superman - Maestrando
Transcrição
superman - Maestrando
SUPERMAN PELA ETERNIDADE BY BARBARELLA 2012 Nós aprendemos... Quando somos confrontados pelo passado, nós aprendemos. Quando somos lançados ao futuro, nós aprendemos. Visualizamos os detalhes que nos fazem ser quem somos, as transformações que nos permitem amar ou odiar, sorrir ou chorar. Aprendemos que existem aqueles com quem podemos contar, e aqueles a quem podemos nos doar... Mesmo quando o nosso destino é doar tudo de nós à humanidade, por toda a eternidade. Minha jornada começa muitos anos depois do mundo conhecer o seu maior herói. Muitos anos depois do filho de Krypton aterrissar em Smallville, assumir o seu manto azul e vermelho, tomar os céus de Metropolis como um falcão Rei e exercer o seu reinado de esperança ao lado de grandes heróis que fizeram da Justiça o seu maior legado. Muitos anos depois de ele conhecer a mulher com quem viria a se casar, dividir com ela os holofotes do Daily Planet e tudo aquilo que ele não poderia dividir com mais ninguém, seu fardo e seu ônus. Muito depois de ele admitir para o grande amor de sua vida que ela a tornava humano, que a humanidade estaria para sempre vinculada ao seu coração, pois ela jamais sairia de lá. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, já diriam alguns. Mas quando se tem o poder de deuses, as responsabilidades fogem ao que é humanamente possível. Você se dá conta de que o limiar entre a vida e a morte jaz em suas mãos, e só há uma coisa a ser feita. Mesmo que se ame ou se odeie, mesmo que esteja a sorrir ou esteja a chorar. Seja a vida de seu maior amor, seja a de seu maior inimigo... Só há uma coisa a ser feita. Esta é a minha jornada. CAPÍTULO 1 Metropolis, 2034. Noite. O caminhão atravessou o espaço entre os prédios como se fosse um míssil e se chocou com força contra a Shuster Sports Arena. Não teria sido tão terrível se o posto de gasolina ao lado do Estádio já não estivesse danificado e gerasse a explosão que se seguiu, tomando parte do quarteirão científico de Metropolis. A gigantesca bola de fogo tomou o ar com violência, mostrando a todas as pessoas em Metropolis que era mesmo muito grave a situação que se iniciara há menos de duas horas atrás. Se o caminhão em si não era um míssil, as pessoas continuavam a correr em desespero pelas ruas porque sabiam que havia de fato mísseis sendo atirados dos céus. Não exatamente dos céus, mas daquelas estranhas máquinas que cruzavam as ruas imponentes, majestosas de uma maneira contorcida e surreal. Eram como leviatãs de aço, caminhando sem controle e espalhando a destruição sem encontrar os grandes limites que eram esperados ao menos pelo seu criador. Eles realmente seriam menos letais se não houvesse algo muito pior para a Liga da Justiça se preocupar. O quarteirão atingindo pelo caminhão ainda era alvo da destruição provinda pelos mísseis, que pareciam ter um alvo preciso em meio à multidão. Milhares de pessoas buscavam desesperadamente evacuar a área, mas para onde poderiam fugir se aquele caos tomara toda a cidade? Alguns ainda tentavam escapar com seus carros, outros subiam em altos prédios. A grande maioria corria aterrorizada em direção às grandes pontes que os levariam para fora dos limites de Metropolis, mas não podia se dar conta de que pelo menos quatro das seis pontes já estavam submersas por conta dos primeiros ataques. A esperança da população de Metropolis morria a cada esquina cruzada, a cada rua sem saída que se deparavam. Era o apocalipse anunciado por muitos, mas que poucos acreditaram. E aqueles que supostamente estavam ali para defendê-los da fúria do mal simplesmente não podiam com as forças que alimentaram. Em meio ao tumulto e correria dos cidadãos, um homem prosseguia em silêncio, vencido. Trazia em seus braços uma mulher desfalecida, cujo sangue já não era possível conter. Ele vestia o manto negro de um dos maiores heróis que o mundo conhecera, mas nem mesmo o grande vigilante de Gotham poderia ir contra a destruição instalada em Metropolis. Era muito maior do que seus poderes. Nenhuma dor, no entanto, era igual a que estava sentido por ter aquela mulher praticamente morta em seus braços, como a dor de ver outros de seus companheiros mortos por toda a cidade. O próprio cavaleiro das trevas estava ferido, com