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ROTA NORDESTE NORDESTE OFF-ROAD Viajar em um veículo 4X4 pela praia é uma maneira diferente de curtir as belezas de Jericoacoara, Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses POR LUÍS PATRIANI FOTOS ALEXANDRE CAPPI 114 REVISTA GOL A bordo do Land Rover, a chegada por uma duna na praia de Paracuru (CE) REVISTA GOL 115 ROTA NORDESTE personalidade forte do povo nordestino. Na praia de Flexeiras, onde acontece o primeiro pernoite, seu José, um pescador de 62 anos, brinca com os novatos que estão prestes a se lançar no mar em busca de peixes galo-do-alto e camurupim, que chegam a pesar 100 quilos. “Na minha época a gente se guiava pelas estrelas. Hoje é mais fácil por conta das luzes da plataforma de petróleo”, diz ele, com nostalgia. No dia seguinte, para prosseguir a rota rumo a Jericoacoara, a fotogênica barra do rio Mumbaú, cercada por dunas e águas cristalinas, tem de ser transposta em uma balsa movida a varas. A rusticidade da embarcação mostra o que está por vir do outro lado da foz. Nessa parte do litoral, entre as vilas de Mumbaú e Icaraí, não existem estradas e muitas comunidades ainda têm de usar geradores a diesel para ter algumas horas de energia elétrica. As Fortaleza. Oito da manhã. Com o sol firme no céu é hora de dar a partida e começar a expedição off-road pela costa nordestina em direção a Jericoacoara, Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses. A capital cearense vai ficando para trás enquanto iniciamos a viagem de 700 quilômetros. Do lado esquerdo, imensas dunas brancas se impõem à vista. À direita, o oceano se mostra tão verde quanto convidativo para um mergulho. O vento pode ser notado através das dezenas de jangadas e equipamentos de kitesurf que deslizam pelas águas do Atlântico. Conforme a paisagem passa pela nossa janela, o Land Rover faz valer sua tração nas quatro rodas e segue pela praia, ora transpondo montes de areia, ora fugindo da maré-cheia. Pará-lo, só por um escargot feito por um chef francês. Essa excentricidade tem endereço e explicação: em Taíba, uma pequena vila a 76 quilômetros de Fortaleza, vive uma expressiva comunidade de franceses que se dá ao luxo de promover anualmente o festival de escargot, que acontece em agosto, desde 1998. Jean Luc e Nadia, nascidos em Nice e proprietários do restaurante Volta ao Mundo, aportaram no local há 12 anos, depois de rodar 70 mil quilômetros num 116 REVISTA GOL motor-home pelo continente americano. “Faz 15 anos que não visito meu país. Vou agora porque estou com saudades de esquiar”, diz Jean, que também é instrutor de kitesurf e celebra os ventos que sopram por aqui. “São os melhores do mundo. Constantes, unidirecionais e sem turbulências”, observa. Depois de degustar um escargot ao alho e salsa, servido com uma cesta de pão de alho, pelo convidativo preço de R$ 15, resta botar o pé, ou, melhor, as rodas na areia novamente. O mar sobe, a praia encurta e o caminho segue por dentro da restinga, onde resistentes árvores do semiárido, como sabiá, cajueiro e carnaúba, simbolizam a Em sentido horário, a partir da foto no alto, à esq.: vista do mirante na praia de Taíba (CE) com torres de energia eólica ao fundo; escargot ao alho e salsa do restaurante Volta ao Mundo; kitesurfistas prestes a entrar no mar da praia da Lagoinha (CE); e o pôr do sol em Jericoacoara (CE) NO RESTAURANTE VOLTA AO MUNDO, EM TAÍBA, HÁ DIVERSAS VERSÕES DE ESCARGOT cenas que seguem na praia de Caetano falam por si: enquanto o pescador joga a rede para sua subsistência, um carro de boi passa carregado de tijolos e um morador caminha impassível, assim como sua mula. A viagem continua. O calor do sol, que dilata os grãos de areia deixando as dunas mais fofas, também. O veículo escapa de possíveis atolamentos sem maiores dificuldades e já deixa para trás o povoado de Icaraí, conhecido por seus gigantes cataventos de energia eólica e por uma das maiores produções de camarão e melão do Brasil. O objetivo é chegar em Jeri a tempo de ver o seu famoso pôr do sol, já que o balneário, por ser voltado para o oeste, é um dos raros pontos do Brasil em que o grande astro se esconde no mar no fim do dia. Enquanto o exclusivo espetáculo celeste não chega, a atração fica por conta