rejuvination vaginal
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rejuvination vaginal
10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10L. Ronconi e M.10Galli 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 TM 10 MonaLisa 10 10 : A Última Fronteira no 10 10Touch 10 10Atrofia Vaginal 10 10 10 Tratamento de 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 Um agradecimento especial ao Professor Alberto Calligaro pela sua dedicação e apoio imensuráveis Lara Ronconi Engenheira Eletrônica de Biomedicina Supervisora da Área Médica DEKA Company o s i a a y Comitê Científico Alberto Calligaro Professor de Histologia e Embriologia do Curso de Graduação em Medicina e Cirurgia na Universidade de Pavia. Ex-Diretor da Faculdade e Medicina e Cirurgia da mesma universidade, ele está trabalhando em atividades de pesquisa na Unidade de Histologia e Embriologia do Departamento de Saúde Pública, Neurociência, Medicina Experimental e Forense. Massimo Candiani Professor Associado de Obstretícia e Ginecologia na Universidade Vita e Salute San Raffaele de Milão, Faculdade de Medicina e Cirurgia de Milão. Diretor do Departamento de Maternidade e Cuidado Infantil no San Raffaele Hospital. Diretor do Hospital Escola e da Unidade de Cirurgia Complexa de Obstetrícia e Ginecologia no San Raffaele Hospital. Mauro Galli Doutor em Física com PhD em Física do Laser. Gerente do Departamento de Marketing e Comercio Exterior da empresa DEKA. Membro do comitê de direção de muitas empresas do grupo EI.En do qual a DEKA é também membro. Rossella Nappi Professora Associada na Seção de Obstetrícia e Ginecologia, Departamento de Clínica Cirúrgica, Diagnóstico e Ciências Pediátricas da Universidade de Pavia. Trabalha como ginecologista, endocrinologista e conselheira sexual no Centro de Pesquisa em Reprodução Medicamente Assistida, Clínica Ambulatorial de Endocrinologia, Ginecologia & Menopausa e Clínica de Obstetrícia e Ginecologia da IRCCS Fondazione San Matteo de Pavia. Stefano Salvatore Coordenador da Unidade Funcional Uroginecológica – IRCCS San Raffaele, Milão. Professor Contratado na Universidade Vita e Saude San Raffaele de Milão. Professor Visitante no Imperial College St. Mary’s Hospital, Universidade de Londres, Reino Unido. Membro do Comitê Científico da Associação Internacional Uroginecológica. Vice-presidente da Associação Uroginecológica Europeia. Nicola Zerbinati Dermatologista e Professor Titular do Curso de Graduação em Dermatologia e Venerealogia na Universidade de Insubria. Administrador do CMP (Centro Médico Multiespecialidades). Coordenador Científico na ICAM (Consultor Internacional Americano em Medicina Estética dos Estados Unidos), Coordenador Científico e Professor na IUL (União Internacional de Lipoplastia). Coordenador Científico na IACG (Academia Internacional de Ginecologia Cosmética). a a e e e . n e a n , a o a e , e , a o a P M s e e ÍNDICE Índice 6 Prefácio 10 Capítulo 1 12 Atrofia Vaginal: Mudanças que Afetam a Qualidade de Vida 1.1 Introdução 12 1.2 Menopausa 14 1.2.1 Terminologia e Definições 14 1.2.2 Início, Duração, Sintomas 15 1.3 Atrofia Vaginal 16 1.3.1 Alteração do Epitélio da Mucosa Vaginal 18 1.3.2 Ressecamento Vaginal 19 1.3.3 Redução de Lactobacilos Vaginais e Aumento 20 do nível de pH Vaginal 1.3.4 Tratamentos e Terapias 22 1.3.4.1 Tratamentos com Terapias Não Hormonais, 24 Lubrificação e Reidratação 1.3.4.2 Preparações à base de Fitoestrógenos 25 1.3.4.3 Terapia de Reposição Hormonal 26 1.3.4.4 Tibolona 31 1.3.4.5 Terapia Local ou Transdérmica com Estrógeno 32 1.4 Conclusões 34 1.5 Referências 34 6 C 6 Capítulo 2 36 0 Laser: A Luz na Medicina 2 2.1 Prefácio 36 2.2 Visão Geral Histórica 36 2.3 Princípios de Operação 37 2 2.4 Características do Feixe de Laser 39 4 2.5 Tipos de Laser 41 4 2.5.1 43 5 Laser de CO2 2.6 Interação Entre Laser e Tecidos Biológicos 43 6 2.6.1 Propriedades Ópticas de Tecidos Biológicos 45 8 2.7 Visão Geral Sobre o Uso do Laser em Dermatologia 48 9 2.7.1 Laser de CO2 em Dermatologia 50 0 2.7.2 Laser de Neodímio (Nd: YAG) em Dermatologia 51 2.7.3 Laser de Alexandrite em Dermatologia 52 2.7.4 Laser de Corante em Dermatologia 52 2.7.5 Laser de Érbio (ER:YAG) em Dermatologia 53 2.8 Visão Geral Sobre o Uso de Laser em Outros Campos Médicos 53 2.8.1 Oftalmologia 53 4 5 2.8.2 Ginecologia 54 1 2.8.3 Otorrinolangologia 54 2 2.8.4 Urologia 55 2.8.5 Odontologia 56 2.8.6 Oncologia 57 2.8.7 Tratamento de Arritmia 58 2.8.8 Bioestimulação 58 2.9 Visão Geral do Uso de Laser para Conservação de Obras de Arte 59 2.10 Referências 59 4 7 Capítulo 3 61 MonnaLisa TouchTM: the First Laser-Assisted Technology for the Treatment of Vaginal Atrophy 3.1 Introdução 61 3.2 Deka e Laser de CO2 62 3.2.1 Terapia DOT: O Inovador Tratamento de Rejuvenescimento 63 Cutâneo Microablativo 3.2.1.1 SmartPulse: Tecnologia de Emissão Pulsada 66 3.2.1.2 Função SmartStack 67 3.3 Do Rejuvenescimento Cutâneo para 68 o Rejuvenescimento Vaginal 3.3.1 Pele Versus Mucosa Vaginal 70 3.4 Da Investigação Clínica à Necessidade de Uma Análise 76 Ultraestrutural Profunda 3.5 Observações Microscópicas e Ultraestruturais Sobre 78 a Mucosa Vaginal Após Um Tratamento com Laser Fracionado de CO2 3.5.1 Microscopia de Luz Polarizada 80 3.5.2 Microscopia Eletrônica de Transmissão 82 3.5.3 Discussão 92 3.6 Efeitos Práticos nos Sintomas Relacionados à Atrofia Vaginal 93 3.7 Novos Estudos 96 3.7.1 Primeiros Resultados Parciais 99 3.8 Referências Bibliográficas 103 8 1 1 2 3 8 0 2 2 3 3 PREFÁCIO O objetivo desta publicação é apresentar um tratamento novo e inovador para Atrofia Vaginal, uma condição disseminada na população feminina, especialmente na menopausa. Como qualquer ideia revolucionária, este método, denominado MonaLisa TouchTM, deve ser apresentado e explicado a todas as pessoas, incluindo profissionais de saúde, mídia e pacientes. É fácil de entender que a linguagem usada em uma publicação pode variar dependendo de quem vai lê-la. Devido à necessidade de produzir um documento de introdução único, destinado a um público variado, nós tentamos e encontramos um equilíbrio entre “clareza” e “exatidão”, usando a linguagem mais simples possível nos conceitos que são, às vezes, muito técnicos. Em caso de não sermos sempre bem sucedidos, fornecemos dois links onde os leitores podem encontrar informações mais específicas: 1. www.dekalaser.com – APPLICATIONS – V2LR Este é um site direcionado a profissionais de saúde, onde o tratamento MonaLisa TouchTM é inserido em um contexto mais amplo de Reshaping Vulvovaginal a Laser (V2LR): um novo campo de aplicação no aparelho urogenital feminino com tratamentos que melhoram o aspecto estético e permitem a prevenção e cuidados de muitos problemas que ocorrem durante a menopausa. 2. 1. www.monalisatouch.com Este é site é endereçado à mídia e pacientes, e contém seções claras e simples sobre o novo método MonaLisa TouchTM, com 10 vídeos e publicações sobre este tópico e a possibilidade de contatar um especialista para responder qualquer pergunta ou para obter esclarecimento adicional. Aqui é apresentada uma breve descrição dos diferentes capítulos, com a finalidade de orientar melhor o leitor no decorrer do livro: • O primeiro capítulo enfoca a Atrofia Vaginal a fim de entender sua natureza, sintomas e problemas relacionados. Também fornece informações sobre as opções de tratamento atualmente disponíveis. O objetivo deste capítulo é obter um entendimento mais claro do problema que pretendemos solucionar com o tratamento MonaLisa TouchTM. • O segundo capítulo enfoca a tecnologia laser. Na verdade, o método MonaLisa TouchTM é baseado no uso de um laser fracionado de CO2 especial com pulso dedicado. Portanto, achamos que seria interessante fornecer uma visão, embora simplificada, sobre esta ferramenta fascinante que agora é extensivamente usada na medicina, assim como em outros campos. • • Finalmente, o terceiro capítulo apresenta o tratamento MonaLisa TouchTM: o que é, como funciona e os resultados de estudos clínicos e histológicos realizados até o momento. Sem dúvida, o entendimento das imagens histológicas não é tão imediato para quem não é especialista. Porém, o que tentamos fazer é explicar, da maneira mais fácil possível, as conclusões que podemos tirar a partir dos resultados histológicos obtidos, deixando investigações mais profundas para publicações científicas. 11 Capítulo 1 Atrofia Vaginal: Mudanças que Afetam a Qualidade de Vida 1.1 INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é fornecer informações sobre os problemas associados com a atrofia vaginal, uma condição muito comum na população feminina, especialmente durante a menopausa. Porém, parece ser relativamente desconhecida e ignorada por médicos e pacientes. Antes de lidar com este tópico a partir de um ponto de vista médico, pode ser útil fornecer uma visão geral do cenário social e cultural atual no qual vivem mulheres na menopausa na Europa e América do Norte. Primeiramente, devemos melhor entender as mulheres na faixa dos cinquenta anos de idade. No início do século vinte, a expectativa de vida das mulheres coincidia com o final de seus anos férteis e mesmo aquelas que viviam mais após a menopausa apresentavam um declínio tanto nas suas funções biológicas quanto relações pessoais, o que as alienava da sociedade. Atualmente, mais de 95% das mulheres atingem a menopausa com uma expectativa de vida, no caso de uma mulher com 65 anos de idade, de 20 anos[1]. Mulheres entre as idades de 45 e 55 anos são responsáveis por 10% da população nos países ocidentais[2]. Naturalmente, elas são diferentes umas das outras, mas ainda compartilham características de mulheres que seguiram por um percurso similar. Estas são mulheres que entraram no mercado de trabalho 12 de uma maneira como nunca tinha acontecido nas gerações anteriores, acima de tudo, mulheres com diplomas de nível superior. Estas são as mulheres que puderam desfrutar de mudanças significativas, tais como a possibilidade do uso de contraceptivos; o direito ao divórcio; direito ao aborto; oportunidades iguais no mercado de trabalho e novas leis governando a vida da família. As mulheres desta geração têm desempenhado um papel ativo, tendo uma posição central na sociedade e desenvolvendo, ao mesmo tempo, uma forte capacidade de autocrítica que era desconhecida nas gerações anteriores. Esta é, portanto, uma geração de mulheres fortes que virtualmente possui mais ferramentas para encarar a segunda parte de suas vidas; mulheres que desejam mudar e que não são resignadas. É ainda uma geração ativa, parcialmente devido ao seu chamado e também devido às novas responsabilidades que agora têm que encarar. Na verdade, estas mulheres são denominadas a “geração sanduíche”, que cuida de seus pais idosos e, ao mesmo tempo, cuida de suas crianças. Muitas mulheres entre 45 e 55 anos de idade possuem pelo menos uma criança que dependa delas e pais idosos que necessitam de mais cuidado, ajuda e assistência[3]. Algumas delas também possuem netos para cuidar a fim de permitir que suas próprias filhas ou noras possam continuar a trabalhar. Eles frequentemente trabalham e, se possuem uma carreira neste estágio da vida, elas devem trabalhar ainda mais para garantir que não sejam facilmente substituídas pela geração mais jovem. Finalmente, esta geração de mulheres de 50 anos de idade está ciente de que ainda possuem muitos anos para viver que não são anos residuais ou marginais, mas anos a serem vividos na sua plenitude. Tendo em mente que a expectativa de vida após a menopausa é, em média, superior a 30 13 anos, é absolutamente crucial enfocar as necessidades das mulheres pós-menopausa. A sociedade, instituições e a mídia estão também cientes destas necessidades. Esta é a razão da saúde e qualidade de vida das mulheres na menopausa serem assuntos de preocupação crescente. 1.2 MENOPAUSA 1.2.1 Terminologia e Definições De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a menopausa natural é o final permanente da menstruação (amenorreia) resultante da perda de função ovariana, cujo diagnóstico é atingido retrospectivamente após 12 meses consecutivos de amenorreia que não possua nenhuma outra causa psicológica ou patológica. A idade da menopausa muda de mulher para mulher, mas a idade média é de aproximadamente 50 anos em todo o mundo. A menopausa prematura ou precoce é a menopausa que ocorre antes da idade de 40 anos (OMS) e que pode ser natural ou induzida. Os sintomas associados a esta são aqueles causados por níveis reduzidos de estrógeno. A menopausa induzida é o final da menstruação após remoção cirúrgica de um ou ambos os ovários (com ou sem histerectomia, que é a remoção do útero) ou supressão induzida por fármacos da função ovariana (quimioterapia, radiações, drogas anticâncer tais como Tamoxifeno) (OMS). O termo pós-menopausa refere-se a um período que segue as últimas menstruações, independentemente se a menopausa é natural ou induzida (OMS). O termo perimenopausa refere-se a um período precedendo 14 a menopausa até o primeiro ano após o último período menstrual (OMS). À lista de definições estabelecida e reconhecida internacionalmente pela OMS em 1990, a Sociedade Internacional de Menopausa (IMS) adicionou, em 1993, o termo climatério, que define a fase na vida de uma mulher que precede e segue, por um período variável de tempo, a transição entre os anos reprodutivos e não reprodutivos, portanto, incluindo perimenopausa e incluindo um período mais longo tanto antes quanto após a perimenopausa. 1.2.2 Início, Duração, Sintomas A menopausa está associada a várias mudanças que, virtualmente, envolvem todos os órgãos e aparelhos do corpo feminino. As alterações no sistema endócrino que caracterizam a perimenopausa geralmente resultam em uma alteração na frequência e quantidade de sangramento menstrual. Aproximadamente 90% das mulheres antes da menopausa apresentam distúrbios menstruais que podem durar de 4 a 8 anos[4]. Após o último período menstrual, os sintomas mais comuns que seguem a irregularidade menstrual na perimenopausa são sintomas vasomotores, que são típicos da redução dos níveis de estrógeno (ondas de calor, sudorese noturna), e distúrbios associados do sono. Estes são também considerados sintomas de curta duração, pois geralmente desaparecem quando a produção de estrógeno para. Estima-se que 85% das mulheres apresentem sintomas vasomotores[4]. Mais tarde, na fase pós-menopausa, outros sintomas podem também aparecer, tais como distúrbios urogenitais (irritação da vagina com prurido e 15 ardor, ressecamento e dispareunia resultantes da atrofia vulvovaginal; distúrbios na urinação causados por atrofia uretral), que são considerados como sintomas de médio prazo que podem piorar com o decorrer do tempo, diferentemente de sintomas vasomotores, que, por outro lado, tendem a desaparecer completamente. 1.3 ATROFIA VAGINAL A perda de produção de estrógeno nos ovários está associada ao início da atrofia vaginal. O trato genital é, na verdade, particularmente sensível ao declínio nos níveis de estrógeno, e aproximadamente metade das mulheres pós-menopausa apresentam os sintomas típicos da atrofia vaginal que afetam profundamente sua função sexual e qualidade de vida. Enquanto as desaparecem associados à pioram e, na direcionado. ondas de calor e sudorese noturna naturalmente com o tempo, os sintomas atrofia vaginal e uretral frequentemente maioria dos casos, requerem tratamento A manifestação clínica da atrofia vaginal geralmente ocorre 4 a 5 anos após a menopausa e 25-50% das mulheres pós-menopausa apresentam alterações objetivas, assim como sintomas individuais[5]. As pacientes nem sempre informam seus médicos sobre o início destes sintomas. Portanto, a porcentagem de incidência mencionada acima está, sem sombra de dúvida, subestimada. A atrofia vaginal pode ocorrer tanto como consequência da menopausa natural quanto da menopausa induzida, assim como de condições médicas que requerem radioterapia pélvica ou quimioterapia, com subsequente alteração da função ovariana. 16 A saúde vaginal da mulher europeia pós-menopausa (entre 45 e 59 anos de idade) foi estudada na estrutura de uma pesquisa europeia de grande escala[6] conduzida com 4201 mulheres com o objetivo de coletar informações sobre ideias, percepções e atitudes que as mulheres adotam em relação à menopausa e, de um modo mais geral, sobre opções de tratamento disponíveis para sintomas da menopausa. A pesquisa revelou que as mulheres europeias deveriam receber mais informações sobre as implicações que a atrofia vaginal tem na sua qualidade de vida. Uma pesquisa conduzida na América do Norte mostra que, apesar da prevalência e diversificação de sintomas associados à atrofia urogenital, somente 25% das mulheres que apresentam estes sintomas informam seu médico sobre estes problemas, e 70% das mulheres disseram que seu médico raramente ou nunca pergunta a elas sobre problemas como ressecamento vaginal[7]. Por outro lado, pacientes e médicos aparentemente tendem a atribuir estes sintomas ao processo de envelhecimento natural e inevitável. Este estudo mostra claramente que, embora as mulheres estejam bem cientes da relação entre as ondas de calor e a redução nos níveis de estrógeno, elas não associam este último a distúrbios vaginais. Dados relacionados a problemas vaginais na mulher pósmenopausa em outras partes do mundo são subestimados. É bem conhecido que em muitos países da Ásia, tais como na Índia, e Oriente Médio, fatores psicológicos, culturais e tabus religiosos que rodeiam a vida sexual e outros tópicos relacionados impedem que as mulheres, principalmente aquelas das classes socioeconômicos mais baixas, conversem sobre ressecamento vaginal e tópicos relacionados ao sexo com profissionais de saúde, mesmo em caso de disfunção sexual. Porém, se por um lado, a maioria destas mulheres é reticente sobre seus problemas 17 sexuais, ao mesmo tempo elas se sentem aliviadas se seus médicos começam a falar sobre isso e oferecem ajuda[5]. A situação das mulheres na África subsaariana é totalmente diferente. Sua expectativa de vida no nascimento é de somente 55 anos. Se levarmos em consideração a disseminação de HIV/AIDS e outros problemas de saúde, podemos facilmente entender o porquê da atrofia vaginal não ser uma prioridade de saúde nestes países[5]. Na América do Sul, existe um preconceito cultural muito negativo contra a menopausa, que é associada não somente ao envelhecimento, mas também com a perda da feminilidade. Pesquisas mostram que a atrofia vaginal é também uma característica muito significativa dos sintomas da menopausa[8], [9] que altera a função sexual e afeta a qualidade de vida. O declínio nos níveis de estrógeno associados à menopausa está intimamente ligado a: • Alterações morfológicas do epitélio da mucosa vaginal; • Redução do fluxo sanguíneo e da secreção vaginal (ressecamento vaginal); • Redução de lactobacilos vaginais e aumento nos níveis de pH vaginal. É necessário examinar todas estas alterações mais de perto, a fim de obter um melhor entendimento deste problema. 