Leia Mais - Orlei José Pombeiro
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Exclusão Digital Abraão Martignago, Angelo Marcel, Seilor Bonâncio Junior, Rodrigo Bortolon, Orlei José Pombeiro Grupo de Pesquisas em Informática, Bacharelado em Sistemas de Informação Sociedade Paranaense de Ensino e Informática - Faculdades SPEI [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo - Entre as diversas possibilidades de definição, a exclusão digital pode ser entendida como o não uso de tecnologias digitais mais recentes bem como o computador e Internet. Caracteriza-se por ser mais uma conseqüência das desigualdades no Brasil e no mundo. Frente a este problema surgem ONG’s com projetos sociais para minimizar o grande número de excluídos digitais. O objetivo deste artigo é apresentar uma visão geral sobre a exclusão digital e esforços na tentativa de redução dela no Brasil. Palavras-chave: exclusão digital, exclusão social, tecnologia da informação e comunicação. Introdução A exclusão digital é mais uma conseqüência das diferenças sociais, econômicas e políticas já existentes de distribuição de poder e renda. Pode ser entendida como a situação na qual um indivíduo ou grupo de pessoas se encontram impossibilitados de utilizar as mais recentes tecnologias digitais. Surge daí a divisão digital, onde pessoas passam a ficar divididas em dois grupos: o dos que participam do mundo digital e o dos que ficam a parte. Não ter acesso a Internet ou a outras inovações tecnológicas dos nossos dias pode comprometer a mobilidade social e a empregabilidade de uma pessoa. Destacam-se o problema da exclusão social que reflete na exclusão digital, fatores que contribuem para exclusão digital e iniciativas para diminuí-la no Brasil. Metodologia Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC A TIC - Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) é uma arma-chave na guerra contra a pobreza mundial [1]. Quando usada com eficiência, oferece um imenso potencial para capacitar as populações dos países em desenvolvimento e das comunidades desfavorecidas a superar obstáculos ao fortalecer o desenvolvimento e lidar com seus principais problemas sociais, além de fortalecer as comunidades, as instituições democráticas, a liberdade de imprensa e as economias locais. No entanto, a exclusão digital separa os que têm acesso e utilizam a TIC para usufruir desses benefícios daqueles que não têm acesso à tecnologia ou não podem utilizá-la por alguma razão. O nível de exclusão digital dos países é medido em termos do número de telefones, computadores e usuários da Internet. Entre grupos de pessoas dentro dos países, essa medição se faz em termos de raça, gênero, idade, deficiência, localização e renda. É difícil entender completamente a exclusão digital, as soluções propostas e o impacto real que ela exerce quando existem múltiplas definições do problema, pontos de vista conflitantes sobre a melhora ou piora da situação e várias opiniões sobre os principais fatores que a afetam. A exclusão digital está se agravando em todo mundo, apesar de todos os países e todos os grupos dentro dos países, até mesmo os mais pobres, estarem ampliando seu acesso a TIC e sua utilização. Isso acontece porque, nos países e grupos “info-ricos”, o acesso à TIC e sua utilização estão crescendo a uma velocidade exponencial. Ao mesmo tempo, as pessoas “info-pobres” estão sendo cada vez mais excluídas do mercado de trabalho, da participação nos processos governamentais e do debate público sobre as questões que afetam sua vida, tornando-se impotentes política e economicamente. Os países e as comunidades correm o risco de ficarem cada vez mais defasados se não derem atenção à crescente exclusão digital. No entanto, a introdução da TIC pode intensificar as disparidades existentes. A TIC por si só não é suficiente para solucionar desequilíbrios enraizados e pode agravar as desigualdades se não for aplicada com prudência. A exclusão digital é um problema complexo que apresenta desafios práticos e políticos. Também é evidente que as soluções que funcionam nos países desenvolvidos não podem ser simplesmente transferidas aos ambientes dos países em desenvolvimento, as soluções precisam estar fundamentadas no entendimento das necessidades e condições locais. Exclusão Social O termo exclusão pode levar ao raciocínio do “estar fora”, assim como o termo inclusão, o antônimo de exclusão, a idéia de “estar dentro”. Essa visão dualista, simplificada do termo exclusão, todavia, é muito mais complexa. Ninguém está totalmente fora ou dentro, são múltiplas as possibilidades, a própria relação dialética, defendida por alguns autores, que vêem na exclusão uma forma de inclusão e vice-versa. A tentativa de isolar alguma forma de exclusão é, com efeito, uma maneira de buscar o entendimento de determinadas