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PERFIL DO ASSISTENTE ESPIRITUAL DA ORDEM FRANCISCANA SECULAR Neste mês de agosto, de 20 a 23, será realizado em Manaus Capítulo Eletivo da OFS do Brasil. A propósito do evento, Frei Almir, escreve um texto sobre o perfil do assistente espiritual. Em sinal concreto de comunhão e de co-responsabilidade, os Conselhos, nos diversos níveis de acordo com as Constituições, solicitarão aos superiores das quatro Famílias Religiosas Franciscanas, às quais desde séculos a Fraternidade Secular está ligada, religiosos idôneos e preparados para a assistência espiritual (Regra, n.26). 1. As presentes considerações não têm a finalidade de examinar exaustivamente a missão e as características do Assistente espiritual na vida dos irmãos e das irmãs da OFS. Pretendem, tão somente, chamar atenção para alguns aspectos importantes da figura do Assistente para que possa ele ser de ajuda ao grupo. Procuramos nos basear, de modo especial, no Manuale per l’assitenza all’OFS e alla GIFRA, publicado pela Conferência dos Assistentes Gerais da OFS ( Roma 2006). Mais diretamente seguimos o cap. VI que aborda o tema da assistência espiritual e pastoral da OFS , p. 173-244. Ao longo destas reflexões procuraremos também levantar questionamentos a respeito do trabalho da assistência. 2. A Província da Imaculada vive, em final de 2009, seu capítulo Provincial. Depois haverá o Congresso Capitular, ou um Definitório seguinte, quando serão escolhidos ou nomeados os novos assistentes locais e regionais da OFS. Lembramos as determinações da CCGG dos OFM, art 60: “À Ordem é confiado o cuidado pela Ordem Franciscana Secular, que vive no mundo o espírito de São Francisco e participa da vida, do testemunho e da missão do carisma franciscano, para cuja plenitude contribui com uma ação própria, necessária e complementar”. Fica evidenciada a razão da assistência: o mesmo carisma anima as duas Ordens, a I e a III. 3. Perguntas atravessam nosso espírito: Os frades gostam de trabalhar com a OFS? Quem tem qualidades para exercer o ministério da assistência? Está havendo uma preparação para o exercício deste ministério por parte dos frades? Como dar assistência a Fraternidades em locais abandonados pelos frades? Será que os frades têm uma compreensão adequada do seu trabalho junto aos terceiros? 4. A realidade nos diz que há Fraternidades da OFS que são assistidas exemplarmente por frades fiéis, perseverantes e idôneos. Há alguns Assistentes que são muito amigos dos seculares, mas não têm formação idônea para a missão. Há Assistentes nomeados que, na verdade, pouco se fazem presentes, devido às múltiplas tarefas que exercem no seio da Ordem I ou por estarem desmotivados. Há também frades que perdem o interesse pelo trabalho devido ao cansaço, lentidão e falta de objetivos claros de determinadas Fraternidades. Há Fraternidades com assistência apenas esporádica, embora de boa qualidade. Há ainda Fraternidades sem assistência nenhuma. Em nossa Província, Fraternidades que existiam em paróquias que foram entregues aos bispos, conhecem dificuldades de sobrevivência. Reuniões regulares de assistentes nos diferentes níveis poderiam ajudar a resolver algumas destas dificuldades. Fundamental que ele goste de trabalhar com franciscanos seculares. 5. O Assistente espiritual da OFS não é o “diretor” , nem o Padre Comissário. Ele é membro do Conselho da Fraternidade com direito a voto em todas as questões, menos nas decisões financeiras e nos capítulos eletivos. O Assistente não é um “capelão”. Seu papel não se limita à celebração da missa ou à administração dos sacramentos no seio da Fraternidade. É pastor, guia e mestre. 