Rating de Risco de Crédito
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Rating de Risco de Crédito
Rating de Risco de Crédito Rating de crédito é a nota atribuída àquilo que estiver sendo objeto de avaliação, nota esta que não tem significado, de per si, caso não seja entendida e interpretada à luz dos critérios e da metodologia empregada no sistema de avaliação Equipe técnica da Finder 1 Conceito É um sistema de mensuração de risco de crédito baseado em pontuação e enquadramento dos riscos em “classes de risco”, previamente definidas, às quais são atribuídas notas que refletem diferentes graus de risco, de acordo com uma escala predeterminada, que é parte integrante do modelo de avaliação. A nota é mera resultante desse processo e só tem sentido quando interpretada nesse contexto, devendo o usuário conhecer muito bem os conceitos e os critérios que foram empregados. Aplicação Há diferentes modelos de avaliação, desenhados de acordo com os objetivos e as necessidades dos usuários, mesmo porque o sistema de rating de risco de crédito é utilizado para avaliar riscos de coisas bastante diversas, tais como: países, empresas não-financeiras, instituições financeiras, ações, títulos privados e públicos, instrumentos financeiros, transações financeiras estruturadas, fundos mútuos, seguradoras. Quem são os Usuários do Sistema O sistema de rating de risco de crédito tem ampla utilização nos países desenvolvidos, em particular nos Estados Unidos, onde estão sediadas duas das mais conhecidas empresas classificadoras de risco do mundo: Standard & Poor (S&P) e Moodys. Bancos comerciais e grandes empresas têm seus próprios sistemas e modelos de rating de risco de crédito. As empresas classificadoras de risco, ou ratings agencies, exercem importante papel no mercado financeiro e de capitais dos Estados Unidos, em razão de particularidades desse mercado. Entre elas: •Volume e diversidade de títulos transacionados com forte participação de investidores profissionais sem expertise em avaliação de riscos de crédito. 2 3 •Segmentação e especialização do mercado financeiro e de capitais, antes do recente processo de desregulamentação abrangendo: -bancos comerciais com atuação geográfica delimitada ao estado-sede, o que restringe o expertise dos bancos; -bancos comerciais especializados no mercado de crédito corporativo com restrições para atuar no mercado de capitais; -“investmentbanks” especializados no mercado de capitais, sem vocação nem expertise em avaliação de riscos de crédito; -empresas não-financeiras, especializadas na administração de recursos de terceiros (“Asset & Portfolio Management”), sem vocação nem expertise em avaliação de riscos de crédito. •Política da Security Exchange Comission (SEC) de Full Disclosure para emissores de títulos para colocação pública no mercado. •Transparência e credibilidade das demonstrações financeiras em função de procedimentos contábeis padronizados e claramente definidos (GAAP e FASBs), compulsórios no caso de emissores de títulos para colocação pública. A conjugação das características acima criou condições favoráveis à demanda pelos serviços das ratings agencies. Elas conquistaram espaço e credibilidade no mercado, que se ampliaram com o recente processo de desregulamentação e desintermediação financeira: •Grande número de emissores de títulos corporativos (empresas não-financeiras), inclusive estrangeiros, com porte e características diversas. •Operações financeiras estruturadas com características e riscos específicos, de avaliação complexa. •Diversidade e complexidade dos instrumentos financeiros, muitos deles off balance sheet, de difícil avaliação por leigos. DISCLOSURE DAS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS - ANO VIII - EDIÇÃO 92 -Junho 2003 4 Empresas Classificadoras de Riscos de Crédito São empresas independentes e especializadas, que têm como objetivo prestar aos usuários serviços de avaliação e classificação de riscos de crédito, em sua acepção mais ampla, para auxiliálos nas decisões de aplicações financeiras. As ratings agencies podem classificar riscos de: Países — Pela avaliação de riscos políticos ou soberanos e atribuição de ratings a cada um deles. Empresas emissoras de títulos com colocação pública — Pela atribuição de rating para cada emissora. Instituições financeiras — São sistematicamente avaliadas por terem títulos colocados junto ao público. Emissões específicas de títulos privados — Ratings específicas são estabelecidas para cada emissão, de acordo com suas características: prazo, garantias suplementares, estruturação etc... Emissões específicas de títulos públicos — De acordo com as características dos títulos e dos emissores (estados e municípios) são estabelecidas ratings específicas. Fundos mútuos — Tendo por base a avaliação da qualidade do portfólio desses fundos, do ponto de vista creditício, ratings são atribuídas para os títulos representativos das cotas negociáveis no mercado. Transações financeiras estruturadas (securitização, leveraged buy-out etc...) — Em função de características como prazo, valor, garantias etc. ... essas transações são avaliadas para uma atribuição adequada de ratings. Instrumentos financeiros — Pela avaliação de riscos e impactos