CORPO, BELEZA, FAMA - 3ª Jornada Internacional de Estudos do
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CORPO, BELEZA, FAMA - 3ª Jornada Internacional de Estudos do
CORPO, BELEZA, FAMA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ATRIZES BRASILEIRAS EM CAPAS DA REVISTA BOA FORMA Rhaysa Ricci CORREA (UEM) Introdução Analisar o corpo e toda sua capacidade de ação e intervenção perante a sociedade é tentar entender o imbricamento de várias outras áreas de conhecimento que fazem dele um objeto de estudo, tais como: a antropologia, a biologia, a medicina, a arte, entre tantos outros, mas, sobretudo, a comunicação. Discutido amplamente no meio acadêmico, o corpo encontra na mídia impressa o espaço necessário de representação em que são construídos e reproduzidos discursos, vozes, sobre como ele é visto, almejado e vendido em demasia através de anúncios publicitários, fotos, ilustrações, textos jornalísticos etc. Na tentativa de explorar em demasia o corpo feminino, na mídia impressa, mais precisamente nas capas de revista como síntese dessas representações e imaginários, a revista feminina, há anos, reproduz, divulga e forma conceitos de corpos saudáveis, sempre estampando as capas com modelos de mulheres para ser seguido sob o intuito de um único objetivo: o padrão de corpo ideal. Conduzidos por alcançar essa aparência desejável e imposta pela mídia, a sociedade globalizada de consumo acaba atribuindo aos sujeitos a responsabilidade pela plasticidade ou artificialidade de seus próprios corpos, mesmo que para isso seja necessário a prática de exercícios intensos, cirurgias plásticas e dietas radicais. Logo, o plano da aparência física se sobrepõe, uma vez que se muda o tipo de corpo que se deseja; entretanto, a proposta de apresentar sempre o corpo da época atual acaba se tornando imutável. E é justamente o que ocorre com as revistas femininas, pois continuam apresentando a mulher mais contemporânea do que a própria contemporaneidade e, consequentemente, passível de construir caracterizações e estudá- Página 1 las. UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Partindo dessas indagações, o objetivo deste artigo é refletir sobre o modo como a mídia impressa propaga o corpo, a beleza e a fama representados por corpos de atrizes brasileiras estampados em capas da revista Boa Forma. A partir dos postulados da Análise do Discurso Foucaultiana, bem como estudiosos brasileiros que compreendem o corpo e a constituição das representações sociais subjetivas dos sujeitos, a apresentação do corpus é exposta por meio da análise de quatro capas, de anos subsequentes, da revista Boa Forma, que servem como materialidade para se pensar o corpo ideal perante a representação midiática para com o cuidado de si. Inicialmente, foi feita a leitura a respeito do “corpo ideal” sob a representação midiática, passando, posteriormente, para ascese e bioacese em um processo de subjetivação para o cuidado de si e, em seguida, levantamentos a respeito da revista Boa Forma para, então, se chegar às possíveis interpretações das capas mencionadas. O “corpo ideal” sob a representação midiática Antes de dar início aos questionamentos acerca do corpo sob a representação midiática, é necessário deixar evidente sobre o quê se entende por corpo de acordo com os postulados de Michel Foucault na Análise do Discurso. Milanez (2009, p. 215), estudioso brasileiro que busca entender o corpo e a constituição de suas identidades, cita que O corpo considerado como unidade discursiva não é o corpo que fala, que trabalha, que vive. Não é tampouco o mesmo corpo que pratica esportes, que se deixa ver nas fotos de família, que se deita no sofá. Não é, pois, o corpo que vive as práticas diárias e corriqueiras, autômatas ou refletidas como andar, comer, dormir ou ler. O corpo com suas funções biológicas, que exerce suas práticas sócio-históricas do cotidiano não é ainda o corpo do discurso. Para estarmos diante de um corpo discursivo não basta nos depararmos com práticas do fazer do nosso dia a dia. Precisamos focalizar a existência material desse objeto que denominamos corpo, em consonância com suas formas e carnes por meio da representação sob a qual o identificamos. Dessa forma, faz-se necessário colocar em evidência as condições no qual o corpo se insere, isto é, esse corpo do qual se fala, o lugar no qual o corpo se configura, a corpo não só como uma prática corporal, mas, sobretudo, como uma prática discursiva. UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página determinado