INTRODUÇÃO Há várias razões para se estudar a - Calem
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INTRODUÇÃO Há várias razões para se estudar a - Calem
8 INTRODUÇÃO Há várias razões para se estudar a aquisição da segunda língua em uma escola bilíngüe, entre elas, está o fato de que a escola bilíngüe possui como proposta a articulação e organização do seu projeto pedagógico, de modo que seus alunos desenvolvam a capacidade de se expressar na oralidade e na escrita, com competência equivalente, em dois idiomas. Neste tipo de escola a segunda língua não é uma matéria complementar: ela é integrada ao currículo básico da escola. Sendo um conteúdo fundamental, ela faz parte da vida escolar da criança desde os primeiros anos. E a partir do papel da escola bilíngüe, a questão que se levanta é como ocorre à aquisição da segunda língua em uma escola bilíngüe? Esta pesquisa se justifica pela relevância, para a comunidade científica e para a sociedade, da literatura estudada e dos dados a serem obtidos sobre a aquisição bilíngüe da segunda língua em uma escola bilíngüe, em razão da importância da sua presença na aquisição de habilidade oral em LE, a fim de que se possa reconhecer a importância da escola bilíngüe no aprendizado de uma segunda língua. Este estudo possibilitará aos professores de LE um esclarecimento sobre o que seja a aquisição de segunda língua e como o ambiente escolar bilíngüe pode influenciar nessa aquisição. Este trabalho poderá servir como fonte de referência para que uma visão redimensionada de aprendizagem de LE se instale no meio escolar e também como embasamento teórico para outras pesquisas na área ou áreas afins. De uma forma geral, não se busca com esta pesquisa apontar conclusões generalizadoras, mas trazer a tona aspectos relevantes na compreensão da aquisição de uma segunda língua em uma escola bilíngüe através da criança, pesquisando e incitando as futuras pesquisas que venham a contribuir para a ampliação do conhecimento na área. A coleta e análise de dados, provenientes de aulas em LE (língua inglesa) durante três meses, de fevereiro a maio do ano de 2008, bem como a fundamentação teórica da pesquisa cujo objetivo geral é pesquisar como ocorre a aprendizagem de segunda língua em uma escola bilíngüe. A intenção é apresentar como se dá o processo de aquisição da segunda língua em uma escola bilíngüe, 9 com crianças brasileiras em sua maioria, onde a língua é ensinada com a ajuda de professores, livros e materiais didáticos. Assim como objetivos específicos são: • observar o cotidiano diário das crianças na sala de aula e fora dela (refeitório); • analisar o material didático referente ao desenvolvimento da habilidade oral nas aulas observadas; •levantar as orientações/parâmetros existentes para os professores de língua estrangeira, com referência específica aquisição de segunda língua. Os procedimentos utilizados para que se alcancem os objetivos desta pesquisa estão abaixo apresentados de acordo com as etapas seguidas: Na 1.a etapa, realizada no final do segundo semestre de 2007, com o auxílio da professora orientadora, parte da literatura foi consultada e, no primeiro semestre de 2008 ocorreu a elaboração de instrumentos de coleta de dados e pilotagem deles, realizada com duas professoras de língua inglesa, que lecionam para crianças do infantil II e III da educação infantil, rede privada, na cidade de Curitiba, Paraná. Na 2.a etapa, a literatura já consultada sobre o assunto foi revisada e a ela incorporada novas leituras que serviram como base para o refinamento dos instrumentos de coleta de dados. Os instrumentos de coleta de dados propostos para o alcance dos objetivos da pesquisa foram os seguintes: • Observação de aulas: A observação ocorreu de forma participativa e não-estruturada. Na observação participativa o pesquisador se torna parte da situação observada, interagindo por longos períodos de tempo com os sujeitos, partilhando seu cotidiano para sentir o que é estar naquela situação; “a importância da observação participativa está relacionada à valorização do instrumental humano, característica da tradição etnográfica.” (MAZZOTI e GEWANDSZNADJER, 1998, p. 167). A observação nãoestruturada é aquela nas quais os comportamentos não são predeterminados; eles são observados e relatados da forma como ocorrem. Foram observadas seis aulas de dois grupos distintos. Um dos grupos com crianças na faixa etária de três a quatro anos e o outro com crianças de dois a três anos. Cuja observação foi o tópico de domínio da língua: vocabulário. Também foram realizadas outras ações, a saber: • Verificação do material didático utilizado nas aulas: do vocabulário e da estrutura de uma forma geral. 10 • Questionários para professores: sobre sua prática pedagógica e sobre a sua reflexão sobre o papel da escola bilíngüe na aquisição da segunda língua. Houve diálogos informais com a coordenação (ou equipe pedagógica) responsável pelo apoio aos docentes nas escolas: sobre os parâmetros que norteiam o ensino de língua estrangeira na instituição, com foco na aquisição da segunda língua. O mesmo procedimento com as mães das crianças que além da conversa informal elas também receberam um questionário. O escopo deste trabalho é a aquisição bilíngüe em ambiente formal de sala de aula, pois a aquisição de uma segunda língua pode ocorrer também no ambiente natural, isto é onde a língua é falada por falantes nativos. No capítulo 1 é apresentado o conceito de linguagem, do pesquisador e autor Chomsky, assim como Saussure, que também enfatiza o sistema lingüístico em seu estudo, e dentro desse estudo ele faz a distinção entre competência lingüística e desempenho. Além disso, as três principais correntes teóricas são apresentadas: Behaviorismo, Inatismo, Construtivismo Cognitivo e Construtivismo Interacionista. O mesmo capítulo expõe também as principais correntes teóricas, no âmbito da aquisição da segunda língua. Depois, o capítulo traz a aquisição bilíngüe da língua e as hipóteses segundo Genesee: Sistema único da língua e sistema duplo da língua. O capítulo 2 aborda o conceito de bilingüismo, suas subdivisões e fases. Apresenta também um breve histórico da escola bilíngüe no Brasil e as etapas de desenvolvimento da aquisição da segunda língua pela criança. O capítulo 3 é referente à metodologia e material de análise, trata sobre a metodologia da investigação. Os instrumentos são apresentados, o desenho da pesquisa bem como o seu contexto. Além disso, há a descrição dos procedimentos científicos. No capítulo 4 é apresentada a análise de dados. A discussão das análises se encontra no capítulo 5. Finalmente, as considerações finais descrevem o processo da pesquisa de uma forma geral e a reflexão acerca do tema, resultantes dos dados obtidos com o estudo empírico e sua relação com a fundamentação teórica do trabalho. Para ampliar a compreensão do tema é relevante se iniciar com um pequeno panorama da aquisição da língua em geral. 11 Os psicolinguistas estudam a aquisição para entender o desenvolvimento cognitivo, os sociolinguistas querem compreender as distintas sociedades através dos diferentes falares, enquanto os neurolinguistas relacionam a aquisição com o desenvolvimento biológico. E muitos outros profissionais se ocupam do tema, de várias formas. A linguagem juntamente com outras habilidades é o que difere o ser humano dos animais. Entre as hipóteses do senso comum sobre o que é a linguagem e as línguas, atualmente há a predominância de uma que considera a linguagem como instrumento de comunicação. É uma hipótese contemporânea delimitada, entre outras coisas, pela mídia. Esta hipótese acompanha duas outras: a de que dizer é, fundamentalmente, informar; e a de que a linguagem expressa os pensamentos e sentimentos humanos. Mas afinal o que é a linguagem? No capítulo a seguir a linguagem será abordada e na seqüência a aquisição da primeira e segunda língua, bilingüismo e a observação das crianças em uma escola bilíngüe brasileira. 12 CAPÍTULO 1 - A LINGUAGEM INTRODUÇÃO A linguagem é algo tão natural que muitos até acreditam que ela seja um fenômeno bastante simples, não somente pela questão da naturalidade, mas pelo fato de crianças com cinco anos de idade já serem capazes de falar e compreender tão bem como os adultos. E por essa percepção de simplicidade dá-se, muitas vezes, pouca atenção ao assunto. A maioria das pessoas não percebe que a capacidade de fazer uso da linguagem exige um conhecimento bastante profundo, do qual os falantes não estão conscientes. É devido a essa complexidade que se revela a importância de seu estudo. A linguagem que será abordada nesta pesquisa é a verbal, cuja função é viabilizar o pensamento através da comunicação oral. Para se comunicar verbalmente é necessário um código comum entre os indivíduos de um determinado núcleo social. Saussure (1997, p.17) denomina esse código mencionado de língua, que ele afirma ser autônoma e possuir várias convenções. Ao tratar do tema linguagem, o autor apresenta a dicotomia língua/fala. A língua é de natureza social, homogênea, organizada, única e sistematizada. Já a fala, por sua vez, é individual, heterogênea, múltipla, desordenada, e é através dela que se pode estabelecer a língua. A linguagem humana é a soma desses dois elementos: língua e fala. Ao separar os dois objetos de estudo língua e fala, Saussure prioriza o estudo da língua. Na década de 60, Chomsky, assim como Saussure, também enfatiza o sistema lingüístico em seu estudo, e dentro desse estudo ele faz a distinção entre competência lingüística e desempenho. Chomsky apud Ellis (1996, p. 12 e 13) afirma que competência é o conhecimento lingüístico do falante e desempenho é o uso que o falante faz do conhecimento lingüístico. 13 1. AQUISIÇÃO DA PRIMEIRA LÍNGUA A aquisição da língua é um dos aspectos do desenvolvimento do ser humano. Ainda pequenas, as crianças já fazem uso da língua falada pelos adultos que a cercam, desenvolvem elementos gramaticais complexos e se comunicam de maneira, muitas vezes, surpreendentes. Essa incrível habilidade em adquirir a língua materna tem atraído à atenção de vários estudiosos. E para explicar a trajetória, que vem desde o primeiro choro até a complexidade da linguagem adulta, há três principais correntes teóricas que buscam a compreensão do tema: Behaviorismo, Inatismo, Construtivismo Cognitivo e Construtivismo Interacionista. 1.1 Behaviorismo Essa é uma teoria psicológica de aprendizado que teve grande influência nas décadas de 40 e 50, principalmente nos Estados Unidos. Os behavioristas acreditavam que o aprendizado da língua era o resultado da imitação, prática, recompensa no êxito da aprendizagem e formação de hábito. Na visão behaviorista, é da natureza da criança que ela imite os sons e modelos de palavras e frases que ela ouve. Para que ela possa fazer um desenvolvimento correto desses elementos, acreditava-se que era necessário que, no decorrer desse processo, ela recebesse uma recompensa ou punição, que seria a resposta a sua atuação. A imitação, a prática e o reforço seriam os alicerces dessa corrente na explicação da aquisição da língua. Em 1957, o behaviorista Skinner em seu livro Verbal Behavior (comportamento verbal) descreve sua teoria de aquisição da língua. Conhecido por realizar experimentos com o comportamento dos animais, em sua teoria do comportamento verbal, Skinner dá continuidade da sua teoria de aprendizagem, o condicionamento operante. Segundo Brown (1980, p. 19) o condicionamento operante acontece quando o sujeito emite “uma resposta, ou operante (uma frase ou pronunciamento)” sem que haja estímulo; o operante continua se houver o reforço. O autor afirma que, para Skinner, é possível se controlar o comportamento verbal através de reforço, positivo ou negativo. Se estes comportamentos forem recompensados quando 14 houver acerto, ou seja, o individuo cumprir determinada tarefa de maneira desejada o comportamento que no caso da aquisição da segunda língua é o verbal se mantém e, se no comportamento inadequado ou a tarefa mal cumprida o individuo sofrer uma punição, o comportamento considerado errado diminui, até que aos poucos o esse tipo de comportamento vai desaparecendo. Skinner acreditava que não era necessária a ativação de mecanismos internos para a aquisição da língua e ele afirmava que o processo de aquisição de língua do ser humano era semelhante ao processo de aquisição de outros comportamentos, assim como era o processo de aprendizado dos ratos que ele analisava em suas experiências. (LOWE e GRAHAM, 1998, p.68). Para os pesquisadores do processo de aquisição da língua, a visão behaviorista pode contribuir na explicação básica e inicial da aquisição de língua, contudo, ela não contempla aspectos mais complexos dessa aquisição. Segundo Brown (1980) houve muitas críticas ao behaviorismo, com o argumento de que a aquisição da linguagem vai muito além da prática e da imitação e o principal crítico da teoria behaviorista de Skinner foi Chomsky com sua teoria inatista. 1.2 Inatismo Essa é a teoria que explica a aquisição da língua como algo inato, em que o sujeito é biologicamente preparado para fazer uso da linguagem por possuir dispositivos que acionam essa aquisição. O lingüista Noam Chomsky desenvolveu esta teoria por acreditar que a aquisição da língua ia além do que a teoria behaviorista apresentava. Ele afirma que só é possível à criança adquirir uma língua, já que ela vive em um ambiente lingüístico limitado1, se houver um tipo de mecanismo mental que lhe possibilite perceber as regras e usá-las em sua fala. Chomsky apud Lightbown e Spada (2000) denominou esse mecanismo de LAD ( Language Acquisition Device) – Dispositivo de Aquisição de Linguagem. Lightbown e Spada (2000, p.16) descrevem o LAD como uma caixa preta imaginária que há em algum lugar na mente, que Chomsky acreditava conter todos 1 Ambiente limitado, neste trabalho, tem como significado o fato de a fala humana ser imperfeita e não contemplar todos os elementos que poderiam contribuir para a aquisição da língua materna. 