A Viagem ao planeta do Grande Amor
Transcrição
A Viagem ao planeta do Grande Amor
VIAGEM AO PLANETA DO GRANDE AMOR Nanaui e Radwan olhavam as estrelas, quando entre os morros da serra apareceu uma enorme bola de luz muito brilhante, encantando as crianças. - Veja Radwan, a lua está voltando! - Ela deve ter esquecido alguma coisa lá no céu e voltou para pegar, respondeu Radwan, que sempre achava uma explicação para tudo. - Mas não pode ser a lua. Ela nasce do outro lado do rio e não nas montanhas. Nunca vi a lua fazer esse movimento de ziguezague tão engraçado. Parece que está brincando de escondeesconde conosco, insistiu Nana. Os meninos ficaram intrigados, prestando ainda mais atenção. - Pois eu continuo achando que é a lua mesmo. Sempre soube que é muito distraída e quando esquece alguma coisa ou tem saudades do sol volta para se aquecer, apanhar raios perdidos ou saber das últimas fofocas, teimou Radwan fazendo uma careta bem safada. Sempre ziguezagueando a bela luz foi se aproximando, diminuindo de tamanho e brilho enquanto se movia mais lentamente, até pousar no quintal. - Crianças, o jantar está pronto! Chamou o pai. A bola de luz estava quase se apagando quando os meninos perceberam que havia alguém dentro dela. De mãos dadas, um dando coragem para o outro, aproximaram-se bem devagarzinho. - Olha só, Radwan, parecem duas crianças. - Uau! São igualzinhas a nós, até as roupas são as mesmas, maravilhou-se Nanauí. Os quatro meninos ficaram se olhando e sorrindo, achando graça da tamanha semelhança entre eles. Só uma aura de luz azul, que contornava os visitantes, diferenciava uns meninos dos outros. - Parece que estamos olhando num espelho, falou Nanauí. - Porque vocês são iguais a nós? Foi logo perguntando Radwan. Aonde você comprou essa calça igualzinha à que minha mãe fez para mim, êh? - Que nada! vocês que são iguais a nós. Brincaram os navegantes celestes. Foi então que a luz azul envolveu os quatro e sem sentir Nanaui e Radwan foram ficando cada vez mais a vontade, mais em paz, sem medos e dispostos a descobrir o desconhecido. - De onde vocês vieram? Foi a vez de a Nanaui perguntar. - Nós viemos de um lugar onde a lua fica azul e as estrelas coloridas, as cachoeiras falam, todo mundo canta e todos os dias são feriados. - Que legal! exclamaram juntos Nanaui e Radwan. - Gente, a sopa está esfriando, falou a mãe. Mas quem iria trocar aquele encontro por uma sopa? - Meu nome é Nanaui e este é meu irmãozinho Radwan. - Eu sou Iuanan e ele é meu irmão Nawdar. Vocês querem conhecer nosso planeta? - Bem que eu gostaria, falou Nanaui, mas demora muito para chegar lá? - Nadinha, a gente vai mais rápido que o tempo. - Então vamos embora, concordou Radwan. Iuanan pediu para fazer um círculo de mãos dadas. A luz azul foi ficando cada vez mais brilhante até que virou branca, provocando nos meninos uma gostosa e diferente sensação de leveza. Quando perceberam, a Terra já tinha desaparecido. - Mergulharam em espirais coloridas, atravessaram túneis escuros, sentiram que seus corpos se desintegravam e integravam de novo, - que susto! - deixaram atrás redemoinhos estelares, para pousar no jardim de uma linda casa. Tinha grandes árvores com frutas maduras, orquídeas, violetas, lírios e outras flores desconhecidas. - Este é o planeta Arret e esta é nossa casa, sejam bem vindos. Convidou Iuanan. - Entraram sem chave num salão redondo. De um lado uma lareira rodeada de esteiras e almofadas coloridas e de outro uma mesa com bancos. A viagem despertou a fome dos meninos. O estômago de Radwan até reclamava. E Nanaui olhava desconfiada para todos lados, sem ver nada parecido com uma cozinha ou pelo menos com uma geladeira. - Vamos jantar. O que vocês desejam? perguntou Nawdar, e como se tivesse lido os pensamentos dos meninos, sentou-se à mesa. - Quero pamonhas! exclamou Nanaui com um certo ar de desafio. - E eu uma salada de frutas com iogurte, escolheu Radwan piscando um olho para Nanauí. Iuanan estendeu as mãos com as palmas viradas para a mesa e fechou os olhos. Nanauí e Radwan se olhavam