estar vivo - Dinheiro Vivo
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estar vivo - Dinheiro Vivo
5 ESTAR VIVO QUANDO UM DOS MAIORES BANCOS DO MUNDO lançou o seu website de primeira geração, a página demorou quase um minuto a abrir. Como muitos outros bancos, o NAB era conhecido pelas longas filas para a caixa. Foi conduzido um estudo independente em que se perguntava às pessoas quais eram as suas impressões gerais do novo website. Embora não houvesse uma relação direta entre as longas filas para a caixa e o tempo que a página do site demorava a carregar, os consumidores viam o website como apenas mais um problema de atrasos causado pelo banco. O estudo obteve comentários que diziam basicamente que o banco tinha conseguido fazer no ciberespaço o que já fazia nas suas agências – deixar as pessoas à espera. A perceção que os consumidores têm de uma marca é tão válida como a realidade. Independentemente de o consumidor comparar o tempo de espera para carregar a página às longas filas nas agências do banco, ou de o vinho parecer saber melhor se a garrafa vier fechada com uma rolha, ou de um Rolls-Royce parecer ter uma condução mais suave se cheirar a couro, é essencial que os pontos de contacto sensoriais da marca sejam mantidos vivos. Estes pontos de contacto devem ser mantidos e melhorados, já que são eles que conferem à marca a sua identidade única. Eliminar importantes pontos de contacto sensoriais será prejudicar a marca. Lembre-se: uma mensagem é melhorada e tem mais hipóteses de ser notada se apelar a vários sentidos. O estudo Brand Sense confirma que quanto mais positivas forem as relações estabelecidas entre os nossos sentidos, mais forte será a ligação entre o emissor e o recetor. A sério que é mesmo assim tão simples... Uma fabulosa fotografia de uma maçã acabada de colher e a brilhar por causa do orvalho pode atraí-lo, mas apenas no sentido mais abstrato. No entanto, se um consumidor pudesse cheirá-la, ouvi-la Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 129 • 129 05-04-2013 11:22:37 a ser cortada, talvez se deixasse convencer a comprar um saco de maçãs. Se acrescentar a esta imagem uma textura que lhe faça lembrar o paladar, estará certamente ainda mais inclinado para comprar. Por muito irónico que possa parecer hoje em dia, este fenómeno raramente se verifica. Estudei literalmente milhares de anúncios televisivos ao longo dos últimos anos e chegaria mesmo ao ponto de dizer que o que está a acontecer é exatamente o contrário. Os anúncios televisivos das cadeias de fast-food nunca nos deixam ouvir o som da comida a fervilhar ao lume; os anúncios de refrigerantes eliminam o som dos cubos de gelo a baterem uns nos outros ou o estalido da lata a abrir; os anúncios de café raramente nos deixam ver os grãos de café ou o vapor que se ergue da máquina. Porquê? Porque os executivos responsáveis por essas campanhas acreditam que os espectadores contemporâneos são 100 por cento racionais. Acreditam que não há necessidade de passar novamente este ou aquele som, independentemente de ser o borbulhar de uma bebida gaseificada ou o estalido da lata a ser aberta. Não sei qual é a opinião do leitor, mas embora já tenha trabalhado muito com marcas de fast-food e de refrigerantes, ainda fico com desejos sempre que ouço esses sons. E os desejos conduzem à intenção... que conduz à venda. Quer gostemos, quer não, os nossos sentidos estão configurados para nos seduzirem – no entanto, a maioria das marcas acredita que a estimulação sensorial é coisa do passado. Conforme já disse repetidas vezes, a comunicação de marca tem sempre a ver com o estabelecimento de laços emocionais entre a marca e o consumidor. E tal como em qualquer relação, as emoções baseiam-se nos dados que recolhemos com os nossos cinco sentidos. As agências de encontros online são uma das operações financeiras mais bem-sucedidas da Internet. Começamos com uma fotografia, depois avançamos para uma voz... e se ambas transmitirem impressões positivas, podemos sentir-nos persuadidos a «falar de corpo presente com a fotografia» que está do outro lado da linha. Todas as pistas podem estar a apontar na direção certa, mas a menos que haja uma presença física, nunca saberemos se queremos marcar um segundo encontro. São necessários todos os nossos sentidos para avaliar completamente as nossas escolhas. As marcas não são diferentes. Até agora, a comunicação esteve confinada principalmente ao modelo visual e auditivo, com um 130 • Brand Sense - FINAL.indd 130 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:37 toque de aroma adicionado aos anúncios impressos de perfumes. Mas as marcas não deviam hesitar em aventurar-se nos mundos do paladar, do tato e do olfato. Mais uma vez, porquê? Porque a razão de ser da publicidade sensorial é garantir a integração dos nossos cinco sentidos em todas as nossas decisões de compra. RODEADOS PELOS SENTIDOS Imagine o seguinte: está a caminhar pela rua de uma cidade num dia de verão. O ar está quente, o trânsito está congestionado, os fumos dos escapes pairam no ar e no quarteirão à sua frente vê uma loja de gelados. À medida que se aproxima, sente o cheiro de cones de gelado acabados de fazer. Sem pensar conscientemente no assunto, sente-se atraído para a loja ou vendedor de rua. Um gelado parece-lhe o antídoto perfeito para o calor e para o trânsito. Quando dá por isso, já está a continuar a sua viagem com um cone de gelado fresco e delicioso na mão. A publicidade sensorial™ tem o objetivo de estimular a sua relação com a marca. Pode dizer-se que estimula o interesse, aumenta o impulso que está por trás do comportamento de comprar e permite que uma reação emocional domine o nosso pensamento racional. Podem dar-se dois tipos de estímulos – criados artificialmente para o efeito ou não. O aroma da loja de gelados podia vir