Aumento nos registros de suicídios preocupa
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Aumento nos registros de suicídios preocupa
Cidades Campo Grande - MS | Quinta-feira, 23 de abril de 2015 oMatoEstado B5 Grosso do Sul Alerta Aumento nos registros de suicídios preocupa Corpo de Bombeiros atendeu a 97 tentativas neste ano; 14 pessoas conseguiram tirar a própria vida Cleber Gellio Cristina Livramento O Corpo de Bombeiros registrou, neste ano, aumento de 38% no número de tentativas de suicídio em Campo Grande. Nos primeiros quatro meses de 2015, o número de pessoas que conseguiram tirar a própria vida na Capital foi quatro vezes maior que no mesmo período de 2014. Tanto é que, neste mês, em uma só semana, dois casos na cidade chamaram a atenção e tiveram grande repercussão, principalmente nas redes sociais. A situação preocupa quem atua no combate à depressão –questão de Saúde Pública– e a este ato, que, pode parecer individual, mas causa graves consequências para famílias e para a sociedade. De acordo com o membro do Conselho Diretor do CVV (Centro de Valorização da Vida) e do Befrienders Worldwide, Robert Paris, toda pessoa pede socorro de várias maneiras, antes de atentar contra a própria vida. “A pessoa pode ter falado em código, de uma maneira que você não acreditou”. Em 2014, os bombeiros registraram 305 ocorrências, das quais 35 foram consumadas e 270 não se concretizaram. Neste ano, os registros da corporação já contabilizam 111 casos - um a cada dia -, das quais 97 foram tentativas. Nos primeiros quatro meses do ano passado, três pessoas tiraram a própria vida. Neste ano foram 14 casos. Apesar do tabu, o suicídio de um advogado de 29 anos e uma estudante de 28 anos do curso de Matemática da Uniderp/ Anhanguera, respectivamente nos dias 12 e 13 de abril, viraram comentário em toda a cidade. E, para especialista, este é um assunto que precisa ser debatido. Especialista afirma que desejo de deixar a vida não é ‘frescura’ Robert Paris explica que, infelizmente, quando alguém manifesta o desejo de não viver mais, acreditamos que a atitude dela não passa de “fricote”. Dois motivos impedem que esse diálogo aconteceça, segundo o especialista: “o fato de não gostarmos de gente infeliz e a nivelação da dor do outro a partir de nossas referências pessoais”. “Ouvir o outro requer um esforço do interlocutor. A gente Bombeiros recebem ligações diárias, na central de emergência, de pessoas que precisam de socorro para alguém que atenta contra a própria vida quer ouvir pessoas que estão de bem com a vida, quando a pessoa não está é como se nossos ouvidos não quisessem ouvir”, ressalta Paris. Quando a pessoa já verbalizou a vontade e não foi ouvida, ela passa a dar sinais não verbais. As atitudes, explica o diretor do CVV, como deixar de estudar, de fazer as obrigações, descuidar da saúde e com a higiene são indícios que a pessoa está largando a vida. “É um processo longo no qual a pessoa se isola e passa a achar que não existe uma perspectiva de que a vida vai melhorar”, continua o diretor. Para que esse cenário de negatividade seja desconstruído, o CVV além de atender pelo número de telefone 141 também aconselha que a pessoa procure um acompanhamento médico especializado. Pensar em tirar a própria vida não é um fato incomum. O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) ressaltam que 17% das pessoas no Brasil já pensaram, em algum momento, em suicídio. Para o psiquiatra integrante da ABP, Fábio Gomes, o maior erro quando se fala neste assunto é achar que se trata de uma atitude covarde. Gomes define o ato de tirar a própria vida como uma mistura de desesperança, desespero e desamparo. “Suicídio não é uma coisa simplista”. Ele ainda diz que três perguntas são fundamentais para detectar a ideação suicida: Você tem planos para o futuro? A vida vale a pena ser vivida? Se a morte viesse agora, ela seria bem-vinda? “A pessoa que pensa em atentar contra a própria vida quer acabar com o sofrimento”, explica o membro do Conselho Diretor do CVV, Robert Paris. Acolhimento e compreensão são duas atitudes importantes para lidar com quem sofre. “Não dá para agarrar a pessoa e levar para o hospital. Salvar é fazer com que a pessoa sinta que alguém compreende a sua realidade”. (CL) Atendimento especializado e preventivo deveria ser garantido pelos Caps, diz psiquiatra integrante da ABP Ao contrário do que diz o Ministério da Saúde, a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) afirma que nenhum dos 2.209 Caps (Centros de Atenção Psicossocial), distribuídos pelo país, tem atendimento especializado de prevenção ao suicídio. O psiquiatra e membro da Comissão de Estudos de Prevenção ao Suicídio da entidade, Fábio Gomes, considera a realidade atual “um absurdo”. “Somos o oitavo país do mundo em número de suicídio e a gente não tem plano (de combate)”, comentou Gomes. O psiquiatra é enfático ao contradizer os dados divulgados pelo Ministério da Saúde que aponta o Brasil como um dos 28 países com estratégia de prevenção e que a rede pública oferece acompanhamento psicológico e psicoterápico para quem precisa de socorro. “É só fazer um teste. Liga para um Caps da sua cidade. Eles não têm atendimento”, desafia Fábio Gomes. Algumas ações de ‘Cidade Limpa’ Mutirão da prefeitura chega a três bairros da Capital nesta semana Gerson Walber/PMCG Leandro Abreu O programa “Cidade Limpa”, da Prefeitura de Campo Grande, chegou nesta quarta-feira (22) nos bairros Universitário –região sul–, Vida Nova –no norte da cidade– e na saída para São Paulo. Ações de limpeza e reparos nas ruas e terrenos dos bairros usam maquinários e o objetivo é concluir o projeto até agosto, no aniversário da Capital. Segundo a prefeitura, equipes e caminhões passam de bairro em bairro cuidando da limpeza, manutenção de áreas públicas e sinalização das ruas. De acordo com a Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação), o “Cidade Limpa” conta com aproximadamente 1,5 mil profissionais e mais 200 má- Pesquisa indica que 17% da população já pensou em atentar contra si No Universitário, duas pás-carregadeiras e cinco caminhões fazem a limpeza quinas, entre pás-carregadeiras e caminhões para a remoção do lixo. Ainda conforme a prefeitura, somente no bairro Universitário estão trabalhando duas pás-carregadeiras e cinco caminhões. A população dessas regiões se disse satisfeita com a chegada do mutirão de limpeza. “Nós acompanhamos as notícias do aumento dos casos de dengue e com este trabalho nosso bairro não correrá mais este risco”, afirma a moradora do Universitário, Elisabeth Leque. O serralheiro Juniel Ribeiro disse que a limpeza está modificando o bairro. “Com esta limpeza, o bairro fica com aspecto diferente”, completou. (Com assessoria) prevenção são óbvias para o médico, uma delas é que as prefeituras construam barreiras em determinados lugares que impeçam a pessoa de atentar contra a vida. A comissão foi criada com o objetivo de alertar a população sobre o assunto, principalmente, as que já tentaram e as que possam vir a pensar em cometer tal atitude. Outras duas ações que a ABP pretende fazer é criar meios para se divulgar locais onde as pessoas possam ser atendidas e para que o Google, em seu sistema de pesquisa, priorize a valorização da vida e não o contrário. O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP, em uma parceria, criaram uma cartilha, publicada em 2014, para orientar médicos e profissionais da área de saúde “para identificarem ‘ideação suicida’ em seus pacientes”. A cartilha “Suicídio: informando para prevenir” está disponível na internet. (CL)