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Dois Caderno eSTe enCarTe ConTÉm CaSoS dIVerSoS enVIadoS PeloS leIToreS do Jornal da Imagem • Parte integrante da edição 377 • JaneIro de 2010 [ Caso 1 ] História clínica Masculino, 71 anos, com história de massa em hipocôndrio esquerdo há três meses. ISDA: constipação intestinal, sem sangramento digestivo, sem emagrecimento. EDA (03/2009): pangastrite leve. Figura 1 Figuras 2 e 3 Ultrassonografia de abdome mostrando tumor mesenterial com envolvimento dos vasos mesentéricos superiores Tomografia computadorizada sem e com contraste, mostrando volumoso tumor mesenterial com discreto realce pelo contraste e linfonodomegalia retroperitoneal isolada Figuras 4, 5 e 6 Imagens de ressonância magnética, demonstrando tumor com sinal intermediário em T1 (Fig. 4), marcado hipossinal em T2 (Fig. 5) e impregnação pelo agente de contraste paramagnético (Fig. 6) Figura 1 TC de pescoço axial mostra extenso tumor sólido com realce pelo meio de contraste, acometendo a fossa nasal e nasofaringe com alargamento da fossa ptérigo-maxilar Figura 2 TC de pescoço axial mostra tumor envolvendo o seio esfenoidal com descontinuidade das suas paredes [ Caso 2 ] História clínica Paciente masculino, 16 anos, com obstrução nasal e epistaxe há um ano. Figuras 3 e 4 TC de pescoço coronal (janelas de partes moles e óssea) mostra lesão na fossa nasal e nasofaringe, com envolvimento do seio esfenoidal e da fossa ptérigo-maxilar. Há remodelação e destruição óssea 2 | Jornal da Imagem [ Caso 1 ] São Paulo, janeiro de 2010 Autores: Drs. Francisco Negromonte, Aline Campos, Camila Amaral Campos, Guilherme Gerumáglia da Silva e Valmor da Silva Costa, residentes. Responsáveis: Drs. Ricardo Pires de Souza e Sérgio Furlan – Hospital Heliópolis, SP. Linfoma de grandes células B difuso do mesentério O mesentério é uma larga folha de peritôneo, em forma de leque, que levanta as alças do intestino delgado da parede abdominal posterior. A reflexão das duas camadas peritoneais que formam o mesentério contém uma quantidade variável de gordura, na qual correm as artérias principais, veias e linfáticos do intestino delgado. A sua raiz, uma área estreita contígua com o espaço pararrenal, se estende diagonalmente da sua origem ao ligamento de Treitz inferiormente e à direita em relação à válvula íleo-cecal. As neoplasias mais comuns do mesentério são as metástases (cólon e ovário) e o linfoma, geralmente encontrados nos acometimentos disseminados. Os tumores [ Caso 2 ] primários do mesentério são raros, mas geralmente benignos e de origem fibrosa / mesenquimal. Os pacientes com tumores mesenteriais geralmente apresentam sintomatologia inespecífica, de dor abdominal, perda de peso, massa abdominal palpável ou diarréia. Nos adultos, o Linfoma nãoHodgkin compreende 2% de todas as malignidades e cerca de 80 % dos linfomas. A maioria dos linfomas com acometimento difuso é do tipo não-Hodgkin de células B, que apresenta maior frequência em indivíduos do gênero masculino, com média de idade de 60 anos, principalmente em portadores de desordens imunológicas ou nos estados de imunodepressão. O linfoma é a causa mais comum de tumor no mesentério. A maioria dos casos de linfadenopatia mesentérica está associada ao linfoma não-Hodgkin em 30 a 50% dos pacientes, e ao linfoma de Hodgkin em cerca de 4 a 5 % dos casos. O linfoma mesenterial pode apresentar forma e dimensões variadas. Os achados tomográficos compreendem: tumores homogêneos, arredondados, com realce variável pelo meio de contraste. Geralmente envolvem a veia e a artéria mesentérica (“sinal do sanduíche”). A ocorrência de tumores heterogêneos com áreas de menor atenuação (necrose) e infiltração da gordura mesenterial, pode estar relacionada à quimioterapia. A adenopatia retroperitoneal pode acompanhar a doença mesentérica e deve ser uma pista para o diagnóstico de linfoma mesenterial. Referências bibliográficas 1. Sheth S., Horton K. H., Garland M.R., Fishman E.K.: Mesenteric Neoplasms: CT Appearances of Primary and Secondary Tumors and Differential Diagnosis. Radiographics, 23: 457-473. 2. P.M. Silverman, M.E. Baker, C Cooper, F.M. Kelvin: Computed tomography of mesenteric disease. Radiographics March 1987 7:309-320. 