de uma grande variedade de produtos. Mas uma combinação do aroma e da sinalização usada na loja ajuda a criar uma associação com um produto específico. Essa associação pode dar-se espontaneamente da próxima vez que estiver a caminhar pela rua num dia quente. Assim, o que começou como uma experiência natural, pode vir a tornar-se uma experiência fabricada. Um estímulo fabricado não só motiva o comportamento de compra, como estabelece uma ligação direta entre certas emoções e a marca. Ok, imaginemos mais um dia de calor. Está sentado na esplanada de um restaurante e tem à sua frente um copo com gelo e uma rodela de limão e ouve o som de uma bebida a ser aberta e servida no copo. É muito provável que a bebida que tenha visualizado seja a Coca-Cola porque 78 por cento das pessoas entrevistadas faziam asso- Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 131 • 131 05-04-2013 11:22:37 ciações positivas com o som de uma lata – ou garrafa – de Coca-Cola a ser aberta. De facto, esse som característico da Coca-Cola cria associações igualmente fortes em todo o mundo. Na Escandinávia, uma empresa que entrega gelados ao domicílio levou a analogia do cão de Pavlov a um nível completamente novo. Uma pequena carrinha azul sobe e desce a rua a tocar uma sineta. Ao fim de quase trinta anos a percorrer um determinado bairro, 50 por cento da sua população associa aquele som a gelados – e não a um gelado qualquer, mas especificamente ao gelado Hjem-Is. Certa vez, enquanto estava sentado num carro alugado nas Filipinas, reparei que se formava subitamente um sorriso nos rostos das pessoas quando ouviam um determinado som – sorriso que, devo acrescentar, não se manifestava quando viam os logótipos de marcas de doces ou de refrigerantes. O som em questão pertence à Nestlé – e as pequenas bicicletas azuis e brancas que vendem gelados Nestlé são parte da paisagem de Manila há mais de trinta anos. Criar um estímulo específico de uma marca é um dos aspetos mais difíceis de estabelecer numa relação sensorial. Não é intuitivo e leva o seu tempo. Requer reforço constante da relação entre a necessidade do consumidor e uma marca específica. Os estímulos associados a determinadas marcas criam fidelidade duradoura. Os estímulos naturais criam padrões de comportamento impulsivos, mas não associados a uma determinada marca. MELHORAR Da mesma forma que um holograma nos permite ver a mesma imagem de ângulos diferentes, a publicidade sensorial permite aos consumidores verem dimensões diferentes de uma única marca. Philippe Starck é um designer francês que já trabalhou com produtos tão diferentes como suportes para papel higiénico criados para hotéis, ténis Puma e o mais recente modelo de rato ótico da Microsoft. Por mais variado e descabido que este leque de produtos possa parecer, cada um destes artigos redefine a aparência tradicional de um bom design mantendo, ao mesmo tempo, a funcionalidade. As criações de Starck dão uma aparência renovada a artigos do quotidiano, obrigando-nos a vê-los e de uma forma completamente diferente. 132 • Brand Sense - FINAL.indd 132 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:37 O processo de melhoramento de uma marca compreende dois níveis – fabricado e não fabricado. Os fabricantes de papel higiénico estão a adicionar aos produtos aromas frescos, aumentando assim as impressões de higiene e qualidade. Este melhoramento quase genérico pode afetar a qualidade percebida do produto, mas sinceramente, pouco faz pela marca. A estratégia mais eficaz é, portanto, criar um melhoramento específico que, ao contrário de melhoramentos genéricos, reflita a marca, a destaque e diferencie de todos os produtos concorrentes expostos na mesma prateleira. A Texas Instruments desenvolveu um toque específico para os botões das suas calculadoras – um melhoramento que garante que manipular uma calculadora da Texas Instruments produz uma sensação diferente da produzida por qualquer outra calculadora. Da mesma forma, os utilizadores da Apple estão perfeitamente familiarizados com a tecla de função da Apple que substitui a tecla genérica «Ctrl» dos utilizadores de PC. O nome é parte da função e torna-se parte dos processos de pensamento de qualquer utilizador da Apple. A ação é simultaneamente específica da marca e intuitiva, o que a torna um exemplo ideal de um melhoramento fabricado. LIGAÇÃO O principal objetivo da publicidade sensorial é criar um laço forte, positivo e duradouro entre a marca e o consumidor, de modo que o consumidor recorre repetidamente àquela marca, quase sem reparar nos produtos da concorrência. Os computadores portáteis ThinkPad da IBM conseguiram criar exatamente este tipo de ligação. Nestes computadores portáteis a navegação é feita com um rato que não era mais do que um botão embutido entre as teclas. A patente deste sistema foi registada pela IBM de modo a garantir que a concorrência não o imita. O resultado: os utilizadores do ThinkPad da IBM mantiveram-se fiéis à marca pelo simples motivo de que um utilizador habituado a este sistema terá grande dificuldade em habituar-se a usar um computador com um painel táctil. Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 133 • 133 05-04-2013 11:22:37 A utilização é uma das formas mais poderosas de estabelecer uma ligação entre a marca e o consumidor. Independentemente de se tratar de um rato TrackPoint da IBM, dos menus de um telemóvel Nokia ou dos símbolos e configuração da Apple, depois de dominarem um sistema, os utilizadores mostram-se relutantes em aprenderem um sistema novo. O processo tornou-se intuitivo e a maioria das pessoas não quer interromper o ritmo do seu quotidiano. OBJETIVO DA COMUNICAÇÃO SENSORIAL Envolvimento emocional A comunicação sensorial oferece-nos o potencial de criar um dos tipos mais estreitos de ligação já vistos entre uma marca e um consumidor. O objetivo é construir uma relação de grande lealdade durante um longo período de tempo. Para estabelecer esta ligação, a atração sensorial tem de possuir dois ingredientes essenciais: tem de ser específica da marca e de estar relacionada com hábitos. Nem todas as iniciativas de comunicação sensorial serão necessariamente capazes de gerar níveis tão elevados de lealdade, mas se a marca mantiver atrativos sensoriais específicos que não sejam imitados pelas marcas da concorrência, alcançará clientes fiéis. Otimizar a ligação entre perceção e realidade Antes de lançar a sua nova garrafa de plástico, a Carlsberg testou-a repetidamente. Os grupos de discussão dinamarqueses receberam com desconfiança a diferença do som da abertura da garrafa. Em consequência das descobertas da empresa, foi desenvolvida uma campanha especial para preparar os clientes para as mudanças auditivas e tácteis. Demasiadas marcas deixam que se forme uma lacuna entre a perceção dos consumidores e a realidade do produto. Para colmatar esta lacuna, algumas floristas usam nas suas lojas um desodorizante de ambiente com cheiro a flores frescas. O código genético das toranjas que vemos nos supermercados foi modificado para as tornar mais 134 • Brand Sense - FINAL.indd 134 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:38 fáceis de embalar, mas isto afetou o sabor. Hoje em dia, os consumidores esperam que o seu sumo de toranja tenha um sabor mais parecido com o da variedade de supermercado. Uma marca de sumos que cultive as suas próprias toranjas tem de ter conhecimento deste sabor «de supermercado» e encontrar uma forma de dar ao seu sumo um sabor semelhante. Se a qualidade estiver associada a um peso substancial, é preciso acrescentar peso. Se o sistema de abertura automática da janela de um carro não tiver um som de «qualidade», é necessário alterar o som. Em todos os casos, a realidade tem de ser aproximada da perceção. O objetivo é a realidade corresponder às expectativas dos consumidores, ultrapassando-as se possível. A importância das extensões dos produtos À medida que cada marca desenvolve extensões (como os casacos Marlboro), as ligações entre os muitos produtos podem desvanecer-se se não for implementada uma estratégia muito bem pensada. Os consumidores são capazes de dar saltos de lógica entre produtos distintos – por exemplo, escavadoras Caterpillar e calçado Caterpillar. No caso da Caterpillar, bem como no da Gillette, o valor da marca é a «masculinidade». Esta traduziu-se na escolha dos materiais – borracha, metal, cores e um ar resistente. Marca registada O desafio que as empresas vão enfrentar neste novo século será demonstrarem capacidade de proteger a identidade das suas marcas da concorrência. Qual é a melhor forma de o fazer? Através da comunicação sensorial. Quase todos os aspetos da comunicação sensorial de uma marca podem ser patenteados e registados. Estes componentes registáveis são conhecidos no nosso meio como «acessórios da marca». Um acessório da marca é o cheiro de um produto, o seu som, a sua textura, o seu sabor e a sua forma. Cada componente tem de ser distinto. Não estou a dizer que é fácil! Em tempos, a Harley Davidson perdeu um processo judicial numa tentativa Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 135 • 135 05-04-2013 11:22:38 infrutífera de proteger o seu som específico. Neste caso, o ponto de contacto sensorial pertencia a um tipo de motor que não era específico da marca, portanto, pelo menos legalmente, não podiam reclamar a exclusividade daquele som. TRADUÇÃO SENSORIAL Porque é que uma marca pode ter muito mais sucesso numa abordagem multissensorial do que outra? Na maioria dos casos, as marcas alcançaram este feito com estratégias bem planeadas e executadas ao longo do tempo – frequentemente ao longo de décadas. Já falámos de algumas destas marcas no capítulo 2 – o Stefan Floridian Waters da Singapore Airlines que é aplicado nas toalhas distribuídas aos passageiros, o som característico dos cornflakes da Kellogg’s ou o telefone estilizado da Bang & Olufsen com a sua aparência e som singulares. Qualquer empresa pode construir uma marca sensorial, o que a lança num diálogo multissensorial com os seus clientes. ESTUDO DE CASO: FERRARI – ACELERAR PELA NOVA PAISAGEM SENSORIAL Enquanto as rolhas das garrafas de champanhe saltavam no Grand Prix mundial de 2004, um modelo ligeiramente diferente da Ferrari preparava-se para sair da fábrica. Os traços reconhecíveis do lendário carro de corrida estavam à vista – o acabamento vermelho brilhante, o cavalo preto empinado –, símbolos que ao longo de seis décadas se tornaram sinónimos de inovação, velocidade e sofisticação. O novo Ferrari 3000 também não tinha negligenciado o som. Os peritos concordaram que a velocidade do 3000 homenageava o estatuto de lenda da Ferrari. Obviamente, a mística da marca era palpável no dia em que este novo modelo foi apresentado à imprensa global. Mas havia uma outra novidade. Este novo Ferrari não tinha rodas e o seu motor era minúsculo. 