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A Revista TICs e EaD em Foco é uma publicação científica multidisciplinar quadrimestral do Núcleo de Tecnologias para Educação da UEMA – UEMANET, Brasil, Maranhão. TICs & EaD em Foco: Revista Científica em Educação a Distância Núcleo de Tecnologias para Educação da UEMA – UEMANET, Brasil, Maranhão Diretoria de Extensão- Vol. 1, Nº 1 (2015) Maranhão Diretoria de Extensão, 2015 – Quadrimestral 1. Estudo da arte sobre TICs e/ou EaD; 2. Avaliação da Aprendizagem na EaD e/ou mediadas pelas TICs; 3. Formação de Professores para a EaD e/ou para o uso das TICs; 4. Metodologias e Práticas Educativas na EaD e/ou para o uso das TICs. EXPEDIENTE Editora chefa: Profª. Dra. Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra Editores: Profª. Dra. Sannya Fernanda Nunes Rodrigues Profª. Ma. Elisa Flora Muniz Araújo Profª. Ma. Francilene Duarte Santos Revisão: Lucirene Ferreira Lopes Yamille Priscilla Castro Oliveira Diagramador: Luis Macartney Serejo dos Santos Bibliotecária: Celiana Azevedo Ferreira Projeto gráfico: Yuri Jorge Almeida da Silva Conselho Editorial: Profª. Drª. Adriana Rocha Bruno - UFJF Profª. Drª. Ana Jorge Balula Pereira Dias - Universidade de Aveiro Prof. Dr. Daniel Ribeiro Silva Mill - UFSCAR Prof. Dr. Fernando Silvio Cavalcante Pimentel - UFAL Prof. Dr. João Batista Bottentuit Junior - UFMA Prof. Dr. Luís Francisco Mendes Gabriel Pedro – Universidade de Aveiro Profª. Drª. Mara Lucia Fernandes Carneiro - UFRGS Profª. Drª. Maria Luisa Furlan Costa - UEM Profª. Drª. Maysa Brum Bueno - Unigran Prof. Dr. Ronaldo Nunes Linhares - UNIT Profª. Drª. Teresa Maria Bettencourt da Cruz - Universidade de Aveiro SUMÁRIO TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TICs: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - EaD Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento 7 CURSOS ONLINE ABERTOS E MASSIVOS (MOOCS): POSSIBILIDADES DE FORMAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA João Batista Bottentuit Junior 30 CLASSIFICAÇÃO DIDÁTICA PARA ATIVIDADES AVALIATIVAS NA PLATAFORMA MOODLE Maria de Fátima Serra Rios e Marcos Roberto Furlan 49 POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL NAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS Maria Luisa Furlan Costa, Maria Aparecida Crissi Knuppel, Klaus Schlunzen Junior e Eloisa Vidal. 61 COMPARAÇÃO DE PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE VÍDEOS EDUCACIONAIS Paulo Augusto de Freitas Cabral Junior, Mára Lúcia Fernandes Carneiro 76 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL ARTICULADA ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM CAXIAS - MA. Nadja Regina Sousa Magalhães 93 A UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL NO CONTEXTO DA UEMG: adesão para a ampliação e flexibilização do acesso ao Ensino Superior Cynthia Rúbia Braga Gontijo, Adálcio Carvalho de Fraujo, Robert Delano de Souza Correa, Enil Almeida Brecia, Ana Carolina Alves Bandeira 106 APRESENTAÇÃO A Revista TICs e EaD em Foco tem o seu primeiro número lançado em outubro de 2015. É uma revista idealizada pelo Núcleo de Tecnologias para Educação – UEMAnet, da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, apresentada em formato digital, com periodicidade quadrimestral. A UEMA no cumprimento de sua missão enquanto universidade pública e gratuita, orientada por princípios de excelência acadêmica e compromisso social, criou o Núcleo de Tecnologias para Educação na perspectiva de dar suporte tecnológico e logístico aos cursos ofertados na modalidade a distância, assim como aos presenciais. É importante ressaltar que no âmbito de suas funções o Núcleo tem se dedicado ao desenvolvimento e à produção de mídias educacionais, e nesse contexto, as pesquisas se tornam imperativas para o desenvolvimento e implementação de recursos midiáticos, notadamente, na perspectiva de ofercer suporte a uma educação mediada por tecnologias. Cabe ressaltar que a revista publica artigos em três idiomas: português, inglês e espanhol, lembrando que a aceitação e seleção dos artigos são determinadas pela politica editorial da(o) UEMA/UEMAnet e normas estabelecidas pelo grupo editorial da revista. Dessa forma, acreditamos que a Revista TICs e EaD em Foco tem muito a contribuir para ações de fomento na pesquisa e no ensino na modalidade EaD no Brasil e no exterior, abrangendo diversas trilhas, bem como no incentivo a adoção das Tecnologias de Informação e Comunicação, atualmente, consideradas de suma importância à disseminação do conhecimento. Portanto, a nossa intenção é fazer desta revista um amplo canal para o debate acadêmico, capaz de contribuir para a construção e socialização do saber científico. TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TICs: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - EaD 1 RESUMO NASCIMENTO, Franc-Lane Sousa Carvalho do UEMA __________________________ Palavras - chave: Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs. Formação. Professores. V.1, Nº 1, 2015 Neste artigo, refletiu-se sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs nos contextos formativos de professores da educação a distância e presencial, visualizando as inelutáveis mudanças a serem incorporadas nas práticas pedagógicas. Para tanto, partiu-se de uma experiência como coordenadora pedagógica de um polo de apoio presencial de Educação a Distância - EaD por 11 anos. Delimitou-se como questão norteadora: qual a importância da intermediação pedagógica das TICs na formação de professores nas modalidades de ensino presencial e a distância? Destacou-se como objetivo geral: analisar a importância da utilização pedagógica das TICs na formação e no desenvolvimento profissional de professores. Nesta pesquisa qualitativa, utilizouse como instrumento uma entrevista com 06 professores formadores e um questionário para 30 estudantes. Fundamentou-se em teóricos, como: Belloni (2003); Lévy (2003); Totterdell (2006); Nascimento (2008); Kenski (2003); García (2011); entre outros. Os resultados da pesquisa apontam para os avanços tecnológicos, digitais e a necessidade da utilização pedagógica das TICs, sendo visíveis as mudanças do perfil dos estudantes que atuam com mais autonomia. Assim, a formação, associada às TICs, favorece a aprendizagem dos envolvidos no processo, permitindo interação, em que a socialização e a construção do conhecimento é realizada de forma interventiva, sendo imprescindível o professor adquirir novos saberes. Observou-se o crescimento da oferta de cursos em EaD nas agências formadoras e maior acesso às TICs, o que exige novas práticas dos professores e estudantes, que devem assumir funções inovadoras nos ambientes de aprendizagens, pois a educação na atualidade não se restringe a um espaço físico determinado. Sugeriu-se que sejam superados os desafios da democratização das TICs na formação de professores, que estão relacionados às pessoas, tecnologias, intermediações e a percepção da importância das TICs. 7 ABSTRACT In this article, reflected on the information and communication technologies-ICT's in formative contexts of teachers distance education and face-to-face meeting, you will see the compelling changes to be incorporated in pedagogical practices. To do so, to an experience as a pedagogical coordinator information education pole the distance-Learning for 11 years. Delimited as guiding question: what is the importance of pedagogical intermediation of ICT's in the training of teachers in the teaching modes face-to-face and distance? He excelled as a general objective: to analyze the importance of using ICT's in pedagogical training and professional development of teachers. In this qualitative research, it was used as an interview with teachers 06 trainers and a questionnaire for 30 students. Was based on theorists, such as: Belloni (2003); Lévy (2003); Totterdell (2006); Nascimento (2008); Kenski (2003); García (2011); among others. The survey results point to technological advances, digital and the need of the pedagogical use of ICT's, being visible changes in the profile of the students who work with more autonomy. Thus, the formation, associated to ICT's, favors the the learning involved in the process, allowing for interaction, in which the socialization and the knowledge construction is performed in a way, being essential to the Interventional Professor acquire new knowledge. It was observed the growth of E-learning courses on offer training agencies and greater access to ICTs, which requires new practices of teachers and students, who must take innovative functions in learning environments, because the education today is not restricted to a particular physical space. It has been suggested that they are overcome the challenges of democratization of ICT's in the training of teachers, who are related to people, technology, trades and the perception of the importance of ICT's. Keywords: information and communication technologies-Ict. Formation. Teachers. V.1, Nº 1, 2015 8 1 INTRODUÇÃO No presente trabalho, discutiu-se a importância das Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs e suas contribuições na formação de professores, pois devem estar presentes não só no contexto da Educação a Distância - EaD, mas em todas as práticas educativas, em vista de sua influência no processo de construção e socialização do conhecimento. Para tanto, o professor deve ter uma formação inicial e continuada que o prepare para utilizar as TICs, independente da modalidade de ensino que irá trabalhar. Compreendeu-se uma formação que proporcione a aquisição dos saberes necessários à prática pedagógica com a utilização das variadas ferramentas tecnológicas, para que o professor possa desenvolver as atividades com os estudantes, proporcionando uma aprendizagem significativa. Assim, a integração das TICs à formação inicial é objeto de investigação deste estudo. Nesta análise, partiu-se de uma experiência como Coordenadora Pedagógica no Núcleo de Educação a Distância - NEAD da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, no Centro de Estudos Superiores de Caxias - CESC de 2001 até 2012, portanto, 11 anos. Atualmente, Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMANET, criado pela Resolução 239/2000 do Conselho Universitário - CONSUN, presta suporte tecnológico à educação presencial, é responsável pela concepção, gestão, avaliação e difusão de projetos em EaD. Atua na gestão, ensino, pesquisa e extensão, reconfigurando a prática pedagógica, pois exigiu competência profissional, para que os conhecimentos fossem consolidados através da participação em eventos, produções científicas e formação continuada a nível stricto senso. Com a experiência em coordenação e pesquisa, mediou-se as atividades que permitiram os estudantes aprenderem, incentivando o trabalho individual e coletivo através do uso das TIC’s, facilitando a aprendizagem e valorizando a articulação progressiva da teoriaprática educativa, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais significativo e contextualizado. Entende-se que a intermediação pedagógica com as TICs é importante em todos os contextos educacionais, independente da modalidade de ensino. Considerou-se que o professor deve primar pelos conhecimentos e tecnologias a serem mobilizadas, criando metodologias de ensino e adotando um planejamento flexível. A formação deve embasar-se no desenvolvimento de uma teoria em consolidação com uma prática mais interventiva. V.1, Nº 1, 2015 9 Delimitou-se como questão norteadora: qual a importância da intermediação pedagógica das TIC’s na formação de professores nas modalidades de ensino presencial e a distância? A formação de professores encontra-se diante do desafio de construir saberes, sendo importante manusear as TICs, para facilitar a aprendizagem. Destacou-se como objetivo geral: analisar a importância da utilização pedagógica das TICs na formação e no desenvolvimento profissional do professor. Para Perrenoud (2000), uma cultura tecnológica é necessária para pensar as relações entre a evolução dos instrumentos, competências intelectuais e a relação com o saber que a escola e as tecnologias não poderiam ser indiferentes a nenhum professor. Ao analisar o processo formativo inicial com a utilização adequada das TICs, verificou-se que esse vai além dos limites da interpretação das informações, sendo uma aprendizagem que deve estar presente no desenvolvimento profissional docente, consolidado nas mudanças dos paradigmas tradicionais. Nesse contexto, surgem várias formas de refletir, ensinar, aprender e analisar os fatos sociais e educacionais. 2 UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TICS EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS PRESENCIAL E A DISTÂNCIA Nos cursos de formação de professores, tanto na modalidade presencial como a distância, é necessário ofertar unidades curriculares mais centradas nas TICs, pois os computadores, celulares, tabletes e outros aparelhos fazem parte da vida dos estudantes e professores. A rapidez com a qual crianças e jovens estão obtendo acesso às tecnologias não encontra precedentes na história da inovação e difusão das TICs, que podem ser definidas como: Technology is the distinctive form of contemporary culture and it has transformed and is still transforming traditional cultural phenomenon. In particular, technology involves liberation in the real and personal sense […] in that its devices disburden us from the claims of things and people, a trait intensified by the increasing interpenetration of the real with the virtual universe. […].(TOTTERDELL, 2006, p. 10)2 2 A tecnologia é a forma distinta de cultura contemporânea que tem transformado e ainda é transformado o fenômeno cultural tradicional. Em particular, a tecnologia envolve o sentido real e pessoal [...] na medida em que seus dispositivos são distribuídos nas reivindicações de coisas e pessoas, uma característica intensificada pela crescente interpenetração do real com o universo virtual. [...]. (TOTTERDELL, 2006, p. 10, trad. livre, grifo do autor). V.1, Nº 1, 2015 10 As TICs podem se transformar em potencial para inovações educativas e favorecer na construção e socialização de conhecimentos, motivando a aprendizagem dos estudantes. Sendo fundamental uma abordagem pedagógica que associe o uso das TICs a estratégias didáticas que tornam a aprendizagem mais significativa. Para Kenski (2003), não basta o sujeito adquirir conhecimentos operacionais para usufruir, de modo interativo, as tecnologias, pois o impacto das novas tecnologias reflete-se sobre a natureza do que é ciência e conhecimento. Exige uma reflexão sobre as concepções do que é saber, ensinar e aprender. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN n. 9.394/1996 de 20 de dezembro assegura no Art. 43. “A educação superior tem por finalidade: [...]. III incentivar o trabalho de pesquisa [...] científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, [...]”. Acrescenta ainda no Art. 86. “As instituições de educação superior constituídas como universidades integrar-se-ão, [...], ao Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica”. Percebeu-se, através desta Lei, a promoção das tecnologias como intermediadoras da educação e cultura de um povo. Assim, o uso das TICs pode superar as dificuldades de aprendizagem que impedem o desenvolvimento do estudante, associando qualidade e garantindo aplicabilidade dos conteúdos, contemplando sua experiência relacionada às tecnologias. O professor deve dominar o conteúdo a ensinar e o uso das TIC’s, para acompanhar as atividades que promovam aprendizagens. Conforme Masetto (2003, p. 13), “[...] o desenvolvimento tecnológico afeta dois aspectos que são o coração da universidade: a produção e divulgação do conhecimento e a revisão das carreiras profissionais”. A revolução tecnológica sobre a produção do conhecimento insere-se também na formação de professores. Nesta perspectiva, por novas: [...] tecnologias em educação, estamos entendendo o uso da informática, do computador, da internet, do CD-ROM, da hipermídia, da multimídia, de ferramentas para educação a distância – como chats, grupos ou listas de discussão, correio eletrônico etc. – e de outros recursos de linguagens digitais de que atualmente dispomos e que podem colaborar significativamente para tornar o processo de educação mais eficiente e mais eficaz. (MASETTO, 2000, p. 152). As práticas educativas e a aprendizagem estão sendo reorganizadas pelas interações entre professores e estudantes, o que depende das mudanças inerentes às tecnologias digitais. Percebe-se o ensino e a pesquisa em interação, independente do espaço temporal dos sujeitos. Lévy (2003) ressalta que as tecnologias favorecem novas formas de acesso à informação, como a navegação hipertextual, software, exploração contextual por V.1, Nº 1, 2015 11 mapas de dados, novos estilos de raciocínio e conhecimento, uma industrialização da experiência de pensamento, que não pertence nem à dedução lógica e nem à indução a partir da experiência. A utilização das TICs nos contextos formativos presencial e a distância, o professor e estudantes devem assumir diferentes posturas, o estudante deve criar autonomia, sendo ativo em parceria com o professor, que deve ser um intelectual transformador mediando a aprendizagem. Essas funções são de fundamental importância diante da influência das TICs e da construção de novas perspectivas formativas. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica – DCNFPEBásica - 2002 em nível superior, em curso de licenciatura, [...], em seu Art. 2º: A organização curricular de cada instituição observará, além do disposto nos artigos 12 e 13 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, outras formas de orientação inerentes à formação para a atividade docente, entre as quais o preparo para: [...] VI - o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores; [...]. (BRASIL, 2002). A Lei menciona a institucionalização de uma formação docente comprometida com a teoria, prática e o uso pedagógico das TICs com os estudantes. Sendo imprescindível uma reformulação das propostas de formação, que valorize a utilização das tecnologias, independente da modalidade de ensino. São necessárias novas reflexões sobre formação e TIC’s, consolidadas em princípios que orientem e mobilizem a teoria e a prática pedagógica. É visível a importância da utilização das tecnologias, pois proporciona trocas de informações e intermediações entre professor-estudante-tecnologias. Assim, o professor deve conhecer as ferramentas tecnológicas e orientar o processo de ensino e aprendizagem, sendo importante entender que a socialização do conhecimento se torna mais eficiente ao se utilizar adequadamente as TICs. Além disso, é necessária uma formação em consonância com as TIC’s, pois os conhecimentos são reelaborados, contextualizando novos paradigmas para a formação do professor. Defende-se que as TICs sejam utilizadas tanto na modalidade de ensino presencial como a distância, pois, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura - DCNCPedagogia - 2006, que define princípios, condições de ensino e de aprendizagem, no Art. 4º: O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino V.1, Nº 1, 2015 12 Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas. [...]. III - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares. [...]. Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a: [...]; VII - relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos processos didático-pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação; [...]. (BRASIL, 2006). Segundo as DCNCPedagogia – 2006, o desenvolvimento científico e tecnológico exige construção de saberes, podendo adaptar-se a um cenário em evolução, promovendo autonomia e criatividade na obtenção e seleção das informações nos processos de aprendizagens. A intermediação pedagógica das TICs e a sua aplicação na educação deramlhe uma nova dimensão nas diversas áreas de formação inicial e continuada dos professores. Na atualidade, a formação exige aquisição de saberes e modos de socializar a informação, avaliando as metodologias de ensino nas quais professor e estudante estão em lugares diversos, sendo fundamental dominar as TICs e o sistema educativo adotado. Nesse contexto, a EaD adquire características convenientes que impõem a necessidade de aprendizagens próprias e diferenciadas por parte dos professores e estudantes em formação. Mesmo com a democratização das TICs nos contextos formativos e educacionais, há ainda uma grande parcela da sociedade que não tem acesso. Assim, a EaD possibilita o acesso às TIC’s, mudanças nas relações educacionais e na socialização do conhecimento, sendo imprescindível que os estudantes integrem as TICs ao desenvolvimento profissional docente. O estudante em formação deve adquirir novos saberes ao lidar com as tecnologias, para construir um perfil participativo e autônomo. Segundo Moran (2000), ensinar com as novas mídias será uma revolução, se possibilitar mudanças dos paradigmas convencionais do ensino que mantêm distantes professores e estudantes. E no mundo globalizado, onde o acesso à informação está associado ao poder, a EaD promove uma democratização no que se refere ao processo de obtenção do conhecimento e a construção da autonomia intelectual. 3 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TICs: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - EAD Entende-se a importância da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, na formação de professores na modalidade de ensino presencial e a distância. No entanto, nesta seção, discutir-se-á só na Educação a Distância - EaD, por conta V.1, Nº 1, 2015 13 da experiência em Coordenação Pedagógica de um polo de apoio presencial, iniciada em 2001 e concluída em 2012, isto é, 11 anos. Através da Resolução n. 239/00, o Conselho Universitário - CONSUN da UEMA cria o Núcleo de Educação a Distância para conceber, difundir e avaliar projetos e experiências inovadoras em EaD, atualmente, UEMANET. Nessa experiência, adotaram-se as TICs, no entanto, em 2001, essas eram um tanto quanto insuficientes, em vista do pouco acesso, mas já haviam sido feitos os primeiros contatos. Assim: As Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs funcionam tanto como veículo de informações, como meios de comunicação. [...]. As pessoas envolvidas com o uso das tecnologias são tão relevantes, que uma condição essencial para o sucesso na incorporação das tecnologias na prática pedagógica, é a formação do professor. Este precisa conhecer as possibilidades dos recursos sem, [...], ser um especialista, [...]. (ANDRADE; RAMOS, 2008, p. 79). Segundo as pesquisadoras, as TICs possibilitam acesso às informações e modos de comunicação e modificam a relação do aprender e ensinar. Na função de coordenação, enfrentaram-se desafios relacionados ao pouco acesso dos tutores e estudantes às TICs, tendo em vista os âmbitos das relações sócio-culturais e político-econômicas, no campo da formação de professores de uma instituição pública do interior do Maranhão. Mesmo nessas condições, a experiência favoreceu o repensar da prática, pois exigiu a construção de novos saberes, para a consolidação das produções científicas e formação continuada para melhor integrar as TICs. No Brasil, a educação a distância foi consolidada através da LDBEN n. 9.394/1996, que estabeleceu, no Art. 80. “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.” (BRASIL, 1996). No Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005, ficou estabelecida a garantia de qualidade para a EaD, o credenciamento institucional, a supervisão e a avaliação, enunciados pelo Ministério da Educação. É acrescentado ainda no Art. 1º: Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (BRASIL, 2005). Assim, em 2001, a UEMA aprovou a Resolução n. 73/1998 – CEPE/UEMA que, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso, ofereceu cursos na modalidade a V.1, Nº 1, 2015 14 distância, intitulado Programa Magistério 20013, os quais eram intermediados por fascículos, CD ROM e videoconferências, entre outros. Em 20054, foram oferecidos novos cursos, adotando a plataforma AVA Moodle e outras TICs, na formação de professores e de outros profissionais. Dessa forma, devido à necessidade de uma abordagem interativa e dinâmica, baseada nos referenciais de qualidade para cursos em EaD, foram reestruturados os Projetos Pedagógicos dos cursos, em vista dos aspectos didáticos, pedagógicos, recursos humanos e infraestrutura, de modo a oferecer uma formação com a qualidade desejada. Nessa perspectiva, em 2008, a UEMA inaugurou um novo ciclo para EaD, que se consolidou com a transformação do: NEAD em um Núcleo de Tecnologias para Educação (UemaNet). A nova concepção de Núcleo incorpora-se do esquema de representação social do nome e imagem da Universidade Estadual do Maranhão e traz consigo pelo menos duas alterações [...]. A primeira, que dá ao Núcleo o papel de articulação e não mais de concepção de projetos e experiência em Ead, cabendo então às instâncias acadêmicas dos Centros de Ensino tais proposições. E uma segunda alteração, que amplia o espectro de atuação do Núcleo para além dos âmbitos da Educação a Distância, incorporado a sua atuação toda e qualquer ação de caráter educacional, independente da sua natureza presencial, à distância ou abeto, que possa ser mediada por algum instrumento tecnológico. (SERRA, 2008, p. 102). Na atualidade, os cursos oferecidos pelo UemaNet proporcionam flexibilidade de horário e qualidade do material para a aprendizagem, mediante o uso das TICs, são planejados, reforçando a vivência teórico-prática, em vista da práxis pedagógica. Possui, assim: [...] interface moderna e conteúdo atualizado, oferecendo suporte a distância tanto para os cursos de formação profissional, técnicos, graduação e pós-graduação. Nossos docentes, em sua maioria mestres e doutores da Universidade Estadual do Maranhão, encontram-se preparados para trabalhar com as ferramentas da informação e comunicação, na perspectiva de contribuir para o aprendizado de nossos alunos, instigando o conhecimento necessário à compreensão da realidade [...]. Todos os cursos ofertados são autorizados pelo MEC. (UEMANET, 2015). 3 Segundo Santos (2008, p. 143), o Programa Magistério 2001, implantado pelo Núcleo de Educação a Distância (NEAD), da Universidade Estadual do Maranhão, com o objetivo de oportunizar a formação de docentes em vários municípios do Maranhão, preencheu uma grande lacuna na formação inicial de docentes que atuam no ensino fundamental, sobretudo, nas áreas rurais. O Programa serviu de referência para outras propostas voltadas para a continuidade dos estudos de alunos impossibilitados de ter acesso ao conhecimento sistemático que a escola, enquanto lócus de produção de saberes, tem a competência de oferecer. 