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1 Universidade Estadual Paulista Faculdade de Filosofia e Ciências – Campus de Marília Grupo de Estudos sobre Organização e Representação do Conhecimento Referência do texto para discussão: BRASCHER, Marisa; CAFÉ, Lígia. Organização da informação ou organização do conhecimento? In: ENCONTRO NACIONAL DA PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9., 2008, São Paulo. Anais… São Paulo: USP, 2008. Condução da discussão: Roberta Caroline Vesú Alves Organização da informação ou organização do conhecimento? Objetivo e contexto do artigo Destaca-se o problema terminológico de falta de clareza e delimitação dos conceitos de organização do conhecimento e organização da informação. Objetivos: • Analisar as ambiguidades da aplicação dos termos em Ciência da Informação: Organização do Conhecimento (OC), Organização da Informação (OI), Representação do Conhecimento (RC) e Representação da Informação (RI). Para isso, as autoras partem das concepções sobre informação e conhecimento, principalmente, de Fogl (1979). • Analisar o uso desses termos na denominação de grupos de pesquisa do Cnpq e de linhas de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação registrados na Capes, da área de Ciência da Informação. • Apresentar uma proposta conceitual preliminar, que delimita esses domínios. Informação e conhecimento Para as autoras, as ambiguidades conceituais ocorrem em diversas áreas do conhecimento e refletem a sua legitimação pela comunidade. “Os termos representam os conceitos, compondo a estrutura léxica de um determinado domínio” (BRASCHER; CAFÉ, 2 2008, p. 2). Esses problemas são observados a fim de evitar problemas na comunicação científica (SAGER, 1990 apud BRASCHER; CAFÉ, 2008). As características conceituais que distinguem os termos informação e conhecimento foram exploradas objetivando subsidiar o estudo sobre OI, OC, RI e RC. Para isso, as autoras usaram o método de relacionar os conceitos às suas funções segundo seus contextos e diferenciaram os conceitos próximos. Algumas distinções entre informação e conhecimento apresentadas por Brascher e Café (2008, p. 3): dados, informação e conhecimento: os dados são informação potencial, que somente são percebidos por um receptor se forem convertidos em informação e esta passa a converter-se em conhecimento no momento em que produz uma modificação na estrutura do conhecimento do receptor (FERNANDEZ-MOLINA, 1994, p.328). Burke (2003) distingue os dois termos atribuindo as seguintes características para informação: o que é relativamente “cru”, específico e prático. O autor denota o conhecimento como aquilo que representa o que foi “cozido”, processado ou sistematizado pelo pensamento. Para Fogl (1979, p.21), a informação compreende uma unidade de três elementos: 1) Conhecimento (conteúdo da informação) 2) Linguagem (um instrumento de expressão de itens de informação) 3) Suporte (objetos materiais ou energia) Segundo este autor, “não há conexão direta entre informação e objeto, uma vez que a única fonte de origem da informação é o conhecimento, a consciência humana e não o próprio objeto que está sendo conhecido, avaliado ou transformado” (FOGL, 1979, p.22). A informação pode ser analisada, segundo Fogl (1979) apontado pelas autoras, além do conceito de informação advindo da Teoria Matemática [da comunicação]1, portanto, sob os seguintes pontos de vista: semântico (cognitivo) e pragmático (real) incluindo a sua relação com o conteúdo, significado e sua função social; sua relação com o método de fixação do conhecimento e dos juízos de valor; e o suporte material utilizado. Segundo as autoras, • O aspecto semântico: “conteúdo do conhecimento e os juízos de valor fixados na informação, sem relação com as necessidades e interesses do sujeito, que avalia a informação em termos de sua veracidade, confiabilidade, conhecimento, adequação dos juízos de valor e assim por diante” (FOGL, 1979, p.22) – a informação como algo subjetivo e relativo, que dependente da interpretação do receptor; perspectiva cognitiva; a 1 Teoria da Informação proposta por Shannon (1916-2001) em 1948, que estabelece, basicamente, a transmissão de uma mensagem entre emissor e receptor, mediante um canal com possibilidade de ruído. 3 informação como possibilidade de transformar estruturas de conhecimento (conhecimento como algo provisório e em permanente revisão). • O aspecto pragmático: para Capurro e Hjorland (2003), o conceito de informação está relacionado ao que se deseja ser respondido (relevância da informação diante da necessidade e propósitos de informação), por isso, para a organização da informação ser eficiente deve considerar o aspecto pragmático. Conclusão das autoras, com base em Fogl (1979), sobre a distinção dos conceitos informação e conhecimento: 1) Conhecimento é o resultado da cognição (processo de reflexão das leis e das propriedades de objetos e fenômenos da realidade objetiva na consciência humana); 2) Conhecimento é o conteúdo ideal da consciência humana; 3) Informação é uma forma material da existência do conhecimento; 4) Informação é um item definitivo do conhecimento expresso por meio da linguagem natural ou outros sistemas de signos percebidos pelos órgãos e sentidos; 5) Informação existe e exerce sua função social por meio de um suporte físico; 6) Informação existe objetivamente fora da consciência individual e independente