O papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais
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O papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Cav DIEGO DE ALMEIDA PAIM O papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, sob o enfoque da Defesa Nacional: um estudo da posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina (1948-2014). Rio de Janeiro 2014 2 Maj Cav DIEGO DE ALMEIDA PAIM O papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, sob o enfoque da Defesa Nacional: um estudo da posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina (1948-2014). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Orientador: Ten Cel Cav EDUARDO XAVIER FERREIRA GLASER MIGON Rio de Janeiro 2014 3 P143p Paim, Diego de Almeida. O papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, sob o enfoque da Defesa Nacional: um estudo da posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina (1948-2014). 2014. 84 f.: il; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Comando e EstadoMaior do Exército, Rio de Janeiro, 2014. Referências: f. 80-82. 1.Paz e Segurança internacionais. 2.Conflito Árabe-Israelense. 3.Política Externa brasileira. 4.Defesa Nacional. I.Título. CDD 355.45 3 Maj Cav DIEGO DE ALMEIDA PAIM O papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, sob o enfoque da Defesa Nacional: um estudo da posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina (1948-2014). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e EstadoMaior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em ____ de ________________ de 2014. COMISSÃO AVALIADORA _____________________________________________________ EDUARDO XAVIER FERREIRA GLASER MIGON – Ten Cel (Dr) Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ___________________________________________ TÁSSIO FRANCHI – Prof Dr – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército _____________________________________________________ MONIQUE SOCHACZEWSKI GOLDFELD – Profa Dra – Membro Escola de Comando e Estado Maior do Exército 4 Aos homens e mulheres que serviram e continuam servindo em Operações de Manutenção de Paz, com a homenagem àqueles que perderam suas vidas em prol da Paz. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por todas as bênçãos que me concedeu, durante a realização do presente trabalho, e no Curso de Comando e Estado-Maior do Exército. “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Bíblia Sagrada, Romanos 11: 36). À minha família, pelo incentivo constante, e pela inspiração na busca do melhor resultado. Agradeço pela compreensão e pela paciência, demonstradas em várias oportunidades, o que foi de grande ajuda para os meus estudos. Ao meu orientador, Ten Cel Cav EDUARDO XAVIER FERREIRA GLASER MIGON, e demais membros da comissão avaliadora, Prof Dr TÁSSIO FRANCHI e Profa Dra MONIQUE SOCHACZEWSKI GOLDFELD, pelas orientações e observações precisas, que tanto contribuíram para a conclusão da pesquisa em tela. 6 Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros e prosperidade dentro dos teus palácios. Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: haja paz em ti! Por causa da Casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o teu bem. (Bíblia Sagrada. Salmos 122: 6-9). 7 RESUMO O trabalho em tela tem por objetivo estudar a posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina (1948-2014), concluindo-se sobre o papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, sob o enfoque da Defesa Nacional. Os capítulos estão estruturados, então, de maneira que se expõe o referencial conceitual, o teórico e o metodológico. Destaca-se o referencial teórico, dividido no estudo de aspectos externos ao Brasil e em aspectos internos ao País, como a Política Externa brasileira e a Defesa Nacional. Na visão externa são abordados os aspectos mais relevantes sobre a Organização das Nações Unidas e com relação ao conflito árabe-israelense. Depois, destaca-se que o Brasil tem sido apontado como um País de crescente influência internacional no século XXI, fruto de seu crescimento econômico e de sua participação nos processos de Paz, com atuação destacada em Operações de Paz das Nações Unidas, como no Haiti, no Líbano e no Congo. Relata-se, ainda, que o Brasil apresentou à comunidade internacional algumas propostas de Paz para o conflito entre Israel e Palestina. Ademais, o País tornou-se um protagonista da iniciativa de reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Acrescente-se que a pesquisa conta com um resumo dos documentos da Defesa Nacional do Brasil: Política Nacional de Defesa, Estratégia Nacional de Defesa e Livro Branco de Defesa Nacional. Na conclusão, por fim, descreve-se o resultado da pesquisa, com a ênfase de que o Brasil tem demostrado ser possível propagar valores próprios nas relações internacionais. Palavras-chave: Paz e Segurança internacionais. Conflito Árabe-Israelense. Política Externa brasileira. Defesa Nacional. 8 ABSTRACT The work aims to study the Brazilian position on the conflict between Israel and Palestine (1948-2014), concluding on the role of Brazil in the International Peace and Security, under the approach of National Defense. The chapters are structured in a way that exposes the conceptual framework, theoretical and methodological as it highlights the theoretical framework, divided in the study of the external and internal aspects of Brazil, such as the Brazilian Foreign Policy and National Defense. The external view approaches the most relevant aspects of the United Nations and the Arab-Israeli conflict. The work also shows that Brazil has been touted as a rising international influence Country in the twenty-first century, thanks to their economic growth and participation in peace processes, with an outstanding performance on Peacekeeping Operations of the United Nations, as in Haiti, Lebanon and in Congo. It is also reported that Brazil has presented some proposals of peace for the conflict between Israel and Palestine to the international community. Moreover, the country has become a protagonist of the initiative to reform the Security Council of the United Nations. The research has a summary of the documents from National Defense of Brazil: National Defense Policy, National Defense Strategy and the National Defense White Paper. The conclusion describes the results of the research, emphasizing that Brazil has shown habilities to propagate their own values in international relations. Keywords: International Peace and Security. Arab-Israeli conflict. Brazilian Foreign Policy. National Defense. 9 RESUMEN El trabajo tiene como objetivo estudiar la posición de Brasil en el conflicto entre Israel y Palestina (1948-2014), concluyendo en el papel de Brasil en la Paz y la Seguridad Internacional, desde el punto de vista de la Defensa Nacional. Los capítulos están estructurados de tal forma, por lo que expone el marco conceptual, teórico y metodológico. Destacamos el marco teórico, dividido en el estudio de los aspectos externos de Brasil y aspectos internos para el País, ya que el brasileño de Relaciones Exteriores y Defensa Nacional. En la vista externa examina los aspectos más relevantes de las Naciones Unidas y con respecto al conflicto árabe-israelí. Entonces, no es que Brasil ha sido considerado un país de creciente influencia internacional en el siglo XXI, el resultado de su crecimiento económico y su participación en los procesos de paz, con un rendimiento excepcional en las Operaciones de Paz de las Naciones Unidas, como en Haití en el Líbano y el Congo. Se informa también que Brasil presentó a la comunidad internacional algunas propuestas de paz para el conflicto entre Israel y Palestina. Además, el país se ha convertido en un protagonista de la iniciativa de reforma del Consejo de la Organización de la Seguridad de las Naciones Unidas. Hay que añadir que la investigación tiene un resumen de los documentos de la Defensa Nacional de Brasil: Política Nacional de Defensa, Estrategia Nacional de Defensa y el Libro Blanco de la Defensa Nacional. En conclusión, finalmente, describe el resultado de la búsqueda, con el énfasis que Brasil ha demostrado ser capaces de propagar los valores propios en las relaciones internacionales. Palabras clave: Paz y Seguridad Internacional. Conflicto árabe-israelí. Política Exterior de Brasil. Defensa Nacional. 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Exemplos da relação entre a PND e a END ........................................ 76 Tabela 2 – PND e LBDN ........................................................................................ 77 11 LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Conselho de Segurança das Nações Unidas .................................... 32 Imagem 2 – Participação brasileira na MINUSTAH ............................................... 33 Imagem 3 – Participação brasileira na MINUSTAH ............................................... 33 Imagem 4 – Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil .............................. 33 Imagem 5 – 10 anos das Forças de Paz do Brasil no Haiti ................................... 34 Imagem 6 – Marinha do Brasil na Força Interina das Nações Unidas no Líbano 35 Imagem 7 – Projetos Estratégicos da Marinha do Brasil ....................................... 78 Imagem 8 – Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro ...................................... 78 Imagem 9 – Projetos Estratégicos da Força Aérea Brasileira ............................. 78 12 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Metodologia ........................................................................................ 27 Quadro 2 – Problematização ................................................................................. 27 13 LISTA DE MAPAS Mapa 1 – ONU: Plano de Partilha da Palestina ..................................................... 40 Mapa 2 – Linha do Armistício de 1949 .................................................................. 40 Mapa 3 – Acordo Sykes-Picot ............................................................................... 41 Mapa 4 – Jerusalém .............................................................................................. 47 Mapa 5 – Território ocupado por Israel em 1967 ................................................... 47 Mapa 6 – Assentamentos Judeus na Faixa de Gaza ............................................ 50 Mapa 7 – Assentamentos Judeus na Cisjordânia ocupada – 1999 ....................... 50 Mapa 8 – Áreas controladas pelos Palestinos na Cisjordânia ............................... 51 Mapa 9 - Israel e os Territórios Palestinos hoje .................................................... 51 14 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas CCOPAB - Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil CEBRI - Centro de Gestão de Estudos Estratégicos CF - Constituição Federal CGEE - Centro de Gestão de Estudos Estratégicos CSNU - Conselho de Segurança das Nações Unidas DAEBAI - Diretriz para as Atividades do Exército Brasileiro na Área Internacional EB - Exército Brasileiro ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército EME - Estado-Maior do Exército END - Estratégia Nacional de Defesa EUA - Estados Unidos da América LBDN - Livro Branco de Defesa Nacional MINUSTAH - Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti MONUSCO - Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo MRE - Ministério das Relações Exteriores ONU - Organização das Nações Unidas PEB - Política Externa Brasileira PND - Política Nacional de Defesa PROFORÇA - Projeto Força no Exército Brasileiro ReINet - Rede Brasileira de Relações Internacionais 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 16 2 CONCEITOS E MÉTODOS .............................................................................. 20 2.1 O PROBLEMA ................................................................................................ 20 2.1.1 Alcance e limites ....................................................................................... 21 2.2 OBJETIVO ..................................................................................................... 21 2.2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 21 2.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 21 2.3 VARIÁVEIS ..................................................................................................... 22 2.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................ 22 2.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .......................................................................... 3 METODOLOGIA ............................................................................................... 23 25 3.1 TIPO DE PESQUISA ...................................................................................... 25 3.2 COLETA DE DADOS ..................................................................................... 25 3.3 TRATAMENTO DOS DADOS ........................................................................ 26 4 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 28 4.1 ASPECTOS EXTERNOS ............................................................................... 28 4.1.1 A Paz e a Segurança internacionais ........................................................ 28 4.1.2 O conflito entre Israel e Palestina ............................................................ 40 4.1.3 Conclusão parcial ...................................................................................... 53 4.2 ASPECTOS INTERNOS ................................................................................ 54 4.2.1 A Política Externa brasileira ..................................................................... 54 4.2.2 A Defesa Nacional ..................................................................................... 65 4.2.3 Conclusão parcial ...................................................................................... 79 4.3 CONCLUSÃO ................................................................................................. 80 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 82 16 1 INTRODUÇÃO A posição do Brasil diante do conflito entre Israel e Palestina é um assunto que merece atenção, devido aos interesses brasileiros de contribuir com a Paz e a Segurança internacionais. Esse conflito é um dos mais graves do mundo e os países envolvidos ainda estão longe de chegarem a um acordo satisfatório. O Oriente Médio é uma das regiões mais tensas do planeta, sendo o berço de três religiões monoteístas: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Está localizado em posição estratégica entre o Ocidente e o Oriente, onde estão localizadas as maiores jazidas de petróleo conhecidas. Nesse quadro de instabilidade, observa-se o violento conflito entre árabes e israelenses pela posse da Palestina. Esta região foi ocupada por Israel, quando da implementação do plano de partilha da Palestina, decidido por meio de resolução da Organização das Nações Unidas. Destaca-se que a partilha da Palestina sugerida pela ONU previa a criação de dois Estados, um Árabe e outro Judeu, estando neste ponto a gênese do conflito pelo território, entre os dois povos. Israel possui um território, nos dias de hoje, de 20.770 km², desconsiderados os territórios árabes ocupados (Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e Golã sírio). Jerusalém foi declarada capital de Israel pela aprovação da Lei Básica de 30/07/1980. A população de Israel (2010) é de 7,4 milhões de habitantes e os idiomas do país são o hebraico, o árabe (oficiais), o inglês e o russo (ALMANAQUE ABRIL, 2014). Além disso, as principais religiões em Israel são 76,4% judeus; 16% muçulmanos; 2,1% cristãos; 1,6% drusos e 3,9% outros. O sistema político do país é a República parlamentarista, sendo o Chefe de Estado o Presidente (atualmente Reuven Rivlin, que sucedeu Shimon Peres neste ano de 2014) e o Chefe de Governo o Primeiro-Ministro (hoje Benjamin Netanyahu (desde 31/3/2009). O Produto Interno Bruto (PIB) (2010) é de US$ 213,1 bilhões e a Unidade Monetária é o Novo shekel israelense (NIS) (ALMANAQUE ABRIL, 2014). O Estado da Palestina foi proclamado pelo Conselho Nacional Palestino em 1988, sendo reconhecido pelo Brasil em 03/12/2010. A capital é Ramalá que funciona como capital “de fato” da Cisjordânia. A área desse Estado abrange a Cisjordânia (5.860 km²) e Gaza (360 km²), sendo a área total pouco maior do que o Distrito Federal do Brasil. A população estimada da Palestina (Julho 2010) é de 4,16 17 milhões de habitantes e os idiomas falados são o Árabe (oficial)e o hebraico (nos assentamentos israelenses) (ALMANAQUE ABRIL, 2014). Cabe esclarecer, no entanto, que o "Estado" da Palestina existe de jure, mas não de facto. Além disso, a capital oficial para os palestinos é Jerusalém Oriental e não Ramalá, sendo este justamente um dos temas espinhosos das negociações. Assim, no decorrer deste trabalho, ao se ler a expressão “Estado da Palestina”, deve-se levar em consideração essas nuances, que tornam o conflito, ora estudado, um dos mais complexos do mundo contemporâneo. Ademais, as principais religiões são: na Cisjordânia 75% muçulmanos sunitas, 17% judeus (colonos israelenses em assentamentos) e 8% cristãos; na Faixa de Gaza 99,3% muçulmanos sunitas e 0,7% cristãos. O sistema político é a República parlamentarista, sendo que o Chefe de Estado é o Presidente Mahmoud Abbas (desde 15/01/2005) e o Chefe de Governo é o Primeiro-Ministro Salam Fayyad (desde 15/06/2007). O PIB nominal (2010) é de US$ 5,7 bilhões e a Unidade Monetária é o Novo shekel israelense (NIS) e o dinar jordaniano (JD) (ALMANAQUE ABRIL, 2014). Após essa breve caracterização da área em estudo, cabe ressaltar que a busca da Paz e da Segurança internacionais deve ser uma meta de todas as nações, especialmente daquelas que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa organização tem o objetivo de manter a paz, defender os direitos humanos e as liberdades fundamentais e promover o desenvolvimento dos países. Para a elaboração do trabalho em tela, decidiu-se dividir o estudo em aspectos externos ao Brasil, abordando o assunto da Paz e da Segurança internacionais e o conflito entre Israel e Palestina. Em