coração delator: titulo - Faculdade Alfredo Nasser
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1 “O CORAÇÃO DELATOR”: a mente doentia de um narrador-personagem Flaviana P. Silva* Resumo: O objetivo deste artigo é fazer um estudo crítico do conto “O coração delator” de Edgar Allan Poe, observando o comportamento obsessivo e a loucura do narrador. No conto, há um crime a ser esclarecido cujo narrador-personagem está entre o limite do real e o imaginário. A aparência desagradável do velho causa espanto no narrador resultado da sua própria existência, realidade que para ele é consequência das suas próprias imaginações. Para tanto, utilizar-se de teóricos de linha filosófica e psicanalítica, além de outros relacionados à crítica literária, como: Deleuze (2003), Freud (apud AGUIAR, 2005), Chevalier e Gheerbrant (1999), Hockenbury (2003) entre outros. Palavras-chaves: comportamento, obsessão e loucura. INTRODUÇÃO No conto “O coração delator”, de Edgar Allan Poe, é demonstrada a insanidade mental de um narrador protagonista, que conta sua história com total segurança de seus atos, o que no desenrolar do conto causa inquietação ao leitor. O leitor pressupõe no narrador um comportamento obsessivo, ardiloso e de exaltação aos seus feitos a fim de compreender o motivo pelo qual o narrador sente-se ameaçado por um olho medonho. No entanto, esse comportamento é transfigurado, pois no primeiro momento o narrador esmera-se em sagacidade, porém esse sentimento torna-se pavoroso, no instante que este se sente traído pelas batidas do próprio coração. É evidente que a obsessão do narrador é submetida ao inconsciente que tem organização própria, em que existem pensamentos caracterizados pela fantasia e perturbação do mesmo. Predestinado a acabar com aflição, o narrador busca afastar a insegurança, o sofrimento mental que o destrói espiritualmente, esse processo psicológico traz satisfação ao narrador que requer condições para satisfazê-lo interiormente na luta contra si mesmo, internalizando sentimentos apreensivos como * Discente do 8º período de Licenciatura em Letras do Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da Professora Mestranda Meire Lisboa Santos Gonçalves. 2 tormenta e angústia, possibilitando a loucura, o devaneio psíquico em se desfazer do olho maldito do velho, resultando numa ação submissa de entusiasmo e confiança, de que tudo era reluzente aos olhos de quem o via. A loucura cotidiana na qual o narrador se encontra pode ser caracterizada de acordo com a visão de mundo e comportamento que se tem de cada indivíduo, passando, dessa forma, a agir como um louco. Portanto, pretende-se verificar se o narrador é acometido por essas ações, transpondo-as para um comportamento conservador que o isola da própria realidade, por isso, constitui-se o fato em se valer do olhar estranho, um símbolo escolhido pelo narrador, que é motivado por pensamentos confusos através do ímpeto da imaginação. O conto “O coração delator” serve de base para várias análises críticas, pondo em ênfase a cautelosidade do narrador ao longo deste. O mesmo manifesta sentimentos e vontades espantosos a fim de concluir uma sina iniciada ao se deparar com a figura de um senhor que não tinha aparência agradável, um de seus olhos chamava atenção, especialmente, uma parte de sua face, o olho que o perseguia durante sua convivência com o velho diariamente. Pretende-se verificar esses anseios do narrador que, por sua vez, precisou eliminá-lo de seu caminho. Sendo assim, as observações feitas pretendem debater a conduta do devaneio (pensamentos fantasiosos) e a loucura do narrador, se os fatos são reais ou passam apenas de delírios estimulados por uma mente doentia. É importante ressaltar que o conto coloca em nossas mãos diversas opiniões que são formadas durante as leituras, porém não é nosso intuito buscar todas as respostas para as pistas encontradas. 1. “O CORAÇÃO DELATOR”: observações acerca da loucura e do comportamento obsessivo do narrador-personagem. Edgar Allan Poe é considerado um dos autores mais conceituados da literatura do horror. É um dos maiores expoentes da literatura, destacando-se ao escrever histórias com fatos inéditos que provocam reações inquietantes em seus personagens e leitores. 3 Escreveu o conto “O coração delator”, em que desperta interesse e o desejo reprimível de conhecer a angústia de um homem que não consegue explicar sua obsessão por um olho, em específico, o olho de um velho. São muitas façanhas realizadas pelo narrador para se livrar do velho. O convívio presente com o velho proporciona-lhe a angústia, a culpa e o desequilíbrio em seu comportamento de forma descontrolada em diversas ocasiões. Por exemplo, ao se perguntar se estava louco, ele mesmo afirma que não está. Segundo o narrador, ele não o pode ser, porque nenhum louco confessa sua loucura, porém ele dispõe de serenidade e capacidade para considerar e entender as coisas com grande clareza e perspicácia. Se ainda me acha louco, não mais pensará assim quando eu descrever as sensatas precauções que tomei para ocultar o corpo. A noite