intrigados, imaginando o que Iuanan iria fazer. Talvez esteja mandando um pedido telepático para a pamonharia mais próxima, pensava Nana. Então luanan sorriu e como por encanto apareceram em cima da mesa os pedidos. A partir daí foi uma festa que as crianças jamais esqueceram: frutas, sucos, chocolates, os manjares mais deliciosos. Tudo surgia como num passe de mágica. Depois do fantástico jantar sentaram-se nas almofadas que de tão macias pareciam que iam sair voando, quando Radwan reclamou do frio. - E para já! Nawdar apontou para a lareira e na io hora apareceu do nada um fogo que esquentou a todos. - Vocês são mágicos! exclamaram os terráqueos de olhos arregalados. - O que é ser mágico? perguntou Nawdar. - Mágicos são pessoas que usando truques somem ou aparecem coisas ou animais. - Então não somos mágicos. Nós não usamos truques. Quando desejamos alguma coisa, ela aparece. Depois desaparece sozinha, quando já não a usamos. - Como aprenderam? Quem ensinou vocês? Perguntou entusiasmado Radwan. Com carinho Iuanan e Nawdar foram explicando devagarzinho como aconteciam as coisas naquele planeta. - Ninguém nos ensinou, nem precisamos estudar, simplesmente um dia nossos desejos começaram a acontecer, tornando realidade tudo aquilo que a gente quer bem do fundo do coração. - Ou do estômago, retrucou Nanaui, dando uma gargalhada. Tantas descobertas deixaram os meninos fascinados, porém exaustos. - Quero um quarto azul com estrelas no teto, uma grande cama com lençóis e cobertores rosas e travesseiros bem macios, falou Nanaui bocejando. Nawdar estalou os dedos e logo os quatro adormeciam no quarto desejado, olhando as estrelas através do teto transparente. Enquanto isso, o fogo desaparecia aos poucos, sem deixar brasas nem cinzas. Os meninos acordaram com os passarinhos, a música do vento nas folhas das árvores e as canções de umas mulheres que passavam por aí. Depois de um banho de cachoeira e um delicioso e "mágico" café da manhã saíram a passear. - Olha só, não tem lojas, carros, nem propaganda, observou Nanaui. Não havia poluição, barulho, nem aglomerações de pessoas. Também não parecia existir mendigos nem desamparados naquela cidade. - O que são lojas? perguntou Iuanan. - São lugares onde a gente compra o que precisa, respondeu Radwan. Rindo, Nawdar comentou: Bem, aqui não precisamos delas. E só desejar que tudo aparece. Nas ruas pessoas e animais caminhavam sem pressa. Aqui e acolá grupos de todas idades brincavam, riam e conversavam sentados nos gramados dos parques. Quando alguém desejava ir a algum lugar distante ou viajar, expandia sua aura, que ficava cada vez mais brilhante, até que elevava-se e partia na direção e velocidade desejadas. De noite, contou Iuanan, os moradores daquele lugar costumavam fazer fogueiras, dançar e cantar acompanhados de tambores, flautas, violinos e outros instrumentos desconhecidos. Os adolescentes procuravam os lugares mais românticos para namorar. Era então, sob os reflexos do fogo e da lua que aquela luz azul, que parecia surgir do peito das pessoas, era mas visível e bonita. Chegaram num quarteirão mais movimentado, cheio de jovens. - Esta é a Casa Infantil, onde a gente se junta para brincar e aprender coisas. Muitas crianças e adolescentes vivem aqui. Nós já moramos na Casa Infantil antes de vivermos sozinhos, explicou Nawdar. - Uau! Gritou Nanaui, vendo um adulto transformando-se num menino enquanto atravessava o portão da Casa Infantil de AiliSarb, nome daquela cidade. - Vocês também podem mudar de aspecto? indagou Radwan. - Isso mesmo. Nós podemos tomar a aparência que quisermos: jovem ou velho, homem ou mulher, animal ou planta, fogo, nuvem, estrela, qualquer coisa, falou pausadamente Nawdar. Radwan, que já estava imaginando ser uma enorme montanha, perguntou: - Iuanan, o que você mais gosta de ser? - Adoro ser uma gota de água no oceano, sentir-me tão pequenininha e imensa ao mesmo tempo. Ser respirada pelos peixes e acariciada pelos corais, desde o abismo mais escuro até a luz da espuma onde quebram as ondas criando arco-íris por