seu uniforme rasgado em tantos lugares que talvez fosse melhor se desfazer dele. Mas ele precisava seguir em frente, desesperadamente. Enquanto houvesse esperança para salvar ao menos uma pessoa, ele seguiria em frente. Quando ele finalmente alcançou os limites do Centennial Park, olhou para o alto incerto do que iria acontecer. Um grande robô, com metade da altura do Daily Planet, pisava com força entre as árvores do parque, matando pessoas como se fossem insetos. A máquina de matar lançou seu olhar em volta, guiando-se por um raio vermelho que era como um scanner para ela, permitindo-a que encontrasse o que quer que estivesse procurando. Quando ela direcionou o raio para o homem de uniforme negro e a mulher em seus braços, ele relatou para si próprio, com a convicção de um computador perfeito: ALVOS IDENTIFICADOS: ALVO PRIMÁRIO, LOIS LANE, JORNALISTA. ALVO SECUNDÁRIO, BATMAN. PROTOCOLO DE AÇÃO, ELIMINAR ALVOS. O raio vermelho de identificação se dissipou na face metálica do grande robô e Batman entendeu que não havia como escapar. Ele não tinha mais recursos nem forças e estava na mira do inimigo. A grande máquina apontou o braço na direção dos dois e preparou o míssil derradeiro, mas antes que o fizesse, sua cabeça rolou pelo solo do Centennial Park como um strike bem feito. A onda de energia que provocara o dano dissipou pouco antes da máquina ir ao chão completamente, para o alívio temporário das pessoas que ali estavam. E o alívio maior veio para Batman, que viu um grande helicóptero negro sobrevoar a máquina vencida, seguindo na direção dele até pousar. Dentro do helicóptero de laterais abertas, uma mulher loira surgiu preocupada, saltando do helicóptero e correndo na direção do herói. - Você está bem? – perguntou Canário Negro, a grande responsável pela onda de energia que destruíra o robô. - Preciso de ajuda, Dinah! – Batman disse preocupado, nervoso pelo estado de Lois em seus braços. Canário o ajudou a carregar a jornalista ferida para o helicóptero, deitando-a com cuidado. No controle do veículo estava o Arqueiro Verde, tão ferido quanto Batman. O herói com seu suntuoso cavanhaque loiro olhou para o morcego tentando encontrar nele um sinal de esperança. Não foi o que achou. - O que houve com ela? – O Arqueiro levantou vôo novamente da forma mais rápida que encontrou. - Wonderland inteiro está em chamas, ela estava perto do Estádio quando explodiu tudo! - Está acontecendo pela cidade inteira – Canário explicou tensa – Mas não é o pior. - O que pode ser pior? – perguntou Batman. Oliver preferiu não fita-lo, mas olhar a destruição ao seu redor, com as dezenas de robôs que assumiam o controle de Metropolis – Oráculo captou uma ruptura do espaço-tempo alguns minutos atrás. Luthor ativou a máquina! O helicóptero sobrevoou boa parte de Metropolis até alcançar uma construção à beira do rio que percorre a cidade. O grande logo do S.T.A.R.S. podia ser visto já na área de pouso do helicóptero, o qual desceu veloz. Batman desceu com Lois nos braços novamente, andando de maneira rápida com Canário ao seu lado. O Arqueiro levantou vôo novamente, certo de que não podia fazer nada mais além de retornar à batalha e dar o melhor de si. Batman e Canário tinham sua própria missão agora. Os dois heróis cruzaram os corredores do grande laboratório o mais rápido que puderam até encontrar Dr. Emil e uma dúzia de assistentes, indo na direção deles com uma maca. Imediatamente colocaram Lois sobre ela e iniciaram os primeiros socorros sob o relato tenso do Batman: - A encontrei sob uma pilha de destroços, ela não reagiu em momento algum! - Vamos levá-la, rápido! – O cientista disse buscando os sinais vitais da jornalista, que mostrava nos finos traços de seu rosto os mais de quarenta anos de vida, embora o corpo fosse firme como uma mulher de vinte. A própria Canário trazia consigo o peso da idade, assim como Emil, tomado pelos fios grisalhos em sua cabeça. Batman era uma exceção, contudo. Quando enfim tirou sua máscara dentro do laboratório médico, deixou evidente que sua identidade já não era a mesma de tempos mais remotos. Ele não era o mesmo. - Precisamos entrar em contato com Clark, rápido! – Dick Grayson disse com sua atenção dividida entre Canário e a movimentação em torno de Lois Lane – Se Luthor ativou a