REVISTA ELETRÔNICA ARETÉ – V.3 – N.5 - revistas eletrônicas
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REVISTA ELETRÔNICA ARETÉ – V.3 – N.5 - revistas eletrônicas
REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 – EXPEDIENTE – Omar José Abdel Aziz GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAZONAS Carlos Eduardo de Souza Gonçalves REITOR Osail Medeiros de Sousa PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO Fares Franc Abinader Rodrigues PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO Edinea Mascarenhas Dias PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO Rogelio Casado Marinho Filho PRÓ-REITOR DE EXTENSAO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS José Luiz de Souza Pio PRÓ-REITOR DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA Maria Amélia Freire DIRETORA DA ESCOLA NORMAL SUPERIOR Augusto Fachín Terán COORDENADOR DO PROGRAMA DE MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NA AMAZÔNIA Amarildo Menezes Gonzaga REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 VICE-COORDENADOR Ana Frazão Teixeira REPRESENTANTE DOCENTE DA LINHA DE PESQUISA MEIOS E RECURSOS Ierecê Barbosa REPRESENTANTE DOCENTE DA LINHA DE PESQUISA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Eliane Batista de Lima REPRESENTANTE DISCENTE Coordenação Editorial: Profª. Dra. Josefina Barrera Kalhil - Presidenta Responsável Técnica: Profa. MSc. Ana Paula Sá Menezes Membros: Prof. Dr. Prof. Dr. Profª. Drª. Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Profª. Drª. Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. MSc. Prof. MSc. Prof. MSc. Profª. MSc. Ângelo Tartaglia César E. Mora Ley Elena Tresso Olival Freire Evandro Ghedin José M. Zamarro Suzana Coelho Manoel do Carmo Octavio Calzadilla Ligio Barrera Nieves Baade Emilio Aliss Libertad Miranda .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... .................................... Itália México Itália Brasil Brasil Espanha Brasil Brasil Cuba Cuba Argentina Bolívia Cuba 2 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 – EDITORIAL – É com imensa satisfação que a Universidade do Estado do Amazonas - UEA disponibiliza o quinto número da revista eletrônica ARETÉ, editada pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências na Amazônia, pertencente à Escola Normal Superior – ENS. Renomados autores locais, nacionais e internacionais nos deram o prazer e o privilégio de colaborarem com seus textos, demonstrando o quanto o trabalho de todos aqueles que se empenharam para que o referido programa se concretizasse está sendo valorizado. ARETÉ, que significa virtude em grego, nasceu com uma proposta editorial independente, aberta as todas as tendências investigativas contemporâneas atreladas ao Ensino de Ciências. Como Ciência e Tecnologia caminham juntas, este é mais um espaço para divulgar os resultados de pesquisas científicas e, consequentemente, seus frutos tecnológicos. A diversidade e o caráter vivo que marcam os textos aqui apresentados são os traços marcantes de ARETÉ e da política de pós-graduação da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, um dos pilares fundamentais do desenvolvimento científicotecnológico. Os textos publicados nesta edição evidenciam a construção de vários pesquisadores, na qual o eixo do progresso científico cruza com os das necessidades sociais, evidenciando que o Ensino de Ciências é também uma ação interpessoal, intencional e flexível, conectada ao seu contexto social mais amplo. Esperamos estar contribuindo para a melhoria do processo ensino-aprendizagem em Ciências não só em nossa região amazônica, mas como em todo nosso imenso Brasil. Bem vindo ao futuro, com ARETÉ, e boa leitura! Atenciosamente, Josefina Barrera Kalhil 3 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 ARTIGOS 1 – Utilização de Laboratórios em Algumas Escolas de Ensino Médio de Manaus Dayse Peixoto Maia..................................................................................................................... 05 2 – Infância Indígena: as Crianças Sateré-Mawé como Produtoras de Cultura Roberto Sanches Mubarac Sobrinho.............................................................................................16 3 – Recursos Didáticos: uma articulação planejada no Ensino de Ciências Maria Trindade dos Santos Tavares e Augusto Fachin Teran...................................................... 39 4 – A Epistemologia de Paulo Freire e suas Contribuições para o Ensino de Ciências no Mundo Contemporâneo Waldiléia Pereira e Evandro Ghedin..............................................................................................52 5 – A Utilização dos Jogos de Trilha como Instrumento Facilitador no Ensino sobre o Sistema Genital Humano com alunos do 8º ano Silas Nery de Oliveira, Aldeniza Cardoso Lima e Ana Paula Sá Menezes....................................66 6 – As Novas Tecnologias como Recurso Pedagógico no Ensino de Ciências nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Rosa Oliveira Azevedo e Amarildo Gonzaga...............................................................................80 7 – Evaluación del equipo de interferometría óptica de coherencia parcial (LENSTAR) en la biometría ocular. Iramis Miranda Hernández, Juan Raúl Hernández Silva, Marcelino Rio TorresYanele Ruiz Rodríguez...............................................................................93 8 – Ensino de Ciências: uma Proposta para Utilizar a Experimentação no Ensino Fundamental Irlane Maia de Oliveira, Rosilene Gomes e Elizabeth da Conceição Santos.............................110 9 – Epistemologias do Ensino de Saúde em Ciências e da Promoção de Atitudes Saudáveis Através da Educação Marcelo Paranhos e Augusto Fachin Teran................................................................................123 10 – Física y Filosofia, relación interdisciplinaria; uma perspectiva desde algunos contenidos docentes de la enseñanza en la Educación Superior Ligio Ángel Barrera Kahli, Milagros de los Dolores Rosario Espinosa ..................................135 Exemplo para fazer a citação bibliográfica: SOBRENOME, X.Y.; SOBRENOME, W.Z. Título do Artigo. Revista Eletrônica Areté – Revista Amazônica de Ensino de Ciências. Manaus, v.3, n.5, p. início-fim, jan-jul. 2010. Disponível em: <url>. Acesso em dd/mm/aaaa às hmin. 4 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 UTILIZAÇÃO DE LABORATÓRIOS EM ALGUMAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO DE MANAUS Dayse Peixoto Maia 1 (Recebido em 14/09/09; aceito em 15/12/2009) RESUMO: Sendo a biologia um campo extremamente amplo do conhecimento científico e considerando seus grandes avanços promovidos pelo desenvolvimento tecnológico, faz-se cada vez mais necessário que a transmissão dos conteúdos programáticos em nível de ensino médio, se respalde na prática laboratorial escolar. Buscam-se através deste trabalho, informações sobre a realização de atividades práticas nas escolas públicas estaduais de Manaus. A pesquisa abrangeu estudantes de quatro escolas estaduais dos turnos vespertino e noturno, em vários bairros da cidade. As informações coletadas são de fundamental importância para o conhecimento da problemática do tema discutido e indispensáveis para a procura da elucidação de problemas detectados. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Aprendizagem; Biologia; Laboratório. SUMMARY: As a biology extremely wide field of scientific knowledge and considering the great advances promoted by technological development, it is increasingly necessary for the transmission of the syllabus at the level of high school, where practice-based laboratory school. It seeks through this work, information on the implementation of practical activities in the public schools of Manaus. The survey covered students in four public schools of afternoon and night shifts in several neighborhoods. The information collected is of fundamental importance for understanding the problems of the subject discussed and necessary for the pursuit of clarification of problems encountered. KEYWORDS: Higher Learning, Biology, Laboratory. 1 Aluna do Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas (Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências), sob orientação da Profª Drª Ierecê Barbosa Monteiro. É aluna bolsista da FAPEAM pelo programa POSGRAD-RH. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência como professora de Cências e Biologia, na rede de ensino particular de Manaus, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino de Ciências, Ensino de Biologia, Uso de Materiais Lúdicos no Ensino, Aprendizagem Significativa. Contato: [email protected], 88114921. 5 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 1. INTRODUÇÃO O estudo da biologia deve ter, antes de qualquer objetivo, a finalidade de tornar o educando um ser que respeita todas as formas de vida e suas interações. Na aprendizagem desta ciência, é essencial o desenvolvimento de posturas e valores pertinentes às relações entre os seres humanos e entre estes e o meio ambiente, contribuindo assim para uma educação que formará indivíduos mais sensíveis e solidários, cidadãos conscientes dos processos e regularidades do mundo e da vida, portanto críticos e éticos (Brasil, 1998). Uma vez que este tipo de estratégia didática não somente auxilia na fixação do assunto abordado como em sua efetiva elucidação (Brasil, 1998). O laboratório escolar deve ser visto não como algo que eventualmente possa ser anexado à sala de aula, mas sim como sua extensão. Como local de construção de conhecimento, deve ser de fácil acesso aos estudantes, promovendo a familiarização não somente com equipamentos e reagentes, mas, sobretudo levando-os a perceber que quando se pratica um conceito, este toma um novo significado em nosso cognitivo (Moreira, 1985). É necessário lembrarmos que mesmo na ausência de um laboratório ou se este for limitado quanto a seus equipamentos ou de infra-estrutura não adequada, ainda assim as aulas práticas podem ser adaptadas, com algumas restrições, à sala de aula ou outra dependência disponível na escola. Existem várias formas de se introduzir atividades experimentais. Há professores que realizam experiências antes de apresentar a teoria; outros preferem entrar com a teoria e reforçá-la com o laboratório. Estudos comprovam que em ambos os casos os resultados são proveitosos (Gewandsznajder, 2002). Então por que ainda há tanta relutância nos docentes em incluir práticas laboratoriais em seus planejamentos? Dos vários fatores pertinentes, dois são generalistas: a sobrecarga de atividades / hora do professor e muitas vezes sua inabilidade de conduzir a aprendizagem em um ambiente laboratorial (Krasilchik,1987). Este trabalho tem por objetivo verificar junto às escolas da rede publica de ensino médio, detentoras de laboratório, se os mesmos são efetivamente utilizados para este fim ou quais os empecilhos para a não utilização, e qual o significado das atividades práticas para a aprendizagem deste componente curricular. 6 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 2. Procedimentos metodológicos Para execução deste trabalho foi utilizada coleta de dados através de relatório escrito individual, junto a alunos do ensino médio da rede pública educacional na cidade de Manaus, no período de 28 de novembro a 09 de dezembro de 2006, na Escola Estadual Sebastiana Braga, E. E. Senador João Bosco, E. E. Mirtes Marques Trigueiro e E. E. Maria Madalena S. de Lima, nos turnos vespertino e noturno. O questionário consistia em nove questões de múltipla escolha e quatro dissertativas, todas sobre as aulas práticas e o funcionamento do laboratório das escolas. Foi também elaborado um roteiro de observação utilizado como guia, para a visitação aos laboratórios e seus equipamentos com o objetivo de corroborar o que fora apurado junto aos estudantes. O questionário elaborado atendeu à necessidade de informações acerca das aulas práticas e dos laboratórios das escolas. Foram aplicados 120 questionários por escola sendo 60 para o turno diurno e 60 para o turno noturno. Os 60 questionários destinados a um turno foram divididos entre três turmas, 20 questionários por turma, as três turmas escolhidas de um turno foram respectivamente 1º, 2º e 3º ano, sendo que na E. E. Sebastiana Braga esse objetivo não foi alcançado. Isso ocorreu devido à indisponibilidade de uma turma do terceiro ano no turno vespertino, os questionários excedentes foram então aplicados no segundo ano. Os dados obtidos foram sumarizados em tabelas na tentativa de detectar as informações mais relevantes dentre as coletadas; assim, a partir destas tabelas foram feitas análises diagnósticas que tentam indicar de forma simples e objetiva as crítica e dificuldades propostas pelos estudantes e compará-las com as informações declaradas pelo corpo docente das escolas, além das observações levantadas nos locais. Todos os dados foram reunidos em uma planilha e para melhor visualização dos mesmos e compreensão dos resultados foram construídos gráficos em pizza utilizando o programa Excel (Microsoft 2003). 7 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 3. Resultados e discussão Os questionários foram respondidos por 297 alunos, dentre eles 195 do sexo feminino e 102 do sexo masculino. Todos cursam o ensino médio dos turnos vespertino e noturno das E. E. Sebastiana Braga e Senador João Bosco localizadas no bairro da Cidade Nova, na E. E. Mirtes Marques Trigueiro que se localiza no Coroado e na E. E. Maria Madalena S. de Lima que se encontra no bairro Armando Mendes.. As tabelas, os dados sumarizados e os gráficos em pizza (para uma melhor visualização) podem ser vistos abaixo, em ordem de relação de acordo com o questionário. Contribuem para o entendimento do conteúdo Não Sim Qual freqüência Anual 6 22 Mensal 53 62 Quinzenal 6 25 Semestral 68 55 Total geral 133 164 Total geral 28 115 31 123 297 Tabela 1: Relação entre a freqüência das atividades práticas e sua contribuição efetiva para o entendimento do conteúdo relacionado. Freqüencia das Práticas 9% anual 42% mensal 39% quinzenal semestral 10% Gráfico 1: Freqüência das atividades práticas. De acordo com a freqüência das aulas práticas, verifica-se que a maioria destas são realizadas com grande intervalo. Aqueles que têm práticas quinzenais (80%) ou mensais (aproximadamente 54%) atribuem a elas uma melhor aprendizagem. Se considerarmos as dificuldades relacionadas à realização dessas atividades, como o 8 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 cronograma escolar a ser obedecido, pode-se inferir que este número é muito significativo e que a freqüência mensal ou até mesmo quinzenal, contribui significativamente para o melhor desempenho escolar. Executa experimentos Não Sim Total geral Conservação do laboratório Boa Não sabe Péssima Precisa de reparos 61 1 38 91 42 5 59 103 1 43 150 Total geral 191 106 297 Tabela 2: Relação entre a conservação do laboratório e se os alunos executam os experimentos. Conservação do Laboratório 34% boa não sabe 52% péssima 0% precisa de reparos 14% Gráfico 2: Conservação do laboratório. O esperado seria que a maioria dos alunos declarasse que em laboratórios que precisem de reparos houvesse pouca freqüência de aulas práticas; ou que na inexistência de material disponível para ser utilizado, não houvesse aulas práticas. Contudo, observa-se que em laboratórios bem conservados não há muita execução de experimentos (39,62%), talvez por esse motivo estejam muito preservados, enquanto que nos laboratórios que precisam de reparos (55,66%) ocorre o inverso, ou seja, maior utilização e portanto, menor conservação. O laboratório tem espaço? Número de alunos por aula Não Sim Total geral 9 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências 10 a 15 15 a 20 5 a 10 Mais de 20 Nenhum Total geral 9 16 55 82 36 198 ISSN: 1984-7505 10 18 8 54 9 99 V.3 – N.5 - 2010 19 34 63 136 45 297 Tabela 3: Relação entre o número de alunos por aula prática e o espaço físico dos laboratórios. Número de alunos por aula prática 15% 6% 11% 5 a 10 15 a 20 5 a 10 21% mais de 20 nenhum 47% Gráfico 3: Relação entre o número de alunos por aula prática. Nas turmas com mais de 20 alunos no laboratório por aula, 60,3% declararam que não há espaço físico suficiente para todos. A mesma tendência observou-se até mesmo nas menores turmas (5 a 10 alunos por aula) onde 83,3% declararam não haver acomodações físicas compatíveis com a aprendizagem. Portanto, a insatisfação dos alunos pode não está relacionada ao número de alunos, mas sim ao espaço físico que não atende às necessidades básicas mais importantes para as atividades, tais como bancadas, cadeiras e etc., tornando o espaço impróprio para atividades mais elaboradas. Turno Noturno Vespertino Total geral Qual freqüência Anual Mensal Quinzenal Semestral Total geral 18 63 31 65 177 10 52 --58 120 28 115 31 123 297 Tabela 4: Relação entre o turno escolar e a freqüência das aulas práticas. 10 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 Freqüência das práticas no turno noturno 10% 36% anual mensal 36% quinzenal semestral 18% Gráfico 4: Freqüência das aulas práticas no turno noturno. A diferença numérica a favor do turno noturno deve-se ao fato de que 59,6% dos entrevistados estudam a noite. Pelos números obtidos, o turno não parece influenciar na freqüência das aulas práticas, pois se observou um equilíbrio entre ambos. Contribuem para o entendimento Não Sim Número de práticas Excessivo 6 20 Insatisfatório 112 78 Satisfatório 15 66 Total geral 133 164 Total geral 26 190 81 297 Tabela 5: Relação entre a quantificação do número de práticas e se estas contribuem para o entendimento do conteúdo estudado. Práticas contibuem para o entendimento do conteúdo 45% 55% não sim Gráfico 5: número de práticas que contribuem para o entendimento do conteúdo estudado. 11 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Quase a metade dos entrevistados (44,78%), declarou que as atividades práticas não contribuem para o entendimento. Destes, 84,3% dizem que o número de práticas é insatisfatório e 11,2% apontam o número de aulas práticas como satisfatório. Para os que declaram que as práticas contribuem para o aprendizado, 47,5% ainda as consideram em número insatisfatório. Talvez a real percepção da importância das atividades práticas ainda não tenha sido compreendida por não serem estas, freqüentes nem bem trabalhadas ou relacionadas ao conteúdo teórico ministrado (Krasilchik, 1996). Nas escolas visitadas ficou evidente a falta de empenho dos professores, diretores e estudantes na realização das aulas práticas; com exceção da E. E. Senador João Bosco em que a diretoria, com muito empenho, montou um laboratório bem equipado, mas estes equipamentos se encontram alocadados em uma sala pequena e qualquer professor que almeje usá-lo é responsável pela manutenção deste patrimônio, de forma quase intimidadora.Os administradores das escolas que puderam ser entrevistados, declararam haver laboratórios nas escolas e que estes eram utilizados para aulas práticas, o que pôde ser confirmado pela visitação. Foi também constatado que as atividades práticas não se limitavam apenas aos laboratórios, muitas vezes estas aulas ocorriam dentro da própria sala, este fato pode ter confundido muitos alunos que não sabiam ao certo o significado do termo “aula prática,” e que esta não precisa necessariamente ocorrer num ambiente laboratorial. Para uma análise mais precisa dos dados, faz-se necessário à comparação de informações de outras escolas; torna-se necessários outros estudos nesta mesma linha de pesquisa para poder elucidar essas suposições. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS. As escolas públicas de Manaus apresentam certa carência em relação à realização de aulas práticas de Biologia. Isso demonstra que os professores da disciplina ainda não valorizam essa atividade como estratégia pedagógica ou simplesmente não possuem recursos de várias naturezas para realizá-las. Através deste trabalho, verificou-se que 12 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 tais atividades são realizadas esporadicamente em um grande intervalo de tempo, no caso semestral ou mensal, o que, nós acreditamos não ser suficiente para atender as demendas do conteúdo, privando os estudantes de uma forma eficiente e privilegiada de aprendizado. O espaço físico dos laboratórios não está diretamente relacionado com a satisfação dos alunos no que se refere às aulas práticas, pois o que determina a qualidade da aula é a forma como é conduzida e explorada pelos professores, que por sua vez, conseguem em um significativo número atingir seus objetivos e elucidar o conteúdo de forma satisfatória. Por outro lado, um pouco mais da metade dos alunos (quase 60%) não consegue acompanhar as atividades. Este fato pode estar relacionado à falta de monitoria na maioria das aulas, o que sobrecarrega o professor, tendo este que se desdobrar não somente no planejamento, como também na execução das atividades. Outro fator seria a falta de materiais laboratoriais suficientes e de acomodações para os alunos, o que indiscutivelmente prejudica o andamento das atividades, mostrando que o interesse tanto do professor quanto do aluno é o fator determinante para um bom aprendizado. De forma geral, o número de atividades práticas têm sido insatisfatório para os alunos. As turmas geralmente são grandes, superlotando o espaço físico oferecido pelo laboratório. A divisão das turmas nas aulas muitas vezes não é possível devido à restrição do cronograma, não permitindo a execução do número de aulas práticas necessárias Observou-se a existência de até dois laboratórios em cada escola, sendo geralmente um de informática e outro de “ciências”, um ambiente em que se podem realizar experimentos de física, química e biologia. Constatou-se também que as escolas visitadas apresentam sala de vídeo e biblioteca. Essas salas existem na escola basicamente como estrutura, mas algumas destas ainda não estão completamente implementadas. Foi relatado pelos professores que as aulas práticas estavam sempre relacionadas com as matérias ministradas e geralmente ocorriam uma vez a cada quinze dias ou uma vez por mês. Foi também dito, pela maioria dos professores, que em seu planejamento estavam incluídas aulas práticas, mas foi comprovado por relatos dos mesmos que apesar do planejamento isso nem sempre ocorria, sendo as datas das 13 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 aulas já previamente marcadas e combinadas com a diretoria que às vezes eram desmarcadas por eventualidades. Foram constatados que os recursos mais utilizados são modelos esquemáticos seguidos pelo microscópio. Os alunos geralmente respondiam de forma satisfatória as aulas práticas, apesar da maioria dos professores terem respondido que não receberam treinamento para ministrar as mesmas; infere-se então que a capacitação para execução de práticas não é determinante na realização destas. Apesar de não receberem apoio da administração da escola, e não terem tempo livre para o preparo dessas atividades, os professores conseguem realizá-las e contam com incentivo apenas dos alunos. Os administradores declararram que há um laboratório exclusivo para as práticas de “ciências”, e que este está disponível para o uso de todos os professores interessados. Os laboratórios não são abertos para a visitação dos alunos (sem supervisão) para uma melhor preservação do mesmo. A administração da E. E. Senador João Bosco, diferentemente das outras garantiu apoiar os professores na execução das práticas, mas exige a reposição de qualquer objeto que seja danificado ou furtado; consequentemente nesta escola as aulas práticas ficam muito limitadas à sala de aula. Corroborou-se o relato dos professores e administradores através da visitação aos laboratórios, que nem sempre possuem espaço suficiente para abrigar todos os alunos de uma turma. As escolas E. E. Mirtes Marques Trigueiro e E. E. Maria Madalena S. de Lima apresentam laboratório de tamanho reduzido (inviável para grandes turmas) e matérias básicos de estrutura precários que dificultam sua utilização. Os demais apresentam uma boa estrutura, mas não têm bancos para todos os alunos, o que não impede sua utilização. O mais importante de tudo é que a curiosidade não deixe de ser despertada nos estudantes, permitindo que a ciência se torne cada vez mais participante da realidade dos estudantes. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação do Ensino Médio. Parâmetros curriculares nacionais, Brasília, MEC/SEE, 1998. FRANCALANZA, H. O Ensino de ciências. 12.ed. Atual, São Paulo, 1997. 14 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 GEWANDSZNAJDER, F. Manual do professor no ensino das ciências. Ática, São Paulo, 2002. KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. Harpa, São Paulo, 1996. KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. EPU, São Paulo, 1987. MOREIRA, M. A., Ensino e aprendizagem: enfoques teóricos. São Paulo: Moraes, 1985. SANTANA, F. Planejamento de ensino e avaliação. 11ª edição. Sagra Luzzatto, Porto Alegre, 1995. 15 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 INFÂNCIA INDÍGENA: AS CRIANÇAS SATERÉ-MAWÉ COMO PRODUTORAS DE CULTURAS Roberto Sanches Mubarac Sobrinho 2 (Recebido em 14/09/09; aceito em 15/12/2009) Resumo: O presente artigo consiste na apresentação dos resultados da pesquisa realizada junto à comunidade indígena da etnia Sateré-Mawé que se localiza em uma área urbana na cidade de Manaus, tendo como sujeitos um grupo de 12 crianças entre 04 e 12 anos que durante 08 meses foram nossas interlocutoras e nos evidenciaram, através de diversas linguagens, como elas vivem e constroem suas culturas da infância, tendo tanto os elementos tradicionais da cultura de seu povo como as diversas influências do meio urbano, elencados nos seus jeitos de viver a infância. O texto reflete juntamente com as crianças a importância da valorização da cultura Sateré-Mawé, através das brincadeiras, dos rituais, das músicas tradicionais e da língua, e como neste “entre-lugar” – o espaço urbano – são construídas estratégias para garantir o jeito de ser criança, de ser Sateré-Mawé e ainda de se relacionar com o “mundo” e a escola do “branco”. Palavras-chave: Infância, Cultura Sateré-Mawé, Crianças indígenas “urbanas”. Abstract: The present article consists the result of the research carried through in an indigenous community of Sateré-Mawé people that it is located in an urban area of Manaus city, which has as main subjects a group of 12 children between 04 and 12 years old, whose during 08 months had been our interlocutors and had evidenced it, through diverse languages, how they live and build their culture of childhood, which has besides the traditional elements of culture of their people, the diverse influences of the urban context, gathered in their skills of living childhood. The text in addition with the children reflect the importance of the valuation of the Sateré-Mawé culture, through the tricks, the rituals, the traditional music and the language, as this “between-place” - the urban space - strategies are constructed to guarantee the skill of being child, being Sateré-Mawé and still relating with the “world” and the school of the “white” people. Keywords: Childhood, Sateré-Mawé culture, “Urban” indian children. 1 INTRODUÇÃO 2 Professor da Universidade do Estado do Amazonas e doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, com aprofundamento de estudos em Sociologia da Infância no Instituto da Criança, Universidade do Minho-Portugal. [email protected]. 16 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A temática indígena tem sido muito discutida, pesquisada e evidenciada nas últimas décadas 3, em especial nas áreas de Educação e de Sociologia, influenciadas pela relevância dada à mesma no campo da Antrolopogia. Seguindo esse caminho de crescimento, não há como negar que outras áreas do conhecimento também passaram a ter uma preocupação mais efetiva com essa questão, o que resulta em um crescimento significativo das produções acadêmicas e na conferência de uma maior visibilidade para os povos indígenas. Contudo, o estudo acerca das crianças não tem merecido o mesmo destaque. Essa trajetória não se caracteriza somente com as crianças indígenas, mas com as crianças como um todo e principalmente aquelas sujeitas a situações de risco e exclusão sociais, o que tem representado um caminhar lento frente às pesquisas com os adultos. Porém é inegável que, no Brasil, um elenco de trabalhos significativos 4 foram realizados e apontam prospectivas, no mínimo animadoras, sobre esses “pequenos” sujeitos e suas presenças na literatura especializada e em espaços onde foram por muito tempo silenciados, a exemplo das ciências sociais, como argumenta Quintero (In: FARIA et al. 2002, p. 105): É possível reafirmar que no campo das Ciências Humanas e Sociais os estudos sobre a criança e a infância não têm merecido, por parte dos pesquisadores, ao longo de todo este século, uma atenção mais regular e sistemática. Ao que tudo indica, há ainda, resistência por parte dos cientistas sociais em aceitar o testemunho infantil como fonte de pesquisa confiável e respeitável. Sob o foco desta argumentação, partimos do pressuposto de que a criança SateréMawé é um sujeito histórico, e por isso, enveredamos nossos olhares ao reconhecimento desta condição social de sujeito. Essa possibilidade, para Silva, Macedo e Nunes (2002, p. 15), apesar das questões balizadas pelo trabalho do historiador francês Philippe Áries: A Historia Social da Criança e da Família (1962:1981), das propostas surgidas na década de 1970 e do crescimento dos debates na década de 1980, a sedimentação de fato deste espaço ganha relevância a partir de 3 Fernandes (1979); Meliá (1979); Brandão (1981); Laraia (1986); Carneiro da Cunha (1987); Junqueira (1991); Capacla (1995); D'angelis e Veiga (1997); Silva (1998); Carvalho, 1998; Weigel (2000); Silva e Ferreira (2001); Bessa Freire (2002, 2004); Arguelo (2002); Silva e Grupione (1998); Nascimento (2004); IBASE (2004); Veiga e Ferreira (2005), entre outros. Martins (1993); Nunes (1997); Freitas (1997); Silva, Macedo e Nunes (2002); Freitas (2002); Faria, Demartini e Prado (orgs.); Nunes, 2003; Veiga e D’angelis, 2003; Cohn (2005); Nascimento (2005); Del Priori (2006), entre outros. 4 17 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 1994, influenciada pelo movimento europeu da Antropologia, em especial da Etnografia, que “... inaugura em definitivo um espaço de investigação científica, legitimando-o como de vital importância para as crianças e para a reflexão atual que se faz no seio das ciências sociais e da educação”. Fundamentada nos estudos da antropóloga Allison James e do sociólogo Alan Prout, de 1990, a obra “Crianças Indígenas: ensaios antropológicos” explicita seis princípios 5 que podem orientar a consolidação de um novo paradigma para o estudo da infância, sintetizados a seguir: 1. A infância deve ser entendida como construção social [...], 2. A infância deve ser considerada como variável de analise social [...], 3. As relações sociais e a cultura das crianças são merecedoras de estudos em si mesmas [...], 4. As crianças devem ser vistas como ativas na construção e determinação de sua própria vida social [...], 5. A etnografia é um método particularmente útil ao estudo da infância. Permite à criança participação e voz mais direta na produção de dados [...], 6. A infância é um fenômeno em relação ao qual uma dupla hermenêutica das ciências sociais está presente, ou seja, a proclamação do novo paradigma da sociologia da infância também deve incluir e responder ao processo de reconstrução da infância na sociedade (SILVA, MACEDO E NUNES, 2002, p.18). Valendo-nos desses princípios, fomos impulsionados a enveredar no espaço da pesquisa, que teve a Etnografia como opção metodológica, pois, neste caso específico, ela se apresentou como a fundamentação que mais pode dar conta, tanto da inserção no espaço da pesquisa, quanto dos procedimentos de análise 6. Assim, para Cohn (2005, p. 10), “usando-se da etnografia, um estudioso das crianças pode observar diretamente o que elas fazem e ouvir delas o que têm a dizer sobre o mundo”. Assim, a efetivação da pesquisa no contexto das crianças, deu-se através de um amplo processo de participação nas atividades cotidianas e na recolha de suas vozes e 5 Optamos em trazer apenas uma síntese dos princípios adotados, por entendermos que tanto no texto original, em inglês, quanto no texto de Silva, Macedo e Nunes, na parte introdutória denominada “Contribuições da etnologia indígena brasileira à antropologia da criança”, os mesmos são apresentados de forma completa. 6 Conforme análise de Caria (2002). 