4 De acordo com Silva (2008, p. 166), foi somente em 2005 que houve uma das grandes mudanças com a criação do primeiro bacharelado: o curso de Administração na modalidade a distância do projeto piloto da UAB. A UEMA, como entidade de EAD, participou desde o início das negociações do projeto político-pedagógico do curso, tendo iniciado uma turma única em julho de 2005 em uma parceria com a UNIVIMA, NEAD, Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FAPEAD), Banco do Brasil (BB) e UAB. V.1, Nº 1, 2015 15 Desse modo, a EaD, segundo Serra (2008), em 20085, se mostra como uma alternativa na luta contra os impactos da exclusão social, pois contribui para o acesso democrático ao conhecimento. De acordo com a base legal e as concepções de autores como: Belloni (2003); Lévy (2003); Kenski (2003); e da experiência em Coordenação, o estudante em EaD é visto como centro do processo educacional. Um dos paradigmas para garantir a qualidade de um curso a distância é a interatividade entre professores/tutores, estudantes e as TIC’s. A EaD, se consolidada pelo avanço das TICs, tem o sucesso associado à adequada tutoria e ao ambiente interativo de aprendizagem com o estudante. Para Nascimento (2008, p. 113), “A Educação a Distância (EAD) e a integração da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vêm contribuindo de maneira significativa na relação de construção e socialização do conhecimento entre tutor e aluno”, sendo fundamental que o uso das TICs esteja associado a uma concepção teórica que favoreça no crescimento intelectual. Enquanto na coordenação, passou-se a entender que as TICs têm desafiado a sociedade e a educação a redefinirem suas práticas formativas e pedagógicas. A formação de professores vem recebendo críticas relacionadas à sua incapacidade para promover aprendizagens capazes de responder aos desafios da sociedade do século XXI. Permanece o distanciamento entre o que os estudantes manuseiam e a capacidade do professor/tutor de usar as TICs, como recursos pedagógicos. Enquanto os estudantes levam celulares e tabletes para a sala, alguns professores não possuem computadores com internet para a realização de atividades. A falta de infraestrutura tecnológica, dificuldades de gestão e problemas com a prática dos professores para adotar as tecnologias, são alguns desafios da educação. A UEMA tem projetos a serem implementados com a inserção das novas tecnologias que acabam sendo, às vezes, atropelados por falta de profissionais bem preparados para usá-las. É evidente que o: [...] mundo e a sociedade estão passando por um processo acelerado e constante de transformações, principalmente em função das inovações tecnológicas virtuais. Logo, não se pode ignorar que as pessoas que têm acesso a essas ferramentas e habilidades de uso se movem com maior rapidez, aprendem com muita facilidade, além do fato de que dispõem de uma variedade enorme de informações. Assim, estas possuem mais recursos e, por consequência, maiores oportunidades no momento 5 Para Silva (2008, p. 166), agora em 2008, com o funcionamento do curso de Administração pelo FNDE (antes era mentido somente pela UEMA e pelo BB), a aprovação dos cursos de Pedagogia e Filosofia no edital 02/2008 da UAB e a criação dos novos projetos do curso de Administração Pública e a pós-graduação em Gestão Pública, acredita-se que novas e intensas mudanças virão. V.1, Nº 1, 2015 16 histórico em que estamos inseridos e que alguns autores chamam de “sociedade da informação”. (SERRA; ARAÚJO, 2013, p. 03). Contudo, as tecnologias são importantes em todos os setores sociais e não poderia ser diferente no educacional. As TICs podem ser um equipamento, programa e ou sistema, que, por sua vez, podem ser parte do processo reflexivo e criativo do professor/tutor e estudante em formação. As TICs é um: [...] elemento clave que facilita o dificulta la implicación de un docente en un proyecto de innovación con tecnologías es la compatibilidad entre las creencias pedagógicas de los docentes y la tecnología. (GARCÍA 2011, p. 07)6. As mudanças, na EaD, reforçam a necessidade de aproximação entre os cursos de formação de professores e a utilização das TICs. A multiplicação das tecnologias de informação como, Internet; multimídias; WhatsApp; e outros, permite embasar novas propostas pedagógicas, visto que o trabalho do professor/tutor deve ser flexível, planejado e determinado por um padrão de qualidade para a aprendizagem do estudante. O objetivo maior do ato de ensinar é agir em função da construção e socialização do conhecimento. O professor/tutor precisa interagir com as TICs, de forma crítica e reflexiva, durante a formação inicial e no desenvolvimento profissional. O uso das TICs na formação não pode se restringir à passagem de informações sobre sua importância, deve oferecer condições para o estudante construir conhecimentos e entender como integrar as TICs na prática, pois, para o professor/tutor estabelecer um equilíbrio entre os saberes e fazeres, é necessária uma mediação entre os recursos midiáticos e a promoção de uma aprendizagem consolidada na teoria/prática. A relação entre formação de professores e práticas pedagógicas, com o uso das TICs, avança a partir dos resultados das pesquisas de autores como: García (2011) e Preti (2000), que favorecem a produção de novos conhecimentos, tendo em vista a ênfase nas atividades formativas contextualizadas e no desenvolvimento profissional do professor/tutor. Nessa perspectiva, as estratégias do Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024 especificam o fortalecimento e a utilização das tecnologias em ambientes de ensino presencial e a distância: [...] 5.4. fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais e de práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a alfabetização e favoreçam a melhoria do 6 [...] elemento-chave que facilita ou dificulta a participação de um professor em um projeto de inovação tecnológica é a compatibilidade entre as crenças pedagógicas dos professores e a tecnologia. (GARCÍA 2011, p. 07, trad. livre, grifo do autor)6. V.1, Nº 1, 2015 17 fluxo escolar e a aprendizagem dos(as) alunos(as), consideradas as diversas abordagens metodológicas e sua efetividade; [...].15.6. promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a assegurar o foco no aprendizado do(a) aluno(a), dividindo a carga horária em formação geral, formação na área do saber e didática específica e incorporando as modernas tecnologias de informação e comunicação, em articulação com a base nacional comum dos currículos da educação básica; [...]. (BRASIL, 2014) Assim, as TICs nos direcionam a repensar o currículo de formação de professores, tendo em vista uma aprendizagem consolidada no ensino e na pesquisa. A UEMA/UemaNet, enquanto instituição formadora, precisa refletir a gestão das tecnologias, pois em algumas escolas e agências formadoras de professores maranhenses, as TICs ainda não estão democratizadas. Além do mais: “Y una limitación importante es la escasa alfabetización tecnológica de grandes capas de nuestra sociedad que impide cualquier iniciativa de acceso a la formación utilizando las nuevas tecnologías como medios. [...].” (GRACÍA, 2011, p. 14)7. O uso das TICs na formação do professor tem sido um referencial, pois oportuniza a reflexão sobre educação/contextos educativos, analisando e comparando os conhecimentos na busca da construção de saberes. As TICs são instrumentos valiosos de consolidações de informações, gerando inovações metodológicas entre professores e estudantes em formação. Na Resolução CNE/CP n. 2 de 1º de julho de 2015, são definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Art. 5º: A formação de profissionais do magistério deve assegurar a base comum nacional, pautada pela concepção de educação como processo emancipatório e permanente, bem como pelo reconhecimento da especificidade do trabalho docente, que conduz à práxis como expressão da articulação entre teoria e prática e à exigência de que se leve em conta a realidade dos ambientes das instituições educativas da educação básica e da profissão, para que se possa conduzir o (a) egresso (a):[...] VI - ao uso competente das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para o aprimoramento da prática pedagógica; [...]. (BRASIL, 2015). É necessária a efetivação das diretrizes de formação de professores, em vista da utilização competente das TICs, para o fortalecimento da formação, aprimoramento do desenvolvimento profissional, envolvendo os partícipes no uso das TICs, que favoreçam na socialização de informações, troca de experiências e na construção do conhecimento. O Plano Estadual de Educação - PEE/2014-2024 define como prioridade a ampliação do acesso, permanência e o aprimoramento da qualidade da educação básica 7 É uma limitação a falta de alfabetização tecnológica de grande parte da sociedade, que impede qualquer iniciativa de formação e acesso, usando novas tecnologias como um meio. [...]. (GARCÍA, 2011, p. 14, trad. livre, grifo do autor). V.1, Nº 1, 2015 18 ofertada aos maranhenses. As instituições públicas devem assegurar o êxito da aprendizagem escolar e: [...] 7.9 Realizar formação [...], presencial e/ou à distância, para os profissionais de educação (gestores, professores e pedagogos), da rede estadual, em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, à luz dos Direitos Humanos, Educação Fiscal e Educação Ambiental que reconheçam e valorizem a diversidade e a democracia participativa. [...] 13.1 Garantir a continuidade e ampliação da oferta de vagas na Educação Superior Pública por meio da implantação de cursos de graduação presencial, semipresencial e a distância [...]. (MARANHÃO, 2014-2024) Segundo o PEE, deve ser realizada a formação com qualidade para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, sendo necessária uma equipe especializada no uso das TICs, pois, a formação deve ser estruturada tanto presencial como a distância. As agências formadoras precisam organizar e implementar propostas pedagógicas mais interventivas, para que possam modificar a concepção de ensino, aprimorar metodologias e inovações educativas. 4 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICO O questionário foi um instrumento de coleta de dados fundamental nesta pesquisa, para analisar as percepções dos estudantes sobre a importância do uso das TIC’s. Aplicou-se esse instrumento com os estudantes do último período do curso de Pedagogia. O questionário, segundo Gil (1999, p.128), é uma técnica de “[...] investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, etc. [...]”. O questionário contribuiu para obtenção de informações e auxiliou na identificação e caracterização das percepções sobre a importância da utilização das TICs, especificando as mais usadas na formação inicial. Foram aplicados 30 questionários aos estudantes em formação no CESC/UEMA, utilizou-se o cognome de ECP1.... Solicitou-se, ao diretor do curso de Pedagogia, permissão para a aplicação do questionário, o qual incentivou a participação dos estudantes neste estudo. Na sala de aula, foram esclarecidos a proposta e os objetivos da pesquisa, bem como a forma de responder o questionário, a pesquisa contou, também, com o apoio dos professores. A entrevista semi-estruturada foi um recurso de coleta de dados, utilizada com 06 professores do curso de Pedagogia do CESC/UEMA. Neste artigo, serão socializados os fragmentos e percepções somente de 03 professores. Através das entrevistas, foram recolhidos valiosos dados e esclarecidas as dúvidas geradas antes e durante a pesquisa. V.1, Nº 1, 2015 19 A entrevista, nesta pesquisa, consistiu em uma espécie de comunicação entre a pesquisadora e os professores, com o objetivo de absorver informações sobre as TICs na formação inicial. Dessa forma, segundo Nuñez e Ramalho (2005), a entrevista é uma técnica para recolher informações, possibilitando a compreensão de opiniões, percepções dos colaboradores, para se aproximar da descoberta do que pensam e sentem enquanto entrevistados. A entrevista semi-estruturada é flexível, pois as questões foram reorganizadas, conforme as circunstâncias previamente definidas. Na contextualização dos dados, utilizou-se o cognome de Professor Formador Curso de Pedagogia, representado através da sigla PFCP... Os dados seguiram a análise de conteúdo, baseados na concepção de Bardin (1995), que consistiu na leitura detalhada do material transcrito, na identificação de conjuntos de palavras que tinham sentido para a pesquisa, assim como na classificação em categorias que tinham semelhanças quanto aos critérios definidos na pesquisa. Na análise de conteúdo, teve-se o compromisso de estar associando os dados recolhidos, com os documentos oficiais e a leitura de textos e livros especializados da área em estudo. 5 ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES FORMADORES E ESTUDANTES EM FORMAÇÃO SOBRE A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TICs Dos 06 professores do curso de Pedagogia que foram entrevistados, 03 estão na faixa etária de 30 a 40 anos, 02 têm de 40 a 50 anos e 01 possui mais de 50 anos. A média de idade é de 41 anos. Houve a predominância do sexo feminino (05 mulheres e 01 homem). Quanto ao estado civil, três casados e três solteiros. Todos possuem formação inicial em Pedagogia, com mestrado e/ou doutorado em Educação. O tempo de trabalho no magistério varia entre 28 e 15 anos. Como professor do curso de Pedagogia no CESC/UEMA, o tempo varia de 24 a 06 anos. Neste trabalho, foram utilizados os fragmentos e as percepções só de 03 professores. A formação com a intermediação das TICs exige do professor que seja pesquisador de sua prática, pois, a formação deve ser consolidada pela investigação e reflexão do ato educativo, tendo como pressuposto a socialização e o autodesenvolvimento, considerando o caráter coletivo de construção da identidade profissional. Uma formação permanente que “[...] gere uma atitude interativa e dialética que leve a valorizar a necessidade V.1, Nº 1, 2015 20 de uma atualização permanente em função das mudanças que se produzem” (IMBERNÓN, 2000, p. 61). Portanto, perguntou-se aos professores formadores, qual a importância do uso pedagógico das TICs, na formação inicial e no desenvolvimento profissional docente, tendo em vista que as crianças e os jovens usam habitualmente esses instrumentos. PFCP1 - [...], é importante, pois o aluno a todo instante está convivendo com as TICs. [...], o que vejo é uma supervalorização demais, por exemplo, eu chego no departamento, [...]. Acho muito engraçado que ninguém sabe dar aula se não tiver um data show, também acho muito engraçado quando vejo, que o aluno de Pedagogia não sabe fazer um cartaz, que também é uma tecnologia, eu já vir pessoas falando que não vai dar aula porque não tem data show, não estou dizendo que o mesmo não seja importante, o que estou dizendo que não pode ser mais importante que a tarefa de ensinar. PFCP2 - Acho muito importante para que o professor possa se desenvolver profissionalmente, ele precisa se apropriar das novas tecnologias, porque nós temos muitos cursos que são online, que estão no ambiente virtual de aprendizagem, se você não tem esta dimensão tecnológica, se você é um “analfabet”, você não consegui acompanhar o desenvolvimento das tecnologias é uma habilidade de ensino. O professor deve saber usar estas tecnologias, saber administrar a formação continuada dele, é uma habilidade que ele precisa ter, e as TICs são muito importantes neste processo, porque as vezes o professor foge das TICs dos cursos, foge de tudo que tem a ver com as tecnologias, porque ele está naquela fase que diz eu não tenho mais idade e nem quero saber disso. [...]. PFCP3 - No atual contexto, são fundamentais, precisava ter inclusive uma maior presença dentro do currículo, porque no que diz respeito às tecnologias nós temos uma única disciplina que dá uma leve introdução as TICs, a disciplina de Multimeios Aplicados à Educação, então ela é vista uma única vez, em um laboratório que não tem espaço para os alunos e não é aprofundado posteriormente. [...], o domínio destas tecnologias se faze fundamental na formação de qualquer professor, porque pelo contrário ele continua na repetição da mesma formação que ele teve baseada só em livros, então é preciso que o professor aprofunde mais e isto passa também pelo currículo, é necessária uma carga horária maior ou outra disciplina que der mais ênfase a esta dimensão. V.1, Nº 1, 2015 21 Encontram-se todos imersos na sociedade tecnológica, mas alguns professores e estudantes não têm acesso à tecnologia. Entretanto, o professor deve saber utilizá-las, é uma habilidade que precisa dominar, pois alguns estudantes convivem diariamente com as TICs. Segundo PFCP1, as TICs são importantes, mas não podem ser priorizadas em detrimento do ensinar e aprender, no departamento de Pedagogia. Alguns professores não sabem dar aula sem o projetor de multimídias, contraditoriamente o estudante não sabe fazer um cartaz. Os estudantes devem saber utilizar as TICs de forma pedagógica, seguindo um planejamento e sequência didática, assim, seu uso será potencializado no processo de ensino e aprendizagem. Para PFCP2, é importante, para que o professor possa se desenvolver profissionalmente, pois precisa se apropriar das tecnologias para facilitar a construção do conhecimento. Segundo PFCP3, são fundamentais, sendo necessária uma maior presença no currículo e na prática pedagógica. As tecnologias devem ser trabalhadas, valorizando a compreensão política e social, tendo em vista a democratização do acesso. As TICs são inevitáveis, vez que se vive na sociedade do conhecimento e das tecnologias, esse é o grande desafio. As TICs, neste trabalho, são compreendidas como um recurso didático e de comunicação, importantes na atividade educativa, tendo em vista o processo social, econômico e cultural, bem como o progresso tecnológico. Para Nascimento (2008, p. 113), as “[...] Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vêm contribuindo de maneira significativa na relação de construção e socialização do conhecimento [...]”. Na educação, as TICs auxiliam na mediação pedagógica, aumentando a interatividade entre estudante e professor, socializando conhecimentos e facilitando o processo de ensino e aprendizagem. Tendo em vista a utilização das TICs na prática formativa do curso de Pedagogia, perguntou-se aos professores formadores que TICs os estudantes em formação utilizam no CESC/UEMA e no estágio supervisionado nas escolas de Educação Básica. PFCP1 - [...] é mais utilizado o CD, DVD, TV e o Computador o data show só em alguns momentos, porque na Educação Básica tem poucos, engraçado na universidade só conseguem dar aula usando o data show e na escola pública tem poucos. A impressora sim, o quadro interativo só quando na escola tem. A UEMA tem uma coisa interessante que eu critico, pois ela proíbe determinados programas como por exemplo o facebook nos seus computadores, o governo bloqueia. Portanto o blog não seria possível usar aqui na instituição. No mestrado eu tive uma professora e ela me mostrou o quanto estes recursos podem ajudar no V.1, Nº 1, 2015 22 processo pedagógico talvez não para Educação Básica mais para a formação de professores aqui, sempre quando estou trabalhando uma disciplina levo os alunos a ver vídeos, a acessar blogs, como por exemplo visitas ao Site do MEC, que falam sobre alfabetização. [...]. PFCP2 - O projetor de multimídias e o Powerpoint usam muito, scanner, câmera do celular, computador de modo individual, hoje cada um tem o seu, DVD, CD utilizam no computador, a TV ficou obsoleto com a utilização do projetor de multimídia, ninguém usa a TV. O chat usamos pouco, deveria ser mais uma constante, utilizamos o e-mail da turma, fórum de discussão, cinema digital pouco utilizado, o Youtube, facebook muito utilizado. Web conferencia e a vídeo conferência pouco utilizada. O blog educativo criam da própria sala eu acho bem interessante. PFCP3 - Utilizam mais o computador, data show, e-mail. Não temos chat, fórum de discussões, Web Conferência. A TV é pouco utilizada a não ser que na escola campo disponha desses recursos aqui no CESC embora tenha TV é bem pouco utilizada. DVD, CD são poucos utilizados. O quadro interativo é utilizado em algumas escolas que dispõe. Scanner e impressora quase não utilizam, só mais na direção do curso. Tem um blog mais não sei como está funcionando. Facebook é muito utilizado. Acho que seria interessante fazer um blog para socialização de informações e conhecimentos do curso, mas é necessário conscientizar os alunos de sua boa utilização, para que não sejam utilizados para outros fins, [...]. [...]. Em 2010 quando eu assumir a direção do curso criei um grupo social para os professores, onde a gente pudesse postar informações dos trabalhos [...], mais da metade não respondeu, não ingressou e acabou não funcionando. As TICs mais utilizadas são as que estão na “moda” ou que são mais interativas, tais como: blog educativo, WhatsApp, Facebook, YouTube. No curso de Pedagogia presencial do CESC/UEMA, não há, ainda, a plataforma AVA Moodle, só no curso de Pedagogia a distância. Mas, conhece-se outras universidades que têm essas ferramentas. Usam o CD, DVD, TV, projetor de multimídia, câmera digital, Powerpointe, scanner, computador, e-mail. O fórum de discussão, cinema digital, web e a videoconferência são pouco utilizados. No curso de Pedagogia, há uma disciplina de 60 horas, obrigatória no currículo, chamada Multimeios Aplicados à Educação - 60 horas. E uma disciplina do Núcleo Livre: V.1, Nº 1, 2015 23 Tecnologias da Informação e Comunicação e suas Linguagens - 60 horas. Um problema é que a universidade possui um único laboratório de informática, destinado a todos os cursos. Aplicaram-se questionários para 30 estudantes do curso de Pedagogia sobre suas percepções acerca da importância das TICs, no curso de Pedagogia e no desenvolvimento profissional docente. Idade dos estudantes: 22 estudantes têm idade de 20 a 30 anos, 04 de 30 a 40 anos, 03 possuem de 40 a 50 e 01 estudante tem mais de 50 anos. Quanto à identificação do sexo: 24 do sexo feminino e 06 masculino. O estado civil dos estudantes: 20 solteiros, 06 casados, 02 divorciados e 02 moram com um companheiro. Questionou-se sobre a importância da utilização das TICs no curso de Pedagogia e no desenvolvimento profissional, para os 30 Estudantes do Curso de Pedagogia ECP: 05 - Vivemos na era digital, as crianças estão vivenciando e o professor deve utilizá-las; 04 - É quase impossível não trabalhar com as tecnologias, pois, estão por toda parte [...]; 03 - As TICs é uma ótima estratégia, estimula mais a criança a aprender e a interagir [...]; 05 - É urgente que se aprimore as habilidades sobre as TIC, temos que inovar [...]; 04 - As TICs são fundamentais na formação e no desenvolvimento profissional docente [...]; 03 - Muito interessante o uso das TICs, deve ser orientado para a prática pedagógica; 02 - Temos disciplinas que abordam as TICs, mas seria importante melhor planejamento; 04 - Toda formação deveria se baseia na utilização das TICs e nos trabalhos práticos. Para os ECP, as TICs são fundamentais, pois no mundo globalizado, é impossível as pessoas não as utilizarem, sendo importante seu uso pedagógico para socializar e construir o conhecimento. As TICs estão no dia a dia, precisa-se de recursos mais interativos, para dinamizar o ensino e a aprendizagem. Segundo Imbernón (2000), a velocidade da produção de conhecimento, oferta de informação, formas de pensar, sentir e agir das gerações atuais, pelas mudanças sociais, avanço das TICs e a tomada de consciência de que a educação não é patrimônio dos docentes, mas de toda a comunidade, estão entre as características que configuram os desafios da profissão docente na atualidade. V.1, Nº 1, 2015 24 As TICs estão reconfigurando a sociedade, ocasionando mudanças que podem ser descritas como um novo estilo de educação, pois altera a resignificação dos saberes, ensino e aprendizagem. Existem alguns instrumentos e programas tecnológicos que são mais utilizados pelos ECP, assim: 70% usam computador, DVD, CD, Datashow, impressora, scanner, filmadora e outros. Os recursos que ainda são utilizados por 30% o DVD e a TV. Os ECP utilizam em grande escala, 90% o YouTube e as ferramentas da internet. Os estudantes socializaram outras mídias que utilizam como: Site de editoras, jogos, Ipad, Celular, WhatsApp e o Google Drive. As TICs disponibilizadas aos estudantes são utilizadas para favorecer a produção do conhecimento. Observou-se a importância da formação inicial no CESC-UEMA passar por uma nova reconfiguração diante das TICs. Segundo Lévy (2003), a contemporaneidade constrói e recapitula uma nova percepção de humanidade, com o surgimento do que é chamado de “novas tecnologias da inteligência”. As inovações educativas com a colaboração das TICs ainda constituem um desafio, pois muitos professores não têm o domínio do uso pedagógico das TICs. Os interlocutores apontaram a necessidade de terem aprofundado o conhecimento do uso das TICs durante a formação inicial no Curso de Pedagogia, pois “[...] é função da universidade o fornecimento da infraestrutura necessária para o uso das TICs nas práticas formativas, e a oferta de cursos de formação continuada que viabilizem o desenvolvimento dos saberes docentes necessários à sua utilização.” (NASCIMENTO, 2014, p. 34). As TICs são constitutivas das ações sociais e educacionais e o professor deve refletir sobre sua prática, incorporando-as no cotidiano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar a intermediação das TICs nas práticas formativas, através desta pesquisa e da experiência em coordenação, percebeu-se sua importância, pois, alteram a maneira com a qual os estudantes aprendem e o professor ensina, promovendo maior interatividade na educação a distância e na presencial, priorizando a autonomia intelectual. Portanto, o professor deve conhecer as ferramentas tecnológicas, digitais e procurar adequálas à realidade dos estudantes, valorizando a construção e a socialização do conhecimento. A EaD e os ambientes de aprendizagens, de acordo com Preti (2000), permitem que os estudantes sejam mais autônomos e críticos. Desse modo, os professores são convidados a refletirem sobre sua prática, a utilização das TICs e os conteúdos que irão trabalhar. V.1, Nº 1, 2015 25 Os Estudantes do Curso de Pedagogia - ECP consideram importante o uso das TIC’s, durante a formação e no desenvolvimento profissional docente. Assim, a prática exige planejamento, tempo e disponibilidade de recursos tecnológicos, mas os contextos formativos nem sempre favorecem a efetivação de atividades que adotem inovações metodológicas. Os ECP demonstram gostar do curso e se identificam com a profissão docente, mesmo sabendo da falta de valorização social e profissional do professor. Os Professores Formadores do Curso de Pedagogia - PFCP especificam a importância das tecnologias como recursos facilitadores da aprendizagem. E enfatizam a necessidade de uma melhor sistematização do currículo, para que sejam integralizadas as TIC’s. Nos últimos anos, houve melhorias na oferta de disciplinas; acréscimos da carga horária das atividades e a reformulação da matriz curricular. Sugere-se que a UEMA reestruture a atual formação inicial, supere o distanciamento entre teoria e prática e reorganize o currículo, consolidando o uso pedagógico das TIC’s na formação e no desenvolvimento profissional. REFERÊNCIAS ANDRADE, Sônia; RAMOS, Daniela Karine. Mediação pedagógica e as tecnologias da comunicação e informação: aprender em outros tempos e espaços. In: SERRA, Antonio Roberto Coelho; SILVA, João Augusto S (Org.). Por uma educação sem distância: recortes da realidade brasileira. São Luís: UEMA, 2008. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, PT: 70, 2009. BELLONI, M. L. 