 4.6 foram reagrupadas e estão sendo representadas na Figura 4.10. As curvas estão agrupadas em gráficos que representam cada uma das temperaturas ensaiadas. Também, estão indicados (linhas tracejadas), em cada um dos gráficos, os valores das deformações utilizadas nos cálculos de m, Equação 66 2.7. A Tabela 4.2 indica os valores da tensão obtidos em cada condição de deformação nas deformações que foram utilizadas para a construção dos mapas de processamento. Figura 4.10 Curvas de escoamento plástico mostradas na Figura 4.6 e reagrupadas em função das temperaturas de ensaios. 67 Tabela 4.2 Valores da tensão de escoamento plástico (em MPa) do aço ISO 5832-9 para diferentes taxa de deformação e temperaturas. Deformação (ε) 0,30 0,50 0,75 1,3 2,0 Taxa de deformação ( ε& , s-1) 0,01 900 1000 1050 1100 1150 1200 284,4 159,3 121,1 90,8 68,4 53,9 0,5 288,6 231,4 189,3 147,1 122,9 100,4 1,0 327,6 246,3 207,1 159,0 140,9 115,3 10,0 353,3 296,1 249,5 216,3 181,7 153,1 0,01 280,0 153,6 121,7 91,9 68,6 54,7 0,5 296,7 226,9 187,8 142,1 117,6 98,6 1,0 341,7 247,8 207,9 159,1 144,7 115,8 10,0 368,5 299,6 257,4 219,9 188,3 152,1 0,01 267,0 147,7 118,0 91,1 66,4 50,7 0,5 290,6 226,6 187,3 136,0 108,6 92,6 1,0 338,7 241,8 198,9 151,6 143,2 111,3 10,0 366,9 292,0 256,0 216,9 186,8 149,1 0,01 237,3 134,7 102,7 83,3 59,8 48,1 0,5 287,6 219,4 179,8 134,5 104,1 85,1 1,0 318,4 225,2 182,4 141,0 132,7 102,2 10,0 323,3 258,9 236,4 201,8 177,7 140,1 0,01 - 122,4 94,0 74,4 50,6 41,5 0,5 - 199,8 169,3 127,0 96,5 77,6 1,0 265,7 202,6 168,8 133,5 126,6 96,2 10,0 - 182,1 213,9 188,3 164,2 131,1 Temperatura de deformação (oC) De posse dos valores da tensão de escoamento descritos na Tabela 4.2, foram construídos gráficos da evolução da tensão para uma mesma deformação em função da taxa de deformação imposta. A Figura 4.11 apresenta esses gráficos para o material em estudo. A Figura 4.11 mostra a 68 variação da tensão de escoamento plástico (σ) vs. taxa de deformação ( ε& ) em escala logarítmica sob diferentes condições de temperatura e deformação e indica os valores do parâmetro de sensibilidade à taxa de deformação (m). Vêse que o valor de m aumenta com o aumento da temperatura. O parâmetro m apresentou variação entre 0,05 - 0,19. Valores esses próximos aos encontrados na literatura para aços inoxidáveis em geral, 0,05 - 0,23 [83], onde os valores maiores correspondem às condições de alta temperatura. Note que o valor de m quanto à deformação numa dada temperatura varia pouco. A Tabela 4.3 mostra os valores calculados nos experimentos realizados. A Figura 4.12 mostra os mapas de processamento construídos com os valores de m calculados utilizando as Equações 2.7 e 2.9. 69 Figura 4.11 Evolução da tensão de escoamento plástico em função da taxa de deformação para as deformações: (a) ε = 0,30, (b) ε = 0,50, (c) ε = 0,75, (d) ε = 1,3 (e) ε = 2,0. Tabela 4.3 Evolução do parâmetro m com a temperatura e deformação. Deformação 0,30 0,50 0,75 1,3 2,0 900 0,04 0,05 0,05 0,05 - Temperatura de deformação (oC) 1000 1050 1100 1150 0,09 0,10 0,12 0,14 0,09 0,11 0,12 0,14 0,10 0,11 0,12 0,15 0,10 0,12 0,12 0,16 0,06 0,12 0,13 0,19 (a) 1200 0,15 0,15 0,16 0,15 0,17 70 (b) (c) 71 (d) (e) Figura 4.12 Mapas de processamento obtido para o aço ISO 5832-9 com deformação: a) ε = 0,30; b) ε = 0,50; c) ε = 0,75; d) ε = 1,3; e) ε = 2,0. A Figura 4.12 mostra os mapas de processamento desenvolvidos para o aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 em diferentes pontos da curva de escoamento plástico: (i) no regime de encruamento com deformação de 0,3 72 (Fig. 4.12a), (ii) em torno do pico de tensão com deformação de 0,5 (Fig. 4.12b), e (iii) no regime de amaciamento de tensão com deformação de 0,75, 1,3 e 2,0 (Figs. 4.12c a 4.12e). A variação na eficiência de dissipação de potência (η) com a temperatura e taxa de deformação é representada por mapas de contorno ou iso-eficiêcia no plano temperatura-taxa de deformação com as regiões sombreadas exibindo os domínios de instabilidade plástica. Nota-se que a dissipação de potência assume valores máximos em altas temperaturas para todas as taxas de deformação aplicadas. Esses valores de dissipação decrescem com a redução da temperatura. Todavia, vale notar que esse decréscimo tem dois comportamentos distintos. Em altas taxas de deformação o decréscimo é mais acentuado que em baixas taxas revelando a formação de três diferentes domínios: (i) No intervalo entre 1100 e 1200 o C e entre 0,01 e 10 s-1 com deformação de 2,0 os valores de eficiência são máximos. Nessa condição o valor de m é 0,19 e a eficiência de dissipação de potência (η) alcança o pico de 32% em 1150 oC e taxa de deformação de 0,01 s-1; (ii) No intervalo de 900 a 1000 oC com taxa de deformação variando entre 0,5 e 10 s-1 a taxa mínima de dissipação obtida foi de 5% correspondente a temperatura de 900 oC e 10 s-1. Vê-se nas curvas de escoamento plástico (Fig. 4.10) que essas regiões estão sob forte encruamento alcançando elevados níveis de tensão com a ruptura dos corpos de prova nos ensaios. Essa região de instabilidade aumenta com a evolução da deformação. Pode-se ver que a instabilidade expande até taxas de 0,1 s-1 em deformações maiores, como por exemplo, ε = 2,0; (iii) No intervalo entre 1000 e 1100 oC com baixa taxa de deformação há um domínio de transição que é sensível à evolução da deformação, com maior evidência na deformação de 0,5. Esta é uma condição propícia à formação de precipitados (fase Z) neste material. Note que esta região intermediária apresenta a maior variação na eficiência de dissipação de potência (η) com o acréscimo na deformação. 73 4.6 Pontos característicos das curvas de escoamento plástico 4.6.1 Início da recristalização dinâmica Os valores da deformação crítica (εc), início da recristalização dinâmica, foram calculados utilizando a metodologia descrita no item 3.3.1.1 e estão apresentados na Tabela 4.4. 4.6.2 Tensão de saturação Os valores de tensão de saturação (σsat), ou seja: a tensão de estado estacionário quando o amaciamento seria produzido exclusivamente pela recuperação dinâmica, foram calculados utilizando a metodologia descrita no item 3.3.1.2 e estão apresentados na Tabela 4.5. 4.6.3 Tensões e deformações inicial, de pico e de estado estacionário Os valores das tensões inicial (σo), de pico (σp) e de estado estacionário (σss) e das deformações de pico (εp) e de estado estacionário (εss) foram determinados diretamente das curvas de escoamento plástico apresentadas na Figura 4.6. Esses dados estão apresentados na Tabela 4.5 juntamente com os valores das tensões e deformações crítica e de saturação. 74 Tabela 4.4 Dependência da taxa de encruamento (θ) com a tensão aplicada (σ) (Eq. 3.3) e valores de σc e εc, para as condições experimentais. ε& -1 (s ) 0,01 0,5 1,0 10 T ( C) 900 θ = -0,004σ3+3,426σ2-904,73σ+79613 σc (MPa) 256,1 0,13 1000 θ = -0,123σ3-58,650σ2+7394σ-337008 158,0 0,05 1050 θ = -0,314σ3+108,4σ2-14824σ+620156 115,1 0,12 1100 θ = -0,156σ3+41,454σ2-3668σ+108311 86,3 0,14 1150 θ = -0,151σ3-29,066σ2+1849σ-39008 65,7 0,16 o Relação θ e σ 3 2 εc 1200 θ = -0,525σ +83,948σ -3891σ+64622 53,3 0,13 900 θ = -0,014σ3+11,646σ2-3678σ+362609 277,1 0,23 1000 θ = -0,0013σ3-0,686σ2+140σ-6339 211,3 0,11 1050 θ = -0,0457σ3+24,314σ2-4313σ+25543 176,1 0,11 1100 θ = -0,0286σ3+11,150σ2-1450σ+63401 136,3 0,10 3 2 1150 θ = -0,009σ +3,132σ -241σ-10627 116,0 0,12 1200 θ = -0,0662σ3+18,912σ2-1653σ+50743 95,2 0,10 900 θ = -0,0004σ3+0,375σ2-93,415σ-6874 305,9 0,20 1000 θ = -0,0026σ3+1,814σ2-417σ-33031 227,4 0,16 1050 θ = -0,0076σ3+4,385σ2-853σ+56034 192,6 0,15 3 2 1100 θ = -0,01585σ +6,703σ -1003σ+50534 145,9 0,14 1150 θ = -0,00586σ3+2,296σ2-305σ+1397 130,6 0,14 1200 θ = -0,05754σ3-18,470σ2+1841σ-62251 107,0 0,11 900 θ = -0,00183σ3-1,784σ2-622σ+71011 325,0 0,17 1000 θ = -0,00127σ3+1,080σ2-250σ+22829 283,7 0,18 1050 θ = -0,00317σ3+2,0508σ2-449σ+33588 238,6 0,21 1100 θ = -0,00374σ3+1,343σ2-480σ+34071 205,4 0,19 1150 θ = -0,00218σ3+1,141σ2-196σ+11961 174,5 0,21 1200 θ = -0,0101σ3-4,438σ2+493σ-18791 146,2 0,10 75 Tabela 4.5 Parâmetros das curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9. T ε& σo σc (oC) (s-1) (MPa) (MPa) 900 0,01 142,6 256,1 0,13 284,4 0,36 - - 289,5 900 0,5 175,6 277,1 0,23 297,7 0,57 - - 310,5 900 1,0 191,4 305,9 0,20 341,7 0,58 - - 346,1 900 10 210,5 325,0 0,17 369,0 0,57 - - 379,9 1000 0,01 120,5 158,0 0,05 161,6 0,12 - - 164,4 1000 0,5 140,6 211,3 0,11 231,3 0,28 172,6 3,7 238,1 1000 1,0 155,6 227,4 0,16 250,0 0,42 169,7 3,6 253,0 1000 10 175,9 283,7 0,18 299,7 0,43 - - 309,7 1050 0,01 98,4 115,1 0,12 121,4 0,50 90,5 3,8 130,6 1050 0,5 128,3 176,1 0,11 190,7 0,32 147,1 3,4 194,9 1050 1,0 144,1 192,6 0,15 207,6 0,41 151,0 3,2 210,9 1050 10 150,3 238,6 0,21 258,1 0,56 159,1 3,5 263,0 1100 0,01 79,6 86,3 0,14 91,3 0,59 50,2 3,6 92,1 1100 0,5 106,4 136,3 0,10 146,6 0,32 111,4 3,0 148,1 1100 1,0 116,5 145,9 0,14 159,2 0,43 125,3 3,0 161,2 1100 10 144,0 205,4 0,19 220,4 0,50 154,8 3,2 224,0 1150 0,01 59,8 65,7 0,16 68,4 0,47 50,9 3,2 69,3 1150 0,5 90,9 116,0 0,12 121,9 0,27 84,9 2,6 124,5 1150 1,0 100,5 130,6 0,14 144,4 0,53 104,4 3,0 146,1 1150 10 115,3 174,5 0,21 189,0 0,64 143,1 3,0 191,5 1200 0,01 49,2 53,3 0,13 54,2 0,31 38,9 2,7 58,5 1200 0,5 78,6 95,2 0,10 101,7 0,32 71,3 2,3 102,1 1200 1,0 85,6 107,0 0,11 115,3 0,46 89,4 2,8 117,5 1200 10 107,7 146,2 0,10 152,6 0,44 121,8 2,8 153,5 εc σp (MPa) εp σss (MPa) εss σsat (MPa) 76 4.6.4 Relações entre tensões e deformações inicial, crítica, de pico e de estado estacionário De posse dos dados apresentados na Tabela 4.5, podem-se estabelecer relações entre os parâmetros das curvas de escoamento plástico experimentais. A Figura 4.13 mostra as razões entre os valores das tensões inicial, crítica, de saturação, e de estado estacionário com a tensão de pico. (a) (b) Figura 4.13 Razões entre: (a) σss, σo e σp e (b) σsat, σc e σp. 77 Vê-se na Figura 4.13 que algumas relações têm um comportamento linear bem definido enquanto outras, especialmente a relação entre a tensão inicial e a de pico, o espalhamento é significativo. Os valores das razões obtidas foram: σo/σp = 0,69, σc/σp = 0,94, σss/σp = 0,68, σsat/σp = 1,01. A literatura tem reportado razões no intervalo de 0,64 < σc/σp < 0,96, tais como: σc/σp = 0,78 para aço C-Mn e σc/σp = 0,85 para aços inoxidáveis [84,85]. O valor relativamente alto da razão entre a tensão crítica e a tensão de pico é um indicativo que o amaciamento promovido pela recuperação dinâmica é intenso. Outra observação pertinente é a relação entre a tensão de início de escoamento plástico (σo) e a tensão de estado estacionário (σss), onde algumas situações mostram comportamento atípico com σo > σss, provocando o cruzamento observado na Figura 4.13a. A Figura 4.14 apresenta as relações entre as deformações crítica (εc) e de estado estacionário (εss) com a deformação de pico (εp). As relações obtidas foram εc/εp = 0,32 e εss/εp = 7,16. A razão entre a deformação crítica e de pico é relativamente baixa quando comparada com outros aços encontrado na literatura, 0,16 < εc/εp < 0,70 [86], tais como aço carbono (εc/εp = 0,50) e aço microligado ao Nb (εc/εp = 0,55) [87]. Essa baixa relação entre as deformações de início da recristalização dinâmica e de pico indicam que uma quantidade relativamente grande de deformação é aplicada após o início da nucleação antes que o amaciamento promovido pela recristalização dinâmica contrabalanceie o endurecimento promovido pela deformação. A relação εss/εp = 7,16 também é um indicativo que o material deve ser submetido a deformações relativamente grandes antes que se alcance o estado estacionário, que indica o final da recristalização dinâmica. 78 Figura 4.14 Razões entre as deformações crítica (εc), de estado estacionário (εss) e a deformação de pico (εp). 4.7 Dependência dos parâmetros das curvas de escoamento plástico com as condições de deformação 4.7.1 Tensões A Figura 4.15 apresenta a dependência da tensão inicial (σo), crítica (σc), de pico (σp), de estado estacionário (σss) e de saturação (σsat) com a temperatura de ensaio e a taxa de deformação imposta. (a) 79 (b) (c) (d) 80 (e) Figura 4.15 Dependência das tensões inicial (σo), crítica (σc), pico, (σp), estado estacionário (σss) e de saturação (σsat) com a temperatura de ensaio imposta. Observa-se na Figura 4.15 que, de uma forma geral, o nível das tensões diminuem com o aumento da temperatura em qualquer condição de taxa de deformação, ou seja, a tensão diminui com o aumento da temperatura e com a diminuição da taxa de deformação, como é esperado. Nota-se que a variação de tensão quanto à temperatura é mais marcante que o efeito da taxa de deformação. Todavia, há alguns desvios neste comportamento. A tensão de estado estacionário tende a convergir para um menor valor quando o material é deformado em baixas temperaturas. 4.7.2 Deformações A Figura 4.16 apresenta a dependência da deformação crítica (εc), de pico (εp) e de estado estacionário (εss) com a temperatura de ensaio e a taxa de deformação imposta. 81 (a) (b) 82 (c) Figura 4.16 Dependência da deformação crítica (εc), pico (εp) e de estado estacionário (εss) com a temperatura e a taxa de deformação imposta. De forma geral, os valores das deformações apresentam uma diminuição com o aumento da temperatura e diminuição da taxa de deformação. Todavia, há algumas variações neste comportamento. Tanto a quantidade de deformação necessária para alcançar o pico quanto a crítica tem um aumento em temperaturas intermediárias. Indicando que é necessário impor quantidade de deformação maior para iniciar o processo de nucleação e que a recristalização dinâmica ocorre mais lentamente ou a recuperação dinâmica é mais intensa em temperaturas intermediárias. Vale notar que com a taxa de deformação de 0,5 s-1 a região intermediária é mais marcante e não apresenta a queda observada nas outras taxas em altas temperaturas. Embora a quantidade de deformação necessária para completar o amaciamento dinâmico sempre decresce com o aumento da temperatura, a sua dependência com a taxa de deformação tem um comportamento não usual, Figura 4.16c. Vê-se que com taxas de deformação de 0,5 e 1,0 s-1 há uma inversão nos níveis de deformação de estado estacionário. Também, pode-se ver que em temperaturas maiores há mudança na tendência das curvas. 