Caderno de Pesquisa Histórica - 01
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Caderno de Pesquisa Histórica - 01
EXPEDIENTE Caderno de Pesquisa Histórica Faculdade José Augusto Vieira - FJAV Instituto Superior de Educação - ISEJAV Curso de Licenciatura em História Ano 1 - N° 1 1° semestre de 2008 Presidenta Josete Reis Vieira Diretora Geral Bethrosa Leal Poderoso Diretor Administrativo José Valdelmo Monteiro Silva Coordenadora Geral Adjunta Christiane Rocha Santos Silva Diretor Acadêmico Lúcio César Santos Jesus Coordenador Geral Antonio Augusto Sá Mendonça Coordenador do Curso de História Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos Coordenação de TCC Profª. Edna Maria Matos Antônio Editor Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos Secretária Milena Rodrigues Bezerra Professores-Orientadores: Alailson Pereira Modesto, Fernando José Ferreira Aguiar, Marco Antônio Matos Antonio, Samuel B. Medeiros Albuquerque. Colaboração: Ilmária Chaves Sena de Carvalho (Bibliotecária – FJAV) Faculdade José Augusto Vieira – www.fijav.com.br - Curso de Licenciatura em História - http://linux.alfamaweb.com.br/fijav/historiadebate2/ - FJAV - “Caderno de Pesquisa Histórica” – Foto da Capa: Antigo Povoado Cidade Nova (Acervo Artur Reis) Praça Nossa Senhora Aparecida, 40 - Lagarto - SE. – Brasil - CEP- 49400-000 Fone: (0XX79) 3631-9210 - E-mail: fijav@maratá.com.br O conteúdo dos artigos e trabalhos assinados reflete a opinião de seus autores, sendo de sua inteira responsabilidade. LAGARTO, JUNHO DE 2008 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 ÍNDICE F143 Faculdade José Augusto Vieira Caderno de Pesquisa Histórica / Faculdade José Augusto Vieira. – Lagarto, SE : 2008. 75 p. Inclui bibliografias. 1.História. 2. Pesquisa Histórica. 3. Santos, Claudefranklin Monteiro. 4. Antônio, Edna Maria Matos. I. Faculdade José Augusto Vieira. I.Título. CDU 930.1(81)(813.7)(081.1) APRESENTAÇÃO - Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos . p.03 INTRODUÇÃO - Profª. Msc Edna Maria Matos Antônio.............. p.04 A Inquisição em Lagarto: Um Balanço Histórico - Alisson Cardoso Vieira .................................................................................................. p.06 Homero e a Formação Política na Grécia Antiga - Andressa Barroso Moreira ....................................................................... p.12 O marco histórico Cruz das Almas e a questão da preservação do patrimônio histórico em Lagarto - Cristóvão Beto de Santana ... p.19 “A Fábrica da fé”: possibilidades de pesquisas a partir dos documentos das prestações de contas da Igreja de Lagarto (1825 a 1885) - Evandro Silva de Souza .............................................. p.24 Chorando e Cantando: A busca pela identidade musical Brasileira - Floriano Santos Fonseca ......................................... p.30 Crime de Defloramento na Cidade de Lagarto (1876-1892) Jakeline Tavares Santos ............................................................. p.34 Ensino de História: Tendências, Trajetória e Desafios da Docência - Márliton Nascimento ............................................... p.39 Epilepsia: Mitos e Verdades ao Longo da História - Maria de Lourdes S. S. Silveira ................................................................ p.48 A cultura do fumo em Lagarto: apontamentos e Considerações sobre o seu estudo - Maristela do Nascimento Andrade ............. p.52 Sergipe Oitocentista no Olhar dos Viajantes Estrangeiros - Nájala Rocha Souza Santana .................................................................p.56 Jenner Augusto: Vida e Obra - Paula Cristina da S. O. Carvalho . p.63 As Primeiras Reclamações Trabalhistas Femininas em Sergipe (1943-1944) - Ravania Calasans Martins Silva .............................. p.67 RESENHA A TELEVISÃO COMO INSTRUMENTO DO NEOCOLONIALISMO: EVIDÊNCIAS DO CASO BRASILEIRO - Luciana Rodrigues dos Santos................... p.72 1 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 2 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos Graduado em História e Mestre em Educação pela UFS-SE Professor e Coordenador de Curso Nos seus três anos e meio de funcionamento, a Faculdade José Augusto Vieira se destacou pela ousadia e pela determinação. Em tão pouco tempo, uma embrionária IES vem dando saltos de qualidade que impressionam até mesmo os envolvidos no processo. Grande parte dessa pujança se deve em boa medida ao feedback dado por nossos alunos e professores a empreitadas inicialmente marcadas pela descrença e pelo espírito pouco empreendedor de alguns ínfimos críticos de plantão. A Turma “A” do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira fecha um círculo virtuoso com uma iniciativa que coroa a tríplice função de uma IES: ensino, extensão e pesquisa. Picados pela mosca azul da investigação histórica nas aulas de Métodos e Técnicas e Pesquisa Histórica do sétimo período, esses determinados sobrevivente, desbravadores e exímias cobaias, presenteiam a FJAV, o público acadêmico e em geral com o I Caderno de Pesquisa Histórica, idéia embrionária da Prof. Msc. Edna Maria Matos a quem tive a honra de adotar e agora batizar. A iniciativa lança valiosa contribuição no sentido de incentivar a fomentação do saber na formação do docente em história, cumprindo o previsto em nosso projeto político pedagógico: formar o professorpesquisador e o construtor de memória. A todos aqueles envolvidos direta e indiretamente nessa empreitada, nosso mais profundo agradecimento, estendidos principalmente a todos aqueles que em nenhum momento deixaram de acreditar em tudo aquilo que nos diziam que não parecia possível. Mais distante do que o sonho ou o impossível é a preguiça e o comodismo da ação, é a venda voluntária nos olhos dos limitados de boa vontade e a inércia dos que dominam a inteligência soberba, ao invés de nutrir-se da inteligência generosa, promissora e socratiana. 3 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Profª. Msc Edna Maria Matos Antônio Graduada e Mestre em História pela UNESP-SP Nas últimas décadas a disciplina História e a forma de se obter o conhecimento sobre o passado sofreram profundas transformações metodológicas e conceituais e que exigiram dos estudiosos da História a revisão de suas posturas e práticas. Os anos 80 testemunharam um importante e irreversível movimento de expansão do "território do historiador". Essa ampliação abarcou tanto as possibilidades de temas de investigação quanto os materiais e fontes possíveis e disponíveis para as investidas da pesquisa. Um número considerável de temas e problemas pode então tornar objeto da investigação histórica: a família, a sexualidade, os rituais, as crenças – religiosas e políticas-, os sentimentos, o simbólico, as instituições, a memória, enfim, tudo o que comporta e caracteriza uma realidade social num determinado tempo e espaço. Faz parte das preocupações dos historiadores em seu ofício e mesmo em sua fase de formação intelectual refletir, questionar e encontrar as melhores ferramentas - conceituais e metodológicas que o auxilie a decifrar os vestígios do passado e elaborar uma interpretação consistente sobre essa experiência. Esse processo, que para alguns pode parecer torturante, implica na harmonização de teoria, metodologia e prática investigativa cujo resultado é o conhecimento. Para que isso aconteça, um processo fundamental é a escolha do tema, sua proposta de estudo e sua pertinência, inserida numa dimensão social. Mais do que uma escolha, essa etapa significa um encontrar-se do estudante/pesquisador consigo mesmo, com seu tema e problema, sua função enquanto historiador e o desafio fascinante de buscar respostas para as questões do presente no passado. Questões que ele mesmo percebeu. O que o leitor tem em mãos é a reunião de vários desses desafios e a proposta de como respondê-los. Organizados a partir de seus projetos iniciais de pesquisas e trabalhos de disciplinas, 4 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 apresentam o princípio de suas reflexões, suas dificuldades, pretensões e agruras de estudantes mais que interessados e comprometidos em percorrer os caminhos intricados da pesquisa histórica. De forma gratificante, pode-se constatar a variedade de temas e de opções teóricas e metodológicas (afinal, é assim que deve ser), que mostram a riqueza e a sensibilidade de seus autores na tentativa de promover um conhecimento e trazer informações sobre o passado diante do problema de escassez de estudos sobre temas importantes da trajetória histórica da cidade de Lagarto, ou mesmo do descaso com essa história, além de outras relevantes temporalidades e espaços. Neste sentido, a publicação dos estudos dos alunos iniciantes em suas atividades de pesquisadores reveste-se de singular importância. Mesmo iniciantes, que de modo algum é minimizador da iniciativa - pelo contrário - , é possível notar a preocupação em respeitar a história com seus métodos, rigores e segredos (sim, ela possue regras de investigação e observação de critérios) o que os faz atualizados em relação às tendências de discussões e debates na historiografia contemporânea. Se o passado é um processo em construção, a contribuição dada pelos presentes autores sinaliza um reforço promissor na tarefa árdua, mas prazerosa, de tornar compreensíveis as relações que unem ou dividem os homens e as mulheres, os diversos grupos sociais em toda a complexidade, seus medos e desejos, tramas e conquistas ao longo do tempo. Clio agradece. A Inquisição em Lagarto: Um Balanço Histórico 5 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Alisson Cardoso Vieira Acadêmico do 8º Período – Turma A (História) Resumo Busca-se neste artigo realizar uma retrospectiva da introdução do Tribunal do Santo Ofício, na Europa e no Brasil, salientando também as três visitações do Santo Ofício em Sergipe, e especialmente em Lagarto. Trata ainda das fontes e de métodos para o desenvolvimento dessa pesquisa. Palavras-Chave: Inquisição, Visitação, Sociedade, Sergipe Colonial, Lagarto A História não pode ser entendida separadamente da História da Igreja Católica Romana. A Inquisição Romana no século XV , foi reorganizada, através da Bula Licet ab initio, se consistituiu em um organismo coletivo centralizador na figura papal. Esse organismo era presidida pelo Somo Pontifíce que nomeava novos inquisidores bem como cuidava da supervisão de todo o processo como se fosse um tribunal de última Instância. Seu poder jurisdicionado sobre os prelados da Igreja, impunha uma relação hierárquica e dependente à rede de inquisidores locais. Diferente do que aconteceu nos territorios de Aragão, onde o primeiro inquisidor-geral substituiu os inquisidores nomeados, na Itália não se encontra nenhum indicativo de tal prática. Segundo Francisco Bethencourt (BETHENCOURT:2000), a fundação da Inquisição em Portugal se dá a partir da Bula de estabelecimento do Tribunal Cum ad nihil magis, assinada pelo papa em 23 de maio de 1536. Em 1541, foram criados os tribunais de Coimbra, Porto, Lamego e Évora, antes existia apenas a Inquisição portuguesa que funcionava junto à Corte, em 1543-1545 a Inquisição de Évora efectuou diversas visitações à sua área jurisdicional. Mas em 1544 o Papa mandou suspender a execução de sentenças da Inquisição portuguesa e o autos-de-fé sofreram uma interrupção. No Brasil nunca houve tribunal do Santo Ofício ou da Inquisição. Os processos eram levados para a Corte. Na América 6 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 portuguesa, o Santo Ofício se instalou em julho de 1591, os Inquisidores eram os Bispos. A visitação foi liderada pelo licenciado Heitor Furtado de Mendonça, que teve uma ação discreta, foram realizadas inúmeras visitações e tantos livros sendo conhecidos três processos e uma visita do Inquisidor de Portugal. O Visitador nomeado Heitor Furtado de Mendonça, chegou à Bahia em 20 de julho de 1591. Poucos dias depois publicou o ‘Edito da Graça’, período de trinta dias (de 28/7 a 27/8) em que haveria ‘muita moderação e misericórdia’ aos que fossem acusados ou se viessem acusar. Houve muitas denúncias, versando sobre suspeitas de heresia, práticas de rituais judaicos, escravização dos indígenas, bigamia, feitiçaria, blasfêmia, sodomia. Durante as confissões Sergipe é citado sete vezes, na maioria ocorreram durante a “Guerra de Sergipe” (1589-1590) *, nenhum dos casos citados justificava o rigor dos acoites degredo e fogueira. Em 1594 o Visitador passou a Pernambuco onde, após um período de ‘Graça’, iniciou as audiências, seguindo até o ano de 1595, quando retornou a Lisboa. A par de algum erro ou imprevidência, não parece ter sido severo, usando, em muitos casos, de moderação. A segunda visita do Santo Ofício ocorreu entre setembro de 1618 e janeiro de 1619, sendo Inquisidor D. Marcos Teixeira. A Coroa Espanhola temendo que os cristãos-novos pudessem aliar-se aos holandeses, que naquele tempo pressionavam o Reino Unido manda essa expedição. A colônia, de fato, tornara-se lugar de refúgio e de degredo para os novos convertidos, que aqui se achavam em grande número. O Pe. Antonio Vieira, nessa época, defendeu a tolerância para com os cristãos-novos, idéia que se generalizou e continuou viva mesmo após a Restauração, em 1640. Em Sergipe, a visitação chega aos 11 de setembro de 1618, dessa vez, o Tribunal do Santo Ofício vem referindo-se a três casos de cristãos-novos. Durante o processo de confissões foram citados os casos de sodomia, bigamia e falsos Padres. No final do século XVII, Sergipe recebeu a visita de dois Bispos. O primeiro foi D. Estevão Brioso (1678-1689), bispo de Pernambuco. O motivo da visita foi punitiva. O segundo prelado a percorrer todo o Sergipe o 4º Arcebispo da Bahia D. João Franco de Oliveira (1692 a 1700). Luiz Mott (MOTT:1989) se refere a primeira visitação do Santo Ofício ao Brasil, que acontece de 1591 a 1595, quando Filipe II unifica a coroa portuguesa e espanhola sob seu poder por causa da morte de Dom Henrique, em 1580, por ser o único herdeiro do trono português. Como o rei da Espanha possuía idéias mais rígidas quanto aos cristãos-novos, julgou necessária uma visita do Santo Ofício. Segundo Mott: * A guerra de Sergipe foi a segunda tentativa de invasão, liderada por Cristóvão de Barros. E seu exército chegaram à foz do rio Ithanhy (Rio Real), onde ocorreu o combate, os índios foram vencidos pelas armas de fogo, cavalaria e fogo dos canhões. No dia 1 de Janeiro de 1590, com a vitória das tropas portuguesas. Cristóvão de Barros organizou a administração da nova capitania nomeado as principais autoridades: O Capitão-Mor; o Ouvidor-Mor e o Provedor-Mor. 7 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “(...) 20 de setembro de 1733, outro m orador do Rio S. Francisco, também é penitenciado: Fernando Henrique Alvares, 38 anos, também com parte do sangue de judeu, só que morador em Penedo, do outro lado do rio, na Comarca de alagoas: teve a pena máxima da fogueira, acusado de ser judeu “convicto, ficto, falso, simulado, confitente, diminuto e impenitente.” A noticia de sua morte deve ter corrido por todos os povoados ao Velho Chico, pois era o primeiro, e salvo erro, foi o único morador destas bandas a chegar à fogueira.” (MOTT, 1989:56) No ano de 1734, aparece o primeiro caso em Lagarto. Tratase de mais um caso de falso padre: Manuel Silva Oliveira, 30 anos. Apesar de agir no território lagartense era pernambucano. Pernambucano, foi aprovado nos primeiros exames para presbítero pelos jesuítas cariocas. Teve a infelicidade de contrair a varíola (bexiga) e retornou para a terra natal. Depois viajou para terras lagartenses, passando quatro anos atuando como padre, com uma imagem de Nessa Senhora os moradores de Lagarto davam esmola ao falso ermitão, certos que iriam para a morada celestial, debaixo do manto da virgem. O esperto minorista vendo sua fonte secar, vai para a freguesia de Nossa Senhora do Monte do Itapicuru da Praia, onde assume essa prática com maior desenvoltura, mas acaba sendo preso. Mesmo dizendo ser sobrinho do Abade do Mosteiro de São Bento da 8 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Bahia , foi embarcado para Lisboa e condenado a 7 anos de galés, antes passado pelo vexame de ter sua sentença lida no Auto público de Fé de 24 de julho de 1735. No século XVIII com o surgimento das minas de ouro, para as quais ia grande número de estrangeiros de todos os credos, a política de tolerância vigente no século anterior começou a mudar. Segundo Mott, no reinado de D. José I (1750-77), a Inquisição decaiu, chegando praticamente a anular-se. Dois fatores contribuíram para a sua queda, ambos ligados à personalidade do Marquês de Pombal. O Primeiro ministro considerou a prática contrária aos interesses da Corte, embora anos antes (1761) a tivesse utilizado contra o Pe. Gabriel Malagrida, por ter este, na ocasião do terremoto de Lisboa (1755), acusado de erros morais os membros da Corte. Em virtude de um desentendimento entre Pombal e o Santo Ofício em Portugal, chegou o rei D. José I a procurar minorar a ação do Tribunal. Assim é que em 1773 foram baixadas leis que acabaram com a distinção entre cristãos-novos e outros cristãos, e que proibiam qualquer discriminação por ascendência judaica. Em 1774 o Santo Ofício foi transformado num tribunal régio, sem autonomia, completamente dependente da Coroa, o que significou na prática a sua desativação. No seu livro Mott ainda fala sobre um segundo caso em Lagarto, o fato acontece no final do século XVIII, envolveu o intelectual lagartense o tabelião Antonio Bernardo da Rocha. Ao publicar o seu Système de La Nature, em 1770, fez acusações a religião: a primeira seria a construção de uma base errada para a moral; a segunda de imposição a ciência e uma terceira de construir o suporte principal de uma ordem social corrupta e sua doutrina da vida depois da morte. Autor de importante obra histórico-filófica Le Chistianisme Devoilé sugerindo obras de ilustrados ateus como: Rousseau, Hume, Spinoza, Voltaire, Machiavel, Bodin, Diderot, Pope, e outros. De forma estratégica o Tabelião Antonio Bernardo no dia 20 de fevereiro, logo após da Quaresma confessou ao Santo Ofício. Apesar de poucos casos existem em Lagarto, é necessário captar a presença do Santo Ofício na região. Na pista deixada por Mott, que deixou bem claro na sua obra a necessidade de uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto, é preciso conhecer um pouco mais sobre a experiência da Inquisição em Sergipe, mais especificamente em Lagarto. A orientação para as análises sobre a inquisição em Sergipe corresponde a uma leitura interna da fonte buscando nas entrelinhas as seguintes características: o que é negado, o não dito, o que é perseguido, algo que une todas as vitimas num grupo específico e exclusivo. Uma busca de sentimentos e existências que haviam se perdido e agora poderiam ser resgatados, através dos aparentes silêncios e vazios dos documentos oficiais. Pretendemos contribuir com um melhor entendimento acerca do pensamento religioso dominante esperamos captar através deste viés, ou seja, do projeto ideológico cristão expresso nos documentos inquisitoriais. Mott fala também que a visitação do Santo ofício deixou sua marca em Sergipe. A historiografia colonial é inteiramente omissa quando se refere à presença do Santo Ofício na Capitania de Sergipe. Perseguiu, torturou dezenas de pessoas, prendeu, tendo levado à morte ao menos um sergipano: José Fernandes, morador na Vila de Santa Luzia, no ano de 1762. Nosso intento é identificar às influências religiosas e culturas que levaram o Santo Ofício as terras de Nossa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto. De um modo geral, acreditamos que o preceito ideológico da sociedade lagartense no século XVIII ainda não tenha sido examinado a fundo nas fontes inquisitoriais. Com efeito, visamos analisar a existência de elementos da concepção ideológica cristã através de documentações inquisitorial e de âmbito social. Com esse trabalho pensa-se explorar a relação existente entre a Inquisição Portuguesa e o sociedade Lagartense, através de suas visitações em Sergipe; pretende-se analisar os motivos e justificativas declaradas para uma intervenção inquisitorial em Lagarto, e ainda caracterizar os casos existentes em Lagarto e a especificação de cada caso e mostrando o comportamento dessa sociedade. Nossa pesquisa possui natureza exploratória das fontes documentais e bibliográfica, a saber, apoiada em leituras gerais e específicas sobre o período e o tema. Serão analisados no sentido de obter subsídios para a compreensão da ideologia e seu papel no processo de formação da estrutura e ordem social e política da sociedade lagartense. 