máquina, somente ele pode parar tudo isso! Canário pegou um comunicador preso ao seu cinto e Grayson voltou a atenção para Emil. As coisas haviam ficado infinitamente piores: - Sem batimentos! – berrou um dos atendentes com um aparelho colado ao peito de Lois – Ela não responde! - Preparar para desfibrilar, vamos! – Emil ordenou retirando os aparatos sobre o peito de Lois e rasgando sua blusa – Começar em 300! Os médicos usaram o desfibrilador uma, duas vezes, até que o próprio Batman se juntou ao time e começou ele próprio a fazer a massagem cardíaca enquanto os demais tentavam fazer o que era possível. Contudo, o olhar de Emil dizia que nada mais era possível. - Ela está morta – o Dr. Falou relutante consigo próprio. Aquilo não fez com que Dick parasse, ao contrário. O incentivou a pressionar o peito de Lois com mais força. - Não, ela vai conseguir! Vamos!! - Dick... – Canário segurou os braços dele, contendo a tristeza em seu olhar – Ela se foi... Dick olhou para Lois Lane, para seu braço pendurado ao lado da maca e todo o sangue em volta. Os ferimentos haviam sido severos, mas ele acreditou até o último instante que ela poderia conseguir. Ele conseguia ouvir a respiração dela por todo o caminho, o fio de esperança que o guiara até Centennial Park, até seus amigos. Mas o destino dela já estava traçado e ele não se deu conta. Batman deu as costas para a jornalista morta, para os médicos que prestavam respeito, e caminhou um pouco pela sala. Chutou uma mesa de equipamentos tomado pela raiva e pela dor. Lois Lane era mais do que uma amiga para todos eles. Era um ícone. - A máquina, Dick.. – Canário o recordou, ela própria tomada pela dor da perda – Ainda há uma chance. Precisamos falar com Clark. Batman olhou para a mão da Canário e pegou o comunicador para si, gentilmente. Procurou juntar o que lhe restava de forças para segurar sua voz, o que não poderia fazer jamais com seu olhar triste. Virou-se para Lois Lane novamente, admirando-a em seu último leito. Smallville, 2034. Noite. A quilômetros de distância de Metropolis, a pequena cidade de Smallville também encontrara seu algoz, mas um muito diferente do que acometia o centro do mundo. O famoso milharal, marca registrada de Smallville, estava tomado pelas chamas. Ao norte, a casa que servira de lar para o jovem Clark Kent estava completamente destruída, como se tivesse sido atingida por um grande tornado, o que não deixava de ser verdade. Uma jovem mulher de cabelos longos e negros, vestida em uma espécie de uniforme preto com detalhes em prateado, correu para dentro do celeiro e ligou o seu comunicador. - Dinah? – ela disse ao reconhecer a freqüência, mas a voz masculina do outro lado a surpreendeu. - Sou eu – respondeu Dick Grayson – Onde está? - Smallville – a jovem respondeu recuperando o fôlego – Você a encontrou? Ela está bem? - Ela... Está Morta – Dick disse olhando para o corpo de Lois, sem saber de que outra maneira poderia dizer aquilo. Um grande silêncio se fez da parte da jovem no celeiro escuro. Aquilo era mais do que ela podia processar. Dick Grayson, contudo, não permitiu que ela fosse tomada completamente pela notícia. Havia mais. - Lex Luthor acionou a máquina, Lara. Precisamos detê-lo! - Não foi Lex... – foram suas últimas palavras antes de desligar o comunicador. Olhou para o lado mais escuro do celeiro e caminhou abaixada até lá. Olhou para o escuro como se visse além dele. Seus olhos azuis estavam inundados pela tristeza. Mas não era o único. Nas sombras, um outro olhar azul se confrontava ao de Lara. Era mais velho, mais experiente, mas continha em si um sofrimento incomparável. O homem nas sombras também usava um uniforme e estava tão ferido quanto a própria jovem. Seu rosto se desenhava parcialmente por meio de um pingo de luminosidade provindo da luz do luar que adentrava sorrateiramente o celeiro. Mostrava o quão destruído ele estava por causa da notícia que Lara recebera. Ela não precisou dizer nada, pois sabia que ele escutara tudo. Era o fim de uma história que não merecia ter aquele fim trágico. O homem nas sombras ergueu a mão na direção de Lara, evidenciando os dois cristais que estava a segurar. Apesar da dor que o consumia, ele procurou a lucidez para delegar o último fio de esperança. - Estes são os últimos cristais. Só