inovação e investigação empresarial incluindo transferência
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inovação e investigação empresarial incluindo transferência
INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL INCLUINDO TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO EM PORTUGAL Política Regional INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL INCLUINDO TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO EM PORTUGAL Estudo realizado em Portugal, entre Janeiro e Outubro de 2011, por “Schuman Associates, European Consultants” para a Comissão Europeia, Direcção-Geral da Política Regional. Equipa científica: • Gonçalo Caetano, Augusto Mateus, Carla Pedro, Hermano Rodrigues, Diogo Vasconcelos, Nuno Vitorino, Alexandra Almeida e Eduarda Ramalho. Coordenação: • Jan Dröge e Gerard McNamara (Schuman Associates) • Rory McKenna e Joaquim Silva Rodrigues (Comissão Europeia, Direcção-Geral da Política Regional) INTRODUÇÃO O objectivo da Política de Coesão, tal como previsto no Tratado, é reduzir as disparidades económicas e sociais entre os Estados-Membros e regiões. No contexto da actual economia global, a Europa tem que se esforçar por implementar o crescimento sustentável através do desenvolvimento de produtos, tecnologias e serviços inovadores, bem como promover uma governação inovativa baseada em parcerias. A prioridade para o crescimento inteligente resultante da estratégia Europa 2020 enfatiza a necessidade de uma maior concentração de recursos na Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (I&DT). Contudo, não se deve ter unicamente em conta os valores absolutos gastos em I&DT: a Europa precisa de se centrar no impacto e na composição da despesa na investigação e de melhorar as condições de I&DT no sector privado na UE. Para atingir o grande desafio de aumentar a sua capacidade para a Inovação, os EstadosMembros e as regiões têm que apoiar uma expansão da I&DT e fortalecer os vínculos entre estas e as universidades e centros de investigação. A necessidade de elaborar um novo quadro estratégico para as políticas de inovação em Portugal, com base em actividades concretas, foi a razão que esteve na origem deste estudo, tendo-se definido os seguintes objectivos principais: identificar sugestões de políticas exequíveis, criar uma plataforma de debate entre partes interessadas e relevantes para a Inovação e finalmente produzir um documento de síntese que pusesse em destaque todas as contribuições recebidas. O presente relatório deve pois ser entendido como um elemento catalisador de iniciativas positivas que apoiem as futuras orientações das políticas públicas de Inovação em Portugal. Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Indice SUMÁRIO EXECUTIVO..................................................................................................................................... 5 EXECUTIVE SUMMARY.................................................................................................................................. 14 I. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................... 21 II. METODOLOGIA DO ESTUDO: QUESTÕES-CHAVE E DIMENSÕES ANALÍTICAS ........................................ 23 III. INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL EM PORTUGAL: BREVE DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO ....... 25 III.1. Elementos-chave do diagnóstico estratégico .................................................................................. 25 III.2. Desafios para o futuro...................................................................................................................... 28 IV. ESTUDOS DE CASO .................................................................................................................................. 32 IV.1. Bial ................................................................................................................................................... 34 IV.2. Critical Software............................................................................................................................... 36 IV.3. Frulact .............................................................................................................................................. 38 IV.4. N-SEC................................................................................................................................................ 39 IV.5. CTCP ................................................................................................................................................. 41 V. BENCHMARKING INTERNACIONAL........................................................................................................... 42 V.1. Small Business Innovation Research Program (Estados Unidos) ...................................................... 43 V.2. Yozma (Israel).................................................................................................................................... 45 V.3. Juro Zero (Brasil) ............................................................................................................................... 46 V.4. Medicon Valley Alliance (Dinamarca & Suécia) ................................................................................ 48 V.5. Wisconsin Alumni Research Foundation (Madison, EUA)................................................................. 50 2 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 V.6. Voucher de Inovação (Holanda)........................................................................................................ 52 VI. RECOMENDAÇÕES .................................................................................................................................. 53 VI.1. Reforçar o acesso das PME a instrumentos de inovação: melhoramentos e simplificação ............ 56 VI.2. Promover parcerias empresariais para a inovação.......................................................................... 57 VI.3. Impulsionar instrumentos de engenharia financeira e melhorar a sua eficácia.............................. 60 VI.4. Apoiar o empreendedorismo qualificado e promover uma cultura empreendedora ..................... 62 VI.5. Estimular a cooperação e as interacções com parceiros internacionais de I&D e inovação ........... 65 VI.6. Sugestões e recomendações complementares ............................................................................... 67 ANEXOS ........................................................................................................................................................ 70 ANEXO 1. INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL EM PORTUGAL: UM BREVE DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO ........................................................................................................................................... 70 1. Inovação e investigação empresarial em Portugal: principais padrões ............................................... 70 2. Políticas de I&D e inovação empresariais em Portugal........................................................................ 86 3. Interacções entre inovação empresarial, investigação e internacionalização..................................... 92 4. Estratégias de eficiência empresarial colectiva e de clusterização...................................................... 96 5. Modelo institucional e governação.................................................................................................... 102 6. Mecanismos de engenharia financeira .............................................................................................. 106 7. SWOT do Diagnóstico Estratégico...................................................................................................... 111 ANEXO 2 ESTUDOS DE CASO .................................................................................................................. 112 1. Bial...................................................................................................................................................... 112 3 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 2. Critical Software ................................................................................................................................. 118 3. Frulact ................................................................................................................................................ 124 4. N-SEC.................................................................................................................................................. 131 5. CTCP ................................................................................................................................................... 135 GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................. 142 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................. 148 4 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 SUMÁRIO EXECUTIVO Este estudo foi realizado na sequência de uma iniciativa da DG REGIO, visando apoiar as autoridades portuguesas na definição de orientações sobre a utilização dos Fundos Estruturais no período pós 2013, para melhorar a inovação e a investigação empresarial, incluindo a transferência de conhecimento. As suas conclusões, que se encontram fundamentadas num diagnóstico estratégico, em estudos de caso e em benchmarking internacional, foram debatidas num conjunto de mesas-redondas envolvendo os principais stakeholders no domínio da inovação e investigação empresarial em Portugal. O diagnóstico estratégico revela que a posição de Portugal no ranking da inovação da UE-27 melhorou significativamente na última década. Esta evolução não se traduziu, no entanto, na criação de riqueza e de emprego como a informação recente claramente demonstra. O processo de mudança estrutural deve ser, portanto, reforçado, designadamente através da valorização e do reforço da inovação e investigação empresarial. As políticas de inovação empresarial e de investigação adoptadas em Portugal nas últimas décadas foram amplamente estruturadas com base nos Programas Operacionais (PO) cofinanciados pela União Europeia (UE). No actual período de programação dos fundos comunitários foi adoptado um conjunto alargado e ambicioso de instrumentos de política dirigidos à promoção da inovação empresarial. Salienta-se, todavia, que nem a reconhecida abertura internacional da economia portuguesa, nem o desenvolvimento das suas actividades mais tradicionais, parecem capazes de gerar ritmos suficientes e sustentados de crescimento e de emprego, em particular numa envolvente onde a economia globalizada é progressivamente mais competitiva. A coordenação política, vital para a concepção e implementação dos instrumentos de promoção da inovação empresarial, é – pelo seu lado – ainda largamente insuficiente, sem prejuízo das melhorias reveladas, neste domínio, pelo recente Programa Nacional de Reforma (Portugal 2020). 5 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A significativa dependência da inovação e investigação empresarial relativamente aos financiamentos estruturais comunitários é agravada pelos instrumentos financeiros existentes que, como o capital de risco, são ineficazes e avessos à assunção de riscos. A análise transversal dos estudos de caso, que foram cuidadosamente seleccionados, revela que é possível realizar, com sucesso, investimentos em inovação empresarial em Portugal, nomeadamente quando associados à internacionalização. Esta análise mostra, por outro lado, que o sucesso decorre sobretudo da excelência e resiliência dos promotores, geralmente apoiados, de forma cooperativa e pró-activa, pelas Autoridades de Gestão dos PO e Agências Públicas. Três dimensões importantes emergem dos estudos de casos: (i) a existência de uma relação directa entre o grau de sofisticação ou o posicionamento na cadeia de valor dos projectos de investimento em investigação e inovação empresarial e a necessidade de soluções específicas de financiamento; (ii) os ciclos de vida dos projectos de investimento em investigação e inovação empresarial não são frequentemente compatíveis com os dos financiamentos estruturais comunitários, e (iii) enquanto os gestores empresariais se encontram naturalmente focalizados nas condições competitivas que permitem aumentar o volume de negócios, os investigadores privilegiam habitualmente a divulgação dos resultados em publicações de referência. O benchmarking internacional inclui um conjunto de casos de sucesso, temática e geograficamente diversificados. Mesmo que cada benchmark analisado tenha valor em si próprio, salientam-se os principais ensinamentos da sua análise conjunta: (i) a promoção da inovação e investigação empresarial constitui um elemento vital nas políticas económicas actuais, (ii) são necessários tanto os instrumentos de política pública generalistas, de espectro amplo, como os que revestem natureza específica, (iii) a inovação e a investigação empresarial exige oportunidades de financiamento adequadas, através de empréstimos e / ou participações no capital, (iv) nas situações onde foram instituídos, com apoio público, instrumentos de financiamento que assumem e partilham riscos, a progressiva intervenção de capitais privados está frequentemente presente e é desejável; (v) a minimização dos custos de transacção, 6 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 incluindo a redução da burocracia, constitui um objectivo comum no âmbito da simplificação do acesso a mecanismos de apoio, bem como dos procedimentos de análise e processo de decisão. O processo de mudança estrutural deve ser reforçado / redefinido, exigindo o reforço da inovação e investigação empresarial É possível realizar, com sucesso, investimentos em inovação empresarial, designadamente associados com a internacionalização Cada benchmark analisado tem valor em si próprio, mas os seus traços comuns são relevantes Com base nestes resultados e na experiência da equipa científica, é proposto um conjunto de sugestões, específicas e concretizáveis, bem como de recomendações. As recomendações, fundamentadas nas lições da experiência e nas conclusões da análise e do diagnóstico realizados no âmbito do presente estudo, privilegiam o respectivo contributo para promover o conteúdo inovador das iniciativas e investimentos de empresas que, presentes na economia portuguesa, participam no processo de globalização através de combinações equilibradas de I&D, conhecimento e transferência de tecnologia e de outras acções específicas, com o objectivo de desenvolver novos e/ou melhores processos e produtos, bem como para melhorar as condições da envolvente empresarial, nomeadamente no que respeita à partilha de risco e ao aumento da rentabilidade e cooperação no contexto deprojectos de inovação e investigação empresarial, incluindo a transferência de tecnologia. As recomendações, focalizadas em instrumentos de política pública, são também baseadas em orientações generalizadamente aceites, designadamente: a prioridade atribuída à produção de resultados ao longo da cadeia de valor que liga a inovação com as dinâmicas do mercado, o entendimento de que a competitividade sustentada apenas pode resultar da concorrência e a preferência por políticas horizontais de base microeconómica dirigidas à maximização da 7 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 eficácia da "política industrial", indispensável para aumentar a eficiência do mercado e, no caso português, a eficácia das políticas públicas. As recomendações são construídas tomando em consideração a contribuição específica que os fundos estruturais europeus podem representar na melhoria das políticas públicas portuguesas, não apenas com o objectivo de maximizar esses financiamentos e de assegurar a sua absorção, mas sobretudo aumentando a coerência, a selectividade e a focalização dos instrumentos de política que, integrados em Programas Operacionais, contribuam para os processos de reforço e disseminação de experiências válidas, para a correcção e/ou eliminação de medidas ineficazes e para o estímulo à adopção de novas e comprovadas experiências internacionais positivas. As recomendações são construídas no quadro de um relacionamento natural e aberto com eventuais erros e fracassos. O financiamento público para a inovação empresarial comporta riscos e a abordagem sólida para minimizar esses riscos corresponde a conviver com eles adoptando as regras adequadas. As políticas de inovação devem ser baseadas em pressupostos sobre os riscos assumidos e, como o estudo mostra, a experiência portuguesa exige claramente procedimentos mais flexíveis e partilha de risco na promoção de projectos de inovação, especialmente em termos de promoção da competitividade das PME portuguesas. Finalmente, as recomendações são apresentadas em coerência com os objectivos gerais para o ciclo de programação 2014-2020, com validação especificamente associada com o caso português, isto é, não como recomendações “gerais” mas, antes, "específicas", ou seja, recomendações para um país específico - Portugal - num período específico – coerentes com a superação da crise económica e financeira e com a reestruturação dos mercados e das políticas para um novo modelo de crescimento económico. 8 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 5 Recomendações Focalizadas e Concretizáveis 1. Melhorar e simplificar o acesso das PME à inovação. 2. Promover Parcerias Empresariais para a Inovação. 3. Criar Fundos de Investimento para a Inovação co-financiados pelo Estado e pela UE. 4. Traduzir o Conhecimento em Valor Económico através da Inovação. A primeira recomendação visa melhorar e simplificar o acesso das PME portuguesas à inovação através da adopção de um instrumento de vales de inovação, investigação e transferência de tecnologia de grande escala, com um processo de financiamento simplificado de curto prazo (612 meses), dirigido a projectos orientados para a experimentação de novos conceitos e ideias (designadamente provas de conceito, protótipos e análises de mercado), e exigindo a participação de empresas qualificadas ou de parceiros tecnológicos através de acordos contratuais. O financiamento deve ser aprovado automaticamente, com a verificação do cumprimento de duas condições – (i) iniciativa de PME individuais respeitante à implementação de um projecto de inovação e (ii) participação de um parceiro de inovação através de acordos contratuais. O instrumento proposto assume um amplo espectro de usos potenciais, que inclui a melhoria dos processos produtivos (incorporação de novas matérias-primas, novos processos de transformação, novas tecnologias ou equipamentos), dos processos comerciais (mercados nacionais ou estrangeiros), a criação de novos produtos ou serviços e a melhoria das competências de gestão. Os parceiros de inovação podem corresponder a instituições do conhecimento ou tecnológicas ou a empresas inovadoras ou internacionalizadas. 9 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 O segundo instrumento de política sugerido respeita à promoção de parcerias empresariais para a inovação em Portugal. Estas parcerias para a inovação visam: (i) a consolidação das estruturas económicas regionais ou estratégias de especialização regional inteligentes e (ii) a constituição de parcerias temáticas para a criação (ou melhoria) de produtos e serviços orientados para a exportação. Em ambos os casos, o foco das parcerias empresariais para a inovação concentra-se na implementação de projectos de investimento empresarial orientados para a inovação. As parcerias empresariais "regionais" para a inovação reúnem empresas regionais e locais relevantes, grandes empresas e instituições do conhecimento e tecnológicas, numa parceria comum empenhada na implementação de projectos inovadores de investimento empresarial. As parcerias empresariais "temáticas" para a inovação são, adicionalmente, obrigadas a envolver uma ou mais empresas internacionalizadas ou estrangeiras para implementação dos projectos de investimento inovadores. Os projectos de investimento inovadores são financiados através de incentivos específicos ao investimento empresarial, orientados para resultados, com processos simplificados de decisão através da contratualização com peritos independentes dos processos de análise e negociação. Este procedimento não só reduz os custos administrativos como facilita a adequação da intervenção pública às necessidades específicas dos investimentos empresariais orientados para a inovação e a investigação. O processo de negociação é monitorado pelas autoridades de gestão dos PO relevantes e pelas agências públicas especializadas. A promoção de parcerias empresariais para a inovação seria estimulada por instrumentos de Auxílios de Estado, eventualmente complementados pelo co-financiamento do FEDER (particularmente para ferramentas e equipamentos de investigação sofisticados e caros) e do FSE (para formação, cooperação e articulação empresarial e aprendizagem). A identificação de projectos de investimento inovadores implementados através de parcerias empresariais para a inovação pode ser concretizada no âmbito das Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC), nomeadamente Pólos de Competitividade e Tecnologia (PCT) e outros clusters. 10 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A terceira recomendação dirige-se à criação de fundos de investimento para a inovação em Portugal, co-financiados pelo Estado e pela UE, visando alavancar os recursos financeiros próprios ou alheios mobilizados pelo promotor para o financiamento de projectos de investimentos inovadores. Os custos de transacção da respectiva implementação serão significativamente reduzidos, uma vez que o processo de decisão relativo à participação dos fundos de investimento para a inovação, através de empréstimos ou capital, é automático após (i) confirmação, por peritos independentes, do carácter inovador dos projectos de investimento empresarial propostos e (ii) a validação dos recursos financeiros dos promotores (recursos próprios, empréstimos, capital ou Ajudas de Estado). Os fundos de investimento para a inovação devem distinguir (i) os projectos de investimento em fases iniciais da inovação que beneficiam de financiamento correspondente a 67% dos recursos mobilizados pelos promotores e (ii) a comercialização de tecnologias maduras, o financiamento das carências finais dos investimentos e os projectos de expansão da inovação, que são elegíveis para taxas de 33% desses mesmos recursos. O envolvimento de instituições de capital de risco estrangeiras experientes, através de joint ventures ou consórcios com empresas portuguesas, deve ser encorajado e bem acolhido. A adopção de medidas de discriminação positiva aplicáveis a Portugal (e a outros mercados periféricos da UE) deveria ser concretizada, com o objectivo de atrair fundos internacionais de capital de risco para co-investimento com operadores financeiros nacionais e/ou para apoiar directamente as empresas. A quarta recomendação dirige-se à diminuição das discrepâncias existentes entre a criação do conhecimento, a transferência do conhecimento e sua tradução em valor económico através da inovação. Corresponde à implementação de apoios mais fortes, eficazes, flexíveis e integrados dos fundos estruturais ao empreendedorismo académico (incluindo instituições científicas e tecnológicas), bem como a promoção de uma cultura empreendedora para melhorar a actual aversão ao risco e as lacunas existentes em Portugal nesta matéria. 11 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Esta iniciativa deverá ser complementada por medidas destinadas a reduzir a burocracia para start-ups e jovens empresas inovadoras. Adicionalmente, as actividades no âmbito da gestão de financiamentos estruturais dirigidos às start-ups (candidaturas, monitorização, etc.) devem ser asseguradas por entidades de interface especializadas, que poderiam também desempenhar outras responsabilidades de suporte e oferecer uma "one-stop-shop" de apoio à inovação empresarial. O último conjunto de sugestões procura estimular a inserção da I&D e das empresas portuguesas nas redes internacionais de I&D e de inovação, através da melhor adequação da utilização dos Fundos Estruturais da UE para a inovação aberta, colaborativa e global. Esta recomendação dirige-se também à eliminação das barreiras iniciais à entrada de empresas inovadoras e instituições portuguesas nas redes europeias de I&D e inovação. A consagração de um novo instrumento na Política de Coesão – uma iniciativa comunitária específica, nomeadamente no âmbito da Cooperação Territorial – poderia estimular e facilitar o acesso a financiamento de projectos de inovação de pequena dimensão ou de significativa especificidade. O financiamento europeu poderá articular-se com mecanismos de engenharia financeira. Agentes externos devem ser incentivados a participar em projectos de inovação desenvolvidos em Portugal, sendo igualmente relevante facilitar a internacionalização alargada de stakeholders portugueses inovadores mais consolidados. A implementação dos instrumentos de política propostos e, principalmente, os respectivos resultados e impactos, seriam significativamente reforçados pela melhoria da envolvente portuguesa da inovação empresarial, da investigação e da transferência do conhecimento, através da: (i) melhoria da concepção e do acompanhamento das estratégias de inovação nacionais e regionais, superando as tradicionais barreiras entre Ciência e Inovação, promovendo em paralelo a concentração e a focalização do conceito amplo de inovação presente nas políticas públicas; (ii) melhoria do enquadramento do investimento público qualificado e do ensino dirigido ao conhecimento e à profissionalização; (iii) racionalização da I&D nas universidades, centros de investigação e infra-estruturas de apoio, a fim de promover a qualidade, a escala, a especialização e a massa crítica; (iv) elaboração e implementação de um programa eficiente e eficaz de mobilidade dos recursos humanos qualificados entre 12 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 universidades, instituições de I&D, centros tecnológicos e empresas; e, (v) estímulo à valorização do papel da inovação na resposta aos principais desafios societais contemporâneos (desemprego, envelhecimento, migrações, alterações climáticas, etc.), através de apoios mais fortes – também financiados pelos Fundos Estruturais – à inovação social, combinando novos modelos e redes de colaboração e interacção entre actores relevantes (empresas, academia, sector público e ONG). 13 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 EXECUTIVE SUMMARY This present study was undertaken following a DG REGIO initiative to support Portuguese Authorities in defining their post-2013 approach to using Structural Funds for improving business innovation and research, including knowledge transfer. Its findings, based on a strategic diagnosis, case studies and international benchmarking, were debated in a set of roundtables involving the main stakeholders active in the field of R&D and business innovation in Portugal. The strategic diagnosis reveals that Portugal’s position in the EU-27 innovation ranking has significantly improved over the last decade. This has not, however, resulted in the sufficient creation of wealth and jobs, as recent events clearly demonstrate. The process of structural change must therefore be reinforced, something that will require enhanced business innovation and research. Business innovation and research policies adopted in Portugal over recent decades have been largely structured around EU co-financed Operational Programmes. A wide range of innovationoriented instruments was adopted under the current EU Funds framework. Neither Portugal’s recognised economic openness, nor its more traditional sectors and activities, seem capable of generating sufficient growth and employment in our planet’s increasingly competitive globalised economy. Policy coordination, vital for innovation design and implementation, is still largely absent, although the recent National Reform Programme (Portugal 2020) offers some improvements. Business innovation and research funding depends almost exclusively on EU co-financed funds, as financial instruments – such as venture capital – are ineffective and averse to risk-taking. Comprehensive examination of the carefully selected case studies demonstrates that successful business innovation investments are possible in Portugal and that these are usually associated with increased internationalisation. Analysis shows that success flows primarily from the promoter’s excellence and resilience, usually assisted by pro-active cooperation from OP Management Authorities and Public Agencies. 14 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Three important points emerge from the cases studies: (i) the existence of a direct relationship between the sophistication or ranking in the value chain of business innovation and research investment projects and the need for tailor-made funding mechanisms; (ii) business innovation and research investment project life spans are not often compatible with EU funding cycles; and (iii) companies naturally focus on improving turnover, while researchers are usually more focused on the publication of results. International benchmarking includes a set of successful thematically and geographically diversified examples. Even if each considered benchmark has a value on its own, there are, nevertheless, important lessons to be learnt: (i) promoting business innovation and research promotion is a vital element of modern economic policies; (ii) both broad public innovation policy instruments and customised policy tools are necessary; (iii) business innovation and research demands adequate funding opportunities through credit and/or equity provision; (iv) in situations where friendly risk-taking funding schemes are implemented with public financial support, the progressive association of private capital is often present and desirable; (v) minimising transactions costs, including reducing red tape, is a common goal and concerns issues of simplifying access, analysis and decision-making procedures. Structural change process must be reinforced/refocused, requiring enhanced business innovation and research Successful business innovation investments are possible in Portugal, namely when associated with internationalisation Each benchmark has a value on its own, but common guidelines are relevant Based on these findings and on the experience of the scientific team, a set of targeted and realisable suggestions and recommendations are proposed. 15 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 The proposed recommendations, arising from the lessons of experience and from the insights suggested from the analysis supported by the diagnosis carried out in the present study, focus, both, on contributing to foster the innovation content of initiatives and investments taken by enterprises acting in the Portuguese economy and in its participation in the process of globalisation, by adopting a balanced mix of R&D, knowledge and technology transfer and specific actions, pursued at the entrepreneurial level, aimed to adopt better and/or new processes and products, and to improve business environment conditions, namely in terms of risk taking, profitability and cooperation, for innovation projects. The proposed recommendations are focused on public policy instruments and based on accepted wisdom, namely the priority conceded to promote downward results along the value chain linking innovation to market dynamics, the understanding that sustained competitiveness can only arise from competition and the preference for horizontal and microeconomic based policies in order to maximize “industrial policy” effectiveness, useful to the progress of market efficiency and policy effectiveness in the Portuguese case. The proposed recommendations are “designed” taking in account the specific contribution that European structural funds can represent for improving Portuguese national policies, not just by bringing funds but, basically, by bringing coherence and focus to the policy instruments brought into the logic of operational programs by helping in the processes of reinforcing and disseminating valid experiences, correcting and/or eliminating ineffective measures and facilitating the adoption of new and proven international valid experiences. The proposed recommendations are thought in terms of dealing with failure in an open and natural way. Public funding for entrepreneurial innovation is a risky task and the solid approach to minimize that risk is to live with it by adopting adequate rules. Innovation policies should be based on approaches with a specific risk-taking assumptions and the Portuguese experience, as the study shows, clearly demands more flexible and risk-taking procedures in the promotion of innovation projects, specially in terms of fostering the competitiveness of Portugese SME. The proposed recommendations are, finally, presented in line with the broad objectives associated for the 2014-2020 programing cycle but with its validity linked specifically to the 16 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Portuguese case, i.e., not as “general” recommendations, but as “specific” recommendations, i.e., as recommendations for a specific country – Portugal – in a specific time – coping with a economic and financial crisis and restructuring markets and policies for a new model of economic growth. 5 Targeted and Realisable Recommendations 1. Improving and Facilitating SME Access to Innovation. 2. Promoting Business Innovation Partnerships. 3. Creating State and EU Co-financed Innovation Investment Funds. 4. Translating Knowledge into Economic Value through Innovation. 