Colagem como procedimento alegórico na arte contemporânea
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Colagem como procedimento alegórico na arte contemporânea
COLAGEM COMO PROCEDIMENTO ALEGÓRICO NA ARTE CONTEMPORÂNEA Mariana Gomes Paulse (Mestranda no PPGARTES/UERJ) Esse trabalho tem como objetivo tratar da alegoria na colagem contemporânea. Verificaremos como esse procedimento possibilita a apropriação de diversas imagens, especialmente da História da Arte, construindo reescritas histórico-visuais das imagens utilizadas. A partir do conceito de alegoria de Walter Benjamin e das colagens de quatro outros artistas contemporâneos, analisaremos a apropriação que Yasumasa Morimura faz da pintura Un bar aux Folies-Bergère, de Manet. Palavras-chave: Colagem. Alegoria. Apropriação. História da Arte. This paper aims to treat the concept of allegory in the contemporary collage. We will verify how this procedure enables to appropriate many images, especially those from History of Art, constructing visual historic rewritings of the images used. From the concept of allegory of Walter Benjamin and the collages of four other contemporary artists, we will analyze Yasumasa Morimura's appropriation of the painting Un bar aux Folies-Bergere, of Manet. Key words: Collage. Allegory. Appropriation. History of Art. A partir da leitura de diversos textos que abordam o conceito de alegoria definido por Walter Benjamin no livro Origem do Drama Barroco Alemão (1923) e do entendimento desse conceito para modernidade, procura-se aproximar essas noções aos procedimentos de apropriação e montagem a partir da década de 1960. Verifica-se, ainda, como o conceito de alegoria pode ser aplicado em um mundo contemporâneo fragmentado, onde já não cabem grandes narrativas históricas cronológicas. Como associar, portanto, o conceito de Walter Benjamin às novas formas de escrever história e arte? Voltemo-nos, primeiro, às explicações de alguns autores sobre o conceito de alegoria. No capítulo 3, A obra de arte de vanguarda, do seu livro Teoria da Vanguarda, Peter Bürger esquematiza o entende por alegoria a partir do texto de Benjamin: Se tentarmos desmontar o conceito de alegoria em suas partes constitutivas, obteremos o seguinte esquema: 1. O alegorista arranca um elemento à totalidade do contexto da vida. Ele o isola, priva-o de sua função. Daí a ser a alegoria essencialmente fragmento e se situar em oposição ao símbolo orgânico. 'Na esfera da intenção alegórica, a imagem é fragmento, runa […]. A falsa aparência da totalidade se extingue.' 2. O alegorista junta os fragmentos da realidade assim isolados e, através desse processo, cria sentido. Este é, pois, um sentido atribuído; não resulta no contexto original dos fragmentos. 3. Benjamin interpreta a atividade do alegorista como expressão da melancolia. (2008, p.141) 4. Também a esfera da recepção é considerada por Benjamin. A alegoria, que pela sua natureza é fragmento, apresenta a história como decadência: 'a alegoria mostra ao observador a facies hippocratica da história como protopaisagem petrificada. (2008, p.142) No primeiro tópico, Bürger já aborda uma oposição básica trazida por Walter Benjamin para definir alegoria: orgânico vs não orgânico. O “símbolo orgânico” a que Benjamin se refere, diz respeito a uma estética que critica, identificada também no romantismo alemão. O significado da obra de arte ou de determinada construção literária é dado de modo imediato, numa associação direta entre a imagem fornecida pelo autor e seu significado, apresentando-se sempre como símbolo ao seu espectador e/ou leitor. No caso da alegoria, a relação que se constrói do espectador/leitor com a obra passa a ser algo mais próximo de uma interlocução, ou seja, o significado não é dado por quem a produz, nem é único, mas se constrói por diversos caminhos. Essa possibilidade é dada através dos diversos elementos utilizados na obra, que, privados de sua função e contexto “original”, são utilizados de forma mais livre na construção desse jogo de significados. Outro ponto importante no conceito de alegoria de Benjamin é o entendimento desse processo como melancólico. Ao perceber a ruína do mundo, a decadência, a impossibilidade de se construir objetos e textos que possuam uma unidade, uma totalidade que dê conta de suas questões de forma fechada, definida, o homem se depara com esse aspecto duro da realidade e procura outras formas de organizar o mundo, visto agora nesse seu aspecto de catástrofe, seja através da literatura, da arte ou da história. Ainda no mesmo texto, Bürger explicita como a alegoria está associada a determinados procedimentos – apropriação e colagem – que são muito utilizados na produção artística moderna e contemporânea. É que essa categoria une dois conceitos relativos à estética da produção – dos quais um diz respeito à manipulação do material (o arrancar os elementos a um contexto); o