Diagnóstico do overtraining em atletas de alto rendimento
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Diagnóstico do overtraining em atletas de alto rendimento
Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) Diagnóstico do overtraining em atletas de alto rendimento: revisão de literatura Diagnosis of Overtraining in Athletes High Performance: Literature Review Raphael Silva da Cruz1; Adroaldo José Casa Junior2; Thaís Cidália Vieira3 1 Especialização em Fisioterapia Traumato-ortopédica e desportiva, Ceafi; Núcleo de Pesquisas Replicon, Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Goiás (UFG) 2 Especialização em Fisioterapia Traumato-ortopédica e desportiva, Ceafi; Núcleo de Pesquisas Replicon, PUC-GO; Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Goiás (UFG) 3 Núcleo de Pesquisas Replicon, PUC-GO; Programa de Pós Graduação e Biologia Celular e Molecular, UFG; Universidade Estadual de Goiás (UEG) Email: [email protected] Resumo A Síndrome do Excesso de Treinamento ou overtraining tornou-se um problema significativo no esporte de alto nível. Portanto, é importante que os profissionais e demais envolvidos no desempenho esportivo entendam melhor os sintomas e as causas de overtraining e aprendam estratégias de diagnosticar para ajudar a reduzir a probabilidade de sua ocorrência. O objetivo deste estudo foi discutir os principais métodos de diagnóstico da ST e a importância deste na prevenção de lesões e no tratamento fisioterápico dos atletas de alto rendimento. O levantamento literário foi realizado por meio de livros e artigos das bases de dados: Scielo, Lilacs e Medline, nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram utilizadas publicações dos últimos quinze anos. O overtraining em atleta de alto rendimento pode ser considerado como o desequilíbrio entre o treinamento e a recuperação, sendo que as principais alterações relacionadas a síndrome são as de caráter fisiológicas, psicológicas, imunológicas, hormonais, bioquímicas e hematológicas e existem alguns fatores etiológicos que se destacam nesta síndrome. Atualmente vários questionários psicrométricos tais como o POMS, RPE e o REST-Q têm sido bastante utilizados no auxílio da prevenção e do diagnóstico, colaborando com os profissionais. O diagnóstico do overtraining é difícil e bastante complexo, pois não depende de um único fator, mas de uma série de combinações, variando de acordo a modalidade esportiva realizada. Palavras-chave: central. Treinamento excessivo. Fadiga Abstract The Excess Syndrome Training or overtraining has become a significant problem in high level sport. Therefore, it is important that professionals and others involved in sports performance to better understand the symptoms and causes of overtraining and learn strategies for diagnosing help reduce the likelihood of its occurrence. The aim of this study was to discuss the main methods of diagnosis of TS and the importance of injury prevention and therapy treatment of highperformance athletes. The literature survey was carried out by means of books and articles of databases: SciELO, Lilacs and Medline, in Portuguese, English and Spanish. Publications were used in the last fifteen years. Overtraining in high performance athlete can be considered as the imbalance between training and recovery, and the main changes related syndrome are character physiological, psychological, immunological, hormonal, biochemical and hematological and there are some etiologic factors that stand out this syndrome. Currently several psychometric questionnaires such as the POMS, RPE and REST-Q have been widely used to aid the prevention and diagnosis, collaborating with professionals. The diagnosis of overtraining is difficult and very complex, because it depends on a single factor, but a series of combinations, varying according to type of sport performed. Key words: Overtraining. Central fatigue. 