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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA CIVIL CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL ANTONIO RICARDO MENDES BARROS AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS CINÉTICOS DE BIOMASSA GERADA EM SISTEMAS DE LODO ATIVADO CAMPINA GRANDE - PB FEVEREIRO DE 2014 ANTONIO RICARDO MENDES BARROS AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS CINÉTICOS DE BIOMASSA GERADA EM SISTEMAS DE LODO ATIVADO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental (PPGECA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre. ÁREA: ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL SUBÁREA: ENGENHARIA DE RECURSOS HÍDRICOS E SANITÁRIA ORIENTADOR: PROF. ADRIANUS CORNELIUS VAN HAANDEL CAMPINA GRANDE - PB FEVEREIRO 2014 ANTONIO RICARDO MENDES BARROS AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS CINÉTICOS DE BIOMASSA GERADA EM SISTEMAS DE LODO ATIVADO DISSERTAÇÃO APROVADA EM: 24 / 02 / 2014 COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Adrianus C. van Haandel Universidade Federal de Campina Grande - UFCG Orientador __________________________________________ Prof. Dr. Rui de Oliveira Universidade Estadual da Paraíba - UEPB Examinador Externo _______________________________________ Prof. Dr. Francisco Vieira Paiva Universidade de Fortaleza - UNIFOR Examinador Externo CAMPINA GRANDE - PB FEVEREIRO 2014 AGRADECIMENTOS A Deus, pela constante presença e transmissão de forças em todos os momentos vivenciados nesta difícil jornada. Aos meus pais, pelo incentivo, pelo amor e por toda a compreensão em todos os momentos. Ao professor Adrianus C. van Haandel pela paciência e orientação. Aos professores do Mestrado em Engenharia Civil e Ambiental, em especial a Rui de Oliveira pelo apoio imprescindível dado à realização desta pesquisa. A Conceição de Sousa, pelo companheirismo durante todo o tempo da pesquisa. Ao grupo da EXTRABES e do PROSAB, em especial a Heraldo e Elivânia pela amizade, conselhos e a troca de conhecimentos. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela disponibilização de bolsa de mestrado. Enfim, agradeço a todos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho. RESUMO Sistemas de lodos ativados se diferenciam de outros sistemas de tratamento de esgotos, devido à sua capacidade de remover matéria orgânica e nutrientes com diferentes configurações, tais como sistemas em batelada sequenciais e de fluxo contínuo. A oxidação da matéria orgânica e o processo de nitrificação são fundamentais para a remoção de nitrogênio e matéria orgânica de águas residuais e são realizados por grupos de bactérias específicas, heterotróficos e autotróficos, respectivamente. O objetivo deste estudo foi avaliar a cinética desses grupos em três diferentes sistemas de lodos ativados. Reatores em Batelada Sequenciais (RBS) com um único reator e com reatores dedicados para nitrificação e desnitrificação, bem como um sistema de fluxo contínuo (UCT), foram montados e operados para determinar os parâmetros cinéticos da massa bacteriana: Taxa de Consumo de Oxigênio Específica (TCOesp), constante de utilização do substrato ( Kms) e constante específica máxima de crescimento (µm) para as heterotróficas, e constante específica máxima de crescimento (µm) e constante de meia saturação (Kn ) para as autotróficas, utilizando a respirometria para estas determinações. Foram avaliados os metabolismos autotrófico e heterotrófico no que diz respeito à influência das configurações dos sistemas (RBS – unitário, RBS-airlift e UCT). Os sistemas foram submetidos a duas fases, em que a composição das águas residuarias mostrou diferenças no que diz respeito à concentração de material orgânico biodegradável e a carga orgânica. Os resultados mostraram diferenças de eficiência dos sistemas entre as etapas, tanto em termos de remoção de matéria orgânica como nutrientes. O metabolismo das bactérias heterotróficas mostrou diferenças nos valores cinéticos entre as etapas, enquanto que as autotróficas mostraram diferenças entre as configurações estudadas. Palavras-chave: Sistemas de lodo ativado; Constantes cinéticas e Respirometria. ABSTRACT Activated sludge systems are different from other systems of biological sewage treatment due to their capacity to remove organic material and nutrients with different configurations such as continuous flow and sequential batch systems. The oxidation of organic matter and the nitrification process are key points for the removal of nitrogen and organic material from wastewater and are performed by specific bacteria groups, heterotrophic and autotrophic, respectively. The characterization of the kinetics of these groups in three different activated sludge systems was the aim of this study. Sequential batch reactors systems (RBS) with a single reactors and with dedicated reactors for nitrification and denitrification as well a flow through system (UCT) were assembled and operated to determine the kinetic parameters the bacterial mass: Specific Oxygen Consumption rate ( SOUR ) , substrate consumption rate constant ( Kms ) and maximum specific growth constant ( μm ) for the heterotrophic and , and the , maximum specific growth constant ( μm ) and halfsaturation constant ( Kn ) for autotrophs. Respirometry was used for these determinations. The influence of the of system configurations ( RBS - Unit , RBS - airlift and UCT ) and operating conditions on the autotrophic and heterotrophic metabolism was evaluated. The systems were subjected to two stages in which the composition of the wastewater was different with respect to the concentration of biodegradable organic material and the organic loading rate. The results showed differences in efficiency between the stages systems, both in terms of removal of organic matter and nutrients. The metabolism of heterotrophic bacteria showed differences in the kinetic values between the stages, whereas autotrophics showed differences between the studied configurations. Key – words: Activated Sludge Systems, Kinetic Constants and Respirometry. LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 20 Figura 2.1 Frações do material orgânico e utilização.................................................. 21 Figura 2.2 Fluxograma básico de um sistema de lodo ativado...................................... 22 Figura 2.3 Esquema do metabolismo de bactérias heterotróficas em ambiente aeróbio........................................................................................................ 23 Figura 2.4 Representação esquemática das formas e das reações do material nitrogenado no sistema de lodo ativado Fatores.......................................... 28 Figura 2.5 Configuração e variantes do sistema UCT................................................. 39 Figura 2.6 Configuração do sistema Bardenpho convencional................................... 39 Figura 2.7 Esquema de um ciclo de um RBS ............................................................. 40 CAPÍTULO III MATERIAL E MÉTODOS..................................................................... 43 Figura 3.1 Sistema de alimentação dos sistemas (captação, tratamento preliminar, equalização e distribuição)......................................................................... Figura 3.2 Bomba de drenagem utilizada para alimentação 44 dos RBS’s.......................................................................................................... 44 Figura 3.3 Bomba dosadora para alimentação do UCT............................................... 44 Figura 3.4 Aeradores utilizados nos sistemas.............................................................. 45 Figura 3.5 Foto do sistema RBS- unitário................................................................. 45 Figura 3.6 Esquema do sistema RBS – unitário............................................................ 45 Figura 3.7 Foto do sistema RBS – airlift.................................................................... 46 Figura 3.8 Esquema do sistema RBS – airlift............................................................. 46 Figura 3.9 Estrutura do sistema UCT.......................................................................... 47 Figura 3.10 Tubos utilizados nos testes de sedimentabilidade...................................... 50 Figura 3.11 Equipamentos utilizados nos testes respirométricos.................................. 51 Figura 3.12 Respirograma com indicação de seus principais componentes...................................................................................... 52 Figura 3.13 Respirograma para determinação das frações biodegradáveis de matéria orgânica............................................................................................ 54 Planilha Excel para determinar as áreas do consumo de oxigênio do material orgânico.................................................................................... Figura 3.15: Respirograma para determinação do metabolismo das bactérias heterotróficas e autotróficas nitrificantes. Figura 3.16 Área do consumo de oxigênio necessário para a oxidação da matéria orgânica. Figura 3.17 Área para o cálculo da constante de meia saturação do substrato.............. 55 Figura 3.18 Área para o cálculo da constante de meia saturação do substrato.............. 62 CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................... 63 Figura 3.14: 56 58 59 Figura 4.1 Respirograma obtido durante teste em batelada com esgoto bruto de Campina Grande - PB para caracterização das frações biodegradáveis afluentes.................................................................................................... 65 Figura 4.2 Fluxograma da composição do material orgânico do esgoto utilizado na primeira etapa ............................................................................................ 66 Figura 4.3 Respirograma obtido durante teste em batelada com esgoto bruto de Campina Grande - PB para caracterização das frações biodegradáveis afluentes da etapa II.................................................................................... 67 Figura 4.4 Fluxograma da composição do material orgânico do esgoto utilizado na segunda etapa ............................................................................................ 68 Figura 4.5 Comportamento da concentração de sólidos- RBS- unitário..................... 69 Figura 4.6 Comportamento da concentração de sólidos- RBS- airlift.......................... 69 Figura 4.7 Comportamento da concentração de sólidos- UCT.................................... 69 Figura 4.8 DQO afluente e efluente dos sistemas experimentais em função do período de monitoramento.......................................................................... 71 Figura 4.9 Gráfico do comportamento das frações de nitrogênio – RBS unitário.......................................................................................................... 73 Figura 4.10 Gráfico do comportamento das frações de nitrogênio – RBSairlift............................................................................................................. 73 Figura 4.11 Gráfico do comportamento das frações de nitrogênio – UCT...................... 73 Figura 4.12 Respirograma para determinar o metabolismo das bactérias heterotróficas 79 e autotróficas................................................................................................ Figura 4.13 Perfil típico da TCO obtido com respirômetro na adição de duas cargas de substrato solúvel a uma batelada de lodo ativado de bactérias convencionais (adição de 2*60 mgDQO/L)............................................... 81 Figura 4.14 Respirograma ilustrando o perfil da TCO obtido com respirômetro na 81 adição de substrato de sódio com lodo do sistema RBS-airlift (25/06/13).. Figura 4.15 Interpretação do perfil típico da TCO de lodo que tem bactérias 82 heterotróficas……………………………………………………………… Figura 4.16 Curvas típicas de TCO para as nitrificantes e nitratadoras.......................... 87 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 20 Tabela 2.1 Valores típicos da composição do esgoto.................................................. 20 Tabela 2.2 Valores cinéticos de utilização de material orgânico................................. 26 Tabela 2.3 Valores experimentais para a taxa de crescimento específico (µm) das 34 Nitrossomonas............................................................................................ CAPÍTULO III MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 43 Tabela 3.1 Dimensões dos reatores do sistema UCT................................................... 47 Tabela 3.2 Parâmetros gerais de operacionalidade........................................................ 48 Tabela 3.3 Ambientes de tratamento dos sistemas...................................................... Tabela 3.4 A frequência e os métodos analíticos para cada sistema............................. 49 49 CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................... 63 Tabela 4.1 Composição do esgoto bruto tratado........................................................... 64 Tabela 4.2 Cargas volumétricas aplicadas aos sistemas de lodo ativado na primeira etapa............................................................................................................... 66 Tabela 4.3 Composição do esgoto típico da segunda etapa............................................ 67 Tabela 4.4 Cargas volumétricas aplicadas aos sistemas de lodo ativado na segunda etapa.............................................................................................................. Tabela 4.5 Concentração SST do licor misto dos sistemas de lodo ativado RBS unitário, RBS-airlift e UCT referentes às duas etapas de monitoramento............................................................................................... Tabela 4.6 Tabela 4.7 68 70 Concentrações de SSV do licor misto dos sistemas de lodo ativado RBS unitário, RBS-airlift e UCT referentes às duas etapas de monitoramento.... 71 Concentrações de DQO afluente e efluente dos sistemas experimentais de 72 referentes às duas etapas de monitoramento................................................. Tabela 4.8 Concentrações de NTK afluente e efluente dos sistemas experimentais 74 referentes às duas etapas de monitoramento................................................. Tabela 4.9 Concentrações de amônia afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento......................................... 74 Tabela 4.10 Concentrações de nitrito no efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento................................................. 75 Tabela 4.11 Concentração de nitrato no efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento.................................................................. Tabela 4.12 Alcalinidade total 75 afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento................................................ 76 Tabela 4.13 Fósforo total afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento...................................................................... 77 Tabela 4.14 Ortofosfato afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento...................................................................... 77 Tabela 4.15 Constantes de sedimentabilidade na I Etapa................................................. 78 Tabela 4.16 Constantes de sedimentabilidade na II Etapa................................................ 79 Tabela 4.17 TCOend. dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento............................................................................................... 83 Tabela 4.18 Lodo ativo (Xa) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento............................................................................................... 83 Tabela 4.19 TCO específica (TCOesp) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento............................................................................... 84 Tabela 4.20 Constante de utilização do substrato (Kms) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento................................................. 85 Tabela 4.21 Constante de crescimento (µ) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento.................................................................... 85 Tabela 4.22 Concentração bactérias autotróficas nitrificantes (Xn), Taxa de nitrificação (rn) e a constante de crescimento (µm) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento................................................. 88 Tabela 4.23 Constante de meia saturação (Kn) para as bactérias nitrificantes dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento........... Tabela 4.24 Concentração de bactérias autotróficas nitratadoras (Xn), Taxa de 89 nitratação (rn) e a constante de crescimento (µm) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento.......................... Tabela 4.25 90 Constante de meia saturação (Kn) para as bactérias nitratadoras dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento........... 90 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS a: Recirculação de licor misto bh: Decaimento de bactérias heterotróficas (-1) bn: Constante de decaimento (d-1) C: Carbono Cr: Massa de lodo ativo presente no sistema por unidade de DQO biodegradável aplicada por dia DBO DQO Demanda Bioquímica de Oxigênio (mgO2.L-1) Demanda Química de Oxigênio (mgO2.L-1) (dXn/dt )c Taxa de crescimento das bactérias nitrificantes (mgSSV.L-1.d-1) (dXn/dt)d: Taxa de decaimento das bactérias nitrificantes (mgSSV.L-1.d-1) (dXn/dt)e: Taxa de descarga de lodo de excesso (mgSSV.L-1.d-1) EXTRABES Estação Experimental de Tratamentos Biológicos de Esgotos Sanitários f: Fração de lodo orgânico decaído como resíduo endógeno fcv: Produção de massa bacteriana (gSSV/gDQO) fn: fra cat: Fração de nitrogênio total Kjeldahl em lodo volátil Fração catabolizada fup: Fração de DQO não biodegradável particulada fus: Fração de DQO não biodegradável solúvel IVL: Índice volumétrico de lodo k: Constante de sedimentabilidade Km: Constante de utilização específica máxima do substrato pelo lodo Kms: Constante de utilização de substrato Ko: Constante de meia saturação (mg OD. L-1), Kn Constante de meia saturação de Monod (mgN.L-1) Kss Constante de meia saturação MNd: Fluxo de nitrogênio utilizado na desnitrificação (mgN/d) MNI: Fluxo de nitrogênio total Kjeldahl no lodo (mgN/d) MNo Fluxo de nitrogênio oxidado (mgN-NO3 -). MNta: Fluxo de nitrogênio total Kjeldahl afluente (mgN/d) MNte: MSo: Fluxo de nitrogênio total Kjeldahl efluente (mgN/d) Fluxo de DQO oxidado (mgDQO/d) MSta Fluxo de DQO afluente (mgDQO/d) MSte Fluxo de DQO efluente (mgDQO/d) MSxv Fluxo de DQO no lodo (mgDQO/d) µ: Taxa específica de crescimento das autotróficas (d-1) µm: Constantes de crescimento específico das bactérias heterotróficas µmax: Taxa específica máxima de crescimento das autotróficas (d-1) Nc: Fluxo da concentração de amônia nitrificada (mgN/d); N: Nitrogênio Nta: Concentração de NTK afluente (mgN.L-1) Nte: Nl: Concentração de NTK efluente (mgN.L-1) Concentração de NTK para a produção de lodo de excesso (mgN.L-1). NTK Concentração de nitrogênio total Kjeldahl (mgN.L-1) P: Fósforo OD: ODinf Concentração de oxigênio dissolvido (mgO2.L-1) Valor de oxigênio dissolvido de referência inferior (mg.L-1) ODsup Valor de Oxigênio dissolvido de referência superior (mg.L-1) pH: PROSAB Potencial hidrogeniônico Programa de Saneamento Básico rc Taxa de crescimento de microrganismos RBS Reatores em Bateladas Sequenciais Rh : Tempo de permanência do líquido (d) rn(nitri): rn(nitra): Taxa de utilização máxima da amônia e do nitrito gerado (mgNH4/mgXn/d); Taxa de utilização máxima do nitrito (mgNO2/mgXn/d). rn: Taxa de nitrificação (mgN.L-1.d-1) Rs: idade de lodo (d) Rsm: Idade de lodo mínima para que ocorra nitrificação rmax: Taxa máxima de consumo do substrato (mgS/L/h), ru: Taxa de utilização do substrato S: Concentração de substrato (mg/L) Sba: DQO biodegradável afluente (mg/L) Sbpa: DQO biodegradável particulada afluente (mg/L) Sbsa: DQO biodegradável solúvel afluente (mg/L) Sólidos Suspensos Voláteis SSV SST Sólidos Suspensos Totais Sta DQO total afluente (mg.L-1) Sua DQO não biodegradável do afluente (mg.L-1) Supa DQO não biodegradável e particulada do afluente (mg.L-1) Susa DQO não biodegradável e solúvel do afluente (mg.L-1) T Tempo (h) t: Temperatura (°C) TCO Taxa de Consumo de Oxigênio (mgO2.L-1.h-1) TCOn: TCO total devido à nitrificação (mgO2/L/h); TCOend Taxa de consumo de oxigênio endógena (mgO2.L-1.h-1) TCOexo Taxa de consumo de Oxigênio exógena TDH Tempo de detenção hidráulica u,c: Índices que se referem à utilização e crescimento respectivamente UCT: University of Cape Town UEPB Universidade Estadual da Paraíba UFCG Universidade Federal de Campina Grande VSZ Velocidade de sedimentação em Zona (m/h) X: Concentração de microrganismos Xa: Concentração de lodo ativo (mgSSV/L) Xe: Concentração de resíduo endógeno (mg.L-1) Xi: Concentração de lodo inerte (mg.L-1) Xn: Concentração ativa das bactérias (Xm para autotróficas, mgXm/L); Xt: Concentração de lodo (gSTS/L); XV: Concentração de sólidos voláteis no licor misto (mgSSV.L-1). Y: Coeficiente de rendimento das bactérias Yn: Coeficiente de rendimento das autotróficas (mgN.L-1.d-1) Ɵ Coeficiente de influência da temperatura – Arrhenius SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 20 2.1 Esgotos Sanitários ........................................................................................................... 