avançava, e trabalhei depressa, mas em silêncio. Antes de tudo desmembrei o cadáver. Separei a cabeça, os braços e as pernas. (POE, 1987, p. 175) É possível perceber a mudança do comportamento do narrador por fora e por dentro, pela sua consciência e a sua transformação na chegada dos policiais. No conto literário, as mudanças são decorrentes dos processos de transformação, e esta transformação está presente no conto em análise uma vez que a cada noite o modo de olhar do narrador interfere em suas ações, a partir do convívio do dia-a-dia com o velho. O diálogo apresenta-se por trás de uma única voz, primeira pessoa do singular, que se faz predominante no conto, dissimulando as outras vozes e assim podendo defender seus propósitos, tentando persuadir os leitores. Esta única voz é a voz do narrador-personagem. Dessa forma, os leitores desconhecem a própria identidade do narrador e as razões que o levaram a cometer o crime. Tudo que se sabe é por ele, sob sua ótica e explicações. O conto coloca, então, em nossas mãos algumas ferramentas – a própria elaboração discursiva – para se trabalhar e alcançar a descoberta deste mundo sem limites. Ninguém sabe informar sobre o histórico do narrador-personagem, a não ser que era um sujeito estranho e calado. Ele detalha em formato de uma confissão aos três policiais todo o seu proceder antes e depois do crime. Embora, em constante afirmação, de não ser louco, exalta a sagacidade e a frieza com que executa suas ações, demonstrando uma dupla personalidade psicanalítica que pode ser compreendida através da teoria freudiana, que será abordada posteriormente. 4 O narrador sofre de um terror avassalador, fruto de suas próprias fobias e pesadelos, que quase sempre é o retrato de um profundo desatino que se mistura de tal maneira á realidade que não consegue mais diferenciar o perigo, se ele é concreto ou se trata apenas de ilusões produzidas por uma mente atormentada. Meu coração e como minha consciência que batia todas as vezes quando lembrava daquele homem. Pensava que ninguém descobriu a perfeição desse ato, então meu coração saltitava juntamente com a minha consciência trazendo para mim uma satisfação imensa e ao mesmo tempo angústia por ver em todo lugar aquele olho horrendo e o seu coração batendo. (POE, 1987, p. 128) Segundo Proust (DELEUZE, 2003), os signos são interpretações de cada ser ou objeto que nos ensina e emite signos, ato de aprender alguma coisa levando a diferentes mundos e pensamentos. De acordo com o teórico, os signos fornecem os meios para definir ou referir tudo aquilo que aprendemos através dos sentidos, bem como o que pensamos desejamos ou imaginamos. Eles permitem a formação de uma ideia sobre uma realidade não presente, influenciam fortemente o comportamento humano bem como a nossa percepção de mundo. Proust (DELEUZE, 2003) frequentemente aborda situações como esta: em dado momento o herói não conhece ainda determinado fato que virá a descobrir muito mais tarde, quando se desfizer da ilusão em que vivia. Daí o movimento de decepções e revelações que dá ritmo ao conto, o narrador trata-se de um signo malvado, que demonstra ódio, raiva um rancor desprezível e profundo. A voracidade excessiva do narrador é motivada por sua mente doentia que não se restringe aos sentimentos rancorosos que inclui até mesmo a aflição de desejos que remetem a suas lembranças durante o ato cometido. Essas conotações destrutivas estão bem nítidas no consciente/inconsciente do narrador de modo que seus atos refletem a violência e a consciência, que são caracterizadas pelas emoções vividas. No calor da emoção, o narrador fica confuso por imaginar o olho fantasma do velho. De acordo com o dicionário de símbolos de Gheerbrant e Chevalier (1999, p. 653-656), o olho é o órgão da percepção visual, e, de modo natural e quase universal, o símbolo da percepção intelectual. Os olhos são identificados como sol e lua, o olho direito (sol), corresponde à atividade, ao futuro; o olho esquerdo (lua) à 5 passividade e ao passado. A luz que reflete no olho esquerdo do velho, um olho coberto por um véu branco (catarata), lembra a simbologia da lua, o que remete à consciência do passado do narrador; é, portanto, uma exteriorização de sua alma, ao mostrar que o mesmo possui características assustadoras. No conto, o narrador sente-se admirado por ser capaz de descontrair através da sua voz e do seu olhar o ódio oculto que o faz transformar neste ser alienado e sem razão aparente. É possível que esse ressentimento pelo olho do velho e o que ele lhe provocava o tenha deixado fora de si. Ao entrar no quarto todas as noites, o narrador sente satisfação, prazer e alegria por estar ali. Ele envolve-se e se aprisiona num mundo de desatinos que é preciso decifrar. É certo que a dor e a aflição remeteram-lhe na sua consciência à luta entre seu desejo consciente de achar que estaria fazendo a coisa certa e o anseio inconsciente de sair vitorioso sobre o velho. Por várias vezes, esse narrador que não possui nome próprio, afirma não ser louco e como prova de sua verdade conta detalhes de seu crime