eSta - Instituto Politécnico de Tomar
Transcrição
eSta - Instituto Politécnico de Tomar
PUB A maior Central Solar do mundo encontra-se em fase de construção no Alentejo, devendo estar concluída no prazo de um ano. Durante 25 anos, produzirá energia limpa suficiente para 30.000 lares. Por ano, evitará a emissão de 152.000 toneladas de gases com efeito estufa, assim como outros gases poluentes. D i r e c to r a : H á l i a co s ta s a n to s www.nyb.pt www.esta.ipt.pt P. 20 N.º 17 . Ano 6 . quarta-Feira, 11 de junho de 2008 PRECONCEITOS ALTERNATIVAS DIFERENÇAS PROIBIÇÕES P. 3 a 7 P. 19 a 22 P. 8 a 15 P. 16 a 18 ESTA com novas instalações A ESTA tem prevista a sua mudança para o Tecnopólo, em Alferrarede, no ano lectivo de 2010/2011. Miguel Pinto dos Santos, director da escola, salienta o facto de a mudança permitir um reforço das relações com as instituições e empresas do município, o que conduz a um “círculo virtuoso de desenvolvimento”. Não se trata de “uma mudança de estratégia, mas sim de um reforço da mesma”. • • • • • Abrantes Alferrarede F. Zêzere Leiria Tomar Quem é diferente sente na pele o preconceito dos outros. Ou porque gosta de alguém do mesmo sexo, ou porque segue uma religião que não é a mais generalizada, ou porque decidiu interromper uma gravidez. Também há os que se se sentem à parte porque são obesos ou porque têm de ganhar a vida a prostituir-se. Mas ser diferente ou alternativo pode ser uma opção de vida. O vegetarianismo é disso exemplo. E há aqueles que gostavam de fazer o que não podem, como vender álcool em estádios de futebol. Histórias contadas ao longo deste jornal. Alunos na Operação Rosa Brava SUPLEMENTO P. 2 perto de si Cerca de 20 alunos de Comunicação Social da ESTA fizeram o papel de repórteres numa conferência de imprensa organizada por militares. A iniciativa fez parte de uma operação em que a Brigada Mecanizada mostrou a sua capacidade para responder a solicitações da OTAN. Para os estudantes, esta foi uma oportunidade para contactarem directamente com a realidade profissional que os espera. SUPLEMENTO P. 1 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 esta J O R N A L Protagonistas sem nome e dito r ial Hália Costa Santos Quando alguém se refere a outro como “um esquizofrénico” ou “um autista” está simplesmente a contribuir para aumentar o preconceito em relação aos portadores destas doenças. Estes são apenas dois pequenos exemplos que demonstram a falta de sensibilidade que a generalidade das pessoas tem em relação a quem é diferente por qualquer motivo: doença, opção de vida, crença, destino ou outro. Esta edição do ESTAJornal trata o tema genérico dos Preconceitos, Proibições, Diferenças e Alternativas. Quisemos mostrar o lado que quem, todos os dias, sente na pele que não faz parte do que é considerado standard. Considerámos que a obrigação de ser “normal” faz cada vez menos sentido. Só que nem sempre os outros, os que estão formatados para serem iguais, lidam bem com os que saem da norma. A verdade é que, entre muitas pessoas, há preconceitos em relação a quem vai ao psiquiatra, em relação a quem se prostitui, em relação a quem tem uma religião não maioritária, em relação a quem sente a necessidade de fazer uma interrupção da gravidez. Muitas vezes, o que faz falta é tentar perceber por que o fazem. E dar a voz aos simples desconhecidos que vivem, muitas vezes, na franja da sociedade, é o objectivo desta edição. Dar a voz a quem leva uma vida diferente do comum nem sempre é fácil. Dificilmente se conseguiria falar com uma família que esteja a viver uma situação de pobreza envergonhada. Por isso, falámos com quem os ajuda e os conhece bem. Noutros casos, conseguimos o discurso dos protagonistas, mas temos que contar as suas histórias com nomes fictícios. É evidente o medo das consequências que uma exposição pública poderia trazer. Mas nós insistimos em falar destes assuntos, esperando contribuir para a abertura de certos caminhos. Pensando no que é diferente, também saltam à vista coisas positivas, vistas como alternativas. Por isso, quisemos mostrar locais que merecem ser visitados e apostas que vão contribuir para o desenvolvimento do país. Por exemplo, o trabalho que se continua a fazer no Parque Nacional da Peneda-Gerês, assim como no Carsoscópio, localizado no complexo das Nascentes do Rio Alviela, em Alcanena, um projecto que aposta na Ciência e no Ambiente. Destacamos ainda a aposta que Abrantes está a fazer em termos de desporto e a Central Solar que está a ser construída na Amareleja, no Alentejo. Se aproveitarmos o sol um pouco melhor, talvez nos faça bem a todos. Avaliação do ESTAJORNAL Com o objectivo de melhorar o ESTAJORNAL e a satis- O ESTAJORNAL é uma publicação elaborada pelos fação dos nossos leitores, estamos a proceder à sua alunos da Escola Superior de Tecnologia de Abranavaliação através de um inquérito on-line onde pode tes (ESTA). Com uma tiragem de 5000 exemplares responder a questões relacionadas com a qualidade, é distribuído a nível local, regional e nacional, por aspecto e tiragem, entre outras. Se quiser poderá Câmaras Municipais, Universidades/Politécnicos, ainda deixar-nos o seu comentário sobre o ESTAJOR- Escolas Secundárias, Empresas de diversos ramos, NAL. O estudo não tem carácter científico. A metodo- e outras Instituições Públicas. logia seguida procura responder às condicionantes Se estiver interessado em receber mais informaexistentes, aborções sobre o dando os diverE S TA J O R N A L sos e dispersos ou sobre a ESTA O inquérito pode ser respondido em públicos do ESdeixe-nos o seu www.estajornal.blogspot.com TAJORNAL. contacto. esta J O R N A L Fundado a 13 de Janeiro de 2003 propriedade da escola superior de tecnologia de abrantes Morada: Rua 17 de agosto de 1808 2200-370 abrantes telefone: 241361169 fax: 241361175 E-mail: [email protected] O ESTAJornal errou Na última edição, no artigo intitulado “O público quer peças ligeiras”, sobre a peça “O Clube das Divorciadas”, o nome do actor José Raposo foi erradamente escrito. Ao próprio e leitores, as nossas desculpas. direc tora: Hália Costa Santos redacç ão: ana marta sénica, aNA rITA FERREIRA, ANDRÉ LOPES, fábio car valho, fernanda mendes, ÉRICA AMARAL, joão car valho, LARA SILVA, MARIANA AZEVEDo, mARISA rODRIGUES, mILENE aLVES, mÓNICA rEINO, noélia barradas, PAULA FARIA, RAQUEL SIMÕES, SARA COSTA, sílvia carola, tiago lopes, TÂNIA gONÇALVES, valter marques, vítor madeira E statuto Editorial • O ESTA é um jornal de Escola, de pendor assumidamente regional, mas que nem por isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar o público para além do meio universitário. • O ESTA Jornal adopta como lema e norma critérios de rigor, de absoluta independência e de pluralismo dos pontos de vista a que dá expressão. • O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação plural e diversificada, procurando abordar os mais diversos campos de actividade numa atitude de criatividade e de abertura perante a sociedade e o Mundo. • O ESTA Jornal considera como parte da sua missão contribuir para a formação de uma opinião pública informada, emancipada e interveniente - condição fundamental da democracia e de uma sociedade aberta e tolerante. • A democracia participativa e entendida para além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância são os valores primaciais em que se alicerça a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo. • O ESTA Jornal considera-se responsável única e exclusivamente perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e perante o público a que se dirige. O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível e empenhado com os leitores, comprometendo-se a manter canais de comunicação abertos com quantos connosco queriam partilhar as suas ideias e inquietações. Colaboradores: Jefferson S. Gomes, Margarida Car valho, pAULO sOUSA (câmara Municipal do Sardoal), tÂNIA bRANCO, Tânia Pissarra, vânia costa Revisão: Sandra Barata Departamento comercial: ana neves, catarina machado, diana cordeiro e nelly caetano Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira e Marisa rodrigues Editores: FÁBIO CAR VALHO, Marisa rodrigues e milene alves Editor de fotografia: João car valho impressão: gráfica do instituto politécnico de tomar tiragem: 5000 exemplares 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | PRECONCEITOS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Investigação em Abrantes À procura de respostas sobre a IVG O objectivo era aparentemente simples: saber o que acontece a uma mulher que pretende interromper uma gravidez em Abrantes? O Hospital está habilitado a fazê-lo, o Centro de Saúde adoptou um procedimento, mas, oficialmente, pouco mais se sabe. Só mesmo quem se apresenta como grávida desejando fazer a IVG é que tem acesso à informação: as abrantinas são reencaminhadas para uma clínica em Lisboa. E em Abrantes fica tudo como d’antes. milene alves recção Céu Bragança, de que existe um protocolo com uma clínica, não adiantando informações sobre o nome ou localização. A mesma secretária aconselhou-nos a enviar um fax para o director adjunto do Hospital. Apesar de terem passado três semanas, a resposta nunca chegou. A justificação foi o excesso de trabalho. Marisa Rodrigues e Milene Alves Tendo em conta que já passaram alguns meses desde a entrada em vigor da Lei que diz respeito à Intervenção Voluntária da Gravidez (IVG), fomos tentar perceber como é que o Hospital Doutor Manuel Constâncio, em Abrantes, a está a aplicar. O primeiro contacto foi com a Direcção Geral de Saúde (DGS), para perceber qual a realidade relativamente à estatística sobre a IVG nos estabelecimentos oficialmente reconhecidos desde a entrada em vigor da nova lei em Portugal, e particularmente em Abrantes. A chamada passou de secção em secção, sem nunca terem sido fornecidos dados oficiais ou quaisquer outras informações. Após o contacto com a DGS, e perante a falta de esclarecimentos, consultámos o site da mesma instituição para obter a lista de estabelecimentos reconhecidos, para dar continuidade à nossa investigação. Verificando que em Abrantes se situava um desses estabelecimentos, contactámos os responsáveis. O Director do Centro de Saúde de Abrantes, Fernando Siborro, foi directamente questionado pelo ESTAJornal sobre todo o processo que envolve o IVG no Hospital, que funciona no mesmo edifício. “Não sei, do Hospital não sei! Eu sei que há muitos colegas meus que hipocritamente se põem defensores da moral. Nós, por formação, devemos defender a vida. Agora, qual vida? A da mãe ou a do filho?”. Sem apresentar muitas informações sobre a forma como o Hospital de Abrantes lida com as mulheres que pretendam fazer uma IVG, Fernando Siborro explicou o processo Esclarecimento. Marcando o número oficial para uma possível interrupção da gravidez no que diz respeito ao Centro de Saúde. “Quando uma das nossas utentes vem ter com o seu médico de família e diz que está disposta a fazer aborto ou a abortar, a postura oficial é o fornecimento de um número de telemóvel para o qual essa rapariga ou mulher pode telefonar e depois desencadeia-se todo um processo que já não passa pela nossa mão.” Quando confrontado com a possível realidade de algumas mulheres, em Abrantes, excederem o limite de tempo legal para a realização de uma IVG, o médico declara que após o primeiro contacto e a indicação do número de telefone “a mulher vai para o Hospital”. Fernando Siborro explica o que se passa a seguir: “Lá fazem o aborto se acharem que ela está em condições para o fazer e depois mandam-me um e-mail, porque sou o director do Centro de Saúde e sou o coordenador dessa área.” Acrescenta ainda que desde que a lei entrou em vigor ainda não recebeu nenhum e-mail. Um telefonema conseguiu esclarecer tudo o que o hospital não quis dizer E o que pensam e sabem os abrantinos sobre a forma como as suas instituições de saúde pública aplicam a lei relativa à IVG? Alguns contactos informais mostram que a generalidade das pessoas aceitaria a prática por parte de alguma familiar, amiga ou conhecida, sem mostrar qualquer tipo de discriminação. Aquilo que a maioria dos inquiridos não sabia era que existe a possibilidade de se realizar uma IVG no Hospital de Abrantes. A informação que corre nas ruas da cidade é que as abrantinas seriam reencaminhadas para uma clínica privada. Contactado novamente o Hospital de Abrantes, chega a confirmação, através da secretária da di- Transporte a cargo da paciente Como saber, então, o que acontece realmente a uma jovem ou mulher abrantina que queira interromper a sua gravidez durante o prazo legal? Marcando o número de telefone oficial, que se encontra afixado no Centro de Saúde de Abrantes. Alguém que comunique, através da referida linha telefónica, a intenção de realizar uma IVG recebe toda a informação necessária, a mesma que não é clara nem pública quando os contactos são de simples procura de informação. Do outro lado da linha está a enfermeira Conceição, que informa claramente, a uma eventual jovem grávida, todo o procedimento. Tudo começará com um primeiro contacto com as enfermeiras Conceição e Anita, com o objectivo de confirmar a gravidez, através de uma ecografia. Verificado o tempo de gestação, a jovem ou mulher será reencaminhada para a Clínica dos Arcos, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ficando o transporte a cargo da paciente. É nesta clínica que se realizaria a primeira consulta com o médico, antes de uma reflexão que duraria três dias, após os quais a paciente teria de se deslocar novamente à clínica para um segunda consulta que resultaria na IVG. A IVG resulta da Lei n.º16 / 2007 que, através de um referendo, autorizou em Portugal, o aborto legal até as dez semanas de gravidez. Aplicação da nova lei da IVG em Coimbra Tânia Soares Gonçalves Em vigor desde 15 de Julho de 2007, depois de um referendo no qual o Sim recolheu 59,25% dos votos e que apesar de não vinculativo foi ratificado na Assembleia da República pela maioria socialista, a portaria que regulamenta a IVG permite, desde então, que todas as mulheres residentes em Portugal interrompam a sua gravidez até às dez semanas. De entre as maternidades nas quais é possível proceder legalmente ao aborto encontram-se as de Coimbra, Bissaya Barreto e Daniel de Matos, que integram os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). Segundo informações recolhidas no site oficial da instituição, apesar da existência de médicos objectores de consciência, estão garantidas as condições para executar a opção da mulher pelo aborto ao abrigo da nova lei. No caso da maternidade Daniel de Matos, uma equipa de nove médicos assegura as consultas três dias por semana. Na maternidade Bissaya Barreto são realizadas, em média, duas interrupções voluntárias da gravidez por dia. Nestas duas instituições a IVG pode ser feita por via cirúrgica ou medicamentosa. No primeiro caso faz-se remoção do conteúdo uterino. O procedimento, que é realizado sob anestesia geral ou local, requer uma hospitalização de algumas horas. No segundo método, que só deve ser utilizado até às nove semanas, a taxa de sucesso é ligeiramente inferior, sendo por vezes necessário complementar o processo com uma aspiração nos casos em que a expulsão do conteúdo uterino não é completo. Numa fase inicial da implementação da nova lei, foram estabelecidos protocolos entre estas duas maternidades e o Hospital de Santo André em Leiria que permitiam às utentes dos serviços de saúde do distrito de Leiria que quisessem abortar, o reencaminhamento para os serviços de Coimbra, uma vez que de entre os 19 médicos do serviço de ginecologia e obstetrícia do hospital leiriense, 18 invocaram objecção de consciência, impossibilitando a realização de IVG nessa instituição. Num balanço dos primeiros seis meses depois da despenalização da IVG, em Portugal, os números situam-se nos 6.000 casos de mulheres que abortaram a seu pedido, o constitui pouco mais de metade do previsto. | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 PRECONCEITOS “A violência doméstica causa muitas mortes em Portugal” O actual responsável pelo Núcleo de Cooperação Regional e Autárquica da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, João Pereira, em entrevista (via email) ao ESTAJornal, apresenta o panorama geral das situações de discriminação em Portugal e diz que vale a pena continuar esta luta. Paulo Sousa João Pereira. “Tem havido um esforço grande para o combate à discriminação “ Valter Marques Quais são as situações mais graves de discriminação que ainda se vivem hoje em Portugal? Sendo a Vida um valor fundamental das sociedades contemporâneas, assinalaria, desde já, a Violência Doméstica e o tráfico de Seres Humanos como as situações mais graves de discriminação que hoje se vivem em Portugal, pois causam mortes. No entanto, muitas outras situações de discriminação merecem uma intervenção profunda, quer na mudança de mentalidades na direcção da integração e reconhecimento do valor da Diversidade, quer mesmo com recurso aos instrumentos legislativos ao dispor das pessoas. Portugal tem hoje uma legislação avançada em matéria de luta contra a discriminação e promoção da Igualdade de Oportunidades, mas ainda temos, todos e todas, um papel fundamental a desempenhar na aplicação desta legislação, na vida diária de todas as pessoas. Em relação ao seu actual cargo na CIG (Comissão para a cidadania e igualdade de género) o que falta ainda fazer? Sendo responsável pelo Núcleo de Cooperação Regional e Autárquica da CIG, afigurase pela frente o trabalho imenso de levar as questões da Igualdade de Oportunidades junto do Poder Local e, consequentemente, junto das populações. Acreditamos que o Poder Local, pela proximidade e cumplicidade nas problemáticas das populações, deve assumirse como o motor da Promoção da Igualdade a nível local, encarando a Igualdade como um factor indissociável do desenvolvimento sustentável das populações. A CIG tem hoje alguns protocolos de cooperação com alguns municípios do país, mas queremos chegar, se possível, a todos. As situações de discriminação têm desaparecido? Não há dados que nos permitam dizer se as situações de discriminação têm ou não desaparecido. Os números têm aumentado, mas não é ainda possível correlacionar este aumento com um real aumento da discriminação. Este aumento pode estar relacionado com um, cada vez maior, conhecimento dos direitos por parte das pessoas e, consequentemente, uma maior reivindicação desses direitos. Os Governos têm actuado de forma a combater a discriminação? Julgo que sim, que tem havido um esforço grande para o combate à discriminação. Portugal tem hoje alguns documentos estratégicos que vão neste sentido. Destacaria, destes, o III Plano Nacional para a Igualdade – Cidadania e Género 2007 – 2010, o III Plano Nacional Contra a Violência Doméstica 2007 – 2010, o I Plano Nacional contra o Tráfico de Seres Humanos 2007 – 2010, o Plano Nacional de Integração de Imigrantes, o I Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiências ou Incapacidade. Estes planos contêm objectivos e metas a atingir através de medidas políticas e projectos de intervenção. A decisão de instituir 2007 como o AEIOT revela também uma preocupação e um compromisso dos governos da EU com estas matérias. Que exemplos de discriminação entre género ainda ocorrem frequentemente? Para além da violência contra as Mulheres, como referi atrás, as Mulheres ganham, em média, menos 20% que os homens para o desempenho das mesmas funções; nos usos do tempo, as mulheres gastam todos os dias mais três horas extra laborais no desempenho de tarefas relacionadas com a esfera familiar, com o cuidado de pessoas dependentes, tarefas domésticas, entre outras. No mercado de trabalho ainda se evitam as contratações de mulheres com o receio de um elevado absentismo, caso engravide ou tenha crianças a seu cargo. Existe ainda uma série de desigualdades persistentes, penalizando mais umas em detrimento de outros. Vale a pena continuar a lutar contra a discriminação, ou é um remar contra a maré? É claro que vale a pena continuar a lutar contra a discriminação. Por mais que existam dias que parecem ser um remar contra a maré, os momentos em que sentimos que contribuímos para a melhoria da dignidade da vida de algumas pessoas são muito recompensadores. Por outro lado, é uma questão de justiça social. Porque decidiu seguir um percurso ligado à Acção social? Em termos de percurso académico ele foi feito na área das Ciências Geofísicas - Física. No entanto, e como desde cedo sempre fui tendo experiências de participação associativa, na área da animação comunitária, estas experiências permitiram-me a participação em projectos de intervenção comunitária, primeiro como animador e, posteriormente, assumindo funções directivas e de coordenação. Trabalhei em Programas Especiais de Realojamento, sobretudo no concelho de Cascais, concebendo programas de integração social para as populações infantis e juvenis pertencentes a agregados familiares em fase de realojamento. Para além disso, o meu percurso associativo levou-me a um mandato na Direcção do Conselho Nacional da Juventude, tenso sido responsável pelas pastas de Emprego e Assuntos Sociais e, ainda, pela Administração. Foi com o assumir da Pasta do Emprego e Assuntos Sociais que me empenhei no trabalho na área da Igualdade de Oportunidades, sobretudo na vertente da Igualdade de Género, tendo continuado o meu percurso associativo dos últimos anos numa ONG desta área. Paralelamente, desenvolvi funções de Educador Social num Centro de Acolhimento de Emergência da Segurança Social até ter vindo para a CIG, no início de 2007, tendo integrado a equipa técnica do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos – (AEIOT) e tendo, no segundo semestre de 2007, coordenado a organização da Conferência de Encerramento do AEIOT, realizada no âmbito da Presidência Portuguesa da UE. ESTAJornal à conversa com um prostituto Uma vida difícil para tudo ser mais fácil São 9h00 da manhã e recebe no telemóvel uma mensagem escrita do seu primeiro cliente do dia, a dizer que está a chegar a sua casa. É normalmente a esta hora que começa o seu dia. “Começo desde cedo a receber as pessoas porque já ficam contactos feitos de dias anteriores” – diz Falcão, nome pelo qual é conhecido entre os seus clientes. A lógica é normalmente sempre a mesma: um pequeno texto nos anúncios classificados dos jornais com algumas características, por vezes ficcionadas, e todos os dias recebe no seu apartamento, na Costa da Caparica, entre oito a 12 pessoas, homens, mulheres ou casais, isto tudo com a ajuda de um suplemento sexual. Após ter chegado do Brasil e só ter encontrado um part – time de duas horas num restaurante, em que recebe 200 euros, encontrou na prostituição a forma de pagar as suas contas e ter uma vida confortável, com alguns luxos. Recebe entre 500 e 800 euros semanais, mas não pretende fazer disto a sua vida, porque pretende estabilizar e ter uma família. Mas confessa: “É muito difícil deixar esta ocupação porque ganha-se bem. É difícil mas depois habituamo-nos”. É uma dúvida. Ou os luxos ou a vida estável com alguma facilidade. Exige higiene e segurança, consi- dera-se heterossexual, mas são mais os homens que recorrem aos seus serviços. Quando confrontado com um recente estudo, em que os dados demonstram que uma em dez pessoas já tinham traído o parceiro, não se mostra nada surpreendido. “Eu recebo alguns casais, mas também homens e mulheres com uma relação fixa e que procuram em mim o prazer que não têm em casa” – refere o vendedor de prazer, como gosta de ser retratado. Existe muita concorrência, mas já tem os seus clientes fixos e confessa que é difícil quando os clientes se apaixonam. “É preciso separar as coisas”, diz Falcão, que muitas vezes se vê obrigado a esclarecer qual o seu papel. Frequentemente é abordado para uma relação mais séria: “Há muitas pessoas carentes que me procuram porque não têm ninguém”. Oculta este lado da sua vida à sua família que ficou no Brasil. Não tem praticamente tempo para os amigos nem para sair, algo que o deixa triste. “Tenho sempre muitos contactos, estou muito ocupado e quando me convidam para sair ou ir à praia tenho que mentir”, uma consequência da sua vida dupla. Não quer revelar a ninguém a sua vida e explica porquê: “Não iriam aceitar e acabaria por perder a amizade de algumas pessoas. Se fosse ao contrário também não sei como iria reagir”. A sociedade ainda não está preparada para este fenómeno que tem vindo a aumentar, basta consultar os classificados de alguns jornais. Foi preciso coragem para se tornar prostituto, mas Falcão tem noção que nunca conseguirá manter este nível de vida com outra profissão. É a dificuldade de quem entra neste Mundo. Precisa-se de ter uma vida dupla, aceitar muitas coisas que não se gosta, mas dá muito jeito. Por isso, quando questionado se está arrependido, confessa: “Nunca pensei ser prostituto, mas a vida prega partidas. É difícil mas muitas vezes temos que tomar decisões difíceis”. V. M. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | PRECONCEITOS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Gostas de mim como sou? Os jovens homossexuais estão a assumir-se cada vez mais cedo. Apesar do estigma que ainda existe, muitos já dão a cara para mostrar que são pessoas como as outras. Bruno, Luís e F. Santos não têm receio de aparecer e dar a cara. Um sinal de mudança de mentalidades, um sinal dos tempos. dr André Lopes Bruno, com 21 anos, faz shows de transformismo (pessoas que vestem roupas do sexo oposto) num bar em Torres Novas. É nesta cidade que vive com um companheiro da mesma idade. Nestas alturas transforma-se em Bruna Paparizou. Nele tudo muda, desde o cabelo, a maquilhagem, a roupa e até mesmo o nome: uma autêntica metamorfose. “Desde sempre que soube a minha orientação sexual, ser gay é algo que nasce com a pessoa”. Por isso não esconde o facto de pertencer a uma minoria cada vez maior. Este jovem é a prova de que o coming out (revelação da orientação sexual) se está a fazer cada vez mais cedo. Mas a “saída do armário”, como também é designada, é, muitas vezes, fonte de sofrimento, incompreensões e vergonhas. Apesar de a pesquisa em Portugal não ser grande, segundo a revista “Visão” (n.