FECUNDAÇÃO IN VITRO EM PORTUGAL: UM ESTUDO DE
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FECUNDAÇÃO IN VITRO EM PORTUGAL: UM ESTUDO DE
ARTIGO ORIGINAL FECUNDAÇÃO IN VITRO EM PORTUGAL: UM ESTUDO DE CUSTO-EFECTIVIDADE Vladimiro Silva, PharmD, MSc Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e-mail: [email protected] Pedro Pita Barros, PhD Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa Óscar Lourenço, PhD Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Francisco Batel Marques, PharmD, PhD Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra Resumo Objectivos: Este estudo apresenta os resultados de uma avaliação económica realizada com o objectivo de comparar a utilização de gonadotrofinas urinárias e recombinantes em protocolos de estimulação ovárica para fecundação in vitro (FIV), na perspectiva do Serviço Nacional de Saúde. Foi calculado, para três grupos etários, o custo-efectividade incremental de uma alternativa terapêutica face à outra, no contexto de protocolos longos em que a supressão da hipófise é assegurada por agonistas da hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH). A medida de efectividade considerada foi o parto. Métodos: Foi desenvolvida uma árvore de decisão para modelar um ciclo de FIV. Os dados de efectividade considerados foram obtidos a partir da combinação de dados provenientes da reanálise de dois estudos internacionais de grande dimensão, aleatorizados e controlados, com os dados constantes do Registo Nacional de Procriação Medicamente Assistida (PMA). Os custos da medicação, e respectivas percentagens de comparticipação, e os custos dos tratamentos de PMA provêm de fontes oficiais e são os que se encontravam em vigor à data do respectivo cálculo. Os níveis de consumo de medicamentos considerados foram os mais eficientes para atingir os consumos obtidos a partir das fontes citadas. Resultados: A utilização de gonadotrofinas urinárias revelou-se dominante em relação à alternativa das recombinantes, com uma diferença de custos que variou entre € 95,82 e € 159,90 nos escalões etários analisados e uma efectividade superior. O rácio de custo-efectividade incremental obtido foi de € -2886,21 (≤34 anos), € -3386,89 (35-39 anos) e € -21 575,52 (≥40 anos) por parto. A análise de sensibilidade demonstrou que estes resultados não sofreram alterações substanciais após a introdução de variações em parâmetros críticos do modelo. Conclusões: As gonadotrofinas urinárias são a opção de tratamento mais custo-efectiva no caso dos tratamentos de FIV em protocolo longo com agonista da GnRH. A sua utilização preferencial permitiria a realização de mais um ciclo de FIV por cada 20 realizados. Palavras-chave: Custo-efectividade, procriação medicamente assistida, fecundação in vitro, gonadotrofinas. Abstract Objectives: To perform an economic evaluation comparing urinary and recombinant gonadotropins in ovarian stimulation for in vitro fertilisation (IVF) in the National Health Service perspective. Pituitary suppression was achieved through the use of gonadotropin-releasing hormone (GnRH) agonists in a long protocol. Incremental cost-effectiveness ratios of one alternative versus the other were calculated for three different age groups. Effectiveness was measured in deliveries. Methods: Effectiveness data came from the combination of results provided by two large, international, multicentric randomized controlled trials and the Portuguese Assisted Reproductive Technologies (ART) National Registry. Medication costs and reimbursement rates were obtained from official sources. MedicaRev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 7 ARTIGO ORIGINAL tion usage levels were the most efficient to achieve reported consumption levels. Considered ART treatment costs were obtained from government published prices. Results: Urinary gonadotropins are the dominant treatment strategy, with higher effectiveness and lower costs. Cost differences ranged from 95,83€ to 159,90€ in the analysed age groups. Incremental cost-effectiveness ratios obtained were -2886,21€ (≤34 years old), -3386,89€ (35-39 years old) and -21575,52€ (≥40 years old) per delivery. Sensitivity analysis showed that the main results did not change substantially after key parameters in the model were varied. Conclusions: Urinary gonadotropins are the most cost-effective alternative in IVF treatments after long protocol with GnRH agonist. The cost-savings achieved using urinary gonadotropins would allow for the delivery of an additional IVF cycle for every 20 cycles. Keywords: Cost-effectiveness, assisted reproductive technologies, in vitro fertilisation, gonadotropins. Introdução 8 Este artigo apresenta os resultados de uma análise de custo-efectividade, efectuada na perspectiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que compara a utilização de gonadotrofinas recombinantes (folitropina alfa e folitropina beta) e urinárias (menotropina) em tratamentos de fecundação in vitro (FIV), após protocolo longo com agonista da hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH), em Portugal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a infertilidade como um problema de saúde pública global e classifica-a como uma doença que, tal como todas as outras, deve ser prevenida e tratada1. Esta necessidade de encarar o problema da infertilidade foi igualmente identificada pelo Parlamento Europeu, que numa resolução de Fevereiro de 2008 apelou aos governos dos Estados-membros da União Europeia para que tomassem medidas para melhorar o acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde reprodutiva2. O International Committee Monitoring Assisted Reproductive Technologies (ICMART) e a OMS definem a infertilidade como a incapacidade de um casal conseguir gravidez após um ano de relações sexuais desprotegidas e regulares3-4. Embora não estejam publicados estudos específicos sobre a prevalência da infertilidade em Portugal, um recente trabalho de revisão internacional aponta genericamente para que esta doença afecte cerca de 9 por cento dos casais em idade reprodutiva, não existindo variações significativas entre países mais e menos desenvolvidos. Desses, estima-se que aproximadamente 56 por cento procurem cuidados médicos5. Ao longo dos últimos dez anos tem-se assistido a um enorme aumento da procura e utilização dos tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA), quer a nível internacional quer em Portugal6-7. Este fenómeno surge como consequência de vários factores, como o aumento da idade em que as mulheres Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 