dela, desde o momento de sua origem. Reflexão: Qual a relação entre informação e conhecimento? A informação tem o potencial de ser percebida pelos nossos sentidos para gerar e transformar nossos conhecimentos? OI e OC, RI e RC: proposta conceitual Segundo as autoras: O objetivo do processo de organização da informação é possibilitar o acesso ao conhecimento contido na informação. Esse objetivo pode ser detalhado com base nos ajustes propostos por Svenonius (2000) aos objetivos bibliográficos definidos pela International Federation of Library Associations (IFLA), a saber: · localizar entidades em arquivo ou base de dados como resultado de uma busca por meio de atributos e relacionamentos entre as entidades; · identificar uma entidade, isto é, confirmar que a entidade descrita em um registro corresponde à entidade desejada ou distinguir entre duas ou mais entidades com características similares; · selecionar uma entidade que é apropriada às necessidades dos usuários; 4 · adquirir ou obter acesso à entidade descrita; · navegar numa base de dados, isto é, encontrar obras relacionadas a determinada obra por meio de generalização, associação, agregação; encontrar atributos relacionados por equivalência, associação e hierarquia. As autoras distinguem os processos de organização da informação e processos de organização do conhecimento, respectivamente, pertencentes à OI e à OC. A OI e a RI se referem à informação contida nos documentos e a OC e a RC se referem ao mundo dos conceitos (unidades de pensamento). Nessa direção, discordamos de Hjorland (2008k) quando afirma que “o processo de organização do conhecimento, no sentido restrito usado na Ciência da Informação, compreende a elaboração de resumos, a catalogação, a classificação, a indexação, o estabelecimento de elos, etc.”. Em nosso entendimento, esses processos se aplicam a objetos físicos - aos objetos informacionais e, conseqüentemente, são processos de organização da informação e não do conhecimento. (BRASCHER; CAFÉ, 2008, p. 6). Dois tipos distintos de processos de organização: OI para objetos informacionais e OC para unidades do pensamento ou conceitos (BRASCHER; CAFÉ, 2008). Processos de organização e representação, segundo as autoras: • OI: processos de organização do conjunto de objetos informacionais em coleções de bibliotecas, museus, arquivos tradicionais e eletrônicos. • RI: conjunto de atributos que representa o objeto informacional, obtido por processos de descrição física e de conteúdo. • OC: processos para a construção de modelos de mundo (abstrações da realidade). • RC: se constitui em estrutura conceitual que representa modelos de mundo (descrever e fornecer explicações sobre os fenômenos que observamos); sistemas de organização do conhecimento: sistemas conceituais que representam determinado domínio, sistematizando conceito e suas relações semânticas (classificação, cabeçalhos de assunto, arquivos de autoridade, redes semânticas, ontologias, dicionários, glossários, taxonomias e tesauros). OI, OC, RI e RC em grupos e linhas de pesquisa da Ciência da Informação no Brasil As buscas dos termos de termos, segundo as autoras, identificaram 26 grupos com OI, 18 com OC, 24 com RI e 16 com RC, sendo que 10 não se repetem. Foram encontradas diferenças conceituais entre os grupos de pesquisa, também em relação ao que foi delimitado como OC, RC, OI e RI na pesquisa das autoras. 5 A análise das linhas de pesquisa dos Programas de Pós-Graduação também demonstrou a abrangência do uso dos termos. Destaca-se a Unesp com a denominação “Organização da Informação”, que incorpora as três temáticas: OI, OC e RI: Considera a organização da informação como elemento para garantia de qualidade na recuperação, destacando-se o desenvolvimento de referenciais teóricos e metodológicos interdisciplinares acerca dos procedimentos de análise, síntese, condensação, representação e recuperação do conteúdo informacional, bem como dos produtos documentários deles decorrentes. Ressalta-se, como dimensão teórica, a reflexão sobre organização do conhecimento e seus desdobramentos epistemológicos e instrumentais; e, como dimensões aplicadas, a produção científica na área e a formação profissional, suas práticas e determinações institucionais em Unidades de Informação enquanto elementos subjacentes à organização do conhecimento. (BRASCHER; CAFÉ, 2008, p. 12). Conclusão do artigo As autoras verificaram a importância dos termos OC, OI, RC e RI em grupos de pesquisa e linhas de pesquisa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, além da necessidade de discussão conceitual para o entendimento comum e pretendem dar continuidade à pesquisa com aprofundamentos das reflexões. Considerações sobre o artigo Verifica-se a importância da compreensão e delimitação dos conceitos informação e conhecimento mediante processos de organização e representação em Ciência da Informação. Esses estudos ocorrem principalmente por meio da área de Organização do Conhecimento (Knowledge Organization), que nasceu dos estudos das classificações bibliográficas (sistema conceitual), estas embasadas na classificação do conhecimento da filosofia. Além disso, essa área estuda principalmente os processos de OC, RC e sistemas de organização do conhecimento (sistemas conceituais que representam domínios). Contudo, a área da Organização do Conhecimento também engloba os estudos de OI e RI, voltados aos objetos informacionais.