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Mecânica da Turbulência Nelson Luís Dias ([email protected]) Departamento de Engenharia Ambiental Universidade Federal do Paraná 25 de agosto de 2014 Sumário 1 Introdução 1.1 Probabilidade: variáveis aleatórias e valores esperados . . . . . 1.2 Processos estocásticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 A decomposição em média e flutuação, e os postulados de Reynolds . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4 Independência ou morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 17 2 Termodinâmica de uma mistura diuluída 2.1 Regra de fase de Gibbs e relações de Maxwell . . . . . . . . 2.2 Mistura diluída de 2 gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.1 Equações de estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.2 Demais potenciais termodinâmicos de um gás ideal 2.2.3 A afinidade de uma mistura de gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 19 21 21 22 24 3 As equações diferenciais de transporte 3.1 Notação indicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 Misturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 Quantidade de movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.6 Dissipação viscosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.7 A decomposição de Reynolds para variáveis quadráticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 27 27 28 30 32 35 36 . . . . . . 39 39 44 46 46 47 48 4 As macro e micro escalas da turbulência 4.1 Macro e micro escalas: uma apresentação informal . . . 4.2 Uma definição formal das escalas macroscópicas . . . . 4.3 Uma definição formal das escalas microscópicas . . . . 4.4 A cascata de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 Macro e microescalas de temperatura . . . . . . . . . . 4.6 Estimativas consistentes dos gradientes microscópicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 . 12 . 14 5 As equações para o escoamento médio, e a aproximação de Boussinesq 5.1 O estado hidrostático de referência . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 O estado de referência na atmosfera . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3 Magnitude das flutuações de densidade . . . . . . . . . . . . . . 5.4 Conservação de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 Quantidade de movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.6 A correlação pressão-temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 51 51 54 56 58 59 64 2 Sumário 5.7 5.8 As ordens de grandeza da equação para a temperatura . . . . . . A equação para a temperatura potencial . . . . . . . . . . . . . . 65 70 6 As equações de ordem 2 6.1 Os gradientes microscópicos de densidade . . . . . . . . . . 6.2 A equação para as flutuações de densidade . . . . . . . . . . 6.3 Um teorema útil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.4 Quantidade de movimento, a partir do zero . . . . . . . . . . 6.5 A dedução das equações de ordem 2 . . . . . . . . . . . . . . 6.6 Energia cinética turbulenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.7 As ordens de grandeza dos termos das equações de ordem 2 . . . . . . . . . . . . . . 73 73 73 75 75 75 78 81 7 O espaço de Fourier 7.1 Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.2 Diferentes tipos de integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.2.1 Integral de Riemman . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.2.2 Integral de Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.2.3 Integral de Stieltjes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.3 Energia cinética e a igualdade de Parseval . . . . . . . . . . 7.4 A transformada de Fourier do campo de velocidade . . . . 7.4.1 Teorema da convolução e igualdade de Parseval . . 7.5 Funções generalizadas (distribuições) . . . . . . . . . . . . 7.6 A transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 85 87 87 87 89 90 91 92 92 94 . . . . . . . . . . 8 Processos estocásticos e representação espectral 8.1 Espectros cruzados em uma dimensão (tempo) . . . . . . . . . 8.2 Espectros cruzados de processos estocásticos em 3 dimensões espaciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8.3 Representação espectral de processos estocásticos . . . . . . . 8.3.1 De uma vez só: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8.3.2 Aos poucos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Soluções laminares das equações de Navier-Stokes 9.1 Algumas soluções laminares . . . . . . . . . . . . 9.2 A Solução de Blasius . . . . . . . . . . . . . . . . 9.2.1 Espessura de deslocamento . . . . . . . . 9.2.2 A solução de Blasius . . . . . . . . . . . . 9.2.3 Blasius: solução numérica . . . . . . . . . 9.2.4 Uma alternativa . . . . . . . . . . . . . . . 10 Camadas-limite turbulentas 10.1 Escoamento turbulento em um duto . . . . . 10.2 Escoamentos turbulentos com parede rugosa 10.3 O regime de transição . . . . . . . . . . . . . 10.4 A fórmula de Manning . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 . 104 . . . . 106 108 108 109 . . . . . . 111 111 114 116 118 121 123 . . . . 126 126 132 134 135 3 Sumário 11 A Teoria de Kolmogorov 11.1 Alternativas de descrição da estrutura estocástica da turbulência 11.2 As hipóteses de similaridade de Kolmogorov . . . . . . . . . . . 11.3 Isotropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 139 140 143 12 Dinâmica espectral 12.1 Balanços espectrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12.2 O fluxo espectral de energia nas teorias clássicas . . . . . . 12.3 Modelos de fechamento fenomenológicos . . . . . . . . . . 12.3.1 Heisenberg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12.4 A aproximação quase-normal . . . . . . . . . . . . . . . . . 12.4.1 Uma abordagem com P e não com M . . . . . . . . 12.4.2 Detours in search of truth . . . . . . . . . . . . . . 12.5 Uma nova tentativa de obter a aproximação quase-normal 148 148 149 150 151 152 155 156 157 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Difusão em sistemas binários 160 B Soluções dos problemas 161 C Vorticidade 162 D Constantes físico-químicas 166 E Equação de estado para a água 167 Lista de Tabelas 2.1 2.2 Propriedades de gases atmosféricos a 0◦ C e 101325 Pa † . . . . . Entalpia e energia livre de Gibbs de formação, e entropia padrão de gases atmosféricos a 298,15 K e 100.000 Pa † . . . . . . . . . . 22 26 10.1 Rugosidade equivalente de areia. Fonte: (Morris e Wiggert, 1972, Tabela 3-1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 4 Lista de Figuras 1.1 10 minutos de medições de concentração de CO2 sobre uma grameira em Tijucas do Sul, PR, em 2011-02-17, 10:30–10:40. . . . . Ilustração de um processo estocástico univariado U (t; ω): as unidades de U e t são arbitrárias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4.1 4.2 Expansão súbida em uma tubulação. . . . . . . . . . . . . . . . . Escoamento clássico em um tubo com perda de carga. . . . . . . 40 42 5.1 Dependência da pressão de referência Pr e da densidade de referência ℘r em uma atmosfera hidrostática e adiabática com a altitude z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dependência de βP T com a temperatura para água líquida . . . Dependência de βP T com a temperatura para água líquida na faixa 10–20◦ C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 65 1.2 5.2 5.3 12 66 7.1 7.2 Soma inferior de Riemman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A equação dinâmica de Navier-Stokes no espaço de números de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 8.1 O espaço amostral das funções aleatórias u (t ). . . . . . . . . . . 99 9.1 9.2 9.3 Escoamento laminar sobre uma placa porosa . . . . . . . . . . A camada-limite laminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Volume de controle para a definição da espessura de quantidade de movimento θ ∗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Perfil de velocidade adimensional de Blasius. . . . . . . . . . . 9.4 97 . 113 . 114 . 117 . 124 10.1 A distribuição da tensão cisalhante total em um escoamento turbulento em um duto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 10.2 Fator de atrito f em função de Re e da rugosidade relativa z 0 /δ em um escoamento turbulento em um duto . . . . . . . . . . . . 136 11.1 Invariantes geométricos em turbulência isotrópica . . . . . . . . 143 11.2 funções de correlação longitudinal e transversal . . . . . . . . . 145 5 Notação Uma grande dificuldade ao escrever este texto foi a enorme quantidade de grandezas diferentes com as quais é necessário tratar. Nós utilizamos ao mesmo tempo grandezas extensivas (em geral escritas com letras maiúsculas) e intensivas (idem); variáveis aleatórias e valores observados (realizações) das mesmas, médias turbulentas e flutuações. Diferentes autores encontraram diferentes soluções para denotar com um número limitado de símbolos romanos e gregos um número muito maior de grandezas físicas e suas interpretações e abordagens matemáticas. As soluções que eu encontrei são, como sempre, um compromisso. A notação que utilizo é em parte original, e segue a idéia de ser tão simples quanto possível e ao mesmo razoavelmente clara. No entanto, alguns conflitos de símbolos são inevitáveis, conflitos os quais só podem ser parcialmente aliviados pela notação utilizada. A seguir, são dadas as principais explicações sobre a notação adotada no texto e sobre como lidar com as suas eventuais ambiguidades. Variáveis extensivas e intensivas Variáveis extensivas dizem respeito a um corpo como um todo. Em geral, mas não sempre, elas são denotadas por letras maiúsculas em itálico com um til. Exemplos são H˙ : a taxa de trabalho realizada sobre um corpo, W H a energia interna total de um corpo, U: H P: a quantidade de movimento total de um corpo. Variáveis intensivas (definidas em um ponto) e instantâneas em geral são indicadas em maiúsculas em itálico também. . . ou então em letras gregas maiúsculas: U: a energia interna específica (por unidade de massa), U : a velocidade vetorial do fluido, T : a temperatura, t: o vetor de tensões, T : o tensor de tensões, ℘: a densidade, 6 7 Notação Θ: a temperatura potencial. Observe a exceção para o vetor de tensões t. Médias e flutuações turbulentas A decomposição de Reynolds (Reynolds, 1895) é o procedimento padrão para distinguir grandezas às quais preferimos dar um tratamento determinístico (as “médias” de Reynolds) daquelas que necessitam ser modeladas como variáveis aleatórias ou como processos estocásticos (as “flutuações turbulentas”). Talvez a maneira mais antiga (mas ainda extremamente usada em engenharia) seja ui = u i + ui0, onde a barra indica a média, e a linha indica a flutuação, da grandeza ui . A honrosa lista de autores que a utilizam inclui Monin e Yaglom (1971, equações 3.3–3.7, p. 207), Richardson (1920), e Stull (1988, equações 2.4.2k, 2.4.3a–c, p. 40–41). Durante muito tempo ela foi minha preferida, mas o seu efeito quando se trabalha com a transformada de Fourier da flutuação, 1 0 D ui ≡ u 0 (x,t ) e−i(k·x ) d3x, (2π ) 3 R3 i é feio e particularmente trabalhoso sempre que se escreve as equações espectrais de turbulência à mão. Tennekes e Lumley (1972) (equação 2.1.6, p. 28) preferem ũi = Ui + ui ; Hinze (1975) (p. 4) utiliza Ui = U i + ui , enquanto que Pope (2000) usa um misto de Ui = hUi i + ui para a velocidade (equação 4.1, p. 83) e ϕ = ϕ + ϕ0 para um escalar transportado (equação 4.36, p. 91). Em todos os casos acima, o lado esquerdo é a grandeza intensiva instantânea, para a qual valem as leis de conservação e/ou as equações constitutivas clássicas, e o lado direito é a soma de uma média probabilística e de uma flutuação turbulenta. Talvez o caso mais infeliz seja o da confusão entre densidade e pressão. Utilizando-se por exemplo uma notação uniforme de letras maiúsculas para as grandezas instantâneas, e os símbolos clássicos p para (flutuação de) pressão e ρ para (flutuação de) densidade, tem-se P = hPi + p, P = hPi + ρ, 8 Notação onde P, além de ser um rô maiúsculo, infelizmente, é igual (a menos do tipo itálico) ao P romano maiúsculo. A diferença é demasiadamente sutil para ser aceitável, de forma que nenhum autor ousa na prática usar o símbolo P para indicar um rô maiúsculo. Muitos autores contornam este problema simplesmente utilizando a hipótese de um escoamento com densidade estritamente constante ou apelando velada ou abertamente para a aproximação de Boussinesq (sobre a qual falaremos com um razoável nível de detalhe neste texto) e utilizando apenas uma densidade de referência constante (digamos, ρr ) nas equações. Por exemplo, Richardson (1920) sabia perfeitamente disto: Note that there is no need to assume ρ to be independent of position. Reynolds assumed this, but for a reason that does not need concern us. It will be necessary however to assume that ρ 0, the variation of density at a fixed point, is so much smaller in comparison with ρ than is v 0∗ in comparison with v, that we may put ρ 0 = 0. O outro problema de notação encontrado em livros de turbulência são as flutuações de temperatura. A notação original de Reynolds, T = T +T0 funciona bem, mas o uso estrito de maiúsculas-minúsculas preferido por autores mais recentes produziria neste caso T = hT i + t, o que é desagradável, já que t está comprometido com a variável “tempo”. Minha solução para estes dilemas é utilizar sucedâneos para as letras gregas maiúsculas que estão “faltando”, e letras maiúsculas pequenas (small caps) alternativas quando as minúsculas já estiverem “comprometidas”. Em resumo, a notação deste texto para a decomposição de Reynolds é Ui = hUi i + ui (velocidade), P = hPi + p (pressão), T = hT i + T ℘= ℘ +ρ (temperatura), (densidade), etc.. Infelizmente, nem tudo está perfeitamente resolvido; ainda restam dois problemas. Conflitos entre símbolos Muitos símbolos utilizados neste texto possuem significados distintos em termodinâmica e em mecânica, ou mesmo dentro da mecânica. Alguns casos notórios (na notação deste texto) são • F é a energia livre de Helmholtz; fi é uma força de corpo; ∗v é o símbolo de Richardson para a velocidade 9 Notação • G é a energia livre de Gibbs; д é o módulo da aceleração da gravidade; д é o vetor aceleração da gravidade, e дi é sua i-ésima componente; • t é o tempo; t é o vetor-tensão; • T é a temperatura; T é o tensor de tensões, etc.. Em lugar de tentar criar um número suficiente de símbolos novos (por exemplo, Batchelor (1967) utiliza e e não u para a energia interna específica), o que de qualquer forma terminaria por esgotar o estoque de símbolos antes que todas as grandezas estivessem representadas, eu preferi: 1. procurar separar os símbolos sempre que possível por capítulo ou pelo menos por seção (por exemplo, a maior parte dos símbolos termodinâmicos está utilizada no capítulo sobre termodinâmica); e 2. deixar ao leitor atento a compreensão do significado dos símbolos em seu contexto. Variáveis aleatórias e suas realizações Em teoria de probabilidades, é usual separar uma variável aleatória X de uma particular realização ou valor de quantil x; isto facilita muito escrever coisas do tipo: “P (X ≤ x ) é a probabilidade de que a variável aleatória X seja menor ou igual que o valor x”. Neste texto, entretanto, as letras maiúsculas representam valores instantâneos. Em particular, as flutuações de velocidade ui , variáveis aleatórias extremamente importantes, são denotadas em letras minúsculas. Infelizmente, não parece possível separar de forma “limpa” o símbolo de uma variável aleatória do símbolo de uma particular realização ou de um quantil. O melhor que pode ser feito é utilizar os argumentos da variável para explicitar a diferença. Assim, voltando à decomposição de Reynolds, em geral teremos U (x,t; ω) = hU i (x,t ) + u (x,t; ω). Aqui, as variáveis aleatórias são função do elemento ω do espaço amostral Ω, além de o serem da posição e do tempo. É conveniente imaginar Ω como uma urna de sorteio, e ω como o particular valor sorteado, que neste caso vai definir uma realização da função aleatória U (x,t; ω) ou u (x,t; ω). “É função de . . . ” Neste trabalho, quando uma variável ϕ qualquer é (por hipótese) uma função univariada de uma outra variável k, nós escrevemos ϕ := ff(k ). Quando ϕ é uma função (multivariada) de k entre outras variáveis, nós escrevemos ϕ := ff(k, . . .). 10 Notação Quando ϕ não é função de k (mas é, possivelmente, função de outras variáveis), dizemos ff: ϕ :, ff(k ); Finalmente, ϕ pode ser uma constante: ϕ := ¢ 1 Introdução Todo autor e todo curso se sente na obrigação de fornecer uma introdução de “largo espectro” ao assunto que vai ser estudado. Este é, efetivamente, o espírito deste primeiro capítulo. O objetivo geral deste curso é estudar os aspectos mais teóricos e matemáticos da Teoria de Turbulência. Este é um desafio formidável. Para se entender turbulência, é preciso antes de mais nada “vê-la”. Richardson a via como turbilhões, de diversos tamanhos, os maiores “alimentando” os menores num processo “contínuo” até que as flutuações do escoamento fossem amortecidas pela viscosidade. Isto é a essência do processo de transferência inercial, não-linear, de covariâncias, conforme veremos neste curso (bem mais à frente). Portanto os pioneiros, Richardson, Taylor e Kolmogorov, tinham uma clara noção de que existem “estruturas”, “pedaços” ou “entes” num escoamento turbulento em um continuum de escalas, e que o próprio conceito de “escala” é essencial para a compreensão da turbulência. No entanto, escala é um conceito “físico” ou “fenomenológico”, cuja exata definição matemática em termos dos campos de velocidade U (x,t ) ou de escalares tais como a temperatura T (x,t ) é consideravelmente difícil, senão impossível. Mesmo assim, é possível identificar diferentes escalas com diversas ferramentas matemáticas, tais como: • Análise espectral (provavelmente a mais antiga). • Funções empíricas ortogonais. • Diferentes algoritmos para a identificação de estruturas e sua decomposição. • Ondeletas (Wavelets). Essas “estruturas” de diversos tamanhos realmente existem em um escoamento turbulento, mas nós devemos ser cuidadosos em não equacioná-las demais (nem de menos!) com uma particular técnica matemática de identificá-las. Várias fotografias e figuras coloridas interessantes existem no livro sobre turbulência de Lesieur (1990), e também no de Frisch (1995) (que foi professor de Lesiuer): dêem uma olhada nelas. Existem algumas estruturas e alguns problemas clássicos relacionados um pouco à instabilização de escoamentos, que estão relacionados com a questão de turbulência: 11 12 1.1 – Probabilidade: variáveis aleatórias e valores esperados 625 620 ℘c (mg m−3 ) 615 610 605 600 595 590 0 100 200 300 400 500 600 tempo (s) Figura 1.1: 10 minutos de medições de concentração de CO2 sobre uma grameira em Tijucas do Sul, PR, em 2011-02-17, 10:30–10:40. • O experimento de Reynolds: a forma “clássica” de apresentar a turbulência em cursos de graduação, ele ainda conserva um considerável charme e didatismo. • A “Rua de vórtices de von Kármán” (Kármán vortex street). • Jatos e esteiras • Turbulência atrás de uma grade em um túnel de vento (grid turbulence). 1.1 – Probabilidade: variáveis aleatórias e valores esperados Nós estamos acostumados a identificar diversos fenômenos à nossa volta como “aleatórios”: jogos de azar, envolvendo dados e cartas, e loterias, são talvez os mais comuns. Nós percebemos aleatoriadade também, entretanto, em fenômenos que envolvem física: por exemplo, a velocidade de uma molécula em um gás, as condições do tempo, e também em numerosos fenômenos de escoamento de fluidos, tais com a superfície de um mar revolto e, é claro, escoamentos turbulentos. A figura 1.1 é um exemplo disto: ela mostra a medição da densidade ℘c de CO2 a cerca de 2 m acima do solo, durante 10 minutos, sobre um gramado. A natureza errática de ℘c é inegável, e sugere que existe um componente aleatório na turbulência. Tratar um fenômeno como aleatório em geral é mais simples do que tentar descrevê-lo em todos os seus detalhes, o que pode levar a uma complexidade analítica ou computacional insuperável. Por exemplo, em princípio nós poderíamos usar as equações da dinâmica de corpos rígidos para tentar prever o resultado do lançamento de um dado. Isto entretanto envolve conhecer em detalhes como o lançamento é feito; a resistência do ar durante a sua queda; a natureza da superfície em que ele cai, etc.. Na prática, o esforço para modelar cada lançamento individual é injustificável, e é preferível descrever o processo como probabilístico, com 1/6 de probabilidade de ocorrência do número de cada face. 13 1.1 – Probabilidade: variáveis aleatórias e valores esperados A situação com turbulência é parecida: nós acreditamos que a turbulência é uma manifestação (ou uma realização) das equações de Navier-Stokes, as equações diferenciais que regem o escoamento de um fluido. No entanto, os detalhes associados com a definição das condições iniciais e de contorno, assim como com a solução propriamente dita destas equações não-lineares, são tão formidáveis que alternativas a um ataque direto, e infrutífero, são necessárias. A teoria de probabilidade e processos estocásticos é um elemento essencial de qualquer abordagem minimamente bem-sucedida ao problema de turbulência. A melhor abordagem, que todos adotamos modernamente, para a teoria de probabilidade é devida a Kolmogorov, sendo chamada de “abordagem axiomática”. Ela é consideravelmente mais elegante do que a alternativa anterior, histórica, de definir probabilidade como um limite da frequência empírica com que um resultado (um “evento”) é observado. Uma abordagem elementar mas muito clara pode ser encontrada em Papoulis (1991, capítulo 2); em ordem crescente de rigor (mas inevitavelmente, também de dificuldade), outras abordagens podem ser encontradas em James (1981), Rosenthal (2008) e Billingsley (1986). A essência da abordagem axiomática de Kolmogorov é postular a exisência de uma tripla de probabilidade (Ω, F ,P ) (Rosenthal, 2008, capítulo 2): • Ω é um conjunto, denominado espaço amostral. • F é um campo, um conjunto formado por sub-conjuntos de Ω. Mas não todos os subconjuntos! (Mais sobre isto em um instante). Em linguagem matemática muito técnica, F é uma algebra σ , ou um campo σ . • P é a medida de probabilidade, que dá, para cada A ∈ F , a probabilidade do ocorrência do conjunto — ou melhor, do evento — A. Mais especificamente, P é uma função do tipo P : F → [0, 1] A ∈ F 7→ P (A) ∈ [0, 1]. O segredo (e o enorme problema) da coisa é que F não é, em geral, igual ao conjunto de todos os sub-conjuntos de Ω. Ele é formado apenas pelos conjuntos A ⊆ Ω para os quais é possível definir P (A) (para mais detalhes, veja a excelente exposição de Rosenthal (2008, capítulo 1)). Dentro desta abordagem, uma variável aleatória VA é agora, a função mensurável U (ω): U :ω →R ω ∈ Ω 7→ U = U (ω). Por definição, uma função U (ω) é mensurável se {ω ∈ Ω | U (ω) ≤ U # } ∈ F , U# ∈ R (Rosenthal, 2008, capítulo 3). A pergunta mais importante do ponto de vista prático é: qual é a probabilidade de ocorrência de um certo intervalo de valores de U (ω)? A resposta é dada com a definição da função de distribuição de U , F (U # ): n o F (U # ) ≡ P ω | U (ω) ≤ U # . (1.1) 14 1.2 – Processos estocásticos Em particular, fica então evidente que é necessário que U (ω) seja mensurável para que F (U # ) possa ser definida em termos da medida de probabilidade P. Talvez o descritor mais comum de uma VA seja a sua média, ou valor esperado. Ela é dada por uma integral de U (ω) sobre Ω, a saber U (ω) dP (ω). (1.2) hU i ≡ Ω A definição das integrais do tipo (1.2) é tecnicamente muito elaborada, e passa por um assunto denominado Teoria da medida; talvez um tratado definitivo sobre o tema, em conexão com a teoria de probabilidade, seja Billingsley (1986). Em engenharia, nós estamos normalmente acostumados com o cálculo de integrais sobre intervalos de números reais, e não em conjuntos mais genéricos e abstratos tais como Ω (cuja natureza sequer foi definida acima!). Felizmente, vem em nosso auxílio o seguinte teorema, que nós citamos sem prova (Rosenthal, 2008, Teorema 6.1.1): Teorema de mudança de variáveis: Dada uma tripla de probabilidade (Ω, F ,P ), seja U uma variável aleatória com medida de probabilidade P e distribuição F . Então, para qualquer função mensurável д : R → R, (1.3) д(U (ω))dP (ω) = д(t ) dF (t ). Ω R Observações: 1. O teorema (1.3) é também a definição do valor esperado de uma função д(U ): д(U (ω))dP (ω). (1.4) д(U ) ≡ Ω 2. Em particular, quando д(t ) = t (a identidade), nós obtemos a expressão para o valor esperado de U : (1.5) hU i = U dF (U ). R 3. Finalmente, se F (U ) for diferenciável, e se existir a função densidade de probabilidade dF f (U ) ≡ , (1.6) dU segue-se que (1.7) hU i = U f (U ) dU . R Esta última definição de hU i talvez seja a mais comum em cursos introdutórios de probabilidade. 1.2 – Processos estocásticos Com as ferramentas da seção anterior, nós agora definimos brevemente o que são 15 1.3 – A decomposição em média e flutuação, e os postulados de Reynolds 4 U ( t, ω1 ) 2 0 −2 −4 0 100 200 0 100 200 0 100 200 ω1 t 300 400 500 300 400 500 300 400 500 4 2 U ( t, ω2 ) ω2 ω3 0 −2 −4 Ω t 4 U ( t, ω3 ) 2 0 −2 −4 t Figura 1.2: Ilustração de um processo estocástico univariado U (t; ω): as unidades de U e t são arbitrárias. Processo estocásticos: Seja F o espaço das funções de x ∈ R3 , e t ∈ R, em R. Um processo estocástico é uma função U :Ω→F ω 7→ U (x,t; ω). Em outras palavras, a cada “sorteio” ω, em vez de o resultado do sorteio ser um número real (que é a definição de VA), o resultado do sorteio agora é uma função completa U de x e t. Nós dizemos que U é uma função aleatória (note que não há contradição nesta terminologia!). O significado de um processo estocástico está esboçado graficamente na figura 1.2. Por simplicidade, na figura a função aleatória depende apenas de uma variável (t). A figura 1.2 dá um exemplo da idéia de um conjunto de realizações da variável U (t ) (na literatura de língua inglesa, um ensemble). Para que as médias de U façam sentido, é preciso que elas sejam tomadas sobre todos os “membros” do conjunto. Note entretanto que é exatamente isto o que faz a definição de valor esperado (1.2): o papel de um “membro” do conjunto é desempenhado por um particular ω ∈ Ω. 1.3 – A decomposição em média e flutuação, e os postulados de Reynolds De agora em diante nós vamos postular que em um escoamento turbulento cada variável Ui é um processo estocástico do tipo Ui = Ui (x,t; ω). (1.8) 16 1.3 – A decomposição em média e flutuação, e os postulados de Reynolds Como vimos na seção 1.2, uma realização do processo é uma função de x e t observada para um particular ω, ou ainda: cada ω corresponde a uma realização diferente do processo estocástico subjacente. Dada uma variável Ui em um escoamento turbulento, a decomposição de Reynolds consiste em escrever Ui = hUi i + ui . (1.9) Uma das principais utilidades da decomposição de Reynolds é separar o escoamento em uma uma variável determinística hUi i (que pode ou não variar no espaço e no tempo) e em uma flutuação turbulenta ui , que é uma VA com valor esperado nulo. De fato, por definição (ver (1.2)) temos que Ui (x,t; ω) dP (ω). (1.10) hUi i (x,t ) = ω∈Ω Note que hUi i é determinística por definição. A média de população de ui então será hui i = hUi − hUi ii (Ui (x,t; ω) − hUi i (x,t )) dP (ω) = ω∈Ω Ui (x,t; ω) dP (ω) − hUi i (x,t ) = ω∈Ω ω∈Ω dP (ω) = hUi i (x,t ) − hUi i (x,t ) = 0. (1.11) Utilizando (1.9) e (1.10), nós provaremos agora os demais “postulados” de Reynolds: hhUi ii = hUi i (x,t ) dP (ω) ω∈Ω = hUi i (x,t ) dP (ω) ω∈Ω = hUi i (x,t ). (1.12) D D EE ui U j = D E ui (x,t; ω) Uj (x,t ) dP (ω) ω∈Ω D E = Uj (x,t ) ui (x,t; ω) dP (ω) ω∈Ω D E = Uj hui i = 0. (1.13) Finalmente, as derivadas em relação a xi e a t comutam com a operação de média probabilística: + * ∂Ui (x,t; ω) ∂Ui = dP (ω) ∂t ∂t ω∈Ω " # ∂ = Ui (x,t; ω)dP (ω) ∂t ω∈Ω ∂hUi i = . (1.14) ∂t 17 1.4 – Independência ou morte A prova do resultado para as derivadas parciais em relação a xi , * + ∂Ui ∂hUi i = ∂x j ∂x j (1.15) é similar à prova de (1.14), e deixada para o leitor. O conjunto de relações (1.11)–(1.15) é usualmente conhecido na literatura com o nome de postulados de Reynolds. À luz da sua dedução rigorosa acima, o nome mais adequado talvez fosse lemas de Reynolds. 1.4 – Independência ou morte Se duas variáveis U e V são independentes, é relativamente fácil provar que hUV i = hU i hV i Também é fácil provar que se um processo estocástico é estacionário: ∂ D 2E U = 0, ∂t + * ∂U U = 0, ∂t * + ∂u ∂hU i + u = 0, hU i ∂t ∂t * + ∂u u =0 ∂t 18 1.4 – Independência ou morte É mais difícil mostrar que, se u e v são independentes, então + * ∂v = 0. u ∂t Uma forma de chegar perto é ∂ ∂huvi ∂hvi ∂hui (hui hvi) = hui = + hvi ∂t ∂t ∂t ∂t (1.16) Se, como eu já estava pensando quando mudei de notação, u e v são flutuações turbulentas, entretanto, hui = hvi = 0; nesse caso, se u e v são independentes, temos o resultado trivial de que huvi = 0, ∂huvi = 0. ∂t Vejamos, alternativamente, onde chegamos com * + * + ∂(uv) ∂u ∂v +v = u ∂t ∂t ∂t + * + * ∂u ∂v + v =0 ⇒ = u ∂t ∂t * + * + ∂v ∂u u =− v ∂t ∂t (pois u e v são independentes). (1.17) (1.18) (1.19) (1.20) (1.21) 2 Termodinâmica de uma mistura diuluída 2.1 – Regra de fase de Gibbs e relações de Maxwell Para uma mistura de nc componentes sem reações químicas, pode-se deduzir a regra de fase de Gibbs (Adkins, 1983, p.223, eq. 11.45): nд = 2 + nc − n f , (2.1) onde nд é o número de graus de liberdade do sistema, e n f é o número de fases. No caso de nc = 2 e de apenas uma fase (n f = 1), o número de graus de liberdade do sistema é nд = 2 + 2 − 1 = 3. Consequentemente, a equação de estado para uma mistura binária monofásica deve depender de 3 variáveis de estado independentes. Considere agora uma mistura de dois componentes com densidades ρ1 e ρ2 , tais que ρ1 ρ2 , ou seja: o sistema é uma mistura diluída da substância 2 na substância 1. Defina a concentração mássica da substância K: ρK , (2.2) cK ≡ ρ onde ρ = ρ1 + ρ2 (2.3) é a densidade total do sistema; isto produz imediatamente as restrições c1 + c2 = 1, dc1 = −dc2 , (2.4) (2.5) de modo que dada a concentração de um componente, a concentração do outro está automaticamente determinada. Dependendo da conveniência, portanto, nós utilizaremos o símbolo c como sinônimo de c2 . Pela regra de fase de Gibbs, a energia interna (e de fato qualquer outro potencial termodinâmico) deve ser uma função de 3 variáveis de estado. Escolhendose as 3 variáveis de estado “naturais” para a energia interna por unidade de massa U , U = U (v, s, c), (2.6) onde v é o volume específico (volume por unidade de massa) V≡ 19 1 ℘ , (2.7) 20 2.1 – Regra de fase de Gibbs e relações de Maxwell s é a entalpia específica (entalpia por unidade de massa) e c = c2 é a concentração mássica do componente 2 definida em (2.2). A diferencial total de U será dU = −pdv + tds + 2 X µK dcK K=1 = −pdv + tds + adc. (2.8) onde os µK ’s são os potenciais químicos dos componentes da mistura, e a = µ2 − µ1 (2.9) é a afinidade da mistura (Kondepudi e Prigogine, 1998, p. 114). Para se obter (2.8), utilizou-se (2.5). Um de nossos principais objetivos neste capítulo é a obtenção de uma expressão para a afinidade a da mistura em termos de grandezas físicas mensuráveis, tais como a temperatura ou calores específicos. A partir de (2.8), obtém-se 3 relações de Maxwell: ! ! ∂p ∂t ∂ 2U ∂ 2U = ⇒ − = , (2.10) ∂s∂v ∂v∂s ∂s v,c ∂v s,c ! ! ∂p ∂ 2U ∂a ∂ 2U = ⇒ − = , (2.11) ∂c∂v ∂v∂c ∂c v,s ∂v c,s ! ! ∂ 2U ∂t ∂a ∂ 2U = ⇒ − = . (2.12) ∂c∂s ∂s∂c ∂c s,v ∂s c,v Para a entalpia específica h, h ≡ U + pv, dh = vdp + tds + adc, e as 3 relações de Maxwell a partir de (2.14) são ! ! ∂t ∂v = , ∂s p,c ∂p s,c ! ! ∂v ∂a = , ∂c p,s ∂p c,s ! ! ∂t ∂a = . ∂c s,p ∂s c,p (2.13) (2.14) (2.15) (2.16) (2.17) Para a energia livre de Helmholtz específica f, f ≡ u − st, df = −pdv − sdt + adc, e as 3 relações de Maxwell a partir de (2.19) são ! ! ∂p ∂s − =− , ∂t v,c ∂v t,c (2.18) (2.19) (2.20) 21 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais ! ! ∂p ∂a − =+ , ∂c v,t ∂v c,t ! ! ∂s ∂a − =+ . ∂c t,v ∂t c,v (2.21) (2.22) Finalmente, para a energia livre de Gibbs específica, g ≡ h − st, dg = vdp − sdt + adc, e as 3 relações de Maxwell a partir de (2.24) serão ! ! ∂v ∂s + =− , ∂t p,c ∂p t,c ! ! ∂v ∂a + =+ , ∂c p,t ∂p c,t ! ! ∂s ∂a =+ . − ∂c t,p ∂t c,p (2.23) (2.24) (2.25) (2.26) (2.27) 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais 2.2.1 – Equações de estado Considere agora 2 gases ideais. Cada gás ideal “K” da mistura é definido pela equação de estado pK V = NK R t, MK R pK = t, V MK e definindo-se a constante e a densidade do gás K obtém-se ou, alternativamente, RK ≡ R/MK , MK , ρK ≡ V (2.28) pK = ρK RK t, (2.30) pK vK = RK t, (2.31) (2.29) e pela equação para sua energia interna específica, UK = UK0 + cvK (t − t0 ) (2.32) (Callen 1985, p. 66; Adkins 1983, p. 116), onde o calor específico a volume constante do gás K é dado por cvK = Z K RK (2.33) 22 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais Tabela 2.1: Propriedades de gases atmosféricos a 0◦ C e 101325 Pa † propriedade → MK RK Z K cpK (calculado) cpK (medido) gás ↓ 10−3 kg mol−1 J kg−1 K−1 J kg−1 K−1 J kg−1 K−1 N2 28,013 296,80 5/2 1038,80 1037 O2 31,999 259,83 5/2 909,40 909 H2 O 18,016 461,48 3 1845,92 1847 † Fontes: Fleagle e Businger (1980), Müller (1985), Iribarne e Godson (1986). com Z K = 3/2, 5/2 e 3 para gases monoatômicos, biatômicos e com mais de dois atómos, respectivamente (Müller, 1985, p. 9, eq. 1.20). À temperatura de referência t0 a energia interna possui um valor de referência arbitrário UK0 . Além disto, pK é a pressão parcial de vapor do gás K, V é o volume total ocupado, NK é o número de moles do gás K, R é a constante universal dos gases, MK é a massa do gás K e MK é a massa molar do gás K. A relação geral entre os calores específicos a volume constante cv e a pressão constante cp em uma substância pura é (Kondepudi e Prigogine, 1998, p.46) ! # ! " ∂v ∂U (2.34) cp − cv = p + ∂v t ∂t p de forma que da equação de estado (2.31) tem-se cpK − cvK = RK . (2.35) A tabela 2.2.1 fornece algumas propriedades de gases atmosféricos e a comparação entre os valores calculados de cpK a partir de (2.33) e (2.35) com valores medidos. 