83 4.8 Parametrização da curva de escoamento plástico 4.8.1 Equações empíricas O parâmetro de Zener-Hollomon (Z), Equação 4.1, é utilizado normalmente para descrever os efeitos da temperatura e da taxa de deformação em equações empíricas. Como exemplo podem-se citar as equações que descrevem o comportamento das tensões inicial, crítica, de pico, de saturação, de estado estacionário e das deformações correspondentes. 4.8.2 Tensões As curvas da Figura 4.17 representam as dependências das tensões inicial (σo), crítica (σc), pico (σp), de estado estacionário (σss) e da tensão de saturação (σsat) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). As relações que melhor se ajustam aos dados experimentais são: σ o = 2,434 .Z 0 , 078 (4.4) σ c = 0,829.Z 0,106 (4.5) σ p = 0,833 .Z 0 ,107 (4.6) σ ss = 0,653.Z 0,105 (4.7) σ sat = 0,839 .Z 0 ,107 (4.8) 84 (a) (b) (c) 85 (d) (e) Figura 4.17 Dependência da: (a) tensão inicial (σo); (b) tensão crítica (σc); (c) tensão de pico (σp); (d) tensão de estado estacionário (σss) e da (e) tensão de saturação (σsat) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). As Equações 4.4 a 4.8 indicam que as dependências das tensões com as condições de deformação são descritas por relações potenciais, e que os expoentes são muito próximos, com exceção da dependência da tensão inicial que é algo menor. Todavia, todos os valores estão dentro do intervalo de 0,07 – 0,18 reportado na literatura [88,89]. Vê-se que todas as curvas mostradas na Figura 4.17 que para os menores valores do parâmetro Z há desvios no ajuste dos pontos 86 experimentais em relação às curvas representadas pelas Equações 4.4 a 4.8. Esses pontos correspondem aos ensaios realizados com taxa de deformação de 0,01 s-1 em 1200, 1150 e 1100 oC e na taxa de deformação de 0,5 s-1 em 1200 oC. Também, vale observar que esses dados experimentais são sempre menores que os estimados pelas Equações 4.4 a 4.8. 4.8.3 Deformações As curvas da Figura 4.18 representam as dependências das deformações crítica (εc), pico (εp) e estado estacionário (εss) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). As relações que melhor se ajustam aos dados experimentais são: ε c = 0,029.Z 0,030 (4.9) ε p = 0,185.Z 0 , 017 (4.10) ε ss = 1,395.Z 0,017 (4.11) (a) 87 (b) (c) Figura 4.18 Dependência das deformações crítica (εc), pico (εp) e estado estacionário (εss) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). As relações entre as deformações crítica (εc), de pico (εp) e de estado estacionário (εss) com o parâmetro Z, Figura 4.18, mostram que há um aumento na deformação com baixo expoente (ni~0,017). McQUEEN (2002) [82,90] estudando os aços AISI 304 e 316 encontrou 0,125 e 0,053, respectivamente, que é reflexo da diferença na energia de ativação e das condições de deformação. Nota-se que quanto maior Z maiores são os níveis de deformações necessárias para iniciar e completar o processo de recristalização dinâmica. 88 4.9 Modelagem das curvas de escoamento plástico Como foi indicado no item 4.4, determinação da equação constitutiva, os dados referente à temperatura de 900 oC apresentam um desvio em relação ao demais. Assim, a modelagem das curvas de escoamento plástico será conduzida excluindo os experimentos realizados a 900 oC. 4.9.1 Reconstruindo a curva de escoamento plástico considerando que o material só amacia por recuperação dinâmica A Equação 2.32 indica que o parâmetro r pode ser determinado a partir da curva do produto da taxa de encruamento pela tensão (θ.σ) vs. o quadrado da tensão (σ2), sendo a inclinação da curva (m´) igual a -0,5r, como indicado na Figura 4.19 e expresso na Tabela 4.6. Mais uma vez, a inclinação foi determinada com os dados experimentais obtidos antes do início da recristalização dinâmica. Figura 4.19 Determinação do parâmetro de recuperação dinâmica (r) para a temperatura de 1000 oC e taxa de deformação de 1,0 s-1. 89 Tabela 4.6 Parâmetros de recuperação dinâmica (r) obtidos analiticamente das curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9. T (oC) 1000 ε& (s-1) 0,01 Z (s-1) 1,09E21 σp (MPa) 161,5 1000 0,5 5,47E22 231,3 10,8 1000 1,0 1,09E23 250,0 9,3 1000 10 1,09E24 299,7 9,0 1050 0,01 1,47E20 121,4 10,9 1050 0,5 7,37E21 190,7 9,0 1050 1,0 1,47E22 207,6 9,7 1050 10 1,47E23 258,1 6,8 1100 0,01 2,29E19 91,3 14,5 1100 0,5 1,14E21 146,6 14,0 1100 1,0 2,29E21 159,2 9,4 1100 10 2,29E22 220,4 7,5 1150 0,01 4,08E18 68,4 14,9 1150 0,5 2,04E20 121,9 9,5 1150 1,0 4,08E20 144,4 8,1 1150 10 4,08E21 189,0 7,7 1200 0,01 8,15E17 54,2 11,4 1200 0,5 4,07E19 101,7 13,1 1200 1,0 8,15E19 115,3 9,5 1200 10 8,15E20 152,6 13,6 r (DRV) 26,8 O valor do parâmetro de recuperação dinâmica (r) que especifica a inflexão da curva de escoamento plástico na primeira parte apresenta uma variação significativa segundo as condições de deformação. Wahabi e Moreira [90,91] estudando o aço AISI 304 encontraram variações para r entre 2 e 10. Os valores de r determinados para o aço ISO 5832-9 são maiores variando entre 6 e 15, com exceção da condição de 1000 oC com taxa de deformação de 90 0,01s-1 que apresentou r igual a 26,8. Isto pode ser um indicativo que algum fenômeno atua simultaneamente ao processo de recuperação dinâmica. As Figuras 4.20 e 4.21 apresentam os resultados calculados para r em função da tensão de pico (σp) e do parâmetro Z expresso por relação de lei de potência, Equações 4.12 e 4.13. Nota-se que r diminui com o aumento da tensão de pico (σp) e do parâmetro de Z. O parâmetro r apresenta valores maiores nos ensaios realizados com baixas taxas de deformação e altas temperaturas. Também, maiores valores de r levam o material a atingir a tensão de saturação (σsat) mais rapidamente. Figura 4.20 Dependência do parâmetro de DRV (r) com a tensão de pico (σp). r = 111,558.σ p−0, 464 (4.12) No que diz respeito ao parâmetro de amaciamento (r), parece plausível considerá-lo como dependente da taxa de recuperação dinâmica (DRV). Laasraoui, Jonas e Cabrera [92,93] propuseram a relação de potência para caracterizar o comportamento de r quanto às condições de deformação expressa através do parâmetro de Zener-Hollomon (Z). Nota-se na Figura 4.21 que o parâmetro r diminui com o acréscimo de Z com expoente de -0,059 em lei de potência. Um valor próximo ao encontrado por Wahabi [90] para os aços AISI 304L e 304H de -0,066 e -0,073, respectivamente. De tal forma que a 91 maior velocidade do processo de recuperação dinâmica dá-se para baixos valores de Z. Por outro lado, para altos valores de Z, onde os mecanismos de difusão são menos influentes, a velocidade de amaciamento tende a ser constante. Figura 4.21 Dependência do parâmetro de recuperação dinâmica (r) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). r = 194 , 787 .Z Como descrito − 0 , 059 anteriormente, (4.13) a Equação 2.28 descreve o comportamento de um material que é submetido a um esforço mecânico, encruando e recuperando dinamicamente até um estado supersaturado de discordâncias. Nesta modelagem é suposto que a energia armazenada durante a deformação não é suficiente para iniciar a recristalização. Esta equação descreve a evolução da tensão com a deformação e tem como parâmetros do material as tensões inicial, de saturação e o parâmetro r dado em função das condições de deformação através de relações empíricas. Para o aço ISO 58329 são dadas pelas Equações 4.4, 4.8 e 4.13. A Figura 4.22 mostra curvas de escoamento plástico modeladas. 92 (a) (b) 93 (c) (d) Figura 4.22 Curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9 modeladas nas condições: (a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1. 94 A Figura 4.23 mostra as curvas de escoamento plástico experimental e modeladas na parte inicial, onde o fenômeno de encruamento e recuperação dinâmica são predominantes. Deve-se salientar que as tensões e deformações de início de escoamento plástico e de saturação expressa através de relações empíricas em função do parâmetro de Zener-Hollomon (Z) afiguram-se como condição de contorno para a modelagem das curvas. Vê-se na Figura 4.28 que há diferenças entre as curvas experimentais e as modeladas. Entre essas diferenças pode-se destacar: (i) Em baixa temperatura (1000 e 1050 oC) com taxas de 0,01 e 0,5 s-1 pode-se observar que os níveis das tensões simuladas e a curvatura calculada são subestimadas quando comparadas com as curvas experimentais; (ii) Os níveis das tensões medidas experimentalmente nas condições de baixa taxa de deformação (0,01 s-1) em 1100, 1150 e 1200 o C são significativamente maiores, que os calculados nas curvas simuladas. Todavia, há também ajustes entre as curvas que chamam atenção. Por exemplo; a 1000 oC e 1050 oC com taxa de deformação de 0,5 s-1 as curvas se sobrepõem após o pico de tensões. (a) 95 (b) (c) 96 (d) Figura 4.23 Curvas de escoamento plástico experimental e modeladas nas condições: (a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1. No que se refere à aplicação das relações empíricas em potência expressa por Z, um aspecto importante é que a diferença entre os valores reais e modeladas da tensão é de no máximo 15 MPa. Estes pontos que desviam da média estão associados ao deslocamento horizontal das curvas reais com relação ao valor da deformação, assim a magnitude da diferença dos valores reais e modelados de tensão de pico é da ordem de 10%. 97 4.9.2 Reconstruindo a curva de escoamento plástico na região de amaciamento promovido por recristalização dinâmica 4.9.2.1 Cálculo da fração amaciada A fração amaciada em um instante qualquer do processo de recristalização dinâmica (Xs) é descrito pela razão entre as diferenças das tensões de recuperação e recristalização dinâmica naquele instante e no estado estacionário, como indicado pela Equação 2.36. Existem alguns procedimentos alternativos que simplificam esses cálculos. Em vez de calcular as diferenças entre as duas curvas, simplesmente toma-se a tensão de saturação (σsat) ou a tensão de pico (σp) como o valor da tensão de recuperação dinâmica em todo o estágio de recristalização. Assim, identificando a diferença entre as tensões como Δσi, pode-se reescrever a fração amaciada como: Xs = Δσ i Δσ ss (4.14) Onde Δσi, representa (σsat – σi) ou (σp – σi) e Δσss representa (σsat – σss) ou (σp – σss) e σi é uma tensão arbitrária. Na Figura 4.24 estão indicados as curvas e os pontos correspondentes. Utilizando o procedimento simplificado e tendo em mente que os valores de σp, σsat e σss dependem das condições de deformação, para o aço ISO 5832-9 esses parâmetros são descritos pelas Equações 4.6, 4.7 e 4.8. 98 Figura 4.24 Curvas de escoamento plástico experimental e a determinada pela recuperação dinâmica a 1050 oC com taxa de deformação de 1,0s-1. Utilizando os procedimentos descritos acima, foi calculada a evolução da fração amaciada (Xs) em função do tempo de deformação para os experimentos descritos na Figura 4.6 que não sofreram ruptura e alcançaram a condição de estado estacionário. Esses resultados estão apresentados na Figura 4.25. Vê-se nesta figura que a fração amaciada depende da temperatura, porém é marcante a dependência da taxa de deformação. (a) 99 (b) (c) 100 (d) Figura 4.25 Evolução da fração amaciada (Xs) em função do tempo para o aço ISO 5832-9 em diferentes condições de deformação: (a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1. 4.9.2.2 Predição do tempo para 50% (t0,5) de amaciamento O tempo para 50% de amaciamento (t0,5) durante o estágio de recristalização dinâmica depende das condições de deformação e do material. Os valores de t0,5 foram determinados diretamente das curvas da fração amaciada em função do tempo, Figura 4.25. A Figura 4.26 mostra a evolução do t0,5 em função das condições de deformação para cada uma das temperaturas de deformação utilizadas neste trabalho. Os dados apresentados se ajustam à equação: t0,5 ∝ Z −0,99 (4.15) 101 Figura 4.26 Tempo para 50% de amaciamento (t0,5) em função do parâmetro de Zener-Hollomon (Z) para o aço ISO 5832-9 em diferentes temperaturas. A energia de ativação para a recristalização dinâmica (QDRX) foi determinada rearranjando a Equação 2.38 que toma a forma: ln t 0 , 5 = ln A − q ln Z + Q DRX RT ⎛Q ⎞⎛ 1 ⎞ ln t0 ,5 ∝ ' ⎜ DRX ⎟⎜ ⎟ ⎝ R ⎠⎝ T ⎠ (4.16) (4.17) Construindo o gráfico ln t0,5 vs. 1/T determina-se a energia de ativação para a recristalização dinâmica. A Figura 4.27 indica que o valor médio encontrado para QDRX foi de 450 kJ/mol. Um valor maior que o determinado para o aço C-Mn de 230 kJ/mol [94] e o aço AISI 304 com 291 kJ/mol [82] reflexo da maior resistência do material. 102 Figura 4.27 Tempo para 50% de amaciamento (t0,5) vs. inverso da temperatura para o aço ISO 5832-9 em diferentes taxas de deformação. Neste conjunto de ensaios de torção a quente isotérmico contínuo a relação que melhor representa a dependência do tempo de 50% de amaciamento com as condições de deformação foi: ⎛ 450000 ⎞ t 0,5 = 3,78d o Z −0,99 exp⎜ ⎟ ⎝ RT ⎠ (4.18) A facilidade deste método deve-se a pequena quantidade de experimentos necessários, mesmo com grande número de parâmetros. Vale observar que a cinética de amaciamento dinâmico determinada com essa metodologia engloba todos os mecanismos de amaciamento que atuam; tanto os efeitos da recuperação dinâmica quanto aos da recristalização dinâmica estão computados nos valores de t0,5 calculados. 