da igreja da Vila de Almofala, a segunda mais antiga do Ceará (foi inaugurada em 1712), que foi soterrada pelas dunas em 1897 e desenterrada 45 anos depois por seus moradores. São 18h40 em Jericoacoara. O sol cumpre o combinado e começa a mergulhar no oceano. Os turistas aplaudem. Os raios salpicam as nuvens de diferentes tonalidades. A luz diminui, aos poucos. O som da roda de capoeira aumenta de volume e entra pela noite. Alheia ao jogo de pernas, a italiana REVISTA GOL 117 ROTA NORDESTE 118 REVISTA GOL Em sentido horário, a partir da foto acima: a italiana Laura Squeri em Jericoacoara (CE); banhistas na lagoa Azul (CE); e bangalôs do hotel Villa Mango Beach, em Icaraizinho da Amontada (CE) Paulino Neves Parnaíba SÃO LUÍS Jericoacoara Flexeiras FORTALEZA TERESINA MARANHÃO CEARÁ PIAUÍ MAPA ELOHIM BARROS Laura Squeri, gerente de marketing do hotel My Blue Hotel, reafirma sua decisão de morar no recanto cearense. “Fiquei encantada com o clima e a atmosfera de Jeri desde que estive aqui de férias em 2008. Fui para Milão e no mesmo ano já estava de volta definitivamente.” O terceiro dia de expedição começa, dessa vez cruzando mangues secos que sucumbiram ao avanço do mar e vilas desaparecidas sob o areal, como a Velha Tatajuba, uma antiga vila que foi soterrada. Hoje uma nova vila foi construída ao lado da antiga e se chama Nova Tatajuba. De repente, a imensa duna do Funil surge como uma parede móvel. Lá em cima, além da vista, o programa é descer seus 40 metros de altura sobre pranchas de madeira, seja de pé (sandboard) ou sentado (esquibunda), a exemplo de Glaucia Viscaino, 34 anos, e sua filha, Flavia, 7, de Fortaleza. “A sensação é indescritível. É uma mistura de medo e liberdade”, define a mãe. De volta ao carro, surge a tranquila e preservada praia de Barra Grande, já no Piauí, morada de um peculiar animal cujo macho é responsável pela gestação. O encontro com o grupo de cavalos-marinhos está marcado para o dia seguinte. Às nove em ponto, lá estão eles, alimentando-se de microcrustáceos no estuário do rio Camurupim, considerado o segundo maior manguezal em bom estado de conservação do Nordeste. Observar esses frágeis peixes (só 20% dos filhotes sobrevivem) de dentro da canoa é tão fácil quanto a forma com que alguns baiacus adultos os devoram sem cerimônias. Não muito longe daqui (o litoral piauiense tem apenas 66 quilômetros de extensão), já na divisa com o Maranhão, outra espetacular atração criada pela natureza se faz esperar. Seu nome é Delta do Parnaíba, o único das Américas em mar aberto. Para entendê-lo é preciso recorrer à anatomia da mão. Imagine a palma com os dedos abertos. Agora troque a imagem pelo rio Parnaíba, que 25 quilômetros antes de chegar ao mar se divide em cinco grandes braços. Para desbravar sua intrincada geografia, composta de igarapés, canais e cerca de 73 ilhas, é preciso deixar o carro e embarcar numa lancha tipo voadeira. REVISTA GOL 119 ROTA NORDESTE A bordo da rápida embarcação, é possível se aventurar por uma área de 2.700 quilômetros quadrados onde o desafio, além de achar o caminho, é escolher o que fazer entre tantos atrativos. Pode-se começar por um típico robalo grelhado feito pelo Osvaldo, na Ilha das Canárias, depois ver um grupo de macacos bugios descansando no alto do mangue-vermelho (as árvores chegam a 30 metros de altura) e observar a revoada dos guarás no fim da tarde, quando as aves de penas vermelhas se dirigem em bandos para o local onde passarão a noite. O último dia da expedição é em direção aos Lençóis Maranhenses. A entrada se dá pela pequena cidade de Paulino Neves, onde começam a se formar os pequenos lençóis, um campo de dunas e lagos semelhantes aos grandes lençóis, mas que se difere no tamanho e na composição da areia, mais grossa e menos branca. A primeira parada, já em um Onde ficar RESTAURANTE CARCARÁ R. do Forró, 530, Jericoacoara, CE. Tel.: (88) 3669-2013. REDE BEACH RESORT & SPA R. Principal, praia de Guajiru, CE. Tel.: (85) 3351-3086. www.rede-resort.com. br. Diárias para casal a partir de R$ 215. RESTAURANTE BANDOLEIROS R. Pontal da Barra, 326, Barra Grande, PI. Tel.: (86) 3369-8123. VILLA MANGO BEACH BUNGALOWS R. Lagoa Verde, s/n. Icaraizinho da Amontada, CE. Tel.: (88) 3636-3089. www.villamango.com.br. Diárias