momento e lugar. A partir desses pressupostos, compreende-se, então, o 2 data que ele marca e estabelecer limites que fazem com que ele apareça naquele Foucault (2000, p. 136), em Arqueologia do saber, torna clara a questão da prática discursiva e a define como “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”. Em outras palavras, cogitando que a prática discursiva para Michel Foucault não é uma mera expressão de ideias ou formulação de frases, a enunciação feita pelos indivíduos de uma sociedade estão implantados em formações discursivas que carregam consigo um conjunto de regras, valores e verdades de um determinado tempo. O estudioso ressalta que não existe nada por de trás do discurso, ele corrobora ao conjunto de regras crenças e valores da sociedade. Ora, quando materializada essa definição, pressupõe-se o corpo como um enunciado concreto, emergindo em redes, possibilitando deslocamentos e modificações, que criam novos campos de saber e delineiam certo tipo de sujeito do conhecimento (MILANEZ, 2009, p. 216). Definido esse corpo como discurso, agora inserido sob a representação midiática, tem-se uma ênfase dada às mudanças referentes ao conceito de corpo saudável, seja no aspecto beleza ou saúde, detecta-se, hoje, diversificadas abordagens que a mídia impressa revela sobre o assunto. Para isso, considerando o dispositivo pedagógico da mídia, de acordo com a teoria foucaultiana, tem-se que os meios de comunicação participam do processo de subjetivação e constituição dos sujeitos, uma vez que produz imagens, significações e saberes que, de alguma forma, pretendem dirigir um certo tipo de “conceito a ser seguido” para as pessoas. Segundo Rodrigues et al. (2010, p. 09), estudiosos da análise da apropriação do discurso, citam que “o discurso pedagógico midiático pode ser considerado discursivo ou não discursivo, já que é discursivo na medida em que se produz discursos e saberes, e não discursivo, uma vez que este discurso midiático já está inserido em um contexto social e político”. O corpo ideal, saudável, esteticamente dentro dos padrões de beleza, representados por sujeitos em voga na sociedade e estabelecidos na contemporaneidade são reproduzidos por revistas femininas, como é o caso da Boa Forma. Essa mídia impressa reproduz discursos e imagens, especialmente em suas capas, que afirmam o UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página uma marca cultural da sociedade contemporânea, a busca pelo “corpo ideal” ou pela 3 estereótipo feminino em um contexto social pré-determinado. Mais do que um interesse, “vida saudável” são utilizadas pela mídia para atender o interesse público e também para instigá-lo, na medida em que o assunto se tornou uma estratégia mercadológica. Assim, é possível entender o aumento no número de publicações especializadas e o interesse avantajado da mídia no tratamento do assunto (RODRIGUES et al. , 2010, p. 10). Apesar de não ser considerada como um veículo de produção científica, a revista Boa Forma se baseia nos argumentos da ciência para confirmar suas interpretações junto ao público leitor. Por outro lado, de acordo com os autores supracitados, a própria biomedicina contemporânea, os avanços nos estudos sobre a qualidade de vida, produzem materiais que viabilizam a produção de discursos em torno da Ditadura da Beleza pregada pelas revistas femininas. Mas, todo este poder não está apenas nas mãos da mídia. Historicamente situada, a cultura ocidental contemporânea comporta um contexto de valorização e espetacularização do corpo, principalmente o feminino. De tal modo, conforme Foucault, um determinado objeto (como um conjunto de enunciações) existe sob condições positivas, em um feixe de relações em um determinado discurso. Tudo pode ser percebido e aprendido pelos próprios textos, fazendo relações entre este propriamente dito, o discursivo, e o não discursivo, atentando para a adequação da temporalidade dos mesmos. Entendendo o discurso social como tudo que é dito e escrito por uma sociedade, tudo que se diz publicamente ou se apresenta na mídia, a ditadura beleza e a busca pelo corpo “saudável” são construídas no cenário das representações sociais como estereótipos a serem reproduzidos (RODRIGUES et al., 2010, p. 12). Por todos os aspectos levantados, estar belo significa estar “bem consigo mesmo”, à medida que “estar bem consigo mesmo” é estar de acordo e seguir os padrões de beleza estabelecidos pelos meios midiáticos impressos, ainda que de forma não totalmente consciente. Pensando nisso, de acordo com