Gerson Steves - Sociedade do Espetáculo
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Gerson Steves - Sociedade do Espetáculo
A Brodway não é aqui Teatro musical no Brasil e do Brasil: uma diferença a se estudar Gerson da Silva Esteves1 (Gerson Steves) Resumo O trabalho investiga as origens do teatro musical brasileiro e a recente colonização imposta pelo musical americano, agregando novos componentes a uma discussão que ainda está embrionária – quais caminhos têm sido trilhados pelo teatro musical no Brasil e mais: em que ponto dessa trajetória se encontra o Teatro Musical Brasileiro? A partir de artigo da Prof. Dra. Mirna Rubin em que cita aspectos para o sucesso que hoje vemos da estética do teatro musical em nosso País, em especial no eixo RJ-SP: avanços tecnológicos que permitem maior intercâmbio e pesquisa; a melhoria na formação prática e teórica do artista brasileiro; e o fato de vivermos uma economia estável com mais patrocínios e maior “consciência de uma política cultural”. Contraditoriamente, tal processo, nos últimos 10 anos, tem sido árduo no sentido de desenvolver, modernizar e fazer evoluir um genuíno Teatro Musical Brasileiro – como gênero e com dramaturgia própria. O que se vê é uma predominância de produções milionárias pelas majors do entretenimento internacional que visam exclusivamente a mercantilização de projetos culturais. Palavras-chave: Teatro. Musical. Broadway. Indústria cultural. Sociedade do Espetáculo 1 Graduado em Comunicação Social (com especialização em Propaganda e Marketing) pela ESPM e em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Tem formação em teatro pelo Teatro Escola Macunaíma e possui extensa produção artística nas funções de ator, diretor teatral, dramaturgo e professor de artes cênicas. É mestrando da Faculdade Cásper Líbero sob a orientação do Prof. Dr. Cláudio Novaes Coelho. E-mail: [email protected] Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 1 O TEATRO MUSICAL BRASILEIRO E A COLONIZAÇÃO IMPOSTA PELO MUSICAL NORTE-AMERICANO O recente boom do teatro musical no Brasil, em especial aquele oriundo da avenida mais famosa do entretenimento mundial, a Broadway, é tratado de forma esclarecedora em Teatro Musical Contemporâneo no Brasil: Sonho, Realidade e Formação Profissional (Rubin, 2010). O artigo – ponto de partida para este trabalho – apresenta alguns pontos-de-vista bastante interessante sobre a prática profissional dos que vivem o cotidiano do teatro musical, tanto na teoria quanto na prática. Desse modo, o objetivo deste artigo é agregar novos componentes a uma discussão que ainda está embrionária – quais caminhos têm sido trilhados pelo teatro musical no Brasil e mais: em que ponto dessa trajetória se encontra o Teatro Musical Brasileiro? Em seu artigo, Mirna Rubin explica que o teatro musical no Brasil, nos últimos 30 anos, tem vivenciado desenvolvimento bastante fértil, graças a diversos fatores. No referido trabalho, ela cita os seguintes aspectos para o sucesso que hoje vemos da estética do teatro musical em nosso País, em especial no eixo RJ-SP. São eles: os avanços tecnológicos que permitem maior intercâmbio e pesquisa; a melhoria na formação prática e teórica dos artistas brasileiros – em especial dos músicos, mas também dos cantores e preparadores vocais; e, finalmente, o fato de vivermos atualmente numa economia estável com mais patrocínios e maior “consciência de uma política cultural”. Sem dúvida alguma, são componentes que alavancaram o teatro musical no Brasil nos últimos 10 anos, mas, por outro lado, contribuíram para emperrar o desenvolvimento, a modernização e a evolução de um genuíno Teatro Musical Brasileiro – como gênero, estética e com dramaturgia própria, além de todas as peculiaridades culturais, sociais, econômicas e até políticas que, historicamente, concorreriam para a sua construção. Processo árduo e longo não somente da sedimentação de uma estética, mas também da formatação de um gosto por parte nas plateias brasileiras. O que segue é um inevitável apanhado histórico sobre os caminhos traçados pelo teatro musical no Brasil, em busca de uma identidade brasileira e sofrendo os chacoalhões e solavancos de uma economia instável, uma política cultural de total descaso para com o artista e sua criação até o desembocar em nossos dias numa inevitável invasão cultural, sobretudo, norte-americana. Por fim, considerações sobre o teatro musical no Brasil inserido numa sociedade de consumo cultural e suas possíveis perspectivas para a formação de produtos e plateias voltados para uma produção local – não apenas quanto aos meios, mas, sobretudo, quanto ao resultado final. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 2 DA ÓPERA AO MUSICAL, PASSANDO PELA REVISTA E O VAUDEVILLE Patrice Pavis2 (2005), em seu Dicionário do Teatro, distancia o teatro musical, como o conhecemos contemporaneamente, da ópera ou da opereta, ao mesmo tempo que o aproxima das experiências de Brecht e Weill, por integrarem música, dança e dramaturgia em forma de texto falado e não apenas cantado. Já a diretora e pesquisadora Neyde Veneziano3 (1991) atribui ao teatro musical suas influências populares desde os primórdios greco-romanos, passando pelos comediógrafos latinos – italianos, franceses e portugueses, tais como Goldoni, Molière e Gil Vicente – como grandes influenciadores de um teatro popular do século XX – em especial na criação de um teatro de variedades e do vaudeville que irá desembocar no Teatro de Revista. Esse primeiro exemplar de um teatro musical genuinamente brasileiro – apesar de suas origens lusitanas – se enriquece ainda mais a partir do encontro de tantas influências europeias com aquelas vindas de África. O que poderia ser um choque torna-se um feliz casamento de ritmos, sonoridades, tipos humanos e, especialmente, pontos-de-vista. Em linhas gerais, a cena brasileira começa a conhecer, já em finais do século XIX, um teatro musical de origens, temas e discussões de cor local. Isso, a despeito das constantes visitas àquela altura, na Capital Federal, das companhias estrangeiras de ‘teatro culto’ e ópera. Mas nos circos, nas companhias mambembes e nos cabarés, o que se ouvia era a sonoridade das ruas e o que se via era a reprodução de nossos tipos populares (caipiras, malandros, aristocracia inculta). Como sinaliza Veneziano (1991),desde os nossos comediógrafos do século XIX – Martins Pena e França