exaltando serenidade e lucidez. É verdade! Tem sido e sou nervoso, muito nervoso, terrivelmente nervoso! Mas, por que ireis dizer que sou louco? A enfermidade me aguçou os sentidos, não os destruiu, não os entorpeceu. Era penetrante, acima de tudo, o sentido da audição. Eu ouvia todas as coisas, no céu e na terra. Muitas coisas do inferno ouvia. Como, então, sou louco? Prestai atenção! E observai quão lucidamente, quão calmamente vos posso contar toda a história. (POE, 1987, p. 123) Para Proust (DELEUZE, 2003, p.11), no início, “tudo isso é uma intensa alegria de tal modo que essa loucura já se desfaz dos procedentes da paz e da tranquilidade”. Após passar esse sentimento de obrigação e necessidade, o narrador procura apontar os problemas; entretanto, depara-se com a incapacidade de ação diante da possibilidade dos fracassos. Porém, não existe nada e nem ninguém que dissesse que tudo que tinha feito era um sucesso, o seu comportamento era insólito, extraordinário. O comportamento do narrador para com o velho é de extremo desprezo. Por ter um de seus olhos parecido com o de um abutre, o que o deixa perturbado e inseguro, pois representa uma ameaça que inibe o comportamento natural do narrador. De acordo com Proust ( DELEUZE, 2003), o narrador, por mais cruel que seja, é sensível, a loucura no geral constitui diferentes faces de signos mundanos 6 como vazios sofrimentos, dor e mentiras sobre o próprio narrador na sua consciência. Assim, a simbologia do abutre remete a isto, a este sofrimento imposto pelo próprio narrador ao que aquele olho de abutre lhe causa. Segundo a definição de abutre de Chevalier e Gheerbrant (1999, p. 9), ele é o real devorador de entranhas, é considerado um símbolo de morte que se alimenta de corpos em decomposições e imundícies. Pode ser considerado um ser regenerador das forças vitais contidas na decomposição purificadora de um mago que garante o ciclo da renovação, transmutando a morte em nova vida, cuja sabedoria aos olhos dos profanos se reveste com aspecto da loucura e da inocência. Dessa forma, o olhar de abutre do velho representa aquilo que contém no inconsciente do narrador e é vivido com uma grande intensidade de emoção, atribuindo sua influência ao oculto, ao pecado e à penitência. Proust (DELEUZE, 2003) acredita que o homem só procura fazer as coisas em função de uma realidade, de algo que possa sentir através da busca do seu interior, no entanto, é preciso ter conhecimento que transmite sabedoria e experiência para o que se está buscando. O narrador-personagem, muitas vezes, busca em si o dizer a verdade, em insistir que tudo é real, porém é produto de um querer resultante de um impulso para agir a capacidade de prever signos futuros. Ainda segundo o teórico, a profunda modificação da realidade é motivada não só pelo caso do coração ser o delator no referido conto, mas também pela violência, a possibilidade de loucura e crime. É interessante lembrar que o coração é o órgão central do indivíduo e corresponde de maneira muito geral à noção de centro, por isso, ele é tomado como símbolo e não certamente como sede efetiva. Mas, sobretudo, ele é comparado à consciência. É no coração que se encontra o princípio do mal. O homem arrisca-se sempre a seguir o seu coração maldoso. A perversão do coração provém da carne e do sangue. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1999, p. 280-283) São nas lembranças que o narrador demonstra as fases do seu comportamento, tanto no sentimento de raiva quanto no crime cometido, pois são nelas que o sentimento reflete a morte, a culpa que o sente em relação ao olho, que é o próprio signo sensível, no qual encontra a ambivalência, o estado de quem vivencia sentimentos opostos, dor e alegria, ao mesmo tempo. 7 O fato de o narrador confessar o crime aos policiais dá apenas a sensação de uma certeza e põe em evidência o crime contra o velho, a felicidade é substituída pela convicção da morte e do nada. Para o narrador, a morte do velho é sua alegria, a destruição e o desaparecimento do olho asqueroso o que de fato incomodava. “Nada havia a lavar, nem mancha de espécie alguma, nem marca de sangue. Fora demasiado prudente no evitá-las. Uma tina tinha recolhido tudo... ah! ah! ah!” (POE, 1987, p. 126) Verifica-se no conto o predomínio de uma força de pensamento, a loucura, que tem formas diferentes como desejo e a imaginação que estão sempre ligadas umas às outras. O desejo por vontade de acabar com o olho do velho e a imaginação em aceitar que estava realmente louco. O narrador acredita que nem mesmo a sensibilidade pode lhe causar diferença, tanto que não mostra sentimento de culpa aparentemente. Entretanto, sua vida torna-se um martírio, pois ele sente a dor de perder o olho e isso traz emoção para sua consciência, há um coração que o delata. Por outro lado, a obsessão fixa associada em ideias no intuito de aprisionar um dos olhos parecido a de um abutre, cuja aparência o incomodava, causava espanto, era simplesmente assustador olhar para ele, era como se fosse um fantasma que assombrava todas as noites. Logo, a vontade insaciável