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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 1 2 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CIÊNCIA E CULTURA Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Endereço: POSGRAD - Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto 14783-226 – Barretos – SP – Brasil [email protected] http://www.unifeb.edu.br/revista/edicao.php Publicação Semestral / Semi-annual publication Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch Ciência e Cultura 3 4 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS Reitoria Reitor: Prof. Dr. Reginaldo da Silva Pró-Reitora de Graduação: Profa. Dra. Sissi Kawai Marcos Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa: Profa. Dra. Fernanda Scarmato De Rosa Pró-Reitora de Pós-Extensão e Cultura: Profa. Maria Paula Barcellos de Carvaho Superintendente de Administração e Finanças: Wander Furegatti Ramos Martins Conselho Curador Lucio Antonio Pereira Presidente Rafael Luciano de Lucas Vice-Presidente Vitor Edson Marques Junior Secretário Carlos Henrique Diniz Buch Letícia Oliveira Catani Cláudia Cristina Paschoaletti Camila Rocha Marin Fauze José Daher Marina Kitagawa Susimar César Borges João Paulo Penha Jairo de Souza Machado Ciência e Cultura Editor chefe: Prof. Dr. Matheus Nicolino Peixoto Henares Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB Comitê Editorial Profa. Dra. Ana Emília Farias Pontes Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB Prof. Dr. Claudinei da Cruz Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio Universidade Federal do Maranhão - UFMA Prof. Dr. Luiz Fabiano Palaretti Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Câmpus de Jaboticabal Ciência e Cultura 5 6 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 SUMÁRIO Editorial 9 Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais Ethical and legal aspects of dentistry attendence to patients with special needs Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, João Francisco de Lima FACCHINA1, Endriw Nakamichi Godoy de FIGUEIREDO1, Thais Uenoyama DEZEM1, Alex Tadeu MARTINS1, Fábio Luiz Ferreira SCANNAVINO1 11 Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto Evaluation of postopertative discomfort in patients submitted to second-stage surgery of singletooth implants: pilot study Ana Emília Farias PONTES1, Jayne Aparecida de Mello MACHADO1, Liliane Fernanda Luz ORTEGA1, Vinícius Maximo GOMES1, Fabiano Sant’Ana dos SANTOS1, Fernando Salimon RIBEIRO1 19 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco Dental care to pregnant women at high risk Suzely Adas Saliba MOIMAZ1, Mírian Navarro SERRANO2, Cléa Adas Saliba GARBIN1, Orlando SALIBA1 27 Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico Block bone graft without internal fixation with screw: clinical case report Daniel de Albuquerque PINHEIRO1, Fernando Salimon RIBEIRO1, Ana Emília Farias PONTES1 39 A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada The City Manager from the perspective of Brazilian administrative law in shared management Pedro Henrique Costa SERRADELA1, Danilo Henrique NUNES1, Lucas de Souza LEHFELD1 49 Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB Identification and evaluation of the sensitivity profile of Staphylococcus aureus isolated from the hands of students of Pharmacy UNIFEB Andressa Leme de FIGUEIREDO1, Mariana Rodrigues ROZATTO1, Juliana Rico PIRES2, Deny Munari TREVISANI3 57 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite Social survey, technician, productive and quality of units São Paulo producers milk Maira MATTAR1, Amanda Nogueira MATIAS1, Carolina Bilia Chimello LUZ1, Marluci Silva de CARVALHO1, Ricardo RIVAS1, Luciano Menezes FERREIRA1 65 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) Visitor flowers on crotalaria crop (Crotalaria juncea) Darclet Teresinha MALERBO-SOUZA1 79 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia A proposal for socio-technical activity for engineering education Jurandyr C. N. LACERDA NETO1, Vágner Ricardo A. PEREIRA1, Rodrigo BORGES POLASTRINI2, Gilberto BATISTA POLASTRINI2 89 Ciência e Cultura 7 8 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Editorial A divulgação científica, comumente conhecida como publicação, é o sistema que troca informações e certifica autoria por meio de avaliação por pares. A composição desse processo envolve diversas etapas, especialmente a elaboração de hipóteses e respostas a questões e enigmas de diversas complexidades. Todo cientista quer encontrar respostas a suas questões e submetê-las à avaliação e discussão por pares a fim de divulgar suas conclusões, ou seja, publicá-las. No decorrer desse processo, o texto científico, i.e., texto argumentativo que defende conclusões, é referenciado por citações científicas. A citação científica possui frequentemente caráter positivo, principalmente quando fortalece a informação e o argumento resultante. As críticas da informação citada também possuem valor na ciência, embora sejam menos frequentes. A revisão por pares cria o processo argumentativo (discussão) das informações e resultados obtidos no desenvolvimento da pesquisa. Logo, além da evidência empírica resultante das citações científicas, a adoção do sistema de revisão por pares também certifica as informações presentes no texto científico, pois de certa forma representa um acordo fundamental entre os cientistas. O texto científico devidamente redigido e fundamentado por citações científicas, após avaliação e aprovação pelos pares1 pode ser publicado no periódico ou revista científica. A divulgação do trabalho científico passa por intensas mudanças devido ao desenvolvimento dos meios de comunicação, em especial da internet, das redes sociais e dos sites especializados na reunião do perfil de diversos cientistas e de seus artigos já publicados (i.e., submetidos à avaliação por pares e, aprovados!). O grande entrave na divulgação científica se deve à restrição do acesso a algumas bases de dados, não por coincidência, daquelas de maior prestígio (e.g., Web of Science, MEDLINE, Scopus). De acordo com Volpato (2013), algumas bases de dados são mais reconhecidas do que outras, uma situação que impõe tendenciosidade quando se busca por literatura científica (bases de dados famosas são preferidas, e sua literatura é privilegiada; assim, alguma literatura importante pode ser negligenciada porque os artigos foram publicados em revistas não prestigiadas). O acesso free à publicação científica está em debate em diversos centros e institutos de pesquisa, universidades e sociedades científicas, pois representa a execução, de fato, do direito ao conhecimento e do avanço científico. Ciência e Cultura 9 A Scientific Eletronic Library Online (SciELO) é uma base de dados de livre acesso que contém periódicos da África do Sul, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Peru, Portugal e Venezuela. Os periódicos indexados nesta base de dados adotam a avaliação por pares como requisito para aceitação ou rejeição do trabalho científico. Em muitos periódicos desses países podem ser encontrados artigos de alta qualidade, o que tem atraído diversos pesquisadores a divulgarem os resultados de suas pesquisas. A Revista Ciência e Cultura, de escopo Multidisciplinar, publicada pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, embora não esteja indexada a nenhuma base de dados, adota a revisão por pares e tem sido publicada desde 2006, com rigor da avaliação. Ciência e Cultura (UNIFEB) preconiza o acesso livre ao seu conteúdo, por isso mantém os artigos publicados no endereço www.unifeb.edu.br . A Revista do UNIFEB continuará disponibilizando livremente os artigos científicos no site da Instituição, mas pretende buscar maior visualização e citação dos artigos publicados, pois entende que a ampla divulgação dos trabalhos, sobretudo com livre acesso, é importante e fundamental para a “construção” do conhecimento científico. Para encerrar, convido a todos a prestigiar nossa Revista e em especial os pesquisadores para que submetam seus manuscritos à Ciência e Cultura. Matheus Nicolino Peixoto Henares Editor Chefe Referência VOLPATO, G.L. Fortalecendo as citações para avaliação da qualidade científica. RFO, Passo Fundo, v. 18, n. 2, maio/ago. 2013 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ nesta etapa do processo de avaliação dos trabalhos científicos, os pares são denominados de revisores ou referee’s. 1 10 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais Ethical and legal aspects of dentistry attendence to patients with special needs Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, João Francisco de Lima FACCHINA1, Endriw Nakamichi Godoy de FIGUEIREDO1, Thais Uenoyama DEZEM1, Alex Tadeu MARTINS1, Fábio Luiz Ferreira SCANNAVINO1 Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, Curso de Odontologia, Av. Prof. Roberto Frade Monte 389, Aeroporto, CEP 14783-226, Barretos (SP). 1 RESUMO Paciente com necessidades especiais geralmente tem a saúde bucal comprometida, o que é um grande desafio para a odontologia no diagnóstico e tratamento desses pacientes que necessitam de um atendimento específico e diferenciado. Desta forma, torna-se imprescindível que o atendimento odontológico seja pautado nos princípios éticos que regem o relacionamento de toda equipe de saúde bucal com o paciente e sua família/cuidador, porém estes pacientes ainda encontram dificuldades para serem atendidos, devido ao grande número de profissionais que recusam atendimento a esse tipo de paciente, muitas vezes por medo, falta de preparo e outras vezes por preconceito. Os autores do presente estudo realizaram uma revisão de literatura com objetivo de analisar os aspectos éticos e legais que envolvem os atendimentos clínicos à pacientes com necessidades especiais. Palavras chave: Ética, Odontologia, Pessoas com Deficiência ABSTRACT Disabled persons needs often have impaired oral health, which is a big challenge for dentistry in the diagnosis and treatment of these patients requiring a specific and differentiated treatment. Thus, it is essential that dental care is guided by the ethical principles governing the relationship of all the oral health team with the patient and family/caregiver, but these patients still find it difficult to be fulfilled due to the large number of professionals who refuse compliance with this type of patient, often out of fear, lack of preparation and sometimes by prejudice. The authors of this study conducted a literature review in order to examine the ethical and legal aspects involving clinicians to disabled persons. Keywords: Ethics, Dentistry, Disabled Persons Autor para correspondência: Prof. Dr. Fabiano de Sant’Ana dos Santos E-mail: [email protected] Telefone: 17 3321-6336 Recebido em: 18/11/2013 Aceito para publicação em: 09/06/2014 Ciência e Cultura 11 Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais Introdução Paciente com necessidade especial é todo indivíduo que apresenta desvios no padrão de normalidade, podendo ser identificáveis ou não, e que por isso necessitam de atenção e abordagem especiais por um período da vida ou indefinidamente (CASTRO et al, 2010). Segundo Guedes-Pinto (1993), os indivíduos que necessitam de cuidados especiais por um tempo indeterminado ou por parte de sua vida, são pacientes com necessidades especiais e seu tratamento odontológico depende de eliminar ou de contornar as dificuldades existentes em função de uma limitação. Odontologia para pacientes com necessidades especiais é um termo inespecífico, e abrange vários grupos de patologias e condições que fazem com que um paciente necessite de atendimento diferenciado, definindo-se, que pacientes com necessidades especiais são aqueles que apresentam alterações mentais, físicas, orgânicas, sociais e/ou comportamentais (SABBAGHHADDAD e MAGALHÃES, 2007). Os indivíduos que apresentam desvios no padrão de normalidade, de sua condição física, mental, orgânica e/ou de sociabilização, são tidos como pacientes com necessidades especiais. Essa condição pode ser de caráter transitório como a gravidez ou permanente como a paralisia cerebral (ELIAS, 2007). Imagina-se que pacientes com necessidades especiais são indivíduos com doença grave ou deficiência, mas essa visão é extremamente reducionista. Deve-se pensar no paciente com necessidades especiais como um paciente que por alguma razão está, no momento do atendimento, necessitando de uma atenção especial, e para essa atenção o ideal é que o profissional esteja sempre atento (OLIVER, 1990). De acordo com Dualibi e Dualibi (1998), os pacientes com necessidades especiais são classificados em grupos, 12 SANTOS et al. subgrupos, lesão principal e sublesão. Os grupos definidos são: a malformação congênita (genética e não-genética); as alterações comportamentais (psicoses, neuroses, autismo, perversão e dependência química); e as alterações físicas adquiridas (gravidez, alterações sistêmicas, traumatismos e geriatria). Uma necessidade especial nem sempre pode ser identificada pelo aspecto físico, sendo assim, o Cirurgião-Dentista deve realizar anamnese minuciosa a fim de detectar possíveis alterações e assim, proporcionar atendimento odontológico integral e seguro. Com isso, o Cirurgião-Dentista sempre deve fazer uma anamnese não somente para ter em mãos seu histórico médico e sim saber todas suas necessidades como paciente e ser humano (VARELLIS, 2013). Devido ao aumento da expectativa de vida, os pacientes com necessidades especiais estão cada vez mais presentes na prática diária do CirurgiãoDentista. É preciso uma adequação ergonômica no consultório devido as limitações que eles podem apresentar, surgem muitas dúvidas quando se fala sobre o manejo destes pacientes, se as técnicas a serem utilizadas serão as mesmas de pacientes que não possuem necessidades especiais, quando e como usar técnicas de contenção, medo do comportamento, enfim inúmeras dúvidas surgem no atendimento ao paciente com necessidade especial (SILVA et al, 2005). A sociedade brasileira está tomando consciência dos seus direitos por meio da mídia, que tem dedicado grande espaço ao chamado “erro médico” e também pelo advento do Código de Defesa do Consumidor. Por isso, é de extrema importância que o CirurgiãoDentista esteja preparado e acompanhado de medidas de salvaguarda, destacando a documentação clínica como uma das mais efetivas para proteger o profissional contra reclamações que podem ser infundadas e, Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB algumas vezes, até fantasiosas (ALMEIDA, 2005). Ainda segundo Almeida (2005), uma grande parcela de profissionais CirurgiõesDentistas negligencia a elaboração do prontuário, por diversos motivos, dentre os quais se destaca a falta de espaço no consultório para arquivar a documentação, o grande tempo investido na elaboração da documentação, e outros profissionais manifestam seu inconformismo, e por vezes inaptidão, para o que consideram uma atividade burocrática desnecessária e enfadonha, dissociada do exercício clínico. O histórico do paciente geralmente é desconhecido pelo Cirurgião-Dentista, que por meio da anamnese se informa sobre o estado e história de saúde do paciente, podendo assim, identificar doenças que requererão cuidados específicos, as quais poderão interferir na condução do tratamento odontológico (ROMANO, 2000). O paciente portador de necessidade especial necessita de educação especial e instruções suplementares temporárias ou definitivas em função de sua situação de saúde, sendo assim, a figura do cuidador tornase importante no desempenho das atividades dirigidas a suprir as demandas de acordo com a vida diária dos indivíduos especiais (BATTISTELLA, 1997). Vale a pena chamar atenção para o último Relatório Mundial sobre Deficiência publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que relatou haver no mundo mais de 1 bilhão de pessoas que vivem com alguma deficiência, o que representa 15% da população mundial. Os dados referidos representam números maiores que os anteriormente estimados pela OMS, datado de 1970, e que vislumbrava um número em torno de 10%. Assim, notadamente, há uma tendência mundial para o crescimento quantitativo de pessoas com deficiência que sobrecarregará os serviços de saúde de uma maneira geral (OMS, 2012). Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Mediante o exposto, presente estudo tem por objetivo apresentar sugestões para prática segura no tocante aos aspectos éticos e legais no atendimento odontológico à pacientes com necessidades especiais. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo e analítico realizado por meio de revisão bibliográfica. A busca literária foi realizada ativamente a partir dos descritores em português: ética, odontologia e pacientes com necessidade especial no período de maio a setembro de 2013. As bases de dados consultadas foram Scielo, Lilacs, Medline, Periódicos Capes, Biblioteca Virtual em Saúde, Ministério da Saúde, Conselho Federal de Odontologia e em livros das respectivas áreas de conhecimento. Os critérios de inclusão foram artigos na íntegra “on line” e capítulos de livros que abordavam o tema proposto neste estudo. Resultados e discussão Conforme aludido no Código de Ética Odontológica que entrou em vigor em janeiro de 2013, especificamente no seu Artigo 2o “A Odontologia é uma profissão que se exerce em benefício da saúde do ser humano, da coletividade e do meio ambiente, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto” (BRASIL, 2012). É intrigante imaginar que no campo das relações humanas especialmente entre odontólogos, profissionais técnicos e auxiliares, pacientes e cuidadores tenhamos que trazer a tona importante reflexão com olhares críticos relacionados a ética e a legalidade de condutas nos atendimentos odontológicos aos pacientes com necessidades especiais. Ressalta-se que dados do Conselho Federal de Odontologia constam 534 especialistas em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais atualmente prestando serviços nesta 13 Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais nobre especialidade (CFO, 2013). Comparado com outras especialidades odontológicas, pode se afirmar que o número de especialistas na área de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais é insuficiente para atender os 45 milhões de brasileiros que apresentam necessidades especiais (BRASIL, 2013). Pelo exposto, os Cirurgiões-Dentistas clínicos gerais devem suprir os atendimentos odontológicos demandados pela população em questão, não obstante, é imprescindível que estejam devidamente preparados dentro do contexto explorado pelo presente estudo. A prática segura da odontologia está fundamentada nos registros de informações pertinentes ao atendimento odontológico de todo e qualquer paciente. Neste sentido, o Código de Ética Odontológica é taxativo e destaca o prontuário odontológico como sendo o conjunto de documentos que fornece ao Cirurgião-Dentista informações sobre aquele indivíduo que está sendo avaliado, com a finalidade de diagnosticar, planejar, executar e acompanhar o atendimento odontológico (SILVA et al, 2011; BRASIL, 2012). Infelizmente, conforme apontado por Almeida (2005), há no mercado de trabalho odontológico profissionais que se descuidam na elaboração do prontuário odontológico. É dever fundamental do odontólogo organizar e guardar os dados relativos ao paciente, seu estado de saúde e tratamentos indicados e realizados. Sem esse cuidado tem-se muita dificuldade para planejar, acompanhar o desenvolvimento do trabalho e avaliar seus resultados. O objetivo primordial, para a elaboração de um prontuário minucioso, correto e com maior número possível de informações sobre o paciente, é a obtenção de um diagnóstico mais preciso possível, que nos facilitará a definição de um prognóstico e plano de tratamento e o registro dos 14 SANTOS et al. procedimentos executados para se obter os resultados esperados (SANTOS e CIUFFI, 2009; BRASIL, 2012). O prontuário odontológico deve ser estruturado a partir dos dados de identificação do profissional e do paciente, seguido da ficha de anamnese (composta pela queixa principal, questionário de saúde médico e odontológico), assim como do exame físico geral e extrabucal, e do exame físico intrabucal (SILVA et al, 2011). Na literatura é possível encontrar autores que chamam a atenção para a importância do registro do estado bucal apresentada pelo paciente antes do tratamento, mesmo quando se trate da intervenção de especialista que o recebeu por encaminhamento de um colega, sendo uma forma de resguardar o profissional de eventual responsabilidade por atos operacionais não realizados (RAMOS e CALVIELLI, 1991; ALMEIDA, 2005; SILVA et al, 2011; VANRELL, 2012). Os componentes naturais que devem constar do prontuário são os seguintes documentos: a ficha clínica odontológica; a documentação de imaginologia (radiografias, tomografias e fotografias); a documentação histopatológica (quando existente); exames complementares (hemograma, coagulograma, glicemia, cardiológico, urina simples, entre outros); traçados ortodônticos; instruções de higienização; fichas de índice de placa; recomendações pós-operatórias; esclarecimentos sobre limitações para a realização de determinados trabalhos, técnicas e ou procedimentos; cópia do termo de consentimento livre e esclarecido; cópia do contrato de prestação de serviços profissionais; cópia de quaisquer documentos fornecidos ou emitidos em favor do paciente (atestados, declarações, recibos, laudos e pareceres), cada um com a assinatura de conhecimento ou anuência do paciente ou cuidador; cópia dos honorários profissionais, devidamente anuídos Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB pelo paciente ou cuidador; cópia das moldagens em gesso, eventualmente tomadas do paciente (VANRELL, 2012). O Cirurgião-Dentista deve ficar atento também a outra possibilidade que não é incomum no atendimento a pacientes especiais, trata-se do abandono de tratamento pelo paciente e ou de seus cuidadores. A literatura chama atenção que este fato deve ficar comprovado, com vistas à responsabilidade profissional. Sendo assim, na ocorrência de faltas ou quando o paciente e ou seu responsável deixar de agendar consultas programadas para a continuidade do tratamento, o Cirurgião-Dentista deve acautelar-se, expedindo correspondência registrada (com aviso de recebimento) em que solicita o seu pronunciamento sobre as razões do impedimento. Na falta de resposta, a correspondência deve ser reiterada no prazo de 15 ou 30 dias, para que o abandono fique caracterizado. Esta convocação nos mesmos termos e prazos, pode ser feita também por telegrama fonado com cópia (SILVA, 1999). A contenção física pode ser utilizada durante os atendimentos odontológicos a pacientes com necessidades especiais, para isso, é imprescindível que o profissional comunique verbalmente os pais e ou cuidadores do paciente, bem como se devem tomar destes uma autorização por escrito em que sejam destacados os riscos e benefícios deste recurso físico. Em uma pesquisa realizada com cuidadores de pacientes odontológicos com necessidades especiais, 55% dos cuidadores informaram ser necessário o uso da contenção física, tanto a ativa feita pelo profissional e equipe odontológica, como a passiva por meio de faixas, lençóis e aparatos confeccionados para esse fim específico. Informaram também que 87% relataram não se incomodar, caso seja necessária o uso da contenção. A contenção física tem demonstrado ser um facilitador para Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 o tratamento (SANTOS et al, 2011). Salientase que os métodos de contenção têm sido preconizados por outros autores com sucesso (OLIVEIRA et al, 2004; SILVA et al, 2005). Outro recurso que pode ser utilizado por profissionais que atuam no atendimento a pacientes com necessidades especiais é o uso de fármacos ansiolíticos. A literatura aponta que estes medicamentos são seguros e eficazes, quando bem indicado (ANDRADE, 2006). Vale ressaltar que nestes casos, o cuidador deve ser bem orientado pelo profissional, bem como anuir à cópia da receita (SILVA et al, 2011; VANRELL, 2012). Conclusão O êxito do tratamento odontológico em pacientes com necessidades especiais está associado ao estabelecimento do vínculo entre o profissional, o paciente e a família e ou cuidador, assim como a legitimidade da terapêutica por meio da obtenção de um prontuário circunstanciado. Desta forma, tornase imprescindível que o atendimento odontológico seja pautado nos princípios éticos e legais que regem o relacionamento de toda equipe de saúde bucal com o paciente e sua família e ou cuidador. Agradecimentos Aos pacientes com necessidades especiais e seus cuidadores atendidos pelo Grupo de Atendimento Multiprofissional à Pacientes com Necessidades Especiais do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (GAMPE UNIFEB). Referências ALMEIDA, C.A.P. Prontuário: instrumento ético e de defesa do Cirurgião-Dentista, J. Assoc. Paul. Cir. Dent. 2005. 15 Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais ANDRADE, E.D. Terapêutica medicamentosa em Odontologia. 2 ed., São Paulo, Artes Médicas, 2006. BATTISTELLA, L.R. O portador de deficiência: qualidade de vida, autonomia de decisão: manual de orientação cuidador informal e atendente pessoal na assistência domiciliar. São Paulo: Lemos, 1997. BRASIL. 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São Paulo: Santos; 2013. 