18 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 imagens, entrecruzadas com uma ampla revisão de literatura, frente a “geração de dados” 7. Durante os meses da pesquisa, passamos a conviver diariamente com as crianças na comunidade, acompanhando as diversas atividades que as mesmas desenvolviam. Nossa entrada no “campo” deu-se primeiramente através das lideranças – Cacique Luiz e os membros da Associação WAYKIHU, órgão legalmente constituído que representa a comunidade – posteriormente com os pais que nos autorizaram a realização da pesquisa, através de documentos escritos, até começarmos de fato o contato com as crianças, que também concordaram na participação. Para Kramer (2002), não só os adultos devem permitir a participação das crianças nas pesquisas, mas elas mesmas têm que autorizar sua participação, afinal, partimos do pressuposto de que as crianças são sujeitos históricos e, como tais, merecem esse reconhecimento. Nos primeiros dias procuramos acompanhar as atividades, sem o uso dos instrumentos formais de “geração de dados”, seguindo as indicações de Ferreira (2002). No entendimento desta autora, os adultos devem ultrapassar alguns “rituais transitórios” para serem aceitos no mundo das crianças, pois, na base de ingresso no universo das suas realidades, encontram-se: [...] relações e interacções sociais entre adulto e crianças e entre estas ultimas, onde poderes, racionalidades e subjectividades, aferindo-se em permanência, (re)constroem reflexivamente sentidos partilhados do que «ali se está a fazer», assim é preciso entrar cuidadosamente no terreno (Idem, p. 150). Tais indicações foram fundamentais para começarmos de fato a pesquisa usando nossos instrumentos pois, no momento em que começamos a utilizá-los, já dispúnhamos de certa confiança por parte das crianças, o que nos ajudou, inclusive, a explicar que a câmera fotográfica, o gravador, a filmadora, o caderno de campo, os desenhos e os roteiros de entrevistas, estavam sendo usados para que pudéssemos conhecê-las melhor e que elas próprias poderiam utilizar esses instrumentos e observar tudo que fizéssemos com eles, o que acontecia sempre após o término da utilização 7 A utilização deste termo é uma apropriação da obra de Graue & Walsh (2003, P. 115). “Os dados não estão ai a nossa espera, quais maçãs nas arvores prontas a serem colhidas. A aquisição de dados é um processo muito activo, criativo e de improvisação”. 19 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 dos mesmos. As falas gravadas eram ouvidas por todas elas e as fotos e imagens eram observadas uma a uma, além de fazermos a leitura das informações que havíamos anotado no caderno de campo. Essa postura de pesquisa ajuda o pesquisador a entrar, na visão de Caria (2002, p. 12) “... dentro do contexto em análise, apesar de não se transformar em autóctone”, o que se refletiu nas atitudes das crianças frente aos nossos objetivos e a forma como elas participaram cada dia mais efetivamente na condição de sujeitos. Neste sentido, os estudos da Sociologia e da Antropologia Geral e da Infância 8 serviram de base teórica para as análises feitas a partir dos “dados” da pesquisa, que serão explicitados ao longo do presente texto. A utilização dessas duas áreas em particular alicerçou o levantamento das condições teóricas acerca dos conceitos de infância e culturas infantis, que foram triangulados às “vozes” das crianças, no intuito da construção das categorias que explicitaram as “representações de infância indígena” e de “cultura infantil indígena” a partir do “micro-contexto” no qual as crianças SateréMawé estão inseridas, revelando-se o que elas “pensam” sobre a sua infância, como elas constroem seus olhares sobre o “jeito de ser” Sateré-Mawé e como as imposições da realidade (no seu contexto social e escolar) interferem ou modificam suas culturas enquanto indígenas. Para Bourdieu (2003, p. 27. Grifo nosso): O espaço social me engloba como um ponto. Mas esse ponto é um ponto de vista, princípio de uma visão assumida a partir de um ponto situado no espaço social, de uma perspectiva definida em sua forma e em seu conteúdo pela posição objetiva a partir da qual é assumida. O espaço social é a realidade primeira e última já que comanda até as representações que os agentes sociais podem ter dele. Desta maneira, este artigo transita, num “terreno” ainda mais íngreme, o espaço social das crianças indígenas “urbanas”, o que nos coloca diante de uma temática cheia de contradições e mesmo controvérsias. Todavia, o convívio com as crianças e os demais membros da comunidade e o tempo em que estivemos juntos, principalmente com elas, 8 Geertz (1989 e 2001); Hall (1997); Pinto e Sarmento (1997); Ferreira (2000); Montandon (2001); Corsaro (2002); Bourdieu (1982, 2003 e 2004); Iturra (2002); entre outros. 20 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 nos fortaleceu, tanto no enfrentamento dos desafios, como na busca de argumentos para compreender esse “entre-lugar” 9 e as diversas críticas e rejeições construídas quer no campo das ciências, quer no campo das relações entre os povos indígenas urbanos e as entidades indigenistas e, principalmente, a exclusão dos diversos agentes da sociedade em aceitar sua condição de Sateré-Mawé, mesmo distante de seu “lócus” de origem. Assim, correndo muitos “riscos de derrapagens”, resolvemos assumir essa possibilidade de compreensão e de construção de uma visão – cosmovisão 10 – e uma representação de mundo sob a ótica das crianças Sateré-Mawé. Então ouçamos o que elas têm a nos dizer e explicar... 2 A COMUNIDADE WAYKIHU: UM LUGAR DAS CRIANÇAS Falar em lugar ou espaço demanda uma revisão teórica um tanto densa acerca dos conceitos que engendram o entendimento dessas duas categorias. No entanto, não é nosso objetivo aprofundar esses conceitos nesse texto. Queremos, sim, entendê-los numa dimensão contextual, como nos explica Graue e Walsh (2003, p. 25): Um contexto é um espaço e um tempo cultural e historicamente situado, um aqui e agora específico. É o elo de união entre as categorias analíticas dos acontecimentos macro-sociais e micro-sociais. O contexto é o mundo apreendido através da interacção e o quadro de referência mais imediata para actores mutuamente envolvidos . Nossa pesquisa se deu em uma das duas comunidades indígenas da etnia SateréMawé, que ficam localizadas numa área “verde” no perímetro urbano – zona Oeste da cidade de Manaus-Amazonas. Os Sateré-Mawé 11 que moram nas comunidades são 9 Esses “entre-lugares” fornecem o terreno para a elaboração de estratégias de subjetivação – singular e coletiva – que dão início a novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, no ato de definir a própria idéia de sociedade. (BHABHA, 1998, p. 20). 10 Termo apropriado do texto de Nascimento (2005). 11 O primeiro nome - Sateré - quer dizer "lagarta de fogo'', referência ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, aquele que indica tradicionalmente a linha sucessória dos chefes políticos. O segundo nome - Mawé - quer dizer "papagaio inteligente e curioso'' e não é designação clânica. 21 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 oriundos da região do médio rio Amazonas e habitavam as áreas indígenas do Andirá e do Marau, que foram demarcadas em 1982 e homologadas em 1986, com 788.528 hectares, entre os estados do Amazonas e Pará. O processo de migração desta etnia para Manaus se deu a partir da década de 1970, de forma muito tímida. Mas, “já em 1980, o antropólogo Jorge Osvaldo Romano contou 88 Sateré-Mawé vivendo na periferia dessa cidade”. (ÁLVARES, 2005, p. 12). Os dados do IBGE de 2000 12 estimam um total de 7.893 pessoas de diferentes etnias morando nos bairros de Manaus, das quais, aproximadamente 500, seriam SateréMawé. Cabe observar que, conforme adverte o Instituto Sócioambiental13, os números sobre a população indígena brasileira não passam de estimativas. Não existem dados precisos, pois nunca foi realizado um censo indígena de amplitude nacional. É neste processo migratório que surgiu a comunidade WAYKIHU (estrela), que está localizada no bairro da Redenção, num espaço bastante íngreme, sob a forma de barranco. Possui uma área de aproximadamente 52 metros de frente por 54 metros de fundo, onde residem 14 famílias organizadas em habitações de madeira e alvenaria. Ao todos são 67 pessoas, entre crianças e adultos 14. A principal atividade é o artesanato, que é comercializado em barracas que ficam na frente da comunidade. Segundo o Cacique Luis – líder da comunidade - a vinda deles para a cidade de Manaus se deu como uma forma de buscar melhorias para as condições de vida, devido aos fortes problemas enfrentados por eles na aldeia, principalmente relacionados à saúde e à educação, fatos que são comprovados pelos estudos e pesquisas do antropólogo Nunes Pereira (2003) desde o final da década de 1930. “Foi muito difícil nós sairmos da aldeia pra buscar a cidade grande. Mas nós queríamos que nossos filhos tivessem uma vida que nós não tivemos, educação, faculdade, pra ajudar os parente na luta pelos nossos direitos... Se 12 Extraídos do site www.ibge.gov.br Esta Instituição produziu um material intitulado “Povos indígenas no Brasil”. Para aprofundamentos, buscar o site www.socioambiental.org 14 Esses dados foram coletados na própria comunidade no decorrer da pesquisa, com a colaboração do Cacique Luiz. É importante salientar que existe outra comunidade Sateré-Mawé, bem ao lado desta onde realizamos a pesquisa, mas, por conflitos entre eles, estão separados e não mantêm uma relação amigável, o que nos “obrigou”, de certa forma, fazer a escolha por uma delas, neste caso a de maior população adulta e infantil. 13 22 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Tupaná não me levar, eu vou conseguir que meus filhos cheguem lá, mas sem 15 perder a nossa cultura...” Nossas idas para a comunidade começaram a delinear cada vez mais os olhares sobre o cotidiano das crianças e nos permitiram uma aproximação cada vez maior nos espaços onde as mesmas transitavam, seja nas suas brincadeiras ou em outros momentos, como ajudar nas atividades de casa e na confecção do artesanato ou mesmo nas tarefas escolares, atividades estas que eram realizadas com as mais velhas ajudando as mais novas. Nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril, período inicial da pesquisa de campo 16, o tempo em Manaus é bastante instável, havendo temporais em dias em que a temperatura chega, aproximadamente, aos 36 graus e o sol parece queimar nossas cabeças. De uma hora pra outra, a chuva começava a cair torrencialmente, mudando completamente a paisagem da comunidade e as nossas possibilidades de interação com as crianças. Nos dias de muita chuva era praticamente impossível fazer qualquer observação, pois o local, impossibilitava as crianças de saírem, obrigando-as, de certa forma, a ficarem trancadas em casa, fato que desagradava bastante à maioria delas, como nos relataram. “Chuva é ruim, não da pra gente brincar” (Kely, 04 anos.). “Quando chove muito, o barranco fica liso e nos tem medo de caí. Aí nossa mãe num deixa nós saí de casa” (Talisse, 09 anos.). “Chove muito aqui, aí a gente fica tracada em casa. Eu num gosto não”(Emille, 05 anos). “Chuva é bom por que molha as árvores pra elas crescer”(Raquel, 09 anos). Em contrapartida, nos dias de sol, elas estavam sempre transitando pelas áreas da comunidade. Nesses dias era comum encontrarmos quase todas elas reunidas fazendo o que mais gostam de fazer, como nos disseram, “brincar, correr, cantar...”. Apesar de 15 Fala extraída das entrevistas e filmagens realizadas com o Cacique Manoel Luiz Gil da Silva. Durante esses quatro meses, fomos quase todos os dias para a comunidade e ficávamos lá, principalmente no horário da manhã. Mas quando havia muita chuva, costumávamos ir após o tempo melhorar, o que ocorria principalmente à tarde. 16 23 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 poucos espaços para realizarem essas atividades, não lhes faltava criatividade para os explorarem. Para Silva, Macedo e Nunes (2002, p. 44): Há sempre novos conhecimentos à espera de ser descobertos e incorporados à experiência de vida de cada um. O aprendizado parece ser pensado, assim, como algo para toda a vida: a cada etapa vencida, novos patamares de conhecimentos e de experiências apresentam-se. Foram inúmeras as atividades acompanhadas no decorrer de nossa estada na comunidade, o que nos aponta duas questões: uma possibilidade tremenda de escolhas e, ao mesmo tempo, um sentimento de não poder trazer toda a experiência que foi vivenciada para o corpo do presente texto 17. Desta maneira, as descrições que procederemos aqui partiram de escolhas feitas em acordo com as crianças, diante daquilo que para elas era mais significante, neste universo de inúmeras possibilidades. Assim, também nossas análises estão ligadas diretamente com a participação das crianças em todo o processo. Tal opção é reforçada pela posição de Silva, Barbosa e Kramer (2005, p. 52). Segundo estas autoras: É preciso que o pesquisador se coloque no ponto de vista da criança, como se estivesse vendo tudo pela primeira vez [...]. Isso vai exigir do pesquisador descentrar seu olhar adulto para poder entender, através das falas das crianças, os mundos sociais da infância. Uma das formas de “adentrarmos” no mundo social das crianças Sateré-Mawé foi através das brincadeiras, sendo que uma das mais freqüentes era a casinha (Mêp iát). As meninas se reuniam num espaço coberto, que é usado como uma oficina de artesanato, ou nas barracas de venda de artesanato ou em outros lugares onde houvesse possibilidade de brincarem, desde que os adultos não estivessem trabalhando. Então elas ocupavam o local disponível. Rapidamente iam chegando e já começavam a brincar. Arrumavam a “casa” com os vários objetos que dispunham ao seu redor. Tijolos e pedaços de madeira viravam bancos, mesas, camas, armários que 17 O que pode ser visto de forma completa na tese de doutorado. Mubarac Sobrinho (2009). 24 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 eram adornados com folhas, pedrinhas, sementes e tudo que possibilitasse a elas compor o ambiente. “Nós gostamos de brincar de um monte de coisa, mas casinha é mais legal” (Raquel, 09 anos). “Eu e a Raquel nós brincamos assim: quando é só louça de cozinha, a gente bota na cozinha, aí quando é só coisa de banheiro, a gente bota no banheiro, quando é só coisa do quarto, a gente bota no quarto, a gente faz cadeira, faz caminha, né Raquel?” (Taíza, 12 anos). “Eu arrumo a casinha pra nós brincar de fazer comidinha com as folhas”(Nandria, 05 anos). Começavam com a limpeza da casa, depois iam arrumando os cômodos (quase sempre dois ou três, assim como em suas moradias, muitas delas não possuem banheiro, que são socializados entre os poucos que existem no lugar) e, por fim, faziam as comidas para se alimentarem. As atividades eram sempre socializadas, não havendo, aparentemente, hierarquia entre elas, apesar de estarem brincando juntas crianças dos dois aos doze anos de idade. Um fato que nos chamou bastante atenção é que, na maioria das vezes, somente as meninas participavam da brincadeira, o que nos parece bastante familiar em nossa cultura. Nas poucas vezes em que os meninos estavam presentes, era para assumirem a função do pai. Nunes (1997), em sua pesquisa com os A’uwé-Xavante, também observou a freqüência com a qual as crianças, na aldeia, brincavam de casinha e desenvolviam atividades extremamente importantes para serem incorporadas às suas culturas. Segundo a autora: A ‘brincadeira de casinha’ oferece imensas possibilidades de reflexão sobre a leitura que a criança faz da sua sociedade, desde o grupo doméstico até ao universo de todas as relações comunitárias, elaborando-as, reformulando-as e expressando-as, manifestando apreensão de traços culturais através de uma das práticas mais comuns entre as crianças de todas as culturas e de todas as épocas. (p.197). Ainda associada a esta brincadeira, vivenciamos as crianças assumirem papéis diferenciados na organização da casa, mas as evidências indicam não haver uma forma determinada pois, nas várias vezes que as observamos, elas variavam constantemente 25 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 as funções. Um desses papéis era o de cuidar das crianças, ou seja, a idéia da maternidade. Uma das meninas trazia a sua boneca (industrializada) para que pudessem cuidá-la e as demais, ao pegarem-na no colo, davam-lhe nomes diferentes, sem haver discordância entres as mesmas para tal situação. Para elas, mesmo a boneca tendo uma dona, no ato de brincar, cada uma assumia o lugar da mãe, ou seja, a reprodução ou a ressignificação do imaginário sobre a maternidade. “Minha filha é a Laíze” (Nandria, 05 anos). “A minha é a Taiana, eu dou mamadeira pra ela” (Talisse, 09 anos). “Eu gosto da minha criança, ela tem o nome igual ao meu (Laiz, 08 anos). “A gente coloca outros nomes quando não quer botar igual ao nosso, a gente coloca outro nome de flor, natureza, passarinho” (Taíse, 12 anos). De acordo com Silva, Macedo e Nunes (2002), as brincadeiras são momentos fundamentais para compreendermos o universo infantil, pois as crianças sabem coisas que muitas vezes se quer nos passariam pela cabeça. Reforçam as autoras que: Essas brincadeiras estabelecem entre si uma relação de complementaridade, refletindo momentos de interiorização e exteriorização, de concentração e de expansão, de descoberta e de reafirmação, de vivências individuais e coletivas, por certo necessários a um desenvolvimento equilibrado e pleno (p. 79). Pensar esse espaço das brincadeiras como fundamental para a construção de uma cultura coletiva, sem dúvida, é uma tarefa de importância ímpar, pois as crianças parecem compreender de forma muito clara a constituição objetiva deste espaço. Brincar é uma “performance” que se remete diretamente às atividades diárias vividas pelos adultos e possibilita às crianças interferirem nessa realidade de forma dialógica e relacional, construindo papéis sociais onde as suas formas de interpretar a realidade, apresenta-se, inclusive, como expressão de seus questionamentos ao determinismo dos adultos frente às suas possibilidades de enfrentamento do mundo. Entre os Sateré-Mawé, as crianças são membros ativos da sociedade. Apesar de estarem no espaço urbano – ou seja, fora de seu meio tradicional - eles compreendem a infância como uma etapa da vida que se sustenta no convívio coletivo e respeitoso, ou seja, a educação é um fator fundamental nesse processo, como nos afirma Melià (2000, p. 12): 26 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Os povos indígenas sustentaram sua alteridade graças a estratégias próprias, das quais uma foi precisamente a ação pedagógica. Em outros termos, continua havendo nesses povos uma educação indígena que permite que o modo de ser e a cultura venham a se reproduzir nas novas gerações, mas também que essas sociedades encarem com relativo sucesso situações novas. 3 CULTURAS DA INFÂNCIA SATERÉ-MAWÉ: ENTRE AS VOZES E OS IMAGINÁRIOS DAS CRIANÇAS O conceito de infância que adotaremos aqui não será determinado pelos preceitos estabelecidos nos campos disciplinares, nem pelas determinações jurídicas, apesar de fazermos referências a estes, pois, segundo Cohn (2005, p. 09), “...não podemos falar de crianças de um povo indígena, sem entender como esse povo pensa, o que é ser criança e sem entender o lugar que elas ocupam naquela sociedade”. Para os Sateré-Mawé, a infância é a fase da vida que vai do nascimento até o Ritual da Tucandeira ou Tocandira, quando o menino se torna homem. Ou seja, não há uma relação direta com o desenvolvimento feminino, mas o rito, para eles, é o balizador entre os dois mundos, o do adulto e o da criança, marcando definitivamente o status e as determinações das posições na sociedade. O ritual torna explícita a estrutura social, a cristaliza simbolicamente, expressa o sistema de relações sociais ideal aprovado entre os indivíduos que participam. Os ritos fazem visíveis as alianças políticas que precisam ser mostradas para serem simbolizadas, dão significado aos símbolos abstratos. Através dos ritos as pessoas se sentem parte de uma comunidade política. Os rituais relacionam o local com o pertencimento a unidades mais amplas, expressam as relações entre grupos, relacionam tempos míticos com tempos históricos (ALVARES, 2005, p. 04). Para compreendermos os processos que envolvem a construção da identidade e das culturas da infância, faz-se necessário adentrar ao modo como o ritual é tratado e sua força na estrutura desta sociedade. Apesar das crianças não participarem, elas convivem com o poder simbólico que o mesmo possui para os Sateré-Mawé, o que as 27 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 leva a indiretamente estarem convivendo com os preparativos e com a importância que o Waumat possui para o seu povo. Segundo Alvares (2005, p. 05): WAUMAT, o ritual da tocandira, pode ser divido em três partes: a preparação; o ritual propriamente dito; a reintegração num novo status [...]. No caso do waumat o período de preparação para os que vão deixar-se ferroar estaria marcado por uma série de interditos alimentares, espaciais, e outros de caráter sexual. [...] A passagem aconteceria depois de introduzir a mão vinte vezes e passar por um teste de caça e outro de purificação, para completar a mudança de status. Apesar de certa flexibilidade na finalização da série de ferroadas, todas as pessoas sabem quantas vezes o rapaz botou a mão na luva e sua atitude frente ao desafio. Sendo o ritual um marco balizador entre a infância e a fase adulta, ele representa para as crianças a transformação mais forte no seu processo de desenvolvimento. Para os meninos (Pian), 18 é o período de comprovar sua força às novas atribuições perante os mais velhos e, principalmente, demonstrar a sua família a capacidade de enfrentar a dor e superar os obstáculos da vida com saúde, coragem, honra e outros valores considerados fundamentais a esse povo. Já para as meninas (Pirin), é o período de esperar pelo marido, de ser escolhida por um dos guerreiros novos para continuar a tradição da maternidade. Entre elas a idade é mais relacionada à primeira menstruação, não havendo uma etapa determinada para poderem ser escolhidas. A partir do ritual começa a separação mais efetiva dos mesmos, que até então convivem diretamente nos diversos espaços da comunidade (PEREIRA, 2003). Elas assim relatavam o ritual: “A gente dança três passos pra frente e pra trás, nós só podemos fazer isso”(Laiz, 08 anos). “Eles botam as mãos na luva, tem que ferrar 20 vezes” (Taíza, 12 anos). “Só os meninos maiores podem pôr a mão na luva, a gente não pode por que ainda é pequeno” (Mateus, 07 anos). Entre os Sateré-Mawé “urbanos”, a manutenção desta tradição é condição fundamental para a preservação de sua cultura. Eles são enfáticos em transmitir desde cedo para as crianças a importância deste “momento” para o seu povo. Viver no espaço urbano e conviver com as diversas formas de negação e adaptação aos valores da sociedade 18 Todos os termos em Sateré foram extraídos do livro de Nunes Pereira (2003). 28 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 circundante acaba levando os adultos a construírem estratégias de mediação entre essas fronteiras. Neste sentido, explica Bhabha (1998, p.p. 20-21) que “a articulação social da diferença, da perspectiva da minoria, é uma negociação complexa, em andamento, que procura conferir autoridade aos hibridismos culturais que emergem em momentos de transformação histórica”. Nas palavras do Cacique Luiz, essa importância se torna bastante evidente. “Nós sabemos separar a água do vinho, o branco tem o carnaval, as festas dele e nós temos o nosso ritual da tucandeira. Coloca 250 tucandeira no Saripé e aí nós colocamos a mão lá, aí mostrando que nós somos guerreiros, somos felizes, temos saúde e resistência. É só os homens que tem a condição de meter a mão no Saripé, a mulher é pra acompanhar o ritual, elas são as nossas parceiras. Pra nós aqui com 13 anos ele já é pescador, caçador, então ele já ta liberado pra enfrentar o ritual”. Outro elemento da cultura que as crianças incorporam e ressignificam de forma bastante forte é a aprendizagem das músicas tradicionais, cantadas pelos adultos e transmitidas a elas pelas suas mães. Na comunidade eram momentos constantes durante suas atividades, elas estarem cantando essas músicas. Como há um número significativo dessas canções que fazem parte do cotidiano das crianças, faremos a descrição de uma delas, escolhida pelas próprias crianças e procederemos nossas reflexões, compartilhando as representações que o grupo explicitou através das suas falas. A música escolhida é chamada pelas crianças de “Fazer a farinhada”. A letra que utilizaremos foi descrita por elas mesmas, ora escrevendo, ora cantando - quando não sabiam como se escrevia certas palavras. Desta maneira, preferimos transcrevê-la literalmente, a partir do entendimento e da representação delas, sem interferência nossa. “Pra fazer a farinhada... Muita gente eu vou chamar... (bis) 29 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Só quem entende de farinha... venha peneirar aqui...(bis) Todo povo de Maués... Venha peneirar aqui...(bis) Só quem entende de farinha... venha peneirar aqui...”(bis) A ênfase nesta música se remete bastante à cultura dos Sateré-Mawé, na produção de farinha de mandioca (Mani), alimento importantíssimo para eles. São diversas as comidas (Miú) feitas com a farinha, mas, entre os Sateré “urbanos”, e logo, as crianças, o Chibé 19 é a mais comum de todas. As duas primeiras estrofes da música mostram a importância da organização coletiva e o quanto é cultivado entre eles o trabalho em grupo, ou seja, o puxirum, o fazer, o preparar (Etonon). As crianças fazem questão de reforçar a idéia de que “muita gente eu vou chamar...”, não só através da própria música, mas dos gestos que faziam quando cantavam. Ao serem indagadas sobre a farinhada, elas prontamente nos explicavam: “Farinhada tem que ter muita gente? Se não num da pra fazer”(Laiz, 08 anos). “É uma farinha de comer” (Gabriel, 06 anos). “A gente faz a farinhada lá no interior, a vovó fazia a gente descascar e botamos no fogo, depois fazia a farinhada”(Taize 12 anos, a única das crianças que participou de fato da farinhada quando morava na aldeia). “É um alimento muito bom” (Gabriel, 06 anos). “A gente come peixe com farinha” (Mateus, 07 anos). “A gente compra a farinha por que não tem como fazer a farinhada aqui” (Késia, 10 anos). “A gente ta sempre junto cantando a música da farinhada, mas nós nunca fizemos. Mas pra cantar é bom com todas crianças, minha mãe disse que pra fazer também todo mundo ajuda” (Raquel, 09 anos). As falas reforçam os versos da música e a idéia de que todos têm que participar, pois o resultado desse esforço coletivo é o alimento que será distribuído entre eles. No entanto, é importante deixar bem claro que para elas o “fazer a farinhada” está ligado ao imaginário, ou seja, uma construção simbólica, pois na comunidade elas não preparam a farinhada, lá não existe nem a matéria-prima e nem o local apropriado (forno). Mas é notória a vivacidade que as mesmas expõem quanto à vontade de 19 Comida feita em uma cuia, onde se mistura água com farinha d’água (Ui), ou a farinha de mandioca (Mani) grossa, para servir de alimento. Em sateré, chama-se Urgia. 30 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 participar desse importante “ato”. Elas, ao cantarem a música, demonstram, por seus gestos, como se corta, descasca, prepara e todos os demais processos envolvidos na farinhada. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Cantar, brincar, reproduzir o cotidiano dos adultos ou ressignificá-lo, identificar os limites territoriais e sociais que as diferenciam dos demais moradores do bairro ou alunos da escola que estudam, pintar a pele, falar a língua que seus pais falam, dentre outras vivências observadas, são elementos presentes na cultura das crianças SateréMawé, que caracterizam os seus jeitos de viver a infância. Jeitos esses talvez ainda pouco compreendidos ou incompreendidos, pela nossa cultura dominadora, mas que, para elas e seu povo, faz sentido e garante a condição de ser diferente. Querem falar, mas o silêncio petrificou suas vozes, querem ser vistas, mas a escuridão não permite que sejam enxergadas, querem dizer quem são, mas já estão determinadas a seguir o curso da História, a dominação. Seria isto uma verdade inquestionável? Talvez sim, se o processo de dizimação e branqueamento tivesse sido completado. Mas elas sobreviveram e, na contramão deste genocídio programado, estão cada dia mais vivas e presentes no seio de suas comunidades, apesar dos severos processos de subalternização ainda construídos nas relações sociais, como enfatiza Silva (2006, p. 06): Em síntese, os direitos conquistados são o resultado de muita luta e, para garanti-los, será preciso um constante exercício da cidadania. Isto significa, dentre outras questões, fortalecerem seus mecanismos próprios, enquanto povos diferenciados e, ao mesmo tempo, construírem relações de aliança e intercâmbio com setores da sociedade e do Estado. Este processo é extremamente difícil, principalmente dentro do projeto de globalização, de um mercado cada vez mais competitivo e excludente, da imposição de um individualismo absolutizado, da burocratização, do sectarismo e da discriminação. Diante disso, o exercício da cidadania indígena - coletiva e solidária - parece apenas uma utopia. Porém, quando visto dentro do conjunto das lutas sociais e da busca de construção de um novo modelo e projeto para o país, parece ser inspirador e mobilizador. 31 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 O percurso construído para adentrarmos nos espaços das crianças Sateré-Mawé pode ser caracterizado de duas formas. Uma primeira, comparando-o ao encontro das águas dos Rios Negro e Solimões, apesar da aparente harmonia existente, eles não se misturam. E outra, que foi sendo construída na desconstrução da primeira, ou seja, uma constante possibilidade de partilhar experiências foi-nos fazendo adentrar nessas águas aparentemente separadas – por uma visão da superfície – onde se confirmou que rios diferentes, culturas diferentes ou jeitos de compreender o mundo diferentes, podem se “misturar”, podem dialogar, podem interferir na forma de pensar, de perceber e de enxergar um ao outro, dando-lhes possibilidades de com-viver. E com-viver com Taiz, Larissa, Kely, Talisse, Emille, Raquel, Taíza, Nandria, Laiz, Mateus, Gabriel, Késia, seus pais e os demais membros da comunidade WAYKIHU, representou mais do que um projeto de pesquisa, mais do que a escrita de um texto ou a elaboração de uma futura tese. Representou um processo de humanização, de aquisição de valores muitas vezes desprezados no seio do espaço acadêmico – ostentador de uma condição de superioridade – levando-nos a compreender que a vida é uma possibilidade de enfrentamento de problemas tão complexos que, sem essa experiência, jamais teria sido despertado a olhá-los de frente. Lutar pelo direito de ser quem é, pela possibilidade de falar sua língua, pela paixão de estar juntos uns com os outros, pelo prazer de dividir, mesmo sendo muito pouco, pelo ato incondicional de cuidar e ser cuidado e, principalmente, pelo exercício constante de ouvir e ser ouvido. Podemos então, numa tentativa de aproximação aos modos de viver produzidos pelas crianças na comunidade, registrar algumas conclusões, que, possibilitaram, na verdade, mais do que uma definição, e sim um processo de reflexão compartilhada e sedimentada nos princípios apreendidos com as crianças, quais sejam, a solidariedade, o respeito e a vontade de fazer as coisas do seu jeito, o que nos leva a crer que as palavras de Cohn (2005, p 33) são extremamente pertinentes “... a diferença entre as crianças e os adultos não é quantitativa, mas qualitativa; a criança não sabe menos, sabe outra coisa”, sabe de outro jeito e nós devemos aprender com elas a aprender essa possibilidade de re-criar o mundo. 32 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 As crianças da comunidade WAYKIHU possuem “um jeito Sateré-Mawé” (diferente da cultura tradicional) de viver a infância, apesar de toda carga de informações que recebem no seu dia a dia, principalmente na escola, sendo que esse “entre-lugar” é o limite entre os costumes e a vida urbana, “processos que são produzidos na articulação de diferenças culturais” (BHABHA, 1998, p. 20). A relação entre adultos e crianças é dinâmica e aberta. O convívio entre as crianças é algo fundamental, ultrapassando as barreiras etárias, sendo que elas participam de diversas atividades diárias, havendo um processo de interação constante, porém com pouca relação econômica, inclusive quando se trata da confecção do artesanato. Suas brincadeiras são situações fundamentais na construção das culturas da infância e representam possibilidades de reconstruções do cotidiano social. Há uma tendência na comunidade das relações se manterem efetivamente entre elas e os adultos, com o mínimo de contato com as crianças do entorno. É um campo de relações restritas, é um microcosmo relativamente autônomo no interior do macrocosmo social (BOURDIEU, 2003). Falar a língua Sateré é um fator considerado fundamental na valorização da cultura. Para isso, foi implementado um processo educacional a partir do mês de junho (2007), onde as crianças tem aulas com um professor da comunidade sobre a língua, os rituais e as tradições da etnia. Trata-se de uma ação pedagógica autônoma e de caráter de política identitária, ou seja, de afirmação e re-afirmação da identidade própria, enquanto parte do povo Sateré-Mawé que vive uma situação específica, já que são moradores de uma grande cidade e enfrentam a problemática da vida urbana, mas que ao mesmo tempo buscam manter sua ligação com os costumes e tradições de seu povo. As expressões do cotidiano se contradizem e se confrontam notoriamente com os “conteúdos” trazidos pelas crianças da escola, o que tende a gerar uma cultura da infância indígena cuja linguagem transita entre o dito da cultura nativa e o dito legitimado socialmente pela escola. As culturas da infância encontram-se nos limiares das “encruzilhadas”, pois essas culturas possuem, antes de qualquer coisa, dimensões relacionais, estruturando-se nessas relações formas e conteúdos representacionais 33 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 distintos. (PINTO e SARMENTO, 1997). Contudo, a pesquisa comprovou que prevalece, na comunidade, a dimensão étnica e a produção de culturas infantis pelas crianças. As falas das crianças Sateré-Mawé representam um riquíssimo acervo para chegarmos à compreensão dos seus jeitos de viver a infância. Porém, há ainda um caminho muito longo a se seguir, sendo necessário ultrapassar determinações metodológicas cristalizadas e compreender de fato que a criança produz um conhecimento sobre si própria e sobre o mundo. Quando estivermos efetivamente vivenciando essa possibilidade, nossos esforços e o de muitos outros pesquisadores citados neste texto, terão valido a pena. Aliás, já valem, pois nada mais gratificante do que ouvir o que elas têm a nos dizer. Nada mais rico do que aprender com elas a olhar o mundo. Nada mais fascinante do que caminhar pelos seus imaginários. Nada mais instigante do que ter a possibilidade de chegar a um destino onde o caminho não está dado, precisa ser construído num processo constante de interações. Aos que se encorajarem nesse desafio, o caminho é sem volta, felizmente, pois ao escutarmos o que elas têm a nos dizer, jamais seremos os mesmos. O convite está lançado. REFERÊNCIAS ALVARES, Gabriel O. O ritual da tocandira entre os Sateré-Mawé: aspectos simbólicos do waumat. Série Antropologia 369. Brasília, 2005. ARGÜELLO, Carlos A. Etnoconhecimento na Escola Indígena. In: Cadernos de Educação Escolar Indígena - Nº 1 - Vol. 1 - Projeto de Formação de Professores Indígenas - Unemat - Barra do Bugres (MT) - Brasil – 2002. ARIÉS, Philippe. História Social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. 