a síndrome de burnout em profissionais de enfermagem
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ESTRESSE OCUPACIONAL COMO DESENCADEADOR A SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Ana Carolina Lima Mendes, Lucélia Aparecida Araújo Nunes, Mábia Nayara Cotrim Fernandes¹, Maycon John de Oliveira Carneiro¹, Neide Daiane Prudenciano de Souza¹, Werla Aparecida Alves dos Santos Brito² ¹Graduandos do curso de Enfermagem. Faculdade Guanambi – FG/CESG. ²Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho – CESC-MG. Docente Faculdade Guanambi – FG/CESG. RESUMO: O estudo aborda de forma sistemática as transformações no contexto do ambiente laboral, a sua relação com o surgimento do estresse ocupacional e síndrome de burnout e apresenta os resultados obtidos na investigação em profissionais de enfermagem que prestam serviços de saúde. O propósito da presente pesquisa buscou compreender a predisposição ao estresse ocupacional e a síndrome de Burnout em trabalhadores de enfermagem que atuam em hospitais do Sudoeste da Bahia buscando meios de prevenir, intervir ou minimizar a progressão dos agravos causados por esses estados patológicos. A análise foi feita por meio de dois questionários semi estruturados e adaptados para identificação preliminar, através de um estudo descritivo com abordagem qualitativa. O estresse ocupacional é caracterizado como um estado manifesto que surgem no ambiente laboral e pode apresentar aspectos positivos e negativos. A síndrome de burnout é a resposta a um estado prolongado e excessivo de fatores estressores, ocorre a cronificação dos sintomas e é caracterizado por exaustão, esgotamento físico e mental. Os resultados obtidos demonstraram uma preocupação nesses profissionais, pois comprovaram índices relevantes para o estresse ocupacional e síndrome de burnout. Palavras-chave: Ambiente de trabalho. Esgotamento físico e mental. Fatores estressores. Trabalhadores de Enfermagem. ABSTRACT: The study discusses systematically the transformations in the context of the workplace, its relationship with the emergence of occupational stress and Burnout syndrome and presents the results obtained in the research in nursing professionals who provide health services. The purpose of this research sought to understand the predisposition to occupational stress and Burnout Syndrome in nursing workers who work in hospitals in the Southwest of Bahia, seeking ways to prevent, intervene or minimize the progression of diseases caused by these pathological states. The analysis was done by two semi-structured questionnaires and adapted for preliminary identification, through a descriptive study with quantitative and qualitative approach. Occupational stress characterized as a manifest state that arise in the workplace and may have positive and negative aspects. Burnout syndrome is the response to a prolonged and excessive state stressors factors, chronic of symptoms occurs, is characterized by exhaustion and physical and mental exhaustion. The obtained results demonstrated a concern in these professionals as relevant to stress indices have occupational stress and burnout syndrome. Keywords: Nursing workers. Physical and mental exhaustion. Stressors factors. Workplace. 2 INTRODUÇÃO: Entende-se que as relações de trabalho sofreram mudanças devido às evoluções tecnológicas, sociais e econômicas desenvolvendo adaptações que permeiam em diversos setores trabalhistas. O trabalho surge como uma atividade indispensável à vida possibilitando crescimento pessoal e profissional, entretanto, pode desencadear problemas de insatisfação, desinteresse, apatia e irritação, afetando diretamente, a vida do trabalhador e causando alterações psicológicas à sua saúde. De acordo com Selye apud Guimarães & Grubits (2004), “o estresse pode se definido como o estado manifesto por uma síndrome específica que consiste em todas as alterações inespecificamente induzidas num sistema biológico”. O seu surgimento depende de fatores estressantes geradores de desequilíbrios bioquímicos que se manifestam geralmente como tensão muscular, boca seca, taquicardia, sudorese excessiva, estado de alerta entre outros. Já a síndrome de Burnout apresenta-se dentre os distúrbios mais comuns causados primariamente por condições estressantes. Esse distúrbio psíquico pode surgir em decorrência a uma exposição contínua a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalhador, sendo