Júnior, seguidos mais tarde por Arthur Azevedo surge uma reação ‘regional-nacionalista’. É quando começa a ser formatado um gosto popular pelas farsas ou melodramas musicados, bem como pelas chamadas Revistas de Ano – que como o nome já diz, revisitavam os acontecimentos do ano anterior. Tal reação, um dos valores percebidos desde o romantismo (e depois pelo realismo) brasileiro vai passar pelo modernismo de 22 com seu movimento antropofágico e desembocar no teatro de resistência do Arena ou do Oficina. A revista, por encontrar o Varieté Francês, perde em dramaturgia e ganha no quesito entretenimento – uma vez que passa a reunir sobre o mesmo palco artistas com formações, experiências e linguagens diversas, não mais importando ‘o contar de uma história’, ou seja, uma dramaturgia especialmente construída para aquele espetáculo, mas uma colcha de retalhos. Tais artistas, normalmente egressos do circo ou das companhias mambembes, deram mais uma contribuição ao nosso teatro musical, por meio de quadros de música (normalmente paródias ou canções originais) e piadas que, organizados de maneira quase aleatória originariam, posteriormente, nosso humor de rádio, cinema e mais tarde de TV – afinal, pouco mudou da PRK30 ao Zorra Total, passando por programas como Balança Mas Não Cai, Um Edifício Chamado 200 ou ainda pelas chanchadas da Atlântida e da Cinédia. 2 Patrice Pavis é professor de Estudos Teatrais na Universidade de Kent, Canterbury. Neyde Veneziano é, além de diretora teatral, Professora e Pesquisadora da Unicamp. Entre seus temas de pesquisa, destaca-se o Teatro de Revista no Brasil – título de sua mais importante publicação. 3 Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 A revista segue em frente com forte influência da revue ou da féeriefrançaise(Lido, FolliesBergère, Moulin Rouge) e dos ritmos americanos (foxtrot, boogie-woogie, tap dance) em grandes shows de cassinos durante o Estado Novo (especialmente as famosas revistas do empresário Walter Pinto, um dos pioneiros a sair do Brasil em busca de referências e repertório) até encontrar seu declínio com o fechamento oficial das casas de jogo em 1946. 3 UM TEATRO PARA A ELITE VERSUS A TENTATIVA DE UM TEATRO NACIONALISTA Uma nova leva de europeus chega ao teatro brasileiro na década de 1940, trazendo não apenas um novo gás criativo, mas também e principalmente um profissionalismo e um perfeccionismo técnicos nunca antes vistos em nossos palcos. Será a primeira vez que o teatro brasileiro irá se preocupar com maquinários de cenografia, montagens e afinação de luz, produção de figurinos (normalmente os artistas é que eram donos de seus guarda-roupas). Eram diretores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores. Muitos deles vindos a convite do italiano Franco Zampari, quando da fundação do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC a partir de 1948. Mas não podemos esquecer aqueles que chegaram antes, como Ziembinski(ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL – TEATRO: ZBIGNIEW ZIEMBINSKI)que aporta no Rio de Janeiro, fugido da II Grande Guerra e que, em 1943, com sua direção para Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, ajuda a fundar o que se conheceu como o nascimento do Moderno Teatro Brasileiro – junto da companhia Os Comediantes e do cenógrafo Santa Rosa. O ponto-de-vista de Mirna Rubin (2010), mencionado no início deste artigo, de que o intercâmbio com outras culturas é fator preponderante para o desenvolvimento profissional dos nossos artistas, é fato recorrente a se notar ao longo do processo de formação de públicos e criação de projetos teatrais no Brasil – sejam eles musicais ou não. No livro TBC: Crônica de um Sonho (1980, p. 11-13), Alberto Guzik – ator, diretor, crítico e pesquisador teatral – nos faz perceber a importância, para o nascimento de um moderno teatro brasileiro no século XX, de uma burguesia ambiciosa em realizar um produto cultural que fosse consequente e “sem a preocupação com a bilheteria ou a folha de pagamentos”. Então que, a partir de 1948, é fundado o Teatro Brasileiro de Comédia – impossível não perceber no nome a sua proximidade com a tradicional e conservadoraCommedieFrançaise. Ainda em seu livro, Guzik nos leva a perceber a preferência da companhia por textos internacionais – especialmente os franceses e americanos – sempre adornados por belos cenários, figurinos sofisticados e um entorno atraente aos olhares mais aristocráticos, o que se pode perceber pelo livro Foto em Cena (1991), com fotografias de FrediKleemann que, nas palavras de Maria Lúcia Pereira4 em sua introdução, “talvez 4 Maria Lúcia Pereira – atriz, diretora teatral, tradutora e pesquisadora do IDART. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 tenha sido o primeiro fotógrafo oficial de uma companhia” de teatro no Brasil. Sendo assim, pode-se dizer que pela primeira vez no teatro brasileiro se vê a preocupação com a imagem de uma companhia – seus valores transmitidos não apenas pelo texto que encena ou pelo talento de seus componentes, mas também pela imagem veiculada em fotos que traduzem seu glamour e refinamento. O palco começava a encontrar uma plateia sedenta não apenas pela comunicação e prazer estético que a arte proporciona, mas pela espetacularização. É quando o TBC surge como a primeira griffe do teatro nacional, coalhada de nomes estrangeiros que lhe atribuíam status de companhia internacional. Em 1958, dez anos depois de sua fundação, o TBC vivia seu primeiro declínio pelo surgimento de outras duas companhias que lhe tomam as atenções: o Arena e o Oficina – este último ainda sem o impacto que viria a causar no final dos anos 1960 sob a batuta de Zé Celso Martinez Corrêa. Sobre essa reviravolta na cena paulistana daquele período, vale observar a pesquisa de Cláudia de Arruda Campos (1988) que lança um olhar, sobretudo, no renascimento de um moderno (e engajado) Teatro Musical Brasileiro. Nas palavras do crítico teatral e ensaísta Décio de Almeida Prado: Alberto Guzik contemplou o TBC com olhos que se esforçam por fazer justiça – e fazem – a uma concepção de teatro da qual ele já se sente bastante afastado – e não só no tempo. É o presente julgando, e às vezes absolvendo, um passado cheio de realizações, por certo, brilhantes mas que se lhe afigura irremediavelmente datado. Armando Sergio da Silva, em contraposição, encara a trajetória do Oficina como que se