há uma chance de deter Luthor, uma única chance para que isso dê certo. Eu lhe darei cobertura, você irá alcançar aquela máquina... Você sabe como carregar os cristais e depois que o fizer, não haverá volta, Lara... - Não! – Lara disse lacrimejando, seu rosto vermelho pelas lágrimas – Aquela coisa lá fora... Irá matá-lo! O homem fitou Lara, a dor dela como a sua própria, as lágrimas dela como as que não podiam mais ser contidas nele próprio, - Eu não posso viver em um mundo sem aqueles que eu amo... Em um movimento gentil e cuidadoso, o homem retirou uma pequena aliança de sua mão esquerda e entregou à jovem: - Leve com você, conte a história – ele explicou – E siga em frente, sem olhar pra trás. Lara lutava relutante contra os seus desejos, mas sabia que era o que precisava ser feito. Olhou para o homem e o abraçou com força, selando um triste adeus. Olhou então para a saída traseira do celeiro e correu em sua direção. Quase simultaneamente a ela, o homem também se levantou, voltando-se para a dianteira. À sua frente, a visão do seu inimigo último, distorcida pelas fortes luzes que ainda permaneciam vivas na fazenda. Dentro da escuridão do celeiro, contudo, só era possível ver a cintilante capa vermelha e o grande S desenhado na altura das costas, a marca maior do maior dos heróis. Superman. Do lado de fora do celeiro, o grande predador de Krypton espreitava a maior de suas presas. Seu monstruoso corpo coberto de cristais pulsava pelo calor da batalha, assim como seus famigerados olhos vermelhos. Ele estava pronto para matar, mas parecia compreender que havia um instante de silêncio entre a contemplação final e a derradeira batalha. O que ele não esperava, contudo, era ver um de seus alvos correndo por trás do celeiro e levantando vôo. A criatura urgiu com força e se preparou para agarrá-la em pleno ar, salvando por cima do celeiro. Superman, entretanto, havia previsto este movimento e vôo junto, quebrando o telhado do celeiro e se atracando à criatura em pleno ar. Subiu com ela o mais alto que pôde, mas suas forças já não eram as mesmas desde o início daquela batalha monstruosa. Lara seguiu seu vôo sem olhar para trás, e dessa maneira não viu quando a grande criatura esmagou Superman pela cintura e o arremessou de volta ao solo. Não viu quando ele se chocou novamente contra o celeiro, caindo praticamente morto sobre as madeiras já quebradas pelo choque anterior. Não testemunhou o momento final de um herói que não poderia dizer outra coisa a não ser o que seu coração o impulsionava a dizer no último batimento de sua vida: - Lois... – ele sussurrou olhando para a imagem de seu grande amor, parada diante dele como um anjo de luz. Ela estendeu a mão para ele em um ato suave, dando a ele a tranqüilidade para um último sorriso, antes de fechar os olhos para sempre. Metropolis, 2034. Noite. Lara alcançou Metropolis sobrevoando o rio, seguindo na direção dos laboratórios S.T.A.R.S. Tudo o que viu, no entanto, foi destruição. O caos havia atingido o local no instante após ela ter desligado o comunicador, destruindo tudo e todos que ali estavam. Sem esperança de ver alguém vivo no lugar, Lara seguiu em frente pela cidade desolada. As máquinas estavam por todos os lugares, e ainda havia membros da Liga da Justiça fazendo o melhor que podiam para detê-las. Talvez Lara devesse lutar junto a eles, era uma opção. Contudo, ela compreendia que sua missão iria exigir que desse as costas para toda a destruição que estava vendo e seguisse para o lugar que poderia mudar tudo. O brilho verde intenso no alto da LexCorp mostrou o caminho para a jovem. Ela pousou sobre o telhado, parando diante da grande máquina de Luthor, já ativada. Era como um grande arco de metal, coberto por cristais que a alimentavam. Havia alguns buracos vazios ao longo do arco e Lara sacou seus dois cristais, enfiando-os nos buracos para que eles carregassem. Era aquele o plano da Liga desde o início, minuciosamente estudado para que pudesse anular o poder de Luthor com a posse daquela poderosa máquina. E como Lara havia previsto, os cristais não eram totalmente adequados e levariam algum tempo para carregar. E tempo era algo que Lara não tinha, já que a criatura que matara o Superman estava agora atrás dela e havia feito todo o caminho até Metropolis