para casal a partir de R$ 230. RESTAURANTE RECANTO DOS PÁSSAROS Ilha das Canárias, s/n, Delta do Parnaíba, PI. Tel.: (86) 9977-4411. Quem leva MY BLUE HOTEL R. Ismael, s/n, Jericoacoara, CE. Tel.: (88) 3669-2203. www.mybluehotel.com.br. Diárias para casal a partir de R$ 300. MARESIA VIAGEM & TURISMO R. Pereira Filgueiras, 2020, sala 108, Fortaleza, CE. Tel.: (85) 3458-1808. www.fortaleza.tur.br. POUSADA BGK R. Pontal da Barra, 205, Barra Grande, PI. Tel.: (86) 3369-8019. www.barragrandekitecamp. com.br. Diárias para casal a partir de R$ 180. EXTREMO NORDESTE XPEDITIONS Tel.: (85) 9988-5621. www.extremonordeste.com. POUSADA VILA PARNAÍBA R. Monsenhor Joaquim Lopes, 500, Parnaíba, PI. Tel.: (86) 3323-2781. www.pousadavilaparnaiba.com.br. Diárias para casal a partir de R$ 125. POUSADA ENCANTES DO NORDESTE R. Boa Vista, s/n, Barreirinhas, MA. Tel.: (98) 3349-0288. www.encantesdonordeste.com.br. Diárias para casal a partir de R$ 254. Onde comer RESTAURANTE VOLTA AO MUNDO R. Capitão Inácio Prata, 8, praia da Taíba, São Gonçalo do Amarante, CE. Tel.: (85) 3315-6053. RESTAURANTE MANZARI Av. Beira Mar, s/n, praia da Lagoinha, Paraipaba, CE. Tel.: (85) 3363-5022. 120 REVISTA GOL NO RIO CAMURUPIM, OS CAVALOS-MARINHOS SÃO UMA ATRAÇÃO À PARTE ECO ADVENTURE TOUR Av. Presidente Vargas, 26, Parnaíba, PI. Tel.: (86) 3323-9595. www.ecoadventure.tur.br. AVENTUR ECOTURISMO Av. Presidente Vargas, 2, Parnaíba, PI. Tel.: (86) 3321-3002. www.aventurecoturismo.com.br. TROPICAL ADVENTURE EXPEDIÇÕES R. Anacleto de Carvalho, 260, Barreirinhas, MA. Tel.: (98) 3349-1987. www.tropicaladventure.com.br. SÃO PAULO ECOTURISMO R. Antonio Dias, 3, Barreirinhas, MA. Tel.: (98) 3349-0079. www.saopauloecoturismo.com. Em sentido horário, a partir da foto no alto, à esq.: bando de guarás no Delta do Parnaíba (PI); cavalo-marinho no rio Camurupim, em Barra Grande (PI); stand-up paddle no rio Preguiças (MA); e o faroleiro Zé Lico e seu filho Lucas em um cajueiro próximo à vila de Mandacaru (MA) ESPÍRITO DE AVENTURA Av. Rodoviária, 101, Barreirinhas, MA. Tel.: (98) 3349-5012. www.espiritodeaventura.com.br. REVISTA GOL 121 ROTA NORDESTE Em meio às dunas, a perene lagoa do Peixe oferece um refresco nos Lençóis Maranhenses VOOS PARA FORTALEZA (FOR) — GOL barco, é na foz do rio Preguiças, ponto em que rio e mar se confundem. Logo ao lado, numa antiga desembocadura, cuja saída para o oceano foi fechada por uma barreira natural de areia, é possível remar tranquilamente sobre uma prancha de stand-up paddle, atividade adotada recentemente na região. A poucas remadas dali, no alto do farol Preguiças, na vila de Mandacaru, a vista se favorece dos 40 metros de altura da torre e seu ângulo de 360 graus para deixar olhos e bocas abertos. “É lindo! Nunca vi nada igual”, diz Saulo Henrique Carlessi, 21 anos, de Recife. Lá embaixo, alheio às exclamações dos turistas, o faroleiro Zé Lico, 65 anos, que trabalha aqui desde 1970, diz sentado ao lado do filho Lucas que está chegando a hora de passar o bastão. “Meu pai e meu avô foram faroleiros em Mandacaru. O próximo será ele”, aponta com orgulho para o caçula de 8 anos. A expedição está próxima do fim. A derradeira missão, antes de seguir para a capital, São Luís, é encontrar uma lagoa cheia nos Lençóis Maranhenses, tarefa difícil nesta época do ano, já que o deserto está praticamente seco. O esperado 122 REVISTA GOL ORIGEM SAÍDACHEGADA Belém (BEL) 15h09 17h05 Rio de Janeiro (GIG) 21h06 23h15 Belo Horizonte (CNF) 22h32 00h26 Acesse www.voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte seu agente de viagens. VOOS PARA SÃO LUÍS (SLZ) — GOL ORIGEM SAÍDACHEGADA São Paulo (CGH)* 07h50 14h10 Fortaleza (FOR) 09h10 10h20 Rio de Janeiro (GIG) 22h08 00h30 Acesse www.voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte seu agente de viagens. *Conexão em Brasília (BSB). mergulho se dá na perene lagoa do Peixe, depois de uma caminhada de 30 minutos atravessando dunas e lagoas vazias do parque nacional de 155 mil hectares (equivalente ao tamanho da cidade de São Paulo). Como era de se esperar, a piscina natural formada pelas águas das chuvas e do lençol freático está lá, para fechar de maneira refrescante a rota off-road pelo litoral nordestino.
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