têm o primeiro filho, aumento da incidência de doenças de transmissão sexual, obesidade, diminuição da qualidade do esperma e também a aspectos como o stresse e factores ambientais8-10. Os resultados do tratamento da infertilidade não estão isentos de implicações e custos sociais. Em alguns países, os tratamentos de PMA estão na origem de cerca de 4 por cento do total anual de nascimentos, sendo que em Portugal os últimos dados publicados atribuíam-lhes a responsabilidade por 0,9 por cento do total de nascimentos de 20056-7. Calcula-se que os tratamentos de PMA já permitiram o nascimento de mais de 3,5 milhões de crianças em todo o mundo, além de contribuírem de forma significativa para aumentar as taxas de natalidade, sobretudo nos países que fazem um maior número de ciclos por milhão de habitantes11-14. Os custos totais dos tratamentos de PMA são difíceis de estimar e tradicionalmente representam uma pequena fracção da despesa total em saúde realizada pelos países. Num estudo recente verificou-se que, de uma amostra de países desenvolvidos, era a Austrália que mais investia em PMA em relação ao total de despesas totais em saúde (0,25 por cento), seguida pelos países escandinavos (0,19 por cento) e Reino Unido (0,13 por cento). Países como o Canadá (0,07 por cento) e os Estados Unidos (0,06 por cento) investem nesta área da medicina uma proporção consideravelmente inferior do total de despesas em saúde15-18. Estes valores, que poderão apresentar alguma distorção devida a factores como os custos médios dos serviços de saúde e o próprio modelo de sistema de saúde (o ideal seria a existência de um indicador que referisse a percentagem de despesas de saúde per capita dedicada por cada país à PMA), servem no entanto para ajudar a perceber que os diversos países têm formas diferentes de encarar o problema da infertilidade. Ainda assim, e independentemente da magnitude relativa do investimento em PMA, es- ARTIGO ORIGINAL tes são recursos que, tal como todos os outros, devem ser bem gastos, significando isso que as alternativas terapêuticas com melhor relação custo-efectividade deverão ser privilegiadas. A PMA é uma área da medicina com características especiais, uma vez que da aplicação destes tratamentos nascem crianças que um dia vão ter um papel activo na sociedade. Nessa medida, se se tiver em conta este aspecto no cálculo do balanço económico dos tratamentos de PMA, é intuitiva a compreensão de que os resultados serão positivos. Utilizando a metodologia da «contabilidade geracional», estudos recentes demonstraram que, se se considerar o valor dos impostos pagos ao longo da vida pelos indivíduos nascidos de tratamentos de PMA, o retorno do «investimento público» é sete a oito vezes superior ao custo da prestação do tratamento que permitiu o respectivo nascimento, mesmo depois de descontadas as despesas do Estado com cuidados de saúde, educação e pensões de reforma. O resultado mantém-se positivo mesmo após a introdução de taxas de desconto19-20. O papel do Estado e dos sistemas de saúde no condicionamento do acesso aos tratamentos de PMA é absolutamente decisivo, dado o elevado custo destes procedimentos21-24. Recentemente foi possível observar que, na Alemanha, uma redução de 50 por cento no financiamento público dos tratamentos de PMA originou uma diminuição de 53 por cento na respectiva utilização24. Estes resultados demonstram que o afastamento do Estado do financiamento e prestação destes tratamentos diminui a sua utilização e tem potenciais efeitos na equidade horizontal do acesso. Da análise da experiência internacional resulta que, no actual contexto de preocupação com a sustentabilidade financeira do SNS, não é possível separar os aspectos clínicos associados à utilização dos tratamentos de PMA das respectivas implicações económicas. O protocolo de estimulação ovárica prévio à realização das técnicas de PMA propriamente ditas – aqui entendidas como FIV ou microinjecção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI), de acordo com a definição proposta pela OMS/ICMART3-4 – pode envolver a utilização de gonadotrofinas recombinantes (hormona folículo-estimulante – rFSH) ou urinárias (HMG). Em Portugal, a HMG está disponível apenas na forma de gonadotrofina menopáusica humana altamente purificada, composta por FSH e hormona luteinizante (LH) em proporções iguais e ainda por gonadotrofina coriónica humana (hCG), cujo efeito mimetizante da LH parece estar decisivamente ligado às diferenças farmacoterapêuticas observadas entre os dois tipos de gonadotrofinas25. Neste artigo compara-se a utilização destes fármacos em tratamentos FIV com protocolo de estimulação ovárica longo em que a supressão da hipófise é assegurada pela administração de agonistas da GnRH. Nestes protocolos, a escolha do tipo de gonadotrofinas depende essencialmente da preferência e experiência do médico prescritor, não existindo uma estratégia terapêutica considerada predominante, pelo menos em Portugal26-27. Com a excepção dos casos de síndroma dos ovários poliquísticos (situações clínicas excluídas da população-alvo desta análise), não existem grupos de doentes em que a utilização de um dos tipos de gonadotrofinas esteja contra-indicada à partida. Contudo, a escolha das gonadotrofinas a utilizar em cada ciclo de tratamento é um aspecto sensível e com fortes implicações, quer em termos médicos (na intensidade e qualidade da resposta ovárica) quer em relação ao impacto económico da prestação deste serviço, uma vez que existem diferenças de custos consideráveis entre as diversas formulações. Este estudo apresenta os resultados de uma análise de custo-efectividade que compara a utilização de rFSH e HMG em tratamentos de fecundação in vitro, após protocolo longo com agonista da GnRH, em Portugal e incide sobre três populações-alvos diferentes, caracterizadas pelo escalão etário a que pertencem as mulheres: idades inferiores a 35 anos; idades entre 35 e 39 anos; idades superiores a 39 anos. A perspectiva adoptada para medir custos e consequências é a do SNS, o horizonte temporal considerado é o período de tempo entre o início do tratamento e o parto e a efectividade das alternativas é medida segundo uma métrica binária (êxito na obtenção de um parto). Métodos A análise de custo-efectividade é uma técnica de avaliação económica utilizada na comparação de custos e resultados da aplicação clínica de intervenções no sector da saúde28. No actual contexto de grande competição entre utilizações alternativas dos recursos disponíveis, este tipo de análise