EdSexual, DirHumanos e SSR
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EdSexual, DirHumanos e SSR
A P F- A S S O C I A Ç Ã O P A R A O P L A N E A M E N T O D A F A M Í L I A RESPONSABILIDADE, OPORTUNIDADE SOLIDARIEDADE, ACÇÃO EDUCAÇÃO SEXUAL, DIREITOS HUMANOS E SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e Saúde Sexual e Reprodutiva “Os avanços legislativos em Portugal, a par dos novos desafios da Europa e do Mundo, reforçam a necessidade de continuar a garantir e a defender a Saúde Sexual e Reprodutiva como área essencial à boa consecução dos Direitos fundamentais enquanto Direitos Humanos.” Manuela Sampaio, Presidente da Associação para o Planeamento da Família (APF) Em 2000, as Nações Unidas, em acordo com a comunidade internacional, apresentaram os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM): 1. Erradicar a pobreza extrema e a fome 2. Alcançar a educação primária universal 3. Promover a igualdade de género e capacitar as mulheres 4. Reduzir a mortalidade infantil 5. Melhorar a saúde materna 6. Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças 7. Assegurar a sustentabilidade ambiental 8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento Os ODM redefinem as prioridades globais do desenvolvimento e são largamente aceites como uma grelha de medida dos progressos alcançados e a alcançar. A par de outros instrumentos e indicadores, os ODM e respectivas metas são hoje chave e agenda para o diálogo e estratégias de desenvolvimento e compromisso dos países. A estratégia UE-África reconhece a necessidade de aprofundar o diálogo bilateral global sobre a Boa Governação e Direitos Humanos e é explícita quanto à necessidade de assegurar o financiamento e base política para o alcance dos ODM, acelerando o alcance dos Objectivos mais (1) relacionados com a distribuição de alimentos, saúde e educação . Os ODM são uma forma poderosa de abordar o problema da pobreza humana porque reconhecem a importância de melhorar aspectos específicos de Saúde, incluindo de Saúde Sexual e Reprodutiva, como imperativo para reduzir a pobreza. Para melhorar as condições de vida das pessoas que vivem em pobreza, devem abordar-se, concretamente e de forma global, a Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos no contexto dos ODM, como imperativo de Direitos Humanos. Os governos não conseguirão atingir os ODM sem dedicar recursos para reduzir a mortalidade infantil e materna, combater o VIH/SIDA e melhorar a igualdade de género. Três dos oito ODM são objectivos específicos de Saúde Sexual e Reprodutiva (ODM 4 - Reduzir a mortalidade infantil; ODM 5 - Melhorar a saúde materna; ODM 6 - Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças). Além disso, o ODM 3 (Promover a igualdade de género e capacitar as mulheres), é um benefício directo dos programas que (2) melhoram a Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos . “Os ODM apenas poderão ser alcançados se forem realizados progressos no sentido de garantir o acesso de todos à Saúde Sexual e Reprodutiva e aos direitos nesta matéria, tal como determinado pela CIPD na Agenda do Cairo. (...) A Comunidade apoiará a execução integral de estratégias destinadas a promover a Saúde Sexual e Reprodutiva e os direitos afins, e conjugará a luta contra o VIH/SIDA com acções de apoio neste domínio.” Parágrafo 94 da Declaração conjunta do Conselho e dos representantes dos Governos Estados-Membros reunidos no Conselho do Parlamento Europeu e da Comissão sobre Política de Desenvolvimento da União Europeia: “O consenso europeu 2006/ c 46/01” Na Cimeira Mundial (Setembro de 2005) que decorreu nas Nações Unidas em Nova Iorque e na qual estiveram presentes mais de 150 países, foi adoptada uma Declaração Final, onde se reafirma o compromisso de alcançar o acesso universal a Saúde Reprodutiva (primeiramente assumido em 1994 na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento do Cairo - CIPD), promover a igualdade de género e acabar com a discriminação contra as mulheres até 2015. Várias organizações de defesa da Saúde e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos advogaram a introdução de uma nova meta de Saúde Reprodutiva, dentro do ODM 5 (Melhorar a saúde materna). Em 2006, Koffi Annan, então Secretário-Geral das Nações Unidas, anunciou uma nova meta do ODM 5 - “Alcançar o acesso (3) universal à Saúde Reprodutiva até 2015” . “Mais do que uma expressão de solidariedade básica enraizada na simples partilha da