º 731, 8 de Março de 2007), os jovens homossexuais revelam a sua orientação sexual cada vez mais cedo – se nos anos 80 a revelação era feita já depois dos 20 anos, agora fazem-no por volta dos 15/16 anos. Luís, de 35 anos, considera que é “muito complicado viver de forma serena a sexualidade, seja qual for a orientação”. E acrescenta: “A homossexualidade é muito mais complicada, por várias razões. Por exemplo, a negação da própria pessoa quando começa a sentir atracção por pessoas do mesmo sexo”. Foi desta forma que Nuno (nome fictício) descobriu que era gay. Tinha 15 anos e na altura entrou em pânico. Hoje já vive melhor com a ideia, mas, mesmo assim, passados sete anos “quase ninguém sabe” da sua orientação sexual. Por isso, fica atrapalhado quando vê uma máquina fotográfica. Segundo um inquérito realizado na Internet pela “rede-exaequo” (associação de jovens lésbicas, gays, Conselhos aos pais Pais que não aceitam a ideia de o filho ser homossexual › Sentem-se culpados e embaraçados/envergonhados › Raramente conseguem projectar o futuro do filho › Têm pouco ou nenhum contacto com os amigos homossexuais do filho › A distância ou o conflito tornam-se maiores depois da revelação Pais ambivalentes › Revelam a homossexualidade do filho só a alguns membros da família › Existe uma maior compreensão pela orientação sexual do filho › Conseguem mais facilmente projectar o futuro do filho › Sentem vergonha por causa do estigma social › Têm algumas dúvidas e preconceitos Pais que aceitam a orientação sexual › Não sentem vergonha nem discriminação › Revelam a homossexualidade do filho à restante família › São capazes de identificar uma contribuição positiva desse filho Homossexualidade. “Não é uma opção pessoal, está fora do controlo da pessoa e só tem de sentir-se bem e feliz” bissexuais, transgéneros e simpatizantes), 54% dos inquiridos admitiu ter pensado em suicidar-se por ser homossexual ou bissexual, enquanto que 10 % tentaram fazê-lo e 9% responderam que ainda pensavam nisso. Cláudio Santos, de Leiria, desconhecia estes dados e argumenta que “o suicídio pode afectar todo o tipo de pessoas, sendo um problema mais psíquico e que não tem necessariamente a ver com o tipo de orientação sexual”. Lembra-se que, na escola, quando tinha 17 anos, era discriminado pelos colegas que gozavam com ele. Mas hoje tem 21 anos e tudo é diferente. “Ser-se homossexual não é uma opção pessoal, está fora do controlo da pessoa, e a pessoa só tem de se sentir bem, orgulhoso e feliz por isso” – afirma peremptoriamente. Em contrapartida, Luís insere-se na percentagem de homossexuais que já pensaram no suicídio: “Já pensei no suicídio, embora me tivesse aguentado. É a forma como, no mundo da homossexualidade, certos homens são vistos como prostitutos e serem constantemente, provocados nesse sentido, como se fossem puros objectos sexuais”. A ida para outro país coloca-se com frequência entre os homossexuais, mas Luís considera que o país está preparado para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mesmo assim, afirma, que “é preciso ter algum cuidado”. Na sua opinião, uma lei nesse sentido não é necessária: “Eu sou gay assumido, mas sou contra os casamentos homossexuais. As uniões de facto são permitidas e as regalias em relação ao casamento são pouco diferentes”. Novos Rumos e Riachos são dois grupos de homossexuais Católicos que reivindicam o direito e dever que os homossexuais têm de viverem a vida sacramental da Igreja. “A Igreja discrimina os actos homossexuais como intrinsecamente desordenados” lê-se no site de Novos Rumos. Fonte: “Tenho uma coisa para vos dizer - o percurso de uma família com um filho homossexual” - de Gilbert Herdt e Bruce Koff, Edição Âmbar. A Portogay diz que “a Igreja não faz muito pela homossexualidade. Se Deus existisse, amaria todos de forma igual”. Ainda há um longo caminho a percorrer por parte dos homossexuais e da Igreja para chegarem a um acordo. “A vida dos homossexuais não é fácil”, conclui Nuno, que considera que a Igreja devia adaptar-se aos tempos que correm. Quem não ouviu já piadas ou comentários sobre a homossexualidade? Quem não viu ainda ser apontado o dedo a um homossexual? Vivemos numa sociedade em que assumir a homossexualidade é um acto de coragem pelas consequências que daí advêm. “De uma forma geral os homossexuais sofrem mais” José Antunes tem 50 anos de idade e 20 de carreira. É psicólogo e psicoterapeuta, colaborou durante vários anos consecutivos como voluntário das Associações ILGA-Portual e Opus Gay. Este especialista comportamental considera que os homossexuais sofrem mais do que as outras pessoas e aconselha ponderação na hora da revelação da orientação sexual. Quando se olha para um inquérito promovido pela “rede ex.aequo” (associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes) fica-se impressionado com a quantidade de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros) que se tentam suicidar. A que se deve este fenómeno? Segundo julgo saber, a “rede ex.aequo” é constituída por jovens, o que já é um factor que poderá justificar a elevada taxa de tentativas de suicídio. Um factor de maior peso será, na mesma perspectiva, o confronto social latente ou manifesto e, ainda, a homofobia interiorizada, os quais levam à conflitualidade intra- psíquica, isolamento, ansiedade e depressão, potenciadores do fenómeno em causa. Os homossexuais são pessoas que sofrem mais? De uma forma geral, os homossexuais sofrem mais, pese embora a “capa” de pessoas mais bem dispostas, descontraídas e com grande facilidade para se divertirem, descomprometidamente. A fase do ciclo de vida que atravessem é um factor a ter em conta, bem como a existência, ou não, de um relacionamento estável. A homossexualidade é estática ou tudo não passará de uma fase? Não é estática nem é uma fase da vida, pelo contrário, é bastante di- nâmica, embora possa verificar-se apenas em determinados contextos ou fases, pelo que poderá chamar-se, então, de ocasional ou circunstancial, sendo disso exemplos os colégios internos, prisões, a longa permanência no mar (embarcados) e outros contextos em que predomina apenas um dos sexos durante um período de tempo longo. O Estado deveria fazer algo para mudar a discriminação? O Estado consagrou no artigo 13º da Constituição a protecção contra a discriminação por género/ identidade sexual ou orientação sexuais. Contudo, a aplicação da lei passa pelos Tribunais, órgãos de soberania, os quais reflectem, em parte, a matriz social onde se integram e funcionam da forma que é sabida. Por isso, raramente chegam à barra dos tribunais acusações deste tipo, sendo a prova ainda mais difícil. A educação sexual e a cidadania, ao nível do mais básico e também dos adolescentes, seria outro factor que poderia minimizar o fenómeno, embora os seus efeitos demorem mais a sentir-se na população em geral. Que conselhos daria a um jovem que se queira assumir como homossexual? O assumir-se, “sair do armário”, ou “coming out”, como é designado, são situações que têm um tempo para cada indivíduo e deverão ter em conta circunstâncias pessoais também diferentes. Por isso, aconselho a maior ponderação e amadurecimento da intenção, nomeadamente pensando os prós e contras dessa opção, pois o assumir-se para consigo próprio é bem diferente de falar do assunto com a família, amigos ou colegas. Se for essa a firme intenção do jovem, deve antever as reacções das pessoas a quem pretende assumir a sua orientação sexual e, sobretudo, se está preparado para as suas consequências, aconselhando-se com alguém de grande confiança ou com algum psicólogo ou técnico de saúde mental, de preferência. A. L. | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 PRECONCEITO “Vai ao psicólogo, vai ao psiquiatra? Já é maluco!” Proporcionou-se a oportunidade de explorar mais profundamente um tema por vezes esquecido: as doenças mentais, do foro psicológico e psiquiátrico, as suas nuances, causas e consequências na sociedade. Odete Vieira, possuidora de um conhecimento profundo deste tema, explica que, dentro das doenças do foro da psiquiatria, a esquizofrenia é que a carrega um estigma maior. Sílvia Carola Sílvia Carola Perfil Na sua opinião, as pessoas em geral são preconceituosas em relação a doenças do foro psicológico? Não são todas as pessoas, mas de uma maneira geral, sim. Como é que isso se manifesta? Se procurar um emprego, por exemplo, se disser que tem uma doença nervosa, provavelmente não acham muita piada. Não estou a falar numa depressão, essa qualquer pessoa já pode ter. Mas manifesta-se assim. Até mesmo entre os médicos, por vezes nas urgências. Imagine: há uma pessoa, vai à urgência, pode ir com queixa de doença física, mas, se disser que anda no psiquiatra ou que está a tomar medicação psicofarmacológica, quase sempre chamam logo o psiquiatra. E as pessoas encaram bem o atendimento do psiquiatra? Muitas vezes vão ao neurologista., em vez de ir à psiquiatria. E começa logo na infância, pois os miúdos já começam com esse preconceito: “Vai ao psicólogo, vai ao psiquiatra? Já é maluco.” É um disparate, pois por vezes vão ao neurologista e não se tratam convenientemente. Qual é a diferença da neurologia? Na neurologia são tratadas orgânicas do Sistema Nervoso Central. É o caso, por exemplo, de um tumor cerebral, de doença de Parkinson, doenças degenerativas. Se os doentes “de nervos” fossem reencaminhados para a psiquiatria, seriam muito menos os doentes a consultarem a neurologia. Mas as pessoas vão aí porque parece diferente. Ao psiquiatra, elas “fogem” de ir. Porque pensam que é para pessoas malucas. Estão a ser rotulados? O que é um disparate. Já aceitam melhor ir à psicologia. Aliás, bastante melhor, pois à psicologia já podem ir tanto pessoas doentes como normais. Ou seja, normais, que tenham algum problema a resolver. Aí as pessoas já não se sentem estigmatizadas visto que podem ou não ser doentes. Podem ter problemas na vida. Se for uma doença que não seja consideradas mental, como, por exemplo, as depressões já não há tanto estigma, as pessoas já dizem abertamente: “Tenho uma depressão.” Por outro lado, ainda há pessoas que vão às consultas e muitas vezes não querem levar para o emprego a justificação a comprovar a consulta para não “levar” o carimbo do psiquiatra. É evidente que já há algumas pessoas que não se importam nada de ir à psiquiatria e até acham que isso pode actuar por vezes a seu favor, pois as outras pessoas dizem que não têm culpa de ser doentes, e é uma doença como outra qualquer. De todo o tipo de doenças, qual é a que tem mais estigma? Sem dúvida é a esquizofrenia e por isso muitas vezes os psiquiatras evitem dar o diagnóstico aos doentes, para Maria Odete Alves Vieira, psicóloga clínica com uma carreira de 25 anos, exerce o cargo de Assistente de Saúde no Hospital de Santa Maria, contando já com duas pósgraduações em Psicopatologia e vários trabalhos de investigação publicados. Natural do Sardoal, ingressou no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), confessando a escolha de Psicologia como algo de repentino, pois sempre, por curiosidade, pensara frequentar o curso de Direito. Maria Odete Alves Vieira. “As pessoas têm que encarar as doenças psicológicoas como doenças iguais às outras” que estes não fiquem rotulados. Este termo é muito pesado e é utilizado na linguagem comum para desconsiderar, para dizer que é louco, que não tem remédio. Quais são as suas características? São várias as características. Considera-se que há factores hereditários, mas pode ser desencadeada por factores diversos, entre os quais as drogas. As drogas, como por exemplo o haxixe ou outros, podem desencadear, desde que lá esteja a predisposição. E existem vários tipos de esquizofrenia. Aquelas que começam mais cedo, em pessoas na adolescência, são as que têm um prognóstico pior, pois quando chegam a adultas já estão mais degradadas. Quais são as consequências na vida das pessoas? As consequências são múltiplas, pois é uma doença sem cura em que as pessoas, cada vez que têm um surto, vão-se deteriorando. A doença não tem cura, mas tem tratamento. Se as pessoas tomarem a medicação poderão estabilizar, mas quando deixam de a tomar, em regra têm recaídas. Quanto mais surtos ou recaídas tiverem, mais se vão deteriorando. Mesmo que depois estabilizem, muitas vezes, ficam sempre com um défice permanente. Na hebefrênica, que é o tipo de esquizofrenia que começa mais cedo, existe uma maior degradação quando se chega a adulto, a nível cognitivo e social. E qual é o resultado dessa deterioração? Normalmente as pessoas não estudam, não fazem nada, de uma maneira geral. Há outras que, com o tratamento, até trabalham, fazem a sua vida, mas quando a doença se revela muito cedo é muito difícil. Quando surge nos jovens, principalmente quando se desencadeia através das drogas, é muito complicado conseguir uma remissão que seja compatível com um desempenho social e profissional adequado. Que tipo de trabalho se faz com a família dos doentes? Há associações para as pessoas comunicarem e para as famílias partilharem experiências. Muitas vezes são distribuídos pequenos livros, para que as famílias percebam como se caracterizam as doenças. A psicoeducação das famílias que já se vai fazendo nalguns centros é muito importante no sentido de elas aprenderem a lidar com esses doentes e em particular para estarem atentos à medicação, assim como saber detectar as recaídas Como é prestado o apoio psicológico inicialmente? Aos doentes esquizofrénicos é necessário que o doente se dirija inicialmente ao psiquiatra para tomar medicação, para ficar compensado. O psicólogo deve trabalhar em conjunto com o “Nota-se claramente o estigma, mesmo em discursos políticos” psiquiatra, no sentido de pôr o doente compensado e quando o estiver dar-lhe o apoio psicológico necessário para que este enfrente a vida com as limitações que a doença impõe. Compensado significa equilibrado? Sim, já não ter delírios nem alucinações. Normalmente os doentes esquizofrénicos têm delírios, como por exemplo, sentirem-se perseguidos, e têm alucinações, como ouvir vozes, por exemplo. Por vezes vivem num mundo próprio, um bocado ao lado. Devido a isso têm necessariamente que tomar a medicação antipsicótica. Como é que os doentes, à medida que vão perdendo as faculdades, vão sendo integrados na sociedade? O problema é que isso é complicado, há pouca coisa. Há umas certas associações, como por exemplo, a Sol Nascente, que os tentam integrar. Os que vão para lá, tiram cursos de formação de informática, jardinagem, etc. Alguns conseguem trabalhar, e conseguem manter uma vida razoável, sem deterioração relevante. Alguns são casados, o que é um bom prognóstico, conseguindo manter uma vida familiar regular. Essa evolução favorável é mais frequente nas mulheres. Mas há casos em que fiquem de alguma forma incapacitados? Há alguns que não conseguem fazer nada. Não estão malucos, não é que estejam de maneira alguma, falam bem, e tudo isso, mas há ali qualquer coisa que não os deixa fazer uma vida normal, é o que nós, técnicos, chamamos de deficitário. Sobretudo quando a esquizofrenia começa mais cedo. Fala-se frequentemente no comportamento agressivo dos doentes esquizofrénicos, mas estes são pouco frequentes, embora por vezes espectaculares quando estão descompensados como consequência da não toma da medicação. E essa característica é singular na esquizofrenia ou estende-se a outras doenças do foro psicológico? Em todas as outras doenças psiquiátricas as pessoas necessitam de tomar medicação. Apenas alguns casos mais ligeiros podem fazer apenas psicoterapia. Quando são doenças graves é em regra necessário tomar medicação mas, no entanto, a psicoterapia pode ter um importante papel em complemento da terapêutica medicamentosa, conseguindo-se melhores resultados com o conjunto destes dois meios terapêuticos. É o caso, por exemplo, das depressões ou da doença obssessivocompulsiva. E quanto a outras doenças, como são encaradas no mercado de trabalho? Ao nível de outras patologias, excluindo a esquizofrenia, torna-se mais fácil, pois, por exemplo, numa depressão ou numa doença bipolar, as pessoas trabalham, e fazem um trabalho rentável, desde que estejam compensadas. E ocupam, até, empregos elaborados, porque estas doenças não deixam défice. Que mensagem gostaria de deixar para a opinião pública? Penso que as pessoas têm que encarar as doenças psicológicas como doenças iguais às outras. No entanto, muitas destas doenças são crónicas como outras doenças físicas são crónicas, que qualquer pessoa pode ter. Por exemplo, a diabetes é uma doença crónica, a hipertensão também. E penso que, por vezes, estas doenças físicas podem ser piores que doenças “nervosas”. No que respeita à esquizofrenia, penso que poderiam ser dadas mais hipóteses a estas pessoas, que pudessem ter trabalhos protegidos. Porque alguns conseguem, De certo modo, há organizações que arranjam, mas não tanto como se desejaria. Nota-se claramente o estigma, mesmo em discursos políticos, diz-se, por vezes “parece que está esquizofrénico”. É depreciativo dizer isso. Mas o estigma vem de sempre, vem de trás. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | PRECONCEITOS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Um Companheiro quando tudo falta a um ex-recluso dr Valter Marques “Para que não haja homem excluído pelo homem”. É esta frase de João Paulo II que está afixada na parede bege do pavilhão principal da Associação “O Companheiro” e que, segundo o seu director, José Brites, “é o principal objectivo da Associação”. Situada dentro de um pequeno jardim, mas envolvida por grandes obras, como estradas, hospitais, estádios e centros comerciais na zona da Luz, em Lisboa, a Associação tem como espaço físico um conjunto de pré-fabricados que acolhe exreclusos e que os pretende voltar a reintegrar na sociedade. O objectivo não é apenas dar um tecto e comida àqueles que são rejeitados pela família e amigos, mas também “dotar os indivíduos de competências e técnicas naquilo que são os valores e os dogmas da sociedade”. É este o primordial objectivo do director do “Companheiro” e que é também professor universitário de Psicologia. A Associação acolhe ex-reclusos, dando-lhes comida e habitação. Com protocolos que tem com algumas empresas, consegue arranjar trabalho e manter os seus homens activos. Ao mesmo tempo vão sendo trabalhados psicologicamente de forma a conseguirem sobreviver a Excluído. Quando um erro do passado muda para sempre o futuro uma sociedade que eles não conhecem e que rejeitam. José Brites não se esquece do dia em que “uma das pessoas que era ajudada pela associação tentou entrar num centro comercial e não conseguiu. Era muita confusão. Teve medo”. É uma consequência de estar tanto tempo fechado num espaço limitado sempre com as mesmas pessoas. Uma das principais causas para quem sai de uma prisão voltar a Abrigo. Último recurso reincidir no crime é o facto de não terem trabalho, casa, família, amigos, um suporte emocional. São frequentemente deitados à sua sorte em bancos de jardim, estações de metro, onde o tecto é o céu e têm como companhia a chuva, o frio, as estrelas, a dor, a angústia e a fome. Sem alternativa, o último recurso é o roubo, a droga e o suicídio. “É necessário uma grande força de vontade, uma grande luta para podermos voltar a vencer”, estas palavras são de José, chefe de instalações da Associação, mas que já teve aquele espaço como único apoio. Esteve preso por roubo de fios de ouro e assaltos em habitações, mas teve a sorte de conhecer o fundador da Associação e ainda hoje presidente, o Padre Dâmaso. José foi dos primeiros a entrar para a associação “O Companheiro”, ainda nas antigas instalações em Carnide. “Quando saí da prisão tinha a Jovem fala sobre o acompanhamento psiquiátrico PUB “Aquilo que os outros pensam não interessa” Ana Rita Ferreira Beatriz Fonseca, de 20 anos, é seguida por um psiquiatra desde os 17 anos. Garante que nunca teve qualquer tipo de complexo em admitir ser tratada por um psiquiatra. Também nunca se sentiu desprezada pelos amigos: “Sempre admiti andar em tratamento, e desde então, o apoio dos meus amigos tornou-se ainda maior, até porque um verdadeiro amigo apoia-nos em todos os momentos da nossa vida, sejam eles bons ou maus.” A história de Beatriz Fonseca conta-se com episódios de “fases muito más”. Conta que não pôde viver a adolescência como os outros jovens, tendo sido “obrigada a crescer repentinamente”. No princípio, pensou que ia ser forte e aguentar, julgando tratar-se apenas de “uma fase má”. Depois apercebeu-se “ que era muito mais complicado do que aquilo que imaginava”. Por outro lado, não queria estar a preocupar a mãe, até porque ela já tinha problemas suficientes, e Beatriz não queria “ser mais um”. A realidade foi-se mostrando diferente daquilo que Beatriz pensava: “Aos poucos fui-me indo abaixo”. Os meus familiares e amigos foram-se apercebendo. Dormia mal, sentia-se triste, re- fugiava-se no quarto e sentia-se só. Até que a mãe se apercebeu que não estava bem e a levou a um psiquiatra. “Para a minha mãe pareceu-lhe melhor, pois este poderia receitar-me alguma coisa para eu dormir melhor, o que seria uma grande ajuda para a minha recuperação.” O facto de a mãe ter conhecimento que o filho de uma amiga já tinha ido lá e que tinha ficado melhor ajudou a dar o passo. Quando soube que iria a um psiquiatra, Beatriz teve uma “sensação dupla”. Por um lado, sentiu-se mal pois sabia que estava a ser mais uma preocupação para a mãe. Ao mesmo tempo sentiu-se bem, porque viu no psiquiatra uma solução para o seu problema. Beatriz diz que nunca teve a ideia de que o psiquiatra “é um médico para malucos”, até porque sabia que a principal diferença em relação a um psicólogo seria o facto de receitar medicamentos A jovem conta que simplesmente pensou que o seu estado “devia ser realmente grave para precisar de ajuda médica”. Fora isso, nunca teve problema algum. Os meus amigos também não criaram qualquer tipo de problema. “Eles também sabiam que eu não estava bem, não porque lhes dissesse, mas porque se aperceberam. Eu tive sorte pois todos entende- certeza que não queria voltar para casa” – conta José. Um passado familiar difícil era um problema. Em quem se apoiar quando saísse da prisão? Esta era a dúvida que o atormentava. “Ter conhecido o Padre Dâmaso foi muito bom”, conta com um sorriso. Depois de entrar em “O Companheiro”, a sua vida já deu muitas voltas. Casou, emigrou, foi homem dos sete ofícios, mas acabou por voltar à casa de partida. “Foi aqui que tudo ganhou um novo rumo”, confessa-nos. Neste momento, passa o tempo entre o seu trabalho num quiosque a entregar jornais e na Associação, que é muito mais do que um conjunto de pré- fabricados entre árvores, como um armazém de construção civil. São quartos bem arejados e bem mobilados, é uma biblioteca, um Museu, uma sala de informática e um refeitório. Nada falta. Um dos próximos objectivos da associação é mudar de instalações. “Gostávamos de ter um espaço maior e melhor” – conta o psicólogo que dedicou toda a sua vida profissional à Instituição. “É preciso continuar o trabalho. Há sempre coisas a fazer e a melhorar, mas a mentalidade lá fora também precisa mudar. Todos temos telhados de vidro, nunca se sabe quem não vai precisar de nós”, reflecte por fim José Brites. ram e não me apontaram como “a doida que se anda a tratar”. Mas ainda existe muito essa ideia, o que é muito mau e dificulta a recuperação.” Beatriz refere ainda que em todo este processo os amigos têm sido “impecáveis”, sempre ao seu lado, desejando-lhe o melhor. O próprio psiquiatra aconselhou Beatriz a ir a um psicólogo também, para ter com quem conversar e que, simultaneamente, ajudasse a ultrapassar as crises. A jovem explica qual era a sua principal dificuldade: “Como os meus problemas apareceram na adolescência, fizeram com que eu não a vivesse, e por isso eu estava a vivê-la numa altura desadequada, o que tornava tudo mais complicado.” Aos outros jovens que possam ter problemas semelhantes, Beatriz diz para terem “muita força” e para se lembrarem que “aquilo que os outros pensam não interessa”. E remata: “Se eles pensam que somos malucos é porque não gostam de nós e não querem o nosso bem. Então, a melhor forma de os calar é estarmos bem. O nosso bem-estar é o mais importante. E se forem desprezados pelos amigos por andarem num psiquiatra, é porque não são amigos de verdade e os únicos malucos são eles, pois o complexo está nas suas cabeças.” Café Portugal ~ Praça Raimundo Soares | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 DIFERENÇAS Sobredotados: capacidades e desempenhos acima da média Crianças que se evidenciam Mónica Reino e Mariana Azevedo Aborrecidos nas aulas, com uma vontade incontrolável de participar nos assuntos de família, uma curiosidade desmedida de querer descobrir e saber mais. Estas são as características de algumas crianças. Falamos de crianças sobredotadas! Mas o que distingue, afinal, estas crianças das outras? Estas crianças conjugam uma capacidade intelectual mais desenvolvida do que a considerada normal para a sua idade com um pensamento criativo, desenvolvendo as suas capacidades de liderança, visuais e artísticas. Dotadas de várias capacidades, as crianças sobredotadas possuem algumas especificidades que são estimuladas precocemente, mostrando claramente uma aptidão e um destaque maior para uma ou diversas áreas. Ao longo dos tempos o conceito de sobredotado tem vindo a sofrer inúmeras alterações, gerando inúmeras controvérsias. Enquanto alguns defendem que uma criança sobredotada é aquela que tem aptidão para uma determinada área, outros crêem que um sobredotado tem facilidade em diversas áreas. Segundo Ellen Winner, no seu livro “Crianças Sobredotadas: mitos e realidades”, as crianças sobredotadas apresentam três características atípicas: precocidade, insistência em se desenvencilharem sozinhas e uma sede enorme de conhecimentos. No que respeita a precocidade, as crianças dão os primeiros passos em algumas áreas numa idade inferior à média, por outro lado, desprendem-se mais facilmente do apoio dos adultos, ensinando-se a si próprias. Deste modo, “manifestam um interesse intenso e obsessivo, uma aguçada capacidade de concentração, e aquilo a que chamo um desejo violento de dominar”. Existem alguns sinais que ajudam a identificar uma criança sobredotada, nomeadamente a nível da capacidade cognitiva (que pode ser verificada pelos testes de Q.I.), da aptidão académica específica, das artes, da liderança, da psicomotricidade e na área relacional com os outros. Como no caso da Ana (nome fictício), presentemente com oito anos, cuja mãe se apercebeu quando esta ainda “era muito novinha, provavelmente com um ano”, que ela se evidenciava em diversas áreas sendo intelectualmente mais desenvolvida do que seria nor- mal na idade dela. O mito de que uma criança sobredotada é inteligente a tudo, está longe de ser real. Existem determinadas áreas em que a criança apresenta um maior desenvolvimento intelectual, enquanto noutras pode revelar grandes lacunas. João (nome fictício) “destaca-se mais na área da língua portuguesa”, demonstrando um vocabulário bastante extenso e fluente para a sua idade e relativas dificuldades a educação física. Já Ana, que apresenta um nível intelectual avançado para a idade em várias áreas, como língua portuguesa e matemática, revela dificuldades na expressão plástica. A família surge como um elo importante entre a criança e a sociedade, uma vez que lhe incute todos os va- lores e padrões culturais necessários para a sua integração. Nos casos de Ana e de João, a família assumiu um papel fundamental no que respeita à aceitação e respeito mútuo entre pais e filhos. Muitas crianças sobredotadas encontram dificuldades em se integrarem na escola, visto muitas vezes tentarem abordar determinados assuntos com os colegas de turma e estes não entenderem, acabando por se afastarem. João, actualmente com 10 anos, não se relaciona com os colegas, sendo nesse ponto fulcral, que segundo a mãe, reside o problema. Por sua vez, Ana nunca teve qualquer problema de integração desde o jardim-de-infância. Ao nível de aproveitamento escolar, hália costa santos Sobredotados. Um conceito que tem vindo a ser alterado e que tem causado alguma controvérsia Ana “fez inclusivamente o primeiro e segundo ano num ano só. Neste momento estaria no segundo ano de acordo com a idade, mas está no terceiro”, estando