Caderno de Pesquisa Histórica - 01

Transcrição

Caderno de Pesquisa Histórica - 01
EXPEDIENTE
Caderno de Pesquisa Histórica
Faculdade José Augusto Vieira - FJAV
Instituto Superior de Educação - ISEJAV
Curso de Licenciatura em História
Ano 1 - N° 1
1° semestre de 2008
Presidenta
Josete Reis Vieira
Diretora Geral
Bethrosa Leal Poderoso
Diretor Administrativo
José Valdelmo Monteiro Silva
Coordenadora Geral Adjunta
Christiane Rocha Santos Silva
Diretor Acadêmico
Lúcio César Santos Jesus
Coordenador Geral
Antonio Augusto Sá Mendonça
Coordenador do Curso de História
Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos
Coordenação de TCC
Profª. Edna Maria Matos Antônio
Editor
Prof. Msc. Claudefranklin Monteiro Santos
Secretária
Milena Rodrigues Bezerra
Professores-Orientadores: Alailson Pereira Modesto, Fernando José
Ferreira Aguiar, Marco Antônio Matos Antonio, Samuel B. Medeiros
Albuquerque.
Colaboração: Ilmária Chaves Sena de Carvalho (Bibliotecária – FJAV)
Faculdade José Augusto Vieira – www.fijav.com.br - Curso de Licenciatura em
História - http://linux.alfamaweb.com.br/fijav/historiadebate2/ - FJAV - “Caderno de
Pesquisa Histórica” – Foto da Capa: Antigo Povoado Cidade Nova (Acervo Artur
Reis)
Praça Nossa Senhora Aparecida, 40 - Lagarto - SE. – Brasil - CEP- 49400-000 Fone: (0XX79) 3631-9210 - E-mail: fijav@maratá.com.br
O conteúdo dos artigos e trabalhos assinados reflete a opinião de seus
autores, sendo de sua inteira responsabilidade.
LAGARTO, JUNHO DE 2008
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
ÍNDICE
F143
Faculdade José Augusto Vieira
Caderno de Pesquisa Histórica / Faculdade José
Augusto Vieira. – Lagarto, SE : 2008.
75 p.
Inclui bibliografias.
1.História. 2. Pesquisa Histórica. 3. Santos,
Claudefranklin Monteiro. 4. Antônio, Edna Maria
Matos. I. Faculdade José Augusto Vieira. I.Título.
CDU 930.1(81)(813.7)(081.1)
APRESENTAÇÃO - Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos . p.03
INTRODUÇÃO - Profª. Msc Edna Maria Matos Antônio.............. p.04
A Inquisição em Lagarto: Um Balanço Histórico - Alisson Cardoso
Vieira .................................................................................................. p.06
Homero e a Formação Política na Grécia Antiga - Andressa
Barroso Moreira ....................................................................... p.12
O marco histórico Cruz das Almas e a questão da preservação do
patrimônio histórico em Lagarto - Cristóvão Beto de Santana ... p.19
“A Fábrica da fé”: possibilidades de pesquisas a partir dos
documentos das prestações de contas da Igreja de Lagarto (1825
a 1885) - Evandro Silva de Souza .............................................. p.24
Chorando e Cantando: A busca pela identidade musical
Brasileira - Floriano Santos Fonseca ......................................... p.30
Crime de Defloramento na Cidade de Lagarto (1876-1892) Jakeline Tavares Santos ............................................................. p.34
Ensino de História: Tendências, Trajetória e Desafios da
Docência - Márliton Nascimento ............................................... p.39
Epilepsia: Mitos e Verdades ao Longo da História - Maria de
Lourdes S. S. Silveira ................................................................ p.48
A cultura do fumo em Lagarto: apontamentos e Considerações
sobre o seu estudo - Maristela do Nascimento Andrade ............. p.52
Sergipe Oitocentista no Olhar dos Viajantes Estrangeiros - Nájala
Rocha Souza Santana .................................................................p.56
Jenner Augusto: Vida e Obra - Paula Cristina da S. O. Carvalho . p.63
As Primeiras Reclamações Trabalhistas Femininas em Sergipe
(1943-1944) - Ravania Calasans Martins Silva .............................. p.67
RESENHA
A
TELEVISÃO
COMO
INSTRUMENTO
DO
NEOCOLONIALISMO:
EVIDÊNCIAS
DO
CASO
BRASILEIRO - Luciana Rodrigues dos Santos................... p.72
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
Prof. Msc Claudefranklin Monteiro Santos
Graduado em História e Mestre em Educação pela UFS-SE
Professor e Coordenador de Curso
Nos seus três anos e meio de funcionamento, a Faculdade José
Augusto Vieira se destacou pela ousadia e pela determinação. Em tão
pouco tempo, uma embrionária IES vem dando saltos de qualidade
que impressionam até mesmo os envolvidos no processo.
Grande parte dessa pujança se deve em boa medida ao
feedback dado por nossos alunos e professores a empreitadas
inicialmente marcadas pela descrença
e pelo espírito pouco
empreendedor de alguns ínfimos críticos de plantão.
A Turma “A” do Curso de Licenciatura em História da
Faculdade José Augusto Vieira fecha um círculo virtuoso com uma
iniciativa que coroa a tríplice função de uma IES: ensino, extensão e
pesquisa. Picados pela mosca azul da investigação histórica nas aulas
de Métodos e Técnicas e Pesquisa Histórica do sétimo período, esses
determinados sobrevivente, desbravadores e exímias cobaias,
presenteiam a FJAV, o público acadêmico e em geral com o I
Caderno de Pesquisa Histórica, idéia embrionária da Prof. Msc. Edna
Maria Matos a quem tive a honra de adotar e agora batizar. A
iniciativa lança valiosa contribuição no sentido de incentivar a
fomentação do saber na formação do docente em história, cumprindo
o previsto em nosso projeto político pedagógico: formar o professorpesquisador e o construtor de memória.
A todos aqueles envolvidos direta e indiretamente nessa
empreitada, nosso mais profundo agradecimento, estendidos
principalmente a todos aqueles que em nenhum momento deixaram
de acreditar em tudo aquilo que nos diziam que não parecia possível.
Mais distante do que o sonho ou o impossível é a preguiça e o
comodismo da ação, é a venda voluntária nos olhos dos limitados de
boa vontade e a inércia dos que dominam a inteligência soberba, ao
invés de nutrir-se da inteligência generosa, promissora e socratiana.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
Profª. Msc Edna Maria Matos Antônio
Graduada e Mestre em História pela UNESP-SP
Nas últimas décadas a disciplina História e a forma de se obter
o conhecimento sobre o passado sofreram profundas transformações
metodológicas e conceituais e que exigiram dos estudiosos da
História a revisão de suas posturas e práticas. Os anos 80
testemunharam um importante e irreversível movimento de expansão
do "território do historiador". Essa ampliação abarcou tanto as
possibilidades de temas de investigação quanto os materiais e fontes
possíveis e disponíveis para as investidas da pesquisa. Um número
considerável de temas e problemas pode então tornar objeto da
investigação histórica: a família, a sexualidade, os rituais, as crenças
– religiosas e políticas-, os sentimentos, o simbólico, as instituições, a
memória, enfim, tudo o que comporta e caracteriza uma realidade
social num determinado tempo e espaço.
Faz parte das preocupações dos historiadores em seu ofício e
mesmo em sua fase de formação intelectual refletir, questionar e
encontrar as melhores ferramentas - conceituais e metodológicas que o auxilie a decifrar os vestígios do passado e elaborar uma
interpretação consistente sobre essa experiência. Esse processo, que
para alguns pode parecer torturante, implica na harmonização de
teoria, metodologia e prática investigativa cujo resultado é o
conhecimento. Para que isso aconteça, um processo fundamental é a
escolha do tema, sua proposta de estudo e sua pertinência, inserida
numa dimensão social. Mais do que uma escolha, essa etapa significa
um encontrar-se do estudante/pesquisador consigo mesmo, com seu
tema e problema, sua função enquanto historiador e o desafio
fascinante de buscar respostas para as questões do presente no
passado. Questões que ele mesmo percebeu.
O que o leitor tem em mãos é a reunião de vários desses
desafios e a proposta de como respondê-los. Organizados a partir de
seus projetos iniciais de pesquisas e trabalhos de disciplinas,
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
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apresentam o princípio de suas reflexões, suas dificuldades,
pretensões e agruras de estudantes mais que interessados e
comprometidos em percorrer os caminhos intricados da pesquisa
histórica.
De forma gratificante, pode-se constatar a variedade de temas e
de opções teóricas e metodológicas (afinal, é assim que deve ser), que
mostram a riqueza e a sensibilidade de seus autores na tentativa de
promover um conhecimento e trazer informações sobre o passado
diante do problema de escassez de estudos sobre temas importantes
da trajetória histórica da cidade de Lagarto, ou mesmo do descaso
com essa história, além de outras relevantes temporalidades e
espaços.
Neste sentido, a publicação dos estudos dos alunos iniciantes
em suas atividades de pesquisadores reveste-se de singular
importância. Mesmo iniciantes, que de modo algum é minimizador
da iniciativa - pelo contrário - , é possível notar a preocupação em
respeitar a história com seus métodos, rigores e segredos (sim, ela
possue regras de investigação e observação de critérios) o que os faz
atualizados em relação às tendências de discussões e debates na
historiografia contemporânea.
Se o passado é um processo em construção, a contribuição
dada pelos presentes autores sinaliza um reforço promissor na tarefa
árdua, mas prazerosa, de tornar compreensíveis as relações que unem
ou dividem os homens e as mulheres, os diversos grupos sociais em
toda a complexidade, seus medos e desejos, tramas e conquistas ao
longo do tempo. Clio agradece.
A Inquisição em Lagarto: Um Balanço Histórico
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Alisson Cardoso Vieira
Acadêmico do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
Busca-se neste artigo realizar uma retrospectiva da introdução do Tribunal
do Santo Ofício, na Europa e no Brasil, salientando também as três
visitações do Santo Ofício em Sergipe, e especialmente em Lagarto. Trata
ainda das fontes e de métodos para o desenvolvimento dessa pesquisa.
Palavras-Chave: Inquisição, Visitação, Sociedade, Sergipe Colonial, Lagarto
A História não pode ser entendida separadamente da História
da Igreja Católica Romana. A Inquisição Romana no século XV , foi
reorganizada, através da Bula Licet ab initio, se consistituiu em um
organismo coletivo centralizador na figura papal. Esse organismo era
presidida pelo Somo Pontifíce que nomeava novos inquisidores bem
como cuidava da supervisão de todo o processo como se fosse um
tribunal de última Instância. Seu poder jurisdicionado sobre os
prelados da Igreja, impunha uma relação hierárquica e dependente à
rede de inquisidores locais. Diferente do que aconteceu nos territorios
de Aragão, onde o primeiro inquisidor-geral substituiu os
inquisidores nomeados, na Itália não se encontra nenhum indicativo
de tal prática.
Segundo Francisco Bethencourt (BETHENCOURT:2000), a
fundação da Inquisição em Portugal se dá a partir da Bula de
estabelecimento do Tribunal Cum ad nihil magis, assinada pelo papa
em 23 de maio de 1536. Em 1541, foram criados os tribunais de
Coimbra, Porto, Lamego e Évora, antes existia apenas a Inquisição
portuguesa que funcionava junto à Corte, em 1543-1545 a Inquisição
de Évora efectuou diversas visitações à sua área jurisdicional. Mas
em 1544 o Papa mandou suspender a execução de sentenças da
Inquisição portuguesa e o autos-de-fé sofreram uma interrupção.
No Brasil nunca houve tribunal do Santo Ofício ou da
Inquisição. Os processos eram levados para a Corte. Na América
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portuguesa, o Santo Ofício se instalou em julho de 1591, os
Inquisidores eram os Bispos. A visitação foi liderada pelo licenciado
Heitor Furtado de Mendonça, que teve uma ação discreta, foram
realizadas inúmeras visitações e tantos livros sendo conhecidos três
processos e uma visita do Inquisidor de Portugal.
O Visitador nomeado Heitor Furtado de Mendonça, chegou
à Bahia em 20 de julho de 1591. Poucos dias depois publicou o
‘Edito da Graça’, período de trinta dias (de 28/7 a 27/8) em que
haveria ‘muita moderação e misericórdia’ aos que fossem acusados
ou se viessem acusar. Houve muitas denúncias, versando sobre
suspeitas de heresia, práticas de rituais judaicos, escravização dos
indígenas, bigamia, feitiçaria, blasfêmia, sodomia. Durante as
confissões Sergipe é citado sete vezes, na maioria ocorreram durante
a “Guerra de Sergipe” (1589-1590) *, nenhum dos casos citados
justificava o rigor dos acoites degredo e fogueira. Em 1594 o
Visitador passou a Pernambuco onde, após um período de ‘Graça’,
iniciou as audiências, seguindo até o ano de 1595, quando retornou a
Lisboa. A par de algum erro ou imprevidência, não parece ter sido
severo, usando, em muitos casos, de moderação.
A segunda visita do Santo Ofício ocorreu entre setembro de
1618 e janeiro de 1619, sendo Inquisidor D. Marcos Teixeira. A
Coroa Espanhola temendo que os cristãos-novos pudessem aliar-se
aos holandeses, que naquele tempo pressionavam o Reino Unido
manda essa expedição. A colônia, de fato, tornara-se lugar de refúgio
e de degredo para os novos convertidos, que aqui se achavam em
grande número. O Pe. Antonio Vieira, nessa época, defendeu a
tolerância para com os cristãos-novos, idéia que se generalizou e
continuou viva mesmo após a Restauração, em 1640.
Em Sergipe, a visitação chega aos 11 de setembro de 1618,
dessa vez, o Tribunal do Santo Ofício vem referindo-se a três casos
de cristãos-novos. Durante o processo de confissões foram citados os
casos de sodomia, bigamia e falsos Padres. No final do século XVII,
Sergipe recebeu a visita de dois Bispos. O primeiro foi D. Estevão
Brioso (1678-1689), bispo de Pernambuco. O motivo da visita foi
punitiva. O segundo prelado a percorrer todo o Sergipe o 4º
Arcebispo da Bahia D. João Franco de Oliveira (1692 a 1700).
Luiz Mott (MOTT:1989) se refere a primeira visitação do
Santo Ofício ao Brasil, que acontece de 1591 a 1595, quando Filipe II
unifica a coroa portuguesa e espanhola sob seu poder por causa da
morte de Dom Henrique, em 1580, por ser o único herdeiro do
trono português. Como o rei da Espanha possuía idéias mais rígidas
quanto aos cristãos-novos, julgou necessária uma visita do Santo
Ofício. Segundo Mott:
*
A guerra de Sergipe foi a segunda tentativa de invasão, liderada por
Cristóvão de Barros. E seu exército chegaram à foz do rio Ithanhy (Rio
Real), onde ocorreu o combate, os índios foram vencidos pelas armas de
fogo, cavalaria e fogo dos canhões. No dia 1 de Janeiro de 1590, com a
vitória das tropas portuguesas.
Cristóvão de Barros organizou a
administração da nova capitania nomeado as principais autoridades: O
Capitão-Mor; o Ouvidor-Mor e o Provedor-Mor.
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“(...) 20 de setembro de 1733, outro m orador do Rio S.
Francisco, também é penitenciado: Fernando Henrique
Alvares, 38 anos, também com parte do sangue de
judeu, só que morador em Penedo, do outro lado do
rio, na Comarca de alagoas: teve a pena máxima da
fogueira, acusado de ser judeu “convicto, ficto, falso,
simulado, confitente, diminuto e impenitente.” A
noticia de sua morte deve ter corrido por todos os
povoados ao Velho Chico, pois era o primeiro, e salvo
erro, foi o único morador destas bandas a chegar à
fogueira.” (MOTT, 1989:56)
No ano de 1734, aparece o primeiro caso em Lagarto. Tratase de mais um caso de falso padre: Manuel Silva Oliveira, 30 anos.
Apesar de agir no território lagartense era pernambucano.
Pernambucano, foi aprovado nos primeiros exames para presbítero
pelos jesuítas cariocas. Teve a infelicidade de contrair a varíola
(bexiga) e retornou para a terra natal. Depois viajou para terras
lagartenses, passando quatro anos atuando como padre, com uma
imagem de Nessa Senhora os moradores de Lagarto davam esmola ao
falso ermitão, certos que iriam para a morada celestial, debaixo do
manto da virgem. O esperto minorista vendo sua fonte secar, vai para
a freguesia de Nossa Senhora do Monte do Itapicuru da Praia, onde
assume essa prática com maior desenvoltura, mas acaba sendo preso.
Mesmo dizendo ser sobrinho do Abade do Mosteiro de São Bento da
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Bahia , foi embarcado para Lisboa e condenado a 7 anos de galés,
antes passado pelo vexame de ter sua sentença lida no Auto público
de Fé de 24 de julho de 1735.
No século XVIII com o surgimento das minas de ouro, para as
quais ia grande número de estrangeiros de todos os credos, a política
de tolerância vigente no século anterior começou a mudar. Segundo
Mott, no reinado de D. José I (1750-77), a Inquisição decaiu,
chegando praticamente a anular-se. Dois fatores contribuíram para a
sua queda, ambos ligados à personalidade do Marquês de Pombal. O
Primeiro ministro considerou a prática contrária aos interesses da
Corte, embora anos antes (1761) a tivesse utilizado contra o Pe.