1.3.1 Alteração do Epitélio da Mucosa Vaginal O epitélio da mucosa vaginal possui uma função muito importante, pois este protege a mucosa contra a fricção mecânica durante a relação sexual. Quando os níveis de estrógeno começam a reduzir, o 18 Figura 1.1 – Preparação histológica da mucosa vaginal corada com hematoxilina e eosina (H&R). (A): Mucosa vaginal pós-menopausa com atrofia causada pelos níveis reduzidos de estrógeno com presença reduzida de vasos e um epitélio significativamente mais fino e com falta de glicogênio. (B): Mucosa vaginal na idade reprodutiva; a mucosa é bem suprida de vasos e o epitélio consiste em um número maior de camadas de células, particularmente ricas em glicogênio [Cortesia do Prof. A. Calligaro – Universidade de Pavia]. epitélio fica mais fino e se torna mais suscetível ao trauma (Figura 1.1). A redução de colágeno no tecido conectivo da mucosa vaginal, cujo papel é sustentar o epitélio tanto estruturalmente quanto funcionalmente, causa a perda de rugosidade vaginal. O adelgaçamento do epitélio e perda das rugas vaginais geralmente ocorrem 2 – 3 anos após o início da menopausa[5]. 1.3.2 Ressecamento Vaginal A atrofia vaginal é um dos principais fatores que influenciam a função sexual, com efeitos significativos na qualidade de vida de uma mulher. É relativamente fácil entender o quão importante é a saúde vaginal para a saúde sexual. Os estrógenos modulam os 19 processos hemodinâmicos da resposta sexual; portanto, devido aos níveis de estrógeno reduzidos, as mulheres na menopausa frequentemente apresentam ressecamento vaginal e, se forem sexualmente ativas, elas podem também apresentar distúrbios tais como relações sexuais com dor (dispareunia). Durante a atividade sexual, a mulher pode apresentar sensações genitais, vasocongestão e lubrificação alteradas, que, por sua vez, podem causar outros sintomas tais como baixo desejo sexual, baixa excitabilidade, ausência de orgasmo e, consequentemente, satisfação sexual reduzida. Também, a saúde do trato urinário está intimamente ligada a sintomas vaginais, acima de tudo na ausência de estrógeno. Sintomas no trato urinário, tais como urinação mais frequente, principalmente à noite (noctúria), urgência urinária, urinação dolorida (disúria), incontinência urinária e infecções pós-coito são mais comuns quando existe um certo grau de atrofia vaginal. Portanto, mesmo se o ressecamento vaginal na mulher na menopausa não estiver necessariamente associado à atividade sexual, mulheres sexualmente ativas são aquelas que mais frequentemente relatam este problema precisamente devido à dor que elas sentem durante relação sexual. 1.3.3 Redução nos Lactobacilos Vaginais e Aumento no Nível de pH Vaginal A vagina é colonizada por uma variedade de bactérias que formam a flora vaginal, a qual cria uma barreira protetora que atua contra a proliferação de diferentes infecções. Entre as bactérias que compõem a flora vaginal, a presença 20 Maturidade gravidez sexual Pósmenopausa Estrógenos Epitélio da mucosa Glicogênio pH População de micro-organismos lactobacilos mista Figura 1.2 – Ambiente vaginal em mulheres de diferentes idades e condições fisiológicas. de Lactobacilos é muito importante, pois estes produzem ácido láctico e mantêm um pH vaginal ácido (com níveis de estrógeno adequados, o pH da vagina está normalmente ao redor de 3,5 – 5,0), criando, portanto, um ambiente hostil que previne o crescimento de micro-organismos patogênicos. Esta barreira mantém a saúde vaginal apropriada. Quando os níveis de estrógeno caem devido à menopausa, os Lactobacilos reduzem na área vaginal e o valor de pH aumenta até 6,0 – 8,0, e desta forma, os níveis ácidos mais baixos facilitam o crescimento de patógenos, tais como leveduras e bactérias[5]. Este pH é também responsável por odor vaginal desagradável. 21 1.3.4 Tratamentos e Terapias Frequentemente temos a impressão de que os sintomas, distúrbios e problemas relacionados à menopausa acabaram de ser descobertos. A verdade é que eles sempre existiram, embora não se fale muito sobre eles. Como previamente dito, os sintomas mais comuns de atrofia vaginal incluem ressecamento (estimado em 75%), dispareunia (estimado em 38%) e sensação de ardor, corrimento e dor (estimado em 15%)[15]. Os princípios da terapia em mulheres com atrofia vaginal estabelecida são os seguintes: • Regeneração Genital A redução dos níveis de estrógeno em mulheres pós-menopausa resulta no afinamento gradual do epitélio vaginal, e a justificativa para o tratamento de atrofia vaginal tem como alvo restaurar as condições fisiológicas normais destes tecidos. • Alívio dos sintomas A regeneração genital leva ao desaparecimento de muitos sintomas de desconforto vaginal, tais como ressecamento, dispareunia superficial e profunda, hemorragia vaginal, inflamação e corrimento. Os parágrafos a seguir apresentam as opções de tratamento de atrofia vaginal mais comumente usados. 22 Idade Média: Soluções para Eliminar o Humor Comprometido • Ervas que estimulam o fluxo menstrual (emenagogos); • Sanguessugas aplicadas sobre os lábios; • Drogas laxantes; • Drogas vesicantes. No século 19, remédios foram desenvolvidos para o que era considerado como um “inferno feminino”. Tilt sugeriu o uso de ópio e cannabis, e mais tarde, brometo para aquietar o sistema nervoso e “... para prevenir que as mulheres bebessem álcool: mulheres pobres de beber porto e gim e mulheres ricas de beber vinho e conhaque...” Em 1886, os sintomas da menopausa foram claramente associados com função ovariana reduzida, o que levou ao desenvolvimento de terapias hormonais específicas. Início do século 20: • Eletrochoque (Fritch, 1906), Radioterapia (Pals, 1923); • Enxerto ovariano (Foà, 1900), Transplante de ovários (Pala, 1910); • Extratos secos de ovário de ovelha (Gelst & Spielman, 1932); • Shakes de placenta (para beber?); • Hiperdermoclise com urina de mulheres grávidas. Tab. 1.1 - Diferentes tratamentos da menopausa usados no passado[10]. 23 1.3.4.1 Tratamentos com Terapias Não Hormonais, Lubrificação e Reidratação Lubrificantes e terapias não hormonais para o tratamento de atrofia vaginal consistem principalmente em uma combinação de agentes de proteção solúveis e substâncias não hormonais que estimulam o epitélio. Lubrificantes são principalmente usados para reduzir o ressecamento vaginal durante a relação sexual e, portanto, não representam uma solução em longo prazo. Enquanto lubrificantes à base de óleo nunca devam ser usados com preservativos de látex, pois estes pode rompê-los, lubrificantes à base de água podem ser usados com segurança, embora, em algumas mulheres, eles causem dor com ardor devido ao álcool e uso de conservantes. Óleos e cremes naturais podem ajudar, mas, às vezes, eles também podem causar dermatite de contato, desta forma aumentando o prurido e desconforto. Substâncias hidratantes são materiais poliméricos complexos que atuam como bioadesivos que se aderem às células epiteliais da parede vaginal e às mucinas retendo água, e são geralmente eliminadas pela reciclagem celular epitelial. Dados sugerem que agentes hidratantes e outras substâncias podem ter um efeito duradouro se usados regularmente. Porém, estudos controlados publicados até o momento mostram que a eficácia destas terapias nos sintomas vaginais é mais baixa em comparação à terapia com estrógeno local. Opções de tratamento não hormonal são especialmente adequadas para mulheres que desejam evitar a terapia hormonal ou para mulheres que possuam um histórico de câncer sensível a hormônio, tais como câncer de mama ou endometrial. 24 A maioria dos lubrificantes e agentes hidratantes pode ser comprada sem prescrição médica, mas podem ser relativamente caros. 1.3.4.2 Preparações à Base de Fitoestrógenos Fitoestrógenos são moléculas não-esteroidais encontradas em plantas que se ligam a receptores de estrógeno. Soja e trevo vermelho são as fontes naturais primárias destas moléculas. Dados encontrados na literatura mostram que os fitoestrógenos possuem um efeito benéfico no trato urogenital. Porém, devemos lembrar que estas preparações não são realmente substâncias não hormonais e possuem efeitos estrogênicos. A segurança de fitoestrógenos ainda não foi demonstrada. Na verdade, resultados de pesquisa epidemiológica sobre a ingestão de fitoestrógenos pelos alimentos não podem ser considerados completamente confiáveis. O uso de fitoestrógenos como suplemento nutricional implica uma maior ingestão em comparação à dieta diária da população em países ocidentais. Também, um conhecimento profundo das propriedades farmacocinéticas de fitoestrógenos é crucial antes de investigá-los em estudos clínicos longos e, no momento, a farmacocinética dos fitoestrógenos é ainda desconhecida. O nível de ingestão de fitoestrógenos varia de pessoa a pessoa e, mesmo na mesma pessoa, dependendo de sua dieta, variam com o uso de antibióticos ou presença de distúrbios intestinais. Fitoestrógenos in vivo podem também levar a uma resposta antiestrógeno, desta forma reduzindo os estrógenos circulantes livres na corrente sanguínea. Finalmente, temos de manter em mente que as ações semelhantes a hormônios destas moléculas não são 25 limitadas a estrógenos, mas também se relacionam a andrógenos, pois causam uma reação antiandrógenos e hormônios da tiroide. Os efeitos antitiroide podem resultar em insuficiência da glândula tiroide, especialmente em situações onde o iodo seja baixo. O balanço risco/benefício dos fitoestrógenos em relação ao câncer de mama é um dos tópicos mais amplamente discutidos. Estudos clínicos conduzidos até o momento sobre este assunto não são conclusivos e pesquisas adicionais são necessárias para identificar os efeitos de fitoestrógenos no risco de câncer de mama. Como os fitoestrógenos são considerados “suplementos nutricionais”, sua colocação no mercado não está sujeita a controles de qualidade, eficácia e tolerabilidade que regulam novos medicamentos. Dados clínicos sobre o uso de fitoestrógenos em mulheres na menopausa não fornecem evidências sobre sua eficácia e segurança. 1.3.4.3 Terapia de Reposição Hormonal Vários estudos mostram a eficácia da terapia de reposição hormonal (TRH) no tratamento da atrofia vaginal. Porém, a eficácia desta terapia é limitada ao período de tratamento e não possui o denominado “efeito de memória” das terapias hormonais. No parágrafo a seguir, fornecemos uma visão geral da disseminação e uso de TRH desde sua origem até o presente, a fim de melhor entender as orientações recomendadas para o uso correto desta terapia, principalmente em relação ao balanço risco/benefício. Mas primeiro temos que descrever brevemente os tipos de hormônios envolvidos na TRH, que podem ser divididos em estrógenos e progestinas. 26 Estrógenos são os hormônios femininos primários secretados principalmente pelos folículos ovarianos. Estrógenos são hormônios esteroides que recebem seu nome a partir do ciclo estral, e estão presentes em ambos os sexos, embora, em mulheres com idade reprodutiva, eles atinjam níveis séricos mais altos em comparação aos homens. Os estrógenos são também responsáveis pelo desenvolvimento de características sexuais femininas secundárias, tais com aumento de mamas e alargamento dos quadris, e estão envolvidos na proliferação endometrial, assim como em diferentes fenômenos ligados ao ciclo menstrual. A progesterona é um dos hormônios naturais mais comuns e é principalmente produzido pelo corpo feminino. Progestinas são substâncias substitutas que possuem propriedades similares à progesterona natural, mas que são obtidas por síntese. Tanto a progesterona quanto progestinas são usadas em diferentes campos, tais como na pílula anticoncepcional e terapia de reposição hormonal, e são geralmente combinadas com estrógenos de forma a reduzir a incidência de câncer endometrial em pacientes com útero tratadas somente com estrógenos. Na literatura científica, o tempo Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é geralmente usado para se referir à administração de estrógenos, seja isoladamente ou junto com progestinas, em mulheres pós-menopausa a fim de compensar níveis reduzidos de estrógeno como consequência de função ovariana reduzida. O uso da terapia com estrógeno e, mais tarde, da terapia com estrógeno-progestina, começou a aumentar nos anos setenta. Em 1980-90, os primeiros estudos observacionais (erroneamente) mostraram o papel benéfico dos estrógenos, administrado a mulheres na menopausa, na 27 prevenção de doenças cardiovasculares. Similarmente, uma melhora foi detectada também no tratamento de osteoporose. Desta forma, o papel de estrógenos mudou de ser puramente terapêutico para preventivo, não somente para eliminar distúrbios relacionados à menopausa, mas também para prevenir o desfecho negativo de outras condições que levam à doença, tais como doença cardiovascular ou osteoporose. Com este objetivo em mente, os estrógenos foram usados em uma maior parte da população, principalmente nos EUA, com um uso massivo e prolongado de terapia hormonal em mulheres na menopausa. Women’s Health Initiative No início dos anos noventa, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos iniciou um estudo de prevenção primária de longa duração com o objetivo de identificar estratégias que poderiam prevenir doença cardíaca coronariana, câncer de mama, câncer colorretal e fraturas em mulheres pósmenopausa aparentemente saudáveis. Este estudo é conhecido como Women’s Health Initiative (WHI). O WHI consiste em um estudo observacional, assim como vários estudos clínicos, dois dos quais focados no uso de TRH em mulheres com e sem útero. Estes dois últimos estudos foram realizados precisamente para avaliar os riscos e benefícios daTRH, como era esperado pelas evidências coletadas até então, particularmente em relação à redução de fraturas osteoporóticas e também pela redução de 35% do risco de doença cardíaca coronariana. O procedimento de recrutamento para estes dois estudos clínicos duplo-cegos durou aproximadamente 5 anos – de 1993 a 1998 – e envolveu 40 centros nos Estados Unidos, de forma a incluir 16.608 mulher com útero no primeiro estudo e 10.739 mulheres sem útero no segundo estudo, 28 com idade entre 50 e 79 anos, designadas aleatoriamente para receber ou o tratamento ou um placebo. Em julho de 2002, o estudo WHI sobre o uso de TRH em mulheres com útero foi interrompido após um acompanhamento de cinco anos, embora originalmente deveria durar 8 anos, pois os riscos se sobrepuseram aos benefícios. Mulheres que receberam terapia de reposição hormonal apresentaram um risco aumentado de desenvolver câncer de mama (26%), doença cardíaca coronariana (29%), derrame (41%) e tromboembolia venosa (113% embolia pulmonar e 107% trombose de veia profunda). Os benefícios incluíram uma redução em fraturas induzidas por osteoporose (-34%) e no câncer de cólon (-37%)[11]. O WHI é o primeiro estudo randomizado controlado por placebo que corrobora e quantifica um risco aumentado de câncer de mama. Também, os resultados do WHI claramente mostram que os dados apresentados por estudos observacionais sobre a prevenção da doença cardíaca coronariana estavam incorretos. Em fevereiro de 2004, o estudo em mulheres que tinham sido submetidas à histerectomia foi também interrompido após quase sete anos de observação cuidadosa, pois mulheres tratadas com estrógenos apresentaram risco de apresentar derrames similar ao detectado no estudo conduzido em mulheres com útero que também tomavam progestina (39% de aumento de risco), embora não tenha havido um aumento no risco de doença cardíaca coronariana (9% de redução de risco) ou câncer de mama (23% de redução de risco)[11]. De modo geral, os resultados obtidos a partir do uso da terapia com estrógenos somente são melhores que aqueles atingidos com o tratamento com estrógeno- 29 progestina. Portanto, o efeito de piora parece ser devido ao uso de progestinas. Porém, não é possível eliminar o uso de progestinas em mulheres com útero, devido à alta incidência de câncer endometrial em terapias que usam somente estrógenos. É necessário apontar que é ainda desconhecido o efeito em longo prazo, também dos estrógenos somente, sobre o risco de câncer de mama. Após os resultados do WHI e de outros estudos similares, em dezembro de 2003 a Agência Europeia de Avaliação de Produtos Medicinais (EMES) declarou que: • O balanço risco/benefício do TRH no tratamento dos sintomas da menopausa que afetam de forma negativa a qualidade de vida é positivo. Porém, a dose efetiva mínima deverá ser administrada pelo menor tempo possível. • TRH não pode ser considerada a medicação de primeira escolha para a prevenção de osteoporose e fraturas; • O balanço risco/benefício de TRH em mulheres saudáveis sem sintomas de menopausa é geralmente desfavorável. Também, o FDA (Food and Drug Administration) já tinha se movido na mesma direção em janeiro de 2003, com a aprovação de novas instruções para medicações contendo estrógenos com ou sem progestinas. As novas indicações terapêuticas são as seguintes: • Para o tratamento de sintomas vasomotores moderados ou severos, tais como ondas de calor; • Para sintomas severos ou moderados causados por 30 atrofia vulvovaginal (tais como ressecamento e irritação). Se estes sintomas forem a única razão para usar TRH, pode ser prudente considerar tratamento local; • Para a prevenção de osteoporose pós-menopausa. Se esta for a única razão para usar TRH, pode ser prudente considerar terapia sem estrógeno e usar TRH somente para mulheres cujo risco de desenvolver osteoporose se sobreponha aos riscos da terapia. Em relação à atrofia urogenital, é necessário apontar que 10 – 25% das mulheres que usam TRH apresentam os mesmos sintomas, desta forma não recebendo nenhum benefício da terapia sistêmica. Estes dados, juntamente com as preocupações sobre a segurança da TRH, explicam porque a terapia sistêmica não é usualmente recomendada para mulheres que somente apresentem sintomas relacionados à atrofia vaginal. 