um ano à frente. Ao nível legislativo estas crianças não existem, dado a ausência de qualquer tipo de protecção e regulamentação. Não obstante, num resquício de esperança, os pais e as associações continuam a luta pelo reconhecimento destas crianças. Sentindo-se incompreendidas, com dificuldades no relacionamento com as outras crianças e com os pais, com tendência para o isolamento e para o individualismo e com uma subaproveitação das suas capacidades, estas crianças encontram apoio em instituições como o Centro Português para a Criatividade, Inovação e Liderança (CPCIL). Em entrevista ao ESTAJornal, uma das fundadoras, Manuela da Silva, explicou que este centro, sem sede própria, mediante uma visível falta de apoios financeiros por parte do Estado, surgiu legalmente em 1989. Inicialmente, com o intuito de prestar auxílio à família, a associação realizou programas de férias, conferências, formação de professores... No entanto, a partir de 2000, tentaram, em vão, criar legislação acerca da sobredotação. Neste momento, e após algumas transformações, passaram a prestar apenas uma avaliação do desenvolvimento da criança, dando algumas indicações e aconselhamentos de como os pais e professores devem lidar com elas. Contudo, por falta de apoios financeiros e devido ao aparecimento de outras associações, como a Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação (ANEIS), o CPCIL reduziu as suas funções. Crime: principal motivo noticioso dos imigrantes Jefferson S. Gomes “Os meios de comunicação deixaram de olhar o Outro (imigrantes e minorias étnicas) com estranheza” e “passaram a integrá-lo dentro dos alinhamentos quotidianos de informação”. Esta é uma das principais conclusões do estudo número 28, de uma série de Estudos do Observatório da Imigração que abordam os vários aspectos das realidades das comunidades imigradas em Portugal, o terceiro inteiramente virado para os “Media, Imigração e Minorias Étnicas”. O quadro geral dos estudos sobre os meios de comunicação social, imigração e minorias étnicas que têm vindo a ser efectuados desde 2003, sob a coordenação de Isabel Ferin, directora do Instituto de Estudos Jornalísticos, comprova um crescente PUB Estamos no Ensino há mais de 50 anos número de peças noticiosas na imprensa e na televisão. O único senão é que a evolução se deve, em muito, às notícias ligadas ao crime, apesar de os valores se terem mantido estáveis nos últimos tempos na imprensa e de terem baixado um pouco na televisão. A principal novidade constatada no último estudo, que abarcou o biénio 2005-2006, em comparação com os de 2003 e 2004, é a “distinção entre o imigrante/membro de uma minoria étnica, autor ou vítima de um crime”. Ou seja, estes grupos, conforme os dois primeiros estudos, eram notícia essencialmente como autores de crimes. A terceira investigação sobre os “Media, Imigração e Minorias Étnicas” do Observatório da Imigração destaca ainda a “pouca diversidade temática” dos jornais e canais televisivos na cobertura noticiosa destes grupos, ignorando as suas contribuições e inovações para Portugal, nomeadamente nas áreas económica, social, política, cultural e estilos de vida. As principais fontes de notícias sobre os imigrantes e as minorias étnicas são o Governo, as forças policiais, os tribunais e os institutos públicos, conclui o estudo apresentado nas Jornadas do Observatório da Imigração que decorreu a 6 de Maio, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | DIFERENÇAS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Rotary Clube apoia hipoterapia Tânia Branco Tânia Branco Este ano, o Rotary Club de Abrantes pretende angariar fundos para o picadeiro coberto destinado à prática de Hipoterapia (técnica terapêutica com cavalos) e Equitação Terapêutica do Centro de Recuperação Infantil de Abrantes (CRIA). Apesar de a construção já estar em curso, são necessários fundos para concluir as paredes, a drenagem de águas pluviais, a rede de esgotos e de combate a incêndios, a teia de protecção e as instalações eléctricas e a de rega. Ou seja, o CRIA necessita de um total de 121.577,50 euros e é aqui que entra o apoio do Rotary Club, através do seu Projecto Comunidade em Acção. No dia 19 de Abril, o Rotary Club de Abrantes organizou mais um Encontro em Cadouços, enquadrado no Projecto Comunidade em Acção, e considerado de importância significativa para a instituição preponente, o CRIA. Neste encontro foram apresentados os projectos desenvolvidos pelo CRIA, as actividades dos utentes que frequentam esta instituição, o desenvolvimento do projecto Comunidade em Acção e o destino a dar aos fundos obtidos. José Jardim, responsável pelo projecto Comunidade em Acção, apresentou o balanço de tudo o que já foi feito pelo Rotary Clube de Abrantes, com o intuito de apoiar a instituição em causa, afirmando que “este é um projecto da comunidade e para a comunidade”. Solidariedade. Angariação de fundos para o novo picadeiro do CRIA Por sua vez, a apresentação do CRIA, relativa ao projecto de Hipoterapia e dos restantes projectos desta instituição foi feita por Humberto Delgado, responsável por aquela instituição. Paula Gueifão e Margarida Varela, técnicas de Hipoterapia, explicaram no que consiste esta forma de tratamento, a sua importância para aqueles de que dela podem usufruir, a importância deste pavilhão para aqueles que puderem frequentá-lo, assim como as suas vantagens. As técnicas em causa chamaram também a atenção dos presentes para a importância deste projecto através do visionamento de um pequeno filme relativo ao tratamento de Hipoterapia que 37 dos utentes da instituição já recebem. A hipoterapia é uma técnica terapêutica que consiste em conjugar as actividades desenvolvidas, com os movimentos e os estímulos produzidos pelo ani- mal, para tentar reabilitar as pessoas. Ao mesmo tempo são produzidas acções, reacções e informações importantes para o desenvolvimento do doente. A hipoterapia, onde se pode encontrar enquadrada a equitação adaptada, é utilizada por pessoas com disfunções ligeiras a moderadas com o intuito de, entre outras coisas, fortalecer musculatura, melhor a atenção, melhorar o raciocínio e a linguagem, ou seja a esta técnica tem associado todo um conjunto de objectivos directos e indirectos que são trabalhos com recurso ao cavalo. No entanto, nem todos podem beneficiar da hipoterapia, pois existem contra-indicações (por exemplo, o utentes que tenham dor ou epilepsia não controlada, entre outras doenças, não devem fazer este tipo de tratamento) pelo que os utentes antes de iniciarem o tratamento são alvo de uma consulta médica. Há ainda a acrescentar que o CRIA pretende rentabilizar o espaço que será concluído com os fundos angariados com o apoio do Rotary Club. Ainda no decorrer do encontro, e intercalado com as restantes actividades realizadas na Herdade de Cadouços, decorreu uma venda de produtos confeccionados pelos utentes do CRIA. Os fundos que destinem a contribuir para este projecto devem ser entregues ao Rotary Clube de Abrantes ou enviados para o Centro de Recuperação Infantil de Abrantes. Jovem explica como é ser Testemunha de Jeová Visões diferentes da maioria Milene Alves Foi num ambiente sossegado e acolhedor que Ana (nome fictício) falou da sua religião e do que é ser uma Testemunha de Jeová. A frequentar o 3º ano da universidade, esta jovem conta o seu dia-a-dia como Testemunha e expõe a sua visão sobre temas da actualidade que a maior parte das pessoas julga de maneira diferente. Segundo umas das publicações do Salão das Testemunhas de Jeová, “Testemunhas de Jeová, Quem São? Em que Crêem?”, um seguidor do Deus Jeová é uma pessoa igual a todas as outras. Às vezes cometem erros pois não são perfeitos, nem inspirados, nem infalíveis. Dedicam-se a Jeová e orientam os seus passos pela Bíblia. Também Ana segue a sua vida segundo os princípios bíblicos que lhe foram incutidos desde criança e que levaram à decisão de, aos 14 anos, se baptizar como Testemunha. Desde muito nova dedicou-se ao estudo bíblico com a mãe, mas nunca se sentiu obrigada ou coagida a seguir os passos religiosos maternos. Afirmando não conhecer em pormenor outras religiões, assume que o valor mais importante na sua Religião. Um olhar diferente sobre a realidade é o seguimento fidedigno da Bíblia que orienta o seu presente e o seu futuro. Colmatando que, no seu entender, as outras religiões não seguem a Bíblia a 100%. Quando confrontada com o tema discriminação Ana declara que sentiu muito mais discriminação mais quando andava no 1º ciclo (antiga escola primária): “Havia colegas que me punham de parte, lembro-me que havia intervalos que eu passava sozinha.” Hoje em dia esta jovem já não vê as coisas dessa forma, pois apesar de se continuar a assumir como Testemunha de Jeová sente que existe uma maior liberdade religiosa e, consequentemente, uma maior aceitação por parte dos colegas. No que diz respeito às festivida- des comuns, para Ana “a Bíblia é muito certa em relação a isso. Qualquer festividade de Aniversário, de Natal e do Ano Novo não são festividades bíblicas”. Quanto às “festividades do casamento normal, a Bíblia não condena”. Assim, quando é convidada para um aniversário de um amigo fica de parte, respeita e não fala mal para ninguém. Simplesmente não vai. Devido a esta restrição pode parecer à maior parte das pessoas que Ana e, consequentemente, as Testemunhas de Jeová, não se divertem. Esta ideia, segundo esta jovem, está errada, pois ela não sente qualquer tipo de restrição ou proibição por não participar nestas festas, sentindo que existem outras actividades de “entretenimento sadio”. Quando questionada sobre relacionamentos entre diferentes religiões, responde de forma ponderada dizendo que quando se apaixonar tentará que seja com alguém da mesma religião, “não só porque a bíblia aconselha a fazer isso, mas também porque nos dias de hoje duas pessoas que tenham ideias diferentes é complicado. Já há tantas brigas, tantas divergências, somos tão diferentes uns dos outros, se nós nos apaixonarmos por alguém com princípios diferentes ainda é muito mais complicado.” Um dos temas polémicos da actualidade é a recusa por parte das Testemunhas de Jeová em receber transfusões de sangue. Nesta questão de extrema importância Ana é bastante clara e concreta na sua opinião: “Não quero, não aceito transfusões de sangue.” Explicando de seguida que se acontecesse algo de muito grave na sua vida esperaria que o desenvolvimento dos meios tecnológicos da medicina estivessem suficientemente avançados para resolver a situação. Conclui dizendo que se existisse a hipótese de morrer, aceitaria, acreditando no futuro da Bíblia que promete a ressurreição e a vida eterna. As Testemunhas de Jeová possuem adeptos em 230 países e territórios autónomos. São mais de seis milhões de praticantes, apesar de reunirem um número muito superior de simpatizantes. Os países com mais Testemunhas de Jeová são os Estados Unidos da América e o Brasil. M.R. e M.A. 10 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 DIFERENÇAS As famílias biológicas, as famílias de acolhimento e as instituições Crianças com vidas diferentes Toda a criança precisa de uma família. Esta é a única certeza quando se fala de um processo de adopção. Na comunicação social, os casos polémicos acumulam-se, sempre acompanhados por um público que espera um final, no mínimo, novelístico. Nas mesas dos cafés as opiniões são proferidas como sentenças, na maioria das vezes, em favor dos pais adoptivos. Talvez porque se conhece pouco o outro lado da questão de quem luta para reconquistar um filho que começou por ser seu. Esta é a história de Catarina (nome fictício), 30 anos, a quem foram retirados três filhos. Tem agora mais dois. A Comissão de Protecção de Menores e Crianças em Risco considerou que os filhos estavam em situação de abandono, na casa onde viviam com a mãe (ocupada ilegalmente). Foi também apontada a falta de recursos financeiros. Embora no processo conste que tudo foi provado, muitos dos factos contradizem-se quando se dá a palavra a Catarina. Quanto às acusações que lhe são feitas, diz que nunca abandonou os três filhos. Sente-se revoltada com as técnicas da Segurança Social. Ao ESTAJornal diz que nunca lhe ofereceram ajuda no sentido de tornar legal a casa onde vive e que nunca reponderam aos seus pedidos de ajuda financeira quando se separou do pai dos meninos. No processo consta a falta de condições, mas não há nenhuma referência a qualquer tipo de ajuda a Catarina. Quando são retiradas à família de origem, e enquanto decorre todo o processo até uma possível adopção, as crianças permanecem em instituições de solidariedade social. Procurámos, então, a opinião de quem as acompanha no dia a dia neste período de tempo. O cónego José da Graça dirige uma dessas instituições, um centro de acolhimento em Abrantes. Este centro acolhe crianças até aos 12 anos. Neste momento, a instituição acolhe 12 crianças apenas porque não convém que o número de crianças seja muito elevado, devido à atenção de que necessitam. Quanto ao destino destas crianças, o cónego José da Graça adianta que saem da instituição para adopção ou para a família de origem. Em último recurso vão para outras instituições adequadas à sua idade. Nestes casos, reconhece que quando a institucionalização é prolongada as crianças revelam alguma revolta. Na instituição que dirige esta situação nunca se verificou, talvez devido à tenra idade das crianças que acolhe e à realidade difícil de onde provêm. A instituição age no sentido também de ajudar socialmente as famílias juntamente com as técnicas da Segurança Social, além de haver horário de visitas para estimular o contacto entre a família e a criança. Na avaliação da família têm em conta o factor económico e o factor psicológico. Na opinião de José da Graça, é mais relevante o factor psicológico, embora saiba que na generalidade se beneficia mais o factor económico. De resto, a instituição não tem um papel muito activo, para além da educação da criança. Catarina lembra-se do período em que os seus filhos foram entregues a instituições. Foram institucionalizados porque, num acto de desespero, Catarina foi buscá-los à família de acolhimento, sem autorização. Aquando da visita da Comissão de Protecção de Menores para lhe pedir satisfações sobre o ocorrido, a mãe dos meninos descontrolou-se e trancou-se com as crianças em casa ameaçando matar-se a ela e aos filhos. As crianças foram separadas. O mais novo foi entregue a uma instituição que acolhe crianças até aos quatro anos, os outros dois foram entregues a uma instituição que acolhe crianças e jovens órfãos e desamparados a partir dos quatro anos. Margarida Car valho Sara Costa N a s instituições onde estavam os meninos, foram vedadas as visitas, durante algum tempo, à mãe, devido ao ocorrido. Catarina diz que quando voltou a poder visitar os filhos, as visitas eram ao domingo. Como, nesse dia da semana, trabalhava num restaurante, só se faltasse ao emprego é que poderia ver os filhos. Como não podia deixar de trabalhar, diz que tentou visitar os filhos noutros dias, mas acabava por não conseguir porque os meninos estavam em actividades. Se perdesse o emprego, esse seria um factor desfavorável no âmbito do processo para reaver a guarda das crianças. Em toda esta situação está implícita a questão das famílias de acolhimento. São famílias que voluntariamente se oferecem para acolher em sua casa, temporariamente, crianças institucionalizadas. Quanto a este tema, o cónego José da Graça também se pronuncia, tocando em dois pontos cruciais. Primeiro, o facto de estas famílias se proporem a acolher uma criança qualquer e não uma criança específica. Em segundo lu- gar, que não deve ser sempre a mesma criança a ser acolhida pela mesma família. Porque se podem criar laços de afectividade prejudiciais tanto para a criança como para quem a acolhe, devido ao carácter temporário desta relação. No processo referente aos filhos de Catarina consta que os três permaneceram entregues a uma família de acolhimento durante um prolongado período de tempo e que até chamavam “mãe” à senhora que os acolheu. Catarina discorda deste ponto de vista. Garante que das poucas vezes que visitou os filhos nessa família de acolhimento estes choravam muito e pediam para voltar para casa. E foi essa a razão que a levou ao acto que cometeu. O cónego José da Graça diz que o Estado deveria ter um papel de auxílio quando existem problemas sociais como o desemprego ou a falta de condições habitacionais, para que não sejam essas as causas de se privar uma criança de uma educação com base no carinho e no amor dentro do seio familiar, deve-se privilegiar o factor psicológico. No caso de Catarina não consta nenhum relatório médico referente à instabilidade psíquica, apenas um acto de desespero de uma mãe que se sentiu impotente. Fala dos filhos emocionada e partilha algumas memórias felizes que ainda lhe restam. Quanto ao futuro, diz apenas: “Já não tenho esperança, porque já levaram os meus filhos das instituições. Dói muito saber que talvez não os volte a ver e que um dia o mais novo nem saberá quem eu sou se me vir na rua. Era muito pequeno quando o levaram. Mas o que mais me custa é o medo, medo que me tirem estes dois que tenho agora, cada vez que vejo as técnicas aqui no bairro, entro em pânico”. “Eu já tenho uma família e não preciso de outra” Lara Silva A família é talvez a coisa mais importante que temos na vida. É a ela que recorremos quando estamos em apuros, é ela que nos protege e que nos ama independentemente daquilo em que nos tornamos. Infelizmente, nem todos podem recorrer à sua família quando mais precisam, mas esse não é o caso de Diogo (nome fictício). Ele foi adoptado quando tinha apenas alguns meses de ida- de. “Uma assistente social, que sabia que os meus pais não tinham filhos, levou-me ao pé deles e a partir daí foi amor à primeira vista”. Os pais já tinham tido dois filhos que faleceram. Quando a assistente foi ter com eles, provavelmente viram em Diogo uma forma de ajudar a superar a dor. Diogo sempre soube que era adoptado. Não se lembra da idade. “Contavam-me como se fosse uma história e eu sempre soube”. Não se recorda como se sentiu ao saber a verdade. Só com o tempo é que se foi apercebendo do que aquilo implicava realmente, sem nunca se sentir mal ou diferente. Poucos são os que sabem que Diogo é adoptado: “Só os meus melhores amigos. Eu não gosto de falar nisso porque não vejo necessidade”. É, portanto, natural que afirme nunca se ter sentido discriminado. Diogo não sabe e nem nunca quis saber por que motivo os pais biológicos o entregaram para a adopção. “O motivo que eles tiveram não sei, nunca tive interesse em saber e nem os meus pais me disseram”. Mesmo quando, mais tarde, os pais biológicos tentaram entrar em contacto com ele, Diogo deixou bem claro que não estava interessado. “Eu já tenho uma família e não preciso de outra”. Possivelmente por ser ele próprio um caso de sucesso, Diogo acredita no sistema da adopção. “Eu acho que é bom. Porque se há pessoas que não têm a capacidade para criar um filho e se há pessoas que querem ter filhos e não podem, tendo condições e amor, devem adoptar”. No entanto, acha que o processo de adopção em Portugal é muito lento e pelos casos que tem acompanhado através da comunicação social, considera que deveria ser mais rápido. Concorda com a adopção por parte de casais homossexuais, “apesar de saber que em termos sociais pode ser difícil para uma criança entender que tem dois pais ou duas mães e as outras crianças um pai e uma mãe”. Todavia, confessa que o mais importante é o amor que se transmite a uma criança e não propriamente o facto de serem, ou não, do mesmo sexo. SUPLEMENTO Alunos da esta na hália costa santos pele de repórteres de guerra Na manhã de 20 de Abril, a Brigada Mecanizada NRF 12 do Campo Militar de Santa Margarida recebeu os alunos da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA) para uma simulação de cenário de guerra intitulada “ROSA BRAVA 08 EFICÁCIA 08”, na aldeia de Chaminé. A convite da Brigada Mecanizada NRF 12 do Campo Militar de Santa Margarida, e tendo a pequena aldeia de Chaminé, do concelho de Abrantes, como pano de fundo de toda a aventura, os alunos de Comunicação Social embarcaram no desafio do exercício de Rosa Brava 08/Eficácia 08 e vestiram a pele de repórteres de guerra. Debaixo de chuva, envergando coletes, capacetes e ao peito a indicação de “press”, 20 futuros jornalistas tiveram uma oportunidade única de sentir a prática profissional num contexto muito próximo do real. O exercício consistia em participar numa conferência de imprensa, semelhante ás que acontecem em cenário de guerra, permitindo que tanto militares como futuros jornalistas se treinem para situações reais. Porque se tratava de um exercício com uma força multinacional, a conferência decorreu inteiramente em Inglês, de forma a aproximar a unidade militar ao futuro cenário real. Várias questões foram lançadas, criando-se um am- biente de desafio, em que a liberdade Mecanizada mostrou a sua capaci- e sendo auto-sustentável por um de acção dos alunos–repórteres foi, dade para responder a solicitações período de 30 dias. segundo as palavras de Paulo Sousa, da OTAN, nomeadamente ao nível O convite para a ESTA participar da Informação Interna e Relações do planeamento, comando, coor- neste exercício não foi circunstanPúblicas da Brigada Mecanizada, denação e controlo de operações cial pois, segundo Paulo Sousa, “é de “favorável” e “positivo”, uma vez que tácticas. Estiveram envolvidas di- prática comum no meio militar a di“o distanciamento entre os militares versas Unidades do Exército, três vulgação das linhas orientadoras para e os “jornalistas” “jogou” com o ce- Unidades da Força Aérea Portuguesa determinados períodos de tempo”. No nário que se pretendeu criar. O facto e uma Unidade da Marinha, num âmbito da promoção geral do Exércide os militares não conhecerem os total de 1.700 militares, 350 viatu- to, para o ano de 2008, foi desiderato “jornalistas” e não saberem o tipo ras e 20 saídas de aeronaves. Sendo dos responsáveis máximos da Brigada de perguntas, contribuiu de forma aprovada nestes exercícios, a força Mecanizada a ligação às entidades “muito positiva para o treino dos mi- multinacional estará apta a cumprir civis e às populações, em particular na litares”, sublinhando, que em cenário quaisquer missões da OTAN que região do Comando Militar de Santa real “o relacionamento entre militares lhe venham a ser confiadas, com Margarida, com especial incidência e jornalistas tem sido, de uma for- um grau de prontidão de cinco dias sobre a população escolar. ma geral, muito Tendo sido Dr positivo, por se a primeira exassumir que essa periência com é sempre vantaelementos da josa para ambas ESTA, a Brigaas partes”. da Mecanizada A conferência da “Operação de imprensa em Rosa Brava que participa08/Eficácia ram os alunos 08”, através do de Comunicaseu porta-voz, ção Social da faz um balanESTA fez parte ço positivo, de uma operadeixando no ção que durou ar que haverá sete dias, na senovos exercígunda quinzena cios para 2009, do mês de Abril. “em preparaNele, a Brigada Enriquecedor. Alunos da ESTA consideram a experência positiva ção já a partir do segundo quadrimestre do presente ano”. Perante a possibilidade de surgirem novas propostas de colaboração, aquela unidade militar mostrou-se disponível para novas experiências em conjunto com a ESTA, culminando que “devem ser coordenadas com oportunidade”. “Experiência enriquecedora”. Foi com estas palavras que os jovens alunos de Comunicação Social se despediram, ficando ansiosos por uma nova façanha. Na perspectiva do Departamento de Comunicação Social da ESTA, este foi um claro exemplo positivo daquilo que se pode fazer em termos de parcerias. Para além de proporcionar um trabalho em conjunto, a iniciativa contribuiu para o desenvolvimento das competências dos futuros jornalistas, num contexto muito próximo da realidade profissional que os espera. A força multinacional que desenvolveu os exercícios Rosa Brava 08 e Eficácia 08 tem estado envolvida, desde Janeiro de 2008, num rigoroso treino com vista a atingir os elevados padrões fixados pelos critérios de certificação da NATO. O exercício terminou quatro dias depois, em Santa Margarida, com uma demonstração de fogo real, para o qual os alunos da ESTA também foram convidados. SUPLEMENTO | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 Esta muda para alferrarede Não serão feitas de raiz, mas foram pensadas “à medida” das necessidades. As futuras instalações da ESTA, no Tecnopólo de Alferrarede, permitirão a esta instituição de ensino um contacto mais próximo com o desenvolvimento e com a realidade empresarial. Mariana Azevedo Imagens das futuras instalações da ESTA decoram agora o átrio desta instituição de ensino. A mudança, que resulta de um acordo entre a ESTA e a Câmara Municipal de Abrantes, está prevista para o ano lectivo de 2010/2011. A escola passará do centro da cidade para a freguesia de Alferrarede, associando-se ao pólo de desenvolvimento e ganhando em espaço e infra-estruturas. A renovação das instalações, prevista desde o seu aparecimento, foi agora acelerada, dada a necessidade da construção de um museu para acolher uma valiosa colecção doada à Biblioteca Municipal António Botto, nas instalações do Convento de S. Domingos (actualmente ocupadas pela ESTA). A Câmara Municipal suportará cerca de 25% dos custos, esperando-se que os restantes 75% sejam obtidos através dos fundos comunitários, nomeadamente o QREN. Ao Instituto Politécnico de Tomar, ao qual pertence a ESTA, caberá apenas os encargos com os equipamentos. As futuras instalações da escola passarão pela recuperação dos edifícios da antiga Quimigal, no Tecnopólo de Alferrarede. Miguel Pinto dos Santos, director da ESTA afirma ao ESTAJornal que “o campus construído de raiz seria uma solução pensada para uma ESTA com mais anos, provavelmente com mil e tal alunos, para uma escola maior e com uma indústria mais desenvolvida”. Actualmente com cerca de 443 alunos nas quatro licenciaturas e 351 alunos inscritos em Cursos de Especialização Tecnológica (CET), a solução adoptada apresenta-se como a mais realista, dignificando a instituição e permitindo o seu desenvolvimento. Para além de três CET em Tecnologias da Informação a funcionar em Abrantes, a instituição é responsável por outros cinco em Torres Novas, dois em Nisa, três em Sesimbra e quatro em Lisboa. Em Abrantes funciona também um CET em Engenharia Mecânica. O projecto de arquitectura respondeu a um conjunto de necessidades identificadas pela ESTA, pelos seus departamentos e centros. Embora não sendo edifícios construídos e raiz com o objectivo de serem uma instituição de ensino superior, os espaços vão ser mais funcionais do que os actuais. Para além dos laboratórios e dos ateliers específicos dos quatro cursos ministrados na ESTA – Comunicação Social, Engenharia Mecânica, Design e Desenvolvimento do Produto e Tecnologias da Informação e da Comunicação –, as novas instalações permitirão que outros núcleos da própria instituição usu- fruam de espaços próprios. Um claro exemplo desta situação é o Centro de Línguas do Instituto Politécnico de Tomar (CLIPT), uma das mais recentes apostas desta instituição de ensino, aberto a toda a comunidade. A melhor forma de mostrar o