Gabriel Malagrida, por ter este, na ocasião do terremoto de Lisboa
(1755), acusado de erros morais os membros da Corte. Em virtude de
um desentendimento entre Pombal e o Santo Ofício em Portugal,
chegou o rei D. José I a procurar minorar a ação do Tribunal. Assim é
que em 1773 foram baixadas leis que acabaram com a distinção entre
cristãos-novos e outros cristãos, e que proibiam qualquer
discriminação por ascendência judaica. Em 1774 o Santo Ofício foi
transformado num tribunal régio, sem autonomia, completamente
dependente da Coroa, o que significou na prática a sua desativação.
No seu livro Mott ainda fala sobre um segundo caso em
Lagarto, o fato acontece no final do século XVIII, envolveu o
intelectual lagartense o tabelião Antonio Bernardo da Rocha. Ao
publicar o seu Système de La Nature, em 1770, fez acusações a
religião: a primeira seria a construção de uma base errada para a
moral; a segunda de imposição a ciência e uma terceira de construir o
suporte principal de uma ordem social corrupta e sua doutrina da vida
depois da morte. Autor de importante obra histórico-filófica Le
Chistianisme Devoilé sugerindo obras de ilustrados ateus como:
Rousseau, Hume, Spinoza, Voltaire, Machiavel, Bodin, Diderot,
Pope, e outros. De forma estratégica o Tabelião Antonio Bernardo no
dia 20 de fevereiro, logo após da Quaresma confessou ao Santo
Ofício.
Apesar de poucos casos existem em Lagarto, é necessário
captar a presença do Santo Ofício na região. Na pista deixada por
Mott, que deixou bem claro na sua obra a necessidade de uma
pesquisa mais aprofundada sobre o assunto, é preciso conhecer um
pouco mais sobre a experiência da Inquisição em Sergipe, mais
especificamente em Lagarto.
A orientação para as análises sobre a inquisição em Sergipe
corresponde a uma leitura interna da fonte buscando nas entrelinhas
as seguintes características: o que é negado, o não dito, o que é
perseguido, algo que une todas as vitimas num grupo específico e
exclusivo. Uma busca de sentimentos e existências que haviam se
perdido e agora poderiam ser resgatados, através dos aparentes
silêncios e vazios dos documentos oficiais.
Pretendemos contribuir com um melhor entendimento acerca
do pensamento religioso dominante esperamos captar através deste
viés, ou seja, do projeto ideológico cristão expresso nos documentos
inquisitoriais.
Mott fala também que a visitação do Santo ofício deixou sua
marca em Sergipe. A historiografia colonial é inteiramente omissa
quando se refere à presença do Santo Ofício na Capitania de Sergipe.
Perseguiu, torturou dezenas de pessoas, prendeu, tendo levado à
morte ao menos um sergipano: José Fernandes, morador na Vila de
Santa Luzia, no ano de 1762. Nosso intento é identificar às
influências religiosas e culturas que levaram o Santo Ofício as terras
de Nossa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto.
De um modo geral, acreditamos que o preceito ideológico da
sociedade lagartense no século XVIII ainda não tenha sido
examinado a fundo nas fontes inquisitoriais. Com efeito, visamos
analisar a existência de elementos da concepção ideológica cristã
através de documentações inquisitorial e de âmbito social.
Com esse trabalho pensa-se explorar a relação existente entre a
Inquisição Portuguesa e o sociedade Lagartense, através de suas
visitações em Sergipe; pretende-se analisar os motivos e justificativas
declaradas para uma intervenção inquisitorial em Lagarto, e ainda
caracterizar os casos existentes em Lagarto e a especificação de cada
caso e mostrando o comportamento dessa sociedade.
Nossa pesquisa possui natureza exploratória das fontes
documentais e bibliográfica, a saber, apoiada em leituras gerais e
específicas sobre o período e o tema. Serão analisados no sentido de
obter subsídios para a compreensão da ideologia e seu papel no
processo de formação da estrutura e ordem social e política da
sociedade lagartense.
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As fontes podem ser lidas como representações de uma
realidade histórica e o documento é um produto da sociedade, que o
criou, consoante com estruturas e relações de forças dos que
representavam o poder e podem lançar um véu de entendimento
sobre a realidade passada.
A metodologia que será utilizada para a realização desta
pesquisa faz parte da História Cultural, que permitirá a análise da
relação existente entre indivíduos no interior de uma dada sociedade
num espaço e num tempo determinado, ou nas palavras de Chartier, a
História Cultural “tem por principal objetivo identificar o modo
como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade
social é construída, pensada, dada a ler” (CHARTIER, 1990:16-17).
Pretende-se estabelecer a análise cultural como a investigação sobre a
contínua reorganização das representações na prática social. A
Inquisição e o seu estudo podem permitir a compreensão do
comportamento de uma sociedade em épocas passadas.
Homero e a Formação Política na Grécia Antiga
Bibliografia
BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal,
Espanha e Itália séculos XV-XIX. São Paulo: Companhia das letras,
2000.
CHARTIER, Roger. A história cultural: Entre Práticas e
representações. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1990
MOTT, Luiz R. B. Inquisição em Sergipe. Coleção Jackson da Silva
Lima. Aracaju: Governo de Sergipe, Secretaria de Estado da cultura e
Meio Ambiente, FUNDESC.
NOVINSKY, Maria Luiza Tucci Carneiro. Inquisição: Ensaios sobre
Mentalidade, Heresias e Arte.
SIQUEIRA, Sonia A. A Inquisição Portuguesa e a Sociedade
Colonial. São Paulo: Ática, 1978.
VAINFAS, Ronaldo. Confissões da Bahia: Santo Ofício da
Inquisição de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
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Andressa Barroso Moreira
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
Este artigo objetivo, através de um breve resumo da história dos períodos
micênico e homérico, aliado a um balanço historiográfico sobre o assunto,
retratar a importância dos textos homéricos para a pesquisa historiográfica
contemporânea, enquanto representação destes períodos da história grega.
Através das constantes mudanças populacionais ocorridas no território
grego nos séculos XII e VIII a C. vê-se o desaparecimento da escrita.
Surgem, então os textos de Homero – a Ilíada e a Odisséia - como
testemunhas desta época.
“A sociedade que produziu aquela forma de vida
desapareceu sem deixar qualquer testemunho para o
conhecimento histórico, mas a sua representação
ideal, incorporada na poesia homérica, converteu-se
no fundamento vivo de toda a cultura helênica”.
(JAEGER, 2003:66)
Da cronologia habitual usada pelos historiadores para
demarcar as divisões temporais da história grega, o correspondente
aos séculos XII ao VIII a. C., após a invasão da Grécia pelos dórios, é
intitulado “Período Homérico”. Sua história é permeada por lacunas
devido a este ser um tempo em que a escrita linear b usada pela
civilização micênica predecessora desta invasão havia caído em
desuso - por conseqüência não há documentos escritos pela cultura da
época, nem de ordem administrativa do Estado. Entretanto, já se sabe
que é neste período onde a civilização grega, como a conhecemos,
começa a ganhar forma chegando à organização social, política e
cultural que servirá de berço para toda a civilização ocidental. Para
que essas informações cheguem até nós, alguns historiadores contam
com a ajuda da arqueologia – e também com os textos de Homero.
Estes épicos são a Ilíada e a Odisséia. Concordamos com o
historiador inglês Moses Finley ao dizer que
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
“... o épico não era história, e sim uma narrativa,
detalhada e precisa, com suas descrições minuciosas
de guerras, viagens marítimas, banquetes, funerais e
sacrifícios, todos muito reais e vívidos, ele podia
conter inclusive algumas sementes encobertas do fato
histórico – mas não era história. Como mito era
atemporal”. (FINLEY, 1989:07)
Entretanto, sua importância para a formação do caráter grego
descrito por Jaeger (2003:54) em sua Paidéia enfatiza que “ninguém
pode ler este poema sem ficar com a impressão de um propósito
pedagógico deliberado e consciente, embora muitas partes não
apresentem nenhum vestígio dele”. Estes textos, produzidos por volta
do século IX ou VIII a.C., foram repassados através de inúmeras
gerações pelos aedos†. Apesar de nos ser claro o fato das
modificações sofridas pelos poemas ao longo dos anos até mesmo
pela influência destes aristocratas em tentativas de incluir nestes sua
linhagem familiar, entre outras alterações convenientes a seus
interesses, sua informação ainda é preciosa para a historiografia. Seus
textos, quase em sua forma original foram materializados através da
escrita no século VI a. C. - dois séculos mais tarde de seu surgimento
- quando os gregos assimilaram a escrita fenícia e a adotaram
definitivamente.
Ao fim do período micênico, as culturas autóctones se
mesclavam à cultura dos povos recém-chegados como: jônios, eólios
e aqueus que circulavam na região desde o século XII a.C., mas a
partir da invasão dórica da Hélade dois importantes movimentos
populacionais também aconteceram. O primeiro deles foi uma
expansão para o exterior da região até então habitada – este
movimento ocasionou a fundação de importantes povoações gregas
por várias ilhas do oeste do Mediterrâneo, mares Negro e Egeu,
†
Estes artistas, bem quistos à época, viviam viajando pelas casas dos
aristocratas gregos sendo responsáveis, assim, pela transmissão oral da
história usando a técnica da rima e da música para contá-las.
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chegando à costa da Itália e norte da África, dando origem ao
comércio dos artesanatos e as trocas culturais com outros povos.
Foi neste período que as técnicas náuticas foram sendo
melhoradas, embarcações mais ágeis e eficazes foram inventadas,
ainda que em algumas vezes, tempestades levassem os barcos a
lugares não planejados – nota-se isso quando Menelau descreve a
Telêmaco, filho de Ulisses, como foi parar no Egito, perdido no mar
depois da guerra de Tróia e de lá trouxe grandes pilhas de
mercadorias originadas de saques por toda a região. Aí notamos que
esta era uma das formas com que as mercadorias circulavam por toda
a região de propriedade em propriedade, entre elas, produtos
alimentícios, artesanatos como roupas, potes para armazenagem de
grãos e vinho, produtos domésticos e de uso geral que não fossem
produzidos localmente, além de escravos, principalmente originários
destes saques.
A escravidão à época ainda não possuía a importância que
ganhou tempos mais tarde na economia grega. Por não haver trabalho
assalariado e a produção agro-pastoril ser o meio econômico mais
aceito socialmente para manutenção de sua riqueza, era por meio de
servos e “agregados” que os senhores de terra mantinham suas
culturas, pois a ocupação à qual estes homens se dedicavam era a
guerra. Confirmamos isto nas palavras do historiador francês Claude
Mossé (MOSSÉ, 1984: 60) que afirma: “deste modo, a agricultura e a
criação de gado constituem as duas principais atividades de um
domínio, aos quais, como já vimos, são supervisionados pelo senhor
do oikos em pessoa, e isto mesmo se tratando de um rei”. Estas
pessoas, muitas vezes mantinham uma relação de dependência com o
dono da propriedade, vendidos muitas vezes como escravos por
viajantes, não tinham como voltar para sua terra natal, e aí agregados
à nova família serviam ao senhor até sua morte. Na Odisséia vemos o
caso do porqueiro Eumeu; da ama de Ulisses, Euricléia e das servas
de Penélope, mortas por Ulisses por
se deitarem com os
pretendentes. Ainda assim, esta é uma questão obscura para a
historiografia, falta-nos informações suficientes para entendermos a
real situação dessas pessoas, sua forma de vida e o poder que um
senhor poderia exercer sobre suas vidas. Mossé também expressa
essa lacuna ao comparar a propriedade palaciana do senhor (como a
de Ulisses, rei da ilha de Ítaca) a um feudo medieval:
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permaneceu vivo pelo menos até o século V”.
(FLORENZANO, 1994: 20)
“...a retribuição de serviços sob a forma de lotes de
terra, de posse precária e relacionada com o devido
cumprimento dos ditos serviços. Quanto ao papel das
comunidades camponesas dependentes do palácio, às
quais o termo demo pretende de certo designar,
permanece bastante obscuro. No entanto, sabe-se que
estas comunidades, em cujas mãos teria residido a
gestão das terras da aldeia se encontram sujeitos ao
pagamento de rendas anuais que contribuíam para
engrossar regularmente as reservas acumuladas nos
depósitos e armazéns do palácio” (1984:27).
O segundo movimento conseqüente desta invasão foi o da
diáspora interna: ao fugirem dos povos invasores conhecidos por sua
violência e em busca de proteção e segurança, os povos ali residentes
agruparam-se em pequenos clãs familiares que, compartilhando de
antepassados comuns e sob a liderança de um homem experiente e
descendente direto destes antepassados - o pater - deram origem aos
genos. Era ele, o pater, o responsável pela organização política,
cuidava das questões de justiça e até mesmo das relações econômicas
estabelecidas dentro e fora do genos.
É interessante notar que a origem da palavra economia está
associada ao genos e surge neste período - o oikos, que descrito por
Homero, caracterizava a casa, a família, e unida à palavra nomos que
é o trabalho, origina então a economia (oikonomos) ou o sustento
familiar. Por isso essa economia ser doméstica, fechada e apreciar o
auto-sustento. À época o comércio não era desenvolvido, além de não
ser bem visto como forma de sustento para esta aristocracia.
Achamos esta informação nas palavras de Maria Beatriz Florenzano,
quando esta diz:
“As atividades lucrativas, o comércio, o câmbio, etc.
recebiam o mesmo tipo tratamento ou pior do que o
dos trabalhos manuais. Escravos e metecos
dedicavam-se a ela livremente, mas um cidadão era
mal visto se o fizesse. Este tipo de atividade era
moralmente condenada, o ideal de equivalência
absoluta entre as partes que realizavam as trocas
O que não era produzido na propriedade, como já visto, era
conseguido por meio de saques e pilhagens ou através das trocas com
genos visinhos. É neste cenário que se desenvolve a política, ou a
figura política. Inicialmente ele era o pater, o homem de família
nobre, com uma ascendência notável, seus ancestrais eram grandes
homens, heróis, semideuses, senão deuses até. Nas palavras de Finley
(1989: 20): “há um exemplo grego muito interessante: os heróis
homéricos recitam freqüentemente suas genealogias em detalhe e
sem exceção, em poucas etapas seus ancestrais humanos convertemse em deuses ou deusas”. Na Odisséia acompanhamos a história de
um deles: Ulisses, mas ainda há exemplos como os de Alcino,
Menelau, Agamenon e Aquiles. Não é surpreendente o fato de o
primeiro título empregado para sua propriedade e seu palácio ser o de
Rei. Futuramente, na Grécia clássica cada cidade-estado venerará um
fundador herói ou deus como primeiro cidadão honorário local, este
fazia a ligação ideal que homens e deuses precisavam ter e
freqüentemente este era o primeiro rei local. O desenvolvimento do
poder deste pater acompanha o próprio declínio e ao mesmo tempo
evolução do genos. As dificuldades econômicas, e as lutas por terra –
aglomeração de grandes quantidades de terra nas mãos de poucos
homens, aliado ao crescimento populacional e a baixa produtividade
agrícola ocorrida em fins do século VIII fazem alguns destes grupos
se extinguirem, outros se fortalecerem e muitos se unirem - os mais
fracos aos fortes - assim o que era um mero clã passa a ser uma
fratria, disso para uma tribo e finalmente surge a polis, o que
caracteriza o fim do período homérico e o início do período arcaico.
A profundidade da relação sociedade-espaço deste novo contexto
social é expresso por Heyde Theml, quando diz:
“A polis aparece como uma nova forma de
organização política da sociedade; uma nova relação
entre a sociedade e o espaço até então habitado e uma
nova relação entre os homens e o poder do Estado (...)
Para que este fato ocorresse era preciso passar a se
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COUCEIRO, Sylvia. “Os desafios da história cultural” IN: BURITY,
Joanildo A. (org.). Cultura e identidade: perspectivas interdisciplinares. Rio
de Janeiro: DP & A, 2002. p. 11-28
FINLEY, M. I. Os gregos Antigos. Trad. Artur Mourão. 23. ed. São Paulo:
Edições 70, 1963
FINLEY, M.I. Uso e Abuso da história. São Paulo: Martins Fontes, 1989
FLORENZANO, Maria B. O. O Mundo Antigo: economia e sociedade.
Coleção: Tudo é história (39). 13. ed. São Paulo: brasiliense, 1994.
JAEGER, W. Paidéia: A formação do homem grego. Trad. Artur M.
Parreira. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
conceber a possibilidade da existência de uma unidade
maior e comum estabelecida numa pluralidade
coordenada, hierarquizada e organizada; era preciso
estabelecer uma confiança coletiva de que o território
cívico dos ancestrais produzia uma história
compartilhada, ele era maior que as terras de sua casa
e era preciso ver os marcos das fronteiras das terras
dos ancestrais para que se processasse o sentido de
pertença social”. (THEML, 2003:277)
Pouco se sabe, além disso, da política desse período e o
conhecimento existente chega até nós através das obras do já citado
autor jônico de nome Homero. Sua existência não é provada, seu
conteúdo também não, mas o que se encontra nestas obras serve de
fonte a historiadores desde a Antigüidade para a pesquisa em torno da
história deste período. Apesar dos constantes questionamentos a
respeito da veracidade destes textos a historiografia moderna aliada a
outras disciplinas como a Arqueologia, a Antropologia tem cada vez
mais feito uso e comprovado alguns fatos destas fontes. Seguindo a
perspectiva da nova história cultural que, contrariando a história
tradicional, afirma haver um universo muito maior de objetos e
fontes, o historiador é livre para analisar sistematicamente os
documentos, mesmo que os não oficiais ou administrativos do
Estado, para que as evidências mostrem a história; como nas palavras
de Peter Burke (1991:14): “De qualquer modo, se os historiadores
estão mais preocupados que seus antecessores, com uma maior
variedade de atividades humanas, devem examinar uma maior
variedade de evidências”. Assim como Finley (1963:23), que ao
salientar a importância destas duas obras afirma: “Nada pode
substituir a não existência de escrita coesa, quer narrativa, religiosa
ou administrativa. E é assim que também nós, tal como os gregos,
temos que nos voltar para a Ilíada e a Odisséia”.