9 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 10 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 As fontes podem ser lidas como representações de uma realidade histórica e o documento é um produto da sociedade, que o criou, consoante com estruturas e relações de forças dos que representavam o poder e podem lançar um véu de entendimento sobre a realidade passada. A metodologia que será utilizada para a realização desta pesquisa faz parte da História Cultural, que permitirá a análise da relação existente entre indivíduos no interior de uma dada sociedade num espaço e num tempo determinado, ou nas palavras de Chartier, a História Cultural “tem por principal objetivo identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler” (CHARTIER, 1990:16-17). Pretende-se estabelecer a análise cultural como a investigação sobre a contínua reorganização das representações na prática social. A Inquisição e o seu estudo podem permitir a compreensão do comportamento de uma sociedade em épocas passadas. Homero e a Formação Política na Grécia Antiga Bibliografia BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália séculos XV-XIX. São Paulo: Companhia das letras, 2000. CHARTIER, Roger. A história cultural: Entre Práticas e representações. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1990 MOTT, Luiz R. B. Inquisição em Sergipe. Coleção Jackson da Silva Lima. Aracaju: Governo de Sergipe, Secretaria de Estado da cultura e Meio Ambiente, FUNDESC. NOVINSKY, Maria Luiza Tucci Carneiro. Inquisição: Ensaios sobre Mentalidade, Heresias e Arte. SIQUEIRA, Sonia A. A Inquisição Portuguesa e a Sociedade Colonial. São Paulo: Ática, 1978. VAINFAS, Ronaldo. Confissões da Bahia: Santo Ofício da Inquisição de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 11 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Andressa Barroso Moreira Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Resumo Este artigo objetivo, através de um breve resumo da história dos períodos micênico e homérico, aliado a um balanço historiográfico sobre o assunto, retratar a importância dos textos homéricos para a pesquisa historiográfica contemporânea, enquanto representação destes períodos da história grega. Através das constantes mudanças populacionais ocorridas no território grego nos séculos XII e VIII a C. vê-se o desaparecimento da escrita. Surgem, então os textos de Homero – a Ilíada e a Odisséia - como testemunhas desta época. “A sociedade que produziu aquela forma de vida desapareceu sem deixar qualquer testemunho para o conhecimento histórico, mas a sua representação ideal, incorporada na poesia homérica, converteu-se no fundamento vivo de toda a cultura helênica”. (JAEGER, 2003:66) Da cronologia habitual usada pelos historiadores para demarcar as divisões temporais da história grega, o correspondente aos séculos XII ao VIII a. C., após a invasão da Grécia pelos dórios, é intitulado “Período Homérico”. Sua história é permeada por lacunas devido a este ser um tempo em que a escrita linear b usada pela civilização micênica predecessora desta invasão havia caído em desuso - por conseqüência não há documentos escritos pela cultura da época, nem de ordem administrativa do Estado. Entretanto, já se sabe que é neste período onde a civilização grega, como a conhecemos, começa a ganhar forma chegando à organização social, política e cultural que servirá de berço para toda a civilização ocidental. Para que essas informações cheguem até nós, alguns historiadores contam com a ajuda da arqueologia – e também com os textos de Homero. Estes épicos são a Ilíada e a Odisséia. Concordamos com o historiador inglês Moses Finley ao dizer que 12 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 “... o épico não era história, e sim uma narrativa, detalhada e precisa, com suas descrições minuciosas de guerras, viagens marítimas, banquetes, funerais e sacrifícios, todos muito reais e vívidos, ele podia conter inclusive algumas sementes encobertas do fato histórico – mas não era história. Como mito era atemporal”. (FINLEY, 1989:07) Entretanto, sua importância para a formação do caráter grego descrito por Jaeger (2003:54) em sua Paidéia enfatiza que “ninguém pode ler este poema sem ficar com a impressão de um propósito pedagógico deliberado e consciente, embora muitas partes não apresentem nenhum vestígio dele”. Estes textos, produzidos por volta do século IX ou VIII a.C., foram repassados através de inúmeras gerações pelos aedos†. Apesar de nos ser claro o fato das modificações sofridas pelos poemas ao longo dos anos até mesmo pela influência destes aristocratas em tentativas de incluir nestes sua linhagem familiar, entre outras alterações convenientes a seus interesses, sua informação ainda é preciosa para a historiografia. Seus textos, quase em sua forma original foram materializados através da escrita no século VI a. C. - dois séculos mais tarde de seu surgimento - quando os gregos assimilaram a escrita fenícia e a adotaram definitivamente. Ao fim do período micênico, as culturas autóctones se mesclavam à cultura dos povos recém-chegados como: jônios, eólios e aqueus que circulavam na região desde o século XII a.C., mas a partir da invasão dórica da Hélade dois importantes movimentos populacionais também aconteceram. O primeiro deles foi uma expansão para o exterior da região até então habitada – este movimento ocasionou a fundação de importantes povoações gregas por várias ilhas do oeste do Mediterrâneo, mares Negro e Egeu, † Estes artistas, bem quistos à época, viviam viajando pelas casas dos aristocratas gregos sendo responsáveis, assim, pela transmissão oral da história usando a técnica da rima e da música para contá-las. 13 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA chegando à costa da Itália e norte da África, dando origem ao comércio dos artesanatos e as trocas culturais com outros povos. Foi neste período que as técnicas náuticas foram sendo melhoradas, embarcações mais ágeis e eficazes foram inventadas, ainda que em algumas vezes, tempestades levassem os barcos a lugares não planejados – nota-se isso quando Menelau descreve a Telêmaco, filho de Ulisses, como foi parar no Egito, perdido no mar depois da guerra de Tróia e de lá trouxe grandes pilhas de mercadorias originadas de saques por toda a região. Aí notamos que esta era uma das formas com que as mercadorias circulavam por toda a região de propriedade em propriedade, entre elas, produtos alimentícios, artesanatos como roupas, potes para armazenagem de grãos e vinho, produtos domésticos e de uso geral que não fossem produzidos localmente, além de escravos, principalmente originários destes saques. A escravidão à época ainda não possuía a importância que ganhou tempos mais tarde na economia grega. Por não haver trabalho assalariado e a produção agro-pastoril ser o meio econômico mais aceito socialmente para manutenção de sua riqueza, era por meio de servos e “agregados” que os senhores de terra mantinham suas culturas, pois a ocupação à qual estes homens se dedicavam era a guerra. Confirmamos isto nas palavras do historiador francês Claude Mossé (MOSSÉ, 1984: 60) que afirma: “deste modo, a agricultura e a criação de gado constituem as duas principais atividades de um domínio, aos quais, como já vimos, são supervisionados pelo senhor do oikos em pessoa, e isto mesmo se tratando de um rei”. Estas pessoas, muitas vezes mantinham uma relação de dependência com o dono da propriedade, vendidos muitas vezes como escravos por viajantes, não tinham como voltar para sua terra natal, e aí agregados à nova família serviam ao senhor até sua morte. Na Odisséia vemos o caso do porqueiro Eumeu; da ama de Ulisses, Euricléia e das servas de Penélope, mortas por Ulisses por se deitarem com os pretendentes. Ainda assim, esta é uma questão obscura para a historiografia, falta-nos informações suficientes para entendermos a real situação dessas pessoas, sua forma de vida e o poder que um senhor poderia exercer sobre suas vidas. Mossé também expressa essa lacuna ao comparar a propriedade palaciana do senhor (como a de Ulisses, rei da ilha de Ítaca) a um feudo medieval: 14 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 permaneceu vivo pelo menos até o século V”. (FLORENZANO, 1994: 20) “...a retribuição de serviços sob a forma de lotes de terra, de posse precária e relacionada com o devido cumprimento dos ditos serviços. Quanto ao papel das comunidades camponesas dependentes do palácio, às quais o termo demo pretende de certo designar, permanece bastante obscuro. No entanto, sabe-se que estas comunidades, em cujas mãos teria residido a gestão das terras da aldeia se encontram sujeitos ao pagamento de rendas anuais que contribuíam para engrossar regularmente as reservas acumuladas nos depósitos e armazéns do palácio” (1984:27). O segundo movimento conseqüente desta invasão foi o da diáspora interna: ao fugirem dos povos invasores conhecidos por sua violência e em busca de proteção e segurança, os povos ali residentes agruparam-se em pequenos clãs familiares que, compartilhando de antepassados comuns e sob a liderança de um homem experiente e descendente direto destes antepassados - o pater - deram origem aos genos. Era ele, o pater, o responsável pela organização política, cuidava das questões de justiça e até mesmo das relações econômicas estabelecidas dentro e fora do genos. É interessante notar que a origem da palavra economia está associada ao genos e surge neste período - o oikos, que descrito por Homero, caracterizava a casa, a família, e unida à palavra nomos que é o trabalho, origina então a economia (oikonomos) ou o sustento familiar. Por isso essa economia ser doméstica, fechada e apreciar o auto-sustento. À época o comércio não era desenvolvido, além de não ser bem visto como forma de sustento para esta aristocracia. Achamos esta informação nas palavras de Maria Beatriz Florenzano, quando esta diz: “As atividades lucrativas, o comércio, o câmbio, etc. recebiam o mesmo tipo tratamento ou pior do que o dos trabalhos manuais. Escravos e metecos dedicavam-se a ela livremente, mas um cidadão era mal visto se o fizesse. Este tipo de atividade era moralmente condenada, o ideal de equivalência absoluta entre as partes que realizavam as trocas O que não era produzido na propriedade, como já visto, era conseguido por meio de saques e pilhagens ou através das trocas com genos visinhos. É neste cenário que se desenvolve a política, ou a figura política. Inicialmente ele era o pater, o homem de família nobre, com uma ascendência notável, seus ancestrais eram grandes homens, heróis, semideuses, senão deuses até. Nas palavras de Finley (1989: 20): “há um exemplo grego muito interessante: os heróis homéricos recitam freqüentemente suas genealogias em detalhe e sem exceção, em poucas etapas seus ancestrais humanos convertemse em deuses ou deusas”. Na Odisséia acompanhamos a história de um deles: Ulisses, mas ainda há exemplos como os de Alcino, Menelau, Agamenon e Aquiles. Não é surpreendente o fato de o primeiro título empregado para sua propriedade e seu palácio ser o de Rei. Futuramente, na Grécia clássica cada cidade-estado venerará um fundador herói ou deus como primeiro cidadão honorário local, este fazia a ligação ideal que homens e deuses precisavam ter e freqüentemente este era o primeiro rei local. O desenvolvimento do poder deste pater acompanha o próprio declínio e ao mesmo tempo evolução do genos. As dificuldades econômicas, e as lutas por terra – aglomeração de grandes quantidades de terra nas mãos de poucos homens, aliado ao crescimento populacional e a baixa produtividade agrícola ocorrida em fins do século VIII fazem alguns destes grupos se extinguirem, outros se fortalecerem e muitos se unirem - os mais fracos aos fortes - assim o que era um mero clã passa a ser uma fratria, disso para uma tribo e finalmente surge a polis, o que caracteriza o fim do período homérico e o início do período arcaico. A profundidade da relação sociedade-espaço deste novo contexto social é expresso por Heyde Theml, quando diz: “A polis aparece como uma nova forma de organização política da sociedade; uma nova relação entre a sociedade e o espaço até então habitado e uma nova relação entre os homens e o poder do Estado (...) Para que este fato ocorresse era preciso passar a se 15 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 16 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 COUCEIRO, Sylvia. “Os desafios da história cultural” IN: BURITY, Joanildo A. (org.). Cultura e identidade: perspectivas interdisciplinares. Rio de Janeiro: DP & A, 2002. p. 11-28 FINLEY, M. I. Os gregos Antigos. Trad. Artur Mourão. 23. ed. São Paulo: Edições 70, 1963 FINLEY, M.I. Uso e Abuso da história. São Paulo: Martins Fontes, 1989 FLORENZANO, Maria B. O. O Mundo Antigo: economia e sociedade. Coleção: Tudo é história (39). 