impacto que a mudança da ESTA implica no seu próprio funcionamento é dando uma ideia do espaço que vai ganhar. A título de exemplo, o número de salas de aula vai duplicar; o projecto das novas instalações prevê cerca de 30 salas. A nova cantina, que também ganha em espaço, terá dois pisos, um deles com terraço. A biblioteca também passará a ter uma dimensão superior à actual. Para além de tudo isto e de outras melhorias em termos de condições físicas, a curto prazo os alunos terão à sua disposição um cybercafé. A médio prazo está prevista a utilização de infra-estruturas desportivas. Com o desenrolar do tempo, a ESTA, integrada num núcleo de desenvolvimento empresarial, terá condições equivalentes às de uma cidade-universitária. “A solução apresenta-se como a mais realista, dignificando a instituição” Esta mudança não permitirá, no entanto, a entrada em funcionamento de mais cursos nem a criação de mais vagas, visto existir um número limite estabelecido pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Neste sentido, o director da ESTA explica que “o que está previsto na lei é que dentro de pouco tempo os politécnicos tenham um regime semelhante ao do ensino superior universitário. De acordo com este, os cursos podem ser criados sem ser necessário pedir autorização prévia ao Ministério”. Assim, “neste momento, a criação de mais cursos não depende das instalações. E “no futuro isso dependerá do Ministério e da nossa capacidade para atrair alunos e criar cursos” – remata Miguel Pinto dos Santos. Para João Alves, presidente da Associação de Estudantes, “a ESTA merece melhores instalações” e a sua mudança será positiva, permitindo evitar os custos elevados com manutenção tidos nas actuais instalações, também referidos por Miguel Santos em entrevista ao ESTAJornal. O director da Escola acrescenta ainda o facto de a mudança permitir um reforço das relações com as instituições e empresas do município, o que conduz a um “círculo virtuoso de desenvolvimento”. Não se trata de “uma mudança de estratégia, mas sim de um reforço da mesma”. Não obstante o facto de serem os estudantes que dão vida à cidade, João Alves não esquece que este centro ficará um pouco mais vazio e que os comerciantes e senhorios do centro da cidade poderá sofrer com esta mudança. Uma abrantina que aluga casas, no centro de cidade, a estudantes, vê esta transferência da ESTA para o Tecnopólo como sendo “péssima”. E explica: “Perdemos a juventude quando a cidade já de si é envelhecida. Não podemos de ficar de forma nenhuma contentes”. No entanto, não será certo que os alunos se desloquem obrigatoriamente para Alferrarede, até porque ainda haverá questões a decidir, como as respostas que poderão ser dadas em termos de residência para estudantes. Finalmente, a rede de transportes públicos entre o centro de Abrantes e Alferrarede já existe, o que também é um factor a ter em conta. SUPLEMENTO 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | Design e Entidade Glo-Cal Passado um ano, o curso de Design e Desenvolvimento de Produtos (DDP) da ESTA apresentou mais um conjunto de conferências. Este ano o tema escolhido centrou-se no Design e Entidade Local e a sua relação com o Design Global. Decorreu nos dias 6 e 7 de Maio e contou com a presença de vários especialistas de Design. vânia costa Noélia Barradas O curso de DDP, na ESTA, é recente e os estudantes ainda não são muitos. Talvez por isso, a primeira conferência tenha tido um certo tom intimista. A plateia, constituída maioritariamente por alunos, manifestou interesse e interagiu com os oradores, estabelecendo-se uma troca de ideias. Na mesa estavam Cláudio Cardozo, representante do StúdioVeríssimo, juntamente com Rute Gomes, Daniel Caramelo e Mário Barros, docentes do da ESTA. A palavra inicial foi de Cláudio Cardozo, que expôs os mais variados trabalhados produzidos e idealizados pelo estúdio que representa. Uma apresentação na qual se assumiu a “dificuldade em ser reconhecido em Portugal”, ao mesmo tempo que se verificou o “reconhecimento de Portugal, para além fronteiras, por exemplo na Alemanha”. Os seus produtos apresentados aliam “o útil, o reciclável e o artesanal”, juntamente com o Design. Mário Barros apresentou elementos para “uma discussão sobre as referências locais, transformadas em referências globais”, enquadrando o tema geral da conferência. O docente mostrou alguns exemplos de produtos Glo-cais, como o caso da comida Sushi, do almofariz, do IKEA e também dos tecidos africanos, onde se inspiram muitos estilistas para a alta-costura. Esta exposição de ideias serviu de pivot para a intervenção de todos os presentes. Dando sequência ao debate, Rute Gomes lembrou que “aglomerar o artetradicionais. Foram colocadas à sanato é um fenómeno actual ”. venda em Londres e a aceitação O facto de se “trazer o modo de por parte dos compradores foi vida de outros países, através do boa venda. próprio artesanato” foi outra ideia O segundo projecto apresendebatida, tendo sido apresentada tado por Pedro Ferreira, intitulapor Daniel Caramelo. Mário Bardo “Grão”, “remete-se ao grão de ros evidenciou ainda o facto de se uma película fotográfica” e tem estar a “construir com desperdício como objectivo criar um novo e criar um objecto de luxo”. objecto através de antigos azuleNo segundo dia dos trabalhos, jos bem característicos da cultura os oradores destacaram-se pela inportuguesa. Um dos resultados formalidade e descontracção, com deste trabalho esteve já exposto exposições simples e apelativas. no Museu Nacional do Azulejo, Miguel Estima, docente no Instiem Lisboa. tuto Politécnico de Castelo Branco, A finalizar a sua exposição, Peiniciou a sessão, com a apresentação Projectos. Jovens designers apresentam trabalhos inovadores dro Ferreira apresentou um terceide uma marca nacional, a ALBA, ro projecto, “Fabrico próprio”, uma metalúrgica que foi exemplo de modernidade apresentou três projectos em que participou. enciclopédia que retrata pastelaria portuguesa. O durante o Estado Novo. A “modernidade e o luxo” O primeiro projecto demonstra como se pode designer explicou que este surgiu através da “casão as palavras com que Miguel Estima define a “reinventar a tradição”. Trata-se de um projecto pacidade que a nossa pastelaria tem de reinventar empresa, um marco em inovação aliado a matérias elaborado em S. Pedro do Corval, no Alentejo, as tradições” e de como uma receita conventual como o ferro. Além da modernidade e inovação, que pretende inovar produtos fabricados em pode originar várias outras. a empresa, segundo Miguel Estima, destacou-se barro, que outrora eram considerados “utiA encerrar a conferência esteve Bruno Araújo, por “submeter a localidade à entidade empresarial”, litários e descartáveis” e que hoje em dia são representante da empresa Molding, indústria de promovendo toda uma campanha de Marketing principalmente decorativos. Pedro Ferreira moldes e injecção de termoplástico. O designer que passava pelo desenvolvimento de um logo e evidenciou a forma “impressionante” como explicou como se produzem os materiais de pela promoção através de associações e obras de as pessoas trabalham o barro e a “receptivida- plástico, através dos moldes e técnicas, assim cariz social. A ALBA foi apresentada como um de ao projecto”, que consistia em desenhar as como evidenciou os seus reduzidos custos de exemplo de sucesso português, que Miguel Estima peças feitas tradicionalmente. Por outro lado, produção. A capacidade que a indústria do plásdefine como “ a actualidade que nunca deixa de os designers pediram aos artesãos para “exage- tico tem em “valorizar e modificar a reprodução parte o lado utilitário”. rar as peças até ao limite”. Várias peças foram a partir do vidro ou metal” foi outro dos aspectos Pedro Ferreira, designer do Estúdio Pedrita, produzidas em jeito de caricatura das formas sublinhados. 8ª Semana de Engenharia com um vasto programa Ambiente na ordem do dia vânia costa Dentro de uma vasto programa de palestras e workshops proposto pela 8ª Semana de Engenharia da ESTA, o dia 13 de Maio foi dedicado ao Ambiente e Energia. Licenciada em Engenharia Energética, Susana Sousa, da ADENE, começou por apresentar a regulamentação energética e de qualidade de ar nos edifícios. Segundo a oradora, a certificação energética da qualidade do ar surge como uma “necessidade de criar um directivo para regular a energia consumida pelos edifícios, que em Portugal é mais de um terço”. Susana Sousa explicou ainda o projecto da empresa que representa e da preocupação em cumprir o protocolo de Quioto. O objectivo passa por medir a eficiência energética dos edifícios. E, por isso, a mensagem da campanha que está a passar na televisão ser “Um dia todos os edifícios vão ser verdes”. Perfeito Isabel, engenheiro representante da PEGOP, mostrou, projectos como a Tejo Energia, que representa 8,5 da quota de mercado, e que tem como fonte de produção as energias renováveis. Apesar da pequena quota de mercado e do custo inicial ser bastante elevado, adianta que é “um projecto viável”, até porque “a matéria-prima surge a custo zero”. Esta intervenção contou ainda com a apresentação de iniciativas da PEGOP com intuito de reduzir a emissão de gases para a atmosfera. A encerrar a conferência, esteve presente Pedro Rodrigues, representante da AP2H2 – Associação Portuguesa e Promoção de Hidrogeno, que demonstrou ao longo da sua intervenção a necessidade de explorar novos recursos energéticos. A sua aposta é no hidrogénio, que possui características essências para o futuro das energias como “o baixo nível de ruído, ausência de desgaste mecânico, possui a agua como subproduto e por fim com uma densidade de energia superior ás baterias convencionais”. Empresas da região E ex-alunos O primeiro dia de conferências teve como tema principal “Engenharia de produção”. Foram convidadas duas empresas da região: a MDF, do Tramagal, e a Robert Bosch, de Abrantes. Rogério Lopes apresentou a empresa MDF, uma empresa de fundição, com uma vasta experiência em produzir peças de grandes dimensões e na fundição do aço. “Fundimos seis toneladas numa hora” - reforça Ro- Debate. Uma semana importante para os alunos gério Lopes. Júlio Quinas explicou o funcionamento da empresa Robert Bosch e os Uma empresa que conta com uma parte ligada novos desafios da empresa. A linha de montagem à arquitectura, outra à engenharia e por fim e tem sofrido alterações para responder às necessi- à avaliação do ruído. Diogo, para além de ser o dades do mercado. “Nós estamos à frente” - refere único sócio da empresa, é responsável pela parte Júlio Quinas. É desta forma optimista que encara da avaliação do ruído. “É uma área que começa a competição interna e externa e que identifica as a ganhar importância quer a nível de fábricas, potencialidades da empresa. “A aposta nos recur- empresas, mas também em edifícios e é essa a sos humanos é a grande mais-valia”, conclui. nossa grande aposta”, refere Diogo. Para encerrar Depois de uma pausa de cooffee break, a sala a sessão Luis Sousa veio falar sobre um sistema encheu novamente para os últimos oradores da de abastecimento. tarde. Eram todos ex-alunos e vieram falar das O segundo dia esteve subordinado ao tedificuldades e das aprendizagens lá fora, depois de ma “Projecto e Desenvolvimento do produto”. terminar o curso de Engenharia Mecânica. Mário Durante a manhã foi realizado um workshop Coelho mostrou dois projectos desenvolvidos com – Projecto Catia, que contou com a presença cartão, depois de alguma experiência na área da de alguns alunos. Na mesa estiveram presentes metalúrgica. Um deles foi a caixa para colocar as Paulo Simão, da Mitsubishi, Pedro Portela, da hamburguers e o outro um cartão para segurar de Inovação e Desenvolvimento de Produto, e Maforma mais eficaz um pack de cervejas através de riana Figueiredo, da Silicália. Paulo Simão veio uma dobra entre as garrafas. Diogo Gomes veio apresentar a Mitsubishi e falar sobre o sucesso apresentar a empresa que criou, a Lusiprojecto. que a empresa tem apresentado no mercado automóvel. Pedro Portela mencionou a importância da tecnologia e da inovação para competir no mercado. “A maioria dos proveitos da empresa resulta dos produtos mais recentes”, refere. Por fim, Mariana Figueiredo que veio apresentar a empresa de produção de mármore e quartzo, através de uma tecnologia de ponta italiana e com uma linha de produção totalmente robotizada. Inovação e Propriedade Industrial foi o tema do último dia da Semana de Engenharia Mecânica. Durante a manhã foi realizado um workshop subordinado a este tema e durante a tarde os alunos puderam desfrutar de actividades desportivas como o paintball e o futebol. Carlos Coelho, membro da Comissão Organizativa e Executiva da 8ª Semana de Engenharia Mecânica, mencionou que a semana foi bastante positiva. Ficou contente com a presença da maioria dos alunos durante as conferências, mostrando o interesse em conhecer o mercado que os espera, assim como a importância de fazer escolhas. Segundo Carlos Coelho, o tema da Energia e Ambiente é aquele que se encontra mais actual, mas todos os outros, apesar de clássicos, fazem parte da actualidade e são cruciais para a produção de determinados equipamentos. Esta semana foi também importante, não só para o departamento de Engenharia Mecânica, mas também para o departamento de Design de Desenvolvimento do Produto. “Há uma ligação entre estas duas áreas e esta semana veio demonstrar isso”. Noélia Barradas e Vânia Costa (Gabinete de Comunicação da ESTA) SUPLEMENTO | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 IPT ENTRE OS “20 +” DA COMISSÃO EUROPEIA COMISSÃO EUROPEIA ELEGE CURSOS DO IPT EM PATRIMÓNIO E ARTE PRÉHISTÓRICA ENTRE OS 20 CASOS DE SUCESSO DO PROGRAMA ERASMUS O Instituto Politécnico de Tomar foi seleccionado, num concurso europeu aberto a todas as instituições de Ensino Superior dos 27 países da União Europeia, para a Brochura da Comissão Europeia “20 Casos Erasmus de Sucesso”. Este reconhecimento resulta da avaliação dos Cursos Intensivos nas áreas de Arte Pré-Histórica e de Gestão do Património Cultural, coordenados por Luiz Oosterbeek, docente do IPT e também secretário-geral da UISPP (organismo mundial de arqueologia pré-histórica) e Vice-Presidente da ONG HERITY (organismo internacional de certificação de qualidade na gestão do património cultural). Com base nos mesmos programas de formação, o IPT foi ainda nomeado para receber um dos três prémios finais – ouro, prata ou bronze – a ser atribuído na Confe- rência Europeia da Qualidade em Ljubljana, Eslovénia a 12 e 13 de Junho de 2008. O IPT assume este reconhecimento como um estímulo para continuar a promover a construção de um espaço europeu de ensino superior acreditado e avaliado internacionalmente, partilhando o mérito com os seus estudantes de Licenciatura e de Mestrado. Workshop de Estatística Destaque na revista FOCUS Entre 23 e 26 de Julho decorre eno IPT a 17ª edição do International Workshop on Matrices and Statistics, que resulta da colaboração entre o IPT e o Centro de Matemática e Aplicações da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O evento, que se realiza em honra 90ª aniversário do Professor Theodore Wilbur Anderson, tem como objectivo estimular a investigação, num ambiente informal. Mais informações estão disponíveis no site www.iwms08.ipt.pt O Instituto Politécnico de Tomar é referenciado na publicação Focus (edição de 26 de Março a 1 de Abril) como sendo o terceiro Instituto Politécnico a nível nacional que mais se destaca na prestação de serviços ao exterior. Estes dados vêm comprovar o dinamismo e a competência reconhecida aos vários Departamentos e profissionais do Instituto Politécnico de Tomar bem como o contributo importante que tem prestado ao país. CET’s em funcionamento Escola Superior de Tecnologia de Tomar Curso de Especialização Tecnológica Local de funcionamento Nº de turmas Sistemas de Informação Geográfica Desenvolvimento de Produtos Multimédia Tomar Tomar Tomar Entroncamento Sertã Tomar Tomar 1 1 1 1 1 1 1 Condução de Obra Instalações Eléctricas e Automação Industrial Tecnologia e Programação de Sistemas de Informação Escola Superior de Gestão de Tomar Curso de Especialização Tecnológica Local de funcionamento Nº de turmas Aplicações Informáticas de Gestão Pedrogão Grande Ferreira do Zêzere Sertã Tomar Torres Novas 1 1 1 2 1 Curso de Especialização Tecnológica Local de funcionamento Nº de turmas Tecnologia e Programação de Sistemas de Informação Torres Novas Nisa Sesimbra Abrantes Lisboa 1 1 1 1 1 Torres Novas Sesimbra Instalação e Manutenção de Redes e Sistemas Informáticos Abrantes Lisboa 2 1 1 2 Desenvolvimento de Produtos Multimédia Torres Novas Nisa Sesimbra Abrantes Lisboa 2 1 1 1 1 Projecto de Construções Mecânicas Abrantes 1 Escola Superior de Tecnologia de Abrantes Mestrado no IPT Inicia-se em Outubro de 2008 a Pós-Graduação e Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre, uma parceria entre o IPT e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Trata-se de um Mestrado Mundus, com o apoio da Comissão Europeia. As principais regiões de investigação desta formação pós-graduada serão o Vale do Tejo (Portugal e Espanha), Senegal e Brasil. As aulas decorrem maioritariamente em Mação, embora alguns módulos estejam agendados para Tomar, Vila Nova da Barquinha, Vila Real, Coimbra e Lisboa. O regime de aulas será presencial e a maioria dos módulos funcionará ao fim-desemana. Quanto às áreas fundamentais de formação, são a Pré-História, Paleoantropologia, Geologia do Quaternário, Métodos e Técnicas em Arqueologia e Didáctica do Património. As áreas fundamentais de especialização são a Arte Rupestre, Tecnologia Lítica, Aplicações Informáticas, Paleobotânica, Geologia do Quaternário, Pré-História e Gestão do Património. Luíz Oosterbek, docente do IPT, é o director do curso, que decorre até 2010. Da comissão directiva fazem parte João Baptista, da UTAD, e Pierluigi Rosina, do IPT. Podem candidatar-se licenciados em Arqueologia, História, Antropologia, Biologia, Geologia e outras licenciaturas das áreas de Ciências Humanas, da Terra e da Vida. Candidatos de outras áreas científicas poderão ser aceites após análise curricular. Os finalistas de Licenciatura em 2007/2008 poderão candidatarse condicionalmente. O valor total da propina será de 2.000 euros, acrescidos de 150 euros de inscrição e valor do seguro escolar. Os interessados deverão, até 25 de Julho, dirigir requerimento de admissão ao curso, carta dirigida ao director do Mestrado, fundamentando o interesse no curso e a área de especialização pretendida, anexando Curriculum Vitae, fotocópia de certificado de habilitações e boletim de candidatura (disponível em www. ipt.pt). Os interessados em preparar dissertação de Mestrado poderão indicar um tema eventual. A correspondência deve ser enviada para o D e p ar t am e nt o d e Te r r it ó rio, Arqueologia e Património Escola Superior de Tecnologia de Tomar Av. Cândido Madureira nº 13, 2300-531 Tomar. Outras especializações serão possíveis, no quadro da rede Erasmus-Mundus, constituída com a Universidade de Ferrara (Itália), o Instituto de Paleontologia Humana de Paris (França) ou a Universidade de Tarragona (Espanha). Os formandos no âmbito do Mestrado poderão prosseguir os estudos para o Doutoramento em “Quaternário, Materiais e Culturas”. Criação da comissão de coordenação HERITY Portugal PORTUGAL INICIA PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE DE GESTÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL Por iniciativa dos municípios de Mação, Abrantes e Vila Nova da Barquinha, o HERITY International iniciou o processo de certificação da qualidade de gestão de diversos bens culturais em Portugal, nomeadamente do Museu de Arte PréHistórica de Mação, do Castelo de Abrantes, da Biblioteca Municipal de Abrantes, do Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha e do Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo. Relativamente à Península Ibérica, foram igualmente iniciados os processos de certificação de todos os bens culturais inseridos na rota cultural dos Caminhos de Santiago (Galiza) e na Rota de Cesaraugusta (Aragão). Foi, ainda decidida, no passado dia 11 de Março, em Mação, a formação de uma estrutura nacional, coordenada por Jorge Rodrigues, professor e investigador em História de Arte, bem como a implementação de uma equipa de acompanhamento dos processos de certificação em Portugal, dirigida por Vítor Teixeira, especialista na área da gestão e certificação de qualidade. Foi também decidida a criação da Secretaria Nacional de HERITY Portugal, com sede no CEIPHAR / Instituto Politécnico de Tomar. O Sistema Herity promove uma gestão compatível (que preserva os bens culturais) e sustentável (que se apoia no seu usufruto), distinguindo-se por ser um sistema internacional, comum a todos os países. Este sistema parte dos interesses e da avaliação do público e da qualidade de gestão dos bens culturais, motivada pela necessidade de promover intervenções compatíveis e sustentáveis no Património Cultural, que assegurem o seu estudo, conservação e acessibilidade turístico - cultural. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 11 DIFERENÇAS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com José da Graça, cónego e pároco de S. Vicente, Abrantes “Nós vivemos daquilo que nos dão” Pela sua dedicação ao trabalho de causas sociais, José da Graça, Cónego da freguesia de S. Vicente, foi agraciado, em 2002, pela Câmara Municipal de Abrantes, ao ser-lhe atribuída a Medalha Municipal de Mérito Social. A este pároco se deve a construção de vários equipamentos sociais, e a criação, na sua cidade, de várias instituições sociais, como a Cáritas e o Banco Alimentar Contra a Fome. ÉRICA AMARAL fERNANDA mENDES O que o motivou a criar uma Cáritas em Abrantes? A Cáritas em Abrantes é apenas uma resposta a uma necessidade social, porque ainda há uma grande parte da sociedade que não tem uma assistência social de acordo com as suas necessidades, e porque o que existe na própria comunidade não chega para resolver certos problemas e certas situações. Está a referir-se a que situações? São casos dramáticos de pessoas que vivem sozinhas, em que a própria casa, em algumas situações, não tem condições, onde há falta de higiene, e onde às vezes ninguém lá pode entrar. Há todo um âmbito social a que é preciso dar uma resposta, incluindo no campo da saúde. Que apoios tem a Cáritas? A Cáritas vive apenas da boa vontade das pessoas e de um trabalho de voluntariado. Cabe-nos conhecer a realidade social onde estamos inseridos, e tentar dar resposta. Sem um fundo de maneio próprio, não podemos fazer muito, mas o que fazemos, fazemo-lo de bom gosto, e de acordo com a missão do grupo Cáritas. Como é que são identificadas as famílias que ajudam? Nós tomamos conhecimento das situações ou através de alguém que nos vem dizer, ou através da própria Cáritas. E perante um caso qualquer, o grupo Cáritas, antes de tomar uma decisão, vai primeiro conhecer situação real da família ou da pessoa em causa. Só depois na reunião, nós decidiremos qual a resposta a dar. Este não é um trabalho de encomenda, é um trabalho no próprio terreno. Quais são as maiores necessidades que encontram? Pessoas que estão demasiado sozinhas, que precisam de algum cuidado na sua higiene pessoal, que precisam de ajuda no campo da saúde. Este é um trabalho que não custa dinheiro, basta apenas que alguém tenha tempo, disponibilidade e generosidade para ajudar. De que forma é que acha que a Cáritas mudou a vida das pessoas mais carenciadas? O grupo Cáritas está a funcionar há pouco tempo, mas foi através dele que já foram detectadas novas situações, principalmente ao nível de crianças, em situações críticas, e ao nível de pessoas a viverem totalmente isoladas, na miséria. E as nossas respostas a estas necessidades não seriam possíveis se o grupo não existisse. Em relação as crianças, refere-se concretamente a quê? A crianças sub-alimentadas e mal tratadas devido à miséria em que vivem. Tentamos ter uma proximidade junto da família, e ao mesmo tempo arranjar os alimentos necessários, principalmente leite. Para isso contamos com a ajuda do Banco Alimentar contra a Fome, que existe precisamente para estas situações maiores de pobreza. Foi o impulsionador do Banco Alimentar contra a Fome. De que ma- “É muito difícil conhecer casos de pobreza envergonhada” neira é que o Banco veio dar apoio às instituições sociais? O Banco Alimentar contra a fome veio dar um grande apoio às pessoas que passam fome, mas há que equacionar a prioridade das necessidades, porque dentro das pessoas que passam fome, há que ajudar primeiro os que passam mais fome. Há alguma iniciativa por parte das pessoas em procurar ajuda para viverem de outra forma? As pessoas estão só habituadas a pedir para lhe matarem a fome; outras pedem a uns e a outros, o que também é um modo de sobrevivência. Não é o modo mais correcto, mas temos de compreender. Em relação às pessoas que passam aqui pela paróquia a pedir ajuda, eu receiam que os seus familiares, ao saberem que elas estão a ser ajudadas, falem, as critiquem ou que deixem de as ajudar. Há casos em que a própria família não sabe que as pessoas estão a passar por essas situações? Exacto. Há assuntos e casos que não passam pelo grupo Cáritas por serem demasiado delicados. Neste momento tenho um caso em que vou ter de ir falar com o delegado de saúde, e só ele me poderá ajudar. Se não for assim, terei de ir ao tribunal para ver se é possível uma intervenção. As pessoas que vivem em pobreza extrema devem-no a algum vício de jogo ou problemas relacionados com o álcool? Aqui o maior problema é o álcool. Mas também começa a aparecer um outro problema que é a pobreza envergonhada, e que é muito mais difícil de lidar. São pessoas que podem mesmo a estar a passar fome, mas que não o demonstram. Como é que chega a essas pessoas? É muito difícil conhecer estas situações de pobreza envergonhada, mas quando elas aparecem, temos de encontrar alguém que esteja próximo dessa pessoa, para que seja ela a fazer de intermediária, fazendo chegar a ajuda necessária. Se a pessoa que necessita de ajuda souber que a sua situação é do conhecimento de alguma instituição, ela rejeita a ajuda. Esses casos de pobreza envergonhada têm vindo a aumentar? Sim. E desde que o grupo Cáritas está a funcionar já apareceram dois casos de pobreza envergonhada. E devem-se a questões relacionadas com o desemprego? Creio que muitas vezes a questão da pobreza envergonhada é mais originada por uma crise a nível interno, ou porque tinham um certo tipo de rendimento e deixaram de o ter, ou porque estavam habituadas a gastar mais do que o que tinham. No geral, estes casos de pobreza envergonhada acontecem mais nas cidades, centro urbano, ou mais nas freguesias rurais? É mais na cidade, porque na aldeia há sempre alguém que dê umas couves ou uns feijões. Como é uma família que viva em pobreza envergonhada? É uma família que viveu bem, ou mesmo muito bem, que tinha todas as condições de vida, e que de um momento para o outro passou a viver sem nada. Conhece casos em que o desespero das pessoas as tenha levado ao roubo ou a outros actos criminosos? Não, mas não podemos excluir essa hipótese, pois se não tentarmos dar respostas a muitos problemas sociais, o roubo vai ser a única resposta que