avaliação da resistência á compressão de adobe

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avaliação da resistência á compressão de adobe
III ENECS – ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA Á COMPRESSÃO DE ADOBE, PRODUZIDO
COM ADIÇÃO DE BIOMASSA DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS, APÓS O ENSAIO
DE ABSORÇÃO DE ÁGUA
Obede Borges Faria ([email protected] ), Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental, Prof. Dr.
do Departamento de Engenharia Civil / FEB / UNESP-Bauru
Fernanda Cristina Mazzo ([email protected] ), Engenheira Civil, pela FEB/UNESP-Bauru
(2002)
Newman Baldi Jacob, Engenheiro Civil, pela FEB/UNESP-Bauru (2002)
RESUMO
O objetivo do trabalho é o estudo da influência do ciclo de saturação/secagem sobre a resistência à compressão
de adobes (tijolos de terra crua, secos ao sol), produzidos com a adição de biomassa de macrófitas aquáticas.
Para a produção dos tijolos, foi utilizado solo do município de Americana - SP, na região da represa de Salto
Grande, de onde foram colhidas macrófitas aquáticas de três espécies: Brachiaria arrecta, Eichhornia crassipes
e Pistia stratiotes. Este solo é argiloso (59 % de argila, 21 % de silte e 20 % de areia), classificado como A-7-6
(H. R. B.) e “argiloso laterítico” (MCT), motivo pelo qual se adicionou a referida biomassa, o que resultou em
redução das retrações e fissuras, além de redução da massa específica aparente dos tijolos. Foram produzidos
tijolos com adição ao solo de 10, 20, 30, 40 e 50 %, em volume, de biomassa seca e triturada (de cada uma das
três espécies de macrófitas), além de uma série de tijolos sem biomassa, tomada como controle. De cada série
foram realizados ensaios de determinação da resistência à compressão, com 10 tijolos, e ensaio de absorção de
água, com 3 tijolos. Para estes últimos, os tijolos passaram por um ciclo de saturação em água e secagem.
Durante este ensaio, alguns tijolos (com 0 e 10 % de biomassa) se desagregaram. Com os tijolos que saíram
ilesos, foram realizados novos ensaios de determinação da resistência à compressão, cujos resultados foram
comparados com os da primeira determinação e analisada a influência deste ciclo de saturação/secagem.
Palavras-chave: materiais de construção, adobe, absorção de água, macrófitas aquáticas
COMPRESSION STRENGHT EVALUATION OF ADOBE BRICKS PRODUCED
WITH AQUATIC MACROPHYTES BIOMASS ADDITION, AFTER THE WATER
ABSORPTION TEST
ABSTRACT
This work intends to study of the saturation/drying cycle influence upon the resistance to adobe bricks
compression, produced with aquatic macrophytes biomass addition. Soil from Americana (a town in São Paulo
State, Brazil), in the Salto Grande Reservoir region, was used to the bricks production, from where the following
aquatic macrophytes were harvested: Brachiaria arrecta, Eichhornia crassipes and Pistia stratiotes. This soil
has clayish characteristics (59% clay, 21 % silt and 20 % sandy), it was classed as A-7-6 (HBR) and “lateritc
clayish” (MCT), reason why this biomass was added, what resulted in the drawing back and fissure reduction, in
addition to the reduction of the specific mass of the bricks. Bricks were produced with addition of 10, 20, 30, 40
and 50% of triturated biomass (in volume, from each macrophyte) to the soil, besides a bricks series without
biomass (the control pattern). From each series tests were done to determine the compression resistance (on 10
bricks) and water absorption tests (on 3 bricks). In this last test, bricks were passed for a saturation/drying cycle,
when some bricks were unaggregated (0% and 10% biomass). With the remaining bricks, new tests were done to
determine the compression resistance and the results were compared with the first ones, to evaluation of that
cycle influence.