unicamente para matá-la. Lara sentiu a aproximação do monstro e olhou para os cristais novamente, mas eles não estavam prontos. Ela precisava esperar, não tinha escolha. O predador de Krypton saltou de prédio em prédio, atraído pelo cheiro da jovem e pela energia da grande máquina. Quando os cristais enfim carregaram, Lara guardou um deles consigo e apontou o outro na direção do portal, aguardando que ele funcionasse como deveria. Mas a essa altura, seu inimigo já estava saltando para o Daily Planet, lançando o globo ao longe para dar seu último salto, em direção ao telhado da LexCorp. Seria o fim de tudo, se o cristal não tivesse funcionado no exato segundo seguinte. Uma onda de energia saltou do arco e chocou-se contra o cristal nas mãos de Lara, abrindo uma espécie de portal, uma fissura no espaço-tempo. Lara atravessou o portal sem titubear, sabendo que não havia mais tempo a perder. Mas o que ela não esperava era que o último salto do predador de Krypton em direção à LexCorp ainda encontraria a fissura aberta, fazendo com que a criatura seguisse com a jovem rumo ao que havia de mais conhecido para todos: O passado. *** Metropolis, 2012. Tarde. Aos pés do grande edifício sede da LexCorp, uma multidão de jornalistas seguia aglomerada a espera do grande anúncio. Lex Luthor não demorou a aparecer diante da câmeras, seguido por sua fiel assessora e vestido em um terno e gravata brancos. A careca o diferenciava no meio de todos enquanto descia as escadas e parava diante de um púlpito devidamente ajustado para ele. A imprensa se calou ao ver que ele começaria seu pronunciamento. - Senhoras e senhores cidadãos de Metropolis. Eu aprecio a presença da imprensa aqui nesta tarde, para que eu possa anunciar a grande notícia. Durante os últimos dois anos eu tenho doado minha vida por esta cidade, como fazia nos tempos em que era apenas um empresário em busca do melhor para Metropolis. Como prefeito, pude levar a frente maiores planos, tornar Metropolis a capital do mundo! E agora, senhoras e senhores, eu pretendo fazer o exemplo de Metropolis se estender para toda a América. E poderei fazer isso como Presidente dos Estados Unidos! A imprensa não conteve a agitação, ainda que a notícia não fosse mais um furo de reportagem por ter vazado apenas um dia antes. Contudo, o anúncio de Lex Luthor mexia com a cabeça de todos. Até mesmo daqueles que lhe eram mais próximos. Após o discurso e um mundo de perguntas, Luthor voltou para o seu escritório. Seguiu na direção de sua mesa acompanhado unicamente por Tess Mercer, sua assessora. - Bruce Wayne entrou em contato, gostaria de se reunir com você acerca de “questões políticas”. - Wayne, ele ainda está na cidade? Talvez eu me encontre com ele, não seria ruim ter o apoio político de Gotham em um momento desses. - Todos os principais nomes do país estão tentando falar com você agora, Lex – Tess comentou – Até Oprah gostaria de fazer uma entrevista com o jovem prefeito de Metropolis que quer conquistar o mundo... - É momento para grandes entrevistas, sem dúvida – Lex disse se sentando em sua poltrona – Mas antes eu farei alguns outros pronunciamentos. Lançarei as sementes para o que quero. - Já conseguiu o que queria, Lex. Estão todos falando sobre você. - Não é o suficiente, Srta. Mercer... É preciso que falem sobre mim, mas que me associem à Casa Branca como o único capaz de colocar fim a loucura desses super heróis! - Usar a carta do anti-heroísmo não vai pegar bem no momento – a ruiva o advertiu. - Eu sei – ele respondeu – Mas só preciso de um deslize. Um único deslize e essa tal Liga da Justiça será história antes mesmo de construir uma.,. Agora me deixe sozinho.. Tess apenas cumpriu o desejo de seu chefe e se retirou do amplo escritório, deixando-o a sós. Luthor olhou para a sua mesa sobre a qual repousava uma edição do Daily Planet, seu rosto estampado na primeira capa: Lex Luthor para a presidência? O título da matéria de capa incomodava Luthor mais do que o fato da matéria ter saído um dia antes de seu grande anúncio. A verdade era que a intrépida repórter que assinava aquela matéria personificara todo o antagonismo em relação a Luthor nas suas palavras felinas e certeiras, gerando dúvidas sobre a capacidade ou integridade moral do prefeito de Metropolis para assumir a sala