Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú
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Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú
ISSN 1677-1915 Dezembro, 2005 101 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Presidente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Roberto Rodrigues Ministro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Conselho de Administração José Amaurí Dimárzio Presidente Clayton Campanhola Vice-Presidente Alexandre Kalil Pires Ernesto Paterniani Hélio Tollini Luis Fernando Rigato Vasconcelos Membros Diretoria Executiva da Embrapa Clayton Campanhola Diretor-Presidente Gustavo Kauark Chianca Herbert Cavalcante de Lima Mariza Marilena Tanajura Luz Barbosa Diretores-Executivos Embrapa Agroindústria Tropical Lucas Antonio de Sousa Leite Chefe-Geral Caetano Silva Filho Chefe-Adjunto de Administração Ricardo Elesbão Alves Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Vitor Hugo de Oliveira Chefe-Adjunto de Comunicação e Negócios ISSN 1677-1915 Dezembro, 2005 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Documentos 101 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Marcos José Nogueira de Souza Morsyleide de Freitas Rosa Maria Clea Brito de Figueiredo Flávio Rodrigues do Nascimento Lúcia de Fátima Pereira Araújo Jader de Oliveira Santos Luiz José de Almeida Correia Fortaleza, CE 2005 Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Agroindústria Tropical Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici CEP 60511-110 Fortaleza, CE Caixa Postal 3761 Fone: (85) 3299-1800 Fax: (85) 3299-1803 Home page: www.cnpat.embrapa.br E-mail: [email protected] Comitê de Publicações da Embrapa Agroindústria Tropical Presidente: Valderi Vieira da Silva Secretário-Executivo: Marco Aurélio da Rocha Melo Membros: Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo, Marlos Alves Bezerra, Levi de Moura Barros, José Ednilson de Oliveira Cabral, Oscarina Maria Silva Andrade, Francisco Nelsieudes Sombra Oliveira Supervisor editorial: Marco Aurélio da Rocha Melo Revisor de texto: Maria Emília de Possídio Marques Normalização bibliográfica: Ana Fátima Costa Pinto Editoração eletrônica: Arilo Nobre de Oliveira 1a edição 1a impressão (2006): 50 exemplares Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). CIP - Brasil. Catalogação-na-publicação Embrapa Agroindústria Tropical Contexto geoambiental das bacias hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará / Marcos José Nogueira de Souza... [et al]. - Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2005. 52 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Documentos, 101). ISSN 1677-1915 1. Sistema ambiental - Recurso natural - Brasil - Ceará. 2. Bacia hidrográfica - Diagnóstico - Capacidade de suporte. I. Souza, Marcos José Nogueira de. II. Rosa, Morsyleide de Freitas. III. Figueiredo, Maria Clea Brito de. IV. Nascimento, Flávio Rodrigues do. V. Araújo, Lúcia de Fátima Pereira. VI. Santos, Jader de Oliveira. VII. Correia, Luiz José de Almeida. VIII. Título. IX. Série. CDD 551.48098131 © Embrapa 2005 Autores Marcos José Nogueira de Souza Geógrafo, D.Sc., Universidade Estadual do Ceará - UECE Av. Paranjana 1700, Campus do Itaperi, CEP 60740-000 Fortaleza, CE. E-mail: [email protected] Morsyleide de Freitas Rosa Eng. Química, D.Sc., Embrapa Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita 2.270, Pici, CEP 60511-110, Fortaleza, CE, tel.: (85) 3299-1800. E-mail: [email protected] Maria Clea Brito de Figueiredo Ciências da Computação, M.Sc., Embrapa Agroindústria Tropical E-mail: [email protected] Flávio Rodrigues do Nascimento Geógrafo, D.Sc., Universidade Estadual do Ceará - UECE (FAFIDAM - Limoeiro do Norte), Av. Dom Aureliano Matos, 2058, Centro - CEP 62930-000 Limoeiro do Norte, CE E-mail: [email protected] Lúcia de Fátima Pereira Araújo Eng. Química, M.Sc., Consultora da Embrapa Agroindústria Tropical E-mail: [email protected] Jader de Oliveira Santos Geógrafo, Mestrando em Geografia - Universidade Estadual do Ceará - UECE E-mail: [email protected] Luiz José de Almeida Correia Geógrafo, M.Sc., Técnico da Compahia de Gestão dos Recursos Hídricos-Cogerh, Rua Adualdo Batista 1550, Messejana CEP 60830-080 Fortaleza, CE Apresentação A Série Documentos da Embrapa, em seu número 101, traz uma perspectiva de trabalho que trata de estudos integrados da natureza, especialmente no que se refere ao tratamento de Bacias Hidrográficas, como unidades indissociáveis onde se configuram dinâmicas socioeconômicas e biofísicas importantes ao reconhecimento da realidade geoambiental do Ceará. A lacuna existente de trabalhos técnico-científicos integrados que tratem do contexto geoambiental de Bacias Hidrográficas no Estado Ceará, de uma maneira em geral, ainda é uma realidade contemporânea. Neste sentido, teve-se a preocupação de se trabalhar com três das mais importantes Bacias Hidrográficas cearenses - que também são concebidas como das mais importantes do Nordeste semi-árido -, como unidades de estudo e planejamento geoambiental integrado. Contou-se, para tanto, com especialistas da Universidade Estadual do Ceará - UECE, Embrapa Agroindústria Tropical e Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará Cogerh, pautados nas Ciências da Natureza e nas Ciências Sociais Aplicadas para melhor se apreender o Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará. Neste espectro, correlacionando-se fatores físicos e humanos, sobre o crivo ambiental, a elaboração do presente documento teve a preocupação de, multidisciplinarmente, destacar o temário em pauta estruturando sua apresentação a partir dos principais aspectos geoambientais de cada bacia, destacando: fundamentação metodológica; condições ecofisiográficas; sinopse da compartimentação geoambiental; potencialidades e limitações em termos de capacidade de suporte; categorias espaciais de ambientais naturais, frente ao uso/ocupação da terra e problemas de degradação ambiental; diretrizes ambientais à ocupação; mapeamento temático sobre a compartimentação geoambiental de cada bacia considerada. Longe de preencher a lacuna retromencionada e, menos ainda, de esgotar o temário eleito para os estudos, com este documento, contribui-se tão somente, para melhor conhecimento de aspectos geoambientais importantes ao desenvolvimento socioeconômico sob respeito a preceitos geoambientais das Bacias destacadas, no contexto estadual e sub-regional. Lucas Antonio de Sousa Leite Chefe-Geral Embrapa Agroindústria Tropical Sumário Introdução......................................................................................................................... 9 Fundamentação Metodológica.............................................................................................. 10 Condições Ecofisiográficas das Bacias dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe......................... 14 Uso/Ocupação da Terra e Problemas da Degradação Ambiental ............................................... 23 Sinopse da Compartimentação Geoambiental ........................................................................ 29 Capacidade de Suporte e Diretrizes ...................................................................................... 33 Considerações Finais ......................................................................................................... 44 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 46 Glossário .......................................................................................................................... 47 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Marcos José Nogueira de Souza Morsyleide de Freitas Rosa Maria Clea Brito de Figueiredo Flávio Rodrigues do Nascimento Lúcia de Fátima Pereira Araújo Jader de Oliveira Santos Luiz José de Almeida Correia Introdução O presente documento trata do diagnóstico geoambiental das bacias hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe, no Estado do Ceará. As bacias em foco abrigam um diversificado mosaico de sistemas ambientais que sofreram agudas transformações motivadas pelo processo histórico de uso e ocupação da terra. Os sistemas ambientais tendem a apresentar um arranjo espacial decorrente da similaridade de relações entre os componentes naturais – de naturezas geológica, geomorfológica, hidroclimática, pedológica e bioecológica – materializando-se nos diferentes padrões de paisagens. Considera-se que os sistemas ambientais (geossistemas) são integrados por variados elementos que mantêm relações mútuas entre si e são continuamente submetidos aos fluxos de matéria e de energia. Cada sistema representa uma unidade de organização do ambiente natural. Em cada sistema verificase, comumente, um relacionamento harmônico entre seus componentes e eles são dotados de potencialidades e limitações específicas sob o ponto de vista dos recursos ambientais. Como tal, reagem, também, de forma singular, no que tange às condições históricas de uso e ocupação. Considerando os pressupostos retromencionados, o estudo das bacias busca atingir os objetivos delineados a seguir: • Identificar e caracterizar as principais variáveis ambientais relativas ao suporte (condições geológicas, geomorfológicas e hidrogeológicas), ao envoltório (clima e hidrologia de superfície) e à cobertura (solos e condições de biodiversidade). • Elaborar o diagnóstico ambiental do meio físico-biótico com base na aplicação de metodologia sistêmica. • Delimitar os sistemas ambientais com base nas relações entre os componentes abióticos e bióticos de cada sistema. • Utilizar produtos de sensoriamento remoto na elaboração da cartografia temática das áreas de influência da bacia, em escala compatível com os objetivos do projeto. 10 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará • Indicar as potencialidades, as limitações e a ecodinâmica dos sistemas ambientais, definindo sua capacidade de suporte. • Identificar impactos que têm afetado os sistemas ambientais. Fundamentação Metodológica O diagnóstico geoambiental, envolvendo a caracterização das bacias de drenagem, deve considerar como estratégias metodológicas as seguintes: a) abordagem sistêmica; b) valorização da multidisciplinaridade e c) sistema de informação. A abordagem sistêmica considera o sistema como o conjunto de unidades que têm relações entre si. O conjunto significa que “as unidades possuem propriedades comuns, sendo o estado de cada unidade controlado, condicionado ou dependente do estado das demais unidades”. Acrescenta-se que “os sistemas não atuam de modo isolado, mas funcionam dentro de um ambiente e fazem parte de um conjunto maior” (Brasil, 2001). Sob o ponto de vista teórico-metodológico, a abordagem sistêmica integra o conjunto das variáveis ambientais envolvidas no processo. A valorização da multidisciplinaridade é indispensável, diante do espectro amplo de atividades e estudos envolvidos no programa. Desse modo, o estudo geoambiental requer um conhecimento profundo da realidade físico-natural da área pesquisada (Brandão et al., 2003). O sistema de informação contempla os diferentes módulos de coleta, armazenamento, tratamento e divulgação de dados, concentrando informações e descentralizando o seu acesso. Para a elaboração do diagnóstico do contexto geoambiental os estudos consideram o contexto das variáveis físicas e bióticas. Devem interpretar, também, as relações entre os subsistemas naturais e as condições do uso e ocupação que encerram a realidade estática e dinâmica do espaço. São obtidas informações integradas em uma base geográfica, de modo a classificar o território de acordo com a sua capacidade de suporte. Na elaboração do diagnóstico geoambiental, as análises setoriais servem de meio para a integração dos componentes. Foram adotados procedimentos que conduzem à delimitação dos sistemas ambientais, em consonância com pressupostos metodológicos integrativos, capazes de apreender as relações de interdependência entre os componentes físico-bióticos. Os sistemas ambientais são hierarquizados e configurados em mapas organizados em escala compatível, com base na interpretação de imagens orbitais e com rigoroso controle de campo. Os resultados do diagnóstico ambiental do meio físico, decorrem de uma revisão sistemática dos levantamentos anteriores procedidos sobre a base dos recursos naturais. As análises desse material e dos produtos do sensoriamento remoto, além dos trabalhos de campo para fins de reconhecimento da verdade terrestre, constituem os meios utilizados para o alcance dos objetivos propostos. As análises temáticas são apresentadas de modo a demonstrar o estreito relacionamento mútuo entre os componentes geoambientais que compõem cada bacia hidrográfica. Essas análises, que encerram a primeira etapa do diagnóstico, são conduzidas de modo a definir as características das diversas variáveis que compõem o meio físico. Seqüencialmente, são apresentadas em forma de matriz as condições lito-estratigráficas e as características das feições morfogenéticas; características climáticas e hidrológicas; distribuição dos solos, suas principais propriedades e os padrões de cobertura vegetal. Essa seqüência apresenta uma cadeia de produtos parciais que expõe uma relação de dependência entre as variáveis geoambientais. Cada uma delas apóia-se nas anteriores e fundamenta as seguintes. O diagnóstico dos meio físico apresenta uma proposta de síntese da compartimentação geoambiental, por meio de um quadro sinóptico representativo para cada bacia de drenagem. Essa proposta é apoiada na análise das variáveis anteriormente referidas e nas relações mútuas entre elas. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Nessa etapa do diagnóstico, é priorizada a visão de totalidade para a caracterização das unidades geossistêmicas. Destaca-se, nesse aspecto, as concepções metodológicas consagradas em trabalhos ligados aos diagnósticos e zoneamentos ambientais, que hierarquizam as categorias espaciais de ambientes em domínios naturais, geossistemas e geofácies. As unidades geossistêmicas são delimitadas em razão de combinações mútuas específicas entre as variáveis geoambientais. Destacando-se as diversidades internas dos geossistemas, são delimitadas as unidades elementares (geofácies) contidas em um mesmo sistema de relações. Sob esse aspecto, a concepção de paisagem assume significado para delimitar as subunidades, em razão da exposição de padrões uniformes ou relativamente homogêneos. A paisagem encerra o resultado da combinação dinâmica e instável de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem dessa paisagem um conjunto único e indissociável em perpétua evolução (Bertrand, 1969). A síntese das unidades geossistêmicas é apresentada por meio de quadros que contêm informações sobre a denominação das unidades e sobre as características predominantes das condições geoambientais de cada bacia: geologia, geomorfologia, hidroclimatologia, solos e vegetação. Na preparação da legenda dos mapas de compartimentação geoambiental, são destacadas as características dos principais atributos ambientais. Estas servem de base para indicar condições potenciais ou limitativas, quanto às possibilidades de uso dos recursos naturais e das reservas ambientais. Com o objetivo de avaliar a dinâmica ambiental e o estado de evolução dos sistemas ambientais são estabelecidas categorias de meios ecodinâmicos, com base em critérios de Tricart (1977). Cada categoria de meio está associada ao comportamento e à vulnerabilidade das condições geoambientais em razão dos processos degradacionais. Adaptando-se os critérios de Tricart às bacias em foco, são distinguidas as categorias de meios a seguir relacionadas e sumariamente caracterizadas: Ambientes Estáveis – Apresenta uma estabilidade morfogenética antiga; os solos são, geralmente, espessos e bem evoluídos; há forte predominância dos processos pedogenéticos sobre os processos morfogenéticos; a cobertura vegetal tem características climáxicas, estando em equilíbrio com o ambiente físico. Ambientes de Transição ou “Intergrades” – Têm ação simultânea dos processos morfogenéticos e dos pedogenéticos; há incidência moderada das ações areolares; predominância dos processos pedogenéticos indica a tendência à estabilidade; predominância dos processos morfogenéticos demonstra tendência à instabilidade. Ambientes Fortemente Instáveis – Pedogênese praticamente nula; ausência ou grande rarefação de cobertura vegetal; incidência muito forte dos processos morfogenéticos, especialmente das ações eólicas. Com o enquadramento dos sistemas ambientais em uma determinada categoria de meio ecodinâmico, viabiliza-se a possibilidade de detectar o grau de vulnerabilidade do ambiente e sua sustentabilidade futura: tendencial e desejada. Após o reconhecimento do contexto geoambiental de cada área estudada, organizou-se um Quadro Sinóptico das Unidades Geoambientais contemplando, seqüencialmente, os seguintes aspectos: a) capacidade de suporte (potencialidades, limitações, ecodinâmica e vulnerabilidade); b) impactos e riscos de ocupação; c) diretrizes ambientais. A capacidade de suporte dos recursos naturais inclui condições de potencialidades e limitações. As potencialidades são tratadas como atividades ou condições que têm exeqüilibidades de serem praticadas em cada unidade geoambiental, sendo propícias à implantação de atividades ou de infraestruturas. 11 12 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará As limitações ao uso produtivo, além das restrições ligadas à legislação ambiental, são identificadas com base na vulnerabilidade e nas deficiências do potencial produtivo dos recursos naturais e no estado de conservação da natureza, em função dos impactos produzidos pela ocupação da terra. Os riscos se referem aos impactos negativos oriundos de uma ocupação desordenada do ambiente. A organização do mapeamento é feita com base na utilização de imagens de sensoriamento remoto, em produtos cartográficos básicos e temáticos disponíveis e em trabalhos de campo. O diagnóstico do contexto geoambiental dá ênfase ao conhecimento integrado e à delimitação dos espaços territoriais modificados ou não pelos fatores econômicos e sociais. A vertente, das variáveis físicas e bióticas ou das variáveis geoambientais, se materializa por meio de uma série de unidades espaciais homogêneas que constituem heranças da evolução dos fatores fisiográficos e ecológicos, ao longo da história geológica recente. Com base em sucessivos níveis de sínteses através de relações interdisciplinares, considerando os fatores do potencial ecológico (geologia + geomorfologia + climatologia + hidrologia), da exploração biológica (solos + cobertura vegetal + fauna) e das condições de ocupação e da exploração dos recursos naturais, são estabelecidas, delimitadas e hierarquizadas as unidades espaciais homogêneas configurando, cartograficamente, a compartimentação geoambiental em escala compatível com os objetivos, interesses e aplicabilidades práticas do projeto. A análise dos atributos e da dinâmica natural que identificam os sistemas ambientais tem caráter globalizante e integrativo. Essa visão holístico-sistêmica adotada, faculta a compreensão das interrelações e interdependências que conduzem à formação de combinações entre os atributos geoambientais. Desse modo, descartou-se o tratamento linear cartesiano que privilegia os estudos setoriais e distorce a visão sistêmica e de conjunto que configura a realidade regional. Foram cumpridas as seguintes etapas do roteiro metodológico: • Levantamento do acervo bibliográfico, documentário e de informações disponíveis sobre o contexto geoambiental, das respectivas bacias. • Análise dos temas de estudo, tendo em vista a elaboração do diagnóstico geoambiental. • Preparação da cartografia básica, elaborada por meio do Sistema de Informações Geográficas (SIG), contendo as principais informações planialtimétricas. • Análise e utilização dos produtos de levantamentos sistemáticos de recursos naturais disponíveis sobre as bacias. • Análise e interpretação de produtos de sensoriamento remoto, tendo em vista os estudos temáticos e integrações parciais e progressivas dos temas. • Levantamentos de campo para fins de reconhecimento da verdade terrestre. O fluxograma metodológico, apresentado a seguir (Fig. 1), sintetiza os procedimentos adotados no estudo, sob o ponto de vista geoambiental. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará OBJETIVO DO ESTUDO Analisar o ambiente biofísico para o diagnóstico do contexto geoambiental das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe Levantamento de dados secundários Cartografia básica e imagens de sensoriamento remoto, em escala compatível Trabalhos de campo, interpretação de imagens, geoprocessamento e cartas temáticas Análise e correlação dos componentes naturais Vertente geoambiental Litoestruturas Condições hidroclimáticas Compartimentação das geoformas Solos Biodiversidade Estrutura e dinâmica da natureza SISTEMAS AMBIENTAIS Potencialidades e limitações ambientais Fig. 1. Fluxograma metodológico. Fonte: Souza (2000). Vulnerabilidade, impactos e comprometimento ambiental 13 14 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Condições Ecofisiográficas das Bacias dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguraibe Contexto geográfico da Bacia do Acaraú O espaço fisiográfico e ecológico da bacia do Rio Acaraú (14.560 km²) depende de combinações bastante variadas entre os fatores naturais. Nesse particular, as condições geomorfológicas e climáticas assumem destaque na imposição de ambientes dotados de diferentes características, limitações ao uso e potencialidades. Tratando-se de área submetida, em grande parte, aos efeitos da irregularidade pluviométrica, aos excessos ou à falta quase absoluta de chuvas, tais condições se exercem sobre os vastos aplainamentos deprimidos do sertão. Assim é que, apesar da posição subequatorial, as condições climáticas referidas, têm para o território em estudo, efeitos destacáveis sobre os demais componentes do potencial ecológico e, conseqüentemente, sobre a exploração biológica. Os processos morfogenéticos são, em primazia, de natureza mecânica; a drenagem superficial é constituída por cursos d´água dotados de intermitência sazonal; os solos apresentam espessuras ínfimas, com grande freqüência de chãos pedregosos; as disponibilidades de água no solo são deficitárias na maior parte do ano. Desse quadro genérico sobressai-se o fator que melhor exprime a ecologia regional. Trata-se do recobrimento vegetal das caatingas, cuja fisionomia e flora têm, também, estreita dependência das propriedades edáficas. Em razão do repouso vegetativo à estiagem prolongada, que representa a principal adaptação fisiológica das plantas da caatinga, as espécies perdem a folhagem, configurando uma paisagem peculiar do sertão. É certo, porém, que o porte, a densidade, a freqüência de determinadas espécies vão se diferenciando à medida que os solos apresentam condições morfológicas e físico-químicas diferentes. Solos como os Argilosos e Luvissolos tinham, via de regra, um recobrimento de caatinga arbórea densa e com maior riqueza florística. Os Planossolos e Neossolos Litólicos, por outro lado, são revestidos por caatinga arbustiva esparsa, com tapete herbáceo constituído de gramíneas. Contribuindo para diversificar o quadro fisiográfico e ecológico do sertão, destacam-se os largos setores de planícies fluviais com Neossolos Flúvicos. Dentre esses, merecem maiores referências as planícies formadas pelo rio Acaraú, além de alguns tributários com os rios Groaíras, Jaibaras e Macacos. A marca característica das planícies é o recobrimento vegetal ribeirinho, com o aspecto de mata ciliar, onde a carnaúba tende a se destacar como espécie dominante. As serras cristalinas representam as outras porções de diversificação regional. É o relevo colocando-se como elemento diferenciador do clima. Compartimentos de relevo como as serras de Meruoca-Rosário, e das Matas são sujeitas a chuvas mais abundantes e regulares e têm solos com boa fertilidade, com destaque para os Argilosos Eutróficos dos maciços cristalinos. Com isso, o revestimento vegetal primário assume feições contrastantes com o que se assinalou para as depressões sertanejas. Referese aos “enclaves” de matas dotadas de indivíduos de elevado porte e grande densidade. Por se tratar de setores do espaço cujas potencialidades ecológicas são mais favoráveis à utilização agrícola, as serras têm apresentado problemas gravíssimos de conservação. Sujeitas a desmatamento indiscriminado e da adoção de técnicas rudimentares, as serras vão pouco a pouco, sofrendo os efeitos dos processos acelerados de erosão cuja tendência é torná-las irreversivelmente improdutivas. As áreas pré-litorânea e costeira, complementam o quadro físico-ecológico e enfatizam a impossibilidade de considerar o território abrangido pela Bacia do Acaraú como detentora de uma homogeneidade natural. A faixa costeira é marcada pela ocorrência de campos de dunas móveis e fixas, seccionadas pela planície flúvio-marinha recoberta por manguezais. A cerca de 5-10 km do mar, desenvolvem-se os baixos tabuleiros fracamente sulcados pela drenagem, com coberturas arenosas espessas e revestidos por uma vegetação de médio porte e elevada densidade. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará 15 Foto: Morsyleide de F. Rosa Foto: Flávio R. do Nascimento Contudo, as Figuras de 2 a 7 mostram aspectos relevantes dos geoambientes da Bacia do Acaraú. Fig. 3. Planície fluvial do Rio Acaraú, divisa dos Municípios de Cruz e Acaraú. Fig. 4. Maciço Residual das Serras Meruoca-Rosário; em primeiro plano, vista parcial da cidade de Sobral. Fig. 5. Vista aérea da Planície litorânea da Bacia do Acaraú; faixa de praia e planície flúvio-marinha. Fig. 6. Planície Fluvial do rio Groaíras, principal afluente do rio Acaraú. Fig. 7. Front Central da Cuesta da Ibiapaba, exibindo a cornija arenítica sobreposta ao embasamento cristalino dissecado em cristas. Foto: Flávio R. do Nascimento Foto: Flávio R. do Nascimento Foto: Morsyleide de F. Rosa Foto: Flávio R. do Nascimento Fig. 2. Vertente Ocidental da Serra do Machado e Sertões da Depressão Periférica do Centro-Norte do Ceará. 16 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Contexto geográfico da Bacia do Curu A bacia hidrográfica do Rio Curu ocupa uma área de 8.605 km², inscrevendo-se em sua quase totalidade no Semi-Árido cearense. Há, na área, uma predominância muito significativa dos terrenos cristalinos Pré-Cambrianos referentes ao Complexo Nordestino (Brasil, 1981) que inclui migmatitos homogêneos e heterogêneos, além de gnaisses variados com núcleos granitóides. Na região do baixo vale, o embasamento é recoberto em discordância por sedimentos Plio-Quaternários da Formação Barreiras e por depósitos holocênicos próximos à linha de costa, além dos sedimentos aluviais que bordejam as calhas fluviais. A quase totalidade da bacia hidrográfica do rio Curu é submetida aos efeitos das irregularidades pluviométricas do Semi-Árido e aos índices deficitários de balanço hídrico durante quase todo o ano. A rede de drenagem superficial é bastante densa e é composta por rios de regimes intermitentes sazonais. Em face da evidente predominância de terrenos cristalinos, é baixo o potencial de águas subterrâneas. Os solos e as formações superficiais são predominantemente rasos, havendo significativa freqüência de chãos pedregosos e exposições de afloramentos rochosos nos sertões do Alto-Médio Curu. Em nascentes situadas no platô e vertente setentrional da Serra do Machado, o Curu é, também, beneficiado por tributários da margem esquerda que são oriundos da vertente leste da Serra de Uruburetama. Os afluentes da margem direita fluem a partir da vertente oeste da Serra de Baturité. Entalhando fortemente alguns setores do relevo cristalino o sistema do rio Curu tem importantes reservatórios como os de General Sampaio, Pentecoste e Caxitoré. Desemboca através de um estuário sinuoso no limite entre os Municípios de Paraipaba e Paracuru. Refletindo as relações ambientais entre os diversos componentes, há um recobrimento vegetal dominado por caatingas que exibem variados padrões fisionômicos e florísticos. De modo quase genérico, a vegetação se apresenta descaracterizada em decorrência da ação do antropismo, cujas atividades são praticadas por sistemas tecnológicos muito rudimentares, especialmente na agropecuária e no agroextrativismo. Sob o ponto de vista geoambiental e em consonância com a macrocompartimentação geomorfológica, duas unidades se destacam e são representadas: (1) pelos níveis rebaixados da Depressão Sertaneja extensivamente recobertas pelas caatingas e (2) pelos níveis serranos dos maciços residuais. Os níveis serranos dos maciços residuais abrangem as porções setentrionais da Serra do Machado, parte da vertente Norte-Oriental da Serra de Uruburetama e a vertente Ocidental da Serra de Baturité. Esses três conjuntos abrangem o Alto e Médio Vale do Curu. No baixo vale preponderam os relevos baixos dos tabuleiros pré-litorâneos e a planície costeira no entorno do estuário do rio Curu. Bordejando o curso do rio principal e dos maiores tributários como os Rios Canindé e Caxitoré, desenvolvem-se largos setores de planícies aluviais que apresentam significativas melhorias do potencial geoambiental, comparativamente com a Depressão Sertaneja. Os sistemas de produção são caracterizados pela pecuária extensiva, agroextrativismo e agropecuária diversificada. Localmente, desenvolvem-se sistemas de subsistência e perímetros irrigados. Nos maciços residuais com vertentes úmidas a fruticultura é preponderante. Ademais, as Figuras 8 a 12 exibem feições geoambientais de diferentes trechos da Bacia do Rio Curu. 17 Foto: Morsyleide de F. Rosa Foto: Morsyleide de F. Rosa Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Fig. 10. Rio Curu a jusante da Barragem da Serrota, com pequenas corredeiras. Fig. 11. Plantação de bananas no Maciço de Uruburetama, próximo à Barragem do Escorado. Foto: Morsyleide de F. Rosa Foto: Morsyleide de F. Rosa Fig. 9. Área de tabuleiro próximo ao Município de Paracuru, ocupada com cana-de-açúcar. Foto: Morsyleide de F. Rosa Fig. 8. Planície flúvio-marinha do Rio Curu, com manguezal no processo de regeneração. Fig. 12. Depressão Sertaneja; Sertões de Caridade pontilhados de pequenos açudes. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará 18 Contexto geográfico da Bacia do Baixo Jaguaribe A contextualização geoambiental da Região do Baixo Jaguaribe (4.302,6 km²) contempla a caracterização dos componentes naturais e a setorização dos principais sistemas ambientais. As unidades espaciais, conforme os procedimentos metodológicos utilizados, são classificadas e hierarquizadas de acordo com suas dimensões e conforme suas condições de origem e de evolução. Visa-se, além disso, conhecer as potencialidades e limitações dos recursos naturais dos diversos sistemas ambientais para melhor avaliar a sua capacidade de suporte ao uso e à ocupação. A configuração espacial da área comporta duas unidades morfoestruturais compreendidas pela superfície de aplainamento talhada no embasamento cristalino (Depressão Sertaneja) e por parte da bacia potiguar cretácea (Chapada do Apodi). Além dessas unidades cabe referências às coberturas sedimentares cenozóicas, incluindo sedimentos plio-pleistocênicos das Formações Faceira e Barreiras e sedimentos de neoformação que compõem as planícies fluviais, dentre as quais, as que têm maior expressão espacial são formadas pelos Rios Jaguaribe e Banabuiú. A compartimentação geomorfológica é submetida às influências de processos morfogenéticos impostos pelo clima semi-árido que apresenta acentuada irregularidade têmporo-espacial das chuvas. Os elevados coeficientes de temperatura ao longo do ano impõem a ocorrência das altas taxas de evapotranspiração que justificam balanços hídricos deficitários durante a maior parte do ano. Os recursos hídricos de superfície e de subsuperfície são, também, influenciados pelas condições climáticas, implicando em rios com escoamento intermitente sazonal e baixa capacidade de recarga dos aqüíferos. Os solos se apresentam distribuídos em consonância com a compartimentação das unidades geomorfológicas que configuram as unidades morfopedológicas. Grande parte desses solos se exibem degradados pela manifestação dos processos erosivos, intensificada ao longo da evolução histórica do uso e ocupação das terras. A cobertura vegetal é o principal reflexo do jogo de relações mútuas entre os componentes geoambientais. Há evidente primazia da cobertura vegetal das caatingas que ostentam variados padrões fisionômicos e florísticos. Há, também, diferentes níveis de conservação e/ou degradação da vegetação, dependentes do uso e ocupação da terra. Foto: Maria Cléa B. de Figueiredo Foto: Maria Cléa B. de Figueiredo As Figuras 13 a 16 retratam alguns aspectos geoambientais da Bacia Hidrográfica do Baixo Jaguaribe. Fig. 13. Tabuleiros pré-litorâneos, margem direita do Rio Jaguaribe - Itaiçaba. Fig. 14. Barragem das Pedrinhas – Limoeiro do Norte. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Foto: Maria Cléa B. de Figueiredo Foto: Maria Cléa B. de Figueiredo 19 Fig. 15. Planície fluvial e maciço residual. Fig. 16. Planície fluvial, várzea e mata ciliar degradada. Nada obstante, Souza et al. (1994), Souza (2000 e 2003) tratando a respeito da Política de Programas Integrados do Nordeste, referiu-se às principais limitações ofertadas pelo quadro natural. Elas derivam sobremodo dos seguintes fatos: • Grande extensão da zona climática semi-árida. • Pequena proporção e dispersão relativa das áreas de solos de elevada produtividade com topografia favorável. • Muito pequena proporção de manchas edafoclimáticas favoráveis. • Escassez do potencial hidroenergético. Incontestavelmente, é o que se observa em menor escala espacial para os vales das bacias em exemplo. Isso demonstra que a área coberta pela presente pesquisa representa excelente amostragem do contexto fisiográfico e ecológico nordestino. Outrossim, a localização no contexto estadual das bacias pode ser visualizada na Fig. 17. Processos atuais e ecodinâmica das paisagens O entendimento da ecodinâmica das paisagens que compõem as bacias, constitui requisito indispensável para o aproveitamento adequado dos recursos naturais renováveis. Sob esse ponto de vista, a identificação dos processos erosivos responsáveis pela evolução atual do ambiente assume significado importante para todas as unidades hidrográficas consideradas. Mesmo porque, resguarda as particularidades sub-regionais de cada bacia, observa-se similitudes fisiográficas entre as três no Contexto do Ceará. Na concepção de Ab’Sáber (1969), a ação dos progressos deve requerer uma série de condições em que se incluem os recursos técnicos, equipamentos sofisticados, análises demoradas e observação dos agentes erosivos em plena atividade: no momento da chuva, em todos os tipos de precipitações, nos períodos de cheia, durante as vazantes, no decorrer das estações diferentes e em eventuais ocasiões de incidências de processos espasmódicos; além do que, segundo aquele autor, incluem as investigações sob as ações biogênicas, sobre o trabalho dos lençóis de águas superficiais, sobre as atividades das águas de infiltração, sobre as modalidades de movimentos coletivos de solos, entre outros. É evidente que são inumeráveis as limitações que se apresentam para uma avaliação qualitativa e quantitativa dos processos erosivos, nos diferentes tipos de ambientes que compõem o quadro fisiográfico e ecológico do Ceará. É viável, tão somente, destacar algumas hipóteses sobre a atuação dos processos de erosão. Eles se subordinam, essencialmente, às condições climato-hidrológicas, cuja eficácia é dependente da capacidade protetora da vegetação e do declive. 20 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Fig. 17. Localização das Bacias dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe. Nas depressões sertanejas, a dinâmica dos processos deriva, principalmente, das elevadas alternâncias térmicas diárias, da irregularidade e da concentração do ritmo pluviométrico. A desagregação mecânica das rochas assume um caráter generalizado nos sertões. Depende, inicialmente, da intensidade da insolação a que as rochas são submetidas. Importante é considerar, também, as características das rochas como a composição mineralógica. A textura granular favorece a alteração, dada a variação do coeficiente de dilatação dos componentes mineralógicos. A biotita em particular, pelo tipo de clivagem laminar e pela má condutividade e elasticidade, incluída das massas cristalinas, contribui, por meio da dilatação e contração, para afrouxar a rede cristalina, liberando outros minerais como quartzo e feldspato. Nos gnaisses de textura mais compacta, a desagregação superficial é atenuada e as variações diurnas de temperatura podem ter efeito de esfoliação térmica com descamação, levando à formação de blocos e detritos rochosos. Ao lado da desagregação mecânica, o escoamento superficial complementa o quadro de processos dominantes da morfodinâmica semi-árida sertaneja. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará As variações umidade x secura durante o ano, aliada a uma precária capacidade de proteção à superfície por parte das caatingas, fortalece o desempenho erosivo do escoamento superficial durante a estação chuvosa. Ele é mais ativo com as chuvas iniciais quando caem pesados aguaceiros. Acompanhando o caimento topográfico, as chuvas torrenciais dão origem ao escoamento superficial difuso. Mobilizam-se, assim, os detritos derivados da desagregação mecânica, através de um processo seletivo oriundo da competência do agente. O material grosseiro permanece na periferia dos relevos residuais, enquanto os clásticos finos são mobilizados a uma distância maior. Justifica-se, assim, o adelgaçamento do manto de alteração das rochas, além da elevada freqüência de lajedos e de chãos pedregosos. Nas caatingas densas, a degradação tende a intensificar o escoamento, gerando sulcos, ravinas, cones de detritos e ablação dos horizontes superficiais dos solos, isolando blocos e matacões. O escoamento fluvial, em função do tipo de regime, possui pequena capacidade de entalhe, refletindo a natureza da alimentação deficiente e irregular. Os rios possuem gradientes fracamente inclinados e perfis transversais com vertentes planas ou ligeiramente côncavas. Do pequeno entalhe deriva uma amplitude altimétrica insignificante entre interflúvios e fundos de vales. Os leitos arenosos decorrem, em parte, da incorporação de detritos mobilizados pelas enxurradas. Com base nesse dinamismo, justifica-se o predomínio de rampas pedimentadas que coalescem para formar a superfície sertaneja. Seu estado de conservação é decorrente do atual estado de semi-aridez moderada. As áreas de acumulação inundáveis representam, igualmente, exemplo da manifestação dos processos atuais. As planícies fluviais denunciam evidências resultantes de uma evolução recente da paisagem. Para montante, onde o entalhe é mais efetivo, evidencia-se o trabalho da ação hidráulica e da corrosão fluvial. Isto se traduz na ocorrência de material imaturo e de maior calibre. Nos médios cursos, o material detrítico é constituído de areias grosseiras em mistura com seixos arestados. Para jusante, à medida que os rios penetram no domínio dos depósitos da Formação Barreiras, o material fino de natureza areno-argilosa passa a ter primazia, como no Baixo Jaguaribe. Trata-se da porção mais típica de acumulação fluvial, onde a largura das planícies é sensivelmente ampliada. Nas faixas aluvionares, sobretudo próximo aos estuários, os rios tendem a divagar por canais anastomosados, pelos quais flui e reflui a maré. As marés exercem o papel de impedir que a sedimentação se proceda mar afora e facilita a sedimentação rio adentro a partir da embocadura. Pela natureza dos sedimentos de fundo das calhas fluviais, percebe-se a estreita relação entre o atual regime dos rios e as respectivas competências. Os níveis de terraços mantidos por cascalheiros evidenciam diferenças na capacidade de mobilização de clásticos grosseiros em relação às condições atuais. A morfodinâmica dos interflúvios sertanejos, já referida em traços gerais, tem implicações importantes para o comportamento do fluxo hidrológico. As rochas, sujeitas aos efeitos de processos como a desagregação granular ou a esfoliação térmica, liberam detritos rochosos. A estes, acrescentam-se os sedimentos finos que constituem os horizontes superficiais dos solos sertanejos. Aliando-se a pequena capacidade protetora da vegetação de caatingas aos resultados do escoamento difuso e do escoamento em lençol, deduz-se o grande aporte de sedimentos removidos através das rampas pedimentadas que se orientam para os cursos d’água. Decorre daí o entulhamento dos fundos de vales que agrava consideravelmente as enchentes das correntes fluviais à época das chuvas excepcionais, com graves problemas para as cidades ribeirinhas e para as lavouras de vazante, como em Limoeiro do Norte, Itaiçaba e Aracati. A faixa litorânea é igualmente afetada de maneira expressiva pela atuação dos processos atuais. Nesse caso, as conseqüências mais importantes para a paisagem são motivadas pela dinâmica eólica e pelas variações de marés que constituem importantes fatores de retificação do litoral. Sendo das mais significativas a quantidade de sedimentos arenosos, os ventos predominantes de ENE mobiliza-os para SO durante a maior parte do ano, conduzindo à formação de dunas e cordões arenosos. 21 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará A par das inúmeras hipóteses e constatações apontadas a respeito da dinâmica das paisagens por variáveis climato-hidrológicas, não se pode deixar de referir que a aceleração dos processos degradacionais tem assumido proporções relevantes. As mudanças ambientais exibem características alarmantes com sérios prejuízos para os recursos naturais renováveis. São derivações de uma ocupação humana inadequada que se traduzem nos processos de degradação em diferentes níveis e até mesmo em condições irreversíveis. As rupturas do equilíbrio ambiental nos diferentes geossistemas estão diretamente associadas ao sistema de degradação do meio ambiente proposto por Tricart (1977) e adaptado às condições ecodinâmicas das bacias em apreço (Fig. 18). Percebe-se que um possível ambiente em equilíbrio e/ou em condições de estabilidade – preponderância da pedogênese sobre a morfogênese – pode evoluir para um ambiente fortemente instável onde há sensível mudança do sistema morfogenético. Por conseqüência, e em razão da degradação da cobertura vegetal, todos os demais recursos naturais são afetados e os solos podem ser fortemente impactados ou destruídos. Degradação da vegetação ANTROPISMO: atividades agropecuárias, extrativismo vegetal, extrativismo mineral, expansão urbana, incorporação de novas terras ao sistema produtivo 22 Modificação generalizada dos processos que operam no ambiente; impactos e rupturas de equilíbrio ecológico; ecodinâmica com tendência à instabilidade Diminuição da matéria orgânica e ablação dos horizontes superficiais dos solos Menor capacidade de retenção do solo Menor capacidade de reserva de água no solo Menor alimentação do lençol de água subterrânea Fig. 18. Sistema de degradação do ambiente. Modificação das propriedades físicas dos solos superficiais Menor infiltração Menor escoamento artificial Modificação das condições pedogenéticas Maior aceleração de ação erosiva; remoção dos detritos finos do solo Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Uso/Ocupação da Terra e Problemas da Degradação Ambiental As formas de uso e ocupação da terra nas bacias estudadas, resguardam relação direta com as políticas de organização do espaço regional por meio das ações dos tomadores de decisão política, de empresários de diversos setores, das organizações não-governamentais e da comunidade civil organizada. A organização do espaço, no que tange ao uso e ocupação da terra, usualmente, produz efeitos ambientais, traduzidos por problemas de degradação dos recursos naturais, sobretudo os renováveis, produzindo impactos socioambientais das mais variadas etiologias. Isto provoca, por exemplo, a diminuição da qualidade ambiental, que revela relação direta com o estado de conservação da vegetação. As Bacias Hidrográficas em exemplo apresentam variações paisagísticas, em termos de sistemas ambientais, decorrentes das diversidades das condições naturais e das formas de uso e ocupação da terra. A especulação imobiliária, o desenvolvimento do turismo e da carcinicultura, o crescimento desordenado dos núcleos populacionais, o incremento agroindustrial, o manejo de irrigação nos agropólos, perímetros irrigados, como Araras Norte e Baixo Acaraú (Acaraú), Curu-Paraipaba (Curu) e Jaguaribe-Apodi, Santo Antônio de Russas e Jaguaruana (Baixo Jaguaribe) -, a incorporação de terras para agricultura, desmatamento, ablação dos solos e a desertificação estão entre os principais problemas de degradação ambiental observados. Apresentam domínios naturais correspondentes ao litoral, vales, tabuleiros costeiros, serras e cristas residuais, planaltos sedimentares da Ibiapaba e do Apodi, e sertões, constituindo domínios naturais que abrigam atividades econômicas características de sua situação ambiental e inserção na lógica de mercado: pesca, maricultura, turismo e lazer, navegação, agroextrativismo, agricultura, indústria e agroindústria, urbanização, açudagem e outros. Os sistemas ambientais costeiros e pré-litorâneos, por representarem áreas edafoclimáticas e hidrológicas de exceção no contexto da bacia, seguidos pelos maciços úmidos e subúmidos, que têm melhores condições de recursos naturais meio à semi-aridez, são mais procurados pelo capital do circuito superior da economia. Por meio do agroextrativismo e um sistema rudimentar de desenvolvimento da agricultura, os sertões apresentam avançados estágios de degradação, conseqüentes de um nível cultural e de desenvolvimento societário deficiente. Sobressaem-se em alguns trechos de vales, perímetros irrigados para o desenvolvimento de agropólos e que também podem provocar degradação ambiental, como salinização e sodificação dos solos e água, incorporação de terras e outros. A superexploração dos recursos naturais via técnicas muito rudimentares conduzem a um progressivo estado de degradação desses recursos. É evidente que tais problemas ambientais, em todas classes sociais, são determinados pela dinâmica de reprodução do capitalismo e sua articulação em geral. Não menos importante é a junção estabelecida entre o processo de exploração e acumulação e as formas assumidas espacialmente. As formas de ocupação da terra estão relacionadas aos modelos de exploração dos recursos naturais e ambientais devido ao seu valor econômico e social e às atividades exercidas em determinadas áreas como: agricultura, desenvolvimento urbano, turístico e industrial e implementação de infra-estrutura. Tanto os ambientes litorâneos, quanto os reservados ao desenvolvimento agroindustrial, são dotados de recursos naturais que são explotados a partir de um incremento de infra-estrutura básica e hídrica ao participarem da lógica de um mercado cada vez mais globalizado, comprometendo e aviltando a agricultura familiar. Em sua maior parte, o processo de degradação ambiental no Ceará, e em particular na bacia em estudo, ocorre mais pelas intervenções socioeconômicas e culturais do que pelos fatores ambientais e 23 24 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará sua dinâmica natural. A não observância de formas conservacionistas no uso e ocupação da terra, tende a produzir sérios problemas de deterioração ambiental, pondo em risco a capacidade produtiva dos solos e a qualidade ambiental, produzindo ulcerações de caráter irreversível na paisagem. A tipologia do uso e ocupação da terra na bacia se concretiza através de três grandes arranjos espaciais, quais sejam: ocupação urbana e industrial, usos múltiplos dos recursos hídricos e dos agroecossistemas. • Ocupação Urbana e Industrial Os núcleos urbanos são caracterizados pelo uso intensivo do solo com edificações localizadas estrategicamente conforme as características do meio físico e vias de acesso. Além do mais, a ocupação urbana se concentra nas sedes municipais e nos principais distritos. Já os núcleos e povoamentos rurais desenvolvem uma relação telúrica de produção com ocupação menos densa e rarefeita do solo. Em ambos os meios, são verificados problemas de ocupação desordenada da terra e de degradação ambiental. O modelo econômico em franco desenvolvimento no Acaraú e no Curu é o turismo. Muito embora os enclaves úmidos das serras cristalinas, objetos e suportes turísticos religiosos na cidade de Canindé (Curu) e o planalto sedimentar da Ibiapaba (Acaraú) sejam bastante procurados para o incremento do trade turístico, é sem dúvida, por meio do modelo turístico de sol e praia, estimulado pela especulação imobiliária, que as formas de uso e ocupação da terra são diversificadas no litoral. Projetos públicos de irrigação estaduais e federais, para agricultura de subsistência e indústrias, ocorrem em pólos setorizados nos perímetros de irrigação Araras Norte, Baixo Acaraú e CuruParaipaba. O Governo estadual vem incentivando o desenvolvimento econômico de regiões produtoras, por meio da expansão desses agropólos em perímetros irrigados, em detrimento ao apoio à agricultura, familiar de uma maneira geral. Contudo, ainda são desconhecidas as conseqüências ambientais com o incremento destes agropólos, inserção de novas tecnologias, como as voltadas para irrigação. Excetuando os perímetros de irrigação com produção voltada para agroindústria, o desenvolvimento industrial de todas as bacias está praticamente restrito a Sobral, com outras poucas unidades em Limoeiro do Norte e Jaguaruana (voltada à produção de redes) e outras, algumas remanescentes da produção de calçados em Canindé, na Bacia do Curu. Outro destaque no setor industrial se deve às atividades mineiras relacionadas à produção de cal, cerâmicas e tijolos, usualmente desenvolvidas sem o crivo de licença ambiental. Constitui-se da extração, lavra e beneficiamento de substâncias minerais, dentre elas: rochas britadas ou não, areias, cascalhos, saibros, usados na construção civil, e argilas para fabricação de cerâmica vermelha, telhas e ladrilhos. As argilas estão sendo exploradas nas planícies de inundação dos rios Acaraú, Curu, Jaguraribe e principais tributários, muitas vezes com cerâmicas e olarias sob forma clandestina, sem concessão de lavra. Essas atividades estão condicionadas ao Regime de Licenciamento (Lei 6.567/78) para uso imediato na construção civil. Dependem, também, de licenciamento e alvará concedidos pela autoridade municipal e pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e de licenças ambientais concedidas pela Superintendência de Meio Ambiente do Ceará - Semace. O não licenciamento dessas atividades implica em maiores danos ambientais, não pagamento de encargos sociais aos trabalhadores e a não agregação de receita tributária pelo erário, devido à incipiente ação fiscal exercida sobre a indústria extrativa e de transformação mineral. • Usos múltiplos dos Recursos Hídricos Os recursos hídricos são utilizados para múltiplos fins. De maneira geral, há a retirada de água das coleções hídricas, promovendo perda entre derivação e o que retorna ao corpo hídrico, e por usos não consuntivos, quando não se tem necessidade de retirar as águas de suas coleções, isto é, o uso in situ. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará O primeiro grupo exige melhores padrões de qualidade da água em razão de seus usos, que englobam o abastecimento público e industrial, dessedentação de animais, irrigação e instalação de tanques para carcinicultura. Por seu turno, o segundo agrupamento, não demanda padrões rígidos de qualidade, embora não se possa dispensar um mínimo de qualidade e de características estéticas, sobretudo em relação à sua função paisagística. Assim, está condicionado à recreação e lazer, transporte, navegação e diluição de dejetos. Os corpos d’água se constituem como um grande atrativo cênico, onde são procurados para o lazer, além de propiciarem a preservação da comunidade aquática, com destaque aos açudes públicos. Comumente, para a população mais carente, os córregos e riachos são usados para higiene, lavagem de roupas e para banho. A demanda por água é intensificada durante as estiagens, provocando redução na quantidade e qualidade hídrica, afetando a qualidade de vida dessas comunidades. As planícies fluviais, bem como as várzeas e áreas de inundações sazonais, manchas delgadas e dispersas não perceptíveis nos mapeamentos, são aproveitadas com a agropecuária extensiva e, em alguns pontos compõem os agroecossistemas. São muito procurados para o cultivo de cana-de-açúcar, feijão, milho, batata-doce, horticultura e macegas para criação de bovinos. • Agroecossistemas São constituídos, em sua maioria, por pequenas propriedades, onde é desenvolvida a agricultura de subsistência e itinerante, com poucos investimentos de capital e com um nível tecnológico rudimentar produzindo muitos e expressivos efeitos ambientais perceptíveis na paisagem. Esses processos resultam em baixa produção e produtividade da agricultura, bem como no surgimento de espécies invasoras e degradação ambiental. São desenvolvidos cultivos anuais, temporários e permanentes, nas áreas em pousio, além do agroextrativismo. Em algumas áreas de tabuleiros, desenvolve-se o cultivo de mandioca (Manihot esculenta), coqueiro (Cocus citrullus), cajueiro (Anacardium occidentale), goiabeira (Psidium guajava), gravioleira (Annona muricata), laranjeira (Citrus sinensis), milho (Zea mays), ateira (Annona squamosa), cajazeira (Spondias spec), mangueira (Mangifera indica), arroz (Oryza sativa), acerola (Malpighia glabra) e melancia (Citrillus vulgaris), sem esquecer das hortaliças. De quando em quando, alguns setores das planícies fluviais e várzeas são ocupados pela agricultura de subsistência como a batata-doce (Ipomoea batatas), feijão-de-corda (Vigna sinensis), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) e capim elefante (Pennisetum purpureum). As áreas de inundações sazonais, durante o período seco, são ocupadas pela pecuária extensiva. O agroextrativismo se desenvolve em praticamente todos os sistemas ambientais. Especialmente são extraídos murici (Byrsonima crassifolia), ameixa-brava (Ximenia coriacea) e puçá (Mouriria pusa) para incorporação na dieta alimentícia das populações carentes. Destaque cabe à extração e beneficiamento da carnaúba (Cerifera prunifera). A extração de lenha ocorre para uso na construção civil, montagem de cercas e mourões, para o uso como combustível (como dendroenergia) em fogões à lenha e fornos em residências, nas casas de farinha, cerâmicas e olarias da região. Com o estio, a incerteza para a agricultura é magnificada, de vez que a agropecuária extensiva passa a ser o labor de muitos produtores rurais. Não se pode esquecer do desenvolvimento de pólos agroindustriais, alguns com tecnologia de ponta, como o projeto Baixo Acaraú e Baixo Jaguaribe, voltado, preferencialmente, para a produção de frutas tropicais visando à exportação. Fato digno de registro também é o desenvolvimento da carcinicultura, inclusive em águas interiores, como no Baixo Jaguaribe. Com a alta da produção de camarão no mercado mundial, países tropicais, com condições ambientais adequadas – termopluviométricas, salinidade de estuários, e outros, passam 25 26 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará a fazer parte de um circuito econômico, estimulado pela iniciativa privada nacional e internacional, principalmente. • Problemas de Degradação Ambiental A degradação ambiental é conseqüência do uso indisciplinado dos recursos naturais, contingenciados pelas formas de uso e ocupação da terra, sejam eles renováveis ou não renováveis. As ações indiscriminadas contribuem para tornar recursos renováveis em não renováveis, provocando o esgotamento dos solos, devido ao grau irreversível dos impactos ambientais, em face da capacidade de suporte dos geossistemas (Nascimento et al., 2004). Tomando-se por base as características geoambientais e as intervenções das atividades humanas modificadoras das paisagens, é possível mostrar o grau de modificação das condições ambientais nas bacias. Assim, os tensores desencadeadores de problemas ambientais são de ordem natural e/ou socioeconômica, provenientes da ocupação e do uso desordenado dos recursos naturais. Foi verificado, indistintamente, uma expansão urbana desordenada, o emprego de técnicas agrosilvopastoris inadequadas, mineração clandestina, desmatamentos e queimadas, poluição hídrica por efluentes industriais. Esses problemas geram conseqüências na perda da qualidade ambiental, sobretudo dos recursos naturais renováveis e, conseqüentemente, na qualidade de vida da população. É o que pode ser inferido com a consideração dos principais problemas ambientais verificados, quais sejam: ocupação de dunas, aterramento do manguezal e degradação das matas ciliares, turismo, problemas provenientes da agropecuária, poluição dos recursos hídricos, desmatamento desenfreado e redução da biodiversidade, industrialização e desertificação. Com a ocupação de dunas, aterramento do manguezal e degradação das matas ciliares são produzidas novas feições paisagísticas, com desconfiguração e fragmentação dos geossistemas, interferindo no estado de conservação ambiental, exatamente em Áreas de Preservação Permanente (APP). O processo de urbanização hodierno vem intensificando a ocupação dessas APP’s, com residências, segundas residências e com a agricultura. E, até mesmo, são produzidas áreas de risco associadas à ocupação desordenada do solo. A degradação do manguezal tem causado desequilíbrios no ecossistema estuarino, provocando mortandade da ictiofauna, crustáceos e moluscos, desequilibrando os sistemas ecológico e socioeconômico e afetando as populações que subsistem desses recursos. Os desmatamentos aceleram a eutrofização. Os processos erosivos dilapidam as heranças ambientais registradas nas paisagens, produzindo assoreamento dos fundos de vales, desarticulando o ciclo hidrológico e impactando a biodiversidade. Os problemas ambientais oriundos do turismo têm sua gênese na inserção turística do Litoral Norte cearense, em nível doméstico e internacional, preconizada pelo Prodetur-CE. Ocorrem mudanças estruturais nas formas de produção, no mosaico paisagístico, nas formas de uso e ocupação da terra, deflagrando-se processos de desterritorialização da população nativa e conflitos de uso pelos recursos naturais. Investimentos em capitais fixos sobrepõem o capital natural dos ecossistemas, subvalorizado o valor de uso em detrimento do valor de troca em prol dos mercados. Nesse caso, as paisagens litorâneas, em seus aspectos físicos e possibilidades de instalações de infra-estrutura hoteleira são destacados como mercadoria necessária ao desenvolvimento do setor. O Estado, enquanto principal agente transformador do espaço, tem priorizado as políticas direcionadas ao turismo e à agroindústria, com subsídios para reordenação dos espaços, preferencialmente para a perspectiva de setores privados da economia, inclusive os multinacionais. Os principais efeitos resultantes do não-planejamento ambiental nesta atividade precisam ser destacados como alerta à reorientação das atividades, uma vez que as áreas preferenciais ao seu desenvolvimento são de alta fragilidade e vulnerabilidade ambiental. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Assim, ocorre uma ocupação desordenada do solo, pela especulação imobiliária supervalorizando o solo, desrespeitando as normas e as leis ambientais, afetando principalmente os recursos hídricos. Os espaços públicos, como os terrenos de marinha, são apropriados para uso privado. A falta de saneamento básico e ruptura da dinâmica natural do litoral, são outros problemas ambientais emergentes. A perda da cultura pesqueira e marisqueira é uma violenta realidade, que ao lado de loteamentos, muitas vezes invadidos por grileiros, afetam a história dos povos locais. A compactação e/ou a criação artificial de solo com os loteamentos e construção de residências fixas ou segundas residências, também, impedem a mobilização de sedimentos, reduz o aporte transportado pelo rio para o mar desbalancendo a dinâmica costeira. Inclusive, podendo afetar o potencial hidrogeológico dos aqüíferos costeiros, que são as maiores reservas de águas subterrâneas de toda a bacia. Com os problemas provenientes da produção agropecuária, por uma inadequação ou inexistência tecnológica, ou uso intensivo, a biodiversidade é degradada. O descontrole de pragas e doenças, a perda da qualidade biológica e contaminação por insumos da agricultura, dos alimentos e do homem, além do próprio comprometimento da agricultura comprovando a vulnerabilidade deste setor econômico, vão se tornando comuns e corriqueiros. A irrigação, por exemplo, usada indiscriminadamente incorpora fertilizantes ao lençol freático, cursos fluviais e aos produtos cultivados. A depender da qualidade da água e do manejo de irrigação podem ser incorporados sais ao solo, sobretudo o sódio, ocasionando diversos problemas fisíco-químicos na relação solo-água-planta. Os desmatamentos desordenados para o desenvolvimento da agropecuária quase sempre são acompanhados de ablação dos horizontes orgânicos dos solos, empobrecimento bioquímico e intensificação do assoreamento dos leitos fluviais. A substituição da base produtiva agrária pela industrial, paulatinamente, vem expropriando pequenos produtores, dificultando sua reprodução enquanto força de trabalho, quase que liquidando sua já débil força competitiva nos mercados econômicos. Dificulta-se até mesmo a sobrevivência da agricultura familiar. No que tange à água, recurso natural renovável, porém exaurível, é impactada por ações socioeconômicas que lhe confere degradabilidade, reduzindo-lhe a quantidade utilizável em intervalos espaço-temporais freqüentemente mais curtos. As formas de utilização da água, ao contrário do que ocorre com a grande maioria de outros recursos naturais que desaparecem com o uso, geram modificações sensíveis em seus aspectos qualiquantitativos por meio da poluição e barramentos dos recursos hídricos. A poluição dos recursos hídricos está relacionada a pelo menos alguns vetores principais, a saber: esgotos domésticos e águas urbanas de escoamento superficial, águas servidas das atividades agropecuárias, incluindo-se a irrigação e a carcinicultura, efluentes industriais, deficiência ou inexistência da coleta sistemática do lixo e sua disposição adequada. Além de afetar a resiliência da água, elemento essencial à vida, esses tipos de poluição podem provocar o aumento de incidência de doenças de veiculação hídrica, tencionando a relação estreita entre água e saúde pública. Comumente, é elevado o teor de matéria orgânica nos lençóis subterrâneos e coleções d’água de superfície, tornando a qualidade da água imprópria para usos múltiplos, salinização dos corpos hídricos, só para citar os mais relevantes depreciadores. Devido aos problemas sanitários na bacia, às temperaturas elevadas e às vicissitudes de um balanço hídrico deficiente, associado à carência de educação ambiental e hábitos da população, as chances de surgimento de enfermidades vinculadas à água exigem maiores cuidados pelas autoridades competentes. Quanto ao barramento de cursos d’água, ocorre absurdamente sem suporte legal, privatizando as águas, um bem público de primeira necessidade. Nesta trajetória, a dinâmica do ciclo hidrológico altera tanto o volume d’água que seria infiltrado, como o aumento do escoamento superficial e evaporação. 27 28 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Isto modifica in input de água na bacia, interfere nas interações sistêmicas do balanço de energia, matéria e informação, comprometendo a geodinâmica e a renovabilidade hídrica. Visivelmente, a poluição e o barramento dos recursos hídricos potencializam os conflitos decorrentes do uso e ocupação da terra; podem ocorrer usos potencialmente competitivos pela água, usos complementares, usos que competem entre si, ditos vinculados e competitivos e, ainda, os concomitantemente complementares dependentes e competitivos. Os conflitos sobre os usos doméstico x público x comercial x agropecuário x industrial e agroindustrial x turismo e lazer x conservação compulsória x especial (combates a incêndios, instalações desportivas, estações rodoviárias, e outros), são corriqueiros. Com o desmatamento desenfreado e a redução da biodiversidade, há exaustão dos recursos hídricos e comprometimento das formas de vida. A retirada da vegetação nativa provoca diminuição de habitats naturais, ocasionando o desaparecimento de espécies vegetais e animais, sobretudo de mamíferos, invasão de espécies vegetais de baixo valor comercial e a homogeneização dos ecossistemas. A destruição de refúgios, a escassez de alimentos e a pesca predatória prejudica a fauna. Os desmatamentos desordenados não respeitaram as condições das relações biocêntricas entre espécies da flora e fauna com seu entorno. Dessa forma, há empobrecimento ecológico, perda dos mecanismos de autodefesa e aumento da vulnerabilidade aos impactos negativos e às pragas. Os principais problemas ligados à atividade industrial se dão por operações, muitas vezes, sem maior rigor técnico, em descumprimento à legislação ambiental e sob negligências ambientais das empresas. Os efeitos externalizados ao meio ambiente ocorrem pela: emissão de gases tóxicos, não tratamento de esgotos, mau acondicionamento dos resíduos sólidos, remoção do substrato das unidades morfopedológicas, intensificação dos processos de solifluxão, alteração da drenagem, assoreamento, turbidez das águas, poluição, destruição e fragmentação dos ecossistemas e modificações estéticas da paisagem. Além dos já referidos problemas vinculados a alguns setores industriais, cabe ao setor mineral a outra grande parcela de prejuízos às condições ambientais. A necessidade por saneamento básico e habitação, vem aumentando a demanda por matérias-primas ordinárias, os denominados agregados. Assim, a extração e lavra clandestina destes produtos vêm provocando impactos negativos, sobretudo nas áreas do litoral (dunas, praias), tabuleiros costeiros, e nos vales fluviais conforme foi observado em vários trechos dos exutórios e tributários principais, como Groaíras, Macacos, Jacurutú e Jaibaras (Acaraú), Figueredo Quixerê (Baixo Jaguraribe) e Canindé e (Curu). Com uma operacionalidade complexa, a mineração envolve componentes da terra, água e ar. Origina intensos e diversos efeitos sobre o meio ambiente, podendo causar danos irreparáveis. Com o empobrecimento dos múltiplos níveis dos componentes da biosfera, principalmente dos recursos biológicos, aliados à semi-aridez predominante no meso-clima da bacia, há sinais evidentes de esgotamento dos recursos naturais em diversos sistemas, sobretudo nos sertões. Sob esta perspectiva, sobressai-se a desertificação. A rigor, dentre as áreas mais afetadas pela degradação ambiental estão as serras e cristas residuais, em seus maciços úmidos e subúmidos, incluídas as nascentes dos exutórios. Além de outros processos isolados ou areolares em outras áreas. Todas as bacias, de um modo ou de outro, estão inclusas, segundo o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, PAN-BRASIL, nas Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD’s). Tais ASD’s correspondem às Áreas Semi-Áridas e Subúmidas Secas, Áreas de Entorno das Áreas Semi-Áridas e Subúmidas Secas. Nas regiões mais secas (no médio-alto Acaraú, Sertões de Canindé, Sertões de Alto Santo), ocorrem os intervalos mais preocupantes de confrontação dos dados de precipitação anual e a evapotranspiração potencial em relação ao Índice de aridez, com Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará porções nas classes medianamente críticas (0,41-0,45) e menos críticas (0,46-0,50, associados ao desmatamento generalizado. A degradação ambiental desenfreada vem afetando os mais variados ecossistemas, causando a destruição de significativa parcela dos recursos naturais e empobrecimento dos setores econômicos baseados nas atividades agrárias com técnicas rudimentares. Dessa forma, a perda da capacidade produtiva dos sistemas econômicos, reflete-se em perda da identidade cultural, processo de migração populacional, empobrecimento social e estiolamentos ambientais. A degradação que pode culminar com a desertificação, a princípio, deriva das atividades humanas inadequadas sobre os mosaicos paisagísticos exauridos. Dessa forma, as condições econômicas e sociais podem potencializar a desertificação. Historicamente, foram desenvolvidas atividades agrárias rústicas, a par do pastoreio extensivo, incorporação de terras ao sistema produtivo e agroextrativismo predatórios para o desenvolvimento de atividades socioeconômicas de baixa rentabilidade e vulnerabilidade dos empreendimentos agropecuários. Por isso, foram produzidas feições de degradação do tecido ecológico facilmente identificadas nas imagens de satélite e checadas em campo. Nada obstante, a interferência humana no meio físico, mais do que as vicissitudes climáticas, usualmente, provoca rupturas da dinâmica ambiental, onde o agroextrativismo vegetal e mineral, o sobrepastoreio e o uso agrícola do solo podem ser as principais causas da desertificação em áreas não irrigadas. A salinização dos solos é o principal agente nas áreas com agricultura irrigada. Fatores estruturais, contudo, como concentração de renda, alta densidade demográfica, inadequações de algumas atividades econômicas às condições ambientais, dificultam o combate à desertificação e magnificam os efeitos das referidas causas. Ao cruzar, dialeticamente, as condições geombientais, preferencialmente, as potencialidades e limitações dos solos x vegetação e seu estado de conservação x uso/ocupação da terra e problemas de degradação ambiental, considera-se que há mudanças ambientais convergentes para estágios de degradação/desertificação dos recursos naturais. Sinopse da Compartimentação Geoambiental Como forma de sumarizar, são apresentadas as principais características do contexto geombiental das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe. A Tabela 1 compila informações sobre a compartimentação geoambiental e a ecodinâmica das paisagens. 29 Vales Litoral Domínio natural Planícies Planície litorânea Geossistema Sedimentos aluviais com areias mal selecionadas incluindo siltes, argilas e cascalhos Segmentos lagunares arenoargilosos, moderadamente a mal selecionados e sedimentos coluviais arenoargilosos, moderadameente a mal selecionados Planície lacustre, flúvio-lacustre e áreas de inundação sazonal Planície fluvial Sedimentos flúvio-marinhos argilo-arenosos, mal selecionados e ricos em matéria orgânica Sedimentos marinhos eólicos com areias finas e grosseiras, contendo níveis de minerais pesados e eventuais ocorrências de rochas de praia (“beach rocks”) e afloramentos pontuais do cristalino Crono-litoestratigrafia Planície flúviomarinha Faixa de praia e campo de dunas móveis, fixas e paleodunas Geofáceis Categorias espaciais de ambientes naturais Áreas planas em faixas de aluviões recentes e baixadas inundáveis limitadas por níveis escalonados de terraços eventualmente mantidos por cascalheiros Faixas de acumulação de sedimentos areno-argilosos bordejando lagoas e áreas aplainadas com ou sem cobertura arenosa, sujeitas a inundações periódicas Faixas de acumulação de sedimentos areno-argilosos bordejando lagoas e áreas aplainadas com ou sem cobertura arenosa, sujeitas a inundações periódicas Área de acumulação complexa, periodicamente inundável com depósitos continentais e sedimentos marinhos Faixa praial com superfície arenosa de acumulação marinha, níveis escalonados de terraços e campos de dunas móveis e ocorrências de promontórios Geomorfologia Escoamento intermitente sazonal em fluxo muito lento Lagoas de origem fluvial, freática ou mista e áreas precariamente incorporadas à rede de drenagem Estuários e drenagem com padrões anastomóticos e fluxo lento do escoamento fluvial fortemente influenciado pela preamar Lagoas freáticas Hidrologia de superfície Componentes naturais Tabela 1. Compartimentação geoambiental das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe. Mangues; extrativismo, pesca artesanal; aqüicultura Vegetação pioneira psamófila; extrativismo vegetal Neossolos Flúvicos, Planossolos e Vertissolos Vegetação de várzea com carnaubais e oiticica; agroextrativismo; extrativismo mineral Neossolos Flúvicos Vegetação de várzea e Planossolos com carnaubais; agroextrativismo; extrativismo mineral; pecuária Gleissolos Neossolos Quartzarênicos Solos Cobertura vegetal Uso/ocupação Continua... Ambiente de transição com tendência à instabilidade Ambiente de transição com tendência à instabilidade Ambiente de transição com tendência à instabilidade Ambiente fortemente instável Ecodinâmica da paisagem 30 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Baixo Jaguaribe: Alto Santo e Baixo Jaguaribe Sertões Setentrionais prélitorâneos e do Baixo Acaraú e do Centro-Norte Sertões Litotipos variados do complexo cristalino pré-cambriano com Ipú/Pires Ferreira, predominância de litotipos do Sobral/Forquilha/ Complexo Nordestino, suítes Massapê, Santa magmáticas deformadas por Quitéria, Rio Jaibaras, movimentos diastróficos Baixo Acaraú pretéritos e truncados por superfícies de aplainamento Depressões Sertanejas do Centro-Norte do Ceará e da Ibiapaba Curu: Sertões de Itapajé/ Tejuçuoca, Canindé/ Caridade/ Paramoti, Apuiarés/ Pentecoste/General Sampaio, Curu/Umirim (Curu) Russas/Ipueiras, Acaraú: Nova Vertentes e platôs Serras do Machado, Uruburetama, Vertente Oriental da Serra de Baturité e outras Serras Litotipos variados do complexo cristalino pré-cambriano deformados por tectonismo Formação Barreiras: sedimentos areno-argilosos mal selecionados e de cores esbranquiçadas ou amareloavermelhadas. Fácies interiores compostas por sedimenntos da Formação Faceiras Tabuleiros Glacis de Acumulação PréLitorâneos e Interiores Tabuleiros Crono-litoestratigrafia Geofáceis Geossistema Domínio natural Categorias espaciais de ambientes naturais Tabela 1. Continuação. Superfície pediplanada truncando variados tipos de rochas eventualmente dissecada em formas de topos convexos e tabulares, intercalados por vales de fundos planos recobertos por sedimentos aluviais das planícies fluviais Superfícies Serranas ou encostas forte e medianamente dissecadas em feições de cristas, colinas lombadas, intercaladas por vales em V Rampas de acumulação com caimento topográfico suave dissecados em interflúvios tabuliformes Geomorfologia Escoamento superficial com rios de padrões dendríticos e/ou dendríticos retangulares e escoamento intermitente sazonal Escoamento superficial com rios de padrões dendríticos e escoamento intermitente Escoamento intermitente sazonal e rede de drenagem com padrão paralelo Hidrologia de superfície Componentes naturais Ecodinâmica da paisagem Matas Secas e Subúmidas, agroextrativismo Continua... Ambientes de transição tendendo a condições de estabilidade ou instabilidade em função do estado de conservação dos recursos naturais Ambiente de transição com tendência para dinâmica ambiental regressiva Vegetação de Ambiente estável Tabuleiros; culturas comerciais, lavouras de subsistência e pastagens Cobertura vegetal Uso/ocupação Luvissolos (topos Caatingas; pecuária ligeiramente extensiva, convexos e agroextrativismo vertentes suaves). Planossolos (baixas vertentes e interflúvios tabulares). Neossolos Litólicos e Afloramentos rochosos (níveis residuais elevados e cristas); Neossolos Flúvicos (planícies fluviais) alveolares) (fundos de planícies e Neossolos Flúvicos (vertentes íngremes) Neossolos Litólicos altas vertentes) Argissolos (topos e Associação de Neossolos Quartzarênicos Solos Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará 31 Grupo Apodi: formação Açu: arenitos avermelhados, cinza e esbranquiçados, conglomeráticos com intercalações de folhelhos, siltitos e calcarenitos Grupo Apodi: Formação Jandaíra Platô Rebordos e patamares Formação Serra Grande (Siluro/Devoniano): arenitos grosseiros, conglomeráticos, siltitos e folhelhos; estratificação cruzada “Front” da cuesta do Planalto da Ibiapaba Planalto da Ibiapaba Crono-litoestratigrafia Geofáceis Geossistema Baixos Planaltos Chapada Sedimentares do Apodi Semi-Áridos Planalto Sedimentar da Ibiapaba Domínio natural Categorias espaciais de ambientes naturais Tabela 1. Continuação. Escoamento intermitente sazonal, drenagem muito rarefeita e padrões paralelos Escoamento superficial no reverso da cuesta com rios de padrões paralelos e escoamento intermitente; nos rebordos com ocorrências de cascatas obseqüentes Hidrologia de superfície Patamares de acesso ao nível do Escoamento intermitente platô da chapada e área de rebordos sazonal; quase ausência de escarpados (cornija) rede de drenagem Superfície plana coincidente com a estrutura geológica trabalhada por pediplanação e limitada por escarpas erosivas Superfície cuestiforme parcialmente coincidente com a estrutura subhorizontal, limitada por escarpas erosivas festonadas e dissecadas em cristas Geomorfologia Componentes naturais Ecodinâmica da paisagem Neossolos Litólicos Caatinga arbustiva; e afloramento de extrativismo vegetal e rocha mineral Ambiente estável Ambiente estável Mata úmida; policultura; Ambiente estável e de fruticultura e lavouras transição de subsistência Cobertura vegetal Uso/ocupação Cambissolos, Caatinga arbustiva; latossolos agroestrativismo vermelho-amarelos vegetal e agropecuária e neossolos litólicos Latossolos (reverso imediato úmido) e Argissolos (vertentes dissecadas abaixo da cornija arenítica) Solos 32 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Capacidade de Suporte e Diretrizes A capacidade de suporte geoambiental está relacionada às potencialidades e limitações dos recursos naturais que foram avaliadas em seu conjunto. Isso significa que a integração dos componentes do potencial ecológico, exploração biológica e atividades socioeconômicas, com destaque ao uso e ocupação da terra, constituem amálgamas para cada bacia, pois mostram as possibilidade de ofertas e limitações geoambientais. Neste sentido, as Tabelas 2 a 7 apresentam as principais características de todos os sistemas ambientais das bacias em consideração, no que se refere às suas potencialidade e limitações, ou seja, à capacidade de suporte geoambiental. Ademais, com respeito a essa questão foram destacadas diretrizes de ocupação das bacias. Tabela 2. Principais características dos litorais das bacias estudadas. Domínio Natural: Litoral. Geosistema: Planície Litorânea. Geofácies: Faixa Praial e Campos de Dunas. Municípios: Paracuru, Paraipaba e Acaraú. Características Naturais e de Uso Dominantes: Faixas de praias com larguras variadas e campos de dunas móveis, fixas e paleodunas, com ocorrência eventual de recobrimento por eolianitos. Geofácies: Estuário e Planície Flúvio-Marinha dos Rios Curu e Acaraú. Municípios: Paracuru, Paraipaba (Bacia do Curu) e Acaraú e Cruz (Bacia do Acaraú). Características Naturais e de Uso Dominantes: Áreas complexas, periódica e permanentemente inundáveis, com sedimentos mal selecionados e ricos em matéria orgânica de origem continental e acréscimos marinhos; Gleissolos revestidos por manguezais parcialmente degradados. Capacidade de suporte: Faixa praial e campos de dunas Potencialidades Limitações Ecodinâmica e vulnerabilidade Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Patrimônio paisagístico — Implantação viária — Ambientes instáveis com vulnerabilidade alta à ocupação — Desmonte ou interrupção de trânsito de sedimentos por ocupação desordenada — Uso controlado dos corpos d'água e preservação do patrimônio paisagístico — Ocupação desordenada do espaço pode provocar desequilíbrios no balanço sedimentológico do litoral — Proteção das paleodunas, falésias e remanescentes das matas à retaguarda das dunas — Poluição dos recursos hídircos — Manejo ambiental da flora e fauna — Erosão marinha e recuo da linha de costa — Controle de efluentes — Trânsito freqüente de areias aterrando mangues, estradas e áreas urbanas — Controle da especulação imobiliária — Atrativos turísticos e imobiliários — Pesca marítima — Recursos hídricos subterrâneos e corpos d'água lacustres — Turismo / ecoturismo — Loteamentos — Baixo suporte para edificações — Ecodinâmica desfavorável — Agro-extrativismo — Restrições legais (dunas fixas) — Especulação imobiliária e expulsão da população nativa — Desestabilização dos campos de dunas com riscos de deteriorização paisagística — Perda de atrativo turísticos — Atividades educativas — Saneamento ambiental localizado — Monitoramento do ambiente litorâneo conforme preceitos concebidos pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO) Continua... 33 34 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 2. Continuação. Capacidade de Suporte: Estuário e planície flúvio-marinha dos Rios Curu e Acaraú Ecodinâmica e vulnerabilidade Potencialidades Limitações — Ecoturismo — Restrições legais — Ambientes instáveis e com — Edáficas vulnerabilidade — Impedimentos à alta à ocupação mecanização — Pesquisa científica — Educação ambienta — Extrativismo vegetal controlado Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Degradação dos manguezais — Recuperação funcional do ecossistema — Diminuição da produtividade biológica — Manutenção do equilíbrio, da integridade e da biodiversidade dos manguezais — Poluição dos recursos hídricos — Salinidade — Eliminação e/ou diminuição de espécies piscícolas — Inundabilidade — Despejos de efluentes — Resíduos sólidos e detritos — Pesca artesanal — Aterramento — Patrimônio paisagístico — Implantação desordenada de carcinocultura — Atividades de Educação Ambienta; — Conservação / recuperação do patrimônio paisagístico — Controle de efluentes — Manejo ambiental da flora e fauna — Abrigo de embarcações — Praias e ilhas flúvio-marinhas de beleza cênica — Lazer — Carcinicultura — Preservação da biodiversidade Tabela 3. Principais características dos Tabuleiros. Domínio Natural: Tabuleiros. Geossistema: Glacis de Acumulação Pré-Litorâneos e Interiores. Geofácies: Tabuleiros Arenosos e areno-argilosos dos baixos cursos dos rios Curu, Acaraú e Jaguaribe. Municípios: Paracuru. Paraipaba, Umirim, São Luiz do Curu (Curu), Acaraú, Cruz, Bela Cruz, Morrinhos e Marcos (Acaraú), Itaiçaba e Jaguaruana (Baixo Jaguaribe). Características Naturais e de Uso Dominantes: Superfície com caimento topográfico suave na direção da linha de costa, com drenagem de padrão paralelo, rios intermitentes sazonais, Neossolos Quartzarênicos, Plintossolos e Argissolos revestidos por vegetação de tabuleiros, descaracterizada pelo uso agrícola, pecuária e agroextrativismo. Capacidade de suporte dos Geofácies Potencialidades Limitações Ecodinâmica e vulnerabilidade Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Agro-extrativismo — Baixa fertilidade dos solos — Ambientes estáveis em condições de equilíbrio natural; vulnerabilidade baixa à ocupação — Desencadeamento de processos erosivos em áreas degradadas — Práticas conservacionistas no uso e ocupação da terra — Riscos de poluição dos recursos hídricos e dos solos — Manutenção e recuperação da funcionalidade dos geofácies ou ecossistemas — Expansão urbana — Mineração controlada — Materiais para a construção civil — Pecuária melhorada — Instalação viária — Águas subterrâneas — Deficiência hídrica durante a estiagem — Mineração descontrolada — Expansão urbana e impermeabilização comprometendo a recarga hídrica — Manejo integrado de bacias hidrográficas — Proteção de mananciais — Implantação de sistema de saneamento urbano e periurbano Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 4. Sumarização das características mais importantes dos Vales das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguraribe. Domínio Natural: Vales Geossistema: Planícies Fluviais Geofácies: Planícies Fluviais dos Rios Curu, Canindé, Caxitoré (Curu), Acaraú, Groaíras, Macacos, Jaibaras (Acaraú), Jaguaribe, Banabuiú e Figueredo (B. Jaguaribe) e outros. Municípios: Apuiarés, Canindé, Tejuçuoca, Pentecoste, São Luiz do Curu, Paraipaba e Paracuru. (Curu), Cariré, Groaíras, Santa Quitéria, Monsenhor Tabosa, Catunda, Sobral, Santana do Acaraú, Marco, Bela Cruz, Cruz e Acaraú. (Acaraú), Itaiçaba, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Taboleiro do Norte, S. João do Jaguraribe, Quixeré e Alto Santo (B. Jaguaribe). Características Naturais e de Uso Dominantes: Áreas planas resultantes de acumulação fluvial, sujeitas a inundações periódicas, com Neossolos Flúvicos revestidos por mata cilicar degradada e com ocupação agrícola extensiva, inclusive com perímetros irrigados. Capacidade de suporte dos Geofácies Potencialidades Limitações Ecodinâmica e vulnerabilidade — Reservas hídricas — Restrições legais — Ambientes estáveis superficiais (áreas protegidas quando em por legislação equilíbrio natural e — Ecoturismo ambiental) pouco impactados — Patrimônio pelo antropismo. — Inundações Paisagístico Vulnerabilidade periódicas moderada à — Mineração ocupação — Dificuldade de controlada mecanização dos — Agro-extrativismo argilosos — Lavouras irrigadas — Baixo suporte para edificações Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Degradação da mata ciliar — Uso controlado dos corpos d'água — Mineração descontrolada — Preservação do patrimônio paisagístico — Despejo de efluentes, detritos e resíduos sólidos — Controle de efluentes — Poluição dos solos e recursos hídricos — Controle da especulação imobiliária — Salinização dos solos — Manutenção funcional dos ecossistemas ribeirinhos — Ampliação de áreas inundáveis — Saneamento ambiental localizado — Educação ambiental 35 36 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 5. Atributos ambientais das Serras. Domínio Natural: Serras. Geossistema: Maciços Residuais, Serra do Machado, Meruoca-Rosário e das Matas. Geofácies: Platô da Serra do Machado, da Meruoca-Rosário e das Matas. Municípios: Itatira (Curu), Santa Quitéria, Sobral e Alcântaras, Tamboril e Monsenhor Tabosa (Acaraú) Características Naturais e de Uso Dominantes: Superfície de cimeira da Serra do Machado e da MeruocaRosário, com relevos pouco acidentados e com ocupação agrícola diversificada, agro-extrativismo e ocupação urbana na Meruoca-Rosário. Geossistema: Maciços Residuais. Serra do Machado Geofácies: Vertente Norte-Ocidental da Serra do Machado; vertente Ocidental da S. do Machado Municípios: Itatira, Canindé e Tejuçuoca (Curu); Santa Quitéria (Acaraú). Características Naturais e de Uso Dominantes: Relevos dissecados nas vertentes íngremes da Serra do Machado, apresentando uso agrícola de subsistência em áreas moderadamente degradadas. Geossistema: Maciços Residuais, Morros dispersos pelos sertões. Serra de Baturité, Uruburetama, Geofácies: Vertente Ocidental da Serra de Baturité e Vertente Setentrional da Serra de Uruburetama Municípios: Caridade, Canindé, Itapajé e Umirim (Curu). Características Naturais e de Uso Dominantes: Relevos dissecados em cristas, lombadas e morros cristalinos com solos rasos erodidos em áreas degradadas por mata seca e caatinga e uso agrícola de subsistência. Geossistema: Relevos Residuais, Baixos Maciços e Morros Dispersos nos Sertões Geofácies: Cristas Residuais e Agrupamentos de Inselbergs Municípios: Canindé, Tejuçuoca, General Sampaio, Apuiarés, Caridade, Paramoti e Pentecoste (Curu). Alto Santo, Russas e Itaiçaba (B. Jaguaribe), Santa Quitéria, Massapê, S. do Acaraú, Groaíras, Nova Russas e Morrinhos. Características Naturais e de Uso Dominantes: Cristas residuais com fortes declives nas encostas e topos aguçados associados a morros isolados em rochas do embasamento cristalino, com solos rasos ou afloramentos rochosos revestidos por vegetação rupestre. Capacidade de Suporte: Platô das Serras do Machado, da Meruoca-Rosário e das Matas Ecodinâmica e Vulnerabilidade Potencialidades Limitações — Média a alta fertilidade natural dos solos — Suscetibilidade à — Ambiente de erosão transição tendendo à estabilidade — Solos rasos quando em equilíbrio, com — Irregularidades vulnerabilidade climática moderada à ocupação — Águas subsuperficiais em planícies alveolares Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Erosão acelerada em razão de desmatamentos desordenados e do uso de técnicas agrícolas rudimentares — Recuperação ambiental de áreas degradadas — Descaracterização da paisagem serrana — Manutenção funcional dos sistemas ambientais e proteção dos mananciais — Empobrecimento da biodiversidade — Controle da degradação da terra através da conservação dos solos e demais — Desmatamento da vegetação remanescente recursos naturais — Declives inferiores a 8% Capacidade de Suporte: Vertente Norte-Ocidental da Serra do Machado; Vertente Ocidental da Serra do Machado Potencialidades Limitações — Boa fertilidade natural de alguns solos, potencializando áreas para uso agrícola nas encostas — Declividade das encostas — Alta suscetibilidade à erosão — Impedimentos à mecanização — Favorável às atividades de minera- — Vertentes ção (britas e rochas expostas e com ornamentais) matacões Ecodinâmica e vulnerabilidade — Ambientes de transição com tendência à instabilidade por desequilíbrios provocados por desmatamentos desordenados; vulnerabilidade moderada a alta ocupação Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Erosão acelerada das encostas em face de — Manejo adequado da flora e da fauna desmatamentos desordenados e do uso de — Manutenção funcional dos sistemas técnicas agrícolas rudimetares ambientais e proteção dos mananciais — Processos erosivos ativos — Obediência rigorosa ao código florestal — Descaracterização da paisagem serrana — Solos erodidos — Biodiversidade comprometida — Degradação de nascentes fluviais Continua... Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 5. Continuação. Capacidade de Suporte: Vertente Ocidental da Serra de Baturité e Vertente Setentrional da Serra de Uruburetama Potencialidades Limitações — Boa fertilidade natural de alguns solos — Declividade das encostas Ecodinâmica e vulnerabilidade —Ambientes de transição com tendência à — Alta instabilidade por — Potencializando suscetibilidade à desequilíbrios áreas para uso erosão provocados por agrícola nas — Impedimentos à desmatamentos encostas mecanização desordenados; — Favorável às vulnerabilidade — Vertentes atividades de variando de expostas e com mineração (britas moderada a alta, matacões e rochas conforme a ornamentais). Boa ocupação fertilidade natural de Argissolos potencializando uso agrícola em encostas mais suaves Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Erosão acelerada das encostas em face de desmatamentos desordenados e do uso de técnicas agrícolas rudimentares — Manejo adequado da flora e da fauna — Processos erosivos ativos — Manutenção funcional dos sistemas ambientais e proteção dos mananciais — Obediência rigorosa ao Código Florestal — Descaracterização da paisagem serrana — Solos erodidos — Biodiversidade comprometida — Degradação de nascentes fluviais — Produção mineral (britas e rochas ornamentais) — Aproveitamento dos recursos hídricos de superfície através da implantação de barramentos Capacidade de Suporte: Cristas residuais e agrupamentos de Inselbergs Potencialidades Limitações Ecodinâmica e vulnerabilidade — Mineração, — Ausência de — Ambientes através da solos produtivos instáveis e com exploração de alta — Áreas britas para a vulnerabilidade à impraticáveis construção civil ou ocupação para ocupação rochas para produtiva, exceto revestimentos mineração Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Remoção dos Neossolos Litólicos e do recobrimento vegetal rupestre — Áreas de uso muito restrito 37 38 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 6. Sinopse dos atributos mais importantes dos Sertões das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguraribe. Domínio Natural: Sertões Geossistema: Depressão Sertaneja Geofácies: Sertões de Itapajé / Tejuçuoca, Canindé/ Caridade/ Paramoti, Apuiarés/ Pentecoste/General Sampaio, Curu/Umirim (Curu); Ipu / Pires Ferreira, Rio Jaibaras, Baixo Acaraú, Sobral / Forquilha / Massapê, Santa Quitéria, Nova Russas / Ipueiras (Acaraú); Alto Santo e do Baixo Jaguaribe. Municípios: Itapajé, Tejuçuoca, Apuiarés, Pentecoste, São Luiz do Curu, Umirim e Pentecoste, Apuiarés, Pentecoste e General Sampaio; Nova Russas, Ipueiras Santa Quitéria, Catunda, Hidrolândia Sobral, Forquilha, Massapê e Santana do Acaraú, Massapê e Sobral. Pacujá, Cariré, Groaíras, Sobral, Ipu, Ipueiras, Pires Ferreira, Reriutaba e Pacujá; Alto Santo, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Limoeiro do Norte/Russas, Jaguraruana e Itaiçaba (B. Jaguaribe.) Características Naturais e de Uso Dominantes: Superfície pediplanada dos sertões centro norte do Ceará, com vales rasos, extensivamente recobertos por caatingas; agro-extrativismo e pecuária extensiva. Capacidade de suporte dos Geofáceis Potencialidades Limitações — Recuperação ambiental — Pluviometria escassa e irregular Ecodinâmica e Vulnerabilidade — Ambientes de transição com tendências à — Manejo ambiental instabilidade em da fauna e da flora — Potencial muito razão da retomada limitado de águas de ações — Mineração superficiais e morfogenéticas controlada de subterrâneas que acionam os rochas processos de ornamentais e de — Degradação indiscriminada da desertificação materiais de vegetação e dos construção civil solos — Silvicultura — Chão pedregosos e freqüentes afloramentos de rocha — Salinização dos solos — Biodiversidade fortemente afetada — Processos de desertificação configurados Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Desencadeamento de processos erosivos acelerados em áreas fortemente degradadas — Recuperação dos solos e da biodiversidade — Salinização de solos das baixadas — Empobrecimento muito significativo da biodiversidade, promovendo a erosão e remoção dos solos, tornando-os irreversivelmente improdutivos — Evidências muito nítidas de desertificação — Elaboração de Plano Estadual de Controle da Desertificação — Prevenção ou redução da degradação das terras, p/ reabilitação de terras parcialmente degradadas — Obediência aos preceitos estabelecidos pela agenda 21 para enfrentamento da desertificação — Combate à degradação com a conservação do solo e de atividades de florestamento e reflorestamento — Incentivo e promoção popular da educação ambiental com ênfase no controle da desertificação e no gerenciamento dos efeitos das secas Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 7. Principais características dos Baixos Planaltos Sedimentares e Planalto Sedimentar da Ibiapaba. Domínio Natural: Baixos Planaltos Sedimentares e Planalto Sedimentar da Ibiapaba. Geossistema: Chapada do Apodi. Geofácies: Platô, Rebordos e Patamares. Municípios: Alto Santo, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Quixeré, Limoeiro do Norte, Russas, Jaguraruana e Itaiçaba. Características Naturais e de Uso Dominantes: Platô - superfície baixa, com níveis altimétricos abaixo de 100 m em rochas da bacia sedimentar Potiguar, capeada por calcários sobrepostos a arenitos em estruturas que mergulham na direção do litoral através de declives muito suaves; clima semi-árido quente com precipitações médias anuais entre 650-700 mm; baixa freqüência de cursos d'água com razoável potencial de recursos hídricos sub-superficiais; solos dotados de fertilidade natural alta como os cambissolos e latossolos que são revestidos por caatinga hiperxerófila; relevos e solos são favoráveis à intensificação do uso agrícola e as limitações derivam, essencialmente, das deficiências dos recursos hídricos. Rebordos e patamares - patamares de acesso ao nível do platô da chapada e área de rebordos escarpados (cornija) em rochas da Formação Açu. Drenagem superficial praticamente ausente. Superfície e vertentes com neossolos litólicos e afloramentos rochosos freqüentes. Capacidade de Suporte: Platô, Rebordos e Patamares Potencialidades Limitações Ecodinâmica e Vulnerabilidade Platô: — Baixo potencial — Ambiente estável de águas nas porções mais — Alta fertilidade dos superficiais conservadas dos solos fatores de — Grande — Topografias exploração profundidade dos biológica favoráveis aqüíferos — Subterrâneas — Pluviometria — Jazidas de calcário baixa e irregular, sedimentar configurando condições de — Elevada capacisemi-aridez dade de recarga dos aqüíferos — Inexistência de locais favoráveis — Ambientes estáveis a barramento de quando em rios equilíbrio natural e com baixa vulnerabilidade à ocupação Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Exploração descontrolada do calcário tem trazido efeitos danosos ao ambiente — Aumento da demanda por recursos hídricos para irrigação — Impactos para mineração de calcário intensificados — Solos propícios à irrigação Rebordos e patamares: — Material para construção civil — Mineração controlada — Pequena espes- — Ambientes de sura e baixa ferti- trasição com lidade dos solos tendência a instabilidade nos — Vertentes escarlocais mais padas e freqüeníngremes e tes afloramentos desmatados rochosos — Desmatamentos praticados de modo desordenado podem desencadear erosão acelerada — Aumento das superfícies com afloramentos rochosos — Bom potencial de águas — Pluviometria baixa e irregular, configurando — Potencial de águas condições de subterrâneas semi-aridez — Ambientes muito susceptíveis ao desencadeamento de processos erosivos Continua... 39 40 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Tabela 7. Continuação Capacidade de Suporte: “Front” Central do Planalto da Ibiapaba Potencialidades Limitações — Média fertilidade natural dos solos — Declividade das encostas Ecodinâmica e vulnerabilidade — Ambientes de transição com tendência à — Chuvas mais — Alta instabilidade em regulares e com suscetibilidade à face de maior volume erosão desequilíbrios — Maior — Impedimentos à ambientais disponibilidade de mecanização motivados por recursos hídiricos desmatamentos; superficiais na vulnerabilidade sub-bacia do Rrio moderada a alta à Jaibaras ocupação Impactos e riscos de ocupação Diretrizes ambientais — Erosão acelerada das encostas em face de desmatamentos desordenados e do uso de técnicas agrícolas rudimentares — Manejo adequado da flora e da fauna — Descaracterização da paisagem serrana — Degradação de nascentes fluviais e biodiversidade comprometida — Manutenção funcional dos sistemas ambientais e proteção dos mananciais — Obediência aos preceitos do Código Florestal Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Compilando as informações dispostas no presente trabalho, as Figuras 19, 20 e 21 mostram os mapas de compartimentação das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe. Fig. 19. Compartimentação Geoambiental do Acaraú. 41 42 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará BANABUIÚ Fig. 20. Compartimentação Geoambiental da Bacia do Curu. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Fig. 21. Compartimentação Geoambiental do Baixo Jaguaribe. 43 44 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Considerações Finais Os sistemas ambientais foram classificados e hierarquizados de acordo com suas dimensões e conforme suas características de origem e de evolução. Foi possível, além disso, conhecer aspectos importantes dos processos evolutivos da região, suas potencialidades e limitações, para melhor avaliar a sua capacidade de suporte ao uso e ocupação. Considerando a diversidade interna dos geossistemas, foram delimitadas as unidades elementares contidas em um mesmo sistema de relações, destacando-se, dessa forma, as geofácies. Sob esse aspecto, a concepção de paisagem assume significado para a delimitação das subunidades, em razão da exposição de padrões uniformes ou relativamente homogêneos. Na preparação da legenda dos mapas de Compartimentação Geoambiental selecionaram-se as características dos principais atributos ambientais. Elas serviram de base para indicar condições favoráveis ou limitativas para o uso e ocupação das bacias. A identificação e a delimitação dos sistemas naturais, configuradas nos mapas de unidades da compartimentação ambiental, resultaram do agrupamento de áreas dotadas de condições específicas quanto às relações mútuas entre os fatores do potencial ecológico (fatores abióticos) e os da exploração biológica, compostos essencialmente pelo mosaico de solos e pela cobertura vegetal. Esses mapas, organizados através da interpretação das imagens de sensoriamento remoto do TM LANDSAT 5 e LANDSAT 7 ETM , de imagens de radar, da análise do acervo cartográfico temático oriundo de levantamentos sistemáticos dos recursos naturais do Ceará, são de importância fundamental para o conhecimento e avaliação das bacias estudadas. Eles fornecem os requisitos considerados imprescindíveis para definir a qualidade dos atributos naturais em termos de potencialidades e limitações, tendo em vista suas repercussões na qualidade ambiental. A organização das legendas parte de hierarquia espacial taxonômica contida nas unidades inferiores propostas por Bertrand (1969), priorizando-se em razão das ordens de grandeza, os geossistemas e geofácies. É nessa perspectiva que os fatores geoambientais e os padrões de ocupação antrópica tendem a constituir dados instáveis onde se torna importante a acentuada variação temporo-espacial das paisagens. Assim, via de regra, os geossistemas são formados por paisagens diferentes e apenas os geofácies, como subunidades internas dos geossistemas, apresentam maior uniformidade. Para delimitação dos geossistemas/geofácies das bacias, considerou-se a análise geomorfológica como elemento de importância fundamental. Os limites do relevo e as feições do modelado são mais facilmente identificados e passíveis de delimitação mais rigorosa e precisa. Deve-se reconhecer, além disso, que a compartimentação geomorfológica deriva da herança da evolução geoambiental, pelo menos tércio-quaternária. Como tal, cada compartimento tende a ter padrões de drenagem superficial, arranjamentos típicos dos solos e características singulares quanto aos aspectos fitofisionômicos e, por conseqüência, os padrões de ocupação são também influenciados. A diversificação da paisagem, depende da variedade de combinações entre os componentes geoambientais. As serras e as planícies nas três bacias são áreas mais densamente povoadas e de vida agrária mais intensa. Nas faixas pré-litorâneas, não obstante a melhoria das condições climáticas, os solos (Neossolos Quartzarênicos) são em grande parte dotados de baixa fertilidade, o que dificulta uma maior diversificação dos sistemas de produção. Os sertões, aparentemente mais homogêneos possuem, também, uma significativa diversificação geoecológica. A ocorrência de espaços diferenciados não chega, assim, a impor mudanças agudas quanto aos processos de utilização da terra. O que se nota, de modo indistinto, é a persistência de métodos rudimentares, desarmônicos com as condições de recursos naturais disponíveis. A homogeneidade dos espaços estudados é, assim, vinculada à pobreza econômica e não propriamente às condições estritamente naturais. É certo, porém, que as limitações impostas pelas potencialidades ecológicas, Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará têm significado destacável para justificar a debilidade e a vulnerabilidade das atividades econômicas, muito dependentes da irregularidade pluviométrica do semi-árido. Sob o aspecto de uso/ocupação da terra, o contexto geoambiental das Bacias do Acaraú, Curu e Baixo Jaguraibe têm no setor primário da economia suporte fundamental, através de uma participação expressiva na formação da renda ou por representar a principal parcela do emprego regional. Essa situação, cabe salientar, vem se mantendo inalterada ao longo dos anos. Nesse particular, as limitações naturais têm papéis importantes para justificar um ritmo de crescimento que longe está de atingir o desejado. A área dos sertões é, por excelência, o domínio do criatório extensivo, do agro-extrativismo e da pequena lavoura de subsistência. Esse complexo representa o mais importante sistema de produção regional. Evidenciam-se mudanças apenas no tocante à combinação de fatores, pois ora, há primazia da pecuária, ora da atividade agroextrativista e de subsistência. 45 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Referências Bibliográficas AB'SÁBER, A.N. Participação das superfícies aplainadas nas paisagens do Nordeste brasileiro. São Paulo: USP. Instituto de Geografia, 1969. 37 p. (Geomorfologia, 191). BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Revista Caderno de Ciências da Terra, São Paulo, v.13, n. 1, p. 1-21, 1969. BRANDÃO, R. de L.; SOUZA, M.J.N. de. Zoneamento Geoambiental da Região de Irauçuba-CE. Fortaleza: CPRM, 2003. p. 5-50. BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria Geral. Projeto RADAMBRASIL: folhas SA24 Fortaleza: Geologia, Geomorfologia, Vegetação e Uso Potencial da Terra. Rio de Janeiro, 1981. v.21. p.253-308. (Levantamento de Recursos Naturais, 21). BRASIL. Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável. Programa zoneamento ecológico-econômico: diretrizes metodológicas para o zoneamento ecológicoeconômico do Brasil. Brasília, 2001. p. 20-120. NASCIMENTO, F.R. do; CUNHA, S.B. da; ROSA, M.F. Degradação ambiental e desertificação no Ceará: o contexto das sub-bacias do Groaíras e Jacurutú nos Sertões do Alto-Médio Acaraú. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 2004, Goiânia, Anais... Goiânia: Associação de Geógrafos do Brasil, 2004. Não paginado. SOUZA, M.J.N. de. Bases naturais e esboço do zoneamento geoambiental do estado do Ceará. In: SOUZA, M.J.N. Compartimentação territorial e gestão regional do Ceará: parte I. Fortaleza: FUNECE, 2000. p.5-60. SOUZA, M.J.N. de. Limitações geoambientais ao desenvolvimento sustentável do semi-árido brasileiro. Barcelona: Universitat de Barcelona. 2003. 20p. SOUZA, M.J.N. de.; MARTINS, M.L.R.; GRANJEIRO, C.; SOARES, M.Z. Esboço do Zoneamento geoambiental do Ceará. In: PROJETO ÁRIDAS: Ceará. Grupo I. Recursos naturais e meio ambiente. Fortaleza: SEPLAN/FUNCEME, 1994. v.2, p.186-203. TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: FIBGE/SUPREN, 1977. 97p. 47 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Glossário Ações areolares: Processos morfodinâmicos que se manifestam em áreas interfluviais. Aluvião: Sedimentos clásticos de qualquer natureza carregados e depositados pelos rios. Áreas de acumulação inundáveis: Áreas aplainadas, com ou sem cobertura arenosa, sujeitas a inundações periódicas. Área de preservação permanente: Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas (Lei nº 4.771/65). Área de proteção ambiental: Categoria de Unidades de Conservação que pertence ao grupo de uso sustentável e consiste de uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (BRASIL, 2000). Dentre as APA's do CIPP destacam-se as do Cauípe, Estuário do Rio Ceará, Estuário do Rio Curu, Dunas de Paracuru e Lagoa do Pecém. Aspectos fisionômicos: Aspectos naturais referentes ao padrão fisionômico da cobertura vegetal. Assoreamento: Deposição de sedimentos em ambientes: marinhos, fluviais, lacustres, dentre outros. Bacia hidrográfica: Conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus tributários. Biodiversidade: Sinônimo de diversidade biológica significa a variabilidade dos organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, espécies terrestres, marinhas e de outros ecossistemas aquáticos, bem como os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendo ainda que a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. (Lei 9989/00) A biodiversidade inclui, também, a variedade de indivíduos, comunidades, populações, espécies e ecossistemas existentes em uma determinada região. (Resolução CONAMA 12/94). Biótico: Referentes às condições biológicas do ambiente natural. Caatinga: Vegetação xerófita do Nordeste Brasileiro, do tipo mata espinhosa tropical, formada por um estrato graminoso acompanhado de árvores esparsas, espinhosas e folhas mesófilas, e de suculentas e cactáceas, adaptadas a climas quentes semi-áridos. Canais anastomosados: Canais da rede de drenagem superficial dispondo-se com uma configuração labiríntica. Cenário desejado: Corresponde a trajetória em direção ao desenvolvimento sustentável. Antevê maior crescimento econômico com redistribuição de renda, além de reformas sociais e políticas. Caminha em direção à sustentabilidade geoambiental, econômico-social, científico-tecnológica e políticoinstitucional. Cenário tendencial: Refere-se ao prognóstico da situação atual sem considerar a implementação de medidas, de desenvolvimentro sustentável. Clásticos: Materiais sedimentares desapregados ou decompostos. Compartimentação geoambiental: Distribuição geográfica dos sistemas ambientais naturais oriundos da relação entre o potencial ecológico e a exploração biológica. Componentes naturais: Conjunto de fatores da natureza referentes à geologia, geomorfologia, clima, hidrologia, solos, etc. 49 50 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Condições litoestatrigráficas: Seqüência de formações geológicas de uma região. Condições morfopedológicas: Distribuição associada do relevo e dos solos de uma região. Conservação da natureza: O manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000). Cronoestatrigrafia: Distribuição das formações geológicas por idade. Degradação do solo: A FAO definiu a degradação do solo como resultado de um ou mais processos os quais minimizam a capacidade produtiva do solo (atual e/ou potencial) em produzir bens ou serviços. As terras degradadas são tipicamente caracterizadas por solos empobrecidos e erodidos, instabilidade hidrológica, produtividade primária reduzida e diversidade biológica diminuída. Depressão: Superfície topográfica situada abaixo das regiões que lhe estão próximas. Ecodinâmica: Caracteriza-se por certa dinâmica do ambiente que tem repercussões mais ou menos imperativas sobre as biocenoses. Enfoca as relações mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e dos fluxos de energia/matéria no meio ambiente. Ecologia: A totalidade ou padrão de relações entre organismos e seus ambientes. Ecossistema: Conjunto constituído por um grupo de seres vivos de diversas espécies e por seu meio ambiente natural. É estruturado por interações entre seres vivos que exercem uma troca de energia uns sobre os outros e que interagem com seu meio. O ecossistema é a unidade funcional básica da ecologia, porque inclui, ao mesmo tempo, os seres vivos e o meio onde vivem, com todas as interações recíprocas entre o meio e os organismos. Edáfico: Relativa a solos e sua capacidade de produção agrícola. Embasamento cristalino: Domínio estrutural constituído por rochas muito antigas (Pré-Cambriano). Enxurradas: Água que escoa em superfície com grande velocidade, causando degradação dos solos. Eólico: Trabalho de erosão ou sedimentação realizado pelo vento. Equilíbrio ecológico: Estado de equilíbrio entre os diversos fatores que formam um ecossistema ou um habitat, suas cadeias tróficas, vegetação, clima, microorganismos, solo, ar, água, que pode ser desestabilizado pela ação humana, seja por poluição ambiental, por eliminação ou introdução de espécies animais e vegetais. Estabilidade: Capacidade de um ecossistema resistir ou responder às contigências abióticas sem alterar substancialmente sua estrutura comunitária ou seus balanços de material ou energia. Extrativismo: Sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis (Lei nº 9.985/00). Feições morfogenéticas: Distribuição das formas de relevo conforme a origem. Fragilidade do sistema natural: Grau de capacidade de ajustamento do Sistema à situação de variáveis externas independentes, que geram respostas complexas. É, também, o inverso da capacidade que a paisagem pode absorver possíveis alterações sem perda de qualidade. Assim, quanto for maior esta capacidade, menor será a fragilidade. Geofácies: Unidade natural homogênea dentro de um geossistema. Geológica: Referente à geologia de uma região. Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Geomorfológica: Referente à geomorfologia de uma região. Geossistema: Organização espacial com estrutura e funcionamento, oriunda de processos do meio ambiente físico. É constituída por objetivos visíveis na paisagem (topografia, vegetação e solos), ocupam áreas e territórios e podem ser identificados em documentos de interpretação. É um sistema singular e complexo, onde interagem elementos humanos, físicos, químicos e biológicos e onde os elementos sócio-econômicos (não constituem um sistema antagônico e oponente, mas sim incluídos no funcionamento do próprio sistema). Glacis: Superfície topográfica com taludes suaves de fraco declive. Hidroclimática: Característica ligadas às condições hidrológicas e climáticas de uma região. Hidrogeológicos: Referentes às águas subterrâneas. Impacto ambiental: É todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente no todo ou em parte, o território. Inselberg: Forma de relevo residual decorrente de erosão diferencial. Maciços residuais: Níveis elevados de serras dispersas, depressão sertaneja. Mangues: Terreno baixo, junto à costa, sujeito às inundações das marés, contituídos de vasas (lamas) de depósitos recentes. Meio ambiente: Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (Lei 6.938/78). Meios ecodinâmicos: Categorias de ambientes que têm maior ou menor estabilidade natural. Modelado: Aspectos morfológicos da superfície natural. Morfodinâmica: Referentes aos processos externos modeladores da superfície topográfica. Padrões de paisagens: Tipos de paisagens naturais que se esboçam em um ambiente. Paleoclima: Clima de épocas passadas, cujas principais características podem ser inferidas, por exemplo, a partir de evidência geológicas, geomorfológicas (paleoformas) e bioecológicas. Pedimento: Forma de relevo oriunda de recuo de vertentes resultando encostas de declive fraco, ligando dois planos altimétricos diferentes. Pediplano: Planuras formadas pelas justaposições de “glacis”; é uma superfície inclinada. São grandes superfícies de erosão modeladas nos climas áridos quentes e semi-áridos, como a depressão sertaneja do Nordeste brasileiro. Pedogênese: Referente à origem do solo. Pedológica: Referente aos solos ou tipo de solos. Planície: Área plana resultante da acumulação de sedimentos. Poluição: A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente (lei nº 6.938/78) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais. Poluidor: Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental (Lei 6.938/78). Preservação: Conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção em longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais (Lei nº 9.985/00). 51 52 Contexto Geoambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios Acaraú, Curu e Baixo Jaguaribe - Estado do Ceará Processos morfogenéticos: Processos modeladores que dão origem ao relevo. Processos pedogenéticos: Processos responsáveis pela origem e evolução dos solos. Recuperação: Restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original (lei 9.985/00). Recursos ambientais: A atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora (Lei nº 6.938/78). Restauração: Restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original (Lei 9.985/00). Sistema de informação geográfica - SIG: Sistema baseado em computador, que permite ao usuário coletar, manusear e analisar dados georeferenciados. Um SIG pode ser visto como a combinação de hardware,software, dados, metodologias e recursos humanos, que operam de forma harmônica para produzir e analisar informação geográfica. Sistemas ambientais: Sistemas naturais de terra que se distribuem no ambiente. Tabuleiros: Forma topográfica de terreno que se assemelha a baixos planaltos, terminando geralmente de forma abrupta. No nordeste brasileiro, os tabuleiros aparecem, de modo geral, em toda a costa. Tipos litológicos: Referentes aos tipos de rochas de uma região. Unidades geossistêmicas: Unidades naturais que integram os fatores da natureza. Variáveis geoambientais: Conjunto de componentes naturais de origem biótico ou abiótico. Visão holístico-sistêmica: Visão integrada da natureza que considera todo o conjunto de componentes naturais e de processos que operam em um ambiente. Zoneamento ambiental: Definição de setores ou zonas em uma Unidade de Conservação com objetivos de manejo e normas específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz (Lei 9.985/00).