situações, mas ao mesmo tempo, limita-se a possibilidade de uma compreensão dinâmica do que é ou não é exclusão. A associação entre pobreza e exclusão social, ainda que pertinente, pode induzir a uma conclusão precipitada de que é uma relação única, exclusiva e inquestionável. Que a pobreza e as condições precárias de vida acentuam os problemas sociais, não há dúvida, isso não quer dizer, contudo, que a exclusão social se limita a isso. Com as transformações do mercado e a precarização nos empregos formais, por exemplo, boa parte das pessoas que não são pobres está excluída das oportunidades de emprego disponíveis. Há outros exemplos: pessoas que perderam as suas famílias, ou seja, excluídas da convivência familiar; imigrantes que não falam a língua local e não conseguem se estabelecer na comunidade; pessoas que têm renda, mas que são excluídas do consumo de produtos e serviços de luxo, entre outros. A exclusão social não se restringe à questão da igualdade de renda, trabalho, direitos e deveres, mas também do respeito às diferenças no modo de vida, na cultura de um povo, diversidade política e religiosa, etc. Nesse sentido, pode-se utilizar a teoria dos grupos, conforme citação de Jordan no livro de Pedro Demo [2]: “o que é necessário é uma teoria que explique como grupos se organizam, e, acima de tudo, como pessoas com poucos recursos, ou enfrentando altos riscos, alcançam êxito em tais interações sociais. Em outras palavras, uma teoria da pobreza e da exclusão social é necessariamente uma teoria econômica de grupos exclusivos (como pessoas interagem em relação com seus riscos econômicos, capacidades e recursos).” Exclusão Digital O termo exclusão digital (digital divide) tem a sua origem em meados da década de 1990 com a publicação de um artigo de Jonathan Webber e Amy Harmon no jornal Los Angeles Times em 1995 [3]. Andy Carvin da Benton Foundation diz que no início de 1996 houve uma declaração do então presidente dos EUA Bill Clinton e do vice-presidente Al Gore em que ambos citam o termo digital divide num discurso realizado em Knoxville, Tennessee. De acordo com a OCDE [4], a exclusão digital refere-se à distância entre indivíduos, famílias, empresas e regiões geográficas em diferentes níveis sócio-econômicos com respeito,simultaneamente, às suas oportunidades de acesso às tecnologias de informação e comunicação (TCI’s) e o uso da Internet para uma ampla variedade de ações e atividades. Há outras formas para definir a exclusão digital: uma delas remete à distância entre os que estão fazendo uso das novas tecnologias e os que não estão, de acordo com Robert Anthony [5] e Wallys W. Conhaim [6]; de acordo com John N. Berry III [7], refere-se ao abismo de informações existente entre os que têm acesso às novas tecnologias e os que estão alijados desse processo. Para o escritor Sérgio Amadeu da Silveira [8]: “a exclusão digital ocorre ao se privar as pessoas de três instrumentos básicos: o computador, a linha telefônica e o provedor de acesso.” O autor ressalta que a exclusão digital não é mera conseqüência da exclusão social. De fato, a exclusão digital não é uma conseqüência direta da exclusão social, apesar do fato de estar excluído socialmente em termos de renda, educação e emprego, entre outros, acaba interferindo negativamente na exclusão digital. Faz-se, assim, necessária uma distinção entre as duas formas de exclusão, pois há uma certa semelhança entre elas. A exclusão digital não está restrita ao fator renda (apesar de ser limitada por ela), algumas pessoas, ainda que com renda compatível para o acesso e uso da Internet, por exemplo, não faz uso das novas tecnologias por opção ou até mesmo por desconhecimento e repulsa [9]. A questão geracional [10] é um fator que interfere no processo de inclusão/exclusão digital. Percebe-se que entre os mais jovens a absorção da TCI é muito mais rápida se comparada com as camadas da população com mais idade; a educação é um dos fatores limitantes ao acesso e uso das novas tecnologias [4], não saber ler em inglês, por exemplo, impede o uso de boa parte das informações presentes na Internet [4]. A exclusão digital está diretamente ligada à infra-estrutura de comunicação, como por exemplo, telefone, provedores, aparelhos, etc., em outras palavras, pode-se ter as condições e a predisposição para o uso das novas tecnologias, mas sem uma infra-estrutura mínima não há como ter acesso e muito menos o uso das novas tecnologias [11]. Em suma, múltiplos fatores, em variados contextos, impedem ou dificultam o processo de inclusão digital. Por outro lado, a exclusão digital é tratada de forma semelhante à exclusão social, havendo inclusive uma associação entre elas. Muitos projetos e iniciativas de inclusão digital defendem uma perspectiva de capacitação técnica para aumentar o poder de competitividade das pessoas