condição humana, os ODM oferecem-nos uma afirmação das condições mínimas para a estabilidade e para a paz internacional no contexto da globalização. (…) O combate à pobreza e à exclusão assume-se, assim, como valor em si mesmo quer como factor de paz e estabilidade. (…)” Uma Visão Estratégica da Cooperação Portuguesa, Resolução do Conselho de Ministros nº 196/2005 Para se compreender verdadeiramente a complexa relação entre a pobreza e a estrutura da Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos, é importante que se reconheçam os seguintes factos: As mulheres e raparigas são expostas e afectadas pela pobreza desproporcionalmente e de modos diferentes em relação aos homens. As mulheres representam 70% de 1.2 mil milhões de pessoas que vivem em pobreza extrema em todo o mundo. RESPONSABILIDADE, OPORTUNIDADE SOLIDARIEDADE, ACÇÃO As mulheres e raparigas, especialmente aquelas que vivem em pobreza, são sete vezes mais vulneráveis aos problemas de Saúde Sexual Reprodutiva do que os homens. A razão é simples: as mulheres e raparigas vivem gravidezes e maternidade, que, nos países em desenvolvimento, são as principais causas de morte, doença e morbilidade entre mulheres em idade reprodutiva e a principal (4) causa de morte entre raparigas dos 15 aos 19 anos . A saúde da mulher tem impacto directo na saúde física da sua família. 30 a 40% das mortes infantis são o resultado de poucos cuidados de saúde durante a gravidez e o parto e as crianças cujas mães morrem, têm três a dez vezes maior probabilidade de morrer antes de atingirem os dois anos de idade. Existe uma ligação directa entre a saúde de uma mulher, o seu empoderamento, o nível de educação e as condições de vida da sua família. Por exemplo, o nível de educação de uma mulher determina fortemente o padrão de vida da sua família, bem como a educação, futuro e potenciais oportunidades dos seus filhos e filhas. Além disso, quando as mulheres, principalmente as que estão em situação de pobreza e exclusão, não podem trabalhar por incapacidade ou doença, a sobrevivência da sua própria família está em causa. Quando as adolescentes engravidam, são muitas vezes obrigadas a deixar a escola, reduzindo, assim, as hipóteses de integrar o mercado de trabalho e de, no futuro, contribuir para a economia do agregado familiar. A maternidade adolescente é, assim, um factor de reprodução da pobreza e neste sentido dificulta a inclusão social e reduz as oportunidades das raparigas quebrarem o ciclo da pobreza. Para garantir a melhoria do nível educacional das adolescentes, a Saúde e a Educação Sexual e Reprodutiva devem ser uma prioridade nos esforços de diminuição da pobreza e na promoção da Igualdade de Oportunidades. As mulheres e raparigas têm múltiplas vulnerabilidades ao VIH/SIDA. E quer estejam infectadas ou sejam afectadas pela doença, o estigma associado e a falta de apoio social disponível para estas mulheres e raparigas aumenta a sua susceptibilidade à pobreza. Empoderar, autonomizar, dar capacidade de decisão às mulheres, jovens e casais para se protegerem e fazerem escolhas sobre a sua própria Saúde Sexual e Reprodutiva é um dos melhores investimentos que os governos podem realizar para combater a pobreza. A discriminação de género exerce um papel crucial na vulnerabilidade das mulheres face à pobreza. Papéis rígidos de género atribuídos às mulheres limitam o seu acesso à educação, formação, emprego e recursos. Para além disso, a violência, a discriminação e os abusos, incluindo as práticas tradicionais nefastas como a Mutilação Genital Feminina ou os casamentos forçados, são uma realidade comum para muitas mulheres e raparigas, que afectam dramaticamente a sua capacidade de serem saudáveis, autónomas e exercerem os (5) seus direitos humanos e de cidadania . Deste modo, as iniciativas para diminuir a pobreza devem incluir serviços e mecanismos de Saúde Sexual e Reprodutiva para promover Igualdade de Direitos e Oportunidades para mulheres e raparigas. BENEFÍCIOS DE INVESTIR NA SAÚDE E DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS (5) Investir em serviços de Saúde Sexual e Reprodutiva pode ajudar uma mulher a evitar a morte ou problemas de saúde associados à maternidade, que, por sua vez, pode melhorar a saúde e educação dos seus filhos e filhas e ajudá-la a si e à sua família a quebrar o ciclo de pobreza. Melhorar os serviços de Saúde Sexual e Reprodutiva permite às mulheres e às raparigas adiar a gravidez e maternidade até que