assume-se como uma ferramenta indispensável à decisão informada, em particular quando as decisões têm implicações de natureza social. Este trabalho constitui um exercício de modelação que permite sintetizar e integrar dados de custos e efectividade provenientes de várias fontes. Este estudo ajuda a compreender as relações entre custos e consequências dos dois tipos de gonadotrofinas, permitindo uma comparação com base em informação de interpretação intuitiva e em dados tão aproximados quanto possível à realidade portugueRev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 9 ARTIGO ORIGINAL Modelo Analítico de Decisão sa. Decidiu-se fazer a análise de custo-efectividade sobre três populações-alvos diferentes, caracterizadas em função do grupo etário das mulheres que as constituem, visto que os custos e os resultados dos tratamentos FIV são sensíveis à idade7. Para que esta análise seja útil para o decisor público, optou-se por realizar o estudo de avaliação económica na perspectiva do SNS. Embora deste modo se excluam custos com alguma relevância (nomeadamente os que recaem apenas sobre os casais, como a parte não comparticipada dos tratamentos, as deslocações, o tempo de trabalho perdido, entre outros), esta opção parece a mais adequada, dado o papel absolutamente decisivo do terceiro pagador público no condicionamento do acesso aos tratamentos de PMA, conforme explicitado anteriormente. Não se consideraram custos indirectos, dado que, por um lado, estes seriam idênticos para as duas alternativas em análise e, por outro, a perspectiva do estudo levaria inevitavelmente à respectiva exclusão. O horizonte temporal considerado corresponde a um ciclo de tratamento e a efectividade é medida segundo uma métrica binária (êxito na obtenção de um parto). A existência de dados provenientes de várias fontes e a necessidade da sua sintetização tornou necessário o desenvolvimento de um modelo analítico de decisão. Dado o horizonte temporal adoptado na análise e o reduzido número de eventos que podem ocorrer em cada uma das alternativas em comparação, um modelo sob a forma de uma árvore de decisão é adequado para reflectir de modo real as diferenças entre as duas alternativas. A árvore desenvolvida é apresentada na Figura 1 e o respectivo desenho decorre essencialmente das opções tomadas nos RCT em se baseia este artigo. No início do tratamento a mulher pode seguir a alternativa HMG ou rFSH. Independentemente da opção seleccionada, o conjunto de eventos relevantes que podem ocorrer após o início do tratamento é similar, variando apenas as respectivas probabilidades de ocorrência e custos associados, o que naturalmente originará efectividades médias e custos médios distintos. Este modelo foi desenvolvido tendo em consideração a forma como está organizada a informação no Registo Nacional de PMA (RNPMA) da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), que por sua vez é elaborado de acordo 10 Figura 1 - Árvore de decisão Parto P=81,9% Gravidez clínica 4H P=34,5% P=18,1% Aborto espontâneo Transferência de embriões Punção folicular com recolha de ovócitos P=92% 1H P=65,5% Ausência de gravidez 2H S/ transferência de embriõesciclo cancelado P=13% P=8% 3H P=87% Ciclo cancelado ou punção s/ recolha de ovócitos HMG Parto Gravidez clínica P=81,9% 4r P=26,6% Início do ciclo FIV P=18,1% Transferência de embriões rFSH Punção folicular com recolha de ovócitos P=87% Aborto espontâneo 3r P=73,4% Ausência de gravidez 2r P=92% P=13% 1r P=8% S/ transferência de embriõesciclo cancelado Ciclo cancelado ou punção s/ recolha de ovócitos Nota: as percentagens que surgem no modelo reflectem a efectividade dos procedimentos para o escalão etário ≤34. Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 ARTIGO ORIGINAL com as recomendações do European IVF Monitoring Consortium (EIM) da European Society for Human Reproduction and Embriology (ESHRE)7 e permite traduzir de uma forma sistemática as etapas pelas quais os casais passam quando realizam um tratamento de FIV e os momentos em que estes podem entrar ou sair do modelo. Assim, depois de alocado ao tratamento com HMG ou rFSH, o casal passará por um processo de estimulação ovárica após o qual poderá ou não ser possível a recolha de ovócitos por punção folicular (primeira probabilidade de transição). Uma vez obtidos, os ovócitos passarão pelo processo de FIV propriamente dito, cujo objectivo é a obtenção de embriões em meio laboratorial. Uma vez que nem sempre é possível a obtenção de embriões, há nesta fase um novo momento em que os casais poderão terminar, sem êxito, o ciclo de FIV (segunda probabilidade de transição). Nas situações em o tratamento prossegue, os embriões obtidos são transferidos para o útero. Cerca de duas semanas após a transferência de embriões faz-se o teste de gravidez. Nos casos em que o resultado é positivo é feita a confirmação ecográfica da gravidez (gravidez clínica), sendo esse o evento adoptado para a progressão dos casais no modelo (terceira probabilidade de transição). Como nem todas as gravidezes chegam a termo, a percentagem de partos será necessariamente inferior à de gravidez, pelo que o parto é o último momento em que os casais considerados poderão permanecer ou sair do modelo (quarta probabilidade de transição). Uma vez que não há diferenças significativas entre as duas alternativas relativamente às incidências de efeitos secundários (nomeadamente, do síndroma de hiperestimulação ovárica) e aborto espontâneo, estes aspectos foram excluídos da análise29-30. Considerando que o objectivo deste estudo é comparar a relação custo-efectividade de dois tipos de gonadotrofinas em três escalões etários, não faz sentido segmentar a amostra tendo em conta a proporção de doentes tratadas em cada um dos grupos – esse tipo de ponderação só faria sentido se se pretendesse determinar uma relação de custo-efectividade global. Definiu-se o horizonte temporal da análise num ciclo de FIV, pelo que os casais apenas percorrerão os caminhos definidos pela árvore de decisão clínica uma única vez. Evidência Clínica A discussão sobre as diferenças de efectividade entre rFSH e HMG é longa e nos últimos anos tem sido objecto de vários estudos aleatorizados e controlados (RCT), bem como de diversos trabalhos de revisão e meta-análise, que de um modo geral apontam para a superioridade da HMG, embora os resultados apresentem um poder estatístico variável29-34. O estudo de Platteau e col (2008)29 é particularmente interessante, visto que estes autores fizeram uma reanálise retrospectiva dos dados individuais de dois RCT de