resumidamente caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e diminuição do envolvimento pessoal no trabalho, Jardim & Glina, (2000). De acordo com Cherniss apud Guimarães & Grubits (2004), a síndrome de Burnout é um processo que começa com excessivo e prolongado nível de tensão ou “estresse” que produz a fadiga no trabalho, sentimento de estar exausto, irritabilidade. Similarmente essa síndrome tem sido caracterizada como uma progressiva perda do idealismo e da energia e o propósito de ajudar aos usuários dos serviços. O Burnout é a resposta a um estado prolongado de estresse, ocorre pela cronificação deste, quando os métodos de enfrentamento falharam ou foram insuficientes. Enquanto o estresse pode apresentar aspectos positivos ou negativos, o Burnout tem sempre um caráter negativo. Ainda o Burnout está relacionado com o mundo do trabalho, com o tipo de atividades laborais do indivíduo; além disso, comporta uma dimensão social, inter-relacional, através da despersonalização, o que não necessariamente ocorre com o estresse ocupacional (PEREIRA apud SANTOS, 2009). O estudo tem por finalidade levantar informações a respeito do estresse ocupacional e síndrome de burnout em trabalhadores de enfermagem, assim como os fatores de risco para 3 seu desenvolvimento permitindo ao trabalhador conhecimento de seus problemas, direcionando-o ao profissional especializado com o intuito de minimizar ou sanar os mesmos. Para a população em geral, poderá servir como veículo de informação, possibilitando entender a relação entre os trabalhadores e os problemas evidenciados junto ao impacto dos mesmos em sociedade. MATERIAL E MÉTODOS A coleta de dados foi realizada nas cidades de Caculé, Guanambi e Tanque Novo, localizadas na região sudoeste da Bahia. A amostra do estudo foi composta por 34 profissionais de enfermagem (14 Enfermeiros e 22 Técnicos de Enfermagem) atuantes em hospitais intitulados de: Hospital A, Hospital B, Hospital C e escolhidos aleatoriamente dentro dos serviços públicos de saúde. Os dados foram obtidos por meio de dois questionários semi-estruturados entregues aos participantes, do dia 13 ao dia 24 de maio de 2013, sendo que aqueles que foram preenchidos retornaram às pesquisadoras no prazo estabelecido, de modo que permitiram o anonimato dos voluntários. Trata-se se de um estudo qualitativo. A amostra foi construída por trabalhadores de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem) que concordaram em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A realização da pesquisa foi efetuada de acordo com as Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O primeiro questionário para a identificação do estresse ocupacional foi elaborado por Lipp (2012) e adaptado do Centro Psicológico de Controle do Estresse de Campinas (2012), sendo utilizado para avaliar o nível de satisfação profissional, social, afetiva e de saúde dos funcionários na realização de suas funções. O questionário é formado por 12 questões objetivas, cada uma das perguntas apresenta duas alternativas contendo Sim ou Não como resposta. Sendo as que apresentam “Sim”, são julgas positivas, e as assinaladas como “Não”, julgadas negativas. Para consolidar os resultados foram utilizados padrões definidos pela autora. Temos assim como critério de avaliação: de 1 a 3 questões positivas – nível de estresse relevante; De 4 a 8 positivas- o nível de estresse esta alto; Maior que 8 questões positivas - nível de estresse esta altíssimo. 4 Um segundo questionário foi utilizado, elaborado e adaptado para o português por Chafic Jbeili, inspirado no Maslach Burnout Inventory – MBI (2009), para a identificação preliminar da predisposição da Burnout. O questionário semi estruturado composto por 20 alternativas aos quais os voluntários devem responder de acordo com os critérios variando de 1 a 5, indicando com que freqüência os indivíduos experimentaram o conteúdo sugerido pelo item, enumeradas da seguinte forma: 01- Nunca, 02- Anualmente, 03- Mensalmente, 04Semanalmente, 05- Diariamente, avaliando três componentes: exaustão emocional, despersonalização e a realização profissional. Quanto ao número de questões assinaladas nas categorias: De 0 a 20 pontos - nenhum indício de Burnout; De 21 a 40 pontos - possibilidade de desenvolver Burnout; De 41 a 60 fase inicial da Burnout; De 61 a 80 pontos - a Burnout começa a se instalar; De 81 a 100- má fase considerada