O Clarim - Tradisom
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O Clarim - Tradisom
EN DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 68 | Nº 3 | 22 de MAIO de 2015 | SEXTA-FEIRA PT EN CH EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop www.oclarim.com.mo ASSOCIAÇÃO PATRIÓTICA TERÁ PERDIDO PESO INSTITUCIONAL Igreja una, santa, católica DESTAQUE E EDITORIAL PÁGs. 2 Património: Macau melhor que Goa E 3 JOSÉ MOÇAS, EDITOR E PRODUTOR LOCAL PÁG. 5 “Viva Pataca”: terapia para crianças LOCAL PÁG. 5 Escola Portuguesa vence no futebol LOCAL PÁG. 4 «Macau mudou a minha vida» CULTURA PÁGs. 10 E 11 D E S TAQ U E O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 2 PT ASSOCIAÇÃO PATRIÓTICA TERÁ PERDIDO PESO INSTITUCIONAL Igreja, una, santa, católica JOSÉ MIGUEL ENCARNAÇÃO [email protected] Reconhecido pela Santa Sé e pelo Colégio dos Bispos da China, o bispo de Fenyang nega a existência de duas Igrejas no País – uma oficial e outra clandestina. Em entrevista ao site Vatican Insider, D. Johannes Huo Cheng minimiza o peso da Associação Patriótica dos Católicos Chineses, dando como exemplo o trabalho pastoral desenvolvido pela sua diocese. O prelado da Província de Shanxi revela satisfação pela aproximação do Vaticano à República Popular da China, criticando aqueles que insistem em desrespeitar as instruções vindas de Roma. O bispo de Fenyang, D. Johannes Huo Cheng, defende que a Igreja Católica na República Popular da China é una, rejeitando a tese de que existem duas Igrejas no País. Para o prelado na Província de Shanxi, o problema está entre os sacerdotes que reconhecem e servem o Papa e aqueles que apenas seguem os ditames da Associação Patriótica dos Católicos Chineses. No seu entender, mais do que isto é especulação. Em entrevista ao Vatican Insider, site do diário La Stampa, o bispo de Fenyang é taxativo quanto à questão da cisão da Igreja Católica na RPC, chegando mesmo a surpreender: «Só há uma Igreja na China. Mesmo a ideia de que a Igreja está subordinada ao Governo chinês não é totalmente verdadeira. O que acontece é que alguns estão subordinados ou deixam-se subordinar com o intuito de obterem benefícios e apoio material. Também é verdade que se querem construir uma qualquer infra-estrutura têm de contactar o Governo, mas há muitos poucos que são de facto dominados internamente pelo poder político. A grande maioria é fiel à Igreja Apostólica». Neste âmbito veio à conversa, como não podia deixar de ser, a Carta do Papa Bento XVI aos católicos da República Popular da China. Questionado se realmente há quem conteste ou ignore a mensagem do Papa Emérito, respon- S E M A N Á R I O C C AT Ó L I C O D D E D M A C AU deu: «Não tenho qualquer contacto. Mas do modo como agem parece óbvio que não aceitam a Carta. Continuam a actuar como antes, como se nada tivesse acontecido». Para ele, «a Carta é uma dádiva vinda de cima. Ela indica o caminho. Sumariza a jornada percorrida pela Igreja na China e revela a forma correcta de ultrapassarmos os problemas. Não podemos criticá-la ou colocá-la de lado. Pelo contrário, devemos lê-la e cumprir todo o seu conteúdo, não nos focando apenas em algumas frases. Quem o faz segue em frente e encara o futuro. Quem não o faz rejeita uma preciosa ajuda e permanece estagnado». D. Johannes Cheng é menos explícito quando confrontado com a intenção já revelada pelo Papa Francisco em reatar o diálogo entre o Vaticano e o Governo chinês, podendo até vir a encontrar-se com o Presidente Xi Jinping: «A vontade foi também expressa com o objectivo de ser concedida à Igreja na China mais meios para melhor cumprir o serviço pastoral. O Papa tem dado alguns passos em direcção à China. Estamos contentes e ansiamos ver os frutos dessa aproximação». No que respeita à ordenação de padres e nomeação de bispos sem a aprovação da Santa Sé, desaprova a escolha de bispos que tenham sido ordenados sem o consenso do Sucessor de Pedro. «Reze por eles. Espero que voltem a estar em inteira comunhão com a Igreja. Deus perdoa-nos e dá-nos a Graça de perdoar os outros», disse, acrescentando esperar que «seja encontrado um conjunto de soluções a breve prazo para a questão das nomeações episcopais, bem como para o reatar em pleno das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a República Popular da China». E para que dúvidas não haja, clarificou: «Respeitamos a Lei do Estado, mesmo que no passado tenhamos sido perseguidos pelos detentores do Poder». Embora o panorama seja hoje mais favorável aos intentos da Igreja Católica, ainda há alguns padres que actuam à margem das dioceses, convencendo alguns católicos a permaneceram afastados das suas paróquias. No entender do bispo de Fenyang, também este procedimento está longe de satisfazer a vontade da Santa Sé, uma vez que o Papa Bento XVI na Carta aos católicos da RPC pede aos sacerdotes que exerçam a sua actividade em comunhão com as dioceses. Para que não restem quaisquer dúvidas sobre a fidelidade de D. Johannes Cheng ao Santo Padre, o prelado afirmou que «é fácil seguir e obedecer ao magistério do Papa. Desde a sua eleição que sou conduzido pelas suas homilias e ensinamentos. É o meu pão diário. Todos os dias leio as suas palavras, que envio para os meus padres. Considero particularmente importante que [o Papa] pergunte como podemos sair de nós mesmos. Devemos segui-lo. Actualmente a “cultura do encontro” é também vital para a China. Ele é disso um exemplo, atraindo o interesse das pessoas e o carinho do mundo inteiro. É persuasivo, exortando-nos a amar os mais pobres e a fomentar a Paz». DIOCESE DINÂMICA Apesar de viver alguns constrangimentos pelo facto de D. Johannes Cheng reconhecer a autoridade do Papa, a diocese de Fenyang dá mostras de vitalidade, sendo disso exemplo os números avançados pelo bispo ao Vatican Insider. Só na última quadra pascal foram baptizados mais de 350 adultos, a rondar os 40 anos de idade. A dinâmica verificada tem a ver com «o trabalho desenvolvido pelos padres e leigos junto dos bairros, das cidades e das vilas, na propagação do Evangelho». A cidade de Lan Xian é prova deste esforço, dado que este ano, pela primeira vez, “contribuiu” para o baptismo de dezanove novos cristãos e para mais de dez catecúmenos. «As próprias pessoas já desvendaram a mentira de que a religião é o ópio do povo», referiu o prelado. Para além da evangelização, a diocese de Fenyang está empenhada na irradiação da pobreza, indo também assim ao encontro dos ensinamentos de Jesus Cristo. DIRECTOR: Pe. José Mario O. Mandía I ADMINISTRADOR: Alberto Santos | ASSISTENTE DA ADMINISTRAÇÃO: Wong Sao Ieng I EDITOR: José Miguel Encarnação I EDITOR-ADJUNTO:Benedict Keith Ip | REDACÇÃO: Pedro Daniel Oliveira, Joaquim Magalhães de Castro (Grande Repórter) I SECRETARIADO DA REDACÇÃO E FOTOGRAFIA: Ana Marques I TRADUÇÃO: May Shiu-Ling Ho | COLABORAÇÃO: João Santos Gomes, Pe. João Eleutério, Carlos Frota, Luís Barreira, José Pinto Coelho, Vítor Teixeira, Manuel dos Santos, Oswald Vas, Padres Claretianos I DIRECÇÃO GRÁFICA: Miguel Augusto I PAGINAÇÃO: Lei Sui Kiang I PROPRIEDADE: Diocese de Macau MORADA: Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, Macau I TELEFONE: 28573860 - FAX: 28307867 I URL: www.oclarim.com.mo I E-MAIL: [email protected] I IMPRESSÃO: Tipografia Welfare Ltd. O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 EDITORIAL 3 PT Revolução... pela positiva Xi Jinping parece estar a conseguir hoje o que Deng Xiaoping não conseguiu nos anos 80 do século passado: retirar peso institucional à Associação Patriótica dos Católicos Chineses. De facto, a abertura económica e social levada a cabo por Deng Xiaoping também poderia ter sido religiosa, não tivesse esta sido travada pela Associação Patriótica que, sendo mais papista que o Papa, até o Sumo Pontífice deixou de reconhecer, rompendo o laço de comunhão entre a Igreja Católica na China e a Santa Sé. Consequentemente, foram-se agravando as relações entre a República Popular da China e o Vaticano. Para a aparente perda de influência da Associação Patriótica estarão a contribuir dois factores: a aproximação do Papa Francisco ao Presidente chinês – foram eleitos com um dia de diferença, passando a trocar correspondência desde então – e o combate à corrupção na RPC. Se o primeiro factor é fácil de deslindar, uma vez que se trata de um ganho de confiança mútua, o segundo factor pode não ser tão entendível para os menos familiarizados com a história recente da Igreja Católica na China, mas é simples de explicar. Aquando da Revolução Cultural todo o espólio da Igreja Católica foi nacionalizado e entregue a quem viria pouco tempo depois a fundar a Associação Patriótica, sob a alçada do Governo Central mas sempre com elevada autonomia. Resultado: surgiu um novo núcleo de influência e poder na “Cidade Proibida” que foi progressivamente ditando as regras a seu bel-prazer, sem uma voz de comando externa nem qualquer tipo de contestação a nível interno. Com tanta autonomia, poder e dinheiro, e nenhum controlo, rapidamente a burguesia religiosa foi corrompendo e deixando-se corromper, por forma a manter-se no pedestal. Daí a incapacidade de Pequim em cumprir os acordos que aqui e ali foi “assinando” com o Vaticano. E a verdade é que sempre que um canal de diálogo entre as duas partes se abre, logo surgem novas barreiras a dificultar a troca de ideias com vista à resolução dos problemas. No combate à corrupção travado por Xi Jinping não há filhos e enteados, pelo que a Associação Patriótica não está imune à acção do poder judicial.... Um claro exemplo de que também na esfera religiosa algo está a mudar na RPC são as declarações do bispo de Fenyang ao site Vatican Insider (ver página 2), que nas entrelinhas desvaloriza a importância da Associação Patriótica, criticando mesmo aqueles que vivem afastados do Papa. Prelado reconhecido pela Sé Santa e pelo Colégio dos Bispos da China, D. Johannes Huo Cheng fala sem medo da acção pastoral desenvolvida pelos padres e leigos da sua diocese, cuja acção evangelizadora começa a dar os primeiros frutos junto de comunidades onde até há bem pouco tempo a Religião Católica era totalmente desconhecida. A manter-se este quadro é de prever que mais sacerdotes se libertem das amarras da Associação Patriótica e vivam em comunhão com o Papa... com o consentimento do Governo Central. A terminar, duas notas finais sobre o que está para acontecer em Hong Kong e sobre o apoio que a ATFPM tem vindo a dar ao Consulado Geral de Portugal. A Revolução Guarda-Chuva teve o seu início, atingiu o apogeu e morreu na praia, contestada pela mesma população que inicialmente se colocou ao lado dos jovens rebeldes. A incógnita está em saber se as ruas voltarão a ser palco de novas contestações, ou se a paz social reinará nos próximos tempos. O CLARIM está em condições de avançar que, infelizmente, são esperadas novas movimentações estudantis, estando já as autoridades de Hong Kong a preparar-se para o pior. Perguntei a um amigo bem informado por que razão Pequim não dá um murro na mesa. Respondeu que a estratégia é deixar o barco andar até que o combustível acabe. Uma vez à deriva, a tripulação e os passageiros terão de se agarrar à única bóia de salvação disponível: o Governo Central. A história é uma e não pode ser alterada nem escamoteada: Hong Kong sempre viveu à sombra da China. Sem ela não sobrevive! Por mais que os avós e os pais dos estudantes tenham razões de sobra para não gostar da terra que abandonaram um dia em busca de melhores condições de vida, a verdade é que são chineses e foi devido a esse factor que ganharam muitos milhões servindo de intermediários entre o mundo e a China, mais não fosse na simples qualidade de intérpretes. Continuassem eles com os bolsos vazios e com certeza não gritariam de papo cheio. Quanto