2.2.2 – Demais potenciais termodinâmicos de um gás ideal Entalpia Combinando-se (2.31) e (2.32), obtém-se hK ≡ UK + pK vK = UK0 + cvK (t − t0 ) + RK t = UK0 + RK t0 + (cvK + RK )(t − t0 ) = hK0 + (cvK + RK )(t − t0 ) = hK0 + cpK (t − t0 ). (2.36) Entropia A primeira lei da termodinâmica para o K-ésimo componente da mistura de gases é dUK = tdsK − pK dvK , (2.37) e como UK em um gás ideal depende somente de t, RK t dvK , vK dt dvK dsK = cvK + RK , t vK ρK t sK − sK0 = cvK ln − RK ln . t0 ρK0 cvK dt = tdsK − (2.38) 23 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais Alternativamente, use pK dvK + vK dpK = RK dt, dvK dpK dt + = , vK pK t (2.39) (2.40) para obter dt dpK − RK , t pK t pK = cpK ln − RK ln . t0 pK0 dsK = (cvK + RK ) sK − sK0 (2.41) Novamente, a entropia de referência à temperatura T0 é sK0 . A 3a lei da termodinâmica prevê que a entropia deve se anular quando a temperatura termodinâmica atinge o zero absoluto, de forma que sK0 não deve ser arbitrária; entretanto, nós vamos procurar abordar o problema mais à frente utilizando tabelas de entalpias e entropias de formação dos constituintes da mistura, e de certa forma evitando a 3a lei. Energia livre de Gibbs específica Para um gás ideal “K” com equação de estado (2.31), a relação de Maxwell (2.24) resulta em ! RK t ∂gK = vK = , (2.42) ∂pK t pK e agora integrando em relação a p (a t constante) nós obtemos ! pK gK (T , pK ) = G (T ) + RK t ln , (2.43) pK0 onde G (T ) é uma função somente da temperatura, a determinar. Na verdade, para um gás ideal é possível fazer muito melhor do que isto utilizando-se simplesmente as definições de hK (2.36) e sK (2.38): gK = hK − tsK # ρK t = hK0 + cpK (t − t0 ) − t sK0 + cvK ln − RK ln t0 ρK0 # " ρK t = hK0 + RK (t − t0 ) + cvK (t − t0 ) − t sK0 + cvK ln − RK ln t0 ρK0 ρK t0 t0 t0 = (hK0 − tsK0 ) + RK t 1 − + cvK t 1 − + cvK t ln + tRK ln t t t ρK0 t0 t0 = (hK0 − t0 sK0 ) −s0K t 1 − + RK t 1 − | {z } t t дK 0 ρK t0 t0 + cvK t 1 − + ln + tRK ln t t ρK0 ρK t0 t0 t0 = дK0 + (RK − sK0 )t 1 − + cvK t 1 − + ln + tRK ln (2.44) t t t ρK0 " Agora, para t0 /t ≈ 1, se expandirmos ln(t0 /t) em série de Taylor em torno de 1 até ordem 2, encontraremos t − t 2 ρK t0 1 0 gK ≈ gK0 + (RK − sK0 )t 1 − + RK t ln (2.45) − cvK t t 2 t ρK0 24 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais É importante observar que há necessariamente duas constantes de integração a determinar em (2.44) ou em (2.45). Este é o mesmo resultado obtido por Müller (1985) em sua equação (6.72). No nosso caso, nós retivemos a temperatura de referência t0 de maneira que o argumento de ln(·) permanece sempre adimensional. O conhecimento de t0 também será importante quando utilizarmos na próxima sub-seção os conceitos de entalpia, entropia e energia livre de Gibbs de formação de uma substância. 2.2.3 – A afinidade de uma mistura de gases ideais A pressão total de uma mistura de gases ideais será a soma das pressões parciais de vapor (a lei de Dalton), do que se obtém a equação de estado da mistura: X p= pk = ρ1R 1 t + ρ2R 2 t, # " ρ2 ρ1 R1t + R2t =ρ ρ ρ = ρ [c1R 1 + c2R 2 ] t = ρ [(1 − c)R 1 + cR 2 ] t = ρ [R 1 + (R 2 − R 1 )c] t. (2.46) Note que a mistura se comporta como se fosse um gás ideal com constante R(c) = R 1 + (R 2 − R 1 )c dependente da concentração c. Além disto, pode-se mostrar que para uma mistura de gases ideais a pressão, a entropia e todos os potenciais termodinâmicos são iguais às somas das quantidades correspondentes de cada gás (Adkins, 1983, p. 215). Nós vamos usar este resultado geral para obter algumas relações de interesse. Por exemplo, para a energia interna, U = U1 + U2 = U1 M1 + U2 M2 ⇒ U = c1U1 + c2U2 . (2.47) Analogamente, a entalpia e a entropia específicas são dadas por h = c1 h 1 + c2 h 2 , s = c1 s 1 + c2 s 2 . (2.48) (2.49) Segue-se de (2.48) que o calor específico a pressão constante da mistura é dado por ! ! ! ∂h ∂h1 ∂h2 cp ≡ = (1 − c) +c ∂t p,c ∂t p ∂t p = (1 − c)cp1 + ccp2 f g = cp1 + (cp2 − cp1 )c . (2.50) Note que enquanto que v, s, h, etc., são grandezas específicas por unidade de massa total M, U1 e U2 são energias internas por unidade de massa de cada gás, M1 e M2 (o mesmo acontecendo com h1 , h2 , s1 , s2 , etc.). Aqui, as relações-chave são v v MK v= = = vK cK (para cada K), (2.51) M MK M 25 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais dv = cK dvK + vK dcK (2.52) Finalmente, para obtermos a afinidade a da mistura de 2 gases ideais, nós precisamos permitir que c varie. Diferenciando (2.47), obtemos X (cK dUK + UK dcK ) dU = X (cK (tdsK − pK dvK ) + UK dcK ) . = (2.53) Diferenciando (2.49), X ds = (cK dsK + sK dcK ), X X t cK dsK = tds − tsK dcK , (2.54) e utilizando (2.51), (2.52) e (2.54) em (2.53): X X X dU = tds − tsK dcK − pK (dv − vK dcK ) + UK dcK X X X X = tds − pK dv − tsK dcK + pK vK dcK + UK dcK X = tds − pdv + (UK + pK vK − tsK )dcK X = tds − pdv + gK dcK . (2.55) O resultado, comparado com (2.8), mostra que µK = gK , (2.56) ou seja: os potenciais químicos de cada componente da mistura são iguais à respectiva energia livre de Gibbs da substância pura correspondente (ambos por unidade de massa); portanto, a afinidade de uma mistura de dois gases ideais é, simplesmente a = g2 − g1 . (2.57) A rigor, este mesmo resultado poderia ter sido obtido muito mais rapidamente por meio da equação de Euler (Callen, 1985, p. 59), ts = U + pv − N X µK cK ; (2.58) k=1 fazendo N = 1 para o caso de um único componente, e então c K ≡ 1, obtém-se µK = UK + pK vK − tsK ≡ gK . (2.59) 26 2.2 – Mistura diluída de 2 gases ideais Tabela 2.2: Entalpia e energia livre de Gibbs de formação, e entropia padrão de gases atmosféricos a 298,15 K e 100.000 Pa † propriedade → ∆ f h0 ∆ f g0 s0 gás ↓ MJ kg−1 MJ kg−1 kJ kg−1 K−1 N2 0 0 6,8383 O2 0 0 6,4086 H2 O −13,423 −12,688 10,479 † Fontes: NIST Chemistry WebBook, http://webbook.nist.gov/chemistry. 3 As equações diferenciais de transporte A turbulência é uma consequência da não-linearidade das equações diferenciais que governam o escoamento de fluidos e o transporte de escalares (vapor d’água, calor, CO2 , etc.). Neste capítulo nós vamos revisar de maneira breve a dedução destas equações a partir de leis de conservação da física e de equações constitutivas. 3.1 – Notação indicial Uma boa parte de nossas manipulações requer o uso de notação indicial, e dos conceitos de vetor e de tensor. De maneira extremamente breve, a notação indicial envolve simplesmente a supressão dos símbolos de somatório. Desta forma, um vetor em coordenadas cartesianas na base canônica {e 1 ,e 2 ,e 3 }, V = V1e 1 + V2e 2 + V3e 3 = 3 X Vi e i , (3.1) i=1 é escrito simplesmente como V = Vi e i . (3.2) A regra geral é que o aparecimento de um mesmo índice duas vezes em uma equação indica soma neste índice. Algumas vezes, entretanto, esta regra não se aplica. Por exemplo, eu posso querer me referir a V1e 1 ou V2e 2 ou V3e 3 . Nesse caso, usarei parênteses em torno dos índices, para informar que não há uma soma implícita nestes índices: V(i) e (i) . 3.2 – Continuidade Considere um volume V , delimitado por uma superfície fechada S . O balanço de massa total para V é dado pela equação de balanço integral ∂ ℘ dV + ℘(n · U ) dS (3.3) 0= ∂t V S onde ℘ é a massa específica, ou densidade, do fluido e U é o vetor velocidade do escoamento em cada ponto. Em (3.3), V é um volume material (Slattery, 1972), ou seja, o volume de um corpo que ocupa, instantaneamente, V . Em Mecânica dos Fluidos básica, 27 28 3.3 – Misturas frequentemente as análises se concentram sobre a região do espaço definida por V , que é então denominado volume de controle (Fox e McDonald, 1981). A idéia de volume material é talvez um pouco mais rica: se considerarmos que cada ponto de V representa um ponto material imerso no campo de velocidade U no instante t = 0, e seguirmos a trajetória de cada uma dessas partículas, o volume ocupado pelas mesmas em um instante posterior é o volume do mesmo corpo nesse último instante. O vetor unitário normal à superfície de controle em cada ponto é n. A integral de superfície acima pode ser transformada em uma integral de volume pelo Teorema da Divergência: ∂( ℘Ui ) ∂ dV , ℘ dV + 0 = ∂t V ∂xi V ! ∂ ℘ ∂( ℘Ui ) 0 = + dV . (3.4) ∂t ∂xi V Esboçamos agora o argumento do Teorema da Localização: o volume V para o qual a equação acima se aplica é totalmente genérico: de fato, (3.4) acima aplica-se a qualquer volume dentro de um escoamento. Mas isso só é possível se o integrando for identicamente nulo, ou seja: ∂ ℘ ∂( ℘Ui ) + = 0. ∂t ∂xi (3.5) Uma outra forma útil da equação da continuidade é ∂℘ ∂℘ ∂Ui + Ui +℘ = 0, ∂t ∂xi ∂xi D℘ ∂Ui +℘ =0 Dt ∂xi (3.6) Finalmente, se utilizarmos o volume específico, V≡ 1 ℘ , (3.7) obteremos uma terceira forma útil da equação da continuidade: ∂Ui 1 DV = ∂xi V Dt (3.8) Fisicamente, (3.8) significa que a divergência do campo de velocidade é igual à taxa temporal de variação do volume de fluido (por unidade de volume!) em cada ponto. 3.3 – Misturas Nesta seção nós vamos seguir a essência da abordagem de Bird et al. (1960, cap. 16): ela permite entender claramente o significado de difusão molecular de uma substância em um fluido, e em nossa opinião evita totalmente confusões comuns a respeito do papel da difusão e da advecção em meios contínuos. 29 3.3 – Misturas Além disso, nós vamos considerar, por simplicidade, apenas misturas binárias, com um soluto A dissolvido em um solvente B. A generalização para misturas com mais de 2 componentes é óbvia. Em uma mistura binária nós postulamos a existência em cada ponto de uma densidade para cada componente, ℘A e ℘B , de tal maneira que as massas totais de A e B em um volume material V são, respectivamente, MA = ℘A dV , MB = ℘B dV . (3.9) V V É evidente que, em cada ponto, devemos ter ℘ = ℘A + ℘B . (3.10) Note que a abordagem postulatória de (3.9) é compatível com a visão tradicional em Mecânica do Contínuo. Prosseguindo, nós também postulamos a existência de campos de velocidade para cada espécie, U A e U B , cujas integrais em um volume material são a quantidade de movimento total de cada espécie, respectivamente P A e P B . Por analogia com (3.9)–(3.10), temos ℘BU B dV . (3.11) ℘AU A dV , PB = PA = V V Agora, a quantidade de movimento total do corpo que ocupa V deve ser P= ℘U dV , (3.12) V onde U é a velocidade do fluido em cada ponto, de tal forma que devemos ter ℘U = ℘AU A + ℘BU B . (3.13) O ponto fundamental agora é perceber que é extremamente difícil, senão impossível, medir diretamente U A e U B . Em seu lugar, é muito mais simples trabalhar unicamente com o campo de velocidade U do fluido como um todo em cada ponto. Para tanto, nós definimos o vetor fluxo difusivo de massa de A: J A = ℘A [U A − U ] . (3.14) A concentração mássica de A é CA ≡ ℘A , ℘ (3.15) e vale a lei de Fick em cada ponto: J A = −℘νA ∇C, (3.16) onde νA é a difusividade molecular de A na mistura. Relações totalmente análogas também valem para o solvente B. Finalmente, das equações (3.10) e (3.13) obtém-se: J A + J B = ℘A [U A − U ] + ℘B [U B − U ] 30 3.4 – Quantidade de movimento = ℘AU A + ℘BU B − ( ℘A + ℘B ) U = ℘U − ℘U = 0. (3.17) Essa equação é válida em todos os pontos de um fluido, exceto talvez em uma superfície onde haja um fluxo líquido de A para dentro da massa de fluido. Prosseguindo, por analogia com (3.3), o balanço integral de A é tão simples quanto ∂ 0= ℘A dV + ρA (n · U A ) dS ∂t V S ∂ ℘A dV + ρA (n · [U A − U + U ]) dS; = ∂t V S ∂ ℘A dV + ℘A (n · U ) dS, − ℘A (n · [U A − U ]) dS = ∂t V S S ∂ − (n · J A ) = ℘A dV + ℘A (n · U ) dS, (3.18) ∂t V S S onde a introdução de J A na última linha segue-se de sua definição (3.14). Uma dedução totalmente análoga vale para B. A aplicação dos teoremas da divergência e da localização para A e para B produz, agora, duas equações diferenciais de balanço de massa: ∂JA,i ∂ ℘A ∂ ℘AUi + =− , ∂t ∂xi ∂xi ∂JB,i ∂ ℘B ∂ ℘BUi + =− . ∂t ∂xi ∂xi (3.19) (3.20) A soma de (3.19) e (3.20) tem que restaurar (3.5); dada a equação (3.10), segue-se necessariamente que ∂JA,i ∂JB,i + ≡ 0. (3.21) ∂xi ∂xi (3.21) vale sempre; duas coisas podem acontecer. No caso mais geral, qualquer difusão molecular do soluto A é compensada por difusão molecular, também do solvente B, em um certo sentido, “no sentido oposto”. Note entretanto que (3.21) estipula que é a soma das divergências dos fluxos difusivos de massa que é nula. Portanto, uma situação particular que pode ocorrer é o caso em que J A = const. e J B = 0; portanto é possível ocorrer fluxo difusivo apenas do soluto, desde que a sua divergência seja nula. É comum a confusão entre um fluxo e sua divergência nas equações de um meio contínuo, e este é um bom exemplo para explicitar sua diferença. 3.4 – Quantidade de movimento O balanço integral geral de quantidade de movimento para um volume material V é ∂ Fs + Fc = ℘U dV + ℘U (n · U ) dS, (3.22) ∂t V S onde F s são as forças de superfície atuando sobre o volume de controle, e F c são as forças de corpo. A equação a seguir, Fs = t dS = n · T dS = n jTji e i dS, (3.23) S S S 31 3.4 – Quantidade de movimento condensa um volume considerável de conhecimento. A força de superfície é dada pela integral de superfície do vetor-tensão t. Este por sua vez é escrito na forma t = n · T , isto é, como o pré-produto do vetor unitário normal n pelo tensor de tensões T . Finalmente, a equação constitutiva para o tensor de tensões T em função do primeiro coeficiente de viscosidade µ, do segundo coeficiente de viscosidade λ e da pressão termodinâmica P é ! ∂Uk δ ji + 2µS ji . (3.24) Tji = −P + λ ∂xk onde ! 1 ∂Uj ∂Ui S ji = + (3.25) 2 ∂xi ∂x j é a taxa de deformação. A integral de superfície correspondente à força de superfície é transformada em uma integral de volume por intermédio do Teorema da divergência: # " ! ! # " ∂Tji ∂P ∂ ∂Uk ∂ − dV e i = +λ + 2µ S ji dV e i . Fs = ∂xi ∂xi ∂xk ∂x j V V ∂x j (3.26) Para obter (3.26), nós supusemos µ constante, e o “retiramos” da operação de diferenciação. Embora estritamente isso não seja verdade, é usual desconsiderar as variações de µ (e eventualmente de λ) com a posição na dedução das equações de Navier-Stokes. A força de corpo num referencial em rotação deve incluir a aceleração de Coriolis: ϖ é a velocidade angular da terra, д é a aceleração da gravidade (o que inclui os demais efeitos de a Terra ser um referencial não-inercial — veja Liggett (1994)), e " # ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk dV e i . ℘ д − 2ϖ × U dV = (3.27) Fc = V V Os termos do lado direito são " # ∂ ℘Ui ∂ ℘U dV = dV e i , ∂t V ∂t V " # " U ℘(U · n) dS = Ui ℘Uj n j dS e i = S S V (3.28) # ∂ ℘UiUj dV e(3.29) i. ∂x j Reunindo todos os termos, " ∂ ℘Ui ∂ ℘Ui Uj ! # ∂ Tji + ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk − − dV e i = 0. ∂t ∂x j V ∂x j (3.30) Pelo teorema da localização, o integrando deve ser identicamente nulo; então: ∂ ℘Ui ∂ ℘Ui Uj ∂ + = ℘ дi − 2ϵijk ΩjUk + Tji . ∂t ∂x j ∂x j (3.31) Expandindo o lado esquerdo e simplificando-o por meio de (3.5), e explicitando Tji com (3.24): ! ∂Ui ∂Ui ∂ ℘ + Uj = ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk + Tji , (3.32) ∂t ∂x j ∂x j 32 3.5 – Energia ! ∂Sij 1 ∂ ∂Uk ∂Ui ∂Ui + Uj = дi − 2ϵijk ϖ jUk + −P + λ + 2νu . ∂t ∂x j ℘ ∂xi ∂xk ∂x j (3.33) onde nós usamos (3.24) e (3.26), e ℘ νu ≡ µ (3.34) define a viscosidade cinemática νu . Embora (3.33) seja provavelmente a forma mais “clássica” de apresentar as equações de Navier-Stokes compressíveis, ela não será a mais útil quando precisarmos lançar mão da aproximação de Boussinesq no capítulo 5. Por isso, preferimos escrever a equação para quantidade de movimento na forma totalmente equivalente ! ∂ ∂Sij ∂( ℘Ui ) ∂ ℘Ui Uj ∂Uk + = ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk + −P + λ +2µu . (3.35) ∂t ∂x j ∂xi ∂xk ∂x j 3.5 – Energia A equação de balanço da energia total (ou seja: interna e cinética) para um volume de controle é ˙ H˙ H˙ ∂ H E ℘(n · U ) dS. (3.36) E ℘ dV + W +Q +I = ∂t V S H˙ é a taxa de trabalho realizada sobre o volume de controle pelas forças onde W H˙ é o fluxo de calor por condução para dentro do vode superfície e de corpo, Q ˙ lume de controle e H I é a taxa de aporte de energia para dentro do volume de controle devido à difusão de massa e consequente mudança relativa de composição química da mistura. Os tis servem para diferenciar valores totais de H é o trabalho sobre um valores por unidade de massa; assim (por exemplo), W corpo, enquanto que W é o trabalho por unidade de massa. A energia específica (por unidade de massa) é 1 E = Ui Ui + U, (3.37) 2 onde U é a energia interna por unidade de massa. Note que nós não incluímos nenhum termo de energia potencial, porque Ẇ contabilizará todas as forças atuando sobre o volume de controle, incluindo as conservativas. O cálculo de cada um dos termos do lado esquerdo de (3.36) é feito como se segue: ˙H Q=− (n · q) dS = ℘cpνT (n · ∇T ) dS S S ! ∂T ∂ ∂T = ℘cpνTn j dS = ℘cpνT dV , (3.38) ∂x j ∂x j S V ∂x j onde q é o vetor fluxo de calor. Em notação indicial, a equação constitutiva para a transferência de calor por condução, ou difusão molecular, é qi = −℘cp ν T ∂T , ∂xi (3.39) 33 3.5 – Energia onde cp é o calor específico a pressão constante do fluido, ν T é a difusividade térmica molecular, e T é a temperatura termodinâmica. O trabalho realizado sobre V é ˙H ( ℘[д − 2ϖ × U ] · U ) dV + W = (t · U ) dS V S = ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk Ui dV + n jTjiUi dS V S ! ∂ (Tji Ui ) dV = ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk Ui + ∂x j V ! ! ∂Tji ∂Ui = Ui + Tji dV . (3.40) ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk + ∂x j ∂x j V O lado direito de (3.36) é ! ∂(E ℘) ∂℘ ∂E ∂ dV = +℘ dV E ℘ dV = E ∂t V ∂t ∂t ∂t V V (3.41) e S E ℘(n · U ) dS = S E ℘n jUj dS = V ∂ ( ℘Uj E) dV = ∂x j ! ∂ ℘Uj ∂E E + ℘Uj dV (3.42) ∂x j ∂x j V Combinando (3.41) e (3.42) acima, tem-se ! +/ *. .. * ∂ ℘ ∂ ℘Uj + ∂E ∂E // .E . ∂t + ∂x / +℘ ∂t + Uj ∂x // dV , j j / V . . , | {z }=0 , - (3.43) onde o primeiro termo é nulo por força da equação da continuidade. O restante é ! D 1 DUi DU DE ℘ dV = ℘ Ui Ui + U dV = ℘ Ui + dV . (3.44) Dt Dt 2 Dt Dt V V V Combinando-se todos os termos da equação de energia, V ! ! ∂Tji ∂ ∂T ∂Ui ℘cpνθ + Tji + Ui ℘ дi − 2ϵijk ϖ jUk + − ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j !! DUi DU ℘ Ui + dV = 0 (3.45) Dt Dt Colocando em evidência os termos com ℘Ui em comum, " !# ∂Tji DUi ℘Ui − дi − 2ϵijk ϖ jUk + ≡ 0, Dt ∂x j (3.46) 34 3.5 – Energia já que o termo entre parênteses é a própria equação de balanço de quantidade de movimento! O que resta, após aplicarmos o teorema da localização, é ! ∂ ∂T ∂Ui DU = ℘cp ν T + Tji , (3.47) ℘ Dt ∂x j ∂x j ∂x j onde, de maneira análoga ao que foi feito com a equação de quantidade de movimento quando consideramos µ constante, nós consideramos o termo ℘cp νθ constante e o retiramos da derivada. Novamente, embora não seja estritamente correto, isso é usual. O termo ∂Ui /∂x jTji é facilmente calculável: ! ! ∂Uk ∂Ui ∂Ui Tji = −P + λ δ ji + 2µSij (3.48) ∂x j ∂xk ∂x j !2 ∂Ui ∂Uk ∂Ui = −P +λ + 2µSij . (3.49) ∂xi ∂xk ∂x j Mas pela simetria dos índices i e j, ! ! ∂Uj ∂Ui ∂Uj ∂Ui ∂Uj ∂Ui + = + , ∂x j ∂xi ∂x j ∂xi ∂x j ∂xi (3.50) donde ! ∂Ui ∂Ui ∂Uj ∂Ui 2Sij = + ∂x j ∂x j ∂xi ∂x j ! ! ! ∂Uj ∂Ui ∂Uj 1 ∂Ui ∂Uj ∂Ui = + + + 2 ∂x j ∂xi ∂x j ∂xi ∂x j ∂xi !2 1 ∂Uj ∂Ui + = 2Sij Sij . = 2 ∂xi ∂x j (3.51) Note que (3.51) é uma soma de 9 termos, todos eles positivos. Finalmente, obtemos !2 ∂Ui ∂Uk ∂Uk Tij = −P +λ + 2µSij Sij . (3.52) ∂x j ∂xk ∂xk Os dois últimos termos correspondem à conversão irreversível de energia mecânica em energia interna, e é possível mostrar que sua soma é sempre positiva, debaixo da hipótese de Stokes (Kundu, 1990, p. 92), 2 λ + µ = 0. 3 (3.53) Então, a equação de interação tensor de tensões-gradiente de velocidade fica !2 ∂Ui ∂Uk 1 ∂U k +, + 2µ *Sij Sij − (3.54) Tij = −P ∂x j ∂xk 3 ∂x k , e podemos completar o quadrado do termo entre parênteses: !2 !2 !2 1 ∂Uk 2 ∂Uk 1 ∂Uk Sij Sij − = Sij Sij − + 3 ∂xk 3 ∂xk 3 ∂xk 35 3.6 – Dissipação viscosa = = = = ! ! !2 ∂Uk 1 ∂Uk 1 ∂Uk Sij Sij − 2 + ∂xk 3 ∂xk 3 ∂xk ! !2 ! 1 ∂Ui ∂Uj 1 ∂Uk 1 ∂Uk Sij Sij − 2 + + δij 2 ∂x j ∂xi 3 ∂xk 3 ∂xk ! !2 1 ∂Uk 1 ∂Uk Sij Sij − 2Sij δij + δij δij 3 ∂xk 9 ∂xk ! !2 1 ∂Uk Sij − δij . (3.55) 3 ∂xk Finalmente, ! ! !2 ∂Ui ∂Uk 1 ∂Uk Tji = −P + 2µ Sij − δij . ∂x j ∂xk 3 ∂xk A equação diferencial completa para a energia interna fica ! ! ! !2 DU ∂ ∂T ∂Uk 1 ∂Uk ℘ = ℘cp ν T −P + 2µ Sij − δij , Dt ∂x j ∂x j ∂xk 3 ∂xk {z } | {z } | {z } | I II (3.56) (3.57) Φ=III onde I representa o aquecimento/resfriamento de uma partícula de fluido por condução, II representa o trabalho reversível realizado pela pressão, e III, que é sempre positivo, é a conversão irreversível de energia mecânica em energia interna, e denomina-se dissipação viscosa. Em muitos livros, a dissipação viscosa é denotada pela letra grega (minúscula ou maiúscula) Φ. Essa última está relacionada com uma grandeza que vai aparecer inúmeras vezes em teoria de turbulência, a taxa de dissipação de energia cinética por unidade de massa, Ee . As duas relacionam-se simplesmente por Φ = ℘Ee . (3.58) Uma forma alternativa a (3.57) é facilmente obtida utilizando a definição de entalpia específica, (2.13) [repetida aqui enquanto o capítulo 2 não é revisado] H = U + PV obtemos ! ∂ ∂T 1 DU P + = ℘cp ν T + Φ, V Dt V ∂x j ∂x j ! 1 D DP ∂ ∂T (U + PV) − = ℘cp ν T + Φ, V Dt Dt ∂x j ∂x j ! ∂ ∂T DH DP ℘ − = ℘cp ν T + Φ. Dt Dt ∂x j ∂x j (3.59) 3.6 – A dissipação viscosa como perda de energia mecânica e fonte de energia interna Neste ponto, é muito conveniente nós dedicarmos um pouco mais de atenção à energia mecânica do escoamento. Como vimos, utilizando uma série de 36 3.7 – A decomposição de Reynolds para variáveis quadráticas simplificações baseadas nas leis de conservação de massa e de momentum, nós reduzimos o balanço integral que corresponde à conservação geral de energia (cinética mais interna), (3.36), a uma equação diferencial para a energia interna, (3.57). Na sequência, nós vamos seguir se não passo a passo pelo menos muito de perto a excelente exposição do assunto feita por Kundu (1990). Primeiramente, note de (3.40) que o taxa de trabalho realizada pelas forças de superfície sobre um volume material V é: ∂ Tji Ui dV . (3.60) Ẇs = (t · U ) dS = . . . = S V ∂x j Kundu (1990) denomina ∂ Tji Ui /∂x j de trabalho total, por unidade de volume, das forças de superfície em um ponto. Já o produto escalar de U pela equação dinâmica (3.32) é ∂ D 1 DUi =℘ Ui Ui = ℘Ui д + Ui (Tji ). (3.61) ℘Ui Dt Dt 2 ∂x j Note que o trabalho por unidade de volume das forças de superfície efetivamente responsável pela variação da energia cinética, Ui ∂Tji /∂x j , é diferente do trabalho total; utilizando a regra da cadeia, entretanto, é elementar que ∂Ui ∂ D 1 Ui Ui = ρUi д + UiTji − Tji . (3.62) ℘ Dt 2 ∂x j ∂x j O último termo do lado direito da equação acima é denominado por Kundu trabalho de deformação. Ele é dado por (3.56), donde ! ! !2 D 1 ∂ 1 ∂Uk ∂Uk ℘ Ui Ui = ℘Ui д + −2µ Sij − δij . (3.63) UiTji +P Dt 2 ∂x j ∂xk 3 ∂xk Nosso quadro de balanço de energia fica, então, completo: o mesmo termo que aparece com um sinal positivo em (3.57) como um aumento irreversível de energia interna, aparece aqui com um sinal negativo como uma diminuição, igualmente irreversível, de energia cinética. 3.7 – A decomposição de Reynolds para variáveis quadráticas Duas quantidades que vimos até aqui aparecem de forma natural como quadrados. Elas são a energia cinética do escoamento (por unidade de massa), 1 Ec = Ui Ui 2 e Ee , a taxa de dissipação de Ec : ! #" ! # " 1 ∂Uk 1 ∂Uk Ee = 2νu Sij − δij Sij − δij . 3 ∂xk 3 ∂xk Em (3.65), nós utilizamos (3.57) e (3.58) juntamente com (3.34). Aplicando a decomposição de Reynolds (1.9) a (3.64), temos: Ec = 1 [hUi i + ui ] [hUi i + ui ] 2 (3.64) (3.65) 37 3.7 – A decomposição de Reynolds para variáveis quadráticas = 1 [hUi i hUi i + 2 hUi i ui + ui ui ] . 2 (3.66) Promediando a equação acima, e utilizando os postulados de Reynolds (1.11)– (1.13), 1 1 (3.67) hEc i = hUi i hUi i + hui ui i . 2 {z } | 2 {z } | hEcm i hEct i Note que, por ser definida como um quadrado, a “flutuação” de Ec (ou seja, o segundo e o terceiro termos do lado direito de (3.66)) não é nula. O primeiro termo do lado direito de (3.67) é a energia cinética do escoamento médio, hEcm i. O segundo termo de (3.67) é de grande importância em teoria de turbulência. Ele é, apropriadamente, denominado de energia cinética da turbulência, hEct i , muitas vezes abreviado pela sigla ECT∗ . Para registro: hEct i = 1 hui ui i . 2 (3.68) O procedimento de decomposição para a taxa de dissipação de energia cinética é análogo. Comece notando que, novamente com a ajuda da decomposição de Reynolds (1.9), e de (1.15), " # 1 ∂Ui ∂Uj + Sij = 2 ∂x j ∂xi D E ∂ Uj ∂u j 1 ∂hUi i ∂ui = + + + 2 ∂x j ∂x j ∂xi ∂xi D E " # 1 ∂hUi i ∂ Uj 1 ∂ui ∂u j + + + = 2 ∂x j ∂xi 2 ∂x j ∂xi {z } | {z } | hSi j i D E = Sij + sij , si j (3.69) D E onde Sij é a taxa de deformação média, e sij é a sua flutuação. Da mesma forma, é imediato que ∂Uk ∂hUk i ∂uk = + . (3.70) ∂xk ∂xk ∂xk Agora, "D E ! ! # 1 ∂hUk i 1 ∂uk Ee = 2νu Sij − δij + sij − δij × 3 ∂xk 3 ∂xk "D E ! ! # 1 ∂hUk i 1 ∂uk Sij − δij + sij − δij 3 ∂xk 3 ∂xk "D E ! #2 "D E ! #" # 1 ∂hUk i 1 ∂hUk i 1 ∂uk = 2νu Sij − δij + 2 Sij − δij sij − δij + 3 ∂xk 3 ∂xk 3 ∂xk " #2 1 ∂uk sij − δij (3.71) 3 ∂xk ∗ Em Inglês, Turbulence Kinetic Energy ou TKE 38 3.7 – A decomposição de Reynolds para variáveis quadráticas Prosseguimos, com a promediação de (3.71) e (novamente) com o uso dos postulados de Reynolds: !2 D E D E D E ∂hUk i ! 2 1 ∂hU i k δij + δij δij + hEe i = 2νu Sij Sij − Sij 3 ∂xk 9 ∂xk * !+ * ! + D 2 E 2 ∂uk 1 ∂uk = 2νu sij sij − sij (3.72) δij + δij δij . 3 ∂xk 9 ∂xk Mas: D E ∂hUk i Sij δij = , ∂xk ∂uk sij δij = , ∂xk δij δij = 3, donde ! 2 D E D E 1 ∂hUk i + 2νu hEe i = 2νu Sij Sij − 3 ∂xk | {z } | hEem i * ! 2 + D E sij sij − 1 ∂uk . 3 ∂xk {z } (3.73) hEet i Da mesma forma que a energia cinética (vide (3.67)), portanto, a taxa de dissipação de energia cinética pode ser decomposta numa taxa de dissipação associada ao escoamento médio hEem i (primeiro termo do lado direito de (3.73)), e uma taxa de dissipação da energia cinética da turbulência, hEet i (segundo termo do lado direito de (3.73)). Essa última é uma grandeza muito importante. Para registro: D E 1 * ∂uk ! 2 + . (3.74) hEet i = 2νu sij sij − 3 ∂xk No início da década de 1940, começou a ficar claro que hEet i é uma grandeza fundamental em turbulência. No próximo capítulo, nós vamos ver que, com base em alguns argumentos simples e muito razoáveis, hEet i hEem i quando o número de Reynolds se torna muito grande. Isso por sua vez D E de DumEescoamento D E significa que sij sij Sij Sij , e que deve existir, no caso escoamentos turbulentos com número de Reynolds muito grande, uma grande separação entre as escalas macroscópicas e as escalas microscópias da turbulência. As primeiras estão associadas aos gradientes de velocidade, e taxas de deformação, médios. As segundas estão associadas aos gradientes quadráticos médios (e taxas de deformação quadráticas médias). 4 As macro e micro escalas da turbulência 4.1 – Macro e micro escalas: uma apresentação informal Como observa Davidson (2004, p. 19–20), uma boa parte do que nós sabemos sobre turbulência pode ser resumido nas relações hEet i ∼ ũ 3 /`, ηu = νu3 hEet i (4.1) ! 1/4 , ǔ = (νu hEet i) 1/4 , ! 1/2 νu . τu = hEet i (4.2) (4.3) (4.4) O restante é como se segue: ũ e ` são macroescalas de velocidade e de comprimento, respectivamente. Elas refletem as velocidades e comprimentos “macroscópicos” que nós “vemos” em um escoamento: o diâmetro da tubulação, a distância da superfície em uma camada-limite, a profundidade do escoamento em um rio, etc. (`); e as diferenças de velocidade entre duas seções, a intensidade das flutuações turbulentas de velocidade, etc. (ũ). Para as ordens de grandezas de termos nas equações, nós vamos adotar a notação de Tennekes e Lumley (1972): em (4.1), o símbolo ∼ significa que o coeficiente adimensional que torna a relação uma equação não é maior do que 5, e não é menor do que 1/5. Já ηu (“eta”, em grego), ǔ e τu (“tau”, em grego) são microescalas de comprimento, velocidade e de tempo; em homenagem ao seu proponente, elas são chamadas atualmente de microescalas de Kolmogorov (Kolmogorov, 1991). ǔ e ηu não podem ser “vistas”; elas refletem as diferenças de velocidade e de comprimento que ocorrem em cada ponto de um escoamento turbulento, e que só podem ser estimadas (na média quadrática, como veremos em breve) em função da taxa de dissipação de energia cinética da turbulência, hEet i, e da viscosidade cinemática νu . Para o estudante que aborda Turbulência pela primeira vez, ` e ũ são estranhos e difíceis de compreender, enquanto que ηu , ǔ, e τu são completamente impossíveis. Numa tentativa de aliviar a estranheza, a abordagem que se segue procura dar um pouco de concretude a esses conceitos, por meio de alguns exemplos. 