15 os princípios universais de todas as línguas humanas e que, para ser ativado, só seria necessário o contato da criança com a língua. Chomsky e pesquisadores adeptos não fazem mais uso do termo LAD e atualmente se referem ao dispositivo como Universal Grammar (UG) – Gramática Universal. Lightbown e Spada (2000) explicam que a UG é composta de uma série de princípios que fazem parte de todas as línguas. Através da UG a criança necessita apenas adquirir os parâmetros que definem a língua do ambiente ao seu redor. Mesmo apresentando relevantes aspectos ao estudo da aquisição da língua materna, a teoria inatista prioriza muito mais o produto final, menosprezando os aspectos do desenvolvimento da aquisição da língua. Por isso, muitos também foram os críticos dessa corrente teórica, um deles foi Jean Piaget, na defesa do construtivismo cognitivo. 1.3 Construtivismo Cognitivo O psicólogo suíço Jean Piaget percebia a aquisição da língua de forma diferente dos inatistas. Ele não via a aquisição como algo inato, mas como um fator evolutivo. Apesar de não ter desenvolvido muitos trabalhos em relação à linguagem, Piaget acreditava que o desenvolvimento da linguagem era semelhante ao da inteligência, e incluía o aprendizado da linguagem dentro de um desenvolvimento cognitivo mais geral. ( LIGTHBOWN e SPADA, 2000) Ligthbown e Spada (2000, p.23) apontam que “diferente da posição inatista, Piaget não via a língua baseada em um módulo separado da mente e que, para ele, a língua é um entre vários sistemas de símbolos que são desenvolvidos na infância”2. A criança, durante o crescimento, passa por várias etapas de desenvolvimento e vai construindo conhecimento, entre eles o da linguagem. Uma outra abordagem construtivista busca explicar a aquisição de língua pela criança, contudo, considerando a interação com as pessoas ao redor: a corrente interacionista. 2 Unlike the inatists, Piaget did not see language as based on a separate module of the mind. For him, language was one of a number of symbol systems which are developed in childhood. 16 1.4 Construtivismo Interacionista Alguns estudiosos criticaram a teoria piagetiana por não mostrar a importância do lado social no processo de aquisição da linguagem. Acreditava-se que era pertinente desenvolver uma teoria que ampliasse os estudos e passasse a contemplar a criança e o interlocutor no aspecto da exploração de elementos sociais e físicos. Partindo desse pressuposto é que surge a teoria de Vigotsky, psicólogo soviético que teve também como base o Construtivismo e explicava que o desenvolvimento da linguagem originava-se da interação comunicativa entre criança e adulto. Para Vigotsky (1999) em um ambiente interativo, a criança é capaz de alcançar níveis mais altos de conhecimento em comparação ao que ela poderia alcançar sem a interação. Ele denominava esse processo mencionado de zona de desenvolvimento proximal, seria o que a criança pode realizar na interação com outra pessoa, que tenha maior conhecimento, mas não seria possível se ela o tentasse sozinha. Vigotsky via a importância do contato entre crianças e adultos e percebia nesse contato a origem de linguagem e do pensamento. Ele apontava a relevância do estudo dessa relação, por ser a linguagem, enquanto fala, uma função que organiza o pensamento. A linguagem, que Vigotsky denominava de internalização da ação e do diálogo, era a reconstrução interna do processo que ocorreu externamente. Ou seja, a internalização primeiramente ocorreria no meio, na relação entre criança e adulto e depois internamente na criança. (VYGOTSKY, 1993) Para Lightbown e Spada (2000) as teorias, em geral, ajudam a explicar elementos diferentes do desenvolvimento da linguagem e a teoria interacionista pode contribuir na compreensão de como as crianças relacionam forma e significado na linguagem e de que forma elas interagem nas conversas e aprendem a usar a língua apropriadamente. Até o momento foi abordada a aquisição da primeira língua, o enfoque a partir daqui será na Aquisição da Segunda língua. 17 2. AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA As crianças consideradas normais, em ambiente também considerado normal, obtêm êxito na aquisição da primeira língua, porém esta situação se distingue quando se trata da aquisição da segunda língua. Assim como na explicação da aquisição da primeira língua há as teorias que tratam a Aquisição da Segunda língua (SLA) e entre elas, como na aquisição da primeira, há aquela que enfatiza a formação de hábitos, a que valoriza as características inatas do ser humano e ainda a que considera a interação como fator principal da aquisição da segunda língua. 2.1 Behaviorismo Na visão behaviorista, a aquisição da segunda língua se assemelha em alguns aspectos à aquisição da primeira língua. O sujeito recebe as informações e faz associações entre palavras e objetos, essas associações se desenvolvem na medida em que são repetidas. Se o que for repetido estiver correto, o indivíduo deve receber uma recompensa e, se não estiver, ele deve sofrer uma punição. Para os behavioristas, a aquisição da segunda língua também é entendida como uma formação de hábitos. Os aprendizes trazem para o aprendizado da L2 os hábitos formados na L1, e esses hábitos podem ser favoráveis ou não para a aquisição da L2. Segundo Lado (1964) o behaviorismo se encontra relacionado com a Hipótese de Análise Contrastiva (CAH) 3, que busca os pontos que oferecem dificuldade na SLA. Os estudiosos em geral apontam dúvidas em relação à influência da L1 sobre a L2 e a CAH, nesse item, foi criticada porque nem sempre os erros que eram previstos ocorriam, e também porque muitos dos erros ocorridos não eram aqueles apontados pela hipótese. Esses e outros elementos contribuíram para que a CAH juntamente com o behaviorismo perdessem aos poucos o prestígio que lhes era conferido. 3 A Hipótese de Análise Contrastiva, segundo Lightbown e Spada (1991), foi desenvolvida por lingüistas estruturalistas na Europa e América do Norte e contribuiu no sentido de antever que onde há semelhanças entre a L1 e a L2, não há dificuldades de assimilação da L2, mas quando houver diferenças, o aprendiz poderá apresentar dificuldades nessa assimilação. 18 Para muitos estudiosos, o behaviorismo oferece uma explicação incompleta e inadequada para a aquisição de uma língua estrangeira; incompleta por não abordar vários outros elementos que ocorrem nesse processo e inadequada por estar baseada em experiências com animais. 2.2 Inatismo Segundo Lightbown e Spada (2000) Chomsky não estendeu sua teoria para a compreensão da SLA, contudo há uma teoria inatista para a aquisição da segunda língua, desenvolvida por Krashen e que teve grande influência no ensino de segunda língua. Freeman e Long (1991) afirmam que Krashen desenvolveu cinco hipóteses, a que denominava de Modelo Monitor. São elas: a hipótese da aquisição e aprendizado, a hipótese do monitor, a hipótese da ordem natural, a hipótese do input e a hipótese do filtro afetivo. Segundo Larsen-Freeman e Long (1991) a hipótese da aquisição e aprendizado baseia-se na distinção entre esses dois termos: aquisição se refere ao processo inconsciente do indivíduo no desenvolvimento da língua e aprendizado é o processo consciente desse desenvolvimento. A primeira geralmente acontece em um ambiente natural onde a língua é falada por nativos, e a segunda ocorre em sala de aula, com a ajuda de um professor e de materiais didáticos. A hipótese da ordem natural consiste na existência de uma ordem natural em que as regras são adquiridas e que não têm nada a ver com o que é imposto nos currículos escolares. Já, a hipótese do monitor resume a relação entre o que é adquirido e o que é aprendido; o adquirido é responsável pela fluência e correção intuitiva e o aprendido funciona como algo que corrige o que o sistema adquirido produziu. A hipótese do input (i+1) tenta explicar como o aprendiz adquire a segunda língua, o que Krashen acredita só ser possível através do input (dado, informação) compreensível. Essa hipótese aproxima-se da zona de desenvolvimento proximal de Vigotsky, e estuda a distância entre o desenvolvimento real da língua (representado pelo i, de input) e o desenvolvimento potencial da língua (representado pelo +1). E, finalmente, vem a hipótese do filtro afetivo, o qual Krashen afirmava ser um obstáculo imaginário que impede os aprendizes de adquirirem a língua através do 19 input disponível. Na visão de Krashen, fariam parte do filtro os elementos como motivação, autoconfiança, ansiedade, nervosismo, entre outros. Os elementos como nervosismo e ansiedade, entre outros considerados negativos, seriam desfavoráveis à aquisição da L2 e elevariam do filtro; a motivação, a calma e outros elementos considerados positivos permitiriam o nível do filtro baixar, favorecendo a aquisição da L2. A teoria inatista de Krashen foi duramente criticada por estar baseada apenas em intuições e apresentar poucas evidências. (LARSEN-FREEMAN e LONG,1991). A seguir será abordada a perspectiva da SLA na teoria Construtivismo Interacionista. 2.3 Construtivismo Interacionista A zona de desenvolvimento proximal de Vigotsky, e o i+1 de Krashen são hipóteses que buscam explicar as operações cognitivas envolvidas na aquisição da língua. Embora Vigotsky não tenha abordado diretamente o processo de aquisição da segunda língua, ele formulou idéias voltadas ao aprendizado e desenvolvimento da criança que têm implicações importantes para o ensino da segunda língua e o provimento do input. Para Vigotsky (1993) o indivíduo possui dois níveis de desenvolvimento: desenvolvimento real e desenvolvimento potencial, que influenciam no aprendizado desde o nascimento do indivíduo. Esse aprendizado vem antes da maturação. O sujeito, através da interação, progride do nível de desenvolvimento real para o nível de desenvolvimento potencial. Entre esses níveis está a zona de desenvolvimento proximal. A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o desenvolvimento 4 real e o nível de desenvolvimento potencial 5. O nível de desenvolvimento potencial se torna nível de desenvolvimento real através do aprendizado. Para Vigotsky o aprendizado estará sempre na frente do desenvolvimento e ele enfatizava a sociedade como determinante desse desenvolvimento. 4 5 Acontece quando o indivíduo soluciona o problema independente de outra pessoa ou auxílio. Acontece quando o indivíduo pode solucionar um problema, mas somente com a ajuda de outra pessoa. 20 Richard-Amato (1988) afirma que Vigotsky percebia o aprendizado como um processo dinâmico entre professor e aluno, e remete para a importância do diálogo na sala de aula. O professor deve manter o seu foco nas habilidades do aluno, que forem emergindo. Essa relação cooperativa é importante para o ensino da L2 por levar a uma interação significativa. Através dessa interação o professor é naturalmente capaz de entender as habilidades emergentes. Na relação do nível de desenvolvimento (real e potencial) e a língua alvo, a teoria de Vigotsky faz sentido para a explicação do aprendizado da segunda língua em qualquer idade, estando as estruturas cognitivas já totalmente desenvolvidas ou não. A interação significativa demonstra ser fundamental. Em relação à teoria i+1, Krashen enfatiza o input compreensível na aquisição da segunda língua. Como a teoria de desenvolvimento proximal o i+1 se refere à distância entre o desenvolvimento real representado pelo i e o desenvolvimento potencial da língua representado pelo i+1. Krashen apud Amato (1988) sugere que o tipo de input que é mais propício à aquisição da segunda língua é o input relevante e interessante e que se aproxime do i+1 do indivíduo. Deve ser compreensível, próximo do nível real de desenvolvimento do sujeito (i), mas deve se estender além dos conceitos e estruturas que o aluno ainda não adquiriu (i+1). Segundo Amato (1988) em conversa com nativos da língua alvo em ambiente natural, nem sempre o input é compreensível, a menos que os interlocutores estejam conversando com a preocupação de proporcionar esse input compreensível e conheçam a importância do i+1. Enquanto o aprendiz não tiver a verdadeira compreensão dos diálogos, as palavras serão apenas ruídos, e esse sujeito pode levar muito mais tempo para adquirir a segunda língua, podendo gerar falta de estímulo e enfraquecer ainda mais a aquisição da L2. A instrução formal, ou seja, o aprendizado na sala de aula revelase extremamente positivo pelo trabalho do professor, desde que sejam propiciados a interação e o input compreensível. 