Key words: building materials, adobe, water absorption, aquatic macrophytes
1. INTRODUÇÃO
Considerando que o ser humano passa a maior parte de sa vida no interior de espaços
edificados, fica evidenciada a importância que deve ser dada à qualidade destes espaços, não
só do espaço produzido, no que diz respeito ao seu conforto e funcionalidade mas, também e
principalmente, no tocante ao processo de produção e de obtenção dos materiais de
construção. Em linhas gerais, as edificações provocam impactos ambientais em três
momentos:
1 - na exploração de recursos naturais para a produção dos materiais de construção;
2 - na concretização do ambiente construído, que provoca alterações no ambiente natural e seu
entorno; e
3 - após a construção, com o descarte dos resíduos produzidos e mesmo com o destino dado à
edificação, ao final de seu ciclo de vida útil.
A indústria da construção civil, se não é a maior, é uma das maiores consumidoras de energia
e de recursos naturais, sendo que uma grande parte destes é mal aproveitada, provocando o
desperdício e a geração de um volume expressivo de resíduos (ou “entulho de obra”) que, por
sua vez, são dispostos de forma inadequada na natureza. O quadro geral é preocupante e tem
sensibilizado, cada vez mais, a atenção dos usuários e autoridades, tanto do setor público
como privado. Esta realidade tem contribuído com a conscientização, no meio acadêmico, da
necessidade de desenvolvimento de pesquisas científicas na busca de contribuições para a
solução do problema.
É neste contexto que se insere o presente trabalho e se justifica a sua realização, já que o
mesmo busca contribuir com o aprofundamento do conhecimento técnico de um material de
construção considerado ecológico, o adobe, tijolo de terra crua seco ao sol (sem cozimento).
O solo ideal para a produção do adobe deve ser arenoso, com teor de argila próximo de 30%
(FARIA, 1998) porém, pode ser produzido com outros tipos de solo, desde que seja
acrescentado algum tipo de estabilizante, que pode ser, por exemplo, algum resíduo
disponível na região de produção. Nesse sentido, este trabalho consistiu na continuação do
desenvolvido por FARIA (2002), que utilizou solo do entorno do reservatório de Salto Grande
(Americana-SP), o qual apresenta teor de argila de 59%, e utilizou biomassa de macrófitas
aquáticas (Brachiaria arrecta, Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes) para sua estabilização
(Figuras 01 e 02). Com isso, o autor apresentou alternativas para a solução de dois problemas:
a produção de material de construção de baixo custo, de fácil produção e ecológico, além de
contribuir com a retirada do excedente de biomassa de macrófitas aquáticas de um corpo
d’água, em avançado estado de eutrofização artificial (provocado principalmente pela intensa
atividade antrópica na região). O emprego dessa biomassa em adobe também pode ser visto
como uma forma de retirada da água, e encapsulamento, de substâncias tóxicas (metais
pesados e nutrientes) concentradas e estocadas pelas macrófitas. Este autor realizou um amplo
estudo, tanto de caracterização físico-química das macrófitas e do solo, como de
caracterização física e mecânica do adobe, produzido com várias proporções de
biomassa/solo, para as três espécies citadas.
Um dos ensaios realizados por FARIA (2002), com o adobe produzido, foi o de absorção de
água. Partindo-se do fato, conhecido e amplamente arraigado entre os que produzem
arquitetura de terra, de que este produto é altamente suscetível ao ataque da umidade, o que
pode ser traduzido por um antigo provérbio irlandês afirmando que “uma boa casa de terra
precisa de um bom par de botas e um chapéu” CRATERRE (1994), no presente trabalho foi
avaliada a influência do ciclo de saturação/secagem sobre a resistência à compressão do
adobe.
São Carlos
Bauru
Barra Bonita
AMERICANA
São Paulo
Figura 01 - Localização da área de estudo no Estado de São Paulo (adaptado de LEITE, 1998)
Figura 02 - Mapa do Reservatório de Salto Grande, mostrando as áreas de coletas de materiais e os
três compartimentos, além do leito original do Rio Atibaia (adaptado de COELHO, 1993)
Finalizando, cabe salientar que o adobe pode ser considerado um material de construção
ecológico porque: a) sua matéria-prima é a terra (com grande disponibilidade), utilizada em
pequenas quantidades, já que é um material indicado essencialmente para a auto-produção e
auto-construção (o que não causa significativos impactos ambientais); b) no processo de
produção do material não é consumida energia (diferente dos tijolos cozidos convencionais,
que demandam alto consumo e desperdício de energia); e c) o resíduo (“entulho”) produzido é
totalmente reintegrado à natureza (a terra volta para a terra).