tenham alcançado objectivos de educação e formação e e ajuda-as a evitar condições médicas estigmatizantes, o que, tudo junto, ajuda a melhorar as posições sociais das mulheres e a aumentar a sua participação na comunidade e na política(6) Educação Sexual, Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e Direitos Humanos O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou que a comunidade global pode e vai atingir os ambiciosos e nobres ODM, “mas apenas se deixarmos para trás os velhos caminhos”. Não existe afirmação mais verdadeira hoje em dia para assegurar e avançar com os ODM. Para as pessoas que advogam e defendem a Saúde e os Direitos Sexuais e Reprodutivos “deixar para trás os velhos caminhos” deve envolver, antes de mais, a ocupação do devido lugar destes direitos na agenda mais alargada de desenvolvimento de cada nação e instituição internacional que trabalhe em prol dos ODM. Atingir os oito ODM criará um mundo melhor, mais saudável, mais igualitário e mais justo. Mas “deixar para trás os velhos caminhos” deve também significar deixar para trás quase uma década de diminuição na atenção prestada à Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos. Mais do que isso, deve acabar o silêncio ensurdecedor sobre a questão da Educação Sexual, especialmente nos países do Sul e esta deve ser assumida como tema prioritário na Ajuda ao Desenvolvimento para alcançar os ODM. Quatro dos oito ODM não serão cumpridos sem ampliar e investir em Educação Sexual enquanto elemento fundamental do nosso trabalho em prol dos ODM. O ODM 4 (Reduzir a mortalidade infantil), por exemplo, requer uma redução de dois terços da taxa de mortalidade entre crianças com menos de cinco anos. Os bebés sofrem muitas vezes de doenças e má nutrição, mas a capacidade dos pais, mães e pessoas cuidadoras de estarem presentes e saudáveis durante o crescimento e desenvolvimento dos/as filhos/as é muitas vezes subestimada. Demasiados pais, mães e pessoas cuidadoras, especialmente nos países em desenvolvimento, sofrem de infecção por VIH ou doenças relacionadas com a SIDA, o que interfere com as suas responsabilidades parentais. Noutras situações, faltam geralmente às mães o conhecimento e os métodos para planear e espaçar as suas gravidezes, e as questões de nutrição tornam-se complicadas. Reduzir a mortalidade infantil implica fortalecer as famílias destas crianças. A Educação Sexual pode contribuir para alcançar este objectivo através do fornecimento de informação sobre Planeamento Familiar e da promoção de práticas de sexo seguro que ajudam a assegurar que pais e mães estejam saudáveis e sejam capazes de cuidar dos mais novos e mais vulneráveis. O ODM 3 (Promover a igualdade do género e capacitar as mulheres) fala da redução das disparidades de género na educação para mulheres e raparigas. Mais uma vez, a Educação Sexual constitui um elemento de capacitação para as mulheres exercitarem maior controlo sobre a sua reprodução. Quando a Educação Sexual é bem feita, procura também promover Igualdade de Oportunidades e pode aumentar a igualdade, em sentido lato, das mulheres na comunidade. Mas a gravidez é um factor determinante no sucesso escolar e, de facto, em demasiados lugares do mundo, significa o fim da educação formal. É, por isso, difícil ver mais e mais mulheres e raparigas a receberem educação primária e secundária sem a promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva enquanto elemento necessário. Podem ser encontrados laços ainda mais fortes entre os benefícios da Educação Sexual e o cumprimento dos ODM. Por exemplo, ODM 5 (Melhorar a saúde materna) e ODM 6 (Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças) implicam reduzir a mortalidade materna e combater a difusão do VIH/SIDA, respectivamente. A redução da mortalidade materna requererá, não apenas um investimento nas infra-estruturas de saúde pública para fornecer serviços médicos, mas também um investimento pleno e sério na Educação Sexual enquanto base de uma saúde para toda a vida. O 5º ODM requer uma redução de três quartos na taxa de mortalidade materna. Tal redução não pode ser atingida antes de 2015, o prazo para o cumprimento dos ODM, se a Educação Sexual não constituir um elemento fundamental da capacitação das escolhas das mulheres sobre a Saúde Sexual e Reprodutiva, que complemente e actue em parceria com os sistemas de saúde. A Educação Sexual pode informar as mulheres sobre os seus corpos e sobre os serviços de Saúde