PÊSSACH
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PÊSSACH
PÊSSACH A Festa da Liberdade “Em cada geração, o ser humano deve olhar a si próprio como se ele mesmo tivesse saído do Egito.” (Hagadá de Pêssach) Ma nishtaná: porque perguntar é preciso Perguntar é parte essencial da liberdade. Uma característica fundamental das pessoas livres é que elas percebem o mundo ao seu redor e buscam relevância nele. O escravo não pode perguntar: todas as suas tarefas fazem parte de uma mesma lógica, e não lhe convém questionar o sentido. E nem mesmo há porquê fazê-lo, uma vez que ninguém se sente na obrigação de responder ao escravo. Não há lugar para perguntas em um mundo onde as ordens arbitrárias do mestre são a justificativa final para a forma das coisas. Os quatro filhos e suas interpretações Não faltam interpretações para os quatro filhos apresentados na Hagadá, variando conforme época, região e tradição. Os quatro filhos representam a variedade e a complexidade do ser humano, em especial das crianças, e através desta metáfora, busca-se contar a mesma história de maneiras diferentes, para que cada um aprenda a sua maneira. É uma boa ferramenta didática, que envolve a todos e desperta a curiosidade e as perguntas, enfatizando que questionar é necessário. O programa Passaporte para a Vida, do Lar das Crianças da CIP, oferece ferramentas para que jovens a partir dos 16 anos de idade aproveitem a liberdade, questionem seu papel em nossa sociedade, e se tornem cidadãos conscientes e produtivos. O projeto visa dar condições de formação e de informação possibilitando a profissionalização e a inserção no mercado de trabalho. Saiba mais: www.lardascriancas.org.br. Pragas: a felicidade da liberdade de Pêssach não é completa Mesmo aproveitando a liberdade que conquistamos naquela época, devemos lembrar que o processo custou a vida de muitos egípcios, e que ainda hoje existem pessoas que não são livres. Nossos sedarim são marcados por rituais que lembram nossa história e a responsabilidade pelo presente. Ao recitarmos as dez pragas, retirando uma gota do copo de vinho (símbolo da alegria) para cada uma delas, e não recitando o Halêl de maneira completa, lembramos que nossa alegria dependeu da perda de outros. Vivemos em um país que, infelizmente, nos dá a oportunidade de lembrarmos constantemente de nossos antepassados e atuar de forma significativa no tempo presente. Nos últimos anos vêm sendo divulgadas inúmeras notícias sobre o trabalho escravo no Brasil. Segundo dados da ONG Repórter Brasil, existem aproximadamente 200 mil pessoas trabalhando nessas condições. Visando combater o trabalho escravo, essa organização, fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores, realiza investigações e reportagens sobre o assunto em todo território nacional. Além de trabalhar em prol da erradicação do trabalho escravo no Brasil, a ONG disponibiliza gratuitamente materiais educativos. Todo o conteúdo do site é aberto e a instituição precisa do apoio e incentivo de toda a sociedade para continuar lutando a favor da liberdade - situação pela qual já passamos e que lembramos anualmente em Pêssach. Saiba mais no site: www.reporterbrasil.org.br. Matsá e a busca pela humildade Por que todas as noites comemos chamêts e matsá, mas nessa noite comemos somente matsá? Um dos motivos é que o chamêts (tipo de alimento proibido durante a semana de Pêssach) representa a arrogância presente em nossas vidas. De acordo com essa metáfora, o fermento geraria um crescimento falso. O pão seria preenchido com o ar quando fermentado e, por isso, representaria um estado de orgulho vazio. A matsá, por outro lado, estaria ligada à humildade. Ela é verdadeira, se mostra como realmente é. Segundo Maimônides, de todas as virtudes negativas, o orgulho é a pior, uma vez que seria a origem de uma série de maus hábitos e comportamentos, como o egoísmo, a inveja e a ganância. Portanto, precisamos nos afastar dele ao máximo. Oito dias recordando a nossa condição de escravos e também a liberdade de guardar memórias, de viver de novo experiências passadas junto à liberdade que brinda a humildade, é, desta forma, o momento ideal para trabalhar essa virtude. Muitas pessoas pensam que são livres quando são frequentemente “escravas” de seu orgulho próprio. Nesse sentido, a busca e queima do chamêts representa enfrentar o que nos escraviza hoje, especialmente a arrogância. A Festa da Liberdade Pêssach (em português, “passagem”, em alusão à exceção das casas judias salvas na décima praga) celebra a