Liderança e Empreendedorismo
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Liderança e Empreendedorismo
Liderança e Empreendedorismo FTC DIGITAL | CIDADE DIGITAL – 2011 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO IMES Instituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda. William Oliveira Presidente MATERIAL DIDÁTICO Produção Acadêmica Tiago Cordeiro Produção Técnica Paula Rios | Revisão de Texto Everton Melo | Analise Pedagógica Equipe Ana Carolina Paschoal, Aurélio Corujeira, Diego Aguiar, Fernando Fonseca, João Jacomel, José Cupertino, Larissa Valéria Aragão, Lorena Porto Seróes, Luís Alberto Bacelar, Márcio Serafim. . Imagens Corbis/Image100/Imagemsource © 2011 by IMES Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, tampouco poderá ser utilizado qualquer tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem a prévia autorização, por escrito, do Instituto Mantenedor de Ensino Superior da Bahia S/C Ltda. 2011 Direitos exclusivos cedidos ao Instituto Mantenedor de Ensino Superior da Bahia S/C Ltda. 2 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO APRESENTAÇÃO Prezados Discentes, Olá? Tudo na paz? A história nos mostra que o mundo, em seu processo evolutivo, sempre passa por mudanças, contudo diversos autores começam a pontuar que a partir da década de 1970, a sociedade global, com toda sua heterogeneidade, começou a passar por um processo de transformação profunda, significativa e dinâmica. Ou seja, o processo transformacional era paulatino e gradual e quase não se percebia diferenças entre uma geração e outra e hoje, em função da velocidade com que as “coisas” se propagam, verificamos a mesma geração com mais de um paradigma. Esta dinâmica nos leva a vivenciar na atualidade, choques de paradigmas e a necessidade de adaptabilidade para garantir espaço não só no mercado de trabalho, mas também para conseguir se posicionar perante a realidade em que se apresenta. Vivemos num conflito ou reordenamento de concepções em que cada vez mais é necessário o desenvolvimento de habilidades e competências, dentre as quais destacamos a Liderança e o Empreendedorismo. Esta disciplina se justifica devido, justamente, ao fato de que a sociedade contemporânea, em especial o mercado de trabalho, vem exigindo dos profissionais, independentemente da área de atuação, o desenvolvimento da habilidade de liderar grupo e uma postura empreendedora perante o labor, independente de se ter um negócio próprio ou ser colaborador. Sendo assim, nosso foco, nesta disciplina, é apresentar conceitos e perspectivas sobre estas duas temáticas, buscando instrumentalizar o discente de mecanismo que favoreça tal desenvolvimento. Neste sentido, além do material didático e das aulas, disponibilizamos um Ambiente Virtual de Aprendizado (AVA) com diversas ferramentas com as quais poderemos interagir para maximizar nossos estudos. No AVA dispomos de Fórum de debates, no qual todos os alunos e o professor podem dialogar sobre algum tópico específico contemporâneo ou não; há o Chat no qual esta interação é on-line, possibilitando solucionar dúvidas e explanar mais detalhadamente sobre determinado aspecto que o aluno deseje se debruçar; o Blog da disciplina no qual serão postados artigos, comentários e notícias relevantes ao tema etc. Ressalto apenas que todo material desenvolvido e todas as ferramentas disponíveis foram criados para auxiliar seus estudos, mas nada substitui a dedicação e o emprenho que o aluno necessita desprender nesta caminhada pelo saber. Sei que posso contar com você e tenha segurança que poderá contar comigo, pois além de professor, sou um amigo que deseja apenas seu sucesso. Boa sorte e vamos ao trabalho! Atenciosamente, Prof. Tiago Sá Teles Cordeiro 3 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO SUMÁRIO BLOCO TEMÁTICO I - LIDERANÇA .......................................................................................................................5 TEMA 01 – UM ESTUDO SOBRE A LIDERANÇA........................................................................................5 1.1 Conceitos de Liderança.....................................................................................................................5 1.2 As Teorias Clássicas de Liderança .................................................................................................14 1.3 Estilos de Liderança ........................................................................................................................23 1.4 Motivação ........................................................................................................................................28 TEMA 02 - O QUE É SER LÍDER ................................................................................................................35 2.1 Líder Estratégico, Visionário e Gerencial ........................................................................................35 2.2 O Papel do Líder na Organização ...................................................................................................42 2.3 Questões Contemporâneas sobre Liderança..................................................................................47 2.4 Como Ser um Líder Empreendedor.................................................................................................53 BLOCO TEMÁTICO II - EMPREENDEDORISMO..................................................................................................59 TEMA 03 - PRINCÍPIOS E FERRAMENTAS PARA SER UM EMPREENDEDOR DE SUCESSO.............59 3.1 Origem do Empreendedorismo .......................................................................................................59 3.2 O Espírito Empreendedor................................................................................................................65 3.3 Ferramentas Básicas para Empreender..........................................................................................74 3.4 Ética e Responsabilidade Social dos Empreendedores ..................................................................82 TEMA 04 - O NOVO PERFIL DO PROFISSIONAL CONTEMPORÂNEO ..................................................86 4.1 Mundo do Trabalho e Gestão Empreendedora ...............................................................................86 4.2 Importância do Empreendedorismo para o Desenvolvimento do Brasil ..........................................90 4.3 Empreendedorismo como Opção de Carreira.................................................................................96 4.4 Casos de Empreendedorismo .......................................................................................................101 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................108 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................109 4 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO BLOCO TEMÁTICO I - LIDERANÇA TEMA 01 – UM ESTUDO SOBRE A LIDERANÇA LIDERANÇA Saber é o primeiro passo antes de executar, por isso busque saber cada vez sobre o que realmente importa afinal absolutamente tudo começa por um ponto que está dentro de você. Tiago Cordeiro 1.1 CONCEITOS DE LIDERANÇA LIDERANÇA De uma forma ou de outra, todos temos um conceito, ainda que intuitivo sobre o que vem a ser a liderança, o que é ser líder ou o ato de liderar, mas em geral, quando questionados ficamos sem saber como conceituar exatamente. Nesta perspectiva, Warren Bennis1 chega a afirmar que a liderança é como a beleza: simples de reconhecer, contudo complicado de definir. Dentre as mais diversas concepções de liderança, há uma confusão não raro de ocorrer. Por estar em destaque e por exercer influência sobre as pessoas, o líder pode ser percebido, erroneamente, como uma pessoa que atua dentro da perspectiva do autoritarismo, impondo sua vontade. Em verdade, o líder deve ser carismático e atrair as pessoas livremente, ainda que seja autoritário, em outras palavras, o líder deve ter o consentimento de seus liderados para que seja considerado como tal. Esse é um ponto crucial da liderança: CONSENTIMENTO. Tanto assim que Antonio Cesar A. Maximiano (2000, p. 327), defende que, De fato, um elemento importante em qualquer definição de liderança é o consentimento dos liderados. Só há liderança quando os liderados seguem o líder espontaneamente. O consentimento pode depender da crença na validade da missão que o líder propõe ou do desejo de receber uma recompensa prometida pelo líder. A ideia de consentimento exclui a coerção como base de liderança. No entanto, certos grupos baseiam-se na aceitação de um líder que é pessoalmente autoritário ou personifica valores autoritários. (…) A liderança ocorre quando há congruência entre a proposta do líder e a recompensa esperada pelo grupo, ou problema que o grupo precisa resolver, que cria no grupo a disposição (ou motivação) para fazer aquilo que o líder propõe (MAXIMIAMO, 2007, p327). É por isso que podemos afirmar que pessoas com características tão distintas possam ser consideradas verdadeiros líderes. Por exemplo, quando avaliamos a trajetória de vida de Mahatma Gandhi, líder indiano que teve uma proposta de desobediência civil, com uma atuação baseada na não violência, e que em determinado momento guiou aproximadamente 60.000 mil 1 BENNIS, Warren. A formação do líder. São Paulo: Atlas, 1996. 5 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO no movimento denominado de “A marcha do sal”; e Adolf Hitler que liderou a Alemanha de forma autoritária, a partir de 1934, comandando não só o exercito como também aceito pela sociedade civil alemã, comentando uma das maiores barbárie contra a humanidade: o Holocausto, ambos foram lideres extraordinários. A liderança é algo carismático, na qual o liderado sinta-se “atraído” pelo líder que, possuindo conhecimento, iniciativa etc. e sendo admirado pelo grupo guia as pessoas naturalmente. Não se considera se ele possui boas ou más intenções, pois esta questão ética é observada pelos seguidores e que o fará ser aceito ou não, mas o fato é que: uma vez sendo aceito, ele é referência e convence, detendo a “razão”. Por definição, um líder é, claro, alguém que tem seguidores. Mas esse truísmo levanta outras questões, sendo que a não menos importante é a questão ética se são líderes ou não pessoas como Hitler, cujas histórias evocam imagens feias. A maioria das pessoas concordaria, relutante, que sim, são líderes – embora líderes diabolicamente maus (WEISS, 1993, p.10). Não que a ética seja irrelevante, mas tão pouco nos cabe avaliá-la como critério de definição do líder ou como requisito da liderança. Cabe-nos fazer uma análise genérica sobre o tema, evidenciando a pluralidade de características que tornam os indivíduos ícones de liderança. Para galgar este status deve ser observado muito mais o grupo já que é o elemento que consolidará a liderança, endossando os atos, ações e realizações propostas pelo líder. Fica claro, assim, que o simples fato de se ter autoridade formal não é suficiente para exercer de forma plena a liderança. Se o “chefe” possui autoridade imposta ou concedida, mas que não conquista o respeito de seus funcionários e não tem de forma consentida a capacidade de influir nas ações dos demais, não pode ser considerado líder. Ele comandará a equipe, mas não liderará o grupo. Nogueira de Faria (1982; p.4 - 5), destaca a diferença entre líder e chefe. Para o autor, Chefe é aquele que dispõe de autoridade formal mediante a investidura em cargo previsto na estrutura orgânica, decorrente do estatuto da instituição, e cujas atribuições outorgam capacidade para representá-lo, deliberar e decidir dentro das limitações de sua competência. Na prática é quem manda, tendo alguma forma de poder e possibilidade de coagir alguém para realizar determinada tarefa ou missão (…) [o líder por sua vez,] é aquele que é seguido mesmo não dispondo de qualquer chefia ou autoridade estatutária, porque consegue ser aceito e respeitado, porque é capaz de unir o grupo, representá-lo e de levá-lo coeso à perseguição e à defesa dos anseios comuns, de manter um bom relacionamento e, além disso, possui grande identificação com os seus companheiros (FARIA, 1982 p. 4-5). Ainda nesta perspectiva, ressalta-se que a autoridade formal, base das divisões hierárquicas das organizações e que serve para definição de cargos, funções e subordinação entre os mesmos, levando as pessoas a criarem uma relação de poder e de influência entre si por determinação legal, não é critério de escolha de liderança. Observando as características de ambos – autoridade formal e liderança – postulado por Antonio Cesar A. Maximiano, verificamos o seguinte quadro. 6 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO AUTORIDADE FORMAL Baseia-se em normas que formam uma legislação e que são aceitas ● LIDERANÇA ●É subjetiva, pessoal e intransferível. Pertence ao cargo, não ao indivíduo. O ● Limitada ao grupo social ao qual o líder exerce ocupante do cargo é que é a figura de influência. autoridade. ● Estabelece o comportamento desejado ● Cumpri função social, referente aos interesses do dos seguidores e limita a ação das figuras grupo. de autoridade. ● Permanente ao cargo, enquanto este ● É efêmera, visto que depende da sintonia do estiver em vigor. grupo e do líder. ● Temporário para a pessoa que ocupa o ● Produto de diversas habilidades, interesses e cargo traços de personalidade. ● FONTE: ADAPTADO DE MAXIMIANO (2000, P. 328) Observa-se que ambos nem sempre andam juntos, possibilitando diferenciar chefes de lideres. Evidencia-se, então, que ambos os fatores não são sinônimos, mas sem dúvidas há uma forte relação entre eles, pois ambos propiciam poder2. Podemos afirmar que a base motivacional das pessoas que são influenciadas pela liderança autêntica é distinta das que obedecem aos detentores de cargos de “poder”, advindo da autoridade formal existente nas organizações. O que se consta é que no primeiro caso, o nível de comprometimento e de interação é maior que no segundo, ampliando a produtividade e eficiência dos seguidores e, consequentemente, agrega valor à organização. E é em função disto que cada vez mais as empresas buscam desenvolver esta habilidade em seus gestores ou pessoas que ocupam cargo detentores de poder formal. Nas últimas décadas, devido à mudança de conjuntura social, na qual surgiu um mundo “globalizado” em todos os aspectos, seja econômico, cultural, político etc., as exigências mudaram o nível de competição entre as empresas, aumentando de forma considerada a busca por pessoas com certas habilidades e competências, o que, certamente, trará resultados mais sólidos, permitindo uma competição mais sólida num mercado dinâmico e volátil. Claudia Bittencourt (2004, p.272), corrobora com esta percepção, postulando que, As mudanças no contexto sociopolítico e econômico enfatizam características do líder que anteriormente eram negligenciadas. Cada vez mais são valorizados aspectos como flexibilidade e capacidade de coordenar e atuar em equipe, de ser visionário, de ser um contínuo aprendiz. Nesse sentido, a liderança é apontada como força motriz essencial às organizações, de tal modo que é citada como principal alavanca para a vantagem competitiva (BITENCOURT, 2004, p.272). 2 Mesmo não sendo objetivo aprofundar na relação de poder existente nas organizações, adota-se a definição de poder fornecida por Champion (1979, p.137) que entende poder como capacidade de uma pessoa em fazer com que suas determinações sejam cumpridas por outra(s). 7 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Em função disto, saber distinguir quando está liderando ou quando se é atendido em função do cargo que ocupa se torna uma ferramenta fundamental aos gestores. Maximiano (2000, p.329), elabora um quadro de distinção muito útil, como podemos observar abaixo: Sendo assim, sabe-se que nenhuma definição sólida de liderança deve desconsiderar o consentimento dos seguidores, nem tão pouco defender a perspectiva de que autoridade formal seja suficiente, ou mesmo critério mínimo para haver uma relação de liderança entre as pessoas. Pelo contrário, a definição deve possibilitar haver em um departamento, setor ou seguimento de determinada instituição em que possa haver o chefe e o líder co-habitando o mesmo espaço, ainda que o ideal seja que o chefe se torne o líder. John C. Maxwell (2007), endossando esse viés ao postular que o primeiro conceito errado que as pessoas, em geral, têm sobre liderar, seria a crença de que a mesma é oriunda simplesmente de uma posição ou título. Este autor defende um conceito simples, mas bastante completo sobre liderança, que é: capacidade de influenciar os demais a sua volta. Por isso, defende a ideia 8 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO de LÍDER 360º, que é a pessoa que consegue influenciar em todas as direções da hierarquia organizacional. Maxwell (2007, p. 19), aborda a temática muito focada na organização, contudo nos traz uma ferramenta denominada de “Os cinco níveis de liderança”, que pode ser aplicada, quando adaptada, em nosso cotidiano e a qual propõe uma dinâmica do desenvolvimento desta habilidade. Observa-se que na 1º disposição, denominada de Posição, não ocorre liderança de fato, pois a influência sob ao demais se dá em função do “poder” formal, da autoridade instituída e não por consentimento das pessoas. Em seguida, segundo nível – Permissão – é indicado, antes de qualquer coisa, a necessidade de se relacionar com as pessoas do grupo, e não apenas com o pro9 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO fissional que está no mesmo setor que você, objetivando um estreitamento das relações interpessoais, mesmo que não haja necessariamente intimidade excessiva. Este contado permite criar uma relação de confiança entre as pessoas, além de conhecer as demandas de seus seguidores em potencial. O nível 3º, o da Produção, foca sua competência profissional, sua habilidade em executar seu trabalho de forma a agregar valor ao grupo em geral, afinal, ninguém seguirá aquele que não mostrar pelo exemplo que é capaz de somar ao grupo com sua força de trabalho. O quarto nível, denominado de Desenvolvimento Pessoal, evidencia a necessidade de você demonstrar que suas intervenções trazem ou trarão resultados positivos para o grupo, e para cada componente do mesmo individualmente, assim lhe seguirão em função também de sua competência em assumir essa função. O autor observa que para galgar este nível, é faz necessário se concentrar nos anteriores, valorizando e agregando valor, tornando-se um componente atuante e valioso para o grupo. Por fim, no ultimo nível nomeado de Personalidade é algo que não se tenha controle, pois é quando sua influência ocorre em função de suas características pessoais. Este nível lhe é dado pelo grupo, ou melhor, por cada um dos seus seguidores. É possível desenvolver os anteriores e ainda assim não chegar ao quinto, assim como lhe pode ser dado este nível sem que haja grande esforço nos anteriores, mas o que se ressalta é que seguramente para atingir este nível de liderança é preciso: da permissão (consentimento) do grupo; mostrar que agrega valor, que produz resultados; e evidenciar sua capacidade de desenvolver cada seguidor. Outra ferramenta importante apresentada por Costa (2010 p. 25), e denominada de Paralelogramo da Liderança, mostra uma relação entre o nível de atuação do líder e seguidores em função dos objetivos traçados para o grupo. É obvio que a construção do grupo é algo coletivo, visto que a liderança é um processo social que exige inter-relação entre seus componentes. Neste processo social – liderança – fica claro que quanto maior for o autodesenvolvimento3 de seus componentes, ou seja, quanto maior a maturidade do grupo mais coletiva são as decisões e assim mais uníssonas serão suas ações. Assim, ampliará consideravelmente o grau de comprometimento, desprendimento e dedicação do grupo, aumentando sua eficiência, pois existe, por parte do grupo, um claro sentido em fazer aquilo determinado pelo líder. Logo, essa maturidade vinda do autodesenvolvimento favorece a definição do líder, como exorta Costa (2010), em seu prefácio, (…) somos seres sociais; e não existe sociedade sem lideres. Contudo, é notório o fato de que, dentre estes, aqueles que mais souberem se autoconhecer, mais saberão realizar isso, nisso e por isso; e quem mais souber liderar a si mesmo, será naturalmente convocado a liderar outros, pois só quem sabe se liderar tende a liderar outros (COSTA, 2010). Podemos observar com o Paralelogramo da Liderança que na medida em que o grupo se torna mais maduro, e tendo um líder que permita a participação dos membros do grupo na construção dos objetivos comuns, assim como do tirocínio proposto por Costa (2009)4, menor é a atu- 3 Consideramos o autodesenvolvimento como a capacidade do indivíduo, em autoconhecendo-se, implementar ações em prol do desenvolvimento profissional, pessoal e filosófico. Evidenciando a habilidade de autoliderar-se. 4 Exercício que possibilita o desenvolvimento cognitivo, através da reflexão acerca da Definição, Finalidade, Justificativa, Fundamento, Métodos, Recursos e Fontes de qualquer objeto 10 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO ação individual do líder e maior é a participação de todos os componentes do grupo. A ideia é que o líder se torne um facilitador para definição dos objetivos traçados e não um “ditador” dos mesmos. James C. Hunter, no best-seller “O monge e o executivo”, traz uma definição interessante acerca da liderança, segundo o autor, liderança é “(...) a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum” (HUNTER, 2004 p. 25). Orientando o ambiente corporativo, reforçando a visão de líder dotado de habilidades e competências que o tornarão motivador, bem-intencionado para com os seguidores, visionário etc., o autor propõe um modelo de liderança bem progressista, como observamos abaixo: 11 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Resumo de HUNTER “A liderança começa com a vontade, que é nossa única capacidade como seres humanos para sintonizar nossas intenções com nossas ações e escolher nosso comportamento, assim, é preciso ter vontade para escolhermos amar, isto é, sentir as reais necessidades, e não os desejos, daqueles que lideramos. Para atender a essas necessidades, precisamos nos dispor a servir e até mesmo a nos sacrificar. Quando servimos e nos sacrificamos pelos outros, exercemos autoridade ou influência (…). E quando exercemos autoridade com as pessoas, ganhamos o direito de sermos chamados de lideres.” FONTE: HUNTER (2004, P.70) Maximiano (2000), defini este “fenômeno” como um processo que influencia o comportamento ou condução das ações das outras pessoas, sem importar a proximidade física ou temporal. Esta perspectiva permite considerar grandes ícones históricos, já falecidos, como lideres influentes na contemporaneidade, ou ainda nos faz perceber que pessoas que residam em localidades díspares e que nunca tenham se encontrados possam estabelecer uma relação de liderança. Claudia Bittencourt (2004, p.277), após fazer um apanhado histórico das definições sobre liderança, e elaborando um quadro sobre diversos conceitos, seus autores, e a respectiva ênfase dada e cada significado (Figura a seguir) postula que, (…) a liderança pressupõe relações sociais de influência e reciprocidade, de modo que um dos membros atua em determinados momentos como um facilitador com vistas ao alcance de um objetivo comum que, sendo compartilhado, terá maiores possibilidades de ser alcançado com melhores resultados (BITENCOURT, 2004, p.277). 12 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO FONTE: BITENCOURT (2004, P.277) No sentido de ampliar o arcabouço teórico sobre o conceito da liderança, apresentamos ainda um quadro com outras conceituações acerca da liderança, extraído da obra de Bergamini (1994). AUTOR CONCEITO Hemphill & Coons, (1957) (…) comportamento de um indivíduo quando está dirigindo as atividades de um grupo em direção a um objetivo comum Janda, 1960 (…) um tipo especial de relacionamento de poder caracterizado pela percepção dos membros do grupo, no sentido de que outro membro do grupo tem o direto de prescrever padrões de comportamento na posição daquele que dirige no que diz respeito à sua atividade na qualidade de membro do grupo Jacobs, 1970 (…) interação entre pessoas na qual uma apresenta informação de um tipo e de tal maneira que os outros se tornam convencidos de que seus resultados serão melhorados caso se comporte da maneira sugerida ou desejada Rouch & Behling, 1984 (…) processo de influenciar as atividades de um grupo organizado na direção da realização de um objetivo FONTE: BERGAMINI (1994) 13 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO É vasta a literatura sobre esse tema e muitas são as definições sobre liderança, mas quase todas apontam alguns princípios basilares incomum. Em primeiro lugar, não podemos perder de vista que se trata de um processo social, ou seja, envolve duas ou mais pessoas. Logo, não há líder sem liderados e ambos são importantes. Este fato não deixa de observar que o líder se destacará dentre os membros do grupo, mas tão pouco pode ser considerado mais importante que os liderados. Em sendo um processo social, fica claro que a habilidade de comunicação adequada5 é condição sine qua non. Uma vez claro que se trata de uma relação entre indivíduos, a característica marcante desta relação é o poder de influência que um exerce sobre o outro ou outros. Ao líder cabe influir, induzir, motivar o comportamento dos componentes do grupo para que todos atuem, realizem, e/ou se comportem de forma a agregar valor ao grupo. Outro ponto crucial é o consentimento, fator indispensável, imprescindível e intransferível. Assim, liderar representa que o grupo delegou esta função a alguém, e o mesmo deve atender as exigências do mesmo, servindo-o. Esta é a principal diferença de líder e chefe, pois uma pessoa que detém a autoridade formal do cargo, porém não tem o consentimento do grupo para guiálos será apenas o chefe, da mesma forma que ser escolhido como líder não é condição suficiente para ser o chefe (possuir o poder formal). Por fim, para que haja o consentimento um fator é determinante, ou seja, ambos precisam ter objetivos incomuns. É através dessa perspectiva que compreendemos que o líder deve conhecer bem seu liderado e suas respectivas demanda, para que possa atender as suas expectativas, servindo-o sem que seja um serviçal6. Entendemos que o objetivo incomum é o amalgama que une o grupo, e em especial, este ao seu respectivo líder. Logo, o sentimento de pertencimento7 deve ser presente, fazendo o líder ter um viés de atuação, mesmo quando pensando no resultado da organização, voltado ao desenvolvimento dos componentes do grupo. Tendo em vista toda a complexidade que envolve a liderança e para encerrar este conteúdo ficamos com a seguinte frase: “Mesmo para os indivíduos mais privilegiados, o processo de se tornar um líder é árduo, embora recompensador; uma jornada de contínuo aprendizado e autodesenvolvimento” (REVIEW; 2008 p. 2). 1.2 AS TEORIAS CLÁSSICAS DE LIDERANÇA "A verdadeira liderança deve embasar-se em princípios fundamentais, Universais.” Jair Tércio Cunha Costa 5 Considerada nesta obra como a capacidade de entender e se fazer entender, de forma plena. Ou seja, manter uma comunicação, ainda que não verbal, com baixo índice de “ruído”. 6 Esta afirmação retrata a diferença entre atender/propiciar o que seja necessário ao indivíduo e não o que o mesmo deseje obter. 7 Entendemos que isto ocorre quando a pessoa sente ser de fato parte do grupo, membro efetivo que busca atingir os objetivos coletivos, e não simplesmente um chefe capaz de influenciar. 14 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO A liderança é um fenômeno tão antigo que não há consonância entre todos os pesquisadores que possibilite identificar sua origem. Na realidade, costumamos afirmar que este fenômeno está no “DNA” da humanidade. Desde que haja duas ou mais pessoas com objetivos comuns, haverá um líder para guiar o grupo. Ao se reportar ao fator histórico da humanidade mais antigo que se lembre, identificaremos a presença de uma pessoa “à frente” do grupo. O desempenho que a liderança traz perante a atuação na coletividade, em especial, sobre as massas sempre impulsionou grandes pensadores a estudar essa temática, isso já na Antiguidade. Platão defendia que os líderes deveriam buscar estar perto das pessoas com capacidade de execução para ser efetiva suas deliberações, contudo os liderados deveriam se submeter a uma obediência cega e respeitosa, consenso da época. Não só Platão, mas diversos outros filósofos da época também defendiam a necessidade de se treinar e educar a liderança política da época, fato verificável na obra República escrita por Platão, e, posteriormente, endossada por seus discípulos. Há autores que consideram Maquiavel, na Idade Média, um dos marcos ocidental sobre este tema, devido à sua obra: O Príncipe. Esta obra versa sobre como um monarca poderia desempenhar bem seu papel de “líder” ou Rei, sem colocar em risco seu mandato. Ou seja, como equilibrar suas ações para que seu poder perdure no decorrer dos anos. No oriente, A Arte da Guerra de SUN TZU, século II a.C., também retrata a importância da liderança e como ela é fundamental para vencer a “batalha”, ou seja, para alcançar melhor eficiência dos liderados, transpondo os obstáculos e alcançando os objetivos. Bittencourt (2000), buscando localizar a origem do termo, afirma que, (…) verifica-se que a definição de “liderar”, palavra originária do inglês to lead, aparece registrada no ano 825 d.C., relacionada a comando, direção, condução entre outras. A palavra “líder” remonta ao século XIV, indicando aquele que conduz, enquanto liderança é encontrada na língua inglesa somente no início do século XIX (BITTENCOURT, 2000, p. 272). Apesar de antiga e de ser vista já como relevante, a liderança só começa a ser evidenciada com mais força a partir do século XX. A curiosidade em desvendar mecanismos que levam pessoas a mobilizar de forma consistente o comportamento dos demais se acentua, influenciada por trabalho como o de Thomas Carlyle (1841). Este pesquisador entende que a história poderia ser contada através dos grandes, e que os líderes são seres iluminados e superiores, possuidores desta capacidade inata à sua personalidade: a de conduzir uma massa desprovida de brilhantismo. No decorre das últimas décadas, buscou-se traçar linhas conceituais sobre a liderança e teve como resultado inúmeras conceituações com diversos enfoques. Devido ao pluralismo das idéias, optamos por relacionar aqui algumas dessas teorias ou enfoques, oferecendo uma base teórica que permitirá fluir e compreender as diversas concepções. TEORIA DOS TRAÇOS A teoria dos traços, primeira teoria sólida sobre liderança, é influenciada pelas ideias oriundas da concepção do GRANDE HOMEM, segundo a qual o líder é visto como ser extraordinário e que em tempos e tempos nascia este ser com grande influência perante a sociedade, com capacidade de transformar a história. 15 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Warren Bennis (2001), discorre sobre esse aspecto – Teoria do Grande Homem – postulando que para seus teóricos o poder de “comando” se encarnava em uma reduzida quantidade de pessoas, cujo destino era se tornar o líder dos demais. Sendo essa característica uma habilidade herdada, genealógica, por conseguinte impossível de ser desenvolvida. Esta concepção defende uma espécie de líder-herói, com uma inclinação nata para orientar a sociedade – liderança – baseada em suas características pessoais. Compreende-se, nesta teoria, que os indivíduos eram passivos, essa teoria é endossada pela concepção de Taylor de que a preguiça e a indolência eram inerentes à natureza humana, sendo que os liderados romperam sua “natureza” para atender às deliberações do líder. Esta base ideológica inspira teóricos que vão focar suas pesquisas no intuito de identificar quais são os traços, as características essenciais dos líderes, já no início do século XX. Essa concepção ganha mais força durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que em função do momento histórico, direcionava as pesquisas e tese no sentido de propor um modelo ideal de seleção de oficiais de comando, capazes de fazer a diferença nas frentes de batalhas. A ênfase em identificar tais traços perdurou até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), fomentando inclusive pesquisas biográficas dos grandes lideres histórico, com foco na identificação destes traços. Os pesquisadores vinculados a essas teorias, auxiliados também por testes psicológicos, buscaram definir traços para caracterizar o líder eficaz, listando atributos de personalidade, sociais, físicos e intelectuais que descrevessem esses líderes e os diferenciassem dos não-líderes, isolando atributos: Físicos: energia, aparência e peso; Intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança; Sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidades administrativas; Relacionados à tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa (CHIAVENATO, 1994) Esses pesquisadores, juntos, identificaram diversos traços, sendo que pouco mais de 5 deles apareciam com mais frequência, sendo que os mesmos não são garantidores de sucesso do processo de liderança. Na realidade, quase meio século de pesquisa não foi suficiente para comprovar 100% de eficiência desta teoria. 16 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Isso porque o foco das pesquisas se concentrou exclusivamente em um dos agentes deste processo social, o líder, considerando os seguidores como agentes passivos e dispensáveis para o estabelecimento deste processo de influência consentida, e ao inobservando, demonstra uma falha basilar da teoria. Maximiano (2000), postula que as conclusões dos teóricos não têm valor preditivo, pois pessoas que tenham traços semelhantes não se tornam necessariamente lideres, já que a combinação dos traços não semelhantes impactará na capacidade de influenciar das pessoas. Além disso, há grupos que aceitam líderes participativos, outros que preferem os deterministas, e há ainda grupos que não seguiram, de forma alguma, uma pessoa de perfil extrovertido etc. Chiavenato (1987, p.136), faz algumas considerações acerca das limitações da Teoria dos Traços, são elas: • Não ponderam a importância relativa de cada uma das várias características e traços de personalidade que realçam os aspectos de liderança. Em outras palavras, nem todos os traços são igualmente importantes na definição de um líder, pois alguns deveriam ter maior realce do que outros. • Ignoram a influência e reação dos subordinados nos resultados da liderança. A pergunta que paira no ar: um indivíduo pode ser líder para todo e qualquer tipo de subordinado? • Não fazem qualquer distinção entre traços válidos quanto ao alcance de diferentes tipos de objetivos a serem alcançados. Em algumas missões, alguns traços de personalidade são mais importantes do que outros: uma missão militar de guerra exige traços diferentes de um líder, enquanto uma missão religiosa ou filantrópica exige outros. • Ignoram completamente a situação em que a liderança se efetiva. Em uma empresa, existe uma infinidade de diferentes situações que exigem características diferentes dos líderes. Uma situação de emergência exige um tipo de comportamento do líder, enquanto uma situação de estabilidade e calma tem outras características diferentes. 