Arquitetura e Sustentabilidade
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Sustentabilidade Antonio Castelnou CASTELNOU Assinado de forma digital por CASTELNOU DN: cn=CASTELNOU, c=<n Dados: 2015.09.08 10:36:50 -03'00' Introdução Entre as décadas de 1960 e 1970, com o DESPERTAR ECOLÓGICO (tomada de consciência ambiental) passou-se a denominar de ecológica ou eco-arquitetura a prática construtiva que defende o uso de materiais e técnicas que não agridam o meio ambiente. A partir dos anos 1980 e 1990, começou-se a considerar sustentável toda ARQUITETURA que produzisse edificações e espaços urbanos adaptados às condições bioclimáticas, reduzindo o desperdício energético, os riscos ecológicos e os impactos socioambientais. Em termos sociais, políticos e econômicos, o termo SUSTENTÁVEL (sustainable; sostenible; durable) estaria relacionado ao que limita o crescimento em função da dotação de recursos naturais, da tecnologia aplicada na utilização (uso e consumo) destes e do nível efetivo de bem-estar da coletividade. Deste modo, pode-se dizer que uma sociedade é SUSTENTÁVEL quando ela é capaz definir seus padrões de produção e de consumo, bem como os de bem-estar e conforto, a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural. Despertar Ecológico O pensamento ambiental evoluiu a partir do segundo pós-guerra, devido aos danos causados e ao desenvolvimento econômico, promovendo o surgimento dos primeiros órgãos e ações políticas. Porém, foi na década de 1970 que o DEBATE ECOLÓGICO cresceu, graças a uma série de crises ao mesmo tempo em que se iniciavam conferências da ONU. Green Office Building (2003/04, Concepción,Chile) Enrique Browne (1942-) Hippie comunity O ECOLOGISMO acabou encontrando força junto ao advento da Contra-Cultura e do Informalismo, que apresentaram ao mundo comunidades alternativas, embasadas no desejo de se abandonar um modelo de vida dominante. Architect Studio (1985, West Country GB) David Rea (1945-) Severiano Mario Porto (1930-) Pousada da Ilha de Silves AM (1979) Os arquitetos neovernaculares passaram a propor o resgate de materiais naturais (terra, madeira, pedra, etc.) e práticas arcaicas (vernáculas), antes menosprezadas pelo modernismo. Já os regionalistas procuraram conciliar passado e presente, fazendo versões atualizadas de técnicas tradicionais, além de estratégias alternativas de captação e conservação de energia. Mesquita (1948/50, N .Gourna, Egito) Hassan Fathy (1899-1989) De 05 a 16 de junho de 1972, houve a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Homem – CNUMAH, em Estocolmo (Suécia), onde se traçaram os direitos da família humana a um meio ambiente saudável e produtivo, estabelecendose um programa de ação mútua. Na época, várias crises abalaram o sistema energético mundial, na maior parte fundado na energia elétrica obtida de combustíveis fósseis por meio de termoelétricas, o que passou a ter de um alto custo ambiental. Isto fez com que se iniciasse a pesquisa por fontes energéticas alternativas. Renováveis (hidr., eólica, solar, etc.) 7% Nuclear 6% Petróleo 41% Carvão 24% CONSUMO GLOBAL DE ENERGIA (Total de consumo: 380 Quadr BTUs) Gás natural 22% Em 1981, com a descoberta do buraco na Camada de Ozônio, intensificou-se a preocupação ambiental, assim como os debates em relação ao EFEITOESTUFA, o que fez nascerem novas correntes de arquitetura ecológica, preocupadas principalmente com o clima e a poluição. Buraco na Camada de Ozônio em 2010 Thomas Herzog (1941-) Regensburg House (1977/79, Alemanha) Aparecia a designação ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA, a qual propunha uma ação criativa de edificações que se adequassem ao clima local e à iluminação e ventilação naturais, preocupada principalmente com a redução ou até eliminação do uso de energia elétrica em prol de novas – e alternativas – fontes energéticas (eólica e solar) . Hotel des Thermes (1996, Dax França) Jean Nouvel (1945-) Andrew Yeats David Jonhson Ecohouse (1990, EUA) Eco-Village (1986, Findhorn Escócia) Diane Gilman (1945-98) & Robert Gilman (1945-) Thomas York Environmental Education Center (2000,Canadá) Gordon Campbell LOT-EK Architects Puma City Shipping