136 • Brand Sense - FINAL.indd 136 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:38 Conforme já deve ter adivinhado, este novo modelo não era um carro, mas sim um computador. É de louvar a ideia da marca de carros de formar uma parceria com a Acer, a marca de computadores. Juntos, produziram o Ferrari 3000, o primeiro computador portátil do mundo com o exterior do tom de vermelho patenteado pela Ferrari. Embora seja subtil, e possa até parecer bizarra à primeira vista, a associação destas duas marcas altamente divergentes até fazia sentido. A Acer era há anos a fornecedora oficial de produtos eletrónicos para a equipa de corrida da Ferrari. No mesmo ano, a popularidade do computador portátil Ferrari levou a fábrica da marca a esgotar o seu stock da patenteada tinta vermelha. Porquê? O computador foi demasiado popular! Ferrari e Acer. Não há dúvida de que é uma aliança inovadora, mas mais do que isso, é uma intrigante combinação de pontos de contacto sensoriais. Para além da cor, o computador portátil, à semelhança do carro, tem três camadas de tinta de alta qualidade para automóveis, bem com um interior prateado. Os acabamentos e a textura do computador replicam os acabamentos e as sensações tácteis transmitidas pelo carro. Esta mesma sinergia sensorial está presente em todos os produtos eletrónicos da Ferrari. Para celebrar o patrocínio da equipa de fórmula um da Ferrari pela Olympus, a marca lançou uma máquina fotográfica digital Ferrari cujo corpo é vermelho Ferrari e que foi submetida a cinco análises de cor distintas para garantir a exatidão. A máquina fotográfica Ferrari 2000 reflete as mesmas linhas do automóvel Ferrari e tem peças de alumínio polidas manualmente. Os elevados padrões de qualidade de ambas as marcas combinam-se numa máquina fotográfica de edição limitada e de alta qualidade que vem numa bolsa de camurça com uma fita personalizada. Os menus da máquina fotográfica e do computador estão em sincronia com o design e a configuração dos mais recentes modelos de automóveis da Ferrari. O computador portátil também tirou partido de um ponto de contacto adicional – no arranque faz um barulho semelhante ao do motor de um carro de corridas. Este som é tão poderoso e característico que os consumidores não podem deixar de o reconhecer e está maravilhosamente integrado em todos os artigos promocionais da Ferrari (é também o som que se ouve quando se entra no website da empresa). Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 137 • 137 05-04-2013 11:22:38 O Ferrari 3000 é um excelente exemplo não só de como as marcas podem aliar-se para tirar partido dos pontos fortes umas das outras, mas também de como a diferenciação num dos mercados mais competitivos do mundo pode ser conseguida aumentando os pontos de contacto sensoriais até então negligenciados pelo fabricante. Ao apelar ao sentido do tato através do uso do acabamento com a tinta especial da Ferrari e ao usar o som que transmite a ideia de velocidade e a cor patenteada da marca de carros, a Acer e a Ferrari conseguiram diferenciar este computador portátil dos modelos genéricos e cinzentos que são a maioria no mercado. E os consumidores aderiram em bando. Destaques O estudo Brand Sense confirma que quanto mais positivas forem as sinergias estabelecidas entre os nossos sentidos, mais forte será a ligação entre o emissor e o recetor. Eliminar importantes pontos de contacto sensoriais será prejudicar a marca. O principal objetivo de um especialista de marketing deveria ser garantir que todas as ligações e associações históricas relacionadas com a marca em questão são tidas em conta. Se as equipas de marketing não conseguirem fazê-lo, correm o risco de perder algumas das maiores vantagens competitivas da marca – e nós, os consumidores, vamos acabar por nos afastar. 138 • Brand Sense - FINAL.indd 138 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:38 7 O FUTURO COMO TUDO O RESTO, A COMUNICAÇÃO de marcas está a evoluir. Ao longo da próxima década, o diálogo dentro da minha área de atividade abandonará as campanhas impressas de melhor qualidade e os anúncios televisivos mais cativantes e seguirá num caminho completamente novo. De uma coisa tenho a certeza: as marcas precisam de se destacar, de bater no peito, de afirmar a sua singularidade e de estabelecer as suas identidades como nunca antes o fizeram. É certo que os canais publicitários tradicionais continuarão a ter alguma influência, mas terão de conviver com canais não tradicionais, que estão a surgir à velocidade máxima permitida pela tecnologia. As ondas de rádio e as autoestradas da informação estão tão cheias de mensagens que às vezes é difícil ouvir uma voz no meio desta confusão. Há cinco anos, David Ogilvy, Bill Bernbach e Stan Rapp transformaram a forma como o mundo vê a publicidade. No entanto, nos últimos tempos temos vindo a assistir a uma revolução digital. Temos mais canais televisivos do que conseguimos ver e mais websites do que conseguimos consultar. Temos telemóveis, PDAs e Skype, Internet e jogos eletrónicos, CDs e DVDs. Temos telefones que tiram fotografias e imagens animadas na ponta dos nossos dedos. Podemos interagir com máquinas e pessoas de todo o mundo em tempo real. Aquilo a que estamos a assistir é o nascimento do consumidor interativo. Por esta altura, toda uma geração (ou duas) já cresceu a saber usar um rato e a usar como janela para o mundo o ecrã de um computador. Exigem e reagem a comunicações mais breves, rápidas e diretas. Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 169 • 169 05-04-2013 11:22:41 ALGUMAS PREVISÕES... Ao longo da próxima década, a comunicação sensorial será adotada por três tipos de indústrias. 1. Os pioneiros sensoriais. Os fabricantes de automóveis e as farmacêuticas serão os pioneiros do novo enfoque nos sentidos e das inovações que surgirão na próxima década. 2. Os que adotam as técnicas sensoriais. As indústrias das telecomunicações e da informática estão ambas a lutar pela definição e diferenciação. Afinal, quem é que é capaz de as distinguir? É mais provável que venham a procurar inspiração nos setores automóvel e do entretenimento. 