17 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO • Dentro desta abordagem simplista, um indivíduo dotado de traços de liderança é sempre líder durante todo o tempo e em toda e qualquer situação, o que não ocorre na realidade. Um sujeito pode ser o líder inconteste na seção em que trabalha e o último a dar palpites em seu lar. Tendo com pressuposto básico que são os traços natos os responsáveis pela eficiência do líder, e ao não conseguirem apresentar de forma satisfatória quais seriam essas características basilares, a partir da década de 1940, outros teóricos começam a realizar pesquisas com outro foco, buscando ainda dissecar este fenômeno de forma a transpor as lacunas que emergiram. Contudo, apesar destes obstáculos, essa teoria traz resultados positivos ao evidenciar a existência de características que impactam sua eficiente. As abordagens mais contemporâneas que abordam a liderança carismática, fundamentada na atuação de um líder de personalidade marcante, em que o grupo, crendo que o mesmo tem “poderes” excepcionais, confia irrestritamente em sua atuação. Ou seja, faz uso de determinadas concepções da Teoria dos Traços. TEORIA DA LIDERANÇA COMPORTAMENTAL Como consequência das lacunas observadas na Teoria dos Traços, e influenciada pela Escola das Relações Humanas, com clara preocupação para com o ambiente psicossocial entre os indivíduos, surge um novo viés de pesquisa sobre a temática na qual entende que o processo social da liderança ocorre em função de como o líder se comporta perante os liderados. Este aspecto já é uma evolução da teoria anterior, na qual pairava certa “miopia” ao não buscar desdobramentos de suas premissas e engessando a concepção de que características individuais eram suficientes para desenvolver e manter uma relação de liderança entre pessoas; pois neste segundo momento, se acode a premissa de que a liderança é mais uma questão de atitude perante os demais do que pura existência de características pessoais, logo, é algo que pode ser desenvolvido por qualquer indivíduo. Essa teoria defende uma imagem, acreditamos, mais realista na qual a personalidade é um aspecto considerado, contudo são avaliadas as ações, a forma de se relacionar com os indivíduos, e não apenas pelo que representa enquanto pessoa, através de suas características. No quadrinho acima, fica claro que todos podem desenvolver a habilidade de liderar com eficiência, contudo existem atributos individuais que tornarão esse “trabalho” mais fácil ou mais complicado. 18 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO O enfoque da liderança pautada no comportamento ganha força e destaque a partir do meado do século passado no qual duas universidades norte-americanas, Ohio State University e University of Michigan, iniciaram pesquisas consistentes dentro deste “novo” enfoque. A Universidade de Ohio formou um grupo de pesquisadores que, observando os efeitos de comportamento de diversos líderes, buscava identificar dimensões independentes do comportamento do líder. Iniciaram com uma lista significativamente grande, há autores que apontam para pouco mais de mil dimensões, e foram reduzindo-a até encontrarem duas categorias que “respondiam” por quase todos os comportamentos dos lideres perante seus subordinados. Estas dimensões são: • Estruturação: é todo o complexo de tarefas desempenhadas pelo líder, com o objetivo de realizar com eficácia e perfeição os processos, os objetivos do grupo. Cabendo-o estruturar, definir e controlar a execução das tarefas de seus subordinados em prol das metas traçadas. • Consideração: ocorre quando o líder evoca aspectos humanistas, respeitando as ideias dos subordinados, considerando seus sentimentos, desenvolvendo uma relação interpessoal de confiança mútua, priorizando o bem-estar de cada subordinado, visando à satisfação do grupo. Considerado em conjunto e analisado de forma comparativa, observaram que em linhas gerais, o comportamento com viés de ESTRUTURAÇÃO apresentava um desempenho individual ótimo dos subordinados, eficácia dos objetivos, mas havia também um percentual de rotatividade, de insatisfação e de reclamações muito elevado. O ambiente de trabalho mais tenso, “stressante”, e limitando a autonomia e criatividade do grupo. Por outro lado e de forma inversamente proporcional, o viés da CONSIDERAÇÃO ao tempo em que baixa a rotatividade, eleva a satisfação e harmoniza o ambiente de atuação do grupo, baixa os índices de eficácia. Constataram que estas dimensões têm um caráter ortogonal, logo não seriam excludentes, permitindo que cada indivíduo possua percentuais distintos de cada uma destas dimensões. Esse postulado permitiu desenvolver o quadro bidimensional destas duas dimensões, no qual já se pode classificar estilos de liderança adotados, permitindo direcionar para o estilo que seja considerado melhor, como podemos observar abaixo: 19 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO A partir deste quadro, sugiram novas investigações, buscando definir o melhor perfil de líder. Investigações empíricas determinaram que a combinação das duas dimensões em caráter elevado seria o melhor estilo de liderança, independente da situação que esteja se passando. Assim, podemos afirmar que o líder ideal seria aquele que estabeleceria boas relações com os subordinados e ao mesmo tempo desempenharia um papel ativo no planejamento e direção das atividades dos grupos ou equipes. Esta constatação, hoje quase que intuitiva, carrega um terrível engano, uma vez que não considera o momento no qual o grupo está passando e defende que o melhor estilo de liderança tem eficiência para todo o tipo de grupo e em qualquer situação. A University of Michigan, mesmo usando metodologias distintas e utilizando aspectos comportamentais diferentes, chegou a dimensões semelhantes, denominadas de Orientação para o empregado, que dão ênfase às relações interpessoais; e Orientação para produção, focado nos aspectos técnicos do trabalho. Contudo, segundo ROBBINS (1999), as conclusões de Michigan tendem para o comportamento orientado para o empregado, visto que estes pesquisadores constataram maior percentual de maior produtividade e satisfação. Em 1964, Robert Blake e Jane Mouton realizaram uma pesquisa sobre liderança onde, fundamentados na visão bidimensional, criaram uma grade com 81 estilos de lideranças. Em realidade, se trata de duas escalas de 9 pontos cada, ligadas por um vértice, formando um ângulo de 90º. Cada interseção entre dois pontos de escalas diferentes é um estilo. Este modelo ficou conhecido como Grid Gerencial, no qual cinco estilos são os mais comumente apresentados. Os pontos em destaques são os cinco estilos mais difundidos e são conhecidos como: I. Gerência empobrecida (1-1) – orientação mínima tanto para a produção como para pessoas. Estilo comum quando há uma preocupação de realizar apenas o mínimo necessário para se manter na organização. II. Gerência de Clube Recreativo (1-9) – mínima orientação para a produção e máxima orientação para as pessoas. Cria uma atmosfera agradável de sentimentos positivos entre os membros do grupo, mantendo um ritmo de trabalho confortável e conformado. 20 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO III. Gerência do homem organizacional (5-5) – equilíbrio entre as orientações para produção e para as pessoas. Busca-se um rendimento satisfatório da organização, administrando as metas da produção e a conservação da moral das pessoas. IV. Gerência de equipe (9-9) - máxima orientação para a produção e para pessoas. Busca por melhores resultados como valorização do grupo no processo de galgar os objetivos, conciliando satisfação e bem-estar com cumprimento absoluto dos objetivos organizacionais. V. Obediência-autoridade (9-1) - máxima orientação para a produção com a orientação mínima para as pessoas. O líder busca exclusivamente atingir os objetivos da organização, esquecendo-se das questões relativas aos subordinados, aumentando o nível de estresse do ambiente corporativo. TEORIA DA LIDERANÇA SITUACIONAL Por fim, os pesquisadores perceberam que ao estudar o fenômeno da liderança, em vista de descobrir o modelo de líder mais eficaz, eles teriam que analisar de forma mais complexa e completa do que isolando simplesmente os traços de personalidade e o comportamento. A teoria do comportamento apesar de trazer diversas contribuições, não foi suficiente para definição do melhor estilo de liderança. Isto porque, ainda que os seguidores começassem a ser mais observados do que na teoria anterior, ainda não galgou devida atenção, afinal não há como predizer qual o melhor estilo de liderança sem conhecer os seguidores envolvidos. Afinal, é até intuitivo afirmar que um estilo de liderança pode ser eficiente para alguns lideres e não para outros, assim como certos estilos podem ser bom para determinados grupos e não para outros. Devemos considerar também que a depender da situação em que esteja passando o grupo, os seguidores possam preferir outro perfil de liderança. . A Teoria Situacional traz a perspectiva de que não há um estilo rígido para liderança. É valorizada a capacidade de adaptação e o feeling do líder perante o contexto e os diversos desafios pelo qual o grupo irá passar ao decorrer do tempo, consonante sempre em consonância com sua personalidade. Esta teoria traz fundamentos da transitoriedade das habilidades, características e atitudes necessárias para que ocorra a Liderança. Sendo o momento, fator primaz para a definição do líder, uma vez superado o perfil de liderança está automaticamente defasado, necessitando ser substituído ou se readequado à nova situação (PENTEADO, 1965, p 85). Faria (1982, p. 96), analisando o surgimento desta nova vertente, considera que a liderança situacional, (...) emerge de uma situação atípica, da oportunidade histórica, exigindo determinado padrão de líder para enfrentar os novos problemas que surgiram diante de uma problemática conjuntural diferente da anterior, para a qual os líderes existentes não podem apresentar solução viável, aparecendo a necessidade de um novo, capaz de enfrentar a situação (FARIA, 1982, p. 96). As características ambientais passam a ser primordiais e a motivação torna-se essencial para despertar a ação do liderado. Contudo isolar fatores situacionais primordiais, para poder estudar este viés da liderança, não é algo simples e em função disto alguns modelos propostos são mais sólidos que outros. 21 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Neste arcabouço teórico, Fred Fiedler (1967), propõe que o modelo eficaz de um grupo está associado ao estilo de interação do líder 8com o grupo e o grau de controle e influência que a situação fornece ao mesmo. Sendo assim, isolou três aspectos: I. Relação líder X Seguidores – determina a confiança, segurança, respeito dos seguidores. Sendo hostil, a situação é adversa; sendo positiva, a situação é favorável. II. Grau de estrutura da tarefa – mensura o nível de estruturação em que a tarefa foi “desenhada”. Se o procedimento é claro e bem ordenado ou não, sendo que quanto mais ordenadas e precisas mais favoráveis ao líder. III. Poder de posição do líder – grau de controle que o líder tem com relação às diversas variáveis, como contratação e demissão; promoção de membros; aumentos de salários etc. quanto maior o poder, mais favorável. Fiedler e outros pesquisadores, usando questionários para coleta de dados, identificaram que a orientação voltada para a produção é eficaz nas situações que são muito favoráveis ou muito desfavoráveis para o líder, enquanto em situação de dificuldades intermediárias, a liderança orientada para as pessoas tem melhor resultados. Para Maximiano (2000), O modelo de Firdler teve o mérito de iniciar o debate sobre a ideia de liderança situacional, mas suas proposições são muito questionadas por outros pesquisadores. As criticas dirigem-se principalmente ao fato de que seus questionários de medir o estilo avaliam atitudes e não comportamentos reais, que podem ser diferentes. O líder que está sendo estudo pode dizer uma coisa e fazer outra. Além disso, outras características da situação, como competência dos subordinados e a própria competência do líder, são negligenciadas. Porém, manteve-se do modelo de Fiedler a ideia de que o líder deve flexibilizar seu comportamento, a fim de ajustá-lo à situação. Essa ideia foi decisiva no desenvolvimento subsequente dos estudos sobre liderança (MAXIMIANO, 2000, p. 351). Outro modelo que versa dentro desta teoria e que ganha grande repercussão no mundo empresarial é o proposto por Hersey & Blanchard (1982), que estabelece articulação entre atitude do líder para com o grupo e maturidade dos seguidores em que na medida em que o grupo vai amadurecendo, o líder deve ter uma atitude mais voltada à orientação para as pessoas e menos à orientação voltada para a produção. Utilizando como base a estrutura da teoria do comportamento, o que demonstra certa simbiose com esta teoria, foi elaborado um modelo de liderança situacional. No qual a depender de cada situação, o líder deveria atuar de forma distinta, a fim de obter maior eficiência do grupo e de sua capacidade em orientá-lo. 8 Comportamento do líder percebido pelos seguidores e que ocorre em função das necessidades e motivações do líder e não por meio de um comportamento explicito 22 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO FONTE: HERSEY & BLANCHARD (1977). A Teoria Situacional se pauta na concepção de que os liderados são pontos fundamentais, tendo o líder que desenvolver a capacidade de motivá-los para compensar suas limitações. É importante ainda a adaptabilidade para se posicionar de forma distinta em cada situação específica, além da sensibilidade em perceber quando a situação mudar que rumo tomar, a fim de cumprir plenamente o papel de líder que lhe cabe. 1.3 ESTILOS DE LIDERANÇA “Os grandes líderes são como os melhores maestros - eles vão além das notas para alcançar a mágica dos músicos.” Blaine Lee Dentro do arcabouço teórico do comportamento surgem alguns trabalhos que buscam retratar estilos de lideranças caracterizados exclusivamente pela forma como o líder age para com o grupo em geral e para cada um dos seguidores. Ou seja, ainda não há a concepção do modelo bidimensional que articula duas variáveis independentes, então os pesquisadores concentraramse apenas no aspecto comportamental do líder. Por ser uma proposta relevante e de fácil identificação em nosso cotidiano, com considerações mais abrangentes, e que não se limita aos pressupostos organizacionais, optamos por aprofundar no trabalho de Rauph White e Ronald Lippitt que, em 1939, orientados por Kurt Lewin, trouxeram uma proposta de classificação do estilo de liderança embasada em três categorias puras, são elas: autocrática, democrática e a liberal. 23 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Na década de 1930, havia a percepção de que a liderança é uma relação de autoridade, tendo o poder de decisão como pré-requisito da manifestação da mesma. LEWIN, nesta década, apresenta seis manifestações de autoridade, dentre ela três seriam consideradas puras e as outras uma espécie de hibrido de duas manifestações puras. Dentro desta perspectiva, Maximiano (2000, p. 343), apresenta um triângulo de manifestação de autoridade, no qual cada vértice representa uma manifestação pura de autoridade e suas laterais as manifestações hibridas, como podemos observar na figura abaixo. Maximiano (2000), aponta ainda, que ao deslocar o foco do grupo e concentrando-se para o comportamento exclusivo do líder forma-se um quadro com cinco classificações comportamentais, nas quais em apenas três se manifestam claramente os estilos de liderança. Este autor apresenta tal quadro da seguinte forma: Tanto na TIRANIA em que, em geral, não há consentimento do grupo para o exercício de poder, quanto na DEMAGOGIA, na qual não há uma condução da equipe para um objetivo coletivo, enganando e iludindo os seguidores, não há uma relação de liderança, logo, podemos classificar a AUTOCRACIA, a DEMOCRACIA e o LIBERALISMO com estilo de liderança. Em realidade, o trabalho desenvolvido por White e Lippitt buscou verificar o impacto causado por estes estilos de lideranças em crianças de 10 anos, orientando-os na execução de tarefas. Os pesquisadores definiram um total de 40 crianças, subdividindo-as aleatoriamente em grupos de 10 componentes. A cada seis semanas, alternava o estilo de liderança entre os estilos citados. Como desdobramento desta pesquisa surge uma teoria também conhecida como: Os Três Estilos de White e Lippitt. 24 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO ESTILO AUTOCRÁTICO Estilo no qual se foca essencialmente nas tarefas, quase que inobservando as questões pessoais. As decisões são centralizadas no líder que delibera sem considerar a opinião dos liderados. Há uma imposição de vontades. O líder exerce o principal papel e volta sua atenção aos resultados planejados, definindo e controlando as tarefas de cada membro do grupo, assim como o momento de sua ocorrência e frequência. O líder autocrata domina pela fraqueza de seus subordinados e não pelas suas qualidades ou pelo aparente poder de que dispõe. Periodicamente, ele dá alguma demonstração de força para minar qualquer resistência e notadamente para reforçar e conscientizar os membros do grupo da sua própria fraqueza e da impossibilidade de tentar qualquer reação contra a força coercitiva (FARIA, 1982, p. 93). Este estilo é caracterizado pela confiança na autoridade, entendendo que os outros nada farão sem que sejam ordenados. Baseia-se no julgamento de que o líder é indispensável para o funcionamento do grupo e que o único método para realização das tarefas é aquele que ele apresenta. Essa postura cerceia a criatividade e a capacidade de inovação do grupo. Comumente, tem reações coléricas e deixam transparecer irritação e incompreensão dos erros alheios, que quando cometidos, são expostos publicamente, gerando um clima de “terror”. Usa também de artifícios para evitar o diálogo, evitando também que haja relacionamento interpessoal consistente com os seguidores. Os grupos que têm esse tipo de líder mostram um nível de tensão, frustração e agressividade muito significativo, ao mesmo tempo em que gera pouca espontaneidade, iniciativa e autonomia. Contribui também para laços de amizades tênues entre os seguidores, diminuindo a mútua cooperação. Como desdobramento deste perfil se verifica elevada insatisfação mesmo quando as tarefas são do agrado do colaborador. Além de se constatar que o trabalho só é efetivamente desenvolvido na presença física do líder. Em caso de ausência do mesmo, o grupo deixa de executar suas funções e extravasa o sentimento de agressividade e indisciplina, supostamente reprimido. A liderança autocrática é ágil nas tomadas de decisões e promove um rendimento superior aos outros estilos, mesmo acompanhada de descontentamento e irritabilidade. É indicado para situações emergências ou para equipes extremamente desinteressadas com baixo grau de maturidade. Muito vantajosa, também, quando se busca disciplinar ou ordenar um setor específico. Vale realçar que é muito característico o fato de que quando este estilo de líder perde sua posição (deixa de atuar), o grupo fica desorientado, perdido visto que a autonomia do grupo é baixa e estão desacostumados a tomar decisões coletivas e consensuais, levando a um esvaziamento do poder de comando. ESTILO LIBERAL Este estilo é conhecido também por Laissez-faire que é a contração, na língua francesa, da expressão laissez faire, laissez aller, laissez passer, cujo significado literal é "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". A própria etimologia do termo já nos deixa claro que se trata de um estilo de liderança que se pauta na liberdade de ação dos agentes sociais envolvidos. 25 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO De fato, o pressuposto basilar deste estilo é a completa liberdade dos liderados para executarem suas obrigações de forma mais conveniente, permitindo, assim, que cada qual coloque em prática seus projetos, tendo o líder o papel de prestar orientações quando consultado e de forma pontual. Constatou-se que para este estilo a preocupação é mais voltada para a manutenção do que já se conquistou, assim, não há o estabelecimento de normas, tarefas e objetivos por parte de um representante do grupo, o que exige um nível de maturidade muito elevado para que haja harmonia entre os membros. Há autores que postulam que existe, em verdade, o grupo que ignora a influência do líder que tem esvaziado seu poder deliberativo e lhe falta firmeza na manutenção de determinada orientação. Geralmente, é frequente em pessoas evasivas que buscam se ausentar das responsabilidades de planejar, controlar, fiscalizar. Na pesquisa realizada por White e Lippitt, apesar de manter um nível de atividades intenso, mostrou uma produção medíocre e de qualidade duvidosa, havendo oscilações da execução das atividades e perda de tempo com discussões nem sempre proveitosas, fomentadas mais por questões pessoais do que laborais. Apresentou grande percentual de individualismo e a noção de grupo ficou reduzida. Apresentou ainda, alto grau de desrespeito para com o líder. Não podemos esquecer que a pesquisa tinha como público alvo crianças de 10 anos e, seguramente, a maturidade e conscientização elevada é um pré-requisito importante para que funcione bem este estilo, ainda que sirva de referência para grupos diversos. ESTILO DEMOCRÁTICO Focado nas pessoas sem necessariamente deixar de priorizar as tarefas, é marcado por uma participação atuante dos membros da equipe que são comumente consultados pelo líder antes de suas deliberações. Em função desta característica, há formação de grupos de amizades, ampliando a solidariedade, o comprometimento e a responsabilidade entre os membros. Presença de uma relação dialógica na qual a comunicação se processa de forma espontânea, franca e direta, permitindo maior clareza das informações. O líder se torna um orientador do grupo quanto à execução das tarefas e conta com as contribuições de seus seguidores para melhorar o processo. Mantém um sentimento de respeito mútuo que leva a elogiar seus seguidores publicamente, contudo tecer críticas ou corrigir falhas de forma particular. Fato que propicia ritmo suave e seguro do trabalho, que perdura mesmo na ausência do líder. Devido ao caráter participativo, o processo de tomada de decisões é lento, visto que é debatido pelo grupo. Outro ponto relevante é que gera uma atmosfera de contentamento do grupo mais elevado dos três estilos, mas os índices de produtividade se mantiveram mais baixo do que o líder autocrático, porém com qualidade superior. A liderança democrática baseia-se na capacidade de representar o grupo através de uma opção livre, em que o líder configura o direito de escolher, a confiança e as esperanças do grupo ou da equipe, como sendo o elemento mais qualificado para levá-la à realização de seus objetivos. (FARIA, 1982, p. 95) 26 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Na tentativa de fazer uma análise comparativa entre os três estilos, Chiavenato (1999), propõe um quadro no qual se concentra as principais características de cada classificação postulada nesta teoria É comum considerarmos esta teoria simplista, obvia e tendenciosa ao estilo democrático. Verifica-se que dificilmente haverá um líder que detenha um dos estilos de forma pura. Observamos no cotidiano, que o estilo adotado por um líder é um hibrido dos três estilos puros que concentrará, de forma mais ativa, atitudes e comportamentos de um deles. A liderança eficaz será aquela como maior capacidade de influenciar positivamente o grupo, inspirá-lo a se unir em ações comuns e coordenadas. A presença do líder reduz insegurança e potencializa a execução das tarefas individuais, que somadas trarão o bem coletivo e nos ajudam a cooperar e trabalhar em conjunto para tomarmos decisões acertadas (CHIAVENATO, 1994). Não há como determinar o estilo mais eficaz, pois o mesmo dependerá muito mais do perfil dos seguidores do que simplesmente das características do líder. Na época do surgimento dessa teoria, década de 1940, o mundo estava “a beira” da Segunda Guerra Mundial em que duas formas de liderança se despontavam e disputavam o poder. De um lado, o perfil democrático dos EUA personificado por Franklin Delano Roosevelt, do outro, o estilo autocrático de Adolf Hitler. A teoria de White e Lippitt se tornou a comprovação científica de que o modelo democrático, estadunidense, é mais produtivo e justo (e não necessariamente correto). Ainda que o senso comum nos leve a acreditar que o estilo democrático é universalmente melhor, é um grave erro. Em momentos em que necessitar tomar decisões de forma ágil, alcançar índices de produtividades mais elevados em determinado momento, ou ainda se pretender disciplinar uma equipe, o estilo mais indicado é o autocrático; contudo se objetivar alcançar alto grau de qualidade na produção, satisfação dos colaboradores, clima organizacional mais harmônico, aumento da interatividade, solidariedade e cooperação entre os membros do grupo o estilo 27 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO democrático lhe proporcionará; por fim, tendo um grupo maduro e cônscio de suas responsabilidades e focando permitir que seus seguidores possam por em prática seus projetos pessoais, ou se quiser diminuir seu “desgaste” com o grupo, agir dentro do que postula, o estilo liberal é o melhor modelo. Enfim, o importante é conhecer detalhadamente cada estilo e identificar quando ele será mais útil para alcançar o objetivo do grupo e da organização, atuando enquanto líder de forma mais dinâmica e competente. 1.4 MOTIVAÇÃO "Todos temos um eu vencedor em nosso interior aguardando uma oportunidade de se manifestar em nossa vida, basta você dar uma chance que ele aparecerá para mudar seu destino e transformá-lo num verdadeiro líder." Luís Alves A partir da década de 1980, quando se evidencia que fatores externos influenciam diretamente na capacidade de influenciar os demais, determinando quem será o representante do grupo no sentido de buscar resultados esperados, verifica-se que o líder tem um papel motivacional. Ou seja, apesar de as características de personalidades auxiliarem na escolha do grupo, e mesmo sabendo que o comportamento que se tem perante seus seguidores é primordial para ter o consentimento deles para livre atuação, cabe ao líder motivá-los, a fim de que realizem suas obrigações. É fato de que esse termo – MOTIVAÇÃO - é considerado essencial em diversas das teorias de liderança, em especial às mais contemporâneas. Dentro desta perspectiva, conceituá-lo e entende-lo é deveras importante. Genericamente, esta nomenclatura abrange direta ou indiretamente todo o cabedal comportamental, visto que impacta nas causa e nos motivos que levam o indivíduo a agir, independente de que atuação seja essa. Em outras palavras, toda a atitude do homem seja em prol da organização ou contra a mesma, tem por trás um motivo. Podemos concluir, em linhas gerais, que não existe uma relação 28 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO de causa e efeito entre a motivação e o comportamento. Logo, quem se propõe a liderar tratará desta relação de forma direta, ainda que, muitas vezes, não aperceba. José Roberto Whitaker Penteado postula que: As Relações Humanas baseiam-se no princípio de que o homem precisa ser motivado para produzir. A Motivação, portanto, poderia ser conceituada como o conjunto de meios através dos quais o chefe estimula e mantém nos subordinados o desejo de alcançar os objetivos estabelecidos. Seja qual for o equipamento ou capital da empresa, nada irá para frente se os seus homens não possuírem motivos suficientes para fazê-los andar. (PENTEADO 1965, p. 163) Uma vez clara essa relação entre motivação e liderança, uma pergunta nos suscita: como contribuir para a motivação dos grupos? Muitas teorias surgem na tentativa de responder a esta pergunta. Maximiano (2000), propõe uma classificação de tais teorias, dividindo-as em TEORIAS DE PROCESSO e TEORIAS DE CONTEÚDO. TEORIAS SOBRE MOTIVAÇÃO PROCESSOS • Modelo do comportamento • Teoria da expectativa CONTEÚDO • Teoria das necessidades • Teoria dos dois fatores A Teoria de Processo focou seus estudos na tentativa de explicar como funciona a motivação. Ou seja, qual o mecanismo existente que leva o indivíduo a se motivar, consequentemente, a uma ação determinada; e quais questões estão presentes neste processo. Considerado como um modelo simplista, esta teoria traz uma explicação simplificada das ações dos indivíduos, pautada em três hipóteses: 1 – Todo comportamento é motivado; 2 – Todo comportamento busca concretizar algum objetivo; 3 – Tal comportamento pode ser perturbado por: FRUSTRAÇÃO; CONFLITO; ou ANSIEDADE. (Maximiano 2000). Processo motivacional ESTÍMULO OBJETIVO Todo comportamento é A pessoa busca motivado alcançar um objetivo COMPORTAMENTO Ação ou manifestação observável do indivíduo 29 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO O objetivo deve ser entendido como o resultado que o comportamento pode alcançar, logo, acreditamos que o objetivo é o centro motivacional deste processo. Maximiano (2000, p. 299), define frustração, conflito, e ansiedade da seguinte forma: Frustração (ser derrotado por um adversário em uma competição, esquecer as respostas das questões de uma prova, não ter as habilidades ou conhecimentos necessários para ser aprovado num teste, perder a hora). Conflito provocado por comportamentos simultâneos incompatíveis (decisões conflitantes, como a escolha entre família e trabalho, ou entre trabalho e estudo). Ansiedade resultante de ameaça ao bem-estar ou tranquilidade pessoal (em geral, resultante de competição, pressão exercida pelo próprio trabalho ou pelos chefes, ou más condições, como baixo salário). Esse modelo, que postula um panorama rígido de motivação, percebe ainda que o comportamento, sempre motivado, pode ser estimulado por causas internas (própria do indivíduo) ou externas (fatores ambientais ou incitação de terceiros), defendo apenas a relação de causa e efeito entre ambos. Ainda na perspectiva da abordagem dos processos, aparece na década de 1930, a Teoria da Expectativa a qual consideramos como a mais significativa, que tem como premissa basilar a crença de que os indivíduos têm expectativas acerca dos resultados de suas ações, ou trabalhos. Sendo assim, escolhem a conduta que trará ou que, provavelmente, proporcionará melhores recompensas. A teoria da expectativa procura explicar como as crenças e expectativas que as pessoas têm, a respeito de seu trabalho, combinam-se com a força de seus desejos, para produzir algum tipo de motivação. Embora haja diversas teorias a respeito do papel das expectativas na motivação, todas elas retratam a ideia intuitiva de que o esforço depende do resultado que se deseja alcançar (MAXIMIANO, 2000, p.300). Essa teoria apoia-se em três aspectos: 1 – Desempenho é proporcional ao esforço; 2 – O esforço é proporcional ao valor da recompensa; e 3 – Quanto maior o “valor”, maior será o esforço. Sendo assim, o desempenho está diretamente vinculado à recompensa, o que a faz o centro motivacional do indivíduo. Contudo, o grande avanço desta teoria é que a recompensa é algo subjetivo, valorado de forma individual. Processo motivacional RECOMPENSA Objetivo do indivíduo ESFORÇO Ação ou manifestação observável do indivíduo DESEMPENHO É o resultado do esforço, ou seja, é a conquista ou não da recompensa 30 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Ao identificar a existência da questão de valor que o indivíduo tem de cada recompensa ofertada, leva o questionamento sobre a importância da recompensa para determinada pessoa, e se esta não vai variar em função do tempo, pois a Teoria da Expectativa nos traz a luz de que a motivação apoia-se também em uma antecipação de eventos futuros. Ou seja, o indivíduo “projeta” o esforço que terá que realizar para galgar uma recompensa. É importante salientar que a recompensa pode perder valor na medida em que não mais for importante ao sujeito, quando se torna relativamente simples alcançá-lo (devido à sua recorrência), quando ele acreditar que é praticamente impossível de ter. No que diz respeito à abordagem motivacional voltada ao CONTEÚDO, esta procura explicar os fatores que agem para mover as pessoas a se comportarem de determinada forma. A pergunta principal é: quais as recompensas eficazes? Maximiano (2000, p.307), apresenta o seguinte quadro: HIPÓTESES SOBRE A MOTIVAÇÃO HUMANA Homem econômico-racional A motivação encontra-se na perspectiva do ganho; o motivo importante é ter bens materiais. Homem social A motivação é o grupo; o motivo importante é o reconhecimento dos colegas. Homem autorrealizador A motivação é a realização interior; o motivo importante é a satisfação íntima. Homem complexo A motivação não tem causa única; diversos motivos ou causas são importantes para mover o comportamento Dentre as teorias desta abordagem, destacamos a Teoria das Necessidades, que estabelece que os indivíduos são motivados por suas necessidades humanas. O pressuposto é que quanto maior a necessidade maior a motivação e uma vez satisfeita à necessidade, extingue-se a motivação. Foram, então, estabelecidas duas categorias de necessidade: a BÁSICA ou PRIMÁRIA, que é universalista já que diz respeito às condições inerentes ao provimento da própria vida humana; ADQUIRIDAS ou SEGUNDÁRIAS, oriundo das “exigências”, experiências e convívio social de cada indivíduo, que são subjetivas e pessoais. Dentre os teóricos desta abordagem da motivação, o que mais se destaca é Abraham Maslow, que considerando que o ser humano tem cinco tipos de necessidades distintas e hierarquizando-as, criou uma pirâmide na qual dispõe as necessidades por ordem de prioridade. Esta pirâmide ficou conhecida por Pirâmide de Maslow. As necessidades, apontadas por ele, são, por ordem hierárquica: I. NECESSIDADES FISIOLÓGICAS – relacionada com a manutenção do bom funcionamento do corpo físico e com a perpetuação da espécie, como por exemplo: fome, sede, sono, desejo sexual etc. 31 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO II. NECESSIDADE DE SEGURANÇA – relacionada ao provimento dos meios necessários para salvaguardar o corpo físico, protegendo-o das casualidades provenientes da dinâmica da vida a exemplo de abrigo (casa), incêndio, perda de emprego III. NECESSIDADES SOCIAIS – que diz respeito à vida associativa com outras pessoas, como o amor, a amizade, o afeto para com os outros, inter-relacionamento, participação em grupos sociais etc. IV. NECESSIDADES DE ESTIMA – que é a de autoavaliação e auto-estima que a pessoa possui, e está relacionada aos sentimentos de autoconfiança, autoapreciação, reputação, prestígio etc. V. NECESSIDADES DE AUTO-REALIZAÇÃO – está ligada à necessidade de se tornar tudo aquilo que deseja ser, e a realização “plena” do potencial humano, é quando se desenvolvem todos seus talentos. Abaixo, apresentamos uma ilustração da Pirâmide de Maslow. Maslow coloca todas estas necessidades como sendo básicas. Defende ainda que as necessidades se manifestam primeiro nos níveis mais baixos e sobe na medida em que vão sendo satisfeitas, não havendo a possibilidade de uma necessidade superior, na pirâmide, ser atendida antes das que estão abaixo. Deve-se ter claro que uma vez satisfeita a necessidade, a mesma perde seu valor motivacional, logo, sua eficiência em mobilizar o comportamento do outro. Contudo o indivíduo está em processo de desenvolvimento contínuo, assim, sempre haverá uma necessidade a ser galgada. É importante o líder conseguir identificar qual o fator motivador da vez, ou seja, qual a necessidade que representará maior fator motivador. Maslow percebe ainda que comportamentos irresponsáveis, o que pode dificultar a identificação da necessidade primaz do indivíduo em determinado momento, é um sintoma de privação das necessidades sociais e ou de estima, o que nos leva a perceber que quando chega a este “nível”, o processo será uma troca mais dialógica do que quando das duas necessidades anteriores. Outro pesquisador que se desdobrou sobre o tema da motivação, dentro do viés do conteúdo, foi Frederick Herzberg que desenvolveu a Teoria dos Dois Fatores, que postulava a existência de duas classes de fatores que incidiam sobre o comportamento das pessoas, são eles: 32 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO FATORES HIGIÊNICOS, que são externos ao self da pessoa e que contribui para adoção de determinado comportamento; FATORES MOTIVACIONAIS, que são absolutamente intrínsecos e subjetivos, ligados ao sentido em realizar uma conduta específica. Abaixo, encontramos o seguinte quadro de exemplos: FATORES HIGIÊNICOS MOTIVACIONAIS • Estilo do chefe • Significado do trabalho para a pessoa • Relação interpessoal com o grupo • Sentido de responsabilidade • Espaço físico do local de trabalho • Sentimento de realização com o labor • Salários e remunerações • Prestígio • Mercado de trabalho • Sinta possibilidade de desenvolvimento O autor aponta uma relação entre ambos os fatores, defendendo que os higiênicos constroem o clima psicossocial, o filtro, por onde se processarão as relações de troca entre o sujeito e o mundo que o cerca, logo, quanto mais “limpo” este ambiente estiver mais sólidas serão as motivações. Contudo tais fatores não são suficientes para despertar a motivação do indivíduo. É necessário que algo nele fomente, induz, justifique, processe o start que o levará a motivar-se, o que ele denominou de fatores motivacionais. Ambiente de trabalho: Fatores extrínsecos. Fatores Higiênicos Conteúdo de Trabalho: Fatores intrínsecos. Fatores Motivacionais 33 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Herzberg constata que, em geral, as pessoas se mostravam satisfeitas com os fatores motivacionais, sendo os fatores higiênicos os principais pontos de desinteresse e desmotivação. Logo, seria lógico deduzir que o líder deve concentrar-se em melhorar os fatores higiênicos por dois motivos. Primeiro, em função da pesquisa de Herzberg e segundo, em sendo um aspecto intrínseco à subjetividade do indivíduo o líder não poderia motivá-lo. No entanto, a pesquisa realizada focou em gerentes, contadores, administradores, ou seja, profissões de nível superior que permitem ao indivíduo vislumbrar outros horizontes, em especial, na década de 1960 e 1970. Fica, então, a dúvida se este resultado se manteria caso fosse realizado com pessoas que ocupassem o nível operacional. Vale ressaltar, que realmente não há como um terceiro motivar, visto que motivação é algo subjetivo, pessoal e intransferível, mas ao dar estímulos adequados, se pode fomentar e até induzir a motivação das pessoas. Autores apontam determinadas limitações nas teorias motivacionais: As teorias motivacionais trouxeram valiosas contribuições; no entanto, alijaram do seu conteúdo a existência permanente no comportamento humano do fator medo, a mais forte emoção que impulsiona os seres humanos. Não levaram em conta que, mesmo existindo a mística de defesa dos direitos humanos e as garantias individuais (...), eclode concomitantemente o crescente poder dos grandes sistemas que pressionam cada vez mais o cidadão; as empresas multinacionais, os órgãos de inteligência e informação, que continuam abalando progressivamente a confiança na privacidade e no futuro, fazendo crescer o medo do porvir, sempre disfarçado pelo consumismo, pela aparente euforia de liberdade e pela possibilidade de viajar, realizando sonhos, isto é, fugindo à realidade (...). (FARIA, 1982, p. 21) Independente das limitações, não podemos deixar de observar que estas teorias contribuem significativamente para o processo de influência que o líder exerce sobre seus liderados. Seguramente, estes conhecimentos potencializam sua autoridade e maximizam a efetividade de sua atuação. Ao líder cabe, sem dúvida, motivar, seja ele autocrático, liberal ou democrático, seus seguidores só acataram suas deliberações se identificarem algum motivo. Ou seja, se a recompensa valer à pena. • http://vocesa.abril.com.br/evolucao/aberto/ar_127800.shtml – Edição especial da revista Você S.A. sobre liderança. • http://www.lideraonline.com.br/ – Site da revista Liderança. • http://www.hsm.com.br/editorias/liderancaemotivacao/index.php – Portal da revista HSM Management com informações voltadas à liderança e motivação. • http://www.rae.com.br/artigos/1182.pdf – Artigo da Revista de Administração de Empresa. 