1.3.4.4 Tibolona A tibolona é, às vezes, usada como uma alternativa à TRH. A Tibolona é um hormônio esteroidal sintético, cujo efeito depende de seu metabolismo e da ativação de tecidos periféricos, adquirindo propriedades similares aos estrógenos, progestinas e andrógenos. Possui efeitos semelhantes ao estrógeno nos sintomas vasomotores e humor sem estimular o endométrio, no qual este possui um efeito progestogênico. Portanto, este atua como uma terapia de posição hormonal combinada contínua. Apesar de sua ação positiva nos diferentes sintomas, a Tibolona não é efetiva para todas as mulheres na menopausa. Como na TRH, é efetiva no tratamento de osteoporose e, embora aumente o risco de câncer de mama, não parece haver nenhum aumento no risco de doenças cardíacas coronarianas. 31 1.3.4.5 Terapia Local ou Transdérmica com Estrógeno No tratamento de atrofia vaginal, a terapia local com estrógeno deve ser selecionada quando a terapia sistêmica não for necessária por outras razões. A terapia local evita a maioria dos efeitos adversos sistêmicos e é provável de ser mais efetiva no tratamento de problemas vaginais. O uso apropriado de terapia local com estrógeno não requer a adição de progestinas para proteção endometrial. Uma revisão da literatura, conduzida em 2009 sobre o uso local de estrógenos mostrou que nenhum estudo documentou a proliferação endometrial após 6 – 24 meses de uso[12]. Portanto, a literatura confirma que tratamentos à base de estrógeno com baixa dose são seguros e não precisam ser usados junto com progestinas. Porém, não existe nenhum dado disponível sobre tratamentos usados por mais que um ano. Na prática clínica, a dose mínima efetiva deverá ser usada garantindo que os pacientes não usem o produto selecionado mais frequentemente que o recomendado. Porém, pode haver casos onde uma paciente necessite de doses mais frequentes para obter os resultados satisfatórios. Os médicos devem estar cientes do fato de que existem poucas evidências sobre a segurança de qualquer produto vaginal após um ano de uso e, consequentemente, as pacientes devem ser informadas que, no evento de uma hemorragia vaginal inesperada, elas devem imediatamente ser submetidas aos exames necessários. Embora os efeitos benéficos da terapia local com estrógeno na prevenção de atrofia vaginal e de sintomas relacionados sejam bem conhecidos, este tratamento não é recomendado para mulheres que apresentem hemorragia vaginal/uterina de causa desconhecida ou para mulheres 32 com câncer endometrial conhecido/suspeito, assim como para mulheres que não confiem em terapias hormonais. No momento, não existe nenhuma orientação relacionada à duração da terapia. A única recomendação refere-se ao fato de que se a terapia for usada durante um período longo de tempo, uma baixa dose deve ser administrada. Mulheres quase sempre apresentam um alívio significativo do sintoma após aproximadamente 3 semanas de tratamento, embora algumas mulheres necessitam de 4 – 6 semanas até que uma melhora adequada possa ser documentada[5]. Surpreendentemente, na literatura existem poucos dados sobre o uso de terapias locais com estrógeno por mais de seis meses, embora seja bem conhecido que os sintomas tendem a reaparecer logo após o final do tratamento. Isto é devido ao fato da maioria das preparações para esta terapia ser geralmente vendida com uma licença de 3 – 6 meses para uso contínuo[5]. Também, existe uma preocupação crescente com a possibilidade de um uso mais longo poder resultar em distúrbios no endométrio. Eventos adversos graves são relativamente incomuns. Porém, qualquer preparação pode ter efeitos adversos moderados e causar irritação vaginal ou prurido, hemorragia e corrimento, dor pélvica, dor nas mamas e parestesia. Os efeitos potenciais da terapia local com estrógeno como causa de hiperplasia endometrial já foram discutidos. De acordo com todos os estudos conduzidos, não existe nenhuma evidência de um aumento no risco de tromboembolia ou desenvolvimento de doença metastática em mulheres com câncer de mama que usam comprimidos vaginais para tratar os sintomas. Geralmente, a atrofia vaginal é o resultado do tratamento de muitos cânceres ginecológicos e de câncer de mama 33 que são, entre outras coisas, cânceres sensíveis a hormônios. O carcinoma de célula escamosa do cérvix não é responsivo a hormônio, mas radioterapia local pode reduzir o número de receptores de estrógeno e, portanto, a resposta à terapia local com estrógeno. Existe uma falta de dados sobre o uso de estrógenos vaginais em mulheres com cânceres ginecológicos sensíveis a hormônios. No caso de mulheres com câncer de mama, terapias não hormonais devem ser preferidas, embora possam ser ineficazes. 1.4 CONCLUSÕES A atrofia vaginal pós-menopausa é a causa comum de sintomas desagradáveis que são o resultado dos níveis reduzidos de estrógeno, mas é subestimada tanto por médicos quando pacientes que são frequentemente relutantes em conversar sobre isto durante uma avaliação médica. A terapia deve iniciar logo após a ocorrência das alterações vaginais, portanto, antes do início da atrofia vaginal. Profissionais de saúde devem rotineiramente abrir um debate aberto e amplo sobre a saúde urogenital incluindo a mulher pós-menopausa, a fim de detectar a tempo a atrofia sintomática e então ser capaz de tratá-la adequadamente. 1.5 REFERÊNCIAS 1. PRB 2011 World Population Data Sheet Population Reference Bureau. 2. International Programs. United States Census Bureau International Data Base. Data relative to 2011. http://www.census.gov/population/ international/data/idb/region.php. 34 3. Medical recommendations for woman in menopause. Chapter 3 - The new fifty-year-old woman. By Age.Na.S., September 2005. 4. Medical recommendations for woman in menopause. Chapter 5 - Symptoms. By Age.Na.S., September 2005. 5. Sturdee DW, Panay N et al. Recommendations for the Management of Postmenopausal Vaginal Atrophy. International Menopause Society, October 2010. 6. Genazzani AR, Schneider HPG, Panay N, Nijland EA. The European Menopause Survey 2005: Womens perceptions on the menopause and postmenopause hormone therapy. Gynecol Endocrinol 2006;22:369–75. 7. Simon JA, Komi J. Vulvovaginal atrophy negatively impacts sexual function, psychosocial well-being, and partner relationships. Poster presented at North American Menopause Association Annual Meeting; October 3–6, 2007, Dallas, Texas. 8. Blümel JE, Chedraui P, Baron G, et al. Collaborative Group for Research of the Climacteric in Latin America (REDLINC). Sexual dysfunction in middle-aged women: a multicenter Latin American study using the Female Sexual Function Index. Menopause 2009;16:1139–48. 9. Castelo-Branco C, Palacios S, Mostajo D, et al. Menopausal transition in Movima women, a Bolivian native-American. Maturitas 2005;51:380–5. 10. Medical recommendations for woman in menopause. Introduction. By Age.Na.S., September 2005. 11. Medical recommendations for woman in menopause. Chapter 2 - The Women’s Health Initiative study. By Age.Na.S., September 2005. 12. Al-Baghdadi O, Ewies AAA. Topical estrogen therapy in the management of postmenopausal vaginal atrophy: an up-to-date overview. Climacteric 2009;12:91–105. 35 Capítulo 2 Laser: A Luz na Medicina 2.1 PREFÁCIO Este capítulo é uma introdução aos lasers, com o objetivo de fornecer informações a qualquer pessoa que deseje saber mais sobre estas ferramentas, sua aplicação nos diferentes campos, seus princípios de operação e o que acontece quando o feixe de laser e o tecido biológico interagem. Desde sua descoberta em 1960, o laser capturou a atenção de toda a comunidade científica. É seguro dizer que durante os anos, qualquer campo tecnológico ou científico foi profundamente influenciado por esta investigação revolucionária. Isto é devido ao fato da luz laser possuir propriedades únicas (coerência, brilho, monocromaticidade e direcionalidade) que a tornam diferente de qualquer outra fonte de radiação eletromagnética, seja presente na natureza ou gerada pelo homem. 2.2 VISÃO GERAL HISTÓRICA Embora o acrônimo LASER (Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação – do inglês Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation) seja um sinônimo de modernidade e tecnologia do futuro, em 1916[1] Albert Einstein introduziu o conceito de emissão estimulada – que é o princípio de operação primária do laser – por razões de balanço de energia. Porém, somente em 1960, T.H.Maiman operou o primeiro laser operante (o Laser de Rubi)[2]. Após alguns poucos meses, PP. Sorokin e M.J. Stevenon apresentaram os 36 lasers de Urânio e Samário[3] (ambos não mais usados) e, em dezembro do mesmo ano, A. Javan e seus colaboradores anunciaram a descoberta do laser de HélioNeon, que foi o primeiro laser de gás de onda contínua[4]. O que aconteceu na segunda metade de 1960 causou muita excitação na comunidade científica e muitos outros pesquisadores começaram a enfocar neste campo. Os resultados corresponderam às expectativas: os primeiros lasers semicondutores são de 1962[5], enquanto que lasers dopados com Neodímio[6], CO2[7] e Argônio[8] são de 1964. Lasers foram usados pela primeira vez na medicina para tratar distúrbios oculares e, em 1962, L. Goldman usou o laser em dermatologia[9] (Goldman foi capaz de reconhecer o potencial minimamente invasivo da luz laser em cirurgia). G.J Jako usou um laser de CO2 com microscópio para cirurgia de cordas vocais[10]. Com o decorrer dos anos, descobertas começaram a surgir na velocidade da luz, permitindo a transição do desenvolvimento dos poucos protótipos para a industrialização de dispositivos que agora são muito populares, graças à grande variedade de aplicações. O trabalho de Anderson e Parrish, que introduziu em 1983 o conceito de fototermólise seletiva, alavancando o desenvolvimento, no início dos anos noventa, dos primeiros lasers pulsados e sistemas de varredura laser[11], é particularmente digno de nota. 2.3 PRINCÍPIOS DE OPERAÇÃO Como o próprio nome sugere (acrônimo do termo em inglês Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação), o laser é um amplificador de luz que utiliza a emissão estimulada de radiações. O termo “luz” aqui requer um significado mais amplo do que é geralmente referido como espectro visível; na verdade, a palavra “luz” 37 é a radiação eletromagnética desde o infravermelho até ultravioleta. Os lasers geralmente consistem em uma cavidade laser ou ressonador óptico laser, meio ativo e sistema de bombeamento (Figura 2.1). Amplificador Optico Meio Ativo Espelho Refletor Alto Feixa de Laser Acoplador de Saida Sistema de Bombeamento Figura 2.1 – Distribuição geral de um dispositivo laser O meio ativo é o elemento dentro do qual a amplificação da luz ocorre. O sistema de bombeamento fornece energia ao meio ativo que é uma coleção de partículas – átomos, íons e moléculas – em um estado excitado. Devido aos princípios básicos de física, cada partícula individual tende a retornar para um estado basal emitindo um quantum individual de luz, que é um fóton. Sob condições adequadas, é possível “estimular” este processo de emissão que permite a amplificação da radiação incidente. Dentro do meio ativo, a emissão estimulada pode somente ocorrer em um comprimento de onda específico que é característico da absorção e desexcitação de átomos (ou de moléculas ou íons) que o formam. A cavidade laser no qual o meio ativo está localizado gera um retorno óptico. O ressonador óptico consiste em dois espelhos paralelos, um altamente refletivo e outro parcialmente refletivo. Somente a 38 radiação que se propaga em uma direção perpendicular aos espelhos é amplificada. Portanto, a luz laser que vaza através do espelho parcialmente refletivo é altamente direcional. Esta direcionalidade alta torna possível enviar um feixe de laser à lua e receber um reflexo na Terra. 2.4 CARACTERÍSTICAS DO FEIXE DE LASER Além da capacidade de direcionamento mencionada acima, os feixes de laser possuem outras características que os distinguem de qualquer fonte de radiação eletromagnética: monocromaticidade, coerência e brilho. Nos parágrafos a seguir, nós examinamos mais detalhadamente estas características. • Monocromaticidade: significa que o feixe de laser consiste em ondas eletromagnéticas com a mesma frequência. Embora teoricamente isto possa ser verdadeiro, não é possível na prática. Na verdade, o feixe de laser consiste em vários comprimentos de onda muito próximos uns dos outros, que podemos dizer que estão localizados em uma banda extremamente estreita. Isto é porque nós falamos em monocromaticidade, acima de tudo em comparação com as radiações emitidas a partir de qualquer outra fonte. Para entender as propriedades interativas dos lasers com tecidos biológicos, podemos considerar a radiação como totalmente monocromática. • Coerência: esta característica está muito ligada à emissão estimulada e, de acordo com isto, os fótons possuem uma relação de fase um com o outro. Existem dois tipos de coerência: espacial e temporal. A coerência espacial significa que a diferença de fase permanece a mesma em qualquer lugar na frente da 39 onda, enquanto que a coerência temporal significa que a diferença de fase permanece a mesma em todos os momentos. Este último conceito está intimamente associado à cromaticidade. • Direcionalidade: como já vimos na seção anterior, esta propriedade depende da estrutura da cavidade laser que permite a propagação somente de feixes de laser que sejam perpendiculares aos espelhos paralelos que formam o ressonador óptico. A direcionalidade também explica porque o feixe laser possui um ângulo de divergência particularmente limitado. • Brilho: Esta á a característica primária dos feixes de laser e explica suas numerosas aplicações. O brilho de uma fonte de luz é definido como a potência emitida por unidade de área de superfície e unidade de ângulo sólido. Os lasers possuem um nível de brilho (geralmente um a um milhão) muito maior que as fontes de luz convencional. Isto não é somente devido à potência emitida, mas à baixa divergência do feixe. O alto brilho permite a geração de densidade de energia capaz de transformar em um estado gasoso (para sublimar) ou fundir os mais rígidos metais e materiais refratários. Estas características explicam a diferença entre a luz solar ou luz emitida por uma lâmpada normal usada para iluminação doméstica e a luz laser. No primeiro caso, os fótons são emitidos em uma sequência desordenada e podem ser comparados a pessoas deixando um cinema ou estádio, enquanto que, no último caso, os fótons são organizados como um pelotão de autômatos que são todos semelhantes e marcham rigorosamente alinhados. 