6. Os Ministros Gerais da Primeira Ordem e da TOR, em documento de 1989, afirmam que o trabalho do Assistente espiritual se realiza menos no âmbito da direção e da organização, e mais no acompanhamento espiritual e como auxílio na formação dos irmãos (cf. Manuale p. 177). Mesmo reconhecendo a responsabilidade que compete aos seculares, o Assistente não terá uma atitude passiva de deixar fazer. Ele envidará esforços para que os leigos realizem sua vocação e sua missão. Destaquemos, de início, dois aspectos: o acompanhamento espiritual do grupo e dos indivíduos e a formação. Para exercer tais funções a presença do Assistência precisará ser regular. 7. Em Discurso proferido ao Consilium pro Laicis de 1981, dirigindo-se aos conselheiros eclesiásticos de agremiações laicais, João Paulo II exortava no sentido de que fossem: artífices da comunhão, educadores da fé, testemunhas do Absoluto de Deus, verdadeiros apóstolos de Jesus Cristo, ministros da vida sacramental, especialmente da Eucaristia e animadores espirituais. Nestas linhas do Papa aparecem elementos importantes do perfil do Assistente. 8. Podemos desdobrar algumas das características da Assistência espiritual: orientação teológica e espiritual, testemunho de fidelidade à vocação franciscana, estimulador para que sejam criadas condições de paz e de justiça, de verdade e de amor, ajudar os irmãos a fazerem a leitura dos sinais dos tempos, iniciação nas fontes franciscanas e clarianas. 9. 0s Assistentes da OFS não são meros assistentes eclesiásticos de uma simples agremiação laical; representam alguma coisa mais. Representam eles um canal privilegiado pelo qual passa a seiva que deve garantir a “comunhão vital recíproca” entre o componente secular e os componentes religiosos da família franciscana. 10. O objetivo da “reciprocidade vital” requer a remoção de alguns obstáculos que, em todos os níveis, que ainda perduram. Necessário se faz passar do “Diretor” ao “Assistente” (assistência espiritual, sob a guia do bom pastor e não na linha de direção); passar da mentalidade de “mandar” à de servir; passagem da mentalidade de dizer a última palavra à de ser membro do Conselho, não substituindo o papel deste último. 11. Obstáculos por parte dos seculares: conhecimento precário do que vem a ser um leigo franciscano, dependência afetiva exagerada do frade, reverência exagerada aos mesmos, idealização da figura do religioso, ou crítica impiedosa diante de suas limitações e fraquezas. 12. Obstáculos por parte dos religiosos: espírito de corpo impondo elementos da Ordem I, tendência de fazer valer sua maneira de ver a OFS, medo de perder o protagonismo no momento em que compartilha as responsabilidades com os seculares. 13. Parece não ser conveniente que um assistente permaneça tempo demais numa Fraternidade ou mesmo a Nível Regional: pode tornar-se repetitivo, correndo o risco de serem “diretores”, carência de criatividade, certo cansaço generalizado. Isso pode causar dano à OFS. Convém alertar para o perigo grave que pode existir quando uma Fraternidade passa um período longo se assistência espiritual. 14. O altius moderamen garante a fidelidade da OFS ao carisma franciscano, de sua comunhão com a Igreja e da união com a Família franciscanas. (Regra 1). 15. O Assistente é pastor. Conhecemos toda a riqueza desta imagem. Pastor é aquele que busca alimento para as ovelhas, que conhece sua voz, que acompanha seus passos. Ora, o Assistente acompanha como pastor uma pequena comunidade eclesial franciscana. Pastor assistente = aquele que está perto, bem próximo, está presente, protege. O Assistente é pastor que exerce um papel coadjuvante, junto ao Ministro e seu Conselho, 16. O Assistente não tem sozinho a responsabilidade pela vida espiritual de cada um dos membros. É a própria Fraternidade que deverá cuidar da vida espiritual de todos. O pastoreio do Assistente será discreto, mas indispensável. 17. Momento importante da presença e do testemunho do Assistente são os capítulos eletivos, de avaliação e as visitas pastorais. Não será o Assistente o homem da “política” de grupos, mas por sua palavra, pelo apelo evangélico de sua voz, deverá fazer de sorte que sejam escolhidos aqueles que melhor evidenciarão o carisma franciscano secular. Nas visitas pastorais há que se inventar o novo. Tais visitas,forçosamente, terão que ser um acontecimento espiritual e não apenas a realização de uma formalidade. Como nos situamos diante das visitas pastorais? 