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O presente artigo discute acerca dos cursos online abertos e massivos (moocs) e suas possibilidades para a formação continuada na modalidade a distância. Apresentam-se conceitos dos referidos cursos, suas características e vantagens pedagógicas, além disto, mapeiam-se algumas instituições de ensino superior no Brasil que já ofertam cursos nesta modalidade. ABSTRACT This article discusses about the massive open online courses and (moocs) and their possibilities for continuing education in the distance. They present concepts of these courses, their characteristics and pedagogical advantages, moreover, map up some higher education institutions in Brazil that already proffer courses in this mode. Keywords: Moocs. Distance education. Continuing education V.1, Nº 1, 2015 30 1 INTRODUÇÃO A tecnologia revolucionou a vida do homem trazendo mudanças radicais na forma como concebemos os produtos, bem como executamos os serviços. Quando se fala em tecnologia logo se associa a ideia de eletrônica, potência e máquinas, no entanto o conceito de tecnologia é bem mais amplo, o conceito de tecnologia sofreu alterações devido a sua ampliação e diversidade de possibilidades, no entanto, é preciso refletir que tanto os objetos, quanto a forma de utilização dos mesmos podem ser considerados tecnologia. Silva (2002, online) Afirma que: Uma versão mais generalizada do conceito de tecnologia poderia ser um sistema através do qual a sociedade satisfaz as necessidades e desejos de seus membros. Esse sistema contém equipamentos, programas, pessoas, processos, organização, e finalidade de propósito. Nesse contexto um produto é o artefato da tecnologia, que pode ser um equipamento, programa, processo, ou sistema, o qual por sua vez pode ser parte do meio ou sistema contendo outra tecnologia. Assim como o seu conceito é amplo as suas classificações também, ou seja, temos as tecnologias clássicas (escrita, mineração, transportes e construção), tecnologias avançadas (instrumentação, biotecnologia e Pneumática), tecnologia elétrica (indutor, capacitor e transmissor), tecnologias de comunicação (vídeo, fotografia, telefone e Internet) etc. Todas as tecnologias têm seu lugar e sua importância na nossa sociedade, pois vivemos através da combinação de todas estas e também muitas outras que fazem como que nossas tarefas sejam menos complexas e nossa vida, mais fácil. No entanto entre as tecnologias citadas anteriormente, uma delas tem se destacado como um grande expoente, as tecnologias de informação e comunicação, e para ser mais preciso a Internet, ou rede mundial de computadores. Segundo Silva e Remoaldo (1995 p.13) “Internet (abreviação de Interconected Networks) é constituída por milhares de redes nacionais e internacionais interconectadas entre si, criando uma rede virtual que comunica a velocidades elevadas”. Monteiro e Boavida (2000, p.6) definem-na apenas como “uma rede de interligações”. A Internet possibilita acessar remotamente informações, assim como, a trocar de dados digitais através de longas distâncias com rapidez e precisão. Conforme Simões (2005, p. 11) “através da Internet, acessa-se a uma biblioteca interativa, multifacetada e sempre disponível”. Desde o seu surgimento até os dias atuais a Internet cresceu bastante, as primeiras utilizações eram dedicadas apenas a comunicação a longas distâncias, evoluindo para um V.1, Nº 1, 2015 31 canal de pesquisas e com o passar do tempo expandiu-se para todas as áreas. Segundo Werthein (2000, p.6): O ritmo do avanço tecnológico no alvorecer do novo paradigma tem sido, sob qualquer ótica, extraordinário. O ritmo de expansão da Internet no mundo levou apenas um terço do tempo que precisou o rádio para atingir uma audiência de 50 milhões de pessoas. Este avanço modificou todas as áreas do saber e também o comportamento do homem, hoje em dia não mandamos mais cartas e sim e-mails, não utilizamos mais aparelhos de fax, pois a digitalização e o envio por Internet além de rápido permite uma melhor qualidade, antes de pesquisarmos na biblioteca vamos aos motores de busca, ao realizar consultas ao banco e pagamento de contas fazemos com auxilio da Internet, até mesmo as chamadas telefônicas estão diminuindo por conta da possibilidade do envio de mensagens de forma instantânea e em tempo real. Todas as áreas foram beneficiadas com estas e tantas outras facilidades advindas da Internet, tanto a educação com a possibilidade de interação e troca de dados com professores e pesquisadores do mundo inteiro, como a medicina com a possibilidade de realização de exames e acompanhamentos de cirurgias através da rede, e como não era de se estranhar a educação também se beneficiou com o advento da Internet. Fazendo com que esta rede se tornasse uma das principais ferramentas para consulta e troca de informações com pessoas de todo o mundo. Atualmente, muito se comenta acerca da sociedade do conhecimento, onde necessitamos investir em formação de maneira continuada, para que desta forma, possamos permanecer competitivos no mercado de trabalho. Pelizzari et al. (2002) destacam que o conhecimento pode ser compreendido como a capacidade que o estudante tem, diante da informação, de desenvolver uma competência reflexiva, relacionando os seus múltiplos aspectos em função de um determinado tempo e espaço, com a possibilidade de estabelecer conexões com outros conhecimentos e de utilizá-lo na sua vida quotidiana. Portanto, na atual sociedade estamos sempre buscando novas informações a fim de construir conhecimentos que serão úteis em nossas múltiplas atividades diárias. Para tal, faz-se cursos de graduação, pós-graduação e também cursos de atualização. Segundo Silva (2000, p.89): A sociedade do século XX, nomeadamente, a partir de meados deste século, com exigências específicas, tanto no nível educativo e cultural, como no socioprofissional e econômico, tem enfatizado a educação e a formação como meios V.1, Nº 1, 2015 32 privilegiados para a satisfação das necessidades individuais e socioorganizacionais numa sociedade que se descobre cada vez mais em mudança acelerada. George Siemens (2004) afirma que em tempos atrás, o conhecimento era medido em décadas, mas hoje é medido em meses e anos. Este fenômeno ficou conhecido por meia duração do conhecimento, ou seja, o tempo de duração desde que se obtém o conhecimento até que ele se torne obsoleto. Os conhecimentos adquiridos por um indivíduo numa formação eram suficientes para executar as tarefas durante muitos anos, no entanto, com a introdução deste novo paradigma a formação agora tende ser contínua, realizada ao longo da vida e torna-se ultrapassada muito rapidamente se não for constantemente atualizada. Siemens (2004) definiu algumas das tendências importantes na aprendizagem dos dias atuais: Muitos aprendizes vão mover-se por uma variedade de áreas diferentes, possivelmente sem relação umas com as outras durante o curso de suas vidas; A aprendizagem informal é um aspecto significativo de nossa experiência de aprendizagem. A educação formal não cobre mais a maioria de nossa aprendizagem. A aprendizagem, nos dias de hoje, ocorre de várias maneiras – através de comunidades de prática, redes pessoais e através da conclusão de tarefas relacionadas como o mundo do trabalho; A aprendizagem é um processo contínuo, durando por toda a vida. Aprendizagem e as atividades relacionadas ao mundo do trabalho não são separadas. Em muitas situações, são as mesmas; A tecnologia está a alterando (reestruturando) os nossos cérebros. As ferramentas que usamos definem e moldam o nosso modo de pensar; A organização e o indivíduo são organismos que aprendem. O aumento da atenção à gestão do conhecimento ressalta a necessidade de uma teoria que tente explicar a ligação entre aprendizagem individual e organizacional; Muitos dos processos anteriormente tratados pelas teorias de aprendizagem (especialmente no processamento cognitivo de informações) podem agora ser descarregados para, ou suportados pela tecnologia. Os indivíduos deparam-se com mudanças constantes que geram novos problemas e novas necessidades, tornando-se necessário que sejam capazes de pensar por si mesmos e de resolver problemas. Por este motivo, nas sociedades atuais, cada indivíduo terá de ser um “participante ativo e autônomo, aprendendo a aprender ao longo da vida” (SIMÃO, 2002,p. V.1, Nº 1, 2015 33 86). A educação ao longo da vida dá força a uma ideia de que nunca é cedo ou tarde demais para se aprender (SANTOS & TRISTÃO, 2007). O mercado exige que cada vez mais profissionais que dominem muitas habilidades. Outra constatação dos tempos modernos é que com o acúmulo de tarefas diárias temos cada vez menos tempo. Desta forma, faz-se necessário encontrar meios e mecanismos para capacitação da mão de obra de forma continuada no tempo e espaço que seja mais conveniente para todos. De acordo com Silva e Vitória (2012, p.2) “a formação continuada em seu entendimento formal é um processo de ensino intencional inserido em um curso, que visa à melhoria da prática”. O ritmo das mudanças é grande e urge que todos procurem formas de buscar informação em tempo hábil para atender as constantes demandas. A modalidade de cursos a distância poderá constituir-se numa possível solução para estes problemas anteriormente apresentado, uma vez que permite com que alunos e professores estejam geograficamente dispersos, no entanto, com possibilidade de troca de informações. Segundo Bottentuit Junior & Coutinho (2007), a cada dia, mais pessoas estudam em casa, podendo, de lá, acessar ao ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, procurando fora das instituições de ensino formal a informação disponível nas redes de computadores e em serviços disponibilizados pela Internet que respondem às suas exigências pessoais de conhecimento. Portanto, observa-se mais recentemente cada vez mais indivíduos buscando metodologias mais informais para a realização da formação continuada, uma vez que nem sempre o curso desejado é ofertado na cidade onde o sujeito se encontra, bem como nem sempre esta disponível quando este necessita dele. Daí os cursos disponíveis online podem preencher esta demanda. Observamos no mercado um conjunto muito variado de cursos nesta modalidade, desde cursos de atualização, especialização até mesmo cursos de graduação na modalidade semipresencial ou mesmo totalmente online. Contudo, nem todos os cursos são gratuitos, uma parte destes cursos ainda faz-se necessário o pagamento de matriculas e mensalidades. Observa-se hoje que, muitos necessitam de uma formação que seja moldada às necessidades de tempo e comodidade para que possam realizar cursos de forma a atualizar seus currículos e complementar suas formações. Nesta categoria de cursos na modalidade a distância surgem os cursos online abertos e massivos (Moocs), no qual Gonçalves (2013, p. 81) esclarece que: V.1, Nº 1, 2015 34 O MOOC (Massive Open Online Course – Curso Online Aberto e em Massa) permite a criação de cursos de acesso livre para participação de um grande número de pessoas. É uma linha em curso visando a participação interativa em larga escala e em acesso livre via web. Atualmente são diversas as instituições de ensino que oferecem cursos nesta modalidade entre as principais vantagens destes cursos temos a possibilidade do aluno receber instrução em qualquer espaço geográfico e no tempo e hora que desejar, podendo na maioria dos casos, fazer um teste final e receber sua certificação. Segundo Silva (2014, p.121): A evolução da internet e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) tem possibilitado a participação ativa do usuário como leitor e produtor de conteúdos, e favorecido o aprendizado contínuo. Este aprendizado, não ocorre somente nas escolas e universidades, mas também em outros contextos, como nas redes sociais, através de acesso a tutoriais, pesquisas, e MOOC, (Massive Open Online Courses – Cursos Abertos Online Massivos). Estes cursos visam melhorar o currículo dos indivíduos que optam por esta modalidade, além disto, oferecem capacitação de universidades e centros de formação renomados no qual se não existisse esta opção dificilmente o aluno teria condições para se submeter a esta formação. Além do mais, pelo fato de ser aberto, o indivíduo pode iniciar e concluir quando for mais conveniente além de não necessitar de pagamento de taxas ou mensalidades. Os cursos no formato Mooc têm atraído grande parte da população acadêmica e hoje em dia é possível encontrar cursos nas mais variadas áreas. Em língua portuguesa ainda são poucos comparados aos cursos em língua inglesa, por exemplo, mas na medida em que os mesmos são divulgados cresce o número de instituições interessadas em ofertá-los. A grande maioria destes cursos dispõe de videoaulas, podcasts, materiais impressos e em formato multimídia, fóruns de debate, além de tarefas e avaliações ao fim de cada módulo. Diante da contextualização apresentada neste artigo questiona-se: Como é a estrutura de um curso massivo online? E Que vantagens pedagógicas ele apresenta para a formação continuada a distância? Este artigo tem por objetivo geral conceituar e discutir acerca dos cursos massivos online também conhecidos por Moocs. Como objetivos específicos temos: a) Identificar as formas de utilização dos Moocs e suas vantagens pedagógicas como cursos para atualização na modalidade a distância; V.1, Nº 1, 2015 35 b) Identificar algumas universidades que disponibilizam cursos abertos no formato de Moocs. O interesse em investigar a temática acerca do Moocs surgiu a partir do momento que a universidade em que o investigador deste trabalha decidiu transformar uma disciplina por ele ministrada para a modalidade a distância em curso massivo online. Para realizar esta tarefa foi necessária à leitura previa acerca do formato e objetivos destes cursos de modo a transformar uma disciplina em curso aberto massivo. Ao realizar leituras acerca do tema, verifica-se que ainda existe pouca bibliografia em língua portuguesa sobre esta temática e que equacionar seu conceito, vantagens, aplicações e formas de utilização como modalidade de curso para formação continuada, poderá constituir-se como uma contribuição para o avanço dos estudos nesta área de conhecimento, bem como uma possibilidade de ampliar os conhecimentos do investigador deste projeto neste campo do conhecimento. 2 CURSOS MASSIVOS ABERTOS E ONLINE Há um tipo de curso que tem crescido ao redor de todo o mundo pela livre tradução do inglês a sigla Mooc (massive open online course) significa curso online e massivos. Surgiram em 2008 por Dave Cormier e Bryan Alexander (MATTAR, 2013). É um tipo de curso acessível a qualquer indivíduo que necessite de formação em áreas específicas, através da Internet, no entanto atrai interesse de alunos de nível universitário oferecido de forma gratuita. Algumas das mais renomadas universidades americanas como Harvard, Standford, por exemplo, já tem disponibilizado diversos conteúdos e cursos através de plataformas na web (FONSECA, 2013). De acordo com Mattar (2013, p.59): Mooc é, em princípio, um curso online (que pode utilizar diferente plataformas) aberto (gratuito, sem pré-requisitos para participação e que utiliza recursos educacionais abertos) e massivos (oferecido para um grande número de alunos). Os Moocs podem ser classificados em duas categorias. Segundo Siemens (2012) e Silva (2014) temos: O cmooc que trata-se de um curso criado e formatado a partir de conteúdos concebidos pelos participantes, ou seja, cada indivíduo disponibiliza temáticas, contribuições e textos para serem discutidos e partilhados com os demais V.1, Nº 1, 2015 36 integrantes do curso, neste modelo os alunos são consumidores e produtores do conteúdo; O xmooc que trata-se de um curso planejado e construído por um docente ou um conjunto de profissionais voltado para um público específico interessado em uma dada temática, neste modelo os alunos são apenas consumidores do conteúdo. Mattos (2015, p.40) apresenta-nos algumas características tanto dos cursos classificados como cMooc, como dos cursos classificados como xMooc, conforme podemos visualizar na tabela a seguir: Tabela 1 - Características do xmooc e do cmooc Objetivos xMooc cMooc Transmitir de maneira massiva e estruturada os conteúdos; Atingir várias regiões geográficas; Experimentar novos formatos temáticos, diferentes do tradicional; Permitir acesso gratuito e de qualidade. Favorecer a colaboração e conexão entre os cursistas; Estabelecer parâmetros para colaborações futuras; Alcançar distintos setores de os setores de cursistas. Fonte:MATTOS(2015,p.40) Em ambas as categorias uma série de profissionais se envolvem no planejamento, concepção, realização e acompanhamento dos cursos sendo para este tarefa contratados profissionais do design, docentes, técnicos em informática, produtores de vídeo e editores de imagem e som entre outros. Estes profissionais precisam trabalhar em sintonia para que cada um deles possa contribuir na formatação do mesmo de modo a atender às necessidades de alunos dos cursos desta modalidade. Tendo em conta mais especificamente a qualidade estética, o conteúdo e a linguagem que são imprescindíveis para os cursos a distância. No Brasil esta modalidade de cursos também tem despertado o interesse das universidades brasileiras e é claro também de cada vez mais estudantes. O site coursera9 (ver figura 1) é um dos principais no mundo inteiro nesta área tem mais de 300 mil alunos de várias nacionalidades inclusive brasileiros. Colocando o Brasil em posição de destaque na plataforma (5º Lugar) no número de alunos, perdendo apenas para os Estados Unidos, China, Índia e Reino Unido10. Além do coursera, outros sites oferecem 9 https://pt.coursera.org/ 10 Conforme consulta no site do Coursera sobre o número de alunos brasileiros e o ranking em relação aos alunos de outras nacionalidades. V.1, Nº 1, 2015 37 plataformas para cursos nesta modalidade, tais como o Udacity.com11, o Unimooc12, Miriadax13 entre outros. Figura 1- Layout do Site de cursos massivos online Coursera Fonte: https://pt.coursera.org/ O site DIYGenius14 apresenta-nos uma lista com as principais plataformas que estão sendo utilizadas pelas universidades e Instituições de ensino para a oferta dos cursos massivos online (ver figura 2). Figura 2 - Plataformas de Moocs Fonte: http://www.diygenius.com/the-ultimate-guide-to-moocs/ No Brasil um dos sites de cursos massivos mais populares de cursos em língua portuguesa em nível de extensão, de graduação e pós-graduação é o site Veduca15 (ver figura 11 http://www.udacity.com/ 12 http://www.unimooc.com 13 https://www.miriadax.net/ 14 http://www.diygenius.com/the-ultimate-guide-to-moocs/ 15 http://www.veduca.com.br/ V.1, Nº 1, 2015 38 3). Nele podemos encontrar um conjunto muito variado de cursos de universidades renomadas Brasileiras, tais como: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade de Brasília (UNB), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, (UNISINOS) entre outras. Figura 3 - Layout da Plataforma Veduca Fonte: http://www.veduca.com.br/ A maioria dos Moocs utilizam recursos educacionais abertos, toda esta revolução de cursos iniciou-se em 2002 quando o MIT resolveu disponibilizar na rede todos os seus cursos e suas aulas isto antes mesmo de ferramentas como o YouTube ter sido criada. Diante deste cenário, diversas instituições começaram a seguir as ideias do MIT, como Harvard, Stanford, Yale, Princeton, Berkeley entre outras universidades americanas renomadas (BASTOS & BIAGIOTTI, 2014). Infelizmente, esta quantidade de cursos ainda fica a margem da realidade brasileira. Uma vez que, poucos são os indivíduos fluentes na língua inglesa que conseguem fazer os cursos e acompanhar as videoaulas, podcasts e tarefas a serem realizadas nas plataformas para que possam obter o conhecimento e a certificação no final da formação. No entanto, é crescente o número de instituições Brasileiras que começam a ofertar cursos nesta modalidade, bem como alguns cursos no próprio site coursera começaram a ser traduzidos ou mesmo com opções de legendas para que os indivíduos falantes da língua portuguesa possam acompanhar os cursos. Outro fator que desabona um pouco os Moocs é que muitas pessoas ainda têm certo preconceito quanto à modalidade a distância o que faz com que muitas empresas e instituições não vejam com bons olhos os indivíduos com certificados de cursos realizados nesta modalidade. V.1, Nº 1, 2015 39 Ao analisarmos os cursos ofertados nestas plataformas podemos observar uma maior concentração na área dos negócios, empreendedorismo, gestão empresarial e financeira, no entanto, as opções são variadas, tendo desde cursos de gastronomia, passando por cursos de artes inclusive outros na área educacional como música, filosofia e pedagogia. O Mooc oferece duas possibilidades, ou seja, em alguns casos é possível realizar o curso livre e obter acesso ao material, à resolução de tarefas, participação em fóruns de discussão, sem a certificação. Ou então, com a possibilidade de fazer a prova ou apresentação de trabalhos de forma presencial para obtenção de um certificado de uma universidade ou ainda um título de especialista, caso o curso seja de pós-graduação, por exemplo. Nestes casos, em algumas instituições de ensino é necessário o pagamento de alguma taxa. Esta escolha depende muito das necessidades pessoais de cada aluno, ou seja, para alguns que já atingiram patamares elevados no mercado ou que possuem posição mais estável procuram apenas o conhecimento sem a necessidade de um certificado para a comprovação, já aqueles estudantes em início de carreira necessitam destes certificados para impulsionaram seus currículos ou para obterem vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes. Os cursos são organizados com carga horária variável em módulos ou unidades de ensino que possuem um tempo variável para a sua realização, ou seja, os alunos que dispõe de maior quantidade de tempo podem fazer os cursos de forma mais rápida, bem como aqueles que possuem menor tempo livre, podem alongar mais a sua realização. No entanto, estes cursos assim como qualquer outro curso na modalidade a distância exigem do aluno motivação, disciplina, autonomia e capacidade de organização do tempo e dos materiais a serem estudados (MORGADO; SPILKER & SILVA, 2013). Diferentemente dos cursos tradicionais que possuem muitas vezes um número máximo de alunos matriculados, os moocs admitem milhares de alunos ao mesmo tempo acessando e acompanhando um mesmo curso, bem como admitem alunos novos a todo instante, uma vez que não necessitam formar turmas, pois cada aluno faz o seu ritmo e tempo para iniciar e concluir suas aprendizagens (SMITH, 2012; YUAN et al., 2013). Outra característica interessante destes cursos é que como admitem a matrícula de um quantitativo ampliado de alunos, a possibilidade de intercambio com alunos de diferentes partes do mundo enriquece as discussões, bem como proporciona uma experiência inovadora e multicultural na formação do indivíduo. V.1, Nº 1, 2015 40 3 MOOCS OFERTADOS E ALGUNS ESTUDOS REALIZADOS NO BRASIL O número de cursos massivos no Brasil ainda é pequeno se comparado com países como Estados Unidos e Europa, no entanto, algumas experiências já começam a despontar, principalmente no Sudeste e Sul do país, ficando apenas o norte do país sem nenhuma experiência recenseada até o presente momento. As áreas de oferta dos cursos são variadas, no entanto, observa-se uma maior concentração nas seguintes áreas do conhecimento: administração, matemática e educação (ver tabela 2). Tabela 2 - Universidades e moocs brasileiros Universidade/IES Alguns Cursos Região Norte - - Nordeste Universidade Estadual do Maranhão Empreendedorismo, Dificuldades de Aprendizagem Leitura e produção de textos acadêmicos, Básico de Perezi, Introdução a Conferência Web. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Centro Oeste Sudeste Universidade de Brasília Bioenergética IDP - Instituto Brasiliense de Direito Público Direito Constitucional Universidade de São Paulo Fundação Getúlio Vargas Física Básica, Fundamentos de Administração, Engenharia Econômica, Gestão de Desenvolvimento de produtos e serviços. FIA - Fundação Instituto de Administração Como organizar o orçamento familiar, Sustentabilidade aplicada aos negócios, Gestão de pessoas nas organizações contemporâneas. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Educação Inclusiva e Especial, Conteúdos e Didática de Artes, Ética e Cidadania, História da Educação, Direito Administrativo, Didática Geral. Sul Universidade Federal de Santa Catarina Metodologia Científica Pré-Enem Instituto Federal do Paraná Responsabilidade Social e Sustentabilidade das Organizações, Introdução a Engenharia de Produção. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Universidade do Vale do Rio dos Sinos Libras Fonte: Eleborada pelo Autor - 2015 V.1, Nº 1, 2015 41 Além dos cursos formatados em modelos de moocs as universidades já começam a ofertar também aulas livres e recursos educacionais entre elas foi possível identificar iniciativas interessantes como a da Universidade de São Paulo (USP) intitulado e-aulas que oferece aos publico em geral aulas variadas e livres, segundo esta mesma iniciativa a UNICAMP que também esta disponibilizando aulas e recursos digitais sobre uma série de conteúdos além da universidade Federal Fluminense (UFF) que também já conta com um acervo bem expressivo de videoaulas (ver figura 4). Figura 4 - Universidades que oferecem recursos educacionais abertos E –aulas USP16 E-UNICAMP Conteúdo Digital 17 Portal de Vídeo Aulas UFF18 Fonte:<http://eaulas.usp.br/portal/home>, <http://www.ggte.unicamp.br/e-unicamp/public/>, <http://videoaulas.uff.br> Acerca das investigações acadêmicas já existem diversos trabalho publicados em atas de congressos e revistas científicas, bem como, começam a despontar no cenário brasileiro dissertações de mestrado acerca dos Moocs. 16 http://eaulas.usp.br/portal/home 17 http://www.ggte.unicamp.br/e-unicamp/public/ 18 http://videoaulas.uff.br/ V.1, Nº 1, 2015 42 Mattos (2015) apresenta em sua dissertação de mestrado em educação um panorama das produções nacionais e internacionais sobre cursos massivos online a autora faz um levantamento de vários trabalhos no intuito de compreender a filosofia dos cursos massivos e suas características, bem como procura diferenciá-los dos recursos abertos. Outra dissertação defendida recentemente por Souza (2015) apresenta um modelo de Mooc de geometria para o ensino básico da disciplina de matemática, empregando ferramentas interativas tais como: iGeom, áudios, vídeos e animações. Segundo informações do estudo, o curso foi testado com alunos de escolas públicas e os resultados foram significativos no que tange a motivação e o engajamento dos aprendizes. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade não é estática, muito pelo contrário encontra-se em constante renovação exigindo dos sujeitos atualização constante, neste sentido a Internet torna-se a plataforma ideal para a realização destas capacitações, uma vez que, oferece uma infinidade de ferramentas e recursos multimídia capazes de levar o aluno a reflexão e construção do conhecimento. Os Moocs oferecem excelentes oportunidades de formação continuada aos estudantes, pois permitem a frequência em cursos variados e em grandes centros de excelência acadêmica sem custos e que pode ser realizada na medida em que os sujeitos tenham maior disponibilidade de tempo. É uma forma ainda de descentralizar o conhecimento uma vez que um bom recurso educacional composto por textos, fascículos, gravações em áudio e vídeo de bons professores podem perfeitamente ser compartilhado com estudantes e interessados nas temáticas ao redor do mundo. Os Moocs apesar de já explorados por diversas instituições de ensino ainda carecem de mais estudos e experimentações, no entanto, já é possível perspectivar pontos positivos e negativos desta modalidade de formação continuada, entre elas temos: Pontos Positivos Independência de tempo e espaço geográfico para a realização dos cursos; Gratuidade na maioria dos cursos; V.1, Nº 1, 2015 43 Inexistência de pré-requisito para realizar os cursos; Não é necessário formar número de alunos matriculados para iniciar o curso; Possibilidade de conhecer e partilhar experiências com pesquisadores e estudantes de todo o mundo; Material personalizado para a modalidade a distância; Os alunos se tornam mais ativos na busca de informações e construção do seu conhecimento; Pontos Negativos Preconceito em relação a modalidade; Alguns cursos não oferecem certificação; Ausência de tutores em tempo real ou assíncronos na maioria dos cursos; Necessidade de computador e acesso a Internet para frequência nos cursos; Plataformas com problemas de acessibilidade ou com metodologias muito distintas; Muitos cursos ainda são disponibilizados em inglês. Apesar de todos os pontos positivos e o número extraordinário de matrículas registrado nas plataformas das principais universidades que ofertam os moocs, há um fator ainda limitante para o sucesso destes cursos. A limitação está no número de evadidos, ou seja, muitos alunos fazem sua matricula, mas o número de alunos que de fato concluem ainda é muito baixo. De acordo com Cairo (2013) o percentual de alunos que concluem gira em torno de 10% a 15% dos alunos inscritos nos Moocs. Quase todos os cursos, seja presencial ou a distância, apresentam números de evasão, no entanto, quando este número é muito elevado, este indicador poderá ser um alerta de que algo precisa ser melhorado/modificado. Entre os fatores hipotéticos que podem favorecer a evasão nestes cursos temos: a falta de motivação pessoal do aluno para realizar cursos nesta modalidade, a insatisfação quanto à qualidade do material didático disponibilizado (textos, fascículos, videoaulas, podcast etc.), a falta de um tutor que possa acompanhar as discussões e mediar o conhecimento, a falta da afetividade entre alunos e entre aluno-professor, falta de domínio tecnológico para lidar com as plataformas entre outras razões. Bastos e Biagiotti (2014) apontam que a gameficação poderá ser uma solução estimular a motivação e permanência dos alunos no curso, uma vez que ao criarmos testes, V.1, Nº 1, 2015 44 jogos rápidos e pequenas recompensas podemos prender a atenção dos alunos e mantê-los ativos frente ao processo de formação. Além da motivação outra questão chama atenção dos investigadores da área é se os moocs são efetivamente possibilidades de democratização do conhecimento. Se por um lado oferecer conteúdos variados de professores renomados é uma forma de democratizar os saberes, ao ofertá-los através da Internet também podemos limitar o acesso somente à aqueles que detém equipamento para tal, bem como conhecimento acerca das plataformas e seu manuseio. Mattar (2013, p. 61) afirma que “o Mooc possibilita aprendizagem social e informal e uma educação e uma educação online interativa e colaborativa, com baixo custo e oferecida em larga escala”. No entanto é preciso refletir sempre acerca dos excluídos digitais, além da necessidade de uma Internet de banda larga que permita a visualização dos vídeos com qualidade. Os Moocs são plataformas ideias de formação continuada e de certificação de saberes, visto pela ótica do custo beneficio e da possibilidade de estudar na hora e no local desejado, no entanto, há de se equacionar seus pontos positivos e negativos para que possamos oferecer cursos relevantes e que de fato atraiam a atenção do público, bem como ofereçam oportunidades de capacitação em áreas deficitárias e que possam também conseguir um número significativo de alunos formados. O modelo destes cursos esta definida através dos estudos que despontam no panorama acadêmico, no entanto, cada universidade adota ferramentas e recursos variados, bem como em plataformas diferenciadas, nem todas seguem um padrão, algumas são mais fáceis e outras mais complexas. Acerca do modelo ideal que possa atender as necessidades dos alunos e de forma a preencher estas lacunas existentes é algo que ainda necessita ser implementado. E somente escutando os próprios alunos formados através desta modalidade é que poderemos desenhar o modelo ideal de Mooc. REFERÊNCIAS BASTOS, Rogério Cid; BIAGIOTTI, B. MOOCs: uma alternativa para a democratização do ensino. RENOTE. Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 12, p. 1-9, 2014. BOTTENTUIT JUNIOR, J. B.; COUTINHO, C. P. (2007). A Educação a Distância para a Formação ao Longo da Vida na Sociedade do Conhecimento. In Barca, A.; Peralbo, M.; Porto, A.; Silva, B.D. & Almeida L. (Eds.). Atas do IX Congresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia. Setembro, Universidade da Coruña. La Coruña, p. 613-623. V.1, Nº 1, 2015 45 CAIRO, A. Um mooc es uma experiência de autoeducacion: entrevista. 2013. Disponível em: <http://wwwhatsnew.com/2013/03/04/un-mooc-es-una-experiencia-de-autoeducacionentrevista-a-alberto-cairo/>. Acesso em: 16 set. 2015. FONSECA, M. Moocs mudam o ensino dentro e fora da universidade. 