por um emprego, percebe-se que uma forma de inclusão baseada na lógica de mercado, ou seja, a tecnologia sendo utilizada para um aperfeiçoamento profissional. Fala-se também num processo de alfabetização digital, em bases semelhantes ao processo de combate ao analfabetismo. Os discursos e análises relativas ao tema recaem, quase sempre, na questão da pobreza e da miséria, ou seja, da mesma forma como na exclusão social, busca-se explicar o fenômeno da exclusão digital baseada na falta de renda. Esquecem-se, porém, os componentes culturais e sociais, focando-se demasiadamente no fato em si, e não no processo e na dinâmica que excluem as pessoas e as organizações no acesso e uso das tecnologias. Como conseqüência quase que imediata, almeja-se saber “quantos são os que estão excluídos do mundo digital”, o que ocorre em boa parte das análises de pobreza e exclusão social, porém a dificuldade no critério, assim como a própria necessidade de se contar ou dimensionar a exclusão digital ainda estão sendo debatidos. Números sobre a exclusão digital Os números, dados e estatísticas, por si sós, podem escamotear uma realidade, mais do que esclarecer. Entretanto, no caso da exclusão digital, apresentam-se alguns números que podem ser úteis no sentido de um diagnóstico. Os números a seguir denunciam uma situação assimétrica de acesso às novas tecnologias, ressalta-se, além disso, que ao se considerar simultaneamente o uso das mesmas, a situação para a maioria das pessoas nos países pobres pode ser ainda mais desigual. No Brasil, segundo o IBGE, em 2000 havia de 10 a 20 usuários de informática a cada 100 mil habitantes. A região sudeste concentra 58% dos provedores de acesso, sendo que 12% estão na cidade de São Paulo e 8% na cidade do Rio de Janeiro. Apenas 6% dos municípios brasileiros (5.500 ao todo), pouco mais de 300 cidades, têm uma infra-estrutura mínima necessária para que possam ser instalados serviços locais de acesso à Internet. O telefone é um meio de comunicação que está ao alcance, segundo a ONU, de pouco mais de 20% da população mundial e isso nunca foi tratado como um problema. A “exclusão telefônica”, ao contrário da digital, não teve uma repercussão. Talvez porque o telefone, público ou privado, fixo ou celular, seja visto como uma espécie de privilégio e não sob o ponto de vista do direito ao acesso a comunicação. Entretanto, a falta de infraestrutura nas telecomunicações faz parte dos limitadores para a expansão da Internet, especialmente nos países pobres e em desenvolvimento. Fatores que contribuem para a exclusão digital Inúmeros fatores contribuem, direta ou indiretamente, com a exclusão digital. Abaixo, são listados os principais deles: • Falta de infra-estrutura em telecomunicações. Para o uso das NTIC é necessária uma infraestrutura razoável em telecomunicações. Se não existe tal infra-estrutura, é necessário construí-la e isso demanda tempo e dinheiro. Esse problema atinge principalmente os países subdesenvolvidos, justamente os que apresentam menores condições de resolvê-los. • Custo de acesso. O custo de acesso é mensurado basicamente por três indicadores: preço dos computadores, custo das tarifas telefônicas e despesas com provedor de acesso à Internet. Nenhum desses indicadores é medido diretamente pelo seu valor monetário (do bem ou serviço), mas pela porcentagem sobre a renda per capita. Por exemplo, enquanto um usuário americano típico gastaria 1,2% de sua renda per capita com taxas de acesso, um usuário de Madagascar gastaria 614%. [12] • Idioma. O inglês é o idioma oficial da Web. Cerca de 80% dos sites da Internet estão escritos em inglês, sendo esse idioma compreendido por apenas 10% da população mundial e 43% da população “online” [13]. • Conteúdo. É a obtenção de informação que motiva as pessoas a utilizarem a Internet. Portanto, a ausência de informação relevante também deve ser considerada uma barreira. Prover informação sob demanda a um público tão heterogêneo tem se mostrado uma árdua tarefa. • Censura. Mecanismos de censura também atrapalham a disseminação da Internet. Casos recentes incluem o governo chinês, que controla o acesso dos internautas de seu país ao conteúdo de sites ocidentais sob a justificativa de proteger o regime ditatorial comunista e o Talibã que proibiu o uso da Internet no Afeganistão sob justificativas fanático-religiosas. Além dessas barreiras, ainda existem outros empecilhos para a consolidação das NTIC. Há, por exemplo, o que Nanthikesan [14] chama de capacity e EReadiness, um conjunto de condições que criam uma pré-disposição à propagação das NTIC. São essas condições: • Disponibilidade de recursos humanos capazes de usarem, criarem e adaptarem a tecnologia; • Capacidade de diferentes segmentos da sociedade, particularmente governo e comércio, aceitarem e absorverem a tecnologia; • Infra-estrutura