21 3. A AQUISIÇÃO BILÍNGUE Como já foi afirmado nos capítulos anteriores, a aquisição da linguagem ainda é um fator surpreendente. Até os cinco anos, praticamente todas as crianças com seus aparelhos fonológicos considerados normais, tornam-se totalmente competentes em ao menos uma língua, a que tenham sido expostas por um período de tempo que possibilite a aquisição. O que também surpreende são aquelas crianças que simultaneamente adquirem proficiência em duas ou mais línguas durante a fase pré-escolar. Dentro do mesmo período de tempo no qual as crianças monolíngües aprendem uma língua, as bilíngües aprendem duas e conseguem fazer uso das mesmas em meios socialmente diversos e adequados. Há tantas crianças que crescem bilíngües quanto monolíngües, contudo, o bilingüismo infantil ainda é pouco compreendido e muitos não o aceitam e acreditam que a aprendizagem, na fase pré-escolar, de duas ou mais línguas pode acarretar problemas. O estudo da aquisição bilíngüe, nesta monografia baseia-se em pesquisas de autores estrangeiros, muitas das quais ainda não concluídas, pois ainda há muitos questionamentos em relação ao tema. Segundo Genesee (2004) embora toda a evidência de pesquisa ainda não esteja concluída, devido à aquisição bilíngüe ser extremamente complexa, atualmente há uma descrição mais detalhada de aspectos relevantes no desenvolvimento bilíngüe do que anteriormente. As crianças monolíngües geralmente aprendem suas línguas com seus responsáveis, e geralmente se encontram em semelhantes situações, pais e/ou responsáveis da mesma nacionalidade. Já as crianças bilíngües se encontram em diferentes situações e dependem além de seus pais, de outros fatores na aprendizagem da segunda língua. Seguem exemplos: Crianças bilíngües, cujos pais não são estrangeiros e/ou não moram no país onde a segunda língua é falada, dependem além dos pais no aprendizado da língua materna, das escolas bilíngües. Há aquelas que os pais possuem nacionalidades distintas e falam as duas línguas com a criança ou ainda aquelas cujos pais possuem nacionalidade diferente 22 da criança, ou seja, os pais moram em um país estrangeiro, onde a criança nasceu e há outros modelos que se optou por não apresentar aqui, por não ser o caso. O estudo da aquisição bilíngüe da primeira língua da criança (BFLA – Bilingual first language acquisiton)5 possui uma história marcante. Segundo Genesee (2006) em seu artigo Bilingual acquisition, em 1913, Ronjat psicólogo francês que publicou uma descrição detalhada da aquisição simultânea de duas línguas de seu próprio filho Louis, e apresentou um grande progresso nas duas línguas com pequenos erros, e esse êxito foi atribuído ao fato de ambos os pais usarem somente uma língua (línguas maternas de cada um) com o menino. Surgiram várias dúvidas na eficácia da BFLA, quando outro autor,Leopold publicou um livro relatando a aquisição simultânea de duas línguas por sua filha, que mesmo seguindo os passos de Ronjat, a menina fazia uso de palavras das duas línguas, misturando-as, tornando a sua fala monolíngue, já que ela não apresentava o vocabulário de uma só língua em uma conversa, aspecto que levou o pesquisador a ter dúvidas sobre a o êxito da aquisição bilíngüe. Desta forma, esses relatos foram um marco no estudo da BFLA, surgindo então várias questões, entre elas se a aquisição bilíngüe prejudicaria o desenvolvimento lingüístico, acadêmico entre outros. Contudo essa questão não será discutida nessa pesquisa já que a mesma tem como alvo apresentar como se dá a aquisição bilíngüe da criança e não os seus efeitos, se esses realmente existirem. Esse panorama foi apresentado para dar início de fato à aquisição bilíngüe da primeira língua da criança. Contudo é bom deixar claro alguns itens: primeiro, existem alguns tipos de desenvolvimento bilíngüe, entre eles: quem adquire as duas línguas desde o nascimento e quem o faz na escola. Nesse trabalho optou-se pela abordagem da aquisição bilíngüe da primeira língua na escola. Outro ponto, se as crianças bilíngües possuem um ou dois sistemas lingüísticos para desenvolver as línguas. Segundo Genesee (2004) há duas hipóteses: Sistema único de linguagem e Sistema duplo de linguagem. 6 A primeira desenvolvida por Virginia Volterra e Traute Taeschner em 1978, cuja idéia é que o processo de aquisição da língua se inicia com um sistema único que combina as palavras e as regras gramaticais dos dados das duas línguas e no 5 6 Aquisição bilíngüe da primeira língua Unitary Language System e Dual Language System (tradução minha) 23 próximo estágio as palavras se diferenciam em dois vocabulários, mas o sistema de regras gramaticais permanece o mesmo para ambas as línguas. No estágio final, o sistema de regras se torna diferenciado, e pode se dizer que a criança bilíngüe possui dois sistemas lingüísticos separados como os adultos. Já a segunda hipótese, que foi desenvolvida por Genesee: Dual Language System relata que a criança bilíngüe apresenta os dois sistemas lingüísticos separados desde o início da aquisição. Essas hipóteses serão apresentadas, pois as mesmas auxiliam na compreensão de como as crianças fazem uso de suas línguas e quais estágios elas passarão. E se a hipótese Unitary Language System estiver correta, a produção oral da criança bilíngüe se diferenciará da produção da criança monolíngue. Contudo Genesee (2004) apresenta vários casos que dão suporte a hipótese Sistema duplo de línguas.7 Genesee (2006) relata a evidência que Volterra e Taeschne apresentam, de que a hipótese Sistema único de linguagem 8seja verdadeira e afirma que é quando elas apontam que a falta de equivalências de tradução no vocabulário das crianças bilíngües torna a hipótese correta. Por exemplo: uma tradução equivalente nas duas línguas é a palavra coração em português e “heart” em inglês. Genesee (2004) afirma que na aquisição da segunda língua as crianças apresentam pares de palavras em seu vocabulário o que evidencia a hipótese Sistema duplo de língua, pois do contrário após terem aprendido a palavra em um dos idiomas, automaticamente não aprenderiam a palavra no outro idioma e conseqüentemente não a teriam em seus respectivos sistemas lingüísticos. O próprio GENESEE, já citado, recorda ainda que não se deve esperar que as crianças bilíngües tenham equivalência de tradução para todas as palavras porque essa situação dependerá das experiências dessas crianças e que mesmo com um grande número de equivalências dificilmente chegará a 100%. Segundo Goodz (1989) se a criança adquire duas línguas ao mesmo tempo, os estágios de desenvolvimento são semelhantes aos da criança monolíngue, não havendo atrasos na aprendizagem. Ainda há vários debates sobre o assunto contestando e apresentando menor aquisição em relação ao vocabulário em uma dada língua (Bialystok, 2001). 7 8 Dual Language System 24 Genesee (2004) afirma que as crianças que aprendem as duas línguas ao mesmo tempo, têm um desenvolvimento diferenciado no aprendizado das línguas em relação à criança monolíngue, porque uma das línguas será mais usada pela criança. Alguns pesquisadores entre eles (Goodz, 1989) afirmam não haver uma relação entre a proficiência da criança em cada língua e a quantidade de informação recebida pela criança nas línguas. Para as crianças que estão aprendendo a segunda língua sequencialmente, o desenvolvimento é diferente. Tabors and Snow (1994) afirmam que as crianças passam por quatro diferentes estágios, primeiramente a criança usará a língua materna, percebendo que não é a mesma língua do ambiente escolar, ela poderá fazer uma entre as opções: continuar falando a língua materna ou parar de falar de uma vez. No próximo passo, após desistir de falar na língua materna ela passará para o período não verbal no qual, ela não falará com ninguém, que pode ser um período curto, algumas tentam ensaiar a língua alvo, repetindo o que o falante da outra língua diz, em voz baixa. O terceiro estágio ocorre quando a criança está pronta para falar em público a segunda língua, quando ela passa a fazer uso do discurso telegráfico. O discurso telegráfico envolve o uso de algumas palavras, a criança diz apenas a idéia principal, por exemplo: “want more” 9 e há também segundo Wong Fillmore apud Ellis (1985) o discurso formulaic, um discurso no qual a criança usa frases “prontas” como, por exemplo: Can I take the toy? 10 , sabendo que apenas com aquela frase ela obterá ou não permissão pegar o brinquedo, contudo ela não sabe o real significado da frase. Ao final desse processo, segundo Genesee (2006) a criança passa a produzir a língua. Esses passos apresentados não são rigorosos, já que está se tratando de seres humanos e não robôs, porque a criança pode estar em uma determinada fase e depois retornar para a anterior. Neste capítulo foram apresentadas as etapas pela qual a criança pode passar no processo de aquisição da língua. É importante relembrar que nesta pesquisa o 9 “quero mais” Posso pegar o brinquedo ? (exemplo meu) 10 25 foco é aquisição bilíngüe na escola. Mas afinal o que é o bilingüismo, Como a aprendizagem bilíngüe pode ocorrer no ambiente escolar? É possível a criança entre dois e quatro anos adquirir a segunda língua em uma escola bilíngüe? Essas e outras questões serão abordadas a seguir. 26 CAPÍTULO 2 – O BILINGUISMO Introdução Saunders (1988) afirma que: "Bilingüismo é o indivíduo possuir duas línguas”, e segundo Klein (2004): Ser “verdadeiramente” bilíngüe é ser capaz de falar duas línguas, a língua do próprio país (L1) e uma outra língua (L2) como um falante nativo. Existem vários tipos de bilíngües, e faz-se necessário uma categorização de acordo com a idade e habilidades. Existem inúmeros fatores que facilitam o bilingüismo infantil. A idade em que a criança foi exposta às duas línguas, o tipo e extensão de exposição a cada língua fazem partes desses fatores. Através da idade, o bilingüismo, no início da infância, é subdividido em: Bilingüismo simultâneo11, seqüencial 12e receptivo13. Segundo Genesee (2006) o bilingüismo simultâneo é quando as línguas são aprendidas simultaneamente. A criança que se torna bilíngüe através do processo de bilingüismo simultâneo segue a mesma forma de aquisição da língua que a criança que aprende as duas línguas separadamente. No processo de aquisição bilíngüe simultânea há as seguintes fases: Fase inicial (até os três anos de idade): A criança nesta fase já adquiriu as regras básicas da gramática e compreende a língua falada, pode responder o que os outros dizem, pedir e obedecer a comandos. Fase média (entre três e quatro anos): Aos quatro anos a criança já possui o sistema de sons bem desenvolvido de ambas as línguas, já faz várias perguntas e faz uso das mesmas para testar suas hipóteses e dúvidas a respeito de tudo que a cerca. E finalmente a última fase (de cinco a seis anos) no qual a criança já possui o domínio, de grande parte, de sons das duas línguas e faz uso de frases mais complexas (mais de seis palavras). A outra parte da subdivisão é o bilingüismo seqüencial: onde a segunda língua (L2) é aprendida depois da primeira (L1). E finalmente o bilingüismo tardio, no qual a segunda língua é aprendida na fase da adolescência ou vida adulta. 11 Simultaneous Bilinguals Sequential Bilinguals 13 Receptive bilinguals 12 27 Dentro da subdivisão há o bilingüismo receptivo, ou seja, quando a criança compreende boa parte da segunda língua, mas a sua produção é restrita. Há também a classificação de acordo com a habilidade, que como já foi afirmado anteriormente se dá de acordo com o tipo, ou tempo de exposição a cada língua. As categorias são as seguintes: Bilíngüe passivo: o indivíduo é nativo em uma das línguas e é capaz de entender, porém não de falar a outra língua (L2); Bilíngüe dominante: o individuo é mais proficiente em uma das duas línguas (na maioria em sua língua nativa); Bilíngüe balanceado: o indivíduo possui praticamente a mesma proficiência em ambas as línguas, mas não é confundido com um nativo na L2. Equilingue: o indivíduo fala a L2 de forma que é confundido com um nativo. Este é o tipo mais rigoroso de classificação de bilingüismo, mas é o que muitos estudiosos têm em mente quando tratam do bilingüismo. Estar exposto a mais de uma língua durante a infância pode facilitar a transição da compreensão da língua materna (L1) para aquisição da L2, esse processo é chamado de cross-language transfer (Ben-Zeev, 1997). Segundo Cummins (2005) há duas hipóteses para explicar essa transição: hipótese interdependente e a hipótese limiar. A Hipótese interdependente14 explica que o desenvolvimento da proficiência em uma língua pode se dar quando a criança desenvolve habilidades cognitivas e desperta a consciência metalingüística15 que pode facilitar o desenvolvimento da L2. A hipótese Limiar16 explica que os bilíngües devem atingir no mínimo o inicio da proficiência em ambas as línguas, antes dos benefícios do bilingüismo possam ser observados. (Cummins, 2005) Segundo Genesee (2004) é grande o número de crianças bilíngües no mundo. Há um contra senso em relação ao bilingüismo ser algo positivo ou negativo. Os estudiosos que o apontam como algo negativo, alegam que a aprendizagem das duas línguas pode levar à redução da inteligência, problemas articulatórios, entre outros. 