projetando sobre o futuro, uma aventura que infelizmente se interrompeu a meio, mas que a genialidade de Zé Celso poderá a qualquer momento por de novo em movimento. Ambos coincidem, entretanto, num ponto: colocam-se fora e não dentro de seu objeto de estudo. Perante ele são espectadores, não participantes. A posição de Cláudia de Arruda Campos é um pouco diversa. Ela está fora do Teatro de Arena, por não ter tomado parte em nenhuma de suas atividades, mas dentro dele, inteiramente dentro, na medida em que viveu o exaltado estado que o guiou em sua fase mais polemicamente política. (CAMPOS,1988, p.XVI) A trajetória do Teatro de Arena (bem como do Oficina e do Opinião) foi mapeada por Edélcio Mostaço em seu Teatro e Política (1982) e aponta que o Arena nasce no início dos anos 1950 como uma alternativa à cena da cidade. A intenção de seu fundador, o diretor e ator José Renato Pécora, era oferecer um teatro de qualidade do ponto-de-vista dramatúrgico, mas sem as mesmas condições econômicas do seu concorrente. O jeito foi, portanto, como nos conta Oduvaldo Vianna Filho na Revista Movimento (1962): sem poder se apoiar em figuras de cartaz, em cenários bem feitos, em peças estrangeiras de sucesso (o avaloir é alto), o Teatro de Arena, mais cedo ou mais tarde, teria que apoiar sua sobrevivência na parcela Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 politizada do público paulista, identificada com aquelas condições econômicas.(CAMPOS,1988) Durante algum tempo, o Arena teria inovado na forma, mas com um conteúdo que, segundo críticos, poderia ter sido veiculado pelo TBC. Foi a chegada de Augusto Boal que trouxe novos ares ao fazer teatral da companhia, especialmente no que dizia respeito ao estilo de representação dos atores, graças aos famosos Laboratórios de Interpretação com base no que aprendera no Actor’s Studio e buscando um estilo de atuação que fosse mais brasileiro. Ainda assim, o Arena chega ao ano de 1957 em estado de penúria financeira. Um jovem italiano filho de imigrantes – não vindo da burguesia, mas afeito às tradições trabalhadoras e militante político desde a juventude – vem para dar vida nova ao Teatro de Arena, prestes a fechar as portas por questões financeiras. Com sua peça de estreia, Eles Não Usam Black-Tie(título bastante provocativo para a burguesia frequentadora do TBC), Gianfrancesco Guarnieri inaugura uma fase mais política para o Arena e coloca em voga a busca pela identidade nacional expressa, consequentemente, pelo pensamento da dramaturgia brasileira: nossa gente, nosso povo, nossos heróis, nossa real situação sociocultural e econômica. Assim, a ideia de espetáculo (produto artístico e cultural criado para chamar a atenção, entreter e maravilhar a plateia) começa a imiscuir-se com uma noção de realismo/realidade ainda que superficialmente. Se, por um lado como gostaria Aristóteles e sua noção de catarse, Eles Não Usam Black Tie era a porta de entrada para uma tomada de consciência das classes trabalhadoras e da sociedade como um todo que ali se via espelhada; por outro lado, não deixava de ser apenas um simulacro fantasioso de uma realidade muito mais dura do que a retratada. Aqui, se confundem as noções de espetáculo teatral e de espetáculo segundo Guy Debord (1967, p. 12). Este “momento histórico que nos contém” e que procuramos apreender na obra teatral como uma espécie de criador que devora a criatura e viceversa éaté interessante de se observar. Tomando o pensamento de Debord: “a realidade surge no espetáculo e o espetáculo é real. Esta alienação recíproca é a essência e o sustento da sociedade existente. No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso”. Os anos seguintes (de 1958 a 1961) foram tempos de má recepção do Arena por parte da crítica da época. A busca de um teatro de nova dramaturgia e “a insistência em montar apenas novos autores nacionais, com a limitação de optar por peças que traduzissem uma perspectiva social, se não política, incorre no acolhimento de textos menores, incipientes” (CAMPOS, 1988). O Arena precisava, mais uma vez, de uma injeção de ânimo. E isso viria com a música. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 4 ARENA CANTA ZUMBI E ARENA CANTA TIRADENTES: OS EMBRIÕES DE UM TEATRO MUSICAL BRASILEIRO FORA DO ENTRETENIMENTO Desde os anos 30, a cinematografia norte-americana influenciava fortemente o cinema e o teatro musical brasileiros com seus ritmos, números fantasiosos e grandiloquentes, seus cenários e figurinos exacerbados, tudo para realçar uma plêiade de estrelas atuando em roteiros água-com-açúcar produzidos em escala industrial. Hollywood e Broadway passam a significar sinônimos de um tipo de arte produzida segundo certas regras. Mais do que uma cidade ou uma rua, tornam-se marcas, “símbolos do espirito americano” trabalhadas publicitariamente – como aponta Isleide Fontenelle (2002). Aos olhos do público, a marca Broadway, como símbolo, passa a ser a representação do gênio criativo e da multicompetência artística de seus componentes: atuar, dançar, cantar, entreter. Um universo de possibilidades de sonho que enleva a sociedade americana desde a grande depressão até os dias de hoje, passando pela Segunda Guerra Mundial. Já o cinema musical produzido nos Estados Unidos (sempre alinhado com os produtos da Broadway) representou reduto de sonhos e possibilidade de escapismo para gerações – movimento que pode ser verificado ainda hoje na televisão e que será avaliado a seguir. Nos anos 60, o teatro musical de dramaturgia (oriundo da Broadway) começava a ganhar espaço nos palcos brasileiros. A montagens de My Fair Ladycom Bibi Ferreira e Paulo Autran são bons exemplos disso. Entretanto, o espírito de nacionalização reinante no teatro daquele período faz nascerem alternativas brasileiras dignas de nota – o Show Opinião (no Rio de Janeiro, com criação de Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes, sob direção de Augusto Boal), seguido da Feira Paulista de Opinião e as montagens de Arena Canta Zumbi e Arena Canta Tiradentes (em São Paulo) representam claramente esse movimento. Nos três espetáculos citados e em especial nos dois últimos, nota-se a forte influência do musical brechtiano, como aponta Claudia Arruda Campos (1988): na linha de um teatro de propaganda política em cuja ponta estão as atividades do proletkultsoviético, que atinge sua realização mais acabada com o Teatro Proletário