20 2.2 Material orgânico ............................................................................................................ 20 2. 2.1 Metabolismo oxidativo das bactérias heterotróficas ............................................... 23 2.2.2. Cinética de utilização do Material Orgânico ........................................................... 24 2.3 Material nitrogenado ....................................................................................................... 27 2.3.1 Remoção biológica do material nitrogenado da água residuária.............................. 28 2.3.2 Cinética do processo de nitrificação......................................................................... 30 2.3.3 Fatores que influenciam o processo de nitrificação ................................................. 34 2.4 Sistemas de lodo ativado................................................................................................. 36 2.4.1 Sedimentabilidade .................................................................................................... 37 2.4.2 Configurações de sistemas de lodo ativado para remoção de nutrientes ................. 38 2.5 Respirometria .................................................................................................................. 41 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 43 3.1 Introdução ....................................................................................................................... 43 3.2 Descrição dos sistemas ................................................................................................... 43 3.2.1 Reator em Batelada Sequencial unitário (RBS - unitário) ....................................... 45 3.2.2 Reator em Batelada Sequencial Air lift (RBS – Air lift).......................................... 46 3.2.3 UCT (University of Cape Town) ............................................................................. 47 3.3 Operacionalidade dos sistemas ....................................................................................... 48 3.4 Desempenho dos sistemas............................................................................................... 49 3.4.1 Teste de sedimentabilidade ...................................................................................... 50 3.5 Testes respirométricos .................................................................................................... 51 3.5.1 Equipamentos de composição dos testes respirométricos ........................................ 51 3.5.2 Procedimento de Determinação das frações biodegradáveis de DQO ..................... 53 3.5.3 Capacidade metabólica da bactérias aeróbias (heterotróficas e autotróficas) .......... 56 3.5.4 Determinação via respirometria das constantes cinéticas das bactérias heterotróficas ........................................................................................................................................... 57 3.5.5 Determinação via respirometria das constantes cinéticas das bactérias autotróficas ........................................................................................................................................... 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................ 63 4.1 Introdução ....................................................................................................................... 63 4.2 Composição do esgoto e carga volumétrica.................................................................... 63 4.3 Desempenho dos sistemas.............................................................................................. 71 4.3.1 Sedimentabilidade dos sistemas ............................................................................... 78 4.4 Testes respirométricos para determinação dos parâmetros cinéticos das bactérias heterotróficas e autotróficas .................................................................................................. 79 4.4.1 Metabolismo das bactérias heterotróficas ................................................................ 80 4.4.2 Metabolismo das bactérias autotróficas nitrificantes ............................................... 86 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................ 92 5.1 Conclusões ................................................................................................................. 92 5.2 Recomendações ......................................................................................................... 94 CAPÍTULO VI........................................................................................................................ 95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 95 APENDICE A ......................................................................................................................... 99 APENDICE B........................................................................................................................ 102 APENDICE C ....................................................................................................................... 103 18 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO As atividades humanas são capazes de gerar efluentes contendo elevadas concentrações de material orgânico e nutrientes, como nitrogênio e fósforo. Tais compostos, essenciais para a construção das macromoléculas de todo ser vivo, são capazes de ocasionar a poluição dos corpos d’água, devendo ser levados em consideração quando se realiza o tratamento de águas residuárias. O descarte de grandes quantidades de efluentes pode propiciar uma acelerada deterioração da qualidade das águas Os processos de tratamento de efluentes que utilizam microrganismos para a decomposição da matéria orgânica e nutrientes, geralmente ocuparam posição de destaque, frente às múltiplas vantagens de caráter econômico associadas a estes processos. Os processos biológicos vêm sofrendo inovações não só nas variantes dos processos existentes como também na amplitude de suas aplicações, como é o caso dos sistemas de lodo ativado. Os sistemas de lodo ativado se diferenciam dos demais sistemas de tratamento biológico de esgotos pela capacidade de remover de águas residuárias matéria orgânica, sólidos e nutrientes com diferentes configurações utilizando poucos requisitos de área. Os reatores em batelada sequenciais (RBS) diferentemente dos sistemas de fluxo contínuo são operados em ciclos contendo etapas distintas como enchimento, aeração, sedimentação, descarte do lodo e descarte do efluente. Além disso, esse tipo de sistema ainda se distingue na sua configuração, podendo ser constituído por apenas uma câmara (unitário) ou câmaras dedicadas (airlift). Em contrapartida, os sistemas contínuos realizam o tratamento com fluxo de esgoto constantemente utilizando diferentes ambientes, responsáveis por realizarem processos específicos. Grande parte do lodo em sistemas de lodo ativado se compõe de bactérias heterotróficas (responsáveis pela oxidação da matéria orgânica) e bactérias autotróficas (responsáveis pela nitrificação). O metabolismo desses grupos de bactérias é avaliado através de constantes cinéticas e o conhecimento do valor numérico das mesmas é imprescindível, quando se deseja fazer projetos racionais de sistemas de lodo ativado, onde ocorra remoção de material orgânico e nitrogenado (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999). Dentre várias técnicas que podem ser utilizadas para a determinação do metabolismo das bactérias heterotróficas e autotróficas, a respirometria destaca-se devido à velocidade na 19 resposta dos dados e à flexibilidade de aplicação na determinação da Taxa de Consumo de Oxigênio (TCO), estabelecendo as taxas das reações. Esta dissertação de mestrado trata de um estudo experimental em escala piloto, que teve como principal objetivo avaliar a cinética de três variantes do sistema de lodo ativado quanto à oxidação da matéria orgânica e ao processo de nitrificação. Os sistemas de lodo ativado investigados foram: dois sistemas em batelada, um de uma única câmara (RBSunitário) e outro de câmara dedicada (RBS – airlift), e um sistema contínuo (UCT - University of Cape Town). Tendo como objetivos específicos: (1) Determinar os parâmetros cinéticos das bactérias heterotróficas: Taxa de Consumo de Oxigênio Específica (TCOesp), taxa de consumo de substrato (Kms) e constante de crescimento (µm); (2) Determinar os parâmetros cinéticos das bactérias autotróficas: taxa de nitrificação (rn), constante de crescimento (µm) e constante de meia saturação (Kn). e (3) Avaliar a influência da configuração dos sistemas (RBS- unitário, RBS – airlift e UCT) e regime operacional sobre o metabolismo bacteriano heterotrófico e autotrófico nitrificante em relação às taxas específicas de crescimento. Este trabalho divide-se em seis capítulos. O Capítulo 2 trata de uma revisão de literatura na qual são apresentados conceitos teóricos e citações sobre composição de esgoto sanitário, remoção do material orgânico e cinética das bactérias heterotróficas, remoção de nitrogênio e cinética das bactérias autotróficas nitrificantes, além de variantes de sistemas de lodo ativado e aplicação da respirometria em sistemas de lodo ativado. No Capítulo 3, material e métodos, descreve-se a configuração e operação dos sistemas experimentais, sendo também descrito o respirômetro, sua operação e a descrição da execução dos testes respirométricos necessários para desenvolvimento da pesquisa. A análise e a discussão dos resultados estão apresentadas no Capítulo 4. Esses resultados foram organizados em figuras e tabelas, com o objetivo de facilitar a avaliação dos sistemas operados e as características da atividade biológica dos lodos. No Capítulo 5 expõem-se as conclusões dos resultados obtidos neste estudo, e as recomendações. A lista de referências bibliográficas encontra-se no Capítulo 6. 20 CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Esgotos Sanitários Os esgotos sanitários urbanos são constituídos essencialmente de despejos domésticos, uma parcela de águas pluviais, água de infiltração, e ocasionalmente uma parcela não significativa de despejos industriais, tendo características bem definidas (JORDÃO e PESSÔA, 2011). Os principais poluentes desses esgotos, capazes de desequilibrar os ecossistemas aquáticos, são a matéria orgânica, os sólidos e os nutrientes, estando o tratamento de esgoto vinculado a esses principais poluentes. A composição da água residuária depende da sua origem. Convencionalmente, o esgoto doméstico possui padrões de concentrações específicos de parâmetros de qualidade de água como: matéria orgânica (DQO e DBO5,20), nitrogênio (Total, amônia –NH4, NO2-, NO3-) e fósforo (P-total e P- inorgânicos). Sendo também divididos em três categorias, esgoto forte, esgoto médio e esgoto fraco. A Tabela 2.1 resume essas principais concentrações, de acordo com Jordão e Pessôa (2011) e Metcalf e Eddy (2003). Tabela 2.1: Valores típicos da composição do esgoto Jordão e Pessôa (2011) Metcalf e Eddy (2003) Unid. Fraco Médio Forte Fraco Médio Forte DQO mg/L 200 400 800 250 430 800 DBO5,20 mg/L 100 200 400 110 190 350 N-Total mg/L 20 40 80 20 40 70 NH4 mg/L 10 20 50 12 25 45 NO2mg/L 0 0,05 0,1 0 0 0 NO3 mg/L 0,1 0,20 0,40 0 0 0 P- Total mg/L 5 10 20 4 7 12 P- inorgânico mg/L 3 6 13 3 5 8 Fonte: Jordão e Pessôa (2011) e Metcalf e Eddy (2003) 2.2 Material orgânico Nas águas residuárias, encontra presente uma grande variedade de compostos orgânicos que pode estar na forma molecular ou em aglomerados ditos particulados e de microrganismos vivos, geralmente oriundos da própria água residuária. 21 O material orgânico afluente (Sta) é dividido em duas frações: o material orgânico biodegradável (Sba) que é metabolizada pela biomassa e a não biodegradável (Sua) não consumida pelos microrganismos presentes no lodo ativado. Essas, por sua vez, são subdivididos em frações solúveis (Sbsa e Susa) e particuladas (Sbpa e Supa) (VAN HAANDEL e VAN DER LUBBE, 2012). A Figura 2.1 apresenta um esquema das frações do material orgânico em um sistema de lodo ativado. A fração biodegradável e dissolvida é diretamente metabolizada, a fração biodegradável e particulada é adsorvida, hidrolisada para, em seguida, ser metabolizada, a fração não biodegradável e particulada é aderida ao lodo existente pelo processo de floculação e a fração não biodegradável e dissolvida sai juntamente com o efluente. Figura 2.1: Frações do material orgânico e sua utilização Fonte: adaptado de van Haandel e van der Lubbe (2012). Transformando as subdivisões em frações, determina-se: 𝑆 fus= 𝑆𝑢𝑠𝑎 𝑡𝑎 𝑆𝑢𝑝𝑎 fup= 𝑆 𝑡𝑎 𝑆 fsb= 𝑆𝑏𝑠𝑎 𝑏𝑎 Sendo: fus= fração da DQO afluente não biodegradável solúvel; fup= fração da DQO afluente não biodegradável particulada; fsb=fração dissolvida da DQO biodegradável do afluente. (2.1) (2.2) (2.3) 22 De acordo com os autores supracitados, os valores das frações que compõem o material orgânico variam muito entre esgotos. Em Campina Grande – PB, foi encontrado fus=0,07, fup=0,05, fsb=0,25 (COURA, 1983), na África do Sul fus=0,09, fup=0,12, fsb=0,25 (MARAIS E EKAMA, 1976) para esgoto doméstico. E esgoto industrial de uma petroquímica fus=0,20, fup=0,06, fsb=0,25 (NETO, 1994). Quando se fala em sistema de lodo ativado, o material orgânico afluente (MSta) pode ter três destinos: o que não é removido da fase líquida e deixa o sistema junto com o efluente (MSte); outra parte é transformada em lodo orgânico e deixa o sistema como lodo de excesso (MSXv); e a última é a fração restante oxidada para produtos inorgânicos gasosos (MSo), como ilustrado na Figura 2.2. Figura 2.2: Fluxograma básico de um sistema de lodo ativado Fonte: van Haandel e Marais (1999). Assim: MSta= MSte + MSXv + MSo Sendo: MSta: fluxo de DQO afluente (mgDQO/d); MSXv: fluxo de DQO no lodo (mgDQO/d); MSte: fluxo de DQO efluente (mgDQO/d); MSo: fluxo de DQO oxidada (mgDQO/d). (2.4) 23 2. 2.1 Metabolismo oxidativo das bactérias heterotróficas No tocante aos microrganismos aeróbios heterotróficos, a oxidação do material orgânico é feita pelo oxigênio, por processos que envolvem a degradação da mesma: catabolismo, a assimilação para fins de obtenção de energia, e anabolismo que resulta na síntese de material celular. O esquema da Figura 2.3 mostra o metabolismo, de forma resumida, de utilização do material orgânico por bactérias heterotróficas em ambiente aeróbio. Figura 2.3: Esquema do metabolismo de bactérias heterotróficas em ambiente aeróbio Fonte: van Haandel e Marais (1999). Segundo Metcalf e Eddy (2003), a fração de matéria orgânica utilizada no catabolismo pode ser medida pelo consumo de oxigênio dissolvido, pois estequiometricamente 1 grama de OD consumido equivale a 1 grama de DQO consumida, contudo, a síntese de novo material celular pode ser determinada pela fração de sólidos suspensos. Valores experimentais indicam que a produção da massa bacteriana no metabolismo oxidativo está na faixa de 0,35 a 0,52 gSSV.g-1DQO, sendo 0,45gSSV.g-1DQO um valor médio frequentemente usado (VAN HAANDEL e MARAIS, 1999). Tal proporção entre a massa microbiana sintetizada e a massa de DQO metabolizada é chamada de coeficiente de síntese celular ou de coeficiente de crescimento ou ainda, de coeficiente de rendimento de lodo, que tem como símbolo Y. Foi estabelecido por Marais e Ekama (1976) que a DQO de uma unidade de massa de microrganismos (fcv) tem valor médio de 1,48 mgDQO/mgSSV-1. É possível calcular as frações levando em consideração as duas relações expostas na figura para anabolismo e catabolismo, respectivamente. Assim, 1,48 x 0,45 = 0,67 ou 2/3 são sintetizados e 1 - 1,48 x 0,45 = 0,33 ou 1/3 é oxidado. Complementa-se esse cenário com uma parcela de lodo que, independente dos processos metabólicos, decai e é consumida e transformada em substâncias inorgânicas, sendo 24 produzido o chamado resíduo endógeno determinado por esses pesquisadores como f = 0,2. De acordo com van Haandel e Marais (1999) o lodo de sistemas de lodo ativado é a parte constituída pelos sólidos em suspensão do licor misto (Xv) e é composto por duas frações básicas: lodo ativo, constituído pelos microrganismos atuantes no metabolismo de material orgânico, e lodo inativo, formado por material orgânico em suspensão que não exerce atividade metabólica. A concentração de lodo pode ser fracionada da seguinte forma: Xv=Xa+ Xe +Xi (2.5) Sendo: Xa = concentração de lodo ativo (mgSSV/L) Xe = concentração do resíduo endógeno (mgSSV/L) Xi =concentração de lodo inerte (mgSSV/L) A partir da composição do esgoto tratado e fatores operacionais, é possível estimar a concentração de sólidos suspensos do licor misto dos sistemas de lodo ativado e a concentração de lodo ativo, que estão apresentadas nas Equações 2.6 e 2.7. Xv= [(1-fus-fup)(1+fbhRs)Cr + fupRs/fcv]Sta/Rh Xa= (1-fus-fup)Cr.Sta/Rh (2.6) (2.7) Sendo: bh= decaimento das bactérias heterotróficas (0,24. 