5. Stimulating the Insertion in International Networks. The first recommendation addresses the goal of improving and facilitating Portuguese SME access to Innovation through the adoption of a large scale innovation, research and technology transfer voucher scheme funding simplified short-term (6-12 months) targeted projects linked to the experimentation of new concepts and ideas (e.g. proofs of concept, prototyping, market analysis), that require the participation of qualified business or technology partners through contractual arrangements. Funding should be automatically approved once two conditions are met – (i) individual SME initiative regarding the implementation of an innovation project and (ii) participation of an innovation partner through contractual arrangements. Proposed instrument assumes a large spectrum of potential uses, including the improvement of productive processes (new input materials, new transformation procedures, new technologies or machinery), of commercial processes (domestic or foreign markets), the creation of new products or services and the improvement of managerial skills. Innovation partners may be knowledge or technological institutions or innovative or internationalised companies. The second suggested policy instrument concerns the promotion of business innovation partnerships in Portugal. Such innovation partnerships envisage: (i) the consolidation of regional 17 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 economic structures or smart regional specialisation strategies and (ii) the creation of thematic partnerships for the creation (or the improvement) of export oriented products and services. In both cases, the focus of business innovation partnerships is on the implementation of innovation-oriented business investment projects. ‘Regional’ business innovation partnerships bring together relevant regional and local companies, large-scale businesses and knowledge and technology institutions, in a common engaged partnership to implement a specific business project. ‘Thematic’ business innovation partnerships are, in addition, required to involve one or more internationalised or foreign companies for the implementation of the innovative investment project. Innovative investment projects are funded by customised business investment results-oriented incentives; the decision making process is simplified by the outsourcing of analysis and negotiation processes to independent experts. This not only cuts administrative costs but also helps tailor the public intervention to the specific requirements of business-oriented innovation and research. The negotiation process is monitored by the relevant OP Managing Authorities and specialised Agencies. Promotion of business innovation partnerships would be stimulated by State Aid instruments, eventually complemented by co-financing from both the ERDF (particularly for sophisticated and expensive research tools and equipment) and the ESF (for training and in-business exchange and apprenticeship purposes). Innovative investment projects to be implemented by business innovation partnerships may be identified in the framework of Collective Efficiency Strategies (EEC), namely PCT and Other Clusters. The third recommendation envisages the creation of State and EU co-financed innovation investment funds in Portugal, leveraging the promoter’s own or other financial resources in innovative investments. 18 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Transaction implementation costs are significantly reduced, once the decision-making process regarding the participation, through loans or equity, from innovation investment funds is automatic upon (i) the confirmation, by independent experts, of the innovative nature of proposed business investment projects and (ii) the validation of the promoters’ financial resources (own resources, loans, equity or contracted State Aid subventions). Innovation investment funds can then distinguish between (i) innovative early stage investment projects, which benefit from 67% funding of total investment costs and (ii) technological mature commercialisation, late financing gaps investment and innovation expansion projects, which are eligible for 33% funding. Involvement of experienced foreign venture capital institutions, through joint ventures or consortiums with Portuguese companies, is to be welcomed and encouraged. Positive discrimination towards Portugal (and other peripheral EU markets) should be introduced in order to attract international venture capital funds to co-invest with national financial operators, and/or to directly support firms. The fourth recommendation focuses on narrowing the gap between knowledge creation, knowledge transfer and its translation into economic value through innovation. It includes the implementation of a stronger, more effective, flexible and integrated support from Cohesion Funds to academic (including scientific and technological institutions) entrepreneurship. It also includes the promotion of an entrepreneurship culture to improve the current risk aversion and lack of entrepreneurial culture in Portugal. Both suggestions should be complemented by measures aiming at cutting red tape for start-ups and young innovative companies. In addition, EU Fund related activities concerning start-ups (applications, monitoring, etc) should be contracted out to specialised interface entities, which could also assume other support tasks and offer a “one-stop-shop” service to entrepreneurs. The final set of suggestions seeks to stimulate the insertion of Portuguese R&D and business players in international R&D and innovation networks by better adjusting the use of EU Cohesion Funds to open, collaborative and global innovation. It also seeks to remove initial 19 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 barriers to the entry of Portuguese players into European R&D and innovation projects. A renewed provision within Cohesion Policy – a specific EU Initiative, namely in the framework of Territorial Cooperation - could enhance access by smaller, or more specific projects to innovation funding. European funding could blend with financial engineering mechanisms. External players should be encouraged to participate in innovation projects developed in Portugal. The international reach of the more mature Portuguese innovation stakeholders should be facilitated. Implementation of the proposed policy instruments and, specially, respective outcomes and impacts, would be significantly enhanced by the improvement of Portuguese business innovation, research and knowledge transfer environment, by (i) improving the formulation and monitoring of National and Regional Innovation Strategies, breaking the traditional barriers between Science and Innovation, while narrowing and focusing the present broad concept of innovation in public policies, (ii) improving the framework for public investment in high-quality, knowledge-and skills-oriented education system, (iii) rationalising R&D in universities, research centres and support infrastructures in order to promote quality, scale, specialisation and critical mass, (iv) designing and implementing an efficient and effective mobility programme of qualified human resources between universities, R&D institutions, technological centres and companies, and (v) increasing the role of innovation in the response to key national societal challenges (unemployment, ageing, migrations, climate change, etc) through a stronger support – including Cohesion Funds support – to social innovation, combining new mixed models and networks of relevant players (businesses, academia, public sector and NGOs). 20 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 I. INTRODUÇÃO A I&D e a inovação são prioridades centrais e instrumentos essenciais para aumentar a competitividade portuguesa (e europeia), garantindo mais crescimento económico sustentável e criação de emprego. As empresas desempenham um papel fundamental neste contexto, não só como actores efectivos nas várias fases do processo de inovação, mas, também, na sua difusão pelo tecido económico e na tradução efectiva em novas fontes de crescimento e emprego. Neste sentido, tornam-se indispensáveis políticas e instrumentos renovados para a inovação e I&D empresarial: Melhor adaptados à nova natureza da inovação: mais abertos, mais distribuídos, mais assentes em lógicas de redes empresariais, apoiados em sistemas de inovação descentralizados e com múltiplas interacções e interdependências entre stakeholders (em vez das tradicionais abordagens isoladas ou focadas na inovação individual); Mais dirigidos aos diferentes desafios-chave: a globalização e o aumento da concorrência, as alterações climáticas e a pressão sobre energia e os recursos, o envelhecimento da população, o défice persistente de inovação quando comparado com os nossos principais concorrentes, e, mais recentemente, a forte crise económica e financeira, com impactos sociais relevantes. No caso específico de Portugal, a necessidade de uma abordagem mais inteligente e mais consistente à inovação empresarial e à investigação é ainda mais expressiva, dada: A estagnação económica persistente com que o país está confrontado, aliada à crise da dívida soberana e aos recentes resgates. Esta situação implicará, nos próximos anos, significativos ajustamentos estruturais baseados na eficiência e na eficácia – exigindo, obrigatoriamente, uma selectividade mais forte e investimentos mais orientados para resultados; 21 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A performance global no que concerne à inovação, que, apesar dos recentes desenvolvimentos positivos (largamente financiados pelos Fundos Estruturais Europeus), não só permanece insuficiente, como funciona a um ritmo demasiadamente lento para permitir uma rápida recuperação do atraso. Neste contexto, com o intuito de apoiar as Autoridades Portuguesas na definição da abordagem à utilização dos Fundos Comunitários no período pós-2013, a Comissão Europeia lançou o presente estudo (2010.CE.160.AT.083), procurando melhorar a inovação e a investigação empresarial, incluindo a transferência de conhecimento, com os seguintes objectivos1 principais: Analisar os pontos fortes e os pontos fracos das actuais políticas portuguesas de promoção da inovação empresarial, identificando os desafios-chave que limitam a capacidade do país para inovar (nomeadamente em termos de criação e de transferência de conhecimento e a sua tradução em inovação bem sucedida) no que respeita a desafios futuros; Com base nos resultados alcançados, projectar um conjunto de sugestões e recomendações eficientes e implementáveis, cuidadosamente direccionadas para a boa utilização futura dos fundos comunitários em Portugal na promoção da inovação e da investigação empresarial, incluindo transferência de conhecimento, baseadas em exemplos de boas práticas e em lições retiradas do período anterior; Considerando os resultados e as sugestões propostas, estabelecer uma plataforma para uma discussão aberta entre a CE e os stakeholders portugueses relevantes. À luz da situação actual, onde a inovação empresarial assume um papel cada vez mais determinante na capacidade de Portugal superar os seus desafios críticos, este Estudo pretende actuar como um catalisador, ajudando a delinear um novo quadro estratégico para a utilização dos Fundos Comunitários no pós-2013, promovendo a inovação e a investigação empresarial, incluindo transferência de conhecimento, no sentido de melhorar a competitividade do país, 1 Exclusivamente no que diz respeito à utilização dos fundos estruturais comunitários, conforme definido na reunião de arranque com os representantes da Comissão Europeia e as Autoridades Portuguesas (11 de Fevereiro de 2011). 22 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 definindo uma base sólida para fomentar o crescimento inteligente futuro e a criação de emprego. II. METODOLOGIA DO ESTUDO: QUESTÕES-CHAVE E DIMENSÕES ANALÍTICAS As sugestões e recomendações sobre as prioridades dos Fundos Comunitários no pós-2013 em matéria de promoção da inovação e investigação empresarial em Portugal, incluindo a transferência de conhecimento, são sustentadas por uma análise aprofundada e sistemática, organizada em três blocos temáticos: Diagnóstico, compreendendo as conclusões-chave sobre a actual situação nacional e regional, identificando os principais aspectos positivos, assim como os maiores desafios que se colocam à capacidade das empresas para inovar; Estudos de Caso, focando boas práticas e histórias de sucesso de I&D e inovação empresarial em Portugal, incluindo transferência de tecnologia. Os cinco casos de estudo seleccionados abrangem diferentes tipos de inovação, actores relevantes (spin offs, PMEs e grandes empresas, infra-estruturas de suporte, engenharia financeira) e sectores (desde os emergentes e os mais centrados em tecnologia, às indústrias tradicionais); Benchmarks internacionais, concentrados em exemplos bem sucedidos de políticas e instrumentos que têm vindo a ser implementados em outros países e / ou regiões para melhorar a inovação e a I&D nas empresas. Este exercício de benchmarking direccionado fornece pontos de vista focalizados sobre opções políticas, ideias e iniciativas que possam ser relevantes para Portugal. As conclusões do estudo foram discutidas e validadas através de um processo de consultas com os principais stakeholders; os resultados retirados da presente consulta estão incluídos nas recomendações e sugestões apresentadas na secção final deste relatório. A equipa do estudo adoptou uma metodologia transversal para as diferentes dimensões de análise, como sendo a abordagem mais adequada para a identificação e validação das 23 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 conclusões e sua tradução em recomendações pertinentes, eficientes, pragmáticas e direccionadas. As dimensões analíticas, previamente acordadas com a Comissão Europeia e as Autoridades Portuguesas, são as seguintes: Dimensão 1: Natureza dos sistemas de incentivos financeiros para a promoção da inovação e da investigação empresarial; Dimensão 2: Interacções entre inovação e investigação empresarial, no contexto de estratégias de investimento e de internacionalização; Dimensão 3: Eficiência empresarial colectiva e clusterização, ou seja, focagem nos instrumentos que permitam a melhoria das interacções entre empresas, universidades e centros tecnológicos e de I&D; Dimensão 4: Natureza e qualidade das relações entre as autoridades públicas e as empresas (incluindo empresários e jovens empresas inovadoras) na utilização dos fundos comunitários dirigidos à promoção da inovação e investigação empresarial, incluindo a transferência de conhecimento; Dimensão 5: Business angels, capital de risco, fundos de investimento e outros mecanismos de engenharia financeira relevantes para a inovação empresarial e actividades de investigação. O enquadramento legal e os aspectos específicos sobre a investigação e inovação empresarial em Portugal (por exemplo, direitos de propriedade intelectual / patentes) são igualmente considerados na análise, sempre que relevantes para as recomendações do estudo e sua implementação. Contudo, estes aspectos não constituem o seu foco principal. 24 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 III. INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL EM PORTUGAL: BREVE DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO III.1. Elementos-chave do diagnóstico estratégico No decorrer do presente estudo, foi desenvolvido um diagnóstico estratégico sobre o modelo actual de I&D e inovação empresarial em Portugal, incluindo transferência de conhecimento (ver Anexo 1), que está na base da identificação e justificação das principais recomendações do estudo. Foram identificadas as seguintes questões relevantes: Portugal passa por um processo de mudança estrutural e de recuperação em direcção à fronteira tecnológica, enfrentando o desafio de construir um sistema de inovação capaz de proporcionar novas vantagens competitivas, conducente a uma trajectória sustentável de crescimento; Portugal conseguiu, durante a última década, uma melhoria significativa da sua posição no ranking de inovação da UE-27 como resultado de progressos importantes no Sistema Nacional de Inovação; Actualmente, a I&D empresarial representa no nosso país, aproximadamente, 50% do investimento total em I&D. Em 2005, não ia além de 40%. Os dados actuais ainda estão abaixo da média da UE-27 (cerca de 60% em 2009), mas reflectem uma mudança positiva que aumenta o potencial de inovação da economia portuguesa. Este processo define uma mudança estrutural em relação aos objectivos estabelecidos na Estratégia de Lisboa e na Estratégia Europa 2020; O facto de o peso do sector do ensino superior no total de I&D em Portugal ser claramente superior à média da UE-27, enquanto a participação do sector empresarial permanece abaixo da média, continua a revelar uma distorção importante no Sistema Nacional de Inovação em Portugal, apesar da recente evolução positiva; 25 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 As políticas de inovação e investigação empresarial adoptadas em Portugal nas últimas décadas foram largamente estruturadas no contexto dos Programas Operacionais Comunitários co-financiados pela UE, quando todas as regiões portuguesas eram consideradas “regiões de convergência”. Contudo, hoje em dia, a região portuguesa líder em investimento em I&D e Inovação (Lisboa) não está incluída nos Programas supra mencionados; Historicamente, as políticas públicas portuguesas apoiaram sempre iniciativas “push” orientadas para a C&T e a I&D em universidades, centros de investigação, centros tecnológicos, laboratórios do Estado, etc. Como resultado destas políticas, Portugal tem actualmente um exagerado número de instituições de I&D e infra-estruturas de apoio, muitas das quais não sendo sustentáveis; As primeiras políticas e medidas significativas concebidas e aplicadas com a finalidade de promover a I&D e inovação empresarial foram adoptadas depois de 2003, na sequência da actualização da avaliação do QCA III / POs; No âmbito do QREN português 2007-2013, alguns dos instrumentos de financiamento de investimento encontram-se devidamente ajustados ao reforço da inovação e das políticas tecnológicas segundo uma lógica "demand pull" – sendo esta evolução considerada positiva; Actualmente, Portugal dispõe de um largo conjunto de medidas de política de inovação direccionadas para as diferentes actividades de inovação empresarial, proporcionando um conjunto de apoios, que vão desde incentivos ao investimento em inovação e em I&D até ao apoio financeiro destinado ao sector científico e tecnológico, promovendo a melhoria da ligação entre as empresas e o conhecimento; Portugal é uma economia aberta, onde a globalização do mercado continua a desempenhar um papel importante na promoção da exportação, o que tem potenciado 26 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 o crescimento económico, assim como a implementação de mudanças estruturais necessárias resultantes de uma maior intensidade tecnológica da estrutura económica; A eficiência empresarial colectiva e as estratégias de clusterização estão a ser adoptadas de forma ampla no contexto do POFC/COMPETE através de dois instrumentos: o Sistema de Apoio a Acções Colectivas (SAAC) e as Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC), dando continuidade aos esforços iniciados no contexto do PEDIP (QCA II) e depois do POE/PRIME. Actualmente, não existe em Portugal uma política de inovação verdadeiramente integrada. Os Ministérios da “Ciência, Tecnologia e Educação Superior” e da “Economia, Inovação e Desenvolvimento” polarizam a governância e a implementação das políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação. A implementação da política de investigação e inovação empresarial é assegurada, no contexto do QREN, pelo COMPETE e pelos PO Regionais, pelos Organismos Intermédios, como sejam a Agência da Inovação (Adi), o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI), a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e o Turismo de Portugal (TP); O financiamento é um dos pontos mais fracos no Sistema de Inovação Português; instrumentos financeiros específicos, tais como capitais de risco, são avessos ao risco e pouco efectivos (independentemente de serem públicos ou de gestão privada). Isto restringe ainda mais o apoio financeiro à inovação e investigação empresarial, particularmente no que respeita a novas empresas e actividades baseadas em conhecimento; A implementação de instrumentos e recursos públicos, com o fim de superar as falhas de mercado, tem sido globalmente eficaz no financiamento à inovação empresarial; no entanto, os resultados obtidos da fase inicial deste processo são ainda modestos, dificultando a emergência de novas empresas baseadas em conhecimento e a aceleração do processo de mudança estrutural. 27 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 III.2. Desafios para o futuro Após a análise do estado actual da inovação e investigação empresarial em Portugal, foram identificados os seguintes desafios futuros: É necessário impulsionar ainda mais as actividades económicas intensivas em tecnologia e aumentar a criação de valor baseada na inovação nas actividades já existentes; A internacionalização deverá ser encarada como um elemento chave para estimular a inovação, promovendo a criação de novas empresas baseadas em tecnologia e/ou a transformação das já existentes, como forma de aceder a mercados mais sofisticados; A internacionalização anda geralmente de mãos dadas com o aumento do peso dos produtos e serviços transaccionáveis na economia Portuguesa; este objectivo deveria beneficiar de uma política industrial eficaz, dirigida tanto à indústria como aos serviços, bem como à sua integração nos mercados externos, baseada na investigação e na inovação; A visibilidade de Portugal em termos de potencial de inovação e as suas vantagens significativas ao nível dos custos do trabalho (incluindo do capital humano qualificado) deverá ser realçada a fim de atrair investimento estrangeiro directo em sectores intensivos em tecnologia, que são particularmente relevantes para a aceleração do processo de mudança estrutural em curso; A participação de instituições portuguesas líderes em inovação em plataformas científicas e tecnológicas internacionais e em programas e actividades de cooperação transnacional deverá ser estimulada; O papel chave da internacionalização como factor de inovação e crescimento económico implica a construção de novos mecanismos para auxiliar as empresas neste processo, por exemplo, disponibilizando breves diagnósticos estratégicos de baixo custo 28 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 e também informação rigorosa e prática relacionada com países seleccionados (legislação laboral e fiscal, regras empresariais e culturais, etc.); Deverá ser salientado que os principais factores indutores da investigação e da inovação empresarial não são totalmente compatíveis, criando consequentemente dificuldades específicas. Note-se que o principal objectivo de muitas empresas é aumentar o seu volume de negócios, o que as leva a utilizar a inovação e a investigação para aumentar as suas específicas condições competitivas; ao invés, os investigadores têm a sua actuação orientada fundamentalmente para a produção e publicação de conhecimento, o que implica a divulgação e a partilha de informação em publicações de referência académicas. Apesar do esforço muito recente levado a cabo pelo Programa Nacional de Reformas (Portugal 2020), é necessário fazer uma revisão das políticas públicas portuguesas no que concerne à inovação e investigação empresarial por forma a superar os obstáculos que ainda impedem a sua integração efectiva, assim como eliminar a fragmentação existente e a sobreposição de responsabilidades institucionais e de governação, consequência da prevalência de abordagens históricas de nível sectorial sobre as de nível horizontal e estrategicamente focadas; são, assim, imperativas melhorias na área da formulação de políticas, das relações inter-ministeriais e inter-medidas e das responsabilidades nacionais-regionais; Em particular, no PO COMPETE, há espaço para uma melhoria de integração, nomeadamente em termos de coerência estratégica e de articulações operacionais entre o eixo do conhecimento e desenvolvimento tecnológico e os outros eixos prioritários, incluindo o eixo da inovação e renovação do modelo empresarial e do padrão de especialização; A predominância de um conceito amplo de inovação nas políticas públicas deve ser substituída por uma abordagem mais restrita e objectiva, baseada na especialização inteligente e numa maior selectividade; 29 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A implementação de instrumentos e recursos com o objectivo de superar falhas do mercado no financiamento da inovação empresarial, com especial enfoque nos fundos de capital de risco, deverá ser direccionada, cada vez mais, para os sectores transaccionáveis e para projectos de maior risco; Dadas as dificuldades na implementação dos sistemas de apoio financeiro a instrumentos de engenharia financeira, em parte resultantes de restrições formais possivelmente exageradas e de dificuldades resultantes da regulamentação dos Fundos Estruturais, deve ser dada grande atenção à adaptação dos mesmos em moldes mais compatíveis com a promoção de instrumentos de engenharia financeira; A necessidade de tal adaptação e flexibilidade pode ser largamente explicada pela relevância tradicional das subsídios não reembolsáveis no âmbito dos Fundos Estruturais Comunitários, assim como por uma preocupação exagerada na regulamentação formal dos apoios, em contraste com uma atenção relativamente menor prestada aos resultados e impactos. Este facto foi recentemente reconhecido pelo Relatório de Coesão da Comissão que anunciou o reforço dos mecanismos de engenharia financeira para o próximo periodo de programação; Devem ser estabelecidos fortes incentivos para melhorar a cooperação e a elaboração de uma agenda comum entre as empresas e a academia. Nas universidades, em particular, devem ser introduzidos os incentivos adequados para aumentar a parcela de recursos destinados à I&D aplicada; Deve ser estimulada a concentração de entidades de I&D, melhorando assim a visibilidade institucional e facilitando, igualmente, o processo institucional de internacionalização, acompanhando as empresas; A importância de um sistema de educação de alta qualidade, orientado para o conhecimento e para a criação de competências, necessita de ser levado em consideração a fim de expandir o capital humano baseado na acumulação de 30 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 competências de excelência transversais a uma ampla variedade de domínios e, cumulativamente, aumentar o nível médio de educação da força de trabalho. Este aspecto aumentará a competitividade da economia, estimulando o processo de I&D, a inovação e a internacionalização. Ao mesmo tempo, devem ser considerados incentivos que minimizem a fuga de cérebros e promovam o empreendedorismo qualificado; Devem ser melhorados os critérios que estão na base da distinção entre os PCT e outros clusters (estabelecido através do reconhecimento das EEC e da sua promoção), tendo em conta estratégias de especialização regional inteligente; a dimensão "orientação internacional" usada na referida distinção reflecte mal a realidade. Uma avaliação independente da implementação, conjugada com uma avaliação regular transparente de respectivas realizações, sucessos e dificuldades revela-se, assim, de grande importância; A concepção/formulação das políticas devem garantir que a recente tendência expansão e melhoria das redes e instrumentos de promoção da cooperação, tais como as Estratégias de Eficiência Colectiva, é sustentável no futuro; As vantagens da abordagem do tipo “demand-pull” justificam o foco contínuo nos mecanismos que ajudem o sector empresarial na intensificação da inovação e nas suas necessidades de I&D, procurando apoio em entidades de suporte externas. 31 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 IV. ESTUDOS DE CASO A presente secção é constituída por uma análise dos 5 estudos de caso seleccionados em Fevereiro de 2011 em articulação com a Comissão Europeia e as Autoridades Portuguesas - Bial, a Critical Software, a Frulact, a N-SEC e o CTCP -, que se apresentam como exemplos de sucesso de investigação empresarial, transferência de tecnologia e inovação. Esta escolha procurou cobrir diferentes tipos de inovação, diferentes actores (spin offs, PME, grandes empresas, infra-estruturas de suporte à competitividade, engenharia financeira), diferentes actividades económicas (não só emergentes e de maior intensidade em tecnologia mas, também, indústrias maduras de especialização tradicional) e diferentes dimensões de análise. O estudo de casos possibilita um entendimento mais profundo sobre a realidade operativa dos agentes de inovação portugueses no quadro do Sistema de I&D e Inovação, permitindo também mapear a rede de stakeholders associada, identificar padrões de interacções e de transferência de conhecimento e ainda identificar elementos facilitadores e inibidores da inovação. Da análise destes estudos de caso e das interacções com os respectivos líderes, ressaltam os seguintes aspectos comuns: Globalmente, a opinião sobre o sistema de suporte à inovação é positiva; o conjunto de instrumentos disponíveis é alargado o suficiente para satisfazer as necessidades das diferentes empresas e stakeholders; são necessários ajustes, mas é desaconselhável uma revolução, importando evitar essa tentação; A simplificação de processos e a concepção de regras mais claras e estáveis é importante para reduzir os custos de transacção; a burocracia constitui uma queixa recorrente, bem como os parâmetros de avaliação que deveriam envolver sempre uma componente ex-post; 32 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A optimização dos processos de inovação implica o estabelecimento de ligações entre universidades, unidades de I&D, infra-estruturas tecnológicas e outras empresas; o modus operandi das universidades e das unidades de I&D de matriz universitária encontra-se distorcido, penalizando a colaboração com empresas; acresce que a efectividade dessas ligações depende, fundamentalmente, da existência de capital relacional que, na maioria das vezes, não existe. Daqui resulta a relevância de promover programas de mobilidade de investigadores, fomentando o seu trânsito entre universidade e empresas, bem como o desenvolvimento de programas de doutoramento que coloquem investigadores nas empresas; estudantes e investigadores devem assumir-se como os principais pivots para o estabelecimento de ligações que possibilitem um efectivo networking; Em Portugal, as Estratégias de Eficiência Colectiva foram concebidas numa perspectiva top-down e fundadas em objectivos vagos; a heterogeneidade e o elevado número de agentes envolvidos em cada iniciativa, a par da ausência de histórico de colaboração e de capital relacional, resultam, até este momento, numa baixa densidade de interacções; a “construção de clusters” pode determinar benefícios significativos a longo prazo, mas, actualmente, os benefícios percebidos são considerados pouco relevantes ou abaixo das expectativas; O apoio à internacionalização é possível à luz dos regulamentos que regem o FEDER, limitação que é aceite pelos empresários; no entanto, as empresas consideram que seria interessante dispor de um sistema de incentivos simples que apoiasse a participação em projectos transnacionais e concebido à escala Europeia; algumas das Redes Europeias existentes carecem da afectação de um envelope financeiro que potencie o seu impacto; Os instrumentos de engenharia financeira de suporte à inovação, de expansão em fase de arranque e de internacionalização são insuficientes; o capital de risco é ainda escasso e operado segundo o modelo da banca tradicional, afectando recursos a projectos de 33 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 risco baixo; não existe, por conseguinte, um adequado sistema financeiro de suporte a projectos de elevado conteúdo inovador, de suporte a projectos de expansão cruciais para a consolidação de novas empresas de base tecnológica e também de suporte à sua internacionalização; no que respeita ao desenvolvimento da I&D e inovação em fase de arranque, (ou "early stage"), o sistema de subsídios directos do FEDER tem contribuido para minimizar esta deficiência do sistema português de inovação. As subsecções seguintes sumariam as principais conclusões retiradas da análise dos estudos de caso (ver Anexo 2 para uma versão mais detalhada de cada um dos casos). Estas subsecções encontram-se organizadas com base em 5 eixos principais: Breve caracterização Principais características do processo de inovação Ligações, interacções e eficiência colectiva Natureza do sistema de incentivos Internacionalização Instrumentos de engenharia financeira IV.1. Bial Breve caracterização Actividade Intensidade tecnológica Dados financeiros - Produção de produtos farmacêuticos Alta Vendas em 2010: €120,5M 786 (em 2010) Empregados 64% com ISCED 4 ou superior Unidades de I&D em Espanha e Itália Vendas em mais de 40 países Internacionalização Devido a restrições de escala, a Bial licenciou a outras empresas farmacêuticas a distribuição do seu novo fármaco nos mercados dos EUA e Europeus - Percentagem de vendas fora de Portugal (2010): 32% Performance - Vendas aumentaram 38% (2004 a 2009) - 300 novos postos de trabalho criados, 50 em I&D Principais características do processo de inovação Base de conhecimento - Analítica Tipo de inovação - Radical / Produto 34 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Forças motrizes - Capacidades internas de I&D - Muito longo (14 anos) e baseado na criação de novo conhecimento através de Ciclo de inovação I&D Inputs - Empregados em actividades de I&D (ETI): 95 - Despesa em I&D em percentagem do volume de negócios: 46% - 205 patentes internacionais no período de referência Outputs - 1 novo fármaco em comercialização - 6 novos fármacos em ensaios clínicos Ligações, interacções e eficiência colectiva - Ligações com as universidades são importantes para aceder a fontes-chave de conhecimento - Os prémios académicos patrocinados pela Bial ajudaram a reforçar as ligações à Ligações academia e a estimular investigação mais direccionada - O recrutamento de investigadores seniories e os programas doutorais em ambiente empresarial (ao nível europeu) devem ser estimulados - Só a montante: Importante para aceder e adquirir os resultados de I&D Networking I&D fundamental que serve de base à investigação da Bial. - O processo de inovação é conduzido totalmente pela Bial. - Relevância limitada dos processos de transferência de tecnologia Transferência de tecnologia - Competências internas são significativas e a necessidade de absoluto segredo limita a colaboração com as universidades anterior à obtenção de uma patente - A Bial é um dos membros fundadores da EEC Health Cluster Portugal, sendo o seu anterior CEO, Luís Portela, o seu presidente Estratégia de Eficiência - Esta é uma iniciativa top-down da qual a Bial não espera retirar benefícios Colectiva (EEC) imediatos. Todavia, considera-se que o Health Cluster pode assumir um papel relevante na definição das políticas de saúde, bem como na coordenação de acções a este nível Natureza do sistema de incentivos - Devido ao seu longo ciclo de inovação, a Bial tem de fragmentar o seu processo de inovação para se adequar aos prazos usuais dos apoios comunitários Projectos apoiados pelo - De 2004 a 2010, a Bial viu aprovados 9 projectos correspondendo a um QREN investimento superior a €278M e a uma subvenção de cerca de €95M - Também apresentou candidaturas de projectos a sistemas de apoio equivalentes em Espanha - Positiva: o co-financiamento pelo FEDER foi crucial para a evolução da Bial até ao estágio de criadora de fármacos ao invés de simples produtora - A formatação “one size fits all” dos instrumentos de incentivos é particularmente inadequada para projectos com ciclos de inovação longos e muito exigentes em Avaliação Global matéria de investimento - As necessárias restrições da partilha e utilização de informação no âmbito dos contratos de Consórcio de I&D, constituem limitações ao desenvolvimento de projectos colaborativos Previsibilidade - Não é uma questão relevante dada a longa duração do ciclo de inovação - A Bial considera que a burocracia aumentou no QREN por comparação com os Burocracia QCA anteriores, elevando assim os custos de transacção - Os instrumentos são, globalmente, adequados mas deveriam ser introduzidos Adaptabilidade/Flexibilidade mecanismos que possibilitassem a sua adaptação a indústrias consideradas “não ortodoxas”, como é o caso da indústria farmacêutica - O enfoque na "propensão exportadora"é adequado mas pode, potencialmente, levar a distorções na avaliação dos projectos, penalizando inovações mais Avaliação radicais, cujo "time-to-market" dificulta estimativas não-especulativas sobre o seu potencial exportador 35 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Internacionalização - As regras subjacentes aos instrumentos suportados pelo FEDER impõem limites ao apoio à promoção e distribuição em mercados estrangeiros - A experiência com o Sistema de Incentivos em Espanha envolveu projectos de Comparação com outros menor escala. Não obstante, a percepção é de uma maior simplicidade e rapidez sistemas de apoio na candidatura e subsequente gestão. Instrumentos de engenharia financeira - A escassez de capital de risco constituiu uma restrição à inovação, atrasando a Financiamento à inovação e evolução tecnológica da Bial à internacionalização - O Sistema de Incentivos foi a principal alavanca para o desenvolvimento do primeiro fármaco “made in Portugal” Apoio à internacionalização IV.2. Critical Software Breve caracterização - Desenvolvimento de soluções altamente especializadas de software e de sistemas COTS (ex. Sistemas incorporados e em tempo-real, comando e controle, suporte integrado de logística, segurança e infra-estruturas, validação e RAMS) Intensidade tecnológica - Alta Dados financeiros - Vendas em 2010: €18,4M Empregados - 407 (em 2010), 96% com ISCED 4 ou superior - Escritórios em Portugal, EUA, RU, Roménia, Brasil e Moçambique Internacionalização - Percentagem de vendas em mercados estrangeiros (2010): 60% Performance - Vendas aumentaram 409% (2004 a 2009) - 330 novos postos de trabalho criados, 100 em actividades de I&D Principais características do processo de inovação Base de conhecimento - Analítica Tipo de inovação - Produto - Competências internas em I&D e desenvolvimento de produto Forças motrizes - “Pull” de utilizadores avançados (ex. Nasa, CERN, ESA) Ciclo de inovação - Curto (1 a 3 anos) Inputs - Empregados em actividades de I&D (ETI): 113 - Despesas em I&D em percentagem das vendas: 28% - 5 spin-offs: Critical Links, Critical Materials, Critical Health, Critical Manufacturing Outputs e Critical Move Ligações, interacções e eficiência colectiva - A Critical é uma start up universitária com fortes ligações a instituições académicas que actualmente funcionam como parceiras em projectos de I&D e, simultaneamente, como a sua principal bolsa de recrutamento Ligações - Foram estabelecidos Memorandos de Entendimento e protocolos de cooperação com a maioria das universidades Portuguesas e, de forma crescente, também com universidades estrangeiras (ex. Universidade de Southampton, London School of Economics, Universidade de São Paulo) - Estabelecido caso a caso em função de necessidade, em projectos de inovação específicos, de acesso a bases de conhecimento nas instituições académicas Networking I&D - Engloba a maioria dos estádios dos processos de I&D e desenvolvimento de produto - As interacções e a transferência de tecnologia são importantes para a Critical, permitindo-lhe complementar as suas competências internas Transferência de tecnologia - Apesar de um esforço recente para melhorar os interfaces com as empresas, a Critical considera que as Universidades Portuguesas continuam distantes das Actividade 36 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 - Estratégia de Eficiência Colectiva (EEC) - Natureza do sistema de incentivos empresas, percepcionando a generalidade dos gabinetes de transferência de tecnologia como ineficazes Por esta razão, a Critical explora uma rede mais informal, a qual serve de base ao desenvolvimento inicial de projectos de I&D colaborativos Relativamente aos DPIs, a Critical Software tem estabelecido acordos com a maioria das Universidades Portuguesas, prevendo royalties A Critical está envolvida no Health Cluster, no PCT para a Energia e no PCT TICE Baixa densidade de interacções entre os parceiros, concomitante a uma abordagem top-down excessivamente lata em matéria de objectivos e associados Os benefícios expectáveis não são, de momento, relevantes - De 2004 a 2010, a Critical desenvolveu 31 projectos apoiados por quadros de referência estratégicos e 7 outros projectos apoiados pelo FP7 Projectos apoiados pelo QREN - Estes projectos totalizaram um investimento de 17M, com um média por projecto de, aproximadamente, €500K - Também apresentou candidaturas a sistemas de incentivos em Espanha Avaliação Global - Positiva: na ausência de instrumentos de engenharia financeira de apoio à inovação, o apoio FEDER revelou-se fundamental para o desenvolvimento de actividades de I&D e de desenvolvimento inicial de produto na maioria dos projectos de inovação promovidos pela Critical e que geraram spin-offs Previsibilidade - Maior previsibilidade e estabilidade nas regras facilitaria o planeamento e a implementação de projectos inovadores Burocracia - A burocracia, quer na fase de candidatura, quer na fase de monitorização, é considerada excessiva Adaptabilidade/Flexibilidade - O espectro de instrumentos é, globalmente, adequado Avaliação - Sem reparos específicos Internacionalização Apoio à internacionalização - As restrições na aplicação do FEDER limitam a promoção e distribuição em mercados estrangeiros Comparação com outros sistemas de apoio - O FP7 é percebido como sendo mais simples e fundado em regras mais claras e estáveis Instrumentos de engenharia financeira - O capital de risco é limitado, especialmente em early stages Financiamento à inovação e à internacionalização - Os instrumentos financiados pelo FEDER têm actuado como facilitadores e aceleradores de projectos de I&D e Inovação que, de outra forma, não teriam sido possíveis - Para ultrapassar a dificuldade de acesso a capital de risco e reduzir a dependência dos apoios FEDER, foi criada a Critical Ventures – um fundo de capital de risco com €10M, sob a forma de um corporate capital fund cujo objectivo é investir em empresas de base tecnológica em estádios iniciais de desenvolvimento (spin-offs e spin-ins) 37 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 IV.3. Frulact Breve caracterização - Transforma fruta em preparados que são adicionados a produtos lácteos, compotas, gelados e sobremesas - Opera no segment B2B Intensidade tecnológica - Baixa Dados financeiros - Vendas em 2009: €462,4M Empregados - 402 (em 2009), 45% com ISCED 4 ou superior - Mercados: França, Espanha, Marrocos, Argélia, Egipto Internacionalização - Percentagem de Vendas no estrangeiro (2009): 93% Performance - Vendas aumentaram 340% (2004 a 2009) - 179 novos empregos criados, 12 em actividades de I&D Principais características do processo de inovação Base de conhecimento - Sintético Tipo de inovação - Incremental / Produto e processo - Competências internas Forças motrizes - “pull” de utilizadores avançados Ciclo de inovação - Curto (6 a 12 meses) e baseado em I&D aplicada e desenvolvimento de produto Inputs - Empregados em actividades de I&D (ETI): 36 - Despesas em I&D em percentagem das vendas: 2,3% - 2 patentes Outputs - 2000 novos produtos (maioritariamente, inovações incrementais) anualmente, dos quais cerca de 20% vêm a ser comercializados Ligações, interacções e eficiência colectiva - Capital relacional fundamental para as parcerias estabelecidas. O padrão de colaborações da Frulact com a academia está associado ao capital relacional do seu director de I&D, ele próprio um Professor Universitário - Considera necessária a promoção de um Programa de mobilidade de Ligações Investigadores - Principal óbice: os incentivos à colaboração universidade-empresa estão distorcidos. As diferenças de agendas levam a um desajuste entre as prioridades e os ritmos de desenvolvimento dos projectos de inovação - Apenas a montante: importante para aceder e adquirir conhecimento. Nas fases Networking I&D subsequentes do processo inovativo, tudo é internalizado em face da exigência de absoluto segredo - A eficácia dos processos de transferência de tecnologia é condicionada pelos contratos de consórcio que estabelecem a possibilidade de utilização e divulgação Transferência de tecnologia do conhecimento por parte do parceiro académico; - Um aspecto negligenciado e de grande relevância é o apoio a transferência de tecnologia inter-sectorial (i.e., tecnologias disponíveis em diferentes sectores) - A Frulact é associada do PCT agro-alimentar. O CEO da Frulact é o actual presidente da EEC Estratégia de Eficiência - As EEC são um esforço de coordenação e organização para fomentar um cluster Colectiva (EEC) que não existe no terreno - Os benefícios esperados pela Frulact a curto prazo são nulos Natureza do sistema de incentivos - 8 projectos aprovados, envolvendo um investimento superior a €1,5M Projectos apoiados pelo - Participação em redes Europeias (EUREKA) bem como em projectos aprovados QREN pelo FP7 e por instrumentos de suporte à inovação em França Avaliação Global - Opinião globalmente positiva, considerando-se o espectro de instrumentos capaz Actividade 38 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Previsibilidade Burocracia Adaptabilidade/Flexibilidade Avaliação de responder às necessidades das empresas - No entanto, considera-se que podem ser melhorados os actuais instrumentos disponíveis - Uma mudança radical é desnecessária e indesejável - O calendário dos avisos não está claramente definido, dificultando o planeamento - Os custos de transacção relacionados com burocracia são considerados aceitáveis - O espectro de instrumentos disponível é alargado, garantindo o enquadramento dos diferentes projectos da Frulact - A avaliação dos projectos tende a concentrar-se em estimativas ex-ante e não inclui uma componente ex-post. Este facto promove a adopção de posturas excessivamente optimistas - Procedimentos de avaliação ex-post são muito importantes e necessários para disciplinar a procura, mas estão ausentes Internacionalização - Apoio financeiro à internacionalização é insuficiente - As redes transeuropeias deveriam ter associado um envelope financeiro - A experiência na utilização de outros programas de apoio, nomeadamente o FP7 Comparação com outros ou programa de apoio à inovação em frança, é considerada equivalente ou pior sistemas de apoio - Também nesses instrumentos se verificam os problemas associados à avaliação e à burocracia Instrumentos de engenharia financeira - Restrição grave à inovação e internacionalização em Portugal, nomeadamente, no que concerne os instrumentos de engenharia financeira disponíveis: o Capital de risco é quase inexistente e segue o perfil operativo da banca tradicional Financiamento à inovação e o O financiamento dos projectos de inovação e internacionalização da à internacionalização Frulact foi obtido junto da banca tradicional, inadequado e com custos financeiros elevados - O apoio do QREN contribui para minimizar esta debilidade, embora apenas parcialmente e para empresas já com capacidade financeira consolidada Apoio à internacionalização IV.4. N-SEC Breve caracterização - Fornecedor especializado de soluções de segurança para Service Providers, ISPs e outras empresas - Criada em 2006 Intensidade tecnológica - Alta Dados financeiros - Vendas em 2010: €952K - 20 (em 2010) Empregados - 100% com ISCED 4 ou superior - Opera em 22 países em regime de gestão na “nuvem” Internacionalização - Percentagem de Vendas no estrangeiro (2010): 19% Performance - Vendas aumentaram 495% (2004 a 2009) - 14 novos empregos criados, 3 em I&D Principais características do processo de inovação Base de conhecimento - Analítico Tipo de inovação - Produto - Capacidade interna garante o desenvolvimento de 95% da I&D Forças motrizes - Aquisição de tecnologia via acordos de licenciamento foi muito relevante Actividade 39 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Ciclo de inovação Inputs - Curto - Empregados em actividades de I&D (ETI): 4 - Despesas em I&D em percentagem das vendas: 25% Outputs - 2 marcas Ligações, interacções e eficiência colectiva - Não existem ligações a universidades ou outras empresas à excepção das Ligações estabelecidas via licenciamento - As soluções de IT resultam de I&D interna e da integração de tecnologias externas Networking I&D - Não existem redes colaborativas formais mas a colaboração com utilizadores avançados é importante - Transferência de tecnologia envolve a aquisição de tecnologia de outras empresas Transferência de tecnologia ou a utilização de tecnologias open source - A N-SEC é associada do PCT TICE - Não antecipa qualquer benefício do PCT TICE visto considerar a estratégia vazia Estratégia de Eficiência de conteúdo Colectiva (EEC) - A PCT TICE não se funda em nenhum plano de acção que promova parcerias, monitorização tecnológica e/ou de mercado Natureza do sistema de incentivos Projectos apoiados pelo - 1 projecto de I&D QREN Avaliação Global - Muito positivo. O sistema de incentivos à I&D e à inovação foi crucial para alavancar um investimento que de outra forma não seria possível. O apoio FEDER acelerou o ritmo de inovação Previsibilidade - Nenhuma referência foi feita a este nível Burocracia - A complexidade e a burocracia associada aos Sistema de Incentivos traduz-se em custos de transacção particularmente elevados para uma nova empresa de base tecnológica Adaptabilidade/Flexibilidade - Operando num mercado de elevada volatilidade, a NSEC gostaria que, de alguma forma, o Sistema de Incentivos pudesse contribuir para acomodar essa volatilidade Avaliação - NSEC apresentou apenas 1 projecto que obteve aprovação. Para além das questões burocráticas, não foram levantadas quaisquer outras questões Internacionalização Apoio à internacionalização - O desafio da internacionalização, iniciado em 2009, foi abraçado através do estabelecimento de operações remotas. Nesse sentido, o apoio à internacionalização não foi relevante Comparação com outros - N-SEC não detém experiência em outros quadros de apoio sistemas de apoio Instrumentos de engenharia financeira - Um dos principais problemas de novas empresas de base tecnológica no contexto do sistema Português de Inovação é a ausência de instrumentos adequados de engenharia financeira Financiamento à inovação e à internacionalização - O capital de risco é inexistente e os instrumentos financiados pelo FEDER foram fundamentais para o desenvolvimento dos projectos de I&D - Todavia, dado o sistema de incentivos não estar formatado para suprir as carências em capital de risco, o ritmo de transferência da subvenção cria dificuldades 40 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 IV.5. CTCP Breve caracterização Actividade Intensidade tecnológica Dados financeiros Empregados Internacionalização - Instituição de interface tecnológico visando o co-desenvolvimento de tecnologia e a sua transferência, com enfoque na indústria do couro e calçado - Desenvolve I&D aplicada e desenvolvimento de produto, mas também apoio técnico e certificação de produto - Não aplicável ao CTCP (para a indústria do couro e calçado: baixa) - Vendas em 2010: €2,6M - 47 (em 2010), 79% com ISCED 4 ou superior - Internacionalização não constitui um objectivo; contudo, a excelência do CTCP leva a que preste serviços técnicos e tecnológicos a outras empresas europeias Performance - Vendas aumentaram em 30% e 10 novos empregos foram criados (2004 a 2009) Principais características do processo de inovação Base de conhecimento - Sintético - Sobretudo inovações de processo, embora também algumas inovações de Tipo de inovação produto, em particular associadas ao desenvolvimento de novos materiais - Capacidades internas e missões de demonstração tecnológica Forças motrizes - “pull” de Mercado, sobretudo para resolução de problemas ou upgrades Ciclo de inovação - Curto (6 to 12 months) - Empregados em actividades de I&D (ETI): 15 Inputs - Despesas em I&D em percentagem das vendas: 15% (média para o período200409) Outputs - 13 patentes, 100 novas máquinas e 25 novos materiais Ligações, interacções e eficiência colectiva - O CTCP visa facilitar a ligação das empresas às universidades - A indústria do couro e calçado apresenta baixa capacidade de absorção tecnológica. Por seu lado, o sistema de incentivos académico não estimula a cooperação Ligações - O CTCP tem conseguido coordenar projectos envolvendo empresas e um conjunto pequeno de unidades de I&DT, como o INESC e o PIEP - Os projectos colaborativos são, preferencialmente, desenvolvidos em função do capital relacional já estabelecido, bem como de uma postura institucional mais favorável à colaboração universidade-empresa - As ligações ao INESC, ao PIEP e às universidades possibilitam a aquisição de conhecimento, minorando as limitações em matéria de capacidade de I&D Networking I&D internas - Os projectos são sempre desenvolvidos em parceira com os seus destinatários - Acordos de consórcio e questões relativas a DPIs não constituem um problema nesta indústria Transferência de tecnologia - Encurtar a distância entre universidades e empresas permanece uma questão crítica na facilitação de transferência de tecnologia - O CTCP é associado do PCT da Moda - Os benefícios resultantes da EEC são limitados Estratégia de Eficiência - A densidade de interacções e a homogeneidade tecnologia/produto é Colectiva (EEC) consideravelmente mais elevada no sector do calçado do que na indústria têxtil e do vestuário - Esta heterogeneidade dificulta a coordenação de acções Natureza do sistema de incentivos Projectos apoiados pelo - 11 projectos de I&D em consórcio 41 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 QREN Avaliação Global Previsibilidade Burocracia Adaptabilidade/Flexibilidade Avaliação - 1 projecto mobilizador - Beneficiário indirecto de um número elevado de Vales Inovação - Muito positiva. O quadro de apoio está bem estruturado e oferece um espectro alargado de instrumentos - Não é necessária qualquer alteração de fundo em futuros quadros de apoio, mas apenas pequenos ajustes - É um dos problemas do quadro de apoio - A falta de previsibilidade dificulta o planeamento - Permanece como um dos principais problemas dos quadros de apoio ainda que agora existam instrumentos “mais leves”, como os vouchers, por exemplo. - O espectro de instrumentos assegura a flexibilidade necessária - Os vouchers constituem um instrumento muito útil e simples - O apoio a programas de formação em ambiente empresarial seria mais útil do que apoios a infra-estruturas de formação não articuladas e desactualizadas - Deveria ser corrigido o enviesamento favorável a indústrias e temas mais “sexy” - Os critérios deveriam impor uma maior selectividade, colocando a tónica nas indústrias exportadoras - A avaliação deveria controlar os resultados ex-post de forma a obviar a estimativas irrealistas Internacionalização - Os instrumentos actualmente disponíveis para a promover a internacionalização da indústria são adequados (acções imateriais) Apoio à internacionalização - Os mecanismos financeiros de suporte à internacionalização são ainda uma das questões que necessita solução - Mantém-se válido o que ficou dito antes sobre a avaliação Comparação com outros - Os níveis de burocracia em programas transnacionais são tão ou mais elevados do sistemas de apoio que em Portugal Instrumentos de engenharia financeira - Principal fraqueza do Sistema de Inovação português, dificultando o desenvolvimento de projectos inovadores de maior risco Financiamento à inovação e - Afecta também as estratégias de internacionalização, dificultando a promoção de à internacionalização novas empresas de base tecnológica enquanto spin-offs de projectos de I&DT desenvolvidos pelo CTCP V. BENCHMARKING INTERNACIONAL Os casos de referência internacionais (benchmarks) seguidamente apresentados ilustram exemplos de sucesso de políticas e instrumentos de promoção da inovação e I&D empresarial, incluindo transferência de conhecimento, implementados quer em países da UE, quer em países exteriores à UE. Estas melhores práticas foram seleccionadas com base na sua relevância para o caso português, nomeadamente tendo em conta as principais conclusões apresentadas nas duas secções anteriores – diagnóstico da situação actual e estudos de caso. Embora a maioria, senão mesmo todos, os casos de referência apresentados sejam dificilmente repetíveis ou passíveis de 42 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 replicação, podem ainda assim fornecer experiências e lições valiosas sobre políticas e instrumentos eficazes para melhorar a I&D e inovação empresarial. A fim de melhor captar o seu valor, a análise é predominantemente focada em exemplos e, dentro de cada exemplo, nas particularidades fundamentais que mais se relacionam com os principais desafios e lacunas identificados no caso português, proporcionando uma fonte de inspiração tangível e pragmática, suportada em abordagens e ideias alternativas. V.1. Small Business Innovation Research Program (Estados Unidos) Lançado em 1982, o Small Business Innovation Research Program (SBIR) utiliza os contratos públicos como forma de promover directamente a I&D e inovação empresarial. O orçamento do SBIR representa 2,5% dos orçamentos para I&D externa de todas as maiores agências federais dos EUA (mais de $2.000 milhões anuais). Consiste num sistema altamente competitivo repartido em três fases de atribuição de fundos, que fornece a pequenas empresas qualificadas a oportunidade de proporem ideias inovadoras em resposta a necessidades específicas do governo federal enquanto cliente de I&D. Os concursos são lançados por cada agência duas a quatro vezes por ano, garantindo processos de candidatura e contratos de I&D simples, standardizados e céleres (complementados, em alguns casos, por subsídios para investigação aplicada), bem como total transparência e responsabilidade relativamente a temas e atribuição de prémios e valores a vencedores. Todos estes processos são estruturados com base na referida abordagem faseada, normalmente: Fase I: $100.000 para um estudo de viabilidade de 6 meses; Fase II: $750.000 para um programa de desenvolvimento de 2 anos; Fase III: Implementação da inovação por parte do sector público e subsequente financiamento de I&D, possível através dos orçamentos não-SBIR das agências envolvidas. O programa SBIR, que ao longo dos anos tem demonstrado ser mais importante que o próprio capital de risco para start-ups do sistema de Ciencia e Tecnologia, está organizado como um 43 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 fundo de capital semente (sendo norma a concessão de 100% dos fundos necessários). É normalmente baseado em contratos empresariais individuais, sendo permitido a cada empresa celebrar, por ano, múltiplos contratos paralelos com diferentes agências. Não existem prérequisitos para colaboração e as empresas vencedoras detêm a PI do I&D que lhes foi contratado. Em média, são atribuídos anualmente cerca de 4.000 contratos SBIR a 1.500 empresas americanas, das quais 70% emprega menos de 25 pessoas e várias são start-ups. São exemplos de contratos SBIR: tecnologia de reconhecimento de voz para controlo de tráfego aéreo (Marinha Americana); "data mining" e gestão da informação (National Science Foundation); métodos inovadores para o fabrico de produtos farmacêuticos e para a respectiva garantia de qualidade (National Cancer Institute); ferramenta de diagnóstico para a doença de von Willebrand (National Heart, Lung and Blood Institute); ciências da alimentação e nutrição, ex. novas e/ou mais rápidas tecnologias de testes para componentes alimentares (US Department of Agriculture). O SBIR tem sido a base para o desenvolvimento de programas semelhantes em outros países, nomeadamente na Europa, onde o modelo standard de capital de risco não tem provado ser financeiramente viável para investidores em empresas em estádio inicial, pelo menos não sem financiamento complementar, e onde, como resultado, muitas novas PMEs de sucesso de base tecnológica têm adoptado um modelo “soft” baseado em contratos de I&D com clientes do sector privado. De facto, reconhecendo a relevância futura deste tipo de mecanismos de promoção de I&D centrados na contratualização pública, na sequência de um piloto FP7 com um orçamento anual de €100m entre 2010 e 2013, a Comissão Europeia actualmente prevê estabelecer no âmbito do FP8 um programa quadro específico para estimular o lançamento de concursos para “Contratos de Inovação Governamental” em cada Estado-Membro da UE. Seguindo a mesma filosofia demand-driven, o programa Technology and Human Resources for Industry da Africa do Sul é outro esquema de contratualização comparável, embora com uma abordagem inversa – destinado exclusivamente a universidades e institutos de investigação, 44 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 centra-se no financiamento competitivo de I&D que responda especificamente a um conjunto de necessidades de empresas e do sector público. Involve igualmente a mobilidade de investigadores, através da colocação obrigatória de membros da equipa de investigação na entidade cliente durante a duração dos respectivos contratos de I&D. V.2. Yozma (Israel) Embora não facilmente repetível, a experiência Yozma, na qual o governo assumiu o papel de catalizador, actuando como parceiro passivo e activo da indústria de capital de risco, pode ainda assim fornecer algumas lições valiosas para o desenvolvimento de mecanismos de engenharia financeira similares em outros contextos. O Gabinete do Cientista Chefe (Office of Chief Scientist - OCS) do Ministério da Indústria e Comércio lançou o Yozma como um “fundo de fundos” em 1993, com um orçamento de $100 milhões. Enquanto complemento dos esforços governamentais em inovação e I&D, o Yozma centrou a sua actuação em investimentos de fase inicial (assim como, mais tarde, no colmatar de lacunas ao nível do financiamento subsequente - “late financing gap”), através: i) da tomada de posições directas de investimento em 15 start-ups tecnológicas; ii) da criação de dez fundos ‘‘dropdown’’ de capital de risco de montante individual de $ 20-25 milhões, pressupondo cada fundo o envolvimento obrigatório, enquanto parceiros estratégicos, de uma instituição estrangeira de capital de risco em colaboração com uma bem estabelecida instituição financeira israelita, sendo, no entanto, o próprio fundo uma organização completamente nova, não detida por qualquer instituição financeira existente (promovendo assim a concorrência no mercado de capital de risco). A iniciativa Yozma contribuiu para 40% do montante total de investimento dos dez fundos, criando um total de $ 210 milhões para investimentos em start-ups – com um investimento por start-up entre $0.5 e $3 milhões, complementados com fundos adicionais à medida que cada empresa se aproximava de uma Oferta Pública Inicial (Initial Public Offering - IPO) ou de uma venda privada. 45 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Com gestão privada, o Yozma centrou a sua estratégia de investimento em pequenas empresas tecnológicas activas em áreas com forte potencial de crescimento, como as TIC e as tecnologias médicas. Forneceu fundos em troca de participações de capital, participou nos conselhos de administração do seu portfolio de start-ups, monitorizou a sua performance e apoiou as empresas no recrutamento de pessoal, preparação dos planos de negócio, obtenção de financiamento adicional, desenvolvimento de redes de negócio e de alianças corporativas internacionais (essa rede de contactos internacionais e alianças, por sua vez, fizeram a diferença entre o sucesso e o fracasso no mercado das IPO). Como forma de minimizar e partilhar o risco, o Yozma oferecia aos investidores estrangeiros opções de seguro para coberturas de risco até 80% da sua exposição a estes pequenos fundos, bem como contratos de opção de compra (call option) sobre as acções detidas pelo governo, a preço de custo (mais juros) por um período de 5 anos. Assim, o Yozma não se limitou a proporcionar aos investidores incentivos de partilha de risco, mas forneceu igualmente um upside incentive (os investidores privados podiam alavancar os seus lucros pela aquisição das acções detidas pelo Governo nas empresas). Em oito dos dez novos fundos de capital de risco criados, quer os parceiros gerais quer os limitados exerceram essa opção de compra, e nove das 15 empresas que beneficiaram de investimento directo do Yozma ou sofreram IPOs ou foram adquiridas. Os incentivos de “upside” estimularam igualmente a entrada de empresas e gestores de capital de risco profissionais. Adicionalmente, durante este período ocorreu um processo significativo de imitação por parte de outras empresas privadas de capital de risco. Tal provocou fortes processos de aprendizagem colectiva, os quais contribuíram para a obtenção da massa crítica que tornou este processo eficaz e auto-sustentável. O fundo Yozma foi privatizado em 1997, como inicialmente previsto no seu plano de criação. V.3. Juro Zero (Brasil) Lançado em 2006 pela FINEP - Financiadora de Estudos e Projectos (uma empresa pública criada por iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia), o Programa Juro Zero financia micro, 46 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 pequenas e medias empresas (MPMEs com volumes de facturação anual até BRL 10,5 milhões [€4,6 milhões]), em sectores alvo, que tentam implementar projectos inovadores – inovações de gestão, comerciais ou técnicas em produtos, serviços ou processos. Qualquer item relacionado com inovação técnica e com novos investimentos indicado no plano de negócios da empresa é elegível para financiamento por este programa, particularmente indicado para inovação mais incremental, de tipo Doing, Using and Interaction (DUI). O Programa consiste na oferta de empréstimos, que variam entre BRL 100.000 e BRL 900.000 (aprox. €44.000-400.000); estes empréstimos são reembolsáveis em 100 prestações mensais sem qualquer pagamento de juros. As taxas de spread são totalmente subsidiadas enquanto não existam atrasos nos pagamentos acordados, embora possam subir até um spread máximo de 10% em consequência da aplicação de um rigoroso mecanismo de dissuasão de atrasos de pagamento – combinando duração e frequência dos atrasos e pressupondo a exposição pública das empresas em incumprimento. O Programa Juro Zero não requer qualquer colateral ou outro tipo de garantia por parte da MPME requerente, dado a FINEP ter desenhado um mecanismo alternativo para lidar com a gestão de risco, segundo o qual cada empréstimo é coberto pelo seguinte sistema compósito de garantia contra default: 20% da verba é coberta por via da responsabilidade pessoal directa dos sócios da empresa que está a contrair o empréstimo; 30% é coberta por um fundo global de reserva, constituído por 3% de cada operação de empréstimo (que, no caso de o processo correr bem, é restituído a cada empresa no final do contrato); Os restantes 50% são cobertos por um fundo de garantia de crédito compost por recursos angariados pelos parceiros estratégicos da FINEP em cada um das regiões seleccionadas para a implementação do programa. Estes parceiros estratégicos, seleccionados em cada região / local através de um processo aberto e competitivo, desempenham igualmente um papel determinante na redução da 47 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 burocracia, agindo como agentes intermediários responsáveis pela pre-qualificação de projectos, depois de devidamente treinados pela FINEP. Apenas projectos submetidos online e aprovados pelos parceiros estratégicos são propostos à FINEP. O Programa Juro Zero está actualmente a ser implementado por uma rede de agentes locais em nove estados do Brasil (ex. Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Grande Florianópolis, Paraná). V.4. Medicon Valley Alliance (Dinamarca & Suécia) A criação em 1995 da Medicon Valley Academy (MVA, actualmente Medicon Valley Alliance), enquanto um projecto UE Interreg II das universidades de Lund e Copenhaga, foi o primeiro esforço real de promoção do Medicon Valley como um cluster transfronteiriço integrado de ciências da vida entre a Dinamarca e a Suécia na região bi-nacional de Øresund. A lógica inicial subjacente à MVA era promover e fortalecer a integração local e transfronteiriça, bem como a fertilização cruzada entre a indústria e a academia. Na sua fase inicial, a iniciativa MVA contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do cluster, em particular devido ao seu poder de atracção de capital de risco, de fundos de investigação e de capital humano, organizando conferências e eventos de networking, iniciando e coordenando projectos associados com actividades educativas, científicas e empresariais na região, bem como gerindo abrangentes bases de dados de conhecimento e lançando vários grupos de trabalho para analisar as competências regionais em areas temáticas específicas. No entanto, num segundo momento, vários membros empresariais do cluster foram gradualmente percepcionando as actividades de “promoção de rede” da MVA como estando a perder um resultado mais focado e mais substantivo em termos de nova colaboração formal, enquando os actores académicos sentiam uma crescente alienação relativamente ao que lhes parecia estar a transformar-se “no negócio das empresas locais”, em oposição a actividades em que pudessem participar. Adicionalmente, as circunstâncias também mudaram, tornando a força das ligações do cluster (em particular das ligações internacionais estabelecidas) cada vez mais relevantes que os 48 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 factores meramente físicos de agregação / localização. Embora esses últimos fossem ainda de fundamental importância, não eram já, por si só, um factor decisivo para os clusters regionais, designadamente devido aos contínuos progressos na área das TIC. Em particular no caso das ciências da vida, os actores são actualmente, por necessidade, parte integrante de comunidades globais de investigação e inovação, mais do que apenas membros de comunidades regionais. Devido à sua extrema especialização, são forçados a procurar colaborações entre os poucos potenciais parceiros disponíveis na arena global, que muitas vezes apenas podem ser encontrados em megacentros globais de bio-tecnologia (Moodysson and Jonsson, 2007). Consequentemente, em 2006, a MVA adaptou a sua estratégia por forma a melhor dar resposta aos requisitos dos seus membros no sentido de um enfoque mais dedicado ao reforço das suas ligações internacionais e à promoção, a nível global, da sua investigação de classe mundial, iniciando “uma colaboração sinérgica com outras bio-regiões e organizações e, conjuntamente com outros, promover a marca Medicon Valley, bem como toda a região Øresund, local e globalmente” (MVA, 2006). Como parte deste recente esforço de reposicionamento, a MVA estabeleceu filiais (“embaixadas”) em Kobe, Vancouver, Seul e Pequim. Iniciou igualmente em 2005 o “UK-Medicon Valley Challenge Program”, com o objectivo de promover o intercâmbio de investigação e a interacção entre as organizações do cluster de Medicon Valley e dos clusters de bio-tecnologia de Cambridge, Londres, Liverpool – Manchester e Edimburgo. Dentro deste programa, desenvolveu actividades concretas e direccionadas incluindo seminários conjuntos, troca de experiências entre membros da administração da MVA e das suas congeneres do Reino Unido, candidaturas conjuntas a programas do FP6 incluindo parceiros MVA e parceiros ingleses, bem como um programa de post-doc UK-Medicon Valley. A visão de longo prazo desta colaboração pretende, de acordo com a MVA, criar “uma ponte aérea entre Medicon Valley, Londres e Cambridge, dando aos jovens cientistas de Copenhaga e Lund a oportunidade de experimentar esses hotspots sem terem que deslocar familias e sem 49 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 terem que se preocupar com preços de habitação exorbitantes”, segundo o seu president Per Belfrage. A MVA é uma associação sem fins lucrativos (280 membros no final de 2007), predominantemente financiada com base nas receitas geradas através de quotas pagas pelos membros. No entanto, o financiamento publico ainda representa cerca de metade da sua facturação anual (aprox. €1,2 milhões em 2005). No total, a MVA tem uma equipa de 10 colaboradores responsáveis pelas suas operações diárias e um conselho de 15 directores, que representam os diferentes membros da organização. Esse conselho de administração é eleito anualmente em Assembleia Geral. V.5. Wisconsin Alumni Research Foundation (Madison, EUA) A Wisconsin Alumni Research Foundation (WARF) foi criada em 1925 como uma organização não lucrativa de patentes, fundada inicialmente pela associação de ex-alunos da Universidade de Wisconsin Madison (UWM) e gerida por um conselho de curadores (integrando igualmente exalunos). Foi sempre independente da universidade, o que lhe permite operar de uma forma totalmente empresarial, não se envolvendo, por regra, em assuntos da universidade e não sendo totalmente gerida por administradores oriundos do meio académico. A WARF desempenha ainda um papel crítico na realidade da UWM, enquanto intermediário na comercialização da I&D da universidade, gerindo patentes baseadas em investigação desenvolvida pela UWM. A Warf é frequentemente reconhecida como a pedra angular da próspera rede da região de Madison – a qual difere de clusters como o de San Francisco Bay Area, Boston ou Washington DC, primordialmente devido ao seu sucesso na criação de um ambiente que, não dispondo de uma forte concentração de capital de risco, ainda assim encoraja a criação de novos negócios de base tecnológica. Embora único (o sucesso da WARF deveu-se principalmente às patentes que lhe foram atribuídas pela faculdade sobre o uso de radiação ultravioleta para aumentar o nível de vitamina 50 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 D nos alimentos, uma situação única que, ainda hoje, contribui para 60 – 70% das suas receitas totais), o modelo WARF ainda pode inspirar algumas ideias e reflexões consideradas relevantes para o desenho de esquemas de transferência de conhecimento em outros contextos. Se considerado apenas o período 2005-06, a WARF submeteu 300 pedidos de patentes nos EUA sobre tecnologia desenvolvida pela UWM e devolveu $65 milhões à UWM para suporte a mais I&D, através do seguinte processo de patenteamento: Nos casos em que a WARF aceita a invenção para patenteamento e licenciamento, a fundação disponibiliza um advogado para apoiar o investigador no processo de pedido de patente; O investigador também concorda em atribuir a propriedade da invenção à WARF; é a partir desse momento que a WARF pode iniciar contactos com empresas consideradas boas correspondências para a tecnologia; As políticas definidas pela WARF atribuem ao investigator (ou investigadores) o direito de receber 20% das receitas brutas de licenciamento da invenção, sendo o remanescente partilhado entre a UWM e o laboratório e departamento do inventor. Para além da sua actividade principal de suporte logístico aos processos de direitos de propriedade intelectuais / patentes, a WARF também pode apoiar os cientistas nas ligações a fundos de capital de risco (ou outras fontes de financiamento) para suportar as suas empresas durante os estádios iniciais do seu desenvolvimento. Até certo ponto, a ausência inicial de capital de risco foi também directamente mitigada pela WARF, que esteve disponível para substituir os fundos de capital de risco em estádios iniciais de start-ups e – como o capital de risco tradicional – aceitar participações de capital (equity) como compensação pelos serviços prestados. Adicionalmente, a WARF oferece igualmente empréstimos e espaço físico a start-ups, para além de orientação e aconselhamento nos primeiros anos. O apoio da WARF, bem como as ligações, experiência e recursos que consegue disponibilizar, ajudaram a criar um ambiente onde a I&D e a inovação são altamente valorizadas, o que é 51 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 especialmente relevante em areas onde a maioria da I&D avançada é realizada dentro da universidade, por oposição ao sector privado ou a laboratórios industriais. Fundamental para o impacto que a UWM tem no tecido empresarial da região de Madison, e vital para a performance da WARF, é o facto de os professores reterem os direitos sobre os resultados da sua investigação. Isso é invulgar entre as universidades americanas, onde a propriedade do I&D desenvolvido tende a pertencer à própria instituição e não a indivíduos. A WARF tem sido capaz de capitalizar esse facto. Desde 1928, a WARF disponibilizou mais de $750 milhões para a universidade, com o objectivo de apoiar I&D. V.6. Voucher de Inovação (Holanda) O voucher de inovação holandês foi lançado em 2004 para ajudar a colmatar o fosso existente entre ciência e indústria, reduzir barreiras culturais entre a academia e as empresas, bem como melhorar a utilização, por parte das PMEs, de conhecimento desenvolvido com financiamento público. A ideia subjacente a este conceito é a de que as interacções ciência-indústria promovem a inovação e, subsequentemente, contribuem para o aumento da produtividade e o crescimento económico. Como objectivo complementar, os decisores politicos pretendiam introduzir mais incentivos para os institutos de investigação públicos darem melhor resposta às necessidades das pequenas empresas privadas. Alguns observadores argumentam que estas entidades públicas tendem a produzir conhecimento pelo conhecimento, reconhecendo-se benefícios no ajustamento da sua agenda no sentido da produção de conhecimento mais market-driven. O voucher consiste numa nota de crédito de €7.500 a ser gasta junto de uma instituição de investigação. A fim de economizar custos de transação e considerando as quantias em questão, a Holanda decidiu implementar um processo muito simplificado que involve a atribuição do voucher a qualquer empresa requerente (caso a procura seja menor que a oferta) ou através de um simples processo de sorteio (quando a procura exceda a oferta). O voucher apenas pode ser 52 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 requerido por PMEs, não implica qualquer contribuição da sua parte e deve ser centrado na resolução de uma questão através de investigação aplicada, com a ajuda de um instituto de investigação credenciado. Em 2006, o programa piloto tornou-se definitivo, com o lançamento de cerca de 6.000 vouchers por ano, permitindo a combinação de vouchers de diferentes empresas por forma a alavancar projectos conjuntos maiores, e com a criação de vouchers de diferentes montantes - eg. a partir de 2009, vouchers mais pequenos de €2.500 passaram a estar igualmente disponíveis. Por ano, apenas pode ser atribuído a cada empresa um voucher grande e um voucher pequeno. Finalmente em 2010, foram igualmente introduzidos vouchers privados, como forma de facilitar a aquisição de serviços tecnológicos a instituições privadas de I&D. A avaliação deste instrumento de política indica que 8 em cada 10 vouchers estimularam o desenvolvimento de projectos que de outra forma não teriam sido implementados. Adicionalmente, várias PMEs que utilizaram estes vouchers continuaram a trabalhar com os centros tecnológicos e de investigação públicos para além daqueles contactos iniciais. Foi igualmente considerado que, dado o desconto do voucher estar pre-definido entre um grupo de entidades acreditadas, o sistema de sorteio não distorceu a avaliação de forma relevante, considerando os ganhos em termos de custos de transação evitados. Além disso, a possibilidade de obrigar as empresas privadas a suportar igualmente uma parte do custo financeiro do projecto pode deter comportamentos oportunistas, aumentando ainda mais a eficácia dos instrumentos. VI. RECOMENDAÇÕES Os capítulos anteriores apresentaram um quadro claro da situação portuguesa no contexto de inovação e investigação empresarial, destacando oportunidades, potencialidades e fraquezas. O conjunto de estudos de caso analisados demonstra que é possível superar obstáculos e implementar com sucesso iniciativas inovadoras. Finalmente, a análise de benchmark identificou exemplos internacionais relevantes de instrumentos que, prosseguindo políticas públicas, foram 53 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 concretizados para promover, através da inovação empresarial, o crescimento, a competitividade e o emprego. Sem prejuízo dos casos de sucesso e das oportunidades apresentados, subsistem significativas restrições sobre o potencial inovador português. Na verdade, o diagnóstico estratégico acentua a necessidade de conceber e implementar instrumentos de política propícios à promoção da inovação, adaptados às actuais características portuguesas, com custos de transacção razoavelmente baixos. As sugestões que consideramos mais relevantes, eficientes, cuidadosamente focalizadas e viáveis, para utilização dos Fundos Estruturais na promoção da inovação e da investigação empresarial, incluindo a transferência de conhecimento, em Portugal são apresentadas nos parágrafos seguintes – que devem ser consideradas no quadro de algumas considerações importantes de carácter geral: A estagnação do ritmo de crescimento da economia portuguesa, combinada com a grave crise da dívida soberana e com o recente apoio externo no quadro de um plano de resgate financeiro, exige inequivocamente ajustamentos estruturais significativos, dirigidos ao aumento da eficiência e da eficácia das empresas e à consagração de instrumentos de política fortemente selectivos e orientados para resultados, bem como a adopção de políticas focalizadas na inovação e internacionalização empresarial; Os processos de tomada de decisões públicas são tradicionalmente afectados, em Portugal, pela insuficiente coordenação interministerial, com consequências, por um lado, na prevalência de abordagens verticais virtualmente herméticas sobre as estratégicas e horizontais, e, por outro lado, na ausência de orientações integradas e coerentes para a administração e para as agências públicas com responsabilidades pela respectiva implementação. Em nossa opinião, as consequências desta situação (que ainda persiste, mesmo após o lançamento do Plano de Reforma Nacional Portugal 2020) são particularmente graves para as políticas e instrumentos de intervenção públicos dirigidos a questões complexas de natureza transversal, como inovação e investigação 54 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 empresarial, incluindo a transferência de conhecimentos, que efectivamente requerem formulações articuladas e claras de orientações políticas estratégicas, de objectivos e de metas quantificadas, tanto na perspectiva da economia como da ciência e tecnologia; A significativa dependência portuguesa relativamente aos Fundos Estruturais europeus para implementação de investimentos públicos restringe as escolhas às possibilidades decorrentes das respectivas elegibilidades, tanto no que respeita as decisões temáticas e como às territoriais – situação que exige enorme selectividade sobre a utilização dos escassos recursos nacionais para implementação de investimentos prioritários não abrangidos pelo FEDER e FSE e, principalmente, para financiar investimentos em inovação e investigação empresarial nas regiões que, como Lisboa, apresentam um contraste significativo entre as potencialidades de crescimento e os Fundos Estruturais disponíveis; A reduzida dimensão económica, social e territorial de Portugal no mundo globalizado tem consequências semelhantes: a partilha de desafios comuns (aumento da concorrência, pressões sobre a energia e os recursos naturais, envelhecimento, alterações climáticas, biodiversidade) não significa acesso proporcional aos recursos, nem a capacidade adequada para optimização da sua utilização - reforçando a necessidade de abordagens mais inteligentes, mais consistente e mais específicas para assegurar a construção de políticas públicas eficientes e eficazes, nomeadamente no âmbito da inovação e investigação empresarial. As sugestões e recomendações para a utilização futura, em Portugal, dos fundos da UE na promoção da inovação e da investigação empresarial, incluindo a transferência de conhecimento, incidem especialmente em cinco temáticas. Estas temáticas incluem, por um lado, três instrumentos de política especificamente dirigidos a projectos de investimento de inovação e investigação empresarial, incluindo transferência de tecnologia: (i) melhoria e simplificação do acesso das PME à inovação, (ii) incentivos financeiros específicos para a inovação empresarial e (iii) mecanismos de engenharia financeira eficazes; e, 55 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 por outro lado, dois instrumentos de política adicionais, visando tornar a envolvente empresarial mais propícia à inovação: (iv) empreendedorismo qualificado e (v) inserção em redes internacionais de inovação e I&D. Apresentamos no final algumas recomendações complementares sobre governança, estratégias de eficiência colectiva, internacionalização da inovação, modernização das instituições e capital humano. VI.1. Reforçar o acesso das PME a instrumentos de inovação: melhoramentos e simplificação A combinação da predominância de PME na economia portuguesa com os reduzidos impactos da inovação nos processos de produção, transformação e comercialização de produtos e serviços e, ainda, nas competências de gestão, justifica a necessidade de instrumentos simples e eficazes para melhorar e facilitar o acesso das empresas aos resultados da investigação, ao conhecimento e à transferência de tecnologia. Defendemos, tomando em consideração a experiência portuguesa na utilização dos Fundos Estruturais da UE e as práticas internacionais, que a adopção de um instrumento, com dimensão e espectro alargados, de vales à inovação, à investigação e à transferência de tecnologia, constituirá uma solução eficaz e eficiente para prosseguir esse objectivo, apoiando projectos empresariais focalizados e de curto prazo (6-12 meses) no âmbito da experimentação de novos conceitos e ideias (como provas de conceito, protótipos ou análise de mercado). Estes vales seriam automaticamente aprovados com a satisfação de duas condições: Iniciativas das PME visando a implementação de projectos inovadores focalizados nas seguintes dimensões: (i) melhoria dos processos produtivos (incluindo o uso de novas matérias-primas, novos procedimentos de transformação e/ou novas tecnologias ou equipamentos); (ii) melhoria de processos comerciais (incluindo o acesso a mercados estrangeiros); (iii) criação de novos produtos ou serviços; e, (iv) melhorias de competências de gestão; 56 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Participação de um parceiro de inovação, através de acordos contratuais, podendo ser considerados os seguintes tipos de parceiros de inovação: (i) instituições do conhecimento ou tecnológicas (nomeadamente Universidades, Centros de Investigação ou de Formação); e/ou, (ii) empresas inovadoras ou internacionalizados qualificadas (nomeadamente médias ou grandes empresas). Os vales de inovação, investigação e transferência de tecnologia consistiriam em notas de crédito a serem utilizadas na compra de serviços prestados por parceiros de inovação, com um valor limitado (10,000 € - 30,000 €), correspondendo a cerca de 65% de taxa de cofinanciamento das despesas elegíveis. Uma pequena parcela destas despesas (10% a 15% da subvenção total) pode corresponder aos custos do promotor na gestão directa do projecto. A aprovação e o financiamento deveriam ser automáticos (“first in, first out”), após verificação de que as duas condições acima descritas são satisfeitas e que a correspondente despesa está dentro dos limites dos recursos financeiros disponíveis; seria assim alcançado o objectivo de reduzir os custos de transacção. As PME seriam autorizadas a apresentar candidaturas para novos vales de inovação, investigação e transferência de tecnologia. A respectiva aprovação e financiamento deverá exigir a apresentação de um ‘relatório de resultados’ pela empresa requerente e parceiros envolvidos no projecto apoiado no quadro do vale anterior, a ser entregue às Autoridades de Gestão até 3 meses após a respectiva conclusão. Os vales de inovação, investigação e transferência de tecnologia deveriam beneficiar de cofinanciamento pelos fundos comunitários (FEDER e FSE). A possibilidade de alavancar recursos públicos com financiamento privado deve ser incentivada, nomeadamente através de benefícios fiscais associados. VI.2. Promover parcerias empresariais para a inovação A segunda recomendação visa o objectivo de promover parcerias empresariais para a inovação. 57 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A experiência portuguesa adquirida com a utilização de Fundos da UE durante vários períodos de programação e os benchmarks estrangeiros relevantes ilustram os resultados positivos e impacto das parcerias para a inovação no crescimento, na competitividade e no emprego. Em nossa opinião, tomando em consideração a referida experiência e conhecimento, os factores críticos para o sucesso das parcerias para a inovação são: (i) condições específicas de financiamento para estimular e premiar iniciativas empresariais de inovação focalizadas na melhoria da resposta a diferentes estratégias, processos, ciclos e etapas da inovação; (ii) criação, por iniciativa do promotor (espontaneamente ou estimulado por entidades associadas), de redes de cooperação entre empresas inovadoras e parceiros de inovação que partilham interesses e objectivos comuns; e, (iii) assunção de compromissos, objectivos e metas partilhados, em resultado da implementação de um projecto de investimento inovador. A prioridade política proposta deve distinguir entre dois tipos de parcerias para inovação empresarial - de base territorial e tematicamente orientadas: As primeiras respondem à prioridade de consolidar o tecido económico regional ou estratégias inteligentes de especialização regional. Organizadas como a forma mais eficiente e eficaz para implementar projectos de investimento inovadores, as parcerias para a inovação empresarial de base territorial deve reunir empresas regionais e locais, empresas de maior dimensão e instituições de conhecimento e tecnologia; As parcerias para a inovação empresarial temáticas visam a criação (ou melhoria) de produtos e serviços globais ou, pelo menos, orientados para a exportação. Estas parcerias não deverão ser previamente condicionadas por restrições sobre o território abrangido, devendo todavia reunir as empresas e as entidades do conhecimento ou tecnológicas relevantes, bem como um ou mais parceiros internacionalizados ou estrangeiros, que partilham, em estreita cooperação com outros parceiros, as responsabilidades pela implementação do projecto de investimento inovador. 58 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Em ambos os casos, as condições do financiamento público devem determinar que, para além do respeito pelas regras comunitárias dos Auxílios de Estado, o conteúdo inovador e a relevância dos projectos de investimento sejam avaliados por peritos independentes, que confirmarão ou recusarão o reconhecimento da contribuição do projecto para: melhoria dos processos produtivos (incluindo o uso de novas matérias-primas, a melhoria ou novos processos de transformação e/ou novas tecnologias ou equipamentos), melhoria dos processos de comercialização (incluindo o acesso aos mercados estrangeiros) e/ou a criação de novos produtos ou serviços. Adicionalmente, será aconselhável que as condições gerais de elegibilidade sejam abrangentes, permitindo o enquadramento, com flexibilidade, das características específicas dos diferentes projectos de inovação – respeitantes por exemplo à duração temporal (enquanto alguns projectos podem concretizar-se no prazo de seis meses, outros podem exigir 5 ou 10 anos para plena implementação dos primeiros resultados), ao tipo de despesas elegíveis (enquanto alguns projectos podem incluir apenas despesas em I&D, será para outros indispensável incluir a construção do protótipo, as actividades de demonstração, os estudos de marketing ou as tecnologias de industrialização), às modalidades de propriedade industrial, etc. A promoção de parcerias para a inovação empresarial seria estimulada por instrumentos de Auxílios de Estado, eventualmente complementados por subsídios - co-financiados pelo FEDER a instituições do conhecimento ou tecnologia (no que se refere especificamente a ferramentas e a equipamentos de investigação sofisticados e caros) e pelo FSE aos parceiros envolvidos (especialmente para a formação e para a prossecução de objectivos de intercâmbio empresarial e aprendizagem). A melhoria da eficácia dos instrumentos de Auxílios de Estado na implementação das parcerias para inovação empresarial exige: Atribuição de uma parte significativa dos incentivos à componente de prémios potenciais (comparativamente maior do que a reembolsável), com uma condicionalidade clara sobre o cumprimentodos objectivos e metas estabelecidos (o que 59 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 determina o acompanhamento efectivo e pró-activo dos resultados e impactos dos projectos financiados); Simplificação substancial do processo de tomada de decisão, através da contratualização da análise e negociação com peritos independentes. Este procedimento garantiria também reduções consideráveis na burocracia e a personalização da intervenção pública, desejável no caso de projectos de inovação e investigação empresarial. As autoridades de gestão dos PO e as agências públicas especializadas devem acompanhar o processo de negociação acima mencionado, no desempenho das suas responsabilidades e competências. Os incentivos utilizados para estimular as parcerias para a inovação empresarial deverão substituir os regimes de auxílios existentes, designadamente no âmbito dos "Projectos em copromoção", "Projectos mobilizadores”ou “Projectos colectivos". Ainda que seja possível identificar no quadro das Estratégias de Eficiência Colectiva (ECc), designadamente PCT e Outros Clusters, projectos de investimento inovadores que serão implementadas pelas parcerias para a inovação empresarial, o seu actual leque muito alargado de potenciais objectivos e actividades, bem como a da diversidade dos interesses dos seus membros não contribuem para facilitar a efectiva implementação de investimentos. VI.3. Impulsionar instrumentos de engenharia financeira e melhorar a sua eficácia Em contraste com a situação dos EUA (e, mesmo, de Israel), onde os instrumentos de engenharia financeira dirigidos à promoção da inovação empresarial, em grande parte financiados por capitais privados, se encontram consolidados (como o capital de risco, business angels, fundos de investimento ou financiamentos bancários, que assumem riscos, em participações no capital ou através de empréstimos), os europeus e, especialmente, a experiência portuguesa na criação e gestão de instrumentos semelhantes é menos encorajadora. 60 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A situação portuguesa, explicada por uma combinação de factores diferentes e complexos, nomeadamente associados ao comportamento das instituições financeiras e ao desempenho dos capitais privados face à inovação, traduz-se em instrumentos de engenharia financeira financiados pelo Estado, frequentemente com apoio dos recursos do FEDER. O desempenho destes instrumentos é decepcionante, especialmente sobre as decisões de gestão respeitantes à efectiva assunção de riscos, podendo estar também sujeitas à influência governamental. No entanto, a inovação e a investigação empresarial exigem mecanismos de financiamento dirigidos a alavancar os recursos próprios ou alheios dos empresários, que devem também assumir uma parte dos riscos associados. Em nossa opinião, a solução adequada para a implementação efectivade mecanismos de engenharia financeira financiados pelo Estado e pela União Europeia corresponderia à criação de fundos de investimento para a inovação, geridos por empresas de investimento especializadas (incluindo as promovidas por instituições financeiras), cuja atribuição a projectos específicos de inovação empresarial seria automaticamente decidido com (i) a confirmação, por peritos independentes, do carácter inovador dos projectos de investimento empresarial propostos e (ii) a validação dos recursos financeiros mobilizados pelos promotores dos investimentos (recursos próprios, empréstimos, participações no capital, incentivos contratados, instrumentos do BEI/FEI, etc.). O envolvimento de instituições estrangeiras experientes no capital de risco, nomeadamente através de joint ventures ou consórcios com empresas portuguesas, deve ser incentivado e estimulado (sem prejuízo da consagração da discriminação positiva em relação a Portugal e outros mercados periféricos da UE, com o objectivo de atrair fundos de capital de risco internacionais para investir em conjunto com operadores financeiros nacionais e/ou para apoiar directamente as empresas). Após verificação da satisfação dos requisitos identificados, os fundos de investimento para a inovação devem tomar em consideração as duas seguintes situações: 61 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Fases iniciais dos projectos de investimento Inovadores (pré-semente, semente e outras), que beneficiariam do apoio fundos de investimento de inovação até à taxa de 67% dos capitais dos promotores (dois euros por cada euro mobilizado por iniciativa e/ou responsabilidade directa dos promotores); Projectos de investimento inovadores tecnologicamente maduros para comercialização, fases finais ou superação de gaps de financiamento e projectos de expansão, que seriam financiados através de fundos de investimentos para a inovação na proporção de 33% (um euro para cada dois Euros mobilizados por iniciativa e/ou responsabilidade directa dos promotores). O financiamento da inovação e investigação empresarial através dos fundos de investimento propostos visa criar um processo de tomada de decisões simples e objectivo, concretizado com metas mensuráveis e redução da carga burocrática. As empresas beneficiárias poderiam receber vários financiamentos e, mesmo, combinar o apoio dos fundos de investimento para a inovação com outros instrumentos de financiamento. VI.4. Apoiar o empreendedorismo qualificado e promover uma cultura empreendedora As lacunas que actualmente se verificam entre a criação de conhecimento, a transferência de conhecimento e tecnologia e sua tradução em valor económico através da inovação devem ser reduzidas através de um apoio mais forte, eficaz e integrado dos Fundos Estruturais às instituições académicas (científicas e tecnológicas) e às unidades empresariais de base académica. Portugal beneficia actualmente de uma situação única para prosseguir com êxito esta abordagem: melhoria significativa, internacionalmente reconhecida, em qualidade e quantidade, do conhecimento produzido por universidades e centros de investigação nacionais; recursos altamente qualificados em áreas inovadoras, tais como ciências da vida e engenharia; e, um número limitado de oportunidades e vagas disponíveis em carreiras académicas e de investigação. 62 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Recomendamos, neste contexto, a seguinte combinação de medidas para melhorar as condições de criação de uma envolvente mais propícia à inovação empresarial em Portugal: Reforço após 2013 da aplicação de fundos da UE no apoio à criação de start-ups qualificadas. O conceito subjacente ao NEOTEC (QCA 2000-2006, PO Sociedade do Conhecimento) poderá, com simplificações adequadas, ser utilizado como base para a concepção de um instrumento de financiamento específico dirigido às diferentes fases e necessidades próprias da criação e desenvolvimento inicial de start-ups. A combinação flexível de financiamentos FEDER e FSE no âmbito de um único instrumento de financiamento seria aconselhável, com o objectivo de satisfazer algumas necessidades-chave iniciais, bem como para superar debilidades normais de potenciais beneficiários (por exemplo, formação em competências de gestão e organização, análises de mercado, planos de desenvolvimento de negócios, etc.) A fim de melhor combater as falhas de mercado existentes, a estruturação dos novos instrumentos de financiamento deverá permitir a sua combinação flexível, em qualquer fase, com outros instrumentos de engenharia financeira nacionais ou internacionais, visando especificamente start-ups, nomeadamente os descritas no ponto VI.3. sobre fases iniciais dos projectos de investimento Inovadores. Com o objectivo de reduzir as barreiras a novas empresas no âmbito da propriedade industrial (críticas nos países periféricos, como Portugal), o apoio ao registo nacional e internacional de patentes por start-ups (incluindo serviços de aconselhamento jurídico e apoio financeiro directo) deve, além de garantir condições de elegibilidade e níveis generosos de financiamento, ser objecto de informação específica e de acções de comunicação dirigidas a aumentar a notoriedade de sua relevância e os apoios financeiros disponíveis. Poderia ser também criado um instrumento de apoio financeiro para a gestão de conflitos relativos a patentes efectivamente concedidas. 63 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Prosseguindo a finalidade de reduzir a actual aversão ao risco e as debilidades na cultura empresarial, seria aconselhável introduzir mecanismos rigorosos, transparentes e estáveis de avaliação e incentivo, com base em (e reunindo condições para efectivamente premiar) resultados concretos alcançados pelas start-ups apoiadas, procurando reduzir o estigma do insucesso. Adicionalmente, como forma de ultrapassar a falta de uma cultura empreendedora na maioria das instituições académicas, o desenvolvimento de programas de empreendedorismo, o reconhecimento de graus e a realização de seminários ou cursos de formação nas universidades devem ser promovidos e apoiados, de preferência com a participação directa das empresas e integração com os relevantes interfaces existentes (por exemplo, incubadoras e núcleos universitários de transferência de conhecimento e tecnologia). A avaliação de desempenho de investigadores nas universidades e instituições tecnológicas deve incluir a sua contribuição efectiva para os resultados da inovação empresarial. Especificamente no que respeita às start-ups, seria necessária a redução da burocracia associada aos financiamentos com apoio comunitário e a respectiva monitorização (em especial no quadro da aplicação de regras específicas simplificadas, como os regimes de isenção ou as prosseguidas ao abrigo do regime "de minimis"). Estas simplificações seriam particularmente relevantes para novas empresas efectivamente inovadoras, com actividade dirigida aos mercados globais. A referida discriminação positiva deve ser apoiada pela divulgação dos mecanismos de financiamento existentes e através do apoio técnico pró-activo aos potenciais beneficiários – designadamente através da contratualização destas actividades com entidades de interface especializada, já presentes e activas nas instituições académicas (incubadoras e núcleos universitários de transferência de conhecimento e tecnologia), que poderiam também desenvolver outras tarefas relevantes (por exemplo, apoio para registo de patentes, acesso ao capital de risco e outros mecanismos de engenharia financeira, participação em redes nacionais e internacionais e constituição de parcerias), trabalhando como one-stop-shops para empreendedores qualificados. 