continuidade, aborda-se os aspectos internos ao País, onde a Política Externa brasileira e o setor de Defesa Nacional são estudados. Assim, deseja-se entender a contribuição brasileira no processo de paz entre Israel e Palestina. Isso porque o Brasil já foi apontado como possível mediador de propostas de Paz na região. Acrescente-se que o Brasil tem alcançado um maior protagonismo nas decisões internacionais, seja por sua atuação em Operações de Paz das Nações Unidas, como na sua posição sobre a necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nesse ínterim, a Política Externa brasileira toma por base, para as suas decisões, os princípios constantes do artigo 4º da Constituição Federal de 1988, dos quais se pode destacar a prevalência dos direitos humanos, a autodeterminação dos 18 povos, a defesa da paz, a solução pacífica dos conflitos, o repúdio ao terrorismo e ao racismo. Isso posto, o Brasil observa com atenção os acontecimentos na Palestina, até mesmo por possuir comunidades árabes e judaicas de grande representatividade em seu território (BRASIL, 1988). À guisa de introdução, pode-se citar que o Brasil mantém acordos com Israel e com a Palestina. Como exemplos de acordos com Israel registra-se o Convênio de Intercâmbio Cultural, o Acordo Básico de Cooperação Técnica, a Supressão de Vistos em Passaportes Diplomáticos e Especiais, a Cooperação nos Campos da Saúde e de Medicamentos e no Campo da Agropecuária. Com a Palestina, o Brasil firmou acordos bilaterais, de igual modo, como a Carta que autoriza o funcionamento de uma delegação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) no Brasil, o Acordo de Cooperação Técnica, o Memorando de Entendimento na Área da Saúde, para o desenvolvimento do Turismo e a Cooperação na Área do Esporte, todos em vigor. Cabe ressaltar também, que na área de defesa nacional, o Brasil desenvolve ações, alinhadas com a diplomacia, para a promoção da Paz e da Segurança internacionais. Nesse contexto, estão as Operações de Manutenção da Paz, sob a égide da ONU, como a MINUSTAH, comandada pelo Brasil desde 2004. Assim, o Ministério da Defesa observa os Objetivos Nacionais de Defesa, sendo o responsável pelo cumprimento da Política Nacional de Defesa (PND), da Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). É importante citar ainda, que a elaboração de um arcabouço teórico sobre o tema de defesa está consolidada nos seguintes documentos: Constituição Federal de 1988; lei complementar Nr 97/1999, modificada pela lei complementar 117/2004 e 136/2010; Política Nacional de Defesa (PND); Estratégia Nacional de Defesa (END); e Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Esses documentos fundamentam o tema e oferecem amparo documental às ações na área de defesa nacional. Nesse contexto, a Política Nacional de Defesa (PND) estabelece objetivos e orientações para o preparo e o emprego dos setores militar e civil em todas as esferas do Poder Nacional, em prol da Defesa Nacional. Na sequência, a Estratégia Nacional de Defesa (END) estabelece diretrizes que permitem a consecução dos objetivos determinados na PND. Por fim, o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) é um documento de caráter público, por meio do qual se permite o acesso ao amplo contexto da Estratégia de Defesa Nacional, em perspectiva de médio e longo prazo, 19 viabilizando o acompanhamento do orçamento e do planejamento plurianual relativos ao setor (BRASIL, 2012). O assunto em tela, então, desperta interesse da comunidade internacional nos dias atuais. Neste ano, diversos acontecimentos envolveram atos de violência entre árabes e israelenses, sendo que as iniciativas para a Paz não obtiveram sucesso. Isso posto, seria adequado elencar o Brasil como um promotor da Paz em situações de controvérsias como a que se observa no Oriente Médio? Ademais, é importante citar que o atual Ministro da Defesa, Celso Amorim, que foi Ministro das Relações Exteriores no Governo do Presidente Lula, está para lançar um livro que que trata especificamente da política externa para o Oriente Médio durante sua gestão como chanceler. Essa iniciativa mostra, mais uma vez, a importância da temática e o interesse das autoridades brasileiras em entender, com mais profundidade, o papel do Brasil na solução de conflitos internacionais. Assim, a posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina será estudada, concluindo-se sobre o papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais e explorando a atuação do Ministério da Defesa nesse processo, em consonância com o Ministério de Relações Exteriores. 20 2 CONCEITOS E MÉTODOS 2.1 O PROBLEMA O presente trabalho tem por objetivo responder o seguinte problema: qual é o papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais no Século XXI, sob o enfoque da Defesa Nacional; tomando-se por base a posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina? Acrescente-se que se deseja compreender se o Brasil pode pleitear um assento permanente no Conselho de Segurança, dentro do debate sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU, e se o País está pronto e deve ter uma maior atuação nas missões da ONU. Além disso, o estudo da influência do terrorismo religioso para a defesa nacional brasileira também é debatido, em linhas gerais, bem como os benefícios para o Brasil de uma atuação mais efetiva da Diplomacia e das Forças Armadas brasileiras no Oriente Médio. Busca-se, assim, na pesquisa em tela, levantar se os Estados Unidos são os únicos capazes de conduzir o processo de Paz entre Israel e Palestina, como afirmam alguns especialistas. Isso posto, a problemática levantada permite o estudo sobre uma possível contribuição do Brasil para a Paz no conflito entre árabes e israelenses e se o País tem condições de contribuir, com maior profundidade, da Paz no Oriente Médio. Além disso, deseja-se entender se a Política Externa brasileira tem interesse na efetividade de uma mediação no conflito entre Israel e Palestina. Pode-se também, levantar a relação entre Forças Armadas e Política Externa, e o atual papel das Nações Unidas na Paz e na Segurança Internacionais, e na mediação do conflito árabe-israelense. A importância da Política Nacional de Defesa (PND), da Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Livro Branco de Defesa Nacional, no contexto da Paz e da Segurança internacionais são explorados, além da importância do binômio: Forças Armadas e Política Externa (BRASIL, 2012). Por fim, deseja-se compreender quais as diretrizes existentes no Exército Brasileiro para a atuação da Força Terrestre no Oriente Médio e as propostas para a 21 solução do conflito entre Israel e Palestina, elencando-se os principais atores globais no processo de Paz para o conflito em análise. 2.1.1 Alcance e limites A pesquisa tem um alcance nas áreas de relações internacionais e de Defesa Nacional, e contempla o vetor da inteligência estratégica, com um olhar holístico sobre a atuação brasileira no exterior, diante da sua posição geopolítica atual. Para tanto, decidiu-se limitar o trabalho nas relações do Brasil com o Oriente Médio, procurando entender a posição brasileira diante do processo de Paz e Segurança no conflito entre árabes e israelenses, no qual se observa a ação crescente do terrorismo religioso. Nesse ínterim, é explorada a atuação do Brasil, sob o olhar da Defesa Nacional, com vistas a assumir um papel de protagonista no cenário internacional, sobretudo quanto à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), observando-se a atuação das Forças Armadas nas Operações de Paz sob a égide daquele Organismo supranacional. 2.2 OBJETIVOS 2.2.1 Objetivo Geral O objetivo geral do trabalho é estudar a posição brasileira diante do conflito entre Israel e Palestina, concluindo-se sobre o papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, sob o enfoque da Defesa Nacional. 2.2.2 Objetivos Específicos Os objetivos elencados como específicos são os descritos a seguir: a. Estudar os aspectos externos da temática em tela com enfoque para a Paz e a Segurança internacionais e o conflito entre Israel e Palestina; e b. Estudar os aspectos internos do tema, priorizando a Política Externa brasileira e a Defesa Nacional. 22 2.3 VARIÁVEIS As variáveis utilizadas para o estudo são as seguintes: a Paz e a Segurança internacionais, o conflito entre Israel e Palestina, a Política Externa brasileira e a Defesa Nacional. O estudo dessas variáveis permite, assim, a integração do conhecimento para a comprovação da hipótese levantada. Nesse contexto, busca-se compreender os desafios brasileiros na busca da Paz e da Segurança Internacionais, explorando as potencialidades das Forças Armadas no fomento às iniciativas de protagonismo brasileiro no exterior. Acrescente-se, a importância de registrar o desafio à Defesa Nacional diante do crescimento das ações do terrorismo religioso no Oriente Médio. Para isso, entende-se ser necessário apresentar as características centrais do conflito entre Israel e Palestina, discutindo-se os principais obstáculos para uma solução pacífica. Quanto à Política Externa brasileira, busca-se entender o posicionamento do governo brasileiro diante dos temas da agenda internacional, envolvendo a Paz e a Segurança Internacionais. Por fim, percebe-se a importância de explicar a importância da participação das Forças Armadas brasileiras nas Operações de Paz, dentro do processo de busca da Paz e da Segurança Internacionais. 2.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Observando-se as principais áreas do conhecimento existentes na temática em estudo, optou-se por delimitar a pesquisa da seguinte forma: a. Aspectos externos ao Brasil, enfocando as variáveis a Paz e a Segurança internacionais e o conflito entre Israel e Palestina; b. Aspectos internos brasileiros, estudando-se a Política Externa brasileira, conduzida pelo Ministério de Relações Exteriores, e a Defesa Nacional; e c. Aspecto temporal, percorrendo-se a linha do tempo desde a criação do Estado de Israel até os dias atuais. 23 2.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A relevância do estudo está no fato do Brasil ser apontado como um País de crescente influência internacional no século XXI fruto de seu crescimento econômico e de sua participação nos processos de Paz, com atuação destacada em Operações de Paz das Nações Unidas, como no Haiti, no Líbano e no Congo. Acrescente-se que a Nação já foi citada como possível mediadora das propostas de Paz no conflito entre árabes e israelenses, bem como protagonista da iniciativa de reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Essa afirmativa pode ser encontrada no Livro “Conversas com jovens diplomatas” do Ministro Celso Amorim, ex-Ministro das Relações Exteriores e atual Ministro da Defesa do Brasil (AMORIM, 2011). O tema encontra amparo nos conceitos instituídos pela publicação da Política Nacional de Defesa, referentes à Segurança e à Defesa Nacional, onde se lê: Para efeito da Política Nacional de Defesa são adotados os seguintes conceitos: I – Segurança é a condição que permite ao País preservar sua soberania e integridade territorial, promover seus interesses nacionais, livre de pressões e ameaças, e garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos e deveres constitucionais; II – Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase no campo militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas. (BRASIL, 2013). Aliado a isso, os Objetivos Nacionais de Defesa, constantes da Política Nacional de Defesa, descrevem que o Brasil se propõe a contribuir para a manutenção da Paz e da Segurança internacionais e ainda, que a Nação entende ser imprescindível a existência de uma estrutura interna ágil, capaz de prevenir ações terroristas e de conduzir operações de contraterrorismo. Além disso, o tema é atual, já que os meios de comunicação registram a situação recente do conflito na Síria, por exemplo, acompanhado pelas autoridades brasileiras, que demonstram preocupação e reconhecem que os efeitos transbordam para toda a região do Oriente Médio. Nesse contexto, o Brasil condena o uso de armas químicas e demais formas de violência empregadas nos conflitos, que violam os direitos humanos e o direito humanitário internacional. 24 Ademais, o tema é de interesse do Exército Brasileiro, pois na Diretriz Geral do Comandante do Exército 2011-2014 as questões de interesse do Exército na área internacional são descritas, ressaltando-se a importância de: Estreitar cada vez mais, por intermédio do MD, os laços com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), acompanhando os cenários e oferecendo a contribuição da posição da Força em temas relevantes, particularmente quanto às possibilidades de conflitos de interesse em áreas do entorno estratégico, à prevenção ao terrorismo e à assinatura de tratados relacionados à defesa nacional. (BRASIL, 2011). O Comandante do Exército determinou, também, o acompanhamento da evolução de regimes, normas e tratados internacionais relacionados às missões de paz e a atuação para o estabelecimento e a manutenção de representantes do Exército junto aos órgãos da Organização das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos, que planejam e supervisionam operações de paz e humanitárias. Quanto às missões de paz, a diretriz é no sentido de ser realçada a importância da participação de oficiais do Exército em funções de Comando e de Estado-Maior (BRASIL, 2011). Infere-se, dessa forma, que o tema é relevante e merece um estudo detalhado, pois traz contribuições para o entendimento da política exterior brasileira no Oriente Médio. Nesse contexto, à medida que se estuda o papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, percebe-se a importância do estabelecimento de ações efetivas para a promoção da Paz entre árabes e israelenses, que possuem comunidades expressivas no Brasil. Essa realidade, ainda, deve-se às constantes matérias jornalísticas envolvendo combates entre os dois povos, com reflexos à comunidade internacional. 25 3 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE PESQUISA O trabalho em tela trata-se de uma pesquisa descritiva, com vistas a aumentar os conhecimentos sobre as características do problema levantado. O Manual Escolar da ECEME explica que a pesquisa descritiva “é aquela que evidencia características de um fenômeno, podendo, também, estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza.” (ECEME, ME 21.259). Nesse contexto, as técnicas exploradas são a pesquisa bibliográfica e a pesquisa qualitativa. Entende-se por pesquisa bibliográfica “o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, ou seja, material acessível ao público em geral”. (ECEME, ME 21.259). Já a pesquisa qualitativa é aquela que “contempla a subjetividade, a descoberta, a valorização da visão de mundo dos sujeitos. Ela requer uma procura mais profunda, para estender os fenômenos, privilegiando os relatos, a história, as análises de documentos, as entrevistas, etc”. (ECEME, ME 21.259). Além disso, a pesquisa é explicativa, pois tem “como objetivo tornar algo inteligível, justificando os motivos. Visa esclarecer quais fatores contribuem de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno”. (ECEME, ME 21.259). 3.2 COLETA DE DADOS A coleta do material bibliográfico foi realizada mediante consulta aos arquivos digitais das bibliotecas integradas ao Sistema de Bibliotecas do Exército, por meio do site da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Acrescente-se que a coleta na literatura ocorreu nas fontes abertas ao público em geral, tais como livros, artigos, dissertações, jornais, internet, entre outras. Nesse ínterim, foram realizadas pesquisas de informações úteis nos sites dos Centros de Pesquisas de Universidades Nacionais, nas publicações acadêmicas nacionais e em revistas especializadas de Política Externa e Defesa Nacional, bem como coleta de dados nas páginas eletrônicas do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), da 26 Rede Brasileira de Relações Internacionais (ReINet) e da Universidade Federal de Juiz de Fora/ Defesa. Além disso, foi realizada a consulta eletrônica de documentos digitais nos sites especializados em Relações Internacionais, na página eletrônica do Ministério da Defesa e da Embaixada do Brasil em Israel. Realizou-se, ainda, uma pesquisa de monografias, livros e artigos já editados, que estudaram aspectos relacionados com a pesquisa proposta. 3.3 TRATAMENTO DOS DADOS Para conclusão final da pesquisa, de posse dos dados investigados, foram analisados os diversos enfoques sobre o problema em questão. Para tanto, tratando-se de uma pesquisa qualitativa, foram adotados métodos e técnicas não estatísticas para codificação dos dados, estruturando-os para o devido estudo. A análise de conteúdo foi realizada pelo estudo de textos, análise de comunicações, associada tanto aos significados quanto aos significantes da mensagem. Além disso, buscou-se analisar o discurso, que é o “método que visa aprender como uma mensagem é transmitida, bem como explora o seu sentido”. (ECEME, ME 21.259). Por fim, a redação da monografia, para a comunicação dos resultados do tratamento dos dados foi realizada. Diante do exposto na metodologia, elaborou-se o quadro constante da próxima página, que sintetiza as informações relativas às variáveis levantadas, à dimensão de cada uma, aos indicadores e aos fatores de medição planejados: 27 Quadro 1 - Metodologia Variáveis Dimensão a. Organização Nações Unidas 1. A Paz e a Segurança internacionais 2. O conflito entre Israel e Palestina 3. A Política Externa brasileira 4. A Defesa Nacional Fatores de Medição Indicadores das b. Terrorismo religioso a. Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas; b. Ministério da Defesa; c. Departamento de Operações de Paz da ONU (DPKO). a. Agência Brasileira de Inteligência (ABIN); b. Gabinete de Segurança Institucional. c. Reforma do Conselho de Segurança da ONU a. Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas. a. Dados históricos e consequências a. Embaixada de Israel no Brasil. a. Brasil a. Ministério das Relações Exteriores; b. Sistema Consular Integrado e Sistema de Atos Institucionais. a. Atuação das Forças Armadas a. Ministério da Defesa. Pesquisa bibliográfica Fonte: o Autor. Ainda na metodologia empregada, adotou-se o esquema constante do quadro abaixo, como forma de determinar o problema e as variáveis do trabalho. Quadro 2 - Problematização Paz e Segurança internacionais ONU Conflito entre Israel e Palestina Antecedentes Terrorismo Reforma do CSNU Presidência Ministério da Defesa Exército Brasileiro Política Externa brasileira Situação atual Atuação das Forças Armadas Operações de Manutenção da Paz Defesa Nacional Fonte: o Autor. Qual o papel do Brasil na Paz e na Segurança internacionais, tomando-se por base o conflito entre Israel e Palestina? 28 4 REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 ASPECTOS EXTERNOS 4.1.1 A Paz e a Segurança Internacionais O Sistema de Estados soberanos surgiu no início da Era Moderna, no século XVI, sendo constituído por países bem variados. Grandes potências e pequenos países englobam esse sistema, que possui valores essenciais como a segurança, a liberdade, a ordem, a justiça e o bem-estar (JACKSON, 2013, p. 55). Acrescente-se que os Estados enfrentam novos desafios nos dias atuais causados, em especial, pela globalização econômica. Isso traz a necessidade de uma constante adaptação às novas realidades e demandas nas relações internacionais, além de enfrentar o chamado “dilema de segurança”. Esse conceito afirma que os Estados tanto defendem como afetam a segurança das pessoas. Nesse contexto, cresce de importância que os Estados possuam Forças Armadas para garantir a coexistência e o relacionamento entre as nações, sem intimidações. Ademais, é importante registrar que a sociedade internacional possui objetivos comuns que incluem a preservação do sistema e da sociedade de Estados soberanos. Nesse quadro, os países percebem a importância de preservar a paz mundial, reduzindo ao mínimo a violência que resulta em mortes ou danos físicos e cumprindo os acordos, contratos e negociações firmados (JACKSON, 2013). As relações internacionais, então, possuem fatores condicionantes, como o geopolítico, o econômico, o jurídico, o técnico-científico e o cultural e ideológico. O primeiro é o fator geopolítico, caracterizado pelo espaço, a demografia e o meio ambiente. A geografia assim, afeta as relações internacionais à medida que cada ator tem um referencial geográfico diante de cada ação e um território que serve de base para sua intervenção na realidade internacional. Isso posto, o território, a população e as características fisiográficas de cada Estado afetam ou têm influência nas relações com outras nações. Outro fator é o econômico, pois a economia tem influência primordial na interdependência entre os países, especialmente pelos efeitos da globalização. Além disso, o fator jurídico revela que o direito regula o sistema internacional, revelandose como elemento de importância cada vez maior, pois há um processo de 29 intensificação da regulação de atividades entre Estados para garantir a legitimidade das estruturas de governança no sistema internacional (JACKSON, 2013). Além disso, o fator técnico-científico preconiza que a tecnologia afeta de diversos modos as relações internacionais, condicionando a atuação de diferentes atores. O fator cultural e ideológico também, cresce de importância nos dias atuais, sendo que autores como Samuel Huntington afirmam que a cultura e a religião influenciarão cada vez mais as relações internacionais ao longo do século XXI. Na sequência, entende-se que as relações internacionais, com vistas à busca da Paz e da Segurança internacionais são regidas por tradições teóricas, que incluem a Hobbesiana, de Thomas Hobbes; a Kantiana, de Immanuel Kant; e a Grociana, de Hugo Grócio. Ademais, Hobbes escreveu o livro Leviatã (1946), Kant teve a sua obra Paz Perpétua republicada pela Cambridge University Press em 1992, e o livro Hugo Grotius and International Relations aborda sobre Grócio. A Hobbesiana, que enfatiza a existência de um mundo anárquico, de guerra permanente e conflito constante. Para Hobbes (1946), a paz constitui um período de repouso entre guerras e a discórdia é provocada pela competição e pela busca de glória. Essas causas dos conflitos mostram que o homem está inclinado naturalmente a lutar contra seu semelhante constantemente. Tal afirmativa surgiu por meio da frase "Lupus est homo homini non homo" (sentença latina que significa o homem é o lobo do homem). O Estado anárquico, então, está ligado à ausência de um poder organizado em nível internacional. Assim, cada Estado deve buscar atingir seus objetivos, sem nenhuma restrição moral ou legal com relação com outros Estados. Dessa forma, a tradição Hobbesiana afirma que a questão chave na atividade internacional é o conflito e a guerra. Nesse quadro, os Estados enfrentam o dilema permanente da segurança, que passa a se constituir na principal preocupação das nações. Isso mostra que a paz (ausência de guerra) e a cooperação (como a formação de alianças) somente constituem arranjos ou compromissos temporários entre os Estados e são vistos como períodos de recuperação num contexto de conflitos (HOBBES, 1946). Outra tradição teórica de Relações Internacionais é a Kantiana, que pressupõe um conjunto de relações entre indivíduos, criando laços que ultrapassam as fronteiras nacionais. Para Kant, a guerra é algo que interessa aos governantes, 30 não ao povo comum, sendo que o protagonista mais importante é o indivíduo, não o Estado, derivando daí que as relações internacionais serão de cooperação. Nesta teoria, os imperativos legais ou morais, que se originam do interesse comum de todos os homens, limitarão a ação dos Estados e a paz não é natural na relação entre os homens, mas uma conquista de sua vontade consciente. Assim, sugere que paz não é possível sem a existência de uma organização internacional e as relações internacionais se baseiam em vínculos sociais (KANT, 1795). Uma terceira tradição teórica é a Grociana, que enfatiza o comportamento dos Estados nas relações internacionais guiado por normas e regras de conduta. Constitui uma teoria intermediária entre as Hobbesiana e a Kantiana, pois afirma que os Estados não estão em luta contínua e existem regras comuns e instituições que limitam e evitam a eclosão de conflitos. Além disso, para Grócio, os membros principais da sociedade internacional são os Estados, antes dos indivíduos, e o sistema de estados não é necessariamente violento ou caótico (BULL, 1990). A seguir, pode-se citar que existem também Correntes Teóricas de Relações Internacionais que orientam as atividades entre os países, como a idealista e a realista. Essas teorias permitem que se responda a questionamentos relativos à forma de tomada de decisões políticas e diplomáticas, por exemplo, por parte dos Estados. Inicialmente, o Idealismo é uma corrente teórica de Relações Internacionais que surge em um contexto do final da Primeira Guerra Mundial, e reflete a crescente preocupação daqueles que então começavam a teorizar sobre as relações internacionais. Perguntava-se à época, como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional ou, como evitar o conflito bélico, entre os Estados? Nesse contexto, evidencia-se a opinião comum segundo a qual a guerra deveria ser erradicada como instrumento de política dos Estados (JACKSON, 2013). Dessa forma, sob o discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense Woodrow Wilson, foi criada a Sociedade (ou Liga) das Nações (SDN). Assim, foram estabelecidos os fundamentos de um sistema dirigido para preservar a paz, contando com mecanismos à solução pacífica e de propostas que garantissem a ordem nas relações entre os Estados. Para estimular ou obrigar esses Estados a seguir tais princípios, seria fundamental que se institucionalizasse, em escala mundial, o interesse comum de todos os povos em alcançar a paz e a prosperidade (JACKSON, 2013). 31 Outra corrente teórica é a Realista, que é a doutrina de Relações Internacionais mais clássica e aceita, especialmente após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Essa teoria surgiu na década de 1930, quando se observou no mundo uma crescente instabilidade internacional, como consequência de comoções políticas, econômicas e ideológicas, o que marcou a decadência da perspectiva idealista. Nesse contexto, o apelo à razão humanista, preconizada pelos idealistas, mostraram-se incapazes de prevenir a guerra, fazendo-se necessário retomar as ideias de segurança nacional e de força militar como suportes à diplomacia. Isso posto, a corrente realista afirma que o Estado é o principal ator no meio internacional e os atores não-estatais (organizações como a ONU e a OTAN) não tem existência autônoma ou independente. Além disso, os Estados são atores unitários e racionais, pois trabalham no sentido de atingir seus objetivos por meio de alternativas viáveis, à luz de suas capacidades e de uma análise de custo-benefício (JACKSON, 2013). Além disso, essa teoria expõe que a segurança nacional é a questão de maior importância na agenda de política exterior dos Estados. Assim, questões políticas e militares são chamadas de “alta política”, dominando a agenda dos países. Dessa forma, os Estados priorizam os assuntos relativos à sobrevivência (segurança), assim como objetivos ligados a esse campo, como comércio, finanças e câmbio (relacionados nos objetivos de “baixa política”). Mais recentemente, essa corrente teórica deu lugar ao chamado Neorrealismo, que tem como foco as características estruturais do sistema internacional. Waltz, (1979) o seu idealizador, afirma que o realismo tradicional é incapaz de trabalhar com mudanças de comportamento, pois se concentra nas unidades e nos seus atributos funcionais. Assim, para os neorrealistas a atenção voltada para o nível estrutural fornece uma imagem mais dinâmica e menos restrita do comportamento político internacional (JACKSON, 2013). Para o estudo em tela, na abordagem sobre a Paz e a Segurança internacionais, cabe citar dados relativos à Organização das Nações Unidas, que responsável por promover a paz, a segurança, a justiça social e o desenvolvimento econômico mundiais. Esta organização foi criada em 1945, como consequência da Segunda Guerra Mundial, tem sede na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, e é aberta a todos os países, sendo que os países membros passaram de 51 na sua fundação para 193 nos dias atuais. Ademais, os principais órgãos da ONU são a 32 Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado. Destaca-se o Conselho de Segurança, que é composto por cinco membros permanentes (China, França, Rússia, Grã-Bretanha e Estados Unidos) e dez países membros não permanentes, eleitos pela Assembleia Geral para um período de dois anos. Os membros permanentes têm poder de veto sobre todas as resoluções substantivas e o Conselho de Segurança pode autorizar as operações de manutenção da paz em resposta a ameaças à paz e à segurança internacionais, sendo que essas operações são formadas por forças multinacionais que operam sob a égide da ONU. Isso posto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas recebeu a prerrogativa de decidir sobre a existência de ameaças à Paz e à Segurança internacionais e sobre os meios e modos para enfrentá-las (BRASIL, Itamaraty, 2014). Imagem 1 - Conselho de Segurança das Nações Unidas Fonte: https://un.org/en/sc/ Nesse contexto, as operações de manutenção da paz são a expressão mais visível desse mecanismo. Estas operações são regidas, assim, por três princípios: consentimento das partes; imparcialidade; e uso da força apenas em caráter excepcional. Dessa forma, desde a criação da ONU foram estabelecidas 63 operações de manutenção da paz (BRASIL, Itamaraty, 2014). Após a Guerra Fria, 45 operações foram aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em 1988, menos de 10 mil efetivos estavam envolvidos em operações de manutenção da paz. Atualmente, estão mobilizadas mais de 115 mil pessoas, entre militares, policiais civis, nas 15 operações em andamento, sendo que o orçamento anual das operações de manutenção da paz atualmente supera US$ 7 bilhões (BRASIL, Exército Brasileiro, 2014). 33 Cabe ressaltar que o Brasil participa de nove operações de manutenção da paz, sob a égide da ONU, com cerca de 1.700 militares e policiais desdobrados. Nesse contexto, a participação brasileira na MINUSTAH é o principal envolvimento do Brasil em operações de manutenção da paz. O Brasil é o maior contribuinte de tropas para a missão no Haiti e exerce seu comando militar desde 2004. Já enviou mais de 11.000 soldados e oficiais ao país e mantém hoje contingente superior a 1.400 efetivos (BRASIL, Ministério da Defesa, 2014). Imagem 2 - Participação brasileira em Missões de Paz Imagem 3 - Participação brasileira na MINUSTAH Fonte: http://www.defesa.gov.br/index.php/relac oes-internacionais/missoes-de-paz Fonte: http://www.eb.mil.br/web/exercito-emacao/minustah-haiti Cabe ressaltar que a partir de 2010, o País passou a contar com o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil – Centro Sérgio Vieira de Mello (CCOPAB), localizado na Vila Militar, na cidade do Rio de Janeiro. Este Centro é um estabelecimento voltado à preparação de militares, brasileiros e estrangeiros, que irão compor as missões de paz das Nações Unidas (BRASIL, Ministério da Defesa, 2014). Imagem 4 - Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil Fonte: http://www.defesa.gov.br/index.php/relacoes-internacionais/missoes-depaz/centro-conjunto-de-operacoes-de-paz-do-brasil-ccopab 34 A imagem a seguir mostra um balanço dos dez anos de atuação do Brasil à frente da MINUSTAH. O contingente empregado, os objetivos alcançados e os benefícios para a área de defesa do Brasil são registrados pelo Ministério da Defesa. Destaca-se, nesse contexto, o reconhecimento internacional que o País tem recebido por sua atuação bem sucedida na missão. Imagem 5 – 10 anos das Forças de Paz do Brasil no Haiti Fonte: http://www.defesa.gov.br/index.php/relacoes-internacionais/missoes-depaz/o-brasil-na-minustah-haiti Quanto ao Brasil ainda, o País contribui para os esforços da ONU para a manutenção da paz no Líbano por meio do envio de fragata da Marinha do Brasil para liderar a Força Tarefa Marítima (FTM) da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL). Embarcação brasileira integra a FTM desde novembro de 2011 com cerca de 270 militares, inclusive o comandante do comprovante naval da UNIFIL, que é Contra-Almirante brasileiro. Ademais, o objetivo da atuação brasileira é de impedir a entrada de armas ilegais e contrabandos no país árabe (BRASIL, Ministério da Defesa, 2014). Além disso, a Força Naval tem a incumbência de colaborar com o treinamento do pessoal da Marinha libanesa. A embarcação brasileira que hoje atua como navio- 35 capitânia da FTM/Unifil é a fragata Constituição. O navio atracou no porto de Beirute em agosto de 2014, em substituição à fragata Liberal. O atual comandante da FTMUNIFIL é o contra-almirante brasileiro Walter Eduardo Bombarda (BRASIL, Ministério da Defesa, 2014). Imagem 6 – Marinha do Brasil na Força Interina das Nações Unidas no Líbano Fonte: http://www.defesa.gov.br/relacoes-internacionais/missoes-de-paz/o-brasil-naunifil-libano Em 2012, General Brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz foi designado para exercer o comando militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização na República Democrática do Congo (MONUSCO). Trata-se da segunda maior operação de manutenção da paz da ONU, com cerca de 19.000 militares e policiais desdobrados (BRASIL, Ministério da Defesa, 2014). Cabe ressaltar que o Decreto presidencial publicado no Diário Oficial da União do dia 4 de novembro de 2014, em Brasília/ DF, prorrogou o serviço ativo do general-de-divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz no comando da Força de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO). Desde 1948, o Brasil participou de mais de 30 operações de manutenção da paz, tendo cedido um total de mais de 32 mil homens. Integrou operações na África (entre outras, no Congo, Angola, Moçambique, Libéria, Uganda, Sudão), na América Latina e Caribe (El Salvador, Nicarágua, Guatemala, Haiti), na Ásia (Camboja, Timor-Leste) e na Europa (Chipre, Croácia). Embora tenha enviado militares e policiais em diversos casos, apenas a seis operações o Brasil cedeu tropas, isto é, 36 unidades militares formadas: Suez (UNEF I), Angola (UNAVEM III), Moçambique (ONUMOZ), Timor-Leste (UNTAET/UNMISET), Haiti (MINUSTAH) e Líbano (UNIFIL – Força-Tarefa Marítima) (BRASIL, Ministério da Defesa, 2014). O Brasil ocupou assento não permanente no Conselho de Segurança em 20102011. Foi a décima vez que o país foi eleito, tornando-o, ao lado do Japão, o membro que mais vezes ocupou assento eletivo naquele Conselho. Nos voltando agora para a atuação da ONU no Oriente Médio, percebe-se que essa organização vem buscando, ao longo dos anos, uma solução para o conflito entre Israel e Palestina. Essas ações iniciaram em 1947, quando o organismo supranacional determinou a Partilha da Palestina, dividindo-se o território entre o Estado judeu e o Estado palestino. Este último, no entanto, não foi constituído como nação, passando a reivindicar o território e o reconhecimento de sua nação. Além disso, afirmou não reconhecer o Estado judeu. Nos dias atuais, o grupo formado pelos Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e a ONU, chamado de “quarteto para a Paz”, retoma a discussão de uma solução, por meio de dois Estados para dois povos. Apesar disso, alguns especialistas julgam que as iniciativas do grupo não são efetivas e demoram em serem colocadas em prática. O livro A Arte de Governar: Estratégias para um mundo em desenvolvimento, de Margaret Thatcher, traduzido pelo General Gleuber Vieira, descreve que: “Há poucas questões internacionais em que uma solução seja mais necessária e difícil do que o conflito entre judeus e árabes, em Israel e na Palestina”. [...] “Os Estados Unidos – não as Nações Unidas ou os europeus – são a única nação com credenciais para intermediar a paz”. (THATCHER, 2005). Entende-se que tal citação foi descrita devido à grande liberdade de ação dos norte-americanos no mundo contemporâneo, mas é lícito se perguntar se outras nações, como o Brasil, podem contribuir no processo de Paz entre Israel e Palestina? O que se percebe é que o governo brasileiro tem reafirmado a intenção do País de cooperar com a comunidade internacional para a implementação de ações objetivando a retomada do processo de paz entre palestinos e israelenses. A candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU é antiga e uma conduta de perfil baixo na cena internacional não se coaduna com a intenção brasileira de ocupar um espaço institucional tão importante. 