Don de sobreviver - Don Devereaux Mann
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Don de sobreviver - Don Devereaux Mann
——>>>> entrevista Don de sobreviver THE U.S. NAVY SEAL SURVIVAL HANDBOOK Learn the SurvivaL techniqueS and StrategieS of america’S eLite WarriorS 46 gooutside.com.br Ex-integrante da elite das Forças norte-americanas, Don Mann quase foi morto na Somália, participou das maiores provas de endurance e organizou as mais duras corridas de aventura. Ele conta aqui como se manteve vivo em situações tão extremas DON MANN É UM DOS CARAS MAIS RESPEITADOS dos Estados Unidos quando o assunto é ser casca-grossa. Espécie de super-herói de carne e osso, ele é corredor, mountain biker, escalador, triatleta, corredor de aventura, organizador de provas de endurance e oficial da Marinha americana (hoje aposentado). Ao longo da vida, esse homem enxuto de 54 anos correu mais de mil competições de longa distância — a maior delas foi a Raid South Africa, de 11 dias e 804 quilômetros —, completou o Ironman do Havaí quando pouca gente no mundo sabia o que era triathlon e tornou-se a pessoa que mais organizou eventos de endurance no planeta, incluindo a lendária Primal Quest Expedition, considerada uma das competições de aventura mais duras que existem. Seus ensinamentos podem ser encontrados em diversos livros escritos por ele — o mais recente, The U.S. Navy Seal Survival Handbook, recém-lançado pela editora Skyhorse e ainda sem tradução para o português. O gosto pelos desafios de gente grande começou cedo, e aos 19 anos Don fez a escolha que mudaria para sempre sua trajetória: entrou para o time dos destemidos Navy Seals – abreviação de Sea, Air and Land Team, que designa a principal força de operações especiais norte-americanas, preparada para atuar em qualquer tipo de terreno e fotos cedidas pelo greenpeace DON MANN & RALPH PEZZULLO maria clara vergueiro Acho que o filme fez um desserviço aos trekkeiros, escaladores e ao público em geral ao glorific tragédia público em geral ao glorific tragédia geral ao glorific tragédia conflito, incluindo a recente caça ao terrorista mais procurado do mundo, Osama Bin Laden. “Quando vi as imagens do recrutamento para ser um Seal, com homens nadando, correndo, escalando e saltando de paraquedas, não tive dúvidas de que era aquilo o que eu queria fazer da vida”, conta Don, que teve o pai, os tios e uma tia servindo em Pearl Harbor. “Minha família sempre foi muito patriota, e eu sabia que em algum momento serviria ao país.” Quando Don chegou aos treinamentos, já estava praticamente pronto. A experiência como atleta havia pré-moldado uma mente forte e um corpo resistente. Nos 21 anos em que passou servindo o país, atuou e treinou em zonas de alto risco. Uma das situações mais tensas da vida aconteceu durante um treinamento na Somália, quando foi capturado, ao lado de outros três Seals, por 14 somalis armados até os dentes. “Ficamos três dias em poder deles. Só fomos libertados com vida porque conseguimos explicar que estávamos apenas treinando e também porque temos o que eu chamo de pensamento de sobrevivência, ou seja, um aparato mental que permite, entre outras coisas, manter a calma e ter confiança de que tudo sairá bem”, conta Don. Em 1998, ano em que se aposentou, Don começou um trabalho que se estende até hoje: recrutamento e treinamento de Seals. Acostumado a levar qualquer pessoa interessada em superar os próprios limites para treinos nos finais de semana — “simplesmente porque adoro treinar”, diz ele —, Don passou a coordenar a preparação dos times de elite da Marinha, apostando sempre na construção de uma mente confiante. Contrariando o estereótipo de um líder militar, ele é avesso a truculências e gritarias. “Falo tranquilamente para meus homens: ‘Nas próximas horas, vocês vão sentir dor e fazer muita força. Haja o que houver, não parem’”, conta, com a voz pausada e suave. “As pessoas desistem porque sentem pena de si mesmas. E a verdade é: nós não queremos caras que desistem entre os Seals.” Mas, enfim, como se treina o cérebro para encarar situações de quase morte? Como fazer o corpo e a mente prosseguirem quando