Jornal Cultivando Água Boa Edição no. 10
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Jornal Cultivando Água Boa Edição no. 10
Cultivando Água Boa & JUNHO DE 2007 O PROGRAMA SOCIOAMBIENTAL DA ITAIPU BINACIONAL - FOZ DO IGUAÇU, JUNHO DE 2007 - No 10 Samek, Lula, Nicanor e Bernal descerram a placa inaugural Presidente Nicanor: “Itaipu representa uma causa - a integração” Lula: “Uma poupança para brasileiros e paraguaios” Itaipu encerra o ciclo da construção da usina ao lado dos diretores gerais de Itaipu, Jorge Samek e Victor Bernal, descerraram a placa que marcou a inauguração oficial das novas unidades e a conclusão do projeto da majestosa usina. A cerimônia começou com a exibição de um filme de 15 minutos que mostra a atuação da Itaipu no Brasil e no Paraguai, especialmente no âmbito da missão de responsabilidade social e ambiental que a empresa cumpre, e prosseguiu com apresentação do Coral de Itaipu, que interpretou o cântico "Luar de luzes", de autoria do funcionário da Itaipu Cláudio Souza Farias. Seguiram-se os pronunciamentos das autoridades. "Conclui-se uma etapa vital da central hidrelétrica de Itaipu", comemorou o diretor geral paraguaio, Victor Bernal. "Chegou ao fim a instalação das 20 unidades geradoras, como estava contemplado no projeto original". O diretor geral brasileiro, Jorge Samek, lembrou que "Itaipu, hoje, junto com a Eletrobrás, já começa a utilizar o know-how adquirido ao longo dos 23 anos de operação da usina, oferecendo apoio técnico inclusive à usina chinesa de Três Gargantas". Lembrou que "Itaipu foi muito combatida no início, porque, segundo os críticos, poderia provocar catástrofes ambientais, mas hoje é um exemplo nessa área para as atuais e futuras hidrelétricas". Natural de Foz do Iguaçu, Samek lembrou que acompanhou toda a trajetória da usina e que estava emocionado por estar presente na etapa final da construção, e agradeceu emocionado ao presidente Lula: "Obrigado pela oportunidade de servir ao meu país na terra onde nasci." "Carinho e solidariedade" O presidente Nicanor Duarte Frutos não poupou elogios à Itaipu e rebateu as críticas contra a empresa, que têm surgido principalmente nos jornais paraguaios. Ele destacou os benefícios que Itaipu trouxe à população carente do seu país, particularmente com ações nas áreas de educação e saúde. Enfatizou que hoje "o governo brasileiro tem uma postura mais aberta a negociações". "Não recordo da existência de um governo brasileiro que tenha olhado o Paraguai com tanto carinho, com tanta solidariedade, como o do presidente Lula." "O que seria do Brasil sem Itaipu? O que seria do Paraguai sem Itaipu?" Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Presidente Lula: "Uma nova relação entre Paraguai e Brasil" O presidente Lula também se referiu às críticas. Embora as considere injustas, reconheceu que fazem parte do sistema democrático. "Os adversários continuarão a protestar e criticar, mas o que seria de nós sem os críticos? Quando as obras de Itaipu tiveram início, o Brasil e o Paraguai viviam sob regimes autoritários, e eu mesmo fui um crítico de tudo o que faziam então, inclusive Itaipu. Mas a dinâmica da política fez a maioria desses críticos compreender que Itaipu não foi apenas uma obra de ditaduras, mas uma prova da competência de brasileiros e paraguaios." O presidente Lula sugeriu aos diretores da Itaipu que convidem alunos de escolas públicas brasileiras e paraguaias para que conheçam a usina. "As crianças e os jovens devem ver o monumento que o Brasil e o Paraguai foram capazes de construir", disse. "Itaipu é um exemplo de que nós tivemos competência para construir. E hoje temos consciência de que Itaipu é uma espécie de poupança para brasileiros e paraguaios que ainda vão nascer". Lula concluiu afirmando que, depois da reunião com o presidente Nicanor em Assunção, saiu convencido de que "uma nova era começa a acontecer na relação entre o Paraguai e o Brasil". NA ESCASSEZ, CADA GOTA CONTA nMarco Pasquali, reitor da Universidade de Pisa, em Foz do Iguaçu Universidade de Pisa, UFPR e Itaipu selam cooperação ACORDO ESTABELECE DIRETRIZES E ÁREAS DE AÇÃO ENTRE INSTITUIÇÕES Páginas 14 e 15 Presenças ilustres no histórico evento (da esq. p. dir.) - pelo Brasil: Paulo Mac Donald Ghisi, prefeito de Foz do Iguaçu; Jorge Samek, diretor geral brasileiro da Itaipu; Paulo Bernardo, ministro do Planejamento; Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura; Silas Rondeau, ministro de Minas e Energia; Celso Amorim, ministro de Relações Exteriores; Orlando Pessutti, vice-governador do Paraná; Marisa Silva, primeira-dama do Brasil; Luiz Inácio Lula da Silva, presidente dda República. Pelo Paraguai: Nicanor Duarte Frutos, presidente da República; Maria Glória, primeira-dama; Ruben Ramírez, ministro de Relações Exteriores; Rogelio Benítez, ministro do Interior; Blanca Ovelar de Duarte, ministra de Educação; e Andrés Retamozo, prefeito de Hernandárias ITAMARÃ 21 DE MAIO DE 2007 será para sempre um marco na história da Itaipu Binacional, do Brasil e do Paraguai. Nesse dia, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, descerraram a placa inaugural das duas últimas unidades geradoras (9A e 18A) da maior hidrelétrica do mundo - Itaipu Binacional. Toda a capacidade geradora projetada está instalada: 20 geradores, 14.000 MW. "Termina hoje a construção de uma majestosa obra", proclamou o presidente paraguaio. "Itaipu representa mais que uma empresa que gera energia; representa uma causa, a integração de dois povos." "Muita gente critica Itaipu, do lado paraguaio e do lado brasileiro", disse o presidente brasileiro. "Mas eu gostaria que esses críticos parassem um pouquinho para pensar: o que seria do Brasil sem Itaipu? O que seria do Paraguai sem Itaipu?" Num grande palco montado no interior da barragem, perante cerca de 1.500 pessoas, entre autoridades, convidados, empregados e jornalistas, os presidentes Lula e Nicanor, nPara celebrar o Dia Mundial da Água, 22 de março, a FAO escolheu por palco a Itaipu e o Parque Nacional do Iguaçu, em encontro que se colocou diante do desafio: Enfrentando a escassez de água. Páginas 4 a 7 Indígenas recebem terra e formam nova aldeia Páginas 20 e 21 Ao entardecer do Dia da Água, nas Cataratas do Iguaçu, a cantora Maria Bethânia lança ao espaço um olhar apreensivo, momentos antes de apresentar, naquele cenário, o espetáculo Dentro do Mar tem Rio PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DE ÁGUA E SOLO COMEÇAM SEGUNDA FASE Páginas 22 e 23 JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Outro mundo é necessário Nelton Miguel Friedrich Em menor ou menor grau, todos já sabemos que o planeta Terra nossa casa comum está enfermo. Os desequilíbrios socioambientais não são apenas coisa de relatórios de cientistas ou catastrofistas São evidências concretas sentidas e sofridas em todos os cantos do mundo. E tudo tende a ficar cada vez pior, a menos que... Aí estão a destruição da camada de ozônio; o aquecimento global; o esgotamento de reservas de água potável; o aumento da poluição das águas, da atmosfera e dos solos; o aumento do lixo; extinção massiva de espécies animais e vegetais; desmatamento; erosão; desertificação; exaustão e degradação de terras cultiváveis; padrões dominantes de produção e consumo causadores de devastação ambiental; injustiça, pobreza, ignorância e conflitos violentos se intensificando e causando grande sofrimento. Tudo seria simplesmente desesperador se não tivéssemos possibilidade alguma de contornar a situação. Felizmente, ainda temos, como garantem os mesmos cientistas que alertam para o perigo. Se, contudo, a desperdiçarmos, será o inferno na Terra não em futuro remoto e incerto, mas logo ali adiante, na pele de cada habitante do planeta. Colocam-se, então, duas questões: De quem é a responsabilidade pelo deplorável estado de coisas que se estabeleceu? E de quem será a responsabilidade pela mudança salvadora? Simples. A resposta para as perguntas é de todos da humanidade em geral e de cada indivíduo em particular, mesmo que em graus diferentes. A ninguém é dado fugir do problema ou jogá-lo às costas dos outros. Um novo mundo não é apenas possível; é necessário. Sua construção é tarefa de cada um. Cada ser humano tem que colocar seu tijolo nessa construção. Ou será que governos, algum país, grandes empresas, instituições renomadas darão um jeito? Evidentemente, eles todos têm papel fundamental, mas igualmente fundamental é o papel de cada pessoa. Não é só por intermédio dos negócios e governos, mas também, possivelmente mais importante, por intermédio da ação e do suporte generalizados dos indivíduos que a restauração e a preservação do meio ambiente podem ser conquistadas, afirma a ambientalista japonesa Wakako Hironaka, integrante da Comissão da Carta da Terra. A propósito, para quem tem dúvidas sobre seu papel nessa missão salvadora, a Carta da Terra é, provavelmente, o guia mais sábio disponível. A poderosa e abrangente mensagem que a Carta da Terra contém precisa ser internalizada por todas as pessoas e traduzida em ação em sua vida diária, recomenda Wakako, sabiamente. Precisamos estar preparados para pagar o preço da salvação do nosso (único) planeta. Não basta cobrar dos outros, achar que alguém deve fazer alguma coisa. A sociedade e cada um de seus integrantes têm que fazer alguma coisa, dispor-se a mudar hábitos e abrir mão de certos confortos, fazer a ponte entre o falar e o agir. O outro mundo, que não só é possível, mas necessário, só será edificado com um novo jeito de ser, viver, produzir e consumir. Exige uma nova cultura de relacionamento entre os seres humanos e destes com a natureza, movido a solidariedade, cooperação e cuidado mútuo. As atitudes necessárias são em geral simples: conservar, não desperdiçar, reciclar, viver com menos, evitar o supérfluo, usar menos o carro, dar destino correto ao lixo, ser benevolente, cooperativo, compartilhar, amar e cuidar. EXPEDIENTE Publicação da Diretoria de Coordenação da Itaipu Binacional Diretor Geral Brasileiro: Jorge Miguel Samek Diretor de Coordenação: Nelton Miguel Friedrich Superintendentes: Newton Kaminski (Obras), Jair Kotz (Meio Ambiente) Gerente Executivo do Cultivando Água Boa: Odacir Fiorentin Superintendente de Comunicação Social: Gilmar Piolla Redação: Juvêncio Mazzarollo Fotografia: Caio Coronel, Milton Rolin, Adenésio Zanella Visual e DPT: HDS Impressão: Jornal O Paraná Diretoria de Coordenação Av. Tancredo Neves, 6731 Foz do Iguaçu - Paraná CEP 85866-900 Fone (45) 3520-5724 Fax (45) 3520-6998 E-mail: [email protected] Constelação de Libra Liberato Vieira da Cunha Os astrônomos acabam de descobrir uma segunda Terra extraviada no universo. Pelo que li, o novo planeta fica na constelação de Libra e reúne muitas das condições ideais para a invenção da vida, tal como a concebemos no cantinho perdido do cosmos que todos nós fomos condenados a habitar. Seu nome é pouco inspirador: GL 581c. Espero que seja apenas um pseudônimo. Espero ainda que desconheça algumas das desgraciosas realidades com que convivemos, como as guerras e a violência. Bem ao contrário, desejo que GL não tenha a mais remota noção do que sejam a doença, a crueldade, o preconceito e a injustiça. Almejo ainda que jamais tenha ouvido falar em terremotos, inundações, tsunamis ou no clima de Porto Alegre. Creio que não seria demais supor que nosso colega na Via Láctea seja dotado de vastas provisões de solidariedade, de reservas infinitas de generosidade e de imensas quantidades de paz. Não me desagradaria descobrir que é habitado pelo diálogo, ornado de esperança e revestido de ternura. Não me desgostaria ouvir que são enormes suas jazidas de compreensão entre os povos, de amor entre os seres e de respeito entre todas as espécies. E não duvidaria se me contassem que, por um decreto ancestral e irrevogável, houvessem sido exilados o ódio, a miséria e a dor. Ou de que fossem inesgotáveis as porções de solidariedade, de entendimento e de boa vontade. Torço aliás para que jamais enviemos expedição alguma ao GL. Pois nós, os habitantes desta esfera azul, levaríamos em nossas naves o egoísmo, a inveja, o orgulho e a arrogância. Não esqueceríamos de colocar na bagagem a insensibilidade e a ira. E ao transpormos o limiar do paraíso idealizado não esqueceríamos de contaminá-lo segundo nossa imagem e semelhança. *Artigo publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, 08/05/2007; reprodução autorizada pelo autor.([email protected]) PENSANDO BEM... “Este mundo está acabando. Precisamos lançar as bases para um novo. Temos uma grande oportunidade de fazer um mundo melhor.” Alice Klein, documentarista canadense “Nossas sociedades dependem da natureza, embora a tenhamos debilitado durante séculos. Agora, com a mudança climática, estamos atacando a própria base do mundo natural.” Lara Hansen, cientista-chefe do Programa Internacional de Mudança Climática do Fundo Mundial para a Natureza WWF “É fácil defender o meio ambiente dos outros, não o nosso.” Marina Silva, ministra do Meio Ambiente Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 % Encontro em São Paulo avalia a aplicação da Carta da Terra no Brasil e no Mundo Evento também definiu ações em três eixos principais: divulgação, educação e vivência Com a presença de 120 pessoas, entre dirigentes, conselheiros, coordenadores de ações baseadas na Carta da Terra e convidados de diversos países das Américas, Europa e África, no dia 25/04, a Secretaria Internacional da Carta da Terra promoveu encontro em São Paulo, na sede do Grupo Amana-Key, com o objetivo, segundo o representante da Itaipu no evento, o diretor de Coordenação Nelton Friedrich, de fazer uma avaliação da aplicação dos princípios da Carta da Terra (CT) no Brasil e demais países, além de definir ações em três eixos estratégicos: n DIVULGAÇÃO - fazer com que a CT seja mais e mais conhecida no mundo; nEDUCAÇÃO - criar a consciência da mudança necessária proposta pela CT; nVIVÊNCIA - fazer com que as pessoas vivam a essência da Carta da Terra. O encontro também incluiu nos trabalhos o conhecimento e análise de experiências de aplicação dos princípios da Carta da Terra, que são: Respeitar e cuidar da comunidade de vida; Integridade ecológica; Justiça social e econômica; Democracia, não- violência e paz. Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire e professor da USP, apresentou balanço intitulado A Carta da Terra no Brasil, historiando desde sua concepção como proposta apresentada na Rio-92, até o registro dos passos dados e experiências realizadas ou em andamento no país. Em relação à prática da Itaipu na aplicação da CT, Gadotti registrou o seguinte: A hidrelétrica brasileiro-paraguaia ITAIPU, situada na bacia do Paraná, com a assessoria de Leonardo Boff e Moema Viezzer e sob a liderança de Nelton Friedrich, em parceira com o Ministério do Meio Ambiente e com o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (RJ), tem feito formação de educadores populares, divulgando a Carta da Terra através de vídeos e cadernos. O seu projeto Cultivando Água Boa usa a Carta da Terra como referencial ético, começou em 2003 e envolveu mais de 150 educadores sociais. 60.000 mil cópias da Carta da Terra foram utilizadas na educação não-formal para a vida sustentável, envolvendo 29 municípios, 145 ONGs e 318 escolas da região. Uma das mais belas experiências O Cultivando Água Boa também ganhou espaço na pauta do encontro, com palestra do diretor de Coordenação, Nelton Friedrich, que, além de discorrer sobre o programa, lembrou do Prêmio Carta da Terra + 5, conferido à Itaipu em evento realizado em Amsterdam, Holanda, em 2005, em comemoração aos cinco anos do lançamento do documento. A americana Alide Roerink, membro da Comissão da CT e conhecedora de trabalhos ambientais fundamentados no documento em todo mundo, disse sobre o Cultivando Água Boa: É, sem dúvida, uma das mais belas experiências que estão sendo feitas no mundo; não conheço outra empresa que faça isso. A Carta da Terra em Ação No encontro foi lançado o livro The Earth Charter in Action Toward a Sustainable Earth (A Carta da Terra em Ação Rumo a uma Terra Sustentável), de 184 páginas, com artigos de 62 das mais destacadas personalidades do mundo em matéria de ecologia e luta ambiental e social, especialmente escolhidas entre as que fazem da CT a fonte fundamental de inspiração para seu trabalho. Editado pela KIT Publishers, de Amsterdam, em cooperação com a Iniciativa da Carta da Terra, de São José, Costa Rica, com financiamento do NCDO (Comitê Nacional para a Cooperação Internacional e Desenvolvimento Sustentável), da Holanda, o livro é dedicado às aspirações da juventude por um mundo justo, pacífico e sustentável e especialmente aos jovens da Iniciativa Jovem da Carta da Terra que representam as elevadas esperanças e idealismo prático de sua geração colocando a Carta da Terra em ação. Mikhail Gorbachev, ex-líder soviético, fundador e presidente da Green Cross International (Cruz Verde Internacional), membro e líder da Comissão da CT, escreve o prefácio do livro sob o titulo The Third Pillar of Sustainable Development (O Terceiro Pilar do Desenvolvimento Sustentável). Os três pilares segundo Gorbachev Escreve Gorbachev: O primeiro pilar é a Carta das Nações Unidas, que regula as relações entre os estados e estabelece regras para seu comportamento de modo a assegurar a paz e a estabilidade. O segundo pilar é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que regula as relações entre estados e indivíduos e garante a todos cidadãos um conjunto de direitos que seus respectivos governos devem garantir. A importância desses dois documentos não pode ser superestimada. Mas tornou-se óbvio que outro documento está faltando, um que regule as relações entre estados, indivíduos e natureza, definindo os deveres humanos para com o meio ambiente. Na minha opinião, a Carta da Terra deveria preencher este vácuo, adquirir igual status e tornar-se o terceiro pilar sustentando o desenvolvimento pacífico do mundo moderno. O processo desse endosso já começou é endossado por um crescente número de governos locais e nacionais, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e muitas organizações não-governamentais. Entretanto, nós fundadores e defensores deveríamos considerar nossa missão cumprida somente quando a Carta da Terra fosse adotada universalmente pela comunidade internacional. Personalidades de renome Entre os presentes ao encontro, Nelton Friedrich destaca as seguintes personalidades: MLeonardo Boff, teólogo, filósofo e ecologista brasileiro, membro da Comissão da Carta da Terra; MMirian Vilela, diretora executiva da Iniciativa da CT; Wangari Muta Maathai, queniana, Prêmio Nobel da Paz de 2004; MSteven Rockefeller, monge americano e professor universitário de religião; MMateo Castillo Ceja, do México, cuja experiência também recebeu o Prêmio Carta da Terra + 5; M Oscar Motomura, diretor executivo do Grupo AmanaKey, dedicado ao desenvolvimento sustentável com base na CT, referência global para seus programas educacionais de formação de lideranças tanto no setor corporativo como governamental; MMarcos Sorrentino, brasileiro, diretor do Programa de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente; MRachel Trajber, brasileira, coordenadora de Educação Ambiental do Ministério da Educação; MPeter Blaze Corcoran, diretor do Centro de Educação para o Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade da Flórida, EUA; MMaurice Strong, sub-secretário da ONU, foi secretário da Rio-92 e é membro da Comissão da CT, que não pôde participar mas enviou mensagem. Cultivando Água Boa $ JUNHO DE 2007 GESTÃO DE ÁGUAS TRANSFRONTEIRIÇAS Fotos: Caio Coronel Brasil, Argentina e Paraguai se propõem a estabelecer diretrizes para a gestão integrada de bacias hidrográficas De 3 a 6 de junho realiza-se em Foz do Iguaçu o I Encontro Trinacional de Gestão de Recursos Hídricos Transfronteiriços para abordar os aspectos das bacias hidrográficas do Paraná III/ Médio Paraná e dos rios Santo Antônio e Peperi-Guaçu, numa iniciativa da Câmara Técnica de Gestão dos Recursos Hídricos Transfronteiriços (CTGRHT) do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), que o Governo do Paraná, a Itaipu Binacional e instituições dos governos Federal do Brasil, de Santa Catarina, Paraguai e Argentina estão promovendo. O encontro reúne cerca de 200 representantes de instituições governamentais e não governamentais, usuários, convidados e atuantes nas bacias hidrográficas de recursos hídricos transfronteiriços dos afluentes que formam o reservató- rio de Itaipu, com os seguintes objetivos: n promover intercâmbio de conhecimentos e experiências entre organizações que atuam na região transfronteiriça das bacias do rio Paraná entre o Brasil/Paraná com o Paraguai/ Alto Paraná, e dos Rios Santo Antônio e Peperi-Guaçu, compartilhadas com a Argentina/ Misiones, com a finalidade de promover a articulação das instituições brasileiras, paraguaias e argentinas visando desenvolver mecanismos que possibilitem a gestão integrada e compartilhada; ndescentralizar as atividades da Câmara Técnica e proporcionar espaço para a ampliação dos atores sociais envolvidos no processo por meio da Reunião da CTGRHT; n promover a difusão de informação sobre o processo de gestão de bacias hidrográficas no Brasil, Paraguai e Ar- ANTECEDENTES A CTGRHT, no âmbito do CNRH, tem realizado reuniões de forma descentralizada em estados que possuem sub-bacias com outros países, como Paraguai, Bolívia e Rios Iguaçu e Paraná: águas compartilhadas por Brasil, Argentina e Paraguai Uruguai. Em 2003 foram realizadas duas reunio Seminário de Gestão Transsil compartilha com os países ões, uma em Mato Grosso do fronteiriça apoiado pela que integram a Bacia do Prata Sul, na região da Bacia do Rio CTGRHT em Epitaciolândia, (Argentina, Bolívia, Paraguai e Apa, compatilhada com o PaAcre, para discussão da bacia Uruguai). raguai, e no Rio Grande do Sul, hidrográfica dividida com a As reuniões e seminários na região da Lagoa Mirim, Bolívia e o Peru. realizados tiveram a finalidade compartilhada com o Uruguai. Nessa primeira rodada de de identificar mecanismos que Em 2004 foi realizada houve reuniões, a intenção foi idenpossam promover a implemenreunião na região da Bacia do tificar demandas locais e regitação da gestão transfronteiriAlto Paraguai, no Mato Grosso onais relacionadas à gestão de ça dos recursos hídricos nas do Sul, que comparte com a recursos hídricos transfronteidiferentes regiões hidrográficas Bolívia. E em 2006 realizou-se riços em sub-bacias que o Brabrasileiras. Professores querem entender recados da natureza Em maio, a convite da coordenadora da Equipe Pedagógica do Núcleo Regional de Educação de Foz do Iguaçu, Djeue da Silva, o diretor de Coordenação, Nelton Friedrich, e seu assistente técnico Luís Suzuke, ministraram palestras e promoveram debates entre aproximadamente 2.500 professores da rede estadual de ensino dos municípios do extremo oeste do Paraná, sob o tema "Meio ambiente, aquecimento global e a valorização da água". No convite dirigido à Itaipu, a coordenadora Djeue manifestou o interesse dos professores em desenvolver uma "consciência de vida mais saudável e comprometida com o meio ambiente". E acrescentou: "Frente aos recados da natureza, sentimos urgência de uma orientação pessoal para aliviar futuras conseqüênci- as que podem advir de comportamentos inadequados que resultarão em prejuízos para toda sociedade". Os encontros se estendiam das 8h30 às 11h30 e tiveram por eixo a Cultivando Água Boa, exemplo de trabalho adequando ao enfrentamento dos problemas que afligem os professores, bem como toda sociedade. "Foi impressionante o interesse com que os professores acompanharam e participaram das palestras", avaliou Suzuke. "A preocupação é grande, e a vontade de atuar na construção de um novo modelo de vida e civilização também. Acredito que, como esperava a professora que formulou o convite, ajudamos os professores a entender melhor os recados da natureza." Professores atentos às questões ambientais e aos valores ecológicos ! AO ARQUEÓLOGO DO FUTURO Entramos no reino da razão cordial Leonardo Boff gentina possibilitando firmar intercâmbio de cooperação técnica. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Da História aprendemos que não aprendemos nada da História. Mas aprendemos tudo do sofrimento. E aprendemos. Sabíamos dos alertas dos cientistas e sábios que nos advertiram acerca do aquecimento global que ocorria de forma irrefreável. Devíamos proteger e cuidar de todos os ecossistemas, da imensa biodiversidade da Terra, da água potável cada vez mais escassa. O que não podíamos era romper o limite do intransponível. Eis que nos inícios de fevereiro de 2007, o organismo da ONU que envolveu mais de 2.500 cientistas de 130 países - o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) - comunicounos a trágica notícia: acabávamos de romper a barreira de não retorno. A Terra encontraria um novo equilíbrio subindo sua temperatura entre 1,4 até 6 graus Celsius, estabilizando-se, provavelmente, por volta de 3 graus Celsius. Caso isso viesse a ocorrer, representaria a inauguração da era das devastações. Se nada fizéssemos até os anos 2030-2040, conheceríamos a tribulação da desolação. Pelo final do século XXI, teríamos um planeta devastado, grande parte de nossas florestas dizimadas, a biodiversidade tremendamente reduzida e milhões de pessoas teriam desaparecido. Nos recantos ainda habitáveis, viveriam milhões de pessoas acotoveladas, com outros milhões de refugiados do clima, forçando os limites do espaço, na busca desesperada de alimentos e de chances de sobrevivência. Mas eis que algo inaudito aconteceu. Estava dentro das possibilidades humanas a emergência da cooperação e da razão cordial, mas que, na civilização imperante, marcada pela competição e pela razão instrumental, tinha poucos espaços de realização. Agora, face ao iminente perigo de que não houvesse uma Arca de tipo de colaboração. Quando grande é o perigo, grande também é a chance de salvação submetida à condição de que todos queiram ser salvos. Quem é tão inimigo de si mesmo e da vida a ponto de sucumbir ao apego aos bens materiais que, na verdade, apenas pesam, que não nos podem assegurar a vida nem podemos levá-los conosco junto com a morte? Noé que salvasse alguns e deixasMesmo com a relutância de se perecer os demais e de que toum bom número de milhardários, dos igualmente poderíamos peretodos convieram na seguinte decer, verificou-se uma lenta, mas cisão, baseada na sabedoria anprogressiva transformação no estiga da humanidade: quando estado de consciência da humanitamos todos em perigo de vida, dade. tudo fica comum. Então os bens Tomamos consciência de que de todos os países e das pessoas somos uma única e grande famídeveriam servir a todos no propólia habitando uma única casa cosito de salvar a todos e o nosso mum, o planeta Terra. Temos que querido planeta. nos salvar a nós mesmos e o nosEsta decisão implicava fazer so habitat humano. uma moratória no desenvolvimenGovernos, grandes instituito e no crescimento. Parar para ções multilaterais, empresas glopermitir universalizar todas as conbais, movimentos sociais mundiquistas em benefício de todos, a ais, igrejas, religiões, centros de começar pelos mais retardatários pesquisa e universidades, articue pobres. Viu-se que com os calações de campitais acumulaponeses do Quem é tão inimigo de si dos nos bancos mundo inteiro e mesmo e da vida a ponto de mundiais, nos outros grupos sucumbir ao apego aos bens bancos cenmenores, mas materiais que, na verdade, trais de cada não menos impais, nas bolportantes, co- apenas pesam, que não nos sas do mundo meçaram a fa- podem assegurar a vida inteiro e nas zer encontros nem podemos levá-los co- contas de granpara buscar cades ricos e de nosco junto com a morte? todos, haveria minhos salvadores. Houve muitas discussões, tantos meios capazes de dar casa, contraposições, propostas e consaúde, educação e lazer a todos trapropostas. Mas todos viam a os seres humanos. urgência de encontrar pontos míLogicamente, esta moratória nimos comuns. Ao redor deles implicaria fechar milhões e midever-se-ia elaborar um consenlhões de postos de trabalho. As so geral. fábricas cessariam de produzir. A primeira coisa que constaMas com os fundos globais da taram foi que dispomos de meios humanidade todos poderiam gatécnicos e econômicos mais do nhar salário de subsistência e de que suficientes para enfrentar com decência. Não apenas para não sucesso o risco. Apenas faltava o morrer, mas para viver desafogaconsentimento de todos para pardos e felizes. Fariam os trabalhos ticipar do projeto Salvação da Vida de manutenção das cidades, das e da Terra. Todos teriam que fazer ruas, dos serviços essenciais, das alguma renúncia e oferecer todo fábricas e edifícios públicos. Gran- de parte do trabalho seria feito no do por causa da condição humaresgate da natureza, levando a na deficiente. Com isso criou-se sério os quatro erres: reduzir, reunas sociedades uma aura espiritilizar, reciclar e rearborizar. tual que facilitou a aceitação das Ninguém seria perdulário ou diferenças e o apreço dos valores viveria no luxo. O projeto de vida é dos mais diferente povos. Elas nos viver na simplicidade voluntária. convenceram de que realmente Mas todos, decentemente, podensomos irmãos e irmãs de uma do comer três mesma famíO arqueólogo do futuro fica- lia habitando ou mais vezes ao dia de forma rá pasmado pelas mudanças a mesma mais que sufi- que foram possíveis quando os casa comum. ciente. O efeiAs quatro seres humanos, no maior to seria um virtudes básibem-estar ini- aperto e no instinto de sobre- cas do convím a g i n á v e l . vivência, aceitaram viver a vio humano Anulariam-se razão cordial e o cuidado de foram cultivaas causas das com exuns para com os outros. principais que tremo empelevam ao conflito e à vontade de nho: a hospitalidade de todos com dominação de uns sobre outros. todos, o respeito por todas as diTodos decidiram fazer uma ferenças de raça, religião, cultura retirada sustentável das atividades e valores, a convivência irrestrita que implicavam em degradação da que levou a superar a intolerância natureza. O propósito coletivo era e o fundamentalismo e, por fim, a regenerar a Terra das feridas inflicomensalidade: todos sentados ao gidas e prevenir feridas futuras. Era redor da mesma mesa planetária, o império da ética do cuidado e como irmãos e irmãs em casa, da compaixão. desfrutando da generosidade dos Mais ainda, cientistas dos bens da mãe Terra. mais sérios sugeriram utilizar a tecTodos se puseram a venerar nologia mais avançada, a nanoteca fonte originária de onde nos vêm nologia, para reduzir o aquecimentodas as coisas, valorizando os to da Terra. Descobriram que midiferentes nomes que cada grupo lhões de nanopartículas de ferro humano lhe deu: Javé, Olorum, colocadas nos oceanos diminuiriTao, Shiva, Tupã, Deus. Essa crenam o calor das águas ao mesmo ça ensinou os seres humanos a tempo que estimulariam os corais confiarem o seu futuro a um Maie os plânctons a produzirem mais or e sentir-se carregados na paloxigênio. Colocadas na estratosma de sua mão. Seu desígnio não fera, refletiriam os raios solares é a morte, mas a vida; não o caos, para fora da Terra e assim a resfrimas o sentido. Eles detêm a últiariam. Haveria riscos com esta nama palavra. notecnologia, cujos efeitos finais Assim, todos, confiados na ainda não controlamos. Mas face salvação da humanidade e da Terà iminência do perigo coletivo, fora, inauguram o reino da razão mos obrigados a aceitar certas cordial. ameaças. E todos começaram a dançar As religiões, as igrejas e as trae a louvar, a louvar e a celebrar, a dições espirituais esqueceram celebrar e magnificar a alegria de suas diferenças e juntas colocaestarem juntos, irmanados entre ram-se a serviço da vida e dos vasi e reconciliados com a Terra, lores que mais protegem a vida contentes por terem ainda futuro como a reverência e o respeito, a e por estarem certos de que a colaboração de todos com todos aventura terrenal e cósmica pode e a profunda compaixão por aqueseguir pelos séculos sem fim. les que ainda continuam sofren- Cultivando Água Boa " JUNHO DE 2007 Caio Coronel Caio Coronel JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa # Autoridades discutem criação na FPTI do Instituto Mercosul de Estudos Avançados Entidade tem como