103 4.9.2.3 Cálculo do expoente (n) de Avrami Rearranjando a Equação 2.36 vê-se que log [ln(1/(1-Xs))] é proporcional a log t. O valor do expoente de Avrami (n) é a inclinação dessas curvas, como mostra a Figura 4.28. Os valores de n calculados estão descritos na Tabela 4.7. (a) (b) 104 (c) (d) Figura 4.28 Curvas log [ln(1/(1-Xs))] vs. log t utilizadas para determinar o expoente (n) de Avrami: (a) 10,0 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1. 105 Tabela 4.7 Valores do expoente de Avrami (n) para as diversas condições de deformação. T (oC) ε& (s-1) 1000 0,01 1000 Z (s-1) t0,5 (s) n 1,09E21 177 1,3 0,5 5,47E22 3,2 1,4 1000 1 1,09E23 1,9 1,5 1000 10 1,09E24 - - 1050 0,01 1,47E20 164 1,5 1050 0,5 7,37E21 3,5 1,5 1050 1 1,47E22 1,2 1,5 1050 10 1,47E23 0,18 1,6 1100 0,01 2,29E19 199 1,4 1100 0,5 1,14E21 2,6 1,6 1100 1 2,29E21 1,0 1,6 1100 10 2,29E22 0,16 1,5 1150 0,01 4,08E18 110 1,6 1150 0,5 2,04E20 2,3 1,6 1150 1 4,08E20 2,0 1,8 1150 10 4,08E21 0,15 1,9 1200 0,01 8,15E17 78 1,6 1200 0,5 4,07E19 2,1 1,7 1200 1 8,15E19 1,0 1,8 1200 10 8,15E20 0,11 2,1 A Figura 4.29 mostra como se comporta o expoente de Avrami (n) em função do inverso da temperatura absoluta para cada taxa de deformação aplicada. Observa-se uma redução de n com o decréscimo na temperatura de deformação, sendo esta queda mais marcante para maiores velocidades de deformação. Então nota-se que o amaciamento do aço ISO 5832-9 é mais rápido para maiores temperaturas e taxa de deformação, Figuras 4.29 e 4.30. 106 Figura 4.29 Dependência do expoente de Avrami (n) com o inverso da temperatura de deformação (1/T). Figura 4.30 Dependência do expoente de Avrami (n) com a taxa de deformação. As Figuras 4.31 - 33 mostram a dependência do expoente de Avrami (n) com o parâmetro Z, onde há uma diminuição de n com acréscimo de Z em lei de potência, Eq.4.19, ou seja, a cinética de recristalização é acelerada para maiores temperaturas numa mesma taxa de deformação. 107 Figura 4.31 Dependência do expoente de Avrami (n) com as condições de deformação, mantendo a taxa de deformação constante. Figura 4.32 Dependência do expoente de Avrami (n) com as condições de deformação, mantendo a temperatura constante. 108 Figura 4.33 Dependência do expoente de Avrami (n) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). n = 2 , 07 .Z − 0 , 0053 (4.19) Os resultados experimentais mostram que o expoente de Avrami (n) apresenta valores entre 1,3 - 2,1 sob todas as condições experimentais aplicadas. Estes valores então dentro do intervalo relatado na literatura para aços inoxidáveis, 1 < n < 3 [95,96]. O surgimento dos diferentes valores para o expoente de Avrami (n) deve à sua dependência com as condições de deformação (temperatura, deformação e taxa de deformação) e respostas microestruturais do material com alta taxa de recuperação dinâmica atrasando a nucleação e crescimento dos grãos recristalizados dinamicamente. Como descrito anteriormente, a Eq. 2.37 descreve o comportamento mecânico de um material durante o estágio de recristalização dinâmica. Esta equação descreve a evolução da tensão com a deformação e tem como condição de contorno os valores das tensões de saturação e de estado estacionário. Esses valores são determinados pelas condições de deformação e são característicos de cada material; para o aço ISO 5832-9 são dadas pelas Eqs. 4.7, 4.8, 4.18 e 4.19. A Figura 4.34 mostra as regiões de amaciamento por recristalização dinâmica das curvas de escoamento plástico modeladas. 109 Figura 4.34 Curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9 modeladas. 4.10 Comparação das curvas modeladas com as curvas experimentais Na Figura 4.35 comparam-se as curvas de escoamento plástico experimentais com as modeladas neste trabalho. Nota-se que em geral não existe uma boa concordância, principalmente na condição de 0,01 s-1. Observam-se também algumas incompatibilidades, especialmente na primeira parte das curvas, onde nas condições de 1000 e 1050 oC com taxa de 0,01, 0,5 s-1 as curvas apresentam uma maior parcela na taxa de recuperação dinâmica (alto r). O deslocamento relativo das curvas para a esquerda com relação à deformação de pico tende a gerar diferenças significativas entre os valores da tensão de escoamento plástico entre as curvas reais e modeladas, como visto nas curvas a 1000 e 1050 oC com taxas de deformação de 0,01, 0,5 e 1,0 s-1 110 Quanto à cinética de recristalização dinâmica na segunda parte das curvas, nota-se que o retardo no processo conduz a valores mais baixos para o expoente de Avrami (n) e o tempo de 50% de amaciamento dinâmico (t0,5). Vêse que as condições de 1000, 1050 e 1100 oC com taxa de deformação de 0,01 e 0,5 s-1 apresentam diferenças marcantes na forma das curvas comparada com as curvas modeladas. (a) (b) 111 (c) (d) Figura 4.35 Comparação entre as curvas de escoamento plásticas experimentais e modeladas: (a) 10 s-1; (b) 1,0 s-1; (c) 0,5 s-1; (d) 0,01 s-1. 112 4.11 Observações microestruturais Neste trabalho foram realizadas observações microestruturais em diferentes etapas e com diferentes condições de deformação. Serão apresentados a seguir os resultados dessas observações ordenando os resultados na seguinte forma: (i) evolução microestrutural durante a deformação e (ii) microestruturas observadas após o término da deformação. Vale lembrar que a microestrutura de partida foi apresentada no item 4.1. 4.11.1 Evolução microestrutural durante a deformação Para investigar a evolução microestrutural durante a deformação a quente, foram realizados ensaios isotérmicos e interrompidos em diferentes níveis de deformação. Sempre, imediatamente após a interrupção da deformação as amostras eram resfriadas bruscamente em água. Foram escolhidas seis diferentes condições de deformação (Tdef = 1000 oC com taxa de deformação de 0,01 e 1,0 s-1; Tdef = 1100 oC com taxa de deformação de 0,01, 0,5 e 1,0 s-1; Tdef = 1200 oC com taxa de deformação de 0,5 s-1). A ocorrência ou não da recristalização dinâmica foi investigada utilizando as sequências de micrografias mostradas nas Figuras 4.36 a 4.41. A Figura 4.36 ilustra a evolução da microestrutura na amostra ensaiada a 1000 oC com taxa de 0,01 s-1. Nessa sequência de micrografias, vêse que na deformação de pico (εp = 0,12), Figura 4.36a, a microestrutura encontra-se levemente deformada. Na deformação de 1,1, Figura 4.36b é possível observar a presença de novos pequenos grãos DRX gerados ao longo dos contornos de grãos pré-existentes. Em deformações maiores, mais novos grãos formaram-se dinamicamente, Figura 4.36c, sem qualquer mudança maior no seu tamanho médio. Esta sequência microestrutural sugere que a recristalização se inicia pelo processo de nucleação por colar. Embora os novos grãos se formem em tornos dos contornos de grãos antigos, a distribuição dos novos grãos com a evolução da deformação 113 não mantém exatamente a forma típica do processo de nucleação por colar. Na Figura 4.36b observa-se uma grande concentração de novos grãos em torno de alguns contornos de grãos antigos. Na Figura 4.36c pode-se observar que a distribuição de novos grãos recristalizados concentrou-se em algumas regiões. Esta concentração de novos grãos indica que a deformação está ocorrendo preferencialmente nestas regiões, caracterizando-se um processo de fluxo localizado que gera instabilidade plástica no material. Também, vale notar, Figura 4.36d, que a microestrutura após grande deformação possui ainda muitos grãos antigos deformados, mostrando que mesmo em grandes deformações a recristalização dinâmica ainda não se completou. (a) (b) 75µm (c) (c) (d) Figura 4.36 Evolução microestrutural ao longo da curva tensão vs. deformação durante a deformação a quente a 1000 ºC com taxa de deformação de 0,01 s-1. 114 A Figura 4.37 ilustra o desenvolvimento da recristalização dinâmica pela formação de colares para Tdef = 1000 oC com taxa de 1,0 s-1. A micrografia para a deformação de 0,22 (εc = 0,16), Figura 4.37a, mostra que a microestrutura encontra-se levemente deformada, com a presença de contornos serrilhados. Para maiores deformações há elongação dos antigos grãos na direção de deformação, assim como o serrilhamento de seus contornos aumenta gradualmente. Na deformação de pico (εp = 0,42) Figura 3.37b, não se observa a presença de grãos DRX e com o aumento da deformação é possível observar a presença de novos pequenos grãos, sem que ocorra mudança aparente em seu tamanho. (a) (a) (b) (b) 75µm (c) (c) (d) (d) Figura 4.37 Evolução microestrutural ao longo da curva tensão vs. deformação durante a deformação a quente a 1000 ºC com taxa de deformação de 1,0 s-1. 115 Para a deformação de 4,0, Figura 4.37d, a microestrutura contém ainda muitos grãos pré-existentes deformados, indicando que a recristalização dinâmica ocorreu apenas, parcialmente. Também, pode-se observar com clareza a concentração de novos grãos em algumas regiões, indicando um processo de fluxo localizado. Micrografias obtidas para temperatura de deformação de 1100 oC e taxa de deformação de 0,01 s-1 são apresentadas na Figura 4.38, onde pode ser visto o desenvolvimento da recristalização dinâmica pela formação de colar. Verifica-se para a deformação crítica (εc = 0,14), Figura 4.38a que a microestrutura encontra-se deformada, com a presença de contornos de grão serrilhados. Na deformação de pico (εp = 0,59) Figura 4.38b, aparece grãos recristalizados ao longo dos contornos de grão pré-existentes, iniciando a formação dos primeiros grãos recristalizados dinamicamente, substituindo gradualmente os contornos antigos. Com o aumento da deformação, aumentam também o serrilhamento dos contornos de grão pré-existentes e o surgimento de novos grãos recristalizados dinamicamente, resultando em novas camadas da estrutura em forma de colar. Embora o número de grãos pré-existentes deformados diminua com o avanço da recristalização, com a deformação de 4,0, Figura 4.38d, ainda pode-se observar a presença de alguns desses grãos, mostrando que o processo de recristalização dinâmica ainda não se completou, mesmo com deformações no estado estacionário de tensões (εss = 3,0). Ainda, para a deformação de 4,0, Figura 4.38d, pode-se observar que o tamanho médio dos grãos recristalizados dinamicamente é maior que o tamanho médio observado nas etapas iniciais, quando prevalecia a nucleação com a formação de colar. Quando se compara as micrografias ilustradas nas Figuras 4.36 e 4.38, observa-se que o aumento de temperatura de deformação de 1000 para 1100 oC, com a taxa de deformação de 0,01 s-1, proporcionou um aumento significativo da fração recristalizada dinamicamente. 116 (a) (b) 75µm (c) (d) Figura 4.38 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 1100 ºC com taxa de deformação de 0,01 s-1. A Figura 4.39 ilustra o desenvolvimento da recristalização dinâmica com a formação de colar na temperatura de 1100 °C e taxa de deformação de 0,5 s-1. A Figura 4.39a mostra que para pequenas deformações (ε = 0,10), a microestrutura apresenta-se levemente deformada e com alguns contornos de grão serrilhados. Tanto a deformação dos grãos pré-existentes como o serrilhamento dos seus contornos aumentam com a deformação. Para a deformação 0,32 (εp = 0,28), Figura 4.39b, se observa a presença de grãos 117 dinamicamente recristalizados. Já na deformação de 2,3, Figura 4.39c, o material encontra-se quase que completamente recristalizados, com exceção de alguns grãos antigos deformados remanescentes. A microestrutura na deformação de 4,0, acima da εss = 3,0, Figura 4.39d, possui ainda alguns grãos pré-existentes deformados e apresenta grãos levemente maiores. (b) (a) 75µm (c) (d) Figura 4.39 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 1100 ºC com taxa de deformação de 0,5 s-1. 118 Quando se compara as microestruturas mostradas nas Figuras 4.38 e 4.39, observa-se que a redução na taxa de deformação de 0,5 para 0,01 s-1 em Tdef = 1100 oC gerou uma queda na cinética de recristalização. Embora a microestrutura para a deformação de 4,0 com taxa de 0,5 s-1 seja muito mais fina (dDRX =5 μm), a presença de grãos pré-existentes deformados relativamente grandes torna essa microestrutura muito mais heterogênea do que a obtida para a taxa de 0,01 s-1 (dDRX =12 μm). Na Figura 4.40 verifica-se o desenvolvimento da recristalização dinâmica também pela formação de colar para a Tdef = 1100 oC e de 1,0 s-1. A Figura 4.40a mostra que para ε = 0,21 (εc = 0,14) a microestrutura se apresenta levemente deformada com alguns contornos de grão serrilhados. Para a deformação 0,42 (εp = 0,43), Figura 4.40b, já se observa a presença dos primeiros grãos dinamicamente recristalizados ao longo de contornos de grão. A deformação dos grãos pré-existentes, o serrilhamento dos contornos e o surgimento de grãos recristalizados, aumentam com a deformação. Na deformação de 1,7 (εss = 3,0), Figuras 4.40d, o material encontra-se bastante recristalizados porém, mantendo ainda a presença de grãos pré-existentes deformados. A microestrutura na deformação de 4,0, maior que a deformação de estado estacionário (εss), Figura 4.40e, possui ainda alguns grãos préexistentes deformados e apresenta o tamanho médio de grãos recristalizados levemente maior. Em geral, esta sequência de micrografias revela que nesta condição de deformação a recristalização dinâmica é retardada. Ao se comparar as micrografias ilustradas nas Figuras 4.37 e 4.40, observa-se novamente que o aumento de temperatura de deformação de 1000 para 1100 oC, com taxa de 1,0 s-1 proporcionou um aumento significativo na fração recristalizada dinamicamente. 119 (b) (a) 75µm (c) (d) (e) Figura 4.40 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 1100 ºC com taxa de deformação de 1,0 s-1. 