37 Nesse mister, a diplomacia brasileira procura lançar o País como mediador do conflito entre Israel e Palestina. Tal iniciativa busca dar visibilidade à nação no cenário internacional, bem como elevar o grau de protagonismo brasileiro na temática de Segurança Global. Isso se deve à pretensão do Brasil à uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. Nesse contexto, na questão da Segurança internacional debate-se, na atualidade, a necessidade da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Trata-se de um ponto importante na agenda internacional, dentro da governança global, sendo que o Brasil deseja uma vaga permanente, a fim de contribuir com mais vigor para a resolução dos conflitos e das crises mundiais. Segue-se agora, o resultado de uma pesquisa nas declarações do Ministério de Relações Exteriores sobre o posicionamento do Brasil com relação ao processo de Paz no Oriente Médio. Assim, Norma Breda dos Santos cita em seu artigo que: Um dos motivos principais à atenção do Brasil ao Oriente Médio trata-se da ligação histórica brasileira aos países árabes tanto pelas as raízes ibéricas do Brasil, fortemente influenciadas pela presença islâmica, quanto a importante imigração proveniente do Líbano e da Síria (BRASIL, 2003). A Nota à imprensa do Itamaraty, relativa à Visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Países Árabes, de 2 de dezembro de 2003, expõe que são necessários os seguintes aspectos para alcançar novas identidades entre o Brasil e os países árabes: A busca da paz duradoura, a valorização do respeito à soberania dos Estados e à autodeterminação dos povos, a necessidade de acatamento à Lei internacional e de fortalecimento da ordem mundial, o direito ao desenvolvimento e ao usufruto dos recursos naturais nacionais, a proteção da diversidade cultural e a preservação das especificidades nacionais e regionais (BRASIL, 2003). Acrescente-se que no discurso do Presidente Lula, durante a visita à sede da Liga dos Estados Árabes no Cairo, Egito, em 9 de dezembro de 2003, a autoridade citou que: O rico patrimônio da civilização árabe-islâmica esteve presente nos primórdios do Brasil, por sua forte influência sobre a Península 38 Ibérica, de onde vieram os colonizadores portugueses. Mais tarde, milhares de imigrantes árabes desembarcaram em terras brasileiras buscando nova vida. Os mais de 10 milhões de brasileiros descendentes desses imigrantes, que hoje vivem em meu país, mantiveram elos com sua civilização materna. Esses homens e mulheres deram decisiva contribuição à formação da identidade brasileira, bem como ao desenvolvimento econômico e social do país e ao enriquecimento de sua cultura (BRASIL, 2003). Já na Nota à imprensa, com o título “Preparação da Cúpula dos Países Árabes e da América do Sul”, de 21 de março de 2005, o Presidente do Brasil à época expõe que: O Brasil, o Mercosul e o Mundo Árabe possuem enormes mercados, com populações de, respectivamente, 210 milhões e 200 milhões de habitantes. É preciso vontade política para avançar e ampliar nossa aproximação, nosso diálogo. A admissão do Brasil como observador na Liga Árabe [...] é sinal de que isso começa a ser feito. Constitui passo significativo para que o Brasil acompanhe regularmente as posições do Mundo Árabe sobre os mais importantes temas da agenda internacional. A proposta fundamental da Cúpula América do Sul – Países Árabes (ASPA) é promover mecanismo de aproximação birregional no âmbito da cooperação Sul-Sul e estimular a cooperação entre duas regiões com afinidades históricas, que enfrentam desafios semelhantes em relação à promoção do desenvolvimento. Além do diálogo político birregional, a Cúpula incluirá em sua agenda temas como cooperação econômica e comercial, cooperação cultural, cooperação científico-tecnológica, coordenação em foros multilaterais econômicos e comerciais e colaboração em temas sociais e de desenvolvimento (BRASIL, 2005). Além disso, no Discurso do Ministro Celso Amorim no Seminário sobre Paz e Reconciliação, no dia 14 de setembro de 2007, em Oslo, encontra-se a descrição de que: Nos últimos anos, o Brasil fortaleceu suas relações com o mundo árabe. Foi o primeiro país latino-americano a receber status de observador da Liga Árabe. O Governo brasileiro designou um enviado especial para assuntos do Oriente Médio (…). Em maio de 2005, realizamos em Brasília a inédita Cúpula de Países Árabes e 39 Sul-Americanos. Ao mesmo tempo, valorizamos nossas relações com Israel. Estamos em uma posição singular para dialogar com ambos os lados (BRASIL, 2007). Diante desses relatos, percebe-se que o Brasil tem buscado, ao longo dos últimos anos, aproximação com os países do Oriente Médio. Nesse contexto, o País está consciente de que deve exercer um papel de consultor ou promotor da Paz, difundindo os seus valores nas relações internacionais. Isso posto, o papel do Brasil como interlocutor nos assuntos de segurança internacional cresce de importância e se torna cada vez mais requerido pela comunidade internacional. 40 4.1.2 O conflito entre Israel e Palestina Israel, desde a sua declaração de criação em 14 de maio de 1948, está envolvido em conflitos bélicos para preservar a sua segurança, aumentar a suas fronteiras determinadas pela ONU e reduzir riscos de ataques a suas cidades e ao seu povo. Assim, o país lutou contra o Egito, a Jordânia, o Iraque, a Síria e o Líbano na Primeira Guerra Árabe-Israelense, que ocorreu de maio de 1948 a janeiro de 1949; e permanece em constante estado de alerta, diante de possíveis invasões, ataques terroristas ou sequestros. Por outro lado, a atuação de Israel é muitas vezes condenada, diante do uso desproporcional da força frente aos palestinos. É preciso registrar que, com a criação de Israel e com a guerra em seguida (1948 – 1949), cerca de 750 mil árabes muçulmanos que viviam na Palestina histórica são expulsos. Nos dias atuais, os refugiados palestinos são o maior contingente do mundo com cerca de 4,7 milhões de pessoas. Isso posto, o retorno do grupo à Palestina ocupa lugar central nos conflitos do Oriente Médio. Nesse contexto, o Mapa 1 (ONU: Plano de Partilha da Palestina) esclarece a distribuição do território da Palestina, quando da criação do Estado de Israel. Já o Mapa 2 (Linha do Armistício de 1949) mostra que a Cisjordânia e a Faixa de Gaza tornaram-se duas unidades geográficas distintas, o que separou o novo Estado judaico de outras partes da Palestina. Na época da Guerra de Independência de Israel, Israel tomou o controle da parte ocidental de Jerusalém, enquanto a Jordânia assumiu o lado leste, incluindo a cidade velha, que abriga monumentos importantes para as religiões judaica, cristã e muçulmana (ARRUDA, 2007). Mapa 1 – ONU: Plano de Partilha da Palestina Mapa 2 – Linha do Armistício de 1949 Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/2001/meast_maps/index.shtml 41 Os israelenses afirmam que a “certidão de nascimento” internacional de Israel foi validada pela promessa constante na Bíblia e pela presença judaica ininterrupta, dos tempos de Josué em diante, na região da Palestina. Além disso, a Declaração Balfour de 1917 e a resolução da partilha da Palestina pelas Nações Unidas em 1947 legitimam a criação do Estado de Israel. Ademais, o ingresso de Israel nas Nações Unidas em 1949 e o seu reconhecimento pela maioria dos países têm sido validadas pela sociedade criada em Israel nas décadas de existência nacional próspera e dinâmica (ARRUDA, 2007). Cabe citar ainda, que em maio de 1916, foram concluídas as negociações do acordo Sykes-Picot (nome de seus negociadores, o britânico Mark Sykes e o francês Georges Picot). O acordo, de desmembramento do Império Otomano, foi negociado secretamente e concluído em maio de 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. França e Grã-Bretanha, com a anuência da Rússia assinaram o acordo, que levou à divisão da região que hoje corresponde à Síria (então controlada pelos turcos), Iraque, Líbano e Palestina em várias áreas administradas pela França e pela Inglaterra. Ver Mapa 3 (Acordo Sykes-Picot). Mapa 3 - Acordo Sykes-Picot Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/2001/meast_maps/index.shtml No livro Toda a História, de José Jobson de A. Arruda e Nelson Pileti, pode-se ler a descrição de que a história dos hebreus remete-se às Escrituras Sagradas, sendo o Antigo Testamento a referência, para os judeus, de sua cultura e educação. 42 Registra-se que pesquisas arqueológicas, realizadas por estudiosos do assunto, confirmam as passagens descritas na Bíblia. Assim, Abraão, patriarca do povo judeu, deixou Ur dos caldeus no II milênio a.C. com o objetivo de chegar a Canaã, na Palestina, a Terra Prometida. Pesquisadores afirmam que, por volta do século XVIII a.C. eles chegaram ao seu destino. Nessa época, a Palestina já era habitada por cananeus, filisteus e arameus; que falavam a língua aramaica, utilizada por todos os comerciantes e movimentando a economia regional (ARRUDA, 2007). Arruda, no livro Toda a História, afirma que por volta de 1800 a.C. os judeus migraram para o Egito devido uma seca de grandes proporções na Palestina. Em 1580 a.C., eles foram perseguidos pelos egípcios e, na sequência, foram libertados por Moisés. Eles deixaram a região por volta de 1250 a.C., rumando novamente para a Palestina. O Êxodo, então, durou 40 anos e Josué sucedeu Moisés, sendo, posteriormente, sucedido por Juízes entre eles Gideão, Jefté e Sansão. Samuel, o último juiz, ungiu Saul como rei, em 1010 a.C. e Saul foi sucedido, em 1006, por Davi, que expandiu as fronteiras do reino hebreu. Salomão, filho de Davi, governou de 966 a.C. a 933 a.C. e o comércio alcançou grande desenvolvimento, o que tornou possível a construção de um grande templo em Jerusalém. (ARRUDA, 2007). Com a morte de Salomão, em 933 a.C., o reino hebreu entrou em crise, levando à divisão das tribos, sendo que duas formaram o Reino de Judá, com capital em Jerusalém e as outras fundaram o Reino de Israel, com capital em Samaria. Por volta de 722 a.C., o Reino de Israel foi anexado ao Império Assírio por Sargão II. O Reino de Judá, por outro lado, adotou uma política de neutralidade em relação aos povos vizinhos (MAGNOLI, 2011). Em 587 a.C., Nabucodonossor conquistou Jerusalém e muitos hebreus foram deportados para a Babilônia, sendo que foram mantidos em Cativeiro por 70 anos. Em 539 a.C., o rei persa Ciro tomou a Babilônia e permitiu que os hebreus voltassem à Palestina. Já em 135 d.C., os judeus foram obrigados, pelos romanos, a deixar a cidade de Jerusalém, o que resultou na Diáspora (Dispersão), levando os judeus a deixarem a Palestina e viverem em outras regiões do mundo, principalmente Norte da África e na Europa. (ARRUDA, 2007). Depois disso, eles iniciaram uma migração para a Palestina, na virada do século XIX para o século XX, fundando um kibutz (colônia agrícola comunitária) em 43 1909. No ano de 1917, a Grã-Bretanha promete apoiar o estabelecimento de um lar nacional judeu na Palestina. Trata-se da Declaração de Balfour, cujo acordo estabelecia que nada se faria para prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não-judaicas na Palestina (MAGNOLI, 2011). Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a Palestina tornou-se protetorado britânico, além do Egito. Em 1919 é realizada a Conferência de Paris, na qual é assinado o Tratado de Versalhes sobre o ordenamento do pós-guerra, aí incluídas as fronteiras dos novos Estados na Europa e no Oriente Médio. Neste mesmo ano, tem início a Guerra de Independência Turca, na qual Mustafá Kemal assume a liderança das forças nacionalistas. Em 1920, as Forças britânicas ocupam Istambul e é fundada a Agência Judaica. No mesmo ano, é realizada a Conferência de San Remo, que estabelece as fronteiras e concede à Grã-Bretanha o controle da Palestina, da Transjordânia (Jordânia) e da Mesopotâmia (Iraque). Nesse acordo, a França recebe o Líbano e a Síria, conforme as áreas definidas pelo Acordo de Sykes-Picot (1916) (MAGNOLI, 2011). Já em 1921, uma força militar foi criada com o objetivo de defender vidas e propriedades judaicas na Palestina: o Haganah. O Irgun também foi criado, adotando o terrorismo, como política de combate. Um ano depois, em 1922, a Liga das Nações confirma os mandatos para que a Grã-Bretanha e a França governem seus territórios médio-orientais e, no mesmo ano, ocorre o fim nominal do domínio britânico no Egito, mas continua a ocupação britânica da zona do Canal de Suez. Depois, em 1923, o Tratado de Lausanne estabelece as fronteiras da Turquia moderna e anula o Tratado de Sèvres. Ademais, a Grã-Bretanha e a Liga das Nações reconhecem a Transjordânia como divisão política autônoma do Mandato Britânico da Palestina, negando a autorização para aumentarem a imigração judaica (COSTA, 2012). Entre os anos de 1936 e 1939 ocorre a revolta árabe contra o governo britânico e, também, a imigração sionista para a Palestina. A causa dos ressentimentos era a disposição dos imigrantes judeus a pagar qualquer preço pelas terras (bem acima dos valores de mercado) e a disposição dos proprietários árabes a vendê-las, enriquecendo, mas enfraquecendo a posição palestina (MAGNOLI, 2011). De 1939 a 1945 ocorre a Segunda Guerra Mundial, na qual ocorre o assassinato em massa de judeus na Europa. Em 1945 é criada a Liga Árabe, sendo 44 os membros fundadores o Egito, o Iraque, o Líbano, a Síria, a Transjordânia (atual Jordânia), a Arábia Saudita e o Iêmen. Em 1945 ainda, a Grã-Bretanha reconhece a independência síria e a Síria ingressa na ONU, ocorrendo manifestações contra a França, que torna a bombardear Damasco (COSTA, 2012). Em 1946 ocorre o fim do Mandato Britânico na Transjordânia, com a retirada das tropas francesas do Líbano. A independência da Síria, então, é reconhecida pela França. Neste ano também, em Jerusalém, militantes judeus explodem o hotel King David, matando 91 pessoas. Depois, em 1947, a Grã-Bretanha encaminha a questão da Palestina à ONU e ocorre o fim do Mandato Britânico na Palestina, iniciando uma guerra civil. Em novembro do mesmo ano, a ONU vota pela partilha da Palestina em dois Estados separados, um Árabe (Palestino) e um Judeu, com estatuto internacional especial para Jerusalém. Em 1947 ainda, é realizado o Primeiro Congresso do Partido Baath, fundado por Michel Aflaq e Salah al-Din al-Baytar, idealizadores do nacionalismo pan-árabe, que advogavam a formação de um Estado árabe único (MAGNOLI, 2011). Após isso, entre os anos de 1948 e 1973, a população judaica de Israel aumentou de cerca de 660 mil para mais de 3 milhões; mais da metade dessa expansão populacional (um número superior a 1,3 milhão em 2,4 milhões) deve-se diretamente à imigração de pelo menos 30 países. Em 1948, no dia 14 de maio, há a Declaração do Estado de Israel e o início da guerra entre Israel e os exércitos do Egito, da Síria, da Transjordânia (Legião Árabe), Iraque e Líbano, que reagiram ao Plano da ONU da Partição da Palestina (Resolução 181). A Guerra de 1948/ 1949 foi vencida pelos israelenses, ampliando o domínio por uma área de 20 mil Km² (75% da superfície da Palestina). Israel se tornou membro da ONU em 1948, sendo que o Parlamento e o governo de Israel se transferiram para Jerusalém. O território da Palestina restante foi ocupado pela Jordânia, que anexou a Cisjordânia, e pelo Egito, que ocupou a Faixa de Gaza. Ocorre então, a fuga de mais de 80% dos palestinos que viviam dentro das fronteiras de Israel para campos de refugiados nas nações vizinhas do Oriente Médio (ARRUDA, 2007). Em 1949 acaba a Guerra e o governo americano é o primeiro a reconhecer Israel. Os palestinos são atualmente o maior grupo de refugiados do mundo com um total de mais de 4 milhões, registrados na Agência das Nações Unidas de 45 Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA). Do total, mais ou menos 1,3 milhão (1/3 terço) vive em 59 campos de refugiados na Jordânia, Líbano, Síria, Gaza e Cisjordânia. Em 1954, a Grã-Bretanha concorda em retirar 65 mil militares da zona do Canal de Suez, no Egito. Em outubro deste ano, a Grã-Bretanha e o Egito acertam um cronograma para evacuar a base britânica da zona do Canal de Suez. Um ano depois, em 1955, o Egito bloqueia o estreito de Tiran, inutilizando o porto israelense de Eilat (FERRABOLLI, 2006). Ocorrem, então, incursões de Israel em Gaza e, em 1956 inicia a Crise de Suez. Nesse evento histórico, Nasser nacionaliza a Companhia do Canal de Suez. A Grã-Bretanha e os EUA, então, retaliam com a retirada do financiamento para o projeto da barragem de Assuã. Em outubro de 1956, Egito, Síria e Jordânia assinam um pacto de defesa. Além disso, Grã-Bretanha, França e Israel finalizam planos de ação contra o Egito. Em 29 de outubro deste ano, Israel ataca o Egito e, no dia 30, a Grã-Bretanha e a França apresentam ultimato, exigindo fim dos combates, sendo que Israel concorda mas o Egito se recusa a assinar (FERRABOLLI, 2006). No dia 31 de outubro de 1956, a Grã-Bretanha e a França bombardeiam o Canal de Suez. O presidente dos EUA, Eisenhower, condena publicamente o uso da força no Oriente Médio e ameaça empregar o poder econômico contra a GrãBretanha, a França e Israel, forçando a retirada de todos da região. No dia 7 de novembro termina a Guerra de Suez e, em 12 de novembro, o Egito concorda com a vinda de uma força da ONU para o canal (ARRUDA, 2007). Em 1957, no mês de abril, o Canal de Suez é reaberto ao comércio internacional. Pode-se citar, como consequências deste conflito, o fortalecimento do Pan-Arabismo (impulso ao projeto de criação da República Árabe Unida (Egito e Síria); e o enfraquecimento do Sionismo. Ademais, no plano político, houve o crescimento do poder de Nasser, despontando como liderança capaz de enfrentar Israel (MAGNOLI, 2011). Este conflito em Suez, então, envolveu Israel, França e Inglaterra contra o Egito. Os ingleses e os franceses tomaram Port-Said, na entrada do canal de Suez, e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), aliada do Egito, ameaçou lançar bombas atômicas sobre a França e a Inglaterra. Pressionado pela URSS e pelos EUA, Israel, França, e Inglaterra se retiraram do Egito. (ARRUDA, 2007). 