Container Store (2006/08, N. York EUA) Paralelamente, a ARQUITETURA ALTERNATIVA defendia o reaproveitamento de resíduos e/ou materiais de “segunda mão”, incorporando produtos industrialziados e prolongando sua vida útil, o que requeria a pesquisa de locais para a compra de materiais, assim como reprocessamento. Advanced Green Builder Demonstration (1994/97, Austin TX) Plinny Fisk III (1944-) Design Coalision Taylor House, Shorewood Hills (1990/92, Wisconsin ) Paper Church (1995-2005, Kobe, Japão) Paper House (1995, Lake Yamanaka, Yamanashi, Japão) Shigeru Ban (1957-) Denomina-se EARTHSHIP BIOTECTURE a prática ecológica baseada na reutilização de materiais de origem urbana (garrafas PET, latas, pneus, cones de papel, etc.), os quais são aplicados na construção sem ter havido seu reprocessamento. Trata-se da reapropriação criativa, a qual se tornou comum em áreas suburbanas ou em locais de despejo descontrolado de resíduos. Earthship Residence (2010, Porto Príncipe, Haiti) Michael Reynolds (1951-) Earthship Comunity (1980, Taos, New Mexico) Michael Reynolds (1951-) Recycled Plastic Bottle Igloo Building Recycled Glass Bottle Buddhist Monastery (Bangkok, Tailândia) Movimento Ambientalista Em meados dos anos 1980, a visão dos ecologistas radicais foi confrontada por cientistas (humanistas críticos), os quais passaram a defender que CONSERVAÇÃO AMBIENTAL e DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO não eram incompatíveis, mas sim mutuamente dependentes. Nascia assim o AMBIENTALISMO, que recusa a teoria dos limites físicos, dizendo que não era o crescimento que deveria ser limitado, mas sim a ideologia do passado, passando a defender o equidade social e uso de tecnologias “limpas”. A situação complicou-se em 1986, quando ocorre o maior desastre nuclear até então conhecido: um reator da Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e a radioatividade condenou uma área de aproximadamente 10.000 km2 contíguos, deixando clara a fragilidade do meio ambiente e, consequentemente, do ser humano e de sua tecnologia. Gro Harlem Brundtland (1939-) Primeira-Ministra da Noruega Presidente da CMMAD (ONU) No ano seguinte, a CMMAD divulgava seu diagnóstico, através do RELATÓRIO BRUNDTLAND (1987), que fazia um balanço do desenvolvimento mundial até então, com prós e contras. Esse importante documento, publicado com o título Our common future (Nosso futuro comum), intensificou o debate mundial quanto à SUSTENTABILIDADE. Pela primeira vez, a ONU passou a abordar a questão da SUSTENTABILIDADE, estabelecendo como meta mundial o desenvolvimento sustentável ou durável, o qual significaria suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das próximas gerações suprirem as de seu tempo. Jean Nouvel (1945-)) Institut du Monde Arabe (1981/87, Paris França) Isto fez nascer a ECO-TECH ARCHITECTURE, que propõe o emprego da alta tecnologia (arquitetura inteligente) para contornar os problemas ambientais, minimizando os impactos por meio de sistemas autogestores e computadorizados, sempre priorizando a eficiência. Fondation Cartier (1991/94, Paris França) Brian MacKay-Lyons (1954-) New Scotia Coast House (1984/86, Canadá) Para os ambientalistas, podese minimizar os impactos sobre a natureza, utilizando a TECNOLOGIA, através de estratégias de projeto e sistemas autogestores, acreditando que, para haver progresso, é necessário que algo seja perdido, sendo preciso correr riscos. Ecohouse (1989/91, Breisach , Alem.) Thomas Spiegelhalter A principal diferença entre ambos está no fato dos ecologistas vetarem qualquer tipo de crescimento, enquanto os ambientalistas defenderem que este é necessário para superar a pobreza, principalmente nos países não-desenvolvidos. Enquanto o ECOLOGISMO defende a conservação do capital natural como condição da sobrevivência humana, limitando o crescimento dos países ricos (economia ecológica), o AMBIENTALISMO considera tais recursos escassos, mas, acredita que se manipulados com cuidado, permitiriam um desenvolvimento sustentável com melhor distribuição de renda (economia ambiental). Green Architecture Nas décadas de 1990 e 2000, cresceram as discussões sobre as questões ambientais