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Ficaram evidentes as barreiras encontradas para articular o uso de recursos didáticos ao planejamento do Ensino de Ciências. Sejam, por falta de estrutura das escolas, ou professores não capacitados para trabalhar nessa área. Dessa forma, embora algumas atividades sejam realizadas, não há clareza dos objetivos a serem alcançados. É uma questão a ser refletida dada as perspectiva dos avanços científicos exigindo dos sujeitos uma formação com olhar crítico da realidade. PALAVRAS-CHAVES: Recursos Didáticos; Ensino de Ciências; Planejamento. ABSTRACT: The teaching of science is essential to establish relations of understanding reality. In this sense, the teaching resources are important to arouse interest in students. This study aimed to investigate the use of educational resources by teacher, as a means to promote better understanding in the construction of knowledge in the teaching of science. The research consisted of an exploratory study of stamp literature, books, papers and production of academic research, finding approaches that portray discussions on this aspect. Were evident barriers found to articulate the use of educational resources for planning the teaching of science. Are, for lack of structure of schools, or teachers not trained to work in this area. Thus, although some activities are 20 Aluna do curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na Amazônia 21 Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: [email protected] 39 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 carried out, there is no clarity of objectives to be achieved. It is a matter to be reflected given the perspective of scientific subjects requiring training with a critical eye to reality. KEY WORDS: Educational Resources, Science Education; Planning. 1 INTRODUÇÃO Os avanços da Ciência na produção do conhecimento permitem ao indivíduo buscar respostas para dar conta das expectativas da sociedade. Entretanto, esses resultados sistematizados, são ainda bastante tímidos, levando-se em consideração a diversidade e complexidade das problemáticas que permeiam o nosso cotidiano. A propósito desse contexto, colocando como referência a riqueza da região amazônica, por sua diversidade e relevância para o desenvolvimento do conhecimento científico, defrontamo-nos ainda com desafios relativos à carência de estudos e pesquisas como referenciais para o Ensino de Ciências na região. Diante dessa exposição, recorremos às abordagens que comportam as concepções a respeito da investigação sobre a utilização dos recursos didáticos pelo professor, como meio para promover melhor entendimento do aluno no processo de construção do conhecimento no Ensino de Ciências. 2 OS RECURSOS DIDÁTICOS NO PLANEJAMENTO DO ENSINO DE CIÊNCIAS A ciência faz-se presente em nossas vidas por meio dos processos de desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento. Isso implica no compromisso do professor despertar a atenção, o interesse e curiosidade do aluno, para a área de ciências. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Ciências Naturais, (2000), para o Ensino Fundamental, indicam claramente que os alunos deverão ter a capacidade de compreensão sobre sua participação social, política e postura crítica. Devem valorizar a 40 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 diversidade e sentir-se parte integrante desse meio. Questionar a realidade, expressar suas idéias, saber utilizar as fontes de informações, recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos, para que sejam capazes de agir em sociedade como cidadãos ativos. Esses pressupostos colocam evidente a responsabilidade da atuação do professor no processo educativo, para possibilitar aos alunos a compreensão da construção desse conhecimento, visto que nesse universo, existe um complexo jogo de intenções políticas, sociais e culturais que implicitamente repercutem e conduzem o processo educativo. É relevante a afirmação de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2000, p. 101), para o fato de que não há interesse do aluno pelo conteúdo de Ciências, por não terem uma compreensão dos termos utilizados. Para Sampaio e Souza (apud CAMARGO: 1997, p. 273), o uso de nomenclatura científica, não é aconselhável. É preferível a linguagem com nomenclatura vulgar, certa, sem termos científicos, adequando à compreensão dos alunos. Por outro lado, os professores não trabalham a contextualização do ensino com atividades práticas, pelo fato de entenderem que essa prática se restringe aos laboratórios. E assim, a “falta” desses recursos, serve como argumento, para não realizarem uma aula prática, ignorando o mundo ao seu redor, submetendo-se apenas à sugestão do livro. (DELIZOICOV e ANGOTTI: 2000, p. 102). No Ensino de Ciências, não é recomendável nos atermos somente aos livros didáticos, pois além das deficiências, impõem um ritmo que leva à memorização, servindo como “muletas” e delimitando a prática do professor em sala de aula (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO: 2002, p. 293). Todavia, é importante ressaltarmos que: Não é suficiente apresentar atividades de forma avulsa e fragmentária, com o intuito de sugerir uma prática para a sala de aula. As atividades devem ser inseridas como partes de um todo, isto é, de um programa. Sem esta preocupação fundamental, corremos o risco de escolher um “caminho” que poderá levar, a lugar nenhum (DELIZOICOV e ANGIOTTI: 2000, p. 104). 41 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Ratificamos a importância do planejamento quando Camargo (1997, p. 265), aborda essa questão afirmando que o estudo das ciências para o aluno consiste em descobrir seu mundo, a fim de conhecê-lo, esclarecer suas dúvidas e valorizar o ambiente que o cerca. Nessa perspectiva, é necessário que na elaboração de um programa, o professor deve ter consciência dos assuntos que deverão constituí-lo, quais os objetivos, a quem se destina e os recursos e processos que serão empregados (CAMARGO: 1997, p. 268). O interesse por saber programar atividades de aprendizagem manifesta-se como uma das necessidades formativas básicas dos professores em Ensino de Ciências (GIL-PEREZ: 2000, p. 42). Neste sentido, Camargo (1997, p. 281), salienta que o uso dos recursos didáticos pode motivar e facilitar a aprendizagem, auxiliar o desenvolvimento dos processos mentais como observar, comparar, analisar e sintetizar, propiciar experiências, além de promover a aproximação dos alunos. Nesse contexto, para Bethlem (1971, p. 9-10, apud CAMARGO: 1997, p. 279, 280), salienta que em nosso país, o Ensino de Ciências no nível Fundamental, está relegado ao esquecimento. As pesquisas mostram que há necessidade de se ensinar ciências, porém, os professores demonstram insegurança. Além disso, a autora questiona se os envolvidos no processo educativo têm consciência da importância de levar o aluno a vivenciar a pesquisa, formular hipóteses, exercitando-se nos métodos científicos. Embora a escola esteja inserida num mundo em constantes transformações, a maioria dos professores da área de Ciências Naturais, ainda permanecem se deixando guiar pelo livro didático, priorizando os conteúdos, persistindo na memorização de informações e dando aulas apenas expositivas (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2002, p. 127). Para Camargo (1997, p. 265), a pessoa que investiga, observa e recebe livros para pesquisar, torna-se diferente da que não tem essas oportunidades. Assim sendo: Quando uma criança pesquisa, quando formula hipóteses, observa, experimenta, quando aprende a deixar a Natureza falar, permitindo-lhe responder com simplicidade às suas perguntas, começa a entender as relações 42 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 entre o meio e o ser vivo, aprendendo a ser mais paciente, mais humilde, mais tolerante, mais responsável e também mais capaz de aprender. Conforme Camargo (1997, p. 281), são grandes as dificuldades com relação aos recursos didáticos, pois a maioria das escolas é carente. Entretanto, ele recomenda várias possibilidades que podem contribuir e estimular o Ensino de Ciências tendo em vista que: Cabe ao professor esforçar-se por conhecer, adaptar-se e saber aproveitar as oportunidades, procurando usar recursos audiovisuais como quadro de giz, esquemas, desenhos, flanelógrafos, gravuras, murais, slides, filmes, retro projetor, experiências, vídeos, etc. Os recursos didáticos podem oferecer ricos estímulos à criança, motivando-a a desinibir-se, cabendo ao professor associar os recursos e saber explora-los. Por outro lado, os PCNs (2000, p.35), nos alertam sobre a necessidade do professor ter clareza que o Ensino de Ciências não se resume à apresentação de definições científicas, em geral fora do alcance da compreensão dos alunos. Pois, as definições, representam o ponto de chegada do processo de ensino. Dessa forma, a articulação dos recursos didáticos na elaboração do planejamento para o Ensino de Ciências, é fundamental, na perspectiva de construção do conhecimento, considerando como essencial a possibilidade de formação de um sujeito para atuar de forma mais crítica e participativa na sociedade. Diante dos argumentos expostos, faremos uma pequena abordagem a respeito do Projeto Político Pedagógico por considerarmos importante para o desenvolvimento das ações pedagógicas no contexto escolar. 3 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: QUESTÃO DE COMPROMISSO NO PROCESSO EDUCATIVO O desenvolvimento de atividades por meio de projetos vem buscando respostas e propondo sugestões na tentativa de orientar as práticas, com objetivos claros. No âmbito escolar, essa realidade é imprescindível, a fim de nortear as ações no processo educativo. Entretanto, de acordo com Fusari (2008, p. 49, 51), ainda nos deparamos com situações resistentes, divergindo dos objetivos do planejamento de ensino, e que 43 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 acabam sendo reduzidos ao mero preenchimento de formulário, entregue à secretaria da escola. Tal postura diverge da atuação de profissionais da educação que desenvolvem suas atividades com seriedade, além de desvirtuar o direito a uma educação de qualidade. Direitos que devem ser entendidos em condição de igualdade para todos, que não baste apenas ter quantidade de alunos matriculados em uma escola, mas que de fato possam ter um atendimento na condição de cidadãos. Conforme Veiga enfatiza (1995, p. 16), igualdade de oportunidade requer, portanto, mais que a expansão quantitativa de ofertas, requer a ampliação com simultânea manutenção de qualidade. E desse modo, faz-se necessário que: A construção do Projeto Político Pedagógico deve ter claro o que se quer fazer e por que vamos fazer. Assim, o projeto não se constitui na simples produção de um documento, mas na consolidação de um processo de ação-reflexão-ação que exige o esforço conjunto e a vontade política do coletivo escolar. Nessa perspectiva, percebemos que esse processo implica a intencionalidade para dar conta do que está sendo proposto, no sentido de atender às necessidades do aluno, como sujeito do processo educativo. Com essas reflexões, buscamos uma abordagem a respeito da Pedagogia por Projetos, que de acordo com Magali (2008, p. 113-114), visa: A ressignificação do espaço escolar, transformando em um espaço vivo de interações aberto ao real e as suas múltiplas dimensões. [...] Todo conhecimento é construído em estreita relação com os contextos em que são utilizados, sendo, por isso mesmo, impossível separar os aspectos, cognitivos, emocionais e sociais presentes no processo. Percebemos por meio dessa concepção, que o trabalho pedagógico a ser realizado toma uma dimensão política e social abrangente, buscando o envolvimento dos alunos, da escola, dando abertura para a participação coletiva no processo ensinoaprendizagem, buscando uma interação social. Assim, é essencial termos a compreensão, de que: A formação do aluno não pode ser pensada apenas como uma tentativa intelectual. É um processo global e complexo onde o conhecer e o intervir no real não se encontram desassociados. Nessa perspectiva, os alunos são envolvidos em uma experiência educativa onde o processo de conhecimento está integrado às práticas. (MAGALI, 2008, p. 114). 44 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Na compreensão de Veiga (1995, p.13), o desenvolvimento do projeto político pedagógico acontece de forma dinâmica e intencional interagindo com a comunidade, o que implica no envolvimento constante de um processo de reflexão, e discussão de alternativas efetivas para reverter os problemas apontados pela escola. Esse processo requer a vivência e a participação de todos os sujeitos da comunidade escolar, colocando em ação o exercício de cidadania. Nessa reflexão, faz-se necessário lançar mão de instrumentos que podem colaborar no processo de reconstrução de concepções, contribuindo para ampliar a visão coletiva e, por conseguinte, possibilitando a mudança de postura dos sujeitos envolvidos. E neste sentido, Veiga (1995, p. 14, 15), recomenda a necessidade de propor situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente, sendo necessário: Ter os alicerces nos pressupostos de uma teoria pedagógica, crítica e viável, que parta da prática social e esteja compromissada em solucionar os problemas da educação e do ensino de nossa escola. Uma teoria que subsidie o projeto político pedagógico e, por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos interesses da maioria da população. As mudanças implícitas na construção e no desenvolvimento dos projetos têm por finalidade alcançar objetivos, propondo as modificações do que está posto na realidade. Na visão de Gadotti (1994, p. 579 apud VEIGA, 1995, p. 12), podemos ver que: Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Nesse processo existe uma necessidade constante pela busca de conhecimento para sustentar as concepções e orientar as práticas e intervenções educativas. O suporte para essas ações pode ser direcionado por meio do projeto, o qual, no olhar de Veiga (1995, p. 13), busca uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. E, por conseguinte, a autora define: Todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e 45 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. Percebemos com isso, a formação de articulações que vão estabelecer relações de interesses no ambiente escolar e na comunidade. Posto que, toda atividade pedagógica está vinculada a uma intencionalidade. As mudanças e rupturas consistem no compromisso e interesse dos envolvidos para articular um trabalho coletivo, com interesses específicos de uma realidade contextualizada com o todo, subsidiando o cidadão para atuar no seu contexto social, político, econômico e cultural. Portanto, o Projeto Político Pedagógico da escola é prioridade, a fim de nortear as atividades do professor, além do embasamento teórico em pressupostos que possam contribuir para uma formação humana, e a valorização da relação homem-natureza. Mediante aos desafios e compromissos que perpassam as atividades do professor, é importante considerar uma postura que perceba a pesquisa como fonte para buscar a compreensão do processo educativo. Assim sendo, faremos uma breve abordagem a respeito desse aspecto. 4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR MEDIADA PELA PESQUISA Segundo Delizoicov, Angotti e Pernambuco, (2002, p. 127), a ciência não é mais exclusividade do espaço escolar, nem domínio de uma camada da sociedade, exerce influência em decisões éticas, políticas e econômicas, atingindo a humanidade como um todo e cada indivíduo particularmente. Por isso, o Ensino de Ciências, compreende uma necessidade fundamental para o desenvolvimento do conhecimento na região. Conforme os PCNs (2000, p. 25), embora a maioria da população use e conviva com produtos científicos e tecnológicos, não se reflete a respeito dos processos de sua criação, produção, distribuição. A falta de informações impede que o indivíduo desenvolva sua autonomia, ficando subordinado às regras do mercado, dos meios de comunicação, impedidos do exercício da cidadania. 46 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Para o Ensino Fundamental os PCNs (2000, p. 23), propõem a ciência como um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como individuo. Diante dessas concepções, percebemos que ensinar envolve compromisso, não é algo simples e requer empreendimento. Assim sendo, não podemos deixar de enfocar a importância da pesquisa na formação do professor. Para Lüdke e André (1986), a pesquisa é colocada como atividade normal do profissional da educação aproximando-a da vida diária e do ambiente onde atua, utilizando-a como instrumento para melhorar seu trabalho. A pesquisa, além de formular questionamentos, orienta o caminho na busca de respostas para as dúvidas, oportuniza aprofundar e reconstruir o conhecimento acerca dos questionamentos (FELICETTI, 2007, p. 148). Trata-se de tornar habitual o questionamento daquilo que parece natural, fazendo ver que existem outras possibilidades, introduzindo questionamentos críticos, que nos levem a perceber a necessidade de uma continuidade, tanto da pesquisa quanto da inovação didática (SANTOS: 1993, apud CARVALHO e GIL-PÉREZ: 2000, p. 84). Com base nessas exposições, compreendemos que na atividade do professor supõe-se um processo dinâmico, proporcionando diferentes alternativas de ação contínua. A pesquisa deve constituir então um dos objetivos básicos da formação docente e, em especial, das didáticas específicas, como uma das formas mais eficazes para que um professor faça a tarefa que lhe é própria, isto é, ensinar (VERMA e BEARD: 1981; PORLÁN: 1987; CAÑAL e PORLÁN: 1988, apud FELICETTI: 2007, p. 85). Na proposta de Carvalho e Gil Pérez (2000, p. 18), o trabalho docente, não deveria ser uma tarefa isolada [...]. Trata-se de orientar tal tarefa como um trabalho coletivo de inovação, pesquisa e formação permanente. A importância do trabalho coletivo é pertinente, pelo fato de ser um dos objetivos apontados pelos PCNs (2000, p. 40), visando a capacidade de o aluno valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento. Na visão de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002, p. 153), o desafio de construção coletiva 47 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 produz na sala de aula, um espaço de trocas reais dos alunos entre si e destes com o professor a respeito do conhecimento sobre o mundo em que se vive numa mediação afetiva e cognitiva. Ou seja, o questionamento, a investigação e participação coletiva geram interação, respeito às idéias e opiniões do outro no processo de construção do conhecimento. Neste sentido, os PCNs (2000, p. 35), recomendam como relevante no Ensino de Ciências Naturais, o desenvolvimento de posturas e valores pertinentes às relações entre os seres humanos, o conhecimento e o ambiente. O desenvolvimento de posturas e valores implica no compromisso do professor visto que, conforme Ghedin (2007, p. 101), [...] sua ação influencia direta ou indiretamente na vida das pessoas que estão em sala de aula. E assim sendo: O professor e a professora não são neutros e, sim, possuidores de uma posição ideológica. Por isso ocupam espaço central dentro do projeto de transformação e de conservação, mas pode ser também se quiser um espaço de afirmação de projetos alternativos e críticos. A formação de professores de Ciências parece não ter percebido ainda a mudança ocorrida no perfil dos alunos. No Ensino Fundamental, surgiram políticas públicas e escolas onde não existia o acesso à escolaridade, evidenciando o novo perfil de alunos e novos desafios. (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO: 2002, p. 128). Enquanto professor é preciso estar constantemente em alerta em busca de uma postura que reforce, na prática diária de sala de aula, uma abordagem crítica, combatendo a mistificação e a caricatura do conhecimento científico (DELIZOICOV, ANGOTTI: 2000, p. 46). Portanto, mediante as concepções expostas, percebemos a relevância da formação do professor pesquisador, dada as condições necessárias para a sua efetiva atuação, concebendo novas alternativas no sentido de poder atender a um novo perfil de alunos e responder às suas expectativas e necessidades do mundo em que vive. 5 UM DIAGNÓSTICO NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE MANAUS 48 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Tomando como base as concepções abordadas e um estudo realizado nas Escolas Públicas Estaduais de todas as zonas da cidade de Manaus, podemos destacar algumas problemáticas mais evidentes a respeito do Ensino de Ciências nesse contexto. Para Moraes et al. (2007, p.120, 122), o diagnóstico mostrou que os professores apresentam dificuldades teóricas e práticas para trabalhar o Ensino de Ciências de forma contextualizada; a maior parte das atividades é realizada sem planejamento; as escolas não estão preparadas quanto aos recursos físicos nem quanto aos recursos humanos para desenvolver o Ensino de Ciências de forma satisfatória e inclusiva; existem poucas publicações sobre o Ensino de Ciências produzidas na região amazônica. Segundo Fernandes et al. (2007, p. 134), os dados indicam que o livro didático é o principal norteador das aulas de ciências; as experiências quando realizadas são reproduções do livro didático; os professores encontram dificuldades em preencher o tempo destinado às aulas de ciências; as dificuldades quando admitidas são atribuídas à falta de recursos, a infra-estrutura da escola e a falta de um laboratório. Os dados da atual situação da realidade amazônica refletem a incontestável falta de valorização do Ensino de Ciências, e confirmam as concepções abordadas sobre a prioridade dada ao uso do livro didático e atividades efetuadas de forma descontextualizada. Isso nos remete à ausência de um planejamento voltado para a realidade e o compromisso com a pesquisa, questionando, avaliando e reavaliando a articulação de outros recursos didáticos que possam servir como meios para promover a construção do conhecimento. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim sendo, vimos como necessário, a articulação do uso de recursos didáticos no planejamento do professor como meio para promover a construção do conhecimento no Ensino de Ciências, frente aos desafios colocados para a compreensão da realidade e 49 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 da formação humana, levando em conta que qualquer que seja a postura do professor, haverá implicações diretas ou indiretas na vida dos alunos, tanto no sentido de transformar, como para conservar as situações postas. Portanto, é fundamental dar prioridade ao Ensino de Ciências em toda a região, a fim de que o aluno possa ter visão crítica da sua realidade, autonomia para questionar e intervir com responsabilidade, posto que ao longo do processo histórico essa região ficou desassistida e entregue aos desmandos dos interesses alheios ao povo amazônico. REFERÊNCIAS CAMARGO, C. A. Princípios Básicos do Ensino de Ciências. In: PILETTI, Claudino. (Org.). Didática Especial. 15. ed. São Paulo: 1998. CARVALHO, A. M. P.; GIL-PÉREZ, D. Formação de Professores de Ciências: Tendências e Inovações. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. Metodologia do Ensino de Ciências. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2002. FELICETTI, V. L. Pesquisar é Buscar e Estudar: um aprofundamento no conhecimento. In: GALIAZZI, M.C. et al. (Orgs.). 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Projeto Político Pedagógico da Escola: Uma Construção Coletiva. In: VEIGA, I. P. A. Projeto Político Pedagógico da Escola: Uma Construção Possível. 17. ed. Campinas, S.Paulo: Papirus, 1995. MORAES, M. N.; FACHÍN-TERÁN, A.; SERPA FILHO, A. Ensino de Ciências Voltado para a Realidade Amazônica – Uma Visão do Município de Manaus: Mitos e Realidade. In: FACHÍN-TERÁN, A. (Org.). Resultados das Pesquisas de Iniciação Científica da Escola Normal Superior. PROFIC 2004 – 2006. Pp. 121-123. Manaus: UEA Edições. Universidade do Estado do Amazonas, 2007. FERNANDES, S. S. S.; FACHÍN-TERÁN, A.; SERPA FILHO, A. Amazônia: Um laboratório Vivo para o Ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. In: FACHÍN-TERÁN, A. (Org.). Resultados das Pesquisas de Iniciação Científica da Escola Normal Superior. PROFIC 2004 – 2006. Pp. 133-134. Manaus: UEA Edições. Universidade do Estado do Amazonas, 2007. 51 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 A EPISTEMOLOGIA DE PAULO FREIRE E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NO MUNDO CONTEMPORANEO Waldiléia do Socorro Cardoso Pereira 22 Evandro Ghedin 23 (Recebido em 04/04/09; aceito em 15/12/2009) RESUMO: Este texto apresenta reflexão sobre a questão do ensino de ciências e a epistemologia proposta por Paulo Freire no sentido de compreender quais as contribuições advindas dessa proposta. Apresenta como objetivo discutir a questão do conhecimento a partir do pensamento epistemológico de Paulo Freire e da prática pedagógica proposta por ele, buscando explicitar as contribuições desse modelo educativo para o ensino de ciências na contemporaneidade. As idéias deste educador do Século XX, voltado para o bem comum, para a humanização, a aprendizagem significativa, a solidariedade enquanto questões Ético-politica, ultrapassam o tempo espaço e chegam em pleno século XXI com tamanha aplicabilidade e necessidade de implementação no sentido de trazer para o ensino-aprendizagem em todas as disciplinas inclusive no ensino de ciências, a intenção de se alcançar a raiz da teoria educacional que é possibilitar a construção coletiva e individual de seres humanos para um mundo melhor. PALAVRAS-CHAVE: Epistemologia.. Ensino de Ciências.Teoria dialógica. ABSTRACT: This paper presents reflections on the issue of science education and epistemology proposed by Paulo Freire to understand what the contributions from this proposal. Has the objective to discuss the issue of knowledge from the thought of Paulo Freire's epistemological and pedagogical proposal he tries to explain the contributions of 22 Aluna do curso do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na Amazônia (UEA). E-mail: [email protected] 23 Possui graduação em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (1995) , graduação em Bacharelado em Filosofia pelo Centro de Estudos de Comportamento Humano (1992) , especialização em Antropologia na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (1997) , especialização em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília (1999) , mestrado em Educação pela Universidade Federal do Amazonas (2000) , doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2004). Professor da Universidade do Estado do Amazonas, Membro de corpo editorial da Ciências & Cognição, Membro de corpo editorial do Educação e Pesquisa (USP), Membro de corpo editorial da Em Aberto e Membro de corpo editorial da Cadernos de Educação (UFPel). 52 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 this educational model for teaching science in contemporary society. The ideas in this educator of the twentieth century, towards the common good, for the humanization, meaningful learning, solidarity as ethical and political issues, beyond space and time come in the XXI century with such applicability and implementation need to bring to teaching and learning in all subjects including science education, the intention of reaching the root of the educational theory that is to allow the construction of collective and individual human beings for a better world. KEY WORDS: Epistemology .. Teaching Ciências.Teoria dialogue. 1.INTRODUÇÃO A história da ciência é marcada pelo movimento do sujeito impulsionado constantemente em vistas do desejo de soluções dos problemas que se apresentam durante sua vivência, as indagações a cerca de tudo ao seu entorno alimentam a ansiedade da busca que gera conseqüentemente uma nova descoberta cientifica. Em diferentes tempos/lugares/circunstancias os sujeitos observadores buscam avaliar diferentes fatos, fenômenos, conjecturas com estratégias ou métodos que possam lhe garantir precisão e confiabilidade no que se observa, isto é ciência, os sujeitos fazem a ciência enquanto vivem e constroem a história de si e dos outros. Atualmente no mundo contemporâneo, o avanço tecnológico tem proporcionado a troca de informações em alta resolução e velocidade. Esta realidade tecnológica possibilita que um fato seja observado por muitos sujeitos ao mesmo tempo, muitos podem inferir opiniões sobre a verdade do mesmo fato em diferentes realidades ou lugares, nesse ensejo ao trabalho educativo se coloca o desafio de acompanhar essa velocidade comunicativa, a qual também pode proporcionar a possibilidade de acesso ao conhecimento em lugares de difícil acesso. Existe, porém, um ponto importante a ser discutido; seria a contextualização do conhecimento, o diálogo com a realidade onde se pretende chegar, a contextualização através do dialogo pode diminuir o fosso entre educação escolar, trabalho, informação, subsistência na tentativa de promover a humanização da sociedade. 