Comunicações convidadas

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Comunicações convidadas
Comunicações convidadas
FORMAS DE COMUNICAÇÃO QUÍMICA NA REPRODUÇÃO DE PEIXES
Barata, E.N.
Departamento de Biologia, Universidade de Évora e Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve
Comunicação é a troca de um sinal entre um emissor e um receptor, com benefício para ambos.
No vernáculo da ecologia comportamental, a função de enviar um sinal é aumentar a
probabilidade do receptor exibir uma acção que é benéfica para o emissor; em relação ao
receptor, a função de responder ao sinal é aumentar a probabilidade de exibir uma acção que lhe
seja benéfica.
No reduzido número de espécies de teleósteos estudadas, hormonas sexuais e respectivos
metabolitos excretados para a água, através das brânquias e/ou urina, influenciam a fisiologia e o
comportamento de conspecíficos. Os indivíduos receptores destes compostos evoluíram
mecanismos para beneficiar desta informação, sendo a sua resposta neutral para o emissor.
Nestas condições, a informação que é disponibilizada é uma pista (pista feromonal) e não um sinal
e, estamos perante “espionagem” química, como um passo evolutivo prévio à eventual evolução
para verdadeiros processos de comunicação química. Estes envolvem alguma forma de
especialização na forma de libertação e/ou na natureza química do sinal, que terá evoluído no
emissor por pressão selectiva do receptor.
No blenídeo Salaria pavo e na tilápia Oreochromis mossambicus, os machos são territoriais e o seu
sucesso reprodutor está dependente da escolha feminina. Em S. pavo, glândulas anais dos machos
libertam uma feromona que, atrai fêmeas em ovulação, influencia a escolha do parceiro sexual e
aumenta o sucesso reprodutor dos machos. Na tilápia, os machos aumentam a frequência de
emissão de pulsos de urina na presença de fêmeas em ovulação. A urina dos machos territoriais é
um estímulo olfactivo mais potente para as fêmeas do que a urina de machos não territoriais.
Estas duas espécies são exemplo de comunicação química, devido à especialização na forma como
é disponibilizada pelo emissor a informação química relacionada com a sua condição reprodutiva.
O ESTUDO DO COMPORTAMENTO APLICADO AO BEM-ESTAR ANIMAL
Galhardo, L.
Eurogroup for Animal Welfare
O Bem-Estar Animal como área científica teve origem numa crescente consideração social e moral
pela qualidade de vida dos animais. Esta preocupação aumentou com a pecuária intensiva, tendo
muitos dos problemas suscitados encontrado resposta na ciência. O Bem-Estar Animal
desenvolveu-se a partir de três abordagens diferentes: as experiências subjectivas, o
funcionamento orgânico, e a “natureza” do animal. São estes aspectos que devem subjazer de
uma forma integrada ao seu conceito. As suas principais medidas de avaliação baseiam-se na
saúde e condição física, em parâmetros fisiológicos e em medidas comportamentais.
O estudo do comportamento pode ser um excelente indicador de bem-estar, fornecendo dados
acerca do estado interno dos animais e das suas necessidades e preferências. É um indicador
precoce de estados de desequílibrio, e a sua medição tem a vantagem de ser pouco invasiva, e de
requerer métodos relativamente pouco complexos. No entanto, a interpretação do comportamento
em função do bem-estar animal não é sempre linear. As necessidades comportamentais são
frequentemente uma causa de sofrimento, mesmo em caso de plena saúde e maneio de
qualidade. Em parques zoológicos, como noutros locais, estas necessidades estão associadas à
carência de complexidade ambiental, falta de ocupação e incapacidade de controlo do ambiente.
Estas dificuldades podem ser reduzidas pelo enriquecimento ambiental, como será ilustrado para
golfinhos e ursos pardos.
O conhecimento do comportamento dos animais aproxima-os da esfera da ética, induz atitudes de
empatia e de rejeição de certas circunstâncias a que são sujeitos. Uma atitude social
suficientemente generalizada, corroborada cientificamente, pode passar a ter pertinência política,
mudando práticas e leis, e determinando aos poucos um novo rumo das relações dos humanos
com os animais.
IV Congresso Nacional de Etologia
1
A REGULAÇÃO TEMPORAL DO COMPORTAMENTO
Machado, A.
Insituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho
O estudo das regulações temporais (o que se designa geralmente por ‘timing’) procura explicar
como é que os animais aprendem a regular a sua conduta sempre que algo importante no seu
ambiente pode ser previsto ou antecipado a partir de um ou mais intervalos de tempo. Por
exemplo, pombos domésticos aprendem a visitar periodicamente um local onde de 90 em 90
segundos está disponível um pouco de comida; sem possibilidade de consultar um relógio, como o
fazem? Nesta comunicação resumirei alguns dos trabalhos que tenho efectuado nesta área,
centrando-me em particular sobre o desenvolvimento teórico e o teste empírico de um modelo
matemático de regulação temporal. Conhecido como o modelo Learning-to-Time ou LeT, este
modelo destingue-se dos seus rivais pela importância atribuída aos processos de aprendizagem. A
sua ideia-chave é que a regulação temporal aprendida deriva de três componentes: uma
organização em série de estados comportamentais, um vector de ligações associativas entre os
estados comportamentais e as respostas intrumentais do animal, e as respostas instrumentais em
si mesmas. A minha apresentação será dividida em quatro partes. Na primeira caracterizarei os
atributos do modelo e as equações matemáticas que lhe estão associadas. Na segunda resumirei o
ajustamento do modelo a dados empíricos pré-existentes. Na terceira descreverei as novas
previsões do modelo e os resultados dos testes conduzidos para testar essas previsões. Na quarta
e última parte avaliarei a situação actual do modelo e identificarei alguns dos desafios mais
interessantes que se colocam no estudo da regulação temporal nos animais.
COMUNICAÇÃO INTER-ESPECÍFICA: DOS PRESSUPOSTOS ÀS FINALIDADES
Sousa, L.
ICBAS & IBMC-UP
Várias espécies ao longo da escala filogenética comunicam entre si sobretudo quando daí obtêm
benefícios. São muitos os exemplos desta interacção, dos quais se referirão os mais salientes. As
possibilidades desta capacidade de comunicar estão dependentes não só das formas particulares
de o fazer em cada uma das espécies envolvidas como da maior ou menor compreensão de sinais
entre o emissor e o receptor. Assim, far-se-á referência às especificidades da comunicação nos
cães (linguagem corporal, expressiva) e às capacidades de compreensão desta espécie para com
os sinais comunicacionais humanos. Os benefícios de uma boa comunicação homem-cão-homem
são enormes, tanto do ponto de vista de bem-estar mútuo como das múltiplas aplicações a
situações de clara utilidade prática, donde o homem sai normalmente mais beneficiado. As
implicações deste bom funcionamento serão avaliadas para importantes situações de colaboração
inter-específica como no caso do trabalho de pastoreio, dos cães de resgate e mais
particularmente dos cães de assistência.
IV Congresso Nacional de Etologia
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Comunicações orais
DIFERENÇAS ACENTUADAS NA EXPRESSAO DE COMPORTAMENTOS AGONÍSTICOS EM ESPÉCIES
CHONDROSTOMA (PISCES: CYPRINIDAE).
ESTREITAMENTE APARENTADAS DO GÉNERO
Almada, V.C., Robalo, J.I., Faria, C. & Domingues, V.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
Neste trabalho descrevem-se pela primeira vez os comportamentos agonísticos de Chondrostoma
duriensis Coelho, 1985 e Chondrostoma polylepis Steindachner, 1865, dois ciprinideos endémicos
da Península Ibérica. Estes comportamentos surgem fora do contexto reprodutivo e são praticados
por machos, fêmeas e juvenis. Ambas as espécies têm especializações morfológicas e
comportamentais, que lhes permitem alimentar-se raspando a camada de algas da superfície das
pedras do leito dos rios. Propõe-se que estes comportamentos, que ocorrem sobretudo quando as
temperaturas são mais elevadas, podem permitir a defesa de locais mais produtivos e situados em
zonas com pouca corrente (com a consequente economia de energia), especialmente quando a
redução estival do volume dos cursos de água provoca a concentração de muitos peixes em
espaços reduzidos. Apesar das observações terem sido realizadas quase exclusivamente em
aquário foi possível observar este comportamento na natureza. Uma análise filogenética com base
nos dados de sequências do gene mitocondrial do citocromo b, permite demonstrar que o
aparecimento de comportamentos agonísticos não é uma condição primitiva nas espécies deste
género, não tendo sido possível detectar sinais de agressão em três outras espécies, que também
não apresentam as especializações morfológicas e alimentares acima referidas, tendo surgido
provavelmente em estreita associação com a evolução da nova forma de alimentação.
SONS DE CORTE E O SEU POTENCIAL PAPEL NO ISOLAMENTO REPRODUTOR EM ESPÉCIES
PRÓXIMAS DE CICLÍDEOS DO LAGO MALAWI
Amorim, M.C.P.1, Knight, M.E.2 & Turner, G.F. 3
1
Unidade de Eco-Etologia, ISPA; 2School of Biological Sciences, University of Southampton; 3Department of
Biological Sciences, University of Hull
Os ciclídeos do lago Malawi e de outros lagos Africanos têm fascinado os evolucionistas durante
muito tempo devido à sua taxa extremamente rápida de especiação. Entre os muitos mecanismos
propostos para explicar este fenómeno, encontra-se a selecção sexual através da escolha pelas
fêmeas, que tem vindo a ganhar proeminência recentemente. Estudos prévios têm incidido na
variabilidade das cores apresentadas pelos machos de espécies próximas, mas o papel da
comunicação acústica na manutenção do isolamento de espécies nos grandes lagos Africanos tem
sido negligenciado.
Neste estudo gravamos sons produzidos pelos machos de 3 espécies simpátricas de ciclídeos
(Pseudotropheus zebra, P. ‘zebra gold’ and P. callainos) durante a corte. Os sons foram emitidos
durante os componentes ‘quiver’ e ‘circle’ da corte dos machos e consistem em unidades de pulsos
rapidamente repetidas. Encontraram-se diferenças significativas entre espécies nalguns
parâmetros acústicos mas estes apresentaram sobreposição de valores. Estas diferenças
estatísticas podem indicar diferentes regimes de selecção sexual intra-específica entre as três
espécies, mas ainda não está determinado se as fêmeas conseguem descriminar os sons
produzidos por machos conspecíficos com base em pistas auditivas. A variação intra- e interespecífica entre espécies aparentadas encontrada no presente estudo, ilustra a importância
potencial dos sinais acústicos na origem e manutenção do isolamento reprodutor em ciclídeos
Africanos.
IV Congresso Nacional de Etologia
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TRÊS TESTES À RELEVÂNCIA DE CARACTERÍSTICAS DERIVADAS NAS CANÇÕES DE SERINO
(SERINUS SERINUS)
Cardoso, G.C. & Mota, P.G.
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra
O Serino é a espécie com frequência de canto mais aguda e a taxa mais rápida de sucessão de
elementos sonoros no seu género, o que implica que estas sejam características derivadas.
Fizémos experiências com playbacks em laboratório com o objectivo de relacionar as respostas
das fêmeas de Serino com a evolução destas características de canto.
Manipulámos bidireccionalmente a frequência e velocidade das canções e predissemos que as
fêmeas responderiam mais intensamente às canções com frequência e velocidade aumentadas.
Produzimos e testámos o efeito de canções compostas por apenas um de cada modo sintáctico
existente nas canções de Serino, modo sequencial e modo repetitivo. O primeiro modo é
responsável pela velocidade e variabilidade das canções e o segundo é semelhante às vocalizações
de contacto, pelo que esperávamos um antagonismo entre uma preferência putativa pelas
características derivadas do modo sequencial e, a nível proximal, o efeito comunicativo das
vocalizações de contacto. Por fim, testámos as aves com canções não manipuladas e canções
heterospecíficas para obter uma referência a partir da qual interpretar as várias respostas vocais e
comportamentais medidas.
As diferenças entre estímulos foram tangenciais em relação à quantidade total de respostas, e
favoreceram as canções agudas, lentas e de modo repetitivo. Estas diferenças manifestaram-se
com níveis significativos em variáveis diferentes, consoante os casos. O efeito da frequência foi no
sentido previsto. O teste à velocidade foi no sentido oposto ao esperado e, ao contrário dos
outros, resulta em parte de um aumento de respostas de baixa intensidade às canções rápidas.