2013. 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No âmbito da educação apoiada em Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação ainda há carência de estudos que discutam a avaliação da aprendizagem. Nesse sentido, este artigo apresenta uma análise didática de enunciados de atividades avaliativas na Plataforma Moodle de um Curso de Pedagogia a distância. O artigo pretende discutir a avaliação da aprendizagem em ambientes virtuais, fornecendo subsídios para pesquisa nessa área. ABSTRACT In education supported by Information and Communication Digital Technologies there is still a lack of studies that discuss the assessment of learning. In this sense, this paper presents a didactic analysis of enunciations of evaluation activities on the Moodle Platform of a Pedagogy course the distance. The article discusses the assessment of learning in virtual environments by providing grants for research in this area. Keywords: Online assessment. Moodle. Digital Technologies of Information and Communication. Evaluative statements. V.1, Nº 1, 2015 49 1 INTRODUÇÃO Na era do conhecimento, a sociedade brasileira requer profissionais comprometidos com o desenvolvimento social do país, sujeitos que não só tenham acesso às mídias variadas, mas que interpretem o que leem cotidianamente, compreendendo e questionando a realidade e que, além de críticos, sejam criativos e capazes de manifestar e compartilhar seus pensamentos, ideias, crenças, valores e sentimentos. Considerando a importância não só do acesso à informação, mas da ampla manifestação dos sujeitos nessa sociedade, no âmbito educativo já não se pode mais conceber um estudante sem condições de registrar suas ideias e opiniões; muito menos se deve persistir com práticas docentes mecânicas, pouco problematizadoras. Por isso, as práticas docentes provocadoras de posturas inquietas por conhecimento são necessárias nas instituições de ensino. Nessa direção, apoia-se em Luckesi (2008) para dizer que há necessidade de se ter o interesse que o estudante aprenda e se desenvolva; e para isso é preciso uma postura de investigação, com vistas ao desenvolvimento do estudante, do processo educativo e da sociedade. Nessa perspectiva, compreende-se que devam estar as atividades avaliativas propostas aos estudantes. Compreende-se que, na formação de um estudante para atuar nessa sociedade em contínua transformação, o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) pode promover novos comportamentos e o ambiente virtual pode tornar-se um campo significativo para consolidar práticas de mediação didática, para gerar novas atitudes e, inclusive, favorecer a superação de posturas tradicionais, dada a abertura para processos colaborativos. Nesse cenário, tem-se a educação a distância, como palco fecundo de práticas com as TDIC, e assim, encontra-se também um espaço para a investigação acerca das questões didático-pedagógicas e, mais especificamente, sobre as questões relativas à avaliação da aprendizagem, visto que se percebe a necessidade de estudos nesse campo, quando Silva (2011) comenta que há carência de pesquisa e de publicações sobre a avaliação da aprendizagem adaptada à especificidade do ambiente on-line. E também no que é expresso nos Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a distância, que apontam a necessidade de ressignificação de alguns paradigmas que norteiam a compreensão de vários aspectos da educação, inclusive a avaliação (BRASIL, 2007). V.1, Nº 1, 2015 50 Assim, este artigo, com o objetivo de apresentar uma classificação da formulação didática de enunciados de tarefas em curso de graduação a distância, trata-se de um recorte dos resultados de um estudo de caso sobre a avaliação da aprendizagem virtual, oriundo da pesquisa de Mestrado em Desenvolvimento Humano da autora principal (RIOS, 2013), na Universidade de Taubaté (UNITAU/SP). 2 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM AMBIENTE VIRTUAL A distância, que poderia ser uma dificuldade no processo de ensino e aprendizagem, passa a ter no ciberespaço um dispositivo comunicacional que potencializa o envolvimento de todos entre si e com o material didático (DIAS, 2006). Uma opção de mídia usada para intermediar o processo ensino-aprendizagem a distância são os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que possibilitam a interação entre os participantes de um curso, no ciberespaço, podendo ocorrer de um para um, de um para muitos, de muitos para um e de muitos para muitos (PEREIRA et al., 2007). Logo, a comunicação no AVA pode ser dada em tempo real, experimentando uma comunicação síncrona (simultânea), ou em tempos distintos, em comunicação assíncrona (FERREIRA, 2010). Por conseguinte, tem-se por compreensão de que os AVA sejam “[...] cenários que envolvem interfaces instrucionais para a interação de aprendizes. Incluem ferramentas para atuação autônoma e automonitorada, oferecendo recursos para aprendizagem coletiva e individual [...]” (VIEIRA; LUCIANO, 2005, p. 2). As atividades em uma plataforma virtual como o Modular Object-Oriented Dynamic Learning Enviroment (Moodle), por exemplo, podem auxiliar e dinamizar o processo de ensino e aprendizagem, possibilitando a mediação didática, o desenvolvimento sociocognitivo e a avaliação do estudante. A configuração do espaço virtual traz ao docente uma oportunidade para realizar a avaliação individual e a avaliação de grupos (heteroavaliação), com registros pontuais e, ao mesmo tempo, favorece a construção e a avaliação compartilhada entre os estudantes, que podem se autoavaliar e avaliar seus pares (coavaliação) (SANTOS, 2011). Para tanto, requer capacitação específica, conhecimentos sobre a ferramenta, tanto à classe docente quanto à discente (Quadro 1). V.1, Nº 1, 2015 51 Quadro 1 - Atividades no AVA Moodle para avaliação da aprendizagem Tipo da avaliação Avaliador Tutor Tipo de comunicação Atividades no AVA-Moodle síncrona chats, mensagens instantâneas assíncrona tarefas, questionário, fórum, wiki, lição, laboratório de avaliação, escolha, glossário Heteroavaliação Estudante Autoavaliação síncrona lição, questionário, escolha Estudante Co-avaliação síncrona chat, mensagens instantâneas Estudante Co-avaliação assíncrona laboratório de avaliação, lição, fórum Fonte: RIOS (2013) Entretanto, Silva (2009) sugere que é necessário considerar as especificidades do mundo virtual para a aprendizagem, bem como a complexidade do aparelho cognitivo do sujeito e de suas interações afetivas e sociais e, para tanto, aponta que o ambiente virtual demanda projetos pedagógicos. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A coleta dos dados empíricos ocorreu entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, sendo desencadeada por questionamentos específicos, referentes aos objetivos da pesquisa, a saber: Como se apresentam as atividades avaliativas no AVA Moddle do curso em estudo? Que habilidades sociocognitivas apresentam em sua formulação? Para tanto, foram recuperados do AVA Moodle: o Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso e os enunciados de atividades avaliativas relativas a 17 disciplinas, dos períodos letivos de 2010 e 2011, oferecidas nas 23 turmas virtuais do Curso de Pedagogia, a distância, que atende a 661 estudantes, em 22 polos de apoio presencial de uma Universidade pública no Nordeste brasileiro, vinculada ao Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). V.1, Nº 1, 2015 52 4 RESULTADOS O processo avaliativo no ambiente virtual do curso em estudo tem orientação para envolver atividades de produção acadêmica a partir de trabalhos de pesquisa individual e em grupo, estudos independentes e colaborativos com enunciados e resultados registrados ou postados no AVA, sendo utilizada a Plataforma Moodle. O PPP do curso define que os enunciados das atividades avaliativas (virtual e presencial) sejam elaborados pelo professor da disciplina, geralmente um professor de carreira da instituição pesquisada. As atividades avaliativas no AVA estão relacionadas às unidades programáticas e vão sendo apresentadas de acordo com carga horária da disciplina. A avaliação das atividades realizadas pelos estudantes fica sob a responsabilidade dos tutores a distância, que são orientados pelo professor da disciplina quanto aos conteúdos a serem “trabalhados” na disciplina e também sobre as atividades avaliativas postadas no AVA. Para a análise qualitativa dos 45 enunciados recuperados no AVA, para definição das categorias didáticas, optou-se por considerar aspectos sociocognitivos e o princípio da comunicação de que um texto tem um conteúdo e uma forma, que se articulam e são interdependentes. Em se tratando de um texto didático, o conteúdo assume a composição de conhecimentos, habilidades e atitudes, como é tratado por vários autores, a exemplo de Libâneo (2010), e como explica Haydt (2006, p.127) “é por meio dos conteúdos que transmitimos e assimilamos conhecimentos, mas é também por meio do conteúdo que praticamos as operações cognitivas, desenvolvemos hábitos e habilidades e trabalhamos as atitudes.” As categorias percebidas na análise dos enunciados em relação ao conteúdo foram: “processo” e “produto”. O processo considerou as habilidades que são solicitadas no enunciado e o produto, aquilo que foi pedido para realização presencial ou on-line e entrega virtual, podendo ser teórico, prático ou teórico-prático. E, e relação à forma, abarcou categorias e subcategorias relacionadas à estrutura e às condições de execução da atividade, ou seja, como o enunciado se apresentou: o tipo de pergunta/resposta que solicitou (se objetiva ou dissertativa), o que foi oferecido para a sua realização (se recurso virtual ou físico), como se deu a comunicação (se em tempo simultâneo, síncrono, ou em tempo distinto, assíncrono), como incentivou a interação na V.1, Nº 1, 2015 53 turma (se individual, em grupo ou colaborativa), como foi a entrega do produto no Moodle (atividade da Plataforma). A seguir, passe-se a apresentar análise dos enunciados de acordo com as categorias definidas na pesquisa. Categorias quanto ao conteúdo. Quanto à categoria processo, tomando entendimento em Hernandez Barreras (1998) e Márquez Rodriguéz (1993) sobre desenvolvimento de habilidades no processo educativo, realizando a análise qualitativa das ações solicitadas nos enunciados, os verbos foram organizados em três subcategorias: i) na primeira, foram localizados os verbos que requeriam interpretação, ou seja, o estudante poderia expressar familiaridade, entendimento com o assunto estudado, manifestando-se de forma própria ou reproduzindo as informações recebidas; ii) na segunda, foram agrupados os verbos que provocavam a reflexão do estudante em relação ao objeto do conhecimento já construído ou a reflexão para sua construção; iii) e, na terceira, foram relacionados os verbos que sugeriam, especificamente, a construção do conhecimento, ou seja, o estudante poderia, usar habilidades já adquiridas e reconstruir conhecimentos na resolução da tarefa, ou ser criativo, resolvendo de forma original. Feita a tabulação das ações requeridas nos enunciados, encontrou-se (Tabela 1): i) a frequência absoluta, que totalizou a quantidade de vezes que os verbos foram usados na subcategoria, indicando que, em um mesmo enunciado, foram empregados vários verbos, podendo ocasionar, por vezes, confusão ao leitor; ii) a frequência relativa, que demonstrou a preferência docente pelos tipos de habilidades requeridas dos estudantes, agrupadas aqui nas subcategorias. Tabela 1- Frequência das ações requeridas nos enunciados, por subcategoria, segundo a categoria processo Categoria Subcategorias Interpretação Processo Construção Reflexão Ação requerida Apontar, apresentar, caracterizar, citar, comentar, conceituar, definir, descrever, discorrer, elencar, especificar, explicar, explicitar, extrair, indicar, preencher, relatar, retratar. Diagnosticar, formular, fundamentar, parodiar, pesquisar, produzir, reformular, sugerir, testar, verificar, visitar. Avaliar, diferenciar, justificar, observar, questionar, refletir, relacionar. Fonte: RIOS (2013) Frequência Absoluta Relativa 42 62% 14 20% 12 18% Quanto à categoria produto nas atividades dissertativas, identificou-se: i) em 69% dos enunciados o caráter teórico, cujas respostas dos estudantes deveriam apresentar: um V.1, Nº 1, 2015 54 texto, sem especificar o tipo; um comentário às questões levantadas; um artigo; um fichamento; um resumo, resenha ou síntese de um determinado texto; uma paródia ou uma resposta ao teste de múltipla escolha; ii) em 3% das atividades o caráter prático, que se restringiram à produção de uma mídia digital; iii) em 28% o caráter teórico-prático com a solicitação de relatório; elaboração de elementos de um projeto de pesquisa, plano de aula ou de trabalho (Figura 1). Figura 1- Subcategoria dos produtos requeridos nos enunciados Produto Teórico 28% 3% Prático 69% Teórico-Prático Fonte: RIOS (2013) Categorias quanto à forma: a partir do entendimento de subjetividade na avaliação, em Hoffmann (2012), e focalizando-se na formulação do enunciado, considerando a forma de resposta dos estudantes, os textos analisados foram classificados em objetivos e dissertativos (e não subjetivo). A maneira de elaborar uma questão revela a intencionalidade pedagógica, a compreensão sobre as possibilidades dos alunos e até a relação docente discente, portanto, revela a subjetividade. Segundo Hoffmann (2012), os enunciados objetivos possibilitam ao estudante uma única resposta. O indicado no enunciado pode variar, por exemplo, com alternativas simples, múltiplas, lacunas, colunas e premissas, mas a resposta não permite qualquer variação ou emissão de posição pessoal por parte do estudante, tampouco julgamento do professor quanto ao que possa ser considerado certo ou errado. Há apenas uma resposta certa, exata. Já as questões dissertativas possibilitam a expressão do pensamento do estudante em sua própria linguagem (HOFFMANN, 2011). Neste estudo, foram identificadas questões objetivas, que, embora não apresentassem opções ou elementos para a resposta, requeriam uma resposta única, mas de V.1, Nº 1, 2015 55 forma aberta. Dessa maneira, foram classificados como enunciados com caráter objetivo aberto, em detrimento dos enunciados objetivos fechados, os quais já indicavam as alternativas de respostas. As questões que requeriam escrita dissertativa foram as que apresentavam abertura para a livre expressão do estudante sobre o conteúdo, além de outras formas de enunciado relativas à pesquisa, projetos e relatórios, tendo, consequentemente, uma liberdade de interpretação e julgamento das respostas por parte do avaliador. Assim, dos 45 enunciados analisados, 71% foram do tipo dissertativo; 20% apresentaram questões objetivas abertas e 9% objetivas fechadas (Tabela 2). Quanto aos recursos, tanto virtuais (vídeo, links, banco de dados, por exemplo) como físicos (biblioteca, laboratório, pesquisa de campo etc.), que, segundo Araújo Jr. e Marquesi (2009), são possibilidades específicas de uso que cada ambiente virtual oferece aos estudantes para realização de suas atividades, os enunciados variaram entre: referências trabalhadas nas disciplinas em textos base; a provocação para visitas ou pesquisa de campo; dados fornecidos em uma pergunta direta ou em situações problematizadoras, indicação de leituras diversas ou de livro específico; citação no corpo do enunciado; indicação de vídeos, filmes ou música, totalizando 96% de recursos físicos e 4%, virtuais (Tabela 2). Em relação à realização da atividade quanto ao tipo de interação discente, 92% das atividades foram individuais; apenas 8% orientaram para que a atividade fosse realizada em grupo fora do ambiente virtual e depois postadas no AVA, nenhuma atividade colaborativa foi identificada entre os enunciados (Tabela 2). Sobre o tipo de comunicação empregada na relação tutor/estudante as atividades de todos os enunciados privilegiaram a comunicação assíncrona, ou seja, aquela que ocorre em tempos diversos, “quando as pessoas não precisam estar simultaneamente on-line” (FERREIRA, 2010, p. 64). Na maioria (98%) das atividades foram usadas as ferramentas de envio de arquivo único, havendo apenas um questionário customizado, empregado como um teste (Tabela 2). Tabela 2- Frequência de enunciados, por categoria e subcategoria, quanto à forma Categorias Tipo de questão Recurso oferecido V.1, Nº 1, 2015 Subcategorias Objetiva fechada Objetiva aberta Discursiva Virtual (Vídeo, filme, música) Físico (Textos, livros, citações, visitas, pesquisa de 56 Enunciados Frequência (%) 20 9 71 4 Comunicação Interação Atividade campo) Assíncrona Síncrona Individual Grupal Colaborativa Envio de arquivo único Questionário customizado Fonte: RIOS (2013) 96 100 0 92 8 0 98 2 Com a análise dos enunciados, pode-se inferir que a maioria das atividades, 51%, enfatizou os conteúdos sistematizados na disciplina, 29% enfatizou a habilidade propriamente dita, como realizar pesquisa, elaborar projeto, questionário, tabela e relatórios de pesquisa e de visita técnica e apenas 20% enfatizou a dimensão da atitude. Para tanto, é importante que haja reflexão sobre a prática avaliativa, desde a elaboração dos enunciados das atividades avaliativas até a publicação dos resultados dos estudantes. E, nesse sentido, esta pesquisa vem provocar a reflexão de professores e tutores, observando os elementos iniciais do processo, ou seja, os enunciados. Uma sugestão que se traz é a participação dos tutores na elaboração de atividades avaliativas para o AVA. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Quanto aos enunciados das questões no AVA Moodle, as disciplinas realizadas no curso não utilizaram a potencialidade do AVA Moodle, restringindo-se a uma única ferramenta; a comunicação entre tutor e estudante nas atividades avaliativas ficou restrita ao modo assíncrono e também não foi detectada a valorização de atividade colaborativa. Não se pretendeu fazer aqui generalizações com a indicação dos achados no contexto da pesquisa realizada em Universidade pública no Nordeste brasileiro. Também não fizemos discussão com outros trabalhos correlatos, uma vez que não os obtivemos nas buscas em bases nacionais, no período da realização da pesquisa. Atualmente, damos continuidade ao estudo, analisando as manifestações dos tutores e alunos nos fóruns de discussão. Uma contribuição propositiva deste trabalho à instituição pesquisada (já cientificada) é de que haja orientação específica de caráter tecnopedagógico em termos de conhecimento e de habilidades voltadas para: i) as possibilidades de uso das ferramentas da Plataforma Moodle; ii) o planejamento didático de atividades com cunho avaliativo. V.1, Nº 1, 2015 57 Fica ainda a contribuição deste estudo referente à classificação didática de atividades avaliativas com ferramentas na Plataforma Moodle, bem como uma classificação das questões quanto à formulação de enunciados. REFERÊNCIAS ARAÚJO JR., C. F.; MARQUESI, S. C. Atividades em ambientes virtuais de aprendizagem: parâmetros de qualidade. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. 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Mestre em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Doutor em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é Vice-reitor e professor assistente III da Universidade de Taubaté. Professor do curso de Agronomia da Faculdade Integral Cantareira. V.1, Nº 1, 2015 60 POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL NAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS COSTA, Maria Luisa Furlan UNESP/SP KNUPPEL, Maria Aparecida Crissi UNICENTRO JUNIOR, Klaus Schlunzen UNESP/SP VIDAL, Eloisa Maia UFC ___________________________ Palavras - chave: Educação a Distância. Brasil. Universidade Aberta do Brasil. RESUMO Este artigo tem como objeto de análise as políticas públicas para o Ensino Superior a distância (EaD) e a implementação do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), tomando-se como ponto de partida a oficialização dessa modalidade de ensino na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O foco central são as ações desenvolvidas pelas universidades estaduais das cinco regiões do Brasil integrantes desse programa do governo federal que têm contribuído significativamente para a formação inicial e continuada de professores no Brasil. ABSTRACT This article has its goal to analyse public policies for College Distant Education and implementation of the Open Brazilian University System, stating from an official stand point of the Basics and Directives Law for National Education. The central aim are actions developed by the five regions of the State Universities which make part of the system coordinated by the Federal Government. This system has largely contributed for the initial formation and continuous improvement to the Brazilian teachers. Keywords: Distance Education. Brazil. Open University of Brazil ________________ V.1, Nº 1, 2015 61 1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA A oficialização da modalidade de educação a distância (EaD) e os avanços advindos das novas tecnologias da informação e comunicação contribuíram para a expansão da oferta de cursos superiores a distância no Brasil. Esse fato ocorre num contexto de grande pressão pelo aumento de vagas no ensino superior, decorrente de políticas de ajuste econômico que afetaram o crescimento das Instituições de Ensino Superior (IES) públicas, acentuando o déficit educacional que tem provocado a exclusão de grande parcela da população do acesso ao ensino superior. Nesse contexto surge, por parte do governo federal, um discurso em prol da modernização e racionalização das universidades públicas que indica a necessidade de se buscar alternativas capazes de acompanhar as demandas educacionais que a sociedade exige, e a EaD é apontada como uma possibilidade para ampliar e democratizar o acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade. Assim, o que move o Ministério da Educação (MEC) a desenvolver ações para incentivar, coordenar e financiar iniciativas na modalidade a distância é a possibilidade de democratizar e interiorizar o ensino superior. O principal objetivo do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), criado em 2005 no âmbito do Fórum das Estatais pela Educação, é a expansão e interiorização da oferta de cursos de educação superior tendo como base o estabelecimento de parceria entre as esferas federais, estaduais e municipais de governo. Até a promulgação da Lei no 9.394/96 (BRASIL, 1996a) e da criação da Secretaria Especial de Educação a Distância (SEED), vinculada ao MEC, na década de 1990, a EaD comumente era vista pelo governo, como um recurso paliativo utilizado para atender, em determinados momentos, às demandas específicas, geralmente de estudantes excluídos do sistema regular de ensino e ações de formação dirigidas para os profissionais que atuavam na educação básica. Essa postura do governo abriu espaço para que a iniciativa privada iniciasse o que se pode denominar de primeira onda de expansão da oferta de EaD no país. Paralelamente ao processo de normatização da EaD, a SEED foi criada, em 27 de maio de 1996, por meio do Decreto no 1.917 (BRASIL, 1996b), como um órgão do MEC, que representava a intenção do governo federal de investir na EaD e nas novas tecnologias como uma das estratégias para democratizar o acesso e elevar o padrão de qualidade da educação brasileira. No Artigo 27 desse Decreto definiram-se as competências da SEED, que desde o V.1, Nº 1, 2015 62 início recebeu a missão de planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implementação da política de EaD. No período de 1996 a 2007 a SEED assumiu a responsabilidade pelas ações e programas desenvolvidos a distância e também formulou as bases legais e políticas para a criação da UAB, considerada uma das ações de maior relevância para a política educacional do momento. Em 2007, a UAB migra da SEED e passa a ser coordenada pela Diretoria de Educação da Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A criação dessa diretoria, no contexto do que passou a ser chamado de “Nova Capes”, justifica-se em função do trabalho desenvolvido pelo MEC para a expansão do ensino superior a distância na esfera pública, como forma de conter o processo de privatização do ensino superior brasileiro. Essa reorganização resultou ainda da necessidade apontada no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) de se estabelecer um vínculo mais efetivo entre a educação básica e o ensino superior, com ênfase na formação e valorização dos profissionais da educação. Costa (2010) enfatiza que aas proposições do PDE constam que a formação e valorização dos professores deve ter como esteio de sustentação a UAB e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) que, juntos, poderiam favorecer o estabelecimento de uma relação permanente entre a educação superior e a educação básica. No referido documento consta que este seria o embrião de um futuro sistema nacional público de formação de professores. As novas responsabilidades delegadas à Capes no PDE implicou num amplo processo de reorganização de sua estrutura, aprovada por meio do Decreto no 6.316 (BRASIL, 2007). O artigo 2º desse Decreto, estabelece que a finalidade da Capes é a de subsidiar a formulação de políticas e desenvolvimento de atividades de suporte à formação de profissionais de magistério para a educação básica e superior, assim como para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Em 2011 a SEED foi extinta mediante uma reforma ministerial e seus programas passaram a ser vinculados a outras secretarias do MEC. V.1, Nº 1, 2015 63 2 O SISTEMA UAB E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES O artigo 61 da Lei no 9394/96 destaca a relevância da formação para os profissionais da educação, apontando para a necessidade de que todos os professores que atuam na educação básica devem possuir formação específica em nível superior. O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001, em suas metas e estratégias também postula a necessidade de formação em nível superior para atender às demandas da educação básica. Esse documento, na Meta nº 4, destaca a EaD como uma possibilidade para a oferta de ensino superior para atender às exigências sociais e educacionais. No quadro educacional que se apresentava à época da aprovação do primeiro PNE e para alcançar as metas estabelecidas para a formação de professores, o governo federal institui programas direcionados à formação dos profissionais da educação e por meio do Decreto n° 5800/2006 cria a UAB, voltada para o desenvolvimento da EaD com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no país. A atuação da UAB aumentou significativamente o acesso de pessoas ao ensino superior. Em 2010, o número de licenciados foi de 246 professores; em 2013, esse número ultrapassou 22.000 pessoas. Na formação continuada em nível de especialização, esse número era na ordem de 9 mil professores e, em 2013, a certificação atingiu 34 mil docentes. Mesmo com o aumento significativo de pessoas atendidas em cursos de formação em universidades públicas, assim como nas universidades particulares, há ainda a necessidade de formação de professores, como aponta o novo PNE (Lei nº 13.005, de 25/06/2014). Nesse documento, a Meta nº 15 busca assegurar que todos os professores da educação básica possuam formação em nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Há muito o que se avançar, pois segundo o Relatório do Observatório do PNE (2015), 25% dos professores que atuam na Educação Básica não possuem curso superior. De igual forma, destaca o Relatório que 67% dos professores que atuam nos anos finais do ensino fundamental não possuem licenciatura na área em que lecionam e, no ensino médio, a situação é semelhante, pois cerca de 51% dos professores que trabalham com essa modalidade precisam de formação em sua área de atuação. Já a Meta 16 do PNE aponta a necessidade de “[...] formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por V.1, Nº 1, 2015 64 cento) dos professores da educação básica, até o último ano de vigência do PNE” (BRASIL, 2014). Essas metas com suas respectivas estratégias incidem na necessidade de efetivação de uma política nacional de formação dos professores, e nesse sentido, algumas iniciativas têm sido implementadas. Recentemente, a Resolução nº 2 de 1º de julho de 2015, do Conselho Nacional de Educação (CNE), definiu as Diretrizes Nacionais para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada e apontou que para a consolidação das normas nacionais formação de profissionais do magistério para a educação básicaé indispensável, considerando a abrangência e a complexidade da educação de modo geral e, em especial, a educação escolar. Julgou importante ainda, a necessidade de articular as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada, em nível superior, e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. A Resolução, ao fazer referência ao PNE/2014, assinala: [...] torna-se imprescindível uma ação orgânica que se efetive por meio de política nacional e de Diretrizes Curriculares Nacionais direcionadas a romper com as assimetrias nacionais, regionais, estaduais, municipais e institucionais, bem