3. Bernardino M.E., Jing B.S., Wallace S.: Computed Tomography Diagnosis of Mesenteric Masses. AJR 132:33-36, January 1979. Autores: Drs. Camila Amaral Campos, Guilherme Gerumáglia da Silva, Valmor da Silva Costa e Francisco Negromonte, residentes. Responsáveis: Drs. Sérgio Furlan e Ricardo Pires de Souza – Hospital Heliópolis, SP. Nasoangiofibroma juvenil O nasoangiofibroma juvenil (NAFJ), apesar de raro, é o tumor benigno nasofaríngeo mais comum. Representa apenas 0,5 % de todas as neoplasias da cabeça e pescoço. É um tumor vascular benigno, com comportamento biológico agressivo, que afeta quase que exclusivamente adolescentes do sexo masculino. Apresenta curso potencialmente maligno, pelo seu crescimento invasivo e extensão para regiões adjacentes, estando associado a elevada morbidade e mortalidade ocasional. O tumor apresenta como suprimento sanguíneo principal a artéria maxilar interna, ramo da carótida externa. Origina-se na fossa pterigopalatina, na margem superior do forame esfenopalatino. A disseminação intracraniana ocorre em 10-20% casos. Os pacientes costumam apresentar obstrução nasal ou epistaxe, podendo haver deformidade facial e proptose. A predileção por crescimento através das linhas de menor resistência, forames e fissuras naturais, faz com que esse tumor seja previsível em suas extensões. Do ponto de origem, na fossa pterigopalatina, o tumor pode estender-se lateralmente, ocupando a fossa pterigopalatina, fossa infratemporal e fossa temporal. Deste ponto, progride superiormente para a fissura orbitária inferior, erode parte da grande asa do esfenóide, condicionando alargamento da fissura orbitária superior, atingindo a fossa craniana média e, finalmente, o seio cavernoso. Posteriormente, pode erodir a asa interna do processo pterigóide, seguindo para o soalho do seio esfenóide. Se o tumor seguir a tuba auditiva e chegar aos forames oval e redondo, conseguirá progredir para o seio cavernoso. A extensão inferior do tumor poderá atingir o forame lácero e a artéria carótida interna. O diagnóstico precoce é possível com TC com contraste endovenoso ou RM. Na TC contrastada o NAFJ apresenta realce precoce intenso. A TC é o exame mais importante, pois avalia o acometimento ósseo, sendo a invasão do seio esfenoidal o principal fator preditivo na recorrência. Na RM as lesões costumam apresentar hipossinal / sinal intermediário em T1, moderado hipersinal em T2 com múltiplos focos de “flow-void” de permeio. Estes tumores apresentam intensa impregnação pelo gadolínio. Devido à natureza vascular do tumor a biópsia não é realizada de rotina. Referências bibliográficas 1. M afee MF.Nasofaringe.In: Mafee MF,Valvassori GE, Becker M, eds. Imagens da cabeça e pescoço. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007:553-79. 2. S om PM, Brandwein M. Sinonasal cavities: Inflamatory diseases, tumors, fractures, and postoperative findings. In: Som PM, Curtin HD. Head and Neck Imaging. St Louis: Mosby;1996:185-262. 3. G usso J.L., Souza R.P., Rapoport A., Soares A.H.: Nasoangiofibroma juvenil: Concordância interobservadores no estadiamento por tomografia computadorizada. Radiologia Brasileira 2001;34(4):207-211 São Paulo, janeiro de 2010 CadernoDois | 3 [ Caso 3 ] Figuras 1 e 2 Imagens de RM de crânio nos planos sagital e axial, utilizando-se a sequência ponderada em T2, mostram lesão arredondada, caracterizada por halos incompletos concêntricos de alteração de sinal, na substância branca do lobo frontal, com discreto edema adjacente História clínica Paciente do sexo feminino, 19 anos, com história de hemiparesia aguda à direita. Sem outras comorbidades. Figura 3 Imagem de RM de crânio no plano sagital, utilizando-se a sequência ponderada em T1, após a utilização do contraste por via endovenosa, mostra discreto realce periférico das zonas concêntricas [ Caso 4 ] História clínica Paciente do sexo masculino, 21 anos, com quadro de agitação psicomotora e dor torácica há três dias. Nega trauma, doenças pulmonares prévias e apresentava história positiva de uso de drogas. Clinicamente, o paciente estava taquicárdico, taquipnéico, com sinais de enfisema subcutâneo e midríase. Figura 1 Radiografia digital de tórax evidencia enfisema subcutâneo e pneumomediastino Figuras 2 e 3 TC de pescoço demonstra extenso enfisema subcutâneo dissecando as fáscias cervicais. Observa-se, ainda, ar no interior do espaço epidural da medula cervical (pneumorraque) Figuras 4, 5 e 6 TC de tórax com janela de pulmão mostra pneumotórax e pneumomediastino, sem alterações parenquimatosas no pulmão 4 | Jornal da Imagem [ Caso 3 ] São Paulo, janeiro de 2010 Autores: Drs. Guilherme Gerumáglia da Silva, Camila Amaral Campos, Valmor da Silva Costa e Francisco Negromonte, residentes.Responsáveis: Drs. Ricardo Pires de Souza e Sérgio Furlan – Hospital Heliópolis, SP. Esclerose concêntrica de Baló A esclerose concêntrica de Baló (ECB) é uma rara condição desmielinizante idiopática, caracterizada por um padrão característico histopatológico e de imagem, que ocorre isolada ou no contexto da EM. A desmielinização