3. Os seguidores sensoriais. É mais provável que várias áreas, incluindo a do comércio e do entretenimento, atuem como seguidores e não como líderes. O que é preciso para avançar no mundo da comunicação sensorial? Todas as áreas de atividade têm potencial para adotar uma plataforma de comunicação sensorial. Neste momento, algumas estão na linha da frente, enquanto outras vão mais atrás. OS PIONEIROS SENSORIAIS A indústria farmacêutica As farmacêuticas têm um número limitado de anos para protegerem os seus produtos com patentes. Depois disso, essas patentes podem ser reproduzidas por qualquer um e estão a ser reproduzidas. Há uma grande quantidade de medicamentos genéricos a ser produzida na Ásia. Além disso, estão a ser implementadas restrições mais rígidas às promoções farmacêuticas. Os departamentos de marketing podem descobrir que a comunicação sensorial lhes faculta a base que procuravam para criar uma nova plataforma – e uma lealdade renovada por parte dos seus consumidores. 170 • Brand Sense - FINAL.indd 170 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:41 Tirar partido da lealdade dos consumidores por meio das sensações tácteis transmitidas pelos produtos, da escolha de cores e do desenho das embalagens e da criação de um som, aroma e sabor distintos para a empresa pode dar a uma farmacêutica um novo arsenal para estabelecer ligações com os seus consumidores. As leis em alguns países opõem-se à forma e cor dos medicamentos de marcas registadas tradicionais, mas até agora nenhum governo rejeitou a patente de um cheiro ou sabor. Isto abre todo um novo território para as empresas, que podem assegurar uma patente vitalícia, em vez de se limitarem às patentes com data de validade. A indústria automóvel Às vezes os líderes da matilha têm dificuldade em manter-se à frente da matilha. A indústria automóvel está agora a entrar na fase final da inovação na comunicação sensorial. Estão a desenvolver uma variedade de novos sons para os mecanismos de ajustamento dos assentos, para as caixas de velocidades, as calhas, os piscas, os sinais de aviso, as buzinas, os vidros elétricos, e igualmente a desenvolver habitáculos com baixo nível de ruído. Hoje em dia, todos os componentes de um carro que possam representar um ponto de contacto sensorial estão a ser examinados, avaliados e personalizados. Em breve, todas as marcas de carros terão o seu próprio cheiro, uma sensação táctil própria, bem como o seu som distinto. Não falta muito para que todos os componentes sejam patenteados como «exclusivos» do modelo e marca em questão. Depois disso, o fabricante pode pegar nos seus componentes patenteados e vendê-los... bem, por toda a parte. A Porsche já tem uma grande variedade de produtos no mercado. Se quiser, pode comprar tudo, desde guarda-chuvas a óculos Porsche. Estes pontos de contacto sensoriais tornam-se o principal ponto de ligação – o que explica porque é que os fãs da marca estão dispostos a pagar 40 por cento mais por um computador portátil Porsche do que por qualquer outra marca. Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 171 • 171 05-04-2013 11:22:41 OS QUE ADOTAM AS TÉCNICAS SENSORIAIS A indústria das telecomunicações A luta global pelo domínio das telecomunicações faz lembrar as disputas entre fabricantes de automóveis em meados do século XX. Mais uma vez, a Ásia deixou-se ficar atrás da Europa e dos Estados Unidos em termos de inovação, desta vez na indústria dos telemóveis. Mas o que isto significa é que os fabricantes asiáticos estão a preparar-se para incluir perspetivas multissensoriais e de alta-qualidade à sua nova oferta. Todos os aspetos do telemóvel desde as suas qualidades tácteis ao design e ao ecrã, passando pelos sons patenteados que se ouvem quando os consumidores usam os seus aparelhos, até mesmo o cheiro do produto, serão avaliados, afinados e melhorados nos próximos anos. Um exemplo disto é a Immersion, uma empresa cuja tecnologia permite aos utilizadores «tocar» noutra pessoa pelo telefone. Segundo a BBC online, «a empresa está em conversações com os fabricantes de telemóveis e o objetivo é o de incluir o tato nos telemóveis do futuro»1. A indústria informática Os computadores foram buscar à indústria automóvel a expressão «Qualidade do Som». Isto marca apenas o início da corrida pela vantagem competitiva em todos os aspetos menos o tamanho do microprocessador. A Apple e a Bang & Olufsen estão a ser usadas como inspiração por uma indústria informática que só recentemente começou a preocupar-se com o estilo e o design. E já não era sem tempo! Os computadores também começam agora a centrar-se no som. A seguir vêm os elementos tácteis, seguidos pelo cheiro do equipamento (eu adoro o cheiro de um computador novo). Da mesma forma que se tornou habitual tirar partido do cheiro a «carro novo», em breve as marcas de computadores começarão a criar as suas próprias versões deste cheiro. Ao contrário de inúmeras outras indústrias, as inovações tecnológicas já estão incluídas no produto. Em breve, os computadores 172 • Brand Sense - FINAL.indd 172 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:41 começarão a ser fabricados com a capacidade de usar canais sensoriais (lembra-se dos e-mails com cheiro de que lhe falei num capítulo anterior?). Uma vez que 400 milhões de pessoas em todo o mundo ligam um computador todos os dias da sua vida, os engenheiros informáticos estão a pensar usar o rato do computador como centro do «cérebro» multissensorial. A Sony Corporation está a trabalhar nesta inovação neste preciso momento.2 Ali, uma equipa de especialistas, que inclui um psicólogo, dedica-se a desenvolver um rato que permita ao utilizador «sentir» aquilo para que está a apontar no ecrã. Este rato pode ser instalado num computador com sistema operativo Windows e pode comunicar aos dedos do utilizador imagens, texto e animações. Embora os engenheiros estejam a desenvolver esta tecnologia principalmente para um público composto por invisuais, o seu potencial para outras aplicações – nomeadamente a comunicação sensorial – é enorme. OS SEGUIDORES SENSORIAIS A indústria alimentar Independentemente da nossa opinião acerca da modificação genética dos produtos que comemos, garanto-lhe que irá ler muito sobre «design alimentar» na próxima década. É certo