34 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO TEMA 02 - O QUE É SER LÍDER Líder algum consegue bem liderar sem um plano, embora não deva ser escravo do mesmo, pois os planos podem mudar. Jair Tércio Cunha Costa 2.1 LÍDER ESTRATÉGICO, VISIONÁRIO VISIONÁRIO E GERENCIAL GERENCIAL No tema anterior, focamos o ato de liderar, ou seja, a atitude do líder para com os liderados; como as características do indivíduo podem influenciar o grupo; a existência de contingenciais pode solicitar um novo perfil de líder; estilos de liderança; necessidades humanas e como elas se relacionam com a capacidade de persuasão do indivíduo etc. Verificamos também algumas definições e como estas de uma forma mais explicita ou não sempre vinculam o ato de liderar como a capacidade de influir, persuadir, convencer etc. os demais membros do grupo a realizarem, de forma consentida/ espontânea, determinada função ou tarefa em prol do grupo. Trocando em miúdos, poderíamos resumir de forma simples com a seguinte expressão: liderança é a capacidade de influenciar as pessoas a agirem livremente para realizarem algo. Então, assim como existem dois agentes, o líder e o liderado, também há duas características neste processo: a INFLUÊNCIA CONSENTIDA e o OBJETIVO (realização de algo) Uma vez que no capítulo anterior o enfoque dado pauta o primeiro destes aspectos, acreditamos ser importante dedicar parte do segundo capítulo para apresentar o comportamento do líder sob a perspectiva de buscar que os membros do grupo realizem as tarefas prédeterminadas. Dentre os estudos mais recentes sobre este enfoque, destacamos o trabalho de W. Glenn Rowe. Este autor sugere três novas abordagens de líderes, dentro da perspectiva comportamental, isolando a característica OBJETIVO, ou seja, considerando apenas a forma que um líder age quando busca fazer com que seus seguidores realizem ou executem suas respectivas funções. Este trabalho realizado e apresentado no final do século passado (XX) e início deste século se pauta sob um ponto de vista estritamente empresarial e busca verificar como cada comportamento definido por ele possibilita ou não a criação de valor nas empresas. Criação de valor é entendida como a capacidade de agregar benefícios à empresa. Tais benefícios podem ser diversos, o mais comum e o considerado pelo autor é o benefício financeiro, através da melhora da competitividade empresarial, mas há outros benefícios tão importantes quanto o financeiro, que também são proporcionados ou não pela tipologia sugerida por Rowe 2002, como por exemplo: retenção de talentos ou capacidade de manter no quadro de funcionários os que se destacam no mercado; melhoria da qualidade do produto ou processos da organização; ou ainda o reconhecimento dos clientes quanto à qualidade e à solidez da empresa. Sendo assim, W. Glenn Rowe classifica três espécies de comportamentos dos líderes dentro da organização, no que tange à busca pela realização das tarefas dos liderados, são eles: o GERENCIAL, o VISIONÁRIO e o ESTRATÉGICO. 35 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO LÍDER GERENCIAL Considerado o perfil mais comum e rotineiro de liderança existente nas organizações. Em realidade, ROWE (2002) defende a ideia que este perfil de liderança é fomentado nas empresas, visto que tem um forte viés em controlar a rotina operacional da organização. Para este autor: Por diversas razões, as organizações treinam seus funcionários implícita e explicitamente para serem líderes gerenciais. Organizações empresariais diversificadas em vários negócios tendem a fazer isso. Governos treinam ainda mais seus funcionários para serem líderes gerenciais do que as empresas, devido à prestação de contas, ao grau de diversificação, à questão da reeleição e, para a maioria dos governos, ao enorme volume da dívida. Esses fatores levam à imposição de um sistema de controle financeiro que estimula o uso da liderança gerencial e desestimula as lideranças estratégica e visionária (ROWE, 2002, p. 10). O líder gerencial foca sua atuação no cumprimento das expectativas pré-estabelecidas a curto e médio prazo, visando à manutenção da lucratividade média esperada, pois o foco essencialmente no operacional impossibilita uma percepção abrangente do contexto contemporâneo, projetando a empresa para o futuro. Em geral, este líder tem um perfil mais conservador e metódico. Voltado aos resultados de curto prazo valoriza e prioriza o conhecimento técnico do setor, desconsiderando questões analíticas que permitam uma reflexão mais aprofundada sobre os procedimentos vigentes. Tem um comportamento inclinado à passividade, sendo motivado pelas necessidades que surgem no caminho e não por ideias inovadoras. Esta incapacidade de verificar a eficiência dos processos organizacionais gera o surgimento de obstáculos no processo de adequação organizacional às novas tendências que surgem naturalmente, ou seja, o excessivo foco operacional, desconsideração de conhecimentos que fomentam uma reflexão analítica, somada a “rejeição” das inovações, não permite, inevitavelmente, que a empresa evolua em seus processo e procedimentos. Segundo Rowe (2002, p. 10), “Líderes gerenciais adotam atitudes impessoais e passivas em relação às metas. Metas surgem da necessidade, e não de desejos e sonhos (…)”. Estes líderes, em geral, têm forte vínculo com o passado, com a história da organização e em cargo de liderança a impessoalidade com relação às metas e à alta sensibilidade com o passado não é aconselhável, pois engessa a gestão. Um dos pontos fortes desta tipologia é o alto grau de envolvimento e comprometimento com a empresa e com sua estrutura tradicional, tornando-se um funcionário fiel à organização. É excelente quando o objetivo for garantir o cumprimento das normas e padrões estabelecidos, visto que sua linha de raciocínio é fundamentalmente linear. Contudo seu poder de influência limita-se aos funcionários com os quais trabalha. Ainda de acordo com Rowe (2002), isto ocorre porque em realidade mesmo quando mantém relações interpessoais com seus seguidores, o grau de comprometimento emocional é baixo e essa liderança precisa de ordem. As relações humanas possuem potencial de caos que eles evitam, por isso, a empatia não é um traço marcante. 36 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Vale ressaltar que: É preciso destacar que ser um líder gerencial não é ruim e que as organizações necessitam desse tipo de liderança. É possível, entretanto que um número excessivo de organizações seja comandado por esses líderes e que eles não criem valor. Líderes gerenciais vão, na melhor das hipóteses, conservar o valor. Podem, porém provocar redução no valor em longo prazo, se o seu estilo predomina na organização (ROWE, 2002, p. 11). LÍDER VISIONÁRIO Este tipo de liderança foi defendida como a panaceia das organizações, principalmente na mudança de século, quanto às discussões, quanto a modernização das empresas foi amplamente discutida. Contudo estes líderes não são facilmente aceitos, pois trazem consigo mudanças e aos saírem da zona de conforto as pessoas tendem a se sentirem ameaçadas, o que dificulta a aceitação imediata dos seguidores. Rowe (2002), defende a ideia que este tipo de liderança deve ter o apoio de líderes gerenciais, alicerçando a conduta dos visionários para que estes últimos tenham uma influência efetiva da equipe. A liderança visionária exige autoridade para influenciar o pensamento e as atitudes das pessoas, o que significa delegar poderes e implica correr riscos em várias dimensões. Há o risco de equiparar poder e a habilidade de atingir resultados imediatos, o risco de perder o autocontrole no desejo de conseguir mais poder e o risco de enfraquecer o desenvolvimento de líderes gerenciais, que ficam ansiosos com a desordem que a presença de líderes visionários pode causar (ROWE, 2002, p. 11). A característica mais marcante desta liderança é sua capacidade de propor, trazer uma visão voltada ao futuro e aos resultados em longo prazo. Ou seja, capacidade de projetar a empresa para o futuro, fazendo-a seguir em direção à modernidade, contudo esta característica acarreta riscos, pois nem sempre é possível acertar o rumo correto. Como os resultados esperados e difundidos podem não ser galgados imediatamente, os visionários podem ter reduzida significadamente sua capacidade de influência sob o grupo, visto que coloca em risco a credibilidade de seu comando. Isto endossa a necessidade de trabalho em conjunto com outra tipologia de liderança, para dá o “contrapeso”. No que tange as metas organizacionais, sua postura é oposta a do líder gerencial. São proativos no estabelecimento das metas, moldando-as em vez de operacionalizarem, buscando determinar o rumo que a empresa deve seguir para atingir o objetivo proposto. Sendo assim, as metas da empresa se confundem com suas próprias, ganhando um caráter pessoal e ampliando o comprometimento para com as mesmas. E uma vez definidas, usa de sua capacidade de influenciar para criar expectativas no grupo, a fim de que o mesmo incorpore os objetivos da empresa. Tentam sempre trazer novas abordagens para problemas antigos, pois as idéias e a inovação são a força motriz de sua conduta e decisões. Possibilitando mudanças significativas nos processos e procedimentos organizacionais. Valoriza a experimentação de soluções e aposta no desenvolvimento de capital humano. 37 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Preocupam-se com ideias, relacionam-se com as pessoas de maneira intuitiva e compreensiva. Concentram sua atenção no significado dos acontecimentos e decisões. Quando líderes visionários estão no comando, as relações humanas tornam-se mais turbulentas, intensas e até desorganizadas, o que pode intensificar a motivação individual e gerar resultados inesperados, tanto negativos quanto positivos. Sentem-se alienados de seu ambiente de trabalho e, às vezes, de outras pessoas; trabalham nas organizações, mas não se sentem parte delas. A percepção que têm de si próprios não está vinculada ao trabalho, a papéis ou a que instituição estão ligados, mas, sim, ao sentido de identidade que criaram (ROWE, 2002, p. 12). Blaine Lee postulou que “os grandes líderes são como os melhores maestros - eles vão além das notas para alcançar a mágica dos músicos.” E fazendo um paralelo com a liderança visionaria, podemos afirmar que este líder esta além da organização para alcançar a visão de futuro proposta. Sendo assim, buscam influenciar pessoas das diversas áreas da empresa e não somente com quem se relaciona diretamente, na tentativa de socializar e compartilhar suas visões. São propensos a agirem em função de seus valores e não se submetem às circunstâncias que a empresa impõe caso os infrinjam. Possuem o pensamento não linear, possibilitando articular duas demandas simultâneas. Enfoca e valoriza o conhecimento tácito e abrangente, levando-o a saber menos que o especialista do setor. Os visionários são ligados à complexidade, à ambiguidade e à sobrecarga de informações, desempenhado tarefas multifuncionais e integradoras entre setores. Estas características impõem a estes líderes um perfil mais aberto, menos conservador, e com propensão à delegação de tarefas e responsabilidades entre os liderados. Além é claro da capacidade de assumir riscos e sociabilidade para com os stakeholders presentes nas decisões de investimentos com possibilidade de alta lucratividade, mas com poucas garantias. Os líderes visionários estão sempre diante de muitos desafios. As organizações precisam da liderança visionária para garantir a viabilidade em longo prazo; entretanto, organizações lideradas por visionários, sem a influência restritiva de líderes gerenciais, correm mais riscos de fracassar em curto prazo do que as comandadas por líderes gerenciais. Líderes visionários estão dispostos a arriscar; assim, podem criar valor. Visionários também podem, porém investir mais em seus objetivos do que a garantia de retorno e, dessa forma, destruir valor se não tiverem suas ações moderadas por líderes gerenciais (ROWE, 2002, p. 12). LÍDER ESTRATÉGICO No trabalho divulgado por Rowe (2002, p.10), encontramos a seguinte definição de liderança estratégica: “habilidade de influenciar outras pessoas a tomar, de forma voluntária e rotineira, decisões que aumentem a viabilidade em longo prazo da organização, ao mesmo tempo em que mantêm a estabilidade financeira em curto prazo.” Tendo como ponto-chave dessa tipologia a perspectiva de tomada de decisão voluntária dos seguidores serem sempre a favor da empresa e da maximização de seu resultado. Sendo assim, o líder estratégico confia efetivamente em sua equipe e em sua capacidade operacional. Assim como delega responsabilidades e participa do planejamento estratégico da organização, visando garantir a viabilidade dos objetivos e metas “sonhadas” /projetadas através do trabalho operacional conjunto entre lideres e seguidores. O líder estratégico detém característica do gerencial e do visionário. 38 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Contudo, o autor postula que o paradoxo entre o GERENCIAL e o VISIONÁRIO é tão significativo que não há como ter uma dessas lideranças com características da outra, ou melhor, que não há como uma pessoa exercer dois estilos de liderança simultaneamente, e por isso propõe um terceiro tipo de líder: o Estratégico, que “gerencia” o paradoxo entre a perspectiva gerencial e visionária. (ROWE, 2002, P.13) Para Rowe (2002), esse tipo de líder possibilita uma maior lucratividade para a empresa e uma maior valorização dela diante de seus stakeholders, endossando a visão de Kotter que sugere um líder capaz de introduzir mudanças na organização, ao mesmo tempo em que gerencia a complexidade de executá-las na rotina da empresa. O autor postula que: Os líderes estratégicos destacam o comportamento ético (Ireland e Hitt, 1999). São raros na maioria das organizações. Supervisionam responsabilidades operacionais rotineiras e estratégicas em longo prazo (Hambrick, 1989; Schendel, 1989). Formulam e implementam estratégias para impacto imediato e preservação de metas de longo prazo, a fim de aumentar a evolução, a sobrevivência e a viabilidade organizacionais. Usam controles estratégicos e financeiros, enfatizando o estratégico (Hoskisson e Hitt, 1994). As expectativas que têm em relação à performance de seus superiores, pares, subordinados e deles próprios são grandes e otimistas. Alternam o uso de conhecimento explícito e tácito em relação ao indivíduo e à organização (Nonaka, 1994; Nonaka e Takeuchi, 1995) e adotam padrões de pensamento linear e não linear. Por fim, acreditam na adoção de estratégia, isto é, suas decisões estratégicas fazem diferença na sua organização (ROWE, 2002, p.13). Convém lembrar que a delegação de autoridade aos liderados, fator imperativo na liderança estratégica já que possibilita não se ater excessivamente às questões operacionais, permitindo exercer os aspectos visionários, pode ocasionar decisões prejudiciais para a empresa, sejam elas causadas por inabilidade técnica do seguidor, seja por questões pessoais do mesmo. Logo, o líder estratégico deve manter um estreito monitoramento das decisões dos seguidores. 39 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO COMPARATIVO E CONSIDERAÇÕES DOS TRÊS LÍDERES Com o intuito de evidenciar as características destes tipos de lideranças, o autor elaborou um quadro comparativo bastante didático sobre os mesmos, como podemos constatar abaixo: Quadro 1: Liderança estratégica, visionária e gerencial Líderes estratégicos Líderes visionários Combinam, em sinergia, lide- ● São proativos, moldam ideias, rança gerencial e liderança vi- mudam o que as pessoas pensionária. sam ser desejável, possível e necessário. ● Enfatizam o comportamento ético e decisões baseadas em ● Trabalham para aprimorar valores. estratégias e novas abordagens para problemas antigos; ocu● Supervisionam responsabilipam. cargos de alto risco dades operacionais (rotineiras) ● e estratégicas (longo prazo). Preocupam-se com ideias; relacionam-se com as pessoas ● Formulam e implementam de maneira intuitiva e compreestratégias para impacto imeensiva. diato e manutenção de metas de longo prazo para garantir a ● Sentem-se alienados de seu sobrevivência, o crescimento e ambiente de trabalho, trabaa viabilidade em longo prazo. lham nas organizações, mas não fazem parte delas; a per● Possuem expectativas grandes cepção que têm de si próprios e otimistas em relação à pernão é vinculada ao trabalho. formance de seus superiores, pares, subordinados e deles ● Influenciam atitudes e opinipróprios. ões das pessoas dentro da organização. ● Valem-se de controle estratégico e financeiro, dando ênfase ● Preocupam-se em garantir o ao estratégico. futuro da organização, principalmente por meio do desen● Utilizam e alternam o uso de volvimento e gerenciamento de conhecimento tácito e explícito pessoas. em relação ao indivíduo e à ● São mais ligados à complexiorganização. dade, à ambiguidade e à sobre● Usam padrões de pensamento carga de informações; comlinear e não linear. prometidos com tarefas multi● Acreditam na adoção de esfuncionais e integradoras. tratégias, isto é, suas decisões ● Sabem menos do que os espeestratégicas fazem diferença cialistas de sua área funcional. em suas organizações e ambi● São mais propensos a tomar ente de trabalho. decisões baseadas em valores. ● 40 Líderes gerenciais São conservadores, adotam atitudes passivas em relação às metas; metas surgem da necessidade e não de desejos e sonhos; metas são baseadas no passado. ● Consideram o trabalho um processo facilitador que envolve a integração de ideias e pessoas que interagem para definir estratégias. ● Relacionam-se com pessoas, segundo as funções delas no processo de tomada de decisão. ● Acreditam ser conservadores e reguladores do status quo; a percepção que têm de si próprios é vinculada à organização. ● Influenciam os atos e as decisões das pessoas com quem trabalham. ● Envolvem-se em situações e contextos característicos de atividades do dia a dia. ● Preocupam-se e sentem-se bem com áreas funcionais de responsabilidade. ● São especialistas na sua área funcional. ● Estão menos propensos a tomar decisões baseados em valores. ● ● Apoiam e adotam postura de LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Estão mais dispostos a investir em inovações e em capital humano e a criar e manter uma cultura eficiente, a fim de assegurar a viabilidade em longo prazo. ● preço mínimo em curto prazo, a fim de aumentar a performance financeira. Concentram-se em gerenciar a troca e a combinação de conhecimento explícito e garan● Enfatizam o conhecimento tem o cumprimento de procetácito e desenvolvem estraté- dimentos de operação. gias como uma forma comum ● Valem-se de pensamento de conhecimento tácito que linear. incentiva a realização de um ● Acreditam em determinismo, objetivo. isto é, as escolhas que fazem ● Valem-se de pensamento não são determinadas pelo ambilinear. ente externo e interno.” ● Acreditam na adoção de estratégias, isto é, suas decisões estratégicas fazem diferença em suas organizações e ambiente de trabalho. ● ( ROWE, 2002, P.9) Rowe (2002), constata no que tange à liderança gerencial e à visionária, que ambos os perfis são importantes para a organização, visto que, enquanto a primeira garanti sua viabilidade a curto prazo, a outra possibilita posicionar a empresa a médio e longo prazo. O autor ainda comenta que em uma organização na qual não há a liderança estratégica, mas sim líderes gerenciais e visionários coexistindo, deve-se dá mais peso ao segundo grupo. Isto porque é comum que os gerenciais busquem a estabilidade, a ordem e a manutenção do status quo das empresas, pois acreditam que a organização não deve passar por uma fase transitória impelida por uma visão de futuro. Entretanto os visionários buscam criatividade, inovação, desordem e a mudança do status quo, logo, consideram a instabilidade como o padrão de normalidade que toda organização deve buscar, pois esse padrão a fará crescer. O líder estratégico, por possui características dos dois modelos anteriores, seria o mais indicado para a organização, visto que sua capacidade de criar valor à empresa é mais significativa. Isto porque podemos afirmar que a liderança estratégica representa a sinergia entre a liderança gerencial e a visionária, mantendo o controle e a execução da primeira e da segunda. Rowe (2002, p.17), em sua pesquisa, corrobora com esta perspectiva, pois postula que: É possível criar valor em organizações nas quais a liderança estratégica é exercida porque os líderes estratégicos investem adequadamente em viabilidade futura, ao mesmo tempo em que mantêm a atual estabilidade financeira em um nível apropriado. Eles influenciam um grupo suficiente de gerentes e funcionários para tomar, de forma voluntária e rotineira, decisões que aumentem a viabilidade futura e a estabilidade atual da organização (ROWE, 2002, p.17). 41 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO A liderança estratégica tem maior capacidade de criação de valor que as demais. Uma vez que o esforço é voltado para influenciar os liderados, a fim de garantir que os objetivos sejam alcançados da melhor maneira possível, sem comprometer a organização financeiramente em curto prazo. (ROWE, 2002) Por fim, apresentamos uma figura elaborada pelo autor, na qual se evidencia o tipo de líder e sua respectiva capacidade de criar valor à empresa, observando que o autor considerou essencialmente a criação de valor econômico para a elaboração do mesmo. 2.2 O PAPEL DO LÍDER NA ORGANIZAÇÃO O maior líder é aquele que reconhece sua pequenez, extrai força de sua humildade e experiência da sua fragilidade. Augusto Cury Antes de discorrer sobre o papel do líder na organização é importante relembrar que há uma diferença entre liderar e ocupar um cargo de liderança. Como vimos no capítulo anterior, este termo está afeito às funções nas quais seus responsáveis exercem influência formal sobre outras pessoas, ou seja, quando o cargo que ocupa lhe dá autoridade. Contudo tal autoridade está vinculada apenas ao cargo e, quando seu ocupante o perde, deixa de exercer influência sob as outras. Nesta perspectiva, Diretores, Gerentes ou Supervisores são cargos de liderança e exercem influência em seus funcionários apenas quando estão no cargo. Sabemos que o líder deve ter o consentimento dos seguidores para tal, ou seja, sua influência é espontânea, natural. E este é um dos aspectos mais marcantes da liderança: a legitimidade do poder do líder. Esta característica faz com que sua capacidade de motivar o grupo seja muito mais significativa, extraindo dos liderados o máximo de seu potencial, ao mesmo tempo em que promove seu respectivo desenvolvimento individual, trazendo resultados qualitativos e/ou quantitativos mais positivos para as empresas. 42 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO O poder formal, por mais influencie o ocupante de determinado cargo, não garante a liderança. Sendo assim, o chefe é a pessoa que possui um cargo de liderança, mas que não tem a legitimidade do grupo para exercê-lo. Devido a esta falta de legitimidade, estes chefes costumam tomar uma postura mais determinista, autoritária, impessoal, distante dos colaboradores e de suas necessidades e, sobretudo, foca nas tarefas, ignorando, assim, aspectos subjacentes que interferem na harmonia, na eficiência e na produtividade do grupo. Até o final do século passado, era comum conceder os cargos de liderança ou a chefia para aqueles funcionários que tivessem maior desempenho técnico no exercício de suas funções ou para aqueles como maior afinidade com os superiores hierárquicos, sem que estes fossem lideres do grupo, ou pelo menos lideres potenciais. Ao ignorar a capacidade de liderança da pessoa no processo de seleção da chefia, muitas vezes, era comum a figura do chefe, geralmente associada a uma pessoa pouco desejada por seus colaboradores, tornando o ambiente de trabalho menos harmônico do que poderia ser. Em função disto e após constatar as melhoras de desempenho quando os cargos de liderança são ocupados por líderes, verifica-se que as empresas começam a investir cada vez mais no desenvolvimento de seus líderes. Tendo isto como pressuposto, podemos concluir que na contemporaneidade as habilidades técnicas não são os únicos requisitos mensurados para seleção de profissional para ocupar cargo de chefia. Não se pode subjugar a importância do conhecimento técnico, ele é pré-requisito imprescindível do processo de definição de Diretores, Gerentes, Supervisores e os demais ocupantes de cargo de liderança, mas este conhecimento por si só não é suficiente. Temos claro que a liderança é o diferencial deste processo, mas vale ressaltar que ter diferencial não é ser totalmente diferente, mas sim possuir alguns atributos incomuns além dos requisitos fundamentais. Em outras palavras, o Gerente do departamento de contabilidade deve ser, preferencialmente, um contador, pois este profissional necessita do conhecimento técnico de sua área de atuação para poder exercer bem sua função. Contudo seguramente no departamento de contabilidade, os profissionais que lá estão são contadores e não foi por falta de conhecimento técnico que os demais não se tornaram o gerente. Ou seja, neste caso, saber contabilidade é requisito mínimo para trabalhar e para ter a oportunidade de ocupar o cargo de gerente do setor, mas o fator determinante para a escolha será o diferencial que cada um possui. Sendo o diferencial este fator determinante, focaremos nos aspectos mais relacionais, no que tange ao papel do líder dentro da organização. Contudo é incontestável que estes cargos de liderança possuem muitas atribuições e responsabilidade do líder, em especial, porque trata do gerenciamento do setor e como líder, consequentemente, dos membros do grupo. Neste sentido, algumas das funções do líder estão diretamente vinculadas à área da administração. Neste sentido, trataremos do papel do líder enquanto gestor de um grupo, enfatizando também os aspectos relacionais deste agente, abordando sobre algumas de suas características. PAPEL DO LÍDER ENQUANTO GESTOR DE UM GRUPO. Dentre as diversas correntes teóricas na administração, verificamos que há um vasto campo conceitual sobre as funções do líder, ou dos ocupantes de cargos de liderança. Fazendo um breve levantamento de alguns teóricos apresentados na obra de Idalberto Chiavenato (1979), temos o seguinte quadro: 43 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO AUTORES Clássico Fayol CONCEPÇÃO DAS FUNÇÕES DO LÍDER/GESTOR Planejar, preparar, controlar e executar. Prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Riccardi Programação, organização, atuação, coordenação e controle. Os Neoclássicos Planejar, organizar, dirigir, controlar, fixar objetivos, designar atribuições, comunicar e inovar Os Sistêmicos Planejar, organizar, controlar e comunicar. Com base no quadro acima, verificamos que as funções apresentadas pelos neoclássicos são completas e se agregam aos autores, contudo as mais comuns são: planejar, organizar e controlar, acrescentaremos, ainda, comunicar, motivar e criar um clima organizacional e, por fim, a capacidade de tomada de decisão. Vejamos cada uma delas. PLANEJAMENTO O planejamento deve ser a base para toda e qualquer ação, em especial, quando é realizada em grupo, pois é o ato de, considerando o contexto presente e futuro, prever os passos necessários, analisar as possibilidades, avaliar a viabilidade, mensurar recursos e definir o caminho a ser seguido. Em outras palavras, o planejamento é a racionalização das ações. Exige que se tenha visão de futuro e que, sabendo das necessidades e potencialidades do grupo ou setor, possa traçar os objetivos e metas a serem seguidos. É a partir do planejamento que se identificam a força, a fraqueza, as ameaças e as oportunidades do grupo, para então poder definir uma direção e uma forma da agir mais efetiva. Esta função cabe ao líder e exige dele visão de futuro, noção das necessidades coletivas e individuais para estabelecimento de metas, conhecimento do grupo e das potencialidades individuais de cada componente para deliberar as tarefas de cada membro, centralizar informações e flexibilidade para prever e passar por contingências inesperadas etc. Mesmo sendo uma função do líder não significa que deva ser cumprida exclusivamente por ele. Consideramos importante que o planejamento seja construído com a participação do grupo para que seja consolidado e incorporado por todos. ORGANIZAÇÃO Entende-se por organização o esforço de estruturar, definir, dividir e sequenciar o trabalho ou as tarefas. Somente depois de concluído o planejamento é que se deve estabelecer a estrutura concreta que a ação deve seguir, para que as ideias projetadas sejam colocadas em prática. É neste momento e pautado no planejamento, que será possível estabelecer as funções de cada componente, assim como os respectivos prazos de execução. Os métodos que devem ser empregados para alcançar as metas e os objetivos do grupo também são deliberados neste momento. 