a temática dos modelos na educação e tecnologia - Senept
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a temática dos modelos na educação e tecnologia - Senept
A TEMÁTICA DOS MODELOS NA EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES SOBRE O TEMA DA SEXUALIDADE Vanessa Corrêa da Silva Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Cibele Cyntia Araújo Gomes Universidade Federal de Minas Gerais Emanuele Berenice Marques Ferreira Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Rita de Cássia Costa Teixeira Universidade do Estado de Minas Gerais Solange Aparecida Rosa Abreu Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais RESUMO O presente artigo faz parte de uma pesquisa que buscou inquirir sobre o uso de modelos na educação e na tecnologia. E mais, buscou evidenciar a importância da imagem para a percepção e compreensão do mundo, já que a sociedade atual é considerada a sociedade da imagem, tanto no que tange aos processos mentais quanto aos processos de comunicação. Nesse contexto, percebe-se o predomínio na utilização da imagem na mediação e organização do conhecimento. Nesse processo, é importante reconhecer que linguagem é uma série de estruturas de comunicação que abrange a linguagem verbal formada por registros escritos e orais; a linguagem não verbal formada por elementos diversos, tais como gestos, sons e imagens. O estudo foi orientado pela teoria de Gilbert & Boutler para os quais o modelo pode ser definido como uma representação de uma ideia, um evento, um processo ou um sistema. Esse pressuposto nos encaminhou para a seguinte questão: Quais são os sentidos atribuídos por estudantes da Educação de Jovens e Adultos aos modelos expressos veiculados na mídia? O modelo atua como um modo de compreensão mais claro das teorias, possibilitando que estas sejam testadas empiricamente, para além, os modelos podem ser transferidos para outra área e outros contextos. Diante desta possibilidade, serão analisados os modelos empregados pela mídia que guardam uma relação direta e ou subliminar com a temática sexualidade. Considera-se que, inicialmente, o modelo é construído com algum propósito específico, e são justamente as concepções geradas a partir desse propósito que compõem o elemento deste estudo. Mais especificamente é, portanto, compreender as abstrações feitas pelos sujeitos desta pesquisa dos modelos veiculados pela mídia, cuja percepção ou sentido remetem à sexualidade. A metodologia de pesquisa utilizada foi o grupo focal que pode ser caracterizado como um recurso para compreender o processo de constituição das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos e, mais especificamente, a interação que se estabelece entre os participantes do grupo. A coleta de dados ocorreu em três etapas, a saber: a apresentação da imagem contida na propaganda para o grupo, o preenchimento de um questionário estruturado com questões sobre a imagem e sua intenção e, por fim, uma discussão entre os participantes do grupo que permitiu que se verificassem os sentidos atribuídos à imagem, as metáforas a ela associadas e o potencial dos modelos como ferramentas eficazes na formação de conceitos. A análise da imagem pelos participantes da pesquisa indicou que, embora esta se proponha a vender um produto específico, ela direciona o leitor para uma interpretação metafórica voltada para a sexualidade ao remeter ao modelo do corpo feminino. Verifica-se, no processo de compreensão dos significados impregnados na imagem, uma dinâmica de articulações entre o conhecimento que se quer transmitir e o produto que atuará como veículo para esse conhecimento que, no estudo em questão, é o modelo expresso na propaganda. Os resultados também suportam recomendações para que outros modelos e imagens sejam analisados de maneira similar e outras pesquisas sejam conduzidas nesta área a fim de ampliar o conhecimento sobre sexualidade fundamentado em modelo. PALAVRAS-CHAVE: Modelo; Imagem; Linguagem, Sexualidade 1. Introdução A proposta deste artigo nasceu das discussões realizadas no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Analogias, Metáforas, Modelos e Sexualidade - NAMMES, que há três anos vem desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e extensão relativas ao tema analogias, metáforas e modelos na educação e na sexualidade; sendo suas ações realizadas em estreita colaboração com o grupo de pesquisa AMTEC/GEMATEC e as demais unidades do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais CEFET-MG. A partir dos estudos realizados pelo núcleo foi possível verificar que os modelos desempenham um papel central no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, uma vez que podem ser analisados como representação de um objeto, evento, fenômeno, ideia ou teoria, contribuindo para a aprendizagem formal ou informal. O modelo atua como um modo de compreensão