de Erwin Piscator e, ultrapassando o imediatismo da arte de agitação e propaganda, alcança a universalidade na obra de Bertolt Brecht. Afora seu caráter didático e político, Zumbi e Tiradentes, ambas já criadas e produzidas dentro da Ditadura Militar, são obras que apontam genuínas intenções de um teatro musical com diferentes ritmos e gêneros da música popular brasileira: “a canção, o samba, os ritmos negros dos ritos de umbanda” e é “interessante observar que os autores recusam o iê-iê-iê e a música jovem internacional, certamente muito comprometida com o consumo de massas” (CAMPOS, 1988). Com o recrudescimento da Ditadura Militar, entre o final dos anos 1960 e primeiros anos da década de 1970, o teatro musical produzido no Brasil passa a ser ainda mais Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 resistente. As primeiras grandes iniciativas nesse caminho são as montagens de Roda Viva e Brasileiro, Profissão Esperança. Desse período, são dignas de nota as intenções de Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes (então, marido de Bibi Ferreira), primeiramente, na tradução de O Homem de La Mancha, ao lado de Ruy Guerra e com direção de Flávio Rangel. Em seguida, a parceria deu tão certo que a dupla cria Gota D’Água para que Bibi a estrelasse (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL – TEATRO: BIBI FERREIRA). Vale ressaltar que a entrada de Bibi no mundo dos musicais passa, como visto inicialmente, por dois títulos vindos da Broadway que tiveram versões cinematográficas de estrondoso sucesso. Só então, ela e seu marido começam a se aventurar em projetos com uma identidade mais nacional. As próximas investidas de Chico Buarque e Ruy Guerra foram muito significativas e deixaram marcas indeléveis na criação e produção de uma dramaturgia musical genuinamente brasileira. São elas: a Ópera do Malandro (inspirada na Ópera de Três Vinténs, de Brecht e Weill) e Calabar, Elogio à Traição (na época, proibida pela censura). Os anos que se seguem são de profunda inércia para o teatro musical brasileiro. Algumas iniciativas esporádicas dignas de nota, como a montagem brasileira de Evita, Piaf (com Bibi Ferreira), A Estrela Dalva (a partir da vida de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins) e Elas Por Ela (homenagem às grandes cantoras do rádio) – estas duas últimas produções, estreladas por Marília Pêra (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL – TEATRO: MARÍLIA PÊRA). 5 A ERA COLLOR E O RENASCIMENTO DO TEATRO MUSICAL NO BRASIL, NOS MOLDES DA BROADWAY Em finais dos anos 1980, o cenário nacional vê surgir uma possível nova estrela: Cláudia Raia, que começa a criar e produzir seus próprios espetáculos – todos eles com forte influência de uma estética tipicamente de Broadway no que diz respeito a arranjos, coreografias e repertórios. Claudia traz em sua atuação um componente de brasilidade: das atrizes já mencionadas e voltadas para o gênero, ela é a única que desponta com uma star quality de vedete que nos lembra de alguma forma os bons tempos do teatro de revista – isso se deve muito à sua parceria inicial com o dramaturgo Silvio de Abreu. São espetáculos de puro entretenimento e pouca qualidade tanto estética quanto artística – mas que já apontavam para um apuro técnico. A partir daí, tanto no que se pode chamar de musical de Broadway como o teatro musical brasileiro passam a sofrer um breve declínio de alguns anos. A Era Collor não traz nenhum tipo de inovação e, pelo contrário, emperra os processos de viabilização de projetos. Foi com a criação das muitas leis de incentivo à cultura e a estabilização da moeda nos anos 90, que começam a surgir produtores interessados em implementar projetos de teatro musical e, por consequência, um nicho começa a se formar. Essa fatia de mercado, formada por jovens com pouco hábito de frequência ao teatro e apaixonados Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 por musicais estadunidenses dividem-se em criadores e espectadores assíduos do gênero. E como afirmou Mirna Rubin (2010), a explosão da Internet nos lares brasileiros, alçando o País à incrível posição de 5° no mundo em volume de conexões – o que promete aumentar em progressão aritmética nos próximos anos –, levou especialmente aos jovens o acesso rápido e fácil a vídeos, partituras, gravações, registros históricos (G1 apud RUBIN, 2010)5. Isso faz com que conheçam artistas de todo mundo, comparem produções de vários países para um mesmo texto, descubram raridades ao mesmo tempo em que se inteiram sobre as novidades, acompanhem premiações, leiam fofocas e desenvolvam blogs nacionais direcionados para esses aficionados do gênero – cada vez mais sedentos por uma aristocracia artística de teatro musical, artistas que são tratados como emissários tocados pelos deuses. Esse público, em sua maioria, melhor informado em quantidade que em qualidade, passa, cada vez mais, a desejar espetáculos com a mesma magnitude da Broadway – como se fossem objetos de luxo a serem consumidos em sofisticadas lojas de griffe da cidade. A profusão de teatros em shopping centers (resultado da falta de segurança nas metrópoles e meios de transporte público eficientes) é um fator que denota esse alinhamento do produto artístico com o mercado de luxo. 6 MUSICAL: MERCADORIA EXPOSTA NAS VITRINES ESPETACULARES DA INDÚSTRIA CULTURAL Do mesmo modo que Adorno e Horkheimer (1985, p. 99) apontam como um sistema de comunicação interligado meios como o cinema, o rádio e as revistas, hoje se pode ainda incluir nesse sistema a televisão e, até mesmo, o teatro ou outras artes. Tudo sob o guarda-chuva do chamado marketing cultural, que estendeu seus tentáculos, agora ampliados pelo poder avassalador da internet, sobre públicos por vezes incautos. Esses frequentadores de salas de espetáculos ou modernas galerias de arte são, geralmente, conhecidos como consumidores de cultura, terminologia que reduz a obra de arte ao patamar de produto pronto para o consumo. Seria ingenuidade imaginar que tanto a Broadway quanto Hollywood não fossem polos de criação de espetáculos voltados para a produção em massa de produtos de entretenimento. Entre os anos 1930 e 1950, a Meca do cinema absorvia dos musicais nova-iorquinos quase que de forma canibal: ideias, roteiros, artistas, técnicos e criadores em geral. Todos eram aliciados pela sedução dos grandes estúdios sob o pretexto de fabricar sonhos e ilusões. Nos dias de hoje, muitas crises econômicas mundiais depois, e em tempos em que o cinema não mais produz seus famosos musicais, a Broadway, como indústria, sabe que 5 Segundo a Agência Estado/Portal G1 – “Brasil ocupa quinta posição em mercado de celulares e internet, diz ONU” Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 ‘o show não pode parar’ e se vê na necessidade premente de ampliar plateias, conquistar novos públicos e preservar sua memória junto a uma horda de fanáticos saudosistas. Para tal, é necessário que o gênero aja em algumas frentes: dialogar com as novas gerações apresentando a elas sua estética, história e valores; estender seus atributos e conteúdos para além dos quarteirões entre as ruas 42 e 50 de NYC (cruzando fronteiras para onde for necessário, em uma verdadeira estratégia de guerra e dominação); gerar sempre novos produtos para alimentar uma enorme máquina de entretenimento que engloba TV, cinema e games, além da indústria de brinquedos e gadgets em geral. É de se notar que não há um musical de Broadway que não possua sua ‘lojinha’ anexa. Portanto, os sonhos e ilusões de outrora deram lugar ao escapismo e a um entretenimento do tipo fast-food – artigos de primeira necessidade em tempos neoliberais e globalizados exportados para todo o mundo em esquema de franchising. Afinal, como visto em Adorno e Horkheimer (1985, p. 100), eles “definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos”. Se nos tempos dos grandes estúdios, Hollywood contribuía para gerar interesse sobre a Broadway, na atualidade as ferramentas são mais poderosas: a TV e a internet criam um espetáculo muito bem orquestrado de produtos, fofocas, redcarpets, merchandisings e promoções que incluem da imprensa em geral às redes sociais. A TV estadunidense produz e exporta para o mundo, semanalmente, produtos de médio, baixo e alto orçamento que visam habituar ouvidos e olhos de crianças e adolescentes com o formato estabelecido pelo binômio: roteiro raso + músicas que grudam nos ouvidos. Formamos, sim, um público, só que muito menos refinado e preparado em termos de gosto/olhar para a fruição artística. A TV a cabo foi a primeira a disseminar esses produtos no Brasil e a pressão do mercado foi tão grande que os mesmos chegaram à TV aberta. Exemplos não faltam, desde High School Musical e seu genérico latino Rebeldes até Hannah Montana ou Victorious– vale notar que essas séries são todas conhecidas no Brasil por seus nomes em inglês e nossos jovens já se habituaram a ler as legendas das canções em TV aberta. Mas nenhum deles chegou tão longe quanto um fenômeno dos últimos três anos: Glee. Esta palavra tão curta que envolve muitos significados e significações é o título de uma série de TV que tem revolucionado o jeito dos norte-americanos, e do mundo, olharem para o teatro e o cinema musicais. Tornou-se uma febre, gerou produtos paralelos (livros, DVDs, CDs e toda uma sorte de gadgets para a vida objetiva e virtual de seus admiradores), aliviou a culpa de pais e professores quanto aos pendores artísticos de seus jovens, além do fato de ter flertado sistematicamente com a Broadway, promovendo um intercâmbio entre os jovens atores do seriado e os medalhões do showbizz nova-iorquino. Por conta de Glee, ficou mais fácil ver na telinha estrelas como PattiLupone, KristinChenoweth, IndinaMenzel que antes eram limitadas aos palcos. Do mesmo Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 modo, os garotos e garotas da série de TV já se tornaram celebridades premiados e começam a estrelar shows – no bom e velho estilo caça-níqueis tão conhecido do star system (coloque uma estrela televisiva em seu palco e você terá público). A série envelheceu e gerou frutos: um reality-show, um longa e outra série para o público adulto – Smash (produzida por ninguém menos que Steven Spielberg). No Brasil, o mesmo começa a se dar: cada vez mais é comum ver uma estrela do teatro musical nas telinhas e vice-versa. Some-se a tudo isso a força que o patrocinador tem no Brasil. Se na Broadway a concorrência é feroz, o que dizer das terras tupiniquins? Aqui, a falta de investidores dentro do próprio meio teatral leva produtores a buscarem recursos – por meio de leis de incentivo e renúncia fiscal, portanto com dinheiro público – para a produção de megaespectáculos em grandes salas e envolvendo dezenas de profissionais, fazendo com que o produto se alinhe com o gosto de uma maioria consumidora. Não se trata, portanto, de fazer um produto artístico que se almeje – seja por questões estéticas, filosóficas, ideológicas ou mesmo pessoais –, mas, sobretudo, por aspectos econômicofinanceiros, em nome do lucro e da divulgação de marcas. Outros fatores que concorrem para isso são o desemprego na classe teatral, ainda muito grande, e a falta de oportunidades igualmente escassa, gerando um mecanismo perverso de exercício da profissão no qual o artista, não raro na base da pirâmide, se vê alinhado a um projeto com o qual não possui qualquer afinidade artística ou criativa, reproduzindo literalmente bythe book um espetáculo em esquema de franquia. Não se trata do teatro que se queira fazer, mas o teatro que os outros esperam que você faça por mero exercício da profissão. E, no Brasil, em que a cena offé minúscula, isso pode significar a diferença entre ser ou não ser visto, ter ou não um salário. Infelizmente, são estabelecidas regras de mercado cruéis quanto a isso. A chave é entender o teatro musical contemporâneo – especialmente no Brasil – mais como entretenimento a serviço de um gosto formatado pelos sistemas midiáticos do que como arte pura (se é que isso exista). Para o artista, mera força de trabalho numa máquina muito bem azeitada, que não detém ou interfere nos meios de produção, fica impossível apropriar-se de seu produto cultural, pois a crítica a todo este estado de coisas fica quase inimaginável. Como nos aponta Debord (1967, p. 22-23): (...) o homem separado do seu produto produz cada vez mais poderosamente todos os detalhes do seu mundo e, assim, encontra-se cada vez mais separado do seu mundo. Quanto mais sua vida é agora seu produto, tanto mais ele está separado da sua vida. É um círculo vicioso: quanto mais se envolve com este tipo de produção, menos é dono do resultado de seu trabalho e, em contrapartida, tanto mais valoriza sua própria imagem no mercado de trabalho em que atua – uma imagem que não