as pessoas têm. nem sempre é apoiado e entendido pela maioria das pessoas. Ser voluntário não é ser escravo ou empregado de alguém. Ao oferecer um serviço, o voluntário está a oferecer solidariedade e ajuda a quem precise, não está a desempenhar funções por obrigação ou a ser remunerado por tal serviço. É puramente boa vontade. Ser pobre não é crime e também não devia ser entendido como vergonha, mas a todos os que dependem de tais ajudas é pedido apenas uma coisa: gratidão. Por experiência própria falo em voluntariado e também da falta de reconhecimento das pessoas em geral. Apesar de tudo, ficam as boas lembranças daqueles que pude ajudar e dos quais recebi toda a sua consideração. Ajudar é um dever de todos, e ser voluntário é isso mesmo, não será melhor reconhecer o seu valor, em vez de apontar o dedo aos que ainda fazem algo por alguns. “É um trabalho que não custa dinheiro, basta tempo e generosidade” mando-as para a Cáritas, porque o grupo Cáritas todas as quartas-feiras, entre as 15h00 e as 17h00, tem sempre duas pessoas na Casa de Sta Maria, para atender as pessoas que tenham qualquer tipo de problema a nível subsidial. Conhece pessoas a viverem em situações de pobreza extrema e como reagem quando as abordam para tentar ajudá-las? Algumas reagem bem; outras, inicialmente, temem que não estejamos ali para ajudar. Com o passar do tempo ficam sensíveis e receptivas. Essas reacções devem-se à vergonha? Sim, é muito mais vergonha do que outra coisa. Mas também há medo dos próprios familiares. As pessoas Opinião Voluntários… muitos, reconhecimento… pouco Noélia Barradas Quando cada vez mais se põe em causa o carácter ético e moral do mundo em que vivemos, será justo levantar a cabeça, olhar em volta e tentar perceber se essa ideia é assim tão linear. O voluntariado surge como uma resposta, à crítica de falta de dedicação ao próximo e a causas reais e nobres que enriquecem o nosso presente e futuro. Em Portugal, actualmente, verificamse casos graves de pobreza extrema, casos que ainda sobrevivem graças a entidades, entidades estas, que devido à conjuntura económica do país, funcionam de donativos e do dito voluntariado, pessoas que trabalham em prol de acções de carácter social e comunitário, realizadas de forma desinteressada e desenvolvidas sem fins lucrativos. O voluntariado é crucial para a dinamização de entidades com poucas valências, o seu trabalho permite que muitas famílias possuam um nível superior de vida, mas, apesar de o princípio ser válido, 12 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 DIFERENÇAS “Sou info-excluído!” E depois? São cidadãos no activo, mas dispensam instrumentos da sociedade da informação. São pessoas que não sabem e não querem saber o que é um e-mail, um SMS, um telemóvel ou uma vídeo-chamada. Um dia acordaram e o choque tecnológico tinha-lhes passado ao lado, por opção própria. Serão eles uma pequena minoria de opositores à era digital ou, pelo contrário, serão um grupo de privilegiados que escolheram desfrutar do sossego enquanto os outros vivem na obsessão de estarem sempre contactáveis? Fernanda Mendes Fernanda Mendes “Sim! Sou info-excluído” – assume o assessor de imprensa da Câmara de Sardoal. Mário Jorge de Sousa é um caso paradigmático do comunicador de profissão que vive do outro lado da trincheira tecnológica. Não tem telemóvel por opção: “Lá porque trabalho em comunicação, não quer dizer que tenha de estar sempre contactável e a contactar”. Admite que o telemóvel “trouxe um grande avanço civilizacional”, que facilita a comunicação e aproxima as pessoas, mas rebela-se na sua utilização: “As formas tradicionais de comunicação são suficientes para o desempenho das minhas funções”. O assessor de imprensa relembra que na Câmara há telefones fixos e telemóveis que utiliza, se for necessário. Quem não usa telemóvel está a exercer o seu direito de escolha. Mário recusou essa escravidão e preza os momentos de solidão: “Gosto de me sentir livre”. Não tem nenhum preconceito contra o telemóvel, apenas critica a sua utilização “individual”, enquanto “espaço lúdico”. O assessor de imprensa entende que “muitas vezes o telemóvel é o brinquedo dos adultos”. SMS, toques e anedotas são para o comunicador formas que os adultos encontram para “poderem brincar, sem que os possam censurar por isso”. É o apelo da sociedade de consumo ao qual confessa não querer enquadrar-se nessa “alienação”. E remata: “É uma moda, um deslumbramento que háde passar daqui a uns anos”. Com a mesma naturalidade que confirma não usar telemóvel, não ter carta de condução e ter um cartão multibanco que quase não usa, só para proceder a levantamentos porque “ é só o que sei fazer”, Mário Jorge também não morre de amores pelos computadores e pelo mundo virtual. Não envia nem abre um email e não tem curiosidade em ler os jornais digitais, mas se lhe disserem que há uma notícia de última hora na Internet, pede a um colega para aceder e lê. De resto, diz-se satisfeito com a informação que tem. “Quando preciso saber mais, recorro aos livros, vou à Biblioteca” – confessa quem teve um percurso profissional demasiado ligado à arte da impressão. O pai foi tipógrafo e ele próprio trabalhou muitos anos em tipografias. Passou pela Imprensa Nacional Casa da Moeda e, mesmo depois, nos anos em que esteve na Comunicação Social, a era digital ainda era uma realidade distante. Nunca abdicou de escrever no papel, e continua fiel à caneta de sempre (tinta preta e marca “BIC”). Manuel Dias. Afirma que a Internet é um instrumento verdadeiramente revolucionário. D.R. “Os ouvidos, a caneta e o papel é que fazem o profissional”, confessa o assessor de imprensa, fazendo imediatamente questão de explicar que tem a sorte de estar ladeado por uma equipa que lhe garante as questões técnicas: processamento do texto e envio de e-mails ou faxes. Mesmo sem as “bengalas” da tecnologia moderna, Mário Jorge de Sousa rende-se à filosofia que lhe está associada: “Estamos a cumprir a aldeia global de Marshall McLuhan”. O acto de abdicar, hoje, de tecnologias tão banais, não é um processo encerrado para o Mário Jorge: “Se um dia voltar à Comunicação Social admito adaptar-me a essa realidade.” Manuel Pereira Dias, 77 anos, decano do Partido Socialista de Abran- “Lá porque trabalho em comunicação, não tenho que estar sempre contactável” tes e vendedor de sonhos (é proprietário de uma loja de venda de jogos da Santa Casa) também se junta à lista minoritária de abstinentes das modernas tecnologias. Ao contrário de Mário Jorge, Manuel Dias não se assume como info-excluído: “Era o que faltava! Podem dizer que sou bota-de-elástico, não me importo. Não sou utilizador, mas também não sou contra os avanços tecno- lógicos. Como cidadão, respeito e agradeço os avanços da tecnologia”. Aliás, não poupa elogios ao poder da tecnologia e aos benefícios que conferem aos cidadãos: “Nos últimos anos a tecnologia e a comunicação alteraram-se de dia para dia. A sua influência é brutal”. Não tem telemóvel por achar que não serviria os seus interesses e, confessa, “por resistência à globa- Escrita e negócios numa folha de papel Pode parecer estranho, mas é um facto. O escritor António Lobo Antunes, o assessor de imprensa da Câmara do Sardoal, Mário Jorge de Sousa, o político abrantino Manuel Dias e o homem mais rico do mundo têm um ponto em comum: resistem ao mundo digital. Agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em 2007, quando estava a discursar - citado pelo Jornal “Transmontano” - António Lobo Antunes confessou ser um homem “completamente inútil”, porque não tem telemóvel, cartão de crédito ou multibanco, e vive “apenas para escrever”. Mas, por outro lado, considera-se um “privilegiado” por lhe pagarem para escrever, a actividade que dá “sentido e direcção” aos seus dias. António Lobo Antunes licenciou-se em Medicina e che- gou a exercer, mas desde 1985 que se dedica em exclusivo à escrita, sendo um dos escritores portugueses mais traduzidos. Também o magnata mexicano Carlos Slim Helú, confirmado pela revista “Fortune” como o homem mais rico do mundo, dispensa o uso de computadores para administrar os seus negócios. Segundo a revista “Época Negócios”, o dono de grande número de empresas de tecnologia, Slim Helú “diz que toda a informação necessária para tomar uma decisão de negócios tem de caber numa folha de papel”. De acordo com reportagem da “Época Negócios”, este empresário milionário não usa, nem nunca usou computadores, não lê documentos no ecrã do computador, nem envia ou recebe e-mails”. lização”. Quem o quiser contactar, arranjará maneira. O velho telefone fixo lá de casa está à disposição e não há como o contacto directo: “Vivo no centro da cidade, a minha vida é aqui, no meu largo, em casa ou na tabacaria. Toda a gente sabe onde me encontrar”. Reconhece que o telemóvel é “um equipamento útil, que aperfeiçoa a comunicação”, mas resistiu-lhe com a mesma resistência que o acompanhou numa parte da vida e do percurso político. Recordando que nasceu na “idade das trevas” (anos 30, do século XX), Manuel Dias diz que a sua formação de cidadão “não passa pelo ter mas pelo ser”. E explica-se: “Esta opção de vida consolida-se na ideia que tenho da política dos homens que radica no humanismo e na solidariedade”. Reflecte sobre o que diz ser “um certo contra censo” e não se coíbe de afirmar não perceber como é que “económica e culturalmente somos um dos países mais desfavorecidos da Europa, e no que diz respeito aos telemóveis somos campeões”. Democrata, republicano e laico, Manuel Dias nunca foi homem de tentações materiais. Conta que nunca quis comprar carro, por opção: “Quando podia ter comprado, investi em duas casas. O automóvel estraga-se, as casas só ao fim de muito tempo”. Admitindo não ser “muito tecnológico”, Manuel Dias tem uma relação que o aproxima às maiorias da era digital. Frisando que não é “viciado”, nem frequentador assíduo, dá-se bem com a Internet, “um instrumento verdadeiramente revolucionário. Para além de entreter, funciona como um professor”. Conhece essa realidade e convive com ela, nas boleias do computador do filho ou da neta “para aceder ao site das finanças”, explica, porque afinal há contágios que acontecem por necessidade e uma certa curiosidade. Leitor compulsivo de jornais, o homem que foi um dos fundadores do Partido Socialista em Abrantes, prefere recordar que viveu num tempo em que não havia escola: “Eu aprendi através da literatura e do cinema. O cinema ensina muita coisa”. Jornais continua a ler e a conviver todos os dias, livros, desacelerou um pouco e, até diz por graça: “O livro que mais se lê no país é o livro de cheques”. Hoje, em pleno século XXI, ainda prefere gestos raros e em vias de extinção. Vogal da Assembleia Municipal e membro da comissão política concelhia do partido que milita, não se queixa de falta de comunicação. Comunicados e convites oficiais recebe pelo correio tradicional. Se houver uma alteração de última hora, “sou avisado pelo telefone fixo”. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 13 DIFERENÇAS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Bruno Tomás, dirigente da JS, fala sobre a presença dos jovens na política Opinião “Oiçam o que temos para dizer” A política carece de juventude. Essa é uma imagem não só vista no concelho de Abrantes, como um pouco por todo o país. A política hoje em dia é pouco atractiva e credível para a juventude. Bruno Tomás, dirigente da Juventude Socialista abrantina, mostra um parecer único e empolgante do que é ser um jovem no meio da política. João Car valho João Carvalho Como surgiu o seu interesse pela política? O meu interesse pela política surgiu de forma natural e idêntica a muitos outros. Numa altura em que frequentava o ensino secundário, pertenci a uma das listas candidatas à Associação de Estudantes, que por sua vez ganhou as eleições. Como é hábito, as associações partidárias estão sempre junto das associações de estudantes e fui abordado, em conjunto com outros colegas, pelo coordenador da JS da concelhia de Abrantes, que me despertou o interesse e filiei-me na JS. Como foi o seu percurso enquanto dirigente da JS de Abrantes? Foi um percurso um pouco diferente do normal, isto porque, desde muito cedo, entrei também para o Partido Socialista. Estando nas duas frentes ao mesmo tempo é complicado, acho que poderia ter dado mais à JS. Mas ainda vou a tempo. Até aos 30 anos posso e devo dar mais de mim à JS de Abrantes. O que tem o dirigismo político para oferecer aos jovens? Tendo uma relação democrática, o dirigismo político permite directamente aos jovens expor as suas opiniões e debatê-las. Permite, ainda, e isso é bastante importante, expor as suas ideias dentro de uma sede política. Possibilita também aos jovens começarem a ter uma noção de responsabilidade e desenvolver de uma certa maturidade. Prepara-nos de certa forma para o futuro, ganhamos interesses pelos problemas da actualidade. Na sua opinião, qual a razão por existir pouco interesse político por parte dos jovens? Hoje em dia os políticos não percebem os jovens nem as suas necessidades. A razão fundamental é o descrédito que os políticos e a política têm por parte dos jovens. Sentimento que nasceu, em parte, há uns anos atrás, onde a juventude era denominada de “geração rasca”. No entanto, existe neste momento bastante investimento em políticas de juventude, mas isso só não chega. Os políticos têm que tentar perceber os jovens, falar com eles, perceber o porquê do seu desinteresse pela política. Este ano no Fórum Europeu da Juventude, em Roma, os jovens deixaram uma mensagem aos políticos europeus e eu concordo totalmente com eles: “Oiçam o que temos para dizer, perguntem-nos o que precisamos, e depois, actuem!” Como acha que se pode cativar os jovens a participarem activamente na política? Essa é uma situação que tem de ser Bruno Tomás. “Como jovem e fazendo parte de uma geração dinâmica, teria todo o gosto em continuar na política” alcançada urgentemente em Portugal enquanto regime democrático. Acho que a melhor forma e mais simples passa mesmo pelas relações dos políticos com os jovens. Os políticos têm de ir ao encontro dos jovens, falar com eles e motivá-los. Têm de continuar a investir nas associações juvenis, têm de criar reformas de juventude concretas. A questão do mundo globalizado chega a todo lado e em todas as frentes, estando a juventude incluída, e ela não pode ficar de parte. A nível pessoal, o que espera da política? Como jovem e fazendo parte de uma geração dinâmica, teria todo o gosto em continuar na política. Tenho intenções de terminar o meu curso, este é o meu principal objectivo. Mas sinceramente terei todo o gosto em prosseguir a minha carreira na política, aliás se não gostasse de política não estaria onde estou (JS)… Temos Os políticos têm que tentar perceber os jovens Portugal tem de ter uma consciência europeia de gostar daquilo que fazemos. De um ponto de vista geral, o que pensa do concelho de Abrantes? O concelho de Abrantes devido às suas dimensões geográficas, não é um concelho de fácil gestão, é um concelho maior que a Madeira. Está fortemente marcado pelos 14 anos de poder autárquico, por parte do PS, e pelo seu desenvolvimento regional. É um concelho desenvolvido que, como todos os concelhos, tem os seus problemas. Sendo um concelho do interior, Abrantes está numa situação privilegiada, está no centro do país, perto de Lisboa, de Espanha, do Alentejo, e das Beiras. Abrantes é uma referência em muitas áreas a nível Regional e Nacional. É uma cidade virada para o futuro? Sim, sem dúvida. Abrantes é um concelho virado para o futuro e acredito que irá estar preparado para um futuro tecnológico que está a acontecer. O Partido Socialista, nos seus 14 anos de governação, tem demonstrado que tem tido um planeamento sustentado e estruturado para o concelho. E creio que o futuro do concelho de Abrantes será um futuro muito positivo. É um bom concelho para o investimento? Acredito que sim. Abrantes tem uma boa base para receber investimentos privados e públicos. A aposta do concelho está na inovação, na qualificação e na tecnologia, o que permite ser uma boa aposta a todos os níveis. O concelho de Abrantes com o projecto Mocho XXI, total- mente suportado pela autarquia, deu um passo muito significativo para o futuro; a aposta numa maior qualificação dos seus jovens foi uma aposta de sucesso a nível de educação, o que se pode tornar exemplo para muitos outros concelhos a nível nacional. Nesse aspecto o concelho de Abrantes esteve um passo frente de todos os outros, bem como assumiu as suas responsabilidades na educação. Como vê o actual Governo socialista liderado por José Sócrates? Tenho uma imagem muito positiva do primeiro-ministro e do Governo que lidera. Ele teve a coragem de fazer o que era preciso ser feito no país, teve a coragem política para realizar determinadas reformas. É claro que é discutível se tudo o que foi feito é bom, mas os portugueses irão responder a isso nas eleições legislativas em 2009. O país precisa de mais inovação, mais qualificação, para sermos competitivos neste mundo global. Tem um discurso de confiança para com os portugueses. Que apostas pensa que são fundamentais para o futuro de Portugal? Portugal tem de ter uma consciência europeia, temos que pensar como parte da Europa, não negando as tradições, valores e raízes portuguesas, mas virando-nos para a nossa comunidade e pensar de uma forma colectiva. Temos que perceber que somos cidadãos da Europa e fazer uso da nossa cidadania, da nossa capacidade cívica enquanto membro duma comunidade europeia como a nossa. Marcar a diferença Hália Costa Santos O que é que interessa aos jovens de hoje? Quais são os assuntos que debatem quando estão juntos? Estão dispostos a envolver-se na vida pública e democrática? A troco de quê? Como é que podem ajudar a construir o seu próprio futuro? Esta geração de jovens já não é “rasca” e também já não é a que se seguiu, que andava “à rasca”. Esta será, talvez, a geração da descrença: vêem pouca ou nenhuma luz ao fundo do túnel e perguntam a si próprios se ainda vale a pena lutar por aquilo em que acreditam. Cada vez mais, têm poucas certezas e muitas dúvidas. E a possibilidade de uma vida insegura ao nível profissional é aquilo que mais os assusta. Naturalmente. Mas ficar à espera de um milagre ou de um empurrãozinho também não é solução. A verdade é que, regra geral, o cenário que espera os jovens de hoje não parece colorido nem cheio de alegrias. A maioria deles não se poderá dar ao luxo de se despedir de um emprego em que se sinta incomodado, como era possível numa época em que os jovens (pelo menos os minimamente bons) sabiam onde encontrar o próximo trabalho. O país está hoje necessariamente diferente e o que faz falta é pensar e agir. Os jovens têm que encarar o mundo do trabalho de uma forma completamente diferente. Têm de estar preparados para as novas tecnologias, para várias mudanças ao longo da vida e não podem esperar pelo certo e pelo seguro. Os jovens têm que lutar mais. Têm que mostrar que têm valor e que o país precisa deles. Seja no campo da prática, seja no campo das ideias. Têm que fazer a diferença e, se possível, marcar o ritmo do desenvolvimento e da criatividade. E têm que o fazer nos grandes palcos; precisam de se fazer ouvir. Se, em meios fechados, continuam agarrados às (compreensíveis) lamúrias que desenrolam vezes sem fim, dificilmente sairão do sítio onde estão. Esta é a época em que todos precisamos de inovar e, sobretudo, de participar. A política e a intervenção cívica são dois excelentes palcos para os jovens actuarem. Se o fizerem, estão simplesmente a ajudar a construir o seu próprio futuro. A qualidade de vida não cai do céu. Se os jovens continuarem, regra geral, afastados da vida política, estão a desresponsabilizar-se em relação ao seu futuro. E o processo começa em casa e junto dos amigos: discutir política deveria fazer parte dos hábitos dos nossos jovens. Ajuda a pensar e ajuda a agir, a bem de todos. 14 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 DIFERENÇAS Gordura é formosura!? Margarida Car valho Sara Costa A resposta à típica frase feita “gordura é formosura” é que é preciso ter em conta as consequências. Para além disso, talvez nem todos os homens gostem de uma mulher que “encha uma cama”, ou nem todas as mulheres vejam num homem gordo um símbolo de força e protecção. A obesidade é uma doença preocupante nos nossos dias, de foro alimentar que resulta da combinação entre o consumo excessivo de nutrientes e um elevado nível de sedentarismo, contudo, existem outros factores que influenciam, como a genética e algumas doenças que afectam o crescimento. A solução é óbvia: uma dieta saudável e exercício físico. Inúmeros estudos realizados por inúmeros nutricionistas de inúmeras universidades, como por exemplo, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o Serviço de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, do Hospital Militar Principal, de Lisboa, comprovam esta realidade e mostram também que a obesidade é uma nova epidemia no mundo desenvolvido, devido à alimentação desregrada e ao frequente recurso a restaurantes de cadeias de fast-food. A probabilidade de um adolescente obeso se tornar um adulto obeso é grande. Três adolescentes com este problema de saúde revelam que, salvo algumas excepções, na escola a alimentação oferecida não é a melhor, sobretudo quando se tem uma dieta para seguir à risca. Catarina (nome fictício), apesar de ter excesso de peso, não tem outros problemas de saúde. Já Patrícia Quaresma, também de 14 anos, apresenta problemas de coluna devido ao excesso de peso. As duas adolescentes revelam também que, na escola, o plano de dieta não difere muito do plano normal. Para Catarina e Patrícia, os problemas de saúde não são o que mais as afectam. O principal problema é a Opinião Como emagrecer para sempre André Lopes roupa. O culto da magreza dos nossos dias contrasta com a realidade. Nas lojas de roupa com modelos para jovens, raramente existem peças com números superiores ao 42, nomeadamente nos jeans. E muitos dos modelos não se adequam a estes números. Por isso, são fabricados para números menores. E quanto aos tops e camisas justas ou mais decotadas, são quase uma impossibilidade, às vezes pelo tamanho, outras vezes pela vergonha de ficar com a barriga à mostra ou mais saliente. Como resultado, geralmente optam por roupa mais larga. A Patrícia Quaresma também se colocam outras inseguranças. Confessa, entre um olhar triste, que por vezes sente-se aliciada por adultos nos bares, que pensam que Patrícia tem mais idade devido à sua constituição física. Além disso, quando se olha ao espelho pergunta-se porque é assim. A sua imagem causa-lhe tristeza e já tentou deixar de comer. Apesar de tudo, conta com o apoio por parte da família, que recorre a grandes esforços para ajudar a controlar o peso. Para os rapazes, a obesidade na adolescência é vista de forma menos dramática, traz menos incómodos. André Almeida tem 19 anos, pesa 150 quilos, traz um ar gracioso com um sorriso contagiante e um humor eloquente. Desde que se lembra, sempre foi assim. A obesidade preocupa-o, mas não o assusta. Pratica judo e a única dificuldade que encontra, são os exercícios de corrida e de grande mobilidade gravita- cional. Quanto à escola, só aponta o facto das mesas serem muito pequenas e refere a existência de outros objectos frágeis; no judo, por vezes, encontra outros atletas para competir (a competição nesta modalidade é organizada mediante o peso dos atletas). Em casa, a constituição física familiar é igual. André raramente come fast-food, tem algum cuidado em cortar nos fritos e em comidas muito calóricas. É com o mesmo humor que o caracteriza que encara a alcunha de “Obelix“. Diz mesmo que se considera um autêntico “Obelix” em termos de personalidade porque, tal como a personagem de banda desenhada, considera-se um rapaz divertido e feliz. Sejam três ou 30 quilos que queira perder, há apenas uma regra a seguir: fazer uma alimentação equilibrada, pobre em calorias, de preferência com exercício físico. Cada vez mais as revistas falam de como se pode ter uma alimentação equilibrada e de como ter uma vida saudável. Cada vez mais as pessoas recorrem a nutricionistas e a ginásios para manter um corpo esbelto e saudável. Ser saudavelmente correcto está na moda e muitas empresas aproveitam para fazer publicidade aos seus produtos “milagrosos” e o seu público-alvo, inocentemente, ou não, cai na tentação de comprar os produtos ou fazer dietas baseadas em mitos. Antes de começar a fazer uma das dietas famosas que prometem emagrecimento rápido, atente nos seus perigos e informe-se para ver se ela resulta ou não. Mas afinal o que podemos comer? Com os nitrofuranos nos frangos, as vacas loucas e a contaminação de peixes com mercúrio torna-se cada vez mais difícil escolher o que comer. E como fazer uma alimentação saudável sem correr riscos? Há que escolher os alimentos e ter uma alimentação variada para nos defendermos da acumulação de químicos nocivos. Não há muito tempo, a obesidade era vista como um problema de cosmética. Em poucos anos, a perspectiva médica do excesso de peso sofreu uma mudança radical. De problema cosmético passou a problema de saúde pública. Mas a obesidade pode não ser um problema de alimentação desregulada, mas antes um factor genético, pode ser também causada por factores ambientais, assim como factores psicológicos e outros problemas de saúde relacionados com a obesidade. Se existem pessoas que fazem dietas devido ao preconceito de terem um corpo “mais cheio”, existem outras que procuram emagrecer porque estão conscientes dos riscos que a saúde corre. Saiba comer e escolher os melhores alimentos. Bom apetite! Cláudia Nascimento explica as dificuldades de quem tem problemas de mobilidade “Ainda existem muitas barreiras” Cláudia Nascimento tem 32 anos e esteve dependente de uma cadeira de rodas durante três anos, entre 2004 e 2007. Hoje está totalmente recuperada, mas não esquece as dificuldades que viveu. Estava no lugar do “pendura” quando o carro colidiu com uma árvore. Cláudia Nascimento “ia com dois amigos no carro”. Partiu a perna direita, ficando imóvel durante três anos. Admite que o acidente aconteceu “por pura inconsciência”, pois circulavam em excesso de velocidade depois de ter chovido. Após o acidente e a consequente invalidez , Cláudia enfrentou muitas dificuldades, desde edifícios que apenas possuem escadas de acesso, onde era impossível entrar sem auxílio, passando por passeios demasiado altos que dificultavam a passagem de um passeio para o outro. Conta ainda “o pior de todos os inconvenientes”: “Foi a dificuldade em entrar nos transportes públicos para me deslocar, visto que não tenho carta de condução. É realmente muito complicado fazer-se uma vida ‘normal’.” No que diz respeito ao desenvolvimento do país e se este está apto a garantir a satisfação das necessidades das pessoas que estão dependentes de uma cadeira de rodas, a resposta de Cláudia é negativa. “É incrível como um país que se diz evoluído ainda apresente tantas barreiras arquitectónicas e até ao nível das mentalidades em relação aos deficientes motores ou às pessoas que, tal como eu, dependem temporariamente de uma cadeira de rodas. Por vezes, penso que o cidadão comum esquece as pessoas que possuem dificuldades físicas e chegam até a olhar-nos um pouco de lado. Para mim, é um dever de todos ajudar essas pessoas, caso elas necessitem da nossa ajuda”. Olhando para o passado e para essa etapa de vida, Cláudia Nascimento diz que se, por um lado, foi um período extremamente difícil, por outro lado, foi gratificante pois ficou a conhecer uma realidade diferente que lhe permitiu compreender melhor as dificuldades a que estas pessoas estão sujeitas. No entanto, confessa: “Se me dessem a escolher, preferia não ter passado por esta experiência”. Segundo associações representati- vas de deficientes motores, Portugal continua a ser um dos piores países da Europa Ocidental em termos de mobilidade para estas pessoas, devido à falta de inspecções e multas de valores baixos para quem viola a lei. A estimativa é que cerca de um milhão de pessoas com mobilidade reduzida, incluindo idosos e deficientes motores entre outros, enfrentam dificuldades ao entrar em centros culturais, escolas e hospitais no país, devido a barreiras arquitectónicas. V. M. e M. A. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 15 PROIBIÇÕES Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Maria Elisa Duarte, 60 anos, natural da Vila de Riachos, Torres Novas “As pessoas falavam pouco” Maria Elisa Duarte recorda o tempo em que Salazar governava. O que era proibido, e como a sua família num meio rural viveu naquela época, onde na rua era preciso ter cuidado com o que se dizia. Maria Elisa recorda ainda o dia em que o país acordou para a Liberdade. fÁBIO CAR VALHO Fábio Carvalho O que recorda daquele tempo da história do nosso país? Lembro-me que as pessoas tinham medo de falar de política. Na escola os professores não falavam mal de Salazar, faziam entender aos miúdos que Salazar era um Deus, para eles era a melhor pessoa que podia existir. Além de falar de política, lembra-se de mais alguma coisa que era proibido fazer? Não, porque nós aqui vivíamos num meio rural e as pessoas falavam pouco e a maior parte não sabia ler nem escrever. Conversavam entre si, mas não falavam com as outras pessoas, tinham medo porque havia os informadores da PIDE, que eram capazes de estar à mesa com as pessoas e depois atraiçoá-los, mandá-los prender. Mesmo sabendo disso ainda se falava de politica? Pouca gente e as que falavam tinham medo. Na minha casa não. Não se falava, porque certas coisas não se entendiam, pois elas também não eram publicadas como agora e as pessoas não conheciam. Lembra-se de problemas que tenham existido nos Riachos nomeadamente com a PIDE? Lembro-me que um homem que morava aqui foi preso e até acabou por morrer na prisão, disseram até que ele que se matou. E lembro-me ainda de um rapaz que morava aqui nos Riachos e trabalhava em Torres Novas, tinha sido preso, esteve lá pou- Maria Elisa Duarte. “Não se falava de política (em minha casa) porque certas coisas não se entendiam” co tempo, porque depois acharam que ele afinal não era assim tão culpado. Lembro-me daquilo que a família sofreu por saberem que o filho tinha sido preso. O que se lembra do dia 25 de Abril? Lembro de me levantar de manhã, de ligar o rádio e de ouvir só aquela música, ao contrário dos outros dias que ouvia o programa normal. Quan- do chega às sete horas da manhã, quando haviam de dar o noticiário, só disseram que dentro de momentos podiam dar mais informações, mas nada daquilo eu percebi. Fui então dizer ao meu marido, que ainda estava deitado, que se passava qualquer coisa. Ali passámos a manhã, o meu marido foi trabalhar, ali fiquei a manhã sem saber nada e na rádio sempre a ouvir o mesmo. Até que à tarde sou- bemos o que se estava a passar, que tinha havido um golpe militar. O que sentiu na altura? Foi um alívio pois eu tinha quatro rapazes e só me lembrava da guerra, e que eles tinham de ir para lá como iam os outros. Mas quando eu soube o que o 25 de Abril nos ia trazer politicamente, fiquei mais descansada, foi um alívio porque aí já eles não podiam ir para a guerra. Crónica A camuflagem da censura Ana Marta Sénica Imagine-se num país em que para acender um isqueiro necessita de uma licença do Estado. Imagine-se num país onde as mulheres casadas para viajar para o estrangeiro necessitam de uma autorização do marido, ou então, onde as enfermeiras estão proibidas de casar. Numa praia onde mostrar o umbigo é tabu, usar uma saia por cima do joelho implica coima, e raparigas ao entrarem na escola ter quem lhes revistasse e medisse ao milímetro o comprimento das saias. Num país onde não pode ler o que lhe apetece, ouvir o que lhe apetece ou, numa bela tarde de sol, não poder deitar-se num banco de jardim. Refrescar-se com uma Coca-cola? Impensável! Exagerado ou não, esta realidade aconteceu e não há muitos anos aqui neste país à beira mar plantado. Na era salazarista, proibir era palavra de ordem. O controlo exercido pelos senhores da Polícia Internacional e de Defesa do Estado, mais concretamente PIDE, que andavam que nem “lobos vestidos de cordeiros” em busca dos “atrevidos” ao regime da época. Tudo isto aconteceu há 34 anos. Mas será que foi apenas nesta fase que Portugal passou a lápis vermelho tudo o que é errado, e visado e a corrigir a azul? Rasurar parecia ser um passatempo. Tudo o que era informação teria de passar no “testezinho” do lápis. Hoje já não se usam lápis, é verdade! No entanto, continua a censurar-se a liberdade de expressão de quem escreve e de quem se exprime. Quem se atrever é punido com infindáveis processos por calúnias, difamações e outros termos judiciais que fazem cada vez mais parte do nosso quotidiano. PIDE? Pois, também já não existe. Mas sempre temos uma autoridade; que descobre que a água abençoada do santuário de Fátima é cambalacho e que as nossas tabernas podem pôr em perigo a saúde pública. Não se julgue a interditação coisa do passado, ou que morreu às portas do 25 de Abril, tendo sido apenas “propriedade” do Estado. Segundo as palavras de António Costa Santos, jornalista e autor do livro “Proibido”, “os portugueses sempre gostaram de proibir uns aos outros. Sociologicamente a maneira de ser lusa sempre foi o de apanhar o outro em falta, logo, o regime apenas se aproveitou desse estranho síndrome para proibir tudo e mais alguma coisa, notado contudo que havia certas obrigatoriedades que não existiam na legislação, mas que de acordo com esse tal sindroma, parecia mal ou não se fazia porque sim, logo, passava a ser obrigatório”. Será que esta agigantada onda de proibições do passado terá sido uma forma de aviso aos dias de hoje? Os portugueses continuam a proibir-se comummente. Há a ideia de que conduzir de tronco nu, ou de chinelos é proibido. Mas não é. O “lápis” não se vê, mas existe. Temos a consciência de que nem tudo o que se pensa pode ser dito, a liberdade de expressão é considerada por alguns ex-jornalistas ou historiadores como uma das novas formas de censura. Sendo necessário exclamá-lo, como o fizeram na década de 40, os estudantes de Maio em Paris: “É proibido proibir!” Não andamos de lábios, mãos e ouvidos riscados. Somos livres de pensar, e em todas as cores. Não se vê! E os sonhos? Dizem-se cor-de-rosa... errados ou a corrigir? Globalização não implica novos pecados Paula Faria Quais são, para si, os novos pecados? Foi esta a pergunta que originou grande especulação, que fez correr muita tinta e comentários por este mundo fora. O que para muitos pensaram ser um decreto oficial do Vaticano, não passou simplesmente de uma entrevista do Bispo regente do Tribunal da Penitenciária Apostólica, Gianfranco Girotti, ao jornal L’Osservatore Romano, que foi muito mal interpretada pelos meios de comunicação e, consequentemente, por meio mundo. “Uma Igreja à deriva com falta de protagonismo inventa novos pecados para chamar a atenção de eventuais novos “clientes””. “Mil e quinhentos anos depois, o Vaticano actualiza a lista dos pecados mortais, acrescentado seis aos sete elencados pelo Papa Gregório I”. “Eram sete, mas a modernidade obrigou a Igreja a actualizar os pecados mortais e a renovar a lista de situações que, sem arrependimento ou confissão, condenam a alma humana ao fogo eterno do inferno”. Estes são alguns dos títulos que se pôde ler em vários meios de comunicação e que, sem saberem ao certo o que estava na origem da informação, preferiram logo “condenar” a Igreja Católica. O que se passou foi que nessa entrevista, em que se fala dos mais variados problemas da actualidade – meio ambiente, a evolução da ciência, sobretudo da parte genética, do aumento dos crimes de pedofilia e do aborto –, Gianfranco Girotti tentou chamar a atenção para algumas questões essenciais neste mundo cada vez mais destrutivo. Não se tratava de nos dar uma lista de novos pecados. Por isso mesmo é que a Igreja Católica, como instituição carismática que é, nos tenta explicar que “a modernidade veio dar uma dimensão social a novos pecados” e que o pecado, assim, passa a ter uma dimensão muito mais social do que individual, por causa do grande fenómeno da globalização. Foi dentro deste contexto que o bispo regente declarou que nos dias de hoje os pecados deveriam estar mais relacionados com os problemas actuais desta sociedade globalizada: com a poluição do ambiente, a genética, da riqueza exagerada, o aumento dos casos de pedofilia, o aborto e a droga, através da qual se enfraquece a psique e se obscurece a inteligência, deixando muitos jovens fora do circuito eclesial. Para quem foi contra a ideia de um possível “aumento” dos pecados capitais, fique descansado, porque estes, por enquanto, vão-se manter os mesmos: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. 16 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 DIFERENÇAS Piercings, Tatuagens e Maquilhagem Permanente Socialistas invocam Saúde Pública Mónica Reino Data de Dezembro de 2005, a entrada em vigor de um decreto-lei que limitou o uso de níquel nos piercings pretendendo desse modo “minorar os efeitos prejudiciais para a saúde e para o ambiente”. Agora, passados três anos, Renato Sampaio, o deputado socialista, que entre outros, redigiu o documento, pretende reformar a sociedade. No passado dia 14 de Março, o PS apresentou na Assembleia da República um projecto-lei que visa proibir a todos os cidadãos a aplicação de piercings na língua, na proximidade de vasos sanguíneos, nervos e músculos. Para os jovens, menores de 18 anos, a interdição seria mesmo total, sendo proibida a aplicação de piercings, tatuagens e maquilhagem permanente. As novas regras pretendem, para além de salvaguardar a saúde dos utilizadores, regulamentar igualmente os estabelecimentos onde se efectua a colocação de piercings, tatuagens e maquilhagem permanente. De acordo com a proposta do Partido Socialista, quem doravante coloque um piercing ou opte por fazer uma tatuagem, terá de assinar uma declaração de consentimento, a qual será confidencial e que terá de permanecer arquivada por um período de cinco anos. Estas proibições de piercings na proximidade de vasos sanguíneos, nervos e músculos aplicam-se a zonas como as sobrancelhas, umbigos, mucosa do nariz e órgãos genitais, sendo o lóbulo da orelha o sítio que acarreta menos perigos para o fazer. A implementação do projecto-lei pretende impor uma nova regulamentação face a alegadas implicações que estas actividades podem ter na proliferação de doenças, como as infecções, alergias, doenças da pele, contaminação com hepatite B e C e o vírus do HIV, que são riscos associados a uma má prática destas actividades. De acordo com o mesmo, os estabelecimentos de colocação e aplicação de piercings e tatuagens têm de ser salões próprios para os efeitos que terão de ser fiscalizados pela ASAE. No entanto, continua a ser permitido furar as orelhas em ourivesarias e realizar maquilhagem permanente em institutos de estética, desde que o material que se apresente seja higienizado e devidamente esterilizado. Por último, passa a ser ainda obrigatório que o pessoal técnico tenha a formação devida, que informe o utilizador sobre todos os procedimentos, como a origem dos produtos e as possíveis consequências da realização destes procedimentos, possibilitando-o assim do poder de reflectir sobre o assunto. A Polémica Logo após a apresentação do projecto na Assembleia da República e logo após a comunicação social fazer referência, eis que surgem as críticas e opiniões adversas. Dentistas concordam com o projecto relativamente à proibição da aplicação de piercings na língua. Segundo estes profissionais, os piercings na língua acarretam riscos para a saúde dos seus utilizadores tais como fracturas nos dentes, Mudança de Planos Uns dias após a apresentação do projecto e reforçando novamente que o objectivo não é proibir mas salvaguardar a saúde dos cidadãos, eis que o PS se manifesta favorável e disponível para fazer algumas mudanças. Prepara-se assim para aceitar a possibilidade de que os jovens, menores de 18 anos, sejam autorizados a usar piercings ou tatuagens com o consentimento dos pais e desde que estes assumam a responsabilidade relativamente às consequências para a saúde. Da mesma forma, o proponente adiantou estar aberto a rever a inicial ideia de proibir os cidadãos em geral de aplicarem piercings em praticamente todas as zonas do corpo. Tolera uma possível aceitação desde que os utilizadores sejam previamente informados e alertados para os riscos desta prática, assumindo inteiramente as responsabilidades. regressão nas gengivas, dificultar a respiração e facilitar a transmissão de hepatites e outras doenças graves. O Bastonário da Ordem dos Dentistas, citado pela Comunicação Social, considera “eticamente censurável o piercing na língua, tais são os riscos que isso acarreta para a saúde”. Contactada pelo ESTAJornal, Maria José Silva, dentista em Abrantes, concorda que os piercings são prejudiciais a nível da higiene oral. Já tratou pessoas com piercings na língua, que apareceram com dentes partidos, e diz não ter qualquer problema em fazê-lo novamente. Seja profissional ou pessoalmente, a dentista não concorda com o projecto, visto para ela isso dizer apenas respeito a quem quer ou tem piercings na língua. Os riscos deste tipo de piercings são reais, logo fracturas nos dentes, regressão nas gengivas, dificuldade na respiração e a transmissão de hepatites e outras doenças graves são alguns problemas que podem ocorrer. No entanto, a opinião dos demais cidadãos é maioritariamente contrária, sendo que grande parte encontra neste projecto um atentado contra a liberdade. Ana Luísa, 22 anos, estudante, tem um piercing no umbigo e dois na orelha. Não concorda com o projecto apresentado, defendendo que “ninguém manda no nosso corpo”. Ana argumenta que “somos livres para fazermos o que queremos com o nosso corpo e acho que deviam preocupar-se mais com outras coisas”. Da mesma opinião é Djamila Vaz. Com 22 anos, tem um piercing no umbigo e uma tatuagem nas costas. De forma acusatória, diz que “antes de mais esse projecto não deveria nem passar de projecto quanto mais chegar a lei, porque quem decide o que faz com o corpo é a própria pessoa. Por isso existe a liberdade de escolha”. É da opinião que uma decisão destas só diz respeito a cada um, não interferindo ou prejudicando os outros. Acha inclusivamente que deveriam preocupar-se mais “com o que realmente afecta a população em vez de se preocuparem com o que cada um define como beleza”. “ Por isso acho um absurdo!” conclui esta. Rita Domingues, 17 anos, há uns anos foi a uma ourivesaria fazer um piercing na orelha. O furo infectou e teve de retirar o piercing, naõ tendo voltado a colocar outro. Esta jovem é, também, contra o projecto, afirmando que “o nosso corpo ainda é das poucas coisas em que podemos mandar. Se acontecer alguma coisa a responsabilidade é nossa”. No entanto, concorda com a proibição aos menores de 18 anos, “pois é a partir desta idade que supostamente nos tornamos independentes e responsáveis”, acrescenta. Ana Teixeira, 20 anos, tem uma tatuagem no antebraço e dois piercings na orelha. Concorda com alguns itens do projecto e defende, inclusivamente, que “já deviam ter pensado nisso há mais tempo”. Pensa que estas operações devem ser efectuadas em locais apropriados e não em qualquer lado, só porque fica financeiramente mais em conta. E até o Primeiro-Ministro mostrou a sua opinião sobre o tema, quando no dia 19 de Março declarou à comunicação social, que a intervenção do Estado neste assunto “deve ser a menor possível”. Reconhece que existe um problema de saúde pública que pensa ser necessário colmatar, impondo determinadas regras, mas que tudo deve partir da liberdade individual. Há quem se pretenda afirmar socialmente, existe quem simplesmente ache graça, ou quem ache que é uma forma de estar na vida, e a verdade é que para além de toda a polémica gerada à volta do assunto, o facto de aplicar um piercing ou fazer uma tatuagem, tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 17 PROIBIÇÕES Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Proibido vender bebidas alcoólicas nos campos de futebol Adeptos de futebol movidos a água e sumo fÁBIO CAR VALHO Fábio Carvalho Recentemente, os dirigentes dos clubes de futebol viram-se a braços com um problema que tem vindo a criar bastantes dificuldades, nomeadamente a nível financeiro: não se pode vender bebidas alcoólicas, a não ser que o bar do clube fique situado numa zona mais distante ou virado de costas para o terreno de jogo, como acontece no Estádio Municipal de Torres Novas, onde o bar do clube fica por detrás das bancadas. As novas regras de venda de bebidas alcoólicas em campos de futebol vêm definidas no Decreto-lei nº.16 de Agosto de 2004, no entanto, até agora, pelo menos nalguns locais, a norma não estará a ser cumprida. Um dos clubes afectados por esta medida é o Centro Cultural e Recreativo de Santo António de Assentis, que actualmente disputa a fase de manutenção da 1º Divisão Distrital da Associação de Futebol de Santarém. Segundo o presidente do clube de Assentis, José Bento, “o Posto de Comando da GNR de Santarém já proibiu isso há muito tempo, mas só agora disseram aos clubes que não podiam vender bebidas alcoólicas”. Esta proibição tem vindo a causar alguma polémica, nomeadamente entre dirigentes dos clubes e entre os adeptos, que agora já não podem estar a ver futebol, conversar com os amigos e, simultaneamente, a beber a habitual imperial. José Bento diz que o Assentis tem Dificuldades. “Privados desta receita, os clubes regionais não têm qualquer hipótese de continuar a sobreviver” vindo a lidar com o problema, “com muita dificuldade”. Quanto a soluções, o presidente do clube explica: “Estamos agora a melhorar as infraestruturas e vamos tentar arranjar uma maneira de podermos voltar a vender bebidas alcoólicas.” Outro clube do concelho de Torres Novas, que está também bastante afectado por esta proibição, é o Clube Desportivo Operário Meiaviense, que disputa o campeonato distrital da 2º Divisão. O Clube da Meia Via viu-se proibido, pela primeira, vez de vender bebidas num jogo que atraía bastante público ao campo. O prejuízo foi enorme. Normalmente, estes clubes que competem nos campeonatos distritais costumam utilizar as receitas do bar para pagar o policiamento nos campos durante os jogos. Com esta proibição tornou-se mais difícil para o clube pagar o policiamento. Carlos Domingos é o tesoureiro do Meiaviense. Para ele, isto é “uma situação Os clubes precisam das receitas do bar para pagar o policiamento dos jogos muito difícil para o clube, pois as receitas do bar são uma fonte de rendimento muito importante e as da bilheteira não dão para nada…” O dinheiro da bilheteira não dá para grande coisa, pois sendo o Meiaviense um clube da 2º Divisão Distrital não pode cobrar muito pela entrada. Além disso, o clube da Meia Via vê-se ainda com outros gastos, nomeadamente com as deslocações. Este ano a série em que o clube ficou leva-os a ter de efectuar viagens de grandes distâncias. Os adeptos também não se conformam com esta situação. José Maurício de Carvalho, adepto do Meiaviense, considera que “estão a matar o futebol regional, onde as receitas vêm de uma simples cotização mensal e, obviamente, dos pequenos bares instalados nos campos”. Quanto às consequências, este adepto não tem dúvidas: “Privados desta receita, os clubes regionais não têm qualquer hipótese de continuar a sobreviver.” Do lado do Assentis, o adepto Carlos acha que se “devia deixar de pagar à polícia pois o dinheiro que os clubes fazem no bar vai para pagar o policiamento no campo”. Esta proposta poderia ser apresentada como forma de protesto, mas isso iria acabar por prejudicar mais os clubes. Sem policiamento o árbitro não teria segurança para iniciar uma partida. Segurança essa que é obrigatória nos campeonatos. Cabe agora aos clubes tentarem arranjar formas de voltar a vender bebidas alcoólicas nos campos para não acumularem prejuízos. Lei do tabaco Diferenças entre Portugal e Espanha Ana Raquel Simões e Ana Rita Ferreira Desde o dia 1 de Janeiro de 2008, a lei anti-tabaco entrou em vigor em Portugal. A partir desse dia, é proibido fumar em locais públicos fechados, tais como: restaurantes, cafés e pastelarias. Esta atitude aplica-se desde que estes estabelecimentos não disponham das condições mínimas necessárias, como os extractores de fumo para a rua, e áreas com menos de 100 m2. Apesar de toda a controvérsia causada por esta nova lei, e muitos defenderem que Portugal não está a ser rigoroso o suficiente para diminuir, ao máximo, os fumadores passivos involuntários, ao compararmos a aplicação desta mesma lei em Espanha, chegamos à conclusão de que, afinal, não somos tão benevolentes como parece. Em vigor desde o dia 1 de Janeiro de 2006, a lei anti-tabágica em Espanha, apesar de ser aplicada da mesma forma que em Portugal, pelo menos teoricamente, não teve o mesmo efeito na prática. No país vizinho, só é realmente proibido fumar se na porta do estabelecimento estiver afixado isso mesmo, caso contrário, pode-se fumar livremente. Filipe Fernandes, português emigrado em Espanha há cerca de três anos, assistiu de perto às mudanças que vieram juntamente com a lei anti-tabaco: “Não houve grande impacto, pois os proprietários dos estabelecimentos puderam optar por aderir ou não.” Em Portugal tal não foi possível, pois caso não quisessem aderir à nova lei, era necessário adaptar os estabelecimentos, o que acarreta, logicamente, despesas. Isto levou vários proprietários, sem condições nem possibilidades, a aceitarem a nova lei e a sujeitarem-se a uma possível perda de clientes, que preferem procurar um local onde se possam sentar, tomar o seu café e fumar um cigarro descansadamente. Naturalmente, em Espanha, sucedeu-se o mesmo: “Só nos sítios onde se deixou de poder fumar é que os clientes diminuíram”. Filipe Fernandes acrescenta ainda: “Na minha opinião, a lei em Portugal é muito mais rigorosa e notável que em Espanha. Lá não é, nem foi, tão visível quanto em Portugal. Há mais espaço de manobra na sua aplicabilidade.” Elsa Coxinho, proprietária de um bar em Abrantes, disse concordar com a lei anti-tabaco e justifica a sua posição: “Não podemos obrigar ninguém a suportar o fumo do tabaco”. Defende, por isso, que as pessoas têm o direito de escolher entre estabelecimentos para fumadores ou para não fumadores. Contudo, optou por abrir o bar para fumadores, visto que “não existem muitos espaços para fumadores” em Abrantes. Caso o bar tivesse mais de 100 m2 e fosse obrigada a optar por um estabelecimento com as duas áreas, para fumadores e não fumadores, “nem sequer abriria o bar” – garante Elsa Coxinho. O sistema de ventilação, pelo qual optou, pareceu-lhe o mais indicado, pois pelo que se apercebeu “tem uma boa extracção de fumo”. “À noite tenho a casa cheia, com muitas pessoas a fumar, e não existe fumo no ar”, certifica a proprietária. HiperMed PUB Representação de Material Médico, Lda. Praça Barão da Batalha, 40 – 1º 2200-365 Abrantes Tel: 241 362 369 Fax: 241 377 101 www.hipermed.pt E-mail: [email protected] Brocas, Implantes, Endo Mecanizada, Suturas, Branqueamento, Instrumental Clínico e Cirúrgico, Compósitos, etc. 18 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 PROIBIÇÕES Falta informação e divulgação Afinal, o que é o vegetarianismo? joão car valho Lisboa é a cidade europeia restaurante com frequência, com mais restaurantes alterpode-se ainda preparar a conativos que permitem uma alimida em casa de véspera e mentação vegetariana. Mas isso, levá-la numa embalagem térpouca gente sabe, porque falta mica.” Quanto à questão dos divulgação. Há mais de 10 anos custos de uma alimentação que instituições internacionais, sem carnes, a AVP não tem acreditadas na área da nutrição, dúvidas: “A alimentação veadvogam a alimentação vegegetariana e vegana adequadas tariana e vegana equilibradas são mais económicas do que a como “adequadas a qualquer omnívora, basta estar-se bem idade ou estado de vida, podeninformado e ter um mínimo do até prevenir e curar muitos de bom senso na escolha e problemas de saúde. Mas isto, preparação dos alimentos.” também quase ninguém sabeUm dos problemas idenrá. E quantas pessoas saberão tificados é que, por vezes, a que desportistas famosos como comunicação social não conCarl Lewis (atletismo), Martina tribui da melhor forma para Navratilova (tenista) e Edwin que a generalidade das pessoas Moses (campeão olímpico), fique bem informada sobre a entre muitos outros, conseguialimentação vegetariana. A ram grandes vitórias seguindo AVP diz que numa das reporuma alimentação vegana ou tagens mais polémicas sobre vegetariana? o assunto (emitada pela SIC Estes exemplos de informae publicada na Visão), “salta à ções pouco conhecidas são vista o facto de que o jornalista lançados pela Associação Veque se propôs a adoptar uma getariana Portuguesa (AVP), alimentação vegana durante criada em 2004, por um grudois meses não estar minimapo de amigos e conhecidos, a mente informado sobre vegapensar na grande lacuna de dinismo (“vegetalianismo” ou vulgação, promoção, informa“vegetarianismo estrito” como ção e apoio ao vegetarianismo lhe chamam na reportagem)”. em Portugal. Oficializada em E acrescenta: “Como não foi 2006, a AVP tem vindo a ve- Vegetarianismo. lnteresse crescente numa alimentação saudável aconselhado por um nutriciorificar “um interesse crescente nista com conhecimentos na por uma alimentação saudável, pelo ambiente sendo suficientes para uma dieta equilibrada e área e nem sequer se informou sobre o assunto e pelos valores éticos da defesa dos Direitos saudável.” - o que qualquer pessoa que altere o seu regime dos Animais”, recebendo várias mensagens Por outro lado, a AVP assegura que “cada alimentar faz sempre ou deve fazer - obviacom questões e pedidos de conselhos sobre vez existem mais restaurantes vegetarianos mente que se alimentou de forma deficitária, vegetarianismo. em Portugal e no site da AVP pode ser con- pois como quis fazer uma alimentação igual Perante a alegada dificuldade em se encontrar sultada uma lista onde se poderá verificar à omnívora mas sem os produtos animais, alimentos necessários a uma dieta vegetariana, aquele/s que ficam mais perto da região on- não partiu à descoberta das bases naturais sobretudo fora dos grandes centros urbanos, de vive e trabalha”. Além de que “todos os da alimentação vegana (cereais integrais, lea AVP explica: “Apesar dos substitutos como restaurantes em geral dispõem de vegetais, guminosas, legumes, vegetais, frutas, frutos o Tofu e o Seitan poderem não se encontrar arroz/batata/massa, leguminosas para acom- secos, sementes oleaginosas, óleos vegetais), com facilidade fora das grandes cidades, não panhamento, com as quais se pode pedir para dando antes preferência aos produtos mais são obrigatoriamente necessários para seguir preparar um prato vegetariano”. E soluções processados e industrializados (como burguers uma alimentação vegetariana, sendo que todos não faltam, para quem pretende tornar-se e rissóis fritos de soja, tofu e seitan, bebida os alimentos da roda alimentar vegetariana vegetariano: “Em casos em que seja neces- de soja, etc.)”