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RELATÓRIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1º Semestre/2016 Turma: 2º ano Professora: Andrea Desiderio Coordenação pedagógica: Lucy Ramos Torres Começo este relatório querendo situar você leitora ou você leitor sobre o “lugar” de onde falo sobre Educação Física, sei bem que este é apenas um relatório de grupo, de uma das áreas de conhecimento que a escola deve privilegiar, porém acho extremamente necessária tal orientação. A base teórica que fundamenta meu trabalho como professora de educação física e pesquisadora de práticas corporais está nas ciências humanas e sociais, e não na área da saúde ou da biologia. Essa escolha nos possibilita conhecer os fenômenos corporais, ou as práticas corporais, pelo olhar da história, da sociologia, da antropologia e da filosofia e torna o fazer “corporal” 1 um possível campo para a experiência2 de cada um dos presentes (alunas, alunos e eu). Por alguns anos tive como alicerce para meu discurso pedagógico o livro “Metodologia do Ensino da Educação Física”, pois esta é uma das primeiras referências para a educação física embasada nas ciências humanas e sociais que temos no Brasil, além de ser uma das mais importantes. “Parto do entendimento de que Educação Física é uma área de conhecimento e intervenção que lida com a cultura corporal de movimento, objetivando a melhoria qualitativa das práticas constitutivas daquela cultura, mediante referenciais científicos, filosóficos e pedagógicos. Por cultura corporal de movimento, por sua vez, entendemos a parcela da cultura geral que abrange as formas culturais que se vêm historicamente construindo, no plano material e no simbólico, mediante o exercício da motricidade humana – jogo, esporte, ginástica e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/expressivas e dança, lutas/artes marciais, práticas alternativas.” (Betti, 2001 p.155) 1 Busquei com essas aspas, chamar a atenção para esta adjetivação do fazer, uma vez que tudo que fazemos é corporal, pois somos corpo! 2 A palavra experiência, aqui inserida, remete-se a ideia de experiência proposta pelo professor de filosofia da educação, Jorge Larrosa da Universidade de Barcelona, em seu texto “Notas sobre a experiência e o saber da experiência” capítulo 1 do livro Tremores. Dito isso convido você a conhecer um pouco do que se passou no primeiro semestre de 2016 na turma do segundo ano. Dentre chaves e portas eu escolhi como primeira porta a dos Jogos e Brincadeiras, um dos temas da Cultura Corporal de Movimento. A turma já é minha velha conhecida, tivemos uma chegada nova no início das aulas e outro logo depois. Sempre pergunto para a nova aluna ou aluno se eles tinham educação física na escola onde estudavam e quais eram as lembranças dessa aula. Feito isso a criança é convidada a nos ensinar a atividade corporal que tinha algum bom significado para ela. Penso que essa é uma gentil maneira de recebermos as pessoas. No segundo ano busco auxiliar as pessoas a conhecerem e valorizarem o conhecimento de seus familiares ou amigas e amigos próximos sobre o assunto brincadeiras, para isso organizo um roteiro de pesquisa/entrevista no qual a criança deve listar brincadeiras que a entrevistada ou entrevistado brincavam quando tinham a idade da criança. Dentre todas as brincadeiras deveriam escolher uma, registrá-la no papel, jogá-la e ao voltar a escola, ensiná-la as outras crianças da turma. Junto ao roteiro foi o seguinte texto: “Esta é uma entrevista para ser feita com pessoas maiores de 30 anos, de preferência em casa com a família ou vizinhos. A aluna, ou o aluno tentarão conhecer quais foram as brincadeiras que seu entrevistado ou entrevistada brincava na infância, quando tinha a idade da criança. Pedimos a colaboração do entrevistado e da entrevistada para que escolha uma dessa brincadeiras e explique ao entrevistador ou entrevistadora. A criança irá relatar e ensinar este jogo a todos da turma.” Atualmente defino a idade para podermos pensar em brincadeiras que se fazia na rua, em espaços que estas crianças utilizam pouco. Ao solicitar que o escolhido ou a escolhida tenham mais de 30 anos, selecionamos uma infância que aconteceu na década de 90 ou anterior. Comento a seguir o roteiro que foi enviado: NOME DO ENTREVISTADO PARENTESCO – tivemos mães, pais, tia, prima, avô, avó, padrasto, vizinha. IDADE – as idades variaram entre 31 e 70 anos ESCREVA O NOME DAS BRINCADEIRAS QUE FAZIA: tivemos: domino, queimada, vôlei, boneca, bambolê, pula cela, stop, pega-pega, esconde esconde ou hide and seek, carrinho de rolimã, pião, bolinha de vidro ou gude, futebol, barra manteiga, 5 marias, os três mosqueteiros, elástico, quente e frio, capitão, congelados, duck duck goos (pato pato ganso), rainbow brite, x-men, cobra cega, roda roda, pular corda, pique salva, mamãe da rua, alerta, casa na rua, amarelinha, taco, polícia e ladrão, panteras, duro ou mole, casinha, carrinho, hominho, balanço, una-mula, telefone sem fio, boneca de papel, caça ao tesouro, gato mia e balança caixão. ESCOLHA UMA BRINCADEIRA PARA ENSINAR PARA A TURMA: as escolhidas foram: queimada, stop, boneca, carrinho de rolimã, quente e frio, congelados, duck duck goos, cobra cega, mamãe da rua, bola de gude, panteras, taco, una mula e balança caixão. COMO É O ESPAÇO PARA ESTA BRINCADEIRA? Os espaços foram: qualquer lugar, quadra, na escada, tanto faz, grande, lá fora, uma rua e uma calçada de cada lado, aberto, rua e calçadas, no chão, toda a escola, ao ar livre, rua ou quadra, grande ou médio. QUAIS MATERIAIS SÃO UTILIZADOS? Bola, papel e caneta, tudo o que quiser, tábua com 4 rodinhas, um objeto, nenhum, pessoas, venda, giz, só as crianças, bolas de gude, papel e pistas, taco e bola, dois tacos, 1 bolinha e 2 latas, pessoas, QUANTAS PESSOAS PODEM BRINCAR? Nessa resposta tivemos uma variação entre: acima de 2, “13”, muitas, quantas quiserem, no mínimo 2, 100, 10, várias, 15, todas, três, 4. TEM EQUIPES? QUANTAS? A maioria classificou seu jogo como “sem equipes”. Três pessoas disseram que precisava de equipes e outras três disseram que “tanto faz”. COMO É A BRINCADEIRA? QUAIS SÃO AS REGRAS? Nesse item as crianças descreveram às suas maneiras. Registrarei na íntegra, respeitando a maneira da escrita. “Os participantes escolhem uma letra e escrevem palavras que começam com ela. Quem termina grita STOP.” “Você lança a bola no colega.” “Nenhuma” “Apostava corrida” “Uma pessoa esconde o objeto e as outras vão procurar. Quem escondeu fala quente se estiver perto e frio se estiver longe. Quem achar começa tudo de novo. Não pode espiar e não pode falar onde escondeu. Só pode dar dica com quente ou frio.” “O pegador e o congelador ele tem o poder de congelar as outras pessoas quando o congelador pegar alguém quem foi pego vira gelo a pessoa que foi pega só vai se salvar se outra pessoa tocar em você.” “Todo mundo senta no círculo menos uma pessoa. Esta pessoa vai em volta do círculo e dá um tapinha na cabeça de cada jogador. E esta pessoa fala “duck” ou “pato” com cada tapinha. Quando esta pessoa fala “ganso” a pessoa que recebeu o tapa se levanta e persegue o tapiador. Se o tapiador consegue sentar no lugar vazio, ele ganha. Se o tapiador pega um tapinha do perseguidor ele deve em volta de novo.” “um dos jogadores coloca a venda nos olhos e tenta pegar um outro jogador.” “Fica uma pessoa no meio da rua para outras não passarem. As outras pessoas tem que atravessarem em m pé só.” “A mãe fica no meio da rua e temos que perguntar se podemos atravessar.” “uma pessoa é o pegador e fica na rua. As outras pessoas ficam nas calçadas e podem ser pegas quando atravessam a rua. Quem for pego vira pegador quem ficar por último na calçada ganha.” “Você tem que jogar a bola de gude uma na outra quem acertar mais vezes ganha o jogo.” “1 vilão, várias panteras. O vilão escreve as pistas e as panteras descobrem as pistas.” “uma pessoa joga a bolinha e a outra pessoa tem que devolver a bolinha batendo com o taco. Se não conseguir a terceira pessoa tem que pegar a bola com a mão.” “São dois times de dois jogadores. Um é o batedor, que protege a “casinha” (lata) e o outro é o apanhador. O objetivo é uma equipe derrubar a “casinha” da equipe adversária. O jogador com o taco precisa defender casinha batendo na bola para longe. O apanhador deve jogar a bola na casinha do adversário.” “uma pessoa agacha a outra pula e fala alguma coisa que rima com 7 canivete ou chiclete.” “Não pode olhar. Tem que esconder.” ONDE O ENTREVISTADO APRENDEU ESSA BRINCADEIRA? (CIDADE / ESTADO) As