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ED. 05 - 2014 DADOS QUE VIRAM O JOGO Como a tecnologia está mudando os rumos do esporte Michael Jordan “Uma coisa na qual eu acredito piamente é que, se você conquista algo como um time, as glórias individuais virão por conta própria. Talento ganha jogos, mas trabalho em equipe e inteligência ganham campeonatos” Michael Jeffrey Jordan (Nova Iorque, 17 de fevereiro de 1963) é ex-jogador profissional de basquetebol norte-americano. Considerado por especialistas um dos maiores jogadores de todos os tempos, brilhou no basquetebol nos anos 80 e 90 e entrou no Hall da Fama do esporte em 2009. EXPLORE A revista Pense foi projetada para que você possa refletir sobre o mundo atual em diversas plataformas. Baixe nosso aplicativo IBM Pense na App Store ou no Google Play, acesse a comunidade da revista no Connections, pelo link bit.ly/ibmpense, para compartilhar sua opinião com outros IBMistas, ou siga o nosso blog: http://revistapense.wordpress.com. Insight A tecnologia a favor do esporte Rodrigo Kede Presidente da IBM Brasil Emoções não faltaram na Copa e o nosso sonho do hexa escapou, de forma trágica, nas semifinais. Enquanto você assistia e, provavelmente, comentava no Facebook ou no Twitter, uma equipe da IBM varria as redes sociais para ouvir a opinião dos brasileiros. No jogo em que fomos eliminados, foram quase 7 milhões de posts em português avaliados em tempo real pela tecnologia de Análise de Sentimento Social da IBM, chegando ao pico de 72 mil posts publicados por minuto. David Luiz surgiu com 57% de menções positivas neste jogo e foi o grande destaque na opinião dos torcedores durante a Copa. Enquanto acompanhamos nosso esporte favorito, estamos gerando informações. Soluções de análise de dados permitem que aquilo que dizemos nas redes sociais seja realmente ouvido e torne-se a voz de toda a nação. Nesta Copa, nos tornamos bilhões de especialistas, elegendo o craque das redes de cada partida. E essa é apenas uma das maneiras com as quais a tecnologia pode mudar o mundo dos esportes. Numa velocidade de fundista olímpico, as novas tecnologias se espalham por várias modalidades. Recordes de décadas foram desbancados quando os maiôs da natação começaram a evoluir, graças ao advento de novos materiais. Soluções como o IBM Slam Tracker conseguem prever qual jogador tem mais chances de vencer uma partida comparando seu desempenho atual com o passado. Equipes de rúgbi e futebol sabem quando um esportista pode se lesionar antes mesmo que isso aconteça. E hoje é possível filmar, analisar e melhorar os movimentos dos atletas usando apenas um tablet e um aplicativo gratuito. Porém, se os números e estatísticas não podem mais ser ignorados pelos técnicos e atletas do presente e do futuro, eles também nunca serão capazes de contar a história inteira. Dados não geram insights sozinhos. Os títulos e glórias sempre dependerão da capacidade dos seres humanos de dar sentido aos dados e de usá-los para contribuir com o talento de cada esportista. Nesta edição da Pense, convido você a entrar no mundo dos esportes pela porta da tecnologia. E já adianto: ela dá acesso ao futuro. O que podemos esperar de mudança nos esportes com a popularização das novas tecnologias? Como vamos acompanhar e praticar nossos esportes favoritos? Quais os limites do corpo humano tendo como aliada a análise de dados? Como em qualquer jogo hoje em dia, os resultados não são mais tão imprevisíveis, mas as possibilidades são infinitas. Abraços, Rodrigo Kede nesta edição #05 O espírito esportivo da tecnologia O corpo é o templo do homem. É o que o torna um indivíduo, é o suporte para suas ideias e a ferramenta para suas realizações práticas. Talvez por isso o esporte mobilize tantas paixões. O atleta leva seu corpo ao limite, conquistando marcas incríveis, quase sobre-humanas, como os recordes de Michael Phelps na natação e os de Usain Bolt nas pistas. Se nas Olimpíadas da Antiguidade os vencedores deviam seus louros apenas à disciplina dos treinamentos, atualmente os atletas lidam com mais elementos nessa equação. Os “semideuses” de hoje têm à disposição inúmeras ferramentas de análise de dados que levam a máxima do “conhece-te a ti mesmo” de Sócrates (o filósofo, não o jogador) a níveis nunca imaginados pelos gregos antigos. Fotografias O fotógrafo inglês Bob Martin é especializado em imagens de esportes. Por conta de sua atenção aos detalhes comparável à dos especialistas em análise de dados, emprestamos sua arte para ilustrar esta edição. Cada movimento é percebido, cada pulsar do sistema fisiológico é captado, tudo é contabilizado, comparado e analisado. A tecnologia fez com que o esporte se tornasse uma verdadeira fonte de inovações para diversas áreas do conhecimento: medicina, biomecânica, desenvolvimento de materiais, entre outras. No esporte moderno, o homem também se alia à tecnologia para melhorar sua tática, para conhecer o adversário e escolher a melhor jogada, o melhor treino. E essa mesma tecnologia aproxima o torcedor do seu esporte favorito, fornecendo estatísticas em tempo real e novas maneiras de interagir com fãs de qualquer lugar do mundo. Em todos esses aspectos, os dados estão mudando o jogo. Isso, claro, se tivermos as ferramentas adequadas para interpretá-los – a tecnologia e a inteligência humana. Nesta edição da Pense, você vai saber como esses elementos combinados estão profissionalizando cada vez mais o esporte e elevando a capacidade do atleta à máxima potência. A tecnologia, mais do que nunca, entra em campo com o homem. Mas os artilheiros ainda somos nós. Seja bem-vindo. Conheça, explore, reflita: pense! 5 EXPEDIENTE #05 ANO 2 - JULHO ‘14 www.ibm.com/br [email protected] A revista Pense é uma publicação trimestral da IBM Brasil IBM Brasil: Presidente: Rodrigo Kede Esta edição contou com os pontos de vista de: 1 2 1. Marco Antonio Lauria Ciclista nas horas vagas, ele está cercado de tecnologia dentro e fora da IBM. 3 2. Flavio Gomes Diretor de Marketing e Comunicação: Mauro Segura Edição: Flávia Apocalypse [email protected], Camila Della Negra [email protected] e Giulia De Marchi [email protected] Comunicação Invitro: Publisher: Bruno Chaves Coordenação de Atendimento: Carla Uyara Atendimento: Simone Vargas Jornalista e piloto, reflete sobre a evolução do automobilismo. Editor e Repórter: Diogo Rodriguez 3. Fernando Aranha Projeto Editorial: Comunicação Invitro Para-atleta premiado, ele usa a tecnologia para superar seus limites. Jornalista Responsável: Diogo Rodriguez Repórteres: Daniela Varanda e Raquel Sepulveda Projeto Gráfico: Maysa Simão Designer Responsável: Maysa Simão Designers: Ladylaine Machado, Murillo Prestes e Rogerio Chagas Ilustração: Luís Dourado Fotografias: Caio Kenji e Sergio Horovitz Editora Digital: Comunicação Invitro Revisão: Lis Silva Hall Gráfica: Igil Tiragem: 18.000 exemplares Artista de Capa Conheça mais sobre o trabalho do artista, acesse bobmartin.com Mantenha o planeta limpo 6 Olhares Quem colaborou nesta edição 8 Nossa Cara Fabiana Galetol, líder do projeto “Craque das Redes”, conta por que estava de olho nos jogos da Copa 10 Horizontes O IBMista Marco Antonio Lauria profissionalizou seu hobby aliando o ciclismo à tecnologia e à análise de dados 24 Crônica 14 a 23 Capa A tecnologia entrou em campo e vem mudando a maneira como atletas de todos os esportes treinam, preparam o corpo e desenvolvem sua estratégia 26 Entrevista Um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, Zico fala sobre tecnologia aplicada ao futebol e as inovações que ainda devem ser colocadas em prática 30 Memória O IBMista Ricardo Carvalho já participou de três Olimpíadas. Hoje, relembra sua experiência como atleta profissional do remo O que é mais importante para vencer uma corrida: o talento do piloto ou a tecnologia dos carros? 36 Bastidores Todos na segunda tela: entenda o fenômeno que vem mudando a nossa forma de acompanhar programas e esportes pela TV 38 Top 5 Cinco esportes que se transformaram com a evolução da tecnologia 40 Techmob Para jogar o relembrar: os melhores jogos de esporte para videogame ou PC, escolhidos pelos IBMistas 42 Ponto final Com determinação, nada é impossível. A história de um para-atleta que vive em busca de movimento 7 Nossa Cara foto Caio Kenji Leia mais sobre o trabalho de Fabiana em seu tablet Nome: Fabiana Galetol Profissão: Economista, com pós-graduação em Comércio Internacional e Marketing Cargo: Executiva de Branding e Comunicação Externa Local: IBM Tutóia (SP) Projeto: Craque das Redes Paixão feita com dados As palavras “paixão” e “dados” parecem não ter nada em comum, mas Fabiana Galetol entende bem a conexão entre elas. Essa foi a sua missão durante a Copa: dar voz à paixão dos brasileiros pelo futebol. O projeto “Craque das Redes – Paixão feita com dados” é parte do novo posicionamento de mercado da empresa: “Feito com IBM”. “Com uma solução criada pelo Laboratório de Pesquisas brasileiro, analisamos as postagens em português de milhões de torcedores nas redes sociais e disponibilizamos os dados antes e depois dos jogos, por meio de uma parceria de conteúdo com a TV Globo, Band e ESPN.com”, conta. Para ela, essa é uma maneira de falar de Analytics com todos os públicos. “Ela mostra facilmente para o nosso cliente e para a população em geral o potencial e o alcance da análise de dados”, diz. Passados os jogos, Fabiana continua liderando a campanha, a qual vai divulgar casos de sucesso de empresas de todo o mundo que mostram como as novas tecnologias podem mudar o nosso cotidiano e como a IBM atua como parceira deles nessa jornada. “Vamos ouvir dos clientes como eles estão se transformando e como nós os estamos ajudando”, finaliza Fabiana. 