18. O Assistente local, juntamente com o Conselho, é responsável pela formação dos candidatos e avalia cada irmão antes da Profissão. Juntamente com o Ministro local procura dialogar com irmãos que experimentam dificuldades, que se afastaram das reuniões, ou que comportam contra a Regra que professaram. 19. Explicitemos melhor esta sua missão. O Assistente participa dos encontros da Fraternidade com uma presença ativa, sempre atento à dinâmica da reunião, ao que se diz, ao que se vive. Se o dito é bem dito e o vivido bem vivido. Vivencia, exprime e agiliza a reciprocidade vital de comunhão exigida pela pertença à mesma família franciscana, embora de forma diferente: respeitando o papel de cada um; preocupase com a formação pastoral e espiritual e com a vida litúrgica e sacramental da Fraternidade; é aquele que garante a ortodoxia dos conteúdos bíblicos e teológicos; é aquele que fala de Deus, que é, pois, sensível aos aspectos espirituais (oração, escuta da Palavra, direção espiritual); cuida dos irmãos que não tiveram boa catequese na infância e na juventude; cuida que a Fraternidade não se feche e não se torne um “mero” grupo paroquial.; aviva o interesse da Fraternidade pela Igreja local, colaborando nas iniciativas paroquiais e diocesanas: cuida de despertar os talentos dos irmãos: interessa-se por casa um dos irmãos e por cada uma das irmãs, de modo especial os mais fragilizados, doentes, idosos e pessoas que vivem crises (casamento, fé, trabalho,etc) 20. Há características da Assistência no tempo da formação inicial. O Assistente é conselheiro. Entra em contacto pessoal com cada um. Se preciso faz atuar seu ministério sacramental, quando sacerdote. Ajudaos a clarificar seu caminho vocacional..Oferece seus préstimos. Chama atenção para a conversão. Adverte a respeito da necessidade da conversão. As CCGG (41,1), com razão,pedem que no momento da profissão seja ouvidos o responsável pela formação e o Assistente. 21. Na formação permanente o Assistente procurará trabalhar a conversão continua dos irmãos, levando-os carinhosamente a buscar a santidade, ajudando o grupo a ler o sinais dos tempos e neste tempo de transformações culturais, sociais e religiosas brutais o Assistente ajudaram os irmãos a fazerem uma correta leitura dos sinais dos tempos. Com seu amor pela OFS, tanto na reunião geral quanto na do Conselho, convidará os irmãos a descobrirem caminhos de inovação que permitam se sair de um mero devocionalismo. 22. Delicado, mas importantíssimo, o papel do Assistente nas reuniões gerais da Fraternidade e do Conselho. Seu específico campo de ação é o domínio espiritual: favorecer a comunhão com a Igreja, testemunhar a espiritualidade franciscana religiosa, colaborar na formação e alimentar a vida cristã da Fraternidade. Cuidará sempre de não extrapolar sua competência. Isso exige tato e maturidade para não ir além do que cabe. O Manuale sugere que, nas reuniões do Conselho, o Assistente empregue o método do ver, julgar e agir. O Conselho e o Assistente não podem permitir que uma Fraternidade perca motivação e élan ou se distancie seriamente do espírito franciscano. De modo particular Conselho e Assistente verificarão se cada irmão é responsável e se todos estão imbuídos de um verdadeiro desejo de viver a fraternidade. 23. Dois extremos deverão ser evitados nas reuniões por parte do Assistente: de um lado a tentação de tomar a frente das reuniões, sobretudo se os leigos se mostram fracos e com precária formação; de outro lado a tentação de deixar que as coisas corram soltas, manifestando assim desinteresse ou indiferença para com a Fraternidade. 