esses pressupostos aqui enraigados, a seguir, observar-se-á como a ascese e a bioacese corroboram no processo de subjetivação para com o cuidado de si. Da ascese à bioacese: o processo de subjetivação para o cuidado de si UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página fazer com que ele seja cada vez mais saudável e que sirva de modelo para outros 4 Partindo do pressuposto das inúmeras exigências feitas ao corpo, na tentativa de sujeitos que pregam a cultura dos cuidados de si, nada mais sugestivo do que os trabalhos de Foucault a respeito do biopoder, justamente para refletir sobre as relações do ser humano com o seu próprio corpo e com a sociedade. Para entender esse processo de subjetivação para o cuidado de si, isto é, voltar-se um olhar a si por uma análise detalhada do que merece ser cuidado, investido e, muitas das vezes, melhorado em relação ao seu corpo, Ortega (2002, p. 140), estudioso do corpo submetido à submissão do corpo pelo viés da ascese e da bio-acese, define que o ascetismo é analisado como fenômeno geral existente em todas as culturas e que, no entanto, só é compreensível nas formas, motivos, contextos e comportamentos específicos nos quais a conduta ascética aparece. Concomitante a essa afirmação, Foucault se aproxima dessa noção quando define as “práticas em si” como esquemas que o indivíduo encontra na sua cultura e que lhe são propostos, sugeridos e impostos pela sua cultura, sua sociedade e seu grupo social. Ora, a ascese, entendida como um processo de subjetivação e volição, constitui um deslocar de uma subjetividade a outra, em uma oscilação de uma identidade recusada e outra almejada. A ênfase é dada, então, às formas das relações consigo, aos procedimentos e às técnicas pelas quais são elaboradas, aos exercícios pelos quais o próprio sujeito se dá como objeto por conhecer e às práticas que permitam transformar seu próprio modo de ser (FOUCAULT, 1984, p.37). Ainda para Foucault (2001), a definição de ascético está ligada como o conjunto ordenado de exercícios disponíveis, recomendados e até obrigatórios, utilizáveis pelos indivíduos num sistema moral, filosófico e religioso para atingir um objetivo espiritual específico. Em outras palavras, é uma alternativa à disciplina. Ela representa uma saída aos impasses apresentados pela sua analítica do poder, a qual localizava os pontos de resistência aos dispositivos disciplinares no corpo e nos prazeres (ORTEGA, 2002, p. 152). Nas asceses da antiguidade, especialmente as clássicas greco-romanas, Ortega (2002, p. 142) cita que o almejado era sempre “um desafio aos modos de existência prescritos, uma forma de resistência cultural, uma vontade de demarcação, de ascese espiritual - como prova de capacitação para vida pública, de contato com a UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página visando sua superação e transcendência - a ascese corporal aparece vinculada a uma 5 singularização, de alteridade”. Mais do que isso, o corpo era submetido a uma dietética, divindade ou da superação da condição humana individual e da adoção da perspectiva da natureza universal. A dietética, enquanto equilíbrio corporal, enquanto cuidado de si, estilística da existência e prática de liberdade, visava uma purificação da alma; “a ascese corporal visa, no fundo, uma ascese da alma” (ORTEGA, 2002, p. 145). O sujeito ascético, na autorrenúncia, desenvolvia um universo simbólico à parte, visto que a delimitação de suas relações sociais identificava-se a uma reestruturação das mesmas. As práticas dietéticas, então, eram componentes fundamentais da vida política, da ação livre e da vontade forte. Estilísticas da existência que miravam não o sujeito ascético e seu corpo, mas o outro e a cidade. É a presença do outro que valoriza o cuidado de si. De acordo com Silva et al. (2009, p. 03), classicamente, as práticas de saúde, dietéticas, legitimavam o corpo para a vida pública. Através da ascese, da autoanulação, do encontro com Deus, o corpo adquiria uma autonomia da vontade, liberdade sobre si que transbordava em poder sobre os demais. Nas modernas bio-asceses, entretanto, a vontade não é libertária, mas “ressentida, serva da ciência, da causalidade, da necessidade, que constrange a liberdade de criação e elimina a espontaneidade” (ORTEGA, 2002, p. 144). À ascese Antiga, enquanto prática de liberdade da alma, contrapõe-se as bio-asceses contemporâneas, medicina social em forma de disciplina individual. É por meio desses processos que se busca compreender os cuidados legitimados ao