libertação dos filhos de Israel depois de mais de dois séculos de escravidão no Egito, e por isso também é conhecida como Zmán Cherutênu (Tempo de Liberdade). Na saída apressada do Egito, após a última das dez pragas, não houve tempo para a fermentação do pão, o que, segundo a tradição judaica, ocasionou a criação da matsá. Por isso, Pêssach também é conhecido como Chag haMatsót (Festa dos Pães Ázimos). A festa também é uma comemoração agrícola, pois marca o início da primavera em Israel e dá um outro nome a festa: Chag haAviv (Festa da Primavera). Pêssach na sinagoga Algumas das práticas na sinagoga são: • leitura da Torá durante os oito dias da festa, nas quais lemos trechos especiais sobre a saída do Egito e a travessia do Mar Vermelho, sendo a liberdade um dos principais elos entre todas elas, e o encontro mais próximo entre Deus e Moshé; • Halêl, recitamos poemas bíblicos de gratidão, que se incluem nas festas de peregrinação, Rosh Chódesh e Chanucá. Em Pêssach, sua versão é reduzida por causa da morte dos egípcios; • no 1º dia de Pêssach é feita a Prece pelo Orvalho, que marca o término dos pedidos de chuva em Israel; • no 2º dia da festa inicia-se, no serviço de Arvit, a contagem do Ômer; • no 8º dia recita-se o Izcór. O Sêder de Pêssach O jantar tradicional de Pêssach, conhecido como Sêder (ordem), é um ritual que tem suas origens na época da Mishná que tem suas origens na época da Mishná (entre os séculos I e II e.c.) e, por isso, contém muitas influências dos impérios grego e romano, como, por exemplo, sentar-se reclinado, molhar os alimentos na água ou beber vários copos de vinho. Esse ritual tão tradicional em nossas casas surgiu como uma resposta dos rabinos da época à impossibilidade de cumprir as mitsvót (mandamentos) da festa relacionadas ao Templo, como os sacrifícios, por exemplo. O Sêder parece um paradoxo, pois comemoramos a chamada Festa da Liberdade com um jantar cheio de regras. Assim, a liberdade poderia se entender como o estabelecimento das próprias regras. As partes do Sêder proporcionam um jantar alegre, diferente e focado nas crianças, cheio de símbolos, histórias e perguntas propositais para cumprir o preceito “vehigadtá levinchá” (e contarás a teu filho). Através das perguntas e brincadeiras (como a busca pelo aficomán), incentivamos a participação ativa das crianças ao longo do jantar. Avadim Haínu Fomos escravos no Egito. Fora do Egito, ainda escravos. Pêssach não é apenas uma história de recordação, mas também de reflexão sobre o tempo presente. Através de nossos antepassados escravos no Egito, podemos refletir sobre qual seria a nossa escravidão pessoal a cada ano. O que nos impede de caminhar por novas estradas? O texto tradicional da hagadá nos questiona sobre o que pode ser nosso Egito atual, o que nos escraviza e o que escravizamos. Na sociedade em que vivemos, somos, inevitavelmente, dependentes de algo. É necessário refletir em que medida estamos presos a nossas rotinas, frases e enfoques. Quanta liberdade possuímos para desejar, pensar, valorizar e perdoar o diferente? Pêssach é um convite a buscar novos caminhos e sair dessas renovadas escravidões. Halachmá aniá: pensando nos que passam necessidade A quinta parte do Sêder é dedicada a contar a história da saída do Egito, e começa com uma das passagens mais significativas. Segurando a matsá, dizemos: “Este é o pão da pobreza que nossos antepassados comeram na terra do Egito. Todo aquele que tem fome, venha e coma. Todo aquele que passa necessidade, que venha e celebre o Pêssach conosco”. A memória dos tempos de escravidão e pobreza no Egito nos faz refletir sobre outras pessoas que ainda hoje passam por essas mesmas circunstâncias. Como aprendizado, abrimos nossas portas para aqueles que não têm condições e os convidamos a sentar e a comer conosco. (Shemot 13:8) Hagadá significa “contar”. Este nome foi escolhido por causa do mandamento bíblico de ensinar aos filhos sobre a saída do Egito “E contarás ao seu filho naquele dia... Por isso Deus me fez sair do Egito’” (Shemot 13:8). A Hagadá nos relata e nos conecta com os fatos que nos levaram da escravidão para a liberdade. Mais do que um documento histórico, ela fala dos ideais e valores que constituem a essência de nossa identidade. É a história do nascimento dos judeus como um povo. Mais do que a celebração da liberdade como tal, é uma celebração da liberdade alcançada pelo povo de Israel, que culminou no recebimento da Torá: a maior representação da liberdade de um povo é ter suas próprias leis. Auxiliar