46 Em 1958 foi fundado por Yasser Arafat o Movimento para a Libertação da Palestina (Fatah ou al-Fatah). Este grupo é considerado o braço armado da Organização para Libertação da Palestina (OLP), desde a união do MLP com a OLP que ocorre em 1969. Isso levou ao surgimento da Autoridade Nacional Palestina (ANP) (FERRO, 2008). A meta principal é transformar a ANP em um Estado soberano. O líder atual, Mahmoud Abbas, pretende estabelecer o território palestino nas áreas ocupadas por Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como Capital. Mais tarde, em 1960 é fundada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em resposta à baixa de preços do petróleo, por quatro países do Oriente Médio (Iraque, Irã, Kuwait e Arábia Saudita) e Venezuela, da América do Sul. Já em 1964 é formada a Organização para Libertação da Palestina (OLP) (FERRABOLLI, 2006). Como consequência da instabilidade observada no Oriente Médio neste período, o terrorismo religioso encontrou um campo fértil para disseminar-se, por meio do fundamentalismo islâmico. Assim, a Irmandade Mulçumana, o Hamas, o Hezbollah, a Al-Qaeda e os talibãs podem ser citados como exemplos de grupos, identificados como terroristas, que agem com extrema violência e interferem notoriamente nos projetos de Paz e Segurança internacionais. Cabe citar, no entanto, que a Irmandade Muçulmana não é grupo terrorista per se. Há braços armados que surgiram desta, e que escolheram táticas terroristas, mas oficialmente o grupo não defende o terrorismo (MAGNOLI, 2011). Em 1967 ocorreu a Guerra dos Seis Dias na qual as forças armadas de Israel atacaram de surpresa o Egito, a Jordânia e a Síria. O conflito teve um caráter preventivo e os israelenses conquistaram a península do Sinai, a Cisjordânia, as colinas de Golan, na Síria; e a parte de Jerusalém, que ficara com a Jordânia. Ao terminar a Guerra dos Seis Dias, o Conselho de Segurança das Nações Unidas adotou a resolução 242, defendendo uma solução pacífica no Oriente médio, com a retirada das forças de Israel dos territórios ocupados e o reconhecimento do direito de todos os Estados da região a viverem em paz dentro das fronteiras internacionalmente aceitas (ARRUDA, 2007). A cidade de Jerusalém foi conquistada por Israel em 1967, sendo que o país colocou as partes oriental e ocidental da cidade sob sua soberania e controle exclusivos. A parte árabe, em Jerusalém Oriental, foi submetida às leis civis 47 israelenses. Autoridades israelenses redesenharam, então, os limites municipais de Jerusalém, que foram estendidos para o norte e para o sul, como mostram os Mapas 4 (Jerusalém) e 5 (Território ocupado por Israel em 1967) (MAGNOLI, 2011). Mapa 4 – Jerusalém Mapa 5 – Território ocupado por Israel em 1967 Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/2001/meast_maps/index.shtml A Península do Sinai foi devolvida por Israel ao Egito, em 1979, como parte do acordo de paz entre os dois países. Depois, em 1973 eclodiu a Guerra do Yom Kippur (dia do Perdão), quando egípcios e sírios atacaram de surpresa os israelenses, mas o contra-ataque de Israel foi decisivo para a sua vitória. Em resposta, os Estados árabes, reunidos na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), criada em 1960, resolveram boicotar o fornecimento de petróleo aos países que haviam apoiado Israel, entre os quais os Estados Unidos, gerando alta dos preços e inflação mundial. Após a Guerra do Yom Kippur, em 1973, o Conselho de Segurança adotou a resolução 338, proclamando os direitos do povo palestino, sobretudo à autodeterminação e à soberania nacional. Pode-se citar, como consequências deste conflito: o alto custo da guerra para Israel, no valor de um PIB anual; o sentimento de vingança (psicológico), pelo povo árabe, no momento de vitória no início do conflito, apesar do resultado final, devido à derrota Egípcio-Síria-Jordaniana, em 1967; a Crise do petróleo, pois os Estado Árabes (membros da OPEP) boicotaram os EUA e os países europeus que apoiavam Israel; e o agravamento da crise 48 econômica mundial (iniciada em 1971, com a desvalorização do dólar) (MAGNOLI, 2011). Alguns reflexos da Guerra do Yom Kippur também podem ser citados, tais como: a abertura para as negociações de paz entre Egito e Israel (Acordos de Camp David, em 1978; e a descoberta de novas áreas petrolíferas no planeta (Região do Mar do Norte, na Europa; Alasca, nos Estados Unidos; Venezuela; México; África do Sul, União Soviética, entre outras, incluindo também o Brasil) (HERZOG, 1977). Em 1978 e 1979, então, o presidente Jimmy Carter promoveu encontros de líderes egípcios e israelenses nos EUA, dos quais resultaram os acordos de Camp David, que devolveram ao Egito a península do Sinai. Israel desmontou suas bases aéreas no Sinai, abdicou do direito às reservas de petróleo descobertas na região e abandonou importância estratégica na região. O Egito, nesta oportunidade, sob a presidência de Anwar Sadat, reconheceu o Estado de Israel. Em 22 de novembro de 1974, a Assembleia Geral da ONU reconhece o direito dos palestinos à autodeterminação e à independência e autoriza um status de observador para a OLP. Em 1975 começa a Guerra Civil do Líbano e a OLP, e seus aliados, assumem o controle de 80% do país (ARRUDA, 2007). Depois, em 1976, a Síria intervém no Líbano em favor dos cristãos maronitas, a chamado do presidente libanês. Em 1977, o presidente Sadat, do Egito, reconhece o Estado de Israel. Depois, em 1978, os EUA receberam as negociações de paz entre Egito e Israel (Acordos de Camp David), sendo o primeiro reconhecimento do Estado israelense por um país árabe, prevendo também a devolução da Região do Sinai aos egípcios. Esses acordos estabeleceram como seria encaminhada a “Questão da Palestina”: a formação de um Estado Palestino em áreas sobre as quais Israel exercia jurisdição. Além disso, definiu um Tratado de Paz Israel-Egípcio, estabelecendo reconhecimento mútuo, desocupação da Península do Sinai, limitações militares na fronteira comum, solução pacífica de controvérsias, direitos de passagem, e extinção de embargos econômicos, entre outros (HERZOG, 1977). Cabe citar que em 1982, Israel intervém na Guerra Civil Libanesa, invadindo o Líbano. A “Operação Paz para a Galileia” conseguiu remover a maior parte da infraestrutura organizacional e militar da OLP para fora da região. Foi neste ano que surgiu o (grupo político) Hezbollah (Partido de Deus, em árabe), com sede no 49 Líbano, sendo inicialmente uma milícia, constituída por cidadãos armados com suposto poder policial. Em 1987, ocorre a Primeira Intifada (sobressalto, levante) na Cisjordânia e em Gaza, configurando-se em uma rebelião generalizada de palestinos, sem uso de armas de fogo. Neste mesmo ano é fundado o HAMAS, abreviatura de Movimento de Resistência Islâmica, em árabe, a partir da Irmandade Muçulmana. Trata-se de um partido político e um movimento militar, as Brigadas al-Qassam, que passa a organizar ataques com mísseis contra Israel, pregando o fim de Israel e a sua substituição por um Estado Palestino, que ocuparia a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Em 1991 ocorre a Conferência de Paz de Madri, com delegações de Israel, da Síria, da Jordânia, do Líbano, do Egito e dos palestinos. Mais tarde, em 1993 ocorreram os acordos de Oslo, que afirmava a renúncia da OLP ao terrorismo e o reconhecimento do direito de existência do Estado judaico. Em contrapartida, o governo de Israel reconheceria a OLP e se comprometeria a retirar suas tropas dos territórios ocupados e a entregar algumas áreas de administração aos palestinos. Foi neste contexto, que surgiu a Autoridade Nacional Palestina (ANP), espécie de governo palestino das áreas até então ocupadas por Israel (MAGNOLI, 2011). No ano de 2000, deu-se a retirada de Israel do Líbano e ocorre a segunda Intifada, quando o líder do partido de direita (o Likud) Ariel Sharon, visitou a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, um dos templos muçulmanos mais importantes do mundo árabe. Esse ato foi considerado um ato de provocação e a Intifada ganhou força com o apoio de atentados suicidas da Jihad Islâmica (Hezbollah), do Hamas e das Brigadas de al-Aqsa. Esta Intifada foi mais violenta que a primeira e trouxe um quadro de extrema instabilidade entre árabes e israelenses. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo norte-americano forçou israelenses e palestinos a retornarem as negociações de paz, procurando, assim, conquistar o apoio dos países árabes para a luta contra o terrorismo mundial. Assim, após a Guerra do Iraque de 2003, os Estados Unidos, juntamente com a ONU, a União Europeia e a Rússia propuseram um novo plano de paz conhecido como “Caminho da Paz”. O plano previa o fim dos atentados terroristas e o desmantelamento de colônias israelenses nos territórios ocupados. (ARRUDA, 2007). Em 2002, o governo de Israel deu início à construção de um muro separando os dois povos nas regiões ocupadas. Neste mesmo ano, EUA, a ONU, a União 50 Europeia e a Rússia iniciam discussões sobre um roadmap (plano de paz) para resolver o conflito, criando um Estado palestino. Em novembro do mesmo ano, morre Yasser Arafat. Cabe ressaltar que a Faixa de Gaza é uma das extensões de terra mais densamente povoadas do mundo, pois abriga cerca de 1,2 milhão de palestinos. Deste total, 33% vivem em acampamentos de refugiados patrocinados pela ONU. A Faixa de Gaza também tem 6.900 colonos judeus, sendo que as zonas controladas por Israel e os assentamentos ocupam 40% do território, como mostra o Mapa 6 (Assentamentos Judeus na Faixa de Gaza) (MAGNOLI, 2011). Israel justifica a sua política de construção de assentamentos na Cisjordânia com argumentos religiosos e de segurança. Os assentamentos e seus territórios adjacentes ocupam grandes áreas da Cisjordânia. Atualmente, 59% da Cisjordânia está oficialmente sob o controle civil e de segurança israelenses, e o restante do território é governado pela Autoridade Nacional Palestina. Ver Mapa 7 (Assentamentos Judeus na Cisjordânia ocupada – 1999). A Declaração de Princípios de 1993, que surgiu dos acordos de paz assinados em Oslo, na Noruega, prevê a devolução gradual da administração civil e militar da Faixa de Gaza e da Cisjordânia à Autoridade Palestina. Ver Mapa 8 (Áreas controladas pelos Palestinos na Cisjordânia); e o Mapa 9 (Israel e os Territórios Palestinos hoje) (ARRUDA, 2007). Mapa 6 – Assentamentos Judeus na Faixa de Gaza Mapa 7 – Assentamentos Judeus na Cisjordânia ocupada - 1999 51 Mapa 8 – Áreas controladas pelos Palestinos na Cisjordânia Mapa 9 - Israel e os Territórios Palestinos hoje Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/2001/meast_maps/index.shtml Em 2005 Mahmoud Abbas é eleito presidente da Autoridade Palestina. Ocorre nesse ano também, o Assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik al-Hariri. Dois relatórios da ONU implicam altas autoridades sírias na morte de Hariri. O Hamas tornou-se partido político oficialmente. Graças à atuação do Hamas, foram inaugurados hospitais, creches, escolas e pontos de distribuição de sopa nos territórios em conflito, permitindo que a organização ganhasse amparo junto à população. Em 2007 o Hamas se associou à Fatah, formando um governo de coalizão. Após violento conflito entre ambos, houve a cisão em dois governos distintos: um na Faixa de Gaza (Hamas) e outro na Cisjordânia (Fatah). Em 12 de março de 2002 a Resolução 1.397 do Conselho de Segurança menciona pela primeira vez o Estado palestino. Já em 30 de abril de 2003: Publicação do mapa do caminho elaborado pelo Quarteto para o Oriente Médio (EUA, ONU, Rússia e UE), que prevê um Estado palestino até 2005. Os palestinos aceitam, Israel adota o plano em maio, mas faz 14 objeções (FERRABOLLI, 2006). Depois, em 15 de junho de 2007, o Hamas toma o controle de Gaza pela força. Abbas dissolve governo e forma outro, com Salam Fayyad como primeiro-ministro. 52 De 27 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009, Israel lança operação contra Hamas em Gaza, sua maior ofensiva em 40 anos, e deixa 1,3 mil mortos. Já em 19 de maio de 2011, o Presidente dos Estados Unidos Barack Obama pede que fronteiras israelenses anteriores à Guerra dos Seis Dias sejam base para formação de Estado palestino (COSTA, 2012). Nos diais atuais, acordos de Paz têm sido feitos para alcançar a Paz na região da Palestina, porém com resultados limitados. A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e a Rússia, retomaram as iniciativas no sentido da paz, nos dias atuais. O Brasil, almejando uma atuação mais expressiva no cenário internacional, posicionase como uma nação pacífica e desejosa de contribuir com as iniciativas voltadas à solução das controvérsias entre judeus e palestinos. 53 4.1.3 Conclusão parcial Conclui-se parcialmente, que a Paz e a Segurança Internacionais são temas que têm grande repercussão na mídia internacional e têm exigido muitos esforços no sentido de evitar tensões e crises, com efeitos colaterais enormes, com efeitos desastrosos às populações civis, em especial. Além disso, é lícito inferir que o conflito entre árabes e israelenses tem como centro das tensões uma disputa pelo controle de territórios e fronteiras. Trata-se, como visto, de uma desavença histórica e de difícil solução, sendo que o Brasil tem participado mais ativamente, nos últimos anos, das iniciativas para a Paz na região, o que será abordado no decorrer do trabalho em tela. 54 4.2 ASPECTOS INTERNOS 4.2.1 A Política Externa Brasileira Inicialmente, entende-se que Política Externa é o gerenciamento das relações e atividades exteriores dos Estados-Nação. Esta atividade de Estado envolve objetivos, estratégias, medidas, métodos, orientações, diretivas, compreensões e acordos firmados com outros Estados a fim de definir a relações internacionais. No caso brasileiro, sua Política Externa o multilateralismo e o pragmatismo. (JACKSON, 2013). Com relação ao conflito entre árabes e israelenses, o Brasil adota uma posição de não indiferença ao processo de paz no Oriente Médio. A exemplo disso, o Acordo do Mercosul com Israel, a Palestina e o Egito, aponta para iniciativas com vistas a promover a Paz e o desenvolvimento dos países árabes e de Israel. Ao abordar o assunto da Política Externa Brasileira não se pode deixar de citar o Patrono da Diplomacia Brasileira, o Barão do Rio Branco, que afirmou “Não se pode ser pacífico sem ser forte”. Sua atuação foi fundamental parava consolidação das fronteiras do Brasil, possuindo uma visão nítida do papel da Defesa e de sua relação com a Política Externa. Rio Branco contribuiu para a resolução das questões político-diplomáticas com métodos pacíficos, sendo chamado de construtor da paz. Ele rejeitava o pacifismo indefeso e uma defesa delegável a terceiros, tendo instituído a necessidade de o País contar com Poder Militar adequado para a sua defesa e apoiou o reequipamento das Forças Armadas brasileiras. Além disso, valeu-se de uma estratégia para lidar com as instabilidades internacionais, marcada pela busca da paz e da cooperação, e respaldada em capacidades militares adequados. O Brasil, assim, tem uma Política Exterior inspirada no Patrono da Diplomacia do País, atuando em variados tabuleiros internacionais, sempre com foco na defesa da paz, cooperação e multilateralismo. O País ainda, acredita que a nova configuração multipolar das relações internacionais oferece oportunidades ao Brasil, o que amplia sua capacidade de influência e diversifica parcerias. O Brasil entende também, que precisa buscar a Paz e a cooperação com o respaldo de capacidades militares adequadas. 