Bibliografia
BURKE, Peter (org.) “Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro”.
IN: A Escrita da História: Entre práticas e representações. Trad. Magda
Lopes. São Paulo: UNESP, 1991. p. 07-45
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O marco histórico Cruz das Almas e a questão da
preservação do patrimônio histórico em Lagarto
O patrimônio cultural está aqui entendido como material da
memória de um povo. O monumento é um sinal do passado ao qual
designa os atos comemorativos (que pode ser de caráter religioso,
político, econômico cultural). O que sobrevive não é apenas o que
existiu no passado, mas é também uma escolha feita, que pelas forças
que operam no desenvolvimento temporal do mundo da humanidade,
quer pelas forças que se dedicam a ciência do passado e os tempos
passados, os historiadores. Que possibilite os historiadores e leigos
de forma geral a ter, naquele momento, uma forma de estudar e ver o
passado de diferentes formas (espiritual, político, religião, social,
etc.). Portanto, preservar o patrimônio histórico permite uma
exploração que pode tirar daquele monumento, a história que tanto
traz conhecimento e sabedoria sobre o passado para os estudos do
presente e na preservação da memória da humanidade.
Veja Lemos:
Cristóvão Beto de Santana
Acadêmico do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
O artigo procura refletir sobre a importancia do patrimonio histórico e
apresentar a pesquisa sobre o patrimônio Cruz das Almas como símbolo do
lugar que deu origem a cidade de Lagarto, que pretende contribuir com a
questão da preservação e a relação deste patrimônio com a comunidade, sua
a valorização e reconhecimento público.
O patrimônio histórico está muito presente no Brasil com
suas cidades históricas que são consideradas patrimônio cultural da
humanidade. Todo esse acervo patrimonial está sob cuidados da
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da
UNESCO, órgão ligado a ONU (Organização das Nações Unidas).
Outros órgãos ligados ao governo federal, estadual e municipal, e
entidades ligadas à sociedade civil organizada, dedicam-se na luta
pela preservação e na delimitação do que vem a ser patrimônio
histórico. Mas não só de nossas cidades são formados o patrimônio
histórico. Os monumentos, de um modo geral, quadros, livros,
fotografias e a cultura imaterial também fazem parte do acervo
patrimonial histórico e cultural nacional.
Temos muito a falar em patrimônio histórico, haja visto que
temos duas cidades (São Cristóvão e Laranjeiras, com seus casarões,
Igrejas, museus, etc) das mais antigas do país e um grande acervo
patrimonial bem conservado em nosso estado. Na cidade de Lagarto é
pouco o patrimônio considerado histórico: temos a igreja matriz,
alguns casarões, sendo que muitos deles são apenas conservados na
fachada. No Povoado Santo Antônio, onde deu início a cidade a
igreja construída nos primórdios do povoamento não existem mais,
tendo apenas o marco Cruz das Almas, construída no século XX para
simbolizar o início da cidade, o qual constitui no objeto do nosso
estudo.
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“Temas ligado às construções antigas e seus pertences,
representativos de gerações passadas e que
englobadamente recebem o nome genérico de
“patrimônio histórico”, ao qual, às vezes, também é
aposta a palavra “artístico”, na verdade, essa expressão
usual, que é inclusive usada na identificação da
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, abrange um segmento de um acervo maior
que é chamado patrimônio cultural de uma nação ou de
um povo”. (LEMOS, 2000:07)
O patrimônio pode-se apresentar de diversas formas. Basta
dizer quando falamos em patrimônio, estamos falando de vários
objetos e resquícios que são as marcas de uma experiência do
passado e assim uma herança. Portanto, trazem toda uma recordação
de uma realidade de acontecimentos para ser estudado e explorado
nas suas diversas áreas: patrimônio histórico, cultural e ambiental,
espalhados em diversos locais que constituem, em todo seu contexto,
em um objeto de estudo e admiração. O patrimônio histórico, fruto da
construção de uma sociedade, retrata não só a questão patrimonial
como também as vivências de uma sociedade embutida ali no seu
interior. Os patrimônios históricos e artísticos trazem por toda essa
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descrição uma realidade provedora de muitos conhecimentos, mesmo
que estes patrimônios retratem apenas uma descrição do passado.
A característica peculiar dos monumentos é ligar-se a
capacidade e a vontade, voluntária ou involuntária, das sociedades de
perpetuar as referências do passado de uma sociedade. É um legado
a memória coletiva (LE GOFF, s/d:164).
Embora em nossa cidade, as pesquisas realizadas sobre a
questão patrimonial ainda é muito tímida, precisando de uma
revitalização sobre o assunto para dar o devido lugar nas pesquisas
patrimônio histórico. Portanto, é uma atividade de interesse tanto de
acadêmicos e da sociedade em geral. O esperado é que a repercussão
aponte os caminhos de valorização do acervo patrimonial,
valorização da herança cultural e atitudes de preservação do
patrimônio histórico, deixado por nossos antepassados.
Trabalhar a questão monumento histórico é passar por todo
um processo de reconstrução histórica, viver o passado; “a
lembrança é uma larga medida, uma reconstrução do passado com
ajuda de dados emprestados do presente, além disso, preparada por
outras reconstruções feitas em época anteriores e de onde a imagem
de outrora se manifestou já bem alterada” HALBWACHS,
1990:64). Nessa perspectiva que o trabalho pretende, através de um
estudo minucioso: os monumentos históricos, em especial o marco
histórico Cruz das Almas, abranger a tarefa da preservação e
conservação para fins de utilizar em estudos, deixando todo seu
legado para gerações futuras. Embora seja uma questão quase
impossível mas indispensável na construção de uma crítica voltada
para identificação de patrimônio histórico, como uma essência de
criação humana ou da natureza.
A presente pesquisa sobre patrimônio quer inserir-se no
debate acerca do patrimônio Cruz das Almas como símbolo do lugar
que deu origem a cidade de Lagarto e visa contribuir, com diversos
caminhos como o da preservação e a relação deste patrimônio com a
comunidade, para a valorização e reconhecimento público desse bem.
A cidade de Lagarto oferece um modesto acervo histórico,
expresso desde o seu marco onde nasceu a cidade, espalhados por
toda área da cidade, com seus casarões, igrejas e outros monumentos
que os simboliza do início até os dias de hoje. Originalmente foi
habitada pelos índios Kiriris antes da chegada dos jesuítas Gaspar
Lourenço e João Solonio em 1575. Após catequizarem os índios, aqui
se estabeleceram na região do Santo Antônio, construindo a
capelinha, a primeira da cidade, dando início ao povoamento das
terras do Lagarto.
Os índios kiriris, que viviam nas margens do rio Piauí e seus
afluentes, embora tivessem uma convivência pacífica com os jesuítas,
tiveram vários confrontos com os portugueses, e conseqüentemente,
causando muitas mortes. Os que ficaram foram capturados ou
fugiram para outra região.
Na região do Santo Antônio foi construída uma igrejinha no
início da povoação, mas foi demolida durante a passagem de Dom
Mário Rino Sivieri. Ele era pároco da nossa paróquia na década de
80. Restou apenas o marco de fundação, construído em 1972 na
gestão do prefeito José Ribeiro de Souza.
A nossa intenção principal de pesquisa é motivada sempre
pela necessidade da conservação do patrimônio histórico, levando em
conta questão como a relação identidade/coletividade, que nos leva
ao engrandecimento cultural de uma sociedade e de uma política que
incluam os incentivos culturais.
Nossa pesquisa ainda se fundamenta na escassez de estudos
em nossa cidade que analisem de forma objetiva o nosso acervo
patrimonial, que embora bastante modesto, representa aquilo de mais
natural possível de entender diante do que está representado. Desta
forma, queremos direcionar nossa reflexão no sentido de colaborar,
fornecer conhecimentos nesta área, para podermos de forma mais
clara possível chamar a sociedade para a noção de preservação para
não trilhar em caminhos opostos, o da destruição, causando terríveis
transtornos para o acervo patrimonial histórico e cultural.
Segundo Lemos, “a preservação do monumento implica o da
moldura tradicional, as construções, demolições ou agenciamentos
novos não poderão, pois, alterar as relações de volume e colorido do
monumento com seu ambiente próprio” (LEMOS, 2000: 24).
A falta de esclarecimento popular sobre a importância da
preservação do nosso patrimônio, de educação coletiva para que
possamos ter uma sociedade movida pelos princípios fundamentais
de vivenciar e de conservar o patrimônio histórico. Ainda Lemos: “é
dever de patriotismo preservar os recursos materiais e as condições
ambientais em sua integridade, sendo exigidos métodos de
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intervenção capazes de respeitar o elenco de elementos componentes
do patrimônio histórico cultural” (LEMOS, 2000: 24).
O processo de pesquisa patrimonial é parte indispensável que
molda o homem, que procura compreender seu tempo, seu passado.
Também aí se insere a luta empreendida pelos diversos movimentos
sociais no intuito de alargar o conceito de cidadania no interior da
sociedade e nas relações de poder que permeiam a atividade humana.
Ambos os processos reclamam a questão da identidade, seja ela de
minorias, seja do ponto de vista da nação. Daí, o discurso de
patrimônio histórico alcançar tamanho significado e apreciado nos
dias atuais.
“A Fábrica da fé”: possibilidades de pesquisas a partir
dos documentos das prestações de contas da Igreja de
Lagarto (1825 a 1885)
Bibliografia
Evandro Silva de Souza
Acadêmico do 8º Período - Turma A (História)
Resumo
Neste artigo, objetivamos apresentar algumas considerações sobre o estudo
da cidade de Lagarto no século XIX através da pesquisa sobre a Fábrica da
Igreja da Matriz de Lagarto e sua interferência na economia local.
Palavras chaves: Igreja, comércio, fábrica religiosa, Sergipe oitocentista.
LEMOS, Carlos. O que é patrimonio histórico. 5 ed. São Paulo:
Brasiliense, 2000 (1981). Col. Primeiros Passos.
LE GOFF, Jacques. A historia nova. São Paulo: Martisn fontes,
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Léon
Schaffter. São Paulo: Vértice, 1990. (Biblioteca Vértice, 21).
OLIVA, Terezinha. Textos para a História de Sergipe. Aracaju:
Secretaria do Estado da Educação e do Desporto e
Lazer/MEC/BIRD, 1998.
A Igreja Católica é a instituição mais duradoura e bem
sucedida de todos os tempos. Principal aliada do projeto de
colonização empreendido pelos portugueses na conquista e
exploração da América Portuguesa, sua importância e atuação no
processo histórico do Brasil e suas regiões envolveu questões não
apenas religiosas e morais mas também de ordem econômica e
política.
A presença da Igreja católica em solo brasileiro antecede-se
até mesmo ao próprio sentido da palavra brasileiro. Estando presente
na vida de pessoas pertencentes as mais variadas classes sociais
durante tanto tempo, protagonizou capítulos de grande destaque para
as páginas da nossa história. Sergipe por sua vez foi palco de grandes
episódios envolvendo a Santa Igreja, a exemplo dos acontecimentos
narrados por Luiz Mott:
“Consultando as listas dos Autos de Fé compiladas por
Varnhagens (1845), abrangendo os anos de 1711 a
1767, Sergipe aparece mencionado implicitamente
apenas uma vez, quando do processo de outro cristão
novo, Antonio Fonseca, 54 anos, lavrado de roças,
natural de Mogadouro e morador no rio de São
Francisco. Foi sentenciado no Auto de Fé de 6 de julho
de1732, condenado a carregar para sempre o hábito
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com as contas da fábrica, fato esse que o colocará em maus lençóis
com os seus superiores e lhe custará o cargo.
penitencial identificador de sua prática judaizante, o
vergonhoso sambetino.” (MOTT , 1989)
No Brasil do século XIX, ocorre à separação entre a Igreja e
o Estado, pondo fim a uma união que perdurou por longos anos. Para
a primeira ficou clara a necessidade de salvaguardar seus interesses e,
para tanto, deveria ser criado um mecanismo capaz de atender tal
necessidade. Necessidade essa, que começou a ser suprida com a
criação do regulamento sobre Fábricas e Patrimônios como informa
Ferreira:
“A fábrica representava o conjunto de bens e
rendimentos possuídos pela igreja nos municípios. Seu
administrador atendia pelo titulo de fabriqueiro, e
devia zelar pelos bens pertencentes à Igreja em uma
determinada paróquia. Devia zelar do patrimônio
eclesiástico, prestar contas de suas atividades ao
vigário geral e ao bispado.” (FERREIRA, 2005).
É de nosso conhecimento que as Fábricas agiam
movimentando grandes cifras de dinheiro, o que nos leva a um
primeiro questionamento: em que de fato esse capital estava sendo
investido? Mas como foi dito anteriormente esse é apenas o primeiro
de muitos outros questionamentos possíveis referente ao contexto que
envolve a Fábrica da fé, da Igreja Matriz de Lagarto no século XIX.
Deter-nos-emos a explanar os acontecimentos, envolvendo a Fábrica
da Igreja da Matriz de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, hoje
conhecida tão somente como Lagarto, município que fica a 95
quilômetros da capital. O estudo é referente aos anos de 1825 á 1885,
quando o município ainda intitulava-se “Freguesia de Nossa Senhora
da Piedade do Lagarto”.
Como já fico evidenciado o estudo gravitará em torno da
Igreja, para ser mais preciso, enfocará a Fábrica da Matriz de Nossa
Senhora da Piedade do Lagarto. É nela que encontramos nossa
personagem central, Miguel Arcanjo do Nascimento, o até então
fabriqueiro deste município. Como era de sua incumbência
administrar os bens pertencentes à Igreja o mesmo ficou embaraçado
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“Juiz de Direito da comarca, que jogou boas as contas
prestadas pelo fabriqueiro, ré então, capitão Miguel
Archanjo do Nascimento. E como dito era fabriqueiro,
seja devedor a mesma fabrica da quantia de um conto
quatro centros e setenta mil e três réis.”‡
Por limitações que fugiram do nosso alcance não
conseguimos precisar a data de construção desta Matriz. Sabemos
apenas que sua construção inicial foi abandonada e retomada pelo
Frei Geraldino de Santa Rita Loiola, sendo que somente após três
períodos distintos foi finalmente concluída. Na capela-mor consta
como data registrada o dia 21 de abril de 1655. Assim como em
outras localidades a existência da Santa Igreja em solo lagartense
mudou o cotidiano da sociedade local. Uma das primeiras mudanças
observadas foi referente à necessidade de dispor de um oleiro para
fabricar telhas, para substituir as palhas de pindoba que cobriam o
teto da Matriz. Na ocasião o recém chegado Padre Constantino
Mariulo, juntamente com o Vigário providenciaram a vinda do oleiro
vindo de Santo Amaro da Purificação, município pertencente à Bahia.
As torres da Matriz de Nossa Senhora da Piedade foram construídas
durante o paroquiato do Monsenhor Daltro. Antes os sinos eram
dependurados em troncos de madeiras e os grandes sinos foram
doados por Joaquim da Silveira Portugal em 1851. Posteriormente foi
contratado por Monsenhor de Souza Marinho, um grande mestre de
obras vindo de Portugal incumbido de promover obras de ampliação,
em 1938, com base no projeto inicial foram concluídos os braços da
cruz.
Até aonde pude embrenhar no universo da pesquisa histórica
referente ao Estado de Sergipe, não foi possível localizar nenhum
trabalho semelhante ao tema em questão. Entretanto, sem querer
desmerecer os outros colegas autores, que se permitiram compilar
conhecimento escrito referente a esse pequeno pedaço de terra
‡
Autos de contas da Fábrica da Igreja da Matriz de Lagarto, Arquivo do
Judiciário, caixas 1113 e 1115.
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nordestina, pôde ser observado, que a historiografia sergipana não
retrata a riqueza dos vários acontecimentos e processos históricos
ocorridos em nosso “pequeno” Estado, fato esse, observado durante o
período em que tive o privilégio de pesquisar os documentos
provenientes do Arquivo Geral do Judiciário com suas fontes e
possibilidades de pesquisa. Essa notória escassez de trabalhos
historiográficos referente ao período do Império nos serviu como um
estímulo a mais, para nos embrenharmos na “selva” dos
acontecimentos históricos de Sergipe, (com ênfase para a cidade de
Lagarto), e de lá resgatar episódios significativos de nossa história.
Lagarto e sua história atrai particular interesse não só por ser
o terceiro município mais antigo do Estado, levando em consideração
o fato, de que a referida cidade foi a terceira vila criada na capitania
sergipense, vindo após a criação das de Nossa Senhora da Vitória de
São Cristóvão (1590) e Santo Antônio e Almas de Itabaiana (1602),
mas também por Lagarto ter se configurado ao longo do tempo como
um município atípico na sua construção social e cultural. Ao passo
que promovemos uma análise em torno da Fábrica da Igreja da
Matriz do Lagarto, possibilitamos também uma abordagem a cerca da
co-relação do tema central com o desenvolvimento sócio-econômico
da região centro-sul, no período de tempo em estudo, tempo esse que
nos apresenta uma sociedade lagartense privilegiada geograficamente
e comercialmente, por estar no centro de uma rota comercial
extremamente ativa durante o período em questão.