2. ENSINANDO A CIÊNCIA DA EXISTÊNCIA 53 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A aprendizagem cientifica na ação pedagógica em Paulo Freire referência o desenvolvimento articulado do sujeito entre as atitudes sérias e curiosas e a rigorosidade da ciência na procura de compreender as coisas e os fatos observados durante sua jornada existencial. A ciência da existência deve ser a que possibilita aos sujeitos conhecerem-se a si mesmo melhor, para melhor entender e detectar elementos estranhos a sua natureza de felicidade, de viver bem em comunhão com o todo ao seu redor como sugere Freire (2001, p. 18) “conforme se estabeleçam estas relações, o homem pode ter condições objetivas para o pleno exercício da maneira humana de existir”. A essa ação pedagógica, cabe a tarefa de desocultar as verdades escondidas nas entre linhas das verdades expostas, revelando as intenções ideológicas, aproveitando a sensibilidade do diálogo como estratégia de aproximação do conhecimento objetivo e a subjetividade humana. Ultrapassando a verificação cientifica do valor das ações conjuntas e individuais dos sujeitos na sociedade. Como afirma Arroyo (1998, p.142) “o objeto da pedagogia moderna não tem sido outro senão entender os processos complexos de humanização e ajudar os educandos nessa trajetória”, como no pensamento de Maturana (2001) o processo vital do ser humano comporta uma objetividade entre parêntese, ou seja aceita e apreende aspectos objetivos e subjetivos na sua existência e aprendência do conhecimento. Ressalta ao mesmo tempo o valor da cultura popular relacionando a prática cultural popular ao conhecimento cientificamente legado no processo de ensino aprendizagem. Nesse sentido a ação cognitiva e perceptiva dos sujeitos e o processo de ensino aprendizagem, devem estar relacionados ao mundo do trabalho. O mundo da existência ou trabalho do sujeito não se reduz ao representacionismo (Maturana 2001) a realidade não é independente do sujeito, o trabalho manual e o trabalho intelectual são ambos, as partes fundantes da realidade. O trabalho é ferramenta de construção e desenvolvimento da sociedade e do sujeito. O trabalho é o meio de transformação da realidade ao mesmo tempo é o diálogo travado entre o produtor e o produto que traz em si a inteligibilidade do produtor no ato de fazer o produto,como sugere Arroyo (1989, p. 144) “como avançar na cultura cientifica e 54 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 tecnológica, enquanto grandes contingentes de trabalhadores têm como horizonte formas rudimentares de trabalho e de reprodução da existência?”, essa relação dialética entre o trabalho /sujeito e formas de produção constituem um tipo de conhecimento que se gera em toda ação. As ações dos sujeitos na sociedade, no seu trabalho e no processo educativo, no pensamento de Freire, se ancoram na dialogicidade, na contextualização com a realidade no sentido de encontrar parâmetros de interligação entre todos os aspectos, numa circularidade complexa como afirma Morin (2003). Esse modelo de educação é posto em oposição ao que Freire vem chamar de educação “bancária”, ou a educação voltada para a narração e deposito de conhecimento sem contexto. O modelo de educação bancária descrito por Freire como um modelo próprio do sistema colonizador do qual fomos vitimas, nele importa ao dono do saber o deposito dos conteúdos por ele desejados para em seguida ser sacado em momento por ele também definido. Nas afirmações de Freire (2002, p.74) “realmente o Brasil nasceu e cresceu dentro de condições negativas ás experiências democráticas” e a escolarização também nasceu e cresceu nestas perspectivas, para superar esse conceito a pedagogia libertadora ou a teoria dialógica propõe a participação democrática de todos na construção do saber, o qual tem seu alicerce na cultura formal e informal com objetivo de significar a aprendizagem com base na lógica democrática. Nesse sentido a dimensão ética serve como base para as relações estabelecidas entre todos. O ensino então não pode estar alheios aos problemas sociais tais como as dificuldades de sobrevivência de uma grande parte da humanidade. Assim a ciência enquanto disciplina, deverá tratar de não apenas explicar fenômenos, conjecturar teorias, mas, de buscar respostas e soluções viáveis para problemas existenciais reais e imediatos que afligem o sujeito e a sociedade. O ensino da ciência da existência significa entender o processo de existir a partir de um olhar multidimensional, multicultural e cientifico que possa abarcar todas as dimensões como sugere Freire (2001, p.30) “quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções”, isso traz ao sujeito possibilidade 55 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 de transcendência da superficialidade e assim pode ele estabelecer sua relação com dimensões infinitas na existência. A existência no olhar da pedagogia libertadora progressista precede a essência do sujeito, no mais profundo sentido da especificidade humana, o sujeito se constrói no aqui, no fazer, trabalhando suas estruturas micro e macro, refletindo e respaldando-se na experiência passada de seus antecessores como afirma Ghedin (2002, p. 130) “todo ser humano, pelo caráter geral de sua cultura e por ser portador da cultura humana de uma determinada sociedade é um sujeito reflexivo”. Nesse sentido pesa a importância dada á cultura de cada lugar. A cultura alicerçada no fazer confirmado pela experiência, como uma crença que validada na confiança entre os homens estabelece parâmetros de existência. Nesse sentido quando em sua proposta metodológica, Freire propõe aos animadores (professores) do circulo da cultura (sala de aula) antes de iniciar a alfabetização, fazer um diagnóstico do local onde se vai trabalhar, das historias de vida das pessoas, nesse momento esta se preocupando cientificamente em observar o fato, ser um observador do fenômeno antes de propor modificações ou inferências sobre ele. Antes de propor uma práxis como afirma Freire (2003, p.85) “você só trabalha realmente em favor das classes populares se você trabalha com elas, discutindo com respeito seus sonhos, seus desejos, suas frustrações seus medos,suas alegrias”. A práxis pedagógica nesse modelo de ação busca a clara utilização do conhecimento na vida cotidiana dos sujeitos, agindo assim essa ação proporciona ao sujeito a redescoberta de si mesmo, como afirma Freire (2004, p. 29) “descobrem que pouco sabem de si mesmo, de seu “posto no cosmo”. E se inquietam por saber mais”. Essa inserção consciente do sujeito no mundo da ciência enquanto compreensão das coisas do mundo que o cerca, evita posições fanáticas, medos, alienações, radicalizações e opressões. As opressões são possibilitadas pela ingenuidade e falta de saber das coisas, dos fatos, das habilidades, das competências que podem ser desenvolvidas tendo em mãos e mente a possibilidade de conhecer as técnicas e usá-las como ferramentas, nunca ser escravos dela, como sugere Freire (2004, p. 30) “a desumanização, que não se 56 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 verifica apenas nos que tem a humanidade roubada mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da vocação do ser mais”. 3. A DIALOGICIDADE COMO NOVA PRÁXIS PEDAGÓGICA A teoria dialógica que se apresenta como uma nova práxis pedagógica é a essência da proposta Freirina, abarcando em seus procedimentos metodológicos etapas de reestruturação do conhecimento, vai se construindo passo a passo na caminhada dos sujeitos durante sua existência. Essa prática pedagógica não pretende se reduzir ao aprendizado de técnicas, nem se exime da mesma, de acordo com Freire (2003, p.35) “jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual”, a questão disciplinar faz parte da organização que é necessária ao processo cognitivo como um todo na contramão da prática tradicionalista. Ao contrario da proposta pedagógico positivista tradicionalista, a qual segundo Kuenzer (1997, p.35) “fundamentada na lógica formal, onde cada objeto do conhecimento origina uma especialidade que desenvolve sua própria epistemologia e se automatiza quer das demais especialidades, quer das relações sociais e produtos concretos”, Freire na contra mão apresenta um projeto pedagógico amplo que se expande no mais profundo significado e sentido da palavra, desmistifica a imutabilidade dos fatos seja nos procedimentos metodológicos ou na formatação dos conteúdos a serem trabalhados ou melhor como dizia Freire “partejado” por todos. Esse termo “partejado” se assemelha a idéia Socrática do diálogo, tendo ai sua origem, a dialogicidade nasce na Grécia entre as conversas de Sócrates com seus estudantes, para ele o diálogo era a essência da busca da verdade, no ponto de vista Freiriano a teoria dialógica ressurge com características especificas durante os anos 60 no Brasil, a questão da refletividade do fazer educativo, do professor que vai ao campo de trabalho pesquisar, no lócus do fazer pedagógico, nele refletindo os problemas educacionais na própria reflexão dos problemas da vida diária, em relação a esse ponto afirma Freire 57 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 (2001, p. 17) “assim, como não há homem sem mundo, nem mundo sem homem, não pode haver reflexão e ação fora da reflexão homem-realidade”, a relação é tridimensional entre sujeito, conhecimento, ação educativa e a realidade existencial. Na interdependência o fato de existir, faz com que as coisas aconteçam e se construa aos poucos o sujeito e a história, nesse sentido o existencialismo no olhar de Emanuel Mounier (apud NETO 1986) exerce forte influência na teoria Freiriana, por que busca a existência como aspecto fundante da identidade humana sendo uma síntese entre o socialismo e o cristianismo. O humanismo socialista espiritualista de Mounier fortifica a noção da educação do sujeito como meio de libertação das varias opressões que podem lhe advir. O devir humano deve ser e estar na plenitude do ser livre, acreditando sempre na utopia de um mundo justo, onde todos terão oportunidades iguais, mesmo na dialética da diversidade de personalidades e opiniões existentes. A dimensão dialética enquanto meio de focar o mundo em suas múltiplas faces, no trabalho produzido e produtor do sujeito como na formação do sujeito e da sociedade que o forma, e o deforma diante de suas qualidades humanas, é essência do agir humano no mundo como Marx afirma; Os homens são produtores de suas representações, suas idéias, etc.,mas os homens reais e ativos,tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercambio que a ele corresponde até ás suas formações mais amplas.A consciência jamais pode ser outra coisa que o ser consciente e o ser dos homens é o seu processo de vida real. (apud DUARTE, 2003, p. 61) Apoiado nessa influencia materialista dialética de Marx, freire vai utilizar o conceito de práxis. Práxis é utilizada para entender a ação como um processo de reflexão de uma realidade mutante, a qual não permite a estagnação ou a fatalidade, no caso da pedagogia dialógica fundamenta e fortifica a idéia de possibilidade de mudança, ele é a própria mudança porque parte do principio da lei da negação da negação, ou seja, o que antes era, agora já não é mais, então a realidade posta como real pode ser mudada, pode ser transformada por não ser a totalidade do real, segundo Neto (1986, p. 173) “Há sempre o desenvolvimento dos fenômenos e sua passagem para uma nova fase”. Essa mudança quase sempre não é percebida pela Constante intransitividade da 58 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 consciência embotada pelas ideológicas neoliberais midiatizadas, porém é uma tarefa do conhecimento. A consciência intransitiva para Freire é justamente a falta de criticidade de poder de escolha, de dogmatização, de magicização das coisas que se experimenta em estado ingênuo. Em direção contraria a consciência transitiva é autônoma e critica, consegue enxergar o mundo e suas artimanhas buscando no conhecimento resposta para o que vê o que sente. A transitividade potencializa a visão pra além das aparências, é o olhar do sujeito além das sombras da caverna. Para Freire o sujeito se auto-nega quando esta na plataforma ingênua intransitiva, e ao se descobrir inacabado ressalta a possibilidade de transformação ao se descobrir ativo como sujeito da ação e não mais como simples espectador. Segundo Freire (2002, p. 69) “a transitividade critica por outro lado, a que chegamos com uma educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas”. Entre a transitividade e intransitividade cabe destacar um elemento também de importante expressão nas idéias pedagógicas de Freire na direção da sensibilidade espiritual e humana, a teologia da libertação que trata de difundir a idéia de uma educação como instrumento de uma prática revolucionária, voltada especialmente para a educação popular surge como resistência á invasão cultural eurocêntrica em países latino americanos. Especialmente na Bolívia tem sua história marcada pela luta em prol das classes populares, através de uma evangelização política que segundo Preiswerk (1997). A teologia da libertação esta para a pedagogia libertadora dialógica como um dos alicerces que asseguram ao processo a dimensão espiritual no sentido de encontrar no olhar socialista, o víeis que transcende a matéria transcendendo as estruturas concretas da sociedade na ânsia de encontrar no outro a si mesmo, encontrar o Cristo e sua ideologia revolucionária de amor fraterno incondicional em cada possibilidade de transformação existencial, onde e com quer que seja. 5. AS ESTRUTURAS METODOLÓGICAS DA EPISTEMOLOGIA FREIRIANA 59 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Todo o processo se estrutura em fases tendo como eixo dessa estrutura o diálogo. Suas características equivalem-se aos procedimentos estabelecidos para validação e construção de conhecimento cientifico significativo como no parecer de Maturana (2001) em sua fenomenologia biológica que apresenta o processo de conhecimento como sendo uma conduta adequada, um processo de conhecer a existência transformando as simples informações em conhecimento. O ato de conhecer reconhecendo todas as estruturas internas e externa é uma característica da proposta dialógica, as etapas do processo demonstram essa preocupação constante na contextualização. A contextualização no ensino de ciências assim como no ensino de qualquer outra disciplina no sentido da ação educativa para o sujeito que esta sendo educado e também para o educador que esta mediando o procedimento de ensino aprendizagem. Para efetivar esse parecer existem aspectos importantes e nesse sentido as etapas processuais apresentam-se como passo gestado coletivamente como afirma Ferreira (1988, p. 113) “falo de uma aprendizagem dos conteúdos da vida que abrangem os conteúdos éticos de convivência social....as convicções se construam no diálogo e no respeito e as práticas se efetivem coletivamente no companheirismo e solidariedade”. Para se alcançar esse objetivo algumas etapas do processo são importantes como; a) Diagnostico; busca captar o universo vocabular, o pensamento expresso na linguagem dos sujeitos. b) Definição dos temas geradores, da palavra geradora buscando trabalhar a demais significância, recorrência e pluralidade epistemológica. c) Codificação e decodificação da realidade através de signos que traduzam a mesma e provoquem abstração como uma re-leitura do real. d) Construção conjunta de um novo parecer sobre os problemas que afetam a realidade local e o sujeito. Algumas características subjetivas e objetivas são também elementos importantes para o desenvolvimento metodológico do ensino aprendizagem nesse sentido. 60 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 a) Práxis, ação reflexão da ação. b) Partilha de saberes. c) Co-laboração,união,organização d) Síntese cultural,junção de saberes. e) Crença no outro. f) Valorização do intelecto individual e coletivo. g) Autonomia e emancipação. h) Desvelamento de ideologias.Construção da contra-ideologia. i) Amor como elemento essencial nas relações entre sujeitos. j) Transcendência da realidade. k) Superação das varias formas de opressão. Nessa relação de acordo com o artigo 205 da Constituição Federal do Brasil de 1988 afirma-se que a educação é um direito de todos os sujeitos é um dever do Estado e da família, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento do sujeito preparando para o exercício da cidadania e para o trabalho, nesse sentido o trabalho do professor é um ponto a ser considerado de suma importância para efetivação do objetivo proposto na constituição. Para Freire a formação no sentido da formação ampla na totalidade do sujeito, requer dos professores mediadores posturas especificas, que vão contribuir para a construção do conhecimento significativo. a) Compreensão da realidade (relação homem-mundo). b) Compreensão do inacabamento do ser. c) Fundamentação epistemológica. d) Compreensão política do ato educativo. e) Refletividade. f) Ética. g) Humanização na ação educativa. Existem outros componentes importantes para ação didático-pedagógica; a) Democracia pedagógica;direito de todos, multiculturalismo, cultura popular. b) Cientificidade;lógica, fundamentação epistemológica. 61 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 c) Esteticidade; apresentação, currículo, objetivo da formação. Os resultados esperados para ação dialógica nesta perspectiva, são concernentes ao tipo de sujeito que se quer e ao tipo de sociedade que se espera estar sendo construída no transcorrer do processo educacional. Este enquanto processo de formação (ou deformação) atua de acordo com a ideologia a filosofia que baseia os métodos, o currículo, o projeto político pedagógico que norteia as ações no espaço escolar. Espera-se que o sujeito construa sua consciência critica , sua consciência política, sua autovaloração, seu saber científico em conexão com um sentido eco-organizador gerando assim o senso de humanidade, como afirma Bachelard (1991, p.85) “se atribuem á ciência faltas humanas de que ela não é de modo nenhum responsável” ainda que é preciso manter a integração entre a cultura cientifica e a cultura geral, através da pesquisa com objetivos claros e específicos. 5. A CONTRIBUIÇÃO DA EPISTEMOLOGIA FREIRIANA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS Podemos destacar como contribuição da epistemologia Freiriana para o ensino de Ciências, a possibilidade de contextualização dos conteúdos com a prática de vida dos educandos, a interdisciplinaridade dos conteúdos que podem ser trabalhados em equipe de professores primando pela organização co-olaboração e união, a democracia pedagógica na construção do currículo e do projeto político pedagógico da escola tendo em vista a participação de todos além da significância da aprendizagem. Algumas características também significativas para o ensino de Ciências como de qualquer outra disciplina, podem ser destacadas neste ponto: A unidade de todos na dialogação para alcançar objetivos . a) Analise da prática pedagógica. b) Entendimento da importância do conhecimento artesanal e cientifico para a prática pedagógica. c) Entendimento da capacidade de pensar e realizar de todos. 62 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 d) Conhecimento da matéria bruta e prima e a possibilidade de produção pelo trabalho e transformação. e) As relações de produção e de poder pelo trabalho e o saber. f) O ato de estudar como de observação curiosa dos fatos mutáveis. g) A organização da sociedade pela instrumentalização dos sujeitos. h) A educação pelo trabalho criando, recriando e criticando com justeza. i) A responsabilidade na sistematização e no cumprimento dos deveres. Esses aspectos evidenciam a preocupação dessa proposta pedagógica com a formação cidadã dos sujeitos assim como esta prescrito no cap. II da seção I art. 22 da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional nº 9.394 de 1996 “a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum, indispensável para o exercício da cidadania...” aqui se focaliza o conceito de desenvolvimento, o que é desenvolver? O que significa cidadania? E o exercício dela? São questões presentes que nos pressionam na direção de saber exatamente pra quem e para que serve o conhecimento da Ciência senão para satisfazer as necessidades de todos os seres do planeta e do universo. Trazer para o ensino de Ciências a possibilidade de reflexão sobre a realidade do sujeito que esta sendo formado enquanto ser de múltiplas dimensões, é um dos principais objetivos propostos na teoria dialógica libertadora Freiriana. 6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Partindo do pressuposto de que a formação humana é o objetivo final da educabilidade, entendemos a importância de se buscar modelos ou formas de se organizar o processo pedagógico de maneira a satisfazer amplamente essa perspectiva. Desse modo como afirma Santos (2000, p.55) “há diferentes explicações para a relação desenvolvimento/aprendizagem que, por sua vez, implicam em diferentes propostas para a relação ensinar e aprender”, sendo que algumas concepções pedagógicas não levam em conta a subjetividade e tem enfocado especialmente a técnica centrando-se em treinamento de habilidades. Na verdade ocorre que o desenvolvimento humano não 63 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 pode ser departamentado em divisões externas e internas e conseqüentemente também o ensino de disciplinas como Ciências, enquanto disciplina que estuda a estrutura especialmente biológica dos seres, não deve se reduzir ao aprendizado de técnicas laboratoriais, mas, deve buscar as interações entre esses universos internos e externos dos sujeitos, dos seres sejam animais, vegetais, minerais ou humanos. Nesse sentido a proposta Freiriana traz essa possibilidade ao buscar a reflexão e conscientização no próprio ato de educar, enquanto o sujeito aprende a palavra apreende também a ler e escrever o mundo com sentido fraterno entendendo suas múltiplas dimensões sociais, políticas, espirituais, biológicas e englobando as relações ambientais fazendo da Ciência um que fazer humano. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel. Trabalho educação e teoria pedagógica. IN; Educação e crise do trabalho; perspectivas de final de século. FRIGOTTO G. (ORGS.) Vozes, Petrópolis 1998. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais; Ciências Naturais/ Secretaria de Educação Fundamental – Brasília MEC/SEF 1997. CARRILHO,Manuel M. SÁÁGUA,João. Epistemologia:posições Lisboa;Fundação Calouse Gulbenkian, 1991 e criticas. DUARTE, Newton. Sociedade conhecimento ou sociedade das ilusões?. Campinas SP Autores associados 2003. FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia. 21.ed.São Paulo: Paz e terra 2001. -----------, Paulo.A importância do ato de ler. 42 ed. São Paulo: Cortez, 2001. -----------, Paulo.Educação como prática de liberdade. Rio de janeiro. Paz e terra 2002. ----------, Paulo.Pedagogia do oprimido. 17º ed. Rio de janeiro. Paz e terra 2001. ----------, Paulo.Educação e mudança. 24º Ed. Rio de janeiro Paz e Terra 2001. ----------, Paulo.Extensão ou comunicação?. 13º Ed. Rio de janeiro Paz e Terra 2006. ----------, Paulo. GUIMARÃES, Sérgio. Aprendendo com a própria história. 2º Ed. Rio de janeiro Paz e Terra 2001. 64 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 FERREIRA, Naura C. F. (Orgs.) Gestão democrática da educação; atuais tendências novos desafios São Paulo Cortez 1998. GHEDIN,Evandro.PIMENTA,Selma Garrido.Professor reflexivo no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. PREISWERK, Mathias. Educação popular e teologia da libertação. Ed. Vozes RJ 1997. MATURANA, Humberto R., VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. As bases biológicas da compreensão humana. Editora Palas Athena São Paulo 2001. MORIN, Edgar.Educar na era planetária;o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana.Tradução Sandra T. V. Edgar A. C. São Paulo, Cortez, Brasília DF UNESCO 2003. NETO, Nielson Henrique. Filosofia básica. 3 ed. São Paulo Atual 1986. SANTOS, Milton. Constituição do sujeito socialização apropriação do conhecimento e formação em serviço. IN; Revista de Ciências humanas Florianópolis, Ed. Especial temática 2000. KUENZER. Acácia. As mudanças no mundo do trabalho e a educação; novos desafios para a gestão. IN; FERREIRA,N. S. C. Gestão democrática da educação atuais tendências novos desafios. Cortez São Paulo, 1997. 65 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS DE TRILHA COMO INSTRUMENTO FACILITADOR NO ENSINO SOBRE O SISTEMA GENITAL HUMANO, COM ALUNOS DO 8O ANO Silas Nery de Oliveira 24 Aldeniza Cardoso de Lima 25 Ana Paula Sá Menezes 26 (Recebido em 04/12/09; aceito em 30/12/2009) RESUMO: Os jogos didáticos aparecem como uma proposta metodológica para auxiliar no desenvolvimento infantil e abordagem de vários temas pelos professores. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi aplicar jogos sobre o sistema genital humano, além de verificar a aplicabilidade e eficácia dos jogos e avaliar a efetividade nas aprendizagens dos alunos. Foi utilizada a abordagem qualiquantitativo com aplicação de questionários, respostas individuais dos alunos e observação direta dos fatos. A diferença nas notas do teste escrito e dos jogos mostrou a influenciou positiva na aprendizagem dos alunos e o momento de avaliação tornou-se descontraído, alegre e competitivo, ou seja, os jogos podem ser usados como recurso avaliativo por propiciarem um ambiente favorável ao professor e ao aluno no processo de ensinoaprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: Jogos didáticos, sistema genital humano, alunos do 8º ano, corpo humano. ABSTRACT: The didactic games appear as a methodology proposal to assist in the infantile development and boarding of some subjects for the professors. In this direction, the objective of this work was to apply games on the human genital system, beyond verifying the applicability and effectiveness of the games and evaluating the effectiveness in the learnings of the pupils. It was used the qualiquantitativo boarding with application of questionnaires, individual answers of the pupils and direct comment of the facts. The difference in notes of the written test and the games showed influenced 24 Graduando em Licenciatura em Ciências Naturais da Universidade Federal do Amazonas / UFAM. Brasil. E-mail: [email protected]. 25 Prof. MSc. em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (UFAM, 2000). Orientadora do TCC. E-mail: [email protected]. 26 Prof. MSc. em Ensino de Ciências na Amazônia (UEA, 2009). Co-orientadora do TCC. E-mail: [email protected]. 66 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 it positive in the learning of the pupils and the evaluation moment became relaxed, glad and competitive, that is, the games can be used as avaliativo resource for propitiating an environment favorable to the professor and the pupil in the teach-learning process. KEYWORDS: Educational games, human genital system, class for 8o years, the human body. 1 INTRODUÇÃO As aulas construtivistas no Ensino de Ciências baseadas somente no livro texto vêm sendo substituídas por várias propostas de recursos didáticos. De acordo com Lima et al., (2006) como alternativas, o educador hoje dispõe da internet, experimentotecas, kits didáticos e de revistas científicas que oferecem atualização sobre os mais diversos temas científicos, além da formação continuada. As atividades lúdicas surgem como uma proposta, simples e de fácil aplicação, para auxiliar o professor no desenvolvimento dos mais diversos conteúdos em suas aulas. [...] um recurso metodológico capaz de proporcionar uma aprendizagem espontânea e natural. Estimula a crítica, a criatividade, a socialização, sendo, portanto, reconhecidos como uma das atividades mais significativas – senão a mais significativa – pelo seu conteúdo pedagógico social. (OLIVEIRA, 1985, p.74 apud SALOMÃO et al., 2007). Como brincadeira e jogo estão inseridos em atividades ditas lúdicas, vários estudos salientam a importância do mesmo no desenvolvimento infantil, ou seja, “a criança experimenta a subordinação às regras ao renunciar a algo que deseja, e é essa renuncia de agir sob impulsos imediatos que mediará o alcance do prazer na brincadeira”. (VYGOSTSKY, 1998 apud ROLIM et al., 2008) Segundo Canto (2009), no desenvolvimento de um jogo para aulas de biomas, a utilização de jogos como estratégia didática é previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Isso nos mostra como a utilização desse recurso é bem visto no âmbito educacional, sendo incentivado o seu uso em sala de aula quebrando a discriminação por partes de muitos professores que olham o jogo como perda de tempo. 67 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Entretanto, ao realizar pesquisas referentes aos conteúdos sobre o corpo humano, ministrados no oitavo ano do ensino básico, poucos trabalhos foram publicados restringindo-se muita das vezes em levantamentos bibliográficos sem um produto (jogo) que possa ser utilizado pelo professor. Durante a observação e participação de aulas em estágios, foi notada a falta de compreensão dos alunos acerca do conteúdo referente ao sistema genital humano e mesmo demonstrando bastante interesse, quando questionados, os alunos apresentavam muita vergonha em expor suas dúvidas. De acordo com Sanches et al., (2007), a sexualidade da criança deve ser valorizada de tal modo que esta possa assumir seu corpo, livre de medo ou culpa, preconceito, vergonha, bloqueios ou tabus. Devemos entender que a criança e o adolescente são assim como os adultos um ser sexuado que independente de ensinamentos prévios ou não, por puro instinto natural, aflora seu interesse pela sexualidade e a escola assim, como a família necessita estar preparada para abordar isso de uma maneira correta, clara e condizente com todos os questionamentos que surgir. Sendo assim, as aulas de ciências sobre o sistema genital humano podem ser trabalhadas de forma lúdica com a aplicação de jogos didáticos, a fim de melhorar o processo de ensino-aprendizagem dessa temática em sala de aula? A escola como criadora de cidadãos críticos e reflexivos deve expor o assunto sobre o sistema genital humano de forma clara e objetiva, mas sem criar uma barreira de constrangimentos entre professor e alunos. Por conseguinte, o presente estudo propõe-se aplicar jogos sobre o sistema genital humano, para facilitar o processo de ensino-aprendizagem desse conteúdo nas aulas de ciências do 8º ano, verificar a aplicabilidade desses jogos, examinar se a utilização dos jogos influencia na participação dos alunos, além de avaliar a eficácia dos jogos como recurso avaliativo. 2 MATERIAL E MÉTODOS 68 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 2.1 Área de estudo A Escola Municipal Izabel Angarita está localizada no bairro do Japiim II, no Conjunto Atílio Andreazza, sito na Rua Cunamã s/nº. Conta com 26 dependências, funcionando nos três turnos oferecendo Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (1º ao 9º ano). 2.2 Coleta e análise de dados Para conhecer o público alvo trabalhado, foi aplicada uma ficha psicopedagógica, contendo 26 perguntas distribuídas a respeito da família, afinidades, preferências, escola e estudo. Como organizador prévio foi realizado um teste escrito e um jogo e como recursos avaliativos foram utilizados três jogos. A partir das respostas individuais dos alunos geradas do teste escrito e dos jogos foi utilizado o método qualiquantitativo. Para avaliar o entusiasmo dos alunos nos jogos, foi utilizado o método da observação direta dos fatos, os quais foram registrados e posteriormente analisados. Ao final das atividades foi disponibilizada aos alunos uma ficha em relação aos quatro jogos aplicados, com os campos: cor, tamanho, regras, perguntas, tempo, número de pessoas, além de atribuírem uma nota para o jogo. Todos os campos possuíam os conceitos: ruim, regular, bom e ótimo. 2.3 As aulas Foram ministradas oito aulas expositivas com a duração de quarenta e cinco minutos. 69 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A primeira aula foi à apresentação do projeto para os alunos, a aplicação da ficha psicopedagógica e o teste escrito. A segunda aula foi à aplicação do jogo “Corrida pela fecundação” como organizador prévio. A terceira aula foi a respeito do sistema endócrino em uma visão geral sobre os hormônios e como recurso didático foram utilizadas fichas contendo gravuras sobre o conteúdo. Na quarta aula foi aplicado o primeiro jogo como recurso avaliativo: “Conhecendo a ação dos hormônios”, o qual não foi possível finalizar devido à falta de tempo frente à complexidade do jogo. A quinta aula foi a respeito do sistema genital masculino e como recurso didático foi utilizado o próprio tabuleiro do jogo. Na sexta aula foi aplicado o “Jogo da reprodução: sistema genital masculino”. Na sétima aula os alunos aprenderam sobre o sistema genital feminino e também foi utilizado o tabuleiro do jogo como recurso didático. Por fim, a oitava aula consistiu na aplicação do “Jogo da reprodução: sistema genital feminino”. Em todas as aulas foram utilizados dois recursos indispensáveis, o quadro negro e pincel. 2.4 Os jogos O jogo “A Corrida pela Fecundação” foi constituído por um tabuleiro no formato de um octógono regular, formado por dez trilhas contendo quatro casas no formato de um trapézio convergindo para um círculo ao centro. Esse jogo recebeu esse nome por simular a corrida dos espermatozóides até o óvulo, sendo os marcadores de cada participante o espermatozóide (cores variadas) e o círculo central no tabuleiro (vermelho) o óvulo (Figura 1). 70 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Silas Nery, 2009 Figura 1. Tabuleiro do jogo “Corrida pela fecundação”. Para iniciar o jogo: 1º os participantes ocuparam a primeira casa, externa ao centro do tabuleiro. Também foi entregue uma ficha para os alunos escreverem suas respostas. Foi solicitado a todos que respondessem a caneta para evitar fraude e/ou qualquer rasura ou marca forte da tinta da caneta, o qual anularia a questão. Para que os participantes pudessem se locomover pelas casas, foi feito perguntas com três alternativas (a, b e c) solicitando que as respostas fossem respondidas na folha disponibilizada. A cada acerto, o jogador tinha o direito de avançar uma casa e quem errava permanecia onde estava. O jogo terminou após duas rodadas quando os participantes chegaram ao centro do tabuleiro (ovulo). No primeira rodada vários alunos chegaram ao centro e como critério de desempate foram realizadas perguntas eliminando os participantes que erravam até restar somente um. O jogo “Conhecendo a ação dos hormônios” (figura 2) foi constituído de três trilhas: uma verde, uma amarela e uma azul, as quais representavam cada uma o mecanismo de ação dos hormônios no estresse, na atividade física e durante o sono respectivamente. 71 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Silas Nery, 2009 Figura 2. Tabuleiro do jogo “Conhecendo a ação dos hormônios”. Cada trilha continha sete casas e seguiu a mesma regra do jogo anterior, para cada participante se locomover precisava responder corretamente uma pergunta. O coordenador mediava o jogo e as repostas de cada participante foi registrada em uma ficha individual. Os dois jogos da reprodução foram baseados de uma proposta do Instituto Kaplan. Consistiram de dois tabuleiros, um masculino e um feminino, com o desenho do respectivo sistema genital (figura 3), onde a própria trilha foi montada, da mesma forma como os jogos anteriores, a mediação foi realizada pelo coordenador e as repostas registradas. 72 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Silas Nery, 2009 Figura 3. Tabuleiros dos jogos da reprodução baseados na proposta do Instituto Kaplan. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A turma era composta de 23 alunos, dos quais cinco freqüentaram somente 25% das aulas e por isso foram utilizados como amostragem apenas 18 alunos, sendo 15 do sexo feminino e três do sexo masculino. A faixa etária dos alunos é de 13 a 15 anos, a crença é bastante diversificada predominando com 44,44% a religião evangélica, 61% preferem trabalhar em grupo e Ciências Naturais é a segunda matéria que os alunos mais gostam. A nota obtida pelos alunos na prova escrita, realizada como teste de sondagem, foi muito baixa frente à nota esperada (Figura 4), principalmente pelo fato do professor de Ciências já ter ministrado a aula sobre o conteúdo de sistema genital humano na semana anterior ao início do projeto. Zapiain citado por Ramiro et al., (2008) enfatiza a importância da formação do professor, pois seus conhecimentos na área da sexualidade são pré-requisito para o sucesso da educação sexual. Como o conteúdo a respeito do sistema genital humano faz parte da temática sexualidade, vê-se que o professor não sensibilizou os alunos ou despertou o interesse 73 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 dos mesmos em conhecer a si mesmo e consequentemente atingir o sucesso da educação sexual. Talvez seja por dois motivos: acanhamento do professor em ministrar o conteúdo ou o despreparado para abordar o conteúdo devido sua formação em Licenciatura em Matemática. Com o mesmo intuito da prova escrita, no jogo “Corrida pela fecundação” os resultados obtidos foram diferentes (Figura 4) e mais significativos. Mais de 50% dos alunos obtiveram média superior ou igual a quatro, cinco obtiveram nota baixa e hum recebeu a nota zero, pois não compareceu a aula. Figura 4. Mesmo com a diferente pontuação a ser alcançada (10 pontos para o teste escrito e 8 para o jogo) pode-se observar que o jogo obteve o maior índice de notas significativas. Silveira (1996) realizou trabalhos com relação à diferença entre notas de teste de múltipla escolha e analítico-expositivas. Para ele a diferença entre os dois testes não é acentuado, quebrando o mito de que as provas escritas ou analítico-expositivas são mais eficazes no método avaliativo. No trabalho, ou seja, no caso do jogo, foram indicadas possíveis respostas aos alunos identificarem uma correta, e esse tipo de avaliação se caracteriza do tipo múltipla escolha. 74 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Outro ponto importante é o tipo de aprendizado dos alunos. Ausubel citado por Medina et al., (2007) define a aprendizagem mecânica ou repetitiva como sendo a aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma associação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Se os alunos fingem que aprendem e apenas absorvem o conteúdo, enquanto o professor obriga-os a realizar testes escritos, o resultado sempre serão notas baixas. Ao enfrentar a mesma situação, procurou-se desenvolver técnicas como a associação entre o jogo e o teste de múltipla escolha, ajudando ao aluno a procurar em sua estrutura cognitiva respostas, ou seja, recorrer a tudo que lhe foi passado a fim de confrontar com as possíveis respostas e chegar à verdadeira. Foram realizadas somente quatro perguntas no jogo como recurso avaliativo “Conhecendo a ação dos hormônios”, porém levando em consideração somente essas perguntas apenas três alunos teriam média baixa. Os jogos que levaram o tema propriamente dito do presente trabalho mostraram o grande avanço no conhecimento dos alunos, pois as médias mostram uma grande diferença quando comparadas. No “Jogo da reprodução: sistema genital masculino” a nota variou de cinco a oito, sendo que dos três alunos do sexo masculino apenas um conseguiu a maior média e os demais acertaram seis questões. No “Jogo da reprodução: sistema genital feminino” a nota variou de três a nove, destacam-se os alunos do sexo masculino: um obteve a nota nove e os demais a nota oito, mesmo que uma aluna tenha tirado à menor média, as demais se concentram em maior número nas notas oito e nove. 75 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Figura 5. As diferenças entre os dois jogos são visíveis quanto à distribuição das notas e as maiores médias. Em relação à efetividade da aprendizagem dos alunos foi observada uma participação ativa dos mesmos com muita competitividade, que despontava em uma avidez no acerto do maior número de questões possíveis, por conta disso, não havia troca de respostas ou o que chamamos no ambiente escolar de “cola”. Os alunos ficaram tão à vontade no momento da aplicação dos jogos, que esqueceram o caráter avaliativo do mesmo, ao invés disso, estavam sempre alegres, descontraído, atento as perguntas realizadas e muitos apresentavam rapidez nas suas respostas. De acordo com Dallabona et al., (2004) as técnicas lúdicas fazem com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento, sendo relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial. Ao término de uma das aulas uma aluna propôs ao professor de Ciências, que estava presente, aplicar a utilização dos jogos nas suas aulas, pois era mais interessante e divertida. 76 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Para aumentar a relevância do presente estudo vale registrar o interesse dos alunos nas aulas teóricas ministradas. Os alunos sempre no começo de todas as aulas apresentavam certa apatia, mas quando o assunto era iniciado, eles se interessavam e acabavam participando ativamente, questionavam e respondiam as perguntas realizadas. Na aula teórica sobre o sistema endócrino a participação dos alunos foi bastante ativa. Nas aulas sobre o sistema genital humano, as alunas apresentavam maior participação do que os alunos. Em relação ao sistema genital feminino, observou maior interesse das alunas, com respostas prontas para todas as perguntas realizadas. Nas aulas sobre o sistema genital masculino, os alunos apresentavam acanhamento e não responderam a nenhuma pergunta, enquanto as alunas se sentiam mais a vontade de responder e questionar sobre o assunto. Segundo Gomes (2003) meninos e meninas crescem sob a crença de que mulher e homem são o que são por natureza. No modelo de masculinidade a ser seguido, ressaltam-se as idéias de que o homem de verdade é solitário e reservado no que se refere às suas experiências pessoais, ou, quando muito superficial e prático, direcionado para agir e realizar atividades. Isso explica porque as alunas apresentaram maior desenvoltura que os alunos, há uma questão arraigada imposta pela nossa sociedade patriarcal, a qual masculinidade é valorizada em todas as fases de desenvolvimento do homem para a constituição de um caráter másculo e viril. A questão não é o desinteresse dos alunos, mas essa característica reservada da intimidade masculina. A avaliação dos alunos sobre os quatro jogos foi muito positiva, somente o tamanho dos “Jogos da reprodução” e os marcadores em todos os jogos, não receberam o conceito ótimo. Löbach (2001) citado por Marcato (2008) certifica que a adição de elementos estáticos, como forma, material superfície, etc, fornecem ao observador um conteúdo representativo, que transmite de maneira concentrada a informação. 77 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 Os dois tabuleiros do referido jogo, realmente, não possuíam tamanho adequado para o número de pessoas participantes, e os marcadores infelizmente não são vendidos em cores diversas, assim, muito dos alunos possuíam a mesma cor de marcador e acabavam se atrapalhando na hora de movê-los. Para a solução desse problema, faz-se necessário a produção dos marcadores dos próprios alunos, todos podem ser da mesma cor ou forma, mas o importante é o marcador levar o nome do aluno. No caso da dimensão do tabuleiro aumentá-lo é a única forma de viabilizar para um número grande de participantes. . 4. CONCLUSÃO Os jogos são estratégia metodológica eficaz no desenvolvimento das aulas, principalmente na temática sobre o sistema genital humano. Os jogos foram atrativos para as crianças e como o tema abordado possui uma série de dúvidas e tabus impostos pela sociedade, o ato de jogar aliada a essa temática, facilitou a abordagem e o aprendizado. Quanto à aplicabilidade, os jogos foram viáveis para o uso em sala de aula, pois não são complexos e exige somente um ótimo domínio pelo professor sobre as regras do jogo, sua construção é fácil e somente demanda um tempo para a produção. A diferença nas aulas foi sentido de forma surpreendente. A diversão foi garantida e o entusiasmo dos alunos foi grande em participar, competir e ganhar. Para isso, se esforçaram ao máximo para aprender o conteúdo atento a tudo que é falado e questionando bastante no momento da aula teórica. A utilização dos jogos de trilha como recurso avaliativo foi muito eficaz, os alunos deixaram a idéia de estarem sendo avaliados, e o professor pode passar de mal para auxiliador. Vale ressaltar que o método somente deve ser utilizado por educadores adeptos a avaliações com questões de múltipla escolha. 78 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 5. REFERÊNCIAS CANTO, A. R.; ZACARIAS, M. A. 2009. Utilização do jogo Super Trunfo Árvores Brasileiras como instrumento facilitador no ensino dos biomas brasileiros. Ciências & Cognição, Manaus. 14(1): 144-153. DALLABONA, S. R.; MENDES, S. M. S. 2004. O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGAR, BRINCAR, UMA FORMA DE EDUCAR. Revista de divulgação técnicocientífica do ICPG. 1(4): 107-112. GOMES, R. 2003. Sexualidade masculina e saúde do homem: proposta para uma discussão. Revista Ciência & Saúde Coletiva. 8(3): 825-829. LIMA, K. E. C.; VASCONCELOS, S. D. 2006. 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No entanto se observou que, a despeito da inclusão das novas tecnologias no cotidiano escolar, o Ensino de Ciências se mantém pautado na transmissão, aos estudantes, dos conhecimentos científicos já elaborados, a partir de uma prática pedagógica fortemente influenciada pela memorização, revelando a necessidade de se investir na formação do professor para que assuma o seu papel de mediador do processo de ensino-aprendizagem. PALAVRAS-CHAVES: professores. Ensino de Ciências; novas tecnologias; formação de ABSTRACT: This article discusses the contributions of new technologies as teaching tool in the teaching and learning in elementary school, focusing on the pedagogical practice mediated by the teacher. To this end, we support the work with a literature review about the possibilities of using these technologies in everyday school life, and empirical research, which aimed to identify how school teachers are using these technologies to teach science. The survey showed that new technologies can be constituted as a pedagogical resource to optimize the teaching of science. However it was observed that, despite the inclusion of new technologies in everyday school life, the 27 Prof. MSc. Em Ensino de Ciências na Amazônia (UEA) 28 Doutor em Educação, pela Universidad de Valladolid – Espanha, Professor do CEFET-AM, e do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências na Amazônia, da Universidade do Estado do Amazonas. 80 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 teaching of science is still guided by the disclosure to students of scientific knowledge has developed, from a pedagogical practice strongly influenced by memory, revealing the need to invest in teacher training to assume its role as a mediator in teaching and learning. KEY WORDS: Science education, new technologies, training of teachers. 1. INTRODUÇÃO O professor, ao desenvolver a sua prática pedagógica, considerando as necessidades da sociedade atual, não tem como ignorar as mudanças que as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação 29 estão provocando em todos os campos da sociedade, trazendo conseqüências, sobretudo, para a educação, levando o trabalho docente a buscar novos caminhos legitimadores de suas ações. Neste estudo, propomo-nos a discutir as contribuições das novas tecnologias como recurso pedagógico para ensinar Ciências nos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como foco a mediação pedagógica do professor. Sustentamos o trabalho, tendo com referências centrais: Behrens (2003), Cachapuz (2005); Vygotsky (1984) e Teixeira (2006). As considerações que desenvolvemos sobre as possibilidades de uso das novas tecnologias como recurso pedagógico no Ensino de Ciências, não dão conta da complexidade da temática, apenas representam uma tentativa de situar algumas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem e sugerir caminhos para o aprofundamento de estudos. 2. O ENSINO DE CIÊNCIAS NO BRASIL 29 Quando nos referimos às novas tecnologias, para efeito deste trabalho, delimitaremos no uso do computador e da Internet. 81 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 Para traçar uma breve trajetória do Ensino de Ciências no Brasil, valemo-nos dos trabalhos de Marandino (2003), Krasilchik (2000), Delizoicov e Angotti (1990) e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Nossa intenção é fazer uma sucinta abordagem de algumas mudanças ocorridas naquele ensino, principalmente em relação às práticas envolvidas. Até 1960, as aulas de Ciências eram ministradas apenas nos dois últimos anos do Curso Ginasial30. O cenário escolar era marcado por um ensino mnemônico, com aulas predominantemente expositivas, cujos relatos de experiência, e algumas experimentações, serviam para confirmar as teorias, jamais refutá-las. A promulgação da Lei 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) ampliou a participação das Ciências no currículo escolar, tornando-a obrigatória desde o primeiro ano do curso ginasial. As discussões e mudanças no ensino de Ciências, nessa década, foram pautadas nos projetos curriculares. 31 Cabia ao Ensino de Ciências desenvolver o espírito crítico dos estudantes, dando condições para que descobrissem a ciência, reproduzindo o trabalho do cientista. Por sua vez, os professores davam grande ênfase às atividades experimentais, seguindo rigidamente as etapas do método científico, cuja influência visível, no Ensino de Ciências, fez com que fosse considerado por muitos professores como uma metodologia para essa área de ensino. Foi somente a partir de 1971 que o Ensino de Ciências passou a fazer parte obrigatória do currículo dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Com a Lei 5692/71, estendeu-se às primeiras quatro séries do primeiro grau. Embora essa Lei tenha trazido conseqüências nefastas para as disciplinas científicas, que passaram a ter caráter essencialmente profissionalizante, descaracterizando as suas funções no currículo, nesse período houve um grande questionamento, tanto em relação à abordagem, quanto à organização dos conteúdos de ensino de Ciências. Na prática, no entanto, os 30 Correspondem atualmente aos dois últimos anos do Ensino Fundamental, mais conhecidos pela nomenclatura “7ª e 8ª séries”. 31 Esses projetos, destinados às 5ª e 8ª séries e, principalmente, ao 2º grau, consistiam na produção de textos e materiais experimentais que valorizavam os conteúdos a ser ensinados, propondo novas metodologias e procurando, por meio de guias para o professor, suprir a sua deficiência de formação. 82 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 professores mantinham aulas expositivas com forte apelo à memorização de conteúdos pelos estudantes. Tais questionamentos se intensificaram nos anos 80, com as propostas de democratização do país, influenciando fortemente o ensino de Ciências, que passa a analisar as implicações sociais e o desenvolvimento científico e tecnológico no âmbito educacional. As questões relacionadas com a Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) ampliaram-se, e continuam cada vez mais presentes nas discussões, fazendo parte de questões relevantes colocadas no contexto da sala de aula nos anos iniciais de escolaridade. Dentre elas, o processo de construção do conhecimento científico pelo estudante passou a ser a tônica da análise educacional. Todavia, apesar dos avanços, não foi superada a postura de professores que consideram o Ensino de Ciências como uma descrição teórica e/ou experimental, afastada do significado ético e de suas relações com o mundo do estudante. Propostas em busca de um Ensino de Ciências que contribuísse para a formação de um estudante mais participativo, reflexivo e autônomo intensificaram-se na década de 90. Houve um aumento significativo de criação de centros de pesquisa, projetos e divulgação de trabalhos realizados na área 32. Na segunda metade dessa década, a promulgação da Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) consolida uma profunda ressignificação do processo de ensinar e aprender, ao prescrever o paradigma curricular, em que os conteúdos de ensino deixam de ter importância em si mesmos, e são entendidos como meio para produzir aprendizagem dos estudantes (MELLO, 2000). Procurando implementar o novo paradigma curricular, em 1997, o Ministério da Educação (MEC) disponibiliza, em caráter de recomendação, a todos os sistemas de 32 A título de exemplo, podemos citar: Projeto Ensino de Ciências a partir de problemas da comunidade (CAPES/UFRN, 1984); Projeto Física para a escola normal (CAPES/UFRJ, 1986); Banco de dados de fontes bibliográficas para o Ensino de Ciências– (GEPECISC, 1996); Centro de Ciências de Belo Horizonte e Rio de Janeiro (1963); Projeto de melhoria do Ensino de Ciências e Matemática (PREMEM); Subprograma de educação para a Ciência (SPEC), vinculado à Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); o pró-Ciências e os programas de educação científica e ambiental do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). 83 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 ensino e escolas, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Os parâmetros para o Ensino de Ciências sugerem que a ciência seja mostrada como um conhecimento capaz de colaborar para a “compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduo [...], favorecendo o desenvolvimento de postura reflexiva, crítica, questionadora e investigativa” (BRASIL, 1997, p. 23 e 24). Neste terceiro milênio, mais visível se tornou a urgência de incorporar, nos primeiros anos de escolaridade, a discussão de questões, éticas por excelência, relacionadas ao desenvolvimento científico e tecnológico e à CTS, principalmente em decorrência dos avanços propiciados pelas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC) que têm provocado mudanças radicais em todos os setores da sociedade e, particularmente, no espaço da sala de aula. internet 3. AS NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Para Silva Filho (1998) as possibilidades e os limites do uso das novas tecnologias, particularmente a internet, no processo educativo, serão definidos pela qualidade das interações na relação professor-estudante no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos escolares, podendo se constituir em meio auxiliar, facilitador do ato pedagógico, possivelmente contribuindo para ampliar e diversificar as experiências de vida dos estudantes, para a democratização da informação, do conhecimento e das relações, respeitando-se as especificidades do processo de ensino-aprendizado, relativas ao Ensino Fundamental. Nessa busca por uma ação docente mais significativa, é importante considerar que as novas tecnologias podem inaugurar novas formas de gerir as informações e produzir conhecimentos, podendo inserir os estudantes em uma nova cultura que vá além de informações e horizontalize relações sócio-culturais, levando a uma crescente descentralização de um poder reservado e praticado por poucos. 84 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Embora as novas tecnologias estejam sendo introduzidas nas escolas ainda de modo considerado lento, surge como capacidade de abrir novas possibilidades de conhecimento e de relação com o conhecimento, suscitando reflexões sobre os novos caminhos do processo de ensino-aprendizagem, e novas direções na formação dos professores para o uso consciente dessa ferramenta, numa perspectiva de mediação. Nesse sentido, Behrens (2003) chama atenção para o uso da internet com um recurso de aprendizagem múltipla em que se aprende a ler, a buscar informações, a pesquisar, a comparar, a analisar, etc.; o estudante é alguém que busca e adquire informações, dando-lhes significados próprios e desenvolvendo sua habilidade de considerar os fatos e fenômenos sobre diversos ângulos e o professor é o mediador pedagógico, é aquele que assume a atitude de colaborador das atividades dos estudantes, no sentido de dinamizar a sua aprendizagem, à medida que, juntamente com os estudantes, trabalha em busca de objetivos comuns. Percebemos, dessa forma, que o uso do computador conectado à internet pode se apresentar ferramenta atraente particularmente para os estudantes do Ensino Fundamental, que ainda estão em uma fase predominantemente sensorial, pois envolve imagens, cores e sons, que, juntamente com a mediação do professor, poderá se converter em uma estratégia poderosa no processo de ensino-aprendizagem, oportunizando aos estudantes, por exemplo, a socialização, sem fronteira, do produto elaborado, possibilitando que as informações disponíveis possam ser utilizadas, compartilhadas e até reelaboradas por outros estudantes e professores de diferentes partes do mundo. Porém, a busca por otimizar as novas tecnologias como recurso pedagógico, não logrará resultados caso não se invista em uma intervenção pedagógica consciente do professor, questão imprescindível e que passa pelo seu processo de formação. Assim, o professor que se predispuser a enfrentar os desafios postos pela internet poderá encontrar nela um meio propício para a condução do processo de ensino-aprendizagem de modo mais dinâmico. 85 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Todavia, consideramos pertinente o alerta de Cachapuz (2005) quanto à necessidade de se atentar para posições ingênuas, que vêem no uso das novas tecnologias a grande revolução para resolver os problemas de ensino-aprendizagem. Longe dessa visão simplista, reconhecemos as possibilidades de utilização, particularmente da internet, como recurso pedagógico no cotidiano escolar que, a partir da mediação do professor, poderá oferecer contribuições relevantes para o processo de ensinoaprendizagem. 4. UM BREVE OLHAR SOBRE A UTILIZAÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS Realizamos a pesquisa em uma escola pública de Manaus, onde há vinte turmas de estudantes do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, com média de trinta estudantes por turma. É considera uma escola referência na utilização das novas tecnologias por professores e estudantes no desenvolvimento das aulas. Quanto ao laboratório de informática da escola, foi instalado há pouco mais de quatro anos. E uma sala com 28 metros quadrados de área, com uma impressora, doze computadores (apenas dez funcionavam) e trinta cadeiras (dando a entender que cada computador deve ser utilizado, simultaneamente, por três estudantes). A internet dificilmente é acessada, pois a conexão ocorre raramente, e quando ocorre, se dá de modo muito lento. Ademais, apenas dois computadores permitem acesso à rede. Há um cronograma, fixado na parede do laboratório de informática, com os horários de cada professor para utilização da sala com sua turma de estudantes, sendo uma vez por semana para cada uma. No entanto, das vinte turmas, apenas oito, já realizaram atividades de Ciências utilizando o computador, como mostra o quadro 1. Quanto à internet nunca foi utilizada como recurso pedagógico no espaço escolar por professores e estudantes. Os dados que apresentamos foram colhidos através de entrevista e observação das aulas. Observamos três aulas, com estudantes do primeiro e quinto ano do Ensino 86 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 Fundamental, nas quais as professoras ensinaram Ciências utilizando o computador como recurso pedagógico. Professora Já utilizou o computador nas aulas de Ciências? Bia Sim Carla Elza Olga Paula Queila Flora Deise Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Como foi a participação dos alunos? Já utilizou a internet nas aulas de Ciências? Ótima. Ajudou a desenvolver o hábito da pesquisa. Ótima. Ficaram todos atentos. Ótima. Não houve indisciplina. Ótima. Aula mais dinâmica. Ótima. Todos prestaram atenção. Muito boa. Bastante participação. Ótima Ótima. Ficaram todos atentos Não Não Não Não Não Não Não Não Quadro 1- Professoras que utilizaram as novas tecnologias com estudantes no espaço escolar Os nomes dos professores são fictícios para preservar a identidade. Ainda em relação ao quadro 1, notamos, ao entrevistarmos as professoras, que quando elas dizem ótimo e muito bom para a participação dos estudantes na realização de atividades utilizando o computador, essa classificação não se refere às possibilidades de construção de conhecimento, mas ao comportamento dos estudantes na realização das atividades, ou seja, a classificação está relacionada ao critério de disciplina. Vale ressaltar que todas as professoras têm mais de três anos de experiência no magistério dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Quanto ao modo com as professoras conduziram as atividades com o uso computador para desenvolver conteúdos de Ciências, observamos que as três professoras assumiram forma semelhante nos procedimentos utilizados para o desenvolvimento das atividades. Reproduzimos aqui, alguns episódios da aula de uma professora do quinto ano que trabalhou o conteúdo órgãos dos sentidos. A professora iniciou procurando estabelecer um diálogo com os estudantes, o qual reproduzimos no quadro a seguir. Professora - Bem, gente, nós já estudamos quais são os órgãos dos sentidos. Estudantes - Audição, visão, tato, paladar e olfato 87 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 Vocês lembram, né? Hoje vamos fazer apenas uma revisão sobre o assunto. Quais são os órgãos dos sentidos? - Qual o órgão responsável pelo paladar? - E o órgão responsável pelo tato? - Muito bem, mas será que é só a mão? Não. O tato está no corpo todo. V.3 – N.5 - 2010 - Língua - Mão ------- Quadro 2– Diálogo entre a professora e os estudantes em aula de Ciências O diálogo que a professora procurou estabelecer se deu com ela fazendo perguntas e os estudantes respondendo, em coro. Ao final de cada resposta, a professora buscando incentivar, sempre dizia: “muito bem”. Após esse diálogo inicial, a professora explicou aos estudantes como deveriam proceder para realizar as atividades: Vocês estão vendo a imagem na tela? Então, vocês vão pegar o mouse e ligar a função ao órgão correspondente. Se tiver certa a resposta a marcação vai ficar; se tiver errada, a marcação não fica e vocês terão de tentar de novo. Cada um liga uma vez para todos poderem participar, ok? Se acertar tudo, ganha parabéns, e pode passar para a outra atividade que é um quebra-cabeça para montar um sanduíche. Dito isso, os estudantes começaram a desenvolver as atividades. Tendo em vista que todos os estudantes já dominavam o manuseio do computador, e pela facilidade em desenvolver a atividade, conseguiram realizar rapidamente as duas atividades propostas, sem necessitar da mediação da professora. Em alguns momentos, enquanto caminhava pelos grupos, observando como estavam realizando a atividade, a professora fazia algumas perguntas. Por exemplo, quando estavam montando o quebra-cabeça de um sanduíche, ela perguntou: “Qual o sentido que vocês estão utilizando?”. O grupo respondeu: “Tato, porque usamos o mouse para montar, visão porque estamos olhando”. “E se tivesse som?”, perguntou a professora. “Usaria a audição”, disse um estudante do grupo. E, assim, a professora continuou caminhando pelos outros grupos. Todos os estudantes realizaram as atividades sem nenhuma dificuldade. Mostraram claramente que elas não ofereciam nenhum desafio, pois já dominavam completamente 88 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 o conteúdo proposto, da forma como foi solicitado que executassem. Essa constatação, dada a nossa experiência, tanto como formadora de professores, quanto de professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental, parecia evidente para nós, desde o início da atividade, visto que por ser uma turma de quinto ano, a atividade requeria um maior nível de dificuldade. Reportando-nos a Vygotsky (1984), podemos dizer que a professora trabalhou com o nível de desenvolvimento real dos estudantes, ou seja, desenvolveu atividades que eles podiam realizar de forma independente, pois não necessitavam da sua mediação. Não buscou avançar nos conhecimentos demonstrados pelos estudantes, propondo desafios ou problemas que necessitassem dessa mediação. Conseqüentemente, não procurou explorar a zona de desenvolvimento proximal, explicitada por aquele autor como sendo um dos desafios do processo de ensino-aprendizagem. O trabalho com a zona de desenvolvimento proximal sugere que se proponha aos estudantes problemas que o instiguem a buscar, entre outros, a orientação do professor para a sua resolução, estimulando, assim, a uma série de processos internos que possibilitarão a elaboração de novos conhecimentos. Observamos ainda que os tipos de perguntas feitas aos estudantes revelam uma prática pedagógica centrada em informações que devem ser memorizadas pelos estudantes. Esse modo de agir mostra a concepção da professora ao ensinar Ciências, ou seja, quanto mais informações forem acumuladas, maior será o conhecimento, demonstrando que tanto a aprendizagem quanto o desenvolvimento cognitivo são conseqüências da memorização, indicando que as funções que fazem o estudante alcançar estágios intelectuais mais elaborados decorrem do uso que ele faz do que memorizou (TEIXEIRA, 2006). Quanto à participação dos estudantes, embora as atividades não oferecessem nenhum desafio, constatamos que a presença da ludicidade, assim como as cores vibrantes que compunham as atividades no computador foram determinantes para o seu envolvimento e participação atenta. Todavia, o conteúdo trabalhado e a apropriação dos conhecimentos em Ciências ficaram em segundo plano, uma vez que 89 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 careciam de problematização e de desafios que deveriam ser postos ao pensamento dos estudantes. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao abordarmos as contribuições das novas tecnologias no processo de ensinoaprendizagem em Ciências, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, visualizamos perspectivas desafiadoras quanto ao seu uso como recurso pedagógico atraente que pode propiciar novas formas de ensinar e aprender, oferecendo aos estudantes, particularmente do Ensino Fundamental, à medida que aprende a buscar informações, a pesquisar, comparar, entre outros, desenvolver habilidades que lhes permitam mais autonomia na construção do conhecimento. No entanto, o uso dessa ferramenta, na perspectiva exposta, mostrou a necessidade de o professor estar preparado para colaborar para uma prática cotidiana escolar mais efetiva e com compreensão de seu contexto de ação, de se assumir como mediador das atividades dos estudantes, no sentido de dinamizar a aprendizagem, desafiando-os constantemente a novas buscas. Constamos que a forma como a Ciência é ensinada não tem permitido a apropriação de conhecimentos pelos estudantes, de modo crítico e participativo, o que ainda ocorre é a memorização de conceitos, de modo passivo e acrítico, sem que o professor ofereça desafios aos estudantes para que possam exercitar a busca de resposta aos problemas, interagindo com os conhecimentos que já possui e buscando adquirir novos conhecimentos. Embora estejamos considerando a utilização das novas tecnologias, como um recurso possibilitador de novas formas de ensinar, as condições da escola como reprodutora e transmissora de informações se mantém. Desse modo, as inovações pretendidas no processo de ensino-aprendizagem, a partir do uso dessas tecnologias por professores e 90 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 estudantes, estão muito mais no plano teórico do que verdadeiramente inseridas no cotidiano escolar. Esta situação deixa claro que incorporar novos recursos no ensino não representa nenhuma garantia de que se está fazendo um novo ensino. Ao contrário, observamos que esta incorporação está se dando basicamente como instrumentalidade, como pura e simples introdução de novos recursos em antigas práticas educativas, o que poderá interferir negativamente na “formação de um novo homem, autônomo, crítico, consciente da sua responsabilidade individual e social, enfim, um novo cidadão para uma nova sociedade” (KENSKI, 2002, p. 264). Logo, para criar um cenário de construção de conhecimentos não basta colocar os estudantes em contato com novos recursos, sejam estes reais ou virtuais, mas é essencial criar as condições, problematizar e confrontar experiências, o que incide, fundamentalmente na formação dos professores, especificamente, em mudanças em suas práticas pedagógicas para atender às necessidades educacionais de uma sociedade em constante transformação. REFERÊNCIAS BEHRENS, M. A. 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São Paulo: Martins Fontes, 1984. 92 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 EVALUACIÓN DEL EQUIPO DE INTERFEROMETRIA ÓPTICA DE COHERENCIA PARCIAL (LENSTAR) EN LA BIOMETRÍA OCULAR Iramis Miranda Hernández. 33 Juan Raúl Hernández Silva. 34 Marcelino Rio Torres 35 Yanele Ruiz Rodríguez 36 (Recebido em 14/09/09, aceito em 14/12/2009) RESUMEN: La Catarata es la enfermedad ocular de mayor prevalencia en el mundo (12 a 17 millones de personas). Para el año 2020 está estimado 40 millones de personas ciegas en el mundo por esta causa. Con el avance tecnológico, el diseño y surgimiento de nuevas técnicas quirúrgicas, así como el desarrollo y perfeccionamiento de los lentes Intraoculares (LIO), uno de los principales retos en la oftalmología radica en el cálculo exacto del poder del LIO. Este va ha ser implantado en la cirugía de catarata. La firma Hagg Streit (Alemania), presentó un nuevo equipo basado en el principio de la interferometría óptica de coherencia parcial (LENSTAR). Este ha sido probado por diferentes instituciones por la calidad de las mensuraciones para el cálculo del poder dióptrico del Lente Intraocular. Los sistemas de interferometria permiten obtener valores de potencia en el LIO para alcanzar 33 Dra. Iramis Miranda Hernández: Esp. 1er. grado. Aspirante a investigador. Email: [email protected] 34 Dr. Juan Raúl Hernández Silva: Investigador Auxiliar, Esp. 2do grado. Profesor Auxiliar. 