39 40 4.1 – Macro e micro escalas: uma apresentação informal Pb Ua Pa Ub V ℓ Figura 4.1: Expansão súbida em uma tubulação. Em lugar de prosseguir com “escalas” arbitrárias ũ e `, considere o escoamento clássico de um fluido com densidade ℘ constante através de uma expansão súbita em uma tubulação, mostrado na figura 4.1. As áreas das seções transversais antes e depois da expansão são Aa e Ab . Os perfis esboçados na figura 4.1 são idealizações: é bem conhecido que a velocidade (relativa) de um fluido junto a uma parede sólida é zero, que é a “condição de não-deslizamento”. O significado físico da figura 4.1, portanto, é que na maior parte do escoamento “antes”, e “depois”, da expansão súbita de área, a velocidade é aproximadamente constante. Para o volume material V (com superfície S ) indicado pela linha pontilhada na figura 4.1, as equações macroscópicas de balanço são (3.3) (massa); (3.22) ˙ (quantidade de movimento) e (3.36) (energia, com H I ≡ 0), repetidas aqui por conveniência: ∂ ℘ dV + ℘ (n · U ) dS, 0= ∂t V S ∂ U ℘ (n · U ) dS, U ℘ dV + Fs + Fc = ∂t V S ∂ ˙ H˙ H W +Q = E ℘ dV + E ℘ (n · U ) dS. ∂t V S Suponha agora perfis uniformes de velocidade nas seções de entrada (a) e saída (b), U a = Ua e 1 , U b = Ub e 1 . Para ℘ constante, a equação macroscópica de conservação de massa em regime permanente produz Ua Aa = Ub Ab . (4.5) Para a conservação de quantidade de movimento, é preciso supor que as forças de atrito têm efeito desprezível, e que as forças de superfície são, preponderantemente, devidas à diferença de pressão entre as sessões a (entrada) e b (saída), de tal forma que [−Pn] dS. Fs = t dS = n · T dS = n · [−Pδ] dS = S S S S 41 4.1 – Macro e micro escalas: uma apresentação informal Na entrada, n = −e 1 , e na saída n = +e 1 , donde (para perfis uniformes de pressão na entrada (Pa ) e na saída (Pb )), Fs1 = (Pa − Pb ) Ab . Observe que Ab é comum, na expressão acima, para Pa e para Pb . A interpretação é que, imediatamente após a expansão, a pressão (na seção a) ainda é Pa , e age de forma aproximadamente uniforme sobre a face esquerda do volume de controle. Com o termo transiente identicamente nulo, e F c ≡ 0, segue-se agora que (na direção longitudinal, que é a única direção relevante para os balanços macroscópicos), f g (Pa − Pb ) Ab = ℘ −Ua2Aa + Ub2Ab = ℘ [Ub − Ua ] (Ua Aa ) (4.6) O trabalho realizado sobre a superfície de controle é preponderantemente devido à pressão: ˙H W = U · t dS S Ua e 1 · [−Pa (−e 1 )] dS + Ub e 1 · [−Pb (+e 1 )] dS = Ab Aa = PaUa Aa − PbUb Ab . A equação de balanço de energia, portanto, torna-se (Pa − Pb )(Ua Aa ) = ℘ H˙ . Ub2 − Ua2 (Ua Aa ) + ℘(UB − UA )(Ua Aa ) − Q | {z } 2 (4.7) Tx. de Dissipação Os dois últimos termos do lado direito são o fluxo líquido de energia interna (UA e UB são as energias internas por unidade de massa na entrada e na saída do volume de controle), e a taxa de calor trocada com o volume de controle. Por hipótese, a dissipação de energia mecânica deve fazer com que ambos sejam positivos, ou seja: UB > UA (a dissipação aumenta a energia interna específica H˙ < 0 (parte de energia mecânica dissipada flui como calor para fora do fluido) e Q do volume de controle). Por definição, a sua soma é a taxa total de dissipação de energia. Se ϵe é a dissipação média por unidade de massa dentro do volume de controle, temos H˙ ℘Ab `ϵe = ℘(UB − UA )(Ua Aa ) − Q. Note primeiramente que a equação (4.7) pode ser reescrita como f g Pa + (1/2) ℘Ua2 − Pb + (1/2) ℘Ub2 (Ua Aa ) = ℘Ab `ϵe , ou seja, a “perda de carga” hidráulica entre as seções a e b é igual à dissipação de energia. Do ponto de vista de obter uma expressão final para ϵe , entretanto, é mais frutífero primero eliminar a diferenção de pressão entre as sessões utilizando (4.6): Aa Pa − Pb = ℘(Ub − Ua )Ua , Ab 42 4.1 – Macro e micro escalas: uma apresentação informal Pa Pb τ0 V U L Figura 4.2: Escoamento clássico em um tubo com perda de carga. e em seguida substituir na equação (4.7): (Ua Aa ) 2 ℘(Ub − Ua ) Ab Aa (Ub − Ua )Ua Ab 1 Aa (Ua + Ub ) − Ua 2 A # b " 1 1 Aa + −1 Ua 2 2 Ab = ℘ 2 (Ub2 − Ua2 )(Ua Aa ) + ℘Ab `ϵe , = [(1/2)(Ua + Ub )(Ub − Ua )] + `ϵe Aa , Ua Ab Aa ` ϵe , Ab Ua (Ua − Ub ) Aa ` ϵe , = Ab Ua2 1 − Aa Ab !2 3 1 Aa Aa Ua . (4.8) ϵe = 1 − Ab Ab ` 2 Note que (4.8) tem a mesma forma de (4.1). No entanto, há uma diferença significativa: enquanto que na sequência nós suporemos que (4.1) vale pontualmente, (4.8) dá a taxa de dissipação média dentro do volume de controle. Um argumento mais “crítico” — no sentido de que de fato não existe nada de excepcional em (4.8) — é que as duas equações têm que ter a mesma forma simplesmente pelo fato de que hEe i e ϵe possuem as mesmas dimensões físicas. No entanto, a equação (4.1) aparecerá repetidamente neste livro, e espera-se que a dedução da análoga (4.8) ajude o estudante a compreender a sua motivação. Nosso segundo exemplo, mostrado na figura 4.2, é o escoamento clássico ao longo de um tubo com perda de carga. Esse problema vai ser estudado detalhadamente do ponto de vista do perfil de velocidade, e de como a perda de carga é calculada, mais à frente neste texto. Por enquanto, vamos supor que há uma perda de carga linear ao longo da tubulação e fazer a mesma aproximação de um perfil constante de velocidade na seção que fizemos no exemplo anterior. Os balanços integrais de massa, quantidade de movimento e energia entre as seções A e B do volume de controle V indicado na figura resultam em = U = constante em x, (Pa − Pb )A − τ0 × 2πRL = 0, H˙ , (Pa − Pb )U A = ℘(UB − UA )U A − Q | {z } ℘ALϵe 43 4.1 – Macro e micro escalas: uma apresentação informal onde A = πR 2 é a área da seção transversal, e τ0 é a tensão de cisalhamento entre a parede do tubo e o escoamento. Da equação de balanço de quantidade de movimento, 2τ0L , Pa − Pb = R que levada à equação de balanço de energia produz 2τ0L U = ℘Lϵe , R τ0 U 2 =ϵ . ℘R e Neste ponto, é conveniente introduzir o coeficiente de arrasto CD e a velocidade de atrito u ∗ : τ0 ≡ ℘CDU 2 , r τ0 ℘ donde = u ∗2 , (4.9) (4.10) 2 u ∗3 ϵe = √ . (4.11) CD R Observe que, novamente, (4.11) tem a forma geral de (4.1). Novamente, tratase de uma taxa de dissipação média, e um observador rigoroso poderá também argumentar que em sua essência (4.11) é simplesmente uma consequência das dimensões físicas de ϵe . No entato, tanto (4.8) quanto (4.11) contam uma “história” importante: a taxa de dissipação de energia mecância ϵe está sendo imposta pelas escalas macroscópicas do escoamento. Observe como o coeficiente de viscosidade cinemática não comparece em nenhuma das duas equações. Em ambos os casos, o escoamento turbulento se “ajustará” a essa taxa imposta pelas escalas macroscópicas. Hoje sabemos que o processo pelo qual a energia mecânica injetada no escoamento pelas escalas macroscópicas é dissipada possui dois “estágios”: no primeiro estágio, forma-se uma “cascata” de energia, que se redistribui sob a forma de energia cinética da turbulência em escalas progressivamente menores. O termo responsável por esse estágio nas equações de Navier-Stokes é o termo não-linear, Uk ∂Ui /∂xk . Em geral, supõe-se que esse processo é acompanhado pela geração de turbilhões sucessivamente menores, e ele é bem descrito pelas equações de vorticidade. Em 3 dimensões, o processo de transferência inercial de energia é compreendido como sucessivos alongamentos de vórtices (vortex stretching) e entortamentos de vórtices (vortex tilting). Em um dado momento, as escalas espaciais que caracterizam esses vórtices são suficientemente pequenas para que a viscosidade do escoamento interaja diretamente com eles. Esse é o segundo estágio, no qual a energia desses numerosos pequenos vórtices é dissipada. As escalas características da “faixa de dissipação” são ηu , û, e τu . Um argumento dimensional simples sugere que hEet i ∼ ν (û/ηu ) 2 . Nessas pequenas escalas o escoamento é “laminar”, no sentido de que o número de Reynolds formado pelas escalas locais de comprimento e de velocidade que caracterizam os menores vórtices do escoamento é da ordem de 1, como veremos em detalhe a seguir. 44 4.2 – Uma definição formal das escalas macroscópicas 4.2 – Uma definição formal das escalas macroscópicas Na sequência, será necessário fazer uma estimativa de ordem de grandeza de, hU i e de seus gradientes. Também será necessário Destimar E a ordem de grandeza de “covariâncias turbulentas”, por exemplo de ui u j . Para o campo de velocidade, nós adotaremos inicialmente as seguintes estimativas: hUi i ∼ ũ, ∂hUi i ũ ∼ , ∂x j ` D E ui u j ∼ ũ 2 . (4.12) (4.13) (4.14) Uma dificuldade é que, como muitas vezes a notação de ordem de grandeza será utilizada em conjunto com a notação indicial de Einstein, a “ordem” de um termo envolvendo índices repetidos pode se referir a um ou alguns dos subtermos, ou à soma de todos os sub-termos. Para evitar qualquer ambiguidade, nós usaremos ∼ para indicar a ordem de grandeza do maior em módulo (e possivelmente outros) de todos os sub-termos; e ∼ ¨ para indicar explicitamente a soma de todos os sub-termos. Portanto, ∂hUi i ∼ ũ/`, ∂xi significa que ∂hUi i ∼ ũ/`, max i∈{1,2,3} ∂xi enquanto que ∂hUi i ∼ ¨ ũ/` ∂xi significa que 3 X ∂hUi i + * ∼ ũ/`. ∂x i , i=1 Note que a segunda notação, ∼, ¨ só faz sentido quando houver pelo menos um índice repetido do lado esquerdo. Note também que (4.12)–(4.14) já seguem essa notação, ou seja: em cada uma delas, a ordem de grandeza refere-se a termos individuais, ou ao maior em módulo dos termos obtidos variando-se i e j. Apesar de (4.14) não ser necessária nesta seção, nós a incluímos aqui para que a discussão a seguir fique auto-contida. Como vimos acima, ũ é uma escala macroscópica de velocidade. As equações (4.12)–(4.14), e suas generalizações óbvias para outras variáveis do escoamento, tais como densidade, pressão, concentração de um escalar e temperatura, constituem-se em um poderoso instrumento de análise das equações que regem um escoamento turbulento. Sua interpretação, entretanto, é difícil. Tennekes e Lumley (1972, p. 47) comentam sobre diversos erros comuns de interpretação de (4.12)–(4.14), e discutem em detalhe suas justificativas. Além disso, elas não são necessariamente universais! Por exemplo, nada obriga que haja apenas uma escala de velocidade ũ, e uma escala de comprimento `, macroscópicas. Dependendo da geometria, e da complexidade do escoamento, várias escalas macroscópicas de velocidade e comprimento (e diversas outras variáveis, é claro) podem surgir. 45 4.2 – Uma definição formal das escalas macroscópicas No entanto, as relações (4.12)–(4.14) tendem a valer em escoamentos com cisalhamento médio que possuem uma única escala característica de velocidade, e uma única escala característica de comprimento (Tennekes e Lumley, 1972, p. 47–50). O essencial de (4.12)–(4.14) é a suposição de que as mesmas escalas ũ e ` comparecem tanto na estimativa da ordem de grandeza dos gradientes de grandezas médias quanto das covariâncias turbulentas. Veremos mais à frente que ` também pode ser associada à escala integral da turbulência, que tem uma definição estatística precisa. Como observam Tennekes e Lumley (1972), essa suposição de que as escalas macroscópicas servem a dois papéis reflete o fato de que elas são as únicas escalas características do escoamento; consequentemente, seu surgimento (a menos de coeficientes da ordem de 1) é uma exigência da consistência dimensional das expressões envolvidas. Naturalmente, essa hipótese restringe a complexidade dos escoamentos que podemos analisar utilizando as equações (4.12)–(4.14); mesmo em situações ligeiramente mais complexas, entretanto, idéias similares revelam-se úteis e em geral ajudam a compreender ou modelar melhor o problema. As equações (4.12)–(4.13) são suficientes para estimarmos a contribuição da taxa de dissipação associada ao escoamento médio hEem i para a taxa total de dissipação de energia cinética, hEe i. Levando (4.13) em (3.73), encontramos !2 ũ hEem i ∼ νu ` ũ 3 = νu 2 ũ` νu ũ 3 ⇒ = ũ` ` hEem i ∼ Re`−1 hEe i . (4.15) Em (4.15), nós encontramos pela primeira vez o número de Reynolds (na escala `): ũ` (4.16) Re` ≡ , νu e usamos a estimativa (4.1) para a taxa total de dissipação. De fato, se nós admitirmos como vínhamos comentando que a dissipação total é dada por (4.1), (4.15) nos informa que os gradientes do escoamento médio são extremamente ineficazes para produzir essa dissipação. A figura simples, porém extremamente útil, que surge é a seguinte: se a taxa de dissipação total de energia cinética é imposta pelas “grandes escalas” ũ, `, do escoamento, essas mesmas escalas produzem gradientes de velocidade (e consequentemente taxas de deformação) que são incapazes de dissipar a energia cinética nessa taxa! Isso significa que devem existir no escoamento gradientes de velocidade, e consequentemente taxas de deformação, muito maiores. Para encontrá-las, precisamos obviamente estudar a ordem de grandeza da taxa de dissipação da energia cinética da turbulência, hEet i. 46 4.4 – A cascata de energia 4.3 – Uma definição formal das escalas microscópicas Se tomarmos (formalmente) o limite Re` → ∞, a contribuição de hEem i para hEe i tende a zero em (4.15). Isso não é uma mera formalidade. Na maioria dos escoamentos naturais e industriais, os números de Reynolds são muito altos. Por exemplo, a 20° C, νu [água] = 1,005×10−6 m2 s−1 , e νu [ar] = 1,50×10−5 m2 s−1 (à pressão atmosférica padrão ao nível do mar). Então, para um rio com uma velocidade típica ũ = 1 m s−1 e uma profundidade típica de ` = 1 m, Re` = 106 . Da mesma forma, para uma velocidade do vento ũ = 1 m s−1 a uma altura ` = 10 m, nós temos Re` = 106 . A equação (4.15) então nos dá hEe i ≈ hEet i nessas condições. D E Retornando a (3.74), isso só pode significar que a ordem de grandeza de sij sij (e eventualD E mente de (∂uk /∂xk ) 2 ) deve ser tal que !2 D E 1 * ∂uk ! 2 + ǔ sij sij − ∼ , 3 ∂xk ηu onde devemos ter hEet i = νu ǔ ηu !2 . (4.17) (4.18) A equação (4.17) mostra claramente que a ordem de grandeza do gradiente microscópico de velocidade ǔ/ηu é definida por uma média quadrática. Por sua vez, (4.18) é suficiente para definir esse gradiente, mas é por si só incapaz de “separar” as escalas microscópicas de velocidade, ǔ, e de comprimento, ηu . Isso pode ser feito de duas maneiras. A primeira é puramente dimensional: se as únicas grandezas disponíveis para definir ηu e ǔ são hEet i e νu , então (4.2) e (4.3) seguem-se necessáriamente do Teorema dos Π’s de Buckingham. A segunda é encontrar ηu , ǔ como a solução de um sistema de duas equações, a primeira das quais é (4.18). A segunda equação é obtida a partir da introvisão (insight) de que, localmente, o escoamento deve ser laminar. O número de Reynolds associado deve ser de ordem 1: Reηu = ǔηu = 1. νu (4.19) A solução do sistema (4.18)–(4.19) produz, novamente, as microescalas de Kolmogorov dadas por (4.2) e (4.3). 4.4 – A cascata de energia Conforme notado pela primeira vez por Kolmogorov (1941), (4.1) não se aplica apenas à escala integral de comprimento `. Com alguma modificação, ela pode ser usada para todas as escalas intermediárias de comprimento r entre ` e ηu . Para ver isso de uma maneira um pouco mais formal, defina a função de estrutura de ordem 2 da velocidade: r ≡ x 2 − x 1; Duu (r ) ≡ h[U (x 2 ) − U (x 1 )] · [U (x 2 ) − U (x 1 )]i (4.20) (4.21) 47 4.5 – Macro e microescalas de temperatura A definição (4.21) só é possível se os incrementos de velocidade do escoamento forem homogêneos; nesse caso, Duu depende apenas da diferença x 2 − x 1 , e não de cada um dos dois vetores. Se, além disso, o escoamento for isotrópico, Duu = Duu (r ) apenas, onde r = |r |. Kolmogorov (1941) formulou a hipótese de isotropia local: segundo essa hipótese, apenas para r `, o escoamento é isotrópico. Isso sem dúvida é uma analogia com o caso molecular, em que as velocidades das moléculas se distribuem igualmente em todas as direções, e do Teorema de equipartição de energia: a energia cinética das moléculas de um gás divide-se igualmente nas 3 direções x, y, e z. No caso de turbulência, a situação é mais complicada: em escoamentos no mundo real, as “grandes escalas” ` quase nunca são homogêneas, uma vez que, como veremos, existem direções preferenciais de produção da energia cinética da turbulência. Nesse sentido, o termo local desempenha um papel importante: aqui, a hipótese é que a natureza difusiva da turbulência tende a equalizar a distribuição direcional de energia cinética da turbulência apenas para escalas r muito menores do que `. Apenas nessas escalas o escoamento (segundo essa hipótese) é isotrópico. Nesse último caso, escrevemos D E Duu (r ) = [u (r ) − u (0)]2 ≡ (δur ) 2 , (4.22) e definimos uma escala de velocidade δur na escala de comprimento r . Outra hipótese da teoria de Kolmogorov é que, para η r `, (4.1) continua valendo na forma (δur ) 3 . (4.23) hEet i = α 3/2 r Segue-se, imediatamente, a previsão da teoria de Kolmogorov (1941) para a faixa inercial da função de estrutura: Duu (r ) = α hEet i2/3 r 2/3 . (4.24) 4.5 – Macro e microescalas de temperatura Macro e microescalas adicionais devem ser adicionadas à lista (4.1)–(4.3) quando a temperatura representa um papel importante em um escoamento turbulento. Começamos por notar, sem demonstração (ainda) que existe uma cascata de semi-variância de temperatura da turbulência que é análoga à cascata de energia cinética da turbulência que discutimos na seção 4.4. Ao contrário de Ee , para a qual temos (3.74), ainda não fizemos uma dedução formal para ETT . Adiantando o resultado, que será obtido na seção ??, tem-se * + ∂T ∂T ETT = 2ν T . (4.25) ∂x j ∂x j Se hETT i for a taxa de dissipação de semi-variância da temperatura da turbulência, a equação análoga a (4.1) é hETT i ∼ 2 ũ . ` T̃ (4.26) Dizer onde isso será feito! 48 4.6 – Estimativas consistentes dos gradientes microscópicos Em (4.25), T̃ é uma macroescala de temperatura, e estamos supondo que a macroescala de comprimento associada à temperatura é o mesmo ` já utilizado antes para a energia cinética. A equação que define a microescala de gradientes de temperatura análoga a (4.18) é hETT i = ν T Ť 2 η T2 . (4.27) onde Ť é a microescala de temperatura; η T é a microescala de comprimento para temperatura; e ǔ é a microescala de velocidade. A separação em Ť e η T é bem mais difícil: ela foi obtida por Batchelor (1959) e Batchelor et al. (1959), e depende do número de Prandtl Pr ≡ νu , νT (4.28) do fluido. Para Pr ≥ 1, eles obtiveram ηT = Pr−1/2 , ηu donde hETT i Ť = νT ! 1/2 ηT . (4.29) (4.30) 4.6 – Estimativas consistentes dos gradientes microscópicos Os gradientes microscópicos de velocidade e de temperatura (e por conseguinte, de densidade, via (4.17) e (??) são + !2 ǔ ∂ui ∂ui ∼ , ∂x j ∂x j ηu * + !2 ∂T ∂T Ť . ∼ ∂xi ∂xi ηT * (4.31) (4.32) Esses gradientes microscópicos podem, agora, ser facilmente relacionados com os gradientes macroscópicos (sempre em ordem de magnitude), como se segue: νu ǔ 2 ũ 3 = , ` ηu2 ǔ ũ 3 = ηu νu ` ! 1/2 ! 1/2 ũ 2 ũ` = 2 ` νu ! 1/2 ũ ũ` = ` νu ũ = Re`1/2 . ` (4.33) 49 4.6 – Estimativas consistentes dos gradientes microscópicos Para valores típicos na atmosfera próximo à superfície, e supondo, de forma conservadora, ` ∼ 1m, ũ ∼ 1 m s−1 , νu = 1,509 × 10−5 m2 s−1 , Re` = 662690, Re1/2 ∼ 1000. Os gradientes microscópicos de velocidade são mil vezes maiores que os gradientes macroscópicos. Além disso, é útil registrar, para uso posterior, o seguinte: de (4.1) e (4.2), segue-se que ` νu3 3 ũ ηu = ! 1/4 ν 3` ηu4 = u3 , ũ η 4 νu3 u = 3 3, ` ` ũ η 4 u = Re−3 , ` ηu = Re−3/4 . ` , (4.34) Analogamente, ǔ = Re−1/4 . (4.35) ũ O mesmo pode ser feito para os gradientes microscópicos de temperatura e, por conseguinte, de densidade: 2 2 ũ T̃ , νT 2 = ` ηT Ť 2 1/2 ũ T̃ + =* ηT , νT ` Ť 2 1/2 ũ` =* 2 + , ` νT ! 1/2 T̃ ũ` = ` νT T̃ T̃ Pe`1/2 . (4.36) ũ` = Re` Pr νT (4.37) = ` (??) utiliza um número de Péclet Pe` = que é análogo ao número de Reynolds Re` definido em (4.16). Mais uma vez, em analogia com (??), a partir de (??) obtém-se η T 1/2 Pe ` ` T̃ ηu η T 1/2 = Pe ` ηu ` Ť = = Re`−3/4 Pr−1/2 Pe`1/2 50 4.6 – Estimativas consistentes dos gradientes microscópicos ũ` = νu ! −3/4 νu νT ! −1/2 ũ` = νu ! −3/4 νT νu ! 1/2 ũ` = νu ! −3/4+1/2 ! 1/2 ũ` νT ! 1/2 ũ` νT = Re`−1/4 . onde usamos (??) para ηu /` e (??)–(4.28) para η T /ηu . (4.38) 5 As equações para o escoamento médio, e a aproximação de Boussinesq As equações de Navier-Stokes, e da energia, podem ser consideravalmente simplificadas antes de serem usadas em problemas de interesse físico. As simplificações adotadas são de duas naturezas. Primeiramente, utilizando-se uma decomposição proposta por Boussinesq para os campos de velocidade, densidade, temperatura e pressão que é baseada em um estado hidrostático de referência, é possível obter um conjunto de equações grandemente simplificadas. As principais simplificações são a substituição da densidade variável por uma densidade de referência (que pode ser variável de acordo com uma distribuição hidrostática, mas que não precisa mais ser prognosticada), e a adoção de um campo de velocidade solenoidal. Portanto, uma aproximação de incompressibilidade é obtida, mesmo em escoamentos com densidade variável. Nas próximas seções nós vamos mostrar que isso não constituiu nenhum paradoxo. Em segundo lugar, a equação da energia é essencialmente inútil na variável dependente U. É preciso manipular a equação (3.57) e reescrevê-la em termos de variáveis prognósticas “úteis”, isto é, efetivamente mensuráveis ou calculáveis. Via de regra, essas variáveis são ou a temperatura termodinâmica T , ou a temperatura potencial Θ. Ao final do capítulo, teremos obtido um conjunto de equações para as variáveis dependentes médias hU i, hPi, e hT i (ou hΘi) as quais, por sua vez, nos dão informações úteis sobre os escoamentos do mundo real. 5.1 – O estado hidrostático de referência, e a altura de escala Nesta seção nós obtemos um “estado hidrostático de referência” suficientemente geral para gases perfeitos e líquidos nas condições normalmente encontradas no ambiente. Esse estado será denominado ( ℘r ,Pr ,Tr ), e dependerá somente da altura z. Suporemos que o fluido do escoamento pode ser suficientemente bem descrito como uma substância simples, e que o único agente de efeitos de empuxo é a temperatura. O coeficiente isobárico de expansão térmica, βP , e o coeficiente 51 52 5.1 – O estado hidrostático de referência isotérmico de compressibilidade, κT , são definidos nesse caso por ! 1 ∂V , βP ≡ V ∂T P ! 1 ∂V κT ≡ − . V ∂P T (5.1) (5.2) Escrevendo a entalpia específica (por unidade de massa) H em função de T e P, e calculando seu diferencial, ! ! ∂H ∂H dH = dT + dP ∂T P ∂P T ! ∂H dP, (5.3) = cp dT + ∂P T onde usamos ∂H cp ≡ ∂T ! . P (5.4) O segundo termo é obtido com o auxílio das relações de Maxwell: dH = VdP + T dS, ! ! ∂S ∂H = V +T ; ∂P T ∂P T ! ! ∂S ∂V =− = βP V, ∂P T ∂T P onde S é a entalpia específica, donde ! ∂H = V (1 − βP T ) . ∂P T (5.5) (5.6) (5.7) (5.8) Supondo agora um processo isentrópico (dS = 0); levando (5.5) em (5.3); e utilizando (5.8), dH = VdP = cp dT + V (1 − βP T ) , cp dT = βP T VdP . (5.9) (5.10) Utilizando a equação da hidrostática, д dP = − ⇒ VdP = −дdz, dz V (5.11) e substituindo em (5.10), obtemos um resultado central e muito importante: д dT = −βP T dz cp (5.12) O sistema de equações diferenciais (5.11)–(5.12) pode ser resolvido simultaneamente, pois βP = βP (P,T ) e 1/℘ = V = V(P,T ) (essa última é a equação de estado). Portanto, em princípio, temos, após a integração a partir das condições 53 5.1 – O estado hidrostático de referência iniciais P 0 ,T0 , ℘0 em z = 0, os perfis do estado termodinâmico de referência Pr (z), Tr (z) e ℘r (z). Um parâmetro essencial para a análise de escala das equações da Mecânica dos Fluidos aplicadas a escoamentos naturais é a “altura de escala” D (em Inglês, scale height). Ela é definida a partir do estado de referência hidrostático de densidade: 1 d℘r (0) −1 . (5.13) D ≡ ℘0 dz A altura de escala pode ser facilmente obtida usando (5.1), (5.2), (5.11) e (5.12): 1 V ℘= , 1 dV; V2 ! ! d℘ ∂V d℘ ∂V dT + dP d℘ = dV ∂T P dV ∂P T 1 1 = − 2 (VβP ) dT + − 2 (−VκT ) dP V V = −℘βP dT + ℘κT dP ⇒ ! д d℘ = −℘βP −βP T + ℘κT (−℘д) ; dz cp д 1 d℘ = βP2T − κT ℘д ⇒ ℘ dz cp −1 1 d℘r (0) −1 д = βP2T0 − κT ℘0д . D = cp ℘0 dz d℘ = − (5.14) (5.15) Para água a T0 = 15 ◦ C, tem-se ℘0 = 999,1 kg m−3 , βP = 1,5 × 10−4 K−1 , κT = 4,9 × 10−10 Pa−1 . Portanto, D água = 2,089 × 10+05 m. Também é conveniente relacionar βP e κT com a pressão e a temperatura ambientes. Para os mesmos valores de referência acima, e P0 = 101325 Pa, κT−1 ≈ 20000P0 , (5.16) βP−1 ≈ 23T0 . (5.17) Para um gás ideal, a equação de estado é P = ℘RT , ou PV = RT , (5.18) onde R é a constante específica do gás (ou da particular mistura de gases: por exemplo, para o ar seco tem-se R = 287, cp = 1005, e cv = 718 J kg−1 K−1 ), P é a 54 5.2 – O estado de referência na atmosfera pressão termodinâmica, e T é a temperatura. Diferenciando-se (5.18), obtém-se imediatamente: dP = R ℘ dT + RTd ℘ dP d℘ dT = + P ℘ T ou ou PdV + VdP = RdT , dV dP dT + = . V P T (5.19) (5.20) Portanto, RT , P ! 1 ∂V R R 1 βP = = = = , V ∂T P pv RT T ! 1 ∂V 1 RT 1 κT = − = = , 2 V ∂P T V P P V= e β 2T д κд д д − = − cp V cpT RT ! д 1 1 = − T cp R ! д R − cp = T cp R cv д =− . cp R T Para o ar seco, com T0 = 15◦ C = 288.15 K, R = 287, cp = 1005 e cv = 718 J kg−1 K−1 , obtém-se D ar = 1,180 × 10+04 m 5.2 – O estado de referência em uma atmosfera adiabática seca O valor da taxa de variação de temperatura em (5.12), com βP = 1/T , é a taxa adiabática seca. Em uma atmosfera adiabática e hidrostática, portanto, a temperatura cai a partir de z = 0 segundo Tr (z) = T0 − д z. cp (5.21) A partir do perfil de temperatura, obtém-se facilmente o perfil de pressão: dP = −℘д, dz Pд dP =− , dz RT д дdz cp − cp dz dP =− = , P RT R T0 − cд z p T − д z cp /R 0 cp Pr ln = ln , P0 T0 55 5.2 – O estado de referência na atmosfera cp /R д Pr (z) = P0 *. , T0 − c p z T0 (5.22) +/ - Analogamente, fazendo-se dT = −дdz/cp , obtém-se, para o perfil de ℘, d℘ dP dT − , ℘ P T дdz dT =− − , RT T ! д д =− − + dz RT cpT cv (−дdz) = R cpT д cv − cp dz = , R T0 − cд z p = cv /R д ℘r (z) = ℘0 *. , T0 − c p z T0 +/ - (5.23) Relações diretas entre P, ℘ e T também podem ser obtidas. Por exemplo, VdP = cp dT , RT dP = cp dT , P R dP dT = , T cp P P R/cp T0 0 ln = ln , T P P R/cp 0 T0 = T . P (5.24) A equação (5.24) relaciona os valores de T e P em uma atmosfera adiabática seca e hidrostática cujos valores de temperatura e pressão na superfície são T0 e P0 . Ela também serve para definir a temperatura potencial em uma atmosfera qualquer: Θ ≡T P R/cp 0 P . (5.25) Portanto, segue-se a definição “verbal” frequentemente encontrada nos livros, de que a temperatura potencial Θ é a temperatura de uma parcela trazida adiabaticamente (e hidrostaticamente) do nível de pressão P até o nível de pressão P0 na superfície. O mesmo pode ser feito com ℘, P, naturalmente: −PdV = cv dT , RT − dV = cv dT , V 56 5.3 – Magnitude das flutuações de densidade 20000 20000 18000 (a) 16000 16000 14000 14000 12000 12000 z (m) z (m) 18000 10000 10000 8000 8000 6000 6000 4000 4000 2000 2000 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 (b) 0 0.0 900 1000 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 ℘r (z) (kg m−3 ) Pr (z) (hPa) Figura 5.1: Dependência da pressão de referência Pr e da densidade de referência ℘r em uma atmosfera hidrostática e adiabática com a altitude z. cv dT cv R dP dV =− =− − , V R T R cp P cv dP ; =− cp P d℘ cv dP = , ℘ cp P P cv /cp ℘0 = ℘ 0 . P (5.26) Novamente, (5.26) relaciona ℘ com P em uma atmosfera adiabática seca e hidrostática cujos valores de densidade e pressão na superfície são ℘0 e P0 . Para uma atmosfera qualquer, ela é usada para definir a densidade potencial ℘ : ℘ ≡ ℘ P cv /cp 0 P . (5.27) A Figura 5.1 mostra os perfis de Pressão (a) e Densidade (b) do estado hidrostático de referência em uma atmosfera seca. Na figura 5.1, a interseção da tangente em z = 0 com o eixo das ordenadas marca a altura de escala D. 5.3 – Hipóteses para a magnitude das flutuações de densidade Para um fluido cujo estado hidrostático de referência tem uma altura de escala D, suponha que o escoamento turbulento de interesse ocorre em uma camada cuja espessura ` é tal que ` D. Para um ponto qualquer com 0 ≤ z ≤ `, a variação ∆ ℘r = ℘r (z) − ℘r (0) é ` d℘r ` d℘r ` d℘r ` dz ≤ dz = ℘0 , dz ≤ max (5.28) ∆ ℘r ≤ D 0 dz 0 dz 0 dz Segue-se que ∆ ℘r ℘0 ≤ ` 1. D (5.29) Faça agora cada um dos campos instantâneos do escoamento ser decomposto na soma de um estado de referência hidrostático e de uma flutuação de 57 5.3 – Magnitude das flutuações de densidade Boussinesq (cuidado: essa não é a decomposição de Renolds, e a flutuação não é uma flutuação turbulenta): Ui = 0 + Ui0, (5.30) ℘ = ℘r + ℘0, (5.31) P = Pr + P 0 , (5.32) T = Tr + T 0, (5.33) etc.. Um nível adicional de formalização pode ser obtido da seguinte forma: na região 0 ≤ z ≤ `, a densidade de referência é muito proximamente igual à expansão de ℘r até o primeiro termo de sua série de Taylor; de (5.13), ℘r z ≈1− , ℘0 D (5.34) donde ℘0 ∂ ℘r ∼ . (5.35) ∂z D Nós pretendemos avaliar a ordem de grandeza dos termos que comparecem na equação diferencial de conservação de massa (3.6). Para isso, nós precisamos estimar a ordem de grandeza dos gradientes de densidade, ∂ ℘/∂xi e dos gradientes de velocidade, ∂Ui /∂xi . Em ambos os casos, é preciso decompor o escoamento tanto em termos de estado hidrostático/flutuação dinâmica (Boussinesq) quanto em termos de média/flutuação turbulenta (Reynolds). O processo, para densidade, é como se segue: ℘ = ℘r + ℘0, (5.36) ℘ = ℘r + ℘0 , (5.37) ℘ = ℘ + ρ, (5.38) ℘ = ℘r + ℘ + ρ. (5.39) 0 A aproximação de Boussinesq consiste, primeiramente, em supor ℘0 ∼ ℘0 ` ℘r . D (5.40) Em outras palavras, estamos supondo que as flutuações de densidade são, no máximo, da mesma ordem que as variações na densidade de referência. Conforme vimos acima, entretanto, não basta avaliar a ordem de grandeza das flutuações de densidade; é preciso também estimar a ordem de grandeza dos seus gradientes. Já temos uma estimativa da ordem de grandeza do gradiente vertical de ℘r em (5.35). Na sequência, será necessário fazer uma estimativa de ordem de grandeza de ℘ e de seus gradientes. Também será necessário estimar a ordem de gran deza de covariâncias turbulentas, por exemplo de ui ρ . As estimativas que nós adotaremos são análogas às feitas em (4.12)–(4.14): são as seguintes: 0 ℘ ∼ ρ̃, (5.41) 58 5.4 – Conservação de massa ρ̃ ∂ ℘0 ∼ , ∂xi ` ui ρ ∼ ũ ρ̃. (5.42) (5.43) Como vimos no capítulo 4, ũ é uma escala macroscópica de velocidade, e é natural que ρ̃, agora, seja uma escala macroscópica de densidade. Note que, de (5.40) e (5.41), ` ρ̃ ∼ ℘0 . (5.44) D Aqui, valem as mesmas considerações feitas na seção 4.2 a respeito da validade das estimativas (5.41)–(5.43), e uma releitura dessa seção é recomendável para que o leitor reforce seu entendimento da utilidade desse tipo de estimativa, mas também de suas limitações. 5.4 – A aproximação de Boussinesq para a conservação de massa Comece agora com a equação instantânea de conservação de massa, (3.5), e tire a média; então, utilizando a decomposição e os postulados de Reynolds, obtém-se ∂ ℘ ∂( ℘Ui ) + = 0, ∂t ∂xi ∂ ℘ ∂ + ℘Ui = 0, ∂t ∂xi ∂ ℘ ∂ + [ ℘ + ρ][hUi i + ui ] = 0, ∂t ∂xi ∂ ℘ ∂ + ℘ hUi i + ℘ ui + ρ hUi i + ρui = 0, ∂t ∂xi ∂ ρui ∂ ℘ ∂ [ ℘ hUi i] + + = 0. ∂t ∂xi ∂xi (5.45) A equação (5.45) é a equação de conservação de massa exata para as médias. Note o aparecimento das covariâncias ρui : a primeira lição é que em um escoamento com flutuações de densidade a equação da continuidade média contém um termo envolvendo as covariâncias de densidade com a velocidade. Aplicando agora (5.39), ∂ ℘0 ∂ ℘r ∂ ℘0 ∂hUi i 0 ∂hUi i ∂ ρui + hUi i + hUi i + ℘r + ℘ + = 0. (5.46) ∂t } | {z∂x} ∂x ∂x ∂x ∂x i i i i i | {z | {z } | {z } | {z } | {z } I II III IV V VI A ordem de grandeza de cada termo pode ser facilmente estabelecida: ρ̃ũ ; ` ℘0ũ ρ̃ũ II ∼ ∼ ; D ` ρ̃ũ III ∼ ; ` I∼ 59 5.5 – Quantidade de movimento IV ∼ ℘0ũ ` ρ̃ũ V∼ ` ρ̃ũ VI ∼ ` Em II, usamos (5.44). Em função de que `/D 1, ρ̃/℘0 1, é evidente que o termo IV é muito maior do que todos os outros; nesse sentido, podemos escrever ! ρ̃ ũ ∂hUi i =O ≈ 0. (5.47) ∂xi ℘0 ` Portanto, uma primeira consequência das hipóteses da aproximação de Boussinesq para as macroescalas é que o escoamento médio hU i é aproximadamente solenoidal. 