Levando em consideração a visível escassez da historiografia
sergipana, já teríamos motivos de sobra para tentar elucidar questões
que de alguma forma pudessem suprir essa lacuna tão sentida pela
comunidade sergipana. Entretanto outros motivos nos norteiam a
produzir essa pesquisa. Ora, como foi dito anteriormente Lagarto não
só é a terceira cidade mais antiga do Estado§ como também é um
município diferenciado, haja visto, que na fase colonial, (ainda como
uma freguesia), Lagarto cresceu consideravelmente, atraiu pra si forte
atenções, perdeu território seguidas vazes, e ainda assim mostrou-se
arrojada diante seu tempo. Aqui, cabe ainda debatermos a
importância da cidade no século XIX, agora como uma importante
rota comercial, sendo que a cidade desenvolvia forte comércio
interno, tanto de forma interprovincial quanto intraprovincial.
Cidades como Estância e Laranjeiras tiveram suas praças comercias
em constante contato com o comércio lagartense, como afirma
Joceneide Cunha (SANTOS, 2004). Pode ainda ser acrescentado a
esse contexto que praças comercias importantes como as de
Itaporanga D´Ajuda, Itabaiana, Simão Dias, Itapicuru, Paripiranga e
Cícero Dantas. Sendo que as duas últimas pertencentes ao Estado da
Bahia, o que, eleva a importância de seu caráter comercial, além das
fronteiras estaduais.
O pesquisador Luiz Mott, apresenta a sociedade de Lagarto,
do século XIX, envolta em conturbações fervorosas. A terra dos
“PAPAS - JACAS” apresenta-se, assim, como um campo de estudo
tão fértil quanto pouco explorado, merecendo uma atenção maior por
parte da comunidade científica especializada, para que essa então,
possa promover condições reais capazes de trazer a tona páginas da
história lagartense, que estão esquecidas, porém vivas como o seu
solo fértil, contribuindo para a pesquisa histórica de Sergipe, bem
como para a sociedade sergipana como um todo, uma vez que
estaríamos dando novo fôlego a personagens que fecundaram esse
solo sergipano com pegadas firmes e marcantes. Resgatar os fatos
que ecoam através de décadas mas que nem por isso perdem sua
importância, pelo contrário, tomam para si a responsabilidade de
representarem explicações e interpretações acerca da origem e
desenvolvimento de uma sociedade que nasceu imponente, galgou
degraus sociais significantes, mas que hoje vive tempos incertos e
não condizentes com a trajetória gloriosa de tempos remotos.
§
O marco primário o povoado Santo Antonio, fundado no ano de 1604. No
entanto seu reconhecimento se deu por meio de Alvará no ano de 1694. Ver:
FONSECA, Adalberto, História de Lagarto, Adalberto Fonseca, Lagarto-SE,
2002.
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Bibliografia
CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS Ronaldo. (orgs) Domínios
da história: ensaios de teoria e de metodologia. Rio de Janeiro:
Campus, 1997.
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
FERREIRA, V. G. Homens do crédito: o Fabriqueiro da Igreja e a
acumulação em Franca (1880-1929), Tese de dissertação de
Mestrado. UNESP, 2005
FONSECA, Adalberto, História de Lagarto. Lagarto: 2002.
NUNES, Maria Thetis, Sergipe Provincial II (1840/1889). Rio de
Janeiro: Tempos brasileiros/Aracaju, SE: Banco do Estado de
Sergipe 2006.
SANTOS, Joceneide Cunha dos. Entre farinhadas, procissões e
famílias: A vida de homens e mulheres escravos em
Lagarto,Província de Sergipe (1850-1880). Dissertação de Mestrado.
Salvador: UFBA, 2004.
Chorando e Cantando
A busca pela identidade musical Brasileira
Floriano Santos Fonseca
Acadêmico do 8º Período – Turma A (História)
Resumo: O presente trabalho tem a preocupação de resgatar e reintroduzir o
debate sobre o tema musical brasileiro, enfatizando o Choro, esse que é um
dos mais autêntico estilos musicais recheado do sangue dos colonizadores
das terras que veio a se chamar Brasil.
Palavras-chave: Influências, identidade, nacionalismo, musicalidade,
compositores e intérpretes.
A construção da identidade nacional brasileira remonta às
lutas de independência política e suas conseqüências para a sociedade
em formação. Diversas foram as manifestações artísticas e culturais
que serviram de palco para divulgação de tais ideais e promoveram
inclusive, a fixação da identificação partidária, como também o
nacionalismo e o caráter irresponsável e mestiço do povo brasileiro.
Entretanto, o presente trabalho irá enfatizar apenas a influência da
música como elemento aglutinador desse sentimento nacionalista e
suas conseqüências no meio da sociedade, principalmente no Rio de
Janeiro e São Paulo, grandes centros urbanos da época.
Até o final do século XIX a música produzida no Brasil não
possuía uma identidade própria, servindo-se dos estilos europeus ou
ligeiramente mesclada às influências local. Mesmo assim, tais
influências estavam limitadas a região de atuação de seus executores.
A música dos saraus após a chegada das cortes em 1808 e a
introdução do piano na sala principal dos palacetes e fazendas,
faziam despertar para a existência do refinamento musical. Quase
sempre ao redor das conversas familiares ou visitas ilustres alguma
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
sinhazinha apresentava seus dotes musicais interpretando obras de
grandes compositores europeus. Apesar dessa nova forma de
utilização musical, a música ainda iria demorar algumas décadas até
encontrar a “brasilidade” sonhada por compositores e instrumentistas.
Enquanto isso a música sacra seguia os padrões católicos que não
lhes permitia interpretações pessoais, todavia as “bandas de
barbeiros”, geralmente compostas por negros escravos que exerciam
tal profissão e ocasionalmente seguiam em cortejo seus senhores que
coletavam esmolas para as irmandades, burlavam as normas da igreja
e introduziam variações aos temas executados. A partir dessas
pequenas e improvisadas bandas, começaram a surgir em todas as
províncias do país as bandas de música, verdadeiras escolas para os
futuros musicistas brasileiros. Não só dobrados e marchas militares
faziam parte dos seus repertórios, mas também, composições de
autoria de seus integrantes que se aventuravam em apresentar peças
voltadas ao gosto popular. Uma das bandas de maior destaque e
importância foi a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro,
fundada em 1896, que teve a frente o maestro e compositor Anacleto
de Medeiros, recrutando diversos instrumentistas da cidade. Para os
músicos populares essas agremiações tornaram-se a sua principal
escola (e, às vezes, o único meio de sobreviver à miséria latente).
(DINIZ, 2003)
Vários estilos de música estiveram presentes no gosto da
sociedade brasileira e principalmente das camadas mais abastadas do
século XIX. Além do tradicional estilo clássico, outros foram sendo
introduzidos ou adaptados a realidade local, sem contudo perder o ar
de música clássica a exemplo das Modinhas, enquanto o Lundu
agradava a massa mestiça e pobre. Esses estilos musicais distintos,
inevitavelmente se entrelaçariam e gerariam novas formas musicais.
Entre os novos estilos musicais destacaram-se o Choro e o
Samba. Enquanto o samba se viu marginalizado e preso,
principalmente a figura do negro e seus rituais tribalistas, o chorinho
foi assumido como a música dos boêmios da classe média baixa que
não tinham acesso aos grandes encontros aristocráticos do império.
Se eu tivesse de apontar uma data para o início da história do
Chorinho, não hesitaria em dar o mês de 1845, quando a polca foi
dançada pela primeira vez no Teatro São Pedro. (CAZES, 1998).
O Choro ou Chorinho se desenvolveu a partir da
interpretação de sentimentos melancólicos português que se
agraciavam da rapidez e postura do compasso africano. Apesar do
alto grau de dificuldade em sua execução o Choro foi desenvolvido
por músicos que não possuíam conhecimento erudito e desconheciam
a leitura de tablaturas. Raros eram os que faziam leitura de partituras
ficando para os músicos das bandas que obrigatoriamente possuíam
tal conhecimento. Enquanto os instrumentistas de sopro,
principalmente flautistas, executavam acordes perfeitos, os músicos
de cordas, violonistas e bandolinistas faziam graciosos improvisos
que davam leveza e gracejos a música, por sua vez o pandeiro
marcava o ritmo cheio de travessuras e síncope. Foi dessa inusitada
combinação que surgiu o verdadeiro ritmo musical brasileiro.
A biografia dos chorões é imensa, mas alguns nomes
permanecem com maior freqüência entre os compositores e
instrumentistas admirados e citados nas “rodas” de Choro. Joaquim
Callado é considerado o pai do Choro e tem na sua biografia alcunhas
que fazem lembrar o estilo do autêntico “chorão”: Mestiço simpático,
exímio flautista, mulherengo, e muito popular na cidade do Rio de
Janeiro,...” (1) Joaquim Calado compôs importantes choros ainda
executados nos dias de hoje a exemplo de “A flor amorosa”, ”Cruzes,
minha prima” e “Querida por todos”. “As composições de Callado
mostram sua preocupação com o virtuosismo e a exploração de
recursos da flauta, porém os acompanhamentos originais
demonstram pouco interesse pela harmonia e uma falta quase total
de preocupação com o arranjo”. (TINHORÃO, 1997).
Dos pioneiros do Choro que viveram ainda durante o
império, não se pode deixar de registrar a marcante presença da
mulher brasileira na figura da maestrina Chiquinha Gonzaga. “Nome
consagrado em nossa história musical, merecedora de todos os
adjetivos superlativos, Francisca Edwiges Gonzaga soube como
ninguém “maestrar” todas essas influências tornando-se uma
chorona de primeiro naipe. (DINIZ, 2003). Chiquinha Gonzaga teve
sua vida pessoal execrada devido a música, separou-se do marido
numa época em que o lugar da mulher era em casa. Apesar de todas
as adversidades vividas compôs gemas da música brasileira como
“Corta Jaca” dentre as mais de cem músicas de sua autoria. Em 1889
compôs a marchinha de carnaval “Ô abre alas”, para o bloco Rosa de
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
Ouro...(1) Chiquinha foi uma grande ativista de sua época, lutou pela
abolição dos escravos, pelo direito autoral e pela organização
classista dos músicos no Brasil.
Diferentemente dos tradicionais músicos de Choro, o maestro
Ernesto Nazaré colocava refinamento em suas composições que as
chamava de “tangos”. Ainda na era do cinema mudo, tocava na antesala do Cine Odeon antes das sessões. Nazaré deixou obras
importantes para o estudo do Choro a exemplo de “Brejeiro”, “Você
bem sabe” e o clássico do chorinho “Odeon”.
Nas duas últimas décadas do século XIX, o Choro começava
a sair da clandestinidade das noites quentes dos cortiços e penetrar
nos salões refinados da elite, tocados nos entrudos e nos cordões
carnavalescos bem antes que o samba, ele ajudou a forjar o jeito
malandro do carioca e a graciosidade picante da musicalidade
brasileira.
Crime de Defloramento na Cidade de Lagarto
( 1876-1892 )
Bibliografia
(1) DINIZ, André. ALMANAQUE DO CHORO, a história do
chorinho, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2003. 108 p.
CAZES, Henrique. CHORO: DO QUINTAL AO MUNICIPAL. São
Paulo Ed., 34, 1998. 208 p.
TINHORÃO, José Ramos. MÚSICA POPULAR, Um Tema
em Debate. 3ª edição revista e ampliada. São Paulo: Ed. 34,
1997. 1925 p.
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Jakeline Tavares Santos
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
Este artigo aborda a “criminalização da sexualidade” e o julgamento moral
dos corpos de meninas-mulheres, apresentando uma análise preliminar dos
dados constantes dos processos-crime, na cidade de Lagarto, no período de
1872 á 1892.
Palavras-chave: Sexualidade, Criminalidade, Mulher, Honra, Lagarto,
século XIX.
Este artigo propõe contar a historia de algumas mulheres
lagartense. Pretendendo relatar um pouco da vida destas em relação
ao defloramento que sofreram nas últimas década do século XIX.
Atos esse que trazia conseqüências não só para elas mas também para
família, para criança. É a história do seu corpo, da sua sexualidade
dos seus amores e sentimentos e da violência que sofreram e que
praticaram.
Convidamos, então que nos permitam voltar ao passado e
ouvir o que essas testemunhas nos dizem sobre como viviam as
mulheres. Para observá-las no final das décadas do XIX, serão
utilizados processos-crimes, leis, livros. Enfim, toda sorte de
documentos que for necessário para desvendar o passado serão
largamente consultados para obtermos o máximo de informação
sobre histórias tão ricas e tão diversas.
Além de nos permitir estudar o cotidiano das mulheres e as
práticas femininas nele envolvidas, estes documentos nos
possibilitam aceder às representações que se fez, noutros tempos,
sobre as mulheres. Quais seriam aquelas a inspirar ideal e sonhos? As
castas, as fiéis, as obedientes, as boas esposas e mães. Mas quem
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
foram odiadas e perseguidas? As feiticeiras, as lésbicas, as rebeldes,
as anarquistas, as prostitutas, as loucas.
Este artigo pretende ergue o véu que cobre a intimidade das
mulheres lagartense no séc.XIX que sofreram com a descriminação
da sociedade em relação a sua sexualidade. Também procuraremos
observar as formas de violência das quais elas são vítimas ou os sutis
mecanismos de resistência dos quais laçam mão.Os documentos e
textos que utilizaremos resgatará, para além de “flashes” dessas
vidas, um dialogo com materiais absolutamente inéditos que nos
ajudará a construir a história das mulheres em Sergipe.
No que diz respeito ao defloramento em Lagarto no século
XIX, ainda faltam historiadores, homens e mulheres, que interpretem
com maior profundidade o estabelecimento, a gênese e a importância
dos fatos histórico que envolvem as mulheres.
Podemos ter um vislumbre sobre as diversidade de autores,
que estudam e se especializam sobre a história das mulheres no
Brasil. Seus artigos reforçam que a história das mulheres no Brasil,
diferentemente do que se possa pensar, tem provocado pesquisas
sérias e bem documentadas. A história das mulheres é relacional,
inclui tudo que envolve o ser humano, suas aspirações e realizações,
seus parceiros, suas construções e derrotas. Nessas perspectiva, a
história das mulheres é fundamental para se compreender a história
geral: a do Brasil, ou mesmo aquela do ocidente cristão.
Todas essas questões, contudo, só nos fazem encorajar a
existência deste projeto; que quer ocupar fazer perguntas, trazer
respostas, atrair interessados. Se isso não bastasse, ainda poderíamos
nos perguntar: para que serve a história das mulheres? E a resposta
viria simples: para fazê-la existir, viver e ser. E mais, fazer a história
das mulheres lagartense significa apresentar fatos, idéias,
perspectivas não apenas de especialistas de várias ciências, como
também para qualquer pessoa que reflita sobre o mundo
contemporâneo, ou procure nele interferir.
Não nos interessa aqui fazer história grandiosa; mais se trata
de desvendar as intricadas relações entre as mulheres, o grupo sócias
e o fato, mostrando o ser social, que ela também fabrica e do qual faz
parte integrante. Entender os conflitos que estas mulheres que
sofreram com o defloramento e como suas famílias resolveram esta
questão, vivendo em uma época, em que a cultura e as mudanças nas
idéias nascem das dificuldades que são simultaneamente de cada
individuo histórico, homem e mulher.
Nas ultimas décadas do século 19, considerava-se violência,
o ato sexual com uma pessoa menor de idade** e, mesmo que ela
tivesse consentido. A “criminalização da sexualidade” visava a
controlar, portanto, a sexualidade dos jovens para que estes não se
transformassem em “pervertidos”. Entre os delitos catalogados pelos
criminólogos constavam o defloramento,estupro, o rapto e o
adultério††.
O defloramento constava como crime no código penal
Brasileiro de 1890, em seu art. 267, para tanto, fazia-se necessária a
copula com uma mulher virgem e o rompimento do hímen, mediante
consentimento obtido por sedução, engano ou fraude. Caso não
houvesse cópula, o delito seria atentado ao pudor. Sem o
consentimento da mulher, o crime seria estupro‡‡.
Investigaremos se houve alguma diferença na noção de honra
para diferentes grupos sociais no conflito, além de investigar o que
significava os valores e a conduta dessas pessoas. Pretenderemos
saber se havia algum tipo de preconceito social e racial, de algumas
das partes envolvidas, já que conviviam muitas etnias juntas.
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**
De acordo com Adriana de Resende Vianna(1999),era considerado menor
o individuo situado nos limites etários da maioridade, o que implicava uma
absoluta ausência de gestão sobre seu destino e, ainda, uma total
desvalorização de qualquer argumento por ele utilizado (Vianna, 1999:2527).
††
No séc.XIX, o corpo feminino era considerado de responsabilidade e
direito de seus genitores. Em casos de
estupro, não era o corpo estuprado
que era considerado a principal vitima e sim os seus genitores ou
responsáveis. No código Penal de 1890, as ofensas sexuais eram
consideradas “crimes contra a segurança da honra e honestidade das
famílias”.
‡‡
O código penal de 1890 definiu como estupro o ato sexual com uma
mulher sem o seu consentimento, mediante utilização de violência. De
acordo com Mazzieiro, a mulher casada não podia dar queixas do marido
por estupro, pois o uso da força em face de resistências ao ato sexual não se
constituía em crime, mas em exercício de direito marital. (mazzieiro,
1998:31).