do tipo Baló apresenta-se comumente com quadro agudo ou subagudo, que pode ter curso monofásico ou rapidamente progressivo. Este último com encefalopatia de evolução fulminante. A maior parte dos casos reportados na literatura é de adultos jovens, com idade variando de 4 a 56 anos. Tem sido observado um aumento [ Caso 4 ] no número de casos com prolongamento nas taxas de sobrevida e casos que apresentaram remissões espontâneas. As manifestações mais comuns são: cefaléia, afasia, disfunção cognitiva ou comportamental, déficit focal. Os achados característicos nas imagens de RM incluem padrão irregular com zonas concêntricas de alteração de sinal, melhor caracterizadas nas imagens ponderadas em T2 e em T1 póscontraste. Esse padrão concêntrico nem sempre será observado nas imagens de RM quando não realizadas no início da doença, porém quando observado é muito característico, sendo a RM considerada o procedimento de diagnóstico de escolha. Os achados patológicos ou de imagem revelam alternância de anéis com preservação de mielina ou remielinização e com perda mielínica, revelando um aspecto multilamelar, podendo envolver os hemisférios cerebrais, cerebelo, mesencéfalo, medula e quiasma óptico. O diagnóstico diferencial inclui encefalomielite disseminada aguda (ADEM), esclerose múltipla, neoplasias e infecções como abscessos. Referências bibliográficas 1. Karaarslan, E.; Altintas, A. et al. Baló’s Concentric Sclerosis: Clinical and Radiologic Features of Five Cases - Case Report. AJNR. 22:1362-1367. August, 2001. 2. Pearce, J. M. S. Baló´s Encephalitis Periaxialis Concentrica. European Neurology. 2007;57:59-61. November, 2006. 3. Kim MO, Lee SA, Choi CG, Huh JR, Lee MC. Balo’s concentric sclerosis: a clinical case study of brain MRI, biopsy, and proton magnetic resonance spectroscopic findings. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1997;62:655–658. Autores: Drs. Valmor Silva Costa, Camila Amaral Campos, Guilherme G. Silva, Francisco Negromonte e Aline Campos, residentes. Responsáveis: Drs. Ricardo Pires de Souza e Sérgio Furlan – Hospital Heliópolis, SP. Barotrauma por uso de crack As alterações relacionadas ao uso da cocaína/crack incluem arritmias cardíacas, infarto do miocárdio, hemorragia subaracnóide, convulsões, complicações obstétricas, distúrbios psiquiátricos e complicações respiratórias, podendo, inclusive, ocorrer morte súbita. Uma vez que o pulmão é o órgão mais exposto, complicações pulmonares são frequentemente observadas como consequência do ato de fumar o crack. As complicações respiratórias associadas à exposição pulmonar marcada e repetida à cocaína fumada (crack) incluem edema pulmonar, hemorragia alveolar difusa, exacerbações agudas graves de asma, barotruma, infiltrações pulmonares com eosinofilia, pneumonia intersticial não específica e bronquiolite obliterante com pneumonia em organização, bem como infiltrações pulmonares agudas associadas ao espectro de achados clínicos e patológicos, referidos como “pulmão de crack”. As alterações pulmonares mais comuns são: edema e hemorragia alveolar. O barotrauma (complicação ocorrida no nosso caso) pode se desenvolver, como resultado do acentuado esforço inspiratório, frequentemente seguido por manobra de valsalva prolongada e tosse violenta, que acompanha a inalação dos vapores de cocaína. O súbito aumento da pressão brônquica e alveolar, com rotura alveolar e penetração do ar no interstício pode acarretar o pneumotórax, pneumomediastino, pneumopericárdio, enfisema subcutâneo e, até mesmo, pneumorraque. O tratamento para os casos de barotrauma após uso do crack é conservador, com drenagem do tórax para os casos de pneumotórax. O enfisema subcutâneo e o pneumorraque apresentam resolução espontânea com o tempo. Referências bibliográficas 1. Cregler LL, Mark H. Medical complication of cocaine abuse. N Engl J Med 1986;315:14951500. 2.Haim DY,Lippmann ML,Goldberg SK,Walkenstein MD.The pulmonary complications of crack cocaine:A comprehensive review, Chest 1995;107:233-240. 3. Tylor RF, Bernard GR. Airway complication from free-basing cocaine.Chest 1989;95:476-477. 4.Daniel WE,Haward IP, Willian RE.Chest pain and dyspnea related to crack cocaine smoking:Value of chest radiography.Radiology 1989;172:459-462. 5. Carlos SR, Jorge AC, Aura LR, Santiago Martinez.Pulmonary complications of cocaine and cocaine-based substances;Imaging manifestations.Radiographics 2007;27:941-956. 6. Costa MRSR, Alves RF, Franca MD.Manifestações pulmonares causadas pelo uso do “crack”. J Pneumol 24(5) -set-out de 1998. 7. Mançano A, Marchiori E, Zanetti G, Escuissato.
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