64 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 VI.5. Estimular a cooperação e as interacções com parceiros internacionais de I&D e inovação A natureza emergente de inovação (aberta, colaborativa e global) redefiniu, ao evidenciar a importância das ligações internacionais e das redes na I&D e na inovação, os conceitos tradicionais associados à pequena dimensão e à localização periférica. Consequentemente, a significativa melhoria da inserção internacional da I&D e dos actores empresariais portugueses, designadamente em redes de inovação, deve – sem prejuízo dos desafios que coloca - constituir uma prioridade para a utilização dos Fundos Estruturais no período pós-2013. Este objectivo poderia ser alcançado pela superação de quatro grandes debilidades: Melhorar o nível de participação dos agentes portugueses da inovação e investigação empresarial (empresas, universidades, centros de investigação) em projectos internacionais, particularmente nos de I&D e inovação europeus no âmbito do Programa Quadro de Investigação e Inovação. Seria assim promovido o aumento do nível de exposição internacional dos protagonistas portugueses, bem como a sua integração em redes internacionais de inovação relevantes, melhorando a respectiva capacidade para a construção de novas parcerias e criação de oportunidades, para além dos projectos iniciais. Os PO portugueses relevantes deveriam apoiar a prossecução deste objectivo, contribuindo para a remoção de barreiras à entrada, apoiando os interessados (especial, mas não exclusivamente, as PME) nas fases iniciais do processo através, por exemplo, do financiamento de actividades de desenvolvimento de candidaturas, e aumentando o número de participantes portugueses nos referidos consórcios internacionais de inovação e I&D. Para projectos de menor escala e/ou de natureza mais específica/localizada, é muito relevante o aumento do alcance e da eficácia propiciada pelo envolvimento em redes empresariais europeias de inovação e em parcerias, nomeadamente as que oferecem 65 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 um nível elevado de integração nas cadeias de valor (envolvendo fornecedores e/ou clientes), como o EUREKA, a que se adicionaria um layer de incentivos financeiros aos participantes. Complementarmente à adopção de uma Iniciativa Comunitária para a Inovação Empresarial (que, a nosso ver, também deve considerar este tipo de projectos de menor dimensão, integrados e transnacionais), no âmbito da Política de Coesão, nomeadamente no quadro da Cooperação Territorial, a consagração de um orçamento comum à escala europeia facilitaria a implementação de projectos-chave de inovação empresarial nas “regiões de convergência”, melhorando as oportunidades de futura comercialização e os efeitos de escala dos projectos de I&D e/ou inovação desenvolvidos. Neste quadro transnacional, devem ser consideradas soluções alternativas de financiamento, incluindo a combinação de subsídios com instrumentos de engenharia financeira. Podem ser também experimentadas novas abordagens para os financiamentos, mais alinhadas com as características e especificidades dos processos de inovação com, por exemplo, a atribuição das responsabilidades pela gestão de projectos ou a liderança de consórcios aos clientes da I&D ou da inovação (e não directamenteaos seus promotores), transferindo portanto os interesses dos beneficiários da oferta para a procura. Nalguns casos, nomeadamente projectos-piloto, os clientes podem até ser beneficiários iniciais únicos, que subsequentemente escolherão, com objectividade e transparência, os fornecedores (e futuros parceiros) de I&D e/ou de inovação. Este modelo, além de melhorar o acompanhamento dos projectos e de facilitar o respectivo exercício pelas autoridades públicas envolvidas, poderá ainda aumentar as oportunidades de comercialização e os efeitos de escala dos projectos de I&D e/ou inovação desenvolvidos. A promoção da participação de entidades externas (europeias e não europeias) em projectos de I&D e de inovação desenvolvidos em Portugal por actors portugueses 66 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 poderia ser alcançada através da atribuição de prioridade (nos critérios de selecção e/ou na intensidade de financiamento) às candidaturas que, independentemente da dimensão, sector ou nível de inovação, incluam a participação active dessas entidades externas, viabilizando efeitos de rede mais amplos e a adopção de abordagens abertas e globais da inovação. Complementarmente, o apoio ao desenvolvimento em território português de incubadoras para novos projectos inovadores e para start-ups promovidas por multinacionais poderia ser também concretizado, nomeadamente através de instrumentos de engenharia financeira nacionais ou internacionais, como os anteriormente propostos. Salvaguardado o cumprimento das regras aplicáveis às ajudas de Estado, a atracção dessas parcerias contribuirá para melhorar a inserção de Portugal em sistemas internacionais de inovação relevantes, beneficiando adicionalmente da partilha de know-how. A prossecução dos objectivos mencionados beneficiaria também do aumento da relevância internacional das interfaces portuguesas mais maduras e das estruturas de gestão dos PCT/Outros Clusters que, com base nas melhores práticas internacionais, devem focalizar-se cada vez na prestação de serviços de criação e inserção em redes e parcerias internacionais e de identificação de oportunidades (projectos, concursos, financiamentos). Poderiam ser também criados mecanismos de financiamento e/ou prémios directamente associados ao seu desempenho (em particular, ao cumprimento de metas de internacionalização). VI.6. Sugestões e recomendações complementares A implementação das seguintes sugestões complementares poderá a nosso ver, produzir resultados e impactos semelhantes aos das recomendações anteriores: A preparação de "Relatórios Estratégicos sobre Inovação e Investigação Empresarial”, com periodicidade regular, apoiaria e facilitaria a formulação de Estratégias de Inovação nacionais e regionais, bem como o acompanhamento da sua execução; 67 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A melhoria do enquadramento horizontal para a inovação e a adopção de directrizes estratégicas de política de inovação asseguraria uma abordagem comum para a inovação e a criação de condições adequadas para superar os obstáculos que ainda impedem uma efectiva integração da C&T, da I&D e das políticas e instrumentos de inovação, bem como a actual fragmentação das responsabilidades institucionais e de governança; A substituição do conceito amplo de inovação actualmente utilizado nas políticas públicas por opções mais focalizadas e objectivas, designadamente através da incorporação do conceito de estratégias de especialização inteligente e dos resultados da avaliação dos PCT e Outros Clusters, constituiria um enquadramento excelente para a implementação efectiva de instrumentos de inovação e investigação empresarial; O aumento do investimento público num sistema de educação de alta qualidade, orientado para o conhecimento e para o sistema empresarial ajudaria a apoiar a actual trajectória positiva de expansão do capital humano qualificado e a acumulação de excelência nas respectivas competências científicas e tecnológicas; A racionalização da I&D nas universidades, centros de investigação e infraestruturas de apoio seria determinante para promover a escala, a especialização e a massa crítica da inovação e investigação empresarial; A concepção ea implementação de um programa eficiente e eficaz de mobilidade de recursos humanos qualificados entre universidades, instituições de I&D, centros tecnológicos e empresas melhoraria consideravelmente o sistema de inovação empresarial e a envolvente da investigação; A definição, alinhada com a Iniciativa Europeia para a Inovação Social, de um instrumento específico focalizado no apoio a projectos de inovação social que respondam aos principais desafios societais contemporâneos (envelhecimento, desemprego, migrações, alterações climáticas, etc.), combinando redes de actores 68 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 relevantes (empresas, instituições académicas e tecnológicas, sector público e ONG), teria consequências significativas no desenvolvimento de uma envolvente propícia e valorizadora da inovação. Este instrumento deve ser flexível e ajustado às fases e especificidades deste tipo particular do processo de inovação. 69 Final Report: Study on “Innovation and Research in business including knowledge transfer in Portugal” 2010.CE.160.AT.083 ANEXOS ANEXO 1. INOVAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EMPRESARIAL EM PORTUGAL: UM BREVE DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO 1. Inovação e investigação empresarial em Portugal: principais padrões Portugal encontra-se numa fase de mudança estrutural, evidenciando um processo de recuperação em direcção à fronteira tecnológica e enfrentando o desafio de construção de um sistema de inovação capaz de fornecer novas vantagens competitivas, fomentadoras de uma trajectória sustentável de crescimento. Apesar do desempenho decepcionante em termos de crescimento económico, existem indicadores positivos sobre a capacidade de desenvolvimento e absorção de inovação e conhecimento. Figura 1.1: Indicador de inovação dos Estados-membros da UE, 2010 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 Modest innovators Inovadores modestos Moderate Inovadoresinnovators moderados Innovation Seguidoresfollowers da inovação SE FI DK DE BE UK AT IE NL FR LU EU27 SI CY EE IT PT ES CZ GR MT PL HU SK LT RO LV BG 0 Innovation Líderes da leaders inovação Nota: O desempenho de inovação é medido através de um indicador compósito construído a partir de 24 sub-indicadores, contido numa escala definida de 0 (pior desempenho) a 1 (máximo desempenho). O indicador de desempenho de inovação de 2010 reflecte o desempenho médio de cada país no período 2008/2009 devido a desfasamentos na disponibilidade de dados. www.schumanassociates.com Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Fonte: Innovation Union Scoreboard, 2010. Na verdade, como resultado de importantes melhorias no Sistema Nacional de Inovação durante a última década, Portugal experimentou uma significativa subida no ranking de inovação da UE-27: de uma posição como “inovador modesto” (“modest innovator”, vigésima posição no ranking), o país passou a integrar o grupo dos “inovadores moderados” (“moderate innovators”, décima quinta posição) no Innovation Union Scoreboard (IUS, antigo European Innovation Scoreboard), encontrando-se presentemente à frente da Itália, da República Checa e da Espanha (ver Figuras 1.1 e 1.2). Figura 1.2: Portugal em processo de catching-up do indicador de inovação, 2006-2010 0,85 0,80 SE 0,75 DK DE 0,70 FI Performance Inovadora Innovation Performance 0,65 BE UK 0,60 AT IE LU 0,55 0,50 NL FR CY SI EE 0,45 CZ 0,40 PT IT ES GR 0,35 MT HU 0,30 PL LT 0,25 SK RO 0,20 BG LV 0,15 -1% 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% Crescimento Average médio anual growth anual dainperformance innovation performance de inovação Nota: as taxas de variação média anual são calculadas para um período de cinco anos. As linhas a tracejado representam a média da UE-27. O código de cores corresponde ao identificado na Figura 1. Fonte: Innovation Union Scoreboard, 2010. 71 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 No período de cinco anos coberto pelo IUS 2010, Portugal destacou-se como o país com o mais rápido crescimento na UE-27 do indicador global de inovação. Embora a competitividade dependa de uma panóplia de factores e não somente do desempenho em termos de inovação, e dado existir um desfasamento temporal entre a inovação e os resultados em termos de competitividade, será razoável esperar que o recente progresso do indicador de inovação se traduza em melhorias do desempenho económico a médio prazo. Figura 1.3: Grupos de países – indicador de inovação por dimensão, 2010 Recursos Humanhumanos resources 0,8 Efeitos económicos Economic effects 0,6 Sistema de investigação Research systems 0,4 0,2 Inovadores Innovators Financiamento apoios Finance ande support 0 Activos intelectuais Intelectual assets Investimento empresarial Firm investments linkages& & Ligações empreendedorismo entrepreneurship Líderes da inovação Innovation leaders Seguidores da inovação Innovation followers Portugal Fonte: Innovation Union Scoreboard, 2010. O desempenho nas diversas dimensões que compõem o IUS dos quatro grupos de países com melhor posição no ranking, bem como de Portugal, é ilustrado na Figura 1.3. Os grupos “líderes da inovação” (“innovation leaders”) e “seguidores da inovação” (“innovation followers”) apresentam a menor variância de desempenho nas oito dimensões em causa, o que sugere que 72 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 para um país atingir um elevado nível global de inovação deverá obter resultados relativamente elevados em todas as dimensões. No que respeita ao terceiro grupo, “inovadores moderados”, o qual Portugal integra actualmente, a variância das oito dimensões é maior que nos dois primeiros grupos, mas menor que no quarto e último grupo, “inovadores modestos”. Digno de nota, contudo, é o facto de as forças e fraquezas de Portugal estarem, em certa medida, desalinhadas face ao desempenho médio do grupo de “inovadores moderados”. Por comparação com os dois primeiros grupos do ranking, as forças relativas de Portugal residem nas dimensões de “Inovadores” (“Innovators”, medida pela percentagem de PME’s que introduziram no mercado novos produtos/processos ou inovações de marketing/organizativas) e de “Financiamento e Apoio” (“Finance and Support”, medida pela percentagem de I&D pública e de capital de risco no PIB). Na primeira, Portugal posiciona-se acima da média, quer do grupo “líderes de inovação”, quer do grupo “seguidores de inovação”, enquanto na segunda se situa a par do grupo “líderes inovadores”. Na mesma linha, as principais fraquezas relativas de Portugal ocorrem nas dimensões “Sistemas de inovação abertos, de excelência e atractivos” (“Open, excellent and attractive research systems”), “Recursos humanos” (“Human resources”), “Efeitos económicos” (“Economic effects”), “Ligações e empreendedorismo” (“Linkages and entrepreneurship”) e “Activos intelectuais” (“Intellectual assets”), nas quais o país revela um atraso face aos dois grupos de países mais avançados. 73 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.4: Indicador de inovação por dimensão em Portugal versus UE27, 2010 Fonte: Innovation Union Scoreboard, 2010. Como já referido, o IUS 2010 destaca Portugal como o país com maior crescimento do indicador global de inovação no seio da UE-27. Embora a maioria dos sub-indicadores tenha registado uma evolução positiva, existem alguns exemplos de forte crescimento, como a despesa de I&D empresarial (dimensão “Investimento empresarial”), pedidos de patentes PCT e registo comunitário de design (dimensão “Património intelectual”). No entanto, estes sub-indicadores continuam a apresentar um nível bastante baixo por comparação com a média da UE-27. Em contraste, um declínio substancial foi registado pelos sub-indicadores de capital de risco e de despesa em inovação não-I&D durante o período de referência de cinco anos, embora o capital de risco tenha duplicado entre 2008 e 2009. No que respeita às principais dimensões do IUS, o 74 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 crescimento em “Sistemas de inovação abertos, de excelência e atractivos”, “Ligações e empreendedorismo” e “Activos intelectuais” esteve acima da média da UE-27. Figura 1.5: Evolução do desempenho em inovação por dimensão em Portugal, 2006-2010 Fonte: Innovation Union Scoreboard, 2010. Porém, o crescimento económico permanece fraco, como reflexo do processo de mudança estrutural em curso, o que sugere que será necessário um novo impulso às actividades intensivas em tecnologia, tais como as TIC, bem como um estímulo à criação de valor a partir das actividades de inovação. O reduzido investimento empresarial em I&D tem sido tradicionalmente apresentado como uma importante fraqueza do Sistema Nacional de Inovação e como um resultado directo da relativamente baixa intensidade em tecnologia das actividades económicas que predominam na 75 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 estrutura económica portuguesa. O reduzido enfoque no conhecimento e na inovação tem-se traduzido, assim, num baixo nível de investimento em I&D. Figura 1.6: Despesa doméstica bruta em I&D em % do PIB em Portugal por sector executante, 1982-2009 1,80 1,60 % of GDP spent on R&D 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2008 2009p Empresas Companies Estado State Ensino HigherSuperior education IPSFL Private non-profit Total Fonte: GPEARI / MCTES – Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional / Gabinete do Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais /Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior de Portugal Contudo, como já mencionado, um dos factores que deu um significativo contributo para a recente melhoria do desempenho de Portugal do indicador de inovação foi o marcado progresso no investimento em I&D dos últimos anos. De facto, a despesa total em I&D como percentagem do PIB mais que duplicou durante os últimos quatro anos com dados disponíveis – passando de 0,78% em 2005 para 1,66% em 2009 – enquanto que o peso da despesa empresarial em I&D no PIB quase que triplicou – passando de 0,3% em 2005 para 0,78% em 2009 (ver Figura 1.6). 76 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Tabela 1.1: Pedidos de patentes ao INPI, 2000-2009 2000 2005 2009 Var. % 2000-2009 Via Nacional 146 189 338 132% Via Europeia 60 41 83 (P) 38% Via Internacional 14 57 118 (P) 743% Legenda: (P) – dados provisórios Fonte: Observatório da Propriedade Intelectual Outro factor responsável por um significativo contributo para a recente melhoria do desempenho de inovação em Portugal terá sido o investimento na protecção de invenções. Neste âmbito, tal como se observa a partir do registo de patentes, Portugal apresenta uma posição claramente abaixo da média da UE-27, mas evidencia uma forte recuperação nos últimos anos, especialmente na vertente internacional (ver Tabela 1.1). No entanto, o factor mais importante neste processo terá sido, porventura, o crescimento da parcela do sector empresarial na despesa total em I&D, ultrapassando primeiro o Estado (administração pública central) e, depois, o ensino superior. Os dados disponíveis mais recentes revelam que a I&D empresarial representa cerca de 50% do total de I&D em Portugal, face a menos de 40% em 2005. Trata-se de valores ainda abaixo do nível médio da UE-27 (cerca de 60% em 2009), mas que reflectem uma mudança de comportamento que irá reforçar o potencial de inovação da economia portuguesa. Na realidade, este processo define uma mudança estrutural que conduz Portugal no sentido dos objectivos estabelecidos pela Estratégia de Lisboa e renovados pela Estratégia Europa 2020, ao posicionar o sector empresarial como actor principal no que toca as actividades de I&D em Portugal. 77 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.7: Despesa doméstica bruta em I&D (GERD) em % do PIB em países seleccionados, 2009 Fonte: Eurostat. Como consequência desta reente evolução positiva, Portugal conseguiu reduzir a distância que o separa da média da UE-27, passando de -1,04 pontos percentuais em 2005 para -0,35 pontos em 2009, isto apesar de a despesa total em I&D ter subido para um máximo histórico de 2% do PIB na UE-27. Portugal apresenta agora um melhor comportamento que qualquer outro país do Sul e Leste europeus, com destaque para a Espanha, a Itália, a República Checa e a Hungria (ver Figura 1.7). 78 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.8: Despesa em I&D por sector executante em países europeus seleccionados, 2009 Fonte: Eurostat. A comparação entre Portugal e a UE em termos de despesa em I&D por sector permite evidenciar, por um lado a menor importância relativa do sector empresarial e do Estado e, por outro, o papel desempenhado pelo sector do ensino superior, com este a representar uma parcela da despesa em I&D em Portugal (36% da I&D total em 2009) que se aproxima bem mais da parcela empresarial nos restantes países. De facto, o peso do ensino superior no total da I&D em Portugal excede claramente a média da UE-27, enquanto que o sector empresarial permanece abaixo daquele referencial. Também digno de nota é o elevado peso do sector privado não lucrativo em Portugal (11% em 2009) (ver Figura 1.8). Em conjunto, os factos acima evidenciados sinalizam a existência de uma importante distorção no Sistema Nacional de Inovação, apesar da recente dinâmica positiva que caracterizou o sector empresarial, como já referido. 79 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.9: Recursos humanos em ETI afectos a I&D em Portugal, 1982-2009 60.000 50.000 FTE staff in R & D 40.000 30.000 20.000 10.000 0 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2008 2009p Empresas Companies Estado State Ensino HigherSuperior education Private non-profit IPSFL Total Fonte: GPEARI / MCTES – Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional / Gabinete do Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais /Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior de Portugal Os recursos humanos dedicados a actividades de I&D em Portugal (medidos em unidades Equivalentes a Tempo Integral, ETI) acompanharam, embora a um menor ritmo, a evolução da despesa em I&D. Entre 1990 e 2009, por exemplo, a taxa de crescimento média anual da quantidade de recursos humanos afectos a I&D foi de 8%, sendo que, à semelhança da despesa em I&D, foi notória uma aceleração nos últimos anos, alcançando-se uma taxa de crescimento média anual de 19,4% entre 2005 e 2009. Os sectores empresarial e do ensino superior foram os que registaram o maior ritmo de crescimento nos últimos quatro anos (cerca de 25% por ano), com o ensino superior a manter-se como o sector com maior peso no total de recursos humanos dedicados a I&D (ver Figura 1.9). 80 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.10: Despesa em I&D em Portugal por região, 1999-2008 100.0% 0.9% 0.6% 53.6% 55.6% 15.5% 15.1% 20.7% 23.9% 22.8% 1999 2005 2008 5.9% 90.0% 80.0% 70.0% 53.6% 60.0% 50.0% 40.0% 30.0% 13.8% 20.0% 10.0% 0.0% Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira Fonte: GPEARI / MCTES – Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 1999, 2005 e 2008 / Gabinete do Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais /Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior de Portugal O referido processo de alteração dos padrões de I&D em Portugal foi acompanhado por uma relativa estabilidade da distribuição regional da despesa em I&D, com a região de Lisboa a ocupar uma posição claramente dominante (contribuindo para quase 50% da despesa), relegando as regiões Norte e Centro para umas distantes segunda e terceira posições. Apesar da tendência global de estabilização, merece ênfase o facto daquelas três regiões, a par do Alentejo, terem aumentado o seu peso na despesa em I&D portuguesa, em detrimento das restantes regiões, com destaque para os Açores (ver Figura 1.10). 81 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.11: Despesa de I&D em Portugal por propósito socioeconómico, 2008 Sistemas e Processos Sociais e Promoção do Políticos conhecimento 4,5% 26,0% Ambiente 3,2% Defesa 0,1% Exploração do Exploração e Território utilização do espaço 2,1% 0,5% Transportes e Telecomunicações 15,4% Energia 4,2% Cultura, Religião e media 2,9% Educação 2,4% Agricultura 3,4% Saúde 11,3% Produtividade e promoção da tecnologia industrial 24,2% Fonte: GPEARI / MCTES – Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2008 / Gabinete do Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais /Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior de Portugal Quanto ao enfoque da I&D, verifica-se uma forte orientação para os transportes e telecomunicações e a saúde, bem como para a promoção do conhecimento e a promoção da produtividade e da tecnologia industrial (ver Figura 1.11). No que diz respeito à I&D empresarial, o sector dos serviços capta a maior percentagem de despesa (57,4% do total), com os serviços financeiros e as telecomunicações a assumirem uma relevância especial. Dentro do sector industrial, o investimento na indústria química assume o maior destaque, seguido das utilities e do equipamento de transporte. O sector primário contribui com uma parcela marginal para a despesa em I&D portuguesa (ver Tabela 1.2). 82 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Tabela 1.2: Despesa em I&D empresarial em Portugal por sectores, 2008 Actividade Agricultura e floresta Valor (10^3 €) % do Total 1,763.3 0.1% 534,107.5 42.5% 2,633.0 0.2% Alimentação e bebidas 54,151.3 4.3% Têxtil e vestuário 16,094.7 1.3% 2,239.1 0.2% Madeira 10,481.7 0.8% Papel e impressão 18,846.5 1.5% 102,562.0 8.2% Borracha e produtos de plástico 14,050.4 1.1% Outros produtos minerais não metálicos 24,217.0 1.9% Metais de base e produtos metálicos 46,082.7 3.7% Máquinas e equipamentos 25,275.5 2.0% Equipamento eléctrico, electrónico e óptico 54,701.2 4.4% Equipamento de transporte 73,452.9 5.8% 6,140.4 0.5% Utilities 83,179.0 6.6% Serviços 720,665.7 57.4% 91,977.8 7.3% 149,351.7 11.9% Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos motorizados e motociclos 31,241.2 2.5% Transporte e armazenagem 26,775.5 2.1% Serviços financeiros 188,729.2 15.0% Consultoria e programação informática e actividades relacionadas 120,244.4 9.6% Actividades de investigação científica e de desenvolvimento 23,352.4 1.9% Outros serviços 88,993.6 7.1% 1,256,536.5 100.0% Indústria Indústria extractiva Couro Química Outras indústrias Construção e serviços de arquitectura Telecomunicações Total Fonte: GPEARI / MCTES – Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2008 / Gabinete do Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais /Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior de Portugal 83 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.12: Esforço de investimento em I&D em Portugal por sectores (despesa em I&D/valor da produção), 2008 Fonte: GPEARI e INE Relativamente à intensidade de I&D, destacam-se no panorama da economia portuguesa os seguintes sectores: telecomunicações e consultoria informática (2,7% do valor da produção), actividades de arquitectura, engenharia, I&D e publicidade (2%), outras actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares (1,7%), indústrias petrolífera, química e farmacêutica 84 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 (1,7%), fabricação de equipamento informático, de equipamento eléctrico, de máquinas e equipamentos n.e. e de veículos automóveis (1%). Figura 1.13: Percentagem de empresas tecnologicamente inovadoras (100%=total de empresas em cada sector), 2008 Fonte: Community Innovation Survey. 85 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Os sectores das telecomunicações e consultoria informática e das indústrias petrolífera, química e farmacêutica constituem, do ponto de vista da inovação, as actividades mais relevantes na economia portuguesa. Outros sectores como as actividades de saúde humana, as actividades de arquitectura, engenharia, I&D e publicidade, as actividades financeiras e de seguros, as actividades relacionadas com o ambiente e a fabricação de equipamento informático e eléctrico também evidenciam bons desempenhos. 2. Políticas de I&D e inovação empresariais em Portugal As políticas de investigação e de inovação empresarial em Portugal nas últimas décadas têm sido estruturadas essencialmente no contexto dos Programas Operacionais co-financiados pela UE. Esta opção fez sentido enquanto as regiões portuguesas foram “regiões de convergência”. Todavia esta abordagem levanta agora problemas, em especial porque a principal região portuguesa em inovação e investimento em I&D (Lisboa) já não é considerada “região de convergência”, não sendo assim elegível para aqueles Programas. No período de programação de 2000-2006, as políticas de investigação e de inovação empresarial foram formuladas no âmbito do Programa Operacional (PO) Economia (POE e PRIME), do PO Ciência, Tecnologia e Inovação (POCTI e POCI), bem como do PO Sociedade da Informação (POSI/POSC). No presente período de 2007-2013, as referidas políticas encontramse organizadas no âmbito do PO Factores de Competitividade / COMPETE e dos PO Regionais (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve). Historicamente, as autoridades portuguesas nunca reconheceram de forma clara o papel central da I&D e inovação empresariais no desempenho económico. Assim, as políticas em Portugal sempre preferiram as iniciativas do tipo “technological push”, orientadas para o apoio à C&T e à I&D nas universidades, centros de investigação, centros tecnológicos, laboratórios do Estado, etc. Como consequência, Portugal detém presentemente uma plêiade de instituições de I&D e respectivas infra-estruturas de apoio, muitas das quais não são sustentáveis. 86 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 O primeiro conjunto de políticas e medidas com verdadeiro significado desenhadas e implementadas com o propósito de apoiar a I&D e inovação empresariais surgiram no quadro da segunda fase do período de 2000-2006, na sequência da re-programação dos PO e QCA (ver principais exemplos na Tabela 1.3). Tabela 1.3: Exemplos de medidas directas de incentivo à I&D/inovação empresariais nos Programas de Desenvolvimento Regional em Portugal 2000-2006 Medidas NITEC – Sistema de Incentivos à Criação de Núcleos de I&DT no Sector Empresarial (POE/PRIME) Objectivos Apoio ao desenvolvimento de competências internas de I&DT em empresas (pequenas equipas com características de permanência, constituídas no máximo por três pessoas dedicadas unicamente a actividades de endogeneização e desenvolvimento sustentado de competências tecnológicas) Apoio à implementação de projectos de I&DT do sector privado com vista à criação de novos ou melhorados produtos, processos ou serviços. Incentivo Incentivo não reembolsável, com uma taxa base de incentivo de 30% para as despesas elegíveis (embora susceptível de majoração nos casos de desconcentração territorial, de PMEs e de envolvimento de entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional), com um incentivo máximo total de € 200.000. Incentivo não reembolsável até um máximo de €1.000.000 e reembolsável no montante que SIME - I&DT ultrapassar €1.000.000, com uma taxa base de (POE/PRIME) incentivo de 30% ou 55%, dependendo do tipo de actividade implementada. Apoio à realização de projectos de I&DT Incentivo não reembolsável, com uma taxa base de empresarial com vista à criação de novos ou 30% para as despesas elegíveis (embora susceptível de SIME - Inovação melhorados produtos, processos ou serviços. majoração nos casos de desconcentração territorial, (POE/PRIME) de PMEs e de envolvimento de entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional). Apoio aos projectos de I&D envolvendo Incentivo reembolsável e não reembolsável até um IDEIA – Apoia à I&D empresas e entidades do Sistema Científico e limite máximo de 75% da despesa elegível para Empresarial Aplicada Tecnológico Nacional, partes signatárias de projectos de investigação industrial e 50% para (POE/PRIME) um contrato de consórcio. projectos pré-concorrenciais. Apoio à criação de novos produtos, Incentivo não-reembolsável, a uma taxa de 75% das processos ou sistemas com elevado despesas elegíveis para entidades do Sistema conteúdo de inovação tecnológica, com Científico e Tecnológico Nacional, 50% para PMEs e Projectos de Incubação impacto multi-sectorial e possibilidade de 40% para outras empresas. (POE/PRIME) efeitos de difusão em múltiplos projectos parcialmente privados reunindo capacidades complementares diversas. Apoio a projectos de investimento em Incentivo não-reembolsável, com uma taxa de factores dinâmicos de competitividade incentivo de 40% para empresas e outras entidades SIUPI – Sistema de ligados a inovação, design e aspectos com fins lucrativos no caso de projectos de Incentivos para a distintivos dos produtos e serviços (marcas), investimento em Lisboa e Vale do Tejo, 45% para Utilização de Propriedade com o recurso ao sistema de propriedade empresas e outras entidades com fins lucrativos Industrial industrial ou, para os medicamentos, ao noutras regiões, 70% para inventores, designers (POE/PRIME) sistema de Autorização de Introdução no independentes e empreendedores em fase préMercado. comercialização e 75% para infra-estruturas tecnológicas. DemTec – Projectos-Piloto Apoio à difusão de conhecimento Incentivo não reembolsável, com uma taxa base de relativos a Produtos, relacionado com tecnologias, requerendo a incentivo de 30% para as despesas elegíveis (embora Processos e Sistemas aplicação a nível nacional, por intermédio de susceptível de majoração nos casos de Tecnologicamente projectos de demonstração, que configuram desconcentração territorial, de PMEs e de Inovadores a primeira aplicação de uma nova tecnologia. envolvimento de entidades do Sistema Científico e (POE/PRIME) Tecnológico Nacional). Fonte: POE/PRIME e POCI/POSC. 87 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Estas medidas ganharam consistência na sequência da adopção, em 2005, do designado Plano Tecnológico. Este Plano é composto por três eixos principais: Conhecimento, Tecnologia e Inovação. Por sua vez, uma análise do conjunto de medidas previstas no Plano permite a identificação de sete campos de acção: Sociedade em Rede, Qualificação dos Recursos Humanos, Infra-estruturas de Ciência & Tecnologia, Empreendedorismo, Sistema de Financiamento, Enquadramento da Actividade Económica e Competências Empresariais. Tabela 1.4: Incentivos à I&D/Inovação empresariais nos Programas de Desenvolvimento Regional de Portugal (projectos aprovados), 2000-2006 Acção SIME A* SIME B* Projectos (número) Custos elegíveis totais Incentivo (milhares de euros) (milhares de euros) 57 52.023 22.128 8 8.179 4.252 Mobilizadores 10 41.583 24.993 IDEIA 78 14.183 8.499 SIUPI 223 4.734 3.066 SIME Inovação 8 121.377 46.598 Núcleos de I&DT 169 41.771 18.908 Programa Quadros 112 4.886 2.047 SIME I&DT 38 24.584 9.166 DEMTEC 99 3.277 1.463 INOV-JOVEM - Contratação 81 54.515 26.457 5.1C- Demonstração Tecnológica** 43 12.378 7.457 926 383.490 175.035 Total Legenda: * - Será a única componente deste SI I&DI; ** - I&D&I não empresarial Fonte: PRIME. O impacto inicial das medidas previstas nos Programas de Desenvolvimento Regional 2000-2006 para a promoção da inovação/I&D empresarial foi muito reduzido. De facto, o investimento total associado a projectos específicos de inovação/I&D empresarial apoiados pelo PRIME entre 2000 e 2007 ascendeu a somente €383 milhões, com um total de incentivos de €175 milhões (ver Tabela 1.4). Estes valores representam cerca de 3.5% do investimento total suportado pelo PRIME e 4.4% do total de incentivos, respectivamente. 