120 A Figura 4.41 mostra microestruturas obtidas para a condição de deformação com Tdef = 1200 oC e 0,5 s-1. Embora nas Figuras 4.41a e 4.41b se observe algum serrilhamento em contornos de grãos, a nucleação preferencialmente em contornos de grãos não é observada, pelo menos de forma clara como nas microestruturas anteriores, sugerindo que esta pode ocorrer de modo convencional, ou seja, com a nucleação tanto nos contornos quanto dentro dos grãos. Na deformação crítica (εc = 0,10), Figura 4.41a se observa alguns contornos de grãos serrilhados. Em εp = 0,32, Figura 4.41b o número desses contornos é maior com predominância do alongamento e para a deformações 1,2 e 2,3 (εss = 2,3), Figuras 4.41c e 4,41d a microestrutura se encontra quase toda recristalizada, visto que existem ainda alguns grãos préexistentes deformados, confirmando que não há homogeneidade no processo de recristalização dinâmica. A microestrutura ilustrada na Figura 4.41e, para a deformação de 4,0, mostra que o tamanho médio dos grãos é maior que nos casos anteriores. 121 (b) (b) (a) (a) 75µm 75µm (c) (c) (d) (d) (e) (e) Figura 4.41 Evolução microestrutural durante a deformação a quente a 1200ºC com taxa de deformação de 0,5 s-1. A Figura 4.42 mostra de forma quantificada a evolução do tamanho médio dos grãos recristalizados dinamicamente em função da quantidade de deformação imposta, como descrito nas Figuras 4.36 - 4.41. Pode-se ver que, em temperaturas mais baixas, quando todo o processo de nucleação ocorre com formação de colar não há variação significativa no tamanho médio dos grãos formado em diferentes níveis de deformação. Todavia, quando a deformação é conduzida em maiores temperaturas observa-se que o tamanho médio dos grãos formados nas etapas finais é maior que os formados nas etapas iniciais. 122 Figura 4.42 Variação do tamanho médio dos grãos durante a recristalização dinâmica com formação de colar e nucleação convencional (N.C). A Figura 4.43 mostra os valores da dureza das amostras submetidas aos ensaios interrompidos. De uma forma geral, a dureza aumenta com a quantidade de deformação imposta antes da interrupção, tendendo para um estado estacionário em grandes deformações. Essa tendência parece não ser seguida para a amostra deformada a 1200 ºC com taxa de 0,5 s-1 que tende a ter um decréscimo na dureza em grandes deformações. Figura 4.43 Variação da dureza das amostras submetidas a ensaios interrompidos. 123 4.12 Microestrutura após a deformação a quente A observação da microestrutura após a deformação a quente foi realizada em amostras submetidas a ensaios isotérmicos contínuos até a deformação de 4,0. Dentre as 24 amostras ensaiadas 6 fraturaram com deformações menores que 4,0. As condições de deformação que levaram a fratura prematura das amostras foram: 900 ºC com todas as taxas de deformação impostas e a 1000 ºC com taxas de 0,01 e 10 s-1. Sempre, após o término da deformação as amostras eram resfriadas em água. As medições do tamanho médio de grão foram realizadas na superfície das amostras e só foram considerados os grãos recristalizados. Assim, em amostras parcialmente recristalizadas foi feito as medições em áreas somente recristalizadas. A Figura 4.44 mostra as microestruturas observadas. Vê-se nesta figura que em todas as seis condições em que as amostras fraturaram prematuramente, os grãos são relativamente grandes e estão alongados em forma de panquecas indicando que a recristalização é parcial. Em altas temperaturas pode-se observar que a microestrutura é típica de um material que se recristalizou dinamicamente, enquanto que para valores intermediários de temperatura e alta taxa de deformação (moderado Z) tem-se a recristalização dinâmica parcial com a presença de alguns grãos não recristalizados. Assim, vê-se que há uma forte evidência de ligação da microestrutura recristalizada dinamicamente e as condições de deformação, expressa pelo parâmetro de Zener-Hollomon (Z). A Tabela 4.8 mostra os valores dos tamanhos médios de grão recristalizados dinamicamente que atingiram a condição de estado estacionário. A Figura 4.45 representa a dependência do tamanho médio de grão em função das condições de deformação e a Equação 4.20 uma possível relação que descreve esta dependência. 124 900 oC com 10 s-1 e ε = 1,2 900 oC com 1,0 s-1 e ε = 2,0 900 oC com 0,5 s-1 e ε = 1,5 900 oC com 0,01 s-1 e ε = 1,5 1000 oC com 10 s-1 e ε = 1,5 1000 oC com 1,0 s-1 e ε = 4,0 1000 oC com 0,01 s-1 e ε = 3,0 125 1050 oC com 10 s-1 e ε = 4,0 1050 oC com 1,0 s-1 e ε = 4,0 1050 oC com 0,5 s-1 e ε = 4,0 1050 oC com 0,01 s-1 e ε = 4,0 1100 oC com 10 s-1 e ε = 4,0 1100 oC com 1,0 s-1 e ε = 4,0 ... o -1 1100 C com 0,5 s e ε = 4,0 1100 oC com 0,01 s-1 e ε = 4,0 126 1150 oC com 10 s-1 e ε = 4,0 1150 oC com 1,0 s-1 e ε = 4,0 1150 oC com 0,5 s-1 e ε = 4,0 1200 oC com 10 s-1 e ε = 4,0 1200 oC com 1,0 s-1 e ε = 4,0 1200 oC com 0,5 s-1 e ε = 4,0 1200 oC com 0,01 s-1 e ε = 4,0 Figura 4.44 Microestruturas óticas observadas após a deformação a quente em diferentes condições de temperatura, deformação e taxa de deformação. 127 Tabela 4.8 Evolução do tamanho de grão recristalizado dinamicamente (dDRX) em função das condições de deformação. T (oC) ε& (s-1) Z (s-1) dDRX (µm) 900 0,01 2,89E24 - 900 0,5 1,44E26 - 900 1 2,89E26 - 900 10 2,89E27 - 1000 0,01 2,41E22 - 1000 0,5 1,20E24 2,0 1000 1 2,41E24 4,0 1000 10 2,41E25 - 1050 0,01 2,89E21 5,0 1050 0,5 1,44E23 3,0 1050 1 2,89E23 4,0 1050 10 2,89E24 7,0 1100 0,01 4,05E20 11 1100 0,5 2,02E22 5,0 1100 1 4,05E22 5,0 1100 10 4,05E23 9,0 1150 0,01 6,50E19 18 1150 0,5 3,25E21 9,0 1150 1 6,50E21 - 1150 10 6,50E22 15 1200 0,01 1,18E19 28 1200 0,5 5,91E20 23 1200 1 1,18E21 26 1200 10 1,18E22 27 128 Figura 4.45 Dependência do tamanho de grão recristalizado dinamicamente (dDRX) com o parâmetro de Zener-Hollomon (Z). d DRX ⎛Z ⎞ = 3,27⎜ ⎟ ⎝ A⎠ −0 ,16 (4.20) Em vista da dispersão e desajuste dos dados como mostrados na Figura 4.45, vale refazer a dependência do tamanho de grão recristalizado dinamicamente (dDRX) com as condições de deformação, ou seja, temperatura e taxa de deformação individualmente. Vê-se nas Figuras 4.46 e 4.47 que a dependência do tamanho médio dos grãos recristalizados dinamicamente não segue o comportamento usual. O dDRX diminui com o aumento da taxa de deformação para um valor mínimo, em 0,5 s-1, e então aumenta com a continuação do aumento da taxa de deformação, para todas as temperaturas de ensaio. 129 Figura 4.46 Evolução do tamanho médio dos grãos recristalizados dinamicamente com a temperatura de deformação para as diferentes taxas de deformação impostas. Figura 4.47 Evolução do tamanho médio dos grãos recristalizados dinamicamente com a taxa de deformação para as diferentes temperaturas de deformação. 130 4.13 Análise via Difração por Elétrons Retroespalhados (EBSD) A constatação do fenômeno da recristalização dinâmica no aço ISO 5832-9 nos ensaios isotérmico de torção a quente foi realizado por análise via EBSD num microscópio eletrônico de varredura (MEV), modelo Phillips XL30 FEG nas seguintes condições: (i) 1000 oC com taxa de deformação de 0,01 e 0,5 s-1 com deformação de 1,5 e (ii) 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 com deformação de 2,0, Figuras 4.48, 4.49 e 4.50. Nota-se que na temperatura menor a microestrutura recristaliza parcialmente com formação de colares de DRX preferencialmente nos contornos de grãos com apenas 42% dos grãos de alto ângulo e tamanho médio de grão DRX de aproximadamente 1,5 µm, Figura 4.48. Nota-se também a presença de contornos com baixo ângulo, ou seja, contornos de subgrãos, definidos com orientação entre 2 e 15o. Entretanto, para a temperatura maior a microestrutura está quase totalmente recristalizada com 90% e a recristalização progredindo para o interior e consumindo todos os grãos, Figura 4.50. 131 Figura 4.48 Dados obtidos com a técnica EBDS na amostra do aço ISO 5832-9 a 1000 oC com taxa de deformação de 0,01 s-1 e deformação de 1,5 mostrando contornos de grãos de alto ângulo, θ > 15o, contornos de subgrãos, 2 < θ < 15o e as distribuições de tamanho de grão e de orientações. 132 Figura 4.49 Dados obtidos com a técnica EBDS na amostra do aço ISO 5832-9 a 1000 oC com taxa de deformação de 0,5 s-1 e deformação de 1,5 mostrando os contornos de grãos de alto ângulo, θ > 15o, contornos de subgrãos, 2 < θ < 15o e as distribuições de tamanho de grão e de orientações. 133 Figura 4.50 Dados obtidos com a técnica EBDS na amostra do aço ISO 5832-9 a 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e deformação de 2,0 mostrando os contornos de grãos de alto ângulo, θ > 15o, contornos de subgrãos, 2 < θ < 15o e as distribuições de tamanho de grão e de orientações. 134 A Figura 4.48 representa a microestrutura do material em um estágio de deformação intermediário (ε = 1,5) entre as representadas pelas Figuras 4.36b e 4.36c (ε = 2,0). Assim como observado por microscopia ótica vê-se que a recristalização dinâmica já havia iniciado com formação de grãos nos contornos dos grãos antigos. Embora a fração de contorno de alto ângulo em torno de 42%, vê-se claramente que o volume de grãos recristalizados dinamicamente é relativamente pequeno, como indicado nas Figuras 4.36b e c. Muitos dos contornos presentes próximos ao colar são contornos de baixo ângulo. Fato este que pode ser visto na curva de distribuição de desorientação que indica uma fração significativa de contornos de baixo angulo. A Figura 4.50 representa a microestrutura do material em um estágio de deformação um pouco mais avançado representado na Figura 4.40d. As imagens são semelhantes: pequenos grãos recristalizados dinamicamente com alguns grãos antigos ainda em fase de recuperação dinâmica. Pode-se ver na Figura 4.50 um grão antigo com subgrãos em seu interior. As frações de contornos de grãos/ subgrãos deixam claro o estágio de evolução da microestrutura da recristalização: apenas uma pequena quantidade de contornos de baixo ângulo. Também, as distribuições de tamanho de grão de grãos e de orientações indicam grãos pequenos e desorientados. A Figura 4.49 mostra grãos recristalizados dinamicamente com uma pequena fração de contornos de baixo ângulo. Vale observar nesta figura que o tamanho médio dos grãos é bastante pequeno. 135 4.14 Amaciamento após deformação a quente As curvas de escoamento plásticas obtidas com os testes de compressão a quente com duplo passe de deformação são apresentadas nas Figuras 4.51 a 4.58. Vê-se que durante o primeiro passe de deformação (ε1) o material apresenta um aumento contínuo no nível de tensão com a deformação. O nível de tensão do segundo passe, com tempo de espera de 1,0 s, aumenta rapidamente até o nível da curva do primeiro passe, principalmente para deformação de 0,15 não havendo amaciamento significativo e a curva do segundo passe coincide com a extrapolação da primeira. Entretanto, quando o tempo entre passe é maior que 10 s, o amaciamento ocorre significativamente e a segunda curva apresenta níveis de tensão compatíveis com ao início do carregamento com amaciamento parcial. Quando o tempo entre passe é suficientemente longo o amaciamento ocorre completamente, e a curva do segundo passe é similar ao da primeira. 136 Figura 4.51 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,3 a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 137 Figura 4.52 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,3 a 1050 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 138 (b) Figura 4.53 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,3 a 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 139 Figura 4.54 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,3 a 1200 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 140 Figura 4.55 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,15 a 1000 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 141 Figura 4.56 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,15 a 1050 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 142 (f) Figura 4.57 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,15 a 1100 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 143 (h) Figura 4.58 Curvas de escoamento plástico com duas deformações de 0,15 a 1200 oC com taxa de deformação de 1,0 s-1 e tempo de espera variando de 1 a 1000 s. 144 Os valores da fração amaciada (Xs) calculados pelos dois métodos apresentados na seção 3.3.4 estão expressos nas Tabelas 4.9, 4.10, 4.11 e 4.12 que mostram um aumento com o acréscimo na temperatura e no tempo entre passe. Quanto ao grau de deformação há aumento na fração amaciada (Xs) e na taxa de amaciamento com mudança acentuada nas curvas. Tabela 4.9 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,30, método offset. T (ºC) 1000 1050 1100 1200 tpasse (s) 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 σo (MPa) 152 190 176 151 158 208 156 148 126 160 155 131 120 125 118 127 133 128 92 99 92 88 86 74 σm (MPa) 277 315 301 276 282 333 266 258 236 270 265 241 205 210 203 212 218 213 132 139 132 128 126 114 σy (MPa) 227 235 241 206 192 253 236 228 206 210 215 171 180 160 163 142 133 128 107 89 93 90 50 46 Xs(ε=0,30) (%) 40 64 48 56 72 64 27 27 27 55 45 64 29 59 47 82 100 100 55 100 100 100 100 100 145 Tabela 4.10 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,15, método offset. T (ºC) 1000 1050 1100 1200 tpasse (s) 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 σo (MPa) 180 155 155 150 146 150 126 127 126 125 137 132 130 125 100 67 125 89 90 51 86 32 100 71 σm (MPa) 300 276 274 270 265 270 226 227 226 225 237 232 205 200 175 142 200 164 130 91 126 72 140 111 σy (MPa) 275 224 216 209 200 215 196 192 186 175 177 172 170 149 115 112 139 129 115 66 91 52 110 71 Xs(ε=0,15) (%) 21 42 46 50 54 46 30 34 41 52 59 62 47 66 80 39 80 48 38 63 88 50 75 40 146 Tabela 4.11 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,30, método da tensão média equivalente. T (ºC) 1000 1050 1100 1200 tpasse (s) 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 