LA NIÑA E EL NIÑO

Transcrição

LA NIÑA E EL NIÑO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE
SANTA CATARINA
CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA - DASS
Jaqueline Estivallet
Lidiane da Silva
Piter Rafael Scheuer
Priscilla Lüdtke Espíndola
Roseli de Oliveira
LA NIÑA E EL NIÑO
A Influência nas ocorrências tornádicas
em Santa Catarina
Orientadora: Prof.ª Doutora Márcia Fuentes
Florianópolis SC, 2009
1
AGRADECIMENTOS
Agradecemos as professoras Eliane Bareta e Márcia Fuentes pela valorosa atenção,
pelo suporte didático e orientação.
Ao Instituto Tecnológico SIMEPAR, em especial a Cézar G. Duquia, pelas imagens de
radar cedidas para uso neste trabalho.
À EPAGRI/CIRAM, Maria Laura, pela permissão a acesso e pesquisa em banco de
dados, além de uso de informações meteorológicas para complemento de casos aqui
estudados.
Ao meteorologista João Luiz W. Rolim, pelo gentil envio de informações referentes aos
tornados ocorridos em Lebon Régis.
À colega Geisa Rocha que facilitou o acesso a importantes referências que nortearam a
base desse trabalho.
À Marilei Foss, pelo envio de seus trabalhos relacionados a tornados.
E a todas as pessoas amigas e familiares que de alguma forma nos ajudaram a
elaborar e finalizar esse trabalho.
2
RESUMO
Explicações sobre os fenômenos meteorológicos El Niño Oscilação Sul (ENOS), El Niño
(EN) e La Niña (LN) e uma possível relação com a ocorrência de eventos tornádicos em
Santa Catarina (SC) ainda não fazem parte do cenário da pesquisa científica. Esses
fenômenos meteorológicos têm grande influência no clima de todo o Globo, inclusive no
Estado de Santa Catarina, alterando o regime das precipitações e ocasionando tempo
severo. Pelo estudo do fenômeno ENOS, este trabalho consiste em analisar, levantar
dados, e comparar, através de uma média climatológica de 33 anos os eventos
tornáticos ocorridos em Santa Catarina relacionando setenta e sete (77) casos de
tornados ocorridos no Estado de Santa Catarina aos fenômenos El Niño, La Niña e
Neutralidade que ocorrem no Oceano Pacífico Equatorial. Como a proposta inicial foi
conhecer a casuística de tornados em SC, desprezou-se uma análise sinótica complexa
e estudo de caso, o que demandaria tempo e estudo mais profundo, foi feita apenas
uma Revisão da Literatura e pesquisas em materiais jornalísticos. Dessa forma apenas
se complementaram as ocorrências com imagens de satélite, imagens de radar, dados
do Boletim do CPTEC, informações da Defesa Civil, informações de meteorologistas e
EPAGRI/CIRAM, imagens de danos locais, para dar visibilidade e suporte simples a
aspectos sinóticos encontrados nos dias informados, bem como evidenciar situações
conhecidas na literatura científica, como presentes na dinâmica da atmosfera capazes
de gerar tornados. Através da análise do material acima citado foi possível visualizar
que tornados ocorrem durante todo o ano em Santa Catarina, porém, a maior
freqüência de ocorrência se deu no período de La Niña. Já a análise de meses com
mais concentração dos eventos tornádicos verificou-se que janeiro, fevereiro e março
são os meses que mais registram as ocorrências tornádicas, correspondente ao verão,
que concentrou 61,03 % das ocorrências tornádicas, já no outono 9%, no inverno
12,98% e na primavera 16,88%, sendo que anos de influência de El Niño não foram
encontradas ocorrências de tornados no outono.
Palavras-chaves: El Niño. ENOS. La Nina. Neutralidade. Tornado. Tromba d’água.
3
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Padrão de circulação no oceano Pacífico Equatorial em anos de
Neutralidade....................................................................................................................18
FIGURA 2: Evolução do Índice de oscilação Sul desde janeiro de 1951 até janeiro de
1998................................................................................................................................ 21
FIGURA 3: Anomalias de temperatura no Oceano Pacífico...........................................22
FIGURA 4: O Oceano Pacífico Equatorial em condições de EL Niña............................23
FIGURA 5: O Oceano Pacífico Equatorial em condições de La Niña............................25
FIGURA 6: Mostra a prefeitura de Blumenau cercada de água.....................................41
FIGURA 7: Jato Subtropical sobre Santa Catarina em anos de El Niño........................43
FIGURA 8: Visão frontal de uma supercélula com tornado............................................46
FIGURA 9: Idealização da escala Fujita.....................................................................48
FIGURA 10: Comparação entre a Escala Fujita antiga com a EF-Scale em uso nos
EUA.................................................................................................................................49
FIGURA 11: Mapa da região do Tornado Alley...............................................................50
FIGURA 12: Mapa sobre ocorrência de tornados na Bacia do Prata..........................51
FIGURA 13: Zonas de maior probabilidade de ocorrências de tornados no mundo.......52
FIGURA 14: Mapa mundial de ambientes propícios para gerar tornados (19701999)...............................................................................................................................53
FIGURA 15: Encontro de massas de ar sobre a região sul do Brasil.............................54
FIGURA 16: Canoinhas, SC – 1928................................................................................59
FIGURA 17: Manchete de jornal com imagem de estragos..........................................65
FIGURA 18: Matéria de jornal informando a ocorrência de tornado em Painel..............69
FIGURA 19: Núcleos convectivos associados a frente fria no RS e SC........................70
4
FIGURA 20: Estragos em Campo Erê............................................................................71
FIGURA 21: Linha de instabilidade avançando sobre o litoral norte gaúcho antes do
tornado em Passo de Torres..........................................................................................75
FIGURA 22: Frente fria avançando pela região sul do Brasil.......................................76
FIGURA 23: Capa do jornal com imagem da Igreja cortada ao meio, Criciúma –
27/01/2006.......................................................................................................................77
FIGURA 24: Notícia da Igreja destruída pelo tornado voltou a funcionar 3 anos após a
destruição total.....................................................................................................................................78
FIGURA 25: Linha de tempestade com formação supercelular no momento da formação
de tromba d´água............................................................................................................80
FIGURA 26: Célula da tempestade em Laguna, nuvem com topo de 16 km...........81
FIGURA 27: Danos por vendaval em Capivari de Baixo, 06/02/ 2007...........................82
FIGURA 28: Supercélula, Laguna, 06/02/2007...............................................................82
FIGURA 29: Spray giratório de tromba d´água em Laguna, 06/02/2007.......................83
FIGURA 30: Imagem realçada do satélite GOES 10, 22/07/2007.............................84
FIGURA 31: Danos decorrentes de tornado em imóveis da zona rural de Campos
Novos..............................................................................................................................85
FIGURA 32: Notícias do vendaval em Chapecó na capa do Jornal Diário Catarinense,
SC....................................................................................................................................86
FIGURA 33: Danos decorrentes do vendaval que atingiu o município...........................87
FIGURA 34: Capa do Jornal informando a possibilidade de um tornado ter atingido a
região...............................................................................................................................88
FIGURA 35: Célula de tempestade que gerou danos em Içara....................................89
FIGURA 36: Destruição na rodoviária nova de Correia Pinto, que ainda nem fora
inaugurada.......................................................................................................................91
FIGURA 37: Célula convectiva junto a Correia Pinto, 20/06/2008..................................92
FIGURA 38: Célula de tempestade sobre Zortéa – 12/08/2008......................................93
FIGURA 39: Estragos em Zórtea em telhados na mesma rua........................................94
5
FIGURA 40: Notícia sobre possível ocorrência de tornado em Cerro negro..................95
FIGURA 41: Eucalipto tombado na Estação do Epagri, em 11/01/2009.........................98
FIGURA 42: Carta de superfície em 18z, de 11/01/2009................................................98
FIGURA 43: Imagem realçada do satélite GOES 10, com o núcleo convectivo que gerou
o tornado em Urussanga, 11/01/2009.............................................................................99
FIGURA 44: Danos em imóveis em Sombrio................................................................100
FIGURA 45: Noticia sobre os danos de tornado em Sombrio.......................................101
FIGURA 46: Núcleo convectivo isolado sobre Sombrio, 31/01/2009........................102
FIGURA 47: Quadra coberta desabada, imagem de Marcelo Becker..........................103
FIGURA 48: Núcleo convectivo sobre Capivari de Baixo, 01/03/2009..........................104
FIGURA 49: Danos do temporal ocorrido em Criciúma................................................105
FIGURA 50: Núcleo convectivo sobre Faxinal dos Guedes..........................................108
FIGURA 51: Núcleo convectivo sobre Faxinal dos Guedes..........................................109
FIGURA 52: Formação de tornado, 27/09/2009,14h10.................................................110
FIGURA 53: Carta sinótica das 12h45, localizando uma baixa pressão sobre a região
Sul.................................................................................................................................111
FIGURA 54: Núcleos convectivos sobre Fraiburgo.................................................112
FIGURA 55: Cuba retorcida pelo vento, com árvore tombada e galhos partidos ao
fundo..............................................................................................................................113
FIGURA 56: Ginásio totalmente abalado estruturalmente, com ferragens retorcidas
visão interna..................................................................................................................113
FIGURA 57: Ginásio totalmente abalado estruturalmente, com ferragens retorcidas,
visão lateral...................................................................................................................114
FIGURA 58: Torre de transmissão tombada com ferragens retorcidas, visão lateral
......................................................................................................................................114
FIGURA 59: Danos internos decorrentes de sucção de telhado...................................115
FIGURA 60: Célula de tempestade, Araranguá, 28/09/2009.......................................116
6
FIGURA 61: Núcleo convectivo sobre Campos Novos – 14/10/2009.....................118
FIGURA 62: Assinatura do tornado de Campos Novos – 14/10/2009..........................119
FIGURA 63: Ocorrências totais de tornados...............................................................124
FIGURA 64: Sazonalidade............................................................................................125
FIGURA 65: Percentual de ocorrências tornádicas ......................................................126
FIGURA 66: Trombas d’água........................................................................................127
FIGURA 67: Trombas d’água e Tornados.....................................................................127
FIGURA 68: Meses de maior ocorrência.......................................................................128
7
LISTA DE TABELAS
TABELA.1: Anos neutros com duração em meses.........................................................19
TABELA 2: Episódios de El Niño, início, final e sua duração em meses.......................24
TABELA 3: Episódios de La Niña inicio, final e duração em meses...............................26
TABELA 4: Perdas na safra 1982/83 (Região Sul) ........................................................40
TABELA 5: EF-Scale, com conversão de velocidade de vento em Km/h.......................49
TABELA 6: El Niño/Tornados........................................................................................121
TABELA 7: La Niña/Tornados.......................................................................................122
TABELA 8: Neutralidade/Tornados...............................................................................123
TABELA 9: Influência/Estação/Tornados......................................................................124
8
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
.
ASAS - Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul
CCM - Complexo Convectivo de Mesoescala
CDC - Comissão de Defesa Civil do Município
CI - Cavado Invertido
CIRAM - Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia de Santa
Catarina
CPC - Climate Prediction Center
CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
DEDC - Delegacia Estadual da defesa Civil
EF-1 - Tornado força 1 na Escala Fujita Aprimorada
EF-Scale - Escala Fujita Aprimorada
EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
ENOS - El Niño Oscilação Sul
EN - El Niño
ETA - Modelo Meteorológico
EUA - Estados Unidos da América
FUJITA - Fujita-Pearson Tornado Intensity Scale
GMT- Greenwich Mean Time
GPT - Grupo de Previsão de Tempo
IOS - Índice de Oscilação Sul
JBN - Jatos em Baixos Níveis
JPN - Jato Polar Norte
JST - Jato Subtropical
km/h - Quilômetro por hora
LN - La Niña
N/C - Não consta a informação
NCAR - National Center for Atmospheric Research
NCEP- National Centers for Environmental Prediction
9
NOAA - Agência Nacional da Atmosfera e Oceano
Ma - Mach
mP - Massa Polar
mTa - Massa Tropical Atlântica
mTc - Massa Tropical Continental
OC - Oscilação Sul
PR - Paraná
RBS - Rede Brasil Sul
RS - Rio Grande do Sul
SC - Santa Catarina
SP - São Paulo
Sr. - Senhor
TCU - Cúmulus Congestus
TO - Tornado
TR - Tromba d’água
TSM - Temperatura da Superfície do Mar
TV - Televisão
VC - Vórtices Ciclônicos
VCAN - Vórtice Ciclônico em Altos Níveis
Z - Zulu
ZCAS - Zona de Convergência do Atlântico Sul
ZCIT - Zona de Convergência Intertropical
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................13
1.1 OBJETIVOS..............................................................................................................15
1.1.1 Objetivo Geral.........................................................................................................16
1.1.2 Objetivos Específicos.............................................................................................16
1.2 JUSTIFICATIVA........................................................................................................16
2 CARACTERIZAÇÃO DA NORMALIDADE - OCEANO PACÍFICO EQUATORIAL...17
2.1 DEFINIÇÃO...............................................................................................................17
2.1.1 Anos Neutros..........................................................................................................18
2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS FENÔMENOS ENOS, EL NIÑO E LA NIÑA.................19
2.2.1 ENOS - El Niño Oscilação Sul................................................................................19
2.2.2 Definição.................................................................................................................19
2.3 El NIÑO.....................................................................................................................21
2.3.1 Definição.................................................................................................................21
2.3.2 Anos de El Niño......................................................................................................24
2.4 LA NIÑA.....................................................................................................................24
2.4.1 Definição.................................................................................................................25
2.4.1.1 Anos de La Niña..................................................................................................26
3 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA EM SANTA CATARINA.........................................27
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA............................................................................27
3.1.1 Sistemas estáveis..................................................................................................27
3.1.2 Sistemas Instáveis..................................................................................................29
3.2 EFEITOS DE EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL DO BRASIL.........................................38
3.2.1 Efeitos de El Niño...................................................................................................38
3.2.1.1 Um dos El Niños mais intensos do século: 1982/83...........................................39
3.2.2 Efeitos de la Niña...................................................................................................41
11
3.2.2.1 Um dos La Niñas mais intensos do século: 1988/89...........................................41
3.3 ENOS, EL NIÑO e LA NIÑA INFLUENCIANDO O CLIMA CATARINENSE.............42
3.4 TORNADOS .............................................................................................................44
4 TORNADOS EM SANTA CATARINA.........................................................................45
4.1 DEFINIÇÃO...............................................................................................................45
4.2 ESCALA DE CLASSIFICAÇÃO DOS TORNADOS..................................................47
4.3 CORREDOR DOS TORNADOS NA AMÉRICA DO SUL..........................................49
4.4 A FORMAÇÃO DE TORNADOS NO SUL DO BRASIL – ESTADO DA ARTE.........53
4.5 HISTÓRICO DOS TORNADOS EM SANTA CATARINA..........................................56
4.5.1 Cidades com ocorrências tornádicas em SC ........................................................57
4.5.1.1 Cidade com ocorrência em 1928.........................................................................58
4.5.1.2 Cidades com ocorrências em 1976.....................................................................59
4.5.1.3 Cidades com ocorrências em 1977.....................................................................60
4.5.1.4 Cidades com ocorrências em 1984.....................................................................60
4.5.1.5 Cidades com ocorrências em 1987.....................................................................60
4.5.1.6 Cidades com ocorrências em 1989.....................................................................61
4.5.1.7 Cidades com ocorrências em 1995.....................................................................62
4.5.1.8 Cidades com ocorrências em 1996.....................................................................63
4.5.1.9 Cidades com ocorrências em 1997.....................................................................63
4.5.1.10 Cidades com ocorrências em 1998...................................................................64
4.5.1.11 Cidades com ocorrências em 1999...................................................................66
4.5.1.12 Cidades com ocorrências em 2000...................................................................66
4.5.1.13 Cidades com ocorrências em 2002...................................................................67
4.5.1.14 Cidades com ocorrências em 2003...................................................................68
4.5.1.15 Cidades com ocorrências em 2004...............................................................71
4.5.1.16 Cidades com ocorrências em 2005..................................................................72
4.5.1.17 Cidades com ocorrências em 2006...................................................................74
4.5.1.18 Cidades com ocorrências em 2007...................................................................79
4.5.1.19 Cidades com ocorrências em 2008...................................................................89
4.5.1.20 Cidades com ocorrências em 2009...................................................................96
12
5 ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO......................................................................120
6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES......................................................................129
REFERÊNCIAS.............................................................................................................131
ANEXOS.......................................................................................................................140
ANEXO A – Episódios de tornados e trombas d´água em Santa Catarina de 1976 a
2000...............................................................................................................................141
ANEXO B – Distribuição espacial dos tornados em SC de 1976 a 2003......................142
ANEXO C – Tornados pesquisados e classificados......................................................143
ANEXO D – Tornados e trombas d´água ocorridos em Santa Catarina.......................144
ANEXO E – Localização de trombas d’água em Santa Catarina..................................145
ANEXO F – Resumo de dados sobre Trombas d’água em Santa Catarina .................146
ANEXO G – Tornado destrói 1 km de floresta..............................................................147
ANEXO H – Até agora me arrepio................................................................................148
ANEXO I – Sul do Estado revive o drama do Catarina.................................................149
ANEXO J – Três ficam feridos em temporal na terça-feira...........................................150
ANEXO K – Vendaval e granizo atingem Correia Pinto................................................151
ANEXO L – Hospital de cidade atingida por tornado em SC ainda tem 20 leitos
interditados....................................................................................................................152
ANEXO M – Tragédia em Capivari: Previsão é de mais temporais..............................153
ANEXO N – Tornado destrói na Serra Catarinense......................................................154
ANEXO O – Tempo Severo castiga mais uma vez o Rio grande do Sul e Santa
Catarina.........................................................................................................................155
ANEXO P – Decreto no 185 – Correia Pinto.................................................................156
ANEXO Q – Episódios de El Niño, La Niña e Neutralidade, CPC, 2009.......................157
13
1 INTRODUÇÃO
Explicações sobre os fenômenos meteorológicos El Niño Oscilação Sul (ENOS), El Niño
(EN) e La Niña (LN) e uma possível relação com a ocorrência de eventos tornádicos em
Santa Catarina (SC) ainda não fazem parte do cenário da pesquisa científica.
Na
América do Sul, grande parte da variabilidade interanual do tempo e clima,
principalmente das precipitações e eventos severos, é modulada pelos efeitos do
fenômeno El Niño Oscilação Sul no Oceano Pacífico Equatorial (GRIMM, 2009). O
fenômeno ENOS foi caracterizado por Gilbert Walker, devido à variação da pressão
atmosférica nos extremos leste e oeste do Oceano Pacífico. No entanto, a dinâmica
sazonal que ocorre na região Sul do Brasil, principalmente no Estado de Santa Catarina
pode ser modificada quando há interferências do ENOS. Isto se dá tanto em sua fase
quente ou negativa (EL Niño), quanto fria ou positiva (La Niña), influenciando no ritmo
climático da região, podendo causar chuvas e estiagens, respectivamente (BERLATO e
FONTANA, 2003).
O fenômeno El Niño pode ser caracterizado por um aquecimento anormal das águas
superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Este aquecimento produz mudanças na
posição da convecção das águas do Pacífico, causando alterações nas condições
climáticas em várias regiões ao redor do planeta. No Brasil, extremos deste fenômeno
estão associados a ocorrências de secas no Nordeste e enchentes no Sul e Sudeste.
Nos anos de 1982/83 o sistema climático global exibiu a maior variabilidade observada
no século.
Os desastres climáticos ocorridos neste período são exemplos das
conseqüências de um El Niño de magnitude histórica, responsável pela maior enchente
do século na região Sul do Brasil.
Já o fenômeno La Niña corresponde ao resfriamento anômalo das águas superficiais do
Oceano Pacífico Equatorial. E durante os eventos de La Niña, as anomalias climáticas
são geralmente inversas às observadas durante o El Niño (OLIVEIRA, 2003). Em
condições de La Niña o globo Terrestre sofre várias modificações, através do
resfriamento acima do normal no Pacífico que acaba alterando a circulação dos ventos,
14
acelerando a atuação de frentes frias, contabilizando recordes de baixas temperaturas,
além de causar seu principal efeito, as secas severas.
Segundo Schaefer & Marzban (2000), possíveis relações entre El Nino/La Nina e a
ocorrência de tornados nos Estados Unidos foi estudada recentemente. As conclusões
foram bastante variadas e indicaram que entre os meses de fevereiro e julho, em anos
de El Niño ocorria uma diminuição acentuada no número de tornados no Tornado Alley,
Arkansas, Louisiana, e Iowa. Porém, em Ohio e Tennessee, as ocorrências
aumentavam consideravelmente durante anos de La Niña. O autor informou que foram
contabilizados tornados anualmente, tempestades de granizo e tempestades de vento,
no Missouri. Notou que na região teve mais tornados em anos de La Niña que em anos
de El Niño. No entanto, tempestades de granizo e vento eram mais freqüentes em
épocas de El Niño. Os referidos autores pesquisaram a relação da temperatura da
superfície do mar no Pacífico tropical e os tornados nos Estados Unidos da América
(EUA) e de acordo com achados informaram que o El Niño parece não ter nenhuma
correlação positiva com a atividade tornádica nos EUA (SCHAEFER e MARZBAN,
2000).
No Brasil, os tornados têm adquirido maior visibilidade em anos recentes.