nas partes contratantes destes instrumentos. Empresas em geral, sem títulos colocados no mercado. No caso de empresas que não têm títulos colocados no mercado, em princípio, não se justificaria a atribuição de ratings; 1 entretanto, as empresas interessadas po- ficados, tratando-se de riscos de caráter e análises — em profundidade e riqueza dem contratar ratings agencies para que genérico que independem da empresa ou — que a média dos usuários jamais seria capaz de realizar. No caso de sistemas seja feita avaliação e atribuição de do objeto em análise. ratings, como eventual preparativo para • Tipificação de riscos equivale a uma próprios dos bancos e grandes emprecolocação de títulos no mercado. É o definição do que seja risco, feita medi- sas, a enorme vantagem está na sistemaque normalmente ocorre com as opera- ante descrição das suas características bá- tização do processo de interpretação dos ções estruturadas de securitização, em sicas. Esta descrição passa a fazer parte riscos, uma vez que o modelo já tem a que as SPCs - Special Purpose do modelo de avaliação, funcionando definição básica dos riscos a serem idenCompanies precisam obter ratings jus- como um gabarito no processo de classi- tificados e traz as respectivas pontuações já pré-definidas, tornando as avaliações tamente para poder emitir títulos para ficação dos riscos. colocação no mercado com lastro nos • O enquadramento objetivo dos riscos mais homogêneas. ativos objeto de securitização. Sem a ob- nas categorias de risco é feito com a utiPrincipais tenção prévia de ratings a aceitação pelo lização de “checking list”, pela qual eles Desvantagens mercado fica restrita. Existem ratings são analisados, avaliados e “classificaO sistema de rating de risco de agencies especializadas em segmentos dos”, incorporando juízo de valor e in- crédito está sujeito a variações qualitaespecíficos (instituições financeiras, pa- terpretação do avaliador sobre os fatos tivas, influenciadas, entre outros, pelos íses etc.). As ratings agencies não fazem analisados. seguintes aspectos: competência técniavaliação dos riscos de mercado dos tí- • Uma vez que os riscos tenham sido “en- ca e experiência dos avaliadores; metotulos, nem dos seus preços ou rentabili- quadrados” o resultado decorre do siste- dologia de mensuração de riscos empredade. As notas atribuídas não expressam ma de pontuação preestabelecido, pelo gada; modelo de coleta, análise e avaliqualquer opinião quanto à compra ou qual cada um dos fatores de risco tem ação de dados; uniformidade e consisvenda de títulos, mas refletem, basica- peso específico, daí derivando a nota ou tência de aplicação da metodologia; mente, a avaliação da capacidade do rating. qualidade e confiabilidade das fontes de devedor em honrar as obrigações assu- O sistema de rating de risco de crédito é informações utilizadas no desenvolvimidas, nas datas em que forem devidas. conhecido como sistema de classifica- mento da análise. Critérios de ção de riscos, justamente por sua Evidentemente, qualidade e conAnálise Adotados metodologia, em que os fatores de risco fiabilidade das fontes de informações é, Para proceder à avaliação e atri- a serem avaliados já foram previamente dentre os itens acima, o mais importante buir ratings, as ratings agencies obtêm identificados e definidos. Assim, a nota para a validação de qualquer sistema de da empresa a ser avaliada todas as infor- resulta do simples “enquadramento” dos rating; sem ele, o sistema estará seriamações julgadas pertinentes e necessá- riscos da empresa ao gabarito. Outra for- mente prejudicado, ainda que tudo o rias, a seu exclusivo juízo — o objetivo ma de classificar os riscos é estruturar mais esteja perfeito. das ratings agencies não é promover um modelo com escala de notas, defi- No Brasil, portanto, esse sistema tem séuma auditoria. Em muitos casos, elas po- nindo-se exaustivamente os critérios de rias restrições, ainda que a atual maior dem aceitar trabalhar com demonstra- enquadramento qualitativo. Por exem- estabilidade da economia tenha reduzições financeiras não- auditadas — caso plo, para que uma certa empresa ou uma do os riscos relacionados à interpretaas considerem merecedoras de fé — mes- transação seja considerada de “baixo ris- ção dos números dos balanços; mesmo mo porque as demonstrações financei- co”, ela precisaria atender no mínimo a assim, continuamos carentes de regras ras são apenas um dos parâmetros leva- 80% das características qualitativas des- equivalentes aos FASBs e GAAP dos Esdos em consideração nas análises. Uma critas na definição do que seja uma ope- tados Unidos, sem as quais, a consistênsérie de fatores extra-balanço, particu- ração ou uma empresa de “baixo risco”. cia e a correta leitura dos balanços continua prejudicada. larmente os de ordem mercadológica e Vantagens do Modelo de Sistema de macro-econômica, é levada em consideSistema ração. Isso porque estes fatores embuRatings de Risco de Crédito O sistema de ratings de risco de tem uma série de riscos, enquanto os de- crédito desenvolvido pelas ratings agenA seguir, apresentamos um exemmonstrativos contábeis são meros refle- cies tem uma clara vantagem: propicia plo de sistema de ratings de risco de créxos disso. Na