44 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Em outras palavras, a organização, função do líder (que quando não a realiza, delibera a favor ou contra sua utilização), é o estabelecimento dos procedimentos e processos operacionais. Esta função exige do líder, principalmente, conhecimento dos recursos e das limitações do grupo e de cada membro individualmente. Quanto maior o domínio de técnicas e métodos de atuação, mais eficiente será a organização do grupo, e assim como o planejamento e a organização do grupo e de suas ações são funções do líder, que não necessitam ser realizadas exclusivamente pelo mesmo. Logo, a participação do grupo na sua organização amplia a possibilidade de seu potencial, pois o líder se beneficiará de mais informações sobre métodos, técnicas e a viabilidade de ambas. CONTROLE Estabelecidas as metas, delineados os procedimentos e processos para alcançar-las, tem-se o início das atividades e a necessidade de acompanhá-las e monitorá-las para verificar se estão sendo realizadas e se as mesmas têm o desempenho esperado. Possibilitando que sejam corrigidos os contratempos, mantendo a empresa na direção programada. Estabelecer um sistema de controle é importante para que o líder tenha o desempenho do grupo sempre em rédeas curtas. Contudo apesar de ser uma função dele, pois é o meio de reavaliar e modificar tanto o planejamento com a organização do grupo em função do desempenho alcançado, em geral, não é ele quem executa as técnicas diretamente. Quando o grupo é pequeno há possibilidade do líder executar esta tarefa, mas quando se trata de um grupo médio ou grande é necessário delegar poderes para outros membros, ficando livre para exercer outras atividades. Se por um lado o ato de delegar parece retirar do líder parte de suas tarefas, por outro o torna ainda mais responsável por seu resultado, pois o ato de delegar não retira a responsabilidade. COMUNICAÇÃO Saber estabelecer comunicações eficientes entre os membros dos grupos é elemento primordial para que todas as atividades resultem em sucesso, mas enquanto este aspecto é “apenas” desejável entre o grupo para o líder é obrigatório, pois a ele cabe transmitir as metas da equipe, determinar as ações de cada um, identificar as necessidades, influenciar os demais, assim, como poderia ser realizado tudo isto sem uma comunicação autêntica. Chiavenato (1979, p. 170 e 180), tratando sobre a teoria humanista da administração, postula que: A comunicação é importante no relacionamento entre as posições e no esclarecimento e na explicação aos participantes inferiores das razões das orientações tomadas. Os subordinados devem receber continuamente dos superiores um fluxo de comunicações capaz de suprir-lhes as necessidades. Por outro lado, os superiores devem receber dos subordinados um fluxo de comunicações capaz de lhes fornecer uma ideia adequada do que está acontecendo (CHIAVENATO, 1979, p. 170 e 180) A comunicação autêntica é o que chamamos de capacidade de se fazer entender plenamente e ouvir verdadeiramente o outro, a fim de desenvolver um diálogo respeitoso e produtivo que proporcione o entendimento entre as partes. A eficiência da comunicação é o que possibilita a 45 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO identificação e a promoção dos pontos motivacionais coletivos e individuais, além de incentivar o grupo a seguir em uma mesma direção. É através da comunicação autêntica que o líder pode gerenciar os interesses difusos do grupo e atender às necessidades individuas e coletivas da equipe, além de estabelecer uma relação interpessoal saudável, criando um ambiente de respeito e colaboração mútua. O líder tem a função de escutar “verdadeiramente” seus liderados para conhecer suas nuances e assim conseguir persuadi-los. Como se pode influenciar ou influenciar uma pessoa quando não se entende o que está sendo passado? Impossível. O líder é o porta-voz do grupo e é o ponto central da união entre seus membros e isto só lhe é possível quando o mesmo mantém um sistema de comunicação interno que atenda às exigências do grupo. MOTIVAÇÃO E CLIMA ORGANIZACIONAL HARMÔNICO Comumente ocorre que os estímulos e a empolgação que antecedem as atividades dos membros do grupo e que os tornam inicialmente bem incitados a realizar suas funções, percam “força” no decorrer do tempo. Ou seja, é natural que o grau de empenho se reduza durante o processo. O líder deve estar atendo a esta questão, pois cabe a ele injetar ânimo toda vez que isto acontecer. James Hunter (2004), defende conceitualmente que a liderança é uma habilidade de influenciar seus colaboradores para que trabalhem sempre com entusiasmo. Este autor reforça a ideia de que motivar a equipe é função inerente ao líder, colocando este aspecto – a motivação – como requisito de definição dos mesmos. Como o próprio nome já deixa explícito, a motivação é dar MOTIVO à AÇÃO. Ou o mesmo que dotar o grupo e cada um de seus membros da real significância de suas funções para sanar suas necessidades humanas e chegar à autorrealização através do trabalho, tarefas ou funções que desempenham. Com motivação os liderados serão mais eficientes e felizes, desenvolvendo suas funções com o máximo de qualidade possível. Este é um dos papéis de um líder: manter a equipe sempre animada, motivada para galgar os objetivos traçados. Contudo vale relembrar que, motivação é algo intrínseco e que para conseguir executar plenamente sua função, o líder deve estimular individualmente e coletivamente a sua equipe. Um dos primeiros passos para isso é conseguido através do clima organizacional, que é a qualidade percebida e/ou experimentada pelo funcionário do ambiente de trabalho no qual se encontra, influenciando, assim, o seu comportamento. Em outras palavras, é a atmosfera psíquica do local que nos faz sentir mais ou menos confortável logo quando entramos, desse modo, tal atmosfera tende a permanecer todo o tempo que estivermos neste ambiente. Pesquisadores identificaram que somos influenciados por este clima, assim como o influenciamos o que nos permite modificá-lo. Tem-se constatado, na prática, que há relação direta entre o clima do ambiente de trabalho, com a produtividade, a capacidade de inovação e o consequente desempenho da organização, em especial, os econômicos. Este fato evidencia que cabe ao líder criar um CLIMA ORGANIZACIONAL HARMÔNICO, que entendemos ser o fomento e a manutenção de um ambiente propício para a execução das funções dos liderados, deixando-os satisfeitos com a organização. O clima organizacional agradável, instigante e satisfatório é fundamental para extrair o melhor que cada um pode dar, promovendo concomitantemente seu desenvolvimento pessoal. 46 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO TOMADA DE DECISÃO Por ser o responsável pelo grupo, no que tange à escolha do caminho a seguir, no seu planejamento, organização, controle, seja por deliberar pelo melhor sistema de comunicação ou quais as atitudes que beneficiarão o clima organizacional, principalmente por definir as metas coletivas não podemos deixar de contemplar, dentre os principais papéis do líder, a capacidade de tomar decisões. Chiavenato (1979), traz a concepção de Ordway Tead quanto às bases para uma tomada de decisão acertada, são: 1 – identificação do problema; 2 – reunião e classificação adequada de informações; 3 – formulação de uma hipótese; 4 – verificação da hipótese; e 5 – aceitação da hipótese. Vale salientar que este processo sempre é solitário, ainda que haja participação da equipe. Por mais que se decida por votação democrática, ou que se delegue a terceiros a tomada de decisão é uma atitude solitária, pois a responsabilidade das consequências recai sobre o líder. Até mesmo porque sempre há a opção de entregar o comando ao invés de atender a decisão da equipe, quando se sabe que concretizar tal decisão será provavelmente fatal para o grupo. O líder jamais pode responsabilizar outros pela decisão tomada e sempre será algo solitário. 2.3 QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE LIDERANÇA A distância entre o sonho e a realidade chama-se disciplina. Bernardinho O mundo passa por um processo de transformação especialmente dinâmico. O avanço tecnológico e o aumento considerado do volume de produções acadêmicas e científicas, assim como sua divulgação e disseminação; somados aos processos sociopolíticos e econômicos com a globalização nos exigem cada vez mais habilidade de adaptação às novas perspectivas sobre aquilo que já conhecemos, para que sejamos mais eficientes em nossas atividades. Este é um momento complexo no ambiente de negócios e na sociedade. Fenômenos econômicos e sociais de alcance mundial estão reestruturando o ambiente de negócios. A globalização da economia, alavancada pela tecnologia da informação e da comunicação, é uma realidade da qual não se pode escapar. No ambiente de negócios, praticamente em qualquer lugar do mundo, as pessoas estão sentindo o reflexo dessas transformações. O administrador de empresas (assim como todos outros profissionais) enfrentam (…) desafios totalmente novos, seja pelas mudanças introduzidas inteiramente pela reengenharia, como a descentralização, o empowerment ou a terceirização; seja pelas transformações no cenário externo, como o declínio de antigas empresas multinacionais e o surgimento de novos competidores (FILHO, 2003, p. 37). Assim é também com a temática da liderança. Surgi na contemporaneidade novos conhecimentos e situação inusitadas que exigem do líder domínios de habilidades e técnicas para que possam ser mais atuantes em suas funções. Ou ainda, o domínio de conhecimento sobre temas não tão recentes, mas que deixaram de ser aspectos diferenciais para se tornarem requisitos mí47 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO nimos a serem desenvolvidos. Sendo assim, trataremos neste capítulo sobre temas contemporâneos da liderança. Em primeiro lugar, abordaremos a LIDERAR PELO EXEMPLO. A concepção basilar desta temática se pode ser resumida com a seguinte frase: Se ensina mais pelo exemplo do que pelas palavras. E isto pode ser constatado em nosso cotidiano, em especial, quando se convive com crianças, que prontamente reproduzem as atitudes dos mais velhos com quem convivem. O ditado faça o que digo, não faça o que eu faço não é aplicável para um líder, pois ele é transmissor da cultura organizacional e de valores, crenças e formas de condutas aos seus seguidores. Por ser o membro mais visível e atuante do grupo, o líder se torna um exemplo a ser seguido, logo, se deseja ter um grupo coeso e colaborativo, deve se mostrar e enaltecer estas características. Em um dos artigos denominado A Liderança pelo Exemplo, disponível no site da Fundação Luiz Almeida Marin Filho, verificamos que o autor (Luiz Marin) corrobora com esta perspectiva, quando postula: Não se iluda. Numa empresa, nada ocorre de baixo para cima. Ou os dirigentes dão o exemplo ou nada ou pouco ocorrerá. Não adianta falar. Não adianta fazer discursos. Não adianta colocar faixas. Não adianta pregar quadrinhos nas paredes com frases de efeito e exortações para a qualidade, para o atendimento ao cliente, para a cortesia, para a prestação de serviços. Se os dirigentes não tiverem um genuíno comportamento e atitudes “exemplares” tudo ficará no discurso, na intenção e pouco ocorrerá de concreto, de efetivo dentro da empresa no dia a dia. Essa é a verdade, nua e crua. Temos feito várias pesquisas de antropologia corporativa e os resultados são surpreendentes. Se você chega num hotel e é friamente ou rispidamente atendido na recepção, pode ter certeza, o gerente do hotel trata as pessoas e seus funcionários, fria e rispidamente. Se você é tratado com descortesia no estacionamento de um supermercado, pode ter certeza de que o gerente desse supermercado trata as pessoas com descortesia. Se você é tratado secamente pelas enfermeiras e atendentes num hospital, pode ter certeza – a direção do hospital trata a todos da mesma maneira. Se você numa empresa tem dificuldades em ser atendido com uma reclamação ou pedido, pode ter certeza – a diretoria e as gerências têm uma atitude negativa em relação a pedidos de clientes. E assim por diante. Se um garçom atende você mal num restaurante, pode ter certeza de que o dono ou gerente do restaurante trata mal os seus funcionários. Os funcionários de uma empresa repetem as atitudes e comportamentos de suas chefias. Acredite! Assim é através do exemplo e das pequenas atitudes e comportamentos que emitimos no dia a dia que passamos a visão e os valores de nossa empresa aos nossos funcionários. Não adiantam campanhas, faixas, cartazes, panfletos se não houver o exemplo da liderança, principalmente nas pequenas coisas (MARIM, 2009). Em verdade, o líder deve saber alinhar o discurso com sua conduta, pois ao exigir aquilo que não “faz” perde sua credibilidade e compromete seu desempenho perante o grupo. O verdadeiro líder é responsável não só em dizer como se deve comportar perante as metas e objetivos do grupo, mas acima de tudo, deve ser o primeiro a demonstrar como deve ser feito. E isto é aspecto fundamental do comportamento do líder. Afinal, as pessoas não seguem livre e espontaneamente aos enganadores e agir contrário ao que se prega é ludibriar o grupo. Contudo, o exemplo mais do que orienta, convence sem debate 48 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO e desgastes; persuade sem retórica, impelindo sem necessidade de nenhum tipo de violência; evidenciando ao grupo que é possível ser feito da forma indicada. Liderar é mais que orientar o que fazer, é mostrar como se faz. Não queremos afirmar que cabe ao líder saber executar todas as tarefas, nem muito menos que deva saber como executar tudo melhor que os demais. Estamos postulando que todas suas ações devem estar respaldadas pelos princípios, pela cultura, pelos valores que ele defende e exige do grupo. Temos claro que o líder é a bússola do grupo e são seus atos, não as palavras, que nortearão a conduta dos membros. Afinal, a legitimidade da liderança é dada também pela capacidade que se tem em coadunar o discurso com a prática. Afinal, os grandes líderes da história foram antes de tudo, o exemplo a ser seguido, como podemos citar a liderança de Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Bernardinho etc. que antes mesmo de exigirem do grupo, se tornaram fonte de inspiração, mostrando como e quais os princípios e valores a serem buscados. Aproveitando a discussão do líder como transmissor de valores, crença e princípios para o grupo, outro tema que está começando a despontar é o LÍDER MORAL, que não é necessariamente outro tipo de líder, mas sim uma forma de liderança baseada em valores e princípios morais e na busca sincera e dedicada em utilizar suas habilidades a serviço do bem-estar do grupo, ou seja, um líder que busque a promoção de uma sociedade em evolução contínua baseada em princípios éticos; que age concretamente e de forma correta em auxílio da construção de uma sociedade justa. Este líder tem uma visão mais abrangente de grupo, defendendo a existência de um subgrupo, dentro de um único grupo, a sociedade. Talvez em virtude dos debates sobre as questões socioambientais na década de 60, que mostram a necessidade de adotar uma postura mais consciente perante a forma de se relacionar com o meio ambiente natural, somado aos atuais debates sobre a importância de valorizar o social e se tornar socialmente responsável, é notória a relevância deste líder, assim como o clamor por pessoas com predisposição para agir dentro dos parâmetros da moralidade. Quero dizer que, você pode notar o quanto a sociedade vem cobrando que as empresas não poluam e que paguem salários dignos e com benefícios aos funcionários; vê também, que já não se passa mais em branco os desvios de verbas e as improbidades administrativas do setor publico; e até mesmo se você tem um vizinho que joga lixo na rua de forma incorreta ou que gasta água de maneira desnecessária já se começa a cobrar uma conduta dele perante a sociedade. Mas não se trata apenas de um líder virtuoso, mas sim de um virtuoso que age em prol do que é moral. A diferença entre ambos está na atitude, afinal há um dito que retrata bem isso: VONTADE SEM AÇÃO É INSUFICIENTE. Passividade não transforma, não promove mudanças nem tão pouco é característica de um bom líder. Por isso, o Líder Moral, além de não ser acomodado, não é nem será contraditório às regras. Estes líderes têm três características básicas: 1- Percepção clara do mundo que o cerca, ou capacidade de mensurar os problemas e as oportunidades existentes no contexto atual, analisando o passado para entender o presente; 2 - Visão clara, ainda que utópica, do mundo em que deseja viver; que é a habilidade de projetar o futuro criando metas viáveis. ; 3- Compromisso pessoal na busca de tornar sua projeção uma realidade, que é o compromisso que ele assume consigo mesmo de tornar reais suas projeções. O líder moral entende que sua função principal é ser útil para a sociedade, mantendo uma conduta exemplar, no que se refere à ética, fomentando que outros também a tenham, e assim minimizando as problemáticas sociais. 49 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Aprofundando mais nesta discussão, podemos discorrer sobre mais um tema contemporâneo: o LÍDER SERVIDOR. Este termo ganhou maior destaque após o livro O Monge e o Executivo de James Hunter. Este autor postula de forma didática que o líder deve saber identificar e satisfazer as necessidades de seus liderados, removendo os obstáculos para que possa cumprir suas metas, incentivando e dando condições para que se desenvolvam plenamente. Contudo este termo foi usado anteriormente por Robert Greenleaf, em 1970, que postulava literalmente que liderar é servir. Em seu conceito, está embutida a ideia de que o Líder servo deve ajudar as pessoas a desenvolver plenamente seu potencial, tornando-se pessoas melhores. Isto não significa que sua postura é a de ser servil para com os desejos dos membros do grupo, mas sim que deve estimular o crescimento do grupo, atendendo às necessidades dos seguidores que as auxiliarão em seu processo. Logo, podemos concluir que o verdadeiro líder, o Líder Servidor, não trabalha exclusivamente para a organização, mas sim para seus liderados. Não que dentro de uma empresa não possa existir um líder servidor, ou que os objetivos organizacionais sejam subjugados aos do grupo, pelo contrário, pois uma das condições de manter o emprego dos membros do grupo e assim poder satisfazer uma necessidade elementar é através da consolidação da organização. Ou queremos ressaltar é que mesmo atendendo as metas organizacionais, mantendo foco nas tarefas, o objeto maior a ser considerado é contribuir, servir aos seguidores. Não devemos reduzir a função do líder a uma questão meramente operacional, visto que suas responsabilidades são maiores que simplesmente: planejar, distribuir tarefas, controlar as metas, ou definir os objetivos. O verdadeiro líder deve zelar pelo cumprimento dos objetivos do grupo, isto é evidente, todavia sem que para isso sacrifique a qualidade de vida de seus subordinados. Outra perspectiva desta temática é que ela não significa necessariamente uma ruptura com o estilo que se adota, mas sim enaltece que o foco é nas pessoas, aspecto muitas vezes deixado em segundo plano. Sendo assim, o líder pode ser autocrático, firme, centralizador etc., sempre que as ações e solicitações estejam voltadas para o desenvolvimento do grupo É natural questionar a eficiência desta abordagem, inclusive porque a imagem coletiva que se tem do líder é daquele pessoa que dá ordens, que faz os outros seguirem suas orientações sem questionar, que é servido pelos outros e não que serve aos liderados Cabe aos Diretores ou a qualquer outro superior hierárquico, que se torna líder de fato dos funcionários, dotarem seus seguidores de meios para que se possa vencer na vida. Não nos referimos à falsa ideia de sucesso focada apenas no retorno financeiro, mas, principalmente, no sucesso que leva as pessoas a se realizarem plenamente. Portanto, para conseguir atender todas as exigências que a liderança do grupo está incumbida, uma ferramenta se torna importante: a INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. Termo que pode ser definido como: a habilidade de conhecer e reconhecer as próprias emoções e suas respectivas inter-relações, racionalizando-as para resolver os problemas baseando-se nas mesmas. Esta inteligência considera a capacidade da pessoa monitorar seus sentimentos e perceber quais estão mais presentes no momento em questão, gerenciando-os e controlando-os para tomar decisões assertivas e maximizar o desenvolvimento cognitivo através das emoções Em verdade, pesquisas mostraram três tipos inteligências, são elas: a ABSTRATA, definida como habilidade de manipular e entender questões não tangíveis, não palpáveis, como problemas matemáticos, situações verbais etc.; a CONCRETRA, que é a habilidade de manipular obje50 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO tos, nos quais há domino da perspectiva geométrica e espacial das coisas. Geralmente, bem desenvolvidas em artistas plásticos; e a SOCIAL – que é a habilidade que se tem em se relacionar com pessoas, e está diretamente vinculada à capacidade de entender o outro e a nós mesmos. Evidentemente, que a Inteligência Emocional se enquadra justamente nesta terceira perspectiva, visto que trata da habilidade de reconhecer (descrever, expressar e comunicar), controlar (conter ou reter) e raciocinar (analisar e refletir) sobre as próprias emoções. Estes mesmos pesquisadores, SALOVEY e MAYER, na década de 1990, quando postularam que: A Inteligência Emocional envolve a capacidade de perceber acuradamente, de avaliar e de expressar emoções; a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a capacidade de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a capacidade de controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual. (MAYER & SALOVEY, 1997, p. 15) Contudo foi através da obra de Daniel Goldeman, em 1995, intitulada INTELIGÊNCIA EMOCIONAL (IE), que este tema ganhou popularidade. Em função do sucesso obtido nesta obra, este termo IE ficou durante certo tempo, muito presente nas discussões dos diversos segmentos da sociedade, desde debates sobre Educação infantil até palestras sobre Negócios. Goleman (1995), defende que em 90% dos casos, a diferença entre pessoas de sucesso (profissional e pessoal) e pessoas com desempenho mediano, os fatores comportamentais e a habilidade em gerenciar as emoções são mais significativos do que o conhecimento e as habilidades adquiridos pela educação formal. Tal constatação nos parece válida, pois independente da área de atuação, a pessoa com estrutura emocional firme tende a desempenhar melhor sua tarefa do que aquela pessoa emocionalmente instável. Assim como o atleta, mesmo tecnicamente menos preparado, pode passar para outro nível superior em função do preparo emocional; também nas organizações, o profissional que tem desenvolvida sua inteligência emocional leva vantagem perante os que não consideram esta perspectiva. Esta afirmativa levou à hierarquização dos tipos de inteligências, colocando a IE em lugar de destaque. O que causou certo alvoroço da sociedade em geral, em buscar métodos e técnicas para desenvolver este tipo de inteligência. Sendo assim, cinco componentes foram apontados como principais, tanto por Goleman, quanto por Robbins, são eles: • Autopercepção – é a capacidade das pessoas conhecerem a si próprias, em termos de seus comportamentos frente às situações de sua vida social e profissional, além do relacionamento consigo mesmo. • Autocontrole – ou capacidade de gerir as próprias emoções, seu estado de espírito e seu bom humor, mesmo em situações conturbadas. • Automotivação – capacidade de motivar a si mesmo e realizar as tarefas e as ações necessárias para alcançar seus objetivos, independente das circunstâncias. • Empatia – habilidade de comunicação interpessoal de forma espontânea e não verbal, e de harmonizar-se com as pessoas. • Práticas sociais – capacidade de relacionamento interpessoal e de trabalho em equipe. 51 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Na literatura, existe um estudo realizado por John Kotter, da Universidade de Harvard, endossa a importância da Inteligência emocional, quando da apresentação de uma pesquisa na qual ele acompanhou 115 alunos desta universidade, durante 20 anos, após formatura. Este autor, comparando o desempenho profissional deles com o desempenho que tiveram quando eram estudantes, constatou que não há uma relação direta entre as notas obtidas e o sucesso pessoal e profissional alcançado pelos participantes. Em outras palavras, os melhores alunos não foram necessariamente os que obtiveram maior sucesso. Não significa dizer que o desempenho dos alunos deve ser medíocre, ou que o conhecimento não seja importante. A pesquisa retrata outras questões que levam ao sucesso profissional e pessoal, tais aspectos devem ser considerados pelas pessoas. Não basta apenas o conhecimento, pois é preciso saber controlar suas emoções e sentimento; contudo sem domínio do conhecimento dificilmente terá oportunidade. Chega a ser intuitivo deduzir a importância de desenvolver essas habilidades para gerir pessoas com eficiência, principalmente quando este gestor é um líder. Os laços que unem um líder e seus seguidores são bastante delicados, passando por uma questão de aceitação, inclusive, da forma de conduta e da postura do mesmo. Uma vez que ele se mostre instável e que não transmita mais segurança e confiança, provavelmente deixará de ser o líder do grupo. As pessoas acreditam e seguem a visão que o líder projeta, mas quando essa visão é passada de forma negativa, turbulenta e conflitante, se cria uma aversão natural em aceitar suas diretrizes. Ou seja, é evidente que se o Diretor da empresa for áspero e inconstante, denotando certo desequilíbrio nas suas condutas perante os funcionários, revidando e descontando neles todas suas desilusões, dificilmente será o líder principal da empresa. Queremos dizer que: as pessoas podem obedecer a suas ordens, mas jamais o seguirão, além do que, na primeira oportunidade, deixarão a organização, pois não se sentem parte do grupo. Por fim, considerando ainda o dinamismo do mundo contemporâneo, altamente globalizado, constata-se cada vez mais a importância de se tratar da DIVERSIDADE, principalmente porque não há grupo algum completamente homogêneo e o líder deve saber lidar e, inclusive, fomentar a diversidade dentro do grupo. Poderíamos citar a diversidade cultural e a importância de ser um líder multicultural, que conhece, ainda que ligeiramente e respeita a cultura de seus seguidores, considerando-a em suas deliberações para ser justo e atender às necessidades individuais de cada qual. Líder este que deve estar “desnudo” de preconceitos, além de isento de julgamentos para ser eficiente. Mas as diferenças culturais não é a única forma de distinção entre os homens, em realidade, o ser humano possui uma diversidade impressionante. Este termo, oriundo da biologia, surge para especificar a existência de uma variedade de coisa ou de algo não exatamente igual. E quando tratamos de biodiversidade um aspecto se torna evidente: são as diferenças entre os seres vivos que permitem a permanência da vida no planeta. Assim também é com a sociedade. A diversidade étnica, etária, fisiológica, ideológica, de gênero etc. é o que permite uma vida social, coletiva. A DIVERSIDADE está presente na biologia, assim como na vida social. E de fato não há ninguém igual a outro, então, podemos concluir que jamais deveremos tratar as pessoas de forma igual, mas sim que devemos dá igualdade de oportunidade. Tendo em vista que o grupo será sempre diverso, o líder tem que saber como liderar os diferentes, sem ser injustos nas suas deliberações. 52 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Constatado que somos diversos, ou diferentes e que o grupo deve ser formado de homens e mulheres; brancos, negros, pardos e amarelos; jovens, adultos e idosos; enfim, percebido a existência de muitos fatores de diferenciação entre os membros do grupo, o primeiro aspecto do líder é impedir que haja qualquer tipo de hierarquia entre as diferenças. Ou seja, não se pode ter a ideia de que determinada característica tenha mais direitos ou é mais importante que as outras. Em seguida, reconhecer e fazer com que o grupo reconheça que quanto maior for a diversidade, maior será o potencial competitivo do grupo, pois as diferenças significam que também somos complementares, pois somamos habilidades e dividimos os pontos fracos. Quando há uma equipe diversa, que trabalha com harmonia, sinergia e de forma colaborativa, o líder consegue aglutinar os pontos fortes de todos e diminuir os pontos fracos da equipe, criando, assim, uma equipe muito mais completa. Através da junção harmônica de diversidade, ou seja, de etnias, culturas, idades, gêneros etc. se ganha em potencial realizador. E é por isto que reforçamos que o líder contemporâneo tem que considerar a diversidade em seu processo, assim como os demais aspectos até então apontados. 2.4 COMO SER UM LÍDER EMPREENDEDOR EMPREENDEDOR Grandes realizações não são feitas por impulso, mas por uma soma de pequenas realiza- ções. Vincent Van Gogh Ainda que para alguns à primeira vista, o conceito de líder empreendedor pareça dicotômico, pois sendo o líder um agente que comanda, guia a equipe e o empreendedor o que, dentre outras coisas, põe em execução, ou melhor, o que operacionaliza as tarefas, estes conceitos não são contraditório. Considerar que são termos antagônicos possibilita a elucubrações que suscitaria ao entendimento indevido de que o líder empreendedor é quem comanda e realiza, simultaneamente. Não é este o caso. Em verdade, a liderança é uma ferramenta tão importante ao empreendedor, assim como o empreendedorismo potencializa a eficiência dos líderes que vale discorrer sobre a relação entre ambos. Para tanto, faremos um apanhado de alguns aspectos dos capítulos anteriores para evidências de como a liderança se integra ao empreendedorismo. Então vejamos. Sendo a liderança um processo social presente em quase, se não todos, os grupos de pessoas que buscam alcançar objetivos comuns e coletivos, sabemos que haverá uma pessoa dentre os membros do grupo que estará à frente dos demais, guiando e direcionando o grupo para o objetivo. Em outras palavras, sempre haverá a presença do líder, que deve possuir, mesmo tendo perfil gerencial, certa visão de futuro, o que lha fará perceber as possibilidades de atuação do grupo no decorrer do tempo, visando atingir as metas projetadas. Esta visão fortalece sua capacidade de influenciar espontaneamente seus seguidores em ambos os aspectos, de forma conjunta, potencializa a definição de metas para o grupo. Não há um estilo de liderança puro, é comum que líder possua características de mais de um perfil, mas sempre haverá um estilo predominante, com o qual classificaremos o líder. Em 53 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO geral, o estilo democrático é o mais adequado para a maioria dos grupos, mas a depender da situação é importante alternar a atitude, adequando-se as contingências naturais do processo de liderança, buscando motivar o grupo nas mais diversas situações. Ressalta-se que todos os estilos são bons e que a escolha do mesmo deve ser feita em função das características pessoais do líder e da observação do grupo e de sua maturidade, para definir comportamento/atitude mais produtiva, e por fim, considerando a situação para adequar as necessidades iminentes da equipe. A evidência de que a liderança é mais eficiente que a chefia, principalmente na contemporaneidade em que o dinamismo e a volatilidade do mercado e a competição intensificada, tornam o ambiente externo à organização hostil. Este fator exige maximizar ainda mais o resultado e o funcionário deve ser tratado não com uma pessoa alijada do processo, mas sim um componente da equipe. Sendo assim, se evidência, dentre as características inerentes ao processo de liderança que tem esta vertente, alguns que justificam o aumento significativo de investimento das organizações, principalmente as do setor produtivo, em identificar e desenvolver líderes. São elas: 1. Promoção de harmonia na equipe e criação de um clima organizacional propício para o cumprimento das tarefas. O líder faz com que o grupo trabalhe unido, comprometido e de forma harmônica, com a sinergia necessária para criar um diferencial competitivo ao empreendimento maior capacidade de sobrevivência. 2. Consolidação de valores institucionais, principalmente através do exemplo, pois o destaque inerente a este agente o torna um mecanismo de perpetuação de princípios, valores e crenças organizacionais, ou seja, indutor da cultura da organização. Nos grupos nos quais a cultura é transparente e sólida, os pontos de atritos entre os membros são reduzidos significativamente 3. Identificação e desenvolvimento de talentos. O líder servidor está preocupado em identificar quais as necessidades e o potencial latente de cada um de seus colaboradores, permitindo identificar com mais clareza a pessoa adequada à função, assim como propicia o desenvolvimento das respectivas competências 4. O líder agrega valor à organização. Fato incontestável, pois a depender do currículo de quem ocupe os cargos de liderança, em especial o de Presidente ou CEO, o mercado valorizará, ou não, as ações da organização. Existem alguns pesquisadores que postulando sobre essa temática, defendem a ideia que a modernidade exige das organizações um potencial inovador e de adaptabilidade às mudanças, ou melhor, as organizações estão tendo que gerenciar mudanças, cada vez mais frequentes do mercado e isso com grande velocidade. E quem não as acompanhar ficará defasado, tendo como possível consequência o término de suas atividades. Isto evidencia dois aspectos: de um lado reforça, mais uma vez, a necessidade por líderes e não por chefes, principalmente em função da diferença de desempenho e da capacidade de implantar novos paradigmas; por outro lado, mostra que o ambiente criativo e o potencial inovador são a bola da vez. Neste cenário, é cada vez mais necessário que os indivíduos desenvolvam a capacidade de liderar, e de propor o novo. A busca por inovação, se antecedendo às tendências de mercado e saindo à frente para expandir o negócio é uma habilidade desejável no líder. As organizações já 54 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO perceberam essa necessidade e aumentaram o investimento no desenvolvimento de lideres com este perfil: INOVADOR O consultor do SEBRAE, José Carlos Teixeira, no site desta organização, afirma que o empreendedorismo é: (...) ousar, transformar, descobrir novas vidas em cima de produtos que já existem. É sonhar para frente, dar função e vida a produtos antigos. Enfim, empreendedorismo é provocar o futuro, reunir experiências e ousadias, ir além do tradicional (TEIXEIRA, 2007). Percebemos que tanto a liderança quanto o perfil empreendedor são habilidades ou características que ampliam às possibilidades de dotar a organização de potencial propulsor para competir com menos desigualdade, e, às vezes, com certa vantagem sobre as demais organizações já bem estabelecidas, no mercado. Sendo assim, a ausência da liderança eficaz e/ou do perfil empreendedor faz com que as organizações reduzam sua capacidade de transpor obstáculos. Mas, apesar se relacionarem diretamente, são conceitos distintos, logo, não há obrigatoriedade do indivíduo reunir ambas as habilidades. Então, uma pessoa pode liderar sem empreender, o que por sinal é comum na maioria das empresas, assim como uma pessoa pode empreender sem liderar, o que é péssimo, pois se perde em potencial realizador, a menos que o empreendedor trabalhe sozinho, coisa que pode vim a acontecer no início de algum empreendimento, mas não quando estiver completamente desenvolvido. Ressaltamos que a imagem iconográfica do empreendedor se pauta na ideia da pessoa que monta seu próprio negócio, o que é um equívoco. O conceito de intraempreendedor já nos mostra que esta imagem nos leva às conclusões errôneas, pois trata de colaboradores ativos que se comportam como empreendedor dentro e para a organização em que trabalha. Quando tratamos de LÍDER EMPREENDEDOR, buscamos unir esses dois conceitos dentro de um perfil comportamental. Defendemos, com este termo, que o líder deve incluir em suas atribuições a visão empreendedora, ou seja, deve buscar sair do tradicional e corriqueiro para prover inovações. Percebermos que começam a surgir dois tipos de lideres empreendedores: 1. O primeiro tipo surge através do pessoa que tem o perfil empreendedor, ou seja, tem uma visão de futuro, possui capacidade técnica, é autoconfiante etc. e reconhecer a importância da liderança no processo de empreender e desenvolver. (empreendedor que desenvolve a liderança). 2. O segundo surge da percepção da organização em fomentar que funcionários, especificamente os líderes, exerçam sua capacidade de empreender, de manter a organização na vanguarda dos acontecimentos do mercado. (liderança que desenvolve o empreendedor). Estes tipos de líderes empreendedores são parecidos em muitos aspectos, contudo existem diferenças, principalmente, em função das circunstâncias, pois enquanto o primeiro é mais independente e autônomo, pois criará toda a estrutura organizacional para fazer acontecer sua ideia, o segundo está vinculado a uma organização já estabelecida, que possui cultura própria, padrões e formas de condutas já existentes. Enquanto o primeiro cria e inventa e busca melhor liderar, o segundo já lidera e procura desenvolver seu potencial inovador. 