Este resultado é discutido tendo em conta possíveis funções comunicativas da plasticidade na
velocidade das canções, um aspecto não explorado na literatura de comunicação vocal em aves. O
resultado do teste sobre sintaxe está de acordo com a prioridade comunicativa proximal das
respostas obtidas com este desenho experimental, o que ajuda a explicar os diferentes níveis de
discriminação dos testes anteriores.
ANÁLISE DOS PADRÕES DE COMPORTAMENTO DOS GOLFINHOS-ROAZES, TURSIOPS TRUNCATUS,
NO ESTUÁRIO DO SADO
Carvalho, I.1, Nunes, S.1, & Santos, M.E.1,2
1
Projecto Delfim – Centro Português de Estudo dos Mamíferos Marinhos; 2Unidade de Investigação em EcoEtologia, ISPA
Este trabalho procurou descrever o repertório comportamental da população de golfinhos-roazes
do estuário do Sado, analisar a utilização que estes golfinhos fazem da área de estudo e ainda
comparar uma classificação dos padrões de actividade das amostras obtidas por métodos
quantitativos com a classificação dos padrões de actividade em cada amostra obtida pelos
métodos tradicionais de observação. As observações foram realizadas a partir de uma
embarcação, entre Maio e Outubro de 2000, registou-se a posição dos grupos de animais com o
auxílio de um GPS, e vários parâmetros comportamentais relativos às actividades dos mesmos. As
posições registadas foram marcadas, posteriormente numa carta náutica digital da área de estudo,
e utilizadas para determinar áreas preferenciais. Os resultados mostram uma utilização selectiva
da área de estudo, em especial no que diz respeito às diferenças de proporção de tempo
dispendido pelos animais no Canal Norte (4,5%) e no Canal Sul (66,3%). Foi possível, ainda,
diferenciar a utilização da área de estudo em função dos diferentes padrões de actividade. As
velocidades médias de movimentação registadas variaram entre os 2,5 nós em Deslocação e 1,5
nós em Interacções Sociais à Superfície, e esta variável revelou diferenças estatisticamente
significativas relativamente ao padrão de actividade dos golfinhos.
Utilizou-se análise de grupo e a análise de ordenação para a categorização dos padrões de
actividade das amostras obtidas pelos métodos de amostragem quantitativos. Os resultados
obtidos deram maior importância às variáveis: divisão em sub-grupos, proximidade entre os
animais, ocorrência de saltos e padrão geral de submersões.
O conhecimento detalhado das actividades e das preferências dos golfinhos-roazes pelas
diferentes zonas deste habitat cada vez mais intervencionado será fundamental para a definição
de medidas de conservação desta população única.
IV Congresso Nacional de Etologia
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DOMINÂNCIA FEMININA E ESTRATÉGIAS REPRODUTIVAS: SÃO OS CHIMPANZÉS COMUNS (PAN
"COMUNS" OU SÃO COMO OS BONOBOS (PAN PANISCUS)?
TROGLODYTES)
Casanova, C.1,3 & Vicente, L.2,3
1
Unidade Científico-Pedagógica de Antropologia, ISCSP, Universidade Técnica de Lisboa; 2Departamento de
Zoologia e Antropologia, Universidade de Lisboa; 3Estação de Investigação em Primatologia, Universidade
Técnica de Lisboa
Tal como os humanos (Homo sapiens sapiens), os chimpanzés vivem num meio social complexo
onde técnicas de manipulação subtil e estratégias planeadas parecem fulcrais. A “inteligência
estratégica” num modus vivendi complexo parece ser comum a humanos e chimpanzés.
Neste trabalho é estudada a colónia de chimpanzés do Jardim Zoológico de Lisboa (N=12) cuja
estrutura se mantêm similar desde 1992. Durante a recolha de dados a que se refere este estudo
(Julho de 1998 a Agosto de 1999) utilizamos uma combinação de amostragem focal, varrimento,
varrimento alimentar e ad libitum (N=2841 horas).
Um dos principais objectivos deste estudo é a exploração dos mecanismos de expressão e
manutenção de dominância feminina. Em quase 3 mil horas de observação registou-se apenas um
pequeno número de interacções agonísticas entre díades fêmea-fêmea ao contrário do observado
nos machos. Embora seja qualitativamente óbvia, a dominância feminina não parece estar
relacionada com a frequência de comportamentos agonísticos. Em contraste, o comportamento
afiliativo como a alocatagem representou a maioria das interacções sociais. Com base na
comparação das frequências de interacções agonísticas entre díades fêmea-fêmea com outras
fêmeas primatas (Macaca) sugerimos que os constrangimentos da maternidade (gestação e
investimento parental) aliados á elevada filopatria masculina em Pan troglodytes condicionam as
estratégias de dominância.
Sugerimos portanto que as fêmeas chimpanzés, paralelamente ás fêmeas bonobo, utilizam
tácticas afiliativas na obtenção de estatuto de dominância em contexto social. Os resultados do
presente estudo evidenciam assim uma semelhança estratégica importante entre chimpanzés e
bonobos.
DIFERENÇAS SEXUAIS NA RELAÇÃO ENTRE PERÍMETRO CEFÁLICO E SUCESSO ESCOLAR
Correia, H.1, Correia, E.2 & Balseiro, S.1
1
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra; 2Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro
O sucesso escolar é influenciado quer por factores de motivação quer por factores biológicos,
sendo a inteligência um dos determinantes principais. A relação entre o perímetro
cefálico/tamanho do cérebro e inteligência encontra-se agora bem suportada na literatura. O
objectivo deste estudo foi o de analisar a associação entre o perímetro cefálico (PC) e o sucesso
escolar (SE). Utilizou-se uma amostra de 794 alunos (396 raparigas e 398 rapazes) com idades
compreendidas entre os 10 e os 16 anos. Foram apenas seleccionados estudantes de estatuto
socio-económico médio, com peso natal normal (>2500 g), destros e sem problemas de visão,
problemas clínicos no parto ou durante a vida. A análise de regressão múltipla, controlando a
idade e estatura, demonstra que o PC está significativamente correlacionado com o SE (r=0.11,
p<0.05). Contudo, a análise dos dados separada para os sexos revela que a relação do PC com o
SE apenas existe nos rapazes (r=0.18, p<0.001), não sendo significativa no sexo feminino
(r=0.07, p=0.189). Os resultados sugerem que apesar do tamanho relativo do cérebro estar
positivamente associado ao sucesso escolar na população em geral, o mesmo não se verifica nas
alunas com o mesmo estatuto socio-económico.
IV Congresso Nacional de Etologia
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O jogo social num grupo de macacos uivadores machos (Alouatta palliata mexicana)
Garcia, S.
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa
Na ordem dos primatas o jogo social entre machos adultos não é muito comum e talvez por isso o
tema tenha sido negligenciado em Primatologia. A presente comunicação, procura analisar os
padrões de jogo e interpretar a sua elevada ocorrência entre os machos uivadores de manto que
vivem na Ilha de Agaltepec (Catemaco, Veracruz, México). O jogo ocorreu essencialmente em dois
contextos: no estabelecimento e manutenção de laços sociais e como forma de os oponentes se
testarem mutuamente. A investigação focou os 12 machos adultos que compunham um grupo de
52 elementos e recolheu-se dados durante 840 horas através da amostragem animal focal. Este
grupo é único na exibição de comportamentos afiliativos; tanto o jogo de luta como a cerimónia de
saudação apresentaram uma frequência muito mais elevada que o observado até à data noutros
grupos de macacos uivadores.
ECO-FISIOLOGIA DA VISÃO NO BLENÍDEO SALARIA PAVO
Gonçalves, D.1, White, E.2, Cummings, M.3, Partridge, J.2 & Oliveira, R.F.1
1
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; 2Department of Zoology, University of Bristol; 3Section of
Integrative Biology, University of Texas
Numa população portuguesa do blenídeo Salaria pavo ocorrem dois tipos de machos reprodutores:
machos que defendem ninho e que apresentam caracteres sexuais bem desenvolvidos e machos
parasitas, menores que os anteriores, que mimetizam o comportamento e morfologia das fêmeas
para se aproximarem dos ninhos e fertilizarem parte dos ovos. As tarefas que as fêmeas e estes
dois tipos de machos têm que desempenhar durante a época de reprodução diferem. Os machos
com ninho necessitam de discriminar as fêmeas dos machos parasitas, os machos parasitas
necessitam de mimetizar as fêmeas o mais eficazmente possível e as fêmeas deverão sinalizar aos
machos com ninho que são fêmeas e não machos parasitas. Neste trabalho investigou-se se estas
diferenças se traduzem em variações ao nível do sistema visual destes três morfótipos. Medições
fisiológicas revelaram a ocorrência de duas classes de cones sensíveis a comprimentos de onda
médios e longos em todos os morfótipos. No entanto, medições comportamentais sugerem a
ocorrência de uma terceira classe, sensível a comprimentos de onda curtos. Os pigmentos visuais
eram constituidos por uma mistura de rodopsina (derivado da vitamina A1) e de porfiropsina
(derivado da vitamina A2). Os machos parasitas apresentaram uma maior proporção de
porfiropsina na mistura, o que poderá explicar a sua maior sensibilidade aos comprimentos de
onda longos. Estas diferenças entre os morfótipos ao nível do sistema visual parece conferir aos
machos parasitas uma vantagem na detecção das diferenças registadas entre os padrões de
coloração das fêmeas e dos machos parasitas relativamente aos machos com ninho e às fêmeas.
Estes resultados são interpretados com base na etologia e biologia da reprodução da espécie.
IV Congresso Nacional de Etologia
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NAVEGAÇÃO DE JOVENS POMBOS-CORREIOS EM ÁREAS DESCONHECIDAS: ONTOGENIA DAS
ESTRATÉGIAS NAVEGACIONAIS - EXPERIÊNCIAS COM DESVIOS DE PERCURSO
Jorge, P., Vicente, L. & Wiltschko, W.
Centro de Biologia Ambiental, Universidade de Lisboa
Continua a ser um assunto em discussão o uso ou não do “route-reverse”, como estratégia de
orientação para os jovens pombos-correios durante os seus primeiros voos (pro: R. Wiltschko and
Wiltschko, 2000; contra: Wallraff, 2000). Para testar estas hipóteses criámos dois grupos de
pombos, “A” e “B” com idades compreendidas entre as 11-14 semanas. O grupo “A” foi aduzido
num pombal aéreo (miradouro), com ampla visão e foi treinado todos os dias. O grupo “B” foi
aduzido num pombal térreo, encoberto pela vegetação envolvente e os pombos não foram
forçados a voar. Para saber se a informação recolhida durante o trajecto entre o pombal e o local
de solta foi utilizada na orientação destes pombos, comparámos o comportamento do grupo
controlo, o qual foi transportado pela rota mais curta entre o pombal e o local de solta, com o
grupo experimental, o qual foi transportado ao longo de desvios até atingir o local de solta. No
grupo “A” não encontrámos nenhum efeito consistente, apresentando-se todos os pombos bem
orientados em relação ao pombal (F= 0.67; p>0.05). No grupo “B”, quando testámos a orientação
dos grupos no seu conjunto em relação ao pombal, observámos uma diferença significativa no
modo como estes se orientam (F=18.73; p<0.001). Observámos ainda para os indivíduos do
grupo “B” que o desvio registado pelos grupos experimentais em relação aos respectivos grupos
controlo (∆C) se deve à amplitude do desvio efectuado durante o trajecto (r= -0.55; p<0.05).
Finalmente testámos se existia diferenças entre os dois grupos “A” e “B” em relação aos desvios
de trajecto e obtivemos valor significativo (F=6.16; p<0.05). Tais resultados sugerem que os
indivíduos do grupo “A” estabeleceram o seu sistema navegacional mais rapidamente que os
indivíduos do grupo ”B” e que os jovens pombos-correios, antes de adquirirem um certo limiar no
estabelecimento do “mapa” navegacional, usam a informação recolhida durante o trajecto para se
orientarem.