oval. Levantara todos os seus podres e os lançara na primeira capa do jornal mais lido do país. Luthor era inteligente o suficiente para saber que contra o poder da mídia, era preciso ser mais cauteloso do que costumava ser em suas investidas contra o Superman. Era imperativo desfazer o muro conspiratório erguido contra ele dentro do principal jornal de Metropolis. Algumas possibilidades vieram à sua mente, mas ele não teve tempo de pensar muito a respeito. - Este é o momento em que você considera acabar com a vida da pessoa que arruinou sua imagem antes mesmo de você ter uma? A voz masculina soou dentro do escritório. Luthor olhou em volta, levantando-se da poltrona. - Quem está aqui? - Não se incomode em chamar a segurança – disse a voz – Eu eliminei os parâmetros de segurança, com o seu código. - Ninguém sabe o código além de mim – Luthor respondeu buscando a origem da voz, até que ela finalmente se revelou. - Verdade... Apenas um Luthor saberia qual é a senha – disse um jovem rapaz vestido em um terno negro, saindo de uma das sombras do escritório – Não significa que este Luthor seja você. - Quem é você? – Lex perguntou confuso. Não gostava de ter as coisas fora de seu controle. O rapaz, que parecia ter em torno de vinte anos, apenas se aproximou mais e mais dele, até que seu rosto fosse perfeitamente visível pela luz provinda das janelas atrás de Luthor. E Lex se assustou pela forma como aquele jovem lhe lembrava alguém familiar, mais precisamente seu pai Lionel, quando era jovem. - Te pouparei das especulações irritantes – disse o rapaz levando a mão ao bolso – Eu vim de muito longe para perder tempo com insignificâncias. Lex se preparou para falar, mas o rapaz lançou um pequeno objeto em sua direção. Lex agarrou a peça por reflexo e deparou-se com algo inesperado. Seu anel de Kryptonita. - Onde conseguiu isso? – Luthor o questionou olhando para a própria mão, onde já havia um anel idêntico. - Foi um presente... Do meu pai. Eu sou César, Luthor. Seu filho. Eu vim do futuro. Luthor escutou as palavras do rapaz parcialmente incrédulo, parcialmente convicto de que aquilo era verdade. De repente, a matéria de capa do Daily Planet era o que menos lhe importava. O mundo dava uma curiosa guinada bem diante de seus olhos... Smallville, 2012. Noite. Parcialmente alheios ao que acontecia no resto do mundo, os veteranos da Smallville High School curtiam cada segundo do encontro de ex-alunos. O ginásio de esportes estava tomado por cores e luzes cintilantes, e a jovem cantora que ditava as canções da noite possuía uma inspiração especial para despertar o romance naqueles presentes. No meio do salão repleto de casais, um em especial trocava o mais apaixonado dos beijos. Seus lábios não pareciam querer distanciar-se antes que aquela adorável canção acabasse. Quando finalmente se separaram, os olhares dirigidos um ao outro evidenciaram a forma como aquela noite acabaria. - Nós supostamente deveríamos estar afastados... – Clark Kent comentou ajeitando os óculos levemente enquanto segurava sua companheira em seus braços, embalando-a na música. - Eles não podem nos culpar por querermos adiantar a lua-de-mel... – Lois Lane respondeu com um sorriso atraente, seu olhar ainda perdido nos lábios do noivo – Além do mais, é como a nossa despedida de solteiro, ou algo do tipo. - Estamos mais para “algo do tipo”, já que as despedidas de solteiro deveriam ser sem a presença dos respectivos futuros cônjuges... - Detalhes... – ela comentou fitando-o – Embora eu ainda não sabia como você conseguiu me arrastar para esse lugar. Clark a fitou surpreso com a afirmação, era típico de Lois. – Até onde eu me lembro, foi sua idéia, Lois! - Não e não, idéia da Dona Ella Lane – Lois o corrigiu – Para que eu tirasse o meu trabalho da cabeça por um momento, esquecesse toda a loucura em Metropolis... E o Superman – ela sorriu ironicamente por fim, assim como Clark. - Legal ver que você está seguindo a risca as recomendações de sua mãe... – Ele sorriu fitando os lábios dela. - Nem me fale – Lois comentou – se bem que eu não sei como serei capaz de resistir ao Superman esta noite... Os dois moveram seus rostos em direção um ao outro, selando mais um beijo, desta vez mordiscado nos lábios. - Passar a noite com o Superman às vésperas de seu casamento