55 Além disso, o Artigo 4º da Constituição Federal de 1988 estabelece os princípios que regem as relações internacionais brasileiras: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político (BRASIL, CF 1988). O que se percebe, então, é que existe uma necessidade crescente de contato em elevado grau entre o Itamaraty e o Ministério da Defesa, responsável pelo preparo e envio de contingentes brasileiros ao exterior. Isso porque existe uma relação direta entre a atuação desses dois ministérios, que precisa ser bem coordenada. Acrescente-se que a política externa brasileira considera o diálogo e a cooperação internacionais instrumentos essenciais para a superação de obstáculos entre os Estados. Com relação ao conflito entre Israel e Palestina, o fato de o Brasil abrigar algumas das maiores colônias árabe e judaica no exterior coloca a crise entre as prioridades da sua política exterior. Assim, o Brasil preocupa-se com a evolução das tensões e se coloca à disposição para esforços que se façam necessários para o encaminhamento de uma solução para o conflito. Além disso, o Brasil apoia à criação do Estado Palestino e o Plano Brasil 2022, elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos estabelece como meta a participação do Brasil em operações de paz e de ações humanitárias de interesse do País, no cumprimento de mandato da ONU, com amplitude compatível com a estrutura geopolítica do País (BRASIL, 2012). Ademais, o pronunciamento do Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, representante Permanente do Brasil junto às Nações Unidas, no qual afirmou durante debate aberto sobre a situação no Oriente Médio, realizado no Conselho de Segurança das Nações Unidas no dia 23 de julho de 2013, que “o Brasil renova aqui seu firme e continuado compromisso com a paz entre Israel e Palestina e permanece pronto para uma agenda de paz genuína”. Acrescente-se que o Brasil trabalha para que os fóruns de concertação mundiais, em especial os que integram as Nações Unidas, se tornem mais representativos da realidade mundial do século XXI, como se observa quando o embaixador afirma que: “a expressão mais evidente da crescente importância do 56 Brasil na área da paz e da segurança tem sido sua participação em operações de manutenção da paz”. Nessa mesma linha de raciocínio, esta autoridade da diplomacia nacional explica que “As políticas externa e de defesa são complementares e indissociáveis”; mostrando uma sinergia das ações no campo político e militar quando se trata de assuntos ligados à política externa nacional. Com foco no Oriente Médio, verifica-se que a Mensagem ao Congresso Nacional de 2014, elaborada pela Presidência da República, explora as ações do governo brasileiro no sentido de conduzir as relações com o oriente médio. O ano de 2013 foi dos mais importantes em termos de intercâmbio de visitas de alto nível entre o Brasil e os países do Oriente Médio, como exemplificam as viagens do Vice-Presidente brasileiro ao Sultanato de Omã, aos Emirados Árabes Unidos, e à Israel e à Palestina. No contexto das referidas visitas, foram assinados cinco acordos bilaterais, em alguns casos inaugurando o arcabouço jurídico bilateral do Brasil com alguns daqueles países. O Brasil indicou oficialmente o Embaixador no Cairo (Egito) como Representante Especial do Brasil junto à Liga dos Estados Árabes, o que deverá incrementar o diálogo político com aquela Organização e conferir status diferenciado ao País naquele âmbito. O Brasil mantém seu tradicional compromisso com a paz e a estabilidade do Líbano, país com o qual partilha importantes laços culturais, ancorados na grande comunidade de descendentes de libaneses no Brasil, estimada entre sete e dez milhões. O Brasil, em 2013, manteve sua participação ativa na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil). [...] Nesse período, o Brasil manteve sua posição de apoio à pronta retomada das negociações diretas entre Israel e Palestina. Criticou a paralisia do Quarteto para o Oriente Médio e reiterou a condenação da construção de assentamentos nos territórios palestinos, prática contrária ao Direito Internacional. (BRASIL, 2014). Existe uma cooperação tecnológica entre o Brasil e Israel voltada para o uso dos VANT na proteção das fronteiras brasileiras; e para a tecnologia de reconhecimento de rostos para controlar torcidas organizadas em grandes eventos. Quanto à atuação brasileira referente à partilha da Palestina de 1947, verificase um protagonismo do brasileiro Oswaldo Aranha, que foi o presidente da 49ª Sessão da 2ª Assembleia-Geral da ONU, na qual foi tomada tal decisão (VIGEVANI, T.; CINTRA, R.; KLEINAS, A., 2002). Nesse contexto, João Vicente Pimentel em seu artigo O padrão de votação brasileiro na ONU e a questão do Oriente Médio (2002, p. 288) faz a seguinte formulação: Aranha empenhou-se para facilitar a obtenção de um consenso e desobstruir o ardiloso curso dos trabalhos, contribuindo para aprovar um plano que ele sabia imperfeito, mas que não deixava de atender 57 aos interesses ocidentais e brasileiros. O desempenho do estadista assegurou ao Brasil um papel essencial na adoção da Resolução n. 181. O texto estabelecia um regime territorial internacional para Jerusalém, um corpus separatum, fundamentado na singular dimensão espiritual e universal da cidade. (PIMENTEL, 2002, p.288). A posição Brasileira quanto à questão árabe-israelense é bem clara: defende que a ONU esteja à frente do processo de paz e dos diálogos. A preocupação do Brasil é justa, já que abriga algumas das maiores colônias árabe e judaica no exterior. O Brasil, nesse sentido, colocou-se à disposição para quaisquer esforços para o encaminhamento de uma solução para o conflito. Além disso, o Brasil apoia a criação do Estado Palestino e já reafirmou isso em Notas Oficiais dos países do Mercosul, da Cúpula Ibero-americana e do Foro IBAS pelo fim dos conflitos e retomada dos diálogos de paz. O interesse demonstrado pelo Brasil sobre a problemática israelense-palestina, desde a atuação de Osvaldo Aranha na Assembleia Geral de 1947, guiou-se a partir de princípios da diplomacia brasileira, como o respeito às determinações das Nações Unidas. De 1956 a 1967, o Brasil integrou a Primeira Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF I). Após a guerra dos Seis Dias (1967), o Brasil esforçouse para compor, no âmbito do Conselho de Segurança, um projeto de resolução que resultaria, com algumas modificações, na Resolução 242 (1967), a qual exortava Israel a retirar suas forças armadas de territórios ocupados durante a guerra. A partir do choque petrolífero de 1973 e da ascensão de Geisel à presidência do país, Pragmatismo responsável, o Brasil intensificou suas relações com países médio-orientais, sobretudo os árabes, abrindo embaixadas e fechando diversos acordos econômicos. Ressalta-se o aprimoramento, neste período, da Indústria de Material de Defesa por meio da empresa brasileira ENGESA – Engenheiros Especializados S/A com foco no setor bélico e fundada em 1963. A ENGESA controlava um grupo de empresas que atuavam em diversos segmentos da economia e exportavam para 37 países, muitos deles árabes. Então, ela foi controladora das empresas Engex; Engesa Elétrica, conhecida como Engelétrica; Engesa Eletrônica, conhecida como Engetrônica; Fábrica Nacional de Vagões - FNV; Órbita, dentre outras. Quanto aos produtos produzidos pela ENGESA, verifica-se os veículos blindados EE-9 Cascavel (Veículo Blindado de Reconhecimento – VBR) e EE-11 Urutu (Veículo Blindado de Transporte de Pessoal – VBTP). Esses blindados dotam 58 os Regimentos de Cavalaria Mecanizados e os Esquadrões de Cavalaria Mecanizados do Exército Brasileiro. Percebe-se assim, que a empresa era detentora de tecnologia de ponta e mão-de-obra de altíssimo nível, capaz de idealizar o Carro de Combate Osório, que competiu com os melhores Carros do mundo pelo mercado bélico internacional. No entanto, a empresa veio à falência em 1993, quando ocorreu o calote de US$ 200 milhões do Iraque, acrescido do fracasso nas vendas do Osório, onde a ENGESA investiu as suas reservas. A alteração mais significativa da postura brasileira em relação ao Oriente Médio ocorreu a partir da década de 1990 – mudanças internacionais estruturais. O fim da Guerra Fria alterou profundamente o padrão de funcionamento do Conselho de Segurança, na medida em que a paralisação do órgão devido à confrontação entre Estados Unidos e União Soviética deixou de ocorrer. Por meio de carta enviada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, em 1º de dezembro, o Brasil reconheceu o Estado Palestino nas fronteiras existentes em 1967. O Brasil reafirma a sua disposição de favorecer um Estado palestino democrático, geograficamente coeso e economicamente viável, que viva em paz com o Estado de Israel. A Presidente Dilma, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas em 2011, afirmou: O Brasil já reconhece o Estado palestino como tal, nas fronteiras de 1967, de forma consciente com as resoluções das Nações Unidas. Assim como a maioria dos países nesta Assembleia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título. O reconhecimento ao direito legítimo do povo palestino à soberania e à autodeterminação amplia as possibilidades de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional. (BRASIL, 2011). Além do apoio político que o Brasil confere ao seguimento das negociações diretas entre Israel e ANP no âmbito bilateral, o País tem prestado contribuições, tanto financeiras quanto técnicas, para permitir a reconstrução dos Territórios Palestinos e o fortalecimento econômico e político-institucional da ANP, fundamental para a construção de um Estado independente e viável. No contexto multilateral, o Brasil defende que a entrada de novos interlocutores no processo de paz, sem prejuízo dos tradicionais mediadores da questão, contribui para o arejamento das discussões, ao trazer novas perspectivas e 59 ideias às negociações. Nesse contexto, destaca-se a participação brasileira na Conferência de Annapolis, em 2007 e a crescente interlocução com os países da região em mais alto nível. O Brasil mantém seu apoio a todas as iniciativas tendentes à retomada das negociações de paz e favoráveis ao diálogo direto entre as partes, em especial os entendimentos alcançados na Conferência de Madri, os Acordos de Oslo, a Iniciativa Árabe para a Paz, o Mapa do Caminho e a Conferência de Annapolis, além da retomada das negociações diretas, ora em curso. Assim, os principais objetivos da atuação brasileira no Processo de Paz do Oriente Médio constituem-se em alcançar a solução de dois Estados e promover a estabilidade regional e internacional; manter-se como interlocutor crível no processo de paz; aprofundar a cooperação e o entendimento político com todos os países da região; e incentivar o investimento mútuo e impulsionar o comércio com a região. Ademais, o processo de paz no Oriente Médio é tema de alta política internacional e foi dominado, até o fim da Guerra Fria, pelas então superpotências mundiais. A partir do começo dos anos 1990, observaram-se espaços para a participação de países extrarregionais, como Espanha, onde tiveram lugar as primeiras negociações diretas entre árabes e israelenses, e a Noruega, que sediou e influiu favoravelmente nas conversações que culminaram nos Acordos de Oslo. O crescimento do perfil internacional do Brasil durante o Governo do Presidente Lula permitiu impulsionar o envolvimento do País na questão. O Brasil, lar de importantes comunidades de descendentes de árabes e judeus, credencia-se à interlocução em mais alto nível com todos os atores regionais. Nesse contexto, destaca-se o ineditismo da política externa para o Oriente Médio entre 2003 e 2010, tanto em sua dimensão quanto em seus objetivos. Até então, o interesse brasileiro no Oriente Médio caracterizara-se por sua atuação em foros multilaterais ou pelo interesse puramente comercial, que alcançou momentos significativos nos anos 1970 e 80, mas jamais se havia logrado o adensamento da atuação do País em agenda política significativa, como agora. Tal mudança qualitativa reflete-se na quantidade de troca de visitas em mais alto nível com países da região. Com efeito, o Presidente Lula foi o primeiro Chefe de Estado brasileiro a visitar o Mediterrâneo Oriental (Líbano e Síria em 2003; Israel, Territórios Palestinos Ocupados e Jordânia em 2010), desde a viagem privada do Imperador D. Pedro II à região. Em outras três ocasiões, viajou a países do Golfo 60 Árabe-Pérsico (Emirados Árabes Unidos, em 2003; Catar, para a II Cúpula ASPA e Arábia Saudita, em 2009, e Catar, em visita de Estado, em 2010). Merece também destaque a quantidade sem precedentes de encontros de alto nível à margem de eventos multilaterais e as doze viagens do Ministro Celso Amorim à região, inclusive em momentos críticos, como após a Guerra entre Israel e Hezbollah (2006) ou em meio à Guerra em Gaza (2009). Registra-se, por fim, que realizaram visitas ao Brasil o Presidente (2004 e 2010) e o Primeiro-Ministro do Líbano (2005), o Primeiro-Ministro da Síria (2005), o Presidente da Autoridade Nacional Palestina (2005 e 2009), o Rei da Jordânia (2008), o Presidente de Israel (2009), o Emir do Catar (2010), o Presidente da Síria (2010) e o Primeiro-Ministro do Kuait (2010). Logo em seu primeiro ano de mandato, o Presidente Lula visitou Síria, Líbano e Egito e enviou o Ministro Celso Amorim em duas ocasiões à região. Em 2007, a relevância do Brasil foi reconhecida internacionalmente com o convite para participar da Conferência de Paz de Annapolis, na condição de único representante da América do Sul. Ao longo de todo o Governo, estabeleceu-se uma série de importantes contatos em alto nível, dentre os quais se destacam a visita do Chanceler Amorim ao Oriente Médio em janeiro de 2009, durante o conflito armado em Gaza, seguida das visitas ao Brasil do Presidente da ANP, Mahmoud Abbas, e do Presidente israelense Shimon Peres, em um espaço de poucos dias, e a visita do Presidente da República a Israel, Territórios Palestinos Ocupados e Jordânia, no início de 2010. A ênfase da política externa brasileira para a região traduz-se, também, pela abertura do Escritório de Representação em Ramalá, em 2004, e pelas doações (que já somam cerca de US$ 20 milhões) ao desenvolvimento dos Territórios Palestinos Ocupados, divididas entre aquelas destinadas à reconstrução da Faixa de Gaza, após a ofensiva israelense de janeiro de 2009, e outros projetos de cooperação com a ANP, que incluem a instalação de Centro de Mídia em Belém. Merecem destaque, também, a iniciativa do Foro de diálogo IBAS, cujo fundo está investindo US$ 3 milhões em projetos nos TPO, inclusive a construção de complexo poliesportivo em Ramalá e a recuperação de infraestrutura hospitalar na Faixa de Gaza. O Brasil ainda, sediou eventos internacionais direta ou indiretamente ligados ao processo de paz, como o Seminário Internacional de Mídia sobre Paz no Oriente 61 Médio, que se realizou no Rio de Janeiro em julho de 2009, e o III Fórum das Nações Unidas da Aliança das Civilizações, que também teve lugar no Rio de Janeiro em maio de 2010. Esta iniciativa, patrocinada com o apoio da Espanha da Turquia para desmistificar a ideia do confronto de civilizações, impregna o imaginário popular sobre o conflito Israel palestino. Em fins de 2010, o Brasil organizará a Conferência Econômica da Diáspora Palestina, cujo intuito é promover investimentos nos TPO, especialmente de empresários palestinos da diáspora ibero-americana. Na Carta do Presidente Lula ao Presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, entregue ao seu destinatário em Ramallah, em 21 de agosto de 2007, encontra-se a afirmação de que: O Brasil verifica ser de especial importância às relações com a Autoridade Nacional Palestina. A criação do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah e as frequentes visitas de autoridades brasileiras aos Territórios Ocupados, inclusive a do Ministro das Relações Exteriores, em 2005, exprimem a prioridade conferida pelo Brasil ao relacionamento com o povo e o Governo palestinos. (BRASIL, 2007). Na mesma Carta, o Presidente Lula expõe, à época, as características da política externa brasileira para a região. Ele aborda os objetivos brasileiros e mostra à comunidade internacional que o Brasil se apresenta como um ator de papel importante nas questões relativas à Paz internacional. Segue-se um trecho da Carta, com essas informações: A atuação multilateral do Brasil tem buscado favorecer as negociações de paz e condenar ações que resultem em maiores sofrimentos para o povo palestino, em especial na Faixa de Gaza. (...) O Brasil entende que essa matéria transcende sua dimensão regional e incide diretamente em diversos dos principais problemas com que se confronta a comunidade internacional. Seu equilibrado, justo e pleno equacionamento poderia representar o início de um ciclo virtuoso, afetando positivamente o desenlace de outras situações de conflito. Na visão brasileira, o envolvimento abrangente e determinado da comunidade internacional é o caminho adequado para conduzir a bom termo o processo de paz no Oriente Médio. Adicionalmente, pensamos que a paz será sustentável somente com o engajamento nesse processo, de uma forma ou de outra, de todos os atores relevantes. (BRASIL, 2007). 62 Este documento é importante para o trabalho em tela, pois mostra claramente uma atuação política do Brasil no sentido de apresentar propostas viáveis à solução do conflito entre árabes e israelenses. Isso posto, o próximo trecho, aborda a disposição do País em participar das iniciativas em torno do processo de Paz entre os dois povos. Com esse intuito, levantei, na última Assembleia-Geral das Nações Unidas, a ideia da convocação de uma conferência internacional sobre a situação no Oriente Médio, sob a égide da ONU, que pudesse envolver também países de fora da região, inclusive países em desenvolvimento. O país tem disposição de participar, caso venha a ser considerado útil, de um “Grupo de Amigos da Paz no Oriente Médio” integrado por países com aquelas características. Idealmente, o Grupo seria coordenado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas. (...) O Brasil deseja ampliar sua contribuição para a paz no Oriente Médio. Expressamos a ambas as partes, bem como ao Quarteto, nossa disposição em participar mais ativamente dos esforços internacionais com vistas ao estabelecimento da paz. (BRASIL, 2007). Acrescente-se que na Palestra do Diretor do Departamento do Oriente Médio e Ásia Central, Embaixador Sarkis Karmirian, na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, em 15 de junho de 2007, pode-se ler o seguinte relato: A intensificação das relações com o Mundo Árabe tem ocorrido, com a Presidência Lula da Silva, sem prejuízo para o bom relacionamento com o Estado de Israel. Com efeito, ao longo deste Governo, tem-se registrado, de igual modo, crescente dinamização nas relações do Brasil com Israel, como se pôde verificar pelos sucessivos recordes no intercâmbio comercial e pela multiplicação de visitas de autoridades do mais elevado nível. (BRASIL, 2007). Sobre o assunto ainda, cabe citar um trecho da Nota à imprensa relativa à “Visita do Ministro Celso Amorim a Israel”, redigida em Brasília, no dia 27 de maio de 2005: As relações do Brasil com Israel, tradicionalmente marcadas por fortes laços de amizade e cooperação, viram-se fortalecidas nos últimos dois anos pelo significativo aumento do intercâmbio comercial bilateral. O comércio nos dois sentidos subiu de US$ 505 milhões em 63 2003 para US$ 715 milhões em 2004, representando incremento de mais de 40% em um ano. No ano passado, o Brasil foi o segundo maior parceiro comercial de Israel nas Américas. A visita do Ministro Celso Amorim a Israel será a primeira de um Chanceler brasileiro àquele país nos últimos dez anos e constituirá oportunidade para exame de iniciativas e novos projetos de cooperação. Durante a visita, será assinado Memorando de Entendimento para o estabelecimento de mecanismo de consultas políticas anuais entre as Chancelarias dos dois países. (BRASIL, 2005). Além disso, dentro do princípio do multilateralismo, o Brasil deixa claro que suas iniciativas nas relações exteriores com o Oriente Médio são marcadas pela aproximação com Israel, mas também com países árabes. Isso é evidenciado na Palestra do Ministro Celso Amorim na Conferência Internacional de Apoio ao Líbano (“Paris III”), realizada em Paris, no dia 25 de janeiro de 2007. Por acolher a maior comunidade libanesa do mundo, o Brasil foi profundamente tocado pelo conflito militar do Líbano no último mês de julho. A dor dos libaneses foi percebida pelos brasileiros como um atentado sofrido por nosso próprio país. O Governo e a sociedade brasileira reagiram rapidamente: logo no início [do conflito entre Hezbollah e Israel, em 2006], organizamos uma operação sem precedentes para retirar das regiões mais afetadas cerca de três mil brasileiros e nacionais libaneses com vínculos familiares no Brasil. (...) Durante a Conferência de Estocolmo, anunciamos uma contribuição de US$ 500 mil para o Fundo do PNUD destinado ao financiamento de projetos de reconstrução no Líbano. Dois meses mais tarde, enviamos ao Líbano uma missão multidisciplinar de cooperação. Estamos desenvolvendo projetos bilaterais nos setores de agricultura, saúde, educação e habitação, entre outros. (BRASIL, 2007). Ademais, a Nota à imprensa sobre a “Situação no Oriente Médio” emitida em Brasília, no dia 14 de agosto de 2006, mostra um exemplo da forma como o Brasil acompanha as tensões no Oriente Médio. Nesse contexto, o País deixa claro o seu interesse em contribuir com a comunidade internacional para a solução das controvérsias envolvendo árabes e israelenses. O Governo brasileiro acolheu com satisfação a adoção, por unanimidade, na noite de 11 de agosto, da Resolução 1701 (2006) 64 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que insta o fim das hostilidades entre Israel e o Hezbollah. (...) Desde o início do conflito, o Governo brasileiro, em linha com nossa tradição em favor da solução pacífica de controvérsias, apoiou o esforço diplomático para a obtenção de um cessar-fogo. Embora não integre atualmente o Conselho de Segurança, o Brasil acompanhou de perto as negociações nas Nações Unidas. (...) O Ministro Celso Amorim, que visitará Beirute em 15 de agosto, transmitirá mensagem de solidariedade do Governo e do povo brasileiros com a nação irmã do Líbano e expressará nossa aspiração de que, na sequência dos trágicos acontecimentos do último mês, sejam redobrados os esforços da comunidade internacional e das partes diretamente envolvidas em busca de uma solução abrangente para os conflitos do Oriente Médio. (BRASIL, 2006). Do exposto até aqui, pode-se inferir que o Brasil adota uma postura ativa em sua Política Exterior relacionada ao Oriente Médio. Entende-se assim, que o País está consciente de seu papel no contexto da busca por um mundo mais pacífico. Tal realidade é marcada pelas ações brasileiras no sentido de se voluntariar para contribuir com o processo de Paz entre Israel e Palestina. 