2. METODOLOGIA
Na falta de normalização brasileira sobre o material (tijolos de adobe), foi adotada a mesma
metodologia proposta em trabalhos desenvolvidos por FARIA (1997 e 1998) e consolidada
por FARIA & BATTISTELLE (2001a e 2001b), ou seja, os ensaios de caracterização física e
mecânica dos tijolos de adobe foram realizados de acordo com adaptações das normas
brasileiras relativas aos tijolos maciços de barro cozido e aos tijolos de solo-cimento (por se
tratar também de terra crua).
A caracterização dos solos, que consiste basicamente em análise granulométrica e
determinação de índices físicos, assim como a caracterização química das macrófitas
aquáticas, foram realizadas por FARIA (2002).
A produção dos tijolos envolveu várias outras etapas: a) projeto e produção das formas; b)
planejamento e preparo do canteiro de produção; c) definição dos traços (10, 20, 30, 40 e 50%
de biomassa triturada, em volume, para cada espécie de macrófita aquática); d)
homogeneização do solo e preparo da biomassa triturada; e) amassamento e descanso do
barro; f) moldagem dos corpos-de-prova para o ensaio de retração linear; g) moldagem dos
tijolos (20 unidades para cada traço e 20 com o solo puro, tomada como controle), e h)
secagem e armazenamento dos tijolos.
A caracterização física dos tijolos foi representada pelos seguintes parâmetros: massa
específica aparente; teor de umidade higroscópica; retração linear e absorção de água. A
sua caracterização mecânica, pela resistência à compressão dos tijolos. Para o ensaio de
determinação da massa específica aparente, foram consideradas todas as unidades produzidas.
Para o ensaio de determinação da resistência à compressão, a amostragem constitui em se
tomarem 10 tijolos de cada série (quantidade recomendada pela norma NBR8492, da ABNT
(1984), já numerados aleatoriamente, na seguinte ordem: 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 11 e 13. Os
tijolos de número 4, 8 e 12, foram utilizados para o ensaio de determinação da absorção de
água, cuja quantidade (três tijolos) é também recomendada pela mesma norma. Estes mesmos
tijolos foram utilizados para o ensaio de determinação do teor de umidade higroscópica
(ensaio não normalizado). Cabe lembrar que as séries são: C, B1, B2, B3, B4, B5, E1, E2, E3,
E4, E5, P1, P2, P3, P4 e P5, em função da espécie de macrófita e do traço. A letra C se refere
ao controle, B à Brachiaria arrecta, E à Eichhornia crassipes e P à Pistia stratiotes. Os
números 1, 2, 3, 4 e 5 se referem aos cinco diferentes traços. O presente trabalho foi
desenvolvido obedecendo-se, em linhas gerais, as seguintes etapas:
1 - seleção e identificação dos tijolos remanescentes dos ensaios de absorção de água
realizados por FARIA (2002);
2 - preparação dos corpos-de-prova para o ensaio de determinação de sua resistência à
compressão;
3 - realização dos ensaios de determinação da resistência à compressão; e
4 - análise dos resultados, por sua comparação com os obtidos por FARIA (2002), antes dos
ensaios de absorção de água, e conclusões.
