Vocabulário indígena de algumas plantas timorenses

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Vocabulário indígena de algumas plantas timorenses
RUY CINATTI YAZ MONTEIRO GOMES
Vocabulário indígena
de algumas plantas timorenses
se p a r a ta
d e G A R C I A D E CJ R T A, Revista da Junta das Mïssóes Geográficas e de Investigaçóes do Ultramar
Vol. II --- N,° 3
POR
RUY CINATTI VAZ MONTEIRO GOMES
o vocabulário está referido à língua
tetom, o grupo linguístico mais generalizado no Timor Português . Sempre que
se tornou necessário recorrer a nomes
pertencentes a outros grupos linguisticos, ou dialectos, procuramos indicar a
sua origem entre parêntesis .
Não nos foi possível assegurar a autenticidade da nomenclatura tetum, a não ser
nas suas linhas gerais. Estamos certos
de que alguns nomes do actual vocabulário tetam reflectem uma tendência generalizadora e semioficialinente imposta
pelos missionários e autoridades administrativas.
uma tendência natural : o
colonizador normaliza a designação de
tudo aquilo que é directamente importante para a vida, quer «fixando» nomes
que não sejam os da sua língua, quer
impondo termos que pertencem à sua .
o indígena, por sua vez, revela uma notável capacidade assimiladora para termos que não sejam os seus .
o indígena tem um critério de nomenclatura essencialmente utilitário ; é capaz, consequentemente, de designar espécies diferentes com o mesmo nome . As
diversas aplicações de uma mesma espécie conduzem-no, também, a dar-lhe diversos nomes, que, muitas vezes, não
passam de designações de propriedades
ou aplicações . Muitas destas designações,
aparentemente diferentes, são em última
análise resultantes da forma dialectal
empregada nas diversas regiões . Ë dilfi-
cil por agora dar uma explicação razoável das variações que se verificam na
nomenclatura indígena, embora elas estejain relacionadas intimamente com os
grupos étnicos que em Timor se fixaram
e misturaram .
Outras espécies, ainda, são designadas
pelos nomes-relíquias de antigos povos
que pela ilha passaram ou nela se fixaram . Pouco sabemos sobre a distribuicão étnica dos povos destas regiões . Sabemos apenas tratar-se de povos com extrema mobilidade, profundamente intermesclados hoje, e com línguas aparentadas . Há realmente, na disparidade aparente das línguas, uma certa unidade .
Nomes existem que, por serem comuns
a muitos povos, actualmente delimitados, determinam com rigor a sua área
de expansão no Passado . Uma espécie
botânica como Cocos nwcifera L. possui
o mesmo nome em Timor, na Nova Caledónia, em Hawai e em Madagáscar.
Isto é : a distância de mais de 3 .000 milhas, a mesma planta é designada pela
mesma palavra : nú (ou n4ú) . Verifica-se idêntico paralelismo com Hîbi.scus
tliaceu$ L., conhecido, de Timor a Taiti,
por fcw .
d e crer, pois, haver unidade
cultural entre estes povos, que em épocas recuadas apresentaram o maior
grau de mobilidade até hoje observado .
Conhecedores de uma determinada espécie botânica, que designavam por um
Ruy Cinm t t i
nome, levaram este a todos os pontos
que alcançaram nas suas migrações .
deve ndo o seu conhecimento ser descurado por parte dos Europeus, em especial
das autoridades administrativas . Naturais ou naturalizadas, cultivadas ou em
estado selvagem, a sua importância não
passou despercebida ao indígena, que
delas se utiliza como base de alimentacão e outros fins vitais . Nas florestas,
savanas e prados de Timor existem muitas espécies que podem ser consumidas
total ou parcialmente desde que se saibarn seleccionar ou preparar. Por sua
vez, os frutos, as sementes, os rebentos,
as próprias flores até, são recursos de
que se pode lançar mão em casos de
emergência - como foi o da última
A elaboração de vocabulários com as
espécies mais conhecidas e úteis ao in-
dígena, relativos a diferentes pontos destas regi6es, poderia fornecer, pelo estudo comparativo, muitos elementos elucidativos, quer do ponto de vista etnogrâfico e sociológico, quer do ponto de vista
de origem e distribuição das espécies .