tudo nos incentiva a parar? A resposta de Don chega sem rodeios. “Visualizações e pensamentos positivos são muito poderosos. Mas nada substitui a vivência de fato, o acampamento, o isolamento, a realidade.” Com tanta experiência acumulada em anos de perrengue profissional, ele não poderia deixar de lado o filão das palestras motivacionais e dos livros que falam de superação. No The U.S. Navy Seal Survival Handbook, Don compartilha com aventureiros civis e leigos seus segredos para sobreviver a situações extremas. O manual é 100% embasado nas experiências pessoais desse veterano do mundo outdoor. Une não apenas episódios de guerra, mas também aqueles vividos como atleta, em expedições no meio de florestas, desertos e montanhas. Nas palavras do próprio Don, a obra tenta ensinar as pessoas a “cuidarem de si próprias” quando o bicho pega de verdade. Técnicas para fazer fogo, encontrar água, construir um abrigo, fugir de go outside 47 ——>>>> entrevista Indestrutível Dez dicas para sobreviver em qualquer situação, segundo Don Mann um inimigo perigoso estão distribuídas nas 224 páginas do livro (ilustrado com 150 fotos), sexta publicação de Don como autor. MESMO DURANTE O PERÍODO em que atuou como Seal, Don nunca deixou de competir como atleta profissional ou amador. Depois de se afastar das missões militares, ele aumentou a frequência em provas exaustivas (para dizer o mínimo). Fez a Odyssey Double Iron (evento de triathlon com o dobro das distâncias de um Ironman), completou — de mountain bike e sobre a neve fofa do Alasca — os 160 quilômetros da Iditasport e remou outros 160 quilômetros em cinco dias pelos Andes chilenos durante uma expedição pessoal. Além disso, organizou seis edições da mítica Primal Quest, considerada uma das mais difíceis competições de aventura do mundo. “Atualmente treino aproximadamente 15 horas por semana. Procuro pedalar no mínimo 240 quilômetros e remar pelo menos 24 quilômetros semanalmente. No início dos anos 1980, eram 50 horas!”, conta Don. Correndo riscos a vida inteira e, passando a maior parte do tempo fora de casa, Don não conseguiu, no entanto, superar um desafio pesssoal: manter a família unida. Um dia, ao voltar de uma temporada longa, não encontrou mais a mulher e a filha, na época com 2 anos de idade. “Nenhum Seal consegue sustentar um casamento por muito tempo, somos todos divorciados. Sua mulher ouve sua voz pelo telefone poucas vezes por mês, seus filhos não sabem quem você é. Infelizmente, ser um Seal exigiu mais da minha energia do que ser um marido ou um pai”, lamenta Don, que foi casado três vezes. A filha, hoje com 21 anos, vive no Texas, enquanto ele mantém sua base na Virgínia. “Hoje temos bastante contato”, jura. Se faltou tempo para a família, sobra até hoje disposição para espalhar as mensagens de confiança que reverberam quando ele está no comando. “Espero que meu legado seja a disseminação da ideia de que qualquer coisa é possível e de que nós nunca devemos nos subestimar. Faça o melhor uso possível do instrumental que Deus te deu e tire proveito do seu corpo e da sua mente, sempre.” 48 gooutside.com.br 1. Transforme grandes objetivos em pequenos desafios. Em uma expedição de seis dias, por exemplo, não pense nas distâncias absurdas. Mentalize apenas: “Vou passar alguns dias pedalando minha bike, correndo e remando”. 2. Nunca desista. 3. Tente ficar mais forte e mais inteligente a cada dia. 4. Não existe mau tempo, apenas diferentes tipos de clima para os quais sempre podemos nos preparar. 5. Saiba cuidar de si mesmo, fazer pequenos curativos, aplacar pequenas infecções. 6. Aprenda a construir abrigos em qualquer ambiente. Na neve, faça uma caverna e na selva monte seu abrigo longe do chão, para evitar o ataque de animais. 7. Domine a técnica de fazer fogo. Ele espanta os animais, ferve sua água, aquece o corpo e cozinha o alimento. 8. Tente estar sempre perto de onde há água. 9. Descubra os tipos de animais e plantas que podem ser comidos no ambiente onde você está, para evitar envenenamento e inanição. 10. Sempre se lembre da seguinte matemática: você pode sobreviver a três dias de frio extremo e seis dias sem comida.