9 Horizontes Vento nos pés Texto Marco Lauria Foto Caio Kenji horizontes Veja mais fotos no aplicativo da Pense para tablets Marco Antonio Lauria é ciclista amador, mas poderia ser profissional. O IBMista leva o hobby a sério e conta sobre como a tecnologia está presente na sua rotina de treinos Sempre me interessei por esportes. Mas foi durante a universidade que comecei a praticar regularmente a corrida. Fiz engenharia eletrônica na UFRJ, onde também cursei várias matérias de educação física, apenas pelo interesse no esporte. O ciclismo só veio anos depois, por recomendação médica para tratar uma lesão no joelho. Acabou virando a minha maior paixão. Quando eu trabalhava na IBM em Hortolândia (SP), comecei a praticar mountain bike (modalidade de ciclismo em terrenos acidentados) nas trilhas em Sousas e Joaquim Egidio, distritos da cidade de Campinas. Às segundas-feiras, organizávamos um passeio noturno que percorria entre 50 e 80 quilômetros e íamos até o Observatório do Capricórnio. Junto com outros fãs do esporte, ajudei a criar um grupo noturno de ciclistas, o Night Bikers Campinas. Uma vez, a turma organizava um treino de estrada na Rodovia dos Bandeirantes. O trajeto era: sair de Campinas, ir a São Paulo e voltar. Éramos um grupo grande e, com isso, tínhamos várias opções de ritmo de pedalada para escolher. Gosto do contato que o ciclismo proporciona com o que está em volta. A pessoa sente a temperatura, os cheiros, ouve o que está ao seu redor. É muito legal para conhecer novos 11 lugares. Fazendo cicloturismo, é possível ter um contato com o ambiente que o carro não permite. E ainda se anda bem mais rápido do que se estivesse a pé. De 1991 a 1994, morei nos Estados Unidos. No começo, trabalhei no Thomas Watson Research Center, em Hawthorne, e depois nos laboratórios da IBM no Research Triangle Park, onde desenvolvi os produtos de rede de comunicação sem fio. Nessa época, tive que conviver com uma realidade diferente. O inverno de Nova Iorque, por exemplo, é muito frio, e isso chegava a atrapalhar os treinos. Mesmo assim, não deixei o esporte de lado. Me inscrevi em grupos e clubes de ciclismo e participei de algumas century rides, provas e passeios que percorrem 100 milhas (160 quilômetros) e chegam a durar até 12 horas. Aproveitei a oportunidade de viver fora para me aprofundar nos diversos aspectos associados ao ciclismo. Comecei a me interessar por nutrição esportiva e passei a fazer minha planilha de treinos e periodização. Eu planejo meu treino (o volume e a intensidade) para que o pico do meu condicionamento físico ocorra em uma determinada época, normalmente, próximo de uma prova. Existe toda uma metodologia para fazer estes ciclos de forma a otimizar o ganho de performance. Trabalho com tecnologia desde os 15 anos, quando terminei a escola técnica e entrei na faculdade, porém os frequencímetros começaram a se tornar populares quando estava trabalhando nos Estados Unidos. Naquela época, a Polar estava lançando os primeiros modelos do equipamento, e comecei a usá-los junto com um software para monitorar o tempo do treino nas diversas faixas de frequência cardíaca. Fui incorporando as tecnologias à medida que elas foram disponibilizadas para o público. Primeiro foi o básico, frequencímetro; depois, o pedômetro e o GPS para medir velocidade e distância; computadores; e, finalmente, medidores de potência na bike. Também uso vários softwares para interpretar o resultado, pois só medir não adianta. Além disso, é preciso ver o esporte de forma mais abrangente. Não é só treinar. É um estilo de vida que engloba cuidados com a alimentação e recuperação, incluindo o repouso. Eu leio muito, minha principal forma de aprendizado é essa. Converso com profissionais, pois, com isso, consigo aplicar um pouco da teoria e da técnica na prática. Normalmente é uma colaboração bidirecional, pois eles têm experiência, mas falta conhecimento. Minha esposa também é atleta e personal trainer. Participei de um workshop, em março de 2011, com o Hunter Allen, técnico da equipe americana de ciclismo, ex-atleta profissional, com mais de mil vitórias, que é um dos maiores especialistas na área. Fiz o curso para me aprofundar na análise de dados e em como aplicar os conceitos na prática, nos treinamentos. Conheço o treinador há muitos anos e participei de um workshop de uma semana, em Curitiba, na única vez em que ele esteve no Brasil. Tinha uma ótima base teórica na ocasião, já que era usuário do software há muitos anos e conhecia todos os fundamentos apresentados. O workshop foi uma oportunidade única de confrontar minha interpretação dos dados com a dele, que vive disso e treina muitos atletas. Tivemos uma troca de experiências interessante. Ele se interessou por um trabalho que eu tinha desenvolvido anos antes com uma assessoria esportiva e incorporou alguns conceitos em sua análise. Passei a utilizar um software que armazena as informações na nuvem, porque posso acessá-las de qualquer plataforma. horizontes A nuvem também permite que eu verifique os dados no iPhone e no iPad, e isso para mim é importantíssimo. Este programa apresenta um painel com informações sobre o nível atual de condicionamento e desgaste, identifica se o atleta está “overtraining” (treinando em excesso) e monitora sua alimentação e gasto calórico. Além disso, ele disponibiliza um técnico à distância, que prescreve um programa de treinamentos personalizado. Depois da execução, é possível fazer o upload dos dados na nuvem, os disponibilizar para a análise e receber o feedback do treinador. Hoje em dia, treino de oito a dez horas por semana. Pratico pilates e corro cerca de três vezes por semana. Pelo menos uma vez por mês, faço um treino de bike mais longo, de mais de seis horas. E, umas duas vezes por ano, viajo de bicicleta. Já fui à França três vezes, à Itália e, no ano passado, fiz o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. São 900 quilômetros em 12 dias. Esse hábito de coletar dados trouxe outros benefícios que vão além das pedaladas. Tenho um conhecimento muito bom do meu corpo, sei o que funciona e o que não funciona. Consigo, de forma clara, identificar se estou progredindo ou não e se estou treinando demais. Dá até para perceber com antecedência se estou para ficar doente. Procuro comer melhor, me alimentar com comidas mais saudáveis. Busco fazer um treinamento equilibrado com um trabalho de base no pilates, para fortalecer o core (grupos musculares do abdome e da coluna lombar), e um específico na bike. Acho que um treinamento adequado possibilita construir uma base sólida, com menos possibilidade de lesão e menos desgaste. Isso permite prolongar a minha “vida útil” de esportista. Pretendo pedalar minha vida toda. Conheço atletas com mais de 80 anos, e minha intenção é seguir pelo mesmo caminho. Penso inclusive em fazer algo relacionado com o ciclismo quando me aposentar da área técnica. Aliando sempre a tecnologia ao esporte, tenho várias possibilidades pela frente. Marco Antonio Lauria, 49, é diretor de Analytics e Big Data no time de Software para a América Latina, pratica ciclismo nas horas vagas e é aficionado por tecnologias do esporte. 13 Capa 15 Por Diogo Rodriguez Artista Robert Martin Na Pense para tablet, veja mais exemplos de como a tecnologia pode mudar o jogo capa A vitória construída com dados A tecnologia está cada vez mais presente nos esportes: do corpo dos atletas, passando pela tática das equipes e os materiais de competição. Em um mundo cada vez mais competitivo, os detalhes determinam os verdadeiros campeões Vencer no esporte é provar quem é o melhor, o mais preparado, o mais astuto e o mais atento. Em campo, em quadra, na pista ou na raia, quem mais se esforça durante aqueles poucos minutos (ou segundos) consegue levar todas as glórias de uma só vez para casa. Mas, claro, o momento da competição é apenas uma expressão – às vezes injusta – de dias, meses e anos de sacrifícios prévios feitos em longos treinos. Resumem-se vidas passadas na lapidação de um talento em alguns atos decisivos, que levam a medalhas, troféus ou à mais simples decepção. Mas o corpo tem limites. Ele pode ir até certo ponto. O século XX viu surgir novamente o ideal olímpico grego, resgatado pelo Barão de Coubertin, criador do Comitê Olímpico Internacional, nos jogos de Atenas, em 1896. E viu também a tecnologia se aliar aos atletas para fazê-los alcançar a excepcionalidade que os antigos gregos já buscavam há mais de 2.700 anos. Se antes se procurava nos céus a razão para conseguir ir mais além, os homens e mulheres de hoje sa- bem que precisam de conhecimentos avançados para que a técnica, a tática, o corpo e seus equipamentos sejam seu suporte para a vitória. E o esporte de hoje oferece milhares de possibilidades aos treinadores, técnicos e atletas. Os avanços tecnológicos abrangem todos os aspectos do esporte e auxiliam no monitoramento de performance, na inteligência tática e no planejamento dos aspectos físicos e técnicos. Atualmente não é mais possível competir em alto nível sem ter uma estrutura mínima para capturar dados dos atletas, das equipes e dos adversários, de modo a montar estratégias e planejar treinamentos específicos para cada tipo de necessidade. Até onde técnicas e aparelhos podem ajudar? E qual é o papel do esportista neste novo mundo repleto de dados e novos equipamentos? A Pense conversou com atletas, preparadores físicos, médicos, treinadores e especialistas da IBM para entender melhor a relação entre o esporte e a tecnologia. 17 O corpo é o templo O corpo é o principal instrumento de qualquer atleta e, como todos os instrumentos, hoje ele pode ser “ajustado” de diversas maneiras. Preparador físico da equipe sub-20 do Palmeiras, Thiago Maldonado enumera algumas dessas possibilidades: “Com a evolução da ciência dos esportes, da fisiologia do exercício e da biotecnologia, podemos monitorar e quantificar o desempenho físico de um jogador de várias formas. Isso nos permite atingir melhores níveis de desenvolvimento das capacidades físicas destes atletas. De forma geral, é possível utilizar desde análises bioquímicas a testes físicos diretos e indiretos para mapear fisiologicamente estes profissionais”. Jomar de Souza, especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), detalha: “A ergoespirometria, os testes de lactato, a análise de velocidade e do gesto desportivo, através de câmeras especiais, e aparelhos de contração isocinética são tecnologias de ponta e usadas para avaliação dos atletas de elite. Os aparelhos medem a capacidade cardiovascular e respiratória; o acúmulo e processamento do ácido lático; a velocidade e a biomecânica do movimento; a força e a potência muscular. Muito comuns também são os chips monitorados via GPS para medir a distância percorrida pelo atleta em esportes como o futebol”. Esse mapeamento completo do corpo dos atletas faz com que “os pontos fracos possam ser mais facilmente detectados e treinados para a melhora da performance”, segundo Souza. Além disso, “por meio destas novas tecnologias, conseguimos determinar melhor as características físicas e fisiológicas de cada atleta, otimizando, assim, seu treinamento e fazendo com que ele atue em funções mais compatíveis com aquelas características”, afirma. O preparador físico Márcio Atalla lista mais dois aspectos positivos das técnicas de monitoramento do corpo: “Elas geram dados da intensidade do exercício, o que facilita modular os treinos. Também geram informações sobre a execução correta e como melhorar a técnica do movimento, evitando alguns tipos de lesão”. E é justamente neste aspecto que o Dr. Jomar Souza vê uma grande evolução, principalmente no campo do trauma esportivo. “Por exemplo, hoje é raro que um atleta com lesão no