35 Dr. Marcelino Rio Torres. Director ICO “Ramón Pando Ferre”. Esp. 2do grado. Profesor Titular 36 Dra. Yanele Ruiz Rodríguez: Esp. 1er. grado. Aspirante a investigador. Email: [email protected], Centro: Instituto Cubano de Oftalmología Ramón Pando Ferrer.31 y 76. Marianao. C.Habana. Cuba. 93 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 los mejores resultados visuales postoperatorios. En el Instituto Cubano de Oftalmología realizamos un estudio con el objetivo de evaluar su eficacia para su utilización y como parte del programa en la formación de especialistas latinoamericanos . Palabras claves: Lente Intraocular (LIO), biometría, Interferometría Óptica, Lenstar ABSTRACT: The cataract is the ocular illness with the greatest prevalence in the world (12 to 17 million people). It is estimated that for the year 2020, 40 million people in the world will be blind due to this illness. Despite the technological advances, the design and rise of new surgical procedures, as well as the development and improvement of the intraocular lens (IOL), one of the main challenges in ophthalmology is to determine the exact power of the IOL. This power OR method OR is going to be established in the cataract surgery. The German firm Hagg-Streit presented the LENSTAR, the first optical biometer which uses the precision of Optical Low-Coherence Reflectometry. LENSTAR has been tested by different institutions due to the quality of its measurements for the calculation of the dioptric power of the IOL. The Optical Low-Coherence Reflectometry permits to obtain the power values of the IOL to reach the best postoperative visual results. In the Cuban Institute of Ophthalmology we carried out a study with the objective to evaluate the LENSTAR’s efficacy and its use as part of the training program for Latin-American specialists. KEYWORDS: Intraocular lens (IOL), biometrics, Optical Reflectometry, LENSTAR 1 INTRODUÇÃO La Catarata es la enfermedad ocular de mayor prevalencia en el mundo (12 a 17 millones de personas), tiene tendencia a aumentar en las próximas cinco décadas como consecuencia de la mayor expectativa de vida. Esta situación no está apoyada por un tratamiento médico o farmacológico preventivo de la afección, por lo que no queda otra alternativa que la quirúrgica (1,2). La Organización Mundial de la Salud (OMS) estima que por cada millón de personas hay 6.000 ciegos y que la mitad lo es por Catarata bilateral. En el año 2025 se prevé que existan 40 millones de ciegos por esta causa en el mundo. El 90 % de la población invidente vive en países subdesarrollados, donde la probabilidad de quedarse ciegos es 10 94 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 veces mayor que en países industrializados. La incidencia de ceguera actual en el mundo es de uno a dos millones de pacientes nuevos al año, siendo prevenibles entre el 20 y el 30% de los casos y más del 50% pueden ser tratados (Catarata 50%; Glaucoma y errores refractivos 20%; Tracoma 12%; Degeneración macular 10%; Retinopatía Diabética 5%; Oncocercosis 2%; Déficit de vitamina A 1%) (3). La catarata es la causa de cerca de la mitad de la pérdida visual en el mundo. En el año 1995 se estimó que más de un 80% de personas con catarata podían morir antes de tener posibilidad de tratamiento quirúrgico (4). Las referencias más tempranas a cerca de la cirugía de catarata describe las “técnicas de reclinamiento” o dislocación del lente o cristalino a la cavidad vítrea. Esta fue la técnica más usada en parte de Asia y África durante el siglo XX, pero comenzó a ser reemplazada por las técnicas quirúrgicas modernas (5-7) . La cirugía moderna de catarata para restaurar la visión puede ser realizada eficazmente y eficientemente con excelentes resultados visuales. No obstante, el acceso a la cirugía, el costo y la utilización de los servicios es un problema en la mayoría de los países. Esta enfermedad se relaciona con los cambios que ocurren en el cristalino en la edad avanzada. También la catarata congénita puede presentarse así como la catarata traumática que puede afectar a adultos y niños pero la mayor parte de las cataratas se relacionan con la edad (causa senil) (6). En 1967, Charles D. Kelman introduce la técnica de Facoemulsificación (FE) que revolucionó por completo la cirugía de Catarata, la cual es actualmente la más difundida y con la que se obtienen resultados positivos en muy corto plazo (8.9). En 1949, Harold Ridley reemplazó un cristalino natural cataratoso por un cristalino artificial de material plástico. La implantación permanente de lentes cristalinianas se impuso e hizo posible una rehabilitación visual cómoda y eficiente tras la cirugía de catarata (10,11). Ridley, analizó la curvatura, tamaño y forma del cristalino e intentó asumir de forma empírica una potencia estándar de + 18 dioptrías (D) en el poder del Lente Intraocular (LIO) (11) . Este desarrollo empírico se basaba en que la mayor parte de los ojos tienen promedios biométricos, lo cual fue mostrado por Holladay en el Congreso de la ASCRS de 1997 (12) . Este método resultó ser muy impreciso y en el 50 % de los casos se producían errores mayores de 1D. En 1967 Fyodorov publicó la primera fórmula para el cálculo del LIO. A 95 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 partir de este momento las fórmulas y los dispositivos biomédicos se han ido perfeccionando, siendo más precisos o exactos en los últimos 5 a 10 años (13). Actualmente, los lentes Intraoculares se implantan en alrededor de 100 millones de pacientes con catarata en todo el mundo (14) . Según un estudio realizado en el año 2003 por el Departamento de Salud y Servicios Humanos en Estados Unidos, la cirugía de catarata es la más frecuente de las cirugías practicadas en este país (15) . El número de pacientes beneficiados con este implante se espera que sea el doble en el 2020 debido al aumento de la catarata senil ya que nuestra población tiende al envejecimiento (16,17). Con el avance tecnológico, el diseño y surgimiento de nuevas técnicas quirúrgicas, así como el desarrollo y perfeccionamiento de los LIO, uno de los principales retos en la oftalmología radica en el cálculo exacto del poder del LIO (18). El estudio de las técnicas que nos van a facilitar las medidas de las diferentes estructuras oculares para el cálculo correcto del poder del LIO, define a la biometría Ocular (19,20). Desde el año 2001 con la llegada de la Interferometría Óptica y la mayor exactitud en las fórmulas podemos obtener resultados postoperatorios cercanos a la emetropia. La biometría por métodos ópticos se basa en la utilización de dispositivos que por el principio físico de la interferometria miden sin contacto la distancia desde el vértex corneal hasta la capa del epitelio pigmentario retinal (21,22). El equipo IOL Master (Carl Zeiss, Jena, Alemania), es el primer equipo comercializado basado en el sistema de interferometria de coherencia parcial. Es un biómetro óptico de no contacto, que tiene más de más de 10 años de experiencia a nivel internacional. Se ha convertido en la norma de referencia de la biometría lo cual se debe a la fiabilidad, exactitud y seguridad de las mensuraciones obtenidas con el objetivo de calcular el poder dióptrico del lente intraocular (LIO) en la cirugía de catarata. Calcula la longitud axial (ALX), Profundidad de la Cámara Anterior (ACD), Queratometría (K), y la Distancia Blanco-Blanco (WTW), éste ùltimo de gran utilidad en cirugía refractiva (21,22) . El advenimiento de los Lentes Intraoculares multifocales, acomodativos y esféricos ha convertido la cirugía de catarata en una cirugía refractiva (23). Según Olsen, el factor más importante de error en el cálculo del lente intraocular es la medición de la longitud axial (24,25). 96 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 El mayor peso en todas las fórmulas para conseguir resultados emetropizantes al implantar un LIO lo tiene además del cálculo fiable de la longitud axial, la queratometría (K). Estas variables constituyen las principales fuentes de error biométrico que deriva en un poder incorrecto del LIO (20,24). Existen otros parámetros complementarios que son especialmente útiles en otras fórmulas como el grosor del cristalino (L), el diámetro corneal mediante la medición del diámetro visible o la distancia limbo-limbo o blanco-blanco (WTW). Estas variables tienen importancia como predictores de la posición efectiva del lente (ELP) en la formula Holladay II, especialmente útil en pacientes hipermétropes (19,20). Recientemente, la firma Hagg Streit (AG, Koeniz, Alemania), presentó un nuevo equipo basado en el principio de la interferometría óptica de coherencia parcial, el cual esta siendo probado por diferentes instituciones por la calidad de las mensuraciones para el cálculo del LIO. Se trata del equipo Lenstar, biómetro de no contacto que realiza 9 mediciones diferentes en un mismo disparo. Provee mediciones que son útiles en pacientes candidatos tanto de cirugía de catarata como en cirugía refractiva (26). En el Instituto Cubano de Oftalmología “Ramón Pando Ferrer” por la importancia que reviste el uso de este tipo de sistema para el cálculo del poder dióptrico del lente intraocular, nos propusimos el objetivo de iniciar un estudio para su evaluación por medio de la comparación de las medidas obtenidas del mismo con las obtenidas con el equipo IOL Master así como las obtenidas también con sistemas topográficos basados en la tecnología Scheimpflug con experiencia de uso (27). La tecnología Scheimpflug utiliza dos cámaras giratorias con este principio y sus imágenes precisas permiten analizar las estructuras del ojo desde la parte anterior de la córnea hasta la cápsula posterior del cristalino (27,28) . Estos son: los equipos Galilei (Ziemer, Suiza) y Pentacan (Oculus, Alemania). Sus aplicaciones más importantes están relacionadas con la validación de candidatos para cirugía refractiva, cirugía personalizada con base topográfica y la documentación de la catarata por medio de la densitometría. OBJETIVOS Objetivo General: 97 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 1. Comparación y Evaluación de la biometría ocular con el equipo de interferometria óptica de baja coherencia (IOL Master) con el equipo de interferometria óptica de coherencia parcial (Lenstar) y también con los sistemas topográficos equipos Galilei y Pentacam. Objetivos Específicos: 1. Evaluar la correspondencia de las medidas obtenidas con el equipo Lenstar y el IOL Master en las siguientes variables: Longitud axial (ALX), Profundidad de la Cámara Anterior (ACD), Queratometría (K) y distancia Blanco-Blanco (WtW). 2. Evaluar la correspondencia de las medidas obtenidas con el equipo Lenstar y con los equipos Galilei (Ziemer, Suiza) y Pentacan (Oculus, Alemania) con las siguientes variables: ACD, K y Espesor Corneal Central (CCT en inglés). 2. METODOLOGÍA Se realizó un estudio prospectivo, descriptivo, y transversal con un grupo de pacientes atendidos en el Servicio de Catarata que fueron sometidos a la línea preoperatoria para cirugía de Catarata. El estudio se realizó en el Centro de Microcirugía Ocular del Instituto Cubano Oftalmológico “Ramón Pando Ferrer” entre los meses de mayo del 2010 a mayo del 2011. Selección de la muestra: Se estudiaron 60 pacientes (120 ojos). Este es el número de casos mínimo insertado en el estudio que el diseño del equipo exige para probar sus resultados y aceptar su eficacia. Los valores biométricos se tomaron por el mismo observador y previa información de la naturaleza del estudio con el consentimiento del paciente para participar en el estudio. El estudio fue aprobado por el comité de Ética de la Institución y cumpliendo a cabalidad con las normas de Helsinki para experimentación en humanos. Se tomarán el mismo día las mensuraciones con los equipos Lenstar e IOL Master, y en otra consulta con los equipos Galilei y Pentacam. 98 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A cada paciente se le realizaron las siguientes mensuraciones (recomendadas por los fabricantes para probar la eficacia del equipo): IOL Master (Versión: 3.02.0304): • Longitud Axial (5 mediciones por ojo). • Profundidad de la Cámara Anterior (1 medición por ojo). • Queratometría (3 mediciones por ojo: R1 meridiano más curvo- R2 Meridiano más plano). • Distancia Blanco-Blanco (3 mediciones por ojo). Lenstar LS 900 (Versión: 0.9.3): • Longitud Axial (5 mediciones por ojo). • Profundidad de la Cámara Anterior (5 medición por ojo). • Queratometría (5 mediciones por ojo). • Eje o Axis córneal. • Distancia Blanco-Blanco (5 mediciones por ojo). • Espesor corneal central (5 mediciones por ojo). Equipos Galilei (Ziemer, Suiza) y Pentacan (Oculus, Alemania): • Queratometría (3 mediciones por ojo). • Eje o Axis córneal • Profundidad de la Cámara Anterior (3 mediciónes por ojo). • Espesor corneal central (3 mediciones por ojo). Criterios para la selección de las unidades de análisis. Pacientes portadores de catarata con edades comprendidas entre 40 y 75 años de edad, sanos, que acudan al servicio de Catarata del ICO “Ramón Pando Ferrer” en el período anteriormente citado. Criterios de inclusión. 1. Dureza del núcleo lenticular de II a IV+ (Dado por el sistema LOCS). 2. Estado corneal preoperatorio: Conteo celular endotelial de 2000 células/mm2 (+/- 100 células/mm2) . 99 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Criterios de exclusión. • Se excluyeron de este estudio aquellos pacientes que presentaron las siguientes afecciones que comprometen la recuperación de la cirugía o el mejor resultado de la agudeza visual postoperatoria: 1. Alteraciones generales (colagenopatías, afecciones inmunológicas) 2. Alteraciones de los párpados (ectropión, entropión, ptosis palpebral, blefaritis etc.) 3. Alteraciones de la lágrima (ojo seco severo) 4. Trastornos corneales (distrofias, degeneraciones, queratocono, leucoma etc.) 5. Cataratas traumáticas 6. Glaucomas descompensados o con daño severo del nervio óptico. 7. Degeneraciones retinianas y maculares si se detectaron en el preoperatorio y uveítis. 8. Anomalías oculares congénitas (microcórnea, aniridia, VPHP, etc.). Criterios de salida 1. Sujetos que no acudan a las reconsultas. 2. Individuos que en el transcurso del estudio muestren alguna afección oftalmológica. Instrumento El equipo Lenstar utiliza un SLD (diodo súper luminiscente) de larga longitud de onda (820 nm), como fuente de luz, lo que permite una adecuada penetración en cristalinos de dureza moderada (29-31, 34,35). Por tratarse de un método óptico, depende de la facilidad de propagación de la luz en el ojo, por tanto patologías que perjudiquen o impidan la propagación de la luz, igualmente impedirán la medida de la ALX (29-31). Proporciona el cálculo de la lente intraocular (software Eyesuite). Es Especialmente útil en ojos con altas miopías, afáquicos o que contengan aceite de silicona. Se realizan 16 escaneos como medida principal y facilita valores de los diferentes elementos de la parte más externa del ojo. El escaneo rápido del ojo hace que si se pierde en algún momento la 100 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 fijación no se anula la medición y el examen continúa cuando se reestablece la fijación. Este equipo es altamente sensible por lo que puede ser difícil de realizar en pacientes con maculopatías, nistagmus o poco colaborativos (29-31,). Las mediciones obtenidas con el equipo Lenstar son la queratometría (K), diámetro pupilar, excentricidad del eje visual, distancia blanco-blanco (WTW), Profundidad de Cámara Anterior (ACD), Espesor del cristalino (LT), Longitud axial (AXL) y el espesor de la retina. Las reflexiones de las diferentes estructuras del ojo humano, tales como, la cornea, el cristalino y la retina, son interferométricamente superpuestas sobre la reflexión de los brazos de referencia. Una señal de interferencia de la interfase reflectiva es generada cuando el rayo de medida está fijado por el paciente y cuando este está perpendicular a la interfase. Debido a la separación temporal de las interferencias la ACD, el LT y la ALX son medidos en un solo procedimiento de posición. Este instrumento además puede medir las medidas del radio de curvatura en el meridiano plano e inclinado analizando un patrón de 32 diodos emisores de luz, los cuales están dispuestos en dos anillos con 16 puntos de medidas cada uno (29-31). Análisis Estadístico Los resultados se expresan en medias (± Desviación estándar). Se realizó el análisis de correlación y el cálculo de coeficiente de Pearson. Se consideró un nivel de significación del 95%. Resultados Este estudio comparó las medidas clínicas obtenidas con el equipo IOL Master con las del equipo Lenstar de la ALX, R1, R2, ACD y WTW. Los valores del Espesor Corneal Central (CCT) se compararon con los equipos Pentacam y Galilei. Con el Lenstar es posible determinar también el espesor del cristalino (LT en Inglés), este dato no lo mostramos en este trabajo. El 73,3 % de las cataratas en este estudio eran cataratas nucleares, 23,3 % corticonucleares y un 3,3 % opacidades periféricas. 101 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Se analizaron los 120 ojos. Se compararon los valores obtenidos de la ALX con los equipos Lenstar e IOL Master. Los valores medios obtenidos fueron de 22,9 +/- 2,48 con el Lenstar y 22,82 +/- 2,49 con el IOL Master. Los resultados fueron altamente correspondientes y exactos entre los mismos, principalmente en pacientes con ALX entre 22-26 mm. En ALX mayores de 26 mm fueron más inexactos. Fig. 1 Fig. 1 La comparación de la medida de la ACD fue posible en los 120 ojos estudiados. La media de la ACD fue de 2,91 +/- 0,38 con el Lenstar y de 3,06 +/- 0,40 con el IOL Master. El IOL Master realiza la medición desde el epitelio corneal hasta la capsula anterior del cristalino. El Lenstar realiza la medición de la ACD desde el endotelio hasta la cápsula anterior del cristalino (ACD anatómica). Para realizar el cálculo del LIO suma los valores paquimétricos y la ACD. Este valor fue el que tomamos para realizar la comparación, Estas resultaron altamente correspondientes cuando analizamos el valor total obtenido. Fig. 2 102 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Fig. 2 La ACD también fue comparada con los topógrafos Pentacam y Galilei. Los resultados mostraron buena correspondencia. Estos fueron Lenstar 2,91 +/- 0,38, Pentacam 2,94 +/0,29 y Galilei 2,95 +/- 0,29. Con relación a la Queratometría, las medias de las medidas obtenidas de R1 fueron de 42,44 +/- 4,14 y de R2 43,15 +/- 4,22 con el Lenstar. Con el IOL Master fueron de R1 42,66 +/- 4,17 y R2 43,87 +/- 4,26. Observamos una alta correspondencia de las medidas obtenidas entre ambos equipos Fig. 3. La correspondencia de los datos de K enrte el Lenstar y los equipos Pentacam y Galilei fue buena, aunque menor que con el equipo IOL Master. Las diferencias no fueron estadísticamente significativas. Pentacan R1 43,05 +/- 1,59 y R2 43,66 +/- 1,59. Con el Galilei R1 42,90+/- 1,48 y R2 43,63 +/- 1,52. Fig. 4. El eje o Axis fue de 103,08 +/- 56,77 con el Lenstar, de 103,32 +/- 55,12 Pentacam y de 106,70 +/-67,63 con el Galilei. 103 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Fig. 3 Fig. 4 La distancia W t W fue de 11,59 +/- 1,57 con el Lenstar y de 11,72 +/- 1,15 con el IOL Master. Presentaron una alta correspondencia. La medida del CCT fue obtenida con los equipos Galilei y Pentacam. La media obtenida con el equipo Lenstar fue de 516,08 +/- 9,42. Con el Pentacam 518, 70 +/- 4,29 y con el Galilei 517 +/- 6. Entre los valores de todas las medidas obtenidas en este estudio no se encontraron diferencias estadísticamente significativas. Discusión 104 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Este dispositivo de interferometria se encuentra calibrado frente a sistemas de alta resolución, por lo que se realiza una medida análoga a la de un sistema A de inmersión. Las medidas son representadas en un gráfico que refleja el promedio de las mediciones realizadas (cinco en total) y la desviación estándar (DE) de cada una. El gráfico obtenido recuerda la imagen del Ultrasonido modo A y los picos corresponden a la superficie anterior y posterior de la córnea, capsula anterior y posterior del cristalino y la retina. Las medidas obtenidas de la LAX fueron correspondientes entre ambos equipos (LenstarIOL Master) con un alto grado de correspondencia entre las medidas obtenidas. Estos valores fueron más exactos en ojos con ALX normales (23-24 mm), sin embargo algo inexactos en ALX extremas (ojos ALX> 24 mm). Esto puede deberse a que en pacientes con ALX altas, pacientes miopes, el epitelio pigmentario es más fino, presentan menor área de sesión transversal por lo que se produce una menor interferencia del rayo y los resultados son más inexactos. Por tratarse de un método óptico, depende de la facilidad de propagación de la luz en el ojo, por tanto patologías que perjudiquen o impidan la propagación de la luz, igualmente impedirán la medida de la ALX. De aquí la dificultad para realizar el examen en pacientes con opacidades cristalinenas de densidad media alta de manera similar que con el IOL Master (32). En marzo 2009 fue publicado un estudio clínico comparativo realizado por el Dr. Auffarth. Aplicó la correlación de Spearman para evaluar y comparar la efectividad del equipo Lenstar. Reveló una alta correlación en las medidas de la ALX y queratometría y una menor correlación para la ACD pero las diferencias no fueron estadísticamente significativas (33). El equipo Lenstar está basado en el principio de OLCR (Reflectometría óptica de baja coherencia) utiliza un SLD (34,35). El equipo IOL Master usa el principio de la interferometria óptica de coherencia parcial en la configuración de un rayo de luz doble y esto se efectúa mediante un láser diodo multimodo (36) . Debido a las diferentes características espectrales se obtiene una mayor resolución con el uso del SLD comparado con el láser diodo multimodo (37). El cálculo del coeficiente de Pearson fue cercano a 1 para las medidas de ALX, ACD, R1, R2 y WtW, entre el IOL Master y el Lenstar. Todos los resultados se confirmaron mediante 105 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 el análisis de regresión, determinándose una buena asociación entre las variables correlacionadas. Las mediciones Scheimpflug con los equipos Galilei y Pentacam, del espesor corneal central (CCT) y profundidad de cámara anterior (ACD) son exactas y tienen una buena repetibilidad en comparación con la interferometría de coherencia parcial Lenstar. Sin embargo, debido a la alteración de la luz al pasar a través de superficies de refracción, la imagen se distorsiona. Esto puede llevar a una subestimación de la profundidad de la cámara anterior en los ojos pseudofáquicos (27,28). El cálculo del coeficiente de Pearson fue cercano a 1 para las medidas de ACD, R1, R2 y CCT, entre tipógrafos y el Lenstar. Todos los resultados se confirmaron mediante el análisis de regresión, determinándose una buena asociación entre las variables correlacionadas. Los resultados obtenidos en este trabajo coinciden con los obtenidos en otros estudios publicados en el año anterior en algunas universidades de Alemania (37) . El mismo demuestra que este sistema de interferometria es un instrumento confiable, efectivo y reproducible para el cálculo del Lente Intraocular. Bibliografía. 1. Lucas Andrioli, MO. La catarata a través de los siglos. Consejo Argentino de Oftalmología. Buenos Aires: Médicas. 2007 May;1:179-185. 2. Brian G, Taylor H. Cataract Blindness-Challenges for the 21 st century. Bull World Health Organ. 2001;79:249-256. 3. Catarata y la Organización Mundial de la Salud. [página en Internet]. 2007 [citado 4 mayo 2007]: [aprox. 6 p.]. Disponible en: http://www.pasteur.cl/cont/catarata.html 4. Sigh AJ, Garner P, Floyd K. Cost-Effetiveness of public-fundedoptions for cataract surgery in Mysore, India. Lancet.2000; 355:180-184. 5. Fank KW. Couching for cataract and Sino-Indian medical exchange from the sixth to the twelfth century AD. 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O ensino de Ciências deve despertar o raciocínio científico e não ser apenas informativo. Dessa forma a proposta apresentada por meio deste artigo pretende propor atividades experimentais que poderão ser desenvolvidas em sala de aula, no quarto ciclo do Ensino Fundamental. Tal proposta objetiva um envolvimento mais efetivo do aluno na construção de atividades experimentais, bem como, poderá permitir uma relação mais dinâmica do professor e do aluno em sala de aula na construção do conhecimento em Ciências. PALAVRAS-CHAVES: experimentação, ensino de ciências, materiais alternativos. SUMMARY: The information age in which we live requires reflection on the content taught and the strategies employed in the classroom. Encouraging the development of science education are necessary because they allow students to better monitor the development of science, the changes that occur in nature and history of man. Science education should awaken the scientific reasoning and not just be informative. Thus the 37 Prof. MSc. Em Ensino de Ciências na Amazônia. Prof. Da disciplina de Instrumentação da UFAM. Email: [email protected]. 38 Prof. MSc. Em Ensino de Ciências na Amazônia. 39 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso e Doutora em Biologia Controle do Meio Ambiente pela Universidad de León. Mestra em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Estadual de Campinas. Graduada em Matemática pela Universidade Federal do Amazonas, Especialista em Educação Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso. É professora da disciplina Instrumentação para o Ensino de Ciências na Amazônia do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na Amazônia – UEA. 110 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 proposal made by this article intends to propose experimental activities to be undertaken in the classroom, in the fourth cycle of primary education. This proposal aims at a more effective involvement of students in the construction of experiments and may allow a more dynamic relationship of teacher and student in the classroom in the construction of in science. knowledge KEY WORDS: experiment, science education, alternative materials. 1. INTRODUÇÃO As mudanças desenvolvidas no Ensino de Ciências têm apresentado de certa forma a preocupação de conduzir a aprendizagem do aluno para uma melhoria na formação do conhecimento científico. Considerando as transformações ocorridas na sociedade, é relevante estabelecer uma análise crítica das diversas formas de ensinar Ciências. É necessário afirmar que a Ciência evolui, mas os processos de ensino-aprendizagem, apesar de inúmeras pesquisas nesse campo, evoluem e ao mesmo tempo regridem por causa de inúmeros fatores de caracteristicamente processuais. Até os anos 60, do século passado, o Ensino de Ciências passou por uma longa fase em que a Ciência era apresentada como neutra e o importante eram os aspectos lógicos da aprendizagem e a qualidade dos cursos era definida pela quantidade de conteúdos conceituais transmitidos. Nos anos seguintes valorizou-se a participação do aluno no processo de aprendizagem do Método Científico através de atividades práticas de laboratório, executadas somente pelo professor, que repetia as atividades experimentais. Na década de 70, a crise econômica mundial e os problemas relacionados ao desenvolvimento tecnológico fizeram surgir, no Ensino de Ciências um movimento pedagógico que ficou conhecido como “Ciência, Tecnologia e Sociedade” (CTS). Essa tendência no ensino é importante até os dias de hoje, pois leva em conta a estreita relação da Ciência com a Tecnologia e a Sociedade, aspectos que não podem ser excluídos de um ensino que visa a formar cidadãos. Nos anos 80 a atenção passou a ser dada ao processo de construção do conhecimento científico pelo aluno. Inúmeras pesquisas foram realizadas nesse campo e o modelo de aprendizagem, por mudanças conceituais, núcleo de diferentes correntes construtivistas, é hoje bem aceito pela maioria dos pesquisadores. Na pretensão de estabelecer uma perspectiva experimental inovadora para o ensino de Ciências, dois pontos parecem dificultar esse processo. O primeiro refere-se à forma tradicional como o professor ministra suas aulas. O segundo diz respeito à falta de um laboratório para as práticas de ensino de Ciências. Muitas vezes esses obstáculos são ressaltados pelos professores. Isso impede os estudantes de reconhecerem a sua participação direta nas atividades experimentais. 111 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Em vista disso, desenvolver atividades experimentais, com a colaboração do aluno, poderá abrir novos espaços para um ensino de cooperação e a participação direta na aprendizagem, construindo, assim, um processo que busca legitimar um conhecimento científico inovador que irá valorizar a colaboração efetiva do alunado. Um caminho para isso é pensar que uma das funções mais importantes do professor comprometidos com a idéia de formar cidadãos atuantes em sua realidade é saber desenvolver as atividades experimentais com a participação direta do aluno. Nesse sentido, o professor poderá avaliar o desempenho escolar do aluno, a partir de sua postura crítica, contestadora, construtiva, solidária, comprometida com o bem-estar individual e coletivo; tudo isso sustentado por um planejamento participativo, cuja argumentação esteja alicerçada na experimentação científica ativa e participativa. De acordo com a visão montessoriana: a criança deve ser incentivada a desenvolver o senso de responsabilidade pelo próprio aprendizado e o ensino deve ser ativo. É esperado que o aluno, consciente de suas atividades adquira maior autoconfiança [...] as escolas que seguem essa linha enfatizam as experiências e o manuseio de materiais para se obter a concentração individual e o aprendizado (BRANDÃO, s.d). A formação científica que conduz à verdadeira participação do aluno em sua aprendizagem deve possibilitar em primeiro lugar, a percepção do papel da Ciência na construção da sociedade moderna. Essa compreensão deverá conduzir o aprendiz para um conhecimento crítico e levá-lo a atuar de forma solidária para o enfretamento da problemática contemporânea. A didática tradicional desenvolvida no Ensino de Ciências resume-se em dar a lição e em tomar a lição. No método expositivo, o professor é o agente, o aluno é o ouvinte. Os métodos utilizados na escola tradicional são as aulas expositivas e as demonstrações do professor para os alunos se tornam superficiais. Segundo MIZUKAMI (1986) o educando em seu aprendizado adquire um conhecimento memorístico, dessa forma, os conceitos são vinculados sem nenhuma contextualização da sua realidade. Com isso, a busca por novas alternativas para ensinar Ciências se faz necessário no mundo contemporâneo. Dessa forma, a presente proposta poderá permitir um maior envolvimento entre o professor e o aluno no processo de ensino e aprendizagem na sala de aula. 2. A EXPERIMENTAÇÃO E O ENSINO DE CIÊNCIAS 112 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Ao discorrer sobre experimentação, será necessário esboçar a construção das regras disciplinares para que fiquem explícitos os objetivos propostos para ensinar uma disciplina, particularmente, Ciências. Segundo Fourez (1995), a base que sustenta cada disciplina exige regras, estruturas, instrumentos, normas culturais e práticas pautadas na ordenação do mundo. Essa base que construirá o arcabouço do ensino está associada, concomitantemente, aos paradigmas científicos que se projetam a partir de uma visão de mundo, isto é, a forma de ver o mundo influenciado pelas condições políticas, científicas e culturais, fazendo evoluir uma disciplina e o seu objeto de estudo. No caso do Ensino de Ciências, a ferramenta imperativa é o Método Científico arraigado ao paradigma clássico da ciência, o positivismo, e o objeto de estudo, o conhecimento em construção ou construído a partir dos inúmeros experimentos executados para a confirmação de hipóteses que buscam suas conformidades. A experimentação, no Ensino de Ciências, aplicada de forma tradicional, restringe-se a confirmar determinadas atividades científicas, cuja conseqüência para o aluno é uma atividade que não permite contemplar a complexidade da Ciência contemporânea. Portanto, se faz necessária a construção de um conhecimento científico imbricado no aprender a solucionar problemas tornando a sociedade atuante, coletivamente, e capaz de identificar e propor soluções para a problemática do mundo contemporâneo. Após a Segunda Guerra Mundial, a sociedade passa por grandes transformações que influenciaram na educação, a partir do desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento armamentista e desenvolvimento industrial. A ação humana prescreve atitudes e hábitos que tendem a priorizar as necessidades que emergem nas perspectivas políticas, econômicas e sociais. A Ciência sempre buscou um processo que legitimasse a sua aplicabilidade, tendo como objetivo notório à dimensão de uma qualificação técnica, científica, que desencadeasse a busca na liderança de uma tecnologia de ponta para assegurar o poder aos países desenvolvidos. 