de acabar com esse medo que existe como algo ameaçador, sobretudo com aparência nada agradável. Os dias lhe parecem misteriosos, uma vez que a razão não consegue explicar ou compreender a misteriosa corrente da vida e de morte, que faz beneficiar de tudo, e o próprio narrador sente essa corrente, a forma de admitir e revelar diante do velho. É isto eu fiz durante sete longas noites... sempre precisamente a meia noite... e sempre encontrei o olho fechado. Assim era impossível fazer minha tarefa, porque não era o velho que me perturbava, mas seu olho diabólico. (POE, 1987, p. 124). No conto, o narrador é um ser individualizado, cujas escolhas o levaram para determinado lugar dentro da história, tendo em vista que, ao mesmo tempo, ele percebe que revelar o crime de assassinato é o essencial da loucura, porém não é 8 necessário, nem desejável confessar. No entanto, é difícil a compreender a realidade interior. Proust (DELEUZE, 2003, p. 30) afirma que a verdade não se separa de uma conversa, pois elas começam pelas confidências no qual decompõem um personagem ou um assunto. “Os signos da sensibilidade pondera ao experimentar sensações afetivas que por um instante estimula o sentimento de sua fraqueza”. Embora sentisse prazer em ver o sofrimento do outro, o narrador nada faz para tentar ajudá-lo a cuidar daquele olho, fazer recuperar-se da enfermidade que sofria e se livrar da doença, pois a sua frieza, calma e serena, era maior que sua benevolência em si. “Meu sangue se enregelava sempre que ele caía sobre mim; e assim, pouco a pouco, bem lentamente, fui me decidindo a tirar a vida do velho e assim libertar-me daquele olho para sempre” (POE, 1987, p. 123). Por fim, chegou o dia em que ele concretizou os seus desejos em tornar-se herói e conseguir reconhecer o seu talento de que tudo estaria perfeito e que seu instinto espiritual tinha a percepção de que a vida estava se tornando mais complexa pelos incidentes imprevisíveis da morte, em ouvir o coração bater. O herói simboliza a união das forças celestes e terrestres, mas não goza naturalmente da imortalidade, diviniza-se bem que conserve até a morte em poder sobrenatural. Assim, para o narrador, nada detém a sua alegria em apreciar e assistir tudo sem dar nenhuma importância ao que aconteceu. Agindo de forma bem natural, o narrador mostra-se frio diante das situações, percebia que estava confuso, quando suas lembranças recobravam-lhe os sentidos, fazendo com que as preocupações fossem figuras indistintas. Proust (DELEUZE, 2003) refere-se, muitas vezes, à necessidade que pesa sobre a pessoa, alguma coisa lhe lembra ou faz imaginar outra. São os pensamentos que fazem delimitar a imaginação e por acontecer, buscando o que não tem existência real. A essência desse conto é a diversidade de ideias para a realidade, independente de o narrador ter cometido o crime, o certo é que cada sujeito tem sua diferença, a diferença interna, os conflitos que a vida o submete, é o que se chama de mundo exterior, o quão está dentro do narrador a razão pela qual a essência do ser humano se reduz a um estado psicológico, o lado desconhecido de um mundo único. Proust (DELEUZE, 2003) vê nela a única prova possível da imortalidade da alma. Na alma daquele que a desvela ou apenas a compreende. Para o narrador, a 9 realidade está voltada para seu interior, buscando reconhecer seus próprios devaneios cujos sentimentos são atribuídos pelo ódio. Não era um gemido de dor ou de pesar, ah, não! Era o som grave e sufocado, que se ergue do fundo da alma, quando sobrecarregada de medo. Bem conhecia esse som. Muitas noites, ao soar a meia noite, quando o mundo inteiro dormia, ele irrompia de meu próprio peito, aguçando, com seu eco espantoso, os terrores que me aturdiam. Disse que bem o conhecia, conheci também o que o velho sentia e tive pena dele, embora abafasse um riso no coração. (POE, 1987, p 125). A memória, por sua vez, é involuntária às razões das lembranças que busca no narrador a parte de seus segredos, aquilo que não pode ser revelado. Em todos os sentidos, a loucura do narrador distingue-se em consequência da maldição que é colocada sobre o olho do velho, que provém também dos efeitos de sentidos que causam divergências consigo mesmo ao discernir o mal, porém os sentimentos e os sofrimentos por quais chegam ao fim pela morte. É possível encontrar a origem dos seus anseios e devaneios, o narrador esforça-se para compreender melhor a dor, a angústia que sente ao realizar-se, ao apropriar-se do olho do velho a cada ameaça pela qual está em um perigo é apenas um reflexo da manifestação da crueldade a qual transmite alegria e ódio, não é apenas a formação descontrolada de agir que permanece no narrador, mas também uma pessoa muito má e perversa, que revela estar em constante problema psicológico. “Os seres mais estúpidos, próprios de quem não são inteligentes, manifestam-se no inconsciente, usurpando da capacidade que tem de substituir os pensamentos mais infames”. (PROUST, DELEUZE, 2003, p. 74) Quando o narrador diz “Não sou louco” no início do conto, percebe-se que as palavras