grande dimensão (EISG, 2002; Nyboe-Andersen e col, 2006)32-33 que, além de serem ambos estudos multicêntricos internacionais realizados de um modo metodologicamente correcto, incluíam populações e protocolos de estimulação ovárica semelhantes e consideravam o mesmo endpoint (gravidez evolutiva), o que permitiu obter uma população de dimensão considerável (986 indivíduos: 491 no grupo HMG e 495 no grupo rFSH). Deve também referir-se que o mais recente destes estudos (Nyboe-Andersen e col, 2006)33 foi desenhado com base na estrutura do RCT anterior, além do próprio protocolo do segundo estudo prever a integração e análise conjunta dos dados de ambos29,33, pelo que a agregação da informação pôde ser feita de um modo natural e sem as restrições que por vezes aumentam os níveis de incerteza das meta-análises. Como não existem dados disponíveis de efectividade específicos para Portugal e porque os medicamentos e protocolos de estimulação ovárica utilizados em PMA são universais, assumiu-se que os resultados publicados por Platteau e col (2008)29 constituiriam uma aproximação aceitável, desde que combinada com os dados do RNPMA elaborado anualmente pela SPMR. De facto, ao tomar-se esta opção, combina-se dados de eficácia provenientes de dois RCT internacionais e multicêntricos, com dados de efectividade obtidos em contexto clínico real e que, deste modo, traduzirão de forma mais fiel a realidade dos tratamentos de PMA em Portugal. No entanto, como os RCT são realizados sobre populações ideais e o RNPMA nem sempre dispõe de dados com o grau de detalhe suficiente, em determinadas situações pontuais será necessário recorrer a informação proveniente de outras fontes. Nestes casos, devidamente identificados ao longo do artigo, optou-se pelo recurso a estudos baseados em registos nacionais de dados, quer pela dimensão e robustez da informação fornecida quer pela própria natureza heterogénea da população de base, o que vai de encontro ao que sucederia caso o RNPMA tivesse o mesmo tipo de detalhe que outros registos. Os dados relativos à percentagem de gravidez por transferência de embriões dos ciclos de FIV com HMG e rFSH foram obtidos a partir da reanálise dos Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 11 ARTIGO ORIGINAL 12 dados individuais de dois RCT de larga escala (EISG, 2002; Nyboe-Andersen e col, 2006)32-33, correspondendo a uma população final de 986 mulheres (491 no grupo HMG e 495 no grupo rFSH) com pelo menos 12 meses de infertilidade. A população analisada excluía mulheres com história clínica de má resposta ou síndroma de hiperestimulação ovárica, casos com doenças sistémicas ou endócrinas clinicamente relevantes, fumadoras e mulheres com história de abuso de álcool e drogas – os critérios de exclusão foram os mesmos nos dois RCT29. Os dados relativos à percentagem de gravidez por transferência de embriões em cada grupo etário foram obtidos a partir da agregação dos dados do RNPMA da SPMR entre 1999 e 2007, correspondendo a um total de 8691 ciclos de FIV7,26-27. Os dados relativos à proporção de ciclos cancelados em função da idade foram obtidos a partir do último registo norte-americano de PMA publicado pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention), relativo ao ano de 2007 e abrangendo 100 932 ciclos, uma vez que relativamente a este parâmetro o RNPMA não disponibiliza informação segmentada por grupo etário7,26-27,35. As percentagens de parto foram obtidas a partir dos dados do RNPMA de 2006 e 2007 (2642 ciclos de FIV), uma vez que só nestes anos é que a informação recolhida apresentava detalhe suficiente26-27. No Quadro 1 pode observar-se os dados agregados do RNPMA de 1999 a 2007. Os dados de 2006 e 2007 correspondem ao total de ciclos e não ao total de punções, o que corresponde a uma aproximação por defeito. Quadro 1 - Número de ciclos FIV em Portugal, RNPMA 1999-2007 RNPMA, ciclos FIV, 1999-2007 N.º punções N.º gravidezes % ≤34 4992 1573 31,5% 35-39* 3068 715 23,3% 74,0% 631 73 11,6% 36,7% ≥40* % do máximo * Não inclui 1999. Se aplicarmos a proporção observada entre as percentagens de gravidez dos vários escalões etários aos resultados dos dois RCT em que se baseia este estudo, obtemos percentagens de gravidez para cada uma Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 das gonadotrofinas em análise e para cada escalão etário (Quadro 2), o que corresponde à probabilidade de ocorrência dos eventos associados aos nós de incerteza 3H e 3r da árvore de decisão. Quadro 2 - Gravidez por transferência de embriões em Portugal, em 3 escalões etários, deduzida a partir do estudo de Platteau e col (2008)29 Gravidez/transferência de embriões 29 (Platteau e col, 2008) Idades ≤34 35-39 ≥40 HMG 34,5% 31,0±3,4 34,5% 25,5% 12,7% rFSH 26,6% 31,1±3,5 26,6% 19,7% 9,8% Como o estudo de Platteau e col (2008) considera os nascimentos vivos como endpoint, para a obtenção de informação relativa ao parto é necessário recorrer aos dados do RNPMA. Esta informação só estava disponível com o detalhe necessário para os anos de 2006 e 2007 (Quadro 3)26-27,29. Uma vez que não se registaram diferenças significativas entre as taxas de abortamento espontâneo ou complicações obstétricas entre as duas gonadotrofinas em análise, utilizaram-se os mesmos valores para ambas as alternativas. A informação obtida na coluna da direita do Quadro 3 («% partos/gravidez») corresponde às probabilidades de ocorrência dos eventos associados aos nós 4H e 4r da árvore de decisão. No estudo de Platteau e col (2008) não se verificaram diferenças entre as alternativas HMG e rFSH no que respeita às percentagens de cancelamento de tratamentos antes e depois da punção folicular para recolha de ovócitos. No RNPMA, essa informação existia para os anos de 2006 e 2007, embora sem discriminação por grupos etários26-27,29. Deste modo, optou-se por recorrer ao último registo norte-americano de PMA, uma vez que a média de cancelamentos antes da punção folicular verificada nos Estados Unidos neste ano (11,6 por cento) é exactamente igual à média observada no RNPMA em tratamentos de FIV realizados em 2006 e 2007 em Portugal (embora num universo de 2697 ciclos) e que o CDC disponibiliza informação detalhada por classe etária26-27,35. Embora existam diferenças entre a prática clínica europeia e norte-americana em relação à política de cancelamento de ciclos, uma vez que é nos Estados Unidos que a percentagem de cancelamentos é mais elevada, esta será sempre uma aproximação por defeito, pelo que a respectiva inclusão nos cálculos poderá ser considerada aceitável36. Será, no entanto, feita