1,04 (t-20)) Rs= idade de lodo (d) Cr= Massa de lodo ativo presente no sistema por unidade de DQO biodegradável aplicada por dia Rh= tempo de permanência do líquido no sistema (d) 2.2.2. Cinética de utilização do Material Orgânico 2.2.2.1 Modelos matemáticos A taxa de utilização do material orgânico é o fator fundamental para determinar a cinética para esse grupo de bactérias, pois determina a velocidade com que os processos de 25 síntese e oxidação ocorrem nos sistemas de lodo ativado. Muitos autores, entre os quais van Haandel e Marais (1999), utilizam o primeiro e principal modelo cinético de metabolismo dos microrganismos desenvolvido por Monod (1948) para descrever a fermentação de açúcares de uvas por culturas puras de leveduras, resumida em dois segmentos. (1) A taxa de crescimento das bactérias heterotróficas é proporcional à taxa de utilização de substrato (Equação 2.8) e (2) A concentração do substrato influencia na taxa de utilização desse substrato (Equação 2.9). 𝑑 𝑑 𝑟𝑐 = (𝑑𝑋 ) 𝑐 = 𝑌. 𝑟𝑢 = −𝑌 ( 𝑑𝑆 ) 𝑢 𝑇 (2.8) 𝑡 Sendo: rc = taxa de crescimento de microrganismos X = concentração de microrganismos S = concentração do substrato Y = Fator de crescimento do lodo u,c = índices que se referem à utilização e crescimento respectivamente 𝐾 .𝑆 𝑚 𝑟𝑢 = (𝑆+𝐾 ).𝑋 (2.9) 𝑚 Sendo: ru = taxa de utilização do substrato Km = Constante de utilização específica máxima do substrato pelo lodo Kss= constante de meia saturação Sendo assim, o crescimento bacteriano pode ser descrito da seguinte forma: 𝑑 𝐾 .𝑆 𝑆 𝑚 ( 𝑑𝑋 ) 𝑐 = 𝑌. (𝑆+𝐾 ) . 𝑋 = µ𝑚 [(𝑆+𝐾 )]. 𝑋 𝑇 𝑚 𝑠𝑠 (2.10) µ𝑚 = constante de crescimento dos microrganismos O modelo desenvolvido por Monod não leva em consideração os efeitos inibidores, tanto pelo substrato quanto pelo produto, dessa forma, outros modelos também foram desenvolvidos com o intuito de mostrar particularidades como essas. São esses os casos de 26 Teissier, Moser e Contois e Fujimoto, além de vários outros (SCHMIDELL, 2001; FOGLER, 2009). Teissier : µ𝑥 = µ𝑚 (1 − 𝑒 Moser: µ𝑥 = µ𝑚 𝐾 − 𝑆 𝐾𝑠 ) (2.11) 𝑆𝑛 𝑛+ 𝑆 (2.12) 𝑛 Contois e Fujimoto: µ𝑥 = µ𝑚 𝐾 𝑆 (2.13) 𝑛 .𝑋+ 𝑆 Na Tabela 2.2 são observados os valores típicos das constantes de crescimento específico das bactérias heterotróficas (µm ), as constantes de utilização (Kms) e de meia saturação (Kss) de Monod. Tabela 2.2: Valores cinéticos de utilização de material orgânico Coeficiente Cinéticos Esgoto doméstico 2,4-7,2 1,5-5,0 Referências LAWRENCE E MCCARTY (1970) apud BAILEY E OLLIS, (1977). HORAN (1990). METCALF E EDDY (2003) 20,0 DOLD et al. (1980) 6,9 BUENO (2011) LAWRENCE E MCCARTY (1970) apud BAILEY E OLLIS (1977). DOLD ET AL. (1980) apud VAN HAANDEL (2006). METCALF E EDDY (2003) 3,7 -1 µm (d ) Kms (mgDQO/L) 22,0 Kss 5 1,0-5,0 Fonte: Adaptado de van Haandel e Marais (1999) e Metcalf e Eddy (2003). O crescimento e o decaimento microbiano estão diretamente ligados à cinética das reações. O primeiro está geralmente associado a estequiometria da utilização do substrato e o decaimento bacteriano é normalmente definido como uma simplificação de todos os fenômenos de redução da biomassa que acontece paralelamente e independentemente do primeiro processo, sendo gerado assim o resíduo da própria biomassa denominado, endógeno. 27 2.2.2.2 Influência da Temperatura Dentre os fatores ambientais a temperatura é o que mais tem influência sobre o metabolismo das bactérias heterotróficas, afetando as taxas de oxidação da matéria carbonácea. Em geral, as taxas da maioria das reações químicas e bioquímicas aumentam com a temperatura. Nas reações biológicas, a tendência de aumento das taxas mantém-se até certa temperatura ótima. Acima dessa temperatura, a taxa decresce devido, provavelmente, à destruição de enzimas a temperaturas mais elevadas. Quanto mais alta a temperatura, mais rápido será o decaimento de lodo ativo no sistema de lodo ativado e, portanto, maior o consumo de oxigênio para respiração endógena e, consequentemente, menor será a produção de lodo de excesso (PORTO, 2007). De acordo com van Haandel e van der Lubbe (2012) a constante de utilização de substrato (Kms) tem valor típico de 20 mgDQO/L, como foi apresentado na Tabela 2.2, e tem um fator de relação para cada grau de temperatura de 1,2(t-20). Segundo Arceivala (1981) os fatores de dependências da temperatura variam na faixa de 1,07 a 1,25. 2.3 Material nitrogenado Os esgotos sanitários são compostos também por nitrogênio pois estes estão presentes em fezes e urina. Sua forma pode variar da seguinte maneira: nitrogênio orgânico (NOrgânico), nitrogênio amoniacal (íon e gás, NH4+ e NH3), nitrito (N-NO2-) e nitrato (N-NO3-). De acordo com van Haandel e Marais (1999), em esgotos sanitários, a concentração de Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK) é na faixa de 40 a 60 mgN/L, com 75% de nitrogênio amoniacal e 25% de nitrogênio orgânico, aproximadamente. As frações nitrogenadas deixam o sistema de lodo ativado sob três formas: como material sólido no lodo de excesso, como material dissolvido no efluente ou como nitrogênio gasoso para a atmosfera (VAN HAANDEL e VAN DER LUBBE, 2012). A Equação 2.14 apresenta o resumo das massas nitrogenadas. MNta = MNl + MNte + MNd + MNo Sendo: MNta: fluxo de nitrogênio total Kjeldahl afluente (mgN/d); MNl: fluxo de nitrogênio total Kjeldahl no lodo (mgN/d); (2.14) 28 MNte: fluxo de nitrogênio total Kjeldahl efluente (mgN/d); MNd: fluxo de desnitrificação (mgN/d); MNo= fluxo de nitrogênio oxidado (mgN-NO3 -/d). A Figura 2.4 ilustra o esquema das formas e das reações do material nitrogenado no sistema de lodo ativado, de acordo com van Haandel e Marais (1999). Figura 2.4: Representação esquemática das formas e das reações do material nitrogenado no sistema de lodo ativado Fonte: van Haandel e Marais (1999). 2.3.1 Remoção biológica do material nitrogenado da água residuária 2.3.1.1 Amonificação A amonificação é a conversão do nitrogênio orgânico em nitrogênio amoniacal por meio de atividades de microrganismos e suas enzimas, em ambientes anaeróbios, apenas com utilização de água (H2O) e íons de hidrogênio (H+), resultando em hidroxila (OH-) e amônio (NH4+). Com isso, a reação pode ocorrer na própria rede coletora de esgoto, em sistemas com tratamento primário, ou em reatores anaeróbios, nos quais a maioria dos compostos nitrogenados presentes no esgoto é convertida a NH3 e NH4+ (SILVA FILHO, 2009). A Equação 2.15 mostra a reação entre esses elementos no processo de amonificação, ou, no sentido contrário, mostra também o NH4+ se transformando em nitrogênio orgânico Assimilação R-NH2 + H2O + H+ R-OH + NH4+ Amonificação (2.15) 29 2.3.1.2 Nitrificação A remoção de nitrogênio da água é considerada uma das maiores preocupações nos processos de tratamento de águas residuárias. Por esse motivo, a nitrificação é considerada como uma etapa limitante do processo de remoção de nitrogênio em águas residuárias, uma vez que o processo de desnitrificação é subsequente a ele (WANG et al., 2005) A nitrificação é realizada pela ação de vários grupos de bactérias, as do gênero Nitrosomonas são responsáveis pela nitritação, isto é, a oxidação da amônia a nitrito e as do gênero Nitrobacter, promovem a conversão do nitrito a nitrato, etapa denominada nitratação (METCALF e EDDY, 2003). Comparado ao crescimento das bactérias heterotróficas convencionais, consumidoras de matéria orgânica, as bactérias autotróficas nitrificantes demoram um tempo maior para o seu desenvolvimento. As etapas do processo nitrificante estão descritas a seguir: (1) Geração de nitrito NH4+ + 3/2 O2 NO2- + H2O + 2H+ (2.16) (2) Geração de nitrato NO2- + 1/2 O2 NO3- (2.17) (3) Reação global NH4+ + 2O2 NO3- + H2O + 2H+ (2.18) De acordo com a estequiometria das reações (2.17) e (2.18), pode-se verificar que a massa de oxigênio necessária para completar essas reações é de 4,57 gO2/gN oxidado, sendo 3,43 g de O2 necessária para a oxidação do nitrogênio amoniacal e 1,14 g para a oxidação do nitrito. Um fator de relevante importância é o consumo de alcalinidade nessa etapa, pois são gerados íons de hidrogênio que fazem com que haja a diminuição do pH a valores que interferem no processo. Neste caso, a falta de alcalinidade pode ser suprida por fontes externas ou pela associação de processos como a amonificação e a desnitrificação (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999). 30 2.3.1.3 Desnitrificação A etapa subsequente à nitrificação é a desnitrificação, quando se refere ao processo convencional de remoção de nitrogênio. Neste processo, bactérias heterotróficas facultativas, entre as quais se destacam as pertencentes ao gênero Pseudomonas, reduzem o nitrato a nitrogênio molecular. É um processo de grande importância, visto que, consistindo em uma etapa integrante do processo de remoção de nitrogênio de efluentes líquidos, contribui para mitigar os diversos danos causados por esse elemento nos corpos d’água (BASSIM, 2008). A desnitrificação é realizada, na sua maioria, por bactérias que utilizam o oxigênio e, na falta deste, reduzem nitrato num ambiente denominado anóxico. O termo anóxico refere-se a uma via metabólica oxidativa sem utilização do oxigênio (METCALF e EDDY, 2003). A redução do nitrato ocorre em etapas sequenciais, conforme representada na Equação 2.19. No decorrer desse processo de transformação de NO3- para N2, passando pelos óxidos gasosos, o estado de oxidação do nitrogênio passa de +5 para 0, sendo que, normalmente, os passos intermediários são rápidos e, na pratica, se obtém a redução de nitrato praticamente só para nitrogênio molecular. NO3- NO2- NO(gás) N2O(gás) N2 (gás) (2.19) Nessa redução de nitrato o doador de elétrons, pode ser a matéria orgânica, podendo originar-se do afluente (esgoto), do material celular bacteriano (respiração endógena) e de fonte externa exógena de carbono, por exemplo, acetato ou metanol (SANTOS, 2009). 2.3.2 Cinética do processo de nitrificação De acordo com Downing et al. (1964) apud van Haandel e van der Lubbe (2012), a taxa de crescimento líquido das bactérias nitrificantes é o resultado da taxa de crescimento bruto subtraída da taxa de decaimento; quando em condições estacionárias, será igual à taxa de descarga de lodo de excesso. 𝑑𝑋 𝑑𝑋 𝑑𝑋 𝑑𝑋 𝑇 𝑇 𝑇 𝑇 ( 𝑑 𝑛) 𝑙 = ( 𝑑 𝑛) 𝑐 + ( 𝑑 𝑛) 𝑑 + ( 𝑑 𝑛) 𝑒 (2.20) Onde : 𝑑𝑋 𝑁𝑎 ( 𝑑 𝑛) 𝑐 = 𝑌. 𝑟𝑢 = µ𝑋𝑛 = µ𝑚𝑎𝑥 𝑋𝑛 [(𝑁𝑎+𝐾 )] 𝑇 𝑑𝑋 ( 𝑑 𝑛) 𝑑 = −𝑏𝑛 𝑋𝑛 𝑇 𝑛 (2.21) (2.22) 31 𝑑𝑋 𝑋𝑛 𝑇 𝑅𝑠 ( 𝑑 𝑛) 𝑒 = − (2.23) Em que: 𝑑𝑋 ( 𝑑 𝑛) 𝑐: taxa de crescimento das bactérias nitrificantes (mgSSV.L-1.d-1); 𝑇 𝑑𝑋 ( 𝑑 𝑛) 𝑑: taxa de decaimento das bactérias nitrificantes (mgSSV.L-1.d-1); 𝑇 𝑑𝑋 ( 𝑑 𝑛) 𝑒: taxa de descarga de lodo (mgSSV.L-1.d-1); 𝑇 rn : taxa de nitrificação (mgN.L-1.d-1); µ: taxa específica de crescimento das autotróficas (d-1); µmax: taxa específica máxima de crescimento das autotróficas (d-1); bn : constante de decaimento (d-1); Kn : constante de meia saturação de Monod (mgN.L-1); Yn : coeficiente de rendimento das autotróficas (mgN.L-1.d-1); Rs : idade de lodo do sistema (d). O coeficiente de rendimento (Yn) é o fator de conversão do nitrogênio introduzido no sistema em biomassa autotrófica. De acordo com van Haandel e van der Lubbe (2012), o coeficiente de rendimento das bactérias autotróficas nitrificantes é 0,1 mgXN/mgN-NH4+. para as nitratadoras o coeficiente é 0,04 mgXn/mgN-NO2- (WIESMANN, 1994). Levando em consideração que a concentração de amônia disponível para nitrificação é maior que a concentração limitante ou constante de meia saturação (Kn) o único fator limitante para o crescimento das bactérias nitrificantes é a idade de lodo, sendo assim pode-se dizer que a idade de lodo mínima (Rsm) pode ser calculada: 𝑅𝑠𝑚 = µ 1 𝑚 +𝑏𝑛 (2.24) A capacidade de nitrificação é o resultado do material nitrogenado disponível para a realização da nitrificação, uma vez que parte do material não é oxidada e outra é utilizada para a produção de lodo: Nc = Nta −Nte −Nl Sendo: Nta : concentração de NTK afluente (mgN.L-1); Nte : concentração de NTK efluente (mgN.L-1); Nl : concentração de NTK para a produção de lodo de excesso (mgN.L-1). (2.25) 32 Em que Nl é calculada por: fn Xv Rh Nl = (2.26) Rs Sendo: fn :fração de nitrogênio em lodo volátil = 0,1g.g-1SSV; Xv : concentração de sólidos voláteis no licor misto (mgSSV.L-1). A concentração das bactérias autotróficas foi determinada da seguinte forma: Xn = Yn Rs Nc (2.27) (1+bn Rs )Rh Sendo: RS: idade de lodo (d); NC: fluxo da concentração de amônia nitrificada (mgN/d); bn: constante de decaimento para as BN = 0,04*1,04(t-20), onde t é a temperatura de operação (d-1); Rh: tempo de permanência (d); A constante de crescimento específico (µmax) depende da determinação da taxa de nitrificação (rn), da concentração de bactérias nitrificantes no reator (Xn) e da capacidade de nitrificação no reator (Nc): 𝑁𝑐 µ𝑋𝑛 = µ𝑚𝑎𝑥 𝑋𝑛 [(𝑁𝑐+𝐾 )] 𝑛 (2.28) Para Nc > Kn, µmax= (Y∗rmax ) 𝑋𝑛 (2.29) Sendo: Xn: concentração ativa das bactérias (Xn para autotróficas, mgX/L); Y: coeficiente de rendimento das bactérias (0,1 mgXn/mgN-NH4+ para nitrificantes e 0,04 mgXn/mgN-NO2-); 33 rmax: taxa máxima de consumo do substrato (mgS/L/h), determinada através da TCO. A taxa de nitrificação para os dois grupos de bactérias atuantes nesse processo pode ser determinada de diferente formas, como: produção de nitrito e nitrato, taxa de consumo de oxigênio e consumo de alcalinidade. No processo de nitrificação há um consumo de 100 mgCaCO3 por mol de N(14g) transformado, dessa forma, (ΔAlc/ΔN) = -7,14 mgCaCO3.mgN-1. A equivalência da Taxa de Consumo de Oxigênio é feita através da seguinte relação: Nitritadoras- rn(nitri): TCOn Nitratadoras - rn(nitra): 4,57 TCOn 1,14 (2.30) (2.31) Sendo: TCOn: TCO total devido à nitrificação (mgO2/L/h); rn(nitri): taxa de utilização máxima da amônia e do nitrito gerado (mgNH4/mgXn/d); rn(nitra): taxa de utilização máxima do nitrito (mgNO2/mgXn/d). Os valores, 4,57 e 1,14, respectivamente, dão o consumo estequiométrico de oxigênio por mol do substrato considerado (amônia e nitrito). Levando em consideração que a velocidade de crescimento de Nitrobacter é muito maior que a de Nitrosomonas para uma extensa faixa de valores, a transformação do íon amônio a nitrito é considerada como a etapa limitante do processo nitrificante. Então, a cinética pode ser descrita pela cinética de crescimento de Nitrosomonas (VICTORIA, 1993 apud BASSIN, 2008). A Tabela 2.3 contêm alguns valores de constante de crescimento observados por diferentes autores em diversas temperaturas, mostrando que os valores encontrados não apresentam um padrão para todas as pesquisas, provavelmente não só pela temperatura, mas também pelo fato que foram usadas diferentes águas residuárias ou, até mesmo, pelo grau de precisão do método aplicado. 34 Tabela 2.3: Valores experimentais para a taxa de crescimento específico (µm) das Nitrossomonas µm (d-1) T (°C) µ20 (d-1) 0,33 15 0,66 0,47 15 0,45 0,45 15 0,73 0,53 25 0,26 0,4 - 0,5 14 0,8 0,33 - 0,65 20 0,33 - 0,65 1,08 - 1,44 23 0,76 - 1,02 0,57 16 0,76 0,34 - 0,40 12 0,86 0,5 20 0,5 0,94 29 0,33 0,33 20 0,33 Fonte – van Haandel e van der Lubbe ( 2012) Referências BARNARD (1991) KAYSER (1991) ECKENFELDER (1992) SUTTON et al. (1979) GUJER (1977) EKAMA & MARAIS (1976) PODUSKA & ANDREWS (1974) GUJER & JENKINS (1975) GUJER & JENKINS (1975) LAWRENCE & BROWN (1973) LIJKELMA (1973) DOWNING et al. (1964) Ainda de acordo com van Haandel e van der Lubbe (2012) os valores de decaimento (bn) das bactérias nitrificantes são considerados bem baixos referindo-se a pesquisas nas quais não ocorreu decaimento, como Dowring, Painter e Knowles (1964) e Gujer (1979), e valores baixos como 0,12 d-1 (LIJKLEMA, 1973). Silva Filho (2009), usando lodo de um UCT alimentado com esgoto de Campina Grande – PB encontrou 0,39 d-1. Para valores de meia saturação (Kn) a literatura relata constantes de 0,4 a 1mgN –NH4+/L. 2.3.3 Fatores que influenciam o processo de nitrificação Entre os fatores ambientais que influenciam no processo de nitrificação, estão: temperatura, concentração de oxigênio e pH. Efeito da Concentração de Oxigênio Dissolvido A concentração OD no seio do líquido pode interferir significativamente no processo de nitrificação uma vez que vários fatores podem contribuir para consumo desse oxigênio e acabam prejudicando a atividade das bactérias nitrificantes: tamanho do floco, intensidade de agitação, temperatura e, principalmente, taxa de consumo de oxigênio (TCO). Convencionalmente, espera-se que uma concentração de OD de 2 mg/L seja suficiente para desenvolver o processo de nitrificação. Quando a concentração de oxigênio dissolvido 35 diminui, este se torna um fator limitante para o crescimento e a expressão de Monod passa a ser: 𝑁𝑐 𝑂𝐷 µ𝑚 = µ𝑚𝑎𝑥 [(𝑁𝑐+𝐾 )] [(𝑂𝐷+𝐾 )] 𝑛 𝑜 (2.32) Onde: OD: concentração de oxigênio dissolvido no reator (mg/L); Ko: constante de meia saturação (mg OD. L-1), varia de 0,3 a 2,0. Efeito do pH O pH tende a diminuir na nitrificação por causa da geração de íons H+ com o consequente consumo de alcalinidade. O pH ótimo para bactérias nitrificantes está entre 7,5 e 8,5, sendo que naqueles abaixo de 6 o processo de nitrificação tende a cessar (EPA, 2003). Segundo Metcalf e Eddy (2003), as taxas de nitrificação declinam a partir do valor de pH=6,8, sendo que, em valores próximos a 5,8 e 6,0 as mesmas podem ser reduzidas de 10 a 20% da taxa em pH=7,0. Gujer (2011) relatou os efeitos da baixa alcalinidade na nitrificação. A máxima atividade das bactérias oxidantes de amônia se mostrou afetada pelos efeitos do pH no interior de flocos biológicos ou biofilme devido à limitação provocada no processo de difusão. Consequentemente, a máxima atividade das bactérias oxidantes de nitrito sofre efeitos indiretos da má nitritação. Hawkins et al. (2012) estudaram tais resultados em nível molecular. Os genes RNA ribossômico (rDNA) e tradutor (rRNAt) de Nitrobacter spp. (oxidantes de nitritos) foram quantificados em um reator em escala laboratorial durante períodos com alta atividade nitrificante e em estágios de inibição induzida pela diminuição do pH. As atividades dos rRNAt e rDNA foram metricamente diminuídas e refletidas nas mudanças da oxidação de nitritos. Efeito da temperatura Para Pelczar et al (1997) e Black (2002), a temperatura é um fator de grande influência sobre o crescimento bacteriano sejam elas heterotróficas ou autotróficas, por estar associada à velocidade das reações metabólicas dos microrganismos. Isso se deve ao fato de que tais 36 reações são catalisadas por enzimas específicas, cuja produção aumenta ou diminui com a temperatura. De acordo com van Haandel e van der Lubbe (2012) a equação de Arrehnius (Equação 2.34) é geralmente utilizada para quantificar a influência da temperatura sobre a constante de crescimento com valores de θ entre 1,11 e 1,13. µmT = µm20.