proposta principal promover a integração entre universidades e entidades de fomento à ciência e tecnologia Cerca de 500 pessoas celebraram o Dia da Água na Itaipu e no Parque Nacional do Iguaçu No Dia Mundial da Água, o grito: SOS H20 Enfrentando a escassez foi tema de evento alusivo à data realizado em Foz do Iguaçu Para celebrar o Dia Mundial da Água (2203-07), a representação no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) escolheu Foz do Iguaçu como palco. Com a palavra-de-ordem SOS H20, o lema Cada gota conta e o tema Enfrentando a escassez de água, o evento foi promovido por uma parceria entre a FAO, o Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional das Águas, Itaipu Binacional, Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e Fundação Roberto Marinho. A programação foi desenvolvida na Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e no Parque Nacional do Iguaçu. A escolha de Foz do Iguaçu para sede do evento levou em conta a abundância de água da região e o trabalho socioambiental que vem sendo realizado pela Itaipu e seus parceiros, entre eles a própria FAO, na Bacia do Paraná III, com o pro- grama Cultivando Água Boa. O evento reuniu representantes de órgãos governamentais gestores dos recursos hídricos, grandes consumidores, organizações do terceiro setor e um público de aproximadamente 500 pessoas. O início dos trabalhos foi precedido pela interpretação da canção Planeta Água, de Guilherme Arantes, pelo Coral da Itaipu, sob a regência do maestro Gil Gonçalves, e execução do Hino Nacional. Formaram a mesa de honra o governador do Paraná, Roberto Requião; o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi; representante da FAO no Brasil, José Tubino; diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek; diretor presidente da ANA, José Machado; e o gerente de Desenvolvimento Institucional da Fundação Roberto Marinho, Ricardo Piquet. Todos pela água Jorge Miguel Samek, diretor geral brasileiro da Itaipu e anfitrião do encontro, saudou e deu as boas-vindas às autoridades, personalidades e ao público. Disse que o movimento SOS H2O marcou o início de mudança de atitude do Brasil em relação aos seus recursos hídricos. E acrescentou: Demos o primeiro passo no sentido de mobilizar a sociedade brasileira em torno da importância dos rios, córregos, nascentes e lagos e lembrou que sem água não há vida, nem energia nem desenvolvimento. Roberto Requião, governador do Paraná, enfatizou que a Terra reage de forma dura aos seus agressores, e culpou o sistema capitalista, que só visa ao lucro, sem considerar os limites do planeta. Para tentar salvar a vida na Terra, temos de mudar a visão capitalista de ter lucro a todo custo. Ele destacou a política ambiental do Estado dando ênfase às ações de conservação Autoridades dizem que quadro é preocupante dos recursos hídricos, repovoamento de rios e reflorestamento. Paulo Mac Donald Ghisi, prefeito de Foz do Iguaçu, abordou as ações ambientais implementadas no município, destacando a coleta seletiva e reciclagem do lixo, o tratamento do esgoto doméstico, a preservação de rios e a conscientização da população, especialmente as crianças. Queremos transformar cada estudante de 1ª a 4ª série num defensor do meio ambiente, disse. José Tubino (foto), representante da FAO no Brasil, traçou um panorama global e nacional da água, definindo-a como bem vital cada vez mais escasso. Lembrou que hoje, segundo a ONU, cerca de 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável e 40% da população mundial não dispõem de condições sanitárias básicas. E acrescentou que, em menos de 20 anos, a escassez de água afetará 2,8 bilhões de pes- soas. A escassez de água também vai comprometer a produção de alimentos, alertou Tubino. Até 2030, a demanda por alimentos deverá aumentar 55%, mas é possível que não haja água para atender a essa demanda. Tubino destacou o trabalho feito pelo Brasil em cumprimento das Metas do Milênio definidas no Plano da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na África do Sul em 2002. A ONU reconhece que o Brasil teve avanços expressivos em sua política de recursos hídricos, afirmou. Mas chamou atenção para a necessidade do envolvimento da sociedade e dos setores produtivos para que as políticas governamentais de meio ambiente tenham resultado. Citou como modelo de gestão descentralizada e participativa os comitês gestores do programa Cultivando Água Boa. MAIS CIÊNCIA, MAIS TECNOLOGIA Segundo Hélgio Trindade, do Conselho Nacional de Educação Superior, o Instituto Mercosul de Estudos Avançados promoverá intercâmbio e cooperação entre instituições FPTI FPTI Jorge Guimarães Hélgio Trindade nacionais, latino-americanas e de outros continentes, além de pesquisas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharias e meio ambiente. O instituto vai impulsionar o processo de integração e disseminação do conhecimento, principalmente da região fronteiriça, e virá se somar aos esforços desenvolvidos pela FPTI, previu Hélgio. Já o presidente da Capes, Jorge Guimarães, destacou que as pesquisas científicas e tecnológicas desenvolvidas no âmbito do Imea poderão ser financiadas pelo MEC e por outras agências governamentais de apoio à pesquisa, em- presas públicas, fundações nacionais e internacionais. O Instituto vai promover a integração entre universidades e entidades de fomento, e assim impulsionará o desenvolvimento científico e tecnológico, afirmou Guimarães. No ato de assinatura do acordo UNIPI-UFPR-Itaipu, no dia 22, o diretor geral da Itaipu, Jorge Samek, anunciou o projeto de criação do órgão como algo que terá forte impacto nacional e internacional. Guardem bem este nome Instituto Mercosul de Estudos Avançados , porque logo, logo se ouvirá falar muito dele, disse Samek. FPTI “Cada gota conta”: síntese da mensagem de autoridades e personalidades presentes A Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) poderá abrigar, em breve, o Instituto Mercosul de Estudos Avançados (Imea), ainda em fase de discussão e planejamento. O tema foi discutido durante reunião realizada na FPTI no dia 21 de maio, véspera da assinatura do acordo de cooperação entre a UNIPI, UFPR e Itaipu (ver páginas 14 e 15). Participaram da reunião o presidente da Capes, Jorge Guimarães; o chefe da Assessoria Internacional do MEC, Alessandro Candeas; o coordenador geral de Cooperação Internacional da Capes, Leonardo Barchini Rosa; o diretor do CNPq, José Roberto Drugowich; a secretária da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Lygia Pupatto; o presidente da Fundação Araucária, José Tarcisio Trindade; e os reitores Alcebíades Luiz Orlando, da Unioeste, e Mario Luiz Neves de Azevedo, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Para os próximos meses, as instituições envolvidas projetaram assinar convênio para a criação oficial do Instituto, que será vinculado ao Ministério da Educação do Brasil e que visa à construção do que provisoriamente é chamado de Espaço Regional de Educação Superior do Mercosul. Caminhadas na Natureza têm grande participação Aproximadamente mil pessoas participaram da Caminhada na Natureza Circuito Itaipu Binacional no domingo 3 de junho, num percurso de onze quilômetros entre belas paisagens do entorno da usina, bosques, trilha, o Canal da Piracema e muitas outras belezas. com partida e chegada no CRV, onde, simultaneamente, esteve montada a Feira Vida Orgânica. A Caminhada foi uma realização dos projetos Reviver e Turismo Rural na Agricultura Familiar, e a Feira, do projeto Agricultura Orgânica, no âmbito das ações do programa Cultivando Água Boa. É a terceira caminhada de 2007. As outras duas foram realizadas em 19 de abril Dia do Índio , no Circuito Avá-Guarani, em Diamante do Oeste, e em 1º de maio Dia do Trabalhador no Circuito do Trabalhador, em Medianeira. A próxima está marcada para 25 de julho Dia do Agricultor em Santa Terezinha de Itaipu, também acompanhada da Feira Vida Orgânica. . ANDA, BRASIL Participantes da reunião realizada na Fundação PTI As Caminhadas na Natureza integram o Programa Na- cional de Turismo Rural na Agricultura Familiar, dos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento Agrário, que pretendem contribuir para que o turismo contemple as diversidades regionais, a realidade cultural do homem rural, lazer, saúde e geração de emprego e renda. Para isso, o programa preconiza a ampliação e a qualificação dos produtos turísticos, estruturação dos destinos e aumento da permanência média dos turistas nos destinos que escolhem. Esta modalidade de turismo vem se alastrando no mundo inteiro. No Brasil, o marco de sua introdução é outubro de 2003, numa iniciativa da Associação Brasileira de Turismo Rural Rio de Janeiro. Na região da BP III estão consolidados e credenciados cinco circuitos pela Anda, Brasil Confederação Brasileira de Caminhadas, Atividades Não Competitivas e Inclusão Social, filiada à Federação Internacional de Esportes Populares, que congrega cerca de 6 mil circuitos distribuídos em 39 países. No Brasil estão credenciados 106 circuitos em 14 estados. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa " Como se faz criação de peixe em tanque-rede Os técnicos da Itaipu responsáveis pelo programa Produção de peixes em nossas águas, dedicado à aqüicultura e pesca, receberam de Edson Ribeiro, do município de Alferes, Minas Gerais, o seguinte pedido: Até ontem não cheguei a ver alguma matéria sobre criação de peixe em tanque flutuante. Portanto, quero saber o que vocês têm de material que possa me orientar quanto ao manuseio, etapas de criação racional, tamanho de tanques, modelos mais adequados, enfim, como começar neste novo ramo, uma vez que em nossa região as águas de furnas nos proporcionam um manejo adequado. Não conheço nenhuma literatura sobre o assunto e preciso dela, e de como aplicar as técnicas para este tipo de serviço. A resposta dada a Edson Ribeiro certamente interessa a muitas pessoas que já ouviram falar da criação de peixe em tanque-rede e têm interesse em investir nessa alternativa, mas carecem de conhecimento técnico para adotá-la com êxito. Por isso, os técnicos da Itaipu ensinam aqui como se faz. Início: o registro de aqüicultor De acordo com a Instrução Normativa Interministerial nº 6, de 28 de maio de 2004, para iniciar esta atividade, é necessário obter o Registro de Aqüicultor na Seap. Para isso, o requerente deve ter a assistência de um técnico na elaboração do projeto, a ser protocolado na Seap. Verificada a adequação técnica do projeto, a Seap o submete ao Ibama para a emissão da Licença Ambiental; à Agência Nacional de Águas (Ana) para emissão da outorga de uso da água; ao Ministério da Marinha para anuência; e à Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para a permissão de uso do bem público. As quatro fases de produção REPRODUÇÃO - cultivo de matrizes, cruzamento e obtenção de larvas. Esta fase é realizada em laboratório, portanto, requer considerável investimento e elevado conhecimento técnico. ALEVINAGEM - fase de transformação das larvas em alevinos. No caso da espécie pacu, que até agora é a que melhor tem respondido no lago de Itaipu, são necessários cerca de 60 dias para os alevinos atingirem 50 gramas, quando então são transferidos para um açude. As larvas se alimentam predominantemente de plâncton (comunidade de pequenos animais e vegetais que vivem em suspensão na água). Assim, o tanque escavado pode ser adubado para que produza o alimento necessário ao bom desenvolvimento dos alevinos, condição que não pode ser criada no tanque-rede, por ser um sistema aberto. Em poucos dias, os alevinos passam a receber ração triturada com elevado teor de proteína (32%). É importante salientar que, ao iniciar esta atividade, as etapas de reprodução e alevinagem podem ser superadas adquirindo os juvenis de produtores especializados, com garantia de procedência, levando em conta qual é o melhor material genético para cada região. CONFINAMENTO - fase de crescimento e engorda. Os alevi- Piscicultura da Itaipu no Globo Rural O programa Globo Rural do dia 20 de maio levou ao ar uma reportagem sobre o programa de piscicultura desenvolvido pela Itaipu Binacional em seu reservatório. A origem da reportagem foi uma carta enviada por um telespectador ao Globo Rural pedindo orientações sobre os procedimentos que devem ser adotados por quem pretende se dedicar à piscicultura em tanquerede. A reportagem da Globo foi buscar a resposta no Lago de Itaipu, já que o sistema lá tem eficácia comprovada. Tanto que a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), da Presidência da República, adotou o sistema como modelo. Dimensões e formas de tanques No mercado existe grande variedade de tamanho e forma de tanque (quadrado, retangular ou circular). Mas o que mais importa é o espaço que os peixes podem explorar, pois ele determina quantos indivíduos podem ser colocados em cada unidade. No lago de Itaipu são alojados de 40 a 50 peixes por m3. A densidade adequada depende da espécie cultivada. No caso da tilápia, por exemplo, os criadores podem alojar de 200 a 300 peixes por m3. lTanque com 3,3 m3 (1,50 x 1,50 x 1,50 m) pode receber 148 peixes; lTanque com 5,3 m3 (1,75 x 1,75 x 1,75 m) pode receber 238 peixes; lTanque com 8,0 m3 (2,00 x 2,00 x 2,00 m) pode receber 360 peixes. Qual é o melhor modelo? Quanto ao modelo, não há uma regra estabelecida. A opção deve considerar uma série de fatores locais, principalmente quan- Fotos: Caio Coronel # Contrato da Itaipu com a Fundação Roberto Marinho No evento do Dia Mundial da Água, a Itaipu Binacional assinou contrato com a Fundação Roberto Marinho para o desenvolvimento e implantação do Multicurso Gestão de Bacias Hidrográficas, cujo objetivo é a melhoria da qualidade da vida, com a divulgação nacional das ações ambientais bem sucedidas, relativas à sustentabilidade, realizadas pela Itaipu nas diversas comunidades em que atua. Numa primeira fase, as atividades consistirão no desenvolvimento de website, produção de programas temáticos e Irineu Motter e o modelo de tanque-rede usado no Lago de Itaipu nos com 50 gramas ou mais podem ser transferidos para o tanque-rede, onde são alimentados com ração flutuante com 28% de proteína bruta. Não há um tempo de permanência definido no tanque-rede. O pacu, por exemplo, se desenvolve muito bem no verão, quando a temperatura da água atinge 25ºC. No tanque-rede, em condições ambientais adequadas, os peixes podem chegar ao ponto de abate num prazo que varia de três a cinco meses, dependendo da espécie e do manejo adotado. DEPESCA - As pesquisas realizadas no reservatório de Itaipu indicam que a conversão alimentar do pacu é mais eficiente até os peixes atingirem 1 a 1,5 kg, quando consomem 2,5 kg de ração para produzir 1 kg de peso vivo. A partir daí, a conversão diminui, ou seja, os peixes comem mais ração para cada quilo de crescimento. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 de material impresso, que integrarão o kit educativo composto por dois programas de vídeo com cerca de 30 minutos de duração; dois cadernos temáticos com cerca de 50 páginas cada; um caderno de orientação para a utilização da metodologia do projeto; cadernos de roteiros para atividades pedagógicas; um CD Rom com o conteúdo do projeto e fichas técnicas. Assinaram o contrato Jorge Samek, pela Itaipu Binacional, e José Roberto Marinho, pela Fundação Roberto Marinho. Participantes do evento assistem show de Maria Bethânia e Ballet do Teatro Guaíra no Parque Nacional to à região e espécie a ser cultivada, uma vez que o princípio do tanque-rede é o mesmo. Trata-se de uma gaiola apoiada em flutuantes. Para maior segurança e durabilidade, é importante que todos os componentes do tanque não sofram oxidação. Para facilitar o manejo, o material deve ser leve e resistente, por isso recomenda-se a armação em alumínio. O tanquerede deve também proporcionar conforto aos peixes. Só assim poderão apresentar bom desenvolvimento. Por isso, é utilizada tela sanfonada de arame galvanizado com revestimento em PVC. Este material, liso e flexível, evita que os peixes se machuquem. Manual para o aqüicultor A Itaipu Binacional, a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), da Presidência da República, e o Instituto Água Viva, em parceria, publicaram em 2005 o manual Boas práticas de manejo em aqüicultura, que está à disposição dos interessados no endereço: Itaipu Binacional Av. Tancredo Neves, 6731 Foz do Iguaçu - PR CEP 85866-900). Mais informações podem ser obtidas com o engenheiro agrônomo Irineu Motter, responsável pelo projeto de cultivo de peixe em tanque-rede no reservatório de Itaipu. E-mail: [email protected] Telefone (45) 3520 6643 Fax(45) 3520 6561.) Carta de Princípios Cooperativos pela Água À noite, no interior do Parque Nacional do Iguaçu, em frente às Cataratas, as personalidades presentes assinaram e lançaram a Carta de Princípios Cooperativos pela Água (ver íntegra nas páginas 6 e 7), em solenidade que, além dos participantes das atividades desenvolvidas durante o dia na FPTI, teve a presença da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, e do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia. Assinaram o documento a ministra e o deputado, o prefeito de Foz do Iguaçu, o diretor geral da Itaipu, o representante da FAO no Brasil, o secretário nacional de Recursos Hídricos, o secretário do Meio Ambiente do Paraná e os representantes da ANA, Ibama, OAB, ABRH, ABES, ABAS, CNA, CNI, Fundação Roberto Marinho e Fundação Banco do Brasil. Protocolo de Intenções para a BP III Outro instrumento firmado no evento foi o Protocolo de Intenções para a Gestão de Recursos Hídricos da BP III. Assinaram Jorge Samek, pela Itaipu; Lindsey da Silva Rasca Rodrigues, pela Secretaria de Estado do Maio Ambiente e Recursos Hídricos; Darcy Deitos, pela SUDERHSA Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental; José Machado, pela Agência Nacional das Águas; e João Bosco Senra, pela Secretaria Nacional de Recursos Hídricos. Temas do encontro e expositores I - Lei 9.433/97 + 10 Balanço da gestão integrada de recursos hídricos no Brasil nJoão Bosco Senra (ver pág. 7) nJosé Machado, presidente da ANA nLuís Noronha, consultor em gestão de recursos hídricos II - Políticas nacionais dos setores usuários da água nJerson Kelman, da ANEEL nHypérides Macedo, do Ministério da Integração Nacional nLuiz Eduardo Garcia, do Ministério dos Transportes nLúcia de Carvalho, do Ministério das Cidades III - Experiências da sociedade civil e setores usuários da água nPrograma Cultivando Água Boa - Nelton Frie- drich, diretor de Coordenação da Itaipu nGestão de bacias hidrográficas no Paraná - Rasca Rodrigues, secretário do Meio Ambiente do Paraná nTecnologias sociais relacionadas ao tema água - Jacques O. Pena, da Fundação BB nProjetos ambientais relacionados à água - Ricardo Piquet e Márcia Panno, da FRM nA OAB e os recursos hídricos no Brasil - Raimundo C. B. Aragão, presidente da OAB nSoluções cooperativas para a água - Márcio Freitas e Ramon Belisário, da OCB nContribuição das entidades - Rui Vieira da Silva (ABRH/ABES/ABAS) nÁgua e agricultura - Assuero Doca Veronez, da CNA nÁgua e indústria - Vítor Feitosa, da CNI nÁgua no semi-árido - Valquíria Alves Smith Lima, da Articulação do Semi-árido ASA. Espetáculos No encerramento, os presentes foram brindados com apresentação, pela cantora Maria Bethânia, do show denominado Dentro do mar tem rio, com canções cujo tema predominante é a água, e da obra O segundo sopro, pelo Balé do Tetatro Guaíra, de Curitiba, em coreografia de Roseli Rodrigues, música de Fábio Gardia e direção de Carla Reinecke. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa $ Carta de Princípios Cooperativos pela Água principalmente na agricultura, que é o segmento responsável pelo uso de cerca de 70% dessa água retirada. Para isso contribuem os avanços tecnológicos na irrigação e os instrumentos de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos, em implantação no país, que induzem à otimização do uso da água. Documento ambiental lançado no evento alusivo ao Dia da Água em Foz do Iguaçu A FAO foi designada pelas Nações Unidas para coordenar as 24 agências do Sistema ONU envolvidas na celebração do Dia Mundial da Água, cujo tema é: A procura de solução para a escassez da água. A FAO promove ações de segurança alimentar e nutricional em todo o mundo, como órgão das Nações Unidas especializado em alimentação e, nas últimas décadas, tem se preocupado com a degradação e a má distribuição da água no globo terrestre. A ONU reconhece o acesso à água de qualidade como um direito humano básico e prevê que, utilizando os padrões atuais de consumo, em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá contar com a porção mínima individual de água para as necessidades básicas. Atualmente, cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. A projeção indica um agravamento significativo quando a população mundial atingir os cerca de 10 bilhões de habitantes. As mudanças climáticas poderão acarretar alterações significativas dos padrões atuais de distribuição de chuvas nos continentes. A busca da sustentabilidade constitui elemento estruturante nos compromissos assumidos por todos os 191 Estados-Membros das Nações Unidas e que se constituem nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a serem cumpridos até o ano de 2015. Em seu conjunto, o documento estabelece bases indispensáveis para a construção de um mundo melhor, fundado no compromisso coletivo de respeitar e defender os princípios da dignidade humana, em escala mundial. No âmbito dessa agenda global se inserem, entre outras, as preocupações com a necessidade de preservação da água e de seu uso sustentável, enquanto um dos elementos essenciais à manutenção da saúde e qualidade de vida, em todas as suas formas conhecidas, e também como base fundamental ao desenvolvimento econômico e social de todos os povos, nações e continentes. A importância dessa preservação intensifica-se, na medida em que a população cresce e a disponibilidade de água se reduz ante o comprometimento cada vez maior de sua qualidade. A escassez decorre de três possíveis situações. Primeira: sob o ponto de vista do cidadão, a água de qualidade é escassa, mesmo quando seu volume é abundante na natureza. Isso ocorre nas comunidades não servidas pelo sistema de abastecimento, constituído por estações de tratamento, adutoras e rede de distribuição. No Brasil, aproximadamente 10% dos domicílios estão nessa situação. A disponibilização de água nas torneiras é apenas metade do caminho. A outra metade, ainda não inteiramente percorrida no Brasil, consiste em coletar e dar destino adequado ao esgoto que resulta do uso da água. Apenas cerca de metade dos domicílios brasileiros é servida por um precário sistema de coleta de esgoto, constituído por tubulações que conduzem o esgoto bruto de volta aos rios, em geral sem a necessária remoção da carga poluidora, o que, por sua vez, contamina a água captada pelas comunidades localizadas a jusante. Quanto ao esgoto não co- letado, a maior parte polui os aqüíferos subterrâneos ou escoa pelas valas que cortam os bairros pobres, com alto risco de disseminação de doenças infecto-contagiosas, especialmente entre as crianças. A segunda situação de escassez ocorre quando a quantidade de água é insuficiente para atender ao consumo doméstico e à produção agrícola, industrial ou energética. E a terceira, quando a quantidade de água é suficiente, mas de tão má qualidade, que não pode ser utilizada. Com essa compreensão, é possível encaminhar a discussão a respeito das iniciativas necessárias para solucionar a escassez de água. NA PRIMEIRA SITUAÇÃO ` quando a água não chega às torneiras é preciso reconhecer que existe custo para a construção e operação de infra-estrutura necessária à expansão do sistema de abastecimento. Quando uma concessionária de saneamento pública ou privada presta o serviço sem adequada remuneração, geralmente ela diminui o investimento e, conseqüentemente, cai a qualidade do serviço e o índice de cobertura, definido como a percentagem de domicílios com água e adequada coleta e disposição final do esgoto. Portanto, um marco regulatório estável, que possibilite às concessionárias prestar o serviço público de forma sustentável, é condição necessária para a universalização, com qualidade, do abastecimento. NA SEGUNDA SITUAÇÃO quando água superficial e subterrânea é insuficiente para atender aos domicílios e à produção é preciso reduzir o uso, NA TERCEIRA SITUAÇÃO quando há água em suficiente quantidade, mas sem qualidade é preciso responsabilizar os poluidores. Diversos países adotam, com sucesso, o princípio do poluidor-pagador, que obriga os poluidores, tanto os municípios quanto os produtores industriais e agrícolas, a pagar uma taxa para constituir fundo financeiro destinado, principalmente, mas não exclusivamente, a viabilizar novas estações de tratamento de esgoto. No Brasil, este princípio está contemplado pelo instrumento de cobrança do uso da água, que é decidido pelos Comitês das Bacias Hidrográficas. No âmbito institucional, os princípios estabelecidos em acordos e tratados internacionais estão consignados no Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), estabelecido pela chamada Lei das Águas (nº 9433/1997) como um dos instrumentos de consolidação do pacto entre o poder público, usuários e sociedade civil, para a gestão das águas no País. Aprovado por unanimidade no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em 30 de janeiro de 2006, é preciso agora dar realidade ao conjunto de diretrizes, metas e programas desse plano, para assegurar o uso racional da água no Brasil. Neste cenário, esta Carta de Princípios traduz a conjugação de esforços na articulação de compromissos dos signatários no que se refere, especificamente, ao tema da escassez de água. Sem negar os avan- Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 PACTOS DAS ÁGUAS programados para junho/2007 DIA HORA MICROBACIA MUNICÍPIO 14 14:00 Sanga Santa Maria Diamante do Oeste 15 14:00 Todas Itaipulândia 15 19:00 Sanga Leão Entre Rios do Oeste 19 14:00 Rio Água Verde Guaíra 19 19:00 Sanga Vira Volta 22 14:00 22 ! PROGRAMA 40 - GESTÃO POR BACIAS CONVÊNIOS BP III - 2007/2008 MUNICÍPIO 615.620,00 Cascavel Águas Claras e adjacência 625.450,00 3 Céu Azul Rio Treze 4 Diamante D'Oeste Santa Maria 439.040,00 Terra Roxa 5 Entre Rios do Oeste Sanga Leão 146.910,00 Arroio Sabiá Missal 6 Foz do Iguaçu Rio Mathias Almada 246.800,00 19:00 Rio Tucano Santa Terezinha 7 Guaíra Água Verde 212.990,00 27 19:00 Sanga Xerê Nova Santa Rosa 8 Itaipulândia 29 14:00 Sanga Barroca Santa Helena AÇÕES CONSERVACIONISTAS DE ÁGUA E SOLO PREVISTAS PARA 2007/08 NA BP III Educação ambiental ............................................ 29 gl Adequação de estradas ......................... 1.628.860 m2 Cascalhamento de estradas ................... 1.465.500 m2 Pavimentação com pedra ............................ 63.680 m2 Altônia 2 INVESTIMENTO TOTAL Rio Ribeirão Olária Nas demais microbacias os pactos estão sendo agendados 1 MICROBACIA (será trabalhado Tubo de concreto 0,30 m .................... 1.000 unidades Tubo de concreto 0,80 m .................... 3.918 unidades Terraço de base larga ............................ 1.316.200 ml Terraço de base estreita ............................ 200.000 ml Calcário ................................................ 500 toneladas Terraceador ............................................... 4 unidades Esteira ............................................... 670 h/máquina Escavadeira ......................................... 625 h/máquina Motoniveladora .................................... 450 h/máquina Pá carregadeira .................................... 805 h/máquina Abastecedouros comunitários .................... 66 unidades Destinação de embalagens de agrotóxicos ........................................ 45 toneladas 1.397.100,00 Córrego Curvado 1.433.214,00 Marechal C. Rondon 10 Maripá 11 Matelândia Rio Sabiá 12 Medianeira Baixo Alegria 972.323,00 13 Mercedes Sanga Mineira e Sanga Mate 314.840,00 14 Missal 15 Mundo Novo Rio 18 de Abril Arroio Sabiá 757.505,00 1.274.530,00 84.332,00 Córrego Mamangaba 16 Nova Santa Rosa 17 Ouro Verde do Oeste e Córrego do Fim 667.520,00 Sanga Xerê 989.640,50 Sanga Funda + Córrego largado e Córrego alegre e Córrego da Varzea + Córrego poço grande 822.858,00 18 Pato Bragado Sangas Naranjito e Louro 114.160,00 19 Quatro Pontes Arroio Quatro Pontes 861.650,00 20 Ramilândia Rio Cristalina e adjacentes (Assentamento) 350.550,00 Córrego Barrócas 134.310,00 Córrego Descoberto e Rio Guavirá 466.200,00 Rio Tucano 121.000,00 Linha São João e Maria Gorete 231.410,00 871746,00 21 Santa Helena 22 Santa Tereza do Oeste 23 Santa Terezinha de Itaipu 24 São José das Palmeiras 25 São Miguel do Iguaçu Rio Pinto 26 São Pedro do Iguaçu Córregos Promessa, Rosário e Palmital Cerca tipo 1 ................................................... 646 km Cerca tipo 2 ................................................ 108,6 km em todo o município) 9 Tubulação 40 mm vazado .................... 3.700 unidades Tubo de concreto 1,20 m .................... 2.564 unidades 1.774.650,00 27 Terra Roxa 28 Toledo 29 Vera Cruz do Oeste (Assentamento Nova União) 137.880,00 Rio Vira Volta 373829,20 Rio Toledo 545.058,00 Arroio Pacheco 332.860,00 Espalhadores de PARTICIPAÇÃO TOTAL (R$) resíduos orgânicos ................................... 