joelho não consiga retornar à competição no mesmo nível pré-lesão. Os procedimentos cirúrgicos e de reabilitação evoluíram muito.” Eles são menos invasivos e podem ser feitos com algumas aberturas mínimas no corpo. Técnicas de imagem - como ressonância magnética e tomografia - ajudam os médicos a identificar onde estão as lesões e evitam cirurgias em casos em que isso é desnecessário. capa David Epstein, jornalista americano especialista em ciência do esporte, detalha, em entrevista ao TED, como a análise do corpo está sendo usada: “A Dinamarca e a Holanda estão fazendo biópsias musculares e testando atletas em diferentes esportes com base nisso. Ou, se os atletas se estagnam no treinamento, você pode montar um treino para a fisiologia específica deles, a fim de conseguir efeitos melhores. Isso é muito bom e pode ser feito com intervenções simples”. Na opinião de Epstein, vamos continuar a nos mover nessa direção - ao treino individualizado -, para conseguir o melhor ambiente de treino para cada indivíduo. “Ainda é fundamental interpretar e aplicar corretamente os dados obtidos para modular as cargas de treinamento, melhorando a performance esportiva e minimizando os riscos de lesões”, afirma Thiago Maldonado. Com essa preocupação em vista, a IBM fez em 2012 uma parceria com a equipe australiana de rúgbi New South Wales Waratahs, para diminuir o número de jogadores lesionados na temporada. Para isso, foram coletados históricos médicos dos atletas, mais de cem variáveis dos monitores GPS usados nos treinos e relatórios de bem-estar. Todos estes dados são analisados por uma solução de Analytics da IBM. O time recebe, então, um relatório que mostra as probabilidades de os jogadores terem algum tipo de lesão, baseado nos dados históricos e na performance semanal dos atletas. No caso de um deles apresentar uma propensão maior a se machucar, os técnicos e médicos do time podem mudar a intensidade do treino e diminuir os riscos, preservando a equipe. “Com a evolução da ciência dos esportes, da fisiologia do exercício e da biotecnologia, podemos monitorar e quantificar o desempenho físico” Thiago Maldonado 19 A prática leva à perfeição Além de “olhar” o corpo por dentro, é preciso observar como ele se comporta externamente, para que o atleta execute com a maior precisão possível os movimentos de seu esporte. O vídeo tornou-se um dos maiores aliados para ajudar os esportistas a aperfeiçoarem a técnica. As mais diversas modalidades usam filmagens dos movimentos: futebol, natação, golfe, basquete, atletismo, bobsled, luge. A lista é interminável. Larry Katz, professor e diretor do Laboratório de Pesquisa em Tecnologia do Esporte da Universidade de Calgary, no Canadá, explica: “Nós fazemos mais do que apenas olhar as imagens. Nós inserimos diversos marcadores: tempo é um deles. Podemos olhar para outras forças, a depender do esporte”. Na natação, por exemplo, “nós relacionamos o vídeo ao tempo na execução dos movimentos, às forças que o atleta usa nas paredes da piscina, na plataforma, os movimentos da perna esquerda, da perna direita”, afirma. O ex-nadador profissional Gustavo Borges explica como o vídeo é usado pelos técnicos da modalidade: “Analisam o ângulo de braçada, a velocidade com que o atleta chega aos 15, 25, 30, 35 metros. O tempo de reação na saída, como ele sai do bloco, como entra na água. Quanto mais detalhes você tiver, mais consegue evoluir no treino. A filmagem é padrão, mas é possível ter marcações diferentes dentro da piscina”. Para extrair os dados das imagens, softwares especiais são utilizados. Um deles é o DartFish. “Creio que, entre todas as equipes que ganharam medalhas nos jogos de inverno, 60% usaram esse programa. Você captura as imagens com uma câmera, põe o vídeo no Dartfish e faz todo tipo de análise”, conta Katz. Pode-se dizer ao programa o que se deseja ver e, então, ter essa informação individualizada. “Você consegue obter a performance individual de cada jogador no futebol. É possível saber tudo o que um atleta faz: jogadas ofensivas, defensivas, posse de bola, chutes a gol”, afirma. Para Katz, o uso da tecnologia não traz nada substancialmente diferente do que já era feito antes de as filmagens e os computadores se tornarem acessíveis. Ela melhora algo que os técnicos sempre fizeram, mas não podiam sistematizar. “No fim, o que é análise de performance? É um processo feito com os próprios olhos: um técnico vai observar você em ação no treinamento ou na competição. Vão tentar fazer análises antes, durante e depois. Depois, vão avaliar esse material: interpretá-lo e tomar algumas decisões. Então, dar feedback: qual é o movimento correto, o que vai fazer você mudar sua performance e melhorá-la. Aí, vamos planejar com base nisso. É um círculo”, opina. Também é possível usar dados individuais para tentar “adivinhar” se um jogador pode vencer o jogo. Esse é o caso do Slam Tracker, ferramenta de análise de dados em tempo real da IBM (leia mais sobre ela na seção “Bastidores”). Ela usa um banco de dados histórico a respeito de cada jogador, complementado por “informações que está recebendo em tempo real, que vão influenciar esse modelo probabilístico e analítico”, diz Carlos Tunes, líder de Business Analytics da IBM. Na versão do aplicativo para atletas, as informações servem para ajudar os técnicos e jogadores a tomarem decisões com variáveis em tempo real. Ele dá um exemplo: “O modelo está informando, no caso do tênis, que você tem que fazer um saque forte no lado direito. Só que existe uma informação em tempo real, que é a velocidade do vento. Esse dado é importante porque o meu saque forte está sendo atenuado por um vento contra. Vale a pena ou não sacar forte? A análise de agora, baseada nos dados do passado, está sendo influenciada pelo que está acontecendo no momento”. capa De olho nos melhores Um campo que vem ganhando espaço hoje também está relacionado à performance individual dos atletas, mas considera sua eficiência em executar os fundamentos do esporte. Cada vez mais se utilizam recursos estatísticos, principalmente nos esportes coletivos, para acompanhar o desempenho dos jogadores ao longo da partida e no passado. O Wyscout é um serviço que analisa mais de mil jogos de futebol por semana, em ligas do mundo todo. Sua base conta hoje com cerca de 200 mil jogadores listados, que podem ser filtrados por vários critérios: eficiência no passe, nas finalizações, performance em jogos importantes, lesões e outras variáveis. É possível pedir ao sistema que mostre qual é o melhor goleiro na Itália, de acordo com a proporção entre defesas e chutes ao gol sofridos, ou selecionar só os jogadores que tiveram mais de 80% de aproveitamento em chutes a gol, por exemplo. A ideia é ajudar os clubes profissionais do mundo a con- tratar jogadores com as características que melhor se encaixem em seus respectivos times. “Os clubes querem que nos aprofundemos porque precisam investir em jovens talentos. Então, nosso objetivo não é fazer a análise de performance do Cristiano Ronaldo, do Bale. A meta é achar o novo Cristiano, o novo Bale, antes de eles se tornarem jogadores de sucesso”, diz Matteo Campodonico, fundador e CEO da Wyscout, criada em 2004. O clube paulistano Corinthians é cliente da plataforma. No segundo semestre de 2012, o até então desconhecido atacante peruano Paolo Guerrero foi contratado para ser o centroavante do time, o que deixou a torcida desconfiada. Autor dos dois gols do Corinthians no título do Mundial de Clubes daquele ano, Guerrero virou ídolo do clube e mostrou o porquê de sua contratação. “No dia seguinte [ao título], o time declarou que havia comprado Guerrero graças ao Wyscout. Então, a tecnologia auxiliou o Corinthians a comprar o jogador que ajudou o time a ganhar o Mundial. Depois disso, o mercado brasileiro começou a crescer para nós”, diz o CEO. No Brasil, apesar de a modernização do esporte ser constante, o conhecimento do olheiro ainda é muito valorizado. “No setor de captação, não contamos com um departamento de análise do desempenho, portanto o jogador é recrutado pelo ‘olhar’ dos observadores”, afirma Diogo Giacomini, técnico do time sub-20 do Palmeiras. Para ele, nada substitui o homem: “Sem dúvida nenhuma, ele ainda é a ferramenta mais adequada, principalmente se for de um observador com boa bagagem e especializado na captação de atletas”. Segundo Campodonico, é inevitável que todos os clubes passem a usar os dados na hora de contratar jogadores, já que eles podem ter influência até na relação com a torcida. “Temos certeza de que os fãs vão querer entender por que o time deles está comprando um jogador que é um dos piores na sua liga”, enfatiza. “Dados são objetivos. Isso vai tornar as transferências mais complicadas porque as pessoas saberão se o jogador é bom ou não. Se você estiver comprando um jogador com dados ruins, vai ter de explicar aos torcedores o motivo.” Analisando o time do coração Outro serviço de captura e análise de dados disponível no Brasil é o Foostats, usado por vários times brasileiros, como Palmeiras, São Paulo e Atlético Mineiro. A empresa fornece relatórios sobre o desempenho de equipes e jogadores em mais de 50 campeonatos em todo o mundo. Além dos tradicionais chutes a gol, posse de bola e passes certos, o Foostats também cria mapas de calor das equipes, que mostram a movimentação dos jogadores em campo. E não são apenas os clubes os interessados nos insights. Grandes empresas de mídia brasileira (televisões, jornais e sites) usam estatísticas do jogo para alimentar as análises dos comentaristas e levar a partida para mais perto do público. O site da empresa também disponibiliza os dados para qualquer amante do esporte, além de manter perfis no Twitter com estatísticas dos principais times brasileiros, em tempo real. 21 Dados estratégicos Para formar campeões, no caso de esportes coletivos, não adianta ter só as melhores peças. É preciso também articular as partes para que o todo consiga as vitórias necessárias. E uma das estratégias usadas para melhorar o desempenho tático dos times é a análise de dados. A área de Analytics da IBM tem desenvolvido soluções que permitem às equipes analisar uma série de dados históricos e em tempo real, para planejar e executar as melhores estratégias de acordo com cada situação de jogo. Carlos Tunes, líder de Business Analytics, explica o processo: “A primeira grande etapa é a captura e consolidação de dados, para que consigamos transformá-los em informações que sejam relevantes para a performance desportiva, seja individual ou coletiva”. “No rúgbi e no futebol, são analisadas a posição e a performance de cada atleta dentro do campo; o que se espera daquela posição; e o desempenho desses atletas nela, para que se