Os
equipamentos eletrônicos de mídia digital têm documentado fartamente os eventos
tornádicos. Os meios de comunicação divulgam danos e tragédias pessoais, e os
governos contabilizam prejuízos quando uma tempestade tornádica devasta uma
cidade. A intensidade que os tornados alcançam tornam esses fenômenos um dos
principais responsáveis pela ocorrência do desastre natural em diferentes partes do
globo (MARCELINO et al., 2004). Em contraponto ao desastre gerado por um tornado
que é catastrófico quando se faz presente, pouco se encontram pesquisas sobre o
assunto, e percebe-se, então, a escassez de estudos de tornados no Brasil. Alguns
centros de meteorologia brasileiros (Climatologia Urbana de São Leopoldo, METSUL,
SIMEPAR, CPTEC, EPAGRI/CIRAM, CLIMATERRA, CLIMATEMPO, CEPAGRI)
sempre informaram sobre a ocorrência de tornados e pesquisadores fizeram
importantes trabalhos para que a visualização do fenômeno fosse possível a nível
climatológico (DYER, 1986; NECHET, 2002; MARCELINO, 2000, MARCELINO 2003)
15
outros fizeram estudos de caso (LIMA, 1982; SILVA DIAS e GRAMMELSBACHER,
1991; MENEZES, 1994; MASSAMBANI, 1998; ANTONIO, 1995; NASCIMENTO, 2004;
NASCIMENTO, 2005; NASCIMENTO, 2006) gerando dados relacionados à formação e
dinâmica atmosférica no momento em que o fenômeno deixou suas marcas em solo. O
estudo sobre tornados em Santa Catarina é recente, pesquisas científicas começaram a
ser desenvolvidas na década atual (MARCELINO, 2000; MARCELINO, 2003;
MARCELINO, 2004; MARCELINO, 2005; NASCIMENTO e MARCELINO, 2005; FOSS e
PAMPUCH, 2008; CARDOSO et al., 2008; CRUZ et al., 2008; SILVA, 2009), mesmo
assim o Estado, segundo Brooks e Dotzek (2007), situa-se em uma das áreas de maior
probabilidade de ocorrência de tornados no mundo.
Em um resumo sobre o verão atípico de 2007/2008, Cruz et al (2008) afirmam que
Santa Catarina é propícia à ocorrência de fenômenos como tornados, por sua
localização geográfica e orográfica, devido ao encontro das massas de ar tropical e
extratropical o que constitui uma região frontogenética. Os autores contabilizam dois
tornados e uma tromba d´água em Santa Catarina durante esse verão, com queda de
granizo e ventos fortes, por ocasião de passagem de frentes frias.
Os autores
informaram que o verão de 2007/2008 foi influenciado pelo fenômeno “La Nina”, e os
temporais que ocorreram no estado precipitaram granizo e foram acompanhados de
ventos fortes durante a passagem de frentes frias.
A riqueza da fenomenologia climática catarinense e o entendimento das combinações
atmosféricas que regem o dia a dia do estado emerso em desastres é o foco deste
trabalho.
1.1 OBJETIVOS
Os objetivos desse trabalho consistiram em analisar, levantar dados, e comparar,
através de uma média climatológica de 33 anos os eventos tornádicos ocorridos em
Santa Catarina com o fenômeno ENOS.
16
1.1.1 Objetivo Geral
Verificar a influência do fenômeno El Niño e La Niña nas freqüências de ocorrência de
eventos tornádicos em Santa Catarina.
1.1.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos que nortearam a pesquisa são:
a) conhecer o fenômeno ENOS;
b) verificar a influência do ENOS nas freqüências de ocorrência de tornados no EUA;
c) conhecer o clima de Santa Catarina;
d) analisar características de tornados em Santa Catarina;
e) fazer levantamento histórico de tornados em Santa Catarina;
f) comparar as freqüências de eventos tornádicos com eventos ENOS, num período de
33 anos.
1.2 JUSTIFICATIVA
Estabelecer uma climatologia dos tornados em Santa Catarina é algo que norteou
pesquisas recentes. Renovar e ampliar esses dados é algo muito importante para
gerar novos referenciais e aprofundar o entendimento de fenômenos tornádicos no
cenário do Estado catarinense, que é um estado que demarca sua história com
eventos severos ligados ao clima e aos desastres naturais.
Na tentativa de reconhecer vínculos consistentes que possibilitem estabelecer relações
entre os fenômenos El Niño, La Niña e neutralidade e o entendimento na influência ou
não na freqüência de ocorrências tornádicas no estado catarinense, colaboram na
produção de dados e resultados para o entendimento do que ocorre na atmosfera e em
superfície e do que pode tornar-se um parâmetro atmosférico potencial ou não.
Este estudo climatológico ampara estudos futuros focados nos tornados, bem como no
entendimento dos fenômenos que influenciam na atmosfera do estado catarinense.
17
2 CARACTERIZAÇÃO DA NORMALIDADE - OCEANO PACÍFICO EQUATORIAL
À compreensão de como funciona a circulação atmosférica e marítima em anos com
ocorrência de El Niño e La Niña, necessita, primeiramente, entender como é o padrão
de circulação no Oceano Pacífico Equatorial nos anos sem anormalidades, ou seja,
sem a atuação desses fenômenos.
2.1 DEFINIÇÃO
Os ventos alísios, que sopram de leste para oeste, sobre a superfície do oceano
Pacífico Equatorial, fazem as águas mais quentes se acumularem na parte ocidental
do oceano, junto à Indonésia. Como a temperatura das águas nessa região está maior,
há mais evaporação e conseqüentemente maior formação de nuvens e chuva.
A
atuação dos ventos alísios favorece a ressurgência na parte oriental do Pacífico
Equatorial, próximo à costa oeste da América do Sul. Esse mecanismo é responsável
pela afloração das águas mais profundas do oceano, que segundo (OLIVEIRA, 2003)
são mais frias e ricas em nutrientes e microorganismos que servem de alimento para
os peixes, tornando a região uma das mais piscosas do mundo.
A diferença de temperatura na superfície do oceano Pacífico Equatorial, forma uma
região que separa as águas quentes a oeste, das águas frias a leste, denominada
Termoclina. Que é mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e mais profunda
no Pacífico Equatorial Ocidental, como pode ser observado na Figura 1.
18
Fonte: OLIVEIRA, 2003.
FIGURA 1: Padrão de circulação no oceano Pacífico Equatorial em anos sem a presença de El Niño e
La Niña
A circulação atmosférica no Oceano Pacífico Equatorial forma a Célula de Walker,
onde o ar é deslocado de leste para oeste pelos ventos alísios em baixos níveis e na
direção contrária pelos ventos contra alísios em altos níveis, juntamente com o ar
ascende no Oceano Pacífico Equatorial Central e Ocidental.
Responsável pelas
chuvas na Indonésia, e descende no Oriental, que impede a formação de nuvens e
chuvas na costa da América do Sul (OLIVEIRA, 2003).
2.1.1 Anos Neutros
Na Tabela 1, constam os anos em que a interação oceano-atmosfera encontrava em
condição normal, de neutralidade, isto é, não tinha nenhuma atuação dos fenômenos El
Niño e La Niña.
19
TABELA 1: Anos neutros com duração em meses.
ANOS DE NEUTRALIDADE
Início do evento
06/1976
03/1977
02/1978
07/1983
10/1985
03/1988
06/1989
08/1992
04/1995
04/1996
06/1998
07/2000
03/2001
04/2003
03/2005
02/2007
07/2008
06/2009
Fim do evento
08/1976
08/1977
04/1982
09/1984
05/1986
04/1988
04/1991
04/1994
08/1995
04/1997
08/1998
09/2000
04/2002
05/2004
07/2006
08/2007
11/2008
08/2009
Duração
(meses)
04
06
51
15
08
02
23
21
05
13
03
03
14
14
17
07
05
15
Fonte: Adaptação de Climate Prediction Center (CPC), Estados Unidos da América (E.U.A)
2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS FENÔMENOS ENOS, EL NIÑO E LA NIÑA
O fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) mostra a interação oceano-atmosfera, já El
Niño e La Niña são fenômenos associados ao aquecimento ou resfriamento da
temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico Equatorial, resultando efeitos
diversos no clima do planeta.
2.2.1 ENOS - El Niño Oscilação Sul
El Niño Oscilação Sul caracteriza-se por ser um fenômeno atmosférico de grande
escala que ocorre no Oceano Pacífico e relaciona-se a dois mecanismos que revelam a
ligação existente entre o oceano e a atmosfera.
2.2.2 Definição
20
O fenômeno El Niño Oscilação Sul mostra de forma marcante o forte acoplamento
oceano-atmosfera que se manifesta no Oceano Pacífico Equatorial. O El Niño (EN)
representa o componente oceânico, como será explicado mais a frente, enquanto a
Oscilação Sul (OS) correlaciona a inversibilidade entre a pressão atmosférica nos
extremos leste e oeste do Oceano (BERLATO e FONTANA, 2003).
Esta correlação foi comprovada pelo matemático britânico Gilbert Walker na década de
1920 e é conhecida como gangorra barométrica.
Analisaram-se duas estações
meteorológicas, uma no Oceano Pacífico e outra no Índico e verificou-se que, quando a
pressão aumentava no Oceano Pacífico, diminuía no Oceano Índico e vice-versa. Além
da variação de pressão percebidas nos oceanos, também se leva em conta a grande
extensão da região onde ocorrem às anomalias da Temperatura da Superfície do Mar
no Pacífico e somado a grande capacidade de um fluído, como a água, em transportar
energia faz com que os fenômenos provoquem mudanças no padrão normal de
circulação atmosférica. Por isso, a ocorrência do ENOS é vista como o principal agente
das anomalias climáticas que ocorrem em várias partes do globo. O fenômeno ENOS
pode ser quantificado pelo Índice de Oscilação Sul (IOS). Este índice representa a
diferença entre a pressão atmosférica reduzida ao nível médio do mar entre o Oceano
Pacifico Central (Taiti) e o Oceano Pacífico do Oeste (Darwin/Austrália). Esse índice se
relaciona com as mudanças na circulação atmosférica nos níveis baixos da atmosfera,
conseqüência
do
aquecimento/resfriamento
das
águas
superficiais
na
região
(OLIVEIRA, 2003). Quando os valores são negativos ocorre o El Niño, já os valores
positivos são indicadores da La Niña e valores próximos de zero indicam anos normais,
como se pode observar nas oscilações apresentadas na Figura 2.
21
Fonte: OLIVEIRA, 2003, p.20.
FIGURA 2: Evolução do Índice de oscilação Sul desde janeiro de 1951 até janeiro de 1998
A observação das condições do Oceano Pacífico Equatorial é considerada essencial
para a predição de curto período de variações climáticas, pois, além do monitoramento
no Oceano através do IOS, a Agência Nacional da Atmosfera e Oceano (NOAA), dos
Estados Unidos, opera uma rede de bóias que medem temperatura, correntes e ventos
na faixa equatorial. Assim, estes equipamentos transmitem diariamente dados que são
colocados à disposição, em tempo real, de pessoas e instituições envolvidas com
pesquisa e previsão de tempo em todo o globo terrestre.
2.3 El NIÑO
A palavra El Niño em espanhol significa “o menino”, e se refere à presença de águas
quentes que todos os anos apareciam na costa norte do Peru na época de Natal. Os
pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de
“Corriente de El Niño” em referência ao Menino Jesus.
2.3.1 Definição
El Nino é o fenômeno natural e ao mesmo tempo um componente oceânico que está
associado ao aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial, entre a
costa peruana e australiana, que afeta o clima de muitos países da América do Sul,
22
inclusive o Brasil. Este fenômeno resulta em excessiva precipitação em algumas
regiões bem como seca em outras e representa uma alteração do sistema oceanoatmosfera com conseqüências climáticas em todo o planeta. Constata-se não somente
a presença das águas quentes da Corrente El Niño, mas também mudanças na
atmosfera próxima à superfície do oceano, com o enfraquecimento dos ventos alísios,
que sopram de leste para oeste na região equatorial, podendo até inverter de sentido,
passando a soprar de oeste. Segundo Oliveira (2003) devido a esse enfraquecimento
há uma diminuição no acúmulo de água quente no Oceano Pacífico Oeste - anomalia
da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) - que fica mais acentuada no Oceano
Pacífico Equatorial e costa oeste da América do Sul. E também afeta a ressurgência
das águas frias do Oceano Pacífico Leste, pois existe a diminuição da diferença de
temperatura e de pressão entre leste e oeste, reduzindo ainda mais os ventos alísios.
Com o aquecimento do oceano e o enfraquecimento dos ventos, começam a ser
observadas determinadas mudanças nos padrões de transporte de umidade, e,
portanto variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes
médias e altas. A Figura 3 representa as diferentes temperaturas do Oceano Pacífico e,
nas cores avermelhadas, as temperaturas mais elevadas.
Fonte: NOAA, dez 1997.
FIGURA 3: Anomalias de temperatura no Oceano Pacífico.
A termoclina (fronteira entre a água quente superficial e a água quente do fundo), em
tempos de El Niño, adquire menor inclinação, tornando-se mais profunda no Pacífico
leste, costa da América do Sul e mais rasa no Pacífico oeste (Indonésia). No entanto,
quando ocorre o evento de El Niño muito forte, a Termoclina se transforma em uma
23
superfície plana em todo o Oceano Pacífico Tropical. Com isso, passa a existir uma
diminuição nas ressurgências, fazendo com que animais marinhos busquem alimentos
nas áreas mais profundas do oceano; este fato faz com que haja muitos prejuízos na
atividade pesqueira, aliando-se numa diminuição na população de pássaros (OLIVEIRA,
2003).
A Figura 4 mostra a Termoclina na região do Equador e as condições gerais de
formação do fenômeno El Niño. Acima tem a célula de Walker (nebulosidade) e as
convecções marítimas e atmosféricas indicadas por setas.
Fonte: OLIVEIRA, 2003.
FIGURA 4: O Oceano Pacífico Equatorial em condições de EL Niño
Com o aquecimento das águas no Oceano Pacífico Central, há um deslocamento da
Célula de Walker (alta pressão atmosférica) para leste. Esse deslocamento força o
ramo de ar descendente a posicionar-se sobre o continente sul-americano, provocando
condições favoráveis de estiagem sobre a Amazônia e, em alguns destes eventos mais
intensos, sobre o Nordeste do Brasil. A Temperatura da Superfície do Mar (TSM) se
estende em grande extensão do Oceano Pacífico Central e próximo à costa oeste da
América do Sul. Em anos de El Niño mais intenso, a diferença pode chegar a mais que
5ºC em relação aos valores normais. No Oceano Pacífico Equatorial Oeste, as águas
24
quentes ficam mais concentradas sobre a Linha Internacional de Data (180ºW) e ficam
menos quentes próximos à Indonésia e norte da Austrália.
Outra conseqüência de um El Niño é a alteração do clima em todo o Pacífico equatorial:
as massas de ar quentes e úmidas acompanham a água mais quente, provocando
chuvas excepcionais na costa oeste da América do Sul e secas na Indonésia e
Austrália. Pensa-se que este fenômeno é acompanhado pelo deslocamento de massas
de ar a nível global, provocando alterações do clima em todo o mundo. E hoje a ligação
entre os efeitos climáticos em diferentes partes do globo com o "El Niño" está
razoavelmente estabelecida.
2.3.2 Anos de El Niño
Na Tabela 2, mostram-se dados temporais do efeito El Niño com sua respectiva
intensidade. As células em azul da duração de El Niño indicam eventos acoplados
desse fenômeno, os dados utilizados para análise provêm de pesquisas do Dr. John
Janowiak do Climate Prediction Center (CPC) - Estados Unidos da América.
TABELA 2: Episódios de El Niño, início, final e sua duração em meses.
ANOS DE EL NIÑO
Início do evento
08/1976
09/1977
04/1982
08/1986
04/1991
05/1994
05/1997
05/2002
06/2004
08/2006
09/2009
Fonte: Adaptação de OLIVEIRA, 2003.
2.4 LA NIÑA
Duração
Fim do evento
02/1977
01/1978
07/1983
02/1988
07/1992
03/1995
05/1998
03/2003
02/2005
01/2007
10/2009
(meses)
07
05
16
18
16
10
13
11
09
06
02
Intensidade
Do El Niño
Fraco
Fraco
Forte
Moderado
Moderado
Moderado
Forte
Moderado
Fraco
Fraco
Fraco
25
O termo La Niña ("a menina", em espanhol) surgiu, pois o fenômeno se caracteriza por
ser oposto ao El Niño. Pode ser chamado também de episódio frio, tanto que algumas
pessoas chamam La Niña de anti-El Niño. Portanto, La Niña é conhecida como a
menina das águas frias.
2.4.1 Definição
O fenômeno La Niña corresponde ao resfriamento anômalo das águas superficiais do
Oceano Pacífico Equatorial, formando uma “piscina de águas frias” nesse oceano. À
semelhança do El Niño, porém apresentando uma maior variabilidade do que este,
tratando de um fenômeno natural que produz fortes mudanças na dinâmica geral da
atmosfera, altera o comportamento climático (OLIVEIRA, 2003). Em anos de La Niña
os ventos alísios mostram-se mais intensos que o habitual (média climatológica) e as
águas mais frias, que caracterizam o fenômeno, estendem-se numa faixa cerca de 10
graus de latitude ao longo do Equador desde a costa peruana até aproximadamente
180 graus de longitude no Oceano Pacífico Central. Observa ainda, uma intensificação
da pressão atmosférica no Oceano Pacífico Central e Oriental em relação à pressão no
Oceano Pacífico Ocidental.
Fonte: OLIVEIRA, 2003.
FIGURA 5: O Oceano Pacífico Equatorial em condições de La Niña
A intensificação dos ventos alísios influencia diretamente dois fatores em condições de
La Niña. A termoclina que por um lado aumenta, fazendo com que exista um aumento
26
na ressurgência, ou seja, virão mais nutrientes das profundezas para a superfície do
Oceano, melhorando a atividade pesqueira na costa oeste da América do Sul. Por
outro lado, as águas mais quentes ficarão represadas mais a Oeste que o normal o que
significa mais evaporação e, conseqüentemente, movimentos ascendentes que por sua
vez geram nuvens e que também formam a célula de Walker que tende a ficar mais
alongada em anos de La Niña (OLIVEIRA, 2003). Já os valores das anomalias de
temperatura da superfície do mar (TSM) em anos de La Niña têm desvios menores que
em anos de El Niño uma vez que são observadas as anomalias de até 4 e 5ºC acima
da média em El Niño, e em La Niña as maiores anomalias observadas não chegam a
4ºC abaixo da média. Em geral, um episódio de La Niña começa a se desenvolver em
certo ano, atingindo sua intensidade máxima no final daquele ano, vindo a dissipar-se
em meados do ano seguinte. O episódio pode, no entanto, durar até dois anos. Os
eventos de La Niña favorecem a chegada de frentes frias até a região Nordeste do
Brasil, principalmente no litoral da Bahia, Sergipe e Alagoas (OLIVEIRA, 2003, p.56).
De acordo com as avaliações de tempo e clima, de eventos de La Niña ocorridos no
passado, verificou-se que o La Niña apresentou maior variabilidade, enquanto os
episódios de El Niño apresentam um padrão mais consistente.
2.4.1.1 Anos de La Nina
Na Tabela 3, são citados os anos em que o Episódio La Niña esteve em atuação no
Oceano-Atmosfera e a célula destacada em azul indicam evento acoplado. Além de
constar à intensidade do fenômeno de cada ano.
TABELA 3: Episódios de La Niña inicio, final e duração em meses.
ANOS DE LA NIÑA
Início do evento
01/1974
10/1984
05/1988
09/1995
07/1998
10/2000
09/2007
12/2008
Fonte: Adaptação de OLIVEIRA, 2003.
Duração
Fim do evento
05/1976
09/1985
05/1989
03/1996
07/2000
02/2001
06/2008
05/2009
(meses)
16
12
13
07
26
05
10
06
Intensidade
Do La Niña
Moderado
Moderado
Forte
Fraco
Moderado
Fraco
Moderado
Fraco
27
3 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA EM SANTA CATARINA
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA
Os sistemas atmosféricos que atuam no sul do Brasil apresentam características que os
diferenciam conforme a dinâmica de atuação, de uma forma geral, os sistemas podem
ser estáveis ou instáveis, porém isso não indica que agem de forma independente, uma
vez que diferentes sistemas atmosféricos podem interagir. Neste capítulo descreve-se o
clima de SC conforme Monteiro (2007).
3.1.1 Sistemas Estáveis
Classificadas como sistemas estáveis, as altas pressões atmosféricas ou anticiclones
fazem parte da climatologia catarinense e estão associadas às poucas formações de
nuvens e precipitações. Sua principal característica é a uniformidade de temperatura,
pressão atmosférica e umidade, próximo à superfície.
Além dos anticiclones, são
considerados sistemas estáveis: a Massa Polar, responsável pelas baixas temperaturas;
a Massa Tropical Continental e a Massa Tropical Atlântica, ambas são massas de ar
quente, sendo esta mais úmida do que aquela.