mais clara das teorias, possibilitando que as mesmas sejam testadas empiricamente. De forma abrangente os modelos podem ser transferidos para outras áreas de conhecimento e outros contextos. Cabe ressaltar que, inicialmente, o modelo é construído com algum propósito específico, e são justamente as concepções geradas a partir desse propósito, o nosso elemento de estudo. Essa constatação despertou o interesse pela análise dos modelos empregados pela mídia que guardam uma relação direta e/ou subliminar com a temática sexualidade. Para tal análise foi proposta uma pesquisa qualitativa com sujeitos da Educação de Jovens e Adultos - EJA, por entender que os educandos inseridos nessa modalidade de ensino constituem um público heterogêneo, com especificidades que demandam estratégias didáticas que busquem, na sua formação, elementos concretos que os possibilitem fazer uma intervenção significativa na realidade. O modelo selecionado para análise foi a imagem do comercial intitulado Sexy heels by Samantha, de um creme indicado para hidratação dos pés, veiculado na mídia americana, representada na figura 1. Figura 1 - Samantha cracked heel lotion: sexy heels A análise da imagem visual é uma forma de compreender as relações simbólicas entre publicidade e sexualidade, considerando que a cultura visual implica numa relação que envolve, além da visão, os outros sentidos e diversas linguagens. Nessa perspectiva, o leitor se distancia do papel de receptor da imagem e ocupa o lugar de construtor de sentido e de conhecimento, a partir dela. Por isso, faz-se necessário um posicionamento crítico em relação à intencionalidade do uso de imagem na mídia. A partir desses pressupostos emerge a questão: Quais são os sentidos atribuídos por estudantes da Educação de Jovens e Adultos aos modelos veiculados na mídia? 2. Referencial teórico O interesse pela utilização de modelos na produção do conhecimento teve como ponto de partida o estudo realizado por Boulter & Gilbert (1996) para os quais modelo é a representação de uma ideia, um objeto, um evento ou sistema. Para os autores, o conceito de modelo é dinâmico, sendo assim, pode ser utilizado com objetivos diversificados e reunidos em um conjunto de categorias: Modelo mental: é uma representação pessoal e privada de um Modelo expresso: é uma versão do modelo mental que é expressa alvo. por um indivíduo através da ação, da fala ou da escrita. Modelo consensual: é o modelo expresso que foi submetido a testes por um grupo social, por exemplo, pertencente à comunidade científica e sobre o qual se concorda que apresenta algum mérito. Modelo pedagógico: é o modelo especialmente construído e usado para auxiliar na compreensão de um modelo consensual (BOULTER & GILBERT, 1996). Diante destas possibilidades de uso dos modelos, o propósito específico desse estudo é, portanto, apreender os sentidos atribuídos pelos sujeitos desta pesquisa à imagem utilizada em um comercial de creme para os pés, considerando a imagem como uma forma de linguagem. De acordo com Orlandi (1988), durante muito tempo, a linguagem visual foi utilizada com o intuito de reproduzir a realidade, porém, atualmente, esta se apresenta como criadora de sentidos dessa realidade e, por isso, está sujeita às relações de poder que a perpassam. Os elementos visuais na mídia determinam os sentidos desejados e podem ser, portanto, ideologicamente manipulados. A autora ressalta o caráter polissêmico do texto verbal ou não verbal, pois mesmo que haja um sentido predominante haverá, também, várias possibilidades de sentidos atribuíveis a ele. Por isso, se percebe uma tendência da mídia em manipular as imagens e desviar a atenção do leitor do texto escrito, de modo a garantir que alguns sentidos sejam reconhecidos. Quais imagens têm se mostrado eficazes para atender a esses objetivos? Almeida (2012) considera que definir imagem não é tarefa fácil, pois tal concepção não se esgota no campo teórico. Nesse estudo, a conceituação de imagem se baseia na definição de Santaella & Noth (2008) para os quais o termo imagem se refere aos objetos materiais: fotografias, ilustrações, pinturas, na tela do cinema, da televisão dentre outras; imateriais: produtos do imaginário, representações mentais como modelos expressos ou não; e, ainda, materiais/imateriais em que não se observa o limite entre o que é mental e o que é representacional. A partir do estudo de Santaella & Noth (1983) se pode afirmar que o campo de imagens apresenta dimensões distintas. Uma delas exerce o domínio das representações visuais como os objetos materiais e os signos, tais como os desenhos, as gravuras, as pinturas, entre outros. A outra dimensão diz respeito ao domínio imaterial das imagens formadas na mente humana, tais como as visões, as fantasias, os esquemas, os modelos e as imaginações. “Não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente daqueles que as produziram do mesmo modo que não há imagens mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais” (SANTAELLA & NÖTH,1983, p.15). Os tipos distintos de imagem não são excludentes, pois se mantêm ligados entre si. No processo de compreensão dos significados impregnados nas imagens, verifica-se a dinâmica de articulação entre o conhecimento que se quer transmitir e o produto que atuará como veículo para esse conhecimento - no caso, o modelo proposto. Um dos campos do saber que estuda esse processo é a semiótica, cuja função principal é a análise da dinâmica representacional dos objetos, que intercedem nas relações de significado dos processos de comunicação e construção do conhecimento. A semiótica é “a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido” (SANTAELLA, 1983, 23). A sexualidade é um desses fenômenos, pois produz discursos que utilizam diversas formas de linguagem, principalmente a linguagem metafórica, gestual ou pictórica. Na relação publicidade/sexualidade, se percebem diferentes conceitos de sexualidade expressas em diversas formas de linguagem, sendo uma delas a linguagem erotizada. O estudo de Cabello (1989) indica que o uso da linguagem erotizada passou a fazer parte da conversa das pessoas e estabelece relações entre o cotidiano e os sentidos atribuídos às expressões metaforizadas, por meio das quais muitas pessoas constroem o conceito de sexualidade. Para Filipak (1983), o uso de uma linguagem metafórica funciona, muitas vezes, como recurso de autoproteção quando o sujeito pretende reprimir uma representação ou ideia cuja expressão simboliza um tabu, um pecado, um perigo ou como forma de expressar atitudes corriqueiras de um determinado grupo que a elege como meio de comunicação linguística codificada. É comum que assuntos que constituem um tabu sejam substituídos por expressões ou símbolos metafóricos. Porém, o uso de expressões metafóricas, principalmente ao abordar questões da sexualidade, pode suscitar ideias que envolvem preconceito, julgamento pejorativo e depreciativo já que a metáfora é um recurso da linguagem e do pensamento com caráter interpretativo. Assim, os conceitos metafóricos são compreendidos e estruturados não apenas em seus próprios termos, mas nos termos de outros conceitos e isso significa conceituar um tipo de objeto ou experiência em termos de um tipo de objeto ou experiência substitutiva. Os conceitos são instrumentos mediadores da relação conhecimento/realidade e sua elaboração se dá no âmbito do senso comum ou científico. A construção de conceitos do senso comum se baseia nos modelos construídos no decorrer da experiência histórica e social do sujeito, utilizados para interpretar a realidade. Os sistemas de interpretação favorecem o reconhecimento dos objetos e a compreensão de fatos e ações que incidem sobre a realidade. Esse processo interpretativo dá origem a um repertório conceitual que se origina nas relações empíricas estabelecidas entre o sujeito e o mundo. Esses conceitos, assim estruturados, são chamados de conceitos espontâneos e podem ser observados nas interpretações do sujeito mesmo depois dele passar por um processo de escolarização quando, então, tem acesso ao conceito científico. Isso acontece porque os conceitos espontâneos são generalizações que se originam na palavra ou na imagem que, uma vez internalizadas, se transformam em signo mediador entre o sujeito e seu universo simbólico. Os conceitos espontâneos têm em sua estrutura determinante aspectos sensoriais, emocionais e afetivos e até mesmo de ordem moral, pois são construídos nas relações mediadas pelos familiares, grupos de amizade ou por outros grupos significativos, como a comunidade religiosa e a comunidade escolar, por exemplo. Os conceitos científicos, por sua vez, são o resultado de um processo contínuo de desenvolvimento do pensamento. A formação conceitual se dá a partir da interação entre essas duas formas de pensamento (VYGOTSKY, 1991). Os conceitos de Sexo e Sexualidade são termos usados e explicados por diferentes áreas do conhecimento e pelo senso comum. Não raramente, são utilizados para se referir ao comportamento dos sujeitos que ora se fundem numa abordagem biológica, ora se distinguem numa concepção de que o corpo biológico não abarca a sexualidade, as emoções e os afetos. Para Guimarães (1995), por exemplo, estes termos referem-se ao conjunto de características somáticas, genitais e extragenitais que distinguem os gêneros entre si, separando-os entre machos e fêmeas; mas, do ponto de vista cultural e social, sexo inclui características físicas, aspectos psicológicos, éticos, culturais e morais, portanto, sexo é identidade sexual tanto quanto é o ato sexual humano. Para Louro (2007), ao corpo biológico, que anatomicamente define os “sexos” estão atreladas, também, as noções de sexualidade, pois se no corpo ocorrem as possibilidades de prazer e de desejo, é em estreita ligação a isso que se inscreve a subjetividade humana, sendo o corpo o lugar onde se materializa o querer humano. Sexualidade, então, é uma resultante da implicação do corpo em suas várias fases de desenvolvimento e suas diferentes formas de manifestação afetiva em toda a vida; é, portanto, parte das relações sociais. Para Foucault (1988), sexualidade é uma dimensão que se constrói não apenas no biológico, mas no imaginário, pois ela se faz presente, também, no discurso ideológico que define os padrões das relações sociais. Nessa direção, Foucault indica que os significados dados à sexualidade são socialmente organizados e produzidos. Como diz o autor “estes discursos têm a necessidade não de reproduzir os dispositivos de sexualidade, mas de proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais detalhada e controlar [os sujeitos] de modo cada vez mais global” (FOUCAULT, 1988, p. 101). O discurso da sexualidade é, para esse autor, o modo mais poderoso de regulação social e o corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem somos servindo de fundamento para a identidade sexual. Recentemente, os discursos sobre sexualidade podem ser percebidos na mídia com diversas finalidades, entre elas, a garantia da venda de produtos. Com a constante exposição do tema na mídia, os discursos sobre sexualidade se proliferam e, para Foucault (1988), essa exposição funciona como uma técnica de controle sobre essa sexualidade que não passa mais pelo seu silenciamento, mas justamente pela sua confissão, pela incitação ao discurso sobre ela, pela sua visibilidade: Muito mais do que um mecanismo negativo de exclusão ou de rejeição, trata-se da colocação em funcionamento de uma rede sutil de discursos, saberes, prazeres e poderes; não se trata de um movimento obstinado em afastar o sexo para alguma região obscura e inacessível, mas, pelo contrário, de processos que o disseminam na superfície das coisas e dos corpos, que o excitam, manifestam-no, fazem-no falar, implantam-no no real e lhe ordenam dizer a verdade: todo um cintilar visível do sexual refletido na multiciplicidade dos discursos, na obstinação dos poderes e na conjugação do saber com o prazer (FOUCAULT, 1988, p. 70-71). Nos discursos sobre a sexualidade, o sexo torna-se objeto de saber por meio de dispositivos de poder. Mas, se os mecanismos repressivos se tornam mais evidentes e são mais combatidos, Foucault (1988) nos alerta para outros discursos (implícitos) que estão permeados por mecanismos sutis de convencimento, de manipulação. A sexualidade é, portanto, um dos ícones da sociedade de consumo e da sociedade de massas. Associada ao processo de globalização serve como um apelo para compra e venda de mercadorias; faz parte do jogo capitalista de mercantilização do sexual. O consumo de mensagens elaboradas a partir da lei da oferta e da procura oculta seu efeito político, filosófico e educativo. Para fazer a análise desses discursos, como afirma Bakhtin (2002), a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais. De acordo com a teoria de Bakhtin, o signo é um elemento de natureza ideológica. “Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo, [...], tudo que é ideológico é signo. Sem signos não existe ideologia”. (BAKHTIN, 2002, 31). Então, se pode inferir que todo signo é carregado de significações ideológicas, pois o signo tomado de forma isolada não possui valor em si mesmo, ele só adquire significação e sentido para os sujeitos ao ser contextualizado. As significações estão presentes na atividade mental e podem ser expressas por meio da palavra, do gesto, do discurso interior, da fala, de todos os signos carregados de um conteúdo ideológico e vivencial. Assim sendo, o ato da fala só pode ser interpretado a partir das condições do sujeito falante. A atividade mental é organizada pela expressão mental que modela e determina sua orientação. Para apreender os sentidos presentes no discurso dos sujeitos pesquisados, optou-se pelo uso de entrevista. Segundo Freitas (2011), a entrevista, na perspectiva qualitativa de cunho sócio-histórico, é marcada pela dimensão do social. Sendo assim, não se reduz a uma troca de perguntas e respostas previamente elaboradas, mas é concebida como uma produção de linguagem, portanto, dialógica. Os sentidos são criados na interlocução e dependem da situação experienciada, dos horizontes espaciais ocupados pelo pesquisador e pelo entrevistado. As enunciações acontecidas dependem da situação concreta em que se realizam a relação que se estabelece entre os interlocutores, depende de com quem se fala. Na entrevista é o sujeito que se expressa, mas sua voz carrega o tom de outras vozes, refletindo a realidade de seu grupo, gênero, etnia, momento histórico-social. 3. Objetivo O presente estudo buscou apreender os sentidos atribuídos pelos sujeitos à imagem do comercial intitulado Sexy heels by Samantha, a fim de verificar o potencial dos modelos como ferramenta na formação de conceitos. 4. Metodologia Em princípio, um estudo exploratório auxiliou na definição dos contornos desta pesquisa. Esse estudo consistiu em fazer um levantamento da bibliografia referente às temáticas: modelos, imagem, linguagem e sexualidade a partir das publicações disponíveis. O segundo passo consistiu na montagem de um acervo de imagens, auxiliados pelo estudo exploratório, realizou-se um levantamento documental em que foram selecionadas imagens que guardam uma relação direta e/ou subliminar com a temática sexualidade e que fossem veiculadas pela mídia brasileira e/ou estrangeira. Terminado esse processo, foi escolhida a imagem que melhor atenderia ao objetivo de análise proposta, bem como, o perfil dos sujeitos da pesquisa. Optou-se pela imagem em que o apelo à sexualidade não fosse explícito, nem a parte do corpo exposta fosse diretamente associada ao sexual, pois dessa maneira, se poderia evidenciar que a particularidade de se observar somente uma parte do corpo pode conduzir a completar o que dele falta. E este movimento remete para o imaginário, para a construção de sentidos que extrapolam o visual. A técnica de grupo focal (GF) foi identificada como o método mais apropriado para coleta de dados, por ser caracterizada como um recurso que possibilita compreender o processo de constituição das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos e, mais especificamente, a interação que se estabelece entre os participantes do grupo. A abordagem qualitativa se adapta aos contornos dessa pesquisa, sendo caracterizada por uma dimensão multimetodológica devido à diversidade e flexibilidade, apresenta estágios distintos, demandando recursos metodológicos diferenciados (ALVES-MAZZOTTI & GEWANDZNAJDER, 1998). São muitas as técnicas de coleta de dados em pesquisa qualitativa com vistas a apreender aspectos da subjetividade dos sujeitos participantes. A entrevista pode ser apontada como uma das técnicas mais conhecidas. A entrevista não é apenas um instrumento de coleta de dados, mas também se apresenta como um instrumento que possibilita a observação do pesquisador, na medida em que se depara com diferentes discursos verbais, gestuais e expressivos. São discursos que refletem e refratam a realidade construindo uma verdadeira tessitura da vida social (FREITAS, 2007). O enfoque sócio-histórico ajuda o pesquisador a ter essa dimensão da relação do singular com a totalidade, do individual com o social. A coleta de dados ocorreu em três etapas, a saber: a apresentação da imagem contida na propaganda para o grupo, o preenchimento de um questionário estruturado com questões sobre a imagem e sua intenção e, por fim, análise das respostas propostas no questionário que permitiu que se verificassem os sentidos atribuídos à imagem, as metáforas a ela associadas e o potencial dos modelos como ferramentas na formação de conceitos. Esse recurso pode e deve ser analisado como um elemento que possibilita uma ação diagnóstica, uma vez que permite o acesso à atividade mental de um sujeito. Para Boutler & Gilbert: Se os modelos que os estudantes encontram são previamente planejados pelo professor, de modo a tratarem de assuntos semelhantes ou relativos entre si, então, as narrativas construídas nas várias situações interagirão e produzirão uma narrativa abrangente sobre o fenômeno que está sendo estudado. Modelos de qualquer tipo [...] servem como base para construção de narrativas relacionadas com a situação experimental vivenciada pelos sujeitos (BOUTLER & GILBERT, 1996, P.29). Nesta perspectiva, os autores sugerem que a capacidade dos estudantes para formar e expressar modelos mentais seja estimulada por meio de atividades que proporcionem oportunidades explícitas para que os mesmos tomem consciência dos seus modelos mentais e tenham chance de expressá-los. Os sujeitos desta pesquisa foram convidados a observar e analisar a imagem apresentada em PowerPoint (PPT). A entrevista estruturada orientou a observação e análise dos participantes realizada mediante questionário totalmente estruturado. As perguntas foram previamente formuladas, de modo a possibilitar aos respondentes uma maior liberdade de expressão, bem como, capturar suas abstrações. Findada essa etapa, os dados apresentados no questionário foram tabulados em gráficos e tabelas para análise dos pesquisadores à luz das teorias que permeiam este estudo. 5. Desenvolvimento 5.1. Perfil dos sujeitos Os participantes desta pesquisa são alunos de uma Escola Estadual de Minas Gerais do município de Betim. Inseridos no 2º Ano do Ensino Médio na modalidade de ensino EJA. Essa turma é bastante heterogenia, considerando as categorias do perfil etário e de gênero, como ilustra o GRÁF.01. Ao analisar o perfil dos alunos, percebeu-se que 50% deles estão na faixa dos 39 anos em diante. Sendo que 42,3% têm idade entre 21 a 38 anos. Os outros 7,7% se referem aos alunos com idade entre 15 e 20 anos. Torna-se evidente que a maioria dos educandos é adulto, trabalhadores proletariados e/ou aposentados marginalizados do processo de escolarização, uma vez que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos em idade regular. Com relação ao gênero, a grande maioria (18 alunos), representando 69,3%, é do sexo feminino e há oito alunos do sexo masculino, os quais representam 30,7%. Estes dados demonstram que a Educação de Jovens e Adultos apresenta-se como um espaço sem distinção de gênero. Deve-se considerar também, que embora em menor número, os homens estejam se inserindo em um espaço que até então era predominantemente feminino, quebrando assim, uma barreira cultural. Esses aspectos podem ser observados no gráfico que se segue: Gráfico 1- Perfil etário e de gênero dos sujeitos da pesquisa: alunos do Ensino Médio Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores Quando o jovem ou adulto retorna à escola, percebe-se a motivação para a possibilidade de mudança, pois a educação, em seu caráter social se apresenta como oportunidade para todos, que por diversos motivos, estiveram fora da escola ou não tiveram acesso à mesma. O retorno à escolarização permite uma nova percepção da realidade, através de uma formação que viabilize a constituição de um aluno mais critico, além de possibilitar uma ascensão social e profissional. Assim, a busca por oportunidade de aprendizagem, irá refletir em novas expectativas para um projeto de vida, além da melhoria da autoimagem e da autoestima. 5.2. Análise dos dados A seguir, são apresentadas as análises e as abstrações feitas sobre a imagem utilizada como modelo com fins didáticos para discutir a sexualidade com base nos dados coletados e nos estudos realizados pelos membros do núcleo. As atividades que possibilitaram a coleta de dados foram coordenadas por duas pesquisadoras, membros do NAMMES, sendo que, uma delas é professora da turma. Esse fato é relevante, pois se pode inferir que os alunos não se sentiram constrangidos com a presença das pesquisadoras, uma vez que já estava estabelecida, anteriormente, uma relação entre eles. Inicialmente, os alunos foram comunicados de que a atividade se tratava de uma coleta de dados e foram convidados a observar e analisar a imagem modelo expresso, de acordo com a classificação de modelo para Boulter & Gilbert (1996). A exibição da imagem foi feita em sala de aula, utilizando uma apresentação em PowerPoint (PPT). Com frequência, a imagem da mulher aparece na mídia associada a propósitos sedutores ou à própria sexualidade, ali colocada por anunciantes de produtos ou por agências de publicidade com o intuito de estimular o consumo. Essa escolha pode ser justificada recorrendo ao conceito freudiano de fetichismo segundo o qual, partes do corpo da mulher ou certos objetos usados por ela se constituem em símbolos sexuais: pés, pernas, cabelo, botas, luvas, entre outros. A beleza percebida é fisiologicamente estimulante, induz prazer e pode influenciar as percepções, os julgamentos, as atitudes e as concepções. Na publicidade, a própria mulher é colocada como objeto de exibição e de desejo. Retomando o objeto deste estudo - a análise dos modelos empregados pela mídia que guardam uma relação direta e/ou subliminar com a temática sexualidade observa-se que o corpo feminino veiculado pela mídia se transforma em um padrão, um modelo a ser copiado pelas consumidoras ou ainda, se transforma em objeto de desejo. As significações do corpo, os gestos e posturas variam de acordo com o produto anunciado, com o público alvo e com a mensagem que se quer transmitir. Este recurso parece eficiente no mercado de consumo, uma vez que as imagens produzidas pela mente humana suscitam a imaginação. Lacan ensina que “o imaginário deve ser visto como ligado à imagem, dado que as formações imaginárias do sujeito são imagens simbólicas, alimentadas por imagens materiais” (apud Aumont, 1990, 88- 98). Assim, para compreender a imagem exibida no comercial de creme hidratante para os pés da marca Samantha os sujeitos pesquisados buscaram referências no imaginário, ao mesmo tempo em que a apreensão dela desencadeou, nele, novas imagens. E as imagens veiculadas na mídia, geralmente, servem de modelo que determinam comportamentos e concepções. Um modelo de um alvo é produzido a partir de uma fonte por meio de metáforas. Observa-se que as associações, embora metafóricas, permitem que o alvo (no caso em questão: imagem dos calcanhares bem hidratados) seja visto, ainda que inicialmente e por pouco tempo, como sendo muito similar a outras partes do corpo, na medida em que comparações vão sendo estabelecidas, o alvo vai sendo apreendido e as semelhanças e diferenças ajustadas por meio de um raciocínio analógico. A figura 1 destinada a promover o creme hidratante para calcanhar ressecado apresenta esta parte do corpo fotografada, num ângulo tal, que nos remete à imagem dos glúteos femininos. Na figura, os calcanhares se transformam, intencionalmente, em um signo que permite associações de novos significados que excedem seu sentido literal, como ilustra as falas dos sujeitos pesquisados: Sujeito A “São dois pés juntos, mas ao mesmo tempo, parece com um bumbum sendo muito bem cuidado”. Sujeito B “É muito difícil de explicar esta imagem, parece ser uma nádega de uma mulher, parece ser um cotovelo de uma mulher.” Sujeito C “Acho que é um bumbum, mas também parece com um joelho e ou calcanhares.” Sujeito D “A princípio um bumbum, observando melhor um pé ou um joelho que precisa de um creme anti-rachaduras.” Consideramos que, nesta figura, os calcanhares hidratados, do modo como foram fotografados, podem representar as nádegas – parte do corpo feminino, considerada por excelência, uma parte do corpo sensual e sexual. O comercial se dirige às mulheres consumidoras para as quais, ter uma aparência bonita é uma necessidade imposta pela sociedade de consumo. Além disso, à beleza é atribuído um valor social, assim como acontece com outros atributos desejáveis estéticos e eróticos. Pareceu clara a intenção publicitária de associar o consumo e o uso do creme hidratante para os calcanhares ao poder de seduzir. Percebe-se, ainda, que a imagem aqui analisada recorre a apelos que se situam entre a beleza e a sensualidade e invoca um ideal de juventude, fator este que representa um modelo valorizado socialmente. Ressaltamos que, de modo geral, as fissuras do calcâneo são uma patologia mais comum em idade avançada, então o comercial se destina a mulheres mais velhas. Porém, com o uso do creme Samantha, essa consumidora pode ser tão bela e atraente quanto às mulheres jovens. Fica evidente uma tendência da propaganda veiculada na mídia atual de eliminar os limites naturais para a beleza: os produtos de cuidados corporais vencem as imperfeições do tempo. Para esse efeito, se faz necessário considerar a “forma” que o fotógrafo capturou dos calcanhares o que contribui para que a imagem exerça o poder de persuadir, para que chame a atenção, para que dialogue com a consumidora e a seduza: o calcanhar jovem, liso, hidratado sugere, também, “um bumbum” com as mesmas características, como pode ser evidenciado na abstração do sujeito E: “Talvez seja possível associar o resultado do uso do produto para os pés fazendo uma comparação com um bumbum de bebê.” Os 33% dos sujeitos femininos participantes da pesquisa interpretaram a imagem literalmente, mas confirmaram sua associação aos aspectos juventude e sedução. Os sentidos atribuídos à imagem pelos serão apresentados a seguir. Gráfico 2- Aspectos observados pelos sujeitos masculinos do Ensino Médio EJA Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores Nos aspectos observados na imagem pelos sujeitos masculinos verifica-se que, apenas 20% deles interpretaram a imagem em seu sentido literal – calcanhares. Para 40% deles, a imagem simboliza uma parte do corpo feminino que pode ser classificada como sensual ou sexual (glúteos e seios); e 20% a interpreta como sendo um objeto de fetiche (pés). Ressalta-se que, na imagem, aparecem apenas os calcanhares e não o pé. Então, 60% dos sujeitos atribuem à imagem um sentido relacionado à sexualidade. Os 20% restantes, não perceberam o sentido literal da imagem, mas também não a associaram a um aspecto da sexualidade. Gráfico 3- Aspectos observados pelos sujeitos femininos do Ensino Médio EJA Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores Nos aspectos observados na imagem pelos sujeitos femininos verifica-se que, apenas 33% deles interpretaram a imagem em seu sentido literal – calcanhares. Percentual maior se comparado ao dos sujeitos masculino em 13%. Para 28% desses sujeitos, a imagem simboliza uma parte do corpo feminino que pode ser classificada como sensual ou sexual (glúteos e seios); e 19% a interpreta como sendo um objeto de fetiche (pés). Lembrando que, na imagem, aparecem apenas os calcanhares e não o pé. Então, 47% dos sujeitos atribuem à imagem um sentido relacionado à sexualidade. Percentual menor em 13% que o representado pelo grupo masculino. Pode-se inferir que o aspecto sexualidade é mais relevante para o grupo masculino e que, também, o sentido literal é mais presente na análise feita pelo grupo feminino. Igualmente aos sujeitos masculinos, o grupo representando os 20% restantes, não percebeu o sentido literal da imagem, mas também não a associou a um aspecto da sexualidade. Interessante observar que a associação da imagem ao seio feminino foi feita por 20% dos sujeitos masculino e por apenas 3% dos sujeitos femininos. É válido ressaltar que o modelo