como garantir profissionais com formação adequada nas diferentes etapas e modalidades e propiciar maior organicidade à formação (BRASIL, 2015a). Nessa citação, percebe-se urgência para que as IES concebam seus cursos de licenciaturas pautados: a) na formação inicial e continuada, de forma sistêmica e orgânica, entrelaçada com os princípios da educação básica; b) nas escolas como campo de prática dos profissionais do magistério; c) em formas de acesso à formação inicial e continuada que contribuam para a redução das desigualdades sociais, regionais e locais. Nas últimas décadas, esforços foram envidados para garantir maior organicidade entre as políticas, os programas e as ações direcionados à formação de professores. Mesmo com legislações e documentos aprovados que deram origem a iniciativas do Governo Federal, as necessidades são inúmeras, em termos de quantidade de pessoas que necessitam de formação e em qualidade de modo que assegurem uma formação ampla e sólida para esses profissionais. Por outro lado, é relevante reconhecer movimentos, sobretudo nas IES, de rediscussão da formação docente, resultando na constituição de grupos de pesquisas, publicações na área e instituição de fóruns de licenciaturas. A articulação com a educação básica é uma forma de fortalecer a atuação das IES, pois ao promover uma aproximação com as redes públicas de educação, mediante ações que V.1, Nº 1, 2015 65 valorizam a qualidade da educação, promove-se a retroalimentação dos processos educativos no âmbito das próprias IES. Portanto, é fundamental a participação das IES em programas de formação inicial e continuada dos profissionais da educação que privilegiem o ensino, a pesquisa e a extensão. Nesse âmbito, a EaD desempenha função estratégica, uma vez que rompe com barreiras espaciais e temporais, introduzindo inovações e favorecendo um amplo processo de inclusão digital, aspectos relevantes a ser considerados na educação do século XXI. Os programas de educação a distância voltados à formação de profissionais do magistério para a educação básica são indispensáveis para o projeto nacional da educação brasileira tendo em vista: 1) a urgente necessidade de ampliação da oferta de cursos de educação superior para a população; 2) aspectos relacionados à dimensão continental do país e à administração do tempo por parte dos indivíduos; 3) a oportunidade de acesso e de permanência na universidade; 4) a possibilidade do uso das tecnologias digitais de informação e comunicação como um dos mecanismos de inserção educacional que auxilia no processo de formação; 5) a qualidade dos cursos ofertados a distância pelas IES. Nesse contexto, a EaD mostra-se como uma modalidade educacional que é capaz de diminuir a distância do aluno frente a sua participação em atividades educativas. Entende-se essa modalidade como uma forma de encurtar a distância entre o aluno e o conhecimento, ao possibilitar-lhe, por meio de materiais educacionais digitais, o acesso a mais conteúdos e saberes. Pela inserção social e pelo alcance educacional, as universidades estaduais no Sistema UAB (SisUAB) têm contribuído significativamente para os processos de formação inicial e continuada de professores pois consideram que a formação acadêmica deve ser ampliada e que a democratização do conhecimento deve ser um marco referencial de sua existência. Os dados do SisUAB apontam que as universidades estaduais são responsáveis por um percentual significativo da formação de professores com forte presença no interior dos estados. Um balanço de sua participação no SisUAB pode ser observado na Tabela 1, indicando que a contribuição dessas instituições é de 21,3% no número total de vagas ofertadas. No tocante à oferta de vagas para professores, as universidades estaduais destinaram 46,6% do total de suas vagas para esse público, enquanto as federais (universidades e institutos) alocaram 39,2% das suas vagas. Quando se analisa um dos indicadores de rendimento do sistema, observa-se que nas universidades estaduais apenas 16,6% dos alunos foram desvinculados, o que representa V.1, Nº 1, 2015 66 30,5% dos alunos cadastrados, enquanto as instituições federais atingem 39,3% de alunos desvinculados. No que tange ao indicador de sucesso dos alunos, expresso pelo número de formados, os dados mostram que as universidades estaduais são responsáveis por 26,9% dos alunos que concluíram a UAB até o momento. Tabela 1 – Oferta de vagas e situação dos alunos no Sisuab, 2015 Total N° vagas 374.286 N° vagas N° alunos N° alunos N° alunos N° alunos prof cadastrados desvinculados falecidos formados 146.576 342.080 134.476 141 127.047 Estaduais 79.809 37.045 73.052 22.289 31 34.189 % em relação ao total 21,3% 25,3% 21,4% 16,6% 22,0% 26,9% Fonte: Capes. Sisuab em 23/09/2015 A Tabela 2 apresenta dados dos cursos de licenciatura no SisUAB e é possível constatar que as universidades estaduais são responsáveis por 32,7% dessas vagas, representando 50,1% do total de vagas para professores, apresentando um número menor de alunos evadidos. Tabela 2 – Oferta de vagas em licenciaturas e situação dos alunos no Sisuab, 2015 Licenciaturas Total N° vagas 111.627 N° vagas N° alunos N° alunos N° alunos N° alunos prof cadastrados desvinculados falecidos formados 43.557 100.276 45.739 72 33.242 Estaduais 36.485 21.825 33.535 9.406 16 16.300 % em relação ao total 32,7% 50,1% 33,4% 20,6% 22,2% 49,0% Fonte: Capes. Sisuab em 23/09/2015 Nas Tabelas 1 e 2, observa-se a colaboração entre os entes federados na consecução dos objetivos de um programa nacional de formação de profissionais do magistério da educação básica, articulado pelo MEC, por meio da Capes, pelas instituições formadoras e sistemas e redes de ensino. Nesse cenário, as universidades estaduais, mesmo não integrando o sistema federal de ensino superior, têm contribuído significativamente em termos sociais, educacionais e culturais para com as pessoas de diferentes regiões do país. O objetivo do Edital n° 75, lançado em dezembro de 2014, era a oferta de 250 mil novas vagas em cursos superiores na modalidade a distância para serem preenchidas pelas IES que compõem o SisUAB. Em resposta ao Edital, 96 instituições apresentaram propostas, totalizando 197.215 vagas, sendo 76.799 (38,9%) para licenciaturas, 39.975 (20,3%) para o V.1, Nº 1, 2015 67 Programa Nacional de Administração Pública e 80.441 (40,8%) para outros cursos (incluindo bacharelados e especializações). Um olhar mais detalhado sobre a participação das universidades estaduais nesse Edital mostra que as 27 instituições participantes do SisUAB apresentaram propostas para 43.386 vagas, sendo 46,9% (20.331) para licenciatura, 22,1% (9.615) para o PNAP e 31,0% para outros cursos. O Gráfico 1 permite observar como está distribuída a oferta das licenciaturas entre as 50 universidades federais, os 18 institutos e as 27 universidades estaduais. Gráfico 1 – Oferta das licenciaturas Edital 75/2014 Fonte: Capes. Dados do Edital 75/2014 Quando estratifica-se os dados por região geográfica (Tabela 3), observa-se que a maior oferta de licenciatura se encontra na região Nordeste, seguida das regiões Sul e Sudeste, fato associado ao perfil dos docentes da educação básica das respectivas regiões. Tabela 3 – Oferta de vagas em licenciaturas por tipo de instituição e região geográfica, 2015 Região/Instituição Norte Estaduais Federais Institutos Total 200 2.380 315 2.895 Nordeste 6.000 23.095 3.848 32.943 Sudeste 2.126 10.615 2.790 15.531 Sul 8.805 6.975 630 16.410 Centro Oeste 3.200 4.420 1.400 9.020 Total 20.331 47.485 8.983 76.799 Fonte: Capes. Dados do Edital 75/2014 O Gráfico 2 mostra as ofertas de licenciaturas em cada região do país e a participação percentual das instituições constituintes do SisUAB. Assim, verifica-se que as universidades estaduais se destacam na oferta desses cursos na região Sul, ultrapassando as ofertas das universidades federais e institutos juntos, e na região Nordeste respondem por V.1, Nº 1, 2015 68 22,3% da oferta das instituições federais. Na região Centro-Oeste, a participação das universidades estaduais representa 55% da oferta das instituições federais; e no Sudeste, respondem por 15,9% da oferta das instituições federais. Gráfico 2 – Percentual de oferta de licenciaturas por tipo de instituição e região geográfica, 2015 Fonte: Capes. Dados do Edital 75/2014 Aliada à conjuntura aqui apresentada, reforça-se a exigência legal de que todos os professores da educação básica possuam escolaridade em nível superior e participem de programas de formação continuada. Destaca-se também a necessidade do aumento da oferta de vagas via modalidade de educação a distância, porque somente um modelo de educação que supere os limites de tempo e espaço é capaz de oferecer condições permanentes de aprendizagem ao longo da vida, podendo vir a modificar o sentido da formação dos professores. A alta seletividade no ensino superior brasileiro e as dificuldades em ampliar significativamente seu atendimento fazem com que cada vez mais as universidades públicas busquem uma atuação conjunta e consorciada em favor da democratização e da qualidade do ensino e, nesse sentido, as universidades estaduais têm estabelecido parcerias em sua atuação e reforçado seu compromisso social em favor da democratização desse nível de ensino. 3 O ENSINO HÍBRIDO E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EAD NAS IES ESTADUAIS É inegável que os principais avanços científicos das últimas décadas têm relação estreita com o surgimento e desenvolvimento das tecnologias digitais. Depende-se quase que V.1, Nº 1, 2015 69 integralmente do uso de equipamentos digitais para o trabalho, para as pesquisas, para a vida em sociedade, cuidados com a saúde, etc..., mas muito pouco com o seu emprego em educação, como meio para favorecer o trabalho docente em ambientes educacionais cuja finalidade primordial é levar as pessoas a aprender e por meio desse aprendizado, poder aplicar os conhecimentos construídos em sua vida. As tecnologias digitais ampliam as habilidades cognitivas, motoras e sensoriais. Nessa premissa, se elas potencializam nossas capacidades, por que não empregá-las em ambientes de aprendizagem? Limitar o processo educacional à figura única do professor é perpetuar uma realidade que teria algum sentido em um tempo muito distante, uma vez que hoje é possível encontrar a informação em vários meios digitais e com qualidade. Além disso, entender que o estudante é um ser integralmente dependente do professor é relegar a educação a um processo de subordinação, de não autonomia, não criativo e hierarquizado, características que não interessam ao futuro profissional em formação. Defende-se uma educação que deve continuar tendo o professor como o orquestrador do processo, mas aliado ao uso das tecnologias digitais, da combinação do presencial com o virtual, conduzindo a uma educação híbrida (GARRISON; VAUGHAN, 2008) que combina a competência docente com as potencialidades do digital. Empreender ações para uma educação híbrida implica fazer com que o professor se desprenda de modelos pedagógicos centrados em sua pessoa, limitados ao espaço e ao tempo da sala de aula. Significa uma oportunidade para o docente refletir sobre o próprio conceito de aula, como se dá a sua interação com os estudantes, de que maneira ocorre o aprendizado e como este pode ser avaliado. Nessa direção, a educação híbrida conduz o professor a definir um novo planejamento de atividades que não mais considera a sua presença física e a do estudante, mas pensarem como podem construir ambientes de aprendizado significativos e contextualizados independentes da relação espaço e tempo. É necessário entender que o uso das tecnologias pode provocar mudanças na concepção de novas metodologias para a educação, favorecendo a construção de ambientes de aprendizagem que exploram o potencial das tecnologias na direção de ambientes ricos, contextualizados, personalizados, acessíveis e significativos e que podem servir de suporte para o desenvolvimento de atividades educacionais orientadas essencialmente por professores, o que certamente não implica em sua substituição por máquinas digitais. V.1, Nº 1, 2015 70 O conceito de aula limitado ao tempo e ao espaço físico da sala, no qual professores e estudantes necessariamente encontram-se presencialmente para uma atividade de ensino e de aprendizagem é hoje questionado. Esse modelo, por meio do qual o professor professa e o estudante recebe a informação, não tem mais sentido em um mundo permeado pelas tecnologias, onde talvez o lugar mais pobre de informação é a própria escola19, essencialmente focada na figura do docente. O acesso universal à informação por meio das redes de computadores coloca nas mãos dos estudantes dados de qualquer natureza, com uma qualidade muito superior quando comparada a outros meios comumente empregados. Esse cenário põe em xeque um sistema educacional centrado na informação e que sobrevivia até então graças aos limites que se tinha em relação às tecnologias, uma vez que o estudante, para ter acesso a elas, dependia quase que exclusivamente dos recursos tecnológicos da escola ou da IES. O surgimento das tecnologias móveis derrubou essa situação e deu origem a novos desafios para o professor e para os estudantes. Portanto, acreditar em uma educação híbrida é desenvolver uma nova perspectiva de educação centrada no humano, que abra possibilidades para uma educação permeada por tecnologias, possibilitando novas perspectivas, como ocorre nos demais setores da sociedade, considerando um mundo em que se deve aprender continuamente, ao longo da vida, com independência para encontrar materiais e diferentes fontes de informação e de conhecimento. Esse breve cenário remete a uma educação superior que alia as competências em ensino, pesquisa e extensão na construção de uma academia que deverá ter sua capacidade expandida e democratizada mediante uma formação mais flexível e inclusiva. Para o professor, a compreensão de que o estudante pode ter acesso ao conhecimento por meio de tecnologias digitais, de forma a utilizar o espaço e o tempo na IES para aprofundar suas expectativas de aprendizado. Nessa concepção, têm-se promissoras esperanças de uma educação superior que alia qualidade a novas formas de ensinar e de aprender. Para auxiliar nesse processo de mudança, as IES precisam definir iniciativas de uso das TDIC em sua atividade regular. Em muitas das IES estaduais, isso tem se concretizado com o oferecimento de cursos no SisUAB. Em algumas, há iniciativas próprias ou fomentadas por sistemas estaduais públicos de educação. Em todas essas ações, os 19 O termo escolar aqui é utilizado para indicar qualquer espaço de educação, da educação básica ao ensino superior. V.1, Nº 1, 2015 71 resultados mostram importantes avanços no uso das TDIC no ensino superior, bem como o início de um tímido processo de institucionalização da EaD (SCHLÜNZEN JUNIOR, 2013). Na direção da institucionalização, a concepção de mudança pautada em uma educação híbrida certamente poderá contribuir para que de fato se tenha o uso das TDIC e de ações de EaD verdadeiramente impregnadas nesse contexto. Isto implicará em uma reavaliação da academia em diversos aspectos, considerando uma reformulação curricular com metodologias ativas e novos conceitos de participação discente, de avaliação, de novos ambientes de aprendizagem, presenciais ou virtuais, e de redefinir o esforço docente frente ao potencial das tecnologias como um recurso pedagógico. Ao reavaliar o cenário, ter-se-á a chance de construir uma educação superior permeada por metodologias que privilegiem a construção do conhecimento pelos estudantes, com autonomia e autoria. O uso de estratégias como aprendizagem baseada em problemas (PBL) e projetos, aliada a uma concepção de sala de aula invertida (flipped classroom), irão desonerar o professor de ser o transmissor da informação e o transformar em um verdadeiro orientador. Nessa perspectiva, a institucionalização da EaD nas IES irá se transformar em um processo de impregnação do uso das tecnologias no ensino superior, em cursos presenciais ou a distância. O próprio termo EaD provavelmente deverá se traduzir por uso de tecnologias na educação, uma forma mais simples de indicar ações de educação em um contexto globalizado e de alta conectividade. Portanto, o processo de institucionalização da EaD nas IES passará muito provavelmente pelo estabelecimento de uma educação híbrida que permitirá aos professores construir gradativamente uma cultura de uso das tecnologias em diversas atividades de docência. A transformação dos ambientes de aprendizagem será realizada pelo convívio entre o presencial e o a distância, com professores envolvidos nessas modalidades de educação e com a compreensão dos gestores de que é necessário apoiar tais mudanças por meio de um amplo diálogo com a comunidade acadêmica e com a sociedade no sentido de atender às demandas por uma educação mais contextualizada, mais significativa e mais inclusiva. Contudo, enquanto o processo de institucionalização não estiver finalizado, é de fundamental importância que as políticas públicas adotadas pelo governo federal possam contemplar as especificidades de todas as instituições que integram o sistema UAB. A questão a ser definida, a curto e médio prazo, é em qual instância do Ministério da Educação as políticas e os programas de educação distância devem ser alocados de forma que não se tenha V.1, Nº 1, 2015 72 a exclusão das universidades estaduais que, conforme dados apresentados neste artigo, tem contribuído de forma significativa para a formação de professores da Educação Básica em cursos ofertados na modalidade a distância. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996a. BRASIL. Decreto no 1.917, de 27 de maio de 1996. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e Funções Gratificadas do Ministério da Educação e do Desporto e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 maio 1996b. BRASIL. Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional da Educação e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Fórum das Estatais pela Educação: diálogo para a cidadania e inclusão. Brasília, DF: 2004. Disponível em: <http://www.portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/texto.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2005. BRASIL. Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 2005a. BRASIL. Ministério da Educação. Fórum das Estatais pela Educação. Projeto: Universidade Aberta do Brasil. Brasília, DF: 2005b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/universidade.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2006. BRASIL. Decreto 5800/2006. Dispõe sobre a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil. Brasília, DF: 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2006/decreto/ d5800.htm> Acesso em: 26 set. 2015. BRASIL. Decreto no 6.316, de 20 de dezembro de 2007. Aprova o Estatuto e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 2007. BRASIL. Ministério da Educação. O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. Brasilia, DF: [s. d.]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/livromiolo v4.pdf>. Acesso em: jul. 2008. BRASIL. Plano Nacional de Educação. Lei n. 13.005/2014. Brasília, DF: 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso em 26 set. 2015. BRASIL Resolução nº 02 de 01 de julho de 2015. Diretrizes Nacionais para a Formação Inicial em nível superior e para a formação continuada. Brasília, DF: 2015a. Disponível em: <http://www.cref14.org.br/boletin/ res_cne_cp_002_03072015.pdf> Acesso em: 26 set. 2015. V.1, Nº 1, 2015 73 BRASIL. Parecer nº02/2015 do Conselho Nacional de Educação. Brasília, DF: 2015b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=17625parecer-cne-cp-2-2015-aprovado-9-junho-2015&category_slug=junho-2015pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 26 set. 2015. COSTA, Maria Luisa Furlan. Políticas públicas para o ensino superior a distância e a implementação do sistema Universidade Aberta do Brasil no estado do Paraná. 186 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho. Araraquara, 2010. GARRISON, D. R.; VAUGHAN, N. Blended learning in higher education. São Francisco: Jossey-Bass, 2008. SCHLÜNZEN JUNIOR, K. A Institucionalização da Educação a Distância no Brasil: Cenários e Perspectivas. Revista Teoria e Prática da Educação, v. 16, p. 113-124, 2013. V.1, Nº 1, 2015 74 Currículo Maria Luisa Furlan Costa - Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Universidade Paulista Julio de Mesquita Filho - UNESP/Araraquara. Professora adjunta da Universidade Estadual de Maringá. Maria Aparecida Cristal Knuppel - Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Maringa. Professora adjunta da Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO. Klaus Schlunzen Junior - Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas. Professor livre-docente em Informática e Educação pela Universidade Estadual Paulista – Unesp. Eloisa Maia Vidal - Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Professora adjunta da Universidade Estadual do Ceará. V.1, Nº 1, 2015 75 COMPARAÇÃO DE PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE VÍDEOS EDUCACIONAIS JUNIOR, Paulo Augusto de Freitas Cabral UFRGS CARNEIRO, Mária Lúcia Fernandes UFRGS ___________________________ Palavras - chave: Vídeo Educacional. Videoaula. Produção de Vídeo. Educação a Distância. RESUMO Este artigo apresenta uma comparação entre dois exemplos de sistematização de processos de produção de vídeos educacionais, desenvolvidos em projetos de educação a distância de instituições de ensino superior, sob a luz de produções acadêmicas e dos processos clássicos de realização audiovisual. ABSTRACT This paper presents a comparison between two examples of process systematization of educational videos production, developed in projects of distance education in higher education institutions, in the light of academic productions and classical processes of audiovisual realization. Keywords: Educational Video.Video Lecture. Video Production. Distance Education. V.1, Nº 1, 2015 76 1 INTRODUÇÃO A utilização do audiovisual como instrumento pedagógico se manifesta na história da civilização ocidental a partir do início do século XX, com o surgimento do cinema educativo em países como Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Inglaterra e União Soviética. Em alguns casos o emprego deste recurso tecnológico também tinha intenções doutrinárias ou de propaganda ideológica, com objetivos de controle da informação e de poder político (CATELLI, 2003). Dentro deste panorama, em 1936 foi criado no Brasil o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) em pleno regime do Estado Novo, organizado pelo antropólogo Edgard Roquette Pinto (precursor da radiodifusão no Brasil) e tendo como principal realizador o cineasta Humberto Mauro. Desta forma, com o patrocínio do INCE, no período entre 1936 e 1964 e adotando uma linguagem cinematográfica de documentário foram realizados cerca de 357 curta-metragens de caráter científico, histórico e de poética popular (CATELLI, 2007). A partir de 1969 iniciam os projetos das TVs Educativas brasileiras, disseminando o ensino a distância, promovendo o desenvolvimento da tele-educação no país e se apresentando como solução para os problemas de falta de qualidade no ensino e insuficiência de professores, principalmente para as séries iniciais. Dentro deste cenário, a partir de uma iniciativa do Ministério da Educação, do Centro Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) se desenvolve na década de 70 o projeto SACI (Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares), que em formato de telenovela integrava o sistema de educação nacional com o sistema de comunicação de massa via televisão, com o uso de satélite e objetivando integrar nacionalmente o ensino básico, segunda a lógica governamental vigente a época, em estreita sintonia com a doutrina de segurança nacional (COUTINHO, 2006). Em meados da década de 90 o Ministério da Educação (MEC) inicia o projeto da TV Escola, com objetivo de inserir as tecnologias digitais na cultura da educação do país, utilizando novamente o audiovisual como recurso educativo e como alternativa para suprir as deficiências existentes no setor. Tanto em suas produções, como nos pacotes adquiridos de outras televisões de cunho educativo, a TV Escola esta engajada com a equidade na educação, V.1, Nº 1, 2015 77 distribuindo seu sinal para que todos tenham acesso à informações e conhecimentos desenvolvidos pela humanidade (CATELLI, 2007). Ainda na década de 90 o MEC estabelece estratégias para a consolidação do ensino a distância, através do Sistema Nacional de Educação a Distância (SINEAD), fomentando a inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) através da integração com outros órgãos, como o Ministério das Comunicações, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, o Conselho de Secretarias Estaduais de Educação e a União de Dirigentes Municipais de Educação (COUTINHO, 2006). O desenvolvimento de projetos para o uso do audiovisual no campo educacional tem estimulado muitas pesquisas e investigações a respeito dos processos de ensino e aprendizagem, consolidando alguns paradigmas, mas também promovendo muitos questionamentos em relação aos dilemas enfrentados pelos sistemas educativos em incorporar estas tecnologias, principalmente para entender as representações de seus atores dentro destes contextos (ORTEGA, 2014). Segundo Ferrés (1996) é necessário preparar o professor para que este faça uso eficiente da ferramenta audiovisual na sua rotina docente, exigindo uma formação específica, sistemática e generalizada. Pensar em uma estratégia de capacitação do professor, contemplando o conhecimento das técnicas audiovisuais, do ambiente e dos recursos de produção, estimulando que o docente absorva esta cultura, decidindo com propriedade em como explorar e adaptar ao máximo seus conteúdos dentro deste processo de comunicação que combina imagens e som. O audiovisual é um recurso de comunicação que emprega a linguagem direta e coloquial, se comunica através de emoções e amplifica o efeito de presença mediante sua distribuição (FERRÉS, 1996). Ao comparar processos de realização de vídeos educacionais, pretende-se observar estas necessidades de preparação do professor, para adaptar-se ao fazer audiovisual e transportar para o vídeo educacional o mesmo desempenho observado na aula presencial. A apresentação deste artigo esta estruturada com a seguinte organização: o item 2 apresenta as definições conceituais que estruturam os processos clássicos de realização audiovisual, no item 3 é realizada a comparação entre alguns exemplos de processos de produção desenvolvidos em instituições de ensino superior e no item 4 conclui-se com uma reflexão sobre os procedimentos sistematizados em dois exemplos de laboratórios com produção significativa na área de EaD. V.1, Nº 1, 2015 78 2 ETAPAS DA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL A produção de vídeos educacionais enquadra-se dentro da perspectiva de produção de um documentário, mas sem deixar de lado a interação entre a equipe de produção e o ator principal, no caso, o professor. Essa caracterização considera que, para a realização de um documentário existe um tipo especial de colaboração, envolvendo a equipe de produção e o assunto abordado, enquanto que em uma história de ficção, a produção audiovisual representa outro tipo de esforço de colaboração entre a equipe atrás da câmera e o desempenho dos atores na frente dela. Conforme Ascher e Pincus (2013), em um nível bem básico, a produção audiovisual depende de quatro processos essenciais para sua realização: a elaboração de um roteiro, o planejamento da produção, a captação de imagem e de som e a montagem final, através da edição por processo de seleção e combinação do material captado. Na abordagem proposta neste artigo serão destacadas as etapas de desenvolvimento de roteiro, de planejamento da produção e a de captação da imagem. 