Além destas vantagens
prôpriamente
científicas, não nos devemos esquecer da
utilidade essencialmente prática e imediata que tais vocabulários representam
para o Europeu. O número de plantas
com possibilidades alimentares que se
encontram em Timor é considerãvel, no
A
Pterocymbivm javanioum R . Br
Acac-" ." ." ." .
Anar
Açor-mutin, ai
-'''~''''''''
Amal, ai
Ano, ai
Azlai, ai (Mar;ai)~~ .~ ~~~~ra^
As~~-~
Ata, ai
Ata-mualai, ai
A
Bab-merú
B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
~^'-'-'~''''~''
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Bac-moro, ai O genérico ai, que, oralmente,
significa vnue daira» em língua tetuin~
Eugenia sp .
Eugenia sp.
Dysoxylum sp .
Cassia Fistula L .
Atalontia trimera OIiv .
Annoma rnmrinctta L .
A»mxmnusquxumooa I^-
Bisehoffia javanica Bi .
ms florestais,
Vocabulário indígena de
aZgma plantas tihmmre n.s e '
361
Baco-muoruo ai
`--^~~^-~-''---. ., .~ . . . .^`~ .- .~_ ..
.~`-
Acacia Farneskina (L.) Wild.
& A.
Eugenia sp.
.
Baicú
. .^ . ._^ .^~-~
Bene, ai
Bkanioz~zma
Bano, ai
B.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Batar
Ba~,a=~ ..-_ ._ .-_`` .^_ ._Baulenu
----- '''~-''''''''~'-~ai
Béssi, ai
Bio\ ai -"-" ."^" ." .
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Boácat
B8o
Bua
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Bcdbur-fuic, ai
Bu~ .~mala, ~i
]3uoú
Sterculia foetida L.
Stercv2ia foetida L .
Zea Mays, L .
Ficu hispida L . f .
Int.sia bijvga O .
Kuntze
Areca Cmteohm L .
.
alba R•e ïnw.
Eucalyptus n. sp .
C
Cabïdaua
C.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
C.. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. .
Ceiba
Mill'ingtonia horten.sis L. f.
Cai adióu (MacaD
Cmï+dêno
Cajepute `'
C=^"
..
Oalitin' oï _`~~
Tenminai0a Cattapa L .
Wrighta sp .
Santalurn album L.
Comii, ai
C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
at .
al
Morinda tinctoria Rmxb .
C ounm arina
Mio.
2lfe7oZeuoa Leuoodendrmm L.
Cassia siamea Lam .
ai
ai~ .
Tinoonin~ .serioeus K . Schom~
.
362
Cincornasze
Criasse, ai
Cnia, ai . .
..
. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .
Conos
Czrur" . . -'-' . .-
I]mmbua
I]ao al
I}êlé
I]ezoc
~.~~ .-__~_
I]ïo ai
Dha~ . .` .~- . ._` . .~
Dila-fmdzzn,m i
Dila-mane
Dila-tuco ai
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ai
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DuIau
RumCinotti
Pachyrrhius ercsu
(L .) Urban .
Capsicum annuum L .
Circuftna domestica Val .
Citrus maxima Merr.
oleosa (Lour.) Merr.
SchJelehera
Citrus' a'iirantiwm L.
Citrus medica L4 .
Erijthrina sp .
Carica Papaya L.
Aegle Marmelos (L.) Corr.
Canoa Papaya L.
Aegle Marmelos (L.) Corr.
(L .) M. Arg.
Bischoffic& javanica Bi.
Erocox]pos Zatifolia R. Br.
Exoconpws Zatifolia R. Br.
E
mer/ucosa RdDk.
F
Fahl-úlun, ai
^'''''''''''''-Fare -rai
Faro^u~ -'''''^ .'''
~a~á- u
Fau, ai . . . .~~~ . .
F___-
Browssonetia papyrifera
Hibiscus tiliaceus L.
Kicinhovia hospita L.
B0
F___~_
Fetu° ai
Feu, ai
Focsvun
F__a
Litsea sp.
Ca.sia Fistula L.
1Jaruga floribunda
Dcne .
AJoozzio/eooeumxmode . (DC .)
Caktropis gigantea R. Br .
FnIbs
^
--'''''^'-~-^~
Furuc
Vent.
Piper Betle L.
Bezooo .
Vooob xó ário
Gzia _
`=" ia "= s ., . ~~ .`
ai_~ .
IIaao
Hac lahatran
...