. A perda de peso e a descida de (vegetais, leguminosas, frutas, frutos secos, sário fazer refeições diariamente como na zinco, vitamina B12, ácido fólico e ferro nas sementes e óleos vegetais, cereais) existem em pausa de almoço, para além desta solução, que análises do repórter resultam, segundo a AVP, qualquer mercado, mercearia ou supermercado, pode até evoluir caso se frequente o mesmo de “vários erros alimentares”. Segundo o Centro Vegetariano, “vegetariano é quem se alimenta basicamente de grãos, sementes, vegetais, cereais e fruta, com ou sem o uso de lacticínios e ovos”, o que automaticamente exclui da ementa todo o tipo de carnes incluindo peixe e frango. Os tipos de dietas mais populares são as semi-vegetarianas (que não é bem vista pela comunidade vegetariana porque consomem peixe, marisco e até frango), a ovo-lacteovegetariana, a lacto-vegetariana, a ovovegetariana, a vegana (também designados veganistas ou pelo termo inglês “vegan”) e ainda a frutívora e a crudívora. Os ovolacteos-vegetarianos consomem ovos e lacticínios, os ovo-vegetarianos ovos, mas não lacticínios, e os lacteo-vegetarianos lacticínios e não ovos. Os veganos excluem todo o tipo de produtos animais da sua dieta e também vestuários feitos de materiais de origem animal e cosméticos testados em animais. Por fim, os frutívoros que só se alimentam de frutas, grãos e sementes, recusam a matar as plantas para se alimentarem, enquanto os crudívoros se alimentam unicamente de alimentos crus, podendo ou não incluir o leite. O vegetarianismo é uma decisão importante na vida de uma pessoa. Não existem praticamente dois vegetarianos que sigam uma dieta igual e pelas mesmas razões, pois essas razões podem ser éticas, religiosas ou até de saúde. Segundo a Associação Vegetariana Portuguesa, “estudos médicos têm provado que grande parte dos cancros, doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, impotência e doenças degenerativas estão associadas ao consumo de carne e outros produtos de origem animal devido às hormonas, pesticidas e antibióticos que ficam no seu organismo e consequentemente as pessoas consomem.” Já outras pessoas aderem ao vegetarianismo por motivos éticos, visto que “está cientificamente provado que todos os animais com sistema nervoso organizado (mamíferos, aves, répteis…) têm tal como os humanos a capacidade de sentir dor, medo, frio, calor, alegria, angústia, ansiedade, de manifestar o desejo de não morrer...” Ao reconhecer que os animais têm o direito de não sofrer e o direito à vida, o vegetarianismo surge como uma opção natural que abdica da contribuição para o sofrimento do animal. “Pelo conhecimento, pela educação e por um mundo melhor!” joão car valho ”Cristina Rodrigues é vegetariana e uma das fundadoras do Centro Vegetariano. Colabora com o centro na gestão de conteúdos web, redacção de artigos, tradução, revisão, divulgação e desde Maio de 2004 coordena as actividades do projecto. No princípio, o Centro Vegetariano era uma simples página de Internet, mas sempre em crescimento, sobretudo nos últimos três anos. O número de visitantes e de registos duplicou, pois, há cada vez mais portugueses que procuram informar-se e alterar os seus hábitos alimentares. “As pessoas preocupam-se cada vez mais com a origem dos alimentos e com as con- sequências que o seu estilo de vida tem no ambiente e na saúde.” No início, o centro só tinha como sócios os colaboradores voluntários enquanto os visitantes apenas se inscreviam para receber gratuitamente um boletim informativo. Data de Abril deste ano, o começo da aceitação de sócios e que até este momento conta com cerca de 3200 inscritos. O centro vegetariano foi criado por um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra, no ano de 2001, sediado em Oliveira do Hospital, Distrito de Coimbra. “Como não havia muita informação na internet acerca do vegetarianismo, decidimos criar uma página web informativa, abrangente e aberta à participação de todos” – inicia Cristina Rodrigues. O objectivo principal do centro é disponibilizar na internet informação e recursos sobre o vegetarianismo e conta com seis páginas (página principal, receitas, literatura, classificados, fórum e galeria), um chat e uma loja online com quase 300 referências de produtos vegetarianos. O lema do Centro Vegetariano foi, desde o início, “pelo conhecimento, pela educação, por um mundo melhor!”, reforça. No caso de ainda haver dificuldade em encontrar produtos vegetarianos, existem actualmente algumas lojas online com produtos para vegetaria- nos, pelo que qualquer pessoa pode receber comodamente as compras em casa, esteja onde estiver. Em relação a restaurantes, a oferta é ainda escassa, em alguns pontos do país, mas se for ovo-lacteo-vegetariano, facilmente em qualquer restaurante pode pedir por exemplo, uma omeleta. Os restaurantes étnicos são também uma excelente alternativa, pois na maior parte dos restaurantes chineses, italianos, mexicanos, indianos e israelitas se encontram pratos vegetarianos. “De resto, em quase todos os restaurantes se arranja uma sopa sem nada de origem animal e um prato de arroz com legumes.” L.S. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 19 ALTERNATIVAS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Carsóscopio, centro de ciência do Alviela Ver, ouvir e sentir como um morcego Fábio Carvalho Localizado no complexo das Nascentes do Rio Alviela, em Alcanena, o Carsoscópio é um projecto promovido pela Câmara Municipal de Alcanena com o apoio da Agência Nacional para a Cultura Cientifica e Tecnológica, em parceria com o Parque Natural da Serra De Aire e Candeeiros e com a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria. O Carsoscópio pretende dar a conhecer a região, a importância da Nascente do Alviela e a zona envolvente. O estranho nome do projecto deriva da palavra Carso, que está relacionada com a rocha cársica ou rocha calcária. Na realidade, a paisagem envolvente do Car- soscópio é caracterizada por esta rocha. As monitoras não se cansam de dizer que este é um centro onde toda a tecnologia é 100% nacional e desde que foi inaugurado a 15 de Dezembro de 2007, pelo Presidente da República Cavaco Silva, não tem parado de receber visitantes. As estatísticas mostram que o Carsoscópio já ultrapassou a barreira dos 7.000 visitantes. E o número tende a aumentar. Na recepção a azáfama é grande. O telefone está sempre a tocar e já se marca um dia para receber um grupo de 100 pessoas. Na sua maioria, os visitantes são alunos que vêm de escolas de todo o país para visitar o Carsoscópio. Diariamente, são várias as pessoas que visitam o centro. As monitoras não param pois, por vezes, é grupo atrás de grupo. De Vouzela veio um grupo, que ficou na zona dois dias para poder visitar o Centro e as Nascentes do Alviela. Depois de se dividir o grupo, é necessário fazer uma pequena introdução para que se possa explicar aos visitantes um pouco mais do Centro de Ciência Viva do Alviela. O Carsoscópio é dividido por três exposições: o Geódromo, o Climatógrafo e o Quiroptário. E nada melhor para começar esta visita do que uma “Por favor, não matem mais morcegos...” Dinossáurios passaram pela Serra de Aire e Candeeiros Pegadas com história Situado no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, na Pedreira do Galinha, junto à localidade do Bairro, no concelho de Ourém, a caminho de Fátima, estão as pegadas dos maiores animais que alguma vez passearam na terra. Estas pegadas mantiveramse preservadas durante cerca de 175 milhões de anos, tendo sido apenas reveladas durante a exploração da Pedreira do Galinha. Logo ali se uniram esforços de forma a preservar esta riqueza história. O dono da pedreira, autarcas e outras entidades, como Instituto de Conservação da Natureza em cooperação com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o Museu de História Natural e o Centro de Geologia da Universidade de Lisboa, rapidamente elaboraram projectos de conservação e restauro da Laje e estabilidade dos Taludes. Assim, hoje é possível visitar aquilo que é considerado como os maiores trilhos de Saurópodes do Mundo. Alguns trilhos apresentam mais de 100 metros de comprimento. Os Saurópodes, uns dos maiores dinossáurios que vaguearam pela terra, eram herbívoros. Eram quadrúpedes, os seus corpos eram enormes, com um pescoço muito comprido que terminava em uma cabeça muito pequena. Quem quiser visitar as Pegadas começa por assistir alucinante e excitante viagem no tempo. O Geódromo é um simulador de realidade virtual, produzido pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, que leva os visitantes até há 175 milhões de anos, até ao tempo em que os dinossáurios vagueavam pela Serra de Aire. O Geódromo leva-nos ainda até à formação da terra e dos continentes e especialmente à região da Serra de Aire e das nascentes do Alviela. O grupo que veio do norte do país não se intimidou com esta a um vídeo que nos leva à formação dos continentes, e nos conta as história dos dinossáurios, principalmente a história das pegadas da Pedreira do Galinha, contando com a colaboração de vários entendidos como historiadores do Museu Nacional de História. Depois o visitante fará um percurso pedestre onde existem seis estações antes de chegar às pegadas. Nessas estações o visitante poderá ler vários painéis informativos, que dão mais elementos sobre os dinossáurios, as pegadas e a região. E pode ainda visitar o Jardim Jurássico, que pretende recriar a espectacular vegetação existente naquele período. F. C. tecnologia e partiu para a viagem. No final, o sentimento era unânime: foi “espectacular, até dá vontade de repetir a sensação”. Depois da alucinante viagem no simulador algo mais calmo, seguimos para o Climatógrafo. No Climatógrafo, também produzido pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, assistimos ao ciclo da água do Rio Alviela em todas as estações do ano. Tudo isto num filme a três dimensões. Por fim vamos até ao mundo dos morcegos. No Quiroptário vamos perceber melhor como vivem os Morcegos cavernícolas daquela região onde habita uma das maiores colónias do país, com uma população de cerca de 5.000 morcegos. No Quiroptário é possível acompanhar esta colónia através de uma câmara de infravermelhos montada na gruta, apelidado pelas monitoras do centro como o “Big Brother” dos Morcegos, que nos permite ver em tempo real entre Abril e Setembro, ou em vídeos gravados nos restantes meses, os habitantes daquela gruta. No Quiroptário podemos entrar na pele destes animais da noite e saber, através de vários aparelhos interactivos, como é ter a audição de um morcego ou sentir-se um verdadeiro e experimentar a sensação de se estar de pernas para o ar. E já imaginou ser possível ver com os ouvidos? A monitora apelava aos visitantes: “Por favor não matem mais morcegos…” No grupo contavam-se histórias de encontros imediatos com estes animais da noite, que acabavam por não correr bem para os animais. Joaquim Santos veio de Vouzela para visitar o Centro e não teve dúvidas quanto à visita: “Foi uma experiência inesquecível, adorei a visita e também a zona das nascentes do rio Alviela. É muito bonito.” Opinião Portugal faz a diferença? João Carvalho Portugal tem um passado rico em história e aventuras, mas neste momento Portugal não vive do passado, Portugal procura investir no futuro e criar condições para a estabilidade, procura encontrar o melhor rumo para com as exigências das União Europeia. O Governo português tem um plano rigoroso e inovador que visa o desenvolvimento de Portugal, o Plano Tecnológico. Este plano projecta no território, medidas que visam uma estratégia de crescimento com base no conhecimento, na tecnologia e na inovação, que em traços gerais permite melhores empregos, uma população mais qualificada, infra-estruturas modernas, uma rede de comunicação mais capacitada para responder as necessidades da população, entre outras. Portugal aposta no futuro, mesmo sabendo que é dos países da União Europeia que mais depende de energias não-renováveis, é também um dos países que neste momento mais aposta em energias alternativas, e dos países com melhores condições para explorar as energias que não são prejudiciais ao nosso planeta. Neste momento, somos um povo apostador, um povo que procura mudar o seu rumo, queremos ser mais qualificados, ter melhores condições de vida, requalificar as áreas urbanas, povoar o interior, aumentar a taxa de natalidade, criar melhores vias de comunicação, promover melhores condições laborais, potenciar o turismo, entre muitas coisas. Temos condições para fazer a diferença, e apostamos em todos os campos e direcções. Portugal neste momento pensa no presente a olhar para o futuro. Queremos ser fortes…Queremos ser melhores… Queremos ter a capacidade de outrora, de rivalizar com as maiores potências mundiais. País de lutadores, com tradições vinculadas nas suas raízes, somos um povo que se revê no passado e que se orgulha dos seus gloriosos tempos. Vivemos tempos difíceis e complicados, mas nem por isso os “tugas” deixam de acreditar no futuro, e olhar para todas as frentes. 20 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 ALTERNATIVAS Avis com nova aposta no turismo dr Ana Marta Sénica Investimento. Os painéis fotovoltaicos produzem energia limpa e amiga do ambiente Energias Renováveis, soluções para o futuro Sol de muita dura A maior Central Solar do mundo encontra-se em fase de construção no Alentejo. Durante 25 anos, produzirá energia limpa suficiente para 30.000 lares e evitará a emissão de 152.000 toneladas de gases por ano. Noélia Barradas O planeta encontra-se em mudança, o aquecimento global é um facto que não poderemos ignorar e requer medidas urgentes, a nível de comportamento das sociedades, que parecem não vergar perante os factos. A exploração, levada aos limites, mostra que estamos a consumir drasticamente recursos naturais e que estes começam a entrar em ruptura. Exemplos disso são o petróleo e gás natural, entre outros. Para além desta ruptura, não se pode pôr de parte as suas características altamente poluentes que agravam a “saúde” do nosso velho planeta. As energias renováveis surgem como tábua de salvação no que diz respeito à produção de energia, com a mais-valia de se caracterizarem como não poluentes. O sol apresenta-se como uma das energias renováveis, é a este que se deve a construção da maior Central Solar do mundo, de nome Amper Central Solar SA. A Amper Central Solar SA é um projecto com um investimento de 237,6 milhões de euros, propriedade da espanhola Acciona (líder em energias renováveis), situado em Amareleja (considerada um dos pontos mais quentes de Portugal), concelho de Moura. O projecto, segundo Francisco Aleixo, director-geral da Amper Central Solar SA consiste, “na instalação de painéis solares fotovoltaicos de silício policristalino, montados sobre seguidores solares. Este ambicioso projecto apresenta-se dividido em duas fases: “A primeira consiste na ligação de 3,2 MW, e a segunda da totalidade da potência. A primeira fase ligará a subestação da Central Solar à Subestação de Amareleja, através de uma linha de 30 kV, e na segunda ligar-se-á a central à subestação de Alqueva, através de uma linha de 60 kV.” Actualmente a Central “já se encontra ligada a primeira fase da central, desde Março de 2008, e a instalação da restante Central encontra-se 60% concluída”. Este projecto pioneiro prevê que a sua total construção esteja concluída no prazo de um ano e a exploração durante 25 anos. Em termos ambientais será de notar a premissa “amiga do ambiente” já que a sua exploração permitirá a “produção de energia completamente limpa suficiente para abastecer 30.000 lares com consumo médio português, e evitará a emissão de 152.000 toneladas, por ano, de gases com efeito de estufa para a atmosfera bem como de outros gases poluentes”. A Amper Central Solar SA aposta nas energias não poluentes e renováveis como fonte de investimento, explorando aquilo que os recursos naturais proporcionam. A protecção do ambiente é palavra de ordem e apostar na sua conservação é um dever. O que é um seguidor? O que é um painel solar? Um seguidor é uma estrutura sobre a qual são montados os painéis solares e que acompanha a trajectória do sol ao longo do dia. Os seguidores dividem-se em dois grupos principais, os uniaxiais e os biaxiais. Os primeiros seguem a trajectória do sol rodando sobre apenas um eixo (vertical ou horizontal), e os segundos têm movimento de seguimento segundo os dois eixos. Os que estão a ser instalados na Central Fotovoltaica de Moura são uniaxiais, rodando sobre o eixo vertical. Um painel solar fotovoltaico é um equipamento de produção de energia que converte a luz solar directamente em electricidade. No caso da Central de Moura, a tecnologia utilizada é a dos painéis constituídos por células fotovoltaicas de cilicio policristalino. Um novo projecto no sector do turismo irá nascer em Avis a Fevereiro de 2009. Procurará trazer não só amantes do lazer, como acolher atletas de remo de alta competição. Avizaqcua um projecto remando em direcção ao futuro. É certo que há cada vez mais a procura de novos paraísos de sonho. Aliar a natureza ao lazer é cada vez mais um ponto forte do turismo português; a procura da tranquilidade e do descanso do “guerreiro” passa actualmente por propostas em pequenas vilas e aldeias de turismo rural. O norte alentejano quer e procura trazer até si estes turistas. Avis não é excepção. Pequena vila, do distrito de Portalegre com toda a sua carga histórica, dando nome à mais emblemática dinastia portuguesa, acolheu um inovador projecto afiançando acrescentar ao seu património cultural e histórico: Avizaqcua. Conciliar o desfrute da natureza com o desporto é um dos pontos altos deste traçado. Nascido pelas mãos de Pedro Veiga e Klaus Gruner, da Spirituc, criou-se um hotel com um design vanguardista que facilmente se entrelaça com a paisagem da vila alentejana. De quatro estrelas, denominada Herdade da Cortesia Real, esta unidade foi desenhada com base na necessidade e na comodidade de todos os seus visitantes, apostando também fortemente num segmento de mercado turístico em expansão, o de albergar atletas e equipas de alta competição de remo. A fácil acessibilidade à barragem do Maranhão, toda a sua natureza envolvente, o silêncio tranquilizante extasiado num espelho de água com cerca de 50 quilómetros de extensão, proporciona aos amantes do desporto o cenário e concentração ideal. Esboçado em 2004, este centro passará a fazer parte de umas das atracções de Avis. Finalizado até ao primeiro trimestre do próximo ano promete ser um passo para o futuro da vila e do norte alentejano. Observando as estrelas em Constância Inaugurado em 1994, o Centro de Ciência Viva de Constância (CCVC), situado no alto de Santa Bárbara, temse revelado um espaço inovador para o município de Constância, atraindo todos os anos inúmeros visitantes em busca de uma aventura no mundo da Astronomia. Com uma envolvente montanhosa e arborizada, o parque temático dispõe os seus equipamentos, auditório, planetário e observatório, ao ar livre. Assim, e de acordo com a informação disponível online, os seus visitantes podem não só estar em contacto com a ciência, como também em contacto pleno com a natureza. O CCVC encontra-se aberto todo o ano, com várias actividades, de entre as quais se pode destacar o encontro anual de amantes de Astronomia, a designada Astrofesta, projecto partilhado pela rede de centros de Ciência Viva de Portugal, da qual este espaço faz parte, e onde qualquer um pode espreitar pelos mais diversos telescópios, assistir a palestras e conviver com astrónomos experientes. Este espaço reservado para a ciência é ideal para uma tarde bem passada em família, onde o despertar de interesse dos mais novos para a observação das estrelas e dos céus portugueses através das lentes de um telescópio é garantido.T.G. tânia pissarra Astronomia. Em contacto com a ciência e com a natureza 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 21 ALTERNATIVAS Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com “Temos de ser inovadores” “Temos recebido vários estágios” “Temos milhares de utilizações” Manuel Jorge Valamatos, vereador da Câmara de Abrantes “A Cidade Desportiva tem-se revelado como um super-amigo da restauração e da hotelaria” Manuel Jorge Séneca Luz Valamatos dos Reis, vereador da Câmara Municipal de Abrantes, nasceu no Tramagal e é licenciado em Educação Física, pela Escola Superior de Educação de Castelo-Branco. No seu segundo mandato, este jovem autarca fala da grande aposta que Abrantes faz no desporto e explica qual o papel da Cidade Desportiva. Miline Alves Marisa Rodrigues e Milene Alves Como é que o complexo desportivo veio beneficiar Abrantes e o país? No âmbito desportivo, Abrantes era uma cidade com massa crítica fundamentalmente ao nível do associativismo. Este complexo é o grande suporte da vida desportiva do concelho. É, de facto, uma força determinante e substancial do associativismo desportivo. O concelho é muito grande, com comunidades bem dispersas umas das outras. A actividade desportiva como suporte nesses pólos de acção sempre foi determinante. Abrantes era um concelho com algumas estruturas desportivas, mas sem uma identidade forte do ponto de vista infra-estrutural. Agora começa a ter, do ponto de vista do atletismo, do futebol, da natação, do basebol, do râguebi, um conjunto de estruturas capazes de atrair pessoas ao nosso concelho, à nossa região e ao nosso país. Este associativismo que existia nas regiões de Abrantes leva à construção desta Cidade Desportiva? Claro que sim. A Cidade Desportiva ainda não está concluída. Há um elemento aqui que é a chave na conclusão de um ciclo, que é o Pavilhão Multiusos. É a actividade expressa por esses movimentos associativos que também nos leva a pensar que este pavilhão terá de ser realizado. A Cidade Desportiva e todas as actividades aqui realizadas são um meio de trazer lucro para a cidade de Abrantes? A Cidade Desportiva tem-se revelado como um super-amigo da restauração e da hotelaria. A Cidade Desportiva é uma estrutura que nos últimos tempos tem sido determinante ao conduzir os fluxos de pessoas para Abrantes. Porque, quer ao nível dos estágios, dos treinos, e das competições que têm acontecido em Abrantes, a Cidade Desportiva é determinante no reforço e no aumento substancial de pessoas nos nossos hotéis e nos nossos restaurantes. Que tipo de actividades são aqui organizadas? Nós vivemos com dois tipos de situações. Vivemos com o quotidiano dos nossos clubes, onde temos uma abrangência muito forte, sobretudo nos escalões de formação em várias Manuel Reis. “Não estamos agarrados a uma modalidade desportiva” modalidades. Respondemos muito ao basquetebol, à natação, ao atletismo, ao futebol, bem como ao judo e à dança. Ao fim-de-semana isso expressa-se fundamentalmente ao nível das competições, mas também no âmbito do recreio e do lazer. Depois, temos o outro lado de gestão e organização que tem a ver com os eventos que fazemos, quer no âmbito local, regional, nacional, quer internacional. Portanto, há aqui dois universos diferentes. O futuro Multiusos de Abrantes O Pavilhão Multiusos surge numa lógica de complemento da Cidade Desportiva, mas neste caso especifico para as modalidades ‘indor’. A sua futura localização será à entrada da Cidade Desportiva, aguardando-se a ajuda do QREN para começar esta obra de grande envergadura. Sendo uma obra que vai custar 5 milhões de euros, é necessária a ajuda da comunidade europeia para a sua futura evolução. Este complexo desportivo terá dois campos em simultâneo e 2.500 lugares sentados, não pretendendo, segundo o vereador Valamatos, ‘roubar’ espectáculos ao Multiusos de Torres Novas. O seu maior objectivo é “que Abrantes possa potencializar, também, esta dinâmica e entusiasmo em torno desta região”. A obra demorará 18 meses a ser construída, por isso, ainda não se sabe, ao certo, a data de inauguração, na medida em que existe o impasse financeiro. Quanto à construção deste Multiusos e ao impulso que ele poderá dar às eleições do próximo ano, o vereador diz apenas que “vai deixar os abrantinos contentes”, até porque “todas as obras trazem satisfação às pessoas”. Quem frequenta a Cidade Desportiva? Temos milhares de utilizações, de todas as infra-estruturas do concelho, de todas as idades, de muitas modalidades, de muitos sítios do país, da Europa e até do mundo. Temos de jogar aqui com a pesca, a canoagem no centro náutico da Aldeia do Mato, a natação com a prova “10km a nadar”, que entra dentro do circuito internacional e vai entrar dentro do circuito mundial. Temos acolhido vários estágios da Confederação de Râguebi em Abrantes e dezenas de jovens. No âmbito do atletismo, do basquetebol, da natação, do pólo aquático e do basebol temos recebido muitos estágios e treinos em várias áreas e em vários espaços desportivos do nosso concelho. Visto que recebem pessoas de todo o mundo, as infra-estruturas estão equipadas com placas de sinalização em Inglês e Francês? Não, de facto não temos. Temos alguns documentos de apresentação das nossas infra-estruturas desportivas que também têm tradução em Inglês. Sempre que recebemos alguém, temos o cuidado de, com as entidades reguladoras dessas actividades, tratar toda a literatura do ponto de vista de como chegar e onde ficar, para uma melhor leitura possível. Por exemplo, já estamos a construir um documento com a Federação Portuguesa de Basebol para que os clubes, quando chegarem a Lisboa, para o campeonato da Europa de Basebol 2008, saibam como é que se dirigem para Abrantes, onde vão ficar, onde vão comer, como é que se deslocam aqui e o que vêm encontrar. Fazemos isso sempre que é necessário. Que tipo de apoios é que a Câmara presta para a manutenção da Cidade Desportiva? Abrantes, nos últimos anos, criou toda esta dimensão em termos de infraestruturas, mas isto arrasta um peso significativo nos custos de manutenção, que têm sido bem justificados, quer pela qualidade de vida das pessoas, quer pelo usufruir de infra-estruturas desportivas ao serviço das suas vidas. Por um lado, pela resposta e pelos fluxos externos que têm ocorrido em Abrantes, justifica-se perfeitamente; por outro lado, deu emprego a muita gente. Porquê um campo de basebol? É uma aposta arrojada, mas é uma aposta determinante. Temos de ser ino- vadores, ir à procura de coisas novas, desde que se estabeleçam princípios de sustentabilidade. O facto de ser o único campo do país foi algo determinante. Nós não estamos infinitamente agarrados a uma modalidade desportiva, nós temos tido a capacidade de, localmente, conseguir que os nossos jovens e adultos, mas fundamentalmente os jovens, tenham o maior leque de oportunidades desportivas. Temos tentado trazer novas modalidades para Abrantes, desde do skate, do BMX ao BTT, tanto do ponto de vista competitivo, como do lazer. Nesse sentido, pretendemos trazer mais uma nova modalidade para junto dos nossos jovens e da nossa região, valorizar a modalidade do ponto de vista do país. Temos recebido vários estágios de equipas estrangeiras. Para além disso, tem existido muita dinâmica criada pela Federação Portuguesa de Basebol em torno deste campo e em torno de Abrantes. Praticamente todos os fins-de-semana temos actividades de basebol. Para além dos acontecimentos internacionais que projectam o nome de Abrantes, da região e o país. Ao fim de um ano de existência da equipa de basebol, acha que valeu a pena o investimento? Claro. O que é verdade é que criámos o primeiro e único campo do país, conseguimos atrair pessoas para Abrantes. Conseguimos interessar bastantes jovens e ter aqui uma oportunidade desportiva, encontraram no basebol uma motivação para voltar ao desporto. Depois da Cidade Desportiva e de um projecto para um Multiusos poderá surgir um centro comercial? Isto é tudo uma bola de neve. O que é verdade é que surgiu agora um ginásio, bem pertinho da Cidade Desportiva, dirigido para as mulheres. E vão continuar a surgir novas infra-estruturas, também nesta área, porque umas coisas impulsionam outras. Abrantes têm-se revelado como uma cidade cheia de saúde e bem-estar. Temos muitas infra-estruturas desportivas, com potencial para conseguir atrair pessoas para Abrantes, para viver e morar aqui, trabalhar cá. O aparecimento de investimentos em hotéis, em hamburguerias e noutras coisas tem a ver com estas energias e com estas correlações. Por isso não me custa nada acreditar que possa aparecer um conjunto de investimentos associados. 