13. ed. São Paulo: brasiliense, 1994. JAEGER, W. Paidéia: A formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. conceber a possibilidade da existência de uma unidade maior e comum estabelecida numa pluralidade coordenada, hierarquizada e organizada; era preciso estabelecer uma confiança coletiva de que o território cívico dos ancestrais produzia uma história compartilhada, ele era maior que as terras de sua casa e era preciso ver os marcos das fronteiras das terras dos ancestrais para que se processasse o sentido de pertença social”. (THEML, 2003:277) Pouco se sabe, além disso, da política desse período e o conhecimento existente chega até nós através das obras do já citado autor jônico de nome Homero. Sua existência não é provada, seu conteúdo também não, mas o que se encontra nestas obras serve de fonte a historiadores desde a Antigüidade para a pesquisa em torno da história deste período. Apesar dos constantes questionamentos a respeito da veracidade destes textos a historiografia moderna aliada a outras disciplinas como a Arqueologia, a Antropologia tem cada vez mais feito uso e comprovado alguns fatos destas fontes. Seguindo a perspectiva da nova história cultural que, contrariando a história tradicional, afirma haver um universo muito maior de objetos e fontes, o historiador é livre para analisar sistematicamente os documentos, mesmo que os não oficiais ou administrativos do Estado, para que as evidências mostrem a história; como nas palavras de Peter Burke (1991:14): “De qualquer modo, se os historiadores estão mais preocupados que seus antecessores, com uma maior variedade de atividades humanas, devem examinar uma maior variedade de evidências”. Assim como Finley (1963:23), que ao salientar a importância destas duas obras afirma: “Nada pode substituir a não existência de escrita coesa, quer narrativa, religiosa ou administrativa. E é assim que também nós, tal como os gregos, temos que nos voltar para a Ilíada e a Odisséia”. Bibliografia BURKE, Peter (org.) “Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro”. IN: A Escrita da História: Entre práticas e representações. Trad. Magda Lopes. São Paulo: UNESP, 1991. p. 07-45 17 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 18 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 O marco histórico Cruz das Almas e a questão da preservação do patrimônio histórico em Lagarto O patrimônio cultural está aqui entendido como material da memória de um povo. O monumento é um sinal do passado ao qual designa os atos comemorativos (que pode ser de caráter religioso, político, econômico cultural). O que sobrevive não é apenas o que existiu no passado, mas é também uma escolha feita, que pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo da humanidade, quer pelas forças que se dedicam a ciência do passado e os tempos passados, os historiadores. Que possibilite os historiadores e leigos de forma geral a ter, naquele momento, uma forma de estudar e ver o passado de diferentes formas (espiritual, político, religião, social, etc.). Portanto, preservar o patrimônio histórico permite uma exploração que pode tirar daquele monumento, a história que tanto traz conhecimento e sabedoria sobre o passado para os estudos do presente e na preservação da memória da humanidade. Veja Lemos: Cristóvão Beto de Santana Acadêmico do 8º Período – Turma A (História) Resumo O artigo procura refletir sobre a importancia do patrimonio histórico e apresentar a pesquisa sobre o patrimônio Cruz das Almas como símbolo do lugar que deu origem a cidade de Lagarto, que pretende contribuir com a questão da preservação e a relação deste patrimônio com a comunidade, sua a valorização e reconhecimento público. O patrimônio histórico está muito presente no Brasil com suas cidades históricas que são consideradas patrimônio cultural da humanidade. Todo esse acervo patrimonial está sob cuidados da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da UNESCO, órgão ligado a ONU (Organização das Nações Unidas). Outros órgãos ligados ao governo federal, estadual e municipal, e entidades ligadas à sociedade civil organizada, dedicam-se na luta pela preservação e na delimitação do que vem a ser patrimônio histórico. Mas não só de nossas cidades são formados o patrimônio histórico. Os monumentos, de um modo geral, quadros, livros, fotografias e a cultura imaterial também fazem parte do acervo patrimonial histórico e cultural nacional. Temos muito a falar em patrimônio histórico, haja visto que temos duas cidades (São Cristóvão e Laranjeiras, com seus casarões, Igrejas, museus, etc) das mais antigas do país e um grande acervo patrimonial bem conservado em nosso estado. Na cidade de Lagarto é pouco o patrimônio considerado histórico: temos a igreja matriz, alguns casarões, sendo que muitos deles são apenas conservados na fachada. No Povoado Santo Antônio, onde deu início a cidade a igreja construída nos primórdios do povoamento não existem mais, tendo apenas o marco Cruz das Almas, construída no século XX para simbolizar o início da cidade, o qual constitui no objeto do nosso estudo. 19 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “Temas ligado às construções antigas e seus pertences, representativos de gerações passadas e que englobadamente recebem o nome genérico de “patrimônio histórico”, ao qual, às vezes, também é aposta a palavra “artístico”, na verdade, essa expressão usual, que é inclusive usada na identificação da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, abrange um segmento de um acervo maior que é chamado patrimônio cultural de uma nação ou de um povo”. (LEMOS, 2000:07) O patrimônio pode-se apresentar de diversas formas. Basta dizer quando falamos em patrimônio, estamos falando de vários objetos e resquícios que são as marcas de uma experiência do passado e assim uma herança. Portanto, trazem toda uma recordação de uma realidade de acontecimentos para ser estudado e explorado nas suas diversas áreas: patrimônio histórico, cultural e ambiental, espalhados em diversos locais que constituem, em todo seu contexto, em um objeto de estudo e admiração. O patrimônio histórico, fruto da construção de uma sociedade, retrata não só a questão patrimonial como também as vivências de uma sociedade embutida ali no seu interior. Os patrimônios históricos e artísticos trazem por toda essa 20 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 descrição uma realidade provedora de muitos conhecimentos, mesmo que estes patrimônios retratem apenas uma descrição do passado. A característica peculiar dos monumentos é ligar-se a capacidade e a vontade, voluntária ou involuntária, das sociedades de perpetuar as referências do passado de uma sociedade. É um legado a memória coletiva (LE GOFF, s/d:164). Embora em nossa cidade, as pesquisas realizadas sobre a questão patrimonial ainda é muito tímida, precisando de uma revitalização sobre o assunto para dar o devido lugar nas pesquisas patrimônio histórico. Portanto, é uma atividade de interesse tanto de acadêmicos e da sociedade em geral. O esperado é que a repercussão aponte os caminhos de valorização do acervo patrimonial, valorização da herança cultural e atitudes de preservação do patrimônio histórico, deixado por nossos antepassados. Trabalhar a questão monumento histórico é passar por todo um processo de reconstrução histórica, viver o passado; “a lembrança é uma larga medida, uma reconstrução do passado com ajuda de dados emprestados do presente, além disso, preparada por outras reconstruções feitas em época anteriores e de onde a imagem de outrora se manifestou já bem alterada” HALBWACHS, 1990:64). Nessa perspectiva que o trabalho pretende, através de um estudo minucioso: os monumentos históricos, em especial o marco histórico Cruz das Almas, abranger a tarefa da preservação e conservação para fins de utilizar em estudos, deixando todo seu legado para gerações futuras. Embora seja uma questão quase impossível mas indispensável na construção de uma crítica voltada para identificação de patrimônio histórico, como uma essência de criação humana ou da natureza. A presente pesquisa sobre patrimônio quer inserir-se no debate acerca do patrimônio Cruz das Almas como símbolo do lugar que deu origem a cidade de Lagarto e visa contribuir, com diversos caminhos como o da preservação e a relação deste patrimônio com a comunidade, para a valorização e reconhecimento público desse bem. A cidade de Lagarto oferece um modesto acervo histórico, expresso desde o seu marco onde nasceu a cidade, espalhados por toda área da cidade, com seus casarões, igrejas e outros monumentos que os simboliza do início até os dias de hoje. Originalmente foi habitada pelos índios Kiriris antes da chegada dos jesuítas Gaspar Lourenço e João Solonio em 1575. Após catequizarem os índios, aqui se estabeleceram na região do Santo Antônio, construindo a capelinha, a primeira da cidade, dando início ao povoamento das terras do Lagarto. Os índios kiriris, que viviam nas margens do rio Piauí e seus afluentes, embora tivessem uma convivência pacífica com os jesuítas, tiveram vários confrontos com os portugueses, e conseqüentemente, causando muitas mortes. Os que ficaram foram capturados ou fugiram para outra região. Na região do Santo Antônio foi construída uma igrejinha no início da povoação, mas foi demolida durante a passagem de Dom Mário Rino Sivieri. Ele era pároco da nossa paróquia na década de 80. Restou apenas o marco de fundação, construído em 1972 na gestão do prefeito José Ribeiro de Souza. A nossa intenção principal de pesquisa é motivada sempre pela necessidade da conservação do patrimônio histórico, levando em conta questão como a relação identidade/coletividade, que nos leva ao engrandecimento cultural de uma sociedade e de uma política que incluam os incentivos culturais. Nossa pesquisa ainda se fundamenta na escassez de estudos em nossa cidade que analisem de forma objetiva o nosso acervo patrimonial, que embora bastante modesto, representa aquilo de mais natural possível de entender diante do que está representado. Desta forma, queremos direcionar nossa reflexão no sentido de colaborar, fornecer conhecimentos nesta área, para podermos de forma mais clara possível chamar a sociedade para a noção de preservação para não trilhar em caminhos opostos, o da destruição, causando terríveis transtornos para o acervo patrimonial histórico e cultural. Segundo Lemos, “a preservação do monumento implica o da moldura tradicional, as construções, demolições ou agenciamentos novos não poderão, pois, alterar as relações de volume e colorido do monumento com seu ambiente próprio” (LEMOS, 2000: 24). A falta de esclarecimento popular sobre a importância da preservação do nosso patrimônio, de educação coletiva para que possamos ter uma sociedade movida pelos princípios fundamentais de vivenciar e de conservar o patrimônio histórico. Ainda Lemos: “é dever de patriotismo preservar os recursos materiais e as condições ambientais em sua integridade, sendo exigidos métodos de 21 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 22 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 intervenção capazes de respeitar o elenco de elementos componentes do patrimônio histórico cultural” (LEMOS, 2000: 24). O processo de pesquisa patrimonial é parte indispensável que molda o homem, que procura compreender seu tempo, seu passado. Também aí se insere a luta empreendida pelos diversos movimentos sociais no intuito de alargar o conceito de cidadania no interior da sociedade e nas relações de poder que permeiam a atividade humana. Ambos os processos reclamam a questão da identidade, seja ela de minorias, seja do ponto de vista da nação. Daí, o discurso de patrimônio histórico alcançar tamanho significado e apreciado nos dias atuais. “A Fábrica da fé”: possibilidades de pesquisas a partir dos documentos das prestações de contas da Igreja de Lagarto (1825 a 1885) Bibliografia Evandro Silva de Souza Acadêmico do 8º Período - Turma A (História) Resumo Neste artigo, objetivamos apresentar algumas considerações sobre o estudo da cidade de Lagarto no século XIX através da pesquisa sobre a Fábrica da Igreja da Matriz de Lagarto e sua interferência na economia local. Palavras chaves: Igreja, comércio, fábrica religiosa, Sergipe oitocentista. LEMOS, Carlos. O que é patrimonio histórico. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 2000 (1981). Col. Primeiros Passos. LE GOFF, Jacques. A historia nova. São Paulo: Martisn fontes, HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Vértice, 1990. (Biblioteca Vértice, 21). OLIVA, Terezinha. Textos para a História de Sergipe. Aracaju: Secretaria do Estado da Educação e do Desporto e Lazer/MEC/BIRD, 1998. A Igreja Católica é a instituição mais duradoura e bem sucedida de todos os tempos. Principal aliada do projeto de colonização empreendido pelos portugueses na conquista e exploração da América Portuguesa, sua importância e atuação no processo histórico do Brasil e suas regiões envolveu questões não apenas religiosas e morais mas também de ordem econômica e política. A presença da Igreja católica em solo brasileiro antecede-se até mesmo ao próprio sentido da palavra brasileiro. Estando presente na vida de pessoas pertencentes as mais variadas classes sociais durante tanto tempo, protagonizou capítulos de grande destaque para as páginas da nossa história. Sergipe por sua vez foi palco de grandes episódios envolvendo a Santa Igreja, a exemplo dos acontecimentos narrados por Luiz Mott: “Consultando as listas dos Autos de Fé compiladas por Varnhagens (1845), abrangendo os anos de 1711 a 1767, Sergipe aparece mencionado implicitamente apenas uma vez, quando do processo de outro cristão novo, Antonio Fonseca, 54 anos, lavrado de roças, natural de Mogadouro e morador no rio de São Francisco. Foi sentenciado no Auto de Fé de 6 de julho de1732, condenado a carregar para sempre o hábito 23 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 24 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 com as contas da fábrica, fato esse que o colocará em maus lençóis com os seus superiores e lhe custará o cargo. penitencial identificador de sua prática judaizante, o vergonhoso sambetino.” (MOTT , 1989) No Brasil do século XIX, ocorre à separação entre a Igreja e o Estado, pondo fim a uma união que perdurou por longos anos. Para a primeira ficou clara a necessidade de salvaguardar seus interesses e, para tanto, deveria ser criado um mecanismo capaz de atender tal necessidade. Necessidade essa, que começou a ser suprida com a criação do regulamento sobre Fábricas e Patrimônios como informa Ferreira: “A fábrica representava o conjunto de bens e rendimentos possuídos pela igreja nos municípios. Seu administrador atendia pelo titulo de fabriqueiro, e devia zelar pelos bens pertencentes à Igreja em uma determinada paróquia. Devia zelar do patrimônio eclesiástico, prestar contas de suas atividades ao vigário geral e ao bispado.” (FERREIRA, 2005). É de nosso conhecimento que as Fábricas agiam movimentando grandes cifras de dinheiro, o que nos leva a um primeiro questionamento: em que de fato esse capital estava sendo investido? Mas como foi dito anteriormente esse é apenas o primeiro de muitos outros questionamentos possíveis referente ao contexto que envolve a Fábrica da fé, da Igreja Matriz de Lagarto no século XIX. Deter-nos-emos a explanar os acontecimentos, envolvendo a Fábrica da Igreja da Matriz de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, hoje conhecida tão somente como Lagarto, município que fica a 95 quilômetros da capital. O estudo é referente aos anos de 1825 á 1885, quando o município ainda intitulava-se “Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto”. Como já fico evidenciado o estudo gravitará em torno da Igreja, para ser mais preciso, enfocará a Fábrica da Matriz de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto. É nela que encontramos nossa personagem central, Miguel Arcanjo do Nascimento, o até então fabriqueiro deste município. Como era de sua incumbência administrar os bens pertencentes à Igreja o mesmo ficou embaraçado 25 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “Juiz de Direito da comarca, que jogou boas as contas prestadas pelo fabriqueiro, ré então, capitão Miguel Archanjo do Nascimento. E como dito era fabriqueiro, seja devedor a mesma fabrica da quantia de um conto quatro centros e setenta mil e três réis.”‡ Por limitações que fugiram do nosso alcance não conseguimos precisar a data de construção desta Matriz. Sabemos apenas que sua construção inicial foi abandonada e retomada pelo Frei Geraldino de Santa Rita Loiola, sendo que somente após três períodos distintos foi finalmente concluída. Na capela-mor consta como data registrada o dia 21 de abril de 1655. Assim como em outras localidades a existência da Santa Igreja em solo lagartense mudou o cotidiano da sociedade local. Uma das primeiras mudanças observadas foi referente à necessidade de dispor de um oleiro para fabricar telhas, para substituir as palhas de pindoba que cobriam o teto da Matriz. Na ocasião o recém chegado Padre Constantino Mariulo, juntamente com o Vigário providenciaram a vinda do oleiro vindo de Santo Amaro da Purificação, município pertencente à Bahia. As torres da Matriz de Nossa Senhora da Piedade foram construídas durante o paroquiato do Monsenhor Daltro. Antes os sinos eram dependurados em troncos de madeiras e os grandes sinos foram doados por Joaquim da Silveira Portugal em 1851. Posteriormente foi contratado por Monsenhor de Souza Marinho, um grande mestre de obras vindo de Portugal incumbido de promover obras de ampliação, em 1938, com base no projeto inicial foram concluídos os braços da cruz. Até aonde pude embrenhar no universo da pesquisa histórica referente ao Estado de Sergipe, não foi possível localizar nenhum trabalho semelhante ao tema em questão. Entretanto, sem querer desmerecer os outros colegas autores, que se permitiram compilar conhecimento escrito referente a esse pequeno pedaço de terra ‡ Autos de contas da Fábrica da Igreja da Matriz de Lagarto, Arquivo do Judiciário, caixas 1113 e 1115. 26 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 nordestina, pôde ser observado, que a historiografia sergipana não retrata a riqueza dos vários acontecimentos e processos históricos ocorridos em nosso “pequeno” Estado, fato esse, observado durante o período em que tive o privilégio de pesquisar os documentos provenientes do Arquivo Geral do Judiciário com suas fontes e possibilidades de pesquisa. Essa notória escassez de trabalhos historiográficos referente ao período do Império nos serviu como um estímulo a mais, para nos embrenharmos na “selva” dos acontecimentos históricos de Sergipe, (com ênfase para a cidade de Lagarto), e de lá resgatar episódios significativos de nossa história. Lagarto e sua história atrai particular interesse não só por ser o terceiro município mais antigo do Estado, levando em consideração o fato, de que a referida cidade foi a terceira vila criada na capitania sergipense, vindo após a criação das de Nossa Senhora da Vitória de São Cristóvão (1590) e Santo Antônio e Almas de Itabaiana (1602), mas também por Lagarto ter se configurado ao longo do tempo como um município atípico na sua construção social e cultural. Ao passo que promovemos uma análise em torno da Fábrica da Igreja da Matriz do Lagarto, possibilitamos também uma abordagem a cerca da co-relação do tema central com o desenvolvimento sócio-econômico da região centro-sul, no período de tempo em estudo, tempo esse que nos apresenta uma sociedade lagartense privilegiada geograficamente e comercialmente, por estar no centro de uma rota comercial extremamente ativa durante o período em questão. Levando em consideração a visível escassez da historiografia sergipana, já teríamos motivos de sobra para tentar elucidar questões que de alguma forma pudessem suprir essa lacuna tão sentida pela comunidade sergipana. Entretanto outros motivos nos norteiam a produzir essa pesquisa. Ora, como foi dito anteriormente Lagarto não só é a terceira cidade mais antiga do Estado§ como também é um município diferenciado, haja visto, que na fase colonial, (ainda como uma freguesia), Lagarto cresceu consideravelmente, atraiu pra si forte atenções, perdeu território seguidas vazes, e ainda assim mostrou-se arrojada diante seu tempo. Aqui, cabe ainda debatermos a importância da cidade no século XIX, agora como uma importante rota comercial, sendo que a cidade desenvolvia forte comércio interno, tanto de forma interprovincial quanto intraprovincial. Cidades como Estância e Laranjeiras tiveram suas praças comercias em constante contato com o comércio lagartense, como afirma Joceneide Cunha (SANTOS, 2004). Pode ainda ser acrescentado a esse contexto que praças comercias importantes como as de Itaporanga D´Ajuda, Itabaiana, Simão Dias, Itapicuru, Paripiranga e Cícero Dantas. Sendo que as duas últimas pertencentes ao Estado da Bahia, o que, eleva a importância de seu caráter comercial, além das fronteiras estaduais. O pesquisador Luiz Mott, apresenta a sociedade de Lagarto, do século XIX, envolta em conturbações fervorosas. A terra dos “PAPAS - JACAS” apresenta-se, assim, como um campo de estudo tão fértil quanto pouco explorado, merecendo uma atenção maior por parte da comunidade científica especializada, para que essa então, possa promover condições reais capazes de trazer a tona páginas da história lagartense, que estão esquecidas, porém vivas como o seu solo fértil, contribuindo para a pesquisa histórica de Sergipe, bem como para a sociedade sergipana como um todo, uma vez que estaríamos dando novo fôlego a personagens que fecundaram esse solo sergipano com pegadas firmes e marcantes. Resgatar os fatos que ecoam através de décadas mas que nem por isso perdem sua importância, pelo contrário, tomam para si a responsabilidade de representarem explicações e interpretações acerca da origem e desenvolvimento de uma sociedade que nasceu imponente, galgou degraus sociais significantes, mas que hoje vive tempos incertos e não condizentes com a trajetória gloriosa de tempos remotos. § O marco primário o povoado Santo Antonio, fundado no ano de 1604. No entanto seu reconhecimento se deu por meio de Alvará no ano de 1694. Ver: FONSECA, Adalberto, História de Lagarto, Adalberto Fonseca, Lagarto-SE, 2002. 