113 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 O Ensino de Ciências em sua propositura tem o desafio de pôr o saber científico ao alcance de todos, ou seja, em todos os segmentos sociais oriundos de classes e culturas, fomentadas em uma perspectiva norteadora que conduza o homem a entender o mundo e agir cientificamente no mesmo, priorizando a qualidade de vida e a sustentabilidade do planeta. As mudanças desenvolvidas no Ensino de Ciências têm apresentado de certa forma, a preocupação de conduzir a aprendizagem dos alunos para uma melhoria na formação do conhecimento científico. Considerando as transformações ocorridas na sociedade, é relevante que o processo da aprendizagem seja contextualizado diante dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais, de forma a conduzir para uma reflexão que venha a atender em âmbito local, regional, nacional e global. A intenção hoje é estabelecer uma análise crítica das diversas formas de ensinar Ciências, e apresentar uma proposta que seja capaz de inovar a atividade experimental. Ao final do século XX percebe-se, ainda, no Ensino de Ciências um fecundo distanciamento entre a teoria e a prática. Apesar de inúmeros esforços de estudiosos da área da educação em romper com essa dicotomia, ainda, nutre-se uma produção do conhecimento científico distanciado da realidade humana. Sabe-se que o objetivo das ciências é estabelecer relações entre a Ciência e a Tecnologia promovendo a disseminação dos conhecimentos e a sua aplicabilidade de modo que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida do ser humano. O Ensino de Ciências tem sua existência no currículo escolar a mais ou menos três décadas, a metodologia aplicada predominante em nossas escolas, é objeto de severas críticas feitas por Dewey e estudiosos modernos que buscam inovar a aplicabilidade nos métodos que levem o aluno a aprender para a realidade em que vive (NOVA ESCOLA, 2003). A necessidade de mudar a educação teve o seu despertar com um fato ocorrido em 1957, quando, a então antiga União Soviética fez o primeiro lançamento de uma nave espacial, Sputinik, fenômeno dado como demonstração de um grande salto do 114 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 conhecimento científico. A União Soviética foi vista pelos países ocidentais como um país para se preocuparem, como destaca Oliveira (2000, p. 118), “O inimigo estava à frente em termos de desenvolvimento científico e tecnológico”. Tal fato modificou ou, pelo menos, tentou modificar o ensino de ciências no mundo ocidental, pois ocorreram conseqüências imediatas no ensino de ciências, entre estas, as radicais reformas curriculares que ocorreram nos Estados Unidos, que se concentraram no desenvolvimento de projetos de estímulo à educação científica americana para fazer frente aos avanços tecnológicos demonstrados pelos soviéticos. Os episódios históricos, ocorridos como a Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, a Expansão do Socialismo e a Corrida na Conquista Espacial caracterizaram uma preocupação para os países ocidentais, principalmente para os Estados Unidos, que precisavam desenvolver forças produtivas nas áreas de ciências, o que não foi diferente no Brasil. É importante voltar no tempo, mas precisamente na década de 20, do século passado, quando o Brasil inicia o processo de industrialização e de busca para ajustar-se à nova lógica mundial e, diante de um grande desafio, promover o desenvolvimento nacional. Sendo assim, cresce o entusiasmo pela educação, gerando um momento propício para que um grupo de educadores lançasse um manifesto dos pioneiros da Educação Nova em 1932, sendo. “a mais nítida e expressiva tomada de consciência da educação como um problema nacional”. (AZANHA, 1998, apud LIBÂNEO, 2005, p. 154). O movimento defendia a reformulação da política educacional sustentada em uma pedagogia renovada. Por isso, é relevante contextualizar os acontecimentos históricos a partir da década mencionada, para que se possa fazer uma retrospectiva do momento que antecedeu a preocupação de repensar a educação no Brasil. Retomando o ponto de vista histórico atual, o conhecimento, ou seja, o aprendizado científico e tecnológico está ligado ao desenvolvimento da humanidade e ao seu bem estar social, e hoje, no início de um novo século, o mundo ainda vive em constantes transformações, mas, lamentavelmente, o “fazer” na escola não mudou. 115 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Um século passou e a postura tradicional de ensinar Ciências é colocada em discussão. No caso das atividades experimentais, esta postura é mais visível, já que desconsidera a experiência como mecanismo de inter-relação na aprendizagem. Isto ocorre porque o ensino tradicional das ciências tem a sua base filosófica sustentada em uma psicologia comportamental, que concebe as sensações como via única para o conhecimento, sugerindo a ausência de um saber construído previamente pelo aluno. A postura docente tradicional, que toma quem aprende como tábua rasa, isto é, desconsidera os saberes cotidianos como fonte de interlocução no fazer pedagógico é criticável pelo fato de proporcionar a ilusão de que a escola ensina o conhecimento científico tal qual é produzido pela ciência de ponta. (OLIVEIRA, 2000, p. 124.) As críticas destacadas vão mais além, e são bem evidenciadas na discussão apresentada: “a surpresa evidenciada por muitos educadores estrangeiros ao constatarem que nosso estudantado mostrava grande facilidade em expor princípios científicos, mas nenhuma capacidade de relacioná-los com o cotidiano”. (OLIVEIRA, 2000, p. 119). Com isso, percebe-se que são grandes os desafios para as mudanças, e que estas, devem começar pelos professores e a participação atuante do aluno nas atividades. Os avanços científicos e tecnológicos não param, e, esse processo de aceleração, o professorado não acompanha, às vezes, até pela sua formação deficiente, que não condiz com a sua realidade. Continuando a reflexão, é visível que, a ciência e as descobertas científicas são apresentadas para os alunos de forma “estanque”, sem qualquer relação com o seu cotidiano. Sendo assim, as crianças não aprendem para viver no mundo. “Afinal as crianças não estão num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo”. (NOVA ESCOLA, 2003, p. 23). A filosofia de Dewey remete à escola e ao Ensino de Ciências, a preocupação em dar significados ao que é aprendido; fez severa crítica aos métodos tradicionais de ensino (NOVA ESCOLA, 2003). Um exemplo que ilustra bem a sua criticidade sob o aspecto relatado, é o trabalho experimental tradicional, exemplo: o professor de Ciências planeja uma atividade prática para seus alunos, ao desenvolver essa atividade em sala ou no laboratório, se a 116 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 escola possuir essa estrutura, o experimento colocado em ação, ou seja, os procedimentos do Método Científico não são expostos de forma a conduzir o aluno a questionar o modo de como se chegou aos resultados obtidos e a identificar a importância para o seu cotidiano. Com isso, os alunos aprendem “uma ciência” que desconsidera todos os aspectos da natureza da ciência, ou seja, todo o seu contexto histórico-cultural. E para enriquecer o exemplo citado, (OLIVEIRA, 2000, p. 119) ainda destaca. “Não era incomum ouvir estudantes falarem com desenvoltura sobre eletromagnetismo e desconhecerem completamente o funcionamento de uma simples campainha”. O ensino tradicional não valoriza a capacidade de pensar, de atuar e de problematizar, dos alunos, essa aprendizagem deslocada da experiência de vida dos mesmos só condiz com um ensino arcaico e sem fins sociais. Dessa forma se o Ensino de Ciências promove uma aprendizagem voltada para transmissão de conteúdos, o aluno só poderá tornar-se um mero repetidor. A esse modelo, temos Bachelard como um severo crítico da aprendizagem acrítica e repetidora: É ainda essa ciência para filósofos que ensinamos às nossas crianças. É a ciência experimental das instrumentações ministeriais: pesem, meçam, contem; desconfiem do abstrato, da regra; liguem os jovens espíritos ao concreto; ao fato. Ver para compreender, eis o ideal dessa estranha pedagogia. Pouco importa se o pensamento segue do fenômeno mal visto à experiência mal feita. (BACHELARD apud OLIVEIRA, 2000, p. 94) A crise econômica mundial e os problemas com o desenvolvimento tecnológico, ocorridos na década de 70, fizeram emergir outra tendência que aproximou a Ciência da Tecnologia, a CTS - Ciência Tecnologia e Sociedade. Esse movimento traz para o ensino a valorização dos objetivos de formar cidadãos técnicos e atuantes na sociedade, tendo o seu maior investimento oficial devido ao desenvolvimento industrial, sendo importante até hoje e fortemente aliada à idéia de que os resultados científicos e tecnológicos são respostas às exigências sociais. A tendência tecnicista cuja preocupação baseava-se no aspecto psicológico, comportamental e instrumental, tem sido imposta pelos órgãos competentes de educação, e, sua principal preocupação é adequar a educação às exigências da 117 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 sociedade industrialmente e tecnologicamente desenvolvida. É correto afirmar que até hoje essa tendência é imperativa nos processos educativos. O Ensino de Ciências e suas atividades experimentais não devem reproduzir tarefas, mas, conduzir o aluno a questionar suas próprias idéias, visto que, a ciência contemporânea procura se adequar a toda produção de conhecimento e reconhecer que a mesma também perpassa pelo senso comum. É certo que o conhecimento do senso comum tende a ser um conhecimento mistificado e mistificador, mas (...) tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser ampliada através do diálogo com o conhecimento científico (...) O senso comum é prático e pragmático; reproduz-se colado às trajectórias e às experiências de vida de um dado grupo social. (SANTOS, 2006, p. 89). Após grandes evoluções na ciência que, conseqüentemente, exigiam uma nova postura para ensinar Ciências, nos é apresentada, na década de 80 uma tendência que valoriza o processo de construção do conhecimento científico a partir do alunado. Com isso, se fez presente a corrente construtivista até hoje predominante. Esse método, a princípio, contagiou educadores do mundo todo, nutrindo-os, de uma perspectiva em dar sentido à didática das ciências. Para entendermos as metodologias que são trabalhadas no ensino de Ciências na perspectiva construtivista, é preciso, conhecer as correntes que influenciaram todo o processo de construção do conhecimento. No construtivismo radical o “aprendiz é construtor do seu próprio conhecimento” (DRIVER, 1989, apud LABURÚ e ARRUDA, 2002, p. 478). Dentro dessa perspectiva que o aprendiz elabora o seu próprio fazer a partir de um conhecimento pré-existente, a experimentação se torna subjetiva, idealista e pragmática. “Se nossos conceitos são derivados por abstração da experiência, não há base para acreditar que eles possam captar nada que exista além da nossa experiência” (GLASERSFELD apud JÚNIOR AGUIAR, 2001, p. 2). 118 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A corrente sócio-construtivista é tipificada por um aprendiz em interação constante com o seu meio social e a construção do conhecimento jamais pode ser considerada, independente do seu contexto sócio-cultural. “O conhecimento nunca pode ser justificado como absoluto, verdadeiro, ou mais verdadeiro de um lado, ou correto ou válido de outro, pois tende a ser o produto de uma infinidade de significados, equivalente ao número de culturas ou de fatores contextuais existentes” (AIRASIAN e WALSH, 1997, apud LABURÚ e ARRUDA, 2002, p. 478). Sendo assim, ao longo de décadas, a preocupação em ensinar o Método Científico permanece, e mantém-se o dualismo entre a teoria e a prática. Outro exemplo que surgiu como estratégia para sair de um ensino memorístico e livresco foi o Método da Descoberta que priorizava a aprendizagem autônoma do aluno. Apesar de o ensino por descoberta tentar superar as limitações do método tradicional e tecnicista, o que muitos professores praticam é um ensino livresco de demonstrações experimentais repetitivas e sem contextualização. Cumpre-se destacar que, de uma forma geral, a capacidade de pensar associada à liberdade de aprender dos alunos, na visão de Dewey, só “aprendemos quando compartilhamos experiências”. (DEWEY apud NOVA ESCOLA, 2003, p.23). Ao analisar os procedimentos do Método Científico que estão ainda arraigadas ao paradigma cartesiano, é fácil perceber principalmente no Ensino de Ciências as metodologias que separam as idéias, as estruturas, para que sejam analisadas separadas de seu contexto, fragmentando o conhecimento e isolando o sujeito do objeto. Esse processo ainda permeia a construção do saber científico tornando o aprendiz um mero espectador de sua própria aprendizagem. É notório reconhecer que o conhecimento científico e a tecnologia não são distintos do social e, sob essa perspectiva, o Ensino de Ciências precisa legitimar essa junção procedendo ao aprender a participação ativa dos sujeitos do processo: o professor e o aluno. 119 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 3. SOBRE A PROPOSTA Segundo Zabala (2002) das diferentes variáveis que determinam à forma como se ensina a que tem correspondência com a organização dos conteúdos, ou seja, como se apresenta e como se relacionam os diferentes conteúdos de aprendizagem, a metodologia é a que mais incide no grau de aprofundamento das aprendizagens e da capacidade para que os conteúdos possam ser utilizados em novas situações. No ensino, a resposta a como organizar e apresentar os conteúdos em uma perspectiva não, estritamente, disciplinar deu espaço a uma série de propostas apresentadas sob a denominação de metodologias. Essa proposta está direcionada a alunos do 4º ciclo do Ensino Fundamental, subsidiando os professores para o trabalho experimental em sala de aula, visando à superação das dificuldades com relação à carência de materiais no desenvolvimento de atividades práticas. A proposta deve ser desenvolvida, em etapas, junto com os alunos: sendo a primeira, denominada a Pesquisa, em que o aluno orientado pelo professor selecionará o tema, as atividades experimentais existentes sobre o tema, e os materiais alternativos para a realização do experimento. Na segunda etapa, a Construção, os alunos irão propor atividades experimentais relacionados ao tema, objetivando a estimular a criatividade e a busca de inovações nas práticas. Na terceira etapa, a Integração, através do método expositivo, o professor deverá abordar questões que servirão como instrumentos conceituais que poderão ser utilizados pelo aluno, permitindo discutir idéias e levá-lo a refletir sobre a importância do tema no seu dia-a-dia. O método expositivo, por si só, certamente não conduz ao desenvolvimento integral do aluno, entretanto se utilizado dentro de uma metodologia dialética de estudo, certamente propiciará uma compreensão da realidade em que o mesmo vive. Como reflete Vasconcellos (2002), é necessário o desenvolvimento de uma metodologia dialética que motive o conhecimento e, conseqüentemente, propicie o desenvolvimento da autonomia de estudo. 120 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 A quarta etapa é a Avaliação, momento em que alunos e professor poderão avaliar a atividade. Este momento pode ser caracterizado como um método de trabalho independente, quando o professor estiver avaliando, e um método de elaboração conjunta, quando a avaliação é feita pelos alunos em grupos. Como cita Zabala (2002, p.149), a avaliação do processo e dos resultados servirá para analisar as estratégias de aprendizagem que foram utilizadas, as dificuldades e habilidades em seu uso, e com isso, tirar conclusões que servirão para outras atividades de aprendizagem. 3.1. Etapas da Proposta: 1ª etapa: Pesquisa 1. O professor informa aos alunos que será desenvolvida uma atividade experimental, em que o tema deverá ser escolhido por eles; 2. A partir das sugestões, os alunos deverão selecionar somente um tema; 3. Após a seleção do tema, o professor deverá orientar para que os alunos formem grupos para a pesquisa dos experimentos e escolha dos materiais alternativos selecionados. 2ª etapa: Construção 1. Na sala de aula, o professor relaciona todos os experimentos da pesquisa, trazido pelos alunos, e orienta-os para que estes façam a adaptação dos materiais, e procedam as execuções da atividade. 2. Cada grupo deverá executar os experimentos que foram propostos pelos mesmos, anotando todas as observações que possam ocorrer durante o processo de execução. 3ª etapa: Integração 1. Nesta etapa, os grupos farão o relato de suas observações. 121 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 2. O professor, a partir do que foi exposto pelos alunos, deverá verificar quais os resultados obtidos, e complementares as informações com exposição teórica sobre o tema trabalhado. 4ª etapa: Avaliação 1. Neste momento, cada grupo fará uma avaliação das dificuldades, dos aspectos positivos e negativos de cada etapa da atividade. Aqui, o professor pode pedir que os grupos façam uma avaliação, atribuindo conceitos para o que foi realizado; 2. O professor deve fazer uma avaliação geral dos grupos, sugerindo o que pode melhorar na próxima atividade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Certamente, a metodologia proposta como alternativa para trabalhar a experimentação em sala de aula pode constituir uma fonte de informações relevantes para o aperfeiçoamento da prática docente, em qualquer nível escolar, ou mais especificamente, para professores de Ciências que atuam no 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental. A proposta pode utilizar uma gama de opções trazidas pelos alunos favorecendo a criatividade e a iniciativa, bem como dinamizar a relação professor-aluno e o processo de ensino-aprendizagem. O conhecimento, por parte do professor, de métodos práticos (experimentais) que podem ser trabalhados, em sala de aula, com seus alunos, permitirá que o tema seja apresentado pelo mesmo de forma inovadora e dinâmica, levando a um melhor rendimento tanto do educador como do educando. 122 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 REFERÊNCIAS BRANDÃO, N. L. Tradicional ou Moderno Você Decide! Disponível em http:// www.visaoreal.com.br/tradicional_ou_moderno.htm> Acesso em: 08 de jan. 2008. FOUREZ, G. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. JÚNIOR, A. O. O Papel do Construtivismo na Pesquisa em Ensino de Ciências. 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Também enfocamos como esse assunto é abordado nos PCNs e suas principais diferenciações quanto a abordagem transdisciplinar, interdisciplinar e multidisciplinar. Sendo assim, partimos de uma problemática que envolve a promoção da saúde como fim de um trabalho que será proposto ser interdisciplinar e pretende promover ações educativas efetivas sobre atitudes saudáveis. PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade. Promoção de Saúde; Ensino de Saúde em Ciências; ABSTRACT: The research aims to make an epistemological study on the promotion of health through a review of the literature and national curriculum standards-PCNs, investigating the health-promoting concepts and their implementation through education to improve the quality of life. To do this, we discuss the different concepts of teaching in health science and investigate how the concept of health promotion emerged in official documents in the world. Also we focus on how this issue is addressed in the PCN and its main differences as the transdisciplinary approach, interdisciplinary and multidisciplinary. So we start from a problem that involves the promotion of health as the end of a work that is being proposed is interdisciplinary and aims to promote effective educational attitudes about healthy. KEYWORDS: Health Promotion, School of Health Sciences, Interdisciplinary. 40 Mestre em Ensino de Ciências na Amazônia. 41 Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: [email protected] 124 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 1. INTRODUÇÃO A princípio, cabe ressaltar, que o termo ensinar saúde em Ciências pode ser encarado de forma que o foco seja uma formação sobre saúde, mas, ao longo da história do Ensino de Ciências essa não foi sempre a intenção do Ensinar Saúde. A proposta clássica de inserção dos Programas de Saúde no currículo de Ciências Naturais visava, de forma equivocada, promover a saúde nos estudantes que saberiam mais sobre doenças, suas causas, profilaxias e tratamentos. Entretanto, essa proposta não se apresentou suficiente para garantir que os conteúdos sobre saúde fossem promotores de atitudes saudáveis para os estudantes e a comunidade onde vivem, sendo necessário que fosse repensado uma reforma de como educar para saúde e para promovê-la. Quando um aluno ingressa em um sistema educacional ele já está impregnado com a educação familiar que adquiriu em casa, antes de começar sua vida escolar e, esta criança, já tem hábitos que apreendeu com sua família, podendo estes serem hábitos saudáveis ou não. Contudo, ao longo da sua formação estudantil, essa criança entra em contato com outros valores que podem ser influenciados por amizades e pelos professores que transmitem, além de conteúdos didáticos, inevitavelmente, também passam experiências positivas e negativas aos seus alunos. Este fato faz do profissional de educação um importante agente promotor de saúde que, através de bons exemplos, pode atuar na formação de valores favoráveis à melhoria da qualidade de vida dos discentes e da comunidade onde vivem. Esta influência, não significa dizer que não se deve ensinar saúde e que esses conteúdos não devem estar presentes no currículo e sim, que a Educação para a Saúde só será otimizada quando puder atender as necessidades de mudança de hábitos em busca de uma vida saudável. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Saúde e seus diferentes conceitos 125 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Segundo a Organização Mundial de Saúde, “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (OMS, 1948). Contudo, este conceito está muito longe de ser possível, pois, a idéia de total bem-estar não condiz com a realidade da vida como a conhecemos, uma vez que bem-estar físico, bem-estar mental e bem-estar social são estados de equilíbrio instável, que se definem na medida do dinamismo e dos conflitos de sociedades concretas. Outro autor que aborda conceitualmente a saúde é Vaitsman (1992) que ao defini-la argumenta: “Saúde é antes resultante do conjunto da experiência social, individualizada em cada sentir e vivenciado num corpo que é também, não esqueçamos, biológico”. Uma concepção de saúde nesse contexto não reducionista “deveria recuperar o significado do indivíduo em sua singularidade e subjetividade na relação com os outros e com o mundo” (VAITSMAN:1992, p.43 ). A própria compreensão de saúde tem alto grau de subjetividade, na medida em que indivíduos e comunidades consideram ter mais ou menos saúde dependendo do momento, do referencial e dos valores que atribuam a uma situação. Segundo Dejours (1986) a saúde implica na valorização da vitalidade física, mental e social para a atuação frente às permanentes transformações pessoais e sociais e frente aos desafios e conflitos. A Constituição Brasileira prevê que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Desta forma, a concepção de saúde no texto constitucional aponta para uma mudança progressiva dos serviços, que eram centrados na doença e baseado no atendimento a quem procura e, agora, estão baseados em um modelo de atenção integral à saúde “onde haja incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas propriamente ditas de recuperação” (BRASIL: 1990). As ações protetoras da saúde são as vacinações, o saneamento básico, a vigilância sanitária de alimentos, do meio ambiente e de medicamentos, bem como o controle epidemiológico de doenças com a realização de exames médicos e odontológicos para a possível prevenção e controle de agravos à saúde pública. Em contra partida, as 126 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 medidas de recuperação têm um caráter curativo e assistencialista, que visam a melhora individual de casos de doenças de risco potencial, se diferenciando, portanto, da ação preventiva, mas, complementando a atenção integral à saúde. A promoção de saúde vem a contribuir com as ações protetoras e de recuperação, mas, estão vinculadas à eficácia da sociedade em garantir a implementação das políticas públicas voltadas à qualidade de vida e, estão intimamente relacionadas com a capacidade do cidadão em analisar criticamente a realidade, transformando de forma positiva os fatores determinantes da condição de saúde individual e de uma cidade saudável. Pode-se inferir que o conceito de saúde pode está cada vez mais relacionado aos alicerces educacionais, afinal, seu objetivo maior deve ser a formação de um cidadão consciente de seus direitos e deveres, capaz de adotar estilos de vida saudáveis e nesse sentido, pode ser considerado no processo de promoção de saúde para um indivíduo e para uma sociedade. Contudo, as condições de saúde não são só determinadas pelo poder público, pelo indivíduo ou pela escola. De forma isolada, nenhum desses elementos é capaz de promover saúde e resolver o problema causado pela carência de condições ideais de salubridade. [...] os enfoques segundo os quais a condição de saúde individual é determinada unicamente pela realidade social ou pela ação do poder público, tanto quanto a visão inversa, nem por isso menos determinista, que coloca todo peso no indivíduo, em sua herança genética e em seu empenho pessoal, precisam ser rompidos. Interferir sobre o processo saúde/doença está ao alcance de todos e não é uma tarefa a ser delegada, deixando ao cidadão ou à sociedade o papel de objeto da intervenção “da natureza”, do poder público, dos profissionais de saúde ou, eventualmente, de vítima do resultado de suas ações (BRASIL, 1998). Na realidade, mais do que conceituar saúde, faz-se necessário que esse tema seja tratado de forma séria pelas diferentes instituições sociais formadoras de valores nos cidadãos e, além de formá-los, é importante que haja experiências positivas de ação prática, fornecendo elementos que capacitem as pessoas a promover saúde e que, essas informações e ações, possam se multiplicar nas áreas que mais precisam de 127 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 atenção quanto à saúde vindo a melhorar cada vez mais a qualidade de vida das pessoas nesses locais. 2.2. A Promoção de Saúde Na Amazônia, devido à carência de ações abrangentes e permanentes do poder público, de medidas protetoras e clínico-assistenciais na área da saúde, torna-se cada vez mais necessário desenvolver ações educativas promotoras de saúde. A expressão “promoção de saúde” foi primeiramente utilizada em 1945 pelo canadense Henry Sigerist que era médico e historiador (PEREIRA et al.: 2000). Segundo Henry, na medicina existiam quatro tarefas a serem executadas: a promoção de saúde, a prevenção de doenças, o tratamento dos doentes e a reabilitação. Sendo assim, segundo o autor, a saúde era promovida ao se propiciar condições de vida decentes, condições de trabalho, educação, cultura e descanso. O conceito de promoção de saúde foi marcado, na década de 70 do século XX, pelo informe Lalonde (1974) que destacava as limitações das ações centradas na assistência médica e propunha ampliar o campo de atuação da Saúde Pública, priorizando medidas preventivas e programas educativos que visassem mudanças comportamentais e de estilo de vida. Este informe influenciou nas concepções que orientavam as práticas de promoção de saúde durante toda a década de 70 e tinha seu foco na mudança de hábitos e de estilo de vida individuais priorizando atitudes saudáveis como não fumar, não ter uma promiscuidade sexual, não abusar de substâncias psicoativas e não ser obeso. Essas atitudes centravam-se na prevenção de doenças crônico-degenerativas que afligiam os países desenvolvidos. Muitos avanços foram feitos no sentido de definir o conceito de promoção de saúde, mas, este conceito foi realmente definido no documento final da Primeira Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde, a Carta de Ottawa, onde se definiu promoção 128 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 de saúde como “o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo”. Ainda nesse documento podemos encontrar a definição de como o processo que vem a ser definido como saúde está sendo “construída pelo cuidado de cada um consigo mesmo e com os outros, pela capacidade de tomar decisões e de ter controle sobre as circunstâncias da própria vida, e pela luta para que a sociedade ofereça condições que permitam a obtenção de saúde por todos os seus membros." (Carta de Ottawa: 1986). Além desses posicionamentos, a Carta propõe cinco campos de atuação da promoção da saúde sendo eles: 1) Ambientes suportivos à saúde, facilitadores das escolhas saudáveis, objetivando promover saúde por intermédio da criação de condições de vida e trabalho que conduzam à saúde e ao bem estar; 2) construção de políticas públicas saudáveis, implicando abertura de espaços nas agendas dos formuladores de políticas públicas de todos os setores, tomando as escolhas saudáveis, as mais fáceis; 3) fortalecimento da ação comunitária, priorizando a participação de indivíduos e comunidades nas tomadas de decisão de questões que dizem à saúde; 4) desenvolvimento de habilidades pessoais, enfatizando a divulgação de informações sobre saúde, educação para a saúde, nas escolas, universidades, locais de trabalho e qualquer espaço coletivo de forma a permitir que as pessoas tenham mais controle sobre a sua saúde; 5) reorientação dos serviços de saúde, de um enfoque curativo para um enfoque preventivo de promoção, com a formação de profissionais capazes de acompanhar esta mudança. Outros documentos (ADELAIDE: 1988; SUNSSVALL: 1991; SANTA FÉ de BOGOTÁ: 1992 que tratou pela primeira vez o assunto na América latina; JAKARTA: 1997 e SALAMANCA: 1994) que, dentre outras reivindicações, trata da promoção de saúde e reforça o posicionamento expresso na Carta de Ottawa, ampliando-o na busca de mecanismos adequados que promovam a saúde, educação e o bem-estar. 2.3. Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Promoção de Saúde 129 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Segundo os PCN (1998) os objetivos gerais de saúde para o Ensino Fundamental serão alcançados ao conscientizar os alunos para o direito à saúde, sensibilizá-los para a busca permanente da compreensão de seus determinantes e capacitá-los para utilização de medidas práticas de promoção e recuperação da saúde ao seu alcance. Espera-se, portanto, ao final do Ensino Fundamental, que os alunos sejam capazes de: a) compreender que a saúde é um direito de todos e uma dimensão essencial do crescimento e desenvolvimento do ser humano; b) compreender que a condição de saúde é produzida nas relações com o meio físico, econômico e sociocultural, identificando fatores de risco à saúde pessoal e coletiva presentes no meio em que vivem; c) conhecer e utilizar formas de intervenção individual e coletiva sobre os fatores desfavoráveis à saúde, agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde da comunidade; d) conhecer formas de acesso aos recursos da comunidade e as possibilidades de utilização dos serviços voltados para a promoção, proteção e recuperação da saúde e adotar hábitos de autocuidado, respeitando as possibilidades e limites do próprio corpo. Sendo assim, a promoção de saúde está inserida no currículo escolar de forma que os objetivos previstos nos PCNs sejam alcançados e, para tal, são realizadas diferentes estratégias de ensino nos diversos colégios do Brasil. Contudo, estes parâmetros servem para orientar as ações educativas em todo território nacional, tentando propor habilidades que devem ser adquiridas pelo aluno ao final do Ensino Fundamental sem levar em conta as especificidades dos currículos. Tais objetivos não se referem a disciplinas específicas; na verdade, um mesmo conteúdo de ensino pode atuar em diferentes áreas para promover a saúde, buscando atender as referências dos PCNs na realidade de cada região do Brasil. Sendo assim, partindo das competências gerais estabelecidas pelos PCNs, relativamente às disciplinas da área das Ciências da Natureza, os PCN+ apresentam uma possível correspondência para as competências na área e na Biologia, seguidas de alguns exemplos explicativos com a articulação de dados, símbolos e códigos de ciência e tecnologia prevendo que os alunos sejam capazes de comparar tabelas referentes às doenças infecto-contagiosas, correlacionando dados e interpretando 130 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 essas correlações. Visa ainda, a elaboração de entrevistas com especialistas ou membros da comunidade sobre um tema específico, como o problema de saúde decorrente da poluição, dos hábitos de vida e de endemias; organizando as respostas de forma clara e objetiva dos resultados obtidos; elaborando campanhas em casa e na comunidade divulgando os conhecimentos compreendendo a importância de uma vida saudável. 2.4. Promoção de saúde: Transversalidade ou interdisciplinaridade? Existem muitos conflitos conceituais entre a transversalidade e a interdisciplinaridade. Essa discussão está explicitada nos Parâmetros Curriculares Nacionais que diferencia os dois conceitos e suas aplicações mútuas no currículo brasileiro. Tanto a transversalidade quanto a interdisciplinaridade estão fundamentadas na crítica a uma concepção de conhecimento que vê a realidade como estável, sem levar em conta a complexidade do real. Contudo, esses dois conceitos diferem, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito, principalmente, à dimensão da didática. A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a interrelação e a influência entre eles – questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constitui. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimento teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). (BRASIL, 1998, p.40) Os PCNs ainda reforçam que, na prática pedagógica, a transversalidade e a interdisciplinaridade se retro-alimentam, pois quando este propõe os Temas Transversais acaba por expor as inter-relações entre os objetos de conhecimento de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida. 131 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Ainda segundo os PCNs, um trabalho que pretende atravessar os diferentes campos do conhecimento deve segundo o domínio do tema e/ou prioridade de uma diferente realidade local, tornar possível que conhecimentos apreendidos em vários momentos sejam articulados em torno de um tema de modo a explicitá-lo e dar-lhe relevância, como ao abordar o tema saúde. Para se saber o que é saúde e como esta se preserva, é preciso ter alguns conhecimentos sobre Meio Ambiente, uma vez que a saúde das pessoas depende da qualidade do meio em que vivem. Conhecimentos da Língua Portuguesa e Matemática também comparecem: questões de saúde são temas de debates na imprensa, informações importantes são veiculadas por meio de folhetos; a leitura e a compreensão de tabelas e dados estatísticos são essenciais na percepção da situação da saúde pública. Portanto, o tema Saúde tem como especificidade o fato de, além de conhecimentos inerentes a ele, nele convergirem conhecimentos de áreas distintas (BRASIL, 1998, p. 37). Mesmo a Saúde sendo um Tema Transversal dos PCNs, este ainda vê a possibilidade de se trabalhar tal assunto de forma interdisciplinar quando a temática em questão se relaciona com o segundo Tema Estruturador de interesse da Biologia: Qualidade de vida das populações humanas. Desta forma, a questão da promoção de saúde pode, a partir de uma idéia central, articular disciplinas de modo a desenvolver diferentes competências almejadas no currículo escolar. Um trabalho interdisciplinar, antes de garantir associação temática entre diferentes disciplinas – ação possível, mas não imprescindível – deve buscar unidade em termos de prática docente, ou seja, independentemente dos temas/assuntos tratados em cada disciplina isoladamente. Os educadores de determinada unidade escolar devem comungar de uma prática docente comum voltada para a construção de conhecimentos e de autonomia intelectual por parte dos educandos. [...] Portanto, esses são os fatores que dão unidade ao trabalho das diferentes disciplinas, e não a associação das mesmas em torno de temas supostamente comuns a todas elas” (BRASIL, 1998). Contudo, muitos dos trabalhos tidos como interdisciplinares acabam por se apresentarem com características de uma outra forma de abordagem: a multidisciplinaridade. Girardelli (2003) diferencia esses dois tipos de metodologias relatando que se na multidisciplinaridade recorrermos a informações de várias matérias para estudar determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si, na interdisciplinaridade, os conceitos estão organizados em torno de unidades mais 132 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas. Coimbra (2002) relata que, diferentemente da multidisciplinaridade, que consiste apenas em se atribuir um tema para cuja exposição concorre duas ou mais disciplinas, a interdisciplinaridade pressupõe uma “abordagem pela qual se interessam duas ou mais disciplinas que, intencionalmente, estabelecem nexos e vínculos entre si. Daí resultam a busca de um entendimento comum e o envolvimento direto dos interlocutores” o autor ainda diz que “Numa ação interdisciplinar, as partes envolvidas dão-se as mãos, voltadas para o tema central.[...]. O essencial de interdisciplinaridade consiste em se produzir uma ação comum”. Para Coimbra “Os problemas da sociedade são também multidisciplinares, mas suas soluções serão necessariamente interdisciplinares”(2002). Voltando aos PCNs, da onde se prioriza a realidade curricular brasileira e, por isso, usase tanto como referencial dessa pesquisa: O caráter interdisciplinar de um currículo escolar não reside nas possíveis associações temáticas entre diferentes disciplinas, que em verdade, para sermos rigorosos, costumam gerar apenas integrações e/ou ações multidisciplinares. O interdisciplinar obtém-se por outra via, qual seja, por uma prática docente comum na qual diferentes disciplinas mobilizam, por meio da associação ensino-pesquisa, múltiplos conhecimentos e competências, gerais e particulares, de maneira que cada disciplina dê a sua contribuição para a construção de conhecimentos por parte do educando, com vistas a que o mesmo desenvolva plenamente sua autonomia intelectual (BRASIL, 1998, p. 24). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa epistemológica está inserida no contexto de uma dissertação de mestrado ainda em fase de conclusão onde o Ensino de Saúde em Ciências a partir das diferentes formas de se tratar o tema da saúde foi estudado com um enfoque na Amazônia e optou-se por gerar um produto/proposta com uma abordagem interdisciplinar criando uma alternativa à promoção de atitudes saudáveis nas áreas amazônicas. 133 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Brasília: DF, 1998. 1v (várias paginações). _______. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. ABC do S.U.S.: Doutrinas e Princípios. Brasília, 1990. COIMBRA, J. A. A. O outro lado do meio ambiente. Campinas: Millennium, 2002. DEJOURS, C. Por um novo conceito de saúde. 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Rosario Espinosa 43 (Recebido em 05/05/2009; aceito em 14/12/2009) RESUMEN: Lograr la relación intermaterias entre dos disciplinas que se imparten en primer año de las carreras de ingeniería: Física y Filosofía y mostrar la posibilidad de que los profesores y estudiantes pueden ser capaces de utilizar el sistema categorial y conceptual de las mismas es el objetivo del presente trabajo. La actividad cognoscitiva en la actualidad ha demostrado la necesidad de integrar los contenidos de las distintas asignaturas y en particular el método general que nos ofrece la filosofía marxistaleninista para interpretar los objetos y fenómenos de la naturaleza y cómo los nuevos descubrimientos de las ciencias naturales contribuyen a afianzar la concepción materialista-dialéctica del mundo. La utilización de esta propuesta por profesores y estudiantes así como el cuestionario que se inserta al final para el autocontrol del aprendizaje ha demostrado la eficacia de ésta y el interés que ha despertado entre los estudiosos del tema. PALABRAS CLAVES: naturaleza, movimiento, leyes, realidad objetiva, fenómenos, SUMMARY: To achieve the relationship intermaterias between two disciplines that are imparted in first year of the engineering careers: Physics and Philosophy and to show the possibility that the professors and students can be able to use the system categorial and conceptual of the same ones it is the objective of the present work. The cognitive activity at the present time has demonstrated the necessity to integrate the contents of the different subjects and in particular the general method that he/she offers us the Marxist-Leninist philosophy to interpret the objects and phenomena of the nature and how the new discoveries of the natural sciences contribute to secure the materialisticdialectical conception of the world. The use of this proposal for professors and students as well as the questionnaire that is inserted at the end for the autocontrol of the learning 42 43 Profesor Auxiliar de la Universidad “Camilo Cienfuegos” de Matanzas Cuba. e-mail [email protected] Profesora Instructora SUM “Medardo Vitier”, Matanzas. 135 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 has demonstrated the effectiveness of this and the interest that he/she has wakened up among the specialists of the topic. KEY WORDS: nature, movement, laws, objective reality, phenomena, 1 INTRODUÇÃO Evitar la dicotomía real o artificial entre las disciplinas de Física y Filosofía y buscar un acercamiento durante el estudio de ambas en el tercer nivel de enseñanza, así como facilitar a profesores y estudiantes herramientas en este sentido son los propósitos del presente material de apoyo. En general todos los contenidos de la asignatura Física pueden vincularse con la Filosofía no de manera formal, pues la Física es la ciencia de la naturaleza, que estudia los fenómenos físicos, sin pretender caer en el fisicalismo, es decir, en la concepción del positivismo lógico desarrollada por Carnap, O. Neurath y otros, que sostienen que la autenticidad de cualquier postulado de toda ciencia depende de la posibilidad de traducirlo al lenguaje de la Física. Pero como la Filosofía es, en síntesis, la ciencia sobre las regularidades universales, a las que se someten tanto el ser (la naturaleza y la sociedad) como el pensamiento del hombre (el proceso del conocimiento), es obvio, el vínculo estrecho entre ambas ciencias. Lenin, sin pretender ser “físico” aborda en su brillante obra Materialismo y empiriocriticismo muchos problemas filosóficos de las ciencias naturales y en particular de la Física. Existe un trabajo del académico E. Kolman titulado Lenin y la física contemporánea que precisa en términos asequibles aspectos de la Física que fueron estudiados por el genial conductor del socialismo. E. Kolman afirma: Estudiando atentamente, y no sin emoción, una y otra vez la obra de Lenin, no se puede menos que sentir admiración a cada lectura por su lozanía y actualidad. Hay que tener en cuenta que durante 50 años que han transcurrido, las ciencias naturales, y en especial, la física se han transformado por completo…A pesar de ello, se puede comprobar que el pensamiento inmortal de Lenin superó en mucho el estadio de progreso alcanzado por la física en su tiempo 136 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Lenin no era físico y, como únicamente él mismo señalaba, su tarea no consistía en analizar las doctrinas físicas especiales…No obstante, Lenin dominaba a la perfección el método de la dialéctica materialista. A diferencia de Plejánov, la física no era para él únicamente un conjunto de ejemplos que ilustraban las leyes de la dialéctica. Con su rigor lógico característico, aprendido en la escuela de Marx y Engels, Lenin consideraba que las ciencias naturales, así como las sociales, son la base de la concepción científica del mundo. Por esto, precisamente, su obra tiene una importancia imperecedera para la física moderna Este material se recomienda para ser consultado por los estudiantes y profesores en la preparación de los seminarios. Los grandes ocho temas que aborda son los siguientes: 1. La crisis de la física a comienzos del siglo XX. 2. El espíritu dialéctico de la nueva física y el idealismo “físico”. 3. El espacio y el tiempo. 4. La ley natural. 5. Los datos actuales de la estructura de la materia. 6. Las tentativas realizadas para construir una teoría física única de la materia. 7. Las últimas peripecias del idealismo “físico”. 8. El idealismo “físico” al servicio del revisionismo de nuestra época. En el primer año de las carreras de ingeniería son impartidas las asignaturas: Filosofía y Física. A continuación se presentan algunos temas que permiten, a los docentes de ambas asignaturas, establecer vínculos que favorecen la relación intermaterias. Se seguirá la secuencia del texto de Física I Fundamentos físicos de la mecánica de los ingenieros Ángel Ferrat y Gilda Vega. 2 DESARROLLO Unidad I. Cinemática. En esta unidad y en el epígrafe 1.4.3 aparece como concepto “espacio recorrido” donde debe decir “longitud recorrida”. Esta resulta una buena oportunidad para puntualizar los conceptos de espacio y tiempo desde el punto de vista de las ciencias naturales 137 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 reconociendo de esta forma la objetividad de ambos. Puede criticarse la mecánica clásica que los separaba de la materia, considerándolos absolutamente homogéneos e inmutables. Criticar la concepción newtoniana del espacio (inmenso recipiente en que las cosas estaban colocadas con determinado orden, “por estanterías”), pero sin guardar ninguna relación con ese espacio. Newton consideraba que las propiedades espaciales de todos los cuerpos del Universo eran idénticas. Newton tenía la misma concepción metafísica del tiempo. Lobachevski (1792-1856), matemático ruso, elaboró la geometría no euclidiana que refutó las ideas metafísicas del espacio y el tiempo y amplió las nociones de las propiedades espaciales de los cuerpos. Llegó a la conclusión de que las propiedades del espacio en diversos ámbitos del Universo eran distintas y dependían de la propia naturaleza de los cuerpos físicos y de los procesos materiales que se operaban en ellos. Por ejemplo, demostró que en algunas superficies la suma de los ángulos interiores de un triángulo no era igual a 180 grados sino menor. En 1905 A. Einstein descubre el nexo orgánico entre el espacio y el tiempo, como entre ellos y la materia en movimiento (teoría especial de la relatividad) y establece la dependencia que guardan las propiedades espacio-temporales de los cuerpos respecto a la velocidad de su movimiento; lo cual resulta imposible advertir cuando las velocidades son relativamente pequeñas, registrándose estos cambios próximos a la de la luz. En esta unidad se insiste en la necesidad de utilizar un sistema de referencia (todo lo que permite detectar un cambio) para poder puntualizar la posición de un objeto (arriba, abajo, derecha, izquierda, etc.). El sistema de referencia elegido en este caso es un sistema de ejes coordenados, generalmente anclado en tierra, con tres dimensiones a lo largo de los ejes X, Y y Z, respectivamente. Unidad 2. Dinámica. En esta unidad se explica que la Dinámica en el estudio del movimiento mecánico, va más allá que la Cinemática, ocupándose del estudio de las causas de los cambios en el estado de movimiento o de la forma de los cuerpos. 138 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Debe quedar claro que no se trata de buscar las causas del movimiento, cuestión que no tiene sentido ya que el movimiento es eterno e inherente a la existencia de la materia, sino que se trata del estudio de los cambios del movimiento mecánico, resaltando que tales cambios son siempre consecuencia de la acción recíproca entre dos o más entes materiales. Aquí se estudian las leyes de Newton así como sus limitaciones. Al analizar la Primera ley de Newton (ley de la inercia: “todo cuerpo permanece en su estado de reposo o de movimiento rectilíneo uniforme mientras otros cuerpos no actúen sobre él y lo obliguen a cambiar su estado”) surge un problema a resolver: ¿Sobre qué sistema de referencia se establece el reposo o el movimiento rectilíneo uniforme de que se habla en el principio o ley de la inercia? Newton solucionaba el problema introduciendo el concepto de espacio absoluto, considerando que en esta ley el movimiento se refería a un movimiento absoluto en un espacio absoluto. Este punto de vista es metafísico y no se corresponde con la realidad objetiva, que muestra que las propiedades del espacio real están determinadas por la materia misma. Otro concepto que se estudia en la unidad es el de masa, que sólo puede establecerse estudiando las leyes generales y objetivas de sus relaciones con otras magnitudes físicas. Así, la masa inercial de un cuerpo es una medida de la oposición que presenta dicho cuerpo a cambiar su estado de movimiento. Newton, por su parte, consideraba que la masa era una medida de la cantidad de materia de un cuerpo. Esta definición tenía carácter metafísico. También era falso el parecer de los físicos e idealistas que le atribuían a la masa el carácter meramente formal de coeficiente en las ecuaciones de la Mecánica. El materialismo dialéctico enseña que ninguna de las manifestaciones de la materia en movimiento puede servir de medida absoluta. Hablando de materia como categoría filosófica, gnoseológica, Lenin señaló que no hay que confundir el concepto filosófico de materia, con una u otras características de sus diferentes manifestaciones. En Materialismo y empiriocriticismo, Lenin afirmó: “Pero no puede permitirse de ningún modo confundir, como hacen los adeptos a Mach, la doctrina sobre ésta o la otra 139 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 estructura de la materia, con la categoría gnoseológica, confundir la cuestión de las nuevas propiedades de las nuevas variedades de la materia con la vieja cuestión de la teoría del conocimiento, con la cuestión de los orígenes de nuestro conocimiento con la existencia de la verdad objetiva…” Uno de los hechos más relevantes para comprender este nuevo concepto de masa, es la ley de conservación de la masa establecida por Lomonósov (1744-1798). Cuando se aborda el concepto de fuerza este es definido como “una magnitud que refleja cualitativa y cuantitativamente las interacciones”, la cual refiere la cantidad y calidad. No obstante ser válida, se propone ampliarla de manera que exprese más objetivamente los nexos y fenómenos que incluye: Fuerza es una magnitud física que refleja cuantitativa y cualitativamente las interacciones, caracteriza la acción mutua entre los cuerpos, capaz de producir movimientos, deformaciones u otras alteraciones de los cuerpos y sistemas. La interacción es expresada en la forma de una ecuación diferencial que incluye solamente la derivada de la cantidad de movimiento respecto al tiempo, que describe una ley natural. Cuando se enseña la Segunda ley de Newton se observa la relación entre masa, fuerza y movimiento (aceleración): F= m a = constante Sin embargo, Newton escribió su 2da. Ley en forma de impulso: F Colocando no se sabe por qué el t= mv (diferencia) delante del producto mv y no sólo de v, pues su concepción sobre la masa era metafísica. Más tarde Albert Einstein demostró que la masa varía (aumenta) a velocidades cercanas a la de la luz, lo que queda expresado por la relación. 140 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 mo m = --------------- donde c es la velocidad de la luz, mo es la masa en reposo y m 1- v2/c2 es la masa relativista También se estudian las limitaciones de dicha ley para sistemas no inerciales de referencia (acelerados), donde resulta necesario “ubicar” al observador para explicar el fenómeno desde distintos sistemas de referencia. Unidad 3. Tipos de fuerzas. En esta unidad se describen las características más generales de los tipos de fuerza existentes en la naturaleza. Se concede gran importancia al estudio de las fuerzas de naturaleza gravitatoria y del proceso histórico que llevó a la formulación de la ley de gravitación universal, Un aspecto que trasciende, incluso, al alcance de la mecánica es la comprensión del concepto de campo, de su existencia objetiva y de su relación dialéctica con la sustancia, particularizándose el caso del campo gravitatorio. Cuando se estudia la acción mutua de origen gravitatorio entre los cuerpos, se analiza el mecanismo mediante el cual aparecen estas fuerzas de interacción y cómo se transmite de un cuerpo a otro. En el proceso de desarrollo de la física han existido dos modos opuestos de abordar estas cuestiones. Algunos físicos de los siglos XVIII y XIX decían que la fuerza de gravitación era de acción a distancia, es decir, que actuaba a través del espacio vacío, sin contacto entre los cuerpos que interactúan. Desde este punto de vista, la presencia de un solo cuerpo no tiene asociada modificación alguna en el espacio que lo rodea. Esta representación corresponde a una concepción idealista del mundo, a la necesidad de atribuir la acción entre los cuerpos a un principio espiritual. La filosofía materialista dialéctica plantea que la acción mutua entre los cuerpos puede trasmitirse solamente mediante un medio material y desecha la idea de la acción a distancia, manteniendo tan solo la de acción de contacto. Admitir la posibilidad de la 141 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 acción de las fuerzas de acción mutua, esto es, del movimiento a través del vacío, sin el concurso de la materia, equivale a admitir la posibilidad del movimiento sin materia, lo cual carece de sentido. Para comprender el origen de la acción gravitatoria entre dos cuerpos es necesario admitir la presencia entre dichos cuerpos de algún vehículo material que permita la realización de dicha acción; este agente es el campo gravitatorio. Así, rodeando a todo el cuerpo material, existe un campo gravitatorio cuya propiedad fundamental consiste en que sobre cualquier otro cuerpo colocado en dicho campo actúa una fuerza. Existen otros campos como el eléctrico, el magnético y de forma más general, el campo electromagnético, que se estudian en cursos posteriores. La física materialista en la actualidad ha eliminado el estrecho sentido mecanicista del concepto de materia de la física antigua, afirmando que la única, fundamental y general característica de la materia es su realidad objetiva, o sea, su existencia independientemente de la conciencia de los hombres. De lo anteriormente dicho se colige que cualquier tipo de campo no es más que una determinada forma de materia. Una forma de comprobar la existencia de un campo gravitatorio, por ejemplo, consiste en colocar una partícula en un punto de dicho campo y si sobre ella se ejerce una fuerza (gravitatoria), decimos que en ese punto del espacio existe un campo gravitatorio. Unidad 4. Leyes de conservación (tiende a impartirse como Trabajo y energía en la traslación) En esta unidad se estudian las leyes de mayor alcance en la Física e incluso fuera del campo de ella, pues la ley de conservación y transformación de la energía, es entre las leyes naturales la única a la que se le puede reconocer carácter absoluto por cuanto expresa la permanencia de la materia en movimiento. Para el concepto de trabajo utilizaremos la definición dada por F. Engels; 142 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 “El trabajo es una medida del cambio de la forma del movimiento cuando esta se considera desde el punto de vista cualitativo”El trabajo, pues, está siempre asociado a un proceso de cambio del sistema. La energía, por su parte, representa la única medida del movimiento de la materia que es común a todas sus formas. La energía está asociada a un estado del sistema. Debe tenerse en cuenta que no hay diversas formas de energía, sino energía asociada a diferentes formas de movimiento de la materia, así al decir energía mecánica, realmente se hace referencia a la energía asociada a la forma mecánica del movimiento; al decir energía térmica se refiere a la energía asociada al movimiento térmico, etc. Por tanto, la energía se conserva cuantitativamente en todos los procesos, aunque puede transformarse cualitativamente de una a otra forma del movimiento. Unidad 5. Movimiento del cuerpo sólido. Son válidos, en esta unidad, los análisis filosóficos hechos en la traslación, dada la analogía de estos contenidos con aquellos. Unidad 6. Teoría especial de la relatividad. La teoría especial de la relatividad, fue creada por Einstein en el año 1905 y es la teoría física moderna del espacio y del tiempo. Aquí resulta necesario hacer otra crítica a las concepciones idealistas sobre la teoría de la relatividad. Por ejemplo: Aprovechando los nuevos descubrimientos y la revolución que se deriva de la teoría especial de la relatividad, algunos filósofos idealistas trataron de fundamentar sus tesis sobre el carácter no material y objetivo de la materia fundamentando que “la materia desaparece”. 143 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Lenin demostró que los nuevos descubrimientos sólo enriquecen las concepciones de la materia en constante movimiento y transformación; solo se ha creado una teoría que rechaza las concepciones del espacio y el tiempo absolutos, fundamentando que la mecánica clásica (newtoniana) es válida sólo para velocidades mucho menores que la velocidad de la luz. Otra tendencia idealista se encaminó a plantear que todo es relativo, tratando de desvirtuar la esencia de la teoría especial de la relatividad y la concepción materialista del mundo. La ley de interdependencia entre la masa y la energía ha sido sometida a numerosas tergiversaciones idealistas, planteando que una se transforma en la otra. En realidad las magnitudes físicas de masa y energía son algunas de las características fundamentales de las formas concretas de la materia en movimiento con que opera la física. Para un sistema aislado se conserva tanto su masa como su energía. La expresión dE = c dm señala 2 la profunda relación mutua entre estas dos magnitudes, indica que es imposible variar una de ellas sin variar al mismo tiempo y en cantidad proporcional, la otra. Refiriéndose a la cuestión de las relaciones mutuas de la masa y la energía S. I. Vavílov hace hincapié en que la masa nunca puede transformarse en energía, “ a fin de evitar los errores, tan frecuentes, debemos señalar que la masa no desaparece, no se transforma en energía, como suele decirse a veces, la masa se conserva en la masa de los fotones que se forman; lo único que sucede es que la energía equivalente abandona su forma inaccesible para adquirir otra, plenamente accesible, la de luz”. Unidades 7, 8 y 9. Física Molecular y Termodinámica. (Fundamentos físicos de la Termodinámica) de los ingenieros Ruiz de Zárate, Gilda Vega y Ángel Ferrat. Estos contenidos enfrentan al estudiante con los puntos de vista macroscópico y microscópico para el estudio de la Termodinámica y las relaciones entre ellos. Con estas unidades se le da continuidad al estudio realizado en la asignatura Química General de las leyes de la Termodinámica, analizadas desde el punto de vista de la 144 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Física. Estas unidades ofrecen muchas posibilidades de aplicar conceptos filosóficos importantes que fueron tenidos en cuenta en la Mecánica, sobre todo con los relacionados con las leyes de conservación y transformación de la energía y por ello no volveremos a abordarlos. Un asunto importante: La muerte térmica del universo. Cuando la entropía (es la función de estado que se simboliza por la letra S y cuya variación S para procesos reversibles se expresa por la integral desde 1 hasta 2 de la derivada de Q –calor- sobre T-temperatura Kelvin-) aumenta después de realizarse un proceso irreversible se pierde posibilidad de convertir energía en trabajo, o sea, disminuye la disponibilidad de energía, mientras que cuando esta permanece invariable la energía disponible sigue siendo la misma, tal como sucede cuando el sistema realiza un proceso o ciclo reversible. A mediados del siglo pasado algunos físicos y filósofos basados en este principio plantearon la hipótesis de la muerte térmica del universo. Ellos consideraban al Universo como un sistema cerrado y aplicándole la 2da. Ley de la Termodinámica ( No es posible construir ningún motor térmico que operando cíclicamente convierta en trabajo todo el calor absorbido), llegaron a la conclusión, de que con el tiempo, desaparecerían las diferencias de temperatura que existen entre los cuerpos celestes y el Universo llegaría a encontrase en un estado de absoluto equilibrio térmico que llamaron muerte térmica. Esta hipótesis conduce a otra conclusión que en definitiva es la concepción típica del clero sobre la existencia de la vida y consiste en que hubo necesidad de un impulso inicial, capaz de producir en el mundo esta distribución desigual de temperaturas, es decir, lleva al reconocimiento de la creación del mundo. Fue F. Engels quien demostró cuan falsa era esta teoría desde el punto de vista científico. La inconsistencia de la deducción sobre la muerte térmica del universo reside en la extrapolación infundada de la 2da. Ley de la Termodinámica a un sistema que constituye todo el Universo. La segunda ley está relacionada con la irreversibilidad de 145 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências V.3 – N.5 - 2010 ISSN: 1984-7505 los procesos que se observan a escalas de espacio y tiempo demasiados pequeños para compararlos con los procesos del Universo o de los grandes conjuntos estelares, incluso, en la evolución de una estrella aislada, por ejemplo, tienen lugar procesos que apenas influyen en nuestro planeta y que las leyes que los rigen son aún poco conocidas; es decir, al aplicar la segunda ley a todo el universo se comete el error, que consiste en atribuir valores absolutos a las leyes físicas, olvidando que estas leyes no reflejan la realidad más que de un modo aproximado. Clasificación de las formas del movimiento: A) En la naturaleza inorgánica El desplazamiento espacial El movimiento de partículas elementales y los campos (interacciones electromagnéticas, gravitacionales, fuertes, débiles) Los procesos de transformación de unas partículas elementales en otras. El movimiento y la metamorfosis de los átomos y moléculas incluyendo la forma química del movimiento de la materia. Los procesos térmicos. Las vibraciones acústicas y geológicas El cambio de sistemas cósmicos de distintas magnitudes: plantas, astros, galaxias y sus aglomeraciones, etc. B) En la naturaleza orgánica: Conjunto de procesos vitales en los organismos, metabolismo, procesos de reflejo, autorregulación, dirección y reproducción. 146 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Interacción de toda la biosfera con los sistemas naturales de la tierra y con la sociedad. C) En la sociedad Manifestaciones de la actividad consciente de los hombres y todas las formas superiores del reflejo y de transformación consciente de la realidad. Desarrollo de las fuerzas productivas y de las relaciones de producción, de clase, estatales, nacionales y de otro tipo. El proceso de la cognición del mundo. Preguntas para el autocontrol del aprendizaje. 1- En la Mecánica Clásica, Newton planteó que el espacio y el tiempo son absolutos. Critique esta afirmación. 2- Albert Einstein descubre el nexo orgánico existente entre el espacio y el tiempo. Explique qué importancia tiene este descubrimiento para las ciencias naturales y la filosofía. 3- Usted estudió la relación causa-efecto, categorías filosóficas de la dialéctica materialista. En Física (Mecánica) se dice: “La dinámica es la parte de la Mecánica que estudia las causas del movimiento. Critique este enunciado. 4- Newton afirmó que la masa de un cuerpo es invariante (absoluta) respecto a diferentes sistemas de referencia inerciales. Einstein demostró que la masa varía con la velocidad cuando esta se mueve a velocidades cercanas a la de luz. ¿Cómo el materialismo dialéctico analiza esta contradicción? 147 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências 5- ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Analice los aspectos cuantitativos y cualitativos que se ponen de manifiesto en la definición del concepto de fuerza que se ofrece en la monografía. 6- En la física prerrelativista se consideraba que la interacción gravitatoria se producía por “acción a distancia” sin que mediara ningún medio material. Más tarde surgió el concepto de campo como el portador material de dichas interacciones. Analice las posiciones idealistas y materialistas al respecto y justifique desde el punto de vista de la filosofía marxista-leninista estas teorías. 7- ¿Cuál es la característica única, fundamental y general del concepto de materia de la Física? Explique teniendo en cuenta el concepto mecanicista de la física antigua. 8- Discuta el carácter material del campo gravitatorio. 9- ¿Cómo se define el trabajo de una fuerza? 10- ¿Qué representa la energía? 11- ¿Existen diversas formas de energía? ¿Cómo usted explicaría que se habla de energía térmica, energía eléctrica, etc.? 12- Analice la ley de interconexión entre la masa y la energía. ¿Se convierte la masa en energía o viceversa? ¿Por qué? 13- Hubo una tendencia filosófica idealista que se encaminó a plantear que todo es relativo, tratando de desvirtuar la esencia de la teoría especial de la relatividad y la concepción materialista del mundo. La Teoría Especial de la Relatividad explica que el espacio y el tiempo por separados son relativos, pero las relaciones espacio-temporales son absolutas. Igual sucede con la energía y la cantidad de movimiento, pero la relación E2 – p2 c2 = invariante. Dé una explicación filosófica a este fenómeno. 148 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências 14- ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 Explique la teoría de la muerte térmica del universo analizando por qué es una teoría idealista que contradice la concepción científica del mundo. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sin lugar a dudas la relación Física –Filosofía está presente en todos los contenidos trabajados , por eso es una necesidad de los profesores de estas disciplinas de aumentar la relación entre las mismas para realmente hacer un trabajo integral e interdisciplinar . BIBLIOGRAFÍA. FERRAT-ZALDO, A. et al. Mecánica y física molecular I. Cuba: Ediciones Pueblo y Educación, 1988. ______. Mecánica y física molecular II. Cuba: Ediciones Pueblo y Educación, 1988. KOLMAN, E. Lenin y la física contemporánea. Montevideo: Ediciones Pueblos Unidos, 1962. 149 REVISTA ARETE - Revista Amazônica de Ensino de Ciências ISSN: 1984-7505 V.3 – N.5 - 2010 150