40 2.5 TIPOS DE LASER Após a descoberta do primeiro laser, este setor começou a crescer muito rapidamente e existem, atualmente, muitos tipos de laser disponíveis que uma descrição de cada um, mesmo que breve, poderia requerer mais espaço do que está disponível neste trabalho. O desenvolvimento deste setor é principalmente devido à necessidade de encontrar novos comprimentos de onda, juntamente com o controle da emissão com o decorrer do tempo (a forma de onda laser) e melhorar o desempenho em relação aos custos de produção. Existem diferentes tipos de laser, dependendo do meio ativo usado: laser de estado sólido (neodímio, érbio, hólmio, etc.), lasers gasosos (CO2 e He-Ne), lasers de estado líquido (corante) e lasers semicondutores (diodo), para nomear alguns. A extrema variabilidade de parâmetros característicos é, talvez, a característica que mais distingue os lasers disponíveis. Na verdade, em termos de comprimento de onda, existem lasers ultravioleta com comprimento de onda de 100 nm, até lasers de comprimento de onda de milímetros. A potência varia de mW a MW, e as formas de onda são também diferentes, permitindo diferentes aplicações. Um bom exemplo é o laser dopado de neodímio (Nd:YAG). Na verdade, existem lasers de emissão de onda contínua que são usados em cirurgia, os denominados lasers Nd:YAG, que são também chamados de lasers pulsados longos (com uma duração de pulso de 10 – 100 ms) e são usados para remoção de pelos ou cirurgia vascular. Lasers Nd:YAG Pulsados com poucos ms são usados em odontologia, enquanto que aqueles com μs mais altos e com a forma denominada “Gated-Pulse” 41 são usados em lipólise a laser. Finalmente, existe um laser Q-Switched Nd:YAG (com pulsos de radiação de algumas dúzias de nanossegundos) que é usado para a remoção de tatuagens escuras. Laser Meio Ativo Emissão Aplicações Alexandrite Estado sólido Pulsado e QS Dispersão DERMATOLOGIA: remoção de pelos, tatuagens, lesões pigmentadas, rejuvenescimento Alta Ablação cirúrgica em diferentes campos médicos (ODONTOLOGIA, DERMATOLOGIA, GINECOLOGIA, OTORRINOLARINGOLOGIA, V2LR, etc.), tratamentos com laser fracionado Alta Gás Pulsada e contínua Laser de corante Líquido Pulsada DERMATOLOGIA: lesões vasculares superficiais, psoríase Moderada Diodo (GaAs, GaAIAs) Semicondutor Contínua ou pseudocontínua DERMATOLOGIA: remoção de pelos. ODONTOLOGIA: cirurgia, clareamento dentário. FLEBOLOGIA Alta Excimer Gás Pulsada DERMATOLOGIA: psoríase, vitiligo. OFTALMOLOGIA Pulsada DERMATOLOGIA: ablação cirúrgica superficial. ODONTOLOGIA: odontologia conservativa (tratamento de cáries dentárias) Moderada Pulsada, QS e Contínua DERMATOLOGIA: lesões vasculares superficiais, tatuagens, rejuvenescimento. ODONTOLOGIA: clareamento dentário, periodontia, endodontia, cirurgia Moderada Alta CO2 Érbio (Er:YAG ou outro) KTP/532 Estado Sólido Estado sólido Limitada Neodímio (Nd:YAG ou outro) Estado sólido Pulsada e QS DERMATOLOGIA: remoção de pelos, lesões vasculares. ODONTOLOGIA: endodontia, periodontia, implantologia, cirurgia, clareamento dentário Hólmio (Ho:YAG) Estado sólido Pulsada UROLOGIA. DERMATOLOGIA: lesões vasculares Média Rubi Estado sólido Pulsada e QS DERMATOLOGIA: Remoção de pelos, lesões pigmentadas Ruim Tabela 2.1 – Principais características dos lasers mais comumente usados em medicina 42 2.5.1 CO2 de Laser O laser de dióxido de carbono é um dos lasers mais potentes (potência de emissão de até 80 kW) e eficientes (em termos de relação entre potência óptica e potência elétrica) jamais construídos. É um laser de gás que usa uma mistura de dióxido de carbono, hélio e nitrogênio em proporções adequadas. O meio ativo é CO2, enquanto que outros gases são somente adicionados para aumentar a eficiência. Este laser é bombeado por uma descarga elétrica (bombeamento elétrico) como quase qualquer outro laser de gás. Lasers de dióxido de carbono podem operar no modo contínuo ou pulsado. Lasers de CO2 de onda contínua que aplicam baixa potência são usados em medicina, enquanto que aqueles que aplicam alta potência são principalmente usados para processamento mecânico. Lasers de CO2 geralmente emitem um comprimento de onda de 10600 nm (laser no infravermelho distante) e possuem uma afinidade muito alta com a água. 2.6 INTERAÇÃO ENTRE LASER E TECIDOS BIOLÓGICOS Interações entre laser e tecidos biológicos estão entre os primeiros tópicos abordados por pesquisadores engajados no desenvolvimento de aplicações desta nova forma de energia. Há mais de 40 anos, o laser de CO2 foi introduzido na pratica cirúrgica para excisão ou remoção de tecidos. Mais tarde, o uso de lasers em medicina cresceu exponencialmente devido a várias razões: • Uma crescente compreensão da interação entre tecidos e radiação eletromagnética e de seus efeitos. Isto 43 permitiu aos médicos fazer um melhor uso da potência e potencial dos lasers, tanto na medicina quanto cirurgia. • A disponibilidade de sistemas laser com comprimentos de onda de emissão altamente absorvidos por moléculas contidas nos tecidos (principalmente melanina, sangue e água). O comprimento de onda da luz laser determina o tipo de interação que ocorre quando o feixe de laser atinge o tecido biológico. • O desenvolvimento de sistemas capazes de liberar energia em uma sequência controlada de acordo com uma forma de onda bem definida. Isto permitiu um melhor “controle” da interação entre laser e tecido a fim de obter os resultados de tratamento desejados. Atualmente, os ramos da medicina onde os lasers são regularmente utilizados são: dermatologia, ginecologia, otorrinolaringologia, oncologia, odontologia, urologia, oftalmologia, medicina estética e muitos outros. Também, as propriedades de bioestimulação dos lasers são cada vez mais investigadas e usadas. É muito difícil entender o mecanismo de interação entre a radiação laser e os tecidos biológicos, principalmente porque é impossível avaliar todas as variáveis envolvidas, tais como o tipo de tecido, sua composição a nível microscópico, sua homogeneidade, assim como características térmicas e condutoras. Portanto, é necessário realizar aproximações para poder prever o resultado geral produzido pela radiação laser. Estas aproximações não somente dependem das características do tecido, mas também das características da radiação laser. Um feixe de laser carrega energia de diferentes maneiras e formas que podem frequentemente ser selecionadas 44 pelo usuário. É necessário dizer que uma quantidade mais alta de energia disponível, ou absorvida pelo tecido, não necessariamente resulta em maior eficiência. A coisa importante é a maneira na qual esta energia é fornecida ao tecido e, especialmente, por quanto tempo e em qual área. Em outras palavras, as unidades de medida que quantificam radiações eletromagnéticas são muito importantes para entender a interação lasertecido. Em relação a isso, citamos: • Fluência ou dose, que é a quantidade de energia liberada por unidade de área de superfície (J/cm2); • Potência, que é a intensidade de energia liberada (W); • Irradiância, que é a potência liberada por unidade de área de superfície (W/cm2). 2.6.1 Propriedades Ópticas de Tecidos Biológicos A propagação da luz laser no tecido é um tópico que envolve muitas aplicações médicas. A interação entre uma onda eletromagnética e um tecido biológico depende tanto do comprimento de onda quanto das propriedades ópticas do próprio tecido. Apesar das diferentes estruturas e morfologias de tecidos biológicos, como uma primeira aproximação, tecidos corpóreos podem ser considerados como meios homogêneos nos quais a propagação da luz é descrita por meio de propriedades ópticas fundamentais. Quando um feixe laser é direcionado para um tecido, quatro interações diferentes podem ocorrer (Figura 2.2): • Reflexão: alguma luz reflete da superfície; • Transmissão: alguma luz penetra e é transmitida através do tecido; 45 • Dispersão: alguns fótons são dispersos, seja para dentro ou para fora; • Absorção: alguma luz é absorvida. Raio Refletido Raio Incidente Absorção Difusão Raio Transmitido Figura 2.2 – Representação esquemática do fenômeno óptico que ocorre na interação entre luz laser e tecido biológico. A frequência relativa dos eventos acima mencionados depende das propriedades ópticas do tecido. A reflexão e dispersão são causadas pela heterogeneidade do tecido. Todos os efeitos produzidos em um tecido biológico pela luz laser são baseados no conceito óbvio de que somente a energia que é absorvida pelo tecido pode ser usada para aplicações médicas. Em outras palavras, para a energia da luz laser ter efeitos biológicos, deve ser absorvida pelo tecido (ou por um componente) e ser convertida para outra forma de energia: térmica, química ou mecânica. Devido ao nível de absorção de radiação causado pela falta de homogeneidade química dos tecidos biológicos, esta é altamente dependente do comprimento de onda (Figura 2.3). 46 Coeficiente de Absorção (cm-1) Melanina Comprimento de Onda (nm) Figura 2.3 – Espectro de absorção dos principais cromóforos da pele. Potência (de mW para kw) Outro fator determinante para caracterizar a luz laser é a forma de onda. Como já mencionado no item anterior, um laser pode operar em vários modos (Figura 2.4): Q-switchd Pulsado Pseudocontínuo Tempo (de ns para ms) Figura 2.4 – Representação das diferentes formas de emissão laser. 47 • Contínuo (CW) • Pseudocontínuo • Pulsado • Q-switched Investigações e pesquisas, tanto de um ponto de vista técnico quando médico, permitiram o desenvolvimento de diferentes formas de onda (pulsada) que são especificamente direcionadas para certas aplicações. Pelo ajuste da forma de onda de cada pulso, é possível controlar os diferentes efeitos causados pela luz laser sobre os tecidos, tais como vaporização, coagulação, difusão térmica, etc. 2.7 VISÃO GERAL SOBRE O USO DO LASER EM DERMATOLOGIA A dermatologia é, sem dúvida, um dos campos médicos no qual os lasers são mais amplamente utilizados. A pele é uma barreira natural que protege o corpo humano contra o meio ambiente, incluindo a radiação solar e, portanto, é particularmente capaz de interagir com a luz. A pele é, sem dúvida, o tecido biológico que ofereceu a melhor oportunidade de investigar e desenvolver métodos de tratamento para muitos distúrbios, com o uso de diferentes tipos de lasers. Como mostrado no item anterior, quando um tecido biológico é atingido por um feixe de laser, efeitos diferentes ocorrem que dependem de vários fatores. Alguns destes não podem ser controlados, tais como, por exemplo, as características ópticas de um tecido, sua condutividade térmica e a presença de fluidos. Outros fatores podem ser modificados, tais como a potência e comprimento de 48 onda, duração e frequência de pulso, assim como certos aspectos do sistema de transmissão laser. A maioria dos lasers produz efeitos térmicos específicos no tecido atuando na transformação da energia luminosa em calor. Dependendo da temperatura atingida, a energia térmica produzida é capaz de vaporizar, carbonizar, coagular, estimular processos ou, simplesmente, “aquecer” (Figura 2.5). Feixe Laser Vaporização Carbonização Coagulação Hipertermia Figura 2.5 – Localização dos efeitos térmicos no tecido biológico. É necessário enfatizar mais uma vez que quando falamos sobre interação entre radiação eletromagnética e tecido, nem todos os comprimentos de onda são igualmente absorvidos no corpo humano. Nós todos sabemos que comprimentos de onda particulares, tais como os raios-X, são capazes de passar através do corpo humano sem ser absorvido, enquanto que outros, tais como a radiação emitida por lasers Er/YAG são mais facilmente absorvidos. A absorção depende do comprimento de onda, mas também da composição do meio que é irradiado. Quando realizamos tal análise, temos que lembrar que a pele humana absorve 49 diferentes comprimentos de onda de diferentes maneiras, pois dentro da pele estão componentes (cromóforos) que absorvem a radiação de formas diferentes. Os cromóforos da pele que são principalmente responsáveis pela absorção da luz são a hemoglobina (sangue), melanina e água. A Figura 2.3 mostra as curvas de absorção da oxihemoglobina, hemoglobina, água e melanina: quanto mais alta a curva, mais alta é a taxa de absorção e menor a penetração na pele. Os itens a seguir fornecem informações sobre as aplicações dos lasers mais comuns, dependendo do comprimento de onda e da curva de absorção dos principais cromóforos da pele. 2.7.1 Laser de CO2 em Dermatologia O laser de CO2 foi inventado por Patel em 1964[7] e, atualmente, é o laser mais comumente usado em medicina. Suas características técnicas já foram explicadas nos itens anteriores. Como previamente dito, este laser emite um comprimento de onda que é facilmente absorvido pela água presente na maioria dos tecidos humanos, tais como pele e membranas mucosas, e produz efeitos fototérmicos. O desenvolvimento recente de sistemas de varredura fracionados capazes de realizar procedimentos de rejuvenescimento minimamente invasivos, levou a um maior uso de lasers de CO2 em todo o mundo. Os sistemas mais avançados permitem uma seleção cuidadosa dos parâmetros de emissão e um controle pontual da interação tecido-laser baseado no efeito que se deseja obter. O sistema é, portanto, capaz de diferenciar o pulso de laser dependendo se é desejado cortar a pele ou uma membrana mucosa; obter coagulação na presença de tecidos com maior suprimento de sangue; aplicar um dano térmico extremamente superficial ou se o tratamento requer uma 50 vaporização superficial rápida para mais tarde espalhar o calor para os tecidos subjacentes para estimulá-los. 2.7.2 Laser de Neodímio (Nd:YAG) em Dermatologia O meio laser ativo consiste em um cristal de Granada de Ítrio e Alumínio (YAG) dopado com Neodímio (Nd) ionizado. O comprimento de onda de emissão laser típico é 1064 nm. Sua radiação é moderadamente absorvida pela melanina (especialmente se comparado com outros lasers), é absorvida pelo sangue e não é particularmente absorvida pela água. Estas características permitem que a radiação de Laser Nd:YAG penetre profundamente na pele, devido à absorção ruim pela água e moderada absorção pela melanina. Isto torna possível tratar capilares superficiais, particularmente aqueles dos membros inferiores que estão localizados mais profundamente abaixo da pele. Outra aplicação comum é a remoção de pelos, especialmente no caso de peles escuras. O nível de absorção pela melanina é, na verdade, suficiente para ser efetivo no caso de remoção de pelos e, ao mesmo tempo, não é tão alto para danificar a pele. Na remoção de pelos, existe competição entre a absorção (indesejada) pela melanina na pele e a absorção (desejada) da melanina no pelo. Para melhor entender este mecanismo, temos que consultar, assim como muitas outras aplicações em dermatologia, a teoria da fototermólise seletiva postulada por Anderson e Parrish in 1983[11] de acordo com a qual é possível causar um dano térmico seletivo escolhendo adequadamente os parâmetros de emissão do laser, ou seja, o comprimento de onda, duração de pulso e fluência. Como sua radiação é absorvida pela melanina e não pela água, o laser Nd:YAG (no modo Q-Switched) é especialmente adequado para a remoção de tatuagens 51 amadoras, médicas ou pós-traumáticas e não deixa nenhuma cicatriz. 2.7.3 Laser de Alexandrite em Dermatologia Este tipo de laser emite um comprimento de onda de 755 nm (entre o vermelho e infravermelho próximo) que é bem absorvido pela melanina. Sua aplicação é geralmente limitada à remoção de pelos, lesões pigmentadas e tratamento de tatuagens. No primeiro caso, lasers pulsados longos são usados com uma duração de pulso de alguns ms. Considerando o alto nível de absorção pela melanina que está presente não somente no pelo, mas também na pele, é necessário prestar atenção especial ao tratar peles escuras. Lasers Q-switched com pulsos menores que 100 ns de largura são usados para remoção de tatuagens. 2.7.4 Laser de Corante em Dermatologia O meio laser ativo é uma solução líquida que contém um pigmento particular (por exemplo, rodamina, cumarina, fluoresceína, etc). Cada pigmento possui sua própria absorção e espectro de fluorescência que permite o desenvolvimento de lasers com emissões no ultravioleta ou infravermelho próximo. Em dermatologia, lasers de corante são usados para o tratamento de distúrbios vasculares, tais como angioma, Mancha de Vinho do Porto e telangiectasia por meio de fototermólise seletiva. Comprimentos de onda típicos são 590, 595 e 600 nm; a duração de pulso varia de 450 μs a 40 ms na última geração de lasers pulsados longos. 52 2.7.5 Laser de Érbio (ER:YAG) em Dermatologia O laser de érbio emite um comprimento de onda de 2940 nm. Geralmente, o meio ativo deste tipo de laser é um cristal de YAG dopado com érbio. A taxa de absorção deste laser pela água é a mais alta entre os lasers disponíveis, produzindo uma ablação tissular de cerca de 15-20 μm e uma camada muito fina de dano térmico (~5 μm). Devido a suas características, o laser de érbio é usado para peeling em resurfacing suave, pois este permite a remoção de uma fina camada de pele danificada e células mortas, desta forma reduzindo rugas e cicatrizes de acne. Porém, devido à baixa penetração, o laser de érbio não possui propriedades hemostáticas, a não ser que a duração de pulso seja estendida. Também, neste caso, a difusão térmica que pode ser obtida com este comprimento de onda é limitada, especialmente quando comparada com o laser de CO2. 2.8 VISÃO GERAL SOBRE O USO DE LASER EM OUTROS CAMPOS MÉDICOS 2.8.1 Oftalmologia A aplicação de laser em oftalmologia ocorre desde o desenvolvimento dos primeiros lasers. Existem vários campos de aplicação, incluindo, sem se limitar a este, o tratamento de destacamento de retina, ou seja, a transmissão de pulsos com energia controlada em vários pontos da retina que favorece a refixação e processo de cicatrização. Glaucoma é tratado pela criação de canais obtidos por meio de furos muito pequenos abertos com o laser. O laser de Nd:YAG é usado para realizar procedimentos cirúrgicos sobre membranas fibrosas 53 da pupila. Somente um pulso de laser é suficiente para seccionar a membrana e abrir completamente a pupila. Finalmente, deve-se também mencionar o uso disseminado do laser excimer para remodelagem de córnea e correção de defeitos oculares, como a miopia. A técnica consiste na vaporização seletiva do tecido da córnea de forma a criar um novo formato que, em virtude de mecanismos de refração, corrige o defeito existente. 