Boletimnº 4

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Boletimnº 4
Boletim ConBraSD nº 4 - 15/10/2010
Boletim nº 4
15 de outubro, 2010
O Boletim ConBraSD é uma publicação trimestral do Conselho Brasileiro para Superdotação, de acesso exclusivo para
os seus sócios. Todas as matérias e informações veiculadas no boletim são de inteira responsabilidade de seus autores.
Propostas para os próximos números podem ser enviadas por e-mail para o Editorial do Boletim
([email protected]) até 15 dias antes de sua publicação, que ocorrerá no dia 31 de dezembro de 2010.
Editora: Profa. Dra. Christina Cupertino.
Editorial
Esse número do Boletim do ConBraSD sai após o grande sucesso que foi o 1º Congresso Internacional
sobre Altas Habilidades/Superdotação, que aconteceu entre 13 e 15 de setembro em Curitiba, PR. Parte do
material publicado, portanto, refere-se ao encontro.
Temos artigos que discutem as definições e o uso da terminologia relativa às altas habilidades, uma
interessante resenha e um relato de experiência. Dividimos também com vocês a repercussão do
congresso, que gerou agradecimentos de ambas as partes: do ConBraSD e dos participantes.
O evento contou com a expressiva presença de 1.200 participantes, distribuídos em uma variedade de
palestras, mesas, debates, videoconferencias.
O movimento pelos corredores indicava os intercâmbios e os contatos intensos que fortaleceram os laços
da rede de pessoas interessadas nas questões relativas às altas habilidades. Depoimentos emocionados
foram registrados e serão apresentados nas páginas que se seguem.
Um ambiente ao mesmo tempo agradável e estimulante, criado pela competente organização do congresso,
favoreceu os reencontros e trocas afetivas que só vieram ampliar o aprendizado e o alto nível das
discussões levadas adiante no evento.
Uma experiência especial, gratificante, que deverá ser reproduzida futuramente, e que compartilhamos com
nossos associados nesse boletim.
Christina Cupertino
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Repercussão do Congresso
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Susana e colegas,
Nós é que devemos parabenizar vocês pelo tremendo esforço de planejar e executar um congresso do
gabarito que foi este que passou. Sabemos que não se atinge a excelência sem muita persistência, trabalho e
dedicação. Vocês todas estão de parabéns!!
Susana se expressou bem, salientando que o congresso colocou o ConBraSD e as altas habilidades em um
novo patamar. Não podemos economizar esforços neste sentido e devemos estar sempre unidas para
continuar este trabalho lindo, começado lá em 2003.
Desejo ao novo grupo muito sucesso na próxima gestão e me coloco a disposição para colaborar com
todos.
Um grande abraço!
Angela Virgolim
Olá queridas,
Gostaria de agradecer a oportunidade no Congresso Internacional de Altas Habilidades, foi muito
importante apresentar o Banner e adorei a oportunidade de encontrar toda a academia e meus colegas
professores. O evento veio e contribuiu de forma gratificante para minha prática pedagogica.
Obrigada e abraços para todas.
Katiucha Orrico
Queridas Suzana e Laura,
Envio um grande Parabéns para vocês (e todo o staff), por conta da organização do excelente congresso
sobre altas habilidades. Não encontrei um só participante que não elogiasse o alto nível do evento, tanto
das palestras apresentadas quanto da organização como um todo. Eu mesma fui testemunha ocular, embora
infelizmente não pudesse ter me dedicado e ajudado como gostaria. Mas no próximo lá estaremos, se Deus
quiser.
Vocês são fantásticas!!
Grande abraço,
Maria Augusta
Queridos colegas de comissão.
Não há como deixar de reconhecer que este trabalho de equipe foi sensacional.
Parabéns a todos e, principalmente à Susana, nossa presidente e seu staff gaúcho que sempre esteve
presente e confiante.
São muitos os elogios e virão muitos mais.
Espero que os resultados frutifiquem em ações para nossas crianças e jovens que tanto precisam de ajuda e
entendimento.
BJs
Maria Lúcia Sabatella
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Querida Denise e demais colegas do CONBRASD de Curitiba,
Primeiramente cumprimento pela organização admirável do congresso do
ConBraSD. Voltei encantada e com muito esperança. O evento foi de
excepcional qualidade. Parabéns a todos.
Com o maior carinho,
Eunice Soriano de Alencar
Prezada Sras. Susana Perez, Denise Matos, Paula Sakaguti, Laura Ceretta e demais organizadores do
Congresso do ConBraSD,
Venho por meio deste parabenizar a todos pela organização e o sucesso na realização do Congresso do
ConBraSD.
A equipe do IRS retornou do evento muito bem impressionada com a qualidade do evento.
Atenciosamente,
Felipe de Queiroz
Queridas Susana, Denise e Paula,
Mais uma vez, parabenizo-as pela realização do evento. Foi muito bom!
Obrigada pelo carinho e atenção.
Beijos para vocês e todos os outros membros da diretoria,
Denise Fleith
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Artigos
Altas Habilidades/Superdotação, Talento, Superdotação, Dotação
Cristina Maria Carvalho Delou1
Christina M. B. Cupertino2
Esse texto é resultado da sistematização do debate sobre a terminologia relacionada às altas
habilidades, realizado durante o 1º Congresso Internacional sobre Altas Habilidades/Superdotação, que foi
aberto ao público e contou com muitas participações relevantes.
Inicialmente foi apresentado um resumo da siuação legal com relação aos termos utilizados,
justificando essas opções.
No âmbito federal, a Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001, que institui as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, diz que consideram-se educandos com
necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: [...] altas
habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos,
procedimentos e atitudes. (Brasil, 2001, Art. 5º, III).