só são elucidadas sob condição de delírios do personagem de modo que surge e ocorre de repente. A loucura aparece e funciona da seguinte forma, no narrador-personagem, seu olhar estranho, sua ira constante, seus medos, são de um louco apavorado e enfurecido. Há a ideia de que o narrador é movido contra ele mesmo, à raiva abominável por uma loucura compulsiva. O narrador sente dentro de si o ser perverso que se torna, desafiando os policiais, sobretudo ele mesmo, pois a responsabilidade prova a situação em que se encontrava, na sua consciência vinham-lhe os medos e também a necessidade de admitir que tivesse matado o velho. Além da condição daquele que tem consciência em assumir seus atos, o narrador desde o início é louco, pois era um ser inquietante 10 seus gestos e suas palavras já demonstravam uma espécie de loucura. Uma natureza inocente que causa inquietação ao ocupar sua mente doentia que leva à convicção do crime. Este se apresenta imediatamente como uma forte personalidade, uma individualidade imperial. Justamente essa individualidade é um império, uma nebulosa que oculta e contém várias coisas, desconhecidas. A nebulosa se forma em torno de dois pontos singulares brilhantes: El Os olhos e a voz. Os olhos ora são transpassados por clarões dominadores, ora percorridos por movimentos bisbilhoteiros, ora com melancólica indiferença. A voz mistura ao conteúdo visível do discurso com o maneirismo efeminado da expressão. (PROUST, DELEUZE, 2003, p.164). O narrador apresenta uma personalidade forte, é um indivíduo que envolve mistérios ocultos; ainda o olho é um mistério a ser desvendado pelo narrador, um olhar de pressentimentos, enigmático, o que pode levar à loucura. É o fato de não lidar com seu próprio devaneio, de transcender os signos que se serve, apesar da afronta que coloca em risco a própria vida. Todavia, o narrador evidencia sua própria loucura, o fantasma e o gesto de demência o fazem imaginar a pessoa cruel que se torna, criando o universo mais profundo da loucura que são os que se entrelaçam à mente; o crime e o silêncio, porém, estão relacionados, já que tudo para ele é maquiavélico, não mede esforços para se concretizar. No conto, o que chama atenção é a neurose do personagem, sofrimentos marcados por angústia, maldição e obsessão que constituem na loucura. A perturbação do narrador diz respeito à individualidade oculta, ao desejo em manifestar o que acontece consigo mesmo, à paranóia e aos delírios que lhe são prudentes caracterizados pelo aparecimento de ideias que evoluem para perseguição ao olho do velho, mas a uma ilusão delirante do personagem. É apenas nesse sentido que se pode indagar o que narrador é capaz de fazer para compreender a si mesmo. Na realidade, um ser vazio, extraído pelas sensibilidades dos sentidos que possui diversas naturezas entre elas a loucura. É importante considerar que a obsessão é uma parte complexa do comportamento do narrador, o desenvolvimento mental é a compreensão de como engloba esse processo recorrente de perseguição dos sentimentos mentais que variam na sua consciência. 11 Segundo Freud (apud HOCKENBURY, 2003), a psicanálise enfatiza os conflitos inconscientes, para determinar o comportamento e a personalidade do indivíduo em suas ações. De acordo com ele, os impulsos são revelados no cotidiano, quando as ideias estão em conflito, influenciam na personalidade, causando distúrbios psicológicos como a loucura e a obsessão. No conto, o pensamento do narrador pode ser percebido pelas apreensões de sentidos, atitudes que demonstram sua voracidade, evidenciando os fatos. A imaginação, concentração e a memória ficam confusas diante da loucura realizada por ele. Por isso, Freud aponta que as motivações nas ações dos seres humanos não são todas conscientes, muitas vezes são impulsionadas pelo inconsciente. Entretanto (Freud) não acredita que as motivações das ações humanas sejam todas conscientes. Ao relacionar a motivação do comportamento humano com os instintos, ele mostra que nem sempre as pessoas estão conscientes da motivação de suas ações, muitas vezes comandadas pela necessidade de satisfação dos instintos. (Apud HOCKENBURY, 2003, p. 553). A personalidade do narrador é definida como padrão único de pressentimentos e fantasias de um individuo que enfatiza o caráter humano. Para o referido teórico, o transtorno está relacionado com a sua conduta de satisfazer o complexo, em deixar transparecer a sua agonia. A vingança do narrador está inconscientemente ativa, a maldade não se desfaz nem mesmo no seu inconsciente, ao contrário, ela é perversa e cruel. Freud (apud HOCKENBURY, 2003, p. 372) acredita que “o inconsciente pode também ser revelado em ações não intencionais que parecem ser acidentais ou não, que são determinadas por motivos inconscientes”. Na teoria de Freud (apud HOCKENBURY, 2003), o instinto da morte, thánatos, é refletido em ações agressivas, destrutivas e autodestrutivas. A morte designa o fim absoluto de qualquer coisa de positivo em um ser humano. Enquanto símbolo, a morte é o aspecto perecível e destrutível da existência, ela