σo (MPa) 219 233 244 200 174 215 185 172 176 208 199 171 164 158 134 161 169 158 100 105 116 101 98 92 σm (MPa) 242 269 261 245 254 280 242 236 219 246 237 218 188 189 179 189 196 188 122 127 119 115 113 106 σy (MPa) 236 249 252 218 199 243 221 215 204 224 220 188 180 169 155 168 162 143 108 102 114 99 93 53 Xs(ε=0,30) (%) 36 56 53 61 69 57 36 33 35 57 45 64 31 66 54 80 100 100 66 100 100 100 100 100 147 Tabela 4.12 Fração amaciada (Xs) obtida dos testes de compressão a quente do aço ISO 5832-9 com deformação de 0,15, método da tensão média equivalente. T (ºC) 1000 1050 1100 1200 tpasse (s) 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 1 10 100 400 800 1000 σo (MPa) 152 218 225 227 207 225 175 181 176 185 197 196 168 167 115 112 152 123 100 65 108 55 95 68 σm (MPa) 281 239 235 232 229 236 200 201 200 200 208 209 174 172 159 130 172 145 120 83 118 65 122 96 σy (MPa) 259 232 231 230 216 232 194 195 191 194 203 202 172 169 126 122 158 135 114 73 111 61 105 65 Xs(ε=0,15) (%) 17 34 40 44 60 39 24 31 37 41 49 56 37 59 76 46 71 43 30 54 77 42 64 100 148 A Figura 4.59 apresenta a evolução da fração amaciada (Xs) em função do tempo entre passe (tpasse) para amostras deformadas com 0,15 e 0,30 a 1000, 1050, 1100 e 1200 oC aplicando os dois métodos apresentados. Verifica-se que a fração amaciada é sensível a variação na temperatura de deformação. Note que há amaciamento considerável para um intervalo entre passes de apenas 1,0 s, seguida de um acréscimo na fração amaciada (Xs) com aumenta no tempo e na temperatura. Quanto maior a temperatura, menor o tempo necessário para que o material amacie completamente. Este fato leva a dois comportamentos característicos, cuja transição ocorre em torno de 1100 ºC com surgimento da formação de patamares no nível de amaciamento. Por outro lado, à medida que a temperatura diminui a fração amaciada é reduzida com mudança na forma da curva. O comportamento da fração amaciada (Xs) em relação ao tempo entre passe mostra um crescimento acentuado num curto intervalo de tempo (tpasse = 1,0 s) após este tempo há formação de patamares nas temperaturas mais baixas (T < 1100 ºC), onde a fração amaciada (Xs) pouco se altera com o aumento do tempo entre passe até 400 s sugerindo que algum mecanismo retarda a cinética de amaciamento, Figura 4.59b e 4.59d. A partir daí, o amaciamento retoma seu crescimento com o acréscimo do intervalo entre passe, mas com uma taxa menor quando comparado ao período inicial. A mudança no formato das curvas indica que o processo de amaciamento foi interferido. Por outro lado, a fração amaciada aumenta consideravelmente quando a temperatura de deformação é maior que 1100 oC. 149 (a) (b) 150 (c) (d) Figura 4.59 Fração amaciada (Xs) em função do intervalo entre passe (tpasse) dos ensaios interrompidos de compressão a quente para o aço ISO 5832-9 nas deformações de 0,15 e 0,30: (a,b) Método offset; (c,d) Método da tensão média. 151 4.15 Precipitação induzida por deformação em resfriamento contínuo As Figuras 4.60 e 4.61 mostram resultados experimentais obtidos com ensaios realizados com sequência de passes em resfriamento contínuo com deformações de 0,2 e 0,3 em cada passe, após reaquecimento a 1250 oC. Vê-se nestas figuras que a tensão aumenta com a evolução da sequência de deformações, sendo que esse aumento é mais acentuando em temperaturas mais baixas. A parte (b) dessas figuras mostra a evolução da tensão média equivalente (TME) em função do inverso da temperatura de deformação. Nitidamente, as curvas podem ser separadas em duas regiões com diferentes aumentos na TME. Também, pode-se ver que na região I o valor da TME de algumas das primeiras deformações desvia do comportamento linear esperado. 1 152 153 Figura 4.60 Curvas de escoamento plástico obtidas em resfriamento contínuo com deformações múltiplas de 0,2 (a). Evolução da tensão média equivalente (TME) com o inverso da temperatura absoluta (1/T) (b). 154 155 Figura 4.61 Curvas de escoamento plástico obtidas em resfriamento contínuo com deformações múltiplas de 0,3 (a). Evolução da tensão média equivalente (TME) com o inverso da temperatura absoluta (1/T) (b). Observa-se nas Figuras 4.60b e 4.61b que ao reduzir a temperatura de deformação há um aumento acentuado no valor da TME necessária para deformar o material. Este aumento gera uma mudança na inclinação da curva TME vs. 1/T, demarcando duas regiões distintas. O valor da temperatura em que os dois segmentos de reta se interceptam é identificado como a temperatura de não recristalização (Tnr) [96,97]. A maior inclinação da reta na região II é um indicativo de que além do aumento da resistência do material com a queda da temperatura tem-se a atuação simultânea de mais um mecanismo de endurecimento; tem-se o início da precipitação induzida por deformação. Assim, a Tnr representa a temperatura a partir da qual a recristalização não mais se completa no intervalo de tempo entre passes. A Figura 4.62 mostra microestruturas observadas em amostras que estavam sendo deformadas em resfriamento contínuo com ε = 0,3 e (tpasse) = 5 s com interrupções dos ensaios nas regiões I e II. A Figura 4.62a mostra uma microestrutura composta por grãos recristalizados; esse ensaio foi interrompido no terceiro passe, a 1200 oC, região I. Vê-se na microestrutura mostrada na 156 Figura 4.62b que a microestrutura é composta por grãos alongados, indicando que não há a recristalização completa entre passes; esse ensaio foi interrompido no 13o passe, a 1000 oC, região II. (a) (a) (b) (b) Figura 4.62 Microestruturas obtidas em resfriamento contínuo com ε = 0,3 e (tpasse) = 5 s com interrupções dos ensaios nas regiões I e II. A Figura 4.63 mostra a dependência da temperatura de não recristalização (Tnr) com o tempo de espera entre passe (tpasse) e com a quantidade de deformação imposta. Vê-se que para tempo entre passe curto há um acréscimo na Tnr até aproximadamente 40 s. Em seguida a Tnr diminui conforme o tempo entre passes aumenta. Também, pode-se ver que a Tnr aumenta sutilmente com a quantidade de deformação imposta. 157 Figura 4.63 Dependência da temperatura de não recristalização (Tnr) com o tempo entre passe (tpasse) e a quantidade de deformação em cada passe. De uma forma geral, vê-se nas Figuras 4.60 e 4.61 que na região I as curvas de escoamento são arredondadas e bem delineadas com os primeiros passes apresentando valores da TME maiores que os indicados pelas retas que representam o efeito da queda de temperatura, especialmente em tempos de espera mais longos entre deformações. A análise do amaciamento entre passes, desses experimentos, nessa região se torna bastante complexa uma vez que os ensaios foram realizados em resfriamento contínuo. Uma alternativa é fazer correções nas curvas experimentais transformando-as em equivalentes a ensaios realizados isotermicamente. Inicialmente, determinaram-se equações que descrevem as retas que representam o efeito da temperatura na TME, que são da forma: σ (TME , MPa ) = a + b(1000 / T ( K )) (4.21) 158 Onde, a e b são constantes, T é a temperatura absoluta e σ é a tensão média equivalente. Para os experimentos realizados com deformações de 0,2 e 0,3 e tempos de espera entre passes de 10 e 50 segundos foram obtidas as equações apresentadas na Tabela 4.13. De posse dessas equações, foram feitas correções em todos os valores da tensão de escoamento dos dados experimentais, transformando as curvas em equivalentes a 1200 o C. O resultado dessas correções é mostrado na Figura 4.64. Tabela 4.13 Relação entre a TME e 1/T quando o amaciamento entre passes é promovido pela recristalização estática completa entre passes. ε tpasse = 10 s tpasse = 50 s 0,2 σ = −159,43 + 382.(1000 / T ) σ = −299,76 + 570.(1000 / T ) 0,3 σ = −185,71 + 414.(1000/ T ) σ = −226,58 + 462.(1000 / T ) Vê-se nas curvas apresentadas na Figura 4.64 que o amaciamento entre a primeira deformação e a segunda é significativo, podendo inferir que houve o amaciamento completo em todas as quatro condições em estudo. No segundo recarregamento há algumas diferenças na forma das curvas nas simulações realizadas; com ε = 0,2 e tpasse = 10 s a segunda curva tem a forma e o nível de tensão semelhante ao da primeira, enquanto que nos outros três experimentos, tanto o nível de tensão quanto a taxa de encruamento são menores. Considerando que as deformações aplicadas são maiores que a deformação crítica para o início de recristalização dinâmica (εc), pode-se esperar que o amaciamento entre o primeiro e segundo passe foi gerado pela recristalização metadinâmica; particularmente nos três experimentos em foco. A partir dos segundos e terceiros recarregamentos pode-se observar que há um novo acúmulo de deformações de um passe para o seguindo; esse acúmulo pode ser creditado ao aumento da deformação crítica com a temperatura de ensaio. Em deformações maiores pode-se esperar que o 159 processo de amaciamento seja realizado pela recristalização estática, com exceção do experimento realizado com ε = 0,3 e tpasse = 50 s. Figura 4.64 Curvas de escoamento plástico corrigindo o efeito da queda de temperatura, simulando ensaios com temperatura constante (1200 oC). Ensaios realizados em resfriamento contínuo com: (a) ε = 0,2 e tpasse = 10 s; (b) ε = 0,2 e tpasse = 50 s; (c) ε = 0,3 e tpasse = 10 s e (d) ε = 0,3 e tpasse = 50 s. 160 161 5 DISCUSSÃO 5.1 Comportamento mecânico Na parte inicial deste estudo, verificou-se a possibilidade de haver precipitação estática durante o resfriamento da temperatura de solubilização à temperatura de deformação. Os ensaios de relaxação de tensão mostram que o tempo mínimo de precipitação é de aproximadamente 112 s a 1025 oC, compatível com o tempo gasto para início da deformação nos ensaios de torção a quente isotérmico contínuo, Figura 4.5. Este fato é consistente com o comportamento das curvas de escoamento plástico e com o atraso no início da recristalização dinâmica para baixa temperatura, onde se espera que a precipitação já ocorra influenciando na forma inicial das curvas em pequenas deformações como observado na Figura 4.6. A formação dos patamares nas curvas de relaxação de tensão, Fig. 4.4 retarda o processo de decaimento de tensão. Este retardo, principalmente nas condições de baixa temperatura (T<1050 o C), pode ser atribuído a ocorrência da precipitação da fase Z interagindo com os contornos de grão dificultando sua mobilidade. Mas com o passar do tempo os precipitados crescem rapidamente devido à difusão, e uma vez que os precipitados coalescem suficientemente, o amaciamento progride, reduzindo o nível de tensão. Este comportamento para um conjunto de temperatura forma a curva PTT, onde a forma clássica tipo C (nariz) é demonstrada, resultante da competição entre a força motriz para a precipitação, controlada pelo grau de supersaturação dos elementos, e a taxa de difusão. Acima do nariz (isto é, T>1025 oC), a supersaturação é baixa, sendo a taxa de nucleação menor, logo o tempo de início de precipitação é maior. Por outro lado, abaixo do nariz, a difusividade dos elementos é baixa causando aumento no tempo de início de precipitação. 162 5.1.1 Amaciamento dinâmico (i) Curvas de escoamento plástico As curvas de escoamento plástico do aço inoxidável austenítico ISO 5832-9 obtidas dos ensaios de torção a quente isotérmico contínuo apresentam comportamento diferenciado dos materiais que recristalizam dinamicamente. O início de escoamento plástico encontra-se muito próximo do pico de tensão (σo=0,69σp) nas condições de alta temperatura, Figura 4.6. Este comportamento indica uma possível pré-precipitação (clusters) logo no início das curvas em pequenas deformações influenciando em sua forma com alta taxa de encruamento até a deformação crítica de início de recristalização dinâmica. Com isso há uma redução lenta na taxa de encruamento e aumento na recuperação dinâmica que passa a ser o mecanismo predominante, levando um tempo maior para alcançar o pico (εc=0,32εp), quando comparado com outros aços inoxidáveis. Após o pico, o nível de tensão cai significativamente até o estado estacionário (σss) que se aproxima do início de escoamento plástico (σss=0,98σo) com amaciamento dinâmico cadenciado nas condições de baixa temperatura e taxa de deformação intermediária, Figura 4.6d. Essa queda acentuada de tensão nas condições de baixa temperatura é um indicativo da atuação de instabilidade plástica, agindo juntamente com a competição entre os mecanismos de amaciamento microestruturais promovido pela recuperação e recristalização dinâmica, responsáveis pela forma das curvas. Onde a dificuldade de operação dos mecanismos termicamente ativados, como a escalagem e o deslizamento cruzado de discordâncias durante a deformação desta liga com baixa mobilidade, estabelece um desequilíbrio dinâmico entre a taxa de recuperação e recristalização dinâmica. Corroborando com esta interpretação, vê-se ainda que várias amostras deformadas em baixas temperaturas falharam antes de alcançar o estado estacionário de tensões. Equações constitutivas são normalmente utilizadas para estimar os níveis de tensões para um conjunto de condições de deformação. O valor da 163 energia de ativação determinado para o aço ISO 5832-9 (587 kJ/mol) é uma indicação que o carregamento muda significativamente com o decréscimo na temperatura de deformação e aumento na taxa de deformação. Em alta temperatura, o nível da tensão de pico é similar aos aços inoxidáveis em geral, mas esta diferença é significativa em baixa temperatura e alta taxa de deformação. A comparação deste material com o aço tipo ISO AISI 304 (Qdef ~ 400 kJ/mol) a 900 oC a 10 s-1 mostra diferença de até 80 MPa [91]. Este nível elevado na energia de ativação deve-se a presença de átomos de soluto em solução sólida (que diminui a EFE) tornando a recuperação dinâmica mais difícil e também a presença de partículas de precipitados, interferindo na mobilidade dos contornos dos grãos aumentando o nível de tensão do material com acréscimo na deformação crítica para início da recristalização dinâmica aproximando-se do pico. (ii) Mapas de processamento A alta resistência neste material para pequenas deformações sugere que o encruamento é o mecanismo dominante na condição de baixa temperatura e alta taxa de deformação, aumentando a resistência, sendo necessária uma tensão maior para provocar maior deformação. Nesta região, a sensibilidade à taxa de deformação (m) é baixa e os mapas de processamento apresentam baixo nível de dissipação de energia (η). Isto representa baixa taxa de produção de entropia interna durante a deformação. Nestas condições, as curvas de escoamento plástico indicam que o material apresenta baixa ductilidade com amaciamento contínuo após o pico sem alcançar o estado estacionário. A microestrutura após a deformação (Figs. 4.36 e 4.37) indica que há fluxo localizado no material com presença de grãos alongados em forma de panquecas. Neste caso, o sistema material não produz entropia constitutiva a uma taxa que seja igual a taxa de entropia de saída tornando o fluxo localizado o que causa a instabilidade plástica. 