27 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Bibliografia CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS Ronaldo. (orgs) Domínios da história: ensaios de teoria e de metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 28 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 FERREIRA, V. G. Homens do crédito: o Fabriqueiro da Igreja e a acumulação em Franca (1880-1929), Tese de dissertação de Mestrado. UNESP, 2005 FONSECA, Adalberto, História de Lagarto. Lagarto: 2002. NUNES, Maria Thetis, Sergipe Provincial II (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempos brasileiros/Aracaju, SE: Banco do Estado de Sergipe 2006. SANTOS, Joceneide Cunha dos. Entre farinhadas, procissões e famílias: A vida de homens e mulheres escravos em Lagarto,Província de Sergipe (1850-1880). Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 2004. Chorando e Cantando A busca pela identidade musical Brasileira Floriano Santos Fonseca Acadêmico do 8º Período – Turma A (História) Resumo: O presente trabalho tem a preocupação de resgatar e reintroduzir o debate sobre o tema musical brasileiro, enfatizando o Choro, esse que é um dos mais autêntico estilos musicais recheado do sangue dos colonizadores das terras que veio a se chamar Brasil. Palavras-chave: Influências, identidade, nacionalismo, musicalidade, compositores e intérpretes. A construção da identidade nacional brasileira remonta às lutas de independência política e suas conseqüências para a sociedade em formação. Diversas foram as manifestações artísticas e culturais que serviram de palco para divulgação de tais ideais e promoveram inclusive, a fixação da identificação partidária, como também o nacionalismo e o caráter irresponsável e mestiço do povo brasileiro. Entretanto, o presente trabalho irá enfatizar apenas a influência da música como elemento aglutinador desse sentimento nacionalista e suas conseqüências no meio da sociedade, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo, grandes centros urbanos da época. Até o final do século XIX a música produzida no Brasil não possuía uma identidade própria, servindo-se dos estilos europeus ou ligeiramente mesclada às influências local. Mesmo assim, tais influências estavam limitadas a região de atuação de seus executores. A música dos saraus após a chegada das cortes em 1808 e a introdução do piano na sala principal dos palacetes e fazendas, faziam despertar para a existência do refinamento musical. Quase sempre ao redor das conversas familiares ou visitas ilustres alguma 29 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 30 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 sinhazinha apresentava seus dotes musicais interpretando obras de grandes compositores europeus. Apesar dessa nova forma de utilização musical, a música ainda iria demorar algumas décadas até encontrar a “brasilidade” sonhada por compositores e instrumentistas. Enquanto isso a música sacra seguia os padrões católicos que não lhes permitia interpretações pessoais, todavia as “bandas de barbeiros”, geralmente compostas por negros escravos que exerciam tal profissão e ocasionalmente seguiam em cortejo seus senhores que coletavam esmolas para as irmandades, burlavam as normas da igreja e introduziam variações aos temas executados. A partir dessas pequenas e improvisadas bandas, começaram a surgir em todas as províncias do país as bandas de música, verdadeiras escolas para os futuros musicistas brasileiros. Não só dobrados e marchas militares faziam parte dos seus repertórios, mas também, composições de autoria de seus integrantes que se aventuravam em apresentar peças voltadas ao gosto popular. Uma das bandas de maior destaque e importância foi a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, fundada em 1896, que teve a frente o maestro e compositor Anacleto de Medeiros, recrutando diversos instrumentistas da cidade. Para os músicos populares essas agremiações tornaram-se a sua principal escola (e, às vezes, o único meio de sobreviver à miséria latente). (DINIZ, 2003) Vários estilos de música estiveram presentes no gosto da sociedade brasileira e principalmente das camadas mais abastadas do século XIX. Além do tradicional estilo clássico, outros foram sendo introduzidos ou adaptados a realidade local, sem contudo perder o ar de música clássica a exemplo das Modinhas, enquanto o Lundu agradava a massa mestiça e pobre. Esses estilos musicais distintos, inevitavelmente se entrelaçariam e gerariam novas formas musicais. Entre os novos estilos musicais destacaram-se o Choro e o Samba. Enquanto o samba se viu marginalizado e preso, principalmente a figura do negro e seus rituais tribalistas, o chorinho foi assumido como a música dos boêmios da classe média baixa que não tinham acesso aos grandes encontros aristocráticos do império. Se eu tivesse de apontar uma data para o início da história do Chorinho, não hesitaria em dar o mês de 1845, quando a polca foi dançada pela primeira vez no Teatro São Pedro. (CAZES, 1998). O Choro ou Chorinho se desenvolveu a partir da interpretação de sentimentos melancólicos português que se agraciavam da rapidez e postura do compasso africano. Apesar do alto grau de dificuldade em sua execução o Choro foi desenvolvido por músicos que não possuíam conhecimento erudito e desconheciam a leitura de tablaturas. Raros eram os que faziam leitura de partituras ficando para os músicos das bandas que obrigatoriamente possuíam tal conhecimento. Enquanto os instrumentistas de sopro, principalmente flautistas, executavam acordes perfeitos, os músicos de cordas, violonistas e bandolinistas faziam graciosos improvisos que davam leveza e gracejos a música, por sua vez o pandeiro marcava o ritmo cheio de travessuras e síncope. Foi dessa inusitada combinação que surgiu o verdadeiro ritmo musical brasileiro. A biografia dos chorões é imensa, mas alguns nomes permanecem com maior freqüência entre os compositores e instrumentistas admirados e citados nas “rodas” de Choro. Joaquim Callado é considerado o pai do Choro e tem na sua biografia alcunhas que fazem lembrar o estilo do autêntico “chorão”: Mestiço simpático, exímio flautista, mulherengo, e muito popular na cidade do Rio de Janeiro,...” (1) Joaquim Calado compôs importantes choros ainda executados nos dias de hoje a exemplo de “A flor amorosa”, ”Cruzes, minha prima” e “Querida por todos”. “As composições de Callado mostram sua preocupação com o virtuosismo e a exploração de recursos da flauta, porém os acompanhamentos originais demonstram pouco interesse pela harmonia e uma falta quase total de preocupação com o arranjo”. (TINHORÃO, 1997). Dos pioneiros do Choro que viveram ainda durante o império, não se pode deixar de registrar a marcante presença da mulher brasileira na figura da maestrina Chiquinha Gonzaga. “Nome consagrado em nossa história musical, merecedora de todos os adjetivos superlativos, Francisca Edwiges Gonzaga soube como ninguém “maestrar” todas essas influências tornando-se uma chorona de primeiro naipe. (DINIZ, 2003). Chiquinha Gonzaga teve sua vida pessoal execrada devido a música, separou-se do marido numa época em que o lugar da mulher era em casa. Apesar de todas as adversidades vividas compôs gemas da música brasileira como “Corta Jaca” dentre as mais de cem músicas de sua autoria. Em 1889 compôs a marchinha de carnaval “Ô abre alas”, para o bloco Rosa de 31 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 32 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Ouro...(1) Chiquinha foi uma grande ativista de sua época, lutou pela abolição dos escravos, pelo direito autoral e pela organização classista dos músicos no Brasil. Diferentemente dos tradicionais músicos de Choro, o maestro Ernesto Nazaré colocava refinamento em suas composições que as chamava de “tangos”. Ainda na era do cinema mudo, tocava na antesala do Cine Odeon antes das sessões. Nazaré deixou obras importantes para o estudo do Choro a exemplo de “Brejeiro”, “Você bem sabe” e o clássico do chorinho “Odeon”. Nas duas últimas décadas do século XIX, o Choro começava a sair da clandestinidade das noites quentes dos cortiços e penetrar nos salões refinados da elite, tocados nos entrudos e nos cordões carnavalescos bem antes que o samba, ele ajudou a forjar o jeito malandro do carioca e a graciosidade picante da musicalidade brasileira. Crime de Defloramento na Cidade de Lagarto ( 1876-1892 ) Bibliografia (1) DINIZ, André. ALMANAQUE DO CHORO, a história do chorinho, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. 108 p. CAZES, Henrique. CHORO: DO QUINTAL AO MUNICIPAL. São Paulo Ed., 34, 1998. 208 p. TINHORÃO, José Ramos. MÚSICA POPULAR, Um Tema em Debate. 3ª edição revista e ampliada. São Paulo: Ed. 34, 1997. 1925 p. 33 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Jakeline Tavares Santos Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Resumo Este artigo aborda a “criminalização da sexualidade” e o julgamento moral dos corpos de meninas-mulheres, apresentando uma análise preliminar dos dados constantes dos processos-crime, na cidade de Lagarto, no período de 1872 á 1892. Palavras-chave: Sexualidade, Criminalidade, Mulher, Honra, Lagarto, século XIX. Este artigo propõe contar a historia de algumas mulheres lagartense. Pretendendo relatar um pouco da vida destas em relação ao defloramento que sofreram nas últimas década do século XIX. Atos esse que trazia conseqüências não só para elas mas também para família, para criança. É a história do seu corpo, da sua sexualidade dos seus amores e sentimentos e da violência que sofreram e que praticaram. Convidamos, então que nos permitam voltar ao passado e ouvir o que essas testemunhas nos dizem sobre como viviam as mulheres. Para observá-las no final das décadas do XIX, serão utilizados processos-crimes, leis, livros. Enfim, toda sorte de documentos que for necessário para desvendar o passado serão largamente consultados para obtermos o máximo de informação sobre histórias tão ricas e tão diversas. Além de nos permitir estudar o cotidiano das mulheres e as práticas femininas nele envolvidas, estes documentos nos possibilitam aceder às representações que se fez, noutros tempos, sobre as mulheres. Quais seriam aquelas a inspirar ideal e sonhos? As castas, as fiéis, as obedientes, as boas esposas e mães. Mas quem 34 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 foram odiadas e perseguidas? As feiticeiras, as lésbicas, as rebeldes, as anarquistas, as prostitutas, as loucas. Este artigo pretende ergue o véu que cobre a intimidade das mulheres lagartense no séc.XIX que sofreram com a descriminação da sociedade em relação a sua sexualidade. Também procuraremos observar as formas de violência das quais elas são vítimas ou os sutis mecanismos de resistência dos quais laçam mão.Os documentos e textos que utilizaremos resgatará, para além de “flashes” dessas vidas, um dialogo com materiais absolutamente inéditos que nos ajudará a construir a história das mulheres em Sergipe. No que diz respeito ao defloramento em Lagarto no século XIX, ainda faltam historiadores, homens e mulheres, que interpretem com maior profundidade o estabelecimento, a gênese e a importância dos fatos histórico que envolvem as mulheres. Podemos ter um vislumbre sobre as diversidade de autores, que estudam e se especializam sobre a história das mulheres no Brasil. Seus artigos reforçam que a história das mulheres no Brasil, diferentemente do que se possa pensar, tem provocado pesquisas sérias e bem documentadas. A história das mulheres é relacional, inclui tudo que envolve o ser humano, suas aspirações e realizações, seus parceiros, suas construções e derrotas. Nessas perspectiva, a história das mulheres é fundamental para se compreender a história geral: a do Brasil, ou mesmo aquela do ocidente cristão. Todas essas questões, contudo, só nos fazem encorajar a existência deste projeto; que quer ocupar fazer perguntas, trazer respostas, atrair interessados. Se isso não bastasse, ainda poderíamos nos perguntar: para que serve a história das mulheres? E a resposta viria simples: para fazê-la existir, viver e ser. E mais, fazer a história das mulheres lagartense significa apresentar fatos, idéias, perspectivas não apenas de especialistas de várias ciências, como também para qualquer pessoa que reflita sobre o mundo contemporâneo, ou procure nele interferir. Não nos interessa aqui fazer história grandiosa; mais se trata de desvendar as intricadas relações entre as mulheres, o grupo sócias e o fato, mostrando o ser social, que ela também fabrica e do qual faz parte integrante. Entender os conflitos que estas mulheres que sofreram com o defloramento e como suas famílias resolveram esta questão, vivendo em uma época, em que a cultura e as mudanças nas idéias nascem das dificuldades que são simultaneamente de cada individuo histórico, homem e mulher. Nas ultimas décadas do século 19, considerava-se violência, o ato sexual com uma pessoa menor de idade** e, mesmo que ela tivesse consentido. A “criminalização da sexualidade” visava a controlar, portanto, a sexualidade dos jovens para que estes não se transformassem em “pervertidos”. Entre os delitos catalogados pelos criminólogos constavam o defloramento,estupro, o rapto e o adultério††. O defloramento constava como crime no código penal Brasileiro de 1890, em seu art. 267, para tanto, fazia-se necessária a copula com uma mulher virgem e o rompimento do hímen, mediante consentimento obtido por sedução, engano ou fraude. Caso não houvesse cópula, o delito seria atentado ao pudor. Sem o consentimento da mulher, o crime seria estupro‡‡. Investigaremos se houve alguma diferença na noção de honra para diferentes grupos sociais no conflito, além de investigar o que significava os valores e a conduta dessas pessoas. Pretenderemos saber se havia algum tipo de preconceito social e racial, de algumas das partes envolvidas, já que conviviam muitas etnias juntas. 35 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA ** De acordo com Adriana de Resende Vianna(1999),era considerado menor o individuo situado nos limites etários da maioridade, o que implicava uma absoluta ausência de gestão sobre seu destino e, ainda, uma total desvalorização de qualquer argumento por ele utilizado (Vianna, 1999:2527). †† No séc.XIX, o corpo feminino era considerado de responsabilidade e direito de seus genitores. Em casos de estupro, não era o corpo estuprado que era considerado a principal vitima e sim os seus genitores ou responsáveis. No código Penal de 1890, as ofensas sexuais eram consideradas “crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias”. ‡‡ O código penal de 1890 definiu como estupro o ato sexual com uma mulher sem o seu consentimento, mediante utilização de violência. De acordo com Mazzieiro, a mulher casada não podia dar queixas do marido por estupro, pois o uso da força em face de resistências ao ato sexual não se constituía em crime, mas em exercício de direito marital. (mazzieiro, 1998:31). 36 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 As mulheres que se apresentavam como “ofendidas” ( vítimas de crimes sexual )Precisavam provar sua honestidade e a de sua família para serem, então, consideradas merecedoras de proteção da justiça. . Os homens acusados de crimes sexuais também era julgados por sua conduta, social e não somente por serem ou não os autores do crime pelo qual eram acusado. homens de ‘bom caráter’ trabalhadores tinham mais chance de serem absolvidos. Como há citação de: (Esteves, 1989: 41; Gavron, 2002: 106 ). Pode-se perceber como a questão da honra era forte entre essas pessoas e quando a mulher perdia a virgindade, desonrava a si própria e a sua família, principalmente o pai. Então era mais uma honra masculina que estava em jogo, conforme o comportamento sexual feminino. E para corrigir a desgraça só o matrimônio. Só ele recuperaria a honra. Martha de Abreu Esteves, nos informa que: vigentes, essas mulheres expressavam no comportamento suas condições concretas de existência, marcada por precariedades materiais que as obrigavam a uma constante luta. Dessa forma, com nossa pesquisa pretendemos contar um pouca da história dessas mulheres, sobre a violência que esta sofreram, sem ter muita das vezes a quem recorrem.dar vida a um artigo, trazer à luz textos com características, linguagens e interpretações tão diversas não é tarefa fácil. (...) ao ser julgado um crime de defloramento, estupro ou pudor, resultante da quebra de uma norma jurídica sexual, emergiam os valores sociais mais amplos da sociedade, pois eram também na quebra de outras normas morais e sociais que se determinava a absolvição e condenação do réu. Ou seja, a conduta total do indivíduo é que iria, ou não, redimi-lo de um crime; não estavam em pauta apenas o que havia sido feito, mas aquilo que o acusado e a ofendida eram, poderiam ser ou seriam.