deem elementos ao treinador, a fim de que ele monte estratégias usando o melhor recurso para aquela necessidade específica”, diz Tunes. Mas não adianta apenas gerar dados. É preciso que os treinadores e técnicos saibam o que querem dessas informações. Tunes afirma que é necessário “conhecer exatamente a característica e a performance de cada um dos elementos versus o que se requer naquela posição”. Criado pela IBM, o Try Tracker é uma ferramenta que agrega dados sobre jogos de rúgbi e oferece análises para compreender melhor o desempenho e as chances de cada equipe. “São estabelecidos modelos estatísticos e probabilísticos, e eles começam a interpretar e analisar ‘padrões de comportamento’ para gerar esses insights”, diz Tunes. Por exemplo, “avaliando os últimos jogos nos últimos anos de uma determinada seleção, percebeu-se que, sempre que ela perde, ou é atacada com êxito, em 80% das vezes isso acontece pelo lado direito, com um jogador de velocidade. Se estou analisando isso, identifiquei aí um padrão”, afirma. Com base nesses dados, é possível fazer simulações. “Se eu elaborar uma determinada combinação de jogadas, qual é a probabilidade de um resultado? Essa é uma análise preditiva, uma simulação futura. Com isso, conseguimos identificar qual é a peça-chave para aquela estratégia. No caso do esporte, pode não ser o supercraque, mas Ferramentas de trabalho Outro aspecto do esporte que depende da tecnologia são os materiais. Das malhas dry-fit aos carros do automobilismo, a incorporação de inovações tem se mostrado essencial para aumentar a competitividade dos esportes. “Ela está presente dentro e fora de campo e nas ciências mais variadas: materiais, roupas, bolas, dardos, fibras de carbono nas raquetes para ficarem mais leves, roupas de natação, tecnologias de arbitragem, fotossensores na esgrima, no automobilismo”, diz Robert Alvarez Fernández, gerente de Soluções Técnicas da IBM Brasil e professor de Marketing Esportivo. A busca por materiais que melhorem o desempenho dos atletas e equipes é feita dentro e fora do mundo esportivo. Fernández afirma que “normalmente, essas demandas e as pesquisas por novos materiais acabam surgindo até fora da indústria do esporte. O Nomex, que protege o piloto do fogo, é uma fibra que foi desenhada para fins militares e que depois foi incorporada ao automobilismo. A camisa dry-fit, aquela que elimina o suor, é uma fralda descartável ao contrário: ela deixa o suor sair, mas não o deixa voltar para perto do corpo. As fibras de carbono foram feitas para serem estruturas leves e resistentes - virou raquete, taco de golfe”. Em alguns esportes, os equipamentos são coadjuvantes, mas em outros, como a vela, são parte essencial da equa- ção. Para Lars Grael, medalhista em duas Olimpíadas, “a vela é um dos esportes que mais incorporam tecnologia, fora os esportes automotores”. A começar pelas embarcações: “O barco era antes de madeira, numa fase foi de aço e passou a ser de fibra de vidro, alumínio, fibra de carbono - cada vez mais sofisticado. Existe um setor de desenvolvimento de aerodinâmica e hidrodinâmica, aperfeiçoando casco, quilha, leme, bolina, velas”. Durante as competições, não é permitido o uso de instrumentos eletrônicos, mas durante o treinamento, sim. “Seja numa campanha olímpica, no barco mais simples de todos, o laser, você usa uma câmera GoPro, com um técnico acompanhando o treinamento usando estações de vento para pegar sua direção, calcular a corrente marítima e a posição de GPS. Depois, ele manda isso para uma central, a fim de analisar o desempenho do barco em cada condição e, assim, fazer uma avaliação da velejada e criar um banco de dados com informações da velocidade ideal em relação àquelas condições”, descreve Grael. Os atletas não são os únicos favorecidos pelas novas tecnologias. Árbitros também podem se beneficiar do olhar eletrônico para cometer menos erros. A empresa alemã GoalControl é um bom exemplo. Ela criou a tecnologia, usada pela primeira vez na Copa do Mundo, que avisa ao juiz se a bola entrou ou não. Catorze câmeras distribuídas pelo estádio ana- capa sim o jogador que possui as características determinantes para a situação”, explica. Mas nem tudo pode ser resolvido pela análise de dados. “Sempre vai existir a visão humana do treinador calibrando, primeiro, qual é o objetivo”, analisa Tunes. “Nenhum modelo analítico é eficaz se você não sabe qual é sua meta.” “Nenhum modelo analítico é eficaz se você não sabe qual é sua meta” Carlos Tunes O esporte de amanhã lisam a jogada por vários ângulos e captam 500 imagens por segundo. As informações são analisadas por um programa capaz de dizer se o gol existiu, com uma precisão de cinco milímetros, e manda a validação do lance a um relógio, que fica com o juiz. Com o GoalControl, a Fifa espera evitar polêmicas como a da final do Mundial de 1966, no qual a Inglaterra fez um gol duvidoso validado pelo árbitro e contestado até hoje pelos rivais alemães - ou mesmo a “revanche” da Copa de 2010, na qual o time inglês teve um gol anulado que poderia ter mudado os rumos do jogo e talvez classificado o time para as quartas de final no lugar da Alemanha. Nem sempre, porém, a evolução ajuda o esporte. A natação é um exemplo. “O desenvolvimento de equipamentos de uso do atleta, que é algo que não deveria interferir no resultado, num determinado momento, de 2007 a 2010, teve uma evolução muito grande e muito rápida”, afirma Gustavo Borges. Até o final de 2009, 35 recordes mundiais haviam sido quebrados. Tudo graças aos chamados “supermaiôs”, feitos de um material que diminui o atrito do atleta com a água e o faz flutuar melhor. O desequilíbrio levou a Federação Internacional de Natação a proibir a novidade. “Por uma questão estratégica, baniram a roupa inteira e só deixaram os shorts.” Segundo Fernández, da IBM, quando se incorporam tecnologias, deve haver a preocupação de não transformar o esporte. Se o cenário é de inovação constante, como será o futuro? Cynthia Bir, cientista-chefe do programa Sport Science, da ESPN, crê que os dados em tempo real serão cada vez mais presentes: “Com mais monitoramento em tempo real, em todos os esportes, teremos um feedback instantâneo. Esse tipo de coisa está em voga no mundo todo - receber os dados na hora e ter os números e métricas no ato para que se possa tomar decisões”, disse, em entrevista ao TED. Cada vez mais abundantes, os dados são capazes de mudar o jogo. O atleta, desde sempre em busca de transgredir seus próprios limites, vai pegar carona com a tecnologia e ir cada vez mais longe. Entra em campo um novo jogador, a inteligência. Temos hoje um cenário até pouco tempo inimaginável: de um lado, o conhecimento, a análise preditiva, a inteligência que a tecnologia provê. Do outro, o imponderável, o imprevisto, aquela fagulha de talento que muda tudo, e que só os seres humanos têm. Daqui pra frente, a vitória ficará com aqueles que conseguirem unir de maneira mais eficiente esses dois aspectos. Que vença o mais bem preparado! 23 Capa Crônica O que importa está atrás do volante A tecnologia vem ganhando cada vez mais destaque dentro da Fórmula 1. E os pilotos de hoje têm talentos muito diferentes dos do passado No aplicativo da Pense para tablet, assista a um vídeo mostrando Lewis Hamilton emocionado ao dirigir o antigo carro que Ayrton Senna pilotava Ilustrador Luís Dourado capa - crônica nológicas que surgem numa velocidade assustadora. É possível montar uma “linha do tempo” para mostrar quanto os carros mudaram em meio século. Primeiro, a colocação dos motores atrás do piloto. Algo que a Auto Union já fazia nos anos 30, mas que só foi adotado nos anos 60, melhorando a distribuição de pesos e o centro de gravidade. Autor: FLAVIO GOMES, 49, é comentarista da Fox Sports e dono do site Grande Prêmio, o maior do país sobre automobilismo. Como repórter de Fórmula 1, cobriu cerca de 300 GPs entre 1988 e 2005 viajando para todas as corridas. Também é piloto, mas, como corre de Lada, continua trocando as marchas manualmente. Quando os saudosistas falam de Fórmula 1, nove em dez vão dizer que os pilotos de antigamente eram melhores. “E por quê?”, sempre pergunto. “Ah, porque eles engatavam as marchas!” Sim, a alavanca de marchas é o grande argumento dos que acham que os pilotos de hoje não guiam nada porque “os carros fazem tudo sozinhos”. Que fique claro: nem os pilotos de antigamente eram bons porque trocavam marchas, nem os de hoje são ruins. Há uma diferença brutal na pilotagem dos anos 60 para a dos anos 70, e depois para a dos 80, dos 90, do século XXI, do ano passado, deste ano. Em comum, os carros de F-1 de 60 anos atrás têm com os de hoje quatro rodas e velocidade. O resto é diferente. E a tecnologia está por trás dessas mudanças. Se antigamente os caras tinham “apenas” que acelerar fundo (e trocar as marchas), hoje ainda precisam lidar com novidades tec- No fim dos anos 60, vieram as asas. E começaram a ser levados a sério os estudos aerodinâmicos, área que deu um grande salto no final dos anos 70 com os carros-asa concebidos por Colin Chapman, dono da Lotus. Velocidade em reta não era mais mistério nem dificuldade para ninguém, e o grande desafio era contornar curvas rapidamente. O aumento da pressão aerodinâmica, com a criação de zonas de vácuo sob os chassis e aerofólios mais eficientes, foi a senha para que se desenvolvessem os túneis de vento e as incríveis asas de hoje, que aceleram brutalmente a passagem de ar sob os carros e procuram reduzir ao máximo a turbulência, além de “grudar” os carros no chão. Os anos 80 foram os da eletrônica. Quando os computadores passaram a fazer parte do dia a dia das equipes e a telemetria começou a desvendar, com dados, o que acontece num carro dentro da pista, o trabalho do piloto passou a ser dividido com os engenheiros — responsáveis por interpretá-los. Dá para dizer que era mais fácil guiar um carro antigamente? No máximo, pode-se assegurar que era mais cansativo. Mais fácil, jamais. É tanta coisa que dá para fazer hoje dentro do carro, que eu arriscaria dizer que é bem mais difícil guiar um F-1 em 2014 do que em 1970 ou 1980. Hoje, além de acelerar, frear e trocar marchas, o piloto precisa abrir a asa-móvel, controlar o nível de carga dos motores elétricos que auxiliam o motor V6 turbo, distribuir a carga de frenagem entre as rodas dianteiras e traseiras, ativar o limitador de velocidade dentro dos boxes, mudar o mapeamento do motor, regular o consumo de combustível, mudar o ponto de ignição, alterar o acerto do diferencial para saídas de curva, monitorar o desgaste e a temperatura dos pneus e mais um monte de coisas. Não tem nada de fácil nisso. Para ilustrar como os pilotos de hoje são absolutamente preparados para compreender o