421 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) levar a fadiga crônica, dores musculares, perda de peso, Introdução O treinamento desportivo é um processo que sono inadequado, alterações do estado de humor, e tem por objetivo romper o equilíbrio interno do enfermidades frequentes principalmente infecções do organismo humano e assim, aperfeiçoar o desempenho trato respiratório superior5,6. do atleta. No entanto, o estresse provocado pelos A fadiga, que é definida como a inabilidade de treinamentos pode acarretar reações negativas, tal manter dada intensidade de treinamento, pode ser como a Síndrome do Excesso de Treinamento considerada como um sinal de alarme do organismo em 1 (overtraining) . resposta ao estresse excessivo. Por outro lado, a fadiga O overtraining é uma condição complexa, tem um papel importante no treinamento esportivo, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas, em pois é o primeiro passo para o processo de adaptação resposta a um planejamento inadequado do treinamento do treinamento, que estimula um incremento das esportivo. Esta síndrome e frequentemente observada funções orgânicas do atleta, sendo que o balanço entre em atletas que cumprem um programa de treinamento o estresse e a recuperação define a qualidade do mal planejado, caracterizados por grandes volumes programa de treinamento7. e/ou altas intensidades, sem um período de recuperação Como consequências do overtraining, vários adequado, podendo ser potencializada por fatores tipos de lesões musculoesqueléticas podem surgir, estressores psicossociais, ocupacionais, econômicos e dentre as quais se destacam os microtraumas, que nutricionais. Alguns fatores etiológicos destacam-se podem ser definidos como sendo traumas que não como calendário esportivo atribulado, treinamento causam dor, edema ou impotência funcional, mas que, exaustivo sem tempo suficiente de recuperação, pela repetição excessiva de exercícios, produzem treinamento monótono, fraqueza muscular, baixa lesões no tecido muscular. Devido ao seu caráter flexibilidade, falta de condicionamento físico, dieta silencioso e a gravidade que podem representar quando inadequada, falta de instrução quanto à importância de se manifestam clinicamente, são considerados o um acompanhamento multidisciplinar e muitos outros "câncer" da prática esportiva. Os principais exemplos fatores de microtraumas disseminados no meio esportivo são não necessariamente relacionados ao treinamento2,3. as osteocondrites, fraturas por estresse, miosites, A incidência do overtraining no esporte varia de acordo com a modalidade. Esportes que envolvem grandes cargas de treinamento tendinites, rupturas parciais e rupturas totais de tendões8. frequentemente Uma redução das cargas de treinamento, demonstram maior número de resultados negativos, alterações de intensidade, ou treinamento técnico como as modalidades de corridas, natação, futebol, proporcionam diferentes manifestações nos atletas. A ciclismo e remo4. variabilidade adicional afeta positivamente os atletas. O principal sintoma do overtraining é a queda Quando os técnicos suspeitam que um de seus atletas persistente do desempenho mesmo após um período de esteja com sinais de overtraining, ele deve sugerir uma treinamento leve e de descanso total, sendo que o consulta médica, para reduzir o risco de lesões, e se desequilíbrio entre o treinamento e a recuperação pode necessário intervenções de especialistas (psicólogos, 422 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) fisioterapeutas, nutricionistas, etc). A fisioterapia monitoramento regular da combinação de variáveis de aplicada no tratamento do overtraining dedica-se não desempenho, fisiológicas, psicológicas, bioquímicas e somente ao tratamento do atleta lesado, mas, também, à imunológicas parece ser a melhor estratégia para adoção de medidas preventivas, a fim de reduzir a avaliar a adaptação do atleta ao treinamento e evitar o ocorrência de lesões. O trabalho preventivo é delineado overtraining1, 4, 10, 12, 13. e realizado de maneira eficaz, com base no Apesar de bem descritos e estabelecidos, os levantamento dos fatores de risco das lesões referentes sinais e sintomas do overtraining ainda não são 9 à modalidade da área esportiva específica . suficientes para o estabelecimento de um diagnóstico O objetivo desta revisão literária foi descrever padrão para a detecção da síndrome. Esta ocorrência os métodos de diagnóstico do overtraining e a pode ser detectada por meios de distúrbios hormonais, importância deste na prevenção de lesões e no imunológicas, fisiológicas, hematológicas e 5 tratamento fisioterápico dos atletas. psicológicas, na tentativa de detectar a síndrome . Estresse fisiológico do treinamento é um dos aspectos associados ao overtraining13. Os sintomas Materiais e Métodos Para a pesquisa bibliográfica deste trabalho foi fisiológicos que estão relacionados ao overtraining, acessada a base de dados do Scielo, Lilacs e Medline, destacam-se a