2.8.2 Ginecologia O laser de CO2 é usado em ginecologia para a vaporização de lesões superficiais nos genitais com a possibilidade de remover uma parte da membrana mucosa, à medida que o médico considerar apropriado, e também sobre uma ampla área que esteja corada usando corantes especiais de forma a distinguir tecidos saudáveis de não saudáveis. Os lasers de CO2 são frequentemente utilizados para remover verrugas genitais por excisão ou vaporização a laser. Cânceres cervicais tipo CN podem também ser tratados pela remoção de parte do tecido pela excisão com o laser de CO2. Este procedimento é conhecido como conização, devido ao formato cônico do tecido que é removido. Em ginecologia, o uso de laparoscopia para o tratamento de câncer ovariano é também amplamente utilizado com lasers de CO2 ou lasers de fibra de Nd:YAG. 2.8.3 Otorrinolangologia O uso de laser em otorrinolaringologia tem se tornado difundido, especialmente em hospitais. Suas aplicações variam de acordo com o setor específico. No campo da microcirurgia da laringe, o laser de CO2 é o padrão para cirurgia de câncer. 54 Para o ouvido externo, pode ser usado em procedimentos de otoplastia ao invés do bisturi. Para o ouvido interno e médio, o laser (CO2, diodo, etc.) mostrou ser bem sucedido em procedimentos de estapedotomia (furo na base do estribo devido a otosclerose) e miringotomia (furo no tímpano devido a otite catarral crônica). Na cirurgia de boca, o laser de CO2 é considerado um método mini-invasivo efetivo. O laser de CO2 é também usado no procedimento de LAUP (Uvulopalatoplastia Assistida a Laser) para o tratamento de ronco. A tonsilotomia (redução de amígdalas) é um procedimento reconhecido usado em pacientes pediátricos entre 1 e 6 anos de idade; porém, é também realizado com sucesso em pacientes adultos, usando laser de CO2, diodo ou KTP para reduzir a dor. Em cirurgia plástica no nariz, excelentes resultados têm sido obtidos no tratamento de Rinofima. Lasers de diodo, Nd:YAG e KTP são usados também em cirurgia endoscópica de turbinado. 2.8.4 Urologia Uma das aplicações mais recentes dos lasers Nd:YAG é o tratamento de hipertrofia prostática por radiação através de fibras naturalmente trazidas próximas à próstata, irradiando a próstata lateralmente à fibra e prosseguindo seção por seção. O laser de Ho:YAG, com um sistema de aplicação de fibra óptica, permite a fragmentação de cálculos ureterais por choque mecânico. Pólipos endocervicais podem ser desnaturados usando, por meio de um citoscópio, uma fibra com uma terminação adequada alimentada por Nd:YAG de estado sólido. Como para cânceres superficiais de bexiga, a radiação da fibra com laser Nd:YAG resulta 55 em imediato branqueamento e inchaço do tumor irradiado. Este procedimento por fim resulta em necrose coagulativa do tumor. Em urologia, é possível vaporizar cânceres de bexiga por laparotomia, até mesmo e, principalmente, quando são alimentados por uma grande quantidade de sangue. Usando o laser de CO2, a vaporização é acompanhada por hemostasia; portanto, o tumor pode ser gradualmente reduzido com uma quantidade muito limitada de hemorragia. 2.8.5 Odontologia Em odontologia, diferentes tipos de lasers são usados para uma ampla variedade de aplicações, desde o tratamento de cárie dentária, descontaminação de bolsas periodontais, clareamento dentário, cirurgia da mucosa oral, etc. Os lasers mais amplamente usados neste campo são: • Laser de CO2 com comprimento de onda de 10600 nm, que é principalmente usado em cirurgia oral (frenectomia, excisão de tecido gengival, remoção de pequenos cânceres afetando a mucosa e glândulas salivares infectadas, vaporização de outras condições, tais como leucoplaquia, etc.). • Laser Er:YAG com comprimento de onda de 2940 nm, que é principalmente usado em odontologia conservadora (tratamento de cárie dentária) e cirurgia oral. • Laser Nd:YAG com comprimento de onda de 1064 nm. Graças a suas excelentes propriedades, é usado para procedimentos de descontaminação em endodontia (terapia do canal da raiz) e periodontia (tratamento de bolsas periodontais). 56 • Laser KTP com comprimento de onda de 532 nm, que é amplamente utilizado para muitas aplicações, desde clareamento dentário (efetivo também no caso de manchas intrínsecas, tais como manchas de tetraciclina) até cirurgia oral, endodontia e periodontia. • Laser de diodo com comprimento de onda de 810 – 980 nm, que é amplamente usado também devido à disponibilidade de sistemas baratos, embora estes nem sempre possuam características adequadas. É principalmente usado para cirurgia oral e clareamento dentário (embora somente para tratar manchas extrínsecas, tais como manchas de tabaco/café, etc.), assim como endodontia e periodontia. 2.8.6 Oncologia O uso de equipamentos a laser permite a remoção de cânceres com um desenvolvimento reduzido de células cancerosas. Além disso, em caso de cânceres que recebem grande suprimento de sangue, o uso de um laser de CO2 ligeiramente desfocado permite a vaporização do câncer e, simultaneamente, a hemostasia dos vasos sanguíneos com diâmetro de até 500 μm. Em relação a pequenos cânceres, metástase e linfonodos, uma técnica foi desenvolvida para gerar hipertermia (superaquecimento) das células cancerosas, desta forma desnaturando o tecido biológico. Graças ao suporte de um ecógrafo, uma agulha especial é inserida até que atinja o tumor que precisa ser destruído. Uma fibra ótica é então introduzida para transportar a radiação emitida pelo laser Nd:YAG. A luz laser é absorvida por tecidos biológicos, cuja temperatura aumenta até que eles sejam irreversivelmente danificados. No campo da otorrinolaringologia, diferentes métodos 57 foram desenvolvidos para a ablação de cordas vocais utilizando um laser de CO2 com pulsos curtos com uma potência de pico alta, a fim de limitar o dano ao tecido saudável ao redor da área a ser destruída. 2.8.7 Tratamento de Arritmia Por meio da ablação com luz laser, aplicada à cavidade torácica por fibra óptica introduzida através de cateteres adequados, é possível interromper algumas vias de condução elétrica dentro do coração, desta forma reduzindo a chance de apresentar arritmia. 2.8.8 Bioestimulação Por mecanismos ainda não completamente entendidos, a fotoestimulação com luz laser apresenta efeitos terapêuticos ou distúrbios, tais como reumatismo ou artrite reumatoide, lesão por trauma, edema, fluxo sanguíneo periférico insuficiente, escaras e úlceras. Estatísticas médicas forneceram evidências de muitos estudos de casos positivos a este respeito. Os dados objetivos documentados até o momento mostram um aumento na drenagem linfática após bioestimulação e alívio gradual da dor apresentada pelo paciente. A terapia conhecida como HILT® (Terapia Laser de Alta Intensidade) é particularmente digna de nota. Consiste no uso de um laser Nd:YAG especial que emite pulsos de pico de alta potência capazes de tratar distúrbios doloridos que afetam o sistema musculoesquelético, sejam estes distúrbios superficiais ou profundos 58 2.9 VISÃO GERAL DO USO DE LASER PARA CONSERVAÇÃO DE OBRAS DE ARTE Em relação à conservação de obras de arte, lasers com densidade de potência adequada podem ser usados para limpeza de bronze ou peças de arte de pedra. Neste campo, um feixe de laser focado é usado para vaporizar uma fina camada de material impregnado com substâncias estranhas ou cuja composição química tenha mudado devido à ação de agentes externos. Figura 2.6 – Limpeza e restauração da peça Rapto das Sabinas de Giambologna (Loggia dei Lanzi – Florença) realizadas em 2001 usando tecnologia laser. 2.10 REFERÊNCIAS 1. Einstein A. Zur Quantentheorie der Strahlung. Physikalische Gesellschaft Zürich 1916; 18-47-62. O mesmo trabalho foi publicado em 15 de março de 1917, Physkalische Zeitschrift 1917; 18:121-128. 2. Maiman TH. Stimulated optical radiation in ruby. Nature 1960; 187:493. 59 3. Sorokin PP, Stevenson MJ. Stimulated infrared emission from trivalent uranium. Phys. Rev. Lett., vol. 5, pp. 557-559, December 1960. 4. Javan A., Bennet WR Jr, Herriot DR. Population inversion and continuous optical maser oscillation in a gas discharge containing a helium neon mixture. Phys. Rev. Lett., Vol. 6 p 106-110, February 1961. 5. Hall RN, Fenner GE, Kingsley JD, Soltys TJ, Carlson RO. Coherent Light Emission From GaAs Junctions. Physical Review Letters 9 (9): 366-369, November, 1962. 6. Geusic JE, Marcos H M, Van Uitert LG. Laser Oscillations in Nddopped yttrium aluminum, yttrium gallium e gadolinium garnets. Applied Physics Letters 4 (10): 182. 1964. 7. Patel CKN. Continuous-Wave Laser Action on Vibrational-Rotacional Transitions of CO2. Physical Review 136 (5A):A1187-A1193. 1964. 8. Bridges WB. Laser oscillation in singly ionized argon in the visible spectrum. Appl. Phys. Lett. 4, 128 (1964); erratum; Appl. Phys. Lett. 5, 39 (1964). 9. Goldman L, Blaney DJ, Kindel DJ, Franke EK. Effect of the laser beam on the skin. J. Invest Dermatol 1963; 40:121-122. 10. Strong MS, Jako GJ. Laser surgery in the larynx. Early clinical experience with continuous CO2 laser. Ann Otol 1972; 81:791. 11. Anderson RR, Parrish JA. Selective photothermolysis: precise microsurgery by selective absorption of pulsed radiation. Science 1983: 220:524-527. 12. Masotti L. Alcune riflessioni sul laser e I suoi impieghi. 1995. 13. Galli M. Interazione laser-tessuto. In: Campolmi P, Bonan P, Canarozzo G. Laser e sorgenti luminose in dermatologia – Cap. 1 Ed. Masson Maggio 2003. 60 Capítulo 3 MonaLisa TouchTM: A Primeira Tecnologia Assistida por Laser para o Tratamento de Atrofia Vaginal No campo da observação, a chance favorece somente as mentes preparadas. Louis Pasteur 3.1 INTRODUÇÃO Os capítulos anteriores forneceram informações introdutórias sobre atrofia vaginal e tecnologia laser e agora podemos apresentar a nova tecnologia MonaLisa Touch™. Para melhor entender o quão inovador e único é este tratamento, é importante conhecer o histórico que permitiu seu projeto e desenvolvimento. Primeiramente, é necessário dizer algumas palavras sobre a empresa que concebeu esta tecnologia. A DEKA existe há mais de trinta anos e agora é uma das principais empresas médicas de um grande grupo industrial operando no campo de optoeletrônica. Graças a sua tecnologia própria e knowhow multidisciplinar, a DEKA é capaz de fabricar fontes laser e sistemas para uma ampla variedade de aplicações. Graças à sua ampla experiência e valioso conhecimento, a DEKA é uma empresa líder no campo da medicina assistida por laser. Seu histórico é, na verdade, um longo caminho de trinta anos de pesquisa e estudos que permitiram desenvolver sistemas modernos e métodos inovadores, com o objetivo de transformar qualquer descoberta em benefícios reais. 61 A pesquisa científica sempre foi uma escolha estratégica fundamental para a DEKA que, com o auxílio de um grande investimento, tem tentado desenvolver novas ideias para novas aplicações no campo médico. Desde o início, a DEKA tem promovido e cooperado em projetos de pesquisa com muitos centros de pesquisa na Itália e outros países. Está também constantemente engajada em estudos clínicos e análises histológicas, contando com o suporte de seus próprios laboratórios e centros qualificados nacionais e internacionais. A DEKA é, portanto, capaz de avaliar a eficácia e segurança de qualquer novo tratamento a laser, para cada um dos diferentes setores no qual opera (dermatologia, gastrenterologia, otorrinolaringologia, ginecologia, oftalmologia, odontologia, oncologia, etc.), antes de introduzi-lo no mercado. A nova tecnologia MonaLisa Touch™ foi desenvolvida precisamente graças à sinergia de abordagens multidisciplinares. 3.2 DEKA E LASER DE CO2 A experiência da DEKA na produção do primeiro laser de CO2 para dermatologia, cirurgia e terapia vem desde a década de oitenta. Naquele tempo, o laser de CO2 era considerado uma ferramenta cirúrgica capaz de cortar, vaporizar e coagular tecidos biológicos. Na verdade, o laser de CO2 já era usado para praticar o que é conhecido como Terapia Laser de Nível Baixo, devido à sua ação estimulante em condições como o reumatismo, artrite reumatoide, lesões pós-trauma, edema, fluxo sanguíneo periférico insuficiente, escaras, úlceras venosas, etc. Com aplicação do laser de CO2 em cirurgia e, principalmente, em ginecologia e otorrinolaringologia, nos anos que se seguiram, sistemas cada vez mais avançados foram 62 desenvolvidos com sistemas de varredura de alta precisão e micromanipuladores capazes de liberar pulsos com alta potência de pico especiais (até 1000 Watt) e tempos de emissão muito curtos (alguns microssegundos). Porém, a dermatologia e medicina estética são os setores que trouxeram os lasers de CO2 ao foco nos últimos anos graças à nova Terapia DOT que é um tratamento fracionado para rejuvenescimento da pele. 3.2.1 Terapia DOT: O Inovador Tratamento de Rejuvenescimento Cutâneo Microablativo O resurfacing cutâneo ablativo com uma fonte de CO2 sempre foi considerado o padrão na cirurgia laser para o tratamento de rugas e danos devido ao envelhecimento da pele. As primeiras publicações sobre este método são do final dos anos oitenta. O tratamento consiste no uso de um sistema de varredura que rapidamente move um feixe de laser sobre uma área de alguns poucos centímetros quadrados removendo as camadas mais externas Figure 3.1 – Remoção das camadas mais externas da pele (ablação) com varredura não fracionada da pele. Pode ser realizado uniforme (Resurfacing cutãneo tradicional). em áreas limitadas (tais como, por exemplo, a área ao redor dos olhos e boca) ou em toda a face (tratamento facial completo). Porém, devido aos longos tempos de cicatrização, curativos e cuidados da pele delicada após o procedimento, assim como possíveis efeitos colaterais que não podem ser desprezados, a disseminação e popularidade desta técnica foram 63 sempre muito limitadas. Na verdade, durante os anos, o interesse do mercado enfocou principalmente sistemas e métodos minimamente invasivos, tanto devido às necessidades dos pacientes que não podiam parar de trabalhar ou reduzir suas atividades Figure 3.2 – Desnaturação térmica da prele produzida por um laser fracionado não ablativo sociais por um longo (Rejuvenescimento cutãneo fracionado não período de tempo, ablativo). quanto pela incidência de possíveis efeitos colaterais, além da necessidade de simplificar os cuidados após o procedimento. Esta situação levou ao desenvolvimento de novos métodos e protocolos que combinam eficácia com tempos de cicatrização reduzidos. Para tanto, nos anos 2003-2004, um novo tratamento minimamente invasivo que usava um sistema a laser fracionado para realizar rejuvenescimento cutâneo não ablativo foi desenvolvido. Sua tecnologia é altamente inovadora, pois introduziu a ideia de irradiar a pele com um sistema fracionado, ao invés de um seletivo. O laser não ablativo somente danifica certas zonas na área alvo selecionada, mas não causa dano a nenhum tecido saudável adjacente não tratado. Esta última Figure 3.3 – Remoção das camadas mais externas da pele (ablação) com varredura fracionada (Terapia DOT ou Resurfacing Cutãneo Fracionado). 64 característica é precisamente o que distingue o tratamento fracionado do tratamento tradicional. Assim que o tecido não saudável é tratado, o processo de cicatrização inicia, ajudado e acelerado pelo tecido saudável não tratado adjacente ao tecido tratado, que se espalha na área danificada com novas células. É bem fácil entender as vantagens deste método. Primeiramente, é minimamente invasivo e o tempo de cicatrização é curto. Porém, também possui uma desvantagem que não pode ser desprezada, que é uma menor eficácia e, portanto, a necessidade de replicar o tratamento durante várias sessões a fim de satisfazer os pacientes, especialmente aqueles com marcas de idade nítidas e evidentes. Graças à experiência adquirida no desenvolvimento de lasers de CO2 com sistema de varredura, em 2004 a DEKA iniciou o desenvolvimento e validação clínica do que seria conhecido em todo o mundo como Terapia DOT ou Resurfacing Cutâneo Fracionado, que seria um rejuvenescimento microablativo da pele. A ideia inicial era muito simples: combinar as vantagens do Resurfacing Cutâneo tradicional, realizado com o laser de CO2, com aquelas da nova técnica fracionada não ablativa, eliminando as desvantagens de ambas as tecnologias. Se o tratamento fracionado permitia tempos de cicatrização mais curtos devido às razões mencionadas acima, então por que não usar este mesmo procedimento também para o laser de CO2 que, sem sombra de dúvida, oferece maior eficácia? Os resultados obtidos foram realmente surpreendentes e levaram, após validações histológicas e clínicas apropriadas e exatas, à introdução no mercado do SmartXide DOT e da agora mundialmente reconhecida Terapia DOT (para ver o quão popular esta terapia é, entre em qualquer ferramenta de busca as palavras “DOT Therapy Laser” (Terapia DOT Laser) e “SmartXide DOT”). 