5.5 – A aproximação de Boussinesq para a equação de quantidade de movimento Em notação indicial, a equação da hidrostática (5.11) pode ser escrita ℘r дi − ∂Pr = 0. ∂xi (5.48) Introduza agora a decomposição de Boussinesq na forma de (5.31) e (5.32), por enquanto apenas nos termos envolvendo a pressão e a aceleração da gravidade, na equação para a quantidade de movimento, (3.33), e simplifique utilizando (5.40) e (5.48): f g ∂ ℘ U U i j ∂( ℘Ui ) + = ( ℘r + ℘0 ) дi − 2ϵijk ϖ jUk ∂t ∂x j ! ∂Sij ∂ ∂Uk 0 + −(Pr + P ) + λ + 2℘νu , ∂xi ∂xk ∂x j " # ∂ ℘ U U i j ∂( ℘Ui ) ∂Pr + = ℘r дi − +℘0дi − 2℘ϵijk ϖ jUk ∂t ∂x j ∂x | {z i } ≡0 ! ∂Sij ∂ ∂Uk 0 + −P + λ + 2℘νu , ∂xi ∂xk ∂x j ∂( ℘Ui ) ∂ ℘Ui Uj + ≈ ℘0дi − 2℘r ϵijk ϖ jUk ∂t ∂x j ! ∂Sij ∂ ∂Uk 0 + −P + λ + 2℘r νu . (5.49) ∂xi ∂xk ∂x j A hipótese fundamental da aproximação de Boussinesq para a equação de quantidade de movimento consiste no seguinte: em (5.49), nós fazemos ℘r + ℘0 ≈ ℘r (5.50) 60 5.5 – Quantidade de movimento em todos os termos em que ℘ aparece fora das derivadas, com base em (5.40), exceto no caso do termo de empuxo ℘0дi . Esse último fica como está. A justificativa para esse procedimento tem base na física que estamos querendo representar (e, num sentido matemático muito concreto, preservar!). Em escoamentos com estratificação de densidade, esse é justamente o termo que produz convecção: é mais ou menos óbvio que, se o desprezarmos, a equação resultante não será mais capaz de representar nenhum efeito de empuxo devido a variações de densidade dentro do fluido. Além disso, a substituição de ℘ por ℘r apenas nos termos fora de derivadas é um outro ponto crucial, já que ℘0 ℘r não implica ∂ ℘0/∂xk ∂ ℘r /∂xk ! Isso significa que não podemos fazer essa aproximação ainda no lado esquerdo de (5.49). Muito pelo contrário, como ℘0 inclui as flutuações turbulentas, seus gradientes incluem também os gradientes locais dessas flutuações, os quais, conforme vimos no capítulo 4, são muito maiores que os gradientes das grandezas médias. Portanto, a equação (5.49), nessa forma, é pouco útil, já que todos os gradientes que aparecem na equação envolvem tanto as macro quanto as microescalas que foram introduzidas no capítulo 4: não é possível fazer uma análise de escalas de (5.49). O próximo passo é promediá-la: ∂ D℘U U E i j ∂ ℘Ui + = ℘0 дi − 2℘r ϵijk ϖ j hUk i ∂t ∂x j + D E ∂ Sij ∂hUk i ∂ − P0 + λ + 2℘r νu . (5.51) ∂xi ∂xk ∂x j ! Os termos do lado direito de (5.51) estão prontos para uma análise de escalas, mas o lado esquerdo precisa ser “aberto”, com o uso, como sempre, da decomposição e dos postulados de Reynolds: ∂ ℘Ui ∂ = [ ℘ + ρ][hUi i + ui ] ∂t ∂t ∂ = ℘ hUi i + ℘ ui + ρ hUi i + ρui ∂t ∂ ℘ hUi i + ρui ; = ∂t e D E ∂ ℘Ui Uj ∂x j D E E ∂ D [ ℘ + ρ][hUi i + ui ][ Uj + u j ] ∂x j D E D EgE D E ∂ Df = ℘ hUi i Uj + ℘ hUi i u j + ℘ ui Uj + ρ hUi i Uj ∂x j D E gE ∂ Df ℘ uiu j + hUi i ρu j + Uj ρui + ρuiu j + ∂x j D E D E D E D E D Eg ∂ f = ℘ hUi i Uj + ℘ uiu j + hUi i ρu j + Uj ρui + ρuiu j ∂x j = 61 5.5 – Quantidade de movimento Substituindo em (5.51), ∂( ℘ hUi i) ∂ ρui + + ∂t D E ∂t D E D E D E D E ∂ ℘ hUi i Uj ∂ ℘ ui u j ∂ hUi i ρu j ∂ Uj ρui ∂ ρui u j + + + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j D E ! ∂ Sij 0 ∂hP 0i ∂ ∂hUk i = ℘ дi − 2℘r ϵijk ϖ j hUk i − + + 2℘r νu . λ ∂xi ∂xi ∂xk ∂x j É possível simplificar essa expressão utilizando a equação da continuidade promediada, (5.45): ( ) ∂hUi i ∂ ρui ∂ ℘ ∂ f D E D Eg + + hUi i + ℘ Uj + ρu j + ℘ ∂t ∂t ∂t ∂x j | {z } ≡0 D E ∂ DU E ρu ∂ Dρu u E D E D E ∂ u u i j j i i j ∂ ℘ ∂hUi i ℘ Uj + ℘ + ui u j + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j D E ! ∂ Sij 0 ∂hP 0i ∂ ∂hUk i = ℘ дi − 2℘r ϵijk ϖ j hUk i − + λ + 2℘r νu . ∂xi ∂xi ∂xk ∂x j O surgimento de vários termos envolvendo ℘ fora de derivadas permite, mais uma vez, usar (5.50) (na forma promediada, que utiliza (5.37)): ( ) ∂ ℘ ∂ f D E D Eg ∂hUi i ∂ ρui + + hUi i + ℘ Uj + ρu j + ℘r ∂t ∂t ∂t ∂x j | {z } ≡0 D E D E D E D E ∂ ℘ ∂ Uj ρui D E ∂hUi i ∂ ui u j ∂ ρui u j ℘r Uj + ℘r + ui u j + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j D E ! 0 ∂ Sij ∂hP i ∂ ∂hUk i = ℘0 дi − 2℘r ϵijk ϖ j hUk i − + λ + 2℘r νu . ∂xi ∂xi ∂xk ∂x j Finalmente, expandimos ∂ ℘ /∂x j usando mais uma vez (5.37): D E D E ∂ u u i j ∂hU i ∂ ρui ∂hUi i ℘r i + + ℘r Uj + ℘r + ∂t } | {z ∂t } ∂x j ∂x j | {z | {z } | {z } I II III IV D E D E D E ∂ ℘r D E ∂ ℘0 ∂ Uj ρui ∂ ρui u j ui u j + ui u j + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x | {z } | {z } | {z } | {zj } V VI VII VIII D E ! 0 ∂ Sij ∂hP i ∂ ∂hUk i = ℘0 дi − 2℘r ϵijk ϖ j hUk i − + λ + 2℘r νu . (5.52) | {z } | {z } ∂xi ∂xi ∂xk ∂x j |{z} | {z } | {z } IX X XI XII XIII 62 5.5 – Quantidade de movimento Se estendermos as estimativas de ordem de grandeza que já fizemos para velocidades e densidades para as pressões (em analogia, por exemplo, a (5.41)–(5.43)), devemos ter: 0 P ∼ p̃, (5.53) 0 ∂hP i p̃ ∼ , (5.54) ∂xi ` ui p ∼ ũp̃. (5.55) As ordens de grandeza de cada termo se seguem: I ∼ ℘0 ũ 2 , ` ρ̃ũ 2 , ` ũ 2 III ∼ ℘0 , ` ũ 2 IV ∼ ℘0 , ` II ∼ V∼ ℘0 ũ 2 = ℘0 D ρ̃ũ 2 VI ∼ , ` ρ̃ũ 2 , VII ∼ ` ρ̃ũ 2 VIII ∼ , ` IX ∼ ρ̃д, X ∼ ℘0 f ũ = p̃ XI ∼ , ` ` ũ 2 ũ 2 ∼ ρ̃ , D ` ` ℘0 f l l ũ ũ 2 ∼ ũ 2 1 ℘0 , Ro ` ũ ν ũ 2 1 ũ 2 = ℘ = ℘ , 0 0 ` 2 ũ` ` Re` ` ũ ν ũ 2 1 ũ 2 XIII ∼ ℘0ν 2 = ℘0 = ℘0 . ` ` Re` ` ũ` XII ∼ ℘0ν Os termos de maior ordem são I, III e IV (todos os três da mesma ordem), IX, e XI. Esses dois últimos são os “forçantes” da equação de quantidade de movimento, e consequentemente têm que produzir a ordem de magnitude observada em I, III e IV. Em X, f = 2ϖ sen(ϕ) é o parâmetro, ou frequência, de Coriolis; ϕ é a latitude; e ũ Ro ≡ (5.56) f` é o número de Rossby. Na escala ` do escoamento, o número de Rossby é muito grande, e podemos desprezar X vis-à-vis I, III e IV. Da mesma forma, em escoamentos turbulentos na natureza, Re` é muito grande, e podemos desprezar XII e XIII vis-à-vis I, III e IV. 63 5.5 – Quantidade de movimento A equação aproximada de quantidade de movimento resultante é D E D E ! ∂ U ∂ u u hU i i j i j ρ̃ũ 2 0 ∂hUi i ∂hP 0i ℘r + ℘r + ℘r = ℘ дi − +O . (5.57) ∂t ∂x j ∂x j ∂xi ` Uma última simplificação é possível abrindo a derivada do 2o termo à esquerda e tomando ordens de grandeza: D E D E D E ∂hUi i ∂ hUi i Uj ∂ Uj = ℘r Uj + ℘r hUi i ℘r ∂x j ∂x j ∂x j Utilizando (5.47), D E ∂hUi i ℘r Uj ℘r hUi i D E ∂ Uj ∼ ¨ ℘0ũ ∂x j ∂x j ∼ ℘0 ũ 2 , ` ρ̃ ũ ρ̃ũ 2 ũ 2 = ℘o , ℘0 ` ` ` e portanto D E ! D E ∂ u u i j ρ̃ũ 2 0 ∂hUi i ∂hUi i ∂hP 0i = ℘ дi − + Uj + +O . ℘r ∂x j ∂x j ∂xi ` ∂t (5.58) Ficamos então com as seguintes relações de ordens de grandeza em (5.57) ou (5.58): ũ 2 , ` p̃ ũ 2 ∼ ℘0 ⇒ ` ` p̃ ∼ ρ̃д`. д ρ̃ ∼ ℘0 (5.59) (5.60) (5.61) Flutuações de pressão são extremamente difíceis de medir na atmosfera. Wyngaard (2010) dá a estimativa p ∼ ℘0ũ 2 para escoamentos com densidade ℘ constante (segundo o autor): note que isso é o mesmo que (5.60), que foi obtida sem exigência de constância da densidade do escoamento. Hauf et al. (1996) observaram valores de p da ordem de 2,5 Pa, ou seja: da mesma ordem que a estimativa de Wyngaard e de (5.60). Esses dados observacionais reforçam as conclusões desta seção de que é razoável desprezar os efeitos das flutuações de pressão sobre as flutuações (tanto no sentido de Boussinesq quanto no de Reynolds) de densidade. Levando (5.61) em (5.14), obtém-se as seguintes ordens de grandeza: ρ̃ ℘0 ∼ βP T̃ + κT p̃ , |{z} |{z} I (5.62) II onde I representa a ordem de grandeza dos efeitos das flutuações de temperatura sobre as flutuações de densidade, e II representa a ordem de grandeza dos efeitos das flutuações de pressão sobre as flutuações de densidade. Utilizando os valores listados nas páginas 51 e 52 para βP , κT , T0 , ℘0 , P0 ; ũ = 1 m s−1 , ` = 10 m, T̃ = 1 K, e (5.59)–(5.61), obtemos as seguintes estimativas: 64 5.6 – A correlação pressão-temperatura água: I ∼ 1,500 × 10−04 , II ∼ 4,900 × 10−07 ; ar: I ∼ 3,470 × 10−03 , II ∼ 1,184 × 10−05 . O efeito das flutuações de pressão sobre as de densidade é cerca de 100 vezes (no ar) a 1000 vezes (na água) menor do que o efeito das flutuações de temperatura. Isso permite simplificar (5.14) com (5.62) para ℘0 ≈ −℘r βP r T 0, (5.63) ℘ ≈ −℘r βP r T 0 , (5.64) ρ ≈ − ℘ β P m T. (5.65) 0 Em (5.63)–(5.64), o coeficiente isobárico de expansão térmica é calculado em (Tr ,Pr ): βP r = βP (Tr ,Pr ), porque se trata das flutuações em torno do estado de referência; em (5.65), ele é calculado em (hT i , hPi): βP m = βP (hT i , hPi), porque se trata das flutuações turbulentas. Uma notação análoga vale para κT . 5.6 – A correlação pressão-temperatura Ainda de (5.14), obtém-se ρ = −βP m T + κT mp, (5.66) κT mp βP T . m (5.67) ℘ onde Multiplicando-se (5.66) por T/ hT i e promediando-se, ρT pT hTT i = −βP m + κT m , ℘ hT i hT i hT i (5.68) e pelos mesmos argumentos de ordens de grandeza de p e T , κT m p T βP hTTi . m (5.69) Utilizando (5.16)–(5.17), e os valores respectivos utilizados para estimar ordens de grandeza, p T 1000 hTT i P0T0 ≈ P 0T0 . (5.70) 100 T02 Sob a validade da hipótese de Boussiesq, pressão e temperatura são muito fracamente correlacionadas (em termos das ordens de grandeza em (5.69); as flutuações de densidade respondem basicamente às flutuações de temperatura (densidade e temperatura são quase que perfeitamente anti-correlacionadas), e as flutuações de pressão respondem essencialmente ao campo de flutuações de velocidades, apenas. 65 5.7 – As ordens de grandeza da equação para a temperatura 0.150 0.125 0.100 βP T 0.075 0.050 0.025 0.000 −0.025 270 275 280 285 290 295 300 305 310 315 320 T (K) Figura 5.2: Dependência de βP T com a temperatura para água líquida 5.7 – As ordens de grandeza da equação para a temperatura Inicialmente, procuraremos escrever a equação da energia em uma forma que atenda a dois requisitos importantes: 1. Ser expressa em termos de grandezas mensuráveis em princípio (note que tanto (3.57) quanto (3.59) estão dadas em termos de funções termodinâmicas (U e H) que não são diretamente mensuráveis). 2. Ter validade tanto para líquidos quanto para gases. Para tanto, partimos de (3.59), e utilizamos (5.4) e (5.8) para exprimir DH/Dt: ! DH DP ∂ ∂T − = ℘cp ν T + Φ, ℘ Dt Dt ∂x j ∂x j " ! ! # ! ∂H DT ∂H DP DP ∂ ∂T ℘ + − = ℘cp ν T + Φ, ∂T P Dt ∂P T Dt Dt ∂x j ∂x j ! 1 DT DP DP ∂ ∂T cp + V(1 − βP T ) − = ℘cp ν T + Φ, V Dt Dt Dt ∂x j ∂x j ! DT DP ∂ ∂T ℘cp − βP T = ℘cp ν T + Φ. (5.71) Dt Dt ∂x j ∂x j Daqui para a frente, uma primeira aproximação (no sentido da aproximação de Boussinesq) consistirá em supor que cp é avaliado no estado hidrostático de referência. Com isso, poderemos supor cp “constante” e mantê-lo fora das derivadas. Para um gás ideal, βP T ≡ 1, o que simplifica bastante a análise subsequente de (5.71); para água, entretanto, βP T varia consideravelmente com a temperatura. Isso pode ser visto nas figuras 5.2 and 5.3, onde essa função está plo- 66 5.7 – As ordens de grandeza da equação para a temperatura 0.070 0.060 0.050 βP T 0.040 0.030 0.020 0.010 0.000 284 286 288 290 292 T (K) Figura 5.3: Dependência de βP T com a temperatura para água líquida na faixa 10–20◦ C. tada para água à pressão atmosférica (http:www.physchem.kfunigraz.ac. at/sm/Service/Water/H2Othermexp.htm). Para Tr na faixa 10–20◦ C (que é um exemplo razoável de condições encontradas em escoamentos de água líquida no ambiente), tem-se (βP T ) ≡ ϕ(T ) = ϕ(Tr ) + bT 0 = ϕ(Tr ) + b T 0 + b T = ϕ(hT i) + b T ≈ ϕ(T ) + b T = β P T + b T. (5.72) (pois ϕ é aproximadamente linear), onde b = 0.00356 K−1 é obtido por regressão linear através dos pontos na figura 5.3. O único objetivo de (5.72) é proporcionar uma base concreta sobre a qual estimativas de ordem de grandeza podem ser feitas. Em seguida, nós aproximamos a densidade do lado direito por ℘r (novamente, uma aproximação de Boussinesq) e utilizamos a equação da continuidade: # " # ! " ∂ ℘ ∂ ℘Uj ∂T DP ∂ ∂T ∂T + Uj + Tcp + − βP T ≈ ℘r cp ν T + Φ; ℘cp ∂t ∂x j ∂t ∂x j Dt ∂x j ∂x j " # ! ∂( ℘T ) ∂( ℘TUj ) DP ∂ ∂T cp + − βP T ≈ ℘r cp ν T + Φ. (5.73) ∂t ∂x j Dt ∂x j ∂x j Prosseguimos para promediar. A hipótese fundamental que simplificará extraordinariamente a álgebra é a ausência de correlação entre a temperatura e a pressão. Como acabamos de ver, para um gás βP T ≡ 1, e nesse caso ficamos simplesmente com DhPi Dt no termo correspondente. Para água, devido à dependência 67 5.7 – As ordens de grandeza da equação para a temperatura de βP com T , temos formalmente: * + Dp DP DP βP T = βP T +b T . Dt Dt Dt (5.74) Estimativas da ordem de grandeza das correlações entre as flutuações de temperatura T e os gradientes de pressão não estão diretamente disponíveis, mas parece muito razoável supor que elas não devem exceder as correlações entre pressão e temperatura, das quais temos uma excelente estimativa em (5.70) em termos dos valores ambientes (i.e., “médios”) de P e T . Adotando essas estimativas em (5.74), devemos agora ter: b ∼ βP /10, + Dp hT i DP , T Dt 100 Dt + * Dp βP T DP 1 DP b T ≈ . Dt 1000 Dt 23000 Dt * Os efeitos da correlação temperatura-(gradiente de pressão) na água são portanto desprezíveis, e adotamos DP DP ≈ βP T . (5.75) βP T Dt Dt Com (5.75) em mãos, retornamos agora a (5.73) e promediamos: D E ! ∂ ℘ TU j DP ∂ ℘ T ∂ ∂hT i − βP T + ≈ ℘r cp ν T + hΦi ; cp ∂x j Dt ∂x j ∂x j ∂t (5.76) Os termos do lado esquerdo são expandidos da maneira usual: ∂ ℘T ∂ [ ℘ + ρ][hT i + T] = ∂t ∂t ∂ = ℘ hT i + ℘ T + ρ hT i + ρ T ∂t ∂ = ℘ hT i + ρ T ; ∂t e D E ∂ ℘TUj ∂x j D E E ∂ D [ ℘ + ρ][hT i + T][ Uj + u j ] ∂x j D E D EgE D E ∂ Df = ℘ hT i Uj + ℘ hT i u j + ℘ T Uj + ρ hT i Uj ∂x j D E gE ∂ Df ℘ Tu j + hT i ρu j + Uj ρ T + ρ Tu j + ∂x j D E D E D E D E D Eg ∂ f = ℘ hT i Uj + ℘ Tu j + hT i ρu j + Uj ρ T + ρ Tu j ∂x j = 68 5.7 – As ordens de grandeza da equação para a temperatura Substituindo em (5.76), " ∂( ℘ hT i) ∂ ρ T + + cp ∂t ∂t D E D E D E D E D E ∂ ℘ hT i Uj ∂ ℘ Tu j ∂ hT i ρu j ∂ Uj ρ T ∂ ρ Tu j # + + + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ! DP ∂ ∂hT i − βP T + hΦi . ≈ ℘r cp ν T Dt ∂x j ∂x j Novamente, é possível simplificar essa expressão utilizando a equação da continuidade promediada, (5.45): ) " ( ∂hT i ∂ ρ T ∂ ℘ ∂ f D E D Eg + + hT i + ℘ Uj + ρu j + cp ℘ ∂t ∂t ∂t ∂x j | {z } ≡0 D E D E D E D E ∂ ℘ ∂ Uj ρ T ∂ ρ Tu j # D E ∂hT i ∂ Tu j ℘ Uj + ℘ + Tu j + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ! DP ∂ ∂hT i − βP T ≈ ℘r cp ν T + hΦi . Dt ∂x j ∂x j O surgimento de vários termos envolvendo ℘ fora de derivadas permite, mais uma vez, usar (5.50) (na forma promediada, que utiliza (5.37)): ( " ) ∂ ℘ ∂hT i ∂ ρ T ∂ f D E D Eg cp ℘r ℘ Uj + ρu j + + + hT i + ∂t ∂t ∂t ∂x j | {z } ≡0 D E D E D E D E ∂hT i D E ∂ ℘ ∂ Uj ρ T ∂ Tu j ∂ ρ Tu j # ℘r Uj + ℘r + Tu j + + ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ! DP ∂ ∂hT i − βP T ≈ ℘r cp ν T + hΦi . Dt ∂x j ∂x j Mais uma vez, expandimos ∂ ℘ /∂x j usando (5.37): D E D E ∂ Tu j ∂ ρT ∂hT i ∂hT i + cp + cp ℘r Uj + cp ℘r + cp ℘r ∂t } ∂x j ∂x j | {z∂t } | {z | {z } | {z } I II III D IVE D E D E ∂ ℘r D E ∂ ℘0 ∂ Uj ρ T ∂ ρ Tu j cp Tu j + cp Tu j + cp + cp ∂x j ∂x j ∂x j ∂x | {z } | {z } | {z } | {z j } V VI VII ! VIII DP ∂ ∂hT i − βP T ≈ ℘r cp ν T + hΦi . (5.77) |{z} ∂x j ∂x j | {z Dt } | {z } XI IX X Todos os termos de (5.77) estão prontos para uma análise de ordem de grandeza, exceto pelo ainda ligeiramente problemático termo IX. Aqui, observe que DP * D(P + P 0 ) + r = Dt Dt 69 5.7 – As ordens de grandeza da equação para a temperatura * + * 0 + ∂P ∂Pr ∂P 0 = Uj + + Uj ∂x j ∂t ∂x j 0 D E ∂Pr ∂hP i D E ∂hP 0i * ∂p + = Uj + + Uj + uj ∂x j ∂t ∂x j ∂x j + * 0 0 D E ∂p ∂Pr ∂hP i ∂hP i = hW i + + Uj + uj ∂t ∂x j ∂x | {z∂z} |{z} | {z } | {z j} i ii iii (5.78) iv Em primeira aproximação, hW i ≈ 0. Uma análise de ordem de grandeza mais consistente com o que é feito usualmente em camadas-limite, utilizando a equação da continuidade (5.47), é supor ∂ hU i /∂x ∂ hW i /∂z; mais especificamente, utilizaremos a altura de escala D para estimar os gradientes horizontais de velocidade média (isso é, infelizmente, uma hipótese adicional): ρ̃ ` hU i hW i ∼ ⇒ hW i ∼ ũ = ũ. D ` D ℘0 Retornando a (5.78), descobrimos que todos os termos são da mesma ordem: i∼ ρ̃ ℘0 ũ ℘0д = ρ̃ ℘0 ũ ℘0 p̃ũ p̃ = ; ρ̃` ` p̃ũ ; ` p̃ũ iii ∼ ; ` p̃ũ ũ 3 iv ∼ = ℘0 . ` ` ii ∼ Em (i), usamos (5.61); (ii) e (iii) são simples. (iv) é obtido supondo-so que as flutuações turbulentas de velocidade e do gradiente de pressão são bem correlacionadas. À luz da equação não-promediada da quantidade de movimento (por exemplo, (5.49)), isso parece razoável e bastante natural, já que os gradientes de pressão por unidade de volume devem ser da mesma ordem que as acelerações. Na segunda igualde de (iv), usamos (5.60). Com isso, as ordens de magnitude de todos os termos de (5.77) estão estabelecidos: I ∼ ℘0cp T̃ũ , ` T̃ũ II ∼ ρ̃cp , ` T̃ũ III ∼ ℘0cp , ` T̃ũ IV ∼ ℘0cp , ` V ∼ T̃ũ ℘0 D T̃ũ VI ∼ ρ̃cp ` = ρ̃cp T̃ũ ` 70 5.8 – A equação para a temperatura potencial VII ∼ ρ̃cp T̃ũ ` T̃ũ VIII ∼ ρ̃cp ` IX ∼ (βP0T0 ) ℘0 X ∼ ℘0cp ν T ũ 3 . ` O parâmetro adimensional T̃ `2 ũ 3 ` = ℘0cp ν T νu T̃ũ 1 T̃ũ = ℘0cp , νu ũ` ` PrRe` ` XI ∼ ℘0 Ga0 ≡ βP0T0 (5.79) é o número de Gay-Lussac; para o ar (como já vimos), Ga0 ≡ 1; para a água, um valor conservador para sua ordem de magnitude (vide Figura 5.2) é βP0T0 ∼ 0,1. Claramente, I, III e IV são os termos dominantes; II, V, VI, VII, VIII, saõ todos da mesma ordem de magnitude, e bem menores; assim como X, uma vez que o número de Reynolds Re` em escoamentos turbulentos é muito grande. IX e XI podem ser comparados com (I,II,IV) por meio do número turbulento de Eckart, Ec ≡ ũ 2 ; cp τ̃ (5.80) obtemos 1 ℘0ũ 3/`, Ec onde Ec = O(10−3 ) tanto para ar quanto para água. Portanto, I,III,IV ∼ I,II,IV IX,XI. Tanto para ar quanto para água, a equação simplificada para a temperatura termodinâmica T que se obtém com a aproximação de Boussinesq é D E ! ρ̃ T̃ũ ∂hT i D E ∂hT i ∂ Tu j + Uj + =O . (5.81) ∂t ∂x j ∂x j ℘0 ` Observe que não houve necessidade, ainda, de introduzir a temperatura potencial: na região onde supomos que a aproximação de Boussinesq é estritamente válida, `/D 1, é suficiente trabalhar com a temperatura termodinâmica T , mesmo no caso do ar. 5.8 – A equação para a temperatura potencial Uma formulação alternativa para a equação da energia utiliza o conceito de temperatura potencial. Para um gás ideal, H = H(T ), e (3.59) com (5.3) torna-se ! DT DP ∂ ∂T ℘cp − = ℘cp νθ + Φ. (5.82) Dt Dt ∂x j ∂x j Utilizando a temperatura potencial introduzida em (5.25) e diferenciando, dT dΘ R dP = + , T Θ cp P 71 5.8 – A equação para a temperatura potencial R DP 1 DΘ 1 DT = − , Θ Dt T Dt cp P Dt cp P DΘ DT DP = ℘cp − . RΘ Dt Dt Dt (5.83) Comparando (??) com (??), chegamos finalmente à equação para a energia interna em termos da temperatura potencial, ! cp P DΘ ∂ ∂T = ℘cp νθ + Φ. (5.84) RΘ Dt ∂x j ∂x j O termo cp P cp P T = RΘ RT Θ é muito proximamente igual a cp P = cp ℘; RT de fato, P T = Θ P0 ! R/cp д = T0 − c p z T0 ≈ 287.15 = 0.9966, 288.15 para T0 = 288.15 K, д = 9.81 m2 s−1 , cp = 1005 J kg−1 K−1 e z = 100 m. Para z = 1000 m, que é a ordem de grandeza da altura da camada-limite atmosférica, o valor acima muda para 0.9661: ainda próximo de 1, mas com diferenças maiores do que 1%. Debaixo das hipóteses da aproximação de Boussinesq, portanto, podemos aproximar (??) por ! ∂ ∂T DΘ = ℘r cp νθ ℘cp + Φ. (5.85) Dt ∂x j ∂x j Podemos agora manipular o lado esquerdo de (??) exatamente como fizemos para ir de (5.73) até (5.77), só que com Θ no lugar de T . Basta, portanto, copiar os termos dessa última com Θ em lugar de T : D E D E ∂ θu j ∂ ρθ ∂hΘi ∂hΘi cp ℘r + cp + cp ℘r Uj + cp ℘r + ∂t } ∂x j ∂x j | {z∂t } | {z | {z } | {z } I II III D IVE D E D E ∂ ℘r D E ∂ ℘0 ∂ Uj ρθ ∂ ρθu j cp θu j + cp θu j + cp + cp ∂x j ∂x j ∂x j ∂x | {z } | {z } | {z } | {z j } V VI VII ! VIII ∂ ∂hΘi ≈ ℘r cp ν T + hΦi . (5.86) |{z} ∂x j ∂x j | {z } X IX Claramente, as mesmas escalas macroscópicas T̃ e ` aplicam-se a (??); as ordens de magnitude são: I ∼ ℘0cp T̃ũ ` , 72 5.8 – A equação para a temperatura potencial II ∼ ρ̃cp T̃ũ ` III ∼ ℘0cp , T̃ũ , ` T̃ũ IV ∼ ℘0cp , ` V ∼ T̃ũ ℘0 D T̃ũ VI ∼ ρ̃cp ` T̃ũ VII ∼ ρ̃cp ` T̃ũ VIII ∼ ρ̃cp ` = ρ̃cp IX ∼ ℘0cp ν T X ∼ ℘0 ũ 3 . ` T̃ `2 T̃ũ ` = ℘0cp T̃ũ ν T νu T̃ũ 1 = ℘0cp , νu ũ` ` PrRe` ` Mantendo-se apenas os termos de maior ordem de magnitude, o resultado é uma equação análoga a (5.81): D E ! D E ∂ θu j ρ̃ T̃ũ ∂hΘi ∂hΘi + Uj + =O . (5.87) ∂t ∂x j ∂x j ℘0 ` A equação (??) é um pouco mais robusta e parcimoniosa de hipóteses do que (5.81): em particular, não precisamos nos preocupar com a interação entre os gradientes de pressão ∂Pr /∂z e a velocidade vertical média hW i: não precisamos supor portanto que hW i hU i, e (??) é aplicável mesmo em regiões de alta velocidade vertical, como por exemplo dentro de térmicas. Por outro lado, continuamos restritos a ` D: na análise de escalas que estamos fazendo aqui, para a atmosfera, ` ∼ 1000 m já está claramente violando aquela condição, e não há garantia (sob esse aspecto) de que as equações para as médias obtidas com a aproximação de Boussinesq valham para toda a camada-limite atmosférica. 6 As equações de ordem 2 6.1 – Os gradientes microscópicos de densidade A equação (5.65) nos permite obter microescalas de Kolmogorov para densidade. Definimos ! * + 2 * ∂ T ∂ T + 2 Ť ! 2 ∂ρ ∂ρ ρ̌ 2 = ⇒ = ℘ βP m = ℘ βP m ηρ ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ηT ℘ ρ̌ = Ť, (6.1) hT i para η ρ = η T . A linearidade entre as microescalas de densidade e de temperatura produz agora as estimativas de ordem de grandeza ρ̃ ρ̌ = Pe`1/2 , ηρ ` ρ̌ = Re`−1/4 . ρ̃ (6.2) (6.3) 6.2 – A equação para as flutuações de densidade A equação local de conservação de massa pode ser expandida em termos das decomposições de Boussinesq e de Reynods: ∂ ∂ ℘r + ℘0 + ρ + ℘r + ℘0 + ρ (hUi i + ui ) = 0, ∂t ∂xi 0 ∂ρ ∂ ℘ ∂ ℘r ∂ ℘r ∂hUi i ∂ui + + ℘r + hUi i + ℘r + ui ∂t ∂t ∂xi ∂x ∂xi ∂x 0 i 0i ∂ui ∂hUi i ∂ ℘ ∂ ℘ + hUi i + ℘0 + ui + ℘0 ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi ∂ρ ∂(ρui ) ∂hUi i +ρ + hUi i + =0 ∂xi ∂xi ∂xi (6.4) Muitos dos termos de (6.1) comparecem em (5.46); subtraindo a segunda da primeira, ∂ρ ∂ρ ∂(ρui ) ∂ ρui ∂ ℘r 0 ∂ui ∂ ℘0 ∂ui ∂hUi i + ℘r +ui + ℘ +ui +ρ +hUi i + − =0 ∂t ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi (6.5) 73 what am I doing here? can I go away, please? 74 6.2 – A equação para as flutuações de densidade É tentador estimar a ordem de grandeza de cada um dos termos de (6.2) individualmente, mas isso estaria errado! Exceto pelos dois últimos, a média de cada um deles é identicamente nula (verifique, utilizando os postulados de Reynolds); a média conjunta dos dois últimos também é zero, garantindo que a média da equação como um todo é zero, como não poderia deixar de ser. O foco de nosso interesse é a ordem de grandeza de ∂ui /∂xi em (6.2). Para estimá-la, fazemos ∂ρ ∂uk ∂ui ∂uk ∂uk ∂ ℘r 0 ∂ui ∂uk ∂uk ∂ ℘0 + ℘r + ui + ℘ + ui + ∂t ∂xk ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂ρ ∂uk ∂uk ∂(ρui ) ∂uk ∂ ρui ∂uk ∂hUi i + hUi i + − = 0; ρ ∂xk ∂xi ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xi e promediamos: * + * + * + * + ∂ρ ∂uk ∂ui ∂uk ∂uk ∂ ℘r 0 ∂ui ∂uk + ℘r + ui + ℘ + ∂t ∂xk ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂xi ∂xk | {z } | {z } | {z } | {z } I II III IV * + * + * + * + ∂ρ ∂uk ∂uk ∂ ℘0 ∂uk ∂(ρui ) ∂uk ∂hUi i ui + ρ + hUi i + = 0. (6.6) ∂xk ∂xi ∂xk ∂xi ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi | {z } | {z } | {z } | {z } V VI VII VIII Seguem-se agora, como já nos é familiar, as ordens de grandeza de cada termo: ρ̌ǔ 2 ρ̃ũ 2 I∼ = 2 Re`1/2 Pe`1/2 Re`−1/4 η ρ ηu ` 2 ρ̃ũ ũ 2 (6.7) = 2 Re` Pr1/2 Re`−1/4 = ρ̃ 2 Re`3/4 Pr1/2 ; ` ` !2 ǔ ũ 2 II ∼ ℘0 = ℘0 2 Re` ; (6.8) ηu ` ρ̃ ũ 2 ǔ 2 ℘0 ũ 1/2 III ∼ = Re` ũRe`−1/4 = ρ̃ 2 Re`1/4 ; (6.9) ηu D ` ` ` !2 ũ 2 ǔ IV ∼ ρ̃ = ρ̃ 2 Re` ; (6.10) ηu ` ũ 2 ǔ 2 ρ̃ = ρ̃ 2 Re`1/4 ; (6.11) V∼ ηu ` ` ũ ũ ũ 2 ǔ ũ VI ∼ ρ̌ = ρ̃Re`−1/4 Re`1/2 = ρ̃ 2 Re`1/4 . (6.12) ηu ` ` ` ` ρ̌ ǔ ρ̃ ũ ũ 2 VII ∼ ũ = ũ Re`1/2 Pr1/2 Re`1/2 = ρ̃ 2 Re` Pr. (6.13) η ρ ηu ` ` ` O termo VIII é ligeiramente problemático, porque não está imediatamente claro qual microescala devemos utilizar para estimar o gradiente de ∂(ρui )/∂xi . Podemos, é claro, abrir as derivadas com a regra da derivada do produto, e estimar dois termos individualmente. Mas podemos, também, majorar o termo dividindo pelo menor entre (ηu ,η T ). De (4.28), para Pr ≥ 1, η T < ηu ; então, VIII ∼ ǔ ρ̌ǔ ũ 1/2 ρ̃ 1/2 1/2 ũ 2 = Re` Re` Pr ũRe`−1/4 = ρ̃ 2 Re`1/4 Pr1/2 . ηu η ρ ` ` ` (6.14) 75 dal: 6.5 – A dedução das equações de ordem 2 Em primeira ordem, o campo de flutuações de velocidade também é solenoi* !2 ρ̃ ũ Re` ; ℘0 ` ! ρ̃ 1/2 1/2 ũ ∂ui =O Re` . ∂xi ` ℘0 + ∂ui ∂uk =O ∂xi ∂xk (6.15) (6.16) 6.3 – Um teorema útil Teorema 1 Se u (x,t; ω) é um processo estocástico essacionário, então * + du u = 0. dt Prova: como o processo é essacionário, + * + * ∂ D 2E ∂u ∂ 2 0= u =2 u . u = ∂t ∂t ∂t (6.17) (6.18) A mesma dedução vale para as derivadas parciais em relação a xi , donde * + ∂ui ui = 0. (6.19) ∂xk 6.4 – Quantidade de movimento, a partir do zero O lado esquerdo é o bicho, porque é aqui que estão os termos não-lineares, e porque em princípio todos os ℘’s estão dentro de derivadas. ∂( ℘Ui ) ∂( ℘Ui Uj ) + = ∂t ∂x j ∂[( ℘ + ρ)][hUi i + ui ) ∂( ℘Ui Uj ) + = ∂t ∂x j ∂ D℘U U E i j ∂ ℘Ui + = ∂t ∂x j 6.5 – A dedução das equações de ordem 2 A partir de agora, nós vamos supor válidos a decomposição e os postulados de Reynolds: Ui = hUi i + ui , D E D E D E Ui Uj = hUi i Uj + ui u j , * + ∂f ∂ f = , ∂s ∂s (6.20) (6.21) (6.22) 76 6.5 – A dedução das equações de ordem 2 onde f é qualquer momento central e s é xk ou t. A aproximação de Boussinesq complica a decomposição de Reynolds para ℘, T (ou Θ) e P. Como antes, ℘ = ℘ + ρ, (6.23) P = hPi + p, (6.24) porém agora vale também a separação de Boussinesq (??), de modo que ℘ = ℘r + ℘0 = ℘r + ℘0 + ρ = ℘r + ℘0 + ρ (6.25) P = Pr + P 0 = Pr + P 0 + p = Pr + P 0 + p (6.26) T = Tr + T 0 = Tr + T 0 + T = Tr + T 0 + T (6.27) Subtraindo-se ℘r , Pr e Tr das equações acima, vê-se que as flutuações turbulentas são as flutuações em relação às médias das flutuações dinâmicas, ℘0 = 0 ℘ + ρ, P 0 = hP 0i + p, T 0 = hT 0i + T. As equações com que vamos trabalhar são as equações de Navier-Stokes com a aproximação de Boussinesq (??): ∂Uk ∂xk ∂Ui ∂Uk Ui + ∂t ∂xk = 0, = −δi3д (6.28) ℘0 1 ∂P 0 ∂ 2Ui . (6.29) − 2ϵilk ϖl Uk − + ν (i) ℘r ℘r ∂xi ∂xk ∂xk Nessa última, o i entre parênteses significa “não somar em i”. Note que, em virtude de (6.14), Uk ∂Ui ∂Uk ∂(Ui Uk ) ∂Ui = Uk + Ui = . ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk (6.30) A média da equação da continuidade produz * + ∂hUk i ∂uk ∂hUk i ∂uk ∂uk ∂hUk i + =0 ⇒ + =0 ⇒ = 0. (6.31) =0 ⇒ ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk Substituindo a decomposição de Reynolds na equação dinâmica, ∂hUi i ∂ui ∂ [(hUi i + ui )(hUk i + uk )] = + + ∂t ∂t ∂xk " # 0 ℘ +ρ 1 ∂hPi ∂p ∂ 2 hUi i ∂ 2ui −δi3д −2ϵilk ϖl [hU ik + uk ]− + ++ν (i) +ν (i) . ℘r ℘r ∂xi ∂xi ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk (6.32) Note que a média de (6.18) destrói todos os termos que dependem linearmente de uma flutuação. O único “problema” é com os termos não-lineares: h[(hUi i + ui )(hUk i + uk )]i = hUi i hUk i + hui uk i , (6.33) donde se deduz de uma vez por todas as equações para as médias, 0 ℘ ∂hUi i ∂ 1 ∂hP 0i ∂ 2 hUi i [hUi i hUk i + hui uk i] = −δi3д + −2ϵilk ϖl hUk i− +ν (i) . ∂t ∂xk ℘r ℘r ∂xi ∂xk ∂xk (6.34) 77 6.5 – A dedução das equações de ordem 2 O único termo “novo” é o fluxo cinemático turbulento hui uk i. Subtraindo (6.20) de (6.18), ∂ui ∂ [ui huk i + hUi i uk + ui uk − hui uk i] = + ∂t ∂xk ρ 1 ∂p ∂ 2ui − 2ϵilk ϖl uk − + ν (i) , (6.35) − δi3д ℘r ℘r ∂xi ∂xk ∂xk cuja pré-multiplicação por u j dá uj ∂ui ∂ui ∂hUi i ∂ui uk ∂hui uk i + huk i u j + u j uk + uj − uj = ∂t ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk uj ρ 1 ∂p ∂ 2ui − δi3д − 2ϵilk ϖl u juk − u j + ν (i)u j , (6.36) ℘r ℘r ∂xi ∂xk ∂xk É óbvio que uma equação igual a (6.22) vale se trocarmos os índices. Essas duas equações irmãs devem ser combinadas agora. Note que ∂u j ∂ui u j ∂ui = uj + ui , ∂t ∂t ∂t ∂ui u juk ∂u j ∂ui uk = uj + ui uk ∂xk ∂xk ∂xk ∂u ∂ui uk j uk + ui , = uj ∂xk ∂xk ∂u j p ∂u j ∂p = uj +p ⇒ ∂xi ∂xi ∂xi ∂u j ∂u j p ∂ui p ∂p ∂p ∂ui + = uj +p + ui +p ⇒ ∂xi ∂x j ∂xi ∂xi ∂x j ∂x j ! ∂(u j p) ∂(ui p) ∂p ∂p ∂ui ∂u j uj + ui = + −p + . ∂xi ∂x j ∂xi ∂x j ∂x j ∂xi O trabalho com o termo viscoso é um pouco mais sofisticado; note que ! ∂ ∂ui ∂ 2ui ∂ui ∂u j ν (i)u j = ν (i)u j + ν (i) ; ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk (6.37) (6.38) (6.39) (6.40) por simetria, ! ∂u j ∂ 2u j ∂u j ∂ui ∂ ν (j)ui = ν (j)ui + ν (j) ; ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk (6.41) somando-se as duas, obtém-se o resultado importante: ! ∂ui ∂u j ∂ 2u j ∂u j ∂ 2ui ∂ ∂ui ν (i)u j +ν (j)ui = ν (i)u j + ν (j)ui − ν (i) + ν (j) . ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk (6.42) A equação para os momentos de segunda ordem fica D E D E D E D E D E ∂hUi i ∂ ui u juk ∂ ui u j ∂ ui u j ∂ Uj + hUk i + hui uk i + u j uk + = ∂t } ∂x ∂x ∂x ∂x | {z | {z k } | {z k} | {z k} | {zk } I II III IV V 78 6.6 – Energia cinética turbulenta f D E g д D E δi3 u j ρ + δ j3 ui ρ − 2ϖl ϵilk u juk + ϵ jlk hui uk i − ℘ {z } | r {z } | VII VI D E !+ * p ∂ui ∂u j ∂ ui p 1 ∂ ujp + − + + + ℘r ∂xi ∂x j ℘r ∂x j ∂xi {z } | {z } | IX VIII * + * +! * ∂ui ∂u j + ∂u j ∂ui ∂ ν (i) u j + ν (j) ui − ν (i) + ν (j) . (6.43) ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk | {z } | {z } X XI 6.6 – Energia cinética turbulenta A contração de (6.29) produz a equação de transporte de (duas vezes a) energia cinética turbulenta, ∂hui ui i ∂hui ui i ∂hUi i ∂hui ui uk i + hUk i + 2 hui uk i + = ∂t ∂xk ∂x ∂xk " k# * + + * 2д 2 ∂ ui p ∂ ∂ui ∂ui ∂ui − u ρ −2ϵilk ϖl hui uk i− +2ν (i) ui −2ν (i) . ℘r 3 ℘r ∂xi ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk (6.44) Calculando as derivadas de produto do penúltimo termo, ∂hui ui i ∂hUi i ∂hui ui uk i ∂hui ui i + hUk i + 2 hui uk i + = ∂t ∂xk ∂xk ∂xk " # + * 2 ∂ ui p ∂ 2ui − 2ϵilk ϖl hui uk i − + 2ν (i) ui . (6.45) ℘r ∂xi ∂xk ∂xk Essa última equação “não conta toda a história” da turbulência corretamente. Alguma melhora de interpretação pode ser obtida por meio da identidade (facilmente verificável) * + * + ∂2 ∂ui ∂ui ∂ 2ui = ν (i) . (6.46) 2ν (i) ui hui ui i − 2ν (i) ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk É tentador identificar o primeiro termo do lado direito como um termo de difusão de energia cinética turbulenta (por analogia com o termo viscoso de NavierStokes) e o segundo como o termo de dissipação de energia cinética turbulenta; no entanto, rigorosamente falando tal interpretação está errada! Lembre-se de que o tensor de tensões depende do tensor taxa de deformação; consequentemente, antes da simplificação por meio da equação da continuidade, o termo viscoso de Navier-Stokes para as flutuações turbulentas é ! ∂ ∂ui ∂uk ν (i) + ; ∂xk ∂xk ∂xi pré-multiplicando-se por u j encontra-se o produto ! ( " !# ! ) ∂ ∂ui ∂uk ∂ ∂ui ∂uk ∂ui ∂uk ∂u j u j ν (i) + = ν (i) uj + − + , ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xi ∂xk (6.47) 79 6.6 – Energia cinética turbulenta cujo lado direito é exatamente igual aos termos IV e V da equação (1-110) de Hinze (1975). Tirando-se os valores esperados, fazendo-se a contração i = j, e multiplicando-se por 2, conclui-se que * + * +# * + !+ "* ∂ ∂ui ∂uk ∂ ∂uk ∂ 2ui ∂ 2ui 2 ui ν (i) + + ui = 2ν (i) ui = 2ν (i) ui ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xk ∂xk * + 2 ∂ui ∂ui ∂ = ν (i) hui ui i − 2ν (i) ∂xk ∂xk ∂xk ∂xk | {z } ≈2ϵe * !+ * ! + ∂ ∂ui ∂uk ∂ui ∂uk ∂ui = 2ν (i) ui + − 2ν (i) + (6.48) ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xi ∂xk | {z } 2ϵe Essa é a equação que antecede (1-111) de Hinze (1975) (p. 74). Na primeira linha, note a simplificação com a equação da continuidade. A segunda linha é a aplicação de (6.32). A terceira linha é o valor esperado do lado direito de (6.33), com a contração i = j. Compare o segundo termo do lado direito da terceira linha de (6.34) com (3.57): conforme indicado na chave horizontal, este é o termo exato para a taxa média de dissipação de energia cinética turbulenta ϵ. De fato, ! + * ! + * 1 ∂ui ∂uk ∂ui ∂ui ∂uk ∂ui + + = 4ν (i) 2ν (i) ∂xk ∂xi ∂xk 2 ∂xk ∂xi ∂xk + * ∂ui = 4ν (i) sik ∂xk * !+ ∂ui ∂uk = 2ν (i) sik + ski ∂xk ∂xi !+ * ∂uk ∂ui + sik = 2ν (i) sik ∂xk ∂xi * !+ ∂ui ∂uk = 2ν (i) sik + ∂xk ∂xi = 2 × 2ν (i) hsik sik i = 2ϵe . (6.49) O motivo deste longo exercício é que vemos agora que podemos escrever a equação para a energia cinética da turbulência, (6.31), de outras duas formas que enfatizam um pouco melhor os termos que são responsáveis, aproximadamente ou exatamente, pela taxa de dissipação de energia cinética turbulenta ϵe . Assim se usarmos (6.32) em (6.34), e dividirmos por 2 (para encontrarmos a equação de evolução de ui ui /2), teremos ∂ ui ui ∂ ui ui ∂hUi i 1 ∂hui ui uk i + hUk i + hui uk i + = ∂t 2 ∂xk 2 ∂xk 2 ∂xk " # * + 1 ∂ ui p ∂ 2 ui ui ∂ui ∂ui − ϵilk ϖl hui uk i − + ν (i) − ν (i) . (6.50) ℘r ∂xi ∂xk ∂xk 2 ∂xk ∂xk | {z } ≈ϵe Por outro lado, se usarmos a primeira e última linhas de (6.33), a mesma equação fica 80 6.6 – Energia cinética turbulenta ∂ ui ui ∂ ui ui ∂hUi i 1 ∂hui ui uk i + = + hUk i + hui uk i ∂t 2 ∂xk 2 ∂xk 2 ∂xk " # * !