redução prolongada do desempenho, cruzando as seguintes palavras-chave: treinamento redução da tolerância à carga e força muscular, perda excessivo, fadiga central e overtraining. Os artigos da coordenação, redução da amplitude de movimento, encontrados relatam desde 1995 até 2012. Para serem alteração na pressão arterial, taquipnéia, fadiga crônica, incluídos, os artigos deveriam: (a) conter dados ou insônia, informações emagrecimento, especificamente relacionadas ao inapetência, prolongamento período observado um aumento no interesse pela forma como o 56 foram elegíveis para compor a presente revisão. sistema cardiovascular reage ao estresse do exercício e desta forma, para a composição final foram utilizados pelo uso de mensurações não-invasivas para examinar 56 trabalhos, sendo 56 artigos científicos (sendo 12 a parassimpática) 16, 17 Ultimamente, de foram encontrados 2053 artigos científicos, dos quais autonômica . do cefaléia, recuperação artigos de revisão e 44 artigos originais). mialgia 15-17 nervosa, overtraing. Através dos descritores acima citados, função e anorexia cardíaca tem-se (simpática e . Perante a dificuldade de estabelecer um critério fisiológico padrão para o overtraining, alguns Discussão Vários estudos têm sido realizados com o autores dividem em dois tipos de overtraining nas objetivo de determinar parâmetros capazes de detectar formas simpática e parassimpática. Na simpática é o overtraining, mas ainda não foi possível estabelecer sugerida que a Freqüência Cardíaca (FC) e Pressão um marcador universal capaz de identificar, em um Arterial (PA) de repouso são aumentadas, apetite grupo de atletas, aqueles que apresentam possibilidade diminuído, perda de massa corporal, distúrbio do sono de desenvolver o overtraining ao longo de um e irritabilidade. Quanto na parassimpática, é sugerida programa pela queda da FC e PA de repouso, longos períodos de de treinamento. Desta maneira, o 423 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) sono e depressão. Ambos os tipos mostram houve um aumento significativo do número do cortisol deteriorização no desempenho e fadiga persistente. É em níveis salivares em atletas que apresentam possível que as respostas do overtraining sigam uma overtraining em relação a outras atletas que não progressão, refletida por uma predominância do apresentam overtraining e participaram da mesma simpático seguido pela estimulação parassimpática 20, 21 . O overtraining simpático tem sido apontado temporada, mas não foram encontradas alterações significativas nos níveis de cortisol plasmático5, 22 . principalmente em atletas que utilizam grande potência Outros estudos correlacionaram positivamente scores e velocidade, como é o caso de saltadores, corredores e de nadadores que competem em provas de curta distância, concentração salivares de testosterona, e correlações enquanto atinge poucos significativas com o coeficiente testosterona/ preferivelmente atletas de endurance, como corredores, cortisol salivar ou plasmático, sugerindo uma resposta ciclistas e nadadores de longa distância. Em casos mais individual de cada atleta a esses hormônios23, 24. o overtraining parassimpático severos e duradouros, o tipo simpático, caracterizado como excitatório, raramente é encontrado ou 20 percebido . overtraining obtidos por questionários com O equilíbrio entre a atividade anabólica e catabólica é representado pela razão entre a testosterona e o cortisol, que é conhecida como As alterações hormonais são produzidas pelo testosterona / cortisol. Baseado na premissa de que a organismo em resposta às necessidades fisiológicas testosterona tem efeitos anabólicos e o cortisol basais e a alguns estímulos externos. Na fisiologia do catabólicos, a razão e testosterona/cortisol tem sido exercício estudo sobre a relação entre liberação proposta como um grande marcador de overtraining25. hormonal e desempenho envolve principalmente o 5 cortisol, a testosterona e as catecolaminas . As catecolaminas mais estudadas são as noradrenalinas e adrenalinas. No quadro de Á influencia do exercício agudo ou overtraining há um aumento de noradrenalina na do exercício crônico promovem alterações nos níveis concentração plasmática, acompanhado pela queda de séricos de cortisol e testosterona. No exercício agudo sua concentração urinária no início do dia, fatores os níveis séricos só são modificados quando ocorre um provavelmente relacionados à hipótese de exaustão