17 18 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto Evaluation of postopertative discomfort in patients submitted to second-stage surgery of single-tooth implants: pilot study Ana Emília Farias PONTES1, Jayne Aparecida de Mello MACHADO1, Liliane Fernanda Luz ORTEGA1, Vinícius Maximo GOMES1, Fabiano Sant’Ana dos SANTOS1, Fernando Salimon RIBEIRO1 1 Curso de Odontologia, Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. RESUMO O objetivo deste estudo piloto foi testar uma metodologia de avaliação do desconforto pós-operatório em relação à dor, inchaço e sangramento, em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários. Para isto, sete pacientes consecutivos do curso de Mestrado em Ciências Odontológicas do UNIFEB, que foram submetidos a cirurgia de reabertura de implantes em outubro de 2013, foram convidados a participar da pesquisa. Eles deveriam responder a um questionário com 10 perguntas sobre intensidade de dor, inchaço e sangramento, na Escala Analógica Visual (0 a 10); e mais quatro perguntas relacionadas ao uso adicional de analgésicos, necessidade de repouso, e acompanhamento profissional devido a complicações póscirúrgicas. Os cirurgiões foram alunos dos cursos de Mestrado em Ciências Odontológicas do UNIFEB, que também forneceram informações sobre a área operada e a técnica cirúrgica empregada. Seis pacientes aceitaram participar da pesquisa e responderam ao questionário. Nos três primeiros dias pós-operatórios, os valores de dor tenderam a diminuir de 0,9 para 0,2; os de inchaço tenderam a diminuir de 2,2 para 0,9; e os de sangramento diminuíram de 1,3 para 0,1. Nenhum paciente necessitou de doses adicionais de analgésico; nenhum procurou acompanhamento profissional devido a complicações pós-cirúrgicas; e dois pacientes relataram necessidade de repouso. Entretanto, não houve padronização nas respostas sobre o tipo de técnica empregado. Dentro dos limites deste estudo, pode-se concluir que a cirurgia de reabertura ocasiona mínimo desconforto pós-operatório, e que este tendeu ainda a diminuir ao longo do período de observação. Palavras chave: Cirurgia bucal, cirurgia plástica, escala analógica visual de dor, implante dentário ABSTRACT The aim of this pilot study was to test a method for the evaluation of postoperative discomfort in relation to pain, swelling and bleeding, in patients submitted to second-stage surgery of single-tooth implants. Thus, seven consecutive patients from the Master of Science course from UNIFEB, who were submitted to secondstage surgery in 2013 October, were invited to participate of the research. They should answer to a questionnaire with ten questions about the intensity of pain, swelling and bleeding, at a Visual Analogue Scale (0 to 10); and four more questions related to additional use of analgesic, demand of rest, and professional support due to postoperative complications. The surgeons were students from Master of Science course from UNIFEB that also provided information concerning surgical site and surgical technique chosen. Six patients accepted to participate of the research and answered the questionnaire. In the first three days, values from pain tended to decrease from 0.9 to 0.2; those from swelling, reduced from 2.2 to 0.9; and from bleeding reduced from 1.3 to 0.1. No patient needed additional doses of analgesic; none sough for professional support due to postoperative complications; and two patients reported need to rest. However, there was no standardization in the answer on the type of technique employed. Within the limits of this study, it could be concluded that second-stage surgery causes minimum postoperative discomfort, and that it tended to decrease further over the period of observation. Keywords: Surgery, oral; surgery, plastic; pain measurement; dental implant. Autor para correspondência: Ana Emília Farias Pontes E-mail: [email protected] Telefone: (17) 3321-6468. Fax: (17) 3321-6205. Recebido em: 19/12/2013 Aceito para publicação em: 16/04/2014 Ciência e Cultura 19 Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto Introdução O protocolo descrito por Branemark et al. (1969), para instalação de implantes dentários prevê a realização de duas fases cirúrgicas. Na primeira fase, um retalho total é elevado e o implante é instalado após fresagem óssea, seguida do fechamento do retalho com sutura. Um período de reparo de quatro a seis meses é preconizado então, para permitir a osseointegração. Na segunda fase, o tecido mole formado coronalmente ao implante é removido, para que seja confeccionada a prótese. Existem diversas técnicas descritas na literatura que podem ser utilizadas para este fim, como a remoção do tecido pela técnica do bisturi circular, e técnicas que permitem o concomitante aumento da faixa de mucosa queratinizada (KHOURY & HAPPE, 2000; TUNKEL et al., 2013). A técnica empregada parece não interferir no índice de sucesso e sobrevida do implante (CAIRO et al., 2008). A técnica do bisturi circular parece ser a menos traumática, pois após anestesia e identificação da posição do implante, o bisturi é simplesmente pressionado sobre o tecido, sem que haja sequer necessidade de sutura pós-operatória. Sendo assim, o período de reparo pode ser menor, e esteticamente o resultado pode ser satisfatório, com a manutenção do contorno da mucosa, quando a técnica é corretamente indicada. Contudo, apresenta a desvantagem de não aumentar a faixa de mucosa queratinizada, e eventualmente reduzi-la (BAYOUNIS et al., 2011). Por outro lado, a técnica de incisão paracrestal seguida do deslocamento apical do retalho é mais traumática. Tal modalidade preconiza a realização de três incisões, uma horizontal e duas relaxantes, além da elevação de um retalho mucoperiosteal com o intuito de 20 PONTES et al. aumentar a faixa de mucosa queratinizada (TUNKEL et al., 2013). Sendo assim, o reparo pode ser mais demorado, porém trazendo benefícios estéticos adicionais, visto que o tecido perimplantar se torna mais espesso, o que contribui para um perfil de emergência mais adequado. Embora sejam observados na literatura estudos que avaliem o desconforto pósoperatório após apicectomia e obturação radicular retrógrada (CHRISTIANSEN et al., 2008), tratamento endodôntico cirúrgico (TSESIS et al., 2003), e cirurgia de instalação de implantes (MULLER & RIOS, 2001; HASHEM et al., 2006; AL-KHABBAZ et al., 2007; URBAN et al., 2010), não foram encontradas pesquisas abordando a visão do paciente quanto aos diferentes métodos de reabertura na segunda fase cirúrgica. Em Implantodontia, deve ser considerado o estudo de Fortin et al. (2006), que comparou duas técnicas de instalação de implantes, uma convencional, com retalho mucoperiosteal elevado; e outra, considerada minimamente invasiva, sem deslocamento de retalho. A diferença da experiência de dor foi expressa por meio de uma escala visual analógica. Desta forma, pôde-se concluir que a utilização de uma técnica minimamente invasiva resultou em menos dor sentida pelos pacientes, quando comparada à técnica convencional. Hipotetiza-se que de forma geral as cirurgias de reabertura levem a pouco desconforto pós-operatório. Ademais, previamente a desenvolver um estudo longitudinal, convém que seja realizado um estudo piloto, que forneça dados para calcular o tamanho amostral ideal e testar o instrumento de avaliação e o método de coleta de dados. O objetivo deste estudo piloto foi testar Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB uma metodologia de avaliação do desconforto pós-operatório em relação à dor, inchaço e sangramento, em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários. Material e métodos Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa (CAAE 25398613.1. 0000.5433). Para seu desenvolvimento, foram incluídos todos os pacientes atendidos na clínica de Implantodontia do Curso de Odontologia do UNIFEB a serem submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários no dia 21 de outubro de 2013. Foram definidos como critérios de exclusão: a recusa a participar da pesquisa, ou a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Previamente à cirurgia, os pacientes foram informados verbalmente do estudo, e orientados na forma de preenchimento do questionário. Este era impresso em quatro páginas, contendo dez perguntas sobre a intensidade de dor, inchaço e sangramento a serem respondidas por meio da escala analógica, conforme descrito por Christiansen et al. (2008) (Q1 a Q10, Quadro 1). O questionário continha ainda quatro perguntas sobre o uso adicional de analgésicos, necessidade de repouso e acompanhamento profissional devido a complicações póscirúrgicas (Q11 a Q14, Quadro 1). Os dados de identificação do paciente (nome e idade) foram coletados no prontuário do paciente, e o tipo de cirurgia foi anotado na planilha de dados com base na informação fornecida pelo cirurgião responsável, aluno do curso de Mestrado em Ciências Odontológicas do UNIFEB. A escala analógica era representada por uma linha com 10 cm de comprimento, com a expressão “Sem dor / inchaço / sangramento” Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 em um extremo, e “Dor forte / Muito inchado / Muito sangramento” no outro extremo. Foi explicado que deveria ser feita uma marcação na própria linha, no local que correspondesse a seu grau de dor e desconforto. As cirurgias foram conduzidas sob a supervisão do docente responsável. O protocolo medicamentoso pós-operatório adotado em todos os casos foi o mesmo: paracetamol 500 mg de 6 em 6 horas, no caso de dor; e nimesulida 100 mg de 12 em 12 horas, durante 3 dias. Além disto, foi recomendada a aplicação de bolsa de gelo no local, alimentação líquida e pastosa fria, e manutenção de repouso, nas primeiras 24 horas; e bochechos com solução de digluconato de clorexidina a 0,12% de 12 em 12 horas, durante 7 dias. O paciente foi instruído a contatar o cirurgião em caso de suspeita de complicação pós-operatória. Os pesquisadores entregaram o questionário ao paciente, que o levou para casa. Os pacientes devolveram os questionários no dia da remoção da sutura, sete dias após a cirurgia. A interpretação dos resultados foi feita usando uma régua, que foi posicionada próxima à linha, e o valor correspondente em centímetros foi mensurado e anotado na lateral da página do questionário. A intensidade de desconforto foi classificada de acordo com McCaffery & Beebe (1993): nenhuma, quando o valor anotado foi zero; leve, quando os valores variaram de um a três; moderado, quando os valores variaram de quatro a seis; e severa, quando variaram de sete a dez. A análise dos dados foi descritiva, desenvolvida por meio de um programa específico (BioEstat 5.0, Sociedade Civil Mamirauá / MCT – CNPq, Belém, Brasil). A unidade de análise foi o implante. 21 Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto PONTES et al. Quadro 1 – Questionamentos aplicados aos pacientes: Resultados e Discussão Sete pacientes foram contatados, e um se recusou a participar da pesquisa. Sendo assim, seis pacientes foram incluídos, três homens e três mulheres, com idade variando entre 36 e 65 anos (50,3 ± 9,5). Mais detalhes da amostra são apresentados na Tabela 1. Não houve padronização das respostas quanto à técnica operatória, o que impediu a comparação estatística entre as modalidades de tratamento. A compilação das respostas obtidas no questionário é apresentada nas Tabelas 2 e 3. De forma geral, os valores dados para dor ou desconforto variaram de nenhum a leve. Tabela 1 – Caracterização da amostra estudada. 22 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 2 – Média dos Escore pontuados na escala analógica visual, correspondente aos questionamentos Q1 a Q10. O conhecimento relativo ao controle do desconforto é indispensável para se adequar a prática clínica e trazer maior satisfação e qualidade de vida ao paciente. A experiência de dor é um fenômeno multifatorial em que aspectos sensoriais e emocionais estão envolvidos, portanto é muito influenciada pelas expectativas associadas a um determinado procedimento odontológico (ELI et al., 2000). A quantificação dos níveis de dor associados a diferentes procedimentos cirúrgicos devem ajudar na determinação de diretrizes para a comunicação com pacientes a fim de estabelecer expectativas realistas a respeito do tratamento. Isto pode reduzir os níveis de ansiedade e levar a uma aceitação maior dos procedimentos propostos (AL-KHABBAS et al. 2007; BENHAMOU et al., 2008). Tabela 3 – Tabela de frequência dos valores pontuados nos questionamentos Q11 a Q14. O principal achado deste estudo foi que os valores de desconforto foram leves. Ciência e Cultura Mais especificamente, a média de dor variou entre 0,2 a 1,2 (em uma escala de zero a dez), 23 Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto e tenderam a reduzir ao longo dos dias de observação, o que corroboram os achados de Hashem et al. (2006) e Fortin et al. (2006), que também utilizaram a escala analógica para avaliar dor após a cirurgia de instalação de implantes. Ressalta-se que em nossos resultados os registros mais altos na escala de dor foram feitos no 1º dia, ou seja, nas primeiras horas após a cirurgia. Esta ocorrência coincide com outros trabalhos que utilizaram a mesma escala para avaliar a dor após cirurgia periapical (PEÑARROCHA et al., 2006) e de instalação de implantes (GONZALES-SANTANA et al., 2005). No trabalho de Fortin et al. (2006), metade da amostra (trinta pacientes) foi submetida a cirurgia convencional de instalação de implantes com deslocamento de retalho, e a dor pós-operatória foi avaliada desde o dia da cirurgia até seis dias depois. Quanto à ausência de dor, no segundo dia do referido estudo, esta foi registrada em 12 pacientes (40%), contra três pacientes (50%) no presente estudo. As porcentagens são equiparáveis, e o interessante é que no estudo de Fortin et al. (2006) a medicação analgésica (paracetamol 500 mg) ou anti-inflamatória não esteroidal (citam o exemplo do ibuprofeno 400 mg) foi prescrita e recomendada que o paciente fizesse uso apenas quando sentissem dor; para um paciente especificamente, para o qual não foram fornecidos maiores detalhes, foi ainda prescrito o uso de anti-inflamatório esteroidal, no caso, prednisolona. Vale ainda salientar ainda que em dois pacientes houve necessidade de realizar enxertos de tecido mole (pacientes 1 e 6). Contudo, apesar da realização de intervenção cirúrgica em dois sítios, doador e receptor, o que poderia acarretar maior dor, desconforto e sangramento, os valores observados não diferiram dos demais. A prescrição do analgésico da forma 24 PONTES et al. como foi feita nesta pesquisa pode representar uma limitação, visto que não seria possível seu desenvolvimento sem a prescrição medicamentosa, o que feriria a integridade física e emocional do paciente, e os princípios de ética. Os resultados aqui apresentados sugerem ainda a eficácia do protocolo medicamentoso empregado na clínica de Implantodontia desta instituição de ensino superior. Talvez a utilização de um protocolo medicamentoso diferente tivesse conduzido a resultados diversos, e pudesse ser motivo de estudos complementares a este. Pode-se ainda utilizar os dados do presente estudo nas diferentes fórmulas de cálculo amostral que levam em consideração os desvios-padrões. Assim será possível desenvolver um estudo prospectivo com alto poder estatístico, maior que 80% (AYRES & AYRES JR, 2007). Um aspecto a ser considerado é que não houve possibilidade de comparação entre as técnicas, pela falta de padronização durante a coleta de dados. Este fato pode ser solucionado, em uma continuação da pesquisa, oferecendo aos operadores as opções de técnicas, como por exemplo: “Técnica do Punch”, “Técnica da incisão paracrestal com deslocamento apical do retalho”, e outras, contemplando aquelas empregadas no centro de estudo. Por fim, a publicação deste artigo, apontando uma limitação na coleta de dados pode ser benéfica para a validação de estudos subsequentes, evitando assim a repetição deste erro. Conclusão Dentro dos limites deste estudo, podese concluir que a cirurgia de reabertura de implantes unitários ocasiona mínimo desconforto pós-operatório, e que este tendeu ainda a diminuir ao longo do período de observação. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Referências AL-KHABBAZ, A. K.; GRIFFIN, T. J.; ALSHAMMARI, K. F. Assessment of pain associated with the surgical placement of dental implants. Journal of Periodontology, Chicago, v. 78, n. 2, p. 239-46, 2007. 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Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco Dental care to pregnant women at high risk Suzely Adas Saliba MOIMAZ1, Mírian Navarro SERRANO2, Cléa Adas Saliba GARBIN1, Orlando SALIBA1 Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba FOA/UNESP Departamento de Odontologia Infantil e Social – Rua José Bonifácio 1193 - CEP: 16015-050 – Araçatuba/São Paulo/Brasil. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba FOA/UNESP Departamento de Odontologia Infantil e Social – Rua José Bonifácio 1193 - CEP: 16015-050 – Araçatuba/São Paulo/Brasil. 1 RESUMO A gravidez é um fenômeno fisiológico na vida da mulher e, por isso mesmo, sua evolução se dá na maior parte dos casos sem intercorrências. No entanto, há uma parcela pequena de gestantes que, por ser portadora de alguma doença, sofrer algum agravo ou desenvolver problemas, apresenta maiores probabilidades de evolução desfavorável, tanto para o feto como para a mãe – “gestantes de alto risco”. Objetivo: apresentar os principais aspectos que envolvem a gestação de alto risco, salientar as principais alterações bucais durante a gestação, reforçar os cuidados em saúde bucal, bem como orientar os cirurgiões-dentistas sobre os cuidados que devem tomar no tratamento odontológico de gestantes de alto risco. Metodologia: esta pesquisa consiste em uma revisão de literatura do tipo bibliográfica, composta por artigos científicos, dissertações e livros pertinentes ao tema, objetivando rever na literatura a abordagem sobre a temática. Conclusão: faz-se importante ressaltar que o cirurgião-dentista bem informado sobre as alterações sistêmicas que envolvem a gestante de alto risco pode oferecer um atendimento odontológico individualizado, seguindo as recomendações clínicas, de acordo com o problema apresentado pela paciente, proporcionando maior segurança ao tratamento e promovendo saúde bucal, minimizando desfechos desfavoráveis à gestação. Palavras chave: Gestação de alto risco, saúde bucal, odontologia, complicações na gravidez ABSTRACT Pregnancy is a physiological phenomenon in a woman’s life, and therefore, in most cases, it evolves with no adverse events. However, there is a small percentage of pregnant women who, for suffering from any illness, receiving any injury or developing complications, present greater probability of an unfavorable outcome, either for the fetus or for themselves or for both. They have a “high risk pregnancy”. Objective: Presenting the main aspects involving a high risk pregnancy; highlighting the main oral changes and the oral health care advisable during pregnancy; presenting guidelines for dentists concerning the caution to be taken in the dental treatment of high risk pregnancy patients. Method: bibliographic literature review of scientific articles, theses and books to review the approach to oral health care in high risk pregnancy. Conclusion: It is important to emphasize that the dentist well informed about the systemic changes occurring in high risk pregnancies can deliver personalized dental care, following the clinical recommendations specific for the condition presented by the patient, ensuring greater safety to the treatment while promoting oral health care and minimizing the occurrence of adverse events during pregnancy. Keywords: high-risk pregnancy, oral health, dentistry, complications in pregnancy Autor para correspondência: Mírian Navarro Serrano E-mail: [email protected] Telefone: 55 (18) 3636 3250 Recebido em: 14/02/2014 Aceito para publicação em: 27/06/2013 Ciência e Cultura 27 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco Introdução A gravidez é um fenômeno fisiológico na vida da mulher e, por isso mesmo, sua evolução se dá na maior parte dos casos sem intercorrências, provocando alterações no organismo materno voltadas ao desenvolvimento e bem-estar do feto, devendo este resultar como produto vivo, sadio, com peso e idade adequados (MARREIRO et al., 2009; MARTINS, 2002; FERNANDES, 2012). As alterações fisiológicas visam preparar a gestante para o parto e a amamentação, tendo como finalidade o bem estar e saúde do binômio mãe-filho. Dentre as principais e gerais ocorrências manifestas durante a gestação, estão o aumento do fluxo sanguíneo, aumento do volume uterino, alterações hormonais para o desenvolvimento do feto e manutenção da gravidez. As modificações estruturais no corpo da mulher são resultado de um aumento na produção de estrógeno, progesterona, entre outros hormônios, que representam processos fisiológicos normais decorrentes da preparação do organismo feminino para a geração do bebê (SURESH e RADFAR, 2004) e a cavidade bucal não está isenta de sofrer influências decorrentes do aumento desses hormônios, podendo apresentar algumas mudanças reversíveis e transitórias, e outras mais consideradas patológicas, dependendo do estilo de vida, do comportamento individual e do estado de saúde geral da gestante (FINKLER et al., 2004). Durante a gestação, as modificações do periodonto (hiperemia, edema e sangramento gengival) estão relacionadas a fatores como deficiências nutricionais, altos níveis de estrógeno e progesterona, alterando a resposta do periodonto aos fatores etiológicos locais, como exemplo a presença de placa bacteriana, assim como o estado transitório de 28 MOIMAZ et al. imunodepressão (GOLDMAN e COHEN, 1980). Além de toda a susceptibilidade aumentada aos problemas gengivais durante a gravidez, outros fatores que contribuem para o agravo desses problemas são os déficits na higienização das gestantes que ocorrem devido aos enjoos frequentes, mal-estar, atingindo 60 a 70% das gestantes. Por esse motivo, a gengiva torna-se inflamada, edematosa, sensível e com tendência ao sangramento. Assim, a gestante pode ser considerada uma paciente com risco temporário maior que o normal, para desenvolver complicações periodontais (HONKALA e AL-ANSARI, 2005). É importante enfatizar que as doenças periodontais não só afetam, significativamente, a saúde bucal, mas também estão associadas a doenças sistêmicas, tais como doenças cardiovasculares, diabetes, nascimento prematuro e pneumonia por aspiração (PIHLSTRÖM et al., 2005; MIYAZAKI et al., 1991). Há uma parcela pequena de gestantes que, por serem portadoras de alguma doença, sofrerem algum agravo ou desenvolverem problemas, apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável, tanto para o feto como para a mãe. Essa parcela constitui o grupo chamado de “gestantes de alto risco” (BRASIL, 2010). Na gestação de alto risco, a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou recém-nascido tem maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada (BRASIL, 2010). Esta visão do processo saúde-doença, denominada Enfoque de Risco, fundamentase no fato de que nem todos os indivíduos têm a mesma probabilidade de adoecer ou morrer, sendo tal probabilidade maior para uns que para outros. Essa diferença estabelece um gradiente de necessidade de cuidados que vai desde o mínimo, para os indivíduos sem problemas ou Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB com poucos riscos de sofrerem danos, até o máximo necessário para aqueles com alta probabilidade de sofrerem agravos à saúde (BRASIL, 2010). Considerando a importância da gravidez de alto risco no binômio mãe-filho, é necessária a identificação precoce destas gestações, para que assim seja possível proporcionar uma assistência médicoodontológica adequada e para obtenção de resultados satisfatórios (BUZZO et al., 2007). Para tanto, objetivou-se apresentar os principais aspectos que envolvem a gestação de alto risco, salientar as principais alterações bucais durante a gestação, reforçar os cuidados em saúde bucal, bem como orientar os cirurgiões-dentistas sobre os cuidados que devem tomar no tratamento odontológico de gestantes de alto risco. Material e métodos Para a identificação dos estudos incluídos ou considerados nesta revisão, foi realizada uma estratégia de busca detalhada e avançada no banco de dados Bireme. Foram utilizados como descritores: gestação de alto risco, saúde bucal, odontologia, complicações na gravidez. Todos os descritores utilizados foram cruzados através da utilização de artigos boleanos durante a pesquisa. Os critérios de inclusão foram: artigos clínicos, estudos controlados aleatórios, estudos in vitro, revisões de literatura, revisões sistemáticas com e sem meta-análise e livros/cartilhas que abordassem o estudo. Os critérios de exclusão foram: artigos sem resumo, artigos cujo idioma não fosse o inglês e o português. O descarte dos artigos foi feito primeiramente através do título, logo em seguida os resumos também foram analisados e então escolhidos os artigos de interesse. De um total de 75 artigos, após uma análise segundo o critério de inclusão e exclusão, foram selecionados 30 artigos, sem Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 atribuição do ano de publicação. Os dados foram analisados e debatidos para a realização da redação com os resultados concludentes. Revisão da Literatura Gestação de Alto Risco e Agravos à Saúde Na parcela de gestantes denominadas “gestantes de alto risco” (BRASIL, 2010), o percurso natural da gestação sofre alterações que podem desencadear risco de morte tanto para a mãe, quanto para o feto e/ou recémnascido. A Hipertensão é uma das complicações mais comuns existentes nesta fase, e ocorre quando a pressão arterial é igual ou superior a 140/90 mmhg na média de duas ou mais medidas. Em geral ocorre após a 20ª semana de gestação com desaparecimento até 12 semanas após o parto (BRASIL, 2010). Outra complicação que pode afetar o processo gestacional é o Diabetes, que é uma doença metabólica crônica caracterizada por hiperglicemia. Quando diagnosticada durante a gravidez, ela é denominada “Diabetes Gestacional”. “No Brasil, a prevalência do diabetes gestacional em mulheres com mais de 20 anos, atendidas no Sistema Único de Saúde, é de 7,6%, sendo que 94% dos casos apresentam apenas tolerância diminuída à glicose e 6% apresentam hiperglicemia no nível de diabetes fora da gravidez.” (BRASIL, 2010) As Cardiopatias são outro fator gerador de risco durante a gravidez, e as mulheres com este diagnóstico devem ser orientadas e acompanhadas durante o pré-natal por ser esta a doença com maior índice de morbidade e mortalidade materna não obstétrica. No Brasil, verifica-se que 4,2% das gestantes apresentam cardiopatias, sendo necessário, no pré-natal, afastar fatores que precipitem as alterações cardiovasculares e acentuam os riscos de morte, pois a cardiopatia é considerada a maior causa de morte materna 29 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco indireta no ciclo gravídico-puerperal (LAGE e BARBOSA, 2012). Durante a gravidez, outras situações podem representar complicações gestacionais ou agravos, dentre elas os problemas sanguíneos, sendo os mais comuns hemorragias, trombofilias e anemias. Presentes entre 10 e 15% das gestações, as hemorragias podem ser divididas entre as que ocorrem na primeira metade da gestação (abortamento; gravidez ectópica; neoplasia trofoblástica gestacional benigna; descolamento coriamniótico) e as que ocorrem na segunda metade da gestação (placenta prévia; descolamento prematuro da placenta; rotura uterina; vasa prévia). Do diagnóstico correto da causa do sangramento e da conduta adequada depende o prognóstico materno e fetal (BRASIL, 2010). Podendo ocorrer em idade precoce, ser recorrente e/ou migratória, a trombofilia é conhecida como tendência à trombose. A gestação pode ser a única oportunidade para sua investigação; pois, alguns eventos podem ser indicativos de sua ocorrência, tais como: aborto recorrente, óbito fetal, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, descolamento prematuro e restrição de crescimento grave (BRASIL, 2010). Desses problemas sanguíneos, a anemia, de acordo com a definição dos níveis de hemoglobina sugeridos pela OMS, pode estar presente em até 50% das grávidas, sendo mais frequente em países em desenvolvimento, associada a problemas nutricionais. “Nesses mesmos países, onde a principal causa de morbimortalidade materna é a hemorragia pósparto, a presença de anemia pode potencializar esse problema” (BRASIL, 2010). Considerada uma doença crônica prevalente em países desenvolvidos e em desenvolvimentos, a obesidade e o sobrepeso são referidos atualmente como problemas de saúde pública em razão do risco de doenças 30 MOIMAZ et al. associadas, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, entre outras alterações (SEABRA et al., 2011). A obesidade pode ser considerada fator determinante para o desfecho da gestação, bem como para a manutenção da saúde, a longo prazo, da mãe e da criança. No Brasil, a prevalência do excesso de peso passou de 28,7% para 48%, sendo que 16,9% das mulheres (1/3) apresentam obesidade (SEABRA et al., 2011). Considerada uma das doenças do século devido às mudanças nos hábitos alimentares da sociedade, a obesidade materna e o ganho de peso acima do recomendado aumentam os riscos para uma série de resultados adversos, tais como: diabetes gestacional, parto prolongado, préeclâmpsia, cesárea e depressão. Porém, para o recém-nascido, verifica-se maior morbidade neonatal (NOMURA et al., 2012). Considerada fator de risco para a gestação, por estar entre duas fases evolutivas importantes na vida da mulher, a gestação na adolescência acarreta uma exacerbação dos processos fisiológicas decorrente da gravidez e das modificações