da Burnout. Os instrumentos de coleta dos dados eram compostos por duas partes, a primeira relacionada à caracterização dos trabalhadores contendo dados sócio-demográficos (idade, sexo, situação conjugal e escolaridade) e profissionais (categoria profissional, carga horária de trabalho semanal, presença de outro vínculo empregatício) e a segunda com o intuito de avaliar a satisfação profissional, social e afetiva dos trabalhadores. Durante a coleta de dados foi esclarecido aos voluntários que os questionários Jbeili e Lipp, são instrumentos de uso informativos apenas e não substitui o diagnóstico realizado por médico ou psicoterapeuta. Os dados foram processados utilizando-se o programa Excel 2010 da Microsoft®, versão Windows XP, no qual foram feitas as análises estatísticas descritivas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao avaliar os questionários de acordo com os parâmetros definidos pelos autores observou-se um quadro preocupante nos participantes da pesquisa. Foi possível constatar que todos os profissionais, apresentaram uma pontuação relevante ao estresse ocupacional. Todos os entrevistados apresentaram sinais e sintomas em pelo menos 2 itens. A Burnout na categoria dos enfermeiros evidenciou resultados preocupantes, não apresentando porcentagem no quesito nenhum indício da Burnout. Em contrapartida os resultados adquiridos com os técnicos de enfermagem comprovaram que 9,1% desses trabalhadores não apresentam nenhum indicio da Burnout. 5 Dos dados obtidos a respeito do estresse ocupacional 35.7% dos enfermeiros se encontram dentro do nível relevante seguido por 64.3% que abrangem o nível alto de estresse. Não existiu marcação para os itens nenhum, onde o corpo apresenta um pleno funcionamento e para a opção em que a classificação representa-se como nível altíssimo de estresse. Em contrapartida à categoria dos técnicos de enfermagem, constataram que em relação ao estresse ocupacional 45,4% assinalaram de 1 a 3 (nível relevante) e como mencionado anteriormente alguns fatores estressantes começam a se manifestar. Cerca de 40,9% que marcaram de 4 a 8 questões positivas, o estresse aparece em um alto nível. 13,6% optaram pelo critério acima de 8, contata-se nessa fase um nível elevado de estresse ( nível altíssimo). Não houve marcação para a opção onde o funcionamento do corpo encontra-se adequado. Figura 1 – Perfil do estresse ocupacional em Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem (%) nos municípios de Caculé, Guanambi e Tanque Novo ESTRESSE OCUPACIONAL EM ENFERMEIROS ESTRESSE OCUPACIONAL EM TÉCNICOS DE ENFERMAGEM 64,30% 45,46% 40,90% 35,70% 13,64% 0% 0% NENHUMA INCIDÊNCIA 0% NÍVEL RELEVANTE NÍVEL ALTO NÍVEL ALTÍSSIMO Em relação ao Burnout, dos enfermeiros entrevistados 42,8% apresentaram pontuação entre 21 e 40 pontos, demonstrando que estes estão passíveis de desenvolver a síndrome. Esse grupo indicou que boa parte dos participantes tem vivido sob estresse constante o que pode juntamente com outros fatores levar estes profissionais a desenvolver a Burnout. Na pontuação de 41 a 60 pontos, constataram que 50% dos participantes estão na fase inicial da Burnout. Nessa fase é importante que o trabalhador fique atento aos sinais demonstrados pelo seu corpo e mente evitando que os mesmos tomem uma maior proporção. 6 De 61 a 80 pontos obtivemos 7,2% da amostra. Esta pode ser considerada uma fase que a Burnout começa a se instalar. Quanto à síndrome de Burnout relacionada aos técnicos de enfermagem, na categoria de 0 a 20 pontos 9,1% não apresentaram nenhum indício sobre a síndrome. Na categoria 21 a 40 pontos, 45,4% apresentam uma possibilidade de desenvolvê-la; de 41 a 60 pontos, 45,4% estão classificados na fase inicial da síndrome, sendo necessário procurar ajuda para evitar que esses sintomas se agravem. Para as duas últimas categorias não houve marcação. Figura 2 – Perfil da síndrome de burnout em Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem (%) dos municípios de Caculé, Guanambi e Tanque Novo Percebe-se que nos resultados obtidos o estresse ocupacional e a Síndrome de Burnout apresentam em uma proporção significante nas profissionais de enfermagem, tanto os enfermeiros quanto os técnicos expressam uma predisposição relevante no desenvolvimento desses estados. Em relação ao estresse ocupacional dos profissionais (enfermeiros e técnicos de enfermagem) ambos sem encontram em situações de risco semelhantes, porém com algumas disparidades observáveis na figura 1. Dos técnicos de enfermagem 13,6% estão classificados no nível elevado de estresse. Em contra partida os enfermeiros não apresentaram nenhum índice nesse nível. 