65 É bom enfatizar que os vários sistemas de CO2 atualmente presentes no mercado, graças também ao sucesso desta tecnologia, são somente aparentemente baseados no mesmo princípio de operação. Na verdade, eles possuem características técnicas diferentes (potência de emissão, forma de pulso e duração, sistema de varredura, função Stack com emissão fracionada também no decorrer do tempo, distância entre pontos de varredura) que possuem repercussões óbvias nos resultados clínicos e tempos de recuperação. Sem entrar muito em detalhes, pode ser útil entender melhor o princípio da operação da Terapia DOT que está intimamente ligado às características dos sistemas DEKA. Efeitos naturais do envelhecimento, exposição à luz solar e poluição do ar resultam na deterioração gradual da pele, sua estrutura e funções. Para “rejuvenescer” a pele, a eliminação das camadas mais externas, desta forma reduzindo as rugas, não é suficiente. É importante ir profundamente, de forma a estimular a pele a produzir novo colágeno e nova estrutura da matriz extracelular que, como um andaime, sustentará as camadas mais externas. Embora este conceito possa ser fácil de entender, é difícil na prática. Pela estimulação da pele em profundidade, existe um risco de danificar a camada externa da pele cuja função fisiológica é proteger o corpo humano. Para estimular a derme e, ao mesmo tempo preservar a superfície da pele, a DEKA desenvolveu duas tecnologias exclusivas que distinguem a Terapia DOT de qualquer outro tratamento similar: SmartPulse e SmartStack. 3.2.1.1 SmartPulse: Tecnologia de Emissão Pulsada Combinando conhecimento clínico e tecnologia, a DEKA desenvolveu um pulso especial para seus lasers de CO2 usado para tratamento de Resurfacing Cutâneo fracionado, 66 Potência de forma a obter ablação e desnaturação por calor com um único pulso. A alta potência de pico que Ablação caracteriza a primeira parte do SmartPulse permite a liberação de uma grande Efeito Térmico quantidade de energia em um tempo muito curto para ablação rápida da epiderme e das primeiras camadas da derme que Efeito Ablação são menos ricas em água. térmico Após esta vaporização rápida, a energia de pulso Figure 3.4 – SmartPulse: ablação e desnaturacão espalha calor através da térmica: dois efeitos com um único pulso derme, um tecido rico em água. Comprimento de pulso - Tempo de Permanência da Varredura 2 ms Desta forma, a derme recebe o estímulo apropriado para encolhimento imediato e produção de um novo colágeno. Ao mesmo tempo, o dano causado à epiderme é muito pequeno e os tempos de cicatrização são muito curtos. 3.2.1.2 Função SmartStack Esta tecnologia permite um controle cuidadoso da profundidade de vaporização da pele e da ação térmica, emitindo sucessivos pulsos na mesma área, com um Stack (empilhamento) variável de 1 a 5. Usar um nível Stack acima de 1 permite um impulso fracionado com o decorrer do tempo. Isto permite que a pele esfrie entre dois pulsos sucessivos e minimiza o dano térmico. O risco de efeitos colaterais indesejáveis é adicionalmente reduzido, especialmente em áreas particularmente sensíveis e em pessoas com 67 pele escura ou fototipo asiático. Também, com uma maior profundidade de ablação, por exemplo, no tratamento de cicatrizes, o SmartStack permite esta profundidade enquanto evita hemorragia de porte e tempos de cicatrização longos. Figura 3.5 – Efeito dos pulsos de laser sobre a pele dependendo do aumento no nível SmartStack. Existe um estreitamento gradual do canal de ablação devido a um maior efeito de encolhimento. 3.3 DO REJUVENESCIMENTO CUTÂNEO PARA O REJUVENESCIMENTO VAGINAL Curiosidade, que é essencial para pesquisadores que desejam fazer novas descobertas científicas, levou a DEKA a explorar a possibilidade de aplicações da Terapia DOT em setores além da Dermatologia e Cirurgia Estética. Embora colocar a ”pele da face” e “mucosa vaginal” lado a lado possa parecer bizarro, nós levamos em consideração a longa experiência da DEKA na produção de sistemas laser de CO2 para Ginecologia. Em 2008, esta experiência permitiu que a DEKA realizasse os primeiros estudos que, mais tarde, levariam ao desenvolvimento de V2LR (Reshaping Vulvovaginal) e, mais especificamente, o tratamento MonaLisa Touch™. O ponto inicial foi os efeitos evidentes de“rejuvenescimento” 68 nos tecidos após o tratamento fracionado com um laser de CO2. Neste ponto, é importante enfocar o conceito de rejuvenescimento. Em um senso mais geral, o termo “rejuvenescimento” está sempre associado com a estética e, portanto, com uma conotação quase superficial. A eliminação de rugas, por exemplo, pode ter efeitos psicológicos na autoestima do paciente, mas não possui nenhum efeito “terapêutico”. Isto não é totalmente verdade. Quando envelhecemos, todas as partes de nosso corpo (células, tecidos, órgãos, aparelhos e estruturas anatômicas) perdem suas funções. Em alguns casos, isto leva a problemas mais graves. Vamos pensar, por exemplo, sobre as células do cérebro, aparelho musculoesquelético ou o olho. Se fosse possível “rejuvenescê-los”, é fácil imaginar os importantes efeitos terapêuticos que poderiam ser obtidos. O mesmo conceito é verdadeiro para a mucosa vaginal. Como amplamente discutido no primeiro capítulo deste livro, o envelhecimento nas mulheres, ligado à menopausa, envolve vários órgãos, incluindo a vagina, e geralmente resulta em atrofia vaginal. Se um tratamento fosse capaz de “rejuvenescer” a mucosa vaginal, restaurando sua estrutura pré-menopausa, então, seria razoável pensar que problemas relacionados à atrofia vaginal poderiam também se beneficiar disto. Como veremos nas seções a seguir, isto é precisamente o que podemos obter com o MonaLisa Touch™, que pode corretamente ser referido como tratamento a laser de rejuvenescimento vaginal, embora tenhamos que ser cuidadosos para não confundir isto com terapias de Rejuvenescimento Vaginal a Laser que são agora muito populares, especialmente nos Estados Unidos. 69 3.3.1 Pele Versus Mucosa Vaginal Antes de dar uma descrição dos procedimentos e resultados da pesquisa realizada, é necessário focar nas similaridades e diferenças entre a pele e mucosa vaginal. Pele: a cútis ou pele é uma estrutura laminar robusta que cobre nosso corpo. Figura 3.6 – Preparação histológica de pele espessa (A) e fina (B) corada com hematoxilina e eosina (H&E). [Cortesia do Prof. A. Calligaro – Universidade de Pavia]. A pele consiste em três camadas: • Epiderme: é um epitélio escamoso estratificado que se regenera continuamente graças a um processo dinâmico no qual as células se proliferando no estrato basal substituem os estratos espinhoso, granuloso e córneo. O estrato córneo (camada cornificada) é composto por finas lâminas de queratina que continuamente descamam da superfície da pele. • Derme: consiste em tecido conectivo denso, com colágeno e fibras elásticas como suporte e matriz, rica 70 em sangue e vasos linfáticos, fibras e terminações nervosas, e glândulas. A matriz é rica em polissacarídeos e glicoproteínas que a tornam altamente permeável, desta forma favorecendo o trofismo de toda a pele, incluindo a epiderme que, como qualquer epitélio, não contém vasos. • Hipoderme: fica abaixo da derme e sua finalidade é ancorar a pele à fáscia comum profunda. Quando a hipoderme é particularmente rica em tecido adiposo, é denominada panículo adiposo subcutâneo. Mucosa vaginal: A vagina é um canal e é o último trato do aparelho genital feminino. Possui a mesma estrutura de órgãos ocos e consiste em uma túnica mucosa, túnica musculareis e túnica adventícia. Não existe nenhuma submucosa. A túnica mucosa (que podemos dizer que é a mucosa vaginal) consiste no epitélio vaginal e lâmina própria (Figura 3.7): Figura 3.7 – Preparação histológica da mucosa vaginal corada com hematoxilina e eosina (H&E) [Cortesia do Prof. A. Calligaro – Universidade de Pavia]. 71 • O epitélio vaginal é um epitélio escamoso não queratinizado multicamadas. Este se regenera graças a um processo dinâmico que inicia com a proliferação das células do estrato basal e termina com a descamação da maioria das células superficiais. • A lâmina própria esta abaixo do epitélio e está arranjada na papila. Consiste em tecido conectivo, rico em colágeno e fibras elásticas. Contém vasos, na maior parte capilares, e linfócitos, e não possui nenhuma glândula. É responsável pelo suporte e trofismo (nutrição) do revestimento vaginal e é fundamental para a arquitetura da parede vaginal. Para melhor entender os estudos que serão apresentados nos parágrafos seguintes, é importante enfocar mais na base do tecido conectivo, geralmente referido como substância fundamental. Consiste primariamente de macromoléculas conhecidas como proteoglicanas que estão ligadas a cadeias longas de ácido hialurônico por proteínas especiais. Proteoglicanas possuem a capacidade de reter grandes quantidades de água. O alto nível de hidratação da lâmina própria depende das proteoglicanas. A riqueza de água da matriz extracelular significa turgidez da mucosa que coopera com a função de suporte do colágeno bem estruturado. A alta presença de moléculas de água resulta em uma permeabilidade mais alta que favorece o metabolismo da mucosa em termos de um transporte mais fácil de metabólitos, nutrientes, etc., dos capilares para os tecidos (ou seja, epitélio de revestimento, tecido conectivo, fibras e terminações nervosas) e a drenagem de substâncias residuais dos tecidos para o sangue e vasos linfáticos. Se a substância fundamental for pobre ou não contiver 72 muita água, o epitélio não receberá a nutrição necessária para seu desenvolvimento correto ou hidratação apropriada. Finalmente, é bom dizer alguma coisa mais sobre fibroblastos, considerando o papel crítico que estes possuem. Os fibroblastos são as células mais disseminadas no tecido conectivo. Estes são capazes de produzir e elaborar fibras (ou seja, colágeno, fibras reticulares e elásticas), assim como componentes da substância fundamental do tecido conectivo (ou seja, ácido hialurônico, proteoglicanas e glicoproteínas), controlando sua organização, assim como outras atividades. Após secretar os componentes da matriz extracelular, os fibroblastos permanecem aprisionados entre as fibras e são chamados fibrócitos, que são quiescentes, rodeados por fibras de colágeno. Dano tissular estimula os fibrócitos a se tornarem fibroblastos ativos e sintetizar novo colágeno. Uma diferença significativa entre mucosa vaginal e pele está na estrutura do epitélio. A camada mais externa da pele, continuamente sujeita a estresse mecânico, é o estrato córneo que é composto por várias camadas de células planas mortas totalmente preenchidas com queratina. Sua espessura varia dependendo da região do corpo e, nas áreas mais sujeitas a estresse mecânico, a camada é geralmente mais espessa. É rica em queratina e extremamente pobre de água. Ao contrário, o epitélio da mucosa não é queratinizado e é rico em água e glicogênio. Estas diferenças possuem grandes implicações, tanto para medicina quando para a tecnologia, como é o objetivo desta publicação. Como dito anteriormente, o laser de CO2 possui alta afinidade com a água. Devido aos seus 73 diferentes níveis de hidratação, o efeito da absorção de laser pela pele ou mucosa não será o mesmo. Mais especificamente, para estimular a derme da pele em profundidade e a lâmina própria (da mucosa), temos que vencer dois tipos diferentes de barreiras. Como previamente mencionado, a DEKA desenvolveu um pulso especial, conhecido como SmartPulse, para ser usado na Terapia DOT. Isto favorece a rápida vaporização da epiderme, sem causar danos, e permite a dispersão do feixe de laser profundamente na pele. Considerando o que acabamos de dizer, a barreira a ser vencida na mucosa vaginal possui características muito diferentes. Um laser que foi concebido para rejuvenescimento cutâneo não possui a mesma eficácia no rejuvenescimento da mucosa. Esta é a razão da DEKA, graças à sua experiência no campo da dermatologia, ter desenvolvido o sistema SmartXide2 V2LR (Figura 3.8), dedicado ao tratamento MonaLisa Touch™, capaz de liberar energia por meio de um pulso especial e levando em consideração as características peculiares da mucosa vaginal: O DEKA-PULSE ou D-Pulse (figura 3.9). 74 Figura 3.8 – Sistema laser de CO2 SmartXide2 V2LR produzido pela DEKA com o scanner fracionado HiScan V2LR para o tratamento MonaLisa Touch™ (Patente requerida). Como mostrado na figura na página a seguir, o DEKAPULSE consiste em: • Uma parte inicial com potência de pico alta, para ablação superficial rápida do componente epitelial da mucosa atrófica caracterizada pelo baixo teor de água. 75 Potência Ablação Efeito Térmico Duração de Pulso Figura 3.9 – DEKA-Pulse: o pulso especificamente desenvolvido pela DEKA para o tratamento MonaLisa Touch™. • Uma segunda parte variável, com potência de pico mais baixa e tempos de emissão mais longos, que permite que o calor da energia laser penetre em profundidade, estimulando a síntese de novo colágeno e dos componentes da substância fundamental da matriz. 3.4 DA INVESTIGAÇÃO CLÍNICA À NECESSIDADE DE UMA ANÁLISE ULTRAESTRUTURAL PROFUNDA Os resultados obtidos a partir dos primeiros estudos realizados em 2008 foram muito encorajadores. Como você pode entender bem, nós precisamos de tempo e paixão para desenvolver os vários aspectos relacionados a um método completamente novo (sistema de varredura dedicado, pulso apropriado, protocolo de tratamento, procedimento médico, etc.). Os vários estudos de caso coletados durante os anos nos permitiram coletar dados muito importantes, e a análise destes tornou possível desenvolver esta nova técnica. Em 2011, um artigo foi 76 publicado no “The American Journal of Cosmetic Surgery” relacionado à experiência de uma equipe de ginecologistas da Universidade de Mendonza, Argentina, que tratou 92 mulheres na menopausa de dezembro de 2009 a dezembro de 2010 seguindo um protocolo experimental[1]. Os questionários de avaliação, preenchidos pelas pacientes, mostraram melhoras significativas após o tratamento de problemas relacionados a ressecamento vaginal (em 67,5% dos casos), dispareunia (62,5%) e irritação e dor com ardor (50%). Embora os questionários possam ser padronizados e a avaliação tenha sido feito o mais objetivamente possível, ainda faltou a possibilidade de demonstrar, sem nenhuma dúvida, o “rejuvenescimento” da mucosa. Enquanto que em casos de tratamentos de remoção de rugas ou manchas imagens simples “antes e depois” sejam suficientes para convencer qualquer pessoa sobre a eficácia do método aplicado, isto não é verdade no caso do tratamento da atrofia vaginal. Esta consciência levou ao desenvolvimento de um método cujo propósito foi fornecer evidências da melhora “funcional” da vagina. No estudo publicado pela equipe médica argentina, uma primeira pesquisa foi também conduzida com imagens de histologia apresentando um aumento do epitélio e da quantidade de colágeno no tecido conectivo. É necessário lembrar que, embora vários trabalhos sobre anatomia e fisiologia da pele tenham sido publicados, o conhecimento é limitado em relação à mucosa vaginal. Portanto, ainda está faltando a base de conhecimento necessária para realizar um exame histológico correto e exato. Graças à cooperação do IRCCS San Raffaele Hospital de Milão e da Universidade de Pavia, foi possível conduzir uma pesquisa com o objetivo de avaliar o efeito do tratamento laser de CO2 na mucosa vaginal e identificar o melhor protocolo de tratamento. 77 3.5 OBSERVAÇÕES MICROSCÓPICAS E ULTRAESTRUTURAIS SOBRE A MUCOSA VAGINAL APÓS UM TRATAMENTO COM LASER FRACIONADO DE CO2 Neste primeiro estudo, mulheres pós-menopausa com prolapso de parede anterior vaginal foram submetidas a tratamento com o laser fracionado de CO2 SmartXide2 V2LR. O objetivo do estudo foi avaliar as modificações na morfologia dos tecidos baseado nas diferentes condições de tratamento (potência de emissão, tempo de exposição, distância entre os pontos individuais, nível Stack e fluência de energia total). Após tratamento in vivo e excisão cirúrgica, amostras de mucosa foram tratadas com protocolos específicos para radiação laser e observações por microscopia óptica e microscopia de transmissão de elétrons. Nós principalmente enfocamos as modificações tanto da matriz extracelular da mucosa quanto de componentes celulares mais diretamente envolvidos no seu trofismo, embora tenha havido uma quantidade de tempo limitada entre o tratamento e fixação de amostra. As observações conduzidas na matriz extracelular da mucosa mostraram modificações significativas na morfologia de fibras de colágeno, mais provavelmente devido a aumentos variáveis de temperatura na área envolvida. Após tratamento com o laser fracionado de CO2, observações sob microscópio óptico mostraram áreas diferentes da mucosa, com extensão variável dependendo da fluência mais alta ou mais baixa usada nos diferentes protocolos testados (Figura 3.10): 1. Cratera de vaporização; 2. Zona de carbonização: a interação da emissão pulsada do feixe de laser com a mucosa vaginal causa uma 78 elevação repentina na temperatura no tecido envolvido que “vaporiza” a maioria das estruturas superficiais (todo o epitélio e até 1 mm do tecido conectivo para protocolos de energia mais alta) que possuem um teor de água mais alto e uma camada fina de “carbonização” das estruturas superficiais remanescentes. 1) Cratera de Vaporização 2) Area de Carbonização 3) Area de Condensação 4) Hipertermia Figura 3.10 – Preparação histológica da mucosa vaginal corada com hematoxilina e eosina (H&E). Existem quatro áreas diferentes após o tratamento laser fracionado de CO2 SmartXide2 V2LR. 3. Banda de Condensação: o tecido conect ivo abaixo da cratera de carbonização também perde água. Uma faixa de material corado mais intensamente de vermelho está destacada, onde existe uma concentração de colágeno devido à coagulação térmica. O gradiente de temperatura produz diferentes efeitos no tecido, consistindo principalmente de colágeno, que é uma “contração” das fibras acima de 65ºC e desnaturação entre 50 e 65 ºC. A largura desta área varia com a energia de uma maneira não linear, dependendo do protocolo 79 utilizado (a largura varia de 50 a 110 μm). O colágeno desnaturado cria uma forma de barreira térmica para a mucosa subjacente. 