+ * ! + 1 ∂ ui p ∂ ∂ui ∂uk ∂ui ∂uk ∂ui −ϵilk ϖl hui uk i− +ν (i) ui + −ν (i) + . ℘r ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk ∂xi ∂xk | {z } ≡ϵe (6.51) Em um certo sentido, (6.37) é mais “correta” do que (6.36) porque nela ϵe aparece explicitamente, e extamente. Agora, se a turbulência for homogênea, os dois penúltimos termos de (6.36) e de (6.37) são nulos, e o último termo de (6.36) para ϵe torna-se exato. Em turbulência homogênea portanto, vale + * + * + ! * ∂ui ∂ui ∂uk ∂ui ∂ui ∂uk ∂ui + = ν (i) ⇒ = 0. (6.52) ϵe = ν (i) ∂xk ∂xi ∂xk ∂xk ∂xk ∂xi ∂xk A equação (6.38) é uma entre várias relações similares que podem ser obtidas em turbulência homogênea e incompressível. Sua dedução pode ser feita diretamente a partir das hipóteses de homogeneidade e incompressibilidade: * + ∂ ∂ui uk = 0, ∂xi ∂xk * + * + ∂uk ∂ui ∂ 2ui + uk = 0, ∂xi ∂xk ∂xi ∂xk * + * + ∂uk ∂ui ∂ ∂ui + uk = 0, ∂xi ∂xk ∂xk ∂xi * + ∂uk ∂ui (6.53) =0 ∂xi ∂xk Resultados um pouco mais gerais também se aplicam: * + ∂ ∂ui uk = 0, ∂xk ∂x j * + * + ∂ 2ui ∂uk ∂ui uk + = 0, ∂xk ∂x j ∂xk ∂x j * + ∂ 2ui uk =0 ∂xk ∂x j (6.54) Finalmente, usando (6.40), * + ∂ ∂ui uk = 0, ∂x j ∂xk * + * + ∂uk ∂ui ∂ 2ui + uk = 0, ∂x j ∂xk ∂x j ∂xk * + ∂uk ∂ui =0 ∂x j ∂xk (6.55) 81 6.7 – As ordens de grandeza dos termos das equações de ordem 2 6.7 – As ordens de grandeza dos termos das equações de ordem 2 A escala integral T de um processo estocástico u (t ) essacionário com média zero é definida por meio da integral da função de autocorrelação: D E +∞ 2 T Ruu (0) = T u (t ) ≡ Ruu (τ ) dτ . (6.56) −∞ No caso de turbulência tridimensional, a rigor existiriam diversas “escalas” integrais para as diferentes funções de correlação Ri,j , Ri,jk , etc. Por simplicidade, vamos definir uma escala integral de comprimento L supondo (provisoriamente) que a turbulência seja homogênea, e escolhendo as flutuações u 1 na direção x 1 : hu 1u 1 i L ≡ +∞ −∞ R 11 (x 1 ) dx 1 . (6.57) Existem diversas formas de se escolher uma escala de velocidade ũ (por exemplo, a velocidade de atrito é sempre uma candidata); para os nossos propósitos (e também porque em turbulência isotrópica essa é uma variável particularmente frequente) provavelmente basta usar o desvio-padrão: ũ ≡ p hu 1u 1 i. (6.58) Uma escala de tempo agora se segue naturalmente, t˜ ≡ L /ũ. (6.59) Em geral os textos e artigos científicos mencionam as “escalas integrais”, sem serem precisos nem atentarem ao fato de que em processos estocásticos multidimensionais existem muitas possíveis escalas integrais, e ainda que quando a turbulência for não-homogênea a definição clássica baseada na função de autocorrelação é simplesmente inaplicável, já que neste tipo de turbulência a função de autocorrelação simplesmente não existe. Prosseguindo, define-se a microescala de Taylor λ por ∂ 2R 1,1 (x1, 0, 0) hu 1u 1 i ≡ −2 2 . ∂x 1 ∂x 1 λ x 1 =0 Teorema 2 Em turbulência homogênea, * + ∂u 1 ∂u 1 hu 1u 1 i = . ∂x 1 ∂x 1 λ2 (6.60) (6.61) Prova: R 1,1 (x 1 , 0, 0) = hu 1 (0, 0, 0)u 1 (x 1 , 0, 0)i , * + ∂R 1,1 (x 1 , 0, 0) ∂u 1 (x 1 , 0, 0) = u 1 (0, 0, 0) , ∂x 1 ∂x 1 * + ∂ 2R 1,1 (x 1 , 0, 0) ∂ 2u 1 (x 1 , 0, 0) = u 1 (0, 0, 0) . ∂x 1 2 ∂x 1 ∂x 1 (6.62) 82 6.7 – As ordens de grandeza dos termos das equações de ordem 2 Mas em turbulência homogênea, vale (6.3), na forma * + ∂u 1 u1 = 0; ∂x 1 derivando novamente essa última expressão, + * + * ∂u 1 ∂u 1 ∂ 2u 1 + = 0, u1 ∂x 1 2 ∂x 1 ∂x 1 (6.63) (6.64) donde se segue (6.47). Vamos agora estudar as ordens de grandeza dos termos de (6.29). Nós começamos por admitir que, em geral, D E O ( ui u j ) = ũ 2 . (6.65) Os termos I e II têm que ter (no máximo) a mesma ordem de grandeza dos demais, já que juntos eles formam uma “derivada material” seguindo o escoamento médio, D E D E D E ∂ ui u j ∂ ui u j D ui u j ≡ + hUk i . (6.66) Dt ∂t ∂xk Note que (6.52) pode ser interpretada como a derivada material seguindo o escoamento médio, já que é formada com hUk i, e não com Uk . A barra sobre o D serve para explicitar a diferença. Vamos também supor que as escalas integrais (ou, como dizem os russos, externas) são impostas fisicamente ao escoamento, e por conseguinte estão relacionadas com os gradientes de velocidade média: ũ ∂hUi i ∼ . ∂xk L (6.67) Neste caso, ũ 3 (6.68) L no máximo, porque na verdade não temos muita idéia sobre o comportamento das correlações triplas. Continuando, O (III, IV, V) ∼ O (VI) ∼ дũϱ ℘r , (6.69) onde ϱ é a escala externa das flutuações de densidade. Isso na verdade define uma nova escala de comprimento, дũ ϱ ℘r ≡ дϱ ũ 3 ⇒ Lρ = 2 , Lρ ũ ℘r (6.70) o que nos deixa a um passo do comprimento de essabilidade de Obukhov. A ordem de grandeza das covariâncias com a pressão vem a seguir. É razoável supor que p ∼ ℘r ũ 2 , (6.71) 83 6.7 – As ordens de grandeza dos termos das equações de ordem 2 mas ainda é necessário estimar o nível de correlação entre p, ui e ∂ui /∂xk . Note que, se ui e ∂ui /∂xk fossem bem correlacionados, então hui ∂ui /∂xk i ∼ ũ 2 /λ em virtude de (6.47); no entanto, seguindo a linha de raciocínio de Tennekes e Lumley (1972, p. 70): + * 1 ∂ ũ 2 ũ 2 ∂ui = . (6.72) ui hui ui i ∼ ∂xk 2 ∂xk L λ O motivo para essa discrepância é que ui e ∂ui /∂xk não estão distribuídos na mesma faixa de números de onda. De fato, se pensarmos nos espectros respectivos, Φ ∂ui , ∂ui ∼ k 2 Φi,i , (6.73) ∂x k ∂x k ou seja, as faixas de números de onda das derivadas é bem mais alta. Daqui somos capazes de deduzir que o nível de correlação entre ui e suas derivadas espaciais é λ . (6.74) ru , ∂ui ∼ i ∂x L k Note que o coeficiente de correlação é identicamente nulo em turbulência homogênea. A ordem de grandeza dos termos envolvendo a aceleração de Coriolis é: O (VII) ∼ 2ϖũ 2 . (6.75) Note que se os termos dominantes da equação de momentos de ordem 2 são de ordem ũ 3 /L , o número de Rossby turbulento é Ro = ϖL ϖũ 2 = ∼ 0,007 1, 3 ũ /L ũ (6.76) donde se conclui que a influência destes termos na turbulência propriamente dita é desprezível. Da mesma forma que no caso de hui ∂ui /∂xk i, VIII é nulo em turbulência homogênea; alguns autores (Stull, por exemplo) sugerem que VIII é desprezível na camada-limite atmosférica. Neste ponto, parece razoável partir da idéia de que se um termo é nulo em turbulência homogênea, ele deve ser relativamente pequeno em turbulência não-homogênea real. É claro que isso não resolve a questão do nível de correlação entre flutuações de pressão e as derivadas das flutuações de velocidade. Talvez o melhor que se possa fazer a essa altura (alguma contribuição para os modelos de fechamento dos termos de pressão?) seja mencionar que um modelo clássico de fechamento é (Hinze, 1975) √ * !+ ũ 3 E 1 p ∂ui ∂u j c huk uk i D + = ui u j − δij huk uk i ∼ . (6.77) ℘r ∂x j ∂xi L 6 L Isso significa que os termos de correlação de pressão são importantes, da mesma ordem que os termos de produção e (possivelmente) de correlação tripla. Continuamos a análise de ordens de grandeza, atacando agora os termos que envolvem viscosidade. Ao olhar para X, vemos imediatamente um termo 84 6.7 – As ordens de grandeza dos termos das equações de ordem 2 que é identicamente nulo em turbulência homogênea; é de se esperar portanto que sua importância em geral seja pequena; nossa estimativa é O (X) = enquanto que ũ O (XI) = ν λ ν ũ 2 1 ũ 2 (ν ) = 2 , L L L !2 ν ũ 2 L2 se i = j! (6.78) (6.79) Essa rápida análise mostra que o termo difusivo X é muito menor que o termo dissipativo XI. Neste ponto, é interessante definir uma taxa de dissipação de covariância, + * ∂ui ∂u j 2 ≈ δij ϵe . (6.80) 2ϵij ≈ (ν (i) + ν (j) ) ∂xk ∂xk 3 Segundo Wyngaard (1981), a 2a equação é estritamente válida se a turbulência for isotrópica. Ver também Hinze (1975, p. 189). ***coloca o 6 aqui!!!!! 7 O espaço de Fourier Nosso principal objetivo neste capítulo é compreender séries e transformadas de Fourier em 3 dimensões. Além disso, em processos estocásticos homogêneos e/ou essacionários, não existem transformadas de Fourier do campo de velocidade em termos de funções clássicas, já que as integrais correspondentes não convergem. Uma abordagem alternativa é necessária, a qual pode ser obtida ou com o Teorema da Representação Espectral ou com o uso de distribuições (funções generalizadas). Em ambos os casos, é necessário trabalhar com integrais mais gerais que a de Riemman, e por este motivo nós fazemos uma breve revisão das integrais de Lebesgue e Stieljes. O capítulo termina com um empreendimento considerável, que é a obtenção da Transformadas de Fourier das equações de Navier-Stokes, que foram deduzidas no capítulo ??. 7.1 – Séries de Fourier Seja f (x ), x ∈ [0,L], f contínua por partes em Ω = [0,L]. Então, f (x ) = cn = +∞ X cn e n=−∞ L 1 L 0 2inπ x L , f (x )e − (7.1) 2inπ x L dx . (7.2) A equação (7.1) é uma série de Fourier complexa. Para provar (7.2), note que L L 2i (m−n)π x x 2inπ x − 2imπ + I= e L e L dx = e− L dx = δmn L. (7.3) 0 0 De fato, podemos separar os seguintes casos: m = n ⇒ I = L; L m,n ⇒ I = − e −2i (n−m)π − 1 = 0, 2i (n − m)π pois e −2kiπ = cos(2kπ ) − i sen(2kπ ) = 1. (7.4) (7.5) (7.6) Suponha agora que (7.1) seja válida; então, formalmente temos f (x )e x − 2imπ L = +∞ X n=−∞ 85 cn e − 2imπ x L e 2inπ x L , (7.7) 86 7.1 – Séries de Fourier 0 L f (x )e x − 2imπ L +∞ X dx = cn n=−∞ |0 L e− 2imπ x L e {z 2inπ x L δmn L dx , } (7.8) L 2imπ x 1 f (x )e − L dx . (7.9) L 0 Mudando a notação de cn para uD(kn ), uma série de Fourier é efetivamente uma transformada de Fourier quando a função u (x ) ocupa um domínio Ω finito (ou ainda, é de suporte compacto). A nova notação dá ênfase a este fato: 1 L u (x )e −ikn x dx, (7.10) uD(kn ) = L 0 +∞ X u (x ) = uD(kn )e ikn x (7.11) cm = n=−∞ 2πn . L A última equação acima define o número de onda kn . Generalizando para 3 dimensões, devemos ter 1 D(k ) = 3 u u (x,t )e −ik·x d 3x L x ∈Ω X D(k )e ik·x . u u (x ) = kn = (7.12) (7.13) (7.14) k Para “provar” (formalmente apenas) essas relações: e −i (p·x ) e i (k·x ) d 3x = (7.15) x ∈Ω e −i (p1x 1 +p2x 2 +p3x 3 ) e +i (k1x 1 +k2x 2 +k3x 3 ) dx 1dx 2dx 3 = (7.16) x ∈Ω " L # " L # " L # i (k 1 −p1 )x 1 i (k 2 −p2 )x 2 i (k 3 −p3 )x 3 e dx 1 e dx 2 e dx 3 .(7.17) x 1 =0 x 2 =0 x 3 =0 Essas 3 integrais são independentes umas das outras (Teorema de Fubini), e o resultado de seu produto será diferente de zero sempre que ki = pi para i = 1 e i = 2 e i = 3, ou seja: apenas quando p = k. Em qualquer outro caso, a integral é nula: ( L3 p = k, −i (p·x ) i (k·x ) 3 e e d x= (7.18) 0 p , k. x ∈Ω De posse deste atraente resultado, e partindo de (7.14): X D(k )e −i (p·x ) e i (k·x ) u (x )e −i (p·x ) = u (7.19) k x ∈Ω u (x )e −i (p·x ) 3 d x = X k 1 D(k ) = 3 u L com inversa u (x ) = X k D(k ) u x ∈Ω x ∈Ω e −i (p·x ) e i (k·x ) u (x )e −i (k·x ) d 3x D(k )e i (k·x ) . u (7.20) (7.21) (7.22) 87 7.2 – Diferentes tipos de integral Figura 7.1: Soma inferior de Riemman 7.2 – Diferentes tipos de integral 7.2.1 – Integral de Riemman A integral de Riemman é baseada no conceito do limite da soma sob (ou sobre) f (x ). As condições necessárias para a sua existência são que os limites de integração a e b devem ser finitos, e que a função deve ser limitada no intervalo aberto (a,b). Consequentemente (Champeney, 1989), a integral própria de Riemman é incapaz de lidar com limites infinitos de integração (a ou b ou ambos) ou com singularidades infinitas de f (x ). Para que este tipo de integral “imprópria” seja possível, é necessário definir um processo adicional de limites: +∞ −∞ f (x ) dx ≡ a→−∞ lim b→+∞ a b f (x ) dx . (7.23) Quando existe uma singularidade de f (x ) em c ∈ (a,b), é necessário adicionalmente trabalhar com as integrais sobre (a,c) e (c,b), desde que o resultado faça algum tipo de sentido (por exemplo, o valor principal de Cauchy). 7.2.2 – Integral de Lebesgue Para se definir a integral de Lebesgue, são necessários alguns passos preliminares. Definição 1 Um conjunto de números reais é um conjunto nulo ou tem medida zero quando, ∀ϵ > 0, é possível cobrir todos os pontos do conjunto com uma quantidade finita ou enumerável de intervalos abertos (ai ,bi ) tais que X (bi − ai ) < ϵ. (7.24) i Se uma determinada propriedade P aplica-se a todos os números reais (ou a todos os pontos de um domínio, etc.) exceto para um sub-conjunto de medida zero, diz-se que P se aplica quase sempre ou em quase todo x (q.t.x.). Se f (x ) = 88 7.2 – Diferentes tipos de integral д(x ) exceto em um conjunto de medida zero, diz-se que f e д são essencialmente iguais. Para definir a integral de Lebesgue, construa um conjunto de funções-degrau, i.e.: funções constantes sobre cada um dos intervalos (a 0 ,a 1 ], (a 1 ,a 2 ], . . . , (an−1 ,an ] com a 0 < a 1 < . . . < an . Considere agora uma sequência de funções-degrau f 1 (x ), f 2 (x ), . . . , fm (x ) (note que os índices de f e de a são diferentes; em particular, para cada índice m de fm (x ) poderá haver um n diferente: n = n(m)). Uma tal sequência é crescente quando fm+1 (x ) ≥ fm (x ), ∀x,m. (7.25) Segundo Champeney, não há restrições sobre a altura de cada degrau, se f (x ) tende ou não a infinito em cada degrau, se o número n de degraus tende a infinito ou não, se a base a j+1 − a j tende a zero ou não, etc. Simplesmente, constrói-se a soma n(m) X Im = (ai+1 − ai ) fm (x ), (7.26) i=1 onde obviamente fm (x ) é constante para cada x ∈ (ai ,ai+1 ]. Se existir o limite I = lim Im , (7.27) f (x ) = lim fm (x ), q.t.x. (7.28) m→∞ e se m→∞ então I é a integral de Lebesgue de f . Note como a integral é definida em princípio sobre todo o conjunto dos números reais; o intervalo de integração passa a depender da definição dos valores de f . Ainda segundo Champeney, seja C a condição: f definida no intervalo [a,b] é contínua q.t.x., e f é limitada em [a,b]. Então C é uma condição necessária e suficiente para a existência da integral de Riemman, e uma condição suficiente para a integral de Lebesgue. Isso significa que “Riemman implica Lebesgue”, mas não o contrário, ou seja: a integral de Lebesgue é mais geral que a de Riemman, podendo lidar com casos de funções que não são Riemman-integráveis. Finalmente, com o conceito de integral de Lebesgue em mãos, é possível dar a seguinte definição de medida. Dado um conjunto E, define-se a função indicador de E como ( 1, x ∈ E, IE (x ) ≡ (7.29) 0, x < E. Definição 2 Se IE (x ) é Lebesgue-integrável, a medida de E é µ (E) ≡ IE (x ) dx (integral no sentido de Lebesgue, é claro). (7.30) 89 7.2 – Diferentes tipos de integral Naturalmente, é possível definir primeiro medida e depois integral de Lebesgue. Em termos de teoria da medida, cada medida µ distinta em Rn define uma nova integral, que se denota por f (x ) dµ ou f (x ) µ (dx ). De fato, a medida de Lebesgue de um intervalo (a,b] é simplesmente µ (a,b] = b − a. Definição 3 L é o espaço das funções f Lebesgue-integráveis em Rd , isso é, todas as funções f tais que f (x ) d d x < ∞. (7.31) Definição 4 Lp é o espaço das funções f tais que | f (x )|p d d x < ∞. (7.32) Definição 5 A norma p de uma função f ∈ Lp é ! 1/p p d k f (x )kp ≡ | f (x )| d x . (7.33) 7.2.3 – Integral de Stieltjes Seja F (x ) uma função monótona e não-decrescente com lim F (x ) = 0, (7.34) lim F (x ) = 1, e (7.35) F (x + a) − F (x ) ≥ 0, ∀a > 0. (7.36) x→−∞ x→+∞ Considere agora uma função f (x ) entre a e b; define-se a integral de Stieltjes como b N X f (x ) dF (x ) ≡ lim f (xk∗ )(F (xk ) − F (xk−1 )), (7.37) max |x k −x k−1 |→0 N →∞ a k=1 onde a = x 0 < x 1 < . . . < xn = b e xk−1 < xk∗ < xk . A integral imprópria é o limite +∞ b f (x ) dF (x ) ≡ a→−∞ lim f (x ) dF (x ). −∞ a b→+∞ (7.38) A integral de Stieltjes é uma generalização da integral de Riemman (Shilov e Gurevich, 1977). Ela pode ser relacionada bi-univocamente com uma medida µ em R (Billingsley, 1986) de tal forma que A⊂R F ↔ µ f (x ) dF = A⊂R (7.39) f (x ) dµ. (7.40) 90 7.3 – Energia cinética e a igualdade de Parseval 7.3 – Energia cinética e a igualdade de Parseval A igualdade de Parseval aplica-se a um espaço de funções f (x ) de dimensões finitas ou infinitas (mas o último caso é o único interessante) na forma (Greenberg, 1978, p. 327) X X cnen (x ), (7.41) f (x ) = ( f ,en )en (x ) = n k f (x )k 2 = X 2 |cn | , (7.42) n onde (·, ·) significa o produto interno. Note que (7.42) é uma generalização do Teorema de Pitágoras. Os en (x )’s são funções ortonormais que geram o espaço de funções, e a norma k · k é definida pelo produto interno utilizado. No nosso caso, trata-se da norma L 2 definida em (7.33) com p = 2. De fato, se ( f ,д) ≡ f ∗д d 3x, (7.43) Ω onde ∗ significa o conjugado complexo, então ∗ 3 | f | 2 d 3x = k f k22 . f fd x= (f , f ) = Ω Ω (7.44) Nossos resultados anteriores referentes a séries de Fourier podem ser obtidos novamente em termos de análise linear se supusermos que o conjunto de funções {e i (k·x ) } gera L 2 . A partir de agora nós vamos omitir o índice 2 de nossas normas, com o entendimento de que sempre essaremos tratando de k · k2 . De (7.18) sabemos que i (k·x ) 2 ke k = e −i (k·x ) e i (k·x ) d 3x = L3 . (7.45) Ω Portanto, o conjunto de funções ortonormais em questão é ek = e i (k·x ) /L3/2 . Então, u (x ) = X (u (x ),ek (x ))ek (x ) = k (7.46) X D(k )e i (k·x ) , u (7.47) k D(k ) é dado por (7.13). Evidentemente, onde u 2 (u · u) d 3x = 2L3 hec i . ku (x )k = Ω (7.48) Aqui , hec i significa a energia cinética por unidade de massa média dentro de Ω. Pela igualdade de Parseval, tem-se então que X 1 2 3 |u (x )| d x = |D u (k )| 2 . (7.49) L3 Ω k D∗u D pode ser interpretado como duas vezes a energia cinética Ou seja: |D u (k )| 2 = u média associada a cada vetor número de onda k. 91 7.4 – A transformada de Fourier do campo de velocidade 7.4 – A transformada de Fourier do campo de velocidade Num domínio finito [0,L], a série de Fourier de uma função f (x ) envolve um número infinito porém enumerável de números de onda kn = 2πn/L. Já num domínio infinito, sobre toda a reta dos reais, vão aparecer um número infinito e não-enumerável de números de onda. Em outras palavras, o espectro de f (x ) passa a ser contínuo. A passagem de um ao outro caso em uma dimensão é dada pela fórmula da integral de Fourier, " +∞ # +∞ 1 ikx −ikξ f (x ) = e f (ξ )e dξ dk. (7.50) 2π −∞ −∞ O fator 1/(2π ) está intencionalmente dentro dos colchetes para explicitar nossa opção de definição de transformada de Fourier unidimensional: +∞ 1 D f (x )e −ikx dx, (7.51) f (k ) ≡ 2π −∞ quando então a integral de Fourier dá a fórmula da transformada inversa: +∞ fD(k )e +ikx dk. (7.52) f (x ) = −∞ A questão importante que se coloca agora é se a transformada de Fourier pode ser aplicada a um campo de velocidade u (x ) (ou a uma de suas componentes ui (x )), ou a uma amostra espacial linear u (x ) (transect em inglês) ou finalmente a uma série euleriana de medições u (t ). No caso unidimensional, uma condição suficiente para a existência da transformada de Fourier é que f (x ) seja absolutamente integrável. Em particular, funções que decaem “rápido” no infinito possuem transformada de Fourier. De fato, multiplicando-se a definição (7.51) por (ik )n integrando-se por partes n vezes (Saichev e Woyczyński, 1997): +∞ 1 nD f (n) (x )e −ikx dx . (7.53) (ik ) f (k ) = 2π −∞ Se f (n) (x )e −ikx for absolutamente integrável, então para algum número real M positivo: (ik )n fD(k ) ≤ M (7.54) M lim | fD(k )| ≤ . (7.55) k→∞ |k |n Auto-crítica: isso aí acima parece uma demonstração de que fD(k ) decai rápido, mas não parece dizer grande coisa a respeito de f (x ). Já f (x ) ≡ 1, ∀x ∈ R não atende a este tipo de condição de decaimento, e consequentemente não possui uma transformada de Fourier no sentido estrito. Ora, um sinal típico de u (x ) em um escoamento turbulento tem a aparência da figura ??, e claramente não “decai” em valor absoluto em x → ±∞. Talvez o(a) leitor(a) se surpreenda com o fato de que a função da figura ?? não tem nenhuma relação com turbulência, sendo um gráfico de f (x ) = 2 + sen(x 3 ) sen(x 5 )! É claramente impossível falar da transformada de Fourier (no sentido clássico) quando as funções a serem transformadas não decaem suficientemente rápido. É preciso “algo mais”. 92 7.5 – Funções generalizadas (distribuições) 7.4.1 – Teorema da convolução e igualdade de Parseval Ainda no contexto de funções f (x ) absolutamente integráveis, e que portanto possuem transformada de Fourier, é conveniente citar (sem demonstração) o teorema da convolução nas formas (Saichev e Woyczyński, 1997) +∞ +∞ 1 ikx D D f (ξ )ϕ(x − ξ ) dξ (7.56) f (k )ϕ(k )e dk = 2π −∞ −∞ +∞ +∞ 1 −ikx D − p) dp f (x )ϕ(x )e dx = fD(p)ϕ(k (7.57) 2π −∞ −∞ +∞ +∞ 2 | f (x )| dx = 2π | fD(k )| 2 dk. (7.58) −∞ −∞ D ) F [f (x ) ∗ ϕ(x )] = 2π fD(k )ϕ(k D ). F [f (x )ϕ(x )] = fD(k ) ∗ ϕ(k (7.59) (7.60) É elementar provar que (7.56) ⇒ (7.59), enquanto que (7.60) é simplesmente uma forma resumida de (7.57). Vale a pena provar essa última: comece com +∞ fD(p)e ipx dk; (7.61) f (x ) = −∞ multiplique agora por д(x )e −ikx e integre: +∞ +∞ +∞ 1 1 −ikx −ikx f (x )д(x )e dx = д(x )e fD(p)e ipx dk dx(7.62) 2π −∞ 2π −∞ −∞ # +∞ " +∞ 1 −i (k−p)x = д(x )e dx fD(p) dp (7.63) 2π −∞ −∞ +∞ = дD(k − p) fD(p) dp. (7.64) −∞ 7.5 – Funções generalizadas (distribuições) Um funcional T [ϕ] é uma função de uma função ϕ(x ) em um escalar: T : D → R ϕ(x ) ∈ D → T [ϕ] ∈ R. Uma forma simples de produzir um funcional é por meio de uma integral, +∞ T [ϕ] ≡ f (x )ϕ(x ) dx, (7.65) −∞ onde f é denominada núcleo do funcional. Entretanto, T não precisa ser definido por uma integral; por exemplo, a distribuição δ de Dirac é definida como +∞ δ [ϕ] ≡ ϕ(0) “=” δ (x )ϕ(x ) dx (7.66) −∞ onde a segundo igualdade foi escrita entre aspas para enfatizar seu lado puramente notacional, já que a integral em questão não faz sentido. 93 7.5 – Funções generalizadas (distribuições) Definição 6 Uma distribuição é um funcional linear. Considere então o teorema da convolução na forma (7.56). Define-se a transformada de Fourier TD(k ) do funcional T pela condição +∞ D )e ikx ≡ 1 T (x ) ∗ ϕ(x ) TD(k )ϕ(k (7.67) 2π −∞ (note o significado simbólico do lado direito). Por exemplo, se T = δ , +∞ T ∗ϕ =δ ∗ϕ = δ (ξ )ϕ(x − ξ ) dξ = ϕ(x ), (7.68) −∞ e portanto +∞ D )e ikx dk = ϕ(x ) ⇔ δD(k ) = 1 . δD(k )ϕ(k 2π 2π −∞ Simbolicamente, portanto: +∞ 1 δ (x ) = e ikx dk, 2π −∞ D 1 = δ (k ). (7.69) (7.70) (7.71) Nossa questão central agora é como definir e depois como operar com a transformada de Fourier da velocidade u (x ). Conforme vimos, ao contrário das funções classicamente integráveis e Fourier-transformáveis, u (∞) 9 0. Em outras palavras, precisamos trabalhar com a transformada de Fourier de uma função u (x ) tal que +∞ u (x ) dx = ∞. (7.72) −∞ Lumley (1970, seção 3.15) menciona 3 abordagens: 1. Multiplicar u por uma função absolutamente integrável fa , com fa → 1 quando a → 0; obter u (x ) fa (x ) D(k ) e em seguida fazer uD(k ) “=” lim u (x ) fa (x ) D(k ). a→0 2. Utilizar o “teorema da representação espectral”, +∞ u (x ) = e ikx dZ (k ), (7.73) −∞ onde Z (k ) é um processo estocástico homogêneo com incrementos decorrelacionados: ∗ Z (∆1k )Z (∆2k ) = 0. (7.74) (Mais a respeito de processos estocásticos e representação espectral nas próximas aulas). 3. Usar distribuições (essa é também a abordagem de Frisch e Lesieur). 94 7.6 – A transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes Note que enquanto que u (x ) = +∞ uD(k )e ikx dk (7.75) −∞ faz sentido, como distribuição (D u é uma distribuição) para cada realização u (x ) de um escoamento turbulento entendido aqui como um processo estocástico homogêneo, (7.73) só faz sentido na média quadrática do processo estocástico inteiro. 7.6 – A transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes Seja a um campo qualquer, escalar ou vetorial, de um escoamento turbulento. Precisamos de uma definição de transformada de Fourier tridimensional. Comparando (7.13) para uma série de Fourier tridimensional com (7.51) para uma transformada de Fourier unidimensional, é (quase. . . ) evidente que a definição de uma transformada de Fourier tridimensional é 1 a(x )e −i (k·x ) d 3x, (7.76) F [a] ≡ aD ≡ 3 (2π ) x ∈R3 cuja inversa é a(x ) = k∈R3 aD(k )e i (k·x ) d 3k (7.77) (Batchelor, 1993, p. 21). Exercício Prove (7.76) e (7.77) a partir de (7.50). Na verdade, basta trabalhar em 2 dimensões para compreender o mecanismo da prova. Começo com uma função f (x,y) e aplico (7.50) para a 1a variável independente, x, obtendo # " +∞ +∞ 1 −ikξ ikx f (ξ ,y)e dξ dk 1 . (7.78) e f (x,y) = 2π ξ =−∞ k 1 =−∞ Agora eu aplico (7.50) novamente para a 2a variável independente, y: " +∞ # # " +∞ +∞ +∞ 1 1 ik 1x −ik 1 ξ −ik 2η ik 2y e e f (ξ ,η)e dξ dk 1e dη dk 2 , f (x,y) = 2π η=−∞ k1 =−∞ 2π ξ =−∞ k 2 =−∞ " +∞ " +∞ # # +∞ +∞ 1 1 −ik 2η ik 1x −ik 1 ξ ik 2y = e e e f (ξ ,η)e dξ dk 1dη dk 2 2π η=−∞ 2π ξ =−∞ k 1 =−∞ k 2 =−∞ +∞ +∞ 1 2 +∞ +∞ ik 1x ik 2y = e e f (ξ ,η)e −ik1 ξ e −ik2η dξ dηdk 1dk 2 . 2π k 2 =−∞ k 1 =−∞ η=−∞ ξ =−∞ (7.79) Em 2 dimensões, com x = (x,y), k = (k 1 ,k 2 ) e ξ = (ξ ,η): f (x ) = k∈R2 e i (k·x ) 2 −i (k·ξ ) 2 2 1 f (ξ )e d ξ d k. 2π ξ ∈R2 (7.80) A generalização para 3 dimensões deve ser óbvia. Como sabemos, em matemática aplicada é comum a utilização de alguma transformada (Fourier, Laplace, etc.) para transformar uma equação diferencial 95 7.6 – A transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes em uma equação algébrica. A partir de agora, essaremos trabalhando sempre com as equações de Navier-Stokes de um escoamento incompressível. Neste caso, a equação da continuidade (3.5) reduz-se a (Batchelor, 1967; Kundu, 1990) ∂ui = 0. ∂xi A transformada de Fourier dessa equação é " # ∂ui F = iki uDi = 0; ∂xi vetorialmente, D = 0. k ·u (7.81) (7.82) (7.83) A interpretação geométrica é fundamental: observe que (7.82) ou (7.83) signiD é perpendicular ao vetor número de onda k em todos os ficam que o vetor u pontos do espaço transformado (isso é: o espaço onde “vivem” os vetores número de onda e as transformadas de Fourier do campo de velocidade). A equação dinâmica que vamos utilizar contém (neste estágio) 3 simplificações: a modificação do termo não-linear utilizando a equação da continuidade (7.81), o desprezo da aceleração de Coriolis, e a incorporação da força de corpo por unidade de massa à pressão p, a qual a partir de agora passa a representar a “pressão modificada” (Batchelor, 1967, p. 176), (Kundu, 1990, p.266). O primeiro “truque” será tão recorrente em turbulência que bem merece ser feito em detalhe. Considere o termo não-linear de (3.32), u j ∂ui /∂x j ; em virtude de (7.81) nós podemos escrever a identidade uj ∂u j ∂ui ∂ ∂ui = uj + ui = (ui u j ). ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j (7.84) Com (7.84), e desconsiderando-se дi (incorporada à pressão modificada) e Ωj (por hipótese desprezível nos escoamentos que essaremos analisando), a equação dinâmica de Navier-Stokes (3.32) reduz-se a 1 ∂p ∂ 2ui ∂ui ∂ui u j + =− +ν . ∂t ∂x j ρ ∂xi ∂x j ∂x j As transformadas de Fourier dos termos lineares são " # ∂ui ∂D ui = , F ∂t ∂t " # 1 ∂p 1 F − = − iki pD. ρ ∂xi ρ " # 2 ∂ ui = −νk j k juDi . F ν ∂x j ∂x j (7.85) (7.86) (7.87) (7.88) D são todos perpendiculares ao vetor número de D, ∂D Observe que u u /∂t e −νk 2u onda k, enquanto que (−1/ρ)ipDk é paralelo a k. Em outras palavras, a projeção do gradiente de pressão (no espaço dos números de onda) sobre o plano π perpendicular a k é zero. Para projetar um vetor a num plano π ⊥ k, faça Pij ≡ δij − ki k j k2 (7.89) 96 7.6 – A transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes operar sobre a; então, o vetor-projeção de a em π será " # ki k j b = δij a j − 2 a j e i , k (7.90) cujo produto escalar com k deve ser nulo; de fato, b · k = δij a j ki − ki k j a j ki = ai ki − a j k j = 0. k2 (7.91) Agora vamos transformar o termo não-linear. Pela generalização tridimensional do teorema da convolução, 1 F f (x )д(x ) = f (x )д(x )e −i (k·x ) d 3x (2π ) 3 x ∈R3 D = f (p)D д (k − p) d 3p 3 p∈R D = f (p)D д (q) d 3p (7.92) p+q=k Portanto a transformada de Fourier do termo não-linear será " # ∂ F uDi (p)D u j (q) d 3p. F ui u j = ik j ui u j = ik j ∂x j p+q=k (7.93) Juntando todas as transformadas obtém-se a seguinte equação vetorial: " # ∂D u i 3 D = 0. D(p)D (7.94) +i u u (q) d p · k + pDk + νk 2u ∂t ρ p+q=k Graficamente, o termo não-linear η e o termo de pressão podem ser visualizados na figura 7.2. A projeção de η perpendicular a π anula o termo de pressão. Se essabelecermos uma equação para a interação de η em π com os demais termos lineares, teremos eliminado a pressão da equação. Agora, a componente j (por analogia com a j ) do vetor não-linear η será uDj (p)D um (q) d 3p (7.95) η j = ikm p+q=k e a projeção de η em π na direção i será Pij η j = Pij ikm uDj (p)D um (q) d 3p. p+q=k (7.96) Como vimos, essa projeção deve equilibrar os termos lineares que não o de pressão, donde ! ki k j ∂D ui 2 + νu k uDi + δij − 2 ikm uDj (p)D um (q) d 3p = 0. (7.97) ∂t k p+q=k Exercício: deduza a equação para um escalar (por exemplo a temperatura): ∂θD 2D + νu k θ = −ik j uDj (p)θD(q) d 3p. (7.98) ∂t p+q=k 97 7.6 – A transformada de Fourier das equações de Navier-Stokes 8 Processos estocásticos e representação espectral Um processo estocástico é uma função u = U (ω,t ), (8.1) com ω ∈ Ω. Ω é denominado espaço amostral. Além disso, é preciso especificar uma álgebra do conjunto dos sub-conjuntos de Ω, e uma medida de probabilidade P definida sobre estes conjuntos. As propriedades elementares de probabilidades de eventos disjuntos A1 , . . . ,An , P (Ai ) ≥ 0, P (Ω) = 1, P (Ai ∩ Aj ) = P (Ai ) + P (Aj ), (8.2) (8.3) (8.4) são o início da construção de um campo F , definido como uma classe de conjuntos (que é só uma maneira não pleonástica de dizer conjunto de conjuntos) com as seguintes propriedades (as 3 últimas são consequências): A∈F A∈F e B∈F A∈F e B∈F ∅ Ω ⇒ ⇒ ⇒ ∈ ∈ A ∈ F, A ∪ B ∈ F, A ∩ B ∈ F, F, F. (8.5) (8.6) (8.7) (8.8) (8.9) Quando as uniões e interseções de sequências infinitas de elementos A1 , . . . ,An de um campo F também pertencem a F (isso é, quando (8.6) e (8.7) se estendem a uma infinidade enumerável de conjuntos), diz-se que F é um campo de Borel. O Axioma da aditividade infinita é: se A1 ,A2 , . . . são eventos mutuamente exclusivos, então: ∞ ∞ [ X * + P Ai = P (Ai ). (8.10) , i=1 - i=1 Para nós, o espaço amostral é o planeta alienígena de onde vêm os “traços” ou “registros” u (t ) de turbulência que medimos (ou que simulamos no computador), e com os quais trabalhamos. Isso está ilustrado na figura 8.1. Note que a variável independente não é uma variável aleatória, e que ela pode ser t, x, r , x, etc. 98 99 – Figura 8.1: O espaço amostral das funções aleatórias u (t ). 100 – Nosso problema será estimar a estrutura probabilística de U a partir de uma única realização u (t ). Para tal, nós precisamos lançar mão de conceitos tais como • essacionariedade • ergodicidade • estimadores é Dado um processo estocástico U (t ), a sua distribuição conjunta de ordem n F (u 1 , . . . ,un ; t 1 , . . . ,tn ) = P {U (t 1 ) ≤ u 1 , . . . U (tn ) ≤ un }. (8.11) O conhecimento de F especifica totalmente (“define a estrutura estocástica”) de uma ampla classe de processos denominados separáveis (Papoulis, 1991, p. 293). No caso de um processo estocástico em R3 , a notação precisa ser mais sofisticada: F ((u (1) ; i 1 ), . . . , (u (n) ; in ); x 1 , . . . ,x n ) = P {Ui 1 (x 1 ) ≤ u (1) , . . . ,Uin (x n ) ≤ u (n) } (8.12) com u = ui e i . Por simplicidade, vamos prosseguir com definições univariadas, usando o tempo t; as generalizações são relativamente óbvias. O que é importante observar em (8.11) é a sua dimensionalidade: para conhecer a estrutura estocástica do processo, é necessário conhecer não apenas um F , mas todos os F ’s para todos os n’s e todas as escolhas possíveis de t 1 , . . . ,tn ! Uma forma alternativa de descrever F é por meio dos momentos conjuntos (Batchelor, 1993, p. 20): Ri 1 ,i 2 ,...,in (t 1 ,t 2 , . . . ,tn ) = Ui 1 (t 1 )Ui 2 (t 2 ) . . . Uin (tn ) , (8.13) onde h·i significa o valor esperado no espaço amostral. Questão: escreva a expressão para o valor esperado de um processo em R3 , em termos de uma integral envolvendo F ; como isso pode (ou não) ser usado para deduzir os “postulados” de Reynolds? Este é um problema formidável, que precisa ser aliviado de alguma forma. A primeira delas é Definição 7 Um processo estocástico U (t; ω) é essacionário quando F (·; t 1 , . . . ,tn ) = F (·; t 1 + τ , . . . ,tn + τ ) (8.14) Existe uma definição equivalente para um processo estocástico homogêneo no espaço. Sugestão para os participantes: como fazer a definição precisa de um processo estocástico homogêneo em R3 ? Algumas consequências (para essacionariedade) se seguem. 