𝜃 𝑇−20 (2.34) 2.4 Sistemas de lodo ativado Dentre os sistemas biológicos de tratamento de esgoto doméstico e industrial, destacase o processo de lodo ativado, caracterizado pela produção de microrganismos em um reator aerado sendo alimentado pelo efluente a ser tratado. Em termos comparativos, esse tipo de sistema se destaca pela sua ampla eficiência conseguindo remover sólidos em suspensão, materiais orgânicos e nutrientes. De acordo com Jordão e Pessôa (2011), o esgoto afluente e o lodo ativado são intimamente misturados, agitados e aerados para, logo após, se separar dos lodos ativados do esgoto, por sedimentação, sendo que a maior parte do lodo ativo retorna para o processo e a outra (lodo de excesso) é retirada. A quantidade de lodo que é extraída determina a idade de lodo do sistema, assim indicando o tempo de permanência do mesmo no sistema. Com a evolução tecnológica e a pesquisa experimental surgiram variações no processo original (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999; VON SPERLING, 2002; JORDÃO E PESSÔA, 2011) que deram lugar às seguintes variantes: • Quanto ao regime hidráulico do reator biológico -Processo de Mistura Completa; -Processo Tubular, pistonado ou “Plug Flow”. • Quanto à idade do lodo -Processo de Alta Taxa; -Processo de Aeração Prolongada 37 Quanto ao regime hidráulico do reator biológico A principal diferença dos regimes hidráulicos do reator biológico é a geometria, os de mistura completa caracterizam-se por ter comprimento e largura igual, os de sistema pistonado tem o comprimento maior que a largura. Os primeiros possuem algumas vantagens sobre os outros como, por exemplo: distribuição homogênea de oxigênio, satisfatória capacidade de absorver cargas tóxicas instantâneas e amenizar sobrecargas. Quanto à idade do lodo Reatores de alta taxa ou de alta capacidade distinguem-se dos demais por operarem com idade do lodo de 2 a 3 dias e tempo de detenção hidráulica de 1 a 2 horas (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999; JORDÃO E PESSÔA, 2011). Pelo excesso de alimento e pouca quantidade de lodo, basicamente é exercida a respiração exógena e pouca estabilidade do lodo. Já os de aeração prolongada, devido à idade do lodo ser controlada entre 18 e 20 dias, podendo chegar a 30 dias em certos casos, a relação alimento/microrganismos é menor que no processo convencional (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999), com isso, a respiração endógena pode ser exercida e o lodo consegue se estabilizar. Sobre as características desse tipo de sistema de tratamento de esgoto, Santos (2009) ressalta que a matéria orgânica pode ser degradada de duas formas: uma parcela convertida em biomassa bacteriana e outra mineralizada para gás carbônico e água. 2.4.1 Sedimentabilidade A sedimentabilidade é uma das características fundamentais dos sistemas de lodo ativado, pois, por princípio de funcionamento, a separação entre lodo e líquido é necessária em todas as configurações. Barbosa e Souza (1998) avaliam que muitos parâmetros operacionais como temperatura, idade do lodo, tempo de detenção hidráulica, concentração do lodo, nível de oxigênio dissolvido e composição do despejo podem interferir na sedimentabilidade do lodo e apenas a verificação experimental pode identificar tais características. Os métodos mais utilizados para determinar a sedimentabilidade são os testes de Índice Volumétrico de Lodo (IVL30) e da Velocidade de sedimentação em Zona (VSZ). O IVL30 é feito a partir da determinação do volume que os sólidos ocupam após a sedimentação 38 de uma batelada em uma proveta de 1 L durante um determinado período de tempo (nesse caso 30 minutos). Após a determinação da concentração inicial do lodo, calcula-se o volume ocupado por grama de sólido em suspensão após sedimentação. O VSZ determina constantes de velocidade e compressibilidade do lodo através da correlação entre o comportamento da sedimentabilidade do lodo com várias concentrações de sólidos. Para identificar como característica específica de determinado lodo, Vesilind (1968), desenvolveu uma expressão relacionando a VSZ com a concentração deste (Equação 2.34) apresentada a seguir (VAN HAANDEL e VAN DER LUBBE, 2012): VSZ = Vo e−kXt (2.34) Sendo: VSZ: velocidade de sedimentação zonal (m/h); Xt: concentração de lodo (gSTS/L); Vo, k: constantes de sedimentabilidade. A partir da determinação de velocidades para diferentes concentrações de sólidos é possível identificar as duas constantes (v0 e k) por meio da confecção de gráficos semilogarítmicos (base e) relacionando as concentrações de sólidos com o logaritmo da velocidade de sedimentação. Nesse diagrama, v0 é a intersecção no eixo das ordenadas e k é a inclinação da reta. As faixas de valores para definir condições de sedimentabilidade por meio do IVL30 e as características do efluente, após o processo de separação sólido/líquido são: com uma faixa de 50-100 ml/g para lodos com uma condição muito boa de sedimentabilidade e de qualidade efluente, de 100-200 ml/g para lodos com uma condição intermediária de sedimentabilidade e com risco de perda de lodo no efluente, e de 200-400 ml/g para lodos com uma condição ruim de sedimentabilidade (JORDÃO E PESSÔA, 2011). De acordo com van Haandel e Marais (1999) os valores de classificação de lodo são: sedimentação boa k (l/g) 0,31 e Vo (m/h) 11, sedimentação média k (l/g) 0,36 e Vo (m/h) 9,5 e sedimentação ruim k (l/g) 0,46 e Vo (m/h) 6. 2.4.2 Configurações de sistemas de lodo ativado para remoção de nutrientes 2.4.2.1 Sistema UCT (University of Cape Town) O sistema UCT (Figura 2.5) constituído de 3 ou 5 reatores, o primeiro anaeróbio, o segundo e o quarto anóxicos e o terceiro aeróbio, podendo agregar um quinto reator, sendo 39 este aeróbio sobreposto de um decantador secundário. O sistema foi projetado com o intuito de remover simultaneamente macronutrientes, nitrogênio e fósforo. A remoção de fósforo nesse sistema é prevista com a presença de uma zona anaeróbia como primeiro ambiente de entrada do esgoto para que o material rapidamente biodegradável seja utilizado. Assim, se evitando a introdução de nitrato na zona anaeróbia. Na zona anóxica a concentração de nitrato é mantida baixa através de um controle da taxa de recirculação “a”, de forma que o nitrato disponível para a desnitrificação na zona anóxica se não ultrapasse a capacidade de desnitrificação (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999). Figura 2.5: Configuração e variantes do sistema UCT Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003) 2.4.2.2 Sistema Bardenpho Sistemas de lodo ativado Bardenpho é uma união de sistemas de lodo ativado convencionais e são projetados, assim como o UCT, para remover matéria orgânica e os nutrientes, principalmente nitrogênio, através dos processos sequenciais de nitrificação e desnitrificação, e fósforo, pelo descarte de lodo. Segundo Metcalf e Eddy (2003), esses sistemas são usados para idades de lodo longas, entre 10 e 20 dias. A Figura 2.6 representa o esquema do sistema Bardenpho. Figura 2.6: Configuração do sistema Bardenpho convencional Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003) 40 Outros sistemas também foram desenvolvidos nessa mesma linhagem, a exemplo do sistema Bardenpho modificado de 5 reatores, com um ambiente anaeróbio anterior ao primeiro reator anóxico e um aeróbio após o último anóxico. 2.4.2.3 Reatores em Bateladas Sequenciais Os Reatores em Bateladas Sequenciais (RBS) têm se mostrado uma boa alternativa frente aos sistemas de lodo ativados que trabalham em regime hidráulico contínuo. A principal característica desse tipo de sistema é realizar todo o tratamento em apenas um reator com etapas de funcionamento. No tocante ao tratamento de esgoto doméstico, a utilização de RBS está relacionada com a redução de áreas pelas unidades de tratamento, a redução de custos comparados aos processos contínuos, a possibilidade de remoção conjunta de matéria carbonácea e dos nutrientes (fósforo e nitrogênio) em um único ciclo de operação, a facilidade de adaptação a variações de cargas e vazões, a boa sedimentabilidade do lodo e o funcionamento moderadamente simples (SHEKER et al., 1993; MORGENROTH & WILDERER, 1998; van LOOSDRECHT & JETTEN, 1998; LEE et al., 1997 ; MOREIRA et al., 2002 apud MIRANDA, 2012) De acordo com Von Sperling (1996), a operação desse tipo de reator, esquematizado na Figura 2.7, é realizada em ciclos contendo etapas distintas como enchimento ou alimentação que consiste na adição do efluente para o tratamento; reação que é ligada ao sistema de aeração para oxidação biológica da matéria carbonácea; sedimentação que consiste no momento que não existe mistura do licor misto sem interferência de entrada e saída de líquidos; drenagem,no qual o efluente clarificado é retirado e repouso, momento em que é feita a retirada do lodo, quando necessário. Figura 2.7: Esquema de um ciclo de um RBS Fonte : Adaptado von Sperling(1996) 41 Convencionalmente os sistemas RBS são constituídos apenas de um ambiente, porém têm surgido algumas variações dentro desse princípio de funcionamento como os airlifts, reatores com movimento do fluido no próprio reator proporcionando dois ambientes diferenciados, com e sem oxigênio. Esse tipo de sistema tem sido investigado para uma variedade de processos químicos e biológicos, sendo o movimento do fluido dentro do reator devido à diferença de densidade da seção aerada de fluxo ascendente, “riser”, e a seção não aerada de fluxo descendente, “downcomer” (SIEGEL et al., 1994; RAJA RAO et al., 1997). Em processos biológicos esses sistemas têm vantagem, em relação a reatores convencionais, de possuírem uma geometria que simplificam a construção e operação, além de necessitarem de baixa potência requerida por não conterem partes móveis e circulação direcionada do fluido (WANG BANG et al., 1998). Jiang (2012) afirma que os reatores airlift são biorreatores importantes para o tratamento de águas residuais, porém poucos estudos têm investigado a sua aplicação para remoção de matéria orgânica e nutrientes, especialmente para sistemas de lodos ativados. Com isso, resultados expressivos foram alcançados usando um reator com ambientes bem definidos (anaeróbio, anóxico e aeróbio), tendo boa eficiência com remoção de DQO (91%), N-NH 4+ (92%), N-Total (86%) e P-Total (94%). 2.5 Respirometria A respirometria é uma técnica que permite a medição da Taxa de Consumo de Oxigênio (TCO) realizada pelos microrganismos aeróbios, aplicada para o controle e a operação de estações de tratamento de esgoto, principalmente em sistemas de lodos ativados. Os respirômetros, convencionalmente, são classificados em duas categorias: os fechados e os abertos. Os fechados podem ser manométricos ou volumétricos, verificando o consumo do oxigênio com pressão ou volume fixos, sendo nomeados dessa forma, pois o ambiente da reação é isolado do ambiente atmosférico (VANROLLEGHEM et al., 1999). Santos (2013) ressalta que esses equipamentos apresentam grandes limitações, pois a impossibilidade de reoxigenação do meio não permite identificar fatores relevantes como o estabelecimento da TCO sem alimento (endógena) e o início da TCO com alimento externo (exógena), porém é bastante aplicável na determinação de DBO. São exemplos desse tipo de respirômetros os frascos padrões de DBO e o aparelho Warburg. Em contrapartida, os respirômetros abertos são especificados pela exposição do meio de reação ao ambiente atmosférico, tendo a oxigenação através de aeradores em sua estrutura 42 de funcionamento. Eles podem ter aeração constante (tipo contínuo) ou intervalos de aeração e não aeração (semicontínuo). Santos (2013) fez um estudo comparativo entre os dois métodos de determinação da TCO pela ótica de estabelecer o limite da aplicabilidade do método contínuo levando em consideração alguns fatores que interferem na constante de transferência de oxigênio: concentração de lodo, surfactantes e temperatura. O princípio de determinação da TCO utilizado nessa pesquisa é o método semicontínuo que, segundo van Haandel e Marais (1999), é muito simples e se baseia na interrupção de períodos de aeração. Para isso, são ajustados dois valores de referência para a concentração de oxigênio dissolvido superior (ODsup) e inferior (ODinf). A aeração é usada até o aumento da concentração de OD superior, o software automaticamente encerra a injeção de oxigênio pelo aerador acoplado ao respirômetro, espera-se a queda da concentração de OD até que o limite inferior seja atingido, devido ao consumo pela biomassa, e é determinado a TCO em mgO2/L/h, reiniciado o ciclo de terminação. O cálculo da TCO é realizado por regressão linear como mostra a Equação 2.35 (VAN HAANDEL e CATUNDA, 2014). Um ponto importante no funcionamento da determinação da TCO é o desvio padrão que pode ser determinado para utilização do software, estabelecendo o grau de precisão do valor encontrado. TCO = (ODsup – ODinf)/∆t Sendo: ODsup = Valor de oxigênio dissolvido de referência superior (mg.L-1); ODinf = Valor de oxigênio dissolvido de referência inferior (mg.L-1); ∆t = Intervalo de tempo entre ODsup e ODinf ; TCO = Taxa de Consumo de Oxigênio (mg.L-1.h-1). (2.35) 43 CAPÍTULO III ___________________________________________________________________________ MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Introdução Neste capítulo serão descritas as características dos diferentes sistemas trabalhados, bem como o modo de operação de todos os reatores biológicos colocados em funcionamento. Serão apresentados todos os procedimentos utilizados na avaliação dos parâmetros cinéticos, juntamente com o detalhamento dos procedimentos dos testes respirométricos. Complementarmente, será feita a descrição dos métodos analíticos empregados, dos parâmetros monitorados juntamente com sua frequência analítica e dos procedimentos de cálculo. O desenvolvimento da pesquisa foi na Estação Experimental de Tratamentos Biológicos de Esgotos Sanitários (EXTRABES), em Campina Grande - PB, numa área da Universidade Estadual da Paraíba (UFCG/UEPB), no Laboratório do grupo de pesquisa do Programa de Saneamento Básico (PROSAB), no período de novembro/2012 a setembro/2013. 3.2 Descrição dos sistemas Foram montados e operados três tipos de sistemas de lodo ativado, dois em regime de batelada sequencial do tipo coluna de bolhas e outro airlift, e um sistema em regime de fluxo contínuo tipo UCT (University of Cape Town). Todos foram alimentados com o esgoto municipal de Campina Grande - PB após ser captado da rede coletora municipal e passado por uma caixa de areia vertical, dando um tratamento preliminar ao esgoto. Antes de distribuído para os sistemas, existia um tanque equalizador para armazenamento do afluente, como é ilustrado na figura 3.1. 44 Figura 3.1: Sistema de alimentação dos sistemas (captação, tratamento preliminar, equalização e distribuição) Fonte: Elaboração do autor A distribuição do afluente para os sistemas de batelada sequencial era feito por um conjunto de bombas de drenagem do tipo Pcx-a (Figura 3.2) para cada sistema. O esgoto recalcado era descarregado numa caixa de descarga com volume de nove litros, alimentando os reatores com uma vazão que dependia da altura da caixa em relação à altura do sistema. Já o UCT era alimentado com bombas dosadoras de ajuste manual da vazão de modelo Serie DLX(Figura 3.3). Figura 3.2: Bomba de drenagem utilizada Figura 3.3: Bomba dosadora para para alimentação dos RBS’s alimentação do UCT Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Para aeração dos sistemas, foram utilizados aeradores de ar modelo (Air Compressor, BOYU), com capacidade para 50 L/min, com motor eletromagnético e potência de 35W, pressão máxima de 0,028 MPa, como mostra a Figura 3.4 45 Figura 3.4 : Aeradores utilizados nos sistemas Fonte: Elaboração do autor 3.2.1 Reator em Batelada Sequencial unitário (RBS - unitário) O sistema (Figura 3.5) era constituído de uma única câmara confeccionada de PVC com diâmetro de 150 mm, altura de 1,20 m e volume útil de 15L. Os reatores tinham um sistema de agitação com um motor elétrico acionando um eixo central com uma palheta no fundo do reator. O afluente entrava na parte inferior do reator e, enquanto era alimentado, na parte superior, o efluente clarificado era descarregado, como ilustrado na Figura 3.6. As divisões de tempo de cada etapa do tratamento eram coordenadas por um conjunto de temporizadores que determinaram os momentos e duração de cada etapa do ciclo de tratamento. Figura 3.5: Foto do sistema RBS- Figura 3.6: Esquema do sistema RBSunitário Fonte: Elaboração do autor unitário Fonte: Elaboração do autor 46 3.2.2 Reator em Batelada Sequencial Air lift (RBS – Air lift) O sistema (Figuras 3.7) era composto de duas câmaras confeccionadas de PVC cada uma, com diâmetro de 150 mm, altura de 1,20 m e volume de 15L, com ambientes distintos, um com aeração e outro anóxico. As duas câmaras eram ligadas na parte inferior e havia uma transferência de licor misto na parte superior por um afunilamento do ambiente aeróbio para as bolhas de aeração na sua subida arrastarem o licor misto pela mangueira que vertia no ambiente anóxico, apresentado pela Figura 3.8 no seu detalhamento. O sistema de alimentação/descarte era similar ao do sistema RBS- unitário, tendo cada câmara sua entrada específica. Figura 3.7: Foto do sistema RBS – airlift Fonte: Elaboração do autor Figura 3.8: Esquema do sistema RBS – airlift Fonte: Elaboração do autor 47 3.2.3 UCT (University of Cape Town) O sistema UCT possuía cinco reatores em série, um reator anaeróbio (R1), o qual recebia o afluente, seguido por um reator anóxico (R2), um reator aerado (R3), outro reator anóxico (R4) e um decantador. Todos os reatores eram feitos de PVC e o decantador de fibra de vidro. As dimensões das unidades estão na Tabela 3.1. Tabela 3.1: Dimensões dos reatores do sistema UCT Reator Altura (m) Diâmetro (m) Volume útil (L) Anaeróbio (R1) 0,77 0,30 70 Pré-Desnitrificação (R2) 0,77 0,25 54 Aeróbio (R3) 0,77 0,40 96 Pós-Desnitrificação (R4) 0,77 0,20 24 Decantador 0,77 0,35 72 Este sistema era do tipo UCT, caracterizado por possuir três recirculações - “a, r e s”, a primeira é a vazão que vai do reator anóxico (R2) para o anaeróbio (R1), a segunda, do aeróbio (R3) para o anóxico (R2) e a terceira, do decantador para o anóxico (R2). Todos os reatores eram agitados por agitadores mecânicos de eixo vertical com palhetas acionadas por um motor trifásico, 1/3 HP, de baixa rotação (45 rpm), ilustrados na Figura 3.9. Essa agitação assegurava a suspensão do lodo e o contato deste com toda a massa líquida. O motor era montado sobre uma estrutura de ferro que servia também de suporte para aeradores e bombas dosadoras responsáveis pelas recirculações. Figura 3.9: Estrutura do sistema UCT Fonte: Elaboração do autor 48 3.3 Operacionalidade dos sistemas A operação dos sistemas experimentais de lodo ativado ocorreu em duas etapas e variou em função do desempenho dos mesmos com a carga orgânica aplicada. Na primeira etapa, foi utilizado o esgoto bruto com as características originais da rede coletora da cidade de Campina Grande-PB para alimentar os sistemas entre os meses de maio e julho de 2013. No entanto, as características do esgoto não possibilitaram um funcionamento estável dos sistemas, que operaram com baixa capacidade de funcionamento. Então foi proposta uma segunda etapa, em que o esgoto bruto armazenado no tanque de equalização foi enriquecido com matéria orgânica proveniente de uma mistura de arroz e feijão cozidos e triturados. Além disso, outros parâmetros operacionais foram modificados, como aumento da vazão aplicada, aumentando assim, a quantidade de matéria orgânica aplicada aos sistemas estudados. Os parâmetros gerais de operacionalidade são mostrados na Tabela 3.2, com dados de vazão, números de bateladas por dia, tempo de detenção hidráulica (TDH), idade de lodo (Rs) e oxigênio dissolvido (OD), para todos os sistemas estudados. Tabela 3.2: Parâmetros gerais de operacionalidade RBS – unitário RBS - airlift UCT Etapa 1 Etapa 2 Etapa 1 Etapa 2 Etapa 1 Etapa 2 Vazão (L/dia) 32 40 64 80 200 300 Bateladas 4 5 4 5 - - TDH (h) 11 9 11 9 29 20 Rs (dias) 20 20 20 20 20 20 OD (mg/L) 3a5 2a4 3a5 2a4 3a5 2a4 É importante destacar que, para estabelecer e manter a idade de lodo dos sistemas diariamente, eram retirados volumes de licor misto iguais a Vr/Rs (volume do reator/ idade de lodo). No UCT a retirada era do R3 (ambiente aerado) e os sistemas RBS’s eram descarregados e homogeneizados, antes de ser feita a retirada. Os sistemas em batelada foram operados em ciclos, compreendidos entre alimentação/descarte, hidrólise, aeração e sedimentação. De forma comparativa os ambientes de tratamento estão descritos na Tabela 3.3, estando os RBS’s relacionados ao tempo de cada fase dos ciclos de tratamento e o UCT ao volume de cada ambiente. 