IMPREVISIBILIDADE DO FUTURO E O COMPORTAMENTO DE RISCO EM ADOLESCENTES
Loureiro, E.M. & Mota, P.G.
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
A teoria de histórias vitais oferece um quadro conceptual muito rico para a compreensão da
evolução e características presentes do comportamento animal. As estratégias de histórias vitais
constituem programas ou sistemas de decisão sobre problemas com várias soluções possíveis,
permitindo a adaptabilidade individual a variações ambientais significativas, ou das próprias
condições do organismo em causa. A selecção de estratégias vitais e o desenvolvimento de
normas de reacção fenotípica terão ocorrido no passado evolutivo da nossa espécie, como nas
restantes espécies. Essas regras deverão estar ainda presentes actualmente porque a evolução
biológica processa-se a um ritmo muito lento comparado com a evolução cultural, sendo de
esperar que essas regras continuem a modelar as tomadas de decisão dos indivíduos. Segundo a
teoria de histórias vitais, o comportamento de risco poderá ser mais eficaz (vantajoso) do que um
comportamento mais conservativo quando o futuro é imprevisível.
Este estudo pretende testar algumas conclusões preliminares de Hill et al. (1997) sobre os efeitos
da imprevisibilidade do meio e da esperança de vida dos indivíduos na decisão de adoptar
comportamentos de risco. Os resultados obtidos apontam para uma diferenciação sexual dos
comportamentos de risco (Risk taking). Esta diferença torna-se mais evidente quando se trata da
apreciação de risco (Risk appraisal). Outra diferença importante diz respeito ao ambiente
habitacional. Os jovens que vivem em meio urbano apresentam maior comportamento de risco e
menor capacidade de apreciação das situações de risco. Outra variável importante na
determinação dos comportamentos de risco é o temperamento.
IV Congresso Nacional de Etologia
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PADRÕES DE OCORRÊNCIA E VARIAÇÃO NOS ASSOBIOS EMITIDOS POR GOLFINHOS-ROAZES NA
REGIÃO DO SADO
1
1
2
2
Louro, S. , Santos, M.E. , Couchinho, M. & Brito, C.
1
2
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; Projecto Delfim – Centro Português de Estudo dos
Mamíferos Marinhos
Dos vários tipos de emissões acústicas subaquáticas dos golfinhos-roazes (Tursiops truncatus) que
têm sido captadas, os assobios têm recebido uma atenção especial, tendo sido desenvolvidas
diversas interpretações acerca das suas possíveis funções sociais.
No âmbito de estudos bio-acústicos dos golfinhos-roazes na região do Sado, foram analisadas
gravações digitais deste tipo de sinal, captadas no decurso de 90 saídas realizadas entre 1987 e
2001, durante as quais foram ainda realizadas contagens dos animais, registos fotográficos,
observações de comportamento à superfície e acompanhamento dos grupos no seu habitat.
As representações gráficas dos assobios (sonogramas) permitiram a distinção de perfis de
modulação de frequência. Num total de 1131 assobios considerados adequados para análise,
foram identificadas 26 categorias de perfis de modulação de frequência, tendo alguns perfis
revelado uma notável estabilidade ao longo dos anos.
Obtiveram-se correlações nulas entre o efectivo dos grupos e a produção de assobios, assim como
entre o número de animais nos grupos e a emissão de perfis diferentes. As actividades de
“Alimentação” e “Interacções Sociais à Superfície”, em que os animais mostram um maior nível de
excitação, apresentam um maior nível de produção absoluta de assobios, bem como uma maior
diversidade de perfis. Apesar de a função mais comummente proposta para os assobios ser a de
assinatura acústica individual, os nossos resultados parecem inconclusivos relativamente a essa
questão, sendo compatíveis com outras hipóteses alternativas ou complementares.
SERÁ QUE O SAGUIM-DE-TUFO-BRANCO (CALLITHRIX JACCHUS) POSSUI PERMANÊNCIA DE
OBJECTO? E SE POSSUIR, ATÉ QUE ESTÁDIO DO PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR IRÁ ESSA
CONSTRUÇÃO?
Mendes, S.N1. & Huber, L2.
1
Departamento de Biologia, Universidade de Évora; 2Departamento de Biologia Teórica, Universidade de Viena.
A noção de permanência de objecto em saguins-de-tufo-branco (Callithrix jacchus), e a sua
possível construção ao longo dos seis estádios do período sensório-motor foram investigadas.
Assim, onze sujeitos da espécie (quatro dos quais alojados em Viena, e os restantes sete em
Altenberg) foram submetidos a testes visíveis, em que a recompensa era visivelmente colocada
debaixo de uma das três caixas alvo, e a testes invisíveis. No caso destes últimos, a recompensa
era visivelmente colocada debaixo de uma caixa de transporte que posteriormente era deslocada,
sob o olhar atento do sujeito, para a parte detrás da caixa alvo, onde se realizava a transferência
invisível (ao sujeito) da recompensa. No final da transferência a caixa de transporte era mostrada
vazia ao sujeito e colocada na sua posição inicial. Seis dos onze sujeitos foram primeiro
submetidos a testes visíveis (sequência 1), enquanto que os restantes cinco foram primeiro
submetidos a testes invisíveis (sequência 2). Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre
o desempenho dos sujeitos que foram primeiramente apresentados com a sequência 1 ou com a
sequência 2. Em geral, os sujeitos parecem ter realizado com sucesso os nove testes. Pareceu
existir uma tendência geral para os sujeitos escolherem a caixa alvo colocada no seu lado direito.
Os resultados sugeriram que os saguins-de-tufo-branco (C. jacchus) em estudo atingiram o
estádio 5a da escala de permanência de objecto, ou seja, os sujeitos procuraram pela
recompensa, colocada visivelmente debaixo de uma caixa alvo, no local onde a viram desaparecer
pela última vez. O famoso erro “A-not-B” pareceu já ter sido ultrapassado.
IV Congresso Nacional de Etologia
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FACTORES QUE AFECTAM A ESCOLHA DOS TERRITÓRIOS NO TRIGUEIRÃO (MILIARIA CALANDRA)
EM DUAS ÁREAS DISTINTAS NA REGIÃO DE CASTRO VERDE
Moreira, M.I. & Mota, P.G.
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra
O trigueirão (Miliaria calandra) é uma espécie poligínica, na qual os machos defendem
activamente um território durante toda a época de reprodução. Em aves poligínicas com territórios
de nidificação a escolha das fêmeas pode ser explicada pela variação da qualidade do território
entre os machos porque as fêmeas são muitas vezes deixadas a criar os filhos sozinhas. O
principal objectivo deste estudo foi verificar quais os factores determinantes para a escolha dos
territórios defendidos pelos machos de trigueirão, em duas áreas com diferentes abundâncias
relativas de machos desta espécie. O trabalho de campo decorreu entre Fevereiro e Junho de 2001
e 2002, na região de Castro Verde. No inicio de cada época reprodutiva procedeu-se ao
mapeamento dos territórios, registando a informação em mapas à escala 1/2500. De seguida
caracterizaram-se os territórios relativamente a características da vegetação, localização relativa
na área de estudo e disponibilidade de poleiros. Para cada território seleccionou-se um ponto
aleatório na mesma área de estudo, que não estivesse ocupado por trigueirões, no qual se
mediram as mesmas variáveis. Verifica-se que as áreas diferem essencialmente na disponibilidade
de determinados tipos de poleiros e que os poleiros mais abundantes em cada uma das àreas se
revelam um dos factores mais importante na escolha do território pelos machos desta espécie.
Outro factor que parece ser importante na escolha do território é a percentagem de solo coberto
por vegetação. Este factor pode ser explicado pela preferência que as fêmeas têm em nidificar em
locais com elevada cobertura do solo, tal como foi demontrado em outros trabalhos realizados com
esta espécie.
EVIDÊNCIA EXPERIMENTAL DE QUE O CANTO DE MACHOS AFECTA O COMPORTAMENTO
REPRODUCTIVO DAS FÊMEAS EM CONDIÇÕES NATURAIS NO SERINO (SERINUS SERINUS)"
Mota, P.G. & Depraz, V.
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra
Duas das funções atribuídas ao canto dos machos, em aves, são a atracção de fêmeas para
acasalar e a estimulação reprodutiva. A função de atracção está bem documentada na literatura. A
função estimuladora, embora experimentalmente demonstrada, em laboratório, por Hinde e por
Kroodsma, não foi objecto de estudos detalhados, além de não ter sido confirmada, até hoje, em
condições ambientais. A Milheirinha revelou em estudos anteriores (Mota, 1999. Ethology. 5: 137148137-148) a existência de uma relação entre a actividade de canto dos machos e o
comportamento reprodutivo das fêmeas, particularmente de construção do ninho. Para atestar a
existência de uma relação causal entre as duas variáveis, procedeu-se a uma experiência
submetendo as fêmeas à apresentação de ‘playbacks’ de canções de machos durante a construção
do ninho (5 horas/dia). As fêmeas nestas condições despenderam mais tempo no ninho que as em
situação de controlo. Não se observaram diferenças no comportamento de canto dos machos entre
as duas situações de tratamento. Estes resultados demonstram experimentalmente que as fêmeas
dedicam mais tempo à construção do ninho se estimuladas com o canto de outras aves.
IV Congresso Nacional de Etologia
9
TESTE À PRECISÃO DOS MÉTODOS DE CENSO NO CAMÃO (PORPHYRIO PORPHYRIO): A
IMPORTÂNCIA DO COMPORTAMENTO VOCAL
Pacheco, C. & McGregor, P.K.
Department of Animal Behaviour, University Copenhagen
O Camão Porphyrio porphyrio (Rallidae) é uma espécie ameaçada na Europa, onde apresenta uma
distribuição fragmentada, consequência de um grande declínio verificado no séc. XIX. É
importante que as técnicas de censo e monitorização de populações ameaçadas sejam apropriadas
e precisas. Para espécies como o Camão, que são difíceis de observar devido ao seu
comportamento secretivo e ao habitat onde vivem (zonas húmidas com vegetação emergente
densa), técnicas de censo e monitorização que usem sinais acústicos podem ser a única opção
viável. Para testar a precisão dos métodos de censo para esta espécie que recorrem a playback
investigámos quais os tipos vocalizações e duração do playback que estimulam a maior
responsividade dos indivíduos e dos casais e o efeito da densidade na taxa de respostas. A
dimensão da população experimental, incluíndo o número de aves imaturas e não reprodutoras,
foi determinada com recurso ao método dos mapas e marcação individual. Apresentamos 5 tipos
diferentes de vocalizações para determinar qual era mais efectiva a estimular respostas vocais.
Posteriormente foram testadas diferentes durações da melhor vocalização obtida na experiência
anterior. Os duetos provocaram a maior responsividade em geral e foram os mais eficientes na
detecção de casais nidificantes. Os machos responderam mais a vocalizações de machos e as
fêmeas a vocalizações de fêmeas. Os imaturos raramente responderam a qualquer das
vocalizações. Estes resultados são discutidos, bem como o efeito do número de flutuantes na
população e o efeito da densidade. São apresentadas considerações para o desenvolvimento de
um novo método de censo.
RELAÇÃO MACHO ADULTO - CRIA EM MACACO UIVADOR DE MANTO (ALOUATTA PALLIATA
MEXICANA) NA ILHA AGALTEPEC, VERACRUZ, MÉXICO
Peça, C.
Universidade de Lisboa
O presente trabalho apresenta dados sobre a relação macho adulto - cria de macaco uivador de
manto Alouatta palliata mexicana. O trabalho de campo desenvolveu-se na Ilha de Agaltepec,
Veracruz, México, entre os meses de Janeiro e Junho. Utilizou-se a amostragem ad libitum,
amostragem focal-animal, e varrimentos para recolher dados sobre as interacções sociais e a
proximidade física entre os machos adultos e crias. Foram caracterizadas, quantitativamente e
qualitativamente, as interacções entre os machos adultos e as crias, e discutido em qual das
categorias definidas por Whitten (1987) poderão ser inseridos os cuidados das crias por machos
adultos de A. palliata. Foi ainda analisada a possível influência de diversos factores - como o
estádio de desenvolvimento da cria, a idade dos machos, a presença da progenitora, e o grau de
parentesco entre as crias e os machos adultos - nas relações entre os machos e as crias. Foi
também averiguada a existência de diferenças individuais e a formação de “amizades” nas
relações macho adulto-cria. Os resultados mostram que os machos interagem durante mais tempo
com as crias da sua matrílinea, um resultado que apoia a teoria de selecção por parentesco.