101 – A média de U é hU (t )i = R 1 (t ) = R 1 (t + τ ), ∀τ ⇒ hU (t )i = const. (8.15) O momento de ordem 2 de U (que pode ser relacionado com a variância, mas que é diferente dela!) é D E hU (t )U (t )i = R 1,1 (t,t ) = R 1,1 (t + τ ,t + τ ), ∀τ ⇒ U 2 (t ) = const. (8.16) Da mesma forma, hU n (t )i = const, ∀n, ou seja: a distribuição acumulada marginal de probabilidades de U é independente do tempo: F (u,t ) = F (u). No caso de processos multidimensionais, a generalização natural do momento de ordem 2é D E Ui (t )Uj (t + τ ) = Ri,j (t,t + τ ) = Ri,j (0,τ ); ⇒ Ri,j = f (τ ). (8.17) Ou seja: em um processo estocástico essacionário, a função de correlação cruzada Ri,j depende apenas da diferença no tempo, τ , entre Ui e Uj . No caso de um processo estocástico unidimensional {U1 (t ) }, a função de correlação é R 1,1 (s,t ) = hU1 (s)U1 (t )i . (8.18) Naturalmente, R 1,1 é simétrica nos índices (s,t ): R 1,1 (s,t ) = R 1,1 (t,s). (8.19) De acordo com (Yaglom, 1987, p. 46), R 1,1 é um núcleo positivo definido. De fato, considere um vetor de números reais [c 1 , . . . ,cn ] e de variáveis aleatórias [U1 (t 1 ), . . . ,U1 (tn )] do mesmo processo estocástico U (t ); então D E 0 ≤ [c 1U1 (t 1 ) + . . . + cnU1 (tn )]2 = XX D E c 12 hU1 (t 1 )U1 (t 1 )i + . . . + cn2 hU1 (tn )U1 (tn )i + 2 ci c j U1 (ti )U1 (t j ) = i XX i j=i i j>i XX D E ci U1 (ti )U1 (t j ) c j = ci R 1,1 (ti ,t j )c j . i j>i D E XX D E XX D E ci c j U1 (ti )U1 (t j ) + ci c j U1 (ti )U1 (t j ) + ci c j U1 (ti )U1 (t j ) = i j<i (8.20) j Note que nós utilizamos (8.19) na passagem da 2a para a 3a linhas acima. No lado esquerdo da última igualdade, usou-se notação indicial e os somatórios foram suprimidos. Essa dedução foi bastante melhorada em sala de aula. A versão abaixo foi fornecida por Nadiane Smaha (thanks). Problema Questão: é possível mostrar que Ri,j é uma matriz positiva definida? Acho que sim! Provar que a matriz Rij é positiva definida. Para qualquer ai e a j temos a identidade: h| n X i=1 ai U1 (ti ) | 2 i > 0 (8.21) 102 – Abrindo o quadrado: ha 21U12 n n X X (t 1 ) + ... + an2U12 (tn ) + i 2ai a jU1 (ti ) U1 t j i > 0 (8.22) 2ai a j hU1 (ti ) U1 t j i > 0 (8.23) j>i Ou ainda: n X i ai2 hU1 (ti ) U1 (ti )i + n X n X i j>i Sendo: hU1 (ti ) U1 t j i = R 1,1 ti ,t j (8.24) Mas para qualquer matriz quadrada Cij : n X n X i ai a jCij = j>i n X n X i ai a jCij − j>i n X Ckk (8.25) k=1 Onde Ckk representa a diagonal principal. Trocando os índices i e j na equação 8.25: n X n X j a j ai C ji − i>j n X Ckk (8.26) k=1 Mas para qualquer matriz quadrada C ji : n X n X j C ji = i>j n X n X i C ji (8.27) i>j Então temos a equação 8.26: n X n X i a j ai C ji − i>j n X k=1 Ckk = n X n X i a j ai C ji (8.28) i>j Sabendo-se que para uma matriz simétrica Cij = C ji , e aplicando as equações 8.25 à 8.28 na equação 8.23, temos: n X n X i ai a j hU1 (ti ) U1 (ti )i+ j=i n X n X i j<i n X n X i n X n X ai a j hU1 (ti ) U1 t j i+ ai a j hU1 (ti ) U1 t j i > 0 ai a j hU1 (ti ) U1 (ti )i > 0 j>i (8.29) (8.30) j ai a j R 1,1 ti ,t j > 0 E portanto: i (8.31) 103 – R 1,1 ti ,t j > 0 (8.32) De qualquer modo, note que R 1,1 (τ ) (note também a sutil mudança de notação, uma vez que apenas um argumento é necessário em processos estocásticos essacionários) é uma função par: R 1,1 (τ ) = hU (0)U (τ )i = hU (0 − τ )U (τ − τ )i = hU (−τ )U (0)i = hU (0)U (−τ )i = R 1,1 (−τ ). (8.33) De forma análoga, pode-se mostrar que Ri,j (τ ) = R j,i (−τ ) |Ri,j (τ )| 2 ≤ Ri,i (0)R j,j (0). (8.34) (8.35) A demonstração de (8.34) é elementar, e imita a demonstração de (8.33): D E D E D E D E Ri,j (τ ) = Ui (0)Uj (τ ) = Ui (0 − τ )Uj (τ − τ ) = Ui (−τ )Uj (0) = Uj (0)Ui (−τ ) = R j,i (−τ ). (8.36) Já a demonstração de (8.35) me parece um pouco mais elaborada. A chave do sucesso talvez seja a desigualdade de Schwarz: se (·, ·) é um produto interno, para dois vetores quaisquer u,v nós sabemos que (u,v) 2 ≤ (u,u)(v,v). (8.37) Agora note que hUV i proporciona um produto interno legítimo entre U (t ) e V (t ). Exercício: Mostre que as propriedades (i) a (iv) de um produto interno que nós estudamos no seminário de análise funcional se aplicam a hUV i. Neste caso, D E2 D ED E |Ri,j (0)| 2 = Ui (t )Uj (t ) ≤ Ui2 (t ) Uj2 (t ) = Ri,i (0)R j,j (0). (8.38) Agora basta observar ou provar que |Ri,j (τ )| ≤ |Ri,j (0)|. As funções de covariância cruzada são definidas de forma análoga às funções de correlação: D E Ci,j (τ ) = (Ui (t ) − Ri )(Uj (t + τ ) − R j ) . (8.39) Note que Ri e R j são os valores esperados constantes das componentes i e j; uma D E notação mais óbvia seria hUi i e Uj . Existe uma tendência de confundirmos Ci,j com Ri,j ; note que as duas são iguais apenas no caso (muito fácil de se construir ou supor) em que hUi i = 0. Note que Ci,j (0) é a covariância (variância, quando i = j) entre as variáveis aleatórias Ui e Uj . O coeficiente de (auto) correlação para a separação τ é ϱi,i (τ ) = Ci,i (τ ) . Ci,i (0) (8.40) O coeficiente de correlação cruzada é Ci,j (τ ) ϱi,j (τ ) = p . Ci,i (0)C j,j (0) (8.41) 104 8.1 – Espectros cruzados em uma dimensão (tempo) Finalmente, uma essatística que tem uma grande importância em teoria de turbulência é a função de estrutura. Por exemplo, a função de estrutura (cruzada) de ordem 2 é D E Di,j (τ ) = (Ui (t + τ ) − Ui (t ))(Uj (t + τ ) − Uj (t )) . (8.42) A função de estrutura de ordem 2 é conhecida como variograma em geoessatística. Em geral, para a ordem n nós teremos Di 1 ,...,in (τ ) = (Ui 1 (t + τ ) − Ui 1 (t )) . . . (Uin (t + τ ) − Uin (t )) . (8.43) Aqui existe a necessidade de alguma discussão sobre a motivação para trabalharmos com as funções de estrutura. Note que Di (τ ) = hUi (t + τ ) − Ui (t )i é o valor esperado do incremento de Ui sobre uma separação τ . Agora, para que Di dependa apenas da separação τ , basta que este incremento seja um processo estocástico essacionário. Vemos portanto que para que, em geral, Di 1 ,...,in (τ ) seja definido não é necessário que U (t ) seja essacionário; em vez disso, basta apenas que os seus incrementos sejam essacionários. Quando em 1941 Kolmogorov propôs a sua famosa teoria de turbulência, ele o fez em termos de funções de estrutura. Pouco tempo depois, Obukhov fez o mesmo em termos dos espectros, que estudaremos na próxima seção. O ponto importante a se notar aqui é que a existência dos espectros/funções de correlação exige que o processo correspondente seja essacionário, mas as funções de estrutura podem ser definidas para uma classe mais ampla de processos. Portanto, Kolmogorov foi cuidadoso em formular sua teoria para a situação mais geral possível. O que ainda não se sabe completamente é até que ponto é realmente útil se trabalhar com a hipótese mais fraca de procesos com incrementos essacionários. Em princípio, isso seria particularmente útil para analisar períodos em que a turbulência é não-essacionária (ou, analogamente, regiões do espaço em que ela é não-homogênea). Essa é de fato a afirmação que encontramos em (Lumley e Panofksy, 1964, p. 15–16). Dias et al. (2004) entretanto encontraram muito pouca diferença entre analisar períodos claramente não essacionários de turbulência atmosférica com a função de estrutura ou com a função coeficiente de autocorrelação: em ambos os casos o sinal da não-essacionariedade é claramente visível. Em outras palavras, o uso da função estrutura não resultou em nenhuma vantagem sensível na análise de registros não-essacionários. 8.1 – Espectros cruzados em uma dimensão (tempo) Quando trabalhamos com um registro temporal U (t ) de turbulência, é muitas vezes conveniente usar a frequência cíclica n em lugar da frequência angular ω, que é o análogo do número de onda k; como este é um texto pitecantrópico (em evolução), nessa seção eu vou usar frequências cíclicas e não frequências angulares. Considere a função de correlação cruzada Ri,j (τ ) de um processo essacionário e ergódico, no tempo t; é razoável admitir que Ri,j (τ ) → 0 suficientemente 105 8.1 – Espectros cruzados em uma dimensão (tempo) rápido quando τ → ∞ para que a integral +∞ Si,j (n) = Ri,j (τ )e −2πinτ dτ (8.44) −∞ exista; Si,j (n) é o espectro cruzado de Ui ,Uj . Quando i = j, Sii (com ou sem soma em i) é denominado simplesmente espectro. Questão: Mostre que quando o índice repetido implica soma, Sii é igual a duas vezes o espectro da energia cinética turbulenta Note que Ri,j (−τ ) = R j,i (τ ); então, +∞ ∗ Si,j (−n) = Ri,j (t )e +2πint dt = Si,j (n) −∞ +∞ = R j,i (−t )e 2πint dt −∞ −∞ +∞ −2πinτ = − R j,i (τ )e dτ = R j,i (τ )e −2πinτ dτ ∞ −∞ = S j,i (n). (8.45) (8.46) (8.47) (8.48) Em resumo, Si,i∗ (n) = Si,i (n) ∗ Si,j (n) = S j,i (n) ⇒ ⇒ Si,i é real Si,j é complexo hermitiano. (8.49) (8.50) Note que o espectro cruzado, sendo uma quantidade complexa, pode ser escrito Si,j (n) = a(n) − ib (n), Si,j (−n) = a(n) + ib (n). (8.51) (8.52) A simetria/anti-simetria exibida pelos espectros cruzados permite sempre definir os espectros (cruzados) unilaterais: Gi,j (n) = 2Si,j (n) = Coi,j (n) − iQui,j (n), (8.53) onde Coi,j (n) é o co-espectro, e Qui,j (n) é o espectro de quadratura. A fase do espectro cruzado unilateral Gi,j (n) é dada por φi,j (n) = arg Gi,j (n), (8.54) e a função de coerência entre as componentes Ui (t ) e Uj (t ) é dada por γi,j2 (n) = |Gi,j (n)| 2 Gi,i (n)G j,j (n) (8.55) (a coerência é sempre positiva). Um problema aparente com a função de coerência é que ela não é capaz de detectar diferenças de fase; para isso, seria preciso trabalhar com um “coeficiente de correlação espectral”, menos comum em textos de análise espectral, definido por ϱi,j (n) = p Coi,j (n) Gi,i (n)G j,j (n) (8.56) 1068.2 – Espectros cruzados de processos estocásticos em 3 dimensões espaciais Questão: Você consegue identificar a diferença básica entre a função de coerência e o coeficiente de correlação espectral? Questão: Prove que γi,j2 ≤ 1 Questão: Prove que |ϱi,j | ≤ 1 Finalmente (chega!!!!), “o momento cruzado de ordem 2 é igual à integral do co-espectro”: ∞ D E Ui (t )Uj (t + τ ) = Si,j (n)e 2πinτ dn (8.57) −∞ 0 ∞ 2πinτ = Si,j (n)e dn + Si,j (n)e 2πinτ dn (8.58) −∞ 0 0 ∞ −2πimτ = − Si,j (−m)e dm + Si,j (n)e 2πinτ dn (8.59) ∞∞ 0∞ ∗ = + Si,j (m)e −2πimτ dm + Si,j (n)e 2πinτ dn. (8.60) 0 0 ∞ ∗ Si,j (n) + Si,j (n) dn = Em τ = 0, D E Ui (t )Uj (t ) = Ri,j (0) = 0 0 ∞ Coi,j (n) dn. (8.61) 8.2 – Espectros cruzados de processos estocásticos em 3 dimensões espaciais Uma nova olhada na delta de Dirac: considere a relação de Fourier inversa D(k,t ) d 3k; u (x,t ) = e i (k·x )u (8.62) k∈R3 D(k,t ) = δ (k ), então segue-se que se u 1= δ (k,t ) d 3k; k∈R3 (8.63) portanto (formalmente): 1 3 e −i (k·x ) d 3x . δ (k ) = 3 2π k∈R A função de correlação cruzada espacial é D E Ri,j (r ,t ) ≡ ui (x,t )u j (x + r ,t ) . Vamos usar isso para definir espectros cruzados: 1 3 Φi,j (k,t ) ≡ Ri,j (r ,t )e −i(k·r ) d 3r 3 2π r ∈R (8.64) (8.65) 1078.2 – Espectros cruzados de processos estocásticos em 3 dimensões espaciais 1 3 D E 1 D ∗ E = uD uDj . (8.66) ui (x,t )u j (x + r ,t ) e −i (k·r ) d 3r = 2π δ (0) i r ∈R3 Prova: * 3 + 1 3 D E 1 ∗ i (k·x ) 3 −i (k·ξ ) 3 uDi uDj = ui (x,t )e d x u j (ξ ,t )e d ξ 2π 2π x ∈R3 ξ ∈R3 1 6 D E ui (x,t )u j (x + r ,t ) e −i (k·r ) d 3xd 3r = 2π x,r ∈R3 " 3 # 3 1 1 3 = d x Ri,j (r ,t )e −i (k·r ) d 3r 2π 2π x ∈R3 r ∈R3 = δ (0)Φi,j (k,t ). (8.67) O tensor espectral Φ é hermitiano; note que D E D E Ri,j (−r ) = ui (x,t )u j (x − r ,t ) = ui (x + r ,t )u j (x,t ) = R j,i (r ), donde 1 3 ∗ Φi,j (−k,t ) = Ri,j (r )e +i(k·r ) d 3k = Φi,j (k,t ) 3 2π r ∈R 1 3 R j,i (−r )e +i(k·r ) d 3k = 3 2π r ∈R 1 3 (s = −r ⇒) = − R j,i (s)e −i(k·s) d 3s 3 2π −s∈R 1 3 = R j,i (s)e −i(k·s) d 3s = Φj,i (k,t ) ⇒ 3 2π s∈R ∗ Φi,j (−k,t ) = Φi,j (k,t ) = Φj,i (k,t ). (8.68) (8.69) Além disso, uma relação semelhante a (8.61) vale para o espectro cruzado tridimensional. Primeiramente, note que Ri,j (r ,t ) = Φi,j (k,t )e +i(k·r ) d 3k 3 k∈R ( ) 1 +i(k·r ) 3 −i(l·r ) 3 = Φi,j (k,t )e d k− Φi,j (−l,t )e d l 2 k∈R3 −l ∈R3 ( ) 1 ∗ +i(k·r ) 3 −i(l ·r ) 3 = Φi,j (k,t )e d k+ Φi,j (l,t )e d l . (8.70) 2 k∈R3 l ∈R3 Portanto, em r = 0, f g 1 3 ∗ Φi,j (k,t ) + Φi,j (k,t ) d k = Re Φi,j (k,t ) d 3k. k∈R3 2 k∈R3 (8.71) Combinando (8.70) com (8.71) acima, temos f g f g 3 3 Φi,j (k,t ) d k = Re Φi,j (k,t ) d k ⇒ = Φi,j (k,t ) d 3k = 0. D E ui (x,t )u j (x,t ) = Ri,j (0,t ) = r ∈R3 r ∈R3 r ∈R3 (8.72) 108 8.3 – Representação espectral de processos estocásticos D E Essa última equação levanta a curiosa possibilidade de que, se ui u j = 0, o cof g espectro cruzado Re Φi,j (k,t ) seja identicamente nulo, mas que o espectro de f g quadratura não: = Φi,j (k,t ) . 0. No caso do espectro de quadratura entre w e um escalar na camada-limite atmosférica, eu sei que ele é identicamente nulo; seria interessante verificar a mesma coisa para os espectros de quadratura de u,w, u,v e v,w. 8.3 – Representação espectral de processos estocásticos Suponha que U (t ) seja um processo estocástico essacionário, u (t ) seja uma realização, e que 1 T ∗ u (t )u (t + τ ) dt T 0 convirja com probabilidade 1 para R 1,1 (τ ) = hU ∗ (t )U (t + τ )i, ou seja: suponha que U (t ) seja ergódico. Do teorema de Bochner-Kinchine, segue-se que, em termos de uma integral de Fourier-Stieltjes, ∞ e iωτ dF (ω). (8.73) R 1,1 (τ ) = −∞ Essa é uma maneira alternativa de definir o espectro F (ω) de U (t ). Agora, se U (t ) é um processo estocástico essacionário com média zero, dados ϵ > 0, T > 0, existem n(ϵ,T ) variáveis aleatórias {U1 , . . . ,Un } (atenção!!! os índices não significam componentes de velocidade!!!!) e números reais {ω 1 , . . . ,ωn } tais que + * n X iωk t 2 |U (t ) − Uk e | < ϵ, (8.74) k=1 o que significa convergência média quadrática. Usando a desigualdade de Chebyshev, torna-se imediato que P[|U (t ) − n X Uk e iωk t | < ϵ] > 1 − η,∀t : |t | ≤ T . (8.75) k=1 Neste sentido, escreve-se U (t ) ≈ n X Uk e iωk t , (8.76) k=1 isso é, U (t ) é dado por uma série de Fourier. 8.3.1 – De uma vez só: Para melhorar a aproximação, aumente n e diminua ∆ω = ωk+1 − ωk . A P suma Uk em ∆ω de variáveis não-correlacionadas aos pares converge para uma variável Z (∆ω); então, ∞ U (t ) = e iωt Z (dω). (8.77) −∞ 109 8.3 – Representação espectral de processos estocásticos 8.3.2 – Aos poucos Defina um intervalo a = ω 0 < ω 1 < . . . < ωn = b e escreva U (t ) = X Uk e iωk t . (8.78) k Divida agora os ω’s em intervalos ∆ωi = ωi −ωi−1 Para cada intervalo i produza ωk = ωi,j ; cada intervalo i agora possui ni frequências. A equação (8.78) torna-se U (t ) = ni m X X Ui,j e iωi,j t . (8.79) i=1 j=1 Agora, à medida em que n cresce e ∆ωi → 0, escolha um ωi0 representativo, e faça X nj nj X 0 iωi,j t (8.80) Ui,j e ≈ Ui,j e iωi t , j=1 j=1 de forma que a soma das variáveis aleatórias Ui,j no intervalo i de frequências se aproxima de uma variável aleatória Z (∆ωi ): U (t ) ≈ m X e iωi t Z (∆ωi ), (8.81) e iωk t Z (∆ωk ). (8.82) 0 i=1 que é o mesmo que U (t ) ≈ n X 0 k=1 Das propriedades de U tem-se que hZ (∆ωk )i = 0, D E ∗ Z (∆ωi )Z (∆ω j ) = 0, Z (∆ωi + ∆ωi+1 ) = Z (∆ωi ) + Z (∆ωi+1 ). (8.83) (8.84) (8.85) (Se ∆ωi e ∆ω j são intervalos disjuntos). Alternativamente, construa agora a função Z (ω) = Z { (−∞,ω]}; (8.86) de fato, segundo (Yaglom, 1987, p. 99), Z pode ser construída como uma random set function, i.e., uma função definida sobre conjuntos Aω de tal forma que Z (Aω ∪ Bω ) = Z (Aω ) + Z (Bω ) quando Aω ∩ Bω = ∅ (8.87) (essa é a condição de aditividade). Claramente, a função Z (ω) é crescente; a rigor, ela introduz uma medida aleatória e agora ∞ n X iωk0 t U (t ) = a→−∞ lim e Z (∆ωk ) = e iωt dZ (ω). (8.88) b→+∞ max |∆ωk |→0 k=1 −∞ 110 8.3 – Representação espectral de processos estocásticos Alternativamente, n X 0 U (t ) = a→−∞ lim lim e iωk t [Z (ωk ) − Z (ωk−1 )] , maxk |∆ωk |→0 b→+∞ k=1 (8.89) onde a função Z (ω) satisfaz hZ (ω)i = 0, ∀ω, (Z (ω1 + ∆ω1 − Z (ω 1 ))(Z (ω2 + ∆ω2 − Z (ω 2 )) = 0. ∗ ∗ Exercícios 8.1 Mostre que +∞ n=−∞ =[Si,j (n)] dn = 0 (8.90) (8.91) 9 Soluções laminares das equações de Navier-Stokes A maioria das camadas-limite encontradas em escoamentos industriais ou naturais é turbulenta. Além disso, é nessas camadas-limite que ocorrem os fluxos mais intensos de quantidade de movimento, calor e massa. Por exemplo, e para citar o mais óbvio, a assim chamada “perda de carga” em tubos e canais está ligada diretamente ao atrito entre paredes e escoamento, e à dissipação de energia cinética da turbulência em calor que lhe está associada. Para os engenheiros ao fim do século XIX e início do XX, este era um problema de grande importância, pois dele dependiam critérios de projeto de tubulações industriais e canais. Os primeiros resultados de engenharia foram obtidos de forma “empírica” (um físico diria: “fenomenológica”) e antecederam os resultados mais fundamentais de Mecânica dos Fluidos e Teoria de Turbulência. Frequentemente, usamos a palavra “Hidráulica” para caracterizar essa abordagem, que produziu, entre outras, fórmulas empíricas tais como a de Hazen-Williams e a de Manning. Entretanto, também desde o século XIX já se conhecia o suficiente da física de fluidos para saber que, em princípio, qualquer escoamento pode ser obtido como uma solução das equações de Navier-Stokes. Blasius obteve a primeira solução das equações de Navier-Stokes de interesse real em engenharia. Nosso objetivo neste capítulo será procurar entender da forma mais fundamental possível o comportamento das camadas-limite turbulentas. 9.1 – Algumas soluções laminares O escoamento em um duto com seção retangular de larguar infinita em y e de espessura h = 2δ em z, em regime laminar sob a ação de um gradiente de pressão, é regido pelas equações de Navier-Stokes em duas dimensões, ∂U ∂W + = 0, ∂x ∂z ! ∂U ∂U 1 ∂P ∂ 2U ∂ 2U U +W =− +ν + 2 , ∂x ∂z ℘ ∂x ∂x 2 ∂z ! 2 ∂W ∂W 1 ∂P ∂ W ∂ 2W U +W =− −д +ν + . ∂x ∂z ℘ ∂z ∂x 2 ∂z 2 (9.1) (9.2) (9.3) As condições de contorno são U (0) = 0, 111 (9.4) 112 9.1 – Algumas soluções laminares W (0) = 0, W (2δ ) = 0, W (2δ ) = 0. (9.5) (9.6) (9.7) Para escoamento plenamente desenvolvido na direção x, ∂(·)/∂x = 0 (exceto, é claro, para a pressão) e a solução de (9.1) é W (z) = 0. Este resultado por sua vez anula todos os termos envolvendo W em (9.3), cuja solução então será simplesmente uma distribuição hidrostática em z: ∂P ∂P dP 0 = −℘д ⇒ P (x,z) = −℘дz + P0 (x ) ⇒ = . ∂z ∂x dx (9.8) Observe que P 0 (x ) é, por definição, a pressão na parede em z = 0. Em (9.2), as condições de escoamento plenamente desenvolvido em x e velocidade vertical nula anulam os termos não lineares, e usando-se (9.8) obtém-se ∂ 2U 1 dP0 = ν 2 = дJ , ρ dx ∂z (9.9) onde a constante дJ deve-se ao fato de que o lado esquerdo de (9.9) é (no máximo) função somente de x, e o lado esquerdo de z. J é a perda de carga unitária, constante em x. A introdução da aceleração da gravidade na definição da constante em (9.9) objetiva tornar J adimensional. Obtém-se portanto os resultados dP 0 = −ρдJ dx (9.10) e (aplicando-se as condições de contorno para u) U (z) = дJ z (2δ − z) . 2ν (9.11) Essa última equação é o bem conhecido perfil parabólico de velocidade em um escoamento de Hagen-Poiseuille; sua integração produz a velocidade média na seção do duto: дJδ 2 U = , (9.12) 3ν a qual pode ser reescrita em termos de um fator de atrito f : 2 fU J= δ 2д onde f = 6ν = (9.13) 6 Re (9.14) Uδ é o fator de atrito que depende, em um escoamento laminar, do número de Reynolds aqui definido em termos da semi-espessura δ : Re = Uδ . ν (9.15) 113 9.1 – Algumas soluções laminares U -W 1111111111111111111111111111111111111111111111111 0000000000000000000000000000000000000000000000000 0000000000000000000000000000000000000000000000000 1111111111111111111111111111111111111111111111111 0000000000000000000000000000000000000000000000000 1111111111111111111111111111111111111111111111111 0000000000000000000000000000000000000000000000000 1111111111111111111111111111111111111111111111111 0000000000000000000000000000000000000000000000000 1111111111111111111111111111111111111111111111111 0000000000000000000000000000000000000000000000000 1111111111111111111111111111111111111111111111111 Figura 9.1: Escoamento laminar sobre uma placa porosa O fator numérico em (9.14) depende, naturalmente, das definições de f em (9.13) e de Re em (9.15)∗ . Todo o desenvolvimento acima é clássico e muito bem conhecido. O ponto importante aqui é que vamos utilizar um desenvolvimento totalmente análogo para escoamentos turbulentos, recuperando diversos resultados obtidos para escoamento laminar, inclusive a constância do gradiente de pressão. A obtenção do perfil de velocidade em função da perda de carga unitária em (9.11) é claramente o passo fundamental, que precisará ser repetido, ainda que com mais dificuldade, em escoamentos turbulentos. Considere agora um escoamento bi-dimensional sobre uma placa porosa, com velocidade U∞ horizontal longe da placa, e um campo de velocidade vertical uniforme −W0 (figura 9.1). As equações governantes (para um fluido com densidade constante) são novamente (9.1)–(9.3). As condições de contorno são u (0) = 0, u (∞) = U∞ , w (0) = −W0 . (9.16) (9.17) (9.18) Para escoamento plenamente desenvolvido na direção x, ∂(·)/∂x = 0, e a soluçã de (9.1) é W (z) = −W0 . A solução de (9.3) é simplesmente uma distribuição hidrostática de pressão na vertical, e finalmente (9.2) conduz à equação diferencial ordinária du d 2U = 0, (9.19) ν 2 + W0 dz dz cuja solução para as condições de contorno em U é U (z) = U∞ (1 − e − W0 z ν ). (9.20) Observe que (9.20) é uma solução laminar, e em princípio sem utilidade para a solução de problemas reais turbulentos. Ela tem, entretanto, a característica interessante de depender do “número de Reynolds” Rez = W0z ; ν (9.21) quanto maior Rez , mais “reto” fica o perfil — em outras palavras, mais delgada se torna a camada-limite viscosa próximo da parede. Este é exatamente o tipo ∗É interessante notar que (9.14) tem um coeficiente numérico dez vezes menor que o da fórmula similar para o fator de atrito de Darcy em tubos de seção circular, f D = 64/ReD , onde o número de Reynolds neste caso é ReD = U D/ν , e D é o diâmetro do tubo. 114 9.2 – A Solução de Blasius Figura 9.2: A camada-limite laminar de comportamento que ocorre em escoamentos turbulentos reais. Em retrospecto, o responsável pelo “achatamento” do perfil de velocidade u (z) é o fluxo advectivo de quantidade de movimento −U (z)W0 . Em escoamentos turbulentos, a grandeza equivalente será o fluxo turbulento de quantidade de movimento (ou tensão de Reynolds) − huwi. 9.2 – A Solução de Blasius Considere a figura 9.2. Desejamos resolver o sistema de equações ∂U ∂V = 0, + ∂x ∂y |{z} |{z} (9.22) ∂U ∂U 1 ∂P ∂ 2U ∂ 2U U +V =− +ν 2 +ν 2 , ∂x ∂y ℘ ∂x ∂x ∂y |{z} |{z} | {z } |{z} |{z} (9.23) I III II IV V VI ∂ 2V VII ∂ 2V XI XII ∂V ∂V 1 ∂P U +V =− +ν 2 +ν 2 ∂x ∂y ℘ ∂y |{z} ∂x ∂y |{z} |{z} | {z } |{z} VIII IX X (9.24) 1a Observação: uma análise linear, que não é necessariamente fácil, deve indicar que, devido à presença da derivada segunda em relação a y, ∂ 2 ·/∂y 2 , este é um sistema elítico, que requer condições de contorno na extremidade direita da placa. Isso é, em um certo sentido, não-natural. O primeiro passo, portanto, é modificar as equações, por meio de uma análise da ordem de grandeza dos termos. A observação fundamental, de natureza experimental, é que a espessura da camada-limite é muito em comparação com as distâncias em x: δ 1. L (9.25) U∞ v δ + = 0 ⇒ v ∼ U∞ . L δ L (9.26) Da equação da continuidade, temos 115 9.2 – A Solução de Blasius Seguem-se as seguintes ordens de grandeza: I ∼ U∞ /L, U ∞δ II ∼ , L III ∼ U∞2 /L, δU∞ /L IV ∼ U∞ = U∞2 /L δ Com a hipótese adicional (9.27) (9.28) (9.29) (9.30) P ∼ ℘U∞2 , nós prosseguimos nas estimativas de ordens de grandeza: V ∼ U∞2 /L, (9.31) U∞2 U∞ ν 1 2 U /L, (9.32) = = L2 U∞ L L ReL ∞ νU∞ VII ∼ 2 . (9.33) δ Claramente, VI é muito menor que todos os demais termos em (9.23). Observe entretanto que VII possui uma escala à primeira vista “independente” das demais. Na região de interesse, entretanto, próximo da parede, VII é o único termo que ressa que inclui os efeitos viscosos. Para que estes efeitos sejam da mesma ordem que a aceleração convectiva dada por III, e IV, r νL νU∞ U∞2 ⇒δ ∼ . (9.34) ∼ 2 δ L U∞ VI ∼ ν É conveniente observar que δ 1 ∼ L L r νL 1 = √ . U∞ ReL (9.35) Finalmente, devemos explorar “até o fim” a última equação, de balanço de quantidade de movimento em y (utilizando em todos os casos (9.34)): 1 δ VIII ∼ U∞2 /L = √ U∞2 /L, L ReL δ 1 U∞2 /L, IX ∼ U∞2 /L = √ L ReL p L X ∼ U∞2 /L = ReLU∞2 /L, δ ν δU∞ ν δ U∞2 1 XI ∼ 2 = = 3/2 U∞2 /L, L L U∞ L L L ReL ν δU∞ νU∞ ν L U∞2 1 XII ∼ 2 = = = √ U∞2 /L. δ L δL U∞ L δ L ReL (9.36) (9.37) (9.38) (9.39) (9.40) Estes resultados mostram que, em primeira aproximação, nós podemos re-escrever o sistema (9.22)–(9.24) como ∂U ∂V + = 0, ∂x ∂y (9.41) 116 9.2 – A Solução de Blasius U ∂U ∂U 1 ∂P ∂ 2U +V =− +ν 2 , ∂x ∂y ℘ ∂x ∂y 1 ∂P 0=− ℘ ∂y (9.42) (9.43) Vários pontos são dignos de nota aqui. Em primeiro lugar, nós observamos que (9.43) significa que o gradiente de pressão ∂P/∂x observado no escoamento longe da placa é “imposto” pelo escoamento sobre a mesma. Em outras palavras, é possível substituir ∂P/∂x, em (9.42), por ∂P∞ /∂x, sendo que este último é a solução do problema invíscido longe da parede. Em segundo lugar, existe um estranho problema de 2a ordem (uma perturbação?) ∂V ∂ 2V ∂V +V =ν 2. (9.44) U ∂x ∂y ∂y Se essa equação é ou não identicamente atendida pela solução de Blasius, que virá a seguir, é motivo de investigação futura. 9.2.1 – Espessura de deslocamento δh∗ Dada uma distância h da parede, pode-se definir uma escala de comprimento via Qh = 0 h U (y) dy ≡ h δh∗ U∞ dy, = U∞ (h − δh∗ ) ⇒ h ∗ (U∞ − U (y)) dy; U ∞δh = 0 ! h U (y) ∗ δh = 1− dy. U∞ 0 (9.45) Note que h foi necessário, como um “andaime” para construir o resultado (9.45); agora, entretanto, podemos passar ao limite, e definir ! ∞ U (y) ∗ 1− dy. (9.46) δ ≡ U∞ 0 Para definir a espessura de quantidade de movimento θ ∗ , nós precisamos de um volume de controle adequado; tal volume é mostrado na figura 9.3. A equação de balanço de massa é 0= ℘(n · U ) dS S = ℘(−U∞ ) dy + ℘U (L,y) dy + ℘V (x,h) dx ⇒ 1 2 3 Ṁ = ℘V (x,h) dx = ℘(U∞ ) dy − ℘U (L,y) dy; 3 1 2 h ℘δh∗U∞ ≡ Ṁ = ℘(U∞ − U (y)) dy. 0 117 9.2 – A Solução de Blasius Figura 9.3: Volume de controle para a definição da espessura de quantidade de movimento θ ∗ . Disso resulta a mesma expressão já obtida para δh∗ , ! h U (y) ∗ δh = 1− dy. U∞ 0 (9.47) O balanço de quantidade de movimento é U ℘(n · U ) dS −D = S 2 = U∞ ℘(−U∞ ) dy + ℘[U (L,y)] dy + U∞ ℘V (x,h) dx 3 2 1 = U∞ ℘(−U∞ ) dy + ℘[U (L,y)]2 dy + U∞ ℘V (x,h) dx 3 2 1 = U∞ ℘(−U∞ ) dy + ℘[U (L,y)]2 dy + U∞ Ṁ 2 1 h 2 ℘ (U∞ − U (L,y)) dy = U∞ ℘(−U∞ ) dy + ℘[U (L,y)] dy + U∞ 2 0 1 h h 2 = ℘[U (L,y)] dy − U∞ ℘U (L,y) dy ⇒ 0 0 h D= U (L,y) (U∞ − U (L,y)) ℘ dy. 0 Defina agora a espessura de momentum: D ≡ ℘U∞2 θ ∗ , donde, fazendo h → ∞: θ = ∞ ∗ 0 Finalmente, ! U U 1− dy. U∞ U∞ D= τ0 = 0 x (9.48) (9.49) τ0 (ξ ) dξ ⇒ dD , dx τ0 = ℘U∞2 dθ ∗ . dx (9.50) 118 9.2 – A Solução de Blasius 9.2.2 – A solução de Blasius Tente U = д(η), U∞ y η= . δ (x ) (9.51) (9.52) Procure uma solução em termos de uma função-corrente Ψ: ∂Ψ , ∂y ∂Ψ V =− . ∂x U = Segue-se que Ψ= (9.53) (9.54) y U dY y η U dH = δ (x ) U dη = U∞δ (x ) 0 0 U∞ η = U∞δ (x ) д(H ) dH , 0 0 onde д(η) = df . dη (9.55) (9.56) (9.57) (9.58) Note que a adoção de uma função-corrente faz com que a equação da continuidade (na sua forma incompressível) seja atendida automaticamente (remember Lorenz); portanto, restou a equação de momentum em x, na qual (lembremonos) ∂Ψ v=− . (9.59) ∂x A equação diferencial parcial em Ψ que precisamos resolver é, portanto, ∂Ψ ∂ 2 Ψ ∂Ψ ∂ 2 Ψ ∂3 Ψ − = ν . ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y 2 ∂y 3 (9.60) Nossa proposta de adimensionalização para Ψ é y Ψ(x,y) = U∞δ (x ) f δ (x ) ! (9.61) Vamos tentar fazer com Maxima, mas por enquanto temos: " # df dδ ∂Ψ dδ = U∞ f −η ; ∂x dx dη dx U∞η d 2 f dδ ∂2 Ψ =− , ∂x ∂y δ dη 2 dx df ∂Ψ = U∞ , ∂y dη (9.62) (9.63) (9.64) 119 9.2 – A Solução de Blasius ∂ 2 Ψ U∞ d 2 f = , ∂y 2 δ dη 2 ∂ 3 Ψ U∞ d 3 f = 2 3. ∂y 3 δ dη Detalhadamente, para aprendermos a derivar: ∂ ∂Ψ = U∞δ (x ) f (η) ∂x ∂x " # df dδ = U∞ f +δ dx dx " # df ∂η dδ dδ = U∞ f +δ dx dη ∂δ dx mas ∂η y =− 2 ⇒ ∂δ δ" # df dδ dδ ∂Ψ = U∞ f −η . ∂x dx dη dx ∂2 Ψ ∂2 = U∞δ (x ) f (η) ∂x ∂y ∂x ∂y y ∂ ∂ U∞δ (x ) f = ∂x ∂y δ " # df ∂ 1 = × U ∞δ ∂x dη δ " # ∂ df = U∞ ∂x dη d 2 f ∂η dδ = U∞ 2 dη ∂δ dx mas ∂η η =− ⇒ ∂δ δ U∞η d 2 f dδ ∂2 Ψ =− . ∂x ∂y δ dη 2 dx ∂Ψ ∂ = U∞δ (x ) f (η) ∂y ∂y df = U∞ dη ∂2 Ψ ∂2 = U δ (x ) f (η) ∞ ∂y 2 ∂y 2 (9.65) (9.66) 120 9.2 – A Solução de Blasius " # ∂ df = U∞ ∂y dη d 2 f ∂η = U∞ 2 dη ∂y U∞ d 2 f = . δ dη 2 ∂ 3 Ψ U∞ d 3 f = 2 3. ∂y 3 δ dη Substituindo-se todos os termos, encontra-se " U∞ f 0 # U∞η f 00 U∞ f 000 dδ U∞ f 00 − − U∞ f − f 0η =ν , δ dx δ δ2 U∞2 dδ U∞ −η f 0 f 00 − f f 00 + η f 0 f 00 = ν 2 f 000 δ dx δ U∞δ dδ − f f 00 = f 000 . ν dx Mas νx , U∞ ! −1/2 1 νx ν dδ = , dx 2 U∞ U∞ 1 U∞δ dδ =− . ν dx 2 r δ= Então, 1 f 000 + f f 00 = 0. 2 Agora com Maxima, para verificar: load(pdiff)$ eq : U * (nu*x/U)^(1/2) * F(y/(nu*x/U)^(1/2))$ diff(eq,y) * diff(eq,x,1,y,1) - diff(eq,x)*diff(eq,y,2) - nu*diff(eq,y,3)$ ratsubst(w,y/sqrt((nu*x)/U),%)$ factor(%); resulta em: Maxima 5.22.1 http://maxima.sourceforge.net using Lisp GNU Common Lisp (GCL) GCL 2.6.7 (a.k.a. GCL) Distributed under the GNU Public License. See the file COPYING. Dedicated to the memory of William Schelter. 121 9.2 – A Solução de Blasius The function bug_report() provides bug reporting information. (%i1) batch(psiblasius.max) read and interpret file: #p/home/nldias/work/posgraduacao/tx752-metmatengamb/psiblasiu (%i2) load(pdiff) nu x 1/2 y (%i3) eq : U (----) F(---------) U nu x 1/2 (----) U (%i4) - nu diff(eq, y, 3) - diff(eq, x) diff(eq, y, 2) + diff(eq, y) diff(eq, x, 1, y, 1) y (%i5) ratsubst(w, ----------, %) nu x sqrt(----) U (%i6) factor(%) 2 (2 F (w) + F(w) F (w)) U (3) (2) (%o6) - ----------------------------2 x (%o6) psiblasius.max Essa expressão significa 2f 000 + f f 00 2 U∞ , 2x que é a mesma equação que nós obtivemos “na mão”. Novamente, nós fomos capazes de reduzir um problema em equações diferenciais parciais a um problema em equações diferenciais ordinárias. Mas cuidado: isso nem sempre é possível. − 9.2.3 – Blasius: solução numérica Como vimos, uma camada-limite laminar sobre uma placa plana sem gradiente de pressão longitudinal pode ser resolvida com 1 f 000 + f f 00 = 0 2 (9.67) sujeita às condições de contorno f (0) = 0, f 0 (0) = 0, f 0 (∞) = 1 (9.68) onde Ψ(x,y) U∞δ (x ) y η= δ (x ) f (η) = (9.69) (9.70) 122 9.2 – A Solução de Blasius e r δ (x ) = νx . U∞ (9.71) As condições 9.68 não configuram um problema de valor inicial clássico, mas sim um problema de valor de contorno. Mesmo assim, vale a pena a seguinte abordagem. A mudança de variáveis u1 = f , u 2 = f 0, u 3 = f 00, (9.72) produz o seguinte sistema autônomo de equações diferenciais ordinárias: d dη u 1 u 2 , u = u , 2 1 3 u 3 − 2 u 1u 3 (9.73) Este sistema pode agora ser resolvido com 3 condições iniciais u 1 (0) = 0, u 2 (0) = 0, u 3 (0) = γ (9.74) onde γ é um valor inicial arbitrário para f 00 (0). A solução de 9.73 pode ser obtida com o programa blasius.py: #!