2.1 O Roteiro O primeiro passo para uma realização audiovisual é desenvolver um roteiro e planejar a abordagem técnica do trabalho, quando se realiza o primeiro tratamento da história que se pretende exibir. Conforme Syd Field (1996) o roteiro “é uma história contada em imagens, diálogos e descrições, dentro do contexto da estrutura dramática”. (FIELD, 1996, p. 15). O roteiro também é entendido como técnica de elaboração ou de pré-visualização de um audiovisual, constituindo o ponto de referência para o preparo de todas as ações técnicas e de organização do processo, servindo como um mapa de orientação para a equipe de produção (ASCHER ; PINCUS, 2013). Desta forma, a partir da elaboração do roteiro, é possível desenvolver o planejamento de produção e o agendamento das atividades, elaborando um cronograma de produção. No caso do vídeo educacional, o argumento inicial para desenvolver o roteiro pode ser uma apresentação em lâminas em formato de slides preparadas para aulas presenciais, ou mesmo um mapa conceitual que represente o conteúdo desejado. V.1, Nº 1, 2015 79 Existem dois exemplos básicos de roteiros utilizados na produção audiovisual: o modelo de sequência de cenas, também chamado de “Literário” ou “Master Scenes”, com estrutura vertical (Figura 1), indicando características de cada etapa da gravação, como o número da cena, indicações do local, tempo, ação, personagens, diálogos (mais utilizado na produção de ficção) e o conhecido como “Script” ou “Decupado” (Figura 2), em duas colunas verticais, onde a coluna esquerda indica as informações visuais (imagens, geradores de caracteres, animações, fotos) e a coluna direita indica as informações sobre a trilha sonora (diálogos, locução, música e ruídos), sendo mais utilizados nas produções de documentários e telejornalismo. Figura 1- Modelo de roteiro literário (Cidade de Deus, Braulio Mantovani) Fonte: http://www.roteirodecinema.com.br/roteiros/cidadededeus.htm. Acesso em 26 fev. 2014 V.1, Nº 1, 2015 80 Figura 1 - Modelo de roteiro decupado Fonte: BAUER; GASKELL, 2008, p.352 2.2 Produção A etapa de produção abrange toda organização e gerenciamento da realização audiovisual. A organização da produção exige a configuração de uma equipe e a definição de tarefas. Desta forma, as funções da equipe devem ser definidas e planejadas para atender a execução do roteiro. Neste momento devem ser previstas todas as necessidades para a realização do audiovisual, estimando os recursos técnicos necessários para a execução do trabalho, como todo tipo de equipamentos, bem como as especialidades profissionais da equipe técnica. Ainda devem ser observados os tipos de locação onde serão realizadas as gravações, como, por exemplo, em estúdio (interna) ou em ambiente natural (externa), o figurino do elenco, os objetos e os adereços de cena. Um detalhe que não pode ser esquecido é de verificar as infraestruturas de logística, relativas a alimentação, acomodações e transporte para deslocamento da equipe e equipamentos (ASCHER ; PINCUS, 2013, p.357). No caso dos processos de produção analisados neste artigo, este ambiente de produção atende aos padrões de configuração básicas de um estúdio de gravação, com relativo controle de V.1, Nº 1, 2015 81 manifestações sonoras e de iluminação, com câmera de vídeo, tripé para câmera, teleprompter, microfone de lapela, refletores de luz fria e rebatedores de luz, bem como equipe técnica especializada para operação dos equipamentos. 2.3 Captação de Imagem A linguagem audiovisual é composta por elementos definidos a partir de como a ação é capturada e enquadrada pela câmera. Estes elementos são constituídos por uma série de tomadas, elaboradas por planos, ângulos, movimentos e composição de enquadramento, que compõem uma cena e que, a partir da construção de uma sequência de várias destas cenas, estabelecem a narrativa audiovisual (ASCHER ; PINCUS, 2013, p.184). As cenas representam um evento que ocorre em um determinado ambiente em determinado período de tempo contínuo. Já a sequência é uma série de cenas que compõe uma unidade dramática. Por sua vez, as tomadas representam cada seção de imagens a partir do momento em que a câmera começa a gravar até o momento em que é interrompida a gravação, tendo relação direta com o tempo de duração entre o início e o fim do registro desta imagem. Desta forma, uma série de tomadas pode compor uma cena e uma série de cenas pode compor uma sequência (ASCHER ; PINCUS, 2013, p.322). Em relação aos planos e a composição de quadro, a classificação é definida a partir da relação em que a figura é enquadrada e a dinâmica dentro do quadro, com parâmetros relativos ao movimento da imagem. Basicamente existem três tipos de planos, denominados de Plano Geral (Figura 3), Plano Médio (Figura 4) e Plano Fechado (Figura 5). Uma série de derivações de tipos de plano é mencionada na literatura audiovisual, mas universalmente eles se resumem nestes três tipos mencionados (ASCHER ; PINCUS, 2013, p.323). V.1, Nº 1, 2015 82 Figura 3 - Exemplo de Plano Geral Fonte: HUGO, Paramount Pictures, EUA, 2011, cor, 127 min Figura 4 - Exemplo de Plano Médio Fonte: O Poderoso Chefão, Paramount Pictures, EUA, 1972, cor, 175 min V.1, Nº 1, 2015 83 Figura 5 - Exemplo de Plano Fechado Fonte: Gravity, Warner Bros., EUA / UK, 2013, cor, 91 min A construção do plano começa no display da câmera e a composição trata da percepção deste enquadramento, que é uma forma de controlar a atenção do espectador, priorizando certos elementos na cena e excluindo outros (ASCHER; PINCUS, 2013, p.325). 3 EXEMPLOS DE SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO Algumas tentativas de documentação do processo de produção de vídeos educacionais foram propostas por instituições que desenvolvem projetos em EaD, utilizando o audiovisual como objeto de aprendizagem. A seguir serão apresentados os exemplos desenvolvidos por estas instituições, em um exercício de sistematização do processo. A Secretaria Geral de Educação a Distância (SEaD) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) é responsável por cinco cursos de graduação, além de atender cursos de especialização e extensão. Com uma demanda significativa de vídeos educacionais, sua equipe técnica é composta por 18 profissionais de produção audiovisual, responsável pelo desenvolvimento de uma metodologia específica para o seu processo de produção e dividida em três etapas distintas, compostas por Pré-Produção, Produção e Pós-Produção (MAZZEU ; AMBRÓZIO, 2012). Assim, a equipe da SEaD/UFSCAR primeiro atende a demanda da etapa de PréProdução, quando é efetuado o contato com o professor, realizada uma reunião e ativado o processo de produção do roteiro. A etapa de Produção contempla a revisão do roteiro, a produção de material para ilustração e a gravação do vídeo educacional. A etapa de pós- V.1, Nº 1, 2015 84 produção abrange a edição e animação, revisão do produto para aprovação, catalogação, autoração de DVD, duplicação e impressão e distribuição (MAZZEU ; AMBRÓZIO, 2012). Dentro deste organograma destacam-se algumas características que demonstram a preocupação da equipe com o processo como: a orientação ao professor de como preparar um roteiro dentro do padrão do modelo “script”, com duas colunas; a realização da decupagem das cenas do roteiro, planejando os planos e a composição dos elementos em quadro; e a montagem do material realizada em plataforma não-linear, com sua finalização realizada em formatos de vídeo compatíveis para transmissão via Internet (MAZZEU ; AMBRÓZIO, 2012). Desta forma, identifica-se uma sintonia com o processo profissional de produção audiovisual, adaptando o material e a rotina do professor para a linguagem audiovisual. O Laboratório de Educação a Distância (LED) do Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento (DEGC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também apresenta uma sistematização do processo de produção de vídeo educacional com fluxo baseado nas etapas de Pré-produção, Produção e Pós-produção (SPANHOL ; SPANHOL, 2009). A fase de Pré-produção compreende o planejamento, com a definição da ideia central do audiovisual, a elaboração de roteiro e cuidados com a produção, principalmente relativos a figurinos, o tipo de linguagem e o treinamento da equipe que estará envolvida na produção. A etapa de Produção é dedicada para a gravação do vídeo educacional, com cuidados dedicados para as questões de iluminação, sonorização, tempo de duração, figurino e linguagem de apresentação do conteúdo. Na fase de Pós-produção são realizadas as atividades de montagem e finalização do material, observando a síntese do material captado, a preparação de material de ilustração, como animações, grafismos e mensagens textuais, que enriqueçam o material. Depois de finalizado o vídeo educacional é disponibilizado em ambiente de rede para validação de uma equipe pedagógica e, em caso de aprovação, é publicado em ambiente virtual (SPANHOL ; SPANHOL, 2009). Neste exemplo do LED do DEGC da UFSC também se observa uma preocupação em tratar o material bruto, utilizado na aula presencial, para uma adaptação à linguagem audiovisual, dentro dos processos profissionais de produção descritos anteriormente. Em 2006, o Centro Nacional de Supercomputação (CESUP) da UFRGS reestruturou suas atividades de capacitação, criando o setor de Treinamento e Divulgação Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologias Educacionais, que a partir de 2008 aperfeiçoou sua estrutura de treinamento presencial para a cultura de capacitação a distância, V.1, Nº 1, 2015 85 estabelecendo uma rotina de produção permanente de matérias educacionais digitais, com uma equipe para pesquisar e desenvolver conhecimentos teóricos e técnicos nesta área. Dentro desta estratégia, o CESUP montou uma equipe responsável pela produção e gerenciamento do acervo de audiovisuais, constituída de desenvolvedores, programadores, roteiristas e profissionais de vídeo e comunicação (GRASSI ; EWALD, 2014). A estratégia de estrutura técnica desenvolvida pelo CESUP, documentado por Timm et.al. (2008), prioriza a agilidade na produção dos materiais através da configuração de uma estrutura “plug-and-play”, para evitar a demora e o desgaste em montagem e desmontagem de equipamentos em cada ocasião de uso. Esta estrutura apresenta uma configuração de estúdio profissional, com isolamento acústico e iluminação especial, para geração, transmissão e gravação de aulas, aliando um ambiente presencial com a possibilidade de um ambiente virtual, com transmissão em vídeo streaming20. Neste ambiente de sala de aula integrada a um estúdio o professor pode apresentar seu conteúdo diante de um fundo em chroma key21, tendo como apoio câmera de documentos, projetor, monitor onde pode visualizar a imagem projetada em seu fundo (efeito chroma key) e duas câmeras operadas remotamente que enviam suas imagens para uma central de suíte (com mesa de corte em tempo real e mesa de áudio) onde um operador seleciona a imagem que estará sendo transmitida em streaming ou gravada para posterior edição (TIMM et al., 2008). 4 COMPARANDO PROCESSOS EM ATIVIDADE A partir das conceituações e dos processos sistematizados para produção de vídeos educacionais que foram apresentados, serão comparados dois exemplos de produção audiovisual, desenvolvidos por instituições de ensino superior para atender demandas em EaD. Para esta comparação foram selecionados o setor de EaD de uma universidade privada (EaDPV) e o setor de EaD de uma universidade pública (EaDPB). O critério de seleção levou em consideração a atualidade das produções destas duas instituições, com projetos consolidados e significativa demanda de produtividade. 20 distribuição de mídias na Internet através de pacotes de dados; 21 técnica utilizada em audiovisual para vazar o fundo da imagem, geralmente nas cores azul, verde ou vermelho; V.1, Nº 1, 2015 86 4.1 Estrutura técnica As duas instituições apresentam recursos técnicos profissionais para suas equipes de desenvolvimento, com equipamentos e profissionais especializados. A EaDPV tem como suporte técnico a estrutura de uma televisão universitária, com dois estúdios de gravação, cenários, iluminação suspensa com refletores específicos para produção audiovisual, isolamento acústico e captação de áudio com microfones de extrema qualidade. As câmeras são com definição HD, apoiadas em tripés com dolly22 e equipadas com teleprompter23. A equipe de produção é composta por: diretor de vídeo, operadores de câmeras, operador de áudio, editores de suíte, editores não-lineares, produtor de set, roteirista, arte-finalista, cenógrafo, maquiador, cabeleireiro, eletricista e maquinista. A EaDPB apresenta uma estrutura com estúdio de gravação com isolamento acústico, microfones de lapela e shotgun24 para captação de áudio em alta qualidade, iluminação suspensa com refletores de luz fria e parede com fundo infinito, pintada em cor verde para recorte de chroma key. As câmeras são HD, com suporte em fita e em cartão de memória, são estabilizadas em tripés com cabeça fluída, com dolly e equipadas com teleprompter. O estúdio da EaDPB tem condições de realizar transmissões via web, através de plataforma de videoconferência similar ao Adobe Connect25. A equipe de produção é composta por bolsistas das áreas de programação, ilustração, design, animação e especialistas em vídeo, coordenados por docentes e técnicos administrativos. 4.2 Roteiro adaptado A equipe da EaDPB apresenta tutoriais de elaboração de roteiro e storyboard26, reforçando a necessidade de adaptar o conteúdo da aula presencial para a linguagem de vídeo. O modelo de roteiro apresentado esta dividido em três colunas, com a descrição da ação. Na 22 sistema de rodas que apóiam tripé de câmera; 23 sistema acoplado no tripé da câmera de vídeo que projeta texto a ser lido pelo interlocutor; 24 microfone direcional utilizado em cinema e televisão; 25 http://www.adobe.com/br/products/adobeconnect.html 26 ilustrações que ajudam a pré-visualizar as cenas de um audiovisual; V.1, Nº 1, 2015 87 primeira coluna é anotada a marcação de tempo, cronometrando minutos e segundos; a segunda coluna descreve o áudio e a terceira coluna é dedicada a descrever a imagem. Este tipo de roteiro se assemelha ao modelo de roteiro técnico, muito utilizado em produções de animações, porém, em todos os roteiros de produção audiovisual com estrutura vertical (colunas) a descrição da ação, com indicação das imagens é posicionada na coluna sempre a esquerda do áudio. Já no tutorial de orientação para elaborar o storyboard percebe-se que nas ilustrações para definir o enquadramento da câmera são acrescentadas anotações com indicações de movimentação das figuras. A EaDPV desenvolveu um pequeno manual de procedimentos, destacando a necessidade de adaptar o conteúdo para a linguagem audiovisual, bem como algumas dicas para o desempenho do professor diante da câmera. Neste material é indicado que a primeira etapa para a produção do vídeo é elaborar o roteiro, enfatizando que o texto deste roteiro será lido no teleprompter na hora da gravação. Este texto deverá ser em linguagem coloquial, com frases em ordem direta, na terceira pessoa do singular, com parágrafos curtos, para deixar o vídeo educacional mais dinâmico e representar mais proximidade com o aluno. A estrutura deste roteiro deve apresentar três momentos (abertura, desenvolvimento e fechamento), observando que o professor deve pensar em materiais de ilustração para inserir durante a fala, para não ficar apenas a sua imagem aparecendo no vídeo. 4.3 Captação de áudio e imagem A equipe da EaDPV utiliza duas câmeras para a gravação dos vídeos educacionais, sendo uma com enquadramento médio (da cintura para cima) e outra com plano mais fechado (tronco para cima). O cenário de fundo é padronizado, com o logotipo da instituição. É utilizado microfone de lapela ou com sistema de boom27, para captação de áudio. Os sinais de áudio e vídeo são registrados em uma central de suite. A EaDPB utiliza apenas uma câmera para gravar o vídeo educacional, variando com enquadramento em plano médio e plano fechado, conforme o ritmo do desempenho do professor. Toda vez que o professor interrompe sua fala é feito um novo enquadramento ao retomar a gravação, permitindo ponto de corte para a posterior edição. O cenário de fundo pode ser vazado, através do efeito de chroma key, possibilitando a padronização visual do 27 vara telescópica com adaptação na extremidade para sustentação do microfone; V.1, Nº 1, 2015 88 cenário de fundo, ou a inserção de imagem para interação com o professor. O áudio é gravado diretamente na câmera com microfone de lapela sem fio, permitindo mais liberdade de movimentação para o professor. 4.4 Produção e formatos de apresentação do conteúdo A EaDPV apresenta cinco tipos de formatos de vídeos educacionais, sendo eles: Mesa Redonda, na forma de debates conduzido por um professor e com participação de dois convidados e no máximo 8 minutos de duração; Entrevista, com o professor (ou um apresentador de TV) entrevistando um convidado e que pode ser gravado em outro ambiente além do estúdio da TV; Enquete, com a participação do público para responder determinada pergunta, sendo recomendável a participação de no mínimo 3 e no máximo 7 pessoas; Depoimentos, com participação de convidados, geralmente profissionais ou outros professores, também podendo ser gravado em outro local fora do estúdio e a videorreportagem, com depoimentos e informações de profissionais ou acadêmicos sobre determinado tema. A equipe observa que todos os convidados ou entrevistados devem assinar um autorização de uso de imagem e que qualquer formato de programa deve ter seu roteiro previamente apresentado a equipe de produção da TV. É importante destacar que no manual de procedimentos a equipe da EaDPV recomenda alguns cuidados em relação a apresentação visual do professor ou convidado, relativos a cabelos femininos (soltos e em caso de escova ter as pontas viradas para dentro), a vir sem maquiagem (a equipe de maquiagem da TV providencia), em relação a roupa (camisa social, polo, vestido ou blusa de manga mediana que deixe o pulso em evidência), roupas em cores de tons rosa, azul escuro, cinza chumbo, vermelho ou preto e não usar cores claras ou tons verde, nem blusas listradas, floreadas, estampadas, xadrez ou com marcas. Evitar também roupas transparentes e decotadas ou que definam a estação do ano. A EaDPB produz seus vídeos educacionais em dois formatos básicos. Um com o professor apresentando o conteúdo para a câmera e com imagens de ilustração inseridas durante sua fala. Outro formato é de posicionamento da câmera em linguagem subjetiva (ponto de vista do personagem) ou em primeira pessoa, enquadrando um papel, onde o professor desenha uma ilustração ou uma bancada, onde ele manuseia algum equipamento, ao mesmo tempo em que vai explicando o que está fazendo. V.1, Nº 1, 2015 89 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar esses dois processos em atividade é possível identificar alguns cuidados e procedimentos essenciais para o sucesso da produção do vídeo educacional. Tanto no processo desenvolvido na EaDPV como na EaDPB, as equipes de produção reconhecem a necessidade de definir uma estratégia de adaptação tanto do professor como do material a ser apresentado, aplicando os recursos das técnicas audiovisuais, estimulando o docente a explorar e adaptar seus materiais didáticos, dentro desse processo de comunicação que combina imagens e som. Para tanto a elaboração de um roteiro, prevendo as adaptações e a organização de apresentação do conteúdo se apresenta como estratégia extremamente eficiente e que colabora para melhorar o desempenho do professor no momento da gravação do vídeo. As observações a respeito da cor do figurino, do tipo de cabelo (principalmente utilizado pelas mulheres) e da necessidade de uma maquiagem produzida pela equipe de gravação tem relação direta com interferências nas questões técnicas, como o recorte do efeito chroma key. Outro detalhe que se verifica é a eficiência da imersão do professor no processo de produção, tanto na necessidade de apropriar-se da prática de uso do teleprompter para a leitura do texto, ou desenvolver uma demonstração em frente à lente da câmera. Esse processo estabelece uma relação do professor com a câmera, desenvolvida a partir de tentativas monitoradas, com ele visualizando seu desempenho nas imagens gravadas ou visualizando em tempo real o que está demonstrando. A necessidade de ensaiar a abordagem de gravação, definindo entre o professor e a equipe (operador de câmera e produção) os movimentos e ações que serão efetuadas diante da câmera, também colabora para dar mais confiança na execução do processo. Os procedimentos verificados tanto nos processos documentados, bem como nos exemplos mencionados acima, podem integrar uma espécie de “manual”, com todas estas orientações sistematizadas, de tal forma que auxilie professores e equipes de produção para superar dificuldades já percebidas em tentativas anteriores. V.1, Nº 1, 2015 90 REFERÊNCIAS ASCHER, Steven, PINCUS, Edward. The Filmmaker´s Handbook: A Comprehensive Guide for the Digital Age. 4 ed.. New York, PLUME – Penguin Group Inc., 2013. AUMONT, Jacques. A Imagem, São Paulo, Ed. Papirus, 1993. CATELLI, Rosana Elisa. Cinema e Educação em John Grierson, Aruanda. Lab.doc. Disponível em<http://www.mnemocine.com.br/aruanda/cineducemgrierson.htm>. Acesso em: 18 set. 2015. COUTINHO, Laura Maria. 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V.1, Nº 1, 2015 91 Currículo Paulo Augusto Freitas Cabral Junior - Doutorando do Programa em Informática na Educação da UFRGS Graduado em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) Mestrado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006). Mária Lúcia Fernandes Carneiro - Engenheira Química – UFRGS Especialista em Informática na Educação – PUCRS Mestre em Ciência da Computação - PPGCC-PUCRS Doutora em Informática na Educação - PPGIE-UFRGS V.1, Nº 1, 2015 92 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL, ARTICULADA ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM CAXIAS - MA. 28 RESUMO MAGALHÃES, Nadja Regina Sousa UFSC ___________________________ Palavras - chave: Formação de professores. Currículo. Educação em Tempo Integral. TIC. Este artigo versa em torno da formação de professores na Educação em Tempo Integral, articulada às Tecnologias de Informação e Comunicação. No problema, destaca-se: as diretrizes curriculares de Ensino Municipal de Caxias – MA têm incorporado as TICs como modo de agregar novos saberes à formação continuada de professores? Desse modo, analisar-seá, na formação continuada de professores de uma escola do Ensino Fundamental de Caxias – MA, o que é relevante para construir uma política de inserção de um currículo de Educação em Tempo Integral, articulado às TIC’s. A pesquisa será delineada por uma abordagem qualitativa por meio de análise bibliográfica, observações e memorial, entre outros acontecimentos que compõem o campo de investigação. ABSTRACT This article deals around the training of teachers in the Education articulated Full Time Information and Communication Technologies. In trouble, it highlights: the curriculum guidelines of Municipal Education Caxias - MA have incorporated ICT as a way to add new knowledge to the continuing education of teachers? Thus, I will analyze in the continuing education of teachers in a school of elementary school de Caxias - MA which is relevant to build a political insertion of an education curriculum in Full Time articulated ICT. In the survey, outline me the qualitative approach to the analysis: literature, observations and memorial, among other events that make up the field of research. V.1, Nº 1, 2015 93 1 INTRODUÇÃO No contexto atual, a educação tem o desafio de inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação na formação de professores, em especial, no cotidiano da sala de aula, onde é imprescindível compreender e aprender a integrá-las no trabalho pedagógico que se realiza. Na concepção de Valente, Almeida et al (2007, p.160), em relação ao professor: Para inserção de uma tecnologia no cotidiano das práticas de sala de aula, é preciso dar oportunidade ao professor de se apropriar do domínio da tecnologia, ao mesmo tempo que analisa suas potencialidades e limitações e desenvolve práticas pedagógicas com o acompanhamento e orientação do grupo em formação. Assim o professor compartilha avanços e equívocos com outros profissionais que estão passando pelas mesmas situações e recebem orientações para superar os desafios decorrentes da experimentação de novas práticas. Portanto, incorporar o uso das tecnologias na escola e formação de professores, através da prática pedagógica, exige enfrentar as provocações da sociedade contemporânea. Para tanto, será necessário ter a coragem de romper com limitações do cotidiano e encarar as disputas que as tecnologias trazem ao professor no contexto escolar. Isso está relacionado ao processo formativo de ensinar e aprender com a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC, que torna indispensável a reflexão em torno da oferta de Educação em Tempo Integral, através das diretrizes curriculares presentes nas escolas de Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) de Caxias - MA29. Assim, deve-se considerar o que pensam os sujeitos do contexto educacional, articulados diretamente nessa ação, tendo como base um currículo30 que valorize as diversidades culturais existentes no ambiente escolar, e perceber as TICs como meio de produção e desenvolvimento do conhecimento. Vale ressaltar que o currículo está voltado aos processos de disputa e conflitos sociais, políticos, culturais e de poder, pois a história das 29 Caxias é o quarto município mais populoso e territorialmente maior do estado do Maranhão, com cerca de 155.129 mil habitantes, segundo dados do IBGE (2010). A cidade faz parte da região Meio-Norte e está mais próxima da capital do Piauí, Teresina, a apenas 66 quilômetros de distância. Ela fica a 360 quilômetros da capital do Maranhão, São Luís, a 656 quilômetros da capital do Ceará, Fortaleza, e a 838 km da capital do Pará, Belém. A cidade de Caxias traz em seu bojo filhos ilustres, poetas e artistas, como: Gonçalves Dias, Coelho Neto, Teófilo Dias, Vespasiano Ramos, César Marques, Raimundo Teixeira Mendes, entre outros. Esses são imortalizados pelo Instituto Histórico de Caxias, denominado Casa de César Marques, que funciona em um espaço revitalizado, na antiga Estação Ferroviária, onde os visitantes podem fazer pesquisas sobre a cidade em coleções raras de jornais e livros antigos. (MAGALHÃES, 2014). 30 BRANDT, A. Graziele; MAGALHÃES, Nadja Regina S. Currículo e cultura escolar: sua influência nos saberes do trabalho docente. II Congresso Ibero Americano de Estilos de Aprendizagem, Tecnologias e Inovações na Educação – II CIEATIE. 14 de novembro. Brasília. 