55 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Esses tipos de líderes apresentam diferenças circunstanciais que impactam no perfil de cada qual. Dentre elas destacamos: • Origem do recurso - enquanto o primeiro é responsável pelo recurso que irá utilizar, seja próprio ou de terceiro; o outro utilizará o capital da empresas. Esse nível de responsabilidade impacta na forma de agir do líder, pois para o primeiro, o fracasso pode representar a falência; no segundo lhe custará uma perda de credibilidade e o “aborto” do projeto, seguido no máximo de sua demissão. • Quanto à estrutura – o primeiro tende a ter um esforço maior no início, pois criará toda a estrutura operacional, enquanto o segundo utilizará a estrutura organizacional existente na empresa, ou como muito adaptará um aspecto ou outro. • Ambiente e flexibilidade - o primeiro tipo de líder empreendedor terá maior poder de ação sobre o ambiente interno além de maior flexibilidade e agilidade para se adequar as mudanças, pois conta com menos burocracia. No outro caso, este líder é dependente das características corporativas, assim como da cultura organizacional, que reduz a flexibilidade em adaptar-se às mudanças e autonomia de ação, ou seja, neste caso há mais barreiras internas a transpor. • Equipe – enquanto o empreendedor que desenvolve a liderança tem liberdade para monta sua equipe, ou seja, pode selecionar a dedo seus membros, de acordo com suas características específicas, que necessita nesta circunstância, da legitimidade da autoridade tornar-se mais significativa. O outro tenderá a aproveitar o recurso humano já existente na organização, o que pode ocasionar uma diminuição da legitimidade, caso haja membros de sua equipe que não o reconheçam como líder Visto os aspectos que os distinguem, verificamos que ambos os tipos de líder empreendedor possuem aspectos congruentes, que são características deste tipo de liderança. Alice Ferruccio postula que: O líder empreendedor assume riscos calculados; gosta de trabalhar com pessoas e acompanha as mudanças tecnológicas que aparecem em uma velocidade estonteante, assim como desenvolve sua competência técnica para formular conhecimentos necessários e imprescindíveis que suportem as decisões estratégicas que ele terá que tomar diariamente. [...] Entre as habilidades humanas necessárias para um bom líder, destaca-se a capacidade de ser um líder empreendedor, que facilita o processo de mudança e o trabalho da sua equipe. O papel do líder empreendedor como facilitador, é mobilizar-se de forma efetiva, como um propulsor de mudanças, de resultados e de satisfações. Há várias competências que precisam ser desenvolvidas: ter visão de futuro; catalisar as soluções dentro e fora da empresa; transformar dados em informações; distribuí-las adequadamente e com rapidez para toda a equipe e para a empresa; avaliar os processos e inovar; usar e criar novas tecnologias; ser capaz de perceber e atender às necessidades da equipe, da empresa e do mercado; identificar tendências; valorizar as pessoas e os seus talentos, gerir projetos e promover mudanças (FERRUCCIO, 2007). 56 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Estes líderes são criativos, marcados pela capacidade de influenciar, de estabelecer e de atingir os objetivos. Além de manter o alto nível de consciência sobre o ambiente no qual atua. Tais características permitem detectar melhor as oportunidades de negócios emergentes, mas o ponto principal é o foco que tem em se tornar um facilitador de inovações na organização, ou melhor, um catalisador capaz de mobilizar de forma efetiva as mudanças. Para encerrar este capítulo e tendo em vista a importância de se tornar um líder empreendedor, ou pelo menos buscar desenvolver algumas de suas características, propomos alguns passos: 1. Autoconhecimento ou autodesenvolvimento – que antecede o desenvolvimento de qualquer habilidade, pois visa autoperceber as características que potencializam ou não o próprio desenvolvimento, e assim focar nos aspectos que facilitaram o processo e dirimir os obstáculos, considerando as oportunidades e as ameaças. Como se fizesse um planejamento estratégico, o qual se projetará no futuro e definirá os objetivos e metas a seguir. 2. Saber liderar - conseguir influenciar as pessoas a fazerem, livre e espontaneamente, o que tem que ser feito para chegar ao objetivo almejado. Para isto é importante conhecer bem sobre a temática e saber quando e como utilizar este conhecimento, sem deixar de ser autêntico, para não parecer demagogo. Ressalta a importância de estar atento aos aspectos contemporâneos para lograr a formação de uma equipe integrada e com as tendências atuais 3. Desenvolver habilidades empreendedoras. Entre elas selecionamos algumas, inspiradas no texto de Luiz Marins, são elas: a. Ter boas ideias é fundamental, mas tais ideias são mais comuns do que você pensa. Geralmente, as pessoas desenvolvem excelentes ideias que ficam em sua cabeça, ou seja, não as põe em prática. Mas o líder empreendedor dever não só ter boas ideias, ele deve fazer com que as ideias se transformem em realidade, ou seja, deve fazer com que as ideias sejam concretizadas. Não que dizer que tenha necessariamente que ser idealizador, mas seguramente deve ter um perfil realizador, executor. b. Ter amor pelo que faz é fundamental, alguns autores usam o termo paixão, eu prefiro o termo amor, porque paixão é algo passageiro e amor é algo duradouro. Um líder empreendedor deve estar entusiasmado, empolgado, para, inclusive, transmitir esta energia para os liderados. Ter um brilho especial nos olhos, que transmita sinceridade e, principalmente, prazer pelo trabalho torna seus comentários sobre os objetivos da organização, ou dos resultados alcançados induz os seguidores a compartilharem do mesmo sentimento. c. Foco é outra característica marcante, de pouco ou nada adianta ficar pensando vagamente ou se lamentando pelas oportunidades perdidas, elas não iram retornar, afinal o tempo não volta atrás. Então, é melhor analisar os acontecimentos, porém estar focado no que se pretende conquistar. d. Obstinação é fundamental. Não desistir facilmente dos objetivos, do ideal. Desenvolver essa capacidade é imprescindível. As dificuldades são muitas e seguramente haverá problemas no processo. 57 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Estas são algumas características importantes de um empreendedor, mas existem outros aspectos a serem considerados, que veremos nos próximos capítulos. No momento, nosso foco é a liderança, em especial o líder empreendedor 4. Por fim, colocar em prática as habilidades que já possuem e atuar dentro da proposta estabelecida previamente. A teoria é apenas uma etapa, a práxis e o resultado alcançados serão o balizador de seu planejamento, sua proposta. 58 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO BLOCO TEMÁTICO II - EMPREENDEDORISMO TEMA 03 - PRINCÍPIOS E FERRAMENTAS FERRAMENTAS PARA SER UM EMPREENDEDOR DE SUCESSO SUCESSO 3.1 ORIGEM DO EMPREENDEDORISMO As pessoas persistentes iniciam o seu sucesso no ponto onde as outras terminam seu fracasso. Edward Eggleston Nos últimos anos, o termo empreendedorismo vem ganhando cada vez mais destaque não só no meio acadêmico como também no empresarial, sendo corriqueiro encontrar manchetes em jornais, livros, discursos etc. Este fato cria a ideia de que, em geral, dominamos o conceito e a definição deste termo, mas será que realmente o conhecemos? Empiricamente, percebemos que há certa “confusão” e imprecisão, por parte de população em geral, sobre o que é o empreendedorismo, qual a origem do termo e quais seus desdobramentos. Por isto, faz-se necessário delimitar e expressar o que entendemos sobre o empreendedorismo para dar maior clareza sobre o agente que denominamos de empreendedor. A raiz da palavra vem do francês entrepeneur: aquele que assume riscos e começa algo novo (inovador). Seguramente por isto muitos autores apontam para Marco Polo como um dos primeiros ícones de empreendedorismo, em razão do seu perfil explorador/aventureiro, visto que ele buscou rotas comerciais mais lucrativas e distintas das tradicionais. Mas as definições defendidas pelos autores contemporâneos são mais amplas e variadas. Dornelas (2001), e Degen (2009), por exemplo, defendem que é o agente que identifica a oportunidades e se mobiliza ao ponto de criar um negócio viável sobre a mesma, assumindo os riscos inerentes, de forma calculada e consciente. Chiavenato (2006, p. 3), defende que empreendedor “é a pessoa que inicia e/ou opera um negócio para realizar uma ideia ou projeto pessoal, assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente”. Dolabela (2006, p. 26), baseando-se na concepção conceitual de Fillon (ano), percebe o empreendedor como uma pessoa que além de “sonhar”, desenvolve meios para concretizar tais sonhos, postulando assim que: É um termo que implica uma forma de ser, uma concepção de mundo, uma forma de se relacionar. O empreendedor é um insatisfeito que transforma seu inconformismo em descobertas e propostas positivas para si mesmo e para os outros. É alguém que prefere seguir caminhos não percorridos, que define a partir do indefinido, acredita que seus atos podem gerar consequências. Em suma, alguém que acredita que pode alterar o mundo. É protagonista e autor de si mesmo e, principalmente, da comunidade em que vive. Abrir empresas, ou empreendedorismo empresarial, é uma das infindáveis formas de empreender. Podem ser empreendedores também o pesquisador, o funcionário público, o empregado 59 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO de empresas. Podem e devem ser empreendedores também os políticos e governantes (DOLABELA, 2006, p. 26). Em geral, as características definidoras deste agente (o empreendedor) estão ligadas a: predisposição em iniciar um negócio, criar, inovar, assumir riscos, fornecer empregos, incentivar o crescimento econômico, provê produtos e/ou serviços, alavancar recursos, impulsionar talentos, farejar oportunidades, e assim por diante. Percebemos, ainda que pareça o contrário, a complexidade de se definir o conceito de empreendedor. Degen (2009), ao buscar definir o papel do empreendedor e fazendo uso do exemplo de Marco Pólo e seu espírito empreendedor, identificou quatro papéis básicos que a pessoa, ao iniciar um negócio, em especial os inovadores, pode assumir. São eles: 1) Empreendedor – o que empreende o novo negócio, assumindo todos os riscos comerciais, legais, pessoais e profissionais. O que tem visão e esforça-se para concretizá-la. 2) Empresário – pessoa com recursos financeiros que assume de forma passiva os riscos do negócio, visando ao lucro do negócio e não necessariamente à concretização das ideias. É o financiador de negócios e não um inovador. 3) Executivo – o que executa, motivado por retorno financeiro acordado, não assumindo nenhum tipo de risco. Tem características bem operacionais, voltado para cumprir os objetivos traçados e não para estabelecê-los. 4) Empregado – o que operacionaliza as tarefas cotidianas, em função de um salário. Realizam as tarefas corriqueiras para cumprimento dos objetivos. Uma vez estabelecido o objetivo, são elaboradas metas para alcançar os objetivos. Os empregados operacionalizam as metas de curto prazo. A dificuldade conceitual se dá porque em determinados momentos estes papéis se confundem e descaracterizam o empreendedor. Por exemplo, se o empreendedor está associado à inovação e à capacidade em assumir os riscos inerentes a estes aspectos, uma pessoa que abre uma empresa, em um ramo já estabelecido e bem definido, que não traga novidades significativas ao mercado não pode ser chamado de empreendedor, mas sim empresário. Por outro lado, o empreendedor pode se tornar um empresário em função do tempo, caso não mais imponha inovação, pois uma vez que seu diferencial se torne práxis habitual de mercado, o agente que empreendeu no passado se tornará um empresário, caso não traga outras novidades. Como podemos perceber, não é tão simples definir o empreendedorismo, devemos observar sua dinâmica para poder sinalizar quando este agente está atuando ou quando ele perde suas características principais. Por isso, faz-se necessários observarmos os primórdios deste conceito. Swedberg (2000), identifica que nos primórdios havia certa dificuldade dos economistas inserirem este agente em seus modelos econômicos, por isto camuflavam, ou tratavam com exceções os desdobramentos de sua atuação. Chiavenato (2006), traz a perspectiva de que a origem da definição deste agente se sucedeu entre os séculos XVIII e XIX, fruto da reflexão, na época, de uma minoria de pensadores econômicos, que defendia o liberalismo econômico. 60 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Richard Cantillon (1680-1734), importante banqueiro e economista do século XVIII, considerado por alguns autores como um dos primeiros a lançar raízes para a definição de EMPREENDEDOR, já que apontava a distinção entre as pessoas que assumiam risco e as que forneciam o capital, pois entendia que os lucros não esperados, vindo de transações incertas (arriscadas), eram fruto de atuação de um agente que inovava, fazia algo diferente do habitual. Jean-Baptiste Say (1767-1832), industrial e economista clássico, considerou que o desenvolvimento econômico é fruto do surgimento de novos empreendimentos, havendo neste processo certa diferenciação entre empresário e empreendedor, assim, a concepção deste último está afeita a um agente de mudança do mercado. Estes autores associavam o empreendedor às pessoas com capacidade de assumir risco, à inovação e ao seu respectivo retorno econômico positivo. Ou seja, o empreendedor era identificado pela busca de novas (inovadoras) e arriscadas oportunidades de negócios, que trazia como desdobramento de suas atividades uma inevitavelmente e positiva mudança na estrutura do mercado ou cenário econômico. Mas foi o economista Joseph Alois Schumpeter que centrou seus estudos sobre este agente econômico e evidenciou sua importância para o crescimento de qualquer localidade. Na teoria de desenvolvimento econômico, proposta por Schumpeter, em seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia de 1942 é apresentada a concepção de destruição criativa ou destruição criadora que é um processo de inovação em que velhos produtos e seus respectivos mercados dão espaço para inserção de novos produtos, levando a reestruturação, desde a cadeia produtiva de insumo para sua fabricação até o perfil de consumo por parte da população. Um exemplo claro deste fenômeno pode ser visto ao analisar o mercado discográfico nos últimos 50 anos. Até a década de 1970 e 1980, o principal produto comercializado era o vinil ou Long Play (LP), uma espécie de disco plástico com 30 cm de diâmetro, no qual ficavam gravados “arquivos” de áudio. Ainda neste período, houve o lançamento do cassete que era uma evolução no mercado discográfico, pois eram mais compactos e possuíam maior capacidade de armazenamento, além de permitir regravações de áudio. Em seguida, surge o Compact Disc (CD) com maior capacidade de armazenamento, melhor qualidade e nitidez na reprodução do áudio, com possibilidade de armazenar também imagens e vídeos, além das dimensões serem mais reduzidas que o LP. Atualmente, encontramos os DVD, PEN DRIVER, BLU RAY etc. Com o surgimento do invento CD, as fábricas produtoras de vinil e sua cadeia produtiva deixaram de existir, dando espaço para que indústrias voltadas para a confecção de COMPACT DISC começassem a surgir em diversos locais, estruturando cadeias produtivas próprias. O ponto de análise deste exemplo é justamente o fato de que a cada inovação, o mercado vai se reorganizando de forma dinâmica, modificando o contexto socioeconômico e alavancando o crescimento da região. Schumpeter (1982), identifica este fenômeno (destruição criadora) como sendo fato essencial do capitalismo, e por isso reforça a importância do agente responsável por esta dinâmica; considerado como o principal agente de transformação do contexto socioeconômico. Na época, o autor denominou este agente com empresário inovador, hoje o conhecemos por empreendedor. Os empreendedores são heróis populares do mundo dos negócios. Fornecem empregos, introduzem inovações e incentivam o crescimento econômico. Não são simplesmente provedores de mercadorias ou de serviços, mas fontes de energia que assumem riscos em uma economia em mudança, transformação e crescimento. Continuamente, milhares de pessoas com esse perfil — desde jo61 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO vens a pessoas adultas e de todas as classes sociais — inauguram novos negócios por conta própria e agregam a liderança dinâmica que conduz ao desenvolvimento econômico e ao progresso das nações. É essa força vital que faz pulsar o coração da economia (LONGENECKER 1975 apud CHIAVENATO, 2006, p. 4 ). Contudo, não só a economia pesquisa sobre este agente (o empreendedor), outras ciências sociais aprofundaram seus estudos sobre esta temática como a sociologia, antropologia e a psicologia. Um teórico que se destaca é Max Weber (1864-1920), que pautava suas concepções sobre o empreendedor através da Teoria do Carisma, que faz deste agente um modelo a ser a seguido, visto que na sociedade capitalista quem se favoreci de mudanças econômicas são comumente clamados a ser exemplos a seguir, fato este que levou à busca e ao fomento para desenvolver a atitude de empreender. Contudo, dentre as ciências sociais citadas, destacamos em especial a vertente abordada pela psicologia, que desde a década de 1950, com seus estudiosos comportamentalistas e os defensores das teorias dos traços de personalidades vem ganhando visibilidade ao tentar definir um perfil deste agente. Chiavenato (2006, p. 6 e 7), ao abordar sobre esta vertente, aponta uma subdivisão ideológica deste estudiosos sobre empreendedorismo, ao postular que: No campo da psicologia, estudos sobre o empreendedor estão divididos em dois grupos: 1) um grupo cujo principal objetivo é isolar a personalidade empreendedora; e 2) outro grupo que é de natureza psicológico-social, no qual a personalidade do empreendedor é vista como decisivamente moldada por algo “de fora”, como a influência dos pais ou a forma como a criança foi socializada (CHIAVENATO, 2006, p. 6 e 7). Diferente dos economistas, que mostram o desdobramento da atuação empreendedora no processo de crescimento econômico local, os estudos sobre o empreendedor realizados sob à luz da psicologia vai buscar definir este agente através de características, habilidades e comportamentos perante não só contexto sociopolítico e econômico, assim como diante das mais distantes adversidades que cercam o ato de empreender. Esta corrente ao propor que a personalidade empreendedora é também algo externo, evidencia também a possibilidade destes aspectos, se bem estimulados, serem desenvolvidos por qualquer indivíduo. Estas duas correntes ideológicas, a econômica e a psicológica, são as principais linhas construtivas do conceito de empreendedor adotado na atualidade. Sendo que a primeira defende cientificamente a importância da atividade empreendedora para o crescimento econômico do país, melhoria de renda da população, diminuição da taxa de desemprego etc. servindo de base para criação de políticas públicas de fomento desta atividade, tendo o SEBRAE com um dos representantes mais ativo. Enquanto a segunda vertente será a principal base conceitual e o mais difundido pelos órgãos fomentadores de desenvolvimento de novos empreendedores e empreendimento; e é por isso, que quando se questiona a um leigo o que é empreendedorismo, em geral, verifica-se que a resposta está afeita a um conjunto de características e habilidades por vezes gerenciais. Chiavenato (2006), propõe um quadro com as principais linhas ideológicas sobre o empreendedorismo. Tal quadro é dividido em três categorias, sendo que as duas últimas podem ser agrupadas em uma mesma área de conhecimento, a psicologia. 62 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO FONTE: FILION (1999). IN. PAIVA JR. FERNANDO GOMES DE: CORDEIRO, ADRIANA TENÓRIO. EMPREENDEDORISMO E O ESPÍRITO EMPREENDEDOR, UMA ANALISE DA EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS NA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA. SALVADOR: ANAIS DE ENANPAD. 2002. Como vimos, empreendedorismo não está ligado diretamente à gestão/administração, mas sim à capacidade de inovar e assumir os risco inerentes a este processo. Contudo não podemos deixar de notar o fato de que existem vínculos entre estas duas atividades (empreender e administrar), uma vez que o novo empreendimento necessita ser viável para poder ser pleno. Dornelas (2001), ressalta que estas atividades passaram a ser analisadas de forma similar desde o século XIX, e por isso, este autor argumenta que o empreendedor é dotado de características do administrador, mas que: (...) pode-se dizer que existem muitos pontos em comum entre o administrador e o empreendedor. Ou seja, o empreendedor é um administrador, mas com diferenças consideráveis em relação aos gerentes ou executivos de organizações tradicionais, pois os empreendedores são mais visionários que os gerentes. (DORNELAS 2001, p.31) Dolabela (2006), considerando as diferenças basilares entre estes agentes, que justificam a separação conceitual entre ambos, endossa a perspectiva de similitude entre o empreendedor e o administrador. Em verdade, o autor defende que há a necessidade de o empreendedor desenvolver as habilidades gerenciais para que ele concretize com sucesso sua visão. Este autor traça o seguinte quadro comparativo entre o administrador, que ele denomina de gerente, e o empreendedor 63 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Quadro V: Diferenças entre gerentes e empreendedores GERENTE EMPREENDEDOR Tenta otimizar os recursos para atingir metas. Estabelece a visão e os objetivos; depois, localiza os recursos. Opera dentro de estrutura préexistente. Define tarefas e papéis q-ue criam uma estrutura de organização. Busca aquisição de conhecimentos gerenciais e técnicos. Apoia-se na autoimagem geradora de visão, inovação. Busca o know-how e know-who. ● ● ● ● A chave é se adaptar às mudanças. Padrão de trabalho implica análise racional. ● ● ● ● A chave é iniciar mudanças. ● Trabalho centrado em processos que se apoiam no meio em que ele se desenvolve. Padrão de trabalho implica imaginação e criatividade. ● ● ● Apoiado na cultura da afiliação. Centrado no trabalho em grupo e na comunicação grupal. Trabalho centrado no planejamento de processos que resultam de uma visão diferenciada do meio. ● ● Apoiado na cultura da liderança. ● Centrado na evolução individual. ● Desenvolvimento dos dois lados do cérebro, com ênfase no lado esquerdo. Desenvolvimento dos dois lados do cérebro, com ênfase no lado direito. Desenvolve padrões para a busca de regras gerais e abstratas. O gerente está em busca de princípios que possam se transformar em comportamentos empresariais de eficácia. Lida com situações concretas e específicas. Uma oportunidade é única, é um caso diferente de outros, e deve ser tratado de forma diferenciada. ● ● ● ● Baseia-se no desenvolvimento do conceito de si, com ênfase na perseverança. ● Baseia-se no desenvolvimento do conceito de si, com ênfase na adaptabilidade. ● Voltado para aquisições de know-how em definir contextos para ocupação do mercado. ● Voltado para aquisição de know-how em gerenciamento de recursos e da área da própria especialização. ● FONTE: DOLABELA (2006, P. 114) - ADAPTADO Sendo assim, podemos considerar que o empreendedor para ter sucesso não basta apenas ter capacidade de assumir risco, propor algo inovador, e ter mercado que aceite de forma plena o “produto”. É necessário também desenvolver as habilidades gerenciais para lidar com o dia a dia do empreendimento de forma a garantir seu funcionamento. Dornelas (2001), pontua que por ser criativo e visionário, o empreendedor pode mostrar certa resistência em lidar com problemas 64 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO gerenciais, e que quanto mais cresce o empreendimento, mais complexos se tornam estes aspectos. O bom empreendedor deve reconhecer suas limitações e saber montar um time de gestão que leve a empresa em direção à sua visão, envolvendo-se, com o passar do tempo, mais com questões estratégicas e menos com questões operacionais. O início do negócio depende totalmente do empreendedor e de suas atitudes dentro da empresa. Mas, a partir do momento em que a empresa começa a andar com as ‘próprias pernas’ e a crescer, o empreendedor deve profissionalizar cada vez mais a gestão, contratando especialistas para tocarem o negócio, sem medo de perder sua autonomia ou autoridade, dedicando-se a fazer o que mais sabe ou o de que mais gosta: inovar, criar e pensar estrategicamente (DORNELAS, 2001, p. 231). É fundamental que esta perspectiva seja considerada, pois a falta de um sistema de gestão eficiente compromete a capacidade empreendedora, uma vez que impossibilita ou no mínimo dificulta o sucesso do empreendimento. Por melhor que seja o produto, sua viabilidade dependerá de uma gestão sólida. De pouco será útil desenvolver sua capacidade empreendedora se não for capaz de por em prática esta virtude. Nesta perspectiva, alguns aspectos se tornam importantes para estudarmos ainda mais, são eles: O conceito de empreendedor dentro da perspectiva da corrente ideológica da psicologia; ferramentas e aspectos sobre gestão e a importância do empreendedorismo para o Brasil. Neste sentido, vejamos quais as características e os traços de personalidade que definem o perfil empreendedor, em outras palavras, vejamos qual o espírito empreendedor. 3.2 O ESPÍRITO EMPREENDEDOR EMPREENDEDOR Tentar alcançar realizações sem um objetivo firme na vida é igual a não alcançar nada. Mary G. Roebling Como vimos, o empreendedorismo possui algumas correntes ideológicas que norteiam seus diversos conceitos. Entre estas é mais comum encontrarmos os conceitos que versam a corrente ideológica que tem como base a psicologia, ou seja, no geral os conceitos mais difundidos estão voltados para definir as características comportamentais e os traços de personalidade deste agente. Sendo assim, esta vertente abordará o empreendedor mais com um visionário do que como um agente de mudança econômica. Chiavenato (2006), no prefácio de seu livro considera que o “espírito empreendedor envolve emoção, paixão, impulso, inovação, risco e intuição” e postula a existência de três características básicas do empreendedor: Necessidade de realização; Disposição para assumir riscos; e Autoconfiança, como vemos na figura abaixo. 65 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO FONTE: CHIAVENATO (2006, P.10) A necessidade de realização, citada por Chiavenato (22006), tende a ser mais alta em pessoas de forte espírito empreendedor, visto que está ligada à inovação, à criação de novidades e à proposta de diferencial. Esta necessidade é o ponto axial da motivação do empreendedor, mas sem a capacidade de assumir os riscos esta característica se reduz significativamente; por isso a necessidade de autoconfiança inabalável. Dornelas (ano) por sua vez, apresenta outras três características que acredita ser centrais em qualquer empreendedor, são elas: 1 – Iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz; 2 - Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico em que vive; e 3 - Aceita assumir os riscos e a possibilidade de fracassar. Este autor em sua obra considera que as habilidades requeridas podem ser classificadas em três segmentos: o TÉCNICO (conhecer o mercado e o produto a oferecer); o GERENCIAL (domínio de ferramentas de gestão) e as CARACTERÍSTICAS PESSOAIS. Dolabela (2006), tratando sobre o espírito empreendedor, considera que: Embora ainda incapazes de estabelecer relações de causa e efeito, as pesquisas desenvolvidas por acadêmicos e praticantes das mais diversas correntes conseguem encontrar pontos em comum no que diz respeito às principais características dos empreendedores de sucesso. Sem conotações determinísticas, esses traços têm contribuído para a identificação e a compreensão do comportamento dos empreendedores Por outro lado, o conjunto que compõe o instrumental necessário ao empreendedor de sucesso — o know-how tecnológico e o domínio de ferramentas gerenciais — é visto como consequência do processo de aprendizado de alguém capaz de atitudes definidoras de novos contextos (DOLABELA, 2006, p. 35). Em seguida, o autor transcreve 25 itens identificados e possivelmente presentes no espírito empreendedor pesquisado por Timmons (1994) e Hornaday (1982), e reforça ao final, que para ser empreendedor não se faz necessário reunir todas estas características. Este aspecto nos mostra que devemos conhecer o espírito empreendedor e desenvolver os aspectos importantes em função da pessoa que se desenvolve e da situação pela qual está passando. Como vemos, também não há consenso sobre os traços presentes no espírito empreendedor, e na tentativa de elucidá-lo, focaremos no trabalho realizado por Dado Salem, em sua dissertação de mestrado, que versa sobre o tema e cujo título é: “Uma leitura simbólica do espírito empreendedor”. 66 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Este autor utiliza-se de cinco personagens históricos para destrinchar as características presentes no espírito empreendedor. Sendo assim, faz uso dos seguintes arquétipos: o GUERREIRO MEDIEVAL, o MERCADOR, o AGRICULTOR, o ARTESÃO e o SERVO. O GUERREIRO MEDIEVAL Estas figuras históricas simbolizam no imaginário coletivo, uma pessoa nobre com grande sentido moral e defensor de valores éticos basilares de uma sociedade justa e perfeita. Para se tornar um guerreiro não era necessário pertencer a uma determinada casta da sociedade, qualquer pessoa com aptidões e requisitos mínimos poderia desenvolver-se. Este arquétipo está associado à ideia do sucesso, da vitória, da conquista. Símbolo de nobreza, força, luta, este herói mitológico possui ousadia, bravura, destreza, estratégia e liderança. Sempre disposto a lutar por um ideal, um sonho, uma visão. Representa também ascensão social na medida em que ia ampliando suas riquezas, terras, e poder a cada vitória ou conquista. Essa ascensão social do Guerreiro Medieval o transformava em um cidadão mais “nobre”, pois pertenceria a um grupo de homens de bem com sistema de virtudes próprio e característico, fomentando generosidade, decência, respeito, integridade etc. Virtudes estas que o faria entregar seu reino, seu exercito, seu poder por uma causa; e isto, com o mesmo entusiasmo que teria se fosse por motivos econômicos (SALEM, 2006). O que parece ser uma indiferença com relação ao lucro, ou retorno econômico de suas ações está ligado, em verdade, à grande necessidade de realização desta figura. Para um guerreiro realizar atos nobres e heróicos, lutar pelo sonho de fazer algo em favor dos demais é mais importante que morar num castelo luxuoso. O guerreiro tinha a missão de defender o seu feudo ou reino, sendo premiado efetivamente com título de nobreza em função de suas lutas e consequentes vitórias. Incansável lutador, jamais desistia ou abandonava sua missão, por mais complicada que fosse. Possui uma persistência inabalável, mantendo sempre o foco nos objetivos e por mais que mudasse de estratégia. Em função de suas vivências, desenvolvia uma capacidade de comunicação eficiente, o que ampliava seu poder de persuasão e, consequentemente, sua habilidade de liderança. Através deste arquétipo, podemos verificar algumas características do empreendedor. Schumpeter (1982), identificou que este agente tem a predisposição de criar seu “reino”, ou seja, de realizar uma visão, e que para isto a persistência e a “luta” por conquistar cada objetivo estão presentes no empreendedor. Como desdobramento, verificamos que a capacidade em assumir risco, ou melhor, a bravura, a ousadia e a coragem de iniciar a empreitada e seguir em frente, 67 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO transpondo cada obstáculo são características que coadunam com o perfil do Guerreiro Medieval. Todo bom guerreiro, antes de iniciar sua batalha, sabe a importância de desenhar uma estratégia de ação eficiente para maximizar suas possibilidades de vitória. Esta característica também é similar ao empreendedor, pois o mesmo sabe da importância e da necessidade de se ter uma ação estratégica para inserção no mercado. O MERCADOR Após a decadência do Império Romano e o surgimento do feudalismo, as relações comerciais ficaram limitadas ao que se produziam em cada feudos, mesmo havendo a necessidade de outras mercadorias. Em realidade, a economia era basicamente a agricultura de subsistência, deixando a mineração, a pecuária, o artesanato etc. como atividades secundárias. Neste contexto, surge a figura do mercador e com ele se consolidam as raízes para o ressurgimento das cidades. Este personagem se alocava temporariamente ao redor dos castelos ou igrejas, onde se formavam feiras itinerantes que serviam para escoar as mercadorias que transportava de um feudo para outro. Objetivava vender, trocar e até comprar mercadorias para comercializar, para realizar negócios lucrativos. Viajante por natureza focava-se em localizar boas oportunidades de negócios na medida em que buscava comprar barato e vender caro. Considerado com um grande oportunista justamente por conhecer o mercado, tinha a habilidade de definir as rotas comerciais em função da melhor rentabilidade das transações que fariam no percurso. Podemos dizer que era um comerciante extremamente astuto, conhecia o mercado produtor e as necessidades de todas as localidades, articulando-se rapidamente para estabelecer “parcerias” comerciais, criando uma rede de fornecedores bem estruturada. Mediava as transações comerciais dos diversos feudos da região o que lhe proporcionava boa margem de lucro e através destas constantes mediações, tornava-se um hábil negociador, esperto, ligeiro e preciso. Também em função da constante relação com clientes e/ou fornecedores desenvolvia boa habilidade de comunicação, mas a retidão não era uma característica presente em suas ações, pois poderia enganar as pessoas, a fim de realizar um negócio lucrativo. O empreendedor, assim como o mercador deve ter visão de mercado, ou seja, conhecer bem o mercado no qual estará se inserindo, pois este conhecimento potencializa sua atividade, maximizando o retorno do investimento. Este conhecimento possibilita ainda a criação da rede de fornecedores necessária para implantação, execução e manutenção do empreendimento. 