164 Ao deformar próximo ao pico, os mapas de processamento indicam uma região instável em 1050 oC e taxa de deformação de 0,01 s-1. Entretanto, essa região instável desaparece com o prosseguimento da deformação. Nestas condições a curva de escoamento plástico mostra comportamento não usual; a tensão de início de escoamento plástico é maior que a de estado estacionário (σo>σss). A Figura 5.1 mostra uma parte ampliada da curva a 1050 oC com uma taxa de deformação de 0,01 s-1. Inicialmente, a tensão aumenta rapidamente com a deformação e, após pequena deformação, a taxa de encruamento diminui continuamente até o pico. Estas mudanças são evidências da ação de um mecanismo de endurecimento adicional. Em outra pesquisa, precipitados finos da fase Z foram observados sob deformação em resfriamento contínuo nas temperaturas abaixo de 1100 oC num material de composição similar [17]. Após o reaquecimento a 1250 oC, partículas dissolvidas podem precipitar durante o resfriamento até a temperatura de deformação ou no início da deformação. Estes precipitados finos são coerentes com a matriz. Tal coerência aumenta o grau de interação entre os precipitados e as discordâncias em escorregamento, aumentando a resistência do material. Com a continuidade da deformação, as mudanças microestruturais e as interfaces tornam-se incoerentes [25]. Figura 5.1 Curva de escoamento plástico a 1050 oC e taxa de deformação de 0,01 s-1. 165 Numa condição intermediária, expressa por um balanço entre temperatura e taxa de deformação, a formação de colares de grãos DRX é marcante desenvolvendo-se parcial e heterogeneamente preferencialmente nos contornos de grãos com as curvas apresentando flutuações e alcançando o estado estacionário para grandes deformações. Nesta condição o expoente de Avrami (n) é baixo, n = 1,3, com processo de recristalização dinâmica lento e controlado pela nucleação nos contornos de grãos antigos, Figura 4.36, 4.37 e 4.44, onde os novos núcleos DRX retardam o desenvolvimento por migração dos contornos. Quando estes colares são formados, param de crescer e permanecem pequenos porque estão sendo constantemente deformados, com a dureza aumentando continuamente até a condição de estado estacionário com acréscimo na área de contorno, Figura 4.43. Com o progresso de expansão da estrutura em colar a coerência de orientação dos grãos vizinhos diminui rapidamente devido ao gradiente de deformação nos grãos deformados, sobretudo, por rotação de novos grãos. Após a deformação de pico, com alta temperatura e baixa taxa de deformação, há um acréscimo no valor de m (m =0,19) com a instabilidade plástica melhorada e as curvas apresentam amaciamento após a tensão crítica levando o estado estacionário para grandes deformações. Os mapas nesta região apresentam valores maiores de eficiência de dissipação de energia (η = 32%) fora do domínio de instabilidade, mas ainda baixo comparada com outros aços inoxidáveis austeníticos, por exemplo, AISI 304, ηmax = 43% e AISI 316, ηmax = 35% ambos com deformação de 0,5. Este baixo valor de m se deve a maior contribuição do encruamento e recuperação dinâmica (moderada EFE) para baixa temperatura e alta taxa de deformação e também a presença de precipitados nos contornos de grãos. Também nessa condição a microestrutura apresenta mecanismo de recristalização dinâmica acelerado com aumento na taxa de migração dos contornos (n = 2,1) e a formação de colares não é tão óbvia, com predominância de nucleação nos contornos e interior dos grãos, constituindo uma microestrutura heterogênea composta por grãos DRX mais grosseiros, 166 não totalmente equiaxiais com contornos curvos, serrilhados e também alguns grãos alongados que não foram recristalizados, sem influência dos precipitados que já se encontram coalescidos ou dissolvidos na matriz, com reflexo no tamanho de grão recristalizado dinamicamente (dDRX), Fig. 4.42 e 4.44, com os contornos apresentando maior mobilidade e os fenômenos de amaciamento dinâmico ativado termicamente causando um comportamento de maior plasticidade, configurando uma condição de boa trabalhabilidade. Quanto as condições de deformação vê-se que aumento na taxa de deformação ( ε& ) a temperatura constante gera uma diminuição no dDRX, seguida de um aumento sutil, com um mínimo na condição de 0,5 s-1, Figura 4.47. Nesta condição de mínimo tem-se o maior nível de dureza neste material, onde a ocorrência da precipitação mostra-se mais intensa, isto é, o material indica maior concentração de precipitados refletindo num refinamento de grão com dDRX pequeno na condição de estado estacionário a 1100 oC, dDRX = 5 µm, Figura 4.44. Na condição de 0,01 s-1 há uma redução na dureza com os precipitados dispondo de mais tempo para coalescerem e dissolverem permitindo a liberação dos contornos de grão, reduzindo seu efeito sobre a cinética de recristalização dinâmica com tamanho de grão maior, dDRX = 11 µm. Assumindo que a diferença na EFE estimada a temperatura ambiente é mantida em alta temperatura, algumas diferenças podem ser esperadas no comportamento do amaciamento dinâmico neste biomaterial e em outros aços inoxidáveis com baixa EFE [98, 99]. Em baixa temperatura algumas curvas de escoamento plástico apresentam a forma tipo plano: a tensão não varia com a deformação. Os mapas de processamento indicam baixo nível de dissipação de energia e microestrutura com grãos alongados em forma de panquecas após a deformação de pico. Em temperaturas intermediárias, embora na tensão de estado estacionário, a microestrutura exibe grãos recristalizados dinamicamente, mas há uma fração volumétrica significativo de grãos não recristalizados ainda presente. Estas características são fortes indícios de ampla recuperação dinâmica neste material e, como consequência, a recristalização dinâmica é retardada. Comparando estes 167 dados com o comportamento AISI 304L que recristaliza na faixa de 1000 a 1200 oC com taxas de deformação variando de 0,01 a 5 s-1 [100], é claro que ambos têm características de aços que recristalizam dinamicamente, mas no ISO 5832-9 há um atraso, sendo concluída apenas em altas temperaturas. Uma proposta do processamento termomecânico é a obtenção de uma microestrutura com grãos finos e equiaxiais. A recristalização dinâmica é um mecanismo de refino e favorece a formação desse tipo de microestrutura. Entretanto, vê-se que a competição entre os mecanismos de amaciamento, com grãos em forma de panquecas e grãos recristalizados representa uma microestrutura recristalizada parcialmente, como observado nas condições de deformação intermediária. Como se pode ver na Figura 4.44 a microestrutura final é composta de grãos pequenos e grãos alongados constituindo uma microestrutura heterogênea que deve ser evitada. Devido à ampla gama de condições de deformação em que a recristalização parcial ocorre, uma combinação de mecanismos dinâmicos e estáticos é necessária para produzir uma microestrutura fina e uniforme com melhores propriedades. (iii) Modelagem das curvas A modelagem das curvas constitui uma ferramenta de análise conveniente para expressar o desajuste entre as curvas experimentais e modeladas a partir de equações constitutivas, resultante de algum mecanismo de deformação preponderante segundo as condições de deformação. Vê-se que dois parâmetros descrevem a forma das curvas: na primeira parte até o pico o parâmetro recuperação dinâmica (r) delineia a inflexão da curva. Na região após o pico, o expoente de Avrami (n) rege a cinética de amaciamento dinâmico até a condição de estado estacionário. Os valores calculados do parâmetro de recuperação dinâmica (r) para o aço ISO 5832-9 são maiores do que outra liga de composição mais simples ou similar, tais como aços C-Mn, AISI 304 e AISI 316 (2< r <10) [9092]. Vê-se também que r apresenta-se em queda com o valor de Z, com os 168 mecanismos de difusão menos influentes associado às curvas com níveis de tensão de pico subestimados, Figuras 5.2, aumentando a relação σc/σp e, consequentemente, exigindo maiores deformações para iniciar a recristalização dinâmica. Por outro lado, para valores de r alto com baixo Z tem-se a atuação dos processos termicamente ativados, sendo menor o tempo necessário para as atuações térmicas levando a superestimação da tensão de pico, com exceção da condição de 1000 oC com taxa de deformação de 0,01 s-1 que apresenta um valor de r fora de tendência. Também, maiores valores de r levam o material atingir a tensão de saturação rapidamente. Este alto valor de r está associado ao valor moderado de energia de falha de empilhamento que dificultam os mecanismos termicamente ativados tornando a recuperação dinâmica mais efetiva atrasando a cinética de recristalização dinâmica. Figura 5.2 Ampliação da parte inicial das curvas de escoamento plástico experimental e modeladas para baixos valores do parâmetro de DRV (r). Na segunda parte, após o pico, a comparação entre as curvas modeladas e as experimentais, evidencia que o retardo da cinética de recristalização dinâmica, com baixo n (n=1,6), é acompanhado de recuperação dinâmica intensa com pouca variação na tensão, seguida de redução para 169 maiores deformações de estado estacionário, resultando nas diferenças marcantes na forma das curvas, Figura 4.35. Os valores de n remetem de forma indireta os modos de nucleação para recristalização dinâmica, cujos valores determinados para o aço ISO 5832-9 são menores que os encontrados na literatura para outras ligas, tais como: aço C-Mn (n=2,7), aço microligado ao V (n=1,8) e os aços AISI 304 (n=1,9) e AISI 316 (n=1,6) [68, 81, 92-95]. Esta variação pode ser interpretada em termo da saturação dos diferentes sítios de nucleação (vértices, bordas, contornos de grãos e maclas) interferindo na forma das curvas de escoamento plástico e também no aspecto microestrutural como reflexo do balanço entre os mecanismos de endurecimento e amaciamento dinâmico. 5.1.2 Amaciamento estático (i) Duplo passe De forma geral, as curvas de amaciamento apresentam dois comportamentos diferenciados segundo as condições de deformação, cuja transição ocorre próxima a temperatura de 1100 o C, Figura 4.59. Para temperaturas maiores as curvas apresentam a forma sigmoidal com amaciamento completo antes de iniciar a precipitação. Enquanto que em temperaturas menores que 1100 oC, em menor quantidade de deformação, tem-se a formação dos patamares que retardam o amaciamento. Devido ao tempo de incubação para iniciar a recristalização estática, mais de 30% do amaciamento é devido à recuperação. À medida que o tempo entre passe (tpasse) aumenta o aço não amacia completamente, pois a fração amaciada (Xs) se mantém em torno de 50% para tempos longos, mantendo o patamar. Esta condição está associada à formação de precipitados (fase Z) induzida por deformação que inicia com tempo entre passe de 1,0 s reduzindo a recuperação, inibindo a mobilidade dos contornos de grãos recristalizados 170 estaticamente. Para deformação menor, ε = 0,15, essa interação ocorre em tempos maiores, aproximadamente 10 s. O efeito da quantidade de deformação na interação recristalização – precipitação a temperatura constante, mostra que o início de formação do patamar (início de precipitação) ocorre em tempos menores para maiores deformações. Veja que na condição de 1000 oC ocorre a manifestação da precipitação antes que o amaciamento alcance 50% na deformação de 0,3 com tempo de apenas 1,0 s. Entretanto para um quantidade de deformação menor de 0,15 o tempo de início de formação do patamar é de 10 s com amaciamento de 30%. Para temperatura de 1050 oC os tempos de início de formação dos patamares são próximos de 10 s com um amaciamento já de 30%. Para temperaturas e quantidade de deformações maiores o amaciamento se completa antes de iniciar a precipitação. Comparando os ensaios de duplo passe com os ensaios de relaxação de tensão, vê-se que a taxa de recuperação no ensaio de relaxação é mais lenta. Isso porque a deformação aplicada foi muito pequena e o número de sítios de recuperação em potencial é menor, sendo controlado por difusão. Já os ensaios com duplo passe mostram que a cinética de precipitação é acelerada com a deformação aplicada. Outra razão da disparidade quanto ao início de precipitação nos dois tipos de ensaios deve-se a uma superestimação na determinação do tempo em escala logarítmica, devido ao método aplicado. (ii) Múltiplas deformações Os ensaios com múltiplas deformações em resfriamento contínuo indicam a existência de uma temperatura de transição (Tnr ~ 1100 oC) entre