que seu equipamento pode fazer, recorro a um episódio de 2002, em Ímola. No treino de classificação, Barrichello fez uma volta de tirar o fôlego com a Ferrari, usando tudo que tinha direito de pista, motor e performance de seu carro. Ninguém seria capaz de fazer melhor. Numa última tentativa, Schumacher conseguiu bater o brasileiro por 0s064. Hoje, um volante de F-1 é um computador completo. A Sauber, dia desses, publicou uma foto do seu volante e ele tem nada menos do que 38 botões, fora o painel de cristal líquido que traz mais informações do que se pode absorver a 300 km/h. Rubinho não acreditou e foi ver nos gráficos da telemetria onde o alemão conseguiu ganhar tempo. E descobriu que, durante a volta mágica, Schumacher mudou a regulagem inteira de seu carro oito vezes. Oito! Numa curva, jogava o freio mais para a frente. Na outra, para a traseira. Na outra ainda, mudava a regulagem do diferencial. E assim foi. “Isso eu não consigo fazer”, reconheceu Barrichello. Como era o volante de Emerson Fittipaldi? Nem botão de buzina tinha. E o de Senna? No máximo, um para acionar o rádio e outro para beber água. Claro que a tecnologia ajuda. Mas carro nenhum anda sozinho. É preciso que atrás do volante esteja sentado alguém que saiba o que fazer com ela. 25 Honestidade sem perder a dinâmica O técnico e ex-jogador Zico acompanha de perto a transformação que a tecnologia vem promovendo no futebol e deixa claro que o resultado não compromete a espontaneidade do esporte Por Daniela Varanda Raquel Sepulveda A primeira polêmica em campo do Mundial de 2014 aconteceu logo na primeira partida: um pênalti marcado pelo árbitro japonês Yuichi Nishimura permitiu a virada do Brasil sobre a Croácia. Quando Fred caiu na área numa disputa de bola com o zagueiro croata, quem assistia ao jogo pela televisão pôde ver, no replay, que era um lance duvidoso. Já aqueles que estavam no estádio – incluindo a arbitragem - ficaram sem a repetição da jogada, pois a Fifa não permite a exibição de lances polêmicos no telão. Será que a tecnologia teria mudado o resultado desse jogo? A discussão já é antiga: recursos, como o replay da jogada em tempo real no campo, para uso da arbitragem, auxiliam ou prejudicam o futebol? “Os resultados da evolução tecnológica são imediatos”, diz o ex-jogador e comentarista Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Ele, que também atua como técnico – ainda que esteja atualmente sem clube –, afirma que o futebol só tem a ganhar com a aplicação da tecnologia. “Maradona fez um gol com a mão e prejudicou a Inglaterra, que estava se preparando há três anos para o Mundial e teve de ir embora para casa”, relembrou o Galinho, em relação ao gol que abriu o placar da Argentina sobre a Inglaterra nas quartas de final da Copa de 1986. Para ele, esses lances, assim como o pênalti irregular marcado na disputa do Brasil contra a Croácia, poderiam ser evitados a partir do uso de tecnologias durante as partidas. “O jogo não perde a dinâmica. Isso é balela.” Com quase 50 anos de experiência em futebol dentro e fora do País, Zico fala com exclusividade para a Pense sobre tecnologia no esporte, sua evolução ao longo do tempo e como ela pode ser um fator fundamental de apoio a técnicos, jogadores e árbitros. 27 Pense: De uma maneira geral, como a análise de dados e a evolução tecnológica ajudam o esporte? Zico: Em primeiro lugar, hoje, os exames, testes e avaliações são feitos com muito mais facilidade do que antigamente. Para se ter uma ideia, é possível fazer um exame em um jogador para identificar se ele está propenso a uma lesão e qual o seu potencial de rendimento. Os uniformes também são bem mais leves. Antigamente, saíamos do jogo pesando 2 ou 3 quilos a mais, se chovesse. Outro exemplo: antes, os times iam jogar contra os outros sem informação nenhuma. Atualmente, você joga contra um time da Bósnia e conhece os jogadores assistindo a vídeos para analisar melhor o adversário. A palavra “surpresa” acabou no futebol. Pense: Como treinador, na hora de definir uma estratégia, acredita que a experiência ainda é mais valiosa do que os dados? Ou eles devem se complementar? Zico: Para o treinador e a comissão técnica, a tecnologia é muito importante, e os resultados são imediatos. Usando um computador no banco de reservas, você pode coletar resultados e passar instruções aos jogadores durante o intervalo. Mas são processos que caminham juntos. Pense: E, nas contratações, como a tecnologia auxilia esse processo? Zico: Hoje, existe um banco de dados estupendo. Dá para saber quantos jogos foram disputados, qual o aproveitamento do atleta, de quais campeonatos participou... Alguns clubes erram por infantilidade, por contratar vendo somente um vídeo, sendo que nele estão apenas os melhores momentos do jogador. Já vi muita gente contratar assim e se dar mal. Pense: Na sua opinião, talento ainda é o principal diferencial de um jogador? Ou diria que hoje em dia só se Veja como foi nossa entrevista com o Zico no aplicativo da Pense para tablet monta um time com a tecnologia e a inteligência da análise de dados? Zico: Você pode montar um time e não usar nada disso. Só tendo bons jogadores e treinando bem o grupo. Sem usar tecnologia, é possível ser campeão, mas ela é que dá aquele “algo a mais”, principalmente na questão física. Com uma seleção, é mais fácil, porque os jogadores são escolhidos. Em clubes, não, já que é preciso trabalhar com aqueles que já estão ali. Pense: Você acredita que, com a tecnologia de hoje, a recuperação da sua lesão no joelho (jogando pelo Flamengo em 1985) teria sido mais fácil? Zico: Sem dúvida. Eu teria me recuperado em menos da metade do tempo que levei na época. Com uma lesão de cruzado hoje (um dos três ligamentos presentes no joelho), em seis meses já é possível estar jogando. Eu levei um ano para retornar aos campos. Na verdade, voltei com nove meses, mas jogar aquele futebol que as pessoas esperavam, só depois de um ano e pouco. Fiquei dois meses sem colocar o pé no chão, enquanto hoje, depois de uma cirurgia, dá até para caminhar. O avanço da medicina es- portiva faz com que o jogador, se for um bom profissional e se cuidar bem, tenha uma recuperação bem mais rápida. Pense: No futebol ainda existe uma resistência para o uso de tecnologia nas partidas, ao contrário do que já se vê no tênis, no vôlei e no futebol americano. O advento tecnológico pode atrapalhar as partidas de futebol? Zico: Nós temos que quebrar essa resistência em relação à tecnologia. Em um Mundial, por exemplo, em que as seleções se preparam por três, quatro anos, não se pode ser prejudicado por um jogador que fez um gol com a mão. Temos que corrigir esses erros por meio da tecnologia, envolver câmeras e pessoas de confiança que possam dizer na hora, para o árbitro, se foi gol ou não. Uma vez, um ex-presidente da Fifa disse que esse tipo de recurso gera discussão, mexe com a emoção, quebra o ritmo do jogo. Isso porque não foi o time dele que perdeu. Pense: Além das câmeras nas partidas, quais seriam os principais recursos a se adotar? Zico: A bola com chip é fundamental, e ela já é um grande avanço no tênis “Sem usar tecnologia, é possível ser campeão, mas ela é que dá aquele ‘algo a mais’” e no vôlei. O torcedor se acostuma com isso, ele não vai desprestigiar o esporte por uma pausa de 30 segundos para conferir uma imagem. Nos revoltamos muito mais quando o cara faz cera ou finge que se machuca. E, sobre a comunicação entre os juízes, eu faço um alerta: o comodismo do árbitro. Ele tem que ser o responsável principal, não os auxiliares. O impedimento, sim, é com os bandeiras - eles estão ali para isso. Mas ficar preocupado em marcar falta lateral, falta aqui, falta ali, eu não acho certo. Pense: É muita interferência? Zico: Sim, muita interferência. O árbitro tem de ser absoluto. Ele é preparado para aquilo. Então, precisa ficar atento ao jogo. A não ser em um lance sem bola, um empurra-empurra ou uma agressão que ele não possa ver. Se a bola estiver em jogo, é o árbitro quem tem que punir. Pense: Você acha que o futebol fica mais homogêneo com a aplicação das tecnologias? Zico: Eu acho que fica mais honesto. No Campeonato Brasileiro mesmo, essa tecnologia já poderia ser utilizada. Os clubes que possuem estádios próprios poderiam usar essas câmeras e dar as informações do jogo. No vôlei é assim. Independentemente de um torneio mundial, o futebol brasileiro já poderia estar usando tudo isso. O jogo não perde a dinâmica de maneira nenhuma. Isso é balela. 29 Capa Memória Ricardão falou com a Pense na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Assista no seu tablet! Ricardo Carvalho foi atleta profissional do remo e participou de três Olimpíadas numa época em que a tecnologia na vida e no esporte ainda era algo raro Espírito olímpico Por Diogo Rodriguez e Daniela Varanda Fotos Sergio Horovitz capa - memória Ouro no Pan de 83: motivação, aptidão e experiência - ingredientes básicos de sucesso Poucos tiveram ou terão o privilégio de ver uma edição dos Jogos Olímpicos ao vivo, e raríssimos poderão dizer que estiveram no evento mais tradicional do mundo dos esportes como competidores representando seu país. O IBMista Ricardo Esteves Carvalho, executivo de projetos de Global Technology Services (GTS), fez parte desse seleto grupo por três vezes. Ele foi atleta profissional do remo, na categoria Dois Sem. Junto de seu irmão, Ronaldo, Ricardo participou de três Olimpíadas – 1980, 1984 e 1988, épocas em que havia uma série de manifestações dentro do esporte em virtude da Guerra Fria. Com duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos, em 1983 e Ricardo Carvalho, mais conhecido como Ricardão, é executivo de projetos no time de Global Technology Services da IBM Brasil. Ex-remador profissional, representou o Brasil nas Olimpíadas de 1980, 1984 e 1988. 