( Esteves, 1989:41) Outra questão importante foi a da promessa de casamento para conseguir a condenação do réu e a “absolvição da vítima”. A vítima tinha que provar que foi seduzida com promessas de casamento, para conseguir a “sua absolvição”. O homem usava como artifício a questão do defloramento antigo, ou seja, dizia que quando manteve relações sexuais com a vítima ela já não era mais virgem. Sofrendo os efeitos de uma ordem social injusta e discriminatória e tendo o seu cotidiano marcado pelas dificuldades de sobrevivência, na maior parte da história relatada deparamos com mulheres bastante diferentes em relação ao lugar e a época. Embora não deixassem de experimentar a influência dos padrões culturais 37 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 38 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Ensino de História: Tendências, Trajetória e Desafios da Docência. soluções, pois é preciso que estejamos cotidianamente buscando-as; mas acima de tudo, buscar a obtenção de uma compreensão mais clara do processo de ensino e do que significa hoje ensinar história para um mundo que se transforma a cada momento. O papel do professor de História vai muito mais além dos conhecimentos específicos, teóricos e metodológicos da docência em História, ele está inserido num universo educacional, portanto, se faz necessário, que também certos conhecimentos pedagógicos e educacionais sejam por este professor adquiridos, uma vez que é impossível dissociar a disciplina História do contexto escolar, sendo este, um espaço eminentemente pedagógico de formação de cidadãos. A produção do conhecimento deve ser pensada em função das diversas possibilidades que orbitam o mundo dos “homens e das sociedades”, as reflexões precisam estar voltadas para as transformações mais diversas e especificas das sociedades, e que o raciocínio histórico leve ao entendimento do mundo e ao mesmo tempo não se desvincule do entendimento do próprio homem como agente destas transformações sociais. Não obstante ao processo educacional brasileiro, o ensino de História está diretamente vinculado às concepções pedagógicas que caracterizam a educação. Os cursos de licenciaturas em História preparam futuros profissionais professores para atuarem no mundo da pedagogia, instrumentalizando-os com os métodos, diretrizes etc. portanto, o ensino de História não pode ser pensado isoladamente do mundo e das concepções pedagógicas que o rodeia como disciplina escolar. É impossível concentrar as atenções para o ensino de História, seja em sua trajetória, em seus métodos, conteúdos ou currículos como disciplina, ou ainda numa óptica da História como elemento construtor de “noções” de mundo onde os homens são os protagonistas das transformações histórico-sociais, sem antes de tudo entendê-la como componente curricular de um sistema de ensino, ou seja, a História escolar, aquela que os alunos tem acesso na escola, está contido no amplo e complexo contexto cultural, com várias realidades diferentes, mas que possuem em seu elemento constitutivo a História como base para seu entendimento social,político, econômico e cultural. Tampouco, não se pode pensar em cidadania sem a História, muito menos não podemos dissociar a História do cidadão e este da Márliton Nascimento Acadêmico do 8º Período – Turma A (História) Resumo O presente artigo apresenta algumas reflexões cerca da pratica docente em História, buscando mostrar as relações existentes entre a História enquanto disciplina escolar e o mundo educacional. De modo a confrontar estas relações e questionamentos no cerne do ensino de História. Além de expor os caminhos percorridos pela História para se materializar como disciplina, também retrata alguns desafios que professores precisam superar em seu cotidiano profissional. Palavras-chave: Ensino de História, História, Sala de aula, Saber histórico, Educação. Em sala de aula, para se chegar ao verdadeiro sentido da história escolar, é necessário antes de tudo que os docentes miniminizem o caráter escatológico e memorizante no qual o processo de ensino-aprendizagem de História vem sendo submetido. Ou seja, o ensino de História precisa ser compreendido pelos professores como processo contínuo no qual o homem é o principal sujeito e agente do processo histórico das transformações. Um dos grandes desafios do profissional docente de História, é sem dúvida quando este se vê ou se “descobre” como parte integrante do processo histórico, e que suas responsabilidades como sujeito das transformações se ampliam ainda mais diante de seus alunos – que apesar de ainda inconscientes de seu papel como sujeitos destas transformações, precisam ser estimulados a se descobrirem também como objetos da História. A importância de se conhecer sobre a História do ensino de História é fundamental para o professor, pois de acordo com (BITTENCOURT, 2004), tanto professores como pesquisadores da área de História necessitam destes conhecimentos. Compreender o ensino de história e sua trajetória, significa buscar não apenas 39 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 40 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 cultura. Porém, todos esses elementos encontram-se mesclados com a educação. O universo educacional é o caminho pelo qual a História, a cidadania, e a cultura norteiam os homens, dão-lhes um sentido a vida, ao passado e ao presente, lhes tornam pensantes diante dos próprios homens e de suas ações. O objetivo deste artigo não é dar respostas, nem apontar soluções, mas despertar professores, estudantes de licenciaturas e interessados no tema quanto a importância do ensino de História e suas múltiplas fases e possibilidades diante dos alunos e da sala de aula; e tentar mostrar um pouco da relação existente entre a “História escolar” em sua trajetória e as “ideologias temporais” da educação. Neste processo, alguns pontos levam a determinados questionamentos sobre a História e sobre a disciplina escolar. Ao longo de sua existência como disciplina, a História percorreu diversos caminhos. Quais foram estes caminhos? Quais fatores temporais interferiram e influenciaram nessa disciplina caminho? Como a História foi se constituiu como disciplina escolar? A História está inserida no contexto educacional, portanto, como ela se comportou no mundo das diretrizes, currículos, constituições etc.? Ou seja, como ela reagiu diante da “coroa e da espada?” Será possível pensar num ensino de História distante do viés das estratégias educacionais? Sem o conhecimento de como funciona e como se formou e educação no Brasil? E como relacionar essas duas questões diretamente ligadas a formação cultural? Deste modo, o que se espera deste artigo, é que este possa mostrar um caminho às reflexões acerca destes questionamentos e que o entendimento do processo de construção do “saber histórico escolar” traga a estudantes de licenciaturas e até mesmo a professores uma perspectiva de reflexões sobre as praticas e o “sentido” da História como disciplina e seus reflexos na construção da cidadania.,pois as sociedades se transformam em sua História e em seus Homens,Portanto, nós,estudantes e professores precisamos acompanhar estas transformações e convergir-lhas com as práticas de estudos e pesquisas respectivamente. Na construção do saber histórico escolar, precisamos experimentar capacidades mobilizadoras de informações, por estas informações, somos cotidianamente, inclusive os alunos, bombardeados por elas, a velocidade e variedade de conhecimentos “prontos” chegam aos alunos de maneira muito rápida, basta que prestemos atenção aos meios de informações disponíveis no século XXI. Os conteúdos devem ser trabalhados constantemente, de modo a serem “recheados” com novas e complementares informações. Ou seja, as rupturas no cumprimento dos conteúdos são na maioria das vezes mais eficazes que a conclusão cronológica dos assuntos no final do ano. Desta forma, os conteúdos de História serão aprendidos não só para atender ou suprir os limites impostos pelo processo avaliativo, mas principalmente para permitir que alunos possam progredir, crescer e interagir com a História no espaço escolar. Como disciplina escolar, a História surge na segunda metade do século XIX impelida pelos movimentos de laicização da sociedade e pelo advento do estado moderno europeu. Inicialmente, no século XVIII pelo discurso enciclopedista da filosofia da História e seguida pela doutrina de progresso que durante o século seguinte apresentouse como novas formas de saberes científicos e metodológicos cristalizados no positivismo e nas ciências naturais e humanas, sendo assim, um novo sentido começa a ser atribuído a História. (Fonseca, 2004) Com a construção do estado Brasileiro, começa também a se constituir o sistema educacional no Brasil, embora este ainda fosse completamente desvinculado de um sistema uniforme e padronizado como percebemos atualmente. É neste século que também o ensino de História passa a ser introduzido como disciplina nas escolas. De lá pra cá, o saber histórico escolar vem sendo vinculado não só por meio dos professores nas escolas, mas também por outros mecanismos sociais, culturais, econômicos e étnicos que contribuem para sua difusão e consolidação como “matéria” e como memória coletiva que ajuda a descobrir e construir as identidades. O inicio do século XIX significou para o Brasil, momento de consolidação do estado moderno instituído a partir de 1822; momento este em que o ensino de História começa a ser discutido em vários projetos educacionais que surgem entre as décadas de 20e 40 desse século, ou seja, questiona-se nesse período o que deveria ser ensinado pela disciplina História, e a organização do currículo se 41 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 42 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 materializa no ensino da História sagrada e universal. No entanto, embora a disciplina a ser “ensinada” estivesse começando ser estruturada como componente curricular à fazer parte das escolas, ela ainda estava associada a idéia de que a educação possuiria um caráter de formação do cidadão produtivo e obediente as leis, mesmo quando impedido de exercer seus direitos políticos. Durante o século XIX o ensino de História era voltado para a leitura da constituição imperial e a História do Brasil, muito embora os conteúdos propriamente ainda não tivessem definidos, processo que só ocorre décadas depois. Em 1838 é crido o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), sua função primordial era a elaboração e difusão dos programas curriculares e manuais didáticos, estes por sua vez estavam pautados na formação moral e cívica das crianças e jovens por meio do conhecimento dos fatos acerca do império e pela ideologia cristã ambas a serviço do estado imperial. Com o advento do século XX, precisamente durante o estado novo, o ensino de História sofre algumas transformações, com a reforma de Francisco Campos de 1931, que introduzia os recursos visuais como forma de instigar a curiosidade dos alunos, questão que até hoje é muito discutida. Em toda sua trajetória como disciplina de compreensão do homem, a História jamais esteve desvinculada das questões pedagógicas; ou seja, quando nos referimos ao “ensino” de História somos automaticamente obrigados a adentrar no complexo mundo das instituições escolares, das reformas educacionais das diretrizes para a educação, dos currículos, dos conteúdos e principalmente do espaço onde a História ganha ou “perde” seu sentido, a sala de aula. Portanto, É inimaginável discutir o ensino de História sem estar ao mesmo tempo ao sistema de ensino, não se pode pensar a disciplina isoladamente, como se a educação se resumisse unicamente ao ensino de História, ou seja, é preciso que a atuação dos docentes estejam pautadas no equilíbrio necessário para que o ensino da “História escolar” se integre às “realidades” e alcance seus verdadeiros sentido como disciplina e como instrumento norteador e reflexivo para os homens. Neste sentido, Karl Lowith (1994) discorre acerca do sentido da História estabelecendo relação entre passado, presente e a consciência histórica : 43 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “A forma adequada de abordar a História e as suas interpretações é necessariamente regressiva pela mesma razão que a História progride, deixando para traz as bases históricas de elaboração mais recente e contemporâneas. A consciência histórica não pode deixar de começar por si mesma, não obstante ter por objetivo o pensamento de outras épocas e de outros homens diferentes dos nossos e de nós próprios. A História tem muitas vezes de ser reencontrada e redescobertas pelas gerações vivas. Compreendemos – ou não, os outros antigos, mas sempre a luz do pensamento contemporâneo, lendo o livro de História de traz para frente, da ultima para a primeira pagina. Esta inversão do modo convencional de apresentar a História é atualmente aplicada por aqueles que percorrem os caminhos de épocas passadas ate o os tempos modernos sem estarem conscientes de suas motivações contemporâneas.”( Lowith, 1994:16) A importância do conhecimento histórico, do papel do professor e da escola no processo de ensino-aprendizagem não é diferente da importância que tem a produção das reflexões que poderiam ser feitas pelos alunos, de modo que, não será simplesmente decorando datas e narrando fatos históricos ou até mesmo dominando as formas de marcação do tempo que estes alunos serão capazes efetivamente de compreender as transformações sociais, políticas, culturais e econômicas nas mais complexas e simples sociedades em consonância com seus agentes de transformação. Sobre o ensino de História, notadamente, os desafios enfrentados pelos professores não são poucos. Tampouco é inquestionável o papel da escola em sua missão diante da sociedade e no desenvolvimento do país com a formação de cidadãos capazes de perceber, analisar,interpretar e modificar a realidade. Também é fundamental para os docentes a preocupação em favorecer a construção da cidadania e da consciência dos alunos sobre seu papel na sociedade e que se refletem em vários aspectos historicamente 44 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 construídos em torno da participação ativa dos indivíduos em cada lugar,em cada sociedade a fim de problematizálos e compreendê-los. Poderia parecer falácia se nos últimos anos as políticas educacionais, embora, sem muitos resultados práticos e efetivos no conjunto das mudanças que desejamos para a educação no Brasil. Levaram e estão levando professores e escolas e serem reconhecidos não apenas como agentes e instituições “reprodutores”, as com “produtoras “ do conhecimento.Assim, muitos dos docentes se viram “obrigados “ a retomarem seus estudos, procurar novas capacitações afim de incorporarem aos seus trabalhos os mais recentes conceitos e abordagens. Essas mudanças tem colocado em xeque as variadas proposições nas quais foram formadas as gerações de docentes, Por outro lado,tem forçado de forma positiva a revermos nossas concepções e praticas no processo de ensino-aprendisagen e da nossa própria História como professores. - ainda que os títulos falem mais alto. Não existem formulas mágicas que solucionem o problema do “como ensinar e o que ensinar” dos conteúdos das escolas. Restanos como professores desenvolverem os objetos e os objetivos de estudo históricos em sala de aula,e isso só pode ser feito pelo professor, a partir das reflexões feitas pelo docente diante de seus alunos, de sua escola e de seus objetivos,de modo que estes o levem e redescobrir um novo “sentido” para a História escolar, ou seja, para aquela História trabalhada em sala de aula,- a disciplina História. “A História tem permanecido no currículo das escolas, constituindo o que se chama de “saber histórico escolar”. No diálogo e no confronto a realidade social e educacional, no contato com valores e anseios das nas gerações, na interlocução com o conhecimento histórico e pedagógico, o saber escolar tem mantido tradições, tem reformulado e inovado conteúdos, abordagens, métodos,materiais didáticos e algumas de suas finalidades educacionais e sociais. Nesse dialogo tem permanecido, principalmente, o papel da História em difundir e consolidar identidades no tempo, sejam étnicas, culturais,religiosas, de classes e grupos, de estados 45 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA ou nações. Nele, fundamentalmente, tem sido recriada as relações professor, aluno, conhecimento histórico e realidade social, em beneficio do fortalecimento do papel da História na formação social e intelectual dos indivíduos para que, de modo consciente e reflexivo, desenvolvam a compreensão de si mesmo, dos outros, da sua inserção em uma sociedade histórica e da responsabilidade de todos atuarem na construção da sociedade mais igualitária e democrática.” (PCNs – 3º e 4º Ciclos – 29). No Brasil, a disciplina História acompanhou os mesmos movimentos temporais dentro dos discursos laicizado na História universal, e o espaço escolar entra neste contexto com local de disputa entre o poder religioso e o laico, ou entre as “treva e as luzes”. A história, foi evoluindo carregada de dificuldades como programas, contudo e objetivos não muito bem definidos, porem, a cultura clássica oitocentista já definira o sentido e os caminhos da disciplina. A partir da década de 60, o ensino de História, que já apresentava características tradicionalistas, sofre nova transformação em sua estrutura como disciplina escolar, ou seja, ela é mesclada com as já existentes disciplinas – “educação moral e cívica e organização social e política brasileira”. E se transforma em “Estudos Sociais” que além desta incorporou também os estudos sobre geografia brasileira. A luz dos estudos históricos em sala de aula, mudanças, transformações e adequações são onipresentes, as realidades históricas mudam de acordo com a linearidade e rupturas apresentadas pela História. O estado como centro dos estudos modernistas, agora dá lugar as sociedades civis e suas características sócio-culturais, os sujeitos não são mais os de “classes” e sim, os grupos sociais, as tecnologias transformam-se, evoluíram de Gutenberg aos sofisticados e gigantescos parques gráficos, as fontes, já não são mais exclusivamente os livros, as experimentações e os documentos, são também, a “internet, os satélites,os meios e comunicações que cada vez mais aproximam as culturas. Portanto, 46 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 cabe a nós e aos profissionais que atuam com a história em sala de aula,acompanhar estas transformações e relacioná-las com a História humana nas abordagens com os discentes. Epilepsia: Mitos e Verdades ao Longo da História Maria de Lourdes S. S. Silveira Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Bibliografia BITENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. . (Coleção Docência em Formação. Série Ensino Fundamental). São Paulo; Cortez, 2004. FONSECA, Thais Maria de lima e. História e ensino de história. 