14 Interdependence Hypothesis Estar consciente do conteúdo e significado da língua que vai além da estrutura externa e sons. 16 Thereshold hypothesis 15 28 August e Hakuta (1997) afirmam que vantagens cognitivas incluem funções cognitivas ampliadas, um aumento no número de opções cognitivas, aumento de memória e plasticidade do cérebro. Essa pesquisa, contudo, manterá o foco nos benefícios do bilingüismo. Estudos indicam que além de vantagens cognitivas, há vantagens comunicativas e culturais em ser bilíngüe. Entre outras vantagens do bilingüismo estão: segundo Saunders (1988), o desenvolvimento superior nas habilidades em geral e aquisição proficiente nas duas línguas sem a necessidade do processo formal de aprendizado. E em comparação aos próprios filhos que eram bilíngües, ele observou superioridade no grau de aprendizado dos mesmos em relação às crianças monolíngües. O bilingüismo pode trazer benefícios não somente à criança, mas ao adulto também, August and Hakuta (1997) afirmam que as vantagens na comunicação incluem ampla rede de comunicações e ampla consciência metalingüística, nível profundo de multiculturalismo, perspectivas mundiais em duas línguas, tolerância e sensibilidade às questões raciais, culturais e lingüísticas. Acentua-se a auto-estima e senso de identidade e em se tratando de aspectos socioeconômicos: níveis mais elevados educacionais, maiores oportunidades de empregos e consequentemente rendimentos mais altos. O êxito da aprendizagem da segunda língua depende boa parte da interação de fatores externos e internos. Os primeiros referem-se à exposição do falante a segunda língua, a freqüência com que a criança entra em contato com falantes da segunda língua e a suporte psicológico na escola e sociedade em relação ao domínio da segunda língua. Os fatores internos são àqueles relacionados à habilidades cognitivas e limitações. Se na comunidade escolar e em casa o bilingüismo é valorizado, a criança terá mais chances de aprender e manter ambas as línguas em níveis altos de proficiência. (Winsler, Díaz, Espinosa, & Rodríguez, James 1999). O processo de aprendizagem bilíngüe na escola será apresentado a seguir. 29 1.A aprendizagem bilíngüe na escola e o seu contexto Segundo Escamilla (1994) os programas bilíngües começaram a ser implantados nos Estados Unidos na década de 70, resultante do recebimento do título de passagem de uma escola de educação básica ESEA Elementary and Secondary Education Act 17 para escola de educação bilíngüe. Este ato deu ao governo federal um papel importante no desenvolvimento e implementação de programas bilíngües nos Estados Unidos. No Brasil, a educação brasileira ainda está muito aquém da educação de países mais evoluídos. Segundo Aranha (2006) é apontado que a despreocupação com o ensino brasileiro teve inicio a partir da colonização portuguesa que não apoiava o desenvolvimento de projetos educacionais no país. Aranha (2006) também revela que enquanto essa situação se dava no Brasil, vários paises da América Latina, como Chile, Argentina e Uruguai já investiam em qualidade do ensino e que por volta do século XX foram criadas melhores escolas, mas apenas para quem possuía boa fonte de renda para pagar. A partir daí, o setor de educação procurou recuperar o que havia perdido em termos de qualidade de educação, devido a esta evolução passou ao aumento da oferta de ensino bilíngüe de qualidade no país, tema que começou a ser debatido com mais entusiasmo pelo setor educacional. Segundo OEBI (Organização das Escolas Bilíngües do Estado de São Paulo), atualmente no país, existem cerca de 70 escolas bilíngües, sendo que a maioria é para crianças em idade pré-escolar. E a escola bilíngüe se diferencia da escola internacional por seguir as exigências do Ministério da Educação local, ou seja, tem currículo e calendário nacionais. Já nas escolas internacionais, esses itens seguem os padrões de seus países originários. Atualmente no país, existem várias escolas bilíngües, sendo que a maioria é para crianças em idade pré-escolar. E de acordo com a OEBI, a escola bilíngüe se diferencia da escola internacional por seguir as exigências do Ministério da Educação local, ou seja, tem currículo e calendário nacionais. Já nas escolas internacionais, esses itens seguem os padrões de seus países originários. Na escola bilíngüe, quando uma criança inicia a sua fase escolar em um ambiente onde a segunda língua é usada, faz-se necessário que ela se adapte a 17 Ato de educação básica e secundária 30 essa nova situação. A essa altura a criança tem que perceber que a comunicação está sendo feita em uma língua diferente daquela usada em casa. Essa percepção e o esforço para nova integração devem ser expandidos para que possa ocorrer a aquisição da nova língua. Segundo Tabors e Snow (1994) existe uma seqüência de desenvolvimento para a criança adquirir a segunda língua. Primeiramente, há o período em que a criança continuará usando a própria língua materna; depois entra no período não verbal, e após o período do uso de frases “formulaic”18 e “telegraphic”19, finalmente ela passa a produzir a segunda língua. Tabors e Snow (1994) afirmam que primeiramente a criança fará uso da língua materna, neste período o que pode ocorrer é a criança se ver em um ambiente onde não se fala a sua língua, ela pode recorrer a uma dessas duas alternativas: continuar a falar a segunda língua ou parar de falar neste ambiente. A segunda fase, segundo as autoras, é chamada de período não verbal que é quando após a criança desistir de se comunicar na própria língua, entra em um período em que ela não conversa com ninguém, o que durará por algum tempo. Embora não converse ela tentará se comunicar de forma não verbal. Além disso, este é um período em que a criança buscará fazer a compreensão da segunda língua Saville-Troike 1987 apud Tabors e Snow (1994) relata que a criança faz uma espécie de ensaio com a L2 repetindo o que os falantes da segunda língua dizem, dizendo em voz baixa. O terceiro estágio ocorre quando a criança se sente segura de falar em público a nova língua. A esse respeito Tabors e Snow mencionam que há duas características no discurso chamado de “telegraphic” e envolve o uso de fórmulas e algumas palavras sem uma função morfológica. Por exemplo, a criança dizer: “more water”20, querendo dizer na verdade: “I want to put more water in my acrylic glass”21. Esse discurso se refere ao uso de pequenas partes de frases que as crianças ouvem em sua rotina. E as crianças também usam frases prontas do tipo: “May I go to the bathroom,please?” 18 22 antes de eles entenderem realmente o que significa, mas Sem tradução para a língua portuguesa Sem tradução para a língua portuguesa 20 “Mais água” 21 “Eu quero colocar mais água no meu copo” (O exemplo é meu.) 22 “Posso ir ao banheiro, por favor?” (esse exemplo é meu, baseado nos exemplos das autoras) 19 31 sabendo que a mesma lhe permitirá fazer a ação ou não (Wong Fillmore, 1976 apud Tabors e Snow). Finalmente, o estágio do uso produtivo da língua. Em que a criança vai além do discurso “telegráfico” e das frases prontas. Tabors e Snow declaram que a criança pode formar novos discursos fazendo uso de modelos como "I wanna” 23 com nomes de objetos. E no decorrer do tempo, a criança vai aplicando novas regras sintáticas e vão se desempenhando com maior controle da língua. Como pode se ver os passos de aprendizagem são os mesmos que ocorrem na aprendizagem de uma segunda língua por uma criança monolíngue. E como qualquer fase de desenvolvimento, essa seqüência não será seguida exatamente nessa mesma ordem apresentada, poderá haver variações, já que depende de outros fatores como personalidade, motivação, ambiente escolar, entre outros. 23 “Eu quero” 32 CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 3.1 DESENHO DE PESQUISA A presente pesquisa é um estudo de caso com caráter exploratório. O estudo de caso pode ser: exploratório; descritivo ou explanatório (causal). Sendo mais freqüente os estudos de caso com propósitos exploratórios e descritivos. O estudo de caso consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de forma a permitir o amplo e detalhado conhecimento. É um estudo intensivo. Todos os aspectos do caso são investigados. Quando o estudo é intensivo podem até aparecer relações que através de outras pesquisas não seriam descobertas. (FACHIN, 2001, p. 42). De acordo com Gil (2002), o estudo de caso investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, várias fontes de evidências são utilizadas. É um tipo de estudo que busca explicar as ligações causais em intervenções ou situações da vida real que possuem um grande nível de complexidade que outras estratégias não conseguem contemplá-las. É uma estratégia que descreve um contexto real em que houve intervenção e também explora situações em que a intervenção não tem clareza nos resultados. Há argumentos contra o estudo de casos entre eles o de que existe falta de rigor, influência do investigador, que são muito extensos e demandam muito tempo para serem concluídos. O próprio GIL apresenta resposta a essas criticas, afirmando que há maneiras de evidenciar a validade e confiabilidade do estudo. Nem sempre é necessário recorrer a técnicas de coleta de dados que consomem muito tempo. Além disso, a apresentação do documento não precisa ser uma narrativa extremamente detalhada, com um aspecto enfadonho. A essência de um estudo de caso é buscar deixar claro uma decisão ou várias, suas razões, implementações e resultados. A pesquisa exploratória é um procedimento metodológico de abordagem qualitativa que procura constatar determinados processos que ocorrem em uma instituição ou um determinado grupo cuja proposta é compreender uma realidade específica, cujos significados são vinculados a um dado contexto. Segundo Mazzotti e Gewandsznajder (1998, p.151), se faz extremamente relevante na pesquisa qualitativa que além do estudo bibliográfico acerca do tema possa haver um contato 33 com o campo na fase inicial de planejamento para que se identifiquem os informantes. A entrevista e a análise de documentos são os instrumentos mais comuns neste tipo de pesquisa, embora possam ser complementados por outras técnicas. 3.2 CONTEXTO DA PESQUISA A motivação da pesquisa decorreu, primeiramente, da experiência profissional desta pesquisadora com alunos da educação infantil e do ensino fundamental de uma escola bilíngüe, privada da cidade de Curitiba, durante as aulas de língua inglesa, nas quais se buscava a compreensão de que forma se dava a aquisição de segunda língua por crianças não nativas. A escola, local da pesquisa, é bilíngüe, traz o currículo adequado a diversos países do mundo e busca sempre atualizar os conteúdos. Os propósitos fundamentais são os marcos de referência que definem em conjunto, a função da Educação infantil e expressam as conquistas esperadas pelas crianças que cursam a escola. O currículo em como base definir as competências e favorecê-las mediante a intervenção educativa o que permite avaliar a formação que os alunos recebem nesta etapa. Segundo a proposta pedagógica da escola pesquisada, se faz relevante que os alunos: Conheçam, compreendam e façam seus os conceitos: escutando, memorizando, reconstruindo-os e recriando-os em seu imaginário, e comecem a desenvolver sua capacidade de reflexão e criatividade. Melhorem e enriqueçam sua expressão e compreensão de mensagens orais dos idiomas e ampliem seu vocabulário para satisfazer necessidades pessoais e sociais. Compreendam as principais funções da linguagem escrita e conheçam as características de diversos tipos de texto através de sua participação em atos de leitura e escrita em dois idiomas (nativo e segundo língua). Aprendam a obter e selecionar informação de diferentes fontes e as aproveitem como recurso para aprender, trocar opiniões e elaborar juízos. Essa pesquisa ocorreu no ano corrente, durante os primeiros meses de aula: fevereiro, março e abril. Optou-se por estudar crianças mais novas tanto pela experiência da pesquisadora enquanto docente nesta série, quanto para buscar o conhecimento do tema na sua origem. 34 O trabalho poderia ser realizado por crianças mais velhas que fazem parte do ensino fundamental, contudo envolveria experiências fora da escola, como por exemplo: viagens e estadia em países estrangeiros, o que acarretaria interferência na pesquisa. Mesmo que entre as crianças observadas alguma já tenha viajado para um país onde a segunda língua é falada, é diferente de uma criança mais velha que, por exemplo, tenha morado no país estrangeiro, vivenciado a cultura e a língua do mesmo, pois para a criança mais velha essa convivência pode ser mais significativa na aquisição da L2. A escolha dos sujeitos se deu de maneira intencional, ou seja, alunos de nacionalidade brasileira, cujos pais também são brasileiros, fazem parte da educação infantil, a primeira do grupo II (dois e três anos) e as outras três crianças do grupo III (três e quatro anos), em uma escola particular da cidade de Curitiba, Paraná. A seleção foi feita pela autora desta pesquisa, de acordo com a idade, pois a intenção é observar elementos significativos que podem levar a aquisição no início da fase infantil e outro fator foi a disponibilidade de contato com as mães e professoras das participantes. Para facilitar sua identificação, chamá-las-ei de A2 (criança do grupo Infantil II), A3, B3 e C 3(crianças do grupo do Infantil III) . Em relação às professoras das crianças envolvidas na pesquisa, elas são de nacionalidade brasileira, formadas em pedagogia, possuem certificados de proficiência da língua inglesa, especialização na área de educação, lecionam há mais de dois anos e ambas estão sempre buscando se atualizar com cursos de capacitação de ensino de línguas. Além do aspecto de envolvimento e questionamento pessoal, os horários de aulas das professoras participantes eram compatíveis com os horários possíveis para a observação das aulas, para a realização desta pesquisa. 3.3 PROCEDIMENTO DA PESQUISA A análise feita é qualitativa e interpretativa, a partir dos resultados obtidos por meio dos questionários, da observação das aulas e de conversa informal com as mães das crianças. 