Foram desenvolvidas várias hipóteses para explicar os resultados, tendo em conta as várias
teorias existentes sobre cuidados epimeléticos e as condições ecológicas e sociais específicas do
grupo de macacos uivador de manto da Ilha Agaltepec.
IV Congresso Nacional de Etologia
10
JOGO ENTRE CHIMPANZÉS
(PAN TROGLODYTES) ADULTOS E CRIAS EM CATIVEIRO
1,2
Ramalho, R.
1
Unidade Científico- Pedagógica de Antropologia, ISCSP, Universidade Técnica de Lisboa; 2 Estação de
Investigação em Primatologia, Universidade Técnica de Lisboa
Os jogos social e solitário são padrões comportamentais que podem ser observados nas
sociedades animais humanas e não humanas.
O presente estudo tem como objectivo definir as diversas categorias do jogo em chimpanzés que
implicam diferenças ao nível do género, idade e status social.
Neste trabalho estudámos a colónia de chimpanzés do Jardim Zoológico de Lisboa desde Outubro
de 1998. Após um período de habituação ( N= 627 horas/ 40 horas) seguiram-se a realização de
testes piloto e de testes de fiabilidade do próprio observador. Os dados foram recolhidos utilizando
amostras focais.
Parece existir uma preferência de parceiros sociais durante os padrões comportamentais
estudados. O jogo social é mais frequente que o jogo solitário, e ambos parecem variar consoante
a hora do dia e a temperatura (tal como o observado em habitat natural). Enquanto que o jogo
solitário mais comum foi o jogo com objectos, no jogo social o tipo mais frequente foi o jogo-luta
(“play-fighting”). À semelhança do observado em habitat natural, o jogo variou consoante a idade.
O macho alfa não foi o macho que interagiu mais com as crias, mas sim o macho beta que parece
utilizar as crias como instrumentos para atingir a posição alfa (estratégias políticas deste tipo,
foram também observadas em habitat natural e em outros cativeiros).
GENES FAVORECENDO SOBRE-EXPLORAÇÃO FETAL NÃO SÃO FORA DA LEI
Sousa, J.D.
Aceite pelo Journal of Theoretical Biology (2002). Diz respeito às pressões selectivas em jogo na
competição entre fetos e entre o feto e a mãe por recursos. Mark Ridley escreveu recentemente
que os genes favorecendo extra-exploração de recursos por parte de um feto não seriam
favorecidos por contrariarem o resto do genoma (seriam fora-da-lei, "outlaws"). No meu artigo,
demonstro que esta afirmação é errónea e que os genes favorecendo esta extra-exploração não
prejudicam o resto do genoma do feto, pelo que, ganhando benefícios para o feto no seu todo, são
positivamente seleccionados (embora haja oposição a esta extra-exploração por parte do genoma
da mãe, tal como Ridley reconhece). Por outras palavras, demonstro que os genes codificando
esta extra-exploração não são fora-da-lei. O erro foi reconhecido pelo próprio Ridley (comunicação
pessoal). No meu artigo comparo a acção de genes para este tipo de sobre-exploração com a de
genes "seggregation-distorters" (esses sim, fora-da-lei), descrevendo as fundamentais diferenças.
No longo prazo, a corrida ao armamento entre os genes dos vários fetos e os da mãe pela pelo
controle da transferência de recursos produzirá uma espécie de "empate" entre as partes,
reflectindo uma transferência de recursos que não é a ideal para nenhum dos lados, mas sim um
intermédio entre o ideal para o feto e o ideal para a mãe.
IV Congresso Nacional de Etologia
11
Posters
P1.
VARIABILIDADE NOS SONS DE CORTE EM OREOCHROMIS MOSSAMBICUS: PISTAS
POTENCIAIS PARA AS FÊMEAS
Amorim, M.C.P.1, Fonseca, P.J.2 & Almada, V.C.1
2
1
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; Departamento de Zoologia e Antropologia, Universidade de
Lisboa
Os machos da tilapia, Oreochromis mossambicus, formam leques na altura da reprodução, e
defendem territórios centrados num ninho, para os quais atraem fêmeas para desovar. Um estudo
prévio mostrou que apenas os machos territoriais produzem sons durante a corte (principalmente
durante o comportamento ‘tail wagging’(TW)) e em actividades relacionadas com a manutenção e
sinalização do ninho. A taxa de emissão de sons encontra-se correlacionada com a taxa de corte.
Neste trabalho relacionámos a variação de vários parâmetros acústicos dos sons de corte de O.
mossambicus (duração do som, número de pulsos, duração do pulso, intervalo entre pulsos,
frequência dominante e frequência máxima) com o comportamento associado (‘tilt’, ‘lead’, TW e
‘still in the nest’) e com o peso do macho. Uma análise descriminante mostrou que para a maioria
dos comportamentos não foi possível descriminar os padrões dos sons associados, excepto para o
TW que é acompanhado de sons que apresentam menos variabilidade. Estes podem ser
correctamente classificados em 90% dos casos, com base no intervalo entre pulsos e número de
pulsos. O aumento do número de pulsos assim como a sua taxa de repetição caracteriza a
proximidade da desova noutros teleósteos. A frequência dominante decresceu significativamente
com o tamanho do macho. Sugerimos assim que a taxa de emissão de sons de corte, em
particular daqueles associados ao TW, podem dar pistas sobre a prontidão do macho para a
desova. Por outro lado, a frequência dominante pode informar as fêmeas sobre o tamanho do
macho e consequentemente sobre o seu ‘status’.
P2.
PADRÕES COMPORTAMENTAIS DE LARVAS DE PEIXES COSTEIROS E SUA RELEVÂNCIA PARA
ESTUDOS DE ECOLOGIA E RETENÇÃO LARVAR
Borges, R., Beldade, R. & Gonçalves, E.J.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
Tradicionalmente assume-se que nos peixes costeiros o recrutamento é independente da produção
local, com base na dispersão passiva das larvas no plâncton. No entanto, há um número crescente
de trabalhos sobre comportamento larvar e sobre a distribuição das larvas de peixes que parecem
evidenciar uma retenção activa de larvas no ambiente costeiro. Estudou-se a distribuição vertical
das larvas de peixes junto à costa no Parque Marinho Luiz Saldanha (Parque Natural da Arrábida).
Comparou-se a ocorrência e as dimensões das larvas capturadas sub-superficialmente e junto ao
fundo, de Junho a Agosto de 2001. Observou-se uma distribuição diferencial com a profundidade
nas larvas de algumas famílias. As larvas capturadas próximo da superfície, essencialmente
recém-eclodidas, foram significativamente menores do que as recolhidas no fundo. Os Gobiidae
constituem a família mais abundante e apresentam um padrão semelhante de distribuição vertical,
tendo sido capturadas larvas de todas as classes de tamanho junto ao fundo (CT entre 2.0 e 18.0
mm). Os resultados são discutidos à luz das capacidades comportamentais das larvas e das
consequências para as hipóteses de retenção e dispersão larvar.
IV Congresso Nacional de Etologia
12
P3.
11-CETOTESTOSTERONA
AFECTA
COMPORTAMENTO PARENTAL NO
O
COMPORTAMENTO
TERRITORIAL
MAS
NÃO
O
CABOZ-DAS-POÇAS, PARABLENNIUS PARVICORNIS
Bruintjes, R.¹, Ros, A.¹, Santos, R.S.², Canário, A.³ & Oliveira, R.F.¹
¹ Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; ² Departmento de Oceanografia e pescas, Universidade dos
Açores; ³Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve
Estudos de padrões hormonais em várias classes de vertebrados demonstraram uma correlação
positiva entre androgénios e comportamento territorial e uma correlação negativa entre
androgénios e comportamento parental. De acordo com a hipótese do desafio de J. Wingfield foi
postulado um "trade-off" regulado por androgénios entre estes dois comportamentos. Estudos
realizados em aves em que os níveis de testosterona são elevados experimentalmente estão de
acordo com esta função dos androgénios. Apesar dos machos de Parablennius parvicornis
guardarem ninhos através de comportamentos agressivos, o que sugere altos níveis de 11Cetotestosterona (11KT), também guardam e cuidam de ovos no mesmo período. Realizámos um
estudo em poças intertidais no Faial para testar o efeito da hormona 11KT nos comportamentos
territorial e parental em machos parentais. Para isso, implantámos tubos silásticos com 11KT em
19 machos (grupo experimental) e tubos silásticos sem 11KT em 16 machos (grupo controlo).
Efectuámos observações vocais de 20 minutes durante três semanas após o tratamento. Os
indivíduos foram marcados individualmente utilizando missangas de cores diferentes ligadas ao
músculo dorsal dos peixes. Verificámos que a 11KT aumentou a frequência dos comportamentos
agressivos mas, ao contrário do que esperávamos , não afectou o comportamento parental dos
machos. Isto significa que os mecanismos hormonais causais de comportamento são mais flexíveis
do que postulado.
P4.
ORGANIZAÇÃO SOCIAL, CUIDADOS PARENTAIS E VOCALIZAÇÕES NOS CANÍDEOS. REFLEXO
DA FILOGENIA OU PLASTICIDADE COMPORTAMENTAL?
Cândido, A T. & Ribeiro, S.
Grupo Lobo, Departamento de Zoologia e Antropologia, Faculdade de Ciências de Lisboa
O comportamento é a componente funcional da mudança evolutiva, sendo de esperar que do seu
estudo comparativo em espécies actuais resulte uma ideia bastante coerente da história evolutiva
de um grupo. Com efeito, espécies aparentadas apresentam frequentemente semelhanças
comportamentais muito fiáveis como indicadores de afinidade filética. Porém, várias dificuldades
se colocam porque o comportamento não fossiliza e padrões comportamentais semelhantes
podem surgir de forma independente ou reflectir a variabilidade individual e respostas a alterações
ambientais. A filogenia da família Canidae tem desde sempre suscitado interesse, tendo sido
utilizadas diferentes abordagens (morfológica, paleontológica e molecular) para esclarecer as
relações entre as 34 espécies que a constituem. Contudo, o estudo comparativo do
comportamento é recorrentemente esquecido. Pretendendo-se avaliar a viabilidade da utilização
de características comportamentais, como a comunicação, os cuidados parentais e a organização
social, na definição da filogenia dos canídeos, foi efectuada uma revisão bibliográfica para os
diferentes taxa. A informação recolhida para os caracteres comportamentais considerados foi
depois comparada e sobreposta a uma classificação independente baseada em dados moleculares.
Ao contrário doutros grupos animais, a variação observada na organização social e nos cuidados
parentais dos canídeos não traduz a filogenia e parece dever-se à grande facilidade de adaptação
a alterações ambientais. Apenas alguns padrões comportamentais, relacionados com a
comunicação visual (repertórios de exibições corporais e expressões faciais) e o número de
vocalizações partilhadas pelas várias espécies, são congruentes com a filogenia molecular. Estudos
detalhados, em diferentes condições ecológicas, poderão fornecer pistas importantes para
esclarecer as relações filogenéticas na família Canidae.
IV Congresso Nacional de Etologia
13
P5.
RELAÇÃO ENTRE A TAXA METABÓLICA E O COMPORTAMENTO AGONÍSTICO DE BETTA
SPLENDENS
Castro, N.1, Ros, A.1, Becker, K.2 & Oliveira, R.F.1
1
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; 2Department of Aquaculture Systems and Animal Nutrition in
the Tropics and Subtropics, University of Hohenheim
Os machos de Betta splendens exibem um comportamento agonístico vigoroso quando
confrontados com um oponente ou a sua imagem reflectida num espelho. Este comportamento
constiste na erecção do opérculo e da barbatana dorsal, ondular da barbatana caudal e ataques
agressivos. Machos que observam um duelo entre conspecíficos através de um espelho
unidireccional, mas não podem participar no confronto, apresentam níveis de androgénios
elevados. Espera-se uma relação positiva entre comportamento agonístico, androgénios e a taxa
metabólica. Os animais foram colocados numa câmara experimental com uma entrada de água
saturada em oxigénio e uma saída de água ligada a um eléctrodo. Como os Betta necessitam de
“ingerir” ar à superfície, foi necessário deixar uma camada de ar na câmara. A taxa de consumo
foi determinada pela diferença entre a concentração de oxigénio na água de entrada (saturada em
O2) e a de saída multiplicando pela corrente de água. São discutidos os resultados das
experiências com oponentes, espelhos e espelhos unidireccionais. O comportamento agonístico foi
bastante elevado nas experiências com espelhos e com oponentes. A taxa metabólica foi elevada
no dia da apresentação do estímulo, quando se verificou uma mudança no ambiente, e mostrou
uma elevada variação entre indivíduos. Verificou-se uma correlação positiva entre a taxa
metabólica e o comportamento. Os dados sugerem uma grande variação individual na resposta a
um desafio agressivo.