A Massa Tropical Continental (mTc) é caracterizada por conter ar quente e seco, pois
funciona como uma barreira em altos níveis da atmosfera que não deixa a umidade
proveniente de outra área avançar. Suas atuações na região sul do Brasil são restritas
ao verão, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, e pouco notáveis em
comparação a outras regiões como o centro-oeste. Diferentemente das outras massas
de ar citadas acima, a mTc não possui anticiclone à superfície, ao contrário muitas
vezes ao ocorrer convergência surge uma baixa pressão, especialmente quando ocorre
frontogênese, ou seja, formação de uma frente, sobre o Uruguai. Essa baixa pressão é
denominada de baixa do Chaco, baixa continental ou baixa do interior. Além disso, o
forte calor com valores acima de 30ºC, mesmo nas regiões topograficamente mais altas
28
como a Serra Gaúcha e o Planalto Sul Catarinense, é característico dessa massa,
sendo que quanto mais tempo ela atuar sobre uma região, mas altas se tornam as
temperaturas.
A Massa Tropical Atlântica (mTa) apresenta seu centro de ação, o
Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul (ASAS), próximo ao Trópico de Capricórnio, sobre
o oceano Atlântico. Devido à subsidência de ar, a área ao redor do centro de ação é
muito estável, porém na costa da região sul do Brasil a subsidência é menor e a
camada de inversão térmica se encontra mais alta, mesmo assim, ajuda manter a
estabilidade. A atuação desse sistema atmosférico é praticamente perceptível em todo
o ano na região sul, sendo que no verão devido ao aquecimento do continente o ASAS
é mais fraco, podendo gerar no final da tarde convecção na costa, causando as típicas
chuvas de verão e no inverno, devido ao continente estar mais frio, o centro de ação se
torna mais estável, ocasionando céu limpo e muitas vezes impedindo a entrada de
frentes frias no sul do Brasil. A Massa Polar (mP) é determinada pelo anticiclone polar,
de característica migratória e que se organiza sobre o Atlântico, nas latitudes da
Patogônia. A trajetória desse anticiclone influencia fortemente as condições de tempo
no sul do Brasil, quando ela é continental determina ar seco, inibindo a formação de
nuvens e causando uma grande amplitude térmica, e quando ela está sobre o oceano
Atlântico a leste do Uruguai e do Rio Grande do Sul, há mais formação de nuvens,
favorecendo a ocorrência de chuvas isoladas em toda a costa da região sul do Brasil,
devido à circulação marítima.
A dinâmica atmosférica associada aos diversos sistemas que ocorrem na região sul do
Brasil pode ser alterada quando há interferência dos bloqueios atmosféricos, que são
caracterizados pela alta de bloqueio, um sistema de alta pressão que se desenvolve em
torno da latitude de 45°S, onde os ventos são de oeste. Essa alta, após se estabelecer,
impede a passagem de sistemas transitórios, como as frentes frias, anticiclones e
ciclones para menores latitudes. Os bloqueios atmosféricos são mais freqüentes em
anos com a atuação de La Niña e menos freqüentes em anos com a ocorrência de El
Niño (MARQUES E RAO, 1996 apud MONTEIRO, 2007). Sobretudo nos anos de La
Niña, os bloqueios atmosféricos ocorrem principalmente no mês de maio, e nos anos de
El Niño nos meses de junho e julho (FUENTES, 1996).
A atuação de bloqueios
29
atmosféricos em Santa Catarina impede o avanço de sistemas produtores de chuva,
como as frentes frias, tornando o tempo estável com poucas nuvens, temperaturas
elevadas e baixa umidade relativa do ar.
A persistência dessa situação provoca
estiagens muito freqüentes no mês de maio, quando ocorrem os veranicos, devido à
ocorrência de massas de ar quentes e secas.
3.1.2 Sistemas Instáveis
Os sistemas atmosféricos instáveis são responsáveis pelas chuvas e pela pequena
amplitude térmica devido à grande quantidade de vapor d’água, uma vez que estão
associados, de forma geral, às massas de ar quentes e úmidas, onde ocorre a
ascensão do ar quente, e aos contrastes térmicos entre duas massas de ar de
diferentes densidades. Na região sul do Brasil, ocorre a passagem de sistemas
instáveis, como as frentes frias, pelo menos uma vez por semana, interferindo nas
condições de tempo durante todo ano.
A frente fria é um sistema de baixa pressão alongado, geralmente associado a duas
baixas pressões fechadas onde o ar converge, uma sobre o continente na região do
Chaco argentino (baixa do Chaco) e outra sobre o oceano Atlântico que, por vezes
desenvolve um ciclone extratropical. Ela resulta do encontro de duas massas de ar de
densidades diferentes, sendo que, quanto maior essa diferença, mais ativa a frente fria
se torna, resultando em instabilidade, formação de nuvens cumulonimbus, granizo,
pancadas de chuva e ventos fortes. Ou seja, uma frente fria se forma, quando o ar polar,
mais denso, avança em direção ao ar mais quente e menos denso, fazendo-o ascender
e, consequentemente, resfriar e condensar, formando as nuvens e originado as chuvas.
Na região sul do Brasil, a atuação das frentes frias varia conforme as estações do ano,
sendo que no verão elas são mais ativas sobre o oceano Atlântico, porém mesmo
assim, ocasionam chuva, pois ao se deslocarem, na costa brasileira, em direção ao
equador, organizam nebulosidades convectivas no interior do continente (UVO, 1998
apud MONTEIRO, 2007). Além disso, a passagem de frentes frias nessa época do ano
30
é responsável por alterações na direção dos ventos e na temperatura, que apresenta
um pequeno declínio (RODRIGUES, 2003). No outono as frentes frias apresentam um
trajeto mais continental e devido às incursões de massas de ar mais frias após a
passagem frontal, há uma dinâmica de aumento e diminuição da temperatura, porém
que não se repete durante toda a estação, pois, é comum a atuação de bloqueios
atmosféricos que impedem a passagem de frentes frias para menores latitudes,
modificando as condições de tempo na região sul. Entretanto no inverno, as frentes
frias são os sistemas atmosféricos mais importantes na distribuição de precipitação no
sul do Brasil, pois o continente está mais frio e as massas de ar provenientes das
grandes latitudes tornam-se mais intensas e continentais, gerando chuvas fortes e bem
distribuídas.
Na primavera as frentes frias apresentam um deslocamento menos
continental e são mais freqüentes do que nas outras estações do ano.
Após a
passagem de frentes frias pela região sul, nos meses de setembro e outubro, ocorrem
episódios de frios intensos que diminuem as temperaturas e que pode formar geadas
nas áreas de maior altitude e até mesmo neve no mês de setembro no Planalto Sul de
Santa Catarina. No entanto ao final da primavera o tempo torna-se mais estável no sul
do Brasil, o que pode resultar em estiagens, devido à atuação da Massa Tropical
Continental em conjunto com a grande quantidade de horas de brilho solar.
A convecção está associada ao ar que em contato com a superfície aquece e se eleva
na atmosfera sob a forma de correntes ascendentes espiraladas, esse ar, à medida que
sobe, resfria-se e se torna saturado formando as nuvens cumulus. Nesse processo, há
o predomínio de correntes ascendentes em relação às descendentes, fazendo com que
as nuvens tendam a crescer verticalmente até atingirem o estado de cumulonimbus. No
entanto, quando há o predomínio de correntes descendentes ocorre precipitação e
rajadas de vento á superfície, além da dissipação das nuvens.
Essas correntes
ascendentes e descendentes são as maiores responsáveis pelas chuvas de verão que
ocorrem na região sul. A convecção é fundamental para a geração dos tornados, os
quais têm maior ocorrência em Santa Catarina no verão (OLIVEIRA, 2000), e que se
originam das nuvens cumulonimbus, quando o ar se encontra muito instável.
31
A intensidade do processo convectivo não depende exclusivamente das altas
temperaturas em superfície, pois para gerar chuva em toda a Região sul do Brasil, o ar
precisa receber umidade de outras regiões.
Por isso, a posição da Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), os jatos em baixos níveis (JBN) e a Cordilheira dos
Andes são muito importantes para o transporte de umidade, tanto do Atlântico Norte
quanto da Amazônia para o sul do Brasil.
A ZCIT é uma área alongada de baixa pressão entre duas altas subtropicais dos
hemisférios e resulta da convergência dos ventos alísios de nordeste da Alta dos
Açores e de sudeste do Anticiclone Semi-fixo do Atlântico Sul (ASAS), além disso,
caracteriza-se por ser migratória, seguindo o verão em cada hemisfério e por gerar
tempo instável, com a formação de nuvens cumulonimbus.
Ao se deslocar para o hemisfério sul, a ZCIT provoca um aumento na umidade e nas
chuvas nas regiões norte, nordeste, centro-oeste e sudeste do Brasil, no entanto o
transporte de umidade e calor para a região sul é efetuado através dos Jatos em Baixos
Níveis, que por causa da Cordilheira dos Andes sofrem uma deflexão (OLIVEIRA, 1986
apud MONTEIRO, 2007). Nas áreas influenciadas pelos JBN o tempo se torna instável
e com nuvens que apresentam aglomerados isolados de cumulunimbus.
Existem
outros fatores que reforçam o processo convectivo, tais como a passagem de frentes
frias sobre pelo oceano, formação de baixas pressões à superfície e a circulação
marítima.
Baixa pressão, sistema de baixa e ciclone são denominações para um sistema
atmosférico em que ocorre convergência de ventos e giro no sentido horário no
hemisfério sul, devido à força de Coriólis. Em geral, é formado pela contraposição de
massas de ar com características opostas, ou seja, massas de ar frio polares e quentes
tropicais, ao longo de uma frente fria. Pode também ser originado a partir de vórtices
ciclônicos (VC), os quais se propagam desde o Oceano Pacífico, da intensificação do
jato subtropical, ou de cavados à superfície.
A baixa pressão a superfície é
responsável pela organização de precipitação na Região Sul do Brasil (SILVA DIAS E
MARENGO, 2002 apud MONTEIRO, 2007) e pela atração de umidade proveniente da
32
Amazônia e do Atlântico Norte. Em Santa Catarina esse sistema é muito freqüente e
associado ao processo convectivo no verão, torna-se mais instável gerando nuvens e
temporais com granizo isolado e vento forte no lado leste da baixa pressão, e no lado
oeste, em muitos casos, o tempo é estável e seco.
A Baixa do Chaco é um sistema atmosférico que se forma em uma estreita zona baixa,
quente e árida, a leste da Cordilheira dos Andes e ao sul do Trópico de Capricórnio,
que corresponde ao Chaco argentino-paraguaio (NIMER 1979 apud MONTEIRO, 2007)
e se instala quando há um avanço de sistemas frontais em direção ao Sul do Brasil,
servindo de ligação entre a frente fria sobre o Oceano Atlântico e a instabilidade vinda
das baixas latitudes favorecidas pelos jatos.
Está associada à presença de
aglomerados de cumulunimbus que provocam temporais com relâmpagos, trovões,
chuva forte, granizo e vendaval.
Na Região Sul do Brasil, com a atuação da baixa do Chaco, o tempo fica instável com
grande volume de chuva, principalmente no noroeste do Rio Grande do Sul, oeste de
Santa Catarina e sudoeste do Paraná, além de gerar pancadas de chuvas associadas à
trovoadas na área costeira, pois o processo convectivo ganha mais umidade. Porém
quando não existe ingresso de umidade suficiente ou os ventos fortes em 850hPa
forem desviados para outra área, pela atuação da Massa Tropical Continental sobre o
interior do continente, a baixa do Chaco não se torna ativa e o processo convectivo é
mais expressivo somente na costa da região sul, pois as frentes frias se deslocam
sobre o oceano Atlântico.
Com a persistência dessa estabilidade podem ocorrer
estiagens no interior, sendo assim, a baixa do Chaco é imprescindível para a boa
distribuição de precipitação na região sul.
O Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM) é um aglomerado de nuvens
convectivas com forma circular que se origina sobre o Paraguai e norte da Argentina
durante a madrugada, deslocando-se posteriormente para leste e atingindo a Região
Sul do Brasil, sendo que ao meio dia o sistema perde totalmente sua atividade (SILVA
DIAS e MARENGO, 2002 apud MONTEIRO, 2007).
33
Os CCM’s têm duração maior do que um sistema convectivo isolado e são mais
freqüente nos meses de setembro e outubro (FIGUEIREDO e SCOBAR, 1996), os
quais são caracterizados por serem os mais chuvosos em alguns municípios de Santa
Catarina. Por influência desses sistemas, todas as regiões catarinenses apresentam,
nesses meses, menos horas de insolação (MONTEIRO, 2001 apud MONTEIRO, 2007).
Os CCM’s surgem pela aproximação de uma frente fria e se juntam a ela formando um
único sistema, uma frente fria de forte intensidade, ou desenvolvem-se isoladamente,
mas para que esse sistema se forme e adquira suas características de instabilidade é
preciso que ocorra forte advecção de ar quente e úmido proporcionada por jatos em
baixos níveis vindos da Amazônia (VELASCO; FRITSCH, 1987 apud MONTEIRO,
2007). O tempo associado aos CCM’s é instável com presença de nuvens
cumulunimbus e nimbustratus, pancadas fortes de chuva, intensas rajadas de vento,
granizo isolados e até tornados (SILVA DIAS, 1996 apud MONTEIRO, 2007).
O Ciclone Extratropical é um sistema atmosférico originado pela forte oposição e
compressão entre duas massas de ar de origem diferentes. Ele pode ser formado por
um cavado invertido à superfície, principalmente no outono-inverno, quando intensos
anticiclones polares avançam pela Argentina em direção ao Atlântico, fazendo a
pressão decair no Paraguai e no norte da Argentina. À medida que esse anticiclone se
afasta para o oceano, o cavado se aprofunda e desenvolve uma baixa pressão,
originando o ciclone extratropical no Rio Grande do Sul e/ou Uruguai. Porém, a sua
formação entre o litoral centro-norte da Argentina e do Rio Grande do Sul, também
pode estar associada à presença de uma frente estacionária.
Quando ocorre a formação de um ciclone extratropical, é observado forte calor e ventos
de noroeste no norte do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. No
entanto, no Uruguai e sudeste do Rio Grande do Sul o tempo é instável com presença
de muitas nuvens, chuva fraca e temperatura em declínio por influência do anticiclone
em alto mar e pela formação de outro sobre o norte da Argentina. Essa dinâmica
atmosférica envolve uma nova frente fria no Rio Grande do Sul, que avança para norte
trazendo pancadas rápidas de chuva, ou até mesmo temporais para o norte do Rio
34
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, quando o ciclone extratropical se desloca
para leste-sudeste. A passagem da frente fria é rápida e após seu afastamento para o
oceano, o tempo se mantém instável com muitas nuvens stratus e stratuscumulus e
chuva fraca no centro-norte do Rio Grande do Sul, oeste, meio-oeste e planalto
catarinense e nos municípios paranaenses que fazem divisa com Santa Catarina.
Essa instabilidade é originada por ventos fortes e úmidos de sudeste que entram pelo
Rio Grande do Sul e chegam ao sul do Paraná. A variação de pressão entre o ciclone
extratropical e o anticiclone polar, principalmente o que está sobre a Argentina, gera
fortes ventos do quadrante sul que deixam o mar muito agitado e com grandes ondas
próximas à costa. Com isto, e dependendo da direção do vento e do tamanho da
superfície do mar onde o vento atua, pode ocorrer maré de tempestade (RUDORFF et
al., 2006 apud MONTEIRO, 2007), um tipo de inundação costeira causada pela sobreelevação do nível do mar e relacionado às “ressacas”.
A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é caracterizada por uma faixa de
nuvens estacionárias e por chuvas intensas, orientada no sentido noroeste-sudeste e
associada ao escoamento convergente na baixa troposfera, que se estende desde o sul
da Amazônia até o Oceano Atlântico. Sob sua influência a região Sul, especialmente
Santa Catarina e o Paraná, apresenta tempo muito instável, que pode levar á
tempestades severas e chuvas freqüentes que provocam deslizamento de encostas e
enchentes (SILVA DIAS e MARENGO, 2002).
Nessa situação sinótica, um anticiclone de pouca intensidade, chamado de “alta
secundária” se desenvolve no centro-sul do Rio Grande do Sul, pois o ar ascendente a
partir da superfície na ZCAS resfria-se, tornando-se mais denso e descendo na periferia
(MONTEIRO e FURTADO, 1995 apud MONTEIRO, 2007).
Quando a ZCAS fica muito tempo no sudeste do Brasil faz com que ocorram enchentes
de verão nessa região e veranicos na região sul, pois existe a possibilidade da forte
subsidência sobre o Uruguai e norte da Argentina influenciar na escassez de chuva na
35
região sul (QUADRO, 1994). Além disso, as temperaturas ficam mais baixas devido à
persistência de anticiclones polares sobre o Atlântico Sul, entre o litoral norte argentino
e o gaúcho, que forçam a penetração de ar frio ao sul da banda de nebulosidade
associada à ZCAS (SANCHES e SILVA DIAS, 1996).
A Circulação Marítima ou oceânica é uma brisa em escala regional, ou seja, ventos
úmidos que chegam a zona costeira oriundos dos anticiclones polares com trajetórias
marítimas, que se deslocam sobre o Atlântico a leste do Uruguai e Sul do Brasil em
direção a região sudeste. A circulação anti-horária dos ciclones polares no hemisfério
sul provoca ventos frios, úmidos e fortes de sul/sudeste, que em Santa Catarina
recebem o nome de “vento sul” (MONTEIRO e FURTADO, 1995 apud MONTEIRO,
2007). Sua umidade é condensada e forma nebulosidade do tipo stratus e
stratuscumulus que fica mais concentrada de Laguna para o sul, atingindo toda a costa
do Rio Grande do Sul e persiste enquanto a circulação se mantiver, gerando leve e
contínua precipitação (FEDOROVA, 2001). Quando o anticiclone polar avança mais
para norte, entretanto, passando pelo litoral catarinense ou paranaense, ou ainda
quando já está configurado como ASAS, origina ventos de leste a nordeste, que
também são úmidos, porém mais quentes e ocasionam nebulosidade e chuva de
Florianópolis para o norte.
Nessa situação a nebulosidade predominante é
stratuscumulus, mas quando o ar está muito instável pode ocorrer formação de
nebulosidade do tipo cumulus que resulta em pancadas de chuva, no entanto, esse tipo
de circulação não atinge o litoral sul catarinense que fica, na maioria das vezes, com
poucas nuvens e ar mais seco.
As condições de tempo com ventos úmidos de sul a nordeste são temporárias devido
ao contínuo deslocamento dos anticiclones polares, mas quando eles estacionam,
sobretudo com ação de bloqueios atmosféricos, as condições passam a ser
persistentes. Se os ventos soprarem de sudeste a leste, o tempo fica muito instável
com céu encoberto visibilidade horizontal reduzida e chuvisco contínuo, ocorre ainda,
um aumento nas alturas das ondas, principalmente quando os ventos sopram com forte
intensidade de alto mar para a costa.
36
Os cavados são modificações no fluxo do ar que ocorrem em superfície, em médios e
altos níveis. Os cavados em superfície apresentam fluxo de vento de leste para oeste,
e os cavados em médios e altos níveis, de oeste para leste. Por possuir fluxo invertido
aos demais, o cavado em superfície é denominado de “cavado invertido” (CI)
(SATYAMURTY e FERNANDES, 1996 apud MONTEIRO, 2007). O cavado invertido
forma-se a partir de uma alta pressão que não possui uma circulação completa no
sentido anti-horário, onde o ar acaba apresentando uma circulação ciclônica.
A origem desses fenômenos está associada à passagem de uma frente fria, uma vez
que, os cavados invertidos (CI) se formam a norte do anticiclone polar, situação bem
comum na Argentina, assim que o anticiclone cruza a Cordilheira dos Andes. Em Santa
Catarina há formação de cavados invertidos quando uma frente fria se encontra sobre o
Paraná ou São Paulo e o anticiclone polar está nas imediações do Uruguai e Rio
Grande do Sul. Sem a presença do CI, o anticiclone determinaria, em Santa Catarina,
ventos de sudoeste a sudeste, tempo estável com poucas nuvens, temperaturas em
declínio e baixa umidade relativa por influencia da massa de ar frio, porém, sua
presença torna o tempo instável com muitas nuvens e chuva, às vezes até com
intensidade de moderada a forte e acompanhada de trovoadas.
Os cavados de médios e altos níveis estão associados a tempo instável com muitas
nuvens e chuvas persistentes, são formados por correntes de oeste e possuem
características semelhantes aos jatos e vórtices ciclônicos, no entanto a diferença entre
esse três sistemas está na organização dos fluxos de oeste: os jatos possuem fluxo
mais zonal, percorrendo milhares de quilômetros na mesma latitude; os vórtices
ciclônicos são caracterizados por um fluxo fechado no sentido horário, no hemisfério sul,
formando uma baixa pressão, e os cavados em médios e altos níveis apresentam
inclinação do fluxo para sul na tentativa de organizar uma baixa pressão.
De um modo geral, a intensa instabilidade faz as correntes de jatos originarem os
cavados e estes, os vórtices. Porém, existem cavados em médios e altos níveis
associados ou não diretamente aos jatos.
Os cavados originados a partir de uma
37
corrente de jato podem ser encontrados onde as nuvens associadas ao sistema frontal
começam a se dissipar e ficam mais esparsas ou em área com cumulus mais
desenvolvidos na vertical, onde pode haver um desenvolvimento ciclônico (GEM, 2005
apud MONTEIRO, 2007). Os cavados não relacionados aos jatos ou aos sistemas
frontais penetram na América do Sul, geralmente vindos do Pacífico e ao cruzarem a
Cordilheiras dos Andes ocorre instabilidade e chuvas a jusante do seu eixo.