Em 2008, foi divulgada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, que diz em seu texto que [...] alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial
elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança,
psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem
e realização de tarefas em áreas de seu interesse. (Brasil, 2008, p. 15).
A Resolução CNE/CEB Nº 4, de 2 de outubro de 2009, que institui as Diretrizes Operacionais
para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial, diz que
os [...] alunos com altas habilidades/superdotação são aqueles que apresentam um potencial elevado e
grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual,
liderança, psicomotora, artes e criatividade. (Brasil, 2009, Art. 4º, III).
Em outras instâncias, considera-se também que serão consideradas crianças superdotadas e
talentosas as que apresentarem notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos
seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica específica;
pensamento criador ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes visuais, dramáticas e
musicais; capacidade psicomotora (Cenesp, 1976, p. 2), (Cenesp, 1986, p. 10) e (Novaes, 1979, p. 31). A
1
Doutora em Educação, coordenadora da Escola de Inclusão da Faculdade de Educação da UFF.
2
Doutora em Psicologia, coordenadora do Programa Objetivo de Incentivo ao Talento.
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conceituação de 1976 foi baseada na da Associação Internacional, aceita e reconhecida de forma geral,
conforme relato dos professores Dorothy Sisk e J. Gallagher, e derivada de teorias científicas e
observações de campo realizadas principalmente nos Estados Unidos.
Com relação ao uso dos termos “dotado” e “talentoso”, revisão histórica mostra que essas
questões situavam-se, predominantemente, no âmbito da Filosofia, e a crença central era a de que Deus
havia dado aos homens todos os dons e atributos que estes possuíam. No alvorecer do pensamento
científico, a ideia de dom passa para o contexto da genética, embora não se comprove a relação entre
ambos. Buscando o sentido das palavras, percebemos que, no contexto latino, formou-se a concepção de
que o dote eram os bens que a mulher levava ao casar-se, e aquele que possuía o dote era dotado. No
contexto grego formou-se a idéia de talento, que também tinha seu correspondente latino, nome dado à
moeda da antigüidade grega e romana. Aquele que possuía talento era talentoso. (DELOU, 2001)
Voltando às pessoas que apresentam tais atributos, a idéia de talento mostrou-se mais ampla que a
idéia do dote, pois enquanto a idéia do dote só incluía o dom natural, na ideia de talento estavam incluídas
a concepção do dom natural ou aptidão natural e a habilidade adquirida que é o resultado do exercício da
prática (DELOU, 2001).
Tanto os substantivos como os adjetivos assumiram significados figurativos relacionados à
inteligência humana, e dotes e talentos passaram a representar aquilo que os indivíduos evidenciavam por
sua inteligência. O dote passou a referir-se ao dom natural e o talento assumiu o sentido de aptidão natural
para certas coisas ou de uma habilidade adquirida (DELOU, 2001). Do mesmo modo figurativo, atribuiu-se
às pessoas de “altíssimo grau, ou o mais alto, de capacidade mental criadora em qualquer
sentido” (Ferreira, 1996), a designação de gênio, palavra de origem latina, que simbolizava o espírito que
regia o destino de cada um, que era responsável por desencadear determinados fatos. Esta concepção
desencadearia na idéia de tendência, inclinação, ou a propensão de cada pessoa, aquilo que determinaria as
suas habilidades, que as faria mais espertas e astutas. É uma palavra que também tem sua origem
etimológica grega, tanto no sentido próprio como no sentido figurado, na idéia de gerar, dar à luz, causar,
originar. (DELOU, 2001)
Vigotski (1929) foi quem conceituou o verbete “genialidade” à luz da teoria sócio-histórica, como
"grau superior de talento, que manifesta-se em elevada criatividade, tendo extraordinário significado
histórico para a vida da sociedade” (apud DELOU & BUENO, 2001).
Os
termos
altas
habilidades
e
superdotação
são
sinônimos,
daí
a
grafia
Altas
Habilidades/Superdotação. Do ponto de vista legal, esse é o termo utilizado.
Aberto o debate, algumas questões interessantes foram sendo abordadas.
Uma delas diz respeito à necessidade de mudança do paradigma científico predominante, que deixa
de fora aspectos importantes dos objetos de estudo, não focalizando a multidimensionalidade humana e
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atendo-se apensa às questões biológicas e fisiológicas. De acordo com essa contribuição, o
desenvolvimento da neurociência e da genética são importantes, mas também deve-se considerar a
dimensão psicológica da alma humana - a espiritualidade, que é objeto de estudo da Psicologia. As noções
de talento e dom podem ser associadas a essa espiritualidade, ou seja, o dom seria algo dado para o
cumprimento de uma missão espiritual, o que hoje em dia talvez seja chamado de acaso.
E há que considerar, também, o componente ambiental. Todos esses elementos e suas
interligações deveriam evocados pela discussão da terminologia, e não só os conceitos operacionais.
Outro ponto discutido foi a constante alteração dos termos, como se isso desse conta de traduzir
a experiência. Muitos dos debatedores mostraram-se relutantes quanto ao que denominam como
rotulação dessas pessoas, referindo-se ao fato de que, uma vez rotuladas, elas passam a precisar cumprir
algumas prerrogativas do nome que lhes foi imputado.
Foi lembrado o fato de que a palavra “superdotado” é a mais conhecida dentro e fora da
comunidade científica, e, se carrega alguma conotação pejorativa, é o caso de promover o esclarecimento
mais do que trocar o nome, ou evitá-lo. Esse argumento defende que os profissionais poderiam contribuir
com o apaziguamento dos preconceitos ligados ao termo, convocando a população a contribuir com a
aceitação social e a inserção dos superdotados. De certa forma, a representação social do termo
“superdotado” é mais clara, ainda que carregada de mitos.