4. A microscopia tradicional não mostra efeitos particulares na área abaixo da banda de condensação. Existem feixes de fibras de colágeno em formato de concha, vasos e outras estruturas normalmente presentes no tecido conectivo, mas esta não detecta a presença de outros tipos de células que podem estar relacionadas com a inflamação, tais como linfócitos, células plasmáticas, mastócitos ou outras células típicas da inflamação. Existe um aumento na temperatura na parte mais externa desta área. É importante lembrar que a 45 ºC ocorre a resposta da Proteína de Choque Térmico (HSP), que pode somente ser acionada por células não danificadas e completamente funcionais. A HSP47, em particular, é capaz de estimular fibroblastos para sintetizar mais colágeno. 3.5.1 Microscopia de Luz Polarizada Subsequentemente, nós analisamos imagens de microscopia de luz polarizada. O microscópio de luz polarizada é desenvolvido para a observação de tecidos que sejam visíveis especialmente devido a sua “anisotropia óptica”. Em outras palavras, estruturas altamente organizadas são destacadas, enquanto que estruturas desorganizadas (estruturas opticamente anisotrópicas) aparecem escuras. Os feixes de fibras de colágeno altamente organizados que estão presentes em grande número no tecido conectivo estão claramente visíveis na microscopia de luz polarizada, enquanto que o epitélio, no qual as células não contêm estruturas altamente organizadas, aparece escuro. 80 Zona 2: Carbonização Zona 1: Cratera de Vaporização e ith Ep m liu Zona 3: Area de Condensação Zona 4: Hipertermia Tecido Conectivo Figura 3.11 – Preparação histológica de uma seção da mucosa vaginal corada com hematoxilina e eosina (H&E). Como na figura 3.10, existem quatro áreas diferentes após o tratamento com laser fracionado de CO2 SmartXide2 V2LR. A microscopia de luz não mostra modificações estruturais significativas na Zona 4. É possível ver o aspecto em formato de concha característico do tecido conectivo da mucosa vaginal. Perda parcial de birrefrigência e encolhimento de fibras de colágeno em comparação com a área subjacente Area de Condensação Figura 3.12 – A mesma imagem mostrada na figura 3.11, observada no microscópio de polarização. A banda de condensação é escura: o colágeno, devido à desnaturação, perdeu completamente sua estrutura altamente organizada (perda de birrefringência). Na zona 4, existe uma área ampla, imediatamente abaixo da banda de desnaturação, com uma perda parcial de birrefringência e uma redução no diâmetro de fibras de colágeno. 81 As Figuras 3.11 e 3.12 mostram a mesma seção de tecido tratada com o laser SmartXide2 V2LR, observado com microscópio tradicional e microscópio de luz polarizada, respectivamente. Utilizando o microscópio de luz polarizada, é possível confirmar que, na zona 3, existe colágeno desnaturado, que é o colágeno que perdeu completamente seu alto grau de organização molecular: na verdade, este parece completamente escuro, sem nenhum brilho. Se observarmos toda a área abaixo da banda de desnaturação, podemos claramente ver, graças à birrefringência, os feixes em formato de concha de fibras de colágeno, típicos do tecido conectivo da mucosa vaginal. Com uma observação mais exata, é possível, porém, detectar uma nova região que não era facilmente visível com imagem tradicional. Imediatamente abaixo do colágeno desnaturado, existe uma área ampla caracterizada por uma redução no diâmetro das fibras de colágeno. Esta rea, que aparentemente não foi afetada pelo laser, foi, na verdade, envolvida, embora sem dano irreversível a suas estruturas. 3.5.2 Microscopia Eletrônica de Transmissão Após as observações acima mencionadas, nós analisamos diferentes áreas da mucosa usando microscopia eletrônica. A Figura 3.13 apresenta uma seção de tecido tomada da área afetada pela desnaturação de colágeno que corresponde à zona que não apresentou nenhuma birrefringência sob a microscopia de luz polarizada. Na parte superior da imagem, é possível ver uma porção de fibroblasto necrótico contendo um citoplasma sem nenhuma estrutura claramente identificável. Proteínas estruturais são, na verdade, muito sensíveis a efeitos térmicos, muito mais que o colágeno, que é uma proteína extracelular. A coagulação de uma proteína individual 82 é suficiente para parar os mecanismos internos que permitem a sobrevivência e funcionalidade da célula. Pedaçao de fibroplasto necrótico Fibras de colágeno dissolvidas e se dissolvendo Figura 3.13 – Imagem de uma parte de tecido correspondendo à banda de colágeno desnaturado, observado no microscópio eletrônico. No lado superior da imagem, e possível ver uma parte de fibroblasto necrótico. No centro, vários filamentos dispersos sem qualquer organização podem ser observados. Esta é uma característica típica resultante da solubilização de fibrilas de colágeno com a liberação de filamentos moleculares individuais (vista longitudinal). No centro da imagem, é possível ver as fibras de colágeno solubilizadas ou se solubilizando com filamentos dispersos individuais. A desnaturação do colágeno causa a solubilização de seus componentes devido à ruptura de ligações covalentes que mantêm moléculas simples no seu estado organizado natural. A Figura 3.14 mostra a vista transversal de fibrilas de colágeno ainda empacotadas em um estágio inicial de solubilização. O diâmetro das fibrilas está diminuindo e algumas delas já estão rompidas em componentes moleculares filamentosos individuais que mais tarde serão dispersos de forma desordenada. 83 Fibras com diâmetros diferentes Figura 3.14 – Imagem de uma porção de tecido que corresponde à banda de desnaturação de colágeno, observada sob microscopia eletrônica. Vista transversal das fibras de colágeno se solubilizando. É possível ver que algumas fibrilas possuem um diâmetro menor. Na área delimitada pela linha tracejada, existem pontos dispersos ao redor do que era a fibrila de colágeno. Estas são as seções de filamentos individuais que estão descamadas para serem mais tarde arranjadas de uma maneira desordenada. Na figura 3.15 podemos ver uma seção da mucosa cerca de 500 – 600 μm abaixo da banda de desnaturação de colágeno, na zona que apresentou birrefringência sob microscopia de luz polarizada, mas onde o diâmetro das fibras de colágeno é mais estreito em comparação ao diâmetro normal (como mostrado na figura 3.12). Nesta imagem podemos também ver filamentos dispersos que não estão ainda organizados, mas, diferentemente do que vimos na figura 3.13, o fibroblasto não está necrótico e apresenta, ao invés disso, uma membrana perfeitamente preservada e também organelas (retículo endoplasmático rugoso e mitocôndria) bem preservadas e ativas. Dadas as boas condições dos fibroblastos nesta zona, podemos supor que os filamentos dispersos mostrados na figura 3.15 não estão representando o colágeno solubilizado, mas são, ao invés disso, novos filamentos de proteína produzidos pelas células acima. 84 Retículo Endoplasmático Rugoso Mitocôndia Filamentos Dispersos e Desorganizados Figura 3.15 – Imagem de uma parte de tecido aproximadamente 500-600 μm abaixo da banda de desnaturação de colágeno, observada no microscópio eletrônico. Na parte superior da imagem, é possível ver um perfil citoplasmático de um fibroblasto com membrana plasmática perfeitamente preservada e organelas citoplasmáticas altamente organizadas. Na parte inferior, filamentos individuais dispersos podem ser observados. Isto é sugerido pela ultraestrutura de fibroblastos com um retículo endoplasmático rugoso bem desenvolvido cuja cisterna contém um material fibrilar e denso em elétrons, muito provavelmente representando os precursores moleculares de componentes da matriz. Para melhor explicar a hipótese que acabamos de fazer, temos que examinar as vias metabólicas que permitem que os fibroblastos secretem colágeno. Na estrutura geral de um fibroblasto, apresentada na figura 316, podemos identificar diferentes componentes. Entre estes, duas organelas são especialmente importantes para um melhor entendimento: 1. Retículo Endoplasmático Rugoso (RER): consiste em uma série de membranas dobradas que forma a cisterna, enquanto que a palavra “rugoso” refere-se ao fato de que sua superfície externa é rica em ribossomos. 85 Polirribossomos sobre a superfície de membranas de RER, estão unidos sobre uma única molécula de mRNA contendo a transcrição de informação codificada proveniente do DNA, desta forma definindo uma expressão gênica específica (translação) da proteína a ser sintetizada (colágeno ou outras). Resumindo, a tarefa dos ribossomos é sintetizar proteínas utilizando um processo conhecido como “síntese proteica”. Após as proteínas serem formadas, essas são carregadas para dentro da cisterna e são empacotadas dentro de uma membrana (formando o que é denominado desenvolvimento de vesículas de transição) a fim de serem liberadas no espaço extracelular, movendo-se para o aparelho de Golgi onde estas serão modificadas (glicosilação) e liberadas na matriz por exocitose. Ribossomos no RER que sentetizam protéinas usando aminoácidos transportados pelo sangue Fibroblasto Filos de tropocolágeno liberados da célula de uma maneira desorganizada Figura 3.16 – Representação esquemática das vias metabólicas da síntese de colágeno em um fibroblasto. 2. Aparelho de Golgi (G): consiste em membranas planas empilhadas, conhecidas como cisternas. Pode ser considerado como um centro para a produção, armazenagem, classificação e envio, no qual os produtos do retículo endoplasmático rugoso são modificados, armazenados e enviados para fora das células. A transferência de substâncias a partir do retículo 86 endoplasmático rugoso ao aparelho de Golgi é realizado por vesículas de transporte. Em relação a este contexto específico, este tem um papel crítico nas modificações e/ou síntese de glicoproteínas, polissacarídeos (ácido hialurônico e outras glicosaminoglicanas) e proteoglicanas que são liberadas diretamente pelos fibroblastos da matriz extracelular, formando assim a substância fundamental do tecido conectivo. Graças à ação combinada de diferentes estruturas, os fibroblastos ativam a biossíntese de colágeno. Por meio de síntese de proteína dos ribossomos do retículo endoplasmático, cadeias moleculares são formadas se se dobram em grupos de três, desta forma criando uma hélice tripla, as moléculas de procolágeno, estabilizados por ligações químicas específicas. Estas moléculas, utilizando vesículas de transporte, atingem o aparelho de Golgi onde a glicosilação ocorre e aqui, utilizando vesículas secretórias, as moléculas são entregues fora da célula onde resíduos terminais são removidos transformando peptídeos de procolágeno em tropocolágeno[2]. Sob condições ambientais adequadas, moléculas de tropocolágeno são regularmente arranjadas em linhas paralelas, formando fibrilas (processo de fibrilogênese extracelular). Finamente, as fibrilas podem ser arranjadas em linhas paralelas ou onduladas formando fibras, e estas fibras podem, por sua vez, formar feixes (Figura 3.17). Porém, o papel da substância fundamental é crucial para garantir que este processo seja finalizado da maneira apropriada. Somente sua composição correta e calibrada torna possível que as moléculas de tropocolágeno se agreguem e formem uma estrutura de colágeno altamente organizada, tais como a fibrila. O fibroblasto possui, portanto, um papel duplo, pois produz tanto os “blocos 87 de construção” (moléculas de tropocolágeno) que são necessários para formar fibrilas e fibras de colágeno, quanto a ”cola” que é necessária para posicioná-los e arranjá-los da maneira correta (ou seja, os componentes fundamentais da substância fundamental: ácido hialurônico, glicosaminoglicanas e proteoglicanas) (Figura 3.18). Biossíntese de Proteíne Procolágeno Tropocolágeno Fibrila Fibra Figura 3.17 – Fibrilogênese de colágeno na matriz extracelular. Procolágeno sintetizado por fibroblastos dão origem ao tropocolágeno que se agrega em uma organização espacial altamente organizada formando fibrilas e fibras de colágeno. Durante a menopausa, a mucosa é caracterizada pela presença de fibrócitos quiescentes, ao invés de fibroblastos, que não são capazes de produzir ativamente ácido hialurônico e outras moléculas necessárias para formar uma matriz com um nível adequado de glicoproteínas. A mucosa é seca e menos lubrificada, menos nutrida, frágil e suscetível a infecções. Devido ao baixo teor de água no tecido conectivo, tanto nutrientes quanto linfócitos que atingem a lâmina própria pelos vasos sanguíneos apresentam mais dificuldade para migrar através da matriz extracelular e atingir o epitélio, que é a área atacada por agentes infecciosos. O objetivo do tratamento da atrofia vaginal é recuperar 88 e estimular a atividade metabólica pré-menopausa por meio de uma nova síntese de colágeno e também de ácido hialurônico, glicosaminoglicanas e proteoglicanas. O resultado é uma mucosa túrgida hidratada com todas as funções típicas de um tecido mais jovem e saudável. Agregado de Protleoglicana Proteina Central Monômero Proteoglicano Proteina de Uniao Acido Hialurônico Acido Hialurônico Fibrila de Colágeno Figura 3.18 – Representação esquemática da estrutura tridimensional da matriz extracelular consistindo em um componente fibrilar (principalmente colágeno) e substancia fundamental. Conforme os objetivos mencionados acima, temos que ver se é possível fornecer melhor evidência da atividade dos fibroblastos, apesar do curto período de tempo entre o tratamento e fixação de amostra. Com a ajuda da microscopia eletrônica, nós analisamos imagens relativas ao retículo endoplasmático rugoso e aparelho de Golgi em células localizadas na área abaixo do colágeno desnaturado. A Figura 3.19 mostra detalhadamente o aspecto do retículo endoplasmático rugoso de uma destas células. O citoplasma celular parece ser particularmente rico em cisternas do retículo endoplasmático rugoso. Estas estruturas parecem ser formadas por membranas delimitando a cavidade, com numerosos ribossomos (responsáveis por síntese de proteína) ligados a eles. 89 As cisternas do retículo endoplasmático rugoso contêm filamentos e material fofo. Diferentemente do aspecto laminar usual, pobre em material, que é típico de células relativamente quiescentes (fibrócitos), as cisternas são frequentemente dilatadas e contêm vesículas ricas em microfilamentos. Ribossomos Vesículas Figura 3.19 – Imagem da parte interna de um fibroblasto na região aproximadamente 500-600 μm abaixo da banda de colágeno desnaturada, observada no microscópio eletrônico. O Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) é bem desenvolvido com vários ribossomos ligados às membranas das cisternas planas. Algumas destas cisternas desenvolvem vesículas terminais de material filamentoso fino. Este aspecto está também associado a características morfológicas típicas de fibroblastos ativos. Isto sugere uma estimulação metabólica funcional intimamente ligada à síntese de proteínas. É altamente provável que o grande número de filamentos dentro das cisternas do retículo endoplasmático rugoso sejam as estruturas moleculares de procolágeno, precursores que serão direcionados à matriz extracelular para formar fibrilas de colágeno e cuja geração, por meio da montagem de moléculas de tropocolágeno, é dependente da composição molecular da matriz. Outro aspecto peculiar observado 90 nos fibroblastos das amostras examinadas, que pode ser associado às observações relacionadas ao reticulo endoplasmático rugoso e ativação de fibroblastos na neofibrilogênese é o aparelho de Golgi estendido (Figura 3.20), formado por membranas que formam a cisterna lisa e plana, paralelamente arranjadas uma com a outra, frequentemente dilatado com numerosas vesículas associadas. Este aspecto ultraestrutural peculiar pode estar relacionado a uma atividade funcional intensa direcionada tanto para a glicosilação de proteínas provenientes do RER quanto à síntese de glicoproteínas, glicosaminoglicanas e proteoglicanas que formam os componentes da substância fundamental. Todos os aspectos explicados acima podem ser atribuídos a uma condição na qual os fibroblastos são ativados na síntese tanto de proteínas (principalmente colágeno) quanto de componentes moleculares da matriz. Figura 3.20 – Imagem da parte interna de um fibroblasto na região aproximadamente 500-600 μm abaixo da banda de colágeno desnaturada, observada no microscópio eletrônico. O aparelho de Golgi (G) está também bem desenvolvido. Existem vesículas que possivelmente contêm os componentes que formarão a matriz. 