35 O questionário foi aplicado pela pesquisadora deste trabalho, antes da observação das aulas, sendo sobre informações gerais e questões metodológicas em anexo no apêndice A. Foi elaborado também pela pesquisadora sendo o primeiro, sobre a formação profissional do professor no apêndice A1 e o segundo sobre a sua prática pedagógica no apêndice A2 e o terceiro também sobre sua prática pedagógica que está no apêndice A3 e o último sobre as crianças entregue às mães no apêndice A4. O objetivo da observação das aulas foi obter informações que pudessem corroborar os dados obtidos no questionário aplicado e também a realidade escolar, de uma forma geral, à reação dos alunos em sala em relação a fala ser praticamente inteira na língua inglesa. Para a análise do material didático utilizaram-se o questionário 4, o manual do professor,o livro do aluno, livro de atividades,além do materiais preparados pela professora. Foram observadas três aulas de cada grupo (infantil II e III) pela pesquisadora, os dados foram registrados em um diário. 3.4 RESULTADO Verificando os dados recebidos percebeu-se que o segundo idioma não é tratado somente como objeto de estudo. Ele é também um veículo de imersão: em disciplinas como matemática, ciências e educação física, o ensino também é na língua inglesa. Algo que parecia comum, por exemplo, na observação, quando as crianças faziam a mistura de palavras, o que não significa dizer que as crianças estão confusas ou tiveram algum problema no aprendizado. Através do processo inconsciente, as crianças ajustavam não só as palavras dentro das regras de um idioma, mas também as regulavam de acordo com o interlocutor. Ou seja, falavam a língua de quem as estavam ouvindo. 4.ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo serão abordados alguns detalhes sobre os participantes desta pesquisa. Como já foi mencionado os mesmos serão denominados de A2, A3, B3 e 36 C3. A professora da aluna A2 será denominada de P1 e a professora das alunas A3, B3 e C3 será denominada de P2. A A2 tem dois anos três meses, é a primeira vez que frequenta a escola, nunca viajou para o exterior, nunca teve contato com a língua inglesa falada. Seus pais decidiram colocá-la em uma escola bilíngüe para que ela possa ter o conhecimento das duas línguas e por acreditarem nessa forma de aprendizado. A aluna A3 tem três anos e oito meses, entrou na escola pela primeira vez na escola, no ano de 2007, já viajou para os Estados Unidos para visitar parentes brasileiros que moram lá, portanto desde muito pequena já tem o contato com a língua inglesa, sua mãe tem conhecimento avançado da língua inglesa, possui certificados para comprovar tal, e ela conversa em inglês com a filha três vezes por semana. Seus pais a colocaram em uma escola bilíngüe para que a criança possa conviver com a segunda língua, alem do que sua mãe lhe proporciona em casa. A aluna B3 tem três anos e dois meses, também entrou na escola pela primeira vez na escola, no ano de 2007. Nunca viajou para um país onde a língua inglesa é falada. Sua mãe é fluente possui certificados internacionais na língua inglesa e seu pai possui nível intermediário. Os pais não falam em inglês com a filha a não ser que ela fale algo em inglês, então eles respondem em inglês e segundo a mãe elas frequentemente cantam juntas na língua inglesa. Sua mãe diz que ela fica feliz em falar a segunda língua e que para ela fazer isso é como se fosse um jogo. No questionário (número 3) quando questionada à respeito da criança fazer ou não o mistura de códigos, mistura de línguas, (code mixing) a mãe respondeu: “Sim, ela faz muito uso do code mixing – “Mamãe,hoje tá cloudy...” aquela blusa é purple... Tudo o que ela já aprendeu na L2, ela põe em prática.”. Sua mãe acredita que a maior contribuição do ensino bilíngüe: ”é a de despertar o interesse e a naturalidade para se usar a L2 em todos os ambientes e situações. Representa um ganho neurofuncional, emocional e cultural muito grande, que fará toda a diferença no futuro da minha filha.”. A aluna C3 tem dois anos e dez meses, entrou na escola igualmente em 2007, já viajou para os Estados Unidos, seus pais falam a língua inglesa e o pai faz uso apenas da língua inglesa com ela e sua mãe da língua portuguesa.Os pais tomaram a decisão de coloca-la em uma escola bilíngüe por acreditarem na importância do bilingüismo 37 As duas professoras da pesquisa fazem uso da língua inglesa oralmente em sala de aula, apenas não o fazem nas aulas de religião, ou quando necessitam falar de algum comportamento inadequado ou ainda quando percebem que a maioria não está compreendendo, elas o fazem como último recurso, mas alternando as duas línguas: portuguesa e inglesa. Na instituição escolar pesquisada há uma adaptação do currículo escolar ao ensino da segunda língua para crianças. As professoras trabalham a partir de um currículo geral de desenvolvimento que inclui tempo livre no início das atividades, seguido do “circle time” 24 ,atividades de coordenação motora em inglês, o que dá suporte ao aprendizado da língua inglesa desde o começo da mesma. Somente as aulas de religião e aspectos culturais são em língua portuguesa. E também quando é necessário conversar sobre um comportamento inadequado do aluno, este é feito na língua materna. O aspecto organizacional da sala também demonstra contribuir no aprendizado da segunda língua, porque através dos cartazes, figuras, e entre esses itens os chamados corners25 , que apresentam informações de forma lúdica na língua inglesa, que a professora faz uso dos mesmos, e através desses ocorre a rotina pré-estabelecida, percebeu-se na observação, que as crianças seguiam o que lhes era pedido sem precisar de traduções. Também faziam uso de alguns vocábulos na língua inglesa. A percepção é de que a rotina diária de “free play, circle time, drink water, corners, snack time, outside play,clean-up, gym, hairdresser time, time to say goodbye”26 entre outros, proporcionam ao aluno uma quantidade significativa de vocábulário por exemplo: “Take your toys, sit on your pillows, let’s drink water, let’s have snack, let’s clean up”27 e etc. Uma vez envolvidos socialmente no contexto escolar, os alunos passam a ampliar o próprio vocabulário na língua inglesa. Por exemplo: 24 È um momento em que a professora organiza as crianças em círculo, no qual faz a chamada, pede aos alunos para observarem o tempo e reza através de canções em inglês. 25 Local diferenciado - a professora divide a turma em pequenos grupos e os alunos realizam tarefas relacionadas à matemática, ciências, leituras entre outros em um mesmo momento em pequenos cantos distribuídos pela sala e conforme os grupos terminam suas atividades, se deslocam para outro “corner”. É um trabalho em que o professor pode oferecer uma atenção mais direcionada ao aluno. 26 Brincadeira livre, hora do círculo, beber água, atividades, hora do lanche, brincar no playground, hora de se arrumar, e hora de dizer adeus. 27 Peguem seus brinquedos, sentem nos seus travesseiros, vamos beber água, é hora do lanche, vamos organizar. 38 A professora P1 mostra à aluna um copo vazio e lhe pergunta: “Would you like some water? Yes or no? 28 “. “A aluna balança a cabeça afirmativamente e responde:” No.” A professora insiste, balançando a cabeça de forma afirmativa e dizendo yes e fazendo o mesmo inversamente de forma negativa. A criança percebe e diz yes. Assim que termina de beber a criança devolve o copo à professora e esta lhe pergunta : “How do you say?”29 , a aluna não compreende e a professora diz” “Thank you”. A aluna repete e então a professora pega o copo de volta. Nas aulas seguintes, o processo ocorreu de forma mais natural. A aluna terminava de beber água, esperava a professora perguntar e lhe respondia o que era esperado. Em um outro momento, a professora reúne os alunos no “circle time” e lhes pergunta: “Where’s Larry?”30, os alunos apontam para um armário próximo, e lá se encontra Larry, um mascote de pelúcia da turma, inclusive a aluna Y que pede para busca-lo e é iniciado uma espécie de chamada lúdica, com a canção “Hello Larry”.Terminada a canção, a professora X pergunta:”Is ... here?“31 , após o verbo “is” a professora diz o nome dos alunos, os alunos respondem se o aluno está ou não, dizendo sim ou não em inglês. Uma outra observação interessante, deste caso, foi ainda no circle time, quando a professora diz: “How is the weather?” I will choose a weather watcher! 32 A maioria dos alunos mostra-se interessada em ser o observador do tempo, A professora P1 escolhe a aluna Y que vai até a janela da sala para observar o tempo e volta para o círculo dizendo como se encontra o tempo se está “sunny, cloudy or rainy”33, enquanto os outros colegas de sala a aguardam, cantando uma canção em inglês que diz assim: “How is the weather, how is the weather in Curitiba? A aluna Y aponta para a figura do sol e diz:”sunny” e os alunos começam a cantar a canção “Mr. Golden Sun”.34 Em uma das aulas a professora P1 apresentou aos alunos a cor verde e o vocábulo em inglês, mostrou vários objetos na cor mencionada e pediu que os alunos encontrassem algo “green”35 na sala. Nem todos os alunos realizaram a tarefa com êxito, mas no dia seguinte, a professora repetiu o processo da aula 28 Você gostaria de um pouco de água? Sim ou não? Como você diz? 30 “Onde está Larry?” 31 O aluno (nome do aluno) está aqui? 32 “Como está o tempo?” Eu vou escolher o observador do tempo!” 33 “ensolarado,nublado ou chuvoso” 34 “Senhor sol dourado” 35 “verde” 29 39 anterior e mostrou a cada um dos alunos uma caixa com peças geométricas coloridas e lhes pediu que pegassem a peça “green”, a tarefa foi realizada com êxito pela maioria e a aluna Y disse: “Eu quero a “blue” e a “green” “. Na hora do lanche, que os alunos já sabem “snack time”36 e o vocabulário referente para tal, como “lunch box”, “cafeteria”, “food”37 entre outros, já é também conhecido pelos alunos. Após a curta oração e uma canção em inglês, a professora serve os alunos, no refeitório há sempre duas opções de bebida, leite com alguma 38 fruta e suco, e lhes pergunta: “milk or juice?” apontando para os mesmos respectivamente, os alunos mostram o que querem e respondem em inglês o pedido. A professora X ao deslocar os seus alunos da sala de aula para outros lugares da escola ela vai pedindo aos alunos que eles cumprimentem os funcionários com “Hello”39, no início apenas alguns o faziam, porém após dois meses de observação, percebeu-se que a forma de cumprimentar em inglês tornouse um hábito natural dos alunos. A aluna Y conseguiu transferir para além dos funcionários da escola para os próprios pais. Conversando com os pais da aluna Y, a mãe revelou que a filha canta várias canções em inglês, responde “thank you” quando alguém lhe dá algo e pergunta em português: “Como se diz?” . Quando a mãe lhe pede para arrumar o quarto, a menina começa a cantar a canção “Clean up” aprendida na escola. A filha lhe chama de “mom” e ao pai de “dad”, naturalmente, às vezes na língua materna e outras vezes na segunda língua. Usa muito o “bye, bye” 40 Outro fato curioso foi quando o a mãe da aluna Y perguntou à filha se ela queria passar batom e a filha lhe respondeu: “Mom é lipstick!”, usando o vocabulário da língua inglesa para referir-se a palavra batom. Em relação ao que está descrito no quadro 1 (ver apêndice A) há algumas observações a seguir, conversando com algumas mães dessa turma, elas relataram que observando os filhos em suas brincadeiras, perceberam que grande parte do vocabulário em inglês aprendido nas aulas, os alunos repetiam com seus brinquedos em casa. Uma das crianças pega uma de suas bonecas e diz: ”Olha essa aqui é sua 36 “hora do lanche” “lancheira,refeitório,comida” 38 “leite ou suco ?” 39 Olá 40 Até logo 37 40 head41” e aponta para cabeça e “esse é o seu shoulder.” 42 apontando para ombro da boneca. Observando a aula de psicomotricidade que é dada ainda por uma outra professora, foi percebido que as crianças usam o vocabulário que aprenderam na sala com a professora regente, por exemplo, pular, no projeto do índio as crianças aprenderam esse verbo em inglês, a professora de psicomotricidade costuma mesclar português e inglês e a maioria das crianças dizem: “é jump miss?”43 A professora ensinou aos alunos desse grupo que quando não queriam ser incomodados por algum amigo, deveriam dizer: ”Stop, please!”44. Nas observações percebeu-se que era algo tão natural entre as crianças, que quando não queriam ser incomodadas ou quando outras crianças faziam coisas que não lhes agradavam, elas usavam a frase mencionada e quem estava fazendo alguma ação considerada pelo outro de invasiva, realmente entendia a mensagem e parava. Referente à aula de maio na tabela, assim que os alunos vêem as figuras na tela do computador, já começam a falar os seus respectivos nomes em inglês, sem que ninguém lhes pergunte. Eles dizem: ”Olha miss o clown, e o lion, e aqui tá o elephant!”45 Acredita-se ser importante apresentar esses relatos fora da sala de aula para se mostrar que além de sair da sala de aula e até mesmo da escola, as crianças continuam fazendo uso da língua inglesa. Ao final das aulas, a professora geralmente contava um pequeno trecho de alguma história infantil escolhida por eles, de livros da biblioteca da sala, nesse momento a professora aproveita para fazer uma pequena revisão do que foi visto naquele dia e introduzir mais frases no repertório das crianças, como por exemplo, no dia em que elas pediram a professora que contassem a história do Barney um personagem infantil que ensina os pequenos a dizerem olá, obrigado, por favor, etc. A professora então pergunta:” What’s his name?”46 apontando para o Barney, as crianças automaticamente percebendo que a pergunta terminava em name47, respondiam o nome do personagem. Em uma das páginas do livro aparecia o 41 cabeça ombro 43 pular senhorita? (miss é a forma que as crianças tratam suas professoras na escola) 44 Pare, por favor! 