em todo o planeta, multiplicando-se os congressos e eventos mundiais. Difundiu-se o conceito de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL e implantou-se Sistemas de Certificação Ambiental, fazendo nascer a GREEN ARCHITECTURE. Jean-Marie Tjibaou Cultural Center (1992/98, Nouméa, Nova Caledônia) Renzo Piano (1937-) Em 1992, no Rio de Janeiro, ocorreu, com a participação de 175 países, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, a RIO-92, que marcou a discussão ambiental mundial por: Criticar o modelo vigente de desenvolvimento (interrelação entre problemas sociais e ambientais); Apontar para a necessidade de medidas tecnológicas e legais (Agenda 21 Global). A aplicação da AGENDA 21 pressupõe um planejamento do futuro com ações de curto, médio e longo prazos, (re)introduzindo uma idéia esquecida de que se pode – e se deve – planejar, estabelecendo um elo de solidariedade entre nós e nossos descendentes, as futuras gerações: Pense globalmente, aja localmente NÍVEL ECONÕMICO nível de vida produção ecológica DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NÍVEL SOCIAL consciência ambiental NÍVEL AMBIENTAL QUALIDADE DE VIDA SUSTENTÁVEL Em 21 de junho de 1993, em um congresso em Chicago, a União Internacional dos Arquitetos – UIA, em conjunto com o American Institute of Architects – AIA, estabeleceu a Declaração de Interdependência para um Futuro Sustentável, que coloca a sustentabilidade como sendo o centro de responsabilidade profissional, convocando todos os profissionais para a prática de uma arquitetura sustentável. Chicago IL, EUA SOCIAL universal e segura GREEN ARCHITECTURE Habitat sustentável ECONÔMICA AMBIENTAL funcional e barata eficiente e ecológica Istambul, Turquia Em 1996, aconteceu a Conferencia das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Istambul, Turquia), na qual se defendeu a criação de CIDADES SUSTENTÁVEIS, reforçando a condição de que a questão ambiental permeia a questão urbana em todo o planeta. São Paulo, Brasil Essa última conferência, conhecida como a Cúpula das Cidades, criou a AGENDA HABITAT, enfatizando a questão urbana ambiental ao definir a sustentabilidade como princípio e os assentamentos humanos sustentáveis como objetivo mundial. Ballard Library (2002/05, Seattle WA, EUA) Bohlin Cywinski Jackson De lá para cá, muitas conferências ocorreram, como a Rio+10 (2002, Johannesburg, África do Sul) e a Rio+20 (2012, Rio de Janeiro), que procuraram fazer um balanço dos resultados obtidos tanto pela AGENDA 21 como pela AGENDA HABITAT, em que se constatou muitos avanços, mas também graves retrocessos. Real Goods Solar Living Center (1997/98, Hopland Cal. EUA) Van der Ryan (1948-) Gypsy House (2005/06, Berkeley CA) Na última década, a arquitetura sustentável voltou-se para uma corrente que busca conciliar a tradição e as possibilidades modernas, em especial através da aplicação de tecnologias “limpas”, buscando a eficiência energética, a adequada especificação de materiais e a proteção da natureza. Robert Trickey House (2006/07, Honolulu HW) Craig Steely Architects (1989-) Ian MacDonald Architect Inc. (1984-) House in Mulmur Hills (1997, Dufferin County ON) Para a Green Architecture, a SUSTENTABILIDADE implicaria em como desenvolver métodos ambientalmente corretos de produção e consumo, que garantam a integridade dos ecossistemas, a qualidade de vida e a preservação cultural e ecológica, através de certificação ambiental. Richmond City Hall (1990/94, Virginia EUA) Hotson Bakker Boniface Haden – HBBH Leitura Complementar BRUNDTLAND, G. H. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: CMMAD: Fundação Getúlio Vargas, 1991. CAPRA, F. A. Teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. CORRADO, M. La casa ecológica: manual de arquitectura bioclimática. Barcelona: De Vecchi, 1999. FOLADORI, G. Limites do desenvolvimento sustentável. Campinas: Imprensa Oficial SP, 2001. GAUZIN-MÜLLER, D. Arquitectura ecológica. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. YEANG, K. Projectar com la naturaleza. Barcelona: Gustavo Gili, 1999. WINES, J. Green architecture. Köln: Taschen, 2000.
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