Ferimentos Cervicais Penetrantes
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Ferimentos Cervicais Penetrantes
Ferimentos Cervicais Penetrantes - Análise de 145 Casos Os ferimentos cervicais penetrantes representam 1% de todos os traumas. São acompanhados de baixa morbidade e letalidade. A orientação inicial no tratamento dessas vítimas é objeto de controvérsia há várias décadas. Assim, a operação “de princípio” – indicação cirúrgica para todos os casos com lesão do platisma – e a conduta seletiva – operar de mediato somente as vítimas com risco de morte iminente sendo as demais submetidas a exames ou apenas observadas e, indicar a operação na dependência da evolução clínica ou dos resultados dos exames – são as duas orientações iniciais possíveis. Ainda mais, a orientação específica em cada uma das estruturas profundas do pescoço, como as lesões das artérias carótidas, faringo-esofagianas, laringotraqueais e raqui-medulares, bem como os parâmetros clínicos que devem orientar o tratamento dessas lesões também são objeto de divergências entre os vários autores. Este trabalho, ao analisar a experiência do Serviço de Emergência do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, no atendimento de 145 vítimas de ferimento cervical penetrante procura contribuir para o estudo dessas lesões no sentido de propor uma sistematização no atendimento a essas vítimas. Na nossa casuística houve predominância dos homens na faixa etária dos 21 aos 30 anos. A zona II foi a mais atingida e predominaram os ferimentos por arma de fogo e brancas. Constituímos dois grupos. O grupo A com 60 casos operados “de princípio” e o B com 85 conduzidos seletivamente. O período de tempo desta análise retrospectiva foi de 1981 a 1992, sendo que até 1989 a orientação do nosso serviço era a operação “de princípio” e a partir de então a orientação preferencial foi à conduta seletiva. Os resultados obtidos foram semelhantes quanto às complicações sendo que os dois grupos compartilharam-se da mesma maneira quanto à morbidade e letalidade. No grupo A tivemos um índice de cervicotomias “brancas” de 21,6% e no B de 2,4%. Além disso, no grupo B operamos apenas 34,1% dos casos, portanto, 65,9% das vítimas foram tratadas adequadamente sem necessidade de operação. As estruturas mais freqüentemente lesadas foram as veias em 39 oportunidades, seguidas das artérias e das lesões laringotraqueais em 20 eventualidades. Quanto aos exames realizada pós-endoscopia, angiografia, radiografia simples da coluna cervical e contrastada do esôfago – não observamos lesão despercebidas e consideramos os resultados desses exames absolutamente confiáveis no sentido de ditar a orientação terapêutica tanto clínica quanto cirúrgica. Devido a esses resultados somos favoráveis a conduta seletiva como orientação inicial. No que diz respeito a orientação específica, acreditamos que a carótida deva ser restaurada sempre que possível esperando resultados piores naquelas vítimas com sinais neurológicos presentes no pré-operatório. As lesões esofageas e as faríngeas laterais e anteriores devem ser sempre suturadas, as faríngeas posteriores são passíveis de tratamento clínico com sonda nasoenteral e antibioticoterapia. Os ferimentos laringotraqueais devem merecer reconstrução imediata, preferencialmente nas primeiras 24 ou 48 horas, no sentido de se obter melhores resultados tardios quanto a qualidade de voz e estenose da via respiratória. E, finalmente, os casos com lesão raquimedular associada devem ser considerados extremamente graves por serem acompanhados de elevados índices de morbidade de letalidade. Prof. Dr. Antonio José Gonçalves Doutorado (1993)