65 4.2.2 A Defesa Nacional A Política Nacional de Defesa (2005), a Estratégia Nacional de Defesa (2012) e o Livro Branco de Defesa Nacional (2012) representam marcos históricos para a afirmação e a divulgação dos fundamentos da defesa brasileira. Assim, a Política e a Estratégia assinalam responsabilidades da promoção do interesse nacional, em particular nos temas afetos a desenvolvimento e segurança do país. A Política Nacional de Defesa e a Estratégia Nacional de Defesa constituem, então, marcos legais que orientam a organização e a modernização do instrumento militar brasileiro, bem como seu preparo e emprego, de forma condizente com a estatura político-estratégica do Brasil. Nesses documentos, encontra-se orientações relativas à projeção do País no contexto mundial com vistas à defesa da paz e à cooperação entre os povos. Isso posto, o Brasil busca, por exemplo, intensificar sua participação em ações humanitárias e em missões de paz sob a égide de organismos multilaterais. No Livro Branco de Defesa Nacional, verificou-se que o Exército Brasileiro elencou como projeto para a Força Terrestre a capacidade de atuar fora do território nacional, por meio do subprojeto de preparação de força valor Brigada para atuar em missões de paz ou como força expedicionária. O artigo com o título: O ambiente estratégico do século XXI, constante do Livro Branco de Defesa (Cap 2, LBDN), informa que: Diante das incertezas em relação aos cenários futuros, o custo do não engajamento do Brasil na construção da ordem internacional nascente pode ser muito maior do que o ônus imediato, que é o investimento na capacitação, no preparo e no desenvolvimento de meios necessários ao exercício da soberania. [...] A política de defesa brasileira conjuga componentes cooperativos e dissuasórios. Crises internacionais podem surgir à revelia da vontade do País, o que exige um nível adequado de prontidão e modernização de suas Forças Armadas. No plano global, o Brasil deve ter uma capacidade de defesa correspondente a sua estatura econômica, política e estratégica de modo a ter seus recursos preservados, sua palavra ouvida, sua posição respeitada salvaguardada. (BRASIL, 2012). e sua tradição pacífica 66 Nesse ambiente estratégico, a atuação internacional deve primar pela consolidação de mecanismos de governança mais representativos da nova realidade internacional, voltados para a paz e a segurança mundiais e para o bem-estar da humanidade. No plano global, o Brasil deve ter uma capacidade de defesa correspondente a sua estatura econômica, política e estratégica de modo a ter seus recursos preservados, sua palavra ouvida, sua posição respeitada e sua tradição pacífica salvaguardada. O Brasil trabalha para que os fóruns de concertação multilaterais, em especial os que integram as Nações Unidas, se tornem mais representativos da realidade mundial do século XXI. Assim, para assegurar a legitimidade e a representatividade do Conselho de Segurança das Nações Unidas nas questões referentes à paz e à segurança internacionais, sua reforma torna-se uma necessidade premente. Dessa forma, a expressão mais evidente da crescente importância do Brasil na área da paz e da segurança tem sido sua participação em operações de manutenção da paz. Cabe citar que os três pilares das operações de manutenção da paz são o uso da força apenas em autodefesa ou na defesa do mandato concedido pelo Conselho de Segurança da ONU, a imparcialidade e o consentimento dos Estados em que as operações ocorrem. Nesse quadro, existem quatro elementos que compõe as ações das Nações Unidas: segurança, fortalecimento institucional, reconciliação nacional e desenvolvimento. Assim, o organismo internacional incentiva por exemplo, programas inovadores de cooperação técnica em áreas como as de segurança alimentar, agricultura, capacitação profissional, saúde, segurança e infraestrutura. Acrescente-se que a Diretriz para as Atividades do Exército Brasileiro na Área Internacional (DAEBAI) (2013) foi emitida pelo Comandante do Exército, tomando como base a Política de Defesa Nacional, a Estratégia Nacional e o Livro Branco de Defesa Nacional. Ademais, a Política Militar de Defesa e a Estratégia Militar de Defesa também balizam o planejamento das atividades do Brasil no Exterior, sendo que a Política Externa Brasileira (PEB) estabelece os interesses da nação no tocante às relações exteriores e o Exército, por meio da Diplomacia Militar. Isso posto, o Exército coopera com a Diplomacia, por meio de sua atuação nas Aditâncias militares, nas conferências bilaterais, nas ações militares combinadas, nos intercâmbios entre estabelecimentos de ensino, entre outras ações que elevam a representatividade brasileira no exterior. 67 O Oriente Médio é citado na DAEBAI como uma região estratégica onde se encontram oportunidades de obtenção de Produtos de Defesa e de conhecimento científico-tecnológico. Embora a região em análise tenha prioridade cinco, quando se observa o chamado arco do conhecimento, a prioridade conferida ao Oriente Médio sobe para prioridade três. Isso porque este arco envolve o funcionamento de um efetivo Sistema de Doutrina Militar Terrestre (DMT), o funcionamento de um efetivo Sistema de Ciência e Tecnologia e Inovação e a Promoção do desenvolvimento de competências (BRASIL, 2013). A seguir, pode-se citar que assuntos relacionados à área de Defesa não deixaram de ser contemplados no período de 2003 a 2010, como exemplo, em que as relações do Brasil com o Oriente Médio estreitaram-se em muitas de suas vertentes. Houveram então, avanços nas bases para cooperação entre as Forças Armadas, seja em termos de treinamento de quadros, seja em intercâmbio científico e tecnológico. O progressivo estabelecimento de mecanismo de Consultas Políticas com os países da região permite, ademais, o diálogo sobre temas de Defesa da agenda internacional. Outro ponto de igual relevância é o comércio de material de uso militar que vem sendo explorado pelas partes, encontrando a indústria armamentista brasileiro importante mercado nos países do Oriente Médio. Nesse quadro, pode-se citar como ações de aprofundamento do relacionamento em questões de defesa com o Brasil, as visitas do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, a Israel e a Jordânia, em 2010; e as visitas do Presidente Lula da Silva, em 2003 (Síria e Líbano) e 2010 (Israel, TPO e Jordânia). Na sequência, registra-se que os objetivos das relações exteriores brasileiras no Oriente Médio são a cooperação técnica, científica e tecnológica em assuntos de Defesa; a promoção comercial da indústria armamentista brasileira; realizar consultas políticas sobre assuntos de Defesa; e a formação profissional de quadros especializados das Forças Armadas. Pode-se citar também, instrumentos legais que amparam as atividades do Brasil no exterior. Com relação à Israel, por exemplo, o Brasil firmou o Memorando de Entendimento para Consultas Bilaterais entre o MRE e o MNE (29/05/2005). Entre o Brasil e a Autoridade Nacional Palestina foi estabelecido, também, o Acordo, por troca de Notas, para o Estabelecimento de Mecanismo de Consultas Políticas (13/02/2008). 68 Além disso, nos últimos anos, percebe-se um aprofundamento das relações políticas do Brasil com Países Árabes, especialmente no governo do Presidente Lula. No campo comercial, o Brasil buscou retomar espaço na região para sua indústria militar, pois a posição privilegiada que o país desfrutou nesse campo nos anos 70 e 80, com destaque para o fornecimento de material bélico para o Iraque, havia sido completamente erodida ao longo dos anos 90. A estratégia brasileira foi, inclusive, apoiar a indústria nacional ao mesmo tempo em que fortalecia os laços políticos e estratégicos entre o Brasil e os países da região, procurando fazer com que essa expansão se tornasse sustentável. Assim, pode-se citar que entre o Brasil e Israel foi realizada a abertura de escritório da FAB em Tel Aviv, em 2003; a visita do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, a Israel, em janeiro de 2010, quando esteve em contato com altas autoridades civis e militares israelenses e com representantes da poderosa indústria armamentista local. Além disso, percebe-se a presença de empresas de defesa de Israel com investimentos crescentes no Brasil. Essas ações evidenciam que o Brasil tem consciência de que não pode prescindir da capacidade militar de dissuasão e do preparo para defesa contra ameaças externas. Nesse quadro, é necessário fazer uma distinção entre os conceitos de Segurança e Defesa. A segurança, em linhas gerais, é a condição em que o Estado, a sociedade ou os indivíduos se sentem livres de riscos, pressões ou ameaças, inclusive de necessidades extremas. Por sua vez, defesa é a ação efetiva para se obter ou manter o grau de segurança desejado. Ademais, para efeito da Política Nacional de Defesa são adotados os seguintes conceitos: Segurança é a condição que permite ao País preservar sua soberania e integridade territorial, promover seus interesses nacionais, livre de pressões e ameaças, e garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos e deveres constitucionais; e Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase no campo militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas. (BRASIL, 2012). 69 Acrescente-se que o Brasil definiu os seus Objetivos Nacionais de Defesa, quais sejam: I – garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade territorial; II – defender os interesses nacionais e as pessoas, os bens e os recursos brasileiros no exterior; III – contribuir para a preservação da coesão e da unidade nacionais; IV – contribuir para a estabilidade regional; V – contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais; VI – intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em processos decisórios internacionais; VII – manter Forças Armadas modernas, integradas, adestradas e balanceadas, e com crescente profissionalização, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território nacional; VIII – conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa do País; IX – desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis; X – estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotandoas de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais; XI – desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional. (BRASIL, 2012). A seguir, pode-se citar o artigo “O Poder Militar Brasileiro como instrumento de Política Externa” de Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, no qual aborda a importância das Forças Armadas para a concretização dos objetivos políticos da nação. O poder militar é um recurso de poder à disposição do Estado, o qual deve empregá-lo com finalidade de assegurar a conquista de objetivos políticos, notadamente em âmbito externo. A dissuasão deve ser a estratégia principal do Brasil, desde o tempo de paz. Forças armadas preparadas para defender os interesses nacionais, em qualquer tempo, convencem pela sua capacidade de combate e de sustentação do esforço nesta ação. A contribuição das forças armadas para a dissuasão, contudo, somente será concretizada pela existência de um poder militar adequado, que inspire credibilidade aos demais países (SILVA, 2009). 70 Em sequência, é importante destacar que o Brasil tem buscado, ao longo dos anos, uma coordenação dos esforços entre diplomatas e militares no âmbito externo. No governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, tomou-se as seguintes iniciativas com essa finalidade: criação da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden), do Conselho de Governo; edição da PDN, de 1996; e criação do Ministério da Defesa (MD). Sobre a Creden cabe destacar que foi criada pelo Decreto n° 1.895, de 6 de maio de 1996, tendo como membros natos os ministros militares de então e o ministro das Relações Exteriores, dentre outros. Essa comissão tem por objetivo formular políticas, estabelecer diretrizes e acompanhar os programas a serem implantados no âmbito das matérias correlacionadas, inclusive aquelas pertinentes à cooperação internacional em assuntos de segurança e defesa; à integração fronteiriça; às populações indígenas e aos direitos humanos; às operações de paz; ao narcotráfico e a outros delitos de configuração internacional; à imigração; e às atividades de inteligência. Nesse ínterim, a Política Nacional de Defesa é a base para o entendimento da política setorial brasileira, que trata dos assuntos de defesa. Esse documento apresenta conceitos fundamentais à compreensão do tema de Defesa por toda a sociedade, sendo que seu fundamento está na Constituição Federal de 1988. Os fundamentos desse Política incluem a afirmativa de que a defesa do País é inseparável do desenvolvimento nacional, oferecendo-lhe o indispensável escudo. Assim, torna-se fundamental conscientizar todos os segmentos da sociedade brasileira da importância da defesa do País e de que este é um dever de todos os brasileiros e não exclusividade das Forças Armadas (BRASIL, 2012). Com respeito à defesa externa, esta é a destinação precípua das Forças Armadas, sendo este aspecto refletido nas destinações das referidas Forças no Art 142 da Constituição Federal de 1988. A PND define também, que o Brasil deve buscar aumentar a inserção do País no ambiente regional e no seu entorno estratégico, que extrapola a região sul-americana. Além disso, a nação deve priorizar a defesa da Amazônia e do Atlântico Sul por meio da vivificação das fronteiras, da proteção do meio ambiente e do uso sustentável dos recursos. A PND define ainda, que as dimensões continental, marítima e aeroespacial, sendo esta sobrejacente às duas primeiras, são de suma importância para a Defesa 71 Nacional. Assim, o controle do espaço aéreo e a sua boa articulação com os países vizinhos, constituem objetivos setoriais prioritários (BRASIL, 2012). Outro fundamento, estabelecido na PND é o repúdio ao terrorismo, sendo este aspecto englobado no preparo das Forças Armadas para a realização de ações contraterrorismo, conforme o § 1° do Art 142 da Carta Magna. Nesse contexto, registra-se que as Forças Armadas necessitam de atualização permanente e aparelhamento adequado, com ênfase no apoio à ciência e tecnologia, para reduzir a dependência tecnológica e a superação das restrições unilaterais de acesso a tecnologias sensíveis. A Política Nacional de Defesa também registra que o Serviço Militar Obrigatório é a garantia de participação de cidadãos na Defesa Nacional e contribui para o desenvolvimento da mentalidade de defesa no seio da sociedade brasileira. Ademais, esclarece que nos termos da Constituição, as Forças Armadas poderão ser empregadas pela União contra ameaças ao exercício da soberania do Estado e à indissolubilidade da unidade federativa. Finalmente, o documento afirma que o Brasil deverá buscar a contínua interação da atual PND com as demais políticas governamentais, visando a fortalecer a infraestrutura de valor estratégico para a Defesa Nacional, particularmente a de transporte, a de energia e a de comunicações. Esclarece também, que o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem é regido por legislação específica, a Lei Complementar Nº 97, de 9 de junho de 1999. Outro documento, na área setorial de defesa, é a Estratégia Nacional de Defesa. Neste documento, de grande valor estratégico, está estabelecido o caminho a ser percorrido para atingir os Objetivos Nacionais de Defesa constantes da Política Nacional de Defesa (BRASIL, 2012). Assim, em uma primeira parte, a Estratégia Nacional de Defesa mostra a relação que deve existir entre a defesa e o desenvolvimento do País. Sabe-se que existe a imperiosa necessidade de se preparar as Forças Armadas para a Defesa da Pátria e a capacitação, tanto em pessoal quanto em material, do componente militar é fundamental. Desta forma, esse relacionamento com a estratégia de desenvolvimento possibilitará a consecução de