2.1. Realização do ensaio de absorção de água e seleção dos corpos-de-prova
Este ensaio foi realizado por FARIA (2002) de acordo com a norma NBR 8492 (ABNT,
1984), com os tijolos de número 4, 8 e 12 de cada série (cujas massas já foram medidas
anteriormente, à umidade higroscópica), da seguinte forma:
a) foram levados a uma estufa ventilada (103 ± 2 ºC), por 48 h;
b) em seguida, foram pesados em balança eletrônica, com precisão de 5 g, para determinação
da massa seca (MT0);
c) após o seu completo resfriamento, foram imersos em uma cuba com água, por 24 h;
d) após este período, foram retirados da imersão; o excesso de água superficial foi enxuto com
um pano úmido e em seguida pesados, na mesma balança anterior, para se determinar a massa
saturada (MTsat).
Nas Figuras 03 e 04 são mostrados alguns aspectos do experimento e a absorção de água (AA)
foi calculada pela equação (01).
AA =
onde:
(M
T sat
− MT 0 )
MT 0
AA :
MTsat :
MT0 :
(01)
absorção de água (%)
massa do tijolo saturado (g)
massa do tijolo seco em estufa (g)
Figura 03 - Vista da estufa de secagem dos tijolos e a pesagem do tijolo seco, observando-se a
proteção do prato da balança com “bolacha” de madeira e as luvas isolantes (FARIA, 2002).
Figura 04 - Vista das cubas de imersão dos tijolos em água (devidamente identificados por série e
números) e a pesagem do tijolo saturado, observando-se a proteção do prato da balança com um
tecido absorvente, de algodão (FARIA, 2002).
Sobre os resultados deste ensaio, obtidos por FARIA (2002), cabe apresentarem-se algumas
observações. Para o padrão (C), por exemplo, não foi possível a determinação de AA, devido
à desagregação dos corpos-de-prova, o que já era esperado, em função do elevado teor de
argila do solo. Com solos arenosos, como o estudado por FARIA & BATTISTELLE (2001a),
isto não ocorre. Estes autores apresentaram AA = 17,79 %, para um solo com 14 % de argila,
contra uma média de 25,65 %, já com 10 % de adição de biomassa, para o presente trabalho
(solo com 59 % de argila); lembrando que a norma NBR 8492 (ABNT, 1984) recomenda AA
≤ 18%, para os tijolos maciços de solo-cimento. Além dos corpos-de-prova da série C,
também se perderam (por desagregação ao final do experimento) os corpos-de-prova das
séries B1, E1, P1, P2 e P3. Com os tijolos remanescentes destes ensaios é que foram
preparados os corpos-de-prova do presente trabalho.
Finalizando, cabe destacar a importância da realização do ensaio de determinação da absorção
de água, não tanto pelos dados em si (que não são tão conclusivos) mas, pela oportunidade de
se constatar, na prática, os efeitos da ação da água sobre a terra crua e se confirmar o
provérbio citado na introdução.
Observa-se, também, que os tijolos que não se desagregaram com a saturação (todos com
adição de biomassa, exceto da massada P1, pela baixa quantidade de fibras), voltaram a
apresentar a mesma aparência anterior, a menos de pequenas perdas de material superficial.
Todas estas informações foram registradas fotograficamente, passo à passo, para todos os
tijolos, porém, por limitação de espaço neste trabalho, são mostrados apenas alguns aspectos,
na Figura 05.
Figura 05 - Aspectos das massadas P4 e P5, durante a saturação e após o ensaio (FARIA, 2002).
2.2. Preparação dos corpos-de-prova para o ensaio de determinação da resistência à
compressão
Os ensaios de determinação da resistência dos tijolos à compressão, foram realizados de
acordo com adaptações das normas NBR 6460 (ABNT, 1983) e NBR 8492 (ABNT, 1984).