49 Tabela 3.3: Ambientes de tratamento dos sistemas RBS – unitário RBS – airlift UCT Etapa 1 Etapa 2 Etapa 1 Etapa 2 Anaeróbio (%) 17 14 15 15 28,7 Anóxico (%) n/a n/a 39 39,5 32,0 Aeróbio (%) 78 79 39 39,5 39,3 n/a: não avaliado 3.4 Desempenho dos sistemas As coletas das amostras para análises laboratoriais dos sistemas RBS - unitário, RBSairlift e UCT eram feitas para determinar a eficiência dos sistemas. As amostras eram coletadas da caixa da alimentação e dos recipientes de armazenamento de efluente, e determinados um conjunto de todas as variáveis descritas na Tabela 3.4. Os procedimentos analíticos das amostras eram feitos sempre após as coletas, que aconteciam sempre pela manhã, no horário entre 7 e 8h. Tabela 3.4: Frequência e métodos analíticos para cada sistema. Variáveis Frequência Métodos analíticos Referência Titulométrico DQO (mg/L) Semanal APHA et al. (2012) Refluxação fechada NTK (mgN-NTK/L) Semanal Semi-Micro Kjeldahl APHA et al. (2012) Amônia (N-NH 4+) Semanal Titulométrico APHA et al. (2012) Nitrato (N-NO3 ) Semanal Salicilato de Sódio APHA et al. (2012) Colorimétrico Nitrito (N-NO2-) Semanal APHA et al. (2012) Diazotização Alcalinidade Total BUCHAUER Semanal Kapp (mgCaCO3/L) (1998) Alcalinidade HCO3 BUCHAUER Semanal Kapp (mgCaCO3/L) (1998) BUCHAUER AGV (mgCaCO3/L) Semanal Kapp (1998) pH Semanal Potenciométrico APHA et al. (2012) Fósforo Total e Ortofosfato Semanal Ácido ascóbico APHA et al. (2012) Sólidos Suspensos Semanal Gravimétrico APHA et al. (2012) Totais,Voláteis e Fixos (mg/L) VAN HAANDEL E TCO Semanal Semicontínuo CATUNDA (1982) OD (mgOD/L) Semanal Eletrométrico APHA et al. (2012) WHITE(1975) apud Sedimentabilidade Semanal Estático van Haandel e Marais (1999) IVL30 Semanal IVL30 APHA et al. (2012) 50 3.4.1 Teste de sedimentabilidade Para determinar as constantes de sedimentabilidade de lodo pelo método estático foram usados tubos cilíndricos de 1000 mm de comprimento por 50 mm de diâmetro (Figura 3.10), determinando-se o deslocamento da interface lodo-sobrenadante em função do tempo de diferentes concentrações de lodo (Xt). Depois de plotar gráficos com os diversos pontos foi identificado o conjunto de pontos para determinar o deslocamento linear e a velocidade de sedimentação zonal (VSZ) como a inclinação das retas. Assim, era feito um gráfico dos valores de ln(VSZ) em função das concentrações de Xt, tendo como a declividade da reta igual a constante de compressão (k) e o ponto de intersecção da reta com o eixo das ordenadas como o valor da velocidade lodo (v0). Dessa forma é possível determinar a velocidade de sedimentação em zona por meio da equação: VSZ = Vo e−kXt (3.1) Sendo: VSZ: velocidade de sedimentação zonal (m/h); Xt: concentração de lodo (gSTS/L); Vo, k: constantes de sedimentabilidade. Figura 3.10: Tubos utilizados nos testes de sedimentabilidade Fonte: Elaboração do autor. 51 3.5 Testes respirométricos O objetivo dos testes respirométricos é a determinação da Taxa de Consumo de Oxigênio (TCO), assim foi utilizado o respirômetro Beluga do tipo aberto e de forma semicontínua. 3.5.1 Equipamentos de composição dos testes respirométricos Os testes respirométricos eram procedidos a partir de um conjunto de equipamentos (Figura 3.11): (1) Computador contendo o software Resp S4.0C e os periféricos monitor, mouse, teclado; (2) respirômetro Beluga com saída para a CPU, para o aerador e uma entrada para o eletrodo de OD; (3) eletrodo de oxigênio (Modelo YSI 5718); (4) recipiente com capacidade de 2 litros; (5) estrutura de ferro contendo um motor de agitação do líquido. O reator utilizado nos testes respirométricos, descritos a seguir, foi um béquer com capacidade total de 2 litros. A aeração era feita por um compressor, que insuflava bolhas de ar por meio de pedras porosas presas no fundo do reator. Figura 3.11: Equipamentos utilizados nos testes respirométricos Fonte: Elaboração do autor. 52 A aeração era controlada pelo software Resp S4.0C, que ativava o aerador quando a concentração de OD atingia o limite inferior estabelecido, desativando-o quando esta atingia o limite superior também estabelecido e iniciando ciclos de períodos com e sem aeração. Durante os períodos sem aeração o Beluga determinava a TCO a partir da variação da concentração de OD com o tempo, conforme a equação a seguir. TCO = (dOD/dt) = (ODmax – ODmin)/ Δt (3.4) Sendo: TCO: taxa de consumo de oxigênio (mgO2.L-1.h-1); ODmax: valor de oxigênio dissolvido de referência superior; ODmin: valor de oxigênio dissolvido de referência inferior; Δt: variação do tempo. As concentrações de OD estabelecidas como de referências mínima e máxima foram de 1,0 e 3,0 mg/L, respectivamente (SANTOS, 2009; SILVA FILHO, 2009, SANTOS, 2012). A Figura 3.12 mostra um respirograma gerado pelo Software de S32c para S4.0C, mostrando on line na tela do computador dois diagramas que representam a concentração de OD (diagrama superior) e a TCO (diagrama inferior) do sistema em função do tempo, além de identificar todos os componentes da janela. Ressalta-se que as imagens apresentadas no trabalho apresentam cortes a partir dos respirogramas gerados pelo Software utilizado na pesquisa. Figura 3.12 – Respirograma com indicação de seus principais componentes. Fonte: Manual de utilização do respirômetro Beluga. 53 A. conectar/desconectar o instrumento; B. Inicia o método de cálculo da TCO, gráficos e armazenamento dos dados em arquivo; C. Para o procedimento de cálculo da TCO, a atualização dos gráficos e o armazenamento dos dados em arquivo; D. Permite a aferição do eletrodo de OD (YSI) do Beluga; E. Indicadores do estado ligado (vermelho claro) ou desligado (vermelho escuro) dos dispositivos conectados ao Beluga; F, G, H. Indicação dos valores medidos de Temperatura (F) OD (G) e valor calculado da TCO (H); I. J. Desvio padrão da medição da concentração de OD em mg/L e da TCO em mg/L/h; K. Indicador do número de horas desde a última calibração; L Indicador do estado da membrana do eletrodo de OD; M. N. Indicações e opções de escolha da grandeza a ser mostrada em cada janela gráfica (1 ou 2); O. Indicadores do estado de comunicação do programa com o Beluga: RX – informação recebida, TC – informação enviada; P. Instruções; Q. R. O respirômetro 4.0C possui duas janelas gráficas que podem mostrar independentemente valores de temperatura, OD e/ou TCO. 3.5.2 Procedimento de Determinação das frações biodegradáveis de DQO Os testes típicos para determinação das frações biodegradáveis de DQO do esgoto afluente foram feitos seguindo a metodologia a seguir: Ligava-se o respirômetro e esperava-se 10 minutos para calibrar o eletrodo de oxigênio com o valor de saturação de acordo com a temperatura e a altitude local; Uma amostra de um litro de licor misto era submetida à agitação e com o eletrodo de oxigênio submerso iniciavam-se os ciclos de aeração e não aeração controlada pelo respirômetro até o momento em que a TCO mínima (TCOend) era estabelecida, caracterizando a fase de respiração endógena; Esperava-se a sedimentação do lodo e sifonava-se o sobrenadante de aproximandamente 0,5 L, esse volume era completado com esgoto bruto; Antes de ser iniciada a aeração do conteúdo do béquer foram adicionados 10 mg/L de uma solução de alil-tiouréia para inibir a atividade das bactérias autotróficas; O teste era realizado, sendo controlado pelo respirômetro que mantinha a concentração de OD no intervalo adotado; A Figura 3.13 ilustra o respirograma de um teste em que se observam dois gráficos: no gráfico superior a variação da concentração de OD devido aos períodos com e sem aeração e 54 na janela inferior o gráfico da TCO. Identifica-se no respirograma a utilização do material biodegradável e solúvel (rapidamente degradado) e a do biodegradável particulado (consumo lento), antecedidas e sucedidas pela TCO endógena, valor sem presença de substrato. Figura 3.13: Respirograma para determinação das frações biodegradáveis de matéria orgânica 2 Material solúvel Respiração endógena 3 1 Material particulado 4 De acordo com os dados gerados pelo software em planilha Excel são calculadas as áreas referentes a cada ponto de TCO em determinado tempo, como mostra a Figura 3.14. Ao somar as áreas, tem-se o consumo de oxigênio necessário para oxidar o material orgânico aplicado no teste em mgO2/L. O respirograma com a planilha completa com todos os dados de TCO estão disponíveis no Apêndice A. Tomados os valores medidos pelo respirograma (Figura 3.13), procede-se o tratamento dos dados tornando possível realizar os cálculos das áreas correspondentes a cada ponto de TCO. Transformando o horário em intervalos (h) e estimando a TCO endógena por meio da limitação da reta entre a endógena inicial (1) e a endógena final (4) e determinando a TCO exógena real, através da diferença entre a TCOmax e a TCOend calculada. A partir do intervalo de tempo e da TCOexo, determina-se a área trapezoidal do intervalo de tempo de cada ponto. 55 Identificando pelo respirograma o ponto (3) que diferencia o material solúvel do particulado, determinam-se as suas devidas proporções. Ressalta-se que o gráfico mostra o consumo de oxigênio pela biomassa do lodo referente ao processo metabólico denominado catabolismo, que representa 1/3 do consumo da DQO aplicada no teste. Dessa forma, a área encontrada pelos dados obtidos pelo respirômetro deve ser convertida a mgDQO/L. Assim, é possível determinar as proporções do material biodegradável. Figura 3.14: Planilha Excel para determinar as áreas do consumo de oxigênio do material orgânico. O material não biodegrável solúvel é determinado a partir da eficiência de remoção do sistema operado para a realização do teste, ou seja, é a parcela restante do material aplicado no sistema que não foi consumido. Assim, por diferença, tem-se o valor da porcentagem do material não biodegradável particulado conforme Equação 3.5. Sta=Sbsa +Sbpa +Susa +Supa (3.5) 56 3.5.3 Capacidade metabólica da bactérias aeróbias (heterotróficas e autotróficas) Foram realizados testes respirométricos para se determinar as constantes cinéticas de oxidação da matéria orgânica e nitrificação a partir da determinação da TCO endógena (TCOend) e da TCO máxima (TCOmáx) . A TCOmáx era obtida após a adição dos substratos, como, acetato de sódio (NaC2H3O2.3H2O) cloreto de amônia ( NH4Cℓ) e nitrito de sódio( NaNO2), respectivamente para as heterotróficas e autotróficas (nitritadoras e nitratadoras). E a TCOend era obtida na ausência do substrato, como mostra a Figura 3.15. Figura 3.15: Respirograma para determinação do metabolismo das bactérias heterotróficas e autotróficas nitrificantes. O procedimento utilizado durante os testes respirométricos era: Inicialmente ligava-se o respirômetro, esperava-se 10 minutos para então se calibrar o eletrodo de oxigênio para a temperatura ambiente e altidude local; Uma amostra de um litro do licor misto era coletada do lodo descartado dos no final do momento da aeração nos RBS’s e no reator aerado do sistema UCT; Antes de iniciar o teste respirométrico, era verificado o pH da amostra para avaliar se este fator ambiental estava adequado para o desenvolvimento da atividade da biomassa; A amostra era então submetida à agitação e aeração controlada pelo respirômetro, a fim de que todo o substrato fosse utilizado, estabelecendo uma TCO constante e mínima (TCOend), correspondente à respiração endógena; 57 Quando era estabelecida a respiração endógena eram adicionados, sequencialmente, os substratos específicos para determinação das constantes cinéticas. Adicionava-se quantidade suficiente de substrato para que o mesmo não fosse limitante do processo (120 mg/L de acetato de sódio, 5 mg/L de cloreto de amônio e 8 mg/L de nitrito de sódio). Durante os testes os valores da temperatura, da concentração de OD e da TCO dados eram armazenados em planilhas eletrônicas Excel. Os de temperatura a cada 30 segundos, os de OD a cada 5 segundos e os da TCO, calculados pelo respirômetro a cada 4 minutos, podendo esse tempo ser menor, caso a referência inferior estabelecida de OD fosse atingida antes ou o desvio padrão da reta calculada fosse menor que o valor de referência, geralmente 0,10. . Em alguns momentos, principalmente na primeira etapa, da pesquisa as concentrações de lodo dos sistemas apresentaram valores baixos e dificultavam a realização dos testes. Dessa forma, foi necessário concentrar o lodo com volume dobrado para identificar no respirograma o metabolismo das bactérias autotróficas nitratadoras. 3.5.4 Determinação via respirometria das constantes cinéticas das bactérias heterotróficas A partir dos dados de TCO determinam-se as constantes cinéticas das bactérias heterotróficas: taxa de utilização específica máxima do substrato solúvel (Kms), taxa de crescimento específico máxima (µm) e constante de meia saturação (Kss), tendo como base a equação de Monod (1979), seguindo os passos: (1) Fração catabolica do material orgânico A fração catabólica do material orgânico apresentada pela respirometria é determinada através do consumo de oxigênio utilizado para oxidar a DQO aplicada no teste. A Figura 3.16 apresenta um exemplo típico de consumo de oxigênio (40 mgO2/L) que representa 1/3 da concentração de DQO aplicada no teste (PORTO, 2007; VAN HAANDEL E MARAIS, 1999). 58 Figura 3.16: Área do consumo de oxigênio necessário para a oxidação da matéria orgânica. (2) A taxa de utilização do substrato é determinada por: 𝑟𝑢𝑠 = TCOexo 𝑓𝑟𝑎𝑐𝑎𝑡 × 24 (3.6) Sendo: TCOexo= Taxa de consumo de oxigênio exógena fra cat.= fração catabolizada (3) A partir da TCO endógena, pode ser determinado o valor de Xa (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999): 𝑋𝑎 = TCOend fcv (1− f)bh Sendo: TCOend= Taxa de consumo de oxigênio endógena fcv= 1,5 mgSSV/mgDQO f= 0,2 (fração de massa que não pode ser oxidada) (3.7) 59 bh= Taxa de decaimento influenciada pela temperatura (bh=0,24x1,04(t-20)) (4) Assim, calcula-se a constante de utilização do substrato: 𝐾𝑚𝑠 = rus 𝑋𝑎 (3.8) (5) Constante de crescimento: µ m= Yh K ms (3.9) Sendo: µm= Constante de crescimento; Yh= coeficiente de rendimento das heterotróficas - 0,45 mgXa/mgSb (MARAIS & EKAMA, 1976); (6) A constante de meia saturação A constante de meia saturação do substrato é a quantidade de substrato restante quando a TCO é a metade da TCOmax (PORTO, 2007). O valor de Kss é determinado, calculando-se a área limitada pelo valor da TCOmax/2 e a TCO endógena, que é estabelecida após o consumo total do substrato,como ilustra a Figura 3.17. Figura 3.17: Área para o cálculo da constante de meia saturação do substrato das bactérias heterotróficas 60 A constante cinética de crescimento das bactérias heterotróficas foi submetida ao teste de Tukey num nível de significância de 5%, com o intuito de avaliar o desempenho entre sistemas e etapas de operação. 3.5.5 Determinação via respirometria das constantes cinéticas das bactérias autotróficas A taxa máxima de crescimento específico (µmax) é determinada quando se tem o conhecimento de fatores como: a taxa de nitrificação (rn), a concentração de bactérias nitrificantes no reator (Xn) e a capacidade de nitrificação no reator (Nc). a determinação é baseada na equação 3.10: µmax= (Y∗rmax ) (3.10) 𝑋𝑛 Sendo: Xn: concentração ativa das bactérias (Xn para autotróficas, mgX/L); Y: coeficiente de rendimento das bactérias (0,1 mgXN/mgN para autotróficas); rmax: taxa máxima de consumo do substrato (mgS/L/h), determinada através da TCO. (1) A taxa de nitrificação para os dois grupos de bactérias atuantes nesse processo é determinada da seguinte forma: Nitritadoras- rn(nitri): TCOn Nitratadoras - rn(nitra): 4,57 TCOn 1,14 (3.11) (3.12) Sendo: TCOn: TCO total devido à nitrificação (mgO2/L/h); rn(nitri): taxa de utilização máxima da amônia e do nitrito gerado (mgNH4+/mgXn/d); rn(nitra): taxa de utilização máxima do nitrito (mgNO2/mgXn/d). Os valores 4,57 e 1,14, respectivamente, dão o consumo estequiométrico de oxigênio por mol do substrato considerado (amônia ou nitrito). 61 (2) A capacidade de nitrificação é o resultado do material nitrogenado disponível para nitrificação, uma vez que parte de material não é oxidado e outra é utilizada para a produção de lodo: Nc = Nta −Nte −Nl (3.13) Sendo: Nta : concentração de NTK afluente (mgN.L-1); Nte : concentração de NTK efluente (mgN.L-1); Nl : concentração de NTK para a produção de lodo de excesso (mgN.L-1). Em que Nl é calculado por: fn Xv Rh Nl = Rs (3.14) Sendo: fn :fração de nitrogênio em lodo volátil = 0,1g.g-1SSV; Xv : concentração de sólidos voláteis no licor misto (mgSSV.L-1). (3) A concentração das bactérias estudadas foi determinada da seguinte forma: Xn = Yn Rs Nc (1+bn Rs )Rh (3.15) Sendo: RS: idade de lodo (d); NC: fluxo da concentração de amônia nitrificada (mgN/d); bn: constante de decaimento para as Bn = 0,04*1,04(t-20), onde t é a temperatura de operação (d-1); Rh: tempo de permanência (d); Seguindo o mesmo princípio de determinação das constantes de meia saturação, devese determinar a concentração de substrato no momento em que µ= ½μm, ou seja, que a 62 TCOn= ½TCOmax. Esta determinação pode ser feita através do respirograma. Determina-se o momento em que a TCO exógena é metade da máxima e, em seguida, identifica-se o valor da área que corresponde ao oxigênio consumido para a utilização do substrato residual e, portanto, a amônia e/ou nitrito residual, através da soma de trapézios, e calcula-se a concentração do substrato amônia e/ou nitrito como a razão do valor da área hachurada (Figura 3.18). Figura 3.18: Área para o cálculo da constante de meia saturação do substrato das bactérias autotróficas As constantes cinéticas das bactérias autotróficas nitrificantes foram submetidas a teste Tukey em nível de significância de 5%, com o intuito de avaliar o desempenho entre sistemas e etapas de operação. 