do diálogo entre pais e filhos, a Hagadá propicia o constante questionamento, fortalecedor da identidade judaica e da continuidade do povo judeu: Quem eu sou? De onde eu vim? O que eu represento? Quais são os meus valores? A multiplicidade de verdades no judaísmo. Acredita-se que existem pelo menos 3000 tipos diferentes de Hagadót de Pêssach na modernidade. Enquanto a história básica de Pêssach continua sendo a mesma, é cada vez mais incentivado que se façam reinterpretações dos eventos e símbolos do chag, a fim de adaptar-se aos novos tempos e refletir várias filosofias políticas e religiosas dentro do judaísmo, e dessa forma atingir o maior número e estilos de judeus possíveis. A passagem da escravidão para a liberdade pode estar relacionada com a missão de qualquer indivíduo ou grupo que busca livrar-se da opressão ou recordar alguma já vivida. Hoje em dia, podemos encontrar Hagadót de Pêssach ortodoxas, consevadoras, liberais ou humanistas. Temos hagadót feministas que relacionam a liberdade da escravidão com a luta das mulheres e o fim da discriminação. Também é possível encontrar hagadót kibutsianas que tiraram todas as referências e afirmações religiosas de seu material, uma vez que o mais importante são suas filosofias políticas socialistas e o esforço do ser humano em conquistar sua própria liberdade. Há hagadót comemorativas a datas marcantes como os 60 anos do Estado de Israel, edições especiais para os exércitos de Israel e dos EUA (para seus combatentes fazerem o sêder mesmo que em serviço), hagadót familiares (criadas atendendo aos costumes únicos daquele núcleo familiar) e hagadót comunitárias. Assim, qualquer um que tiver interesse e não se identificar com nenhuma das hagadót existentes até o momento, pode criar a sua própria. Existem sites que podem ajudar: www.haggadot.com Conteúdo e Arte A Hagadá de Pêssach é composta por diversos conteúdos, incluindo os 15 passos a seguir no sêder. Pode ter fatos históricos, explicações pessoais, histórias familiares e textos modernos, sempre refletindo os valores expressados no sêder. A concepção artística de uma hagadá tomou formas mais elaboradas a partir da Idade Média, onde cada pessoa na mesa podia ter a sua própria hagadá. Os judeus mais ricos da Idade Média projetavam cuidadosamente suas hagadót com extravagantes iluminuras, pois além de mostrar riqueza, acreditavam estimular ainda mais o interesse e curiosidade das crianças com o chag. Atualmente, tanto as ilustrações quanto os conteúdos são pensados de forma a refletir as características do público que a possui. As dez curiosidades 1. Enquanto existia um Templo em Israel, a celebração de Pêssach era baseada em corbanót (sacrifícios animais e oferendas vegetais). Naquele tempo a intenção original era recordar os acontecimentos, agradecer a liberdade e a terra de Israel. 2. Após a destruição do Segundo Templo, o enfoque de Pêssach mudou, e atualmente cada comunidade tem uma linha a seguir, sendo que de modo geral todos buscam o ticun olam. 3. A Hagadá de Pêssach foi mencionada pela primeira vez em manuscritos datados do século IX E.C. 4. Existem fragmentos de hagadót guardados no Cairo, Egito, datados entre os séculos X e XII da E.C. e seu conteúdo tem ajudado a fornecer uma melhor compreensão da vida judaica daquela região nos tempos medievais. 5. A liturgia pós sêder de Pêssach foi consideravelmente ampliada após as Cruzadas na Europa. 6. As primeiras hagadót impressas conhecidas são originalmente de Guadalajara, Espanha, em 1482 E.C. 7. A mais antiga hagadá ilustrada conhecida é datada de cerca de 1300 E.C., na região do Estado da Baviera, sudeste da Alemanha, e as pessoas retratadas possuem cabeças de pássaros, como forma de não descumprirem o mandamento de imagens esculpidas a semelhança de seres humanos. 8. Após a 2ª Guerra Mundial, emergiu uma grande quantidade de hagadót que abordavam o tema, incluindo orações de lembrança e outras com enfoque político. Os kibutsím foram os principais responsáveis pelas mudanças. 9. Entre as décadas de 70 e 90 surgiram a maioria das hagadót que atingiam o tema de seu grupo de interesse, como as hagadót ambientais, vegetarianas, igualitárias, feministas, homossexuais, e também as de reflexão interior, buscando tocar o individuo e fazê-lo refletir sobre as suas escravidões modernas. 10. Não tenha medo de usar a hagadá! O universo popular conta que: “A hagadá que não tem manchas de vinho é geralmente uma hagadá que ainda não “viveu””.
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