Sexual e Reprodutiva que lhes podem proteger a saúde. Ampliar os sistemas de saúde para reduzir a mortalidade materna sem educar as mulheres sobre a necessidade de utilizar estes sistemas é uma oportunidade perdida, que o investimento na Educação Sexual pode colmatar. Talvez a indicação mais clara e directa de que a Educação Sexual é fundamental para atingir os ODM esteja na redução da incidência e prevalência do VIH/SIDA (ODM 6). Todas as principais entidades de saúde do mundo compreendem e apoiam o papel crucial e vital que a Educação Sexual pode desempenhar na promoção de comportamentos saudáveis e responsáveis para evitar a transmissão das Infecções Sexualmente Transmissíveis, especialmente VIH. Todavia, demasiados jovens estão envolvidos em programas descoordenados de educação para a prevenção do VIH sem uma base pré-estabelecida de Educação Sexual. As iniciativas de prevenção do VIH, mesmo que bem intencionadas, nunca foram concebidas para substituírem a Educação Sexual, mas antes para serem um complemento intensivo a esta. Cumprir com o ODM 6 para combater e reverter a difusão do VIH/SIDA deve envolver uma ampliação paralela da Educação Sexual para ter êxito. Encarar a Educação Sexual enquanto fundamento de uma saúde melhor e para toda a vida, tanto para indivíduos como para comunidades, é o fio condutor entre quase todos os ODM. A Educação Sexual não é frequentemente discutida de forma directa por causa das questões políticas, morais e culturais que muitas vezes acompanham o debate sobre aquela. Uma grande parte do debate sobre a Educação Sexual poderá ser evitada se nos concentrarmos sobre a necessidade de os seus programas respeitarem as importantes diferenças na informação sexual fornecida a diferentes idades e fases de desenvolvimento. O centro da controvérsia sobre a Educação Sexual passa pela ideia errada de que informação demasiadamente explícita é fornecida demasiadamente cedo. Esta educação deve também ser adequada do ponto de vista cultural e deve encorajar o apoio de pais, mães e familiares à instrução formal. Finalmente, a Educação Sexual enquanto elemento de base para atingir os ODM pode e deve ser vista na perspectiva dos Direitos Humanos. A saúde não existe fora de um quadro dos Direitos Humanos, mas está firmemente localizada dentro deste. É também o caso da Educação Sexual porque, antes de mais, a Educação Sexual tem como objectivo promover comportamentos saudáveis e ajudar as pessoas a conseguirem o nível mais alto de saúde. Assim, negar a Educação Sexual ou censurar elementos desta é, de facto, uma violação dos Direitos Humanos. Podemos alcançar os ODM, mas é difícil imaginar como o fazer se não se investir seriamente nalguns elementos fundamentais, incluindo uma ampliação e um enfoque intensivo na Educação Sexual. Nos países em desenvolvimento, com necessidades não resolvidas de saúde e direitos fundamentais, a saúde pública dita a eficácia da Educação Sexual, os Direitos Humanos reclamam que a asseguremos, mas há que conjugar vontade política e recursos para torná-la realidade. Os ODM devem ser encarados como parte deste processo e também como principal beneficiário da sua realização. William Smith, Sexuality, Information and Education Council of the United States (SIECUS) Essencial: A importância de investir numa abordagem holística dos ODM, que inclua os jovens e adolescentes, as mulheres e respectivas vulnerabilidades, o VIH/SIDA e o acesso à Saúde Sexual e Reprodutiva como imperativo para reduzir a mortalidade materna, foram tópicos da I Reunião Ministerial de Políticas para Mulheres e VIH/SIDA, da qual resultou a Carta do Rio de Janeiro, assinada pelos representantes dos governos da CPLP, incluindo Portugal. Neste documento reconhece-se “...que mulheres, em especial as jovens e adolescentes, se encontram em situação de maior vulnerabilidade à infecção pelo VIH face à desigualdade de género, violência, racismo e discriminação que as atinge em toda a sua diversidade”. I Reunião Ministerial de Políticas para Mulheres e VIH/SIDA: Construindo Alianças entre Países de Língua Portuguesa para o Acesso Universal (Rio de Janeiro, Brasil, Março de 2008) As mulheres e os homens enfrentam uma falta de escolhas, oportunidades e acesso a cuidados básicos de saúde, por causa da pobreza extrema. Assim, a necessidade de melhorar a sua situação, particularmente no que diz respeito à saúde materna e obstétrica, é uma prioridade. As mulheres sofrem frequentemente de maneira desproporcional, por causa da violência, da discriminação e do fardo de uma má Saúde Reprodutiva, que é a principal causa da morte e morbilidade das mulheres em idade reprodutiva. 