com Clark Kent? – Clark comentou ao pé do ouvido dela – Você é uma garota pervertida... - Pode ter certeza que sou mesmo... Os dois se beijaram novamente até que a música chegou ao fim, quebrando um pouco do encanto no salão. Todos aplaudiram a cantora e Lois aproveitou a pausa para dar uma olhada em seu celular. Clark a olhou com reprovação, mas Lois não se intimidou. - O quê, acha mesmo que eu iria desconectar completamente do mundo? Sem chance, Smallville! Muito menos depois de Luthor anunciar que irá concorrer para a sala oval! - Como se você já não soubesse... Depois da matéria que você escreveu sobre a possível candidatura dele, não sobrou muita coisa pra ser noticiada hoje. - Há sempre um osso novo no açougue, Smallville, você só tem que saber andar entre os cães... E cadelas – Lois completou ao ver que uma conhecida se aproximava. - Clark, Lois! – Lana Lang disse parando diante do casal. Trazia consigo a reboque Pete Ross, com quem começara a namorar há menos de dois meses – Nem acredito que vieram! - Olá, Lana! Pete! – Clark os cumprimentou, assim como Lois, - Sabe como é, Clark insistiu tanto para vir ao encontro que eu não tive como dizer não... Clark apenas sorriu, concordando com Lois. A mataria depois, nem que fosse de prazer. - Deve ser difícil se desligar do trabalho, vindo pra Smallville, fugindo da agitação de Metropolis – Pete comentou. - Imagina, é mamão com açúcar – Lois comentou sorrindo, tendo um Clark ao seu lado que concordava totalmente. Até que os celulares dos dois tocaram simultaneamente, para a surpresa de Lana e Pete. Com um sorriso sem graça, Clark foi o primeiro a verificar. Era uma mensagem: Para: Clark Kent De:Bárbara Gordon Algo está acontecendo. Fissura no espaço-tempo. Clark fitou Lois confuso com a mensagem que recebera, mas a jornalista estava concentrada na mensagem que ela própria recebera: Para: Lois Lane De: Número Desconhecido Precisa ir para Smallville, imediatamente. AF. - Isso é estranho – Lois comentou olhando para Clark. Ele se preparou para dizer a mesma coisa, mas não pôde completar a frase. Um barulho intenso despertou a sua atenção, e a de todos no instante seguinte. - Isso é barulho de... Helicóptero? – Lana questionou também confusa com o que acontecia. Realmente parecia haver um helicóptero a sobrevoar a escola, mas sem dúvida não estava sozinho. Um barulho ensurdecedor veio tanto dos céus como da rua. A maioria das pessoas saíram do ginásio em busca de respostas, e Lois trocou um novo olhar com Clark. Aquele olhar. Os dois seguiram com Lana e Pete para fora da Escola até alcançar as escadarias da entrada principal. Um aglomerado de pessoas já estava do lado de fora, observando a movimentação estranha que corria as ruas. Havia carros do exército por todos os lados, assim como helicópteros e até mesmo jatos de guerra. - Nunca me disse que os encontros de ex-estudantes eram nesse nível, Clark... – Lois comentou impressionada com a carreata militar que seguia na direção dos milharais. - Acho que a lua-de-mel terá que esperar até a lua-de-mel... – Clark disse dando um beijo na testa dela e sumindo no meio das pessoas ao seu redor. Se Clark entraria em ação, Lois achou melhor entrar também. Cruzou a multidão e seguiu até o soldado com o maior número de estrelas que pôde visualizar. - Lois Lane, Daily Planet – ela se apresentou para o soldado – Poderia nos dizer o que provocou esse desfile de beldades de uniforme fora de época? - A cidade está em quarentena – o soldado disse sério, seguindo seu caminho – Ninguém entra ou sai de Smallville! - Quarentena? – Lois parou ao ouvir aquela, mas o soldado não parecia querer falar mais nada. Adentrou o grupo de soldados e sumiu da vista da jornalista. Lana e Pete correram até ela novamente, curiosos para saber o que ela sabia. - O que está havendo? – Lana perguntou, mas Lois deu de ombros, - Parece que este baile acabou de receber o maior trote da história... *** Alguns quilômetros adiante, Lara corria desesperadamente em meio ao milharal, ofegante e ferida. O grunhido de seu predador podia ser ouvido cruzando o campo como um alarme agourento, além das luzes provindas dos céus que circundavam a vegetação em uma busca certeira. Lara tentou superacelerar, mas lhe faltavam forças. O cristal aparentemente fizera mais