45 Palhaço, leão,elefante. 46 Qual é o nome dele? 47 nome 42 41 personagem pedindo algo e a professora perguntou: ”And here? What does Barney say?48 Os alunos responderam outras coisas e a professora repetiu a pergunta e apontou para a figura novamente e então a maioria respondeu : “please”49. No grupo III da educação infantil a observação foi descrita em detalhes, no mês de maio, para se perceba que o uso de comandos é grande por parte da professora, sempre acompanhado de objetos ou de gestos para que os alunos compreendam. O grupo em geral foi observado, mas a ênfase foi nas três crianças mencionadas. É interessante apresentar como se dá o circle time50 nessa turma, antes de iniciá-lo a professora diz: “Get your diaries, please! and I want you to put your toys away!51, e as crianças prontamente pegam suas agendas e guardam seus brinquedos. Ela segue dizendo: “On the mat!52 E as crianças aos poucos vão se sentando no grande tapete. Após todos sentarem a professora juntamente com os alunos faz a oração Ave Maria (Holy Mary) em inglês. A professora pergunta “what is the day today?”53 e em uma das observações a própria professora respondeu dizendo :”Today is Friday!” Who brought the toy today?54 e nas observações a aluna C3 respondeu:”I”55, logo a seguir a maioria dizia :”I” e depois cantam a canção :”There are seven days”56 e logo após cantam a canção do tempo:”How is the weather like ? 57 Nessa mesma observação a professora reapresentou o alfabeto aos alunos É relevante relatar o fato com um aluno que não faz parte das alunas pesquisadas. A professora canta com os alunos uma canção em inglês do alfabeto e depois pergunta: “Who has letter A in the name?58 E os alunos que possuem vão dizendo e um aluno diz “Eu tenho a letter A” e a professora responde em português que ele não tinha a letra A no nome, ele insistiu e ela pediu que ele olhasse o nome escrito, 48 E aqui? O que o barney diz? Por favor 50 Hora do círculo. 51 Peguem suas agendas e guardem seus brinquedos! 52 No tapete! 53 Que dia é hoje? 54 Hoje é sexta e quem trouxe brinquedo hoje? 55 eu 56 Há sete dias. 57 Como está o clima? 58 Quem tem a letra a no nome? 49 42 então ele se dirigiu para a sua mochila e tirou uma maçã e disse:”apple”59. Apesar de não ter no nome a letra a ele possuía algo que tinha a letra a. Na apresentação de um poema para as crianças: Baa, Baa, Black Sheep. A professora levou figuras relacionadas ao poema: a black sheep, three bags with wool, a master, a dame and a little boy.60 E enquanto falava o poema, apresentava as figuras. Após cantar a o poema, a professora passou a mostrar as figuras erradas e eles imediatamente a corrigiam dizendo: esse não é a "dame", esse não é a "black sheep" é o..., etc. A aluna A e C eram as primeiras a corrigi-la, mas a aluna B apenas sorria, demonstrando que sabia que estava errado. A professora colou também todo o poema na parede e colocou figuras ao invés da escrita e eles, espontaneamente, iam até a parede e "liam" apontando com o dedo as partes do poema. Nessa atividade a professora percebeu que todos gostavam de ir até lá e "ler". A aluna A e C o faziam em voz alta e a aluna B apenas apontava e seguia a escrita com o dedo e com menos freqüência. Para trabalhar com os números, a professora começava a cantar o poema segurando três cestinhas. E os alunos começavam: “Baa, Baa, Black Sheep have you any wool?”61 E a professora respondia:” Yes sir, yes sir, three bags full.”62Logo depois segurava apenas 1 cesta e eles teriam que responder a professora:”One bag full,.”63e assim por diante... Alguns demoraram a perceber a relação do número de cestas que estava na mão da professora com o que eles teriam que falar,e mesmo segurando uma cesta eles falavam “three”64 mas depois logo a maioria percebeu . A aluna B não participava ativamente, ela apenas observava atenciosamente. As alunas A e C participavam e respondiam corretamente. A aluna A3 é extrovertida, ansiosa para responder o que a professora lhe pergunta e gosta de falar na língua inglesa, todas as ações pedidas pela professora, ela atendeu adequadamente. Quando a professora pediu para que os alunos pegassem seus materiais para colorir (giz e lápis de cor) ela se dirigiu a aluna A 3 e perguntou: “Did you find your material?”65 e ela respondeu :”yes”66.Quando a 59 maçã Ovelha negra, três pacotes com lã, um mestre e uma dama. 61 Bé,bé, a ovelha negra tem lã?(anexo 1) 62 Sim senhor,três pacotes cheios. 63 Um pacote cheio. 64 três 65 Você encontrou o seu material? 66 sim 60 43 professora perguntou-lhe :Did you color the carrots?67 Ela respondeu: ”Yes, eu já pintei meu carrots.” E na atividade da folha seguinte do livro que era para ligar as figuras geométricas correspondentes, a aluna A3 dirigiu-se para a aluna B3 e diz: ”Yes, é square com square.”68 A aluna B3 é tímida, mas atenciosa, ela não responde as perguntas da professora com o grupo, porém quando a professora o faz individualmente ela responde adequadamente. Nessa aula, em nenhum momento ela usou as palavras em inglês livremente. A aluna C3 também é extrovertida e faz a mistura da fala na língua inglesa e na língua. A professora lhe perguntou: ”Is this orange?”69 apontando para uma outra cor e ela responde: “No,it’s this.” 70 apontando para a cor laranja. Na aula em que houve a revisão das formas geométricas, as três crianças apresentaram seus desenhos falando em inglês os nomes das formas geométricas. A A3 falou o que havia desenhado além da forma geométrica, ela fez uso de outros vocabulários na língua inglesa. As alunas B3 e C3 apenas falaram o nome das formas geométricas em inglês. O professor dá um comando, por exemplo, “sit on your pillows”71e mostra o gesto para que os alunos assimilem a ordem e o movimento certo. Quando os alunos já repetiram uma série de comandos, eles então passam a demonstrá-los ao resto da turma. Com a segurança e o domínio de vários desses comandos, os alunos aprendem a lê-los e escrevê-los e, somente após certa exposição às novas estruturas, começa-se a falar e ditar outros comandos. Segundo a professora dessa turma uma atitude da aluna A3 que lhe chama bastante à atenção é quando ela está brincando livremente e começa a criar diálogos em inglês e conversa sozinha com palavras que não existem, mas não são formadas do nada, são "imitações" do inglês. E no questionário entregue a mãe, ela também apontou essa atitude da filha. 4.1 ANÁLISE DO MATERIAL DIDÁTICO 67 Você já pintou a cenoura? Sim é quadrado com quadrado 69 Essa cor é laranja? 70 Não, é essa. 71 “Sentem nos travesseiros” 68 44 Os encaminhamentos são escritos totalmente em inglês. As figuras estão relacionadas a vários tópicos como alimentação, roupas, brinquedos, entre outros. A tradução não é sugerida nos livros, e as professoras realmente não a utilizam. Embora se perceba uma preocupação quanto à prática contextualizada de ensino, voltada ao uso da língua para comunicação, a professora P2 (do grupo III) afirmou que o uso do livro restringe a naturalidade do aprendizado, pois segundo ela, com o livro a criança percebe a formalidade do aprendizado e a maioria do que se tem no livro as crianças já aprenderam vivenciando a própria realidade. Ela ratificou: “... O conteúdo do livro é fraco, por isso acho essencial o trabalho paralelo com os projetos.”. Quando perguntado à professora P2 de que forma ela acredita que mais contribua na aprendizagem da segunda língua ela afirma: “Quando eu consigo envolvê-los nesse ambiente bilíngüe sem eles perceberem que estão aprendendo algo, através dos jogos e brincadeiras”. A professora P1(infantil II) também afirma a questão da restrição do aprendizado e também relata que as canções sugeridas pelo material didático que se apresentam como pretexto para a introdução e /ou fixação do vocabulário imprimem certa artificialidade nas mesmas, mesmo contemplando tópicos gerais relacionados ao mundo das crianças. 4.2 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS COM AS OBSERVAÇÕES EM SALA DE AULA Os dados coletados permitiram se inferir que o ensino da língua na escola observada é desenvolvido de forma sistemática. As professoras integram ao conhecimento de cada área, estratégias variadas que se ajustam aos estágios de desenvolvimento das crianças. A escola como um todo proporciona às crianças um ambiente saudável, estimulante e acolhedor. As crianças aprendem através de experiências sensoriais diretas manipulam, exploram e experimentam objetos reais; elas aprendem fazendo, falando e movimentando-se. Sendo naturalmente curiosas pelo mundo ao seu redor e interessadas em aprender sobre ele, as crianças são aprendizes inatas e aprendem de diversas formas. O que se observou é que as crianças que aprendem as duas línguas simultaneamente, têm um progresso desigual das línguas em relação à criança 45 monolíngue, porque uma, entre as duas línguas será mais “vivida” pela criança, que pode ser devido à quantidade de tempo que a criança passa em contato com uma determinada língua e ou porque há mais oportunidades em usar mais uma língua do que a outra. Percebeu-se que o ambiente escolar voltado para a aprendizagem bilíngüe proporciona a oportunidade de acumular conhecimento, aprender novas habilidades e praticar aquelas já conhecidas. As crianças desenvolvem a imaginação e a criatividade para a solução de problemas. Este desenvolvimento apresentado faz parte da visão interacionista. Para Vigotsky (1993), a linguagem tinha papel fundamental na mediação entre as relações sociais e a aprendizagem. Foi observado também que o desenvolvimento da segunda língua, assim como o aprimoramento da língua materna, aliado à exposição de livros e ênfase na leitura, é aspecto central para todas as atividades do programa. Na observação dos planejamentos os temas vão desde o corpo da criança até o planeta, há idéias e conceitos diversos (antigos e atuais), sempre envolvendo a família, a natureza e os animais, o passado, o presente e o futuro, a saúde e a higiene, a defesa do meio ambiente e sem deixar de lado a brincadeira. Não foi percebido que o uso do livro didático, adotado pela escola, traga contribuição muito significativa à aquisição da segunda língua, mas sim o trabalho que as professoras realizam em falar na segunda língua e interagindo com as crianças todo o tempo. Para Vigotsky (1993), as funções psicológicas superiores características humanas estão ancoradas, por um lado, nas características biológicas da espécie humana e, por outro, são desenvolvidas ao longo de sua história social. É o grupo social que providencia o necessário os signos e instrumentos que possibilitam o desenvolvimento das atividades psicológicas. Isso significa que se deve analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos indivíduos, a partir da interação destes com a realidade. O uso da forma comunicativa visando realmente desenvolver a habilidade oral dos alunos a promove a compreensão dos alunos a partir do meio e praticar determinadas funções presentes no dia-a-dia contribuem significativamente para o aprendizado bilíngüe das crianças. muito mais 46 Apesar de esse estudo ter sido realizado com uma amostra pequena de população (quatro alunos), ele fornece alguns dados de norteamento de como pode ocorrer o aprendizado da segunda língua de crianças em um ambiente bilíngüe. A presença desta pesquisadora durante as aulas foi aceita sem questionamentos ou demonstrações de mudanças de comportamento por parte dos alunos. A aplicação de diferentes instrumentos de coleta de dados (verificação do material didático, observação de aulas, questionários e conversa informal com as mães dos alunos) foi imprescindível para a confiança nos resultados obtidos já que as informações obtidas puderam ser confirmadas por meio dos vários instrumentos. Retomando a pergunta da pesquisa, como ocorre a aquisição da segunda língua por crianças em uma escola bilíngüe? Com o processo de triangulação dos dados obtidos com o estudo, percebeuse que a aquisição da segunda língua pela criança quando se dá em um ambiente escolar bilíngüe é bastante significativa e é propício falar da abordagem utilizada pelas professoras que é baseada na Total physical response(resposta física total) e do currículo da escola. Segundo Larsen-Freeman (2000) este método está ligado a uma abordagem de ensino de línguas chamada de “abordagem de compreensão“. Ela é assim denominada, pois, ao contrário de outros métodos que enfocam as habilidades de fala primeiramente, ela enfatiza a compreensão auditiva. Essa postura vem da observação de que as crianças passam certo tempo expostas à língua materna através da audição e somente após determinado período é que começam, então, a esboçar as primeiras formas de conversação oral. Em muitos pontos, esta abordagem se assemelha ao método direto, no entanto, a diferença básica é que na resposta física total a língua materna pode ser usada no início para facilitar a aprendizagem dos alunos. As principais técnicas, segundo Larsen-Freeman (2000) são: ▪Uso de comandos pelo professor para ditar um comportamento aos alunos; ▪Uso de comandos pelos alunos para o professor executar; ▪Ação seqüencial (o professor dita uma série de ações de uma só vez e o aluno a executa, por exemplo, “take out a pen, take out a piece of paper, write an imaginary 47 letter, fold the letter, put it in an envelop, write the address on the envelop, put a stamp on it and mail it”.72 O behaviorismo é uma teoria que