à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, independentemente dos interesses que possam estar por detrás da ajuda que tem vindo a dar ao Consulado Geral de Portugal, tem de ser louvada a iniciativa de recensear o máximo número de portugueses residentes em Macau, para que estes possam exercer o direito cívico de escolher os seus representantes nos órgãos da Nação. Houvesse uma ATFPM junto de cada comunidade portuguesa no estrangeiro e outro galo cantaria na hora de eleger, por exemplo, os deputados pelos círculos da Europa e fora da Europa. Até, quem sabe, a Assembleia da República não viesse a permitir a eleição de mais deputados pelos referidos círculos. Na realidade, quatro deputados para quase seis milhões de portugueses é muito pouco, quando, em Portugal, cerca de dez milhões elegem 226. Mais do que criticar o voluntarismo da ATFPM há que criticar o Estado português pela situação em que vivem as missões diplomáticas, onde escasseiam recursos humanos e financeiros. E não há nada mais nobre do que representar bem Portugal. Vítor Sereno tem-no conseguido, sabe Deus como.... José Miguel Encarnação LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 4 PT ESCOLA PORTUGUESA DE MACAU VENCE NO FUTEBOL Desporto Escolar é essencial PEDRO DANIEL OLIVEIRA [email protected] O coordenador das actividades extra-curriculares da Escola Portuguesa de Macau (EPM), professor Nuno Marques, disse a’O CLARIM que o Desporto Escolar é essencial para a formação de pessoas para a sociedade, além de ser uma importante ferramenta para a detecção de atletas com aptidões para competirem ao nível de clubes. «É essencial para a formação dos miúdos, e respectiva inserção social. A competição [inter-escolas], além de saudável, faz com que os alunos pertençam ao grupo e representem a escola, sendo esta uma forma de incutir-lhes valores sociais. Os mais aptos podem depois prosseguir a sua actividade desportiva nos clubes», referiu Nuno Marques, após a EPM sagrar-se campeã no futebol (categoria B) e na bolinha (categoria D), em masculinos, nos campeonatos escolares do ano lectivo 2014-2015. A captação de potenciais talentos acontece de forma natural, mas a exiguidade das instalações tem condicionado a prática desportiva na EPM. «O espaço, embora limitado, é explorado ao máximo. Por exemplo, temos a escolinha de futebol para os mais novos. São cerca de vinte miúdos, mas infelizmente somos obrigados a impor limites porque não temos espaço suficiente para todos», vincou Nuno Marques. Nos campeonatos escolares organizados pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude a equipa de futebol de nove, orientada pelo professor Arlindo Serro, venceu o Colégio Yuet Wah na categoria B (14- PROVISÃO José Lai, Bispo Diocesano de Macau Fazemos saber que passando férias, fora de Macau, no período de 25 de Maio a 25 de Junho do corrente ano, o Revdo. Pe. Jojo Peter ANCHERIL, Pároco da Paróquia de S. Lourenço, havemos por bem nomear o Revdo. Pe. YEUNG Kwok Fai George Pároco Substituto da referida paróquia durante a ausência do Revdo. Jojo Peter ANCHERIL. Dada no Paço Episcopal, em Macau, sob o Nosso Sinal e Selo de Armas, aos 20 de Maio de 2015. + José Lai Bispo de Macau 15 anos), através da marcação de grandes penalidades, após igualdade a uma bola registada no tempo regulamentar. Já a equipa de futebol de onze, respeitante à categoria A (16-19), foi eliminada nos quartos-finais pelo Colégio Anglicano, também nos penalties. Na bolinha, o sete orientado pelo professor Agostinho Caetano sagrou-se campeão na categoria D (10-11), ao derrotar o Colégio Yuet Wah por 1-0, enquanto na categoria C (12-13) assegurou o 3º lugar, ao vencer o Colégio Anglicano também pela margem mínima. «O nosso trabalho tem sido de continuidade, porque os jogadores por mim orientados vêm das camadas mais jovens, desde a categoria D (10-11)», explicou Arlindo Serro. Na mesma linha do coordenador, salientou: «Já tentámos encontrar campos de futebol fora da EPM, algo difícil para as es- colas privadas porque os recintos desta natureza estão todos “limitados” pela Associação de Futebol de Macau ou pelos clubes». Desse modo, «precisamos mais apoio ao nível de infra-estruturas para desenvolvermos as nossas actividades desportivas». O professor Agostinho Caetano atribui «importância fundamental» ao Desporto Escolar, por ser «nestas idades que os alunos estão na escola, onde passam a maior parte do tempo», sendo este o local «onde devem ter todas as vivências possíveis que lhes possam proporcionar». No seu entender, «é algo diferente do que representar um clube», porque enquanto este «é para os melhores, a escola é para todos». Nas actividades extra-curriculares da EPM constam o futebol, a bolinha, o voleibol, o andebol, o basquetebol, o ténis de mesa, a ginástica, o badminton e a escalada, entre outras modalidades desportivas. O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 5 PT LOCAL PRESERVAÇÃO DO LEGADO CULTURAL PORTUGUÊS Macau melhor que Goa O jornalista do diário The Times of India, Andrew Pereira, e o especialista em informática, Shannon D’Cruz, dois indianos com raízes em Goa, concordam que a herança patrimonial portuguesa está melhor preservada em Macau do que naquela cidade indiana. Todavia, consideram que a hospitalidade da população e os condutores de autocarros em nada favorecem o turismo local. «NO MEU ENTENDER, a China percebeu a importância de Macau como ponte para os Países de Língua Portuguesa. Segundo a minha percepção como visitante, os monumentos estão bem preservados e as ruas asseadas. Pelo que vi, o Governo de Macau tem feito melhor trabalho do que o de Goa», salientou Andrew Pereira, no rescaldo de uma visita de dois dias à RAEM. «Contudo, somos bastante melhores em termos de hospitalidade do que as pessoas de Macau. Os goeses são mais amigáveis, talvez em resultado do legado deixado pelos portugueses. Pelo contrário, em Macau as pessoas pouco nos ajudaram quando solicitámos ajuda», explicou o jornalista natural de Goa. «No ponto de vista turístico penso que Macau pode fazer muito melhor em termos de hospitalidade. A polícia foi muito prestável. O Inglês dos polícias foi suficiente para nos entendermos. Tentaram ajudar-nos. Já os condutores de autocarros não foram nada prestáveis. Alguns foram mesmo rudes. Talvez seja algo da própria cultura, porque durante muito tempo a China foi um país fechado», descreveu Andrew. «Macau deve focar-se nas suas gentes» porque «há no território uma inquestionável herança portuguesa». Por isso, sugeriu que «o Governo treine funcionários públicos de modo a poderem ajudar os turistas, porque a maioria da população não é muito prestável». Para Shannon D’Cruz, «é notável que o legado cultural português tem sido bem preservado. Basta olhar à volta e percebe-se que este lugar foi território português. É uma mistura extremamente rica entre as culturas portuguesa e chinesa». Por outro lado, referiu que «Goa era um local muito bonito durante a administração portuguesa, mas agora está horrível», pois «dá a sensação que os portugueses nunca estiveram em Goa, porque embora haja legado histórico é preciso ir à “caça” dele, o que não acontece em Macau». Shannon D’Cruz tem um interessante percurso de vida: nasceu em 1981 no Kuwait, onde viveu até rebentar a Guerra do Golfo em 1991. Neste ano foi com os pais para Goa, de onde são naturais. Ali viveu dois anos antes de acompanhá-los para Riade (Arábia Saudita), tendo estudado na antiga “Embassy of India School”. Voltou a Goa para terminar o ensino superior na área da Tecnologia da Informação. Trabalhava até há pouco tempo numa multinacional no Bahrein, onde chegou em 2007. Pedro Daniel Oliveira “VIVA PATACA” COM REFORMA MAIS CONDIGNA Terapia para crianças O cavalo de Stanley Ho que ganhou mais de 83 milhões de dólares de Hong Kong em prémios está agora confinado a um estábulo no Jockey Club de Macau. Ada Lo, responsável pela “Special Olympics Macau”, aponta uma saída mais condigna para o “Viva Pataca”: a terapia para crianças com necessidades especiais. A presidente do Conselho Executivo da “Special Olympics Macau”, Ada Lo, disse a’O CLARIM que o cavalo “Viva Pataca” pode ter uma reforma mais condigna se for aproveitado para a terapia de crianças com necessidades especiais. «Os animais e as crianças são sempre dois elementos que apontam para o divertimento. Tratando-se de um ex-cavalo de corrida poderá ser agressivo. É preciso um treinador certificado com conhecimentos para fazer a interacção entre o cavalo e as crianças com necessidades especiais, o que certamente não existe em Macau», explicou Ada Lo, acrescentando que poderão entrar nesta terapia crianças autistas ou com síndrome de Down. No seu entender, «a terapia com cavalos é muito comum nos Estados Unidos e no Canadá, porque há lá muitos terrenos campais. Todavia, em Macau as pessoas raramente têm contacto com cavalos, por isso é necessário lições de adaptação para as crianças não terem receio e ficarem mais à vontade com estes animais». Daí a importância do treinador certificado nesta terapia: «É essencial. Caso contrário, ninguém sabe o que está a fazer, até mesmo no controlo do cavalo. Só um profissional poderá medir o efeito das lições, o estágio de progressão e o planeamento da terapia». O efeito do programa nos pacientes influiu no nível de confiança, de auto-eficácia, do auto-conceito, da comunicação, da perspectiva, da crença, da redução do isolamento, da auto-aceitação, do controlo de impulsos, da habilidade social, das fronteiras e da ligação espiritual. Na “Special Olympics Macau” há no total cerca de 350 membros autistas ou com síndrome de Down, porém, Ada Lo vincou que o número de casos é consideravelmente maior no território. O “Viva Pataca”, propriedade de Stanley Ho, é o cavalo de corridas mais premiado nas competições equestres de Hong Kong. Segundo o South China Morning Post, o animal que ganhou mais de 83 milhões de dólares de Hong Kong em prémios de corridas antes de se reformar em 2011 está agora confinado a um estábulo no Jockey Club de Macau, em condições de «masmorra». P.D.O LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 6 PT CONHECER AS LEIS DE MACAU Legislação sobre réplicas de pistolas e de armas As réplicas de pistolas costumam ser sempre uma colecção de entusiastas de objectos militares, mas como ainda podem ser usadas como arma, as mesmas têm um certo grau de risco. Por exemplo, uma réplica de pistola, aparentemente não é diferente de uma pistola verdadeira (que utiliza a pólvora como meio propulsor do projéctil), todavia, mesmo uma réplica de pistola de pressão de ar, se exceder o limite legal, também pode ser considerada como uma arma. Em conformidade com o Decreto-Lei n.°77/99/M (Regulamento de Armas e Munições), a espingarda, revólver ou pistola, de pressão de ar, que possam descarregar um projéctil com uma força superior a 2j., consideram-se armas. De acordo com o Código Penal, quem detiver, trouxer consigo ou guardar as referidas armas, pratica o crime de posse de armas proibidas e substâncias explosivas, sendo punido com pena de prisão até 8 anos. CARTOON dade física por negligência” ou “crime de dano”, etc., havendo lugar a responsabilidade penal. Por outro lado, para a entrada, através da fronteira, de réplicas de pistola e seus acessórios será exigida a licença prévia de importação relativa às armas, emitida pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública, no momento de importação, após a inspecção da autoridade e a fiscalização dos Serviços de Alfândega. De acordo com a Lei n.