Foi enfatizada a necessidade de incluir os próprios portadores das altas habilidades na discussão,
perguntando a eles o que preferem, uma vez que frequentemente observa-se que crianças e adolescentes
repudiam a palavra “superdotado”, dizendo que não são “super” em nada. Preferem ser chamados de
talentosos, ou pessoas com altas habilidades, reconhecendo que não sabem tudo e que “superdotado”
carrega um estigma.
A questão da terminologia se agrava, ainda, nos casos de dupla excepcionalidade, quando a
multiplicidade de nomes (ou rótulos) apenas complica a situação.
Foi interessante perceber que esse debate, além das contribuições com relação ao item específico,
permitiu também o surgimento de reivindicações importantes sobre as condições de atendimento a essa
população. Alguns dos professores presentes lembraram enfaticamente que qualquer que seja a
denominação, o aluno precisa de recursos apropriados para o seu desenvolvimento. No cerne da discussão
sobre os termos surgiu a importante questão do preconceito, da discriminação, seja por parte de quem
tem que oferecer salas e profissionais adequados a eses alunos, seja por parte dos que se sentem
desqualificados por crianças e adolescentes mais “brilhantes”.
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Referências Bibliográficas
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução N.º
02/2001.
Disponível
no
site
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Itemid=863,
em
26/10/2010.
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução N.º
04/2009.
Disponível
no
site
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Itemid=863,
em
26/10/2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva
da
Educação
Inclusiva.
Brasília:
MEC/SEESP,
2008.
Disponível
no
site
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Itemid=863,
em
26/10/2010.
BRASIL. CENTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Educação Especial: superdotados - manual. Rio
de Janeiro, 1976.
BRASIL. CENTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Subsídios para Organização e Funcionamento
de Serviços de Educação Especial - Superdotados. Rio de Janeiro: MEC/CENESP, 1986.
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Política Nacional de Educação Especial. Brasília,
MEC/SEESP, 1994.
DELOU, Cristina Maria Carvalho. Sucesso e fracasso escolar de alunos considerados superdotados: um
estudo sobre a trajetória escolar de alunos que receberam atendimento em salas de recursos de escolas da
rede pública de ensino. (Tese de Doutorado). São Paulo. Programa de Estudos Pós-Graduados em
Educação: História e Filosofia da Educação. Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP, 2001.
DELOU, Cristina Maria Carvalho & BUENO, José Geraldo Silveira. O que Vigotski pensava sobre
genialidade. Revista da Faculdade de Educação PUC – Campinas. Campinas, n.º 11, p. 97-99, nov., 2001.
NOVAES, M. H. Desenvolvimento psicológico do superdotado. São Paulo: Atlas, 1979.
VIGOTSKI, L. S. Genial'nost. Bol'shaja Medicinskaja Enciklopedija. Moscou, vol. 6, col. 612-13, 1929.
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Altas Habilidades: a incompletude do axioma semântico
Miguel Cláudio Moriel Chacon3
Carlos Eduardo Paulino4
Mas todo erro se deve a fatores extrínsecos (como a emoção e a educação); a própria
razão não erra.
Kurt Gödel, 29 de novembro de 1972
Introdução
Dentro da Educação Especial, uma de suas áreas cuida de pessoas que demonstram capacidades,
potenciais ou desempenho bem acima da média, em quaisquer áreas das atividades humanas. Essas pessoas
são chamadas de Pessoas com Altas Habilidades (PAH).
No entanto, no estudo das Altas Habilidades, há várias vertentes teóricas, considerando diferentes
parâmetros para identificar essas pessoas, por exemplo, para a pesquisadora norte-americana Ellen Winner
o critério de apontamento é o desempenho, já para brasileira Christina Cupertino e para o Conselho
Brasileiro de Superdotação (ConBraSD) a base de trabalho reside no potencial, portanto, existe uma
discordância teórica nessa área, que se manifesta, ainda mais claramente, quando se discute as possíveis,
gradações desse fenômeno. Daí aparecerem diversas nomenclaturas para as PAH - precoce, prodígio e
gênio.
Esse trabalho se propõe, utilizando-se da neurociência, sobretudo das bases neuroquímicas, ou
neurotransmissores, bem como utilizando os mecanismos das memórias, e utilizando como linguagem a
lógica formal, propor uma solução a essa discordância teórica.
Justificativas
Em nosso entender, esta pesquisa trará consenso à discussão teórica acerca de um fenômeno que,
embora de grande relevância social, é negligenciado em razão, até, de sua definição imprecisa. Dessa
maneira as agências de fomento, quando da emissão de pareceres não tem muita clareza sobre qual
fenômeno está sendo pesquisado e/ou atendido. Para isso propomos utilizar a neurociência que esclarece
essa questão, pois entende as altas habilidades, e suas possíveis gradações, como um único mecanismo
resultante da manifestação da memória, que em última análise resulta da atuação dos neurotransmissores.
Portanto, utilizamos um fato físico para dar luz a um fato cultural.
3
Professor Assistente Doutor do Departamento de Educação Especial e Docente da Pós Graduação em Educação da Faculdade
de Filosofia e Ciências – UNESP, Campus de Marília.
4
Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP, Campus de Marília. Pós-Graduando em
Psicopedagogia Institucional e Clínica e em Saúde Mental e Atuação Psicossocial – INDEP Marília. Coautor e bolsista do
Programa de Atendimento a Auxílio a Alunos Talentosos, Altas Habilidades/Superdotados e Gênios (PROGEN).
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Utilizamos para justificar nossa compreensão do fenômeno, uma linguagem mais rigorosa que a
língua escrita formal, então empregamos a Lógica Formal que segundo Buchholz (2008), pode ser definida
como a parte da Lógica que é a teoria do pensar e argumentar logicamente. Ela se ocupa em saber que
outras verdades se deixam inferir de uma proposição aceita como verdadeira. O objetivo da Lógica é, por
isso, conseguir diferenciar, sem margem à dúvida, entre inferências válidas e inválidas. Nesse caso a Lógica
Formal não leva em conta o conteúdo das proposições a serem apreciadas e se ocupa só das possibilidades
de dedução que resultam tão somente com base na forma das proposições.