físicas, psíquicas e sociais provenientes da adolescência, aumentando os riscos de alterações que podem ser consideradas patológicas (BOUZAS e MIRANDA, 2004; GALLO, 2011). O diagnóstico precoce é essencial, na assistência à adolescente gestante, para avaliação e controle permanente do risco desde o início da gestação. Desde que haja acompanhamento adequado, no cuidado pré-natal, verifica-se menor risco de complicações obstétricas (BOUZAS e MIRANDA, 2004; GALLO, 2011). Outro grupo que merece destaque são gestantes com idade igual ou superior a 35 anos, cuja gestação é denominada tardia. Para aquelas com idade superior a 45 anos, denomina-se gestação com idade materna Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB muito avançada (SANTOS et al, 2009). A gestação em mulheres com idade igual ou superior a 35 anos está associada a risco aumentado para complicações maternas, fetais e do recém-nascido (ANDRADE et al., 2004). É de consenso geral que o aumento do risco obstétrico seja decorrente de doenças crônicas, em especial, hipertensão crônica, diabetes mellitus e miomas, ocasiona riscos potenciais à gravidez e morbimortalidade materna. Porém, o acesso a cuidados básicos de saúde, principalmente, durante a gestação, parto e puerpério, reduz os risco de morbimortalidade materna (ANDRADE et al., 2004). Com relação às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), as infecções mais importantes na gestação, consideradas a prevalência e as consequências na saúde do binômio mãe-filho são: sífilis, herpes simples, hepatite B e HIV. A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica, de evolução crônica e tendo como agente etiológico o Treponema pallidum, que pode produzir as formas adquirida e congênita da doença. Essa DST pode ser controlada com sucesso por meio de ações e medidas preventivas através de testes de diagnósticos sensíveis e tratamento efetivo de baixo custo. Porém, continua sendo um problema de saúde pública no Brasil (BRASIL, 2010). A infecção do feto, ou seja a transmissão vertical da sífilis, está na dependência do estado da doença na gestante e pode alcançar taxas entre 70 e 100% dentre aquelas não tratadas, dependendo da fase de infecção da gestante e do trimestre da gestação (BRASIL, 2010; KUPEK e OLIVEIRA, 2012). A infecção pelo Herpes Simples Vírus (HSV) acontece pelo contato sexual, ou também através do contato direto com lesões ou objetos contaminados. Durante a gravidez, Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 a virose pode determinar uma de suas complicações de maior morbimortalidade - o herpes neonatal, através da transmissão fetal transplacentária, além de abortamento espontâneo, quando a infecção materna ocorrer nos primeiros meses de gestação (BRASIL, 2010). Dentre as hepatites mais comuns no Brasil (A, B, C e D), a Hepatite B pode apresentar possibilidade de intervenção positiva (prevenção, diagnóstico precoce e cuidado) em relação à gestante e ao recém-nascido. Enquanto apenas 5 a 10% dos que adquirem a infecção na idade adulta evoluem para a forma crônica, em neonatos, filhos de mães portadoras do vírus da hepatite B (VHB), o risco de isso ocorrer atinge aproximadamente 90% (BRASIL, 2010; PERIM e PASSOS, 2005). Estima-se, no Brasil, que 0,4% das gestantes sejam soropositivas para o HIV (BRASIL, 2010), traduzindo-se num problema de saúde pública; pois, observa-se um aumento crescente dos casos de infecção do HIV entre mulheres, entre 15 e 45 anos. Quando não são realizadas intervenções de profilaxia, durante a gestação, a transmissão vertical do HIV ocorre em cerca de 25% das mulheres infectadas (BRASIL, 2007). Recomendações à Prática Clínica Odontológica Ao contrário do que se acredita, o atendimento odontológico pode ser realizado em qualquer período gestacional, uma vez que é mais prejudicial ao feto a manutenção de infecções na cavidade bucal da mãe do que o tratamento instituído (SILVA et al., 2006). Durante o atendimento odontológico, devem ser feitas perguntas sobre higiene bucal, tais como frequência de escovação, uso de fio dental, visitas regulares ao dentista e sintomatologia sugestiva de manifestações bucais associadas ao diabetes mellitus, que 31 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco envolve o sangramento ou pus na gengiva, dentes “moles ou bambos”, candidíase oral, abscessos e tratamento periodontal prévio (ALVES et al., 2006). Faz-se necessário enfatizar e ensinar a essas gestantes a importância da higienização bucal adequada (escovação e uso de fio dental frequentes), a fim de reduzir os riscos de inflamação (gengivite gravídica e/ou periodontite) que pode levar ao parto prematuro e ao nascimento de crianças de baixo peso (SOARES et al., 2009). Durante o exame clínico, deve-se atentar para que a paciente seja atendida na segunda metade da manhã, com sessões clínicas curtas, ficar atento aos reflexos de vômito ou enjôo e manter a gestante em posição mais elevada para que não ocorra a Síndrome da Hipotensão Postural, que pode ocorrer quando a gestante permanece em posição supina por um breve período de tempo (3-7 minutos), apresentando sinais e sintomas de Síncope. A causa provável é a compressão da veia cava pelo útero gravídico e a diminuição do retorno venoso dos membros inferiores. Para o controle de uma Hipotensão Supina em gestantes, a paciente deve ser posicionada virada para o lado esquerdo, para aliviar a compressão (SILVA et al., 2006a). Em caso de tomadas radiográficas, o cirurgião-dentista deve se preocupar com a proteção da gestante, bem como de seu bebê, colocando na gestante protetor de tireoide e avental de chumbo (SILVA et al., 2006b). Havendo a necessidade de moldagem é aconselhável aplicar spray anestésico na região de palato mole da gestante para diminuir os reflexos de vômito e de enjoo (SILVA et al., 2006b). Em gestantes portadoras de diabetes mellitus, algumas manifestações bucais podem ser observadas, como, xerostomia, hiposalivação, infecções, perda precoce de 32 MOIMAZ et al. dentes, dificuldade de cicatrização e doença periodontal, embora não sejam específicas dessa doença; porém têm sua incidência ou desenvolvimento favorecidos pelo descontrole da taxa glicêmica (ALVES et al., 2006). Outra condição que deve ser observada pelo cirurgião-dentista na portadora de diabetes é a redução do fluxo salivar, gerada pelo uso de drogas com ação anticolinérgica. Essa diminuição do fluxo de saliva favorece a susceptibilidade de infecções orais, por exemplo, candidíase oral (ALVES et al., 2006). Em gestantes cardiopatas, a dose limite de administração do vasoconstritor adrenalina é de 54 µg, ou seja, 3 a 6 tubetes com concentrações respectivas 1:100.000 e 1:200.00, por sessão. Já a felipressina, por ser análoga sintética da vasopressina, torna-se um potente vasoconstritor coronariano, podendo desencadear, em pacientes cardiopatas, uma crise de angina com isquemia miocárdica, além de ter capacidade de levar à contração uterina (PAIVA e CAVALCANTI, 2005). Portanto, a solução anestésica mais empregada, em pacientes gestantes de alto risco, é a lidocaína a 2% com epinefrina na concentração de 1:100.000. A prilocaína é um anestésico do tipo amida, de menor toxicidade que a lidocaína, pode ser instituída como a solução anestésica de segunda escolha e uma boa alternativa de uso em pacientes, cujo agente vasoconstritor é contraindicado (MOIMAZ et al., 2009). É frequente encontrar na literatura, como motivo para contraindicação ao uso de prilocaína, o risco de produzir metahemoglobinemia; porém, esse risco pode ocorrer tanto em pacientes gestantes, como em outros pacientes. É importante ressaltar que o cirurgião-dentista deve estar atento à doença pré-existente da paciente e a dose máxima recomendada (MOIMAZ et al., 2009). Quando houver necessidade de atendimentos emergenciais, cirúrgicos ou Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB endodônticos, recomenda-se a utilização de corticosteroides (dexametasona 4mg) em vez de anti-inflamatórios não esteroides (AINES). Apesar desses fármacos serem considerados seguros para gestantes, é imprescindível investigar se a gestante é hipertensa ou se encontra-se com diabetes gestacional (VASCONCELOS et al., 2012). Ante ao tratamento de uma gestante portadora de sífilis, o cirurgião-dentista deve perguntar se a mesma está fazendo o acompanhamento pré-natal adequadamente, se já foi solicitado algum exame de sangue durante o pré-natal e se essa gestante já iniciou o tratamento medicamentoso, sempre reforçando a ideia de que o tratamento sendo realizado adequadamente pode evitar a infecção do feto (VALENTE et al., 2008). Ao exame clínico, o cirurgião-dentista deve se atentar aos sinais clínicos, como lesões ulceradas de bordas endurecidas e elevada de base clara (cancro) em lábios, língua, palato, gengiva e amígdalas (VALENTE et al., 2008). Outras manifestações bucais como placas esbranquiçadas, irregulares, indolores que podem ser destacáveis com a exposição do tecido conjuntivo (condiloma lata, ou condiloma plano), lesão característica da sífilis secundária. Por ser identificável através de manifestações bucais, o cirurgião-dentista tem o importante papel no diagnóstico e controle da sífilis através da identificação de seus sinais e sintomas, orientação do paciente, suporte do tratamento e acompanhamento (VALENTE et al., 2008). O sistema cardiovascular sofre grandes modificações durante a gestação, e algumas alterações podem agravar um problema cardíaco pré-existente e levar a morbidade e mortalidade. Portanto, é fundamental que o cirurgião-dentista conheça a história médica da paciente, por meio de uma anamnese detalhada e criteriosa, e na presença de quaisquer sinais Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 como arritmia, palpitação, fadiga, tontura, Dispneia, dor no peito, solicite avaliação médica (SILVA et al., 2006). Na necessidade de exodontias, raspagem periodontal, ou tratamento endodôntico é aconselhável a terapia medicamentosa profilática para segurança e cobertura tanto da mãe quanto do feto. Como agente antimicrobiano de primeira escolha, pode-se optar pela prescrição das Penicilinas (Penicilina V ou Amoxicilina) e Cefalosporinas, categorizados pela FDA como categoria B (MOIMAZ et al., 2009). Como segunda escolha, o profissional pode optar pelos Macrolídeos (Eritromicina, Clindomicina e Azitromicina), que também são categorizados como categoria B e recomendados em pacientes que são alérgicas à penicilina. A Claritromicina, que também é um macrolídeo, é recomendada para pacientes gestante com HIV+ e categorizada pela FDA como categoria C (MOIMAZ et al., 2009). Segundo Corrêa e Andrade (2005), na odontologia, o desconhecimento da doença e seus aspectos clínicos, além do preconceito gerado em torno da AIDS, causou sérias limitações no tratamento de pacientes infectados pelo vírus HIV. A grande maioria dos cirurgiões-dentistas não se sente suficientemente preparada para atender portadores de HIV. Porém, o tratamento de pacientes HIV/AIDS não é mais complexo do que outros pacientes com comprometimento clínico. Além disso, os primeiros sinais clínicos da imunodeficiência associada ao HIV aparecem, com frequência, na cavidade oral, o que dá ao cirurgião-dentista um importante papel no diagnóstico precoce da infecção e tratamento desse grupo de paciente (CORRÊA e ANDRADE, 2005). Com relação à transmissão do vírus HIV na atividade clínica odontológica, por acidentes de trabalho, existe um pequeno risco, 33 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco porém concreto. Este vai depender da gravidade do acidente (profundidade do corte, volume de sangue no instrumental contaminado, entre outros), além da carga viral do paciente (CORRÊA e ANDRADE, 2005). Estima-se que após um acidente percutâneo, o risco de soro conversão seja de 0,3%. Após uma exposição mucocutânea a sangue contaminado o risco é de 0,09%. Para comparação, cerca de 30 a 40% dos profissionais (não vacinados) acidentalmente expostos a sangue infectado pelo vírus da hepatite B, tornam-se soropositivos. No caso da hepatite C, o risco médio é de 1 a 10% (CORRÊA e ANDRADE, 2005). O profissional de saúde deve considerar todos os pacientes como potencialmente infectados, sendo que os procedimentos de biossegurança devem ser adotados como rotina em todo e qualquer atendimento: uso de gorro, óculos de proteção, máscara descartável, avental, luvas e calçado fechado e antiderrapante (DISCACCIATI e VILAÇA, 2001). Durante o tratamento de pacientes hepáticas, mesmo que a função hepática da paciente esteja alterada, consultas odontológicas que visem à promoção de saúde bucal devem ser realizadas, pois pessoas infectadas são mais propensas a terem pobre saúde bucal (ROCHA et al., 2009). Em alguns casos, baixas dosagens do medicamento são requeridas, enquanto outras drogas (Eritromicina, Metronidazol, Tetraciclina, Paracetamol, AINES, Diazepam e Barbitúricos) devem ser evitadas, pois tendem a agravar o quadro hepático da paciente. Além disso, a maioria dos anestésicos locais usados em Odontologia é hepatotóxica e sofrem biotransformação no fígado; portanto, o uso desses anestésicos deve ser em doses menores (ROCHA et al., 2009) e como solução anestésica de primeira escolha, recomenda-se o uso da prilocaína, por ser menos tóxica que 34 MOIMAZ et al. a lidocaína (MOIMAZ et al., 2009). A conduta mais segura é sempre a prevenção. Seguir as normas universais de biossegurança, com base no princípio de que todo indivíduo pode ser potencialmente portador de doenças infectocontagiosas e, adquirir conhecimentos básicos sobre essas doenças é a melhor forma do profissional trabalhar com segurança, respeitando as questões éticas, legais e sociais (CORRÊA e ANDRADE, 2005). Discussão Sabe-se que os riscos de morbimortalidade na gestação são, na maioria das vezes, preveníveis, sendo necessária a participação efetiva de todos os profissionais da área da saúde que tiverem contato com as mesmas, inclusive o cirurgião-dentista. A gravidez é um período favorável para a promoção de saúde, não só por meio do acompanhamento clínico sistemático realizado durante o pré-natal, como também pela possibilidade de estabelecimento, incorporação e mudanças de hábitos pois, a singularidade do momento remete a uma série de dúvidas, que pode funcionar como estímulo para que a gestante busque informações e, com isso, adquira novas e melhores práticas de saúde (CODATO, 2005). Os benefícios de boas práticas de saúde certamente se estenderão ao futuro bebê, por meio da adoção de hábitos alimentares adequados e de medidas preventivas, minimizando a possibilidade do surgimento de várias patologias na criança, dentre elas a cárie dentária (CODATO, 2005). A maioria das mulheres, durante a gravidez, muda seus hábitos alimentares e passa a comer, com mais frequência, alimentos ricos em carboidratos e ácidos. Devido a essas mudanças e à pobre higienização, a cavidade bucal fica exposta a novas lesões no esmalte Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB dentário e ao desenvolvimento da cárie dentária, contribuindo para exacerbação dessa situação a diminuição do pH salivar associada aos frequentes enjôos e vômitos (MERGLOVAA et al., 2012). As mudanças hormonais próprias da gestação em associação à pobre higienização bucal são responsáveis pelo desenvolvimento das gengivites (gengivite gravídica). A vascularização da boca é muito intensa durante a gravidez e quaisquer alterações fisiológica, imunológica e/ou comportamental influenciam suas estruturas, levando a um maior ou menor grau de severidade (BRASIL, 2010; MERGLOVAA et al., 2012). A presença de infecção, em pacientes gestantes, pode induzir ao parto prematuro e ao nascimento de crianças de baixo peso. Por ser um processo infeccioso, a doença periodontal é apontada como um fator de risco para ocorrência desses eventos, devido à suspeita de que citocinas pró-inflamatórias liberadas do periodonto inflamado possam estimular a contração uterina (SOARES et al., 2009). Os distúrbios da cavidade bucal mais freqüentes em pacientes portadoras de diabetes mellitus são: xerostomia, hiposalivação, infecções, perda precoce de dentes, dificuldade de cicatrização e doença periodontal (ALVES et al., 2006). Os desfechos gestacionais e bucais estão diretamente relacionados ao con-trole glicêmico materno (MATTAR et al., 2011). Em pacientes gestantes infectadas pelo vírus da hepatite C, a cavidade bucal pode apresentar alguns sinais dessa disfunção crônica: presença de alterações hemorrágicas, petéquias, hematomas, mucosa ictérica e sangramento gengival, a Síndrome de Sjögren e o líquen plano também têm sido associados com hepatite C crônica (ROCHA et al., 2009). O pré-natal, seja ele médico ou Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 odontológico, é a melhor forma de prevenção. Durante o pré-natal odontológico, a gestante recebe informações sobre a importância da saúde bucal e dos cuidados necessários durante essa fase, aprende também sobre as manifestações bucais características do período gestacional e também sobre a necessidade de cuidados profissionais, desmistificando a crença de que mulheres grávidas não podem realizar tratamento odontológico (SOARES et al., 2009; MOIMAZ et al., 2007). Para realização do tratamento odontológico em gestantes de alto risco, o cirurgião-dentista deve conhecer as alterações sistêmicas de sua paciente, bem como sua história médica pregressa, por meio de uma anamnese detalhada, atentando-se para os principais cuidados no atendimento, a fim de estabelecer um plano de tratamento adequado. Conclusão A gestação de alto risco pode estar relacionada a hipertensão, diabetes, cardiopatias entre outros agravos ou condições. O conhecimento sobre os aspectos relacionados às condições de saúde, pelos profissionais, é de fundamental importância no cuidado à saúde da gestante. Seguir as recomendações clínicas, de acordo com o problema vivido pela paciente, proporciona maior segurança ao tratamento, além de promover saúde bucal, minimizando desfechos desfavoráveis à gestação e prevenção das principais doenças bucais. Referências ALVES C; BRANDÃO M; ANDION J; MENEZES R; CARVALHO F. 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Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico Block bone graft without internal fixation with screw: clinical case report Daniel de Albuquerque PINHEIRO1, Fernando Salimon RIBEIRO1, Ana Emília Farias PONTES1 Curso de Mestrado em Ciências Odontológicas, Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. 1 RESUMO O objetivo desse trabalho foi relatar uma técnica alternativa de reconstrução óssea de rebordo alveolar em área estética para reabilitação com implante unitário, utilizando osso autógeno em bloco, com um retalho conservador sem incisão relaxante e sem fixação interna rígida. Paciente M.V.O., 31 anos, gênero feminino, procurou atendimento odontológico para reabilitação com implante dentário na região do dente 21. Após os exames clínico e radiográfico, o rebordo alveolar foi considerado inadequado para a instalação de um implante. A reconstrução óssea foi programada com enxerto autógeno em bloco removido do ramo da mandíbula. Na área receptora, após anestesia local, uma incisão horizontal foi realizada, seguida por incisão intrassulcular nos dentes adjacentes. Um retalho de espessura total foi elevado até expor a porção vestibular da crista óssea. Um pequeno envelope foi aberto na face vestibular, desde a crista até o comprimento programado do implante, e lateralmente, até o limite do defeito ósseo. O bloco ósseo preparado foi inserido com uma pinça hemostática até ficar submerso e estável, devido à pressão dos tecidos moles. Cinco meses após, um retalho mucoperiosteal foi elevado, e observou-se boa adaptação do bloco ao leito receptor.O implante (3,8x13,0mm) foi instalado sem sinais de desprendimento do bloco. No caso clínico apresentado, a variação da técnica de enxerto autógeno, sem a fixação interna com parafuso permitiu a estabilização e sobrevida do bloco ósseo. Sugere-se que sejam desenvolvidos estudos clínicos randomizados controlados e avaliações clínicas e tomográficas em longo prazo para criar um protocolo para sua utilização na prática clínica. Palavras chave: Aumento do rebordo alveolar, fixadores internos, implante dentário, transplante autólogo, perda óssea alveolar, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos ABSTRACT The aim of this study was to report an alternative technique of bone reconstruction from analveolar ridge in esthetic area for single-tooth implant rehabilitation, using autologous bone in block, with a conservative flap without relaxing incision and rigid internal fixation. Patient M.V.O., 31 years of age, female, sought dental treatment for rehabilitation with dental implant in the area of teeth #21. After clinic and radiographic exams, alveolar bone was considered inadequate for dental implant insertion. Bone reconstruction was indicated with autologous bone removed as a block from mandible ramus. In receptor area, after local anesthesia, a horizontal incision was performed, followed by intrasulcular incision in adjacent teeth. A total full-thickness flap was elevated after exposition of vestibular aspect of the crestal bone. A small envelope was opened at the buccal aspect, from the crest up to the height of the implant to be installed, and laterally, up to the limit of bone defect. The prepared bone block was inserted with a hemostat clamp until it remains submerse and stable, due to soft tissue pressure. Five months later, a mucoperiosteal flap was elevated, and a good adaptation of the block was observed to the recipient site. A dental implant (3.8x13.0mm) was installed, no signs of detachment of the block were observed. In present case, a variation of autologous bone graft was presented without internal fixation with a screw allowed the stabilization and survival of bone block. It is suggested that randomized controlled trials with clinical and topographic evaluations, should be developed in long term, to create a protocol for its use in clinical practice. Keywords: Alveolar bone loss, alveolar ridge augmentation; dental implantation; internal fixators; surgical procedures, minimally invasive; transplantation, autologous. Autor para correspondência: Ana Emília Farias Pontes e-mail: [email protected] Telefone: (17) 3321- 6468 Recebido em: 18/12/2013 Aceito para publicação em: 19/06/2014 Ciência e Cultura 39 Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico Introdução Após a perda do elemento dental, um remodelamento fisiológico do processo alveolar se estabelece na região, levando à deficiência no volume ósseo do rebordo. De acordo com Misch e Judy (1985), estes defeitos ósseos podem ser classificados em altura, espessura, distância mesiodistal, angulação da carga oclusal e espaço da altura da coroa. Com relação aos defeitos em espessura, nos casos em que é prevista a instalação de implantes, o tratamento de eleição está na reconstrução do rebordo por meio de enxerto autógeno em bloco. No decorrer do procedimento cirúrgico, o enxerto deve ser fixado ao leito ósseo por meio de taxas, fio de aço, e/ou parafusos (KHAN, 1991; LATRENTA et al., 1989; QUERESHY et al., 2010). De acordo com Kroon et al. (1977), a utilização de aparatos de fixação interna rígida é fundamental no período de reparo inicial, especificamente em condição de função por carregamento biomecânico. Todavia, este não é o caso quando o objetivo é o aumento de rebordo em Implantodontia, pois nestes casos, o enxerto é instalado previamente ao implante dentário, respeitando um período de aproximadamente cinco meses. Depois de outros quatro a seis meses é submetido a carregamento por meio de prótese (MISCH & MISCH-DIETSH, 2008). Convencionalmente, uma incisão horizontal e uma relaxante são feitas para permitir acesso ao leito receptor, o que pode causar retração tecidual. No caso de área anterior superior, mesmo para realizar a instalação de implante unitário, há necessidade de um retalho muito extenso para adaptar um pequeno bloco, o que pode comprometer o resultado estético final. Mazzocco et al. (2008) propuseram o uso de uma técnica menos invasiva, na qual não era feita a incisão crestal na área receptora do enxerto em bloco, e sim incisões relaxantes. 40 PINHEIRO et al. O retalho total era elevado para formar um túnel, dentro do qual o enxerto era posicionado e parafusado. Os autores defendiam que desta forma era possível evitar o uso de membrana para recobrir o enxerto. De modo semelhante, Li et al. (2013) usaram a técnica do túnel em humanos, porém com bloco ósseo de origem bovina. Na avaliação histológica constatou-se a ocorrência de neoformação óssea, conformando a eficiência da técnica. No presente estudo, porém, é proposta uma técnica ainda mais conservadora de acesso ao leito receptor, evitando a incisão relaxante e fazendo um deslocamento em envelope de dimensões reduzidas. Desta forma, o enxerto é inserido entre o osso e o retalho por meio de uma leve pressão. Os tecidos moles adjacentes pressionam e estabilizam, tornando desnecessário o uso de fixação interna rígida. O objetivo desse trabalho foi relatar uma técnica alternativa de reconstrução óssea em área estética para reabilitação com implante unitário, utilizando osso autógeno em bloco, com um retalho conservador sem incisão relaxante e sem fixação interna rígida. Relato de caso Paciente M. V. O., 31 anos, gênero feminino, com ausência do elemento 21 procurou atendimento na clínica odontológica da Associação Brasileira de Odontologia – Seccional de Rio Verde, Goiás, para reabilitação com implantes na referida área. A paciente relatou apresentar boa saúde geral e não fazer uso de medicamentos, não ter sido submetida à radioterapia, não ser usuária de drogas, álcool e tabaco. Ao exame clínico, não foram identificados sinais de parafunção. Após o exame clínico e análise radiográfica (Figura1) foi observada deficiência óssea na área de interesse. Sendo assim, foi planejada uma cirurgia para reconstrução óssea com enxerto autógeno em bloco. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB A prescrição pré-operatória incluiu Amoxicilina 500 mg (2 g uma hora antes do procedimento e mais 2 g oito horas após) e Betametaso na 5 mg (2 comprimidos uma hora antes da cirurgia). A assepsia extrabucal foi realizada com Iodopovidona e a intrabucal, com Clorexidina a 0,12 %. A paciente foi anestesiada com Cloreto de Articaína a 4% e Epinefrina 1:100.000. Na maxila foi usada a técnica infiltrativa superior, acesso pelas faces v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 vestibular e lingual. Na mandíbula, foi feito bloqueio do nervo bucal, lingual e alveolar inferior do lado esquerdo. Uma incisão horizontal foi realizada de forma palatinizada na crista óssea, unindo os dentes 11 e 22, seguida por uma incisão intrasulcular até o ponto mais medial de ambos os dentes. Um retalho de espessura total foi elevado até expor a porção vestibular da crista óssea. Figura 1 - Radiografia panorâmica demonstrando ausência do elemento 21. Para remoção do bloco, foi utilizada a técnica de Albrektsson (1980), usando o ramo da mandíbula como leito doador. O bloco foi removido com dimensão de 7 x 13 mm, com 4 mm de espessura. O preparo do bloco foi realizado, promovendo-se o arredondamento dos ângulos e remoção de arestas cortantes, sob irrigação salina constante (Figura 2a). No leito receptor, a elevação do retalho mucoperiosteal foi realizada com descolador do tipo Molt no 5, usando sua ponta ativa menor (Figura 2b). Este pequeno envelope na vestibular, estendeu-se desde a crista até a uma altura que correspondia à altura programada Ciência e Cultura do futuro implante (neste caso, 13 mm de comprimento), e lateralmente, preenchia os limite do defeito ósseo (neste caso, largura de 7 mm). Com o auxílio de uma pinça hemostática, o bloco foi inserido no leito, de maneira que ficasse totalmente submerso, e em posição estável devido à pressão exercida pelos tecidos moles (Figura 3). Os bordos do retalho foram suturados com fio de nylon 4.0 (Johnson & Johnson do Brasil, São José dos Campos, SP, Brasil) (Fig. 4). O paciente foi medicado com Nimesulida (100 mg de 12 em 12 horas por três dias) e Paracetamol (750 mg a cada 6 horas). 