68 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO O empreendedor, mesmo tendo um perfil inovador, é também um grande buscador de oportunidades e para tal necessita desenvolver a habilidade de negociação, flexibilidade/adaptabilidade, além da rapidez na tomada de decisão o que exige amplo conhecimento não só do produto, mas também do mercado, aspectos estes observáveis no mercado. O ARTESÃO Esta figura está muito ligada ao uso de técnicas, ou conhecimentos específicos para a confecção de algo. Em verdade, a palavra arte vem do latim “ars” que está associada diretamente à palavra técnica. O artesão medieval era justamente um detentor das técnicas que permitiam a elaboração de uma peça. Esta figura histórica era formada por trabalhadores livres que dividiam suas atividades nos campos (agricultura) com o trabalho manual (artesanal) de produção de um bem específico; isto quando não simplesmente deixavam a lavoura e iniciavam outra atividade laboral. Até o final da Idade Média, os ofícios que envolviam atividades manuais não eram valorizados, mesmo a pintura e a escultura eram consideradas trabalhos rudes e vulgares. Os únicos que gozavam de respeito como artistas eram os poetas. Os artesões eram especialistas, verdadeiros engenheiros do desenvolvimento de métodos produtivos para elaborar artefatos encomendados. Apenas no renascimento começou haver distinção entre artistas e artesãos. Pintores e escultores foram elevados ao nível de artistas e os outros seguiram a veia industrial (HAUSER, 2000 apud SALEM, 2006, p.22). Apesar de pouco valorizada, esta figura simboliza as características principais de empreendedorismo, que é a capacidade e alegria de criar, elaborar, inovar, engenhar algo novo, distinto e melhor. Essa característica é apontada, dentre os mais importantes autores, como a verdadeira motivação empreendedora. Peter Drucker (2006), deixa explícito, em diversos artigos, mas em especial em seu livro Inovação e Espírito Empreendedor, que ao contrário do que se é difundido, o empreendedor não é um capitalista ou investidor, ou seja, não é uma pessoa que simplesmente inicia um negócio, ou “abre” uma empresa. Para este autor, o empreendedor é aquele que tem um forte perfil inovador, ou seja, a inovação é o que distingue o empreendedor dos demais agentes. O artesão é simbolicamente a figura do inventor, pois seu trabalho consiste em elaborar novos produtos, novas formas (processos) de fabricação das manufaturas, e cada peça construída é uma nova invenção. Outro aspecto é que este trabalhador é tão disposto a realizar o que lhe torna feliz que na Idade Média, muitos senhores feudais perderam mão de obra no campo com o “ressurgimento” 69 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO da atividade artesanal de forma sólida, isto porque os verdadeiros artesãos são capazes de abandonar o conforto e a segurança para realizar sua “alegria de criar” como denominava Schumpeter (1982). O AGRICULTOR O agricultor é a pessoa que trabalha diretamente com a lavoura no cultivo da terra, plantando e semeando diversas plantas que servem de alimento para o ser humano ou outros animais, ou ainda pode usar a terra para a criação animais. Em geral, são homens simples e religiosos que mantêm uma estreita afinidade com a natureza. Esta figura sobrevive diretamente do que cultiva e produz, havendo uma dependência mais direta de fatores externos, que não pode controlar como o clima, época de chuva, possibilidade de pragas etc. A escolha pelo melhor tipo de cultura para a região também depende de certa intuição, uma “conexão” como algo metafísico. Tal perspectiva faz deste personagem um ser estudioso dos fatores que chamamos de macroeconômicos. O agricultor desenvolve a habilidade de “prever” as melhores condições de plantio através da observação direta e do relacionamento que mantém com a natureza. A capacidade de superar as frustrações, no caso do equívoco das previsões, e recomeçar do início é outro fator similar para com o empreendedor. Assim como o guerreiro, o agricultor é detentor de um sentido de persistência inabalável. A crença na vitória e a fé de que vai ter um plantio melhor que o anterior o mobilizam a continuar o trabalho independente dos obstáculos. Outra representação simbólica deste arquétipo está afeita ao trabalho árduo. O agricultor simboliza a predisposição em assumir uma carga de trabalho significativo, principalmente no início do empreendimento, quando a vigilância de algumas características deve ser constante, como podemos comprovar com o seguinte argumento de Salem (2006). A tarefa de cultivo é árdua. Requer atenção, cuidado, dedicação, manutenção e conservação constates, como se diz, “o que engorda o gado é o olho do dono”. Cultivar requer ainda paciência e perseverança, porque a natureza tem seu próprio tempo e humor (SALEM, 2006, p.25). 70 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO O SERVO Por fim, o último arquétipo apresentado por Dado Salem (2006), é o mais complexo, pois em geral, a ideia que se tem do servo é daquela pessoa subserviente, submissa a outras. Esta característica é justamente a antítese do empreendedor, visto sempre como uma pessoa criativa, arrojada, determinada, com clareza dos próprios objetivos e disposta a lutar em função de sua visão. Mas a simbologia que representa o Servo no trabalho de Salem (2006), é distinta da comumente aceita, o autor postula que: Se servir pode ser visto também como ajudar, auxiliar, ser oportuno, ser útil, prestativo, atencioso e proveitoso, o que se esperaria do empreendedor é justamente que ele estivesse recebendo esses serviços de alguém ao invés de prestálos. No entanto, com uma visão fria e objetiva, Ludwig Von Mises, um dos líderes da escola austríaca do pensamento econômico, considera o empreendedor justamente um prestador de serviços. Se por algum motivo ele deixar de oferecer um produto ou serviço, com o menor custo possível, poderá sofrer perdas e ser substituído por outro que estiver atendendo melhor ao cliente (SALEM, 2006, p.27) Sendo assim, o empreendedor deve ter clara perspectiva de que toda inovação proposta por ele deve ter uma serventia real para a comunidade ou cliente, ao ponto de propiciar uma mudança do padrão de consumo dos clientes, obtendo, assim, a preferência do seu produto em relação aos que antes dominavam o mercado. De pouco adianta ter uma capacidade de inovação se os produtos não forem aceitos, ou melhor, aproveitados pelos demais. É nesta perspectiva, que o empreendedor se assemelha ao servo, pela capacidade de oferecer produtos úteis, vantajosos etc. Reunindo as diversas características dos cinco arquétipos mencionados – o GUERREIRO MEDIEVAL, o MERCADOR, o AGRICULTOR, o ARTESÃO e o SERVO – temos o seguinte quadro: 71 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO GUERREIRO MEDIEVAL MERCADOR OUSADIA VISÃO DO MERCADO CORAGEM EXPLORAR OPORTUNIDADES AGRESSIVIDADE BUSCAR NOVOS MERCADOS PENSAMENTO ESTRATÉGICO HABILIDADE DE NEGOCIAÇÃO LIDERANÇA ESTABELECER REDE DE FORNECEDORES INDEPENDÊNCIA PERSISTÊNCIA VONTADE DE CONQUISTAR HABILIDADE PARA COMPRA E VENDA DO PRODUTO ARTESÃO AGRICULTOR SERVO HABILIDADE DE CRIAR CAPACIDADE DE LER O MERCADO (ASPECTOS EXTERNOS) SER ÚTIL INOVAÇÃO CUIDADO ATENÇÃO SER OPORTUNO DEDICAÇÃO ESTABELECER UM SISTEMA DE PRODUÇÃO TRABALHO ÁRDUO PACIÊNCIA SER PRESTATIVO PERSEVERANÇA Para Dado Salem (2006), a reunião destas características forja a alma do espírito empreendedor, mas não significa que o empreendedor tem que possuir todos os aspectos citados. Podemos ter empreendedores menos perseverantes, ou menos pacientes, ao mesmo tempo em que sejam pouco criativos, no entanto ofertando produtos bastante úteis e com alta capacidade de trabalho árduo. Reforçando o argumento de Dolabela (2006), vale apena ressaltar que a definição do empreendedor através de características ou traços de personalidades não é precisa, mas serve como parâmetros, inclusive de desenvolvimento de habilidades empreendedoras por parte das pessoas em geral. Abaixo segue uma proposta de espírito empreendedor de Salem (2006, p. 28) 72 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Por fim, traremos uma base matricial das características do espírito empreendedor, chamada de CCE - Característica do Comportamento Empreendedor – proposta pelo SEBRAE. Este documento publicou as seguintes características do espírito empreendedor: • Busca de Oportunidades e Iniciativa – capacidade de se antecipar aos fatos e conseguir enxergar novas oportunidades. Os empreendedores são antes de tudo, pessoas que têm habilidade de enxergar o “invisível”. A isso, justifica-se a frase: empreendedores possuem visão. • Persistência – enfrentamento de obstáculos. Esta característica é o imprescindível aos empreendedores, pois sempre buscam formas diferentes de alcançar os objetivos. Diferente de insistentes, os persistentes são incansáveis quando querem alcançar um determinado objetivo, agindo com inteligência, modificando a estratégia se necessário. • Correr Riscos Calculados – que é o mesmo de ter disposição de assumir riscos, mensurando e projetando o que pode ocorrer de errado e quais os prejuízos que podem ser gerados. Para ser um empreendedor é necessário estar exposto ao risco, sem necessariamente correr perigo. Ou seja, correr risco calculado significa enfrentar desafios sem colocar tudo a perder, agindo de forma impensada. • Exigência de Qualidade e Eficiência – que representa a necessidade de fazer sempre e melhor, de surpreender, de superar as expectativas; disposição de achar que as coisas podem ainda ficar melhores. O cumprimento de prazos e a manutenção de padrões de qualidade são essenciais no desenvolvimento do projeto, para conquistar o cliente. • Comprometimento – fazer todo tipo de sacrifício. Direcionar um esforço extraordinário em prol do cumprimento de uma tarefa. Os empreendedores sempre cumprem prazos e honram com os compromissos firmados. Comprometimento é a honra dos empreendedores. • Busca de Informações – que é procurar se cercar de informações sobre o mercado, clientes, fornecedores, concorrentes, ou seja, todas as variáveis que podem direta ou indiretamente afetar o empreendimento. Como por exemplo, consultar especialistas para obter informações técnicas sobre o seguimento. O empreendedor está sempre procurando novas informações com o objetivo de tornar cada vez mais sólida a base de sua atividade. • Estabelecimento de Metas – definir metas e fazer todo o possível para poder alcançá-las são desafios, significando algo especial para o empreendedor. O estabelecimento de Metas é o combustível dos empreendedores e é uma das características mais importante. • Planejamento – fundamental ao empreendedor, pois é o seu guia. Planejar é ser prudente. Atividades bem planejadas têm mais chances de darem certo e os melhores resultados sempre são adquiridos por aqueles que são bons planejadores. • Persuasão – poder de influenciar outras pessoas é uma característica de fundamental importância para que o empreendedor monte a sua estratégia e consiga alcançar seus objetivos. Ter uma boa rede de contatos e ser bem relacionado é um item muito importante no mundo dos negócios. • Independência e Autoconfiança – todo empreendedor tem que ser otimista e não tem como ser de outra forma. Como poderia uma pessoa que se predispõe a assumir risco não ser autoconfiante? É natural que o empreendedor mantenha suas ideias mesmo diante de um cenário desanimador e a confiança na sua própria capacidade. • Superação – a capacidade de transpor dificuldades, de enfrentar situações adversas, ultrapassando os próprios limites. Assim agem os empreendedores em uma constante busca por superar os desafios. 73 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO • Criatividade – ou realização de algo novo, diferente e inédito. Habilidade de conseguir enxergar o que ninguém consegue vê, e, além disto, coragem de inovar. Esta característica é o ponto crucial do empreendedorismo. • Energia – o empreendedor é incansável quando está em busca de um desafio. Possui disposição para trabalhar e vai à luta, ao desafio de transformar ideias em ações. Ter energia é estar sempre disposto e nunca acomodado. 3.3 FERRAMENTAS BÁSICAS PARA EMPREENDER Não há nenhum segredo para o sucesso. É o resultado de preparação, trabalho duro, e aprender com o fracasso. Gen. Colin L. Powell Como vimos, empreender não significa exatamente abrir um negócio ou montar uma empresa, para o agente desta atividade damos o nome de empresário. Mas, em geral, é evidente também que ao inovar e inserir no mercado produtos novos, considera-se também a inevitável comercialização do mesmo, consequentemente, a constituição de um negócio. Uma vez devidamente identificado e desenvolvido o perfil empreendedor, este agente deve se cercar de conceitos, ferramentas de gestão que irão propiciar a maximização do sucesso de seu empreendimento. Chiavenato (2006, p.15), nos apresenta o seguinte quadro: FONTE: ADAPTADO DE DUN & BRADSTREET CORPORATION: BUSINESS FAILURE RECORD, 1986 FINAL AND 1987 PRELIMINARY, NEW YORK, THE DUN & BRADSTREET CORP 1988. Considerando este quadro, constatamos que a falta de experiência gerencial é um dos principais fatores de insucesso dos negócios (72% dos casos). O que reforça a ideia de se desenvolver habilidades ligadas à falta de ferramentas gestão do negócio e alguns princípios fundamentais. 74 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO O empreendedor deve ter claro que o primeiro princípio que deve ser considerado é a avaliação de seu invento quando a viabilidade. Em outras palavras, verificar se o “invento” ou a proposta de negócio é apenas uma boa ideia ou se realmente é uma oportunidade de negócio viável na qual deve se investir. Em geral, as pessoas acreditam que basta ter uma boa ideia para ter sucesso, mas vemos ótimas ideias não darem certo, pois não tiveram a clareza de que há uma grande diferença entre a ideia, por melhor que ela seja, e a oportunidade de negócio. Segundo o dicionário Aurélio, a ideia significa uma representação mental, uma percepção elementar aproximada de algo, ou ainda, pode ser entendida simplesmente como inspiração no sentido de concepção. Ou seja, ela é proveniente da imaginação, da especulação acerca de algo, sem necessariamente representar uma realidade concreta daquilo sobre o que se está pensando. A ideia, num primeiro momento, é intangível, ainda sem mensuração, abstrata e rasa. Por mais que pareça sensata, neste momento, é algo que não dá uma sólida base para poder deliberar acerca de nada, mas indica sim um caminho a se averiguar em busca da oportunidade de negócio economicamente viável. É importe estar alerta ao fato de que a todo o momento estamos tendo ideias acerca de algo, e elas, geralmente, parecem sensatas, mas sem uma averiguar racional e detalhado de seus aspectos e suas nuances, não devemos jamais deliberar ou agir a seu favor. Chiavenato (2006, p.66), apresenta uma pesquisa realizada pela The NFIB Foundation que apontou quatro categorias identificadas como fontes de ideias, no que se refere à criação de negócios, são elas: 1. Experiência pessoal: uma base para as ideias de novos negócios é a experiência pessoal, que é obtida tanto em casa quanto no trabalho. Do conhecimento adquirido de empregos atuais ou recentes, alguns empregados veem a possibilidade de modificar produtos existentes, aprimorando um serviço ou reproduzindo um conceito de negócios em um local diferente. 2. Hobbies: às vezes, os hobbies crescem além de sua condição de hobbies e se tornam negócios, sendo frequentemente transformados em novos negócios por executivos de empresas, ao se aposentarem. 3. Descoberta acidental: qualquer pessoa pode topar com uma ideia útil no decorrer do dia a dia. 4. Busca deliberada: uma ideia de novo negócio pode também emergir de uma busca deliberada de um empreendedor em perspectiva – uma exploração proposital para encontrar uma nova ideia. Os empreendedores podem estudar as suas próprias capacidades e então olhar para novos produtos ou serviços que são capazes de produzir, ou primeiro podem procurar as necessidades de mercado No entanto, oportunidade, ainda segundo o dicionário Aurélio, representa a qualidade do que é oportuna, ou melhor, uma ocasião favorável. Já neste termo, temos dois aspectos importantes: a perspectiva de tempo e a de benefícios. Então, verificar se a ideia é uma oportunidade de negócio é constar que o que se propõe neste espaço de tempo é algo que trará benefícios ao seu idealizador. É importante ressaltar que nem todas as oportunidades de negócios são adequadas 75 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO ao empreendedor, visto que deve haver uma compatibilidade entre a atividade que se pretende executar com suas características individuais. O quadro abaixo mostra o fluxograma que leva ao processo de constatação da oportunidade de negócio: Podemos dizer então que a ideia é o princípio da implantação do negócio, e na medida em que se vai constatando que, por exemplo, existe a necessidade do bem ou serviço, ou seja, que há mercado consumidor; que se forma a rede de fornecedores; que o preço é adequado; que o ponto é viável; que não existem restrições legais que impeçam o empreendimento etc. constata-se que o projeto é ou não uma boa oportunidade de negócio. Uma das ferramentas usadas na identificação/constatação de que a ideia é uma oportunidade de negócio é a pesquisa de mercado. Esta pesquisa pode ser entendida como sendo um processo sistêmico de construção de conhecimento sobre as relações existentes entre fornecedores, concorrentes, consumidores e demais entidades relacionadas com determinada atividade ou atividades econômicas. O estudo do mercado, ou pesquisa de mercado, é o levantamento e a investigação dos fenômenos que ocorrem no processo de trocas e de intercâmbios de mercadorias do produtor ao consumidor. Representa a coleta de informações úteis para que se possa conhecer o mercado, seja para comprar matérias-primas ou mercadorias, seja para vender produtos/serviços. Para comprar, a empresa precisa fazer uma pesquisa de mercado de fornecedores, a fim de conhecê-los melhor e escolher os mais adequados em virtude do preço, qualidade e condições de pagamento. A pesquisa de mercado de fornecedores indica quais são os fornecedores atuais e potenciais da empresa, onde estão localizados, os produtos/serviços que oferecem, preços e condições de pagamento etc (CHIAVENATO, 2006, p. 75). Esta ferramenta é crucial, visto que disponibiliza informações fundamentais para tomada de decisão, para poder se posicionar perante o mercado. Através da pesquisa de mercado, se pode avaliar o melhor momento de implantação, assim como a taxa, o retorno do investimento e a expectativa de lucro referente à inovação. 76 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO A pesquisa mercadológica [de mercado] é uma ferramenta de orientação para as decisões das empresas. Possibilita ao empreendedor a avaliação de seus potenciais fornecedores, classificando-os para orientar o processo de compras. Serve para dimensionar o mercado, identificando o segmento de mercado mais lucrativo; detectar novas tendências; e avaliar a performance de seus produtos e serviços, detectando a quantidade ou volume que o mercado é capaz de absorver e a que preços esses produtos poderão ser vendidos (SEBRAE - ONLINE). Ainda de acordo com o SEBRAE, as etapas para a realização desta pesquisa são compostas por 9 passos, são eles: 1º Passo: definição dos objetivos e do público-alvo da pesquisa – uma vez tendo claro o motivo que culminará na elaboração da pesquisa, se deve estabelecer seus objetivos, e uma vez definidos, pode-se determinar seu público-alvo, ou seja, quem vai nos dar a informação que desejamos. 2º Passo: definição da coleta dos dados – neste passo, se definem quais dados serão importantes para respaldar a pesquisa, assim como delinearemos as respectivas fontes de coletas. 3º Passo: definição do método de pesquisa de dados primários – determinar que tipo de pesquisa será mais pertinente, em função dos objetivos e quais os procedimentos que devemos dotar. Por exemplo, sendo uma pesquisa qualitativa ou quantitativa, a coleta de dado será realizada através de entrevista, questionário, através de e-mail ou telefone etc. 4º Passo: Definição da amostra – uma vez que sabemos qual o público-alvo que nos dará a informação, devemos definir a quantidade de pessoas que iremos “ouvir”. Nem sempre é possível ouvir todos, então se estabelece uma amostra, ou seja, a quantidade de pessoas que validarão a pesquisa. 5º Passo: elaboração dos instrumentos de pesquisa – nesta etapa, se elaborarão os instrumentos de pesquisa. No caso do exemplo anterior, caso tenha escolhido o questionário, deverão ser elaboradas as perguntas pertinentes, sempre considerando os objetivos. 6º Passo: Aplicação da pesquisa – se refere à execução efetiva da pesquisa, por isso, é bom desenvolver as técnicas de abordagem existentes para tornar seu dado o mais fiel possível. Neste ponto, é aconselhável treinar as pessoas que aplicarão seus instrumentos. 7º Passo: Tabulação dos dados – consiste em reunir as informações coletadas e agrupá-las e classificá-las para que facilite a análise e interpretação dos dados. 8º Passo: Elaboração do relatório final – é justamente a análise dos dados e identificação dos aspectos relevantes evidenciados pela pesquisa. Sempre se deve formular o relatório, considerando os objetivos estabelecidos no início, cruzando os dados obtidos para dar maior consistência. 77 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO 9º Passo: Tomada de decisão – através do relatório final, pode-se tomar decisões mais acertadas e criar uma estratégia de ação mais efetiva. A pesquisa de mercado é uma ferramenta útil na distinção entre ideia e oportunidade, mas não é a única, como podemos comprovar. A confusão entre ideia e oportunidade é muito comum entre os empreendedores iniciantes. Identificar e agarrar uma oportunidade é, por excelência, a grande virtude do empreendedor de sucesso. É necessário que o pré-empreendedor desenvolva a capacidade de distinguir entre ideia e oportunidade, praticando sempre. Atrás de uma oportunidade sempre existe uma ideia, mas apenas um estudo de viabilidade, que pode ser feito por meio do Plano de Negócios, indicará seu potencial de transformar-se em bom negócio (DOLABELA, 2006, p 67) Em realidade, o plano de negócio é mais completo e complexo de ser elaborado, por isso é recomendável fazê-lo quando estiver seguro do negócio que será feito. Se a ideia é muito preliminar, aconselha-se a realização da pesquisa de mercado para aprofundar seu conhecimento sobre a área de atuação do empreendimento, mas se a ideia já está em estágio mais avançado, é melhor elaborar diretamente o Plano de Negócio. O Plano de Negócios é uma ferramenta de gestão que permite ao empreendedor decidir o futuro de uma organização, através da análise dos principais elementos componentes de um empreendimento. Por meio deste documento, o empreendedor consegue visualizar de forma concisa os aspectos mais relevantes considerados no processo de planejamento, possibilitando a análise estratégica dos pontos fortes e fracos em relação ao mercado competidor, bem como as oportunidades e ameaças existentes no ambiente de negócios. Permite também ao empreendedor identificar com clareza as principais características do seu público-alvo, definir as estratégias de marketing para seus produtos e serviços, avaliar a viabilidade financeiro-operacional da oportunidade de negócio e todos os riscos envolvidos. Podemos entender este documento como uma forma de pensar e planejar o futuro do negócio, partindo dos aspectos presentes. Auxiliando na análise da direção que se deve tomar e a velocidade na qual se pode investir, observando os riscos presentes e os mecanismos para dirimi-los etc. Este documento é a descrição detalhada do negócio acrescido do planejamento estratégico de seus diversos setores: financeiro, operacional, vendas, orçamentos, marketing etc. (Dolabela, 2006) Chiavenato (2006, p. 132), utiliza a seguinte definição: O plano de negócio — business plan — descreve a ideia de um novo empreendimento e projeta os aspectos mercadológicos, operacionais e financeiros dos negócios propostos, geralmente, para os próximos três ou cinco anos. Seu preparo permite a análise da proposta e ajuda o futuro empreendedor a evitar uma trajetória decadente que o levará do entusiasmo à desilusão e ao fracasso. Dornelas (2001), entende como planejamento detalhado do que é o empreendimento, assim como do que se pretende fazer e o que se estabelecerá com base ao longo do seu desenvolvimento, sendo importante indicar e acompanhar seus rumos, ajudando a reduzir erros que, muitas vezes, podem comprometer a viabilidade do negócio. Este documento é usado para descrever um empreendimento, assim como seu modelo de gestão e sua elaboração envolve um processo 78 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO de aprendizagem e autoconhecimento. Este documento é periódico e deve projetar o negócio, visando os próximos três anos, devendo ser atualizado anualmente. É fundamental sua elaboração, visto que minimiza erros, orienta a gestão do empreendedor, consolida o negócio, formaliza o empreendimento e serve como documento para obtenção de crédito junto aos fornecedores e às instituições financeiras. Chiavenato (2006, p. 134), propõe alguns passos para a elaboração deste documento, como observamos abaixo: José Dornelas (2001, p. 42), postula que para desenvolver um plano de negócio, este deve apresentar os seguintes itens: 1) A CAPA é a primeira página na qual se fornece as informações fundamentais sobre a empresa e seu perfil. 2) O SUMÁRIO onde se coloca em tópicos todos os itens que serão desenvolvidos, facilitando a consulta. 3) O SUMÁRIO EXECUTIVO é o resumo de todo conteúdo abordado em cada uma das seções. Deve ser sucinto e objetivo, é recomendado que seja redigido ao final. 4) A DESCRIÇÃO DA EMPRESA versa sobre a origem, a estrutura e a situação atual da empresa. Deve conter também os objetivos futuros e destacar qual o diferencial 79 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO do negócio. Recomenda-se apresentar um organograma funcional, a equipe e os respectivos currículos resumidos de seus membros. É interessante conter cópia do contrato social e inserir informações a respeito da contabilidade, evidenciando a solidez da empresa. 5) PRODUTOS E SERVIÇOS estes devem ser detalhadamente descritos, ressaltando seu diferencial e características técnicas. Apresentar a logística, o ciclo de vida do produto, estratégias e de pesquisa e desenvolvimento. 6) MERCADO E COMPETIDORES a análise do mercado, do setor e da concorrência é essencial. Apresentar a análise SWOT do mercado, identificação das oportunidades e ameaças e um respectivo plano de ações preventivas para lidar com ambos. As forças e fraquezas do negócio também devem ser estudadas. Considerar o segmento e o nicho de mercado, analisando de forma mais completa possível. Observando sempre os aspectos econômicos, legais e políticos, tecnológicos e culturais. 7) MARKETING E VENDAS apresentar as estratégias de marketing a serem desenvolvidas, considerando o mix de marketing. É fundamental apresentar uma projeção de vendas realista. 8) ANÁLISE ESTRATÉGICA é composta pela visão e missão da empresa, pela análise SWOT do estabelecimento, definindo os objetivos e metas estratégicas, além das ações a serem realizadas para alcançá-los. Pode utilizar como base o planejamento estratégico. 9) PLANO FINANCEIRO deve conter todos os investimentos efetuados e os previstos. São inseridos aqui, o balanço patrimonial, o demonstrativo de resultados, o demonstrativo de fluxo de caixa etc. Por fim, no sentido de facilitar a construção deste documento, Chiavenato (2006, p.133), apresenta o roteiro, proposto pelo SEBRAE, que busca auxiliar os empreendedores neste processo. Tal esquema, que segue abaixo, é mais didático que a proposta apresentada por Dornelas (2006), pois sua linguagem e estrutura são mais simples, contudo se há o desejo de apresentar este documento a parceiros, ou instituições bancárias para buscar crédito, se faz necessário adaptar para o modelo de Dornelas. PLANO DE NEGÓCIOS 1. Ramo de atividade: ● Por que escolheu este negócio? 2. Mercado consumidor: ● Quem são os clientes? ● O que tem valor para os clientes? 80 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO 3. Mercado fornecedor: ● Quem são os fornecedores de insumos e serviços? 4. Mercado concorrente: ● Quem são os concorrentes? 5. Produtos/ serviços a serem ofertados: ● Quais são as características dos produtos/ serviços? ● Quais são os seus usos menos evidentes? ● Quais são as suas vantagens e desvantagens diante dos concorrentes? ● Como criar valor para o cliente por meio dos produtos/ serviços? 6. Localização: ● Quais são os critérios para a avaliação do local ou do “ponto”? ● Qual é a importância da localização para o seu negócio? 7. Processo operacional: ● Como sua empresa vai operar etapa por etapa? (Como fazer?) ● Como fabricar? ● Como vender? ● Como fazer o serviço? ● Qual trabalho será feito? Quem o fará? Com que material? Com que equipamento? ● Quem tem conhecimento e experiência no ramo? ● Como fazem os concorrentes? 8. Previsão de produção, previsão de vendas ou previsão de serviços: ● Qual é a necessidade e a procura do mercado? ● Qual é a sua provável capacidade de produção? ● Qual é a disponibilidade de matérias-primas e de insumos básicos? ● Qual é o volume de produção/ vendas/ serviços que você planeja para seu negócio? 9. Análise financeira: ● Qual é a estimativa da receita da empresa? ● Qual é o capital inicial necessário? ● Quais são os gastos com materiais? ● Quais são os gastos com pessoal de produção? ● Quais são os gastos gerais de produção? ● Quais são as despesas administrativas? ● Quais são as despesas de vendas? ● Qual é a margem de lucro desejada? No Brasil, ainda não é habitual o uso do plano de negócios, e seguramente esta deve ser uma das causas do índice de mortalidade das empresas recém-criadas ser tão elevado. De acordo com o SEBRAE, a média nacional de empresas que não sobrevivem a quatro anos de atuação já esteve na faixa de 60% das empresas. Atualmente, vem se reduzindo este índice, muito em função da qualificação do empresariado e pelo cenário econômico próspero que o país está vivenciando. Seguramente, esta melhora poderia ser ainda mais significativa se os empresários e empreendedores fizessem uso destas ferramentas de gestão, que quando bem aplicadas, reduzem os riscos e o perigo de fracasso. 81 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO 3.4 ÉTICA E RESPONSABILIDADE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS EMPREENDEDORES Procure ser um homem de valor, em vez de ser um homem de sucesso. Albert Einstein Na contemporaneidade, as discussões sobre o comportamento ético por parte dos cidadãos estão presentes nos mais diversos campos, em especial, no profissional. Todos os conselhos profissionais, sejam regionais ou federais, possuem um código de ética e se não o cumprir pode perder seu registro no conselho. A ética busca estudar a moral, o comportamento humano dentro de sua perspectiva moral (certo e errado) para evidenciar e definir quais ações são cabíveis, toleradas ou indesejáveis. Sendo assim, se analisa os princípios e padrões de conduta, os atos e os costumes presentes no cotidiano do agente (no caso do código de ética este agente é o profissional), para assim se posicionar frente ao que seria uma conduta mais nobre dos mesmos. E é este aspecto, a reflexão sobre as ações do homem, que faz deste tema um arcabouço propício para definição dos princípios de sociabilidade entre as pessoas, buscando levar o indivíduo a ter uma conduta mais justa, correta e perfeita perante seus semelhantes. Ser ético é uma obrigação social de todos, em especial dos mais instruídos que têm, em tese, maior capacidade de perceber se a ordem social proveniente do comportamento “justo e correto” e as relações interpessoais seriam mais desordenadas, complexas e instáveis, pois não teriam um balizador que definisse qual padrão deve ser seguido. A negligência do padrão de conduta pautado no que é correto (ético) em função de benefícios individualistas e efêmeros é, acreditamos, o principal problema que vivenciamos hoje e seguramente por isto este tema venha se apresentando com mais vigor nos últimos anos. Nota-se o clamor social por justiça e conduta correta e este clamor se estende não só para as pessoas físicas, mas também para as pessoas jurídicas. Não é casual que produtos com maior capacidade de ser nocivos ao meio ambiente estão perdendo espaço na prateleira para outros ambientalmente corretos. O empreendedor deve estar atento a esta realidade, pois sua atividade possui uma peculiaridade que torna este processo um ponto crucial no negócio. Por estar apresentando inovações, este deve estar atento para que não ir de encontro aos princípios éticos da comunidade, pois se além da resistência natural em adquirir produtos novos, o consumidor transpor seus princípios morais, as possibilidades de aceitação da novidade se reduzem significativamente. As exigências por conduta ética se consolidaram significativamente nos últimos anos, em especial no setor empresarial a partir da década de 1960, que fez surge um movimento conhecido hoje por responsabilidade social empresarial. O conceito de responsabilidade social ainda não encontra consenso entre estudiosos e pesquisadores, o que tem ocasionado debates constantes. No início desta discussão conceitual, o foco era se a empresa ou se o empreendedor teria realmente que agir de forma a propiciar benesses à sociedade já que paga tributos (que tem esta finalidade) e gera empregos para a comunidade. Atualmente, é consenso que estas instituições devem sim ter uma ação mais direta em prol do social. 82 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Um dos argumentos mais sólidos quanto a este questionamento vem de Carlos Nelson Reis (2007, p.282), que afirma: Sob esse prisma, as empresas consomem recursos da sociedade, renováveis ou não, mas que são patrimônios gratuitos e coletivos da humanidade; logo, contraem “uma dívida social” (Melo Neto e Froes, 1999), sendo seu compromisso restituir à sociedade o que dela é absorvido, por meio de investimentos na área social e no meio ambiente (REIS, 2007, p.282). Atualmente, sobre este tema há não uma discussão, mas sim uma discordância velada entre duas correntes ideológicas. Uma vertente entende a responsabilidade social com uma obrigação moral da empresa e do empreendedor, assim com de todos os cidadãos, esta vertente está pautada exclusivamente na perspectiva ética, do agir de forma correta, pois é o certo a se fazer. A outra corrente ideológica se pauta nos interesses econômicos do agir correto, pois serve com diferenciação entre os concorrentes, assim foca na instrumentalização do ser ético para a sociedade, mesmo que não tenha tais valores em sua essência. Mas dentre os teóricos do tema, enfocamos o conceito de Elizete Passos (2004, p. 166), que postula: A responsabilidade social pressupõe consciência e compromisso das empresas com mudanças sociais, impõe que elas reconheçam suas obrigações não só com os acionistas e clientes, mas também com os seres humanos, com a construção de uma sociedade mais justa, honesta e solidária, uma sociedade melhor para todos, assim ela é uma prática moral. É uma prática orientada pela ética, que vai além das obrigações legais e econômicas, rumo às sociedades, respeitando-se a cultura e as necessidades e desejos das pessoas A responsabilidade social pressupõe uma nova filosofia, uma nova orientação para as organizações produtivas. É uma prática até certo ponto revolucionária, pois coloca em questão a relação entre capital e trabalho, preconizando uma alteração em sua essência. Propõe que os seres humanos ocupem o lugar de destaque nessa relação, aquele que vem sendo concedido ao lucro e ao capital nas práticas e teorias tradicionais (PASSOS, 2004, p. 166). O fato é que este movimento pautado na ética traz repercussões econômicas ao empreendimento, pois possibilita maior aceitação da comunidade para o produto ou serviço fornecido, mas acima de tudo, dever uma atitude que reflita efetivamente os valores do empreendedor. Chiavenato (2006, p.42), defende que a responsabilidade social é um dos objetivos efetivos da empresa, ainda que indireto, e tão importante quanto o próprio lucro. 