2013. V.1, Nº 1, 2015 94 concepções de currículo é marcada, para Silva Maria ( 2006, p. 1), por decisões básicas tomadas com o intuito de: Racionalizar de forma administrativa, a gestão do currículo para adequá-lo às exigências econômicas, sociais e culturais da época; (2) elaborar uma crítica à escola capitalista; (3) compreender como o currículo atua, e (4) propor uma escola diferente seja na perspectiva socialista, seja na perspectiva libertária. Na compreensão de Martín-Barbero (2014), para uma perspectiva libertária, a utilização das TICs na educação não se concebe em um modelo já ultrapassado de comunicação escolar que não visualize os tempos e espaços nos processos de formação, mas que compreenda e apreenda que em uma era informacional, a idade para aprender é toda e qualquer idade. O autor destaca que "estamos passando de uma sociedade com sistema educativo para uma sociedade do conhecimento e aprendizagem contínua [...], lugar de densa socialização de saberes." (MARTÍN-BARBERO, 2014, p.121). Imbricado nessa análise está o lugar do professor, que se vê nas exigências educacionais impulsionadas pelas políticas públicas, com as quais há requisições para se tornar um profissional reflexivo, crítico e autônomo, um motivador da dinâmica pedagógica que pode ser constituída com a Educação em Tempo Integral, mesmo sem as condições dignas de trabalho para realizar sua prática. Ao mesmo tempo, as requisições impulsionadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação apresentam-se como uma nova roupagem que poderá agregar novos saberes e fazeres ao trabalho pedagógico. O processo de ensino e aprendizagem independe apenas do trabalho do professor, mas se desenvolve em um lugar especializado ou ambiente que, além de suas dimensões de temperatura, iluminação, deve contar com outros recursos físicos e tecnológicos que apoiam, de modo restrito, os afazeres pedagógicos do professor. Portanto, ressalta-se a seguinte problemática: as diretrizes curriculares de Ensino Municipal de Caxias – MA têm incorporado as TICs como modo de agregar novos saberes à formação continuada de professores? Entender como as escolas da rede de Ensino Fundamental aplicaram e implantaram as concepções e diretrizes curriculares e as normativas legais de Educação em Tempo Integral e integração das TICs faz-se importante para este estudo. Mas, o relevante foi pesquisar como essas concepções e diretrizes curriculares estão sendo analisadas e interpretadas e implicam no trabalho pedagógico realizado por professores dessas instituições V.1, Nº 1, 2015 95 de ensino. Partindo disso, apresenta-se o objetivo geral da pesquisa, o qual consiste em analisar, na formação continuada de professores de uma escola do Ensino Fundamental de Caxias – MA, o que é relevante para construir uma política de inserção de um currículo de Educação em Tempo Integral, articulado às TICs. Isso implica pensar em torno das TICs, como destaca Lévy (1998). Segundo ele (1998), a formação contínua se alimenta da constituição dos saberes e redes sociais que primam pela troca, pela possibilidade de partilha, ou seja, de compartilhar conhecimentos. Desse modo, visa-se contribuir no estudo em torno da formação continuada do professor da Educação em Tempo Integral, a partir das inúmeras possibilidades das tecnologias, de sua inserção e como elemento potencializador do processo pedagógico. As tecnologias são pensadas como ferramentas de produção e meios de expressão de diferentes saberes para professores e alunos no cotidiano escolar e sua importância no processo de comunicação e estruturação social. Nesse sentido, Martín-Barbero (1995, p.150) colabora nessa direção da comunicação por meio das TICs: "a comunicação é questão de cultura, culturas, não só de ideologias; a comunicação é a questão de sujeitos, atores e não só de aparatos e estruturas; a comunicação é questão de produção e não só de reprodução". Nesse entorno, é crucial desmistificar a função social do professor como mero emissor do conhecimento, de modo a enxergá-lo como um dos atores nesse processo de construção, que busca novas formas de relação com os saberes constituídos às Tecnologias de Informação e Comunicação. Dessa forma, este artigo se justifica pela necessidade de pensar uma proposta curricular, em uma perspectiva da Educação em Tempo Integral, que poderá colaborar como instrumento de reflexão e aprofundamento do fazer pedagógico da escola pesquisada nos anos finais do Ensino Fundamental de Caxias - MA e, ainda, questionar se o professor tem clareza do papel das tecnologias como instrumentos que podem contribuir com outros modos de pensar, encarar o mundo e aprender a lidar com essas, como ferramentas de trabalho e se posicionar na relação entre as TICs com o mundo. Assim, esta pesquisa pode ser um estudo reflexivo que ajudará para melhoria do processo de ensino e aprendizagem, bem como pode servir de amparo para futuras pesquisas na área. V.1, Nº 1, 2015 96 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A construção de um artigo é sempre uma possibilidade antecipada que se delineia no percurso de sua própria realização, em que a ampliação do olhar é imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa. Desse modo, esta pesquisa procura não apenas realizar uma análise a formação continuada numa perspectiva de Educação em Tempo Integral articulada às TIC nas escolas do município de Caxias - MA. Schnitman (2011, p.24) destaca que: Ao pensar na utilização das TIC na práxis pedagógica, torna-se importante dimensionar a possibilidade de construção interativa de conhecimentos. O conhecimento é construído coletivamente, compreendendo que o saber dos sujeitos interage com outros saberes, transformando-se numa teia de relações, em que o conhecimento já não é mais específico e único, mas construído coletivamente, concretizando a formação do pensamento em rede. As perspectivas da formação apontadas em relação à Educação em Tempo Integral, conforme de Traversini e Freitas (2013, p.14), indicam que: Não só o aluno é fabricado pela escola contemporânea como sujeito apto para atuar nessa sociedade; o professor também o é, e necessita de estratégias contemporâneas para exercitar sua função no processo educacional. Assim, compreender os modos pelos quais os professores se posicionam para exercer a docência em uma proposta de Educação Integral, entender como são subjetivados pelos discursos circulantes – e como estes se configuram historicamente, é trazer para a superfície outras formas de inventá-los contemporaneamente. O aspecto da permanência nas escolas no âmbito da Educação em Tempo Integral é colocado por Traversini e Freitas (2013, p.04) da seguinte forma: A Educação em Tempo Integral é compreendida por nós como um mecanismo operador da ampliação das funções da escola. Nesse sentido, percebemos dois discursos educacionais que adquirem relevante força na constituição da proposta de Educação Integral: o aluno como centro do processo educacional e o gerenciamento do risco social. A proposta do Governo Federal de Educação em Tempo Integral já havia sido mencionada na Constituição Federal, no Artigo 208: “Educação Integral, com progressiva ampliação da jornada escolar até pelo menos sete horas diárias na escola ou em atividades escolares, na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio” e; no §4º, "a permanência dos alunos na escola ou em atividades escolares prevista no inciso VIII, além da carga horária mínima diária de efetivo trabalho escolar estabelecida pela legislação V.1, Nº 1, 2015 97 educacional, poderá ser opção de famílias ou de estudantes, a critério dos sistemas de ensino" (BRASIL, 1988). Ao destacar a qualidade educacional, é necessário pensar o currículo de Educação em Tempo Integral, articulado às TIC presentes nas escolas, como "um fenômeno complexo" que vem despertando, cada vez mais, a atenção dos educadores e da sociedade como um todo, e requer atenção especial das instituições responsáveis pela formulação e implementação das políticas públicas, em especial, as educacionais. Para sistematizar algumas observações em torno da formação de professores, aborda-se a acepção de saber, proposta por Charlot (2000), que relaciona os processos de constituição e inter-relacionamento dos sujeitos com o mundo, com as coisas e com as pessoas, e que os saberes e fazeres oriundos desses diversos contextos passam a ser mobilizados na instituição escolar. Trata-se de uma perspectiva dialética que vai possibilitando agregar novas formas de conceber a vida na interação em vários contextos sociais, o que determina seu sucesso ou fracasso, por exemplo, no âmbito escolar. Dessa forma: Por isso mesmo, uma relação com o saber. Essa relação com o mundo é também relação consigo mesmo e relação com os outros. Implica uma forma de atividade e, acrescentarei, uma relação com a linguagem e uma relação com o currículo. (CHARLOT, 2000, p. 63). No campo do currículo, têm-se várias questões transitando, como os movimentos curriculares, as decisões e as escolhas metodológicas. O desafio e a possibilidade de criação do aspecto de regulação e as formas de poder que estão socialmente constituídas indicam que o currículo está impregnado de lutas, conflitos, disputas, diferenças, com as quais convive. Reconhecer que todos são produtos e processos dessa trajetória requer olhar a escola e os modelos sociais como espaços que influenciam as apropriações. O currículo escolar e da vida é real, tanto na ação quanto nas dimensões ocultas. Dessa forma, apontar um currículo intercultual e multidiciplinar, relacionado às TICs, é um desafio. Para Sacristán (2000), o currículo é um objeto social e histórico, e sua peculiaridade dentro de um sistema educativo é um importante traço substancial. A política curricular governa as decisões e se manifesta em certa ordenação jurídica e administrativa. Na verdade, ela é um campo ordenador, decisivo, com repercussões diretas sobre as práticas dos agentes envolvidos. Refletir sobre o currículo na Educação em Tempo Integral é também refletir sobre a formação do educador, em que este deve também confrontar sobre a prática V.1, Nº 1, 2015 98 que realiza. Isso remete a Contreras (2002), para ele, o professor ao se defrontar com sua própria prática é que projeta pessoalmente sua relação com os alunos, assumindo o grau de identificação ou compromisso com as práticas que desenvolve e seus níveis de transformação da realidade que enfrenta. Assim, esta pesquisa busca contribuir no universo de publicações sobre o assunto que ora aborda-se neste artigo e servirá para apoiar investigações futuras que analisem em torno da formação de professores, do currículo ancorado pelos ideários de Educação em Tempo Integral e da integração das TICs na produção de saberes nas práticas pedagógicas. 3 DISCURSOS ECAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Esta pesquisa foi desenvolvida com dois professores do Ensino Fundamental de 6º ao 9º ano e uma Coordenadora do Programa Mais Educação em Educação, os quais foram selecionados através dos seguintes critérios: Ser professor da rede de ensino municipal e participar do Programa Mais Educação. Foram nomeados com um cognome M 01, M 02 e M 03, com o intuito de assegurar o anonimato dos interlocutores. O percurso metodológico de caráter qualitativo baseou-se também em registro de memórias da pesquisadora como tutora nos cursos de formação e coordenadora pedagógica do município de Caxias. O artigo produzido a partir desta pesquisa tem como foco principal a análise na formação continuada de dois professores nos anos finais de uma escola do Ensino Fundamental e uma coordenadora do Programa Mais Educação de Caxias - MA, questionando sobre o que é relevante para construir uma política de inserção de um currículo de Educação em Tempo Integral que seja articulado às TICs, a qual ocorre em um contexto educacional marcado pela: exclusão social, distorção série-idade, evasão e repetência31. Esta investigação tem como parâmetro a reflexão, nos campos teóricos, do que vem a ser Educação em Tempo Integral para a constituição curricular no processo de ensino e aprendizagem presente nos documentos oficiais32 e nas diretrizes curriculares do município, Informações baseadas nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, em relação às taxas de aprovação, reprovação e distorção idade-série no Ensino Fundamental (em %), nos anos de 2008 a 2011, analisados na dissertação de mestrado da pesquisadora. Nessa pesquisa, foi analisado ainda o último índice de 2013 em relação ao fluxo das escolas municipais (anos iniciais e finais), pois nenhuma apresentou uma satisfação desejável em todos os itens pesquisados. 31 32 Um dos documentos oficiais será o Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024. V.1, Nº 1, 2015 99 sobre as implicações dessas concepções nas práticas pedagógicas e a identificação das visões de currículo, na busca de entender como a formação de professores configura esse âmbito. Para focalizar o cotidiano da formação continuada de professores e as questões emergentes das diretrizes curriculares articuladas às TICs no município citado, utilizou-se o memorial que constitui uma forma de pensar. Para Severino (2002), é um refletir sobre si mesmo e configura-se uma autobiografia narrativa, histórica e reflexiva, sob a forma de um relato histórico, analítico e crítico, que dê conta dos fatos que constituíram a trajetória acadêmica profissional do seu autor. O memorial tem a finalidade de inserir o projeto de trabalho, que o motivou no seu projeto pessoal, e o objetivo de explicitar a intencionalidade que perpassa e norteia esses projetos que são constituídos em função do que o pesquisador vem desenvolvendo no contexto de seu projeto de vida e de trabalho acadêmico. Esta pesquisa faz um recorte da minha vivência no Mestrado em Educação na Linha Ensino Formação de Educadores pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC e vivências ocorridas no fruto de um trabalho como professora-tutora no curso a distância na Universidade Estadual do Maranhão - Núcleo Tecnologias para a Educação - UEMANET, durante os anos de 2005 a 2009, no curso de Pedagogia e, nos anos de 2009 a 2011, na licenciatura Ciências da Religião. Nesse percurso, foi percebido que ainda há resistências em relação às Tecnologias de Informação e Comunicação, pois as TIC’s ainda estão sendo vistas como meio de informar e não como um instrumento para difundir e construir o conhecimento dos futuros educadores nas instituições de Ensino Superior. Para articular sentidos às TICs a uma Educação em Tempo Integral nas escolas públicas em Caxias, foi implantado o Programa Mais Educação33. Na entrevista realizada no mestrado com a Coordenação municipal do Programa Mais Educação, neste trabalho, nomeada como M 01, recebeu-se a informação de que em 2010 o Programa iniciou com 32 escolas da zona urbana para atender cerca de nove mil alunos. Já em 2013, esse passou a funcionar em 77 escolas, urbanas e rurais. Atualmente, a Educação Integral focaliza o Programa Mais Educação como uma iniciativa de implantação que já estava prevista no Plano Nacional de Educação 2011-2020, na meta 6, que visa "oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas de educação básica". 33 Criado pelo Ministério da Educação no ano de 2007, o qual é regulado pela Portaria Normativa Interministerial nº17, a partir do decreto nº 7.083, de 20 de janeiro de 2010. V.1, Nº 1, 2015 100 Nessa ótica, para a implantação nas escolas de Caxias, M 01 destaca: “Isso passa por uma esfera maior. Depende muito da questão do espaço, da jornada ampliada, não adianta se não tiver uma conexão da esfera maior do programa para seguir as diretrizes de acordo com o que está nas resoluções, nos manuais”. M 01 insiste que para implantar o Programa Mais Educação, precisaria minimamente ter uma sensibilização de espaço, da questão da ampliação das escolas e, sobretudo, articular as TIC à formação dos professores, ou seja, um estudo mais apurado da qualidade desse programa, da sua capacidade de intervenção. M 01 revela que a adesão ao programa Mais Educação, cujo interesse discursado é qualificar as práticas pedagógicas, especialmente no que se refere aos atos de ensinar e de aprender em sala de aula, interligados às TICs, demandou a contratação de 480 monitores para atuarem em cinco macrocampos: Esporte e Lazer; Arte e Cultura; Meio Ambiente; Cultura Digital e Letramento. Durante a pesquisa o macrocampo cultura digital aparece para ajudar os estudantes a construírem critérios para sua navegação. O professor nomeado como M 01 destaca que para ensinar o aluno, há necessidade de uma formação continuada que contribua no contexto de suas aulas e não apenas nos momentos do macrocampo citado no Programa Mais Educação para os estudantes. A falta de espaço físico adequado para utilização das TICs na escola em que os professores pesquisados trabalham é só uma amostra dos obstáculos que enfrentam esses profissionais para cumprirem com suas atribuições e, muitas vezes, têm que improvisar para que os alunos sejam atendidos com esses recursos. M 02 enfatizou que sua escola não tinha espaços adequados para a utilização desses recursos. A realidade da escola municipal pesquisada mostrou que ainda há uma necessidade de espaço físico adequado para o manuseio e utilização de recursos tecnológicos. Ao perguntar aos sujeitos entrevistados sobre a formação continuada recebida, se esta contemplava a utilização das TICs ao Currículo Escolar de Tempo Integral, o professor M 02 respondeu: "As diretrizes curriculares ainda não estão consolidadas na escola nessa direção.Os professores começaram a adquirir outras habilidades, mas as mudanças seguem a passos muito vagarosos, especialmente com relação aos processos de aprendizagem dos conteúdos curriculares ligados às TICs”. É válido destacar que no momento dessas formações os professores mostravam muita resistência para utilizar as tecnologias que o curso oferecia. M 03 destacou: "São muitas as informações para utilizar esses recursos tecnológicos, pois não tenho acesso em V.1, Nº 1, 2015 101 casa pelo custo alto que tem”. Portanto, o custo ainda é um dos inibidores para a democratização das TIC’s para os professores que, por sua vez, impediu de utilizá-las no curso que realizaram, bem como em suas práticas em sala de aula. Segundo o professor M 03, “Não podemos mais evitar as TICs, pois a Universidade precisa ampliar o olhar percebendo-se como um espaço aberto com horizontes para a aprendizagem e o conhecimento que incorpore as TICs". A partir disso, é necessário refletir sobre os limites e as possibilidades de um trabalho multidisciplinar nas escolas municipais de Caxias - MA, onde a formação inicial na Universidade necessita agregar ao seu currículo o conhecimento teórico e prático sobre as TICs, onde também os professores possam agregar saberes à prática que realizam. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os achados da pesquisa foram importantes para o entendimento da concepção de formação continuada docente à luz das TICs no desenvolvimento profissional e acadêmico, principalmente no que se refere a conectar o currículo à prática pedagógica. Conclui-se que a prática de ensino/formação/pesquisa se intercomplementam. Percebe-se a forte influência dos saberes para a formação de professor, para constituí-lo como ser reflexivo, crítico e autônomo neste processo, sendo determinante pensar-se sobre a herança e o capital cultural proporcionado aos seus alunos durante o processo de construção de competências e conhecimentos, referentes ao fazer pedagógico. Desta forma, a construção da formação docente passa por um processo complexo, baseado no contexto social, político e econômico, no qual se constituiu também o Currículo de Educação de Tempo Integral. Assim, cada um se apropria dele levando em conta sua história pessoal e profissional. É um processo que necessita de tempo, para acomodar inovações e assimilar mudanças. Compreende-se que os interlocutores têm posições divergentes sobre a sua constituição de formação profissional e a influência das TICs na prática de ensino formativa na sua constituição enquanto acadêmicos, destacando que a Universidade teve papel fundamental nesse processo de formação. O que deve se efetivar cada vez mais nos cursos de graduação, tendo em vista sua importância para o desenvolvimento profissional, acadêmico e científico. V.1, Nº 1, 2015 102 As discussões apontaram que os espaços escolares e a formação continuada dos professores nesse debate das TICs ainda não se democratizaram nas escolas públicas municipais de Caxias - MA, nem tampouco na vida histórica dos professores. Como professora e coordenadora, participo das vivências pedagógicas e lanço alguns questionamentos em torno da formação continuada dos professores em relação as TIC: Como ocorre a presença e democratização das TICs em Caxias - MA? Como essa temática se insere na formação de professores na Educação em Tempo Integral? Essas perguntas talvez não sejam necessariamente respondidas, mas podem contribuir para ampliar e inspirar a pesquisa nessa área. REFERÊNCIAS BRANDT, A. Graziele; MAGALHAES, Nadja Regina S. Currículo e cultura escolar: sua influência nos saberes do trabalho docente. II Congresso Ibero Americano de Estilos de Aprendizagem, Tecnologias e Inovações na Educação – II CIEATIE. 14 de novembro. Brasília. 2013. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. MEC: Brasília: 2013. Disponível em:< http://portal.inep.gov.br/.>. Acesso em: 23 de mar. 2015. BRASIL. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Diretoria de educação integral, direitos humanos e cidadania. Programa Mais Educação: passo a passo. MEC: Brasília, 2010. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000. CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 1998. MAGALHÃES, Nadja Regina Sousa. Educação Integral: Olhares em torno de uma escola pública municipal de Caxias - MA. (dissertação de mestrado). Florianópolis: SC, 2014. MARTÍN-BARBERO, J. Comunicação na educação. São Paulo: Editora Contexto, 2014. MARTÍN-BARBERO, J. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social. In: SOUZA Mauro Wilton de (Org). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. V.1, Nº 1, 2015 103 SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. SCHNITMAN. Ivana M. A mediação pedagógica e o sucesso de uma experiência educacional on-line. ETD – Educ. Tem. Dig., Campinas, v.12, n.esp., p.287-314, março, 2011. SAVIANI, Dermeval. Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação: significado, controvérsias e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 2014. SEVERINO, A. J. Pós-graduação e pesquisa: o processo de produção e de sistematização do conhecimento do campo educacional. In: BIANCHETTI, Lucídio e MACHADO, Ana Maria (Orgs). A Bússola do Escrever: desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. 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Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, com especialização em Supervisão Escolar pela Universidade Cândido Mendes - RJ e especialização em Gestão Educacional pela Faculdade de Teologia Integrada - FATIN. Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade do Leste Maranhense - FALMA; Professora de Sociologia da Rede Estadual de Ensino.E-mail: [email protected]. V.1, Nº 1, 2015 105 A UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL NO CONTEXTO DA UEMG: adesão para a ampliação e flexibilização do acesso ao Ensino Superior RESUMO GONTIJO, Cynthia Rúbia Braga FAE/UFMG ARAUJO, Adálcio Carvalho de FAE/CBH/UEMG CORREA, Robert Delano de Souza UFLA BRECIA, Enil Almeida UFMG BANDEIRA, Ana Carolina Alves FPP/BH ___________________________ Palavras - chave: Educação a Distância. Sistema Universidade Aberta do Brasil. Universidade do Estado de Minas Gerais. Este trabalho situa-se no debate sobre a Educação a Distância (EaD) no Brasil e, especialmente, acerca do papel do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) para a ampliação do acesso ao Ensino Superior no país. Seu objetivo é discutir o processo de implementação da EaD na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) no contexto da sua adesão ao Sistema UAB. Atualmente (vide 2015), a UEMG desenvolve quatro cursos nesta modalidade de ensino – Licenciatura em Pedagogia, Bacharelado em Administração Pública, PósGraduação lato sensu em Gestão Pública e Pós-Graduação lato sensu em Gestão Pública Municipal, e ainda oferta cursos no contexto do Plano Anual de Capacitação Continuada (PACC). A experiência em curso sugere para a importância sine qua non desta modalidade ao cumprimento da missão institucional de uma Universidade multicampi. ABSTRACT This paper deals with Distance Learning (EaD) debate in Brazil, and especially with the Open University System of Brazil (UAB) role in widening the access to higher education in the country. It aims at discussing the EAD implementation process at Minas Gerais State University (UEMG) and its adhesion to the UAB System. Currently (see 2015) UEMG develops four courses in the following learning modes – Bachelor's Degree in Pedagogy, Bachelor of Public Administration Degree, lato sensu post-graduate studies in Public Management and lato sensu post-graduate studies in Municipal Public Management. It also offers courses for Annual Continuing Education Program (PACC). The ongoing experience suggests the sine qua non importance of this mode to the fulfillment of the institutional mission statement of a multicampi University. Keywords: Distance learning. Open University System of Brazil. Minas Gerais State University. V.1, Nº 1, 2015 106 1 APORTES INICIAIS Acentua-se a introdução-utilização-apropriação das tecnologias de informação e de comunicação34 (TICs) em processos educativos, especialmente, após as últimas décadas do Século XX35. Se, por um lado, não é mais possível desconsiderá-la nesses processos, tendo em vista a sua presença global nas sociedades contemporâneas, por outro lado, se aposta que o seu uso crítico poderá contribuir com a diminuição do fracasso escolar e de desigualdades sociais no campo do direito à educação. Historicamente, as TICs são engendradas como importantes instrumentos a serem utilizados em práticas pedagógicas e didáticas, tendo como balizador o fundamento de que a interatividade entre a informação e o seu usuário e construtor deve ocorrer pela elaboração ativa do conhecimento no mundo de formas cooperativas, colaborativas e conectivistas. Por esse enfoque, “a inteligência e a cognição são o resultado de redes de atores humanos, biológicos e técnicos”. (LÉVY, 1995, p. 135). Tais interações denominam o que Lévy chama de ecologia cognitiva e suas dimensões coletivas. Segundo o autor “fora da coletividade, desprovido de tecnologias intelectuais, o eu não pensaria. O pretenso sujeito inteligente nada mais é que um dos micro atores de uma ecologia cognitiva que o engloba e o restringe.” (LÉVY, 1995, p. 135). Nesses termos, entende-se que: A cultura fornece um enorme equipamento cognitivo aos indivíduos. A cada etapa de nossa trajetória social, a coletividade nos fornece línguas, sistemas de classificação, conceitos, analogias, metáforas, imagens, evitando que tenhamos que inventá-las por conta própria. Mas grupos ou mesmo indivíduos podem, não sem alguma dificuldade, colocar em questão uma parte destas delimitações conceituais. Os sujeitos individuais não se contentam apenas em transmitir palavras de ordem ou em dar continuidade passivamente as analogias de suas culturas, ou aos raciocínios de suas instituições. De acordo com seus interesses e projetos, eles deformam ou 34 Em termos genéricos, as Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs) são processos e produtos, frutos da ciência aplicada, nas áreas da comunicação e informação. Portanto, ao referir-se às TIC’s, não se está tratando apenas da NET, mas do conjunto de tecnologias microeletrônicas, informáticas e de telecomunicações que potencializam a aquisição, a produção, o armazenamento, o processamento e a transmissão de dados na forma de imagem, vídeo, texto ou áudio, desenvolvidas no interior das bases materiais e sociais da economia, da sociedade e da cultura. (GONTIJO, 2008, p. 37). 35 Em relação à intensificação da produção e do uso das TICs, Castells (2001) situa os anos 70 como o período de tempo em que houve a aceleração da construção desses processos e produtos nas áreas da microeletrônica e das telecomunicações, especialmente nos Estados Unidos da América (EUA), que, inclusive, propiciaram as condições concretas para a produção das “novas” tecnologias de informação e de comunicação, tais como a informática. Cabe aqui explicar que a designação “novas” encontra-se entre aspas, porque é difícil denominar “quais são as novas” e “quais são as velhas” tecnologias. V.1, Nº 1, 2015 107 reinterpretam os conceitos herdados. Eles inventam no contexto procedimentos de decisão ou novas participações do real. (LÉVY, 1995, p. 142-144). As TICs, em suas diferentes formas e usos e, sob todas as implicações que têm sobre as atividades humanas, revelam-se objetos poderosos para a formação dos sujeitos nas sociedades atuais (precisa-se 2015), a qual tem como pilares o fato de que: a) a informação é matéria-prima para o conhecimento; b) as tecnologias condicionam (sem determinar) os processos individuais e coletivos na vida em sociedade/comunidade, porque a informação é constitutiva da atividade humana; c) a lógica de redes (flexibilidade) no uso das tecnologias; d) a reversibilidade dos processos e a capacidade de reconfiguração da rede; e) a convergência de tecnologias específicas para um sistema integrado, assim caracterizado, como base da Sociedade da Informação através da abertura como uma rede de acessos múltiplos, abrangente e complexa, alterando o cotidiano e as atividades. (CASTELS, 1999, p.78). Considerando-se os pilares supracitados, ensinar e aprender em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar as pessoas para o uso das TICs, trata-se, sobretudo, de: a) investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços; b) tomar decisões fundamentadas no conhecimento; c) operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. (BRASIL, 2000, p. 45). A formação torna-se um processo dinâmico, integrador e, sobretudo, dialógico. O ponto de partida e de chegada da prática educativa transformadora está na ação/na práxis, no regime de mutualidade e copropriedade de informações e conhecimentos entre os diversos sujeitos envolvidos no processo pedagógico. Nessa perspectiva, entende-se que é importante utilizar “toda a contribuição que os métodos, técnicas e tecnologias podem prestar a construção de um novo paradigma para a educação brasileira”. (BRASIL, 2000). A Educação a Distância (EaD) configura-se, especialmente, no cenário das denominadas sociedades da informação, como um primoroso recurso em políticas educacionais em geral, e nas práticas educativas, em específico. Contudo, não se trata de quaisquer EaD, mas aquela capaz de: a) promover a integração da tecnologia digital e demais TIC’s com o processo de aprendizagem; b) qualificar os sujeitos na utilização crítica dos objetos de aprendizagem para atuarem como agentes no mundo; c) propiciar atividades cooperativas de aprendizagem e descoberta; d) auxiliar atividades de pesquisa através da internet; e) criar comunidades multiculturais de prática e de interesses especiais. V.1, Nº 1, 2015 108 A EaD tem sido compreendida como a modalidade educacional que possibilita a democratização do acesso à formação universitária e de pós-graduação por meio da utilização das TICs no processo de aprendizagem. No contexto brasileiro, destaca-se ainda mais a necessidade dessa democratização, considerando que a maioria dos municípios não dispõe de Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) para ofertar cursos presenciais em diversos níveis de ensino. (SOUZA et al., 2014; MAIA, 2007). Maia e Meireles (2002) relatam que a EaD já existia desde a Antiguidade, por meio do envio de correspondências com conteúdos pedagógicos. Nesse caso, havia a mediação de mensageiros que portavam as cartas cuja interação ampliava os conteúdos das cartas em virtude dos elementos culturais e sociais. Entretanto, as últimas décadas do século XX se tornaram significativas para o entendimento da EaD como uma inovação contemporânea. Trata-se do desenvolvimento das TICs, principalmente da internet, que propiciou um novo tipo de interação entre educador e educando não limitada ao tempo e ao espaço. De outro modo, pode-se dizer que há redução das distâncias entre os atores envolvidos no processo de aprendizagem, uma vez que eles podem interagir em um ambiente virtual específico, estando espacialmente distantes um do outro. (SOUZA et al., 2014). Para