aumento da duração e da intensidade do exercício 20. A adrenal22, testosterona desempenha um papel importante em significativas muitos processos metabólicos, tal como o aumento da adrenalina. Porém, foi encontrada uma correlação síntese de glicogênio muscular e proteção contra o positiva entre o aumento da concentração de adrenalina efeito proteolítico de glicocorticóides, aumentando a e o aumento da carga de treinamento da semana síntese de proteínas musculares. O cortisol promove a anterior do teste de sangue, sugerindo que a gliconeogênese e a lipólise21. manutenção deste aumento de carga poderia levar ao Estudos mostram alterações significativas nas 23, 26,27 . Poucos estudos relatam alterações nas concentrações plasmáticas de overtraining22. concentrações plasmáticas e salivares de cortisol e A excreção urinária noturna de testosterona em relação com a periodização do catecolaminas parece refletir a atividade intrínseca do treinamento do atleta. Alguns estudos mostram que sistema nervoso simpático. Alguns autores têm 424 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) verificado uma diminuição da excreção urinária noturna de catecolaminas em atletas em overtraining 26, 27, 28 29,30 22, . do overtraining36. O overtraining é acompanhado por uma resposta significativa de biomarcadores do estresse oxidativo, os quais são O exercício físico atua na atividade do sistema imunológico, ocorrência modulando as respostas de alterados durante períodos de treinamento intenso e seus retornam aos níveis normais quando a carga diminui, componentes. Esta modulação depende da intensidade indicando uma relação dose-resposta37. Vários métodos e do volume do exercício físico, sendo caracterizada diretos e indiretos têm sido utilizados na análise do por diminuição de células imunocompetentes no dano muscular decorrente do exercício físico. Os 31 sangue periférico e de sua atuação no organismo . métodos indiretos como mioglobina, lactato Esta diminuição de imunocompetentes no desidrogenasse (LDH), fragmentos da cadeia pesada da sangue periférico e de sua atuação no organismo miosina e CK, são mais freqüentemente usados38. Estas promove um aumento da suscetibilidade às doenças moléculas podem ser utilizadas como marcadores do como infecções dano no tecido muscular esquelético devido ao fato de recorrentes, incluindo as herpéticas, promovendo uma serem citoplasmáticas e assim, impermeáveis na elevação sérica de creatina quinase (CK), elevando o membrana plasmática39. Dessa forma, o aumento nos nível de cortisol e da produção de ácido úrico, níveis dessas moléculas no liquido extracelular pode aumentando indicar uma alteração da permeabilidade da membrana resfriados, a alergias, presença leucopenia, da proteína CReativa, reduzindo a concentração de glicogênio muscular e da ou o rompimento da mesma40. testosterona livre 32-35. A CK é importante na formação de energia De forma geral, a contagem de células totais e nas células musculares, visto que e a enzima dos níveis de leucócitos em atletas que apresentam as intramuscular responsável por manter níveis adequados características do overtraining não mostram alterações de ATP durante a contração muscular. Existem clinicamente, apesar de existir uma tendência no algumas hipóteses como hipóxia tecidual, depleção do aumento do nível plasmático de neutrófilos, que glicogênio muscular, peroxidaçãoo lipídica e acumulo acompanha o aumento da carga de treinamento, este de espécies reativas de oxigênio (ERO’s), são aumento é transitório retornando ao normal com a levantadas para justificar a elevação dos níveis de diminuição CK38, 41. da intensidade do treinamento. Considerando a resposta imune ao overtraining como a proliferação de linfócitos, secreções Altos níveis de EROs são responsáveis por de várias ações deletérias, como a oxidação de estruturas imunoglobulinas e níveis de glutaminas plasmáticas celulares e o prejuízo na homeostase intracelular. Com não servem como parâmetro para o diagnostico do o objetivo de diminuir a ação tóxica da EROs, o overtraining e nem como explicação para maior organismo dispõe do sistema enzimático antioxidante, suscetibilidade a infecções nos períodos em que o Embora essas defesas antioxidantes reduzam o risco de atleta se encontra na suspeita de overtraining 5, 6, 22, 23 . lesões ser inapropriados, tais como, o consumo excessivo de considerados potentes parâmetros na avaliação da álcool, hábito de