88 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Tabela 1.5: Exemplos de medidas de incentivo à I&D/Inovação empresariais nos Programas de Desenvolvimento Regional de Portugal 2007-2013 Projectos Objectivos Incentivo Apoio a projectos de I&DT promovidos por empresas numa lógica autónoma SI I&DT – Projectos Individuais SI I&DT – Projectos em Co-promoção SI I&DT – Vale de I&DT SI I&DT – Núcleos de I&DT SI I&DT – Centros de I&DT SI Inovação – Inovação Produtiva Apoio a projectos promovidos em parceria por entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, as quais, devido à complementaridade de competências e ao interesse comum em alavancar os resultados das actividades de I&DT, se associam com vista a potenciar sinergias e partilhar custos e riscos por intermédio de uma parceria em consórcio. Vales atribuídos a PMEs para a aquisição de serviços de I&DT prestados por entidades devidamente qualificadas e reconhecidas, por intermédio de atribuição de um crédito a estes organismos. Apoio a projectos de PMEs com vista ao desenvolvimento sustentado de I&DT interna e de competências de gestão de inovação, através da criação de unidades estruturadas, com características de permanência e dedicadas exclusivamente às actividades de I&DT. Apoio a projectos de empresas já envolvidas em actividades continuadas e estruturadas de I&DT, mas que procura impulsionar essas actividades. Apoio a projectos empresariais em inovação produtiva, promovidos por empresas individuais ou através de cooperação, visando a promoção da inovação por intermédio do desenvolvimento de novos bens, serviços ou processos que permitam uma progressão no seio da cadeia de valor. Incentivo não reembolsável até € 1.000.000, com 25% de incentivo reembolsável acima daquele montante e 75% não reembolsável. Taxa base de 25% para desenvolvimento experimental, majorada em 10% para médias empresas e em 20% para pequenas empresas, 25% para investigação industrial e 15% para projectos de cooperação inter-empresas ou envolvendo entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional. Incentivo não reembolsável até € 1.000.000, com 25% de incentivo reembolsável acima daquele montante e 75% não reembolsável. Taxa base de 25% para desenvolvimento experimental, majorada em 10% para médias empresas e em 20% para pequenas empresas, 25% para investigação industrial e 15% para projectos de cooperação inter-empresas ou envolvendo entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional. Incentivo não reembolsável até um máximo de € 25.000. Taxa de incentivo de 75%. Incentivo não reembolsável até ao limite máximo de € 500.0000. Taxa de incentivo de 50% para pequenas empresas, 40% para médias empresas e 30% para as restantes empresas. Incentivo reembolsável até ao limite máximo de € 1.000.0000, elegível para conversão em reembolsável até 80% sob condições específicas. Incentivo reembolsável. Fonte: QREN. Todavia, no âmbito dos Programas de Desenvolvimento Regional 2007-2010, o generoso pacote de instrumentos de incentivo aos projectos de I&D/Inovação empresariais ganhou dimensão (ver os principais exemplos na Tabela 1.5). Este pacote é presentemente composto por uma elevada diversidade de instrumentos: equipas de investigação co-financiadas em start-ups 89 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 empresariais, incentivos financeiros para o desenvolvimento de projectos de I&D empresarial, co-financiamento de projectos de investimento empresarial com conteúdo de inovação, incentivos ao empreendedorismo tecnológico, capital de risco para projectos empresariais inovadores e incentivos fiscais à I&D empresarial (SIFIDE). Na verdade, uma das novas facetas dos Programas de Desenvolvimento Regional 2007-2010 é a acrescida relevância dos PO Regionais no que respeita à gestão dos sistemas de incentivo à inovação, em particular aqueles dirigidos às pequenas empresas. O pacote mais importante de instrumentos de incentivo a projectos de I&D/inovação empresariais actualmente em vigor em Portugal está contemplado pelo Eixo 2 do PO Factores de Competitividade, bem como pelo Eixo homólogo nos PO Regionais. Este pacote encontra-se estabelecido sob a alçada de um sistema de incentivos direccionado especificamente para a investigação e desenvolvimento tecnológico – o SI I&DT – e crescentemente estruturado em torno da política de clusters de inovação. Adicionalmente, existe, no âmbito do PO Factores de Competitividade, um outro instrumento de incentivo específico com vista à promoção da inovação produtiva – o SI Inovação - Inovação Produtiva – e que tem, na realidade, atraído a maioria dos projectos. Merece destaque o facto de alguns instrumentos de incentivo serem especialmente concebidos para reforçar a vertente “demand pull” das políticas tecnológicas, o que é visto como um passo positivo face ao passado. Nestes casos, o sector empresarial é chamado a explicitar as suas necessidades de inovação e I&D, que receberão depois apoio pelo esquema de incentivos adequado. Este novo enquadramento está em linha com a recente evolução positiva da I&D empresarial em Portugal, mencionada na secção anterior. A execução dos incentivos financeiros até ao momento é positiva. O valor dos projectos elegíveis de I&D empresarial apoiados por este sistema de incentivos ascendeu a €627 milhões entre 2008 e 2011 (Fevereiro), com o montante de incentivos a totalizar €338 milhões (ver Tabela 1.6). No que toca os projectos de inovação, os montantes são ainda mais significativos, com o SI Inovação - Inovação Produtiva a registar €2165 milhões de investimento apoiado e €1122 milhões de incentivo. 90 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 É interessante verificar a importância alcançada pelo investimento total em I&D e inovação quer no PO Factores de Competitividade quer nos PO Regionais (ver Tabela 1.7). Na verdade, em termos de tipo de investimento, a vertente de inovação como um todo tem uma forte representação, contribuindo com mais de 50% do montante total de investimento apoiado, por via das categorias “Empreendedorismo” e, sobretudo, “Inovação”. Embora com uma pequena parcela do total, a categoria “I&D” é responsável por perto de 5% do investimento apoiado, posicionando-se à frente das categorias de “Marketing”, Organização, Gestão e ICT” e “Ambiente e Energia”. Em contraste, a categoria “Propriedade Industrial” é responsável por somente 0,4% do investimento apoiado. Dada a importância deste tipo de investimento para a presente trajectória tecnológica de Portugal, estes dados sugerem a necessidade de concepção de políticas com vista a estimulá-lo. Tabela 1.6: Incentivos à I&D/Inovação empresariais nos Programas de Desenvolvimento Regional de Portugal (projectos aprovados), 2008-2011* Investmento Apoiado (‘000€) Incentivo (‘000€) 337 243,794 126,445 3 61,428 15,871 SI I&DT – Projectos de Co-promoção 335 279,665 175,227 SI I&DT – I&TD Voucher 219 6,447 4,814 SI I&DT – Núcleos de I&DT 88 32,318 14,838 SI I&DT – Centros de I&TD 2 3,501 943 903 2,165,086 Medidas SI I&DT – Projectos Individuais SI I&DT – Regime Especial SI Inovação – Inovação Produtiva Projectos (número) 1,122,476 Legenda: * Fevereiro 2011 Fonte: QREN. Os dados mostram que Portugal possui actualmente um conjunto abrangente de medidas de política da inovação, dirigidas a diferentes áreas da inovação empresarial e fornecendo um largo leque de incentivos, cobrindo desde os investimentos em inovação e I&D ao nível das empresas até ao apoio ao sistema tecnológico e científico e aos processos de clusterização. 91 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Tabela 1.7: Investimento apoiado por tipo nos Programas de Desenvolvimento Regional de Portugal (projectos aprovados), 2007-2010* Investmento Apoiado Valor (€) % do total Internacionalização 339.113.498 5,5% I&D 301.289.126 4,9% Propriedade Industrial 25.838.846 0,4% Qualidade, Saúde e Segurança 52.655.351 0,8% Empreendedorismo Inovação Expansão da Capacidade Produtiva Modernização Tecnológica Marketing Organização, Gestão e TIC Ambiente e Energia Outros Total 163.191.484 2,6% 2.967.166.942 47,8% 679.778.909 10,9% 1.200.208.094 19,3% 30.506.149 0,5% 121.596.289 2,0% 39.069.801 0,6% 288.717.106 4,6% 6.209.131.595 100,0% Legenda: * Junho 2010 Fonte: Avaliação dos Sistemas de Incentivos QREN POFC/COMPETE No entanto, é necessário realçar que os principais factores impulsionadores da inovação empresarial e da investigação orientada para as empresas não são inteiramente compatíveis entre si, o que levanta certas dificuldades. O principal objectivo das empresas está claramente associado ao estabelecimento de condições de competitividade que levem ao incremento do volume de negócios, enquanto que os investigadores estão essencialmente focados na publicação em revistas académicas de referência (um aspecto que pode acarretar a divulgação de informação altamente valiosa relativa a processos produtivos ou outras vertentes da actividade industrial). 3. Interacções entre inovação empresarial, investigação e internacionalização Portugal evidencia um elevado grau de abertura económica ao exterior e as suas actividades económicas tradicionais apresentam uma forte orientação exportadora. Ainda assim, o processo 92 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 de globalização de empresas e mercados continua a ser um factor crucial não só como um importante mecanismo de promoção de um crescimento económico assente em exportações, mas também como um modo de assegurar a implementação das mudanças estruturais resultantes de uma orientação mais intensiva em tecnologia da estrutura produtiva. O mercado interno é relativamente pequeno em termos de produtos e processos intensivos em tecnologia, desde logo devido à limitada procura de tecnologia por parte da maioria das empresas. Esta situação acentua a importância da internacionalização enquanto aspecto chave tanto para o estímulo à criação de novas empresas de base tecnológica ou transformação das empresas existentes, como no acesso a mercados mais sofisticados. A promoção da internacionalização empresarial implica, obviamente, uma combinação entre maiores níveis de valor acrescentado dos bens e serviços, que resultará directamente da incorporação de inovação, e um peso acrescido dos produtos transaccionáveis. A interdependência destes dois aspectos enfatiza não só a necessidade de implementação de políticas e instrumentos coerentes e integrados, como também a importância de uma política industrial eficaz, dirigida quer à indústria quer aos serviços, em conjunto com a integração de actividades empresariais e de actividades de investigação orientadas para o mercado externo. Combinando orientação exportadora, investimento em I&D e inovação, conclui-se que as actividades mais relevantes são a fabricação de equipamento informático, de equipamento eléctrico, de máquinas e equipamentos n.e. e de veículos automóveis e as indústrias petrolífera, química e farmacêutica. Apesar do seu elevado nível de exportações, designadamente quando comparado com outras indústrias tradicionais no tecido económico português (como as indústrias da madeira e do papel, da alimentação e bebidas e dos produtos minerais não metálicos), as indústrias de têxtil e vestuário revelam claramente um reduzido nível de investimento em I&D. Tal também se aplica à indústria extractiva, caso em que, para mais, a interacção positiva entre Orientação Exportadora e Despesa em I&D não se verifica. A internacionalização do sistema de inovação português encontra-se também em curso, impulsionada pela crescente abertura das empresas ao exterior. Por um lado, observa-se uma 93 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 consolidação de algumas das maiores instituições e a criação de raiz de novas instituições de cariz internacional (nomeadamente, o Instituto Champalimaud), o que permite assegurar a participação em consórcios internacionais de I&D e o desenvolvimento de uma cooperação crescente com empresas e centros de investigação estrangeiros (o que já contribuiu para atrair empresas para Portugal e para o estabelecimento de redes de colaboração internacionais). Por outro lado, a melhoria da percepção do sistema de inovação português aumenta a sua atractividade do ponto de vista dos recursos humanos estrangeiros, bem como das iniciativas externas intensivas em conhecimento tecnológico (por exemplo, o Instituto Fraunhofer ou o Laboratório Ibérico de Nanotecnologia). É claramente importante estimular a participação de tais instituições em plataformas científicas e tecnológicas internacionais, bem como promover a sua participação em programas e actividades de cooperação transnacional: a consequência deste processo de internacionalização será o estímulo e intensificação da capacidade e da vontade para se estabelecerem redes internacionais, deste modo aumentando o potencial inovador de Portugal. 94 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Figura 1.14: Relação entre Orientação Exportadora e Empresas Inovadoras, considerando o nível de Despesa em I&D, 2008 Total Total Indústria Industry Total Industry Indústria Total Nota: A dimensão das bolhas representa o peso da despesa em I&D de cada sector na economia. Fonte: GPEARI and INE O incremento da visibilidade do potencial inovador de Portugal e das suas significativas vantagens em termos de custos/resultados (também em termos de recursos humanos altamente qualificados) levará, adicionalmente, à atracção de IDE intensivo em tecnologia, aspecto particularmente relevante para a aceleração do processo de mudança estrutural em Portugal. 95 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 4. Estratégias de eficiência empresarial colectiva e de clusterização A evidência empírica e a literatura relevante na área mostram que a investigação e a inovação empresarial não podem ser entendidas como o resultado de actividades ou investimentos levados a cabo por agentes isolados, apontando antes para a importância da construção de redes que sejam palco de relações de interacção entre diferentes tipos de actores. A adopção, por parte das políticas públicas, de instrumentos que visam o estímulo da eficiência colectiva no seio das empresas portuguesas e, por esta via, o aumento da competitividade ao nível agregado da economia ocorreu, pela primeira vez, no contexto do PEDIP (QCA II). Com base na promoção de parcerias entre entidades públicas e associações empresariais, pretendiase primordialmente actuar sobre os factores imateriais que permitissem reforçar a posição competitiva das empresas. O POE manteve esta abordagem, incluindo a criação de medidas destinadas à correcção de falhas de mercado e à melhoria da envolvente empresarial. O principal instrumento consistiu nas Parcerias e Iniciativas Parcerias (PIP), focadas no desenvolvimento de uma envolvente colectiva propícia à inovação e aos incrementos de produtividade. Noventa projectos PIP foram aprovados pelo POE/PRIME, correspondendo a €131,2 milhões de investimento elegível e €106,7 milhões de incentivos, com uma especial ênfase nas iniciativas de cariz industrial (45,3% do total das iniciativas). De acordo com a Tabela 1.8, merece destaque a Internacionalização enquanto o tipo de intervenção maioritário, tanto em termos de número de projectos (46% do total) como do montante de apoio financeiro (54%), envolvendo, em média dois parceiros por projecto. O segundo tipo de intervenção mais importante diz respeito à Qualificação de Recursos Humanos (22% dos projectos e 16% do apoio financeiro), envolvendo, em média, dois parceiros por projecto. O apoio a este tipo de projectos, com particular enforque nas pequenas e médias empresas (PMEs), permitiu o cumprimento de um significativo objectivo estratégico do PRIME: a melhoria das condições para a promoção da competitividade da economia portuguesa. O tipo 96 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 de intervenção respeitante à Observação e Informação aparece como o terceiro mais importante (11% dos projectos e cerca de 8% do apoio financeiros), envolvendo, em média, nove parceiros por projecto. Tabela 1.8: Distribuição dos Projectos de Parceria aprovados por tipo de intervenção, 2000-2006 Tipo de Intervenção Internacionalização Apoio Financeiro (Milhares €) Número de Projectos Número de CoPromotores Número Médio de CoPromotores por Projecto 132 275.654 278 2 Observação e Informação 33 40.701 289 9 Qualificação de RH 64 84.127 114 2 Multi-áreas 13 30.446 19 1 Oferta de Produtos de Excelência 10 19.759 14 1 3 11.291 15 1 12 11.135 15 1 Inovação Empreendedorismo Cooperação 4 9.690 5 1 Propriedade Industrial 3 13.052 61 20 Tecnologia da Informação 2 4.972 3 2 Ambiente 4 3.032 6 2 Eficiência Energética 4 2.774 4 1 Sistemas de Informação 1 1.830 1 1 Saúde e Segurança no Trabalho 1 1.500 13 13 Comércio Electrónico 1 1.360 2 2 Qualidade Disseminação de Melhores Práticas de Gestão 1 1.033 2 2 Total 1 415 2 2 289 512.771 877 3 Fonte: SiPRIME Em contraste, as áreas da Inovação, do Empreendedorismo e da Propriedade Industrial concentraram uma reduzida fracção do apoio financeiro (em conjunto, somente 6% do total), embora evidenciando um elevado número de parceiros por projecto (em média, 15 quer na Inovação quer no Empreendedorismo, e 20 na Propriedade Intelectual). Este processo foi continuado e reforçado pelo PO Factores de Competitividade/COMPETE sob a alçada de dois instrumentos: (i) o Sistema de Apoio a Acções Colectivas (SIAC) e (ii) as 97 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC). A descrição destes dois instrumentos é desenvolvida de seguida. Sistema de Apoio a Acções Colectivas (SIAC) O SIAC fornece apoio indirecto às empresas, permitindo intervenções estruturadas e sustentadas com o objectivo de promover os factores de competitividade colectiva através da cooperação entre organizações públicas e privadas. Assim, numa lógica de obtenção de ganhos sociais e externalidades positivas, o SIAC integra três níveis de actividades: a divulgação do conhecimento, a redução da informação imperfeita e a coordenação e constituição de redes entre parceiros. A implementação do SIAC cobre as seguintes áreas de intervenção: difusão da inovação e tecnologia (incluindo acompanhamento das transformações económicas, inteligência económica, vigilância tecnológica); cooperação empresarial; empreendedorismo qualificado e de base tecnológica (espírito empresarial, ferramentas e competências necessárias à criação de empresa); desenvolvimento sustentável (ambiente, energia, qualidade, segurança); promoção externa da imagem do país e internacionalização, tendo como alvo novos mercados ou mercados emergentes; valorização dos recursos humanos (adaptação de qualificações e desenvolvimento de competências); mecanismos complementares de financiamento e estímulo do acesso de PMEs ao financiamento. Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC) A concepção das EEC segue uma trajectória coerente com as iniciativas de política anteriores dirigidas à promoção das redes de cooperação entre empresas, instituições de I&D e entidades públicas relevantes, com vista ao incremento da competitividade através da inovação e do desenvolvimento tecnológico. O PO Factores de Competitividade/COMPETE estabelece dois tipos temáticos de EEC: Pólos de Competitividade e Tecnologia (PCT) e Outros Clusters. Adicionalmente, duas tipologias de EEC de cariz territorial são implementadas pelos PO Regionais: os Programas de Valorização Económica de Recursos Endógenos (PROVERE) e as Acções de Regeneração e Desenvolvimento Urbanos (ARDU). 98 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Os PCT e Outros Clusters são particularmente relevantes para a inovação e investigação empresariais. O seu reconhecimento formal, dado na sequência de uma iniciativa dos promotores (por conta própria ou em resposta a um estímulo por parte das autoridades públicas), é concedido por decisão ministerial, tomando em consideração os programas de acção propostos e a respectiva avaliação por um comité após um processo de audição pública. Dezanove EEC foram já reconhecidos (ver Tabela 1.9). Tabela 1.9: PCT’s e Outros Clusters reconhecidos oficialmente pelo POFC/ COMPETE, 2011 PCTs e Outros Clusters Basados em Recursos Naturais: Cluster do Vinho da Região do Douro PCT da Agro-Indústria Cluster da Agro-Indústria do Ribatejo Cluster da Agro-Indústria do Centro Cluster do Mar Cluster da Pedra Natural Cluster Habitat Sustentável PCT das Indústrias da Floresta Baseados em Cadeias de Valor Tradicionais: Cluster do Mobiliário PCT da Moda Baseados em Cadeias de Valor Avançadas: PCT das Tecnologias da Produção PCT Engineering & Tooling PCT do Automóvel e Mobilidade PCT Petroquímico e Químico PCT da Saúde PCT da Energia PCT TICE Serviços de Lazer: Cluster das Indústrias Criativas PCT do Turismo Entidade Promotora Sede Número de Membros Set-2009 Dez-2010 ADVID Associação Integralar Animaforúm NERCAB OCEANO XXI Associação Valor Pedra Centro Habitat AIFF Peso da Régua Porto Santarém Castelo Branco Porto Évora Aveiro Aveiro 207 48 30 36 43 29 62 28 180 58 40 71 nd 31 85 n/a APEIEMP APCM Paredes Porto 5 26 n/a 26 PRODUTECH POOL NET CEIIA AIPQR HCP Associação PCTE Associação TICE.PT Porto Marinha Grande Maia Estarreja Porto Aveiro Aveiro 67 49 37 22 93 5 46 71 66 43 23 109 13 51 ADDICT Turismo de Portugal Porto Coimbra 63 18 100 18 Legenda: PTC – Pólos de Competitividade e Tecnologia Fonte: POFC/ COMPETE Considera-se, nas circunstâncias expostas, que se teria justificado a fundamentação prévia (e a correspondente explicitação) da racionalidade objectiva dos PCT e Outros Clusters que foram 99 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 objecto de reconhecimento e dinamização, designadamente em que medida os mesmos correspondem a opções e a orientações de especialização e de reforço da competitividade internacional da economia portuguesa, por revelarem forte aderência às massas críticas temáticas – com impactos sectoriais e territoriais – existentes ou por evidenciarem relevantes dinâmicas emergentes. Numa outra perspectiva, entende-se que a distinção estabelecida no processo de reconhecimento e dinamização de EEC entre PCT e Outros Clusters é discutível: para além de objectivamente ser vista como correspondendo a uma graduação da sua importância e dignidade, que não parece justificada, a dimensão de ‘orientação internacional’ consagrada para fundamentar a distinção entre PCT e Outros Clusters não revela aderência à realidade, sobretudo porque muitos dos Outros Clusters objecto de reconhecimento demonstram significativo enraizamento no tecido económico regional e, simultaneamente, significativa penetração, tanto efectiva como potencial, em mercados internacionais. O reconhecimento de clusters enquanto EEC tem consequências positivas, incluindo a possibilidade de co-financiamento dos custos suportados com a estrutura de gestão e coordenação, bem como os seguintes benefícios dirigidos aos projectos considerados no âmbito das estratégias: (i) acesso preferencial aos sistemas de incentivos (bónus, concursos específicos, afectações orçamentais específicas em concursos de cariz geral, possibilidade de ajustamento dos sistemas de incentivos e adaptação cruzada do modelo de gestão dos sistemas de incentivos); (ii) acesso preferencial a mecanismos de engenharia financeira (afectações orçamentais ou linhas específicas de intervenção); (iii) acesso preferencial a acções colectivas (concursos específicos); (iv) acesso preferencial ao sistema de apoio financeiro dos projectos do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia (concursos específicos); (v) acesso preferencial aos mecanismos de apoio respeitantes às infra-estruturas tecnológicas e à criação e consolidação de áreas empresariais; (vi) acesso preferencial a outro tipo de apoios no quadro do PO Factores de Competitividade e dos PO Regionais (concursos específicos); (vii) acesso preferencial ao PO Potencial Humano (concursos específicos); (viii) acesso preferencial ao PRODER (Programa de 100 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Desenvolvimento Rural) e ao PROMAR (PO para o sector das pescas português) (concursos específicos). É de especial interesse assinalar que, desde meados de 2009, a grande maioria das aberturas de concurso no âmbito de diversos sistemas de incentivos exclui iniciativas que não EEC ou estabelece um orçamento específico para os projectos de investimento ao abrigo dos PCT e Outros Clusters (frequentemente pesando mais de 55% do orçamento total). As EEC, em particular aquelas sob a alçada do PO Factores de Competitividade/COMPETE assumem, justificadamente, uma importância crescente no quadro das políticas e instrumentos de promoção da competitividade do QREN, designadamente tomando em consideração o papel central assumido pela inovação e respectivas iniciativas, bem como, no caso dos PCT, pelas orientações de internacionalização. Tomando em consideração o cariz inovador da abordagem das EEC levada a cabo em Portugal e a relevância da sua consolidação, é de grande importância assegurar não só o acompanhamento independente da sua implementação, mas também uma avaliação regular e transparente dos seus sucessos e dificuldades. Tabela 1.10: PCT’s e Outros Clusters versus Sistemas de Incentivos do PO Factores de Competitividade/COMPETE, 2009-2011 Medida I&DT Inovação Tipo Abertura de concurso Afectação Orçamental Geral EEC * Total Projectos Individuais 06/2010 15.250.000 26.250.000 41.500.000 Projectos em Co-promoção 35/2009 11.550.000 24.450.000 36.000.000 Projectos Individuais 32/2009 17.450.000 24.900.000 42.350.000 I&DT Colectiva 31/2009 0 9.500.000 9.500.000 Empreendedorismo Qualificado 05/2010 11.700.000 14.300.000 26.000.000 Inovação Produtiva 04/2010 67.100.000 110.900.000 178.000.000 Empreendedorismo Qualificado 34/2009 11.200.000 15.800.000 27.000.000 Inovação Produtiva 33/2009 45.500.000 130.000.000 175.500.000 PME Qualificação Projectos Individuais e de Cooperação 07/2010 14.000.000 24.000.000 38.000.000 Projectos Conjuntos 02/2010 8.200.000 19.400.000 27.600.000 101 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Medida Abertura de concurso Tipo Afectação Orçamental Geral EEC * Total Projectos Individuais e de Cooperação 01/2010 14.200.000 26.800.000 41.000.000 Projectos Individuais e de Cooperação 29/2009 21.000.000 26.500.000 47.500.000 Legenda: * Estratégias de Eficiência Colectiva Fonte: POFC/ COMPETE Por outro lado, o facto de um número de EEC terem sido adoptadas no seguimento de iniciativas de autoridades públicas vem reforçar a necessidade do referido acompanhamento e avaliação, especificamente direccionados para os PCT e Outros Clusters existentes, tanto à luz de critérios de crescimento, competitividade e potencial de internacionalização, como tendo em atenção a justificação e fundamento da distinção entre aquelas duas configurações de EEC. 5. Modelo institucional e governação Em 1986, a OCDE (Review of National Science and Technology Policy of Portugal) afirmava que a história da política de ciência, tecnologia e inovação de Portugal se assemelhava a uma sinfonia inacabada. Podemos dizer que, actualmente, mesmo estando esta sinfonia mais completa que no passado, continua a ressentir-se da ausência de um maestro que assegure a integração das diferentes componentes, bem como a sua implementação harmoniosa. De facto, se assumido tal ponto de vista histórico, as políticas públicas portuguesas são particularmente reconhecidas pela sua dificuldade de integração, uma consequência (e um sinal claro) da prevalência de abordagens sectoriais em detrimento de abordagens de índole horizontal e com enfoque estratégico. Os efeitos desta situação persistente sobre a investigação e a inovação empresarial justificam uma preocupação especial com a fragmentação das responsabilidades institucionais e de governação em áreas como a ciência, o desenvolvimento tecnológico, o ensino superior, a economia, a agricultura e as pescas. Já com vista a evitar esta fragmentação, foi criada, em 1967, a JNICT (Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica). Apesar de muitos bons resultados obtidos pela JNICT 102 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 (hoje em dia, FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia), o que foi conseguido em termos de integração do governo das políticas de ciência, tecnologia e inovação foi desapontante. Diversas outras iniciativas foram sendo adoptadas no sentido de se ultrapassarem as dificuldades descritas, nomeadamente: a criação, em 1978, da Comissão Interministerial para a Ciência e Tecnologia e o Conselho Superior para a Ciência e Tecnologia, seguidos, em 1982, pelo estabelecimento do Concelho Nacional para a Investigação Científica e Tecnológica; a reactivação, em 1986, do Conselho Superior para a Ciência e Tecnologia; a criação, em 1993, da Agência de Inovação; a reestruturação, em 1996, do Conselho Superior para a Ciência e Tecnologia; o lançamento, em 2001, do PROINOV (Programa Integrado de Apoio à Inovação); a criação, em 2002, da UMIC (Unidade de Missão para a Inovação e Conhecimento), seguida, em 2004, da Comissão Interministerial para a Inovação e Conhecimento e, em 2005, da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico. Até ao momento, nenhuma destas iniciativas alcançou resultados adequados no que toca a integração de políticas. Também no quadro dos Programas Operacionais, a realidade da abordagem vertical no que toca os instrumentos de política para a ciência, tecnologia e inovação manteve-se entre 1999 e 2003. Foi somente com o QREN 2007-2013 que as políticas públicas portuguesas adoptaram uma única agenda estratégica e operacional para a competitividade, implementada pelo COMPETE e pelos PO Regionais, com o propósito de apoiar e financiar os investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Mas mesmo no caso do COMPETE é possível identificar margem de melhoria no processo de integração, nomeadamente no que respeita à coerência estratégica e à articulação operacional entre o Eixo Prioritário “Conhecimento e Desenvolvimento Tecnológico” e os restantes Eixos Prioritários, incluindo, em particular, os sistemas de apoio ao investimento empresarial e outros instrumentos cobertos pelo Eixo Prioritário “Inovação e Renovação do Modelo Empresarial e do Padrão de Especialização”. A referida melhoria da integração não implica, de resto, a concentração de esforços de articulação no seio dos PO especificamente direccionados para a promoção de investimento 103 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 empresarial – designadamente porque a coordenação entre essas actividades e o desenvolvimento de recursos humanos são cruciais e, também, porque o potencial de inovação dos investimentos de cariz territorial (infra-estruturas e equipamento colectivo, redes e respectiva integração no sistema urbano) é extremamente importante. Actualmente, um novo esforço no sentido de uma maior integração entre políticas de C&T e de I&D pode ser encontrado no Programa Nacional de Reformas (Portugal 2020), designadamente por intermédio da integração de iniciativas relacionadas sob o mesmo objectivo formal (“I&D e Inovação”). No entanto, mantêm-se programas separados relativamente a cada área de política, não se vislumbrando nenhum esforço relativamente à sua coordenação: “Compromisso com a Ciência para 2020”, no que toca a política de C&T, e “Agenda Digital 2015” / “Inovação Portugal 2020”, no que toca a política de I&D e de inovação. No presente, dois ministérios têm responsabilidades na governação da ciência, tecnologia e inovação em Portugal: o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Ministério da Economia, Inovação e Desenvolvimento, com a implementação da política de investigação e inovação empresarial a cargo do segundo. A referida implementação da política de investigação e inovação empresarial é assegurada, no contexto do QREN, pelos corpos de gestão e monitorização do PO Factores de Competitividade / COMPETE e dos PO Regionais e, no âmbito das agências públicas, pela Agência da Inovação (Adi), pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI), pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e pelo Turismo de Portugal (TP). Esquema 1.1: Governação da Ciência, Tecnologia e Inovação em Portugal 104 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Parlamento Nível 1: Coordenação Intersectorial Nível 2: Política Ministerial intrasectorial Committee da Educação e Ciência Governo Ministério da Ciência, Tecnologia do Ensino Superior Ministério da Economia, Inovação e Desenvolvimento Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas Outros Ministérios PRODER+PROMAR POVT CCCT GPEARI POPH Nível 3: Coordenação da implementação Committee on Economic Affairs, Innovation & Energy POFC/COMPETE POR FCT Adi POR IAPMEI IFAP AICEP TP É importante sublinhar que foram implementados mecanismos e procedimentos de coordenação global entre as diferentes entidades no quadro dos sistemas de incentivos do QREN. Contudo, o seu desempenho (nomeadamente, no que respeita às competências formais e às actividades das agências públicas em termos de políticas de investigação e inovação empresarial) permanece fragmentado. Deste modo, ao invés de se procurar um novo sistema revolucionário de medidas de apoio, atenção deveria ser dedicada ao incremento da coordenação, eficácia e avaliação do sistema existente. Em particular, a coordenação entre as diversas áreas de concepção das políticas, entre medidas e entre os níveis de responsabilidade nacional e regional. 105 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 No que toca à concepção de políticas, foi alcançado progresso significativo mas permanece a necessidade de aperfeiçoamento da coordenação inter-ministerial. Quanto à relação entre medidas, a existência de uma abordagem de flexibilidade orçamental evidencia-se como um aspecto positivo, no sentido em que faculta uma perspectiva integrada e globalizante das diferentes medidas. Para além disso, o incremento do nível de integração entre os respectivos sistemas de apoios mantêm-se como um objectivo essencial, em particular com as ligações entre os sistemas de apoio à inovação e à I&DT a requererem melhorias. Relativamente às responsabilidades nos planos nacional-regional, os Programas de Desenvolvimento Regional 2007-2013 representaram um desenvolvimento muito positivo ao atribuírem responsabilidades às autoridades regionais. Contudo, esta iniciativa inovadora de construir uma ponte entre os corpos de gestão nacional e regionais precisa de aperfeiçoamento. 