corpo, a toda exposição midiática que estimula a construção de bio-identidades. Com o intuito de analisar como a revista Boa Forma contribui na formação de conceitos e valores voltados ao cuidado do corpo, a seguir, observar-se-á como esse recurso midiático impresso postula conceitos aos sujeitos que se interessam ao contexto ideal de corpo. Por dentro da Boa Forma Publicada pela editora Abril no ano de 1986, voltada ao público feminino que se interessa por saúde, fitness, estética, nutricão, entre outros assuntos, a revista Boa Forma Página mensal no ano de 1988 e passou por uma modificação editorial no ano 2000, uma vez 6 surgiu como um guia de ginástica em uma edição especial da revista Saúde!. Tornou-se UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. que a competitividade de mercado e a tendência acirrada necessitaram de um direcionamento e uma afinidade maior com o público leitor feminino. Segundo Albino e Vaz (2008, p. 201), pesquisadores do corpo e as técnicas para o embelezamento feminino, essa mídia impressa apresenta como conteúdo central de suas reportagens técnicas dietas e séries de exercícios, fármacos para a pele e o cabelo com fins para o embelezamento do corpo e cuidados com a saúde, e reportagens com temas de autoajuda. Ela organiza-se em seções específicas: 1Fitness; 2- Beleza; 3- Dieta e nutrição; 4- Bem-estar e 5- Especial. Além dessas seções apresenta sempre uma reportagem com a garota da capa e outras mini-seções que veiculam conteúdos similares aos das seções fixas. Toda essa questão de exploração pela cultura de massa e por setores da economia dos cuidados com o corpo e a saúde, dirige-se ao conceito trabalhado por Foucault, mencionado como “cuidado de si”. Para ele, ter esses “cuidados consigo” é o princípio que domina e possibilita a existência, que fundamenta as necessidades do indivíduo, comanda o seu desenvolvimento e organiza sua prática. Nos dizeres das estudiosas do corpo como representação social na mídia, Siqueira e Faria (2007, p. 178) afirmam que a cultura de si tomou a forma de uma atitude, de uma maneira de se comportar, impregnou formas de viver; desenvolveu-se em procedimentos, em práticas sociais, em trocas e comunicações. Resumidamente, proporcionou certo modo de conhecimento e elaboração de um saber. A subjetividade capitalista produzida pelos meios de comunicação de massa gera uma espécia de cultura particular com vista a uma universalidade. Nos dizeres de Guattari (2000, p. 39) a imprensa, enquanto produtora de cultura de massa, alimenta-se de fluxos de singularidades para produzir, dia a dia, individualidades serializadas. Democraticamente ela “amassa” os processos de vida social, em sua riqueza e diferenciação, e, com isso, produz, a cada fornada, indivíduos iguais e processos empobrecidos. Os discursos midiáticos presentes na revista Boa Forma, por exemplo, fazem com que outros caminhos não sejam alcançados senão por aqueles presentes numa Página estigmatizado relacionar-se consigo mesmo e com suas vidas de acordo com os 7 espécie de identidade corporal midiática de padrões de beleza. É como se já estivesse UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. discursos, as imagens e os pressupostos veiculados pelos meios de comunicação (SIQUEIRA e FARIA, 2007, p. 179). O que mais chama atenção de estar atento a esses perfis é que a mídia impressa ganhou e vem ganhando um espaço cada vez maior na divulgação capitalista do que se é chamado pelos especialistas de “culto ao corpo”, pois é por através dessa exposição pública que o comportamento dos sujeitos é estimulado, visto que as próprias revistas femininas, nas palavras de Siqueira e Faria (2007), mostram tal comportamento recorrentemente, enquadram-se no cotidiano e o mantêm no presente. À luz de todas essas indagações mencionadas, tomando o discurso do corpo em representações de atrizes brasileiras estampadas na capa da revista Boa Forma, a seguir, analisar-se-á quatro capas dessa mídia impressa, bem como os efeitos de sentidos que provocam no público leitor quanto a representação e propagação de conceitos de corpo feminino saudável. Desenvolvimento do estudo: análise das imagens das capas da revista Boa Forma Swain (2001), estudiosa do feminismo e das representações sociais, entende a análise de revistas femininas como um recorte de discursos que interagem num dado momento. Um lugar de fala que nos traz textos e imagens como objetos sociais e históricos, elaborados no social, segundo códigos e significados já construídos; por outro lado, são