Halas
Hal
Hªitimir-rahun
Ha-
ai
Hare
Has
Hadan
-_--_-__ `. . . . . . . . . . . . . . . . . .
Hudeno,e i~~ .
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Huhi
de algumas pianta$ ti nuz enoes
Zpatd0 uvm Gwajava L .
Psi Jiu nx Gu1ajava L .
Anncna .s4uomoaa I^ .
EZaemoonpnw/mp.
P8idium Gwajava L.
Exocarpvs latifolia R. Br.
Flous spp.
Ficw Benjamina L .
Mangi/erct indica L .
Aistcrn'ia schoZari (L.) R . Br.
Oryza sativa
Ma"gf°a "°="°a L.
Ancmno$ COn W8nUS (L .) Merr.
Cocos n2wifera L .
MmZo"hia mmbellota O . Stamf .
Musa paraciaca L.
L
ai
Laoo,m i ~~
Lafaic, ai
Laico (Dagadá) '
mi
~, .i
La~~, ~_
LeIe, ai
LeIe-fzic, nl Lia-nain, ai
Ló`~ ai.''''-' . .-' .'^ . . . .'^''
Pluchea indica Less .
CroÍon ap .
Leemo
Macamsar, mï
Mac-ro, ai
MuIai al
Manas, ai
Mane , ai
ai .~^ . .-
Vitex sp .
DC .
( Bout .) Bokh
Benth .
Capsicum spp .
Cassia javanica L .
Atakiya s'aZicifoia Bi .
mi
363
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Quian, ai ~
Quiar, ai^
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Rita, ai
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Ru, ai
Ruat
Palaqu4urn sp .
(L .) R . Br~
EiwaZyptits n . sp.
Albizzia sp .
Pmnuca Grumoatnm L.
s
Sabão ai
Samatu.~
SmmbaI8 ai
Sanai
Sapetêro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Semara' ai
=~~^~r
Seria, ai .
SUo aï
Slsi
Solda, al' ." . .
Pygeim sp .
AJÓ izm ia procera Benth .
~~~~~ a ~~~ g.~~~~B~~~=
(L . f.) K . Schznm.
Ced rela 2 ommoRoxb .
Bischoffia javanica Bl .
Sucu' ai~-
Pteropertum acerifolium Willd.
Tamarin,du. indica L .
Pterocyrnbium javanicum RL B
Cassia Fistula L .
SuIi, ai
Acacia oraria F . y. M .
..
T
Tacan
TaI
Taoe-fes±rm, ai" ." .'
T~^~,ai, ~^
Tassï ai
Ta~~~""
Taun ~,^'~~~ .'^^^
ai
T""=
T"hu-fuic
Tui, ai
Tolas
Ehretia laevis Roxb
Helicte,reoIsmra I^
Ca .$sia Fistula L .
Xylosma amara (Span .) Kds .
Rhywphora sp .
Bruguiera sp .
indigofera sp.
Tectona grandis L.
Saccharum officnaruam L .
Exocarpus latifolia R. Br .
Trema orientcais (L.) BI .
365
R?4y c1inatti
366
2ebania grandifiora Pers .
Santa um album L .
Borwsus flabellifer L .
Arenga pinnata (Wurmb .) Merr,
Thris .
Turul (Marai)
Tuya .
Thva-xnetan
U
Uvaria timorensis Bi .
Udi-clahâ, ai•
Manihot tilissima Pohi.
TJhi, ai
Ulun-móros, aiMelaZeiuca Leuca4endron L .
Umblá (Galóli)Oryza sauva L .
...
V
EWgP'fli sp.
Vé, ai
Vénévara, aiBawhinia acuminata L .
BIBLIOGRAFIA
struiknamen vcvi het ciland Timor - Bogor,
1950 .
MERRILL (E . D .) : liŒerrilliana. Chronica Bota-
Além das listas do autor foram consultadas
as seguintes obras :
nica - Whaitham, Mass ., 1946.
SANTOS (P . E . CAVIQUE DOS) : Apontamentos para o estudo da Flora de Macan e Timor - Lisboa, 1934.
CASTRO (ALBERTO OSORIO DE) : A lilia.
Verde e Vermelha cie Timor - Lisboa, 1943,
MEIJER DRESS (E .) : Lust van boom en
I1UR1HERH TERPITOY JHWERSITY
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