do que abrir uma simples fissura; parecia ter-lhe tirado parcialmente os poderes. Ela ainda corria o mais rápido que podia quando tiros foram disparados em sua direção. Lara tropeçou buscando proteger-se, mas imediatamente se ergueu e prosseguiu em sua fuga alucinada. Tropeçou novamente, desta vez caindo de cara no chão em uma trilha dentro do milharal. Os dois helicópteros que sobrevoavam a área se aproximaram de tal maneira que a plantação se contorceu em reação a força das hélices. Lara se levantou e olhou para o alto, seus cabelos negros agitados pelo forte vento dos helicópteros. A poucos metros dali, mais dois carros do exército completavam o cerco, despejando soldados armados que se colocavam ao redor dela, apontando suas armas mais poderosas. - Não se mexa! – Alertou um dos soldados no milharal. Lara tinha o olhar fixo nos homens e nas suas armas, e a cara era de poucos amigos. Não era para menos, depois de tudo o que havia passado para chegar ali. Não entendia como poderia haver uma mobilização tão grande por causa dela. Ou talvez não fosse somente por ela. Quando o Superman enfim se aproximou da confusão instalada, observou dos céus a jovem misteriosa cercada pelo exército. Era branca, com cabelos negros e olhos azuis e brilhantes. Parecia tensa e irritada. Seu uniforme negro com detalhes em prata não eram familiares ao Super. Ainda assim, ele teve a clara sensação de que a jovem não pertencia ao seu universo, graças à informação do Oráculo sobre a fissura no espaço-tempo. Não seria a primeira vez que uma força benigna ou maligna encontraria aquele planeta. A questão era saber de que lado aquela jovem estava. Não houve tempo para maiores indagações. Um dos soldados no helicóptero apontava uma bazuca na direção da jovem e atirou sem aviso prévio, mesmo a situação parecendo sobre controle. O Super voou na direção na tentativa de evitar a morte da garota, mas ela se adiantou ao movimento dele sem fazer qualquer coisa. Levou as mãos na direção do rosto, como se assim pudesse se proteger do impacto do disparo. Fez mais do que isso. No instante em que o pequeno míssil entrou em seu campo de ação, uma espécie de onda de energia o repeliu com força, engolindo a própria explosão. A onda não parou ali, mas se propagou na direção dos soldados no milharal e dos helicópteros, que perderam o controle. Superman olhou abismado para a jovem e seu estrondoso poder, mas se concentrou em agarrar os helicópteros que voavam sem controle um na direção do outro. Com um rasante rápido, o Super foi capaz de segurar os dois veículos, salvando não somente os soldados a bordo como os que estavam no solo, abaixo das máquinas. Seu olhar encontrou o da jovem por um milésimo de segundo, nada mais. Sem querer pagar pra ver, ela tomou propulsão e levantou vôo para longe dali, tão rápida quanto o próprio Superman. O Super pousou com os helicópteros e recebeu os cumprimentos dos soldados, verdadeiramente agradecidos pela super força ao lado deles. Mas o que realmente o intrigava também tomava conta da mente do exército. Um dos homens se aproximou dele, cauteloso. - Superman! Quem é ela? É uma alien? O Super podia imaginar, apenas isso. Não fazia idéia de quem era aquela mulher ou de onde tinha vindo. Mas sabia que seus poderes já estavam trazendo perigo para Smallville. Sua experiência dizia que o problema dificilmente morreria na pacata cidade do interior do Kansas. *** Em outro lugar do milharal, uma outra parte das tropas cercavam a área, deixando apenas dois homens passarem. Lex Luthor seguiu ao lado de César até a região descampada no meio do milharal, a qual havia sido queimada em um raio de 50 metros. Os dois observaram o local, cada um com suas próprias conclusões. - Foi bem aqui – César disse apontando uma marca em particular no solo queimado – Eu sabia que eles mandariam alguém. Eles recuperaram dois dos cristais que... Você roubou. Luthor escutou a referência ao seu eu futuro com alguma curiosidade. - O comandante reportou que a mulher fugiu depois de incapacitar dois helicópteros. Superman salvou a noite, mas deixou ela escapar... Ela parece ser muito poderosa. - Ela é – César confirmou, mas mudou sua expressão ao encontrar uma segunda marca no solo queimado – Mas o que ela trouxe na bagagem... É muito pior. (CONTINUA)