análise ARTIGO ORIGINAL Quadro 3 - Ciclos, gestações e partos no RNPMA 2006-2007 RNPMA, ciclos FIV, 2006 e 2007 Idade Ciclos Gestações Partos ≤34 1406 496 406 35,3% 28,9% 35-39 1007 251 174 24,9% 17,3% 229 28 13 12,2% 5,7% ≥40 % gravidez/ ciclo % partos/ ciclo de sensibilidade para testar a validade desta assumpção. A informação relativa a cancelamentos antes e após a punção folicular para recolha de ovócitos pode ser consultada no Quadro 4. A coluna da esquerda contém o complementar das probabilidades de ocorrência dos eventos associadas aos nós 1H e 1r e a da direita o complementar das probabilidades de ocorrência dos eventos dos nós 2H e 2r da árvore de decisão. Quadro 4 - Percentagens de cancelamento de ciclos antes e após a punção folicular para recolha de ovócitos CDC 35 (EUA, 2007) Ciclos cancelados antes da punção Ciclos cancelados após a punção ≤34 8,0% 13,0% 35-39 12,4% 20,3% ≥40 19,1% 32,0% Nota: os escalões etários adoptados no registo norte-americano são ligeiramente diferentes dos europeus, correspondendo os dados apresentados aos escalões ≤34, 35-40 e ≥41. Determinação dos Custos A análise foi feita na perspectiva do SNS. Deste modo, os custos suportados pelos casais, assim como os custos relacionados com as perdas de produtividade, não foram incorporados na análise. O custo da FIV considerado corresponde ao preço compreensivo publicado na Portaria n.º 154/2009, de 9 de Fevereiro (€ 2500), e que corresponde ao valor que o SNS efectivamente paga por estes tratamentos em sede de contratualização ou facturação a subsistemas ou privados convencionados37. Embora não esteja previsto um preço para os ciclos cancelados antes da punção folicular para recolha de ovócitos, considera-se que a utilização dos custos da «indução da ovulação» previstos na mesma tabela (€ 300) constitui uma aproximação aceitável, uma vez que os procedimentos e actos médicos realizados neste processo são os mesmos que os % partos/ gravidez da primeira fase dos ciclos de PMA. No caso dos ciclos cancelados após a pun81,9% ção folicular decidiu-se utilizar como referência o valor correspondente a 40 por 69,3% cento do custo total do procedimento, 46,4% não por se considerar que até esta fase ocorre esta proporção dos custos, mas por ser este um ponto de equilíbrio entre o que o Estado paga em situações análogas às dos cancelamentos antes da punção folicular (12 por cento) e o que é prática comum no sector privado para cancelamentos nesta fase do processo de tratamento (53-62 por cento do custo total). Como este é um valor comum às duas alternativas, e que só é incluído para que o resultado final do cálculo dos custos seja o mais próximo possível da realidade, não fará sentido aferir a validade desta assumpção no contexto de uma análise de sensibilidade. Os custos da medicação foram calculados assumindo que todos os doentes beneficiariam do regime especial previsto pelo Despacho n.º 10 910/2009, actualizado pela Declaração de Rectificação n.º 1227/2009 e pelo Despacho n.º 15 443/2009. Os custos considerados foram obtidos através da base de dados de medicamentos disponibilizada online pelo INFARMED em Maio de 201038-41. No cálculo dos custos de cada grupo terapêutico foram consideradas as quotas de mercado das várias apresentações disponíveis (IMS, anos 2007 e 2008) e utilizadas as combinações mais eficientes para se atingirem os consumos médios de 2600 UI (HMG) e 2500 UI (rFSH) – estes valores correspondem a uma aproximação por excesso aos consumos médios reportados por Platteau e col (2008)29, indispensável para que se possa fazer a conversão desta dose em embalagens comercializadas. No caso dos agonistas da GnRH utilizados para a supressão da hipófise não se utilizou a respectiva quota de mercado, visto que a inclusão destes medicamentos nos protocolos de estimulação ovárica para PMA corresponde a uma utilização off-label e, como tal, não é possível saber que parte do respectivo consumo é que se destinou à PMA. Optou-se, deste modo, por considerar um consumo equitativo das alternativas mais frequentemente utilizadas (a consideração deste custo é indispensável à avaliação económica, na medida em que estes medicamentos foram utilizados nos ensaios clínicos Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 13 ARTIGO ORIGINAL 14 que servem de base a este estudo e constituem um custo relevante na perspectiva do SNS). Uma vez que a soma das quotas de mercado das gonadotrofinas em análise não corresponde a 100 por cento, procedeu-se ao respectivo ajustamento proporcional. O cálculo da quota de mercado geral para cada tipo de gonadotrofinas corresponde à soma das quotas de mercado (em unidades) de todas as apresentações existentes, tendo sido feita a média das quotas verificadas em 2007 e 2008. O ajustamento à idade do consumo de cada um dos tipos de gonadotrofinas foi feito partindo destes valores reportados por Platteau e col (2008) e com base nos valores observados numa análise a 18 601 ciclos de PMA realizados em França em 2005, obtida a partir de dados do FIVNAT (registo francês de PMA)42. Os custos com a medicação foram considerados constantes também para os ciclos cancelados, dado que é improvável que os cancelamentos considerados afectem significativamente o consumo de gonadotrofinas e que, ao proceder de outra forma, estaríamos a favorecer as alternativas com maior percentagem de cancelamentos. O modo como se realizaram os cálculos dos custos médios da medicação está descrito de forma mais detalhada no Quadro 5. Optou-se pela consideração de alguns custos marginais comuns às alternativas em análise para que a informação final proporcionada pelo estudo seja mais directamente utilizável pelo terceiro pagador público e se mantenha a noção do custo global dos tratamentos na perspectiva do SNS. Estes custos nada influem na comparação entre as duas alternativas, mas ajudam à percepção da magnitude dos custos globais. Os custos obstétricos e neonatais foram excluídos do estudo, na medida em que a respectiva inclusão prejudicaria a alternativa com melhores taxas de gravidez e parto. Também não se consideraram os custos da administração de progesterona até às 12 semanas de gravidez, porque a sua contabilização favoreceria a alternativa com menor taxa de sucesso. Os custos indirectos não foram considerados, visto que a perspectiva adoptada é a do SNS. Além disso, os custos indirectos individuais seriam comuns às duas alternativas e aos três grupos etários, uma vez que o horizonte temporal desta análise está limitado a um ciclo. Por esta mesma razão, não é necessária a actualização dos custos considerados. No Quadro 6 pode observar-se um resumo dos custos dos procedimentos, bem como os custos médios da medicação obtidos a partir dos cálculos detalhados no Quadro 5. Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 O ajustamento dos custos médios à idade é feito com base nas proporções de consumo de gonadotrofinas obtidas a partir dos dados do registo FIVNAT francês de 200542 e expressas no Quadro 7. O custo total médio para cada escalão etário foi calculado com base no raciocínio e pressupostos expressos no Quadro 5, substituindo-se os consumos de rFSH e HMG pelos obtidos pela aplicação das percentagens de ajustamento obtidas a partir do FIVNAT. Os custos constantes do Quadro 7 são os que foram considerados na análise de custo-efectividade. Resultados O rácio de custo-efectividade incremental (ICER) corresponde à razão entre as diferenças dos custos esperados totais associados à utilização dos dois tipos de gonadotrofinas e os resultados (efectividade) esperados para cada uma delas: ICER = = CHMG-CrFSH EHMG-ErFSH Na Figura 2 podem observar-se os custos e resultados obtidos através da incorporação dos dados de custos e efectividade no modelo, apresentando-se o ICER como o vector que une os pontos formados por cada uma das alternativas em cada escalão etário. O Quadro 8 contém os rácios de custo-efectividade e ICER para cada grupo etário. Da análise do Quadro 8 é possível verificar que o menor custo por parto (€ 11 977,96) é obtido com a HMG e para o escalão etário mais baixo. É igualmente possível constatar que ambas as gonadotrofinas apresentam custos por parto que aumentam com a idade. O valor do ICER é negativo em todos os cenários, o que significa que a HMG é a alternativa dominante. O ICER é significativamente mais negativo após os 40 anos, o que sugere que a dominância da HMG neste grupo de doentes parece ser mais clara. Análise de Sensibilidade Uma vez que os resultados obtidos poderão ser sensíveis a factores como a validade das hipóteses assumidas no modelo, os valores e fontes de referência de dados ou a observabilidade imperfeita que sempre constitui a estimação de custos médios, é aconselhável a realização de análises de sensibilidade que possam aferir a robustez dos resultados obtidos face a possíveis variações destes elementos. Assim, foram realizadas análises de sensibilidade unidimensionais para testar o impacto da variação de um ARTIGO ORIGINAL Quadro 5 - Custos da medicação utilizada em protocolos de estimulação ovárica Agonista GnRH PVP unitário Quantidade Quota de mercado (unidades) PVP total Estado (37%) Utente (63%) Suprefact - Buserrelina 1 cx 2 ampolas 5,5 mg/5,5 ml € 36,22 1 ND € 36,22 € 13,40 € 22,82 Decapeptyl - Triptorrelina 1 ampola 3,75 mg/2ml € 151,76 1 ND € 51,76 € 56,15 € 95,61 Valor médio: € 93,99 € 93,99 € 34,78 € 59,21 Estado(69%) Gonadotrofinas recombinantes Utente (31%) (Combinações mais eficientes para atingir 2500 UI) Gonal F 1050 UI/1,75 ml - 1 embalagem 2 ml (1200 UI) € 498,35 2 € 996,70 € 687,72 € 308,98 Gonal F 75 - 75 UI/1 ml (75 UI) € 35,10 2 € 70,20 € 48,44 € 21,76 € 1066,90 € 736,16 € 330,74 Subtotal: 38,1% Puregon 900 UI/1,08 ml - 1 cartucho de 1,23 ml (1025 UI) € 409,74 2 € 819,48 € 565,44 € 254,04 Puregon 300 UI/0,36 ml - 1 cartucho de 0,36 ml (300 UI) € 140,92 1 € 140,92 € 97,23 € 43,69 Puregon 100 UI/0,5ml - 1 seringa de 0,5 ml (100 UI) € 48,08 1 € 48,08 € 33,18 € 14,90 Puregon 50 UI/ml € 24,15 1 € 24,15 € 16,66 € 7,49 Subtotal: 41,5% Custo ponderado: Gonadotrofinas urinárias Menopur - Menotropina 75 UI/ml - emb 5 unidades € 1008,48 € 695,85 € 312,63 € 1036,44 € 715,15 € 321,30 € 860,93 € 594,04 € 266,89 -€ -€ (Combinação mais eficiente para atingir 2600 UI) 63 € 122,99 7 17,7% Gonadotrofinas coriónicas -€ Ovitrelle - Gonadotrofina coriónica 0,25mg/0,5m € 47,13 1 7,1% € 47,13 -€ € 47,13 Pregnyl - Gonadotrofina coriónica - 5000 UI/ml - 1 cx 3 ampolas € 14,55 1 92,9% € 14,55 € 10,04 € 4,51 Custo ponderado: € 30,84 € 16,86 € 9,33 € 7,54 Estado (37%) Utente (63%) € 9,52 € 16,22 Progesterona Utrogestan - Progesterona 100 mg - 1 emb 60 cp € 12,87 2 € 25,74 Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 15 ARTIGO ORIGINAL Quadro 6 - Custos dos procedimentos e medicação Custo Procedimentos em Portugal ≤34 Fonte € 2500 FIV Quadro 8 - Rácio custo-efectividade e ICER da HMG vs. rFSH Portaria n.º 154/2009 Cancelamento antes da punção folicular (apenas indução da ovulação) € 300 Portaria n.º 154/2009 Cancelamento após a punção folicular € 1000 40% do custo total Custo médio para o Estado Custo médio total Medicação rFSH € 1173,04 € 768,77 HMG € 997,52 € 647,67 Quadro 7 - Cálculo do custo total da medicação para o SNS 16 % do consumo médio (Rossin e col, 42 2009) ≤34 Custo total da medicação para o SNS HMG rFSH 86,6% 89,4% HMG rFSH ≤34 € 562,81 € 712,19 35-39 102,4% 107,1% 35-39 € 732,53 € 828,35 ≥40 124,3% 129,2% ≥40 € 817,39 € 977,29 Figura 2 - Custos e resultados esperados após a aplicação do modelo Resultados esperados Custo esperado 35-39 ≥40 HMG € 2707,41 ≤34 € 2693,58 € 2509,09 ≥40 HMG 22,60% 12,35% 3,24% rFSH € 2856,79 € 2789,40 € 2668,98 rFSH 17,43% 9,53% 2,50% ∆C € -149,38 € -95,82 35-39 € -159,90 ≤34 ∆E 5,18% 2,83% 0,74% 35-39 rFSH;17,43%;€ rFSH;9,53%;€ 2.789,40 2.856,79 ICER ICER rFSH;2,5%;€ 2.668,98 HMG 12,35%;€ 2.693,58 HMG;22,60%;€ 2.707,41 HMH ≥40 35-39 HMG € 11 977,96 € 21 802,41 € 77 525,78 rFSH € 16 392,50 € 29 283,44 € 106 958,12 ICER HMG vs. rFSH € -2886,21 € -3386,89 € -21 575,52 ou mais factores sobre os ICER obtidos. As análises realizadas incidiram apenas sobre parâmetros internos ao modelo, não tendo sido testados modelos de decisão alternativos. Em relação ao cenário base avaliaram-se os efeitos das seguintes alterações: 1) aumento de consumo de HMG que tornasse necessária a aquisição de mais uma embalagem de cinco ampolas, mantendo constante a rFSH; 2) redução da diferença de efectividade para metade (a boa prática dos estudos de avaliação económica aconselha a que a análise de sensibilidade univariada seja feita de modo a testar valores extremos dentro de margens de variação plausíveis, pelo que esta é uma aproximação por excesso, na medida em que excede largamente as margens de erro dos RCT de base29,32,33); 3) taxas de cancelamento 15 por cento mais baixas que as utilizadas, uma vez que, segundo Gleicher e col (2006), nos Estados Unidos estas serão 6 a 8 por cento mais elevadas que na Europa36; 4) inclusão de custos obstétricos no modelo, considerando-se para o efeito os custos referidos na Portaria 839-A/2009, de 30 de Julho43 – como