todos os lados. Mas no fundo prefiro ser eu mesma, é ainda mais divertido. Vejam bem, para animá-los a vir, ficamos igualzinhos a vocês. - Então eu quero ver como vocês são de verdade, pediu Nanaui. Num piscar de olhos apareceram um casal de meninos negros, bonitos e risonhos de olhos cor de mel. - Chegou o momento de levá-los à presença da princesa Chaia. Foi ela quem pediu para trazer vocês. Ela é a Guardiã da Beleza do planeta. Vocês vão gostar dela, vamos lá, convidou Iuanan. De mãos dadas, foram expandindo a aura azul que se tornou branca e elevou-se com nossos amigos. Sobrevoaram a floresta de Sanozama e pousaram na frente do palácio de cristal, onde a princesa já esperava por eles. Pessoas de todas as raças, tipos e vestimentas iam e vinham, trazendo e levando pedras preciosas, jóias, pinturas, livros, esculturas e outros objetos lindos. Os deixavam nas salas do palácio para ser admirados pelos visitantes. Outros levavam as obras de arte para melhor apreciá-las em casa. A Chaia, morena cor de canela e cabelos cacheados, recebeu carinhosamente os meninos. Mostrou-lhes todas as salas do palácio, que parecia um museu. Depois lhes conduziu até seu quarto, na torre de cristal, de onde se via toda a floresta. Acendeu um delicioso incenso, cujo cheiro deixou os meninos mais atentos e sensíveis, e assim falou: - Convidei-os à Arret para contar-lhes uma estória. É a história de nosso último século. Naquela época, os cientistas constataram que as crianças mais amadas cresciam mais sadias, criativas e felizes. Enquanto aquelas que não recebiam carinho ficavam inseguras, doentes e infelizes, tomando-se adultos desequilibrados, carentes e com dificuldade para expressar sua criatividade. Tal observação confirmou o que os sábios sempre tinham falado: O Amor é a essência da vida e ele é o melhor agente para transformar as pessoas em seres felizes. Então, foram criadas as Casas Infantis, que eram lugares onde todas as crianças sem distinção recebiam o máximo de ajuda, carinho e atenção de toda a comunidade. E funcionou, porque à medida que as crianças das Casas Infantis foram crescendo, a sociedade foi se tornando mais solidária, amorosa e pacífica. Cada vez mais pessoas ficaram conscientes de que era muito melhor trabalharem juntos, procurando o bem comum, do que continuar competindo com os outros por interesses pessoais. Aos poucos, os exércitos foram desaparecendo e o dinheiro, que os governos gastavam com armas passou a ser usado para combater as doenças, a miséria e a fome; acabando com elas. - Depois chegou o melhor, falou sorrindo a princesa. - Teve uma hora em que as crianças da Casa Infantil de Aili- Sarb começaram a materializar seus desejos: brinquedos, comida, roupas, viagens; tudo tornavase realidade. Foi o Amor que fez o milagre. Quando ele atinge certo grau, sua força de união vence todas as barreiras e limites, e tudo o que desejamos com amor se realiza imediatamente. - Isto é fantástico! gritaram emocionados Nanaui e Radwan, entendendo como aconteciam aquelas maravilhas em Arret. Cinqüenta anos depois, todos os habitantes do planeta atingiram um nível amoroso suficiente para satisfazer todas suas necessidades materiais e desejos. Desapareceram o dinheiro, as lojas, os carros e os governos. As famílias mudaram tanto que nem se parecem mais com as de antigamente. Não precisamos plantar a terra, nem matar animais para comer. Ninguém adoece e cada um escolhe o momento apropriado para abandonar seu corpo, ou como falavam os antigos, para morrer. Desde então nos dedicamos às artes, a cuidar da natureza, dos animais, dos rios e das florestas, Fazemos belos jardins, inventamos estórias e músicas para contar e cantar nas noites de inverno, celebramos a vida e brincamos. Somos felizes por aqui e queremos derramar nosso amor e alegria para o resto do Universo. Mas sabemos que no planeta de vocês ainda há sofrimento, fome, guerras e as crianças são maltratadas. E por isso trouxemos vocês aqui, para que pudessem ver o caminho que nos levou a felicidade, concluiu Chaia. - Mas como é