indica aquilo que desaparece na evolução irreversível das coisas. Dessa forma, o narrador sofre com autocensura e, até mesmo, de impulsos sucedidos de sentimentos malévolos. “A essência da natureza humana é destrutiva. O controle desses instintos destrutivos é necessário para pessoas neuróticas e infelizes”. (FREUD, apud HOCKENBURY, 2003, p. 385) 12 Segundo o teórico, o comportamento é fortemente influenciado pelo inconsciente, pois a maneira de pensar é negativa, as emoções, o desespero e a raiva extrema proporcionam rancor para os sentimentos e isso faz com que o narrador sinta-se deplorável, incapaz de controlar ou lidar com a situação. Há um momento no conto em que o narrador anda de um lado para o outro sem parar, esse fato é importante já que caracteriza a exaustão, o cansaço do narrador, isso contribui para dificultar, confundindo-se os sentimentos de raiva e ódio. Andava pelo quarto acima e abaixo, com largas e pesadas passadas, como se excitado, até a fúria pela vigilância dos homens... mas o som aumentava constantemente. Oh! Deus! Que poderia eu fazer? Espumei... enraivecime... praguejei! (POE, 1987, p. 128) O narrador, como ser abstrato, com características definidas aparentemente de um louco que não muda, tem na disputa das condições sociais a que está submetido à determinação pelas condições ilusórias que o cercam. Na verdade, este é um problema enfrentado pelo narrador, pois os valores sociais permitem que várias concepções de um homem mudem, o que não ocorre com a personagem em questão, pois a subjetividade e o mundo de ideias com significados e emoções são construídas internamente por este, a partir de suas manifestações comportamentais, e não vinculadas às sociais e à inserção em uma determinada sociedade. O narrador age e pensa da sua maneira, porque existe um dado momento da sua consciência vivendo em determinadas relações que revelam o processo da realidade a ser desvendada, que é atribuído à essência da sua transformação, a partir das suas contradições entendida como um princípio de realidades vividas. O caráter singular e repetitivo do narrador explica, dentro da loucura que abarca, um processo de ilusões imaginárias. O narrador não se desfaz do pensamento negativo de vingança e nem da emoção e prazer em fazer o mal, moldando bem todos os passos do velho, apenas para satisfazer o desejo do seu coração, mas que era também o de sua consciência, arrancar o olho dali. Nos detalhes da sagacidade, o narrador não se contenta com os efeitos, a ironia e o contraste da habilidade misturam-se com sua estratégia de ser um poderoso herói da situação, o que o leva finalmente a defrontar com a sua própria consciência de realidade e imaginação. Num gesto de ira e arrogância, o narrador mata o velho, numa série de cenas tensas e angustiantes, o narrador transforma-se 13 pela reconstrução de seu próprio e desconhecido passado, quando começa a pensar no olho maldiçoado que o atormentava. Ele estava aberto; todo, plenamente aberto. E ao contemplá-lo, minha fúria cresceu. Vi-o, com perfeita clareza; todo de um azul desbotado, com uma horrível película a cobri-lo, o que me enregelava até a medula dos ossos. Mas não podia ver nada mais da face, ou do corpo do velho, pois dirigira a luz, como por instinto, sobre o maldito lugar. (POE, 1.987, p.125). A razão e a obsessão voltam ao passado na memória do narrador a uma vida que jamais teve, porque a vida lembrada é outra, diferente da vida vivida, o que ele afinal recupera é o sentimento impresso em seu subconsciente por toda sua vida pregressa e não os fatos, este como sempre pouco ou nada lhe importa, mesmo porque não se pode ter muita certeza deles. Os sentimentos desaparecem e só fica sua lembrança na memória e essa lembrança é sua representação, um símbolo ainda que se é preciso juntar em se tratando de uma loucura. De qualquer modo, o narrador só possui como certeza da sua vida, as imagens guardadas, em sua minoria, o ódio profundo. A imaginação predomina desgarrada do seu mundo real, operando em possíveis pensamentos perigosos, porque é múltipla a visão da realidade enquanto transforma seu inconsciente. Portanto, o narrador vive o mais profundo desatino, cujo delírio mistura-se com a realidade, não conseguindo mais diferenciar o perigo, se ele é concreto ou se trata apenas de ilusões e obsessões produzidas por uma mente atormentada. Segundo Rotterdam (1972, p. 31), “sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão, e louco ao contrario é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões”. As verdades do conto se fixam sobre o narrador-personagem que, no entanto, não parece estranhar os fatos, direcionando sua história para vários interlocutores identificados pelo pronome pessoal vocês. Como em um depoimento, ele explica como e porque cometeu o crime. Tal situação faz com que os expectadores assumam o papel de testemunhas de sua história. Todavia, para entender os pensamentos complexos do narrador é necessário compreender suas atividades mentais, bem como as diferentes formas da sua realidade, “estabelecer a forma de pensar de