nos RCT não se verificaram diferenças entre as duas alternativas relativamente à proporção de partos múltiplos ou à incidência de complicações obstétricas, para efeitos de análise de sensibilidade consideram-se os custos do parto simples (€ 946,04), admitindo-se uma percentagem de cesarianas de 30 por cento (considerando-se o custo de uma cesariana sem complicações – € 1395,82)43. Foram igualmente incluídos os custos classificados como «outros diagnósticos pré-parto, sem complicações médicas» (€ 732,29)43. Os resultados da análise de sensibilidade revelaram a inexistência de alterações significativas dos resultados fundamentais do estudo em qualquer destes cenários alternativos, mantendo-se sempre a HMG como alternativa dominante (Quadro 9). rFSH ICER HMG;3,24%;€ 2.509,09 Discussão e Conclusões Os resultados deste estudo indicam que em Portugal, na perspectiva do SNS, a opção pela HMG em t����� rata- Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 ARTIGO ORIGINAL Quadro 9 - Análise de sensibilidade unidimensional: efeito sobre o ICER de variações em parâmetros críticos ≤34 35-39 ≥40 ICER inicial -2886,21 -3386,89 -21 575,52 Consumo adicional de 1 embalagem de 5 ampolas de HMG -1246,60 -387,14 -10 124,58 Redução da diferença de efectividade para metade -5700,26 -6715,77 -43 041,96 Taxas de cancelamento 15% mais baixas que as utilizadas -2786,59 -3194,65 -19 465,33 Considerando custos obstétricos -748,14 -925,32 -18 072,03 mentos FIV com protocolo longo com agonista é dominante em relação à alternativa da rFSH em todos os escalões etários, uma vez que corresponde a menores custos médios, melhores resultados e, obviamente, a um menor custo médio por resultado. Na perspectiva do SNS é importante perceber de que forma é que a racionalização dos protocolos terapêuticos utilizados nos tratamentos de FIV poderia permitir aumentar a oferta pública de serviços – e daí a importância de se fazer uma análise não parcial dos custos envolvidos. Tendo em conta apenas as diferenças de custos entre as duas alternativas, a utilização da HMG permitiria pagar em média mais um ciclo de FIV por cada 20,6 ciclos realizados. Se se optasse pela realização deste estudo na perspectiva da sociedade (que adiciona o ponto de vista dos casais ao do SNS), seria legítimo conjecturar-se que o saldo correspondente aos custos e benefícios adicionais seria positivo (pois de outra forma os casais não decidiriam pela realização do tratamento), pelo que, deste modo, a perspectiva do SNS será sempre uma abordagem por defeito, que afecta de igual modo ambas as alternativas em análise. Poder-se-á argumentar que a restrição do horizonte temporal do estudo a um ciclo poderá ser limitativa, na medida em que um número consideravelmente elevado de casais poderá necessitar de vários ciclos de tratamento. Não existem, no entanto, razões para especular que o desempenho de cada uma das alternativas em análise possa ser diferente nos casos em que os casais fazem mais que um ciclo. Além disso, o SNS, em cuja perspectiva foi construído este traba- lho, anunciou recentemente que apenas financiaria a realização de um ciclo de PMA44. O factor determinante que justifica as diferenças entre os custos das duas alternativas é a discrepância de preço entre os dois tipos de gonadotrofinas, que não é compensado pelo facto de se considerar necessária uma dose ligeiramente mais elevada de HMG. No entanto, é importante salientar que as diferenças de dosagem reportadas por Platteau e col (2008)29, embora estejam no limiar da significância estatística (p=0,006), correspondem a variações facilmente ultrapassáveis pela prescrição de uma embalagem adicional, o que na prática clínica é relativamente frequente, dada a dificuldade em prever com precisão a resposta ovárica entre diferentes episódios de monitorização e a prudência que normalmente existe relativamente à possibilidade da doente não ter em casa gonadotrofinas suficientes para todo o período de estimulação ovárica. Na concepção deste estudo e dos RCT que lhe serviram de base admite-se implicitamente que sem tratamento é impossível a gravidez. No entanto, haverá seguramente alguns casais (uma proporção de muito difícil determinação e dependente de factores como a duração da infertilidade, o diagnóstico e a idade da mulher8,45) que poderiam engravidar espontaneamente, isto é, sem tratamento. De qualquer modo, estes casais seriam distribuídos aleatoriamente pelas duas vias de tratamento que estão a ser comparadas, pelo que este não será, aparentemente, um factor de viés. A inclusão dos custos associados à gravidez e ao parto prejudica a alternativa que apresenta melhores resultados, que no entanto se mantém dominante, embora por uma margem consideravelmente inferior. Este facto confirma que não faria sentido a inclusão dos custos obstétricos no modelo, visto que estes crescem à custa da efectividade e serão tanto maiores quanto mais notória for a superioridade clínica de uma alternativa face à outra. Se se optasse por considerar nestes cálculos os custos da gestação múltipla, que em Portugal podem atingir valores muito significativos, especialmente numa perspectiva de longo prazo, certamente que a relação entre as duas alternativas se inverteria, dado o carácter marginal do ICER dominante após a introdução desta variação, sobretudo se comparado com o custo potencial das complicações associadas a estes partos46-47. No entanto, dada a perspectiva de longo prazo que um estudo do género inevitavelmente teria de ter e o facto dos RCT não reportarem diferenças estatisticamente significativas relativamente à incidência de partos múltiplos, a conRev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 17 ARTIGO ORIGINAL 18 sideração deste aspecto num estudo deste género seria claramente uma fonte de distorção dos resultados, já que subverteria o objectivo principal da utilização das alternativas terapêuticas em comparação. De facto, a incidência de gravidez múltipla não depende do tipo de gonadotrofinas utilizadas, mas de um conjunto muito alargado de factores cuja análise não é objecto deste artigo46-47. Ao contrário dos custos obstétricos, a consideração de eventuais benefícios proporcionados pelas crianças nascidas (como os referidos nos estudos de Connolly e col19-20) não seria susceptível de alterar o sinal do ICER, conforme se poderá verificar seguindo este raciocínio: imaginemos uma situação em que C1 e C2 serão os custos correspondentes a cada uma das alternativas em análise e numa delas, digamos a 1, omitirmos os custos obstétricos ∆. Em termos de benefícios