selecionado propiciava múltiplas interpretações. A esse respeito, veja que Santaella & Noth (2008) consideram que o termo imagem se refere aos objetos materiais: fotografias, ilustrações, pinturas, na tela do cinema, da televisão dentre outras; imateriais: produtos do imaginário, representações mentais como modelos expressos ou não; e, ainda, materiais/imateriais em que não se observa o limite entre o que é mental e o que é representacional. Acrescentamos que a enunciação verbal que acompanha a imagem do comercial “Samantha cracked heel lotion: sexy heels” não foi citada por nem um dos sujeitos da pesquisa, o que induziria ao apelo sensual do comercial. Uma das justificativas para isso pode ser o desconhecimento da língua inglesa, embora a palavra sexy pode ser identificada e compreendida com facilidade. 6. Considerações finais A propaganda exibida nos veículos de comunicação produz e reproduz um sistema simbólico que nos desafia a desvendar uma diversidade de sentidos nela presentes. E mais, ela se apropria de elementos sociais, modelos e concepções de tal modo que o público acaba se identificando com o produto anunciado, pois se vê representado nele. Assim, a propaganda estabelece relação entre as identidades e os modelos utilizados, por isso ela precisa ser analisada, também, pelos valores e sentidos que transmite no ambiente social e não apenas do ponto de vista de mercado. Pode-se dizer que a publicidade representa a sociedade na qual está inserida e que vende mais que o produto: vende concepções, ideologias e estilo de vida. Daí, a importância de se usar os modelos expressos na mídia como recurso didático. A imagem analisada nesse estudo representa o corpo feminino idealizado: jovem, bonito e sensual. A mulher consumidora, público alvo do creme hidratante Samantha, espera que o produto supra, não só sua necessidade de manter a pele dos pés hidratada, mas também, sua necessidade “abstrata” de afeto e prazer, além de apresentar um modelo de identidade. Essa expectativa é desencadeada quando a imagem do pé que, como dito anteriormente, é um elemento de fetiche, pode ser substituído, metafórica e simbolicamente, pelo “bumbum”. O modelo em questão se prestou às discussões sobre a temática sexualidade, no espaço escolar, na medida em que os alunos da EJA construíram significados para o que estava explícito e, principalmente, para o que estava implícito no comercial. Esse movimento foi, a nosso ver, um ato de construção de conhecimento, quando possibilitou a compreensão de que os modelos e suas representações simbólicas expressam a realidade social ou parte dela, e o que é valorizado nela. Dessa forma, ficou evidente que a publicidade ajuda a construir certas identidades e são eficazes nesse objetivo de estimular o consumo, quando fornecem imagens com as quais os consumidores se identificam. O estudo aqui empreendido foi além de responder à questão que o motivou: verificar os sentidos atribuídos por estudantes da Educação de Jovens e Adultos aos modelos expressos veiculados na mídia. Ele abriu novas perspectivas de investigação, pois acreditamos que o uso dos modelos veiculados na mídia e as significações suscitadas por eles merecem maior atenção no espaço escolar, já que estão impregnados de ideologias e concepções. O uso de modelos na construção de conhecimento acerca da sexualidade possibilitou discutir o tema numa abordagem ampla, já que o alvo da discussão não foi o sujeito em si, mas aquilo que estava representado, deixando o aluno numa posição, confortável, de não expor sua intimidade. Mas, é sabido que as representações e os sentidos atribuídos à imagem ou ao modelo dizem respeito à identidade do sujeito, já que fazem parte das construções sociais por ele legitimadas. Conscientes de que modelos e conceitos são construções sociais, o aluno pôde executar outro movimento: o de desconstruir e reconstruir tais modelos e conceitos, de maneira a não torná-los instrumentos de exclusão nem de preconceitos. Além disso, favoreceu uma reflexão sobre as estratégias usadas na publicidade para impulsionar o consumo. Por tudo isso, consideramos que o uso de modelos como recurso didático é uma ferramenta eficiente na formação de conceitos e nos processos de interpretação das diversas formas de linguagens. Referências ALMEIDA, Délcio Julião Emar de. Espaço Multiverso: Reconstrução de modelo Análogo para Ambiente não Formal de Educação em Ciências Destinado ao Ensino de Astronomia. Dissertação de mestrado. Belo Horizonte. CEFET-MG, 2012 AUMONT, J. Esthétique du film. Paris: Nathan, 1999. ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais. 1998. 111p. FRANCESE, P; PIIRTO, R. BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: HUCITEC, 2002. BOULTER, C. & GIILBERT,J. Text and Contexts: Framing Modeling in the Primary Science Classroom. 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