acordo com a mudança de cada momento de um individuo”. (MORIN, 1990, p. 23). No paradigma do pensamento complexo, como acentua Morin (1990, p. 34), “o conflito, a contradição e o indeterminado não são elementos a serem eliminados por meio de explicações, 14 mas o contrário, são elementos que devem fazer parte da concepção e percepção da realidade. Um exemplo dado por Morin é o da paranóia, que é uma forma clássica chamada de racionalização delirante. O paranóico vê as pessoas sempre com o pensamento de que querem destruí-lo Para Freud (apud AGUIAR, 2005, p.159), “os instintos são conservadores por natureza, instintos de vida e instintos de morte”. Freud julga que muito de nossa herança cultural mais valorizada foi adquirida à custa de repressão e da inibição dos instintos. A autodestruição tende à morte do interior, manifestando-se sob a forma destrutiva. A psicanálise considera o desejo, a defesa do comportamento perturbador de seu caráter, por isso o narrador é confrontado com o perigo de tensas frustrações. De acordo com o autor, é no inconsciente que vagam pensamentos, desejos e ações que são controladas inconscientemente. Porém, é no subconsciente que os instintos e emoções complexas, como a obsessão, que se aflora, relacionam-se a sentimentos egoístas. Segundo Freud (apud AGUIAR, 2005), o complexo também pode estar relacionado ao seu comportamento, pois tem efeito destrutivo, como os sentimentos de vingança que refletem na vida do narrador, as predisposições e o ódio que são característicos dos maus complexos sofridos por ele. Os instintos, as emoções e os desejos ali vividos pelo narrador-personagem podem ser considerados intensos e que estão dentro dele para serem manifestados. No entusiasmo de minha confiança, trouxe cadeiras para o quarto e mostrei desejos de que eles ficassem ali para descansar de suas fadigas, enquanto eu mesmo, na desenfreada audácia de meu perfeito triunfo, colocava minha própria cadeira, precisamente sobre o lugar onde repousava o cadáver da vitima. (POE, 1987, p.127). Ao sentir-se ameaçado pelo olho assustador, o narrador pensa em como desfazer desse mau que o atormenta demonstrando inquietação. Na maioria dos atos ousados do narrador, a satisfação é realizada frequentemente por suas ações, não demonstrando nenhum tipo de arrependimento, sua covardia é maior que seus próprios anseios, porém é o que determina sua coragem. Jamais, antes daquela noite, sentira eu tanto a extensão de meus próprios poderes, de minha sagacidade. Mal conseguia conter meus sentimentos de triunfos. Pensar que ali estava eu, abrindo a porta, pouco a pouco, e que ele 15 nem sequer sonhava com meus atos ou pensamentos secretos... (POE, 1987, p.124). O ódio pelo olho do velho perturba sua tranquilidade diante dos policiais que é ameaçada e destruída por si mesmo. Para o narrador, o êxito e a felicidade são obstruídos de sua vida, impedindo sua liberdade de consciência. Sob este ponto de vista, o fato importante para livrar-se do velho é o de fazer desaparecer qualquer vestígio que lembre seu olho, uma vez que a razão consente o impulso de matar, de alcançar êxito e segurança. Essa obsessão, no entanto, leva o narrador a destruir a si próprio como se dominasse no interior a necessidade de privações e sofrimentos. O narrador enfrenta o conflito da imaginação e da realidade, pois encontra na sua mente dificuldades como a inquietação e a perturbação que provocam insensatas decisões, sucessivamente. No âmbito psicológico, o imaginário possui uma realidade, de onde vêm fantasias do próprio pensamento de maneira que a consciência ramifica sua personalidade. De certo modo, o narrador nega-se a aceitar o comportamento inconsequente de sua mente, a personalidade que age em si. No conto, percebe-se que o narrador vive isolado, subtraído as suas lembranças desagradáveis e neuróticas. Por muitas vezes, o narrador dedica-se somente aos passos do velho, à insônia e aos tremores noturnos que eram sua companhia. Quando algo se relaciona com as emoções e os sentimentos, as conclusões a que se chegam é que tudo está em perigo. Compreende-se que determinadas ideias apoderam-se da mente, fazendo com que se torne em atos, isto acontece por persuasão lógica da razão e da consciência, são pelas ideias que as emoções transformam-se em resultados. Verifica-se que cada uma das formas de receber as sensações está intimamente ligada ao consciente, produzindo emoções e experiências em razão do ser existencial. A consciência pode ser definida como a função pela qual conhecemos a nossa vida interior, isto é, os fenômenos A psíquicos que a todo o momento se passa em nós, e para o mundo interior, o que os sentidos são para o mundo exterior. (MONTALVÃO, 1987,p. 173) Segundo Montalvão (1987), os instintos são reflexos que ignoram os objetivos, atuam apenas quando o estímulo o excita. Chega-se, portanto, à 16 conclusão de que o equilíbrio, a estabilidade e a normalidade são antes de tudo, uma luta do individuo contra a doença mental. A normalidade conservada à força é permeada pelo sofrimento. O sofrimento é, então, espaço de luta