P6.
EFEITOS DA PREDAÇÃO DE PROCAMBARUS CLARKII EM CHIRONOMUS RIPARIUS
Correia, A.M.1, Bandeira, N.1, Anastácio, P.M.2
1
Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa; 2Departamento de Ecologia, Universidade de
Évora
O Lagostim-Vermelho-do-Luisiana, Procambarus clarkii (Girard, 1852), é uma espécie introduzida
em Portugal, sendo considerada uma praga nos arrozais, principalmente devido ao seu
comportamento escavador. No entanto, esta espécie pode também influenciar as biocenoses dos
arrozais através da predação de macroinvertebrados aquáticos. Este estudo teve como objectivo
avaliar se a presença de P. clarkii tem algum aspecto positivo no controlo da população de
Chironomus riparius, que também é considerada uma praga dos arrozais. Será que P. clarkii
consome preferencialmente C. riparius quando em presença de presas alternativas? Os efeitos da
predação de P. clarkii sobre três espécies de macroinvertebrados aquáticos foram estudados em
laboratório. O desenho experimental consistiu numa análise factorial 2x2x3x2. Os factores a
serem analisados foram: a) presença/ ausência do predador; b) tamanho de predador (adulto CC>
40,5mm e juvenil CC≤ 25mm); c) 3 presas (Corbicula fluminea, Physa acuta and C. riparius); d)
presas isoladas/ presas juntas. O consumo de C. riparius foi significativamente maior que do que o
das outras duas presas para ambos os tamanhos de lagostim. P. acuta foi consumida por ambos
os tamanhos de P. clarkii, embora os juvenis tenham tido uma maior eficácia predatória. Não
foram encontradas diferenças significativas no consumo geral das presas quando estas foram
apresentadas isoladas ou juntas. Não houve consumo de C. fluminea. Estes resultados indicam
que a presença de P.clarkii, em arrozais, pode ter um aspecto positivo no controlo da população
de C. riparius.
IV Congresso Nacional de Etologia
14
P7.
O ESTATUTO SOCIAL MASCULINO INFLUENCIA O CRITÉRIO FEMININO DE ATRACTIVIDADE
FÍSICA
Correia, H.1, Correia, E.2 & Balseiro, S.1
1
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra; 2Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro
Actualmente, um dos melhores jogadores de futebol do mundo é português sendo considerado o
jogador mais cotado do seu país. É também assumido que as mulheres portuguesas, geralmente,
admiram-no e gostam especialmente das suas pernas. Neste estudo examinamos se a preferência
feminina pelas suas pernas é influenciada pelo estatuto social do jogador. Usámos imagens
coloridas de uma revista de futebol das pernas deste jogador e de outro jogador desconhecido.
Solicitámos a escolha das pernas mais atractivas a alunas da Universidade de Coimbra (n=240):
(1) sem qualquer referência aos nomes dos jogadores; (2) com os nomes correctos dos
jogadores; (3) com os nomes dos jogadores trocados. Os resultados sugerem que o estatuto
social masculino, um critério de selecção sexual feminino importante em todas as populações
estudadas, influencia o julgamento feminino sobre a atractividade física masculina.
P8.
SUPERIOR HEREDITABILIDADE DA INTELIGÊNCIA NAS MULHERES
Correia, H.1, Correia, E.2 & Balseiro, S.1
1
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra; 2Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro
A hereditabilidade da inteligência, porção da variabilidade da inteligência numa população que é
atribuída ao efeito dos genes, tem sido investigada ao longo de quase um século e no entanto a
possível existência de diferenças sexuais é ainda uma questão controversa. Existem vários estudos
baseados em pequenas amostras registando correlações entre gémeos do mesmo sexo, mas a
maioria dos estudos não encontraram diferenças sexuais na hereditabilidade da inteligência. A
ausência de qualquer efeito sexual demonstrável é consistente com a teoria poligenética da
herança da inteligência a qual rejeita a existência de uma ligação ao sexo. Neste estudo, usámos
as médias das correlações pesadas (rwa) de 3576 pares de gémeos: 869 pares de gémeos
monozigóticos femininos (rwa=0.86); 1013 pares de gémeos monozigóticos masculinos
(rwa=0.86); 730 pares de gémeos dizigóticos femininos (rwa=0.61) e 964 pares de gémeos
dizigóticos masculinos (rwa=0.65) publicadas por Bouchard & McGue (1981). Os resultados
indicam uma superioridade significativa da heriditabilidade da inteligência no sexo feminino (50%
no sexo feminino e 42% no sexo masculino, P<0.0001, two-sided t-test) o que contradiz a
hipótese prevalecente de que existe uma ausência de qualquer efeito sexual demonstrável. A
maior contribuição dos factores ambientais na inteligência do sexo masculino pode explicar a
distribuição mais achatada da inteligência neste sexo. Estes resultados levantam também a
hipótese do impacto de alguns loci na inteligência diferir nos dois sexos.
P9.
ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE A EXISTÊNCIA DE COMPORTAMENTO TERRITORIAL NO
SERINO (SERINUS SERINUS)
Costa, H. & Mota, P.G.
Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra
A maioria das espécies de aves defende territórios. O comportamento territorial serve para manter
outros machos afastados dos recursos e das fêmeas, garantindo o acesso mais ou menos
exclusivo aos recursos contidos no território. É possível que os territórios também funcionem como
uma forma de guarda do par, para reduzir os efeitos da competição de esperma. Certas espécies
não parecem defender territórios, embora possam apresentar comportamentos agressivos
particularmente durante a época de reprodução, como sucede no Serino.
Procurámos averiguar se os comportamentos agressivos entre machos, durante a reprodução
correspondiam a defesa territorial ou a uma forma de guarda do par. Para tal simulámos uma
intrusão, recorrendo a um modelo embalsamado e a ‘playbacks’ de vocalizações, sobre dois
grupos experimentais. Os resultados mostram que os machos não são territoriais e que o seu
comportamento se explica de forma mais adequada como resultado de guarda do par.
IV Congresso Nacional de Etologia
15
P10. COMPORTAMENTO AGONÍSTICO E CONTROLO DE ABRIGOS EM DUAS ESPÉCIES DE PEIXES
INTERTIDAIS, LIPOPHRYS PHOLIS E CORYPHOBLENNIUS GALERITA (PISCES: BLENNIIDAE)
Faria, C.1,2 & Almada, V.C.1
1
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; 2Unidade de Investigação e Formação Avançada em Ecologia
Aplicada, Instituto Piaget
A inter-relação entre a ordem de dominância e o acesso aos abrigos, e o efeito do tamanho do
grupo e da disponibilidade de abrigos, foi investigada em grupos mantidos em aquário de juvenis
da espécie Lipophrys pholis e de adultos da espécie Coryphoblennius galerita. A ordem de
dominância apresentou-se fortemente correlacionada com o tamanho nos juvenis de L. pholis,
sendo dominante o indivíduo de maiores dimensões, e com o sexo e tamanho nos adultos de C.
galerita, sendo os machos dominantes sobre as fêmeas para tamanhos semelhantes. Em ambas as
espécies, a posição na ordem de dominância demonstrou ser um bom preditor do acesso aos
abrigos. A taxa de agressões por peixe por unidade de tempo diminuiu com o aumento do
tamanho do grupo no caso de L. pholis, mas não no caso de C. galerita. C. galerita apresentou
uma maior taxa de interacções agonísticas e uma maior proporção de comportamentos de grande
agressividade do que L. pholis. É sugerido que uma das funções das interacções agonísticas nestas
espécies seja o controlo de um conjunto de abrigos, presentes na rede de percursos utilizados por
cada indivíduo dentro da sua área vital, minimizando assim o tempo requerido para se
esconderem em caso de perigo.
P11. ALGUNS ASPECTOS DO COMPORTAMENTO LOCOMOTOR DA FASE LARVAR DA LAMPREIA DE
MAR (PETROMYZON MARINUS LINNAEUS, 1758)
Fonseca, D. & Almada, V.
As larvas das lampreias (amocetes) são vertebrados practicamente cegos, que conservam a
condição primitiva da ausência de barbatanas pares e de orgãos de flutuação e colonizam
substratos. Neste estudo procurou-se investigar o modo como estes vertebrados controlam a
orientação durante a locomoção e a importância das superfícies não horizontais do substrato no
seu comportamento. Através de observações realizadas em cativeiro e analize de registos vídeo,
Constatou-se que: 1 os animais parecem não conseguir manter uma natação horizontal, caindo
mesmo no fundo se pararem de nadar, realizando sucesssões de movimentos ascendentes e
descendentes como forma de se deslocarem na horizontal; 2 em experiências em que se
comparou o tempo gasto para se enterrarem em substratos planos e inclinados a cerca de 45 º,
verifica-se que os animais se enterram mais rapidamente e mais eficazmente nos substratos
inclinados do que nos horizontais; 3 em observações em que se comparou a localização dos
animais em relação as paredes do aquário, verificou-se que estes permanecem a menos de 2,5 cm
das paredes e cantos, muito significativamente mais do que seria de se esperar ao acaso, esta
conclusão é igualmente válida para os períodos de imobilizações e natação. Sugere-se que os
animais exibem um comportamento tigmotatico procuramdo manter-se activamente em contacto
com estruturas não horizontais e provavelmente podem usar o contacto da cabeça e do tronco
com as irregulardades do substrato durante a natação para se horientarem em relação aos
acidentes topográficos do meio.
IV Congresso Nacional de Etologia
16
P12. ASSOCIAÇÃO E AGRESSIVIDADE EM ADOLESCENTES EM MEIO ESCOLAR
Fontoura, P., Correia, F. & Rocha, S.
Secção de Biologia do Comportamento e Cognição, Universidade do Porto
Nas sociedades humanas os comportamentos cooperativos e competitivos que se manifestam na
adolescência assumem uma importância redobrada já que é nessa fase que se lida e negoceia a
inserção numa comunidade mais ampla através da integração num grupo definido pelos próprios
adolescentes. É sabido que o comportamento social dos adolescentes é fortemente modelado, não
só pelas suas características individuais, mas também pelo meio ambiente em que vivem e pelas
redes sociais em que se encontram inseridos (família, escola, etc.). Neste contexto é fácil perceber
que a escola, enquanto espaço privilegiado para a interacção entre pares de adolescentes e como
instituição educativa básica, deve assumir um papel activo na promoção do desenvolvimento
social dos seus alunos. Assim, um conhecimento mais aprofundado do comportamento social dos
alunos, além de permitir a detecção de comportamentos desviantes, pode influenciar o modo
como os professores se relacionam com eles e como organizam as tarefas educativas.
Foi precisamente com este objectivo que se desenrolou este estudo. Numa escola do ensino básico
e secundário foram seleccionadas duas turmas nas quais se estudou o grau de associação entre os
indivíduos e os comportamentos agressivos: Uma do 7º ano de escolaridade com idades
compreendidas entre os 12 e 14 anos (× = 12,2) e outra do 11º ano de escolaridade com idades
compreendidas entre os 16 e os 19 anos (× = 16,3). Para calcular o grau de associação
efectuaram-se 54 sessões de observação durante o período do recreio. Para o efeito utilizou-se o
método de amostragem instantânea, tendo-se registado o número de vezes que um indivíduo
estava presente e com que indivíduo se associava (díades). Com os resultados obtidos calculou-se
índice de afinidade de Lazo. Os resultados finais foram representados através de dendrogramas,
utilizando o método UPGMA. Os comportamentos agressivos foram estudados no contexto da sala
de aula. Após uma amostragem preliminar “ad libitum” foram definidas 8 categorias
comportamentais, três englobadas naquilo a que chamamos comportamentos violentos e cinco
que consideramos comportamentos agressivos de baixa intensidade. Ao longo de 20 sessões de
observação de 50 minutos cada, registou-se a frequência e o sexo dos indivíduos que exibiram
aqueles comportamentos.