Objetivos
•
Caracterizar os referenciais teóricos que fundamentam as definições de pessoas com altas
habilidades, suas gradações e as discordâncias teóricas na compreensão desse fenômeno;
•
Identificar os estudos neurocientíficos que interpretam esse fenômeno e que esclarecem sua
manifestação de forma unificada, como uma manifestação química eficiente do cérebro humano;
•
Descrever os mecanismos cerebrais ligados à memória e aos neurotransmissores que
justificam o desenvolvimento da criatividade, do compromisso com a tarefa e da habilidade acima da média.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, constituída por oito etapas: escolha do tema, elaboração do
plano de trabalho, identificação, localização, compilação, fichamento, análise e interpretação e redação final.
Segundo Gomes (1993) e Marconi e Lakatos (2001), esse tipo de estudo é desenvolvido a partir de
fontes secundárias, ou seja, de bibliografias publicadas sobre a temática. Não é mera repetição do que foi
dito ou escrito, pois permite, por meio de reflexões e questionamentos, alcançar novo enfoque ou
abordagem e chegar a conclusões inovadoras. Relatam ainda, que constitui um caminho para conhecer a
realidade ou para descobrir verdades parciais e subsidiar os demais tipos de pesquisas.
Esta pesquisa tem objetivo exploratório e procedimento monográfico, considerando que se
proporciona maior familiaridade com o problema, investigam-se diferentes pontos de vista acerca das altas
habilidades.
A localização dos artigos se deu a partir das seguintes palavras-chaves: educação especial; altas
habilidades; memória; neurotransmissores; ciência cognitiva; neurociência; neurociência cognitiva;
superdotação; talentos; crianças precoces; prodígios e gênios, nas seguintes bases de dados: Base de Dados
Internacional da UNESP (ALEPH), Base de Dados Nacional e Catálogo Coletivo da UNESP (ATHENA),
Base de Dados Internacional e Catálogo Coletivo da USP (DAEDALUS), Base de Dados da Faculdade de
Medicina de Marília (FAMEMA), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica ou Medical Literature Analysis and Retrieval System
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(MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Desenvolveu-se em sete momentos de busca
em um período de três semanas.
Para a compilação foram utilizados, como critério de inclusão, somente artigos de autoria de
pedagogos, psicólogos e neurocientistas, tanto em literatura nacional quanto em literatura internacional,
publicados de 1966 até 2009; resultando na análise de 18 artigos e 22 outros textos (livros, capítulos de
livros, dissertações e teses), sendo 7 artigos do periódico Science e 11 artigos de outros 11 periódicos. No
total, são 40 referências.
Para a apresentação, dos artigos consultados, construímos o quadro abaixo:
Quadro I – Demonstrativo dos artigos selecionados, em ordem cronológica
ANO
1966
1974
1982
1984
1986
1988
1989
1992
1993
1995
1995
1996
1997
1997
1998
2000
2000
TÍTULOS
Time-dependent processes in memory
storage
Cerebral dominance in musicians and nonmusicians
The role of gifts and markers in the
development of talents
Musical perception and cerebral function:
A critical review
Mathematics achievement of Chinese,
Japanese, and American children
Dendrites correlates of human cortical
function
Different forms of posttraining memory
processing
Lateralization of phonetic and pitch
discrimination in speech processing
The role of deliberate practice in the
acquisition of expert performance
In vivo evidence of structural brain
asymmetry in musicians
A neurologist’s notebook: Prodigies
Regional and cellular fractionation of
working memory
1º AUTOR
McCAUCH, J. L.
FONTE
Science
BEVER, T.
Science
BLOOM, B.
Exceptional Children
ZATORRE, R.
Music Perception
STEVENSON, H. W.
Science
SCHEIBEL, A. B.
ZATORRE, R. J.
Archives Italiennes
de Biologie
Behavioral and
Neural Biology
Science
ERICSON, K. A.
Psychological Review
SCHLAUG, G.
Science
SACKS, O.
GOLDMAN-RAKIC, P.
New Yorker
Proceedings of
National Academy of
Sciences USA
American
Psychologist
Neurobiology of
Learning and
Memory
IZQUIERDO, I.
Environment and genes: determinants of
behavior
Memory formation, the sequence of
biochemical events in the hippocampus and
its connection to activity in other brain
structures
Human brain: left right asymmetries in
temporal speech region
Memory – A century of consolidation
Behavioural pharmacology and its
contribution to the molecular basis of
memory consolidation
PLOMIN, R.
IZQUIERDO, I.
GESCHWIND, N.
Science
McCAUCH, J. L.
IZQUIERDO, I.
Science
Behavioural
Pharmacology
Estes artigos foram analisados com fundamentação na abordagem qualitativa, por uma leitura
sistemática e aprofundada que proporcionou subsídios para fichamentos, tendo em vista a compreensão
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das principais ideias dos pesquisadores em busca de elementos que se relacionavam com os objetivos do
estudo. Dessa maneira, desenvolvemos reflexões críticas e análises interpretativas.
Essa trajetória de análise foi desenvolvida pelas seguintes questões norteadoras:
1 – Quais as questões teóricas que fundamentam as discussões dos autores sobre altas habilidades?
2 – Quais são as explicações neurocientíficas para o fenômeno das altas habilidades?
3 – Quais as propostas feitas pelos autores da pedagogia e da psicologia acerca das gradações nas
altas habilidades? Eles entendem como um fenômeno cerebral ou cultural-ambiental?