outro, à constituição da obra (aglutinação de fragmentos e atribuição de sentido) – a uma interpretação do processo de produção e de recepção (melancolia do produtor, apreensão pessimista da história por parte do receptor). [grifo nosso] (2008, p.142-143) Não só o artista renuncia à conformação do todo do quadro; também o quadro adquire um outro status, pois, frente à realidade, suas partes não assumem mais aquela relação que é característica da obra de arte orgânica. Como signos, as partes não se referem mais à realidade, elas são realidade. (2008, p.155) Esse processo de produção característico do processo alegórico produz outras relações também entre obra e realidade. O aspecto de fragmentação da obra, retomado por Bürger, e a construção de signos que não se referem à realidade como símbolos, mas são pedaços da realidade em si e se constituem como realidade nos contextos a que são transportados adquirindo novos significados. Trazido esse conceito para a modernidade, mais precisamente para o início do século XX, podemos perceber a interessante relação entre a noção de alegoria e os diversos movimentos de vanguarda que pretendiam discutir a unidade e originalidade do objeto artístico. Os papiers collés de Picasso, a que se atribuiu ao movimento de Cubismo sintético; as colagens de Kurt Shwitters, com objetos da realidade transportados para um suporte único; as fotomontagens políticas de John Heartfield contra o nazismo são alguns exemplos mais comuns de como o procedimento alegórico (apropriação, aglutinação e atribuição de sentido) foram amplamente utilizados na arte moderna. No entanto, nosso foco, nesse texto é a produção contemporânea. A alegoria se manifesta numa grande quantidade de trabalhos como um procedimento contemporâneo muito conhecido e de fácil manejo para atribuir sentidos políticos, sociais, culturais dos mais diversos a imagens, palavras, expressões tiradas da realidade. Cindy Sherman e Yasumasa Morimura se apropriam de imagens de personagens, reais e fictícios, para se autorretratar nas imagens escolhidas, construindo uma colagem que se baseia prioritariamente na inserção dos seus corpos na obra de arte. Os autores das obras passam também a ser personagens das mesmas, assumindo os mais diversos papéis. Os dois artistas começam a realizar esses trabalhos em períodos próximos, na década de 1980, ao perceberem uma condição propícia para a discussão da identidade. Como coloca Francesco Strocchi: Sustained by the the stabilization of the capitalist system and a expanding culture of personal freedom, individuality was exalted by aesthetic enhancement. People were quite blatant and blasé about using masks to represent different selves. The eighties saw masquerading become pervasive in the media and show business, with aesthetic extravaganzas and an unrestrained cult of the body. The popularizarion of surgery made it possible for people to represent themselves in ways they had always dreamed of doing, and as they were increasingly encouraged to do. In the years that followed this aesthetic questing, new instruments emerged to enable people to disguise their identity or create a new one (think of chat 1 rooms). Sherman was quick to pick up these changes. (2007, p.12) Em diversos trabalhos, Cindy Sherman através da maquiagem e das vestimentas assume diversas identidades anônimas, já que não se referem a alguma personalidade pública específica ou a alguém que seja identificado em seus trabalhos, modificando continuamente suas máscaras. Na série de cinco imagens, Untitled A-E (1975) [Fig. 3], a artista assume o papel de diversas mulheres, modificando suas feições e procurando assumir essas identidades de uma maneira bem superficial – como nas mudanças que nota na sociedade – e efêmera, à medida que o tempo de duração de cada identidade assumida é o tempo de preparação e desmontagem para a série fotográfica. Cada identidade, cada individualidade representada só é assumida através dos aspectos exteriores que podemos perceber. Em outra série Film Still (1977-1980) [Fig.4], a artista cria stills de diversos personagens criados por ela mesma para esse trabalho. Em cada um desses cliques pouco há de informação sobre o momento anterior ou posterior, permanecendo a história desses personagens em suspensão. Temos, portanto, no conjunto de sua obra, uma série de autorretratos da artista como “outros”, de forma que não podemos nem apreendê-la como indivíduo, dado, fechado, com características que sejam fixas, marcantes, nem a esses “outros”, ao identificarmos esses como máscaras utilizadas pela artista. Esse processo a que Cindy Sherman se submete tanto discute a flexibilização das identidades através do uso das máscaras, quanto levanta o questionamento de como essa variedade de personagens assumidos por Sherman e por outras pessoas naquele momento não significa necessariamente a complexificação da identidade do