83 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Nesta perspectiva, o empreendedor deve buscar agir dentro do que cabe à sua responsabilidade social, ou seja, busca atuar de formaa atender aos interesses difusos dos diversos stakeholders com os quais se relacionam, direta ou indiretamente. João Jakson Oliveira de Souza, mestre em responsabilidade social, apresentou, em 2008, sua dissertação chamada de Como Formar Empreendedores Socialmente Responsáveis. Este autor definiu sete diretrizes para a atuação socialmente responsável do empreendedor, são elas: • Primeira diretriz: adote valores e trabalhe com transparência – adotar valores e condutas respaldas na ética é condição imprescindível para qualquer organização, mas em especial, para os empreendedores que devem, dentro do possível, divulgá-los. Essa postura ética e transparente deve ser um compromisso do empreendedor, pois alicerça os mecanismos para a existência de um bom relacionamento da empresa com os diversos públicos, sejam os funcionários internos, seja os clientes, fornecedores etc. Defina a Visão e a Missão do empreendimento, deixar por escrito seus princípios, e seja o exemplo dos princípios que prega, não esqueça que o empreendedor deve ser o líder da equipe e, porquanto deve primar por uma liderança pelo exemplo. • Segunda diretriz: valorize os empregados e colaboradores – reconhecer a competência e valorizar a equipe é fundamental para o empreendedor socialmente responsável. Ou seja, se deve estar atento não só com o empreendimento, mas, principalmente, com as peças-chave que o viabilizam, no caso, os colaboradores, visto que sua equipe é um diferencial importante de qualquer organização. Esse tipo de empreendedor deve transcender suas obrigações legais, e prover o desenvolvimento pessoal de sua equipe, o que gerará motivação e comprometimento. O empreendedor deve estar atento à: ambiente de trabalho, diversidade, desenvolvimento profissional, autonomia, gestão participativa, remuneração e incentivo, demissões, trabalho e família, e saúde, bem-estar e segurança. • Terceira diretriz: faça sempre mais pelo meio ambiente – reconhecer a responsabilidade que se tem em prover um ambiente natural e sano é característica marcante de um empreendedor responsável. O dever de buscar gerir o negócio de forma de a reduzir as agressões ao meio ambiente e promover a melhoria das condições ambientais, é uma responsabilidade do agente social que reconstrói a ordem econômica, ou seja, o empreendedor, cabendo-o reinventar, ou inovar produtos e os processos para atender a esta perspectiva. Sendo assim, podemos intuir que é justamente ele o agente que direciona as inovações em função das demandas socioambientais, trazendo, assim, sempre que possível, produtos e mecanismo, dentro de uma perspectiva sustentável. Existe uma dependência entre as empresas e os insumos provenientes direta ou indiretamente do meio ambiente, mas saber utilizar tais insumos de forma sustentável é requisito de sucesso. Não esqueça que além de uma questão de redução de custo, é também uma questão de imagem coorporativa. • Quarta diretriz: envolva parceiros e fornecedores – estabelecer um diálogo próximo com os fornecedores, buscando a transparência nas ações e na conduta também é importante, assim como o cumprimento dos contratos e pré-requisitos estabelecidos.É importante fomentar e disseminar os princípios de responsabilidade social em toda a cadeia produtiva. Atualmente, muitas empresas utilizam como critério de seleção de fornecedores a existência de tais princípios. 84 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO • Quinta diretriz: proteja clientes e consumidores – o trato com consumidores e clientes é um grande diferencial do empreendedor ou de micro e pequenas empresas. Por isso, é fundamental desenvolver produtos e serviços confiáveis e com qualidade. Deve-se sempre fornecer as instruções de uso e informar sobre seus riscos potenciais. O empreendedor socialmente responsável sabe que a qualidade de seu produto vai além do produzir e do fornecer. Ele deve acompanhar e informar cliente e/ou consumidor sobre tudo o que diz respeito ao produto, principalmente as informações que se referem aos direitos legais dos clientes. Tais ações aumentam a credibilidade, a eficiência e a segurança dos produtos e serviços. • Sexta diretriz: promova sua comunidade – a organização deve manter uma relação próxima com a comunidade com a qual se envolve, aplicando os valores do empreendimento que assumiu e respeitando os valores da comunidade local. É importante, sempre que possível, destinar recursos para projetos sociais, mas estes recursos não precisam ser somente financeiros, seguramente há outras formas de apoio que também são importantes, necessárias e socialmente responsáveis. • Sétima diretriz: comprometa-se com o bem comum – essa diretriz vem reforçar o compromisso ético do empreendedor, principalmente com os órgãos públicos. Mantendo em dia as obrigações tributarias, alinhando os interesses da empresa com os da sociedade. Incentivado por este forte movimento em prol do social, surgi um novo agente social, denominado EMREENDEDOR SOCIAL, que tem um perfil completamente diferente do empreendedor socialmente responsável. Enquanto o empreendedor socialmente responsável é um agente eminentemente econômico que atua no campo social, o outro é literalmente um agente social que busca, através de sua capacidade criativa, inovar produtos que venham trazer benefícios sociais diretos à comunidade. O termo Empreendedor Social foi cunhado por Bill Drayton – Fundador e Presidente da Ashoka – ao perceber a existência de indivíduos que combinam pragmatismo, compromisso com resultados e visão de futuro para realizar profundas transformações sociais. O Empreendedor Social aponta tendências e traz soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais, seja por enxergar um problema que ainda não é reconhecido pela sociedade e/ou por vê-lo por meio de uma perspectiva diferenciada. Por meio da sua atuação, ele (a) acelera o processo de mudanças e inspira outros atores a se engajarem em torno de uma causa comum. (site da Ashoka) DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.ESCOLADEGENTE.ORG.BR/ADMIN/UPLOADEDFILES/20100121100109.GIF 85 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Suas características são similares a dos empreendedores, mas sua visão e missão pessoal não têm nenhum vínculo com o retorno econômico de suas inovações, seu foco está voltado para o social. Atualmente, a entidade de incentivo mais significativa no mundo deste tipo de empreendedor é a Ashoka. Esta organização atua basicamente através da interação de empreendedores sociais, tendo três focos de atuação: 1 – identificação e investimento nestes empreendedores, o que propiciará que se tornem líderes sociais; 2 – reuniões de empreendedores sociais para potencializar sua capacidade criativa e fomentar o intercâmbio entre eles, para que surja uma rede de informações sobre soluções sociais; e 3 – desenvolvimento de infraestrutura do setor social, que possibilite que ocorram a inovação e a produtividade. TEMA 04 - O NOVO PERFIL DO PROFISSIONAL PROFISSIONAL CONTEMPORÂNEO CONTEMPORÂNEO 4.1 MUNDO DO DO TRABALHO E GESTÃO EMPREENDEDORA EMPREENDEDORA "Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as idéias." Vitor Hugo A partir de 1970, aproximadamente, segundo um pesquisador norte americano, Daniel Bell, ingressamos na sociedade pós-industrial, conhecida também como Sociedade do conhecimento ou ainda por Era da Informação. Este pesquisador identificou que devido a mudanças na estrutura econômica, tecnológica e política em nível global, a concentração de trabalhadores migrou do setor secundário para o terciário. Ou seja, o numero de profissionais que exerciam suas funções de forma exclusivamente operacional perderam espaço no mercado de trabalho e uma nova classe de profissionais ganhava espaço. Poucos discordarão que as turbulências que nos tornam cada vez mais perplexos, inseguros e irados não são apenas os efeitos passageiros de mais uma das inúmeras crises que de vez em quando abalam a acumulação de riquezas, nos inquietam durante algum tempo, e depois se mostram até positivas para a continuidade da estrutura social que conhecemos. Nos últimos vinte ou trinta anos vêm se consolidando a convicção de vivemos mudanças profundas, que nos encaminham para um padrão de sociabilidade que pode ser angustiante. Não obstante as divergências quanto aos conteúdos e ao sentido histórico, há consenso no que diz respeito à identificação da reorganização da vida econômica em escala mundial, que tem se mostrado muito heterogênea e rebelde às tentativas de controle por parte de governos e outras coletividades organizadas. É claro que o mundo do trabalho está no olho do furacão destas mudanças e tem concentrado as atenções de todos, especialistas e leigos. Entretanto, salvo as ex86 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO ceções de praxe, este interesse mostra-se fortemente unilateral, enfocando a questão a partir dos resultados materiais do trabalho, isto é, da riqueza produzida e sua distribuição. (SILVA, 2000, p.1) Vivenciamos grandes transformações no mercado de trabalho, induzidas pelas mudanças tecnológicas e econômicas que fazem com que o perfil do profissional contemporâneo sofra alterações estruturais. Na contemporaneidade, nos deparamos com uma realidade completamente adversa, complexa e diferente do que as anteriores. Presenciamos um mundo globalizado, competitivo e dinâmico, época aonde a força de trabalho deixa de ter peso, pois é cada vez mais factual a usurpação dos postos de trabalho por parte da tecnologia. Nesta conjuntura verificamos o desaparecimento completo de determinadas profissões, principalmente as que pouco interagem com a tecnologia, e o surgimento de novas atividades laborais exigindo um perfil totalmente diferenciado. Sendo a sociedade contemporânea a sociedade do conhecimento temos o indicativo de que este é o ponto central dos novos profissionais. Ou seja, a capacidade de dominar a informação e os conteúdos, para construção de novos conhecimentos acerca do processo é o ponto principal na atualidade. Alguns teóricos postulam que, tendo a máquina assumido a prerrogativa de operacionalizar as tarefas dos diversos profissionais, o fator chave que coloca o homem ainda com supremacia com relação as tecnologias é a capacidade inovadora. Ou seja, as máquinas podem fazer os cálculos e cruzar os indicadores para apontar tendências, no entanto, ainda não são capazes de sugerir novas formas de cálculo ou novos indicadores. Não só isso, o aprimoramento cada vez mais dinâmico da tecnologia tem feito com que se tenha uma organização mais flexível e com profissionais dotados dos mais recentes conhecimentos. Não há mais a figura do chefe, mas sim de uma equipe, onde todos contribuem como suas especialidades e conhecimentos no intuito de alcançar um objetivo comum. Surge então a figura do líder como representante e responsável pelo grupo. Sendo assim, duas características se tornam essenciais na contemporaneidade para os profissionais, são elas: o conhecimento sobre aspecto da liderança; e o desenvolvimento da capacidade empreendedora, ainda que seja um funcionário. Um dos fenômenos impulsionadores destas mudanças é a globalização. Eduardo Bom Angelo (2003, p.39) postula que: A globalização, marcada pelo acirramento da concorrência, obrigou as empresas a remodelar seus mecanismos de produção e gerenciamento. Essa reengenharia incluiu o aproveitamento mais racional de matérias-primas, a utilização seletiva de mão-de-obra, a modernização da governança corporativa, a replanificação logística e a descoberta de novos mercados. As empresas de sucesso são cada vez menores, mais especializadas (embora mais versáteis), mais eficientes e, sobretudo, mais rápidas.” Este mesmo autor ao abordar sobre o empreendedor, considerando os cuidados que devem ter diante desse cenário, afirma que: A globalização obriga o empreendedor a ter a mesma capacidade de realização de negócios que seu concorrente. Como empregador, é preciso oferecer idênticas condições de trabalho, benefícios e oportunidades de desenvolvimento, elementos importantes para atrair e reter profissionais talentosos. A qualidade pessoal 87 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO inclui-se na lista de habilidades e competências desejadas pelas organizações competitivas. É também um fator de empregabilidade para os novos profissionais. (ANGELO, 2003, p. 144 grifo nosso) 9 Evidenciamos que no mundo contemporâneo, globalizado e dinâmico o profissional ideal deve ser intraempreendedor com forte viés e com habilidade de liderança. Os empresários já perceberam que a capacidade inovadora é condição primeira no processo de aumento de indicadores de eficiência e eficácia empresarial. Afinal, podemos ver que a tecnologia por si só não garante diferencial competitivo significativo, ou seja, devido ao acesso fácil aos meios de produção, o que trará benefícios reais são aspectos mais subjetivos, ainda que seja requisito básico. Cada vez mais, as organizações investem nestes profissionais, se tornando o foco contemporâneo da gestão organizacional. Contudo vale a pena ressaltar que esta perspectiva não significa dizer que todas as pessoas estarão incluídas neste processo. Na realidade, existe um número pequeno de pessoas que, atualmente, se enquadra no perfil profissional contemporâneo. Pois o que se busca hoje é por profissionais capazes de inovar, de empreender, ou seja, de realizar coisa que as maquinas não podem executar. Waldez Ludwing, consultor de empresa, ao analisar o mercado de trabalho contemporâneo observa esta transformação de perfil de profissional, apontando a relevância do desenvolvimento das habilidades empreendedoras e de liderança para consolidação do profissional no mercado. Este autor considera que o processo de transformação do mercado é gradual e que ainda se encontra em processo de mudanças. Sendo assim, coexistem dois tipos de sistemas no qual o anterior começa ser subjugado pelo atual. E exemplificando o modelo anterior, ainda vigente, este autor apresenta três arquétipos, são eles: • Senhor de engenho – “O dono” da empresa. Representa a macro gestão da instituição, ou a parte/função que pouco se envolve com o operacional, ou seja, com a execução das tarefa rotineiras e necessárias para funcionamento da empresa. A tendência hoje é cada vez maior no que se refere a buscar retorno direto dos profissionais da ponta, que têm uma visão e um vivencia mais próxima com a atividade fim da empresa. • Capataz – “O gerente” da empresa. Responsável apenas em coordenar o trabalho dos funcionários para que sejam executadas as tarefas necessárias para o funcionamento da empresa de acordo com que espera o senhor de engenho. Não desenvolve uma atividade especifica, logo não sabe executar nada, porém com grande capacidade de manter um controle sobre as atividades alheias, o que cria um clima natural de tensão entre este e os seus subordinados. Este profissional perde lugar para os líderes, que ouvem e desenvolvem seus seguidores, sendo mais um dos membros do grupo, com funções e finalidades técnicas específicas. • Escravo – “O funcionário”. O corpo operacional da empresa, os executores das tarefas essenciais que por não darem significância ao trabalho que executa, se tornam funcionários acomodados, limitados e medianos. Em geral vêem o trabalho com algo cansativo e 9 ANGELO, Eduardo Bom. Empreendedor corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 144. 88 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO de pouco valor e como conseqüência não se desenvolve em quanto ser humano, muito menos enquanto profissional. Ludwing defende que não haverá mais espaço no mercado para o capaz, que não domina a execução do trabalho em todas as etapas, pois a função de puramente controlar as atividades alheias já não mais vige, em especial, no modelo que começa a despontar, pautado na formação de equipes onde cada componente completa as habilidades dos demais, maximizando os pontos fortes e minimizando os pontos fracos da equipe como um todo. Outro profissional sem espaço, se é que houve efetivamente espaço para ele, é o escravo. Pessoas acomodadas, sem comprometimento, que torcem para que falte luz na empresa, ou que aconteça qualquer coisa que as façam não necessitar ir ao trabalho, estes profissionais tão pouco sobreviverão neste mundo globalizado, dinâmico e complexo. O intraempreendedorismo, em todos os níveis, em especial, o operacional, é a habilidade do “profissional do futuro”. Dolabela reforça este movimento de substituição de perfil de profissional quando afirma que: A década de 1990 tem sido marcada pelo aumento da opção pelo auto-emprego e pelo surgimento de empreendedores involuntários, representados principalmente por recém-formados e por trabalhadores demitidos de corporações e órgãos públicos em virtude de reestruturação, fechamento, privatizações, fusões etc. Ou seja: pessoas que, não conseguindo colocação ou recolocação no mercado, se vêem forçadas a criar seu próprio emprego como única alternativa de sobrevivência. (DOLABELA, 2006, p. 39) Cada vez mais, características como autonomia, segurança, visão complexa do sistema, pró-atividade, dinamismo, capacidade inovadora, persistência, dentre outras são critérios de definição do funcionário que irá desempenhar um papel importante na instituição. Por isto defendo a necessidade de despertar para o que chamo de “real significância do trabalho”, que é o desenvolvimento da capacidade de compreender o quanto o trabalho que se executa é importante para o próprio desenvolvimento e realização pessoal de forma holística. Esta capacidade, quanto aprimorada evidencia um propósito de vida para o profissional, o que maximiza suas habilidades empreendedora, pois o trabalho deixa se ser um estorvo e se torna algo maior Outra perspectiva a ser considerada é que a carreira é de inteira responsabilidade do profissional que a exerce, logo, cabe a este direcioná-la em função de suas escolhas. Defendemos ainda que não se deve delegar à empresa seu aprimoramento, pois em verdade a empresa não desenvolve carreira, ela executa atividades, nas quais sua carreira é importante, por um determinado tempo. Neste aspecto, Jayme Teixeira Filho (2000, p.64) postula que: A maioria dos programas [de treinamento] não consegue levar os conceitos à prática. Há muito academicismo na educação executiva. (...) Por um lado, é realmente um paradoxo gastar dinheiro e tempo com treinamento se a empresa não está disposta a dar espaço para as pessoas aplicarem os conhecimentos adquiridos. Por outro lado, nem sempre está claro como poderá ser aplicado o resultado de um treinamento imediatamente na prática do trabalho TEIXEIRA FILHO, 2000, p. 64). 89 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Sabemos que não há profissional completo, visto que sempre haverá limitações, mas devese manter sempre mais atualizado possível. Esta é outra característica muito presente atualmente - educação continuada – pois o dinamismo da construção do conhecimento leva determinados conceitos, instrumentos e técnicas se tornarem defasados em pouco espaço de tempo. O profissional deve saber que há um paradoxo entre a necessidade de treinamento e a oportunidade da empresa possibilitar a aplicabilidade destes novos conhecimentos. Isto nos remonta a idéia de que diferenciar de que não se deve destinar todas as fichas na empresa sem estar atento que a qualquer momento pode haver necessidade de não estar mais nela, seja porque a empresa não necessita mais de seus serviços, seja porque a empresa lhe coloca em situação aquém de sua potencialidade. Com o exposto até então vemos que: O paradigma do empregado que depende de alguém que crie um trabalho para ele; que só realiza tarefas mediante o comando e controle superior; que mesmo dominando determinado conhecimento não tem uma percepção clara de sua aplicação, ou de como transformar esse conhecimento em riqueza, vem mudando de maneira fugaz no mundo corporativo. Um novo profissional se destaca e vem caracterizando-se por criar o que fazer e não esperar o que fazer; buscar implementar soluções inovadoras ou até mesmo um novo empreendimento, propor novos métodos de trabalho; interagir com outros cargos, outras áreas e até mesmo outras empresas na busca pela melhoria constante da produtividade e qualidade de produtos e serviços, bem como pela satisfação, auto-estima e realização profissional. (JUGLER, 2010, p.9) No começo do novo milênio já se evidencia certo amadurecimento na conduta dos profissionais, em virtude das transformações do mercado de trabalho. Pessoas que não estão atentas a estas questões se tornam obsoletas e serão forçadas a desenvolver seu perfil profissional, se não enquanto intraempreendedor ou empreendedor por oportunidade, então por terem que empreender por necessidade, visto que o modelo anterior levará, provavelmente, a perderem espaço no mercado profissional. A cultura empreendedora é e será cada vez mais parte do modelo a ser seguido pelos mais diversos profissionais. Decidir por empreender faz ou fará parte das habilidades de todos, pois as transformações econômicas afetam nas deliberações dos diversos aspectos do cotidiano do indivíduo, em especial nas questões do mundo do trabalho. 4.2 IMPORTÂNCIA DO EMPREEN EMPREENDEDORISMO ENDEDORISMO PARA PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL "As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam”. Bernard Shaw Antes de aprofunda sobre a importância do empreendedorismo no Brasil é fundamental distinguir a diferença entre DESENVOLVIMENTO e CRESCIMENTO ECONÔMICO, isto por90 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO que é comum que as pessoas utilizem estas palavras como sinônimas, mas em realidade não as são. A distinção destas palavras nos leva a entender melhor a qualidade do que é proposto enquanto políticas públicas de desenvolvimento e nos leva a refletir se CRESCER sem a busca por se DESENVOLVER realmente é vantajoso. O fato é que a ânsia desregrada pela industrialização justificada pela incessante necessidade de prover essencialmente o desenvolvimento econômico levou a maioria dos países do mundo a direcionar todos seus esforços na promoção do crescimento da economia, medida através do Produto Interno Bruto (PIB), deixando a qualidade de vida da população em segundo plano, pois acreditava que melhoraria como conseqüência natural do processo de crescimento econômico. Crescimento econômico era visto como meio e fim do desenvolvimento. (OLIVEIRA 2002) Esta mentalidade ainda existe para a maioria dos cidadãos brasileiros e é considerada a corrente ideológica tradicional sobre DESENVOLVIMENTO, sendo, esta concepção, legitimada pela sociedade. Aumentar o PIB, ou seja, a capacidade produtiva do país e consequentemente sua riqueza, sem observar o interesse coletivo da população nem como será distribuído esse aumento de capital, levando ao agravamento de problemas de ordem social como verificamos hoje no Brasil. O Brasil é exemplo que esta concepção não é verídica, pois vemos nos últimos anos o aumento da economia e da riqueza brasileira, assim, se presencia esta riqueza se concentrar, quase que exclusivamente, em poucas camadas da população. O Brasil cresce economicamente, mas este crescimento não chega a todos os brasileiros, fazendo com que seja um dos países com a maior desigualdade social do mundo, ou melhor, que este país não se desenvolva na mesma proporção do seu crescimento econômico. Contudo, a partir do termino da 2° Guerra Mundial em função da situação de destruição em que se encontravam os países europeus, a concepção sobre DESENVOLVIMENTO ganha um caráter mais qualitativo, deixando os aspectos mais quantitativos para o termo CRESCIMENTO ECONÔMICOS. E nesta perspectiva, o crescimento econômico se torna um dos itens importantes a ser considerados para obtenção do desenvolvimento, e não mais um sinônimo deste termo. O desenvolvimento deve ser encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na renda – transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outras (OLIVEIRA, 2002). Temos claro que desenvolver é resultado do crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida de toda a população. E para isso deve vir acompanhado de outras questões como: melhor distribuição de renda, melhoria e maior acesso aos serviços públicos, provisão e manutenção de um meio ambiente saudável e digno, etc. A partir da década de 1980 consolida-se então esta nova perspectiva de desenvolvimento tendo como marco o surgimento do termo desenvolvimento sustentável, usado pela primeira vez em 1987 no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU), cuja definição é: O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um 91 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais (Relatório Brundtland, 1987) Esta proposta de desenvolvimento traz uma idéia de que é impossível crescer sem considerar os aspectos socioambientais, ou seja, inseri na concepção tradicional mais dois fatores, além do crescimento econômico. Em realidade, o desenvolvimento sustentável se pauta em um tripé no qual a inexistência ou inobservância de uma das “pernas” tornaria instável qualquer proposta de desenvolvimento. Estes aspectos são: • SOCIAL através da diminuição da exclusão social, fim da miséria e outras mazelas sociais e melhor distribuição de renda entre os indivíduos, respeito à diversidade, etc. Ou seja, buscando que as pessoas se desenvolvam enquanto seres humanos. • ECONÔMICA que diz respeito a aumentos na eficiência do sistema seja na alocação de recursos, melhoria de processo, modelos de gestão, etc. Em prol de um sistema rentável e sólido. • ECOLÓGICA que concerne, em um contexto amplo, a conservação dos recursos ambientais (biótico ou não), sejam estes urbanos ou não. Ou seja, na utilização racional dos recursos naturais sem comprometer sua oferta para o uso de gerações futuras. A figura mostra que a sustentabilidade só é alcançada com a interseção destes três aspectos, mas considera a possibilidade de projetos que faço uso de apenas dois, ou mesmo um destes aspectos, ainda que os mesmo não sejam adequados principalmente na contemporaneidade. Sendo assim, ao pensar na importância do empreendedorismo para o Brasil devemos considerar o “tripé” da sustentabilidade. Não podemos deixar de observar que o empreendedorismo nasce de uma corrente econômica e por isto traçar sua importância dentro desta perspectiva econômica é mais do que obvio, contudo há mais duas nuances do desenvolvimento que devemos observar. 92 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO É fato que a economia sofre grandes transformações nas últimas décadas levando cada vez mais ao surgimento de empreendedores, Dornelas postula que estamos na era do empreendedorismo. O meio de produção, que anteriormente pareciam indisponíveis á sociedade em geral, hoje está cada vez mais acessível, somando isso à facilidade de crédito e a desburocratização para constituição de pessoa jurídica, temos um quadro jamais visto na história. É cada vez maior a possibilidade de se empreender. Alguns autores nos evidenciam que estamos em meio a Era do Conhecimento ou da Informação, no qual o ponto central deixa de ser a capacidade produtiva propriamente dita e passa a ser a capacidade de propor novos produtos ou conceitos, ou seja, a capacidade inovadora. E neste “oceano” o empreendedor navega tranquilamente em velocidade de vela. A economia e os meios de produção e serviços também se sofisticaram, de forma que hoje existe a necessidade de se formalizar conhecimentos, que eram obtidos empiricamente no passado. Portanto, a ênfase em empreendedorismo surge muito mais como conseqüência das mudanças tecnológicas e sua rapidez, e não apenas um modismo. A competição na economia também força novos empresários a adotar paradigmas diferentes. Por isso, o momento atual pode ser chamado de a era do empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão eliminando barreiras comerciais e culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando os conceitos, criando novas relações de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade. (Dornelas, 2006, p.20-21) Por isso não é casual o significativo aumento em políticas públicas de fomento ao empreendedorismo, principalmente a partir da década de 1990, afinal a base para o desenvolvimento dos países neste novo século esta cada vez mais a mercê destes agentes. A capacidade inovadora, muito presente na atuação do empreendedor, é e será a mola propulsora do desenvolvimento dos países na contemporaneidade. Schumpeter 1942 coloca que o processo de destruição criativa proveniente do empreendedorismo é o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor do capitalismo, sendo assim, promotora de desenvolvimento. (DEGEN, 2009) De fato, com surgimento de novas empresas temos como conseqüência direta o surgimento de mais postos de trabalho, diminuindo a o desemprego e possibilitando que as pessoas tenham recursos para prover uma qualidade de vida melhor para suas famílias. Outro fato interessante é que o empreendedorismo é democrático, ou seja, independe de camada social, permitindo que as pessoas das classes mais diversas disputem espaço no mercado, ainda que as pessoas que tenham nível superior tenham uma formação que facilite compreender e propor inovações. Nesta perspectiva, potencializa a distribuição da riqueza gerada. Para Bom Angelo (2003), o empreendedorismo é, ao mesmo tempo, um mecanismo fortalecedor da democratização: (...) incentivar o empreendedor equivale a incentivar a variedade e colaborar para a construção de um mundo de múltiplas escolhas. Estimular novas iniciativas equivale a criar empregos, gerar e distribuir renda, abastecer o sistema previdenciário, recompor as finanças públicas e fortalecer as instituições. Não há pior ameaça à democracia do que a estagnação econômica e a miséria, terreno sempre fértil para o florescimento de totalitarismos e aventuras salvacionistas. (ANGELO, 2003, p. 39) 93 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Esta característica faz do empreendedorismo não só um propulsor da economia, como também um meio de redução da pobreza da população. Degen em entrevista a TV universitária FEEVALE postula justamente que visualizou no empreendedorismo uma forma de minimizar a desigualdade social brasileira. O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que é um consórcio, sem fins lucrativos, de pesquisa acadêmica o qual tem como objetivo prestar informações sobre a atividade empreendedora mundial, considerada a maior e mais completa pesquisa sobre o empreendedorismo no mundo e que tem uma periodicidade anual, aponta a existência de dois “tipos” de empreendedor: empreendedor por necessidade e o empreendedor por oportunidade. Ambos são importantes para o país, o primeiro é formado por pessoas que estão desempregadas e que enxergam na atividade empreendedora uma forma de sustento, sendo assim a inovação não é necessariamente o ponto forte desta atividade. O segundo é composto pelo grupo de pessoas, estabilizadas economicamente, mas que ao identificar uma oportunidade de negócio, fruto de uma inovação, abandona seu labor e inicia um empreendimento. O primeiro tipo proposto pela GEM é importante, principalmente na pulverização da riqueza, pois age de forma direta na parcela da sociedade mais necessitada, aumentando/gerando renda, minimizando mazelas, possibilitando que mais pessoas possam ter acesso a uma condição de sobre existência. Contudo é o segundo tipo de empreendedor que fortalece com mais vigor a economia do país. Geralmente detentor de nível de instrução elevado, é capaz de propor inovações revolucionárias, capaz de modificar a economia mundial, ampliando de forma significativa a riqueza do país. É o exemplo do Bill Gates que construiu um império em menos de 10 anos. A Microsolft, empresa deste empreendedor, possui um faturamento anual maior que o PIB de alguns países africanos e asiáticos e influência na política e economia mundial de forma significativa. O GOOGLE também surge na perspectiva de oportunidade e atualmente tem uma pujança econômica significativa e influência política no cenário internacional. Outro empreendedor por oportunidade é o Marck Zuckerberg, criador do FACEBOOK, considerado pela revista TIMES como a personalidade de 2010, que congrega em um numero expressivo de pessoas (quase duas vezes a população dos EUA) no Facebook, sendo um formador de opinião a nível internacional. O impacto da atividade empreendedora no crescimento econômico de um país depende diretamente da motivação dessa atividade. Os empreendedores motivados por oportunidade têm maior impacto sobre o crescimento econômico de um país, porque esses empreendedores, mais bem preparados, desenvolvem mais negócios baseados em inovação e novas tecnologias e muitos desses negócios têm potencial de “crescimento sustentado” (…). Por tanto, eles geram mais riquezas e empregos Por outro lado, os empreendedores motivados por necessidade têm pouco impacto sobre o crescimento econômico de um país, porque esses empreendedores desenvolvem mais negócios sem inovação e sem nova tecnologia. A maioria são negócios “medíocres”, (…) que geram o mínimo de riqueza e emprego. (DEGEN, 2009, p. 406) Estes empreendedores geralmente estão em instituições de ensino superior e estão mais bem preparados para não só identificar as oportunidades, não só inovar, como também gerenciar 94 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO um empreendimento. São nas universidades e demais instituições de ensino onde deveria concentrar o fomento do empreendedorismo. Mas no Brasil o empreendedorismo começa a ganhar força na década de 1990 com o surgimento da SOFTEX e do SEBRAE. Ambos os institutos tem como missão auxiliar na difusão da concepção de empreendedorismo, sendo que a SOFTEX uma especificidade na área de informática, que pode ser definida como uma organização não-governamental que objetiva “executar, promover, fomentar e apoiar atividades de inovação e desenvolvimento científico e tecnológico de geração e transferência de tecnologia e notadamente de promoção do capital humano,…” (disponível: www.sotfex.br) O SEBRAE, por sua vez, criado antes da década de 1990, mas tendo esta década como referencia de atuação, surge no sentido de fomentar o desenvolvimento de empreendimentos prioritariamente de micro e pequeno porte. Ou seja, surge no intuito de auxiliar no desenvolvimento de competências para gerenciar o empreendimento, fornecendo consultores, pesquisas de mercados e materiais que fomente a iniciativa por empreender. Atualmente, o governo brasileiro vem disponibilizando alguns programas de financiamento aos empreendedores. Destacamos, entre eles: INOVAR para ações de capital de risco, BNDES com empréstimos para investimento, e o SEBARETEC, que apóia o desenvolvimento tecnológico A atividade empreendedora brasileira é desenvolvida de forma significativa. Segundo o GEM, O Brasil sempre esteve entre os 10 países mais empreendedores, tendo apenas uma queda em 2008 quando ficou em 13ª lugar. O que não significou a queda dos índices desta atividade no país, pois neste ano outros países, com acentuado perfil empreendedor, fizeram parte da pesquisa A GEM apresenta alguns pontos relevantes sobre o perfil do empreendedorismo brasileiro, e serve para análise da atividade. Apresentamos alguns pontos: • A atividade empreendedora vem mostrando um aumento no índice de sobrevivência em relação ao tempo. Em 2008 temos 24% de empreendedores nascentes para 76% de empreendedores novos. Em 2001 esta taxa era 65% para empreendedores nascentes para 35% de empreendedores novos; • Em 2008, Apenas 3,3 % dos empreendedores brasileiros julgam seu produto inovador. Este índice é muito baixo e refleti pouca reorganização do mercado nacional; • Ainda em 2008, somente 1,7% usam tecnologias disponíveis a menos de 1 anos. Ou seja, pouco incremento tecnológico; • Neste mesmo ano, somente 0,5% direcionam sua produção para a exportação; • Já em 2010, se evidência que o comercio varejista é o ramo prioritário na atividade empreendedor, concentrando 25%, seguido de alojamento e alimentação com 15%; • Em 2010 para cada um empreendedor por necessidade, há 2,1 por oportunidade o que impacta diretamente a qualidade da atividade empreendedora e mostra que a economia sinaliza parâmetros positivos • Ainda em 2010, se apresenta que a faixa etária com maior iniciativa em empreender se concentra entre as pessoas entre 25 e 34 anos. 95 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO • Neste mesmo ano, praticamente se iguala o percentual de empreendedores diferenciados pelo gênero. Ou seja, há quase o mesmo numero de empreendedores homes e mulheres. • Por fim, apresentamos um quadro ilustrativo que reúne atividade, escolaridade e faixa etária dos empreendedores brasileiros. Quadro 1.18 – Empreendedores iniciais e CNAE segundo escolaridade e faixa etária – Brasil -2010 4.3 EMPREENDEDORISMO COMO COMO OPÇÃO DE CARREIRA Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic. Luís Fernando Veríssimo A contemporaneidade e todos os benefícios oriundos de seus desdobramentos trazem também alguns aspectos importantes para serem considerados a fim de entender o cenário que se apresenta hoje e que permaneceram nos próximos anos. Dentre estes aspectos dois pontos são relevantes. O primeiro é o desemprego estrutural, entendido como a diminuição de postos de trabalho em função das novas tecnologias. O fato é que cada vez mais a robótica, a informática etc. vêm substituindo as pessoas em trabalhos, especialmente os de caráter mais operacionais. 