possível atingir esse amor tão grande? quis saber, Radwan. - Meu amigo, amor a gente não ensina, não vende, nem compra. Quando amamos ele cresce e cresce até virar o Grande Amor, capaz de qualquer coisa. Se vocês estiverem afim, podem ficar numa Casa Infantil para ver o que acontece. - Topamos! exclamaram os dois irmãos felizes pelo convite. Quando entraram na Casa Infantil procuraram uma secretaria, mas não acharam nada parecido. Chegaram num berçário, cheio de nenéns. Alguns dormiam placidamente, outros eram banhados, massageados e cuidados por meninas e meninos de todas as idades. Entre risadas as mães amamentavam seus filhos e os das outras mulheres. - Assim todos são irmãos de leite! maravilhou-se Nanaui, enquanto Radwan desaparecia atrás de um peito vago. Entraram num galpão, onde crianças, adolescentes e alguns adultos desenhavam, esculpiam, faziam cerâmica, pintavam o corpo, tocavam instrumentos, dançavam, se fantasiavam, brincavam de aprender, namoravam ou simplesmente batiam papo. Uns trepavam nas copas das árvores mais altas, outros brincavam de esconde-esconde entre as nuvens, fazendo vôos rasantes sobre os que se transformavam em animais que eles mesmos inventavam. Um jardim especialmente cuidado, repleto das flores mais lindas e cheirosas, rodeava um grande dormitório. Perguntaram à jardineira, uma linda loira de olhos azuis, se podiam ocupar duas camas naquela sala. Explicaram que vinham do planeta Terra e não conheciam ainda os costumes daquela casa. Anaid deu uma gargalhada e, sem se impressionar com as origens extra-arretianas dos visitantes, respondeu: - Ora, vocês são crianças e esta é nossa casa. Vocês podem fazer o que desejarem, sem pedir permissão para ninguém, mesmo que sejam de outro planeta. E deu outra sonora gargalhada. - Então aqui ninguém manda e ninguém obedece? perguntou Nanaui, surpresa. - Isso mesmo. Neste planeta só as máquinas obedecem e, às vezes, os animais domésticos. Tudo se resolve no papo. Somos nós, os moradores da Casa, que tomamos as decisões, respondeu Anaid. - E os adultos? quis saber Radwan. - Eles vem aqui para brincar ou quando convidados para fazer shows, teatro ou para ensinar alguma coisa que nos interessa. Eles não decidem nada aqui. E transformando-se numa jovem perua saiu rebolando e dando gargalhadas: - Glu, glu, glu, terráqueos; glu, glu, glu terráqueos; glu, glu, glu. Caminhando chegaram ao lugar mais frondoso da floresta. - Quem é esse velhinho? perguntaram. - E Damarp, o contador de estórias. Ele é o guardião da memória de Arret, respondeu Onerom, que fantasiado de arco-íris brincava de enganar os beija flores. Debaixo de uma grande árvore, sentado sobre sua aura que tinha tomado a forma de uma grande almofada, e esquentando-se numa pequena fogueira, Damarp estava rodeado de crianças. Interrompendo a estória que estava contando para dar as boas vindas aos meninos, perguntou o que eles mais tinham gostado em Arret. Sem pensar duas vezes Nanaui respondeu: - O que mais gostei foi a maneira como vivem aqui as crianças. Lá na Terra somos tratados como inferiores. Se obedecermos, os adultos dizem que somos bonzinhos e que gostam de nós. Mas na hora que fazemos o que temos vontade, já não gostam mais: insultam-nos, ameaçam, castigam e às vezes batem na gente. Muitas crianças são abandonadas nas ruas, tendo que pedir esmola ou roubar para não morrer de fome ou de frio. - Isso não é possível! exclamou horrorizada Anaid, enquanto os meninos começavam a chorar. - Podem chorar, que desabafa e faz bem, afagou-lhes a cabeça o velhinho. - Tem mais, explodiu irritado Radwan. Nas escolas da Terra temos que ficar quietos e em silêncio, escutando o dia todo e aprendendo de cor coisas que às vezes não tem o mínimo interesse, gostemos ou não. Ninguém pede a nossa opinião e cada semestre tem um monte de provas. Se somos reprovados nossos pais ficam muito bravos, nos castigam e estragam nossas ferias. - Aqui também era assim, respondeu Damarp, alisando as barbas. Mas quando as crianças começaram a materializar seus desejos, ante os olhos