verdade, o mais importan- uma visão mais abrangente do mercado, dito, tendo como base modelo utilizado te é identificar e avaliar os fatores que por incorporar um universo de empresas por bancos americanos. causam os riscos — riscos estruCONCEITO FUNDAMENTAL turais, por exemplo. As notas atri- CLASSE DE RISCO RATINGS A1 Perspectiva totalmente favorável. buídas podem sofrer alterações a Baixo A2 Perspectiva favorável. qualquer tempo, sempre que faA3 Perspectiva favorável, mas passível de mudança. tos relevantes e materiais justifiquem tais alterações. B1 Baixo impacto às mudanças ambientais. A Metodologia Normal B2 Boa capacidade para assimilar mudanças ambientais. Utilizada B3 Capacidade para assimilar mudanças ambientais normais. Existem diferentes maC1 Sensível às mudanças ambientais. neiras de se atribuir ratings. EnModerado C2 Muito sensível às mudanças ambientais. C3 Vulnerável às mudanças ambientais. tretanto, a metodologia padrão tem as seguintes características: D1 Situação vulnerável com perspectivas desfavoráveis. Elevado D2 Situação desfavorável com tendência à deterioração. • Os riscos de natureza “univerD3 Deterioração visível. sal” são identificados e tipi- 8 5 7 9 6 DISCLOSURE DAS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS - ANO VIII - EDIÇÃO 92 - Junho 2003 2 10 Interpretação GRAUS DE RISCO CARACTERIZAÇÃO BÁSICA CONDIÇÕES DE CRÉDITO As notas A e B Sólida situação financeira e patrimonial. Volumes elevados. correspondem Performance econômica superior. Transações clean. aos riscos considerados de Segurança Performance mercadológica superior. Limites rotativos, “stand by”. segurança, enquanto as noCapacidade de assimilar mudanças ambientais. Sem restrição de prazo. tas inferiores, C e D, repreRevisão de crédito anual. sentam riscos de grau Situação financeira e patrimonial normal. Volume caso a caso. especulativo. Performance econômica normal. Transações c/ garantia suplementar. Especulativo Performance mercadológica normal Limites caso a caso, não rotativos. A nota A é atribuída às emVulnerável às mudanças ambientais. Restrição de prazo. presas enquadradas como Revisão periódica de crédito prime names com as quais é A nota D é atribuída a empresas que aprepossível transacionar volumes elevados sações de longo prazo, porque as perssentam riscos elevados em função de em bases clean, inclusive em prazos pectivas são totalmente favoráveis. A perspectivas desfavoráveis ou tendêncimais longos, tendo em vista que as pers- nota A3 aponta que o grau de risco no as à deterioração, enquadrando-se como pectivas são favoráveis. Perspectiva fa- longo prazo é um pouco maior, porque de grau especulativo. vorável significa que todos os fatores existem possibilidades de que haja reEmpresas nesta categoria, em princípio, de risco avaliados foram considerados versão nas expectativas, fato que, todaestão excluídas do mercado alvo do satisfatórios e, além disso, evidências via, não afetaria o grau de risco de curto Banco. indicariam que a tendência é para que e médio prazos. É importante frisar que Novas operações ou renovações das exisesta situação perdure no horizonte pre- os conceitos de curto, médio e longo pratentes somente com reforço de garantivisível, abrangido pela análise. Nas zos devem estar previamente definidos as, nos casos de notas D1 e D2. A nota operações de curto e médio prazos, as no modelo de avaliação, porque são parD3 significa que nenhuma nova operanotas A1, A2 e A3 são equivalentes em te integrante do sistema. ção deve ser realizada, ainda que com termos de grau de risco; já para as ope- A nota B é atribuída a empresas não prireforço de garantias, por caracterizar-se rações de longo prazo, existem diferen- me names, mas, ainda assim, com grau de uma situação de perda. ças qualitativas indicadas pela subclas- risco de segurança, porque apresentam Administração dos sificação 1, 2 e 3. Nota A1 indica que o situação financeira e patrimonial suficiRiscos da Carteira grau de risco é baixo mesmo para tran- entemente sólida para absorver o impacto de mudanças amO modelo anterior é bastante CLASSE GRAUS DE RISCO RATINGS útil como instrumento auxiliar para os DE RISCO CURTO PRAZO LONGO PRAZO bientais, a que estariam sujeitas. Bancos administrarem os riscos da carA1 A nota C é atribuída a teira, porque permite a qualquer tempo Baixo A2 Segurança Segurança empresas que apresenconhecer a distribuição dos riscos da carA3 tam riscos moderados, teira, de acordo com a classificação de B1 enquadrando-se como risco. Isso permite tomar medidas correNormal B2 Segurança Especulativo de grau especulativo tivas para enquadrar a carteira aos paB3 porque revelam vulnedrões de riscos definidos pela política C1 rabilidade em relação de crédito do Banco. Moderado C2 Especulativo Especulativo às mudanças ambienA cada revisão de crédito, as ratings tamC3 tais, ainda que possam bém são automaticamente revisadas, de D1 ostentar performance forma que é possível identificar com anElevado D2 Especulativo N/A econômica e mercadotecedência eventuais problemas de deD3 lógica normais. terioração na qualidade da carteira. 11 www.webfinder.com.br DISCLOSURE DAS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS - ANO VIII - EDIÇÃO 92 - Junho 2003 3