entre a sociedade e a loucura. E isto é o que pode ser verificado no narrador-personagem do conto em análise. Quando surge a loucura, o narrador é acometido de delírio, depressão falsa, inibição, excitação, que se originam mais da organização de sua personalidade, da história e do passado deste. A psicanálise entende que os traços mais estáveis da personalidade enraízam-se na infância, na teoria psicanalítica a organização mental passa por etapas de relações que definem as linhas de personalidade (FREUD, apud AGUIAR, 2005) Os valores pessoais, os sentimentos, as emoções, os medos, os desejos inconscientes, a experiência passada são fatores psíquicos que influenciam no processo perceptivo do narrador. Isso significa que existem mecanismos internos que impedem ou destorcem a percepção de determinados fatos. A barreira à percepção é ocasionada pela rejeição ao desfazer, isso se dá pela fuga, pela negativa inconsciente do narrador de perceber sua realidade interna e externa. Em situações ameaçadoras, de abandono, de medo da morte física e psíquica, o narrador traz consigo o ódio e um rancor desprezível e profundo de raiva, estes signos de maldade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalhar o conto “O coração delator” de Edgar Allan Poe foi algo fantástico e incentivador, pois se pôde perceber o suspense e a obsessão de um narrador atormentado por um olho medonho. Ao desenvolver este artigo, foi percebido que alguns fatores se contradizem entre a realidade e a loucura. O olhar abominável do velho é para o narrador a realidade da sua consciência e imaginação, pois ali estavam contidos todos os seus pensamentos de repulsa e indignação de um olhar vil, comparando a sua realidade. No calor enlouquecedor do narrador-personagem foi possível compreender que os delírios, os devaneios, o comportamento obsessivo são elementos que levam a crer que o narrador estava louco ao cometer os atos decorrentes no conto. O 17 narrador demonstra sua sagacidade em acabar com velho, mais precisamente com o olho que tanto o incomodava. Constatou-se no conto que o narrador-personagem, em decorrência dos fatos acontecidos, coloca em evidência, o desvario e a loucura de um espírito insano que conturba sua consciência numa incessante e incansável aflição por um olho que o perseguia, dando início ao planejamento do crime e sua execução. É certo que fica feliz ao satisfazer essa vontade, porém essa satisfação não permanece por muito tempo, uma vez que após executar o velho, ainda sente-o pelo o pulsar do coração. Verificou-se que esse sentimento permanece, pois a solução que é buscada para os seus problemas com o crime cometido, apenas o satisfaz por um determinado tempo; novamente, ele não se sente feliz, sente-se ameaçado, pois não consegue resolver o problema maior, que está nele mesmo. Portanto, pôde-se verificar o pensamento assassino que procede na vida de um homem e os medos constantes que sempre o atormenta. Ao cometer essa loucura, o narrador sofre por tentar fugir da dor causada em si mesmo e, com isso, as lembranças vagam na sua mente. A ação do narrador traz um tema polêmico que dispõe na literatura uma possível realidade de um crime, aflições e condições psicológicas que o condicionaram a tal ato. Pretende-se que este artigo sirva de base para posteriores pesquisas a respeito da temática abordada, que é tão recorrente nos contos de Edgar Allan Poe, trazendo uma interpretação do conto em uma visão que possibilite a comparação com outros artigos do mesmo autor em trabalhos posteriores. Abstract: The aim of this paper is to make a critical study of the short story "The Tell-Tale Heart" written by Edgar Allan Poe, observing the obsessive behavior and madness of the narrator. In the tale, there is a crime to be explained whose narratorcharacter is the boundary between real and imaginary. The uncomfortable appearance of the old surprises the narrator as a result of his own existence, a reality which to him is caused by his own imagination. So, it will be used theorics of philosophical and psychoanalytic lines, as well others related to literary criticism, as Deleuze (2003), Freud (cited by AGUIAR, 2005), Chevalier and Gheerbrant (1999), Hockenbury (2003) and others . Key words: behavior, obsession and madness. 18 REFERÊNCIAS AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira. Psicologia Aplicada a Administração: uma abordagem Interdisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Tradução de Antônio Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense, 2003. HOCKENBURY, Sandra. Descobrindo a Psicologia. Barueri-SP: Ed. Manole, 2003. MASSAUD, Moisés. A analise literária - o conto. São Paulo: Cultrix, 1983. MONTALVÃO, Alberto. Psicologia e Relações Humanas. Vol 2. São Paulo: Editora Brasileira, 1987. MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. 2. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. 1 ed. São Paulo: Ed. Atenas, 1972. ROUANET, Sérgio Paulo. A Razão Cativa. São Paulo: Brasiliense, 1985. POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. Rio de Janeiro: Globo, 1987.