No que diz respeito ao grau de associação, os resultados mostraram que no 7º ano de
escolaridade os alunos se diferenciavam em dois grandes grupos unissexuais. No 11º ano
verificou-se a formação de pequenos grupos, bastante mais coesos, a maioria dos quais
heterossexuais.
Quanto à agressividade, foram observados 389 comportamentos agressivos (4 por cada 10
minutos), dos quais 119 violentos (1 em cada 10 minutos). Os comportamentos agressivos,
sobretudo os mais violentos, foram significativamente mais frequentes na turma do 7º ano do que
na do 11º ano. Também os indivíduos do sexo masculino mostraram maior agressividade.
P13. SELECÇÃO SEXUAL: RELAÇÃO ENTRE A FASE DO CICLO MENSTRUAL DA MULHER E
PREFERÊNCIA POR CARACTERÍSTIVAS DE PILOSIDADE E MUSCULATURA DO HOMEM
Fontoura, P. & Sousa, C.
Secção de Biologia do Comportamento e Cognição, Universidade do Porto
Neste trabalho investigou-se a importância das características de pilosidade e musculatura do
homem na preferência sexual das mulheres. Cento e três mulheres com idades compreendidas
entre 20 e 40 anos foram inquiridas, através de entrevistas estruturadas, sobre as suas
preferências sexuais relativamente a alguns aspectos de pilosidade do homem, tais como a
abundância, a presença no rosto, peito e antebraço, aspecto e comprimento do cabelo e presença
de ornamentos. Também o desenvolvimento da massa muscular do homem idealizado foi tida em
conta. Paralelamente, para cada uma delas, foi registada a fase do ciclo menstrual em que se
encontravam no momento da entrevista.
De uma forma geral, a pilosidade e o desenvolvimento da massa muscular constituíram factores
relevantes na preferência sexual das mulheres. Com efeito, os homens com pilosidade evidente e
bem desenvolvidos muscularmente foram considerados mais atractivos por 90% das inquiridas. A
relação entre a fase do ciclo menstrual e a preferência por estas características não foi clara.
Contudo, apesar de não se terem encontrado diferenças significativas, houve uma tendência para
aqueles factores de selecção sexual terem sido considerados mais importantes por parte das
mulheres em fase fértil (mais 6%).
IV Congresso Nacional de Etologia
17
P14. DETECÇÃO OLFACTIVA E IDENTIFICAÇÃO QUÍMICA DE FEROMONAS DA REPRODUÇÃO NA
TILÁPIA, OREOCHROMIS MOSSAMBICUS
Frade, P.1, Hubbard, P.1, Barata, E.N.1,2 & Canário, A.V.M.1
1
Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve; 2Departamento de Biologia, Universidade de Évora
Existe crescente evidência sobre a importância de feromonas na reprodução de peixes teleósteos.
A sua natureza química e função deverá reflectir a enorme diversidade filogenética e de
estratégias d reprodução neste grupo. No entanto, poucas espécies têm sido estudadas em
profundidade, sendo o principal obstáculo a falta de conhecimento sobre a identidade química dos
compostos activos.
Os machos de Oreochromis mossambicus defendem territórios de acasalamento no seio de
agregados de vários machos ("leks") durante a época de reprodução. As fêmeas sexualmente
activas penetram nos “leks”, escolhendo um macho para acasalar. O registo de electroolfactogramas (EOGs) em fêmeas mostrou que, a água onde permaneceram machos territoriais
(“água de machos”), os seus fluídos corporais (urina, fezes e bílis), assim como substâncias
extraídas por fase sólida, são potentes estímulos olfactivos. A fracção de compostos conjugados da
“água de machos” e da urina contém toda a actividade biológica e a remoção de grupos sulfato
desta fracção provoca uma redução de mais de 50% na sua potência olfactiva. Verificou-se ainda
que, a urina de machos territoriais tem maior potência olfactiva do que a de machos não
territoriais, para diluições superiores a 1:104. Cromatografia de fase fina em ligação com o registo
de EOGs mostrou que, os compostos na urina dos machos com capacidade estimulatória são
extremamente polares. Estes resultados sugerem a existência de feromonas que transmitem às
fêmeas informação sobre a condição reprodutiva dos machos. O(s) composto(s) activo(s) é/são
polares, possivelmente conjugado(s) com grupos sulfato.
P15. RELAÇÕES SOCIAIS DE UM GRUPO DE CAVALOS DO SORRAIA (EQUUS CABALLUS LINNAEUS,
1758) NA COUDELARIA DE ALTER
Heitor, F., Oom, M.M. & Vicente, L.
Departamento de Zoologia e Antropologia, Universidade de Lisboa
O cavalo do Sorraia (Equus caballus Linnaeus, 1758) é uma raça equina autóctone com
características primitivas, presentemente ameaçada em resultado de um efectivo populacional
reduzido e elevados níveis de consanguinidade. Estudou-se os factores que afectam as relações
sociais estabelecidas num grupo constituído por um garanhão e dez éguas, mantido em pastagens
na Coudelaria de Alter. As relações sociais foram avaliadas com base na distribuição de
interacções sociais e relações de proximidade entre indivíduos.
As relações de dominância entre fêmeas encontravam-se claramente definidas e mantiveram-se
estáveis ao longo do período de estudo, constituindo uma hierarquia de dominância
aproximadamente linear, baseada principalmente na idade. Fêmeas de posição mais elevada na
hierarquia recebiam frequências mais baixas de interacções agonísticas, mas as suas ameaças não
eram menos frequentemente ignoradas e não tinham maior capacidade de suplantar
subordinados. A posição na hierarquia de dominância constituía um factor mais importante do que
a idade ou parentesco próximo na estruturação das relações sociais. As interacções agonísticas
desempenhavam a função principal de regulação do espaço e distâncias individuais.
Ocasionalmente, este tipo de interacções era dirigido a indivíduos envolvidos em comportamentos
sexuais, interrompendo-os.
O presente estudo fornecerá uma base de informação adicional para o estabelecimento de
medidas de conservação desta raça.
IV Congresso Nacional de Etologia
18
P16. DIFERENÇAS SEXUAIS NO COMPORTAMENTO DOS SAGUINS-IMPERADOR (SAGUINUS
IMPERATOR SUBGRISESCENS) EM CATIVEIRO
Hermano-Silva, C.1,2 & Lee, P.C.1
1
Department of Biological Anthropology, University of Cambridge; 2Estação de Investigação em Primatologia,
Universidade Técnica de Lisboa
Ainda pouco se conhece sobre o comportamento dos primatas da família Callitrichidae,
nomeadamente sobre as diferenças sexuais no seu comportamento. Foi realizado um estudo sobre
o comportamento social de um casal de saguins-imperador de barba (Saguinus imperator
subgrisescens), no Jardim Zoológico de Lisboa, durante 18 meses. Das 487 horas despendidas na
observação deste animais, 300 horas foram despendidas na recolha de dados, utilizando amostras
focais de 10 minutos. O macho cata significativamente mais a fêmea do que o inverso. Tal
intensidade da alocatagem por parte do macho parece ser uma estratégia deste para fortalecer os
laços com a fêmea e assegurar o acesso sexual, embora também pareça haver escolha feminina
(female choice). O macho também despende significativamente mais tempo em comportamentos
anti-predatórios do que a fêmea, enquanto que esta forrageia (forage) e come significativamente
mais do que o macho. A maior vigilância por parte dos calitricídeos machos parece aliviar as
fêmeas desse peso, possibilitando-lhes dedicarem-se mais ao forrageio/alimentação. Tal parece
ser importante para as fêmeas reprodutoras, dado que têm grandes necessidades energéticas
devido à gravidez, aleitamento e para cuidar das crias, que são relativamente pesadas. Na maioria
das vezes a fêmea estudada não teve de ser “agressiva” para ter acesso prioritário à comida. Os
saguins macho parecem dar prioridade às fêmeas no acesso à comida não só para ajudarem à
sobrevivência das crias, como também para aumentarem as suas oportunidades para acasalar. As
diferenças sexuais na visão dos calitricídeos, recentemente descobertas, poderão explicar as
diferenças sexuais no forrageio.
P17. TÁCTICAS ALTERNATIVAS DE REPRODUÇÃO EM MACHOS DE CARANGUEJO-VIOLINISTA?
Jordão, J.M. & Oliveira, R.F.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
A fase de "aggressive wandering" dos caranguejos-violinistas machos foi primordialmente descrita
como uma deslocação aparentemente aleatória através da população, pontuada por ameaças e
combates direccionados a outros machos, e tentativas de acasalamento mal sucedidas. Alguns
autores sugeriram que esta fase poderia estar relacionada com uma pinça hipertrofiada pequena
ou em regeneração, dada a importância do tamanho deste caracter no sucesso reprodutivo e
manutenção de território. Apesar das especulações, poucos estudos procuraram caracterizar esta
estratégia e averiguar quais os factores que a determinam, ou ritmos que a caracterizam. Foram
seguidos durante 30 min vários machos "vadios" da espécie Uca tangeri, com quelípedes de
diferentes tamanhos de modo a caracterizar esta fase comportamental. Durante um ciclo lunar
foram apanhados aleatoriamente, ao longo de 4 transectos, 80 machos "vadios" e 80 machos
territoriais de modo a comparar o seu tamanho relativo. Foi também observado, ao longo de um
ciclo lunar, a abundância de machos "vadios" por observação de 5 lotes aleatórios de 20 m2 por
um período de 20 min cada, em cada fase da lunar. Verificou-se que os machos "vadios" são, na
verdade, maiores do que a média dos machos territoriais e que não existem diferenças na
frequência deste comportamento ao longo de um ciclo lunar. Estes resultados sugerem que os
machos maiores podem ter uma menor resistência a iniciar a procura de outros territórios dada a
sua vantagem competitiva em interacções agonísticas ou que, ainda que a iniciativa de procura
seja a mesma, necessitam de fazer uma maior amostragem (i.e. vaguearem por mais tempo)
antes de se estabelecerem pelo facto de estarem restringidos a buracos adequados ao seu
tamanho.
IV Congresso Nacional de Etologia
19
P18. INFLUÊNCIA DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NA RESPOSTA COMPORTAMENTAL DO RATO
(RATTUS NORVEGICUS) AO STRESS
Magalhães, A.1,3, Tavares, M.A. 1,2 & de Sousa, L. 1,3
1
IBMC; 2FMUP; 3ICBAS-UP
O teste de natação forçada (Porsolt’s Swim Test) é usado em laboratório para avaliar o efeito do
stress nos animais. Este trabalho tem como objectivo determinar se as condições de manutenção
dos animais em laboratório influenciam a resposta do rato a uma situação de stress (natação
forçada). As ninhadas foram mantidas em dois ambientes diferentes desde o dia pós natal (DPN) 1
até ao DPN 27: ambiente enriquecido (AE)/ambiente standard (AS). Os animais foram expostos ao
teste de natação forçada durante 5 minutos, em dois dias consecutivos (DPN26 e DPN27). Os
resultados revelaram que os ratos mantidos em condições de enriquecimento têm uma frequência
de natação rápida e mergulho mais elevada na primeira sessão do que os animais mantidos em
AS. Na segunda sessão, os animais mantidos em AE, aumentam a natação lenta e diminuem a
frequência das braçadas comparativamente aos ratos mantidos em AS. O comportamento de
imobilidade não foi afectado pelas condições ambientais. A taxa de defecação é menor no grupo
mantido no enriquecimento. Estes resultados sugerem que a exposição ao AE altera a resposta
dos ratos ao stress aumentando os comportamentos de procura de uma saída da situação de
stress e diminuindo os comportamentos associados a resposta mais emotiva.
