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GAZETA MERCANTIL Simone Azevedo – 1a Página e Página C5 Balanços Modernos têm mais Informação São Paulo, 5 de junho de 2001 – Em 1998, os relatórios da administração de 55 companhias analisadas pela MZ Consult tinham em média 8,4 páginas. Em 2000, o número subiu para 14. O balanço anual da Copel, por exemplo, passou de 8 para 39, o da Embraer, de 19 para 28 e o do Bradesco, de 17 para 26 páginas. As companhias que têm papéis negociados nos Estados Unidos tratam de aprimorar informações para atrair investidores. Os balanços agora dão também detalhes de gestão de risco, de governança corporativa e da ação social da companhia. O número de empresas que publicam seus balanços sociais no Brasil cresceu 25 vezes nos últimos quatro anos. Passou de dez, em 1997, para cerca de 250 este ano. As empresas brasileiras de capital aberto deram nova roupagem a seus balanços depois de negociar ações no mercado norte-americano. À frente do desafio de chamar atenção do investidor estrangeiro, em meio às variadas opções disponíveis na Bolsa de Nova York, elas trataram de sofisticar os balanços apresentados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) adicionando informações apreciadas pelas boas práticas de relacionamento com o mercado. Pesquisa realizada pela consultoria MZ Consult compara os relatórios da administração apresentados por 55 companhias entre 1998 e 2000. A amostra inclui 54 empresas com programa de ADRs (American Depositary Receipts) e o Banco Itaú, que está prestes a implementá-lo. Foram analisados cinco itens, a começar pelo número de páginas. Em média, os relatórios tinham 8,4 páginas em 1998. No ano passado, subiram para 14. O relatório da Copel, por exemplo, que continha apenas oito páginas em 1998, chegou a 39 em 2000. A Embraer saltou de 19 para 28 páginas e o Bradesco de 17 para 26. 'Não significa, necessariamente, que todos os relatórios ganharam qualidade, mas há evidências de que as companhias estão preocupadas em prestar cada vez mais informação ao investidor', afirma Rodolfo Zabisky, diretor da MZ Consult. No balanço de 2000, o maior relatório em número de páginas foi o da Petrobras, com 56 folhas. Em segunda lugar estava o da Telesp Celular, com 43, seguido de Copel (39), Itaú (37) e Brasil Telecom (30). Em alguns casos, a quantidade de informação impressa disponível para o investidor é ainda maior. Há quem prefira investir mais nos relatórios do tipo 'press release', ou comunicados à imprensa, usualmente divulgados via internet. A fim de minimizar o custo da publicação na imprensa, Roberto Terziani, diretor de relações com investidores da Telemar, optou por condensar os balanços entregues à CVM e enriquecer o conteúdo divulgado na rede. Os 'press releases' caíram no gosto dos profissionais de relações com investidores também pela flexibilidade que proporcionam na apresentação da informação. 'Fazemos o press release com o nosso jeito e não no padrão adotado pela CVM', afirma Terziani. Empresas que decidiram empenhar-se em sofisticar seus balanços logo notaram que o diferencial estaria nos itens não previstos pela legislação. Ferramentas como a demonstração do valor econômico e do fluxo de caixa, além de relatórios sobre boas práticas de governança corporativa, trabalhos sociais e preservação do meio 1/3 ambiente começaram a ganhar espaço nos balanços, embora ainda insipiente em muitos casos. Em 1998, 27,3% das companhias analisadas relatavam seus trabalhos sociais ou ambientais ao investidor. Em 2000, esse percentual era de 56,4%. Em 1998 e 1999, nenhuma das empresas da amostra f alava de governança corporativa. No ano passado, Brasil Telecom, Klabin, Petrobras, Saraiva e Ultrapar já apresentavam suas atribuições nessa área, o equivalente a 12,7% da amostra. 'Os relatos sobre governança podem até servir de convite para novos acionistas', afirma Zabisky. A demonstração do valor adicionado, que estava presente em 7,3% dos relatórios em 1998, chegou a 20% no ano passado. Nos balanços anuais da Copel, por exemplo, foi uma constante durante os três anos. Seguindo uma metodologia semelhante à utilizada para contabilidade do Produto Interno Bruto, a demonstração apresenta quanto a companhia constituiu de riqueza em um determinado período e de que forma a distribuiu: quanto foi para o governo, os financiadores, os acionistas e o quadro funcional. 'A partir deste mês, pretendemos divulgar a demonstração semestralmente', afirma Cesar Bordin, coordenador da gestão contábil da Copel. Embora tenha ganhado adeptos nos últimos anos, o valor adicionado ainda encontra ressalvas. Márcio Villas, presidente do Instituto Brasileiro de Contabilidade (Ibracon), lembra que a regulamentação ainda não prevê uma moldagem oficial para o demonstrativo. 'Isso dificulta a comparação e pode ainda dar margem a que algumas companhias se utilizem dessa ferramenta como propaganda', observa. Apesar dos avanços, há um item elogiado pelos investidores internacionais que continua distante dos balanços brasileiros. São os chamados fatores de risco, que apontam todos os eventos operacionais ou financeiros que possam vir a modificar o cenário atual da companhia. A Brasil Telecom começou a divulgá-los este ano e a AmBev irá apresentá-los no relatório anual impresso que está sendo finalizado. Os fatores de risco já eram exigidos pela Securities and Exchange Commission, a CVM norte-americana, para os prospectos de lançamentos de ADRs. A AmBev, por exemplo, informava em seu prospecto incertezas quanto ao aproveitamento de sinergias na fusão Brahma e Antarctica, à aprovação da fusão pelos órgãos reguladores e quanto a possíveis reduções dos lucros futuros na contabilidade da nova companhia após a operação. Em setembro do ano passado, a SEC passou a exigir das empresas estrangeiras a apresentação dos fatores de risco também no balanço anual. Mas o adereço ainda continua sendo uma opção para os balanços apresentados no mercado doméstico à CVM. Por enquanto, além de Brasil Telecom e AmBev, apenas os três principais bancos brasileiros – Bradesco, Itaú e Unibanco – falam de risco em seus balanços. Mas tratam apenas das políticas de gerenciamento de risco, sem especificá-los ou mensurá-los. Kieran McManus, diretor da consultoria PricewaterhouseCoopers, conta que, nos Estados Unidos, é comum a apresentação dos fatores de risco preencher diversas páginas dos relatórios. 'É uma forma muito interessante de informar o acionista, principalmente quem é leigo', afirma. Além dos fatores de risco, os relatórios norte-americanos quantificam a sensibilidade dos números em relação aos fatores de risco, com projeções do quanto as hipóteses mencionadas podem afetar os resultados futuros. A Brasil Telecom foi a única companhia da amostra cujo relatório de 2000 atendia a todos os quesitos analisados na pesquisa: balanço social, fatores de risco, governança corporativa e valor econômico adicionado. Segundo Eliana Rodrigues, gerente de relações com investidores, esses itens não deverão, necessariamente, 2/3 ser abordados em todos os relatórios trimestrais. 'Vamos apresentá-los quando houver novidades', afirma. Já no próximo relatório, por exemplo, a empresa vai divulgar na seção Fatores de Risco os possíveis impactos do racionamento de energia sobre os resultados da companhia. GAZETA MERCANTIL (Simone Azevedo) 3/3
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