Os corpos-de-prova foram preparados (com os tijolos originalmente de números 4, 8 e 12 e,
no presente trabalho, numerados de 1 a 3) da seguinte forma (Figura 06):
a) os tijolos foram serrados ao meio, no sentido do comprimento, com um serrote para
madeira e o auxílio de um “gabarito” de madeira;
b) em seguida, as duas metades foram assentadas, uma sobre a outra, com argamassa de pasta
de cimento e gesso e as superfícies, superior e inferior, foram regularizadas com a mesma
pasta, abrangendo as seguintes etapas:
- a pasta foi preparada com cimento de alta resistência inicial (ARI) e gesso (4 partes de
cimento para 1 de gesso) para produzir uma falsa pega, já que o tijolo (mesmo umedecido
com auxílio de uma esponja molhada) “rouba” muita água de hidratação do cimento;
- a bancada de concreto do laboratório foi untada com óleo mineral, sobre o qual foi espalhada
uma porção da pasta. A superfície inferior de cada primeira metade dos tijolos foi
umedecida e assentada sobre a pasta. O excesso foi retirado com uma espátula metálica;
- em seguida, a superfície superior de cada metade assentada foi umedecida (com a esponja
molhada). Sobre ela foi colocada mais uma porção da pasta e assentada a segunda metade
dos tijolos correspondentes (devidamente umedecidos). O excesso de pasta foi removido
com uma espátula metálica, para melhorar o acabamento;
- finalmente, para o acabamento da superfície superior da segunda metade dos tijolos, as duas
metades (unidas anteriormente) foram invertidas (180º em relação ao eixo horizontal),
umedecidas e repetida a operação de untar bancada / aplicar pasta / assentar tijolo. O
excesso de pasta foi removido e dado o acabamento.
c) durante todo o processo de secagem e endurecimento da pasta, as superfícies de cimento
foram umedecidas, com o auxílio da esponja, para garantir a sua cura;
d) após a completa secagem, os corpos-de-prova foram submetidos ao ensaio.
Figura 06 – Corte dos tijolos ao meio e montagem dos corpos-de-prova para o ensaio de
determinação da resistência à compressão.
2.3. Ensaio de determinação da resistência à compressão
Antes da realização do ensaio de determinação da resistência à compressão dos tijolos,
procedeu-se à determinação da área da seção de ruptura. Para tanto, em cada corpo-de-prova,
foram medidas as 4 dimensões das seções médias das duas partes que o compõem, nas duas
direções (a e b), como indicado, obtendo-se os valores de a1, a2, a3, a4, b1, b2, b3 e b4. A área
média da seção de ruptura (A) do corpo-de-prova foi calculada pela equação (02).
A = amédio × bmédio
onde:
(02)
2
A : área média da seção de ruptura (cm )
amédio = (a1 + a2 + a3 + a4) / 4
médias aritméticas das 4 medidas nas 2
bmédio = (b1 + b2 + b3 + b4) / 4
direções da seção (cm)
Para a determinação da resistência à compressão (fc), os corpos-de-prova foram levados à
máquina de ensaio (“prensa”) mecânica; centrados na base metálica, pelo eixo vertical dos
mesmos, e a carga foi aplicada pelo dispositivo metálico (com rótula, para compensar
eventuais não paralelismos entre a superfície superior e a inferior dos corpos-de-prova), em
carregamento uniforme, com velocidade constante de incremento de carga de 10 MPa por
minuto (Figura 07). Com isso mediu-se a carga de ruptura dos corpos-de-prova (Frup), para o
cálculo de fc , pela equação (03).
fc =
onde:
Frup
10 ⋅ A
(03)
fc: resistência à compressão (MPa)
Frup : carga de ruptura do corpo-de-prova (Kgf)
A : área média da seção de ruptura (cm2)
Figura 07 – Conjunto de corpos-de-prova, prontos para o ensaio; esquema de medição da área da
seção de ruptura, e determinação da carga de ruptura.
2.4. Determinação da perda de resistência à compressão
A influência do ciclo de saturação/secagem, sobre a resistência à compressão do adobe, foi
avaliada pela variação desta resistência em duas situações: antes e depois do ensaio de
absorção de água. Seu valor foi calculado pela equação (04).
 f c antes − f c depois
Perda f c = 

f c antes

onde:

 x100%


(4)
fc antes: resistência à compressão antes do ensaio de absorção de água(MPa)
fc depois: resistência à compressão depois do ensaio de absorção de água(MPa)
3. RESULTADOS
Nas Tabelas 01 a 03, são apresentados os resultados médios dos ensaios realizados no
presente trabalho, assim como um resumo dos principais resultados de caracterização física e
mecânica dos tijolos, apresentados por FARIA (2002).