° 7/2003 (Lei do Comércio Esterno), quem fizer entrar na RAEM mercadorias sem a licença exigível, é sancionado com multa até 100.000,00 patacas, sendo os bens confiscados ao mesmo tempo. Além disso, caso as pessoas possuam as réplicas de pistolas de pressão de ar que, de acordo com os critérios legais possam descarregar projéctil com uma força igual ou inferior a 2j, devem ter particularmente cuidado no momento de utilização, pois a utilização indevida destas réplicas pode provocar danos ao corpo ou aos bens, podendo ainda a pessoa praticar um crime, como por exemplo o “crime de ofensa à integridade física doloso”, “crime de ofensa à integri- Nota: O presente texto tem como principais referências o “Código Penal”, a Lei n.° 7/2003 (Lei do Comércio Externo) e o Decreto-Lei n.° 77/99/M (Regulamento de Armas e Munições). Texto fornecido pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 CA RTA AO S L E I TO R E S 7 PT AOS NOSSOS “IRMÃOS” DESTE GRANDE CONTINENTE ASIÁTICO E A TODOS QUANTOS AQUI NASCERAM, AQUI VIVEM E/OU POR AQUI PASSAM, VINDOS DE OUTROS PAÍSES, PRINCIPALMENTE DE PORTUGAL Paz e Bem! É a saudação que S. Francisco usava sempre que passava por um irmão e que nos ajuda a viver melhor o espírito de Francisco de Assis, na nossa Congregação de Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora. No Domingo passado, dia da Ascensão, houve uma catequese diferente na igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Taipa: os catequisandos que se preparam para receber os Sacramentos da Confirmação/Crisma e da Eucaristia e os que vão fazer a sua profissão de fé, associando ainda todas as outras crianças, professaram a sua fé de modo vivo e activo. Conseguiram envolver-se todos e os seus pais, num dinamismo e postura dignos de cristãos. Com voz bem sonora, deram um testemunho de fé, de simplicidade e de brio do que aprendem e querem viver ao longo da sua vida. Testemunhos destes são necessários e imprescindíveis para que a mensagem de Jesus Cristo passe nas nossas vidas. Temos a certeza de que os que participaram na Eucaristia ficaram com a Mensagem bem gravada no coração e não se esquecerão mais das verdades fundamentais da nossa fé. Felicitamos as crianças e os jovens que, graças à colaboração e participação dos seus pais e à boa vontade e perseverança dos catequistas, conseguiram reflectir no Mistério da Santíssima Trindade, um só Deus em três Pessoas iguais e distintas – o Pai, o Filho e Espírito Santo – e proclamar que a Igreja é una, santa, católica e apostólica. É preciso continuar para trazer mais gente à Igreja Comunidade e louvarmos, todos, o nosso Deus pelas maravilhas que criou para nós. Solicitadas pelo senhor D. José Lai, bispo da diocese de Macau, viemos em missão de colaboração especialmente com a Comunidade dos “irmãos” portugueses. Manifestamos o interesse e o amor que lhes temos. Como? Mostrando-nos disponíveis para os acolher, escutar, acompanhar, rezar por todos e com eles, estimulando, ajudando os filhos na catequese e, através deles, ir até aos pais, que andam sempre muito absorvidos nas suas lides profissionais. A nossa missão é tanto mais aliviada e bonita, quanto mais os pais, as famílias se disponibilizarem a comparecer presencialmente na Igreja, lugar muito significativo para os que não têm respeitos humanos em se afirmar católicos e em viver ou querer viver a sua fé; onde todos nos encontramos para agradecer o dom da vida e tudo o que ela nos traz de bom, cada dia; onde todos podemos cantar, louvar, sentirmo-nos “comunidade”, pronunciar as mesmas palavras, pedir coisas ao nosso Bom Deus para nós, para a nossa família e amigos, e pedir perdão comunitariamente e em segredo. Há momentos na Eucaristia – Missa – de alegria e de recolhimento, de perdão, de escuta da Palavra e de reflexão, de gratidão, de compromisso, enfim, a Missa é a oração mais linda que temos na nossa vida. Nela comemoramos a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo que deu a Sua vida por todos nós, como se fôssemos a única pessoa a existir no mundo. Se amamos os nossos pais e deles temos recordações tão profundas e ricas a ponto de nunca nos esquecermos deles, quanto mais, se sentíssemos, de verdade, o que é o amor que Jesus nos tem! Nunca nos quereríamos separar Dele. No dia de Pentecostes, do Grego “pentekosté” – quinquagésimo dia depois da Páscoa – vamos viver, também, um grande acontecimento: a celebração do sacramento do Crisma/ Confirmação para seis jovens e uma adulta, na Sé Catedral, a igreja-mãe dos católicos de Macau. O Pentecostes é uma festa de profunda alegria. Desde os princípios, era a festa das colheitas sobretudo do trigo, o alimento essencial para todos nós. As primícias das colheitas eram oferecidas festivamente, no Templo de Jerusalém, onde acorria muita gente, vinda de todos os lados. No primeiro pentecostes, depois da morte de Jesus, o Espírito Santo desceu sobre essa comunidade cristã. «Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. (...) Tendo sido elevado pelo poder de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou-o como vedes e ouvis» (At. 2,3-4. 33). O milagre das línguas é este: tomados pelo amor de Deus, os homens passam a viver uma profunda comunhão e, entre eles, estabelece-se a concórdia e a paz. O nosso coração é templo onde Deus se compraz em habitar. Vamos prepará-lo para que sintamos o Deus Espírito Santo, o nosso “PARÁCLITO” – do Grego: “parakletos” que, traduzido à letra, quer dizer “aquele que é invocado, o mediador, o defensor, aquele que está ao nosso lado, que intercede”. Foi por isso que Jesus, depois de quarenta dias da Sua Ressurreição subiu ao Céu para, dez dias após a Sua subida, nos enviar o Espírito Santo Paráclito. O dia do Pentecostes foi o primeiro dia da Igreja. Vamos viver, no próximo Domingo, dia 24 do corrente mês de Maio o grande acontecimento da vinda do Espírito Santo. Por isso, é bom que haja quem queira ser crismado/ confirmado. Desde já, os nossos parabéns aos crismandos, aos seus pais e padrinhos, que os irão acompanhar na fé, de modo que nunca deixem o Jesus que subiu ao Céu para nos enviar o Espírito Santo; e ficará sempre connosco. Toda gente quer ser feliz. Mas porque é que há tantos infelizes? Se quisermos estar atentos ao que se passa dentro de nós, verificamos que há uma outra “pessoa interior”. É essa que requer todo o cuidado da nossa parte. É essa que devemos tratar, cuidar, estimular, através de escuta permanente e cumprimento do que ela nos dita. Um grande meio é a leitura da Palavra do nosso Deus, a escuta do Espírito Santo. É Ele que nos dá a força para anunciarmos o Evangelho de Jesus Cristo. Quereis associar-vos à alegria deste pequeno grupo de baptizados? Sede bem-vindos à Sé Catedral no Domingo do Pentecostes, às 11h. Temos a certeza de que saireis de lá mais reconfortados. Este é apenas um dos muitos momentos que fazem bem ao corpo e à alma. Irmã Maria Lúcia (FMNS) DESPORTO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 8 PT FÓRMULA 1 – ÉPOCA DE 2015 Mónaco: no Reino da Fantasia MANUEL DOS SANTOS A Fórmula 1 regressa este fim-de-semana ao único circuito onde nunca deveria ter corrido. E isto falando não apenas da Fórmula 1, mas ainda do tempo dos famosos carros de Grand Prix que, se comparados aos carros de hoje, eram poderosos monstros com motores gigantescos, compridos, largos e sem muita possibilidade de pôr no chão todo o poder que esses motores lhes concediam. Os carros, por incrível que possa parecer, tinham velocidades de ponta iguais, ou superiores, aos Fórmula 1 actuais. Apenas eram mais lentos, por volta, devido a vários factores combinados. Usavam pneus inadequados, estreitos, desenhados para acabarem as corridas, sem troca de borracha – leia-se, com pouca aderência. Os carros eram bastante mais pesados, o que deixava os travões em muito mau estado ao fim das primeiras dez voltas. Por essa razão travavam muito mais cedo do que hoje, em que um F1 desacelera de 300 kph para 80kph em 30 metros. E levavam muitíssimo mais tempo a atingirem a velocidade máxima. Para além disso, os carros estavam tão à vontade no circuito do Principado do Mónaco como um elefante dentro de uma caixa de fósforos. Os Fórmula 1 actuais melhoraram este constrangimento. Os carros moder- nos estão no Circuito de Monte Carlo – a designação oficial – como elefantes dentro de caixas de sapatos. Os carros modernos só estão no famoso circuito citadino por uma razão: Glamour. Sempre assim foi e sempre assim será, enquanto a Fórmula 1 existir, o que contra todos os indícios já esteve mais longe de acontecer. Seria pena pois é a disciplina mais antiga do Desporto Motorizado. O Mónaco não é tanto a corrida de Fórmula 1, nem as outras cinco ou seis que compõem o evento. 90% das pessoas que se deslocam ao Principado durante 3 ou 4 dias não estão sequer relacionadas com o deporto automóvel. Actores, de todos os tipos e categorias, muitos deles (e delas) em busca de alguém que os veja e leve até ao início de uma carreira em qualquer tipo de ocupação, de preferência nas artes. O casino enche-se e o Mónaco vive dias em que a crise não existe; tudo é cor-de-rosa e brilhante durante as 96 horas do evento. E na pista, como é? Os pilotos sentem-se empolados pela atmosfera e prometem aquilo que sabem de antemão que os carros não irão fazer. Todos os chefes de equipa sonham com o “factor Mónaco”, seja lá o que isso for, para os ajudar a amealhar uns pontinhos, quiçá um lugar no pódio. No Mónaco, como disse o grande Fangio, «não há favoritos». Todo e qualquer piloto pode vencer no Circuito de Monte Carlo, que já viu um piloto que se encon- trava na sétima posição vencer a corrida na última volta. Em pouco mais de dois quilómetros os outros seis pilotos fizeram-lhe o favor de bater nas barreiras de protecção. A pessoa mais espantada com tudo o que se passou foi Olivier Panis, que celebrou ali a sua primeira – e última – vitória na Fórmula 1. Este ano, devido a todas as variantes do circuito monegasco, com um pouco de sorte um dos vinte pilotos irá vencer o Grande Prémio do Mundo da Fantasia. Até pode ser um Mercedes Benz, visto que Nico Rosberg venceu as duas últimas edições da prova. Voltando a coisas mais sérias, parece que a Fórmula 1, que anda pelas ruas da amargura, com a fuga dos fãs dos circuitos e dos telespectadores dos ecrãs das televisões, fazendo com que a disciplina perca o grau de visibilidade mínima sustentável para se manter, está a definhar. A piorar a situação, os “gurus” do que já foi o evento com mais espectadores e audiência do mundo tiveram um encontro e deram mais um “tiro nos pé”. O regresso aos reabastecimentos de combustível está para breve. Mas será que resolve as maleitas da velha senhora? Vejamos: os reabastecimentos foram banidos por serem muito perigosos e... caros. A fórmula 1 actual debate-se com uma das maiores crises financeiras de sempre, devido ao que já referimos (falta de audiências = falta de patrocínios. Ora, preparar os carros para voltarem a ter tanques de combustível mais pequenos custa muito dinheiro. E são dois tipos diferentes. Um para as corridas no sentido dos ponteiros do relógio, e outro para as corridas em sentido contrário. Os pilotos com tanques cheios tendem a não arriscar ultrapassar os outros concorrentes, esperando apenas que os adversários tenham um maior consumo que os obrigue a encher o tanque mais vezes. Os pneus da Pirelli não estão preparados para este tipo de competição. Alguém já comparou a ideia do regresso aos reabastecimentos, depois dos milhões gastos nas novas regras, que têm pouco mais de um ano (e ainda têm muito para se desenvolverem), a uma pessoa que comprou um iPhone topo de gama, que ao verificar que não lhe proporciona o que desejava deita fora o telefone e regressa à loja para comprar um telemóvel... dos antigos!? Muitos comentadores, alguns ainda do tempo dos carros com motor frente, avançam com uma solução simples: corridas mais rápidas, mais barulhentas, onde haja muitas ultrapassagens e alguns sustos, disputadas