63 CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 Introdução Neste capítulo são apresentados e analisados os dados obtidos durante a fase experimental considerando o desempenho operacional e os parâmetros relevantes dentro do contexto da cinética de sistemas de lodo ativado, referentes aos processos de remoção de material orgânico e nutrientes (nitrogênio e fósforo) em três sistemas de lodo ativado (RBSunitário, RBS- airlift e UCT). Também serão expostos e discutidos dados de atividade metabólica das bactérias heterotróficas e autotróficas e as constantes de utilização do material orgânico e de nitrificação, obtidos por meio de testes respirométricos. A maior parte dos dados foi organizada em valores médios dos valores determinados experimentalmente, sendo também apresentado, para cada média, os valores máximos, mínimos, desvio padrão (DP) e coeficiente de variação (CV) e, na etapa de capacidade metabólica, foi utilizado o teste deTukey, num nível de significância de 5%, para comparar as características entre reatores e fases de tratamento. O período experimental da pesquisa compreendeu duas etapas: Etapa I – tratando essencialmente esgoto de Campina Grande – PB, com carga orgânica baixa, e Etapa II- esgoto modificado com carga orgânica alta. 4.2 Composição do esgoto e carga volumétrica Na primeira etapa, os sistemas foram alimentados essencialmente com esgoto bruto de Campina Grande – PB sob os seguintes parâmetros operacionais: 4 bateladas por dia e volume por batelada de 8 L, tempo de detenção hidráulica (TDH) de 11 horas e idade lodo de 20 dias para os sistemas em bateladas, unitários e airlift, e UCT com TDH de 29 horas e idade de lodo de 20 dias. A composição do esgoto influencia significativamente no tratamento, principalmente quando se consideram sistemas de lodo ativado, pois os processos de remoção de matéria orgânica e nutrientes são realizados a partir das condições de tratamento e presença de substratos em proporções adequadas. A Tabela 4.1 mostra os valores típicos encontrados no esgoto bruto de Campina Grande – PB durante a primeira etapa da pesquisa e concentrações 64 tipicamente encontrados em esgoto sanitário de acordo com Metcalf & Eddy (2003) e Jordão e Pessôa (2011) caracterizado como esgoto médio. Tabela 4.1: Composição do esgoto bruto tratado Esgoto Bruto Variáveis (mgDQO/L) DQO (mgN-NTK/L) NTK + + (mgN-NH Amônia (NH4 ) 4 /L) (mgN-NO3-/L) Nitrato (mgN-NO2-/L) Nitrito (mgP/L) Fósforo Total (mgP-PO4/L) Ortofosfato pH (mgCaCO3/L) Alcalinidade Total Alcalinidade HCO3 (mgCaCO3/L) (mgCaCO3/L) AGV ND - Não detectado 363 ± 90 46 ± 7 39 ± 7 ND ND 7±2 5±2 7,2 ± 0,3 357 ± 41 303 ± 44 92 ± 37 METCAF & EDDY (2003) Médio 430 40 25 0 0 7 5 7 - JORDÃO E PESSÔA(2011) Médio 400 40 20 0,05 0,2 10 6 6,5-7,5 - Em termos de DQO, a matéria orgânica é dividida em duas grandes frações, a biodegradável e a não biodegradável que se subdividem em solúvel e particulada. A partir do método apresentado no Item 3.6.2, foi possível quantificar as frações presentes no esgoto de Campina Grande – PB. A partir do respirograma da Figura 4.1, verifica-se que o material biodegradável solúvel, representado pela área AI, foi consumido rapidamente e que o material biodegradável particulado, representado pela área AII, foi consumido de forma mais lenta. O consumo do oxigênio apresentado pelo respirograma apresenta a quantidade de oxigênio utilizado no catabolismo. De acordo com van Haandel e Marais (1999) esse consumo representa 33% do consumo do material biodegradável, dessa forma, a concentração da mesma é calculada a partir das proporções encontradas no respirograma. Por outro lado, a concentração de fus é encontrada por meio da proporção da DQO não consumida pelo sistema de lodo ativado, uma vez que a proporção de material não biodegradável solúvel não é consumida. Com isso, a proporção do material não biodegradável particulada é determinada por diferença. Como exemplo de determinação das frações biodegradáveis da primeira etapa, utilizando o roteiro de cálculo do apêndice A, tem-se para Figura 4.1 uma DQO afluente 150 mgDQO/L: 65 A partir do respirograma calculou-se, em planilha Excel, as áreas de consumo de oxigênio que é 1/3 da DQO consumida, com 10 mgO2/L para o material biodegradável solúvel e 7 mgO2/L para material biodegradável particulado, que correspondem, respectivamente, a 30 mgDQO/L e 21 mgDQO/L, assim encontra-se 51 mgDQO/L biodegradável de 150 mgDQO/L, que, em porcentagem, representam 33% de material biodegradável, com 19 % solúvel e 14% particulado. De acordo com a remoção de DQO do sistema de lodo ativado, foi determinada a proporção de material não biodegradável solúvel que corresponde a fus, a partir da relação DQOefluente/DQOafluente. Com valores de 80 mgDQO/L efluente e 310 mgDQO/L afluente, 25% do material é não biodegradável solúvel Sabendo que 33% do material orgânico são biodegradáveis e 25% são não biodegradáveis solúvel, encontram-se 41% de material não biodegradável particulado (fup = 0,41). Esses valores estão apresentados na Figura 4.2. Figura 4.1: Respirograma obtido durante teste em batelada com esgoto bruto de Campina Grande -PB para caracterização das frações biodegradáveis afluentes. 66 Figura 4.2: Fluxograma da composição do material orgânico do esgoto utilizado na primeira etapa Material orgânico 100% Não Biodegradável 67% Biodegradável 33% Solúvel 19% Particulado 14% Solúvel 25% Particulado 41% Fonte: Elaboração do autor. As proporções encontradas no esgoto estudado não representam os valores típicos encontrados em esgotos sanitários. Muitos estudos mostram proporções totalmente diferentes das encontradas nesta pesquisa com uma parcela muito elevada de material não biodegradável (63%). Santos (2009), apresenta que cerca de 75% do material orgânico do esgoto de Campina Grande - PB era biodegradável com frações de material não biodegradável solúvel (fus) de 0,11 e particulado (fup) de 0,14, valores próximos às proporções de Silva Filho (2003) que apresentou valores de 80% biodegradável e fus de 0,15 e fup de 0,05. A Tabela 4.2 mostra as cargas volumétricas aplicadas para cada sistema em termos de material orgânico (DQO), nitrogênio na forma de NTK e fósforo total. Os reatores em batelada, unitário e airlift, foram submetidos às mesmas cargas, enquanto que o sistema UCT trabalhou com cargas reduzidas quando comparadas aos mesmo, pois, geralmente, os sistemas em batelada têm capacidade de tratamento superior aos sistemas contínuos. Tabela 4.2: Cargas volumétricas aplicadas aos sistemas de lodo ativado na primeira etapa I Etapa - Carga volumétrica RBSRBS- Airlift UCT unitário DQO (gDQO/m3.d-1) NTK (gN-NTK/m3.d-1) P - total (gP/m3.d-1) 775,0 99,8 15,1 775,0 99,8 15,1 297,8 38,4 5,8 Na segunda etapa da pesquisa foi utilizado esgoto enriquecido com uma mistura de arroz e feijão cozidos e triturados adicionados ao esgoto de Campina Grande - PB, e 67 mudanças operacionais como aumento no número de bateladas de 4 para 5 nos RBS com volume de 8 L por batelada tendo-se assim o TDH de 9 horas, e idade de lodo de 20 dias. No UCT o TDH foi reduzido a para 20 horas e a idade lodo permaneceu a mesma. A Tabela 4.3 apresenta os valores encontrados do esgoto com adição de material orgânico utilizado na segunda etapa da pesquisa, evidenciando que as concentrações seguiram praticamente os mesmos valores, exceto, a matéria orgânica e fósforo total. Tabela 4.3: Composição do esgoto típico da segunda etapa Variaveis Concentrações no Esgoto (mgDQO/L) DQO 679 ± 156 (mgN-NTK/L) NTK 52 ± 10 (mgN-NH 4+/L) Amônia (NH4+) 36± 9 (mgN-NO3 /L) Nitrato ND (mgN-NO2 /L) Nitrito ND (mgP/L) Fósforo Total 10 ± 3 (mgP-PO4/L) Ortofosfato 6±1 pH 7,0 ± 0,3 (mgCaCO /L) Alcalinidade Total 383± 68 3 (mgCaCO3/L) Alcalinidade HCO3 272± 26 (mgCaCO3/L) AGV 103± 30 ND- Não detectado Com a modificação na composição do esgoto, as frações do material orgânico também sofreram mudanças e novos valores foram encontrados. Seguindo o mesmo método para determinar as frações do esgoto, o respirograma ilustrado na Figura 4.3 mostra a áreas referentes ao material biodegradável solúvel (AI) e o material particulado (AII). Figura 4.3: Respirograma obtido durante teste em batelada com esgoto bruto de Campina Grande -PB para caracterização das frações biodegradáveis afluentes da etapa II. 68 Dessa forma, foi possível determinar as proporções do material orgânico característicos da segunda etapa. Como esperado, as frações encontradas a partir do teste apresentaram proporções superiores à primeira etapa, como mostra a Figura 4.4. Figura 4.4: Fluxograma da composição do material orgânico do esgoto utilizado na segunda etapa Material orgânico 100% Não Biodegradável 39% Biodegradável 61% Solúvel 13% Particulado 48% Solúvel 12% Particulado 27% Com as mudanças operacionais e nas concentrações na água residuária utilizada nos sistemas para tratamento, a carga volumétrica aplicada nessa etapa aumentou substancialmente como mostra a Tabela 4.4. Tabela 4.4: Cargas volumétricas aplicadas aos sistemas de lodo ativado na segunda etapa II Etapa - Carga volumétrica RBSRBS- Airlift UCT unitário DQO (gDQO/m3.d-1) NTK (gN-NTK/m3.d-1) P - total (gP/m3.d-1) 1925,3 138,7 26,7 1925,3 138,7 26,7 887,7 63,9 12,3 O desempenho do sistema é avaliado a partir da sua estabilidade que, por sua vez, está relacionada à constância dos valores de sólidos no mesmo. As Figuras 4.5, 4.6 e 4.7 mostram o comportamento dos sistemas, nas duas etapas, referentes a Sólidos Suspensos Totais (SST) e Sólidos Suspensos Voláteis (SSV). 69 Sólidos mg/L Figura 4.5: Comportamento da concentração de sólidos- RBS- unitário 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Etapa II Etapa I SST SSV 1 8 15 22 29 36 43 50 57 Dias 64 71 78 85 92 99 106 Sólidos mg/L Figura 4.6: Comportamento da concentração de sólidos- RBS- airlift 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Etapa II Etapa I SST SSV 1 8 15 22 29 36 43 50 57 Dias 64 71 78 85 92 99 106 Sólidos mg/L Figura 4.7: Comportamento da concentração de sólidos- UCT 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Etapa I SST Etapa II 1 8 SSV 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 106 Dias Observa-se no comportamento dos sistemas um aumento de concentração significativo da primeira para a segunda etapa, indo ao encontro da afirmação de van Haandel e Marais 70 (1999) que o funcionamento do metabolismo bacteriano ocorre em função da quantidade de matéria orgânica e dos nutrientes aplicados no sistema. Na etapa I os sistemas RBS - unitário e RBS - airlift produziram muito mais lodo que o sistema UCT chegando a concentrações médias de 1707,4 mgSSV/L, 1292,6 mgSSV/L e 830,9 mgSSV/L, respectivamente. Esse contraste pode ser atribuído à diferença de TDH dos sistemas em bateladas (11 horas), enquanto que o contínuo trabalhava num regime de 29 horas, verificado na segunda etapa. Comparativamente, a produção de lodo não correspondeu às pré-estabelecidas pelo modelo descrito por Van Handel e Marais (1999) utilizando as frações de matéria orgânica determinadas pelos testes respirométricos, da primeira e segunda etapa. Os valores teóricos (Tabela 4.6) foram diferentes dos encontrados experimentalmente, principalmente na segunda etapa, podendo estes ser atribuídos à presença de lodo no efluente descarregado no processo de alimentação/descarte dos sistemas em batelada. Quando analisados os valores estatísticos das concentrações de SST e SSV do licor misto dos sistemas experimentais estudados. Foi observado que os valores de concentração de SST e SSV mantiveram coeficientes de variação entre 0,1 e 0,2 durante todo o período de monitoramento, como mostram as Tabelas 4.5 e 4.6. Tabela 4.5: Concentrações de SST do licor misto dos sistemas de lodo ativado RBS -unitário, RBS-airlift e UCT referentes às duas etapas de monitoramento. SST (mg/L) Média DP CV Max Min I Etapa RBS Coluna de Bolha 2352 527 0,2 3246 1548 II Etapa RBS Airlift 1800 379 0,2 2640 1472 UCT 1098 204 0,1 1548 826 RBS Coluna de Bolha 3488 908 0,2 5592 2892 RBS Airlift UCT 3516 574 0,1 4454 2966 3783 431 0,1 4206 2966 71 Tabela 4.6: Concentrações de SSV do licor misto dos sistemas de lodo ativado RBS -unitário, RBS-airlift e UCT referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa RBS Coluna de RBS SSV (mg/L) Bolha Airlift Média 1707 1257 DP 255 207 CV 0,1 0,1 Max 2044 1614 Min 1186 854 Valores teóricos 1900 1900 II Etapa UCT 831 171 0,2 1156 578 1400 RBS Coluna de Bolha 2579 314 0,1 3054 2254 3300 RBS Airlift UCT 2554 626 0,2 3516 1598 3300 2816 506 0,1 3392 1990 3000 4.3 Desempenho dos sistemas A Figura 4.8 e a Tabela 4.7 apresentam o comportamento das concentrações de DQO afluente e efluente dos sistemas estudados, em que se observa uma diferença significativa da concentração de DQO afluente entre etapas. Foi observado que a concentração afluente na etapa I apresentou um coeficiente de variação de 0,1enquanto que na etapa II foi de 0,3. Figura 4.8: DQO afluente e efluente dos sistemas experimentais em função do período de monitoramento 900 800 700 mgDQO/L 600 500 Afluente Etapa I 400 Etapa II RBS -Unitário RBS- Airlift 300 UCT 200 100 0 1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 Dias 72 Tabela 4.7: Concentrações de DQO afluente e efluente dos sistemas experimentais de referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa II Etapa DQO (mg/L) Afluente RBS unitário RBS Airlift UCT Afluente RBS unitário Média DP CV Max Min 302 42 0,1 366 229 58 10 0,2 75 43 68 25 0,3 105 25 84 67 0,8 236 25 649 156 0,2 808 426 65 43 0,7 139 7 RBS UCT Airlift 66 38 0,6 110 16 52 32 0,6 92 15 A análise de eficiência dos sistemas mostrou que, na etapa I, os sistemas não apresentaram uma boa eficiência, como geralmente apresentam esses tipos de sistemas, acima de 90% (NÓBREGA, 2009; SILVA, 2009; SANTOS, 2009). As eficiências foram RBSunitário 82%, RBS-airlift 79% e o UCT 83%. Esses valores podem ser justificados pela grande quantidade de material não biodegradável solúvel presente no esgoto tratado. Devido à baixa concentração de matéria orgânica biodegradável, a geração de lodo foi reduzida e, consequentemente, os processos de desnitrificação e biodesfosfatação ficaram prejudicados, pois uma alta concentração de lodo ativo é instrumental para o desenvolvimento dos dois processos. Em contrapartida, na segunda etapa os sistemas apresentaram percentuais de remoção próximos aos encontrados na literatura: RBS- unitário 91%, RBS- airlift 91% e UCT 93%, respectivamente, com concentrações médias inferiores a 100 mgDQO/L nos efluentes. Normalmente, as bactérias autotróficas, responsáveis pela nitrificação, têm crescimento mais lento que as bactérias heterotróficas, portanto requerem uma idade de lodo maior. As Figuras 4.9, 4.10 e 4.11 mostram os valores encontrados de NTK afluente, NTK efluente nitrito e nitrato dos sistemas estudados. No sistema contínuo o processo de nitrificação foi eficiente desde o início da operação. No entanto, nos RBS a nitrificação acabou se estabelecendo só depois de um período longo de operação, possivelmente devido à aeração insuficiente. 73 mgN/L Figura 4.9: Gráfico do comportamento das frações de nitrogênio – RBS-unitário 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Etapa I Etapa II NTK afluente NTK efluente NO2 NO3 1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 106 Dias Figura 4.10: Gráfico do comportamento das frações de nitrogênio – RBS-airlift 80 70 Etapa I mgN/L 60 Etapa II 50 NTK afluente 40 NTK efluente 30 NO2 20 NO3 10 0 1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 106 Dias Figura 4.11: Gráfico do comportamento das frações de nitrogênio – UCT 80 70 Etapa I mgN/L 60 Etapa II 50 NTK afluente 40 NTK efluente 30 NO2 20 NO3 10 0 1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 106 Dias 74 Os problemas com a nitrificação, na primeira etapa, refletiram consideravelmente nos percentuais de remoção de NTK e amônia, como mostram as Tabelas 4.8 e 4.9, inclusive quando se trata na comparação com valores encontrados na literatura. Derks (2007), Nóbrega (2009), Silva Filho (2009) e Santos (2009) encontraram percentuais de remoção de nitrogênio nas formas de NTK e amônia acima de 90%. Logo após a mudança de operação, o RBS – airlift e o UCT apresentaram uma pequena queda de eficiência na nitrificação, o que pode ser justificado pelo aumento de esgoto tratado, porém, após duas semanas as populações se estabilizaram e mantiveram uma boa conversão. Tabela 4.8: Concentrações de NTK afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. NTK Afluente Média Remoção (%) DP CV Max Min 43 6,7 0,1 57 37 I Etapa RBS unitário 13 70 7,2 0,5 21 2 RBS UCT Afluente airlift 17 6 52 60 86 15,0 5,0 10,6 0,8 0,8 0,2 41 17 69 2 2 40 II Etapa RBS RBS unitário airlift 2 9 96 83 0,3 9,3 0,1 1,0 2,8 26 2,2 1,1 UCT 4 92 3,4 0,7 11 1,7 Tabela 4.9: Concentrações de amônia afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. Amônia Afluente (mg/L) 36 Média Remoção 8 DP 0,2 CV 50 Max 29 Min I Etapa RBS RBS unitário airlift 12 13 67 64 8 14 0,6 1,0 21 39 0,56 1,68 UCT Afluente 2 93 2,0 0,8 6 0,5 36 8 0,2 47 22 II Etapa RBS RBS unitário airlift 1 8 96 78 0,4 10 0,3 1,2 2 25 0,6 1,1 UCT 3 91 4 1,3 10 0,6 75 Nas Tabelas 4.10 e 4.11 estão expostas as concentrações de NO2- e NO3-, respectivamente, representadas pela média, desvio padrão, coeficiente de variação e valores máximos e mínimos. Pode-se observar que, em todos os sistemas, a concentração de nitrito era muito baixa, o que indica que à temperatura da investigação (25 oC) a taxa de nitratatção era igual ou superior à de nitritação A principal diferença encontrada entre sistemas é a baixa concentração de NO3- nos efluentes do RBS- airlift e UCT, concentrações próximas a 5 mgN- NO3-/L, enquanto que o RBS – unitário se mantém com valores superiores a 15 mgN- NO3-/L em quase todo o tempo da pesquisa. Os fatores que se pode associar a essa elevada concentração de nitrato são: (1) elevada concentração de oxigênio dissolvido (> 3mgOD/L) e (2) regime operacional com 78% do tempo do ciclo em ambiente aeróbio, não proporcionando o processo de desnitrificação. Tabela 4.10: Concentrações de nitrito no efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa Nitrito -/L) (mgN- NO2 Média DP CV Max Min RBS unitário 4,9 2,0 0,4 28,9 0,0 II Etapa RBS airlift 1,2 0,7 0,6 2,3 0,2 UCT 1,3 0,4 0,3 5,3 0,2 RBS unitário 0,3 0,1 0,4 0,5 0,1 RBS airlift 0,5 0,3 0,6 1,1 0,2 UCT 1,0 0,5 0,5 1,7 0,5 Tabela 4.11: Concentrações de nitrato no efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa Nitrato -/L) (mgN- NO3 Média DP CV Max Min RBS unitário 8,6 5,4 0,6 17,0 0,3 II Etapa RBS airlift 7,9 3,8 0,5 12,3 2,1 UCT 8,9 3,4 0,4 15,6 1,6 RBS unitário 13,5 2,7 0,2 16,8 9,1 RBS airlift 5,1 1,7 0,3 6,7 2,7 UCT 3,4 0,5 0,2 4,0 2,8 Os valores de pH do afluente e efluente dos sistemas estudados foram próximos de uma faixa de neutralidade, entre 6,5 e 8,36, para a atividade biológica e se mantiveram pouco 76 variáveis durante todas as etapas de monitoramento. Essa estabilidade perto da neutralidade foi relacionada à disponibilidade suficiente de alcalinidade afluente que permitiu a tamponação do efluente no período de nitrificação que, normalmente, é responsável pelo consumo da mesma reduzindo, assim, o pH. Pode-se notar que a alcalinidade nos sistemas diminuiu devido à nitrificação, porém não chegou a causar instabilidade do pH, porque permaneceu muito maior que 50 ppm CaCO3, o suficiente para a promoção eficiente dos processos biológicos em todos os sistemas, conforme mostrado na tabelas 4.12. Tabela 4.12: Alcalinidade total afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa II Etapa RBS RBS Alcalinidade RBS RBS Afluente Coluna de UCT Afluente Coluna de total Airlift Airlift Bolha Bolha 383 208 209 172 383 168 220 Média 28 51 66 24 69 18 51 DP 0,07 0,2 0,3 0,1 0,2 0,1 0,2 CV 445 269 323 209 532 203 294 Max 358 104 128 147 327 147 159 Min UCT 213 30 0,1 234 149 Na Tabela 4.13 estão expostos os valores estatísticos das concentrações de fósforo total do afluente e efluente dos sistemas experimentais estudados. De maneira geral, os valores médios do afluente obtiveram baixos coeficientes de variação nas duas etapas de monitoramento, com percentuais abaixo de 20 %. Em contrapartida os valores médios do efluente de todos os sistemas estudados foram elevados nas duas etapas de monitoramento, indicando instabilidade de todos os sistemas estudados na remoção de fósforo total. Essa instabilidade pode ser atribuída a concentrações baixas de material orgânico na primeira etapa e a competição por ele no processo de desnitrificação na segunda etapa. 