fumar, dieta inadequada, exposição Os marcadores bioquímicos podem oxidativas da EROs, hábitos de vida 425 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) freqüente à radiação não ionizante UV, à poluição, Recuperação (REST-Q), Escala de Percepção do além do estresse emocional , do envelhecimento e da esforço de Borg (RPE) tem sido utilizados para o prática constante de exercício extenuante podem acompanhamento e monitoramento dos treinamentos48. desencadear um desequilíbrio entre a defesa O POMS mede o estresse psicológico através antioxidante e a produção da EROs gerando uma de suas seis escalas – tensão/ ansiedade, depressão, 42 situação de estresse oxidativo . raiva, vigor, fadiga e confusão mental. Desta maneira, A relação entre estresse oxidativo e exercício este método constitui-se em uma das medidas mais físico está diretamente relacionada à intensidade e completas para avaliar os efeitos do estresse da carga duração do exercício. O exercício físico intenso de treinamentos em variáveis psicológicas1. normalmente desencadeia o estresse oxidativo que gera Já o REST-Q foi desenvolvido para medir a diminuição do desempenho físico, fadiga muscular, freqüência do estado de estresse atual em conjunto com danos musculares e, até, overtraining, promovendo a freqüência de atividades de recuperação associadas, alteração do sistema imune e do estado de treinamento já é utilizado pelos Comitês Olímpico Alemão e dos indivíduos 43, 44 . Danos musculares causados pelo estresse oxidativo são mais acentuados em indivíduos pouco treinados que realizam exercícios com intensidade e duração acima do seu condicionamento Americano como instrumento oficial de monitoramento de treinamento49. A RPE tem sido utilizados para o 1 acompanhamento e monitoramento do treinamento . físico. A realização de um treinamento moderado, antes Nos parâmetros hematológicos relacionados dos indivíduos serem submetidos ao exercício agudo de ao overtraining, a intensificação do treinamento alta intensidade, minimiza os efeitos do estresse ocasiona na queda nos níveis de eritrócitos e de oxidativo 45, 46 . hemoglobina ainda dentro dos níveis clínicos Estudos que estabelecem os fatores decisivos considerados normais, muito provavelmente devido à em overtraining têm demonstrado que os indicadores expansão do plasma sanguíneos em resposta ao psicológicos são mais sensíveis e consistentes do que treinamento. Pode ocorrer também aumento do volume os indicadores fisiológicos 1, 47 . As principais alterações psicológicas relacionadas ao overtraining são sensação de depressão, apatia, acelerados das células 23. emocional, Alguns fatores importantes complicam um dificuldade de concentração no trabalho e nos treinos, diagnóstico imediato do overtraining: (1º) a variação perda do interesse em competir, auto-estima diminuída, intra-individual; (2º) os sintomas diferentes para medo da competição e desistência quando as metas diminuições agudas e crônicas overtraining do estão muito intensas. Os instabilidade celular médio dos eritrócitos, devido ao turnover mais 4, 14, 15, 33,34 marcadores . desempenho físico; (3º) o volume excessivo de sido treinamento afetando o organismo de maneira diferente largamente utilizados na tentativa de avaliar os efeitos da intensidade excessiva de treinamento; (4º) duas das cargas de treino e auxilio do diagnostico do formas de overtraining, simpática e parassimpática, overtraining. Métodos como o Perfil de Estado de sendo que cada uma apresenta sintomas diferenciados; Humor (5º) os sintomas do overtraining em atletas de (POMS), psicológicos Questionário de têm Estresse- 426 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) resistência também são diferentes dos atletas de força; utilizados, condição do gramado e outros aspectos (6º) são necessárias repetidas amostras de sangue antes ambientais, regras do jogo, quantidade e tipo de e depois do exercício; (7º) o exercício causa alterações treinamento e outros9, 32, 51. no volume plasmático e isto deve ser corrigido; (8º) os A prevenção do overtraining dificilmente marcadores fisiológicos e bioquímicos apresentam ocorrerá utilizando os conceitos de uma única ciência características diferentes de acordo com o esporte e são ou marcador, principalmente pelo fato de que as influenciados por aspectos psicológicos, sociais ou alterações metabólicas e orgânicas estão associadas culturais 7, 12 com diversos sistemas corporais4,9. . Atletas