41 Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico PINHEIRO et al. Figura 2 – (a) Bloco de osso autógeno devidamente preparado. (b) O descolamento do retalho mucoperiosteal foi conservador. Figura 3 - (a) Inserção do bloco sendo testada. Neste caso, (b) um deslocamento adicional do retalho foi realizado; e (c) a inserção do bloco foi feita utilizando uma pinça hemostática. Figura 4 - (a) O bloco foi totalmente submerso e estabilizado pelos tecidos moles. (b) Sutura final do retalho. Sete dias após a instalação do bloco, as suturas foram removidas, e à inspeção visual observouse aspecto de cicatrização normal.Cinco meses após a cirurgia de reconstrução óssea, um 42 retalho mucoperiosteal foi elevado, e observou-se uma boa adaptação do bloco ao leito receptor (Figura 5), sem sinais de desprendimento do bloco. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Figura 5 – Aspecto da adaptação do bloco de osso autógeno cinco meses após sua colocação. Em seguida, a instalação do implante foi executada. O posicionamento no sentido vestíbulo-lingual foi planejado de acordo com o guia cirúrgico, seguindo a indicação de uma reabilitação com coroa cimentada. A sequência progressiva de fresas obedeceu as instruções do fabricante de acordo com o tipo de implante empregado (Strong, Sistema de Implante Nacional, São Paulo, Brasil) com conexão do tipo cone morse, e dimensão de 3,8 x 13,0 mm (Figura 6). O retalho foi suturado com fio de nylon 4.0. Figura 6 – Aspecto clínico (a) após a instalação do implante, e (b) após a sutura do retalho. Discussão A proposta de realizar cirurgias minimamente invasivas vem crescendo na área de saúde (FORTIN et al., 2006). Os benefícios estão relacionados ao pequeno trauma tecidual, que diminui a morbidade para os pacientes, além de reduzir o tempo e o custo total do tratamento. Dentro desta linha de raciocínio, a técnica convencional de reconstrução óssea Ciência e Cultura com enxerto autógeno em bloco também pode ser aprimorada.Sendo assim, no presente estudo, uma modificação foi testada com sucesso, com a eliminação das incisões verticais, menor área de exposição óssea, e não utilização do parafuso de fixação.Caso a área receptora tenha demanda estética, esta poderia se beneficiar de uma melhor manutenção do volume e altura tecidual, o que 43 Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico justificaria a realização do presente estudo. De acordo com Misch e Misch-Dietsh (2008), dentre os pré-requisitos para o sucesso dos enxertos ósseos em blocosão incluídos: cirurgia asséptica e livre de infecção, retalho com desenho que permita o recobrimento completo do enxerto por tecido mole; que seja feita amanutenção de espaço, imobilização do enxerto, e estimulação local por meio de prótese provisória; que sejam respeitados o fenômeno de aceleração regional, a vascularização do leito receptor, e o tempo necessário para reparo tecidual; além de serem observados o tamanho e topografia do defeito ósseo. Comparando a técnica convencional com a técnica aqui proposta, o fator que mais sofreria modificação dentre os descritos seria o padrão de imobilização do enxerto, visto que no presente caso clínico a boa acomodação do enxerto ao leito receptor e a pressão firme exercida pelos tecidos moles são fatores fundamentais e imprescindíveis para manter o enxerto ósseo em posição. Para garantir uma boa estabilidade do enxerto, é fundamental ter especial atenção ao deslocamento do retalho e preparo do bloco ósseo. Em termos práticos, a maior extensão do bloco, de 13 mm, foi definida pelo comprimento desejado para o futuro implante. Neste contexto, o envelope foi estendido desde a crista óssea até que fosse atingido tal comprimento. Considerando o sentido mésiodistal, a largura do bloco, de 7 mm, foi definida com base na distância entre as raízes dos dentes adjacentes. Diferentemente das outras medidas, a dimensão do bloco no sentido vestíbulo-lingual foi definida pela própria anatomia do leito receptor. Por esta razão, foi preciso testar a penetração do bloco no envelope; nas áreas que provocaram maior tensão, o bloco foi desgastado. Enfatize-se que nesta técnica, a abertura do leito receptor foi finalizada após a remoção do enxerto e que o 44 PINHEIRO et al. bloco foi desgastado para se adequar ao preparo do envelope, ou seja, o preparo do leito foi concomitante ao preparo do bloco. É interessante considerar ainda que a maior resistência tecidual durante a penetração do bloco ósseo no envelope ocorre próximo à crista, e vencida esta resistência inicial, observou-se sua acomodação. A avaliação da estabilidade do bloco foi feita após, forçando seu deslocamento, por meio de pressão digital alternada externamente ao retalho, sendo por fim observado que não houve movimentação no sentido mesiodistal. Possivelmente, a falta de estabilidade nesta fase poderia ter causado o insucesso do caso, conforme evidenciado por Lin et al. (1990), Ermis & Poole (1992), e McAllister & Haghighat (2007). Yaremchuk (1994) em uma revisão de literatura sobre diferentes tipos de fixação em cirurgia craniofacial observou que formas alternativas de fixação podem ser utilizadas com sucesso.O autor cita o uso de parafusos, fios e placas, além de cola de cianoacrilato, cujo emprego tornaria desnecessário o uso de aparato de fixação. Saska et al. (2009) testaram a fixação de bloco ósseo em coelhos com cola de cianoacrilato comparado ao uso de parafuso de titânio; observaram melhor manutenção da área de enxerto nos sítios em que foi utilizada a cola. Resultados semelhantes foram apontados por Oliveira Neto et al. (2010) também em coelhos. Os autores relataram que nos sítios em que o cianoacrilato foi usado houve dano ao periósteo embora a manutenção do volume do enxerto e o padrão de incorporação ao leito receptor tenham sido semelhantes aos sítios em que foi usado parafuso. Este tipo de observação não seria possível no presente relato, que focou a viabilidade clínica de sua realização, porém, seria viável em pesquisa futura contemplando a avaliação histológica. Boyd et al. (1993) compararam os tipos de fixação óssea em pacientes após terem Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB sido acometidos por carcinoma, e concluíram que enxertos ósseos vascularizados obtiveram alto grau de união independente do tipo de fixação sugerindo que o tipo de fixação pode não ser tão importante para o sucesso do caso. Grupos de animais em que enxertos autógenos foram instalados sem fixação fizeram parte do estudo de Fialkov et al. (1995), como grupo controle. Estes foram comparados a fixação rígida com parafuso. Ambos foram submetidos a inoculação de bactérias (Staphylococcus aureus). Desta forma, observou-se que os enxertos com fixação interna rígida tiveram maior revascularização e neoformação óssea quando comparado ao osso sem fixação. Porém, deve-se considerar que no referido estudo, não houve cuidado para estabilização do bloco ósseo, o que seguramente interferiu nos achados. Clinicamente, os resultados de tal estudo nos fazem considerar que além d os cuidado pré, pós e transcirúrgicos de controle de infecção, pode-se sugerir como contraindicação da técnica situações em que haja risco de infecção pós-cirúrgica. Adicionalmente, o preparo do bloco deve ser feito de tal forma que não cause lesão nos tecidos moles, deixando as arestas arredondadas, e os permitam ficar em íntimo contato com o leito receptor (MISCH, 2008). Poreste último motivo, e também para mantêlo estável em posição, optou-sepor fresá-lo até que sua espessura fosse suficiente apenas para exercer pressão nos tecidos moles. O leito receptor deve estar isento de periósteo e esse deve ser deslocado junto com tecido gengival sem dilacerá-lo (HOPPER et al., 2001). Outro ponto a ser comentado é que os fenômenos de aceleração regional podem ser conseguidos pela criação de orifícios ou canaletas perfurando a cortical óssea local. No caso da técnica modificada o acesso ao osso é mais restrito, portanto, é preciso afastar o tecido mole com Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 cuidado para não interferir na tensão que será exercida sobre o enxerto, além de evitar injúrias e dilacerações no periósteo. O fato de não criar tais orifícios e canaletas pode não comprometer o resultado final, conforme demonstrado por Bartlett & Whitaker (1989), em cujo estudo mostrou que o grau de vascularização local não foi crucial para determinar a sobrevivência de enxertos em bloco. Por fim, uma avaliação da adaptação do bloco ao leito receptor poderia ser feita histologicamente ou tomograficamente com aparelho de feixe cônico, no pós-operatório imediato e cinco meses após a cirurgia, antes da instalação dos implantes, para avaliar a manutenção do volume tecidual. Conclusão Sugere-se que sejam desenvolvidos estudos clínicos randomizados controlados e avaliações clínicas, histológicas e tomográficas em longo prazo para criar um protocolo para sua utilização na prática clínica.No caso clínico apresentado, a variação da técnica de enxerto autógeno sem a fixação interna com parafuso permitiu a estabilização do bloco ósseo por meio de uma adequada acomodação do enxerto ao leito receptor associada à pressão exercida pelo tecido mucoperiostal do retalho. Desta forma, esta técnica minimamente invasiva permitiu a obtenção de um ganho de tecido ósseo, possibilitando a instalação posterior de um implante dentário e, portanto, mostra-se como uma técnica promissora, se bem indicada e executada. Referências ALBREKTSSON, T. In vivo studies of bone grafts. The possibility of vascular anastomoses in healing bone. Acta Orthopaedica Scandinavica, Basingstoke, v. 51, n. 1, p. 917, 1980. 45 BARTLETT, S. P.; WHITAKER, L. A. Growth and survival of vascularized and nonvascularized membranous bone: an experimental study. Plastic and Reconstructive Surgery, Baltimore, v. 84, n. 5, p. 783-8, 1989. BOYD, J. B.; MULHOLLAND,R. S. Fixation of the vascularized bone graft in mandibular reconstruction. Plastic and Reconstructive Surgery, Baltimore, v. 91, n. 2, p. 274-82, 1993. DE OLIVEIRA NETO, P. J.; CRICCHIO, G.; HAWTHORNE, A. C.; OKAMOTO, R.; SENNERBY, L.; LUNGREN,S.; SALATA, L. A. 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Foi necessário o levantamento de dados históricos acerca do tema, o que ofereceu bases consistentes a favor da implantação desse sistema no Brasil. Buscamos tratar da figura do city manager, que uma vez habilitado, exerce planejamento, execução e eficiência da supremacia do interesse público. Propomos a inclusão dessa figura, como instrumento eficaz e eficiente na melhoria da gestão administrativa, pois levamos em conta, a atual situação da Administração Pública, que enfrenta o problema entre recursos e sua devida e necessária aplicação. A metodologia aplicada foi no campo da pesquisa bibliográfica, nas áreas dedutiva e indutiva. A primeira por meio do estudo do Direito Constitucional, Administrativo, Previdenciário, Econômico e da Seguridade Social, para que se verifique a possível implantação no Brasil, sob a ótica da legislação nacional. A segunda perfazendo todo estudo da realidade brasileira, no tocante à essência e exercício do poder público, para que se verificasse o enquadramento do gerente de cidade na administração pública municipal. Ademais, foi indispensável utilizar-se da Constituição Americana, como parâmetro da presente pesquisa, elencando modelos adotados e demonstrando que é efetiva e adequada a figura do city manager no direito comparado. Concluímos que é cabível a inclusão do gerente de cidade na administração pública brasileira, em especial, na esfera municipal, com indicação do Prefeito e, posterior, aprovação dos vereadores, para que sejam atendidas as necessidades locais. Palavras chave: Gerente de cidade, gestão compartilhada, políticas públicas, eficiência ABSTRACT This article aims to analyse the real possibility of implementing the city manager in the light of brazilian administrative law in shared management. It has been necessary mapping the historical data on the subject, which offered reasonable grounds in favor of the implementation of this system in Brazil. Seeking to adress the city manager figure, that once enabled, exercise planning, execution and efficiency of public interest’s supremacy. We propose to include this figure, as an effective and efficient way in the improvement of administrative management, therefore considering the current situation of public administration, that faces the problem between resources and their proper and necessary application. The applied methodology was on the bibliographic research, both deductive and inductive areas. The first one by studying the Constitutional Law, Administrative, Social Security, Economic and the Social Welfare, for which there is a possible deployment in Brazil, from the national legislation’s perspective. The second one making the entire study of Brazilian reality, in terms of the substance and the exercise of government, so that it appeared the framework of the city manager in municipal government. Besides, it was essential using the U.S. Constitution, as a parameter for this research, listing adopted models and demonstrating the efectiveness and adequacy of the city manager figure in the comparative law. We conclude that is totaly reasonable the employment of the city manager in the brazilian public admninistration, specially at the municipal level, with the Mayor’s indication and later the approval of the Council, so that the local needs could be attended. Keywords: City Manager, shared management, public policy, efficiency Autor para Correspondência: Danilo Henrique Nune E-mail: [email protected] Telefone: (17) 981717770 Recebido em: 26/02/2014 Aceito para publicação em: 09/06/2014 Ciência e Cultura 49 A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada Introdução O Poder Executivo brasileiro, em especial o Municipal, vive um momento sem precedente em sua história institucional e política. Comprimido entre a necessária e burocrática aplicação de recursos e a grande demanda de politicas públicas a serem implementadas, acaba sendo equivocadamente gerenciado o orçamento, comprometendo a eficiência dos serviços prestados à população. Muitos são os fatores que autorizam esse fenômeno, entre eles, a falta de qualificação e formação dos agentes públicos que exercem funções de chefia, direção, assessoramento e liderança – sendo em sua maioria agentes políticos investidos de cargos eletivos ou comissionados – num amplo exemplo de democracia, entretanto, acabam por desconhecer técnicas e legislação de administração pública, contabilidade, infraestrutura e demais ramos da atividade humana correlata ao bom desempenho de suas funções no exercício da função pública. Não é de se desconsiderar que os políticos historicamente não são necessariamente formados e qualificados nestas áreas, sendo de inúmeras outras profissões, das quais se desligam para exercer mandato por determinado tempo e retornam depois às suas atividades profissionais. Contudo, a evolução do direito administrativo brasileiro e a alta demanda social por políticas públicas, efetivas e eficientes passaram a exigir dedicação integral dos agentes políticos. E, mais ainda, grau elevadíssimo de conhecimento destas áreas, sob pena de comprometer os princípios constitucionais da Administração Pública, além de legislação correlata. Quando aludimos o tema referente à Administração Pública, logo pensamos nos servidores que compõem esta tão importante esfera responsável por conduzir a União, 50 SERRADELA et al. Estados e Municípios e, mais do que isso, regular a vida entre os seres componentes da sociedade; mas, não podemos nos esquecer de que somente os recursos humanos não são necessários para se atingir todos objetivos da Administração, uma vez que é necessário que haja, assim como no campo privado, um modelo de gestão capaz de produzir lucros, o que no setor público significa que além de liquidar dívidas, ter recursos financeiros suficientes no orçamento para investir em obras e serviços de Engenharia, prestação de serviços para a comunidade e aplicação nos mais diversos setores. Logo, o papel da Administração Pública é governar de forma legal, impessoal, moral, com publicidade de seus atos e, além disso, almejando a Eficiência, conforme positiva o art. 37, caput, da CF / 88. Tal trabalho, portanto, propõe à Administração Pública Brasileira um modelo de gestão similar ao encontrado nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Tratase da figura do City Manager, ou “gerente de cidade”, que nada mais é do que uma pessoa com conhecimento técnico, sem vínculo partidário e responsável por executar as Políticas Públicas, sendo preferencialmente graduado em curso superior de Administração Pública Material e métodos A pesquisa bibliográfica se dará nas áreas do Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, Econômico e da Seguridade Social, de modo a satisfazer análise de dados dedutiva – a partir da interpretação legislativa, conceitos doutrinários, teorias e jurisprudências atuais – além da indutiva, perfazendo o estudo da realidade fática, passando pela análise multidisciplinar que envolve estudos da ciência política, notadamente, as políticas públicas. A produção científica em relação aos Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB temas em comento depende da compreensão de outros que lhe dão suporte, motivo pelo qual a discricionariedade administrativa e a evolução do poder do Estado foram objeto de estudo deste expediente. A análise jurisprudencial, especialmente vinculada ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, também foi utilizada como ferramenta para que as finalidades do estudo sejam alcançadas. Não obstante, o estudo da legislação nacional igualmente terá espaço, sobretudo as sucessivas Constituições brasileiras e as Leis Orgânicas Municipais, a fim de que se obtenha afirmação quanto à possibilidade de implantação do City Manager, à luz das leis brasileiras. Ademais, o Direito Comparado ocorreu, por sua vez, ao se estudar as Constituições de outros países, não apenas as vigentes, mas também as que adquiriram especial significado jurídico, sendo utilizadas como parâmetros na possibilidade de implementação do City Manager na Administração Pública Brasileira, visando sempre, demonstrar a Eficiência das políticas públicas. Resultados e discussão Com efeito, a presente pesquisa analisou, entre outras coisas, a introdução histórica que envolve o tema acerca da inserção do gerente de cidade na gestão compartilhada na administração pública. A partir desta análise será possível escolher com segurança qual melhor modelo para ser adotado no Brasil, levando em conta a estrutura administrativa já adotada. Verifica-se a existência de três modelos básicos para o sistema de gestão compartilhada, que incluem a figura do City Manager. O primeiro deles é o governo de comissão, onde basicamente os Poderes Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Executivo e Legislativo concentram-se nas mãos de 3 a 5 gerentes, modelo que pode ser encontrado no Texas. O segundo apareceu em 1912 na cidade de Sumter, Carolina do Sul, muito comum nos Estados Unidos, neste a população escolhe um conselho responsável, que por sua vez, escolhe o prefeito e, além disso, contrata um City Manager como encarregado das execuções administrativas. E, por fim, o terceiro modelo, que seria o mais indicado para implantação no Brasil, pela similaridade estrutural administrativa, pois neste modelo, a população elege seu prefeito, e este, fica encarregado de contratar um profissional habilitado, ou seja, com conhecimento técnico, que ficará responsável pelas execuções das políticas públicas. Este último com aparição inicial na cidade de San Francisco, Califórnia, em 1931, tendo passado para o condado de Los Angeles pouco tempo depois, em 1938. Depois de um conceito pouco abrangente, acerca dos modelos existentes de gestão compartilhada, bem como o apontamento do possível modelo a ser adotado pelo Brasil, chega-se à problemática, qual seja: há vantagem de se criar mais um cargo na estrutura da Administração Pública, por meio da gestão compartilhada? E qual impacto isso pode causar no orçamento público? Importante deixar claro que não se prega o desaparecimento da figura do prefeito, uma vez que ele é o responsável por legitimar o instituto republicano, bem como personificar a democracia, como representante eleito pelo povo. O que se propõe é associar a figura política a alguém - gerente de cidade - com conhecimento adquirido na própria universidade, por meio do curso de Administração Pública, que sabe lidar com orçamento público e, mais do que isso, planejar e projetar de tal forma que a Supremacia do Interesse Público seja realmente levada em conta. 51 A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada Essa associação da administração pública à figura do gerente de cidade, nada mais é do que a inclusão da gestão compartilhada, isto é, desconcentrar as responsabilidades política e técnica de uma única pessoa e transferi-las para o gerente de cidade, que é pessoa habilitada e com condições específicas, para conduzir a administração pública com eficiência, de modo a atender necessidades administrativas, pois sem dúvidas os municípios brasileiros passam por problemas financeiros sem precedentes onde, mesmo com a forte Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar Federal n.º 101), ocorre a má gestão dos recursos públicos prejudicando o ensino, a saúde e a segurança pública. O prefeito tem a função de traçar políticas públicas para que o gerente de cidade as execute, contudo, para que este esteja habilitado para execução de suas funções, sua contratação, observar-se-á alguns requisitos, quais sejam: o gerente de cidade não deve ter qualquer vinculo político, ou seja, deverá ser apartidário; seu conhecimento deve ser técnico, justificado por formação em curso reconhecido; com experiência comprovada e idade mínima de 35 anos. Quanto aos vencimentos, verificamos que o gerente de cidade terá rendimentos inferiores apenas ao do próprio prefeito, vez que hierarquicamente está acima dos demais cargos políticos componentes da cúpula governamental. Isso se deve sem dúvidas a falta de conhecimento técnico dos políticos que ali estão. É importante que o city manager fique diretamente ligado ao Prefeito, pois ele indicará melhores opções para a administração. De maneira sucinta, podemos dizer que city manager é um executor das políticas públicas, capacitado profissionalmente e especialista naquele assunto, cumprindo lado a lado com o prefeito o papel da Administração Pública, que 52 SERRADELA et al. é “governar” de forma legal, impessoal, moral, com publicidade de seus atos e, além disso, conquistando a tão almejada Eficiência, nos termos do art. 37, caput, da CF / 88. Nesse sentido, vale dizer que a gestão compartilhada, com a inclusão da figura do gerente de cidade deverá ocorrer por meio de um projeto de lei em conformidade com a Lei Orgânica do Município, que deverá conter nome do cargo a ser criado; atribuições do cargo; vínculo hierárquico; padrão de vencimentos; tempo de permanência (ideal de 2 anos); sabatina da Câmara Municipal, que aprovará por meio da maioria dos votos, após indicação do Chefe do Executivo, bem como condições mínimas para nomeação, por exemplo, comprovação de formação em curso superior de administração pública. Vale mencionar que, o ex-gerente ficará impedido no término do mandato de prestar qualquer serviço no setor público ou para aqueles que tenham ligação direta com a Administração Pública. Como forma de melhor empregar estes recursos trazendo a eficiência almejada no mundo privado, em conformidade com as leis rígidas, que regem a administração pública, tornando-a por vezes engessada, a figura do gerente de cidade ou na nomenclatura de origem, city manager, pode ser importada dos Estados Unidos e adaptada para nossas realidades jurídica, econômica e social. Para que isso ocorra é indispensável que haja uma legislação municipal forte, com intuito de assegurar ao ocupando do cargo a execução daquilo que lhe é proposto nos sistemas de origem e para o qual é destinado e, conforme mencionado anteriormente, sem interferência partidária ou de conchavos de escolha. O indicado deve ser vinculado estritamente às metas públicas estipuladas pelo Prefeito com o prazo de dois anos para colheita dos resultados pretendidos ou ainda aqueles Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB possíveis em decorrência das alterações diversas que podem afetar estes índices, a exemplo de menor produção industrial, circulação de bens e serviços, entre outros. Além de uma legislação que possa garantir a essência do que é proposto, o gestor também deve ter a consciência de que a interferência política, nestas situações, pode comprometer aquilo que é a finalidade de sua inserção, qual seja: a oferta das melhores opções para escolha do Prefeito. O gerente de cidade vem para mostrar uma ótica técnica com opções que combinam economia, prática e eficiência, cabendo ao Prefeito, obviamente, sentir o clamor da população no momento de sua escolha. A título exemplificativo, ao Chefe do Executivo cabe o faro da necessidade de se construir uma escola, visando sanar a demanda dos jovens para ingresso no ensino fundamental e, ao Gerente de Cidade, cabe a tarefa de determinar em qual bairro a construção melhor atenderia a demanda levando em conta o sistema de transporte coletivo municipal, áreas de lazer próximas, entre outros. Esta condição não minoraria a atuação dos secretários municipais, muito pelo contrário já que ao mesmo tempo em que o gerente aconselha a execução das políticas públicas de v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 iniciativa do prefeito, também pode atuar juntamente com os secretários. Insta salientar que o nível de suas competências se encontra acima dos Secretários, inclusive na remuneração, como forma de garantir sua interferência inclusive no apontamento de supressão de pastas, como também criação de novas. Esta distinção é imprescindível até por razões lógicas já que não faria qualquer sentido que um investido de cargo do mesmo nível hierárquico possam atuar de forma horizontal na gestão de seus pares. O gerente de cidade ocupará cargo dentro da administração pública, por isso se faz necessário apontar o organograma para que seja identificado seu real enquadramento e hierarquia dentro dos quadros da administração, para que seu desempenho não seja afetado de modo a prejudicar a liberdade de seus trabalhos. Vale acrescentar que, este mesmo organograma quando finalizado deve acompanhar o Projeto de Lei de iniciativa do Executivo. O organograma sugerido segue na sequência, a título exemplificativo como estrutura administrativa adaptada da Prefeitura do Município de Barretos reformada pela Lei Complementar Municipal n.