77 Tabela 4.13: Fósforo total afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. P-total (mg/L) Média DP CV Max Min I Etapa RBS RBS Afluente Coluna de Airlift Bolha 7 2 4 1 2 3 0,1 0,6 0,7 9 4 10 5 0,3 0,2 UCT Afluente 3 2 0,5 5 0,8 10 2 0,2 11 7 II Etapa RBS RBS Coluna Airlift de Bolha 6 1 3 0,5 0,5 0,5 10 1 2 0,3 UCT 1 0,4 0,5 1 0,3 Tabela 4.14: Ortofosfato afluente e efluente dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa II Etapa RBS RBS Ortofosfato RBS RBS Afluente Coluna de UCT Afluente Coluna de (mg/L) Airlift Airlift Bolha Bolha 5 2 3 2 6 3 1 Média 1 1,46 2,87 1,66 2 2 0,5 DP 0,2 0,7 0,9 0,8 0,3 0,7 0,2 CV 6,15 3,73 9,66 4,70 8,04 5,16 0,80 Max 3,40 0,18 0,22 0,14 3,86 0,73 0,46 Min UCT 0,5 0,5 0,7 0,73 0,12 Analisando o comportamento dos sistemas e suas configurações, com o aumento da carga orgânica, consequentemente o acréscimo da disponibilidade de material orgânico da etapa I para a etapa II, os sistemas RBS-airlift e UCT apresentaram uma remoção significativa tanto em termos de fósforo total quanto ortofosfato apresentando concentrações de 1 mgP/L no efluente, como mostram as tabelas 4.13 e 4.14. Dessa forma, na segunda etapa as configurações tiveram papel fundamental para esse resultado, uma vez que o ambiente R1 (anaeróbio) do UCT e o reator anóxico do RBS-airlift proporcionaram o processo de biodesfosfatação. O mesmo não se verificou no reator unitário, pela alta concentração de nitrato no fim do ciclo. Nóbrega (2009) constatou a mesma remoção com a operação de um sistema RBS semelhante ao operado nesta pesquisa, obtendo uma relação de 0,02 mgP/mgDQO aplicada com 75% do material orgânico biodegradável. Nos sistemas experimentais operados foi observada, na etapa I, uma relação de 0,02 mgP/mgDQO para RBS-unitário, 0,015 mgP/mgDQO para RBS-airlift e 0,02 mgP/mgDQO para UCT, com apenas 40% de material orgânico biodegradável e na etapa II 0,005 mgP/mgDQO para RBS-unitário, 0,015 78 mgP/mgDQO para RBS-airlift e 0,015 mgP/mgDQO para UCT com 62% do material orgânico biodegradável. Van Haandel e Marais (1999), expõem que, para lodo sem presença de bactérias acumuladoras de fósforo, a relação de mgP/mgDQO removidos é de 0,005 para esgoto bruto e idade de lodo de 20 dias, assim, exceto o RBS - unitário na etapa II, todos os sistemas apresentaram valores superiores aos encontrados pelo autor 4.3.1 Sedimentabilidade dos sistemas Nas Tabelas 4.15 e 4.16 são apresentados os valores estatísticos do Índice Volumétrico de Lodo – IVL30 e as constantes de Vesilind (Vo – velocidade e k-adensamento), referentes à sedimentabilidade do lodo gerado nos sistemas experimentais. Para o IVL30, observa- se que na etapa I o coeficiente de variação foi pequeno para todos os sistemas, com destaque para os sistemas RBS unitário e airlift, que obtiveram médias relativamente menores do que as do sistema contínuo. Na etapa II, os valores dos sistemas RBS apresentaram um aumento no coeficiente de variação, consequente do aumento do seus valores médios quando comparado com a etapa I (de 77 ml/L para 95,62 ml/L). Os valores do sistema UCT reveleram um baixo coeficiente de variação, embora tenha ocorrido um aumento do valor médio de 183 ml/L para 208,83 ml/L. As constantes de sedimentabilidade apresentaram comportamento diferenciado entre etapas e entre sistemas. De modo geral, o sistema RBS - unitário obteve uma perda de qualidade na transição para a etapa II adquirindo valores semelhantes aos dos demais sistemas avaliados. No RBS - airlift, o valor médio de k permaneceu o mesmo nas duas etapas de monitoramento, não havendo mudança na transição das mesmas. No sistema UCT houve uma pequena diminuição do valor médio, resultando em uma pequena melhora na característica de sedimentação. Tabela 4.15: Constantes de sedimentabilidade na Etapa I I Etapa RBS-unitário Média DP CV Max Min k 0,32 0,03 0,08 0,36 0,28 Vo 11,09 2,48 0,22 14,2 7,8 IVL30 77,1 14,6 0,2 99,2 10,3 RBS-airlift k 0,44 0,04 0,10 0,54 0,41 Vo 11,73 3,23 0,28 15,8 6,8 UCT IVL30 107,3 14,2 0,1 135,9 15,4 k 0,46 0,07 0,16 0,58 0,36 Vo 8,46 1,38 0,16 10,9 6,7 IVL30 182,6 32,7 0,2 325,5 16,5 79 Tabela 4.16: Constantes de sedimentabilidade na Etapa II II Etapa RBS-unitário RBS-airlift UCT Média DP CV Max Min k 0,42 0,03 0,06 0,38 0,47 Vo 13,09 2,43 0,2 9,2 13,1 IVL30 85,5 16,8 0,2 101,4 55,3 K 0,45 0,06 0,14 0,37 0,58 Vo 16,66 3,26 0,2 10,3 16,7 IVL30 102,3 27,8 0,3 132,6 44,9 k 0,43 0,06 0,14 0,32 0,51 Vo 11,75 1,98 0,17 9,1 11,8 IVL30 208,8 31,7 0,2 255,8 151,7 4.4 Testes respirométricos para determinação dos parâmetros cinéticos das bactérias heterotróficas e autotróficas Para identificar a capacidade metabólica dos lodos gerados nos sistemas RBS-unitário, RBS- airlift e UCT foram feitos testes respirométricos com o intuito de determinar parâmetros cinéticos característicos das bactérias heterotróficas, responsáveis pela oxidação da matéria orgânica, e das autotróficas, responsáveis pelo processo de nitrificação. Foi determinada a velocidade do metabolismo, através da Taxa de Consumo de Oxigênio ,utilizando substratos específicos para cada tipo de população: acetato de sódio como fonte de material orgânico para determinar a cinética das bactérias heterotróficas; cloreto de amônio, fonte de material nitrogenado para as bactérias nitrificantes e nitrito de sódio, fonte de material nitrogenado para as bactérias nitratadoras, conforme ilustrado na Figura 4.12. Figura 4.12: Respirograma para determinar o metabolismo das bactérias heterotróficas e autotróficas 80 O desempenho metabólico das populações bacterianas dos sistemas experimentais de lodo ativado foi avaliado sob duas óticas: (1) a influência da carga aplicada e da operação dos sistemas e (2) a comparação da atividade da biomassa em sistemas de regimes hidráulicos diferentes. Esta avaliação foi feita tanto para as bactérias heterotróficas como para as autotróficas. 4.4.1 Metabolismo das bactérias heterotróficas A partir dos testes respirométricos com a determinação da Taxa de Consumo de Oxigênio é possível determinar várias particularidades do metabolismo do material orgânico pela biomassa do lodo: a fração catabólica do material orgânico, a concentração de lodo ativo, constantes de crescimento máximo e de utilização específica de material orgânico, TCO específica e constante de meia saturação. O perfil de TCO apresentado nos testes respirométricos dos sistemas experimentais em batelada e contínuo quando usado o acetato de sódio como substrato, mostrou um comportamento diferenciado aos encontrados na literatura. Em lodos com bactérias ordinárias, depois de consumido o material extracelular adicionado no teste a TCO volta imediatamente ao valor de TCO endógena, como mostra a Figura 4.13. Em contrapartida, os testes respirométricos dos sistemas RBS - unitário, RBS - airlift e UCT depois de atingir o valor máximo de TCO exógena referente à utilização do material externo, a TCO cai repentinamente para um valor mais baixo que a máxima, mas superior à respiração endógena, diminuindo gradualmente até o valor original da respiração endógena. A Figura 4.14 apresenta o perfil do sistema RBS – airlift no dia 25/06/13 mostrando esse comportamento que é comum para os três sistemas durante as duas etapas de tratamento. 81 Figura 4.13: Perfil típico da TCO obtido com respirômetro na adição de duas cargas de substrato solúvel a uma batelada de lodo ativado de bactérias convencionais (adição de 2*60 mgDQO/L) Fonte: van Haandel e Catunda,2014. Figura 4.14: Respirograma ilustrando o perfil da TCO obtido com respirômetro na adição de substrato de sódio com lodo do sistema RBS-airlift (25/06/13). Van Haandel e Catunda (2014) afirmam que existe uma diferença entre o comportamento da utilização do oxigênio para lodos convencionais e com presença de bactérias acumuladoras de fósforo (poli-P). Em lodos com a presença de poli-P, parte do 82 material orgânico é utilizado por bactérias ordinárias, enquanto outra parte é absorvida pelas poli-P, armazenada como polihidroxidobutirato (PHB) e consumido na falta de material externo. Em lodos convencionais todo o material é consumido de uma só vez. Assim, com as figuras apresentadas anteriormente, o comportamento diferenciado do consumo de material orgânico solúvel está relacionado às populações presentes na biomassa dos sistemas operados. Esses fatores afetam significativamente a determinação da fração catabólica e da constante de meia saturação, parâmetros cinéticos estabelecidos pelo modelo desenvolvido por van Haandel e Marais (1999). A fração catabólica (fcat) é determinada utilizando a respirometria através do consumo de oxigênio para a respiração exógena, ou seja, é a proporção da quantidade de oxigênio utilizado pela quantidade de material orgânico utilizado no teste, em mgDQO/L. A Figura 4.15 ilustra o consumo de oxigênio pelas populações bacterianas para oxidação da matéria orgânica em três bateladas de acetato de sódio na concentração de 120 mgDQO/L. Observa-se que o consumo do oxigênio total apresenta valores de 43 mgO2/L, 42,8 mgO2/L e 44,2mgO2/L, respectivamente, correspondendo a frações catabólicas de 0,36. Dessa forma, utilizando o consumo total das bactérias os valores calculados se aproximam do encontrado em lodos convencionais que é 0,33. Figura 4.15: Interpretação do perfil típico da TCO de lodo que tem bactérias heterotróficas. O lodo ativo (Xa) é a parcela da biomassa composta por bactérias vivas que efetivamente realizam o metabolismo, desenvolvendo-se e decaindo continuamente. A 83 estimativa do lodo ativo é feita por meio da atividade das bactérias na falta de substrato, momento da TCO endógena (TCOend). Para a determinação do Xa foi utilizada a Equação 3.7 com valores de fcv = 1,5 mg SVS/mgDQO, f = 0,2 e decaimento estipulado com bh = 0,24(1,04)(t-20) d-1, levando em consideração que a temperatura permanecia próximo a 25°C. A Tabela 4.17 apresenta os dados de TCOend para os lodos dos sistemas RBS-unitário, RBS-airlift e UCT. Percebe-se que a TCOend dos sistemas RBS apresenta valores maiores que no sistema contínuo nas duas etapas com valores de coeficientes de variação baixos. Essa mesma avaliação pode ser feita para os valores de Xa (Tabela 4.18), pois, como mostrado anteriormente, há dependência entre os mesmos (Equação 3.7). Os sistemas RBS- unitário e RBS – airlift, durante as duas etapas apresentaram as mesmas faixas de concentrações de Xa, mesmo com o aumento da carga volumétrica aplicada na segunda etapa da pesquisa. Por outro lado, o sistema UCT mostrou um aumento na concentração de lodo ativo da etapa I para etapa II. Tabela 4.17: TCOend dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. Etapa I TCOend (mgDQO/L/h) Média DP CV Máximo Mínimo Número de testes RBSunitário 14,1 2,7 0,2 14,1 10,2 10 Etapa II RBSairlift 14,7 2,5 0,2 14,7 10,1 10 RBSUCT unitário 6,7 15,8 1,8 2,1 0,3 0,1 6,7 15,8 4,5 13,9 10 4 RBSairlift 13,9 2,3 0,2 13,9 11,7 4 UCT 10,0 1,7 0,2 10,0 8,1 4 Tabela 4.18: Lodo ativo (Xa) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. Etapa I RBSXa(mgXa/L) unitário Média 976,2 DP 197,7 CV 0,2 Máximo 976,2 Mínimo 696,6 Número de testes 10 Etapa II RBSairlift 1003,6 177,0 0,2 1003,6 671,8 10 UCT 509,7 184,7 0,4 509,7 302,7 10 RBSunitário 1186,8 230,1 0,2 1186,8 1018,5 4 RBSairlift 953,0 155,3 0,2 953,0 798,6 4 UCT 721,5 169,1 0,2 721,5 554,1 4 84 Levando em consideração o modelo descrito por van Haandel e Marais (1999), a estimativa dos valores de lodo ativo, na primeira etapa, é de 0,98 gXa/L para os sistemas em batelada e 0,35 gXa/L para o sistema contínuo; na segunda etapa, o modelo estima a concentração de 1,3 gXa/L para os sistemas em batelada e 0,97 gXa/L para o sistema contínuo Dessa forma, percebe-se que os valores determinados via respirometria são próximos aos estimados pelo modelo. O valor de TCOexo normalmente é expresso na forma de TCOesp, quando determinada a proporção da taxa de consumo de oxigênio por grama de lodo ativo (Xa), apresentado na Tabela 4.19. Os valores encontrados são relacionados aos dois parâmetros discutidos anteriormente, uma vez que os sistemas RBS-unitário e RBS-airlift apresentaram médias relativamente maiores que o UCT na etapa I e na etapa II. O sistema RBS - unitário aumentou as médias de 60 mgDQO/gXa/h para 90,8 mgDQO/gXa/h, aumentando numa proporção de 34% como os demais sistemas, de 56 mgDQO/gXa/h para 87,5mgDQO/gXa/h (RBS-airlift) e 51,1 mgDQO/gXa/h para 79,9 mgDQO/gXa/h (UCT). Tabela 4.19: TCO específica (TCOesp) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. Etapa I TCOesp (mgDQO/gXa/h) Média DP CV Máximo Mínimo Número de testes RBSunitário 60,0 10,9 0,2 76,5 43,3 10 RBSairlift 59,5 10,8 0,2 85,8 46,2 10 Etapa II UCT 51,1 11,4 0,2 70,0 30,6 10 RBSunitário 90,8 6,4 0,1 97,8 85,2 4 RBSairlift 87,5 13,3 0,2 101,2 74,7 4 UCT 79,9 13,7 0,2 95,4 69,6 4 As constantes cinéticas do metabolismo das bactérias heterotróficas são determinados a partir dos dados encontrados de TCOexo. Os valores estatísticos das constantes de utilização de substratos (Kms) e de crescimento (µm) dos sistemas de lodo ativado nas duas etapas de monitoramento estão apresentados nas Tabelas 4.20 e 4.21. Conforme descrito no Capítulo 3 Materiais e Métodos, os resultados de µm foram submetidos a tratamento estatístico descritivo e ao teste de Tukey em nível de 5% de significância. Os valores estão expressos em valores médios, desvio padrão, coeficiente de variação, máximo e mínimo, com as médias classificadas por letras, conforme a diferença estatística apresentada entre etapas (letras 85 maiúsculas) e confronto entre sistemas (letras minúsculas). Os dados utilizados para realização da análise estatística estão apresentados no Apendice B. Os sistemas apresentaram valores de Kms e µm semelhantes quando comparados entre si e diferença estatística quando confrontadas nos dois períodos de operação. De acordo com esse comportamento, percebe-se que a composição do esgoto e a carga aplicada têm mais influência sobre o metabolismo das bactérias heterotróficas do que a configuração dos sistemas. Tabela 4.20: Constante de utilização do substrato (Kms) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. II Etapa I Etapa Kms RBSRBSRBSRBS(mgDQO/mgXa/d) unitário airlift UCT unitário airlift UCT aA aA aA aB aB Média 6,5 5,9 6,0 7,4 6,7 8,3 aB DP 1,1 0,8 1,4 0,9 0,5 0,3 CV 0,2 0,1 0,2 0,1 0,1 0,1 Máximo 8,2 7,8 8,2 8,2 7,1 8,4 Mínimo 4,8 4,9 4,5 6,4 6,0 7,9 Número de testes 10 10 10 4 4 4 Obs: Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de significância de 5%. Tabela 4.21: Constante de crescimento (µm) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa RBSµm(d ) unitário aA Média 2,9 DP 0,5 CV% 0,2 Máximo 3,7 Mínimo 2,2 Número de testes 10 -1 RBSairlift 2,6 0,4 0,1 3,5 2,2 10 II Etapa RBSRBSUCT unitário airlift UCT aA 2,7 aA aB aB 3,3 3,0 3,7 aB 0,6 0,4 0,2 0,1 0,2 0,1 0,1 0,04 3,7 3,7 3,2 3,8 2,0 2,9 2,7 3,6 10 4 4 4 Obs: Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de significância de 5%. 86 Os valores de µm, (valores encontrados de 2,2 a 3,7), são próximos quando comparado com valores encontrados na literatura. Metcalf e Eddy (2003) indicam um valor de taxa de crescimento de bactérias variando entre 1,5 e 5,0 para uma temperatura média de 20°C; Lawrence e McCarty (1970) mencionam 3,7 e Horan (1990) 2,4 a 7,2. Porto (2007) avaliou as constantes de crescimento no tratamento de esgoto bruto e esgoto digerido (por um reator UASB) em sistemas de lodo ativado, encontrando divergências nos valores das mesmas. Segundo a autora, o lodo característico de esgoto bruto obteve constantes relativamente maiores (0,99 d-1) do que os de lodo característicos do tratamento de esgoto digerido (0,39 d-1), usando o acetato de sódio como substrato. Essa diferença de metabolismo entre esses lodos pode ser comparada com as encontradas entre fases nesta pesquisa, pois geralmente a disponibilidade de material orgânico biodegradável é maior no esgoto bruto que no digerido. Ressalta-se que, quando comparados a valores típicos da literatura, os valores da autora são considerados baixos. Bueno (2011), estudando o metabolismo das bactérias heterotróficas em sistema de lodo ativado de aeração prolongada, com o intuito de desenvolver os processos de nitrificação e desnitrificação simultâneos (SND), obteve valores de 3,1 d-1, 2,7 d-1 e 2,2 d-1 para a constante de crescimento de bactérias heterotróficas com diferentes cargas orgânicas aplicadas. Nesse caso tanto os valores encontrados se aproximam da literatura quanto dos expostos na Tabela 4.24. O comportamento das bactérias heterotróficas nos sistemas experimentais não possibilita a determinação da constante de meia saturação pelos modos convencionais, uma vez que pelo perfil da TCO não é possível identificar o ponto exato do final do consumo do substrato para o começo do consumo do PHB. Os valores de constante de meia saturação encontrados na literatura são baixos. De acordo com Metcalf e Eddy (2003) os valores típicos de Kss estão na faixa de 1 – 5 mgDQO/L e Dold et al. (1980) apud van Haandel (2006) 5 mgDQO/L. Dessa forma, a concentração de 120mg/L utilizada nos testes não foi um fator limitante para a determinação do metabolismo das bactérias heterotróficas. 