/usr/bin/python # -*- coding: utf-8 -*# ---------------------------------------------------------# blasius.py # ---------------------------------------------------------from __future__ import print_function from numpy import array from sys import argv # ---------------------------------------------------------# por comodidade, a condição inicial é na linha de comando # ---------------------------------------------------------gamma = float(argv[1]) h = 0.01 t = [0.0] x = [array([0.0,0.0,gamma])] n = int(20.0/h) # número de passos # ---------------------------------------------------------# sistema a ser integrado # ---------------------------------------------------------def ff(t,x): return array( [ x[1],x[2],-0.5*x[0]*x[2] ] ) def rk4(t,x,h,ff): ’’’ rk4 implementa um passo do método de Runge-Kutta de ordem 4 ’’’ k1 = h*ff(t,x) k2 = h*ff(t+h/2,x+k1/2) k3 = h*ff(t+h/2,x+k2/2) 123 9.2 – A Solução de Blasius k4 = h*ff(t+h,x+k3) xn = x + k1/6.0 + k2/3.0 + k3/3.0 + k4/6.0 return xn for i in range(0,n): # loop da solução numérica tn = (i+1)*h xn = rk4(t[i],x[i],h,ff) t.append(tn) x.append(xn) fou = open(’blasius.out’,’wt’) for i in range(0,n+1): # imprime o arquivo de saída fou.write( ’%12.6f %12.6f %12.6f %12.6f\n’ % (t[i],x[i][0],x[i][1],x[i][2]) ) print(’%12.6f %12.6f’ % (xn[1], xn[2]) ) fou.close() Sucessivas rodadas de blasius.c produzem a seguinte tabela: γ f 0 (∞) 0.1 0.449 0.2 0.731 0.3 0.934 0.4 1.132 0.35 1.035 0.32 0.975 0.33 0.995 0.335 1.005 0.334 1.003 0.333 1.001 0.3325 1.0008 0.3322 1.0002 1.0 2.085409 Se o processo todo estiver certo, então a última saída deve ter gerado o perfil de velocidade u (9.75) f 0 (η) = U∞ O seguinte script de gnuplot deve plotar o resultado: set terminal postscript eps monochrome "Times-Roman" 18 set xlabel ’eta’ set ylabel ’u/Uoo’ set output ’blasius.eps’ set grid plot ’blasius.out’ using 1:3 notitle with lines lt 1 lw 2 exit O resultado pode ser visso na figura 9.4 9.2.4 – Uma alternativa Liggett (1994) sugere a seguinte alternativa para definir condições de contorno em η = 0, e consequentemente produzir um problema de valor inicial 124 9.2 – A Solução de Blasius 2.5 2 u/Uoo 1.5 1 0.5 0 0 5 10 eta 15 20 Figura 9.4: Perfil de velocidade adimensional de Blasius. desde o início: f = αд, ξ = βη (9.76) (9.77) Agora, em ξ = η = 0, a derivada segunda de f (que nós acabamos de determinar por tentativa-e-erro acima) é f 00 (0) = γ . A derivada segunda de д em relação a ξ será d 2д d dд = 2 dξ dξ dξ d dд dη 1 d dд = = dξ dη dξ β dξ dη 2 1 d д dη = β dη 2 dξ 1 d 2д = 2 2 β dη 1 d 2д = α β 2 dη 2 1 d2 f = . α β 2 dη 2 Então, (9.78) d 2д γ 1 d 2 f = = . dξ 2 0 α β 2 dη 2 0 α β 2 (9.79) dд d( f /α ) 1 df = = dξ d(βη) α β dη (9.80) Agora, imponha γ /(α β 2 ) = 1, de tal modo que d 2д(0)/dξ 2 = 1. 125 9.2 – A Solução de Blasius d 2д 1 d2 f = dξ 2 α β 2 dη 2 d 3д 1 d3 f = dξ 3 α β 3 dη 3 (9.81) (9.82) Voltando à equação diferencial original, 2f 000 + f f 00 = 0, 2α β 3д000 + αдα β 2д00 = 0 (9.83) É conveniente agora fazer α = β, de modo que a equação (9.83) torna-se 2д000 + дд00 = 0. (9.84) Trata-se evidentemente da mesma equação de Blasius, porém com condições iniciais diferentes. A sua solução levará à obtenção do valor de α: de (9.80), dд df 1 1 = 2 lim = 2. ξ →∞ dξ α η→∞ dη α lim (9.85) Rodando blasius de novo com f 00 (0) = 1 (na verdade, д00 (0) = 1!), д0 (∞) = 2.085409 (veja a última linha da tabela, convenientemente inserida à espera deste momento); α = 0.69247544534044858, e γ = α 3 = 0.33205737835621146 = f 00 (0), o que concorda com nosso resultado anterior obtido por tentativa-e-erro. 10 Camadas-limite turbulentas 10.1 – Escoamento turbulento em um duto No capítulo 6, nós obtivemos as equações médias ∂hUi i =0 ∂xi (10.1) e ∂ 1 ∂hPi ∂ 2 hUi i ∂hUi i [hUi i hUk i + hui uk i] = −δi3д − + . + ν (i) ∂t ∂xk ρ ∂xi ∂xk ∂xk (10.2) Considere agora essas equações em um duto com seção retangular “infinita” na direção y e espessura na direção z dada por h = 2δ , para um escoamento plenamente desenvolvido em x. O “plenamente desenvolvido” significa que as médias turbulentas não variam em x: ∂ h·i /∂x = 0; da mesma forma, a seção “infinita” em y implica homogeneidade nessa direção: ∂ h·i /∂y = 0. Substituindo na equação da continuidade, obtém-se ∂hW i (10.3) = 0 ⇒ hW i (z) = constante ⇒ hW i (z) = 0, ∂z pois as condições de contorno em hW i são hW i (0) = hW i (h) = 0. A solução obtida hW i = 0 e a homogeneidade da turbulência em x e y simplificam a equação de momentum em z para ∂ 1 ∂hPi . hwwi = −д − ∂z ℘ ∂z (10.4) Assim, um dos efeitos da turbulência é desviar a distribuição vertical de pressão média do estado hidrostático! Note que a imposição de homogeneidade da turbulência em x e y significa que hwwi é uma função de z somente; tendo isso em mente, integre (10.4) entre 0 e z e imponha hwwi (0) = 0 (essa condição de contorno significa que a intensidade da turbulência “morre” na parede), para obter 1 1 1 (10.5) hwwi (z) + дz + hPi (x,z) = hPi (x, 0) ≡ P0 (x ), ℘ ℘ ℘ onde P0 (x ) signifca a pressão média medida na parede do escoamento (teoricamente, também não há flutuações de pressão na parede). Um resultado importante pode ser obtido derivando-se essa última equação em relação a x: ∂hPi dP0 = , ∂x dx 126 (10.6) 127 10.1 – Escoamento turbulento em um duto ou seja: O gradiente longitudinal da pressão média em todos os pontos do escoamento é igual ao gradiente de pressão na parede. A homogeneidade em y faz com que a equação de momentum na direção y seja trivial: 0 = 0; na direção x teremos 1 ∂hPi ∂ 2 hU i ∂ 0 0 wu =− +ν , ∂z ℘ ∂x ∂z 2 d 2 hU i 1 dP0 ∂ 0 0 w u −ν = − ≡ дJ . ∂z dz 2 ℘ dx (10.7) (10.8) O lado esquerdo dessa equação é uma função só de z, e o lado direito, uma função só de x. Os dois portanto devem ser constantes, donde se segue que, assim como no caso do escoamento laminar em um duto, a perda de carga J (para usar uma terminologia de engenheiros) é linear com x — um fato geralmente apresentado sem muita discussão em cursos de graduação. Note que (9.10) e (10.8) são a mesma equação, que portanto se aplica tanto para o regime laminar quanto para o turbulento. Integrando (10.8) entre 0 e z (e lembrando que hw 0u 0i (0) = 0 devido ao fato de que a intensidade da turbulência é nula na parede), − dhU i dhU i z dP0 0 0 − u w +ν =ν (0), ρ dx dz dz (10.9) ℘ν dhU i dhU i τ0 (0) = (0) = ≡ u ∗2 , dz ℘ dz ρ (10.10) onde ν e τ0 é a tensão cisalhante na parede. Pela primeira vez, aparece explicitamente uma escala de velocidade específica do problema, a velocidade de atrito u ∗ . O resultado, z dP0 0 0 dhU i − − u w +ν = u ∗2 (10.11) ℘ dx | dz {z } τ /℘ permite determinar analiticamente a tensão total τ (turbulenta + viscosa) de cisalhamento em função de z: τ = τ0 + dP0 z, dx (10.12) com o resultado mostrado na figura 10.1. A distribuição de tensões τ é antisimétrica, com τ (2δ ) = −τ0 ∗ . Segue-se então que τ (δ ) = 0, donde − ∗ Tanto δ dP0 = u ∗2 ⇒ ρ dx (10.13) em z = 0 quanto em z = 2δ , a componente x do vetor de tensão é −τ0 ; em z = 0 o vetor normal ao fluido é n = −e z , e em z = 2δ ele é n = e z . Da relação entre o vetor de tensão e o tensor de tensões, t j = ni Ti j , para um estado bi-dimensional de tensões deduz-se que T12 (z) = τ (z) e τ (2δ ) = −τ0 . 128 10.1 – Escoamento turbulento em um duto Figura 10.1: A distribuição da tensão cisalhante total em um escoamento turbulento em um duto. z dhU i = u ∗2 1 − . − u 0w 0 + ν dz δ (10.14) Este resultado é muito importante, pois foi obtido a partir somente da hipótese de essacionariedade e homogeneidade em x e y do escoamento. Dividindo por u ∗2 : hU i 0 0 d ν − hu w i z u ∗ = 1 − . + (10.15) 2 z u ∗δ d δ u∗ δ Observe o aparecimento do número de Reynolds Re∗ = u ∗δ/ν . Quando Re∗ → ∞, o gradiente i d hU u ∗ d δz desaparece (isso é: anula-se) de (10.15). Para analisarmos o que acontece próximo da parede, devemos encontrar uma forma de “preservar” o gradiente; ei-la: hU i 0 0 d ν zu ∗ hu w i u . (10.16) − + zu∗ = 1 − 2 ∗ δu ∗ ν u∗ d ν Está claro que nós aplicamos duas adimensionalizações diferentes para o gradiente de velocidade. Em ambas, a velocidade adimensional é hU i /u ∗ . Na primeira adimensionalização, que corresponde à equação (10.15), a variável adimensional é η ≡ z/δ ; (10.17) na segunda, a variável adimensional é z+ ≡ zu ∗ . ν As equações (10.15) e (10.16) nas variáveis acima são ! 1 d hU i hu 0w 0i − + = 1 − η, u∗ Re∗ dη u ∗ ! d hU i 1 hu 0w 0i − + =1− z+ . u∗ dz + u ∗ Re∗ (10.18) (10.19) (10.20) Note agora como o efeito de Re∗ → ∞ é diferente em cada uma delas. Obviamente, para z/δ 1, τ ≈ constante. Essas condições definem a região inercial 129 10.1 – Escoamento turbulento em um duto da camada-limite turbulenta. Por outro lado, para Re∗ → ∞ e η ∼ 1, (10.19) produz hu 0w 0i − = 1 − η. (10.21) u∗ Tennekes e Lumley (1972) observam que essa equação não pode ser válida em η = 0. Sua região de validade é o core layer (camada central). Alguma espécie de argumento dimensional agora é necessário para que possamos prosseguir. Tennekes e Lumley (1972) usam a equação de balanço de energia cinética turbulenta (6.30) para argumentar que d hU i /dz ∼ u ∗ /δ ; isso é uma forma particular do argumento mais geral utilizado no capítulo 6, onde mostramos que o termo III (produção por gradiente) da equação para os momentos de 2a ordem é da ordem de ũ 3 /L . Alternativamente aos argumentos de Tennekes e Lumley (1972), e talvez de maneira mais direta, observe que, de acordo com (10.19), o gradiente da velocidade adimensionalizada hui /u ∗ deve ser uma função de η (embora ele desapareça da equação quando Re∗ → ∞). Suponha que a velocidade adimensionalizada também só dependa de η nessa região, na forma hU i − Uδ , u∗ (10.22) onde Uδ é o valor de hU i no centro do duto, em z = δ . A inclusão de Uδ é necessária porque o gradiente de velocidade deve ser integrado do centro do duto em direção à parede, uma vez que a relação de similaridade (10.23) não pode valer até a parede porque, em sua proximidade, as escalas de comprimento típicas do escoamento são diferentes de (na verdade, são muito menores que) δ (Tennekes e Lumley, 1972, p. 148). De acordo com Wosnik et al. (2000), a inclusão de Uδ elimina a necessidade de levar em consideração efeitos viscosos próximo da parede quando o processo de tomada de limites que se segue for realizado. Então, z dhU i u ∗ dFδ hU i − Uδ = Fδ ; Re∗ ⇒ lim = , (10.23) Re∗ →∞ dz u∗ δ δ dη onde F (η), a “lei da diferença de velocidade” (velocity defect law), é uma função adimensional a determinar. De forma totalmente análoga e simétrica, em (10.20) vemos que o gradiente da velocidade adimensionalizada é uma função de z + ; dessa vez, é este último que desaparece da equação quando Re∗ → ∞. A adimensionalização “natural” para o gradiente de velocidade média agora é hU i = Fν (z + ; Re∗ ) ⇒ u∗ dhU i u ∗2 dFν lim = , Re∗ →∞ dz ν dz + (10.24) que é conhecida em Mecânica dos Fluidos como “lei da parede”. As variáveis z + e η descrevem o balanço de quantidade de movimento sob duas “óticas” (na verdade, duas escalas) diferentes: z + é a variável adequada próximo da parede, e η a variável adequada na região central do escoamento. A técnica denominada asymptotic matching (“ajuste assintótico”) permite utilizar uma análise de múltiplas escalas para obter um resultado analítico. O argumento é que, embora Fν e Fδ descrevam a velocidade em regiões diferentes do 130 10.1 – Escoamento turbulento em um duto escoamento, deve haver uma região onde ambas as descrições são válidas. Hissoricamente, essa abordagem surgiu apenas para o limRe∗ →∞ ; daí sua presença em (10.23) e (10.24). Na região de “casamento”, ambas as equações devem valer, e essa região deve corresponder aos limites z + → ∞ e η → 0: u ∗2 dFν u ∗ dFδ = lim . z + →∞ ν dz + η→0 δ dη lim (10.25) Multiplicando por z ambos os lados e rearrumando os termos: zu ∗ dFν z dFδ = lim , z + →∞ ν dz + η→0 δ dη dFν dFδ 1 lim z + = lim η = . z + →∞ dz + η→0 dη κ lim (10.26) (10.27) Note que cada lado de (10.27) depende, respectivamente, de z + e de η, e por um argumento semelhante ao usado no método de separação de variáveis para a solução de equações diferenciais parciais, os dois devem no limite ser iguais a uma constante, aqui definida como 1/κ (κ é a constante de vón Kármán). Assim, obtém-se, imediatamente, 1 ln η + Cδ , κ 1 Fν (z + ) = ln z + + Cν . κ Fδ (η) = (10.28) (10.29) Essa região de “casamento” é denominada região inercial. Os argumentos aqui utilizados para mostrar que, nessa região, o perfil de velocidade é logarítmico guardam uma semelhança intrigante com os argumentos que levam à “faixa inercial” do espectro na teoria clássica de turbulência de Kolmogorov (capítulo 11). Segundo Pope (2000), Cν = 5,2, e, como é bem conhecido, a constante de vón Kármán é κ = 0,4. Por consistência com hU i (δ ) = Uδ , devemos ter Cδ = 0, embora valores pequenos e diferentes de zero possam ser encontrados experimentalmente. Uma região diferente permite também uma integração analítica do perfil de velocidade: em (10.20), quando z + → 0, a tensão de Reynolds hu 0w 0i tende a zero, donde se segue imediatamente que o perfil adimensional de velocidade é linear em z + : hU i = z+ . (10.30) u∗ Essa previsão parece à primeira vista conflitar-se com a previsão de um perfil parabólico no caso do escoamento laminar em dutos (Hagen-Poiseuille) com a mesma geometria. Entretanto, é fácil reescrever o resultado laminar na forma 1 2 U = z+ − z : u∗ 2Re∗ + (10.31) é evidente que, sendo o escoamento para o qual essa equação foi deduzida laminar, é proibido que Re∗ atinja valores muito altos, ou tenda para o infinito. O limz+ →0 de (10.31) para valores finitos de Re∗ , por outro lado, reconcilia-a com (10.30). 131 10.1 – Escoamento turbulento em um duto Considere agora (10.20) com Re∗ → ∞, z + → ∞; para remover a indeterminação z + /Re∗ , note que z+ = Re∗ →∞ Re∗ lim z + →∞ η→0 zu ∗ ν u ∗δ ν = z = η = 0. δ (10.32) Além disso, nessa região, em virtude de (10.27) 1 dFν = lim = 0; z + →∞ κz + z + →∞ dz + lim (10.33) portanto, na região inercial, (10.19) fica − hu 0w 0i ≈1 u ∗2 (10.34) ou seja: a tensão de Reynolds nessa região é aproximadamente constante. Para cumprir um programa semelhante ao realizado com o escoamento laminar em dutos, é preciso integrar o perfil de velocidade ao longo da seção, para então obter uma equação para a perda de carga. O perfil previsso por (10.29) não pode ser integrado desde z = 0, pois essa equação possui uma singularidade logarítmica aí. Alternativamente, nós podemos usar (10.28), e integrar sobre toda a seção. Naturalmente, a lei da diferença de velocidade não pode ser válida próximo da parede (Tennekes e Lumley, 1972, p. 148). No entanto, para escoamentos turbulentos em dutos, na região próxima à parede onde a lei não se aplica a contribuição para o cálculo da velocidade média é desprezível (Pope, 2000, p. 278). Então, a velocidade média é # " u ∗ δ Uδ 1 z u∗ (10.35) U = + ln dz = Uδ − . δ z=0 u ∗ κ δ κ Para que uma expressão para a perda de carga possa ser encontrada, é preciso ainda eliminar Uδ . Isso pode ser feito, por exemplo, supondo-se que (10.29) vale até o centro do duto; este ponto, naturalmente, está fora da região de validade de (10.29), porém novamente as diferenças para escoamentos em dutos são relativamente pequenas (Pope, 2000, figura 7.9). Faça portanto " # 1 δu ∗ Uδ = u ∗ ln + Cν ⇒ (10.36) κ ν " ! # 1 δu ∗ U = u∗ ln − 1 + Cν . (10.37) κ ν Observe que o problema de projeto de engenharia de uma tubulação está essencialmente resolvido: para uma vazão por unidade de largura 2U δ , (10.37) determina o valor correspondente da velocidade de atrito u ∗ ; então, o gradiente de pressão que precisa ser impresso ao duto para que se atinja o valor prescrito de U é dado por (10.13). O procedimento de cálculo para projeto pode ser otimizado da seguinte forma: inicialmente, note que J pode ser relacionado diretamente com u ∗ eliminandose dP0 /dx entre (10.8) e (10.13): дJδ = u ∗2 (10.38) 132 10.2 – Escoamentos turbulentos com parede rugosa que, juntamente com (9.13), produz u∗ U r = f . 2 (10.39) O uso dessa última equação em (10.37) produz r f+ 1 * * + U = u ∗ ln Re − 1 + Cν . 2 κ , , - (10.40) Finalmente, levando-se (10.40) de volta em (10.38) e eliminando-se u ∗ obtém-se uma equação padrão para o fator de atrito, na mesma forma que (9.13): J= " | s 2 2 1 κ ln Re q ! f 2 {z f ! − 1 + Cν 1U ⇒ #2 δ 2д (10.41) } r f+ 2 1 * * + = ln Re − 1 + Cν . f 2 κ , , - (10.42) A equação (10.42) pode ser descrita como uma equação de Prandtl para escoamento turbulento com paredes lisas em dutos de seção retangular e largura infinita. Ela define implicitamente a função f = f (Re). Em engenharia, os diagramas que plotam essa função são denominados “diagramas de perda de carga”. 10.2 – Escoamentos turbulentos com parede rugosa Na definição de z + em (10.18), está implícita uma escala de comprimento viscosa ν (10.43) zν ≡ . u∗ Para o ar a 20◦ C, ν = 1,5×10−5 m2 s−1 ; para a água a 20◦ C, ν = 1,0×10−4 m2 s−1 (Batchelor, 1967, apêndice 1, p. 594). Portanto, se u ∗ ∼ 10−1 m s−1 , zν ∼ 10−4 a 10−3 m. Tanto em tubulações industriais quanto em escoamentos sobre superfícies naturais, há imperfeições ou “elementos de rugosidade” na superfície cuja ordem de grandeza é z 0 . A tabela 10.1 ilustra alguns valores típicos de z 0 para diferentes materiais: embora o valor de u ∗ que usamos seja uma estimativa que obviamente variará de escoamento para escoamento, fica claro que em muitas situações z 0 ∼ zν ; de fato, segundo Morris e Wiggert (1972), a maioria dos escoamentos em tubos são deste tipo. É de se esperar que estes sejam os casos mais difíceis para se lidar. Por outro lado, também é de se esperar que existam casos em que z 0 zν ; para eles, é possível desenvolver uma teoria de “escoamento turbulento rugoso”. De fato, tudo é uma questão de quão alto é o número de Reynolds Re: para um valor suficientemente alto, a camada viscosa deve se tornar tão delgada que, no limite, toda a parede de qualquer material se torna “rugosa” no sentido de que seus elementos de rugosidade se estendem além da sub-camada viscosa. 133 10.2 – Escoamentos turbulentos com parede rugosa Tabela 10.1: Rugosidade equivalente de areia. Fonte: (Morris e Wiggert, 1972, Tabela 3-1) Material z 0 (m) Aço muito corrugado 0,001 Aço pouco corrugado 0,01 Concreto liso 0,0003 Concreto rugoso 0,003 Madeira lisa 0,00018 Madeira rugosa 0,001 Aço laminado 0,00026 Aço galvanizado 0,00015 asphalted castiron 0,00012 Aço comercial novo 0,00004 Aço soldadon 0,00004 Vidro 0,0000015 Se z 0 zν , é natural tentar adimensionalizar (10.14) com z 0 , em vez de zν . Portanto, para as variáveis adimensionais u ∗z 0 z 0 = , (10.44) Re0 ≡ ν zν z z∗ ≡ (10.45) z0 (Re0 é um número de Reynolds de rugosidade (Brutsaert, 1982)), (10.14) admite a adimensionalização hui 0 d 1 z0 hw ui u∗ + (10.46) − = 1 − z∗ . 2 Re0 dz ∗ δ u∗ De forma totalmente análoga aos resultados obtidos anteriormente para paredes lisas, nós esperamos que para uma região relativamente próxima da parede valha uma adimensionalização com a forma hui = F 0 (z ∗ , Re∗ ) ⇒ u∗ dhui u ∗ dF 0 = . Re∗ →∞ dz z 0 dz ∗ lim (10.47) Essa equação é análoga ao par (10.23) e (10.24): de fato, desde que z 0 δ , basta substituir zν por z 0 na análise de ajuste ou casamento assintótico. O argumento padrão que conduz a um resultado análogo a (10.27), portanto, será z hui = F 0 ( , Re∗ ) ⇒ u∗ z0 dhui u ∗ dF 0 lim = ⇒ Re∗ →∞ dz z 0 dz dF 0 dFδ 1 lim z ∗ = lim η = . z ∗ →∞ η→0 dz ∗ dη κ (10.48) (10.49) (10.50) O perfil na região influenciada pela escala z 0 portanto será novamente logarítmico: z hui 1 = ln + C 0 . (10.51) u∗ κ z0 134 10.3 – O regime de transição Para os experimentos clássicos de Nikuradse de perda de carga em tubos muito lisos aos quais uma rugosidade artificial foi adicionada com grãos de areia, o limRe∗ →∞ produz C 0 = 8.5. Não há na literatura (tanto quanto seja de nosso conhecimento) valores específicos para escoamentos em dutos muito largos sob pressão, portanto vamos admitir que este valor também se aplique. Com este valor para C 0 , a previsão de (10.51) para a anulação de hui é ln z = −3,4 ⇒ hui (z = 0,0334z 0 ) = 0. z0 (10.52) O objetivo agora é obter uma equação para o fator de atrito em escoamento plenamente rugoso. Para este fim, vamos usar novamente (10.35) e supor agora que uδ pode ser calculado com a nova lei da parede “rugosa” (10.51); o resultado é ! # " δ 1 ln − 1 + C 0 (10.53) U = u∗ κ z0 — note que não há nenhuma dependência do número de Reynolds Re∗ — e a equação correspondente para o fator de atrito é s " ! # 1 2 δ = ln − 1 + C 0 . (10.54) f κ z0 10.3 – O regime de transição Considere agora o caso “mais complicado”, z 0 ∼ zν ; ambas as escalas podem ser usadas em um ajuste assintótico com a sub-camada externa, e é de se esperar que na camada inercial o perfil de velocidade dependa de ambos. Em termos de variáveis adimensionais: ! z z 0u ∗ hui = F 0ν , . (10.55) u∗ z0 ν Note que o segundo argumento, é o número de Reynolds de rugosidade Re0 , a razão entre z 0 e zν : veja a equação (10.44). A idéia é que o regime “liso” seja recuperado quando Re0 → 0, e o regime “rugoso” quando Re0 → ∞: ! zu z ∗ lim F 0ν , Re0 = Fν , (10.56) Re0 →0 z0 ν ! ! z z lim F 0ν , Re0 = F 0 . (10.57) Re0 →∞ z0 z0 Nosso objetivo, portanto, deve ser procurar uma forma analítica para a função das variáveis z/z 0 e Re0 que “colapse” ambas em zu ∗ /ν no primeiro caso, e que seja assintoticamente independente de Re0 no segundo. A propriedade do logaritmo do produto sugere que para escoamento liso devemos ter " # 1 z z 0u ∗ 1 zu ∗ F 0ν ∼ ln + ln = ln , (10.58) κ z0 ν κ ν 135 10.4 – A fórmula de Manning onde “∼” deve ser lido “comporta-se como . . . a menos de uma constante”. Para escoamento rugoso, por outro lado, Re0 deve desaparecer. Uma forma de obter ambos os comportamentos assintóticos é fazer ln z + ln * 1 + 1 z 0 , Re0 + 1 -!# " 1 z 1 ln − ln +1 . = κ z0 Re0 F 0ν ∼ 1 κ (10.59) De fato, para Re0 → 0, (10.59) é praticamente igual a (10.58), enquanto que para Re0 → ∞ ela se torna, como desejado, assintoticamente independente de Re0 . Falta ainda garantir os valores exatos das constantes Cν e C 0 em (10.56)–(10.57); isso pode ser obtido com " !# 1 z B 0ν F 0ν = ln − ln + 1 + C0 . (10.60) κ z0 Re0 Claramente, (10.60) atende à constante C 0 em (10.57): veja (10.51). Por outro lado, para que (10.60) também atenda à constante Cν , basta escolher B 0ν de tal forma que 1 (10.61) − ln B 0ν + C 0 = Cν , κ donde se obtém, para dutos, que B 0ν = 3,74. Um procedimento totalmente análogo ao feito anteriormente para escoamentos lisos e rugosos permite obter uma equação para o cálculo de fatores de atrito em escoamentos em regime de transição: s s 2 1 * δ 2 B 0ν δ * + + = .ln − ln . + 1/ − 1/ + C 0 . (10.62) f f Re z 0 κ , z 0 , Em (10.62) f depende, convenientemente, tanto de δ/z 0 como de Re; em princípio, essa equação pode ser usada para calcular f em qualquer regime. Uma equação totalmente análoga a (10.62) foi obtida pela primeira vez por Colebrook e White para escoamentos transicionais em tubos de seção circular (Morris e Wiggert, 1972, p. 67): os coeficientes numéricos, naturalmente, são diferentes dos fornecidos aqui por conta da geometria diferente da seção; a rugosidade relativa de Colebrook e White é dada na forma z 0 /D, e o número de Reynolds na forma U D/ν . O diagrama de fator de atrito para o escoamento em um duto de seção retangular e largura infinita versus o número de Reynolds para z 0 /δ = 0,05, 0,005 e 0,00005 está mostrado na figura 10.3. 10.4 – A fórmula de Manning A fórmula 1 V = Rh2/3S 1/2 (10.63) f n foi proposta por Manning em 1889. A menos que se atribua uma dimensão física a n, ela é dimensionalmente inconsistente. Ela é uma equação “empírica”, ou seja: ela foi proposta sem base em uma dedução a partir de equações mais fundamentais. 136 10.4 – A fórmula de Manning f 0.1 0.01 z0/R = 0.005 z0/R = 0.0005 z0/R = 0.00005 0.001 100 1000 10000 100000 1e+06 Re 1e+07 1e+08 1e+09 1e+10 Figura 10.2: Fator de atrito f em função de Re e da rugosidade relativa z 0 /δ em um escoamento turbulento em um duto Chen (1991) mostrou entretanto que ela pode ser deduzida. A vazão volumétrica através da seção, por definição, é B Z Q= (10.64) hui (y,z) dz dy y=0 z=z f (y) onde B é a largura da seção, z f (y) são as cotas do fundo e Z é a cota da superfície. Dedução (Chen, 1991) ! z − z f (y) m , (10.65) hui (y,z) = au? (y) z0 ! B au? (y) h(y) m h(y) dy, (10.66) Q= z0 y=0 m + 1 h(y) = Z − z f (y) (10.67) A velocidade de atrito média ao longo da seção transversal, u ∗ , deve satisfazer à relação 1 B 1 P 0 0 u∗ = u? (y ) dy ≈ u? (y) dy (10.68) P y 0=0 B y=0 y u? (η) , д(η) = ⇒ B u∗ ! au ∗Rm (Rh P ) B 1 h(η) m+1 h д(η) Q= dη, (m + 1)zm Rh 0 P η=0 q u ∗ = дRh S f , ! m+1 1 a √д h(η) B V = д(η) dη Rm+1/2 S 1/2 m f Rh (m + 1)z 0 P η=0 h | {z } η= 1/n (10.69) (10.70) (10.71) (10.72) 137 10.4 – A fórmula de Manning que é a fórmula de Manning para m = 1/6. Dias (1995) — ajuste de um perfil de velocidade ao longo da seção por mínimos quadrados não-lineares: ! z − z f (η) u ∗д(η) ln , (10.73) hui (η,z) = κ z0 u∗ κ = −a 0η(η − 1)(η 2 − 2a 1η + a 22 ) (10.74) д(η) u∗ m= (10.75) κV Alguns resultados no Iguaçu Estimativa de u ∗ (contra medidas usando a declividade da linha d’água): Expoente m da equação de Manning Funções potência? Suponha (por pura conjectura) que Fν = A + z m +, FR = Azm ⇒ dFν dFR , se z+ =z dz + dz A = Rm +. A+ (10.76) (10.77) (10.78) (10.79) Resultados modernos De volta aos dutos retangulares sob pressão. Wosnik, Castillo e George (2000) — as equações para os perfis nas variáveis z + e z representam o mesmo campo de velocidade: uR = FR , u∗ u∗ G (R + ) ≡ , uR 1 Fν (z/zν ,R + ) − = FR (z/R,R + ), G (R + ) z dFν z dFR ∂/∂z; ×z ⇒ = . zν dz + R dz Fν − (10.80) (10.81) (10.82) (10.83) Aproximação assintótica local Este é o mesmo resultado de casamento de perfis de antes, mas dessa vez para valores finitos, ainda que suficientemente altos, de R + . Um resultado novo e diferente é obtido do processo de aproximação assintótica local (near asymptotics): z + = z̃Rn+ , z = z̃Rn−1 + 0 <n < 1 (10.84) 138 10.4 – A fórmula de Manning 1 = FR (Rn−1 + z̃,R + ), G (R + ) dFR 1 ∂/∂z ⇒ z = −..., dz κ (R + ) 1 d1/G ≡ . κ (R + ) dln R + Fν (Rn+ , z̃,R + ) − (10.85) (10.86) (10.87) Evidências de uma meso-camada Seja y = x + a, x,y > 0; então, se f = ln x, df 1 = x = 1; dx x df df 1 y = (x + a) =1=x . dy (x + a) dx x (10.88) (10.89) Isso significa que o processo de casamento de perfis de Milikan, que envolve a constante de vón Kármán, admite soluções um pouco mais gerais: 1 hui − uR = ln [z + a(R + )] + C (R + ), u∗ κ (R + ) 1 hui ln [z + + a + (R + )] + C + (R + ). = u∗ κ (R + ) (10.90) (10.91) Conclusões • Ao contrário do que às vezes se pensa, resultados analíticos são possíveis a partir das equações de Navier-Stokes e Reynolds para escoamentos turbulentos. • Ao longo do século XX e até os dias de hoje, novos resultados analíticos e experimentais continuam a esclarecer diversos pontos sobre “velhos” problemas. • A equação de Manning, por exemplo, pode ser entendida como o resultado de uma aproximação em “lei de potência” para o perfil de velocidade em uma camada-limite turbulenta. • As teorias analíticas existentes ainda dependem de constantes empíricas, notadamente a “constante” de vón Kármán → número de vón Kármán: κ = κ (R + ). Obter previsões teóricas diretamente a partir das eqs de N-S é um desafio para os dinamicistas de fluidos. 11 A Teoria de Kolmogorov 11.1 – Alternativas de descrição da estrutura estocástica da turbulência Kolmogorov “evitou” a decomposição de Reynolds u = hui + u 0 (11.1) trabalhando em seu lugar com as diferenças de velocidade entre pontos vizinhos: w = u (x + r ) − u (x ) = hu (x + r )i − hu (x )i + u 0 (x + r ) − u 0 (x ) ≈ r · ∇ hui + u 0 (x + r ) − u 0 (x ) | {z } | {z } (11.2) (11.3) (11.4) w0 hw (r )i O desenvolvimento acima mostra que as diferenças de velocidade entre dois pontos também obedecem a uma decomposição de Reynolds. A hipótese de homogeneidade global é que u, ou pelo menos u 0, é um campo homogêneo (no sentido estocástico); então, necessariamente, 0 0 w = u (x + r ) − u 0 (x ) = 0. (11.5) Uma hipótese mais fraca, denominada por Kolmogorov de homogeneidade local, é que apenas w 0 é homogêneo, i.e.: que u 0 é um campo com incrementos homogêneos. Neste caso, hw 0i não é necessariamente nulo. De todo modo, o tensor função de estrutura do campo de velocidade é definido por D E ui0 (x + r ) − ui0 (x ) u j0 (x + r ) − u j0 (x ) (11.6) Di,j ≡ D E = wi0w j0 . (11.7) Por definição, a dependência do tensor função de estrutura é tridimensional: Di,j = Di,j (r ) = Di,j (r 1 ,r 2 ,r 3 ). Embora a teoria original de Kolmogorov tenha se baseado diretamente em uma hipótese de isotropia, parece possível desenvolver os mesmos argumentos fixando duas coordenadas espaciais, e variando apenas a terceira: Di,j = Di,j (rk ) para rl = cte, l , k. (11.8) 139 140 11.2 – As hipóteses de similaridade de Kolmogorov Antes de prosseguirmos, vamos revisitar as relações entre os tensores função de estrutura, função de correlação e espectro: 00 D = u − u 0 u 00 − u 0 R = u 0u 00 1 Φ = Re −i (k·r ) d 3r . (2π ) 3 r ∈R3 (11.9) (11.10) (11.11) Nas equações acima, uma linha 0 significa a grandeza em questão no ponto x, e duas linhas 00 significam a grandeza em questão no ponto ξ = x + r . Note ainda que é possível relacionarmos as 3 se (e somente se) a turbulência além de localmente homogênea — o que garante a existência de D — também for globalmente homogênea — o que garante que R e Φ existem. Mas D = u 00u 00 + u 0u 0 − u 0u 00 − u 00u 0 ; (11.12) em turbulência homogênea, 00 00 0 0 u u = u u = R(0); (11.13) finalmente, R(r ) = u 0 (0)u 0 (r ) = u 0 (−r )u 0 (0) = u 0 (0)u 0 (−r ) T = RT (−r ). (11.14) Portanto, a relação entre os tensores função de estrutura e de correlação é D (r ) = 2R(0) − R(r ) − RT (−r ), (11.15) ou seja: conhecendo-se D tem-se R (e consequentemente Φ), e vice-versa. Considere agora o tensor D E Ri,j (r ) = ui (x )u j (x + r ) D E = ui (x − r )u j (x ) D E = u j (x )ui (x − r ) = R j,i (−r ). (11.16) A “álgebra” da turbulência homogênea (Deissler, 1962; Hill, 2002) pode ser obtida a partir de ξi = xi + ri , ∂(·) ∂(·) ∂(·) = + . ∂ξi ∂xi ∂ri (11.17) (11.18) 11.2 – As hipóteses de similaridade de Kolmogorov Seja então Di,j (rk ), onde rk indica não todo o vetor r , mas apenas uma de suas componentes, admitindo-se que as outras duas estão fixas. Por simplicidade, nós vamos nos referir a essa função simplesmente por D (r ). Considere a taxa média 141 11.2 – As hipóteses de similaridade de Kolmogorov de dissipação de energia cinética turbulenta; conforme vimos no capítulo 6, em escoamentos globalmente homogêneos, * + ∂ui ∂ui ϵe = ν , (11.19) ∂x j ∂x j sendo que essa relação vale com bom grau de aproximação mesmo quando o escoamento não for globalmente homogêneo. Agora, se û indica diferenças de velocidade e η indica distâncias nas quais a energia cinética é dissipada, então segue-se que û ⇒ η ν û 2 ϵ ∼ , η2 ûη ∼ 1. ν ∂ui ∂xk ∼ (11.20) (11.21) (11.22) A afirmativa contida em (?? é que o número de Reynolds definido por intermédio das escalas û e η é da ordem de 1, ou ainda: nas escalas de û e η o escoamento é laminar. Substituindo o sinal de ordem de grandeza ∼ pelo de igualdade em (11.21) e (11.22) acima, essas duas equações definem as microescalas de Kolmogorov û e η em termos das grandezas conhecidas ν e ϵe : ν3 η= ϵe ! 1/4 , û = (νϵ ) 1/4 (11.23) A obtenção das microescalas é parte da 1a hipótese de similaridade de Kolmogorov. Ele prevê então que (por argumentos meramente dimensionais) ! r 2 , (11.24) D (r ) = û β η onde β é uma função adimensional e universal da variável adimensional r /η. Note a consistência dimensional de (11.24). O assunto torna-se mais interessante ainda para uma particular situação assintótica: r η. Neste caso, Kolmogorov supõe: 1. Que β pode ser escrita como uma função potência. 