6. Mecanismos de engenharia financeira I&D, inovação e internacionalização são caracterizadas por elevados níveis de risco e incerteza. O estímulo a investimentos empresariais intensivos em inovação, via criação ou expansão de empresas, depende fortemente da existência e eficácia de instrumentos de engenharia financeira, em particular no âmbito do capital de risco. De acordo com o Innovation Trend Chart, o capital de risco é um dos pontos fracos dos Sistema de Inovação português, por duas ordens de factores: um mercado financeiro nacional orientado para o crédito e, como consequência, com um grau de aversão ao risco particularmente elevado, e um mercado doméstico com reduzida profundidade. Tabela 1.11: Top-10 das sociedades de capital de risco em Portugal, 2009 Instituição Quota de Mercado (%) Caixa Capital - SCR, SA 17,39% Finpro, SCR, SA 16,72% 106 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 ECS - SCR, SA 16,12% Explorer Investments - SCR, SA 14,31% Espirito Santo Ventures - SCR, SA 8,58% Espírito Santo Capital - SCR, SA 6,02% InovCapital - SCR, SA 5,36% AICEP Capital Global - SCR, SA 4,24% Banif Capital - SCR, SA 2,62% TC Turismo Capital - SCR, SA 2,10% Fonte: CMVM Os fundos e sociedades de capital de risco em Portugal têm uma clara predominância de operadores bancários generalistas. A afectação do capital de risco revela a preferência dos operadores por investimentos de risco moderado, dado o enfoque em projectos de expansão (equivalendo a 49% do investimento em 2009), nos quais o investimento empresarial é caracterizado tipicamente por um nível de risco e incerteza relativamente baixo, designadamente por comparação com os investimentos do tipo start-up. Tabela 1.12: Afectação do capital de risco por estágio de investimento, 2009 Estágio de investimento Expansão Número Valor (Milhões €) % do total 229 857,8 49,2% 58 302,1 17,3% 364 169,5 9,7% Management Buy-Out 69 119,0 6,8% Management Buy-In 10 65,2 3,7% Fase Inicial 49 49,8 2,9% Turnaround 34 45,0 2,6% Capital Semente 29 20,7 1,2% 4 10,9 0,6% Outros 40 102,5 5,9% TOTAL 886 1742,6 100,0% Capital de Substituição Start-up Refinanciamento de Dívida Fonte: CMVM Para além do reduzido montante de capital de risco disponibilizado pelo sistema financeiros, a ênfase em projectos de relativamente baixo risco coloca restrições acrescidas no apoio 107 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 financeiro à investigação e inovação empresarial, apesar da necessidade crítica de empresas e actividades baseadas em conhecimento na economia portuguesa. Tabela 1.13: Afectação do capital de risco por sector económico, 2009 Sectores Económicos Actividades de serviços financeiros e seguros Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição Indústria transformadora Actividades de consultoria, científica e técnica Transportes e armazenagem Actividades administrativas e dos serviços de apoio Utilities Actividades de TIC Turismo Comércio a retalho e por grosso Actividades imobiliárias Construção Agricultura, produção animal, caça e pesca Actividades de saúde humana e apoio social Actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas Outras actividades de serviços Educação Indústria extractiva TOTAL Total Valor 423,0 % do total 24,3% 10 358,2 20,6% 183 166 2 45 19 105 43 89 16 13 16 14 179,7 170,6 168,3 95,4 82,2 78,3 59,7 31,7 24,9 22,0 20,7 16,0 10,3% 9,8% 9,7% 5,5% 4,7% 4,5% 3,4% 1,8% 1,4% 1,3% 1,2% 0,9% 11 11,1 0,6% 5 3 1 886 0,6 0,2 0,0 1742,6 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% Número 145 Fonte: CMVM Vendo-se o capital de risco como uma alavanca relevante para a emergência de empresas intensivas em tecnologia e para o estímulo de projectos inovadores e respectiva internacionalização, conclui-se que a distribuição por sector económico dos projectos financiados por capital de risco é também pouco entusiasmante: em 2009, as actividades de serviços financeiros e seguros estavam no topo dos beneficiários, seguidas pelas actividades de tratamento e distribuição de água, enquanto que a indústria transformadora captava somente 10% dos fundos. O PO Factores de Competitividade / COMPETE inclui verbas destinadas à criação e expansão de fundos de capital de risco; €360 milhões do FEDER foram aplicados a esta finalidade, com o objectivo de se ultrapassarem as falhas de mercado que afectam o financiamento da 108 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 investigação e inovação empresarial. Tendo como base fundos já existentes, o FINOVA foi criado com o propósito de estabelecer linhas de crédito e fundos de capital de risco especificamente orientadas para as PMEs. No âmbito do PO Factores de Competitividade / COMPETE, foram abertos concursos para a criação e gestão de instrumentos de engenharia financeira, com o propósito de reforçar o mercado do capital de risco, os fundos de garantia mútua e fornecer linhas de crédito especializadas para a inovação. Mais de 77% dos fundos disponíveis no quadro do FEDER foram afectos a linhas de crédito, seguidos de €23 milhões para uma iniciativa de capital de risco do cinema, sendo que perto de €9 milhões foram aprovados para fundos de capital de risco. Adicionalmente, cinco aberturas de concurso ocorreram em meados de 2009, destinando €152 milhões para reforço de fundos de capital de risco. Para fundos pré-semente e de fase inicial, €38 milhões foram pré-seleccionados, vindo assim a acrescentar a uma subvenção de €79 milhões do FEDER para apoio à inovação e à internacionalização. A informação disponível confirma a implementação de instrumentos e a dedicação de recursos com vista à resolução das falhas de mercado no que toca ao financiamento da inovação empresarial. Todavia, os resultados deste processo, ainda em fase inicial, são modestos, dificultando a emergência de novas empresas baseadas no conhecimento, assim como a aceleração do processo de mudança estrutural da economia. Parece poder concluir-se que os referidos recursos foram direccionados sobretudo para o reforço de instrumentos já existentes – uma situação que não sugere perspectivas positivas para o estímulo à investigação e inovação empresarial (tomando em consideração, como já referido, o perfil existente dos operadores financeiros, com apetite moderado pelo risco e optando por uma afectação tradicional de fundos). Finalmente, as dificuldades observadas na implementação dos sistemas de apoio financeiro dirigidos aos instrumentos de engenharia financeira são também consequência dos (possivelmente) exagerados obstáculos formais resultantes dos regulamentos e gestão global dos Fundos Estruturais da UE. Este aspecto sublinha a necessidade de se dedicar significativa 109 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 atenção à adaptação dos referidos Fundos às características dos instrumentos de engenharia financeira. A necessidade de tal adaptação e flexibilização, sobretudo explicada pela tradicional relevância assumida pelos subsídios a fundo perdido no quadro dos Fundos Estruturais, bem como pela preocupação exagerada com a regularidade formal das operações – em contraste com a menor atenção prestada à avaliação de resultados e impactos – foi recentemente reconhecida pelo Relatório de Coesão da Comissão Europeia, o qual anunciou o reforço dos mecanismos de engenharia financeira no próximo período de programação. Nos finais de 2009, os indicadores do PO Factores de Competitividade mostravam que somente os objectivos definidos para o crédito de garantia mútua haviam sido ultrapassados. O rácio do investimento em capital semente no total de investimento em capital de risco (proxy para a qualidade do capital de risco) foi de 0%, face a um objectivo intercalar para o período de 20072009 de 33%. A proporção de fundos destinados às empresas intensivas em alta e média-alta tecnologia no total de investimento apoiado pelos instrumentos financeiros direccionados para a inovação e internacionalização ficou bem abaixo do patamar estabelecido de 30%. Mais recentemente, na sequência dos concursos abertos no âmbito do PO Factores de Competitividade e do PO Regional de Lisboa, o FINOVA participou na constituição ou reforço de vinte e quatro fundos de capital de risco vocacionados para estratégias de expansão, inovação e internacionalização de PMEs, sobretudo das empresas mais jovens e de menor dimensão, no contexto de uma renovação de modelos de gestão e de uma mais efectiva participação em redes globais de valor acrescentado. Estes fundos foram agrupados em torno de quatro objectivos últimos de financiamento: (i) inovação e internacionalização de PMEs; (ii) capital de risco empresarial; (iii) projectos em fase inicial; (iv) projectos pré-semente. 110 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 7. SWOT do Diagnóstico Estratégico Pontos Fortes: ¾ Vantagens de custo da I&D. ¾ Capital humano em rápida expansão, com competências de excelência em domínios como as TIC, Saúde, Biotecnologia e Engenharia. ¾ Expansão do sistema de inovação não-empresarial com a consolidação de um conjunto de unidades de maior dimensão. ¾ Abertura e internacionalização das instituições académicos. ¾ Conjunto relevante de sectores com uma crescente intensidade em tecnologia. ¾ Infra-estruturas de elevado nível tecnológico. Pontos Fracos: ¾ Dispersão dos recursos de I&DT, falta de enfoque e desalinhamento entre a agenda das instituições académicas e o tecido económico. ¾ Sistema de remunerações desfavorável à colaboração universidade-indústria, levando a um networking de baixa densidade. ¾ Nível reduzido de gestão estratégica da investigação e inovação empresarial. ¾ Predominância de PMEs de pequena dimensão e com reduzida escala de internacionalização. ¾ Peso excessivo da procura de baixa tecnologia. ¾ Força de trabalho com baixos níveis médios de educação. ¾ Falhas de mercado em termos de instrumentos de engenharia financeira para apoiar o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, a inovação e a internacionalização. ¾ Insuficiente selectividade da política de inovação. Oportunidades: ¾ Globalização da inovação e I&D empresariais. ¾ Crescente enfoque institucional na inovação e no estabelecimento de redes. ¾ Procura pública de serviços intensivos em tecnologia e redução dos custos de transacção. ¾ Forte investimento em educação. Ameaças: ¾ Efeitos da reduzida capacidade de atracção e da ‘fuga de cérebros’. ¾ Internacionalização das universidades enquanto eventual indutora da desarticulação entre a oferta de programas de pós-graduação e a procura de inovação empresarial. ¾ Financiamento do QREN. ¾ Aumento da emergentes. ¾ Estratégias de Eficiência Colectiva promotoras da coordenação de acções e recursos entre parceiros. ¾ Falta de enfoque do ‘push’ das políticas públicas. concorrência directa dos países ¾ Desajustamento entre as prioridades definidas topdown e as necessidades da economia real. 111 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 ANEXO 2 ESTUDOS DE CASO Este anexo analisa, em maior detalhe, os 5 estudos de caso seleccionados nas reuniões com a Comissão, nos dias 15 e 21 de Janeiro de 2011: Critical Software, Bial, Frulact, N-SEC e CTCP. A abordagem baseada em estudos de caso visa destacar exemplos de sucesso em matéria de inovação empresarial e transferência de tecnologia. A diversidade dos casos seleccionados procura cobrir diferentes tipos de inovação, no sentido Schumpeteriano, diferentes tipos de actores (spin offs, PME e grandes empresas, infraestruturas de apoio, instrumentos de engenharia financeira), diferentes sectores (de emergentes e mais intensivos em tecnologia, a indústrias maduras de especialização tradicional) e possibilitando a análise de múltiplas dimensões do processo inovativo. Concomitantemente, os estudos de caso possibilitam uma compreensão mais completa da realidade que enfrentam os profissionais que operam no ambiente de I&D e Inovação Português. Esta abordagem ajuda a mapear a rede de stakeholders, a identificar o seu padrão de interacções e os fluxos de transferência de conhecimento e, ainda, identificar os elementos facilitadores e inibidores relevantes. 1. Bial 1.1. Breve caracterização 112 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A Bial - Portela & Companhia, SA é a maior empresa farmacêutica Portuguesa. Empresa familiar fundada em 1924, tem hoje 786 funcionários, um volume de negócios de € 120M e opera em mais de 40 países. A sua sede está localizada em São Mamede do Coronado, Porto, na região Norte de Portugal. TABELA 2.1: BIAL – INDICADORES GERAIS DE ACTIVIDADE, 2004-2010 2004 2006 2008 2010 Vendas 87.608.894€ 92.602.154€ 146.302.688€ 120.473.957€ Vendas no estrangeiro 16.794.927€ 22.994.618€ 71.888.057€ 38.642.057€ Nº de empregados 486 601 729 786 % em Portugal 66% 71% 58% 55% Fonte: Bial, S.A. Apesar de a estratégia da Bial assentar em dois vectores principais, I&D e internacionalização, a falta de escala levou a uma abordagem de internacionalização baseada na concessão de licenças de distribuição a outras empresas farmacêuticas. Ainda assim, mais de 30% das suas vendas realizam-se fora do mercado Português e a sua estratégia de internacionalização vai ainda mais longe, tendo adquirido centros de investigação em Bilbau e Itália de forma a penetrar em dois importantes mercados, bem como adquirido competências na produção de vacinas e na área da imunologia/alergologia. 1.2.Principais características do processo de inovação Ainda que a Bial seja a maior empresa farmacêutica Portuguesa, é uma “pequena” empresa no contexto da indústria mundial. Assim, a estratégia de inovação da Bial fundou-se na aposta em nichos de mercado, destacando-se o desenvolvimento e produção de medicamentos para o sistema nervoso central. Caixa 2.1: Eslicarbazepin acetate O processo de I&D do primeiro medicamento português de raiz iniciou-se em 1994 com a descoberta e síntese química da eslicarbazepin acetate, ao que se seguiu, em 1996, o pedido de patente internacional. O passo seguinte consistiu na realização de ensaios pré-clínicos e testes de toxicologia, a fim de determinar se a droga era segura para ser testada em seres humanos. 113 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Visando o lançamento mundial de seu anti-epiléptico, a BIAL optou por estabelecer acordos de licenciamento com dois parceiros internacionais amplamente conhecedores dos mercados onde operam e com forte experiência na área do sistema nervoso central. Assim, para o mercado dos EUA e Canadá, no final de 2007, a Bial anunciou a assinatura de um contrato de licenciamento exclusivo com a Sepracor. Em Fevereiro de 2009, a Bial estabeleceu uma parceria com a multinacional japonesa Eisai para a comercialização do novo medicamento em 36 países europeus. O acordo com a Eisai exclui alguns países, como Portugal, onde BIAL assegura directamente a distribuição. Hoje, e após um investimento superior a 300 milhões de euros, o primeiro medicamento Português patenteado está disponível em Portugal, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Reino Unido, Noruega, Suécia e Islândia. O processo de inovação da Bial segue um ciclo muito longo, de mais de uma década (em média 14 a 15 anos), sendo também muito exigente em termos de investimento. O primeiro medicamento "100% made in Portugal", o Eslicarbazepin, representou um investimento de mais de € 300 milhões. A base de conhecimento da Bial é puramente analítica, baseando-se nas competências internas de I&D para a produção de novos compostos químicos que são submetidos a testes pré-clínicos e, posteriormente, a ensaios clínicos. Assim, as competências internas de I&D são fundamentais para a sua performance em matéria de inovação, tendo promovido a acumulação de conhecimento e competências de I&D para dar “2 passos” em frente na sua evolução tecnológica. O compromisso com a I&D é facilmente observado no forte investimento feito em termos de I&D (46% da facturação) e em termos de capital humano – 95 investigadores altamente qualificados. TABELA 2.2: BIAL – INDICADORES DE I&D E INOVAÇÃO, 2004-2010 % de trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) Número de trabalhadores em I&D (ETI) 2004 2006 2008 2010 36% 58% 60% 64% 45 85 99 95 % de trabalhadores em I&D em Portugal 69% 84% 86% 84% Despesa em I&D em percentagem das Vendas 12% 33% 39% 46% 6 10 9 7 87 137 171 205 Patentes nacionais % de trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) Fonte: Bial, S.A. 114 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A assunção do risco associada à I&D traduziu-se em 205 patentes internacionais e num conjunto de 7 novas drogas em desenvolvimento. 1.3. Interacções Os DPI e o segredo são fundamentais na indústria em que a Bial actua. Nesse sentido, o controlo sobre a informação produzida é prioritário, condicionando fortemente o estabelecimento de parcerias com universidades e outras instituições relevantes de I&D para o co-desenvolvimento de projectos de I&D aplicada. Ainda assim, a Bial reconhece que as interacções com a academia são importantes para o acesso a novos conhecimentos e a sua transferência para os seus programas de investigação, mas apenas numa fase muito a montante. Esta é uma das razões para os prémios Bial, concedidos a investigadores em determinadas áreas relacionadas com a saúde. Em suma, as interacções são relevantes apenas a montante, tendo as transferência de tecnologia e de I&D em rede uma importância limitada em fases posteriores. No entanto, a Bial vê com agrado a possibilidade de contratação de investigadores universitários seniores, bem como o acolhimento de profissionais no âmbito de programas de doutoramento em empresa. 1.4. Estratégias de eficiência colectiva O anterior CEO da Bial, Luís Portela, é o presidente do Health Cluster Portugal e a Bial é um dos membros fundadores da associação que lidera essa EEC. O compromisso de tentar construir o cluster e aumentar a eficiência colectiva prossegue uma perspectiva de benefícios a médiolongo prazo. A Bial acredita que o Health Cluster poderá, num futuro relativamente distante ainda, assumir-se como um player relevante na definição estratégica das políticas públicas e na coordenação das acções de forma a potenciar a competitividade das indústrias ligadas á saúde. No entanto, a perspectiva de curto prazo da Bial sobre os benefícios do Health Cluster é realista, considerando que tem pouco a ganhar com esta EEC. 1.5. Natureza do sistema de incentivos 115 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 O apoio dos co-financiamentos FEDER aos projectos da Bial assumiu-se como fundamental na alavancagem financeira, em particular, num quadro em que o capital de risco é escasso. Desde 2004, a Bial viu aprovados 7 projectos a que se somam 2 outros candidatados em 2010, envolvendo investimentos de mais de €278M e estimando-se uma subvenções FEDER de mais de €100M. TABELA 2.3: BIAL - MAIS RECENTES PROJECTOS DE I&D E INOVAÇÃO CO-FINANCIADOS Acrónimo Ano Tipologia BIA2 e 9 2004 SIME Inovação BIA5 2005 BIA5 2007 BIA10 e 12 2007 BIA9 2008 SIME I&DT I&DT –Proj. Ind. I&DT –Proj. Ind. I&DT –Proj. Ind. I&DT –Proj. Ind. I&DT –Proj. Ind. I&DT –Proj. Ind. I&DT –Proj. Ind. BIA2 (Child & Monotherapy) BIA2 (New Indications) 2008 2008 BIA9 2010 BIA2-ESL 2010 Descrição do projecto I&D de novos fármacos para o sistema nervosa central I&D de novo fármaco cardiovascular Investimento Total Taxa de incentivo 121.544.550€ 37% 10.275.704€ 45% 21.690.657€ 46% 8.063.874€ 45% 25.637.351€ 26% 21.952.331€ 25% 15.547.935€ 25% I&D de um novo fármaco anti-Parkinson 25.147.556€ 31% I&D do Eslicarbazepin (novas aplicações: Crianças e monoterapia, outras indicações) 28.451.383€ 25% I&D de novo fármaco cardiovascular I&D de novos fármacos I&D de um novo fármaco anti-Parkinson I&D do Eslicarbazepin (novas aplicações: Crianças e monoterapia) I&D de novas aplicações para o Eslicarbazepin TOTAL 278.311.342€ Fonte: Bial, SA Na avaliação global que a Bial faz ao Sistema de Incentivos à I&D e à inovação, destaca-se o seguinte: Globalmente, o balanço é claramente positivo. O Sistema de Incentivos financiado pelo FEDER tem sido crucial para estimular a Bial a evoluir para o desenvolvimento de novas drogas e, também, para atenuar as dificuldades financeiras derivadas da insuficiência de capital de risco; No entanto, a formatação "one size fits all" não garante a flexibilidade necessária para se adequar aos longos ciclos de inovação da indústria farmacêutica (o que foi 116 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 contornado pela fragmentação dos projectos em diferentes estágios, multiplicando assim os custos de transacção e aumentando as incertezas de financiamento). A Bial pronunciou-se também sobre as seguintes dimensões: Previsibilidade: apesar de o longo ciclo de inovação da Bial obrigar à fragmentação dos seus projectos de forma a conseguir adaptar-se aos prazos habituais do sistema de incentivos, a previsibilidade da abertura de concursos não é considerado um problema relevante; Nível de Burocracia: a Bial considera que a burocracia no QREN suplanta a do QCA anterior, avaliando os procedimentos como excessivos, com tradução no aumento dos custos de transacção (resultantes também de falhas operacionais no sistema de informação no qual são submetidas as candidaturas). Acresce que a enfâse é colocada no processo de candidatura em detrimento da avaliação dos resultados do investimento; Flexibilidade: a Bial sublinha a necessidade de regulamentos capazes de se adaptarem às especificidades de indústrias com ciclos de inovação longos, para além de uma concomitante revisão dos conceitos de dimensão da empresa. A Bial é uma empresa grande para os padrões nacionais, mas muito pequena se o padrão for a indústria farmacêutica. A prevalência da primeira métrica implica que Bial não pode beneficiar da discriminação positiva das PME; Avaliação: a Bial afirma que os critérios de avaliação utilizados e que beneficiam os projectos em função do seu contributo para as exportações, penalizam as indústrias em que as fases iniciais de desenvolvimento de produtos inovadores estão muito distantes do mercado. Assim, estimar o potencial de exportação é, em grande parte, especulativo; DPI: a Bial expressa sérias reservas sobre as questões que envolvem os DPI no âmbito dos consórcios de I&D em que se prevê a divulgação dos resultados científicos em 117 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 revistas académicas. A necessidade de segredo absoluto limita as possibilidades de colaboração; Capital humano e transferência de tecnologia: a Bial gostaria de ter a oportunidade de beneficiar de financiamento público a fim de garantir a colaboração de doutorandos no desenvolvimento de projectos em ambiente empresarial, bem como de promover a mobilidade dos investigadores a nível europeu; Internacionalização: o processo de internacionalização da Bial enfrenta restrições financeiras, não podendo estas ser supridas pelo FEDER no que respeita à promoção e distribuição, dadas as restrições geográficas de aplicação dos fundos que decorrem do regulamento FEDER; Comparação com outros quadros de apoio: ainda que os projectos de Bilbau apresentem uma escala inferior e uma menor complexidade do que os projectos realizados em Portugal, a Bial considera que o sistema de instrumentos de apoio à inovação Espanhol é mais simples, rápido e fácil de gerir, em particular, em termos de burocracia e de custos de transacção. 1.6. Instrumentos de engenharia financeira A Bial considera que os instrumentos de engenharia financeira apresentam graves limitações para o desenvolvimento e expansão de empresas altamente inovadoras e, em particular, de projectos altamente incertos, como o desenvolvimento de novos fármacos. A solidez financeira da Bial foi suficiente para mobilizar os fundos necessários que, juntamente com a alavancagem permitida pela subvenção FEDER, possibilitou o desenvolvimento do Eslicarbazepin. 2. Critical Software 2.1. Breve caracterização 118 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Fundada em 1998 por três estudantes de doutoramento como uma start-up da Universidade de Coimbra, incubada no Instituto Pedro Nunes, a Critical Software tem focado as suas actividades no desenvolvimento e instalação de soluções de software e sistemas baseados em COTS altamente especializados e de elevado valor acrescentado, fornecendo software certificável para subsistemas e interfaces que garantem o suporte para funções operacionais chave e asseguram que os processos críticos são realizadas de forma segura e eficiente. TABELA 2.4: CRITICAL SOFTWARE – INDICADORES GERAIS DE ACTIVIDADE, 2004-2010 2004 2006 2008 2010 Vendas 4.450.461 € 8.596.759 € 18.252.922 € 18.431.935 € Vendas no exterior 1.607.299 € 4.739.959 € 9.865.802 € 11.045.654 € 77 203 351 407 100% 99% 90% 81% Número de Trabalhadores % de trabalhadores em Portugal Fonte: Critical Software. Além de uma rede internacional de parceiros (que vão desde Universidades, a outras PME altamente especializadas, a fornecedores de soluções como a SAP ou a Microsoft, até aos clientes finais), a internacionalização da Critical é suportada pela concentração das actividades de I&D em Portugal e pela presença física internacional através da abertura de filiais nos principais mercados alvo - o escritório romeno é a única excepção a esta regra, funcionando complementarmente a Portugal, enquanto pool de recrutamento de engenheiros especializados em desenvolvimento de software para a realização de algumas actividades de I&D. Actualmente, a Critical Software tem escritórios em Coimbra, Lisboa e Porto (Portugal), San Jose (EUA), Southampton (Reino Unido), Bucareste (Roménia), São Paulo (Brasil) e Maputo (Moçambique), empregando mais de 250 pessoas, a maioria engenheiros de desenvolvimento de software. O investimento em I&D representa cerca de 10% da facturação anual. 119 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 2.2. Principais características do processo de inovação A Critical Software iniciou a sua actividade nas áreas de aeronáutica e defesa, fornecendo soluções inovadoras e altamente especializadas para clientes no Reino Unido e EUA, incluindo a NASA, o EMPR, o CERN e a ESA e, posteriormente para o Japão e China. O ciclo de inovação é curto (1-3 anos) e envolve investimentos relativamente baixos (projectos, em média, de € 500 mil). O processo de inovação baseia-se em conhecimento analítico, fundado em actividades internas de I&D e complementado com importantes interacções com a academia e com utilizadores avançados. TABELA 2.5: CRITICAL SOFTWARE – INDICADORES DE I&D E INOVAÇÃO, 2004-2010 2004 2006 2008 2010 95% 97% 96% 96% 13 30 56 113 % de trabalhadores em I&D em Portugal 17% 15% 15% 28% Despesa em I&D em percentagem das Vendas % de trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) Número de trabalhadores em I&D (ETI) 14% 17% 14% 28% Patentes nacionais 0 0 0 0 % de trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) 0 0 0 0 Fonte: Critical Software O investimento em I&D é considerado estratégico, explicando a afectação a essa actividade de cerca de 28% do total de trabalhadores. Operando numa indústria em que as patentes são pouco relevantes, a Critical não detém nenhum direito deste tipo, facto que decorre também do seu posicionamento enquanto fornecedor especializado. 2.3. Interacções Em grande medida, decorrendo do background da Critical como start-up universitária, as suas ligações em rede são sobretudo com instituições académicas, que funcionam como bolsa de recrutamento e como parceiros de I&D. 120 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Formalmente, estas redes são baseadas em memorandos de entendimento e protocolos estabelecidos com as Universidades Portuguesas e, de forma crescente, com instituições estrangeiros (com a Universidade de Southampton, a LSE e a Universidade de São Paulo). Todavia, ainda que previamente existam memorandos ou protocolos formais de colaboração, as parcerias específicas estabelecidas para a cooperação em projectos de I&D são definidas em função das necessidades de cada projecto e estabelecidas informalmente através do contacto directo com Professores, Departamentos ou Equipas de Investigação, identificadas pela Critical como detendo competências complementares relevantes, ao invés da utilização dos canais tradicionais como os gabinetes de transferência de tecnologia. O Instituto Pedro Nunes desempenhou um papel fundamental na facilitação do estabelecimento da rede inicial, oferecendo igualmente espaço e equipamentos state-of-the-art, bem como serviços de apoio. A Critical Software reconhece que foram feitos esforços significativos por parte das Universidades portuguesas no sentido de melhorar o seu interface com as empresas. No que diz respeito aos DPI, a Critical tem acordos de royalties com a maioria das universidades Portuguesas. O desenvolvimento da rede pela Critical seguiu uma abordagem directa e não-mediada, focada em objectivos claros de inovação (projectos de I&D específicos ou resposta a oportunidades de mercado) e baseados em critérios de complementaridade de competências e de valor acrescentado. 2.4. Estratégias de eficiência colectiva Directamente ou através dos seus spin-offs, a empresa participa no Health Cluster Portugal, no PCT Energia e no PCT TICE. No entanto, a avaliação quanto a essa participação é a de que não há, até ao momento, eficácia na dinamização de interacções, faltando resultados positivos no que respeita quer ao estabelecimento de ligações com os actuais ou novos membros, quer no aumento da visibilidade ou na identificação de oportunidades de negócio (nacionais e internacionais). Para além do facto de serem iniciativas recentes, a Critical considera que os 121 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 resultados abaixo das expectativas podem ser igualmente resultado de uma abordagem demasiado lata em matéria de objectivos e membros de cada EEC. 2.5. Natureza do Sistema de Incentivos Como resultado da limitada disponibilidade de capital semente e de parceiros dispostos a partilhar o risco, quer os sistemas de incentivos financiados pelo FEDER, quer o FP7 desempenharam um papel fundamental na alavancagem financeira da estratégia de crescimento da Critical Software, actuando como facilitadores e aceleradores da I&D e dos processos de inovação. TABELA 2.6: CRITICAL SOFTWARE – MAIS RECENTES PROJECTOS DE I&D E INOVAÇÃO EUROPEUS CO-FINANCIADOS Acrónimo Second Generation Locator for Urban Search and Rescue Operations Amb.net Amb.net Phase 2 XPRESS Risk Preview EMMON SAFER Principais parceiros National technical University of Athens; FAENZI s.r.l; Valtion Teknillinen; Tutkimuskeskus Siemens, Alcatel, Nokia, Ericsson Siemens, Alcatel, Nokia, Ericsson Airbus, Volkswagen, Fraunhofer Astrium, INSA, GMV, Telespazio CSWT Infoterra, INSA, Telespazio Fonte: Critical Software Tipologia Investimento total Contrapartida nacional (Critical) I&DT 289.800,00 € 65.200,00 € I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT 110.960 € 227.436 € 256.650 € 169.890 € 686.800 € 146.933 € 55.480 € 113.718 € 128.325 € 73.445 € 343.400 € € TABELA 2.7: CRITICAL SOFTWARE – MAIS RECENTES PROJECTOS DE I&D E DE INOVAÇÃO CO-FINANCIADOS Acrónimo P-FOUND – FCT EVOLVE PCC_USV SARA.E REUSE AND ESTIMATION MALA SEGURA SPACE AQUA - NASA - FCT AMBER – FCT Promotor Ano Tipologia Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA 2007 2008 2008 2008 2008 2008 2008 2008 I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT Investimento total 142.870,00 € 309.029,37 € 177.859,94 € 85.883,32 € 1.016.485,47 € 195.791,35 € 400.000,00 € 140.160,00 € 122 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 VS2 PULSE NEMO & CODED INFRAESTRUTURA CsSECURE PLATAFORMA GENERICA DE GESTÃO DE EMERGENCAS HEALTH AND USAGE MONITORING F. INTELLIGENT VEHICLES WISE ARTEMIS /0001/2008/CESAR ARTEMIS /0002/2008/EMMON VER+SAUDE ASSISTED LIVING EDEGBOX NEXT GENERATION SPRINT INTERNACIONALIZAÇÃO ENIAC HTC CsSECURE II TICE – MOBILIDADE Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA 2008 2009 2009 2009 2009 2009 Critical Software SA I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT 80.901,24 € 35.460,43 € 300.019,76 € 215.638,29 € 158.816,59 € I&DT 150.825,03 € 2009 Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Software SA Critical Health SA Critical Health SA Critical Links SA Critical Manufacturing SA Critical Manufacturing SA Critical Manufacturing SA Critical Materials Lda Critical Software SA Critical Software SA Fonte: Critical Software 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2009 2010 2011 I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT I&DT INT. I&DT Inovação I&DT I&DT 232.031,31 € 209.529,57 € 158.400,00 € 457.408,00 € 661.554,13 € 337.124,80 € 757.089,40 € 3.930.366,70 € 461.550,00 € 273.989,00 € 1.262.218,98 € 999.339,55 € 292.810,33 € Nos últimos anos, a Critical desenvolveu 38 projectos com o apoio de subvenções FEDER, totalizando aproximadamente €17M de investimento. Da experiência com os Sistemas de Incentivos à I&D e à Inovação resulta uma opinião positiva, tendo sido o sistema de incentivos crucial para minimizar o impacto da ausência de capital de risco, viabilizando assim os projectos de inovação nas suas fases iniciais. A Critical fez ainda os reparos subsequentes sobre o seguinte conjunto de dimensões: Previsibilidade: Necessita de melhorar. Na ausência de outros mecanismos de suporte à inovação, o apoio FEDER assume crucial importância no planeamento estratégico e na inovação; Nível de burocracia: o nível de burocracia, quer ao nível das candidaturas, quer nos processos subsequentes de monitorização e reporte, pode ser reduzido – sobretudo no caso dos sistemas de incentivos, dado o FP7 ser percebido como tendo regras procedimentais mais estáveis, simples e claras; Flexibilidade: o espectro de instrumentos é adequado; 123 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Apoio à internacionalização: as restrições do regulamento FEDER impõem barreiras ao apoio à promoção e distribuição em mercados estrangeiros; Comparação com outros quadros comunitários de apoio: o FP7 é percebido como tendo regras mais claras e estáveis. 2.6. Instrumentos de engenharia financeira As fases iniciais de desenvolvimento da Critical Software não exigiram investimentos financeiros significativos que, na ausência de outras fontes de financiamento, foram supridos por capital dos fundadores. As expansões subsequentes foram financiadas por capital de risco (público e privado), cujo desempenho evidencia melhorias, embora ainda esteja fortemente baseado numa óptica de “partilha de risco zero/empréstimo”. De forma a ultrapassar as dificuldades em aceder a capital semente e outros tipos de financiamento, bem como reduzir a dependência do apoio FEDER, a Critical Software criou recentemente, com parceiros públicos e privados (nacionais e internacionais), a Critical Ventures – um fundo de capital de risco de €10m, estruturado como corporate capital fund, destinado a alavancar e dar escala às suas próprias spin-offs, mas também a outras empresas de base tecnológica em early stages (funcionando como business angel). Este fundo destina-se a financiar projectos de comercialização de tecnologia no mercado global, originados pelas spinoffs ou por projectos de I&D externos. Para já, a Critical Software mantém participações significativas nas spin-offs Critical Links, Critical Materials, Critical Health, Critical Manufacturing e Critical Move, sendo o restante capital detido pelas equipas de gestão e por outros parceiros. 3. Frulact 3.1. Breve caracterização 124 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A Frulact é uma empresa familiar que se dedica à transformação de fruta para ser usada como matéria-prima, sobretudo, na indústria de lacticínios. Fundada em 1987 pelo senhor Arménio Miranda, a Frulact procurou responder melhor às necessidades da indústria de lacticínios em que a transformação e conservação de fruta não constituíam uma actividade core. O conhecimento do Sr. Miranda sobre a indústria dos lacticínios e os seus principais clientes levouo a montar uma pequena fábrica na sua garagem. A grande oportunidade surgiu quando a Nestlé adquiriu a marca portuguesa Longa Vida e a Danone se tornou também sua cliente. Estes gigantes Europeus colocaram novos desafios à Frulact: aumentar a escala de operação e aumentar a sua base interna de conhecimento de forma a responder a necessidades específicas. A internacionalização foi um passo natural para acompanhar os seus clientes em alguns mercados. A proximidade a estes clientes gerou um importante “pull” de mercado, com impactos na estratégia de inovação e na estratégia de internacionalização da Frulact. TABELA 2.8: FRULACT – INDICADORES GERAIS DE ACTIVIDADE, 2004-2010 2004 2006 2008 2010 Vendas 18.203.671 € 25.435.831 € 40.112.470 € 62.383.476 € Vendas no exterior 16.068.964 € 22.453.024 € 36.930.773 € 58.113.589 € 223 297 362 402 86% 79% 71% 62% Número de Trabalhadores % de trabalhadores em Portugal Fonte: Frulact, SA Operando no segmento business-to-business, a competitividade da Frulact decorre da sua eficiência operacional, da sua capacidade de inovação e da máxima flexibilidade de adaptação às necessidades dos seus clientes. Oferecendo soluções inovadores e customizadas aos seus clientes e acompanhando-os nos mercados internacionais, a Frulact conseguiu uma evolução notável: nos últimos 6 anos, a facturação da Frulact aumentou de €18M para €62M, 95% da qual resulta de vendas em mercados externos. Actualmente, a Frulact lidera o mercado ibérico de transformação de fruta, e está também presente em França, Marrocos, Argélia, Tunísia e Egipto, detendo unidades de transformação em Portugal, França, Marrocos e Argélia. A sua estratégia de internacionalização assegurou o 125 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 estabelecimento de uma relação estável com clientes relevantes como a Danone, a Yoplait, a Lactalis, o Grupo Pascual e a Senoble. 