4 – Qual a proposta da neurociência cognitiva para explicar as altas habilidades, enquanto fenômeno
único e resultante do funcionamento do cérebro?
Resultados
Em Educação Especial, existe uma área de estudo que se dedica as Altas Habilidades definida pelo
CAPE de São Paulo (2007) como sendo aquelas pessoas que se caracterizam por alto desempenho em uma
ou mais atividades humanas ou ainda por alto potencial. O pioneiro norteamericano nessa área, Joseph
Renzulli (1977, 1986), prefere dizer que uma pessoa com altas habilidades é aquela que tem compromisso
com uma ou mais tarefas de sua preferência, apresentando habilidades acima da média e que a realiza
criativamente (Teoria dos Três Anéis). Como em educação se trabalha com níveis de ensino, em função da
capacidade cognitiva e da maturação, utiliza-se gradações diferenciais para esse fenômeno, de onde
emprega-se os termos precoce, prodígio e gênio, como encontramos definidos em Cupertino (2008). O
termo precoce emprega-se para crianças com alguma habilidade específica muito desenvolvida, podendo
aparecer em qualquer área do conhecimento, ou seja, na música, nas disciplinas escolares, na linguagem, no
esporte ou na leitura; já o termo prodígio sugere algo extremamente raro e único, ou seja, fora do curso
normal da natureza. Se tais indivíduos promovem contribuições extraordinárias à humanidade,
revolucionando suas áreas de conhecimento, passam a denominar-se gênios. Ainda segundo Winner (1998)
os precoces começam a dar os primeiros passos no domínio de alguma área em uma idade menor que a
média, progridem mais rapidamente, porque sua aprendizagem, na área escolhida ocorre com grande
facilidade. A autora refere-se ao conhecimento como uma área de reconhecido domínio humano, tais
como a linguagem, a matemática, a música, as artes, o xadrez, o bridge, o balé, a ginástica, o tênis ou a
patinação.
Após essas definições duas questões se fazem necessárias, ao nosso ver. O que explica crianças de
idade tão tenra desenvolverem a precocidade? E seria necessário dividir as Altas Habilidades em gradações?
Em primeiro lugar há autores que entendem que a precocidade está relacionada a fatores ambientais
como Bloom (1982, 1985) e Ericsson (1988, 1993); outros a fatores culturais, como encontramos nos
estudos de Damon (1995), Stevenson, Lee e Stigler (1986), Stevenson e Stigler (1992) e Whiting e Whiting
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(1975), ou ainda a fatores genéticos, tanto que para Winner (1998) existem consideráveis evidências para
um forte componente cerebral para as altas habilidades, conforme trabalhos amplamente divulgados pela
revista Science desde 1995. A partir do uso da imaginologia, apareceram vários estudos que demonstram o
fator cerebral como muito importante na caracterização do fenômeno,. Dentre inúmeros estudos sobre a
base cerebral das altas habilidades podemos destacar os de Schlaug, Janke, Huang e Steinmetz (1995),
Scheibel (1988), Geschwind e Levitsky (1968), Sacks (1995), Zatorre, Evans, Meyer e Gjedde (1992), Bever
e Chiarello (1974), Zatorre (1984), que deram suporte a afirmação de Plomin (1997) quando diz que
fatores genéticos chegam a ser responsáveis por até metade das características da inteligência em um
indivíduo, fundamentando os pesquisadores que aceitam essa variável como fortemente responsável pelas
altas habilidades. Em estudos recentes em comunidades mais carentes, portanto menos suscetíveis a
influências culturais e ambientais favoráveis ao desabrochamento de indivíduos com altas habilidades,
percebemos que a base genética parece ser o fator fundamental para explicar, até altas percentagens, de
indivíduos com essas características, fato demonstrado nas pesquisas de Souza (2005), Perin (2008) e
Moraes (2009), levando essas pesquisas em consideração o que ocorre no cérebro de uma criança para
que ela seja denominada precoce. O fato é que a facilidade de aprendizado em tenra infância tem a ver com
o funcionamento dos neurotransmissores que ativam a memória e aceleram o processo de pensar como
encontramos em Izquierdo (2006), Gazzaniga e Heatherton (2005) e Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006).
Por exemplo, uma das células mais importantes do sistema nervoso central são as células gliais, dez
vezes mais numerosas que os neurônios e que podem ser responsáveis por mais da metade do volume
encefálico. Entre tantas funções importantes que desempenham estão o funcionamento dos neurônios.
Além de aparecerem no sistema nervoso central, também estão presentes no sistema nervoso periférico,
sendo fundamentais na determinação de agentes neuroativos como a dopamina e a noradrenalina
(neurotransmissores). A falta da atuação das células gliais pode provocar o Mal de Parkinson, levar a
distúrbios neuromotores graves, ou mesmo afetar os neurônios localizados na substância nigra do cérebro
que produz a dopamina. Essas células ainda tem a função de remover as células danificadas do cérebro, mas
sua função mais óbvia a formação da mielina – uma substância lipídica que circunda os axônios de muitos
neurônios, sem a qual uma das doenças neuromusculares que podem ocorrer é esclerose múltipla.
Logo, sem uma base cerebral física e quimicamente adequada não há aprendizado. A literatura é rica
em anedotas acerca de cérebros mais possantes entre os gênios, tanto que após sua morte o cérebro de
Albert Einstein (1879-1955) foi retirado com a função de estudo anatômico para entender sua maior
inteligência. De fato o que se percebeu foi que diferente era somente o número de células gliais, muito
maior que a média de um ser humano normal, daí se inferiu que sua capacidade de raciocínio tinha relação
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direta com o número de substâncias que interconectavam seus neurônios, como citam Bloom, Nelson e
Lazerson (2001).