em geral não só são diferentes da população geral, mas também exibem Algumas recomendações podem ser utilizadas grandes para prevenir o overtraining como: considerar que os diferenças entre eles mesmos. Diferenças individuais atletas têm diferentes níveis de aptidão e tolerância à no potencial de recuperação, capacidade física, carga de treinamento; monitorar o desempenho estressores em períodos de não treinamento, e mediante registro dos treinamentos e competições; tolerância ao estresse podem explicar diferentes graus integrar sessões de treinamento mental e relaxamento de vulnerabilidade dos atletas sob condições de no treino diário com intuito de recuperar energia e treinamento idênticas. A solução seria avaliar os atletas reforçar a concentração mental nos treinos; incentivar o individualmente, monitorando-os continuamente e desenvolvimento regularmente, o estresse e recuperação devem ser fisiológicas e sociais mediante a manutenção de uma monitorados durante os processos de treinamento para boa saúde e condição física, com controle dos fatores prevenir overtraining9, 20, 50. de estresse, dieta e treinamento equilibrado; controlar das capacidades psicológicas, A fisioterapia aplicada à área esportiva dedica- os estressores psicológicos de origem externa ao se não somente ao tratamento do atleta lesado, mas, treinamento físico, tais como: pressões familiares e no também, à adoção de medidas preventivas, a fim de trabalho, excesso ou viagens muito longas, pressão de reduzir a ocorrência de lesões. O trabalho preventivo é patrocinadores e do clube entre outros eventos do delineado e realizado de maneira eficaz, com base no cotidiano. Se os estressores pessoais externos se levantamento dos fatores de risco das lesões referentes tornarem altos ou se o controle destes for deficiente, à modalidade da área esportiva específica. Para um recomenda-se que haja uma redução da carga de treinamento preventivo ideal para o atleta é necessário treinamento; utilizar os processos de recuperação ativa conhecer os aspectos e fatores de risco. Esses fatores e passiva, associando períodos de repouso absoluto podem ser classificados em intrínsecos ou extrínsecos. com Os aspectos intrínsecos são características da pessoa prazerosas, utilização de outras modalidades como como a idade, sexo, biótipo, história de lesões prévias, recreação e corridas regenerativas4, 9, 52, 54. capacidades físicas desenvolvidas, presença de a utilização O de tratamento pequenos do jogos, overtraining viagens inclui alterações biomecânicas. Já os aspectos extrínsecos são determinar e eliminar os fatores desencadeadores. O aqueles originados externamente, mas que agem sobre afastamento da prática esportiva durante a reabilitação o corpo humano, como os acessórios esportivos faz com que a função prejudicada devido ao 427 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) overtraining retome sua normalidade após o período de estresse e a recuperação define a qualidade do tratamento. As estratégias comuns para reduzir a programa de treinamento7, 12. inflamação da estrutura lesionada incluem crioterapia, O diagnóstico do overtraining é de difícil eletroterapia e anti-inflamatório não-esteróides. O laser execução, mas alguns fatores não podem deixar de ser é um recurso eletroterápico muito eficiente na observados como: queda do desempenho esportivo e estimulação da síntese de colágeno, o que justifica seu desequilíbrio psicológico, além destes podemos citar 3,34 uso no tratamento das lesões músculo – esqueléticas . que os mediadores bioquímicos ou fisiológicos podem Estudos mostram que a melhor solução para o não ajudar no diagnóstico final do overtraining, mas tratamento do overtraining seria repouso e fases de são fundamentais para o controle do treinamento 9. recuperação de duas a seis semanas, dependendo da O uso somente de sinais e sintomas subjetivos, seriedade da síndrome. Em alguns casos particulares do tais como sono insuficiente e dor muscular, dificulta o overtraining os atletas podem necessitar de meses sem diagnóstico, pois os mesmos não são demonstrados em nenhum todos os indivíduos, além de poderem também aparecer qualquer treinamento 9,20,54 ou sem atividade física . como resultado de outras doenças. Pesquisadores de Embora muitos estudos tenham sido diferentes áreas do esporte e da saúde vêm tentando realizados com o objetivo de determinar parâmetros buscar soluções diagnósticas a respeito