estuda eventos psicológicos a partir de evidências comportamentais e se apresenta como uma psicologia objetiva em oposição ao subjetivismo. Para Brown (1987) o behaviorismo faz a compreensão de que a psicologia é uma ciência do comportamento e não da mente. Nessa perspectiva, o comportamento é explicado sem referência a eventos mentais, pois estes podem ser traduzidos em conceitos comportamentais. Um dos enfoques da abordagem Resposta física total é ter prazer em aprender a segunda língua. É esperado que o aluno goste realmente de aprender. Para isso são usadas várias práticas que proporcionam alegria no aprendizado. O movimento corporal é um recurso bastante utilizado para ajudar na compreensão. Muitas estruturas são aprendidas e praticadas através de comandos. Em se tratando do currículo da escola o ensino da língua portuguesa e inglesa acompanha de maneira atualizada e dinâmica as novas tendências de conduzir a criança a integrar-se na cultura e alcançar fluência nos dois idiomas. A proposta é colocar o aluno em contato com os idiomas através de diversas atividades pedagógicas, além da utilização da biblioteca, atividades no laboratório de informática, entre outras. Vygotsky, teórico que fundamenta a proposta Sociointeracionista, adotada pela Escola pesquisada, tem como pilares básicos de seu pensamento as mediações e funções psicológicas, onde o processo de aprendizagem, se dá no conjunto de relações interacionais entre o eu, o outro e o mundo onde todos tem responsabilidades e contribuições. Sua teoria fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, desenvolvendo-se num processo histórico, em que a relação homem-mundo é mediada por sistemas simbólicos (línguas). A família e os demais grupos sociais são vistos como co-autores da construção do indivíduo. É através das experiências adquiridas, do exercício da autonomia e da crítica consciente as pessoas podem se tornar cada vez mais capazes de agir, de formar, transformar e ser autor no nosso meio. Para Vygotsky (1993), a vivência em sociedade se faz extremamente relevante para a transformação do homem biológico em ser humano. É pela 72 Pegue a caneta, um pedaço de papel, escreva uma carta imaginária, coloque-a no envelope, coloque o selo envie-a. 48 aprendizagem nas relações com os outros que se constroem os conhecimentos que permitem o desenvolvimento mental. A criança da Educação Infantil está na primeira infância, período sensível de aprendizado de linguagem. O preparo intensivo para assimilá-la já se produz no primeiro ano, quando a criança aprende a pronunciar os sons e começa a aprender e a pronunciar as primeiras palavras. Na Educação Infantil, o currículo é desenvolvido em inglês. Entretanto, a partir infantil V (crianças com cinco anos de idade) são introduzidas aulas na língua portuguesa com o objetivo de iniciar o processo de alfabetização. O conteúdo programático é ensinado através da interdisciplinaridade na forma de projetos os quais são preparados de acordo com os interesse e necessidade dos alunos, sem deixar de contemplar o currículo oficial. Acima de tudo, o estudo foi uma experiência norteadora. A cada contato com a realidade na escola, muitas relações com a fundamentação teórica que estava sendo estudada eram estabelecidas e as idéias eram aprimoradas, no sentido de direcionar a pesquisa teórica e a prática a um só direcionamento. 49 CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS A era da globalização e da socialização dos saberes tem influenciado para que questões como bilingüismo despertem o interesse e a participação dos lingüistas aplicados, sendo cada vez mais discutidas no meio acadêmico e em conferências. Entretanto, o número de pesquisas que relacionam aquisição de segunda língua e escolas bilíngües é ainda pouco significativo. Essa pesquisa pretendeu, portanto, discutir aquisição da L2 em uma escola bilíngüe, relacionando os princípios teórico-metodológicos que norteiam essas questões com a prática na sala de aula. Partiu da visão de que a importância do conhecimento de outras línguas é inquestionável na atual sociedade por ser um meio de fazer com que os cidadãos possam competir e participar da economia, da cultura e da tecnologia da comunidade global. Para tanto, cada vez mais serão exigidos habilidade, flexibilidade e conhecimento de outras línguas, o que pode ser provido por meio de ambiente educacional no ensino de línguas estrangeiras, com competência para tal, quanto à formação dos profissionais de ensino, encaminhamentos e materiais didáticos adequados. Mesmo sob essa perspectiva, em um primeiro momento, o foco deste trabalho foi apresentar a aquisição da primeira e segunda língua na visão de três principais correntes teóricas. A investigação desta pesquisa permitiu a aprendizagem de que na prática pode-se refletir sobre a teoria; de que se faz relevante buscar fundamentos teóricos na tentativa de resolver problemas pertinentes à prática e que o inverso não é a maneira adequada. Foi possível também refletir sobre os conceitos de aquisição de língua e bilingüismo e adaptá-los para se apresentar resultados mais coerentes com os objetivos da pesquisa. O processo de investigação empírica pôde contribuir para a reformulação de conceitos na pesquisa e a verificação da utilização de metodologia da escola permitiu também a constatação de que, além de contribuir na aquisição da segunda língua, esse processo contribui para que o aluno possa através da aprendizagem de 50 mais de uma língua sejam capazes de encontrar respostas inovadoras para problemas multidisciplinares e que pode auxiliar até mesmo para que elas possam saber integrar novas soluções à diferentes contextos da vida. A primeira infância na formação do ser humano é fundamental, mas obtém dimensão muito maior quando se trata de aprendizagem bilíngüe, pois como já foi visto anteriormente, do nascimento até os 10 anos de idade, é a fase onde os neurônios criam circuitos cerebrais para aquisição da linguagem. Após esta fase, os neurônios perdem a capacidade de formar novos circuitos. O mapa perceptivo do primeiro idioma está formado dificultando a aquisição do segundo idioma. (ELLIS, 1996), portanto, a primeira infância é o cenário ideal para a educação bilíngüe. Quando bilíngües o conhecimento e as habilidades das crianças se transferem entre os idiomas que aprendem. É como se as línguas se auxiliassem. E esse trabalho deve estar adequado às necessidades de uma criança de um país culturalmente monolíngue como o Brasil. Contudo, este trabalho, não teve, em momento algum, o propósito de direcionar seus leitores para a visão dos princípios da escola bilíngüe como a melhor e única para o sucesso de aprendizagem de LE. Sem estabelecer nenhum julgamento de valor, buscou-se ressaltar a importância da reflexão nas práticas de sala de aula e sua influência para a formação dos alunos bilíngües sem negar que um ambiente adequado, com profissionais preparados e interação real com os alunos podem beneficiar a aquisição da segunda língua. De uma forma geral, não se busca com esta pesquisa apontar conclusões generalizadoras, mas trazer a tona aspectos relevantes na compreensão da aquisição de uma segunda língua em uma escola bilíngüe através da criança, pesquisando e incitando as futuras pesquisas que venham a contribuir para a ampliação do conhecimento na área. Reconhecendo que essa pesquisa não pode nem deve ser considerada como concluída neste estudo, espera-se que ela possa, por meio do embasamento teórico e do estudo empírico apresentados, incitar novas pesquisas na área ou áreas afins, contribuindo como fonte de referência e reflexão sobre os assuntos abordados. 51 APÊNDICE AA1- QUADRO 1 - ANOTAÇÕES DE CAMPO SOBRE AS AULAS OBSERVADAS NA ESCOLA BILINGUE NO GRUPO II DA EDUCAÇÃO INFANTIL 2008 DATAS TRABALHO REALIZADO Março/2008 Projeto My body (meu corpo) A professora iniciou a aula pedindo aos alunos que pegassem seus travesseiro ou almofadas e se sentassem no círculo, neste a professora fez uma oração cantada em inglês, a chamada lúdica, fez observação do tempo, dia da semana contou aos alunos sobre a rotina do dia e iniciou a atividade dividindo a turma em grupos de três alunos. A proposta do projeto era apresentar os nomes de algumas partes do corpo humano. Na primeira aula a professora iniciou cantando uma canção em inglês: “cabeça, ombro, joelho e pé” e ao mesmo tempo mostrando essas mesmas partes do corpo, os alunos levaram certo tempo para aprenderem, mas logo estavam imitando os gestos. No dia seguinte, a professora pegou vários bonecos e perguntou em inglês apontando para a cabeça de um das bonecas, “Isso é um pé ou uma cabeça?” e a maioria respondeu corretamente em inglês e a aluna A2 respondeu e também mostrou a própria cabeça dizendo essa é a minha e a palavra cabeça em inglês. A professora utilizou o inglês na maior parte da aula, ela apenas não fez quando era para chamar a atenção de algum aluno por falta de disciplina. Abril/2008 No projeto “I respect the indian and you?” (Eu respeito o índio e você?) a proposta era fazer uma revisão com o vocabulário em inglês das partes do corpo humano trabalhando com o índio 52 e algumas palavras também em inglês referentes ao cotidiano do índio: milho, mandioca e caçar. Para apresentar os alimentos mencionados, a professora trouxe os mesmos e fazia a seguinte pergunta em inglês aos alunos: “Você prefere milho ou mandioca?” e os alunos lhe respondiam em inglês. Quando percebiam que haviam se equivocado, balançavam a cabeça negativamente e a professora repetia os nomes dos alimentos e eles automaticamente corrigiam o que queriam. A professora utilizou o inglês em grande parte da aula, ela apenas não o fez quando era para chamar a atenção de algum aluno por falta de disciplina. Abril /2008 Ainda no projeto do índio, a professora fez um milho grande no chão, fez a revisão do vocábulo em inglês e apresentou aos alunos realizando os movimentos, pular dentro e fora do milho e os respectivos vocábulos em inglês. Maio/2008 Após a mesma rotina já apresentada a 73 professora os levou a “technology room” . Já com os computadores ligados, aplicativo paint 74 a tela no as crianças deveriam colorir um palhaço, um elefante, um leão e um mágico. As crianças iam colorindo com o mouse e dizendo os nomes das figuras em inglês, o vocabulário é referente ao projeto circo, já mencionado. FONTE: Elaboração do autor NOTAS: P1 número de alunos: 10; total de alunos observados: 1 total de aulas observadas: 03. 73 “Sala de tecnologia” onde as crianças têm contato com computador, dvd, data show, etc. Aplicativo, no qual se utiliza para desenhar e pintar no computador. 74 53 APÊNDICE AA2- QUADRO 2 - ANOTAÇÕES DE CAMPO SOBRE AS AULAS NA ESCOLA BILINGUE NO GRUPO III DA EDUCAÇÃO INFANTIL 2008 DATAS TRABALHO REALIZADO Abril/2008 A professora iniciou a aula pedindo aos alunos que pegassem seus travesseiro ou almofadas e se sentassem no círculo, neste a professora fez uma chamada lúdica, fez observação do tempo e trabalhou o dia da semana. Contou aos alunos sobre a rotina do dia e iniciou a atividade dividindo a turma em grupos de quatro, e apresentou um poema (em anexo). A professora utilizou o inglês na maior parte do tempo da aula, ela apenas não fez quando era para chamar a atenção de algum aluno por falta de disciplina. Maio/2008 A professora iniciou a aula com a rotina já apresentada e dividiu a turma em grupos de quatro, para trabalhar com o livro didático em inglês. O tema do planejamento era “Os animais”. A professora pediu aos alunos que pegassem as suas caixas de giz de cera. Após pegarem os respectivos materiais, a professora trabalhou o conteúdo da página que era referente ao animal coelho e a cor laranja. Os alunos deveriam contornar algumas figuras e colorir outras e na pagina seguinte ligar as figuras geométricas correspondentes. Ela perguntou aos alunos, em suas perguntas ela sempre o fazia com opções, por exemplo: “Isso é um cachorro ou um coelho?” e as crianças na maioria das vezes respondiam adequadamente. Após o trabalho de desenvolvimento oral e escrito, a professora checava individualmente com os alunos o vocabulário do livro, 54 contextualizou o tema com exemplos de animais feitos artesanalmente. A professora utilizou o inglês na maior parte do tempo da aula, ela apenas não fez quando era para chamar a atenção de algum aluno por falta de disciplina. Junho/2008 A professora iniciou a aula com a rotina já apresentada. Fez uma pequena revisão com o conteúdo da aula anterior: shapes75, aproveitando o desenho feito por elas e fazendo perguntas em inglês, para revisão dos nomes das formas e outros vocabulários referentes. FONTE: Elaboração do autor NOTAS: Professora 2, número de alunos: 20; total de alunos observados:03 total de aulas observadas: 03. 75 formas 55 APÊNDICE AA3- QUADRO 3 - MANUAL DO PROFESSOR DO LIVRO UTILIZADO NO GRUPO INFANTIL II ESTRUTURA Introdução do material no início do livro do professor Mapa do livro Unidades/lições Procedimentos Explicação em inglês, do uso do livro de atividades, do livro do professor e dos cds. O livro direciona atividades para os vários tipos de aprendizes com atividades que buscam auxiliar as crianças a desenvolverem a coordenação, o pensamento crítico, criatividade e habilidades de escrita. Apresentação em inglês, por unidade, e habilidades da unidade, vocabulário. Baseado na abordagem Total physical response (Total resposta física)76. São oito unidades. As unidades são sistemáticas e cada unidade possui oito páginas, que se iniciam com encaminhamentos específicos de cada trabalho (vocabulário enfatizado e objetivo da lição, sugestão de atividades introdutórias e atividades opcionais extras). FONTE: Coleção Star Barbara Hojel Longman NOTA: O manual do professor e o livro do aluno são unificados em um único volume, que contém a estrutura do material e encaminhamentos. 