22 | ESTA JORNAL • 11 de Junho de 2008 ALTERNATIVAS Marisa rodrigues Vinhos portugueses apreciados no mundo “ Há sítios do mundo que são como certas existências humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição. Este Gerês é um deles.” Miguel Torga, Diário VII Raquel Simões Parque Nacional Peneda-Gerês. Os habitantes consideram que os visitantes são uma mais-valia O paraíso do Minho Marisa Rodrigues Foi com o barulho da água do rio Homem e da natureza selvagem que percorremos o Parque Nacional da Peneda-Gêres (PNPG). Com 70.290 hectares, o PNPG abrange os concelhos de Terras de Bouro, Arcos de Valdevez, Montalegre, Ponte da Barca e Melgaço. Durante este percurso fomos protegidos pelas serras da Peneda, do Soajo, Amarela e do Gerês. Ao longo desta jornada podemos visualizar as casas, residenciais e hotéis que fazem o repasto dos turistas, após os passeios pedestres e a prática das actividades geradas pelas empresas de animação turística. Actividades variadas como paintball, moto4, passeios de barco, tiro com arco, entre muitas outras. Para além disto tudo, o PNPG oferece as suas maravilhosas termas, que em 2007 foram remodeladas, e se tornaram num verdadeiro SPA Termal, com equipamentos e técnicas termais modernas, que disponibilizam tratamentos de fisioterapia, hidroterapia e electroterapia. Uma das passagens obrigatórias na visita ao PNPG é o Santuário de São Bento da Porta Aberta, que se tornou o santo padroeiro do concelho de Terras de Bouro pela fé que os habitantes da zona nele depositam. Assim como a Via Romana/Geira, que nos mostra o antigo trajecto que conduzia os legionários de Braga a Astorga e os marcos miliários. Durante todo o percurso de carro estivemos protegidos pelo verde que cobre todo o Parque, e que transmite um ar puro avassalador, capaz de cortar o fumo dos carros que por nós passavam, e também pelo som da água que escorria em cada fonte identificada. Após todo este trajecto, fomos perceber como funciona o PNPG. Assim, contactámos a sede do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), em Braga, onde questionámos Céu Osório sobre o método utilizado para a conservação de todo o território histórico. A resposta veio por mail: “O método utilizado é o da conservação com base no Plano de Ordenamento e outros instrumentos de gestão que com ele se relacionam.” Prevenção contra incêndios Segundo o ICN, o melhoramento contínuo do Parque deve-se à divisão de tarefas entre a biodiversidade e ordenamento, comunicação, vigilância, florestal, gabinete de apoio jurídico, gestão financeira, gestão administrativa e de recursos humanos e gestão financeira. Quando nos referimos à vaga de incêndios que assolou o Parque, ocorrida em 2006, e como foi superada, Céu Osório afirma terem sido “reforçados os meios de prevenção, vigilância e primeira iintervenção em articulação com as restantes entidades com atribuições na área dos fogos (GNR, Protecção Civil, Ministério da Agricultura e Pescas, Autarquias, Exército)”. Visto que o PNPG é visitado por turistas de todo o mundo, impôs-se saber quais os serviços disponíveis aos turistas. Céu Osório afiança que “existem no território do PNPG estruturas a funcionar (dispondo algumas de informação em inglês e francês) ”, como é o caso do Centro de Educação Ambiental do Vidoeiro, da Delegação Técnica de Arcos de Valdevez, da Porta do PNPG em Montalegre, da Porta do PNPG em Lamas de Mouro, entre outras. No que respeita à relação entre turistas e habitantes da zona, Céu Osório diz que “os habitantes do PNPG consideram os visitantes uma mais-valia para o território já que podem constituir uma fonte de receita complementar para a sua economia familiar e também fonte de trocas culturais”. O PNPG é a primeira área protegida do país e a única com categoria de Parque Nacional. Criado em 1971, pelo Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio, no âmbito do primitivo regime geral de protecção da natureza estabelecido pela Lei n.º 9/70 de 19 de Junho. Nos últimos anos alguns vinhos portugueses têm sido distinguidos, com alguns dos mais importantes prémios a nível internacional e nacional. A casa Ermelinda Freitas, no concelho de Palmela, e a Adega de Pegões, no concelho do Montijo, são dois bons exemplos. Em Portugal, nos últimos anos, muitos vinhos de várias regiões têm sido distinguidos no estrangeiro, como sendo dos melhores vinhos do mundo. Ermelinda Freitas e Adega de Pegões são duas importantes cooperativas hoje em dia no mundo vitivinícola. A casa Ermelinda Freitas fica situada em Fernando Pó, na zona privilegiada da região de Palmela. Leonor Freitas representa a quarta geração de uma família ligada desde sempre e com especial atenção aos vinhos. Em 1997 esta casa inicia o engarrafamento com nome próprio, visto que anteriormente a este ano o vinho produzido nesta casa era vendido apenas para pessoas daquela região. Com o aumentar das vendas, foram feitos investimentos na construção de uma nova adega, num centro de vinificação e linha de engarrafamento. Foram também feitos investimentos ao nível da divulgação, como por exemplo a publicidade feita no camião do cantor Toy. Neste momento, a casa Ermelinda Freitas está em expansão e um dos objectivos de Leonor Freitas é tornar esta casa uma das melhores na rota dos vinhos portugueses, assim como promover o turismo e a economia no concelho de Palmela. Com poucos anos de vida, a casa Ermelinda Freitas já ganhou inúmeros prémios nos concursos mais prestigiados do mundo e também do país, com as suas principais marcas: “Terras do Pó”, “Dona Ermelinda” e “Quinta da Mimosa”. Leonor Freitas refere ainda que o grande objectivo desta casa é a qualidade e que “não investimos para fazer mais, mas sim para produzir o melhor”. A Adega de Pegões situada, em Pegões, concelho do Montijo, foi criada em 1958, ano em que também tiveram origem os primeiros vinhos de Pegões. Nos últimos 15 anos, foram feitos investimentos para modernizar a adega de modo a melhorar e valorizar os seus vinhos e também para a promoção destes. Hoje em dia a Adega de Pegões é reconhecida nacional e internacionalmente, com inúmeras distinções e prémios nos concursos de vinhos mais prestigiados do mundo, com as suas mais importantes marcas: “Fontanário de Pegões”, “Adega de Pegões”, “Vale da Judia”, “Adega de Pegões colheita seleccionada”, “Adega de Pegões moscatel” e “Adega de Pegões Syrah”. A Adega de Pegões também investe muito na publicidade, em alguns estádios de futebol, revistas e placares. É um investimento de milhares de euros, mas bastante importante para a promoção desta cooperativa. Raquel simões Golfe rústico atrai turistas aos Açores Joga-se numa pastagem com erva baixa e sem gado. Se o campo estiver enlameado, calçam-se botas de cano. Trata-se do golfe rústico, uma nova aposta do sector turístico açoriano. Paula Faria No dia 16 Janeiro de 2008, na Bolsa de Turismo de Lisboa, renovou-se o Plano de Marketing Estratégico dos Açores. Privilegiar as particularidades de cada uma das nove ilhas e considerar o potencial da Região em termos europeus e mundiais, abrangendo os mercados da América do Norte, são os objectivos do Plano de Marketing Estratégico dos Açores para 2008/2010. No site da Associação de Turismo dos Açores (ATA), a presidente deste organismo, considera que “a riqueza dos Açores reside precisamente no facto de, num curto espaço territorial, existir tamanha diversificação de oferta, em termos paisagísticos, culturais, gastro- nómicos, entre outros”. O golfe rústico é a nova aposta do turismo açoriano. Escreve o jornal Diário Insular, publicado na ilha Terceira, acrescentando que a direcção regional do Turismo, a Associação de Turismo dos Açores e a Casas Açorianas estão empenhadas em promover esta nova vertente da modalidade. A directora regional do turismo, Isabel Barata, explica àquele jornal, “que se trata de uma vertente que vale a pena explorar. Temos uma rede de casas de turismo rural bastante interessante e, para além disso, esta é uma modalidade que acarreta muito baixos custos para os proprietários”. Para Isabel Barata, em declarações à revista da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Tursimo, tem havido, também, uma aposta no turismo náutico: “De há ano e meio para cá temos estado presentes nas principais feiras do turismo náutico e também continuamos a apostar no turismo de cruzeiros.” Apesar da pouca divulgação e promoção, estão a fazer-se grandes esforços para que os Açores tenham também grandes possibilidades nos produtos ligados ao turismo de saúde e bem estar, porque “neste momento já estão a aparecer algumas infra-estruturas, como é o caso do Hotel Spa das Furnas, que é um hotel termal, a reabilitação das Furnas da Graciosa, complementada com a abertura de um hotel de quatro estrelas, e algumas outras unidades hoteleiras que também têm investido no bem estar”, concluiu. Para que as novas apostas do Governo Regional dos Açores tenham sucesso é preciso que haja ligações aéreas. A directora regional do turismo salienta a grande importância que estas têm dado aos Açores “tanto mais que hoje em dia temos voos da Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Espanha, dos países nórdicos, em voos charter, e temos também ligações com os EUA e Canadá”. Para se juntar a estes países vem aí mais uma: a nova rota Paris – Terceira. Além da oficialização da nova rota Paris – Terceira, ainda houve lugar para se assinar um contrato entre a Associação de Turismo dos Açores e o operador francês no valor de 175 mil euros com vista à promoção dos Açores naquele destino. 11 de Junho de 2008 • ESTA JORNAL | 23 CRIATIVIDADE Participe na avaliação do ESTAjornal em: www.estajornal.blogspot.com Beijos ao Rio Tejo A rrumou-se a cozinha num ápice. Todos se reuniram na sala. A noite estava mais fria e as tuas mãos também. Arrepiavam-me a cada toque na minha nuca. As tuas festas já não estavam quentes, nem me faziam adormecer como dantes. Estendida no teu colo, voltei meu ventre para cima, e pus-me a observar-te. Meus olhos teimavam em olhar para os teus cabelos longos, lisos, que pareciam fios de ouro à luz do candeeiro do tecto. O teu rosto redondo, salpicado de sinais assimétricos, estava triste. Teus lábios secos, vincados, em tons de rosa esbranquiçado apenas ganhavam cor quando humedecias cuidadosamente com a língua. Daquele prisma, visto de baixo, parecias eminente, mas algo me dizia que não estava tudo bem. Até aqui não conseguia entender o porquê. Foi com um beijo e um “dorme com os anjos” que selaste essa noite. Aconchegaste-me nos lençóis, e apagaste a luz com um sorriso terno. Passei essa noite em claro, não pelo calor da noite, porque esse não existia, mas pela preocupação, pelo instinto que inexplicavelmente me fazia sentir que algo não estava certo. Cerrava os olhos com tanta força que me causavam dor ao tentar abri-los. Só me vinha à ideia os teus cabelos fios de ouro, os teus lábios secos, as tuas mãos frias… Já a noite ia alta e sentiam-se murmúrios vindos da cozinha. Eram vozes femininas. Levantei-me movida pela curiosidade, e pé ante pé, escondida atrás duma estante de pesados livros dos meus tios que ficaram por lá esquecidos, esgueirei meus ouvidos e concentrei-me naquela baixa frequência. Pouco se percebia. O som do bule da água a ferver no fogão atrapalhava a concentração. A tia Zulmira insistia para que minha mãe tivesse calma, e que tudo iria correr pelo melhor. Teria de pensar no meu pai e ter força por mim. Por mim? Mas porquê por mim? Força para quê? Nada me fazia sent ido, nada numa cabeça de oito aninhos fazia sentido! O susto aterrou na minha pessoa com o cacarejar do Toni fora de horas. Corri para a minha cama e só de lá saí com o chamamento do pai já de manhã. Ouviam-se passos pesados do lado da fachada. Eram os vizinhos que se despediam dos meus pais e dos meus tios. E eu? Eu não ia? Supostamente aquele deveria ser o último dia de férias de Verão com os avós. Ainda em trajes caseiros e despenteada de tantas voltas na cama, os meus pais arrumavam as malas e pediram-me que esperasse por eles na sala. Nesse dia, o avô estava em casa. O campo esperava, mas ele estava grudado no sofá de napa velha. De boina pousada no cadeirão de madeira maciça, a avó alisava energicamente e sistematicamente a saia preta desbotada do sol tórrido. Sentia-se tensão no ar. A atmosfera estava húmida e o sol escondido pelas nuvens. Agarrei num pedaço de bolo que sobrou dos anos e sentei-me junto do avô. O pai entrou primeiro na sala batendo com as mãos nas suas pernas pedindo para que me sentasse no seu colo. Passando suas mãos volumosas em meus cabelos, disse em tom baixo e amedrontado “eu e a mãe temos de falar contigo, tens de ser uma menina crescida”. Foi nesse instante que a minha mãe entrou na sala. O meu pequeno coração bateu a um ritmo de mil à hora, a respiração acelerada, e todo o meu pequeno corpo sentia a pulsação frenética em cada batida, em cada artéria, em cada veia, em todas as minhas extremidades. As pupilas revestidas de castanho amêndoa igual às do meu avô ganharam água. Gotas de sal caíram por teu rosto, mãe, sem pronunciares qualquer palavra. Teus lábios, tuas mãos estavam iguais ao dia anterior. Entre soluços e apertos dos braços do pai, explicaste-me o que para uma simples criança não tem explicação. Nem a saúde, nem o organismo humano tem resposta. Foi ali, no dia seguinte Conto de Ana Marta Sénica a um dos mais felizes, até ali a meio da minha infância, que entendi que a vida não é feita de céus azuis, hortas perfeitas, verdes campestres, amarelos giestas, laranjas electrizantes. Que a vida é feita de desgostos e que podiam entrar na vida daqueles que menos esperamos, tal como aquele tumor que te apoderou. Nasceu e cresceu em ti sem pedir licença. Alimentou-se de ti como um filho que se alimenta do ventre de sua mãe. Em meias palavras, de forma a não me assustares agarraste as minhas mãos. Recordo que estavam geladas. Nem o teu corpo conseguia acalentar minha alma. O avô não falou. Levantou-se sem licença, arrancando a boina do cadeirão e saindo porta fora. A avó limpava as lágrimas com um lenço bem velhinho de quadradinhos azuis e franjado nas pontas. Pediram-me que ficasse o resto dessas férias ali. Dizias que começarias a fazer uns tratamentos que te deixariam fraca. Mas era para teu bem. Ouvi tudo até ao fim, explicaste tudo, tintim por tintim, e eu acenei. Acenei, mas não percebi. Só percebi que não era nada de bom. O pai estaria junto a ti e isso, eu percebi. O céu desde esse dia perdeu a cor, o sol perdeu o calor, as flores perderam o cheiro doce, e as sombras perderam a frescura. Até as tardes animadas com o Jeropiga, o Toni e o Saraiva tornaram-se tardes calmas, como que sentissem que algo não estava bem. O toque aguçado do telefone ao fim do dia dava um pouco de ânimo aos restantes dias das férias. Insistias que estavas bem; perguntavas como tinha corrido o dia. Quando atendia o pai, já percebia que estavas cansada ou pior. De malas aviadas e em poucas horas, a placa LISBOA já era bem visível. As primeiras chuvas de Setembro se faziam sentir. Batiam no vidro do comboio lembrando pequeninas pedras. As árvores balouçavam freneticamente ao ritmo desenfreado do última parte vento. Desejava ver-te, mãe. Queria ver-te, cheirar-te, abraçar-te com tanta força como fazia ao abraçar o Jeropiga. Um abraço grande e apertado. Prometi que não chorava. Rezei a todos os santinhos que a avó Gertrudes disse. Esperava que eles me ouvissem. O barulho da cidade era perturbante depois de tantos meses no campo. Sei que aqui voltei porque querias ver-me. Já não conseguias ver-me ao campo. Do outro lado da margem sei que me esperavas no hospital. O tempo estava como a vida: contra nós. O Tejo estava como nós: revolto; espumava com a ondulação, tal como eu espumava de raiva por saber que não poderia fazer nada para te ajudar. Os santinhos não me ajudaram a ver-te melhorar. Estavas mais magra, um esqueleto doente, amargurado, aniquilado pelo inquilino indesejado, que se apoderou sem piedade do seu proprietário. Tinhas os teus olhinhos amêndoa rodeados por auréolas amarelas que brilharam na minha direcção. Até o rosa esbranquiçado de teus lábios ele te roubou. As tuas mãos arroxeadas do frio agarraram as minhas. Sentia os teus ossinhos, cartilagens e falanges. O teu quarto era voltado para o rio. O nosso Tejo. Dali vias as colinas de Lisboa. Nesse dia pediste-me que tratasse do pai, do avô Gaspar e da avó Gertrudes. E assim o fiz. Pediste-me que sempre que me sentisse em baixo, me deixasse embriagar pelo Tejo, e nele depositasse minhas angústias e medos. O caudal do Tejo levaria as minhas lamúrias até a ti ao céu, onde ficarias a ajudar. Hoje senti-me em baixo, mãe. O avô ligou bem cedo, dizendo que o Saraiva morreu ontem de velhice. Teve mais sorte que tu. A vida foi longa para ele. A mim, tiraram-te cedo. Deixaram-me o pai. Disse-lhe que vinha até aqui conversar contigo. Mandou beijos, e diz que tal como eu morremos de saudades tuas! Terça-Feira, 11 de Março de 2008 DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA Tiago Lopes nos mesmos moldes que qualquer príncipe. Não são raras as crónicas em que a petiz surge vestida com roupas masculinas. E cedo os boatos da Bissexualidade da Princesa invadiram os salões palacianos. Coroada Rainha com 17 anos, Cristina da Suécia governou debaixo de inúmeras críticas ao seu reinado. Rainha de um país de protestantes, Cristina converte-se à fé do Catolicismo. Atacada pela sua vida amorosa, mantida em segredo e pela sua novíssima fé, abdicaria do trono a 5 de Junho de 1654. Afastada do trono por preconceitos sexuais e religiosos, Cristina entregaria a coroa da Suécia ao seu primo Carlos Gustavo. Alemanha – Século XVIII. Quando Frederico nasceu, estava longe de perceber o que acarretava ser filho de Frederico Guilherme I. Além das responsabilidades que lhe seriam imputadas com a morte do pai, o jovem príncipe teria ainda que contar com uma demonstra- Previsões por Tiago Lopes Rá (Deus do Sol) 16 de Julho a 15 de Agosto Carta: Sol ção de ignóbil preconceito. O príncipe que falava francês, lia poesia e tocava flauta. Tinha uma grande amizade pelo tenente Keith e uma desmesurada paixão pelo capitão Katte. Frederico Guilherme I não perdoava ao seu filho os notórios defeitos, que o tornavam inapto para a governação, aos olhos turvos do pai. A corte regozijava-se com o sofrimento do monarca. Depois de levar uma real sova de bengala e de o seu pai o ter tentado asfixiar com o cordão de um cortinado, Frederico II planeou uma fuga, para Inglaterra, com a sua grande paixão, o capitão Katte. Tristemente alguma coisa correria mal no dia da fuga! Os dois apaixonados em fuga foram interceptados e levados à presença de Frederico Guilherme I. Sem direito a qualquer forma de apelo os dois foram entregues a um tribunal militar que, a título de exemplo, os condenou à morte. Frederico II seria poupado pelo rígido pai que, todavia, o obrigou a assistir à execução do seu amado. Tauromaquia: sim ou não? Os comportamentos possessivos dos nativos de Rá não estão a facilitar o começo de uma nova relação. Seja mais flexível! Despenda mais tempo para estar com a sua família! Neit (Deusa da Caça) 16 de Agosto a 15 de Setembro Carta: Conjuntura Desenvolver novas potencialidades que o/a valorizem mais no campo profissional é o desafio que lhe vai ser lançado nas próximas semanas. Acredite que é capaz! Maat (Deusa da Verdade) 16 de Setembro a 15 de Outubro Carta: Cobiça 2008 continua a não ser a galinha dos ovos de ouro para os nativos de Maat. Cuidado com o nível das suas expectativas. Seja mais realista! Não se esqueça de cuidar da sua imagem! Osíris (Deus da Renovação) 16 de Outubro a 15 de Novembro Carta: Compenetração Exigência, rigor, profissionalismo e muito sentido de responsabilidade são alguns do traços que terá de ver apurados urgentemente, se quiser dar um salto qualitativo na vida laboral! Hator (Deusa da Adivinhação) 16 de Novembro a 15 de Dezembro Carta: Partilha Perdoar o mal de que nos fazem tem os seus limites! Não deixe de lado o seu orgulho, só porque acredita na bondade perdida de terceiros! Saia com os seus amigos! Divirta-se! Anúbis (Guardião dos Mortos) 16 de Dezembro a 15 de Janeiro Carta: Imprevisto As surpresas negativas irão estragar os planos que fez para as próximas semanas. Cuidado com as amizades. Confiar em demasia poderá estar a expô-lo/a desnecessariamente! Bastet (Deusa Gato) 16 de Janeiro a 15 de Fevereiro Carta: Estudo DR Vítor Madeira A tauromaquia é um espectáculo com séculos de existência e é parte integrante da cultura do nosso país. No entanto, cada vez mais surgem organizações de defesa dos direitos dos animais e até manifestações de anónimos que se insurgem contra a realização deste género de espectáculos. André Botas, estudante de 22 anos, é um acérrimo adepto da tauromaquia e desde muito cedo se ligou a esta tradição. “Cresci num ambiente de ‘afición’ e o meu pai incutiu-me o gosto desde que era uma criança, pois ele levava-me a Praças de Touros com muita frequência” – justifica o jovem para sustentar o apoio à tradição. Pedro Esperto, 31 anos e contabilista de profissão, é um opositor da tauromaquia, tendo já participado em diversas manifestações contra a mesma. É claro quanto à sua posição: “Sou totalmente contra”. E ainda acrescenta que sente “tristeza” pelo facto de que, “em pleno século XXI, existam indivíduos que não entendem o sofrimento dos animais para gáudio de uma elite inculta que assiste ao suposto espectáculo”. Opinião completamente distinta tem André Botas: “Sinto uma grande emoção do início ao fim deste grandioso espectáculo. Só um aficionado compreende este estado de espírito”. Quando confrontado com o surgimento de diversas organizações de defesa dos direitos dos animais, que são J O R N A L ►► ► Quando é Real o Preconceito Preconceito! Procure no dicionário. Espero. Eu ajudo. P-R-E… use o dedo. Mais para baixo. Mais um pouco. Calma! Suba duas palavras. Essa aí! Leia: “Qualquer opinião ou sentimento, quer favorável quer desfavorável, concebido sem exame crítico”. Ou seja “ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado à priori”. Acha normal existir este tipo de atitude em qualquer século da nossa História? O preconceito destrói comunidades, separa famílias, mata pessoas. É contra esse preconceito que muitos lutam desde que o Homem é Homem. Aliás, na História da Europa não são poucos os exemplos de Reis e Rainhas, de Príncipes e Princesas que sofreram com o preconceito. Viajemos no tempo e no espaço para ver dois exemplos de casos que estão escondidos na Gaveta da História. Suécia – Século XVII. Cristina da Suécia foi a herdeira do trono do Rei Gustavo Adolfo II. Nascida sob o auspício de um raro fenómeno astrológico, a futura Rainha foi educada esta A vida não se resume aos objectivos particulares que temos. Por vezes, em prol da sociedade, há que fazer cedências. Não seja egoísta ao ponto de ignorar isto! Tauret (Deusa da Fertilidade) 15 de Fevereiro a 15 de Março Carta: Angústia A sua vida amorosa precisa ser toda repensada. Explore o seu parceiro/a e seduza-o/a de novo. Deixe de ter medo de explorar a sensualidade que tem. Invista no amor! Sekhmet (Deusa da Guerra) 16 de Março a 15 de Abril Carta: Descoberta O processo de auto-aprendizagem e de redescoberta de quem somos não se faz sem dor. Este momento menos positivo faz parte desse processo. Tente não desesperar. cada vez mais audíveis, o aficionado é peremptório quando diz que “não há ninguém que goste mais de animais do que as pessoas dos toiros; essas organizações existem devido a interesses”. André Botas retribui as críticas: “Veja-se o que sucedeu no Campo Pequeno no ano passado, onde uma dessas organizações ditas civilizadas pintou as paredes do recinto, num autêntico acto de vandalismo. Isto diz muita coisa”. Para o contabilista, “é importante existirem pessoas que se preocupem com os animais pois estes não conseguem defender-se sozinhos e estas organizações são importantíssimas nesse sentido”. O estudante justificou o sofrimento dos animais. “As pessoas esquecem-se que o toiro-bravo é criado para este propósito e, mais importante ainda, tem de sangrar para que o sangue não coagule nas veias, pois esta situação sucede quando o animal fica nervoso. Para ele, sangrar é um alívio”, finaliza. Para Pedro Esperto, a solução é simples, “este tipo de espectáculos devia acabar. É simplesmente bárbaro e medieval.” Como é visível, esta é uma polémica que está longe do seu final. A verdade é que a tauromaquia é uma tradição que continua a entusiasmar e a conquistar milhares de aficionados, com o seu ambiente frenético e os “Olé” nas bancadas. Mas não é menos verdade que as vozes que se insurgem contra a mesma estão a crescer e a ganhar força. A polémica prossegue já na próxima Praça! Ptah (Criador Universal) 16 de Abril a 15 de Maio Carta: Viajante Os nativos de Ptah têm pela frente semanas alucinantes! Não se deixe iludir pelo sucesso fácil, mantenha o grau de exigência que o trouxe até aqui. Seja mais delicado/a! Tot (Deus da Escrita) 16 de Maio a 15 de Junho Carta: Suma Sacerdotisa A violência verbal não lhe dá mais razão. Usar de verborreia e de alguns argumentos pomposos só serve para se iludir a si mesmo/a! Seja sincero e capaz de ouvir os outros! Ísis (Deusa da Magia) 16 de Junho a 15 de Julho Carta: Morte Uma mudança positiva está a operar-se, mas dependerá da sua capacidade de entrega. Não tenha medo de só agora iniciar uma nova fase. Nunca é tarde para mudar!