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
As mulheres que se apresentavam como “ofendidas” (
vítimas de crimes sexual )Precisavam provar sua honestidade e a de
sua família para serem, então, consideradas merecedoras de proteção
da justiça. . Os homens acusados de crimes sexuais também era
julgados por sua conduta, social e não somente por serem ou não os
autores do crime pelo qual eram acusado. homens de ‘bom caráter’
trabalhadores tinham mais chance de serem absolvidos. Como há
citação de: (Esteves, 1989: 41; Gavron, 2002: 106 ).
Pode-se perceber como a questão da honra era forte entre
essas pessoas e quando a mulher perdia a virgindade, desonrava a si
própria e a sua família, principalmente o pai. Então era mais uma
honra masculina que estava em jogo, conforme o comportamento
sexual feminino. E para corrigir a desgraça só o matrimônio. Só ele
recuperaria a honra.
Martha de Abreu Esteves, nos informa que:
vigentes, essas mulheres expressavam no comportamento suas
condições concretas de existência, marcada por precariedades
materiais que as obrigavam a uma constante luta.
Dessa forma, com nossa pesquisa pretendemos contar um
pouca da história dessas mulheres, sobre a violência que esta
sofreram, sem ter muita das vezes a quem recorrem.dar vida a um
artigo, trazer à luz textos com características, linguagens e
interpretações tão diversas não é tarefa fácil.
(...) ao ser julgado um crime de defloramento, estupro
ou pudor, resultante da quebra de uma norma jurídica
sexual, emergiam os valores sociais mais amplos da
sociedade, pois eram também na quebra de outras
normas morais e sociais que se determinava a
absolvição e condenação do réu. Ou seja, a conduta
total do indivíduo é que iria, ou não, redimi-lo de um
crime; não estavam em pauta apenas o que havia sido
feito, mas aquilo que o acusado e a ofendida eram,
poderiam ser ou seriam.( Esteves, 1989:41)
Outra questão importante foi a da promessa de casamento
para conseguir a condenação do réu e a “absolvição da vítima”. A
vítima tinha que provar que foi seduzida com promessas de
casamento, para conseguir a “sua absolvição”. O homem usava como
artifício a questão do defloramento antigo, ou seja, dizia que quando
manteve relações sexuais com a vítima ela já não era mais virgem.
Sofrendo os efeitos de uma ordem social injusta e
discriminatória e tendo o seu cotidiano marcado pelas dificuldades de
sobrevivência, na maior parte da história relatada deparamos com
mulheres bastante diferentes em relação ao lugar e a época. Embora
não deixassem de experimentar a influência dos padrões culturais
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
Ensino de História:
Tendências, Trajetória e Desafios da Docência.
soluções, pois é preciso que estejamos cotidianamente buscando-as;
mas acima de tudo, buscar a obtenção de uma compreensão mais
clara do processo de ensino e do que significa hoje ensinar história
para um mundo que se transforma a cada momento.
O papel do professor de História vai muito mais além dos
conhecimentos específicos, teóricos e metodológicos da docência em
História, ele está inserido num universo educacional, portanto, se faz
necessário, que também certos conhecimentos pedagógicos e
educacionais sejam por este professor adquiridos, uma vez que é
impossível dissociar a disciplina História do contexto escolar, sendo
este, um espaço eminentemente pedagógico de formação de cidadãos.
A produção do conhecimento deve ser pensada em função
das diversas possibilidades que orbitam o mundo dos “homens e das
sociedades”, as reflexões precisam estar voltadas para as
transformações mais diversas e especificas das sociedades, e que o
raciocínio histórico leve ao entendimento do mundo e ao mesmo
tempo não se desvincule do entendimento do próprio homem como
agente destas transformações sociais.
Não obstante ao processo educacional brasileiro, o ensino de
História está diretamente vinculado às concepções pedagógicas que
caracterizam a educação. Os cursos de licenciaturas em História
preparam futuros profissionais professores para atuarem no mundo da
pedagogia, instrumentalizando-os com os métodos, diretrizes etc.
portanto, o ensino de História não pode ser pensado isoladamente do
mundo e das concepções pedagógicas que o rodeia como disciplina
escolar. É impossível concentrar as atenções para o ensino de
História, seja em sua trajetória, em seus métodos, conteúdos ou
currículos como disciplina, ou ainda numa óptica da História como
elemento construtor de “noções” de mundo onde os homens são os
protagonistas das transformações histórico-sociais, sem antes de tudo
entendê-la como componente curricular de um sistema de ensino, ou
seja, a História escolar, aquela que os alunos tem acesso na escola,
está contido no amplo e complexo contexto cultural, com várias
realidades diferentes, mas que possuem em seu elemento constitutivo
a História como base para seu entendimento social,político,
econômico e cultural.
Tampouco, não se pode pensar em cidadania sem a História,
muito menos não podemos dissociar a História do cidadão e este da
Márliton Nascimento
Acadêmico do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
O presente artigo apresenta algumas reflexões cerca da pratica docente em
História, buscando mostrar as relações existentes entre a História enquanto
disciplina escolar e o mundo educacional. De modo a confrontar estas
relações e questionamentos no cerne do ensino de História. Além de expor
os caminhos percorridos pela História para se materializar como disciplina,
também retrata alguns desafios que professores precisam superar em seu
cotidiano profissional.
Palavras-chave: Ensino de História, História, Sala de aula, Saber histórico,
Educação.
Em sala de aula, para se chegar ao verdadeiro sentido da
história escolar, é necessário antes de tudo que os docentes
miniminizem o caráter escatológico e memorizante no qual o
processo de ensino-aprendizagem de História vem sendo submetido.
Ou seja, o ensino de História precisa ser compreendido pelos
professores como processo contínuo no qual o homem é o principal
sujeito e agente do processo histórico das transformações. Um dos
grandes desafios do profissional docente de História, é sem dúvida
quando este se vê ou se “descobre” como parte integrante do
processo histórico, e que suas responsabilidades como sujeito das
transformações se ampliam ainda mais diante de seus alunos – que
apesar de ainda inconscientes de seu papel como sujeitos destas
transformações, precisam ser estimulados a se descobrirem também
como objetos da História.
A importância de se conhecer sobre a História do ensino de
História é fundamental para o professor, pois de acordo com
(BITTENCOURT, 2004), tanto professores como pesquisadores da
área de História necessitam destes conhecimentos. Compreender o
ensino de história e sua trajetória, significa buscar não apenas
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cultura. Porém, todos esses elementos encontram-se mesclados com a
educação. O universo educacional é o caminho pelo qual a História, a
cidadania, e a cultura norteiam os homens, dão-lhes um sentido a
vida, ao passado e ao presente, lhes tornam pensantes diante dos
próprios homens e de suas ações.
O objetivo deste artigo não é dar respostas, nem apontar
soluções, mas despertar professores, estudantes de licenciaturas e
interessados no tema quanto a importância do ensino de História e
suas múltiplas fases e possibilidades diante dos alunos e da sala de
aula; e tentar mostrar um pouco da relação existente entre a “História
escolar” em sua trajetória e as “ideologias temporais” da educação.
Neste processo, alguns pontos levam a determinados
questionamentos sobre a História e sobre a disciplina escolar. Ao
longo de sua existência como disciplina, a História percorreu
diversos caminhos. Quais foram estes caminhos? Quais fatores
temporais interferiram e influenciaram nessa disciplina caminho?
Como a História foi se constituiu como disciplina escolar?
A História está inserida no contexto educacional, portanto,
como ela se comportou no mundo das diretrizes, currículos,
constituições etc.? Ou seja, como ela reagiu diante da “coroa e da
espada?”
Será possível pensar num ensino de História distante do viés
das estratégias educacionais? Sem o conhecimento de como funciona
e como se formou e educação no Brasil? E como relacionar essas
duas questões diretamente ligadas a formação cultural?
Deste modo, o que se espera deste artigo, é que este possa
mostrar um caminho às reflexões acerca destes questionamentos e
que o entendimento do processo de construção do “saber histórico
escolar” traga a estudantes de licenciaturas e até mesmo a professores
uma perspectiva de reflexões sobre as praticas e o “sentido” da
História como disciplina e seus reflexos na construção da
cidadania.,pois as sociedades se transformam em sua História e em
seus Homens,Portanto, nós,estudantes e professores precisamos
acompanhar estas transformações e convergir-lhas com as práticas de
estudos e pesquisas respectivamente.
Na construção do saber histórico escolar, precisamos
experimentar capacidades mobilizadoras de informações, por estas
informações, somos cotidianamente, inclusive os alunos,
bombardeados por elas, a velocidade e variedade de conhecimentos
“prontos” chegam aos alunos de maneira muito rápida, basta que
prestemos atenção aos meios de informações disponíveis no século
XXI.
Os conteúdos devem ser trabalhados constantemente, de
modo a serem “recheados” com novas e complementares
informações. Ou seja, as rupturas no cumprimento dos conteúdos são
na maioria das vezes mais eficazes que a conclusão cronológica dos
assuntos no final do ano. Desta forma, os conteúdos de História serão
aprendidos não só para atender ou suprir os limites impostos pelo
processo avaliativo, mas principalmente para permitir que alunos
possam progredir, crescer e interagir com a História no espaço
escolar.
Como disciplina escolar, a História surge na segunda metade
do século XIX impelida pelos movimentos de laicização da sociedade
e pelo advento do estado moderno europeu. Inicialmente, no século
XVIII pelo discurso enciclopedista da filosofia da História e seguida
pela doutrina de progresso que durante o século seguinte apresentouse como novas formas de saberes científicos e metodológicos
cristalizados no positivismo e nas ciências naturais e humanas, sendo
assim, um novo sentido começa a ser atribuído a História. (Fonseca,
2004)
Com a construção do estado Brasileiro, começa também a se
constituir o sistema educacional no Brasil, embora este ainda fosse
completamente desvinculado de um sistema uniforme e padronizado
como percebemos atualmente. É neste século que também o ensino
de História passa a ser introduzido como disciplina nas escolas. De lá
pra cá, o saber histórico escolar vem sendo vinculado não só por
meio dos professores nas escolas, mas também por outros
mecanismos sociais, culturais, econômicos e étnicos que contribuem
para sua difusão e consolidação como “matéria” e como memória
coletiva que ajuda a descobrir e construir as identidades.
O inicio do século XIX significou para o Brasil, momento de
consolidação do estado moderno instituído a partir de 1822;
momento este em que o ensino de História começa a ser discutido em
vários projetos educacionais que surgem entre as décadas de 20e 40
desse século, ou seja, questiona-se nesse período o que deveria ser
ensinado pela disciplina História, e a organização do currículo se
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materializa no ensino da História sagrada e universal. No entanto,
embora a disciplina a ser “ensinada” estivesse começando ser
estruturada como componente curricular à fazer parte das escolas, ela
ainda estava associada a idéia de que a educação possuiria um caráter
de formação do cidadão produtivo e obediente as leis, mesmo quando
impedido de exercer seus direitos políticos.
Durante o século XIX o ensino de História era voltado para a
leitura da constituição imperial e a História do Brasil, muito embora
os conteúdos propriamente ainda não tivessem definidos, processo
que só ocorre décadas depois. Em 1838 é crido o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB), sua função primordial era a
elaboração e difusão dos programas curriculares e manuais didáticos,
estes por sua vez estavam pautados na formação moral e cívica das
crianças e jovens por meio do conhecimento dos fatos acerca do
império e pela ideologia cristã ambas a serviço do estado imperial.
Com o advento do século XX, precisamente durante o estado
novo, o ensino de História sofre algumas transformações, com a
reforma de Francisco Campos de 1931, que introduzia os recursos
visuais como forma de instigar a curiosidade dos alunos, questão que
até hoje é muito discutida.
Em toda sua trajetória como disciplina de compreensão do
homem, a História jamais esteve desvinculada das questões
pedagógicas; ou seja, quando nos referimos ao “ensino” de História
somos automaticamente obrigados a adentrar no complexo mundo
das instituições escolares, das reformas educacionais das diretrizes
para a educação, dos currículos, dos conteúdos e principalmente do
espaço onde a História ganha ou “perde” seu sentido, a sala de aula.
Portanto, É inimaginável discutir o ensino de História sem estar ao
mesmo tempo ao sistema de ensino, não se pode pensar a disciplina
isoladamente, como se a educação se resumisse unicamente ao ensino
de História, ou seja, é preciso que a atuação dos docentes estejam
pautadas no equilíbrio necessário para que o ensino da “História
escolar” se integre às “realidades” e alcance seus verdadeiros sentido
como disciplina e como instrumento norteador e reflexivo para os
homens. Neste sentido, Karl Lowith (1994) discorre acerca do
sentido da História estabelecendo relação entre passado, presente e a
consciência histórica :
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“A forma adequada de abordar a História e as suas
interpretações é necessariamente regressiva pela
mesma razão que a História progride, deixando para
traz as bases históricas de elaboração mais recente e
contemporâneas. A consciência histórica não pode
deixar de começar por si mesma, não obstante ter por
objetivo o pensamento de outras épocas e de outros
homens diferentes dos nossos e de nós próprios. A
História tem muitas vezes de ser reencontrada e
redescobertas pelas gerações vivas. Compreendemos –
ou não, os outros antigos, mas sempre a luz do
pensamento contemporâneo, lendo o livro de História
de traz para frente, da ultima para a primeira pagina.
Esta inversão do modo convencional de apresentar a
História é atualmente aplicada por aqueles que
percorrem os caminhos de épocas passadas ate o os
tempos modernos sem estarem conscientes de suas
motivações contemporâneas.”( Lowith, 1994:16)
A importância do conhecimento histórico, do papel do
professor e da escola no processo de ensino-aprendizagem não é
diferente da importância que tem a produção das reflexões que
poderiam ser feitas pelos alunos, de modo que, não será
simplesmente decorando datas e narrando fatos históricos ou até
mesmo dominando as formas de marcação do tempo que estes alunos
serão capazes efetivamente de compreender as transformações
sociais, políticas, culturais e econômicas nas mais complexas e
simples sociedades em consonância com seus agentes de
transformação.
Sobre o ensino de História, notadamente, os desafios
enfrentados pelos professores não são poucos. Tampouco é
inquestionável o papel da escola em sua missão diante da sociedade e
no desenvolvimento do país com a formação de cidadãos capazes de
perceber, analisar,interpretar e modificar a realidade. Também é
fundamental para os docentes a preocupação em favorecer a
construção da cidadania e da consciência dos alunos sobre seu papel
na sociedade e que se refletem em vários aspectos historicamente
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
construídos em torno da participação ativa dos indivíduos em cada
lugar,em cada sociedade a fim de problematizálos e compreendê-los.
Poderia parecer falácia se nos últimos anos as políticas
educacionais, embora, sem muitos resultados práticos e efetivos no
conjunto das mudanças que desejamos para a educação no Brasil.
Levaram e estão levando professores e escolas e serem reconhecidos
não apenas como agentes e instituições “reprodutores”, as com
“produtoras “ do conhecimento.Assim, muitos dos docentes se viram
“obrigados “ a retomarem seus estudos, procurar novas capacitações
afim de incorporarem aos seus trabalhos os mais recentes conceitos e
abordagens. Essas mudanças tem colocado em xeque as variadas
proposições nas quais foram formadas as gerações de docentes, Por
outro lado,tem forçado de forma positiva a revermos nossas
concepções e praticas no processo de ensino-aprendisagen e da nossa
própria História como professores. - ainda que os títulos falem mais
alto.
Não existem formulas mágicas que solucionem o problema
do “como ensinar e o que ensinar” dos conteúdos das escolas. Restanos como professores desenvolverem os objetos e os objetivos de
estudo históricos em sala de aula,e isso só pode ser feito pelo
professor, a partir das reflexões feitas pelo docente diante de seus
alunos, de sua escola e de seus objetivos,de modo que estes o levem e
redescobrir um novo “sentido” para a História escolar, ou seja, para
aquela História trabalhada em sala de aula,- a disciplina História.
“A História tem permanecido no currículo das escolas,
constituindo o que se chama de “saber histórico
escolar”. No diálogo e no confronto a realidade
social e educacional, no contato com valores e
anseios das nas gerações, na interlocução com o
conhecimento histórico e pedagógico, o saber
escolar tem mantido tradições, tem reformulado e
inovado conteúdos, abordagens, métodos,materiais
didáticos e algumas de suas finalidades educacionais
e sociais. Nesse dialogo tem permanecido,
principalmente, o papel da História em difundir e
consolidar identidades no tempo, sejam étnicas,
culturais,religiosas, de classes e grupos, de estados
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ou nações. Nele, fundamentalmente, tem sido
recriada as relações professor, aluno, conhecimento
histórico e realidade social, em beneficio do
fortalecimento do papel da História na formação
social e intelectual dos indivíduos para que, de modo
consciente e reflexivo, desenvolvam a compreensão
de si mesmo, dos outros, da sua inserção em uma
sociedade histórica e da responsabilidade de todos
atuarem na construção da sociedade mais igualitária
e democrática.” (PCNs – 3º e 4º Ciclos – 29).
No Brasil, a disciplina História acompanhou os mesmos
movimentos temporais dentro dos discursos laicizado na História
universal, e o espaço escolar entra neste contexto com local de
disputa entre o poder religioso e o laico, ou entre as “treva e as
luzes”. A história, foi evoluindo carregada de dificuldades como
programas, contudo e objetivos não muito bem definidos, porem, a
cultura clássica oitocentista já definira o sentido e os caminhos da
disciplina.