A corrente de jato ou simplesmente jato, ocorre em função da descompressão
adiabática das massas de ar que formam uma frente fria, causando um resfriamento
desigual das massas de ar, o que em altitude se reflete em gradiente de pressão. Esse
gradiente horizontal em altos níveis é o responsável pela geração das correntes de
jatos entre 10 e 12 km de altitude, que se formam pouco abaixo da tropopausa e
deslocam-se para leste com uma velocidade superior a 93 km/h, podendo chegar a
mais de 300 km/h no inverno, quando alcançam maior intensidade devido as maiores
diferenças de temperatura.
Existem duas correntes de jato, uma denominada de Corrente de Jato Polar, não muito
regular e associada ao forte gradiente horizontal de temperatura que ocorre nas frentes
frias, principalmente entre as latitudes de 35ºS a 70ºS. E outra, chamada de Jato
Subtropical (JST), associada à circulação da Célula de Hadley e localizada no limite
polar dessa célula, entre as latitudes de 20ºS e 35ºS (PEZZI et al., 1996 apud
MONTEIRO, 2007). Como as correntes de jatos influenciam na circulação geral da
atmosfera, acabam tornando-se importantes fatores na determinação do clima em
qualquer região. A inteiração das frentes frias com o Jato Subtropical em altos níveis
determina a intensificação das precipitações (INAZAWA, 1997 apud MONTEIRO, 2007),
além disso, os JST são responsáveis pelo desenvolvimento e intensificação de
atividade convectiva que ocorre paralela à linha da frente fria, de direção noroestesudeste, a cerca de 500 a 600 km da sua retaguarda. Nesse caso, uma frente fria pode
estar sobre o Paraná e a nebulosidade não diminuir em Santa Catarina.
O jato
subtropical também atua no bloqueio e deslocamento das frentes frias, tornando-as
estacionárias e elevando os totais de precipitação local. Assim como os jatos em altos
38
níveis, os jatos em baixos níveis (JBN) são importantes no transporte de umidade do
Atlântico Norte e da Amazônia, tornando os sistemas atmosféricos, como as frentes
frias, a Baixa do Chaco e o processo convectivo, mais ativos e melhorando a
distribuição de chuva na Região Sul do Brasil.
O vórtice ciclônico em altos níveis (VCAN) é um sistema fechado de baixa pressão, que
se forma na alta troposfera (GAN e KOUSKY, 1982 apud MONTEIRO, 2007), propagase desde o Oceano Pacífico, cruza as Cordilheiras dos Andes e frequentemente causa
ciclogênese, dando origem a ciclones em superfície, próximos à costa na Região Sul do
Brasil (SILVA DIAS e MARENGO, 2002 apud MONTEIRO, 2007). Quando penetra o
continente, ocorrem instabilidade e precipitação intensa nos setores leste e nordeste do
vórtice, situação que persiste de um a dois dias.
A maioria dos vórtices ciclônicos em altos níveis ocorre nos meses de inverno,
principalmente em julho, enquanto que a menor freqüência de todos os meses é
constatada em março (LOURENÇO et al., 1996 apud MONTEIRO, 2007). No verão,
estão associados a efeitos orográficos e proporcionam um aumento na convecção
tropical (SILVA DIAS e MARENGO, 2002 apud MONTEIRO, 2007). O tempo associado
aos vórtices é muito instável e favorece a ocorrência de temporais com chuvas que
muitas vezes superam as médias, ventos com fortes rajadas e granizo.
3.2 EFEITOS DE EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL DO BRASIL
A variabilidade climática causada por El Niño e La Niña no sul do Brasil,
especificamente no Estado de Santa Catarina, provoca tanto aumento de precipitação
como intensificação de secas, respectivamente.
3.2.1 Efeitos de El Niño
No Sul do Brasil o fenômeno El Niño provoca precipitações abundantes, principalmente
na primavera. A maior intensidade pluviométrica concentra-se entre os meses de maio
e junho, e entre setembro e novembro, devido à atuação deste fenômeno. Também há
39
um aumento da temperatura média (TSM), além das frentes frias que vêm do Sul do
Brasil ficarem estacionadas por vários dias sobre a região, provocando chuvas
constantes ao longo de certo tempo (MONTEIRO, 2007).
3.2.1.1 Um dos El Niños mais intensos do século: 1982/83
Os números a respeito dos fenômenos El Niño marcam o Estado de Santa Catarina.
Conforme afirma Oliveira (2003):
“Os impactos do evento de 1982/83 foram amplamente divulgados por diversos
países. Estima-se que os prejuízos em todo globo totalizaram 13 bilhões de
dólares e que foram devidos principalmente às secas e enchentes”.
Complementa o autor que, especificamente na região Sul houve um aumento cerca
de 70 a 100% de precipitação. Dos estados do Sul, Santa Catarina foi o mais
severamente afetado. Além disso, setores como a de geração de energia elétrica e
outros foram muito afetados. Também foi no Estado que ocorreram as chuvas mais
intensas, durante o trimestre: junho/julho/agosto de 1983 e ficaram muito acima da
média.
Conforme informou o Relatório N° 4, COMISSÃO EL NIÑO DO SENADO FEDERAL,
foram severamente atingidos 75 mil dos 95 mil km² do território catarinense, 135
cidades e desabrigadas 300.000 pessoas. Ficaram isolados pela água o Vale do Itajaí
(com seu enorme parque industrial), o Planalto Norte (centro da indústria moveleira), o
Planalto Central (agropecuária), o Vale do Rio do Peixe (agroindústria e agricultura) e
todo o Oeste (grande produtor rural). Das 10.700 empresas do Estado, 6.894 foram
atingidas pelo transbordamento dos rios e 64% foram integralmente paralisadas. Em
Santa Catarina a agricultura sofreu prejuízo cerca de 900 milhões de dólares por causa
deste excesso de chuvas, correspondendo a perdas de 1.626.298 toneladas na safra,
conforme mostra a Tabela 4. No campo, pouca coisa restou em pé, pois o estado foi
obrigado a importar cerca de 500 mil toneladas de milho.
O feijão da chamada
"safrinha" teve sua produção rebaixada de 90 mil para 23 mil toneladas de produto de
qualidade inferior. A soja teve uma quebra de 50% na safra. Os pequenos agricultores
40
foram os mais prejudicados porque, das culturas que já haviam sido colhidas, 70%
eram mecanizadas. Das restantes, consorciadas e solteiras, só haviam sido colhidos
10%.
TABELA 4: Perdas na safra 1982/83 (Região Sul)
ESTADO
PERDAS (ton.)
RIO GRANDE DO SUL
1.693.777
SANTA CATARINA
1.626.298
PARANÁ
1.568.700
REGIÃO SUL
4.888.775
Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Segundo o Senador Waldeck Ornelas sobre o acima citado Relatório N° 4, algumas
cidades catarinenses foram inundadas, como por exemplo, Rio do Sul, Videira e Porto
União. Porém, em nenhuma delas o prejuízo foi semelhante ao ocorrido em Blumenau,
um dos Pólos Industriais mais importantes do Estado. Todas as 23 agências bancárias
da cidade ficaram inoperantes e indústrias como a Teka, por exemplo, que empregava
2.000 funcionários, ficou com suas atividades prejudicadas por cerca de 4 meses. Os
efeitos sobre a população do Estado foram enormes. Um total de 15.000 pessoas foi
desalojado; sendo que, desse total, 5.725 pessoas ficaram ao inteiro desabrigo,
necessitando apoio do Estado.
Foram atingidas 5.000 casas, das quais 515
danificadas e 38 destruídas. Ficaram feridas 152 pessoas e foram registrados 3 óbitos.
Os prejuízos totais da cidade foram de cerca de 46 milhões de reais.
A cidade catarinense que mais sofreu devido a intensas chuvas, como já citada acima,
foi Blumenau (mostrada em parte na Figura 6, parcialmente destruída pelas águas do
rio Itajaí-Açu, em 07 de julho), onde as águas alcançaram a marca de 15,37 metros, e a
cidade ficou submersa durante 10 dias.
41
Fonte: Foto Hélio.
FIGURA 6: Mostra a prefeitura de Blumenau cercada de água.
3.2.2 Efeitos de La Niña
No Brasil este fenômeno causa menos danos que o El Niño, porém alguns prejuízos
são registrados em cada episódio. Em ocorrência de da La Niña, as frentes frias que
atingem o centro-sul do país têm sua passagem mais rápida que o normal e com mais
força (OLIVEIRA, 2003), consequentemente ocorre uma redução nos índices
pluviométricos e a frente alcança o Nordeste do Brasil mais facilmente. As ocorrências
de estiagens estão predominantemente relacionadas aos anos de La Nina.
As estiagens caracterizam-se por ocorrer durante longos períodos, até em mais
de uma estação do ano, afetando grandes extensões territoriais. Referem-se a
um período de precipitação baixa ou ausente, em que a perda de umidade do
solo é superior à sua reposição, causando desequilíbrio hidrológico (CASTRO,
2003).
Em Santa Catarina, mais na região do Oeste catarinense, há “estiagem” com grande
queda no índice pluviométrico, principalmente nos meses de setembro a fevereiro e no
outono, pois as massas de ar polar chegam com mais intensidade. Com o fenômeno La
Niña, o inverno na região sul tende a chegar antes e já no outono grandes quedas de
temperatura são registradas.
3.2.2.1 Um dos La Niñas mais intensos do século: 1988/89
42
O período de 1988-1989 classifica-se como de forte atuação da fase positiva da
oscilação sul no Pacífico (CPTEC, 2008) e assim, apresentou desvios negativos de
precipitação na região Sul, ou seja, períodos de baixa precipitação. Em Santa Catarina,
no verão de 1988, as anomalias foram todas negativas e variaram na escala entre
89,60 e 2,2 mm de chuva abaixo do normal, neste período foram registrados apenas
três ocorrências de estiagens. No outono, as anomalias foram positivas, variando entre
2,2 e 85,2 mm de chuva abaixo da média, e foram registradas cinco ocorrências de
inundações graduais e uma de inundação brusca. (CPTEC, 2008). No entanto, no
inverno os índices pluviométricos foram reduzidos em grande parte do Estado de Santa
Catarina, principalmente no extremo Oeste Catarinense. Essa situação se estendeu até
a primavera, embora com menor intensidade. Assim, após o longo período com baixos
valores de precipitação, 84 municípios do Oeste Catarinense e no Vale do Itajaí
decretaram situação de emergência por estiagem nos meses de primavera (HERMANN,
2006).
3.3 ENOS, EL NIÑO E LA NIÑA INFLUENCIANDO O CLIMA CATARINENSE
O Estado de Santa Catarina é severamente castigado pelas adversidades atmosféricas,
principalmente quando há interferências do Fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS),
que tanto em El Niño, quanto La Niña causa mudanças no clima desta região. Este
fenômeno ao atuar no ritmo de deslocamento das frentes, também influencia nas
temperaturas, que tendem a se apresentar mais altas em anos de El Niño e mais baixas
em anos de La Niña (HERMANN, 2007).
El Niño, um fenômeno climático natural, comporta-se de maneira irregular e possui
intensidades e conseqüências diferentes para cada local em que ele atue.
Por
exemplo, no Brasil ocorrem secas no Nordeste e enchentes no Sul e Sudeste por
estarem sobre influência do fenômeno.
Em Santa Catarina, segundo Monteiro (2007) o El Niño, influência no Jato Subtropical
intensificando-o, por causa do gradiente térmico entre o equador e os pólos.
O
fortalecimento desses jatos gera bloqueios nos sistemas frontais tornando-os
43
estacionários ao chegarem ao Estado. Na Figura 7, observa-se a corrente de jato
bloqueando a atuação das massas de ar que formam as frentes fazendo com que
estacionem sobre o Estado intensificando as precipitações. Esses bloqueios resultam
em intensa cobertura de nuvens, em altos valores de umidade do ar e em temperaturas
altas.
Fonte: EPAGRI/CIRAM.
FIGURA 7: Jato Subtropical sobre Santa Catarina em anos de El Niño.
Além disso, os jatos favorecem o aumento da precipitação na primavera do ano de
atuação do El Niño e no inverno do ano seguinte (GRIMM et al., 1996; GRIMM et al.,
1998). Marcelino et al., (2004b) verificaram também aumento na ocorrência de
precipitação de granizo. No Estado catarinense o El Niño provoca chuvas acima da
média, sendo comum a ocorrência de grandes enchentes, apesar de não ser o único
causador das inundações.
La Niña, fenômeno natural e fase fria do ENOS, afeta o Estado Catarinense resultando
em precipitação abaixo da média climatológica. Essa baixa precipitação pode estar
associada à rápida passagem das frentes frias e a bloqueios atmosféricos em que as
frentes ficam estacionárias sobre o Uruguai e sul do Rio Grande do Sul. Em santa
Catarina, em anos de La Niña, há uma diminuição na umidade atmosférica com forte
amplitude térmica diária, com baixas temperaturas na madrugada e em elevação
durante o dia (MONTEIRO, 2007). Também em La Niña há o aumento da ocorrência
de geadas em Santa Catarina (AGUIAR E MENDONÇA, 2004).
44
No entanto, a baixa precipitação ocorrida no estado de Santa Catarina nem sempre
está associada ao fenômeno. Uma vez que períodos de constantes bloqueios e atuação
da Massa Tropical continental acabam provocando estiagens durante vários meses
seguidos na região.
3.4 TORNADOS
Nas pesquisas dos autores Cruz et al (2008, p.11), observa-se que em função da
localização geográfica e orografia, Santa Catarina sofre influências de massas de ar
tropical e extratropical, o que torna este estado propício à ocorrência de tornados.
Cardoso et al (2008) informam que é no verão e na primavera que a massa de ar
tropical atua no estado, deixando boa parte dos dias quentes e com alta umidade,
influenciando na formação de convecção localizada, forçada também pelo relevo
acidentado do estado. A formação de tornados e trombas d’água é facilitada através do
desenvolvimento de outros sistemas como CCM, ou a entrada de um sistema frontal. Já
no outono e inverno, com a entrada mais freqüente de sistemas frontais e ciclones
extratropicais, pode também haver favorecimento na formação do fenômeno.
Os
sistemas
frontais
e
as
áreas
de
instabilidades
provocam
precipitações
pluviométricas intensas, vendavais, precipitações de granizo e tornados (MARCELINO,
2002).
45
4 TORNADOS EM SANTA CATARINA
4.1 DEFINIÇÃO
A palavra tornado se origina etimologicamente da palavra espanhola tornada, que
significa tempestade. No dicionário El Mundo, na definição da palavra tornado em
espanhol observa-se que não há uma configuração distinta do fenômeno tornado, tal
definição compreende palavras como tufão, tempestade, ciclone, tormenta, furacão e
temporal. Em português, segundo o Aurélio (2007, p.781), tem-se a seguinte definição
para tornado:
Tempestade que se caracteriza por grande nuvem negra, que se prolonga em
forma de cone invertido, o qual, girando em alta velocidade, desce até a
superfície, onde destelha casas, arranca árvores, etc.
A definição de tornado no Glossário de Meteorologia da American Meteorological
Society é “uma coluna de ar em rotação violenta em contato com o solo, pendente de
uma nuvem cumuliforme ou sob uma nuvem cumuliforme e geralmente (mas nem
sempre) visível como um funil de condensação. Este enunciado torna possível
caracterizar, por exemplo, um tornado que gerou danos, sem a obrigatoriedade da
presença de um funil visível, fato que deve ser levado em consideração na avaliação
também de tornados noturnos no Brasil, principalmente quando não há imagens de
radares meteorológicos disponíveis, ou a impossibilidade da visualização pela
população de uma nuvem funil em contato com o solo e há danos. Neste caso, tornarse-á necessária a utilização da Escala de Classificação de tornados, a fim de observar
a peculiaridade e conceitualizar se foi ou não um dano ocasionado pelo fenômeno.
Os tornados podem-se formar a partir de duas dinâmicas diferentes: de uma
supercélula ou sem a presença de supercélula. A primeira formação a partir de uma
supercélula define-se como uma tempestade caracterizada pela presença do
mesociclone. Tem uma profunda e contínua rotação ascendente, que faz com que
estas formações produzam ventos fortes, granizo e tornados. Ocorrem em qualquer
46
parte do mundo, tanto em latitudes médias como subtropicais. A Figura 8 apresenta a
representação de uma supercélula a partir da visão frontal da tempestade,
com todas as etapas, precipitação de granizo ou água, anvil, o topo da nuvem com
mesociclone interno, e na parte seca da tempestade, o tornado. Os tornados gerados
por este tipo de tempestade são os mais intensos. A segunda englobaria os tornados
não-supercélulas, que se formam de nuvens cumulonimbus, de pouca duração e em
geral com menor intensidade.
Fonte: NOAA.
FIGURA 8: visão frontal de uma supercélula com tornado
Dentre os tornados que não são gerados por uma supercélula, estão as trombas
terrestres (Landspout), as quais são tornados que se desenvolvem a partir de
tempestades menores.
Essas formações tornádicas apresentam funis bem mais
estreitos e certa semelhança visual com as trombas d’água (BLUESTEIN, 2006).
As trombas d’água (Waterspout) são tornados que ocorrem em superfície aquosa, em
geral, se formam em rios, lagos, oceanos e mares. Desenvolvem-se frequentemente
debaixo de nuvens tipo cúmulus congestus (TCU) antes do estágio de cumulonimbus.
47
São formações relativamente mais fracas que tornados ocorridos em terra, mas, alguns
se originam de tornados fortes, oriundos de tempestades severas que avançaram da
terra para a superfície aquosa. (BLUESTEIN, 2006).
4.2 ESCALA DE CLASSIFICAÇÃO DOS TORNADOS
Atualmente, os tornados passaram a ser foco de muitos estudos no Brasil. Fotografias e
filmagens passaram a apontar que o fenômeno ocorre com freqüência no País. As
tempestades fortemente destrutivas passaram a ser analisadas também pelas
características dos danos gerais e estruturais deixados em residências, prédios
comerciais e públicos, plantações, árvores, ferragens, telhados e estruturas
de concreto armado.
Embora existam muitas escalas de classificação de tornados no mundo, pesquisadores
passaram a usar a Escala Fujita para analisar danos de tornados no Brasil.
Em 1971, Theodore Fujita elaborou uma escala de avaliação de danos gerados por
tornados para categorizar a força do vento existente no fenômeno a partir do dano
causado. Trabalhou com parâmetros da Escala Beaufort e a velocidade do som em
MACH. Se utilizou do conceito de um Mach (Ma), que era equivalente a 1224 km/h, e
correspondia à velocidade mínima para que qualquer corpo pudesse ultrapassar a
barreira do som. As 5 categorias de velocidade determinavam qual velocidade em que
o corpo se encontrava:
a) subsônica: Ma< 1;
b) transônica: 0.8< Ma<1.2;
c) sônica: Ma = 1;
d) supersônica: Entre 1.2 Ma e 5 Ma;
e) hipersônica: Ma>5.
48
A escala Fujita (ou Fujita-Pearson Tornado Intensity Scale) tornou-se então uma escala
intermediária entre a Escala Beaufort e o número Mach (ver Figura 9), passando a ser
utilizada para avaliar a força do vento em danos gerados por tornados em construções,
árvores, carros, telhados, prédios.
Fonte: Theodore Fujita, 1971.
FIGURA 9: Idealização da escala Fujita
Após anos de uso para a classificação de tornados, em 2004, um grupo de
meteorologistas e engenheiros de ventos da Universidade do Texas decidiu aprimorar
49
essa escala e submeteram um novo instrumento a análise pelo Storm Prediction Center
e foi aceita a EF-Scale ou Escala Fujita Aprimorada, em 01 de fevereiro de 2007. Esta
escala oferta suporte muito mais amplo às análises de danos gerados por tornados com
28 indicadores. Na Figura 10, há uma comparação entre as duas escalas e a diferença
em termos de velocidade de vento na nova classificação.
Fonte: NOAA.
FIGURA 10: Comparação entre a Escala Fujita antiga com a EF- Scale em uso nos EUA.
Na tabela 5, há a conversão da velocidade do vento em de mph da EF-Scale para km/h,
que é a unidade de medida de velocidade de vento em uso no Brasil.
TABELA 5: EF-Escale com a conversão para ventos em km/h
EF-Scale
Velocidade do vento (km/h)
EF0
105-125
EF1
126-279
EF2
180-227
EF3
228-308
EF4
309-324
EF5
> 325
Com rajada de pelo menos 3 segundos
Fonte: Adaptação de EF-Scale, 2007.
4.3 CORREDOR DOS TORNADOS DA AMÉRICA DO SUL
50
Tornados ocorrem por todo o globo terrestre, América do Norte, Europa, Austrália,
África, Ásia, e América do Sul. Nos EUA, há uma área de destaque chamada Tornado
Alley (BLUESTEIN, 2006), que fica nas grandes Planícies Centrais, onde se dá o
choque de massas de ar frio de origem polar e massas de ar quentes, vindas do Golfo
do México. É o local onde mais tempestades severas geram tornados na Terra, em
geral há mais de 1200 (SPC, 2009) registros anuais. A época mais propícia para o
desenvolvimento das tempestades severas com potencial de gerar tornados nesta
região vai de abril a julho.
No mapa da Figura 11 está um esboço da região do Tornado Alley, com ilustração do
encontro das massas de ar e a influência da corrente de jato. No centro da imagem,
está identificado o Tornado Alley e os estados que compõem o corredor dos tornados
dos EUA.
Fonte: Wikipedia, 2009.
FIGURA 11: Mapa da região do Tornado Alley.