2. Que D (r ) torna-se independente de ν . Então: n r D (r ) = C (νϵ ) . (11.25) ν 3/4ϵ −1/4 Observe como, para que D (r ) possa ser independente de ν, é indispensável que β seja da forma (r /η)n . Prosseguindo, 1/2 D(r ) = Cν 1/2−3n/4ϵ 1/2+n/4r n . (11.26) 142 11.2 – As hipóteses de similaridade de Kolmogorov Forçando o expoente de ν a ser nulo, obtém-se finalmente a celebrada relação de Kolmogorov para a faixa inercial, D (r ) = Cϵ 2/3r 2/3 . Essa relação também pode ser expressa em termos espectrais: Di,i (r ) = 2 Ri,i (0) − Ri,i (r ) , ∞ Ri,i (r ) = e ikr Si,i (k ) dk −∞ ∞ Ri,i (0) = Si,i (k ) dk ⇒ −∞ ∞ Di,i (r ) = 2 (1 − e ikr )Si,i (k ) dk (11.27) (11.28) (11.29) (11.30) (11.31) −∞ Suponha agora Si,i = Bϵe2/3 |k | −m ; (11.32) (a dependência explícita de ϵe é uma consequência da teoria de Kolmogorov, e pode ser facilmente justificada a posteriori; sua inclusão é apenas para facilitar a álgebra subsequente) a substituição direta de uma função potência como essa em (11.30) produz uma integral divergente (Frisch, 1995, p.54), enquanto que sua substituição em (11.31) produz ∞ Di,i (r ) = 2B (1 − e ikr )|k | −m dk; (11.33) −∞ fazendo u = kr , m−1 ∞ Di,i (r ) = 2B|r | (1 − e iu )|u| −m |r |dk, (11.34) −∞ donde se conclui que D (r ) = BAm |r |m−1 com ∞ Am = 2 (1 − e iu )|u| −m du. (11.35) (11.36) −∞ Essa última integral, ao contrário do que acontece com a integral do espectro, é convergente para uma certa faixa de valores de m. Para ver como, basta usar a fórmula de Euler e obter (Gradshteyn e Ryzhik, 1980, p. 447, §3.823) ∞ (1 − m)π 16 ∞ −m −m (1 − cos(u)) u du = m v sen2 v dv = −4Γ(1−m) cos , Am = 4 2 0 2 0 (11.37) que converge para m ∈ (1, 3). Agora, se m − 1 = 2/3, m = 5/3, e comparando (11.27) com (11.32), 1 − m − 4Γ(1 − m) cos π B =C (11.38) 2 e (11.32) com m = 5/3 dá a mesma lei de Kolmogorov para a faixa inercial para o comportamento do espectro. 143 11.3 – Isotropia Figura 11.1: Invariantes geométricos em turbulência isotrópica 2 f(x) 1.8 1.6 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Em resumo, nós concluímos que se D (r ) é qualquer um dos componentes da diagonal do tensor de estrutura D(r ) sobre qualquer direção n do espaço, r =r ·n (11.39) e existe uma região onde r η na qual D se comporta como uma função potência dada por 11.27, cuja contrapartida espectral é (11.32) com m = 5/3. 11.3 – Isotropia Dado R, é possível contraí-lo segundo 2 direções dadas pelos vetores unitários a e b, produzindo um escalar R: ou, em notação indicial, R = a · R · b, (11.40) R = ai Ri,j b j . (11.41) Geometricamente, se a turbulência for isotrópica então R só deve depender de invariantes geométricos sob rotação. A figura 11.1 ilustra essa situação. Os invariantes envolvendo a, b e o vetor deslocamento r entre dois pontos são a ·b |r | a ·r b ·r [a × b] · r = = = = = ai bi = δi,j ai b j , rk rk = r 2 , ai r i , bj r j , ϵijk ai b j rk . (11.42) (11.43) (11.44) (11.45) (11.46) Comparando (11.41) com os invariantes acima, conclui-se que Ri,j deve ser da forma Ri,j (r ) = F (r )δij + G (r )ri r j + H (r )ϵijk rk , (11.47) 144 11.3 – Isotropia onde r = |r |. Mas em condições isotrópicas, R deve ser um invariante debaixo de uma reflexão, ou seja, R deve permanecer o mesmo se trocarmos r por −r . Note que, então, Ri,j (−r ) = F (r )δij + G (r )ri r j − H (r )ϵijk rk , (11.48) de forma que para que garantamos isotropia, é necessário que H (r ) ≡ 0. Agora, tendo obtido (11.47), note que toda turbulência isotrópica também é homogênea, já que a homogeneidade é a hipótese necessária para que o tensor R só dependa de r = ξ − x, e que portanto D E ∂ ui0u j00 ∂Ri,j = = 0, (11.49) ∂xi ∂xi donde ∂Ri,j ∂xi ∂r j ∂ri ∂F ∂r ∂G ∂r + F (r )ri + ri r j + δij ∂ri ∂ri ∂r ∂ri ∂r ∂ri ! ∂F 1 ∂G + = 0, = r j 4F (r ) + r ∂r r ∂r = F (r )r j (11.50) (11.51) onde usamos ∂r j ∂ri ∂r ∂ri = δij , (11.52) ri . r (11.53) = É usual definir funções de correlação longitudinal f (r ) e transversal д(r ) em turbulência isotrópica em termos das flutuações de velocidade em dois pontos separados por uma distância r ao longo da linha de separação (u 0k ) e transver0 ): salmente a ela (u ⊥ 1 D 0 00E E u ku k , f (r ) ≡ D u 0ku 0k 1 0 00 д(r ) ≡ 0 0 u ⊥ u⊥ . u ⊥u ⊥ (11.54) (11.55) (11.56) Agora oriente r segundo x 1 : x = (0, 0, 0) e ξ = (r 1 , 0, 0); então, (11.57) R 1,1 (r ) = F (r )r 12 + G (r ) = u 10 u 10 f (r ), 0 0 2 R 2,2 (r ) = F (r )r 2 + G (r ) = G (r ) = u 2u 2 д(r ). (11.58) D E Como em turbulência isotrópica u 0(i)u 0(i) ≡ σ 2 é independente de (i), segue-se o sistema de equações r 2F + G = σ 2 f , G = σ 2д, (11.59) (11.60) 145 11.3 – Isotropia Figura 11.2: funções de correlação longitudinal e transversal 146 11.3 – Isotropia isso é: podemos expressar (F ,G) em função de ( f ,д) e vice-versa. Obtém-se então facilmente a expressão para o tensor de correlação isotrópico ! 2 f (r ) − д(r ) Ri,j = σ ri r j + д(r )δij . (11.61) r2 Finalmente, aplicando (11.51), obtém-se 1 д(r ) = f (r ) + r f 0 (r ), 2 (11.62) e isso mostra que em turbulência isotrópica e incompressível Ri,j (r ) depende de uma única função escalar f (r ). Hissoricamente, a microescala de Taylor λ é introduzida em associação à função coeficiente de autocorrelação longitudinal da turbulência isotrópica, f (r ): d 2 f (0) 1 ≡ − dr 2 λ2 (11.63) (note que essa definição é compatível com nossa definição anterior de microescala de Taylor). Finalmente, um resultado importante: ! 2 f −д Ri,i = σ ri ri + дδii r2 = σ 2 (( f − д) + 3д) = σ 2 ( f + 2д) !! 1 df 2 = σ f +2 f + 2 dr ! df = σ 2 3f + r dr 2 σ d 3 = 2 r f (r ) . (11.64) r dr Agora ressa considerar 2 ∇ Ri,i = = = = ! df ∂2 3f + r ∂rk ∂rk dr ! ∂ f ∂r ∂ 2 f ∂r ∂ ∂r df 3 + +r 2 ∂rk ∂r ∂rk ∂rk dr ∂r ∂rk ! 2 df rk df rk d f ∂ 3 + + rk 2 ∂rk dr r dr r dr ! df rk d2 f ∂ 4 + rk 2 . ∂rk dr r dr (11.65) Antes de prosseguir, essabelecemos o resultado auxiliar r ∂ rk rδkk − rk rk 3r − r 2 = = = . 2 2 ∂rk r r r r (11.66) 147 11.3 – Isotropia Então, 2 ∇ Ri,i = = df 2 d 3 f rk rk d 2 f rk d 2 f 4 +4 + δ + r kk k dr r r dr 2 r dr 2 dr 3 r ! d2 f d3 f d2 f 8 df +r 3 . 4 2 +3 2 + dr dr r dr dr ! (11.67) Observando agora que, pela regra de l’Hôpital, lim r →0 df dr r = d2 f dr 2 1 = d2 f , dr 2 (11.68) conclui-se que d2 f 15 = − 2. (11.69) 2 dr λ Isso tem grande importância, já que é possível provar os seguintes fatos para turbulência isotrópica: ∇2Ri,i (0) = 15 0 ωi (x )ωi0 (x + r ) = −∇2Ri,i (r ), (11.70) * 0 0+ 0 0 ∂u 1 ∂u 1 15ν hu u i ϵe = ν ωi0ωi0 = −ν∇2Ri,i (0) = = 15ν (11.71). λ2 ∂x 1 ∂x 1 O último termo à direita de (11.71) é diretamente mensurável em uma turbulência real, embora exija uma frequência de medição altíssima (por quê?), sendo algumas vezes utilizado para “medir” a taxa de dissipação de energia cinética turbulenta. Aliás, isso dá um paper fenomenal. 12 Dinâmica espectral 12.1 – Balanços espectrais Considere as equações de Navier-Stokes para as flutuações turbulentas em turbulência homogênea e isotrópica, ∂ 2u j0 1 ∂p 0 + ν (j) , ρ ∂x j ∂xk ∂xk (12.1) ∂uD0j 2 D0 0 u 0 = − 1 ik p 0 + ikk uM k D − ν (j) k u j ; j k ∂t ρ (12.2) ∂u j0 ∂t + ∂uk0 u j0 ∂xk =− cuja transformada de Fourier é analogamente, ∗ ∂uDi0 ∗ ∗ 2 D0∗ 0 u 0 = + 1 ik p 0 − ikk uM k D − ν (i) k ui . i k ∂t ρ (12.3) ∗ Pré-multiplicando (12.2) por uDi0 , e pós-multiplicando (12.3) por uDj0, obtém-se ∗ ∂uDi0 uDj0 ∗ ∗ 0 u 0 − uM 0 u0 u D0 = i ki pD0∗uD0 − k juD0∗pD0 − ν (i) + ν (j) k 2uD0∗uD0 . + ikk uDi0 uM j j j j i i j k k ∂t ρ (12.4) Calculando-se o valor esperado h·i da equação acima, e “dividindo-se” por δ (0), obtém-se, via (8.66): i ∂Φi,j + ikk Φi,jk − Φik,j = ki Φp,j − k j Φi,p − (ν (i) + ν (j) )k 2 Φi,j . ∂t ρ (12.5) Fazendo-se a contração i = j, o termo envolvendo espectros cruzados com a pressão desaparece, devido a (7.82); além disso, D ∗ E D ∗ E 0u 0 − uM 0u 0 u D0 ikk Φi,ik − Φik,i = ikk uDi0 uM i k i k i D ∗ E D ∗ E 0u 0 − (u 0u 0 ) ∗ D0 uM = ikk uDi0 uM i k i i k = 2kk Qui,ik (k ). (12.6) Portanto, definindo-se Φe ≡ 1 Φi,i , 2 148 (12.7) 149 12.2 – O fluxo espectral de energia nas teorias clássicas Ee (k ) ≡ Φe (k ) d 2k, (12.8) kk Qui,ik (k ) d 2k, (12.9) |k |=k Te (k ) ≡ |k |=k obtém-se finalmente a equação de Kármán-Howarth, ! ∂ 2 + 2νu k Ee (k ) + Te (k ) = 0. ∂t (12.10) Φe (k ) é o espectro direcional de energia cinética turbulenta (direcional porque depende em geral do vetor k). Nas equações acima, o termo de transferência inercial Te (k ) tem origem em ∗ ∗ 0 u 0 − uM 0 u0 u D0 ; ikk uDi0 uM (12.11) k j k j j nosso objetivo agora é mostrar que a integral deste termo (e consequentemente a integral de Te (k )) é nula. Para isso, usamos o teorema da convolução de transformadas de Fourier na forma (7.92) para escrever ∗ 0 0 0 D0 (k − k 0 )uD0∗ (k )uD0 (k 0 ) d 3k 0 (12.12) k u = i u ikk uDi uM k j i j k k k0 ∈R3 ∗ ∗ ∗ 0 u0 u D0 = −i (12.13) kk uDk0 (k − k 0 )uDi0 (k 0 )uDj0 (k ) d 3k 0 −ikk uM k i j k 0 ∈R3 Consequentemente, a integral de (12.11) será g f ∗ ∗ ∗ kk uDk0 (k − k 0 )uDi0 (k )uDj0 (k 0 ) − kk uDk0 (k − k 0 )uDi0 (k 0 )uDj0 (k ) d 3k 0 d 3k. i k∈R3 k 0 ∈R3 (12.14) 0 Trocando k e k no segundo termo dentro dos colchetes, f g ∗ ∗ kk uDk0 (k − k 0 ) − kk uDk0 (k 0 − k ) uDi0 (k )uDj0 (k 0 ) d 3k 0 d 3k = 0, i k∈R3 k 0 ∈R3 (12.15) ∗ 0 D D pois o termo dentro do colchete se anula, devido ao fato de que u (k ) = u 0 (−k ). Consequentemente, a integral de (12.6) sobre todos os vetores número de onda k é nula; em termos de Te (k ) isso é o mesmo que ∞ ∞ 2 Te (k ) dk = kk Qui,ik (k ) d k dk = kk Qui,ik (k )d 3k = 0. k=0 k=0 |k |=k k∈R3 (12.16) 12.2 – O fluxo espectral de energia nas teorias clássicas Considere a contração de (12.84), ∂Φe + kk Qui,ik + 2νu k 2 Φe , ∂t (12.17) filtrada por um filtro ideal Hk (k ) com número de onda (escalar) de corte k tal que ( 1, |k | ≤ k, Hk (k ) = (12.18) 0, |k | > k. 150 12.3 – Modelos de fechamento fenomenológicos Então o espectro acumulado de energia cinética E (k ) é definido pela operação de Hk (k ) sobre Φe : k k 3 2 E (k ) = Hk (k )Φe (k ) d k = Φe (k ) d k dp = Ee (p) dp. k∈R3 p=0 p=0 |k |=p Analogamente, a enstrofia acumulada Ω(k ) é k 2 3 Ω(k ) ≡ Hk (k )k Φe (k ) d k = k∈R3 p=0 k = p=0 (12.19) Hk (k )k 2 Φe (k ) d 2k dp |k |=p k 2 Ee (p) dp (12.20) O último termo a ser submetido à operação de filtragem de passa-baixa em (12.17) é k 3 Π(k ) ≡ Hk (k )kk Qui,ik (k ) d k = Te (p) dp (12.21) k∈R3 p=0 que é, por definição, o fluxo espectral de energia. Agora, é usual adicionar-se um termo forçante F (k ) ao lado direito de (12.10) em simulações de turbulência isotrópica para evitar o seu (de outra forma inevitável) decaimento. Seja então F (k ) = ϵe δ (k − ki ), (12.22) onde ki = 2π /L é um número de onda que define, a menos de uma constante da ordem de 1, uma escala integral de turbulência; então ( k 0, k < ki , F (k ) = F (p) dp = (12.23) ϵe , k > ki . p=0 A integral de (12.10) será ∂E (k ) + Π(k ) + 2νu Ω(k ) = F (k ). ∂t (12.24) Supondo que a turbulência seja essatisticamente essacionária (graças à presença de F (k )), e notando que para k finito, 0 < Ω(k ) < ∞, segue-se que (Lesieur, 1990, p. 136) lim Π(k ) = 0, k < ki , (12.25) lim Π(k ) = ϵe , k > ki . (12.26) νu →0 νu →0 Lesieur observa que essas equações têm um papel preponderante na teoria de Kolmogorov. Note também que a integral até infinito de (12.10) resulta em ϵe = 2ν Ω(∞). 12.3 – Modelos de fechamento fenomenológicos O que diabo significa fenomenológicos? (12.27) 151 12.3 – Modelos de fechamento fenomenológicos 12.3.1 – Heisenberg Brodkey (Brodkey, 1967, p. 292 em diante) faz uma excelente revisão das idéias por trás dos modelos clássicos de fechamento. Na teoria de fechamento proposta por Heisenberg, existe uma analogia com o papel da viscosidade cinemática ν (i) no termo de dissipação envolvendo a enstrofia Ω(k ) em (12.20). A idéia é escrever Π(k ) em função de Ω(k ), k Π(k ) = 2νT (k )Ω(k ) = 2νT (k ) q 2 Ee (q) dq, (12.28) 0 com a viscosidade turbulenta espectral νT (k ) dada por ∞ νT (k ) = α H p −3/2 [E (p)]1/2 dp. k (12.29) Como a integral do termo de transferência inercial é nula, o decaimento da energia cinética turbulenta em turbulência isotrópica é D E ∞ 0 0 ∂ ∂ uk uk = Ee (k ) dk = −2νu Ω(∞) = −ϵe . (12.30) ∂t 2 ∂t 0 Fazendo-se a aproximação D E uk0 uk0 2 k ≈ 0 Ee (k ) dk, k ki obtém-se − ϵe + Π(k ) + 2νu Usando (12.28) e (12.29), " ϵe = 2 νu + α H k k 0 q 2 E (q) dq = 0. ∞ p −3/2 (12.31) 1/2 [E (p)] (12.32) # dp Ω(k ). (12.33) Mas pelo teorema fundamental do cálculo, donde Derivando, dΩ = k 2 E (k ), dk (12.34) ! 1/2 ∞ ϵe dΩ −5/2 = 2 νu + α H p dp Ω(k ) dp k (12.35) ϵe dΩ dΩ = 2α H k −5/2 2 Ω(k ) dk dp 2 ϵe dΩ = 4α H2 k −5 , Ω(k ) 4 dk α2 Ω−4d Ω = 4 H2 k −5dk. ϵe ! 1/2 , (12.36) 152 12.4 – A aproximação quase-normal Essa última é uma equação diferencial separável facilmente integrável, para o quê é preciso utilizar (12.27). O resultado é ! −3 !2 −1/3 ϵe αh −4 . Ω(k ) = +3 k ϵe νu (12.37) Utilizando-se (12.34), com um pouco de paciência para a álgebra, obtém-se 8ϵe Ee (k ) = 9α H ! 2/3 k −5/3 −4/3 3 8ν u 4 1 + . k 3α H2 ϵe (12.38) Este resultado reproduz o comportamento do espectro na faixa inercial previsso pela teoria de Kolmogorov, assim como prevê um decaimento mais rápido na faixa viscosa. Crítica: existe um certo grau de liberdade na escolha dos expoentes, de forma que a teoria não é tão “profunda” assim; ela apenas compatibiliza a viscosidade turbulenta com o espectro na faixa inercial, cujo comportamento já é conhecido. 12.4 – A aproximação quase-normal Vamos iniciar essa seção com uma breve revisão de resultados que já obtivemos, mas que serão manipulados sob uma nova luz. Considere as definições de transformadas de Fourier: 1 3 u (x )e −i (k·x ) d 3x, (12.39) û (k ) = 2π x ∈R3 1 3 u (ξ )e −i (p·ξ ) d 3ξ . (12.40) û (p) = 2π ξ ∈R3 Consequentemente, 1 6 û (k )û (p) = hu (x )u (ξ )i e −i (k·x+p·ξ ) d 3ξ d 3x . 3 2π x,ξ ∈R (12.41) Faça ξ = x + r , e obtenha 1 6 û (k )û (p) = hu (x )u (x + r )i e −i (k·x+p·x )+p·r d 3r d 3x . (12.42) 3 2π x,r ∈R Agora, se hu (x )u (x + r )i = R(r ) é a função de correlação, que só depende de r em uma turbulência homogênea, então: 1 3 1 3 −i ([k+p]·x ) 3 û (k )û (p) = e d x R(r )e −i (p·r ) d 3r , 3 2π 2π x ∈R3{z | } r ∈R δ (k+p) (12.43) ou seja: 1 3 û (k )û (p) = δ (k + p) R(r )e −i (p·r ) d 3r . (12.44) 2π r ∈R3 153 12.4 – A aproximação quase-normal Um resultado que nós recuperamos imediatamente é a definição de espectro usando funções generalizadas que possuíamos anteriormente: û ∗ (p) = û (−p), k = −p, 1 3 ∗ û (p)û (p) = δ (0) R(r )e −i (p·r ) d 3r ., 3 2π r ∈R {z | } Φ (p) (12.45) (12.46) (12.47) onde Φ(p) é o tensor espectral do campo de velocidade. Os resultados da aproximação quase-normal serão obtidos a partir de (12.44); essa equação mostra que û (k )û (p) = 0 a não ser que k + p = 0, (12.48) e este é um resultado muito importante. Analogamente, û (k )û (p)û (q) , 0 ⇔ k + p + q = 0, û (k 1 )û (k 2 ) . . . û (k n ) , 0 ⇔ k 1 + k 2 + . . . + k n = 0. (12.49) (12.50) (12.51) Considere agora novamente a equação (7.97), que nós reescrevemos aqui por comodidade: ! ki k j ∂D ui 2 uDj (p)D um (q) d 3p = 0. (12.52) + νu k uDi + δij − 2 ikm ∂t k p+q=k Usando a equação (7.89), ∂D ui + νu k 2uDi + Pij (k )ikm ∂t p+q=k uDj (p)D um (q) d 3p = 0. (12.53) É bom lembrar que Pij (k ) foi definido como o operador que projeta no plano perpendicular a k, ki Pij (k )a j = 0, (12.54) para um vetor a qualquer. Uma forma equivalente a (12.53) é ∂D ui 2 + νu k uDi + Pijm (k ) uDj (p)D um (q) d 3p = 0, ∂t p+q=k (12.55) onde g i f k j Pim (k ) + km Pij (k ) . 2 Para provar essa última, observe que ! ki km k j Pimu jum = k j δim − 2 u jum k ki (k ju j )(kmum ) = (k ju j )ui − , k2 Pijm (k ) ≡ (12.56) (12.57) 154 12.4 – A aproximação quase-normal enquanto que km Piju jum ! ki k j = km δij − 2 u jum k ki (k ju j )(kmum ) = (kmum )ui − . k2 Note que (12.57) e (12.58) são iguais, donde (12.55) se segue. Agora faça Mijm ≡ −Pijm e tire a média de (12.55); o resultado é ! D E ∂ 2 + νu k uDi = Mijm (k ) uDj (p)D um (q) d 3p. ∂t p+q=k (12.58) (12.59) (12.60) Agora, dados os seguintes fatos, Mijm (0) = 0 D E uDj (p)D um (q) , 0 ⇔ p + q = k = 0, segue-se de (12.60) que uDi (k ) = 0, ∀k. (12.61) (12.62) (12.63) Vamos agora obter novamente a equação de evolução para Φi,j (k,t ). O ponto de partida são duas equações gêmeas de (12.55) em uDi e uDj com Mijm em lugar de Pijm . Como já fizemos inúmeras vezes antes, a equação em uDi é multiplicada por uDj e vice-versa; os números de onda dos argumentos são k 0 e k, respectivamente: ! ∂ 2 0 0 + νu k uDi (k ) = Mimn (k ) uDj (k )D um (p)D un (q) d 3p,(12.64) uDj (k ) ∂t p+q=k 0 ! ∂ 0 2 uDi (k ) + νu k uDj (k ) = M jkl (k ) uDi (k 0 )D uk (p)D ul (q) d 3p (12.65) ∂t p+q=k A soma das duas produz, imediatamente (após a tomada das médias), ! D E D E ∂ 2 02 0 0 + νu k + k uDi (k )D u j (k ) = Mimn (k ) uDj (k )D um (p)D un (q) d 3p ∂t p+q=k 0 3 + M jkl (k ) uDi (k 0 )D uk (p)D ul (q) (12.66) d p, p+q=k que dá, para o único caso não-trivial k 0 = −k: !D E D E ∂ 2 + 2νu k uDi (−k )D u j (k ) = Mimn (−k ) uDj (k )D um (p)D un (q) d 3p ∂t p+q=−k uDi (−k )D uk (p)D ul (q) d 3(12.67) p. + M jkl (k ) p+q=k Dessa equação para a equação de evolução de Φi,j (k,t ) é um pulo. Trocando q por −q e utilizando Mikl (−k ) = −Mikl (k ), (12.68) 155 12.4 – A aproximação quase-normal !D E D E ∂ 2 + 2νu k uDi (−k )D u j (k ) = −Mikl (k ) uDl (−q)D u j (k )D uk (p) d 3p ∂t p+k=q 3 + M jkl (k ) uDi (−k )D uk (p)D ul (q) d(12.69) p. p+q=k Pelo teorema da convolução tridimensional, (7.92), as duas integrais acima podem ser relacionadas aos espectros cruzados de ordem 3 como se segue: D E D E uDl (−q)D u j (k )D uk (p) d 3p = uDl uM (12.70) j uk = δ (0)Φl,jk (k ) p+k=q uDi (−k )D uk (p)D ul (q) d 3p = uDi uM k ul = δ (0)Φi,lk (k ). (12.71) p+q=k Com (12.70) e (12.71), (12.69) torna-se, finalmente, ! ∂ 2 + 2νk Φi,j (k,t ) = M jkl (k )Φi,lk (k ) − Mikl (k )Φl,jk (k ), ∂t (12.72) que deve ser comparada com a equação obtida anteriormente: i ∂Φi,j + (ν (i) + ν (j) )k 2 Φi,j = ikk Φik,j − Φi,jk + ki Φp,j − k j Φi,p . ∂t ρ (12.73) 12.4.1 – Uma abordagem com P e não com M Vamos agora obter novamente a equação de evolução para Φi,j (k,t ). O ponto de partida são duas equações gêmeas de (12.55) em uDi e uDj com Mijm em lugar de Pijm . Como já fizemos inúmeras vezes antes, a equação em uDi é multiplicada por uDj e vice-versa; os números de onda dos argumentos são k 0 e k, respectivamente: ! ∂ 2 0 0 0 uDj (k )D um (p)D un (q) d 3p =(12.74) 0, uDj (k ) + ν (i) k uDi (k ) + Pim (k )ikn ∂t p+q=k 0 ! ∂ 0 2 uDi (k ) uDi (k 0 )D um (p)D un (q) d 3p =(12.75) 0. + ν (j) k uDj (k ) + P jm (k )ikn ∂t p+q=k A soma das duas produz, imediatamente, ! ∂ 2 02 0 0 0 + ν (j) k + ν (i) k uDi (k )D u j (k ) = −Pim (k )iknuDj (k ) uDm (p)D un (q) d 3p 0 ∂t p+q=k − P jm (k )iknuDi (k 0 ) uDm (p)D un (q) d 3p, p+q=k (12.76) que dá, para o único caso não-trivial k 0 = −k: ! ∂ 2 + ν (i) + ν (j) k uDi (−k )D u j (k ) = Pim (k )iknuDj (k ) uDm (p)D un (q) d 3p ∂t p+q=−k − P jm (k )iknuDi (−k ) uDm (p)D un (q) d 3p. p+q=k (12.77) 156 12.4 – A aproximação quase-normal Note que nós utilizamos a propriedade Pij (−k ) = Pij (k ), (12.78) implícita em (7.89). Pelo teorema da convolução tridimensional, (7.92), as duas integrais acima podem ser escritas como transformadas de Fourier de produtos umun : uDm (p)D un (q) d 3p = uE (12.79) mun (−k ) p+q=−k uDm (p)D un (q) d 3p = uE (12.80) mun (k ). p+q=k Levando (12.79) e (12.80) em (12.77), tomando o seu valor esperado e usando as seguintes relações para os espectros cruzados de ordem 3: D E δ (0)Φmn,j (k ) = uE Dj (k ) , (12.81) mun (−k )u δ (0)Φi,mn (k ) = uDi (−k )E umun (k ) , (12.82) nós obtemos a equação para a evolução do espectro cruzado Φi,j (k,t ): ∂Φi,j + (ν (i) + ν (j) )k 2 Φi,j = ikn Pim Φmn,j − P jm Φi,mn , ∂t (12.83) que deve ser comparada com a equação obtida anteriormente: i ∂Φi,j + (ν (i) + ν (j) )k 2 Φi,j = ikn Φin,j − Φi,jn + ki Φp,j − k j Φi,p . ∂t ρ (12.84) 12.4.2 – Detours in search of truth !D E D E ∂ 2 uDj (k )D um (p)D un (−[k + p]) d 3p + 2νu k uDi (−k )D u j (k ) = Pim (k )ikn ∂t p∈R3 3 − P jm (k )ikn uDi (−k )D uk (p)D ul (k − p) (12.85) d p. p∈R3 Para a equação de balanço dos momentos de ordem 3, faça: ! ∂ 2 uDj (k )D uk (k ) + ν (i) k uDi (k ) + Pim (k )ikn uDj (k 0 )D uk (k 00 )D um (p)D un (k − p) d 3p (12.86) = 0, 3 ∂t p∈R ! ∂ 00 02 0 0 0 uDi (k )D uk (k ) + ν (j) k uDj (k ) + P jm (k )ikn uDi (k )D uk (k 00 )D um (p)D un (k 0 − p) d 3p (12.87) = 0, 3 ∂t p∈R ! ∂ 0 002 00 00 00 uDi (k )D u j (k ) + ν (k ) k uDk (k ) + Pkm (k )ikn uDi (k )D u j (k 0 )D um (p)D un (k 00 − p) d 3p (12.88) = 0. 3 ∂t p∈R 0 00 A combinação das 3 equações produz !D E ∂ 2 02 002 + ν (i) k + ν (j) k + ν (k ) k uDi (k )D u j (k 0 )D uk (k 00 ) = ∂t 157 12.5 – Uma nova tentativa de obter a aproximação quase-normal −Pim (k )ikn p∈R3 uDj (k 0 )D uk (k 00 )D um (p)D un (k − p) d 3p −P jm (k 0 )ikn0 p∈R3 uDi (k )D uk (k 00 )D um (p)D un (k 0 − p) d 3p −Pkm (k 00 )ikn00 p∈R3 uDi (k )D u j (k 0 )D um (p)D un (k 00 − p) d 3p. (12.89) Como sabemos, (12.89) só faz sentido para k + k 0 + k 00 = 0. 12.5 – Uma nova tentativa de obter a aproximação quase-normal Para os momentos de ordem 2, espectros e funções de correlação são D E uDi (k i )D u j (k j ) = δ (k i + k j )Φi,j (k j ). (12.90) D E 1 Φi,j (k j ) ≡ u (x )u (x + r ) e −i (k j ·r ) d 3r i i j i (2π ) 3 r = Ri,j (r )e −i (k j ·r ) d 3r . (12.91) r A generalização para a ordem 3 deve ser cuidadosa. É natural esperar que D E uDi (k i )D u j (k j )D uk (k k ) = δ (k i + k j + k k )Φi,j,k (k j ,k k ). (12.92) D E 1 u (x )u (x + r )u (x + s e −i (k j ·r +k k ·s) d 3r d 3s Φi,j,k (k j ,k k ) ≡ i i j i i k (2π ) 6 r ,s 1 = Ri,j,k (r ,s)e −i (k j ·r +k k ·s) d 3r d 3s. (12.93) (2π ) 6 r ,s Uma operação de convolução sobre um momento de ordem 3 deve reduzir o número de vetores independentes de 2 para 1: Φi,j,k (k j ,k k ) → Φij,k (k k ) ou Φi,jk (k k ). Considere então * + 3 uDj (k j )D uk (k k − k j ) d k j = uDi (k i ) kj 1 Ri,j,k (r ,s) e −i (k j ·r +[k k −k j ]·s) d 3k j d 3r d 3s = δ (k i + k j + k k − k j ) (2π ) 6 r ,s kj 1 1 δ (k i + k k ) Ri,j,k (r ,s) e −i (k j ·[r −s]) d 3k j e −i (k k ·s) d 3r d 3s = 3 (2π ) r ,s (2π ) 3 k j | {z } δ (r −s) 1 Ri,j,k (s,s)e −i (k k ·s) d 3s = 3 (2π ) s δ (k i + k k )Φi,jk (k k ). δ (k i + k k ) Em resumo, a operação de convolução produziu o seguinte efeito: D E uDi (k i )D u j (k j )D uk (k k ) = δ (k i + k j + k k )Φi,j,k (k j ,k k ) ⇒ D E uDi (k i )D u j (k j ) ∗ uDk (k k ) = δ (k i + k k )Φi,jk (k k ). (12.94) (12.95) 158 12.5 – Uma nova tentativa de obter a aproximação quase-normal Formalmente, D E uDi (k i )D u j (k j ) ∗ uDk (k k ) δ (k i + k k ) = Φi,jk (k k ) = Φjk,i (−k k ) = Φjk,i (k i ) ou, permutando os índices, D E uDi (k i ) ∗ uDj (k j )D uk (k k ) = δ (k j + k k )Φij,k (k k ). (12.96) As equações (12.95)–(12.96) são muito importantes porque elas permitem automatizar a álgebra das operações de convolução. Essas por sua vez permitem reduzir os momentos de 3a e 4a ordens que dependem respectivamente de 2 e 3 vetores número de onda a expressões que envolvem apenas 1 vetor número de onda. A generalização óbvia dessas equações para ordem 4 é D E uDi (k i ) ∗ uDj (k j )D uk (k k ) ∗ uDl (k l ) = δ (k j + k l )Φij,kl (k l ) (12.97) D E uDi (k i )D u j (k j ) ∗ uDk (k k ) ∗ uDl (k l ) = δ (k i + k l )Φi,jkl (k l ) (12.98) A dedução de (12.97)–(12.98) é muito fácil uma vez que temos (12.94). De fato, seja 1 9 D E uDi (k i )D u j (k j )D uk (k k )D ul (k l ) = δ (k i +k j +k k +k l ) Ri,j,k,l (r ,s,t )e −i (k j ·r +k k ·s+k l ·t ) d 3r d 3s d 3r . 2π r ,s,t (12.99) Como a convolução uDj (k j ) ∗ uDk (k k − k j ) não envolve os termos em k l e em t, a aplicação de (12.94) produz, imediatamente, 1 6 D E Ri,j,k,l (s,s,t )e −i (k k ·s+k l ·t ) d 3s d 3r . uDi (k i )D u j (k j ) ∗ uDk (k k − k j )D ul (k l ) = δ (k i +k k +k l ) 2π s,t (12.100) Observe que Ri,j,k,l (s,s,t ) é a mesma coisa que Ri,jk,l (s,t ). É interessante reescrever a equação acima em termos de R jk,i,l . Para fazer isso, nós inicialmente usamos a propriedade de homogeneidade para fazer D E Ri,j,k,l (s,s,t )e −i (k k ·s+k l ·t ) = ui (0)u j (s)uk (s)ul (t ) e −i (k k ·s+k l ·t ) D E ·t ) = ui (−s)u j (0)uk (0)ul (t − s) e −i (k k ·s+k l (12.101) . Agora aplicamos a mudança de variáveis y = −s, z = t − s; (12.102) (12.103) o resultado é Ri,j,k,l (s,s,t )e −i (k k ·s+k l ·t ) = D E u j (0)uk (0)ui (y)ul (z) e −i (−k k ·y+k l ·[z−y]) D E = u j (0)uk (0)ui (y)ul (z) e −i (−[k k +k l ]·y+k l ·z) D E = u j (0)uk (0)ui (y)ul (z) e −i (k i ·y+k l ·z) = R jk,i,l e −i (k i ·y+k l ·z) . (12.104) 159 12.5 – Uma nova tentativa de obter a aproximação quase-normal Para passar de −[k k +k l ] para k i nós usamos a relação k i +k k +k l = 0. Levando (12.104) em (12.100): 1 6 D E uDj (k j ) ∗ uDk (k k − k j )D ui (k i )D ul (k l ) = δ (k k +k i +k l ) R jk,i,l (s,t )e −i (k i ·s+k l ·t ) d 3s d 3t . 2π s,t | {z } Φjk,i,l (k i ,k l ) Finalmente, uma aplicação adicional de (12.95) produz D E uDj (k j ) ∗ uDk (k k − k j )D ui (k i ) ∗ uDl (k l ) = δ (k k + k l )Φjk,il (k l ), (12.105) (12.106) que é o mesmo que 12.97. A mesma equação (12.100) é usada para provar (12.98). Agora, nós simplesmente aplicamos (12.95) novamente, para obter 1 3 D E Ri,j,k,l (t,t,t )e −i (k l ·t ) d 3t uDi (k i )D u j (k j ) ∗ uDk (k k − k j ) ∗ uDl (k l − k k ) = δ (k i + k l ) 2π s,t = δ (k i + k l )Φi,jkl . (12.107) A Difusão em sistemas binários Considere um pequeno volume δ V no qual há instantaneamente NA moléculas da substância A, e NB moléculas da substância B. As velocidades macroscópicas de A e de B, v A e v B , no centro de massa de δ V são definidas como X NA NA X m v ≡ *. m +/ v , A Ai A A i=1 i=1 , X N NB B X m v ≡ *. m +/ v , B B B Bi , j=1 j=1 (A.1) (A.2) onde v Ai é a velocidade individual da i-ésima molécula de A, e mA é a massa de cada molécula de A, o mesmo valendo para a substância B. A velocidade macroscópica do fluido como um todo no centro de massa de δ V , u, é X X NA NA NB NB X X m v + mBv Bi ≡ mA + mB u, A Ai i=1 j=1 j=1 i=1 X X X NA NA NB NB X m v + m v = m + mB u A A A B B i=1 j=1 j=1 i=1 (A.3) A divisão deste resultado por δ V produz ρAv A + ρ Bv B = (ρA + ρ B )u ⇒ ρA [v A − u] + ρ B [v B − u] = 0. (A.4) Os vetores resultantes representam os fluxos difusivos de massa de A e de B: jA ≡ ρA [v A − u], jB ≡ ρ B [v B − u] ⇒ jA + jB = 0. 160 (A.5) (A.6) (A.7) B Soluções dos problemas ∗ (n) (S é hermitiano), faça De Si,j (−n) = Si,j i,j Si,j (n) = a(n) + ib (n), b (−n) = −b (n), donde: +∞ n=−∞ =[Si,j (n)] dn = 0 ∞ b (n) dn ∞ =− b (−m) dm + b (n) dn ∞n=0 ∞m=∞ b (−m) dm + b (n) dn = m=0 n=0 ∞ [b (−n) + b (n)] dn = n=−∞ 0 b (n) dn + n=0 =0 161 n=0 C Vorticidade A seguir é apresentada a dedução da equação da vorticidade para um caso geral, considerando o fluido não barotrópico e incluindo os efeitos da aceleração de coriolis no escoamento. Partiremos da forma geral da equação de Navier Stokes, ! ∂Sij ∂Ui 1 ∂ ∂Uk ∂Ui + Uj = дi − 2ϵijk ϖ jUk + −P + λ + 2νu , ∂t ∂x j ℘ ∂xi ∂xk ∂x j (C.1) em que o ultimo termo do lado direito pode ser decomposto conforme a seguir, ( ∂Sij ∂ 1 ∂Ui ∂Uj = 2νu + 2νu ∂x j ∂x j 2 ∂x j ∂xi !) ∂Uj2 ∂ 2Ui . = νu 2 + νu ∂xi x j ∂x j (C.2) Assumindo Supondo que o fluido é incompressível, de acordo com a aproximação de Boussinesq, a equação da continuidade é aproximadamente ∇ · u = 0 ∇ · U = 0. Dessa forma, fazendo as devidas simplificações na equação (C.1), chega-se a ∂Ui ∂Ui 1 ∂P ∂ 2Ui + Uj = дi − 2ϵijk ϖ jUk − + νu 2 . ∂t ∂x j ℘ ∂xi ∂x j (C.3) O segundo termo do lado esquerdo da equação (C.3), que representa o transporte advectivo, pode ser reescrito na forma ! ∂Uj ∂Ui ∂Ui ∂Uj Uj =Uj − + Uj ∂x j ∂x j ∂xi ∂xi 1 ∂ Uj Uj = − Uj ϵijk Ωk + 2 ∂xi 2 1 ∂Uj = − Uj ϵijk Ωk + , (C.4) 2 ∂x em que foi utilizada a seguinte relação ϵijk Ωk =ϵijk ! ∂Un ϵkmn , ∂xm ∂Un = δimδ jn − δinδ jm , ∂xm 162 Einara, um desafio neste meu texto é fazer tudo sem impor incompressibilidade. Incompressibilidade é uma questão física delicada, e tenho tentado pensar bastante sobre isso, como veremos em nossas aulas sobre a aproximação de Boussinesq 163 – = ∂Uj ∂Ui − . ∂xi ∂x j (C.5) O ultimo termo do lado direito da equação (C.3) representa a difusão e pode ser rearranjado, também fazendo uso da relação (C.5), conforme ! ∂ 2Uj ∂ 2Ui ∂ ∂Ui ∂Uj νu =νu − , + νu ∂x j ∂x j ∂x j ∂x j ∂xi ∂x j ∂xi ! ∂ ∂ ∂Uj −ϵijk Ωk + νu , =νu ∂x j ∂xi ∂x j ∂Ωk = − νu ϵijk + 0, (C.6) ∂x j onde o segundo termo é nulo devido à equação de continuidade. Uma vez que é uma força de corpo conservativa, a gravidade pode ser representada como o gradiente de uma função potencial g = −∇Π. E lembrando que ϖ × u = −u × ϖ, sendo 2ϵijk ϖ J Uk = −2ϵijk ϖk Uj , substituindo os termos da gravidade, da aceleração de coriolis e as equações (C.4) e (C.6) em (C.3), temos a seguinte forma da equação de Navier Stokes, 2 ∂Ui 1 ∂Uj ∂Π 1 ∂P ∂Ωk − ϵijk Uj (Ωk − 2ϖk ) + =− − − νu ϵijk . ∂t 2 ∂xi ∂xi ℘ ∂xi ∂x j (C.7) A equação da vorticidade é obtida a partir do rotacional da equação (C.7), ∂ ϵnqi ∂xq ∂U 2 ∂Ui − ϵijk Uj (Ωk − 2ϖk ) + 1 j = − ∂Π − 1 ∂P − νu ϵijk ∂Ωk . ∂t 2 ∂xi ∂xi ℘ ∂xi ∂x j (C.8) Distribuindo o produto, temos ! 2 1 ∂ ∂ ∂Ui ∂ ∂Uj ∂ ∂Π ϵnqi − ϵnqi ϵijk Uj (Ωk − 2ϖk ) + ϵnqi = −ϵnqi + ∂t ∂xq ∂xq 2 ∂xq ∂xi ∂xq ∂xi ! ∂ 1 ∂P ∂ ∂Ωk . ϵnqi − − νu ϵnqi ϵijk ∂xq ℘ ∂xi ∂xq ∂x j (C.9) Na sequência, cada termo da equação acima será trabalhado separadamente. O primeiro termo do lado esquerdo da igualdade é ! ∂ ∂Ui ∂Ωi ϵnqi = . (C.10) ∂t ∂xq ∂t O segundo e terceiro termos do lado esquerdo ficam, respectivamente, ϵnqi ϵijk ∂ ∂ Uj Ωk = (δnj δqk − δnk δqj ) (Uj Ωk ) ∂xq ∂xq Great! 164 – ∂ ∂ (Un Ωk ) − (Uj Ωn ) ∂xk ∂x j ∂Uj ∂Un ∂Ωk ∂Ωn = Un + Ωk − Uj − Ωn ∂xk ∂xk ∂x j ∂x j ∂Ωn ∂Un − Uj − 0, = 0 + Ωk ∂xk ∂x j = ϵnqi ϵijk (C.11) ∂ ∂ 2Uj ϖk = +(δnj δqk − δnk δqj ) (2ϖk Uj ) ∂xq ∂xq ∂ ∂ = (2ϖk Un ) − (2ϖnUj ) ∂xk ∂x j ∂Uj ∂ϖk ∂ϖn ∂Un + 2Un − 2ϖn − 2Uj = +2ϖk ∂xk ∂xk ∂x j ∂x j ∂Un = +2ϖk + 0 − 0 − 0, (C.12) ∂xk onde simplificações foram feitas com base na equação da continuidade, considerando que as derivadas de ϖ são zero e lembrando que ∇ · Ω = 0.Os termos envolvendo o quadrado da velocidade e o potencial Π também se anulam devido ao produto de ϵnqi , antissimétrico em q e i, por uma derivada simétrica em q e 2 i, ∂x∂q ∂xi . O termo da pressão pode ser reescrito como ! ∂ 1 ∂P ∂P 1 1 ∂℘ ∂P ϵnqi = ϵnqi + 2 ϵnqi , ∂xq ℘ ∂xi ℘ ∂xq ∂xi ℘ ∂xq ∂xi ∂℘ ∂P 1 , = 0 + 2 ϵnqi ℘ ∂xq ∂xi 1 ∂ [∇℘ × ∇P] . = 2 (C.13) ℘ ∂xn Por fim, o último termo do lado direito de (C.9) pode ser reescrito como, ! ∂ ∂Ωk ∂ 2 Ωk νu ϵnqi ϵijk =νu (δnj δqk − δnk δqj ) , ∂xq ∂x j ∂xq ∂x j ! ∂ 2 Ωk ∂ 2 Ωn =νu − , ∂xk ∂xn ∂x j ∂x j ∂ 2 Ωn =0 + νu . (C.14) ∂x j2 Juntando Reunindo os termos (C.10)–(C.14) na equação (C.9), mudando o índice n para i e rearranjando os termos, obtemos a equação geral da vorticidade, ∂Ui DΩi 1 ∂ ∂ 2 Ωn [∇℘ × ∇P] + νu . = Ωj + 2ϖ j + Dt ∂x j ℘2 ∂xi ∂x j2 (C.15) O lado esquerdo da equação representa a taxa de variação da vorticidade seguindo uma partícula de fluido, ao passo que o último termo do lado direito representa a taxa de variação de Ωi devido à difusão molecular de vorticidade. O Você quis dizer ∇ · U = 0? 165 – primeiro termo à direita da igualdade representa a mudança na vorticidade devido ao esticamento, stretching em inglês, e ao entortamento, tilting, enquanto o segundo termo representa a taxa de geração de vorticidade devido à baroclinicidade do escoamento. Desconsiderando os efeitos da aceleração de coriolis e considerando o fluido barotrópico, a equação da vorticidade simplifica-se em ∂Ui ∂ 2 Ωn DΩi = Ωj + νu . Dt ∂x j ∂x j2 (C.16) Por fim, a decomposição de Reynolds da vorticidade é Ωi = hΩi i + ω. (C.17) Beautiful: você sabe direitinho o que é baroclinicidade? D Constantes físico-químicas 1 cal = 4,1868 J. 166 E Equação de estado para a água A equação de Tumlirz adapatada por Fischer e Jr. (1975) é V = V∞ (T ) + λ(T ) P0 (T ) + P (E.1) λ = 1788.316 + 21.55053T − 0.4695911T 2 + 3.096363 × 10−3T 3 − 0.7341182 × 10−5T 4 , (E.2) 2 −3 3 P0 = 5928.499 + 58.05267T − 1.1253317T + 6.6123869 × 10 T − 1.4661625 × 10−5T 4 , (E.3) V∞ = 0.6980547 − 0.7435626 × 10−3T + 0.3704258 × 10−4T 2 − 0.6315724 × 10−6T 3 + 0.9829576 × 10−8T 4 − 0.1197269 × 10−9T 5 + 0.1005461 × 10−11T 6 − 0.5437898 × 10−14T 7 + 0.1699460 × 10−16T 8 − 0.2295363 × 10−19T 9 (E.4) 167 Referências Bibliográficas Adkins, C. J. (1983). Equilibrium thermodynamics. Cambridge University Press, New York. Batchelor, G. K. (1959). Small-scale variation of convected quantities like temperature in turbulent fluid. Part 1. General discussion and the case of small conductivity. J. of Fluid Mech., 5:113–133. Batchelor, G. K. (1967). An introduction to fluid dynamics. 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