76 Segundo Larsen-Freeman (2000) Total Physical Response é um método de aprendizado de línguas baseado na coordenação do discurso e da ação. 56 APÊNDICE AA4- QUADRO 4 –MATERIAL DESENVOLVIDO PELA PROFESSORA DO GRUPO INFANTIL II TIPOS Procedimentos Adaptados à idade dos alunos, geralmente abordando algo para falar de atitudes adequadas ou sobre o tema geral do planejamento, por exemplo: circo, a leitura era sobre o “funny clown” (palhaço divertido) Atividades de ciências A professora, geralmente, iniciava o processo apresentando os materiais e os respectivos nomes em inglês e as realizava a experiência falando somente em inglês. Atividades de matemática A professora partia sempre do global, por exemplo, no trabalho com o número um. Ela fez o mesmo de tamanho bem grande no chão, os alunos andavam por cima e ela perguntava em inglês qual é o número. A professora tinha o cuidado de trabalhar primeiramente a quantificação e depois trabalhar os nomes dos números em inglês. FONTE: Material observado desenvolvido pela professora. Leitura 57 APÊNDICE AA5- QUADRO 5 - MANUAL DO PROFESSOR DO LIVRO UTILIZADO NO GRUPO INFANTIL III ESTRUTURA ENCAMINHAMENTOS Introdução do material no início do livro do professor Explicação em inglês, do uso do livro de atividades, do livro do professor e dos cds. A proposta é que as crianças aprendam através das canções, conversações, adesivos para colar no livro e cds que acompanham o livro. Apresentação em inglês, por unidade, e habilidades da unidade, vocabulário. O livro busca desenvolver a língua inglesa e habilidades psicomotoras através de atividades ilustrativas. O vocabulário é geralmente revisado com o auxílio de um dicionário de figuras. Mapa do livro Unidades/lições São oito unidades. As unidades são sistemáticas e cada unidade possui oito páginas, que se iniciam com encaminhamentos específicos de cada trabalho (vocabulário enfatizado e objetivo da lição, sugestão de atividades introdutórias e atividades opcionais extras). FONTE: Coleção PocKets Longman Mario Herrera Barbara Hojel NOTA: O manual do professor e o livro do aluno são unificados em um único volume, que contém a estrutura do material e encaminhamentos. 58 APÊNDICE AA6- QUADRO 6 - MATERIAL DESENVOLVIDO PELA PROFESSORA DO GRUPO INFANTIL III TIPOS ENCAMINHAMENTOS Leitura Adaptados à idade dos alunos, geralmente abordando algo para falar de atitudes adequadas ou sobre o tema geral do planejamento, por exemplo: os animais. Atividades de ciências A professora, geralmente, inicia o processo apresentando os nomes dos materiais a serem usados em inglês e as reações, enfim todo o processo também na língua inglesa. Atividades de matemática A professora parte sempre da quantificação todo o processo também na língua inglesa. Partindo sempre do concreto. FONTE: Material observado desenvolvido pela professora. 59 APÊNDICE B- QUESTIONÁRIOS B1- QUESTONÁRIO 1 –INFORMAÇÃO GERAL QUESTIONÁRIO 1: INFORMAÇÃO GERAL SOBRE O(A) PROFESSOR(A) Data: ________ / ______/ ________ Prezado(a) Professor(a): Respondendo este questionário você estará colaborando para o desenvolvimento da minha pesquisa sobre a aquisição de segunda língua em uma escola bilíngüe Instruções: • Responda com sinceridade cada questão (lembre-se que sua identidade será mantida no anonimato) • Marque um X na(s) alternativa (s) de múltipla escolha ou circule um número na escala, se for o caso. • Use os espaços fornecidos para acrescentar o que achar necessário • Utilize o verso sempre que necessitar de mais espaço 60 Dados Pessoais/profissionais 1. Nome:_______________________________________________________ 2. Pseudônimo para ser usado na dissertação, se necessário: _____________. 3. Sexo: Feminino_____ Masculino_____ 4. Você leciona para: Infantil II _______ Infantil III ______ 5. Você leciona inglês há _____ anos. (em geral) 6. Grau de instrução: superior completo______ pós-graduação:______ completo curso(s)______ incompleto (curso(s)_____ APÊNDICE B 61 B2 - QUESTIONÁRIO 2: INFORMAÇÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR Data: ________ / ______/ ________ Prezado (a) Professor (a): Respondendo este questionário você estará contribuindo com uma pesquisa do curso de especialização em Ensino de Línguas estrangeiras da Universidade Técnica Federal do Paraná, sob a orientação da prof.a Ms. Carla Barsotti, que visa compreender melhor o processo de aquisição de segunda língua em uma escola bilíngüe contribuindo assim com o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras no contexto escolar brasileiro. Instruções: • Responda com sinceridade cada questão (lembre-se que sua identidade será mantida no anonimato) • Marque um X na(s) alternativa (s) de múltipla escolha ou circule um número na escala, se for o caso. • Use os espaços fornecidos para acrescentar o que achar necessário • Utilize o verso sempre que necessitar de mais espaço. APÊNDICE B 62 B3 - QUESTIONÁRIO 3- PRÁTICA PEDAGÓGICA 1. Qual a carga horária da educação infantil na escola em que leciona? _________ horas/aula por semana. 2. Qual o sistema de divisão de períodos em sua escola? bimestral trimestral semestral Outro: 3. Número aproximado de alunos por turma: _________ 4. Que tipo de apoio pedagógico você recebe da instituição na qual trabalha? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. Que recursos você utiliza para contribuir na aquisição da segunda língua em sala de aula? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6. Em sua opinião e através do que você vivencia com os seus alunos como ocorre a aquisição da segunda língua na sala de aula? 63 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ APÊNDICE B – B4- QUESTIONÁRIO 4: INFORMAÇÕES SOBRE A CRIANÇA E OS PAIS Data: ________ / ______/ ________ Prezados Pais: 64 Respondendo este questionário você estará contribuindo com uma pesquisa do curso de especialização em Ensino de Línguas estrangeiras da Universidade Técnica Federal do Paraná, sob a orientação da prof.a Ms. Carla Bars, que visa compreender melhor o processo de aquisição de segunda língua em uma escola bilíngüe contribuindo assim com o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras no contexto escolar brasileiro. Instruções: • Responda com sinceridade cada questão (lembre-se que sua identidade será mantida no anonimato) • Use os espaços fornecidos para acrescentar o que achar necessário • Utilize o verso sempre que necessitar de mais espaço. Questionário (4) Com os pais da criança 1. Qual a idade da criança exatamente? (Anos, meses) _________________________________________________________________ 2.Qual é a nacionalidade da criança? Já morou no exterior? 65 _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 3.Qual é o nível de conhecimento da língua inglesa dos pais e/ou responsáveis? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4.Em casa há algum processo para que a criança adquira a L2? Como é? É feito alguma leitura na L2? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 5.Os pais falam em inglês com as crianças? Em quais situações? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 6.Como a criança responde ? (relacionado com a pergunta acima). _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 7.Quando a criança usa a língua materna e quando ela usa a segunda língua? Ela faz o code mixing (mistura de códigos,mistura de línguas)? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 8.A criança fala a L2 com outras crianças? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 9.A criança tem contato com nativos, ou com algum elemento da cultura inglesa? _________________________________________________________________ 10.Na sua opinião qual é a contribuição do ensino bilíngüe na aquisição da segunda língua do seu filho(a)? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ APÊNDICE B B5- QUESTIONÁRIO 5- LIVRO DIDÁTICO E DESENVOLVIDOS PELA PROFESSORA E ALUNOS. MATERIAIS EXTRAS 1. Livro didático utilizado:_______________________________________________ Autor:______________________________________________________________ Nome:______________________________________________________________ 66 Editora:_____________________________________________________________ 2. O livro didático adotado é utilizado: como único material______________ paralelamente a outros materiais____ 3.Caso a resposta da pergunta acima seja a segunda opção, quais materiais? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4. Está satisfeito (a) com a proposta de ensino da língua inglesa no livro didático utilizado?Justifique. Sim____ Não____ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. De que forma você acredita que mais contribui na aprendizagem da segunda língua, na sua atuação com esse grupo (infantil)? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ APÊNDICE B B6 - CARTA DE APRESENTAÇÃO Março 2008 Cara professora Gostaria de solicitar sua indispensável colaboração para uma pesquisa do 67 curso de especialização em Ensino de Línguas estrangeiras da Universidade Técnica Federal do Paraná, sob a orientação da prof.a Ms, Carla Barsotti, que visa contribuir para o ensino da língua inglesa LE mais profícuo, especificamente na aquisição da segunda língua na escola bilíngüe. O presente estudo necessitará dos seguintes dados que deverão ser coletados no primeiro semestre de 2008, para o qual solicito sua valiosa contribuição: (i) observação de aulas a ser acordado pessoalmente; (ii) entrevista com a professora, anterior ao set de observações de aulas; (iii) acesso ao material didático utilizado nas aulas observadas; e (iv) conteúdo programático do ano letivo para contextualização dos conteúdos e processos dos estudos nas aulas observadas. Comprometo-me, conforme exigido pela comunidade científica, a manter-me fiel aos princípios de anonimato, bem como, informá-la sobre dos resultados desta pesquisa após sua conclusão. Gostaria de reiterar novamente da relevância do valor de sua colaboração enquanto informante desta pesquisa, sem a qual a mesma não poderá se efetivar. Desde já agradeço sua participação. Cordialmente, Carla dos Santos Meneses Campos Aluna do curso de especialização em Ensino de Línguas estrangeiras UTFPR, sob a orientação da Prof.ª Ms. Carla Barsotti QUESTIONÁRIO 6: INFORMAÇÕES SOBRE A CRIANÇA E OS PAIS Data: ________ / ______/ ________ Prezados Pais: 68 Respondendo este questionário você estará contribuindo com uma pesquisa do curso de especialização em Ensino de Línguas estrangeiras da Universidade Técnica Federal do Paraná, sob a orientação da prof.a Ms. Carla Bars, que visa compreender melhor o processo de aquisição de segunda língua em uma escola bilíngüe contribuindo assim com o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras no contexto escolar brasileiro. Instruções: • Responda com sinceridade cada questão (lembre-se que sua identidade será mantida no anonimato) • Use os espaços fornecidos para acrescentar o que achar necessário • Utilize o verso sempre que necessitar de mais espaço. Questionário (6) Com os pais da criança 2. Qual a idade da criança exatamente? (Anos, meses) _________________________________________________________________ 2.Qual é a nacionalidade da criança? Já morou no exterior? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 69 3.Qual é o nível de conhecimento da língua inglesa dos pais e/ou responsáveis? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4.Em casa há algum processo para que a criança adquira a L2? Como é? É feito alguma leitura na L2? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 5.Os pais falam em inglês com as crianças? Em quais situações? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 6.Como a criança responde ? (relacionado com a pergunta acima). _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 7.Quando a criança usa a língua materna e quando ela usa a segunda língua? Ela faz o code mixing (mistura de códigos,mistura de línguas)? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 8.A criança fala a L2 com outras crianças? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 9.A criança tem contato com nativos, ou com algum elemento da cultura inglesa? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 10.Na sua opinião qual é a contribuição do ensino bilíngüe na aquisição da segunda língua do seu filho(a)? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ANEXO I POEMA: Baa, Baa, Black Sheep Baa, Baa, Black Sheep 70 Baa, Baa, Have you any ? Yes sir, yes sir, Full One for the One for the And one for the Who lives down the lane. FONTE: enchanted learning (site) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AUGUST, Diane, and Hakuta, Kenji,. Improving Schooling for Language-Minority Children: A Research Agenda. Washington, D.C.: National Academy Press, 1997. BIALYSTOK, E. Bilingualism in development: Language, literacy, and cognition. New York: Cambridge University Press, 2001. 71 BEN, Zeev, S. The influence of bilingualism on cognitive strategy and cognitive development. Child Development, 48, 1009-1018. Bernhardt, E. B. (1991).Reading development in a second-language. Norwood, NJ: Ablex. 1977. BROWN, W. Douglas. Teaching by principles – An interactive approach to language pedagogy. Edit. Longman do Brasil, 1980. CUMMINS, Jim. 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