Dyer (1986, p. 602) identificou uma zona na América do sul, compreendida entre leste
do Paraguai, sudoeste do Brasil e nordeste da Argentina, onde haviam sido registrados
os maiores números de rastros e tornados estudados até então.
Nota-se que as
51
ocorrências identificadas neste mapa (Figura 12), muito se aproximam dos achados
atuais, faltando apenas inserir as partes brasileiras, que na época era carente de
estudos.
Fonte: Robert C. Dyer, 1986.
FIGURA 12: Mapa sobre ocorrência de tornados na Bacia do Prata.
O National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), em 1995, elaborou um
mapa mundial das Zonas de maior probabilidade de ocorrências de tornados (Figura
13). Posteriormente outras pesquisas foram sendo realizadas e o Brasil, na sua porção
sul, sempre figurou nas áreas de risco de ocorrências de tempestades severas e
tornados. Observa-se que neste mapa já começou a ser identificada a região sul do
Brasil como potencial ao desenvolvimento de tornados.
52
Fonte: NOAA, 1995.
FIGURA 13: Zonas de maior probabilidade de ocorrências de tornados no mundo
Nascimento e Doswell (2006) informaram que convecção severa profunda foi observada
na região Sul do Brasil e continente sul americano, identificando áreas de maior
ocorrência de tempo severo, incluindo muitas capitais da América do Sul, entre elas,
Buenos Aires, Montevidéu, Assunción e no Brasil, em Porto Alegre, Florianópolis,
Curitiba e São Paulo.
Estudos realizados por Brooks e Dotzek (2007), com dados levantados a partir da
análise de radiossondagens atmosféricas do mundo e dados de reanálise do
NCAR/NCEP no período de 1970-1999, revelaram que a região compreendendo o norte
da Argentina, Paraguai, Uruguai, e a região sul do Brasil, aparece como região assim
como parte da Ásia, com possibilidades de desenvolver tempestades severas e até
tornados, como mostra a figura 14.
53
Fonte: Harold E. Brooks, 2007.
FIGURA 14: Mapa mundial de ambientes propícios para gerar tornados (1970-1999)
4.4 A FORMAÇÃO DE TORNADOS NO SUL DO BRASIL - ESTADO DA ARTE
No Brasil, conforme a imagem da Figura 15 (NASCIMENTO, 2006, p.12) observa-se
que se dá sobre a região sul, sudeste, e parte do centro-oeste, o encontro dos jatos de
baixos níveis úmidos vindos da Amazônia, com o ar polar e seco, trazido pelos jatos em
altos níveis vindo dos Andes. Esta composição atmosférica é potencial para causar
atividade convectiva e gerar supercélulas, que podem formar tornados a partir dessas
supercélulas, onde a corrente de ar frio em altura ao encontrar com a corrente quente e
úmida da superfície ascendendo, passa a girar em movimentos ascendentes no interior
54
da nuvem cumulusnimbus, formando o mesociclone e finalizando na formação do
tornado.
Fonte: Nascimento E Doswell, 2006.
FIGURA 15: Encontro de massas de ar sobre a região sul do Brasil
Em pesquisa de Marcelino (2004) sobre a formação de tornados em Santa Catarina, há
constatação de que as ocorrências no litoral norte estão associadas aos elevados
índices de umidade local devido à proximidade com o oceano e a Serra do Mar,
propiciando a formação de nuvens convectivas profundas a barlavento.
No oeste
catarinense, tais ocorrências estão associadas com as passagens dos sistemas frontais,
mais freqüentes e intensos no inverno, e Complexos Convectivos de Mesoescala
(CCM), que são áreas de instabilidade que se formam sobre o Paraguai e deslocam-se
no Estado. Dos casos estudados a autora traçou um perfil atmosférico sinótico para as
ocorrências, o qual apontou que em tornados ocorridos nas estações do outono,
inverno e primavera, ocorreram a difluência do escoamento zonal em altos níveis e em
baixos níveis o escoamento de noroeste foi influenciado por anticiclone sobre o Oceano
Atlântico e cavado sobre a Bacia do Prata. Com relação à formação das trombas
55
d’água, a autora concluiu que estas foram se a partir de instabilidades associadas a
sistemas frontais no oceano, em dissipação, com a presença da Alta da Bolívia, dividida
em dois centros que interagiam com um vórtice ciclônico sobre a costa
sudeste/nordeste,
e
do
cavado
de
latitudes
médias.
Em baixos níveis:
apresentaram escoamento de noroeste associado ao anticiclone subtropical do
Atlântico Sul e circulação de baixa ao sul do continente sul Americano,
estendendo-se sob a forma de um cavado até Santa Catarina. (MARCELINO,
2004, p. 163)
Para episódios ocorridos no verão, achados revelaram que a Alta da Bolívia atuou junto
com circulação anticiclônica sobre o Oceano Atlântico, vórtice ciclônico sobre o
nordeste brasileiro e cavado de latitudes médias. Em baixos níveis, o escoamento de
noroeste sofreu influência de circulação anticiclônica sobre o Brasil central e vórtice
ciclônico no sul do continente alcançando o estado de SC, como cavado.
Observou também a autora:
A atuação de duas outras circulações atmosféricas: o anticiclone subtropical do
Atlântico Sul dividido em dois centros sobre o oceano e a circulação
anticiclônica interagindo com o cavado no continente, próximo a Bacia do Prata.
(MARCELINO, 2004, p. 163)
Na primavera, ela encontrou um único caso, no qual ocorreu a atuação de um ciclone
extratropical profundo. Em altos níveis, o ciclone extratropical estava no litoral do Rio
Grande do Sul, cavado de latitudes médias inclinado para noroeste, Alta da Bolívia
centrada no Oceano Pacífico. Na baixa troposfera atuação de ciclone extratropical no
Uruguai, Rio Grande do Sul e Santa Catarina e um cavado no sul da Argentina.
Monteiro et al (2004, p. 602) estudou ocorrências tornádicas na região sul, e informou
que o sistema de nuvem vírgula invertida (hemisfério sul), mesmo se desenvolvendo em
área reduzida (mesoescala), pode ser um sistema com condições de tempo muito
instáveis, podendo desenvolver tempestades potencialmente tornádicas. Foss (2008)
informou que o transito de sistemas frontais e sistemas convectivos isolados favorecem
a ocorrência de fenômenos potencialmente severos em Santa Catarina
56
4.5 HISTÓRICO DOS TORNADOS EM SANTA CATARINA
O estudo sobre tornados em Santa Catarina é bem recente, pesquisas científicas
começaram a ser desenvolvidas na década atual.
Jornais catarinenses até
mencionavam o fenômeno, algumas vezes de forma equivocada, nominando vendavais
e destruição extrema como efeitos de ciclone, tufão, furacão. Hoje, já se sabe que
tornados e trombas d’água ocorrem com certa freqüência no estado catarinense. Mas,
conforme a constatação de Marcelino (2000, p. 73), há pouca informação sobre o
fenômeno tornado e certo prejuízo na contabilização de ocorrências devido
denominação errônea, em que o mesmo sería caracterizado na maioria das vezes
como vendaval. A autora fez levantamento de 1976 a 2000, em arquivos da DEDC-SC,
em
jornais
de
SC
e
concluiu
23
ocorrências
tornádicas,
entre trombas d´água e tornados, em um período de 25 anos. Posteriormente confirmou
15 e classificou 8 como possíveis ocorrências do fenômeno, com a ressalva de que o
número de tornados ocorridos no estado na época levantada poderia ser ainda maior
(MARCELINO, 2004a). Achados na pesquisa informaram que da amostra levantada, os
meses de maiores ocorrências em Santa Catarina foram janeiro e novembro, sendo que
a primavera concentrou 40% dos casos e o verão 35%. Com relação à classificação
dos tornados, as intensidades variaram entre F0 e F3, segundo a escala Fujita, ver
anexo C.
Marcelino (2004a) analisou sinóticamente casos de tornados ocorridos em Santa
Catarina, informando que a distribuição espacial de tornados tornou visível que o
fenômeno é comum em praticamente todas as regiões do estado, exceto no planalto
norte e meio oeste, o oeste e litoral norte de Santa Catarina foram as regiões que
apresentaram maior registro, a autora criou um mapa com a catalogação, ver mais
no anexo B.
Silva (2009) pesquisou a ocorrência de trombas d’água em Santa Catarina em registros
do EPAGRI/CIRAM e encontrou doze ocorrências desde 1996 até 2008. Sete
ocorreram no Litoral Norte, cinco no município de São Francisco do Sul e duas no
57
município de Itapoá. Outros cinco casos ocorreram na Grande Florianópolis, sendo que
um ocorreu em Palhoça e os demais na Ilha de Florianópolis. Aquele autor informou
ainda que a costa catarinense está propensa a tempestade severa. O relevo é propício
à formação de tromba d’água em conjunto com a localização geográfica, rota de
diversos sistemas meteorológicos que favorecem mudanças bruscas no tempo devido o
contraste térmico entre uma massa de ar quente e outra fria. Aquele autor produziu um
mapa de localização da ocorrência do fenômeno em Santa Catarina, que se encontra
no anexo, e, um resumo dos sistemas climáticos que geraram as trombas d’água que
pode ser visto no anexo F.
4.5.1 Cidades com ocorrências tornádicas em SC
Mediante leitura de jornais, pesquisas científicas sobre tornados em SC, reportagens
de TV e arquivos pessoais, catalogaram-se outras ocorrências de tornados no estado
catarinense. Desprezaram-se possíveis ocorrências cujos dados eram insuficientes,
casos de nuvem funil com imagem, mas sem danos locais. Consideraram-se como
possíveis ocorrências quando teve informação da Defesa Civil em jornais, notícias
jornalísticas sobre vendaval com destruição e suspeita de tornado, pesquisas com
ocorrências confirmadas de tornados e danos severos de vendavais, referidos em
notícias sem a menção a palavra tornado.
.
Apresenta-se abaixo a catalogação mais ampla, visando uma atualização, remontando
a casos citados na catalogação anterior de Marcelino (2000), sendo que esses números
podem ser muito maiores, pois não foi consultado o acervo da Defesa Civil catarinense
de forma ampla; neste acervo foram analisados apenas casos referidos em
documentação disponível na Internet, como também não foram mencionados tornados
ocorridos
em
locais
remotos
e
não
informados,
mas
com
assinatura no radar, nem arquivos históricos do Estado catarinense.
Como a proposta inicial foi conhecer a casuística de tornados em SC, desprezou-se
uma análise sinótica complexa ou estudo de caso, o que demandaria tempo e uma
58
pesquisa aprofundada. Dessa forma apenas complementaram-se as ocorrências com
imagens de satélite, imagens de radar, dados do Boletim do CPTEC e EPAGRI/CIRAM,
imagens de danos locais, para dar visibilidade e suporte simples a aspectos sinóticos
encontrados nos dias informados, bem como evidenciar situações conhecidas na
literatura científica, como presentes na dinâmica da atmosfera capaz de gerar tornados.
Os dados seguirão conforme a legenda abaixo, respeitando a data mais remota até a
mais recente:
LEGENDA
* Catalogação desta pesquisa
** Achados na pesquisa de Marcelino (2000), em tabela anexa A.
*** EPAGRI/CIRAM – (2009), em tabela anexa C.
**** Pesquisas científicas de autores diversos
***** Informações da Defesa Civil
****** Informações de meteorologistas
N/C não consta a informação
4.5.1.1 Cidade com ocorrência em 1928
Canoinhas *
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Canoinhas
- 26º 10' 38" S
- 50º 23' 24" O
839m
1928
N/C
Tornado
Canoinhas, município catarinense do Planalto Norte, no final dos anos 20, foi totalmente
devastado por uma tempestade intensa em que muitas pessoas foram ao óbito. No
jornal Correio do Norte foi comunicado como o furacão de Canoinhas, e narra a
tempestade ocorrida em 1928. Na imagem da Figura 16 a família está com os pés
descalços e os pertences reduzidos a sacos de lençóis, cena de uma família que tudo
59
perdeu. Ao fundo, nos sinais deixados na vegetação, pode-se inferir que um vento fraco
não deixaria uma região de mata densa, com aspecto desértico, árvores
completamente sem copa, tampouco casa em escombros, nem ceifaria 26 vidas de
moradores locais. Na verdade, esse ocorrido se assemelha muito ao efeito de um
tornado, que abateu duramente essa comunidade, alterando completamente seu rumo
próspero à aniquilação total, já que posteriormente à tempestade, deixou até de ser rota
do trem que passaria no local (SAAVEDRA, A Notícia, 20/05/2008, p.3).
Fonte: Jornal Correio do Norte (A Notícia, 20/05/2008).
FIGURA 16: Canoinhas, SC – 1928
4.5.1.2 Cidade com ocorrência em 1976
Guarujá do Sul**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Guarujá do Sul
- 26º 23' 07”S
- 53º 31' 40”O
850m
08.08.1976
15h
Tornado
Marcelino (2000)—Ver mais no Anexo A
60
4.5.1.3 Cidade com ocorrência em 1977
Bom jardim da Serra****
Município
Bom Jardim da Serra
Latitude:
- 28º 20' 13" S
Longitude:
- 49º 37' 29" O
Altitude:
1245m
Data:
28.01.1977
Horário:
15h
Fenômeno:
Tornado
Fonte:
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
4.5.1.4 Cidade com ocorrência em 1984
Maravilha****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Maravilha
- 26º 45' 39" S
- 53º 10' 21" O
554m
09.10.1984
00h
Tornado
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
4.5.1.5 Cidades com ocorrências em 1987
São Joaquim****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Joaquim
- 28º 17' 38" S
- 49º 55' 54" O
1353m
11.01.1989
15h
Tornado
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
61
Xanxerê**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Xanxerê
- 26º 52' 37" S
- 52º 24' 15" O
800m
11.01.1989
15h
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
Indaial**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Indaial
- 26º 53' 52" S
- 49º 13' 54" O
64m
11.01.1989
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
4.5.1.6 Cidades com ocorrências em 1989
São Carlos**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Carlos
- 27º 04' 39" S
- 53º 00' 14" O
264m
11.01.1989
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
Xanxerê**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Xanxerê
- 26º 52' 37" S
- 52º 24' 15" O
800m
11.11.1989
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
62
Correia Pinto**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Correia Pinto
- 27º 35' 05" S
- 50º 21' 40" O
850m
24.11.1989
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
4.5.1.7 Cidades com ocorrências em 1995
Benedito Novo**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Benedito Novo
- 26º 46' 58" S
- 49º 21' 52" O
130m
06.01.1995
Fim de Tarde
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
Benedito Novo**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Benedito Novo
- 26º 46' 58" S
- 49º 21' 52" O
130m
08.01.1995
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
Paraíso**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Paraíso
- 26º 36' 50" S
- 53º 40' 19" O
520m
27.01.1995
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
63
4.5.1.8 Cidades com ocorrências em 1996
São Francisco do Sul****
Município
São Francisco do Sul
Latitude:
- 26º 14' 36" S
Longitude:
- 48º 38' 17" O
Altura:
09m
Data:
27.01.1996
Horário:
Durante a tarde
Fenômeno:
Tromba d´água
Fonte:
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
Meleiro****
Município
Latitude:
Longitude:
Altura:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Meleiro
- 28º 49' 43" S
- 49º 38' 09" O
38m
27.02.1996
18h
Tornado
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
4.5.1.9 Cidades com ocorrências em 1997
Itapoá****
Município
Latitude:
Longitude:
Altura:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Itapoá
- 26º 07' 01" S
- 48º 36' 58" O
18m
02.02.1997
10h20
Tromba d´água
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
Florianópolis**
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
02.02.1997
N/C
Tromba d´água
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
64
Zortéa**
Município
Latitude:
Longitude:
Altura:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Zortéa
- 27º 27' 05" S
- 51º 33' 19" O
834m
09.07.1997
N/C
Tornado
Marcelino (2000) - Ver mais no Anexo A
4.5.1.10 Cidades com ocorrências em 1998
Abelardo Luz*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Abelardo Luz
- 26º 33' 53" S
- 52º 19' 42" O
760m
07.02.1998
N/C
Tornado
Grande parte do Oeste catarinense foi atingida no dia 07/02/1998 por um temporal que
causou prejuízos incalculáveis em cinco municípios. Postes de energia elétrica foram
arrancados, pontes arrastadas, mais de 500 casas destelhadas e quatro desabaram. O
município de Abelardo Luz foi muito castigado. Ventos em forma de tornado, segundo
moradores, destruíram parte do centro e bairros da cidade. Um levantamento inicial da
Defesa Civil de Abelardo Luz informou que mais de 300 casas sofreram destelhamento
e três desabaram completamente (ver Figura 17) (Jornal A Notícia, 08/02/1998).
65
Fonte: Jornal A Notícia, 1998.
FIGURA 17: Manchete de jornal com imagem de estragos.
Conforme informações do Boletim do EPAGRI/CIRAM de 07/02/1998, uma frente fria
atuava no Rio Grande do Sul, com deslocamento para Santa Catarina.
Pela
intensidade da destruição, 300 casas foram destelhadas, três desabaram e pelo tempo
curto em que ocorreu a tempestade e pela referência de moradores que vivenciaram a
tempestade a “ventos na forma de tornado”, pode ter se tratado de um tornado de fato.
Abdon Batista****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Abdon Batista
- 27º 36' 40" S
- 51º 01' 21" O
716m
07.02.1998
Madrugada
Tornado
Marcelino et all (2003)
66
4.5.1.11 Cidades com ocorrências em 1999
Joinville****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Joinville
26º 18' 16" S
48º 50' 44" O
4m
07.02.1999
17h
Tornado
Marcelino et all (2004b)
Forquilhinha****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Forquilhinha
- 28º 44' 51" S
- 49º 28' 20" O
42m
24.11.1999
15h
Tornado
Marcelino (2004a) - Ver mais no Anexo C
4.5.1.12 Cidades com ocorrências em 2000
Florianópolis****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
23.02.2000
15h
Tromba d´água
SILVA (2009, p.77)
Itapoá****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Itapoá
- 26º 07' 01" S
- 48º 36' 58" O
18m
01.03.2000
15h
Tromba d´água
SILVA (2009, p.72)
67
4.5.1.13 Cidades com ocorrências em 2002
Piçarras***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Piçarras
- 26º 45' 50" S
- 48º 40' 18" O
18m
2,3,4,5.01.2002
N/C
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
São Francisco do Sul****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Francisco do Sul
- 26º 14' 36" S
- 48º 38' 17" O
09m
9.01.2002
Durante a tarde
Tromba d´água
SILVA (2009, p.47)
Taió*****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Taió
- 27º 06' 59" S
- 49º 59' 53" O
360m
10.02.2002
N/C
Tornado
DEDC-SC, 2002
Witmarsum*****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Witmarsum
- 26º 55' 34" S
- 49º 47' 45" O
410m
21.11.2002
N/C
Tornado
DEDC-SC, 2002
68
4.5.1.14 Cidades com ocorrências em 2003
Painel*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Painel
27º 55' 44" S
50º 06' 18" O
1.144m
19.02.2003
Noite
Tornado
No início da noite de 19 de fevereiro de 2003, um forte temporal atingiu a região serrana
catarinense. De acordo com o levantamento preliminar da Comissão de Defesa Civil do
Município (CDC) na época, cinco residências foram totalmente destruídas, 18 tiveram
os telhados totalmente arrancados, em 71 residências ocorreu destelhamento parcial.
Não houve feridos, mas após o temporal o município ficou 24 horas sem água, energia
ou telefone. Mais de cinco quilômetros de fios da rede elétrica foram danificados
durante a passagem do tornado. Na zona rural da cidade, onde os ventos atingiram
mais
força,
mais
de
800
araucárias
pela raiz ou tiveram seus troncos quebrados (ver Figura 18).
foram
arrancadas
69
Fonte: Jornal A Notícia, 2003.
FIGURA 18: Matéria de jornal informando a ocorrência de tornado em Painel.
No Boletim do EPAGRI/CIRAM de 19.02.2003, a Análise Sinótica (latitude 20S-45S)
observa: encontra-se uma frente fria em deslocamento do Uruguai para o RS. Em SC,
há um aumento de áreas de instabilidade. Durante a tarde, ocorreu um aumento na
nebulosidade sobre o Estado.
No Planalto Sul, choveu forte com trovoadas em
algumas localidades entre final da tarde e noite, essa chuva foi forte em áreas isoladas
do Oeste, com registro de 93,2 mm em Itapiranga.
Na imagem de satélite do dia
20/02/2003 (Figura 19), observam núcleos convectivos muito intensos associados à
frente fria, sobre o mar, e provavelmente foram os responsáveis por fortes temporais.
70
Fonte: NOAA/NESDIS, 20/02/2003.
FIGURA 19: Núcleos convectivos associados a frente fria no RS e SC.
Campo Erê*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Campo Erê
26º 23' 39" S
53º 04' 41" O
930m
22.12.2003
15h
Tornado
Conforme informações de moradores, uma nuvem preta cobriu a cidade de Campo Erê
por volta das 15h. Em seguida, abaixo da nuvem, foi visto um prolongamento, na forma
de um cone invertido, fortes ventos atingiram o local, acompanhados de chuva intensa.
O poder de destruição do fenômeno deixou danos em 500 casas, quatro veículos
71
foram destruídos pela queda de postes e árvores, e sete moradores ficaram feridos pela
queda de telhas e vidros. "Tomando por base o que algumas pessoas que
presenciaram a tempestade disseram e pela destruição encontrada, não temos dúvidas
em classificar o fenômeno como um tornado", disse a meteorologista Gilsânia Araújo.