A partir da década de 60, o ensino de História, que já
apresentava características tradicionalistas, sofre nova transformação
em sua estrutura como disciplina escolar, ou seja, ela é mesclada com
as já existentes disciplinas – “educação moral e cívica e organização
social e política brasileira”. E se transforma em “Estudos Sociais”
que além desta incorporou também os estudos sobre geografia
brasileira.
A luz dos estudos históricos em sala de aula, mudanças,
transformações e adequações são onipresentes, as realidades
históricas mudam de acordo com a linearidade e rupturas
apresentadas pela História. O estado como centro dos estudos
modernistas, agora dá lugar as sociedades civis e suas características
sócio-culturais, os sujeitos não são mais os de “classes” e sim, os
grupos sociais, as tecnologias transformam-se, evoluíram de
Gutenberg aos sofisticados e gigantescos parques gráficos, as fontes,
já não são mais exclusivamente os livros, as experimentações e os
documentos, são também, a “internet, os satélites,os meios e
comunicações que cada vez mais aproximam as culturas. Portanto,
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
cabe a nós e aos profissionais que atuam com a história em sala de
aula,acompanhar estas transformações e relacioná-las com a História
humana nas abordagens com os discentes.
Epilepsia: Mitos e Verdades ao Longo da História
Maria de Lourdes S. S. Silveira
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Bibliografia
BITENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História:
fundamentos e métodos. . (Coleção Docência em Formação. Série
Ensino Fundamental). São Paulo; Cortez, 2004.
FONSECA, Thais Maria de lima e. História e ensino de história.
2.ed.- Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
CABRINI, Conceição (et al). Ensino de História: revisão urgente.
São Paulo: EDUSC, 2004.
CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fácil: artigo a artigo. Petrópolis:
Vozes, 1998.
LUIS, André Joanilho. História e prática. Campinas/São Paulo:
Mercado de Letras, 1996.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – HISTÓRIA (PCN’S): 3º e 4º ciclos do ensino fundamental / secretaria de
educação fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1997.
PINSKY, Jaime.(org.). O ensino de História e a criação do fato. 6ª
ed. São Paulo: Contexto, 1994.
VAINFAS, Ronaldo (org.) Dicionário do Brasil imperial. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2002.
Resumo
O artigo pretende apresentar uma breve discussão em torno dos mitos ao
longo da história envolvendo a epilepsia e chamar a atenção para
necessidade de desmistificar através do conhecimento, as verdadeiras causas
desse distúrbio.
Palavras chaves: Epilepsia, mito, verdade, informação.
A Epilepsia não é apenas uma doença com vários portadores,
mas também uma responsabilidade política que deve preparar
projetos que preparem a sociedade para um grau de cidadania, ou
seja, como conviver no meio social sem ser excluído.
É possível perceber que essa afecção tem relatos registrados,
mesmo quando não era definida por esse nome, a doença das quedas
ao longo da história ganhou definições e tratamento variados.
Embora não tenha descoberto a cura é valoroso ressaltar a
importância em que profissionais da saúde vem realizando em
atividades com intuito de conscientizar e contribuir para tirar
epilepsia do anonimato.
A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 50
milhões de pessoas no mundo são portadoras de epilepsia, sendo que
destas 40 milhões estão em países subdesenvolvidos. Apesar desse
cenário alarmante a organização afirma que 70% dos novos casos
diagnosticados podem ser tratados com sucesso, desde que a
medicação seja usada de forma correta. §§
Ela é mais comum dos distúrbios neurológicos e a voz que o
aflige continua a mergulhar no oceano da dúvida entre o mito
associado a possessões divinas ou demoníacas e ao que de fato é,
§§
Revista Sem Crise,
http://www.aspebrasil.org.
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outubro
2003,
3(supl).
Disponível
em
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
pois a epilepsia é uma doença cerebral caracterizada por convulsões
que vão desde as quase imperceptíveis até aquelas graves e
freqüentes.
Sua origem vem do verbo grego “epilambanein” que
significa ser tomado, atacado ou dominado. Associada à possessões
divinas ou demoníaca, a doença contagiosa ou a loucura constante. A
epilepsia vem encontrando diferentes formas de interpretação no
decorrer da história. Conhecida a vários séculos antes de Cristo como
fosse sobrenatural a exemplo da Babilônia 2500 a 6000 a.C. A
depender da vítima no contexto social era uma manifestação
espiritual divina ou demoníaca entre o abençoado e o amaldiçoado.
Eis que surge Hipócrates em torno de 460-375 a.C. acreditando que a
doença não era de origem divina responsabilizando assim o cérebro.
A Epilepsia é um distúrbio do cérebro que se expressa por
crises epilépticas repetidas quando ocorrem alterações elétricas
cerebrais. Essas crises são como um “furacão” que não estão sobre o
controle norma do ser, que não pode ser retardado ou precipitado é
uma situação temporária com retorno ao estado aparentemente
normal. Entre os eventos pode ser desencadeado por febres,
suspensão abrupta da medicação antiepléptica, fadiga física, ingestão
de álcool, privação de sono, emoções fortes e outros sintomas em
estudo. Esse curto circuito constante a vida da pessoa acarreta
diversas sensações desagradáveis.
Há mais de dois mil anos leigos e médicos procuram a
cura, mas as evidências científicas quanto a cura dessa doença não
existem embora a evolução na área médica tenha feito várias
descobertas até mesmo de algum câncer em relacionado a epilepsia.
Somente o tratamento adequado pode controlar ou reduzir seus
efeitos, diminuindo a freqüência das crises.
Mas, pior do que enfermidade sem cura é o preconceito
decorrente de uma falta de conhecimento e da própria questão
cultural que provoca sofrimento aos portadores levando-os a
repercussões sociais e psicológicas danosas como a estigmatização,
os desajustes emocionais, a dificuldade de aceitação do diagnóstico e
a absorção de tabus que faz com que eles injustamente se tornem
anti-sociais por sentirem como seres contaminados por mitos falsos e
assim, o egoísmo humano sufoca sua dor. Uma prova disso é a
novela “Duas Caras” da Rede Globo, que na estória apresenta um
pastor que sofre da doença, mas se considera possuído pelo demônio.
Ignorante, recusa-se a procurar um médico e evita que suas filhas
saibam. Até que apareça na trama um médico que desmistifique essas
crises o mito vai se fortalecendo e a ignorância popular que envolve a
Epilepsia se alastrando cada vez mais. Vale a pena informar que a
Epilepsia não é uma condição que se deva ter vergonha, e que essas
noções errôneas devam ser combatidas, esclarecendo os mitos e
promovendo a aceitação quanto à igualdade e o valor na sociedade
em que vivem os portadores de Epilepsia.
Nesse sentido, a observação do Dr. Lili Min é muito
importante:
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“Sempre costumo perguntar o que vem a mente quando
alguém pensa em Epilepsia. Certamente, não é Alfred
Nobel, Dostoievski, Machado de Assis, Julio César,
Flaubert ou Alexandre, o Grande. Todas essas pessoas
tiveram crises epilépticas. Dom Pedro I o Imperador do
Brasil, também tinha Epilepsia mais ainda hoje a
síndrome continua sendo vista como um problema
demoníaco de sanidade mental, apesar de as pessoas
terem uma vida norma, desde que as crises sejam
controladas”. (2003:14)
Percebe-se, então, que esta é uma afecção pouco divulgada e
que vem deixando muitas pessoas na sombra do descaso e na
escassez do tratamento. Com o projeto de pesquisa que pretendo
realizar quero dar ênfase ao problema, acompanhando a questão
através de bibliografia especializada e das informações e resultados
ligados ao assunto, entrevistas com médicos neurologistas e
portadores de Epilepsia, coletando dados em clinicas, centro e
associações que trabalhem esse assunto e, a partir daí, divulgarei os
resultados dos dados coletados tentando assim fazer um pouco mais
conhecida cada etapa dessa desordem crônica do cérebro na tentativa
de diminuir o preconceito em torno das manifestações sofridas pelos
portadores de Epilepsia.
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
Bibliografia
A cultura do fumo em Lagarto: apontamentos e
Considerações sobre o seu estudo
GORDOW, Richard. A assustadora história da medicina. São Paulo.
Ediouro 2002.
HARUO, Carlos Adachi. Neurocirugião. Texto sobre epilepsia
elaborado para o Grupo Ache, 2003.
MIM, Dr. Lili. Epilepsia às claras. Unicamp. (SP). 2002.
Revista Sem Crise, outubro 2003, 3(supl). Disponível em
http://www.aspebrasil.org
SILVEIRA, Paulo Roberto O que devemos saber sobre a Epilepsia.
Superintendência de Saúde Coletiva das Doenças Crônicas
Degenerativas.
Maristela do Nascimento Andrade
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
Este artigo tem por finalidade realizar uma breve analise acerca da
contribuição e influência da cultura econômica e social da cultura fumageira
na cidade de Lagarto/Se, e enfatizar a necessidade da realização de estudos
que ampliem nosso conhecimento.
Palavras-chave: Principio Desenvolvimento – Decadência
Fumo
–
Economia
Lagartense
–
O fumo foi descoberto pelos europeus em terras tropicais, do
continente americano no século XVI. Inicialmente era adotado como
uma planta de caráter milagroso, curandeiro e religioso. Um século
mais tarde já havia atravessado continentes, sendo apreciado nos
mais variados cantos do mundo.
Desde os primeiros contatos com entre índios e europeus, foi
estabelecida uma importante relação de escambo. Marinheiros e
soldados recebiam o tabaco em troca de objetos de interesses dos
nativos e utensílios. Aos poucos as relações entre indígenas e colonos
foram se modificando diante da necessidade de estabelecer a
colonização. O trabalho dos indígenas começou a ser explorado,
transformando-se um trabalho servil. Porém essa fórmula revelou-se
imprópria, em virtude das características próprias de afazeres da
cultura nativa, chegando inclusive a gerar a “guerra justa de 156263”.
A partir de 1559 recorreu-se então á mão-de-obra escrava
africana. No século XVI os portugueses foram os únicos a introduzir
na África o uso do fumo. Neste continente a planta se expandiu
rapidamente, principalmente por motivo religioso chegando a ser
moeda no momento da aquisição do escravo.
A introdução do fumo no mundo principiou com a Jean
Nicot, que o difundiu pela Europa. Pode-se ainda verificar que este
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
produto teve uma introdução nos costumes europeus de forma
inusitada, pois foi inusitada por ter sido difundido de baixo para
cima, saindo dos rituais da cultura indígenas e chegando aos mais
requintados salões do mundo, ficando ate conhecido com a Eva da
Rainha.
A ênfase do presente trabalho concentra-se na necessidade de
se conhecer um pouco mais da história e cultura lagartense visto que
é escasso o registro da memória deste povo. Um dos nossos
propósitos é enfatizar o desenvolvimento e a decadência do fumo no
município de Lagarto, considerando que, em décadas passadas, o
fumo era uma cultura de grande importância econômica, não só para
a região como para o Estado de Sergipe.
A cultura fumageira é uma característica marcante na cidade
de Lagarto, o que a faz um das principais cidades sergipanas na
produção de fumo. A isso se soma a preocupação de resgatar dados
relativos a esta cultura destacando o potencial econômico desta
produção para o desenvolvimento da cidade. O Estado de Sergipe
possui excelentes terras para a atividade agrícola, cultivos como de
laranja, cana-de-açúcar, coco e o fumo são produtos para exportação.
Para analisar a cultura do fumo em Lagarto, sua expansão e
crise é necessário ainda remeter-nos a década de 1970, época em que
as culturas mais plantadas em Lagarto em regime comercial eram o
fumo, a laranja e a mandioca, esta última como cultura de
subsistência.
O auge da produção do fumo foi na década de 1970, em
decorrência dos altos preços alcançados no mercado interno e
externo, esse ápice, contudo só foi alcançado graças a assistência de
órgãos com a EMATER/SE e do crédito rural fornecido pelo Banco
do Brasil S.A, agência de Lagarto.
Segundo relatos parte da produção do fumo produzida no
município era destinada ao CEASA de Recife, onde em 1980, o
preço do fumo alcançou uma posição invejável no contexto
nordestino.
Em virtude do intenso desenvolvimento das atividades
econômicas foi criada uma cooperativa a Coopertreze tendo como
primeiro presidente o Sr.José Firmino de Araújo. Da sua fundação,
em 1962, até a década de 1980 a Cooperativa da Colônia Treze foi
modelo de prosperidade do cooperativismo o que contribuiu para o
surgimento de outras no Brasil.
A Cooperativa Mista dos agricultores dos Treze LTDA –
Coopertreze - era uma sociedade formal com interesses comuns,
organizada contando com a participação de trabalhadores rurais.
Os produtores na sua maioria plantavam o fumo, mas
também utilizavam as suas terras para ao cultivo também de outros
gêneros agrícolas, mesmo que em volume menor. Dentre as culturas
que mais se destacaram tem-se a do plantio da laranja e da mandioca,
garantindo assim maior rentabilidade ao homem do campo.
Durante toda a década de 1980 para a cooperativa do Treze
foi de prosperidade. Chegando a possui um rico núcleo de bens. Aos
poucos a situação inicial prosperar foi se modificando, os membros
da cooperativa enfrentaram alguns problemas, principalmente
referente aos preços dos produtos e a presença dos atravessadores,
que ficavam com boa tarde do lucro. A cultura do fumo também
tropeçou na dependência de empréstimos para a manutenção e
financiamento do plantio.
Embora a atividade fumageira hoje, possua uma abrangência
menor para a economia regional, essa cultura nunca deixou de ser de
extrema importâcia para a econômica sergipana, como também
contribuiu e muito para o desenvolvimento e crescimento do
município de Lagarto.
Muito do que foi dito aqui foi coletado durante um breve
período de pesquisa acerca do tema. Sabe-se que existem muitos
pontos a serem abordados e que uma análise mais completa acerca
das questões talvez venha a responder a indagação inicial.
Analisando a história da cidade de Lagarto, foi possível notar
que o que existem são poucas informações acerca do
desenvolvimento econômico da cidade, e os dados em que se
trabalham são muitas vezes copias de trabalhos já apresentados que
poucos trazem de informações inovadoras e que tenham uma relação
entre si.
A história local padece de um melhor tratamento, pela
dificuldade de se encontrar materiais didáticos confiáveis, e foi
esquecida durante muitos e muitos anos pelos historiados, visto que
os dados que se podem encontrar são na sua grande maioria reflexo
do esforço do estudioso/investigador do memorialista Adalberto da
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Fonseca, o qual dedicou grande parte de sua vida em agrupar em um
livro informações referentes à cidade, este realizou um estudo de
campo muito rico o qual ficou registrado no seu livro História de
Lagarto (FONSECA, 2000), que serve como único referencial
teórico, sob a história da cidade de Lagarto.
A obra em questão é um monumento vivo, que retrata a
trajetória de um povo. É, pois um trabalho único e todo referendado
em pesquisas de campo e mesmo este não possuindo um referencial
teórico, mesmo assim este trabalho não perde o seu valor.
Para a problemática aqui apresentada cabe salientar que não
existe uma resposta objetiva, pronta e acabada. Só com mais estudos
na área é que se pode entender como se dera o ápice e a decadência
da produção do fumo em nossa cidade, como também entender os
seus mecanismos de sustentação. Espera-se que agora que se chegou
ao final dessa leitura se entenda a necessidade de elaborar estudos
mais específicos sobre o tema.
Sergipe Oitocentista no Olhar dos Viajantes
Estrangeiros
Nájala Rocha Souza Santana
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
O artigo que segue pretende analisar as impressões dos relatos de viajantes
estrangeiros ao longo do século XIX na província de Sergipe e nas
imediações fronteiriças com o Rio São Francisco. Estas viagens eram
registradas em relatos oriundas das observações vivenciadas em cada região
visitada e serão vistas como fonte documental para se entender a partir do
imaginário dos viajantes, a vida cotidiana da população sergipana no século
XIX.
Palavras-chave: Viajantes- Sergipe Oitocentista - Imaginário - População
Bibliografia
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Rio de Janeiro:
Editora Bahia. 1950.
DENIZ, Diana Maria de Faro Leal. Etl. Textos para História de Sergipe.
UFS/ Banese. 1991
FONSECA, Adalberto. História de Lagarto. Sergipe. 2002.
FRAGOSO, João. FLORENTINO, Manolo. FARIA, Sheila de Castro. A
economia colonial brasileira (séculos XVI - XIX). Coleção Discutindo a
História do Brasil. 3ª ed. Atual. São Paulo: 1998.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. I. A Época Colonial. 2. Administração,
economia, sociedade. Coleção História Geral da Civilização Brasileira.
Bertrand Brasil, 7ª ed. São Paulo, 1993.
NARDI, Jean Baptiste. O fumo brasileiro no período colonial. São Paulo:
Brasiliense, 1996.
SANTANA, de Wellington. Memorial Coopertreze 20 anos de história.
1962 – 1982.
SANTOS, Adelci Figueiredo. ANDRADE, José Augusto. Nova Geografia
de Sergipe. 1º Grau. Aracaju, Secretaria de Estado da Educação e do
Desporto e Lazer; Universidade Federal de Sergipe, 1998.
SERGIPE, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de. Nº 29. 1983
1987. Aracaju/SE. Fundador em 6 de agosto de 1912.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
Viajar para muitos é conhecer novos lugares, pessoas
diferentes, sair da rotina e se divertir. É uma atividade que desperta a
curiosidade para o desconhecido possibilitando um conhecimento
além do que a pessoa já possui. O olhar que cada viajante determina
para seus passeios vai depender do objetivo de sua viagem, lazer ou
trabalho. É o caso de diversos viajantes estrangeiros, que desde o
século XVI, “escolheram o Brasil como um dos campos preferenciais
para as suas pesquisas” (HOLANDA, 1987) registrando impressões
sobre aspectos da realidade geográfica e sociais positivas ou
negativas do local visitado. Estes homens e mulheres, de concepção
intelectual diferentes, de profissões variadas, faziam do Brasil seu
‘laboratório experimental’ e registrava suas observações em relatos
de viagem, diários, correspondência, memórias, crônicas e álbuns de
desenhos.