31 1985, Ricardo Carvalho conviveu com a elite do esporte mundial. Conciliando a vida de atleta profissional e a estudantil, acadêmica e profissional, até os 28 anos, desenvolveu um misto de paixões por esporte e tecnologia. A influência da família e a paixão pelo remo Conversando com a Pense, Carvalho conta que seu pai foi o principal responsável por plantar a semente do gosto pelo esporte. “Desde os 8 anos de idade, comecei a praticar esportes em nível de competição. Meu pai também foi atleta olímpico, remador, e esteve nos Jogos de 1956 – foi algumas vezes campeão sul-americano, outras, brasileiro. Apesar de ser dentista, sempre foi um apaixonado por remo e se dedicou bastante ao esporte. Remou até os 41 anos e, depois dessa fase, resolveu assumir uma posição como técnico dos clubes aqui do Rio de Janeiro, Flamengo e Vasco.” O pai também influenciou o filho mais velho, Ronaldo. “Eu fui nadador dos 8 aos 13 anos e, dos 15 aos 28, remei. Meu irmão fez o mesmo percurso, da natação ao remo.” Ronaldo acabou virando a dupla do irmão em treinamentos e competições. Esportista desde cedo, Ricardo teve logo de aprender a administrar a vida para poder continuar treinando. Passou boa parte de sua juventude se equilibrando entre a necessidade de treinar, competir e viajar e as exigências do estudo. A rotina era intensa e começava cedo. “Inicialmente, no Colégio Santo Agostinho, acordava de madrugada, ia treinar, tinha aulas e, à tarde, novo treino. O atleta, quando chega a um nível mais alto, tem que treinar duas vezes ao dia. E tem também uma rotina de viagens para competições internacionais”, relata. Para manter a disciplina, Ricardo diz que era necessário fazer adaptações em seu cotidiano: “Foi preciso muito interesse e muita dedicação, porque a fase em que eu treinava era a mesma em que meus amigos estavam começando a sair e descobrir a vida. Já eu tinha uma série de restrições por conta das minhas responsabilidades como atleta. Claro que eles me davam apoio, e tentávamos conciliar nossos horários, como sair mais cedo para dormir mais cedo. Mesmo assim, foi um período difícil”, explica. Mesmo tão ligada ao esporte, a família de Ricardo não o deixava abandonar os estudos. “Por uma questão de educação familiar, nunca abandonei a escola. Meu primeiro patrocínio, inclusive, era uma ajuda de custo para pagar o curso de inglês.” O passo seguinte foi a universidade, e a primeira tentativa de Ricardo foi uma vaga em engenharia na PUC-Rio, mas esse não seria o futuro do IBMista. A segunda tentativa trouxe o curso certo, o de informática, que faria seu caminho cruzar com a IBM. A necessidade do tempo para treinar exigiu que, depois de formado, Ricardo se adaptasse ao mercado de trabalho. “No início, eu era analista de sistemas autônomo, fazia alguns projetos, desenvolvia sistemas, mas não podia ter um compromisso de horário com uma empresa. Eu ainda treinava cinco horas por dia”, relata. Com o passar do tempo, a transição do esporte para a tecnologia acabou acontecendo naturalmente: “Como remador, não havia maneira de me dedicar completamente à minha carreira, então esse foi um momento de transformações, em que minhas prioridades começaram a mudar, em que passei a me dedicar mais ao trabalho. Como eu era analista de sistemas e pós-graduado em Finanças, surgiu a oportunidade de uma vaga na IBM, e eu a abracei”, conta Ricardo. Com o irmão, a transição ocorreu de forma parecida, na mesma época: do remo para a odontologia. “Grande parte do que sou como profissional foi fruto da minha vivência desses quinze anos no esporte” De cima para baixo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, relembrando os momentos de atleta, no Pan-Americano de 87, e, abaixo, nas Olimpíadas de Seul capa - memória Tecnologia a favor da vida – e do esporte O gosto de Ricardo pela tecnologia não estava restrito à vida profissional. Numa época em que aparelhos de medição de performance eram raros (e caros) no Brasil, ele e o irmão faziam o que podiam para capturar dados dos treinos e avaliar seu desempenho. “Como o Ronaldo é da área médica, cuidava mais da fisiologia; já eu era o cara da tecnologia”, contextualiza. E explica que, muito antes de as inovações tecnológicas chegarem ao país, o IBMista já ia em busca de novidades: “Era ainda a década de 80, e nós conseguimos lá fora dois frequencímetros para marcar nossos batimentos cardíacos, o que era um artigo de luxo, uma raridade. Nós os protegíamos com um plástico, pois não eram nem à prova d’água”. O interesse pela tecnologia foi fundamental para o acesso a ferramentas que permitiram desenvolvimento técnico e fisiológico Para terem uma noção mais exata de seus desempenhos nos treinos, Ricardo e Ronaldo fizeram adaptações em um equipamento usado em outro esporte: o ciclismo. “Como tínhamos de medir o número de remadas por minuto, nós utilizamos um daqueles relógios que contabilizam a velocidade da bicicleta. O sensor marcava a ida e a volta da remada: se o visor apontasse 72, nós sabíamos que havíamos dado 36 remadas por minuto.” Com os dados em mãos, era possível interpretar as informações. Ricardo fazia gráficos comparando a frequência cardíaca, o número de remadas e o tempo de treinamento. Comparava também sua performance à do irmão. Essa era a única maneira de terem algum tipo de acompanhamento, já que nem os clubes profissionais brasileiros dispunham de tecnologia. O jeito era viajar para países onde pudessem avaliar melhor o treino. “Quando conseguíamos verba, íamos a um centro de treinamento da Itália, numa cidade chamada Piediluco, pois a Confederação Brasileira tinha um acordo com a italiana.” Na Europa, sim, eles possuíam acesso a diversas tecnologias: “Nós passávamos 15 dias no local e fazíamos um teste no simulador de remo no seco, o remo ergômetro. Usávamos o espirômetro (um aparelho para medir a capacidade dos pulmões), tirávamos a frequência cardíaca e um pouco de sangue da ponta da orelha, passávamos por exames para medir nosso nível de lactato, entre outros procedimentos”, relata. Toda informação era preciosa para o treinamento da dupla. Segundo Ricardo, nem sempre era possível viajar para fora e coletar esses dados, mas o importante foi o aprendizado que a experiência lhes trouxe: “Tínhamos a consciência de que era necessário ter informação para obter melhores resultados”. As dificuldades no Brasil Na década de 80, ainda era difícil conseguir comprar barcos e remos no Brasil, então a solução era trazer o material do exterior. “Todos os barcos eram importados. Lá fora, existia uma massa de atletas muito maior e uma quantidade superior de formas e cascos de barco. A forma se altera de acordo com as características do remador, como peso, altura e velocidade de remada. Aqui, a única alternativa era importar um barco padrão, um remo padrão. Não havia dez pares diferentes para podermos testar e descobrir o mais adequado”, lamenta. 33 Todos os esforços para superar as dificuldades não garantiam reconhecimento no país, apesar dos ótimos resultados nas competições. “No mundial de 1986, chegamos em quinto lugar, fomos finalistas, super-reconhecidos no exterior. Essa foi a primeira vez que um barco brasileiro chegou à final de um mundial. Em compensação, quando chegamos aqui, um repórter perguntou: ‘Vocês poderiam explicar por que só conseguiram a quinta colocação?’. Ou seja, só a medalha de ouro interessava no Brasil. Se alguém olhar as reportagens da época, vai nos encontrar explicando o porquê do quinto lugar.” No país do futebol, o remo precisava lutar para conquistar o seu espaço. Experiência vitoriosa Felizmente, as memórias de Ricardo não se limitam apenas às dificuldades do esporte ou à falta de percepção da imprensa. Ter participado de três Olimpíadas é uma experiência que poucas pessoas comuns tiveram a chance de vivenciar, especialmente numa época tão atribulada quanto a Guerra Fria. “Em 1980, eu era muito novo, e foi a Olimpíada do boicote do mundo ocidental. Eu pude observar aquele mundo dividido, o bloco oriental versus o ocidental... Participar de um evento monstruoso daquele era um sonho. Meu pai tinha ido à Olimpíada, acompanhávamos os Jogos quando garotos e, de repente, estávamos realizando aquele sonho, participando de verdade, do outro lado do mundo. É uma experiência fantástica. Minha primeira competição internacional como adulto foi uma Olimpíada, o que é muito difícil esquecer. Algo muito emocionante era conhecer os nossos ídolos de perto. Eu levava uns dois, três dias para cair na real.” Os Jogos de 1984 foram diferentes, com o boicote do bloco oriental. “Fi- camos hospedados no alojamento da Universidade de Santa Bárbara. Era tudo muito distinto da nossa realidade, um ambiente bem americano, de cinema com pipoca. Eu estava um pouco mais maduro nessa época, menos deslumbrado com uma Olimpíada. Eu lembro que, para nos comunicarmos, havia vários terminais IBM usados pelos atletas para se falarem entre si e com a imprensa - tudo muito diferente de Moscou (1980), onde havia uma cortina de ferro mesmo, muita segurança. Para sairmos do alojamento, era preciso passar por três postos de controle até chegar ao restaurante, e cinco para chegar ao local da competição.” Lições do esporte para a vida Como um ex-atleta olímpico, bicampeão pan-americano de remo, faz para manter uma rotina de exercícios físicos e sua relação com o Com a liderança do pai e treinador, José de Carvalho Filho, horas diárias de treino capa - memória esporte? Ricardo diz que o remo acabou ficando em segundo plano em sua vida por dificuldades logísticas. “É um esporte que exige uma infraestrutura um pouco mais complicada para realizá-lo como lazer.” Ainda assim, a antiga prática não foi abandonada por completo: “Tenho em casa uma máquina de remo ergômetro – um simulador que funciona como uma bicicleta ergométrica – para matar a vontade”. Recentemente, passou a se aventurar pelas quadras de tênis. “Não sou bom, mas adoro [risos]. E é um esporte mais acessível para se jogar. Se for viajar, sempre há uma quadra no hotel”, afirma, aliviado. Mesmo fora das competições, Ricardo é um entusiasta do esporte e con- tinua acompanhando campeonatos de remo. Para ele, o investimento no esporte como um todo, atualmente, no Brasil, facilita bastante a vida do atleta. “O acesso a técnicos internacionais, por exemplo, é muito maior. O próprio remo ergômetro, usado para treinamentos, está ao alcance de mais competidores”, comenta. Ricardo acredita que as inovações tecnológicas também vêm trabalhando a favor do remo: “Hoje em dia o intercâmbio de dados é maior se comparado à minha época de atleta. A informação flui de uma forma muito mais rápida, on-line, o que é benéfico para que se desenvolvam novas práticas de treinamento, como o uso de vídeos sobre técnicas de remada e tipos de barco. A informação ajuda na preparação do atleta”, completa. Embora não seja mais um remador profissional, Ricardo leva consigo os aprendizados que uma vida dedicada ao esporte oferece. “Hoje, quando olho para trás, grande parte do que sou como profissional foi fruto da minha vivência desses quinze anos. E não estou falando só do fato de acordar cedo e ir treinar, mas das experiências que tive: perdas, dificuldades, desafios, a busca pela motivação e dedicação e as pesquisas para a evolução e o conhecimento sobre mim. Sigo com um espírito parecido. Foi uma fase extremamente produtiva e, até hoje, experimento benefícios dessa época de esportista profissional.” É o que dizem: o atleta pode deixar o esporte, mas o esporte não deixa o atleta. 