4.4.2 Metabolismo das bactérias autotróficas nitrificantes A partir da obtenção do perfil da TCO em função do tempo foram determinados vários aspectos importantes da cinética da nitrificação, como a verificação do consumo de oxigênio 87 para o processo de nitritificação, estimativa da constante de crescimento máxima das bactérias Nitrosomonas e Nitrobacter e determinação da constante de meia saturação de amônia A verificação do consumo de oxigênio para o processo de nitrificação é feito através da determinação da área do gráfico correspondente à concentração do substrato adicionado. Para tal, são calculadas as áreas das curvas da TCO no intervalo de tempo relacionada à adição de cloreto de amônia e nitrito de sódio para os seus respectivos processos, como mostra a figura 4.16. Para a curva referente às nitritadoras, o consumo de oxigênio calculado foi de 21,7 mgO2/L e, levando em consideração que foi adicionada uma concentração de 5 mgN-NH4+/L de NH4Cl (cloreto de amônio), verifica-se que o fator de conversão foi de 4,34 (21,7/5 = 4,34), valor próximo ao encontrado na estequiometria do processo de nitrificação ( que para cada mol de nitrato produzido há um consumo de 2 moles de oxigênio, ou seja há uma proporção de 2*32/14 = 4,56 mgO2/mgN). De modo análogo, com a curva correspondente às nitratadoras, encontra-se uma área de 8,9 mgO/L que corresponde a 1,12 mgO2/mgN ( 8,9/8 = 1,12), utilizando uma concentração de 8 mgN-NO2-/L. Portanto, conclui-se que o consumo de oxigênio nos dois processos é compatível com a quantidade de substratos (amônia e nitrito) adicionados. Figura 4.16: Curvas típicas de TCO para as nitrificantes e nitratadoras. 60 TCO máx = 52 mg/L/h TCO (mg/L/h) 50 40 TCO máx = 28 mg/L/h 30 20 TCO end = 13 mg/L/h 10 0 0,00 0,20 0,40 0,60 Tempo (h) 0,80 1,00 TCO - Nitrito de sódio TCO - Cloreto de Amônio 88 De acordo com os procedimentos descritos no item 3.5.4, estimou-se, para os sistemas experimentais durante as duas etapas, a concentração de bactérias autotróficas nitrificantes (Xn), a taxa de nitritação (rn) e a constante cinética de crescimento (µm) do processo de nitritação que estão apresentadas na tabela 4.22. Ressalta-se que a título de cálculo foi utilizado a taxa de conversão mgO2/mgN experimental, específica de cada teste respirométrico e coeficiente de rendimento (Yn) de 0,1 mgXn/mgN As médias das constantes de crescimento foram submetidas a comparação estatística pelo método de Tukey no nível de significância de 5%, sob duas óticas: entre etapas (letras maiúsculas) e confronto entre sistemas (letras minúsculas). Os dados utilizados para realização da análise estatística estão apresentados no Apendice C. Tabela 4.22: Concentração de bactérias autotróficas nitrificantes (Xn), taxa de nitrificantes (rn) e a constante de crescimento (µm) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. Xn I Etapa rn (mgXn/L) (mgNH4+/mgXn/d) Xn µm(d-1) II Etapa rn (mgXn/L) (mgNH4+/mgXn/d) µm(d-1) MÉDIA 78,1 194,2 0,25 Aa 117,1 238,4 DP 16,7 52,7 0,04 20,3 53 0,01 CV 0,2 0,3 0,18 0,2 0,2 0,07 MÁXIMA 95,4 247,4 0,31 133,7 290,2 0,22 MÍNIMA 42,7 92,9 0,17 87,6 166,5 0,19 MÉDIA 87,0 207,2 0,24 Aa 104,9 179,0 0,20 Aa DP 9,4 49,1 0,07 0,8 15,7 0,06 CV 0,1 0,2 0,28 0,0 0,1 0,28 MÁXIMA 96,1 265,1 0,31 105,7 190,7 0,26 MÍNIMA 72,8 129,6 0,14 104,1 161,2 0,15 MÉDIA 38,7 148,2 0,39 Ab 47,8 201,3 0,42 Ab DP 6,3 27,2 0,09 0,0 8,6 0,02 CV 0,2 0,2 0,23 0,0 0,0 0,04 MÁXIMA 53,2 182,1 0,52 47,8 207,6 0,43 MÍNIMA 33,4 105,3 0,27 47,7 191,4 0,40 RBS- unitário RBS-airlift UCT 0,20 Aa Número de testes 9 9 9 4 4 4 Obs: Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de significância de 5%. Conforme a Tabela 4.22, os sistemas RBS-unitário e RBS- airlift apresentaram valores médios de µm maiores na etapa I enquanto que o UCT obteve média maior na etapa II, porém quando comparados estatisticamente os sistemas não apresentaram diferenças 89 significativas entre etapas. Isso significa que as mudanças operacionais realizadas na segunda etapa não interferiram no metabolismo das bactérias autotróficas nitrificantes. Porém, quando comparados entre si, observa-se que o sistema contínuo apresenta média superior aos sistemas em batelada e diferença estatística significativa. Essa diferença pode ser atribuída ao regime de funcionamento do tratamento. Como sistemas de regimes em batelada tratam mais esgoto por unidade de volume, espera-se uma concentração proporcional de bactérias autotróficas (Xn). A Tabela 4.23 apresenta os valores médios da constante de meia saturação (Kn) para as bactérias Nitrosomonas. Os resultados também foram submetidos a tratamento estatístico descritivo e ao teste de Tukey em nível de significância 5%, entre etapas (letras maiúsculas) e confronto entre sistemas (letras minúsculas), apresentando médias com valores próximos para os três sistemas durante as duas etapas e não diferentes estatisticamente em nenhuma comparação. Os dados utilizados para realização da análise estatística estão apresentados no Apendice C. Tabela 4.23: Constante de meia saturação (Kn) para as bactérias nitrificantes dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa II Etapa Kn RBSRBSRBSRBSUCT UCT (mgN/L) unitário airlift unitário airlift MÉDIA 0,5 Aa 0,4 Aa 0,3 Aa 0,7 Aa 0,4 Aa 0,5 Aa DP 0,3 0,2 0,2 0,2 0,1 0,2 CV 0,5 0,6 0,5 0,3 0,2 0,4 MÁXIMA 0,8 0,9 0,5 0,8 0,5 0,8 MÍNIMA 0,1 0,1 0,1 0,4 0,3 0,4 Número de testes 9 8 7 4 4 4 Obs: Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de significância de 5%. Os mesmos métodos de determinação e avaliação do metabolismo das bactérias nitrificantes também foram aplicados para as bactérias nitratadoras, como está apresentado no Capítulo 3 - Materiais e Métodos, no item 3.5.4. Conforme as Tabelas 4.24 e 4.25, a comparação estatística apresentou uma diferença significativa da constante de crescimento (µm) dos sistemas em batelada com o sistema UCT na primeira e segunda etapas. O comportamento da constante de meia saturação também não apresentou nenhuma diferença estatística para nenhuma comparação 90 Tabela 4.24: Concentração de bactérias autotróficas nitratadoras (Xn), taxa de nitratação (rn) e constante de crescimento (µm) dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. Xn I Etapa rn (mgXn/L) (mgNH4+/mgXn/d) MÉDIA UCT µm(d-1) µm(d-1) (mgXn/L) (mgNH4+/mgXn/d) 56,5 3,9 0,20 Aa 49,4 4,5 0,18 23,9 1,5 0,04 3,4 0,7 0,03 0,4 0,4 0,17 0,1 0,2 0,15 MÁXIMA 95,4 6,0 0,24 53,5 5,4 0,22 MÍNIMA 38,1 1,8 0,15 45,1 3,9 0,15 MÉDIA 46,6 184,4 0,23 Aa 41,8 203,0 0,19 DP 23,2 41,5 0,06 0,7 31,6 0,03 CV 0,5 0,2 0,26 0,0 0,2 0,15 MÁXIMA 80,7 235,3 0,30 42,3 242,6 0,23 MÍNIMA 29,1 132,6 0,15 40,8 169,0 0,16 MÉDIA 32,7 168,8 0,29 Ab 43,1 314,4 0,29 DP 9,4 65,6 0,09 1,0 33,1 0,02 CV 0,3 0,4 0,31 0,0 0,1 0,08 252,7 0,39 44,1 344,8 0,32 DP RBS- unitário CV RBS-airlift II Etapa rn Xn MÁXIMA 41,6 Aa Aa Ab MÍNIMA 14,4 105,0 0,15 42,1 279,1 0,27 Número de testes 7 7 7 4 4 3 Obs: Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de significância de 5%. Tabela 4.25: Constante de meia saturação (Kn) para as bactérias nitratadoras dos sistemas experimentais referentes às duas etapas de monitoramento. I Etapa II Etapa Kn RBSRBSRBSRBSUCT UCT unitário airlift unitário airlift MÉDIA 0,5 Aa 0,4 Aa 0,3 Aa 0,7 Aa 0,4 Aa 0,5 Aa DP 0,3 0,2 0,2 0,2 0,1 0,2 CV 0,5 0,6 0,5 0,3 0,2 0,4 MÁXIMA 0,8 0,9 0,5 0,8 0,5 0,8 MÍNIMA 0,1 0,1 0,1 0,4 0,3 0,4 Número de testes 7 7 7 4 4 3 (mgN/L) Obs: Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de significância de 5%. A atividade das bactérias autotróficas nitrificantes e nitratadoras se desenvolveu distintamente nos três sistemas estudados. Os sistemas RSB (unitário e airlift) apresentaram 91 dificuldades para o desenvolvimento das bactérias autotróficas, principalmente na primeira etapa, sendo encontrados percentuais baixos de remoção de NTK e amônia (Tabelas 4.8 e 4.9) e valores próximos a 0,2 d-1 para a constante de crescimento. A partir da comparação feita entre as Tabelas 4.22 e 4.24, percebe-se que quando estudado o metabolismo das bactérias nitratadoras isoladamente os valores encontrados são próximos aos encontrados das nitrificantes, o que indica que em todas as etapas a nitrificação foi completa e confirma que a velocidade de crescimento de Nitrobacter é maior ou igual, à de Nitrosomonas. Dessa forma, a transformação do íon amônio a nitrito é considerada como a etapa limitante do processo nitrificante. Então, a cinética pode ser descrita pela cinética de crescimento de Nitrossomonas (BASSIN, 2008 apud VICTORIA, 1993). Silva (2009) operou um sistema UCT com condições semelhantes ao utilizado nesta pesquisa tratando esgoto bruto de Campina Grande-PB e obteve constante de crescimento das nitrificantes de 0,36 d-1 com idade de lodo de 20 dias. Quando comparado aos valores encontrados neste experimento, percebe-se um desempenho similar. Outros valores também são encontrados na literatura, inclusive utilizando a repirometria como ferramenta de determinação do metabolismo das bactérias nitrificantes, como: 0,50 d-1 (DERKS, 2007), 0,28 d-1 (SOUZA, 2005), 0,28 d-1 (COURA, 2002) e 0,33 d-1 (COSTA, 2002). A variedade de valores encontrados na literatura pode ser atribuída a fatores relacionados a diferentes características de esgotos e aos sistemas de tratamento utilizados para tratamento. Os valores obtidos de Kn menores que 1mgN/L indicam que processos de nitritação e nitratação não se limitam pela concentração dos substratos nitrogenados a não ser para concentrações muito pequenas, como é normalmente observado. 92 CAPÍTULO V CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 5.1 Conclusões Os resultados da investigação experimental que teve como objetivo avaliar o desempenho de três variantes do sistema de lodo ativado quanto à oxidação da matéria orgânica e ao processo de nitrificação, levando em consideração o metabolismo das bactérias heterotróficas e autotróficas nitrificantes com diferentes cargas aplicadas, levaram as seguintes conclusões: 1. Desempenho dos sistemas: Em termos de matéria orgânica a remoção dos sistemas apresentou valores baixos de eficiência na etapa I, quando comparada com a etapa II que foi superior a 90% para os três sistemas. A baixa eficiência na etapa I foi atribuída à alta fração de material não biodegradável solúvel, com valores superiores aos encontrados em esgoto sanitário; Os valores de pH permaneceram próximos ao neutro durante todas as etapas de tratamento para todos os sistemas. A nitrificação favoreceu a queda da alcalinidade total nos efluentes dos sistemas quando comparado com os valores dos afluentes, no entanto esta não foi suficiente para desequilibrar o pH; Houve assimilação de fósforo pelo lodo em todos os sistemas operacionais, apresentando relação mgP/mgDQO superior aos valores encontrados em lodo sem a presença de bactérias poli-P. 2. Metabolismo das bactérias heterotróficas: O perfil de TCO observado para o consumo de material orgânico solúvel (acetato de sódio) dos lodos apresentou comportamento diferenciado em relação ao de lodo sem bactérias poli-P, mostrando que parte do material orgânico é consumido por bactérias ordinárias e outra parte é assimilado na forma de PHB e consumido na falta de material externo pelas bactérias poli-P. 93 A determinação da concentração de lodo ativo (Xa) pela TCOend apresentou valores próximos aos estimados pelo modelo descrito por van Haandel e Marais (1999) para os três sistemas durante as duas etapas; Em relação aos parâmetros cinéticos TCOesp, Kms e µm, o metabolismo das bactérias heterotróficas se diferenciou significativamente entre etapas apresentando valores maiores para a etapa com maior carga aplicada nos sistemas; em contrapartida os sistemas não apresentaram valores diferenciados entre si; Não houve a determinação dos valores da constante de meia saturação (Kss), uma vez que não foi possível identificar no gráfico de TCO o final do consumo de acetato de sódio pelas bactérias ordinárias para o começo do consumo do PHB pelas bactérias poli-P. 3. Metabolismo das bactérias autotróficas nitrificantes: De acordo com a constante de crescimento (µm) as bactérias autotróficas nitrificantes apresentaram valores médios com diferença significativa entre sistemas, com valores superiores no sistema UCT. Porém, não apresentaram diferenças entre médias quando comparados por etapas, significando que as mudanças operacionais não foram significativas para as bactérias autotróficas; As constantes de crescimento das bactérias autotróficas nitratadoras, quando estudadas separadamente, apresentaram valores próximos aos das bactérias nitrificantes, o que significa que a velocidade do metabolismo das bactérias responsáveis pela nitrificação é determinada pelo grupo de bactérias responsáveis pela transformação da amônia em nitrito (nitritadoras); Os valores de constante de meia saturação (Kn) das bactérias autotróficas nitrificantes apresentaram valores inferiores a 1mgN/L indicando que processos de nitritação e nitratação não se limitam pela concentração dos substratos nitrogenados a não ser para concentrações muito pequenas, como é normalmente observado. A variação dos valores encontrados experimentalmente não apresentou diferenças significativas entre sistemas e etapas. 94 5.2 Recomendações O perfil da TCO é fundamental para a determinação das constantes cinéticas das bactérias heterotróficas, como observou-se um perfil diferenciado com possíveis influencias de dois grupos distintos de bactérias heterotróficas recomenda-se uma avaliação criteriosa que possibilite a determinação clara dos processos de consumo de material orgânico por bactérias ordinárias e as bactérias acumuladoras de fósforo em lodos com predominância dos grupos citados. 95 CAPÍTULO VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA, AWWA, WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 21th ed. Washington, D.C. 2012. ARCEIVALA S. J. (1981) Wastewater Treatment and Disposal. Nova York, Estados Unidos. BARBOSA, C. A. C. e SOUZA, M. A. A. (1998). Sedimentabilidade do lodo secundário obtido no processo de lodos ativados com remoção biológica de nutrientes. 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Water Science & Technology, v. 52, no 10-11, p. 435–442, 2005. 99 APENDICE A Respirograma gerado para determinação da composição do material orgânico biodegradável do esgoto (figura 1) e tabela com dados de TCO referente ao respectivo teste (tabela 1) com a determinação das áreas trapezoidal de cada ponto de TCO. Figura 1: Respirograma do teste para determinação da composição do material orgânico biodegradável. Tabela 1: Dados reproduzidos do respirograma para determinação das áreas do consumo de Oxigênio para oxidação da matéria orgânica. Área do material biodegradável do esgoto Inclinação 0,05 HORA TCO x 100 T ( Hora) TCO max Tempo (h) TCO end TCO exo Área 10:38:21 2103 10,64 21,03 0,00 21,03 0,00 12,58 10:51:07 13932 10,85 139,32 0,21 21,04 118,28 4,03 10:53:17 12591 10,89 125,91 0,25 21,04 104,87 3,73 10:55:56 8524 10,93 85,24 0,29 21,04 64,20 2,76 10:59:09 5978 10,99 59,78 0,35 21,05 38,73 2,70 11:02:40 7460 11,04 74,60 0,41 21,05 53,55 2,77 11:06:10 6236 11,10 62,36 0,46 21,05 41,31 2,83 11:10:08 6549 11,17 65,49 0,53 21,06 44,43 2,58 100 11:13:50 6032 11,23 60,32 0,59 21,06 39,26 2,39 11:17:47 5429 11,30 54,29 0,66 21,06 33,23 2,28 11:22:20 4806 11,37 48,06 0,73 21,07 26,99 1,97 11:27:03 4407 11,45 44,07 0,81 21,07 23,00 1,80 11:32:08 4047 11,54 40,47 0,90 21,07 19,40 1,52 11:37:15 3734 11,62 37,34 0,98 21,08 16,26 1,30 11:42:19 3564 11,71 35,64 1,07 21,08 14,56 1,16 11:47:21 3426 11,79 34,26 1,15 21,08 13,18 1,07 11:52:21 3364 11,87 33,64 1,23 21,09 12,55 1,00 11:57:21 3260 11,96 32,60 1,32 21,09 11,51 0,97 12:02:21 3289 12,04 32,89 1,40 21,10 11,79 1,40 12:06:19 5176 12,11 51,76 1,47 21,10 30,66 1,97 12:11:25 3686 12,19 36,86 1,55 21,10 15,76 1,10 12:16:29 3144 12,27 31,44 1,64 21,11 10,33 0,79 12:21:28 2981 12,36 29,81 1,72 21,11 8,70 0,68 12:26:24 2891 12,44 28,91 1,80 21,12 7,79 0,64 12:31:21 2879 12,52 28,79 1,88 21,12 7,67 0,60 12:36:17 2793 12,60 27,93 1,97 21,12 6,81 0,53 12:41:12 2724 12,69 27,24 2,05 21,13 6,11 0,49 12:46:06 2706 12,77 27,06 2,13 21,13 5,93 0,46 12:51:00 2658 12,85 26,58 2,21 21,14 5,44 0,43 12:55:55 2618 12,93 26,18 2,29 21,14 5,04 0,40 13:00:49 2587 13,01 25,87 2,37 21,14 4,73 0,38 13:05:42 2577 13,10 25,77 2,46 21,15 4,62 0,36 13:10:36 2541 13,18 25,41 2,54 21,15 4,26 0,34 13:15:28 2526 13,26 25,26 2,62 21,16 4,10 0,32 13:20:20 2494 13,34 24,94 2,70 21,16 3,78 0,30 13:25:13 2471 13,42 24,71 2,78 21,16 3,55 0,28 13:30:05 2441 13,50 24,41 2,86 21,17 3,24 0,26 13:34:58 2420 13,58 24,20 2,94 21,17 3,03 0,25 13:39:48 2434 13,66 24,34 3,02 21,17 3,17 0,26 13:44:40 2444 13,74 24,44 3,11 21,18 3,26 0,25 13:49:32 2409 13,83 24,09 3,19 21,18 2,91 0,22 13:54:22 2384 13,91 23,84 3,27 21,19 2,65 0,21 13:59:14 2369 13,99 23,69 3,35 21,19 2,50 0,19 14:04:05 2341 14,07 23,41 3,43 21,19 2,22 0,16 14:08:56 2293 14,15 22,93 3,51 21,20 1,73 0,15 14:13:46 2307 14,23 23,07 3,59 21,20 1,87 0,15 14:18:38 2306 14,31 23,06 3,67 21,21 1,85 0,12 14:23:27 2229 14,39 22,29 3,75 21,21 1,08 0,09 14:28:18 2243 14,47 22,43 3,83 21,21 1,22 0,09 14:33:07 2217 14,55 22,17 3,91 21,22 0,95 0,07 14:37:58 2199 14,63 21,99 3,99 21,22 0,77 0,06 14:42:47 2192 14,71 21,92 4,07 21,22 0,70 0,04 14:47:37 2153 14,79 21,53 4,15 21,23 0,30 0,02 14:52:26 2152 14,87 21,52 4,23 21,23 0,29 0,02 101 14:57:16 2147 14,95 21,47 4,32 21,24 0,23 0,01 15:02:04 2124 15,03 21,24 4,40 21,24 0,00 0,00 102 APENDICE B A tabela 1 apresenta o valor cinético de constante de crescimento (µm) utilizado para realização do teste Tukey em nível de probabilidade de 5 % das bactérias heterotróficas para os sistemas RBS- unitário, RBS- airlift e UCT durante as duas etapas de monitoramento. .Tabela 1: Constantes cinética das bactérias heterotróficas RBSRBS UCT unitário airlift µm(d-1) µm(d-1) µm(d-1) 3,7 2,6 2,8 3,5 3,5 3,6 2,8 2,7 2,4 3,1 2,5 2,0 2,9 2,8 2,1 I etapa 2,8 2,7 2,7 3,0 2,2 2,8 3,0 2,5 2,3 2,2 2,4 3,7 2,2 2,6 2,0 2,9 3,1 3,6 3,4 3,1 3,8 II etapa 3,7 3,2 3,8 2,7 2,7 3,1 103 APENDICE C Os valores cinéticos utilizado para realização do teste Tukey em nível de probabilidade de 5 % das bactérias autotróficas nitrificantes (tabela 1) e das bactérias autotróficas nitratadoras (tabela 2) referentes aos sistemas RBS- unitário, RBS- airlift e UCT durante as duas etapas de monitoramento. I etapa II etapa I etapa II etapa .Tabela 1: Constantes cinéticas das bactérias autotróficas nitrificantes. RBS - Unitário RBS - Airlift UCT -1 -1 -1 µm(d ) Kn(mgN/L) µm(d ) Kn(mgN/L) µm(d ) Kn(mgN/L) 0,31 0,21 0,14 0,13 0,27 0,20 0,17 0,24 0,28 0,20 0,39 0,18 0,22 0,12 0,16 0,44 0,52 0,12 0,30 0,54 0,31 0,50 0,30 0,18 0,25 0,57 0,28 0,33 0,44 0,47 0,26 0,38 0,30 0,33 0,42 0,50 0,26 0,72 0,19 0,86 0,48 0,38 0,23 0,75 0,27 0,55 0,32 0,44 0,23 0,81 0,19 0,76 0,19 0,35 0,43 0,77 0,21 0,64 0,26 0,51 0,43 0,36 0,19 0,84 0,18 0,44 0,40 0,49 0,22 0,39 0,15 0,37 Tabela 2: Constantes cinéticas das bactérias autotróficas nitratadoras. RBS - Unitário RBS - Airlift UCT -1 -1 -1 µm(d ) Kn(mgN/L) µm(d ) Kn(mgN/L) µm(d ) Kn(mgN/L) 0,24 1,02 0,15 0,69 0,24 0,65 0,23 0,46 0,30 0,51 0,30 1,00 0,24 0,74 0,16 0,56 0,15 0,75 0,19 0,33 0,23 0,27 0,39 0,27 0,18 0,55 0,23 0,52 0,38 0,24 0,15 0,43 0,23 0,30 0,29 0,53 0,19 0,43 0,30 0,42 0,19 0,28 0,19 0,48 0,26 0,84 0,22 0,15 0,23 0,25 0,30 0,18 0,16 0,35 0,16 0,30 0,32 0,20 0,15 1,03 0,20 0,21