Acontece que as substâncias que fazem a conexão entre os neurônios na fenda sináptica são os
neurotransmissores, que, segundo Izquierdo (2006), são basicamente os seguintes: o glutamato, o GABA
(ácido gama amino butírico), a dopamina, a noradrenalina, a serotonina e acetilcolina, que estão
intimamente relacionadas com os processos de formação de memórias. Assim temos a memória de
trabalho, que serve para gerenciar a realidade, e por isso, intimamente ligada aos processos criativos, que está
ligada a produção de serotonina. Podemos dizer que a criatividade é bastante presente em cérebros com
produção equilibrada de serotonina, e avançar em nossas inferências quando se afirma que uma criança é
precoce, quer dizer que sua memória de trabalho é um de seus pontos fortes, por isso, a mesma é bastante
criativa. Sendo assim podemos afirmar que:
As crianças precoces são reconhecidas pela sua criatividade aguçada [Proposição 1]
Para fazer essa afirmação nos baseamos em dados sobre a concepção moderna da memória de
trabalho e suas consequências nos processos criativos, bem como na ligação da mesma com a produção de
serotonina nas explanações de Baddeley (1997) e Goldman-Rakic (1996).
A memória de curta duração é a que dura de uma três horas, portanto, a utilizada em sala de aula,
pela maioria das pessoas. No entanto existem pessoas que a utilizam como memória de espera para que se
transforme em memória de longa duração como menciona Izquierdo (2006). Essa memória de curta
duração está associada, principalmente, aos neurotransmissores glutamato e GABA. Ela estimula uma
região do cérebro chamada hipocampo, daí que indivíduos que a utilizam como memória de espera a
“esvaziam” a cada 90 minutos para formar novas memórias de curta duração. O conteúdo esvaziado tornase, na maioria das vezes, memória de longa duração. Para cérebros ricos em glutamato e GABA, temos
uma ativação cerebral intensa que pode se manifestar em forma de habilidade acima da média, assim se isso
ocorre em uma criança, ficamos surpresos com sua habilidade em tocar um instrumento, ler antes do
tempo, falar bem, aprender xadrez, ou tornar-se um prodígio nas áreas acima citadas. Ora, mais uma vez
percebemos que neurotransmissores ligadas a um tipo de memória, podem diferenciar um indivíduo do
outro. Concluímos então que:
As crianças precoces são reconhecidas pela sua habilidade acima da média [Proposição 2]
Para entender esses mecanismos e nos fundamentar na afirmação consultamos os textos de
McCaugh (1966, 2000) e Izquierdo (1989), sobre a memória de curta duração.
A memória de longa duração está ligada a nossa vida, é responsável por registrarmos quem somos,
o que fizemos, reconhecer pessoas queridas. Em termos de formação e funcionamento ela é bastante
complexa, como podemos notar em Izquierdo e Medina (1997), Izquierdo e McCaugh (2000), Routtenberg
(2001) e, especialmente, em Cammarota et al. (2000), possuindo ao menos dez mecanismos de formação,
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estando ligada a vários neurotransmissores, porém os que consolidam são a dopamina e a noradrenalina,
que estão ligadas aos nossos gostos pessoais, paixões, emoções. Voltando ao nosso estudo de precocidade,
a memória de longa duração está ligada ao compromisso com a tarefa, daí podermos anunciar que um
cérebro com mecanismo “vivo” dopaminérgico e noradrenérgico, possui uma ótima produção de memória
de longa duração permitindo a uma criança uma forte identificação com uma área de seu gosto e
compromisso com a mesma, normalmente duradouro, de onde anunciamos que:
As crianças precoces são reconhecidas, longitudinalmente, por seu envolvimento com uma tarefa
(de seu gosto) [Proposição 3]
Conclusões
Pois bem do texto acima podemos extrair três (3) proposições a saber:
As crianças precoces são reconhecidas pela sua criatividade aguçada [Proposição 1]
As crianças precoces são reconhecidas pela sua habilidade acima da média [Proposição 2]
As crianças precoces são reconhecidas por seu envolvimento com a tarefa [Proposição 3]
Desse Teorema da “Criança Precoce” (nós a chamamos de criança somente para ilustrar, pois se é
precoce tem que ser criança), temos três (3) condições de existência para a precocidade, devidamente
deduzidas da neurociência cognitiva como demonstrado acima. Sendo assim:
Precocidade = Criatividade, Habilidade Acima da Média e Envolvimento com a Tarefa.
Tais características são atribuídas a uma pessoa altas habilidades na definição de Renzulli (1977,
1986), na Teoria dos Três Anéis, onde cada Anel é uma das características que tiramos de nossas
conclusões, advindas de farta documentação, que poderá ser consultada nas referências. Tais conclusões
vem de estudos advindos da ciência psicológica moderna, da neurociência cognitiva e dos estudos da
memória, acelerados nas duas últimas décadas. Bem voltando ao nosso Teorema temos que:
Precocidade = Criatividade, Habilidade Acima da Média e Envolvimento com a Tarefa.
Mas também temos que, segundo Renzulli (1977, 1986):
Pessoa com Altas Habilidades = Criatividade, Habilidade Acima da Média e Envolvimento com a
Tarefa.
Isso só pode ocorrer se, e somente, se:
Precocidade = Pessoa com Altas Habilidades.
Procuramos demonstrar através desse exercício lógico, que não existem gradações para as altas
habilidades, tanto que para isso usamos a neurobiologia, que explica da mesma maneira o funcionamento
cerebral das supostas gradações das altas habilidades. Acreditamos que a crença em gradações das altas
habilidades, não passa de um axioma, que por sua vez não precisa de demonstrações, é aceito como
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definição e pronto. Não concordamos com esse ponto de vista, pois acreditamos que isso não é ciência,
tanto que usamos o termo “Teorema” esse sim de passíveis demonstrações. Portanto, e por fim, a questão
para nós é puramente semântica, pois a grande explicação para a caracterização das altas habilidades reside
na neurociência, não desprezando, é claro, outros fatores.