todos os objetivos nacionais de defesa. Em uma segunda parte, a END lista 25 diretrizes com vistas a atingir os Objetivos Nacionais de Defesa. Entre elas está a que trata sobre a importância de 72 dissuadir a concentração de forças hostis, alinhando-se com a garantia da soberania, do patrimônio nacional e da integração territorial. A segunda diretriz, por exemplo, trata da organização das Forças Armadas sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença, proporcionando a modernização, integração, adestramento e balanceamento das Forças Armadas. Outra diretriz importante é a de unificar e desenvolver as operações conjuntas das três Forças, contribuindo para a crescente profissionalização e adestramento conjunto. Além disso, o reposicionamento dos efetivos das Forças Armadas, o adensamento de tropas nas fronteiras e a priorização da região amazônica também são diretrizes que viabilizam os objetivos nacionais de defesa, pois possibilitam a alocação de tropas nas regiões de maior interesse para a defesa, onde existe a possibilidade de ameaças à soberania e a integridade territorial (BRASIL, 2012). Ademais, a modernização e o adestramento das Forças Armadas também são contemplados na Estratégia Nacional de Defesa, quando é abordada a necessidade de se desenvolver o conceito de flexibilidade no combate, bem como o repertório de práticas e de capacitações operacionais dos combatentes. Essas diretrizes possibilitarão às Forças Armadas a devida adequação das tropas para atuarem em operações não convencionais. Acrescente-se que a estruturação do potencial estratégico em torno de capacidades e o desenvolvimento de atributos exigidos pelo conceito de flexibilidade são diretrizes diretamente relacionadas com os objetivos nacionais de defesa. A preparação e o adestramento das tropas brasileiras em torno de capacidades são abordados também. Dessa forma, a flexibilidade é colocada como foco, no intuito de fazer face a ameaça oriunda de qualquer parte do entorno estratégico. Nesse mesmo sentido, o estímulo à integração da América do Sul é uma importante diretriz, pois contribui para a defesa do Brasil, afastando a sombra de conflitos dentro da região, e possibilitando que os países avancem em direção à construção da unidade sul-americana. Outro benefício é a integração das bases industriais de defesa, contribuindo para a estabilidade regional. A END cita também, que o Brasil tem participado com destaque, a mais de dez anos, na missão de paz e estabilização do Haiti, evidenciando o preparo, o adestramento e a capacidade das tropas brasileiras para atuarem no cenário internacional. A atuação brasileira no exterior contribui, assim, para a projeção do Brasil e a sua inserção em processos decisórios internacionais, visto que os bons 73 resultados das Forças Armadas do Brasil nas missões internacionais têm projetado o País positivamente. O desenvolvimento da capacidade logística para fortalecer a mobilidade é outra diretriz fundamentalmente alinhada com os objetivos nacionais de defesa. Visualiza-se a estruturação de um sistema logístico modular, objetivando dar suporte para as operações em grande variedade de circunstâncias, caracterizando a “logística na medida certa” e evidenciando a preocupação em desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional (BRASIL, 2012). Outro item da Estratégia Nacional de Defesa de grande relevância para a consecução dos objetivos nacionais de defesa é a capacitação da Base Industrial de Defesa para a conquista da autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. As empresas privadas e públicas serão incentivadas a produzirem produtos voltados para área de defesa com regimes jurídicos, regulatórios e tributários que possibilitem proteção às empresas privadas e nacionais contra riscos. Isso posto, a base industrial de defesa é incentivada a competir em mercados externos com o objetivo de aumentar a sua escala de produção. A manutenção do Serviço Militar Obrigatório também é uma diretriz importante para a consecução dos objetivos nacionais de defesa, na medida em que mobiliza o povo, independente de classe social, raça ou ideologia, em defesa da soberania nacional, favorecendo a participação dos cidadãos na Defesa Nacional, e contribuindo para o desenvolvimento da mentalidade de defesa no seio da sociedade brasileira. Ainda no que tange à Estratégia Nacional de Defesa, cabe salientar que a END define três eixos estruturantes. O primeiro deles diz respeito a como as Forças Armadas devem se organizar no que tange a capacitação e a evolução tecnológica para a consecução dos objetivos nacionais de defesa. O segundo eixo estruturante refere-se ao material de tecnologia “dual” que possibilita o aumento da capacidade operativa das forças. Já o terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas, com a principal preocupação de tornar o Serviço Militar Obrigatório o mais democrático possível. Por fim, encontram-se, na Estratégia Nacional de Defesa, os Objetivos Estratégicos das Forças Armadas, que permeiam as missões constitucionais da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea. Esses objetivos apresentam o caminho a ser percorrido por cada Força Armada para contribuir com 74 a consecução dos objetivos nacionais de defesa, contidos na Política Nacional de Defesa. O que se percebe, então, é que a END viabiliza que sejam atingidos os objetivos traçados pela PND, por meio da definição de Diretrizes e Ações Estratégicas, alinhadas com os Objetivos Nacionais de Defesa e com as orientações definidas na PND. A tabela 1 mostra, assim, exemplos da relação existente entre a PND e a END. Outro documento de extrema importância pertencente à política setorial de defesa brasileira é o Livro Branco de Defesa Nacional. A principal finalidade do LBDN é dar publicidade à política de defesa do Brasil para todo o mundo. Este documento está estruturado em seis capítulos e enfatiza o alinhamento com os preceitos constitucionais, com a PND e com as Diretrizes e as Ações Estratégicas definidas na END. Inicialmente, o LBDN aborda aspectos importantes acerca do Estado brasileiro, como dados estatísticos sobre população, território, e uma abordagem sobre a Defesa Nacional. O segundo capítulo trata do ambiente estratégico do século XXI, no qual é abordada a complexidade do ambiente estratégico que o Brasil está inserido na atualidade, principalmente no que tange ao relacionamento com o entrono estratégico, os sistemas internacional e regional e a estratégica relação do Brasil com o Atlântico Sul. Depois, no terceiro capítulo do Livro Branco de Defesa Nacional, trata-se acerca da defesa e do instrumento militar. Inicialmente aborda-se o Ministério da Defesa e seus órgãos subordinados como importante instrumento de preparo e emprego das Forças Armadas. Trata-se também dos setores estratégicos para a defesa (nuclear, cibernético e espacial), contemplando-se projetos que colaboram com a projeção de poder do Brasil no cenário internacional, bem como promovendo o desenvolvimento da indústria nacional de defesa. A mobilização nacional também é estudada no terceiro capítulo, principalmente no que concerne ao Serviço Militar e à inserção cada vez maior das mulheres nas três Forças. O modus operandi de cada Força Armada é descortinado também nesse capítulo, abordando todo o preparo e emprego das tropas com vistas a atingir os Objetivos Nacionais de Defesa. Finalizando o terceiro capítulo do Livro Branco de Defesa Nacional, a questão da interoperabilidade nas operações conjuntas é bastante enfatizada, tendo em vista 75 a necessidade de integração entre as Forças. A participação do Brasil nas duas grandes guerras e a participação do Brasil em missões de paz são aspectos também abordados nesse capítulo, demonstrando a evolução doutrinária das Forças Armadas brasileiras ao longo dos tempos, bem como a sua capacidade de operar em missões sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU), fato que contribui para a manutenção da Paz e da Segurança internacionais. O quarto capítulo expõe a relação da defesa com a sociedade. Inicialmente é enfatizada a importância das Forças Armadas na política do governo de redução da miséria da população, bem como na atuação em calamidades públicas, contribuindo para garantir as condições necessárias para o desenvolvimento do Brasil. As ações subsidiárias também são abordadas nesse capítulo, trazendo a importância dessas atividades para a garantia da soberania e do patrimônio nacional. O quinto capítulo relata a transformação da defesa que está em curso no Brasil para dotar as Forças Armadas de equipamentos e tecnologia para o cumprimento de suas missões constitucionais. Esse processo de transformação está sendo viabilizado por intermédio dos projetos estratégicos das três Forças Armadas. A Marinha do Brasil está desenvolvendo o seu projeto nuclear, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul, entre outros. O Exército está trabalhando no Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras, Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres, a Defesa Cibernética, Sistema de Mísseis e Foguetes ASTROS 2020, entre outros. A Força Aérea está trabalhando nos processos de Controle do Espaço Aéreo, Capacitação Científico-Tecnológica da FAB, entre outros. Por fim, o sexto capítulo do Livro Branco de Defesa Nacional aborda a economia de defesa, relatando as premissas para a execução orçamentária relativa às atividades de defesa, e descrevendo que o orçamento contemplará as diretrizes emanadas pela Estratégia Nacional de Defesa. Este capítulo também cita a posição do Brasil como o 10º maior orçamento de defesa no mundo, corroborando a crescente projeção e a inserção brasileira no mundo. 76 Tabela 1 – Exemplos da relação entre a PND e a END Objetivo Nacional de Defesa (PND) V - contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais. IX – desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis. Orientação (PND) 7.14 O Brasil deverá dispor de capacidade de projeção de poder, visando a eventual participação em operações estabelecidas ou autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU. 7.7 [...] A capacitação na indústria nacional de defesa, incluído o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar o abastecimento de produtos de defesa. Diretriz (END) Ação Estratégica (END) 19. Preparar as Forças Armadas para desempenharem responsabilidades crescentes em operações de manutenção da paz. Operações de Paz Promover o incremento do adestramento e da participação das Forças Armadas em operações de paz, integrando Força de Paz da ONU ou de organismos multilaterais da região. 22. Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. Indústria de Material de Defesa – Compatibilizar os esforços governamentais de aceleração do crescimento com as necessidades da Defesa Nacional. X – estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais. 7.10 Os setores espacial, cibernético e nuclear são estratégicos para a Defesa do País; devem, portanto, ser fortalecidos. 6. Fortalecer três setores de importância estratégica: o espacial, o cibernético e o nuclear. XI - desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional. 7.4 A expressão militar do País fundamenta-se na capacidade das Forças Armadas e no potencial dos recursos nacionais mobilizáveis. 21. Desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional para assegurar a capacidade dissuasória e operacional das Forças Armadas. Fonte: o autor Inteligência de Defesa – Aperfeiçoara o sistema de Inteligência de Defesa. [...] Os recursos humanos serão capacitados em análise e técnicas nos campos científico, tecnológico, cibernético, espacial e nuclear [...] Mobilização Realizar, integrar e coordenar as ações de planejamento, preparo, execução e controle das atividades de Mobilização e Desmobilização Nacionais previstas no Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB). 77 Tabela 2 – PND e LBDN Objetivos Nacionais de Defesa (PND) I. garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade territorial; II. defender os interesses nacionais e as pessoas, os bens e os recursos brasileiros no exterior; III. contribuir para a preservação da coesão e unidade nacionais; IV. contribuir para a estabilidade regional; V. contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais; VI. intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em processos decisórios internacionais; VII. manter Forças Armadas modernas, integradas, adestradas e balanceadas, e com crescente profissionalização, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território nacional; VIII. conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa do País; IX. desenvolver a Base Industrial de Defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis; X. estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais; e XI. desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional. Metas do Plano Brasil 2022 (LBDN, Pag.24) Meta 1 — Aumentar a capacidade de direção e de atuação conjunta das Forças Armadas, com o acréscimo de seus efetivos em 20% e o estabelecimento progressivo de um orçamento de defesa que permita equipar e manter forças aptas ao cumprimento pleno de suas atribuições constitucionais. Meta 2 — Vigiar e proteger a totalidade do espaço aéreo brasileiro com meios do poder aeroespacial compatíveis com as necessidades da Defesa Nacional. Meta 3 — Participar de operações de paz e de ações humanitárias de interesse do País, no cumprimento de mandato da Organização das Nações Unidas (ONU), com amplitude compatível com a estatura geopolítica do País. Meta 4 — Aumentar o poder naval brasileiro para cumprir, em sua plenitude, as tarefas de controlar áreas marítimas, negar o uso do mar e projetar poder sobre terra. Meta 5 — Vigiar e proteger o território brasileiro, articulando adequadamente a Força Terrestre, com especial ênfase na Amazônia e no Centro-Oeste do País. Meta 6 — Capacitar os quadros do Sistema de Defesa Nacional e dotá-lo de autonomia tecnológica. Fonte: Livro Branco de Defesa Nacional 78 Imagem 7 – Projetos Estratégicos da Marinha do Brasil Fonte: Ministério da Defesa Imagem 8 – Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro Fonte: Ministério da Defesa Imagem 9 – Projetos Estratégicos da Força Aérea Brasileira Fonte: Ministério da Defesa 79 4.2.3 Conclusão parcial Dessa forma, conclui-se parcialmente que a Política Externa brasileira aponta para uma posição, diante do conflito árabe-israelense, alinhada com as nações que anseiam a solução para o quadro de tensões, e com a fórmula de dois Estados para dois povos. Acrescente-se que as Forças Armadas brasileiras, no quadro da Defesa Nacional, têm papel fundamental na execução da chamada diplomacia militar, projetando os interesses nacionais no exterior e permitindo o desenvolvimento das políticas internacionais definidas pelo Estado brasileiro. 80 4.3 CONCLUSÃO A posição do Brasil diante do conflito entre Israel e Palestina mostra o grau de amadurecimento da Política Exterior brasileira e evidencia que o Brasil deseja assumir maiores responsabilidades relativas à Paz e à Segurança internacionais. As iniciativas brasileiras dão conta de uma interação crescente com os países do Oriente Médio e caracterizam as características da diplomacia brasileira baseadas no multilateralismo e na solução pacífica das controvérsias, entre outros princípios. Em resumo, o papel do Brasil diante do conflito entre Israel e Palestina é de promotor da Paz, aproveitando o que o País tem a contribuir, no contexto de uma Política Externa que tem sido chamada de ativa, altiva e criativa. Assim, a diversificação de parcerias, a cooperação sul-sul, a promoção do desenvolvimento, a assunção de crescentes responsabilidades e a autonomia pela diversificação têm sido a marca das ações brasileira no exterior. Conclui-se que o Brasil tem condições de contribuir com a Paz no Oriente Médio, possuindo interesse nesta iniciativa, seja pela numerosa representatividade de imigrantes árabes e judeus no seu território, como por seu anseio por uma maior projeção no cenário internacional. O sucesso brasileiro em operações de manutenção da paz e seu crescente envolvimento em temas internacionais de relevância global conferem à nação credibilidade e confiança para as negociações diplomáticas de alto nível. Percebe-se que o Brasil tem adotado, então, uma política externa caracterizada pela busca da autonomia, decidindo de forma independente e livre de constrangimentos. O pragmatismo é evidenciado na relação com árabes e judeus, desvinculando-se de ideologias e colocando em pauta os interesses brasileiros no exterior. O que fica claro é que o País procura mostrar que é a favor do universalismo. Embora a relação com os Estados Unidos seja o principal eixo diplomático, os brasileiros demonstram que a sua aproximação com os americanos é também no sentido de aumentar o seu poder de barganha nas negociações internacionais. Infere-se que o tema em tela estará cada vez mais presente na agenda diplomática brasileira, haja vista as ações recentes do Estado Islâmico, que ocupam os noticiários internacionais. Esse grupo tem sido combatido pelos Estados Unidos, que reagem à extrema violência dos radicais, cuja ideologia e religião é acrescida do 81 poder militar para executar o terrorismo. Por fim, o Brasil tem sido visto como um potencial consultor da Paz, não possuindo excedentes de poder. Essa realidade tem garantido legitimidade e autonomia às decisões expostas pelo País a nível internacional. Assim, o Brasil tem demostrado ser possível propagar valores próprios nas relações internacionais. _______________________________ DIEGO DE ALMEIDA PAIM - Maj 82 REFERÊNCIAS AMAR, Paul (Ed). The Middle East and Brazil. Bloomington & Indianapolis: Indiana University Press, 2014. AMORIM, Celso. Brazil and Middle East. In: The Cairo Review of Global Affairs, 2011. ____________. Conversas com Jovens Diplomatas. São Paulo: Benvirá, 2011. ARAÚJO, Heloisa Vilhena de. Diálogo América do Sul – Países Árabes. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 2005. ARRUDA, José Jobson de A.; PILETI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil. Volume Único. São Paulo: 2007. Páginas 641 a 647. BERTONHA, João Fábio. 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