P19. EFEITOS DO AMBIENTE ENRIQUECIDO DURANTE O DESENVOLVIMENTO: COMPORTAMENTO
DO RATO (RATTUS NORVEGICUS) NO “OPENFIELD”
Magalhães, A.1,3, Tavares, M.A. 1,2 & de Sousa, L. 1,3
1
IBMC; 2FMUP; 3ICBAS-UP
Este trabalho teve como objectivo avaliar os efeitos de um ambiente enriquecido (AE) no
comportamento de ratos em fases específicas do desenvolvimento pós-natal quando expostos a
uma tarefa emotiva/ exploratória (teste “openfield”). Cada ninhada de ratos (4 machos e 4
fêmeas) foi mantida num de dois ambientes diferentes desde o dia pós natal (DPN) 1 até ao DPN
30: ambiente enriquecido/ambiente standard. Os animais foram testados no openfield nos DPN14,
DPN21 e DPN28 e durante 3 dias consecutivos. Os comportamentos registados foram: actividade
periférica, número de idas ao centro, número de levantamentos e actividade global. A análise
comportamental revelou que os ratos mantidos em condições de enriquecimento são mais activos
e exploram mais as 3 dimensões do “openfield” do que os animais mantidos em ambiente
standard (AS). Ao longo do desenvolvimento verifica-se que os animais mantidos em AE vão
diminuindo a frequência de deambulação assim como o número de vezes que se levantam
enquanto que os animais em AS apresentam padrão de comportamento inverso. O número de idas
ao centro do openfield nos animais mantidos em AE é maior aos 14 e 21 dias de idade diminuindo
para valores equivalentes aos dos animais mantidos em AS aos 27 dias. Estes resultados indicam
que o AE afecta a actividade exploratória através do seu efeito na habituação assim como na
reacção emocional à novidade.
IV Congresso Nacional de Etologia
20
P20. CARACTERIZAÇÃO DOS CUIDADOS PARENTAIS DE MACHOS E FÊMEAS EM NINHOS BIPARENTAIS DE PASSER HISPANIOLENSIS
Marques, P.A.M. & Vicente, L.M.
Centro de Biologia Ambiental, Universidade de Lisboa
Com este trabalho descrevemos o esforço parental de machos e fêmeas em ninhos bi-parentais de
Pardal-espanhol (Passer hispaniolensis), nomeadamente os comportamentos de alimentação e de
“brooding” das crias. Analisamos ainda a variação inter-anual e intra-anual dos cuidados
parentais.
Os resultados obtidos para os parâmetros de alimentação das crias evidenciam a ausência de
diferenças entre sexos, contribuindo os machos, em média, com aproximadamente 50% do
esforço alimentar. O contributo de cada sexo para o total do esforço alimentar varia bastante
entre ninhos. Em relação à actividade de “brooding” das crias, detectaram-se diferenças
significativas entre o comportamento dos machos e das fêmeas; as fêmeas realizaram mais visitas
de “brooding” e passaram mais tempo no ninho. Relativamente à análise inter-anual não foram
encontradas diferenças significativas no que diz respeito ao esforço alimentar, para ambos os
sexos. O comportamento de “brooding” das fêmeas não variou entre os anos estudados,
apresentando contudo uma diminuição ao longo da época reprodutora. Para os parâmetros de
“brooding” os machos apresentaram tanto variações inter-anuais como entre colónias. Neste
sentido, os resultados obtidos permitem afirmar que em ninhos bi-parentais o esforço de
alimentação das crias não apresenta diferenças relacionadas com o sexo. No que respeita ao
comportamento de “brooding” é às fêmeas que cabe a maior parte do esforço, apresentando os
machos um comportamento irregular, o qual poderá ter um caracter compensatório do
comportamento das fêmeas.
P21. ASPECTOS
DA
BIOLOGIA
(PISCES: SYNGNATHIDAE)
REPRODUTIVA
DE
NEROPHIS
LUMBRICIFORMIS
Monteiro, N.M. 1,2, Vieira, M.N. 1,2 & Almada, V.C.3
1
Departamento de Zoologia e Antropologia, Universidade do Porto; 2CIIMAR – Centro de Investigação Marinha
e Ambiental; 3Unidade de Investigação em Eco-etologia, ISPA
Nerophis lumbriciformis (Syngnathidae) é um singnatídeo de pequenas dimensões (até 14cm),
presente ao longo do nosso intertidal rochoso, sendo encontrado entre feixes de algas ou debaixo
de pedras roladas. Apresentando um claro dimorfismo sexual, é possível reconhecer as fêmeas, de
maiores dimensões, por apresentarem colorações mais exuberantes e um desenvolvimento (em
forma de quilha) das placas ósseas que recobrem o corpo, parecendo, consequentemente mais
largas. Por seu lado, os machos apresentam um achatamento da zona ventral, formando uma
placa incubadora, onde serão depositados os ovos. O ritual de acasalamento desta espécie,
basicamente similar ao dos restantes representantes da família, apresenta, no entanto, caracteres
particulares, destacando-se a ausência de movimentações na coluna de água, facto este que
poderá ser interpretado como uma adaptação às difíceis condições físicas existentes no ambiente
intertidal. Basicamente, o ritual de acasalamento pode ser dividido em três fases distintas: Ritual
inicial (em que as fêmeas assumem um papel activo, cortejando os machos); Deposição dos ovos
(período temporalmente curto em que se dá a transferência dos ovos); Abraço (período final em
que o macho se enrola ao longo do corpo da fêmea). Um facto relevante prende-se com o
desconhecimento do modo exacto de fertilização dos ovos. Contrariamente ao afirmado por Fielder
(1954), que descreve a possibilidade de uma nuvem de esperma, nunca foi possível verificar a
existência deste tipo de fenómeno em cativeiro. Para além disso, a dissecção de vários machos
pertencentes não só ao género Nerophis permitiu verificar a existência de testículos incapazes de
tão elevada produção de espermatozóides. Tendo em conta a posição desta espécie na filogenia da
família, este tipo de questões em volta do modo de fertilização rodeiam-se de crescente
relevância, que poderão ter repercussões importantes no modo como entendemos a evolução da
morfologia particular dos machos da famíla Syngnathidae.
IV Congresso Nacional de Etologia
21
P22. ASPECTOS DA ECOLOGIA DE NEROPHIS LUMBRICIFORMIS (PISCES; SYNGNATHIDAE).
NOVOS DADOS OBTIDOS ATRAVÉS DE UMA TÉCNICA DE CAPTURA/RECAPTURA
Monteiro, N.M. 1,2, Almada, V.C3 &. Vieira, M.N. 1,2
1
Departamento de Zoologia e Antropologia, Universidade do Porto; 2CIIMAR – Centro de Investigação Marinha
e Ambiental; 3Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
Nerophis lumbriciformis (Syngnathidae) é um singnatídeo de pequenas dimensões (até 14cm),
presente ao longo do nosso intertidal rochoso, até aos 30 metros, sendo encontrado entre feixes
de algas ou debaixo de pedras roladas. A sua localização alternada nestes dois tipos de substratos
está intimamente relacionada com as marés, sendo assim visível, num gráfico de actividade, uma
clara actividade rítmica de periodicidade tidal.
O seguimento de uma população permitiu já concluir a existência de diferenças importantes na
duração da época de reprodução em relação a populações mais setentrionais, possivelmente
relacionadas com a temperatura da água. No entanto, outras questões fundamentais permanecem
por responder, uma vez que implicam um seguimento mais próximo do que até aqui era utilizado,
nomeadamente fazendo deslocar o foco principal de atenção da comunidade para o indivíduo.
Assim, e dada a incapacidade de uso de todas as outras técnicas de marcação usualmente
utilizadas, devido à morfologia muito particular desta espécie, desenvolveu-se uma nova técnica
de reconhecimento individual baseada nos padrões de coloração extremamente variáveis que esta
espécie apresenta na zona da cabeça e início do tronco. Para o efeito, foi criado um grupo
controlo, mantido em aquário por mais de um ano, em que o seguimento de possíveis alterações
na configuração de pigmentação era regularmente monitorizado. Após este passo decisivo,
procedeu-se à implantação desta técnica no campo, tendo-se já reunido, nos poucos meses de
duração desta monitorização, alguns resultados promissores. Este tipo de aproximação poderá
responder a questões fundamentais da ecologia e comportamento desta espécie, da qual temos
ainda muito pouca informação, como: Quantas posturas pode um macho receber durante um ano,
e a que intervalos de tempo? A variação no número de ovos é grande? Qual a área ocupada por
cada indivíduo? Difere nas fêmeas e nos machos? Existem concentrações de indivíduos? De ambos
os sexos? A população que seguimos apresentará que dimensões aproximadas?...
P23. ÍNDICE ANELAR/INDICADOR COMO PREDICTOR DA AGRESSIVIDADE EM HUMANOS
Oliveira, T.F., Gonçalves, D., Gonçalves, E. & Oliveira, R.F.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
Há evidências de que a razão entre o comprimento do anelar (4D) e do indicador (2D), nos
humanos, é influenciada pela concentração de testosterona e estrogénio a que o indivíduo está
exposto durante a fase pré-natal. No homem, uma alta razão 4D:2D, parece indicar uma
exposição a altas concentrações de testosterona e baixas concentrações de estrogénio durante a
fase pré-natal. Por outro lado, tem sido igualmente sugerido que a exposição durante o período
pré-natal a níveis elevados de androgénios promove níveis de agressividade superiores no
indivíduo adulto.
Para uma amostra de 181 mulheres e 36 homens da licenciatura em Psicologia do ISPA, foi
calculado o índice 4D/2D, para ambas as mãos. Os mesmos indivíduos foram também sujeitos a
um questionário que visou quantificar os parâmetros de agressividade física, verbal e indirecta.
Em concordância com o descrito na literatura, os resultados obtidos demonstraram que o índice
4D/2D é significativamente maior no sexo masculino para ambas as mãos, sendo maior na mão
direita em comparação com a mão esquerda.
Dos três parâmetros de agressividade medidos, apenas a agressividade física foi superior nos
homens relativamente às mulheres, não se registando qualquer diferença significativa para a
agressividade verbal e indirecta. Os indivíduos do sexo masculino, cuja razão 4D/2D observada
foi mais elevada, apresentaram valores de agressividade física, verbal e indirecta também
superiores, não se registando qualquer correlação entre estas duas variáveis para o sexo feminino.
IV Congresso Nacional de Etologia
22
P24. MECANISMOS
DE
DESTRUIÇÃO
DESENVOLVIMENTO POR PARTE DO
DE
ARROZ
NOS
SEUS
ESTADOS
INICIAIS
DE
LAGOSTIM-VERMELHO-DA-LUISIANA (PROCAMBARUS
CLARKII)
Parente, V.S., Correia A.M., Anastácio P.M.
IMAR - Institute of Marine Research, Centro Interdisciplinar de Coimbra c/o Departamento de Ecologia da
Universidade de Évora
O Lagostim-vermelho-da-Luisiana, Procambarus clarkii (Girard, 1852) é um lagostim nativo dos
pântanos e rios da zona centro-sul dos Estados Unidos e do Nordeste do México. Este Astacidae foi
identificado em Portugal pela primeira vez em 1979. Neste momento sabe-se que o Lagostimvermelho-da-Luisiana (Procambarus clarkii) tem um efeito negativo na cultura de Arroz. Para além
dos efeitos indirectos que provoca devido ao seu comportamento escavatório que danifica o
sistema de irrigação, é sabido que esta espécie tem efeitos negativos directos sobre a cultura
sobretudo na fase inicial de desenvolvimento. Os efeitos directos ocorrem por consumo e
destruição. Contudo ainda não estão completamente desvendados os mecanismos bem como os
efeitos em estádios diferentes do desenvolvimento do arroz. Com o objectivo de clarificar estes
mecanismos, foram realizadas experiências em laboratório, com condições controladas de luz e
temperatura foram colocados tanques onde se fez crescer arroz com diferentes estádios de
desenvolvimento (3 e 6 dias). Foram utilizados lagostins de tamanho semelhante aos que se
encontram no campo em maior quantidade na altura da sementeira (1,6 – 2,2 POCL). Por cada
tanque com lagostim existiu um controle. Foram monitorizados o pH o oxigénio dissolvido, a
temperatura e a radiação fotossintética activa. Após o tempo estipulado para a permanência do
lagostim, todo o material vegetal foi recolhido, separado em diferentes fracções (plantas não
danificadas, plantas danificadas, sementes consumidas e sementes não germinadas), contado e
medido. Foi também determinado o peso seco e peso livre de cinzas.