também produtores das representações instituidoras da socialidade (RODRIGUES et al., 2010, p. 07). Estas revistas se apropriam de um discurso, que segundo Michel Foucault cita, é um conjunto de enunciados que se apóiam na mesma formação discursiva. Em consequência disso, a teoria do discurso do autor entende ainda o discurso como um número limitado de enunciados que pode ser definido um conjunto de condições de existência. Com a finalidade de apresentar conceitos de corpo saudável, aos cuidados de si, por meio de representações sociais de atrizes brasileiras, para ilustrar esse artigo, quatro capas da revista Boa Forma dos anos 2011, 2012, 2013 e 2014 foram selecionadas. É por meio da Análise do discurso que será possível mostrar o processo de produção de Página Inserida na linha de pesquisa qualitativa, pois “envolveu-se a obtenção de dados 8 um significado que se materializa por meio da linguagem verbal e não-verbal. UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais os processos do que o produto, e se preocupando em retratar a perspectiva dos participantes” sob um processo indutivo (LÜDKE e ANDRÉ, 1986), a seleção das capas se deu na busca de relacionar com a realidade mais próxima que as leitoras estão inseridas, ou seja, no contexto de globalização e das relações de corpo ideal, beleza, saúde e fama, as quais estão sempre presentes na mídia. Assim, serão apresentados, a seguir, quatro exemplos de capas da revista Boa Forma representadas por atrizes brasileiras. Seguido por uma ordem cronológica, temse, primeiramente, a capa da revista do mês de Março de 2011, com Fernanda Paes Leme, posteriormente de Flávia Alessandra, do mês de Outubro de 2012, logo depois da atriz Cleo Pires, estampando o mês de Maio de 2013 e, por fim, a capa de Juliana Paes referente ao mês de Agosto do ano de 2014. Fig. 1- Fernanda Paes Leme na capa da revista do mês de Março de 2011. A capa da revista Boa Forma é sempre estampada por uma personalidade do meio artístico, de biquíni, expondo seus corpos. Cores alegres e leves são sempre utilizadas na diagramação das capas. Na maioria das vezes, as “garotas das capas” estão em evidência na mídia no determinado momento. Além disso, a capa da revista é o primeiro contato que se tem com o meio impresso, o que consequentemente tende a chamar a atenção e, normalmente, relata um resumo do que vem a ser tratado no interior como objeto representado: uma mulher. Analisa-se que a revista tem a tentativa de ser UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página Ao observar essa imagem, percebe-se que é um ícone, pois possui semelhança 9 da revista. harmoniosa, colocando a cor de fundo da capa em branco e letras em verde e rosa para harmonizar com imagem da belíssima atriz na capa. Carregadas de vários sinais e significados, as capas sempre devem trazer algo atrativo que chame a atenção do leitor, como foi desta, uma vez que não só utilizou uma atriz muito bonita, mas também utilizou roupas sensuais, com a finalidade de evidenciar o corpo e a boa forma da atriz. Com relação à linguagem, utilizou letras em um tom de rosa, combinando com a vestimenta do sujeito, a fim de chamar a atenção do leitor no momento da escolha da revista. Ao voltar-se o olhar para a capa, pode-se perceber que a linguagem se mistura à Fernanda Paes Leme, na tentativa de prender a atenção do leitor e afimar que o que está dito é comprovado pela imagem da atriz. O que fica sobressaliente, então, são as frases: “Perca 1 número do manequim em 1 mês comendo mais... e melhor” e “Nós temos a solução para a maior ameaça ao cabelo longo”. Quando o leitor recebe essas mensagens, tende a se atrair pela praticidade de perder o peso e ficar bela, concomitantemente. Por ser considerada famosa e estar sempre em evidência no meio artístico, faz-se necessário que estes tipos de sujeitos estejam bem consigo para poderem transparecer a outras pessoas. No caso de Fernanda, para manter a boa forma e os cuidados de si, ela investe em boxe e pilates, duas práticas de exercícios que são destaques entre os famosos por obterem resultados satisfatórios e rápidos com as perdas de calorias excessivas. Assim, é por meio dessa representação midiática subjetiva, materializada por essa capa de revista, que os leitores poderão levá-la como um modelo padrão a ser UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página Fig. 2- Flávia Alessandra na capa da revista do mês de Outubro de 2012. 