mais o representa artisticamente e da qual passa a ser escravo. Quanto à forma e o resultado final do produto, vale citar Adorno e Horkheimer (1985, p. 107-108) a respeito da caricatura do Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 estilo, pois não há gênero teatral que seja mais vítima desse fenômeno que o teatro musical no Brasil: Em toda obra de arte, o estilo é uma promessa. Ao ser acolhido nas formas dominantes da universalidade: a linguagem musical, pictórica, verbal, aquilo que é expresso pelo estilo deve se reconciliar com a ideia de verdadeira universalidade. Essa promessa da obra de arte de instituir a verdade imprimindo a figura nas formas transmitidas pela sociedade é tão necessária quanto hipócrita. Ela coloca as formas reais do existente como algo de absoluto, pretextando antecipar a satisfação nos derivados estéticos delas. Nessa medida, a pretensão da arte é sempre ao mesmo tempo ideologia. No entanto, é tão-somente neste confronto com a tradição, que se sedimenta no estilo, que a arte encontra expressão para o sofrimento. O elemento graças ao qual a obra de arte transcende a realidade, de fato, é inseparável do estilo. A ideia de que o teatro musical que hoje se vê nos palcos brasileiros seja, por alguma razão, mais competente ou talentoso/virtuoso que qualquer outra manifestação teatral no País está diretamente ligada ao luxo e à pompa com que esses espetáculos são produzidos – ou melhor – reproduzidos no Brasil. Mas trata-se de uma produção ainda em pequeníssima escala, as iniciativas são – por questões econômicas e de profissionalização – ainda artesanais, apenas refletindo a já mencionada febre mundial pelos musicais de Broadway mundo afora. E, se reduzida a visão platônica da arte ao nível da imitação barata de uma realidade mais rica e por vezes inimitável ou inalcançável, A indústria cultural acaba por colocar a imitação como algo de absoluto. Reduzida ao estilo, ela trai seu segredo, a obediência à hierarquia social. A barbárie estética consuma hoje a ameaça que sempre pairou sobre as criações do espírito desde que foram reunidas e neutralizadas a título de cultura. Falar em cultura foi sempre contrário à cultura. O denominador comum “cultura” já contém virtualmente o levantamento estatístico, a catalogação, a classificação que introduz a cultura no domínio da administração. (...) Assim a indústria cultural, o mais inflexível de todos os estilos, revela-se justamente como a meta do liberalismo, ao qual se censura a falta de estilo. Não somente suas categorias e conteúdos são provenientes da esfera liberal, tanto do naturalismo domesticado quanto da opereta e da revista: as modernas companhias culturais são o lugar econômico onde ainda sobrevive, juntamente com os correspondentes tipos de empresários, uma parte da esfera de circulação já em processo de desagregação (ADORNO e HORKHEIMER, 1985) Em resumo, para o produtor/captador de recursos é uma mina de ouro. Afinal, como em qualquer meio de comunicação contemporâneo, o teatro musical (em especial este que segue ditames estético-culturais da Broadway) não passa de um negócio inserido num mercado altamente competitivo que, além de mamar nas tetas gordas da isenção de impostos, se beneficia ainda dos lucros advindos de bilheterias jamais praticadas (e Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 sequer sonhadas) por companhias e produtores que fazem teatro musical brasileiro de médio ou pequeno orçamento. Tomando as reflexões de Naomi Klein (2002, p. 55), a empresa patrocinadora não é mais apenas “recompensada com alguma forma modesta de reconhecimento público e isenção de impostos”; as verbas de mídia envolvidas são astronômicas, as comissões devidas a cada elemento envolvido no processo de captação do patrocínio são quase obscenas (por mais que as leis tentem moralizar este aspecto estabelecendo tetos e pisos de captação e comissões), alguns teatros levam nomes de grandes instituições e em outros casos, grandes empresas (em geral, bancos ou estatais), utilizam os artistas como ‘garotos-propaganda’ de suas ações de marketing sem que ganhem um centavo com isso – um bom exemplo é o uso que o Bradesco fez em suas campanhas publicitárias das imagens de divulgação do Cirque Du Soleil. Claro que Klein aponta o fato de que, não raro, alguns patrocínios podem ser bastante benéficos para as artes em geral, que ela classifica como arranjos entre o público e o privado que não passaram de uma simples e bem sucedida manutenção de um equilíbrio entre o evento cultural ou a independência da instituição e o desejo de crédito por parte do patrocinador, com frequência ajudando a fomentar um renascimento das artes, acessível ao público em geral. Ao avaliarmos os espetáculos produzidos no Brasil nos últimos dez anos, podemos averiguar que esse tal ‘arranjo’ beneficia muita gente, mas poucas vezes o público. Uma avalanche de títulos estrangeiros exibidos como sendo arte de ponta, porém que não passam de franquias como qualquer lanchonetefast-food, assola nossos palcos em espetáculos que não passam de produtos importados que ao chegarem em terras brasileiras, viciadas após décadas de colonização cultural, revelam-se verdadeiras construções pré-fabricadas, milimetricamente projetadas para agradar visual, sonora ou esteticamente. E como tal são montados: esquecemos séculos de trajetória cultural, deixamos de lado a anatomia (para o canto e a dança) do brasileiro, viramos as costas para nossos ritmos e heranças musicais, simplesmente ignoramos o fato de vivermos em um país tropical abaixo do Equador. Desse modo, figurinos e cenários são reproduzidos (quando não reaproveitados de temporadas realizadas em outros países antes de aqui chegarem), coreografias são ensaiadas muitas vezes à exaustão até que se alcance a tão proclamada excelência dos tapdancers do Tio Sam (tanto na forma quanto no conteúdo), a colocação vocal nos lembra a mesma dos cantores de lá, desconsiderando nossas peculiaridades sonoras e fonéticas. Isso tudo sem mencionar o aspecto temático que, na maior parte das vezes, não dialoga com as questões sociais, culturais, humanas, muito menos com nossas tradições artísticas. Claro que, como afirma Mirna Rubin no já mencionado artigo da Revista Poiésis (2002), essa febre fez com que houvesse também uma crescente preocupação com a profissionalização dos artistas e técnicos envolvidos em todos os pontos do