Tabela 01 – Resumo dos resultados dos ensaios de determinação da resistência à compressão, para os
tijolos com Brachiaria arrecta, antes e depois do ensaio de absorção de água, assim como a perda de
resistência e outros parâmetros apresentados por FARIA (2002).
C
Brachiaria arrecta (γγ ap biomassa = 0,067g/cm3)
B1
B2
B3
B4
B5
3,34
5,66
4,65
6,32
5,80
4,71
UEA
0
10
20
30
40
50
Traço em volume (%)
0,00
1,07
2,15
3,22
4,29
5,37
Traço em massa (%)
3
1,78
1,69
1,58
1,61
1,57
1,51
γ ap tijolo (g/cm )
f c antes ± sd (MPa) 2,48 ± 0,31 2,65 ± 0,31 2,18 ± 0,17 2,04 ± 0,10 1,97 ± 0,12 1,94 ± 0,08
*
*
1,38 ± 0,10 1,44 ± 0,14 1,26 ± 0,19 1,33 ± 0,03
f c depois ± sd (MPa)
36,76
29,57
35,91
31,35
perda de f c (%)
* não determinado, os tijolos se desagregaram.
Tabela 02 – Resumo dos resultados dos ensaios de determinação da resistência à compressão, para os
tijolos com Eichhornia crassipes, antes e depois do ensaio de absorção de água, assim como a perda
de resistência e outros parâmetros apresentados por FARIA (2002).
C
Eichhornia crassipes (γγ ap biomassa = 0,069g/cm3)
E1
E2
E3
E4
E5
UEA
Traço em volume (%)
Traço em massa (%)
γ ap tijolo (g/cm3)
f c antes ± sd (MPa) 2,48 ± 0,31 2,76 ± 0,19 2,58 ± 0,18 2,47 ± 0,17 2,32 ± 0,07 2,14 ± 0,09
*
*
1,35 ± 0,07 1,57 ± 0,06 1,81 ± 0,02 1,77 ± 0,18
f c depois ± sd (MPa)
47,61
36,44
21,88
17,12
perda de f c (%)
3,34
0
0,00
1,78
6,29
10
1,11
1,67
5,88
20
2,21
1,58
5,84
30
3,32
1,60
7,08
50
5,53
1,51
5,63
70
7,74
1,43
* não determinado, os tijolos se desagregaram.
Tabela 03 – Resumo dos resultados dos ensaios de determinação da resistência à compressão, para os
tijolos com Pistia stratiotes, antes e depois do ensaio de absorção de água, assim como a perda de
resistência e outros parâmetros apresentados por FARIA (2002).
C
Pistia stratiotes (γγ ap biomassa = 0,127g/cm3)
P1
P2
P3
P4
P5
3,34
4,73
4,27
2,69
7,22
5,90
UEA
0,00
4,44
8,88
13,33
23,33
33,33
Traço em volume (%)
0,00
0,90
1,81
2,71
4,75
6,78
Traço em massa (%)
3
1,78
1,72
1,63
1,57
1,54
1,39
γ ap tijolo (g/cm )
f c antes ± sd (MPa) 2,48 ± 0,31 2,68 ± 0,20 2,45 ± 0,15 2,29 ± 0,08 2,01 ± 0,20 1,89 ± 0,09
*
*
*
*
1,79 ± 0,07 1,68 ± 0,32
f c depois ± sd (MPa)
10,73
10,96
perda de f c (%)
* não determinado, os tijolos se desagregaram.
Estes resultados estão apresentados graficamente nas Figuras 08 e 09.
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
(antes e depois do ensaio de absorção de água)
Brachiaria
Eichhornia
Pistia
controle C
Resistência à compressão (MPa)
2,70
Brach depois
Eichh depois
Pist depois
2,20
1,70
1,20
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Traço em massa (%)
Figura 08 – Resistência à compressão em função do traço em massa, antes e depois do ensaio de
absorção de água.