P25. DESENVOLVIMENTO DAS PREFERÊNCIAS SOCIAIS NO CÃO DE GADO
Ribeiro, S.
Grupo Lobo, Departamento de Zoologia e Antropologia, Universidade de Lisboa
Os estudos sobre o desenvolvimento das preferências sociais nos mamíferos revelaram que a
exposição prolongada a um determinado estímulo é requisito essencial para a formação e
manutenção de um vínculo social, o qual pode ser revertido após exposição contínua a um
estímulo alternativo. Neste estudo pretendeu-se avaliar o estabelecimento e a reversibilidade das
afinidades sociais em cães de gado – cães que têm como função proteger o gado dos ataques dos
predadores. O procedimento experimental procurou replicar o trabalho clássico de Cairns &
Johnson (1965), que se baseia na realização de testes comportamentais a animais mantidos em
situações sociais distintas. Utilizaram-se 8 cachorros (igual número de machos e fêmeas) da raça
Rafeiro do Alentejo, pertencentes a duas ninhadas diferentes e descendentes do mesmo macho.
Os cachorros foram mantidos com os irmãos de ninhada até aos 3 meses de idade (durante o
período de socialização), sendo depois divididos em dois grupos (experimental e controlo) e
colocados em contacto exclusivo com um novo parceiro social, respectivamente um ovino e um
outro cachorro da mesma idade. Após 70-80 dias de coabitação foram sujeitos aos testes de
preferência e de isolamento social. Os cachorros não demonstraram uma preferência pelos novos
parceiros sociais, apesar de vocalizarem mais durante o isolamento social. Os dados sugerem que
no Rafeiro do Alentejo a expressão do medo é mais tardia do que noutras raças testadas,
permitindo a manutenção da curiosidade social (característica de animais muito jovens). Parece,
neste aspecto, existir nestes cães um grau mais elevado de neotenia comportamental.
IV Congresso Nacional de Etologia
23
P26. ALGUMAS
SOBRE O COMPORTAMENTO REPRODUTOR DE CHONDROSTOMA
COLLARES-PEREIRA 1980 (PISCES:CYPRINIDAE) EM CATIVEIRO
NOTAS
LUSITANICUM
Robalo, J.I., Carvalho, V., & Almada, V.C.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
Neste trabalho descreve-se pela primeira vez o comportamento reprodutor de Chondrostoma
lusitanicum, um ciprinideo endémico de Portugal, classificado com o estatuto de raro no Livro
Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Os episódios de acasalamento podem decorrer na
presença de vários individuos, mas dentro de um grupo ocorrem pequenas sequências de corte e
desova que geralmente envolvem uma fêmea e um ou poucos machos. Os machos seguem as
fêmeas tocando-lhes frequentemente na cabeça e abdómen e por vezes fazem pequenos circulos
em torno destas, o que pode ajudar a mantê-las numa determinada área. Na desova o/os machos
pressiona/m o corpo da fêmea contra o substracto ou outros objectos presentes no aquário e os
ovos aderentes são libertados e fecundados. Descreve-se um comportamento exibido pelas
fêmeas que pode desempenhar um papel na atracção dos machos e como tal pode determinar o
início de uma sequência de acasalamento. Sublinha-se a ideia de que o papel das fêmeas na côrte
em peixes com posturas de grupo em água livre tem sido subestimado.
P27. ESTUDOS PRIMATOLÓGICOS NO ISCSP
Rodrigues, P.
1,2
1
Unidade Científico- Pedagógica de Antropologia, ISCSP, Universidade Técnica de Lisboa; 2 Estação de
Investigação em Primatologia, Universidade Técnica de Lisboa
O presente trabalho tem como objectivo a troca de informações entre estudantes e profissionais
interessados na área da Primatologia e no comportamento animal em geral.
Este trabalho procura sobretudo dar a conhecer as primeiras investigações primatológicas feitas
no nosso país (1945) e as feitas actualmente no ISCSP. Serão expostas as várias áreas de
investigação existentes bem como as possibilidades de integrar equipes de investigação no Jardim
Zoológico de Lisboa, México (Ilha Agaltepec/Veracruz, Reserva Pipiaparo/Veracruz e MontePio) e
Quénia (KNM). Expõem-se sumariamente investigações com as seguintes espécies:
i) chimpanzés (Pan troglodytes) – hierarquia social de dominância, jogo entre crias e machos
adultos, vocalizações, manipulação de objectos e pistas para a utilização de instrumentos nos
primeiros hominídeos;
ii) gorilas (Gorilla gorilla gorilla) – alterações nos hábitos alimentares e na sexualidade;
iii) macacos capuchinhos (Cebus apella) – estrutura social, coligações e alianças;
iv) saguins imperador de barba (Saguinus imperator) – dextralidade e diferenças entre macho e
fêmea;
v) sakis de cara branca (Pithecia pithecia) – diferenças entre macho e fêmea;
vi) lémures de cauda anelada (Lemur catta) – estrutura social, comportamentos afiliativos,
comportamentos agonísticos;
vii) macacos Japoneses (Macaca fuscata) – hierarquia social de dominância;
viii) macacos uivadores de manto (Alouatta palliata mexicana) – socioecologia em Agaltepec,
proximidade social e padrões de associação entre machos;
ix) babuínos hamadrias (Papio cynocephalus hamadryas) – relação progenitora/cria e hierarquia
de dominância e
x) macacos vervet (Cercopithecus aethiops) – hierarquia social de dominância e reciprocidade na
alocatagem entre adultos.
Apontam-se ainda as linhas de investigação e projectos a desenvolver num futuro próximo bem
como as dificuldades encontradas.
IV Congresso Nacional de Etologia
24
P28. RELAÇÃO ENTRE ANDROGÉNIOS, TAXA METABÓLICA E COMPORTAMENTO AGRESSIVO EM
PEIXES TELEOSTEOS
Ros, A.1, Becker, K.2, Canário, A.3 & Oliveira, R.F.1
1
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA; 2 Department of Aquaculture Systems and Animal Nutrition
in the Tropics and Subtropics, Univeristy of Hohenheim; 3 Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve
Em vertebrados o comportamento agonístico tem uma função importante durante a época de
reprodução na competição entre machos. Este comportamento apresenta uma grande variação
interindividual a qual pode ser explicada pelos custos elevados de executar o comportamento em
frequências altas. Um método para investigar os custos de um comportamento é o de medir as
consequências de um aumento experimental da frequência desse comportamento. Os androgénios
são as principais hormonas que influenciam a expressão dos comportamentos agonísticos.
Testámos a relação entre comportamento agonístico e a taxa metabólica em peixes. Os peixes são
modelos excelentes para fazer estudos do energética porque a possibilidade de medir a taxa
energética do peixe num aquário onde se pode comportar livremente. O aquário foi selado e tinha
uma entrada de agua e um tubo de saída. A taxa foi calculada como a diferença entre o nível de
oxigénio na entrada e na saída do aquário. Verificámos uma correlação positiva entre a taxa
metabólica e o comportamento agonístico em Oreochromis mossambicus e Betta splendens.
Também encontrámos uma relação positiva entre os níveis de 11-ceto-testosterona e a taxa
metabólica em Oreochromis mossambicus. Os resultados indicam que o aumento da taxa
metabólica, regulado por androgénios, permite aos indivíduos responder mais depressa a um
desafio agressivo.
P29. CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO DA ETOLOGIA DA REPRODUÇÃO DE SQUALIUS
PYRENAICUS E DE SQUALIUS CAROLITERTII (PISCES; CYPRINIDAE) EM CATIVEIRO
Santos, C.S., Robalo, J.I., Almada, V.C.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
O estudo do comportamento reprodutor de Squalius pyrenaicus e de S. carolitertii aqui
apresentado é até ao momento a primeira descrição etológica referente a estas espécies de
ciprinídeos endémicos da Península Ibérica.
De particular interesse é a observação da preparação do substrato de postura, envolvendo a
formação de depressões no substrato, comportamento desconhecido para ciprinídeos europeus e
apenas descrito para alguns géneros de ciprinídeos norte americanos (e.g. Luxilus e
Campostoma). Estas depressões funcionam como zonas de exibição para os machos, cujo
comportamento reprodutor possui um forte componente de sinalização dirigido às fêmeas,
incluindo “estremecimentos”, “saltos de sinalização” e “mostrar flanco”.
Os machos destas espécies exibem ainda comportamentos agonísticos relativamente a outros
machos, relacionados com a defesa do território de postura. Esta territorialidade parece ser, no
entanto, “difusa” uma vez que as zonas de exibição/postura eram temporariamente ocupadas por
subordinados que rapidamente se afastavam quando os dominantes retornavam ao seu território.
O aprofundamento do estudo do comportamento reprodutor fornecerá, certamente, dados com
implicações importantes nas estratégias de conservação a adoptar com vista à preservação destas
espécies de peixes de água doce nos seus habitats naturais.
IV Congresso Nacional de Etologia
25
P30. ESTUDO
PRELIMINAR
HIBRIDOGENÉTICO
DO
COMPORTAMENTO
REPRODUTOR
DO
COMPLEXO
SQUALIUS ALBURNOIDES (PISCES; CYPRINIDAE) EM CATIVEIRO.
Santos, C.S., Robalo, J.I., Almada, V.C.
Unidade de Investigação em Eco-Etologia, ISPA
O comportamento reprodutor do complexo endémico da Península Ibérica Squalius alburnoides era
até ao momento desconhecido. Apesar da reprodução da maioria das formas deste complexo
depender das espécies simpátricas S. pyrenaicus ou S. carolitertii, o seu comportamento
reprodutor difere substancialmente do exibido por estas duas últimas espécies. De facto, S.
alburnoides não efectua qualquer preparação do substrato de postura e não foram detectados
comportamentos de exibição dirigidos às fêmeas. Pelo contrário, o seu padrão comportamental
assemelha-se ao de outros
ciprinídeos endémicos como Chondrostoma lusitanicum e
Chondrostoma macrolepidotus, e pode ser genericamente classificado como “broadcaster”. Os
episódios de postura envolvem aglomerações de indivíduos (normalmente mais de dez), e são de
salientar comportamentos como “estremecimentos”, natação vertical ao longo da superfície
lateral do aquário por parte das fêmeas e compressão lateral de uma fêmea por um ou mais
machos posicionados paralelamente a esta.
P31. ANDROGÉNIOS E EFEITOS DE EXPERIÊNCIA PRÉVIA EM INTERACÇÕES AGONÍSTICAS NO
CICLÍDEO OREOCHROMIS MOSSAMBICUS
Silva, A.I., Hirshenhauser, K. & Oliveira, R.F.
Unidade de Eco-Etologia, ISPA
O estudo do papel desempenhado pelo efeito de vencedor/derrotado na estruturação dos grupos
sociais tem sido investigado numa tentativa de compreender como são integradas as múltiplas
interacções da vida social de um sujeito. Existem dados da literatura que sugerem que o
comportamento agonístico é influenciado por uma experiência prévia de combate: a probabilidade
de vencer uma interacção agonística é maior em vencedores de combates prévios, assim como a
probabilidade de derrota é maior em indivíduos vencidos num encontro anterior (Hsu e Wolf,
1999). Porém, os mecanismos fisiológicos responsáveis pela integração de experiências vividas
ainda se encontram pouco explorados. O comportamento agonístico é, na maior parte das
espécies, mais acentuado nos machos, sugerindo uma dependência do comportamento agressivo
dos androgénio. Sabe-se também que as interacções sociais podem conduzir à alteração dos
níveis circulantes de androgénios. Decidiu-se assim testar o papel desempenhado pelos
androgénios como mediadores endócrinos do efeito vencedor/derrotado na expressão do
comportamento exibido em experiências agonísticas entre conspecíficos. Foi utilizada a tilápia
moçambicana, Oreochromis mossambicus, como modelo de estudo. Os resultados obtidos
sugerem que o efeito de vencedor é mediado pelos níveis circulantes de 11-cetotestosterona, na
espécie estudada. Por outro lado, o efeito da experiência de derrota não parece estar associada a
variações nos níveis circulantes de androgénios.
IV Congresso Nacional de Etologia
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