organizacional para criar leis que regulamentem e promovam o uso correto da tecnologia. Iniciativas para diminuir a exclusão digital no Brasil No Brasil existem muitas iniciativas, todas positivas e bem intencionadas, que tentam combater a exclusão digital em várias esferas: o governo eletrônico, em nível federal e estadual que disponibiliza na Internet os diversos serviços públicos; programas financiados pelo FUST(Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que pretendem conectar escolas públicas do país à Internet; as redes universitárias de pesquisas; e os quiosques eletrônicos dos Correios. Comitê para Democratização da Informática(CDI): “Criada em 1995 no Rio de Janeiro, O Comitê para Democratização da Informática (CDI) é uma organização nãogovernamental e sem fins lucrativos que promove programas educacionais e profissionalizantes (Escolas de Informática e Cidadania), com o objetivo de reintegrar os membros de comunidades pobres, principalmente crianças e jovens, diminuindo os níveis de exclusão social a que são submetidos no Brasil e em todo o mundo.” [15] Nova ONG visa combater a exclusão digital: ONG (Organização Não Governamental) Ciranda - Comunidade de Informação, Inclusão Digital e Social. Segundo os coordenadores, o grupo fundador é formado por pessoas que vêem na forma como a informação é utilizada pelos grandes grupos detentores dos meios de comunicação de massa, um instrumento para o aprofundamento das relações de dominação presentes em nossa sociedade atual. Conscientes desta problemática, propuseram a organização de uma entidade que visa combater estes mecanismos em diversas frentes de trabalho. Um dos aspectos do trabalho a ser desenvolvido pela CIRANDA é o combate à exclusão digital, nova forma de desigualdade social provocada pelo advento da Internet e das tecnologias de comunicação de dados, ainda inacessível para grande parcela da população. Para isso a ONG pretende realizar projetos de implantação de Infocentros de acesso comunitário a Internet, trazendo a este grupo de excluídos oportunidade de utilização dos benefícios disponibilizados pela grande rede. Ainda segundo os organizadores, para atingir seus objetivos a ONG está levantando parcerias com outras entidades que possuem objetivos semelhantes mas que possam se tornar parceiros em suas áreas carentes. Estão sendo realizados contatos com empresas de tecnologia para o fornecimento de equipamentos de informática. Em outra frente, existem negociações com associações de bairro que podem fornecer espaço para implantação das atividades da ONG. [16] Discussão e Conclusões As tecnologias de informação e comunicação são tão importantes quanto a educação e devem ser levadas a sério para o futuro da sociedade. Não ter acesso a Internet ou a outras inovações tecnológicas dos nossos dias pode comprometer a mobilidade social e a empregabilidade de uma pessoa. Assim como diversas ações de ONG’s para combater a exclusão digital, é importante para as pessoas compreender que podem contribuir para a redução deste problema seja doando computadores ou trabalhando em projetos sociais. Os produtos de alta tecnologia, como computadores, softwares, celulares contém o principal componente que é o conhecimento. Com eles é possível a melhoria na educação, comunicação entre grupos, e acima de tudo melhor qualidade de vida. Referências [1] Peters, Teresa. Combate à exclusão digital. Disponível em: http://usinfo.state.gov/journals/itgic/1103/ijgp/gj 08.htm [2] Demo, Pedro. Charme da exclusão social. Coleção polêmicas do nosso tempo; 61. Campinas: Autores Associados, 1998. [3] De acordo com Irving, Larry. Irvinfo.com [4] OCDE. Understanding the digital divide. Paris: OCDE publications, 2001. [5] Anthony, Robert. The digital divide network. Black Enterprise; New York; Jun 2000. [6] Conhaim, Wallys W. The Internet. Link up; Medford; Jul/Aug 2000. [7] Berry, Jonh N. Bridge all the digital divides. Library Journal; New York; May 15, 2000. [8] Silveira, Sérgio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. [9] Lenhart, Amanda. Who’s not online: 57% of those without Internet access say they do not plan to log on. Washington: Pew Internet & American Life Project, 2000. [10] Tapscott, Don. A crescente e irreversível ascensão da geração net. São Paulo: Makron, 1999. [11] Lafis. Relatório sobre Internet na América Latina. São Paulo: Lafis, 1999. [12] ITU, 1999. [13] Global Reach. “Global Internet Statistics”. Disponível em: http://www.glreach.com/globstats [14] Nanthikesan, S.. “Trends in Digital Divide”. Harvard Center for Population and Development Studies. [15] CDI. “Comitê para Democratização da Informática”. Disponível em: http://www.cdi.org.br [16] PlanetaRium Notícias. Giovana Andreotti Disponível em: http://www.planetarium.com.br/planetarium/not icias/2003/2/104429257