Para ela, a característica da área atingida é o fator mais notável da presença do
tornado (ver Figura 20).
Fonte: Foto de Andrea Rolim, Jornal A Notícia.
FIGURA 20: Estragos em Campo Erê.
Informações do CLIMERH comunicaram que a formação do tornado ocorreu pelo
encontro de nuvens carregadas vindas do norte da Argentina e Paraguai com uma
frente fria vinda do Rio Grande do Sul. Além dos fortes ventos, a chuva castigou o
município por aproximadamente duas horas (RONDON et al., 2003).
4.5.1.15 Cidades com ocorrências em 2004
Xanxerê***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Xanxerê
- 26º 52' 37" S
- 52º 24' 15" O
800m
17.01.2004
N/C
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
72
Itajaí****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Itajaí (Cabeçudas)
- 26º 54' 28" S
- 48º 39' 43" O
0m
11.01.2004
16h
Tornado
Monteiro et all (2004)
4.5.1.16 Cidades com ocorrências em 2005
Criciúma****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Criciúma
- 28º 40' 39" S
- 49º 22' 11" O
46m
03.01.2005
14h40, 15h40
Dois tornados
NASCIMENTO e MARCELINO (2005)
Florianópolis****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
08.02.2005
8h30
Tromba d´água
SILVA (2009, p.82)
São Francisco do Sul****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Francisco do Sul
- 26º 14' 36" S
- 48º 38' 17" O
09m
26.02.2005
15h
Tromba d´água
SILVA (2009, p.56)
73
Florianópolis****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
31.03.2005
15h
Tromba d´água
SILVA (2009, p.87)
Itapoá****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Itapoá
- 26º 07' 01" S
- 48º 36' 58" O
18m
22.04.2005
Final da Tarde
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
São Francisco do Sul****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Francisco do Sul
- 26º 14' 36" S
- 48º 38' 17" O
09m
22.04.2005
15h
Tromba d´água
SILVA (2009, p.60)
São Francisco do Sul****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Francisco do Sul
- 26º 14' 36" S
- 48º 38' 17" O
09m
23.07.2005
05h30
Tromba d´água
SILVA (2009, p.66)
74
São Joaquim*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
São Joaquim (Boava)
- 28º 17' 38" S
- 49º 55' 54" O
1353
29/12/05
18h30
Tornado
Climatología Urbana de São Leopoldo (2006)
4.5.1.17 Cidades com ocorrências em 2006
Florianópolis***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis (Sambaqui)
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
02.01.2006
15h30
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Passo de Torres***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Passo de Torres
- 29º 20' 06" S
- 49º 43' 22" O
10m
16.01.2006
18h30
Tornado
Climatología Urbana de São Leopoldo (2006)
Durante a tarde de 16.01.2006, uma intensa tempestade avançou pelo Rio Grande do
Sul, atravessando o estado. Em Torres, a linha de instabilidade formou um tornado que
causou danos na região do Rio Mampituba divisa com Passo de Torres. O fenômeno foi
testemunhado por muitas pessoas (Climatología Urbana de São Leopoldo, 2006). O
tornado, de fraca intensidade, arrancou árvores, sugou cadeiras de bares da orla e
jogou no mar, mas não teve feridos, nem danos maiores.
75
A linha de instabilidade pode ser vista na Figura 21, a qual formou um tornado ao
avançar sobre Torres e Passo de Torres.
Fonte: Jornal Zero Hora, 16/01/2006.
FIGURA 21: Linha de instabilidade avançando sobre o litoral norte gaúcho antes do tornado em Passo de
Torres.
No Boletim do EPAGRI/CIRAM de 16.01.2006, a Análise Sinótica (latitude 20S-45S) de
superfície informava que uma frente fria estava em deslocamento pelo sul do Brasil, e
havia uma baixa pressão com centro no litoral da Argentina (Figura 22).
76
Fonte: INPE/CPTEC/G-12.
FIGURA 22: Frente fria avançando pela região sul do Brasil.
Criciúma*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Criciúma
- 28º 40' 39" S
- 49º 22' 11" O
46 m
25.01.2006
20h
Tornado
Na noite de 25.01.2006, um tornado de pequena intensidade destruiu completamente
uma igreja em Criciúma e causou danos menores em telhados, árvores e placas no
município catarinense. A Igreja foi partida ao meio como mostra a Figura 23.
77
FONTE: Jornal A Tribuna, 27/01/2006.
FIGURA 23: Capa do jornal com imagem da Igreja cortada ao meio, Criciúma – 27/01/2006.
No Boletim do EPAGRI/CIRAM de 26.01.2006, a Análise Sinótica (latitude 20S-45S) de
superfície informava uma frente fria semiestacionária entre o PR e SP e um sistema de
alta pressão com centro na altura do litoral sul do Brasil. A nebulosidade e chuva
ocorreram na madrugada e início da manhã do Planalto ao Litoral, além de chuva
durante tarde em todo o estado, devido ao forte aquecimento. Núcleos de instabilidade
se deslocaram da direção oeste para o Litoral, provocando temporais isolados. No
litoral norte de Florianópolis, formou-se um mesociclone (CB mamatus) na praia dos
Ingleses. Foi relatada por muitos moradores a formação de uma Tromba d’água.
Choveu na cidade Chapecó 60,3mm em vinte e quatro horas.
Dos fenômenos
indicados no Boletim, ocorreu trovoada em Urussanga, que fica muito próxima a
Criciúma e uma tromba d’água em Florianópolis, o que demonstra haver muita
instabilidade neste dia tanto na região litorânea quanto no Planalto.
O Jornal A Tribuna informou, em 21.05.2008, que a Igreja destruída pelo tornado voltou
a funcionar mais de dois anos depois, tamanho foram os danos no imóvel (Figura 24).
78
Fonte: Jornal A Tribuna, 2009.
FIGURA 24: Notícia da Igreja destruída pelo tornado voltou a funcionar 3 anos após a destruição total.
Florianópolis***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis (Ingleses)
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
25.01.2006
Tromba d´água
EPAGRI/CIRAM (2009)
Florianópolis***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis (Ingleses)
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
23.03.2006
22h15
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
79
Lebon Régis******
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Lebon Régis
- 26º59'19"
- 50º42'54"
1041m
17.11.2006
N/C
Tornado
Jornal Informe (31/10/2007) - Ver anexo G e H
Lebon Régis******
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Lebon Régis
- 26º59'19"
- 50º42'54"
1041m
10.12.2006
N/C
Tornado
Jornal Informe (31/10/2007) - Ver anexo G e H
4.5.1.18 Cidades com ocorrências em 2007
Laguna*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Laguna
- 28º 28' 57" S
- 48º 46' 51" O
02m
06.02.2007
15h00
Tromba d’água
Durante a tarde do dia 6 de fevereiro de 2007, núcleos intensos de instabilidades
avançaram de sudoeste, causando muita destruição por onde passaram. Em Capivari
de Baixo, uma seqüência de árvores tombou sobre a região comercial local, causando
inúmeros prejuízos, destelhou diversas residências e ocorreu precipitação de granizo
com aproximadamente 3 cm no município. Em diversas praias de Laguna, litoral sul
catarinense, e muito próximo deste município ocorreu também a precipitação de granizo.
80
Uma casa tombou na praia em Laguna. Quando a tempestade chegou sobre o mar,
iniciou-se a formação de duas trombas d’água, que foram avistadas por todas as
pessoas que se encontravam na beira da praia. Os ventos intensos jogaram cadeiras,
mesas no mar, bem como arrancaram lixeiras dos quiosques junto à orla. Os danos
também ocorreram junto ao canal da travessia da barca em Laguna, onde foram
avistadas duas trombas d´água se deslocando para o alto mar.
Junto às casas
ribeirinhas telhados foram danificados e outras residências foram destelhadas, onde os
ventos mais intensos passaram.
Na Figura 25 do satélite de alta resolução MODIS, a seta indica na imagem a
supercélula que gerou as trombas d’água em Laguna.
Fonte: MODIS.
FIGURA 25: Linha de tempestade com formação supercelular no momento da formação de tromba
d´água
81
No mesmo horário da ocorrência do temporal, havia uma célula de tempestade com eco
de mais de 60dBz no radar de MAXCAPPI 400 km de Morro da igreja (Figura 26).
Fonte: Radar meteorológico da REDEMET.
FIGURA 26: Célula da tempestade em Laguna, nuvem com topo de 16 km
Em Capivari de Baixo, o tombamento de inúmeros eucaliptos bloqueou ruas e
destruiu parcialmente lojas e residências (Figura 27).
82
Fonte: Jornal Notisul, 06/02/2007.
FIGURA 27: Danos por vendaval em Capivari de Baixo, 06/02/ 2007.
Após provocar muitos danos em Capivari de baixo, a tempestade avançou para o mar,
a formação de supercélula encobriu todo o litoral de Laguna (Figura 28).
Fonte: Foto de Jaqueline Estivallet.
FIGURA 28: Supercélula, Laguna, 06/02/2007.
Neste episódio chuva intensa, precipitação de granizo e a formação de duas trombas
d´água em alto mar, aproximadamente há 300m da costa, onde se observa o spray
83
giratório
de
uma
delas,
com
altura
estimada
de
40m
(Figura
29).
Fonte: Foto de Jaqueline Estivallet.
FIGURA 29: Spray giratório de tromba d´água em Laguna, 06/02/2007.
No Boletim do EPAGRI/CIRAM de 06.02.2006, a Análise Sinótica (latitude 20S-45S) de
superfície informava que uma frente fria se encontrava no Atlântico em direção ao
Sudeste e uma outra atuava no litoral do RS (secundária). Também influenciava nas
condições de tempo de Santa Catarina um sistema de baixa pressão com centro no
litoral do Uruguai. O forte calor que fez durante o dia intensificou a instabilidade no
estado à tarde, associada aos Jatos de Baixos Níveis, que começaram a organizar
núcleos de trovoadas no Planalto Sul, região de São Joaquim, Litoral Sul, entre
Araranguá e Criciúma. No final da tarde, por volta das 18h à instabilidade chegou a
Grande Florianópolis e ao Litoral Norte com ventos intensos e chuva forte isolada. Teve
precipitação de granizo em São Joaquim, Joinville, Rio do Sul, Içara, Balneário Rincão,
Tubarão, Laguna e Blumenau, com a precipitação de saraiva (granizo) em Lages.
84
Campos Novos*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Campos Novos
- 27º 24' 06" S
- 51º 13' 30" O
934 m
22.07.2007
18h
Tornado
Na Figura 30, Imagem do canal realçado do satélite GOES10, com núcleos de
tempestades sobre a região de Campos Novos no horário em que o município era
abatido por forte tempestade.
Fonte: NOAA/GOES/CPTEC.
FIGURA 30: Imagem realçada do satélite GOES 10, 22/07/2007
Em uma análise preliminar, conforme nota no site da Prefeitura de Campos Novos,
datado de 23/07/2007, no final da tarde de domingo, ocorreu um tornado no município
Campos novos, além de precipitação de granizo em regiões do
município, que
provocaram grande destruição, deixando casas destelhadas, árvores arrancadas,
ginásio
de
esportes
totalmente
destruído
e
tombado,
danos
estruturais
severos em prédios públicos e residenciais.
Conforme o relatório da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil e do Corpo de
Bombeiros, 108 famílias ficaram desalojadas e 27 desabrigadas; 46 pessoas ficaram
feridas—11 com gravidade; 46 casas foram danificadas (ver Figura 31) e dez
85
completamente destruídas; 15 galpões foram danificados e sete destruídos; três
estabelecimentos comunitários sofreram danos e um desabou; e três prédios públicos
também foram parcialmente danificados no município (DEFESA CIVIL - SC, 2007).
Fonte: Fotos cedidas pela Prefeitura de Campos Novos, SC. 03/07/2007.
FIGURA 31: Danos decorrentes de tornado em imóveis da zona rural de Campos Novos.
Lebon Régis******
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Lebon Régis
- 26º59'19"
- 50º42'54"
1041m
29.10.2007
14h
Tornado
Jornal Informe (31/10/2007) - Ver anexos G e H
86
Chapecó*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Chapecó
- 27º 05' 47" S
- 52º 37' 06" O
670 m
14.11.2007
06h
Tornado
Conforme noticiado no Jornal Diário Catarinense do dia 15.11.2007, Figura 32, cerca de
doze municípios do Oeste e Meio-Oeste catarinense tiveram fortes temporais.
O
aeroporto de Chapecó registrou rajadas de vento na ordem de 180 km/h, as quais
deixaram um rastro de destruição em telhados e tombamento e destruição de casas.
Árvores com raiz foram arrancadas e a prefeitura decretou situação de emergência em
Águas de Chapecó, Campos Novos, Caxambu do Sul, Chapecó, Guatambu e Flor do
Sertão. Na manchete, segundo análise da Defesa Civil de SC, tratou-se de um tornado,
o qual atingiu mais de 600 residências. As autoridades que avaliaram os estragos
disseram que estes só não foram maiores porque a zona rural dos municípios foi a mais
afetada.
Fonte: Diário Catarinense, 15/11/2007.
FIGURA 32: Notícias do vendaval em Chapecó na capa do Jornal Diário Catarinense, SC.
87
Içara*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Içara
- 28º 42' 48" S
- 49º 18' 00" O
48m
25.12.2007
15h30
Tornado
Núcleos convectivos se formaram durante a tarde do dia 25 de dezembro de 2007,
causando fortes tempestades na região sul catarinense. Um temporal na região de
Içara, litoral sul, causou ferimentos em 3 pessoas (Jornal A Tribuna, 2007) e muitos
estragos em residências, galpões e estabelecimentos comerciais.
O agricultor Lindomar Niero, morador da Ponta do Mato, teve parte da estrutura da
estufa de fumo destruída e o galpão de alojamento dos animais desmoronou ficando
com prejuízo de R$ 3 mil (três mil reais). Ele contou que brinquedos da filha ficaram
esparramados pela propriedade (ver Figura 33), pois estavam alojados dentro da casa
de brinquedo que foi arrastada por mais de 60m.
Fonte: Jornal A Tribuna, 2007.
FIGURA 33: Danos decorrentes do vendaval que atingiu o município
88
O vendaval também foi noticiado no Diário de Criciúma (27/12/2007) a manchete diz:
“moradores afirmam ter visto um tornado”. O jornal informa ainda que a destruição foi
visível, principalmente destelhando casas e estufas, um galpão foi derrubado, árvores
ficaram retorcidas, postes foram arrancados (ver Figura 34).
Fonte: Diário de Criciúma, 2007.
FIGURA 34: Capa do Jornal informando a possibilidade de um tornado ter atingido a região.
Outras pessoas deram depoimento ao jornal, como uma agricultora, que revelou o
medo que sentiu de morrer: Veroni Dalmolim comentou que todos acharam que iam
morrer, quando foi salvar a colheita de fumo:
Nós entramos dentro do paiol para salvar o fumo que tínhamos acabado de
colher. Foi quando a árvore de dez metros que tem do lado da estufa caiu em
cima da gente, foi um barulhão. (Diário de Criciúma).
No radar meteorológico do SIMEPAR, em 25.12.2007, pode-se observar um núcleo
convectivo forte na região do ocorrido, às 16h15 (- 2GMT) (ver Figura 35).
89
Fonte: Radar Meteorológico SIMEPAR.
FIGURA 35: Célula de tempestade que gerou danos em Içara.
Outras reportagens acerca da ocorrência deste fenômeno podem ser conferidas e J.
4.5.1.19 Cidades com ocorrências em 2008
Papanduva******
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Papanduva
- 26º 22' 13" S
- 50º 08' 40" O
788m
01.02.2008
19h
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
90
Tubarão****
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Tubarão
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
9m
16.02.2008
18h30
Tornado
FOSS et all (2008)
Florianópolis*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Florianópolis
- 27º 35' 48" S
- 48º 32' 57" O
0 (nível do mar)
02.03.2008
17h45
Tromba d´água
Cardoso et al (2008)
Correia Pinto*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Correia Pinto
- 27º 35' 05" S
- 50º 21' 40" O
850m
20.06.2008
12h45
Tornado
Segundo informes do prefeito Cláudio Roberto Ziliotto, no CORREIO LAGEANO, edição
on-line de, 21/06/2008, em nota sobre o vendaval ocorrido em Correia Pinto, informou
que o fenômeno não teve duração de mais de cinco minutos, e descobriu casas,
escolas, estabelecimentos comerciais e o prédio da rodoviária (que ainda seria
inaugurado).
Foi uma ventania com chuva de granizo que durou no máximo cinco minutos,
mas serviu para fazer uma devassa", lamentou o prefeito, ao comunicar que
equipes do Corpo de Bombeiros tentavam apurar o número de domicílios
atingidos. (CORREIO LAGEANO, 2008).
91
Destruição na Rodoviária local (Figura 36), prédio novo, alvenaria. Percebe-se que as
telhas foram picotadas pelo fenômeno, gerando um rastro de destruição da parte de
trás para frente do prédio. Mais informações podem ser lidas no anexo K.
Fonte: Correio Lageano, 2008.
FIGURA 36: Destruição na rodoviária nova de Correia Pinto, que ainda nem fora inaugurada.
Segundo dados da Síntese Sinótica mensal do CPTEC para o mês de junho de 2008,
dia 20 um ciclone extratropical associado a uma onda frontal gerou ventos intensos
sobre o nordeste de Buenos Aires, Argentina e o sudeste do Rio grande do Sul, onde
em algumas localidades, os ventos ultrapassaram os 80 Km/h. Os ventos já começaram
a se intensificar no dia anterior a formação do ciclone e a se intensificar sobre a Bacia
do Prata ocorrendo o fenômeno “Sudestada”.
O sistema frontal provocou chuvas
moderadas e precipitação de granizo no RS. (CPTEC, 2008, p. 2)
Imagem do radar meteorológico do SIMEPAR apresenta a célula da tempestade
ocorrida no município (Figura 37).
92
Fonte: Radar meteorológico do SIMEPAR.
FIGURA 37: Célula convectiva junto a Correia Pinto, 20/06/2008.
Zortéa*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Zortéa
- 27º 27' 05" S
- 51º 33' 19" O
834m
12.08.2008
12h
Tornado
Conforme análise preliminar: Um sistema frontal associado ao deslocamento de áreas
de baixa pressão em níveis médios, com fortes ventos, provocou instabilidades no sul
do Brasil, causando precipitação de granizo gigante, chuvas moderadas, deixando
muitos municípios de SC em estado de emergência.
O município de Zortéa teve
destelhamentos em 5 casas na mesma rua e em seqüência na entrada e danos
estruturais em casas e casas comerciais na parte central da cidade. Ivair Lopes,
morador local, em entrevista cedida a jornalista Joseane Reis Duarte (2008), para a
rádio Capinzal, descreveu o ocorrido, com possíveis características de tornado:
Tava na borracharia ali, né, daí até fechei a porta e começou um vento seco e
daí começou tipo um redemunho, que começou a jogar brita nas paredes e daí
não vi mais nada, só aquele barulhão de telha quebrando tudo. (...) Arrancou
tudo aqui, só as telha, arrancou tudo (...) O Sr. tem idéia de quanto que seja o
93
prejuízo hoje na sua residência – Na minha eu calculo que seja uns R$10.000,
(dez mil reais) se arrumar tudo.(...) telhas e ripamento.
A imagem de radar meteorológico do morro da igreja (Figura 38), mostra o
deslocamento das instabilidades sobre a região de Zortéa, com núcleos equivalentes a
50dBz
classificados
como
fortes,
deslocavam-se
sobre
o
local,
no momento da tempestade.
Fonte: Radar meteorológico da REDEMET.
FIGURA 38: Célula de tempestade sobre Zortéa – 12/08/2008
Nas imagens da Figura 39, observam-se os danos nos telhados das casas da rua
Antônio Zortéa Primo, que ocorreram na mesma direção e antena parabólica com
partes internas torcidas ou arrancadas, onde o redemoinho foi avistado.
94
Fonte: Fotos cedidas por Joseane Reis Duarte.
FIGURA 39: Estragos em Zórtea em telhados na mesma rua
Cerro negro*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Cerro negro
- 27º 47' 43" S
- 50º 52' 33" O
996m
12.08.2008
12h
Tornado
Informes de Glauco Freitas, da Central de Meteorologia da RBS (DIÁRIO
CATARINENSE, 2008, p. 32), dizem que a região serrana de Santa Catarina registrou
novo tornado em menos de dois meses (Figura 40).
granizo causaram estragos intensos na região.
O vento forte e o
95
Fonte: Diário Catarinense, 2008.
FIGURA 40: Noticia sobre possível ocorrência de tornado em Cerro Negro
Essa frente fria deslocou-se pelo litoral, entre a Província de Buenos Aires (Bahia
Blanca) e Santa Catarina (Florianópolis), entre os dias 10 e 13 de agosto de 2008.
Durante o deslocamento da frente fria foi registrada a ocorrência de tempo severo sobre
o nordeste da Argentina, sul do Paraguai, norte do Uruguai, na Bacia do Prata, no RS e
em SC. Houve queda de granizo na Grande Buenos Aires, sobre o norte do Uruguai,
no oeste e sul do RS e em SC (CPTEC, 2008, p.2).