nos autódromos tradicionais, com mais de 60% das corridas em solo europeu. Deste modo, voltaríamos a ter as bancadas cheias e os telespectadores regressariam aos canais de televisão, num mundo real muito longe do actual mundo da fantasia. OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 9 PT O L H A N D O E M R E D O R Fardos (bem) pesados PEDRO DANIEL OLIVEIRA [email protected] E stá a ser cada vez mais frequente o desabamento parcial de fachadas de edifícios classificados como património cultural. Na semana passada causou alguma apreensão a queda de parte de uma parede de tijolos, numa fachada de um edifício localizado na Travessa de São Domingos. O incidente terá acontecido por volta das 9 horas e 30, ficando o local vedado ao público até ao dia seguinte. Há dias foram encontrados destroços em frente à fachada de um edifício situado na Rua da Barra, com a queda destes materiais a dever-se à chuva e ao vento que ultimamente têm assolado o território. O local foi vedado por precaução, tendo o Instituto Cultural garantido que o edifício não corria risco de ruir. Já o templo situado no Largo do Pagode do Bazar está a ser alvo de obras de restauro, após ter sido detectado o mau estado de conservação de uma viga de madeira do pavilhão principal, o que punha em perigo a estrutura do edifício. Felizmente nos três os casos não houve feridos ou vítimas a lamentar. Contudo, temo que o pior possa estar para acontecer. Na cidade de Macau proliferam estruturas com placas publicitárias nas fachadas dos edifícios, algumas de grande porte. Existem também na Taipa, embora em menor número. Quem andar pela cidade nota que algumas estruturas acusam a ferrugem de muito anos, ou talvez décadas, não sendo de estranhar se uma ou outra até já tiver o destino traçado. Sabendo de antemão que as condições atmosféricas (frio, calor, chuva, vento, tufões) contribuem para a deterioração das referidas estruturas, temo que qualquer dia alguma placa publicitária caia inesperadamente no chão fora do tempo da passagem de um tufão. Tudo estaria bem se não transitassem por baixo dezenas, centenas ou milhares de pessoas por dia. DESAFIOS CULTURAIS Numa visita à 56ª Bienal de Veneza o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, afirmou que «tornar Macau numa capital cultural é pedra basilar para a edificação da RAEM enquanto Centro Internacional de Turismo e Lazer». Entre outros considerandos, também disse que Macau, tal como Veneza, é «uma cidade turística com uma história cultural muito rica com características próprias». Não tenho qualquer tipo de dúvida que Macau pode ser uma grande capital cultural na Ásia, bastando para isso trazer as melhores orquestras, os melhores pintores e os melhores escritores do mundo, entre outros que tais, porque é sobejamente reconhecida a capacidade do território para organizar eventos de nível mundial. O grande problema é a população em geral estar dissociada da cultura, até porque quem é de Macau tem muita dificuldade em singrar no meio por falta de oportunidades, seja porque muitas vezes se dá primazia a quem vem de Hong Kong, seja porque o que vem do estrangeiro é que é bom. O grande desafio de Alexis Tam será reverter esta tendência. Outro desafio é o que fazer do Fundo de Indústrias Culturais (FIC), porque a atribuição de subsídios devia estar a cargo da Fundação Macau, presidida por Wu Zhiliang, enquanto muitas outras atribuições constantes do FIC deviam estar sob a supervisão directa de Alexis Tam (o FIC foi constituído em 2013 mediante regulamento administrativo, em data anterior à sua tomada de posse como secretário). A bem da transparência, o Fundo devia ser extinto de modo a evitar futuras trapalhadas. PERCEPÇÕES Quem vem de fora geralmente tem tendência para considerar Macau um paraíso, visto fazer a ponte entre o Oriente e o Ocidente há mais de 400 anos. Alguns visitantes pensarão que o antigo território chinês sob administração portuguesa soube reinventar-se ao longo dos séculos, a ponto de se tornar agora num importante local de turismo e lazer na Ásia. Um dos “ex libris” será o Centro Histórico de Macau, classificado como Património Mundial da Humanidade em 2005. Já para não falar dos casinos ou da gastronomia típica. Há depois a população, que até poderá tecer cobras e lagartos sobre os mesmos assuntos. À partida parece um grande contra-senso, mas facilmente se percebe – seja aqui ou em qualquer parte do mundo – que quem é da “casa” conhece melhor os problemas da sociedade onde está inserida. Daí ter um sentido de crítica mais apurado. Já quem vem de fora, quiçá atraído pelo que conhece de onde é originário, inclina-se a olhar para as novidades de maneira mais cândida. Por vezes, até oferece pontos de vista inesperados, ou interessantes, o que não lhes tira qualquer mérito nas suas apreciações. Foi assim na reportagem efectuada nesta edição com Andrew Pereira e Shannon D’Cruz. Aliás, à imagem do que transmiti ao leitor sobre o que vi e senti quando visitei Malaca, em Dezembro do ano passado. Certamente, também os malaqueiros teriam pontos de vista bastante diferentes sobre o seu património cultural. C U LT U R A O CLARIM | Semanário Católico de Mac 10 PT JOSÉ MOÇAS, EDITOR E PRODU «Macau mudou a m JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] Nasceu em Estremoz, no Alentejo, mas ainda jovem partiu para Portimão onde fez a Primária e completou o Curso Geral dos Liceus. Lisboa seria a próxima etapa, iniciando aí a sua ligação à música; primeiro, no Coro da Juventude Musical Portuguesa; depois, no grupo Almanaque, do qual foi fundador. Começou a trabalhar como funcionário no Conselho Superior Judiciário (hoje Conselho Superior da Magistratura), sendo convidado, em 1986, para a secretaria do Ministério Público em Macau, onde desempenhou funções durante quatro anos. O CLARIM – Em Macau, os mais antigos, conhecem o seu trabalho como produtor e editor de discos de diversos projectos musicais. Pode fazer uma súmula dessa sua actividade, para conhecimento dos novos residentes? JOSÉ MOÇAS – Macau foi um ponto de viragem na minha vida, por vários motivos. Aí nasceram os meus filhos e aí fundei a editora Tradisom, em 1992. Nunca imaginei que essa iniciativa acabasse por transformar em definitivo a minha vida, já que constitui a minha única actividade. Comecei por me dedicar à edição de discos de âmbito local, graças a uma bolsa de estudo oferecida pela Fundação Oriente para o estudo das músicas orientais. Esse primeiro disco, “Vozes e Ritmos do Oriente”, seria considerado, pelo jornal Sete, em 1993, um dos cem melhores álbuns editados em todo o mundo nesse ano. Foi um arranque brilhante. Depois editei o primeiro CD da Tuna Macaense, o disco mais vendido na Livraria Portuguesa durante muitos anos. Entre outras edições destaco o disco de Isabel Tello Mexia, “Goa, Macau, Timor”, gravado em Bombaim com a colaboração do grupo goês Gavana. Mas foi ainda em Macau que comecei o que viria a tornar-se o objectivo mais importante da Tradisom: a descoberta, aquisição recuperação e posterior edição de gravações antigas de fado. Editei uma série de seis discos intitulada “Arquivos do Fado” que tiveram enorme impacto em Portugal, já que a grande maioria das pessoas desconhecia a existência de gravações de fado tão antigas. CL – Porquê o regresso a Portugal? J.M. – O que motivou o meu regresso a Portugal foi o convite que em 1996 me foi feito pelo então Presidente da Comissão dos Descobrimentos, professor António Hespanha (que me conhecia de Macau) para tornar realidade uma ideia de projecto que vinha alimentando há anos e que acabou por ser a colecção oficial do Pavilhão de Portugal da EXPO98, uma colecção intitulada “A Viagem dos Sons”, constituída por doze discos que documentam a influência que os portugueses tiveram em determinadas regiões por onde passaram nesse seu périplo aventureiro desde 1500, colecção essa que foi considerada uma das mais importantes obras de etnomusicologia do século XX pelo Smithsonian Institute, através do seu presidente na altura, o professor Anthony Seeger. CL – Como é ser produtor/editor de música no Portugal do século XXI? A Tradisom continua de pé? J.M. – Com a evolução que tem acontecido nos últimos tempos, os avanços tecnológicos, o digital, as plataformas de venda e a pirataria, não é fácil conseguir viver em exclusividade da actividade editorial. Mas, felizmente, apesar das dificuldades Desde que regressei de Macau comecei a coleccionar discos portugueses de 78 rotações. Esse gosto pela descoberta das nossas raízes musicais levou-me a constituir a maior colecção desse formato em Portugal tenho conseguido fazer algumas edições de enorme qualidade, não só no que se refere aos seus próprios conteúdos, mas também à sua apresentação. Tive sempre do meu lado os melhores, sendo importante destacar o Bibito, que agora está de volta a Macau, sem dúvida o melhor designer com quem trabalhei, e que recentemente me ajudou a colocar de pé uma edição única no panorama editorial de Portugal e que ainda vai dar que falar pela sua originalidade, rigor, qualidade gráfica e mais ainda pelo facto de ser um produto de enorme valor histórico. Estou a falar da colecção “Amália no Mundo – Memórias do Fado”. A Tradisom orgulha-se também de ter feito algumas edições muito importantes, destacando, a convite de Ramos Horta, o livro “Filhos de Timor Leste”, oferecido a todos os convidados no Dia da Independência de Timor. Muito teria a contar sobre que a Tradisom tem feito, mas por último referir que em 2010 conseguir resgatar para uma edição em parceria com o jornal Público o maior arquivo de vídeo sobre as nossas tradições musicais, a filmografia completa de Michel Giacometti, uma obra monumental de doze livros com DVD. CL – Há um aspecto muito importante, no que se refere ao seu trabalho como editor. Pode falar-nos dele? J.M. – Desde que regressei de Macau comecei a coleccionar discos portugueses de 78 rotações. Esse gosto pela descoberta das nossas raízes musicais levou-me a constituir a maior colecção desse formato em Portugal. Cerca de 6.600 discos, que nos vão possibilitar um dia editar os primórdios da gravação em Portugal, tendo em conta que a primeira sessão de gravações foi realizada em Novembro de 1900, no Porto. A colecção foi por mim doada em Novembro de 2012 à Universidade de C U LT U R A cau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 11 PT UTOR minha vida» Joaquim Magalhães de Castro Aveiro, estando desde essa altura, a convite do reitor da mesma, Manuel Assunção, como professor convidado auxiliar do DECA (Departamento de Comunicação e Arte). CL – Foi durante muitos anos locutor da Rádio Macau. Sente saudades desses tempos? Em Portugal, voltou a fazer rádio? J.M. – Quando saí do Tribunal fiquei a trabalhar em regime de exclusividade na Rádio Macau, onde já colaborava em “part-time”. Foram tempos que não mais esquecerei, graças à fantástica camaradagem existente. Curioso é que antes de ir para Macau tinha feito um teste na Rádio Comercial, onde era director na altura o Jaime Fernandes e havia sido convidado para fazer um programa sobre a chamada “world music”, a minha área predilecta. Mas com o convite para ir para Macau perdeu-se essa oportunidade. Mas fiquei a ganhar, porque desenvolvi uma enorme paixão pela Rádio, de tal forma que fiz alguns programas especiais que me deixaram muito satisfeito. Estou a lembrar-me de “Na Rota do Oriente” e “Na Rota do Sol Nascente”, ambos a convite da Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos. Além disso produzi, em parceria com o Luís Machado e depois, mais tarde, tam- Comecei por me dedicar à edição de discos de âmbito local, graças a uma bolsa de estudo oferecida pela Fundação Oriente para o estudo das músicas orientais. O primeiro disco, “Vozes e