7 Nos dados relacionados à Síndrome de Burnout, observáveis na figura 2, as duas categorias de profissionais também apresentam dados parecidos, porém nenhum enfermeiro se encaixa na primeira categoria, ou seja, todos os enfermeiros apresentam algum nível relevante ao surgimento da Burnout. Enquanto isso 9,1% dos técnicos de enfermagem não demonstraram indícios da Síndrome. Cerca de 7,2% dos enfermeiros estão incluídos na categoria me que a Burnout começa a se instalar contra 0% dos técnicos. De acordo com Davis & Newstron (1992), os trabalhadores são seres humanos que devem ser aprimorados e não simplesmente usados. O ambiente laboral não deve apresentar condições negativas para o desenvolvimento de atividades que submetam os trabalhadores ao desequilíbrio emocional e físico, ou prejudicar e inviabilizar o processo de humanização, para não deixá-lo exposto a condições de perigo, ou interferir em sua vida social nos papéis de marido, esposa, assim sendo ele deve contribuir para o desenvolvimento social geral do individuo. A flexibilidade de horário no trabalho pode ser considerada um ótimo mecanismo favorecedor a adaptação do indivíduo a satisfação de suas necessidades pessoais. Isso gera autonomia aos trabalhadores e consequentemente há contribuições positivas tanto para si e para a empresa/instituição. Também é importante centralizar as relações do trabalhador em sua equipe, visando uma boa divisão de atribuições e objetivando a harmonia. O trabalho nas equipes de enfermagem não deve ser visto como algo individualizado, pois pode sobrecarregar o profissional comprometendo assim sua saúde física e emocional e a qualidade dos serviços prestados. Sobre os dados socioeconômicos e profissionais, dos participantes enfermeiros 85.7% eram predominantemente do sexo feminino, variando de 27 a 42 anos com média de 34 anos. Situação conjugal, 64.3% são casados, 35.7% são solteiros. Variável de filhos, 57.2% tem filhos e 42.8% não tem filhos. Considerando a situação de trabalho, 57.1% tem um emprego, 35.7 tem dois empregos, e 7.2% tem mais de dois vínculos. Em relação ao tempo de trabalho 7,2% informaram ter até um ano de trabalho, 35,7 % de 01 a 3 anos e 57.1% mais que 3 anos de trabalho. Já quanto à carga horária 14,2% trabalham 30 horas semanais, 28.6% trabalham 36 horas, 28.6% trabalham 40 horas, 28,6% trabalham 50 horas semanais. Em relação à prática de atividades físicas 57.2% não praticam nenhuma atividade física, 42.8% praticam atividades físicas pelo menos três vezes por semana. Tabela 1 – Perfil socioeconômico e profissional dos Enfermeiros das cidades de Caculé, Guanambi e Tanque Novo 8 Variável demográfica Sexo Feminino Masculino Estado civil Solteiro Casado Filhos Sim Não Tempo de trabalho Até 01 ano De 01 a 03 anos Maior que 03 anos Vínculos empregatícios Um Dois Ou mais Carga horária semanal 30 horas 36 horas 40 horas 50 horas Atividade física Sim Não Total N° (%) 12 02 85.7 14.3 05 09 35.7 64.3 08 06 57.2 42.8 01 05 08 7.2 35.7 57.1 08 05 01 57.1 35.7 7.2 02 04 04 04 14,2 28.6 28.6 28.6 06 08 42.8 57.2 14 100 Com base nas identificações pessoais e profissionais dos técnicos de enfermagem também foram avaliadas, destes 86,4% são do sexo feminino, a média de idade variando de 38 anos. Quanto ao estado civil 45,4% são casados. 54,6% responderam que tem filhos. Tempo de trabalho: 4,5% até 1 ano de trabalho, 9,2% de 1 a 3anos, 86,3 trabalham acima de 3 anos. Questionado sobre o numero de vínculos empregatícios: 68,2% até um vínculo, 31,8% 2 vínculos. Carga horária semanal: 41% trabalham 40 horas/semanais; 9,0% 36 horas; 36,4% 40 horas; 13,6% 50 horas. 