do overtraining capazes de detectar o overtraining, ainda não foi seja eles médicos, psicólogos, preparadores físicos e possível estabelecer um marcador universal capaz de fisioterapeutas4. identificar, em um grupo de atletas, aqueles que apresentam possibilidade o síndrome é de origem multifatorial e, portanto, deveria overtraining ao longo de um programa de treinamento. ser diagnosticada, prevenida e tratada baseados num Desta modelo maneira, o de desenvolver É extremamente importante salientar que esta monitoramento regular da multidisciplinar que envolve técnicos, combinação de variáveis de desempenho, fisiológicas, preparadores físicos, nutricionistas, psicólogos do psicológicas, bioquímicas e imunológicas parece ser a esporte, fisioterapeutas, médicos e outros4, 9, 12, 28. melhor estratégia para avaliar a adaptação do atleta ao treinamento e evitar o overtraining 1, 2, 4, 9, 28. Conclusões Um dos sintomas mais importantes, a fadiga, O overtraining em atleta de alto rendimento que é definida como a inabilidade de manter dada pode ser considerado como o desequilíbrio entre o intensidade de treinamento, pode ser considerada como treinamento e a recuperação, sendo que as principais um sinal de alarme do organismo em resposta ao alterações relacionadas à síndrome são as de caráter estresse excessivo. Por outro lado, a fadiga tem um fisiológico, psicológico, imunológico, hormonal e papel importante no treinamento esportivo, pois é o bioquímico. Estas alterações podem provocar no atleta primeiro passo para o processo de adaptação do sinais e sintomas como: redução do desempenho, dores treinamento, que estimula um incremento das funções musculares, incapacidade de completar as sessões de orgânicas do atleta, sendo que o balanço entre o exercício, perda do estímulo competitivo e da determinação, alterações de apetite e perda de peso, 428 Revista Movimenta ISSN: 1984-4298 Vol 6 N 1 (2013) mudanças do padrão do sono, distúrbios de humor como ansiedade aumentada, depressão, irritabilidade e nervosismo. Alguns fatores etiológicos se destacam, tais como: tempo insuficiente de recuperação, viagens freqüentes a torneios, falta de instrução, cargas excessivas, falta de condicionamento físico, fraqueza muscular e baixa flexibilidade. O diagnóstico do overtraining é difícil e bastante complexo, pois não depende de um único fator, mas de uma série de combinações que variam overtraining. Revista Brasileira Cineantropometria Desempenho Humano. 2009; 11(4):457-65. 2. Alves RN; Costa LOP; Samulski DM. Monitoramento e prevenção do super treinamento em atletas. Revista Brasileira Medicina do Esporte. 2006; 12 (5): 291-96. 3. Alencar TAM; Matias KFS, Silva Lars, Pucca MM. Overtraining / Overuse em Ciclista e seu Retorno ao Esporte Revista. Movimenta. 2010; 3 (1): 52-9. 4. Alves RN; Costa LOP; Samulski DM. Prevenção do supertreinamento em atletas Revista Brasileira Medicina do Esporte. 2007; 3 (1): 121-26. com a modalidade esportiva. Atualmente são utilizados vários métodos de auxilio diagnóstico onde estes atletas passam por constantes avaliações laboratoriais antes, durante e depois do treinamento. Estes exames têm como objetivo verificar a resposta do organismo frente ao exercício fisco, procurando possíveis 5. Antunes HKM, Terrão FL, Mello MT. Efeitos e sintomas da privação do exercício físico – revisão. Rev Bras Cien Med Saúde. 2011;1(1): 53-61. 6. Mackinnon LT; Hooper SL. Plasma Glutamine and upper respiratory tract infection during intensified training in swimmers. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1996; 28: 285-90. alterações e falhas no treinamento que podem levar o atleta ao overtraining. A utilização de questionários psicrométricos tais como o POMS, RPE e o REST-Q têm sido utilizados e aperfeiçoados nos últimos anos para o contexto esportivo, sendo estes auxiliares no diagnóstico do overtraining. A Fisioterapia, em conjunto com uma equipe multidisciplinar (técnicos, preparadores físicos, nutricionistas, psicólogos do esporte e médicos), tem papel importante no que diz respeito à prevenção, ao 7. Petibois C, Cazorla G, Poortmans JR, Deleris G. Biochemical aspects of overtraining in endurance sports: a review. Sports Medicine. 2002; 32(13):86778. 8. Matsudo, V. Lesões e alterações osteomusculares na criança e no adolescente atleta. In: ROSE JR., Dante de. Esporte e atividade física na infância e adolescência. 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