uma região de completa recristalização entre passe em altas temperaturas (acima da Tnr) e uma região de recristalização parcial em temperaturas menores, Figuras 4.60 e 4.61, que corresponde também ao início da precipitação. Na região I (alta T) existe uma elevação no nível de tensão, principalmente nos primeiros passes quando o tempo entre passe é maior que 171 30 s. A elevação na tensão (TME) nos primeiros passes de deformação acima da Tnr, deve-se predominantemente a redução na temperatura com encruamento pronunciado dificultando a ação dos mecanismos termicamente ativados. Nesta região a força motriz para precipitação diminui e o amaciamento é predominante justificado pelo aumento dos sítios de nucleação com os grãos encruados substituídos por novos grãos livres de deformação que migram para o interior dos grãos mais deformados seguido de crescimento, como visto na Figura 4.62a. Na região II, abaixo da Tnr, nota-se um aumento acentuado na TME, como consequência da redução na temperatura e presença dos precipitados provocando um acúmulo de tensão com efeito significativo do tempo entre passe e retardo na recristalização por dois efeitos marcantes: atraso por arrasto de soluto (Nb, N, Mo) e partículas de precipitados da fase Ζ induzidos por deformação que obstruem a mobilidade dos contornos de grão o que justifica a mudança de inclinação e flutuações nos valores na TME. Então à medida que a temperatura diminui, o fenômeno da recristalização reduz e o efeito da precipitação aumenta até alcançar o estágio de coalescimento levando a uma redução no nível de tensão. O aumento de resistência mecânica provocada pelo aumento no encruamento e por precipitação induzida por deformação é da ordem de Δσ~60 MPa para esse aço e, é superior ao aumento causado pelo Nb num aço microligado, por exemplo. Na Figura 4.63 vê-se que o comportamento da Tnr com o tempo entre passe (tpasse) apresentou duas tendências: (i) Tnr ascendente para tpasse curto; e (ii) Tnr decrescente para tpasse longo. A primeira região evidência um retardo significativo na recristalização devido à precipitação induzida por deformação. Na segunda região, para tempo entre passes maiores que 40 s, a Tnr alcança um valor máximo sugerindo que a partir deste ponto o efeito da precipitação sobre a recristalização torna-se menos efetivo, devido ao coalescimento e dissolução dos precipitados induzidos por deformação (PID) que diminui o encruamento do material, diminuindo sua eficiência em ancorar os contornos de grãos durante a recristalização, aumentando assim a extensão 172 da recristalização e a Tnr diminui. Quanto à deformação vê-se uma sensível mudança na Tnr, principalmente para tempo entre passe longo, acelerando a dissolução dos precipitados à medida que o tempo entre passe aumenta. Comparando os resultados da Tnr que variou entre 1050 a 1120 oC com os valores determinados pelas curvas de amaciamento com duplo passe de deformação, observa-se que há concordância na faixa de valores. A Tnr medida para deformação de 0,3 e tempo ente passe de 20 s é de aproximadamente 1100 oC. Na Figura 4.59, vê-se que a manifestação da precipitação inicia próximo de 10 s após deformação de 0,3 nessa mesma faixa de temperatura. Abaixo dessa temperatura, provavelmente sempre haverá precipitação (com baixo coeficiente de supersaturação, Ks = 1,3), como já observado nas análises anteriores, mesmo sem considerar taxa de resfriamento e acúmulo de energia que levam a Tnr para valores maiores do que a temperatura de início do patamar nos ensaios de duplo passe. 173 6 CONCLUSÕES O comportamento mêcanico do aço inoxidável austenítico ISO 58329 no intervalo de 900 - 1200 oC a 0,01 - 10 s-1 foi conduzido utilizando diversas técnicas, como ensaio de relaxação de tensão, ensaios isotérmico contínuo, ensaios com duplo passe e ensaios com multiplos passes em resfriamento contínuo. Os principais resultados alcançados por observações mecânicas e microestruturais são apresentados abaixo. 6.1 Caracterização mecânica - As curvas de escoamento plástico apresentam três diferentes tipos: (i) curvas com amaciamento contínuo com fluxo localizado (baixa T e alta ε& ), (ii) curvas tipo plano, onde a tensão praticamente não varia com a deformação, como é observado para materiais que recuperam dinamicamente (em baixa T e ε& intermediária); (iii) curvas com amaciamento após a tensão crítica levando o estado estacionário para grandes deformações (em alta T e baixa ε& ). - Os dados experimentais, para o aço ISO 5832-9, são ajustáveis pela função do seno hiperbólico a partir do parâmetro de Zener-Hollomon (Z) com as constantes n, α, A e Qdef determinadas satisfatoriamente: ε& = 1,492 x10 [senh(0,011σ p )] 19 4,5 exp(− 587000 / RT ) - Os mapas de processamento mostram três domínios de conformação a quente segundo as condições de deformação: (i) O primeiro domínio no intervalo entre 1100 e 1200 oC cobrindo todas as taxas de deformação com valores de eficiência máximos, η = 32%. Nestas condições a recristalização dinâmica é quase completa caracterizando uma região de boa trabalhabilidade a quente; 174 (ii) o segundo domínio no intervalo de 900 a 1000 oC com taxa de deformação variando entre 0,5 e 10 s-1 a taxa mínima de dissipação obtida foi de 5% gerando uma região sob forte encruamento com grãos alongados alcançando elevados níveis de tensão com formação de fluxo localizado seguido de ruptura do material durante a deformação; (iii) O terceiro domínio no intervalo entre 1000 e 1100 oC com baixa taxa de deformação há um domínio de transição sensível à evolução da deformação, com maior evidência na deformação de 0,5. Esta é uma condição propícia à formação de precipitados (fase Z) neste material. Esta região apresenta a maior variação em η com o acréscimo na deformação. - Correlação mecânica e microestrutural do aço ISO 5832-9 segundo as condições de deformação: (i) Baixa temperatura e alta taxa de deformação (alto Z) há predominância dos mecanismos de encruamento e recuperação dinâmica caracterizado por uma estrutura de grãos alongados em forma de panquecas com pouca evidência de recristalização dinâmica; (ii) Temperaturas e taxa de deformação intermediárias (Moderado Z) há forte evidências da recuperação dinâmica atrasando a recristalização dinâmica que progride com formação de colares de DRX desenvolvendo-se parcial e heterogeneamente com uma mistura de grãos recristalizados e grãos alongados como consequência da competição entre os mecanismos de endurecimento e amaciamento; (iii) Alta temperatura e baixa taxa de deformação (baixo Z) a cinética de recristalização dinâmica é acelerada com alto expoente de Avrami (n ~ 2,1), sendo mais sensível a temperatura do que à taxa de deformação. Nestas condições a nucleação ocorre nos nos contornos, arestas e interior dos grãos completamente. 175 (I) Modelagem das curvas - A modelagem das curvas de escoamento plástico do aço ISO 5832-9 por meio de equações constitutivas mostra que os parâmetros de DRV (r) e o expoente de Avrami (n) refletem a competitividade entre endurecimento e amaciamento dinâmico influenciando fortemente na forma das curvas segundo as condições de deformação (valores de Z). (III) Evidência da precipitação - A técnica de relaxação de tensão mostra-se alternativa para avaliar a precipitação estática durante os processos de amaciamento, fornecendo de forma indireta o monitoramento do início e fim da precipitação com formação dos patamares, a partir da qual as curvas PTT foram determinadas. - Os ensaios de duplo passe para diferentes condições de deformação indicam que o aço ISO 5832-9 sofre recristalização em deformações maiores que 0,30. As curvas de escoamento para temperaturas abaixo de 1100 oC apresenta a formação de patamares por conta da presença de precipitados da fase Z induzida por deformação durante o tempo entre passe. Com o aumento da temperatura e da deformação o amaciamento torna-se mais evidente; - Os ensaios com multiplas deformações mostram que o nível de tensão depende da temperatura e a inclinação da TME vs. 1/T apresenta dois diferentes comportamentos quando a temperatura diminui, com transição em torno de 1100 oC, temperatura de não recristalização (Tnr). Em temperaturas abaixo da Tnr, ocorre a precipitação da fase Ζ induzida por deformação durante certo tempo inibindo a recristalização e promovendo acúmulo de deformação passo a passo, responsável pela formação de grãos alongados. - A influência do tempo entre passe (tpasse) na Tnr apresenta dois comportamentos distintos. Quando o tempo entre passe é curto (tpasse < 40 s), a recristalização é retardada com maior influência dos precipitados e a Tnr aumenta. Para tpasse > 40 s, o coalescimento e dissolução dos precipitados provocam redução na Tnr. 176 7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS - Aprimorar modelagem das curvas de escoamento plástico a partir de equações constitutivas para a tensão de pico (σp) expressa segundo o senohiperbólico do parâmetro de Zener-Hollomon (Z) que melhor descreva os resultados experimentais; - Simulação numérica por método dos elementos finitos do estado de deformação na confecção da prótese de quadril a partir das equações constitutivas usadas como dados de entrada nos softwares Deform 3D, Superforge, etc., replicando condições mais extremas, com variação dos parâmetros que regem o comportamento termomecânico do material; - Estudar a competição DRV/ DRX analiticamente a partir das curvas de escoamento plástico, avaliando os efeitos dos principais parâmetros que descrevem as curvas (h, r, n, t0,5) segundo as condições de deformação, expressa pelo parâmetro de Zener-Hollomon (Z); - Estudo quantitativo da fração de precipitados da fase Z eficiente em retardar a cinética de amaciamento dinâmico e estático via microscopia eletrônica de transmissão (MET). 177 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] FRAKER, A.C.; RUFF, A.W. Metallic Surgical Implants: State of art. Journal of Metals, p.22-28, 1977. [2] GOTMAN, I. Characteristics of Metals Used in Implants. Journal of Endurology, v.11, n.6, p.383-389, 1997. [3] NAVARRO, M.; MICHIARDI, A.; CASTAÑO, O.; e PLANELL, J.A. Biomaterials in Orthopaedics. Journal of the Royal Society Interface. v. 5, p. 1137-1158, 2008. [4] HENCH, L.; POLAK, J. Third Generation Biomedical Materials. Science 295, p. 1014-1017, 2002. [5] FRIEDMAN, R.J.; Current concepts in Orthopaedic Biomaterials and Implant Fixation. The Journal of Bone and Joint Surgery. v. 75A, 1993. [6] SOARES, G. A. Biomateriais. Fórum de Biotecnologia Biomateriais, PEMM/COPPE/UFRJ. 2005. [7] VILLAMIL, R.F.V. Aços Inoxidáveis em Implantes Ortopédicos: Fundamentos e Resistência à Corrosão. Revista Brasileira de Ortopédia, v. 37, No. 11/12, 2002. [8] LO, K.H.; SHEK, C.H. e LAI J.K.L. Recent developments in stainless steels. Materials Science and Engineering R. 65, p. 39-104, 2009. [9] International Organization for Standardization (ISO) 5832-9; Implants for surgery – Metallic materials – Part 9: Wrought high nitrogen stainless steel. Switzerland, 4p, 1992. [10] Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR ISO 5832-1; Implantes para cirurgia - Materiais metálicos - Parte 1: Aço inoxidável conformado, 5p. Rio de Janeiro, 1997. 178 [11] JOCOBS, J.J. Corrosion of metals orthopaedic implants: current concepts review. The Journal of Bone and Surgery, v.80A, n. 2, p. 268-282, 1998. [12] RYAN, M.P., WILLIAMS, D.E., CHATER, J. HUTTON, B.M., e McPHAIL, D. S. Why stainless steel corrodes. Nature v.415, p. 770, 2002. [13] SCHRAMM, R.E.,REED, R.P. Stacking fault energies of seven commercial austenitic stainless steels. Metallurgical and Materials Transactions A. v.6A, p.1345, 1975. [14] GIORDANI, E. J.; JORGE JR, A. M.; BALANCIN, O. Proportion of recovery and recrystallization during interpass times at high temperatures on a Nb- and N-bearing austenitic stainless steel biomaterial. Scripta Materialia, v.55, p. 743-746, 2006. [15] MATAYA, M.C.; PERKINS, C.A.; THOMPSON, S.W. e MATLOCK, D.K. Flow Stress and Microstructural Evolution During Hot Working of Alloy 22Cr13Ni-5Mn-0,3N Austenitic Stainless Steel. Metallurgical and Materials Transactions A, v. 27A, 1251, 1996. [16] ORNHAGEN, C.; NILSSON, J. O.; VANNEVIK, H. Characterization of a nitrogen-rich austenitic stainless steel used for osteosynthesis devices. Journal of Biomedical Materials Research. v.31, p. 97-103, 1996. [17] GIORDANI E.J.; JORGE JUNIOR, A.M.; BALANCIN. O. Evidence of straininduced precipitation on a Nb and N-Bearing austenitic stainless steel biomaterial. Mater. Sci. Forum, v. 500-501, p. 179-186, 2005. [18] JACK, D.H. e JACK, K.H. Invited review: Carbides and Nitrides in Steel. Materials Science and Engineering. v.11, p.1-27, 1973. [19] ROBINSON, P.W. e JACK, D.H. Precipitation of z-phase in a high-nitrogen stainless steel. Journal of Heat Treating. v.4. No. 1, p. 69-74, 1985. [20] CIPOLLA, L.; DANIELSEN, H. K.; DI NUNZIO, P. E.; VENDITTI, D.; HALD, J.; SOMERS, M. A. J. On the role of Nb in Z-phase formation in a 12% Cr steel. Scripta Materialia, v.63, p.324-327, 2010. 179 [21] FINI, M.; NICOLI A.N.; TORRICELLI, P.; GIAVARESI, G.; BORSARI, V.; LENGER, H. A new austenitic stainless steel with negligible nickel content: an in vitro and in vivo comparative investigation. Biomaterials, v. 24, n. 27, p. 4929-4939, 2003. [22] YANG, K., REN, Y. Nickel-free austenitic stainless steels for medical applications. Sci. Technol. Adv. Mater. 