47 unidades PARTICIPAÇÃO TOTAL (%) 17.315.975,70 0,47 JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Pactos pela conservação ambiental Adenésio Zanella Comunidades decidem democraticamente e assumem propostas do Cultivando Água Boa No período 20052006, as práticas conservacionistas de água e solo do programa Cultivando Água Boa foram desenvolvidas em uma microbacia em cada um dos 29 municípios da Bacia do Paraná III, a área de influência da Itaipu Binacional no Brasil. Em todas essas microbacias as ações estão encerradas, à exceção de algumas pendências que estão sendo resolvidas. O programa entra agora, então, na segunda etapa, para o período 2007-2008, em que os municípios, em conjunto com os técnicos da Itaipu, elegem nova microbacia a ser trabalhada, em busca da correção dos passivos ambientais e da construção da sustentabilidade do lugar. O novo passo começou a ser dado em reuniões de cada prefeito da BP III e seus secretários com o diretor de Coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich, e a equipe técnica do Cultivando Água Boa, sendo condição para partir para a segunda microbacia a conclusão das ações na primeira. O reconhecimento de que as ações estão ou não concluídas foi dado por vistoria feita por uma comissão técnica integrada por membros do comitê gestor da microbacia, da área técnica da Itaipu, IAP, Emater e moradores de cada localidade. Em oito municípios foram constatadas pendências. Foi dado a eles o prazo de 60 dias para concluírem os trabalhos e assim se habilitarem a entrar na segunda etapa. A escolha das microbacias a serem trabalhadas de agora em diante foi precedida de levantamento de problemas existentes e das ações corretivas necessárias, para discussão com os prefeitos, secretários e comunidades. Gestão inovada Para a gestão das ações na segunda microbacia houve uma inovação. Na primeira etapa havia um comitê gestor em cada microbacia. Mas além desse comitê, em muitos municípios havia outros comitês para demais programas e projetos do Cultivando Água Boa (Agricultura Orgânica, Plantas Medicinais, Pesca, etc.), o que sobrecarregava muitos dos seus integrantes, especialmente com a multiplicidade de reuniões. A gestão foi então simplificada com a constituição de um comitê unificado por município - o Comitês Gestor do Programa Cultivando Água Boa, responsável por todas suas ações. Cada comitê é integrado, em média, por 25 a 30 pessoas, reunindo representantes dos diversos campos de ação do programa. Sensibilização Definida a nova microbacia a ser trabalhada, técnicos da Itaipu partiram para as respectivas comunidades a fim de fazer a sensibilização, que consiste na apresentação do programa, esclarecimento do porquê do programa, na informação sobre o que vai acontecer, o investimento necessário e quem arcará com ele. Nesse processo, ao final da exposição e discussão, em votação, a comunidade decide livremente fazer ou não o investimento, executar ou não as ações recomendadas, uma vez que elas serão desenvolvidas em parceria, entre a Itaipu, a Prefeitura do município e a comunidade. Numa evidência da Comunidade da microbacia Água Verde, de Guaíra, em reunião de senbilização ambiental consciência ambiental já formada na região, nenhuma comunidade se recusou a assumir as ações propostas. Educação Ambiental É o momento, então, de a educação entrar em ação. A equipe do programa Educação Ambiental para Sustentabilidade, da Itaipu, reúne a comunidade da microbacia para os exercícios pedagógicos das chamadas Oficinas do Futuro, procurando atingir o maior número possível de pessoas (homens, mulheres, idosos, jovens e crianças) para gerar força total em torno da causa comum. As oficinas compreendem três momentos: Muro das lamentações - a comunidade identifica suas (más) condutas em relação ao meio ambiente, em especial ao seu rio, e aponta os problemas a serem resolvidos. Árvore da esperança - traduz as aspirações da comunidade, que diz como gostaria que fosse o pedaço do planeta em que vive. Caminho adiante - a comunidade escolhe as ações prioritárias a serem executadas e se compromete com nova conduta. Para a preparação da segunda etapa de ações nas microbacias foram realizadas 52 oficinas nos municípios da BP III, com participação de até 150 pessoas. Desta vez, a equipe de educação ambiental viuse diante de um diferencial em relação à receptividade encon- PACTOS DAS ÁGUAS programados para junho/2007 DIA 14 15 15 19 19 22 22 27 29 HORA 14:00 14:00 19:00 14:00 19:00 14:00 19:00 19:00 14:00 MICROBACIA Sanga Santa Maria Todas Sanga Leão Rio Água Verde Sanga Vira Volta Arroio Sabiá Rio Tucano Sanga Xerê Sanga Barroca MUNICÍPIO Diamante do Oeste Itaipulândia Entre Rios do Oeste Guaíra Terra Roxa Missal Santa Terezinha Nova Santa Rosa Santa Helena Nas demais microbacias os pactos estão sendo agendados trada na primeira etapa: um público mais acessível, mais sensibilizado pela questão ambiental e menos resistente a admitir a necessidade de nova atitude. Pacto das Águas Em evento que reúne todos os atores envolvidos no trabalho a ser feito na microbacia é celebrado o Pacto das Águas, no qual a comunidade apresenta uma síntese das oficinas do futuro, impressa no documento Carta do Pacto das Águas, que é assinado por todos os presentes. A carta passa a ser a Agenda 21 do Pedaço - o compromisso da comunidade com nova cultura, baseada na ética do cuidado para com a natureza. A celebração dos pactos é a etapa seguinte da implantação das ações do Cultivando Água Boa nas microbacias escolhidas para a correção dos passivos ambientais (veja no quadro a programação para o mês de junho). No mesmo ato são assinados os convênios entre a Itaipu e a Prefeitura do município, em que são oficializados os compromissos com a execução das obras e a participação de cada parte no investimento necessário (veja pág. seguinte). JUNHO DE 2007 ços já obtidos pelas ações do poder público, das empresas privadas e das organizações da sociedade civil, trata-se de reconhecer a importância desse desafio e a necessidade de buscar uma maior coordenação das iniciativas particulares e ampliar a dimensão cooperativa e o sinergismo desses esforços. No que concerne de modo específico ao tema escassez de água, os presentes signatários se comprometem em promover o uso eficiente da água em todos os segmentos da sociedade, mobilizando para isso o conhecimento e a experiência de cada instituição, no sentido de executar e propor ações para a: lImplementação dos marcos regulatórios de saneamento nos estados e municípios; lRegularização dos usos da água junto aos respectivos órgãos outorgantes, por meio do cadastramento e emissão da outorga de direito de uso; l Implementação da cobrança pelo uso da água especialmente em bacias hidrográficas com escassez hídrica; lRedução das perdas nos sistemas de adução e armazenamento, aumento da eficiência das plantas industriais e melhor uso da tecnologia disponível para irrigação; lRedução do uso de recursos hídricos para diluição de efluentes domésticos, industriais e agropecuários, por meio da construção de estações de tratamento de efluentes e da disposição final adequada dos resíduos sólidos; lInclusão nos orçamentos governamentais, na medida das respectivas arrecadações fiscais, de ações definidas pelos Planos de Recursos Hídri- Cultivando Água Boa cos aprovados pelos Comitês de Bacia Hidrográfica; % A Política Nacional de Recursos Hídricos lCapacitação dos setores usuários da água para exercer suas competências no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que tem como fundamento a gestão descentralizada e participativa; l Adoção de medidas preventivas visando à redução do risco de ocorrência de acidentes que possam causar contaminação dos recursos hídricos; lConsideração das dimensões ambiental, social e econômica, não apenas na escala local, mas também na global, quando da produção de energia elétrica por fonte hídrica; lParticipação ativa na realização de estudos sobre o impacto da mudança climática nos sistemas hidrológicos brasileiros e outros problemas de importância e no desenho de políticas públicas necessárias para sua mitigação; lApoiar e incentivar outras ações que tenham por objetivo a educação e a informação sobre o uso racional da água. Assinaram o documento o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia; a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva;o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi; o diretor geral da Itaipu, Jorge Samek; o representante da FAO no Brasil, José Tubino; o secretário nacional de Recursos Hídricos do MMA, João Bosco Senra; o secretário estadual do Estado do Meio Ambiente do Paraná, Rasca Rodrigues; e os representantes da Agência Nacional das Águas, Ibama, OAB, ABRH, ABES, ABAS, CNA, CNI, Fundação Roberto Marinho e Fundação Banco do Brasil. João Bosco Senra: lei que instituiu a Política de Recursos Hídricos foi uma transposição de paradigamas O balanço dos 10 anos de vigência da Lei de Águas do Brasil (Lei 9.433/97) foi um dos eixos do evento alusivo ao Dia Mundial da Água realizado em Foz do Iguaçu. A lei foi tema da palestra do titular da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra. Senra abriu a exposição citando o escritor Leonardo Boff: O ser humano entrou no cenário da história da Terra quando 96% dessa história já estavam concluídos. (...) Nós surgimos a partir dos elementos terrestres e cósmicos que nos antecederam. Somos nós, então, que pertencemos à Terra, não a Terra que nos pertence. Água é um bem público O palestrante lembrou que a Constituição Federal promulgada em 1988 definiu a água como bem público de domínio da União e dos Estados e estabeleceu que uma legislação específica para o uso desse recurso seria criada pelo Congresso Nacional. Em obediência ao preceito constitucional, em 8 de janeiro de 1997, foi promulgada a Lei Federal 9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Foi um divisor de águas, uma transposição de paradigmas, disse Senra, passando a enunciar as novas concepções contidas na lei: l As águas, antes particulares, passaram a ser bem público. lDa cultura da abundância, que considerava a água como recurso infinito e levava ao desperdício, deu lugar à cultura da sustentabilidade, segundo a qual a água é recurso finito com valor econômico e socioambiental relevante. lNo lugar da produção a qualquer custo, dissociada do respeito à natureza, a lei enfatizou o respeito à capacidade de recomposição da natureza. lEm vez do uso setorial em detrimento dos demais, instituiu o uso múltiplo, humano e animal, prioritários em situação de escassez. lA gestão fragmentada, centralizada e burocrática deu lugar à gestão integrada, descentralizada e participativa. lÀ motivação imediatista, a lei contrapôs a ética intergerencial e do cuidado, com vistas a assegurar qualidade e quantidade de água necessária para as atuais e futuras gerações. lO arcabouço legal e institucional do gerenciamento de recursos hídricos no Brasil aponta para um modelo de Gestão Sistêmica de Integração Participativa, superando os modelos burocrático e gerencial. A bacia hidrográfica é a unidade territorial para o planejamento e a gestão. Objetivo geral O objetivo geral do Plano Nacional de Recursos Hídricos é estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas públicas voltadas à melhoria da oferta de água em quantidade e qualidade, gerenciando as demandas e considerando ser a água um elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável e da inclusão social. Objetivos estratégicos lMelhoria das disponibilidades hídricas superficiais e subterrâneas, em qualidade e qualidade; lredução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, bem como dos eventos hidrológicos críticos; l percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante. & Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Seminário em Toledo discute cadeia produtiva das plantas medicinais Evento reuniu técnicos, profissionais de saúde, produtores rurais, estudantes e gestores municipais com o objetivo de impulsionar a produção e consumo de fitoterápicos Nos dias 16 e 17 de abril, no Auditório da PUC, Campus de Toledo, foi realizado o V Seminário Regional de Plantas Medicinais, organizado pelo Comitê Gestor do projeto Plantas Medicinais do programa Cultivando Água Boa, com apoio da Prefeitura de Toledo, Unipar (Universidade Paranaense), compus de Toledo, PUC/Toledo, Secretarias de Saúde e Agricultura dos municípios da Bacia do Paraná III e as 21 instituições integrantes do Comitê Gestor do projeto Plantas Medicinais. O encontro contou ainda com a participação de técnicos dos Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Agrário, Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, que estiveram em Toledo para contribuir com os estudos e debates e conhecer as experiências de produção e utilização de plantas medicinais desenvolvidas na região. Entre técnicos, profissionais de saúde, agricultores, estudantes e gestores municipais, participaram do evento mais de 300 pessoas. ]Arranjos produtivos locais foi o tema do seminário, com abordagem da forma como é trabalhada, em conjunto, toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos: cultivo, produção, processamento, manipulação, industrialização e uso. Fotos: Caio Coronel Cerca de 300 pessoas dedicadas ao setor participaram do seminário em Toledo Modelo da BP III é adequado O seminário evidenciou que o projeto adotado na região da Bacia do Paraná III pela Itaipu e seus parceiros é um modelo adequado para a implantação desta prática terapêutica, em três passos, de acordo com a política nacional para o setor: lCultivo e beneficiamento de plantas medicinais pela agricultura familiar; lModelo de produção de medicamentos fitoterápicos; lUtilização de plantas medicinais e fitoterápicos como recurso terapêutico no SUS Sistema Único de Saúde. No encontro de Toledo ficou evidenciado que a implantação dessa política traz benefícios ambientais, sociais e econômicos, valoriza as espécies medicinais nativas, oferece uma alternativa terapêutica à população e desenvolve produtos de alto valor agregado a partir de espécies locais. Mereceu destaque a estratégia adotada pelo projeto da Itaipu e seus parceiros, que consiste: lna implantação de hortos medicinais nas unidades de saúde e desenvolvimento de atividades de educação em saúde com o uso de plantas medicinais; lna distribuição de plantas medicinais na forma de chá nos postos de saúde; lna produção de fitoterápicos a partir de manipulação, dispensação e prescrição a cargo de profissionais. Convênio Itaipu/MDA Como a Itaipu Binacional mantém convênio com o MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário para a disseminação e aperfeiçoamento da agricultura orgânica, mediante projeto específico do Cultivando Água Boa, o de plantas medicinais passa a fazer interface com ele. Assim, os agricultores orgânicos são incentivados a cultivar plantas medicinais, até como forma de diversificação da produção. Nessa tarefa já foram formados quatro grupos de produtores, cada um com cerca de 20 integrantes. O convênio com o MDA foi debatido no seminário de Toledo com enfoque no objetivo de produzir plantas medicinais com qualidade e processá-las de modo que possam ser utilizadas tanto na fabricação de medicamentos como na alimentação, especialmente na merenda escolar e nos postos de saúde, na forma de chás. Aspectos legais O encontro debateu, ainda, os aspectos legais relativos às plantas medicinais e fitoterápicos, com exposição do gerente responsável pela área de Registro de Produtos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Edmundo Machado Neto, que traçou as diretrizes que devem orientar as ações das agências locais, governos estaduais e municipais. Nesse sentido, a representante da Escola de Saúde Pública do Paraná, Mariângela sobrenome?, presente no encontro, afirmou que o projeto Plantas Medicinais da região da Bacia do Paraná III é prioritário porque se constitui em referência, tanto para a própria região como para o Estado e a União. André Porto, da área de Insumos Estratégicos e Medicamentos do Ministério da Saúde, abordou o papel da instituição na implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Segundo ele, o papel do Ministério é garantir a qualidade, o acesso, a eficiência e eficácia desses produtos para a população. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Fartura de peixes Fotos: Adenésio Zanella Na primeira coleta deste ano, a aldeia do Ocoy retirou de dez tanques-rede que mantém no lago de Itaipu cerca de 3.000 quilos de peixe da espécie pacu, depois de cinco meses de cultivo. A média de peso dos peixes foi de 1,5 kg a unidade um desempenho que surpreendeu os técnicos e os próprios índios, pois normalmente esse resultado é atingido em seis meses, não em cinco. Logo após a coleta, os tanques-rede foram reabastecidos com alevinos que deverão estar prontos para consumo dentro de seis meses, provavelmente com rendimento menor do que o lote agora colhido, uma vez que durante o inverno os peixes ficam preguiçosos até para comer, e assim, obviamente, demoram mais para ganhar peso. A piscicultura constitui um importante reforço alimentar para a aldeia, que tem pouca terra para os cerca de 700 índios que a compõem. Mais 30 tanques estão instalados e povoados naquela aldeia, o que possibilitará a produção de até 20 toneladas de pescado por ano. Estudo da Itaipu sobre a capacidade de suporte da área concluiu que ela comporta até 600 tanques. Índios resgatam artesanato Edmundo Machado Neto O Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) ministrou dois cursos de artesanato ao índios do Ocoy, com duração de uma semana cada um de confecção de artefatos de fibra de bananeira e outro de palha de milho, especialmente na confecção de bolsas. A atividade é fruto de parceria entre o Senar, a Prefeitura e o Sindicato Rural (pa- tronal) de São Miguel do Iguaçu, com apoio da Itaipu. É uma forma de resgatar a cultura indígena e mais uma alternativa que se oferece àquela comunidade para o melhor aproveitamento dos materiais disponíveis na aldeia. Além disso, os produtos confeccionados destinam-se à comercialização, constituindose em mais uma fonte de renda para os índios. Muita festa e arte marcam o Dia do Índio Neste ano, o Diado Índio (19 de abril) foi comemorado com atividades que se desenrolaram durante uma semana, envolvendo comunidades do Brasil, Paraguai e Argentina. Nas comunidades do Ocoy e São Miguel do Iguaçu foi realizada a Semana Cultural Indígena, com representações das tradições, música, dança, mostra e venda de produtos da medicina natural e artesanato dos índios, encantando os visitantes, es- pecialmente crianças. No dia 19 houve a Caminhada na Natureza no circuito indígena de 12 quilômetros, da qual participaram mais de 300 pessoas, numa iniciativa do projeto Turismo Rural na Agricultura Familiar, do Cultivando Água Boa. A Fundação Parque Tecnológico Itaipu também foi palco de muita movimentação, em especial com a 5ª Mostra de Culinária e Cultura Indígena, da qual participaram cerca de 250 índios de seis diferentes tribos do Brasil, Paraguai e Argentina. Este evento foi uma promoção da Itaipu Binacional, da Fundação PTI e da Associação de Gerentes de Alimentos e Bebidas da Costa Oeste. Cerca de 2.000 estudantes de escolas públicas e particulares, além de acadêmicos das faculdades de Foz do Iguaçu e cidades vizinhas, convidados e autoridades da região prestigiaram esta parte da programação, numa demonstração de que a cultura indígena está cada vez mais fortalecida e valorizada. A foto enviada é impraticável, nao tem tamanho nem dpi Os índios da fronteira deram show no seu dia, especialmente com música e danças Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Índios recebem terra e formam nova aldeia Adenésio Zanella lincentivo à produção de cultivos naturais da tradição guarani: milho branco, diversas espécies de mandioca, batata doce e outros; l fornecimento de cestas básicas dentro do programa de nutrição; lapoio a visitas técnicas e viagens de intercâmbio; l construção de casas na aldeia Itamarã e mais unidades na do Ocoy. Além dessas ações comuns às três aldeias, na Itamarâ está previsto o preparo de 20 hec- Na inauguração da Aldeia Itamarã, o líder religioso Teodoro Tupã expressou a alegria da comunidade indígena tares de solo para plantio, incentivo à apicultura e à criação de suínos; e para a Añetete, o preparo de 150 hectares de solo, cultivo de erva-mate e cascalhamento de 15 quilômetros de estradas. Prossegue ainda a luta da aldeia do Ocoy para obter do IAP e do Ibama a liberação do cultivo de 83 hectares que fazem parte de área de preservação, bem como pela desapropriação de uma área em Matelândia, para reassentar famílias indígenas e assim desafogar aquela comunidade, cuja terra é insuficiente para suas necessidades. Conquista da terra foi cheia de tribulações Em 2003, 17 famílias de índios avá-guarani abandonaram a comunidade do Ocoy, de São Miguel do Iguaçu, lideradas politicamente por Teodoro Alves e orientados espiritualmente pelo pajé Honório Benítez. Mas essas famílias não se desgarraram da comunidade de origem. Pelo contrário, como ocorre com qualquer núcleo familiar guarani, mantiveram com ela os laços de parentesco e culturais.. Sua saída se deveu à desproporção na relação entre terra disponível (pouca) e número de habitantes (muitos), o que causava um acentuado desequilíbrio, tornando a aldeia foco de conflitos. O grupo de 17 famílias partiu então em bus- Adenésio Zanella Ritmo do projeto Adenésio Zanella ca de outra área para poderem construir melhores condições de sobrevivência e levar uma vida de acordo com seus padrões culturais. Inicialmente, o grupo ocupou uma área em Terra Roxa, depois juntou-se ao tekoha Añetete, em Diamante do Oeste, em seguida ocupou uma área na faixa de proteção do reservatório da Itaipu em Santa Helena e, finalmente, voltou a Diamante do Oeste, estabelecendo-se em área cedida pela Prefeitura. Mas agora, com a entrega da área adquirida pela Funai, consolida-se a aldeia Itamarã e acaba o problema da falta de terra para esse grupo. Mandioca em abundância A comunidade indígena Tekoha Añetete, de Diamante do Oeste, na safra 2006-2007, colheu cerca de 400 toneladas de mandioca orgânica o dobro da safra anterior. A cultura é desenvolvida numa parceria da Associação Indígena Añetete com a Cooperativa Agroindustrial Lar, a Prefeitura de Diamante do Oeste e a Itaipu Binacional. Itaipu e Prefeitura participam especialmente no preparo do solo para o plantio, e a Cooperativa Lar compra a produção. O cultivo da mandioca praticamente garante a sustentabilidade alimentar e econômica daquela aldeia. Além de terem o produto em abundância para consumo, os índios têm garantia de compra do excedente pela Cooperativa Lar, e com o rendimento adquirem outros itens da sua dieta alimentar e outros. Adenésio Zanella prefeituras de São Miguel do Iguaçu e Diamante do Oeste e as três comunidades indígenas (Ocoy, Añetete e Itamarã) são as seguintes: lAquisição de insumos, sementes, animais de tração e equipamentos (arriames) e ferramentas manuais agrícolas; lincentivo ao projeto Plantas Medicinais com foco no conhecimento tradicional guarani; lapoio à fruticultura e à piscicultura em tanques-rede; l incentivo à produção e comercialização de artesanato indígena; ' A educação é o referencial da Itaipu O engenheiro agrônomo Ângelo Giovani Rodrigues, coordenador da área de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde, apresentou no seminário de Toledo a política nacional do Governo para o setor e concedeu esta entrevista. Em área de 242 ha, em Diamante, nasce a nova comunidade avá-guarani: Itamarã No dia 3 de fevereiro, no município de Diamante do Oeste, dentro das ações do programa Sustentabilidade das Comunidades Indígenas, do Cultivando Água Boa, a Funai e a Itaipu Binacional entregaram área de 242 hectares para implantação da aldeia Itamarã (palavra guarani que significa diamante), no município de Diamante do Oeste. Estiveram presentes ao ato o prefeito de Diamante do Oeste, Faustino Magalhães, caciques e líderes das comunidades indígenas, o diretor geral e o diretor de Coordenação da Itaipu, Jorge Samek e Nelton Friedrich, e o representante da Funai Glênio da Costa Alvarez. No evento foram assinados convênios relativos às ações programadas para 2007 nas comunidades indígenas, e já aí o Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros emitiu ordem de serviço para o início da construção da Casa de Reza no Tekoha Añetete. As principais ações previstas para 2007 nos convênios celebrados entre a Itaipu, as Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Qual é a importância das plantas medicinais e dos fitoterápicos? A importância das plantas medicinais nos cuidados básicos da saúde da população é uma questão muito antiga. São utilizadas pelo homem desde os tempos mais remotos. Os próprios animais utilizam. Aliás, os animais são inclusive fonte da origem do conhecimento humano das plantas medicinais. A observação dos animais consumindo determinada planta para um determinado fim tem levado o homem a fazer o mesmo. Os índios observavam que os lobos bebiam água suja e em seguida eram acometidos pela diarréia. Partiam então para a mata, cavavam da terra a batata da ipeca, comiam e ficavam curados. Os índios passaram a imitar os animais nisso. Essa batata é usada até hoje para curar diarréia. Atualmente está havendo uma redescoberta do valor das plantas medicinais. A que atribui isso? Em 1978 houve uma conferência mundial de saúde em Almatá e a partir daí a Organização Mundial da Saúde, da ONU, reconheceu a importância das plantas medicinais nos cuidados com a saúde. A OMS partiu da constatação de que 80% da população dos países em desenvolvimento utilizam plantas medicinais e seus derivados nos cuidados com a saúde, por isso estimulou os países membros da ONU a adotar políticas voltadas à inserção dessas práticas nos sistemas oficiais de saúde, desde que sejam comprovadamente eficientes e validadas pela ciência. Depois, a OMS publicou vários comunicados com recomendações sobre a matéria. Ângelo Giovani Rodrigues Viveiro produz e distribuiu milhares de mudas de plantas medicinais Essa posição da OMS obteve a devida repercussão na comunidade de nações? Talvez menos do que seria desejável. Porém, hoje, pelo menos 26 países têm políticas oficiais para o setor. O Brasil é um deles desde maio de 2006, quando uma portaria do Governo Federal definiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, onde figuram as plantas medicinais. A partir daí, elaborou-se uma política abrangente, que abarca toda a cadeia produtiva, do cultivo ao consumo. Nessa formulação entra desde o conhecimento tradicional indígena até o desenvolvido pela ciência. Foi criado, por decreto do presidente Lula, um grupo interministerial (Saúde, Educação e Cultura) encarregado de elaborar essa política, aprovada em 22 de junho de 2006. Ela dá diretrizes e define competências dos diversos ministérios na área, como também se torna uma prioridade de governo. sil tem todas as potencialidades para o desenvolvimento do setor, dada sua rica biodiversidade, riqueza étnica, estrutura de ciência e tecnologia para pesquisa e desenvolvimento, área extensa para a produção e uma agricultura familiar forte para desenvolver este ramo da agricultura. Como o senhor avalia a política definida pelo Governo Federal para o setor? Na verdade, essa política é uma resposta a uma demanda da própria sociedade. A reivindicação por uma política para esta área é muito antiga. Além do mais, o Bra- O projeto Plantas Medicinais que se desenvolve na BP III faz parte do programa Cultivando Água Boa, da Itaipu e seus parceiros. Qual sua avaliação desse programa? É um programa socioambiental completo e muito bem fundamentado. No caso das plantas medicinais, tem potencial para se tornar referência no país, porque estabelece a interação com diversas áreas: educação ambiental, produção de matéria prima (agricultor), educação nas escolas, educação em saúde, geração de emprego e renda, produção do medicamento, introdução do uso pelo SUS, capacitação de profissionais... Por trabalhar em todas essas vertentes que têm interface, é modelo, referência. Qual seria o mérito maior deste projeto? Diria que é a educação da população para o uso correto e racional das plantas medicinais, porque a idéia de que se bem não faz mal também não faz é ruim. Plantas medicinais ou fitoterápicos mal ministrados podem causar problemas. Eu vejo a educação como o referencial do Cultivando Água Boa. Tive oportunidade de visitar o Horto Medicinal e o Ervanário da Itaipu e pude constatar a qualidade como isso está sendo feito. No Brasil há mais de 100 programas de plantas medicinais dentro do sistema oficial de saúde, e o destaque é este aqui. Como o Ministério da Saúde atua na implementação da política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos? O Ministério da Saúde, coordenador dessa política nacional, forma parcerias com órgãos governamentais, ONGs, instituições locais e regionais, e participa com apoio financeiro em quatro frentes: capacitação de profissionais de saúde; apoio à estruturação de serviços de plantas medicinais nos municípios; instalação de laboratórios para a produção de fitoterápicos; pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos; via Fundo Nacional de Saúde, repassando recursos aos fundos estaduais e municipais de saúde. É tão intenso isso tudo, que no Paraná, pela primeira vez, tivemos um curso de pós-graduação em plantas medicinais, lato senso, em função do programa Cultivando Água Boa e seu projeto Plantas Medicinais, diz o superintendente de Meio Ambiente da Itaipu, Jair Kotz.. A iniciativa pioneira é da Unipar, de Toledo, que já formou a primeira turma de pós-graduados em plantas medicinais. O projeto ostenta os seguintes números: l29 municípios com o projeto implantado l29 comitês gestores constituídos, com 290 participantes l4 seminários realizados, com 600 participantes l1.674 pessoas treinadas e capacitadas l1 Horto Medicinal implantado, com 144 espécies cultivadas e 40 espécies produzidas l45.000 mudas de plantas distribuídas l75 hortas escolares formadas l479 merendeiras treinadas em curso específico l65 profissionais de saúde formados l70 profissionais de saúde em formação l1 Ervanário implantado (o primeiro da região) lPesquisa laboratorial em andamento JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Milton Rolin Milton Rolin JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa ' Itaipu e BB se unem em ações ambientais Adenésio Zanella Projeto inclui apoio à fruticultura como alternativa para a agricultura familiar daço de planeta onde vivem e de "empoderamento" em relação à tomada de decisões sobre o trato com o meio ambiente. Fundamento básico do Cultivando Água Boa, o programa Educação Ambiental para Sustentabilidade atua em várias frentes: Sensibilização Socioambiental na área de influência de Itaipu, Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica, Formação de Educadores/as Ambientais (FEA), Educação Ambiental nas Unidades do Complexo Turístico Itaipu e Educação Ambiental Corporativa em Itaipu. Formação de Educadores Ambientais Educação Ambiental nas Microbacias Entre essas ações educativas, a de "Sensibilização socioambiental na área de influência de Itaipu", realizada nas microbacias dos municípios da BPIII, antes, durante e depois de executadas as práticas conservacionistas de água e solo, sempre precedidas das Oficinas do Futuro, estimula as comunidades a refletir sobre atitudes, práticas e conceitos e a decidir pelas soluções sustentáveis para problemas diagnosticados coletivamente. Nos primeiros meses de 2007, o programa de educação ambiental associado ao das práticas conservacionistas se concentrou nas oficinas realizadas nas novas microbacias escolhidas para serem trabalhadas na segunda etapa do processo de zeramento dos passivos ambientais na BP III (ver pág. 22). Paralelamente, a educação ambiental reforça um quarto momento das oficinas: O Futuro no Presente, ou seja, a ação que se realiza durante e após a solução dos passivos ambientais, por meio de reuniões de sensibilização e conscientização sobre a importância e a necessidade de toda a comunidade, individual e coletivamente, ajudar a fazer e a cuidar do que é ou está sendo feito, caso contrário, tudo se perderá. Assim, a educação ambiental constitui o cerne das práticas conservacionistas na construção da Agenda 21 do Pedaço, assumida como ação prioritária das comunidades no Pacto das Águas. Desperta-se assim nas pessoas o sentido de "pertencimento" em relação ao pe- Ao mesmo tempo em que realiza as ações de gestão ambiental para a correção dos passivos ambientais, Itaipu e seus parceiros articulam um verdadeiro laboratório de educação ambiental que permeia todos os programas, mais diretamente os de Gestão por Bacia, Agricultura Orgânica e Familiar, Plantas Medicinais, Jovem Jardineiro e Coleta Solidária. Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, Itaipu, Ibama/Parque Nacional do Iguaçu, 42 instituições e 34 prefeituras, consolidou-se na região o chamado Coletivo Educador, que trabalha na implementação e avaliação constante da Formação de Educadores e Educadoras Ambientais (FEA). O FEA envolve diversos segmentos da sociedade em processos reflexivos, críticos e emancipatórios que têm na educação ambiental sua maior força propulsora, no sentido das mudanças culturais e socioambientais rumo à sustentabilidade. Educadores ambientais formados pelo Programa FEA Aprender participando A metodologia adotada pelo programa FEA é o de pessoas que aprendem participando, por meio dos grupos de Pesquisa-Ação-Participante (PAP), que se desenvolve mediante o enraizamento de conceitos e práticas socioambientais sustentáveis na comunidade da Bacia do Paraná III e do entorno do Parque Nacional do Iguaçu. Há quatro instâncias de grupos PAP: nPAP1 - formado pelos idealizadores nacionais da proposta (Ministérios do Meio Ambiente e da Educação), que repassam conhecimentos e materiais de apoio às iniciativas em andamento Brasil afora; nPAP2 - coletivos educadores que resultam da aglutinação de experiências de instituições da BP III e do entorno do Parque Nacional do Iguaçu, ancoradas pela Itaipu e Ibama, para pensar a formação do PAP3, construindo uma metodologia de ensino que dê conta das especificidades locais; nPAP3 - os 300 educadores ambientais em formação, que têm a missão de enraizar a educação ambiental nas diversas localidades de cada município e integram praticamente todo o tecido social regional; nPAP4 - os diversos grupos presentes nos municípios, resultantes das intervenções do PAP3, que se mobilizam por políticas públicas de interesse de toda comunidade. ECOPEDAGOGIA A missão é levar as comunidades a identificar e corrigir os problemas e a cuidar do seu pedaço Adenésio Zanella Educação Ambiental é o cerne do programa DE Cena da peça teatral “A Matita - uma aventura orgânica” REFERÊNCIA Crianças em lição de Educação Ambiental no Ecomuseu Em parceria com a Itaipu Binacional, Emater, Unioeste e as prefeituras dos municípios da BP III, o Banco do Brasil está implantando na região projeto "Desenvolvimento Regional Sustentável" (DRS), com as seguintes propostas de ação: lSensibilizar a população rural e urbana quanto aos aspectos ambientais geradores de poluição difusa e pontual em propriedades rurais. lElaborar o planejamento eco-desenvolvimentista nas propriedades agropecuárias por microbacias. lImplantar práticas de uso e conservação de solos e água (terraceamento, plantio direto, adequação de estradas, manejo de pastagens, corredores de dessedentação, etc.). lRecompor as matas ciliares e reservas legais com espécies florestais não-madeiráveis (não destinadas a produzir madeira) mas econômicas em propriedades rurais da Bacia do Paraná III. l Implantar ações de melhoria dos sistemas de produção existentes e de diversificação agropecuária das propriedades rurais da BP III, buscando a sustentabilidade da região e a melhoria da qualidade de vida. l Implantar o saneamento rural (adequação ou relocação de instalações agropecuárias, manejo e destinação de embalagens de agrotóxicos e dejetos orgânicos, construção de abastecedouros comunitários, vetores de endemias, poços, fossas sépticas, etc.). l Implantar uma rede de monitoramento ambiental participativo nas microbacias trabalhadas. l Incentivar a obtenção do licenciamento ambiental das propriedades, bem como estabelecer um sistema de certificação conservacionista de propriedades. No prazo de dois anos, o Banco do Brasil tem por meta implantar o projeto em aproximadamente 5.800 hectares, distribuídos em 29 microbacias, num total de 20 propriedades por microbacia, totalizando 580 propriedades, a um custo de R$ 886,00 por hectare, totalizando R$ 5.138.800,00. Entre as prioridades o Banco do Brasil coloca o controle de aspectos e impactos ambientais originários da produção agropecuária. Faz parte do projeto, ainda, pelo prazo de um ano, a adoção de uma nascente urbana por município da BP III para implantação de um espaço interativo de EducAção comunitária em área urbana, transformandose em ambiente de referência de EcoPedagogia. O custo previsto para a formação das 29 praças variável para cada situação e dependente de projeto está estimado em R$ 150.000,00 a 200.000,00 por praça, totalizando R$ 5.800.000,00. Incremento à fruticultura orgânica: o bom exemplo de Guaíra Indicativo do significado dessa iniciativa é o que vem sendo feito em Guaíra, dentro dos projetos Diversificação da Produção e Agricultura Orgânica, do Cultivando Água Boa, agora com participação do Banco do Brasil. Para Guaíra, o projeto Desenvolvimento Regional Sustentável tem 4 objetivos e 19 ações programadas, todas para o incremento da fruticultura orgânica, que vem tendo excelentes resultados na região. OBJETIVO 1 - aumentar o número de produtores, dos 24 atuais para 50, especialmente na produção de abacaxi, banana e maracujá. lFórum de debate entre os atores do processo para o levan- tamento das aspirações dos produtores; lcapacitação e conscientização dos produtores sobre a necessidade de negócios sustentáveis (orgânicos); lcriação de viveiro e de unidade de compostagem; aquisição de equipamentos; lcriação de Associação de Fruticultores e organizar grupos para aquisição de insumos; lcapacitação no aproveitamento de subprodutos da fruta; ldisponibilização de crédito de custeio/investimento aos produtores; OBJETIVO 2 COMERCIALIZAÇÃO lcriar unidades de recep- ção, classificação, armazenagem, beneficiamento e comercialização; lcriação de selo marca para produtos in natura ou industrializados. OBJETIVO 3 - AMBIENTAL lcriar condições para aproveitamento dos recursos hídricos; lincentivar a formação da reserva legal nas propriedades; lcriar plano de adequação ambiental das propriedades; lestimular o plantio e beneficiamento de fitoterápicos. OBJETIVO 4 - SOCIAL lformação de agentes de saúde voltados à medicina alternativa; linserir as comunidades indígenas e quilombolas nas ações do DRS; lviabilizar o acesso à documentação de posse da terra. Cultivando Água Boa & JUNHO DE 2007 MERENDA ESCOLAR S. Miguel obtém Certificação de Ministério Tudo isso está alavancando muito a agricultura familiar orgânica no município Para incentivar a busca pela maior eficiência na aplicação de recursos, o Programa Fome Zero, do Ministério do Desenvolvimento Social, instituiu a premiação e a certificação para prefeituras que se destacam pela excelência da merenda escolar que oferecem aos estudantes. Anualmente, 11 prefeituras são premiadas e 22, certificadas. O objetivo é fazer com que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja cumprida, ou seja, que tanto as verbas federais como municipais sejam efetivamente aplicadas na merenda escolar da melhor maneira possível. Em 2006 estavam inscritas na ação 610 prefeituras de todo o país, e a de São Miguel do Iguaçu, que já participara em 2005, figurou entre as 22 certificadas. "Foi uma grande vitória, porque a certificação significa que estamos perfeitamente dentro da legalidade, cumprindo o papel de cidadão e gestor eficiente", comemora a coordenadora da merenda escolar do município, a nutricionista Eveline Vandressa Valduga. "Não é estabelecida ordem de classificação para evitar que os municípios encarem isso como competição, mas sabemos que estamos entre a 12ª e a 22ª posição e que somos o único município do oeste do Paraná a obter a certificação." para que atuassem diretamente na alimentação dos alunos", diz Eveline. "Para isso investimos nas hortas das escolas, que já existiam, e inovamos. Elas usavam agrotóxicos, então, devagarinho fomos eliminando isso e introduzindo o sistema orgânico de produção. Começamos com cursos e palestras para as merendeiras, zeladores e pais de alunos que trabalham nas hortas e fornecem adubo natural para as hortas escolares." Na conversão para o sistema orgânico vem sendo fundamental o apoio do projeto de Agricultura Orgânica do programa socioambiental Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional. No final de 2005, das 20 escolas e centros de educação infantil do município, 12 já produziam alimentos orgânicos diversificados, mas a meta, Despensa da escola em dia de chegada dos produtos diretamente das granjas segundo Eveline, é chegar a 100%, o que deve ocorrer em 2008, devido ao período necessário para a descontaminação do solo, processo que leva de dois a três anos e começa com a suspensão do uso de agrotóxicos. "Em alguns casos houve queda na produção e até perda de safra, mas preferimos isso ao uso de agrotóxicos, em quire produtos não orgânicos quando não os encontra orgânicos na quantidade necessária. Assim, atualmente, 30% da merenda escolar do município é feita com produtos orgânicos. E o número de fornecedores pulou de 11 para 71, todos da agricultura familiar. E o custo por refeição caiu de R$ 0,63 para R$ 0,36. Prato da Tia: criatividade das merendeiras Projeto inovador "Sabíamos que, para participar, tínhamos que ter um projeto inovador, que chamasse a comunidade para dentro da escola, especialmente os pais, nome da saúde da terra e das nossas crianças", diz Eveline. Mas as hortas das escolas ainda não garantem toda a produção necessária para a merenda, então é necessário adquirir produtos com a verba do programa Fome Zero, pela fórmula da Compra Direta pelo Governo Federal. No caso, a Prefeitura de São Miguel só ad- Evelinde servindo a merenda: “as crianças adoram” Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Núcleos Formadores Os municípios que integram o FEA estão organizados em três Núcleos Formadores: Núcleo de Cascavel, Céu Azul, Matelândia, Vera Cruz do Oeste, Ramilândia, Santa Tereza, Lindoeste, Capitão L. Marques, Santa Lúcia, Capanema e Serranópolis; Núcleo de Foz do Iguaçu, São Miguel, Medianeira, Santa Terezinha, Missal, Itaipulândia, Diamante do Oeste e Santa Helena; Núcleo de Toledo, Terra Roxa, Guaíra, Mundo Novo, Altônia, Quatro Pontes, Mercedes, Maripá, Marechal C. Rondon, Nova Santa Rosa, Ouro Verde, São Pedro, Entre Rios, São José das Palmeiras e Pato Bragado. Há momentos no processo formativo em que os três núcleos se reúnem para diálogos, troca de experiências e busca de caminhos. Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica Resultado da parceria entre Itaipu, Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu , Associação dos Municípios do Oeste do Paraná e prefeituras, a Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica tem por objetivo conectar projetos ambientais e sociais que buscam a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida na região. A rede é formada por monitores dos 29 municípios da BP III, com representantes das secretarias municipais de Educação, Agricultura, Meio Ambiente e Ação Social. Como principal instrumento das ações, eles dispõem de um ônibus com equipamentos audiovisuais e materiais educativos - daí a denominação Linha Ecológica (LE). Os monitores são levados a todos os recantos da BP III para encontros de formação, construção de saberes coletivos, socialização e difusão de experiências, com atuação tanto na rede formal de ensino (escolas) quanto não informal (junto a agricultores e comunidades diversas). Neste ano, na rede formal, entre tantas atividades, a LE distribuiu 45.000 exemplares da cartilha Mundo Orgânico que versa sobre agricultura e pecuária orgânicas - para alunos de 1ª e 2ª séries das escolas municipais; formou 318 professores das escolas municipais no curso Consumo Consciente; fez visitas técnicas a projetos de educação ambiental e culturas alternativas com agricultores da região; e apoiou as caminhadas ecológicas. Na rede não formal tem atuado na formação de catadores de lixo e no apoio a sua organização, no apoio ao FEA, na articulação e realização das oficinas do futuro. A inovação na merenda escolar de São Miguel do Iguaçu incluiu a capacitação das merendeiras, o que foi feito pelo projeto "Prato da Tia", que consistiu em um curso de três meses em que elas receberam orientação sobre alimentação e nutrição. "No curso, as merendeiras aprenderam, por exemplo, o que é carboidrato, proteína, por que tem que haver tais e tais quantidades de nutrientes", relata Eveline. "Dentro do projeto Prato da Tia, as merendeiras têm um dia por semana em que têm direito a fazer a merenda que elas querem, usando os conhecimentos adquiridos e a criatividade. Elas criaram, por exemplo, uma feijoada de legumes que é uma delícia. Nela entra tudo quanto é legume, bem picadinho, inclusive quiabo, que antes as crianças rejeitavam e agora adoram." Até o fim deste ano, a coordenação da merenda escolar pretende lançar um livro de receitas criadas pelo projeto Prato da Tia, anuncia Eveline. "Tudo isso está alavancando muito a agricultura familiar orgânica no município, e nisso as próprias crianças têm papel fundamental", analisa Eveline. "Elas sabem que o alimento orgânico faz bem e ajudam a propagar a produção orgânica, especialmente nas suas famílias. Até a nossa feirinha teve aumento da venda graças à divulgação que as crianças fazem." Merendeiras aprendem a preparar alimentos ecologicamente corretos Fotos: Milton Rolin Panfletagem leva Educação Ambiental aos funcionários da Itaipu Educação Ambiental Corporativa Sessão de Educação Ambiental Corporativa no Refúgio Biológico Educação Ambiental no Complexo Turístico NO ECOMUSEU - Além de exibir importantes coleções arqueológicas, históricas, técnicas e científicas, o Ecomuseu da Itaipu mantém espaços interativos, educativos, botânicos e de artes, utilizados especialmente na educação ambiental, que tem como alvos prioritários os bairros do seu entorno. Quatro projetos visam a inclusão social e a valorização do patrimônio: Ação Cidadã - desenvolvida com creches; Grupo Comunidade Crescer - para crianças dos bairros do entorno; e Varanda - para as famílias do entorno. NO REFÚGIO BIOLÓGICO - criadouro de animais silvestres, zoológico, hospital ve- terinário, quarentenário, viveiro florestal, experimentos florestais, ervanário, tanques-rede, além de uma estrutura de atendimento ao turista e à educação ambiental - tudo isso atende pelo nome de Refúgio Biológico Bela Vista, um rico e diversificado espaço de aprendizagem, fonte de saber e vivência dos valores da natureza. A educação ambiental é trabalhada com professores, estudantes, pesquisadores, comunidade do entorno e turistas no contato direto com a exuberância da natureza do lugar, sua flora e fauna. É nesse ambiente, entre tantas atividades, que se desenvolve o projeto Jovem Jardineiro, atualmente 40 meninos e meninas. A educação ambiental volta-se também para dentro da comunidade dos trabalhadores da Itaipu Binacional, com a missão de transformálos num grande coletivo de aprendizagem permanente, fundada nos princípios e valores globais da ética do cuidado. Para isso foi formada a Rede Interna de Educadores Ambientais da Itaipu, que já tem um apreciável rol de atividades desenvolvidas: lreuniões para definir estratégias de atuação na empresa; ldiagnóstico participativo mediante pesquisa de opinião sobre a situação da empresa em relação à qualidade do meio ambiente e de vida; lmobilizações em favor do meio ambiente e da qualidade de vida; lrevitalização do programa Vai e Vem, de gerenciamento de resíduos. Atualmente está em curso a formação de um comitê ambiental binacional envolvendo os trabalhadores brasileiros e paraguaios. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Agentes das Águas fazem o monitoramento dos rios pacitou mais de 90 voluntários de quatro municípios do oeste do Paraná (Medianeira, Matelândia, Céu Azul e Toledo), nos quais monitora 45 locais estratégicos ao longo dos rios Xaxim, Sabiá, Toledo e Lopeí e seus afluentes. A proposta da parceria entre Itaipu e a Fiocruz é de envolver todos os 29 municípios que têm rios que deságuam no reservatório da usina. A participação da Itaipu se dá no contexto do Cultivando Água Boa, por meio do projeto Monitoramento e Avaliação Ambiental, numa ação integrada ao programa Educação Ambiental para Sustentabilidade. Os agentes da água são voluntários que são introduzidos na ação com um curso teóricoprático onde aprendem a determinar a qualidade das águas dos rios mediante análises ambientais (que consideram aspectos ecológicos do ecossiste- ma), físico-químicas (através de kits simplificados) e biológicas. As análises biológicas são feitas a partir da observação da presença de animais, geralmente insetos e caramujos, que podem ser sensíveis ou tolerantes à poluição. A lógica é que, se há muitos animais sensíveis à poluição, é porque a água está limpa; e se há muitos animais tolerantes, é porque está mais poluída. A vantagem desse método sobre as análises físico-químicas é que estas analisam somente o momento em que a análise foi realizada, enquanto com as análises biológicas pode-se obter informações sobre impactos ocorridos há até duas semanas e causaram a morte de animais. Os voluntários têm gerado dados importantes sobre a qualidade da água dos seus municípios e representado suas comunidades na discus- PRODUÇÃO DE LEITE Voluntários conferem a qualidade da água em córrego são com os comitês gestores e prefeituras sobre como resolver os problemas encontrados. Para participar basta estar interessado no assunto e querer ajudar a resolver os problemas dos rios. Mais do que um projeto de educação ambiental, este é um projeto de cidadania que acredita que com a união de todos, podemos deixar para nossos filhos um mundo melhor do que o que recebemos. Divulgação e ampliação Os voluntários do projeto também fazem a divulgação dos resultados das análises que fazem das águas, para que a população saiba as condições em que se encontram e se conscientizem da necessidade de cuidá-las devidamente. Os agentes das águas fazem isso em palestras, como já ocorreu nas escolas das localidades de Bom Princípio Agrocafeeira, de Matelândia, ministradas por voluntários e estagiários de Bom Princípio e Agrocafeeira, Linha Gramado e Xaxim, e em eventos como a Feleite. Com vistas a sua ampliação, os objetivos e metas do projeto Agentes das Águas já foram expostos aos comitês gestores do Cultivando Água Boa de Itaipulândia, Ouro Verde do Oeste e Santa Terezinha de Itaipu, onde recebeu total aprovação. O próximo passo será a apresentação às comunidades para em seguida ser implantado nesses municípios. Salas Verdes: democratização do acesso à informação ambiental No dia 23 de março, na Base Náutica de Entre Rios do Oeste, foi realizado o Encontro Linha Ecológica 2007, para tratar das atividades de educação ambiental e agropecuária sustentável e agricultura orgânica, a serem desenvolvidas em 2007 no âmbito do Cultivando Água Boa. O encontro teve a participação da representante do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Valéria Casale, do prefeito de Santa Terezinha de Itaipu e presidente do Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros, Cláudio Eberhard, dos prefeitos Rogério Lerner, de Entre Rios do Oeste, e de Mercedes, Vilson Schuvantes, dirigentes e técnicos da Itaipu, integrantes da Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica e comunidade. Na ocasião foi Inserção no Sistema de Educação pela Internet oficializada a insTereza do Oeste, Marechal Cânditalação das chamadas "Salas Verdo Rondon, Nova Santa Rosa, Foz des" em 14 municípios da região do Iguaçu, Mercedes, Terra Roxa, (Ouro Verde do Oeste, Guaíra, ToVera Cruz do Oeste, Medianeira e ledo, Matelândia, Lindoeste, Santa % Seminário propõe sistema orgânico para viabilizar Programa já capacitou mais de 90 pessoas em quatro municípios, com atuação ao longo dos rios Xaxim, Sabiá, Lopeí e Toledo Contando com a participação de voluntários das comunidades para a realização do monitoramento das águas dos rios brasileiros, a Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz), do Ministério da Saúde, e o Ministério do Meio Ambiente desenvolvem o projeto Agente das Águas. É um programa eminentemente participativo porque funciona por meio de parcerias diversas, de forma a democratizar as informações e dar vez e voz a todos os atores sociais. Para isso são construídos fóruns participativos que definem objetivos e metas, discutem os problemas e buscam soluções. Presente em vários Estados brasileiros, no Paraná o projeto conta com a parceria da Itaipu Binacional, prefeituras, universidades locais, sociedade civil organizada e comunidades da BP III. Iniciado em 2006, já ca- Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Cascavel). Sala Verde é um telecentro de educação ambiental à distância e inserção no Sistema Brasileiro de Educação Ambiental, pela internet. Trata-se de projeto desenvolvido pelo MMA, que fornece o material didático, em parceria com a Itaipu Binacional, que doa cinco computadores por município, e as prefeituras, que entram com o espaço físico. A representante do MMA anunciou que em breve as Salas Verdes serão instaladas em todos os municípios da Bacia do Paraná III e do entorno do Parque Nacional do Iguaçu. O projeto Salas Verdes, encarado como uma oportu- nidade para a democratização do acesso à informação socioambiental, constitui-se num facilitador da sinergia entre instituições, sociedade civil, projetos, programas e ações locais que fortalecem enraizamento da Educação Ambiental na região, à medida que oferece um espaço para debate, reflexão e planejamento contínuos dos diversos atores sociais, na perspectiva da ética do cuidado, fortalecendo o relacionamento do homem com o meio que habita e fazendo com que se perceba como parte de um sistema integrado. Com o objetivo de gerar subsídios e informações para viabilizar e organizar a cadeia produtiva de leite ecológico na região da BP III, foi realizado no dia 24/04, em Pato Bragado, o 1º Seminário Regional de Produção Ecológica de Leite, com participação de 300 produtores, especialmente os ecológicos, ou orgânicos. Foi uma realização da Itaipu, dentro das ações do projeto de Agricultura Orgânica, do Cultivando Água Boa, CAOPA (Centro de Associações da Agropecuária Familiar do Oeste do Paraná), CAPA (Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor), APOP (Associação dos Produtores Orgânicos de Pato Bragado), EMATER, IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) e Secretaria de Agricultura de Pato Bragado. Na pauta: lContextualização do programa Cultivando Água Boa; lExperiências de cooperativas de leite da agricultura familiar; lAções desenvolvidas pelo projeto Itaipu/Iapar de produção ecológica de leite; lAvaliação de sistemas na produção leiteira impactos e medidas de condução, com palestra do professor Antônio C. M. da Rosa, da UFSC; lPastoreio racional Voisin, tecnologia de ponta ao alcance do pequeno produtor, com exposição do professor Alexandre Lenzi, também da UFSC. A dura realidade do setor leiteiro No seminário, técnicos e produtores traçaram um quadro de crise que precisa ser Foto: Adenésio Zanella Rostos de preocupação no encontro de produtores de leite realizado em Pato Bragado superado para a viabilidade do setor. A produção de leite situase num contexto da agricultura e pecuária brasileiras em que, segundo a Fundação Getúlio Vargas, de 1994 a 2002, os produtores sofreram uma descapitalização de 44,4%. Nesse período, os preços recebidos pelos produtos aumentaram 89,7%, enquanto os dos insumos subiram 134,7%, o que indica a inviabilidade dos métodos convencionais de gerar resultados positivos para os produtores rurais. Alternativas de produção leiteira Na busca de saídas para a situação, o seminário trabalhou em cima dos seguintes objetivos específicos: lCompartilhar e aprofundar experiências na produção de leite em sistema ecológico de manejo; lSensibilizar os produtores familiares para a produção sustentável de leite; lIncentivar o uso de técnicas agroecológicas no manejo produtivo de leite; lEstimular organizações locais e micro-regionais para o desenvolvimento da cadeia produtiva de leite familiar ecológico; lFavorecer a troca de experiências vivenciadas pelos produtores de leite ecológico e convencional; lExpor aos produtores, técnicos, pesquisadores e autoridades a viabilidade da produção ecológica de leite; lApresentar aos produtores as metas traçadas no projeto de leite ecológico para 2007. Segundo o gestor do projeto de Agricultura Orgânica da Itaipu, o agrônomo João José Passini, a partir desse encontro, os produtores passarão a ser sensibilizados a receber assistência técnica visando à sustentabilidade do setor na região, e um grupo de trabalho será formado para difundir práticas adequadas em toda a cadeia produtiva de leite, especialmente pelo sistema orgânico. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 MARCOS PALMEIRA Universo orgânico é uma viagem sem volta Anahi Fros/Divulgação O ator Marcos Palmeira estranhou que trabalhadores humildes da fazendo que recém havia comprado, em Teresópolis, RJ, não tocavam nos hortigranjeiros que sobravam da colheita diária. Na segunda semana reuniu todos e informou que eles podiam levar os produtos sem nenhum ônus. A resposta: Para casa, não senhor. Nós não vamos comer isso. Com todo o veneno que colocamos... Foi aí que caiu a ficha, diz Palmeira, descrevendo o seu ingresso no mundo da agricultura orgânica. O episódio fez Palmeira buscar conhecimento sobre sistemas de produção, contratar técnicos e promover uma revolução nas relações com a terra e com os empregados. A nova forma de cultivo elimina qualquer substância química e reaproveita o máximo de dentro, com reciclagem, e depende do mínimo de fora. Seus empregados ganharam casa, carteira assinada, tratamento dentário e escola para os filhos. Dos 400 hectares da fazenda, hoje conhecida como Vale das Palmeiras, cerca de 30 são ocupados por lavouras e criação de animais. Em sua propriedade, Palmeira implantou um sistema que produz semente orgânica, insumo e muda. Para tocar esse empreendimento, conta com o agrônomo senegalês Aly Ndyae, há 13 anos no Brasil. A Vale das Palmeiras vende tudo o que produz no Rio de Janeiro. Para isso ajuda, também, o rosto conhecido dos telespectadores de telenovelas da Rede Globo estampado em cada embalagem. É esta forma que Marcos Palmeira também usa para disseminar a idéia de que produzir e consumir orgânicos faz bem a todos. Palmeira e Aly estiveram em Caxias do Sul (RS) no final de fevereiro para palestras. Para cerca de 200 pessoas, disse que mais do que certificar produtos é preciso certificar a cabeça das pessoas; que na agricultura não há praga, e sim desequilíbrio; e que seu empenho maior é construir relações, enaltecendo que a agricultura orgânica é muito mais do que apenas um negócio envolve pessoas e um conceito de vida. Esquecemos as relações e priorizamos o dinheiro. Por isso vivemos na atual situação de violência, opinou. Na ocasião, Palmeira deu ao jornal Correio Riograndense (edição de14/03/07), daquela cidade, esta entrevista (reprodução autorizada): Correio Riograndense - O que dizer ao produtor rural que se sente inseguro para aderir à agricultura orgânica? Marcos Palmeira -Vá em frente. Se ele está no mercado, que mantenha esse mercado no período de transição e, paralelo a isso, vá buscando outro. O universo orgânico é uma viagem sem volta, porque ele te dá uma amplitude, uma força pessoal de trabalho ligada à dignidade que é irreversível. mão de comerciais em que eu seria obrigado a vender coisa na qual não acredito. Mas faço pouca publicidade, até em função de que sou rigoroso. As grandes corporações até podem tentar me contratar, mas terão de pagar muito mais caro. CR - Até que ponto é difícil construir relações entre produtores e consumidores orgânicos? Palmeira -Falta publicidade, divulgação, marketing. A gente não CR - Economicamente é tem marketing. Por que a viável? gente acredita que o caPalmeira - No final das Palmeira e o técnico Aly Ndyae com produtores da Serra Gaúcha pitalismo deu certo, mescontas é. mo sabendo que não deu? Porque tem um marketing muito CR - E quem não tem recursos Palmeira -Você tem de ter um congrande em volta. Aqui não tem nenhupara investir? tato com técnico, que vai te dar o camima empresa por trás da gente. MonsanPalmeira -Existem financiamentos nho das pedras. Senão, vai ficar sempre to, Purina, Cargil, Bayer... nenhuma está do Banco do Brasil bem compatíveis com com aquela visão tô com praga, tô com patrocinando este encontro. a possibilidade do pequeno produtor, com praga... e não observa que a praga quer 2% de juros ao ano. dizer é que há desequilíbrio. Aqui em CR - E como superar essa dificulCaxias do Sul há técnicos. O pessoal de dade? CR - Dois por cento? É menos que Ipê está preparado. Palmeira -Encontros como este (em o Pronaf. Caxias) são fundamentais para multipliPalmeira -Sim. Essa opção é pouCR - Qual a despesa e o faturacar as informações e pulverizar a idéia. co difundida, mas existe. O difícil é a vimento de tua fazenda? rada, onde o cara fica inseguro de largar Palmeira - Tem um custo mensal CR - Logicamente és contra os uma coisa com a qual está viciado e enmédio de R$ 30 mil e fatura cerca de R$ transgênicos. xergar longe. Com certeza lá na frente 45 mil. O lucro é todo investido na faPalmeira - Sou radicalmente ele terá bons frutos. zenda. contra. Uma coisa é a pesquisa genética em relação à saúde humana; CR - Como foi a conversão na Vale CR - O ingresso na agricultura não outra são os alimentos geneticamendas Palmeiras? prejudicou contrato de publicidade? te modificados, que só trazem bePalmeira - Eu tive mais dificuldaPalmeira - Ah! Com certeza. Já abri nefício a quem tem a patente das des porque quis acelerar muito o prosementes. Sou a favor das semencesso. O pequeno agricultor tem uma BRASIL: 5º MAIOR tes crioulas. Acho que a Monsanto vantagem, porque já vive o exercício da faz um mal enorme à humanidade. profissão e sabe que a transição tem de PRODUTOR MUNDIAL Ela vende desenvolvimento promoser devagar. A produção orgânica cresce entre vendo a degradação. É muito bem 20% e 30% ao ano, no Brasil e bolado. A gente tem de ficar muito CR - Qual foi o investimento até no mundo. Os campeões (em esperto quanto a isso. agora? hectares cultivados) são: Palmeira - É difícil avaliar. Durante CR - Não pode nem contribuir um tempo eu apliquei na fazenda tudo 1º Austrália e para diminuir a fome? que ganhava. Acho que eu poderia estar Nova Zelândia .......... 11 milhões Palmeira -Eles vendem o conceito hoje no mesmo lugar com menos da 2º Argentina ........... 2,8 milhões de que só o transgênico, só o convencimetade do que investi. 3º Itália ...................... 1 milhão onal pode acabar com a fome. Está mais 4º Estados Unidos ..... 830.000 do que provado que o problema da fome CR - Entrar nesse tipo de empre5º Brasil ..................... 803.000 não é falta de alimento, mas má distriendimento sem conhecimento técnibuição. Como a riqueza. co ou orientação oferece riscos? Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 ! Coleta Solidária avança para além da BP III Catadores de organizam, se equipam melhor, ganham mais e melhoram qualidade de vida Dentro do Cultivando Água Boa e seu programa Educação e Sustentabilidade Social e Regional, é desenvolvido na BP III o projeto Coleta Solidária, numa parceria entre a Itaipu, o Instituto Lixo e Cidadania e associações de catadores de materiais recicláveis dos municípios. O projeto já atingiu 1.571 famílias de catadores de 27 dos 29 municípios da BPIII, e duas cidades de fora dela (Palotina e Guaraniaçu) foram contempladas com diferentes ações: cursos de educação socioambiental; instrução sobre formas mais convenientes e eficientes de exercício do trabalho; incentivo à organização de associações ou cooperativas de catadores, e doação de equipamentos e materiais. Na BP III foram doados 1.571 carrinhos, 2.850 uniformes, 14 prensas, 14 balanças e os chamados passaportes da cidadania a documentação pessoal dos catadores e seus familiares. Também estão insta- lados na região 22 barracões de armazenamento e separação dos materiais coletados. Apenas dois municípios da BP III (Matelândia e Altônia) ainda não implantaram o projeto, mas os materiais e equipamentos necessários já estão disponibilizados pela Itaipu, faltando as respectivas prefeituras organizar a concretização do Coleta Solidária. O município de Medianeira decidiu fechar o Lixão, onde muitas pessoas, inclusive crianças, catavam materiais recicláveis, tendo que ser encaminhadas ao Coleta Solidária. Para isso, técnicos da Itaipu e do Instituto Lixo e Cidadania ofereceram treinamento a 60 agentes de endemias para levar a todas as famílias da cidade orientações sobre como fazer a correta separação do lixo e disponibilizá-lo solidariamente aos catadores integrantes da sua associação. O trabalho de acordo com o que preconiza o projeto co- Adenésio Zanella Em Cascavel, Cooperativa de Catadores recebe da Itaipu equipamento de trabalho meça no dia 10 de junho. Em Cascavel, no dia 24 de maio foi oficialmente constituída a Cooperativa do Catadores de Materiais Recicláveis, com eleição e possa da diretoria. Para a Cooperativa dos Agentes Ambientais de Foz do Iguaçu o BNDES liberou verba de R$ 870.000,00, valor que será aplicado na construção de barracão, compra de caminhão, aquisição de balança e outros equipamentos. Nos cinco primeiros meses de 2007, o projeto desenvolveu, entre outras, as seguintes atividades: nparticipação remunerada de catadores de Foz do Iguaçu no combate à dengue; nvisitas, reuniões, palestras nos municípios, tendo atingido, só em Foz do Iguaçu, perto de mil trabalhadores de uma rede de supermercados, Guarda Municipal, Correios e estudantes; palestra sobre coopera- tivismo para 70 catadores de Toledo; nentrega de equipamentos (prensa, balança e uniformes) a catadores de Entre Rios do Oeste e Vera Cruz do Oeste; npara atendimento em horário comercial, contatos telefônicos e pesquisa na internet sobre rede de comercialização na BP III, a catadora Viviane Mertig dá expediente no escritório do Instituto Lixo e Cidadania, em Foz do Iguaçu. Agricultura familiar em busca de novos caminhos para a auto-sustentabilidade No primeiro semestre de 2007, a ação de apoio à agricultura familiar na BP III pautou-se pela preocupação de encontrar alternativas de produção, especialmente com a fruticultura e a agregação de valor aos produtos, mediante a implantação de agroindústrias. Em todos as situações, contudo, mantém-se a linha mestra que é encontrar uma nova matriz tecnológica de produção para a agricultura familiar, sem utilização de insumos e defensivos químicos que, quando aplicados incorretamente, Adenésio Zanella $ Agricultores familiares em busca de alternativa tecnológica causam tanto mal ao meio ambiente e ao sistema produtivo e financeiro do agricultor. Para atingir esses ideais fo- ram promovidas dezenas de reuniões em diversos municípios com associações de produtores e outras entidades, visando à conscientiza- ção do agricultor quanto à importância de perseguir a independência da atividade, investindo recursos e tecnologias em todas as fases da cadeia produtiva: produção, transformação (industrialização) e comercialização dos produtos. Levantamento feito pelo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) indica que, de todas as frutas consumidas no oeste do Estado, em média, cerca de 70% são oriundas de outros estados, apesar de o solo e o clima da região serem altamente propícios à produção de praticamente todas elas, podendo constituir uma alternativa se- gura e rentável para os produtores locais Para o segundo semestre, o projeto Agricultura Familiar do Cultivando Água Boa planeja formar parceria com prefeituras, Incra, Banco do Brasil e outros agentes para a concretização do objetivo de promover uma profunda mudança na exploração da terra, tanto no que se refere ao que produzir como nos métodos de produção, de modo que se criem as condições para a sustentabilidade da pequena propriedade rural. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa " Cultivando Água Boa Fotos: Caio Coronel # Premissas básicas O Termo de Cooperação que ora é assinado tem por objetivo estabelecer diretrizes, áreas de ação e cooperação técnico-científica entre as instituições envolvidas, devendo as atividades propostas estar alicerçadas nas seguintes premissas básicas: cultura da paz; energia e recursos renováveis; sustentabilidade ambiental e econômica; meio ambiente; energias alternativas; aplicações em software livre - código aberto; metodologias alternativas de ensino. Níveis de cooperação UFPR, Universidade de Pisa e Itaipu firmam Termo de Cooperação Acordo estabelece diretrizes e áreas de ação e cooperação entre as três instituições No dia 22 de maio, depois de participar, no dia anterior, da inauguração das novas unidades geradoras da Itaipu com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o reitor da Universidade de Pisa (UNIPI), Itália, Marco Pasquali, o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Augusto Moreira Júnior, o os diretores da Itaipu Binacional assinaram Termo de Cooperação que estabelece diretrizes e define ações técnicocientíficas conjuntas por um período de cinco anos, podendo ser prorrogado. O evento foi realizado na Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e reuniu aproximadamente 200 pessoas. Além dos reitores da UFPR e da UNIPI, diretores e conselheiros da Itaipu, participaram do evento o professor da UNIPI Roberto Spandre; Flávio Zanette, próreitor de Administração e co- ordenador do Acordo de Cooperação pela UFPR; Antônio Carlos Gondim, assessor de Relações Internacionais da UFPR; a secretária estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Lygia Pupatto, prefeitos da BP III, reitores de universidades e diretores de faculdades da região, membros de centros culturais italianos da região, estudantes e professores da FPTI. Fazendo o novo Em seu pronunciamento na solenidade, o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, enfatizou a necessidade de internacionalização das instituições de ensino superior para que cumpram sua missão dentro das exigências do mundo moderno. Disse que esse é o caminho que a UFPR está seguindo, pois já mantém programas de cooperação com outros países das Américas, da Europa e África, a exemplo do que agora se consolida com a UNIPI, que definiu como irmã. Destacou que nesse processo o professor Roberto Spandre tem sido o grande protagonista. Outro princípio que o reitor Moreira qualificou de essencial para a universidade é o do conceito de parcerias público-públicas, assim como existem as parcerias públicoprivadas. Ele defendeu a necessidade de as universidades públicas trabalharem de maneira solidária e irmanada. Se as universidades não conversarem entre si, não vamos avançar, disse, e salientou que vê na Unioeste um exemplo nesse sentido. Dirigindo-se a Jorge Samek, Moreira lembrou do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao lhe dar posse no cargo de diretor geral da Itaipu: produzir energia é sua obrigação, mas fazer o novo, essa é a diferença que você vai fazer na Itaipu Binacional . É exatamente isso que Samek está fazendo, afirmou o reitor. Coroamento de uma série de gestões Carlos Moreira, reitor da UFPR Professor Roberto Spandre Marco Pasquali, reitor da UNIPI Muitas realizações de Galileo Galilei, pois o grande astrônomo italino foi seu aluno e depois professor e pesquisador. Os números da UNIPI impressionam: tem aproximadamente 50.000 estudantes, 1.900 professores, 1.600 técnicos e administradores, 18 bibliotecas, 13 museus e 58 departamentos. Pisa é a cidade da ciência, da pesquisa e da formação, disse o reitor. Marco Pasquali sinalizou para as importantes conseqüências práticas do termo de cooperação UNIPI-UFPRITAIPU. Dentro de dois anos estaremos nos reunindo aqui novamente, e então teremos a oportunidade de ver e avaliar as muitas e grandes realizações que vão resultar da assinatura deste acordo, afirmou, no que foi reforçado pelo professor Roberto Spandre: Se a cooperação que aqui está sendo estabelecida agora não é a mais importante já assumida pela UNIPI no mundo, tenho certeza de que no futuro será. O reitor Marco Pasquali historiou e fez uma detalhada descrição da Universidade de Pisa em suas diversas dimensões. Disse que a cidade de Pisa é pequena relativamente ao porte da Universidade. Seu campus é tão grande quanto a cidade e praticamente se confunde com ela. A UNIPI é uma das universidades mais antigas, maiores e com mais prestígio no mundo. Foi fundada em 1343 e é conhecida como a Universida- A assinatura do Termo de Cooperação é o coroamento de uma série de gestões desenvolvidas em três encontros realizados entre 2005 e 2006 em Florença e na UNIPI, na Itália, e na sede institucional da região de Toscana em Bruxelas, Bélgica, no contexto da União Européia (EU). Significa a concretização do acordado no Protocolo de Intenções firmado pelas três instituições em Foz do Iguaçu em 2006. Participaram dos encontros preparatórios os diretores brasileiro e paraguaio de Coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich e Ramón Romero Roa, respectivamente; o reitor da UNIPI, Marco Pasquali; o chefe do Departamento de Ciências e Meio Ambiente da UNIPI, Roberto Spandre; a embaixadora do Brasil na UE, Maria Cecília de Azevedo Rodrigues; o embaixador da Itália na UE, Annibale Marinelli; o embaixador do Paraguai na UE, José Maria Ibañez; o coordenador da Escola de Altos Estudos para o Desenvolvimento do Mercosul, Maurizio Vernassa; o diretor do Comitê das Regiões da EU, Lucio Gussetti; Mario Badii, responsável pelo escritório da Região de Toscana de Bruxelas, Mario Badii; e cerca de uma centena de outras pessoas representativas dessas instituições. PROTOCOLO DE INTENÇÕES Essas gestões e tratativas resultaram na assinatura, em 1006, de um Protocolo de Intenções que definiu como base conceitual os documentos Agenda 21 e as Metas do Milênio, e como temas de interesse comum os seguintes: ngestão social, política e ambiental no desenvolvimento sustentável; nuso sustentável dos recursos naturais, especialmente o solo, a água e as florestas; nplanificação de um ambiente humano e social seguro e de qualidade, em especial para segmentos economicamente críticos e excluídos; npromoção do desenvolvimento econômico local sustentável e da economia solidária; nproteção, restauração e integração de uma base de biodiversidade ecológica intata, da qual dependem a vida e a atividade a longo prazo. ACADÊMICO -Mobilidade estudantil Brasil/Itália Graduação e Pós-graduação; Itália/Brasil Láurea Specialistica e doutorandos; Mobilidade de docentes e pesquisadores; Criação de modelos estrutura de formação do pensamento sistêmico; Desenvolvimento de metodologias de ensino à distância e operacionalização de cursos à distância; Formação continuada;Fformação com titulação; e Pesquisa acadêmica vinculada à formação. PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO -Busca de financiamento para projetos multidisciplinares; projetos focados em problemáticas detectadas; e validação e construção de replicabilidade do projeto Cultivando Água Boa; IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS ESPECIAIS - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL); difusão de tecnologia incubadoras; detectar e avaliar intercâmbios empresariais entre a Região Toscana e a Região Oeste do Paraná; e intercâmbio cultural. Execução Para a execução do objeto do acordo, as instituições elaborarão projetos específicos que serão formalizados por Termos de Convênio e definidos em Planos de Trabalho devidamente aprovados e vinculados ao Termo de Cooperação. Cada país disponibilizará a mesma quantidade de meses por ano para enviar ou receber estudantes, docentes e pesquisadores. A quantidade de meses, o período e os custos da mobilidade serão providos em cada uma das instituições, em consonância com um plano de trabalho específico aprovado pelas partes. Na formação continuada poderão ser propostos cursos de curta duração, seminários, oficinas, etc., com financiamento específico para cada caso, acordado mediante um plano de trabalho aprovado pelas instituições envolvidas. Na formação com titulação será proposta a criação de cursos interinstitucionais, prioritariamente na área do meio ambiente, com preferência para a gestão ambiental. Produto concreto: euros para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias A cooperação UFPR-UNIPIITAIPU já gerou um produto concreto: a apresentação à União Européia de uma proposta relacionada ao enfrentamento da mudança climática. Está sendo solicitada à EU a importância de 3,5 milhões de euros para aplicação em pesquisa e desenvolvimento de atividades demonstrativas. Envolve, além de outras instituições regionais e européias de ensino superior, UNIPI como coordenadora pela Europa, a UFPR como coordena- dora pelo Brasil e Universidade Nacional de Assunção pelo Paraguai. Estão previstos estudos e desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento de recursos florestais não madeiráveis, gestão de recursos hídricos, produção de biogás a partir de dejetos agropecuários e esgoto urbano, com uma planta no Brasil e outra no Paraguai. É o começo de uma das mais importantes conexões estabelecidas pela Itaipu com instituições nacionais e internacionais. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 MARCOS PALMEIRA Universo orgânico é uma viagem sem volta Anahi Fros/Divulgação O ator Marcos Palmeira estranhou que trabalhadores humildes da fazendo que recém havia comprado, em Teresópolis, RJ, não tocavam nos hortigranjeiros que sobravam da colheita diária. Na segunda semana reuniu todos e informou que eles podiam levar os produtos sem nenhum ônus. A resposta: Para casa, não senhor. Nós não vamos comer isso. Com todo o veneno que colocamos... Foi aí que caiu a ficha, diz Palmeira, descrevendo o seu ingresso no mundo da agricultura orgânica. O episódio fez Palmeira buscar conhecimento sobre sistemas de produção, contratar técnicos e promover uma revolução nas relações com a terra e com os empregados. A nova forma de cultivo elimina qualquer substância química e reaproveita o máximo de dentro, com reciclagem, e depende do mínimo de fora. Seus empregados ganharam casa, carteira assinada, tratamento dentário e escola para os filhos. Dos 400 hectares da fazenda, hoje conhecida como Vale das Palmeiras, cerca de 30 são ocupados por lavouras e criação de animais. Em sua propriedade, Palmeira implantou um sistema que produz semente orgânica, insumo e muda. Para tocar esse empreendimento, conta com o agrônomo senegalês Aly Ndyae, há 13 anos no Brasil. A Vale das Palmeiras vende tudo o que produz no Rio de Janeiro. Para isso ajuda, também, o rosto conhecido dos telespectadores de telenovelas da Rede Globo estampado em cada embalagem. É esta forma que Marcos Palmeira também usa para disseminar a idéia de que produzir e consumir orgânicos faz bem a todos. Palmeira e Aly estiveram em Caxias do Sul (RS) no final de fevereiro para palestras. Para cerca de 200 pessoas, disse que mais do que certificar produtos é preciso certificar a cabeça das pessoas; que na agricultura não há praga, e sim desequilíbrio; e que seu empenho maior é construir relações, enaltecendo que a agricultura orgânica é muito mais do que apenas um negócio envolve pessoas e um conceito de vida. Esquecemos as relações e priorizamos o dinheiro. Por isso vivemos na atual situação de violência, opinou. Na ocasião, Palmeira deu ao jornal Correio Riograndense (edição de14/03/07), daquela cidade, esta entrevista (reprodução autorizada): Correio Riograndense - O que dizer ao produtor rural que se sente inseguro para aderir à agricultura orgânica? Marcos Palmeira -Vá em frente. Se ele está no mercado, que mantenha esse mercado no período de transição e, paralelo a isso, vá buscando outro. O universo orgânico é uma viagem sem volta, porque ele te dá uma amplitude, uma força pessoal de trabalho ligada à dignidade que é irreversível. mão de comerciais em que eu seria obrigado a vender coisa na qual não acredito. Mas faço pouca publicidade, até em função de que sou rigoroso. As grandes corporações até podem tentar me contratar, mas terão de pagar muito mais caro. CR - Até que ponto é difícil construir relações entre produtores e consumidores orgânicos? Palmeira -Falta publicidade, divulgação, marketing. A gente não CR - Economicamente é tem marketing. Por que a viável? gente acredita que o caPalmeira - No final das Palmeira e o técnico Aly Ndyae com produtores da Serra Gaúcha pitalismo deu certo, mescontas é. mo sabendo que não deu? Porque tem um marketing muito CR - E quem não tem recursos Palmeira -Você tem de ter um congrande em volta. Aqui não tem nenhupara investir? tato com técnico, que vai te dar o camima empresa por trás da gente. MonsanPalmeira -Existem financiamentos nho das pedras. Senão, vai ficar sempre to, Purina, Cargil, Bayer... nenhuma está do Banco do Brasil bem compatíveis com com aquela visão tô com praga, tô com patrocinando este encontro. a possibilidade do pequeno produtor, com praga... e não observa que a praga quer 2% de juros ao ano. dizer é que há desequilíbrio. Aqui em CR - E como superar essa dificulCaxias do Sul há técnicos. O pessoal de dade? CR - Dois por cento? É menos que Ipê está preparado. Palmeira -Encontros como este (em o Pronaf. Caxias) são fundamentais para multipliPalmeira -Sim. Essa opção é pouCR - Qual a despesa e o faturacar as informações e pulverizar a idéia. co difundida, mas existe. O difícil é a vimento de tua fazenda? rada, onde o cara fica inseguro de largar Palmeira - Tem um custo mensal CR - Logicamente és contra os uma coisa com a qual está viciado e enmédio de R$ 30 mil e fatura cerca de R$ transgênicos. xergar longe. Com certeza lá na frente 45 mil. O lucro é todo investido na faPalmeira - Sou radicalmente ele terá bons frutos. zenda. contra. Uma coisa é a pesquisa genética em relação à saúde humana; CR - Como foi a conversão na Vale CR - O ingresso na agricultura não outra são os alimentos geneticamendas Palmeiras? prejudicou contrato de publicidade? te modificados, que só trazem bePalmeira - Eu tive mais dificuldaPalmeira - Ah! Com certeza. Já abri nefício a quem tem a patente das des porque quis acelerar muito o prosementes. Sou a favor das semencesso. O pequeno agricultor tem uma BRASIL: 5º MAIOR tes crioulas. Acho que a Monsanto vantagem, porque já vive o exercício da faz um mal enorme à humanidade. profissão e sabe que a transição tem de PRODUTOR MUNDIAL Ela vende desenvolvimento promoser devagar. A produção orgânica cresce entre vendo a degradação. É muito bem 20% e 30% ao ano, no Brasil e bolado. A gente tem de ficar muito CR - Qual foi o investimento até no mundo. Os campeões (em esperto quanto a isso. agora? hectares cultivados) são: Palmeira - É difícil avaliar. Durante CR - Não pode nem contribuir um tempo eu apliquei na fazenda tudo 1º Austrália e para diminuir a fome? que ganhava. Acho que eu poderia estar Nova Zelândia .......... 11 milhões Palmeira -Eles vendem o conceito hoje no mesmo lugar com menos da 2º Argentina ........... 2,8 milhões de que só o transgênico, só o convencimetade do que investi. 3º Itália ...................... 1 milhão onal pode acabar com a fome. Está mais 4º Estados Unidos ..... 830.000 do que provado que o problema da fome CR - Entrar nesse tipo de empre5º Brasil ..................... 803.000 não é falta de alimento, mas má distriendimento sem conhecimento técnibuição. Como a riqueza. co ou orientação oferece riscos? Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 ! Coleta Solidária avança para além da BP III Catadores de organizam, se equipam melhor, ganham mais e melhoram qualidade de vida Dentro do Cultivando Água Boa e seu programa Educação e Sustentabilidade Social e Regional, é desenvolvido na BP III o projeto Coleta Solidária, numa parceria entre a Itaipu, o Instituto Lixo e Cidadania e associações de catadores de materiais recicláveis dos municípios. O projeto já atingiu 1.571 famílias de catadores de 27 dos 29 municípios da BPIII, e duas cidades de fora dela (Palotina e Guaraniaçu) foram contempladas com diferentes ações: cursos de educação socioambiental; instrução sobre formas mais convenientes e eficientes de exercício do trabalho; incentivo à organização de associações ou cooperativas de catadores, e doação de equipamentos e materiais. Na BP III foram doados 1.571 carrinhos, 2.850 uniformes, 14 prensas, 14 balanças e os chamados passaportes da cidadania a documentação pessoal dos catadores e seus familiares. Também estão insta- lados na região 22 barracões de armazenamento e separação dos materiais coletados. Apenas dois municípios da BP III (Matelândia e Altônia) ainda não implantaram o projeto, mas os materiais e equipamentos necessários já estão disponibilizados pela Itaipu, faltando as respectivas prefeituras organizar a concretização do Coleta Solidária. O município de Medianeira decidiu fechar o Lixão, onde muitas pessoas, inclusive crianças, catavam materiais recicláveis, tendo que ser encaminhadas ao Coleta Solidária. Para isso, técnicos da Itaipu e do Instituto Lixo e Cidadania ofereceram treinamento a 60 agentes de endemias para levar a todas as famílias da cidade orientações sobre como fazer a correta separação do lixo e disponibilizá-lo solidariamente aos catadores integrantes da sua associação. O trabalho de acordo com o que preconiza projeto começa no dia Em Cascavel, Cooperativa de Catadores recebe da equipamento da Itaipu 10 de junho. Em Cascavel, no dia 24 de maio foi oficialmente constituída a Cooperativa do Catadores de Materiais Recicláveis, com eleição e possa da diretoria. Para a Cooperativa dos Agentes Ambientais de Foz do Iguaçu o BNDES liberou verba de R$ 870.000,00, valor que será aplicado na construção de barracão, compra de caminhão, aquisição de balança e outros equipamentos. Nos cinco primeiros meses de 2007, o projeto desenvolveu, entre outras, as seguintes Adenésio Zanella atividades: nparticipação remunerada de catadores de Foz do Iguaçu no combate à dengue; nvisitas, reuniões, palestras nos municípios, tendo atingido, só em Foz do Iguaçu, perto de mil trabalhadores de uma rede de supermercados, Guarda Municipal, Correios e estudantes; palestra sobre cooperativismo para 70 catadores de Toledo; nentrega de equipamentos A diretoria da Cooperativa do (prensa, balança e uniformes) a catadores de Entre Rios do Oeste e Vera Cruz do Oeste; npara atendimento em horário comercial, contatos telefônicos e pesquisa na internet sobre rede de comercialização na BP III, a catadora Viviane Mertig dá expediente no escritório do Instituto Lixo e Cidadania, Foz do gura e em rentável paraIguaçu. os pro- Agricultura familiar em busca de novos caminhos para a auto-sustentabilidade No primeiro semestre de 2007, a ação de apoio à agricultura familiar na BP III pautou-se pela preocupação de encontrar alternativas de produção, especialmente com a fruticultura e a agregação de valor aos produtos, mediante a implantação de agroindústrias. Em todos as situações, contudo, mantém-se a linha mestra que é encontrar uma nova matriz tecnológica de produção para a agricultura familiar, sem utilização de insumos e defensivos químicos que, quando aplicados incorretamente, Adenésio Zanella $ Agricultores familiares em busca de alternativa tecnológica causam tanto mal ao meio ambiente e ao sistema produtivo e financeiro do agricultor. Para atingir esses ideais fo- ram promovidas dezenas de reuniões em diversos municípios com associações de produtores e outras entidades, visando à conscientiza- ção do agricultor quanto à importância de perseguir a independência da atividade, investindo recursos e tecnologias em todas as fases da cadeia produtiva: produção, transformação (industrialização) e comercialização dos produtos. Levantamento feito pelo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) indica que, de todas as frutas consumidas no oeste do Estado, em média, cerca de 70% são oriundas de outros estados, apesar de o solo e o clima da região serem altamente propícios à produção de praticamente todas elas, podendo constituir uma alternativa se- dutores locais Para o segundo semestre, o projeto Agricultura Familiar do Cultivando Água Boa planeja formar parceria com prefeituras, Incra, Banco do Brasil e outros agentes para a concretização do objetivo de promover uma profunda mudança na exploração da terra, tanto no que se refere ao que produzir como nos métodos de produção, de modo que se criem as condições para a sustentabilidade da pequena propriedade rural. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Agentes das Águas fazem o monitoramento dos rios pacitou mais de 90 voluntários de quatro municípios do oeste do Paraná (Medianeira, Matelândia, Céu Azul e Toledo), nos quais monitora 45 locais estratégicos ao longo dos rios Xaxim, Sabiá, Toledo e Lopeí e seus afluentes. A proposta da parceria entre Itaipu e a Fiocruz é de envolver todos os 29 municípios que têm rios que deságuam no reservatório da usina. A participação da Itaipu se dá no contexto do Cultivando Água Boa, por meio do projeto Monitoramento e Avaliação Ambiental, numa ação integrada ao programa Educação Ambiental para Sustentabilidade. Os agentes da água são voluntários que são introduzidos na ação com um curso teóricoprático onde aprendem a determinar a qualidade das águas dos rios mediante análises ambientais (que consideram aspectos ecológicos do ecossiste- ma), físico-químicas (através de kits simplificados) e biológicas. As análises biológicas são feitas a partir da observação da presença de animais, geralmente insetos e caramujos, que podem ser sensíveis ou tolerantes à poluição. A lógica é que, se há muitos animais sensíveis à poluição, é porque a água está limpa; e se há muitos animais tolerantes, é porque está mais poluída. A vantagem desse método sobre as análises físico-químicas é que estas analisam somente o momento em que a análise foi realizada, enquanto com as análises biológicas pode-se obter informações sobre impactos ocorridos há até duas semanas e causaram a morte de animais. Os voluntários têm gerado dados importantes sobre a qualidade da água dos seus municípios e representado suas comunidades na discus- PRODUÇÃO DE LEITE Voluntários conferem a qualidade da água em córrego são com os comitês gestores e prefeituras sobre como resolver os problemas encontrados. Para participar basta estar interessado no assunto e querer ajudar a resolver os problemas dos rios. Mais do que um projeto de educação ambiental, este é um projeto de cidadania que acredita que com a união de todos, podemos deixar para nossos filhos um mundo melhor do que o que recebemos. Divulgação e ampliação Os voluntários do projeto também fazem a divulgação dos resultados das análises que fazem das águas, para que a população saiba as condições em que se encontram e se conscientizem da necessidade de cuidá-las devidamente. Os agentes das águas fazem isso em palestras, como já ocorreu nas escolas das localidades de Bom Princípio Agrocafeeira, de Matelândia, ministradas por voluntários e estagiários de Bom Princípio e Agrocafeeira, Linha Gramado e Xaxim, e em eventos como a Feleite. Com vistas a sua ampliação, os objetivos e metas do projeto Agentes das Águas já foram expostos aos comitês gestores do Cultivando Água Boa de Itaipulândia, Ouro Verde do Oeste e Santa Terezinha de Itaipu, onde recebeu total aprovação. O próximo passo será a apresentação às comunidades para em seguida ser implantado nesses municípios. Salas Verdes: democratização do acesso à informação ambiental No dia 23 de março, na Base Náutica de Entre Rios do Oeste, foi realizado o Encontro Linha Ecológica 2007, para tratar das atividades de educação ambiental e agropecuária sustentável e agricultura orgânica, a serem desenvolvidas em 2007 no âmbito do Cultivando Água Boa. O encontro teve a participação da representante do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Valéria Casale, do prefeito de Santa Terezinha de Itaipu e presidente do Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros, Cláudio Eberhard, dos prefeitos Rogério Lerner, de Entre Rios do Oeste, e de Mercedes, Vilson Schuvantes, dirigentes e técnicos da Itaipu, integrantes da Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica e comunidade. Na ocasião foi Inserção no Sistema de Educação pela Internet oficializada a insTereza do Oeste, Marechal Cânditalação das chamadas "Salas Verdo Rondon, Nova Santa Rosa, Foz des" em 14 municípios da região do Iguaçu, Mercedes, Terra Roxa, (Ouro Verde do Oeste, Guaíra, ToVera Cruz do Oeste, Medianeira e ledo, Matelândia, Lindoeste, Santa % Seminário propõe sistema orgânico para viabilizar Programa já capacitou mais de 90 pessoas em quatro municípios, com atuação ao longo dos rios Xaxim, Sabiá, Lopeí e Toledo Contando com a participação de voluntários das comunidades para a realização do monitoramento das águas dos rios brasileiros, a Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz), do Ministério da Saúde, e o Ministério do Meio Ambiente desenvolvem o projeto Agente das Águas. É um programa eminentemente participativo porque funciona por meio de parcerias diversas, de forma a democratizar as informações e dar vez e voz a todos os atores sociais. Para isso são construídos fóruns participativos que definem objetivos e metas, discutem os problemas e buscam soluções. Presente em vários Estados brasileiros, no Paraná o projeto conta com a parceria da Itaipu Binacional, prefeituras, universidades locais, sociedade civil organizada e comunidades da BP III. Iniciado em 2006, já ca- Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Cascavel). Sala Verde é um telecentro de educação ambiental à distância e inserção no Sistema Brasileiro de Educação Ambiental, pela internet. Trata-se de projeto desenvolvido pelo MMA, que fornece o material didático, em parceria com a Itaipu Binacional, que doa cinco computadores por município, e as prefeituras, que entram com o espaço físico. A representante do MMA anunciou que em breve as Salas Verdes serão instaladas em todos os municípios da Bacia do Paraná III e do entorno do Parque Nacional do Iguaçu. O projeto Salas Verdes, encarado como uma oportu- nidade para a democratização do acesso à informação socioambiental, constitui-se num facilitador da sinergia entre instituições, sociedade civil, projetos, programas e ações locais que fortalecem enraizamento da Educação Ambiental na região, à medida que oferece um espaço para debate, reflexão e planejamento contínuos dos diversos atores sociais, na perspectiva da ética do cuidado, fortalecendo o relacionamento do homem com o meio que habita e fazendo com que se perceba como parte de um sistema integrado. Com o objetivo de gerar subsídios e informações para viabilizar e organizar a cadeia produtiva de leite ecológico na região da BP III, foi realizado no dia 24/04, em Pato Bragado, o 1º Seminário Regional de Produção Ecológica de Leite, com participação de 300 produtores, especialmente os ecológicos, ou orgânicos. Foi uma realização da Itaipu, dentro das ações do projeto de Agricultura Orgânica, do Cultivando Água Boa, CAOPA (Centro de Associações da Agropecuária Familiar do Oeste do Paraná), CAPA (Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor), APOP (Associação dos Produtores Orgânicos de Pato Bragado), EMATER, IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) e Secretaria de Agricultura de Pato Bragado. Na pauta: lContextualização do programa Cultivando Água Boa; lExperiências de cooperativas de leite da agricultura familiar; lAções desenvolvidas pelo projeto Itaipu/Iapar de produção ecológica de leite; lAvaliação de sistemas na produção leiteira impactos e medidas de condução, com palestra do professor Antônio C. M. da Rosa, da UFSC; lPastoreio racional Voisin, tecnologia de ponta ao alcance do pequeno produtor, com exposição do professor Alexandre Lenzi, também da UFSC. A dura realidade do setor leiteiro No seminário, técnicos e produtores traçaram um quadro de crise que precisa ser Foto: Adenésio Zanella Rostos de preocupação no encontro de produtores de leite realizado em Pato Bragado superado para a viabilidade do setor. A produção de leite situase num contexto da agricultura e pecuária brasileiras em que, segundo a Fundação Getúlio Vargas, de 1994 a 2002, os produtores sofreram uma descapitalização de 44,4%. Nesse período, os preços recebidos pelos produtos aumentaram 89,7%, enquanto os dos insumos subiram 134,7%, o que indica a inviabilidade dos métodos convencionais de gerar resultados positivos para os produtores rurais. Alternativas de produção leiteira Na busca de saídas para a situação, o seminário trabalhou em cima dos seguintes objetivos específicos: lCompartilhar e aprofundar experiências na produção de leite em sistema ecológico de manejo; lSensibilizar os produtores familiares para a produção sustentável de leite; lIncentivar o uso de técnicas agroecológicas no manejo produtivo de leite; lEstimular organizações locais e micro-regionais para o desenvolvimento da cadeia produtiva de leite familiar ecológico; lFavorecer a troca de experiências vivenciadas pelos produtores de leite ecológico e convencional; lExpor aos produtores, técnicos, pesquisadores e autoridades a viabilidade da produção ecológica de leite; lApresentar aos produtores as metas traçadas no projeto de leite ecológico para 2007. Segundo o gestor do projeto de Agricultura Orgânica da Itaipu, o agrônomo João José Passini, a partir desse encontro, os produtores passarão a ser sensibilizados a receber assistência técnica visando à sustentabilidade do setor na região, e um grupo de trabalho será formado para difundir práticas adequadas em toda a cadeia produtiva de leite, especialmente pelo sistema orgânico. Cultivando Água Boa & JUNHO DE 2007 MERENDA ESCOLAR S. Miguel obtém Certificação de Ministério Tudo isso está alavancando muito a agricultura familiar orgânica no município Para incentivar a busca pela maior eficiência na aplicação de recursos, o Programa Fome Zero, do Ministério do Desenvolvimento Social, instituiu a premiação e a certificação para prefeituras que se destacam pela excelência da merenda escolar que oferecem aos estudantes. Anualmente, 11 prefeituras são premiadas e 22, certificadas. O objetivo é fazer com que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja cumprida, ou seja, que tanto as verbas federais como municipais sejam efetivamente aplicadas na merenda escolar da melhor maneira possível. Em 2006 estavam inscritas na ação 610 prefeituras de todo o país, e a de São Miguel do Iguaçu, que já participara em 2005, figurou entre as 22 certificadas. "Foi uma grande vitória, porque a certificação significa que estamos perfeitamente dentro da legalidade, cumprindo o papel de cidadão e gestor eficiente", comemora a coordenadora da merenda escolar do município, a nutricionista Eveline Vandressa Valduga. "Não é estabelecida ordem de classificação para evitar que os municípios encarem isso como competição, mas sabemos que estamos entre a 12ª e a 22ª posição e que somos o único município do oeste do Paraná a obter a certificação." para que atuassem diretamente na alimentação dos alunos", diz Eveline. "Para isso investimos nas hortas das escolas, que já existiam, e inovamos. Elas usavam agrotóxicos, então, devagarinho fomos eliminando isso e introduzindo o sistema orgânico de produção. Começamos com cursos e palestras para as merendeiras, zeladores e pais de alunos que trabalham nas hortas e fornecem adubo natural para as hortas escolares." Na conversão para o sistema orgânico vem sendo fundamental o apoio do projeto de Agricultura Orgânica do programa socioambiental Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional. No final de 2005, das 20 escolas e centros de educação infantil do município, 12 já produziam alimentos orgânicos diversificados, mas a meta, Despensa da escola em dia de chegada dos produtos diretamente das granjas segundo Eveline, é chegar a 100%, o que deve ocorrer em 2008, devido ao período necessário para a descontaminação do solo, processo que leva de dois a três anos e começa com a suspensão do uso de agrotóxicos. "Em alguns casos houve queda na produção e até perda de safra, mas preferimos isso ao uso de agrotóxicos, em quire produtos não orgânicos quando não os encontra orgânicos na quantidade necessária. Assim, atualmente, 30% da merenda escolar do município é feita com produtos orgânicos. E o número de fornecedores pulou de 11 para 71, todos da agricultura familiar. E o custo por refeição caiu de R$ 0,63 para R$ 0,36. Prato da Tia: criatividade das merendeiras Projeto inovador "Sabíamos que, para participar, tínhamos que ter um projeto inovador, que chamasse a comunidade para dentro da escola, especialmente os pais, nome da saúde da terra e das nossas crianças", diz Eveline. Mas as hortas das escolas ainda não garantem toda a produção necessária para a merenda, então é necessário adquirir produtos com a verba do programa Fome Zero, pela fórmula da Compra Direta pelo Governo Federal. No caso, a Prefeitura de São Miguel só ad- Evelinde servindo a merenda: “as crianças adoram” Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Núcleos Formadores Os municípios que integram o FEA estão organizados em três Núcleos Formadores: Núcleo de Cascavel, Céu Azul, Matelândia, Vera Cruz do Oeste, Ramilândia, Santa Tereza, Lindoeste, Capitão L. Marques, Santa Lúcia, Capanema e Serranópolis; Núcleo de Foz do Iguaçu, São Miguel, Medianeira, Santa Terezinha, Missal, Itaipulândia, Diamante do Oeste e Santa Helena; Núcleo de Toledo, Terra Roxa, Guaíra, Mundo Novo, Altônia, Quatro Pontes, Mercedes, Maripá, Marechal C. Rondon, Nova Santa Rosa, Ouro Verde, São Pedro, Entre Rios, São José das Palmeiras e Pato Bragado. Há momentos no processo formativo em que os três núcleos se reúnem para diálogos, troca de experiências e busca de caminhos. Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica Resultado da parceria entre Itaipu, Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu , Associação dos Municípios do Oeste do Paraná e prefeituras, a Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica tem por objetivo conectar projetos ambientais e sociais que buscam a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida na região. A rede é formada por monitores dos 29 municípios da BP III, com representantes das secretarias municipais de Educação, Agricultura, Meio Ambiente e Ação Social. Como principal instrumento das ações, eles dispõem de um ônibus com equipamentos audiovisuais e materiais educativos - daí a denominação Linha Ecológica (LE). Os monitores são levados a todos os recantos da BP III para encontros de formação, construção de saberes coletivos, socialização e difusão de experiências, com atuação tanto na rede formal de ensino (escolas) quanto não informal (junto a agricultores e comunidades diversas). Neste ano, na rede formal, entre tantas atividades, a LE distribuiu 45.000 exemplares da cartilha Mundo Orgânico que versa sobre agricultura e pecuária orgânicas - para alunos de 1ª e 2ª séries das escolas municipais; formou 318 professores das escolas municipais no curso Consumo Consciente; fez visitas técnicas a projetos de educação ambiental e culturas alternativas com agricultores da região; e apoiou as caminhadas ecológicas. Na rede não formal tem atuado na formação de catadores de lixo e no apoio a sua organização, no apoio ao FEA, na articulação e realização das oficinas do futuro. A inovação na merenda escolar de São Miguel do Iguaçu incluiu a capacitação das merendeiras, o que foi feito pelo projeto "Prato da Tia", que consistiu em um curso de três meses em que elas receberam orientação sobre alimentação e nutrição. "No curso, as merendeiras aprenderam, por exemplo, o que é carboidrato, proteína, por que tem que haver tais e tais quantidades de nutrientes", relata Eveline. "Dentro do projeto Prato da Tia, as merendeiras têm um dia por semana em que têm direito a fazer a merenda que elas querem, usando os conhecimentos adquiridos e a criatividade. Elas criaram, por exemplo, uma feijoada de legumes que é uma delícia. Nela entra tudo quanto é legume, bem picadinho, inclusive quiabo, que antes as crianças rejeitavam e agora adoram." Até o fim deste ano, a coordenação da merenda escolar pretende lançar um livro de receitas criadas pelo projeto Prato da Tia, anuncia Eveline. "Tudo isso está alavancando muito a agricultura familiar orgânica no município, e nisso as próprias crianças têm papel fundamental", analisa Eveline. "Elas sabem que o alimento orgânico faz bem e ajudam a propagar a produção orgânica, especialmente nas suas famílias. Até a nossa feirinha teve aumento da venda graças à divulgação que as crianças fazem." legndar mamammmamammmama uccccccccnnnnnaaaaaaaaaaaaaa Fotos: Milton Rolin legndar mamammmamammmama uccccccccnnnnnaaaaaaaaaaaaaa Educação Ambiental Corporativa legndar mamammmamammmama uccccccccnnnnnaaaaaaaaaaaaaa Educação Ambiental no Complexo Turístico No Ecomuseu - Além de exibir importantes coleções arqueológicas, históricas, técnicas e científicas, o Ecomuseu da Itaipu mantém espaços interativos, educativos, botânicos e de artes, utilizados especialmente na educação ambiental, que tem como alvos prioritários os bairros do seu entorno. Quatro projetos visam a inclusão social e a valorização do patrimônio: Ação Cidadã - desenvolvida com creches; Grupo Comunidade Crescer - para crianças dos bairros do entorno; e Varanda - para as famílias do entorno. No Refúgio Biológico - criadouro de animais silvestres, zoológico, hospital veterinário, quarentenário, viveiro florestal, experimentos florestais, ervanário, tanquesrede, além de uma estrutura de atendimento ao turista e à educação ambiental tudo isso atende pelo nome de Refúgio Biológico Bela Vista, um rico e diversificado espaço de aprendizagem, fonte de saber e vivência dos valores da natureza. A educação ambiental é trabalhada com professores, estudantes, pesquisadores, comunidade do entorno e turistas no contato direto com a exuberância da natureza do lugar, sua flora e fauna. É nesse ambiente, entre tantas atividades, que se desenvolve o projeto Jovem Jardineiro, atualmente 40 meninos e meninas. A educação ambiental volta-se também para dentro da comunidade dos trabalhadores da Itaipu Binacional, com a missão de transformálos num grande coletivo de aprendizagem permanente, fundada nos princípios e valores globais da ética do cuidado. Para isso foi formada a Rede Interna de Educadores Ambientais da Itaipu, que já tem um apreciável rol de atividades desenvolvidas: lreuniões para definir estratégias de atuação na empresa; ldiagnóstico participativo mediante pesquisa de opinião sobre a situação da empresa em relação à qualidade do meio ambiente e de vida; lmobilizações em favor do meio ambiente e da qualidade de vida; lrevitalização do programa Vai e Vem, de gerenciamento de resíduos. Atualmente está em curso a formação de um comitê ambiental binacional envolvendo os trabalhadores brasileiros e paraguaios. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Fotos: Milton Rolin JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa ' Itaipu e BB se unem em ações ambientais Fotos: Adenésio Zanella Projeto inclui apoio à fruticultura como alternativa para a agricultura familiar A missão é levar as comunidades a identificar e corrigir os problemas e a cuidar do seu pedaço daço de planeta onde vivem e de "empoderamento" em relação à tomada de decisões sobre o trato com o meio ambiente. Fundamento básico do Cultivando Água Boa, o programa Educação Ambiental para Sustentabilidade atua em várias frentes: Sensibilização Socioambiental na área de influência de Itaipu, Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica, Formação de Educadores/as Ambientais (FEA), Educação Ambiental nas Unidades do Complexo Turístico Itaipu e Educação Ambiental Corporativa em Itaipu. Formação de Educadores Ambientais Educação Ambiental nas Microbacias Entre essas ações educativas, a de "Sensibilização socioambiental na área de influência de Itaipu", realizada nas microbacias dos municípios da BPIII, antes, durante e depois de executadas as práticas conservacionistas de água e solo, sempre precedidas das Oficinas do Futuro, estimula as comunidades a refletir sobre atitudes, práticas e conceitos e a decidir pelas soluções sustentáveis para problemas diagnosticados coletivamente. Nos primeiros meses de 2007, o programa de educação ambiental associado ao das práticas conservacionistas se concentrou nas oficinas realizadas nas novas microbacias escolhidas para serem trabalhadas na segunda etapa do processo de zeramento dos passivos ambientais na BP III (ver pág. 22). Paralelamente, a educação ambiental reforça um quarto momento das oficinas: O Futuro no Presente, ou seja, a ação que se realiza durante e após a solução dos passivos ambientais, por meio de reuniões de sensibilização e conscientização sobre a importância e a necessidade de toda a comunidade, individual e coletivamente, ajudar a fazer e a cuidar do que é ou está sendo feito, caso contrário, tudo se perderá. Assim, a educação ambiental constitui o cerne das práticas conservacionistas na construção da Agenda 21 do Pedaço, assumida como ação prioritária das comunidades no Pacto das Águas. Desperta-se assim nas pessoas o sentido de "pertencimento" em relação ao pe- Ao mesmo tempo em que realiza as ações de gestão ambiental para a correção dos passivos ambientais, Itaipu e seus parceiros articulam um verdadeiro laboratório de educação ambiental que permeia todos os programas, mais diretamente os de Gestão por Bacia, Agricultura Orgânica e Familiar, Plantas Medicinais, Jovem Jardineiro e Coleta Solidária. Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, Itaipu, Ibama/Parque Nacional do Iguaçu, 42 instituições e 34 prefeituras, consolidou-se na região o chamado Coletivo Educador, que trabalha na implementação e avaliação constante da Formação de Educadores e Educadoras Ambientais (FEA). O FEA envolve diversos segmentos da sociedade em processos reflexivos, críticos e emancipatórios que têm na educação ambiental sua maior força propulsora, no sentido das mudanças culturais e socioambientais rumo à sustentabilidade. Aprender participando A metodologia adotada pelo programa FEA é o de pessoas que aprendem participando, por meio dos grupos de Pesquisa-Ação-Participante (PAP), que se desenvolve mediante o enraizamento de conceitos e práticas socioambientais sustentáveis na comunidade da Bacia do Paraná III e do entorno do Parque Nacional do Iguaçu. Há quatro instâncias de grupos PAP: nPAP1 - formado pelos idealizadores nacionais da proposta (Ministérios do Meio Ambiente e da Educação), que repassam conhecimentos e materiais de apoio às iniciativas em andamento Brasil afora; nPAP2 - coletivos educadores que resultam da aglutinação de experiências de instituições da BP III e do entorno do Parque Nacional do Iguaçu, ancoradas pela Itaipu Binacional e Ibama, para pensar a formação do PAP3, construindo uma metodologia de ensino que dê conta das especificidades locais; nPAP3 - os 300 educadores ambientais em formação, que têm a missão de enraizar a educação ambiental nas diversas localidades de cada município e integram praticamente todo o tecido social regional; nPAP4 - os diversos grupos presentes nos municípios, resultantes das intervenções do PAP3, que se mobilizam por políticas públicas de interesse de toda comunidade. ECOPEDAGOGIA Educação Ambiental é o cerne do programa DE Cena da peça teatral “A Matita - uma aventura orgânica” REFERÊNCIA Crianças em lição de Educação Ambiental no Ecomuseu Em parceria com a Itaipu Binacional, Emater, Unioeste e as prefeituras dos municípios da BP III, o Banco do Brasil está implantando na região projeto "Desenvolvimento Regional Sustentável" (DRS), com as seguintes propostas de ação: lSensibilizar a população rural e urbana quanto aos aspectos ambientais geradores de poluição difusa e pontual em propriedades rurais. lElaborar o planejamento eco-desenvolvimentista nas propriedades agropecuárias por microbacias. lImplantar práticas de uso e conservação de solos e água (terraceamento, plantio direto, adequação de estradas, manejo de pastagens, corredores de dessedentação, etc.). lRecompor as matas ciliares e reservas legais com espécies florestais não-madeiráveis (não destinadas a produzir madeira) mas econômicas em propriedades rurais da Bacia do Paraná III. l Implantar ações de melhoria dos sistemas de produção existentes e de diversificação agropecuária das propriedades rurais da BP III, buscando a sustentabilidade da região e a melhoria da qualidade de vida. l Implantar o saneamento rural (adequação ou relocação de instalações agropecuárias, manejo e destinação de embalagens de agrotóxicos e dejetos orgânicos, construção de abastecedouros comunitários, vetores de endemias, poços, fossas sépticas, etc.). l Implantar uma rede de monitoramento ambiental participativo nas microbacias trabalhadas. l Incentivar a obtenção do licenciamento ambiental das propriedades, bem como estabelecer um sistema de certificação conservacionista de propriedades. No prazo de dois anos, o Banco do Brasil tem por meta implantar o projeto em aproximadamente 5.800 hectares, distribuídos em 29 microbacias, num total de 20 propriedades por microbacia, totalizando 580 propriedades, a um custo de R$ 886,00 por hectare, totalizando R$ 5.138.800,00. Entre as prioridades o Banco do Brasil coloca o controle de aspectos e impactos ambientais originários da produção agropecuária. Faz parte do projeto, ainda, pelo prazo de um ano, a adoção de uma nascente urbana por município da BP III para implantação de um espaço interativo de EducAção comunitária em área urbana, transformandose em ambiente de referência de EcoPedagogia. O custo previsto para a formação das 29 praças variável para cada situação e dependente de projeto está estimado em R$ 150.000,00 a 200.000,00 por praça, totalizando R$ 5.800.000,00. Incremento à fruticultura orgânica: o bom exemplo de Guaíra Indicativo do significado dessa iniciativa é o que vem sendo feito em Guaíra, dentro dos projetos Diversificação da Produção e Agricultura Orgânica, do Cultivando Água Boa, agora com participação do Banco do Brasil. Para Guaíra, o projeto Desenvolvimento Regional Sustentável tem 4 objetivos e 19 ações programadas, todas para o incremento da fruticultura orgânica, que vem tendo excelentes resultados na região. OBJETIVO 1 - aumentar o número de produtores, dos 24 atuais para 50, especialmente na produção de abacaxi, banana e maracujá. lFórum de debate entre os atores do processo para o levan- tamento das aspirações dos produtores; lcapacitação e conscientização dos produtores sobre a necessidade de negócios sustentáveis (orgânicos); lcriação de viveiro e de unidade de compostagem; aquisição de equipamentos; lcriação de Associação de Fruticultores e organizar grupos para aquisição de insumos; lcapacitação no aproveitamento de subprodutos da fruta; ldisponibilização de crédito de custeio/investimento aos produtores; OBJETIVO 2 COMERCIALIZAÇÃO lcriar unidades de recep- ção, classificação, armazenagem, beneficiamento e comercialização; lcriação de selo marca para produtos in natura ou industrializados. OBJETIVO 3 - AMBIENTAL lcriar condições para aproveitamento dos recursos hídricos; lincentivar a formação da reserva legal nas propriedades; lcriar plano de adequação ambiental das propriedades; lestimular o plantio e beneficiamento de fitoterápicos. OBJETIVO 4 - SOCIAL lformação de agentes de saúde voltados à medicina alternativa; linserir as comunidades indígenas e quilombolas nas ações do DRS; lviabilizar o acesso à documentação de posse da terra. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 Índios recebem terra e formam nova aldeia Foto: Adenésio Zanella Em área de 242 ha, em Diamante, nasce a nova comunidade avá-guarani: Itamarã No dia 3 de fevereiro, no município de Diamante do Oeste, dentro das ações do programa Sustentabilidade das Comunidades Indígenas, do Cultivando Água Boa, a Funai e a Itaipu Binacional entregaram área de 242 hectares para implantação da aldeia Itamarã (palavra guarani que significa diamante), no município de Diamante do Oeste. Estiveram presentes ao ato o prefeito de Diamante do Oeste, Faustino Magalhães, caciques e líderes das comunidades indígenas, o diretor geral e o diretor de Coordenação da Itaipu, Jorge Samek e Nelton Friedrich, e o representante da Funai Glênio da Costa Alvarez. No evento foram assinados convênios relativos às ações programadas para 2007 nas comunidades indígenas, e já aí o Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros emitiu ordem de serviço para o início da construção da Casa de Reza no Tekoha Añetete. As principais ações previstas para 2007 nos convênios celebrados entre a Itaipu, as prefeituras de São Miguel do Iguaçu e Diamante do Oeste e as três comunidades indígenas (Ocoy, Añetete e Itamarã) são as seguintes: lAquisição de insumos, sementes, animais de tração e equipamentos (arriames) e ferramentas manuais agrícolas; lincentivo ao projeto Plantas Medicinais com foco no conhecimento tradicional guarani; lapoio à fruticultura e à piscicultura em tanques-rede; l incentivo à produção e comercialização de artesanato indígena; lincentivo à produção de cultivos naturais da tradição guarani: milho branco, diversas espécies de mandioca, batata doce e outros; l fornecimento de cestas básicas dentro do programa de nutrição; lapoio a visitas técnicas e viagens de intercâmbio; l construção de casas na aldeia Itamarã e mais unidades na do Ocoy. Além dessas ações comuns às três aldeias, na Itamarâ está previsto o preparo de 20 hec- ' Eu vejo a educação como o referencial do projeto Plantas Medicinais da Itaipu Ângelo Giovani Rodrigues, engenheiro agrônomo, coordenador da área de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde, participou do Seminário realizado em Toledo nos dias 16 e 17 de abril a convite da Itaipu para apresentar a política nacional do Governo para o setor. Na ocasião, ele concedeu a seguinte entrevista. Foto: Caio Coronel Na inauguração da Aldeia Itamarã, o cacique expressou a alegria da comunidade indígena tares de solo para plantio, incentivo à apicultura e à criação de suínos; e para a Añetete, o preparo de 150 hectares de solo, cultivo de erva-mate e cascalhamento de 15 quilômetros de estradas. Prossegue ainda a luta da aldeia do Ocoy para obter do IAP e do Ibama a liberação do cultivo de 83 hectares que fazem parte de área de preservação, bem como pela desapropriação de uma área em Matelândia, para reassentar famílias indígenas e assim desafogar aquela comunidade, cuja terra é insuficiente para suas necessidades. Conquista da terra foi cheia de tribulações Em 2003, 17 famílias de índios avá-guarani abandonaram a comunidade do Ocoy, de São Miguel do Iguaçu, lideradas politicamente por Teodoro Alves e orientados espiritualmente pelo pajé Honório Benítez. Mas essas famílias não se desgarraram da comunidade de origem. Pelo contrário, como ocorre com qualquer núcleo familiar guarani, mantiveram com ela os laços de parentesco e culturais.. Sua saída se deveu à desproporção na relação entre terra disponível (pouca) e número de habitantes (muitos), o que causava um acentuado desequilíbrio, tornando a aldeia foco de conflitos. O grupo de 17 famílias partiu então em bus- Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 ca de outra área para poderem construir melhores condições de sobrevivência e levar uma vida de acordo com seus padrões culturais. Inicialmente, o grupo ocupou uma área em Terra Roxa, depois juntou-se ao tekoha Añetete, em Diamante do Oeste, em seguida ocupou uma área na faixa de proteção do reservatório da Itaipu em Santa Helena e, finalmente, voltou a Diamante do Oeste, estabelecendo-se em área cedida pela Prefeitura. Mas agora, com a entrega da área adquirida pela Funai, consolida-se a aldeia Itamarã e acaba o problema da falta de terra para esse grupo. Mandioca em abundância A comunidade indígena Tekoha Añetete, de Diamante do Oeste, na safra 2006-2007, colheu cerca de 400 toneladas de mandioca orgânica o dobro da safra anterior. A cultura é desenvolvida numa parceria da Associação Indígena Añetete com a Cooperativa Agroindustrial Lar, a Prefeitura de Diamante do Oeste e a Itaipu Binacional. Itaipu e Prefeitura participam especialmente no preparo do solo para o plantio, e a Cooperativa Lar compra a produção. O cultivo da mandioca praticamente garante a sustentabilidade alimentar e econômica daquela aldeia. Além de terem o produto em abundância para consumo, os índios têm garantia de compra do excedente pela Cooperativa Lar, e com o rendimento adquirem outros itens da sua dieta alimentar e outros. No seu entendimento, qual é a importância das plantas medicinais e dos fitoterápicos? A importância das plantas medicinais nos cuidados básicos da saúde da população é uma questão muito antiga. São utilizadas pelo homem desde os tempos mais remotos. Os próprios animais utilizam. Aliás, os animais são inclusive fonte da origem do conhecimento humano das plantas medicinais. A observação dos Ângelo Giovani Rodrigues animais consumindo determisistemas oficiais de saúde, desde nada planta para um determinaque sejam comprovadamente efido fim tem levado o homem a cientes e validadas pela ciência. fazer o mesmo. Um exemplo: os Depois daquela conferência, a índios observavam que os lobos OMS publicou vários comunicabebiam água suja e em seguida dos com recomendações sobre eram acometidos pela diarréia. a matéria. Partiam então para a mata, cavavam da terra a batata da ipeca, comiam e ficavam curados. Os índios passaram a imitar os animais nisso. Aliás, essa batata é usada até hoje para curar diarréia. Atualmente está havendo o que se pode chamar de redescoberta do valor das plantas medicinais. A que atribui isso? Em 1978 houve uma conferência mundial de saúde em Almatá e a partir daí a OMS Organização Mundial da Saúde, da ONU, reconheceu a importância das plantas medicinais nos cuidados com a saúde. A OMS partiu da constatação de que 80% da população dos países em desenvolvimento utilizam plantas medicinais e seus derivados nos cuidados com a saúde, por isso estimulou os países membros da ONU a adotar políticas voltadas à inserção dessas práticas nos seus Essa posição da OMS obteve a devida repercussão na comunidade de nações? Talvez menos do que seria desejável. Porém, hoje, pelo menos 26 países têm políticas oficiais para o setor. O Brasil é um deles desde maio de 2006, quando uma portaria do Governo Federal definiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, onde figuram as plantas medicinais. A partir daí, elaborou-se uma política muito abrangente, que abarca toda a cadeia produtiva, do cultivo ao consumo. Nessa formulação entra desde o conhecimento tradicional indígena até o desenvolvido pela ciência. Foi criado, por decreto do presidente Lula, um grupo interministerial (Saúde, Educação e Cultura) encarregado de elaborar essa política, aprovada em 22 de junho de 2006. Ela dá as diretrizes e define competências dos diversos ministérios na área, como também se torna uma prioridade de governo. Como o senhor avalia a política definida pelo Governo Federal para o setor? Na verdade, essa política é uma resposta a uma demanda da própria sociedade. A reivindicação por uma política para esta área é muito antiga. Além do mais, o Brasil tem todas as potencialidades para o desenvolvimento do setor, dada sua rica biodiversidade, riqueza étnica, estrutura de ciência e tecnologia para pesquisa e desenvolvimento, área extensa para a produção e uma agricultura familiar forte para desenvolver este ramo da agricultura. O projeto Plantas Medicinais que se desenvolve na Bacia do Paraná III faz parte do programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional e seus parceiros. Qual sua impressão ou avaliação desse programa? É um programa socioambiental completo e muito bem fundamentado. No caso das plantas medicinais, tem potencial para de tornar referência no país, porque estabelece a interação com diversas áreas: educação ambiental, produção de matéria prima (agricultor), educação nas escolas, educação em saúde, geração de emprego e renda, produção do medicamento, introdução do uso pelo SUS, capacitação de profis- sionais... Por trabalhar em todas essas vertentes que têm interface, é modelo, referência. Qual seria o mérito maior, a qualidade mais forte deste projeto? Diria que é a educação da população para o uso correto e racional das plantas medicinais, porque a idéia de que se bem não faz mal também não faz é ruim. Plantas medicinais ou fitoterápicos mal ministrados podem causar problemas. Eu vejo a educação como o referencial do Cultivando Água Boa. Tive oportunidade de visitar o Horto Medicinal e o Ervanário da Itaipu e pude constatar a qualidade como isso está sendo feito. No brasil existem mais de cem programas de plantas medicinais dentro do sistema oficial de saúde, e o destaque é este aqui. Como o Ministério da Saúde atua e apoia, inclusive com recursos, na implementação da política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos? O Ministério da Saúde, coordenador dessa política nacional, forma parcerias com órgãos governamentais, ONGs, instituições locais e regionais, e participa com apoio financeiro em quatro frentes: ncapacitação de profissionais de saúde; napoio à estruturação de serviços de plantas medicinais nos municípios; n instalação de laboratórios para a produção de fitoterápicos; npesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos; via Fundo Nacional de Saúde, repassando recursos aos fundos estaduais e municipais de saúde. Ritmo do projeto É tão intenso isso tudo, que no Paraná, pela primeira vez, tivemos um curso de pós-graduação em plantas medicinais, lato senso, em função do programa Cultivando Água Boa e seu projeto Plantas Medicinais, diz superintendente de Meio Ambiente da Itaipu, Jair Kotz.. A iniciativa pioneira é da Unipar, de Toledo, que já formou a primeira turma de pós-graduados em plantas medicinais. O projeto ostenta os seguintes números: l 29 municípios com o projeto implantado l 29 comitês gestores constituídos, com 290 participantes l 4 seminários realizados, com 600 participantes l1.674 pessoas treinadas e capacitadas l 1 Horto Medicinal implantado, com 144 espécies cultivadas e 40 espécies produzidas l45.000 mudas de plantas distribuídas l75 hortas escolares formadas l479 merendeiras treinadas em curso específico l65 profissionais de saúde formados l70 profissionais de saúde em formação l1 Ervanário implantado (o primeiro da região) lPesquisa laboratorial em andamento JUNHO DE 2007 Seminário em Toledo discute cadeia produtiva das plantas medicinais Caio Coronel Cerca de 300 pessoas dedicadas ao setor participaram do seminário em Toledo O seminário evidenciou que o projeto adotado na região da Bacia do Paraná III pela Itaipu e seus parceiros é um modelo adequado para a implantação desta prática terapêutica, em três passos, de acordo com a política nacional para o setor: lCultivo e beneficiamento de plantas medicinais pela agricultura familiar; lModelo de produção de medicamentos fitoterápicos; lUtilização de plantas medicinais e fitoterápicos como recurso terapêutico no SUS Sistema Único de Saúde. No encontro de Toledo ficou evidenciado que a implantação dessa política traz benefícios ambientais, sociais e econômicos, valoriza as espécies medicinais nativas, oferece uma alternativa terapêutica à população e desenvolve produtos de alto valor agregado a partir de espécies locais. Mereceu destaque a estratégia adotada pelo projeto da Itaipu e seus parceiros, que consiste: lna implantação de hortos medicinais nas unidades de saúde e desenvolvimento de atividades de educação em saúde com o uso de plantas medicinais; lna distribuição de plantas medicinais na forma de chá nos postos de saúde; lna produção de fitoterápicos a partir de manipulação, dispensação e prescrição a cargo de profissionais. Convênio Itaipu/MDA Como a Itaipu Binacional mantém convênio com o MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário para a disseminação e aperfeiçoamento da agricultura orgânica, mediante projeto específico do Cultivando Água Boa, o de plantas medicinais passa a fazer interface com ele. Assim, os agricultores orgânicos são incentivados a cultivar plantas medicinais, até como forma de diversificação da produção. Nessa tarefa já foram formados quatro grupos de produtores, cada um com cerca de 20 integrantes. O convênio com o MDA foi debatido no seminário de Toledo com enfoque no objetivo de produzir plantas medicinais com qualidade e processá-las de modo que possam ser utilizadas tanto na fabricação de medicamentos como na alimentação, especialmente na merenda escolar e nos postos de saúde, na forma de chás. Na primeira coleta deste ano, a aldeia do Ocoy retirou de dez tanques-rede que mantém no lago de Itaipu cerca de 3.000 quilos de peixe da espécie pacu, depois de cinco meses de cultivo. A média de peso dos peixes foi de 1,5 kg a unidade um desempenho que surpreendeu os técnicos e os próprios índios, pois normalmente esse resultado é atingido em seis meses, não em cinco. Logo após a coleta, os tanques-rede foram reabastecidos com alevinos que deverão estar prontos para consumo dentro de seis meses, provavelmente com rendimento menor do que o lote agora colhido, uma vez que durante o inverno os peixes ficam preguiçosos até para comer, e assim, obviamente, demoram mais para ganhar peso. A piscicultura constitui um importante reforço alimentar para Edmundo Machado Neto O Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) ministrou dois cursos de artesanato ao índios do Ocoy, com duração de uma semana cada um de confecção de artefatos de fibra de bananeira e outro de palha de milho, especialmente na confecção de bolsas. A atividade é fruto de parceria entre o Senar, a Prefeitura e o Sindicato Rural (pa- tronal) de São Miguel do Iguaçu, com apoio da Itaipu. É uma forma de resgatar a cultura indígena e mais uma alternativa que se oferece àquela comunidade para o melhor aproveitamento dos materiais disponíveis na aldeia. Além disso, os produtos confeccionados destinam-se à comercialização, constituindose em mais uma fonte de renda para os índios. Adenésio Zanella a aldeia, que tem pouca terra para os cerca de 700 índios que a compõem. Mais 30 tanques estão instalados e povoados naquela aldeia, o que possibilitará a produção de até 20 toneladas de pescado por ano. Estudo da Itaipu sobre a capacidade de suporte da área concluiu que ela comporta até 600 tanques. Índios resgatam artesanato Caio Coronel Modelo da BP III é adequado Adenésio Zanella Muita festa e arte marcam o Dia do Índio Neste ano, o Diado Índio (19 de abril) foi comemorado com atividades que se desenrolaram durante uma semana, envolvendo comunidades do Brasil, Paraguai e Argentina. Nas comunidades do Ocoy e São Miguel do Iguaçu foi realizada a Semana Cultural Indígena, com representações das tradições, música, dança, mostra e venda de produtos da medicina natural e artesanato dos índios, encantando os visitantes, es- Adenésio Zanella Evento reuniu técnicos, profissionais de saúde, produtores rurais, estudantes e gestores municipais com o objetivo de impulsionar a produção e consumo de fitoterápicos Nos dias 16 e 17 de abril, no Auditório da PUC, Campus de Toledo, foi realizado o V Seminário Regional de Plantas Medicinais, organizado pelo Comitê Gestor do projeto Plantas Medicinais do programa Cultivando Água Boa, com apoio da Prefeitura de Toledo, Unipar (Universidade Paranaense), compus de Toledo, PUC/Toledo, Secretarias de Saúde e Agricultura dos municípios da Bacia do Paraná III e as 21 instituições integrantes do Comitê Gestor do projeto Plantas Medicinais. O encontro contou ainda com a participação de técnicos dos Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Agrário, Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, que estiveram em Toledo para contribuir com os estudos e debates e conhecer as experiências de produção e utilização de plantas medicinais desenvolvidas na região. Entre técnicos, profissionais de saúde, agricultores, estudantes e gestores municipais, participaram do evento mais de 300 pessoas. ]Arranjos produtivos locais foi o tema do seminário, com abordagem da forma como é trabalhada, em conjunto, toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos: cultivo, produção, processamento, manipulação, industrialização e uso. Fartura de peixes Aspectos legais O encontro debateu, ainda, os aspectos legais relativos às plantas medicinais e fitoterápicos, com exposição do gerente responsável pela área de Registro de Produtos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Edmundo Machado Neto, que traçou as diretrizes que devem orientar as ações das agências locais, governos estaduais e municipais. Nesse sentido, a representante da Escola de Saúde Pública do Paraná, Mariângela sobrenome?, presente no encontro, afirmou que o projeto Plantas Medicinais da região da Bacia do Paraná III é prioritário porque se constitui em referência, tanto para a própria região como para o Estado e a União. André Porto, da área de Insumos Estratégicos e Medicamentos do Ministério da Saúde, abordou o papel da instituição na implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Segundo ele, o papel do Ministério é garantir a qualidade, o acesso, a eficiência e eficácia desses produtos para a população. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 pecialmente crianças. No dia 19 houve a Caminhada na Natureza no circuito indígena de 12 quilômetros, da qual participaram mais de 300 pessoas, numa iniciativa do projeto Turismo Rural na Agricultura Familiar, do Cultivando Água Boa. A Fundação Parque Tecnológico Itaipu também foi palco de muita movimentação, em especial com a 5ª Mostra de Culinária e Cultura Indígena, da qual participaram cerca de 250 índios de seis diferentes tribos do Brasil, Paraguai e Argentina. Este evento foi uma promoção da Itaipu Binacional, da Fundação PTI e da Associação de Gerentes de Alimentos e Bebidas da Costa Oeste. Cerca de 2.000 estudantes de escolas públicas e particulares, além de acadêmicos das faculdades de Foz do Iguaçu e cidades vizinhas, convidados e autoridades da região prestigiaram esta parte da programação, numa demonstração de que a cultura indígena está cada vez mais fortalecida e valorizada. Adenésio Zanella Cultivando Água Boa & Os índios da fronteira deram show no seu dia, especialmente com música e danças JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Pactos pela conservação ambiental Foto: Adenésio Zanella Comunidades decidem democraticamente e assumem propostas do Cultivando Água Boa No período 20052006, as práticas conservacionistas de água e solo do programa Cultivando Água Boa foram desenvolvidas em uma microbacia em cada um dos 29 municípios da Bacia do Paraná III, a área de influência da Itaipu Binacional no Brasil. Em todas essas microbacias as ações estão encerradas, à exceção de algumas pendências que estão sendo resolvidas. O programa entra agora, então, na segunda etapa, para o período 2007-2008, em que os municípios, em conjunto com os técnicos da Itaipu, elegem nova microbacia a ser trabalhada, em busca da correção dos passivos ambientais e da construção da sustentabilidade do lugar. O novo passo começou a ser dado em reuniões de cada prefeito da BP III e seus secretários com o diretor de Coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich, e a equipe técnica do Cultivando Água Boa, sendo condição para partir para a segunda microbacia a conclusão das ações na primeira. O reconhecimento de que as ações estão ou não concluídas foi dado por vistoria feita por uma comissão técnica integrada por membros do comitê gestor da microbacia, da área técnica da Itaipu, IAP, Emater e moradores de cada localidade. Em oito municípios foram constatadas pendências. Foi dado a eles o prazo de 60 dias para concluírem os trabalhos e assim se habilitarem a entrar na segunda etapa. A escolha das microbacias a serem trabalhadas de agora em diante foi precedida de levantamento de problemas existentes e das ações corretivas necessárias, para discussão com os prefeitos, secretários e comunidades. Gestão inovada Para a gestão das ações na segunda microbacia houve uma inovação. Na primeira etapa havia um comitê gestor em cada microbacia. Mas além desse comitê, em muitos municípios havia outros comitês para demais programas e projetos do Cultivando Água Boa (Agricultura Orgânica, Plantas Medicinais, Pesca, etc.), o que sobrecarregava muitos dos seus integrantes, especialmente com a multiplicidade de reuniões. A gestão foi então simplificada com a constituição de um comitê unificado por município - o Comitês Gestor do Programa Cultivando Água Boa, responsável por todas suas ações. Cada comitê é integrado, em média, por 25 a 30 pessoas, reunindo representantes dos diversos campos de ação do programa. Sensibilização Definida a nova microbacia a ser trabalhada, técnicos da Itaipu partiram para as respectivas comunidades a fim de fazer a sensibilização, que consiste na apresentação do programa, esclarecimento do porquê do programa, na informação sobre o que vai acontecer, o investimento necessário e quem arcará com ele. Nesse processo, ao final da exposição e discussão, em votação, a comunidade decide livremente fazer ou não o investimento, executar ou não as ações recomendadas, uma vez que elas serão desenvolvidas em parceria, entre a Itaipu, a Prefeitura do município e a comunidade. Numa evidência Comunidade da microbacia Água Verde, de Guaíra, em reunião de senbilização ambiental da consciência ambiental já formada na região, nenhuma comunidade se recusou a assumir as ações propostas. Educação Ambiental É o momento, então, de a educação entrar em ação. A equipe do programa Educação Ambiental para Sustentabilidade, da Itaipu, reúne a comunidade da microbacia para os exercícios pedagógicos das chamadas Oficinas do Futuro, procurando atingir o maior número possível de pessoas (homens, mulheres, idosos, jovens e crianças) para gerar força total em torno da causa comum. As oficinas compreendem três momentos: Muro das la- mentações - a comunidade identifica suas (más) condutas em relação ao meio ambiente, em especial ao seu rio, e aponta os problemas a serem resolvidos. Árvore da esperança - traduz as aspirações da comunidade, que diz como gostaria que fosse o pedaço do planeta em que vive. Caminho adiante - a comunidade escolhe as ações prioritárias a serem executadas e se compromete com nova conduta. Para a preparação da segunda etapa de ações nas microbacias foram realizadas 52 oficinas nos municípios da BP III, com participação de até 150 pessoas. Desta vez, a equipe de educação ambiental viuse diante de um diferencial em Ações conservacionistas entram na segunda etapa À medida que foram sendo concluídas as obras nas microbacias trabalhadas na primeira etapa do programa Práticas Conservacionistas de Água e Solo, novas microbacias foram sendo definidas nos municípios e orçados os custos das ações a serem nelas executadas no período 2007-2008, conforme o exposto nos quadros da página ao lado. O objetivo fixado pelo Cultivando Água Boa é obter o manejo sustentável de água e solo na região de influência do reservatório de Itaipu, consolidando a gestão por bacia hidrográfica, para reduzir o aporte de sedimentos, nutrientes e outros poluentes, e promover o desenvolvimento sustentável na região. relação à receptividade encontrada na primeira etapa: um público mais acessível, mais sensibilizado pela questão ambiental e menos resistente a admitir a necessidade de nova atitude. Pacto das Águas Em evento que reúne todos os atores envolvidos no trabalho a ser feito na microbacia é celebrado o Pacto das Águas, no qual a comunidade apresenta uma síntese das oficinas do futuro, impressa no documento Carta do Pacto das Águas, que é assinado por todos os presentes. A carta passa a ser a Agenda 21 do Pedaço - o compromisso da comunidade com nova cultura, baseada na ética do cuidado para com a natureza. A celebração dos pactos é a etapa seguinte da implantação das ações do Cultivando Água Boa nas microbacias escolhidas para a correção dos passivos ambientais (veja no quadro a programação para o mês de junho). No mesmo ato são assinados os convênios entre a Itaipu e a Prefeitura do município, em que são oficializados os compromissos com a execução das obras e a participação de cada parte no investimento necessário (veja pág. seguinte). JUNHO DE 2007 ços já obtidos pelas ações do poder público, das empresas privadas e das organizações da sociedade civil, trata-se de reconhecer a importância desse desafio e a necessidade de buscar uma maior coordenação das iniciativas particulares e ampliar a dimensão cooperativa e o sinergismo desses esforços. No que concerne de modo específico ao tema escassez de água, os presentes signatários se comprometem em promover o uso eficiente da água em todos os segmentos da sociedade, mobilizando para isso o conhecimento e a experiência de cada instituição, no sentido de executar e propor ações para a: lImplementação dos marcos regulatórios de saneamento nos estados e municípios; lRegularização dos usos da água junto aos respectivos órgãos outorgantes, por meio do cadastramento e emissão da outorga de direito de uso; l Implementação da cobrança pelo uso da água especialmente em bacias hidrográficas com escassez hídrica; lRedução das perdas nos sistemas de adução e armazenamento, aumento da eficiência das plantas industriais e melhor uso da tecnologia disponível para irrigação; lRedução do uso de recursos hídricos para diluição de efluentes domésticos, industriais e agropecuários, por meio da construção de estações de tratamento de efluentes e da disposição final adequada dos resíduos sólidos; lInclusão nos orçamentos governamentais, na medida das respectivas arrecadações fiscais, de ações definidas pelos Planos de Recursos Hídri- Cultivando Água Boa cos aprovados pelos Comitês de Bacia Hidrográfica; lCapacitação dos setores usuários da água para exercer suas competências no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que tem como fundamento a gestão descentralizada e participativa; l Adoção de medidas preventivas visando à redução do risco de ocorrência de acidentes que possam causar contaminação dos recursos hídricos; lConsideração das dimensões ambiental, social e econômica, não apenas na escala local, mas também na global, quando da produção de energia elétrica por fonte hídrica; lParticipação ativa na realização de estudos sobre o impacto da mudança climática nos sistemas hidrológicos brasileiros e outros problemas de importância e no desenho de políticas públicas necessárias para sua mitigação; lApoiar e incentivar outras ações que tenham por objetivo a educação e a informação sobre o uso racional da água. Assinaram o documento o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia; a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva;o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi; o diretor geral da Itaipu, Jorge Samek; o representante da FAO no Brasil, José Tubino; o secretário nacional de Recursos Hídricos do MMA, João Bosco Senra; o secretário estadual do Estado do Meio Ambiente do Paraná, Rasca Rodrigues; e os representantes da Agência Nacional das Águas, Ibama, OAB, ABRH, ABES, ABAS, CNA, CNI, Fundação Roberto Marinho e Fundação Banco do Brasil. % A Política Nacional de Recursos Hídricos O balanço dos 10 anos de vigência da Lei de Águas do Brasil (Lei 9.433/97) foi um dos eixos do evento alusivo ao Dia Mundial da Água realizado em Foz do Iguaçu. A lei foi tema da palestra do titular da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra. Senra abriu a exposição citando o escritor Leonardo Boff: O ser humano entrou no cenário da história da Terra quando 96% dessa história já estavam concluídos. (...) Nós surgimos a partir dos elementos terrestres e cósmicos que nos antecederam. Somos nós, então, que pertencemos à Terra, não a Terra que nos pertence. O palestrante lembrou que a Constituição Federal promulgada em 1988 definiu a água como bem público de domínio da União e dos Estados e estabeleceu que uma legislação específica para o uso desse recurso seria criada pelo Congresso Nacional. Em obediência ao preceito constitucional, em 8 de janeiro de 1997, foi promulgada a Lei Federal 9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Foi um divisor de águas, uma transposição de paradigmas, disse Senra, passando a enunciar as novas concepções contidas na lei: l As águas, antes particulares, passaram a ser bem público. lDa cultura da abundância, que considerava a água como recurso infinito e levava ao desperdício, deu lugar à cultura da sustentabilidade, segundo o qual a água é recurso finito com valor econômico e socioambiental relevante. lNo lugar da produção a qualquer custo, dissociada do respeito à natureza, a lei enfatizou o respeito à capacidade de recomposição da natureza. João Bosco Senra lEm vez do uso setorial em detrimento dos demais, instituiu o uso múltiplo, humano e animal, prioritários em situação de escassez. lA gestão fragmentada, centralizada e burocrática deu lugar à gestão integrada, descentralizada e participativa. lÀ motivação imediatista, a lei contrapôs a ética intergerencial e do cuidado, com vistas a assegurar qualidade e quantidade de água necessária para as atuais e futuras gerações. lO arcabouço legal e institucional do gerenciamento de recursos hídricos no Brasil aponta para um modelo de Gestão Sistêmica de Integração Participativa, superando os modelos burocrático e geren- cial. A bacia hidrográfica é a unidade territorial para o planejamento e a gestão. Objetivo geral O objetivo geral do Plano Nacional de Recursos Hídricos é estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas públicas voltadas à melhoria da oferta de água em quantidade e qualidade, gerenciando as demandas e considerando ser a água um elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável e da inclusão social. Objetivos estratégicos lMelhoria das disponibilidades hídricas superficiais e subterrâneas, em qualidade e qualidade; lredução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, bem como dos eventos hidrológicos críticos; lpercepção da conservação da água como valor socioambiental relevante. A escassez de água no mundo lDe toda a água doce utilizada em atividades humanas, quase 70% se destina à produção de alimentos, chegando a 95% em alguns países subdesenvolvidos. lEstima-se que a população mundial atingirá 8,1 bilhões de pessoas até 2030 e que a necessidade de alimentos crescerá 55%, em comparação ao consumo de 1998. Ao mesmo tempo, será necessária mais água para saneamento básico, produção de energia, atividades industriais e urbanas. lMais de 1,1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à quantidade mínima sugerida pela ONU 20 a 50 litros de água potável por dia para garantir a satisfação de necessidades humanas básicas, como beber, cozinhar e para higiene pessoal. lEm uma cidade industrializada com grande disponibilidade de água, uma casa gasta em média 50 litros de água por dia com a descarga do vaso sanitário. lDuas de cada cinco pessoas carecem de condições básicas de saneamento, e todo dia, 3,8 mil crianças morrem de doenças associadas à falta de acesso à água potável e a saneamento. lO consumo de água no mundo cresceu seis vezes nos últimos 100 anos. O resultado é que um terço da população mundial vive em regiões onde a água é escassa, porcentagem que deve dobrar até 2025. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa $ Carta de Princípios Cooperativos pela Água principalmente na agricultura, que é o segmento responsável pelo uso de cerca de 70% dessa água retirada. Para isso contribuem os avanços tecnológicos na irrigação e os instrumentos de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos, em implantação no país, que induzem à otimização do uso da água. Documento ambiental lançado no evento alusivo ao Dia da Água em Foz do Iguaçu A FAO foi designada pelas Nações Unidas para coordenar as 24 agências do Sistema ONU envolvidas na celebração do Dia Mundial da Água, cujo tema é: A procura de solução para a escassez da água. A FAO promove ações de segurança alimentar e nutricional em todo o mundo, como órgão das Nações Unidas especializado em alimentação e, nas últimas décadas, tem se preocupado com a degradação e a má distribuição da água no globo terrestre. A ONU reconhece o acesso à água de qualidade como um direito humano básico e prevê que, utilizando os padrões atuais de consumo, em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá contar com a porção mínima individual de água para as necessidades básicas. Atualmente, cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. A projeção indica um agravamento significativo quando a população mundial atingir os cerca de 10 bilhões de habitantes. As mudanças climáticas poderão acarretar alterações significativas dos padrões atuais de distribuição de chuvas nos continentes. A busca da sustentabilidade constitui elemento estruturante nos compromissos assumidos por todos os 191 Estados-Membros das Nações Unidas e que se constituem nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a serem cumpridos até o ano de 2015. Em seu conjunto, o documento estabelece bases indispensáveis para a construção de um mundo melhor, fundado no compromisso coletivo de respeitar e defender os princípios da dignidade humana, em escala mundial. No âmbito dessa agenda global se inserem, entre outras, as preocupações com a necessidade de preservação da água e de seu uso sustentável, enquanto um dos elementos essenciais à manutenção da saúde e qualidade de vida, em todas as suas formas conhecidas, e também como base fundamental ao desenvolvimento econômico e social de todos os povos, nações e continentes. A importância dessa preservação intensifica-se, na medida em que a população cresce e a disponibilidade de água se reduz ante o comprometimento cada vez maior de sua qualidade. A escassez decorre de três possíveis situações. Primeira: sob o ponto de vista do cidadão, a água de qualidade é escassa, mesmo quando seu volume é abundante na natureza. Isso ocorre nas comunidades não servidas pelo sistema de abastecimento, constituído por estações de tratamento, adutoras e rede de distribuição. No Brasil, aproximadamente 10% dos domicílios estão nessa situação. A disponibilização de água nas torneiras é apenas metade do caminho. A outra metade, ainda não inteiramente percorrida no Brasil, consiste em coletar e dar destino adequado ao esgoto que resulta do uso da água. Apenas cerca de metade dos domicílios brasileiros é servida por um precário sistema de coleta de esgoto, constituído por tubulações que conduzem o esgoto bruto de volta aos rios, em geral sem a necessária remoção da carga poluidora, o que, por sua vez, contamina a água captada pelas comunidades localizadas a jusante. Quanto ao esgoto não co- letado, a maior parte polui os aqüíferos subterrâneos ou escoa pelas valas que cortam os bairros pobres, com alto risco de disseminação de doenças infecto-contagiosas, especialmente entre as crianças. A segunda situação de escassez ocorre quando a quantidade de água é insuficiente para atender ao consumo doméstico e à produção agrícola, industrial ou energética. E a terceira, quando a quantidade de água é suficiente, mas de tão má qualidade, que não pode ser utilizada. Com essa compreensão, é possível encaminhar a discussão a respeito das iniciativas necessárias para solucionar a escassez de água. NA PRIMEIRA SITUAÇÃO ` quando a água não chega às torneiras é preciso reconhecer que existe custo para a construção e operação de infra-estrutura necessária à expansão do sistema de abastecimento. Quando uma concessionária de saneamento pública ou privada presta o serviço sem adequada remuneração, geralmente ela diminui o investimento e, conseqüentemente, cai a qualidade do serviço e o índice de cobertura, definido como a percentagem de domicílios com água e adequada coleta e disposição final do esgoto. Portanto, um marco regulatório estável, que possibilite às concessionárias prestar o serviço público de forma sustentável, é condição necessária para a universalização, com qualidade, do abastecimento. NA SEGUNDA SITUAÇÃO quando água superficial e subterrânea é insuficiente para atender aos domicílios e à produção é preciso reduzir o uso, NA TERCEIRA SITUAÇÃO quando há água em suficiente quantidade, mas sem qualidade é preciso responsabilizar os poluidores. Diversos países adotam, com sucesso, o princípio do poluidor-pagador, que obriga os poluidores, tanto os municípios quanto os produtores industriais e agrícolas, a pagar uma taxa para constituir fundo financeiro destinado, principalmente, mas não exclusivamente, a viabilizar novas estações de tratamento de esgoto. No Brasil, este princípio está contemplado pelo instrumento de cobrança do uso da água, que é decidido pelos Comitês das Bacias Hidrográficas. No âmbito institucional, os princípios estabelecidos em acordos e tratados internacionais estão consignados no Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), estabelecido pela chamada Lei das Águas (nº 9433/1997) como um dos instrumentos de consolidação do pacto entre o poder público, usuários e sociedade civil, para a gestão das águas no País. Aprovado por unanimidade no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em 30 de janeiro de 2006, é preciso agora dar realidade ao conjunto de diretrizes, metas e programas desse plano, para assegurar o uso racional da água no Brasil. Neste cenário, esta Carta de Princípios traduz a conjugação de esforços na articulação de compromissos dos signatários no que se refere, especificamente, ao tema da escassez de água. Sem negar os avan- JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Ações conservacionistas entram na segunda etapa PROGRAMA 40 - GESTÃO POR BACIAS À medida que foram sendo concluídas as obras nas microbacias trabalhadas na primeira etapa do programa Práticas Conservacionistas de Água e Solo, novas microbacias foram sendo definidas nos municípios e orçados os custos das ações a serem nelas executadas no período 20072008. O objetivo do Cultivando Água Boa é obter o manejo sustentável da água e do solo na região de influência do reservatório da usina, consolidando a gestão por bacia hidrográfica, para reduzir o aporte de sedimentos, nutrientes e outros poluentes, e promover o desenvolvimento sustentável na região. AÇÕES CONSERVACIONISTAS DE ÁGUA E SOLO PREVISTAS PARA 2007/08 NA BP III Educação ambiental (oficinas) ................................. 29 Adequação de estradas ......................... 1.628.860 m2 Cascalhamento de estradas ................... 1.465.500 m2 Pavimentação com pedra ............................ 63.680 m2 CONVÊNIOS BP III - 2007/2008 MUNICÍPIO 1 Altônia 2 MICROBACIA Tubo de concreto 0,30 m .................... 1.000 unidades Tubo de concreto 0,80 m .................... 3.918 unidades Terraço de base larga ............................ 1.316.200 ml Terraço de base estreita ............................ 200.000 ml Calcário ................................................ 500 toneladas Terraceador ............................................... 4 unidades Esteira ............................................... 670 h/máquina Escavadeira ......................................... 625 h/máquina Motoniveladora .................................... 450 h/máquina Pá carregadeira .................................... 805 h/máquina 615.620,00 Cascavel Águas Claras e adjacência 625.450,00 3 Céu Azul Rio Treze 4 Diamante D'Oeste Santa Maria 439.040,00 5 Entre Rios do Oeste Sanga Leão 146.910,00 6 Foz do Iguaçu Rio Mathias Almada 246.800,00 7 Guaíra Água Verde 212.990,00 8 Itaipulândia Abastecedouros comunitários .................... 66 unidades Destinação de embalagens de agrotóxicos ........................................ 45 toneladas Espalhadores de resíduos orgânicos ................................... 47 unidades 1.774.650,00 (será trabalhado em todo o município) 1.397.100,00 Córrego Curvado 1.433.214,00 9 Marechal C. Rondon 10 Maripá 11 Matelândia Rio Sabiá 12 Medianeira Baixo Alegria 972.323,00 13 Mercedes Sanga Mineira e Sanga Mate 314.840,00 14 Missal 15 Mundo Novo Rio 18 de Abril Arroio Sabiá 757.505,00 1.274.530,00 84.332,00 Córrego Mamangaba 16 Nova Santa Rosa 17 Ouro Verde do Oeste e Córrego do Fim 667.520,00 Sanga Xerê 989.640,50 Sanga Funda + Córrego largado e Córrego alegre e Córrego da Varzea + Córrego poço grande 822.858,00 18 Pato Bragado Sangas Naranjito e Louro 114.160,00 19 Quatro Pontes Arroio Quatro Pontes 861.650,00 20 Ramilândia Rio Cristalina e adjacentes (Assentamento) 350.550,00 Córrego Barrócas 134.310,00 Córrego Descoberto e Rio Guavirá 466.200,00 Rio Tucano 121.000,00 Linha São João e Maria Gorete 231.410,00 871746,00 21 Santa Helena 22 Santa Tereza do Oeste 23 Santa Terezinha de Itaipu 24 São José das Palmeiras 25 São Miguel do Iguaçu Rio Pinto 26 São Pedro do Iguaçu Córregos Promessa, Rosário e Palmital Cerca tipo 1 ................................................... 646 km Cerca tipo 2 ................................................ 108,6 km INVESTIMENTO TOTAL Rio Ribeirão Olária Tubulação 40 mm vazado .................... 3.700 unidades Tubo de concreto 1,20 m .................... 2.564 unidades ! 27 Terra Roxa 28 Toledo 29 Vera Cruz do Oeste TOTAL (R$) (Assentamento Nova União) 137.880,00 Rio Vira Volta 373829,20 Rio Toledo 545.058,00 Arroio Pacheco 332.860,00 17.315.975,70 O investimento em cada microbacia varia de acordo com o volume de obras exigidas e é dividido (1/3 cada) entre Itaipu, Prefeitura e demais parceiros. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa " Como se faz criação de peixe em tanque-rede Os técnicos da Itaipu responsáveis pelo programa Produção de peixes em nossas águas, dedicado à aqüicultura e pesca, receberam de Edson Ribeiro, do município de Alferes, Minas Gerais, o seguinte pedido: Até ontem não cheguei a ver alguma matéria sobre criação de peixe em tanque flutuante. Portanto, quero saber o que vocês têm de material que possa me orientar quanto ao manuseio, etapas de criação racional, tamanho de tanques, modelos mais adequados, enfim, como começar neste novo ramo, uma vez que em nossa região as águas de furnas nos proporcionam um manejo adequado. Não conheço nenhuma literatura sobre o assunto e preciso dela, e de como aplicar as técnicas para este tipo de serviço. A resposta dada a Edson Ribeiro certamente interessa a muitas pessoas que já ouviram falar da criação de peixe em tanque-rede e têm interesse em investir nessa alternativa, mas carecem de conhecimento técnico para adotá-la com êxito. Por isso, os técnicos da Itaipu ensinam aqui como se faz. Início: o registro de aqüicultor De acordo com a Instrução Normativa Interministerial nº 6, de 28 de maio de 2004, para iniciar esta atividade, é necessário obter o Registro de Aqüicultor na Seap. Para isso, o requerente deve ter a assistência de um técnico na elaboração do projeto, a ser protocolado na Seap. Verificada a adequação técnica do projeto, a Seap o submete ao Ibama para a emissão da Licença Ambiental; à Agência Nacional de Águas (Ana) para emissão da outorga de uso da água; ao Ministério da Marinha para anuência; e à Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para a permissão de uso do bem público. As quatro fases de produção REPRODUÇÃO - cultivo de matrizes, cruzamento e obtenção de larvas. Esta fase é realizada em laboratório, portanto, requer considerável investimento e elevado conhecimento técnico. ALEVINAGEM - fase de transformação das larvas em alevinos. No caso da espécie pacu, que até agora é a que melhor tem respondido no lago de Itaipu, são necessários cerca de 60 dias para os alevinos atingirem 50 gramas, quando então são transferidos para um açude. As larvas se alimentam predominantemente de plâncton (comunidade de pequenos animais e vegetais que vivem em suspensão na água). Assim, o tanque escavado pode ser adubado para que produza o alimento necessário ao bom desenvolvimento dos alevinos, condição que não pode ser criada no tanque-rede, por ser um sistema aberto. Em poucos dias, os alevinos passam a receber ração triturada com elevado teor de proteína (32%). É importante salientar que, ao iniciar esta atividade, as etapas de reprodução e alevinagem podem ser superadas adquirindo os juvenis de produtores especializados, com garantia de procedência, levando em conta qual é o melhor material genético para cada região. CONFINAMENTO - fase de crescimento e engorda. Os alevi- Piscicultura da Itaipu no Globo Rural O programa Globo Rural do dia 20 de maio levou ao ar uma reportagem sobre o programa de piscicultura desenvolvido pela Itaipu Binacional em seu reservatório. A origem da reportagem foi uma carta enviada por um telespectador ao Globo Rural pedindo orientações sobre os procedimentos que devem ser adotados por quem pretende se dedicar à piscicultura em tanquerede. A reportagem da Globo foi buscar a resposta no Lago de Itaipu, já que o sistema lá tem eficácia comprovada. Tanto que a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), da Presidência da República, adotou o sistema como modelo. Dimensões e formas de tanques No mercado existe grande variedade de tamanho e forma de tanque (quadrado, retangular ou circular). Mas o que mais importa é o espaço que os peixes podem explorar, pois ele determina quantos indivíduos podem ser colocados em cada unidade. No lago de Itaipu são alojados de 40 a 50 peixes por m3. A densidade adequada depende da espécie cultivada. No caso da tilápia, por exemplo, os criadores podem alojar de 200 a 300 peixes por m3. lTanque com 3,3 m3 (1,50 x 1,50 x 1,50 m) pode receber 148 peixes; lTanque com 5,3 m3 (1,75 x 1,75 x 1,75 m) pode receber 238 peixes; lTanque com 8,0 m3 (2,00 x 2,00 x 2,00 m) pode receber 360 peixes. Qual é o melhor modelo? Quanto ao modelo, não há uma regra estabelecida. A opção deve considerar uma série de fatores locais, principalmente quan- Fotos: Caio Coronel # Contrato da Itaipu com a Fundação Roberto Marinho No evento do Dia Mundial da Água, a Itaipu Binacional assinou contrato com a Fundação Roberto Marinho para o desenvolvimento e implantação do Multicurso Gestão de Bacias Hidrográficas, cujo objetivo é a melhoria da qualidade da vida, com a divulgação nacional das ações ambientais bem sucedidas, relativas à sustentabilidade, realizadas pela Itaipu nas diversas comunidades em que atua. Numa primeira fase, as atividades consistirão no desenvolvimento de website, produção de programas temáticos e Irineu Motter e o modelo de tanque-rede usado no Lago de Itaipu nos com 50 gramas ou mais podem ser transferidos para o tanque-rede, onde são alimentados com ração flutuante com 28% de proteína bruta. Não há um tempo de permanência definido no tanque-rede. O pacu, por exemplo, se desenvolve muito bem no verão, quando a temperatura da água atinge 25ºC. No tanque-rede, em condições ambientais adequadas, os peixes podem chegar ao ponto de abate num prazo que varia de três a cinco meses, dependendo da espécie e do manejo adotado. DEPESCA - As pesquisas realizadas no reservatório de Itaipu indicam que a conversão alimentar do pacu é mais eficiente até os peixes atingirem 1 a 1,5 kg, quando consomem 2,5 kg de ração para produzir 1 kg de peso vivo. A partir daí, a conversão diminui, ou seja, os peixes comem mais ração para cada quilo de crescimento. Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 de material impresso, que integrarão o kit educativo composto por dois programas de vídeo com cerca de 30 minutos de duração; dois cadernos temáticos com cerca de 50 páginas cada; um caderno de orientação para a utilização da metodologia do projeto; cadernos de roteiros para atividades pedagógicas; um CD Rom com o conteúdo do projeto e fichas técnicas. Assinaram o contrato Jorge Samek, pela Itaipu Binacional, e José Roberto Marinho, pela Fundação Roberto Marinho. Participantes do evento assistem show de Maria Bethânia e Ballet do Teatro Guaíra no Parque Nacional to à região e espécie a ser cultivada, uma vez que o princípio do tanque-rede é o mesmo. Trata-se de uma gaiola apoiada em flutuantes. Para maior segurança e durabilidade, é importante que todos os componentes do tanque não sofram oxidação. Para facilitar o manejo, o material deve ser leve e resistente, por isso recomenda-se a armação em alumínio. O tanquerede deve também proporcionar conforto aos peixes. Só assim poderão apresentar bom desenvolvimento. Por isso, é utilizada tela sanfonada de arame galvanizado com revestimento em PVC. Este material, liso e flexível, evita que os peixes se machuquem. Manual para o aqüicultor A Itaipu Binacional, a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), da Presidência da República, e o Instituto Água Viva, em parceria, publicaram em 2005 o manual Boas práticas de manejo em aqüicultura, que está à disposição dos interessados no endereço: Itaipu Binacional Av. Tancredo Neves, 6731 Foz do Iguaçu - PR CEP 85866-900). Mais informações podem ser obtidas com o engenheiro agrônomo Irineu Motter, responsável pelo projeto de cultivo de peixe em tanque-rede no reservatório de Itaipu. E-mail: [email protected] Telefone (45) 3520 6643 Fax(45) 3520 6561.) Carta de Princípios Cooperativos pela Água À noite, no interior do Parque Nacional do Iguaçu, em frente às Cataratas, as personalidades presentes assinaram e lançaram a Carta de Princípios Cooperativos pela Água (ver íntegra nas páginas 6 e 7), em solenidade que, além dos participantes das atividades desenvolvidas durante o dia na FPTI, teve a presença da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, e do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia. Assinaram o documento a ministra e o deputado, o prefeito de Foz do Iguaçu, o diretor geral da Itaipu, o representante da FAO no Brasil, o secretário nacional de Recursos Hídricos, o secretário do Meio Ambiente do Paraná e os representantes da ANA, Ibama, OAB, ABRH, ABES, ABAS, CNA, CNI, Fundação Roberto Marinho e Fundação Banco do Brasil. Protocolo de Intenções para a BP III Outro instrumento firmado no evento foi o Protocolo de Intenções para a Gestão de Recursos Hídricos da BP III. Assinaram Jorge Samek, pela Itaipu; Lindsey da Silva Rasca Rodrigues, pela Secretaria de Estado do Maio Ambiente e Recursos Hídricos; Darcy Deitos, pela SUDERHSA Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental; José Machado, pela Agência Nacional das Águas; e João Bosco Senra, pela Secretaria Nacional de Recursos Hídricos. Temas do encontro e expositores I - Lei 9.433/97 + 10 Balanço da gestão integrada de recursos hídricos no Brasil nJoão Bosco Senra (ver pág. 7) nJosé Machado, presidente da ANA nLuís Noronha, consultor em gestão de recursos hídricos II - Políticas nacionais dos setores usuários da água nJerson Kelman, da ANEEL nHypérides Macedo, do Ministério da Integração Nacional nLuiz Eduardo Garcia, do Ministério dos Transportes nLúcia de Carvalho, do Ministério das Cidades III - Experiências da sociedade civil e setores usuários da água nPrograma Cultivando Água Boa - Nelton Frie- drich, diretor de Coordenação da Itaipu nGestão de bacias hidrográficas no Paraná - Rasca Rodrigues, secretário do Meio Ambiente do Paraná nTecnologias sociais relacionadas ao tema água - Jacques O. Pena, da Fundação BB nProjetos ambientais relacionados à água - Ricardo Piquet e Márcia Panno, da FRM nA OAB e os recursos hídricos no Brasil - Raimundo C. B. Aragão, presidente da OAB nSoluções cooperativas para a água - Márcio Freitas e Ramon Belisário, da OCB nContribuição das entidades - Rui Vieira da Silva (ABRH/ABES/ABAS) nÁgua e agricultura - Assuero Doca Veronez, da CNA nÁgua e indústria - Vítor Feitosa, da CNI nÁgua no semi-árido - Valquíria Alves Smith Lima, da Articulação do Semi-árido ASA. Espetáculos No encerramento, os presentes foram brindados com apresentação, pela cantora Maria Bethânia, do show denominado Dentro do mar tem rio, com canções cujo tema predominante é a água, e da obra O segundo sopro, pelo Balé do Tetatro Guaíra, de Curitiba, em coreografia de Roseli Rodrigues, música de Fábio Gardia e direção de Carla Reinecke. Cultivando Água Boa " JUNHO DE 2007 Caio Coronel Caio Coronel JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa # Autoridades discutem criação na FPTI do Instituto Mercosul de Estudos Avançados Entidade tem como proposta principal promover a integração entre universidades e entidades de fomento à ciência e tecnologia Cerca de 500 pessoas celebraram o Dia da Água na Itaipu e no Parque Nacional do Iguaçu No Dia Mundial da Água, o grito: SOS H20 Enfrentando a escassez foi tema de evento alusivo à data realizado em Foz do Iguaçu Para celebrar o Dia Mundial da Água (2203-07), a representação no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) escolheu Foz do Iguaçu como palco. Com a palavra-de-ordem SOS H20, o lema Cada gota conta e o tema Enfrentando a escassez de água, o evento foi promovido por uma parceria entre a FAO, o Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional das Águas, Itaipu Binacional, Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e Fundação Roberto Marinho. A programação foi desenvolvida na Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) e no Parque Nacional do Iguaçu. A escolha de Foz do Iguaçu para sede do evento levou em conta a abundância de água da região e o trabalho socioambiental que vem sendo realizado pela Itaipu e seus parceiros, entre eles a própria FAO, na Bacia do Paraná III, com o pro- grama Cultivando Água Boa. O evento reuniu representantes de órgãos governamentais gestores dos recursos hídricos, grandes consumidores, organizações do terceiro setor e um público de aproximadamente 500 pessoas. O início dos trabalhos foi precedido pela interpretação da canção Planeta Água, de Guilherme Arantes, pelo Coral da Itaipu, sob a regência do maestro Gil Gonçalves, e execução do Hino Nacional. Formaram a mesa de honra o governador do Paraná, Roberto Requião; o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi; representante da FAO no Brasil, José Tubino; diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek; diretor presidente da ANA, José Machado; e o gerente de Desenvolvimento Institucional da Fundação Roberto Marinho, Ricardo Piquet. Todos pela água Jorge Miguel Samek, diretor geral brasileiro da Itaipu e anfitrião do encontro, saudou e deu as boas-vindas às autoridades, personalidades e ao público. Disse que o movimento SOS H2O marcou o início de mudança de atitude do Brasil em relação aos seus recursos hídricos. E acrescentou: Demos o primeiro passo no sentido de mobilizar a sociedade brasileira em torno da importância dos rios, córregos, nascentes e lagos e lembrou que sem água não há vida, nem energia nem desenvolvimento. Roberto Requião, governador do Paraná, enfatizou que a Terra reage de forma dura aos seus agressores, e culpou o sistema capitalista, que só visa ao lucro, sem considerar os limites do planeta. Para tentar salvar a vida na Terra, temos de mudar a visão capitalista de ter lucro a todo custo. Ele destacou a política ambiental do Estado dando ênfase às ações de conservação Autoridades dizem que quadro é preocupante dos recursos hídricos, repovoamento de rios e reflorestamento. Paulo Mac Donald Ghisi, prefeito de Foz do Iguaçu, abordou as ações ambientais implementadas no município, destacando a coleta seletiva e reciclagem do lixo, o tratamento do esgoto doméstico, a preservação de rios e a conscientização da população, especialmente as crianças. Queremos transformar cada estudante de 1ª a 4ª série num defensor do meio ambiente, disse. José Tubino (foto), representante da FAO no Brasil, traçou um panorama global e nacional da água, definindo-a como bem vital cada vez mais escasso. Lembrou que hoje, segundo a ONU, cerca de 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável e 40% da população mundial não dispõem de condições sanitárias básicas. E acrescentou que, em menos de 20 anos, a escassez de água afetará 2,8 bilhões de pes- soas. A escassez de água também vai comprometer a produção de alimentos, alertou Tubino. Até 2030, a demanda por alimentos deverá aumentar 55%, mas é possível que não haja água para atender a essa demanda. Tubino destacou o trabalho feito pelo Brasil em cumprimento das Metas do Milênio definidas no Plano da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na África do Sul em 2002. A ONU reconhece que o Brasil teve avanços expressivos em sua política de recursos hídricos, afirmou. Mas chamou atenção para a necessidade do envolvimento da sociedade e dos setores produtivos para que as políticas governamentais de meio ambiente tenham resultado. Citou como modelo de gestão descentralizada e participativa os comitês gestores do programa Cultivando Água Boa. MAIS CIÊNCIA, MAIS TECNOLOGIA Segundo Hélgio Trindade, do Conselho Nacional de Educação Superior, o Instituto Mercosul de Estudos Avançados promoverá intercâmbio e cooperação entre instituições FPTI FPTI Jorge Guimarães Hélgio Trindade nacionais, latino-americanas e de outros continentes, além de pesquisas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharias e meio ambiente. O instituto vai impulsionar o processo de integração e disseminação do conhecimento, principalmente da região fronteiriça, e virá se somar aos esforços desenvolvidos pela FPTI, previu Hélgio. Já o presidente da Capes, Jorge Guimarães, destacou que as pesquisas científicas e tecnológicas desenvolvidas no âmbito do Imea poderão ser financiadas pelo MEC e por outras agências governamentais de apoio à pesquisa, em- presas públicas, fundações nacionais e internacionais. O Instituto vai promover a integração entre universidades e entidades de fomento, e assim impulsionará o desenvolvimento científico e tecnológico, afirmou Guimarães. No ato de assinatura do acordo UNIPI-UFPR-Itaipu, no dia 22, o diretor geral da Itaipu, Jorge Samek, anunciou o projeto de criação do órgão como algo que terá forte impacto nacional e internacional. Guardem bem este nome Instituto Mercosul de Estudos Avançados , porque logo, logo se ouvirá falar muito dele, disse Samek. FPTI “Cada gota conta”: síntese da mensagem de autoridades e personalidades presentes A Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI) poderá abrigar, em breve, o Instituto Mercosul de Estudos Avançados (Imea), ainda em fase de discussão e planejamento. O tema foi discutido durante reunião realizada na FPTI no dia 21 de maio, véspera da assinatura do acordo de cooperação entre a UNIPI, UFPR e Itaipu (ver páginas 14 e 15). Participaram da reunião o presidente da Capes, Jorge Guimarães; o chefe da Assessoria Internacional do MEC, Alessandro Candeas; o coordenador geral de Cooperação Internacional da Capes, Leonardo Barchini Rosa; o diretor do CNPq, José Roberto Drugowich; a secretária da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Lygia Pupatto; o presidente da Fundação Araucária, José Tarcisio Trindade; e os reitores Alcebíades Luiz Orlando, da Unioeste, e Mario Luiz Neves de Azevedo, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Para os próximos meses, as instituições envolvidas projetaram assinar convênio para a criação oficial do Instituto, que será vinculado ao Ministério da Educação do Brasil e que visa à construção do que provisoriamente é chamado de Espaço Regional de Educação Superior do Mercosul. Caminhadas na Natureza têm grande participação Aproximadamente mil pessoas participaram da Caminhada na Natureza Circuito Itaipu Binacional no domingo 3 de junho, num percurso de onze quilômetros entre belas paisagens do entorno da usina, bosques, trilha, o Canal da Piracema e muitas outras belezas. com partida e chegada no CRV, onde, simultaneamente, esteve montada a Feira Vida Orgânica. A Caminhada foi uma realização dos projetos Reviver e Turismo Rural na Agricultura Familiar, e a Feira, do projeto Agricultura Orgânica, no âmbito das ações do programa Cultivando Água Boa. É a terceira caminhada de 2007. As outras duas foram realizadas em 19 de abril Dia do Índio , no Circuito Avá-Guarani, em Diamante do Oeste, e em 1º de maio Dia do Trabalhador no Circuito do Trabalhador, em Medianeira. A próxima está marcada para 25 de julho Dia do Agricultor em Santa Terezinha de Itaipu, também acompanhada da Feira Vida Orgânica. . ANDA, BRASIL Participantes da reunião realizada na Fundação PTI As Caminhadas na Natureza integram o Programa Na- cional de Turismo Rural na Agricultura Familiar, dos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento Agrário, que pretendem contribuir para que o turismo contemple as diversidades regionais, a realidade cultural do homem rural, lazer, saúde e geração de emprego e renda. Para isso, o programa preconiza a ampliação e a qualificação dos produtos turísticos, estruturação dos destinos e aumento da permanência média dos turistas nos destinos que escolhem. Esta modalidade de turismo vem se alastrando no mundo inteiro. No Brasil, o marco de sua introdução é outubro de 2003, numa iniciativa da Associação Brasileira de Turismo Rural Rio de Janeiro. Na região da BP III estão consolidados e credenciados cinco circuitos pela Anda, Brasil Confederação Brasileira de Caminhadas, Atividades Não Competitivas e Inclusão Social, filiada à Federação Internacional de Esportes Populares, que congrega cerca de 6 mil circuitos distribuídos em 39 países. No Brasil estão credenciados 106 circuitos em 14 estados. JUNHO DE 2007 Cultivando Água Boa Outro mundo é necessário Nelton Miguel Friedrich Em menor ou menor grau, todos já sabemos que o planeta Terra nossa casa comum está enfermo. Os desequilíbrios socioambientais não são apenas coisa de relatórios de cientistas ou catastrofistas São evidências concretas sentidas e sofridas em todos os cantos do mundo. E tudo tende a ficar cada vez pior, a menos que... Aí estão a destruição da camada de ozônio; o aquecimento global; o esgotamento de reservas de água potável; o aumento da poluição das águas, da atmosfera e dos solos; o aumento do lixo; extinção massiva de espécies animais e vegetais; desmatamento; erosão; desertificação; exaustão e degradação de terras cultiváveis; padrões dominantes de produção e consumo causadores de devastação ambiental; injustiça, pobreza, ignorância e conflitos violentos se intensificando e causando grande sofrimento. Tudo seria simplesmente desesperador se não tivéssemos possibilidade alguma de contornar a situação. Felizmente, ainda temos, como garantem os mesmos cientistas que alertam para o perigo. Se, contudo, a desperdiçarmos, será o inferno na Terra não em futuro remoto e incerto, mas logo ali adiante, na pele de cada habitante do planeta. Colocam-se, então, duas questões: De quem é a responsabilidade pelo deplorável estado de coisas que se estabeleceu? E de quem será a responsabilidade pela mudança salvadora? Simples. A resposta para as perguntas é de todos da humanidade em geral e de cada indivíduo em particular, mesmo que em graus diferentes. A ninguém é dado fugir do problema ou jogá-lo às costas dos outros. Um novo mundo não é apenas possível; é necessário. Sua construção é tarefa de cada um. Cada ser humano tem que colocar seu tijolo nessa construção. Ou será que governos, algum país, grandes empresas, instituições renomadas darão um jeito? Evidentemente, eles todos têm papel fundamental, mas igualmente fundamental é o papel de cada pessoa. Não é só por intermédio dos negócios e governos, mas também, possivelmente mais importante, por intermédio da ação e do suporte generalizados dos indivíduos que a restauração e a preservação do meio ambiente podem ser conquistadas, afirma a ambientalista japonesa Wakako Hironaka, integrante da Comissão da Carta da Terra. A propósito, para quem tem dúvidas sobre seu papel nessa missão salvadora, a Carta da Terra é, provavelmente, o guia mais sábio disponível. A poderosa e abrangente mensagem que a Carta da Terra contém precisa ser internalizada por todas as pessoas e traduzida em ação em sua vida diária, recomenda Wakako, sabiamente. Precisamos estar preparados para pagar o preço da salvação do nosso (único) planeta. Não basta cobrar dos outros, achar que alguém deve fazer alguma coisa. A sociedade e cada um de seus integrantes têm que fazer alguma coisa, dispor-se a mudar hábitos e abrir mão de certos confortos, fazer a ponte entre o falar e o agir. O outro mundo, que não só é possível, mas necessário, só será edificado com um novo jeito de ser, viver, produzir e consumir. Exige uma nova cultura de relacionamento entre os seres humanos e destes com a natureza, movido a solidariedade, cooperação e cuidado mútuo. As atitudes necessárias são em geral simples: conservar, não desperdiçar, reciclar, viver com menos, evitar o supérfluo, usar menos o carro, dar destino correto ao lixo, ser benevolente, cooperativo, compartilhar, amar e cuidar. EXPEDIENTE Publicação da Diretoria de Coordenação da Itaipu Binacional Diretor Geral Brasileiro: Jorge Miguel Samek Diretor de Coordenação: Nelton Miguel Friedrich Superintendentes: Newton Kaminski (Obras), Jair Kotz (Meio Ambiente) Gerente Executivo do Cultivando Água Boa: Odacir Fiorentin Superintendente de Comunicação Social: Gilmar Piolla Redação: Juvêncio Mazzarollo Fotografia: Caio Coronel, Milton Rolin, Adenésio Zanella Visual e DPT: HDS Impressão: Jornal O Paraná Diretoria de Coordenação Av. Tancredo Neves, 6731 Foz do Iguaçu - Paraná CEP 85866-900 Fone (45) 3520-5724 Fax (45) 3520-6998 E-mail: [email protected] Constelação de Libra Liberato Vieira da Cunha Os astrônomos acabam de descobrir uma segunda Terra extraviada no universo. Pelo que li, o novo planeta fica na constelação de Libra e reúne muitas das condições ideais para a invenção da vida, tal como a concebemos no cantinho perdido do cosmos que todos nós fomos condenados a habitar. Seu nome é pouco inspirador: GL 581c. Espero que seja apenas um pseudônimo. Espero ainda que desconheça algumas das desgraciosas realidades com que convivemos, como as guerras e a violência. Bem ao contrário, desejo que GL não tenha a mais remota noção do que sejam a doença, a crueldade, o preconceito e a injustiça. Almejo ainda que jamais tenha ouvido falar em terremotos, inundações, tsunamis ou no clima de Porto Alegre. Creio que não seria demais supor que nosso colega na Via Láctea seja dotado de vastas provisões de solidariedade, de reservas infinitas de generosidade e de imensas quantidades de paz. Não me desagradaria descobrir que é habitado pelo diálogo, ornado de esperança e revestido de ternura. Não me desgostaria ouvir que são enormes suas jazidas de compreensão entre os povos, de amor entre os seres e de respeito entre todas as espécies. E não duvidaria se me contassem que, por um decreto ancestral e irrevogável, houvessem sido exilados o ódio, a miséria e a dor. Ou de que fossem inesgotáveis as porções de solidariedade, de entendimento e de boa vontade. Torço aliás para que jamais enviemos expedição alguma ao GL. Pois nós, os habitantes desta esfera azul, levaríamos em nossas naves o egoísmo, a inveja, o orgulho e a arrogância. Não esqueceríamos de colocar na bagagem a insensibilidade e a ira. E ao transpormos o limiar do paraíso idealizado não esqueceríamos de contaminá-lo segundo nossa imagem e semelhança. *Artigo publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, 08/05/2007; reprodução autorizada pelo autor.([email protected]) PENSANDO BEM... “Este mundo está acabando. Precisamos lançar as bases para um novo. Temos uma grande oportunidade de fazer um mundo melhor.” Alice Klein, documentarista canadense “Nossas sociedades dependem da natureza, embora a tenhamos debilitado durante séculos. Agora, com a mudança climática, estamos atacando a própria base do mundo natural.” Lara Hansen, cientista-chefe do Programa Internacional de Mudança Climática do Fundo Mundial para a Natureza WWF “É fácil defender o meio ambiente dos outros, não o nosso.” Marina Silva, ministra do Meio Ambiente Cultivando Água Boa JUNHO DE 2007 % Encontro em São Paulo avalia a aplicação da Carta da Terra no Brasil e no Mundo Evento também definiu ações em três eixos principais: divulgação, educação e vivência Com a presença de 120 pessoas, entre dirigentes, conselheiros, coordenadores de ações baseadas na Carta da Terra e convidados de diversos países das Américas, Europa e África, no dia 25/04, a Secretaria Internacional da Carta da Terra promoveu encontro em São Paulo, na sede do Grupo Amana-Key, com o objetivo, segundo o representante da Itaipu no evento, o diretor de Coordenação Nelton Friedrich, de fazer uma avaliação da aplicação dos princípios da Carta da Terra (CT) no Brasil e demais países, além de definir ações em três eixos estratégicos: n DIVULGAÇÃO - fazer com que a CT seja mais e mais conhecida no mundo; nEDUCAÇÃO - criar a consciência da mudança necessária proposta pela CT; nVIVÊNCIA - fazer com que as pessoas vivam a essência da Carta da Terra. O encontro também incluiu nos trabalhos o conhecimento e análise de experiências de aplicação dos princípios da Carta da Terra, que são: Respeitar e cuidar da comunidade de vida; Integridade ecológica; Justiça social e econômica; Democracia, não- violência e paz. Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire e professor da USP, apresentou balanço intitulado A Carta da Terra no Brasil, historiando desde sua concepção como proposta apresentada na Rio-92, até o registro dos passos dados e experiências realizadas ou em andamento no país. Em relação à prática da Itaipu na aplicação da CT, Gadotti registrou o seguinte: A hidrelétrica brasileiro-paraguaia ITAIPU, situada na bacia do Paraná, com a assessoria de Leonardo Boff e Moema Viezzer e sob a liderança de Nelton Friedrich, em parceira com o Ministério do Meio Ambiente e com o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (RJ), tem feito formação de educadores populares, divulgando a Carta da Terra através de vídeos e cadernos. O seu projeto Cultivando Água Boa usa a Carta da Terra como referencial ético, começou em 2003 e envolveu mais de 150 educadores sociais. 60.000 mil cópias da Carta da Terra foram utilizadas na educação não-formal para a vida sustentável, envolvendo 29 municípios, 145 ONGs e 318 escolas da região. Uma das mais belas experiências O Cultivando Água Boa também ganhou espaço na pauta do encontro, com palestra do diretor de Coordenação, Nelton Friedrich, que, além de discorrer sobre o programa, lembrou do Prêmio Carta da Terra + 5, conferido à Itaipu em evento realizado em Amsterdam, Holanda, em 2005, em comemoração aos cinco anos do lançamento do documento. A americana Alide Roerink, membro da Comissão da CT e conhecedora de trabalhos ambientais fundamentados no documento em todo mundo, disse sobre o Cultivando Água Boa: É, sem dúvida, uma das mais belas experiências que estão sendo feitas no mundo; não conheço outra empresa que faça isso. A Carta da Terra em Ação No encontro foi lançado o livro The Earth Charter in Action Toward a Sustainable Earth (A Carta da Terra em Ação Rumo a uma Terra Sustentável), de 184 páginas, com artigos de 62 das mais destacadas personalidades do mundo em matéria de ecologia e luta ambiental e social, especialmente escolhidas entre as que fazem da CT a fonte fundamental de inspiração para seu trabalho. Editado pela KIT Publishers, de Amsterdam, em cooperação com a Iniciativa da Carta da Terra, de São José, Costa Rica, com financiamento do NCDO (Comitê Nacional para a Cooperação Internacional e Desenvolvimento Sustentável), da Holanda, o livro é dedicado às aspirações da juventude por um mundo justo, pacífico e sustentável e especialmente aos jovens da Iniciativa Jovem da Carta da Terra que representam as elevadas esperanças e idealismo prático de sua geração colocando a Carta da Terra em ação. Mikhail Gorbachev, ex-líder soviético, fundador e presidente da Green Cross International (Cruz Verde Internacional), membro e líder da Comissão da CT, escreve o prefácio do livro sob o titulo The Third Pillar of Sustainable Development (O Terceiro Pilar do Desenvolvimento Sustentável). Os três pilares segundo Gorbachev Escreve Gorbachev: O primeiro pilar é a Carta das Nações Unidas, que regula as relações entre os estados e estabelece regras para seu comportamento de modo a assegurar a paz e a estabilidade. O segundo pilar é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que regula as relações entre estados e indivíduos e garante a todos cidadãos um conjunto de direitos que seus respectivos governos devem garantir. A importância desses dois documentos não pode ser superestimada. Mas tornou-se óbvio que outro documento está faltando, um que regule as relações entre estados, indivíduos e natureza, definindo os deveres humanos para com o meio ambiente. Na minha opinião, a Carta da Terra deveria preencher este vácuo, adquirir igual status e tornar-se o terceiro pilar sustentando o desenvolvimento pacífico do mundo moderno. O processo desse endosso já começou é endossado por um crescente número de governos locais e nacionais, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e muitas organizações não-governamentais. Entretanto, nós fundadores e defensores deveríamos considerar nossa missão cumprida somente quando a Carta da Terra fosse adotada universalmente pela comunidade internacional. Personalidades de renome Entre os presentes ao encontro, Nelton Friedrich destaca as seguintes personalidades: MLeonardo Boff, teólogo, filósofo e ecologista brasileiro, membro da Comissão da Carta da Terra; MMirian Vilela, diretora executiva da Iniciativa da CT; Wangari Muta Maathai, queniana, Prêmio Nobel da Paz de 2004; MSteven Rockefeller, monge americano e professor universitário de religião; MMateo Castillo Ceja, do México, cuja experiência também recebeu o Prêmio Carta da Terra + 5; M Oscar Motomura, diretor executivo do Grupo AmanaKey, dedicado ao desenvolvimento sustentável com base na CT, referência global para seus programas educacionais de formação de lideranças tanto no setor corporativo como governamental; MMarcos Sorrentino, brasileiro, diretor do Programa de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente; MRachel Trajber, brasileira, coordenadora de Educação Ambiental do Ministério da Educação; MPeter Blaze Corcoran, diretor do Centro de Educação para o Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade da Flórida, EUA; MMaurice Strong, sub-secretário da ONU, foi secretário da Rio-92 e é membro da Comissão da CT, que não pôde participar mas enviou mensagem. Cultivando Água Boa & JUNHO DE 2007 Samek, Lula, Nicanor e Bernal descerram a placa inaugural Presidente Nicanor: “Itaipu representa uma causa - a integração” Lula: “Uma poupança para brasileiros e paraguaios” Itaipu encerra o ciclo da construção da usina 21 DE MAIO DE 2007 será para sempre um marco na história da Itaipu Binacional, do Brasil e do Paraguai. Nesse dia, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, descerraram a placa inaugural das duas últimas unidades geradoras (9A e 18A) da maior hidrelétrica do mundo - Itaipu Binacional. Toda a capacidade geradora projetada está instalada: 20 geradores, 14.000 MW. "Termina hoje a construção de uma majestosa obra", proclamou o presidente paraguaio. "Itaipu representa mais que uma empresa que gera energia; representa uma causa, a integração de dois povos." "Muita gente critica Itaipu, do lado paraguaio e do lado brasileiro", disse o presidente brasileiro. "Mas eu gostaria que esses críticos parassem um pouquinho para pensar: o que seria do Brasil sem Itaipu? O que seria do Paraguai sem Itaipu?" Num grande palco montado no interior da barragem, perante cerca de 1.500 pessoas, entre autoridades, convidados, empregados e jornalistas, os presidentes Lula e Nicanor, ao lado dos diretores gerais de Itaipu, Jorge Samek e Victor Bernal, descerraram a placa que marcou a inauguração oficial das novas unidades e a conclusão do projeto da majestosa usina. A cerimônia começou com a exibição de um filme de 15 minutos que mostra a atuação da Itaipu no Brasil e no Paraguai, especialmente no âmbito da missão de responsabilidade social e ambiental que a empresa cumpre, e prosseguiu com apresentação do Coral de Itaipu, que interpretou o cântico "Luar de luzes", de autoria do funcionário da Itaipu Cláudio Souza Farias. Seguiram-se os pronunciamentos das autoridades. "Conclui-se uma etapa vital da central hidrelétrica de Itaipu", comemorou o diretor geral paraguaio, Victor Bernal. "Chegou ao fim a instalação das 20 unidades geradoras, como estava contemplado no projeto original". O diretor geral brasileiro, Jorge Samek, lembrou que "Itaipu, hoje, junto com a Eletrobrás, já começa a utilizar o know-how adquirido ao longo dos 23 anos de operação da usina, oferecendo apoio técnico inclusive à usina chinesa de Três Gargantas". Lembrou que "Itaipu foi muito combatida no início, porque, segundo os críticos, poderia provocar catástrofes ambientais, mas hoje é um exemplo nessa área para as atuais e futuras hidrelétricas". Natural de Foz do Iguaçu, Samek lembrou que acompanhou toda a trajetória da usina e que estava emocionado por estar presente na etapa final da construção, e agradeceu emocionado ao presidente Lula: "Obrigado pela oportunidade de servir ao meu país na terra onde nasci." "Carinho e solidariedade" O presidente Nicanor Duarte Frutos não poupou elogios à Itaipu e rebateu as críticas contra a empresa, que têm surgido principalmente nos jornais paraguaios. Ele destacou os benefícios que Itaipu trouxe à população carente do seu país, particularmente com ações nas áreas de educação e saúde. Enfatizou que hoje "o governo brasileiro tem uma postura mais aberta a negociações". "Não recordo da existência de um governo brasileiro que tenha olhado o Paraguai com tanto carinho, com tanta solidariedade, como o do presidente Lula." "O que seria do Brasil sem Itaipu? O que seria do Paraguai sem Itaipu?" Presidente Luiz Inácio Lula da Silva O PROGRAMA SOCIOAMBIENTAL DA ITAIPU BINACIONAL - FOZ DO IGUAÇU, NOVEMBRO DE 2006 - No 08 Presidente Lula: "Uma nova relação entre Paraguai e Brasil" O presidente Lula também se referiu às críticas. Embora as considere injustas, reconheceu que fazem parte do sistema democrático. "Os adversários continuarão a protestar e criticar, mas o que seria de nós sem os críticos? Quando as obras de Itaipu tiveram início, o Brasil e o Paraguai viviam sob regimes autoritários, e eu mesmo fui um crítico de tudo o que faziam então, inclusive Itaipu. Mas a dinâmica da política fez a maioria desses críticos compreender que Itaipu não foi apenas uma obra de ditaduras, mas uma prova da competência de brasileiros e paraguaios." O presidente Lula sugeriu aos diretores da Itaipu que convidem alunos de escolas públicas brasileiras e paraguaias para que conheçam a usina. "As crianças e os jovens devem ver o monumento que o Brasil e o Paraguai foram capazes de construir", disse. "Itaipu é um exemplo de que nós tivemos competência para construir. E hoje temos consciência de que Itaipu é uma espécie de poupança para brasileiros e paraguaios que ainda vão nascer". Lula concluiu afirmando que, depois da reunião com o presidente Nicanor em Assunção, saiu convencido de que "uma nova era começa a acontecer na relação entre o Paraguai e o Brasil". Presenças ilustres no histórico evento (da esq. p. dir.) - pelo Brasil: Paulo Mac Donald Ghisi, prefeito de Foz do Iguaçu; Jorge Samek, diretor geral brasileiro da Itaipu; Paulo Bernardo, ministro do Planejamento; Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura; Silas Rondeau, ministro de Minas e Energia; Celso Amorim, ministro de Relações Exteriores; Orlando Pessutti, vice-governador do Paraná; Marisa Silva, primeira-dama do Brasil; Luiz Inácio Lula da Silva, presidente dda República. Pelo Paraguai: Nicanor Duarte Frutos, presidente da República; Maria Glória, primeira-dama; Ruben Ramírez, ministro de Relações Exteriores; Rogelio Benítez, ministro do Interior; Blanca Ovelar de Duarte, ministra de Educação; e Andrés Retamozo, prefeito de Hernandárias ITAIPU E IAPAR LANÇAM LIVRO PLANTIO DIRETO COM QUALIDADE