º 193. ORGANOGRAMA Ciência e Cultura 53 A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada Conclusão Concluímos possível a inclusão do city manager na administração pública municipal, desde que de acordo com a Lei Orgânica do Município, pois visa única e exclusivamente a melhoria da gestão das políticas públicas, principalmente, no tocante à correta distribuição e aplicação dos recursos e a eficiência da administração. Constatamos que a gestão compartilhada, com a inclusão do gerente de cidade tem muito a agregar na atual estrutura administrativa das cidades, em razão das características elencadas ao longo de todo o trabalho. Todavia, para que seja verdadeiramente aplicada deve ser instituída visando atender necessidades locais, ou seja, dar a devida importância à eficiência das políticas públicas, conforme prevê a Constituição Federal. Verificamos que, um dos requisitos indispensáveis para contratação do gerente de cidade é que este tenha formação técnica específica, pois só assim poderá contribuir com a gestão da administração. Vale dizer que, muito embora formação em gerente de cidade seja de pós-graduação, e a graduação, preferencialmente, em administração pública, nada impede que outras áreas de formação sejam usadas conforme exige a necessidade local, por exemplo, uma cidade com problemas de planejamento pode nomear pessoa graduada em Arquitetura e Urbanismo ou Engenharia Civil. A pós-graduação voltaria atenção para a gestão, complementando aquilo já absorvido na graduação, ofertando uma série de possibilidades. A possibilidade de formação destes profissionais no Brasil em instituições renomadas já mostra a preocupação da classe educacional de constante lubrificação da máquina pública através de sua gestão de pessoas de competência inquestionável. 54 SERRADELA et al. Entendemos que o Prefeito não precisa ser técnico para que desempenhe um trabalho que realmente melhore a vida dos seus, mas, boas escolhas devem acompanhá-lo em cada ação na vida pública. O que nos parece claro é que somente a nomenclatura inserida no bojo da Lei de criação do cargo não garante que ele atinja todas as suas prerrogativas, cabendo ao Prefeito fazê-lo. Além do que, imprescindível que sejam atendidos requisitos exigidos, para que o gerente de cidade contratado esteja habilitado para exercer as funções que lhe foram conferidas, para que, assim, seja um instrumento de eficiência da administração pública, em especial, na esfera municipal. Foi possível observar, por meio do organograma acima descrito, que a figura do gerente de cidade está abaixo apenas do próprio prefeito, o que intensifica sua importância dentro dos quadros da administração e, principalmente, para a própria gestão pública que, atualmente está adoentada e engessada em antigos e ineficientes fundamentos. Portanto, a inclusão do city manager na gestão compartilhada à luz do direito administrativo brasileiro, demonstra ser um valioso instrumento de eficiência da administração pública, vez que na maioria das vezes o prefeito e demais auxiliares não são especializados profissionalmente para atender determinadas demandas, por isso, a contratação do gerente de cidade, ideologia importada dos Estados Unidos, é mais uma alternativa dada, em resposta ao clamor da população, pois se enquadra nas nossas realidades jurídica, econômica e social. Referências BODIN, Jean apud. LEBRUN, Gerard. O que é poder? São Paulo: Brasiliense, 1981. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB CÂMARA DOS DEPUTADOS. Glossário. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/ glossario/s.html> Acesso em 04 jan. 2013. CHEVALLIER, Jean Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. 8 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1999. CHOMSKY, Noam. 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Ciência e Cultura 55 56 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB Identification and evaluation of the sensitivity profile of Staphylococcus aureus isolated from the hands of students of Pharmacy UNIFEB Andressa Leme de FIGUEIREDO1, Mariana Rodrigues ROZATTO1, Juliana Rico PIRES2, Deny Munari TREVISANI3 1 Farmacêutica pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226. Barretos – SP. Brasil. 2 Professora Doutora do Curso de Odontologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226. Barretos – SP. Brasil. 3 Professor Doutor do Curso de Graduação em Odontologia e Farmácia Bioquímica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226. Barretos – SP. Brasil. RESUMO A ocorrência de infecções e a disseminação de microrganismos multirresistentes associadas aos cuidados de saúde é um grave problema clínico e econômico em hospitais, principalmente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dentre os microrganismos resistentes, o Staphylococcus aureus meticilina resistente (SAMR) é a principal causa dessas infecções hospitalares. O presente estudo teve como objetivo identificar a espécie Staphylococcus e analisar o perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isoladas das mãos de estudantes universitários. Participaram do estudo 37 alunos do curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Os estudantes foram orientados a lavarem as mãos dentro de um saco plástico, utilizando caldo nutriente hipercloretado (técnica do saco plástico). Amostras do caldo utilizado por cada estudante foram obtidas e plaqueadas para posterior identificação bioquímica e contagem em unidades formadoras de colônias (UFC/mL) de Staphylococcus sp, e posterior análise do perfil de sensibilidade do S. aureus frente à Vancomicina e Meticilina. Colônias de Staphylococcus foram encontradas nas mãos de 97,3% dos estudantes avaliados. Destes estudantes (97,3%), 54% apresentaram Staphylococcus aureus, os quais 100% eram resistentes à Vancomicina e Meticilina. Dentro dos limites deste estudo, podemos concluir que os estudantes avaliados apresentaram as mãos colonizadas por espécies de Staphylococcus resistentes e potencialmente infecciosas. Foi evidenciada a necessidade do desenvolvimento de programas institucionais educativos direcionados para a conscientização destes profissionais da saúde sobre a importância da higienização adequada das mãos na prevenção de infecções. Palavras chave: Mãos, Vancomicina, Meticilina, Staphylococcus aureus ABSTRACT The occurrence of infections and the spread of multiresistant microorganisms associated to health care is a major clinical and economic problem in hospitals, especially in intensive care unit (ICU). Among the microorganisms resistant, methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA) is a major cause of these hospital infections. This study aimed to identify the Staphylococcus species and analyze the sensitivity of Staphylococcus aureus isolated from the hands of college students. Participants were 37 students of Pharmacy of the University Center of the Educational Foundation of Barretos - UNIFEB. Students were instructed to wash their hands in a plastic bag, using nutrient broth hipercloretado (plastic bag technical). Samples of the broth used by each student were obtained and plated for subsequent biochemical identification and counting colony forming units (CFU/mL) of Staphylococcus, and subsequent analysis of the sensitivity profile front Vancomycin and Methicillin. Colonies of Staphylococcus were found in the hands of 97.3% of students assessed. These students (97.3%), 54% had Staphylococcus aureus which 100% were resistant to methicillin and vancomycin. Within the limits of this study, we can conclude that students showed high hands colonized by Staphylococcus species resistant and potentially infectious. Showed the need to develop educational programs targeted to institutional awareness of these health professionals about the importance of proper hand hygiene to prevent infection. Keywords: Hands, Vancomycin, Methicilin, Staphylococcus aureus. Autor para correspondência: Deny Munari Trevisani E-mail: [email protected] Telefone: 17-33226205 Recebido em: 19/03/2014 Aceito para publicação em: 19/06/2014 Ciência e Cultura 57 Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB Introdução As infecções por Staphylococcus aureus são cada vez mais reconhecidas em todo o mundo, com taxas de mortalidade elevada, onde apenas no Reino Unido, cerca de 12.500 casos a cada ano são registrados, com uma mortalidade associada de cerca de 30% (THWAITES et al., 2011). Os Staphylococcus aureus são bactérias esféricas, do grupo dos cocos Grampositivos, frequentemente encontradas na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis. Entretanto, o S.aureus pode provocar doenças decorrentes da invasão direta nos tecidos, de bacteremia primária ou, exclusivamente, ser devido à liberação de toxinas bacterianas (NNIS, 2004; COIA et al., 2006; HENDERSON, 2006). Korn et al. (2001) relataram que Staphylococcus é capaz de causar uma ampla variedade de infecções supurativas, bacteremia, endocardite, assim como intoxicações alimentares e a síndrome do choque tóxico. Adicionalmente, o S. aureus tem sido considerado a causa mais frequente de infecção nosocomial, contribuindo para cerca de 13% das infecções nosocomiais nos EUA (KORN et al., 2001). Sendo considerada a primeira causa de pneumonia nosocomial e de infecção das feridas cirúrgicas, e a segunda causa (a seguir ao Staphylococcus coagulasenegativo) de bacteremia nosocomial (NNIS, 2004; ANDRIOLO, 2005; BRAUNWALD et al., 2002). Classicamente, a análise do mecanismo de invasão do S. aureus revela que, no primeiro momento, essa bactéria adere a pele ou a mucosa para, em seguida, romper as barreiras do epitélio, comprometendo estruturas de ligações intercelulares, como desmossomos e junções de aderência (KORN et al., 2001). Após a invasão do epitélio, o S. aureus utiliza diversas estratégias para permitir a sua sobrevivência e proliferação no organismo 58 FIGUEIREDO et al. hospedeiro. Essas estratégias estão relacionadas com a opsonização do complemento, a neutralização da fagocitose e a inibição das respostas imune, humoral e celular (SCHECHTER e MARANGONI, 1998). Nos E.U.A., entre os anos de 1998 e 2003, foi observado um aumento de 12% na resistência de amostras de Staphylococcus aureus à oxacilina (BERNARD et al., 2004). As cepas de Staphylococcus aureus meticilina-resistente (SAMR) foram pela primeira vez descritas na Inglaterra em 1961, logo após a meticilina se ter tornado disponível para uso clínico (CAVALCANTI et al., 2005; IWATSUKI et al., 2006). A resistência à meticilina confere também resistência a todos os antibióticos beta-lactâmicos e a vancomicina (S. aureus resistente à vancomicina [SARV]). Estudos tem demonstrado que Staphylococcus aureus resistente à Meticilina (SARM) são a principal causa das infecções hospitalares (BARRET et al., 1968; SANTOS et al., 2007). Autores relataram que 52% dos pacientes, dentre os não colonizados por SARM, adquirem esse microrganismo após admissão em Unidade de Terapia Utensiva (UTI) (BRUMFITT e HAMILTONMILLER, 1989). Apesar de todas as evidências apontando para a importância da higienização das mãos, muitos profissionais permanecem passivos diante do problema (GOULD, 2009). O consentimento na lavagem das mãos para profissionais da saúde e a obediência a estas normas de biossegurança não só irão proporcionar um ambiente mais seguro, mas também melhorar a qualidade do trabalho (CHEN e CHIANG, 2007). Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi identificar a espécie de Staphylococcus e analisar o perfil de resistência antimicrobiana do Staphylococcus aureus Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB isolados das mãos dos estudantes do curso de farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB). Material e métodos Este foi um estudo prospectivo foi realizado com 37 (100%) alunos do curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB, localizada na cidade de Barretos, São Paulo. Os participantes foram instruídos a realizar a lavagem das mãos com caldo nutriente hipercloretado (Ni) dentro de um saco plástico, método conhecido como técnica do saco plástico (PALAZZO, 2000). Amostras do caldo utilizado por cada estudante para lavar as mãos foram obtidas por meio de “Swabs” estéreis e semeadas em placas de cultura contendo Ágar Mueller Hinton (BD Difco tm ). As placas foram imediatamente incubadas em estufa bacteriológica (Marconi, Piracicaba, SP, Brasil) à 35ºC por um período de 48 horas. Transcorrido o período de incubação foi confirmado o crescimento bacteriano. Para a confirmação do crescimento de espécies de Staphylococcus as colônias deveriam apresentar a forma de cocos em grupamentos, segundo análise microscópica, por meio de coloração de Gram. Na análise macroscópica, as colônias deveriam apresentar formas circulares, opacas, bordas regulares, produção de pigmento branco e amarelo caracterizando estafilococos. A identificação das espécies de Staphylococcus isoladas foi feita por meio de provas bioquímicas: Catalase, DNAse e Coagulase. As provas catalase positivas, DNAse positivas e coagulase positivas são indicadores para a identificação da espécie aureus. Para análise do perfil de sensibilidade bacteriano, todas as cepas de Staphylococcus Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 aureus identificadas neste estudo foram submetidas ao teste do antibiograma de acordo com Bauer e Kirby (1996) e as recomendações do National Committee for Clinical Laboratory Standards (2003). Os discos de antibióticos utilizados para as cepas isoladas de Stpahylococcus aureus foram discos de 30 µg de vancomicina e meticilina (Sensibiodisc – CECON, São Paulo, SP, Brasil)). Os dados foram tabulados e analisados por meio do software Microsoft Excel (2007). Resultados Os dados demográficos dos estudantes podem ser observados no gráfico 1. Dos 37 (100%) estudantes que participaram deste estudo, 30 (81%) eram do gênero feminino. A idade dos estudantes variou entre 20 e 40 anos, entretanto, 29 (78,4%) estudantes apresentaram faixa etária de 20 a 30 anos. Em relação à colonização por Staphylococcus sp, foi observado que 36 (97,3%) estudantes apresentaram colonização e apenas 1 (2,7%) não apresentou este microrganismo nas mãos (Figura 1). A média de unidades formadoras de colônia para Staphylococcus sp isolados foi de 75 UFC/mL (máximo = 171 e mínimo = 11 UFC/ mL). Nas provas bioquímicas para identificação das espécies de Staphylococcus, a prova da catalase foi positiva para todas as amostras analisadas, confirmando que as bactérias isoladas eram do gênero Staphyloccocus sp. As provas da coagulase e DNase positivas demonstraram que 54% (n=20) amostras eram Staphylococcus aureus, enquanto que 46% (n=17) amostras isoladas foram negativas para a prova da coagulase, sugerindo serem Staphylococcus epidermidis. Estes resultados foram observados na figura 2. 59 Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB FIGUEIREDO et al. Figura 1 - Distribuição dos estudantes de farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos - UNIFEB, segundo gênero, faixa etária e presença ou ausência de Staphylococcus sp. Figura 2 - Resultados das provas bioquímicas realizadas nas colônias de Staphylococcus sp isolados das mãos dos estudantes do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB. Na avaliação do perfil de sensibilidade dos Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes antes da higienização, todas as amostras apresentaram resistência aos antibióticos testados, sendo 100% resistentes a meticilina e 100% a vancomicina. 60 Discussão A dose infectante, ou o número de microrganismos capaz de induzir infecção em indivíduos em domicílio ou em ambiente hospitalar, ainda não está estabelecida. Entretanto, quanto maior o número de carga Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB microbiana (UFC), maior será o risco de contaminação e possivelmente infecção. Evidências mostram que a pele do ser humano é colonizada por diferentes microrganismos, sendo que nas mãos de profissionais da saúde foram quantificados valores entre 3,9x10-4 a 4,6x10-6 UFC/cm2 (SILVA et al., 2011). A contagem microbiana nas mãos varia de pessoa para pessoa frente ao risco de infecção, sendo assim, a higiene das mãos representa uma medida individual de prevenção simples e de baixo custo para controle de infecção (PITTET et al., 2000; SILVA et al., 2011). Custódio et al. (2009) realizaram uma análise bacteriológica da mão dominante dos profissionais da área da saúde de um hospital particular de Itumbiara (GO) e verificaram a presença de Staphylococcus coagulase negativa (44,4%), Staphylococcus aureus (40,0%), Enterococcus (13,3%) e Bacillus spp (2,2%). Tais achados estão em concordância com o presente estudo, no qual foi verificada frequências similares, sendo 54% Staphylococcus aureus e 46% Staphylococcus coagulase negativa. Para Metam et al. (2005), cerca de 50 a 87% das infecções hospitalares, tem Staphylococcus como agente responsável, sendo que em 16 a 43% dos casos os pacientes evoluem para óbito em função do amplo espectro de resistências desses microrganismos aos antimicrobianos. A espécie mais importante do gênero é o Staphylococcus aureus, sendo considerado o maior fator de risco para o desenvolvimento de infecções hospitalares adquiridas na comunidade (SILVA et al., 2010). A incidência da resistência à meticilina e à vancomicina frente aos microrganismos isolados das mãos dos estudantes foi de 100%. Estes indivíduos estão expostos diariamente a uma variedade de microrganismos capazes de transmitir doenças infecciosas, através das mãos, presentes no sangue, saliva e vias aéreas Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 respiratórias. A importância destes achados está relacionada com a ameaça à saúde pública mundial e estão associadas a um aumento na morbidade e mortalidade (ANDRADE et al., 2011). A transmissão de infecções torna-se mais séria quando atrelada à ocorrência de microrganismos resistentes (KONEMAN et al., 2001; MENEGOTTO e PICOLI, 2007). Historicamente é reconhecido e inquestionável o risco de infecção associado às mãos (FABIANO et al., 2008) e ao aumento da resistência microbiana (CUSTÓDIO et al., 2009), o que exige, além da vigilância epidemiológica, também a priorização em programas efetivos de educação (PITTET, 2005). Este estudo comprova a necessidade, já reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de descobrir e sintetizar novos antibióticos para o tratamento de microrganismos resistentes, principalmente das cepas de Staphylococcus aureus multirresistentes, que atualmente vem aumentando acentuadamente. Adicionalmente, acredita-se que programas de educação continuada que visem à higienização das mãos com água e sabão, com o intuito de reduzir o número de microrganismos, não somente entre os profissionais da saúde, que lida com infecções diariamente, como toda a população são imprescindíveis para um adequado controle de infecção e transmissão por Staphylococcus aureus e outros microrganismos patogênicos. Conclusão Foi concluído que no total das amostras de estafilococos identificadas das mãos dos estudantes do curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos-UNIFEB, o Staphylococcus aureus foi a espécie predominante, sendo que todas as espécies de S.aureus apresentaram 61 Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB resistência frente à meticilina e à vancomicina. Referências ANDRADE D, OLIVEIRA GF, EZAIAS GM, SHIMURA CMN, GIORDANI AT. Experiência vicária entre profissionais de saúde na higiene das mãos. Rev Panam Infectol 2011; 13 (2): 29-32. ANDRIOLO, A. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. São Paulo: Editora Manole, 2005. BAUER AW, KIRBY WMN. Antibiotic susceptibility testing by standartiezed simple disc method. Am J Clin Path 1996; 45: 492496. BARRETT FF, MCGEHEE RFJR, FINLAND M. 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Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite Social survey, technician, productive and quality of units São Paulo producers milk Maira MATTAR1, Amanda Nogueira MATIAS1, Carolina Bilia Chimello LUZ1, Marluci Silva de CARVALHO1, Ricardo RIVAS1, Luciano Menezes FERREIRA1 1 Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, Curso de Zootecnia, Av. Prof. Roberto Frade Monte 389, Aeroporto, CEP 14783-226, Barretos, SP. RESUMO Esse estudo teve como objetivo realizar o levantamento dos dados de variáveis sociais, técnicas, produtivas e de qualidade do leite de unidades paulistas produtoras e fornecedoras de leite. Os dados das variáveis sociais, técnicas e produtivas foram coletados de dezenove (19) produtores por meio do questionário de pesquisa quantitativo/qualitativo. Para qualidade do leite as variáveis estudadas foram contagem bacteriana total, em UFC/mL, contagem de células somáticas, em CS/ mL e resíduo de antibiótico (presença ou ausência), obtidas a partir dos arquivos de análises laboratoriais da Usina de Beneficiamento de Leite do Unifeb correspondente ao período de junho de 2009 a janeiro de 2010, sendo que apenas treze (13) propriedades possuíam análises de qualidade. Todas as variáveis estudadas foram avaliadas por meio de estatística descritiva geral utilizando o programa Statistical Analysis System. A prática do levantamento das variáveis sociais, técnicas, produtivas e de qualidade do leite possibilitou neste estudo observar a variação dessas informações entre as propriedades, mesmo estando próximas, evidenciando a heterogeneidade dos sistemas de produção de leite na região de Barretos. Palavras chave: Bovinos de leite, produção de leite, qualidade de leite ABSTRACT This study was designed to gather data about social variables, techniques, productivity, and the quality of milk among the State of São Paulo producers and suppliers of milk. The social variables, techniques, and productivity data were collected from 19 producers by means of a quantitative/ qualitative research questionnaire. In order to measure milk quality, the total bacterial count was studied, in UFC/mL, somatic cell count in CS/mL and antibiotic residue (present or absent). These data were obtained from laboratory analyses archives from the Usina de Beneficiamento de Leite, which corresponds to the period of June 2009 to January 2010. Only thirteen (13) properties possessed quality analyses. All of the variables studied were evaluated by means of general descriptive statistics, utilizing the Statistical Analysis System program. The practice of gathering social variables, techniques, productivity, and the quality of milk was made possible in this study, through the observation of variations of this information, between properties that are approximate, and demonstrate heterogeneity systems of the milk production in the region Barretos. Keywords: Dairy cows, milk production, milk quality Autor para correspondência: Maira Mattar E-mail: [email protected] Telefone: (16)9786-2929 Recebido em: 12/06/2013 Aceito para publicação em: 15/04/2014 Ciência e Cultura 65 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite Introdução O Brasil possui o terceiro maior rebanho de vacas leiteiras do mundo, considerando que a primeira posição pertence à Índia e não se trata de rebanho comercial e, a segunda à União Europeia, que inclui 27 países. Já, no país, a região Sudeste tem o maior rebanho nacional de vacas leiteiras, juntamente com a maior produção de leite. No entanto, o Brasil se encontra classificado na sexta posição do ranking mundial em produção de leite, ficando atrás dos Estados Unidos, União Europeia, China, Rússia e Índia, evidenciando sua baixa produtividade por animal (ANUALPEC, 2009). Estas estatísticas apontam que apesar de o Brasil e suas regiões apresentarem grande potencial produtivo de leite, o país precisa melhorar nos rebanhos suas eficiências de produção. Além da necessidade de melhorias na produção, a qualidade do leite também tem gerado exigências para o setor leiteiro a partir da publicação da Instrução Normativa nº 51 (IN51), de 18 de setembro de 2002 do Ministério da Agricultura; Pecuária e Abastecimento (MAPA), a fim de estabelecer regulamentos técnicos de produção, identidade e qualidade do leite. Assim, como a IN51 são parâmetros mundialmente aceitos, tornou-se imprescindível, ações de assistência técnica aos produtores não adaptados às novas e exigências (BRASIL, 2002). Com vistas à realidade do campo de os produtores apresentarem dificuldades em adequarem-se à IN51, em 29 de dezembro de 2011 foi instituída pelo MAPA a Instrução Normativa nº 62 com o objetivo de estabelecer novos critérios, como a mudança de parâmetros para a contagem de células somáticas (células/ mL) e de contagem bacteriana total (UFC/mL) de leite. Outro importante item foi a instituição de Comissão Técnica Consultiva permanente, com vistas à avaliação das ações voltadas para a melhoria da qualidade do leite no Brasil 66 MATTAR et al. (BRASIL, 2011). Segundo a visão de Sbrissia e Ponchio (2010), o sistema agroindustrial do leite no Brasil vem passando por transformações sensíveis e, produtores de leite, indústrias e cooperativas estão diante de um futuro incerto. Os mesmos autores apontam que a produção brasileira de leite vem crescendo significativamente desde o inicio da década de 90, e verificaram nas principais empresas e cooperativas leiteiras, aumento da captação de leite e redução do número de fornecedores, indicando ganhos em escala, produtividade e eficiência. Isto porque o baixo retorno por litro faz com que a escala de produção seja o principal determinante da renda gerada, e torna-se, portanto, fator importante para explicar a tendência crescente à especialização do setor. No entanto, cabe ressaltar que no Brasil existem 1,47 milhões de estabelecimentos familiares na atividade leiteira, onde 41% estão localizados na região Sudeste. São pequenas propriedades, com baixos índices de produtividade, mas que respondem por 36% da oferta do produto na região (CALDAS, 2003). Na região de Barretos, as estatísticas apontam 384 unidades produtoras de leite com total de 13.174 animais destinados apenas para esta exploração, sem contabilizar as propriedades de aptidão mista (carne e leite). Nessas propriedades leiteiras, grande parte não utiliza ordenha mecânica e resfriadores de leite, além da baixa utilização de assistência técnica e grande variação no nível de escolaridade do produtor rural (CATI, 2010). Com isso, este estudo teve como objetivo realizar o levantamento dos dados de variáveis sociais, técnicas, produtivas e de qualidade do leite de unidades paulistas produtoras e fornecedoras de leite na região de Barretos-SP. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Material e métodos Os dados das variáveis sociais, técnicas e produtivas foram coletados ao longo do segundo semestre do ano de 2010 por meio de questionário de pesquisa quantitativo/ qualitativo, elaborado para esta finalidade, e encaminhado individualmente para cada uma das 19 propriedades. Para a qualidade do leite, as variáveis estudadas foram a contagem bacteriana total (CBT), em UFC/mL, a contagem de células somáticas (CCS), em CS/ mL, e Resíduo de Antibiótico, presença (1) ou ausência (0) no leite. Estas variáveis fizeram referência às amostras mensais de cada UPL, obtidas a partir dos arquivos de análises laboratoriais da Usina de Beneficiamento de Leite do Unifeb correspondentes ao período de junho de 2009 a janeiro de 2010. As amostras foram analisadas, no mesmo período, na Clínica do Leite da ESALQ/Piracicaba – USP/SP, totalizando 96 amostras de leite cru para cada variável pertencentes a 13 propriedades. Todas as amostras de leite foram mensalmente colhidas nas dependências da Usina de Beneficiamento, após a coleta diária dos latões de leite de cada produtor, feita pela própria usina por meio de transporte próprio. As amostras foram acondicionadas em frascos estéreis, disponibilizados pelo laboratório, dispostas imediatamente em caixa de material isotérmico contendo gelo reciclável e encaminhadas, em seguida, para análise no laboratório da Clínica do Leite, ESALQ-USP, Piracicaba-SP. Estas propriedades foram caracterizadas por Luz et al, (2011) baseandose nas variáveis sociais, técnicas, produtivas e de qualidade do leite deste estudo. Os autores evidenciaram heterogeneidade entre as propriedades que foram classificadas como muito ruim a boa, em relação à qualidade do leite, evidenciando que mesmo em locais Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 próximos, a qualidade dependeu de particularidades sociais, técnicas e produtivas e suas inter-relações. As variáveis, quantitativas e qualitativas, sociais, técnicas, produtivas e de qualidade do leite foram avaliadas por meio de estatística descritiva geral utilizando o programa SAS (2003). Resultados e discussão Na tabela 1 são apresentados a média e o desvio-padrão de vacas em lactação (VL) indicando pequena produção nas unidades produtoras de leite (UPL), confirmada pela média de litros de leite produzida diariamente (L/dia). Este resultado é semelhante ao encontrado por Nero et al. (2009) que confirmaram o perfil de pequena produção pela reduzida quantidade de animais em lactação, na região de Viçosa – MG. As propriedades leiteiras no Brasil são comumente caracterizadas por pequenas unidades, segundo Brito et al. (2004), a maior parte dos produtores pode ser classificada como pequenos ou médios, com produção diária de 50 a 100 L de leite e de caráter familiar. Em estudo realizado por Freitas et al. (2004) com vacas girolandas foram obtidas médias para a produção de leite em 305 dias e na lactação total de 3,49 ± 1,73 kg e 3,72 ± 1,96 kg, respectivamente. No entanto, Ledic et al. (2002) ao estudarem vacas da raça gir leiteiro melhoradas geneticamente encontraram valores de 11,97 ± 4,64 kg, superiores à média apresentada nesse trabalho. Com isso, a diferença de raças desses estudos pode ser um dos fatores que influenciaram a produção. Estes resultados evidenciaram que a atividade leiteira é, em geral, composta por pequenos produtores com poucos animais no rebanho, provavelmente com baixa infraestrutura, sistemas de criação ineficientes e animais com composição genética inferior. 67 MATTAR et al. Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite Pela média e desvio-padrão para a área total das propriedades (ha total), pode-se observar propriedades de menor porte, com sistemas de produção heterogêneos (extensivos, semi-intensivos e intensivos) observados pela porcentagem de área destinada para a pecuária leiteira (% ha), conforme a Tabela 1. Já pela avaliação da produtividade em litros de leite produzidos por área (L/ha) foi possível evidenciar grande variação na eficiência do uso da exploração da terra. Nascif (2011), analisando dados de pesquisa feita no Estado de Minas Gerais observou que os maiores produtores apresentaram rebanhos, em média, com produtividade de 10.399,68 litros/ha/ano, enquanto os menores produziram 873,87 litros/ ha/ano. Nestes últimos, apontou uma produtividade muito baixa, perfazendo 2,39 litros/ha/dia, tão baixa quanto encontrada em propriedades neste trabalho. O mesmo autor afirma que para ter um sistema com alta produção de leite em menores áreas se deve utilizar adequadamente as tecnologias para produzir mais e melhor. No caso, para aumentar a produtividade da terra, medida em litros por hectare por ano, deve-se aumentar a eficiência principalmente de dois indicadores que são o número de vacas em lactação por hectare e produção de leite por vacas em lactação. Tabela 1 - Análise descritiva para variáveis de produção de leite, Barretos-SP, 2010. vacas em lactação, 2litros por dia por vaca, 3hectare total, 4porcentagem de hectare para produção de leite, 5litros de leite produzido por hectare. 1 Em relação às variáveis sociais (Tabela 2), as unidades produtoras envolvidas neste trabalho apresentaram, na maioria, a pecuária leiteira como atividade complementar à renda. A falta de estabilidade do setor leiteiro, com a variação de preços pagos aos produtores, não incentiva os envolvidos a se dedicarem apenas à atividade. No entanto, a cadeia produtiva do leite está em fase de estruturação, e vem se recuperando nos últimos anos, devido às mudanças estruturais que vem acontecendo no País, no crescimento e na estabilidade econômica, e na implantação de políticas públicas sociais e também voltadas ao desenvolvimento da cadeia produtiva do leite (FILHO e CARVALHO, 2009). Enquanto 68 isso, os resultados apontam pouco investimento nas propriedades estudadas, em geral, com a mão-de-obra familiar. A agricultura familiar é uma forma de produção em que o núcleo de decisões, gerência, trabalho e capital é controlado pela família. E em geral, são produtores com baixo nível de escolaridade que diversificam as atividades para aproveitar as potencialidades da propriedade, melhor ocupar a mão-de-obra disponível, e aumentar a renda (ZOCCAL et al., 2004). Neste trabalho o baixo número de pessoas envolvidas na atividade leiteira também ajuda na análise de que se trata de pequenas propriedades, não tecnificadas, com mão-deobra predominantemente não especializada. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 2 - Análise descritiva para variáveis sociais, Barretos-SP, 2010. Os resultados dispostos na tabela 3 evidenciam que a maioria das propriedades estudadas utiliza ordenha manual, ficando evidente que a maioria delas se caracteriza como pequenas. Neste contexto, a ordenha manual, se for feita com rigorosa higiene não colabora para a disseminação de microorganismos no leite e nas glândulas mamárias dos animais, sendo assim, tão eficiente quanto a ordenha mecânica. No entanto, se não for bem praticada, a ordenha manual pode ser meio de transmissão de doenças no rebanho, principalmente a mastite. A prática observada de uma ordenha diária não é a recomendada em termos produtivos, pois intervalo entre ordenhas muito grande interfere no estímulo de produção de leite pela glândula mamária. Segundo Garçone (2005), a frequência e o intervalo entre as ordenhas são ferramentas disponíveis ao produtor para a manipulação da produção de leite pela vaca, melhorando a produtividade do rebanho. Para conseguir aumentos significativos na produção de leite das propriedades estudadas a ordenha poderia passar de uma vez ao dia para duas vezes diárias, aumentando assim a frequência de ordenha e diminuindo o intervalo entre elas. No entanto, para isso se Ciência e Cultura deve levar em consideração o potencial produtivo resultado da genética dos animais antes de adotar essa medida. Aproximadamente a metade dos produtores utilizou locais que diminuem o acúmulo de sujidades no local de ordenha evitando a contaminação do leite e no animal, principalmente pela utilização de piso concretado. No entanto, a soma das propriedades que não possuem estrutura adequada para manter a higiene também foi próxima à metade delas. Já a frequência de limpeza dos locais onde são feitas as ordenhas desses animais foi na maioria diária, onde pode ser realizada através principalmente de raspagem do piso do estábulo. A maioria das vacas foi higienizada antes da ordenha onde se lavam somente os tetos das mesmas. Segundo Netto et al. (2006), esse procedimento de lavagem tem a função de estimular a descida do leite, facilitando a ordenha, e após a lavagem seca-se os tetos com papel toalha descartável e também evita que escorra água do úbere para o leite ordenhado. No manejo preventivo foi observado que a maioria dos produtores não utiliza a 69 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite técnica da caneca de fundo escuro, onde se detecta grumos no leite que evidenciam a presença de mastite clínica no animal. De acordo com Netto et al. (2006), esse procedimento tem a finalidade de eliminar todos os micro-organismos que normalmente são encontrados no canal do teto. A grande maioria dos produtores rurais não utiliza o pré-dipping (desinfecção dos tetos antes da ordenha) e o pós-dipping (desinfecção dos tetos após a ordenha). O prédipping tem como objetivo reduzir a contaminação nos tetos especialmente por agentes ambientais impedindo a ocorrência de novas infecções (FONSECA e SANTOS, 2000). Já o pós-dipping é necessário para que haja a desinfecção após a ordenha enquanto ocorre o fechamento do esfíncter da papila mamária. Esse procedimento pós-ordenha é muito importante no controle da mastite, pois auxilia a prevenir a entrada de microorganismos na glândula mamária da vaca (LOPES e BATISTA, 2010). A higienização dos baldes na maioria foi feita com água e detergente, isso deve ser feito cuidadosamente sem deixar resíduos para evitar contaminação do leite. Segundo Moreira et al. (2007), os baldes devem ser lavados com detergente, esfregando toda a superfície interna e externa, usando esponja ou escova apropriada, e deve-se enxaguar com água clorada e escorrer bem o excesso ao final. Portanto, baldes e latões devem ser mantidos rigorosamente limpos e secos devendo ser guardados com a boca virada para baixo em local apropriado (limpo e seco) evitando contato com moscas, poeira ou outra sujidade. O leite das propriedades foi coletado e levado em latões individuais sem refrigeração para a usina até as 10:00 h (dez horas) do dia de sua obtenção, conforme a instrução normativa vigente no período deste estudo 70 MATTAR et al. (IN51). No entanto, segundo Lopes e Batista (2010) o ideal seria após a coleta o leite ser refrigerado em temperatura de 4°C, em um espaço de tempo de duas horas, para não ocorrer proliferação de bactérias na matéria prima. As vacinações contra a febre aftosa foram realizadas em todas as propriedades avaliadas; porém, para a brucelose apenas algumas tiveram o manejo preventivo. Como a brucelose se trata de uma zoonose, a falta de controle da doença em rebanhos pode afetar tanto aspectos reprodutivos do rebanho como a saúde pública. Essa omissão é evidenciada, em parte, pela falta de assistência técnica nas propriedades estudadas e consequentemente falta de informação da importância da vacinação de acordo com o calendário de vacinação. Nas propriedades a maior incidência foi de animais cruzados, na maioria com genética da raça Gir e Holandês provavelmente pelos baixos a médios níveis de manejo o que impede a criação de raças especializadas devido à alta exigência nutricional e de manejo desses animais. Além disso, a maioria das propriedades apresentou outras criações perto do local de ordenha, o quer pode promover maior contaminação com micro-organismos e interferência no odor do leite. Segundo Philpot e Nickerson (1991), as células somáticas do leite são células de defesa do organismo que migram do sangue para o lúmen da glândula mamária para combater os agentes causadores da mastite. Observa-se, na Tabela 4, que o valor médio para Contagem de Células Somáticas (CCS) encontra-se no limite de diagnóstico de mastite subclínica segundo Coentrão et al. (2008), que pode ser caracterizada por CCS > 200.000 CS/mL. Para Dias (2007), quando há presença de micro-organismos patogênicos na glândula mamária geralmente a contagem Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 3 - Análise descritiva para variáveis técnicas, Barretos-SP, 2010. Ciência e Cultura 71 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite de células somáticas se apresenta elevada (acima de 300.000 CS/mL de leite). No entanto, foram observadas tanto a ausência de infecções (valor mínimo) como a existência de infecções inaceitáveis (valor máximo) nos animais avaliados. Machado et al. (2000) encontraram 641.000 ± 767.000 CS/mL, superior à média apresentada nesse trabalho, enquanto Coentrão et al. (2008) encontraram valores mensais de 608.000 ± 967.000 CS/mL. A mastite clínica pode ser mais agressiva, pois existem sinais evidentes de inflamação como edema, aumento de temperatura, endurecimento e dor na glândula mamária, e/ou aparecimentos de grumos, pus ou qualquer alteração das características do leite (BRADLEY, 2002). Contudo, a forma subclínica, geralmente de longa duração ou crônica, apresenta alta contagem de células somáticas (DIAS, 2007) e não ocorrem mudanças visíveis no aspecto do leite ou do úbere (PERSSON et al., 2003). Dessa forma pode evoluir nos rebanhos tornando-se mais preocupante do que a clínica. Para Contagem Bacteriana Total (CBT) a média encontrada neste estudo foi moderada e superior as relatadas por Fonseca et al. (2008), que encontraram valores de CBT nas regiões de Minas Gerais, Alto Paranaíba/ Triângulo Mineiro e do Norte de MG iguais a 425.000 UFC/mL e 430.000 UFC/mL, respectivamente. No entanto, a partir de 01 de janeiro de 2012 a 30 de junho de 2014 o limite máximo de CBT é de 600 mil UFC/mL, ou seja, a média dos valores da CBT atualmente está acima da preconizada pela IN 62. Valores altos de CBT podem ser indícios de uma ordenha inadequada ou ainda o modo como é armazenada a matéria prima (DÜRR, 2005). Segundo Paschoal (2010), 72 MATTAR et al. algumas medidas são necessárias para diminuir a CBT, como manter a sala ou o local de ordenha sempre limpos; utilizar água potável de boa qualidade; lavar as mãos e mantê-las limpas durante a ordenha; imergir os tetos em solução desinfetante antes e após a ordenha; secar os tetos com papel toalha descartável; lavar os equipamentos e os utensílios após cada ordenha com água aquecida, usando os detergentes de acordo com o manual do fabricante dos mesmos; trocar mangueiras e borrachas do equipamento de ordenha na frequência recomendada pelo fabricante ou quando ocorrerem rachaduras; lavar os tanques de refrigeração, usando água aquecida e detergentes adequados cada vez que o leite for recolhido pelo transportador. As grandes variações nas análises de CBT observadas neste estudo apontam diversidade de manejo durante e após a ordenha, mesmo em rebanhos muito próximos. Isso evidencia a falta de padronização nos sistemas de produção de leite no Brasil e, por consequência na qualidade do leite. Em relação às análises de antibióticos no leite todas as amostras foram negativas, o que evita, segundo (BRITO e LANGE, 2005), problemas na industrialização do leite pela inibição de culturas lácteas, e na saúde pública pela possibilidade de desenvolvimento de reações alérgicas ou tóxicas nos indivíduos que ingerem o leite contaminado com os resíduos de antibióticos. Talvez a ausência de resíduos neste trabalho possa ser explicada pela maior preocupação dos produtores com o estado sanitário dos animais, separando os animais com mastite na hora da ordenha, e respeitando o período de carência dos antibióticos para tratar da mastite desses animais, ou ainda pelo descaso dos produtores com a sanidade dos rebanhos não os tratando com antimicrobianos. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 4 - Análise descritiva para contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT) e resíduos de antibiótico (ATB), Barretos-SP, 2010. ¹número de amostras de leite; ²desvio-padrão Na Tabela 5 observam-se a contagem de células somáticas (CCS) e a contagem bacteriana total (CBT) com valores acima dos regulamentados para a Região Sudeste pela IN51, Barretos-SP, 2010. Para a CCS foi observada que 7,29% (7) das amostras analisadas apresentaram valores acima de 750 mil cél./mL, ou seja, fora dos padrões da Instrução Normativa nº 51 (IN51) para a Região Sudeste, o que representou 5,21% (5) das propriedades. Desde 2008 e até junho de 2011 a IN51 determinava que para a mesma região os valores de CCS deviam ter no máximo o valor supracitado. A partir de julho a dezembro de 2011 a normativa estabelecia que os valores não ultrapassassem 400 CS/mL. Com isso aumentou para 30,20% (29) o número de amostras acima do regulamentado e 9,37% (9) as propriedades que se apresentavam acima do valor estabelecido a partir deste período. Quando os resultados da CCS foram comparados aos padrões preconizados atualmente pela IN 62, vigentes a partir de 01 de janeiro de 2012, foi observado que 12,50% (12) das amostras analisadas apresentaram valores acima de 600 mil/mL, ou seja, fora dos padrões para a Região Sudeste, o que representou 9,37% (9) das propriedades. Segundo Santos e Fonseca (2006), quando ocorre a presença de micro-organismo patogênico na glândula mamária, geralmente a CCS se eleva (acima de 200.000 CS/mL de leite) e esse aumento na CCS é a principal Ciência e Cultura característica utilizada para o diagnóstico da mastite subclínica no rebanho. Assim, a contagem de células somáticas tem sido considerada medida padrão de qualidade, pois está relacionada com a composição, rendimento industrial e segurança alimentar (BUENO et al., 2005). Os resultados deste estudo mostram que em algumas propriedades não há controle eficiente da mastite, com isso ocorre o aumento na CCS indicador de mastite no rebanho (SANTOS e FONSECA, 2002). Além disso, com o aumento de CCS no leite ocorre queda na produção, causando grandes prejuízos ao produtor, e podendo ser penalizado ou bonificado por seus valores. Para a CBT, as amostras analisadas apontaram que 23,95% (23) se encontravam fora do requerido na IN 51 que, de 2008 até junho de 2011, estabelecia limite de 750 mil UFC/mL, o que envolveu aproximadamente 10,42% (10) das propriedades estudadas. No entanto, a partir de julho de 2011 até dezembro de 2011 esses valores não podiam ultrapassar 100 mil UFC/mL, e com os valores obtidos neste estudo 13,54% (13) das propriedades encontravam-se além da qualidade requerida para o leite com 72,91% (70) das amostras acima de 100 mil UFC/mL. Quando os valores da CBT foram comparados aos preconizados pela IN 62, vigentes a partir de 01 de janeiro de 2012, as amostras analisadas apontaram que 28,12% (27) se encontravam acima dos valores máximos estabelecidos que são de, no máximo, 73 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite 600 mil UFC/mL atualmente, resultado este que envolveu aproximadamente 10,42% (10) das propriedades estudadas. Valores altos de CBT indicam contaminação do leite por bactérias, as bactérias estão em todos os lugares, no ar, na poeira, nos utensílios, nos próprios animais, nos ordenhadores. Para ter o leite com baixos índices de CBT é preciso trabalhar com uma higiene rigorosa e refrigerar imediatamente o leite após a ordenha (DÜRR, 2005). Estes resultados implicam em matéria MATTAR et al. prima heterogênea e baixa qualidade, e mudanças as necessárias para produzir leite de melhor qualidade são: manter o rebanho saudável, utensílios e instalações sempre limpos e o ordenhador, mão de obra especializada, armazenar o leite de maneira correta e na temperatura ideal. Fagundes et al. (2006) destacam que a racionalização da coleta e do transporte do leite até a indústria beneficia toda a cadeia do leite e que a refrigeração do leite, imediatamente após a ordenha, visa diminuir a multiplicação de bactérias. Tabela 5 - Contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT) com valores acima dos regulamentados para a Região Sudeste pela IN51 e IN62, Barretos-SP, 2010. ¹referente à quantidade de amostras acima do limite regulamentado. *Instrução Normativa n°62. Com isso, neste trabalho observou-se que as variáveis produtivas demonstraram que por se tratar de pequenas propriedades com poucos animais no rebanho, provavelmente com baixa infraestrutura, sistemas de criação ineficientes e animais com genética inferior, resultou em baixa produção. Em relação às variáveis sociais observou-se que são propriedades que não tem a pecuária leiteira como única fonte de renda por ser uma atividade onerosa. Por isso, o uso da mão de obra dessa atividade é a familiar para não haver mais gasto com a produção. Foi observado, ainda, que se tratam de pequenas propriedades não tecnificadas e com mão de obra predominantemente não especializada. 74 Ao serem analisadas as variáveis técnicas podem-se considerar as propriedades como sendo pequenas, por se fazer ordenha manual, pela ordenha ser feita uma vez ao dia e por não ter profissional qualificado para orientar esses produtores, fatores esses que interferem na mudança e, consequentemente, na qualidade do leite. As variáveis de qualidade mostraram que algumas propriedades não possuíam higienização adequada, consequentemente os valores de CCS e CBT foram altos na matéria prima em estudo, não estando dentro das normas estabelecidas pela Instrução Normativa n° 51, vigente no período do estudo, e que ainda não estariam adequadas, caso os dados encontrados fossem comparados à IN 62, Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB vigente atualmente. Por fim, ressalta-se a importância que a IN51 representou para a mudança da qualidade do leite no Brasil e que produtores que estiverem fora das normas estabelecidas pela IN62 terão o leite descartado, pois o produto terá menos tempo de prateleira e de fácil deterioração. Dessa forma, as INs 51 e 62 vieram para incentivar o produtor a produzir com qualidade, fomentando o pagamento do leite por qualidade e não por quantidade produzida, pois geralmente os valores de CBT encontrados acima do regulamentado evidencia a falta de incentivo dos produtores para produzir um leite com qualidade, não se preocupando com o manejo de ordenha. Conclusão O presente trabalho demonstrou que a prática do levantamento das variáveis sociais, técnicas, produtivas e de qualidade do leite possibilitou observar a variação dessas informações entre as propriedades mesmo estando próximas, evidenciando a heterogeneidade dos sistemas de produção de leite, na maioria, de atividade secundária da pecuária leiteira. Com isso, espera-se que este estudo forneça subsídios para que técnicos e produtores promovam a melhoria na produção e na qualidade do leite não somente na região de Barretos-SP, mas também em outras regiões do Brasil. Referências ANUALPEC. Anuário da pecuária brasileira. 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Professor Frade Monte, 389. CEP 14873-226. Barretos, SP. 1 RESUMO O presente experimento foi conduzido na área experimental do Centro Universitário Moura Lacerda, no município de Ribeirão Preto, SP com o objetivo de identificar os visitantes florais da Crotalaria juncea, bem como, o tipo de coleta desses visitantes e seu comportamento forrageiro. Após o início do florescimento, a cultura ficou em observação e foram avaliadas as espécies de insetos visitantes, que foram identificados em comparação à coleção entomológica da Instituição. A frequência das visitações dos insetos, no decorrer do dia, foi obtida por meio de contagem, a cada 50 minutos, das 7h00 às 17h00, 15 minutos em cada horário, por meio de observação visual, percorrendo o local do experimento, com três repetições em dias distintos. Foram observados apenas insetos visitando as flores, com predominância de abelhas (Hymenoptera) (83,57%), sendo a mais frequente a espécie Apis mellifera africanizada (54,71%), seguida pelas abelhas melíponas (17,75%) e duas espécies de abelhas Xylocopa (11,11%). Com relação aos outros insetos foram observados: insetos da ordem Lepidoptera (6,88%), Hemiptera (5,55%), Coleoptera (1,45%), Orthoptera (0,98%), Vespidae (0,85%) e Diptera (0,72%). As abelhas africanizadas coletaram apenas pólen nas flores da crotalária, aumentando sua frequência até às 13h00, diminuindo em seguida, até o final da tarde. As abelhas Xylocopa spp. visitaram as flores durante o dia todo, sem grandes oscilações na sua frequência. As abelhas melíponas iniciaram a visita a partir das 9h00, aumentando sua frequência durante o dia, com pico entre 16h00 e 17h00. As flores da crotalária foram visitadas principalmente por abelhas, sendo considerada boa fonte de alimento para elas. Palavras chave: Abelhas, crotalária, insetos, interação planta-polinizador, polinização ABSTRACT The present experiment was carried out to evaluate the floral biology of crotalaria (Crotalaria juncea), on Ribeirão Preto, SP, Brazil, in February 2012 and the insects involved in pollination, their behavior in the flower (frequency and constancy). The most frequent insects were recorded daily (counted during fifteen minutes, every hour) from 7:00 a.m. to 5:00 p.m. with three replications. It was also observed the insect forage behavior and constancy on the flower. The insect visitors were Africanized honey-bee Apis mellifera (83.57%), native bees (17.75%) and two species of carpenter bees Xylocopa (11.11%), Lepidoptera (6.88%), Hemiptera (5.55%), Coleoptera (1.45%), Orthoptera (0.98%), Vespidae (0.85%) and Diptera (0.72%). Africanized honey-bees collected only pollen in crotalaria flowers, increasing its frequency until 1:00 p.m., and then decrease until the late afternoon. The carpenter bee species visited the flowers throughout the day, without major fluctuations in its frequency. Meliponidae started visit 9:00 a.m., increasing its frequency during the day, peaking 4:00 p.m. and 5:00 p.m. The crotalaria flowers were visited primarily by bees, and it is considered a good food source for them. Keywords: Apis mellifera, insects, crotalaria, pollination. Autor para correspondência: Darclet Teresinha Malerbo-Souza e-mail: [email protected]. Telefone: (16) 997020881 Recebido em: 03/04/2014 Aceito para publicação em: 25/02/2014 Ciência e Cultura 79 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) Introdução Existe uma preocupação mundial com a preservação de polinizadores e estudos sobre a biologia da polinização podem contribuir para o conhecimento da biodiversidade, bem como para o entendimento da evolução das interações planta-polinizador. Neste caso, os animais tendem a aperfeiçoar a coleta de recursos como pólen e néctar, enquanto que as plantas tendem a otimizar a transferência e recepção do pólen, buscando o menor custo energético possível. Sendo a morfologia floral um dos aspectos mais importantes nas interações planta-polinizador, pois determina a acessibilidade ao néctar, a eficiência de deposição de pólen no corpo do polinizador e a eficiência de aquisição de pólen pelo estigma (PELLMYR, 2002). A família Fabaceae é a terceira maior entre as angiospermas e a mais importante economicamente. No Brasil, esta família está representada por cerca de 190 gêneros e 2.100 espécies, que possuem papel de destaque como elemento florístico em diversas formações vegetais, principalmente daquelas pertencentes ao domínio atlântico, em que possuem importância por sua riqueza e abundância (JUDD et al., 2009). Diante da grande riqueza e importância ecológica dessa família no Brasil, ainda existem poucos estudos sobre biologia da polinização e da reprodução sobre espécies de Fabaceae (CARVALHO; OLIVEIRA, 2003, WESTERKAMP, 2004, AGOSTINI et al., 2006, NOGUEIRA; ARRUDA, 2006, PRATA DE ASSIS PIRES; FREITAS, 2008). Dentre as espécies da família Fabaceae, a Crotalaria é um gênero com cerca de 690 espécies e que inclui ervas perenes, arbustos e subarbustos, principalmente, nos trópicos do velho mundo, havendo 59 espécies endêmicas 80 MALERBO-SOUZA e outras 15 introduzidas no novo mundo e cerca de 35 espécies na América do Sul, principalmente no Brasil (VAN WYK, 2005). As poucas informações sobre biologia da polinização e reprodução em espécies de Crotalaria correspondem a C. retusa (JACOBI, 2005), C. micans, C. stipularia (ETCHEVERRY et al., 2003) e C. juncea (NOGUEIRA-COUTO et al., 1992) indicaram que estas espécies foram polinizadas por abelhas, mas são auto compatíveis e pode ocorrer autopolinização espontânea. A crotalária (C. juncea) tem sido amplamente utilizada como adubo verde e suas fibras empregadas na manufatura de corda, barbante, sola de sapato, papel para cigarro e tecidos de papel. As necessidades de polinização da crotalária não são bem entendidas e carecem de estudos, existindo considerações de que a crotalária é autopolinizada. Quando essas flores não são visitadas por insetos, as elongações contínuas dos filamentos pressionam as massas de pólen dentro do estigma, possibilitando a autopolinização. No entanto, a fertilização só ocorre quando a superfície estigmática é pressionada pelo corpo do um inseto, o que explica o que tem sido observado em algumas regiões da Índia, onde a produção de sementes é baixa, possivelmente devido à ausência de polinizadores (NOGUEIRA-COUTO et al., 1992). Ainda de acordo com esses autores, a crotalária tem apresentado em algumas regiões quedas na produção de sementes devido à escassez de agentes polinizadores. Para que ocorra a polinização dessa planta é necessário que a quilha seja pressionada e devido a isso, as abelhas de maior porte são polinizadores mais eficientes. Devido a falta de informações atuais Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB sobre os polinizadores da crotalária, esse experimento foi realizado com os objetivos de identificar os visitantes florais da Crotalaria juncea, bem como, o tipo de coleta desses visitantes e seu comportamento forrageiro, em cultura instalada em Ribeirão Preto, SP. Material e métodos O presente experimento foi conduzido na área experimental do Centro Universitário Moura Lacerda (Campus), no município de Ribeirão Preto, SP (Figura 1). A altitude é de 620 metros, com as seguintes coordenadas geográficas: 21°10’04"de latitude sul e 47°46’23" de longitude oeste (W), com clima subtropical temperado, temperatura média anual ao redor de 21°C e precipitação pluviométrica anual média de 1.500 mm. v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 A cultura em estudo foi instalada em fevereiro de 2012 e ficou em observação durante todo o período de florescimento, que ocorreu em abril de 2012 (Figura 2). A frequência das visitações dos insetos, bem como, o tipo de coleta efetuado nas flores (néctar e/ou pólen), no decorrer do dia, foi obtido por meio de contagem, nos primeiros 15 minutos de cada horário (7h00 às 7h15, 8h00 às 8h15, e assim por diante até às 17h00), com três repetições (três dias distintos). Essas contagens foram obtidas por observação visual, percorrendo, aleatoriamente, o local do experimento, com três repetições, em dias distintos, anotando-se os insetos presentes nas flores e o que eles estavam coletando (néctar ou pólen). Figura 1 - Vista área do campus do Centro Universitário Moura Lacerda, com detalhe para a área experimental - seta branca e onde está instalado o apiário do campus - seta cinza (Fonte: Google Earth). Ciência e Cultura 81 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) MALERBO-SOUZA Figura 2 - Visão geral da área experimental. Além disso, o comportamento forrageiro de cada espécie de inseto foi avaliado por observações visuais, no decorrer do dia, durante todo o período experimental. O índice de densidade relativa (IDR) desses insetos foi obtido por meio da fórmula: IDR = (P x 100)/N, onde P é o número de coletas contendo a espécie estudada e N é o número total de coletas efetuadas. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado e todos os dados foram analisados estatisticamente utilizando-se o programa ASSISTAT. Para a comparação de médias utilizou-se o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para analisar a frequência de visitação dos insetos às flores, no decorrer do dia, utilizou-se análise de regressão por polinômios ortogonais, obtendo-se assim equações adequadas aos padrões observados, nas condições do experimento. Resultado e discussão Foram observados apenas insetos utilizando as flores da crotalária como recurso alimentar, sendo que várias ordens foram observadas, apresentando superioridade da ordem Hymenoptera (Tabela 1). Tabela 1 - Insetos de diferentes ordens que visitaram as flores da crotalária (Crotalaria juncea), em Ribeirão Preto, SP. 82 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Dentre a ordem Hymenoptera, as abelhas Apis mellifera africanizadas foram significativamente superiores (54,71% dos insetos observados), comparadas às abelhas melíponas (17,75%) e às abelhas Xylocopa frontalis e X. griscenses (11,11%) (Figura 3), discordando de Nogueira-Couto et al. (1992) que relataram que as abelhas africanizadas representaram apenas 3,5% dos insetos observados, com a predominância de abelhas do gênero Xylocopa e a presença de abelhas Trigona, entretanto, esse experimento foi realizado há mais de 20 anos, tendo ocorrido mudanças na população dessas abelhas, em especial, diminuição das espécies de abelhas nativas. Além disso, como já foi relatado, havia um apiário próximo à área experimental. Em Jaboticabal, SP, Nogueira-Couto et al. (1992) relataram que os visitantes florais da crotalária, foram nove espécies de abelhas: Xylocopa frontalis, Megachile orba, X. griscenses, Megascirtetica mephistophelica, M. friesei, Tetragonisca angustula, Trigona spinipes, Pseudaugochloropsis gramínea e Apis mellifera. Dessas visitas, a frequência das espécies do gênero Trigona representaram 2,60%, A. mellifera, 3,5% e 93,9% das demais sete espécies. Dentre essas sete espécies, os autores relataram 49,7% de abelhas X. frontalis, 19,1% de X. griscenses, 17,6% de M. orba e 13,6% de M. mephistophelica. Nogueira-Couto et al. (1992) também observaram, a mais de 20 anos atrás, que as abelhas T. spinipes apresentaram comportamento de perfurar a quilha e atrás da flor para coleta de pólen e néctar, respectivamente. As abelhas A. mellifera se aproveitavam das aberturas feitas pela Trigona para também realizarem coletas. Esse comportamento possivelmente se deve à dificuldade dessas abelhas em pressionarem a quilha para ter acesso ao néctar e ao pólen e seria uma estratégia desenvolvida para Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 obtenção de alimento em flores adequadas para polinizadores de grande porte. Brito et al. (2010) também relataram que espécies de Trigona que possuem língua com comprimento inferior a 3,0 mm, obtiveram néctar apenas furando a base do cálice. Estas espécies visitaram as flores em busca de pólen, porém, devido ao pequeno tamanho corporal e ao fato de manipularem as anteras individualmente, contataram o estigma apenas esporadicamente. Abelhas Augochlora sp. possuem língua <3,0 mm e visitaram as flores somente em busca de pólen, raramente contatando o estigma. No presente experimento, não foram observadas abelhas Trigona, e nenhuma outra espécie de abelha apresentou o comportamento de perfurar a base da flor para coleta de néctar, sendo que as abelhas africanizadas coletaram apenas pólen nas flores da crotalária. As abelhas africanizadas coletaram apenas pólen nas flores da crotalária, aumentando sua frequência até às 13h00, diminuindo em seguida, até o final da tarde. As abelhas Xylocopa spp. visitaram as flores durante o dia todo, sem grandes oscilações na sua frequência. As abelhas melíponas iniciaram a visita a partir das 9h00, aumentando sua frequência durante o dia, com pico entre 16h00 e 17h00 (Figuras 4 e 5). Entretanto, apesar de muito frequente nas flores, as abelhas africanizadas não possuem tamanho adequado para realizar a polinização nessa espécie vegetal, como as abelhas Xylocopa, concordando com Nogueira-Couto et al. (1992). As abelhas Xylocopa spp. possuem comprimento da língua acima de 4,0 mm, dimensão apropriada para acessar o néctar na câmara nectarífera através de visitas legítimas e comprimento do corpo acima de 8,5 mm, tamanho adequado para contatar as estruturas reprodutivas das flores na coleta do néctar. 83 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) MALERBO-SOUZA Figura 3 - Porcentagem dos insetos visitantes das flores da crotalária (Crotalaria juncea). Para acessar o néctar, essas abelhas pousavam sobre as alas e peças da quilha e em seguida inseriram a cabeça na base do estandarte, deslocando-o e tornando acessível a entrada pela qual foi inserida a língua para alcançar o néctar (Figuras 6 e 7). Durante esta atividade, as alas e as peças da quilha foram deslocadas pelas pernas, liberando as anteras e o estigma, ocasião em que contataram a região ventral do tórax, concordando com Brito et al. (2010). Figura 4 - Número médio de abelhas visitando as flores da crotalária (Crotalaria juncea), no decorrer do dia. 84 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Figura 5 - Abelha Apis mellifera africanizada coletando pólen na flor da crotalária (Crotalaria juncea). Figura 6 - Abelha Xylocopa frontalis visitando a flor da crotalária (Crotalaria juncea) e pressionado a quilha, para coleta de néctar. Ciência e Cultura 85 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) MALERBO-SOUZA Figura 7 - Abelha Xylocopa griscenses visitando a flor da crotalária (Crotalaria juncea) e pressionando a quilha para coleta de néctar. Outras espécies de insetos foram observadas na cultura, entretanto, foram visitas ocasionais. Pelo comportamento das espécies de abelhas que visitaram as flores, apenas abelhas de porte maior, como as Xylocopa, foram adaptadas ao transporte do pólen. A abelha africanizada apesar de muito frequente, não tocava os órgãos reprodutivos da flor em suas visitas para coleta de pólen, não sendo considerados polinizadores efetivos da crotalária. Entretanto, o florescimento dessa espécie ocorreu em abril, na área experimental, sendo a flor da crotalária considerada 86 importante fonte de pólen em um período que precede o inverno. No inverno, tradicionalmente, ocorre menos flores disponíveis para fornecimento de néctar e pólen para as abelhas e o pólen é o alimento primordial das crias das abelhas, sendo essencial para o bom desenvolvimento da colônia. Com relação ao Índice de Densidade Relativa (IDR), observou-se que as três espécies de abelhas observadas foram constantes nas flores: A. mellifera (88,23%), Xylocopa spp. (100%) e meliponíneos (76,47%). Esse índice demonstra que a flores da crotalária foram um importante recurso Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB alimentar para as espécies de abelhas citadas, sendo para as Xylocopa spp. fonte de néctar e para outras espécies, fonte de pólen. Nesse experimento, observou-se que as espécies de abelhas de maior porte apresentaram o comportamento de movimentar a quilha, atuando como polinizadores efetivos dessa espécie vegetal. Brito et al. (2010) observaram que C. vitelina é uma espécie auto compatível, mas dependem de polinizadores para formação de frutos e sementes. Em condições naturais, a frutificação em C. vitellina foi 42%. Xylocopa brasilianorum, Bombus morio, Centris labrosa e Megachile spp. foram os polinizadores dessa espécie vegetal. Estas abelhas possuem comprimento da língua compatível com as dimensões das câmaras nectaríferas, acessando o néctar por visitas. Espécies de abelhas Trigona e Augochlora não têm acesso ao néctar em visitas, pois não possuem comprimento da língua compatível com as dimensões das câmaras nectaríferas. Portanto, essas dimensões das câmaras nectaríferas de C. vitellina funcionam como barreira seletiva às espécies de abelhas com língua curta, assegurando maior oferta de néctar aos polinizadores que são comuns na restinga e atuam como vetores de pólen de diversas espécies neste ecossistema. Portanto, a manutenção destas leguminosas é importante para a diversidade da fauna de abelhas e essencial para a comunidade de plantas. A ausência de frutos por autopolinização espontânea em crotalária provavelmente está relacionada ao não rompimento da cutícula estigmática, indicando que essas espécies dependem de polinizadores para a formação de frutos. Westerkamp (1997) verificou que flores do tipo quilha, como as flores da crotalária, previnem que as abelhas coletem pólen ativamente durante a visita, e esta obtenção indireta de pólen garante que mais Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 grãos sejam usados na polinização. Câmaras nectaríferas evoluíram por dois motivos: reduzir os efeitos negativos de parasitas ou polinizadores ineficientes que diminuem o sucesso reprodutivo; ou aumentar a eficácia dos polinizadores criando um caminho físico até o néctar e que garante a polinização. Esse aspecto é aplicável às câmaras das espécies estudadas, pois sua estrutura garante o melhor posicionamento dos polinizadores para que a transferência de pólen ocorra de forma eficiente. Entretanto, a atividade pilhadora das abelhas de línguas curtas pode interferir e diminuir as visitas dos polinizadores, cuja consequência é a redução na quantidade de frutos produzidos (PELLMYR, 2002). Conclusão As flores da crotalária são visitadas por diversas ordens de insetos, sendo os himenópteros mais frequentes. Dentre a ordem Hymenoptera, as abelhas Apis mellifera africanizadas foram as mais frequentes, coletando apenas pólen. Entretanto, as abelhas Xylocopa frontalis e X. griscenses foram consideradas as polinizadoras efetivas dessas flores. Todas essas espécies foram constantes nas flores da crotalária. Referências AGOSTINI, K., SAZIMA, M., SAZIMA, I. Bird pollination of explosive flowers while foraging for nectar and caterpillars. Biotropica, v. 38, n. 5, p. 674-678, 2006. BRITO, V.L.G., PINHEIRO, M. SAZIMA, M. Sophora tomentosa e Crotalaria vitellina (Fabaceae): biologia reprodutiva e interações com abelhas na restinga de Ubatuba, São Paulo. Biota Neotropica, v. 10, n. 1, p. 185-192, 2010 87 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) CARVALHO, D.A., OLIVEIRA, P.E. Biologia reprodutiva e polinização de Senna sylvestris (Vell.) 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Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia A proposal for socio-technical activity for engineering education Jurandyr C. N. LACERDA NETO1, Vágner Ricardo A. PEREIRA1, Rodrigo BORGES POLASTRINI2, Gilberto BATISTA POLASTRINI2 Professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB). Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226- Barretos - SP, telefone: (17) 3321-6411 2 Aluno do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB).Avenida Professor Roberto Frade Monte nº 389 - CEP: 14.783-226- Barretos - SP, telefone: (17) 3321-6411 1 RESUMO O modelo de desenvolvimento da sociedade atual observam-se contradições entre a necessidade de desenvolver e, ao mesmo tempo, preservar os recursos que sustentam o atual modelo de desenvolvimento. Tal problema nos remete a mudanças na formação de profissionais da área científica e tecnológica que proporcione um entendimento crítico do desenvolvimento tecnológico e de suas decorrências. Quando buscamos caminhos para se realizar estes objetivos em sala de aula, encontramos uma experiência interessante no estudo de controvérsias sócio técnicas, baseada na abordagem teórica e metodológica conhecida como a teoria ator rede. Neste artigo, procura-se propor um conjunto de atividades com controvérsia sócio técnica que possa contribuir na formação de Engenheiros mais críticos sobre a nossa realidade. Palavras chave: Ator rede, CTS, ensino de engenharia ABSTRACT The development model of modern society has brought many problems to the lives of many people on the planet. Contradictions are established between the need to develop and at the same time preserving the resources that sustain the current development model. This problem leads us to changes in the training of professionals in science and technology in order to provide a critical understanding of technological development and its consequences. When we seek ways to accomplish these goals in the classroom, we found an interesting experience in the study of sociotechnical controversies, based on theoretical and methodological approach known as actor network theory. In this paper, we propose a set of activities with sociotechnical controversy that may contribute to the formation of Engineers more critical about our reality. Keywords: Actor network, STS, engineering education Autor para correspondência: Jurandyr C. N. Lacerda Neto E-mail: [email protected] Telefone: (17) 3321 6411 Recebido em: 01/08/2014 Aceito para publicação em: 07/07/2014 Ciência e Cultura 89 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia Introdução A discussão sobre a crise socioambiental tornou-se imprescindível, diante das inegáveis evidências de que a situação do mundo requisita ações emergenciais, não só pela vulnerabilidade ante os impactos ambientais crescentes, mas também pela exclusão social. Os caminhos percorridos pelos seres humanos nas últimas décadas mostram que, ao mesmo tempo em que o avanço do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico contribuiu de forma significativa para a melhoria das condições e da elevação da expectativa de vida, contraditoriamente gerou, também, crescentes problemas e riscos que acabam por comprometer o bem estar, conseguido às custas dos mesmos avanços (CARLETTO, 2009). No eixo das contradições que se estabelecem entre a necessidade de desenvolver e, ao mesmo tempo, preservar os recursos que sustentam o atual modelo de desenvolvimento, encontram-se condicionantes culturais, sociais, políticos e econômicos, que vêm direcionando os rumos da ciência, da tecnologia e tratando a problemática ambiental de forma insuficiente (CARLETTO, 2009). Baseado nos informes Limites do Crescimento (1972), Sanmartín (1993) explica que a economia industrial cresce, teoricamente, “exponencialmente”, e isso significa que entidades a ela relacionadas podem crescer do mesmo modo. Ou seja, o crescimento exponencial do capital industrial traz consigo o crescimento exponencial de recursos energéticos e materiais usados e da contaminação causada. Assim, o crescimento exponencial possui um perfil que faz com que seu impacto seja dificilmente percebido, a não ser quando já resta pouco tempo para contêlo. O crescimento exponencial, somado à falta 90 LACERDA NETO et al. de atenção, pode propiciar que se siga em frente inadvertidamente, sem que se percebam as graves consequências que pode acarretar. Isso, em parte, justifica a inoperância em se tomar ações corretivas e preventivas para reverter o processo de degradação ambiental e humana. É assim que os crescentes conflitos sociais e as repercussões socioambientais se refletem na crise ambiental instalada e requisitam maior compreensão sobre a relação mútua entre ciência, tecnologia e sociedade, além da necessidade de gestionar de forma mais eficaz o desenvolvimento de novos produtos, sistemas ou serviços. Os problemas ambientais são mais sociopolíticos do que puramente técnico, científicos, o que significa que as soluções não podem basear-se exclusivamente em mudanças tecnológicas ou procedimentos científicos. As respostas aos problemas estabelecidos pelo desenvolvimento tecnológico deverão passar pela forma com que se desenvolve a tecnologia (CARLETTO, 2009). O mito da neutralidade da ciência é transferido em parte para a engenharia, no momento em que a formação do engenheiro o induz a acreditar que haja e que ele possa prover uma solução puramente técnica para a construção de um artefato (bem ou serviço) que lhe seja solicitado. Assim, ensina-se aos estudantes de egenharia, explícita ou implicitamente, que ao profissional cabe cuidar da parte “técnica” do artefato tecnológico. Estabelece-se uma divisão entre o “técnico” e o “social” ou “político” e cabe ao engenheiro tratar daquela parte que se pretende, independente das condições sociais locais e que, por isso, como que paira acima, ou, pelo menos, separada delas. No entanto, de modo geral, qualquer projeto de engenharia envolve tomar decisões. E qualquer decisão privilegia uns e desfavorece outros. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Tornou-se necessário imprimir, na educação em engenharia, conhecimento técnico e competências que estimulem o processo de inovação, mas com o entendimento da ciência e da tecnologia como fenômenos humanos produzidos em um contexto social. Uma vez que engenheiros e tecnólogos serão responsáveis pela prática do desenho e execução de projetos técnicos, devemos educá-los para que sejam conscientes das práticas e valores “não técnicos” que se incorporam e transmitem em seu exercício profissional, assim como estarem preparados para reconhecer os riscos e as consequências das aplicações da tecnologia. Apesar disso, as práticas em engenharia normalmente desenvolvem-se no sentido de resolver problemas e desenvolver produtos que se materializem em soluções para necessidades criadas numa perspectiva técnica e mercadológica com forte apelo ao consumo massivo. Na opinião de Acevedo (2001), essa realidade resulta do enfoque destinado, preferentemente, a formar tecnicamente para a indústria. No entanto, em função dos avanços da mudança climática global e das pressões sociais a favor da equidade social, os cenários que se desenham estão requisitando um modelo de ensino menos reducionista, que proporcione um entendimento crítico do desenvolvimento tecnológico e de suas decorrências. De acordo com Linsingen (2007), os problemas que envolvem as interações da ciência e da tecnologia com a sociedade são bastante significativos para as reflexões pedagógicas da educação científica e tecnológica, na medida em que possibilita a emersão de questões relacionadas às interações dos campos disciplinares da tecnociência com o seu entorno sociocultural, notadamente ausentes na formação profissional, Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 sendo conveniente que as instituições universitárias se atenham a considerar seriamente a inclusão da perspectiva Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), em todas as áreas de formação profissional, especialmente as técnicas. O questionamento sobre quais aspectos do conhecimento da tecnologia devem ser contemplados na Educação em Engenharia remete a Fourez (2003), quando sugere um enfoque que dê condições aos alunos de analisar os efeitos organizacionais de uma tecnologia e isso implica considerações sociais, econômicas e culturais que vão muito além de uma aplicação das ciências. Segundo o autor, é a compreensão da implicação do social e, acrescente-se também, do ambiental na construção das tecnologias que possibilita um estudo crítico das mesmas. Para Sousa e Gomes (2011), o atual estágio de desenvolvimento tecnológico afetou a atuação profissional dos engenheiros, que deixaram de possuir um saber amplo e passaram a dominar apenas parcelas dos processos produtivos. Essa mudança exige um aperfeiçoamento humanístico para torná-los integradores de saberes, pois eles já não detêm um saber único capaz de projetar os complexos equipamentos hoje existentes. No entanto, a mudança na formação profissional não se resume em fazer do engenheiro apenas o integrador de soluções, mas torná-lo capaz de compreender as demandas da sociedade e integrar soluções que estejam de acordo com valores humanisticamente elevados. López Cerezo e Valenti (2005) indicam que o próprio processo ensinoaprendizagem em educação tecnológica deve realizar mudanças metodológicas, didáticas e atitudinais de forma que a participação e a inovação sejam levadas à sala de aula. O objetivo é estimular no educando um sentido 91 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia crítico que, sobre a base de um conhecimento sólido, motive-o e o capacite para implicar-se ativamente como cidadão e como profissional nos assuntos relacionados com a tecnologia. Daí emerge o campo de estudo CTS, como subsídio para um entendimento mais crítico das principais questões que têm levado às implicações atuais da ciência e da tecnologia. Cabe lembrar que, dentre os objetivos da educação científica e tecnológica em CTS, encontra-se a contribuição para desmistificar a ciência e a tecnologia, ao tratar de suas relações mútuas com a sociedade e suas inovações tecnológicas (ACEVEDO, 2007); para evidenciar o papel das decisões humanas na gestão da tecnologia e sobre a possibilidade de influir no desenvolvimento tecnológico de forma consciente (TODT, 2002). No âmbito do ensino superior, os programas CTS oferecem um grau específico ou complemento curricular tanto para estudantes da área tecnológica como para estudantes das ciências naturais. No caso das engenharias, a ideia é proporcionar uma formação humanística básica com o objetivo de desenvolver nos estudantes uma sensibilidade crítica acerca dos impactos sociais e ambientais derivados dos projetos e soluções técnico-científicas. Importa, portanto, oferecer aos futuros engenheiros condições metodológicas para realizar uma aprendizagem significativa, para que possam compreender a complexidade do ambiente, ao mesmo tempo em que avaliam a tecnologia de forma sistêmica, e assim identificar seus limites e poderes. A sociedade moderna, fortemente influenciada pelo desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia, impõe profundas transformações às atividades escolares. Essa sociedade cada vez mais informatizada e interconectada requer aprendizagens com 92 LACERDA NETO et al. maior nível de autonomia, flexibilidade e autorregulação, devendo estar presentes nos materiais instrucionais as metas educacionais que preparem os futuros cidadãos para enfrentarem as implicações sociais e éticas que o impacto tecnológico envolve e os capacite para a tomada de decisões fundamentadas e responsáveis (CABOT, 2012). A literatura cita três tipos de metodologias: 1- Enxerto CTS. Trata-se de introduzir, nas disciplinas de ciências, nos currículos, temas CTS, especialmente relacionados com aspectos que levem os estudantes a serem mais conscientes das implicações da ciência e da tecnologia. 2- Ciência e tecnologia através de CTS. Ensina-se mediante a estruturação dos conteúdos das disciplinas de cunho científico e tecnológico, a partir de CTS ou com orientação CTS. Essa estruturação pode ser levada a cabo tanto por disciplinas isoladas como através de cursos multidisciplinares, inclusive por linhas de projetos pedagógicos interdisciplinares. 3- CTS puro. Significa ensinar CTS onde o conteúdo científico passa a ter um papel subordinado. Em alguns casos, o conteúdo científico é incluído para enriquecer a explicação dos conteúdos CTS em sentido estrito; em outros, as referências aos temas científicos ou tecnológicos são apenas mencionadas, porém, não são explicadas. Como o interesse deste estudo está focado nas possibilidades das metodologias CTS abrirem espaço para a abordagem da teoria ator rede (TAR) nos cursos de engenharia, enfatiza-se a adequação do enxerto CTS, pela possibilidade de levar a reflexões mais amplas sobre os objetos e processos técnicos em sua inserção social, a partir de problemas técnico-científicos relevantes. O enxerto CTS oportuniza o estudo Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB de casos fictícios ou reais, que determinam o desenvolvimento de controvérsias CTS. Educar numa perspectiva CTS é, fundamentalmente, possibilitar uma formação para maior inserção social das pessoas no sentido de se tornarem aptas a participar dos processos de tomadas de decisão conscientes e negociadas em assuntos que envolvam ciência e tecnologia. A renovação educativa proposta por essa perspectiva pode ser favorecida por uma mudança de olhar através da qual o ensino de ciências e tecnologia deixa de ser focado em conteúdos distantes e fragmentados, baseados em conhecimentos científicos supostamente neutros e autônomos, e passa a ser focado em situações vividas pelos alunos em seus contextos cotidianos. Assim, buscase estabelecer relações de compromisso entre o conhecimento tecnocientífico e a formação para o exercício de uma cidadania responsável, visando à participação democrática, o que implica criar condições para um ensino de ciências contextualizado, social e ambientalmente referenciado e comprometido (LINSINGEN, 2007). Os conteúdos que possam ser considerados como pertencente aos estudos de CTS para o ensino técnicocientífico requerem perspectivas e metodologias inovadoras. Uma delas é baseada no estudo de controvérsias sóciotécnicas. Essa iniciativa é baseada na abordagem teórica e metodológica conhecida como TAR . Nas situações de controvérsia sóciotécnicas, temos condições privilegiadas para descobrir a fabricação das realidades científicas e tecnológicas que, uma vez estabelecidas, são consideradas fatos científicos ou o resultado lógico do desenvolvimento tecnológico. Eles são, portanto, um elemento básico no campo CTS para remover o que podem ser Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 consideradas posições positivistas, deterministas sobre o desenvolvimento científico e tecnológico (Schlierf, 2010). Nesse sentido, ressalta-se que o que se procura não é tanto uma situação de controvérsia no sentido usual da palavra, mas sim um debate que tem como objeto um conhecimento técnico ou científico que não está ainda assegurado. Eles, portanto, procuraram situações em que as incertezas sociais, políticas e morais não são reduzidas, mas amplificadas pela técnica e pela ciência . Portanto, visa a treinar estudantes para dar conta dessas incertezas, ao invés de informar ou ilustrar aspectos sociais inerentes às atividades e produtos científicos e tecnológicos. Poderíamos dizer que, em comparação com os três objetivos da educação CTS propostos por Martin Gordillo e Osório (2003) orientação nas relações entre ciência, tecnologia e sociedade (saber), como escolher entre os caminhos diferentes que são fornecidos (conduzir), e tornar-se agentes ativos nestes relacionamentos (parte) - a metodologia colocaria um objetivo adicional: aprender a apreciar as dificuldades inerentes desses três objetivos, de aprender e desenvolver habilidades para tomar essas dificuldades em conta quando se defrontar com disputas de vários tipos. O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma atividade de controvérsia sócio-técnica levando em consideração uma realidade das salas de aula dos cursos de engenharia no Brasil e que abordasse um problema da realidade atual do país. Mas para isso, antes iremos expor algumas ideias da teoria TAR. A Teoria Tar No campo dos estudos da ciência e 93 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia tecnologia (ECT), a teoria TAR, também conhecida como sociologia da translação, apresenta-se como uma alternativa às abordagens que focam somente o papel desempenhado pelos humanos ou pelos artefatos, ao analisarem as mudanças e o desenvolvimento tecnológico. Nessa concepção, as entidades adquirem seus atributos como consequência dos relacionamentos com outras entidades (LAW, 1994). Uma vez que as entidades existem em redes de relações (LAW, 1992), os atores e as redes não podem ser concebidos de maneira separada. Na visão da TAR, os elementos componentes de uma organização são efeitos gerados em múltiplas interações; não algo dado na ordem das coisas. Analisá-las por meio da TAR é uma forma de tentar compreender por quais meios um sistema difuso e complexo, composto por humanos e não-humanos, tornase uma rede (BLOOMFIELD; VURDUBAKIS, 1999). A TAR tem utilizado também as noções de móveis imutáveis e de ação à distância para discutir o processo de ordenamento. Móveis imutáveis são formas que possuem a capacidade de “fixar” o conhecimento e permitir que este seja disseminado além do seu ponto de origem (HETHERINGTON, 1997). Os móveis imutáveis tendem a surgir por meio de um longo processo de tradução das informações de interesse (e.g. posição no oceano, tamanho e formato de um território, comportamento de um vírus) em algo imutável e móvel (e.g. mapas, coordenadas espaciais, gráficos), que são os objetos que podem se transportados enquanto mantêm seu formato (LATOUR, 1987, p.227). Para Law (1986), a possibilidade de agir a distância se sustenta no alinhamento de documentos, planos, mapas 94 LACERDA NETO et al. etc. Ao analisar o processo de ordenação, a TAR desenvolveu a ideia de translação. Esse conceito refere-se “ao trabalho pelo qual os atores modificam, deslocam e transladam seus variados e contraditórios interesses” (LATOUR, 1999b, p.311), na tentativa de torná-los comuns (CALLON, 1986; CALLON; LATOUR, 1981; LAW, 1999a, p.101). De acordo com Callon (1986), a translação é composta por quatro diferentes momentos: problematização, interesse, envolvimento e a mobilização de aliados e estabelecimento de um representante de todos os atores envolvidos numa dada rede-deatores. Esta posição específica teórica e metodológica marca os objetivos educacionais de temas para o estudo de controvérsias. Atividades de sala de aula Levando em consideração os nortes teóricos apresentados, procuramos um tema de controvérsia sócio-técnica para elaborarmos uma atividade de ensino para estudantes de engenharia. Escolhemos a construção da usina de Belo-Monte como tema, por se tratar de um tema atual, controverso, com conflito de diferentes atores que estabelecem relações de cooperação ou confronto dentro de uma rede de relações. É um tema atual pois envolve o aumento da geração de energia elétrica, considerado estratégico para o desenvolvimento nacional. Por outro lado, modifica o meio ambiente em grande escala, desaloja comunidades indígenas e ribeirinhas e tem recebido fortes críticas de grupos ambientalistas, dentro e fora do Brasil. O estudo da problemática da construção da usina de Belo-Monte deve passar pelo crivo de conhecimento técnico e Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB científico. Na medida em que queremos ter um debate qualificado sobre o tema, precisamos nos aprofundar nas questões técnicas da construção de uma obra deste porte, das implicações ambientais dos impactos causados, do custo de geração da energia elétrica a ser produzida, assim como de seu transporte para os grandes centros consumidores do país. Mas também devemos levar em consideração os aspectos políticos e sociais, a briga de poder traçada por um governo que busca reconhecimento, de produtores e empresários envolvidos em ganhos diretos e indiretos na construção com membros de comunidades que historicamente sobrevivem naquela região. Se ela seria a forma mais eficiente de atender às demandas de um país em desenvolvimento, da discussão do respeito àqueles que já estão ali versus o interesse do desenvolvimento nacional, são apenas alguns aspectos de uma discussão que já ganhou alguns momentos radicais como embates físicos, ameaças e muita ação judicial. Propõe-se que os alunos levantem os elementos dessa rede e como se estabelecem os vínculos de relações entre eles. Como o conhecimento técnico e científico são transladados e modificados pelos atores em conformidade com seus interesses e na construção de seus argumentos. Para motivar os alunos a expressarem suas ideias, introduziu-se o assunto ao apresentar dois vídeos coletados na internet. Um deles, proveniente do movimento denominado “Movimento Gota d’Água, é apresentado por atores conhecidos do público de TV e se posiciona contra a construção da usina1. Após foi exibido um vídeo, também obtido na internet, contra-argumentando o vídeo anterior e defendendo a construção da usina2. A ideia desses vídeos era introduzir o tema com sua controvérsia. Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Logo após a exibição deste vídeo, foi apresentado o seguinte problema, a ser respondido individualmente: “Com a necessidade de novas fontes para gerar energia elétrica, qual a sua opinião sobre a construção da usina de Belo Monte? Justifique com suas palavras”. A proposta é que os alunos pudessem expressar suas ideias, valores e preconceitos livremente. Concordamos com Zabala (2002) quando afirma que todo processo educativo deve começar com as concepções que os alunos já possuem sobre o assunto, pois somente notando as limitações de suas próprias ideias os alunos se engajam num verdadeiro processo de aprendizado. Mostrar as limitações de um argumento é uma tarefa complicada, principalmente quando se trata de temas controversos e que envolvem valores e ideologias. Não raras vezes, as concepções tendem a ser resistentes a mudanças e o assunto ganha componentes emocionais que impedem o avanço da discussão e do aprendizado. Neste momento, deve ser evitada a manifestação do professor, pois este, tendo a posição de autoridade dentro da sala de aula, tende a encerrar as manifestações por parte dos alunos, sem que nenhuma modificação nas pré-concepções ou mesmo um aprofundamento do tema. Pediu-se, então, para que os alunos se reunissem em grupo e procurassem um consenso entre suas respostas. A ideia é que, discutindo entre os pares, os mesmos se sintam mais livres para se expressarem. É importante notar que o debate que se busca não visa a encerrar o assunto, muito menos induzir uma resposta. Mas, antes disso, procurar, através do debate, a necessidade de argumentar e ouvir outros pontos de vista, os alunos percebam a 95 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia superficialidade de suas concepções e a necessidade de aprofundamento no assunto. Seguindo a mesma linha, foi aberto o debate para toda a sala, pedindo para que os grupos mostrassem suas resposta e foi solicitado que a sala tentasse chegar a um consenso. O professor atua na discussão apenas como um mediador do debate, sem expressar a sua opinião, mas pode interrogar em alguns momentos sobre determinada informação, anotar e propor perguntas para investigação. Ao final do debate, nenhum consenso mais cristalizado foi construído, mas sim um escopo de perguntas a serem respondidas para buscar um aprofundamento do assunto. Evidentemente, nem todas podem ser respondidas no tempo e espaço pedagógico do curso, então selecionar aquelas que serão pesquisadas deve ser o próximo passo do trabalho. Embora essa seleção deva ser feita por todo o grupo, assim como também as ações que serão feitas para respondê-las, neste momento, propomos que o professor tenha uma participação mais incisiva, pois a partir deste programa de investigação serão desenvolvidos os conteúdos propostos. Cremos que, neste momento, o professor já deva ter em mente algumas questões a serem desenvolvidas. Visando a aprofundar o tema, propomos algumas questões conjuntamente com as ações que os alunos devem executar para respondê-las no quadro 1. As tarefas sejam divididas entre os grupos, no qual cada um destes deve ficar responsável por tarefas de diferentes naturezas. Todo material pesquisado deve ser digitalizado e apresentado pelos grupos para o conhecimento de toda a turma. Cada grupo montou um relatório no 96 LACERDA NETO et al. qual respondeu todas as perguntas e abordar todos os aspectos envolvidos. Ao final, houve um debate, no qual um grupo defendeu a construção da usina e outro defendeu a posição contrária. Os demais alunos motaram grupos representando os diferentes atores da sociedade, relevantes ao problema. Conclusão É primordial que os cursos de engenharia orientem os alunos a abordarem questões controversas analisando fatores que vão além do técnico. Porém, a introdução pura e simples de tópicos CTS de forma expositiva pode não chegar a esse intento, pois não ensina ao aluno como abordar as controvérsias presentes em temas desse tipo. Acreditamos que a introdução de atividades de análise de temas controversos, como exposto neste artigo, possa contribuir para que os alunos adquiram habilidades de análise e pesquisa, além do conhecimento de aspectos técnicos, maior compreensão sobre a natureza da ciência e da tecnologia, do processo científico-tecnológico e de sua repercussão no meio social, político, econômico e ambiental e, ainda, como os fatores externos podem influenciar nas decisões sobre o desenvolvimento científico e tecnológico. Neste momento, terminamos a análise de um projeto piloto que se mostrou bem sucedido em promover essa discussão numa turma de segundo ano de engenharia de uma instituição privada do interior do estado de São Paulo. Após a conclusão dessa etapa, pretendemos aplicar novamente as atividades, para analisar os dados com maior nível de detalhamento. Em breve, publicaremos os resultados deste trabalho. Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Quadro 1 - Relação entre questões e ações Ciência e Cultura 97 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia Referências ACEVEDO DÍAZ, J. A. Cambiando la práctica docente en la enseñanza de las ciencias a través de CTS. Disponível em: <http:// www.oei.es/salactsi/acevedo2.htm> Acesso em 10 set. 2011. ACEVEDO, J. A. Educación tecnológica desde una perspectiva CTS: una breve revisión del tema. Sala de Lecturas CTS+I de la OEI. 2001. Disponível em: <http:// www.campusoei.org/salactsi/acevedo.htm>. Acesso em: 5 mai. 2012. LACERDA NETO et al. CALLON, M. 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Porto Alegre: Artmed, 2002. 100 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Ciência e Cultura v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 101 INSTRUÇÕES AOS AUTORES Revista Multidisciplinar de Divulgação Científica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Finalidade A Revista Ciência e Cultura é um periódico Multidisciplinar publicado semestralmente pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos UNIFEB. A Revista tem como objetivo divulgar os conhecimentos produzidos em pesquisas desenvolvidas no UNIFEB e outras Instituições, nas grandes áreas do conhecimento. Podem ser publicados Trabalhos originais, Revisão de literatura, Relato de caso e Desenvolvimento de metodologias ou técnicas, em português ou inglês. Política Editorial O conteúdo dos arquivos será previamente avaliado pelo Comitê Editorial. Caso seja necessário o manuscrito será devolvido aos autores para alterações e adequações. Após as modificações ou, no caso do manuscrito não precisar de modificações prévias, ele receberá um número de protocolo e será enviado para os revisores “ad hoc”, capacitados e especializados na área especifica do conteúdo do manuscrito. Os pareceres dos revisores serão encaminhados aos autores para eventuais correções, sem conhecimento das partes envolvidas nos processos de publicação e avaliação. Somente serão aceitos para publicação, os manuscritos com parecer final favorável. Os manuscritos podem conter, em forma de agradecimento, o nome da agência financiadora e o número do processo. Procedimento para envio do manuscrito Os autores deverão preparar os manuscritos seguindo as instruções abaixo. Os manuscritos deverão ser enviados para o E-mail: [email protected] em 02 (dois) arquivos, sendo um em formato doc ou docx, elaborado no editor de textos “in Word for Windows” e outro no formato PDF, contendo inclusive as figuras, tabelas e ilustrações. O recebimento dos arquivos originais pela secretaria da Revista não implica na obrigatoriedade da publicação do manuscrito. O conteúdo do manuscrito deverá ser inédito ou parcialmente inédito e não ter sido publicado ou enviado para publicação em outro periódico. O autor correspondente deverá enviar por Email, juntamente com os arquivos correspondentes ao manuscrito, a declaração de Autorização da publicação e cessão dos direitos autorais (em: www.unifeb.edu.br) à Revista Ciência e Cultura. Além dos arquivos supracitados, os manuscritos que relatam experimentos realizados com modelos em seres vivos devem vir acompanhados do certificado de aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição onde o autor desenvolveu a pesquisa ou da Instituição onde os indivíduos da pesquisa foram recrutados, conforme Resolução vigente do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Preparação do Manuscrito O texto, incluindo Resumo, Abstract, tabelas, figuras e referências, deverá ser redigido “in Word for Windows”, fonte “Times New Roman”, tamanho 12, espaçamento 1,5 cm, margem lateral esquerda de 3,0 cm, margem direita 2,5 cm, superior e inferior com 2,5 cm e papel tamanho A4. Parágrafos deverão conter tabulação 1,25 cm à esquerda. Todas as páginas do manuscrito deverão ser numeradas a partir da página de identificação, com total de até 20 páginas, incluindo as figuras, tabelas e referências. As linhas do manuscrito devem ser numeradas sequencialmente, sem interrupções. O manuscrito deverá indicar uma das seguintes áreas de conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, 102 Engenharias, Ciências Humanas, Ciências Sociais e Aplicadas e Linguística, Letras e Artes. Página de Identificação A página de identificação deverá conter as seguintes informações na ordem em que seguem com espaço de 01 linha entre os itens: § título em português e inglês de forma clara e concisa; § área de conhecimento do trabalho; § nome dos autores por extenso; § utilizar sobrescrito numérico para identificar a Instituição de origem dos autores; § nome das instituições com os respectivos endereços e CEP. § Iniciar a nomeação das instituições seguindo a mesma ordem estabelecida para a autoria do manuscrito; § endereço de E-mail, telefone e fax do autor correspondente. Resumo e Abstract Esses itens deverão preceder o texto principal do trabalho, digitados sem tabulação e/ou recuo, com no máximo 250 palavras e em parágrafo único. Descreva brevemente a introdução, o objetivo, material e métodos, os principais resultados e as conclusões. Palavras chave e Keywords Palavras chave e Keywords deverão ser redigidas logo após espaço de 01 linha do Resumo e o Abstract, respectivamente, em número de 3 a 5, separadas por “vírgula”, sem pontuação após a última palavra. Com exceção de nomes científicos, apenas a primeira palavra deve ser grafada com letra inicial maiúscula. Evite usar as mesmas palavras usadas no título do trabalho. Texto O texto deverá apresentar os seguintes elementos: Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão, Conclusão e Referências. Esses itens devem ser redigidos sem recuo, em negrito com inicial maiúscula (ex. Introdução). NÃO devem ser numerados. Introdução: deverá apresentar o “estado da arte” de forma concisa e ao final, as hipóteses e os objetivos a serem avaliados. Material e métodos: apresentados com detalhes suficientes para responder aos objetivos, confirmar ou refutar as hipóteses, incluindo critérios para o controle das variáveis, padronização do experimento, amostragem e delineamento estatístico. Resultados: apresentado em forma de texto, tabelas e figuras, sem duplicidade de informações entre essas formas de apresentação. O relato dos resultados deve ser conciso, seguindo a ordem descrita no item Material e métodos. Discussão: A discussão consiste em inferência de hipóteses ou sugestões com base fundamentada nos resultados obtidos no próprio manuscrito confrontados com os resultados encontrados na literatura. Limitações na metodologia deverão ser indicadas, bem como, implicações em pesquisas futuras. Conclusão: deve ser concisa e responder aos objetivos do estudo de forma clara. Agradecimento: este item é opcional e deve ser reservado para citação de instituições financiadoras e de apoio material ou de pessoas que prestaram ajuda técnica. Referências: usar o sistema Vancouver autordata. Todas as referências citadas no texto devem estar listadas por ordem alfabética no item Referências. A lista de referência deve ser digitada sem recuo e/ou tabulação Ciência e Cultura INSTRUÇÕES AOS AUTORES CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 10, nº 1, maio/2014 - ISSN 1980 - 0029 Revista Multidisciplinar de Divulgação Científica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos com espaço de 01 linha entre as citações. Referências à comunicação pessoal, trabalhos em andamento e/ou submetido à publicação, bem como a citação de trabalhos apresentados em eventos científicos no formato de resumo simples ou expandido, Dissertação e Tese devem ser evitados. A correta citação das referências no texto assim como sua inserção no item Referência é de responsabilidade dos autores do manuscrito. Dar preferência às referências mais atualizadas e relevantes ao estudo. No caso específico de artigo de Relato de Caso, o texto deverá apresentar os seguintes elementos: Introdução, Relato de Caso, Discussão, Conclusão e Referências. No item Relado de Caso deverão ser apresentados detalhes suficientes do caso para responder aos objetivos, podendo ser apresentadas tabelas e figuras, sem duplicidade de informações entre essas formas de apresentação. Citações no texto A citação de um autor deve ser feita em letras maiúsculas e minúsculas pelo sobrenome seguido do ano de publicação entre parênteses, ex.: Lie (1990). A citação de dois autores segue o mesmo padrão, porém com a conjunção “e” entre os autores, ex.: Lie e Hire (1990). Mais de dois autores a citação deve ser indicada pelo sobrenome do primeiro autor em letras minúsculas seguido da expressão “et al.” e do ano entre parênteses, ex.: Lie et al. (1990). Citações no final de frase ou parágrafos: Seguem as mesmas recomendações para as citações no texto, com exceção da citação de dois autores, que devem ser separadas por ponto e vírgula (;). Ex.: Taxas de arraçoamento incrementam a produção em resposta à entrada de nutrientes (Boyd, 2004). Densidade de estocagem inferior, mas com elevada taxa de arraçoamento, ocasiona um aumento das concentrações de nutrientes (Thakur; Lin, 2003). O crescimento das populações de fitoplâncton e de bactérias se deve ao incremento de nutrientes (Redding et al., 1997). Documentos do mesmo autor publicados no mesmo ano, acrescentar letras minúsculas após o ano, sem espaço: [...] (Redding et al., 1997a) [...] (Redding et al., 1997b) Redding et al. (1997a,b) [...] debate no campo da saúde coletiva. 2a ed. São Paulo: Hucitec; 2006. 132 p. Capítulo de livros: Autoria do capítulo. Título do Capítulo. In: Autor do livro. Título do Livro. Edição (1a ed., não precisa constar). Local: Editora; Ano. p. página inicial-final. Ex.: Rojko JL, Hardy WD Jr. Feline leukemia virus and other retroviruses. In: Sherding RG, editor. Te cat: diseases and clinical management. New York: Churchill Livingstone; 1989. p. 229-332. Trabalhos acadêmicos Autoria. Título da obra: subtítulo (se houver) [grau]. Localidade: Instituição onde foi apresentada; ano. Grau (mestrado - dissertação; tese - doutorado e livre-docência, monografia - trabalho de conclusão de curso) Ex: Pereira VAR. Variação sazonal nas concentrações de aeroalérgenos em diferentes níveis de poluição ambiental [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina; 2007. Documento em formato eletrônico Autoria. Título do trabalho. Título da publicação [Descrição física do meio eletrônico]. Ano; Volume (fascículo ou número): paginação inicial-final (se houver) [data do acesso da obra on-line]. Endereço eletrônico. Ex.: Conti MB, Marchesi MC, Rueca F, Fabi T. Tumori gastrici nel cane: osservazioni personali. Atti Soc Ital Sci Vet [CDROM]. 2004; 58. Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs. 2002;102(6) [acessado em 12 ago. 2002]. Disponível em: http:// www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm. Tabelas e Quadros Conter na parte superior legendas autoexplicativas e numeradas consecutivamente com algarismos arábicos na ordem em que são citadas no texto. As notas explicativas deverão ser colocadas abaixo da tabela. Se a tabela e o quadro forem extraídos de outros trabalhos, deverá ser mencionada a fonte de origem. Figuras Periódicos Sobrenome Prenome(s) do(s) autor(es) (abreviados). Título do artigo: subtítulo (se houver). Título do periódico., Ano de publicação, volume(número do fascículo): páginas. Ex.: Loe H, Theilade E, Jensen SB. Experimental gingivitis in man. J. Periodontol., 1965, 36: 177-187. Ilustrações como, fotografias, desenhos, gráficos e mapas são consideradas figuras, que deverão ser limitadas ao mínimo indispensável e numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem em que são citadas no texto. Deverão ser suficientemente claras para permitirem a sua reprodução em 8,2 cm (largura da coluna do texto) ou 17,2 cm (largura da página) com resolução mínima de 600dpi (ou 1000 pixels). As legendas devem ser apresentadas na parte inferior. No texto, a referência à figura, deve estar no local considerado mais apropriado pelos autores. Não serão publicadas figuras coloridas, a não ser em casos de absoluta necessidade e, a critério do Comitê Editorial com recomendação expressa dos revisores. A impressão das páginas coloridas será custeada pelos autores. Se houver figuras extraídas de outros trabalhos, deverão ser mencionadas as fontes de origem. Livros e trabalhos acadêmicos Autoria. Título: subtítulo (se houver). Edição (1a ed., não precisa constar). Local de publicação: Editora; Ano. Paginação. Ex.: Silva Júnior AG. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o Abreviaturas, Siglas e Unidades de Medidas Para unidades de medida deve seguir o Sistema Internacional (SI) de Medidas. Nomes de medicamentos e materiais registrados, bem como produtos comerciais, devem aparecer em notas de rodapé; o texto deverá conter somente nomes genéricos. Vários trabalhos de autores diferentes, indicar em ordem cronológica a citação dos autores. [...] (Redding et al., 1997; Thakur; Lin, 2003; Boyd, 2004) ou Redding et al. (1997), Thakur e Lin (2003) e Boyd (2004) observaram que [...] Ciência e Cultura 103 Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico ao paciente com necessidades especiais Ethical and legal aspects of dentistry attendence to patients with special needs Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, João Francisco de Lima FACCHINA1, Endriw Nakamichi Godoy de FIGUEIREDO1, Thais Uenoyama DEZEM1, Alex Tadeu MARTINS1, Fábio Luiz Ferreira SCANNAVINO1 Avaliação do desconforto pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia de reabertura de implantes unitários: estudo-piloto Evaluation of postopertative discomfort in patients submitted to second-stage surgery of single-tooth implants: pilot study Ana Emília Farias PONTES1, Jayne Aparecida de Mello MACHADO1, Liliane Fernanda Luz ORTEGA1, Vinícius Maximo GOMES1, Fabiano Sant’Ana dos SANTOS1, Fernando Salimon RIBEIRO1 Cuidados no atendimento odontológico a gestantes de alto risco Dental care to pregnant women at high risk Suzely Adas Saliba MOIMAZ1, Mírian Navarro SERRANO2, Cléa Adas Saliba GARBIN1, Orlando SALIBA1 Enxerto ósseo em bloco sem fixação interna com parafuso: relato de caso clínico Block bone graft without internal fixation with screw: clinical case report Daniel de Albuquerque PINHEIRO1, Fernando Salimon RIBEIRO1, Ana Emília Farias PONTES1 A figura do City Manager à luz do direito administrativo brasileiro na gestão compartilhada The City Manager from the perspective of Brazilian administrative law in shared management Pedro Henrique Costa SERRADELA1, Danilo Henrique NUNES1, Lucas de Souza LEHFELD1 Identificação e avaliação do perfil de sensibilidade de Staphylococcus aureus isolados das mãos de estudantes do curso de Farmácia do UNIFEB Identification and evaluation of the sensitivity profile of Staphylococcus aureus isolated from the hands of students of Pharmacy UNIFEB Andressa Leme de FIGUEIREDO1, Mariana Rodrigues ROZATTO1, Juliana Rico PIRES2, Deny Munari TREVISANI3 Levantamento social, técnico, produtivo e de qualidade de unidades paulistas produtoras de leite Social survey, technician, productive and quality of units São Paulo producers milk Maira MATTAR1, Amanda Nogueira MATIAS1, Carolina Bilia Chimello LUZ1, Marluci Silva de CARVALHO1, Ricardo RIVAS1, Luciano Menezes FERREIRA1 Visitantes florais na cultura da crotalária (Crotalaria juncea) Visitor flowers on crotalaria crop (Crotalaria juncea) Darclet Teresinha MALERBO-SOUZA1 Uma proposta de atividade sócio-técnica para o ensino de engenharia A proposal for socio-technical activity for engineering education Jurandyr C. N. LACERDA NETO1, Vágner Ricardo A. PEREIRA1, Rodrigo BORGES POLASTRINI2, Gilberto BATISTA POLASTRINI2 104 Ciência e Cultura