PERDA DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
(após o ensaio de absorção de água)
50
Perda de Resistência (%)
40
30
20
Brachiaria
10
Eichhornia
Pistia
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Traço em massa (%)
Figura 09 – Perdas de resistência à compressão em função do traço em massa, antes e depois do
ensaio de absorção de água.
4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho não teve a pretensão de esgotar o assunto, mesmo porque seria
impossível, visto que o tema possibilita uma variedade muito grande de pesquisas
complementares, principalmente para projetos maiores, envolvendo profissionais de áreas
diversas, tais como: engenharia de materiais, engenharia de solos, engenharia ambiental,
limnologia, biologia, ecologia, química, arquitetura (projeto, história e conforto ambiental),
entre outros...
Analisando-se os resultados apresentados nas Tabelas 01 a 03 e Figuras 08 e 09, podem ser
feitas as seguintes constatações:
1. Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes foram as espécies de macrófitas aquáticas que
produziram tijolos com resistência à compressão final mais elevadas e com padrão de
comportamento melhor definido;
2. Brachiaria arrecta produziu tijolos com resistência à compressão final mais baixa, com
padrão de comportamento variável e perdas de resistência (em %) mais elevadas;
3. Pístia stratiotes produziu tijolos com a mais baixa perda de resistência (em %) das três
espécies de macrófitas aquáticas, apesar dos poucos corpos-de-prova ensaiados; e
4. Eichhornia crassipes foi a espécie que, de uma forma geral, apresentou
o melhor
comportamento, cujos tijolos apresentaram perda de resistência à compressão segundo um
padrão de comportamento bem definido, apresentando considerável redução nesta perda
com o acréscimo de biomassa. Este parâmetro reduziu de 48% para 17%, para o acréscimo
de biomassa de 2,21% a 7,74%, o que representa uma redução de cerca de 3 vezes.
Estas observações dão indícios que permitem as seguintes conclusões:
1. O tijolo produzido com solo argiloso é forte e negativamente afetado pelo ciclo de
saturação em água e secagem, no tocante à sua resistência à compressão;
2. O acréscimo de biomassa ao solo, na produção dos tijolos, reduz significativamente este
prejuízo;
3. A interação entre a biomassa de Eichhornia crassipes e de Pistia stratiotes com o solo é
melhor que a de Brachiaria arrecta, provavelmente devido à natureza e dimensões dos
fragmentos, sendo que os desta última, além de maiores, apresentaram menor capacidade
de aderência ao solo; e
4. Fica evidenciada a necessidade e importância dos cuidados com relação ao contato das
construções em terra com a água, ou seja, reforça o provérbio já citado na “Introdução”.
Concluindo e tendo em vista a importância e necessidade de melhor conhecimento deste
material - o adobe - e sua inserção num contexto mais amplo de desenvolvimento sustentável,
alguns temas podem ser propostos como perspectivas para futuras pesquisas, tais como:
- Correlacionar o aporte e a disponibilidade de nutrientes e metais na água, com a retirada
pelas macrófitas/tijolos;
- Avaliar o carreamento, e as concentrações das substâncias químicas, pela ação do
intemperismo em paredes nuas construídas com o material; e
- Avaliar o desempenho, no que diz respeito ao conforto térmico e acústico do material,
comparando-o com outros materiais; entre outros.
5. AGRADECIMENTOS
Ao Israel Pereira dos Santos, técnico do laboratório Construção Civil, da FEB/UNESP-Bauru;
ao Alysson C. Paulo e André P. Monteiro, alunos do Curso de Eng. Civil (FEB/UNESPBauru), pelo auxílio na produção dos tijolos; e à PROPP/UNESP, pela bolsa de Incentivo à
Capacitação Docente.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cerâmico para alvenaria - verificação da resistência à compressão. Rio de Janeiro, 1993. 6p.
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de solo cimento: determinação da resistência à compressão e da absorção de água – método de
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UNESP – Câmpus de Bauru).
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