Ritmos do Oriente”, seria considerado, pelo jornal Sete, em 1993, um dos cem melhores álbuns editados em todo o mundo nesse ano bém com o João Pedro Costa, o programa da Fundação Oriente intitulado “Café Oriente”, de que resultou uma amizade para a vida com o Luís Machado. Mas o programa que foi a minha imagem de marca foi a “Arca do Velho”, que durou vários anos e que deu a conhecer aos ouvintes da Rádio Macau a música produzida e editada no mundo inteiro. CL – Entretanto regressou a Macau. O que mais o marcou, pela positiva e pela negativa, ao confrontar-se com a nova realidade? J.M. – Regressei a Macau apenas depois anos depois de ter deixado o território, ou seja em 1999. Fui convidado a participar no Encontro das Comunidades Macaenses desse ano. Na altura não notei grandes mudanças, mas como vou acompanhado o que se passa em Macau, não só através do que os meus amigos publicam no Facebook, tenho a certeza de que se lá voltasse agora me perdia imediatamente. O que mais me agradou foi poder novamente comer a boa comida chinesa que aqui não se encontra infelizmente. Sou muito positivo em tudo e prefiro sempre recordar o que de melhor recebi da vida, por isso guardo tudo o que vivi com enorme prazer, mas sigo em frente, sem pensar no que poderia ter acontecido se não me tivesse vindo embora em 1997. Não está nos meus planos voltar em breve, não há motivo especial para isso, mas gostava que os meus filhos lá regressassem, porque afinal é a sua terra natal. OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 12 PT Mais imigrantes clandestinos? JOSÉ PINTO COELHO A Comissão Europeia desenvolveu um pacote de propostas com vista a gerir a chegada de imigrantes ilegais através do Mediterrâneo, a qual passará pela fixação de quotas para acolher os estrangeiros que peçam asilo em função do PIB, do desemprego e da população de cada país e também do número de pedidos de asilo registados em anos anteriores. Nesta óptica, Portugal passaria a ser obrigado a acolher mais imigrantes ilegais. Esta posição foi imediatamente secundada pelo “nosso” Primeiro-Ministro, sempre solicito em ser um bom aluno no que toca às imposições vindas de Bruxelas. Numa primeira fase caberia a Portugal receber cerca de mil imigrantes clandestinos, a quem a Comissão Europeia e os média chamam hipocritamente refugiados políticos, quando se sabe que a maioria não o são, havendo mesmo agentes islâmicos radicais infiltrados nestes gru pos, como recentemente foi anunciado pelas autoridades britânicas. Mais uma vez reafirmo a minha total oposição a estas medidas. A braços com uma taxa de desemprego oficial superior a 10%, qual será o destino a dar a estes “refugiados”? Engrossar os números do desemprego ou servir os empresários corruptos com mais mão-de-obra barata? Engrossar o número dos sem-abrigo ou carregar mais nas contas da Segurança Social? De uma forma ou de outra, serão os europeus e, claro, os portugueses, a pagar esta “ajuda humanitária”, enquanto muitos países europeus exportam armas para as zonas de conflito e colocam no poder facínoras responsáveis por este êxodo. Lembramos também que a esmagadora maioria destes imigrantes não possui o mínimo de formação laboral, transportam consigo conflitos ancestrais e são muito avessos a adaptarem-se à cultura e identidade dos países de acolhimento, ao que acresce o já referido facto de entre os “refugiados” estarem infiltrados pertencentes aos quadros das redes terroristas que operam nesta zona de conflito. Tenho para mim que se deviam adoptar as seguintes medidas: 1 – Reforço da presença militar naval na região, de forma a impedir que os barcos carregados de imigrantes saiam das águas territoriais do Norte de África e do Médio Oriente. 2 – Nalguns dos países de embarque (onde for possível), há que celebrar acordos com os Governos locais para a criação de “zonas-tampão” junto à costa, onde os que forem realmente refugiados possam ficar a receber assistência, mas sem possibilidade de embarcar. 3 – Paralelamente, deve ser adoptada legislação que puna de facto e exemplarmente o tráfico de seres humanos e a participação em esquemas de imigração ilegal. Tratando-se de uma questão muito complexa e com várias causas e matizes, não existe uma solução única para a mesma, mas sim várias soluções diferentes que deverão ser aplicadas em conjunto e de acordo com cada caso. 4 – É igualmente urgente equacionar toda a política ocidental no que respeita ao continente africano e ao Médio Oriente. Neste particular, os nacionalistas europeus de um modo geral apontam o seu dedo acusador às “Primaveras” árabes, a certas formas de “ajuda” internacional, ao neo-colonialismo e ao lóbi negreiro da imigração – sempre útil para a esquerda (pois gera conflitos sociais) e para a direita (uma vez que origina mão-de-obra barata), mas nada útil para os povos europeus. Reafirmo o que há muito venho defendendo: a entrada de trabalhadores não portugueses deve cingir-se a postos de trabalho para os quais não existam portugueses capacitados, isto é, deve ser limitada às eventuais necessidades do mercado de trabalho. ACORDO ORTOGRÁFICO? NÃO! Entrou em vigor a alegada obrigatoriedade de se escrever conforme o “Acordo Ortográfico de 1990” (alegada, pois do ponto de vista legal esta obrigatoriedade já está a ser contestada). Mas obedecer a algo tão aberrante é um perfeito acto de cobardia e de traição à nossa identidade e à nossa cultura. Um povo que maltrata assim a sua própria identidade torna-se um povo sem memória, sem História e sem raízes e, por isso mesmo, suicidário, já que se fragiliza voluntariamente, tornando-se presa fácil da dissolução patrocinada pelo mundialismo. Este acordo de lesa-identidade representa um verdadeiro crime contra a nossa Nação e tem culpados: Cavaco Silva e Pedro Santana Lopes, ao cozinharem este acordo; Sócrates, ao defendê-lo com unhas e dentes e aplicá-lo; Passos Coelho, ao torná-lo obrigatório em vez de o revogar; a esquerda e a extrema-esquerda parlamentares, que ou votaram a favor do “Acordo” ou nunca tentaram efectivamente bloqueá-lo; aqueles para quem este “Acordo” é um negócio que vai gerar ou já gerou milhões; e, por último, os muitos portugueses que, por cobardia e cumplicidade, mesmo discordando de tal aberração, lhe obedecem sem que a tal sejam obrigados pelas respectivas entidades patronais. Quanto à possibilidade de um referendo, considero que as questões relacionadas com a nossa identidade, enquanto povo, jamais devem ser referendadas, pois são demasiado sagradas para dependerem de vontades passageiras. Contudo, tratando-se de uma questão fracturante da sociedade como esta, não seria de admirar que o povo fosse consultado. Ora, certamente por saberem que a maioria da população portuguesa está contra esta mudança (75% segundo as sondagens), os políticos resolveram não referendá-la. Eis este regime mentiroso em todo o seu esplendor, com a sua tão apregoada democracia, mais concretamente a “democraciasó-para-quando-lhes-dá-jeito”. TAP No passado dia 9 de Maio participei numa acção de protesto no Aeroporto da Portela, demonstrando a minha indignação face à privatização da TAP e à destruição da companhia devido a anos e anos de gestão danosa e de greves selvagens. Governantes, administração e pilotos comportam-se como verdadeiros terroristas ao destruírem desta maneira a nossa transportadora aérea, afectando com isso, também de modo grave, toda a economia nacional, o nome da TAP e o nome do País. É inaceitável que, protegidos pela lei, uns quantos elementos movidos por interesses sectários provoquem tanto dano à Nação e nem sejam sequer responsabilizados por isso. Este Regime, que tem imposto tantos sacrifícios aos portugueses e não hesita em extorquir-lhes dinheiro com pesados impostos, taxas, coimas, penhoras e despejos, permite, por outro lado, que instrumentos como estas greves selvagens provoquem prejuízos tremendos a Portugal e aos portugueses. OPINIÃO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 13 PT Campeões no estádio (gladiadores na rua) LUIS BARREIRA A grande festa do futebol foi antecipada e o Benfica sagrou-se campeão pela segunda vez consecutiva. No Estádio do Guimarães a festa das claques benfiquistas era permanente no “apoio” à sua equipa, lançando-lhes petardos vermelhos, como fogo de artifício a celebrar a alegria de ouvir o apito final. E, no final, foi a apoteose. O Benfica não ganhou, mas era campeão! A euforia dos adeptos transformou-os em invencíveis campeões, lutadores enérgicos contra as cadeiras do estádio e demais equipamentos do Afonso Henriques, cuja inspiração, na sua bravura histórica, acabou eventualmente por motivá-los na apreensão de mercadorias alheias, como se tratasse do espólio devido aos vitoriosos combatentes pelo título. Fora do recinto, um outro “campeão” da polícia, que não tinha usado o bastão para evitar a arruaça dentro do estádio, que seria o serviço para o qual tinha sido contratado, decidiu mostrar a sua “valentia democrática”, alvejando à bastonada um pai preocupado com a aflição de um filho menor, e ao murro um idoso que pretendia acalmá-lo. Perante as câmaras da televisão, este chefe da polícia ostentou publicamente a sua impreparação para o cargo, exibindo gratuitamente as suas faculdades em boxe e bastonadas contra cidadãos que só queriam defender-se. Mas a festa benfiquista só estava a começar. Em Lisboa, nas barbas do severo Marquês de Pombal, sob um manto diáfono avermelhado que coloria os próprios leões, a família benfiquista rejubilou, gritou de alegria, lançou foguetes, dançou, bebeu uns copos de contentamento, mais uns copos para atestar e estavam lançados os ingredientes para começar a contestar. Não se sabe contra quem, nem porquê, mas as garrafas começaram a voar, as pedras pelo ar, as montras e os carros para escangalhar e a polícia... a “levar”. Gosto de futebol, sem ser doente. Acho que o Benfica mereceu este segundo título, mas não sou benfiquista. Repudio qualquer violência dentro e fora dos estádios, seja ela física ou verbal. Mas acho que a vitória merecida do Benfica deveria ter sido bem festejada, em nome da felicidade que o clube acabava de transmitir aos seus adeptos. Mas se isto é festejar!?... Assumo a tristeza dos jogadores, da equipa técnica e dirigentes do Benfica, perante este triste espectáculo. Assumo igualmente o receio dos seus muitos milhares de associados: homens, mulheres, famílias inteiras, que passarão a ter medo de se deslocar aos estádios de futebol, com receio de serem agredidos por arruaceiros ou polícias deslumbrados. Não sou ingénuo ao ponto de considerar que, entre as claques de futebol, ilusoriamente organizadas e controladas, não haja quem lá se encontre com motivações que nada têm a ver com este desporto. Cabe aos clubes, uma vez que lhes atribuem esse estatuto, vigiar de perto essas associações e sancioná-las duramente no caso de cometerem faltas graves, expulsando-os dos estádios. Da mesma maneira que, no que diz respeito ao papel das autoridades na resolução destes e doutros conflitos, tenho a consciência de que, para alguns, a brutalidade é o único meio de os anular. Razão que tem conduzido a um crescente desrespeito pelas fardas, em que a persuasão é completamente substituída pela coacção, aumentando os provocadores e os desafios abertos à autoridade. E é preciso que os elementos policiais – prevaricadores e incapazes de compreender que a sua verdadeira missão é a segurança do público – não sejam apenas objecto de inquérito sem solução, nem publicação. A justiça tem de funcionar para os dois lados do problema ou é desacreditada. Se nada se fizer para conter todos estes excessos e continuarmos a manter os actuais procedimentos, não faltará muito para termos um polícia para cada espectador nos estádios de futebol. Eu não me preocupo, vejo pela televisão. Não tem o calor humano de um estádio, nem a cor e a excitação dos cânticos e dos aplausos, mas antes estar vivo do que morto! !"#$%&#$'()*&+,-./0#$12 ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU #$34567893 DATA DO SORTEIO: 28 DE MAIO DE 2015 LITURGIA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 14 PT DOMINGO DE PENTECOSTES – Ano B – 24 de Maio HORÁRIO DAS MISSAS (DOMINGOS E DIAS SANTOS) 7:00 horas 7:30 horas 7:30 horas 8:15 horas 8:30 horas 9:00 horas 9:30 horas — — — — — — — — — 10:00 horas — — — 10:30 horas — 11:00 horas — 11:00 horas — — 11:00 horas — 11:15 horas — 12:00 horas — 16:30 horas — 17:30 horas — 18:00 horas — 20:30 horas — Fátima (C). Sé, S. Lourenço e St.º António (C). S. Lázaro (C). S. Francisco Xavier Mong-Há (C). St.º António. Sé, S. Lourenço, N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (C); Fátima (C). S. Lázaro, S. Francisco Xavier (Mong-Há), S. José Operário (C). St.º António (P); S. Francisco Xavier Coloane (I, C); N.ª Srª do Carmo Taipa (I). Sto. Agostinho (Tagalog). Sé (P), Hospital de S. Januário (P); N.ª Srª do Carmo Taipa (P). S. Lázaro (I). Instituto Salesiano (I). Fátima (I). S. Agostinho (I); Fátima (vietnamita) S. José Operário (I). Sé (I); S. Fr. Xavier Mong-Há (C). S. Lázaro (P). S. José Operário (M). MISSAS ANTECIPADAS 17:00 horas 17:30 horas 18:00 horas 18:30 horas — — — — — 19:00 horas — 20:00 horas — S. Domingos (P). S. Fr. Xavier Mong-Há (I). Sé (P). N.ª S.ª do Carmo Taipa (I). S. Lázaro (C). Fátima (C). ABREVIATURAS C - Em Cantonense I - Em Inglês M - Em Mandarim P - Em Português A abertura do coração ao Espírito INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS A passagem dos Actos dos Apóstolos (Act., 2, 1-11) descreve-nos em pormenor o acontecimento do dia de Pentecostes, quando o Espírito desceu sobre os apóstolos para que cumprissem com a missão que lhes tinha sido confiada. Nosso Senhor Jesus Cristo promete aos Seus discípulos que o Espírito Santo será para eles um consolador, o Espírito da verdade (EVANGELHO: Jo., 20, 19-23). Também S. Paulo se refere à vinda do Espírito Santo como princípio de unidade da Igreja na diversidade dos seus ministérios (SEGUNDA LEITURA: I Cor., 12, 3-7. 12-13). Se alguém tivesse um amigo… …que fosse ao mesmo tempo, médico, advogado, banqueiro, psicólogo, conselheiro matrimonial, enfim, especialista em todos os campos; …que tudo soubesse e tudo pudesse; …que estivesse verdadeiramente interessado no nosso bem e a quem se pudesse recorrer em qualquer momento do dia ou da noite; Esse alguém seria a pessoa mais feliz do mundo. Pois bem, cada um de nós, cristãos, é esse alguém felizardo. Hoje, dia de Petencostes, não recordamos apenas a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, mas também a verdade da nossa fé de que cada cristão tem a seu lado esse ESPECIALISTA, que é o Espírito Santo. Espírito Santo, a quem Cristo algumas vezes chama «Paráclito», palavra um tanto rara, mas bem expressiva, porque em Grego significa exactamente «aquele que está ao (nosso) lado». E o Espírito Santo está a nosso lado para… …nos consolar nas nossas tristezas; …nos aconselhar nas nossas dúvidas; …nos animar nos nossos desalentos; …nos dar força nas nossas lutas; …nos ensinar a amar. Ou seja, aquele amigo de que falámos ao princípio e a quem hoje pedimos que encha os corações dos Seus fiéis e acenda neles o fogo do Seu amor. COMBATE À CORRUPÇÃO Papa pede coragem O Papa disse no Vaticano aos bispos italianos que é preciso ter coragem para denunciar a corrupção, pedindo «sensibilidade eclesial» aos prelados, particularmente com as vítimas da crise. «A sensibilidade eclesial implica ainda não ser tímidos ou irrelevantes quando se trata de repudiar e derrotar uma mentalidade de corrupção pública e privada que chegou a empobrecer, sem qualquer vergonha, famílias, reformados, trabalhadores honestos, comunidades cristãs, descartando os jovens», declarou, ao inaugurar os trabalhos da 68ª assembleia geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), na passada segunda-feira. O discurso alertou ainda para as «colonizações ideológicas» que visam atingir negativamente a «identidade e a dignidade humana». O Papa sustentou que a sensibilidade eclesial se manifesta ainda «nas escolhas pastorais e na elaboração de documentos», rejeitando uma visão «teórico-pastoral abstracta», que afasta as pessoas. Nesse sentido, pediu aos bispos que se- jam capazes de apresentar às comunidades católicas «propostas concretas e compreensíveis». Francisco sublinhou depois a importância do trabalho comum entre bispos, deixando votos de que exista partilha entre dioceses ricas, «material e vocacionalmente», e as que vivem dificuldades, «entre as periferias e o centro». «Nota-se, nalgumas partes do mundo, um progressivo enfraquecimento da colegialidade», alertou, aludindo em particular aos compromissos «económico-financeiros». Num cenário de «enormes problemas mundiais» e de uma crise que «não poupa sequer a própria identidade cristã e eclesial», Francisco observou que a missão dos bispos é «ir contra a corrente», para «transmitir alegria e esperança aos outros». O Papa afirmou que os leigos não precisam de um «bispo-piloto», mas de um «bispo pastor», que os ajude a assumir as suas próprias responsabilidades. In ECCLESIA ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 PT 15 PARTICIPANDO NA SENHORIA DE DEUS A Terra é para todos PE. JOSÉ MARIO MANDÍA [email protected] Quando Deus criou Adão e Eva concedeu-lhes três dons naturais. Primeiro, Ele criou-os à Sua imagem e semelhança, dando-lhes uma alma imortal, equipada com o poder do Saber e do Amor. Segundo, Ele concedeu-lhes uma parte no poder – fê-los senhores e mestres da criação material (Génesis 1:26). Finalmente, Ele concedeu-lhes uma quota no seu trabalho de criação, fazendo-os Homem e Mulher (Génesis 1:27-28). Hoje falaremos sobre o segundo dom natural. «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra (Génesis 1:26)». Ao Homem foi concedido o domínio e o senhorio. O Mundo pertence-lhe. «Os bens da criação são destinados a todo o género humano» (“Catecismo da Igreja Católica”, ponto 2402). A razão do poder senhorial é que Deus desejou que o Homem tomasse conta e cuidasse da Terra (Génesis 2:15). Trabalhar a Terra necessita de domínio e posse. Possuir algo é por isso um direito concedido por Deus a cada pessoa singular. A Igreja chama a esse direito o “destino universal dos bens”. A Terra é para todos e cada um. Apesar disso, devido a que as coisas são pela sua própria natureza limitadas, o direito de possuir algo é limitado; o direito de posse não é absoluto. As autoridades políticas têm a grave responsabilidade «de regular, em função do bem comum, o exercício legítimo do direito de propriedade» (“Catecismo da Igreja Católica”, 2406). O “Catecismo” (2409) enumera as transgressões a esta regra: «Mesmo que não esteja em contradição ao primado da lei civil, qualquer forma injusta de obtenção e retenção de propriedade de terceiros é contra o disposto no sétimo mandamento; incluindo a retenção deliberada de bens emprestados ou de objectos perdidos; fraude cometida nos negócios, pagamento de salários injustos, aumento de preços aproveitando-se da ignorância ou da necessidade de terceiros». E continua: «Também são considerados actos moralmente ilícitos a especulação na qual alguém manipule artificialmente o preço dos bens, por forma a ganhar vantagem em detrimento de outras pessoas, a corrupção pela qual alguém influencie o parecer de alguém que deva tomar decisões de acordo com a Lei; a apropriação e uso privado de bens de uso comum de uma empresa, o trabalho mal executado, a evasão fiscal, a falsificação de meios de pagamento e facturas, despesas excessivas e desperdício. Causar danos a propriedades privadas ou públicas, deliberada- mente, é um acto contrário à Lei Moral e deve ser reparado». Em alguns casos mais extremos, tirar algo de alguém até pode não ser um roubo. O “Catecismo da Igreja Católica” (2408) estipula: «Não existe roubo se se pode presumir o consentimento no acto, ou se a recusa for contrária à razão e ao destino geral dos bens em questão. É o caso de uma óbvia e urgente necessidade em que a única solução para fornecer de imediato bens essenciais (comida, abrigo, roupas...) será colocar esses bens à disposição de alguém utilizando pertences de terceiros». Ser dono de algo é um direito concedido por Deus a cada pessoa singular. Ainda mais relevante se se tratar do pagamento de algum trabalho efectuado. O “Catecismo” diz, em termos muito claros: «Um salário justo é o fruto legítimo do trabalho. Recusar ou reter esse pagamento pode ser uma injustiça grave. Para se determinar um pagamento correcto devem ser tidas em conta, tanto as necessidades, como as prestações de cada pessoa. A remuneração do trabalho deve garantir ao trabalhador a oportunidade de prover uma vida digna para ele e a sua família, a nível material, cultural, e es- piritual, tendo em conta a posição e a produtividade de cada um, as condições do negócio, e o bem comum. O acordo entre as partes não é suficiente para justificar moralmente o valor a ser recebido no salário» (2434). Por outro lado, a pessoa que trabalhe para receber um pagamento deve, em retribuição justa, trabalhar bem. Tem o direito de receber um pagamento justo, mas também tem a obrigação de ser competente e honesto no seu trabalho. O “Catecismo” avisa-nos que um trabalho mal executado é o mesmo que roubar, e é moralmente incorrecto. O Antigo Testamento decretava «Não roubarás (Êxodo 20:15)», mas o Novo Testamento tornou esse princípio mais desafiador: «Abençoados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mateus 5:3)». Temos o direito de possuir coisas, mas não devemos ser possessivos. Nós, que vivemos numa cultura materialista, devemos estar conscientes desta grande tentação de nos tornarmos escravos das novidades. Muitas pessoas aplaudiram o Papa Francisco por advogar a pobreza, mas o Santo Padre já clarificou, por diversas vezes, que não se referia à pobreza social – a pobreza dos destituídos – mas à pobreza teológica, libertando o nosso coração das coisas materiais. É esta liberdade interior que nos torna capazes de amar a Deus acima de todas as coisas. Senhoria e mestria requerem a prática das virtudes. O “Catecismo” (2407) mostra-nos a necessidade de «praticar a virtude da temperança, para moderarmos o nosso apego aos bens deste mundo, praticar a virtude da justiça, para respeitarmos os direitos dos nossos vizinhos e dar-lhes o que lhes é devido, e praticar a solidariedade de acordo com a regra de ouro de nos mantermos na generosidade do Senhor, que “era rico, ainda assim, e para seu proveito tornou-se pobre, e com essa pobreza poderá vir a ser rico”». Ter alguma coisa, conseguir riqueza, é bom e si mesmo, porque ajuda uma pessoa a contribuir para o bem comum e trabalhar para o bem estar dos outros. Para além disso, através do uso correcto das coisas materiais no nosso trabalho, podemos tornar-nos santos, tal como São José e a Virgem Maria. (Tradução: António R. Martins) ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 16 PT O TEMPO DE DEUS E O TEMPO DOS HOMENS O Tempo VÍTOR TEIXEIRA (*) [email protected] «PARA tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu», revela-nos o livro do Eclesiastes 3,1, no Antigo Testamento. O tempo, esse mistério, essa necessidade imperativa, esse desejo, esse problema, esse sonho... o tempo, tão simples que é, mas afinal algo que nos guia e não nos larga. Será uma magnitude física, com a qual medimos a duração ou separação, organização de acontecimentos, que por isso mudam ou até podem perenizar-se, num sistema de observação e medida. Com o tempo podemos ordenar acontecimentos, factos, sucessos, em sequências, em conjuntos ou escalas, definindo assim um passado e um futuro, ou aquilo que não pertence a nenhum destes, o presente, feito de eventos em simultâneo, em sincronia, mas que acabam por criar a diacronia, a sequência, infinita... Há o tempo do relógio, do calendário, com a sucessão de horas, minutos, segundos, ou tempo cronológico (do Grego “chronos”), da fusão medieval do pai de Zeus (Crono) e do Tempo (Chronos). É um tempo mecânico, diferente do tempo das emoções, das alegrias, das tristezas, do tempo de um preso na cadeia, do tempo do amor, do tempo de uma mãe que cuida do seu filho, das esperas, das angústias, do tempo ou que chega depressa ao fim ou do que nunca mais acaba. Do tempo especial, a que se chama de oportunidade ou ocasião. Um tempo, humano, que afinal não é todo igual, que varia de pessoa para pessoa, povo para povo, dentro da história até do próprio tempo. Há um tempo dos homens, histórico, dos relógios e clepsidras, que se escoa na vida quotidiana, na voracidade dos dias que se sucedem, da vida... e há o tempo de Deus, de salvação, o tempo sem tempo, da eternidade, afinal uma característica de Deus. Que é a substância do próprio Tempo, do seu devir. Tempo é uma palavra do Latim medieval, “temps”, que significa “cortar”, “talhar”, uma característica, aliás, do tempo histórico, que se “corta”, divide, a nossa existência enfim, em horas, dias, anos... Os povos primitivos conceberam o tempo como uma realidade cíclica, sujeita ao “eterno retorno”, ao tempo primordial, reproduzido em ritos e celebrações destinados à sua recordação e vivência, pois neles estavam os valores decisivos do tempo humano da existência terrestre, das civilizações. Tudo o que está à posteriori desses tempos primordiais é o desenvolvimento ou as consequências, no espaço e no tempo, dessas origens, ou a sua cor- rupção e decadência. Esta noção de tempo destruidor, aniquilador, criou o medo do passar do tempo, que afinal desgasta e corrompe: por isso, é imperativo regressar aos tempos primordiais, puros e genuínos, aos quais se deverá criar fidelidade e observância, imitar. Perante esta cronocracia, ou cromofobia, melancólica, voraz, surge talvez a mais original das facetas do Cristianismo, o tempo novo, ou o tempo da esperança, o tempo de Deus, da Encarnação. O kairós de São João Paulo II, o “tempo especial”, fundamental, pois é nele que tem lugar a obra da criação e da salvação, referia aquele Papa. «É este o tempo favorável, é este o tempo da salvação», como clamara São Paulo (Cor 6,1-2). O conceito judaico-cristão de tempo, forjado na Bíblia e sublimado pela liturgia, estabelece o conceito de tempo linear, com um começo, enquanto acto de criação de Deus, chegando até a definir um tempo final, escatológico. Mas Deus é, todavia, eterno, intemporal, o Criador, do tempo favorável, especial. Por isso cada tempo tem que ser aproveitado, vivido, para e por Ele, logo para os outros, na alteridade, não no egoísmo, aproveitando a oportunidade do tempo d’Ele: senão, não volta, porque o tempo não se repete. O tempo para Deus, para o fim dos tempos, o tempo do Eclesiastes (3,1-8, vale a pena ler), que não se pode perder. O tempo definitivo de Deus surge pois no re ligare, na religião, e na sua dinâmica salvífica. O Cristianismo ancora-se mesmo nessa esperança do tempo definitivo, do eterno “hoje” da salvação. Mas o tempo tem, por isso, várias características, vivências: de tensão, quanto ao futuro; vigilância e atenção, para não se perder o tempo que Deus concede a cada um para viver a sua história, o seu tempo especial; a perseverança, estribado na crença nas promessas de Deus. O presente vive-se pois na esperança, enquanto abertura ao futuro, pois «Ele será tudo em todos (1 Cor 15,28)», mesmo vivendo na transitoriedade própria do tempo histórico. A eternidade será afinal o fruto maduro do tempo da vida do cristão, de qualquer um. A liturgia não é afinal a antecipação dessa eternidade, que coloca cada um fora do tempo histórico mas dentro do tempo de Deus, o tempo especial que não é tempo, sem tempo. A Encarnação do Verbo, em Jesus, marca já o toque do eterno no tempo dos homens, como exalta São João, logo a abrir o seu Evangelho. O princípio, a eternidade de Deus, e o tempo histórico, dos homens («...veio habitar connosco») está por demais evidenciado em João, na descida do Filho de Deus ao mundo, do eterno que vem mostrar o caminho ao tempo finito, da caducidade. Mas o eterno que vem também, na cria- ção, tocar numa obra boa (n 1,31) que Cristo sublimaria e o Novo Testamento confirmaria como o tempo da salvação, do futuro, já não do passado, numa nova história, epifânica, ou seja, plasmada pela intervenção de Deus. Tempo, um tema infinito, difícil de materializar, de dominar, porque nos ultrapassa, nos domina. A religião, pela confiança intrínseca que gera no crente, com a esperança e a ideia de eternidade, o fruto maduro da existência terrena do homem no vale de lágrimas do mundo e do seu tempo histórico, assume-se pois como a forma de qualidade de tempo que o homem dispõe para mitigar a sua debilidade e pequenez, disfarçar imperfeições mas também alavancar a sua existência em algo mais do que apenas viver ou existir. A qualidade do tempo pertence e é transmitida e vivida apenas no domínio da fé, sobrepondo-se à quantidade do tempo. O homem moderno preocupa-se mais com esta escala, quantificável, tentando esticar cada vez mais a sua existência, mas perde qualidade de tempo. Esta, para se começar a procurar, é até fácil de começar a encontrar: basta abrir a Bíblia. «Os meus dias são como a sombra que declina, e eu vou secando como a erva. Tu porém, Senhor, permaneces para sempre (Sl 102,12-13; cf. Sl 90,4-12)». (*) Universidade Católica Portuguesa O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 17 PT R OTA D O S 5 0 0 A N O S Amigos a bordo JOÃO SANTOS GOMES [email protected] C omo antecipei na última crónica, esta semana foi bastante tensa. No dia anterior à chegada dos nossos amigos de Portugal, quando testámos o motor à noite voltámos a ter problemas de aquecimento, com falta de água no sistema de refrigeração. Isto deu-se na sexta-feira, sendo que ao sábado, normalmente, ninguém trabalha em Martinica. Por sorte, o mecânico que nos tem assistido foi a excepção à regra. E no sábado de manhã, bem cedo, estava no barco para ver o que se passava. Duas horas depois estava o mal diagnosticado e a solução encontrada, tendo ele vindo já precavido com algum material para resolver o problema. Esperamos que agora se aguente e nada mais haja a remendar no que diz respeito à refrigeração do velhinho motor, porque não há qualquer problema em termos de mecânica. Desta vez voltei a insistir com o mecânico com a intenção de fazermos uma revisão completa ao motor antes de rumarmos ao Panamá, mas voltou a defender que não seria necessário estar a gastar dinheiro porque, na sua opinião – durante trinta anos de experiência viu vários motores deste modelo – o mesmo está em boas condições, apesar dos anos que já tem em cima. Além dos cuidados normais de manutenção e da mudança das peças que se vão degradando, nada mais haveria a fazer, defendeu, tendo aconselhado apenas a mudar o tipo de óleo. Temos usado 15w40 de gasóleo; aconselhou a usarmos apenas óleo tipo 40. Se tudo se mantiver esta semana conforme o planeado, iremos sair de Fort-de-France rumo ao Sul, parando em Grand Anse. Depois de uma ou duas noites iremos para St. Lucia, onde passámos seis meses, para que os nossos amigos possam ficar a conhecer outra ilha nesta sua primeira visita. Esperamos não ser atraiçoados pelo motor e que tudo se possa fazer sem grandes contratempos, até porque os nossos amigos apenas podem ficar dez dias. Quanto às condições meteorológicas, não são as melhores mas os ventos parecem ser favoráveis. Entretanto, ainda relativamente ao problema da bomba de água salgada, ficámos a saber que não há necessidade de comprar uma nova porque o problema não é da bomba em si, mas do disco adaptador do corpo do motor. De acordo com o mecânico, numa intervenção anterior foi feita a substituição do adaptador e instalado um sensivelmente menos espesso – daí o problema da bomba. O veio da mesma fica um milímetro mais curto do que o ideal para encaixar bem no veio da bomba de injecção. O mecânico viu-se obrigado a inserir duas anilhas de cobre na bomba para colmatar a diferença e alertou ESCOLHA SARDINHAS PORTUGUESAS para a importância de, mesmo comprando uma bomba nova, colocar as anilhas para que a bomba encaixe perfeitamente. A outra solução permanente seria substituir o disco adaptador, mas como o motor já não se fabrica seria preciso encontrar uma em segunda mão que fosse original. Algo semelhante a encontrar uma agulha num palheiro. Quanto ao plano de seguirmos para o Panamá, e como também referi na semana passada, iremos mesmo ficar pelo Sul das Caraíbas até Novembro e depois iremos subir até Porto Rico, dali atravessando directamente para o canal do Panamá. Já recebemos informação dos nossos amigos do veleiro brasileiro Gentileza. Ficou combinado um encontro em Grenada para zarparmos juntos em direcção ao Pacífico. ESCOLHA PORTHOS Quanto ao catamaran português El Caracol, seguiram para Sul e irão decidir, em breve, se vão para as ilhas holandesas ou se esperam a Sul para cumprir a nossa rota em Novembro. Em todo o caso, irão estar no Panamá para atravessar o Pacífico juntamente com o nosso veleiro. Quanto aos nossos visitantes, chegaram de Paris, vindos da cidade do Porto, e estão a gostar da experiência. Apesar de ter havido algum enjoo no primeiro dia de ancoradouro, tudo se resolveu com alguns comprimidos, cervejas e banhos de mar a toda a hora. Além do prazer de receber amigos e falar de memórias antigas, é um deleite ver as nossas filhas brincarem ao redor do barco e na água. CADERNO DIÁRIO 18 PT Quarta 20 Segunda 18 Trilogia Já saiu a nova edição de “O Espião de D. João II - Pêro da Covilhã”, o primeiro romance da trilogia de Deana Barroqueiro sobre os Descobrimentos Portugueses, que narra as viagens de Pêro da Covilhã e a sua busca do reino do Preste João. O 2º romance, “O Navegador da Passagem”, conta as viagens de Bartolomeu Dias e de outros navegadores, no reinado de D. João II, e o achamento do Brasil, já com D. Manuel. O último livro O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 Arquivo da trilogia, “O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto”, narra as viagens e a odisseia dos Portugueses no Oriente (Médio e Extremo), a partir do olhar do autor de “Peregrinação”, com base numa investigação de mais de uma década, para recriar com a maior fidelidade personagens, factos, lugares, espírito de época, etc. Terça 19 Padroeira 1 Em 2017 comemoram-se cem anos das aparições de Fátima, em Portugal, e trezentos do achamento da imagem de nossa Senhora Aparecida, no Brasil. A Igreja Católica decidiu celebrar as efemérides em conjunto, reforçando assim os laços entre os fiéis dos dois países. Nesse contexto, em 2014, foi entronizada no Santuário Nacional de Aparecida a imagem de Nossa Senhora de Fátima e agora, um ano volvido, acto idêntico entronizou em Fátima a imagem da padroeira do Brasil. A celebração conjunta dos aniversários realça a unidade substancial do culto mariano, que marca a religiosidade católica num e noutro país, expressa na veneração de Nossa Senhora da (Imaculada) Conce(p)ição, padroeira de Portugal, cuja imagem, levada pelas circunstâncias históricas para o outro lado do Atlântico, acabaria por se tornar também a padroeira do Brasil. Padroeira 2 A convergência das celebrações tem, entretanto, um significado que vai para além do plano religioso: acentua a ligação histórica entre os dois povos e até um certo destino comum, que permanecem como realidade e desafio