Durante o dia 12/08/2008 a frente fria causou muitos estragos em todas as regiões do
estado catarinense. No Planalto Sul em Campo Belo do Sul, Lages e Cerro Negro
houve destelhamento de casas e granizo. Em Nova Trento, na Grande Florianópolis,
foram mais de 100 casas destelhadas, segundo dados da Defesa Civil. Na Capital
Ocorreu registro de granizo, assim como em Biguaçu, Itacorubi, São João Batista e
Major Gercino, na Grande Florianópolis. Outras cidades como Ponte Serrada, no Oeste,
Campos Novos, no Meio-Oeste e Ituporanga e Brusque, no Alto Vale do Itajaí, também
tiveram registro de granizo. Os ventos fortes chegaram a aproximadamente 74 km/h em
Navegantes, no Vale do Itajaí, 66 km/h em Florianópolis, na Grande Florianópolis e 64
km/h em Chapecó, no Oeste (EPAGRI/CIRAM, 2008 Apud CPTEC 2008).
96
Papanduva***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Papanduva
- 26º 22' 13" S
- 50º 08' 40" O
788m
18.08.2008
N/C
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Abelardo Luz***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Canoinhas***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Abelardo Luz
- 26º 33' 53" S
- 52º 19' 42" O
760m
24.10.2008
12h
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Canoinhas
- 26º 10' 38" S
- 50º 23' 24" O
839m
26.10.2008
Durante a tarde
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Urupema***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Urupema
- 27º 57' 10" S
- 49º 52' 23" O
1350m
31.12.2008
19h00 (- 3 GMT)
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
4.5.1.20 Cidades com ocorrências em 2009
97
Urussanga*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Urussanga
- 28º 31' 04" S
- 49º 19' 15" O
49 m
11.01.2009
14h45 (- 3 GMT)
Tornado
Um vendaval atingiu Urussanga durante a tarde.
Os ventos chegaram a uma
velocidade média de 101 km/h. O fenômeno meteorológico agiu em uma faixa de pelo
menos 500 metros de largura em uma extensão de três quilômetros. Deixou árvores no
chão quebradas (Figura 41), e retorcidas e telhados completamente destruídos. Em
entrevista ao Jornal Jovem Vanguarda, Augustinho Mazon informou:
O vento vinha de rolo, trazendo tudo que achava pela frente. Pedaços de telhas
da casa que fica lá na esquina, há uns 100 metros vieram parar aqui na frente
da minha casa. Cacos fincaram no chão, foi difícil de arrancar. O pinheiro do
jardim foi cortado a uns 20 centímetros da terra. Muitas vezes levamos uma
vida inteira para construir uma casa e vemos que em apenas
alguns minutos podemos ficar sem nada.
Na mesma reportagem, há informes do engenheiro e doutor em agrometeorologia da
Epagri, Márcio Sonego, o qual comentou que o fenômeno meteorológico que aconteceu
em Urussanga atingiu áreas alternadas e isoladas, e que este tipo de fenômeno pode
atingir velocidades bem acima da registrada neste caso. Como a estação está sob
efeito do La Niña, o clima fica extremamente intempestivo com mudanças bruscas. A
ocorrência de novos tornados é perfeitamente possível. (JORNAL VANGUARDA,
15.01.2009)
98
Fonte: Foto Ulisses Job.
FIGURA 41: Eucalipto tombado na Estação do Epagri, em 11/01/2009
Fonte: INPE/CPTEC/GPT.
FIGURA 42: Carta de superfície em 18z, de 11/01/2009
Na previsão para as 18z, Figura 42, do Boletim Técnico do CPTEC de SILVA JUNIOR
(2009), havia informes de que o deslocamento de um cavado pela Região Sul do Brasil
daria origem a uma nova onda frontal de característica subtropical próximo à costa do
RS.
O cavado sobre o Sul do país deixaria o domingo com tempo instável
99
principalmente no sul, leste e nordeste do RS, centro-leste de SC. Também havia a
previsão de precipitação de granizo, com ventos de moderados a fortes, rajadas
ocasionais e acima de 70 km/h desde a costa desde SC até o Uruguai.
O deslocamento do cavado pelo RS (Figura 43), gerou ventos muito intensos em SC e
associados à formação de onda frontal, geraram o tornado em Urussanga.
FONTE: NOAA/GOES/CPTEC.
FIGURA 43: Imagem realçada do satélite GOES 10, com o núcleo convectivo que gerou o tornado em
Urussanga, 11/01/2009.
Sombrio*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Sombrio
- 29º 06' 50" S
- 49º 37' 00" O
10m
31.01.2009
17:30h
Tornado
Ao final da tarde de sábado, dia 31/01/2009, conforme manchete do jornal
NOTICIANDO (NOTICIANDO, 2009), mais de 300 edificações foram atingidas por
100
vendaval, residências foram danificadas, empresas sofreram avaria nos imóveis, a rede
de comércio teve vários prédios danificados, uma escola teve perda do telhado,
diversas árvores tombaram assim como postes de iluminação, além de pessoas
que ficaram desalojadas. (Figura 44).
Fonte: Jornal Noticiando, 02/02/2009.
FIGURA 44: Danos em imóveis em Sombrio
Segundo a análise sinótica de 31/01/2009 - 00Z do Boletim Técnico do CPTEC, Lima
(2009) informou que um vórtice ciclônico de altos níveis (VCAN) atuava sobre o centrosul do Brasil, com a intensificação dos ventos a noroeste e a nordeste do sistema, onde
havia ramos do Jato Subtropical. O posicionamento do VCAN e a área de crista a
sudeste e sul dele configuram um padrão de bloqueio atmosférico, o que durante este
dia manteve o sistema entre Uruguai e RS com fraco deslocamento para leste.
Em manchete do jornal A Tribuna (A TRIBUNA, 05/02/2009), Figura 45, foi veiculada a
informação que “tornado destelha casas em Sombrio”, informando que a velocidade dos
ventos chegou a 120 km/h.
101
Fonte: Jornal A Tribuna. 05/02/2009.
FIGURA 45: Noticia sobre os danos de tornado em Sombrio
No fim de tarde, áreas de baixa pressão com rápido deslocamento (Figura 45), e o calor
formaram nuvens cumulonimbus na região sul de Santa Catarina, provocando uma
tempestade explosiva e rotatória com a provável formação de tornado.
102
Fonte: NOAA/GOES10/CPTEC.
FIGURA 46: Núcleo convectivo isolado sobre Sombrio, 31/01/2009
Capivari de Baixo*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Capivari de Baixo
- 28º 26' 41" S
- 48º 57' 28" O
12m
01.03.2009
17h30
Tornado
Por volta de 17h30, do dia 01.03.2009, uma intensa tempestade deixou um rastro de
destruição em Capivari de Baixo, e os bairros Três de Maio, Loteamento Camila e
Bandeirantes, foram seriamente atingidos. Árvores e postes de energia elétrica foram
arrancados, inúmeras casas ficaram destelhadas, outras tombaram ou foram arrastadas,
motos e carros foram amassados por escombros, móveis e eletrodomésticos foram
destruídos, gerando abalo emocional nas vítimas do temporal. O proprietário de uma
residência de madeira no bairro Três de Maio soube por vizinhos que sua casa havia
sido arrastada pelo vento: “Saímos para ver os estragos assim que a chuva parou e
tomamos um susto quando vimos que a casa praticamente deu uma cambalhota. Ele e
a esposa juntavam dinheiro para ampliar a casa. “Não sobrou nada. Nada. Agora, só
103
podemos contar com a ajuda dos desconhecidos para superar tudo isso”, ver mais no
anexo M (NOTISUL, 2009).
Devido aos estragos em pelo menos 600 residências, a prefeitura de Capivari de Baixo,
no Sul do Estado, decretou situação de emergência. Pelo menos três casas foram
destruídas totalmente e muitas ficaram destelhadas. Na Figura 47 podemos ver a
imagem da quadra de esportes coberta que desabou ninguém se feriu. (CLIC RBS,
2009)
Fonte: Imagem de Marcelo Becker. CLIC RBS, 2009.
FIGURA 47: Quadra coberta desabada.
Na única previsão para 01/03/2009, do Boletim Técnico do CPTEC das 00z, MOURA
(2009), informava que Jato de Baixos Níveis se intensificariam, trazendo mais umidade
da região Amazônica para latitudes mais altas. Também havia informes da atuação de
um cavado em níveis altos e médios da atmosfera que viria dos Andes entre a
segunda-feira (02/03) e a terça-feira (03/03), advectando vorticidade ciclônica para
níveis mais baixos da atmosfera, dando condições para formação de uma onda frontal
subtropical (OFST) sobre o Uruguai na terça-feira, a qual seria a responsável por
manter instabilidade sobre o sul do Brasil nos dias seguintes.
104
Havia muitas instabilidades sobre a região de Capivari de Baixo, topos de -40ºC e
outros menores de -70ºC, como se pode observar na Figura 47, no momento em que
ocorreu destruição em superfície.
Fonte: NOAA/GOES10/CPTEC.
FIGURA 48: Núcleo convectivo sobre Capivari de Baixo, 01/03/2009
Ponte Alta***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Ponte Alta
- 27º 29' 03" S
- 50º 22' 49" O
856m
08.03.2009
12h
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Turvo***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Turvo
- 28º 55' 34" S
- 49º 40' 45" O
28m
08.03.2009
7h45
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
105
Criciúma*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Criciúma
- 28º 40' 39" S
- 49º 22' 11" O
46m
08.03.2009
16h
Tornado
A capa do Jornal A Tribuna, apresenta a manchete do temporal ocorrido em Criciúma
(A TRIBUNA, 09/03/2009, Capa), Figura 49.
Fonte: Jornal A Tribuna, (09/03/2009).
FIGURA 49: Danos do temporal ocorrido em Criciúma
Após vendaval, queda de granizo e chuva forte, quatorze municípios catarinenses
registraram estragos e tornados (Diário Catarinense, 9/03/2009, p. 4 e 5).
106
Sobre esse dia, o jornal Diário Catarinense informou ainda que um forte vendaval
espalhou destruição na região serrana e planalto sul catarinense no dia 08.03.2009.
Foram 12 os municípios mais atingidos. Na mesma data, foi confirmada a ocorrência
de cinco tornados na região catarinense (DIÁRIO CATARINENSE, 11/03/2009).
Dez bairros de Criciúma foram alagados depois da forte chuva na tarde de domingo.
Por volta das 16h, um temporal se formou com muita chuva e vento e durou cerca de
20 minutos. Aproximadamente 40 mil pessoas ficaram sem energia elétrica.
A suspeita é que um tornado tenha se formado na região. O vento forte e a chuva
destruíram parte das lavouras de milhos e aproximadamente 30 residências, além de
derrubar 30 postes da rede de distribuição de energia. Ver mais sobre o assunto no
anexo N.
Bocaína do Sul***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Bocaína do Sul
- 27º 44' 40" S
- 49º 56' 40" O
860m
08.03.2009
10h
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Foi confirmado pela Central RBS de Meteorologia a ocorrência do terceiro tornado a
atingir a região serrana catarinense. Um forte vendaval espalhou destruição na região
serrana e planalto sul catarinense no dia 08.03.2009. No mesmo dia foi confirmada a
ocorrência de cinco tornados na região, dentre eles, Bocaína do Sul (DIÁRIO
CATARINENSE, 11/03/2009). Ver mais em anexo N.
Ituporanga*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Ituporanga
- 27º 24' 52" S
- 49º 36' 09" O
370m
107
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
08.03.2009
10h30
Tornado
Central RBS de Meteorologia, 2009
Segundo Glauco Freitas da Central de Meteorologia da RBS (DIÁRIO CATARINENSE,
08/03/2009), o fenômeno que atingiu a Serra Catarinense na manhã do domingo e que
durou entre 10 a 15 min.
No município Ponte Alta, 500 casas tiveram danos, 60
famílias ficaram desabrigadas e duas pessoas ficaram feridas. A rede elétrica foi muito
danificada e a cidade chegou a ficar 70% sem energia elétrica. No mesmo dia foi
confirmada a ocorrência de cinco tornados na região, dentre eles, Ituporanga, ver
Anexo N.
Otacílio Costa*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Otacílio costa
- 27º 28' 59" S
- 50º 07' 19" O
884m
08.03.2009
10h30
Tornado
Central RBS de Meteorologia, 2009
Faxinal dos Guedes******
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Faxinal dos Guedes
- 26º 51' 10" S
- 52º 15' 37" O
860m
13.05.2009
21h ( - 3 GMT)
Tornado
Em Faxinal dos Guedes (Diário Catarinense, 2009), oeste catarinense, um vento forte
que veio junto com a chuva chegou a causar prejuízos em três propriedades na Linha
Froza, por volta das 21h de quarta-feira de 13/05/2009. O vento causou o
destelhamento de um aviário e causou a morte de cerca de mil pintos. A ventania
108
também derrubou árvores e o telhado de um chiqueiro. A Defesa Civil acredita que
pode ter se tratado de um tornado.
Havia muitos núcleos convectivos com nuvens com topos -70ºC sobre a região onde
situa-se o município Faxinal dos Guedes, como se pode observar na Figura 50, no
momento em que ocorreu destruição em superfície.
Fonte: NOAA/GOES10/CPTEC, 14/05/2009.
FIGURA 50: Núcleo convectivo sobre Faxinal dos Guedes.
Na Análise Sinótica de 14/05/2009, no Boletim Técnico do CPTEC (MOURA, 2009) há
informações de que uma frente fria se deslocava pela região sul do Brasil, sobre o
Atlântico junto a costa sul do RS, prolongando seu ramo entre o sul e oeste do RS, ao
longo da divisa com o Uruguai, e nordeste da Argentina: “Na frente do cavado frontal, e
nos níveis mais altos da atmosfera, a atuação de um cavado entre o sul do Paraguai e
do PR e SC, provocará forte instabilidade sobre esta área, somado a instabilidade préfrontal.”
Na imagem da Figura 51, vê-se o canal colorido do satélite GOES 10, no qual observase um núcleo com muita refletividade sobre a região.
109
Fonte: NOAA/GOES10/CPTEC, 13/05/2009.
FIGURA 51: Núcleo convectivo sobre Faxinal dos Guedes.
Este tornado provavelmente foi formado pelas instabilidades associadas a passagem
de frente fria sobre o estado de SC.
Guaraciaba******
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Guaraciaba
- 26º 35' 57" S
- 53º 31' 05" O
740m
07.09.2009
21h30
Tornado
METSUL (2009)
Salto Veloso***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Salto Veloso
- 26º 54' 19" S
- 51º 24' 23" O
820m
08.09.2009
Madrugada
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
110
Santa Cecília***
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fonte:
Santa Cecília
- 26º 57' 39" S
- 50º 25' 37" O
988m
08.09.2009
Madrugada
Tornado
EPAGRI/CIRAM (2009)
Fraiburgo*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Fraiburgo
- 27º 01' 34" S
- 50º 55' 17" O
1048m
27.09.2009
14h10
Tornado
Por volta de 14h10 do dia 27 de setembro de 2009, foi registrada a imagem de uma
nuvem escura (Figura 52), muito baixa e com deslocamento rápido e em rotação na
região da destruição ocorrida em Fraiburgo.
Fonte: registro fotográfico de Ana Paula Knabben de Carvalho.
FIGURA 52: Formação de tornado, 27/09/2009, 14h10.
No momento da tempestade, uma área de baixa pressão explosiva, conforme Figura 53,
passava sobre a região provocando fortes tempestades, precipitação de granizo
111
tamanho gigante e chuva intensa.
Fonte: EPAGRI/CIRAM, GOES 12 IR, 27/09/2009.
FIGURA 53: Carta sinótica das 12h45, localizando uma baixa pressão sobre a região sul.
Na Análise Sinótica das 00hora de 27/09/2009, o Boletim Técnico do CPTEC (SOUZA,
2009) informou que o Jato Subtropical (JST) deu suporte à onda frontal que se formou
sobre o RS, e o Jato Polar Norte (JPN) deu suporte dinâmico à frente fria que estava na
Bacia do Prata: “Nesta segunda-feira 27/10, a onda frontal que se formou sobre a
Região Sul do Brasil se deslocará pelo Atlântico e deverá atingir o litoral do Estado de
SP no fim do dia”. Informou ainda que a onda frontal subtropical, através da borda
ocidental da baixa pressão, intensificaria os ventos que soprariam de moderados a
fortes entre o litoral norte do RS e o litoral de SC, onde as rajadas ficariam entre 50-70
km/h.
A Figura 54 mostra o canal realçado do satélite GOES 10, e a localização no mapa da
região de Fraiburgo, que no momento era atingida pela tempestade, onde se
destacavam núcleos convectivos com topos de -70ºC, sobre a região.
112
Fonte: NOAA/GOES10/CPTEC, 27/09/2009.
FIGURA 54: Núcleos convectivos sobre Fraiburgo.
Após forte temporal na porção central do estado catarinense, foi possível verificar
danos associados a ventos muito fortes, e na seqüência de imagens dos danos em um
mesmo local, nas Figuras 55, 56, 57 e 58, observa-se que as estruturas foram
retorcidas, dando indicação de vento convergente. Na Figura 55, atrás da cuba
retorcida há uma árvore tombada e alguns topos de árvores quebrados, cena típica de
atuação
de
tornados
na
mesma
linha
por
onde
passou.
113
Fonte: Iliane Garcez.
FIGURA 55: Cuba retorcida pelo vento, com árvore tombada e galhos partidos ao fundo.
Fonte: Iliane Garcez.
FIGURA 56: Ginásio totalmente abalado estruturalmente, com ferragens retorcidas visão interna
114
Fonte: Aloísio Lucas.
FIGURA 57: Ginásio totalmente abalado estruturalmente, com ferragens retorcidas, visão lateral.
Fonte: Iliane Garcez.
FIGURA 58: Torre de transmissão tombada com ferragens retorcidas, visão lateral
A partir do tipo de dano, fotografia do fenômeno e intensidade de danos no município
pode-se categorizar tal evento como tornado. Ver mais no Anexo O.
Araranguá*
115
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Araranguá
- 28º 56' 05" S
- 49º 29' 09" O
13m
28.09.2009
01h45
Tornado
Por volta de 01h45 da madrugada de 28 de setembro, Araranguá foi atingida por ventos
muito fortes e tempestade com granizo. O vendaval provocou danos severos em área
restrita da cidade, gerando um rastro de destruição (Figura 59).
Segundo o
coordenador estadual de Defesa Civil, major Márcio Luiz Alves, não está descartada a
possibilidade de que um tornado atingiu as regiões de Araranguá e Sombrio (G1,
28/09/09).
Fonte: Clic RBS, 28/09/2009.
FIGURA 59: Danos internos decorrentes de sucção de telhado
A situação meteorológica no horário apontava a presença de um sistema de baixa
pressão e incursão de ar quente e úmido oriundos da região amazônica. O sistema
atuou na intensificação dos ventos (JBN) sobre a região.
Observaram-se ainda
116
perturbações ciclônicas que foram determinantes na geração de fortes chuvas sobre
parte do RS e SC quando estas interagiram com a massa de ar quente e úmida.
(CPTEC, 01/10/2009)
Em pesquisa no Radar meteorológico da REDEMET no horário do ocorrido, foi achado
um núcleo intenso, com célula de aproximadamente 70dBz, a qual cruzou sobre
Araranguá e avançou íntegro e bem organizado um pouco adiante (Figura 60), sobre o
mar. A célula de tempestade tinha altura de mais de 10 km, havendo a condição
propícia para desenvolver uma célula tornádica.
Fonte: Radar Meteorológico da REDEMET.
FIGURA 60: Célula de tempestade, Araranguá, 28/09/2009.
No Boletim do EPAGRI/CIRAM de 28.09.2009, sobre as condições observadas nas
informações constou que ocorreu Chuva forte durante toda manhã com trovoadas em
todas as regiões de Santa Catarina, diminuindo a intensidade da chuva no final do
período.
Ocorrência de Granizo e suspeita de tornado em Araranguá.
Nas
observações de Superfície, havia um Sistema frontal se estendendo desde SC até o
117
oceano além de amplo sistema de alta pressão sobre a Argentina. Nos baixos, médios
e altos níveis, um jato subtropical estava associado ao sistema frontal.
Nas notícias do CPTEC do dia 01/10/2009, conforme exposto no Anexo O, foi
informado que:
No domingo (27/09) à noite a frente fria estava sobre o RS e oeste de SC
ajudando a intensificar ainda mais as chuvas sobre estes Estados. A partir
deste momento os temporais começaram a tomar conta de grande parte de SC
e do leste do Paraná. Devido aos fortes impactos causados à população e à
situação meteorológica recentemente descrita não se descarta a ocorrência de
tornados sobre esta região. Porém, a ocorrência deste tipo de fenômeno de
tempo severo poderá ser afirmada uma vez que sejam avaliados os danos e os
destroços associados.
Campos Novos*
Município
Latitude:
Longitude:
Altitude:
Data:
Horário:
Fenômeno:
Campos Novos
- 27º 24' 06" S
- 51º 13' 30" O
934m
14.10.2009
18h15
Tornado
Durante temporal na tarde de 14.10.2009, o município de Campos Novos teve danos
em cinco bairros da cidade e no interior, com o destelhamento de 235 casas, sendo que
duas pessoas ficaram feridas com a queda da cobertura das casas e foram
encaminhadas ao hospital e plantações de trigo foram devastadas. Segundo Cadore
(2009) ventos com velocidade superior 120 km/h ocasionaram a queda de três torres de
transmissão de energia elétrica e uma ficou inclinada na Linha Pádua no Meio-Oeste
catarinense. Os danos às estruturas metálicas das torres de transmissão de mais de 25
metros, provocaram a interrupção do fornecimento de energia elétrica para 300 mil
moradores da Serra, Oeste e Meio-Oeste. Durante a tempestade houve precipitação
intensa e além de precipitação de granizo e conforme manchete jornalística a Polícia
Militar atendeu ocorrências de pessoas feridas pela precipitação de granizo (FOLHA
ONLINE, 14.10.2009).