processo Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 criativo e de realização. A demanda faz com que o produto fique melhor – mas não mais acessível. As grandes produções musicais tornaram-se os tais “postos avançados” com os quais os patrocinadores de eventos culturais podem contar mundo afora, como bem indica Naomi Klein (2002, p. 52). São produtos que visam exclusivamente a massificação: tudo é feito de maneira a não considerar as diferenças existentes entre brasileiros, americanos, ingleses, russos ou japoneses. O que importa apenas são os efeitos especiais de cenografia ou luz, som, cores, formas, a grandiloquência pedante que supre a carência de referências e de informação das nossas plateias de classe media inculta e desinformada, mas afoita por um teatro de griffe, com artistas de griffe, divulgado por uma mídia de griffe e veiculado num espaço teatral de grife. Para muitos pode significar um dado de sedução irreversível ir ao teatro e se deparar com elencos compostos por 20 ou 30 artistas – entre atores, bailarinos e cantores –, sofisticados aparatos de som e luz, trocas alucinantes de figurinos e mudanças de cenários/efeitos especiais comparáveis somente com o cinema ou com o ‘maravilhoso mundo Disney’. É a sedução para a qual Lasch (1986, p. 18) nos alerta, de que a tecnologia (e a técnica) passa a “servir como um instrumento efetivo de controle social” – no caso do teatro, interferindo no processo de aprovação de projetos de Lei, destinação de verbas estatais de fomento à cultura e até escolha por meio dos veículos de comunicação sobre como ou o que divulgar. A essa receita ainda se pode acrescentar uma pitada de complexo de inferioridade que faz com que se repitam frases como: ‘hoje em dia não devemos nada à Broadway’. Como se alguma vez houvesse alguma dívida com eles. Ainda assim, uma dívida que é paga aos borbotões em forma de rolyalties. Como bem acentuou Nelson Motta6: “tratase do novo-riquismo que colocou o Brasil na rota dos shows internacionais e com os ingressos mais caros do mundo!”. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS: O FUTURO DO TEATRO MUSICAL BRASILEIRO O jornalista e editor Felipe Lindoso (2004) parafraseia Oswald de Andrade ao dizer que “a massa dificilmente comerá do biscoito fino se a ele não tiver acesso e ficar reduzida ao consumo da broa de milho [...] como fazer o ‘biscoito fino’ chegar à massa.” Claro que Lindoso, como proprietário de editora e diretor da Câmara Brasileira do Livro, na época estava mais preocupado com o consumo de literatura do que qualquer outra coisa e, mesmo Oswald, ao cunhar sua tão famosa frase, tratava de se preocupar com seu umbigo antropofágico. Mas não é à-toa que a expressão ‘biscoito fino’ passou a ser utilizada sempre que se pretende oferecer produtos artísticos de cunho mais autoral, digamos assim. 6 Nelson Motta é jornalista, compositor e produtor musical. Em sua crônica semanal no Jornal da Globo – Rede Globo de Televisão. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 O questionamento do jornalista sobre “como fazer o biscoito fino chegar à massa” é o impasse de todo ativista cultural e o objetivo de tantas leis de incentivo e fomento à cultura. E, no que diz respeito ao teatro – especialmente o musical –, os entraves são a formação de público, a formatação de um gosto moldado a partir de interesses externos e, claro, o preço de ingressos praticado sob o pretexto dos altos custos de produção. É notório que, há 50 ou 60 anos, as pessoas iam mais ao teatro do que vão hoje, o número de sessões semanais – e diárias! – naqueles tempos comprova o fato: “os profissionais de teatro trabalhavam de segunda a segunda, havendo dias (quintas, sábados, domingos e feriados) em que chegavam a fazer três sessões diárias.”7. Seriam, portanto, 10 a 12 sessões semanais contra as parcas 2 a 7 que presenciamos hoje – digase de passagem que somente grandes produções conseguem se manter durantes mais do que 4 meses com sete sessões semanais. E o termo ‘grande’ significa, claro, ‘com dinheiro’ para gerir uma poderosa máquina de propaganda/publicidade e assessoria de imprensa que assegure a necessária espetacularidade em torno do espetáculo propriamente dito. Todo e qualquer produtor teatral deseja que seu espetáculo seja visto, comentado, criticado, divulgado. Não importa ‘de que lado esteja’, ele sonha com o devido reconhecimento e a proporcional remuneração de seu ofício – entretanto, bilheterias cada vez menos pagam artistas e produtores. Trata-se de uma classe profissional mantida por recursos que não vêem dos bolsos do público – pelo menos não de forma direta. Quando um espetáculo patrocinado estreia, ele já está pago e, sendo assim, a receita da bilheteria vai invariavelmente para os bolsos do produtor – que já se remunerou também pela Lei de Incentivo. A encruzilhada em que se encontra o artista – muitas vezes ávido pela realização de um trabalho mais autoral e menos encaixotado pelas regras vindas da Meca dos musicais – reside justamente no dilema entre sobreviver sem a máquina publicitária e de divulgação, bem como do guarda-chuva protetor do grande produtor contratante, correndo os riscos de um projeto que jamais alcançará um espaço em pé de igualdade com outros mais privilegiados; contra alinhar-se a projetos com muitos recursos nos quais sua liberdade de escolha e criação é limitadíssima. Diante de tais condições, o que se vê é a inserção do esquema de produção dos espetáculos musicais da atualidade num modelo exemplar – como nos indica Debord (1997, p. 172-173) – de “poder espetacular integrado”. Em seu aspecto concentrado vemos tanto o poder econômico das Leis de Incentivo e suas regras pautadas pelas necessidades do Estado ou dos grandes homens de produção e marketing cultural – que já se tornaram grife e consequente garantia de qualidade aos olhos do público frequente. Já em seu lado difuso, encontramos a imagem onipresente e onipotente dessa entidade chamada Broadway e todo o poder de dominação estética que se propaga por meios de comunicação e entretenimento mundo afora, sem que o público nem perceba que, com 7 Declaração de José Maria Bezerra de Paiva (diretor teatral e diretor da Fundação Brasileira de Teatro, na Faculdade Dulcina de Moraes, Brasília, DF) em entrevista concedida à Pesquisadora Elizângela Carrijo em 26 de maio de 2005. Disponível no site http://repositorio.bce.unb.br/ consultado em 19.01.2012 às 10h50. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 isso, se está formatando o gosto de gerações ávidas por um “presente perpétuo” (DEBORD, 1997, p. 176). Tal geração de brasileiros agrilhoada a padrões estéticos americanos e distanciada do teatro graças aos muitos anos de sucateamento da cultura e da educação está sendo compelida a consumir um teatro musical americano de franquia que, como nos indica Haug (1997, p. 67), se assemelha à alienação/fascinação da “alegoria platônica da caverna” E parece evidente que esse tipo de produto teatral vem preencher uma lacuna deixada pela própria classe artística. Equivale dizer que a superprodução de Broadway chega ao consumidor de cultura (especialmente o mais incauto) antes mesmo que ele tenha contato com produtos diferentes daquilo que se julga ‘o melhor para ele’ (quer seja por meio da informação, quer seja pela experimentação). Pode-se dizer que a forma como o teatro musical de Broadway tem sido produzido, divulgado e oferecido às platéias brasileiras é a síntese da estética da mercadoria. Aqui no Brasil, ainda vemos um teatro musical que atende quase que exclusivamente a conglomerados econômicos interessados em oferecer, divulgar e propagar entretenimento. Mas na Broadway propriamente dita, com seu mais de um século de existência, refinamento e prática na produção de musicais, vemos que cada vez mais haverá um capital interessado numa demanda. Diferentemente do que diz Haug (1997, p. 112) sobre o “capital interessado na demanda masculina”, em tempos neoliberais, sempre haverá um capital interessado em uma demanda qualquer: gays, heterossexuais, fanáticos por esportes, vítimas de bulling, famílias de adictos em qualquer espécie de drogas, mulheres bipolares e suas famílias, adolescentes, e por aí vai, num sem-fim de títulos que distanciam o musical do conceito de mero entretenimento. Não importa em qual categoria você se enquadre, sempre haverá um musical esperando por você. Esses títulos levarão anos para chegar ao Brasil – uma vez que o gosto da maioria por musicais ainda está em estágio adolescente. Não se trata, entretanto, de banir o teatro musical de Broadway dos palcos brasileiros. Isso seria, no mínimo, uma tolice – uma vez que o gênero está de tal forma arraigado ao gosto das nossas plateias que seria o mesmo que cometer suicídio ou decretar a falência de uma das últimas fontes de renda para artistas e técnicos . Mas trata-se de ampliar o cardápio, oferecer mais e melhores opções. Do contrário, um mercado de consumo cultural com poucas opções é feito de imposições. Por outro lado, alguns poderão defender o fato de que possuímos muitas opções de escolha entre as muitas produções de teatro musical disponíveis especialmente no eixo RJ-SP, o que só vem reforçar a ideia de que estão todos tão inseridos num processo de consumo cultural viciado e viciante que nem percebem estar consumindo sempre a mesma coisa disfarçada de variedade. Isso, principalmente, pensando no que Lasch (1986, p. 29) nos alerta sobre o conceito de liberdade de escolha sem levar em conta “compromissos ou consequências”. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 O dilema em que o teatro musical no Brasil se encontra reside no fato de realizar produções de elevado apuro técnico e estético (como se vê nos milionários espetáculos made in Broadway) aliados a uma temática mais nacionalista e que dialogue com a cultura brasileira (do ponto-de-vista estético e temático). Alguns defensores do teatro musical de Broadway (como se o gênero precisasse de advogados de defesa) usam como exemplo o fato de o teatro convencional montar peças de Shakespeare ou Molière (o que seria também uma invasão cultural) e nem por isso são montagens condenadas pela crítica. Ora, é preciso que se pense na diferença entre se montar e remontar peças dos maiores dramaturgos de todos os tempos (com o objetivo de uma reaproximação de seus temas com o momento atual ou sob o pretexto de uma releitura da obra em novo contexto histórico); e se montar e remontar sucessos de Broadway muitas vezes como um remake ou revival que reproduz tudo como se fosse in loco, quase que de forma museológica, desconsiderando distâncias culturais, históricas, geográficas e sociais. Assim, o que se vive hoje é um momento em que ver o surgimento de uma 'Broadway Brasileira' significa a consumação e a legitimação mais que aceita – almejada – daquilo que é falso. Como um prêmio de consolação por não termos a real, aceitamos a fake (tal qual uma bolsa, um sapato ou um perfume comprados na Rua 25 de março). Afinal, “já não existe nada, na cultura e na natureza, que não tenha sido transformado e poluído segundo os meios e os interesses da indústria moderna” (DEBORD, 1997, P. 173). Do mesmo modo que, de Walter Pinto a Möeller&Botelho, passando por Sandro Chain ou pela T4F (Time For Fun) – sem esquecer alguns artistas que associam seus nomes ao espetáculo musical como Bibi Ferreira, Marília Pêra, Miguel Falabella ou Claudia Raia – será preciso que se criem estratégias de construção de marcas ligadas a um teatro musical brasileiro e seja o momento de resgatar os valores nacionalistas preconizados no teatro musical brasileiro desde muito antes do Teatro de Arena, como quiseram Chiquinha Gonzaga e Arthur Azevedo; ou ainda seja o momento de retomar o teatro musical brasileiro como se tenta fazer com o cinema nacional, ou até como a própria Broadway faz com seus jovens – fomentando plateias, reaproximando as novas gerações dos nossos temas e ritmos. Isso tudo, lançando mão do máximo de recursos de comunicação e divulgação e abraçando todo o avanço tecnológico e toda a informação a que se tem direito nos dias de hoje. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Referências ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1985. 224 p. CAMPOS, Cláudia de Arruda. Zumbi, Tiradentes: E Outras Histórias Contadas pelo Teatro de Arena de São Paulo. São Paulo: Editora Perspectiva, 1988. 192 p. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997. 240 p. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL – TEATRO. Bibi Ferreira. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_ biografia&cd_verbete=706&lst_palavras=&cd_idioma=28555>. Acesso em: 17 jan. 2012. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL – TEATRO. Marília Pêra. 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