54,6 % responderam que praticam atividade física. Tabela 2 – Perfil socioeconômico e profissional dos Técnicos de enfermagem das cidades de Caculé, Guanambi e Tanque Novo 9 Variável demográfica Sexo Feminino Masculino Estado civil Solteiro Casado Filhos Sim Não Tempo de trabalho Até 01 ano De 01 a 03 anos Maior que 03 anos Vínculos empregatícios Um Dois Ou mais Carga horária semanal 30 horas 36 horas 40 horas 50 horas Atividade física Sim Não Total N° (%) 19 03 86.4 13,6 10 12 54.6 45,4 12 10 54,6 45.4 01 02 19 4.5 9.2 86.3 15 07 00 68.2 31.8 0 09 02 08 03 41,0 9,0 36.4 13.6 12 10 54.6 45.4 22 100 É importante lembrar que a categoria de profissionais é essencialmente feminina favorecendo assim as relações de estresse cotidianas nessa classe de trabalhadores, pois se sabe que as mulheres estão propensas a alcançarem níveis estressores mais elevados em detrimento as suas atribuições que na maioria das vezes estende desde as tarefas domésticas, cuidados com os filhos e vínculos empregatícios, alem da desvalorização financeira que é mais evidente no gênero feminino. Segundo Menzies apud Botega (2007) as situações de trabalho nos hospitais ao quais os enfermeiros estão inseridos causam sentimentos antagônicos como: piedade, compaixão e amor; culpa e ansiedade; ódio e ressentimento em relação aos pacientes que fazem surgir esses sentimentos fortes. Por tanto, o ambiente hospitalar é propicio ao desenvolvimento de distúrbios psicológicos nesses profissionais visto o grande envolvimento dos mesmos ao cuidado direto com os pacientes. Observou-se também que os pacientes e seus parentes 10 sustentam sentimentos complexos no ambiente hospitalar aos quais são expressos diretamente aos enfermeiros acrescentando mais um fator estressor. Outro método também foi utilizado para analisar individualmente cada item dos instrumentos de pesquisa supracitados nas duas categorias profissionais. Observa-se que o trabalho na equipe de enfermagem tem causado um grande desgaste físico e psicológico aos trabalhadores. Na analise dos resultados do questionário sobre estresse ocupacional foi avaliado individualmente as 12 questões, sendo que 3 delas ofereceram uma porcentagem significativa na categoria dos enfermeiros, entre as questões julgadas verdadeiras pode citar-se: que 71,4% dos trabalhadores apresentaram tensão muscular, boca seca, taquicardia, sudorese excessiva, estado de alerta entre outros. 78,6% afirmaram distúrbio e perda da qualidade do sono e 85,7% apresentam cansaço físico recorrente. No que se refere aos técnicos de enfermagem, verificou-se que: 54,5% relataram problemas gastrointestinais, 72,7% vivenciam a perda da qualidade do sono e 72,7% queixaram-se de cansaço físico recorrente devido à exposição laboral estressante. Tabela 3 – Questões freqüentemente assinaladas positivas no questionário de estresse entre os Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem. Categoria profissional N° Perguntas com maior porcentagem no estresse ocupacional (%) Enfermeiro 14 Sintomas físicos como: Tensão muscular, boca seca, taquicardia... 71,4 Distúrbio do sono - perda da qualidade do sono 76,6 Cansaço físico recorrente 85,7 Problemas grastointestinais 54,5 Distúrbio do sono - perda da qualidade do sono 72,7 Cansaço físico recorrente 72,7 Técnico de Enfermagem 22 11 Tratando- se da Síndrome de Burnout em enfermeiros, levou-se em conta somente os critérios 3, 4 e 5 do questionário pois os mesmos são os mais relevantes . As questões mais freqüentes são: 50% disseram que semanalmente sentem-se excessivamente exaustos ao final da jornada de trabalho, 42,9% tratam diariamente algumas pessoas como se fossem da família, 42,9% sentem mensalmente que o salário é desproporcional as funções executadas. Em relação aos técnicos de enfermagem observou-se que 22,7% tratam algumas pessoas como se fossem da família, 31,8% acreditam que poderiam fazer mais pelas pessoas assistidas, e 40,9% sentem-se como uma referencia para as pessoas que lidam, sendo estas classificadas com uma freqüência diária de acordo com o método estabelecido na escala. Tabela 4 - Questões mais frequentes no questionário de Burnout entre Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem. Categoria profissional N° Perguntas com maior freqüência na Síndrome de Burnout (%) Enfermeiro 14 Sinto-me excessivamente exausto ao final da minha jornada de trabalho 50 Trato algumas pessoas como se fossem da minha família 42,9 Sinto que meu salário é desproporcional às funções que executo 42,9 Trato algumas pessoas como se fossem da minha família 22,7 Acredito que eu poderia fazer mais pelas pessoas assistidas por mim 31,8 Sinto que meu salário é desproporcional às funções que executo 40,9 Técnico de Enfermagem 22 Retomando-se a questão 5 do questionário de Burnout – trato algumas pessoas como se fossem da família – discorre sobre um envolvimento afetivo entre profissionais da enfermagem e seus pacientes a ponto de causar sofrimento psicológico ao primeiro. Ao momento