91 3.5.3 Discussão Sob as condições experimentais do estudo apresentado neste item, o aspecto importante parece ser a ativação de fibroblastos da mucosa vaginal. Elementos ultraestruturais significativos, tais como o retículo endoplasmático rugoso estendido com membranas arranjadas de tal maneira a delimitar cisternas dilatadas, ricas em ribossomos do lado de fora e filamentos na parte interna, e o aparelho de Golgi, com amplas cisternas em relação íntima com uma quantidade considerável de vesículas, são claramente a evidência de uma intensa síntese de proteínas pelo retículo endoplasmático rugoso. Mais provavelmente, estas são as proteínas precursoras das fibras de colágeno, assim como de proteínas destinadas a unir os polissacarídeos à substância fundamental formando organizações de macromoléculas ricas em sítios polares. O aspecto do aparelho de Golgi, que mostra uma síntese significativamente aumentada de componentes da substância fundamental e glicosilação de proteínas, está intimamente relacionado às observações que acabamos de fazer. A montagem correta de moléculas de tropocolágeno em agregados de fibra com características físicas e mecânicas corretas – o que é crucial para garantir suporte adequado à parede do órgão envolvido no tratamento depende de sua composição. Mecanismos bioquímicos na base destes fenômenos são atribuídos ao efeito térmico causado pelo laser fracionado de CO2 SmartXide2 V2LR, devido às suas características especiais de emissão que permitem a transferência de carga de energia à mucosa enquanto evitam dano localizado excessivo. O comprimento de onda do laser de CO2 é absorvido pelas moléculas de água presentes em grande volume na matriz. Moléculas de água, sejam livres 92 ou ligadas ionicamente a resíduos de carga negativa de polissacarídeos e glicoproteínas, registram um aumento na temperatura que estimula a ativação de um acompanhante molecular específico ao colágeno, conhecido como Proteína de Choque Térmico 47 (HSP47) nos fibroblastos. Isto promove a atividade funcional de fibroblastos com uma síntese de colágeno renovada. Os dados aqui apresentados relacionados ao efeito do laser fracionado de CO2 SmartXide2 V2LR mostram a eficácia deste método e, acima de tudo, permite um melhor entendimento dos mecanismos celulares e moleculares que são os fundamentos de remodelamento tissular, resultando em melhoras estruturais que são necessárias para recuperar o trofismo e função completa das estruturas de suporte da parede vaginal. 3.6 EFEITOS PRÁTICOS NOS SINTOMAS RELACIONADOS À ATROFIA VAGINAL O primeiro capítulo deste livro mostrou como níveis reduzidos de estrógeno durante a menopausa estão intimamente relacionados a alterações na morfologia do epitélio vaginal, redução do fluxo sanguíneo, secreção vaginal e aumento de pH devido a lactobacilos vaginais reduzidos. Após os resultados obtidos com o estudo apresentado nesta publicação, é interessante enfocar as implicações “práticas” que podemos esperar dependendo das melhoras estruturais atingidas graças ao tratamento MonaLisa Touch™. Como já explicado nos parágrafos anteriores, a restauração da composição correta da matriz extracelular – onde as fibras de colágeno estão dentro da substância fundamental com teor de água adequado – permite a restauração da permeabilidade do tecido conectivo, desta forma 93 habilitando a transferência fisiológica de vários nutrientes dos capilares para os tecidos. Quando este processo está comprometido, como o que acontece com a atrofia vaginal, o epitélio (que não contém vasos) não recebe nutrientes e, portanto, se “deteriora” e se torna mais fino, levando aos problemas mencionados no capítulo 1. Portanto, fica claro que o efeito produzido pela tecnologia MonaLisa Touch™ pode beneficiar até mesmo o epitélio, restaurando o trofismo celular epitelial. Também, nos vasos sanguíneos, além de nutrientes, existe ainda um certo nível de estrógenos que, embora em níveis mais baixos em comparação à pré-menopausa, são produzidos por outros órgãos do corpo feminino. Pela restauração da quantidade correta de suprimento sanguíneo na lâmina própria e com um aumento na permeabilidade da matriz, esta contribuição, embora pequena, atinge seu destino no epitélio. Quanto ao “ressecamento” vaginal, este ocorre devido ao trofismo geral reduzido resultante de um fluxo sanguíneo periférico diminuído e, acima de tudo, a um menor nível de hidratação causado pela menor atividade de fibroblastos, que leva a uma matriz menos túrgida, já que é menos hidratada. Graças à composição correta da substância fundamental produzida pelos fibroblastos, a água trazida aos capilares pode reidratar todos os tecidos da mucosa vaginal. Outros problemas causados pelo ressecamento vaginal, tais como prurido ou sensação de ardor, são resolvidos pela restauração do nível de hidratação correto da mucosa. A secreção vaginal reduzida, frequentemente associada à dispareunia (relação sexual dolorida), requer uma análise mais detalhada. Durante os anos, muitos pesquisadores postularam teorias relacionadas à principal fonte de lubrificação vaginal. Uma grande importância foi dada ao papel das glândulas vestibulares maiores (ou glândulas de Bartholin) e glândulas de Skene, localizadas nos 94 genitais externos, que fornecem muco secretado aos lábios menores. Estudos conduzidos por Master e Johnson[3],[4], mostram, ao invés disso, que a lubrificação ocorre devido a secreções produzidas mais profundamente, dentro da vagina. Atualmente podemos declarar que a lubrificação vaginal é mediada por fenômenos neurovasculares e bioquímicos, que são somente parcialmente entendidos[5]. É determinada pela presença de fluido gerado pela combinação de secreções de diferentes estruturas do aparelho genital. O principal componente é o transudato vaginal que resulta do fluxo sanguíneo lento através dos capilares que fornecem água e nutrientes para o epitélio vaginal[6]. Isto permite que o plasma seja transferido do leito vascular, através do epitélio e para a superfície interna vaginal. Durante a excitação sexual, o fluxo sanguíneo para a vagina rapidamente aumenta como consequência da inervação parassimpática fornecida pelos nervos esplâncnicos pélvicos[7]. Isto, por sua vez, causa um aumento no transudato presente entre as células epiteliais vaginais que satura a capacidade de retenção e inunda o lúmen vaginal. Na presença de atrofia vaginal, a quantidade de transudato vaginal cai. Se levarmos em consideração os mesmos mecanismos apresentados para explicar a restauração do epitélio, é fácil imaginar como o tratamento MonaLisa Touch™ pode estimular a produção de transudato vaginal. Em relação às glândulas vestibulares, cujo papel é amplamente debatido, estas irão se beneficiar do tratamento da mucosa vaginal, pois estão adjacentes a ela. Além disso, um tratamento local específico utilizando o laser fracionado de CO2 SmartXide2 V2LR pode estimular a recuperação funcional, assim como acontece com a mucosa vaginal. Finalmente, vamos ver o que acontece com um maior pH. Em mulheres em idade reprodutiva, durante a fase folicular do ciclo ovariano, as células epiteliais da vagina sintetizam e armazenam glicogênio à medida que estas migram em 95 direção à superfície, a partir de onde elas descamam como resultado de esfoliação (Figura 3.21). A taxa de esfoliação aumenta na segunda parte do ciclo e o glicogênio liberado das células esfoliadas é usado pelos lactobacilos vaginais que produzem ácido láctico e tornam a vagina ácida, dessa forma prevenindo a colonização de patógenos. Com a menopausa, o epitélio e a lâmina própria subjacente estão desenvolvendo atrofia: o glicogênio nas células epiteliais reduz e, consequentemente, os lactobacilos são também reduxidos, os quais necessitam de glicogênio para se desenvolver e que são responsáveis pela manutenção do pH ácido. Novamente, podemos fazer algumas observações sobre a restauração do trofismo da mucosa vaginal, que leva a um aumento nos níveis de glicogênio e que pode favorecer a colonização de lactobacilos vaginais, assim como a acidez vaginal. 3.7 NOVOS ESTUDOS Baseado nos resultados inovadores obtidos com o estudo preliminar, estamos planejando um novo estudo com 50 pacientes sofrendo de atrofia vaginal a fim de avaliar o resultado do tratamento MonaLisa Touch™ durante um período mais longo de tempo e para quantificar as melhoras. De acordo com os critérios de inclusão Figura 3.21 – Preparação histológica da mucosa vaginal corada com hematoxilina e eosina (H&E). Mucosa vaginal na idade reprodutiva. As células epiteliais ricas em glicogênio descamam da superfície. [Cortesia do Prof. A. Calligaro – Universidade de Pavia] 96 determinados para o estudo, a seleção de pacientes dependerá das seguintes características e/ou sintomas: • Mulheres pós menopausa que tenham recebido estrógenos nos 6 meses antes do início do estudo; • Sintomas e desconforto relacionados à frouxidão vaginal, com um prolapso de órgão pélvico com um gradiente ≤ I, de acordo com POP-Q (sistema de Quantificação de Prolapso de Órgão Pélvico) designado pela ICS (Sociedade Internacional de Continência); • Ressecamento vaginal; • Irritação ou dor com ardor; • Dispareunia. Os critérios de exclusão são: • Pacientes com um grau de prolapso de órgão pélvico ≥ II (sistema de gradação POP-Q da ICS); • Pacientes com infecções agudas ou recorrentes do trato urinário, ou infecções genitais (herpes genitais, candidíase); • Pacientes com distúrbios sistêmicos clinicamente relevantes que possam interferir no estudo; • Pacientes que tenham sido submetidos à cirurgia reconstrutiva pélvica; • Pacientes que não sejam capazes de entender e seguir as instruções e procedimentos estabelecidos para este estudo. A primeira fase do protocolo clínico inclui tratamentos, em número variando de um a três, a serem realizados em intervalos de um mês. O número de sessões para cada 97 paciente é estabelecido com base na avaliação clínica e na requisição específica da paciente que, em caso de melhora após tratamento, pode desejar ser submetida a outro procedimento para reduzir adicionalmente os sintomas. Na segunda fase, um ou mais tratamentos podem ser replicados após um ano a partir do início da terapia. O protocolo também fornece um acompanhamento, um mês após cada tratamento na primeira fase e, mais tarde, após 6 meses e um ano. O protocolo utilizado é aquele que mostrou ser mais efetivo no estudo preliminar apresentado no item 3.5. Exames histológicos serão realizados em 5 pacientes antes (condições basais) e um mês após o tratamento. Em relação à avaliação clínica, ferramentas objetivas e subjetivas serão usadas, de forma a comparar as condições basais da paciente com aquelas após cada acompanhamento. Mais especificamente, nós usaremos: • Uma escala analógica visual (EAV), variando de 1 a 10, para todos os sintomas de atrofia vaginal (frouxidão, ressecamento, irritação ou prurido, dispaurenia); • O Índice de Saúde Vaginal (VHI) proposto por MD Bachmann[8],[9] que inclui a avaliação dos diferentes sinais de atrofia vaginal e designa uma classificação final; • O PISQ-12 (Questionário de Prolapso de Órgão Pélvico/ Função Sexual e Incontinência Urinária) para avaliar a função sexual de mulheres com prolapso de órgão pélvico e/ou incontinência urinária; • Determinação de pH vaginal; • Um questionário genérico sobre a qualidade de vida da paciente (SF12); • Uma escala Likert[10] definida como a Percepção de Melhora da Paciente para avaliar a percepção da paciente de melhora após o tratamento. 98 3.7.1 Primeiros Resultados Parciais JSomente um mês após os primeiros tratamentos, nós já coletamos alguns dados preliminares que devem ser analisados. As avaliações clínicas são muito encorajadoras e mostram melhoras tanto em termos de sintomas de atrofia vaginal quanto de qualidade de vida geral. Como mostrado na figura 3.22, avaliações realizadas com EAV mostram uma melhora significativa (mais de 50%) dos sintomas relacionados a: • Frouxidão; • Ressecamento; • Irritação e prurido; • Dispareunia. Uma alteração inicial, embora limitada, no pH vaginal foi também detectada. Como explicado no item 3.6, para restaurar um nível adequado de acidez, é necessário que os lactobacilos, os quais necessitam de glicogênio para se desenvolver, colonizem o canal vaginal. Supostamente, este processo requer mais que um mês, já que primeiramente todo o trofismo da mucosa vaginal deve ser restaurado, com consequente aumento no glicogênio celular e esfoliação das células epiteliais usadas pelos lactobacilos para tornar a vagina mais ácida. Uma avaliação mais confiável do pH vaginal será realizada, portanto, após o próximo acompanhamento. As Figuras 3.23, 3.24, 3.25 e 3.26 comparam imagens relativas à mucosa vaginal de uma paciente no início do tratamento e um mês após o tratamento. A avaliação preliminar dos exames histológicos um mês 99 1 mês após um tratamento Frouxidão Ressecamento Irritacão Dispaurenia Sintomas Figura 3.22 – Representação gráfica dos resultados preliminares, um mês após o tratamento, relativa a uma melhora nos principais sintomas relacionados à atrofia vaginal. Os valores apresentados referem-se à avaliação feita com a escala analógica visual após o tratamento mostra que: • A mucosa está bem nutrida com papilas tridimensionais ricas em vasos sanguíneos; • O glicogênio das células epiteliais é claramente visível e está presente em uma maior quantidade em comparação com a condição inicial. A matriz extracelular (fibras de colágeno e substância fundamental) aumentou com numerosos fibroblastos que podem ser identificados após tratamento. Avaliações mais exatas em curto e longo prazo serão realizadas seguindo os procedimentos estabelecidos no protocolo previamente descrito. 100 Figura 3.23 – Preparação histológica de uma seção da mucosa vaginal corada com hematoxilina e eosina (H&E). (A): Mucosa vaginal na condição basal. É possível ver um epitélio mais fino e a presença de papilas. Esta figura morfológica indica atrofia vaginal em um estágio inicial, gradualmente evoluindo em direção a uma condição caracterizada por um epitélio formado por algumas poucas camadas de células e nenhuma papila. (B): Mucosa vaginal da mesma paciente um mês após a sessão com o tratamento MonaLisa TouchTM. O epitélio muito mais espesso e descamação de várias células grandes da superfície livre, junto com maior diâmetro das células epiteliais ricas em glicogênio, demonstram restauração do trofismo metabólico e da dinâmica de todo o epitélio. 101 Figura 3.24 – Amostras histológicas fixadas em uma solução de paraformaldeído/glutaraldeído, incluídas em resina epoxi e coradas com azul de toluidina. (A): Mucosa vaginal na condição basal. (B): Mucosa vaginal da mesma paciente, um mês após uma sessão com o tratamento MonaLisa TouchTM. Existe um nítido armazenamento e liberação de glicogênio no epitélio da mucosa. A ausência de leucócitos no epitélio deve ser também apontada. Figura 3.25 – Amostras histológicas fixadas em solução de paraformaldeído/glutaraldeído, incluídas em resina epoxi e coradas com azul de toluidina. (A): Mucosa vagina na condição basal. (B) Mucosa vaginal da mesma paciente um mês após uma sessão com o tratamento MonaLisa TouchTM. Existe um aumento na matriz do tecido conectivo (fibras e substância fundamental) com uma grande presença de fibroblastos e vasos. Figura 3.26 – Preparação histológica de uma seção da mucosa vaginal corada com Ácido Periódico – Reagente de Schiff (PAS). (A): Mucosa vaginal na condição basal. As camadas mais superficiais do epitélio possuem células pequenas e bem compactadas com ausência de descamação. (B): Mucosa vaginal da mesma paciente um mês após uma sessão com o tratamento MonaLisa TouchTM. É possível observar um epitélio muito mais espesso (EP) e colunas largas de células epiteliais grandes ricas em glicogênio (vermelho). Nas camadas mais superficiais, podem ser vistas células grandes se destacando, ricas em glicogênio. Comparando ambas as figuras, após o tratamento, tecido conectivo muito mais bem organizado (CT) tanto na lâmina própria quanto no núcleo das papilas pode também ser observado. 102 3.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gaspar A, Addamo G, Brandi H. Vaginal Fractional CO2 Laser: A Minimally Invasive Option for Vaginal Rejuvenation. Am J Cosm Surg: September 2011, Vol. 28, No. 3, pp. 156-162. 2. Stephens DJ. Cell biology: Collagen secretion explained. Nature vol. 482, 474–475 (23 February 2012). 3. Masters WH. The sexual response cycle of the human female: vaginal lubrication. Ann N. Y. Acad Sci 1959; 83:301. 4. Masters WH, Johnson V. Human sexual response. Little, Brown & Co. Boston, 1966. 5. Graziottin A, Rovei V, Scarselli GF. Fisiologia della lubrificazione vaginale. In: Jannini E.A. Lenzi A. Maggi M. (Eds), Sessuologia Medica. Trattato di psicosessuologia e medicina della sessualità. Elsevier Masson, Milano, 2007, p. 117-119. 6. Giraldi A, Levin R. Vascular physiology of female sexual function. In: Goldstein I et al. (Eds), Women’s sexual function and dysfunction. Study, diagnosis and treatment. Taylor & Francis, London, 2006, pp. 174-180. 7. Giuliano F, Rampin O, Allard J. Neurophysiology and pharmacology of female genital sexual response. J Sex Marital Ther 2002, 28(Suppl 1): 101-121. 8. Bachmann G. Urogenital ageing: an old problem newly recognized. Maturitas. 1995 Dec;22 Suppl:S1-S5. 9. Bachmann GA. A new option for managing urogenital atrophy in postmenopausal women. Contemp Obstet Gynecol 1997; 42: 13-28. 103 Última Edição Publicada em Novembro de 2012 A atrofia vaginal é uma condição disseminada na população feminina, especialmente na menopausa. O trato genital é, na verdade, particularmente sensível à redução nos níveis de estrógeno e, aproximadamente metade de todas as mulheres na menopausa apresentam sintomas que são típicos da atrofia genital e que profundamente afetam a função sexual, assim como a qualidade de vida. Com esta publicação, a DEKA deseja apresentar o MonaLisa Touch™, um tratamento novo e inovador assistido a laser para a atrofia vaginal. MonaLisa Touch™ permite um rejuvenescimento natural da mucosa vaginal. O termo “rejuvenescimento” refere-se a uma ação profundamente terapêutica, e não somente a um efeito puramente estético. Pela restauração da estrutura pré-menopausa dos tecidos, é também possível recuperar a funcionalidade que a mucosa vaginal perdeu devido ao processo de envelhecimento. DEKA distribuidor para o Brasil Tel. 55 11 5572-1992 www.topconsult.com.br DEKA M.E.L.A. s.r.l. Via Baldanzese,17 - 50041 Calenzano (FI) - Italy Tel. +39 055 8874942 - Fax +39 0558832884 www.dekalaser.com