35 Bastidores Conheça mais e interaja com a segunda tela no aplicativo da Pense olho na tela, celular na mão Você se lembra de quando a televisão reinava absoluta dentro dos lares, garantindo o olhar atento do espectador? Quase sem perceber, adquirimos um novo hábito: o de assistir à TV ao mesmo tempo que utilizamos smartphones, tablets e laptops. Com dispositivos móveis sempre à mão e a necessidade de estarmos conectados, a chamada “segunda tela” abre uma janela de possibilidades. Uma pesquisa do Instituto Ipsos mostrou que 52% dos internautas brasileiros acessam a internet enquanto veem TV – cerca de 63 milhões de pessoas. No mundo, esse número chega a 77%. Em nosso país, o smartphone é o aparelho de escolha para 68% dos adeptos da segunda tela. Dados do Ibope mostram que os assuntos preferidos de 70% das pessoas conectadas são notícias, novelas, filmes e esportes, e que a principal maneira de utilizar a segunda tela é justamente discutindo seus programas favoritos e interagindo com amigos nas redes sociais. Além disso, 80% disseram que mudam de canal por conta de algum comentário feito nas redes sociais. Os usuários também aproveitam o tempo on-line para fazer buscas e compras. Segundo o Ipsos, 27% daqueles que usam mais de uma tela são motivados a agir de acordo com o que veem na televisão. De olho nesse filão, as redes de TV incentivam a participação dos espectadores determinando hashtags para seus programas Oportunidades de negócio De olho nesse público que não desgruda dos seus gadgets, as emissoras já vêm oferecendo novas experiências de imersão. É o caso do Slam Tracker, plataforma desenvolvida pela IBM para ser a segunda tela durante campeonatos internacionais de tênis. O fenômeno da segunda tela está mudando a maneira como assistimos à TV e criando oportunidades para emissoras fornecerem informações para um público curioso e participativo e promovendo a participação via Twitter ou Facebook. Existem também aplicativos que criam plataformas de interação em que os usuários podem integrar suas redes sociais à programação. Se um internauta é fã de Game of Thrones, por exemplo, ele pode fazer um “check-in” na série, ler o que outras pessoas estão dizendo sobre o programa, acompanhar notícias e assistir a teasers de novos episódios. Conforme esse fã vai se aprofundando em seus vídeos favoritos, ganha prêmios, como badges e adesivos. O GetGlue, um dos aplicativos de TV mais usados no mundo, tem hoje cerca de 1,4 milhão de usuários e está trabalhando com os produtores para proporcionar recompensas mais atraentes. A série Fringe, por sua vez, oferecia objetos usados em cena aos seus fãs mais fervorosos. Para os adoradores dos esportes, a experiência é turbinada com informações e interações exclusivas. Emissoras em todo o mundo estão lançando aplicativos próprios para acompanhar a programação e promover a interatividade. Durante os jogos, é possível ter estatísticas ao vivo, assistir ao replay dos melhores momentos a qualquer hora e acompanhar a movimentação nas redes sociais. A rede canadense CBC oferece ao usuário que baixa seu aplicativo a opção de acompanhar partidas de futebol por uma câmera multiângulo, com o objetivo de levar o espectador para dentro do jogo. Mais do que apresentar estatísticas, o Slam Tracker mostra qual competidor possui mais chances de vencer e por quê. John Kent, gerente global de Patrocínios da IBM, explica: “Hoje, o Slam Tracker tem uma característica única chamada Keys to the Match. Nós usamos uma solução de Analytics para analisar oito anos de dados de Grand Slam. Com ela, identificamos padrões no estilo de jogo de cada tenista, comparamos os pontos fortes de dois adversários e identificamos três movimentos estratégicos para cada um vencer a partida. Conforme atua- bastidores lizamos o progresso dos jogadores, checamos se estão alcançando esses pontos-chave durante cada set”. Os dados ajudam a contar a história da partida e os porquês de um jogador estar ganhando ou perdendo: “Nossa missão é apresentar a informação de maneira cativante para engajar o torcedor e prover uma compreensão maior da disputa”, acrescenta. A versão mais nova da plataforma tem um sistema de comentários vinculado ao jogo e um insight associado à pontuação. “Um exemplo: se o ponto foi vencido pelo jogador Rafael Nadal com um backhand winner, nós podemos apresentar um gráfico mostrando o número de winners de Nadal versus o de seu adversário”, diz Kent. Experiências em tempo real No Brasil, a IBM fez sua primeira incursão na segunda tela durante a Copa das Confederações, em 2013, com o projeto Ei! Treinadores, que evoluiu este ano para uma solução em tempo real. Em uma parceria de conteúdo com redes de televisão, fornecemos uma análise de tudo o que os brasileiros diziam sobre os jogos nas redes sociais, enquanto eles aconteciam. “Usamos nosso conhecimento em Análise de Sentimentos para gerar conteúdo para esses parceiros de mídia”, afirma Fabiana Galetol, executiva de Branding e Comunicação Externa. Com a Globo, por exemplo, as informações apareciam dentro do aplicativo de segunda tela da emissora. “Lemos todos os tweets e tudo o que era aberto ao público no Facebook, em português, identificando a porcentagem de repercussão positiva, neutra e negativa de cada jogo e respectivos jogadores nas redes sociais. E mostramos, por meio de gráficos, na segunda tela deles (o aplicativo), o que milhões de pessoas estavam dizendo. É uma experiência em tempo real, para ser compartilhada com os amigos”, explica. No futuro, a tendência é de que a segunda tela estreite a relação entre o espectador e a emissora, a ponto de ele ditar os rumos da programação. Claudio Pinhanez, gerente de Social Analytics do Laboratório de Pesquisas da IBM Brasil e um dos responsáveis pelo projeto de Análise de Sentimentos para o Mundial, afirma que, com a evolução da tecnologia, os dados gerados pela utilização da segunda tela e a opinião dos telespectadores vão chegar cada vez mais rápido à direção da emissora, que pode tomar melhores decisões em tempo real. “Por exemplo, se virmos que muitas pessoas estão acessando a página de escalação dos times no aplicativo, a companhia pode escolher mostrá-la novamente no ar.” Com isso, a ideia é tornar a programação da TV mais relevante para o público, especialmente durante os eventos ao vivo. “As emissoras terão de modificar a maneira de cobrir os eventos. Coisas simples enquetes, por exemplo – já são feitas hoje, mas mudanças mais drásticas, como qual partida deve ser transmitida com base no feedback do público, ainda estão distantes”, opina John Kent. Para o cientista brasileiro, o próximo passo na transmissão de eventos esportivos é cruzar os dados da Análise de Sentimentos com uma espécie de “closed caption” do que efetivamente acontece na partida, para tirar insights ainda mais precisos. “Comparando os dados dessas duas fontes em tempo real, teremos uma nova geração de Analytics, mais detalhada e rica em informações. Assim, a segunda tela vai saber exatamente o que você quer e o que não quer assistir”, diz Pinhanez. Quem diria que um aparelho tão pequeno como o celular pode gerar algo tão grande como o Big Data? As redes de TV estão de olho. Em breve, a segunda tela deve ter o primeiro lugar na preferência dos espectadores – e das emissoras. 37 Top 5 1. Futebol americano O primo distante do nosso futebol é um dos esportes que mais absorveram as novas tecnologias. Nos capacetes, os jogadores possuem hoje um sistema de áudio, pelo qual se comunicam com os técnicos. Já o telão gigante instalado nos estádios, chamado JumboTron, mostra replays para a torcida. Outra inovação em campo, realizada em 1966, foi a implementação da grama sintética (feita de fibra de plástico e borracha), que deixou o futebol americano mais rápido. Desde 1999, os juízes também podem rever lances polêmicos por meio de um sistema que utiliza câmeras exclusivas, com reprises instantâneas de jogadas duvidosas. A partir de 2012, todos os touchdowns – jogada em que o atleta ultrapassa a linha de fundo do adversário e marca seis pontos – são automaticamente validados pelo sistema de câmeras. 3. Natação Há também situações em que a evolução rápida dos materiais acabou colocando em xeque a credibilidade de um esporte. Foi o caso da natação. Em janeiro de 2010, a Fina (Federação Internacional de Natação) proibiu o uso dos chamados “supermaiôs”, obrigando os atletas a fazerem um downgrade em seus equipamentos de competição. Desenvolvidos para corrigir a postura do nadador, oferecer maior flutuabilidade e reduzir o atrito com a água, os maiôs duraram apenas duas temporadas, mas fizeram um grande estrago: foram 35 recordes mundiais batidos até essa tecnologia ser finalmente proibida. Hoje só é permitido o uso de materiais que não deem vantagens desproporcionais ao competidor na piscina, sujeitos à aprovação da Fina, numa tentativa bem-sucedida de deixar o esporte mais justo e baseado exclusivamente no desempenho do atleta. ADMIRÁVEL ESPORTE NOVO Veja alguns dos esportes que vêm se beneficiando de inovações tecnológicas top 5 2. Futebol Apesar de ser uma modalidade historicamente mais resistente à chegada da tecnologia, o futebol já adere a algumas inovações de maneira discreta. Sim, a essência ainda é basicamente a mesma: 22 jogadores em busca de gols num campo retangular. Mas algumas mudanças, quase imperceptíveis para o torcedor, afetaram profundamente a rotina do esporte mais popular do mundo. Uma delas é a tecnologia aplicada na produção das bolas, que evoluiu muito. Do modelo feito de couro dos anos 30 – que obrigava jogadores a usarem toucas para cabecear –, temos hoje alguns praticamente à prova d’água. Leves, deixaram o jogo mais rápido, o que acabou valorizando o preparo físico dos jogadores. E as mudanças vêm se tornando ainda mais revolucionárias: um novo sistema de sensores e câmeras já está sendo aplicado para confirmar se a bola entrou mesmo no gol, prometendo afastar a possibilidade de grandes polêmicas. 4. Tae-kwon-do Acredite: a tecnologia foi responsável por manter essa arte marcial nas Olimpíadas. Mas, nesse caso, o fator responsável não teve a ver com o desempenho dos atletas. Nos Jogos de Pequim, em 2008, o tae-kwon-do quase foi retirado do programa olímpico por conta da imprecisão na hora de computar os pontos, já que não havia ainda um sistema eletrônico que reconhecesse a exatidão dos golpes e atribuísse a pontuação correta aos competidores. Um conjunto de sensores capaz de controlar a pontuação automaticamente foi, então, desenvolvido. E, além disso, um sistema de câmeras de vídeo passou a permitir aos juízes verificar movimentos polêmicos durante as disputas. O objetivo da Federação Internacional de Tae-kwon-do foi evitar casos como o da britânica Sarah Stevenson, que perdeu uma luta porque os juízes não viram um golpe seu nos últimos segundos, nas quartas de final da competição de 2008. 