10 seguido. Assim como na capa da revista anterior, ao observar essa imagem, percebe-se, também, que se trata de um ícone midiático, pois possui semelhança com o objeto representado: uma mulher. Um fator que não se pode deixar de notar é que a atriz da capa é a Flávia Alessandra, de 38 anos, casada e mãe de duas meninas. A revista, com intenção de persuadir o consumidor, utiliza modelos em seu auge de sucesso e boa forma. Flávia Alessandra utiliza um biquíni diferente da outra capa analisada; abusa de uma sensualidade mais conservadora, a ponto de se retrair e colocar a mão em seu próprio colo. Em contrapartida, exibe um corpo escultural e em total forma física. A cor branca do plano de fundo da capa da revista, novamente, remete-se a ideia de leveza pela sua similaridade com a as cores azul e verde presente nas letras. Nessa capa de revista, como na anterior, foram utilizadas letras coloridas em destaque e números salientes, chamado a atenção para a matéria destacada e para o corpo da atriz. Pode-se notar na capa da revista que o que prende a atenção do leitor é o fato de que a atriz conseguiu ficar ainda mais magra depois da gestação de seu bebê, por meio de um cardápio balanceado e atividades físicas que fazem com que o cuidado de si prevaleça. Outro fator relevante é o fato da atriz ter 38 anos e exibir uma forma física invejável. É uma tentativa de dizer ao leitor: “Se ela pode, você também pode”. Com relação à linguagem, observa-se em letras garrafais o “Desafio de verão 10kg e corpo novo” e novamente a menção, como foi dada a outra capa, à prática de pilates no intuito de “chapar a barriga”. Ao que tudo indica, essa modalidade de exercícios é febre no mundo dos famosos, como bem mencionado, pois ajuda no fortalecimento corporal para com os cuidados de si. Ainda neste exemplo, pode-se perceber a estereotipização feminina enquanto corpo, tanto no que remete a necessidade de ser bela, quanto na ideia de envelhecimento em desacordo com a beleza. Flávia Alessandra é um exemplo do que “se deve ser”, e um “incentivo” para as mulheres que leem a Boa Forma. Por fim, a revista ainda traz informações sobre como essa famosa mantêm o corpo. Cada edição utiliza uma artista, logo, em cada edição é abordada uma forma diferente de manter o corpo. Diferenças biológicas não são consideradas, como pele que ela usa”, na maioria das vezes, prevalece. UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página humanos, e assim a ideia que “aquela mulher é linda, logo farei o que ela faz e usarei o 11 diferente, metabolismo, organismo entre tantas outras especificidades dos corpos Fig. 3- Cleo Pires na capa da revista do mês de Maio de 2013. Cleo Pires, considerada uma das atrizes mais belas do Brasil, estampa a capa da revista Boa Forma do mês de Maio do ano de 2013. Bem diferente das duas capas analisadas anteriormente, esta com um ar muito mais sensual do que as outras duas, explicita e deixa evidente as próprias características intrínsecas à atriz. Ao começar pela atenção dada ao fundo da capa em tom vermelho, complementando com o maiô utilizado, a maquiagem e se remetendo a toda essa sedução materializada pelo rosto e pelo corpo da atriz. Vale lembrar que, na época, Cleo Pires estava em evidência na novela Salve Jorge exibida pela Rede Globo e, consequentemente, sempre aparecia em revistas e matérias jornalísticas. Outro quesito que chama a atenção do público leitor é que a saúde tornou-se uma utopia, pois a procura pela perfeição por corpo enxuto e livre de doenças e toxinas é exacerbado pelos veículos de comunicação. O corpo esteticamente perfeito é visto na maioria das vezes como uma consequência do corpo saudável, que deve se submeter a programas de emagrecimento com dietas e severas atividades físicas. Nos enunciados verbais expostos na capa, como em: “Perca os últimos 3 kg com a dieta queimagordura”, “Vale a pena cortar o glúten e a lactose?” e “Desafio da corrida: derreta 8 kg e vire fera na pista” são exemplos de discursos que a mídia promove nos sujeitos a fim de abdicarem o uso de prazes para combater o excesso de peso, visto como um vilão Página 12 feminino. UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Mais do que essa vida saudável e corpo perfeito, exemplicados pela atriz, a busca para se alcançar esses ideias são estratégias da própria mídia com o intuito de atender o interesse do público, mas, sobretudo, instigá-lo a ser igual ou parecido com o exemplo apresentado. Cleo Pires, ao contrário de Fernanda Paes Leme e Flávia Alessandra, exibe uma forma física mais torneada, ressaltando não a magreza, mas o “corpão” típico das brasileiras. Mais