118
Conforme imagem da Figura 61, do canal realçado do satélite GOES 10, destacava-se
núcleo convectivo, com topo de nuvens à temperatura de -70ºC sobre a região de
Campos Novos no momento em que ocorria a destruição no local, além da precipitação
de granizo e intenso vendaval.
Fonte: NOAA/GOES10/CPTEC, 14/10/2009.
FIGURA 61: Núcleo convectivo sobre Campos Novos – 14/10/2009.
Imagem do radar meteorológico do SIMEPAR, Figura 62, no momento em que ocorria a
destruição no município Campos Novos, apontando um núcleo de intensidade máxima
de chuva sobre a região.
119
Fonte: Radar meteorológico do SIMEPAR.
FIGURA 62: Assinatura do tornado de Campos Novos – 14/10/2009.
120
5 ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO
Na tentativa de compor uma amostra que definisse uma climatologia para tornados em
Santa Catarina foram levantados dados de tornados de 1976 a 2009, compreendendo
33 anos e 78 casos, inicialmente. Essa amostra foi levantada a partir de informes em
monografias de Marcelino (2000) e Silva (2009), Dissertação de Mestrado de Marcelino
(2004a), dados de pesquisas científicas, dados do EPAGRI/CIRAM 2009, jornais,
jornais online, arquivos pessoais, informes da Defesa Civil de Santa Catarina e Informes
de Instituições de Meteorologia. Para fins de tabulação, desprezamos o caso ocorrido
em 1928, o qual não foi considerado para efeito de análise por tratar-se de um episódio
único, desprovido de dados tais como mês e dia de ocorrência, totalizando um universo
de 77 casos. Foram geradas tabelas com dados totais, com dados de episódios de El
Niño, La Niña e Neutralidade as quais foram sincronizadas com ocorrências de
tornados, verificando a sazonalidade, percentagens de tornados e trombas d’água para
construir um conjunto de dados atualizados de ocorrências tornádicas em Santa
Catarina.
Na Tabela 6 estão os dados encontrados de períodos de influencia do fenômeno El
Niño, ocorrências tornádicas nesses períodos, cidades e estação do ano.
121
Tabela 6: El Niño/Tornados
EL NIÑO
(em Meses)
Ocorrências de
Tornados e
Trombas d´água
Cidade
Data
Estação
08/1976 02/1977
01TO
Guarujá do sul
08/08/1976
Inverno
01 TO
Bom Jardim da Serra
Verão
03 TO
01 TO
Benedito Novo
Benedito Novo
Paraíso
Zortéa
28/01/1977
06/01/1995
08/01/1995
27/01/1995
09/07/1997
Verão
Verão
Verão
Inverno
01 TO
Abelardo Luz
07/02/1998
Verão
01 TO
Abdon Batista
07/02/1998
Verão
02 TO
01TR
Painel
Witmarsum
Criciúma
Criciúma
São Francisco do Sul
19/02/2003
21/11/2002
03/01/2005
03/01/2005
26/02/1995
Verão
Primavera
Verão
Verão
Verão
01TR
Florianópolis
08/02/2005
Verão
08/2006 01/2007
02TO
09/2009 10/2009
01 TO
01 TO
01 TO
01 TO
Lebom Régis
Lebom Régis
Guaraciaba
Salto Veloso
Santa Cecília
Fraiburgo
Ararangua
Campos Novos
05/1994 03/1995
05/1997 5/1998
05/2002 03/2003
02 TO
07/2004
02/2005
01 TO
01 TO
Siglas: Tornado - TO
17/11/2006
10/12/2006
07/09/2009
08/09/2009
08/09/2009
27/09/2009
28/09/2009
14/10/2009
Primavera
Primavera
Inverno
Inverno
Inverno
Primavera
Primavera
Primavera
Tromba d´água - TR
Conforme se observa na tabela 6, com dados da amostra levantada em anos de El Niño
ocorreram vinte e dois (22) tornados, destes, vinte (20) foram tornados e duas (2) foram
tromba d’água.
Sendo que cinco (5) tornados ocorreram no inverno, onze (11)
ocorreram no verão, seis (6) na primavera e nenhum no outono. As duas (2) trombas
d´água ocorreram exclusivamente no verão.
Na Tabela 7 estão os dados encontrados referentes a períodos de influencia do
fenômeno La Niña, ocorrências tornádicas nesses períodos, cidades e estação do ano.
122
Tabela 7: La Niña/Tornados
LA NIÑA
(em Meses)
19/1984 06/1985
05/1988 05/1989
09/1995 03/1996
09/1998 12/1999
07/1998 07/2000
09/2007 06/2008
12/2008 05/2009
Ocorrências de
Tornados e
Trombas d´água
Cidade
Data
Estação
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TR
01TO
01TO
01TR
01TR
Maravilha
São Joaquim
Xanxerê
Indaial
São Carlos
Meleiro
São Franc. do Sul
Joinville
Forquilhinha
Florianópolis
Itapoá
09/10/1984
11/01/1989
11/01/1989
11/01/1989
11/01/1989
27/06/1996
27/01/1996
07/02/1999
24/11/1999
23/02/2000
01/03/2000
Primavera
Verão
Verão
Verão
Verão
Inverno
Verão
Verão
Primavera
Verão
Verão
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
Lebom Régis
Chapecó
Içara
Papanduva
Tubarão
Correia Pinto
29/10/2007
14/11/2007
25/12/2007
01/02/2008
16/02/2008
20/06/2008
Primavera
Primavera
Verão
Verão
Verão
Outono
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
Urupema
Urussanga
Sombrio
Capivari de Baixo
Ponte Alta
Turvo
Criciúma
Bocaína do Sul
Ituporanga
Otacílio Costa
Fax. dos Guedes
31/12/2008
11/01/2009
31/01/2009
01/03/2009
08/03/2009
08/03/2009
08/03/2009
08/03/2009
08/03/2009
08/03/2009
13/05/2009
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Outono
Siglas: Tornado - TO
Tromba d´água - TR
Conforme se observa na Tabela 7 com dados da amostra levantada, em anos de La
Nina ocorreram vinte e oito (28) tornados, deste total, vinte e cinco (25) foram tornados
e três (3) foram tromba d’água, sendo que um (1) tornado ocorreu no inverno, vinte um
(21) ocorreram no verão, quatro (4) na primavera e dois (2) no outono. As três (3)
trombas d´água ocorreram exclusivamente no verão.
Na Tabela 8 estão os dados encontrados referentes a períodos de influência da
neutralidade, ocorrências tornádicas nesses períodos, cidades e estação do ano.
123
Tabela 8: Neutralidade/Tornados
NEUTRO
(em meses)
Ocorrências de
Tornados e Trombas
d´água
Cidade
Data
06/1989 04/1991
01TO
01TO
Xanxerê
Correia Pinto
11/11/1989
24/11/1989
04/1996 04/1997
01TR
01TR
Itapoá
Florianópolis
02/02/1997
02/02/1997
03/2001 04/2002
01TO
01TR
01TO
Piçarras
São Franc. do sul
Taió
04/01/2002
09/01/2002
10/02/2002
04/2003 05/2004
01TO
01TO
01TO
Campo Erê
Xanxerê
Itajaí
22/12/2003
17/01/2004
11/01/2004
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TR
01TO
01TR
01TR
01TR
Itapoá
São Joaquim
Florianópolis
Passo de Torres
Criciúma
Florianópolis
Florianópolis
Florianópolis
São Franc. do Sul
São Franc. do Sul
22/04/2005
29/12/2005
02/01/2006
16/01/2006
25/01/2006
25/01/2006
23/03/2006
31/03/2005
22/04/2005
23/07/2005
Verão
Verão
Verão
Outono
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Outono
Outono
Outono
Inverno
01TR
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
01TO
Laguna
Campos Novos
Zorteá
Cerro Negro
Papanduva
Abelardo Luz
Canoinhas
06/02/2007
27/07/2007
12/08/2008
12/08/2008
18/08/2008
24/10/2008
26/10/2008
Verão
Verão
Outono
Inverno
Inverno
Inverno
Primavera
03/2005 07/2006
02/2007 08/2007
07/2008 11/2008
Siglas: Tornado - TO
Estação
Primavera
Primavera
Verão
Verão
Verão
Verão
Verão
Tromba d´água - TR
Conforme se observa na tabela 8 com dados da amostra levantada, em anos neutros
vinte e sete (27) foram ocorrências tornádicas, destas, dezenove (19) foram tornados e
oito (8) foram tromba d’água, sendo que quatro (4) tornados ocorreram no inverno,
quinze (15) tornados ocorreram no verão, três (3) tornados na primavera e 5 (5)
tornados no outono. Do total de trombas d’água, seis (6) trombas d´água ocorreram no
verão, duas (2) trombas d´água ocorreram no outono e 1 (1) tromba d´água ocorreu no
inverno.
Das 77 ocorrências tornádicas levantadas e sincronizadas com a tabela do CPC 2009
de anos de ocorrências de El Niño, La Niña e Neutralidade (ver Anexo Q), foi montada
a Figura 63, com informes sobre os totais encontrados.
124
Tornados
30
25
20
15
10
5
0
Total
El Niño
La Niña
Neutralidade
22
28
27
Figura 63: Ocorrências totais de tornados
A Figura 63 apresenta a totalidade da amostra estudada, sendo que das 77 ocorrências
tornádicas 22 ocorreram sob influência do fenômeno El Niño, 28 sob influência de La
Niña e 27 sob influência de neutralidade.
Dados encontrados referentes a períodos de influencia dos fenômenos El Niño, La Niña
e Neutralidade, tornados e a sazonalidade.
Tabela 9: Influência/Estação/Tornados
Estação/influência
Verão
Outono
Inverno
Primavera
El Niño
11
0
5
6
La Niña
21
2
1
4
Neutro
15
5
4
3
Total
47
7
10
13
Do total geral da amostra de ocorrências tornádicas na tabela 9, quarenta e sete (47)
tornados ocorreram no verão, sete (7) no outono, dez (10) no inverno e treze (13) na
primavera, sendo que a estação outono registrou mais tornados sob influência da
neutralidade com cinco (5) ocorrências em La Niña duas (2), sob influência de El Niño
125
não foram registrados tornados no outono. Nos registros, conforme a tabela 9, apenas
sob neutralidade se pode constatar a ocorrência de tromba d’água no outono.
As ocorrências tornádicas por estação do ano foram relacionadas na Figura 64, com as
quais os fenômenos El Niño, La niña e neutralidade foram cruzados.
Ocorrências Sazonais
25
Tornados
20
El Niño
15
La Niña
10
Neutro
5
0
Verão
Outono
Inverno
Primavera
Estações
Figura 64: Sazonalidade
Na Figura 64, seguindo as legendas, nota-se que em anos de El Niño (cor vermelha)
foram registrados 11 tornados no verão, em período de neutralidade (cor alaranjada)
foram registrados 15 tornados, sob influência de La Niña (cor azul) ocorreram 21
tornados, destacando-se no verão a influência de La Niña na ocorrência de tornados.
No outono, não foram relacionados episódios de tornados durante a ocorrência de El
Niño, sob influência de neutralidade foram registrados cinco (5) tornados e sob
influência de La Niña ocorreram dois (2) tornados.
No inverno, as ocorrências
tornádicas sob influência de El Niño foram cinco (5), sob influência de La Niña foi um (1)
e sob a neutralidade foram registradas quatro (4) ocorrências tornádicas. Na primavera,
ocorreram seis (6) tornados sob a influência de El Niño, sob a influência de La Niña
ocorreram quatro (4) tornados e na neutralidade três (3). Conforme a Figura 64, se
126
observa que na primavera sob influência do fenômeno El Niño teve mais ocorrências
tornádicas que durante episódios do fenômeno La Niña. Já durante o inverno nota-se
mais ocorrências tornádicas sob influência de El Niño e neutralidade.
No verão,
destaca-se a La Niña como principal influência nas ocorrências tornádicas e no outono,
destaca-se a neutralidade.
Ocorrências Tornádicas
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Verão
Outono
Inverno
Primavera
Total
Figura 65: Percentual de ocorrências tornádicas
Na Figura 65, observa-se que foram registrados 77 ocorrências tornádicas ao longo de
33 anos, no verão se concentrou 61,03% das ocorrências, no outono 9%, no inverno
12,98% e na primavera 16,88%.
Na Figura 66 encontram-se os dados sobre trombas d’água em relação às ocorrências
por estações do ano.
127
Tromba D'água/Estações
10
8
6
Tromba d'água
4
2
0
Verão
Outono
Inverno
Primavera
Figura 66: Trombas d’água
Com relação à ocorrência de trombas d’água, na Figura 66, nota-se que foram
registradas 13 trombas d’água ao longo de 33 anos, no verão se concentraram dez (10)
ocorrências, no outono duas (2) e no inverno uma (1).
A Figura 67 apresenta a proporção de ocorrências de tornados e de trombas d’água da
amostra estudada.
Tornados e Trombas d'água
Trombas d'água
17%
Tornados
Trombas d'água
Tornados
83%
Figura 67: Trombas d’água e Tornados
128
Na Figura 67, observa-se que os tornados ocorridos em terra totalizaram 83%, com 64
ocorrências e as trombas d’água totalizaram 17%, com 13 ocorrências.
Na Figura 68 são apresentadas as ocorrências mensais de tornados e de trombas
d’água segundo a amostra estudada.
Tornados em Santa Catarina - 1976 a 2009
25
20
15
Tornados
10
5
Ju
l
Ag
o
Se
t
O
ut
No
v
De
z
Ja
n
Fe
v
M
ar
Ab
ril
M
ai
o
Ju
n
0
Figura 68: Meses de maior ocorrência
Os meses de maior ocorrência de tornados na Figura 68 informam que as maiores
ocorrências de tornados foram no mês de janeiro, com vinte (20) ocorrências, o mês de
Fevereiro vem em segundo com quatorze (14) ocorrências, e o mês de março vem em
terceiro com onze (11) ocorrências, com menos ocorrências observa-se novembro onde
aparecem seis (6) ocorrências, em setembro, outubro e dezembro cinco (5) ocorrências,
agosto quatro (4) ocorrências, julho três (3) ocorrências, abril duas (2) ocorrências, maio
e junho registraram uma (1) ocorrência cada.
Na descrição das Tabelas e das Figuras sazonalidade e percentual de ocorrências, no
período de 33 anos, período desta análise, as maiores ocorrências tornádicas se
concentram no verão, representando 61,3% do universo pesquisado, enquanto que a
primavera concentrou apenas 16,88% dos casos. Os meses de maiores ocorrências
tornádicas em Santa Catarina foram janeiro, fevereiro e março, quando atuação de
sistemas atmosféricos próprios da dinâmica atmosférica do Estado, passagem de
Frentes Frias, Núcleos Convectivos isolados, atuação da Massa Tropical Continental
foram acentuados pela influência do fenômeno La Niña.
129
6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Esta pesquisa procurou caracterizar a influência dos fenômenos El Niño (EN) e La Nina
(LN) nas ocorrências tornádicas em Santa Catarina, devido a grande relevância da
atuação destes fenômenos no Sul do Brasil. Esses eventos, como foram descritos
anteriormente, são componentes de outro fenômeno relevante conhecido como ENOS
(El Niño Oscilação Sul) que revela à interação oceano-atmosfera, manifestada sobre o
Oceano Pacífico Equatorial alterando os padrões normais do clima de muitas regiões.
Além disso, esse trabalho observou a ocorrência de tornados em épocas na qual
nenhuma destas fases de anomalia ocorria, ou seja, uma fase de neutralidade.
A partir do conhecimento do fenômeno ENOS com sua influência no clima de Santa
Catarina observou-se que a fase quente (EL) deste fenômeno causa chuvas acima da
média, vendavais e granizos. E em sua fase fria (LN) causa chuvas abaixo da média,
secas, além temperaturas muito baixas. No entanto, a fase de neutralidade do Oceano
Pacífico também afeta o clima catarinense, inclusive na ocorrência de tornados no
Estado.
No desenvolver da pesquisa, mediante caracterização do clima de Santa Catarina,
constatou-se que o Estado é severamente castigado pelas adversidades atmosféricas,
devido a sua localização geográfica e também pelas atuações de vários sistemas
meteorológicos como o Jato Subtropical, os Bloqueios Atmosféricos, Ciclone
Extratropical, Zona de Convergência do Atlântico Sul, Sistemas Convectivos Isolados,
Frentes Frias, além do encontro de massas de ar Tropical e Extratropical.
As revisões bibliográficas, levantamento histórico e a consolidação de dados das mais
diversas fontes sobre tornados no Estado catarinense, permitiram descobrir que a
freqüência nas ocorrências tornádicas dá-se em maior número em anos de La Nina
(total 28). Entretanto, a fase de Neutralidade (total 27) também tem grande influência
nos eventos tornádicos, uma vez que revelou a diferença de um só evento comparado
130
com a fase de La Niña, já o fenômeno El Niño (total 22) foi o que menos se constatou
no
número
de
ocorrências
tornádicas
no
estado
de
Santa
Catarina.
Ainda, partindo de análises das estações do ano, esse trabalho verificou que ocorrem
mais eventos tornádicos na estação de verão nos meses de janeiro, fevereiro e março.
Foram contabilizadas 77 Ocorrências tornádicas sendo que treze são trombas d’água e
sessenta e quatro tornados. É importante ressaltar que constatou-se a nível
climatológico que sob influencia de La Niña na estação verão, ocorrem mais tornados
que em verões sob influência do fenômeno El Niño.
Conclui-se que existe uma limitação desta pesquisa no sentido da constatação de que
podem existir locais sem a presença humana onde fenômenos tornádicos possam ter
acontecido sem que tenham sido percebidos, outros eventos tornádicos classificados
como vendavais que não foram estudados e ficaram fora da amostra, a qual poderia ser
ainda muito maior se também fosse levantados dados junto aos arquivos da Defesa
Civil catarinense.
Recomenda-se que novos estudos sejam realizados e que os casos apresentados
nesta pesquisa sejam estudados um a um para que mais dados sejam gerados
ajudando na compreensão mais apurada de como esses fenômenos, com alto potencial
destrutivo, possam até futuramente serem previstos.
131
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Tornado
pode
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140
ANEXOS
141
ANEXO A - Episódios de tornados e trombas d´água em Santa Catarina de 1976 a
2000
Fonte: Marcelino (2000).
142
ANEXO B – Distribuição espacial dos tornados em SC de 1976 a 2003
Fonte: Marcelino (2004a).
143
ANEXO C – Tornados pesquisados e classificados
Fonte: Marcelino (2004a)
144
Anexo D – Tornados e trombas d´água ocorridos em Santa Catarina
Fonte: EPAGRI/CIRAM, 2009.
145
ANEXO E– Localização de trombas d’água em Santa Catarina
Fonte: Silva (2009)
146
ANEXO F – Resumo de dados sobre Trombas d’água em Santa Catarina
Fonte: Silva, 2009
147
ANEXO G – Tornado destrói 1 Km de floresta
Fonte: Jornal Vanguarda, 2007.
148
ANEXO H – Até agora me arrepio
Fonte: Jornal Vanguarda, 2007.
149
ANEXO I – Sul do Estado revive o drama do Catarina
Fonte: DC, 27/12/2007
150
ANEXO J – Três ficam feridos em temporal na terça-feira
FONTE: Jornal A Tribuna, 27/12/2007
151
ANEXO K – Vendaval e granizo atingem Correia Pinto
Fonte: Jornal Correio Lageano, 26/06/2008.
152
ANEXO L – Hospital de cidade atingida por tornado em SC ainda tem 20 leitos
interditados
Figura: O Globo. 13/03/2009.
153
ANEXO M – Tragédia em Capivari: Previsão é de mais temporais
Fonte: Jornal Notisul, Tubarão, 03/03/2009.
154
ANEXO N – Tornado destrói na Serra Catarinense
Fonte: DC, 09/03/2009
155
ANEXO O – Tempo Severo castiga mais uma vez o Rio grande do Sul e Santa
Catarina
Fonte: CPTEC, 2009
156
ANEXO P – Decreto n° 185 – Correia Pinto
Em 20 de junho de 2008, foi declarada situação de emergência no município, devido:
- a ocorrência de vendaval acompanhado de granizo no dia vinte de junho de dois mil e oito, atingindo
parte da área urbana e parte da área rural do Município, conforme mapa e croqui das áreas afetadas,
anexos a este Decreto;
- como conseqüências deste desastre, resultam em danos humanos e materiais, constante do Formulário
de Avaliação de Danos, anexo a este Decreto;
- a recomendação do Conselho
a situação de anormalidade;
Municipal
de
Defesa
Civil,
após
avaliar
e
quantificar
- concorrem como critérios agravantes da situação de anormalidade: a grande vulnerabilidade do cenário,
da população e o despreparo da Defesa Civil local frente ao desastre (Decreto Nº 185 de 20 de junho de
2008 de Correia Pinto).
Fonte: Decreto n° 185
157
ANEXO Q – Episódios de El Niño, La Niña e Neutralidade, CPC, 2009
Fonte: CPC, 2009.