indivíduo que pode viver essa experiência sem qualquer choque. A artista, através de seu ato reiterado, procura despertar o questionamento de como procuramos assumir essas identidades tão mutáveis, que na contemporaneidade parecem se relacionar apenas a uma questão de visualidade, da embalagem, de um novo do mundo do consumo a que se refere Adorno. Já Yasumasa Morimura, discute a questão da identidade através da perspectiva mais específica do gênero. O artista escolhe principalmente ícones da História da Arte2 e, muitos deles, ícones femininos, reencenando-os. Procuraremos, a seguir, através da análise específica de uma das obras desse artista identificar de modo mais pontual como a alegoria pode ser construída nesse trabalho contemporâneo. Escolhemos para a análise o trabalho de Yasumasa Morimura, Daughter of Art History (Theatre A) [Fig. 5], 1990, que é construído como uma releitura de Un bar aux Folies-Bergère[Fig.6], 1882, de Manet. Verificaremos alguns pontos presentes na obra de Manet para, em seguida, nos voltarmos a Morimura. Caroline Amstrong, em sua análise sobre o quadro de Manet destaca o papel do espelho no quadro, como produtor de uma inconsistência na obra.. In the Bar, by constrast, the viewer is given another side of the woman it reflects, less upright and autonomous, less flatly resolved, than her twin behind the counter. So now the mirror provides what it should in the way of another view of the woman it reflets, though it does so to create an enigma. And now the mirror divides the world in separate zones, only to tie them 3 again into an inextricable knot. (2002, p.288) A presença do espelho e o enigma que ele cria ao não refletir diretamente a imagem da mulher, presente no primeiro plano do quadro, mostrando outro aspecto da sua profissão no reflexo é um dos pontos principais para a construção da alegoria, tanto em Manet, como em Morimura. Em Un bax aux Folies-Bergère, podemos perceber ao fundo, no reflexo do espelho, as costas da mulher bartender e o reflexo de um homem do qual não há qualquer indício no primeiro plano. O homem, ao fundo, à direita do quadro parece observá-la. Podemos ver no rosto da mulher, no primeiro plano, seu olhar vazio, como se estivesse mergulhada nos próprios pensamentos. Esse isolamento, essa introspecção contrasta com a grande quantidade de público que há no bar – que vemos através do espelho – e que ela supostamente deveria atender. É como se naquele momento tudo se subtraísse e, apesar dos vários ângulos de visão do bar apresentados por Manet, não pudêssemos ver como ela, pouco soubéssemos sobre a cena observada, sobre a personagem principal e o vazio que transparece. Como personagem principal do quadro, frontalmente dirigida a nós, observadores, a mulher – diferente de como ocorre em Olympia – não posa para nós, mas volta-se em nossa direção como que sem vontade, sem interesse. No entanto, na visão dela refletida, podemos observar uma inclinação do seu torso em direção ao homem que nos é apresentado também nesse reflexo, como se estivesse se oferecendo para ele. O segundo plano, o do espelho, parece revelar um pouco mais do enigma que a mulher no primeiro plano coloca. No entanto, as imagens refletidas que revelam mais do ambiente e de seus frequentadores não deixa de conter em si ângulos e “pistas” não tão óbvias para interpretarmos. For the reflected male customer is shown precisely where we as viewer cannot be, from a oblique angle that dislodges the mirrored space from the straight-on world of the counter, so that the painting becomes so deeply fissured between the illusion of obliquity and that of parallel planes of representation that we end up having no idea where to imagine ourselves 4 standing in front of it. (AMSTRONG, 2002, p.289-290) A posição da figura do homem, do reflexo da mulher e do reflexo das garrafas e outros objetos presentes no balcão nos faz perceber que o espelho não reflete de forma direta, frontal, o que se posiciona a frente dele. Isso faz com que até o olhar do observador não encontre seu lugar, seu referente no espelho, apesar da posição da mulher, em primeiro plano, colocada à nossa frente. Essas indicações sobre o lugar que os personagens e seus reflexos tomam no quadro de Manet ganham novos sentidos na releitura feita por Morimura. O artista se posiciona no lugar da bartender, de seu reflexo e no lugar do homem cliente. Suas feições assumem a posição tanto da figura masculina quanto da figura feminina presente na obra. O embate entre os sexos presente na obra, a mulher, gênero feminino, oferecendo o corpo ao homem, gênero masculino, é substituído por uma mescla entre essas identidades. Esses dois personagens bartender e cliente, ainda se observam no reflexo do espelho. Na apropriação de Un Bar..., Morimura deixa mais evidente a substituição de um personagem por outro. Faz um corte na imagem, deixando parte do braço da mulher de