2.ed.- Belo Horizonte: Autêntica, 2004. CABRINI, Conceição (et al). Ensino de História: revisão urgente. São Paulo: EDUSC, 2004. CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fácil: artigo a artigo. Petrópolis: Vozes, 1998. LUIS, André Joanilho. História e prática. Campinas/São Paulo: Mercado de Letras, 1996. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – HISTÓRIA (PCN’S): 3º e 4º ciclos do ensino fundamental / secretaria de educação fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1997. PINSKY, Jaime.(org.). O ensino de História e a criação do fato. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 1994. VAINFAS, Ronaldo (org.) Dicionário do Brasil imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. Resumo O artigo pretende apresentar uma breve discussão em torno dos mitos ao longo da história envolvendo a epilepsia e chamar a atenção para necessidade de desmistificar através do conhecimento, as verdadeiras causas desse distúrbio. Palavras chaves: Epilepsia, mito, verdade, informação. A Epilepsia não é apenas uma doença com vários portadores, mas também uma responsabilidade política que deve preparar projetos que preparem a sociedade para um grau de cidadania, ou seja, como conviver no meio social sem ser excluído. É possível perceber que essa afecção tem relatos registrados, mesmo quando não era definida por esse nome, a doença das quedas ao longo da história ganhou definições e tratamento variados. Embora não tenha descoberto a cura é valoroso ressaltar a importância em que profissionais da saúde vem realizando em atividades com intuito de conscientizar e contribuir para tirar epilepsia do anonimato. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 50 milhões de pessoas no mundo são portadoras de epilepsia, sendo que destas 40 milhões estão em países subdesenvolvidos. Apesar desse cenário alarmante a organização afirma que 70% dos novos casos diagnosticados podem ser tratados com sucesso, desde que a medicação seja usada de forma correta. §§ Ela é mais comum dos distúrbios neurológicos e a voz que o aflige continua a mergulhar no oceano da dúvida entre o mito associado a possessões divinas ou demoníacas e ao que de fato é, §§ Revista Sem Crise, http://www.aspebrasil.org. 47 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA outubro 2003, 3(supl). Disponível em 48 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 pois a epilepsia é uma doença cerebral caracterizada por convulsões que vão desde as quase imperceptíveis até aquelas graves e freqüentes. Sua origem vem do verbo grego “epilambanein” que significa ser tomado, atacado ou dominado. Associada à possessões divinas ou demoníaca, a doença contagiosa ou a loucura constante. A epilepsia vem encontrando diferentes formas de interpretação no decorrer da história. Conhecida a vários séculos antes de Cristo como fosse sobrenatural a exemplo da Babilônia 2500 a 6000 a.C. A depender da vítima no contexto social era uma manifestação espiritual divina ou demoníaca entre o abençoado e o amaldiçoado. Eis que surge Hipócrates em torno de 460-375 a.C. acreditando que a doença não era de origem divina responsabilizando assim o cérebro. A Epilepsia é um distúrbio do cérebro que se expressa por crises epilépticas repetidas quando ocorrem alterações elétricas cerebrais. Essas crises são como um “furacão” que não estão sobre o controle norma do ser, que não pode ser retardado ou precipitado é uma situação temporária com retorno ao estado aparentemente normal. Entre os eventos pode ser desencadeado por febres, suspensão abrupta da medicação antiepléptica, fadiga física, ingestão de álcool, privação de sono, emoções fortes e outros sintomas em estudo. Esse curto circuito constante a vida da pessoa acarreta diversas sensações desagradáveis. Há mais de dois mil anos leigos e médicos procuram a cura, mas as evidências científicas quanto a cura dessa doença não existem embora a evolução na área médica tenha feito várias descobertas até mesmo de algum câncer em relacionado a epilepsia. Somente o tratamento adequado pode controlar ou reduzir seus efeitos, diminuindo a freqüência das crises. Mas, pior do que enfermidade sem cura é o preconceito decorrente de uma falta de conhecimento e da própria questão cultural que provoca sofrimento aos portadores levando-os a repercussões sociais e psicológicas danosas como a estigmatização, os desajustes emocionais, a dificuldade de aceitação do diagnóstico e a absorção de tabus que faz com que eles injustamente se tornem anti-sociais por sentirem como seres contaminados por mitos falsos e assim, o egoísmo humano sufoca sua dor. Uma prova disso é a novela “Duas Caras” da Rede Globo, que na estória apresenta um pastor que sofre da doença, mas se considera possuído pelo demônio. Ignorante, recusa-se a procurar um médico e evita que suas filhas saibam. Até que apareça na trama um médico que desmistifique essas crises o mito vai se fortalecendo e a ignorância popular que envolve a Epilepsia se alastrando cada vez mais. Vale a pena informar que a Epilepsia não é uma condição que se deva ter vergonha, e que essas noções errôneas devam ser combatidas, esclarecendo os mitos e promovendo a aceitação quanto à igualdade e o valor na sociedade em que vivem os portadores de Epilepsia. Nesse sentido, a observação do Dr. Lili Min é muito importante: 49 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “Sempre costumo perguntar o que vem a mente quando alguém pensa em Epilepsia. Certamente, não é Alfred Nobel, Dostoievski, Machado de Assis, Julio César, Flaubert ou Alexandre, o Grande. Todas essas pessoas tiveram crises epilépticas. Dom Pedro I o Imperador do Brasil, também tinha Epilepsia mais ainda hoje a síndrome continua sendo vista como um problema demoníaco de sanidade mental, apesar de as pessoas terem uma vida norma, desde que as crises sejam controladas”. (2003:14) Percebe-se, então, que esta é uma afecção pouco divulgada e que vem deixando muitas pessoas na sombra do descaso e na escassez do tratamento. Com o projeto de pesquisa que pretendo realizar quero dar ênfase ao problema, acompanhando a questão através de bibliografia especializada e das informações e resultados ligados ao assunto, entrevistas com médicos neurologistas e portadores de Epilepsia, coletando dados em clinicas, centro e associações que trabalhem esse assunto e, a partir daí, divulgarei os resultados dos dados coletados tentando assim fazer um pouco mais conhecida cada etapa dessa desordem crônica do cérebro na tentativa de diminuir o preconceito em torno das manifestações sofridas pelos portadores de Epilepsia. 50 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Bibliografia A cultura do fumo em Lagarto: apontamentos e Considerações sobre o seu estudo GORDOW, Richard. A assustadora história da medicina. São Paulo. Ediouro 2002. HARUO, Carlos Adachi. Neurocirugião. Texto sobre epilepsia elaborado para o Grupo Ache, 2003. MIM, Dr. Lili. Epilepsia às claras. Unicamp. (SP). 2002. Revista Sem Crise, outubro 2003, 3(supl). Disponível em http://www.aspebrasil.org SILVEIRA, Paulo Roberto O que devemos saber sobre a Epilepsia. Superintendência de Saúde Coletiva das Doenças Crônicas Degenerativas. Maristela do Nascimento Andrade Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Resumo Este artigo tem por finalidade realizar uma breve analise acerca da contribuição e influência da cultura econômica e social da cultura fumageira na cidade de Lagarto/Se, e enfatizar a necessidade da realização de estudos que ampliem nosso conhecimento. Palavras-chave: Principio Desenvolvimento – Decadência Fumo – Economia Lagartense – O fumo foi descoberto pelos europeus em terras tropicais, do continente americano no século XVI. Inicialmente era adotado como uma planta de caráter milagroso, curandeiro e religioso. Um século mais tarde já havia atravessado continentes, sendo apreciado nos mais variados cantos do mundo. Desde os primeiros contatos com entre índios e europeus, foi estabelecida uma importante relação de escambo. Marinheiros e soldados recebiam o tabaco em troca de objetos de interesses dos nativos e utensílios. Aos poucos as relações entre indígenas e colonos foram se modificando diante da necessidade de estabelecer a colonização. O trabalho dos indígenas começou a ser explorado, transformando-se um trabalho servil. Porém essa fórmula revelou-se imprópria, em virtude das características próprias de afazeres da cultura nativa, chegando inclusive a gerar a “guerra justa de 156263”. A partir de 1559 recorreu-se então á mão-de-obra escrava africana. No século XVI os portugueses foram os únicos a introduzir na África o uso do fumo. Neste continente a planta se expandiu rapidamente, principalmente por motivo religioso chegando a ser moeda no momento da aquisição do escravo. A introdução do fumo no mundo principiou com a Jean Nicot, que o difundiu pela Europa. Pode-se ainda verificar que este 51 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 52 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 produto teve uma introdução nos costumes europeus de forma inusitada, pois foi inusitada por ter sido difundido de baixo para cima, saindo dos rituais da cultura indígenas e chegando aos mais requintados salões do mundo, ficando ate conhecido com a Eva da Rainha. A ênfase do presente trabalho concentra-se na necessidade de se conhecer um pouco mais da história e cultura lagartense visto que é escasso o registro da memória deste povo. Um dos nossos propósitos é enfatizar o desenvolvimento e a decadência do fumo no município de Lagarto, considerando que, em décadas passadas, o fumo era uma cultura de grande importância econômica, não só para a região como para o Estado de Sergipe. A cultura fumageira é uma característica marcante na cidade de Lagarto, o que a faz um das principais cidades sergipanas na produção de fumo. A isso se soma a preocupação de resgatar dados relativos a esta cultura destacando o potencial econômico desta produção para o desenvolvimento da cidade. O Estado de Sergipe possui excelentes terras para a atividade agrícola, cultivos como de laranja, cana-de-açúcar, coco e o fumo são produtos para exportação. Para analisar a cultura do fumo em Lagarto, sua expansão e crise é necessário ainda remeter-nos a década de 1970, época em que as culturas mais plantadas em Lagarto em regime comercial eram o fumo, a laranja e a mandioca, esta última como cultura de subsistência. O auge da produção do fumo foi na década de 1970, em decorrência dos altos preços alcançados no mercado interno e externo, esse ápice, contudo só foi alcançado graças a assistência de órgãos com a EMATER/SE e do crédito rural fornecido pelo Banco do Brasil S.A, agência de Lagarto. Segundo relatos parte da produção do fumo produzida no município era destinada ao CEASA de Recife, onde em 1980, o preço do fumo alcançou uma posição invejável no contexto nordestino. Em virtude do intenso desenvolvimento das atividades econômicas foi criada uma cooperativa a Coopertreze tendo como primeiro presidente o Sr.José Firmino de Araújo. Da sua fundação, em 1962, até a década de 1980 a Cooperativa da Colônia Treze foi modelo de prosperidade do cooperativismo o que contribuiu para o surgimento de outras no Brasil. A Cooperativa Mista dos agricultores dos Treze LTDA – Coopertreze - era uma sociedade formal com interesses comuns, organizada contando com a participação de trabalhadores rurais. Os produtores na sua maioria plantavam o fumo, mas também utilizavam as suas terras para ao cultivo também de outros gêneros agrícolas, mesmo que em volume menor. Dentre as culturas que mais se destacaram tem-se a do plantio da laranja e da mandioca, garantindo assim maior rentabilidade ao homem do campo. Durante toda a década de 1980 para a cooperativa do Treze foi de prosperidade. Chegando a possui um rico núcleo de bens. Aos poucos a situação inicial prosperar foi se modificando, os membros da cooperativa enfrentaram alguns problemas, principalmente referente aos preços dos produtos e a presença dos atravessadores, que ficavam com boa tarde do lucro. A cultura do fumo também tropeçou na dependência de empréstimos para a manutenção e financiamento do plantio. Embora a atividade fumageira hoje, possua uma abrangência menor para a economia regional, essa cultura nunca deixou de ser de extrema importâcia para a econômica sergipana, como também contribuiu e muito para o desenvolvimento e crescimento do município de Lagarto. Muito do que foi dito aqui foi coletado durante um breve período de pesquisa acerca do tema. Sabe-se que existem muitos pontos a serem abordados e que uma análise mais completa acerca das questões talvez venha a responder a indagação inicial. Analisando a história da cidade de Lagarto, foi possível notar que o que existem são poucas informações acerca do desenvolvimento econômico da cidade, e os dados em que se trabalham são muitas vezes copias de trabalhos já apresentados que poucos trazem de informações inovadoras e que tenham uma relação entre si. A história local padece de um melhor tratamento, pela dificuldade de se encontrar materiais didáticos confiáveis, e foi esquecida durante muitos e muitos anos pelos historiados, visto que os dados que se podem encontrar são na sua grande maioria reflexo do esforço do estudioso/investigador do memorialista Adalberto da 53 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 54 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Fonseca, o qual dedicou grande parte de sua vida em agrupar em um livro informações referentes à cidade, este realizou um estudo de campo muito rico o qual ficou registrado no seu livro História de Lagarto (FONSECA, 2000), que serve como único referencial teórico, sob a história da cidade de Lagarto. A obra em questão é um monumento vivo, que retrata a trajetória de um povo. É, pois um trabalho único e todo referendado em pesquisas de campo e mesmo este não possuindo um referencial teórico, mesmo assim este trabalho não perde o seu valor. Para a problemática aqui apresentada cabe salientar que não existe uma resposta objetiva, pronta e acabada. Só com mais estudos na área é que se pode entender como se dera o ápice e a decadência da produção do fumo em nossa cidade, como também entender os seus mecanismos de sustentação. Espera-se que agora que se chegou ao final dessa leitura se entenda a necessidade de elaborar estudos mais específicos sobre o tema. Sergipe Oitocentista no Olhar dos Viajantes Estrangeiros Nájala Rocha Souza Santana Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Resumo O artigo que segue pretende analisar as impressões dos relatos de viajantes estrangeiros ao longo do século XIX na província de Sergipe e nas imediações fronteiriças com o Rio São Francisco. Estas viagens eram registradas em relatos oriundas das observações vivenciadas em cada região visitada e serão vistas como fonte documental para se entender a partir do imaginário dos viajantes, a vida cotidiana da população sergipana no século XIX. Palavras-chave: Viajantes- Sergipe Oitocentista - Imaginário - População Bibliografia ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bahia. 1950. DENIZ, Diana Maria de Faro Leal. Etl. Textos para História de Sergipe. UFS/ Banese. 1991 FONSECA, Adalberto. História de Lagarto. Sergipe. 2002. FRAGOSO, João. FLORENTINO, Manolo. FARIA, Sheila de Castro. A economia colonial brasileira (séculos XVI - XIX). Coleção Discutindo a História do Brasil. 3ª ed. Atual. São Paulo: 1998. HOLANDA, Sérgio Buarque de. I. A Época Colonial. 2. Administração, economia, sociedade. Coleção História Geral da Civilização Brasileira. Bertrand Brasil, 7ª ed. São Paulo, 1993. NARDI, Jean Baptiste. O fumo brasileiro no período colonial. São Paulo: Brasiliense, 1996. SANTANA, de Wellington. Memorial Coopertreze 20 anos de história. 1962 – 1982. SANTOS, Adelci Figueiredo. ANDRADE, José Augusto. Nova Geografia de Sergipe. 1º Grau. Aracaju, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto e Lazer; Universidade Federal de Sergipe, 1998. SERGIPE, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de. Nº 29. 1983 1987. Aracaju/SE. Fundador em 6 de agosto de 1912. 