que o sabor será sempre importante, mas os resultados do estudo Brand Sense mostram que o cheiro e a aparência têm uma importância igualmente grande para os consumidores. É pouco provável que a indústria alimentar deixe as coisas como estão atualmente. Continuarão a persistir e a tentar criar artificialmente o cheiro do produto e o som da embalagem, bem como a controlar o som que a comida faz quando é mastigada. Vão alterar a cor e o sabor, criando novos níveis de preferência sensorial. Os pré-adolescentes vão querer ketchup verde e Sprite azul-turquesa. Na nossa sociedade urbana contemporânea estamos mais habituados a apanhar maçãs das prateleiras do supermercado do que das árvores. Poucos de nós saberiam identificar uma folha de macieira. Embora a maioria dos consumidores aprecie o cheiro que acredita ser o de couro autêntico, há uma geração que lhe foi apresentado Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 173 • 173 05-04-2013 11:22:41 um cheiro artificial que ainda hoje acredita ser o original. O mundo alterado e artificial parece mais autêntico do que o mundo real. A tecnologia permitiu que empresas como a Nestlé, a Coca-Cola e a Carlsberg adicionassem aromas às suas embalagens nas prateleiras do supermercado. A questão da autenticidade vai determinar até onde esta indústria pode ir até se deparar com uma reação adversa dos consumidores. A indústria em rápida expansão dos bens de consumo A categoria da indústria em rápida expansão dos bens de consumo (ou REBC para abreviar) inclui tudo, de piaçabas a canetas. Algumas indústrias desta categoria conseguirão percorrer o caminho sensorial com mais facilidade do que outras. Através do trabalho de designers como Terence Conran e Philippe Starck, os artigos de uso quotidiano estão a tornar-se cada vez mais sofisticados do ponto de vista visual. Qual é o próximo passo? Distinguir o seu aroma e o seu som dos dos restantes. Para sobreviverem a esta nova paisagem definida pelos sentidos, as empresas terão de se inspirar em indústrias mais avançadas e tentar manter a liderança no seu nicho. A indústria hoteleira e das viagens Até quase ao final do século XX, a indústria hoteleira foi uma das mais inovadoras líderes na área da comunicação sensorial. No entanto, as crises financeiras, a síndrome respiratória aguda grave, o terrorismo, a gripe suína, uma economia em farrapos e uma desconfiança generalizada em relação às viagens têm vindo a impedir o seu progresso. Apenas algumas cadeias hoteleiras – como a Ritz-Carlton – mantêm o seu foco nos sentidos. O logótipo em forma de leão do hotel Ritz pode ser visto em tudo: nas maçanetas das portas, nos bolos, nos sabonetes e nos chinelos. No entanto, apesar de se terem desviado do seu foco central, as cadeias hoteleiras continuam a ser grandes inovadoras, com os grupos asiáticos – em especial os de Singapura – na liderança. 174 • Brand Sense - FINAL.indd 174 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:42 A indústria das viagens sofreu um grande golpe. As companhias aéreas low-cost obrigaram as companhias aéreas normais a reduzirem os seus orçamentos para a comunicação a quase nada. Apesar de várias crises, algumas companhias aéreas – a Cathay Pacific e a Singapore Airlines, por exemplo – conseguiram manter ativos os pontos de contacto sensoriais. Curiosamente, estas duas empresas foram as que exibiram sinais mais claros de recuperação, o que as coloca no grupo muito exclusivo das companhias aéreas rentáveis. As instituições financeiras À medida que os bancos se fundem e crescem, os consumidores vão-se tornando cada vez mais insignificantes, criando uma lacuna cada vez maior entre as instituições e cada um de nós. Só um toque humano pode restabelecer a ligação e a comunicação sensorial vai criar uma das ligações necessárias. Como toda a gente sabe, a área comercial dos bancos tem vindo a tornar-se cada vez mais automatizada. Os custos foram impostos aos consumidores, que preferem lidar com uma pessoa do que fazer as suas transações em máquinas multibanco, por telefone, em websites automatizados e através de serviços de atendimento automático. No outro extremo do espetro temos empresas comerciais que optaram pela estratégia contrária, criando ambientes mais confortáveis, acolhedores, leves, agradáveis e... fabricados. Hoje em dia as instituições financeiras comercializam produtos genéricos. Os dias do gerente amistoso com um sorriso reconfortante e um aperto de mão firme estão de facto a desaparecer. A fidelidade dos consumidores, no ambiente bancário atual, é verdadeiramente instável. A comunicação sensorial pode ser a única opção dos bancos para regressarem a um ambiente centrado nas pessoas. O comércio O comércio deu passos firmes na área da comunicação sensorial durante a década passada. Primeiro começaram a passar música em algumas lojas, depois os designers alteraram a configuração e a deco- Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 175 • 175 05-04-2013 11:22:42 ração das lojas e hoje em dia já estão a usar aromas. O problema é que, à exceção da Abercrombie & Fitch, toda esta evolução sensorial não foi personalizada por nenhuma marca. Muito poucas cadeias estão a desenvolver o seu próprio som, assim como sacos ou embalagens criados para transmitir determinadas sensações tácteis. Mas ao longo dos próximos anos vamos ver esta tendência inverter-se. A tecnologia também vai pôr os comerciantes no caminho sensorial certo. O que se segue? A comunicação sónica: logótipos sónicos incorporados nas embalagens que transmitirão um som específico quando são abertas. O uso do som não aplicado a uma marca específica já está muito disseminado: as escadas rolantes do aeroporto de Hong Kong informam-no que está na altura de sair e em alguns supermercados ouve-se uma voz surgida do meio do nada a informar-nos de