11, 2010. [23] GIORDANI, E.J. Propriedades e mecanismos de nucleação de trincas por fadiga em meio neutro e meio fisiológico artificial de dois aços inoxidáveis austeníticos utilizados como biomateriais. (Tese de Doutorado) Campinas: FEM/UNICAMP, 2001. [24] SOKEI, C. R. Caracterização microestrutural e mecânica do aço inoxidável ISO 5832-9 utilizado na fabricação de implantes ortopédicos. (Tese de doutorado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universiadade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, 2003. [25] GIORDANI E.J.; GUIMARÃES, V.A.; PINTO, T.B.; FERREIRA, I. Effect of precipitates on the corrosion-Fatigue Crack Initiation of ISO 5832-9 Stainless Steel Biomaterials. International Journal of Fatigue 26, p. 1129-1136, 2004. [26] JONAS, J.J., SELLARS, C.M. e TEGART, W.J. Metallurgical Reviews, v.14, 1969, p.1-24. [27] ZIEGLER, H. Progress in Solid Mechanics, v. 4. Eds. I.N. Sneddon and R. Hill, John Wiley and Sons, New York, p.93, 1963. [28] PRASAD, Y.V.R.K.; SASIDHARA, S. Hot working guide: a compendium of processing maps. ASM International. Materials Park, 1997. [29] VENUGOPOL, S.; SIVAPRASAD, P.V. A Journey With Prasad’s Processing Maps. Journal of Materials Engineering and Performance. v. 12 (6) 675, 2003. [30] HASSANI, F.B.; CHENAOUI, A.; DKIOUAK, R.; ELBAKKALI, L.; AL OMAR, A. Characterization of deformation stability of medium carbon microalloyed steel 180 during hot forging using phenomenological and continuum criteria. Journal of Materials Processing Technology 199, p. 140-149, 2008. [31] JORGE Jr., A.M. Análise do Comportamento Plástico Mecânico dos Aços Inoxidáveis em Altas Temperaturas e Altas Taxas de Deformação. (Tese de Doutorado). Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal de São Carlos, 1997. [32] FROST, H.J. e ASHBY, M.F. Deformation-Mechanism Maps. Pergamon Press, Oxford, 1982. [33] HUMPHREYS, F.J.; HATHERLY, M. Recrystallization and Related Annealing Phenomena, Pergamon Press, Oxford, 1995. [34] CAHN, R.W. Recovery and Recrystallization. Physical Metallurgy, ed. Wiley, N.Y., p. 925, 1965. [35] McQUEEN, H.J. e JONAS, J.J. Recovery and recrystallization during high temperature deformation. Treatise on Materials Science and Technology, v. 6, London. Academic Press, p. 394, 1975. [36] RYAN, N.D. e McQUEEN, H.J. Flow stress, dynamic restoration, strain hardening and ductility in hot working of 316 steel. Journal of Materials Processing Technology. v.21, Issue 2, p.177-199, 1990. [37] McQUEEN, H.J.; YUE, S.; RYAN, N.D. e FLY, E. Hot Working Characteristics of steels In Austenitic State. Journal of Materials Processing Technology 53, p. 293-310, 1995. [38] ROUCOULES, C.; HODGSON. P.D.; YUE, S. e JONAS, J.J. Softening and Microstructural Change Following the Dynamic Recrystalization of Austenite. Metallurgical and materials transactions A, v.25A, p.389, 1994. [39] McQUEEN, H.J. Development of Dynamic Recrystallization Theory. Materials Science and Engineerin A 387, p.203-208, 2004. 181 [40] WANG, J. XIAO, H. Determination of the Kinetics for Dynamic and Static Recrystallization by Using the Flow Curves. Materials Science Forum Vols. 575-578 p.904-909, 2008. [41] AKTA, S.; RICHARDSON, G.J. e SELLARS, C.M. Hot Deformation and Recrystallization of 3% Silicon Steel Part 4: Effect of Recovery and Partial Recrystallization between Passes on Subsequent Recrystallyzation Behaviour. ISIJ International, v. 45, No. 11, p.1696-1702, 2005. [42] SANTOS, M.R. Interação entre a Recristalização e a Precipitação Induzida por Deformação de um Aço Microligado ao Nióbio e um Aço Microligado ao Vanádio. (Tese de Doutorado). Programa de Pós Graduação em Ciências e Engenharia de Materias (PPG-CEM), Universidade Federal de São Carlos, 1998. [43] McQUEEN, H.J. e RYAN, N.D. Constitutive analyze in hot working. Materials Science and Engineering A 322, p.43-63, 2002. [44] GOTTSTEIN, G.; BRUNGER, E.; LOCHTE, L.; BUHNER, F. e PONGE, D. Dynamics recristallyzation in metals and intermetallics. Proceedings of the 16th International Symposium on Materials Science, p. 37, 1995. [45] WAHABI, M.E.; GAVARD, L.; MONTHEILLET, F.; CABRERA, J.M.; PRADO, J.M. Effect of initial grain size on dynamic recrystallization in high purity austenitic stainless steels. Acta Materialia 53 p.4605–4612, 2005. [46] SAKAI, T. e JONAS, J.J. Dynamic Recrystallization: Mechanical and Microstructural Consideration. Acta Metallurgica. v. 32, p. 198-209, 1984. [47] PONGE, D. e GOTTSTEIN, G. Necklace formation during recrystallization Mechanisms and Impact on Flow Behavior. Acta Mater, v. 46, No. 1, p. 69-80, 1998. [48] SAKAI, T. Dynamic recrystallization microstructure under hot working conditions. Journal of Materials Processing Technology 53 p.349-36, 1995. 182 [49] BELYAKOV, A.; MIURA, H. e SAKAI, T. Dynamic recrystallization under warm deformation of a 304 type austenitic stainless steel. Materials Science and Engineering A 255 p.139–147, 1998. [50] DEHGHAN-MANSHADI, A.; BELADI, H.; BARNETT, M.R.; HODGSON, P.D. Hot Deformation and recrystallization of Austenitic Steinless Steel: Part I. Dynamic Recrystallization. Materials Science and Engineering A. v. 39A. 1359, 2008. [51] JAFARI, M. e NAJAFIZADEH, A. Correlation between Zener–Hollomon parameter and necklace DRX during hot deformation of 316 stainless steel. Materials Science and Engineering A 501 p.16–25, 2009. [52] POLIAK, E.I e JONAS, J.J. Prediction of Interpass Softening from the Strain Hardening Rate Prior to Unloading. ISIJ International, v. 44, No. 11, p. 1874–1881, 2004. [53] RIOS, P.R.; SICILIANO JR., F.; SANDIM, H.R.Z.; PLAUT, R.L. e PADILHA, A.F. Nucleation and Growth During Recrystallization. Materials Research. v. 8, No. 3, p.225-238, 2005. [54] CHO, S.H. e YOO, Y.C. Determination of the metadynamic recrystallization parameter for AISI 304 stainless steel. Journal of materials science letters. 18, p.987– 989, 1999. [55] LIN, Y.C. e CHEN, M.C. Study of microstructural evolution during metadynamic recrystallization in a low-alloy steel. Materials Science and Engineering A 501 p.229–234, 2009. [56] PALMIERE, E.J. Precipitation Phenomena in Microalloyed Steels. Microalloying “95 Conference Proceedings, p.307, 1995. [57] ANDERSEN, I. e GRONG, O. Analytical modelling of grain growth in metals and alloys in the presence of frowing and dissolving precipitates-I Normal grain growth. Acta. Metall. Mater. Vol. 43, N. 7, p. 2673-2688, 1995. 183 [58] ERNEMAN, J.; SCHWIND, M.; LIU, P.; NILSSON, O.; ANDREN, H.O. e AGREN, J. Precipitation reactions caused by nitrogen uptake during service at high temperatures of a niobium stabilised austenitic stainless steel. Acta Materialia 52 4337–4350, 2004. [59] GIORDANI, E. J. Estudo da conformação a quente de um aço inoxidável austenítico ISO 5832-9, utilizado na fabricação de implantes ortopédicos, e avaliação de suas propriedades mecânicas e físico-químicas. (Pós-doutorado), Proc. FAPESP 02/01279-4. Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, 2002 – 2005. [60] HANSEN, S.S., VANDER SANDE, J.B. and COHEN,M. – Niobiun Carbonitride Precipitation and austenite Recrystallization in Hot-Rolled Microalloyed steels. Metallurgical Transactions., v. 11A, p. 387-402, 1980. [61] CUDDY. L.J. Thermomechanical Processing of Microalloyed Austenite. Eds. DeARDO, A.J. AIME. Warrendale. p.129, 1982. [62] LAASRAOUI, A. e JONAS, J.J. Prediction of Steel Flow Stresses at high Temperatures and Strain Rates. Materials Transactions, v. 22a, p. 1545-1558, 1991. [63] JONAS, J.J.; LUTON, M.F. Flow Softening at Elevated Temperatures, in Advantages in Deformation Processing, edit by J.J. Burke and V. Weiss, Plenum Pub.Corp., 1978. [64] ESTRIN, Y.; MECKING, H. A unified phenomenological description of work hardening and creep based on one-parameter models. Acta Metall. 32, p. 57, 1984. [65] KOCKS, U.F.; MECKING, H. Physics and phenomenology of strain hardening: the FCC case. Materials Science 48, p. 171–273, 2003. [66] BERGSTROM, Y. The plastic deformation of metals – a dislocation model and its applicability, Reviews on Powder Metallurgy and Physical Ceramics, p. 79–265, 1983. 184 [67] NABARRO, F.R.N. Work Hardening and Dynamical Recovery of FCC Metals in Multiple Glide. Acta Metalurgical, v. 37, p. 1521-1546, 1989. [68] JONAS, J.J.; QUELENNEC, X.; JIANG, L. e MARTIN, E. The Avrami kinetics of dynamic recrystallization. Acta Materialia 57, p.2748-2756, 2009. [69] POLIAK, E.I. e JONAS, J.J. A One-parameter approach to determining the critical conditions for the initiation of dymanic recrystallization. Acta mater. v. 44, No. 1, p. 127-136, 1996. [70] FIELDS. D.S and BACKOFEN. W.A. Determination of Strain Hardening Characteristics by Torsion Testing, Proc. Amer. Soc. Test. Mater. v.57.p1263,1957. [71] STEWART, G.R.; JONAS, J.J. e MONTHEILLET, F. Kinetics and Critical Conditions for the Initiation of Dynamic Recrystallization in 304 Stainless Steel. ISIJ International, Vol. 44, No. 9, pp. 1581–1589, 2004. [72] DJAIC, R.A.P. e JONAS, J.J. Static Recrystallization of Austenite Between Intervals of Hot Working. Journal of the Iron and Steel Institute 210, p. 256– 261, 1972. [73] MEDINA, S.F. The Influence of Niobium on the Static Recrystallization of Hot Deformed Austenite and on Strain Induced Precipitation Kinetics. Scripta Metallurgica Materialia, v. 32, No. 1, p. 43-48, 1995. [74] LAASRAOUI, A. e JONAS, J.J. Recrystallization of austenite after deformation at high temperatures and strain rates - analysis and modeling. Metals Transactions, 22A, p.151, 1991. [75] CETLIN, P.R.; YUE, S.; JONAS, J.J. and MACCAGNO, T.M. Influence of Strain Rate on Interpass Softening During the Simulated Warm Rolling of Interstitial-Free Steels. Metallurgical Transactions A, v. 24A, p. 1543, 1993. [76] BORATTO, F.; BARBOSA, R.; YUE, S. e JONAS, J.J.: Proc. Int. Conf. Physical Metallurgy of Thermomechanical Processing of Steels and Other Metals Thermec 88, ISIJ International, Tokyo, p.383, 1988. 185 [77] BAI, D.Q.; YUE, S.; SUN, W.P. e JONAS. J.J. Effect Deformation Paramaters on the No-Recrystallization Temperature in Nb-Beating Steels. Metallurgical Transactions A. v. 24A, p. 2151-2159, 1993. [78] ZENER, C. e HOLLOMON, J.H. Plastic Flow and Rupture of Metals. Trans. of the ASM. v. 33, 1944. [79] SELLARS, C. M. e McTEGART, W. J., Relation Between Strength and, Structure in Deformation at Elevated Temperatures. Mem. Sci. Rev. Met., No. 9, p.731, 1966. [80] UVIRA, J.L. e JONAS, J.J. Hot Compression of Armco Iron and Silicon Steel. Transactions of the metallurgical society of aime, v. 242, 1619. 1968. [81] RYAN, N.D. Work hardening, strength, restorative mechanisms, and ductility in the hot working of 300 series stainless steels. PhD Thesis, Concordia University, Montreal, 1989. [82] McQUEEN, H.J. e RYAN, N.D. Constitutive analyze in hot working. Materials Science and Engineerin A 322, p.43-63, 2002. [83] WENHUI, Z.; SHUHUA, S.; DELI, Z.; BOAZHONG, W.; ZHENHUA, W. e WANTANG, F. Hot deformation behavior of a Nb-containing 316LN stainless steel. Materials and Design 32 4173–4179, 2011. [84] KIM, S.I.; LEE, Y. e BYON, S.M. Study on constitutive relation of AISI 4140 steel subject to large strain at elevated temperatures. Journal of Materials Processing Technology 140 84–89, 2003. [85] POLIAK, E.I.; JONAS, J.J. Initiation of Dynamic Recrystallization in Constant Strain Rate Hot Deformation. ISIJ International, v.43, No. 5, p. 685691, 2003. [86] MEDINA, S.F. e HERNANDEZ, C.A. The influence of chemical composition and peak strain of deformed austenite in low alloy and microalloyed steels. Acta mater. Vol. 44, No. I, pp. 149-154, 1996. 186 [87] MACCAGNO, T.M. e JONAS, J.J. Correcting for the effects of static and metadynamic recrystallization during the laboratory simulation of rod rolling. ISIJ Internacional. v. 34, p. 607, 1994. [88] CHO, S.H.; KANG, K.B. e JONAS, J.J. Mathematical Modeling of the Recrystallization Kinetics of Nb Microalloyed Steels. ISIJ International, v. 41, No. 7, p. 766–773, 2001. [89] NAJAFIZADEH, A. e JONAS, J.J. Predicting the Critical Stress for Initiation of Dynamic Recrystallization. ISIJ International, v. 46, No. 11, p. 1679–1684, 2006. [90] WAHABI, M.E.; CABRERA, J.M. e PRADO, J.M. Hot working of two AISI 304 steels: a comparative study. Materials Science and Engineering A 343 116-125, 2003. [91] JORGE JR. A.M. e BALANCIN, O. Prediction of Steel Flow Stresses under Hot Working Conditions. Materials research, v. 8, No. 3, p. 309-315, 2005. [92] CABRERA, J.M.; AL OMAR, A.; JONAS, J.J. e PRADO, J.M. Modeling the Flow Behavior of a Medium Carbon Microalloyed Steel under Hot Working Conditions. Metallurgical and Materials Transactions A, v. 28A, 2233, 1997. [93] LAASRAOUI, A.; JONAS, J.J. Prediction of temperature distribution, flow stress and microstructure during the multipass hot rolling of steel plate and strip. ISIJ International, v. 31, p. 95-105, 1991. [94] HODGSON, P.D. e GIBBS, R.K. A Mathematical Model to Predict the Mechanical Properties of Hot Rolled C-Mn and Microalloyed Steels. ISIJ International, v. 32, No. 12, p. 1329-1338, 1992. [95] MEDINA, S.F. e HERNANDEZ, C.A. Modelling of the dynamic recrystallization of austenite in low alloy and microalloyed steels. Acta mater. v.. 44, No. 1, pp. 165-171, 1996. 187 [96] KARJALAINEN, L.P.; MACCAGNO, T. e JONAS, J.J. Softening and Flow Stress Behaviour of Nb Microalloyed Steels during Hot Rolling Simulation. ISIJ International, v. 35. No, 12, p. 1523-1 531, 1995. [97] PUSSEGODA, L.N.; YUE, S. e JONAS, J.J. Laboratory Simulation of Seamless Tube Piencing and Rolling Using Dynamics Recrystallization Schedules. Metallurgical Transactions A, v. 21A, p. 153, 1990. [98] DAI, QI-XUN, WANG, AN-DONG, CHENG, XIAO-NONG e LUO XIN-MIN. Stacking fault energy of cryogenic austenitic steels. Chinese Physics, Vol.6, 596, 2002. [99] PRASAD, Y.V.R.K. e RAVICHANDRAN, N. Effect of stacking fault energy on the dynamic recrystallization during hot working of FCC metals: A study using processing maps. Materials Science, Vol. 14, N. 5, 1241, 1991. [100] VENUGOPAL, S.L. MANNAN, Y.V.R.K. PRASAD. Optimization of cold and warm workability in 304 stainless steel using instability maps. Metallurgical and Materials Transactions A 15 p.3093, 1992.