300 milhões sofrem de complicações relacionadas com a gravidez e o parto. A cada minuto, uma mulher morre durante a gravidez ou o parto porque não recebeu os cuidados adequados e tratamento (7) imediato . Aumentando as intervenções em prol da maternidade segura, podemos salvar a vida de meio milhão de mulheres e sete milhões de bebés por ano e, ao mesmo tempo, evitar que milhões de mulheres sofram de infecções, ferimentos, morbilidade, incluindo Mutilação Genital Feminina e Fístula Obstétrica, que podem resultar em dores e exclusão social durante toda a vida. Milhões de mulheres não beneficiam de cuidados médicos ao darem à luz: quase uma em cada quatro mulheres nos países em desenvolvimento está sozinha ou acompanhada apenas por um parente ou vizinho durante o parto. Os cuidados pré-natais são uma componente fundamental dos serviços de saúde materna. Desde 1990, todas as regiões têm registado progresso neste sentido. Até na África Sub-Saariana, mais de dois terços das mulheres recebem cuidados pré-natais pelo menos uma vez durante (8) a gravidez . Os jovens encontram-se numa situação particular de risco. As estatísticas de mortalidade materna mostram como as mulheres não têm sido consideradas uma prioridade pelas sociedades, especialmente as (9) mulheres jovens nos países em desenvolvimento . A mortalidade materna é a principal causa da morte das raparigas entre 15 e 19 anos nos países em desenvolvimento, tendo estas raparigas uma probabilidade duas vezes maior de morrer durante o parto que as mulheres na casa dos 20. Por razões biológicas, económicas, sociais e culturais, as raparigas são mais vulneráveis que as mulheres e as desigualdades de género, como, por exemplo, a falta de educação, que pode limitar o conhecimento da jovem sobre nutrição, espaçamento das gravidezes e contracepção, colocam as raparigas em maior risco que os (10) rapazes . As taxas de gravidez na adolescência continuam altas, apesar (11) da redução na fertilidade total em muitas regiões . A prevenção das gravidezes indesejadas, por si própria, poderia evitar pelo menos um quarto das mortes maternas todos os anos, incluindo as 68.000 que resultam de abortos inseguros. 137 milhões das mulheres que expressaram o desejo de espaçar as gravidezes ou reduzir o tamanho da sua família não utilizam qualquer tipo de contracepção. Outras 64 milhões de mulheres (12) recorrem a métodos tradicionais menos eficazes . É necessário ampliar os esforços para o Planeamento Familiar, que tem um impacto directo sobre a saúde materna. Quando os casais podem escolher o número, o «timing» e o espaçamento dos/as seus/suas filhos/as, podem assegurar melhor que haverá recursos suficientes para que cada membro da família possa prosperar e progredir. No mundo, as famílias têm duas vezes menos filhos/as hoje do que na década de 60, mas a fertilidade continua alta nos países mais pobres. Pelo menos 200 milhões de mulheres não têm ainda acesso a uma série de recursos e serviços de Planeamento Familiar que sejam acessíveis e eficientes, incluindo contraceptivos adequados. Espera-se que a procura (13) destes serviços cresça 40% nos próximos 15 anos . No entanto, o financiamento para o Planeamento Familiar tem diminuído nos últimos anos. Um investimento de 1 milhão de dólares no Planeamento Familiar poderá evitar 360.000 gravidezes indesejadas, prevenir 150.000 (14) abortos induzidos e salvar as vidas de 800 mães e 11.000 bebés . A necessidade de serviços de Saúde Reprodutiva é extremamente urgente na luta contra o VIH/SIDA. Cada dia mais 6.800 pessoas ficam infectadas e cerca de metade são jovens com menos de 25 anos. A maioria pouco sabe sobre a doença e a transmissão do vírus. As mulheres jovens são particularmente vulneráveis e têm maior probabili(15) dade de serem infectadas do que os homens . Os serviços de Saúde Reprodutiva e medicamentos, incluindo contracepção, que dão às mulheres e aos jovens informação e capacidades que salvam vidas, ajudarão à prevenção do aumento da malária e do VIH e reduzirão o sofrimento e a ruptura económica e social no futuro. A prevenção da morte e da morbilidade materna (ODM 5) é possível, rentável e constitui uma necessidade para poder atingir os ODM. Quase todas as mortes maternas poderiam ser evitadas através do acesso a cuidados