teremos p1 e p2 como probabilidades de nascimento, correspondendo nesse caso a efectividade (E1 e E2 para efectividade das opções 1 e 2) à multiplicação dessas probabilidades pelo número de casais (N) em cada uma das alternativas. Assim, E1 = p1 N e E2 = p2 N, correspondendo E1 e E2 ao número de nascimentos esperado. Se os valorizamos por um factor K (por exemplo, segundo os critérios de Connolly e col19-20), então E1 = K p1 N e E2 = K p2 N (uma vez que o valor de cada nascimento será constante para as duas alternativas). Deste modo, o novo ICER corresponderá a (C1 + ∆ - C2)/(E1-E2) – isto é, o factor K não altera o sinal do ICER mas o ∆ pode fazê-lo. Ou seja, verifica-se que os custos obstétricos terão uma influência sobre o sentido do ICER, ao contrário do valor eventualmente atribuível aos nascimentos. Assim, acredita-se que a estruturação do presente trabalho é a que poderá proporcionar informação mais útil ao processo de decisão. Os resultados apresentados pelos dois RCT multicêntricos internacionais em que se baseia o presente estudo surgem em linha com os obtidos nas meta-análises de Al-Inany e col (2008)30 e Coomarasamy e col (2008)34, pelo que, tendo em conta que a produção de HMG e rFSH está centralizada a nível internacional e que, consequentemente, os próprios protocolos terapêuticos utilizados são semelhantes em todo o mundo, não existem razões objectivas para acreditar que um RCT eventualmente realizado apenas em Portugal obtivesse resultados diferentes. Não seria, no entanto, legítima a generalização de estudos económicos realizados noutros contextos48-54 para a realidade portuguesa, pois como foi possível verificar ao longo do estudo há aspectos relacionados Rev Port Farmacoter | 2011;3:139-153 com os resultados (que nos estudos económicos devem reflectir preferencialmente a utilização dos medicamentos em contexto clínico real28) e custos que são específicos da realidade portuguesa e substancialmente diferentes dos que se encontram na extensa literatura internacional sobre esta matéria. A projecção dos consumos de gonadotrofinas obtidos para a classe etária mais baixa e para idades mais avançadas poderá ser considerada questionável. No entanto, as proporções utilizadas baseiam-se em dados do RNPMA português e do registo FIVNAT francês e, como tal, correspondem a amostras de dimensões consideráveis, pelo que os valores apresentados apresentam alguma robustez. Acresce que é consensual na prática clínica a noção de que a efectividade da HMG em mulheres de idade mais avançada (e portanto com menor reserva ovárica e/ou história clínica de má resposta) é superior à da rFSH42. Como tal a projecção agora realizada pecará apenas por defeito, na medida em que não se consideraram variações de efectividade distintas para as alternativas em análise. A análise de sensibilidade unidimensional permitiu aferir a validade dos pressupostos mais susceptíveis de causar variações nos resultados obtidos, de uma forma que nos parece realista e bastante segura face aos valores em causa. Os resultados revelaram-se robustos face às variações introduzidas, com a alternativa das gonadotrofinas urinárias a manter-se dominante nos cenários alternativos ensaiados. Poderia julgar-se, numa primeira leitura, que apenas as diferenças de probabilidades de gravidez seriam relevantes na comparação das alternativas, tendo em conta a noção existente de que as gonadotrofinas urinárias são mais baratas que as recombinantes. Contudo, esta visão seria sempre imprecisa, pois: - Os «custos dos medicamentos» não são de cálculo intuitivo ou sequer directo. Conforme é perceptível a partir dos vários quadros que tratam esta questão, há consumos variáveis de FSH conforme estas sejam urinárias ou recombinantes e conforme a idade das doentes, cujo método de cálculo é um dos aspectos inovadores que este artigo pretende introduzir. Há ainda questões críticas, como a eficiência da prescrição, que podem introduzir variações importantes relativamente aos custos deste parâmetro; - Também a «probabilidade de gravidez» não é um parâmetro que se possa discutir de uma forma tão lata como a sugerida, na medida em que a dedução deste parâmetro para a realidade portuguesa (combinando os resultados dos RCT internacionais com os do registo nacional de PMA, isto é, convertendo a «eficácia» em «efectividade») é outro dos factores de ARTIGO ORIGINAL originalidade deste estudo, sendo variável entre os diferentes grupos etários – e o cálculo da efectividade por grupo etário não é directo. É importante salientar que este estudo corresponde à avaliação do comportamento da HMG e rFSH em condições específicas (FIV após protocolo longo com agonista da GnRH), pelo que a utilização destes fármacos noutros modelos de estimulação ovárica poderá apresentar resultados diferentes, não sendo legítima a generalização. Ainda assim, o menor custo das gonadotrofinas urinárias e os resultados das meta-análises mais recentes permitem sustentar a noção de que em termos económicos a opção por estes fármacos será sempre mais favorável. Os estudos de avaliação económica são uma forma de organização de dados que pode ser útil ao processo de decisão, pois permitem combinar e exprimir informação proveniente de várias fontes de uma forma sistemática, auditável, reprodutível e comparável, proporcionando uma imagem mais completa das diversas implicações das opções clínicas. No contexto dos tratamentos de PMA seria difícil a elaboração de um estudo de custo-utilidade, dada a natureza do endpoint avaliado. Concluindo, a utilização das gonadotrofinas urinárias é a alternativa dominante no caso dos protocolos de estimulação ovárica longos e com agonistas da GnRH. A adopção da opção mais custo-efectiva permitiria realizar mais tratamentos e obter o nascimento de mais crianças, mantendo-se o financiamento constante, o que poderá ser especialmente relevante no actual contexto de restrições orçamentais dos sistemas de saúde. Referências Bibliográficas 1. Vayena E, Rowe PJ, Griffin PD. World Health Organization. Current practise and controversies in assisted reproduction. Genebra: World Health Organization. 19-22; 2002. 2. Parlamento Europeu. European Parliament resolution of 21 February 2008 on the demographic future of Europe (2007/2156 (INI)). 2008. Disponível em http://www.europarl. europa.eu/sides/getDoc.do?type=TA&reference=P6-TA-20080066&language=EN [acedido em 16/4/2008). 3. Zegers-Hochschild F, Adamson DG, de Mouzon J, Ishihara O, Mansour R, Nygren KG, Sullivan E, van der Poel S. 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