5. Patinação de velocidade Nesse esporte, os competidores estão se tornando verdadeiros designers para aprimorar os mínimos detalhes das lâminas de seus patins. Numa modalidade em que as disputas estão ficando cada vez mais acirradas e na qual cada segundo conta, os patinadores de alto nível conseguem encomendar protótipos personalizados de acordo com as suas necessidades. Atualmente também é viável acompanhar a performance do esportista por meio da roupa especial Haptic Sports Garment. O equipamento é capaz de dizer, pela análise dos movimentos, se o competidor está usando os agrupamentos musculares corretos, apontando a velocidade a ser atingida de acordo com a pista e o desempenho do patinador. 39 CRAQUES ELETRÔNICOS Os jogos de esporte sempre foram populares no mundo dos videogames e até hoje são grandes sucessos de público. A pedido da Pense, os IBMistas elegeram os seus favoritos das pistas e dos campos virtuais Acesse o aplicativo da Pense no seu tablet e veja os melhores momentos do “craque” Allejo, que marcou a infância de uma geração PRO EVOLUTION SOCCER 2013 É um dos jogos de futebol mais populares do mundo. Seu sucesso se deve à “jogabilidade”, ou seja, à simulação realista das partidas de futebol. O IBMista Fernando Cardoso é fã: “É o meu tipo de jogo favorito e, hoje, ainda conseguimos interagir com jogadores do mundo inteiro”, destaca. No PES 2013, coordenar o ataque ou a defesa são tarefas que exigem certa persistência e conhecimento de futebol do gamer, mas, mesmo assim, o Pro Evolution é divertido tanto para jogadores ocasionais quanto para fanáticos. Com excelentes gráficos e expressões convincentes dos atletas, o título vem com os principais craques e clubes do futebol mundial – incluída aí a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. A diversão extra fica por conta dos bordões do narrador Silvio Luiz e da trilha sonora, com “Ai Se Eu Te Pego”, de Michel Teló. Disponível para PC, Playstations 2 e 3, PSP, Xbox 360, Nintendo Wii e Nintendo 3DS. MARIO KART “Quem nunca jogou alguma versão deste clássico? Além de ser o jogo do personagem mais instantaneamente reconhecível por todos – incluindo pessoas que nunca jogaram videogames na vida”, comenta o IBMista Juan Ignacio Schenone Alonso. E chamá-lo de clássico não é exagero: a primeira versão de Mario Kart data de 1992. Já a mais recente, Mario Kart 8, foi lançada em 2014. Somando-se todas as versões, foram mais de 100 milhões de cópias vendidas do jogo. Conforme a tecnologia dos videogames foi se sofisticando, esse divertido game de corrida também evoluiu. Nele, Mario, Luigi, Todd, Koppa e outros personagens disputam a vitória em corridas com espírito de desenho animado. Além de acelerar, é preciso desviar de cascas de bananas e bombas, mergulhar com o carrinho e vencer a antigravidade para ganhar as provas. Mario Kart foi criado por Shigeru Miyamoto, responsável pelos demais games da série Mario Bros. Disponível para Nintendo Wii U. FIFA 14 O campeão entre os jogos de futebol. Uma das maiores vantagens do FIFA 14 é contar com um grande número de jogadores e clubes licenciados, de vários países e divisões do mundo. “FIFA 14 é o simulador de jogo de futebol mais completo e real da atualidade”, afirma o IBMista Thiago Fernandes De Carvalho. Com gráficos bastante realistas, o jogo permite reproduzir lances executados pelos atletas reais com perfeição. Mesmo os iniciantes conseguem aproveitar as partidas, já que é possível selecionar diversos níveis de dificuldade. O modo de “jogo em temporadas” permite montar equipes, contratar atletas e desafiar jogadores do mundo todo. Só do Brasil, são 20 times disponíveis mais a seleção nacional. Outro destaque do game é a trilha sonora, que sempre se renova e envolve artistas do mundo todo, de Nine Inch Nails a Marcelo D2. Disponível para PC, Playstations 2, 3 e 4, Xbox 360 e One, Nintendo 3DS e Wii, Android, iOS e Windows Phone. INTERNATIONAL SUPERSTAR SOCCER DELUXE Os fãs de videogame dos anos 90 não se esquecem deste clássico, precursor do Pro Evolution Soccer. “O maior de todos! Tudo o que vem depois é mera adaptação”, provoca o IBMista Daniel Nabarro. E o jogo fez mesmo muito sucesso, principalmente no Brasil, apesar de não contar com craques reais nem clubes. Não havia licenciamento para usar os nomes dos jogadores, então a seleção brasileira contava com os ficcionais Allejo, Pardillo e Beranco entre seus titulares. Com 36 seleções disponíveis, o game permitia ao jogador disputar Copa do Mundo, Liga ou o Modo Cenário, que consistia de desafios baseados em situações reais a serem superados em pouco tempo. Versões não oficiais de ISS Deluxe circularam pelo Brasil e pela Argentina, trazendo os times locais e os jogadores com seus nomes reais. Esteve disponível para Super NES, Megadrive e Playstation. NEED FOR SPEED: UNDERGROUND De 2003, este episódio de Need For Speed reiniciou a série, lançada pela primeira vez em 1994. Antes baseado em competições de carros de turismo, o jogo mudou de cenário e foi para o mundo do tuning – carros de passeio modificados – e para as ruas de uma cidade fictícia, que remetia a São Francisco, nos EUA. O IBMista Bruno De Pieri Darim o considera um clássico: “Foi o primeiro game que possibilitou ao jogador fazer modificações no carro, além de apresentar vários modos de corrida (Drift, Drag, Circuit, etc.)” diz. Eram 20 carros disponíveis, que podiam ser customizados de várias maneiras: desde o visual (lataria e pintura) até a parte mecânica (transmissão e motor). Outro destaque era a trilha sonora, repleta de artistas de rock e música eletrônica, como Rob Zombie, The Crystal Method e Rancid. Need For Speed: Underground esteve disponível no PC, Playstation, GameCube e Gameboy Advance. 41 Ponto Final Querer e poder, sempre Desde criança buscando o movimento, Fernando Aranha hoje é para-atleta. Conheça um pouco de sua história, que passa pela tecnologia e por sempre acreditar que, com adaptação e dedicação, tudo é possível A paralisia infantil me deixou sequelas. No internato Pequeno Cotolengo, em Cotia, onde cresci, a diversão era jogar bola e, como lá havia muitos deficientes, cada um jogava do seu jeito: uns de cadeira de rodas, outros de muletas… Eu jogava de skate. Na escola, como não podia praticar educação física, lia uns livros sobre o assunto, aprendia como se saltava e, então, brincava de salto em altura. Sempre fui espoleta, subia em árvore, buscava o movimento. Eu usava o obstáculo para brincar e me desenvolver, não de forma negativa. Do basquete ao atletismo Tenho algum movimento nas pernas, mas nada que me sustente em pé. Já na cadeira de rodas, fico com certa agilidade. Por isso, cheguei a pular o muro do colégio para poder jogar basquetebol no Parque do Ibirapuera. Treinei basquete em cadeira de rodas por quase dez anos, porém houve uma época em que tinha que trabalhar, estudar e, para não deixar o esporte de lado, optei por um individual: o atletismo. Durante a faculdade, comprei uma bicicleta de mão e iniciei também a prática de cross-country e triatlo. Nunca passei pela situação de “querer e não poder”. Sou atleta recente. Antes de participar das Olimpíadas de Inverno deste ano, treinava duas horas e meia pela manhã e duas e meia à tarde. Depois dos Jogos, perdi meu emprego e passei a treinar de seis a oito horas por dia. O atleta paraolímpico tem vontade de sentir liberdade, de se movimentar, de perceber melhoras no dia a dia. É uma prática que se popularizou tanto que as pessoas já entram para o esporte como superatletas. Está faltando um meio-termo, um incentivo aos treinos, mesmo sem a intenção de competir. Uma extensão do corpo Já encontrei minha posição na cadeira de rodas faz algum tempo, mas estou sempre de olho nas novidades. Pesquiso novas tecnologias, novos tipos de pneu e peças de fibras de carbono para a aerodinâmica. Na minha cadeira de corrida, só entro eu, então acabo gastando muito dinheiro com equipamentos que não posso vender ou passar para outros. Como deficiente, algumas partes do meu corpo não vão funcionar da forma correta, mas elas precisam ser estimuladas para que exista equilíbrio. É necessário um pouco de tempo, porque os membros demoram a responder aos estímulos de rendimento. É uma adaptação. Temos que treinar nossa superação todos os dias, trabalhar dentro de nossas dificuldades e talentos. Treinando de uma maneira diferente, desenvolvemos habilidades que os próprios atletas olímpicos poderiam utilizar. Fernando Aranha, 35, pratica para-atletismo, paraciclismo e paratriatlo, modalidade em que se sagrou bicampeão brasileiro. Participou dos Jogos Paraolímpicos de 2014, em Sochi, na modalidade “esqui cross-country”. Veja no, aplicativo da Pense para tablets, Fernando Aranha se preparando para os Jogos de Inverno de Sochi Na Próxima Edição Educação sem fronteiras As novas tecnologias estão mudando as salas de aula e conectando professores e alunos ao conhecimento de uma forma que antes não era possível. Grandes universidades de todo o mundo estão ao alcance de um clique, enquanto crianças em idade escolar recebem reforço via videoconferência. Além disso, um novo modelo de ensino, liderado pela IBM nos Estados Unidos, coloca as empresas cada vez mais próximas da escola, como responsáveis pela formação de talentos, o que pode mudar a dinâmica do mercado de trabalho em pouco tempo. No nosso próximo número, você vai conhecer os novos rumos da educação, que tem usado a tecnologia como base para tornar o conhecimento mais acessível a todos, não importa onde estejam e quem sejam. Enquanto isso... A sua revista Pense já chegou ao fim, mas a discussão continua nas redes sociais e você é nosso convidado. Acesse a comunidade da revista no Connections, para compartilhar sua opinião com outros IBMistas, pelo link bit.ly/ibmpense, ou siga o nosso blog: revistapense.wordpress.com. 43 A tecnologia de análise de sentimento social da IBM entende e interpreta o que milhões de brasileiros postam nas redes sociais durante a partida, em tempo real. Alta tecnologia com inteligência artificial IBM permitindo que a escolha do melhor jogador possa ser feita por todo mundo e não apenas por alguns especialistas. craquedasredes.com.br Feito com IBM IBM, o logo IBM, ibm.com, Smarter Planet e Made with IBM são marcas registradas e de titularidade da International Business Machines Corporation em diversos países em todo o mundo. Outros nomes de produtos e serviços podem ser marcas registradas da IBM ou de terceiros. Uma lista atualizada das marcas registradas e de titularidade da IBM está disponível na internet, em www.ibm.com/legal/copytrade.shtml. © International Business Machines Corporation 2014.