da aplicação dos questionários uma boa parte dos profissionais em geral declarava verbalmente ao entrevistador inúmeros problemas discorridos e evidenciados nas 12 tabelas, porém os mesmos omitiam a situação nas respostas descritivas aparentemente por sentirem suposto “receio” de retaliação por parte dos gestores da instituição. Quando confrontado os questionários do estresse e da síndrome de Burnout observa-se a discrepância entre as questões que estão relacionadas entre si. No questionário de estresse ocupacional houve um grande número de respostas negativas, ao contrário do questionário sobre a síndrome de burnout onde se evidenciou um grande número de respostas positivas para o agravamento fisiopsicológico confirmando a omissão de dados no primeiro questionário. Segundo Maslach & Leiter apud Volpato (1999) nos últimos anos o nível de desgaste físico e emocional dos trabalhadores tem atingido elevadas proporções. Uma grande parte das empresas não assume seus compromissos trabalhistas relacionados aos fatores estressores do ambiente laboral, pois temem que, reconhecendo o problema proveniente do desgaste físiopsicológico, serão obrigados a investir em programas dispendiosos de melhoria da qualidade de vida. O desgaste físico dos trabalhadores não é visto pelos empregadores como de sua responsabilidade e sim como um problema individual de cada funcionário. Diante do exposto, torna-se prudente investir maiores esforços na prevenção do estresse e síndrome de burnout como controle da saúde dos trabalhadores de enfermagem, proporcionando maior rendimento no trabalho, ambiente agradável, seguro e assistência de qualidade. CONCLUSÕES O processo de globalização possibilitou profundas transformações na sociedade contemporânea. O trabalho passou a ser considerado em grande parte como fonte de satisfação financeira, ocasionando adoecimento do corpo físico e mental. O estresse ocupacional é uma condição transitória, e não necessariamente de caráter negativo. Já a síndrome de Burnout assume características relacionadas à exposição excessiva ao trabalho, é uma resposta prolongada e crônica do estresse, constituído por fenômenos psicossociais. A Síndrome está ligada ao ambiente laboral e acomete principalmente trabalhadores que se relacionam diretamente a outras pessoas prestando serviços. No estudo abordado foi constatado um valor significativo no nível de estresse em ambos os profissionais de saúde, havendo pouca diferença entre os resultados obtidos. Demonstrou- se que apesar de existir diferenças nas atribuições de enfermeiros e técnicos o surgimento do estresse e a progressão para a síndrome de Burnout são apresentados de forma parecida aos trabalhadores de enfermagem. 13 Diante do que foi abordado percebe-se a necessidade dos trabalhadores conhecerem os fatores que predispõem ao surgimento do estresse ocupacional e da síndrome de Burnout, bem como a necessidade da realização de estudos e pesquisas voltados ao assunto viabilizando a implantação de medidas preventivas e apoio psicossocial a esses profissionais inseridos neste contexto, contribuindo para a identificação dos principais problemas e fornecendo soluções que possam ser concretizadas. A satisfação profissional e o respeito às singularidades aos profissionais de enfermagem configuram como necessários a todo o processo que qualifica as relações de trabalho positivamente. Outras soluções simplificadas com a finalidade de obter melhor qualidade de vida deverão ser trabalhadas como: atividades de lazer, serviços psicológico-psiquiátricos, melhorias nas condições de trabalho que não impliquem em grandes gastos financeiros, estabelecendo conseqüentemente uma boa convivência interdisciplinar. 14 REFERÊNCIAS BORGES, L.O. Os profissionais de saúde e seu trabalho. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. BOTEGA, N.J. Prática Psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. DAVIS, K; NEWSTRON, J.W. Comportamento Humano no trabalho: Uma abordagem organizacional. v2. São Paulo: 2001. GELDER, M.G; MAYOU, RICHARD; COWEN, PHILIP. Tratado de Psiquiatria. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan. 2006. GLINA, D.M.R; ROCHA, L.E. Saúde Mental no Trabalho: Da Teoria a Prática. 1ª ed. São Paulo. Roca, 2010. GUIMARÃES, L.A.M; GRUBITS, S. Série Saúde Mental e Trabalho. 1ª ed. São Paulo: Casa do psicólogo. 2004. Vol. 2. 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