55 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Viajar para muitos é conhecer novos lugares, pessoas diferentes, sair da rotina e se divertir. É uma atividade que desperta a curiosidade para o desconhecido possibilitando um conhecimento além do que a pessoa já possui. O olhar que cada viajante determina para seus passeios vai depender do objetivo de sua viagem, lazer ou trabalho. É o caso de diversos viajantes estrangeiros, que desde o século XVI, “escolheram o Brasil como um dos campos preferenciais para as suas pesquisas” (HOLANDA, 1987) registrando impressões sobre aspectos da realidade geográfica e sociais positivas ou negativas do local visitado. Estes homens e mulheres, de concepção intelectual diferentes, de profissões variadas, faziam do Brasil seu ‘laboratório experimental’ e registrava suas observações em relatos de viagem, diários, correspondência, memórias, crônicas e álbuns de desenhos. O Brasil desde sua colonização foi palco de pesquisa de diversos viajantes estrangeiros que se deslocavam de seus países de origem para adentrarem em nossa costa e percorrer quilômetros de rios e lagos com a finalidade de empreenderem estudos a respeito da terra e da gente do novo mundo, a natureza representada pela fauna e 56 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 flora e a sociedade local com suas práticas e costumes, ritos, crenças, instituições jurídicas e sociabilidades das populações mestiças, indígenas e negras das várias regiões brasileiras por onde passavam “viabilizando a difusão do conhecimento sobre o país, sobretudo no campo das ciências naturais”. No século XIX, a Europa estava no auge das ciências naturais e buscava no contexto exploratório conceituar e responder inúmeros questionamentos científicos surgidos na época. Hobsbawm define a Europa deste século como: “uma civilização capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem de sua classe hegemônica característica; exultante com o avanço da ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material e moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa, berço das revoluções da ciência, das artes da política e da industria e cuja economia prevalecera na maior parte do mundo”. (HOBSBAWM, 1991) Toda essa conjuntura política, econômica e social vivida pela Europa favoreceu para a corrida imperialista colonial do final do século, a necessidade de conhecer as ex-colônias e de levar o progresso às regiões “atrasadas”. A transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808 e a abertura dos portos em 1810, aboliu o impedimento de estrangeiros visitarem o Brasil e em alguns casos era o próprio D. Pedro II que apoiava a expedição (LISBOA:2000). Foi neste contexto que se intensificou o número de viagens ao interior do Brasil e de estrangeiros fazendo da natureza exuberante e da população multifacetada sue campo de estudo. Os objetivos dessas missões eram várias e feitas por geógrafos, geólogos, botânico, médicos, diplomatas, missionários, cônsul e naturalistas que em suas expedições representavam o Brasil para o europeu e para o mundo. Lisboa assim descreve o objetivo desses forasteiros e variedade temática escrita por eles: “De comerciante, aventureiros, diplomatas, artistas a mercenários, todos estudavam, com maior ou menor 57 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA afinco, a fauna e a flora, os recursos naturais; observavam a vida social, tanto rural como urbana; investigavam as relações de trabalho, de produção, a economia e as questões escravistas e indígenas.” (LISBOA, 2000) Estes viajantes produziam narrativas escritas em diários, cartas e relatórios os quais se constituem em fontes históricas fundamentais para o conhecimento da cultura, das tradições e da resistência da população subalterna brasileira. O encontro entre mundos e a produção de interações são complexas. Para Mary Louise Pratt (1999), houve um processo de transculturação onde ela usa o termo “zona de contato” para se referir às pessoas [que] geograficamente e historicamente separadas entram em contato uma com as outras e estabelecem relações contínuas (PRATT, 1999). Por esse motivo tais escritos são resultados de impressões carregadas de conceitos e pré-conceitos estabelecidos em uma vivência num mundo moderno, onde para eles a civilização é de fato o contexto conhecido. O reconhecimento da importância desses relatos é advindo da necessidade de reconstruir um passado que eles testemunharam e que são fundamentais para recompor uma realidade vivida, seja ela uma visão parcial ou total dessa realidade, visto que, a representação passada sofre influências de forças (sociais, econômicas, culturais) que agem no momento da escrita. Cabe aos estudiosos desses relatos, usando de análises adequadas desconstruir o texto buscando elementos que podem responder a um a série de incertezas e inquietações. São inúmeros os viajantes que vieram ao Brasil, alguns destes estiveram no Nordeste brasileiro e fizeram seus relatos sobre a região. Sergipe encontra-se neste roteiro e o estudo proposto busca analisar as impressões que estes viajantes construíram da província sergipana ao longo do século XIX. Com este tipo de abordagem pretende-se entender as representações da realidade geográfica e social descritas através da percepção do estrangeiro, importante para a construção do conhecimento local. A questão que norteará o trabalho está pautado na compreensão de alguns aspectos da sociedade sergipana do século XIX, no âmbito da construção do Estado emancipado baseando-se na 58 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 investigação do imaginário dos viajantes. Para Novais os diversos viajantes tinham uma experiência similar. Assim ele comenta: “(...) o que os viajantes tinham em comum? Num primeiro momento, seu olhar de observadores externos enquadra com clareza quase classificatória tipos, costumes, normas de comportamento. Passando algum tempo, a vivência cotidiana leva-os a se misturar ao ambiente visitado, se tornar íntimos de gente da terra, se familiarizar com as rotinas e os problemas da cidade. Reclamam do calor, dos mosquitos, das chuvas torrenciais, da sujeira das ruas, do descaso das autoridades, dos cocheiros e dos caminhos para os diferentes sítios, da situação política.” (ALENCASTRO, 1997:186-187). Esta presença constante de estrangeiros no cotidiano Brasileiro contribui como importante fonte documental para o estudo do país e mais especificamente de Sergipe. Sabemos que no mínimo três dos viajantes estrangeiros que vieram ao Brasil no século XIX passaram por Sergipe ou pelas proximidades limites com o Rio São Francisco, como é o caso do escocês George Gardner, o alemão Robert Avé-Lallemant e o norteamericano Daniel Kidder. Estes abordaram aspectos da natureza e vida sóciopolítico e econômica da sociedade da época. As novas linguagens deixam margem para uma interpretação criteriosa na busca de se recuperar fragmentos da memória sergipana, bem como a representação racial criada pelos europeus ao longo dos três séculos de colonização e domínio. Um estudo centrado no perspectivismo histórico dará totais condições de conhecer primeiro a realidade dos europeus vivida no contexto do cientificismo e positivismo da época, para então, a partir daí compreender a eurocentricidade contidas nas descrições que subentendias comparam o homem sergipano ao europeu. Como cita o viajante alemão Robert Avé- Lallcmant quando passou por Aracaju em 1859 acerca da vida social da “pequena” cidade: 59 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “Qualquer que visite uma cidade ligeiramente, por alguns dias, não pode julgar sobre algo, mormente sobre a vida social. Pareceu-me, porém, nenhuma essa vida social. Não vi sinal de concertos, dum teatro, cassino etc. O povo reunia-se em pequenos grupos diante da casa do Presidente, quando tocava a pequena banda de música do batalhão lá aquartelado”. (AVÉLALLCAMANT, 1980:336). Na verdade, as descrições de Robert Avé-Lallcmant sobre os aspectos sociais de Aracaju evocam além da carga de sentimentos e emoções que possui como observador, uma carga cultural que lhe é própria em conformidade com sua própria compreensão de mundo. Compreender o mundo baseado no cientificismo tornou-se praxe para o europeu do século XIX, que vivia no contexto o pensamento evolucionista e por isso buscavam responder, através do estudo etnológico, as diferenças sociais entre os povos indígenas, negros e mestiços, representadas através das imagens elaboradas pelos viajantes e importantes para a construção da identidade européia. George Gardner, viajante escocês observa a sociedade sergipana, além de outros aspectos, a variedade de estilos no vestiário. Ele descreve as vestimentas das classes mais altas, da gente do campo, dos negros e dos aborígines. “As Classes mais altas usam jaquetas e calças, ou apenas camisa e calça, sobre as quais vestem um longo paletó de algodão estampado, ao que se acrescenta, no frio da manhã ou da tarde, uma capa de lã escocês. Raramente calçam meias, trazendo os pés enfiados num par de chinelos de couro pardo. A gente do campo usa geralmente um chapéu de couro, de abas largas, e às vezes uma jaqueta de couro; mas quase sempre seu único vestuário consiste de um calção de algodão leve, que desce até pouco abaixo do joelho, e camisa do mesmo estofo, solta por fora. Os negros vestem-se em geral como os brancos, mas as mulheres têm muito mas gosto que os homens, grande número dos quais se mostram literalmente esfarrapados, embora aparentemente tão felizes em 60 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 sue trapos como se estivessem vigorosamente bem trajados. Notei maior número de aborígines do Brasil do que tinha visto antes a um só tempo. Muitos deles têm evidentes sinais de trazer nas veias mistura de sangue branco uns, de sangue preto outros, mas não em quantidade suficiente para destruir obliqüidade peculiar dos olhos e o cabelo preto e liso da raça americana.”.(GARDNER, 1975) Sergipe encontra-se localizado geograficamente entre os Rios Real e São Francisco fazendo divisas respectivamente com a Bahia e Pernambuco. Nas primeiras décadas do século XIX, após a ligação entre esses dois rios a comunicação na província foi facilitada possibilitando a entrada de embarcações de grande e pequeno porte na malha hidroviária sergipana. A Barra do São Francisco foi bastante utilizada para a entrada dos estrangeiros viajantes em nossas terras. Sergipe como todo o Brasil estava passando no século XIX por diversas transformações de ordem política, econômica e social, a saber o desmembramento administrativo da capitania da Bahia. Outros acontecimentos relevantes foram à condição de província de segunda ordem, a transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju em 1855, além de discussões sobre abolição da escravatura e do Positivismo e Republicanismo nasegunda metade deste século. Daniel Kidder (1980), viajante norte-americano que esteve em Sergipe entre 1936 e 1841, define a província como parcamente habitada e não possue cidade alguma de vulto, mas que o povo é essencialmente ordeiro e patriota. É nesse contexto de entendimento que será desenvolvido nosso trabalho monográfico, buscando compreender as percepções desses viajantes e analisá-las, na tentativa de interpretar no imaginário dos estrangeiros, os aspectos da terra, da gente, dos usos e costumes de Sergipe no século XIX, bem como entender em que medida as construções do imaginário estrangeiro sobre uma pequena Província do Brasil teriam sido moldadas e reveladas para o mundo. AVÉ-LALLCMANT, Robert. “Viagens pelas Províncias da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe (1859)”/ Belo Horizonte: ed. Itatiaia. São Paulo: ed. Da Universidade de São Paulo, 1980. GARDNER, George. “Viagem ao Interior do Brasil: principalmente nas províncias do Norte e nos distritos do ouro e do diamante durante os anos de 1836-1841”. Milton Amado (Trad.). Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1975. HOLANDA, Sérgio Buarque. “Exploração Antropológica”. Em História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico. Reações e Transações .6º ed. São Paulo: Difel,1987, vol.3. HOLANDA. Sergio Buarque de. “Imagem e Auto- Imagem do Segundo Reinado”. IN. ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org.) História da Vida Privada no Brasil – Império: a corte e a modernidade nacional. VOL. 2. São Paulo : Cia das Letras, 1997. Pág. 186-187 HOBSBAWM, Eric. “Era dos Extremos: O breve século XX: 19141991”. 2° ed. São Paulo:Companhia das letras,1995. KIDDER, Daniel Parish. “Reminiscências de Viagens e Permanências nas Províncias do Norte do Brasil: Compreendendo noticias históricas e geográficas do Império e das diversas províncias”. Trad. Moacir N. Vasconcelos. Belo Horizonte: Itatiaia/SDUSP,1980. LISBOA, Karem MacKnow. “Olhares estrangeiros sobre o Brasil do século XIX. IN: MOTA, Carlos Guilherme.(org.). Viagem Incompleta. A experiência Brasileira (1500-2000)”. Formação: histórias. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000. PRATT, Mary. “Os olhos do Império. Relatos de viagens, transculturação”. Bauru: EDUSC, 1999. VAINFAS, Ronaldo.(Org). “Dicionário do Brasil Império (18221889)”. Rio de janeiro: Editora Objetiva, 2002. Bibliografia 61 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 62 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Jenner Augusto: Vida e Obra Segundo alguns depoimentos vistos *** temos a informação de que Jenner foi aluno do grupo escolar Silvio Romero e seus trabalhos se iniciaram na cidade de Lagarto pintando anúncios para o cinema local, que era de propriedade do senhor Mané Dentista. Como este é uma pesquisa de cunho cultural enfatizamos nosso particular interesse pela contribuição da História Social da Cultura. Neste trabalho, lançaremos mão do recurso da história oral através dos depoimentos de conhecidos de Jenner Augusto ou pessoas que tenham informações a seu respeito, pois como ressaltou Sandra Jatahy Pesavento (2005:95): “para o historiador que trabalha com a memória, seja por meio dos registros escritos desta, transformamos narrativas de cunho memorialístico, seja pelo reconhecimento ao vivo, pela oralidade, das lembranças daquele que rememorava, a que levar em conta as múltiplas mediações nesse processo”. Trabalhar com história da arte torna-se, assim, particularmente interessante pelo tipo de fontes utilizadas, permitindo a análise de suas obras enquanto representação de uma visão de mundo adotada por um artista de renome que influencia aqueles que admiram sua arte. Sabemos que durante muito tempo o conhecimento da História viu-se atado às aspirações da história positivista que admitia apenas o uso das fontes escritas, preferencialmente usadas pelo Estado, como fontes “seguras”. Entretanto, com o advento da História Cultural, vemos agora a abertura de olhar do historiador para o uso de outras fontes não escritas, e aí temos a história oral, a iconografia, o uso de músicas, a escrita não oficial, entre outros. Respaldamos-nos nas palavras de teóricos como Sylvia Colceiro, que afirma: “o presente está constantemente inquirindo a história, forçando o historiador a modificar seus objetos, buscar diferentes problemas, e mesmo adotar novos métodos” (COLCEIRO, 2002:13). Jenner Augusto foi um dos integrantes do movimento de renovação das artes plásticas da Bahia, durante a década de 50 e em Sergipe foi precursor da arte moderna, preparando em 1949 os murais decorativos do bar Cacique (marco inicial da arte moderna neste estado), onde aparece clara influência das obras de Cândido Portinari. Paula Cristina da S. O. Carvalho Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Resumo O artigo pretende expor a importância da realização do trabalho de pesquisa que tem por objetivo resgatar a história e a memória do artista lagartense Jenner Augusto da Silveira, sua contribuição para o meio artístico sergipano e seu destaque no contexto artístico brasileiro. Jenner Augusto foi um dos integrantes do movimento de renovação das artes plásticas da Bahia, durante a década de 50 e em Sergipe foi precursor da arte moderna. Trabalhar com história da arte toma-se, assim, particularmente interessante pelas fontes utilizadas, permitindo a análise de suas obras enquanto representação de uma visão de mundo adotada por um artista de renome que influencia aqueles que reconhecem e admiram sua arte. Palavras-chave: Jenner Modernismo;Biografia. Augusto; Cultura; história da Arte; A importância do trabalho de pesquisa ora apresentado é resgatar a história e a memória do artista lagartense Jenner Augusto da Silveira, bem como compreender sua contribuição para o meio artístico sergipano, e seu lugar no contexto da arte brasileira. Pensase também em avaliar sua influência como um dos grandes nomes para a história da arte do nosso país. Nosso objetivo, portanto, é fazer um levantamento sobre a trajetória de vida, suas obras e o contexto em que foram produzidas, além da importância da contribuição destas na formação cultural de Sergipe. Visamos ainda, retratar ao povo lagartense o artista nascido nesta cidade, porém desconhecido pela população local, rememorizando e elencando suas obras, pois, ao que parece, seu nome e produção é pouco conhecido na comunidade local. *** Como visto na internet, comentário de Osmário Santos, em: HTTP://www.infonet.com.br, visitado em 20/09/2007. 