Post Facto – esperamos ter respondido as duas questões anunciadas no início como “estrada” para o
trabalho. Tanto que demonstramos ao longo desse “caminho” que a precocidade reside nos mecanismos
bioquímicos do cérebro, ativados pelos neurotransmissores e quantificados pelos tipos de memórias, não
obstante, demonstramos a incompletude do axioma semântico que procura definir gradações para um fato
que é único e que, quando anunciado é a priori.
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Projetos e Intervenções
Experiências de professores cm alunos com altas habilidades em Sergipe
Cristina Maria Rodrigues - Secretaria de Estado da Educação/DIEESP5
Denise Emília Almeida Santos - Secretaria de Estado da Educação/DIEESP6
Isa Regina Santos dos Anjos – Universidade Federal de Sergipe/UFS7
Leila dos Santos Cardoso - Secretaria de Estado da Educação/DIEESP8
Marinêz Camilo Souza - Secretaria de Estado da Educação5
Tereza Cristina Santos - Secretaria de Estado da Educação6
A partir da Nova Política da Educação Especial numa Perspectiva Inclusiva/2008, o NAAH/S-SE
redimensionou as ações do atendimento ao aluno para as 122 salas de recursos multifuncionais. Estes
espaços estão em processo de implantação nas escolas estaduais de Sergipe. Essas unidades escolares
foram evidenciadas no Censo Escolar com matrículas de alunos com Necessidades Educacionais Especiais.
Portanto, as diretrizes fomentam a formação continuada dos professores, o apoio aos sistemas de ensino e
as parcerias com a comunidade, a exemplo do IFES, IES, Sistema “S” entre outros.
Desde a implantação do NAAH/S-SE, em 2006, os cursos de sensibilização e de formação
continuada para a comunidade escolar: professores e equipes diretivas foram intensificados no sentido de
esses profissionais serem multiplicadores para o processo de identificação de alunos com indicativos de
altas habilidades/superdotação. Constatamos, nestes cursos, que há desinformação e incredibilidade por
parte de nossos educadores quanto à temática para a indicação destes alunos, haja vista a estatística
apresentada no Educacenso. No entanto, há professores que durante sua prática pedagógica vem
descobrindo alunos com indicativos de altas habilidades/superdotação.
E nessa trajetória, encontramos duas experiências de professoras que fazem um diferencial na vida
desses educandos. E sobre as quais faremos um breve relato a seguir.
5
Docente da Rede Estadual de Sergipe – [email protected]
6
Docente da Rede Estadual de Sergipe – [email protected]
7
Docente do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe/Campus de Itabaiana – [email protected]
8
Docente da Rede Estadual de Sergipe – [email protected]
5 Docente da Rede Estadual de Sergipe – [email protected]
6
Docente da Rede Estadual de Sergipe – [email protected]
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Uma delas foi a descoberta por Marinêz Camilo Souza, professora de Inglês, que em uma das aulas
para se trabalhar vocabulário sobre casa, utilizou como metodologia que retratasse os cômodos e
mobiliários da residência de cada aluno ou da casa dos sonhos deles. Nesse ínterim, o aluno Jagnes de
Souza Andrade, com 13 anos de idade, que estudava na 7ª série do Ensino Fundamental, trouxe uma
maquete que a impressionou pela riqueza de detalhes, pois havia um residencial retratado em sua
imaginação: um prédio, de 10 andares, com elevador móvel, os apartamentos eram removíveis facilitando a
observação da decoração; este estava localizado dentro de um bairro com toda uma infraestrutura de uma
cidade; onde havia Instituição bancária, praça, luminárias, escola, comércio, hospital, etc. Arte essa, exposta
na inauguração da Sala de Recursos Multifuncional “Tobias Barreto” na ocasião foi elogiada pelos
especialistas da área, confirmando assim as características evidenciadas no potencial criativo. A partir dessa
vivência, instigou em saber mais sobre o aluno, onde constatou desde tenra idade fazia invenções utilizando
materiais de baixa tecnologia como atividade diária, o que o deixava muito realizado, porém desmotivado
pela falta de valorização dada às suas obras, que muitas vezes eram jogadas ao
lixo. Diante dessas
informações, a professora buscou suporte no NAAH/S para auxiliá-lo e a partir desse episódio, identificou
outros alunos e investiu em sua formação sobre Altas Habilidades/Superdotação, a qual foi selecionada para
assumir a sala de recursos supracitada e atualmente vem especializando-se na área de educação especial.
A outra é a professora Tereza Cristina Santos. No momento da divulgação da Etapa Estadual do 2º
Prêmio Nacional Talento Literário/Poesia em Superdotação, organizado pela Biblioteca Nacional de Brasília,
por ocasião da II Bienal Internacional de Poesia de Brasília, a professora Tereza Cristina, lotada na Escola
Estadual Dr. Carlos Firpo – DRE – 08, do município de Barra dos Coqueiros, chegou até nós. Tereza
Cristina, apesar de não ter participado dos cursos supracitados, procurou o NAAH/S-SE, munida do texto
a ser entregue para participar do referido prêmio. Trouxe consigo, também, uma revista intitulada
“Especial Talento” que fora elaborada pela mesma. Neste projeto, teve a colaboração da Associação de
Artesões da Barra dos Coqueiros, na pessoa do Sr. Moacir Fábio S. da Cruz e ainda da equipe gestora da
referida escola. Vale ressaltar que esse periódico traz a demonstração das habilidades e competências do
aluno João Lucas S. Lisboa, um talento especial. “É um jovem e promissor artesão. Espirituoso, criativo, faz
amizades com facilidade e tem autonomia e responsabilidade naquilo que realiza.” Disse Tereza Cristina.