96 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Consideramos, a título pedagógico, a ampliação dessa percepção também para o fim de certas carreiras ou profissões em função desta evolução significativa das tecnologias e em conseqüência das mudanças da economia global, que modifica por tabela os hábitos de consumo da população. O segundo aspecto é o “fim do emprego formal” 10, entendida como a tendência de diminuir os riscos com ações trabalhistas, assim como reduzir os encargos operacionais através da redução das despesas provenientes da contratação direta do profissional. Ou seja, cada vez mais se percebe a contratação de prestadores de serviços que atende através de uma pessoa jurídica. Somado ao segundo aspecto, associamos o fato de que as empresas estão buscando, como vimos no conteúdo 13, profissionais com perfil inovador, com autonomia, comprometimento, dedicação, capaz de assumir risco, etc. Ou seja, ainda quando do trabalho formal, o profissional em voga é o empreendedor, conhecido também como intraempreendedor – ou empreendedor que trabalha em alguma organização como funcionário. Esse panorama aponta que cada vez mais é necessário o desenvolvimento das características empreendedoras, mesmo quando se busca um trabalho formal de carteira assinada. Sendo assim, defendemos que o profissional da atualidade deve ser um empreendedor, e que empreender é uma necessidade para a carreira. Mas neste capítulo focaremos o empreendedor que inicia um negócio, ou seja, versaremos sobre o que leva, ou não, uma pessoa a inovar e assumir o risco de iniciar um negócio diferenciado, capaz de ganhar espaço no mercado e promover a transformação do mesmo. Inicialmente devemos considerando a existência de dois tipos de empreendedor: o empreendedor por necessidade e o empreendedor por oportunidade. As razões que levam o primeiro a se articular no intuito de iniciar uma nova atividade econômica são obvias, e por si só já respondem o mote desta temática por parte deste primeiro agente. Outro ponto é que o empreendedor por necessidade não é, necessariamente, um inventor e seu viés é mais focado na sua inserção no mercado econômico. Seguramente este primeiro empreendedor dificilmente iniciaria um negócio se tivesse uma condição profissional mais estável. Logo, o agente principal deste capítulo é o empreendedor por oportunidade. Este agente foco nas lacunas existentes no mercado e só inicia suas atividades quando constatado, ainda que empiricamente, a viabilidade do empreendimento, e dedica-se incondicionalmente para concretizar a visão que projetou sobre sua inovação. Este tipo de agente, ainda que presente em outros ambientes, em especial o profissional, se encontra mais concentrado nas universidades e instituições de ensino de nível superior, pois via de regra, a necessidade de boa base técnica e teórica, além de conhecimentos específicos, fruto de certa experiência do mercado para ler e interpretar, para assim, propor algo inovador. Mas nem todos os universitários estão prontos para se tornarem empreendedores. É importante o autoconhecimento acerca de suas habilidades para que se possa desenvolver alguns traços de personalidade, ainda latentes, que facilitará o processo e o sucesso de sua atuação. 10 Usamos este termo para sinaliza que a forma de contratação formal da mão de obra esta sem modificada levando a formação de cooperativas ou outra forma de pessoa jurídica que permite com que as empresas contratem os serviços destas instituições e não mais o funcionário. 97 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Dentre estes traços de personalidade destacamos o que David MacClelland (1962 aput DEGEN, 2009) denominou de “grande necessidade realizadora. Ou seja, uma força interior que fomenta, motiva, induz e conduz o empreendedor a sair de zona de conforto e enfrentar os obstáculos existentes na tentativa de consolidar seu empreendimento. Este autor aponta ainda, em sua obra, ao abortar sobre fatores de sucesso para o empreendedor, que a “esmagadora maioria dos empreendedores de sucesso se encaixa na pequena maioria definida por MacClelland, que tem grande necessidade de realizar. Desta constatação, concluímos que não há sucesso fácil” (Degen, 2009, p, 14) Além deste aspecto, verificamos que nossa educação em todos os níveis de escolaridade não fortalece a perspectiva empreendedora. Em geral os discentes são educados a serem funcionários de outras pessoas. Quando se faz um questionamento empírico aos estudantes de ensino superior, em nível de graduação, sobre suas perspectivas profissionais, identificamos de forma quase que uníssona que almejam trabalhar em empresa de grande porte, “uma multinacional”. Acreditamos que esta temática, o empreendedorismo, deve constar em todos os níveis de escolaridade formal do Brasil. Desde o primeiro grau o estímulo pela criatividade deve ser eixo transversal do ensino, mas esta não é a prática pedagógica brasileira, pelo contrário, há professores que inibem a criatividade das crianças. No que tange a educação informal, a que os pais passam aos filhos, vemos que o trabalho ganha um peso grande, como se fosse algo pesado, doloroso, cansativa, enfim, ruim. É comum a criança ver seus pais chegarem em casa cansados, stressados e por vezes tristes e estes quando questionados dizem aos filhos que isso foi por causa do trabalho. Estes aspectos fazem, em geral, que as pessoas sequer pensem em serem empreendedores. Passando boa parte da graduação na expectativa de serem profissionais que buscam trabalhar no sonho e nas organizações de outras pessoas. Tanto a educação empreendedora formal quanto à grande necessidade de realização presente nos empreendedores de sucesso, aliado a uma base familiar que ensine a importância e o prazer que há em trabalhar com empenho, formam juntos, o alicerce do processo de escolha do empreendedorismo como opção de carreira. Mas estes não são os únicos aspectos que levam a pessoa a empreender, essa decisão pode por vezes parecer inclusive causal, como se fosse fruto natural de uma conjuntura que se apresenta, mas é sem dúvida fruto de um conjunto de fatores internos – parte das características individuais da pessoa – e fatores externos – ambientais, sociais e econômicos. Mas um aspecto é fundamental: A decisão de tocar seu próprio negócio deve ser muito clara. De início, é a sua decisão principal. Você deve estar profundamente comprometido com ela, para ir em frente, enfrentar todas as dificuldades que normalmente aparecem e derrubar os obstáculos que certamente não faltarão. Se o negócio falhar — e esse é um risco que realmente existe —, isso não deve derrubar seu orgulho pessoal nem sacrificar seus bens pessoais. Tudo deve ser bem pensado e ponderado para garantir o máximo de sucesso e o mínimo de dores de cabeça. (CHIAVENATO, 2007, p.15) Ronald Degen (2009) faz um apanhado de autores como Shaw, Schumpeter e McClelland e tece o perfil de empreendedor bem sucedido contendo os seguintes aspectos: 98 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO • Inconformismo com os produtos e serviços disponíveis no mercado a ponto de buscar alternativas; • Busca superar os produtos e serviços existentes no mercado, promovendo a destruição criativa dos mesmos; e • Desafia as empresas existentes através de seus produtos e serviços. Este autor, tece ainda alguns fatores inibidores da opção de empreender, sendo eles: • Falta de necessidade de realizar um negócio próprio, que é uma motivação “inexplicável” de empreender, capaz de fazer até o mais estável econômica e financeiramente, abandonar seu conforto e propor algo novo; • Falta de disposição de pagar o preço social de empreender, que é o sacrifício de iniciar uma atividade nova. Muitos preferem a segurança do trabalho assalariado, com todas suas limitações; • Indisposição de assumir o risco de negócio; • Falta de capital social da empresa propício, entendido neste item como formação familiar, religiosa, escolar, enfim o conjunto de atitudes e comportamentos que direciona o agir dos indivíduos; e • Etc. Dentre estes aspectos, Degen (2009, p.16) postula ainda que: A imagem social é a principal razão por que a maioria das pessoas que tem sucesso em sua carreira profissional nunca pensou seriamente na possibilidade de iniciar um negócio próprio. Não é que elas não gostariam de ser empreendedores bem sucedidos. O fator inibidor é que essas pessoas na estão dispostas a dar o passo para trás, na opinião delas, necessário para iniciar um novo empreendimento e ter sucesso. Elas, simplesmente, não estão dispostas a sujar as mãos com a execução das tarefas básicas imprescindíveis para iniciar um novo negócio com chances de êxito. Vale ressaltar ainda que é não há mais, como houve no passado, um valorização de empreendedores em função de faixa etária. A habilidade de conduzir um negócio pode ser desenvolvida em pessoas das mais diversas faixas etárias, e o gênero é algo também irrelevante. Hoje, os empreendedores podem facilmente ter trinta como sessenta anos. Portanto, acho que a idéia de que as pessoas mais velhas residem no topo da organização não será necessariamente válida. Você pode ter profissionais na linha de frente com idade avançada e que progrediram em sua carreira, mas cuja influência é sentida não porque comandam outros, mas devido ao conhecimento que acumularam, à sua capacidade de compartilhar e ao desempenho exemplar que conseguem conferir ao seu trabalho.” (TOFFLER, 1998, p. 75) Dolabela (2006) considera três níveis principais de influência na formação de empreendedores, são eles: o Primário que se refere a familiares e conhecidos; ligações em torno de mais de uma atividade; o Secundário que são as ligações em torno de determinada atividade; redes de ligações; e o Terciário ou os cursos, livros, viagens, feiras, congressos etc. 99 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Ciente destes aspectos, e uma vez decido, verdadeiramente empreender, é importante estabelecer algumas etapas que ampliará o êxito da escolha. Mesmo sabendo que não existe um método 100% seguro para realizar este processo, apontamos alguns passos importantes, são eles: 1) Auto-desenvolvimento – ou seja, se auto avalie para identificar suas competências, habilidades e principalmente os pontos fracos. Afinal, quem conhece sua fraqueza, reconhece sua fortalece. 2) Perfil empreendedor – observe o que falta ser desenvolvido em você para ter um perfil adequado. Busque desenvolver e ampliar tais competências. 3) Criatividade – treine sua capacidade criativa, busque realizar atividades que lhe permita ser o mais inventivo possível, este é o ponto mais importante do empreendedor. 4) Seja visionário – tente enxergar as oportunidades do mercado, e não tenha medo de crise, quanto maior a crise maior a possibilidade de sucesso. 5) Net work – faça contatos, conheça pessoas e empresas, crie uma rede de relacionamento que lhe ajude neste processo. 6) Avalie o empreendimento – verifique se realmente é viável, ou seja, confirme se sua idéia é uma oportunidade de negócio, certifique-se de que seu sonho é possível de ser concretizado. 7) Faça um plano de negocio – coloque no papel sua idéia. Dê um formato real e crie as metas e prazos para não perder o norte do empreendimento. 8) Acredite e faça acontecer – se empenhe para conseguir e não desanime na primeira ou décima primeira tentativa. Não esqueça que: a persistência vence toda e qualquer resistência. É importante pontuar que ao empreender como opção de carreira o individuo identificará diversas vantagens e desvantagens, deste processo, assim como em qualquer outro trabalho ou especialidade que opte. Segue abaixo dois quadros que facilitará visualizar estes aspectos, e auxiliará na escolha: QUADRO COMPARATIVO Vantagens Desvantagens Agir com absoluta liberdade, pois há uma independência e autonomia para fazer as escolhas que se considera assertiva e convenientes para crescimento do empreendimento. Solidão na tomada de decisão, visto que em especial no início, não haverá um estrutura que permita considerar e avaliar coletivamente nas escolhas que devem se feitas. Gostar do que faz (que é diferente de fazer o que gosta), afinal no processo de escolha da atividade a empreender haverá uma forte tendência deliberar a favor de uma atividade em que se tenha uma afinidade pessoal. Há uma forte tendência de haver sobrecarga de trabalho. O empreendedor chega a trabalhar 12h para seu negócio, pois sabe que sua dedicação e empenho são fundamentais para a sobrevivência da empresa. 100 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Flexibilidade para organizar e gerenciar horário a jornada de trabalho de forma que lhe seja mais conveniente. 4.4 Pouca margem de erro, pois cada escolha errada pode custar a viabilidade do negócio. CASOS DE EMPREENDEDORISMO O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos. Eleanor Roosevelt FONTE: HTTP://4.BP.BLOGSPOT.COM/_4L05HQXDNYY/TQPSLTJSRAI/AAAAAAAAANS/C8BQMMQLKVI/S1600/SILVIO-SANTOS-MORREU.JPG Nosso primeiro caso de empreendedor bem sucedido é Senor Abravanel, mais conhecido como Sílvio Santos. Nascido em 12 de dezembro de 1930, filho de estrangeiros, mãe turca e pai grego, teve uma infância humilde no bairro da Lapa no Rio de Janeiro junto com seus cinco irmãos. Durante a infância um de seus maiores divertimentos era ir ao cinema da Cinelândia com o irmão caçula. Silvio sempre acompanhava seu pai nos árduos dias de trabalho e desde jovem mostrava características empreendedoras. Foi durante as eleições de 1946 que Silvio teve a ideia de vender capas para títulos de eleitor nas ruas do Rio de Janeiro. Um dia, enquanto ele andava pela Avenida Rio Branco, no centro da cidade, o jovem observou um homem que vendia com facilidade algumas capinhas de plástico. Silvio descobriu o local em que o vendedor reabastecia seu estoque de produtos e percebeu que ele obtinha lucro com isso. Silvio comprou uma carteirinha e revendeu dizendo que era a última. Depois, ele foi comprando outras e continuou usando a mesma tática de dizer que não havia mais no estoque. Foi essa a primeira vez que Silvio trabalhou como camelô nas ruas do Rio de Janeiro, mas, mesmo assim, ele não deixou de frequentar a escola e se formou em Contabilidade. Além dos porta-títulos, ele também vendeu canetas. Foi nessa época, que Silvio começou a mostrar seu dom para a comunicação. Ele aprendeu a manipular moedas e baralhos para chamar a atenção das pessoas. Para fugir dos guardas, Silvio trabalhava apenas no horário 101 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO de almoço deles e contava sempre com a ajuda de Léo, seu irmão, para saber da chegada do "rapa". (Disponível no: www.sbt.com.br) Como vendedor se destacou, pois sempre muito observador e astuto, criou uma forma peculiar de atrair a atenção dos consumidores que em pouco tempo compravam suas mercadorias. O sucesso de vendas foi surpreendente, chegando a ganhar uma marca de cinco salários em um único dia, em sua atividade de ambulante. Ao ingressar no exercito, na escola de Paraquedismo, se viu obrigado a parar momentaneamente com a atividade de camelô. Neste período, durante as folgas de domingo, iniciou um trabalho voluntário em uma rádio do Rio de Janeiro. Ao sair do exercito, dividiu seu tempo entre a Locução de Programas em rádio e sua atividade nas ruas como camelô. Trabalhando em uma rádio de Niterói, que o obrigava a pegar uma barca para realizar a travessia longa e silenciosa percebeu a necessidade que as pessoas tinham em comprar bebidas e associando ao seu labor na rádio, surge a idéia de colocar músicas durante a travessia, onde aproveitava para fazer anúncios. Considerando esta visão, pediu demissão da rádio de Niterói e utilizou deste dinheiro para por em prática sua idéia. Adquiriu altofalantes e iniciou sua atividade na travessia entre o Rio de Janeiro e Niterói, que evoluiu para um “bar” dentro da barca e posteriormente um própria barca de travessia onde chegou a realizar bingos. A reviravolta na vida de Senor Abravanel ocorreu quando a embarcação em que trabalhava sofreu um acidente e foi parar em um estaleiro, impedindo-o de exercer sua função. Devido a isso, um dos diretores de uma marca de cervejas o convidou para passar alguns dias em São Paulo e ele logo começou a apresentar espetáculos em bares e a fazer sorteios em caravanas de artistas e circos (JORNAL DO BRASIL – ONLINE, 2010). Mas o ponto crucial do sucesso de Silvio foi a aquisição do Baú da Felicidade, idealizado por seu amigo Manoel da Nóbrega. Por volta de 1958, seu amigo o convidou para auxiliá-lo na gestão do Baú, pois estava enfrentando seria complicação financeira. Silvio que é formado em contabilidade, e que tinha grande habilidade com vendas, analisou a situação e verificou que se bem gerida a empresa teria um bom retorno. Sendo assim, em 16 de fevereiro de 1959, na Rua 13 de Maio no bairro de Boa Vista, São Paulo o Baú da Felicidade começa sua atividade. Sempre com estratégias arriscadas e devido seu carisma nato, o Baú se transformou em um negócio de sucesso. Para promover o Baú, Silvio fazia shows no circo e aproveitava para vender os carnês, dessa forma a empresa ficou conhecida em todos os bairros de São Paulo. O Baú foi crescendo, junto com ele suas propostas e mercadorias, até se tornar a potência que é hoje. ((JORNAL DO BRASIL – ONLINE, 2010). DISPONÍVEL EM: HTTP://BAUDAFELICIDADE.NET/WP-CONTENT/THEMES/BAUDAFELICIDADE/IMAGES/BAU-DA-FELICIDADE.JPG 102 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Em 1961 Silvio estreou na televisão, contratado pela TV Paulista, atual Globo, iniciou uma trajetória brilhante na televisão brasileira com seu primeiro programa chamado “Vamos Brincar de Forca”. Tornou-se um ícone da emissora, com programas que sempre tiveram sucesso garantido na programação. Decidido a fazer um programa aos domingos, Silvio comprou duas horas da programação da TV, iniciando ao meio dia, e transformou este programa nas maiores vitrines que o Baú da Felicidade poderia ter, assim ele associou seu trabalho na televisão para maximizar e ampliar os negócios de sua empresa. Foi através deste programa que ele se tornou famoso na televisão, ganhando o Troféu Imprensa em 1964. Em seguida é contratado pela TV Tupi e se torna apresentador de diversos programas. Porém isso não o conteve, tempos depois Silvio rompe com a emissora e adquiri o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Tornando-se a segunda maior emissora do país. Ou seja, Silvio Santos deixou de ser um funcionário da Rede Globo e criou uma empresa que se tornou a segunda maior emissora de televisão do país. Ter sua própria emissora não foi fácil, pois houve embates políticos para conseguir autorização de criação de uma nova emissora, mas em 1975 Gesiel assina o decreto concedendo este direito ao grupo Silvio Santos. O presidente Ernesto Geisel, em 22 de outubro de 1975, assinou o decreto 76.488 outorgando a Silvio Santos o canal 11 do Rio de Janeiro, chamado de TVS, que passou a transmitir simultaneamente seu programa apresentado na Tupi. Com a falência da Tupi, em 1980, a atração de Silvio foi transferida para a Record, da qual chegou a ser proprietário de 50%. No entanto, ele planejava ter uma rede nacional e ter uma programação completa. De sua amizade com a então primeira-dama Dulce Figueiredo, viúva do ex-presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo, nasceu um lobby que o autorizou a operar o canal 4 de São Paulo, que passou a ser a TVS paulista. Com as emissoras no Rio e em São Paulo, o SBT começou a ser desenhado. Logo a rede se expandiu através de afiliações e a nova marca passou a ser usada em toda a rede no fim da década de 80. (JORNAL DO BRASIL – ONLINE, 2010). O programa do Silvo em 1993 entra para o Guinness Book como o programa de maior duração na história da televisão, 31 anos no ar. E no decorrer de sua história o grupo Silvio Santos foi ingressando em diversos segmentos da economia, constituindo pessoas jurídicas distintas para cada atividade, todas vinculadas ao mesmo grupo. DISPONÍVEL EM: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/N_GM53RNXCG/TY94VELZEAI/AAAAAAAAXY8/NN2IDBY_TOW/S1600/PROGRAMA_SILVIO_SANTOS.JPG FONTE: HTTP://4.BP.BLOGSPOT.COM/_EKRUTYMIJZY/TN0HYLLKX3I/AAAAAAAADK8/LKRW7LMSCFO/S1600/SBT.JPG 103 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Encontramos instituição financeira, venda de título de capitalização, produtos de cosméticos, hospedagem etc. A estratégia de Silvio sempre considerou o meio de comunicação como vitrine dos negócios, como é o caso da Jequití, tão difundido nos programas de Domingo. Verificamos que Silvio sempre mostrou a pujança de seu espírito empreendedor, pois sempre inovou e aproveitou as oportunidades de negócio que se apresentaram. O foco dele sempre foi claro, a comunicação como meio dinamizador do negócio. Desde iniciou de sua vida laboral, foi a habilidade de se comunicar de forma criativa, somado ao seu carisma que permitiu a consolidação de suas estratégias empresariais. Desde os 16 anos, quando vendia capinha de plástico para título de eleitor, foi a maneira inovadora de aborda a venda e o cliente o ponto chave do sucesso. A persistência e constância de suas ações foram fundamentais, e o desprendimento com a “imagem social”. Silvio sempre foi um homem simples e nunca ficou atrás da mesa de Diretor, ele sempre esteve presente no seu negócio e é o principal símbolo do grupo. Até hoje, com mais de 80 anos continua na linha de frente, apresentando programas e vendendo seus produtos. Um dado importante é que ele se preparou para gerenciar sua empresa, pois não abandonou os estudos e sua formação em Contabilidade permitiu discernir sobre a viabilidade econômica e financeira do Baú da Felicidade, ponto marcante para consolidação do seu “império”. A trajetória de vida de vida de Silvio mostra o perfil empreendedor desde jovem e evidencia que não há obstáculo suficiente que impeça o sucesso de quem se dedica ao trabalho, acredita na visão que tem, inova a forma de atuação apresentando sempre algo de serventia aos clientes, e empreende seu projeto de forma seria e sólida. Vale ressaltar que o conhecimento técnico e de gestão é imprescindível para saber a hora de seguir adiante ou aguardar a oportunidade. DISPONÍVEL EM: HTTP://INSTITUCIONAL.BRADESCO.COM.BR/HOTSITES/AMADORAGUIAR/FTO_AMAG.JPG Mas há outros exemplos brasileiros de empreendedorismo. Outro destes agentes que obteve sucesso no cenário brasileiro foi Amador Aguiar, fundador do Banco Brasileiro de Desconto conhecido como BRADESCO. Esta organização hoje é uma das três maiores instituições financeira do Brasil e está entre os maiores bancos privados da America Latina. Este ícone, nascido em 11 de fevereiro de 1904, no interior de Ribeirão Preto-SP é fruto de uma família bastante humilde. Sua infância foi no interior paulista, nas cidades de Monte Alto e Sertãozinhos e aos 13 anos, o pai de Amador o retirou de sala de aula, Grupo Escolar de Sertãozinhos, para poder auxiliá-lo na lavoura de café. 104 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO Em função desta atitude do pai, somado a outros descontentamentos de ordem, principalmente pessoal, o levou a fugir de casa aos 16 anos, indo para a cidade de Bebedouro-SP. Passou por grandes dificuldades no inicio de sua atividade laboral, chegando a dormir na rua, ao relento, por algumas vezes já que não tinha meios de se manter Com o espírito de empreendedor sempre vigente, buscou emprego incessantemente, até que conseguiu um trabalho em uma tipografia e 1918. Tempos depois (1925), ingressou no Banco do Noroeste, como continuo (hoje conhecido como office-boy), na filial de Birigui-SP onde, começou a alimentar o sonho de ocupar cargos de destaque no Banco e em 18 anos de trabalho neste banco, e como muito esforço e dedicação, Amador já havia passado por quase todos os cargos de trabalho, inclusive Gerente. Seu primeiro emprego foi como tipógrafo, em Ribeirão Preto. Trabalhou ainda como gráfico em Bebedouro, onde casou-se aos 21 anos. Sua esposa queria ficar perto do pai, que morava em Birigui. Por isso, mudaram e o marido foi trabalhar na agência local do Banco Noroeste, em 1926. Fazia um pouco de tudo na pequena agência, até serviços de faxineiro. Um ano depois assumiu o serviço de contadoria e, dois anos mais tarde, foi promovido a gerente da agência do Noroeste em Presidente Alves. Mais um ano e passou a gerenciar a agência de Penápolis. Em 1932, retornou a Birigui, como gerente da agência onde fora contínuo. Seu desempenho eficiente na dinamização dos serviços bancários das filiais onde trabalhou levaram-no a ocupar postos-chave dentro do Banco Noroeste, onde chegou a sub-diretor (COSTA, 2002, p. 14). Mesmo com uma qualificação abaixo a de outros colegas, a dedicação, o comprometimento, a busca em fazer sempre melhor, o levou a se tornar gerente em dois anos. Ou seja, Amador deixou de ser Office boy, para se tornar gerente do Banco do Nordeste em curto espaço de tempo. Mas foi em 1943 que Amador Aguiar fez realmente a diferença. Neste ano, foi convidado, por um amigo, a trabalhar na Casa Bancária Almeida, uma instituição financeira quase falida, sediada em Marília-SP. A instituição, agora denominado de Bradesco, foi gerencia de Amador, Em 1943, aos 39 anos, Amador Aguiar assumiu a direção do então pequeno Banco Brasileiro de Descontos S.A. (apelidado de “Banco Brasileiro de Dez Contos, Se Há”), quando foi convidado por um grupo de amigos que tinha comprado a Casa Bancária Almeida, em Marília, para transformá-la em banco. Um dos amigos – exatamente o que entendia de banco – morreu na véspera de assumir o cargo. O grupo então convidou Amador, para substituí-lo. A experiência de quase duas décadas no Banco Noroeste demonstrava que uma larga fatia de riquezas não estava sendo explorada pelos banqueiros. Em Marília, uma cidade de 36 mil habitantes, 14 bancos disputavam uma clientela de elite onde não existia elite. A força de trabalho era, predominantemente (64%), de imigrantes japoneses, que vendiam a produção de algodão em caroço para empresas do porte da Anderson Clayton, Matarazzo e Swift. A região, nos anos 40, era conhecida pelas abundantes colheitas de café e algodão. Vivia-se a “febre do algodão” – em função do aquecimento da demanda externa provocado pela situação bélica –, produto que contava então com o maior financiamento da CREAI do Banco do Brasil. (COSTA, 2002, p. 14)) No inicio, o Bradesco tinha pouca relevância no mercado, porém com estratégias arrojadas, inovadoras e arriscadas, em pouco tempo cresceu, tendo que transferir, em 1946, a sede de Marí105 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO lia para a Rua Álvares Penteado, em pleno centro financeiro da cidade de São Paulo, e sete anos depois foi novamente transferida para Osasco, onde permanece até hoje. FONTE: HTTP://2.BP.BLOGSPOT.COM/-ZHSS6CVQWUA/TBTLV1N1P4I/AAAAAAAAAEO/YWUB9ZGYXD4/S1600/BRADESCO2564115.GIF Dentre as estratégias destacamos, além da disponibilização de crédito para os pequenos comerciantes da região, que eram japoneses e sofriam certa diferenciação pelos demais bancos, a inovação de Amador Aguiar estabeleceu que os gerentes das agências devem estar mais acessível aos clientes. Ou seja, se percebeu que manter uma gestão demasiadamente centralizada, somada ao pouco acesso do cliente ao gerente de sua conta proporcionava engessamento da prospecção de novos negócios. Assim, descentralizou a gestão das agencias, aumentando a autonomia dos gerentes. Esta decisão beneficiou os clientes, visto que os gerentes poderiam atender suas necessidades de forma mais efetiva e maximizava o potencial da macro gestão, visto que liberava os executivos dos problemas corriqueiros das agencias, o que consumia tempo e desvirtuava o foco dos profissionais que pensavam em produtos e estratégias gerais do banco. Outro diferencial foi o estímulo ao uso de cheques por parte de seus correntistas. Apesar de haver grande parte que não sabiam preencher os talões o que impediria o pagamento dos compromissos dos clientes, Amador Aguiar não devolvia os títulos. Em realidade se chamava o correntista para ensinar a melhor forma de usar os talões. Mantendo-se na vanguarda, o Bradesco foi o primeiro banco a receber pagamentos de contas de consumo, como água, luz, etc. Também foi o pioneiro no recebimento dos valores inerentes a declaração do Imposto de Renda. As iniciativas de assumir a cobrança de tarifas públicas (Light em 1946) e receber as declarações de Imposto de Renda (em 1967) foram decisivas, para seu crescimento. O Bradesco descobriu que a Receita Federal guardava nos seus depósitos pilhas de notificações do Imposto de Renda, sem saber como fazê-las chegar, de forma rápida, aos contribuintes. Como estava se saindo bem com a cobrança de contas de luz, assumiu a operação, que adensava as filas. Os banqueiros concorrentes não vislumbravam nenhuma possibilidade de lucro imediato. Em 1967, uma nova lei dos incentivos fiscais vincularia a entrega das declarações do Imposto de Renda ao domicílio bancário de recolhimento dos incentivos fiscais. A colheita foi rápida. Num universo de 200 mil contribuintes, o Bradesco ficou de longe com a maior fatia, cerca de 30% (COSTA, 2002, p. 15). O sucesso nos negócios permitiu que a partir de 1948 o Bradesco começasse a expandir-se, incorporando diversos agentes financeiros de menor porte. O objetivo destas aquisições eram 106 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO basicamente a aquisição de novos clientes e inserção em novos mercados e redução de custos. O resultado desta forte política de expansão levou ao Bradesco a se tornar o maior banco privado da America Latina em 1959, ou seja, em menos de 20 anos. A década de 1960, marcada pelo surgimento da informática, evidencia outra vez o perfil inovador, criativo e vanguardista de Amador. O Bradesco é o primeiro banco a adquirir um computador de grande porte, investindo na informatização do banco, o que possibilitou oferecer extratos diários aos correntistas. E este perfil empreendedor, inovador e arrojado foi característico durante as décadas seguintes. A dedicação ao trabalho era outro ponto marcante, visto que chegava às 12h de trabalho diário e tinha com frase marcante: “só o trabalho pode produzir riqueza”. Tanto Silvio Santos quanto Amador Aguiar tiveram que vencer a barreia da “imagem social” e mostraram que o perfil visionário, a criatividade/inovador, além da dedicação e do empenho são fundamentais para se estabelecer e se expandir no mercado, em especial o contemporâneo, marcado por um dinamismo e acirrada concorrência. Mas dentre todas as características a mais importante é a capacidade de inovar, trazendo estratégias, serviços, produtos, etc. que sejam realmente úteis para a sociedade, ao ponto de fazerem as pessoas saírem do seu “estado de conforto” – perfil de consumo habitual da pessoa – para se aventurar a conhecer novos produtos. Apesar das mais diversas dificuldades que existam no processo empreendedor, é possível concretizá-lo. Mas antes de tudo deve-se se predispor e assumir o risco, além de desenvolver o espírito empreendedor latente em cada pessoa. • http://www.microepequenasempresas.com.br/ – Micro e Pequenas Empresas. • http://www.bndes.gov.br/ – BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. • http://www1.serpro.gov.br/publicacoes/gco_site/m_sumario.htm – Gestão de Conhecimento segundo o SERPRO - Serviço Federal de Processamento de Dados. • http://www.administradores.com.br/artigos/empreendedorismo_carreira/58/ – Artigo do site Administradores.com.br sobre empreendedorismo e carreira. 107 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO CONSIDERAÇÕES FINAIS No mundo contemporâneo, outras habilidades, além do conhecimento técnico, são imprescindíveis para o desenvolvimento profissional e pessoal de qualquer pessoa. Entender o momento em que estamos vivendo e ser capaz de agir dentro do necessário é condição sine-qua-non para o sucesso, que não é medido somente pela posição profissional. Atualmente, com as transformações dos paradigmas, muitos temas fervilham nos fóruns de discussões, fomentando, induzindo e exigindo mudança de comportamento de todos. E nesta efervescência, dois assuntos são fundamentais, são eles: a Liderança e o Empreendedorismo. Nossa disciplina e o respectivo material didático buscam fazer um apanhado sobre essas temáticas tão relevantes na contemporaneidade, para possibilitar ao discente o desenvolvimento de habilidades e competências importantes para o seu desenvolvimento. Não esqueça que o mais importante para esse desenvolvimento é a dedicação e o comprometimento discente, por isso, participe assiduamente de nossas atividades e disponibilize um tempo do seu dia para estudar sobre assuntos tão instigantes. Um forte abraço. Tiago Sá T. Cordeiro 108 LIDERANÇA E EMPREENDEDORISMO REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICAS _____. Empreendedorismo dando asas ao espírito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 2006. _____. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil Ltda., 1979. ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério. Gestão de cursos de administração: metodologias e diretrizes curriculares. São Paulo: Prentice Hall, 2004, p. 91. ANGELO, Eduardo Bom. Empreendedor corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 39. ASHLEY, Patricia Almeida. (Coord.) Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. ASHLEY, Patricia Almeida. (Coord.) Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. BENNIS, W. & anus, B, Líderes – Estratégias para um lider eficaz. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica S. A., 1985. CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo: Makron Books, 1994. CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo dando asas ao espírito empreendedor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. COSTA, Fernando Nogueira. Origem do capital bancário no Brasil: o caso RUBI. In: Textos para Discussão. 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