profissionais durante a gravidez e o parto e nas semanas que se seguem e, também, através do acesso a cuidados obstétricos de emergência caso surjam complicações. Há diferenças significativas no acesso a serviços e medicamentos de saúde materna, incluindo contracepção. Para cada morte materna, há pelo menos mais 20 mulheres que sofrem complicações graves (16) relacionadas com a gravidez, que podem causar morbilidade permanente . A saúde e hipóteses de sobrevivência de um recém-nascido são largamente determinadas pela saúde e nutrição da mãe e pelos cuidados pré e pós-natais que ela recebe. Para alcançar o progresso máximo na redução de mortes e morbilidade maternas, deve haver vontade política para actuar. Melhorar a situação e os direitos das mulheres e aumentar o acesso de todas as mulheres a serviços essenciais de saúde materna deve ser uma preocupação prioritária. A Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos dizem respeito, principalmente, aos jovens e fazem parte (ou farão em breve) do debate em todos os fóruns políticos. Mas apesar da maioria das pessoas do mundo terem menos de 30 anos, os jovens são uma minoria nos centros de tomada de decisões a nível nacional e internacional, onde são debatidos temas que lhes afectam directamente a vida. Enquanto formadores de opinião e porta-vozes dos jovens europeus, os jovens decisores políticos de hoje têm influência política. Enquanto futuros parlamentares, a sensibilização dos jovens políticos sobre Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos é um investimento no (17) futuro . European Parliamentary Forum on Population and Development - EPF Secretariat “Maternal Mortality”, 2008 Para mais informações: www.apf.pt www.iepfpd.org www.ipad.mne.gov.pt www.ippf.org www.siecus.org www.un.org/millenniumgoals www.unfpa.org www.who.int Referências 1 Parceria Estratégica UE-África (Setembro, 2007) 2 IPPF European Network, Factsheet “Poverty and Sexual and Reprodutive Health and Rights: Understanding the link” (Novembro, 2004) 3 www.ippf.org/en 4 Population Action International, Factsheet “How Reproductive Health Services Work to reduce Poverty” (2003), citado em IPPF European Network, Factsheet “Poverty and Sexual and Reproductive Health and Rights: Understanding the link” (Novembro, 2004) 5 IPPF European Network, Factsheet “Poverty and Sexual and Reprodutive Health and Rights: Understanding the link” (Novembro, 2004) 6 UNFPA and The Alan Guttmacher Institute, “Adding it Up: The Benefits of Investing in Sexual and Reproductive Health Care”, Executive summary (2003), citado em IPPF European Network, Factsheet “Poverty and Sexual and Reproductive Health and Rights: Understanding the link” (Novembro, 2004) 7 UNFPA: Population Issues Overview, http: //www.unfpa.org/issues 8 Who: The World Health Report 2005 - Make Every Mother and Child Count, Geneva (2005) 9 Pan American Health Organization (PAHO): Youth: Choices and Change: Promoting Healthy Behaviours in Adolescents 10 UNFPA: State of world population 2003 11 UN: The Millennium Development Goals Report (2007) 12 UNFPA and The Alan Guttmacher Institute, “Adding it up: The Benefits of Investing in Sexual and Reproductive Health Care”, Executice summary (2003) 13 UNFPA: Population Issues Overview, http: //www.unfpa.org/issues 14 UNFPA: Population Issues: Securing Essential Supplies (Agosto, 2006) 15 UNFPA: Population Issues Overview, http: //www.unfpa.org/issues 16 DFID: MDG Factsheet on Maternal Health (Novembro, 2007) 17 European Parliamentary Forum on Population and Development (EPF), Young Decision Makers Brochure Projecto financiado por: Fundo das Nações Unidas para a População Apoio Técnico: Responsabilidade: ASSOCIAÇÃO PARA O PLANEAMENTO DA FAMÍLIA Além do VIH/SIDA, a malária continua a ser a principal causa da morbilidade e mortalidade entre os mais vulneráveis, isto é, mulheres grávidas e crianças com menos de 5 anos. RUA ARTILHARIA UM, 38 - 2º DTO. - 1250 LISBOA - TEL.: 21 385 39 93 - FAX: 21 388 73 79 [email protected] - www.apf.pt Textos: William Smith (SIECUS); EPF Secretariat; Alice Frade e Inês Eugénio Malta (APF, Projecto ROSA); Revisão e Coordenação: Alice Frade e Inês Eugénio Malta, Departamento de Advocacy e Cooperação para o Desenvolvimento da APF - Projecto Rosa; Design Gráfico: Salomé Lage; Tiragem: 3.000 exemplares; Impresso por: Alfaprint, Lda. Mortalidade Materna, Saúde Reprodutiva e Direitos Humanos
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