63 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 64 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Entre as várias críticas recebidas ao longo da vida, destacamos uma em especial, feita por um de seus maiores fãs declarado, o escritor baiano Jorge Amado (1987). Segue sua crítica feita para a Enciclopédia Itaú Cultural, na cidade de São Paulo no ano de 1987: da Cultura, referente aos painéis do citado artista, posto que estes integram o acervo cultural do povo sergipano, baseando-se no art. 216 da Constituição Federal, cujo texto trata sobre o dever constitucional de proteção ao bem público. Assim, o intuito deste trabalho não é só o de rememoração e sim o de resgatar o artista sergipano e suas obras, além de provar que este é também um artista nascido em Lagarto, ex-aluno do grupo escolar Sílvio Romero, ex-aluno do padre Posidônio e da professora Zizi, ex-pintor dos cartazes do cinema, onde descobriu sua aptidão artística. A grandiosidade da obra desse artista sergipano o faz conhecido e prestigiado em vários estados do Brasil como exemplo temos São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, dentre outros, e este projeto visa reavivar a sua memória na contemporaneidade, que desconhece sua trajetória, reforçando assim, o espírito de identidade cultural do povo desta região para que este não seja um “estranho” na terra que lhe serviu de berço. “Outros dirão as palavras justas e certas, analisando a pintura do moço sergipano, do artista da Bahia. Eu direi apenas que poucos fizeram tanto de maneira tão séria e dominaram assim completamente o ofício e dignificaram a arte da pintura. Direi que Jenner Augusto é uma presença estimulante na cidade e que dele nascem mesmo aqueles que negam nos futricos do amadorismo provinciano, pois em cada um de nós está algo de luz, da emoção, da beleza que ele criou no incêndio da Feira de Águas dos Meninos, no Entardecer dos Alagados, no Cosário, na Paisagem Azul, no Tabuleiro da Cidade de Lagarto, onde menino jogava futebol, em cada quadro seu, Jenner Augusto do homem, trás o sal e o pão”. BIBLIOGRAFIA Em alguns dos textos pesquisados constatamos que Jenner possuía muita popularidade na Bahia e que suas obras eram reconhecidas chegando até a ser citado como um artista sergipano, mas também baiano. Lá ele recebeu vários prêmios, um deles foi o prêmio de viagem da UFBA no V Salão Baiano de Belas Artes (1954), outra homenagem a Jenner Augusto foi feita pela ENERGIPE, em seu estado natal, onde foi citado como destaque sergipano e um dos grandes mestres da pintura brasileira. Tendo em vista o que foi aqui explanado, salientamos a importância do resgate da história de Jenner Augusto Silveira para a população sergipana e lagartense que desconhece o trabalho produzido por ele. Faz parte também das pretensões deste trabalho, chamar a atenção para o resgate de ações (públicas ou particulares) em prol da revitalização e conservação do patrimônio artístico cultural deixado por Jenner Augusto. Como exemplo podemos citar a ação civil ajuizada pelo Ministério Público de Sergipe no tocante a restauração e/ ou revitalização anteriormente aprovados pela Secretaria Estadual 65 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA AMADO, Jorge. In: Soleria Arte André. Jenner Augusto. Catálogo São Paulo. Enciclopédia Itaú Cultural. SP: Itaú Cultural, 1987. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa/Rio de Janeiro: Difel/Bertrand Brasil, 1990. COLCEIRO, Sylvia. “Os desafios da história cultural”. In: BURITY, Joanildo A. (org.). Cultura e identidade: perspectivas interdisciplinares. Rio de Janeiro: DP & A, 2002. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 66 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 As Primeiras Reclamações Trabalhistas Femininas em Sergipe (1943-1944) obra; existência de grandes jazidas de ferro e minas de carvão mineral; dentre outros fatores. A Revolução industrial trouxe consigo as “novas ordens mundiais”: aumento da produção e do consumo desta. Várias estruturas tradicionais foram abaladas ou irreversivelmente modificadas, posto que as relações de trabalho, até então familiares e com todo o conhecimento das etapas de produção, foram alterados pela impessoalidade tanto com o que se produz, quanto com as relações interpessoais. A intensa busca por lucros dos agora capitalistas, donos dos meios de produção afasta-os cada vez mais nas relações entre seus subordinados, predominando assim verdadeiros jogos de interesse fadados a eterna insatisfação de uma das partes envolvidas: ou empreendedor capitalista ou o descontente operário. Este descontentamento, por parte da classe operária, com as suas condições de trabalho ou inúmeras injustiças, se assim as julgar, sofridas em seu ambiente de trabalho, resultou na adaptação das leis (jurisprudência) para atender a crescente demanda por reparos judiciais para esses trabalhadores. As leis trabalhistas brasileiras em vigência tiveram sua origem com o governo de Getúlio Dornelles Vargas, político fundador do populismo no Brasil, cuja alcunha de “Pai dos Pobres”, conseguiu justamente por estas ações de apoio aos interesses populares, como a formulação da CLT (consolidação das leis do Trabalho) ‡‡‡ brasileira. Outra forma de defesa dos trabalhadores fora a criação de sindicatos. Essas associações reuniam o pensamento desta classe e lutavam por medidas em prol da melhoria das condições de trabalho e também progressos sociais de seus sindicalizados. Os primeiros debates em torno das questões trabalhistas negligenciaram o direito daquelas que atestam, como provas cabais, a exploração de seu trabalho, pois eram submetidas a duras e mal remuneradas jornadas de trabalho em condições insalubres de Ravania Calasans Martins Silva Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) Resumo O presente trabalho fora elaborado com o intuito de analisar as primeiras reclamações trabalhistas femininas em Sergipe, e a sua contribuição para o desenvolvimento de uma jurisprudência trabalhista feminina em nosso estado. Palavras-chaves: Revolução Industrial; Trabalhadoras; Reclamações trabalhistas. Capitalismo; Exploração; É inata a natureza humana, apoderar-se de sua força de trabalho para prover o seu sustento e ao de seus dependentes. Ao longo da história da humanidade o homem fora desenvolvendo as suas relações de trabalho em busca de melhorias estruturais para o aumento da produção. Homens visionários perceberam nesse desenvolvimento do trabalho uma hábil forma de usufruir-se do esforço alheio e alargar seus ganhos. Desta forma, surge então, a figura dos primeiros “donos” dos matérias de trabalho e portanto “merecedores” da maior fatia dos lucros auferidos com a comercialização dos produtos. Nesse ínterim, a Inglaterra há muito preconizara suas intenções capitalistas através da busca constante pelo lucro, evidenciado em suas práticas comerciais. Contribuíram para o pioneirismo da industrialização Inglesa a sua intensa acumulação de capitais; condições políticas favoráveis; utilização dos chamados cercamentos†††, fornecendo abundante e barata oferta de mão-de- ‡‡‡ ††† Significou a expulsão dos camponeses das terras de onde provinham seu sustento, para que estas fossem utilizadas como pastagem para a criação de ovelhas, cuja lã era necessária ao abastecimento das primeiras fábricas de tecelagem. 67 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA Consolidação das leis de Trabalho ou como é comumente conhecida por CLT, trata-se da consolidação das normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela prevista. Entrou em vigor no dia 10 de Novembro de 1943, e fora decretada pelo então presidente da República do Brasil Getúlio Dornelles Vargas. 68 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 serviço. Sobre o “esquecimento” dos direitos do trabalho feminino, a autora Maria Amélia de Almeida Teles indica que: “A cultura de exclusão dos direitos e da cidadania das mulheres esta de tal forma arraigada na mentalidade institucional que não causa nenhuma comoção social ou política o fato de as mulheres terem salários mais baixos que os homens, mesmo exercendo funções iguais (...)”. Esse pequeno trecho, extraído do livro: O que são Direitos Humanos das Mulheres, nos alerta para o destoante papel de coadjuvantes da história, a que a presença feminina fora reduzida. Estas reaparecem em pleno desenvolvimento da Revolução Industrial, como massa de manobra para a ampliação do poderio burguês. É em meio a todo esse contexto de exploração que o trabalho feminino se insere, pois externa um passado difícil, mas que deve ser encarado com orgulho, posto que aquelas mulheres viveram em uma sociedade notadamente marcada pelo machismo, que se impunha pela violência, muita das vezes, e que era legitimado pela própria sociedade e também por muitas mulheres que acreditavam ser inferior aos homens e aceitavam sem questionar esse rebaixamento. O autor Eric J. hobsbawm, em seu livro “Mundos do Trabalho”, salienta o esquecimento histórico a que as mulheres foram sujeitadas, ele faz uma ferrenha crítica à postura notadamente machista dos historiadores: trabalhar no limite do desgaste humano. Isto repercute na contemporaneidade, onde a inferioridade dos salários das mulheres denuncia um passado, não muito distante, e que ainda não fora totalmente superado pela sociedade. Não somente a história do trabalho feminino merece destaque na historiografia, mas a história das mulheres como um todo, como demonstra a autora Michelle Perrot em seu livro: “As mulheres ou os silêncios da história”, que credita parte desse “esquecimento” histórico, a própria postura feminina que fora de coadjuvante da história dos homens, em detrimento da postura de atriz que sempre deveria ter desempenhado. A autora define que: “As mulheres freqüentemente salientam que os historiadores do sexo masculino no passado, inclusive marxistas, ignoram grosseiramente a metade feminina da raça humana. A crítica é justa; este escritor aceita que se aplique a sua própria obra, entretanto se esta deficiência deve ser corrigida, não poderá ser simplesmente pelo desenvolvimento de um ramo especializado da história que lide com exclusivamente com as mulheres, porque na sociedade humana os dois sexos são inseparáveis”. (HOBSBAWM, 1987). O trabalho feminino teve sua importância evidenciada no aumento do faturamento das fábricas, mas isto não causou comoção por parte de seus empregadores que continuaram obrigando-as a 69 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA “Os arquivos privados conservados nos grandes depósitos públicos, são quase exclusivamente os dos “grandes homens”, políticos empresários, escritores, criadores. Os arquivos familiares, até recentemente, não haviam chamado uma atenção particular. Ao longo de mudanças, destruição maciças foram provocadas por herdeiros indiferentes por muito tempo, ou até mesmo pelas próprias mulheres, pouco preocupadas em deixar traços de seus eventuais segredos. Por pudor, mas também por auto desvalorização, elas interiorizavam, de certa forma, o silêncio que as envolvia” (PERROT, 2005). O presente estudo fora elaborado na tentativa de resgatar parte da história da luta, das mulheres trabalhadoras sergipanas, pelos seus direitos, no desempenho de diversas funções no mercado de trabalho, nos primórdios da industrialização desse estado, onde, como em tantos outros lugares, cristalizou-se a máxima da desigualdade entre homens e mulheres, seja ela de caráter financeiro, social ou moral. Analisando os processos trabalhistas que encontram-se no Arquivo do Judiciário em Aracaju, e constitui-se de processos trabalhistas, em sua maioria manuscritos, que se encontram no arquivo do judiciário, cuja identificação é: Fundo São Cristóvão/C; série Cível; sub-série: reclamações; número da caixa: 01; período: 1930 – 1944; e número geral: 2876. 70 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 Consideramos não somente os motivos que as levavam a denuncia, mas também o desenrolar de cada ação com a imposição de suas respectivas sentenças. Nos primeiros processos trabalhistas de 1930, a figura masculina inaugura essas ações, e os processos femininos só aparecem a partir do ano de 1943. Dessa lacuna de dez anos de somente reclamações masculinas inferimos duas possibilidades: 1ª as mulheres não tinham do que reclamar e suas condições de trabalho eram condizentes com as suas aspirações. 2ª As mulheres sentiam-se coagidas pela própria sociedade e também por seus patrões e desacreditavam que a justiça fosse fidedigna ao nome que ostenta, e ao contrário, as humilhariam ainda mais. 3ª esses processos podem ter existido e foram destruídos. De acordo com a documentação em análise, entendemos que esse “silêncio” inicial das operárias, que são de aproximados dez anos, custou caro à classe, posto o atraso em se reparar possíveis danos ocasionados a estas, mas essas ações iniciais são protótipos das grandes vitórias alcançadas pelas mulheres atualmente, e incide neste ínterim o principal mérito de nossas pioneiras, que lançando-se ao desconhecido da jurisprudência brasileira, enfrentaram as grandes corporações da época, estreando as reclamações trabalhistas sergipanas. RESENHA Bibliografia TELES, Maria Amélia de Almeida. O que são os direitos Humanos das mulheres. São Paulo: Brasiliense, 2006. HOBSBAWM, Eric J. Mundo do Trabalho; Novos estudos sobre história operária. Tradução de Welda Barcellos e Sandra Bedran. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1997 PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da História; tradução Viviane Ribeiro. Bauru São Paulo: EDUSC, 2005. 71 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA MELO, José Marques de. A Televisão como instrumento do neocolonialismo: Evidências do caso brasileiro. In. BOSI, Alfredo: Cultura Brasileira temas e situações. A TELEVISÃO COMO INSTRUMENTO DO NEOCOLONIALISMO: EVIDÊNCIAS DO CASO BRASILEIRO Luciana Rodrigues dos Santos Acadêmica do 8º Período – Turma A (História) O presente texto analisado é do professor do departamento de jornalismo da USP, José Marques de Melo, intitulado “A televisão como instrumento do neocolonialismo: evidências do caso brasileiro, e se encontra na obra de Alfredo Bosi Cultura Brasileira temas e situações,”. O autor José Marques debruça-se sobre aspectos relacionados com a indústria cultural produtora do neocolonialismo no âmbito tecnológico e na rede de comunicação. O mesmo retrata de modo a informar sobre a cultura européia e norte-americana, sua influência e denominação a partir da parte introdutória do trabalho, em seguida faz uso de valores estatísticos colocados em tabelas para mostrar como anda a dependência, ou seja, a instabilidade no campo tecnológico, cultura e informação com o foco voltado para o caso brasileiro. O texto referido chama a atenção e destaca o papel dos meios de comunicação de massa na contemporaneidade, este denotando uma função colonizadora empreguinada de ideologias e anseios eminentemente estrangeiros. Edgard Morin ao analisar a indústria cultural caracteriza e defende a política aplicada para tal como ideologizantes e de dominação o que garante uma dependência econômica e também cultural. A realidade sempre passa por mudanças e transformações e são elas seja no campo político ou social dão ênfase para as inovações e o desenvolvimento de novos veículos de comunicação, e é nesse viés 72 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1 que a televisão ocupa um patamar nunca alcançado por qualquer outro meio de comunicação, pela possibilidade que tem de envolver as pessoas e mantê-las cercada de todos os lados com imagens que aprisionam a consciência de modo a aliená-la. Dessa forma, televisão tornou-se fator primordial de socialização e domina a vida de adultos, jovens e crianças nas regiões urbanas e nas áreas rurais eletrificadas em todo mundo. Esse fato é decorrente da modernização empreendida nos continentes após acelerado ritmo de desenvolvimento da indústria cultural O crescimento da televisão brasileira deve-se, não obstante das tentativas de manipulação da conjuntura corrente em meio aos movimentos militar de 1964, o qual abriu um leque para as telecomunicações brasileiras. Mas o autor ainda afirma, a televisão brasileira se expandiu tecnologicamente, mas é dependente da indústria cultural norte-americana, ou seja, um produto do neocolonialismo que impera no mundo contemporâneo. Apresentando as situações de dependência o autor dá um enfoque no campo tecnológico ressaltando a hegemonia dos EUA, em se tratando de equipamentos técnicos de emissores de TV, apesar que alguns países que aparecem insignificantemente como produtora de tais ferramentas sendo que essas são procedentes dos EUA ou mesmo dos monopólio estrangeiros como Japão, Alemanha, França e etc. A dependência cultural permeia uma mesma situação a já apresentada acima a de colonialismo isso porque a programação da TV brasileira é fruto estrangeiro, e a produção nacional exibida é reduzida a quase nada, além de ser pouco expressiva, até porque os meios de comunicação de massa desempenham papel fundamental no desenvolvimento de orientações culturais, visões de mundo e crenças assim como na disseminação global de valores e imagens. Pois a realidade cultural que é mostrada não é de acordo com o cotidiano vivido, isto significa que a televisão brasileira usufrui de realidades, que se distância do foco brasileiro, e usa de atrações estrangeiras, ou seja, norte-americana para preencher a TV brasileira. No âmbito informativo a dependência é ainda mais visível devido a internacionalização das notícias que são passadas pela mídia no tele-jornais que procuram cada vez mais se assemelharem às redes internacionais de informação. É sabido que, o que é divulgado ou noticiado pela televisão brasileira obedecem uma ótica norteamericana ou seja estrangeiras. Portanto quando o autor apresenta dados estatísticos que mostra índices de situações de dependência, leva o leitor a perceber o leque de informações sobre a política do neocolonialismo adotado pelos EUA, aos países subalternos nos campos, político, ideológico, econômico e cultural. José Marques usa uma linguagem clara o que permite uma fácil compreensão a qualquer leitor, seja ele, acadêmico ou não, mas deixar a desejar no tocante em que não apresenta uma conclusão precisa no último campo que se deteve seu texto, o autor finaliza no geral com as notícias internacionais que difundidas pela TV brasileira numa visão norte-americana pela posição destacada da UPI reforçada pela AP formando as emissoras que utilizam os serviços das agências estrangeiras. Atualmente podemos perceber em se tratado de programação televisiva uma autonomia considerável em relação às décadas passadas, mas isso não quer dizer independência tecnológica apenas uma situação em que a mídia brasileira mais especificamente a rede globo preenche suas transmissões, na sua maioria, com programas nacionais. 73 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA 74 CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA