Publicação sobre Design na Revista ABD
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Publicação sobre Design na Revista ABD
MAIO/JUNHO 2012 CONCEITUAL #02 vermelhos Acredite, é porcelanato. Cortes e projetos especiais Al.Gabriel Monteiro da Silva, 862 Fone (11) 3083-6188 www.portobelloshop.com.br I [email protected] PISO: BIANCO DI PAONAZZETTO PAREDE: CONCRETÍSSYMA MATIZ OLIVA 60X120 NAT RET/ LAP RET 90X90 NAT RET/ LAP RET 20X120 RD NAT RET/ LAP RET 20X90 RD NAT RET/ LAP RET 60X120 RET 20X120 RD RET 90X90 RET 20X90 RD RET G A B R I E L Uma vida mais bonita começa com você. Você pode mudar tudo com pequenos gestos. Do mesmo jeito que uma nova sala transforma a casa, um sorriso transforma o dia, um novo espelho muda o olhar e uma flor transforma os sentimentos. Decoração faz a vida mais bonita, porque de um jeito ou de outro, tudo é decoração. ABERTO DE SEGUNDA A SEXTA DAS 10H ÀS 22H, SÁBADOS DAS 10H ÀS 20H E DOMINGOS DAS 14H ÀS 19H | PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO, AOS DOMINGOS DAS 12H ÀS 19H AV. DAS NAÇÕES UNIDAS, 12.555 | BROOKLIN | SÃO PAULO | WWW.DEDSHOPPING.COM.BR | DDSHOPPING | @DEDSHOPPING EDITORIAL 07 CONCEITUAL #02 maio/junho 2012 Publishers André Poli e Roberta Queiroz Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza Conselho Editorial Carolina Szabó, Renata Amaral, Jéthero Cardoso, Roberto Negrete e Alex Lipszyc Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia Colaboradores Alex Lipszyc, Alvaro Tedesco, Amer Moussa, Carico, Gustavo Garcia (Papanapa), Edmundo Gallo Rodrigues, Jéthero Cardoso, Marcella Áquila, Renato Elkis, Roberto Negrete Editor de Fotografia Renato Elkis Projeto Gráfico Cinthia Behr Arte Cinthia Behr (Diretora de Arte) e Evelyn Leine (Designer) Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683 Revisão Ana Cecilia Chiesi Pesquisa de Imagens Charly Ho MAIO/JUNHO 2012 Analista de Conteúdo Lívia Maturana CONCEITUAL * #02 vermelhos CAPA revista ABD Conceitual terá cinco edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibilidades que ela oferece. Na edição 02, o tema é o vermelho. Agradecimentos Madereira Harpia, Espaço TIL Publicidade Para anunciar [email protected] VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275 www.velveteditora.com.br ABD Associação Brasileira dos Designers de Interiores www.abd.org.br Presidente SP Carolina Szabó, Vice Presidente SP Renata Duarte Amaral, Diretora Financeira SP Márcia Regina de Souza Kalil, Diretora Nacional SP Maria Luiza Junqueira da Cunha (Malu), Diretora Nacional RJ Paula Neder de Lima, Diretora Nacional PR Fabianne Nodari Brandalise, Diretor Nacional MG Carlos Alexandre Dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP Brunete Frahia Fraccaroli, Membro Efet. Cons. Delib. BA Delma Morais Macedo, Membro Efet. Cons. Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de Miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz Saldanha Marinho Filho, Membro Efet. Cons. Delib ES Rita de Cássia Marques da Silva (Garajau), Membro Efet. Cons. Delib. SP Roberto Daniel Negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP Luciana Teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP Maria do Carmo Brandini, Suplente Cons. Deliberat. SP Terezinha Nigri Basiches, Membro Efet. Cons. Fiscal DF Denise Fátima de Faria Zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Marília Brunetti de Campos Veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Maurício Peres Queiroz dos Santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana Maria de Siqueira Índio da Costa, Suplente Cons. Fiscal BA Eneida Márcia da Silva Alves, Suplente Cons. Fiscal MG Jaqueline Miranda Frauches Sugestões [email protected] Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. Vermelhou Amigos, parceiros e colaboradores: Depois de dedicar a edição inaugural da revista ABD Conceitual ao branco, agora celebramos o vermelho: a cor que simboliza elegância, paixão, conquista, liderança, entusiasmo, sedução, força, dinamismo. Entre tantas significações, vale lembrar que o vermelho também representou muitos dos movimentos estéticos, políticos e culturais de vanguarda do século 20. Vermelho é a cor da inquietação. E é exatamente a inquietação, a busca pelo novo, a transformação constante, que movem a ABD – a primeira associação de profissionais do design de interiores criada no Brasil, em 1980. Hoje, sabemos que a nossa categoria é cada vez mais relevante e requisitada e, ao olharmos para trás, revendo a nossa trajetória, percebemos que a ABD sempre seguiu pelo caminho certo, conseguindo construir ao longo desses 32 anos uma ampla plataforma de relacionamento entre profissionais, empresas e serviços que compõem o design de interiores. A revista ABD Conceitual é mais um passo à frente. Um veículo de comunicação e mudanças, que tem como objetivos aproximar os profissionais da área, apontar ideias, resgatar tendências, inspirar projetos, valorizar a arte da decoração. Para isso, nesta edição, desvendamos as histórias da laca, o verniz natural obtido a partir da seiva de uma árvore, e do ceramista catalão Josep Llorens Artigas, responsável por transformar a cerâmica em forma de arte. O rutilismo, característica genética das pessoas com “cabelos de fogo”, surge fascinante no ensaio fotográfico da inglesa Jenny Wicks. Em uma edição dedicada ao vermelho, não podíamos deixar de fora o “Garden from Hell”, o salão escarlate-extravagante de uma das mulheres fundamentais na história da moda: Diana Vreeland. Também descobrimos um objeto vermelho não-identificado em um escritório no centro de Shangai, na China. Além dos tecidos em três dimensões dos designers Helen Amy Murray, Mika Barr e Borre Akkersdijk. Apertem os cintos e embarquem com a ABD nessa segunda viagem ao universo das mil e uma possibilidades que o design de interiores pode oferecer como referência, conceito e inspiração. Carolina Szabó SUMÁRIO 08 26 32 Paredes e 3 painéis para ambientes sem fronteiras. Form 013 POR FAVOR, NÃO PARE AGORA! 036 FACÇÃO VERMELHA 050 MIL TONS Os múltiplos significados do vermelho que grita, faz parar, avança, derruba governos, inventa nações, atrai, escandaliza Ensaio fotográfico da inglesa Jenny Wicks celebra as pessoas com “cabelos de fogo”, que representam menos de 2% da população mundial O vermelho nas obras de Tomie Othake, Mark Rothko, Jean Nouvel e Olafur Eliasson. Por Carico 022 VERSÁTIL E DURÁVEL 040 AL ROJO VIVO 052 VOULEZ-VOUS COUCHER AVEC MOI? Como teve início a história da laca, o verniz Cor carregada de intenções e desejos, natural obtido através do refinamento da o vermelho percorre a obra do cineasta seiva de uma árvore espanhol Pedro Almodóvar Amante do rei Luís XV , Madame de Pompadour usou as nuances do vermelho para seduzir a realeza. Por Alex Lipszyc 026 A TERCEIRA DIMENSÃO 042 HOMEM DO FOGO Os tecidos em 3D dos designers Helen Amy Murray, Mika Barr e Borre Akkersdijk são topografias que podem ser aplicadas nas mais diversas superfícies Conheça a obra do catalão Josep Llorens Artigas, o artista que transformou a cerâmica em arte 054 A PRIMEIRA-DAMA E O DESIGNER 032 OGGETTO ROSSO Quando o homem descobriu o fogo, inventou também uma forma mágica de extrair da lama um universo infinito de artefatos, utensílios e componentes 056 FATORES DE EXPANSÃO 048 DIANA VREELAND 058 É PRIMAVERA! Garden from Hell: a sala “infernal” da mulher que revolucionou a moda e passou a vida em busca do vermelho perfeito Espirros de água e nuvens de corantes em pó colorem a Índia durante o Holi, o Festival das Cores Descobrimos um objeto vermelho nãoidentificado no interior de um escritório em Shangai, na China 50 046 DO TIJOLO À TIGELA Da parceria entre Jacqueline Kennedy e Stéphane Boudin surgiu o Salão Vermelho da Casa Branca. Por Roberto Negrete Pesquisa da ABD mostra crescimento do ensino de design de interiores no Brasil. Por Jéthero Cardoso Studio Office Companhia de Viagem | Painéis retroiluminados 3form® da linha Chroma O Studio Office Companhia de Viagem do Grupo Companhia, que exibe o programa Companhia de Viagem, está de cara nova. Para criar o ambiente, foram usados os painéis da linha Chroma 3form® e o sistema tridimensional Wovin Wall® Hunter Douglas. Os painéis Chroma 3form® são produzidos em resina acrílica, com proteção contra raios UV e disponíveis em uma ampla gama de cores e diversos tipos de acabamentos, podendo ser aplicados de inúmeras maneiras. Quando associados a um sistema de iluminação, criam experiências inéditas. O Wovin Wall® possui excelente absorção de ruídos, em diversos materiais nas linhas Varia e Struttures+, e em laminados de madeira e alumínio anodizado. Com o sistema Pure Color C3, é possível a combinação de até três camadas de cores, com milhares de opções. Explore as possibilidades em www.3form.com.br. www.hunterdouglas.com.br PRODUTOS ARQUITETÔNICOS abd magazine MAI/jun 2012 As reentrâncias etimológicas da palavra levam a um pequeno verme em latim, mas derivado primariamente do grego. Roma, entretanto, foi mais intensa e vermelha do que a Grécia, azul e branca ainda hoje. O poder do vermelho enfeitiça o ser humano desde sempre: no mundo natural, a cor descreve o planeta Mercúrio e as estrelas gigantes. Olhar mais para cima, olha mais para cima. Que vermelho é aquele lá longe? Pode ser uma reação física. Estelar. Inexplicável. Quando é vermelho, provoca intimidação. Por que intimida? Mistério. O vermelho aproveita esse dom de intimidar para avançar por outros terrenos: tinge minerais, reveste vegetais, insinua-se nas peles, torna escamas mais intrigantes, pinta pelos, pinta penas, pinta animais anfíbios. Batráquios vermelhos são evitados por outros animais: o sinal de alerta está ali, móvel, não decifrado. Nas cavernas, pinturas rupestres traziam o vermelho como um halo pictórico das caçadas, do perigo dos predadores, da emboscada que faz jorrar líquido quente, vermelho, estranho. Para aliviar mais esse mistério do líquido que salta de dentro de estruturas rígidas, inventou-se o culto a Seth, deus da fertilidade e do bom agouro. A equação física nada resolve. É apenas bela. O vermelho seria uma luz constituída essencialmente pelos maiores comprimentos de onda visíveis pelo olho humano, aproximadamente na gama de 630 a 740 nm. Já os comprimentos de onda mais longos são chamados de infravermelhos e não podem ser vistos a olho nu por pessoas. A maioria das aves enxerga longe as ondas infravermelhas. Vermelhar-se no ar. E basta. E olha o sinal de trânsito. E o cartão de impedimento. E a confusão do daltônico. E o Mustang do playboy. E o telefone do poder. E o lábio da amante. E o batom da diva. E a cabine telefônica londrina. E o beiço do astronauta. E a cintura da vespa. E o cabelo do irlandês. E a túnica do monge. E o olhar de pavor. E o sinal de perigo. O vermelho grita, faz parar, avança, derruba governos, inventa nações, atrai o macho, encanta a fêmea, distingue o anônimo. Faz escândalo. Gera divindades. Atrai. Retrai. Pisa na fulô. Mostra a goela do vulcão. mercúrio contemplação Entendeu por que esse conceito só poderia vir do Oriente? MÓVEIS, PRESENTES E DECORAÇÃO Índia | Indonésia | Filipinas | Vietnã | China Gabriel 11 Jardins 11 Lar Center 11 Giovanni Gronchi 11 Outlet Premium 0XX11 www.espacotil.com.br 3063-5603 3885-9917 2252-3063 3746-7044 4496-7177 022 laca Versátil & durável Obtida a partir da seiva de uma árvore, a laca é um verniz natural usado para revestir os mais diferentes objetos texto Álvaro Tedesco fotos Renato Elkis N i ngu é m sabe , com exatidão, quando teve início a história da laca, mas os estudiosos acreditam que esse verniz natural tenha sido utilizado pela primeira vez por volta de 2000 a.C. Um dos mais antigos objetos em laca está exposto na Freer Gallery of Arts, em Washington. Trata-se de uma xícara do período Chou, na China dos séculos V-IV a.C. A laca é um verniz obtido através do refinamento da seiva da árvore Rhus vernicífera, encontrada em países como Índia e China. O método de extração é parecido com o da borracha. Faz-se uma incisão no tronco da árvore, deixando a seiva escorrer para dentro de um recipiente. Ao longo do tempo, a laca foi usada para revestir uma infinidade de objetos: de utensílios domésticos a instrumentos musicais e móveis. A laqueação é realizada principalmente em madeira, mas também pode cobrir peças produzidas em bambu, vime, cerâmica, seda, papel, couro e metal. Existem diversas técnicas de laqueação. E todas são bastante semelhantes. Basicamente, é aplicada uma camada de laca sobre a su- abd magazine MAI/jun 2012 perfície do objeto. Depois de seco, o objeto é polido, recebe outra camada de laca e é novamente polido. Esse processo – demorado e complexo – é repetido quantas vezes forem necessárias até o revestimento atingir várias camadas de espessura. A laca resulta numa cobertura compacta, sólida e durável, o que faz com que os objetos mantenham-se protegidos da corrosão e da desintegração causadas por ácidos, solventes, calor e umidade. Na China, falam que a laca acompanhava as pessoas do nascimento – a comida era servida em recipientes laqueados – até a morte – quando eram enterradas em caixões também revestidos por laca. E foi na China que surgiu a laca vermelha entalhada. Produzida durante a dinastia Ming (1368-1643), é considerada uma das mais refinadas técnicas de laqueação e era constituída por cem ou mais camadas de laca sobre a qual eram talhados – com o uso de cinzéis, facas e agulhas – vários motivos ornamentais. Se os chineses inventaram, foram os japoneses que aperfeiçoaram essa arte. Como conta Huon Mallalieu no livro História Ilustrada das Antiguidades, a laca saiu da China e chegou ao Japão no século VI e, inicialmente, foi usada em esculturas religiosas. “Foi a perfeição da técnica do maki-e que deu início a um estilo japonês de trabalhar com a laca realmente diferente.” O maki-e é uma técnica em que “o desenho era salpicado com pó de ouro ou prata sobre uma camada de laca úmida aplicada sobre outra já seca e polida. Essa camada decorada era então também polida. O processo era repetido várias vezes, uma camada decorada após outra até que se atingisse o efeito desejado: uma aparência pontilhada chamada nashiji.” O apogeu do trabalho em laca no Japão, segundo Mallalieu, aconteceu durante o período Edo (1615-1868), quando mestres como Kõrin e Ritsuo produziram peças extraordinárias com o material. Do Oriente, a laca viajou para a Europa, onde virou moda no século 18, no revestimento de mobiliário. A laca é um material versátil. Pode adquirir diversas tonalidades se for misturada a pigmentos e, sobre a laca, podem ser executadas diferentes técnicas de decoração: pintura, gravura, incrustação, entre outras. n abd magazine MAI/jun 2012 foto banco de imagens (PB) 024 laca china A laca vermelha entalhada surgiu durante a dinastia Ming (1368-1643) e é considerada uma das mais refinadas técnicas de laqueação piano, piano Quando o assunto é laca, o processo de laqueamento de pianos é sempre uma referência pela qualidade e perfeição do acabamento. Marcelo Pereira, da Fritz Dobbert, com mais de 60 anos no ramo, explica a complexidade do trabalho. “São sete aplicações de verniz poliuretano e poliéster intercaladas com lixamento. Para finalizar, a superfície é novamente lixada e polida até a obtenção do acabamento perfeito.” Diferentemente do laqueamento antigo, a utilização da resina poliéster proporciona “um processo mais rápido e resultado final mais duradouro.” Pereira acrescenta que esse mesmo laqueamento pode ser usado no setor moveleiro e não existe qualquer restrição de cores. 026 TECIDOS TRIDIMENSIONAIS De paredes a objetos, os tecidos tridimensionais podem ser aplicados em diferentes superfícies a terceira texto Marcella Aquila Bloom: painel de parede criado pela designer inglesa Helen Amy Murray para o restaurante Diana, do St Regis Hotel, na Cidade do México abd magazine MAI/jun 2012 dimensão 028 TECIDOS TRIDIMENSIONAIS abd magazine MAI/jun 2012 fotos marcos bevilacqua (cima, abre) fotos marcos bevilacqua (acima), mika barr (ao lado) Ao lado, obra da israelense Mika Barr, que trabalha com estruturas geométricas e orgânicas. Acima, Tropical e, na página ao lado, Autumn: painéis de parede com tecidos tridimensionais de Murray Defensora do trabalho desenvolvido manualmente, Helen Amy Murray parece herdar a influência de um movimento fundamental na história do design: o Arts & Crafts Se o grande lance no cinema é transformar imagens 2D em recursos 3D, no design a tridimensionalidade significa avanços sobre o campo tátil abd magazine MAI/jun 2012 foto Marie Taillefer/Borre Akkersdijk/ByBorre foto mika barr 030 TECIDOS TRIDIMENSIONAIS D esde que J ames C ameron ocupou as telonas do mundo com o filme Avatar, em 2009, o termo 3D se tornou quase sinônimo de cinema. E, de lá para cá, todas (ou quase todas) as produções viraram tridimensionais. Se o grande barato no cinema é transformar a imagem 2D em algo visualmente 3D, para o design, a tridimensionalidade pode significar um avanço sobre o campo tátil. É, portanto, na direção de estimular esse sentido que surgem tecidos com essa característica. Do encontro entre uma das técnicas mais antigas desenvolvidas pela humanidade – a tecelagem – e um contexto de novas tecnologias, abre-se um panorama amplo de possibilidades. Cientes dessa abertura e dispostos a experimentá-la, os designers da linguagem têxtil criam “planos” de caráter cada vez mais escultóricos. Os chamados tecidos tridimensionais são topografias que podem ser aplicadas nas mais diversas superfícies: de paredes a objetos, como almofadas ou cadeiras. Entre os designers que se aventuram nessa área, ainda pouco explorada, estão Mika Barr, Borre Akkersdijk e Helen Amy Murray. A israelense Mika Barr possui inúmeras variações sobre os dois temas fundamentais de seus tecidos, de estruturas ora geométricas ora orgânicas, lembrando nervuras de plantas. O holandês, Borre Akkersdijk, produz peças têxteis exuberantes e altamente tecnológicas que são, por si, a própria estrutura das roupas que cria. E, diametralmente oposta à linha de Borre, está o trabalho da inglesa Helen Amy Murray, com peças produzidas à mão. Inventora de uma técnica exclusiva, premiada e patenteada, a inglesa diz que “queria criar o efeito da pedra que entalha um material macio”. De fato, os relevos atingem o efeito desejado pela designer nos mais variados tipos de tecido: do couro à seda. Em relação aos padrões, predominam os florais, mas há também peças significativas com estampas geométricas. Defensora do trabalho desenvolvido manualmente – “Minha filosofia é centrada na importância do trabalho artesanal.” – Murray parece, muitas vezes, herdar a influência de um movimento fundamental na história do design: o Arts & Crafts (artes e ofícios). Idealizado e experimentado pelos ingleses William Morris e John Ruskin em meados do século XIX, o movimento teve papel essencial no desenvolvimento do que veio a ser a Art Nouveau – cujos motivos de Helen também se aproximam bastante – e, posteriormente, da escola moderna Bauhaus. As criações de Helen Amy Murray se tornaram conhecidas após a designer desenvolver uma série independente de cadeiras revestidas com seus tecidos. Partindo de um repertório de desenhos consagrados – entre vernaculares e de designers famosos –Murray realizou intervenções em cadeiras como a “egg”, de Arne Jacobsen; na tradicional cadeira “barril”, de estilo eduardiano; em outra desenhada por Philipp Hurel. E por aí vai. Mas a aplicação de suas peças têxteis não se limitam às superfícies de sofás e cadeiras. Podem tomar as formas que se desejar. A produção de Murray é exclusiva, sempre desenvolvida por encomenda e atendendo às determinações específicas de cada cliente. Seu trabalho independente, no entanto, será em breve representado por galerias em Londres, Paris e Milão. n www.helenamymurray.com | www.byborre.com | www.mikabarr.com Ao lado, vestido com tecido em 3D do designer holandês Borre Akkersdijk. Na página ao lado, trabalho de Mika Barr, que lembra nervuras de plantas