O Brasil desde sua colonização foi palco de pesquisa de
diversos viajantes estrangeiros que se deslocavam de seus países de
origem para adentrarem em nossa costa e percorrer quilômetros de
rios e lagos com a finalidade de empreenderem estudos a respeito da
terra e da gente do novo mundo, a natureza representada pela fauna e
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flora e a sociedade local com suas práticas e costumes, ritos, crenças,
instituições jurídicas e sociabilidades das populações mestiças,
indígenas e negras das várias regiões brasileiras por onde passavam
“viabilizando a difusão do conhecimento sobre o país, sobretudo no
campo das ciências naturais”. No século XIX, a Europa estava no
auge das ciências naturais e buscava no contexto exploratório
conceituar e responder inúmeros questionamentos
científicos
surgidos na época.
Hobsbawm define a Europa deste século como:
“uma civilização capitalista na economia; liberal na
estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem
de sua classe hegemônica característica; exultante
com o avanço da ciência, do conhecimento e da
educação e também com o progresso material e moral;
e profundamente convencida da centralidade da
Europa, berço das revoluções da ciência, das artes da
política e da industria e cuja economia prevalecera na
maior parte do mundo”. (HOBSBAWM, 1991)
Toda essa conjuntura política, econômica e social vivida pela
Europa favoreceu para a corrida imperialista colonial do final do
século, a necessidade de conhecer as ex-colônias e de levar o
progresso às regiões “atrasadas”. A transferência da Corte portuguesa
para o Brasil em 1808 e a abertura dos portos em 1810, aboliu o
impedimento de estrangeiros visitarem o Brasil e em alguns casos era
o próprio D. Pedro II que apoiava a expedição (LISBOA:2000). Foi
neste contexto que se intensificou o número de viagens ao interior do
Brasil e de estrangeiros fazendo da natureza exuberante e da
população multifacetada sue campo de estudo.
Os objetivos dessas missões eram várias e feitas por
geógrafos, geólogos, botânico, médicos, diplomatas, missionários,
cônsul e naturalistas que em suas expedições representavam o Brasil
para o europeu e para o mundo. Lisboa assim descreve o objetivo
desses forasteiros e variedade temática escrita por eles:
“De comerciante, aventureiros, diplomatas, artistas a
mercenários, todos estudavam, com maior ou menor
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afinco, a fauna e a flora, os recursos naturais;
observavam a vida social, tanto rural como urbana;
investigavam as relações de trabalho, de produção, a
economia e as questões escravistas e indígenas.”
(LISBOA, 2000)
Estes viajantes produziam narrativas escritas em diários,
cartas e relatórios os quais se constituem em fontes históricas
fundamentais para o conhecimento da cultura, das tradições e da
resistência da população subalterna brasileira. O encontro entre
mundos e a produção de interações são complexas. Para Mary Louise
Pratt (1999), houve um processo de transculturação onde ela usa o
termo “zona de contato” para se referir às pessoas [que]
geograficamente e historicamente separadas entram em contato uma
com as outras e estabelecem relações contínuas (PRATT, 1999). Por
esse motivo tais escritos são resultados de impressões carregadas de
conceitos e pré-conceitos estabelecidos em uma vivência num mundo
moderno, onde para eles a civilização é de fato o contexto conhecido.
O reconhecimento da importância desses relatos é advindo da
necessidade de reconstruir um passado que eles testemunharam e que
são fundamentais para recompor uma realidade vivida, seja ela uma
visão parcial ou total dessa realidade, visto que, a representação
passada sofre influências de forças (sociais, econômicas, culturais)
que agem no momento da escrita. Cabe aos estudiosos desses relatos,
usando de análises adequadas desconstruir o texto buscando
elementos que podem responder a um a série de incertezas e
inquietações.
São inúmeros os viajantes que vieram ao Brasil, alguns
destes estiveram no Nordeste brasileiro e fizeram seus relatos sobre a
região. Sergipe encontra-se neste roteiro e o estudo proposto busca
analisar as impressões que estes viajantes construíram da província
sergipana ao longo do século XIX. Com este tipo de abordagem
pretende-se entender as representações da realidade geográfica e
social descritas através da percepção do estrangeiro, importante para
a construção do conhecimento local.
A questão que norteará o trabalho está pautado na
compreensão de alguns aspectos da sociedade sergipana do século
XIX, no âmbito da construção do Estado emancipado baseando-se na
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
investigação do imaginário dos viajantes. Para Novais os diversos
viajantes tinham uma experiência similar. Assim ele comenta:
“(...) o que os viajantes tinham em comum? Num
primeiro momento, seu olhar de observadores externos
enquadra com clareza quase classificatória tipos,
costumes, normas de comportamento. Passando algum
tempo, a vivência cotidiana leva-os a se misturar ao
ambiente visitado, se tornar íntimos de gente da terra,
se familiarizar com as rotinas e os problemas da
cidade. Reclamam do calor, dos mosquitos, das chuvas
torrenciais, da sujeira das ruas, do descaso das
autoridades, dos cocheiros e dos caminhos para os
diferentes
sítios,
da
situação
política.”
(ALENCASTRO, 1997:186-187).
Esta presença constante de estrangeiros no cotidiano
Brasileiro contribui como importante fonte documental para o estudo
do país e mais especificamente de Sergipe.
Sabemos que no mínimo três dos viajantes estrangeiros que
vieram ao Brasil no século XIX passaram por Sergipe ou pelas
proximidades limites com o Rio São Francisco, como é o caso do
escocês George Gardner, o alemão Robert Avé-Lallemant e o norteamericano Daniel Kidder. Estes abordaram aspectos da natureza e
vida sóciopolítico e econômica da sociedade da época.
As novas linguagens deixam margem para uma interpretação
criteriosa na busca de se recuperar fragmentos da memória sergipana,
bem como a representação racial criada pelos europeus ao longo dos
três séculos de colonização e domínio. Um estudo centrado no
perspectivismo histórico dará totais condições de conhecer primeiro
a realidade dos europeus vivida no contexto do cientificismo e
positivismo da época, para então, a partir daí compreender a
eurocentricidade contidas nas descrições que subentendias comparam
o homem sergipano ao europeu. Como cita o viajante alemão Robert
Avé- Lallcmant quando passou por Aracaju em 1859 acerca da vida
social da “pequena” cidade:
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
“Qualquer que visite uma cidade ligeiramente, por
alguns dias, não pode julgar sobre algo, mormente
sobre a vida social. Pareceu-me, porém, nenhuma essa
vida social. Não vi sinal de concertos, dum teatro,
cassino etc. O povo reunia-se em pequenos grupos
diante da casa do Presidente, quando tocava a pequena
banda de música do batalhão lá aquartelado”. (AVÉLALLCAMANT, 1980:336).
Na verdade, as descrições de Robert Avé-Lallcmant sobre os
aspectos sociais de Aracaju evocam além da carga de sentimentos e
emoções que possui como observador, uma carga cultural que lhe é
própria em conformidade com sua própria compreensão de mundo.
Compreender o mundo baseado no cientificismo tornou-se
praxe para o europeu do século XIX, que vivia no contexto o
pensamento evolucionista e por isso buscavam responder, através do
estudo etnológico, as diferenças sociais entre os povos indígenas,
negros e mestiços, representadas através das imagens elaboradas
pelos viajantes e importantes para a
construção da
identidade européia. George Gardner, viajante escocês observa a
sociedade sergipana, além de outros aspectos, a variedade de estilos
no vestiário. Ele descreve as vestimentas das classes mais altas, da
gente do campo, dos negros e dos aborígines.
“As Classes mais altas usam jaquetas e calças, ou
apenas camisa e calça, sobre as quais vestem um
longo paletó de algodão estampado, ao que se
acrescenta, no frio da manhã ou da tarde, uma capa de
lã escocês. Raramente calçam meias, trazendo os pés
enfiados num par de chinelos de couro pardo. A gente
do campo usa geralmente um chapéu de couro, de
abas largas, e às vezes uma jaqueta de couro; mas
quase sempre seu único vestuário consiste de um
calção de algodão leve, que desce até pouco abaixo do
joelho, e camisa do mesmo estofo, solta por fora. Os
negros vestem-se em geral como os brancos, mas as
mulheres têm muito mas gosto que os homens, grande
número dos quais se mostram literalmente
esfarrapados, embora aparentemente tão felizes em
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
sue trapos como se estivessem vigorosamente bem
trajados. Notei maior número de aborígines do Brasil
do que tinha visto antes a um só tempo. Muitos deles
têm evidentes sinais de trazer nas veias mistura de
sangue branco uns, de sangue preto outros, mas não
em quantidade suficiente para destruir obliqüidade
peculiar dos olhos e o cabelo preto e liso da raça
americana.”.(GARDNER, 1975)
Sergipe encontra-se localizado geograficamente entre os Rios
Real e São Francisco fazendo divisas respectivamente com a Bahia e
Pernambuco. Nas primeiras décadas do século XIX, após a ligação
entre esses dois rios a comunicação na província foi facilitada
possibilitando a entrada de embarcações de grande e pequeno porte
na malha hidroviária sergipana. A Barra do São Francisco foi
bastante utilizada para a entrada dos estrangeiros viajantes em nossas
terras.
Sergipe como todo o Brasil estava passando no século XIX
por diversas transformações de ordem política, econômica e social, a
saber o desmembramento administrativo da capitania da Bahia.
Outros acontecimentos relevantes foram à condição de província de
segunda ordem, a transferência da capital de São Cristóvão para
Aracaju em 1855, além de discussões sobre abolição da escravatura e
do Positivismo e Republicanismo nasegunda metade deste século.
Daniel Kidder (1980), viajante norte-americano que esteve em
Sergipe entre 1936 e 1841, define a província como parcamente
habitada e não possue cidade alguma de vulto, mas que o povo é
essencialmente ordeiro e patriota.
É nesse contexto de entendimento que será desenvolvido
nosso trabalho monográfico, buscando compreender as percepções
desses viajantes e analisá-las, na tentativa de interpretar no
imaginário dos estrangeiros, os aspectos da terra, da gente, dos usos e
costumes de Sergipe no século XIX, bem como entender em que
medida as construções do imaginário estrangeiro sobre uma pequena
Província do Brasil teriam sido moldadas e reveladas para o mundo.
AVÉ-LALLCMANT, Robert. “Viagens pelas Províncias da Bahia,
Pernambuco, Alagoas e Sergipe (1859)”/ Belo Horizonte: ed. Itatiaia.
São Paulo: ed. Da Universidade de São Paulo, 1980.
GARDNER, George. “Viagem ao Interior do Brasil: principalmente
nas províncias do Norte e nos distritos do ouro e do diamante durante
os anos de 1836-1841”. Milton Amado (Trad.). Belo Horizonte: Ed.
Itatiaia, 1975.
HOLANDA, Sérgio Buarque. “Exploração Antropológica”. Em
História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico.
Reações e Transações .6º ed. São Paulo: Difel,1987, vol.3.
HOLANDA. Sergio Buarque de. “Imagem e Auto- Imagem do
Segundo Reinado”. IN. ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org.)
História da Vida Privada no Brasil – Império: a corte e a
modernidade nacional. VOL. 2. São Paulo : Cia das Letras, 1997.
Pág. 186-187
HOBSBAWM, Eric. “Era dos Extremos: O breve século XX: 19141991”. 2° ed. São Paulo:Companhia das letras,1995.
KIDDER, Daniel Parish. “Reminiscências de Viagens e
Permanências nas Províncias do Norte do Brasil: Compreendendo
noticias históricas e geográficas do Império e das diversas
províncias”. Trad. Moacir N. Vasconcelos. Belo Horizonte:
Itatiaia/SDUSP,1980.
LISBOA, Karem MacKnow. “Olhares estrangeiros sobre o Brasil do
século XIX. IN: MOTA, Carlos Guilherme.(org.). Viagem
Incompleta. A experiência Brasileira (1500-2000)”. Formação:
histórias. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.
PRATT, Mary. “Os olhos do Império. Relatos de viagens,
transculturação”. Bauru: EDUSC, 1999.
VAINFAS, Ronaldo.(Org). “Dicionário do Brasil Império (18221889)”. Rio de janeiro: Editora Objetiva, 2002.
Bibliografia
61
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
Jenner Augusto: Vida e Obra
Segundo alguns depoimentos vistos *** temos a informação
de que Jenner foi aluno do grupo escolar Silvio Romero e seus
trabalhos se iniciaram na cidade de Lagarto pintando anúncios para o
cinema local, que era de propriedade do senhor Mané Dentista.
Como este é uma pesquisa de cunho cultural enfatizamos
nosso particular interesse pela contribuição da História Social da
Cultura. Neste trabalho, lançaremos mão do recurso da história oral
através dos depoimentos de conhecidos de Jenner Augusto ou
pessoas que tenham informações a seu respeito, pois como ressaltou
Sandra Jatahy Pesavento (2005:95): “para o historiador que trabalha
com a memória, seja por meio dos registros escritos desta,
transformamos narrativas de cunho memorialístico, seja pelo
reconhecimento ao vivo, pela oralidade, das lembranças daquele que
rememorava, a que levar em conta as múltiplas mediações nesse
processo”. Trabalhar com história da arte torna-se, assim,
particularmente interessante pelo tipo de fontes utilizadas, permitindo
a análise de suas obras enquanto representação de uma visão de
mundo adotada por um artista de renome que influencia aqueles que
admiram sua arte.
Sabemos que durante muito tempo o conhecimento da
História viu-se atado às aspirações da história positivista que admitia
apenas o uso das fontes escritas, preferencialmente usadas pelo
Estado, como fontes “seguras”. Entretanto, com o advento da
História Cultural, vemos agora a abertura de olhar do historiador para
o uso de outras fontes não escritas, e aí temos a história oral, a
iconografia, o uso de músicas, a escrita não oficial, entre outros.
Respaldamos-nos nas palavras de teóricos como Sylvia Colceiro, que
afirma: “o presente está constantemente inquirindo a história,
forçando o historiador a modificar seus objetos, buscar diferentes
problemas, e mesmo adotar novos métodos” (COLCEIRO, 2002:13).
Jenner Augusto foi um dos integrantes do movimento de
renovação das artes plásticas da Bahia, durante a década de 50 e em
Sergipe foi precursor da arte moderna, preparando em 1949 os murais
decorativos do bar Cacique (marco inicial da arte moderna neste
estado), onde aparece clara influência das obras de Cândido Portinari.
Paula Cristina da S. O. Carvalho
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
O artigo pretende expor a importância da realização do trabalho de pesquisa
que tem por objetivo resgatar a história e a memória do artista lagartense
Jenner Augusto da Silveira, sua contribuição para o meio artístico sergipano
e seu destaque no contexto artístico brasileiro. Jenner Augusto foi um dos
integrantes do movimento de renovação das artes plásticas da Bahia, durante
a década de 50 e em Sergipe foi precursor da arte moderna. Trabalhar com
história da arte toma-se, assim, particularmente interessante pelas fontes
utilizadas, permitindo a análise de suas obras enquanto representação de
uma visão de mundo adotada por um artista de renome que influencia
aqueles que reconhecem e admiram sua arte.
Palavras-chave: Jenner
Modernismo;Biografia.
Augusto;
Cultura;
história
da
Arte;
A importância do trabalho de pesquisa ora apresentado é
resgatar a história e a memória do artista lagartense Jenner Augusto
da Silveira, bem como compreender sua contribuição para o meio
artístico sergipano, e seu lugar no contexto da arte brasileira. Pensase também em avaliar sua influência como um dos grandes nomes
para a história da arte do nosso país.
Nosso objetivo, portanto, é fazer um levantamento sobre a
trajetória de vida, suas obras e o contexto em que foram produzidas,
além da importância da contribuição destas na formação cultural de
Sergipe. Visamos ainda, retratar ao povo lagartense o artista nascido
nesta cidade, porém desconhecido pela população local,
rememorizando e elencando suas obras, pois, ao que parece, seu
nome e produção é pouco conhecido na comunidade local.
***
Como visto na internet, comentário de Osmário Santos, em:
HTTP://www.infonet.com.br, visitado em 20/09/2007.
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CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
Entre as várias críticas recebidas ao longo da vida,
destacamos uma em especial, feita por um de seus maiores fãs
declarado, o escritor baiano Jorge Amado (1987). Segue sua crítica
feita para a Enciclopédia Itaú Cultural, na cidade de São Paulo no ano
de 1987:
da Cultura, referente aos painéis do citado artista, posto que estes
integram o acervo cultural do povo sergipano, baseando-se no art.
216 da Constituição Federal, cujo texto trata sobre o dever
constitucional de proteção ao bem público.
Assim, o intuito deste trabalho não é só o de rememoração e
sim o de resgatar o artista sergipano e suas obras, além de provar que
este é também um artista nascido em Lagarto, ex-aluno do grupo
escolar Sílvio Romero, ex-aluno do padre Posidônio e da professora
Zizi, ex-pintor dos cartazes do cinema, onde descobriu sua aptidão
artística.
A grandiosidade da obra desse artista sergipano o faz
conhecido e prestigiado em vários estados do Brasil como exemplo
temos São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, dentre outros, e este projeto
visa reavivar a sua memória na contemporaneidade, que desconhece
sua trajetória, reforçando assim, o espírito de identidade cultural do
povo desta região para que este não seja um “estranho” na terra que
lhe serviu de berço.
“Outros dirão as palavras justas e certas, analisando a
pintura do moço sergipano, do artista da Bahia. Eu
direi apenas que poucos fizeram tanto de maneira tão
séria e dominaram assim completamente o ofício e
dignificaram a arte da pintura. Direi que Jenner
Augusto é uma presença estimulante na cidade e que
dele nascem mesmo aqueles que negam nos futricos do
amadorismo provinciano, pois em cada um de nós está
algo de luz, da emoção, da beleza que ele criou no
incêndio da Feira de Águas dos Meninos, no
Entardecer dos Alagados, no Cosário, na Paisagem
Azul, no Tabuleiro da Cidade de Lagarto, onde menino
jogava futebol, em cada quadro seu, Jenner Augusto do
homem, trás o sal e o pão”.
BIBLIOGRAFIA
Em alguns dos textos pesquisados constatamos que Jenner
possuía muita popularidade na Bahia e que suas obras eram
reconhecidas chegando até a ser citado como um artista sergipano,
mas também baiano. Lá ele recebeu vários prêmios, um deles foi o
prêmio de viagem da UFBA no V Salão Baiano de Belas Artes
(1954), outra homenagem a Jenner Augusto foi feita pela
ENERGIPE, em seu estado natal, onde foi citado como destaque
sergipano e um dos grandes mestres da pintura brasileira.
Tendo em vista o que foi aqui explanado, salientamos a
importância do resgate da história de Jenner Augusto Silveira para a
população sergipana e lagartense que desconhece o trabalho
produzido por ele.
Faz parte também das pretensões deste trabalho, chamar a
atenção para o resgate de ações (públicas ou particulares) em prol da
revitalização e conservação do patrimônio artístico cultural deixado
por Jenner Augusto. Como exemplo podemos citar a ação civil
ajuizada pelo Ministério Público de Sergipe no tocante a restauração
e/ ou revitalização anteriormente aprovados pela Secretaria Estadual
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
AMADO, Jorge. In: Soleria Arte André. Jenner Augusto. Catálogo
São Paulo. Enciclopédia Itaú Cultural. SP: Itaú Cultural, 1987.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e
representações. Lisboa/Rio de Janeiro: Difel/Bertrand Brasil, 1990.
COLCEIRO, Sylvia. “Os desafios da história cultural”. In: BURITY,
Joanildo A. (org.). Cultura e identidade: perspectivas
interdisciplinares. Rio de Janeiro: DP & A, 2002.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. 2. Ed.
Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
As Primeiras Reclamações Trabalhistas Femininas em
Sergipe (1943-1944)
obra; existência de grandes jazidas de ferro e minas de carvão
mineral; dentre outros fatores.
A Revolução industrial trouxe consigo as “novas ordens
mundiais”: aumento da produção e do consumo desta. Várias
estruturas tradicionais foram abaladas ou irreversivelmente
modificadas, posto que as relações de trabalho, até então familiares e
com todo o conhecimento das etapas de produção, foram alterados
pela impessoalidade tanto com o que se produz, quanto com as
relações interpessoais. A intensa busca por lucros dos agora
capitalistas, donos dos meios de produção afasta-os cada vez mais
nas relações entre seus subordinados, predominando assim
verdadeiros jogos de interesse fadados a eterna insatisfação de uma
das partes envolvidas: ou empreendedor capitalista ou o descontente
operário.
Este descontentamento, por parte da classe operária, com as
suas condições de trabalho ou inúmeras injustiças, se assim as julgar,
sofridas em seu ambiente de trabalho, resultou na adaptação das leis
(jurisprudência) para atender a crescente demanda por reparos
judiciais para esses trabalhadores. As leis trabalhistas brasileiras em
vigência tiveram sua origem com o governo de Getúlio Dornelles
Vargas, político fundador do populismo no Brasil, cuja alcunha de
“Pai dos Pobres”, conseguiu justamente por estas ações de apoio aos
interesses populares, como a formulação da CLT (consolidação das
leis do Trabalho) ‡‡‡ brasileira. Outra forma de defesa dos
trabalhadores fora a criação de sindicatos. Essas associações reuniam
o pensamento desta classe e lutavam por medidas em prol da
melhoria das condições de trabalho e também progressos sociais de
seus sindicalizados.
Os primeiros debates em torno das questões trabalhistas
negligenciaram o direito daquelas que atestam, como provas cabais, a
exploração de seu trabalho, pois eram submetidas a duras e mal
remuneradas jornadas de trabalho em condições insalubres de
Ravania Calasans Martins Silva
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
Resumo
O presente trabalho fora elaborado com o intuito de analisar as primeiras
reclamações trabalhistas femininas em Sergipe, e a sua contribuição para o
desenvolvimento de uma jurisprudência trabalhista feminina em nosso
estado.
Palavras-chaves: Revolução Industrial;
Trabalhadoras; Reclamações trabalhistas.
Capitalismo;
Exploração;
É inata a natureza humana, apoderar-se de sua força de
trabalho para prover o seu sustento e ao de seus dependentes. Ao
longo da história da humanidade o homem fora desenvolvendo as
suas relações de trabalho em busca de melhorias estruturais para o
aumento da produção. Homens visionários perceberam nesse
desenvolvimento do trabalho uma hábil forma de usufruir-se do
esforço alheio e alargar seus ganhos. Desta forma, surge então, a
figura dos primeiros “donos” dos matérias de trabalho e portanto
“merecedores” da maior fatia dos lucros auferidos com a
comercialização dos produtos.
Nesse ínterim, a Inglaterra há muito preconizara suas
intenções capitalistas através da busca constante pelo lucro,
evidenciado em suas práticas comerciais. Contribuíram para o
pioneirismo da industrialização Inglesa a sua intensa acumulação de
capitais; condições políticas favoráveis; utilização dos chamados
cercamentos†††, fornecendo abundante e barata oferta de mão-de-
‡‡‡
†††
Significou a expulsão dos camponeses das terras de onde provinham seu
sustento, para que estas fossem utilizadas como pastagem para a criação de
ovelhas, cuja lã era necessária ao abastecimento das primeiras fábricas de
tecelagem.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
Consolidação das leis de Trabalho ou como é comumente conhecida por
CLT, trata-se da consolidação das normas que regulam as relações
individuais e coletivas de trabalho, nela prevista. Entrou em vigor no dia 10
de Novembro de 1943, e fora decretada pelo então presidente da República
do Brasil Getúlio Dornelles Vargas.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
serviço. Sobre o “esquecimento” dos direitos do trabalho feminino, a
autora Maria Amélia de Almeida Teles indica que: “A cultura de
exclusão dos direitos e da cidadania das mulheres esta de tal forma
arraigada na mentalidade institucional que não causa nenhuma
comoção social ou política o fato de as mulheres terem salários mais
baixos que os homens, mesmo exercendo funções iguais (...)”.
Esse pequeno trecho, extraído do livro: O que são Direitos
Humanos das Mulheres, nos alerta para o destoante papel de
coadjuvantes da história, a que a presença feminina fora reduzida.
Estas reaparecem em pleno desenvolvimento da Revolução
Industrial, como massa de manobra para a ampliação do poderio
burguês.
É em meio a todo esse contexto de exploração que o trabalho
feminino se insere, pois externa um passado difícil, mas que deve ser
encarado com orgulho, posto que aquelas mulheres viveram em uma
sociedade notadamente marcada pelo machismo, que se impunha pela
violência, muita das vezes, e que era legitimado pela própria
sociedade e também por muitas mulheres que acreditavam ser
inferior aos homens e aceitavam sem questionar esse rebaixamento.
O autor Eric J. hobsbawm, em seu livro “Mundos do Trabalho”,
salienta o esquecimento histórico a que as mulheres foram sujeitadas,
ele faz uma ferrenha crítica à postura notadamente machista dos
historiadores:
trabalhar no limite do desgaste humano. Isto repercute na
contemporaneidade, onde a inferioridade dos salários das mulheres
denuncia um passado, não muito distante, e que ainda não fora
totalmente superado pela sociedade.
Não somente a história do trabalho feminino merece
destaque na historiografia, mas a história das mulheres como um
todo, como demonstra a autora Michelle Perrot em seu livro: “As
mulheres ou os silêncios da história”, que credita parte desse
“esquecimento” histórico, a própria postura feminina que fora de
coadjuvante da história dos homens, em detrimento da postura de
atriz que sempre deveria ter desempenhado. A autora define que:
“As mulheres freqüentemente salientam que os
historiadores do sexo masculino no passado, inclusive
marxistas, ignoram grosseiramente a metade feminina
da raça humana. A crítica é justa; este escritor aceita
que se aplique a sua própria obra, entretanto se esta
deficiência deve ser corrigida, não poderá ser
simplesmente pelo desenvolvimento de um ramo
especializado da história que lide com exclusivamente
com as mulheres, porque na sociedade humana os dois
sexos são inseparáveis”. (HOBSBAWM, 1987).
O trabalho feminino teve sua importância evidenciada no
aumento do faturamento das fábricas, mas isto não causou comoção
por parte de seus empregadores que continuaram obrigando-as a
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
“Os arquivos privados conservados nos grandes
depósitos públicos, são quase exclusivamente os dos
“grandes homens”, políticos empresários, escritores,
criadores. Os arquivos familiares, até recentemente,
não haviam chamado uma atenção particular. Ao longo
de mudanças, destruição maciças foram provocadas
por herdeiros indiferentes por muito tempo, ou até
mesmo pelas próprias mulheres, pouco preocupadas
em deixar traços de seus eventuais segredos. Por
pudor, mas também por auto desvalorização, elas
interiorizavam, de certa forma, o silêncio que as
envolvia” (PERROT, 2005).
O presente estudo fora elaborado na tentativa de resgatar
parte da história da luta, das mulheres trabalhadoras sergipanas, pelos
seus direitos, no desempenho de diversas funções no mercado de
trabalho, nos primórdios da industrialização desse estado, onde,
como em tantos outros lugares, cristalizou-se a máxima da
desigualdade entre homens e mulheres, seja ela de caráter financeiro,
social ou moral.
Analisando os processos trabalhistas que encontram-se no
Arquivo do Judiciário em Aracaju, e constitui-se de processos
trabalhistas, em sua maioria manuscritos, que se encontram no
arquivo do judiciário, cuja identificação é: Fundo São Cristóvão/C;
série Cível; sub-série: reclamações; número da caixa: 01; período:
1930 – 1944; e número geral: 2876.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
Consideramos não somente os motivos que as levavam a
denuncia, mas também o desenrolar de cada ação com a imposição de
suas respectivas sentenças. Nos primeiros processos trabalhistas de
1930, a figura masculina inaugura essas ações, e os processos
femininos só aparecem a partir do ano de 1943. Dessa lacuna de dez
anos de somente reclamações masculinas inferimos duas
possibilidades: 1ª as mulheres não tinham do que reclamar e suas
condições de trabalho eram condizentes com as suas aspirações. 2ª
As mulheres sentiam-se coagidas pela própria sociedade e também
por seus patrões e desacreditavam que a justiça fosse fidedigna ao
nome que ostenta, e ao contrário, as humilhariam ainda mais. 3ª esses
processos podem ter existido e foram destruídos.
De acordo com a documentação em análise, entendemos que
esse “silêncio” inicial das operárias, que são de aproximados dez
anos, custou caro à classe, posto o atraso em se reparar possíveis
danos ocasionados a estas, mas essas ações iniciais são protótipos das
grandes vitórias alcançadas pelas mulheres atualmente, e incide neste
ínterim o principal mérito de nossas pioneiras, que lançando-se ao
desconhecido da jurisprudência brasileira, enfrentaram as grandes
corporações da época, estreando as reclamações trabalhistas
sergipanas.
RESENHA
Bibliografia
TELES, Maria Amélia de Almeida. O que são os direitos Humanos
das mulheres. São Paulo: Brasiliense, 2006.
HOBSBAWM, Eric J. Mundo do Trabalho; Novos estudos sobre
história operária. Tradução de Welda Barcellos e Sandra Bedran.
Rio de Janeiro: Paz e terra, 1997
PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da História;
tradução Viviane Ribeiro. Bauru São Paulo: EDUSC, 2005.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
MELO, José Marques de. A Televisão como instrumento do
neocolonialismo: Evidências do caso brasileiro. In. BOSI,
Alfredo: Cultura Brasileira temas e situações.
A
TELEVISÃO
COMO
INSTRUMENTO
DO
NEOCOLONIALISMO: EVIDÊNCIAS DO CASO
BRASILEIRO
Luciana Rodrigues dos Santos
Acadêmica do 8º Período – Turma A (História)
O presente texto analisado é do professor do departamento de
jornalismo da USP, José Marques de Melo, intitulado “A televisão
como instrumento do neocolonialismo: evidências do caso brasileiro,
e se encontra na obra de Alfredo Bosi Cultura Brasileira temas e
situações,”. O autor José Marques debruça-se sobre aspectos
relacionados com a indústria cultural produtora do neocolonialismo
no âmbito tecnológico e na rede de comunicação. O mesmo retrata de
modo a informar sobre a cultura européia e norte-americana, sua
influência e denominação a partir da parte introdutória do trabalho,
em seguida faz uso de valores estatísticos colocados em tabelas para
mostrar como anda a dependência, ou seja, a instabilidade no campo
tecnológico, cultura e informação com o foco voltado para o caso
brasileiro.
O texto referido chama a atenção e destaca o papel dos meios
de comunicação de massa na contemporaneidade, este denotando
uma função colonizadora empreguinada de ideologias e anseios
eminentemente estrangeiros. Edgard Morin ao analisar a indústria
cultural caracteriza e defende a política aplicada para tal como
ideologizantes e de dominação o que garante uma dependência
econômica e também cultural.
A realidade sempre passa por mudanças e transformações e são
elas seja no campo político ou social dão ênfase para as inovações e o
desenvolvimento de novos veículos de comunicação, e é nesse viés
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
CADERNO DE PESQUISA HISTÓRICA – ANO 1 - NÚMERO 1
que a televisão ocupa um patamar nunca alcançado por qualquer
outro meio de comunicação, pela possibilidade que tem de envolver
as pessoas e mantê-las cercada de todos os lados com imagens que
aprisionam a consciência de modo a aliená-la. Dessa forma, televisão
tornou-se fator primordial de socialização e domina a vida de adultos,
jovens e crianças nas regiões urbanas e nas áreas rurais eletrificadas
em todo mundo. Esse fato é decorrente da modernização
empreendida nos continentes após acelerado ritmo de
desenvolvimento da indústria cultural
O crescimento da televisão brasileira deve-se, não obstante das
tentativas de manipulação da conjuntura corrente em meio aos
movimentos militar de 1964, o qual abriu um leque para as
telecomunicações brasileiras. Mas o autor ainda afirma, a televisão
brasileira se expandiu tecnologicamente, mas é dependente da
indústria cultural norte-americana, ou seja, um produto do
neocolonialismo que impera no mundo contemporâneo.
Apresentando as situações de dependência o autor dá um
enfoque no campo tecnológico ressaltando a hegemonia dos EUA,
em se tratando de equipamentos técnicos de emissores de TV, apesar
que alguns países que aparecem insignificantemente como produtora
de tais ferramentas sendo que essas são procedentes dos EUA ou
mesmo dos monopólio estrangeiros como Japão, Alemanha, França e
etc. A dependência cultural permeia uma mesma situação a já
apresentada acima a de colonialismo isso porque a programação da
TV brasileira é fruto estrangeiro, e a produção nacional exibida é
reduzida a quase nada, além de ser pouco expressiva, até porque os
meios de comunicação de massa desempenham papel fundamental no
desenvolvimento de orientações culturais, visões de mundo e crenças
assim como na disseminação global de valores e imagens.
Pois a realidade cultural que é mostrada não é de acordo com o
cotidiano vivido, isto significa que a televisão brasileira usufrui de
realidades, que se distância do foco brasileiro, e usa de atrações
estrangeiras, ou seja, norte-americana para preencher a TV brasileira.
No âmbito informativo a dependência é ainda mais visível
devido a internacionalização das notícias que são passadas pela mídia
no tele-jornais que procuram cada vez mais se assemelharem às redes
internacionais de informação. É sabido que, o que é divulgado ou
noticiado pela televisão brasileira obedecem uma ótica norteamericana ou seja estrangeiras.
Portanto quando o autor apresenta dados estatísticos que
mostra índices de situações de dependência, leva o leitor a perceber o
leque de informações sobre a política do neocolonialismo adotado
pelos EUA, aos países subalternos nos campos, político, ideológico,
econômico e cultural.
José Marques usa uma linguagem clara o que permite uma fácil
compreensão a qualquer leitor, seja ele, acadêmico ou não, mas
deixar a desejar no tocante em que não apresenta uma conclusão
precisa no último campo que se deteve seu texto, o autor finaliza no
geral com as notícias internacionais que difundidas pela TV brasileira
numa visão norte-americana pela posição destacada da UPI reforçada
pela AP formando as emissoras que utilizam os serviços das agências
estrangeiras.
Atualmente podemos perceber em se tratado de programação
televisiva uma autonomia considerável em relação às décadas
passadas, mas isso não quer dizer independência tecnológica apenas
uma situação em que a mídia brasileira mais especificamente a rede
globo preenche suas transmissões, na sua maioria, com programas
nacionais.
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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA FACULDADE JOSÉ AUGUSTO VIEIRA
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