para além dos desencontros e das vicissitudes várias que nos separam e têm gerado um sentimento de estranhamento ou alheamento que os responsáveis políticos raras vezes têm sabido ultrapassar. Quer em Portugal, quer no Brasil, a realidade é hoje mais complexa e diversa, e a Igreja Católica perdeu a hegemonia absoluta que chegou a ter no passado. Outras religiões (re)emergiram, são outros os códigos morais e de conduta. Mas há um esteio comum que perma- nece e nos (re)aproxima e esse esteio, para o bem e para o mal, é católico. Na ausência de iniciativas políticas marcantes no plano das relações bilaterais, não espanta por isso que seja a Igreja Católica que, fazendo jus ao seu imenso papel histórico no Brasil, tenha a visão estratégica e a iniciativa prática que parecem faltar aos decisores do Estado. Leia O CLARIM na net Prosseguindo com os eventos ligados à exposição “Em nome d’El Rey: 250 anos do governo Morgado de Mateus em São Paulo (17651775)”, o Arquivo Público brasileiro recebe hoje a professora Ana Canas, directora do Arquivo Histórico Ultramarino, de Portugal. O evento marcará o diálogo entre Ana Canas e Heloísa Bellotto. As especialistas abordarão as relações entre o Arquivo Histórico Ultramarino e o Arquivo do Estado de São Paulo. O seminário também contará com palestras de outros pesquisadores e professores. Quinta 21 Sabedoria O homem de sabedoria não possui, geralmente, a cultura académica do nosso tempo. A cultura, ainda que não seja unicamente informação, depende muito da informação. A sabedoria, pelo contrário, não depende da informação. O que não significa que, para melhor atingir os seus objectivos, não deva utilizar a informação. O saber dos chamados homens de cultura é um “saber de coisas”, um saber de factos, frequentemente apresentado sob a máscara de um esteticismo ou de uma retórica vazia, sem dimensão espiritual nem profundidade. Infelizmente, os chamados homens de cultura estão, de certo modo, “adormecidos”, em relação aos grandes problemas do espírito. Convencem-se de que as academias, os institutos, as bibliotecas encerram toda a luz da sabedoria. Mas é uma www.oclarim.com.mo perspectiva falsa da realidade, porque, fechados na sua erudição, no seu academismo, conti- nuam, no fundo, a ser “analfabetos”, incapazes de ler o grande livro do Universo. ENTRETENIMENTO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 22 de Maio de 2015 19 PT TDM Canal 1 13:00 13:30 14:30 18:10 19:00 19:30 20:30 21:30 22:10 23:00 23:30 01:00 01:50 Sexta-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: Avenida Brasil (Repetição) TDM Talkshow (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal Vingança Telenovela: Avenida Brasil TDM News Cinema: Porto Santo Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 10:30 11:20 11:45 12:00 13:00 13:30 14:30 18:00 19:00 20:00 20:30 21:10 22:10 23:00 23:30 00:25 01:00 Sábado Os Ursos Boonie Boarding Madeira Vida Animal Mesa Brasileira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) Telenovela: O Teu Olhar (Compacto) Telenovela: Paixões Proibidas Quem Quer Ser Milionário Palcos Agora Telejornal Conta-me Como foi Um Lugar Para Viver TDM News Pop Lusa Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) Domingo 11:00 Missa Dominical 12:00 A Hora de Baco Caminhar de Novo: Um Milagre da Medicina TDM News Reportagem Construtores de Impérios Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 22:10 23:00 23:30 00:30 01:05 Telenovela: Avenida Brasil TDM News Portugal Aqui Tão Perto Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 15:25 15:50 16:15 16:55 17:35 18:30 19:30 20:30 21:00 22:10 23:00 23:30 00:05 00:40 Segunda-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) Gabriel o Pensador Concerto Festival Rota das Letras Um Afilhado em África Olhar Macau: Banho do Buda, Tam Kung Linha da Frente “Rua dos Resistentes” Vilar de Mouros: 35 Anos de História Telenovela: Avenida Brasil (Repetição) Contraponto (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal TDM Desporto Telenovela: Avenida Brasil TDM News Magazine Liga dos Campeões Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 13:00 13:30 14:30 18:10 19:00 19:30 20:30 21:00 21:40 22:10 23:00 23:30 00:05 00:40 Quarta-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: Avenida Brasil (Repetição) TDM Entrevista (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal Montra do Lilau Literatura Agora Telenovela: Avenida Brasil TDM News Monumentos e Sítios Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 13:00 13:30 14:30 17:35 18:30 19:30 20:30 21:00 21:45 Terça-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: Avenida Brasil (Repetição) TDM Desporto (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal TDM Entrevista Tudo Acaba Bem (Fim) 13:00 13:30 14:30 18:10 19:00 19:30 20:30 21:00 21:30 22:10 23:00 23:30 00:20 00:55 Quinta-feira TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) RTPi (Directo) Telenovela: Avenida Brasil (Repetição) Montra do Lilau (Repetição) Telenovela: Paixões Proibidas Telejornal TDM Talk Show Endereço Desconhecido Telenovela: Avenida Brasil TDM News Lado B Telejornal (Repetição) RTPi (Directo) 22:00 23:00 23:30 23:45 00:15 00:50 13:00 13:30 14:30 Cinema: Porto Santo. Hoje, às 23:30 horas. 12:30 13:00 13:30 14:30 16:10 17:00 17:50 18:20 18:50 19:40 20:30 21:00 Especial Saúde TDM News (Repetição) Telejornal RTPi (Diferido) Zig Zag Super Miúdos Pit Stop Pela Sua Saúde Portugal Seis Estrelas Decisão Final Bem-Vindos a Beirais Telejornal Contraponto C A PARTIR DE 22/5/2015 SALA 2 A PARTIR DE 22/5/2015 B SALA 1 TOMORROWLAND MAD MAX: FURY ROAD 14:30 | 16:45 | 21:30 21:45 | 21:45 19:15 (3D) 14:15 | 16:45 | 19:15 | 21:45 Um filme de: Brad Bird Com: George Clooney, John Walker, Britt Robertson A PARTIR DE 22/5/2015 B SALA 3 DRAGON BALL Z: RESURRECTION “F” 14:30 | 16:30 | 19:30 | 21:30 Um filme de: George Miller Com: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult Um filme de: Tadayoshi Yamamuro Língua: Falado em Japonês, com legendas em Chinês e Inglês TEMPO www.smg.gov.mo MUITO NUBLADO 23º Min. - 26º Máx. 20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 22 - 05 - 2015 Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU TEL. 28573860 FAX. 28307867 | www.oclarim.com.mo Tempo instável. Céu muito nublado. Aguaceiros, às vezes muito fortes no início do período. Trovoadas no início do período. Vento na escala Beaufort 3 a 4 do quadrante sul com rajadas. Humidade relativa entre 80% e 98%. O índice UV máximo previsto é de 6, classificado de Alto. TAXAS DE CÂMBIO http://https://www.bcm.com.mo MOP USD EUR 1 1 GBP JPY AUD NZD RMB HKD 1 100 1 1 100 1 7.9755 8.8819 12.4850 6.58 6.2938 5.8340 78.39 103.00 COSTA DA MEMÓRIA As armas portuguesas de Ceuta JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO [email protected] Ceuta surpreende até o mais prevenido dos visitantes. A mim surpreendeu-me o facto de o brasão da Ciudad Autónoma ser ainda o escudo com as armas de Portugal. Com uma única diferença: o sétimo dos castelos em redor das cinco chagas de Cristo surge na parte inferior do escudo e não na parte superior, como consta no estandarte nacional. «– Representam as sete colinas da cidade. Sebta, Ceuta em Romano, é sinónimo de sete», esclareceu a menina de Murcia atrás do balcão do posto de turismo onde fui buscar um mapa da cidade. Dir-me-ia mais tarde a sua colega, andaluza de Jerez de la Frontera, que o edifício onde estávamos assentava nos vestígios da muralha inicial, erigida pelos portugueses. De facto, um piso de vidro – uma dessas intervenções arquitectónicas modernas que me deixam sempre de pé atrás – revelava alguma da pedra e da taipa unidas pela argamassa. Preferi olhar para o Baluarte dos Maiorquinos, importante troço defensivo em cunha, à frente do qual seria cavado um fosso com uns trinta metros, que separaria para sempre a cidade do resto do território. As Muralhas Reais – a Muralha Portuguesa e um conjunto de estruturas acrescentadas pelos espanhóis – continuavam a ser um dos cartões-de-visita mais importantes de Ceuta. Numa rotunda em frente, a estátua do infante D. Henrique, El Nabegador, apontava o caminho para Norte; ou seja, para Espanha. Havia algo de profundamente errado naquilo. Não deveria o mentor das descobertas indicar o caminho para Sul, já que foi esse o rumo seguido? Provavelmente, esteve distraído o artista, autor do projecto. Ou será que os espanhóis decidiram nacionalizar o duque de Viseu como fizeram com o Saramago ribatejano? Ceuta é a cidade, em todo o mundo, onde com maior frequência vemos a mais importante insígnia nacional. Está presente em todas as bandeiras do município, sedes de associações – sejam de empresários, de advogados ou de simples clubes de recreio ou de futebol – nas tampas das sarjetas, nos caixotes do lixo, em cima de muros, dentro dos castelos, nos vitrais, incrustadas no metal das portas, nas janelas, nos candeeiros, nas T-shirts dos funcionários camarários, nos ladrilhos dos jardins públicos, nos Joaquim Magalhães de Castro azulejos, nos ferros dos vários gradeamentos, no granito à entrada de certos edifícios ou praças, nas portas dos táxis, enfim, serve até como símbolo para a sede episcopal. Ceuta é, decididamente, a urbe das quinas. Chegar ao Domingo a uma cidade espanhola é como chegar a Marte. Tudo está fechado. Nem imaginam a minha dificuldade em encontrar sítio onde beber um simples café. Mas quando o descortinei, junto à calle Maria Cabral, saiu-me dali um galão a pedir meças aos que se servem nos cafés da Invicta. De resto, o ambiente era muito similar ao nosso, com os clientes habituais sentados ao balcão, na conversa ou a lerem os números atrasados do jornal local (o Faro de Ceuta), pousados em cima da arca dos gelados. Essa minha caminhada tinha ainda como meta a busca de alojamento, prioridade de qualquer peregrino. Trazia num papelinho, que mão amiga me fizera chegar dias antes da partida, a morada da pensão Charito, no número 5 da calle Arrabal, a única com um preço em conta. «– Que necesitas, que te veo as vueltas a mas de una hora?». A observação da senhora da mercearia pecava pelo exagero, mas não deixou de me sensibilizar. Era o primeiro sinal da natural simpatia das gentes de Ceuta. Graças a ela fiquei a saber que a pensão Charito, «onde costumavam ficar hospedados os operários das obras», assim como a pensão Málaga, ali perto, se encontravam encerradas. Por isso, vi-me de novo comprimido entre as ruas Tenente Pacheco e Tenente Fernandez e, quase sem dar conta, dei de caras com a igreja da Nossa Senhora dos Remédios, seguindo depois pela calle Real rumo à Praça dos Reis, onde se situava o Hostal Real. Pediram-me ali trinta euros por um quarto manhoso, sem janelas, como quem me fazia um enorme favor. Valeu a pena avançar um pouco mais, percorrendo na sua totalidade a calle Camoens (quando é que os espanhóis aprendem a escrever os apelidos da nossa gente correctamente?), onde deparei com um enorme projecto de Siza Vieira quase pronto – bastante discutível mancha de branco imaculado em pleno centro histórico – que comportava um auditório, um conservatório e uma área comercial. No impecavelmente limpo Bohemia Hostal, um lindíssimo edifício, onde estava sediada a Confederação dos Empresários de Ceuta, vi-me obrigado a aceitar os mesmos trinta euros. Embora as condições fossem bastante aceitáveis, não havia uma única toalha à disposição. «– Los españoles son uns cabrones!», desabafou a mulher-a-dias marroquina que me abriu a porta e procedeu ao registo habitual. E são cabrones porque «Ceuta é de Marrocos». E, consequentemente, na perspectiva dessa nativa de Tetuão, não deviam estar ali. «– Portugal!?», exclamou ela ao folhear o meu passaporte. «– Portugal se queda en España, no?». É. Mais ou menos isso. Lá iremos.