Manet visível, como se fossem talvez luvas das quais houvesse se despido e realmente se despe. Na imagem, o artista está nu, seus braços cruzam-se sobre o peito, como se estivesse se escondendo ou estivesse surpreso por ter sido descoberto (no sentido de estar nu e de ter sido revelado seu segredo) no lugar da mulher. Seu rosto tem maquiagem de forma a deixar sua pele branca. Seu corpo, no entanto, apresenta sua cor natural, estabelecendo um contraste da figura da pintura do século XIX, com a imagem do corpo do artista na atualidade. O vaso com flor que, na obra de Manet aparece mais à direita do quadro, assume a posição central, escondendo o sexo do artista. Estabelece-se então um jogo de esconder e revelar o sexo e as possibilidades de gênero a serem assumidas. O aspecto multifacetado da questão de gênero na atualidade, que não se constroi a partir de dicotomias tão definidas, mas que geram enigmas e questionamentos quanto à construção da identidade para nós é colocado por Morimura através do riso que sua imagem ocasiona. Suely Rolnik, no texto Guerra dos gêneros e guerra aos gêneros, aponta: Se quisermos evitar que a guerra politicamente correta dos e pelos gêneros se transforme numa guerra politicamente nefasta para a vida, será preciso travar simultaneamente uma guerra contra a redução das subjetividades a gêneros, a favor da vida e suas misturas. (ROLNIK, p.4) Travar uma guerra contra a redução das subjetividades a gêneros, através de uma maior liberdade para construção de identidades singulares, que não precisem se anunciar ou se definir de forma tão precisa é uma boa solução para períodos de maior tolerância. Morimura aponta para essa questão e para outros modelos de feminino – e, consequentemente, masculino – realizando recortes históricos e se apropriando de discursos e imagens para traçar seu entendimento contemporâneo dessas questões. Assim como os outros artistas vistos nesse trabalho, podemos perceber como o procedimento alegórico dá aos artistas a possibilidade fazer seus próprios recortes na história, na cultura, nas mídias para construir discursos à maneira de Benjamin, com seus “tempos de agoras”, “onde a história e a arte seriam abertas, potentes em relações e em fluxos” (GERALDO, p.97). REFERÊNCI AS BIBLIOGRÁFICAS ARMSTRONG, Carol. Manet Manette. New Haven and London: Yale University Press, 2002. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. Vol. 1. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970. __________. O segundo sexo: a experiência vivida. Vol. 2. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967. BUCHLOH, Benjamin. “Procedimentos alegóricos: apropriação e montagem na arte contemporânea.” In: Arte & Ensaios. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2000. BÜRGER, Peter. Teoria da Vanguarda. Tradução João Pedro Antunes. São Paulo: Cosac Naify, 2008. FRASCINA, Francis. Modernidade e Modernismo: a pintura francesa no século XIX . São Paulo: CosacNaify, 1998. GERALDO, Sheila Cabo. “Apague as pegadas: o inconsciente ótico e a montagem”. In: Walter Benjamin: arte e experiência. Org. Sérgio de Oliveira e Martha D'Angelo. Rio de Janeiro: Nau/ Niterói: EdUFF, 2009. MARTINS, Luiz Renato. Manet: Uma mulher de negócios, um almoço no parque e um bar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. PEREIRA, Denise Quintiliano. “Simone de Beauvoir: A Filosofia do Segundo Sexo no Terceiro Milênio” In: Matraga. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ. Volume 18, Janeiro-junho de 2006. 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Nos anos que seguiram essa procura estética, novos instrumentos surgiram para permitir às pessoas esconder suas identidades ou criar uma identidade nova (pense nas salas de bate papo). Sherman foi rápida ao perceber essas mudanças. [tradução livre] Cindy Sherman, em sua série History Portraits, também utiliza imagens da história da arte. No entanto, destacamos suas séries que lidam com personagens anônimos para destacar a discussão da identidade. Em Bar, por contraste, ao espectador é dado outro lado da mulher, ele reflete, de forma menos reta e autônoma, com uma superfície plana menos bem resolvida que seu duplo atrás do balcão. Então, agora, o espelho provê o que ele deveria de maneira a mostrar outra visão da mulher, ele reflete, no entanto, cria um enigma. E agora o espelho divide o mundo em zonas separadas, somente para uni-los novamente em um nó inextricável. [tradução livre] Através do cliente refletido no espelho nos é mostrado exatamente onde nós como espectadores não podemos estar, a partir de um ângulo oblíquo que desloca o espaço espelhado do mundo posicionado a frente do balcão, de forma que a pintura se torna tão profundamente fissurada entre a ilusão da obliquidade e os planos paralelos da representação que nós acabamos não tendo ideia de onde nós imaginarmos posicionados na frente da pintura. [tradução livre]