que a caixa seguinte está disponível. A indústria da moda Em 2002, a Prada revolucionou os provadores de roupa da sua loja no Soho em Nova Iorque ao instalar roupeiros «inteligentes». Os roupeiros inteligentes digitalizam a informação das etiquetas das peças de vestuário, todas com o seu chip eletrónico, e enviam-na para um ecrã táctil interativo no provador. Ali o cliente pode usar o ecrã para escolher outros tamanhos, cores ou tecidos. O ecrã também apresenta uma imagem em vídeo da dita peça de vestuário a ser usada numa passarela da Prada. O comércio e a moda uniram esforços para criar uma experiência de entretenimento usando tecnologia que comunica com os consumidores através de um número cada vez maior de sentidos. Hoje em dia, há microchips que identificam «choques cromáticos» e informam as compradoras (e compradores) se uma nova peça de vestuário condiz com o seu guarda-roupa atual. Quando os consumidores se decidem a comprar uma determinada peça de vestuário, um chip informa-os educadamente de qual é a melhor forma de tratar da mesma. No que diz respeito à comunicação sensorial, a indústria da moda está a aproximar-se a passos largos da indústria dos perfumes – o que é uma coisa boa. 176 • Brand Sense - FINAL.indd 176 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:42 A indústria do entretenimento Há cada vez mais programas promocionais a colarem-se aos filmes que passam no cinema perto de sua casa. Diversos filmes têm atividades correspondentes em parques temáticos (veja-se o caso dos Piratas das Caraíbas). A indústria do entretenimento está a sair-se maravilhosamente bem no departamento da comunicação sensorial. Mas será que isto vai durar? O tempo de vida médio de um filme, no aspeto financeiro, é de seis meses. Quando as vendas de bilheteira caem, a atividade ou jogo perde relevância, o que torna mais difícil justificar a existência de um carrossel do Indiana Jones ou do Harry Potter na Disneylândia ou no Warner Brothers World. A integração sensorial de filmes, cinemas, materiais promocionais, parques temáticos e eventos é frequentemente questionável. Existem mais de três mil artigos promocionais com o tema «Harry Potter» e estes têm muito pouco em comum entre si exceto o facto de terem sido fabricados na China e de terem o logótipo dos filmes do Harry Potter. O Harry nunca inventou o seu próprio cheiro. Nunca foi caracterizado por um som, toque ou sabor especial. Os materiais promocionais do Harry Potter só são apelativos à vista. Não têm qualquer ligação sensorial com os filmes, os carrosséis ou mesmo com os sete magníficos livros de J. K. Rowling. Não, os artigos promocionais do Harry Potter são iguais a todos os outros e é por isso que provavelmente não vão sobreviver ao declínio do êxito do filme. A indústria dos videojogos Os jogos de computador estão a aventurar-se destemidamente na direção de um universo sensorial completamente novo através da tecnologia. Muitos jogos pretendem simular o mundo real. O Tetris, o tão popular jogo 3-D, será brevemente reformatado com som surround e estimulação táctil. Há mais de 100 milhões de jogadores ansiosos por novos jogos e eles são por si só a motivação de que os criadores de jogos e as empresas fabricantes de tecnologia precisam para importar e transmitir o máximo possível de pontos de contacto sensoriais. Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 177 • 177 05-04-2013 11:22:42 Ao longo dos próximos anos, a indústria dos jogos de computador vai levar a comunicação sensorial de massas ainda mais longe ao lançar uma variedade de ratos e joysticks num mundo em que 30 por cento dos entusiastas de jogos de computador usam as consolas várias vezes por semana. As verdadeiras experiências tácteis são já uma realidade. A Immersion Corporation lançou a plataforma TouchWare Gaming, que a empresa promove como uma «tecnologia táctil e sensorial [que] pode transformar qualquer jogo numa experiência multissensorial ao envolver o sentido do tato». A plataforma TouchWare Gaming já está à venda. Com ela, pode «sentir o zumbido do seu sabre de luz» e «a explosão e recarga da sua pistola». Também saberá se «o seu míssil fixou um alvo» ou se o seu carro «está a andar em piso de calçada».3 Com a sua elegante pintura preta, o rato Nostromo n30 parece igual a todos os outros. No entanto, é mais do que parece pois este rato usa a tecnologia TouchWare. Sincronizado com as imagens do ecrã, o rato emite uma paleta de vibrações que o jogador sente nas pontas dos dedos. O controlo da PlayStation da Sony oferece um tipo diferente de feedback – conhecido como o «rumble» – que permite aos jogadores sentirem todas as colisões, impactos e choques, independentemente do jogo que estejam a jogar. O joystick SideWinder Force Feedback 2 da Microsoft até suporta feedback de força – ou seja, a sensação que os utilizadores sentem nas mãos quando jogam certos jogos. EXCELÊNCIA SENSORIAL As principais marcas sensoriais do mundo Com base nas informações recolhidas de grupos de discussão em todo o mundo, o estudo Brand Sense analisou as principais marcas do mundo da perspetiva da excelência sensorial. Das duzentas marcas mais valiosas do mundo segundo a Interbrand, tornou-se claro que eram poucas as que tiravam partido do seu potencial sensorial. Com efeito, apenas menos de 10 por cento destas marcas demonstravam algo que se parecesse com uma plataforma de comunicação 178 • Brand Sense - FINAL.indd 178 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:42 CLASSIFICAÇÃO MARCA VANTAGEM SENSORIAL (EM PERCENTAGEM) 1 Singapore Airlines 96,3 2 Apple 91,3 3 Disney 87,6 4 Mercedes-Benz 78,8 5 Marlboro 75,0 6 Tiffany 73,8 7 Louis Vuitton 72,5 8 Bang & Olufsen 71,3 9 Nokia 70,0 10 Harley-Davidson 68,8 11 Nike 67,5 12 Absolut Vodka 65,0 13 Coca-Cola 63,8 14 Gillette 62,5 15 Pepsi 61,3 16 Starbucks 60,0 17 Prada 58,8 18 Caterpillar 57,5 19 Guinness 56,3 20 Rolls-Royce 55,0 FIGURA 7.1 As principais 20 marcas que revelam excelência sensorial. Que marcas hoje em dia poderiam ser consideradas as maiores marcas sensoriais do mundo? Uma avaliação exaustiva da lista das 200 marcas mais valiosas do mundo revela os membros deste clube exclusivo. sensorial, embora daqui a cinco anos este número deva ascender aos 35 por cento. Usámos os seguintes critérios para avaliar as vinte marcas mais valiosas: • A marca está a tirar proveito de todos os pontos de contacto sensoriais disponíveis? • Existe uma ligação forte e coerente entre cada um dos pontos de contacto? Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 179 • 179 05-04-2013 11:22:42 • Até que ponto a marca reflete um estado de espírito sensorial inovador que a distinga das suas concorrentes? • Até que ponto é que os consumidores associam estes sinais sensoriais a esta marca em particular – e quão autênticos lhes parecem os sinais? • Até que ponto o consumidor acha que estes sinais são distintos e integrados? Sabe qual foi a descoberta mais intrigante? A maioria das empresas que usam uma plataforma multissensorial têm ainda mais potencial do que tínhamos visto até agora. O crescimento do catálogo da Louis Vuitton dá-lhe espaço mais do que suficiente para explorar uma abordagem a quatro – ou mesmo cinco – sentidos. O crescimento firme dos canais digitais da Nokia representa ainda mais oportunidades sensoriais (incluindo o logótipo da empresa, o som e os menus). A Gillette precisa de resolver a incoerência que existe entre os seus sinais tácteis e olfativos e a Starbucks ainda tem muito que evoluir para tirar o devido proveito dos pontos de interesse sensoriais das suas muitas lojas, onde os produtos da sua marca tendem a ser ignorados e onde os clientes, segundo o estudo Brand Sense, não atribuem um sabor específico à marca (apenas o cheiro a leite azedo que já referi). MAS ISTO É APENAS O COMEÇO… Mesmo que consiga identificar o uso de cada um dos sentidos no caso das suas marcas preferidas, não é possível afirmar que todos os aspetos sensoriais dessa marca estejam explorados... É que ainda estamos muito longe do fim da história da comunicação sensorial. Da minha perspetiva, há todas as indicações de que a comunicação de marcas avançará para campos ainda mais sofisticados, nomeadamente com marcas que não só se ancoram em tradições como também adotam traços religiosos e usam a comunicação sensorial como uma forma holística de espalhar a notícia. A NASA chamou The Enterprise ao seu primeiro vaivém espacial, graças aos cerca de 400 mil pedidos de fãs do Star Trek em todo o mundo. Afinal de contas, o Star Trek era mais do que uma simples 180 • Brand Sense - FINAL.indd 180 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:42 CLASSIFICAÇÃO MARCA VANTAGEM SENSORIAL (EM PERCENTAGEM) 1 Ikea 23,8 2 Motorola 25,0 3 Virgin 26,3 4 KFC 28,8 5 Adidas 31,3 6 Sony 31,3 7 Burger King 31,3 8 McDonald’s 32,5 9 Kleenex 32,5 10 Microsoft 33,8 11 Philips 33,8 12 Barbie 33,8 13 Nescafé 35,0 14 Nintendo 36,3 15 Kodak 40,0 16 AOL 41,3 17 Wrigley 42,5 18 Colgate 43,8 19 IBM 45,0 20 Ford 46,3 FIGURA 7.2 As 20 marcas com o maior potencial sensorial por explorar. Uma grande parte das principais marcas do mundo continua a não explorar o seu potencial sensorial – isto inclui as que constam desta lista. série de televisão. Evoluiu e tornou-se uma marca abrangente com um séquito com traços quase religiosos, que tinha a sua própria língua, as suas personagens, os seus sons e o seu design. Lembre-se: muito poucas marcas conseguiram transformar os seus clientes em evangelistas – e da Apple à Harley-Davidson e à Prada, a crença vitalícia dos consumidores num produto ou empresa é uma das bases mais essenciais para criar uma marca triunfante. Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 181 • 181 05-04-2013 11:22:42 Destaques Menos de 10 por cento das maiores marcas do mundo usam uma plataforma de comunicação sensorial, embora nos próximos cinco anos este número deva subir aos 35 por cento, desenvolvimento que se dará em três categorias: 1. Os pioneiros sensoriais. Ao longo da próxima década, as indústrias automóvel e farmacêutica vão liderar a orientação para os sentidos e a inovação. 2. Os que adotam as técnicas sensoriais. As indústrias das telecomunicações e da informática estão ambas a lutar pela definição e diferenciação das suas rivais. É mais provável que venham a procurar inspiração nos setores automóvel e do entretenimento. 3. Os seguidores sensoriais. É mais provável que várias áreas, incluindo a do comércio, a indústria em rápida expansão dos bens de consumo e a indústria do entretenimento, atuem como seguidores e não como líderes. O futuro das marcas sensoriais será avaliado com base nos seguintes critérios: • A marca está a tirar proveito de todos os pontos de contacto sensoriais disponíveis? • Existe uma sinergia forte e coerente entre cada um dos pontos de contacto? • Até que ponto a marca reflete um estado de espírito sensorial inovador que a distinga das suas concorrentes? • Até que ponto é que os consumidores associam estes sinais sensoriais a esta marca em particular – e quão autênticos lhes parecem os sinais? • Até que ponto o consumidor acha que estes sinais são distintos e integrados? 182 • Brand Sense - FINAL.indd 182 MARTIN LINDSTROM 05-04-2013 11:22:42 Na minha opinião existem diversos sinais de que a comunicação de marcas avançará para campos ainda mais sofisticados que não só se ancoram em tradições como também adotam traços religiosos e usam a comunicação sensorial como uma forma holística de espalhar a notícia. Afinal de contas, se pensarmos bem, haverá alguma coisa mais arrasável do que isto? Brand Sense Brand Sense - FINAL.indd 183 • 183 05-04-2013 11:22:42