3.2. Principais características do processo de inovação A Frulact aborda a inovação sob diferentes perspectivas. As inovações mais centradas na tecnologia de produção são externalizadas, enquanto os processos de inovação associados à transformação de fruta e à inovação de produto, quer incremental, quer radical, são prioritariamente desenvolvidos internamente. A Frulact procura desenvolver novos processos de transformação de fruta mais eficientes, quer no que respeita ao aumento da escala de produção, à conservação dos elementos naturais da fruta, elevando assim a qualidade dos seus produtos, ou à introdução de propriedades funcionais através de probióticos. As suas competências tecnológicas e de inovação baseiam-se em conhecimento sintético acumulado internamente. O investimento da Frulact em I&D e inovação quadruplicou, correspondendo hoje a, aproximadamente, 2,3% da sua facturação (mais do dobro do valor médio registado no sector agro-industrial europeu). A expansão do principal laboratório de I&D, onde actualmente se desenvolvem os novos produtos, corresponde a um projecto de €2M, co-financiado pelo FEDER. Em 2004, a Frulact tinha nos seus quadros 24 técnicos afectos a actividades de I&D e inovação; este número aumentou para 36 em 2010 e espera-se que continue a crescer a um ritmo semelhante no futuro próximo. TABELA 2.9: FRULACT – INDICADORES DE I&D E INOVAÇÃO, 2004-2010 % de trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) Número de trabalhadores em I&D (ETI) % de trabalhadores em I&D em Portugal Despesa em I&D em percentagem das Vendas Patentes nacionais 2004 2006 2008 2010 46% 41% 42% 45% 24 100% 1,9% 0 25 85% 1,9% 0 38 82% 1,6% 1 36 80,5% 2,3% 1 Fonte: Frulact, SA 126 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Em termos de desempenho inovativo, a Frulact obteve 2 patentes nos últimos 4 anos; simultaneamente, as actividades de I&D e inovação levaram ao desenvolvimento de cerca de 2.000 novos produtos por ano, dos quais cerca de 20% chegam ao mercado. 3.3. Interacções O director de I&D da Frulact é um Professor universitário, aspecto que facilitou o acesso às universidades, bem como o interface com outras entidades de ciência e tecnologia. Este processo é ainda facilitado pelo facto da Frulact acolher alunos de doutoramento e de mestrado no âmbito do desenvolvimento da sua investigação. Este acolhimento induz contactos e capital relacional que facilitam o acesso a conhecimento e a co-promoção de projectos. A Frulact tem desenvolvido projectos com a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, com a Universidade do Porto e com a Universidade do Minho, apoiando também programas curriculares nos domínios do processamento de alimentos. A Frulact está envolvida em 4 projectos de co-promoção e em 2 projectos mobilizadores, evidenciando uma significativa capacidade na articulação com as universidades. Contudo, apesar da experiência positiva de colaboração, a Frulact queixa-se da diferença de ritmos a que as universidades e as empresas trabalham. Às empresas, os mercados impõem a concentração do foco na inovação e em lead time, enquanto o ritmo das universidades é mais lento e não responde a esses estímulos. Existem ainda algumas questões relacionadas com a propriedade intelectual que dificultam a colaboração e que se prendem com o conflito entre o objectivo de difusão de conhecimento das universidades e a necessidade de segredo por parte das empresas, em particular, nos domínios em que a eficácia das patentes é reduzida. Caixa 2.2: Transferência de tecnologia inter-sectorial – da lã para o corte de fruta A textura é uma das características da assinatura sensorial. De forma a transformar fruta congelada, a Frulact tinha de proceder ao seu descongelamento instantes antes de iniciar o seu corte. No entanto, a incapacidade de controlar este processo com precisão fazia a diferença entre ter pedaços ou puré. A solução proveio de uma actividade inesperada: na indústria têxtil, a 127 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 tecnologia de radiofrequência é utilizada para secar lã. A Frulact pegou nesta ideia e, com o apoio de um dos seus fornecedores especializados de equipamento, desenvolveu uma solução para um descongelamento controlado por radiofrequência, obtendo melhorias na textura do produto transformado. Uma dimensão relevante da inovação, mas habitualmente desvalorizada nos estudos sobre a mesma, é a transferência de tecnologia inter-sectorial. A caixa 3.1 evidencia como este tipo de transferência de tecnologia pode ser eficaz. 3.4. Estratégias de eficiência colectiva Na indústria alimentar, a associação Integralar lidera o PCT reconhecido em Portugal, sendo o CEO da Frulact o seu presidente. Esta associação é formada por empresas que operam em mercados distintos e com tecnologias igualmente distintas, de onde resulta uma heterogeneidade de actores que dificulta a coordenação e a colaboração. Até ao momento, a Frulact não antevê nenhuma vantagem resultante do processo de participação na EEC, ainda que esteja apostada em promover a clusterização e a inteligência colectiva. 3.5. Natureza do sistema de incentivos Sendo uma empresa em rápido crescimento, a Frulact gera cash flows suficientes para suportar o desenvolvimento, em simultâneo, de vários projectos. No entanto, explora, de forma activa, as oportunidades de financiamento no âmbito dos sistemas de apoio nacionais e europeus de forma a alavancar o seu esforço inovativo. Desde 2009, e no âmbito do QREN, a Frulact participou em 4 projectos de I&DT em co-promoção em parceira com universidades, num investimento total que atinge €1.5M, participando ainda em 2 projectos mobilizadores. A tabela seguinte sumaria os projectos em que a Frulact obteve apoio desde 2009, quer em Portugal, quer no estrangeiro. TABELA 2.10: FRULACT - MAIS RECENTES PROJECTOS DE I&D E INOVAÇÃO CO-FINANCIADOS MAIS RECENTES Acrónimo FRUTAMAIS Principais Parceiros Escola Superior de Biotecnologia Tipologia Investimento Total SI I&DT – co- 367.243,76€ Contrapartida Nacional (Frulact) 114.070€ FEDER subvencionado 78.589€ 128 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 PROBIOFRU ACTIPEP MYRTILLUS Satiarome FRUTECH NOVELTEC DoIt Escola Superior de Biotecnologia Empresas: Queijo-Saloio e Unicer Universidades: Faculdade de Medicina e Escola Superior de Biotecnologia Empresa: Mirtilusa Universidades: Faculdade de Medicina, Escola Superior de Biotecnologia e UTAD Empresas: Senoble, Genial, Ingredia, Robertet, GPMA, Seb IPVC Integralar e um conjunto alargado de parceiros Integralar e um conjunto alargado de parceiros promoção SI I&DT – copromoção 206.494,44€ 64.653€ 43.124€ SI I&DT – copromoção 418.217,97€ 45.937€ 25.212€ SI I&DT – copromoção 571.187,79€ 27.264€ 16.386€ Vitagora (France) NA N/A N/A PRODER Projecto mobilizador Projecto mobilizador 1.019.924,37€ 915.345€ 568.167€ 1.983.107,07€ 300.438€ 138.651€ 7.140.566,83€ 87.255€ 36.046€ 1.554.963€ 906.178€ Total Fonte: Frulact, SA A avaliação da Frulact sobre a eficácia e os problemas dos sistemas de incentivos é positiva, sublinhando que não é necessária uma re-concepção radical do seu desenho. Não obstante, algumas afinações nos aspectos mais operacionais são necessárias, nomeadamente nas seguintes dimensões: Previsibilidade: Incertezas relativas à abertura de concursos e a concentração em 1 ou 2 concursos anuais de grande dimensão, introduz entropia no planeamento de investimentos, criando um trade-off entre manter os planos e incorrer no risco de aguardar por um concurso incerto, ou alterar os planos e responder às oportunidades de concurso, com os custos de disrupção subjacentes. Flexibilidade: algumas afinações relacionadas com a duração temporal dos projectos deveriam ser consideradas. Na indústria alimentar, a prova de conceito ocorre num período muito curto de tempo. Assim, seria desejável a adaptação dos sistemas de incentivos, nomeadamente, financiando a prova de conceito com uma duração curta (6 a 9 meses) e permitindo a re-avaliação das etapas seguintes e das respectivas necessidades de financiamento, com base nos primeiros resultados. 129 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Análise: Dado que a análise dos projectos de investimento se concentra nos resultados quantitativos estimados, há um estímulo para a sobrestimação dos mesmos, situação que é agravada pelo facto de não existir um efectivo controlo ex-post e de não estarem previstas penalidades. Transferência de Tecnologia: os projectos de inovação e de transferência de tecnologia baseados na cooperação com universidades estão condicionados por questões relacionadas com DPI, em particular, em indústrias em que as patentes são uma protecção pouco eficaz e o segredo é a principal forma de protecção, conflituando com os interesses universitários de difusão de conhecimento. Adicionalmente, as interacções entre empresas e centros de conhecimento são afectadas pelas diferenças no estímulo e nos ritmos de trabalho. Finalmente, a eficiência das redes e dos processos de transferência de tecnologia depende da qualidade e intensidade das relações pessoais – que beneficiariam da existência de esquemas de financiamento que promovessem a inserção temporária de investigadores em empresas e a execução de uma agenda de investigação previamente estabelecida. Internacionalização: as subvenções FEDER limitam-se à promoção externa, participação em feiras e outras acções pontuais, não oferecendo instrumentos para reduzir o risco financeiro da internacionalização. Este aspecto é particularmente relevante, dada a debilidade do mercado de capital de risco nacional. Comparação com outros quadros de apoio: a Frulact beneficiou de apoio à inovação em França, no contexto de um projecto em consórcio com clientes que visava o desenvolvimento de tecnologias que induzissem a sensação de “satisfação” nos consumidores. A unidade Francesa da Frulact beneficiou ainda de “Crédit pour Réserche”, um sistema de incentivos à I&D baseado em crédito fiscal. Comparativamente, os esquemas de incentivos portugueses são considerados mais completos e com custos de transacção similares. Frulact participa ainda num projecto do FP7 e na rede EUREKA, mas considera estas redes pouco satisfatórias visto que, 130 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 apesar de juntarem clientes e fornecedores a nível Europeu, não têm associado um envelope financeiro para fomentar o desenvolvimento de projectos colaborativos. 3.6. Instrumentos de Engenharia Financeira O capital de risco é uma das fraquezas do sistema de suporte à inovação Português, com a sua gestão a prosseguir uma abordagem que privilegia investimentos de risco baixo ou moderado, inadequados para responder aos processos inovadores e de internacionalização de start-ups. A Frulact alavancou o seu crescimento com base em capitais próprios e empréstimos bancários tradicionais, com impacto negativo no ritmo de crescimento. 4. N-SEC 4.1. Breve caracterização A N-SEC é um start-up Portuguesa dedicada ao desenvolvimento de soluções de tecnologias de informação para Service Providers, ISPs e empresas. Fundada em 2006, no Porto, Norte de Portugal, resultou de uma acção de capital de risco financiada pela Inovcapital destinada a promover a criação de start-ups tecnológicas. Actualmente, opera em 22 países, incluindo o Reino Unido e os EUA, tendo-se especializado em equipamentos e sistemas de gestão de segurança “na nuvem” para os seus clientes empresariais e residenciais. A sua missão é tornar a Internet num local mais seguro para comunicar e navegar. TABELA 2.11: N-SEC – INDICADORES GERAIS DE ACTIVIDADE, 2004-2010 Vendas Vendas no exterior Número de Trabalhadores % de trabalhadores em Portugal 2006 2007 2008 2009 2010 192.264 € 425.285 € 952.766 € 1.211.797 € 952.171 € 0 € 0 € 0 € 536.900 € 182.549 € 13 100% 16 100% 20 100% 6 100% 8 100% Fonte: N-SEC N-SEC é líder no mercado domestico em soluções de segurança de e-mail, tendo como clientes grandes empresas, entre os quais operadores móveis (ex. Vodafone), bancos, estações de 131 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 televisão nacionais, as maiores universidades, empresas petrolíferas e de gás e múltiplos ISPs, incluindo o Sapo, com mais de 5 milhões de caixas de correio protegidas. As soluções de segurança para e-mail e para Internet podem ser oferecidas como um equipamento ou como Software as a Service (SaaS) a partir “da nuvem” (a partir dos próprios datacenters ou dos datacenters dos service providers) que pode ser de marca branca e instalado no local pelos service providers para os seus clientes finais. O motor de filtragem de e-mails é uma aplicação que permite aos parceiros OEM, Service Providers e outras empresas integrar a tecnologia de filtragem da N-SEC, directamente nos seus produtos, com um mínimo dispêndio de esforço e recursos. N-SEC desenvolve ainda tecnologias que identificam equipamentos infectados numa rede, permitindo isolá-los para resolução do problema. 4.2.Principais características do processo de inovação A inovação nas TIC baseia-se, sobretudo, em conhecimento analítico. Este é o caso da N-SEC, que começou por combinar uma reduzida capacidade de produção de conhecimento com uma elevada capacidade de integração de conhecimento, tendo evoluido no sentido de um maior enfoque interno na produção de conhecimento. TABELA 2.12: N-SEC – INDICADORES DE I&D E DE INOVAÇÃO, 2004-2010 % de trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) Número de trabalhadores em I&D (ETI) % de trabalhadores em I&D em Portugal Despesa em I&D em percentagem das Vendas Patentes nacionais 2006 2007 2008 2009 2010 100% 100% 100% 100% 100% 1 1 1 3 100% 100% 100% 100% 4 100% 67% 12% 7% 15% 25% 0 0 0 0 0 Fonte: N-SEC Inicialmente, a tecnologia usada resultava em 5% de esforço interno de I&D e em 95% de desenvolvimentos externos, enquadrados em acordos de licenciamento de tecnologia. Actualmente, esta combinação mudou radicalmente, com cerca de 95% da tecnologia e das soluções a resultarem de actividades de I&D próprias e os restantes 5% da utilização de 132 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 tecnologia open source. A empresa deixou de ser uma mera adquirente e integradora de tecnologia externa, dependente de circunstâncias e variáveis exógenas, para se concentrar estrategicamente no desenvolvimento de tecnologia, de software e serviços e em I&D e inovação de forma a diversificar o seu portfolio de soluções e, assim, se tornar num player de relevo nas suas actividades core. O desenvolvimento da própria tecnologia é a principal garantia de resultados diferenciados e sustentáveis, tentando, simultaneamente, estabelecer parcerias relevantes com as instituições científicas e tecnológicas relevantes a nível nacional e internacional, com o objectivo de criar a melhor das soluções anti-spam. O negócio da empresa é, ainda, maioritariamente, direccionado para responder às necessidades específicas de cada cliente, normalmente, um operador móvel. As actividades de I&D e de desenvolvimento de tecnologia são focadas na missão de obter a máxima satisfação do cliente e na obtenção de uma solução lucrativa. O grande objectivo estratégico actual é deixar de ser um fornecedor especializado para ser uma empresa que oferece produtos no mercado, ou seja, passar de uma empresa de alta intensidade tecnológica para uma empresa de elevada orientação para o mercado, que combina, ao longo da sua cadeia de valor, I&D, engenharia e marketing. A N-SEC tem a sua própria equipa de I&D que monitoriza as ameaças que surgem e que podem afectar os seus clientes, de forma a desenvolver soluções e algoritmos state-of-the-art que configurem soluções just-in-time. 4.3. Interacções A N-SEC é uma pequena empresa com competências internas significativas. Dado que desenvolve soluções “à medida”, ainda não sentiu a necessidade de estabelecer interacções ou colaborações fortes para inovar. A transferência de tecnologia envolve sobretudo a aquisição de tecnologia de outras empresas e a absorção de novas soluções open source. 4.4. Estratégias de eficiência colectiva No domínio das TIC foi criado, há 2 anos, um PCT (TICE.pt) para promover a clusterização e as economias de rede. Esta associação reúne empresas que operam em mercados diferentes, com tecnologias muito distintas e inclui ainda outras entidades. Até ao momento, o CEO da N-SEC 133 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 não percepciona qualquer vantagem resultante da participação da empresa no PCT TICE.PT sobretudo porque considera não existir um trabalho continuado na monitorização de estratégia, investimentos, parcerias potenciais, mercados e de vigilância tecnológicas. 4.5. Natureza do sistema de incentivos Se não existissem incentivos financeiros à I&D e à inovação, não teria sido possível executar o investimento que foi realizado no decurso dos últimos 3 anos pela N-SEC. O esforço inovativo teria sido mais baixo e o ritmo mais lento. Apesar disso, são feitos pequenos reparos: Previsibilidade: Não é considerado um problema; Nível de burocracia: a complexidade e a burocracia do sistema de incentivos traduzemse em custos de transacção elevados, particularmente, no caso de pequenas empresas, constituindo um aspecto a melhorar. Por outro lado, nos últimos 3 anos, a N-SEC candidatou e viu aprovado um projecto de I&D, mas por enquanto apenas recebeu cerca de 30% do incentivo previsto, facto que dificulta a engenharia financeira, em especial, em pequenas empresas como a N-SEC. No entanto, a N-SEC vai candidatar um novo projecto no próximo concurso; Adaptabilidade/Flexibilidade: Operando num mercado altamente volátil, a N-SEC gostaria que o sistema de incentivos pudesse, de alguma forma, acomodar essa volatilidade; Avaliação: a N-SEC apresentou apenas um projecto que foi aprovado. Para além da burocracia, nenhuma questão foi levantada a este nível; Apoio à Internacionalização: a internacionalização é um desafio que a N-SEC abraçou em 2009 numa base remota. Nesse sentido, para já, o apoio para a internacionalização não é relevante; 134 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Comparação com outros quadros de apoio: a N-SEC não tem experiência com outros quadros de apoio. 4.6. Instrumentos de engenharia financeira A estrutura financeira da N-SEC é reforçada por capitais públicos e privados. Um dos principais investidores é a Inovcapital, uma instituição de capital de risco sob a alçada do Ministério da Economia e Inovação Português destinada a apoiar PME e empreendedores. A sua missão é contribuir para a promoção do empreendedorismo e participar proactivamente no desenvolvimento das empresas Portuguesas. A InovCapital foca o seu investimento em start-ups intensivas em tecnologia e projectos inovadores direccionados para a expansão no mercado mundial. O capital de risco foi muito importante para a N-SEC dado que sem ele teria sido impossível criar a empresa em 2006. 5. CTCP 5.1. Breve caracterização O Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP) é uma organização sem fins lucrativos fundada pela associação sectorial (APICCAPS) e outras duas agências públicas (IAPMEI e INETI) em 1986. O CTCP foi concebido para promover a incorporação de conhecimento na indústria do calçado, fornecendo competências técnicas e tecnológicas profissionais, formação especializada, desenvolvimento de produto, certificação da qualidade, difusão de tecnologia, apoio legal em questões de DPI e na implementação de programas de investigação com enfoque na inovação. Posicionando-se como uma infra-estrutura de interface tecnológico, o CTCP facilita as interacções entre as empresas e as universidades, induzindo a inovação. 135 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 A indústria do couro e calçado conseguiu redefinir o seu modelo competitivo mais rapidamente do que outras indústrias Portuguesas de especialização tradicional, ambicionando tornar-se “no calçado mais caro do mundo”. Este slogan enfatiza o aumento do valor acrescentado pela crescente incorporação de conhecimento e a melhoria no design e nas características funcionais (nomeadamente, coordenando, com o apoio do CTCP, empresas líderes na produção de máquinas para a indústria do calçado com as empresas produtoras e comercializadoras de calçado, conseguindo que algumas das empresas de máquinas se tenham tornado líderes mundiais em alguns segmentos). TABELA 2.13: CTCP – INDICADORES GERAIS DE ACTIVIDADE, 2004-2010 2004 Total da Facturação Contractos de I&D Inovação e Transferência Tecnologia Formação Estudos de 2006 2008 2010 1.951.139 € 306.909 € 3.132.331 € 1.042.434 € 1.797.166 € 528.129 € 2.574.055 € 274.454 € 639.046 € 535.400 € 611.576 € 1.301.655 € 521.391 € 483.793 € 1.079.434 € 457.278 € 575.082 € 82.397 € 765.146 € 232.800 € Fonte: CTCP A relevância do CTCP no seio da indústria do couro e do calçado é demonstrada pelo codesenvolvimento, em associação com as empresas, de um número elevado de projectos de investimento em I&D, transferência de tecnologia, formação e inovação, em muitos dos casos, co-financiados pelo FEDER. 5.2. Processo de inovação O processo de inovação na indústria do couro e do calçado baseia-se em conhecimento sintético, focando-se no desenvolvimento de produto e na demonstração tecnológica. Ao longo dos anos, o CTCP acumulou capacidades internas de I&DT relevantes que suportam as actividades de investigação, transferência de tecnologia e inovação que representam mais de 60% do total da facturação, cerca de €1.5M em 2010. Actualmente, tem 15 técnicos em ETI envolvidos em projectos de I&DT; a intensa colaboração com o cluster de empresas resultou no 136 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 pedido de 13 patentes e no desenvolvimento de mais de 100 novas máquinas e de 25 novos materiais. TABELA 2.14: CTCP – INDICADORES DE EMPREGO E DE I&D, 2004-2010 2004 Número total de trabalhadores % trabalhadores qualificados (ISCED 4 ou superior) Número de trabalhadores em I&D (ETI) 2006 2008 2010 37 44 48 47 73% 77% 77% 79% n.d. n.d. n.d. 15 Despesa em I&D em percentagem das vendas 15,7% 33,3% 29,4% 10,3% Inovação e Transferência de tecnologia 32,8% 17,1% 34,0% 50,6% Patentes nacionais 13 no período de referência Fonte: CTCP Na indústria do couro e do calçado, como referido, a base de conhecimento predominante é sintética, dependendo a inovação da transformação de conhecimento existentes e da sua exploração através do modo Doing-Using-Interacting. 5.3. Interacções Actualmente, o CTCP é parceiro em 13 projectos de I&DT em consórcio, envolvendo um investimento de €14M. O papel do CTCP é, habitualmente, o de coordenador, contribuindo igualmente como parceiro tecnológico na análise e definição das características funcionais e técnicas, na definição do state-of-the-art e actuando como “tradutor” das necessidades das empresas e para as universidades. Estes consórcios envolvem, normalmente, um parceiro científico (uma unidade de I&D universitária), empresas (utilizadores da tecnologia) e o CTCP, promovendo o modo Doing-Using-Interacting. O CTCP aumentou ainda as suas próprias competências tecnológicas através do desenvolvimento de maquinaria especializada para a sua actividade. Em termos de parcerias em I&DT, o CTCP interage sobretudo com um conjunto pequeno de entidades. No topo da lista encontramos o INESC, um instituto de novas tecnologias associado à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto com um forte enfoque na transferência de tecnologia e cujo posicionamento mais próximo do tecido empresarial tende a facilitar a 137 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 cooperação. As ligações da indústria do calçado com o CTCP e com o INESC são permanentes, consolidando uma colaboração que permite o influxo de conhecimento na indústria, alavancando assim a capacidade inovativa. O PIEP, instituição de I&D na área de polímeros, é também um parceiro privilegiado do CTCP. Uma parte significativa do pessoal técnico do CTCP são ex-alunos da Universidade do Porto, o que facilitou a criação de pontos de contacto. O CTCP considera que as questões de DPI não constituem um problema no caso da indústria do couro e do calçado. Reconhece-se que são necessários instrumentos adicionais que estimulem uma maior abertura das universidades às empresas, visto que ainda se verifica, em muitas situações, relutância das instituições académicas na participação em projectos de inovação orientados para o mercado. As relações pessoais de confiança entre indivíduos detentores da mesma linguagem tecnológica é um aspecto que tem permitido ultrapassarem algumas destas resistências. O CTCP partilha a opinião de que seria desejável financiar o desenvolvimento de projectos de investigação de alunos de doutoramento e de outros investigadores em ambiente empresarial. 5.3. Estratégia de eficiência colectiva O PCT da Moda agrega as indústrias Têxtil, do vestuário e do calçado. Considerando que no caso da indústria do couro e do calçado a densidade do networking e das interacções é muito superior à das demais e considerando também a heterogeneidade inter-indústria, o potencial de sinergias e de coordenação é limitado. A opinião é de que não há muito a ganhar da integração no PCT da Moda. 5.4. Natureza do sistema de incentivos O CTCP participa num conjunto extenso de projectos financiado no âmbito do QREN incluindo ainda também em projectos de âmbito transnacional. A tabela seguinte sintetiza as mais recentes iniciativas em que o CTCP está envolvido: 138 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 TABELA 2.15: CTCP - MAIS RECENTES PROJECTOS DE I&D CO-FINANCIADOS Acrónimo Advanced Shoe Stress-LessShoe BionicPhoot Agilplan FlexiOptima InovLaser Shoe_ID SIBAP II BeNature Atlanta TPV TOPIC_Shoe NEWALK Principais Parceiros CTCP + PIEP + IPB + FCUP+ Procalçado + DCB + Aveneda + Indinor + 2work4 + CEI + ICC CTCP + FADEUP + IEMGI + ESTSP+ K-Brinka + Klaveness + Calafe CTCP+ CEI + DCB CTCP + INESC+ Oficina Sol. Inform. + AS - Ind. Calçado CTCP + INEGI+ TECMACAL CTCP + CTIC+ Indutan + CEI CTCP + INESC+ Creative Systems + Kyaia CTCP + INESC+ Flowmat CTCP + CTIC + FCT-UNL+ ANCarvalho + Vega + Conforsyst CTCP + PIEP+ Atlanta CTCP + CCG+ Mind + Oficina Soluções + Jefar + Klaveness + J. Heitor CTCP+CTIC+INESC+ PIEP+ IPB+ FCUP+ FADEUP+ ISEP+ CALAFE+ SAVANA+ JEFAR +AS+ CONFORSYST+ ACO+ CINDICALFE+ INOCAM+ CEI+ FLOWMAT+ OFIC. SOL.+ EXPAND.+ZIPOR+ AVENEDA+ A.N.CARVALHO+ PROCALÇADO+ ATLANTA+ INDINOR+T.OPTIONS+ RUIVO+IBERIA Fonte: CTCP Tipologia Investimento Total SI I&DT em Consórcio 1.231.748€ 332.150€ SI I&DT em Consórcio 439.599 SI I&DT em Consórcio 360.813 SI I&DT em Consórcio SI I&DT em Consórcio SI I&DT em Consórcio SI I&DT em Consórcio 971.281 316.900 1.690.230 367.455 SI I&DT em Consórcio 989.336 SI I&DT em Consórcio 544.069 SI I&DT em Consórcio 1.622.836 Projecto Mobilizador 5.072.162 Globalmente, a opinião sobre os sistemas de incentivos é muito positiva, sublinhando-se a qualidade do desenho do quadro de apoio, bem como o espectro alargado de instrumentos complementares. No entanto, considera-se que o QREN continua a implicar um nível elevado de burocracia. O crescente foco da análise dos projectos no impacto nas exportações é considerado positivo. No cômputo geral, o CTCP considera que as melhorias a introduzir passam por pequenas afinações ao sistema actual, ao invés de se enveredar pela arquitectura de um novo sistema de instrumentos de incentivo, ressaltando o seguinte: Previsibilidade: o CTCP referiu existir falta de previsibilidade na abertura de concursos que importa minimizar. Nível de burocracia: aceitável, especialmente, dada a disponibilidade de instrumentos mais leves como os vales; 139 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 Adaptabilidade/flexibilidade: o espectro alargado de instrumentos disponível é percebido como conferindo a flexibilidade necessária. Os vale I&DT e vale inovação são muito elogiados enquanto instrumentos úteis e simples, mesmo tendo em conta alguns abusos (a sua utilização para financiar operações correntes) que deviam ser obviados. No que diz respeito ao apoio da política de inovação a programas de formação, o CTCP defende que seria muito relevante promover programas de formação in-company; Avaliação: nesta dimensão operacional, o CTC sublinha a necessidade de mudanças, nomeadamente, no sentido em que o principal foco do apoio seja nas actividades e não nas instituições, devendo ainda a avaliação considerar os efectivos resultados dos projectos. No que concernem as instituições não empresariais e no âmbito de programas de transferência de tecnologia, os critérios de avaliação devem incidir, em grande medida, na percentagem de serviços tecnológicos vendidos por essas instituições às empresas; Apoio à internacionalização: o CTCP considera que os instrumentos disponíveis são adequados para promover a internacionalização, ainda que reconheça que existem algumas falhas de mercado, nomeadamente a nível de capital de risco para a internacionalização, que necessitam de ser resolvidas; Comparação com outros quadros de apoio: considera-se que os programas europeus de âmbito transnacional, em comparação com a experiência no actual QREN, implicam mais burocraica e são geridos com base numa linguagem mais hermética e pouco clara; acrescenta-se que esses programas tendem também a favorecer projectos em tópicos mais “sexy”, onde não se inclui a indústria do couro e do calçado ou outras indústrias de especialização tradicional. 5.6. Instrumentos de engenharia financeira Reconhece-se esta dimensão como uma das principais falhas do Sistema Português de Inovação, nomeadamente, porque os operadores neste mercado tendem a evitar o financiamento a 140 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 projectos de elevado conteúdo inovador, que comportam igualmente elevados níveis de risco, condicionando assim o efectivo suporte à criação de spin-offs de base tecnológica a partir dos resultados dos projectos de I&DT desenvolvidos pelo CTCP. 141 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 GLOSSÁRIO Adi – Agência de Inovação ADVID – Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal AIFF – Associação para a Competitividade da Indústria da Fileira Florestal AIPQR – Associação das Indústrias da Petroquímica, Química e Refinação APCM – Associação Pólo de Competitividade da Moda ARDU – Acções de Regeneração e Desenvolvimento Urbanos B2B – Business-to-Business BEI – Banco Europeu de Investimento C&T – Ciência & Tecnologia CCCT – Comissão de Coordenação Ciência e Tecnologia CE – Comissão Europeia CEI – Companhia de Equipamentos Industriais CEIIA – Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel CEO – Chief Executive Officer (Director Executivo) CERN – Organização Europeia para Investigação Nuclear 142 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade COTS – Commercial Off-The-Shelf CR – Capital de Risco CTCP – Centro Tecnológico do Calçado de Portugal DEMTEC – Sistema de Incentivos à Realização de Projectos Piloto Relativos a Produtos, Processos e Sistemas Tecnologicamente Inovadores (POE/PRIME) DPI – Direitos de Propriedade Intelectual DUI – Doing, Using and Interaction EEC – Estratégias de Eficiência Colectiva ESA – Agência Espacial Europeia ESOC – Centro Europeu de Operações Espaciais ESTSP – Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto ETI – Equivalente a Tempo Integral EUREKA – Rede Europeia de I&D de Tecnologia Competitiva para o Mercado FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto FCUP – Faculdade de Ciências da Universidade do Porto FEDR – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional FEI – Fundo Europeu de Investimento FINEP – Financiadora de Estudos e Projectos 143 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 FINOVA – Fundo de Apoio ao Financiamento à Inovação FP6 – Sexto Programa-Quadro da União Europeia FP7 – Sétimo Programa-Quadro da União Europeia FP8 – Oitavo Programa-Quadro da União Europeia FSE – Fundo Social Europeu GERD – Gross Domestic Expenditure on R&D / Despesa doméstica bruta em I&D GPEARI – Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais HCP – Health Cluster Portugal (Associação do Pólo de Competitividade da Saúde) I&D – Investigação & Desenvolvimento I&DT – Investigação & Desenvolvimento Tecnológico IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento IDEIA – Apoio à Investigação e Desenvolvimento Empresarial Aplicado (POE/PRIME) IEMGI – Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial IFAP – Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas INESC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial IPB – Instituto Politécnico de Bragança IPO – Oferta Pública Inicial IPSFL – Instituição Privada Sem Fins Lucrativos 144 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 ISCED – Classificação Internacional Normalizada da Educação ISP –Internet Service Provider IUS – Innovation Union Scoreboard JNICT – Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica LSE – London School of Economics MoU – Memorando de Entendimento MPME – Micro, Pequenas e Médias Empresas MVA – Medicon Valley Academy NASA – National Aeronautics and Space Administration NEBT – Novas Empresas de Base Tecnológica NEOTEC – Iniciativa de Apoio à Criação de Novas Empresas de Base Tecnológica NERCAB – Associação Empresarial da Região de Castelo Branco NITEC – Núcleos de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico no Sector Empresarial OCDE – Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento OCS – Office of Chief Scientist ONG – Organização Não-Governamental PCT – Pólos de Competitividade e Tecnologia PCTE – Pólo de Competitividade e Tecnologia da Energia PEDIP (QCA II) – Programa Especifico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa PhD – Doutorado 145 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 PIB – Produto Interno Bruto PIEP – Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros PIP – Parcerias e Iniciativas Públicas PME – Pequenas e Médias Empresas PO – Programa Operacional POCTI – Programa Operacional "Ciência, Tecnologia, Inovação POE – Programa Operacional da Economia POFC/COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade POPH – Programa Operacional Potencial Humano POSC – Programa Operacional Sociedade do Conhecimento POSI/POSC – Programa Operacional Sociedade da Informação / Sociedade do Conhecimento POVT – Programa Operacional Valorização do Território PRIME – Programa de Incentivos à Modernização da Economia PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural do Continente PRODUTECH – Pólo de Competitividade das Tecnologias de Produção PROINOV – Programa Integrado de Apoio à Inovação PROMAR – Programa Operacional Pesca PROVERE – Programas de Valorização Económica de Recursos Endógenos 146 Relatório Final: Inovação e investigação empresarial incluindo transferência de conhecimento em Portugal 2010.CE.160.AT.083 QCA – Quadro Comunitário de Apoio QCA III/PO – 3º Quadro Comunitário de Apoio / Programa Operacional QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional SBIR – Small Business Innovation Research Program SI I&DT – Sistema de Incentivos à I&DT SIAC – Sistema de Apoio a Acções Colectivas SIFIDE – Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial SIME – Sistema de Incentivos à Modernização Empresarial (POE/PRIME) SIME- I&DT – Sistema de Incentivos à I&DT (POE/PRIME) SIUPI – Sistema de Incentivos à Utilização da Propriedade Industrial (POE/PRIME) SNCT – Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia TI – Tecnologias de Informação TICE – Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica TICE.PT – Associação para o Pólo de Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica TP – Turismo de Portugal UE – União Europeia UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento UWM – University of Wisconsin Madison WARF – Wisconsin Alumni Research Foundation 147 Relatório Final: Inovação e 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