24. Procuremos vislumbrar melhor a presença do Assistente nas reuniões. Estas são encontros de família e de formação de pessoas que desejam viver o Evangelho à maneira de Francisco. Hoje dizemos com maior propriedade, à maneira de Francisco e Clara. As reuniões são constituídas basicamente de três momentos: oração, formação e confraternização. Alguns acrescentam ainda um momento de revisão das atividades ( do fazer,do agir). 25. A oração comum reúne os irmãos e as irmãs no louvor de Deus. Pode ser uma celebração eucarística, com homilia e cantos, uma celebração de parte da Liturgia das Horas ou outra forma de oração comum. O Assistente velará para que seja uma oração verdadeira e não apenas palavras... Há toda uma pedagogia para uma oração que rasgue os céus e una os irmãos. 26. Cabe à equipe encarregada organizar a parte de formação. Esta poderá amiúde ser feita, ao menos em parte, pelo Assistente. Poderá ser complementada por ele e feita de outro modo. Os Assistentes cuidarão de não darem a impressão que ele são os únicos formadores competentes. Pode-se dizer que o Assistente local poderia inventar meios e modos de ser o formador dos formadores. 27. Tentemos aprofundar ainda mais a função do Assistente na formação. No passado, talvez, a OFS e seu “discretório” não tenham se preocupado muito com a formação dos seus membros. Esta descansava na pessoa do “diretor” e de uma ou outra pessoa chamada eventualmente. A OFS tem a convicção de que a formação dos seus membros é feita pelo Conselho. Isso não quer dizer que o Assistente tenha perdido seu papel. Em nossos tempos o Assistente tem papel importantíssimo de esclarecer valores que deixaram de ser levados em consideração. O Assistente será um perito em humanidade, cristianismo e franciscanismo. 28. Normalmente na reunião geral são colocadas sobre a mesa a atividades exercidas pelos irmãos tanto em nível de Fraternidade quando de pastoral paroquial ou diocesana. O Assistente será aquele que saberá avaliar e entusiasmar os irmãos e as irmãs a viverem uma vida de apostolado ativo. Cuidará que os irmãos não entrem numa febre ativista, não façam uma pastoral sem um leitura teológica da realidade e aos poucos percam sua identidade franciscana. Em nossos tempos Assistentes experimentados ajudam os leigos a darem conscientemente sua colaboração à Igreja, mas sempre se, estrelismos e ações soltas. 29. Finalmente a há o espaço da confraternização. Trata-se de um momento em que todos, de fato, se sentem irmãos e irmãs, momento de estreitar o mútuo conhecimento, de uns estarem com os outros. A confraternização poderá ocorrer em torno de um lanche ou de uma refeição com aquilo que cada um trouxe de suas casas. A presença no Assistente não é dispensável. Ele é membro da Fraternidade e a alegria do encontro faz parte da espiritualidade franciscana. 30. Somos gratos a todos os Assistentes da OFS. Há aqueles que conhecem todos os membros de sua Fraternidade pessoalmente. Amam pessoalmente a cada um. Muitos seculares das fraternidades vivem dramas delicados e contam com a presença e as luzes do Assistente. Há Assistentes particularmente atentos aos doentes. Há aqueles que são verdadeiramente apaixonados pelo Evangelho de Cristo e por Francisco. Estes constituem um bela propaganda vocacional para nossa Ordem Franciscana. Urgências: Despertar gosto pela Ordem Franciscana Secular nos frades da Provincia. Organizar uma sistemática formação dos frades na teologia para o ministério da Assistência. Ajudar os leigos das Fraternidades seculares a serem leigos maduros, compromissados com a fé e o Evangelho e não meras pessoas que têm devoção a Francisco. Os Assistentes haverão de incentivar todas as formas de propaganda vocacional que renovem as Fraternidades. Nossas Fraternidades Seculares precisam, urgentemente, da presença de jovens e de casais jovens. Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM Assistente Nacional da OFS pela OFM Assistente Regional do Sudeste III