Alonso (2010), a EaD reinventou o processo de ensino e aprendizagem, quando passa a existir o ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Os papéis do professor e do discente, claramente definidos na modalidade presencial, são repensados na EaD. O discente passa a ser compreendido como um agente responsável pela aprendizagem, com autonomia e capacidade de controle do seu próprio aprendizado. Por outro lado, a docência foi ressignificada, resultando no partilhamento de funções entre profissionais diferentes que atuam na gestão acadêmica, facilitação e acompanhamento da aprendizagem. Tal estruturação é expressa no atual marco legal da EaD no Brasil. A Lei nº 9.394 de 20/12/1996, a qual institui as diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) (BRASIL, 1996), propõe a utilização de diversas estratégias/modalidades, dentre elas a modalidade EaD, como um importante instrumento para a educação brasileira. Destaca-se que a EaD foi instituída por intermédio do Decreto Federal nº 5.622, de 9 de dezembro de 2005 como regulamentação do art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). O § 1o do art. 1º do Decreto nº 5.622/05 reconhece que “a educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares”, considerando as ferramentas interativas disponíveis no AVA. Além disso, há previsão da obrigatoriedade de momentos presenciais para a realização da avaliação dos discentes, V.1, Nº 1, 2015 109 estágios obrigatórios, defesa de trabalhos de conclusão de curso e atividades que exijam a prática de laboratório. Algo que, também, é salientado no Decreto nº 2.494, de 10/02/1998, em seu artigo 1o: Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (BRASIL, 1998). Os dados do Censo do Ensino Superior comprovam a expansão da EaD, no Brasil, que demandou a regulamentação desta modalidade de ensino. Em 2003, o total de matrículas em cursos de graduação a distância equivalia a 1,27% (49.911 matrículas) do número de vagas. Desse total, 10.107 matrículas foram realizadas em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas e 39.804 nas IPES. Em contrapartida, no ano de 2013, as matrículas em cursos de graduação a distância alcançaram o percentual de 15,79% do total de matrículas com o significativo aumento nas IES privadas (999.019 matrículas), enquanto as IPES tiveram números mais modestos (154.553 matrículas). Assim sendo, somente 13,4% dos matriculados encontravam-se vinculados às IPES (INEP, 2013). Em relação à expansão dos cursos EaD nas IPES, destaca-se o fato da criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) como a principal ação governamental, envolvendo não somente o Governo Federal e as Universidades Federais, mas também as Universidades Estaduais e o Poder Público Municipal na democratização e interiorização do ensino superior do país. Considerando-se a importância da EaD nos termos já assinalados, trata-se neste artigo do processo de implementação desta modalidade de ensino na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), no contexto da sua adesão ao Sistema UAB. 2 O SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL COMO POLÍTICA DE EAD NO PAÍS A UAB se origina de um longo processo de reconhecimento das demandas de oferta de cursos superiores em outra modalidade de ensino distinta do ensino presencial (COSTA, 2012). No início da década de 1970, o Ministério da Educação (MEC) já esboçava o interesse em criar, no sistema público de ensino superior, uma instituição que assumisse a função de oferta de cursos EaD. Nesse contexto, inúmeros estudos e visitas técnicas foram V.1, Nº 1, 2015 110 desenvolvidos para coletar dados sobre a experiência de implantação da The Open University na Inglaterra, Universidad Nacional de Educación a Distancia na Espanha e Universidade Aberta em Portugal. (SOUZA et al., 2014; COSTA, 2012). A tramitação de inúmeros projetos-lei no Congresso Nacional, com o objetivo de criar e institucionalizar a UAB, não obteve êxito nas décadas de 1970 e 1980. Somente com a aprovação e sanção da LDB 9.394 (BRASIL, 1996) inicia-se uma nova fase de ampliação do debate sobre a UAB, uma vez que a legislação educacional brasileira passa a reconhecer a EaD em consonância com a modalidade presencial na oferta de cursos de níveis diferentes de ensino. Costa (2012) menciona que um passo decisivo, nos anos de 1999 e 2000, foi a criação do Consórcio Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), por meio de um protocolo de intenções assinado pelos ministros da Educação, da Ciência e Tecnologia e das Comunicações e, secretários de Estado das mesmas áreas. Conforme Silva, Ribeiro e Schneider (2006, p. 77), é relevante o fato da proposta do Consórcio ter surgido no ambiente acadêmico, ao considerar que a universidade a ser criada “(...) não teria campus, nem estrutura física, mas estaria em todas as universidades públicas que se consorciassem”. Em um segundo momento, os ministros e secretários de Estado assinaram o protocolo. Trata-se de um modelo institucional caracterizado pela não exclusividade de oferta de cursos superiores somente de uma modalidade. Tanto o ensino presencial quanto a EaD seriam oferecidos pela mesma IPES. Costa e Duran (2012) relatam outras experiências inovadoras em EaD como a oferta do curso de Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o curso piloto de Administração pelo MEC, contando com a cooperação do Banco do Brasil e o Consórcio Fundação Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ), com o desenvolvimento de cursos superiores com compartilhamento de processos pelas universidades públicas federais e estaduais sediadas no estado do Rio de Janeiro. A iniciativa mais concreta para a criação da UAB foi o lançamento dos editais nº 01/2005 e nº 02/2006 da Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC) que objetivava a seleção de propostas das IPES para ofertar os cursos EaD e das prefeituras e governos de Estado para sediar os polos de apoio presencial. Nesse contexto, a UAB é entendida como um sistema cujo planejamento, implementação e controle contam com diferentes órgãos das esferas de governo e IPES. De acordo com Souza et al. (2014, p. 90), o “sistema UAB não possui uma estrutura física V.1, Nº 1, 2015 111 propriamente dita, funcionando em parceria com prefeituras e instituições de ensino que, de forma autônoma, oferecem os cursos e as estruturas físicas necessárias para a sua implementação”. (Ver Figura). Figura 1- Desenho do Sistema Universidade Aberta do Brasil, em 2015 Fonte: SISUAB, 2015 A instituição do Sistema UAB foi realizada, por meio do Decreto Federal nº 5 800 de 08 de junho de 2006, com a finalidade de expansão e interiorização da EaD no Brasil. O parágrafo único do art. 1º detalha os objetivos do Sistema UAB. I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da educação básica; II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; IV - ampliar o acesso à educação superior pública; V reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País; VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação.(BRASIL, 2006) A estruturação do Sistema UAB possui a capacidade de promover a interiorização do ensino superior público. Primeiramente, a avaliação realizada para a autorização dos cursos e o credenciamento dos polos precisa considerar o potencial técnico-científico da IPES e a cultura tecnológica da região na qual o polo está localizado. Outro aspecto relevante é o nível de interesse do Poder Executivo local para a implementação dos cursos EaD, expressando-se no comprometimento com a execução. Esses aspectos explicitam o caráter sistêmico da UAB cuja análise da viabilidade de oferta de cursos EaD conta com outros atores locais e regionais, além do responsável pela gestão do Sistema e as IPES. V.1, Nº 1, 2015 112 A gestão do Sistema UAB, da criação até a sanção da Lei Federal nº 11.502 de julho de 2007, foi realizada pela SEED/MEC. Contudo, a reestruturação da CAPES, realizada em 2007, modificou o organograma da UAB, realocando-a na Diretoria de Educação a Distância (DED/CAPES). Essa diretoria assumiu as atividades relacionadas à UAB, com foco na formação inicial e continuada de professores da Educação Básica. Essa estruturação ainda está em vigor. Assim, a CAPES não somente cuida da formação no nível de pós-graduação, mas também inclui em suas atribuições a formação de professores da Educação Básica. Além disso, a criação do Programa Nacional de Formação em Administração Pública (PNAP), no ano de 2009, proporcionou a expansão do Sistema UAB. O PNAP se originou da construção colaborativa de várias IPES integrantes do Sistema UAB e do Conselho Federal de Administração (CFA), Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e Ministério da Saúde por intermédio da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Pimentel e Costa (2009) atentam para o fato dos programas desenvolvidos no âmbito da UAB ampliarem substancialmente o número de vagas das, IPES que não seria possível se fosse mantida somente a modalidade presencial. O mesmo autor reitera a necessidade das IPES zelarem pela qualidade do ensino e criação de mecanismos de avaliação dos cursos que garantam a promoção de melhorias e diminuição da evasão. Entretanto, as demais instituições de gestão (DED/CAPES) e operacionalização (estados e municípios) também devem cooperar para o bom funcionamento do sistema. Pode-se notar que a efetividade das ações da UAB na democratização e interiorização do ensino perpassa pela atuação eficiente e eficaz de todos os envolvidos na EaD. 3 A UAB NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS A UEMG foi criada pelo Art.81 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Mineira de 1989. A Lei 11.539 de 22 de julho de 1994 definiu a Universidade como uma autarquia de regime especial, pessoa jurídica de direito público, patrimônio e receita próprios, autonomia didático-científica, administrativa e disciplinar, incluída a gestão financeira e patrimonial. Atualmente, em 2015, a UEMG está presente em 24 municípios do Estado de Minas Gerais, ofertando 115 cursos de graduação e atendendo 18.953 estudantes. V.1, Nº 1, 2015 113 A UEMG foi credenciada para a oferta de cursos superiores a distância, por meio da Portaria nº 1369/2010 do Ministério da Educação, publicada em 08 de dezembro de 2010. Com o credenciamento, a UEMG submeteu uma proposta de execução de cursos a distância em convênio com o Ministério da Educação. No ano de 2013, a UEMG inicia as atividades no contexto do Convênio n.º 78.2376/2013, que entre si celebraram a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e esta Universidade. O Convênio objetiva a qualificação de pessoal em nível superior, na modalidade EaD, visando ao exercício de atividades gerenciais. Especificamente, o Convênio determina as seguintes ações: a) capacitar quadros de gestores para atuarem na administração de macro (governo) e micro (unidades organizacionais) sistemas públicos; b) capacitar profissionais com formação adequada para intervirem na realidade social, política e econômica; c) contribuir para a melhoria da gestão das atividades desempenhadas pelo Estado brasileiro, nas esferas federal, estadual e municipal; d) contribuir para que o gestor público desenvolva visão estratégica dos negócios públicos, a partir do estudo sistemático e aprofundado da realidade administrativa do governo ou de suas unidades produtivas; e) qualificar, em curso de graduação, licenciatura em Pedagogia, preferencialmente, professores da rede pública do Estado de Minas Gerais, que não possuem formação inicial; f) possibilitar o acesso de profissionais que atuam no âmbito educacional às informações atualizadas e concernentes à formação de professores; g) valorizar a profissão docente. A UEMG, em processo de implementação da EaD, tem empreendido diversas ações para qualificar a gestão pedagógica, administrativa, orçamentária e financeira dos Cursos em desenvolvimento – Licenciatura em Pedagogia, Bacharelado em Administração Pública, Pós-Graduação lato sensu em Gestão Pública e Pós-Graduação lato sensu em Gestão Pública Municipal, e ainda oferta cursos no contexto do Plano Anual de Capacitação Continuada (PACC), desde 2013, no âmbito da Universidade. A Licenciatura em Pedagogia, cujo objetivo principal é formar profissionais para atuarem com a educação escolar na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em escolas públicas e privadas, é ofertada desde o 1º semestre/2014, por meio da Faculdade de Educação, campus Belo Horizonte (FaE/CBH/UEMG), contemplando atualmente 156 cursistas em quatro municípios de Minas Gerais: Frutal, Nanuque, Taiobeiras e Ubá (ver Quadro 1). V.1, Nº 1, 2015 114 Figura 2 - Aula no polo UAB/UEMG no município de Alterosa, em 2013 Fonte: Coordenação UAB/UEMG, 2015 O Bacharelado em Administração Pública, ofertado no contexto do Programa Nacional de Formação de Administradores Públicos (PNAP), tem por objetivo principal formar profissionais com conhecimento de Administração Pública, capazes de atuar no âmbito federal, estadual e municipal, administrando com competência as organizações governamentais e não governamentais. Esse curso, também, é ofertado desde o 1° semestre/2014, por meio da Faculdade de Políticas Públicas “Tancredo Neves” (FaPP/CBH/UEMG) e, atualmente, contempla 110 cursistas nos municípios de Buritis, Corinto e Ipanema (ver Quadro 1). Figura 3 - Aula no polo UAB/UEMG no município de Cambuí, em 2014 Fonte: Coordenação UAB/UEMG, 2015. V.1, Nº 1, 2015 115 Os cursos de Pós-Graduação lato sensu em Gestão Pública e em Gestão Pública Municipal, ambos ofertados via FAPP/CBH/UEMG, desde o final de 2013, objetivam formar profissionais para exercerem atividades relacionadas ao setor público. O módulo Básico e Específico de ambos os Cursos já foram ofertados e, atualmente, estão em fase de encerramento das suas atividades acadêmicas, tendo em vista que os cursistas estão desenvolvendo o trabalho de conclusão de curso (TCC). O Curso de Gestão Pública, com 237 cursistas, é ofertado em sete polos do Estado de Minas Gerais - Alterosa, Boa Esperança, Campos Gerais, Frutal, Jaboticatubas, Nanuque e Taiobeiras (ver Quadro 1). Já o Curso de Gestão Pública Municipal contempla 133 cursistas nos municípios de Cambuí, Divinolândia de Minas, Jaboticatubas e Nanuque (ver Quadro 1). Quadro 1 - Relação de cursos ofertados pela UEMG/UAB e seus respectivos polos de atuação e alunos participantes, em 2015 ALUNOS MATRICULADOS 1º SEM/201536 CURSOS POLOS VAGAS OFERTADAS Gestão Pública – PNAP Alterosa 35 27 Gestão Pública – PNAP Boa Esperança 35 32 Gestão Pública – PNAP Campos Gerais 50 46 Gestão Pública – PNAP Frutal 35 36 Gestão Pública – PNAP Taiobeiras 35 30 Gestão Pública – PNAP Jaboticatubas 50 31 Gestão Pública – PNAP Nanuque 35 35 Gestão Pública Municipal – PNAP Cambuí 35 35 Gestão Pública Municipal – PNAP Divinolândia de Minas 35 31 Gestão Pública Municipal – PNAP Jaboticatubas 35 35 Gestão Pública Municipal – PNAP Nanuque 50 29 Administração Pública – PNAP Buritis 50 35 36 Esclarece-se que é difícil precisar os números de evasão por curso, tendo em vista que "taxas de flutuação" dos cursistas configura-se como um dos grandes desafios em cursos na modalidade EaD. Diante deste contexto, a equipe de profissionais envolvidos na EaD/UEMG, em especial os tutores a distância e presenciais, tem empreendido estratégias com intuito de resgatar cursistas que apresentam indícios de desistência. V.1, Nº 1, 2015 116 Administração Pública – PNAP Ipanema 50 41 Administração Pública – PNAP Corinto 50 34 Pedagogia Licenciatura Frutal 50 38 Pedagogia Licenciatura Nanuque 50 35 Pedagogia Licenciatura Taiobeiras 50 43 Pedagogia Licenciatura Ubá 50 40 Fonte: Coordenação UAB/UEMG, 2015 Tendo em vista o número de municípios contemplados, a oferta de cursos, na modalidade EaD/UEMG, e as diversas regiões abrangidas, a UAB/UEMG tem fortalecido a capilaridade desta instituição e, portanto, da sua missão, nos termos já assinalados. Ver Figura4. Figura 4 - Mapa dos Polos UAB/UEMG no Estado de Minas Gerais, em 2015 Fonte: UEMG, 2015 Além da ampliação da abrangência de atuação que fortaleceu parcerias entre a UEMG, Prefeituras Municipais e Comunidades, e da interiorização do Ensino Superior assinaladas, destaca-se, também, importantes impactos regionais: (a) a inserção/ascensão de cursistas dos supracitados cursos no mercado de trabalho local e experiências de estágio V.1, Nº 1, 2015 117 profissional. Conforme levantamento de dados (ainda em andamento), existem significativas solicitações por parte de alunos e empresas para a efetivação de convênios com a Universidade com o objetivo de absorção de cursistas no mercado de trabalho; (b) A ampliação da oportunidade de qualificação da Administração Pública na região. Ressalta-se a presença do número significativo de cursistas dos cursos de pós-graduação que são servidores públicos municipais, entre os estudantes dos cursos de pós-graduação. Em termos quantitativos, é possível traçar um comparativo da presença da UEMG dentro da UAB nesse pouco tempo de vinculação ao Sistema. Observando a Tabela 1, que traz o quantitativo de polos de apoio presencial UAB no Estado de Minas Gerais, destaca-se que a UAB possui um quantitativo real de 137 polos. Desses 137 polos existentes, somente os polos com situação/status Ativo/Apto, Provisório/Apto e Provisório/Fase de Regularização estão em funcionamento de ofertas de curso, que em número absoluto, equivale a 98 polos em funcionamento, um correspondente a aproximadamente 72% dos polos existentes em todo o Estado. Nesse contexto, a UEMG tem articulação em 21 polos de apoio presencial UAB, equivalentes a 15% do total de polos existentes no Estado, e 21% dos polos em funcionamento. Desses 21 polos de articulação, a Universidade oferece efetivamente cursos de Graduação e Pós-Graduação em 14 polos, isto é, em 67% dos polos nos quais firmou articulação. Tabela 1 - Polos UAB em Minas Gerais x polos UAB/UEMG, em junho de 2015 Status/Situação Ativo/Apto Provisório/Apto Provisório/Fase de Regularização Inativo/Apto Desligado/Não Apto Número de polos em MG Polos com articulação UEMG 74 23 21 0 Polos com ofertas de cursos da UEMG em andamento 14 0 0 0 0 0 0 0 1 1 38 Fonte: Autores, com base em SISUAB (2015) Ainda que com experiência recente, as ações de EaD na UEMG, especialmente via UAB, têm proporcionado maior capilaridade a esta Universidade multicampi, colocando-a em posição singular para atendimento educacional, face às diversidades regionais, locais e sociais dos diversos municípios do Estado de Minas Gerais. Nesse sentido, destaca-se que a V.1, Nº 1, 2015 118 EaD cumpre um papel estratégico para esta Universidade, especialmente ao que diz respeito à sua missão institucional que é se consolidar como uma “Universidade Pública, Gratuita e Multicampi”. Essa missão se alinha aos objetivos da própria UAB/CAPES no que se refere, especialmente, à potencialização de ações para a ampliação do acesso de qualquer pessoa, em qualquer lugar, ao Ensino Superior de qualidade, da capilaridade institucional e formativa em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Sabe-se que a modalidade EaD, especialmente em contextos de implementação, demanda uma sinergia de ações, com vistas à sua qualificação administrativa, metodológica e pedagógica. A capacitação/qualificação dos atores envolvidos, tais como coordenadores de cursos, coordenadores de tutoria, docentes, tutores presenciais e a distância, torna-se imprescindível, pois incide, sobremaneira, sobre a qualidade da formação dos cursistas. Nesse sentido, para fortalecer as condições para a oferta desses cursos, desenvolveram-se atividades no contexto do PACC, por meio do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação a Distância (CEPEAD/UEMG) e pela Coordenação UAB/UEMG. Para a efetivação dessas ações, foi utilizada a infraestrutura física e tecnológica de EaD da UEMG, e a estrutura logística, administrativa e de pessoal da Universidade. Com o objetivo de assegurar que os recursos advindos da CAPES/UAB fossem catalizadores da consolidação da EaD/UEMG, foi institucionalizado o Comitê de Apoio à Implementação dos cursos de graduação e pós-graduação a distância na UEMG, no âmbito desta Universidade, no final de 2013, formado com a representação da Reitoria/UEMG, das Unidades Acadêmicas ofertantes de cursos na modalidade EaD, dos coordenadores dos cursos supracitados, do CEPEAD, do Núcleo de Educação a Distância (NEAD/UEMG) e da Coordenação UAB/UEMG. Os objetivos deste Comitê são: a) acompanhar o processo de implantação dos cursos de graduação e pós-graduação a distância na UEMG; b) distribuir internamente as tarefas e rotinas necessárias à implementação dos cursos; c) identificar os problemas decorrentes desse processo; d) resolver, coletivamente, os problemas de rotina que não possam ser resolvidos apenas pela Coordenação dos Cursos e pela Direção da Unidade Acadêmica responsável pelo curso; e) compatibilizar as propostas que dizem respeito à utilização dos recursos UAB; f) apresentar relatórios periódicos à Vice-Reitoria e às PróReitorias quanto à situação dos cursos em implantação; g) apresentar informações circunstanciadas sobre o funcionamento dos atuais cursos que subsidiem a análise, pela Administração superior da Universidade, quanto à conveniência e oportunidade de oferta de novos cursos a distância eventualmente propostos pelas Unidades; h) encaminhar à ViceV.1, Nº 1, 2015 119 Reitoria e à Pró-Reitoria de Ensino e de Pesquisa e Pós-Graduação as questões que envolvam decisões institucionais, nas respectivas áreas de competência. Esse Comitê tem oportunizado a criação de estratégias, decisões e encaminhamentos coletivos, com representação ampliada, com vistas ao sucesso deste processo de implementação da EaD/UAB na UEMG. O Comitê é um fórum de competência estratégica para dar suporte às Unidades Acadêmicas ofertantes dos Cursos para a implementação da EaD na Universidade. Essa experiência de implementação da EaD na UEMG é sentida por todos os membros da equipe – tutores, professores, coordenadores de tutoria, coordenadores de cursos e equipe de apoio técnico-operacional e pedagógico, em sentido estrito – e Unidades Acadêmicas e Reitoria, em sentido lato, como uma oportunidade de aprendizagens colaborativas, cooperativas, construtivistas e conectivistas. A UEMG está aprendendo! Acrescenta-se que, cientes das necessidades de aprofundamentos em relação a esse processo de implementação e do fortalecimento da equipe para o alcance de melhores resultados, foi realizado pela Coordenação UAB/UEMG, juntamente com as demais instâncias EaD/UEMG (NEAD e CEPEAD), em dezembro de 2014, a I Oficina de Planejamento Estratégico/UAB/UEMG. Essa Oficina objetivou planejar o processo gerencial da UAB/UEMG - 2015/2016 - para contribuir com a institucionalização da EAD na Universidade. Os participantes - coordenadores, professores, tutores, técnicos, administrativos e equipe de apoio administrativo e financeiro/UAB/UEMG - da Oficina ratificaram a importância da EaD para a consolidação da missão institucional da UEMG (ver Figura 5), elegeram prioridades estratégicas para a consolidação da EaD no âmbito da UEMG e delinearam um plano de trabalho para os encaminhamentos pertinentes. Figura 5 - O papel da EaD no cumprimento da Missão da UEMG CONSOLIDAR A UEMG COMO UNIVERSIDADE MULTICAMPI CONSOLIDAR A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EAD NA UEMG. V.1, Nº 1, 2015 120 FORTALECER A UAB/UEMG PARA QUE A EAD SE TORNE UMA POLÍTICA INSTITUCIONAL NA UEMG Fonte: Coordenação UAB/UEMG, 2015 Para dar continuidade aos trabalhos pedagógicos, administrativos e institucionais exitosos no processo de implementação da EaD, nesta instituição, foi solicitado à CAPES/UAB aprovação do aditamento do Convênio nº 782376/2013 por período de dois anos. Ao lado disso, concorreu-se ao Edital nº 75/2015 (CAPES/UAB) para oferta/reoferta dos cursos de pós-graduação em Gestão Pública nos polos UAB/UEMG de Jaboticatubas, Corinto e Governador Valadares, e em Gestão Pública Municipal nos polos de Araçuaí, Jaboticatubas, Boa Esperança e Governador Valadares. Demandas essas com resultados positivos para essa Universidade que assume a EaD como política institucional. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo, pretendeu-se discutir a importância da modalidade de ensino a distância para a ampliação e flexibilização do acesso ao Ensino superior pela UEMG. Iniciouse o texto com esclarecimentos sobre a concepção, o conceito e as características de EaD, assumidos até então por essa Universidade e o salto qualitativo, por meio da introduçãoutilização-apropriação das TIC’s, que tornaram viável a EaD em sua política institucional. Destaca-se que a EaD pode ser entendida como uma modalidade educacional que potencializa, por um lado, a apropriação de objetos de aprendizagem de forma híbrida e, por outro lado, a ampliação do acesso a informações e construção de conhecimentos pelos sujeitos. Acresce-se que essa modalidade ocupa um lugar de destaque para uma universidade multicampi, tendo em vista que possibilita a configuração de redes territoriais e cognitivas, nos termos já apontados por Lévy (1993). Assim sendo, a EaD tem impulsionado a ampliação da UEMG em termos gerais, e do Ensino Superior, em específico. Nesse sentido, tal como já destacado, a adesão da UEMG ao Sistema UAB tornase, neste momento histórico, condição sine qua non para o cumprimento da sua missão institucional, especialmente nas regiões mineiras com pouca ou nenhuma presença de IPES e V.1, Nº 1, 2015 121 baixo IDH. Destaca-se aqui a sua presença em regiões como o Baixo Jequitinhonha e o norte de Minas. Dos 17 territórios de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais, a UEMG se fazia presente, por meio dos seus campi presenciais em 10 territórios (Alto Jequitinhonha, Central, Metropolitana, Oeste, Vertentes, Mata, Sul, Sudoeste, Triângulo Norte e Triângulo Sul). Com a adesão ao Sistema UAB, para oferecimento de cursos na modalidade EaD, essa presença foi ampliada. Para além dos campi presenciais, em quatro territórios (Noroeste, Norte, Mucuri, Caparaó), a UEMG encontra-se presente exclusivamente na modalidade EaD, e, dos 10 territórios os quais faziam-se presença pelos campus presenciais, flexibiliza o acesso ao Ensino para além da modalidade presencial em seis desses territórios (Triangulo Sul, Central, Sudoeste, Sul, Metropolitana, Mata). A UEMG estará presente em outros dois territórios de desenvolvimento do Estado de Minas Gerais. Os municípios de Governador Valadares e Araçuaí disponibilizarão seus polos de apoio presencial, representando, respectivamente, os territórios de desenvolvimento do Vale do Aço e Médio e Baixo Jequitinhonha. Certamente que, ainda, há um longo caminho a ser trilhado rumo ao fortalecimento e à consolidação da EaD nessa Universidade. Contudo, já se pode comemorar os primeiros resultados da implementação dos cursos EaD nessa Universidade. Além da finalização com êxito das duas especializações supracitadas, experiências em curso já sinalizam que se está em um caminho bastante promissor. REFERENCIAS ALONSO, K. M. A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out./dez. 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Lei Federal nº 11.502, de 11 de Julho de 2007. Modifica as competências e a estrutura organizacional da fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 jul. 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Decreto nº 5.800, de 08 de Junho de 2006. Dispõe sobre o sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 09 jun. 2006. ______________. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. 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Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG). Mestre em Educação Tecnológica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Professora na Faculdade de Políticas Públicas “Tancredo Neves”, campus Belo Horizonte, UEMG (FaPP/CBH/UEMG). Adálcio Carvalho de Araújo - Coordenador Adjunto do Sistema Universidade Aberta do Brasil na Universidade do Estado de Minas Gerais (UAB/UEMG). Mestrando em Educação pela Faculdade de Educação (FaE/CBH/UEMG). Professor na (FaPP/CBH/UEMG). Robert Delano de Souza Correa - Professor Pesquisador do Sistema Universidade Aberta do Brasil na Universidade do Estado de Minas Gerais (UAB/UEMG). Mestrado em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Especialização em Segurança Pública e Complexidade pela Escola Superior Dom Hélder Câmara (ESDHC). Graduação em Administração Pública pela Universidade Federal de Lavras. Professor na FaPP/CBH/UEMG. Enil Almeida Brescia - Colaboradora Sistema Universidade Aberta do Brasil na Universidade do Estado de Minas Gerais (UAB/UEMG). Mestre em Engenharia Mecânica e graduada em Engenharia Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora na FaPP/CBH/UEMG. Ana Carolina Alves Bandeira - Professora Pesquisadora do Sistema Universidade Aberta do Brasil na Universidade do Estado de Minas Gerais (UAB/UEMG). Professora da Educação Básica na rede estadual de educação de Minas Gerais. Especialista em Gestão Pública pela Faculdade de Políticas Públicas “Tancredo Neves”, campus Belo Horizonte, UEMG. Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais. V.1, Nº 1, 2015 124