espantados dos adultos, todos tiveram que reconhecer que as crianças eram mais sensíveis, criativas, capazes e realistas que os adultos que nada podiam fazer. Então como estes poderiam pretender educá-las? Hoje, na elaboração da programação de cada Casa Infantil participam todos os moradores. As crianças são realmente o bem mais precioso que temos e os adultos fazem de tudo para nunca perder seu lado infantil. A Natureza é perfeita e as crianças também. Do mesmo jeito que uma semente de manga se transforma numa imensa árvore, só com água e terra fértil, uma criança só precisa de amor e apoio para chegar a ser um adulto feliz. Enquanto Damarp bocejava e dava boa noite para os jovens, a almofada foi elevando-se e transformando-se numa rede, que amarrou-se aos galhos mais altos da árvore, onde o velho costumava a dormir quando visitava seus amigos de AiliSarb. Na noite da Lua Cheia encontraram-se do lado da cachoeira. Damarp tocava um pandeiro e puxava um som. Alguns tocavam instrumentos e todos cantavam e bailavam: - Somos todos Um, no Infinito Amor, sempre, sempre, sempre. A criançada dançava de mãos em círculos concêntricos. Os atabaques mais graves marcavam a batida do pé no chão. Os círculos foram ficando menores e todos se uniram num grande abraço. Foi aí que Nanauí e Radwan perceberam o quanto amavam aquelas pessoas: Nawdar, Iuanan, Chaia, Anaid, Damarp, Onerom, etc. Chaia tocava uns sininhos mais agudos quando um intenso raio de luz branca foi surgindo do peito de cada um, envolvendo todos eles, atravessando-os e deixando-os extasiados. Nunca Nanaui e Radwan tinham sentido tão grande amor. E foram desmanchando, dissolvendo-se nele, sentindo as ondas do amor pulsando em cada coração, até virar uma onda só. Neste momento, Nanaui desejou abraçar a todos e cada um de seus amigos ao mesmo tempo. Naquele oceano de amor, o desejo dela se tornou real e apareceram um monte Nanauís abraçando cada um dos meninos. Tinha até uma Nanaui abraçando outra Nanaui. Radwan, também emocionado, quis colocar a turma toda no seu colo. Imediatamente transformou-se num gigante. Logo logo as crianças pularam no seu colo; fazendo-o de trampolim, escorregador, balançando-se em seu cabelo, escondendo-se nas suas orelhas... A floresta começou a irradiar luzes multicoloridas, enquanto a lua ia ficando cada vez mais azul e brilhante. - Parabéns, vocês acharam o segredo. Atingiram o Grande Amor que faz com que seus desejos se realizem, falou Chaia, mais bela do que nunca. - Agora vocês podem ir para a Terra e nos visitar quando desejarem. E só querer. Mas antes de partir, a cachoeira quer lhes revelar outro segredo. Entrem na água e escutem com atenção, falou Damarp. Amanhecia quando os meninos entraram na água. Os animais da floresta fizeram coro com a cachoeira: - Arret é a Terra. - Arret é a Terra. - Arret é a Terra. - Vocês não viajaram no espaço, viajaram no tempo. Pularam dois séculos para o futuro, explicou Chaia. Os meninos sorriram ao ouvir estas palavras. Tinham dentro do peito o desejo de que, também na Terra, algum dia as coisas ficassem tão legais quanto em Arret. - Tudo mudou, quando as crianças materializaram seus desejos, tudo virou do avesso. Os antigos poderes desapareceram e tudo foi comandado pelo amor. Para comemorar decidimos colocar todos os nomes próprios ao contrario, explicou Damarp. Sabendo que a Terra iria mudar, os meninos encararam com mais ânimo a viagem de volta. Agora sabiam que em qualquer lugar e em qualquer tempo estavam em casa, porque seu verdadeiro lar era lá dentro. Naquele ponto de onde surgia a luz que agora se expandia, os envolvia e elevava para levá-los de volta para a casa de seus pais. - Crianças, a sopa vai esfriar! Façam o favor de parar de olhar o céu que nem bobos e venham jantar. Chamava o pai, já impaciente. Sentados à mesa, os adultos não perceberam a tênue luz azul que envolvia os meninos. Só os cachorrinhos farejavam e pulavam, sentindo algo diferente. Tampouco ninguém viu, que no caminho até a boca, a sopa virava sorvete de morango. Fim (por enquanto)