uma vez, os discursos materializados evidenciam que existem vários tipos físicos de corpos que são padrões e prontos para servirem de exemplos a outras pessoas. Fig. 4- Juliana Paes na capa da revista do mês de Agosto de 2014. Considerada como referência de atriz, nacional e internacionalmente, Juliana Paes, de 35 anos, casada e mãe de dois filhos, exibe um corpo esbelto logo após a sua recente gravidez. As atrizes brasileiras têm um estereótipo já determinado de que possuem um capital corporal, sob um prestígio por terem alcançado um corpo considerado ícone de beleza e boa forma. E é justamente por esse motivo que são consideradas detentoras de segredos e fórmulas que prometem revelar ao leitor que irá comprar a revista. É por meio desses tipos de promessas, já mencionados, que as leitoras acham que é possível ter um corpo semelhante aos das garotas estampadas na capa, ou que a beleza exacerbada pela fama dessas atrizes são frutos de investimentos, beleza e fama, pois deixa evidente que é possível ter um corpo em forma depois da UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página Sob esses pressupostos é que Juliana Paes materializa essas questões de corpo, 13 possíveis, então, para todas as pessoas. gravidez, como foi o caso de Flávia Alessandra e, mais do que isso, revela por meio da mídia impressa como consegue obter êxito para com os cuidados de si. Ao analisar a capa, bem diferente das outras três aqui observadas, percebe-se não mais cores que prevaleçam a atriz, mas um cenário real, de praia, que contribui com as características físicas de Juliana Paes, bem como sua vestimenta e seus acessórios. Mais uma vez em evidência a “barriga chapada”, bem como a prática de exercícios físicos e os cuidados com a beleza, como recursos da linguagem a fim de atiçar a curiosidade do leitor. Mais do que um complexo de dispositivos exibidos que incidem sobre a feminilidade, os discursos que envolvem o corpo acabam abarcando diferentes públicos que buscam o desejo e o controle de si. Esses processos de representações sociais por meio dos cuidados com o corpo e a boa forma promovem como consequência um controle maior do corpo das leitoras da revista Boa Forma. É através desse domínio e cuidado de si que “se está bem consigo, se estará bem com outras pessoas também”, seja através do serviço dos dispositivos da biopolítica que correspondem à indústria cultural de comunicação, ou pelo processo de representações sociais também expostos pela mídia impressa. Considerações finais Por todos os aspectos teorizados e analisados neste artigo, bem como os discursos arraigados do biopoder sob a representação de atrizes brasileiras nas capas da revista Boa Forma, é possível perceber que muito mais do que a interpretação imagética dos discursos, concomitantes as estratégias discursivas, tais como a coloquialidade, a linguagem com verbos no imperativo, as cores que muito dizem sobre a personalidade das envolvidas, o apelo à curiosidade imposta ao leitor, bem como os interdiscursos, é possível afirmar que os meios de comunicação, sobretudo, os impressos, dão à sociedade aquilo que ela quer ou precisa, tendo como exemplo as capas estampadas com atrizes belas, corpos esbeltos, tudo o que as pessoas precisam para servir de modelo à sua vida. representações sociais exemplificadas. Outro fator relevante é o modo como a UEM - Universidade Estadual de Maringá / PLE – Programa de Pós-graduação em Letras Disponível em:<anais.jiedimagem.com.br>. Página discurso e imagem, o poder que um exerce sobre o outro é muito marcado através das 14 Fica evidente, também, que por meio dessa comunicação intercalada entre diagramação das capas é enfatizado, a ponto de influenciar o leitor a comprar a mercadoria, muitas vezes, apenas pela imagem. Ao finalizar esses apontamentos proeminentes, faz-se necessário reafirmar esse sujeito proposto pela Análise do Discurso Foucaultiana, representado socialmente por atrizes brasileiras, as quais procuram aliar o seu próprio presente com as transformações sociais ocorridas pela sociedade, e expressar, por meio dos seus cuidados de si, outros discursos que podem ser ampliados em outros contextos por meio desse modelo a ser seguido. Referências ALBINO, Beatriz Staimbach; VAZ, Alexandre Fernandez. O corpo e as técnicas para o embelezamento feminino: esquemas da indústria cultural na Revista Boa Forma, 2008. Disponível em: < http://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/viewFile/2089/2118>. 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