“Desde pequeno sempre tive atração pela arte e aproveitei-a para expressar e manifestar meus
sentimentos,” disse João Lucas.
Atualmente, o jovem continua na mesma escola onde cursa o Ensino Médio e frequenta a sala de
recursos multifuncionais para potencializar suas áreas de interesse.
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Os talentos desse garoto são intrínsecos. Além de manusear peças e transformá-las em arte, ele
também já participou como instrutor/voluntário nas oficinas de artesanato do Projeto Esperança; como
ator na peça teatral Viação – “Loucura do Teatro Oprimido”, do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)
Pedro Bispo da Cruz, Barra das Águas e no Centro de Referência da Mulher, todos localizados no
município de Barra dos Coqueiros. E ainda, faz tatuagens em rena. Participou, também, da Oficina de Circo
(na Casa da Cultura), onde se destacou. “Uma amiga chamada Júlia disse que tinha um curso que era a
minha cara. Fiz e gostei. Na escola de circo, aprendi trapézio em tecidos, swing e malabares. Posso dizer
que é maravilhoso, realmente é a minha cara. Infelizmente, durou apenas oito meses. Mas foi uma
experiência que nunca irei esquecer. Foi boa e proveitosa,” falou João Lucas.
O aluno fez, ainda, curso de Confecção e Manipulação de Teatro de Bonecos, Teatro de Bonecos e
Teatro Vivo (no Centro de Criatividades de Sergipe).
E para concluir, cito o pensamento da professora Tereza Cristina Santos: “O futuro é algo
imprevisível. Sabemos que Lucas é talentoso, porém, pensa em trabalhar, fazer faculdade e ser reconhecido
naquilo que faz. Esperamos que isso, realmente, aconteça. E que seus planos sejam realizados.”
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Resenha
Resenha Crítica
WINNER, E. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Miguel Cláudio Moriel Chacon9
Carlos Eduardo Paulino10
Aprendemos apenas quando duvidamos do que nos disseram.
Ana Miranda, Boca do Inferno (Companhia das Letras, 1990)
Escrever sobre uma obra tão completa é uma grande responsabilidade, sobretudo por possuir mais
de uma década e permanecer tão atual.
Ao longo de 11 capítulos Ellen Winner, através de dezenas de exemplos e centenas de referências,
vai demonstrando seu grande conhecimento sobre superdotação infantil, embora para muitos a
nomenclatura correta seria precocidade, por isso, no primeiro capítulo, acerca dos nove mitos que envolve
essa área de pesquisa, ela diferencia os termos talentosas, superdotadas, criativas e prodigiosas
simultaneamente apresenta os mitos e caracteriza a criança superdotada bem como a influência da família.
Cabe notar que ao mesmo tempo que escreve sobre potencial em inúmeras passagens do texto quantifica
desempenhos, como os testes de QI, que para a pesquisa norte-americana continua de grande valia. No
próximo capítulo discutirá os globalmente superdotados, apresentando as pesquisas, de quase cem anos
atrás do pioneiro de Stanford, o psicólogo Lewis Terman, ainda de grande influência nessa área na realidade
daquele país. O terceiro capítulo é de grande interesse para pesquisadores e interessados nessa área,
sobretudo quando se depara com os desigualmente superdotados, inclusive os casos de superdotados com
distúrbios de aprendizagem, como se viu retratado no ótimo filme Mãos Talentosas: a história de Ben
Carson, portanto, esse capítulo é de fundamental importância para aqueles que se preocupam com a
identificação correta desses sujeitos. Chama atenção também o estudo sobre os tipos de memórias.
Recomendo o quarto capítulo em razão dos que apreciam a criatividade e as inteligências não canônicas, já
que se trata de crianças artísticas e musicais, por sua análise, esse capítulo parece inaugurar uma nova área
9
Professor Assistente Doutor do Departamento de Educação Especial e Docente da Pós Graduação em Educação da Faculdade
de Filosofia e Ciências – UNESP, Campus de Marília.
10
Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP, Campus de Marília. Pós-Graduando em
Psicopedagogia Institucional e Clínica e em Saúde Mental e Atuação Psicossocial – INDEP Marília. Coautor e bolsista do
Programa de Atendimento a Auxílio a Alunos Talentosos, Altas Habilidades/Superdotados e Gênios (PROGEN).
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de estudos a “psicopedagogia da superdotação”. Para os apreciadores das potencialidades, contrários aos
mitos dos desempenhos, o quinto capítulo é a pedida, pois trata da superdotação em deficientes
intelectuais. As análises dos casos de savants e autistas são primorosas.
O próximo tópico discute a biologia da superdotação, agradando mais aos que vêem na genética
uma forma de explicar essa característica, porém faz amplas discussões sobre os fatores ambientais e
culturais.
Os três próximos capítulos tratam do papel da família, da vida emocional e das escolas, no cotidiano
da criança superdotada (precoce). Este último traz os programas de enriquecimento empregados nos EUA,
levando ao questionamento de alguns programas usados no Brasil. Vale conferir e checar se nossos
programas são válidos, ou se são realidades distintas, logo é um capítulo bastante intrigante. O penúltimo
capítulo faz uma profunda reflexão sobre o que pode acontecer com crianças superdotadas (precoces) no
futuro, dependendo das variáveis que lhe são oferecidas, que podem gerar desde o embotamento até a
afirmação de sua condição com o desabrochamento de um gênio. O último capítulo é uma saborosa
reflexão dos mitos, mas que funciona, também, como uma revisão dos pontos mais tocantes da obra.
O livro é altamente recomendável para aqueles que gostam da educação especial, sobretudo os que
estudam as altas habilidades/superdotação, também para os que adoram estudar crianças, criatividades e
talentos.
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Ata da Assembléia do ConBraSD
Resultado das eleições
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