brincadeiras vieram de: Natal/RN, Campinas/SP (4), Lins/SP, Itapira/SP, Cartagena/Colômbia, Rocy Maon/USA, Marília/SP, Botucatu/SP, Atibaia/SP, São Paulo/SP, Santos/SP, Rio Claro/SP. QUEM ENSINOU? Nove pessoas disseram que aprenderam com os amigos da escola, ou da rua, ou da classe. Duas disseram ter aprendido com as primas, outras duas com a avó, duas com o tio com a professora, com a Ms. Weever. FAÇA UM DESENHO DESSA BRINCADEIRA: Como o brincar é uma área de conhecimento de boa parte das crianças, as minhas contribuições são direcionadas para aspectos da sistematização deste conhecimento no contexto escolar. Quando as informações e as curiosidades permitem que eu fale sobre regionalismos aponto as “presenças e ausências” como fato extremamente importante, por exemplo, neste ano tivemos 4 crianças que escolheram a brincadeira “taco” para se ensinada. Três delas eram muito parecidas entre si e também com o jogo que eu conheci quando criança, porém uma delas possuía o mesmo nome, mas era um jogo completamente diferente. Isso também aconteceu no jogo “mãe da rua” algumas versões possuem regras e maneiras de jogar diferentes. Conversamos sobre isso. Outro aspecto interessante dessa entrevista, a meu ver, foi perceber a relação ensino/aprendizagem, “com quem aprendeu” me levou a uma época de encontros com pessoas como eu, sem a presença de tantos adultos mediando as relações entre as pessoas menores, uma época onde aprendia muitas coisas com “amigos da rua”, aprendia brincadeiras, regras, convivência. Essa saudade me faz pensar e agir neste aspecto sempre defendendo a autonomia do indivíduo, possibilitando “tempos e espaços” que garantam o encontro. No início de maio começamos o processo da Festa Junina e neste ano de aniversário de 40 anos e com o tema do ano sendo “MARCAS: ecos do passado, trajetórias do futuro” tivemos as primeiras “suleadas”3 nas nossas escolhas. Após a conversa em reuniões pedagógicas os alunos foram iniciados no processo de construção da apresentação. Primeiramente perguntei as alunas e alunos quais eram as lembranças que eles tinham de Festa Junina...: - Prêmios, vários jogos, apresentações, bingo, músicas, quadrilha, meninos e meninas com roupas de festa junina, meninas com pintinhas no rosto e meninos com bigode, a gente estuda os temas que estamos estudando na sala, chapéu de palha, chapéu com trancinhas, brinquedos, tourinho mecânico, vestido de festa junina, Maria Chiquinha, bandeirinhas, estalinhos, pesca e churrasco, fruta com chocolate, “Olá como vai?”4, olha a chuva, caracol, olha a cobra, é uma festa caipira, tem uma festa de casamento, túnel, jogo da argola, quadrilha em roda. A turma também foi em uma sala de alunos mais velhos para saber quais as lembranças deles em relação a festa junina do Sitio. Parti então de 3 pilares: as memórias sobre festa junina + as memórias sobre as festas juninas do Sitio + os objetos e desdobramentos nas salas de aula. Para a maioria das alunas e alunos do ciclo 1, ciclo em que o 2º ano está inserido para a apresentação da Festa Junina, as lembranças mais citadas foram sobre as comidas, os jogos, as decorações e a quadrilha...item este que me surpreendeu pois em nenhum ano anterior a este, essa turma já dançou quadrilha na Escola do Sitio. Independente disso organizamos uma quadrilha com as memórias e as participações de muitas das danças que já aconteceram nestes 40 anos. Além da quadrilha contemplamos o Pau de Fitas e 3 Tomei a expressão sulear de Paulo Freire e corroboro com sua ideia quando a propôs em alguns de seus textos (Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Esperança entre outros) 4 Dança Circular realizada na festa junina de 2015 com a turma do ciclo 1. essa memória me levou no tempo, quando fui estagiária da professora Claudia Bertolini, no ano de 2004, aqui no Sitio... Ela gostava bastante dessa dança, e neste ano os alunos a dançaram. Também pude reviver algumas lembranças das festas anteriores, das pessoas com quem partilhei ideias e muito trabalho. Tivemos o Caboclo de lança, as rainhas do Maracatu e a Calunga, o frevo, a cavalhada, a dança dos arcos, a chula, a dança dos facões e o boi! Muitas lembranças não foram contempladas: siriri, carimbó, catira, jongo, congada. Quem sabe daqui 10 anos! Andrea Desiderio